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POLÍTICAS PÚBLICAS

E DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL
Autora: Angela Maria Mesquita Fontes

Dados Pessoais

Nome:_________________________________________________________

Turma:____________ Matrícula:__________ Curso: __________________

Endereço: _____________________________________________________

Cidade: _____________________________________ UF:_______________

CEP: ________________ Telefone: _________________________________

E-mail: ________________________________________________________

Programa de Pós-Graduação EAD

CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI


Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro
Benedito - Cx. P. 191 - 89.130-000
INDAIAL/SC - Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-
9090 - www.uniasselvipos.com.br
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Prof. Dr. Malcon Tafner

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel

Equipe Multidisciplinar da
Pós-Graduação EAD: Profa. Hiandra Bárbara Götzinger
Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald
Profa. Jociane Stolf

Equipe Pedagógica do IBAM: Mara Darcy Biasi


Márcia Costa Alves da Silva
Anna Marina Fontes Ribeiro
Dora Apelbaum

Revisão de Conteúdo: Alexandre Carlos de Albuquerque Santos

Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci

Copyright © UNIASSELVI 2011


Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
UNIASSELVI – Indaial.

320
F683p Fontes, Angela Maria Mesquita Fontes
Políticas públicas e desenvolvimento
sustentável / Angela Maria Mesquita Fontes.
Indaial: Uniasselvi, 2011.
p. 147 : il.

Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7830-490-4

1. Políticas públicas
I. Centro Universitário Leonardo da Vinci
PARCERIA ENTRE
IBAM E UNIASSELVI
No momento atual, em todos os países, em qualquer instância de governo,
observa-se um movimento de revisão do papel do Estado, somado à exigência
das populações por atuação governamental de qualidade. Esta tendência conduz
à demanda expressiva para que se consolide a existência e o funcionamento de
um sistema qualificado de Gestão para a implementação de políticas públicas.

A institucionalização dos processos de gestão e a profissionalização dos


servidores públicos passam a ser instrumentos estratégicos para alavancar
condições de melhor execução de atividades e projetos, bem como dos meios de
controle necessários para avaliação de resultados da atuação governamental.

Inúmeras iniciativas são implementadas para dar consistência a este


modelo de gestão governamental que se apoia na valorização da transparência,
da participação e do controle social, que não podem existir sem instrumentos
adequados e pessoas qualificadas. É neste contexto que se forma a parceria do
IBAM com a UNIASSELVI.

Aprimorar o sistema de gestão pública, apoiar a formação de profissionais que


queiram ser ou já são do quadro do setor público e ampliar a informação para o
cidadão sobre como deve funcionar o governo são os propósitos iniciais do MBA em
Gestão Pública que passa a integrar o programa de pós-graduação da UNIASSELVI.
A equipe de Professores Autores que o compõe se destaca pelo desempenho
profissional em projetos da Administração Pública e como docentes universitários.

A experiência da UNIASSELVI em processos educacionais em nível superior,


aliada à do IBAM, que há 60 anos atua, em nível nacional e internacional, para
o aprimoramento da administração pública, é composição de excelência para
enriquecer o cenário que se quer alcançar.

O IBAM e a UNIASSELVI desejam a todos os participantes uma boa jornada


de estudos. Aos que se dirigem ao setor público, que consolidem sua formação;
e, aos demais, que ampliem o nível de informação sobre governo e aprendam a
articular-se com ele como cidadãos.

Paulo Timm
Superintendente Geral do Instituto
Brasileiro de Administração Municipal – IBAM

Prof. Carlos Fabiano Fistarol


Pró-Reitor de Pós-Graduação a Distância
Grupo UNIASSELVI
Angela Maria Mesquita Fontes

Economista, Mestre em Planejamento


Urbano e Regional e Doutora em Geografia,
na área de Gestão do Território. Consultora e
Diretora da Resiliens Consultoria e Pesquisa
Organizacional, realiza consultoria nas áreas de
relações de gênero e desenvolvimento sustentável.
Nos últimos anos atuou como: Coordenadora do
Programa Interagencial de Promoção da Igualdade
de Gênero, Raça e Etnia, de 2009 a 2010, tendo
como agência líder o Fundo de Desenvolvimento das
Nações Unidas para a Mulher – UNIFEM, atualmente
ONU-Mulheres; Subsecretária de Planejamento de
Políticas para as Mulheres, da Secretaria Especial
de Políticas para as Mulheres, da Presidência da
República – SPM/PR, no período de 2004 a 2007;
Superintendente de Desenvolvimento Econômico e
Social do Instituto Brasileiro de Administração Municipal
– IBAM, de agosto de 2000 a abril de 2004, tendo sido
Coordenadora do Núcleo de Economia Local – NEL,
da Área de Desenvolvimento Econômico e Social do
IBAM, 1996 a 2000. Participa da Articulação de Mulheres
Brasileiras Rio - AMB Rio e do Fórum Feminista do
Rio de Janeiro desde a criação, em 1994, de ambas
as organizações. Participa de seminários, oficinas e
encontros de trabalho nas áreas de políticas públicas,
planejamento governamental, planejamento urbano e
transportes. Apresenta palestras, conferências e estudos
relativos às políticas públicas, planejamento para o
gênero, produção do espaço urbano, desenvolvimento
sustentável, desenvolvimento econômico local,
trabalho, emprego, empreendedorismo e geração de
renda, com olhar particularizado para as relações de
gênero. Em sua produção acadêmica destacam-se
as teses de Mestrado “Gardênia Azul: o trabalho
feminino na produção do espaço urbano” (1984)
e de Doutorado “Território e estratégias de
desenvolvimento: alternativas de gestão no
Médio Paraíba” (2000).
Sumário

APRESENTAÇÃO.......................................................................7

CAPÍTULO 1
Globalização: Descentralização e
Concentração de Poder.............................................................. 9

CAPÍTULO 2
Democratização das Relações entre o
Estado e a Sociedade. ............................................................... 31

CAPÍTULO 3
Desenvolvimento Sustentável: o Global e o Local.................... 55

CAPÍTULO 4
Agendas Locais e Globais.......................................................... 79

CAPÍTULO 5
O Papel das Políticas Públicas Frente
ao Desenvolvimento Sustentável..............................................107
APRESENTAÇÃO
Estimada e estimado Pós-Graduando,

Pensar o nosso dia a dia, e nossas vivências nos mundos real e virtual,
exige uma compreensão dos desafios que nos cercam tanto nas ações do
cotidiano quanto no que fomos impactados, assim como da forma como estamos
interagindo diretamente com as variáveis tempo e espaço. Essas variáveis foram
modificadas conceitualmente na atualidade, alteraram e alteram o nosso viver,
sejam os diferentes meios para comprar ingressos para cinemas, teatros ou outro
tipo de lazer, sejam as ações dos movimentos sociais organizadas pelas redes
sociais, sejam as políticas, programas e projetos governamentais que buscam
atuar no ritmo imposto ao mundo pelo processo de globalização.

É disso que trataremos nesta disciplina – Políticas Públicas e Desenvolvimento


Sustentável – que será apresentada em cinco capítulos, que se complementam
no propósito de avançar no entendimento conceitual e prático, partindo sempre
da perspectiva do saber fazer para alcançar os objetivos do compreender as
diferentes etapas dos processos do viver.

O primeiro capítulo – Globalização: Descentralização e Concentração de


Poder – procura conhecer os processos mundiais de transformações ocorridos
nas últimas décadas, explicitando as consequências da globalização no cotidiano
das pessoas. Em seguida vamos discutir a Democratização das Relações entre
o Estado e a Sociedade, apresentando a constituição das relações entre Estado
e Sociedade e seus desafios, distinguindo os posicionamentos do Estado e da
sociedade nos diferentes momentos históricos no Brasil. A discussão sobre o tema
Desenvolvimento Sustentável: o Global e o Local é abordada no terceiro capítulo,
e tem por objetivo compreender a importância do desenvolvimento sustentável e
a interação local/global para a sobrevivência do nosso planeta ao mesmo tempo
em que propõe o debate sobre os impactos da sustentabilidade da vida em seus
aspectos econômicos, sociais e ambientais. Trabalhar as questões relacionadas com
as Agendas Locais e Globais nos remete aos problemas das esferas de articulação
internacional e nacional, em que se propõem a análise da interrelação das agendas
à luz dos papéis desempenhados pelos atores globais e locais. E, por fim, o último
capítulo da disciplina – O Papel das Políticas Públicas Frente ao Desenvolvimento
Sustentável – busca compreender os processos de negociação política, necessários
à formulação de políticas públicas, entre os diferentes atores frente a igual número
de interesses econômicos, sociais, culturais, étnicos/raciais e ambientais.

Esperando levar para vocês os questionamentos que nos impulsionam,


vamos dar início aos nossos estudos. Bom trabalho para todos e todas.

A Autora.

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C APÍTULO 1
Globalização: DeScentralização e
concentração De PoDer

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 Conhecer os processos mundiais de transformações ocorridos nas últimas


décadas.

 Identificar os impactos provocados por transformações decorrentes da


globalização.

 Analisar criticamente informações recebidas por diferentes mídias, como


impressa, televisiva e Internet.

 Explicar as consequências da globalização no cotidiano das pessoas.


Capítulo 1 GLOBALIZAÇÃO: DESCENTRALIZAÇÃO
E CONCENTRAÇÃO DE PODER

conteXtualização
Na era de big brother, em que tudo se sabe tudo se vê, a ideia da globalização
está presente no nosso dia a dia. Ao mesmo tempo em que ficamos sabendo dos
últimos resultados dos jogos de todos os campeonatos em andamento no mundo,
sabemos também do sobe e desce das bolsas de valores, do número de vítimas
nos acidentes aéreos, marítimos ou terrestres que venham a ocorrer tanto nos
países ocidentais como nos orientais.

Tomamos conhecimento das vidas de pessoas famosas, suas vitórias e


derrotas, assim como em geral das destruições que se abatem sobre seres
anônimos que povoam o planeta seja por conta de eventos naturais como vulcões
que entram em erupção, tsunamis que varrem os litorais, enchentes, furacões,
seja por conta de sequestros, assassinatos, crimes passionais e outras mazelas
da humanidade.

Compreender os processos que permitiram esse olhar global do mundo


sobre o mundo significa procurar compreender os mecanismos de concentração e
desconcentração que levaram a esse grau de transformação ocorrido a partir da
metade do século passado.

Ao escolher o MBA em Gestão Municipal e Políticas Públicas provavelmente


suas preocupações seguem o caminho do entendimento do “pensar global agir
local”, representando o desafio inerente aos governos municipais de compreender
os papéis e responsabilidades próprias dessa esfera de governo, assim como
reconhecer os atores – homens e mulheres - que constituem o poder local.

Neste capítulo vamos apresentar: as características do processo da


globalização; o que passou a significar a noção de tempo e espaço; como vem
ocorrendo a reestruturação tecnológica, econômica, produtiva e organizativa; a
integração de grandes mercados; os impactos sociais, culturais e ambientais; e os
aspectos políticos da descentralização e da concentração de poder.

caracteríSticaS Do ProceSSo Da
Globalização
Globalização não é um conceito fechado. Alguns estudiosos defendem
que o processo de globalização teve início com a expansão marítima europeia,
processo histórico ocorrido entre os séculos XV e XVII, conhecido como a
Era das Grandes Navegações e Descobrimentos Marítimos. Nesses termos,

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Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

também seria necessário, para se falar em globalização, ressaltar


O processo da
que toda a produção intelectual marxista, e a luta que pautou o
globalização possui
caráter econômico, movimento socialista no mundo, foram internacionalistas em sua
social, cultural, essência. Entretanto, no âmbito deste curso, vamos considerar como
político e ambiental. globalização o processo ocorrido nos últimos 30 anos.

O processo da globalização possui caráter econômico, social, cultural,


político e ambiental. O processo de globalização consiste em uma integração
entre os diferentes países, ocorrendo em escala global, tendo por sustentação as
sucessivas evoluções nos meios de transportes e telecomunicações
A principal combinadas com as possibilidades de acesso às tecnologias da
característica dos informação e das telecomunicações.
processos de
globalização é a A principal característica dos processos de globalização é a
velocidade. Estamos velocidade. Estamos vivenciando uma era de unificação do planeta
vivenciando uma
pela velocidade e é como se o mundo fosse ficando pequeno,
era de unificação
do planeta pela “encurtando as distâncias”.
velocidade e é como
se o mundo fosse O termo globalização se populariza a partir de meados de 1980
ficando pequeno, e passou a ser associado aos aspectos financeiros inerentes a esse
“encurtando as processo, passando a ser considerado como uma constante do
distâncias”.
mundo moderno.

Alvin Toffler discute, em seus trabalhos, a revolução digital, a


revolução das comunicações, a revolução das organizações e a
singularidade tecnológica. Seus livros o “Choque do Futuro” (1970) e
a “Terceira Onda” (1980) deram destaque à tecnologia e seus efeitos,
como a sobrecarga de informação. Comparou a atual revolução da
informação com a agrícola e a industrial do passado. Atualmente,
tem estudado o crescente poderio militar do século XXI, suas armas,
a proliferação da tecnologia e do capitalismo.

Thomas L. Friedman, em seu livro “O Lexus e a Oliveira”,


apresenta a globalização como uma vertente da fragmentação da
política a partir de 1945, com o final da Segunda Guerra Mundial,
culminando em 1989, com a queda do muro de Berlim, simbolizando
o insucesso do Socialismo.

Giovanni Alves, no prefácio do livro “Perspectivas da


Globalização. E das suas contradições no Brasil e na América Latina”,
nos fala da “crise da globalização” a partir da crise financeira de 2008,

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Capítulo 1 GLOBALIZAÇÃO: DESCENTRALIZAÇÃO
E CONCENTRAÇÃO DE PODER

caracterizando a dupla face da crise da globalização na década de


2000 por meio dos exemplos das novas experiências políticas pós-
neoliberais na América Latina e do estouro da bolha imobiliária nos
EUA em 2008, repercutindo na Europa Ocidental e Japão.

Por outro lado, fica bastante evidente que nem todos os países estão
inseridos, ou se inserem, na mesma frequência, no mesmo ritmo, do mesmo
modo, no cenário mundial.

Alvin Toffler chama nossa atenção para o fato de que se antes a diferença se
dava entre os países desenvolvidos e subdesenvolvidos agora essa diferença se
coloca entre os países rápidos e países lentos.

Da mesma forma, como ressalta Milton Santos, nem todos os A inserção em


tempo real
pontos do território desses países são igualmente rápidos ou igualmente
na dinâmica
lentos, levando a uma diferenciação interna entre os territórios de um globalizada
mesmo país. transfere aos
países rápidos
Obviamente, que a inserção em tempo real na dinâmica globalizada poder, progresso
transfere aos países rápidos poder, progresso e riqueza. e riqueza.

Neste momento é importante apresentar diferentes concepções


como Território pode ser compreendido.

Territórios tanto podem ser compreendidos como o território


político-administrativo dos países, no caso brasileiro também os
territórios estaduais e municipais, como também os territórios
formados por cidades, bairros, aldeias indígenas e quilombos, entre
outras expressões de territorialidade.

Território pressupõe “a existência de relações de poder, sejam


elas definidas por relações jurídicas, políticas ou econômicas. Nesse
sentido é uma mediação lógica distinta do conceito de espaço,
que representa um nível elevado de abstração, ou de região, que
manifesta uma das formas materiais de expressão da territorialidade,
como o é, por exemplo, a nação” (EGLER, 1995, p. 215).

Território não necessariamente significa o território nacional


e sua associação com a figura do Estado, mas que “territórios

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Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

existem e são construídos (e desconstruídos) nas mais diversas


escalas, da mais acanhada [...] à internacional [...]: territórios são
construídos (e desconstruídos) dentro de escalas temporais as mais
diferentes: séculos, décadas, anos, meses ou dias; territórios podem
ter um caráter permanente, mas também podem ter uma existência
periódica, cíclica”. (SOUZA, 1995, p. 81).

Portanto, vale chamar a atenção para o fato de que nem todos os pontos
dos territórios estão igualmente inseridos no processo de globalização. É
necessário considerar os avanços tecnológicos aos quais estão submetidos. Num
mesmo país temos áreas com maior acessibilidade aos meios de comunicação
do que outras, levando a diferenças internas, diferenças essas que ficam
refletidas, registradas, nos territórios sob a forma de maior ou menor grau de
desenvolvimento socioeconômico.

Por outro lado, a partir da crise financeira de 2008 o mundo vem enfrentando
o que se considerou chamar de uma “crise da globalização”. Como falamos
acima, a globalização é um fenômeno que não se restringe ao mundo econômico
dos grandes interesses do capitalismo, atingindo pela facilidade de comunicação
a cultura e a vida política de todos os cantos do planeta. A Internet tem se
mostrado como um poderoso inimigo para os regimes fechados, as ditaduras.
Mesmo sendo objeto de controle, as redes sociais espraiadas pela Internet se
reinventam a cada momento.

O fluxo de informação no mundo tem a mesma velocidade do fluxo de


capital, mas fica o questionamento sobre a potencialidade dos movimentos
sociais, a sociedade civil organizada, de se contrapor à hegemonia do capitalismo
globalizado. No Capítulo 2 deste caderno trataremos sobre esse questionamento.

Atividade de Estudos:

1) Pesquise nos jornais de sua cidade quais os países mais atingidos


pela crise internacional de 2008 e por que o foram?

Observe que você pode obter essas informações tanto nos


jornais impressos, em geral constantes nos arquivos das bibliotecas,
quanto nas versões online dos principais jornais de âmbito nacional,
como O Globo, Folha de São Paulo, Valor Econômico, Estado de
Minas, entre outros.

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Capítulo 1 GLOBALIZAÇÃO: DESCENTRALIZAÇÃO
E CONCENTRAÇÃO DE PODER

Quando pesquisamos temos um tema a ser verificado e sua


ocorrência em um determinado período histórico. No nosso caso,
vale limitar a pesquisa para o período de 2005 a 2010.

Sua pesquisa pode ser iniciada selecionando o jornal do seu


interesse e acessando seu site. Com o site aberto, procure o campo
de busca e digite o que está procurando, por exemplo, notícias
da crise internacional de 2008. Em seguida aparecerão diversas
notícias e o seu trabalho de pesquisa começa a acontecer. Abaixo
apresentamos um exemplo do que você poderá encontrar. Seu
trabalho é ter clareza do que está fazendo e selecionar o que te
interessa, tendo por base a pergunta que terá que ser respondida
sob a forma de redação livre.

MANTEGA AFIRMA QUE CRISE INTERNACIONAL PODE


AFETAR CRESCIMENTO EM 2008

Publicada em 12/03/2008 às 13h38m


Martha Beck - O Globo

BRASÍLIA. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse nesta


quarta-feira que a crise internacional desencadeada pela economia
americana pode afetar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB)
brasileiro em 2008. Segundo ele, a previsão do governo para este
ano é de 5% - abaixo dos 5,4% de 2007 - porque as turbulências
internacionais trazem preocupação em relação ao cenário brasileiro.

• Nós vivemos hoje uma crise internacional de grande magnitude.


Pode ser que essa crise afete um pouco a aceleração do
crescimento. Então nós preferimos trabalhar com uma previsão de
5% para 2008 tendo em vista que existe esse fator que traz alguma
intranquilidade dentro do cenário econômico. Se não houvesse
essa crise, eu poderia afirmar vamos continuar acelerando, mas
com a crise, 5% está de bom tamanho - afirmou Mantega.

O ministro ressaltou que o bom desempenho da economia no


segundo semestre do ano passado teve efeito positivo sobre este
ano. Segundo ele, a economia está crescendo hoje a um ritmo de
6%, mas a crise, que se agravou os últimos dias, pode comprometer
esse desempenho.

• A crise é de grande proporções e está se tornando mais séria,


então, temos que ter prudência - disse Mantega.
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Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

Mesmo assim, o ministro fez questão de dizer que a economia


brasileira está mais forte hoje para enfrentar essas turbulências:

• A crise começou em agosto de 2007 e mesmo assim não afetou o


crescimento como teria ocorrido em outras.

Fonte: BECK, Martha. Mantega afirma que crise internacional pode


afetar crescimento em 2008. O Globo, Rio de Janeiro, 13 mar. 2008.
Disponível em: <http://oglobo.globo.com/economia/mat/2008/03/12/
mantega_afirma_que_crise_internacional_pode_afetar_crescimento_
em_2008-426193582.asp>. Acesso em: 25 ago. 2011.

Repetindo a pergunta: Pesquise nos jornais de sua cidade quais


os países mais atingidos pela crise internacional de 2008 e por que
o foram?
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2) Como classificaria o Brasil no que diz respeito à inserção


diferenciada dos territórios no processo de globalização?
(redação livre).
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3) Inicie um novo trabalho de pesquisa, ainda nos jornais, e reflita


sobre o lugar onde mora e a relação estabelecida entre sua
cidade e o país como um todo.
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Capítulo 1 GLOBALIZAÇÃO: DESCENTRALIZAÇÃO
E CONCENTRAÇÃO DE PODER

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noção De temPo e eSPaço


Nesta seção vamos nos apoiar em Milton Santos, geógrafo brasileiro, que
inova ao abordar as categorias de análise tempo e espaço.

Procure entrar em contato com a obra de Milton Santos, em


especial com seus livros: Espaço e Sociedade; Espaço & Método; A
Natureza do Espaço, Técnica e Tempo, Razão e Emoção; O Espaço
Dividido; Por uma Outra Globalização.

Neste último, em uma abordagem crítica, Milton adverte sobre


o processo perverso de globalização atual na lógica do capital,
apresentado como um pensamento único. Transformando o consumo
em ideologia de vida, fazendo de cidadãos apenas consumidores,
massificando e padronizando a cultura e concentrando a riqueza
nas mãos de poucos. O espaço “é
formado por
A produção de Milton Santos é densa e, após sua morte um conjunto
em junho de 2001, foi objeto de reedição pela Editora da UnB - indissociável,
Universidade de Brasília. solidário e também
contraditório,
de sistemas de
objetos e sistemas
de ações, não
Trabalhar as categorias de análise tempo e espaço implica no considerados
reconhecimento da importância da dimensão espacial junto com a isoladamente, mas
econômica, a político institucional e a ideológico-cultural na articulação da como o quadro
sociedade e seu papel fundamental na explicação dos processos sociais. único no qual a
história se dá”.
(SANTOS,
O espaço “é formado por um conjunto indissociável, solidário e
1996, p. 51).
também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não
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Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá”.


(SANTOS, 1996, p. 51).

É importante que percebam que a abordagem de Santos transporta o território,


onde todos se encontram em seus limites geográficos, para esse quadro único,
prenhe de articulações econômicas e sociais, como uma tela que não está em
branco e sobre a qual se formatam, se desenham, se constroem, tanto os projetos
pessoais quanto os coletivos. Vale chamar atenção novamente que a tela não está
em branco, mas sim prenhe dos fluxos econômicos, sociais, culturais e políticos.

Continuando com Santos (1996, p. 52), ele nos mostra a necessidade de


contextualizarmos as novas relações estabelecidas em sociedade, isto porque,

hoje as chamadas forças produtivas são, também, relações


de produção. E vice-versa. A interdependência entre forças
produtivas e relações de produção se amplia, suas influências
são cada vez mais recíprocas, uma define a outra cada vez
mais, uma é cada vez mais a outra.

Quando falamos de modo de produção estamos falando de parte do conjunto


do viver em sociedade – produção, distribuição e consumo. O avanço tecnológico
e as inovações tecnológicas, que objetivam diluir as barreiras espaciais e
adquirem formas concretas na racionalidade da organização espacial, provoca a
reestruturação do sistema produtivo e a formulação, criação, de novas técnicas
administrativas, com ênfase nas formas de gestão.

Quando vamos a um supermercado e fazemos compras estamos


adquirindo bens. Da mesma forma, quando pagamos a passagem do
ônibus ou uma consulta médica, estamos pagando um serviço.

Vivendo em sociedade, participamos diretamente da produção,


da distribuição e do consumo de bens e serviços, ou seja, participamos
da vida econômica da sociedade. Assim, o conjunto de indivíduos que
participam da vida econômica de uma nação é o conjunto de indivíduos
que participam da produção, distribuição e consumo de bens e serviços.
Participam, também, da vida em sociedade.

Vale dizer, quando trabalhamos estamos ajudando a produzir,


quando, com o dinheiro que recebemos pelo nosso trabalho,
compramos algo, estamos participando da distribuição, pois estamos
comprando bens e consumo.

E quando consumimos os bens e os serviços que adquirimos,


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Capítulo 1 GLOBALIZAÇÃO: DESCENTRALIZAÇÃO
E CONCENTRAÇÃO DE PODER

estamos participando da atividade econômica de consumo de bens


e serviços.

Trabalho – é a atividade realizada pela pessoa que, utilizando os


instrumentos de produção, transforma a matéria-prima num bem.

Produção – é a transformação da natureza da qual resulta bens


de consumo que vão satisfazer as necessidades do homem. Produzir
é dar uma nova combinação aos elementos da natureza.

O processo de produção compõe-se de três elementos


associados: trabalho, matéria-prima e instrumentos de produção.

Fonte: Baseado na obra de: OLIVEIRA, Pérsio Santos de.


Introdução à Sociologia. São Paulo: Ática, 2002.

A simultaneidade de estruturas produtivas coexistindo no tempo O tempo rápido não


exige que se atente para a questão da temporalidade. Temporalidade, cobre a totalidade
essa considerada por Santos (1996, p. 213), “como uma interpretação do território
particular do tempo social por um grupo, ou por um indivíduo” nem abrange a
[ressaltando que] “o tempo rápido não cobre a totalidade do território sociedade inteira.
nem abrange a sociedade inteira” [e que, como resultante dos efeitos
locais da globalização] “os tempos lentos são referidos ao tempo rápido, mesmo
quando este não se exerce diretamente sobre lugares ou grupos sociais”.

É importante compreender o que significa no nosso cotidiano o correr


simultâneo de tempos diferenciados configurando uma dualidade de tempos
presentes em um mesmo lugar.

Ocorre uma mudança na relação espaço/tempo, com a tendência de se ter


a variável tempo igual a zero. Nesse sentido, as diversas redes – tanto as de
deslocamentos tradicionais, como as malhas viárias, ferroviárias, aeroviárias
quanto as infovias, com as transmissões de informações pelas estradas de
comunicação da internet – estabelecem relações diferenciadas do lugar com um
espaço mais amplo.

Atividade de Estudos:

1) O que nos leva a perceber a dualidade de tempos presentes em


um mesmo lugar?
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Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

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2) Como compreender a tendência de se ter a variável tempo igual a


zero?
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4) Vamos olhar a nossa volta e registrar como os novos meios de


comunicação tendem a eliminar o tempo de deslocamento e não
o espaço onde ocorre o deslocamento.

Apresente sua pesquisa em forma de redação no espaço que


segue
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A expressão “ocupar um lugar no espaço” é determinante na nova


espacialidade e no jogo da inclusão-exclusão. Lugar é o resultado da combinação
entre horizontalidade e verticalidade. “Cada ponto local da superfície terrestre
globalizada em rede vai ser o resultado desse encontro entrecruzado de
horizontalidade e de verticalidade. E é isso o lugar”. (MOREIRA, 1997, p. 4).

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Capítulo 1 GLOBALIZAÇÃO: DESCENTRALIZAÇÃO
E CONCENTRAÇÃO DE PODER

É importante, também, entendermos que cada lugar nasce diferente


A globalização
do outro. “E isto dá ao todo da globalização um cunho nitidamente reúne em cada
fragmentário”. (MOREIRA, 1997, p. 4). lugar todos os
lugares, mas o
A globalização reúne em cada lugar todos os lugares, mas o que que existe, como
existe, como observa Milton Santos, é o lugar e não o mundo, uma vez observa Milton
que são as coisas e os lugares que se mundializam e não o mundo. Santos, é o lugar e
não o mundo, uma
vez que são as
coisas e os lugares
reeStruturação tecnolÓGica, que se mundializam
e não o mundo.
econÔmica, ProDutiva e orGanizativa
Como vimos até aqui, com a nova fase do capitalismo iniciada no final dos
anos de 1970, marcada pela mundialização do capital, com o aprofundamento
do processo de internacionalização e hegemonia do capital financeiro, O processo de
a lógica dessa fração do capital passou a condicionar as demais formas globalização surge
do capital, indicando um forte entrelaçamento entre elas. Também para atender ao
como já vimos anteriormente, esse processo reafirmou a tendência do capitalismo e,
desenvolvimento desigual e combinado. principalmente,
os países
É possível compreendermos a reestruturação do sistema desenvolvidos,
de modo que
capitalista, que marcou o período como uma resposta à crise estrutural
pudessem buscar
aberta em 1974 e à crescente contestação social. Assim, o processo de novos mercados,
globalização surge para atender ao capitalismo e, principalmente, os tendo em vista que
países desenvolvidos, de modo que pudessem buscar novos mercados, o consumo interno
tendo em vista que o consumo interno encontrava-se saturado. encontrava-se
saturado.
A nova fase representa um profundo processo de mudança social,
institucional e cultural, pode ser caracterizada por:

• movimentos de desestruturação e reestruturação do tecido


produtivo e empresarial preexistentes, estabelecendo um
processo de desinversão e reinversão de capitais;
• mudanças na direção de novas formas de produção
mais eficientes, que concretizam, dão forma, à revolução
tecnológica e organizacional;
• introdução da microeletrônica abrindo a possibilidade de
comunicação entre as diferentes fases dos processos
econômicos;
• alta volatilidade e mobilidade da produção, ciclos produtivos
cada vez mais curtos, que aumentam a vulnerabilidade das
formas de produção tradicionais;
• existência de mudanças radicais nos métodos de gestão
empresarial;
• importância da qualidade e diferenciação dos produtos como
estratégia de competitividade dinâmica;

21
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

• renascimento de preferências regionais e locais como um


Na reestruturação contra movimento, favorecendo novas oportunidades e
produtiva as nichos de mercado;
empresas para • no plano político, pressões para que governos locais e
obterem maior regionais mudem de “autoridade administrativa” para
competitividade “gerente empreendedor”;
globalmente se • novas formas de administração, favorecendo o fortalecimento
reestruturam. A do setor das pequenas empresas vinculadas à grande
empresa num esquema de terceirização. (COELHO, 1995
reestruturação
apud, OLIVEIRA, 2006, p. 24-25).
produtiva se
caracteriza por dois
elementos: inovação Fenômeno intrínseco ao processo de globalização, a
tecnológica reestruturação produtiva veio com a chamada “Terceira Revolução
e inovação Industrial” que tem como paradigma o modelo Toyotista, desenvolvido
organizacional. no Japão na empresa Toyota de 1950 a 1970. Afirma-se como
oposição ao modelo de produção Fordista-Taylorista e começa a se
desenvolver no Ocidente a partir da década de 70.

Na reestruturação produtiva as empresas para obterem maior competitividade


globalmente se reestruturam. A reestruturação produtiva se caracteriza por dois
elementos: inovação tecnológica e inovação organizacional.

Quadro 1 – Reestruturação Produtiva

REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA
Tem por base a microeletrônica (chips) como computadores, máquinas
Inovação de controle numérico computadorizado, robôs, CAD-CAM (de Computer
Tecnológica Aided Design e Computer Aided Manufacturing) - desenho e produção
industrial com auxílio de computadores, entre outros;
Tem por base os processos de terceirização, just-in-time, kanban, ilhas
Inovação
de produção, trabalho em equipe, condomínio ou pólo industrial, CCQ
Organizacional
(círculo de controle de qualidade), qualidade total, etc.

Fonte: A autora.

A partir das informações a seguir faça sua pesquisa visando aprofundar seus
conhecimentos sobre o processo de reestruturação produtiva.

CRISE DO FORDISMO

• Ocorre a partir dos anos 70.


• Inflação gerada pela disputa distributiva.
• Fim do padrão-ouro e da conversibilidade do dólar (1972 –
presidente Nixon – EUA).
• 1973 e 1979 : aumento do preço do petróleo.

22
Capítulo 1 GLOBALIZAÇÃO: DESCENTRALIZAÇÃO
E CONCENTRAÇÃO DE PODER

• 1979: elevação dos juros norte-americanos.


• Reaparição, em 1974-75, da primeira crise “clássica” de
superprodução e de superacumulação depois da Segunda Guerra
Mundial.
• A reconstituição das bases econômicas e sociais de um capital
financeiro poderoso, que não tolerou a força dos sindicatos e os
gastos sociais pelos diversos governos.
• A chegada de governos conservadores ao poder em fins da década
de 70: Reagan nos EUA, Margareth Thatcher na Inglaterra.

QUATRO FASES QUE LEVARAM AO ADVENTO DO TOYOTISMO

• A introdução, na indústria automobilística japonesa, da


experiência do ramo têxtil, dada especialmente pela necessidade
de o trabalhador operar simultaneamente com várias máquinas.
• A necessidade de a empresa responder à crise financeira,
aumentando a produção sem aumentar o número de trabalhadores.
– A importação das técnicas de gestão dos supermercados dos
EUA, que deram origem ao kanban. Conforme Toyoda Sakichi,
presidente fundador da Toyota, “o ideal seria produzir somente
o necessário e fazê-lo no melhor tempo”, tomando por base
o modelo dos supermercados, de reposição dos produtos
somente depois da sua venda. Segundo Benjamin Coriat, o
método kanban já existia desde l962, de modo generalizado,
nas partes essenciais da Toyota, embora o toyotismo, como
modelo mais geral, tenha sua origem a partir do pós-guerra.
– A expansão do método kanban para as empresas
subcontratadas e fornecedoras.

O MODELO TOYOTISTA

• Origem: Japão.
• Quando: 1950 a 1970.
• Como foi criado?
– importação de técnicas de gestão dos supermercados dos
EUA = kanban;
– introdução da experiência do ramo têxtil – trabalho com várias
máquinas.

• Características principais:
– produção conduzida pela demanda e pelo consumo: o
consumo determina a produção;
– produção variada pronta para suprir o consumo;
23
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

– produção flexível: “polivalência” do trabalhador = trabalho com


várias máquinas;
– trabalho em equipe: rompe-se com o trabalho parcela do
Fordismo;
– horizontalização: contra a verticalização fordista;
– intensificação do trabalho;
– flexibilização dos trabalhadores: horas extras, trabalho
temporário e subcontratação.

Fonte: ALMEIDA, Angélica. O Mundo do Trabalho: o fim do trabalho?


Disponível em: <http://www.rexlab.ufsc.br:8080/more/
formulario10>. Acesso em: 2 ago. 2011.

A questão do desemprego estrutural nos é trazida por Antunes, (1995),


quando observa que há no universo do mundo do trabalho no capitalismo
contemporâneo, uma múltipla processualidade:

• de um lado verificou-se uma desproletarização do trabalho industrial fabril,


nos países de capitalismo avançados com maior ou menor repercussão em
áreas industrializadas do Terceiro Mundo;

• ressalta, em outras palavras, que houve uma diminuição da classe operária


industrial tradicional; paralelamente, efetivou-se uma expressiva expansão
do trabalho assalariado, a partir da enorme ampliação do assalariamento no
setor de serviços.

• verificou-se uma significativa heterogeneização do trabalho, expressa também


através da crescente incorporação do contingente feminino no mundo
operário;

• vivencia-se também uma subproletarização intensificada, presente


na expansão do trabalho parcial, temporário, precário, subcontratado,
“terceirizado”, que marca a sociedade dual no capitalismo avançado.

Atividade de Estudos:

1) Com base nas informações recebidas ao longo desta seção,


analise a situação do trabalho na sua cidade, considerando a
reestruturação produtiva sintetizada no quadro abaixo.

24
Capítulo 1 GLOBALIZAÇÃO: DESCENTRALIZAÇÃO
E CONCENTRAÇÃO DE PODER

Reestruturação Produtiva do Emprego ao Trabalho


Como problema fundamental da reestruturação Único Múltiplo
produtiva, temos: Formal Informal
- o crescimento do desemprego e a separação Estável Mutante
entre crescimento econômico e a criação de Industrial Serviços
emprego (transformando emprego em trabalho).
Masculino Gênero
Assalariado Autônomo
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________

inteGração De GranDeS mercaDoS


Como você está acompanhando, a era da globalização tem se mostrado
a fase mais avançada do capitalismo. Com o declínio do socialismo, o
sistema capitalista tornou-se predominante no mundo e os processos globais,
principalmente, os econômicos com as inovações tecnológicas e o incremento no
fluxo comercial mundial se impuseram.

Por outro lado, como chamamos atenção anteriormente, desde 2008


estamos vivendo uma crise da globalização onde os agentes econômicos se
movimentaram no primeiro momento negando a existência da crise. Em seguida,
o momento de caça aos culpados. Vislumbrados os culpados, começam os
processos de negociação em busca da saída. A aceitação da crise se concretiza
na consequente busca real para sua saída.

Assim, o que parecia ser um consenso quase aceito universalmente,


Medidas claras de
ou seja, as vantagens do livre comércio e da crescente integração entre os
protecionismo estão
países, começa a ser debatido. Conceitos tidos como em obsolescência
sendo tomadas
no mundo globalizado como nacionalismo, xenofobia e protecionismo e a primeira
ameaçam se reerguerem, colocando o mundo como o conhecemos delas proposta
hoje em questionamento. Medidas claras de protecionismo estão sendo pelos agentes
tomadas e a primeira delas proposta pelos agentes econômicos é o econômicos é
“fechamento das fronteiras”, a antítese do processo de globalização. o “fechamento
das fronteiras”,
Ao mesmo tempo, a difusão de informações entre empresas e a antítese do
processo de
instituições financeiras, ligando os mercados do mundo, continua ocorrendo
globalização.
graças a permanente busca pelas inovações tecnológicas, principalmente
25
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

nas telecomunicações e na informática.

Inovações essas que continuam promovendo encontros e desencontros,


em especial a partir do conjunto dos meios oportunizados pela rede de
telecomunicação, como internet, telefonia fixa e móvel, computadores, televisão,
aparelhos de scanner ou fax, entre outros.

É necessário também ressaltar que o incremento no fluxo comercial mundial,


com a troca efetiva de mercadorias, encontra na modernização dos transportes,
especialmente o marítimo, forte fator indutor das transações comerciais,
importação e exportação. O transporte marítimo possui uma elevada capacidade
de carga, que permite também a mundialização das mercadorias, permitindo que
um mesmo produto seja encontrado em diferentes pontos do planeta.

O processo de globalização estreitou as relações comerciais entre os


países e as empresas. Acirrou a formação de blocos econômicos, que buscam
se fortalecer no mercado que está cada vez mais competitivo. As multinacionais
ou transnacionais contribuíram fortemente para a efetivação do processo de
globalização, tendo em vista que essas empresas desenvolvem atividades em
diferentes territórios.

As empresas transnacionais, instrumentos de concentração e acumulação,


respondem a um duplo objetivo: utilizar a mão-de-obra barata dos países
subdesenvolvidos para produzir a baixo custo produtos de exportação, e elevar as
taxas de lucros, que desceram a um nível bastante baixo nos países que integram
o centro do sistema.

Esses dois objetivos não poderiam ser atingidos sem uma mundialização
da produção e do consumo, das trocas e do mercado, do capital sob todas as
suas formas e do trabalho. O próprio Estado torna-se internacionalizado, não
apenas por suas funções externas, mas também por suas funções internas,
como a de assegurar as condições do crescimento em nível mundial. (SANTOS,
2004, p. 17).

Neste sentido, Milton Santos nos chama atenção para o fato de que as
empresas transnacionais, consideradas “centros-frouxos”, fogem ao controle dos
Estados, desorganizam os territórios e não se comprometem com a realidade
social dos países. Essa produção descentralizada pode ser exemplificada com
o caso da empresa estadunidense Boeing que recebe componentes de seus
aviões de mais de 300 fornecedores do mundo inteiro. A fábrica perde seus
muros e pátios físicos de produção e o mundo adquire características de uma
fábrica global.

26
Capítulo 1 GLOBALIZAÇÃO: DESCENTRALIZAÇÃO
E CONCENTRAÇÃO DE PODER

imPactoS SociaiS, culturaiS e


ambientaiS
Quais seriam, então, os impactos sociais, culturais e ambientais da
globalização?

Alguns aspectos já foram abordados ao longo das seções anteriores.


Entretanto, é necessário chamar a atenção para o fato de que as pessoas habitam
o planeta terra, mas vivem no seu local, no seu município.

Não vivemos no global. Sofremos os impactos da globalização. Vale


Não vivemos no
dizer, vivemos na nossa cidade, no nosso bairro, que sofrem os impactos global. Sofremos
econômicos da reestruturação produtiva e as consequentes mudanças os impactos da
no mundo do trabalho, como vimos na seção anterior. globalização.
Vivemos na nossa
Como a sociedade vivencia esses impactos e como os governantes cidade, no nosso
das esferas federal, estadual e municipal são responsáveis por minimizar bairro, que sofrem
os impactos tanto na vida das pessoas - no que diz respeito às políticas os impactos
sociais e culturais - quanto no respeito ao meio ambiente - com uma econômicos da
política ambiental condizente com esse respeito. reestruturação
produtiva e as
consequentes
E nesse sentido, tendo em vista maior cobertura das redes de
mudanças no
informação e comunicação no território nacional, a participação social,
mundo do trabalho.
no Brasil, tem ocorrido de forma consistente nos últimos anos. É possível
considerar que tal fato vem ocorrendo,

seja pelo crescimento do número e da qualidade de atuação


das organizações da sociedade civil, seja pela ação dos
meios de comunicação de massa, que produzem efeitos sobre
os indivíduos comuns, induzindo-os a participar política e
efetivamente de assuntos que os afetam diretamente. (IBAM,
2009, p. 70).

Entretanto, trataremos destes temas com maior aprofundamento nos


capítulos seguintes do nosso caderno de estudos.

aSPectoS PolíticoS Da
DeScentralização e concentração
Ao abordarmos os aspectos políticos da descentralização e concentração
nos processos de globalização, é preciso reconhecer que declina o papel do
Estado-Nação e o das próprias metrópoles, em benefício de centros de decisão
dispersos em empresas e conglomerados. Centros esses que se movem por

27
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

países e continentes, de acordo com as conveniências dos negócios, movimentos


do mercado e exigências de reprodução ampliada do capital.

O processo de concentração e centralização de capital recrudesce, afetando


cidades, nações, continentes, formas de trabalho e de vida, maneiras de ser e
pensar e produções culturais.

Descentralização envolve a redefinição de centros de poder,


Descentralização assegurando-lhes a pluralidade. Em contrapartida, a concentração de
envolve a
poder pode ocorrer com a mudança para as “mãos” de outros grupos
redefinição de
de interesse, configurando ou não transferência de poder intra ou
centros de poder,
assegurando-lhes intergrupos sociais.
a pluralidade. Em
contrapartida, a De qual descentralização estamos falando?
concentração de
poder pode ocorrer Qual a possibilidade de se evidenciar os graus de influência
com a mudança mútua entre os processos de descentralização e de concentração?
para as “mãos”
de outros grupos É possível afirmar, como vimos ao longo deste capítulo, que o
de interesse, processo de globalização gera impactos sobre o papel do Estado-
configurando ou Nação e, em consequência, sobre as estratégias de organização
não transferência
do Estado e suas relações com a sociedade – como no caso da
de poder intra ou
exigência da democracia. No Capítulo 2 trataremos especificamente
intergrupos sociais.
da democratização das relações entre o Estado e a sociedade.

É possível, também, esperar uma relação entre a globalização e os esforços


de reorganização do Estado – inclusive os de descentralização.

Neste sentido, é possível apresentar as potencialidades dos processos de


descentralização, considerando sua natureza e a esfera de poder a qual estará
referenciada, conforme o quadro a seguir.

Quadro 2 - Potencialidades dos Processos de Descentralização

POTENCIALIDADES DOS PROCESSOS DE DESCENTRALIZAÇÃO


• maior conhecimento dos problemas, limitações, recursos e potencial econômicos;
• maior possibilidade de uso desses recursos de uma forma social, ambiental e
Natureza
eticamente adequada;
econômica
• clareza quanto ao economicismo que caracteriza a lógica de mercado e que quando
aplicado às políticas e aos serviços sociais tende a excluir a população mais pobre
• percepção dos problemas sociais em toda a sua pluralidade, complexidade e
heterogeneidade, assim como aumento da sensibilidade para elegê-los como
Natureza
prioridade para a formatação de políticas públicas;
social
• maior acesso da população à máquina governamental, especialmente os gru-
pos em situação de desvantagem ou marginalização social;

28
Capítulo 1 GLOBALIZAÇÃO: DESCENTRALIZAÇÃO
E CONCENTRAÇÃO DE PODER

• possibilidade de adequação das políticas e serviços públicos às especifici-


dades, aos padrões culturais e ao estilo de vida local
• pluralidade e partilha de poder;
• incorporação da participação popular na tomada de decisões, nas ações e no
controle social da gestão pública;
Natureza • contribuição para a constituição dos movimentos sociais como sujeitos coletivos;
política • atribuição de parcelas de poder a grupos e áreas territoriais até então mar-
ginalizados;
• aumento da representatividade e legitimidade das instituições e agentes políti-
cos, bem como do seu enraizamento social;

Fonte: A autora.

Por outro lado, é importante lembrar que descentralização pode ser


compreendida por diferentes significados: desregulamentação da economia,
associada à “nova direita”, numa visão mais competitiva, com a privatização de
agências e serviços públicos; democratização da administração pública e ao
desenvolvimento de modelos econômicos menos concentradores e excludentes,
numa posição tida como “progressista” e com afinidade com uma “maior divisão do
poder decisório entre os entes federados. Caracterizando-se como um processo
em que o Estado não abre mão de suas funções provedoras e reguladoras, nem
transfere para o setor privado responsabilidades e competências que não lhe
cabem” (PEREIRA,1998, apud LUSTOSA).

alGumaS conSiDeraçõeS
Ao longo deste capítulo demonstramos que habitamos um mundo constituído
por circuitos sensíveis, pertencentes a um universo de relações no qual se cruzam
as causas e os efeitos, cujas transformações ocorridas em um país, uma região,
provocam alterações em outras, independente de sua localização geográfica.

Vimos, também, que o poder de interferência não é simétrico, ou seja, nem


todas as regiões têm capacidade de afetar a outras, visto que isso depende do
grau de poder ali concentrado pelo desenvolvimento de certos pontos do território,
que são capazes de expandir os efeitos positivos ou negativos a outros pontos.
Lembramos que os pontos – que reconhecemos enquanto países, regiões, ou
a escala com a qual estivermos trabalhando – sofrem de modo diferenciado os
efeitos da globalização.

Entretanto, apesar da globalização, ou quem sabe exatamente por causa


dela, os habitantes do planeta seguem se referenciando a um lugar o qual
vinculam seus interesses primários e vitais como indivíduos e como seres
sociais. As pessoas pertencem ao longo de suas vidas a espaços determinados

29
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

em que os diferentes fluxos ali presentes não são apagados pelas relações de
interdependência, mas, sim, afetados.

reFerÊnciaS
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SANTOS, Milton. Pensando o Espaço do Homem. 5 ed. São Paulo: Edusp, 2004.
30
C APÍTULO 2
Democratização DaS relaçõeS entre
o eStaDo e a SocieDaDe

A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 Apresentar a constituição das relações entre Estado e sociedade e seus


desafios.

 Distinguir os posicionamentos do Estado e da sociedade nos diferentes


momentos históricos no Brasil.
Capítulo 2 DEMOCRATIZAÇÃO DAS RELAÇÕES
ENTRE O ESTADO E A SOCIEDADE

conteXtualização
Como vimos no capítulo anterior, os processos de globalização mudaram
radicalmente o olhar do mundo sobre o próprio mundo. A crise financeira, que vem
afetando as economias avançadas desde 2008, ganha novos contornos no início
do segundo semestre de 2011 diante das decisões tomadas pela União Europeia,
ou seja, a aprovação do “pacote” para a economia grega, país periférico da zona
do euro. Tal situação ocorre de modo concomitante às discussões e debates nos
Estados Unidos - EUA sobre o “teto” do endividamento público da maior economia
do planeta. A análise desses dois fatos mostra que ainda são reflexos, de modo
mais ou menos direto, da crise financeira mundial que seguiu o “estouro da bolha”
imobiliária norte-americana em meados de 2007.

Os acontecimentos nos EUA atingiram a economia europeia devido


à exposição de bancos europeus aos ativos imobiliários que causaram a
crise financeira americana. As decisões políticas que embasam as ações de
enfrentamento da severa recessão sofrida pelos países periféricos da zona
do euro têm, no mínimo, dois fatores: (i) a crise financeira mundial rompeu as
bases do padrão de crescimento anterior daqueles países periféricos; (ii) os
governos dos países periféricos da zona do euro carecem da autonomia político-
econômica necessária para induzir a recuperação macroeconômica. É sabido que
governos tentam o enfrentamento de crises a partir de combinações de políticas
fiscal, monetária e cambial. Entretanto, os países periféricos da zona do euro
perderam a possibilidade de recorrer a essas opções. Adotam políticas de bases
neoliberais, desenhadas a partir do projeto monetário europeu, que excluem a
autonomia do Estado.

No caso do debate sobre o limite do endividamento nos EUA, ficou claro


à comunidade mundial que não se trata de um limite técnico, mas sim de um
limite legal imposto pelo Congresso. A elevação desse limite, desde 1960, ocorreu
tanto em governos republicanos quanto democratas. Entretanto, o que diferencia
o momento atual dos anteriores é a grave recessão por que passam os EUA.
Porém, como a divisa internacional é a própria moeda americana, significando
que importações e outras obrigações são pagas em dólar, o governo federal
americano, como detentor de uma moeda soberana, estabelece uma política
fiscal com grande grau de flexibilidade frente aos mercados mundiais.

Essa reflexão sobre a democratização das relações entre o Estado e a


sociedade é importante frente ao cenário de incertezas que estamos vivenciando,
que, no limite, questiona se essas incertezas poderiam levar ao desaparecimento
dos Estados, tendo em vista a expansão crescente de um mundo aparentemente
sem fronteiras.
33
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

De que Estado estamos falando?

Falamos de Estados representados por seus respectivos


governos, com pesos diferenciados no cenário internacional, como
atores principais nas relações internacionais. Esses Estados passam,
em ritmos também diferenciados, a ser substituídos por entidades de
caráter transnacional, como a União Europeia.

Entretanto, os Estados-Nações perduram apesar do grau de intensa globalização


em que se encontra a sociedade mundial, que parece suprimir muitos dos valores
inerentes ao conceito clássico de nação e paradoxalmente permite a manutenção
de traços típicos do nacionalismo dos séculos passados. Ao mesmo tempo, o século
XXI pressupõe a diversidade cultural representada pela imensa variedade cultural,
étnica e religiosa que supostamente deve conviver em paz no interior do Estado.
Essa pretensão está relacionada ao ideal de multiculturalismo que prevalece na
atualidade e que exige o convívio harmonioso com aquilo que é diferente.

Justamente por isso, como concluímos no capítulo 1, é que se valoriza


o pertencimento das pessoas aos seus lugares próprios, aos seus espaços
determinados, sendo afetadas pelas relações interdependentes que ali ocorrem. Ou
seja, que ocorrem em seu espaço de vivência, em sua cidade, em seu Município.

o PaPel Do eStaDo
Para se pensar o papel do Estado é preciso, antes de tudo, ressaltar que
Estado é diferente de Governo. Estado é a nação politicamente organizada na
composição de seus estados e territórios e de seu arcabouço legal, composto pela
Constituição, sua lei máxima, e pelo conjunto de leis que orientam seus cidadãos.

O Estado é composto por um povo, um território e um governo.

Governo é administração, gestão, direção e é formado por todas as


instituições dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.

34
Capítulo 2 DEMOCRATIZAÇÃO DAS RELAÇÕES
ENTRE O ESTADO E A SOCIEDADE

Para entender melhor: “políticas de Governo” são aquelas que têm a duração
dos mandatos dos seus governantes; “políticas de Estado” perduram por vários
governos.

De acordo com Höfling (2001), podemos considerar: Estado como


Estado como
o conjunto de instituições permanentes - como os órgãos legislativos, o conjunto de
tribunais, exército e outras que não formam necessariamente um bloco instituições
monolítico – que possibilitam a ação do governo; Governo, como o permanentes que
conjunto de programas e projetos que parte da sociedade (políticos, possibilitam a
técnicos, organismos da sociedade civil e outros) propõe para a ação do governo.
Governo como
sociedade como um todo, configurando-se a orientação política de um
o conjunto de
determinado governo que assume e desempenha as funções de Estado programas e
por um determinado período. projetos que parte
da sociedade
Reafirmando, o Estado é uma instituição política, social e propõe para
juridicamente organizada, que ocupa território definido, onde a lei a sociedade
como um todo.
máxima é a Constituição, sendo dirigida por um governo que possui
soberania reconhecida, tanto internamente, como externamente. O
Estado representa a forma mais acabada de organização humana, somente
transcendendo a ela a concepção em construção de Comunidade Internacional,
que agrupa vários Estados em torno de interesses comuns.

Na última década do século passado, nos anos de 1990, conforme


apresentado no capítulo anterior, estudiosos procuraram compreender as difíceis
relações entre a reestruturação neoliberal em curso nos mais diversos países e o
funcionamento das instituições da democracia representativa. A segunda metade
do século XX é considerada como uma das mais dinâmicas e revolucionárias da
história universal, só comparável com o período do Renascimento.

Conforme Dallari (1995), o estudo dos fenômenos do Estado desde sua


origem, formação, estrutura, organização, funcionamento e suas finalidades,
é objeto da teoria geral do Estado, compreendendo-se no seu âmbito tudo
o que considera existindo no Estado ou influindo sobre ele. A teoria geral do
Estado sistematiza conhecimentos jurídicos, filosóficos, sociológicos, políticos,
históricos, antropológicos, econômicos e psicológicos. Ela corresponde à parte
geral do Direito Constitucional e é a base do ramo do Direito Público. Busca o
aperfeiçoamento do Estado, concebendo-o, ao mesmo tempo, como um fato
social e uma ordem, que procura atingir os seus fins com eficácia e com justiça.

Dallari (1995) considera os múltiplos aspectos de abordagem teórica em três


diretrizes fundamentais: uma que procura encontrar justificativa para o Estado
a partir dos valores éticos humanos e se identifica com a Filosofia do Estado,
outra que foca totalmente em fatos concretos e que se aproxima da Sociologia

35
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

do Estado e, finalmente, uma terceira perspectiva, que analisa seu objeto de


acordo com um entendimento puramente normativo de Estado em seus aspectos
técnicos e formais.

Göran Therborn compreende as teorias do Estado como um momento


no desenvolvimento das ciências sociais. Considera que o período entre 1965
e 1985 foi de enorme crescimento do Estado em praticamente todo o mundo,
especialmente nos países capitalistas avançados. “O momento de grande difusão
das teorias do Estado está diretamente vinculado a esse crescimento do próprio
aparato estatal, assim como à expansão de seu caráter social e não apenas
repressivo”. (THERBORN, 2009, p. 80).

A partir da leitura do texto abaixo, sobre as três principais


correntes da teoria geral do Estado distinguidas por Therborn,
aprofunde seus conhecimentos sobre o tema. Procure ler mais.
Tome por base as referências bibliográficas ao final do capítulo, em
especial o artigo de Göran Therborn.

AS TRÊS PRINCIPAIS CORRENTES


DA TEORIA GERAL DO ESTADO

A perspectiva marxista abordou três problemáticas específicas.


Por um lado o reconhecimento do papel do Estado no sistema de
poder da classe dominante. A ênfase na qual o poder da classe
dominante reside não somente na exploração econômica e na
repressão física, mas também nas ações e instituições do Estado
consideradas no seu conjunto. O segundo subtema marxista dirigiu-
se à análise do Estado no funcionamento da economia capitalista e
dos processos de acumulação de capital. Finalmente a mencionada
corrente destacou sua preocupação com os limites da democracia
burguesa e do reformismo estatal.

O enfoque estatista apresentou e tratou de responder a algumas


perguntas básicas: Como funciona e que efeitos sociais produz o
Estado como organização e como agente autônomo? A afirmação
de sua autonomia e o reconhecimento do Estado como “agente” foi
possivelmente a característica fundamental desta corrente a qual
também se interessava pela formação histórica do aparato estatal,
um denominador comum com alguns dos pesquisadores marxistas.

A perspectiva da decisão pública abordou a problemática da


36
Capítulo 2 DEMOCRATIZAÇÃO DAS RELAÇÕES
ENTRE O ESTADO E A SOCIEDADE

tomada da decisão na esfera do Estado, quer dizer, que utilidades


estão maximizando os políticos e os burocratas. Tal enfoque derivou
suas principais ferramentas analíticas da economia liberal. [...]

Fonte: Therborn (2009, p. 80-81).

É possível afirmar que as perspectivas apresentadas por Therborn


representaram, nas palavras do autor, um novo enfoque na história das ciências
sociais, ao destacar um interesse empírico e analítico sobre o funcionamento e a
formação histórica do Estado. Entretanto, ressalta que a teoria do Estado significou
um momento na história intelectual contemporânea e hoje está deslocada “por
causa da própria marginalização das problemáticas que lhes deram origem, não
porque fossem equivocadas, especialmente no caso da marxista, mas porque
suas questões foram-se tornando periféricas” (THERBORN, 2009, p. 81).

Atílio Boron, em seu artigo “Os “novos Leviatãs” e a pólis democrática:


neoliberalismo, decomposição estatal e decadência da democracia na
América Latina”, chama nossa atenção para uma das consequências dessas
transformações:

o surgimento de pequenos conglomerados de gigantescas


empresas transnacionais, os “novos Leviatãs”, cuja escala
planetária e gravitação social os torna atores políticos
de primeiríssima ordem, quase impossível de controlar e
causadores de um desequilíbrio dificilmente reparável no
âmbito das instituições e das práticas democráticas das
sociedades capitalistas. Paradoxalmente, ao passo que
alguns ideólogos celebram o “triunfo final” do capitalismo, ou
garantem que chegamos ao “fim da história” e está assegurada
a vitória da democracia – o que com maior propriedade
deveria ser denominado o laborioso advento dos “capitais
democráticos” – as ameaças que pairam sobre esta forma
estatal adquiriram uma gravidade sem precedentes em sua
história. Antes, na conjuntura crítica da entreguerra,
aquelas provinham “de fora”: os fascismos e as
ditaduras assediavam as escassas e relativamente Agora as ameaças
frágeis ilhas democráticas que sobressaíam num estão no próprio
oceano de despotismo. Agora as ameaças estão no interior dos
próprio interior dos capitalismos democráticos. Não capitalismos
são externas ao sistema e, o que é pior, têm um democráticos. Não
rosto “democrático”. (BORON, 2009, p. 7 e 8). são externas ao
sistema e, o que é
E esta época, em que o capitalismo experimentou uma pior, têm um rosto
reestruturação em escala planetária, está dominada por uma ideologia, “democrático”.
o neoliberalismo; os governantes declaram com vigor a adesão aos (BORON, 2009,
p. 7 e 8).
princípios do livre mercado.

37
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

Entretanto, como vimos no capítulo anterior, o sistema está em crise.

Atividade de Estudos:

Após a leitura do artigo transcrito a seguir, e apoiado pelas


reflexões apresentadas anteriormente, elabore um texto no qual
responderá, sob o seu ponto de vista, quais são os desafios
presentes na atualidade a serem enfrentados pelos Estados,
representados por seus respectivos governos. (Roteiro para os
tutores/tutoras a ser construído)

O CAPITALISMO PERDEU SEU CORAÇÃO

J. Carlos de Assis, economista e professor,


autor de “A Crise da Globalização”
(12/11/2009)

Os próximos dez anos serão radicalmente diferentes dos dez


últimos por força dos novos rumos que tomará a civilização mundial.
Não me refiro apenas a mudanças de padrão tecnológico, que se
tornaram triviais ao longo das últimas três décadas. Refiro-me a uma
mudança de paradigma na estrutura básica do sistema capitalista
ocidental, apoiada essencialmente no princípio de propriedade
privada e de livre iniciativa, pretensamente sob restrição única de
forças “impessoais” do mercado.

Entre a década passada e a que virá se destacará, para os


pósteros, a catástrofe sem precedentes da crise financeira de 2008.
Ela continua em curso, sem indicação segura de uma recuperação
a curto prazo das principais economias ocidentais e do Japão. No
epicentro dela está a crise bancária e financeira dos Estados Unidos,
igualmente sem solução à vista. E é justamente aí que podem ser
detectados sinais antecedentes de uma mudança de paradigma.

O sistema bancário comercial esteve presente desde os


primórdios do capitalismo como uma força de apoio ao aparato
produtivo e ao desenvolvimento nacional (ou imperial). Seu papel
fundamental, mais do que converter poupança financeira de longo
prazo em investimento de risco, consiste em “criar” dinheiro a partir
de um fluxo recorrente de depósitos à vista. É este dinheiro “novo”,
atuando ao lado de dinheiro corrente, que duplica a liquidez e permite
à economia crescer.
38
Capítulo 2 DEMOCRATIZAÇÃO DAS RELAÇÕES
ENTRE O ESTADO E A SOCIEDADE

Essa máquina de crescimento parou nos Estados Unidos, na


Inglaterra e na Alemanha. No caso norte-americano, ela está sob
o bloqueio de títulos podres impagáveis, da ordem de mais de 3,6
trilhões de dólares. Uma solução de emergência para o sistema
consistiu em injetar trilhões de dólares de recursos públicos para
mantê-lo boiando. Outra, a autorização para que os empréstimos
podres, mesmo impagáveis, sejam mantidos em carteira até o
vencimento nominal.

Na realidade, o sistema bancário comercial norte-americano


está estatizado pelo lado do passivo, através de capitalização
pelo Tesouro, empréstimos a juros de zero por cento pelo FED, e
garantias públicas a aplicações da clientela. No entanto, continua
privado pelo lado do ativo. Seus executivos têm ampla liberdade para
decidir sobre o que fazer com o dinheiro público que lhe é repassado
de forma quase graciosa pelo Governo, além de se premiarem com
bônus bilionários.

O que faz um executivo de banco “eficiente” nessa situação? Em


lugar de emprestar à produção, que é uma atividade arriscada e de
longo prazo, ele se concentra em operações diárias de câmbio (afinal,
2 trilhões de dólares mudam de mão todos os dias), intermediação de
bônus e commercial papers (o risco fica com as grandes corporações
emissoras e ele retém uma comissão) e derivativos (o risco fica com
a contraparte). Dessa maneira, consegue altos lucros com dinheiro
público, sem risco, para ir abatendo com eles os títulos podres.

O único problema com esse sistema é que ele não é capitalismo.


O risco é inerente à atividade capitalista, e sua avaliação prévia pelo
banqueiro ajuda no processo de seleção das melhores iniciativas no
processo produtivo. Ademais, a atividade bancária, em si, é um jogo
de risco, e se o banqueiro erra, ele é punido com perda de capital ou
falência. É, pois, inconcebível conceitualmente que um banco que
tem grandes lucros seja protegido pela cláusula não escrita de que é
“grande demais para quebrar”.

Pois isso é justamente o que se tornaram os 19 principais bancos


comerciais dos Estados Unidos, “grandes demais para quebrar”. Os
maiores deles, Citigroup e Bank of America, estavam no topo da lista
de quebra iminente, logo depois que o Lehman Brothers foi deixado
ir à lona, quando as autoridades financeiras de Bush recuaram
assustadas com as consequências internas e mundiais do colapso,
e determinaram um plano geral de salvação que acabou protegendo
todo o sistema com dinheiro público.

39
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

Esse caso típico de privatização dos lucros e socialização dos


prejuízos, por mais repugnante que seja, não tinha como ser evitado
em situação de emergência. Fosse Obama no lugar de Bush, faria
a mesma coisa. Caso contrário, todo o sistema capitalista mundial
desabaria, com efeitos devastadores sobre a organização da própria
sociedade. Contudo, um repto muitas vezes maior está pela frente:
se o Governo tirar do sistema os recursos públicos e as garantias,
ele quebra; se mantiver as concessões, ele continuará fazendo
grandes lucros, distribuindo dividendos e pagando bônus bilionários
(US$ 20 bilhões só do Morgan este ano) com base em recursos do
contribuinte geral.

Até 2012 a banca mundial terá de substituir 7 trilhões de


dólares de passivo de curto prazo por aplicações de mais longo
prazo. Grande parte dessa massa gigantesca de dinheiro está sob
garantia de tesouros públicos. Se as garantias forem retiradas,
muitos bancos não conseguirão fazer a rolagem dos passivos. Se
o fizerem, será de forma bem mais onerosa. Poderão compensar
os maiores custos cobrando mais por serviços ou aumentando as
taxas dos empréstimos. Em qualquer hipótese, a economia real será
estruturalmente afetada.

Não há perspectiva de volta ao padrão normal de financiamento


à produção na medida em que os bancos aprenderam a ganhar
muito dinheiro sem isso. A consequência pode ser uma longa
recessão nos países industrializados de ponta. Enquanto isso, do
outro lado do mundo, China e Índia são praticamente as duas únicas
grandes economias em processo de crescimento rápido. Elas têm
em comum dois fatores essenciais, que faltam aos países avançados
ocidentais e ao Japão: planejamento centralizado, sistema bancário
estatal descentralizado, e um mercado interno com forte potencial
de crescimento.

Na interação da Geopolítica e da Geoeconomia mundiais,


é a dinâmica do processo, não sua fotografia estática, que deve
ser levada em conta. Os Estados Unidos e a sociedade norte-
americana podem perfeitamente aceitar três ou quatro anos de
crise na expectativa de uma recuperação forte posterior. O que se
tem em vista, porém, com o novo padrão bancário e financeiro, é
uma estagnação indefinida. Nos próximos três anos o máximo que
a China pode fazer é tornar-se uma economia equivalente à metade
da norte-americana. Contudo, nos próximos dez, considerando que
ela deverá continuar crescendo a altas taxas e os Estados Unidos
estarão ainda flutuando no fundo do poço, poderá equiparar-se a ela.

40
Capítulo 2 DEMOCRATIZAÇÃO DAS RELAÇÕES
ENTRE O ESTADO E A SOCIEDADE

E poderá ultrapassá-la em seguida. E seguir adiante. Seus


instrumentos para isso continuarão sendo muito poderosos:
planejamento e sistema bancário estatal descentralizado, no campo
do financiamento da produção; e iniciativa privada, no campo da
produção propriamente dita. Os chineses e em grande parte os
indianos conseguiram isso vindo do socialismo para o capitalismo.
Deu certo. Num plano abstrato, para que os Estados Unidos dêem
certo, devem refazer o caminho na direção oposta, isto é, do
capitalismo para o socialismo. Numa palavra, estatizar seus bancos
e adotar o planejamento centralizado.

Marx não deveria admirar-se desse resultado na medida em que


se enquadra perfeitamente em suas leis dialéticas. Contudo, seria
como um terremoto revolvendo as próprias bases da sociedade
norte-americana (embora não a europeia, nem a japonesa). Para
os Estados Unidos, o país da livre iniciativa por excelência, aceitar
a presença do Estado como planejador central e como árbitro dos
financiamentos produtivos constitui uma violência sem paralelo.
O Congresso resistiria até o último neoliberal, mesmo que à custa
do colapso da potência norte-americana sob os escombros de uma
cidadania aniquilada por lobistas.

Fonte: ASSIS, José Carlos de. O capitalismo perdeu seu coração. Corecon,
Rio de Janeiro, 12 nov. 2009. Disponível em: <http://www.corecon-rj.
org.br/artigos_det.asp?Id_artigos=74>. Acesso em: 24 out. 2011.

É importante lembrar que nosso país é parte do todo que significa esse
processo que estamos relatando e que você vem estudando. Segundo o Manual
do Prefeito, vale destacar que

o Estado brasileiro e, como parte integrante e


indissolúvel dele, o Município foram profundamente
O Estado brasileiro
afetados por processos de mudanças justamente
decorrentes da inserção do país na economia e, como parte
global. A partir da Constituição de 1988, novos integrante e
processos de descentralização intergovernamental indissolúvel dele,
e de participação cidadã em relação à coisa pública o Município foram
foram claramente sinalizados. (IBAM, 2009, p.69) profundamente
afetados por
Na Constituição de 1988 o papel do Município é realçado, conforme processos de
mudanças
o Manual do Prefeito:
justamente
decorrentes da
Ao Governo Federal, no mesmo contexto, vem
inserção do país na
cabendo o papel de gerente e apoiador de processos
de gestão, tendo o equilíbrio monetário e financeiro economia global.

41
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

como meta principal, com a focalização de investimentos


Ao Governo em infraestrutura econômica no território, sobretudo em
Federal, no mesmo função do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC
contexto, vem e a progressiva redução em investimentos locais. Seja em
cabendo o papel de decorrência dessa retração, seja por força de determinações
gerente e apoiador normativas da Constituição de 1988, substanciais parcelas
de processos de de responsabilidade na prestação de serviços públicos e
gestão, tendo o no equacionamento dos impactos resultantes dos ajustes
equilíbrio monetário estruturais no nível macroeconômico têm ficado a cargo dos
e financeiro como Governos municipais.
meta principal,
com a focalização A esse aumento de responsabilidade, contudo, não correspondeu
de investimentos igual ampliação dos meios à disposição do Município, o que
em infraestrutura limita o efeito de políticas públicas implementadas de forma
econômica no tradicional e potencializa as necessidades de planejamento nas
administrações municipais e a adoção de fórmulas inovadoras
território, sobretudo
de gestão que contemplem, por exemplo, parcerias com o setor
em função do
privado ou o estabelecimento de consórcios intermunicipais.
Programa de
(IBAM, 2009, p. 69).
Aceleração do
Crescimento – PAC
e a progressiva Como podemos constatar, o papel dos municípios está no
redução em equilíbrio monetário e financeiro como meta principal, e com foco em
investimentos locais. investimentos em infraestrutura, mas tudo isso com responsabilidade.

DinÂmica inStitucional Da SocieDaDe


civil
É possível pensar o papel do Estado a partir das políticas originadas da
sociedade civil, que se formam tendo em vista o exercício da cidadania?

Responder afirmativamente a esse questionamento implica reconhecer


que a política social não alcança seus objetivos se for concebida e administrada
privadamente, ou seja, apenas pelo setor privado da sociedade. Significa,
também, reconhecer que cabe ao Estado papel decisivo tanto em sua formulação
quanto na execução, mesmo em tempos de políticas liberais, orientadoras do
momento atual, conforme foi visto na seção anterior, quando as funções do Estado
estão essencialmente voltadas para a garantia dos direitos individuais, sem
interferência nas esferas da vida pública e, especificamente, na esfera econômica
da sociedade.

Para saber mais sobre a formação do Estado Moderno e sobre


as teorias de análise do Estado Moderno leia as obras de dois autores

42
Capítulo 2 DEMOCRATIZAÇÃO DAS RELAÇÕES
ENTRE O ESTADO E A SOCIEDADE

“clássicos” das ciências sociais: Karl Marx e Max Weber, citadas na


bibliografia, como ponto de partida para essa caminhada.

É importante ressaltar que é pelo controle do Estado que se


travam as lutas políticas. Sua análise implica o reconhecimento
de que, seja pela perspectiva econômica ou seja pela perspectiva
cultural-social, seu estudo possibilita a compreensão de alguns
aspectos das relações de poder que compõem as relações humanas.

Nas últimas décadas, diferentes situações do cotidiano colocam os temas


democracia e cidadania como eixo estruturante da dignidade humana em busca
de uma sociedade igualitária e cooperativa, que inclua a socialização da política e
do poder. Os principais estudos sobre os temas remontam a Aristóteles e Platão
ainda na Grécia Antiga. Democracia e cidadania são alcançadas por meio de
lutas, através de revoltas ou movimentos capazes de reverter determinado quadro
social. Foi em Atenas, uma das principais cidades da Grécia Antiga e berço da
democracia, que esse sistema governista teve sua criação e desenvolvimento.
Entretanto, a democracia que existiu em Atenas pode ser considerada ainda
primitiva e limitada por não permitir a inserção de mulheres, estrangeiros, escravos
e crianças nas participações políticas.

Como nos ensinam os dicionários, o termo “democracia” é originado


O termo
da língua grega, na qual significa governo do povo ─ demo = povo e
“democracia”
kracia = governo. Está fundamentada na noção de uma comunidade é originado da
política na qual todas as pessoas possuem o direito de participar dos língua grega e
processos políticos, a partir dos princípios de liberdade de expressão e significa governo
dignidade humana. Por outro lado, “cidadania” vem do latim, “civitas”, do povo ─ demo
que significa cidade. Assim sendo, cidadania é a participação e inserção = povo e kracia =
social nas diferentes dimensões da sociedade rumo à consolidação e governo. O termo
exercício de seus direitos. “cidadania” vem do
latim, “civitas”, que
significa cidade,
As formas mais comuns de democracia são: direta e indireta.
e é a participação
e inserção social
• Na democracia direta, o povo, por meio de plebiscito, referendo ou em busca da
outras formas de consultas populares, pode decidir diretamente consolidação e
sobre assuntos políticos ou administrativos de sua cidade, estado exercício de
ou país. Não existem intermediários ou representantes. Essa seus direitos.
forma não é muito comum atualmente, entretanto ainda é possível
encontrá-la sendo praticada em alguns cantões da Suíça, em pequenas
comunidades rurais.

• Na democracia indireta, ou democracia representativa, o povo também


participa, elegendo seus representantes por meio do voto.
43
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

No Brasil seguimos o sistema de democracia representativa, com a


obrigatoriedade do voto para mulheres e homens maiores de 18 anos e até os 65
anos. O voto é facultativo também para homens e mulheres na faixa etária dos 16
aos 17 anos e para os maiores de 65 anos.

Portanto, elegemos nossos representantes e governantes para os poderes


legislativo e executivo:

• os integrantes do poder legislativo, homens e mulheres, que fazem as leis e


votam nelas – deputados, senadores e vereadores;

• os integrantes do poder executivo, homens e mulheres, que administram e


governam – prefeitos e prefeitas, governadores e governadoras, assim como
presidenta e presidente da república.

Vale ressaltar que os movimentos sociais participam na construção de uma


sociedade democrática e cidadã, como instrumento capaz de garantir e exteriorizar
a conquista de direitos. Ao longo das últimas décadas, e em especial na luta pela
redemocratização do país, os movimentos negros, ecológicos, homossexuais,
feministas, entre outros, participaram intensamente da história pela conquista dos
direitos individuais e coletivos.

Ao falarmos de políticas sociais estabelecemos um diálogo com a democracia


participativa que favorece o advento necessário de uma sociedade que, através
de suas diferentes esferas e organismos, maximize a probabilidade de garantir
seus direitos sociais.

Nesse ponto do nosso estudo é importante que você pesquise


na Internet sobre os direitos sociais e procure compreender as
informações a seguir, complementando-as com a pesquisa que
realizará, sobre os direitos de 1a, 2a e 3a geração. Lembre-se de
que fazer fichamentos das leituras realizadas, além de organizar
seus estudos, será útil em momentos futuros.

A teoria dos direitos fundamentais distingue direitos de 1a, 2a e


3a geração.

Os direitos de 1a geração constituem herança liberal. São


os direitos civis e políticos: a) direitos de garantia, que são as
liberdades públicas, de cunho individualista: a liberdade de expressão
44
Capítulo 2 DEMOCRATIZAÇÃO DAS RELAÇÕES
ENTRE O ESTADO E A SOCIEDADE

e de pensamento, por exemplo; b) direitos individuais exercidos


coletivamente: liberdades de associação: formação de partidos,
sindicatos, direito de greve, por exemplo.

Os direitos de 2a geração são os direitos sociais, econômicos e


culturais, constituindo herança socialista: direito ao bem-estar social,
direito ao trabalho, à saúde, à educação são exemplos desses direitos.

Os de 3a geração são direitos de titularidade coletiva: a) no


plano internacional: direito ao desenvolvimento e a uma nova ordem
econômica mundial, direito ao patrimônio comum da humanidade,
direito à paz; b) no plano interno: interesses coletivos e difusos,
como, por exemplo, o direito ao meio ambiente.

Voltamos a nos apoiar no Manual do Prefeito para salientar que 20 anos após
a Constituição Federal de 1988, reconhecida como Constituição Cidadã,

Verifica-se no país, redemocratizado e sob expansão das


tecnologias de informação e comunicação, notável evolução
da participação social - seja pelo crescimento do número e da
qualidade de atuação das organizações da sociedade civil,
seja pela ação dos meios de comunicação de massa, que
produzem efeitos sobre os indivíduos comuns, induzindo-os a
participar política e efetivamente de assuntos que os afetam
diretamente. A conquista da cidadania investe os indivíduos
dos direitos de consumidor e de cliente também do Estado.
A tendência é que o cidadão se torne exigente e que os
Governos e as agências de prestação de serviços públicos
atuem como empresas profissionais e competentes para
satisfazer sua clientela.

A combinação desses fatores – mais encargos, recursos


fiscais escassos e maior participação da sociedade civil – vem
impondo às Administrações Municipais a busca de formas
inovadoras de atuação que, articulando recursos de toda
ordem e fundamentadas em conceitos de sustentabilidade,
situem o Município como uma unidade promotora do
desenvolvimento em seu território.

Embora nessa direção haja o registro de experiências bem-


sucedidas na última década, não se pode afirmar que
exista modelo de atuação único ou replicável. As soluções
identificadas como bem-sucedidas variam em função da
escala da localidade, da abrangência da proposta, das
condições políticas e institucionais específicas, do nível de
engajamento da respectiva sociedade civil, das parcerias
estabelecidas e dos recursos que as Administrações municipais
lograram mobilizar em cada caso. (IBAM, 2009, p.70).

45
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

Como ocorre na prática essa dinâmica institucional?

Quais são os mecanismos institucionais que propiciam a


participação da sociedade civil?

Entendendo sociedade civil como a forma por meio da qual a sociedade se


organiza politicamente para influenciar a ação do Estado, é importante lembrar
que, em momentos determinados da história política nacional, a sociedade civil
brasileira demonstrou capacidade de organização e reação. Especificamente
estamos falando do papel exercido pela sociedade civil brasileira no longo
processo de transição democrática, na luta contra o Estado autoritário instalado
em 1964.

É possível afirmar que a partir da década de 1980 a existência de


acontecimentos que levaram ao aumento do associativismo e à emergência de
movimentos sociais organizados possibilitou o ressurgimento da sociedade civil
brasileira. Segundo Sorj (2006), nesse momento particular da história política
brasileira, destaca-se a importância das ações empreendidas por grupos
expressivos da sociedade civil, como o CEBRAP - Centro Brasileiro de Análise e
Planejamento, a SBPC - Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, a OAB
- Ordem dos Advogados do Brasil, a ABI - Associação Brasileira de Imprensa, a
CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, entre outros. Essas ações
significam a aliança de diferentes, em função de um projeto político específico:
democratizar o País.

Fortalecimento Da ciDaDania
O dia 5 de outubro de 1988 é celebrado como um marco para a cidadania
brasileira. Foi nesse dia que Ulysses Guimarães, presidente da Assembleia
Constituinte, promulgou a nova Constituição Brasileira. Há uma convergência
entre autores de que naquele dia ocorreu uma ruptura histórica resultante de um
longo processo de luta pela redemocratização do país.

Para nos acompanhar nessa reflexão vamos nos apoiar em textos que
compõem o trabalho desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
– IPEA, “Vinte Anos da Constituição Federal”. Vale chamar a atenção para a
assertiva de que
46
Capítulo 2 DEMOCRATIZAÇÃO DAS RELAÇÕES
ENTRE O ESTADO E A SOCIEDADE

a nova Carta proclamava o estabelecimento de um Estado


democrático reconhecedor de direitos civis, políticos,
econômicos, sociais e culturais. Alcançava-se um novo patamar
de cidadania [...] a respeito de direitos civis, políticos e sociais.
Muitos desses direitos nunca antes haviam sido objetos de
garantia legal no país. Outros, já definidos em legislação
anterior, passam a ser garantidos em nível constitucional. E,
notadamente, um terceiro grupo de direitos, principalmente os
civis e os políticos, já havia sido objeto de garantia legal em
constituições anteriores, mas encontravam-se desprotegidos
sob o regime da ditadura militar, na vigência do Ato Institucional
no 5 e da Emenda Constitucional no 1 à Constituição de 1967.
(IPEA, 2009, vol. 17, p.18)

O trabalho ressalta a importância da presença dos movimentos sociais no


processo de redemocratização e reorganização da sociedade civil incluindo na
agenda, de modo decisivo, a questão da reforma das políticas sociais, tendo em
vista o caráter excludente da política social vigente sob o regime militar. Vale
lembrar, conforme vimos nas seções anteriores, que vivíamos em um momento
em que o pensamento liberal e o conservador se tornaram hegemônicos em
escala mundial, em busca do Estado mínimo.

Ou seja, além do fundamental restabelecimento dos direitos


que dizem respeito à vida, à liberdade, à propriedade, à
igualdade perante a lei e à participação nas decisões políticas,
inscrevia-se na Carta também uma série de direitos sociais,
buscando promover maior igualdade na participação dos
cidadãos no desenvolvimento econômico do país. (BRASIL.
IPEA, 2009, p.19).

É possível dizer que com a redemocratização do país e a


É possível dizer
promulgação da Constituição de 1988, os movimentos sociais que com a
conquistaram o direito de tornarem-se agentes na execução das redemocratização
políticas públicas, ou seja, cogestores na elaboração e implementação do país e a
das políticas, além de permanecerem objeto dessas mesmas políticas. promulgação
da Constituição
de 1988, os
Para entender essa dinâmica é preciso compreender que a arte da
movimentos sociais
política se dá face à configuração de forças presentes, participantes, conquistaram o
em um conjunto de forças heterogêneas e ideologicamente diversas direito de tornarem-
e antagônicas. Ou seja, um processo de negociações, um embate de se agentes na
forças políticas frente a objetos de disputa. As políticas públicas fazem execução das
parte do leque dos objetos em disputa. políticas públicas.

Considerando o campo das políticas públicas, a participação social


historicamente vem mudando o seu caráter. Assim é que, de forma individual
ou coletiva, pessoas ou grupos organizados por meio da participação política,
interferem nas disputas para fazer com que os diferentes interesses surjam,

47
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

aflorem, sejam explicitados, num terreno - poderíamos dizer numa arena - comum
organizado por normas, leis e instituições. Também é essa participação que faz
com que o poder se democratize e seja compartilhado. É a participação política
que consolida e dinamiza a cidadania.

No âmbito da relação entre os entes federados no que diz respeito à produção


da política social, desde a Constituição de 1988, quando os municípios foram
definidos como entes da federação, as instituições de governo local no Brasil têm
passado por profundas transformações.

Um dos conceitos mais importantes foi o da descentralização,


compreendendo-se descentralização como transferência de autoridade, de poder,
tanto entre as esferas governamentais quanto transferência de autoridade, de
poder, para outros órgãos setoriais. A descentralização é uma tendência nos
governos democráticos. É importante registrar que descentralização é diferente
de desconcentração. Desconcentrar é transferir tarefas, é distribuir tarefas sem
autonomia, com limitado poder de decisão.

Ao longo dos anos 1990 um conjunto de leis e políticas, federais e estaduais,


gerou uma crescente transferência de responsabilidades e de competências das
esferas federal e estadual para os governos locais, fazendo com que cada vez
mais os governos locais assumam maior autonomia e responsabilidades na gestão
e execução de políticas públicas. Espera-se que esse processo de transferência
possibilite o aprofundamento da democracia, com a aproximação do cidadão das
instâncias decisórias.

GovernabiliDaDe, Governança e
accountabilitY
Para tratarmos dos temas dessa seção nos apoiaremos, mais uma vez, no
Manual do Prefeito, que explicita os conceitos de governabilidade e de governança.
A expressão governabilidade, surgida no contexto das nações desenvolvidas,
ganhou relevo teórico, entre os anos de 1970 e de 1980, para designar
o “equilíbrio entre as demandas sobre o governo e a sua capacidade
Governabilidade
para administrá-las e atendê-las”. (IBAM, 2009, p.143)
designa o “equilíbrio
entre as demandas
sobre o governo e O termo governança compreende a preocupação com os
a sua capacidade fins e resultados da política governamental; no conceito de good
para administrá-las governance, difundido pelo Banco Mundial, enfatizam-se objetivos
e atendê-las”. como a equidade, a justiça social e os direitos humanos. Entretanto,

48
Capítulo 2 DEMOCRATIZAÇÃO DAS RELAÇÕES
ENTRE O ESTADO E A SOCIEDADE

cada vez mais, nele se valoriza o modo como a autoridade estatal é


O termo
exercida, destacando o processo e os meios através dos quais essa governança
política é formulada e implementada, bem como as relações que se compreende a
estabelecem em função dos processos pertinentes, entre o Governo, preocupação com
a sociedade como um todo e os principais atores privados – políticos, os fins e resultados
sociais e econômicos. Afinal, os fins da política governamental são da política
influenciados, em larga escala, pelos processos que lhe dão origem e governamental;
no conceito de
visam a implementá-la.
good governance,
enfatizam-se
Um dos problemas críticos das políticas governamentais no Brasil objetivos como a
é o fato de que a sua produção costuma ser extremamente abundante, equidade, a justiça
mas há muita inoperância na prática. Destaca-se, com isso, a baixa social e os direitos
capacidade de implementação do Governo. humanos.

Isso ocorre não só porque falham as formas e processos de tomada de


decisão estatais – geralmente impositivas, autoritárias e restritas às elites políticas
e burocráticas – mas, também, porque faltam as condições e instrumentos
operacionais adequados e credibilidade pública ao Governo para a mobilização
da sociedade.

Para compreendermos accountability nos apoiamos no artigo de


Acountability
Pinho e Sacramento (2009) – Accountability: já podemos traduzi-la para encerra a
o português? – e assim foi possível verificar, nas palavras dos autores, responsabilidade,
que “a ideia contida na palavra accountability traz implicitamente a a obrigação e a
responsabilização pessoal pelos atos praticados e explicitamente a responsabilização
exigente prontidão para a prestação de contas, seja no âmbito público ou de quem ocupa um
cargo em prestar
no privado”. (PINHO; SACRAMENTO, 2009).
contas segundo os
parâmetros da lei,
Os autores, após exaustiva pesquisa, concluem que: estando envolvida
a possibilidade de
[...] não existe um termo único em português ônus, o que seria a
que defina a palavra accountability, havendo que pena para o
trabalhar com uma forma composta. Buscando uma não cumprimento
síntese, acountability encerra a responsabilidade,
dessa diretiva.
a obrigação e a responsabilização de quem ocupa
um cargo em prestar contas segundo os parâmetros
da lei, estando envolvida a possibilidade de ônus, o que seria
a pena para o não cumprimento dessa diretiva. (PINHO;
SACRAMENTO, 2009).

Continuando com Pinho e Sacramento, destacamos a concepção de Andreas


Schedler por eles apresentada:

[...] na concepção da accountability construída por Schedler


três questões são identificadas como necessárias para sua
eficácia: informação, justificação e punição.

49
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

Nessa concepção, as duas primeiras questões - informação


e justificação - remetem-nos ao que o autor denomina de
answerability, isto é, a obrigação dos detentores de mandatos
públicos informarem, explicarem e responderem pelos
seus atos. A última - punição - diz respeito à capacidade de
enforcement, ou seja, a capacidade das agências de impor
sanções e perda de poder para aqueles que violarem os
deveres públicos.

Constata-se, mais uma vez, que a accountability implica em


mais do que geração de dados e interação de argumentos, visto
que inclui, também, a possibilidade de punir comportamento
inadequado. Ainda de acordo com esse autor, exercícios
de accountability que expõem delitos sem a imposição de
penalidades aparecerão como fracas e diminuídas formas de
accountability. (PINHO; SACRAMENTO, 2009).

Tendo em vista o exposto nesta seção, é importante refletir sobre


Orçamento
as mudanças políticas, sociais e institucionais ocorridas no país nos
participativo,
conselhos nas três últimos anos. Como vimos na seção anterior, a Constituição de 1988
esferas de poder institucionalizou a participação da sociedade na gestão das políticas
e de diferentes públicas, oportunizando a implementação de diferentes mecanismos
setores e plebiscito de participação popular na gestão dessas políticas. Orçamento
são alguns dos
participativo, conselhos nas três esferas de poder e de diferentes
mecanismos
que podem ser setores – como saúde, educação, desenvolvimento econômico – e
utilizados para que plebiscito são alguns dos mecanismos que podem ser utilizados para
os dispositivos que os dispositivos constitucionais efetivamente sejam válidos.
constitucionais
efetivamente sejam Por outro lado, vários dispositivos instrumentais viabilizam o
válidos.
controle dos atos dos agentes públicos, garantindo a publicidade e
a transparência dos atos públicos, o questionamento em si desses
atos e trazem a potencialidade de sanções. A Constituição de 1988 assegurou
o direito à impetração da denominada ação popular, instrumento fundamental
para o exercício da accountability, uma vez que, além de viabilizar a defesa dos
interesses públicos, destaca a possibilidade de o cidadão comum agir em defesa
do interesse coletivo.

Com a publicação do Plano Diretor de Reforma do Aparelho do Estado, em


1995, e a consequente adoção do paradigma da administração gerencial em
substituição ao burocrático e a necessidade de mecanismos para o exercício do
controle social, o foco de controle desloca-se para o resultado. No modelo anterior
o controle se dava nos procedimentos.

Nesse sentido, fica evidenciado que os controles sociais são essenciais


na administração pública gerencial, na medida em que compensam a redução
do controle legal de procedimentos e complementam o controle de resultados

50
Capítulo 2 DEMOCRATIZAÇÃO DAS RELAÇÕES
ENTRE O ESTADO E A SOCIEDADE

e formas de responsabilização baseadas no desempenho governamental e na


participação da sociedade.

alGumaS conSiDeraçõeS
Ao longo desse capítulo procuramos reconhecer que a organização do
Estado interfere na vida da população como um todo, homens e mulheres, de
modo diferenciado, reproduzindo ou alterando padrões de comportamento tanto
dos indivíduos quanto da coletividade. E, na medida desse reconhecimento, o
caráter sistêmico do papel do Estado fica explicitado.

Na constituição das relações entre Estado e sociedade, um dos desafios a


ser enfrentado diz respeito à desmistificação da neutralidade do Estado enquanto
propositor e articulador de uma ação política, que adquire concretude por meio
de políticas, programas e projetos. Como vimos, cabe ao poder público garantir
a universalidade das políticas públicas alterando as desigualdades sociais,
considerando as relações de poder e acesso a direitos em suas dimensões social
e política.

O reconhecimento de homens e mulheres como atores sociais, sujeitos


de direitos e sujeitos políticos, possibilita a promoção de políticas concretas,
viabilizadoras de um maior acesso e participação da sociedade nos espaços de
poder, tornando-se essencial para democratizar o Estado e a sociedade.

A participação da sociedade na formulação de políticas públicas, por todos os


desafios mencionados neste capítulo, é uma estratégia de longo alcance no sentido
de democratização do Estado e construção de uma nova institucionalidade. Exige
um processo articulado de permanente diálogo entre os distintos sujeitos do cenário
nacional, considerando suas especificidades de classe, gênero e raça/etnia.

Nessa direção, é possível afirmar que os instrumentos de regulação das


relações entre Estado e sociedade, pelo menos do ponto de vista institucional,
estão dados e são adequados. O que se pode e deve questionar é: até que
ponto esses instrumentos vêm sendo utilizados e as decisões decorrentes
das estruturas plurais de governança são efetivadas em cada lugar e em cada
circunstância política?

Obviamente, a qualidade dessa participação social e da relação Estado


e Sociedade é variável e diversa em cada Município, afetando, positiva ou
negativamente, a implementação de políticas públicas que se apoiam em
cooperação intergovernamental.
51
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

Em outra direção, o papel da sociedade no controle da ação do Estado –


sobretudo em relação às contas e gastos públicos (accountability) e refletido
no papel desempenhado pela mídia, nas ações implementadas pelo Ministério
Público, pelo Tribunal de Contas da União e pela própria Polícia Federal – vem
apontando para o aperfeiçoamento dos controles e, embora com algumas
exacerbações e no limite dos respectivos papéis, sinaliza uma evolução para
a sociedade.

Em síntese, o aperfeiçoamento das práticas de relacionamento entre


Estado e sociedade contribui progressivamente para qualificar a democracia que
praticamos em qualquer das instâncias de governo e, consequentemente, para a
efetivação de políticas públicas que também evoluam no alcance de resultados e
benefícios para a população brasileira.

reFerÊnciaS
ASSIS, José Carlos de. O capitalismo perdeu seu coração. Rio de Janeiro, 12
nov. 2009. Disponível em: <http://www.corecon-rj.org.br/artigos_det.asp?Id_
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52
Capítulo 2 DEMOCRATIZAÇÃO DAS RELAÇÕES
ENTRE O ESTADO E A SOCIEDADE

43 n. 6, Rio de Janeiro Nov./Dez. 2009. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/


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THERBORN, Göran. As teorias do Estado e seus desafios no fim de século. In:


SADER, Emir: GENTILLI, Pablo (Orgs.). Pós-neoliberalismo II: que Estado para
que democracia? 5. ed. Petrópolis: Vozes, 2009.

53
C APÍTULO 3
DeSenvolvimento SuStentável:
o Global e o local

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 Compreender a importância do desenvolvimento sustentável e a interação


local/global para a sobrevivência do nosso planeta.

 Analisar os processos produtivos em suas diferentes configurações.

 Debater os impactos da sustentabilidade da vida em seus aspectos


econômicos, sociais e ambientais.
Capítulo 3 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL:
O GLOBAL E O LOCAL

conteXtualização
A ideia de desenvolvimento está no centro da visão do mundo que prevalece em
nossa época. Nela se fundamenta o processo de invenção cultural que
permite ver o Homem como um agente transformador do mundo.
Celso Furtado

Buscando inspiração no pensamento de Celso Furtado, consideramos


importante iniciar o Capítulo 3 contextualizando a busca em nível mundial
pelo desenvolvimento. Claro está que não há unanimidade sobre o que
significa desenvolvimento para todos os países, mas há o reconhecimento da
responsabilidade da ação de homens e mulheres de todo o planeta no processo
de manutenção da vida nesse mesmo planeta.

A primeira década do século XXI trouxe um ritmo mais intenso para o


cotidiano dos habitantes do planeta. Se os anos 1990 foram considerados como
os da década das Conferências Internacionais, inaugurando a participação dos
movimentos sociais nacionais e internacionais, os anos 2000 se propõem a
transformar o mundo.

Em setembro de 2000, a Organização das Nações Unidas realiza a Cúpula


do Milênio e apresenta a Declaração do Milênio e, a partir dela, as Metas de
Desenvolvimento do Milênio. É preciso destacar que a Cúpula do Milênio foi a
reunião de chefes de Estado e de governo de maior magnitude até então realizada:
foram 191 delegações presentes, sendo 147 delas lideradas por suas autoridades de
mais alto escalão. Com a Declaração do Milênio, resultante dos debates ocorridos,
houve o reconhecimento de que o mundo já possuía tecnologia e conhecimento
para resolver a maioria dos problemas enfrentados pelos países pobres.

ODM – que
As Metas do Milênio, também conhecidas como os Objetivos de
significam um
Desenvolvimento do Milênio – ODM – que significam um conjunto de conjunto de
objetivos para o desenvolvimento e a erradicação da pobreza no mundo, objetivos para o
foram assumidos pelos 191 Estados-Membros das Nações Unidas, que desenvolvimento
se propuseram a envidar esforços no sentido de alcançá-los até 2015. e a erradicação da
pobreza no mundo,
foram assumidos
O estabelecimento dos ODM representa um esforço da comunidade pelos 191 Estados-
internacional em consolidar e dar concretude a acordos internacionais Membros das
celebrados, alcançados, nas cúpulas mundiais realizadas ao longo dos Nações Unidas, que
anos 1990, relativos ao meio ambiente e desenvolvimento, direitos das se propuseram a
mulheres, desenvolvimento social, entre outras. O alcance dos ODM, envidar esforços no
sentido de alcançá-
que são mensuráveis e temporalmente delimitados, deverá melhorar o
los até 2015.
destino da humanidade neste século. São oito os objetivos:
57
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

1. Erradicar a extrema pobreza e a fome.


ODM:
2. Atingir o ensino básico universal.
Erradicar a extrema
pobreza e a fome. 3. Promover a igualdade de gênero e a autonomia das
Atingir o ensino mulheres.
básico universal. 4. Reduzir a mortalidade infantil.
Promover a 5. Melhorar a saúde materna.
igualdade de gênero 6. Combater o HIV/AIDS, a malária e outras doenças.
e a autonomia das
7. Garantir a sustentabilidade ambiental.
mulheres.
Reduzir a 8. Estabelecer uma parceria mundial para o
mortalidade infantil. desenvolvimento.
Melhorar a saúde
materna. A partir desses oito objetivos internacionais comuns, 18 metas e
Combater o HIV/ 48 indicadores foram definidos para possibilitar uma avaliação uniforme
AIDS, a malária e
dos ODM nos níveis global, regional e nacional. O acompanhamento
outras doenças.
Garantir a dos ODM deve considerar especificidades nacionais. Assim, cada país
sustentabilidade teve que olhar para suas capacidades e aprimorá-las, no sentido de
ambiental. ter condições de monitorar a consecução dos objetivos em seu próprio
Estabelecer espaço nacional.
uma parceria
mundial para o
O monitoramento ocorre por meio do Índice de Desenvolvimento
desenvolvimento.
Humano - IDH, que é uma medida comparativa que engloba três
dimensões: riqueza, educação e esperança média de vida. No
Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE desenvolveu o
IDH Municipal – IDH-M, que possibilita aos governos municipais ajustarem suas
políticas aos perfis de suas populações e cumprirem com o alcance dos objetivos.
Ao longo dos anos 2000 as dimensões de controle receberam contribuições e
foram sendo enriquecidas.

Vale chamar atenção para o fato de que, pela sua natureza transversal, a
questão de gênero deve ser considerada em cada um dos objetivos do milênio,
possibilitando, assim, o acompanhamento da presença das mulheres nas mais
diversas áreas setoriais. Especificamente no que diz respeito à dimensão de
gênero, dois dos oito ODM estão diretamente relacionados à promoção dos
direitos das mulheres e da igualdade de gênero. São eles: ODM 3 - Promover
a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres e ODM 5 - Melhorar a
saúde materna. Entretanto, não se pode falar em desenvolvimento sem almejar a
equidade de gênero.

Da mesma forma, não adianta apenas melhorar as estatísticas gerais sem


oferecer condições iguais a todas as etnias.

Nesse sentido, em 2006, surge a constatação de que os oito Objetivos de


Desenvolvimento do Milênio deveriam, poderiam ganhar um recorte racial no Brasil.

58
Capítulo 3 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL:
O GLOBAL E O LOCAL

A proposta é criar novas metas, entremeadas aos Objetivos já existentes,


para assegurar que os avanços sejam alcançados não apenas na média da
população, mas para brancos e negros. A sugestão, que está sendo chamada de
nono ODM, tem apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
- PNUD e foi apresentada pela Associação de Anemia Falciforme do Estado de
São Paulo, uma instituição que desde 1993 presta auxílio a portadores da doença
e seus familiares, e foi uma das vencedoras do Prêmio ODM Brasil, em 2005.

A partir do filme, intitulado ‘Os Objetivos do Milênio sem


o Racismo’, surgiu a ideia de desenvolver o nono ODM,
com o propósito de ser o ‘ícone simbólico do combate ao
racismo institucional’, segundo Berenice Assumpção Kikuchi,
presidente e fundadora da associação. De acordo com ela, a
ideia é que as metas sejam cumpridas tanto para negros como
para brancos. (BEDINELLI, 2006).

Tal meta foi batizada de “Os objetivos do milênio sem o racismo”, e será
levada em conta na análise dos resultados finais da campanha. Ou seja, só vamos
cumprir os oito objetivos principais se, lá em 2015, brancos e negros estiverem
em condições iguais.

Os ODM consistem na estratégia de maior alcance e importância delineada


pelas Nações Unidas para a promoção do desenvolvimento humano dentre
seus Estados Membros. Um papel ímpar na promoção da luta global contra
a extrema pobreza. E é no desempenho desse papel, que transborda, no
caso brasileiro, até a esfera municipal, que se desenham as estratégias do
desenvolvimento sustentável.

PrincíPioS Da SuStentabiliDaDe Essas dimensões


possuem uma
Como desenvolvimento sustentável, estamos nos apoiando na interação
permanente,
noção que procura vincular, estreitamente, a temática do crescimento
levando mulheres
econômico com a do meio ambiente, relacionando três dimensões e homens nos
(VEIGA, 2008): seus constantes
“rodamoinhos”.
• comportamento humano, econômico e social; Trabalha-se com
• evolução da natureza; e a possibilidade
de conciliar
• configuração social do território. crescimento
econômico contínuo
Certamente, essas dimensões possuem uma interação permanente, e conservação do
levando mulheres e homens nos seus constantes “rodamoinhos”. meio ambiente, ou
Trabalha-se com a possibilidade de conciliar crescimento econômico seja, crescer
sem destruir.
contínuo e conservação do meio ambiente, ou seja, crescer sem destruir.

59
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

À medida que a população mundial cresce, os recursos naturais acabarão


por se tornar incapazes de responder às nossas demandas. A paz e a estabilidade
globais dependem de nossa habilidade de encontrar novas maneiras de crescer
e gerir nossos recursos para que todos se beneficiem deles, hoje e no futuro. E é
isso o que significa desenvolvimento sustentável.

Vale ressaltar que mulheres e homens vivenciam diferentemente “os


rodamoinhos”. As mulheres, por razões sociais e culturais, ainda, são as principais
responsáveis pelo cuidado de crianças e idosos, da alimentação, preservação da
saúde e dos diferentes aspectos da educação formal e informal, além de estarem
presentes na melhoria da qualidade de vida nas comunidades, tanto nas cidades
quanto no campo. Nas áreas urbanas as reivindicações por melhoria dos serviços
públicos, em especial saneamento básico, saúde, educação e transporte, têm
nas mulheres lideranças aguerridas. Também encontramos a forte presença
das mulheres nas áreas rurais, em especial na agricultura familiar, no acesso
ao crédito, na comercialização da produção. Portanto, esse “cuidar” da vida se
estende do urbano ao rural. Da arena doméstica à pública.

A conciliação desse dia a dia das pessoas que estão por trás dos números
das estatísticas, dos indicadores, enfim, das referências e patamares orientadores
das tomadas de decisões é o cerne da busca pelo desenvolvimento. Ou deveria
ser. Sempre vale registrar que desenvolvimento é diferente de crescimento.

Veiga (2005) é feliz quando se questiona sobre quem, nos dias de hoje, rejeita
a ideia de desenvolvimento sustentável. Todos querem um desenvolvimento que
tenha por princípio a sustentabilidade. Nesse sentido, Veiga percebe que a noção
de desenvolvimento sustentável “desfruta de uma unanimidade só comparável
à felicidade ou ao amor materno”. Mas, como chama atenção, com essa
unanimidade surge também a dificuldade de conceituação acompanhada de um
grande número de definições e os e as estudiosas passam a admitir
que o conceito ainda está em construção.
O qualitativo
sustentável depois
do substantivo Dessa forma, visando a contribuir com essa construção, Veiga (2005,
desenvolvimento p. 4) considera necessário demonstrar que o qualitativo sustentável
refletiu, em depois do substantivo desenvolvimento “refletiu, em última instância,
última instância, o crescente esgotamento de um dos principais valores dos tempos
o crescente
modernos, e não uma mera insuficiência da ideia de desenvolvimento” e
esgotamento de
um dos principais se propõe a sustentar essa tese respondendo a três perguntas:
valores dos tempos
modernos, e • Por que o desenvolvimento é uma utopia?
não uma mera • Por que a utopia do desenvolvimento é insustentável?
insuficiência da ideia • Será que a noção "desenvolvimento sustentável" aponta para o
de desenvolvimento.
surgimento de uma nova utopia?

60
Capítulo 3 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL:
O GLOBAL E O LOCAL

A seguir, apresentamos parte do artigo “O principal desafio do


século XXI”, de José Eli da Veiga, conforme consta nas referências
bibliográficas. Aprofunde seus conhecimentos sobre a tese do autor.
Além desse artigo, procure conhecer também outras obras do autor,
informadas no mesmo site, para melhor compreender seu processo
de argumentação.

O PRINCIPAL DESAFIO DO SÉCULO XXI

[...]

Por que o desenvolvimento é uma utopia? Em seu


entendimento mais comum, "utopia" é algo fantasioso ou quixotesco.
Os dicionários a apresentam como antônimo de "realidade" e
sinônimo de "ilusão" ou "sonho". Claro, não é nesse sentido que se
pode considerar o desenvolvimento como utopia. Mas sim em seu
sentido filosófico contemporâneo: a visão de futuro sobre a qual uma
civilização cria seus projetos, fundamentando seus objetivos ideais e
suas esperanças. [...]

Por que a utopia do desenvolvimento é insustentável?


Paradoxalmente, foi onde e quando se vislumbrou a superação do
tão falado "reino da necessidade", que se constatou que o planeta
Terra está ameaçado, sendo preciso "salvá-lo". Mas esse anseio
de salvação entra em choque com a utopia desenvolvimentista.
Percebeu-se que haveria drástica quebra de resiliência ecossistêmica
do planeta se muitos povos pudessem gozar dos atuais padrões de
vida norte-americano, japonês ou europeu. [...].

É essa a contradição que está na base da noção de


desenvolvimento sustentável. Procura-se uma solução de
compromisso entre o industrialismo ainda exigido pela periferia e
o pós-industrialismo já inaugurado no centro. Sejam quais forem
os termos desse compromisso, uma coisa é certa: a velha utopia
industrialista não é mais sustentável.

Até que ponto a noção de desenvolvimento sustentável


aponta para o surgimento de uma nova utopia? Os promotores
das políticas ecológicas estão cobertos de razão. No médio prazo,
o desenvolvimento deve ser adequado à ambição de que no longo
prazo haja compatibilidade entre a humanidade, os recursos que

61
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

ela consome e o efeito de suas atividades sobre o meio ambiente.


Ninguém sabe ao certo como se deve fazer isso. Em que níveis de
população, tecnologia, e consumo tais combinações se tornariam
possíveis? Especialistas podem até dizer o que é imprescindível
para que se evite uma crise irreversível. Mas o problema da
sustentabilidade é tanto de ciência e tecnologia quanto político e
social. [...]

Fonte: VEIGA, José Eli da. O principal desafio do século XXI.


Ciência e Cultura, v. 57, n. 2, São Paulo, abr/jun 2005. p. 4-5.
Disponível em: <http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009-
67252005000200002&script=sci_arttext>. Acesso em: 24 set. 2011.

Agora vamos conhecer as ideias de Ignacy Sachs (2007) que, trabalhando


com a ecossocioeconomia, uma ciência nova, que interliga três disciplinas
– a ecologia política, a sociologia e a economia, propõe uma nova maneira de
enxergar o desenvolvimento.

Sachs aborda a evolução do pensamento que desembocou no


desenvolvimento sustentável como um desenvolvimento endógeno, isto é, com
soluções encontradas localmente, autossuficiente, ou seja, não dependente,
orientado para as necessidades e não pelo mercado, em harmonia com a natureza
e aberto a mudanças institucionais.

Vale ressaltar que, para Sachs, sustentabilidade não está restrita às questões
ambientais, mas envolve as áreas social, cultural, econômica, governabilidade
política e até o sistema internacional, com o objetivo de manter a paz mundial.

Assim, para o autor, desenvolvimento sustentável requer planejamento local


e participativo, no nível micro, das autoridades e populações locais, e salienta que
o êxito das iniciativas depende de negociações com todos os envolvidos em uma
determinada questão. Por conta disso, uma gestão negociada e contratual dos
recursos é fundamental para qualquer desenvolvimento sustentável.

Para Sachs a ocorrência do desenvolvimento sustentável depende da


obediência a três critérios fundamentais de forma simultânea: a equidade social,
a prudência ecológica e a eficiência econômica. Estabelece critérios para a
sustentabilidade, sendo eles: social, cultural, ecológico, ambiental, territorial,
econômico, política (nacional) e política (internacional).

Ainda nos apoiando em Sachs, “o ecodesenvolvimento pode ser aplicado nos


níveis local e regional, nos quais é possível levar em conta tanto a diversidade de
62
Capítulo 3 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL:
O GLOBAL E O LOCAL

recursos disponíveis como as aspirações e necessidades das pessoas, expressas


por elas mesmas no âmbito do planejamento participativo.” (2007, p.106)

Segundo Sachs (2007, p.181-183), as cinco dimensões do ecodesenvolvimento,


são:

1. Sustentabilidade social, entendida como a criação de um


processo de desenvolvimento que seja sustentado por uma
outra lógica de crescimento e subsidiado por uma outra
visão do que seja uma boa sociedade. [...]

2. Sustentabilidade econômica, que deve ser viabilizada


mediante a alocação e o gerenciamento mais eficiente dos
recursos e de um fluxo constante de investimentos públicos
e privados. [...]

3. Sustentabilidade ecológica, que pode ser melhorada


utilizando-se as seguintes ferramentas:

• ampliar a capacidade de carga da espaçonave Terra por


meio de soluções engenhosas [...] com o mínimo possível de
danos aos sistemas de sustentação da vida;

• limitar o consumo de combustíveis fósseis e de outros


recursos e produtos que são facilmente esgotáveis [...];

• reduzir o volume de resíduos e de poluição, por meio da


conservação de energia e de recursos, além da reciclagem;

• promover a autolimitação no consumo material por parte dos


países ricos e dos indivíduos em todo o planeta;

• intensificar a pesquisa para a obtenção de tecnologia de


baixo teor de resíduos [...]

• definir normas para uma adequada proteção ambiental [...].

4. Sustentabilidade espacial, que deve ser dirigida para


a obtenção de uma configuração rural-urbana mais
equilibrada e de uma melhor distribuição territorial dos
assentamentos humanos e das atividades econômicas [...].

5. Sustentabilidade cultural, incluindo a procura das


raízes endógenas de modelos de modernização e de
sistemas agrícolas integrados, processos de mudança
que resguardem a continuidade cultural e que traduzam
o conceito normativo de ecodesenvolvimento numa
pluralidade de soluções, ajustadas à especificidade de
cada contexto socioecológico.

63
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

Segundo Sachs (2007, p.181-183), as cinco dimensões do


Segundo Sachs
ecodesenvolvimento são: sustentabilidade social, econômica, ecológica,
(2007, p.181-
183), as cinco espacial e cultural.
dimensões do
ecodesenvolvimento O desenvolvimento sustentável é um desafio planetário. A
são: conservação da biodiversidade entra em cena a partir de uma longa
sustentabilidade e ampla reflexão sobre o futuro da humanidade. A biodiversidade
social, econômica,
necessita ser protegida para garantir os direitos das futuras gerações.
ecológica, espacial
e cultural. (SACHS, 1993).

O progresso ao longo dos caminhos da transição neste século XXI


dependerá, em grande parte, da capacidade e da resolução dos diferentes
países de projetarem e implementarem as estratégias nacionais, adaptadas
a sua configuração de fatores naturais, culturais e sociopoliticos. Mais do que
nunca a ação global será necessária de muitas maneiras, no sentido de atender
às necessidades das pessoas buscando uma distribuição mais justa da renda, a
conservação dos recursos e enfatizando técnicas limpas de produção.

Do creScimento econÔmico ao
DeSenvolvimento SuStentável
A transição para uma economia mais sustentável não significa sacrificar o
crescimento ou cercear as aspirações dos países ricos ou pobres.

Diversos autores, assim como a literatura sobre o tema, consideram a


Conferência da Organização das Nações Unidas para o Meio Ambiente, ou
Conferência de Estocolmo, em 1972, decisiva para o início da construção do que
viria a ser a proposta de desenvolvimento sustentável. Isso inclui o processo de
preparação para a Conferência de Estocolmo, que ocorreu no Encontro de Founex,
em junho de 1971, com a análise da relação entre meio ambiente e desenvolvimento.

Naquela ocasião, ficaram bastante marcadas as diferenças existentes entre


os países do hemisfério Norte e os do Sul, desencadeando intensos debates sobre
os processos de industrialização e crescimento. Os países do Norte defendiam
a proposta do crescimento zero para os países do Sul. E em contraposição, os
países do Sul, também denominados desenvolvimentistas, reclamavam o seu
direito ao crescimento e desenvolvimento, qualquer que fosse o preço.

Esse embate iluminou as grandes diferenças vivenciadas pelos dois hemisférios:


enquanto o norte se preocupava com a emissão de gases poluidores, os países do
sul se viam às voltas com o grande número de miseráveis e a fome latente.
64
Capítulo 3 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL:
O GLOBAL E O LOCAL

A ideia de desenvolvimento sustentável ganha reconhecimento efetivo em


1987, com a publicação do Relatório Nosso Futuro Comum ou Relatório Brundtland
– referente ao nome de Gro Herlem Brundtland, primeira-ministra da Noruega,
que foi a Coordenadora da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento da
ONU. O Relatório apresenta 109 recomendações visando à concretização das
propostas definidas na Conferência de 1972.

O Relatório explicita desenvolvimento sustentável, enquanto o desenvolvimento


que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a
capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades,
significa possibilitar que as pessoas, agora e no futuro, atinjam um nível satisfatório
de desenvolvimento social e econômico, e de realização humana e cultural,
fazendo, ao mesmo tempo, um uso razoável dos recursos da terra e preservando
as espécies e os habitats naturais. (ONU, 1988).

Entende-se, portanto, que o desenvolvimento sustentável é


O desenvolvimento
aquele que atende as necessidades do presente sem comprometer sustentável é
as possibilidades de as gerações futuras atenderem às suas próprias aquele que atende
necessidades. Essa definição possui dois conceitos-chave: as necessidades
do presente sem
comprometer as
• o conceito de “necessidades”, sobretudo as necessidades essenciais
possibilidades
dos pobres no mundo, que devem receber a máxima prioridade; de as gerações
futuras atenderem
• a noção das limitações que o estágio da tecnologia e da organização às suas próprias
social impõe ao meio ambiente, impedindo-o de atender às necessidades.
necessidades presentes e futuras.

Vinte anos mais tarde, entre 3 e 4 de junho de 1992, realizou-se no Rio de


Janeiro a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
– ECO-92, que teve a participação de 179 países e resultou em medidas para
conciliar crescimento econômico e social com a preservação do meio ambiente.
Além das atividades oficiais, ocorreu em paralelo o Fórum das ONGs, que contou
com a participação de um número expressivo de representantes dos movimentos
sociais brasileiros e internacionais, inaugurando uma participação efetiva dos
movimentos sociais nas Conferências da ONU. Foi o maior evento mundial até
hoje realizado sobre meio ambiente.

Um dos principais resultados da ECO-92 foi a assinatura da Agenda 21,


formulada em um processo de colaboração de governos e instituições da
sociedade civil de 179 países, que ficaram envolvidos em sua produção durante
2 anos. Na Agenda 21 cada país definiu as bases para a preservação do meio
ambiente em seu território, possibilitando o desenvolvimento sustentável.

65
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

O significado da Agenda 21 vai para além de um plano de ação estratégico,


significa também a mais abrangente tentativa de promover, em escala planetária,
novo padrão de desenvolvimento, conciliando métodos de proteção ambiental,
justiça social e eficiência econômica.

A ECO-92 representou um avanço no sentido de reforçar a ideia segundo


a qual desenvolvimento e meio ambiente constituem um binômio central e
indissolúvel, e como tal, deve ser incorporado às políticas públicas e às práticas
sociais de todos os países. A base da construção do conceito de desenvolvimento
sustentável surge como um contraponto aos tradicionais modelos de
desenvolvimento econômico, caracterizados pelos fortes impactos negativos na
sociedade e no ambiente.

Mesmo sendo um ato internacional, sem caráter mandatário, houve uma


ampla adesão aos princípios da Agenda 21, favorecendo a adoção de novas
posturas no uso dos recursos naturais, com a alteração de padrões de consumo e
a procura por novas tecnologias mais brandas e limpas.

Mais vinte anos se passaram após a ECO-92, e o tema dos modelos de


produção e de consumo novamente se impõe como ponto crucial no processo
de preparação de uma nova Conferência da ONU sobre o Desenvolvimento
Sustentável, a Rio+20, que acontecerá em junho de 2012, no Rio de Janeiro. Esta
Conferência está sendo considerada prioridade número um da ONU em 2012,
segundo o secretário-geral Ban Ki-Moon. As expectativas estão direcionadas no
sentido de que a Rio+20 tenha um vínculo estreito com a Conferência de Durban,
sobre o aquecimento global, prevista para o fim de 2011. O debate que se coloca
gira em torno da adoção, pelos países ricos, de um modelo sustentável de
produção e consumo.

DeSenvolvimento econÔmico-Social
e incluSão ProDutiva

Como vimos até aqui, a população mundial vivenciou os últimos 30 anos na


expectativa da realização de promessas de desenvolvimento e distribuição de
riqueza através da “mão invisível” do mercado. Essa situação não ocorreu, sendo
que, ao contrário do cenário traçado, estamos vivenciando uma crise internacional
de larga escala e um período de ainda maior concentração de riqueza, além da
evidenciação de umas poucas cidades como centros dominantes no mundo da
globalização financeira e da dispersão das transações.
66
Capítulo 3 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL:
O GLOBAL E O LOCAL

Nesse mesmo período, a valorização da dimensão do local, por distintos


atores sociais, apontou para uma tendência da percepção do desenvolvimento
que prioriza os resultados e considera o impacto concreto de políticas, programas
e projetos sobre a população e o território.

Ao considerarmos que as estratégias de desenvolvimento adotadas


A leitura desse
por uma determinada esfera de governo estão inscritas no território, subespaço,
estamos trabalhando com a compreensão de território como uma fração composto por um
do espaço, um subespaço, regulado política e administrativamente por conjunto de lugares,
normas próprias e acordadas, conforme apresentado no Capítulo 1. constitui uma das
Segundo Fontes (2002), a leitura desse subespaço, composto por um formas de captar
conjunto de lugares, constitui uma das formas de captar a realidade, rica a realidade, rica
em multiplicidade
em multiplicidade e diversidade de processos, permitindo verificar que
e diversidade
alguns pontos do território são “a arena da globalidade”, enquanto que
de processos,
outros são forças desamparadas. permitindo verificar
que alguns pontos
As alterações substanciais, tanto econômicas quanto sociais e do território são
culturais, impostas a todas as localidades, tanto por sua inclusão quanto “a arena da
pela exclusão no processo de mundialização das relações econômicas, globalidade”,
enquanto que
inserem-se no território, sendo reconhecidas e incluídas na agenda dos
outros são forças
debates sobre desenvolvimento.
desamparadas.

Assim, é necessário ressaltar que durante muito tempo promover o


desenvolvimento local foi, basicamente, compreendido como favorecer e apoiar
diferentes iniciativas locais de fomento com a perspectiva de que a soma das
iniciativas criaria uma ambiência favorável a uma mudança no meio e ao
fortalecimento de uma nova dinâmica de desenvolvimento.

Nesse sentido, vale destacar que, historicamente, são numerosas Promover o


as propostas de desenvolvimento que se pautam pela superação da desenvolvimento
e reduzir a
pobreza, caracterizando-a como um problema de ordem técnica, de base
pobreza passa
produtivista, industrial ou agrícola, que terminam por considerar medidas necessariamente
para o encaminhamento de sua solução que não atinjam efetivamente o por fortalecer
status quo da sociedade. a cidadania e
influenciar o
É importante afirmar o vínculo existente entre pobreza e vida cotidiano da
política, considerando as diferentes esferas do poder público e política a favor da
democracia, dando
respectivas parcelas de responsabilidade na formulação, integração e
a devida atenção
implementação das políticas inerentes a micro e macroeconomias. Com aos contextos
essa afirmação estamos reconhecendo que promover o desenvolvimento históricos sociais
e reduzir a pobreza passa necessariamente por fortalecer a cidadania e e institucionais
influenciar o cotidiano da política a favor da democracia, dando a devida que conformam
atenção aos contextos históricos sociais e institucionais que conformam os processos de
os processos de crescimento. crescimento.

67
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

Como vimos no Capítulo 1, os processos de reestruturação tecnológica,


econômica, produtiva e organizativa criaram condições para a promoção de
desenvolvimento econômico endógeno localizado. A produção flexível permitiu a
algumas localidades beneficiarem-se do “desenvolvimento de baixo para cima”,
controlado principalmente por agentes locais e nas áreas locais, envolvendo a
capacidade local de promover o aprendizado social, o empreendedorismo e
as inovações tecnológicas, mapeando e desenvolvendo interdependências
produtivas locais.

As propostas de desenvolvimento local têm por fundamento as aglomerações


de empreendimentos, em sua maioria pequenos, de origem local e baseados
em redes locais de cooperação, acordo e competição, que possuem uma “liga”
formada por instituições, costumes, convenções e identidade local.

As políticas formuladas nesse contexto procuram, ao mesmo tempo,


incluir a formação de uma força de trabalho local flexível com um bom nível de
capacitação. A capacidade local de aprender é fator decisivo e competitivo entre
as demais localidades, assim como a capacidade local de promoção continuada
do processo inovativo.

Voltamos aqui às nossas preocupações iniciais com a necessidade de a visão


global do desenvolvimento do território ser partilhada pelos atores socioeconômicos
e, em geral, pela sociedade civil num mundo de integração excludente, onde a
luta competitiva e a busca de inserção produtiva no comércio mundial aumenta o
esforço para a modernização produtiva. Esse esforço é resultante da combinação
entre pesquisa e sua interação com as condições econômicas e sociais presentes
em cada espaço, através da interação entre empreendedores e o meio no qual
estão envolvidos. Nessa perspectiva, como chamamos a atenção, as redes de
inovação surgem como estratégia ou instrumento de desenvolvimento local.
(FONTES, 2002).

Nesse sentido é que se ressalta a importância dos fatores econômicos e não


econômicos no processo de aprendizado, inovação e competição enraizado em
cada localidade. Entretanto, sempre vale lembrar que, já em 1974, Celso Furtado
alertava para o mito de que o crescimento econômico iria universalizar o padrão
de vida dos países centrais.

O atendimento às necessidades básicas da coletividade está no centro da


discussão sobre desenvolvimento e qualidade de vida. Consideram-se inerentes
ao conceito de desenvolvimento local as possibilidades ofertadas à população
de ampliar suas escolhas como indivíduos nas diferentes áreas, tanto aquelas
que visam à sobrevivência quanto aquelas referentes à participação política,
diversidade cultural, direitos humanos e liberdade de escolha.

Como aprendemos ao longo das seções anteriores, habitamos um mundo


68
Capítulo 3 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL:
O GLOBAL E O LOCAL

constituído por circuitos extremamente sensíveis, pertencentes a um universo


de relações no qual se cruzam as causas e os efeitos, onde as transformações
ocorridas em uma região provocam alterações em outras, independente de sua
localização geográfica.

Certamente, o poder de interferência não é simétrico, o que


significa que nem todas as regiões têm a capacidade de afetar
outras, visto que isso depende do grau de poder ali concentrado pelo
desenvolvimento de certos pontos do território, que são capazes de
expandir os efeitos positivos ou negativos a outros pontos. Voltamos
a dizer, com Milton Santos, que existem pontos luminosos e pontos
não luminosos no território que sofrem de forma diferenciada os
efeitos da globalização.

Acompanhando Milton Santos, os pontos luminosos, “onde


predominam a competitividade, o pragmatismo, a velocidade [...]
passam a funcionar como matrizes de relações verticais” (Santos,
1998), fazem parte de um território maior que contém populações,
empresas, comportamentos que exigem que haja negociações. “É
uma ilusão achar que os pontos luminosos podem desatar os laços
que os ligam aos demais”. Nos processos globais existem milhões
de pessoas que estão deles excluídas, mas sofrem os efeitos de sua
verticalidade. (FONTES, 2000, p. 252).

Entretanto, apesar da globalização, os habitantes do planeta


seguem se referenciando a um lugar ao qual vinculam seus interesses
primários e vitais como indivíduos e como seres sociais. As pessoas
pertencem ao longo de suas vidas a um espaço determinado em que
os diferentes fluxos ali presentes não são apagados pelas relações
de interdependência, mas, sim, afetados.

É neste espaço social definido que as pessoas vivem suas


vidas procurando a satisfação de necessidades materiais e imateriais
próprias de uma existência digna. Assim, ainda que o horizonte
A noção de
seja o mundo, o desenvolvimento segue pensando-se a partir do
desenvolvimento
lugar que constitui o centro real das vidas de milhões de pessoas. local contrapõe-se
às estratégias de
desenvolvimento
“por cima”,
A noção de desenvolvimento local contrapõe-se às estratégias concentrador e
de desenvolvimento “por cima”, concentrador e baseado na grande baseado na
grande empresa.
empresa. Vale dizer, propõe-se um novo enfoque “de baixo para cima”,

69
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

de caráter difuso, com diversas fontes de propagação e efeitos de fluência e


sustentado por fatores não somente econômicos, mas também sociais, culturais e
territoriais. (FONTES, 2002)

E é no território municipal, onde tudo se encontra mais visível e exposto,


que essa situação adquire concretude. A pobreza, através das crianças nas ruas,
dos vendedores ambulantes de todo tipo, de empresas comerciais e industriais
que abrem falência e fecham as portas deixando prédios ao abandono físico. A
riqueza, por seu lado, se faz notar através das diversas formas de ostentação e
exibição, como um indicador de pertencimento ao mundo dos ganhadores.

O desenvolvimento local apresenta-se como processos essencialmente


qualitativos, que surgem e avançam como resultado de esforços locais, capazes
de converter as ameaças em oportunidades, de colocar o crescimento ao serviço
da população. São dinâmicas próprias, com componentes endógenos e atores
locais como protagonistas, que procuram se conectar com o entorno, numa clara
afirmação de que não são autorreferidos, mas que o fazem a partir de uma base
local e um compromisso com a qualidade de vida da localidade.

Percebe-se que, no ponto de interseção entre o interno e o


Percebe-se que, no
ponto de interseção externo, entre o local e o global, nas múltiplas articulações e tensões,
entre o interno e existe a possibilidade de se encontrar o caminho para o enfrentamento
o externo, entre do desafio do desenvolvimento local.
o local e o global,
nas múltiplas
Percebe-se que, no ponto de interseção entre o interno e o
articulações e
tensões, existe externo, entre o local e o global, nas múltiplas articulações e tensões,
a possibilidade existe a possibilidade de se encontrar o caminho para o enfrentamento
de se encontrar do desafio do desenvolvimento local.
o caminho para
o enfrentamento Torna-se, assim, necessário que se tenha clareza sobre
do desafio do
desenvolvimento as articulações que se estabelecem entre os megaprocessos e
local. aqueles em escala micro, que ocorrem de forma localizada, os
pontos de encontro e desencontro entre as lógicas de acumulação
macroeconômica e as lógicas de sobrevivência e de melhoramento da qualidade
de vida nos espaços cotidianos.

Lançar um olhar sobre o desempenho dos governos municipais no processo


de inclusão social significa admitir a relevância do papel das políticas de geração
de emprego, trabalho e renda, através dos mecanismos de acesso ao crédito e de
(re)qualificação profissional, na esfera municipal e seu rebatimento espacial.

Trabalhar para o desenvolvimento local pressupõe a identificação de um

70
Capítulo 3 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL:
O GLOBAL E O LOCAL

ator que tenha governabilidade de ação no sentido da promoção e moderação


de uma ação integrada de diversos atores locais. Os governos municipais
representam o ator capaz de dar sustentabilidade institucional para a construção
de parcerias locais.

Ao se focar como ator econômico estratégico o pequeno


A desagregação
empreendedor, tendo por objetivo a integração socioeconômica, é da figura “pequeno
necessário pensar as diferenciações internas do setor, visto que a cada empreendedor” visa
segmento corresponderá uma ação específica. Ou seja, a desagregação à formulação de
da figura “pequeno empreendedor” visa à formulação de políticas, políticas, programas
programas e projetos que devem atender às necessidades específicas e projetos que
devem atender
de cada grupo.
às necessidades
específicas de
A desagregação da figura “pequeno empreendedor” visa à cada grupo.
formulação de políticas, programas e projetos que devem atender às
necessidades específicas de cada grupo. (OLHO)

Durante as últimas décadas, foi possível perceber que as políticas de


emprego, trabalho e renda foram assumidas pelos governos municipais e
orientadas para além dos seus limites territoriais político-administrativos. A
necessidade de (re)qualificação da mão de obra local e o acesso ao crédito são
a tônica, dentro da visão proposta pelo modelo neoliberal, de que “agora todos
serão micro e pequenos empresários”, ou seja, se não há mais emprego, vamos
possibilitar trabalho. Há uma naturalização do fim do emprego, como se este
fosse um processo inexorável, levando governantes a adotarem políticas que
privilegiem as soluções individuais.

Há, portanto, uma resposta a esse “fim do emprego” que espera que a
população se constitua em um recurso de si mesma, através das potencialidades
que possui como a capacidade organizativa e a de estabelecer elos cooperativos,
combinadas com competência e saberes próprios ao setor escolhido.

Ao mesmo tempo, os vultosos investimentos governamentais, direcionados às


grandes obras de infraestrutura, geradores de postos de empregos, contrapõem-
se aos discursos anteriores, servindo como um anteparo para os trabalhadores
nas crises atuais.

A identificação de atores locais permite que nos aproximemos das redes de


relacionamento existentes e que possamos atuar através dessas redes, gerando
ações compromissadas. A concepção da rede deve ser trabalhada no sentido
de garantir a governabilidade de ação do desenvolvimento local a partir de
critérios que levem em consideração os atores relevantes para o contexto local,
legitimidade política, representatividade e transparência.

71
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

Trabalhar com o conceito de redes de desenvolvimento econômico local


objetiva, através de uma prática cotidiana:

• gerar riqueza em um território e melhorar a qualidade de vida de seus


habitantes através de algumas ações no sentido de apoiar o desenvolvimento
e o fortalecimento das empresas existentes na comunidade, especialmente as
micro, pequenas e médias empresas;

• melhorar as condições para a atividade empresarial visando à atração de


investimentos;

• fomentar a integração e a diversificação da estrutura produtiva de serviço;

• coordenar, com outras entidades territoriais, programas e projetos com


impacto potencial na economia local.

A estratégia de construção de redes como fator propulsor de


A estratégia de uma dinâmica econômica específica não significa a eliminação de
construção de conflitos, mas sim que são trazidas para o interior de uma ação pública
redes como fator
estratégica as disputas de projetos, de interesses diferenciados. São
propulsor de uma
dinâmica econômica parcerias conflitivas, que buscam um gerenciamento de conflitos.
específica
não significa a Com as ações resultantes desse movimento integrador é possível
eliminação de esperar impactos relacionados com a ativação da economia local,
conflitos, mas sim em termos de volume de operação atual e desenvolvimento de suas
que são trazidas potencialidades, o que leva a um aumento de renda, acompanhado
para o interior de
por um desejável aumento da produtividade e da qualidade do
uma ação pública
estratégica as emprego. Medidas incentivadoras da economia formal oportunizam
disputas de projetos, um aumento da arrecadação municipal que, por sua vez, influencia
de interesses na melhoria da qualidade de vida através da prestação de serviços
diferenciados. públicos mais eficientes.

As ações apresentadas ao longo dessa seção são geradoras de ciclos de


desenvolvimento econômico-social com inclusão produtiva.

www.unhabitat.org
www.pnud.org.br
www.unifem.org.br
www.ibge.org.br
www.oglobo.com.br www.folha.uol.com.br

72
Capítulo 3 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL:
O GLOBAL E O LOCAL

oS DeSaFioS Do meio ambiente


Para darmos continuidade aos temas abordados nas seções anteriores,
nos apoiaremos no Manual do Prefeito (IBAM, 2009, p.108-110) com o objetivo
de pensar as possibilidades e desafios da promoção do desenvolvimento na
esfera municipal.

Os desdobramentos do conceito de desenvolvimento


sustentável apontam para o caminho da “sustentabilidade
ampliada” [...] que conduz ao encontro político necessário
entre a agenda estritamente ambiental e a agenda social,
reforçando a sua indissociabilidade e a necessidade de que
a degradação do meio ambiente seja enfrentada juntamente
com o problema da pobreza.

A associação do conceito de sustentabilidade ao debate sobre


o urbano vem sendo feita por processo de aproximação no
qual se verificam a “ambientalização” das discussões sobre
o urbano e a entrada crescente das questões urbanas no
debate ambiental. Esse processo vem ocorrendo, seja por
iniciativa de atores sociais preocupados com a qualidade de
vida urbana, seja pelo crescimento da carteira de projetos
ambientais, financiados pelas agências multilaterais, os quais
dão ênfase à sua dimensão urbana. Em síntese, trata-se de
assumir os temas ambientais como temas transversais, que
permeiam e orientam o conjunto das políticas, programas
e ações do governo municipal, deixando de ser vistos como
problemas estanques.

Importante ressaltar também que a extensão para a esfera


local do conceito de desenvolvimento sustentável – a
cidade sustentável – procura promover um desenvolvimento
compartilhado, que beneficia cada membro da sociedade
e que permite a proteção dos ecossistemas, a fim de não
comprometer as condições de vida das gerações futuras.

Mais recentemente, a questão ambiental passou a ser


reconhecida e percebida em sua dimensão global, associada
ao tema das mudanças climáticas. Se, por um lado, é sabido
que – no caso brasileiro – a maior parte das emissões de
gases causadores do efeito estufa (GEE), que provocam as
mudanças climáticas, é oriunda do desmatamento e queimadas
(com destaque para a região Amazônica) e que a matriz
energética brasileira é bastante favorável, em comparação
com outros países desenvolvidos e em desenvolvimento, por
outro lado é fato que o conjunto das ações e políticas, nas
esferas nacional, regional e também na local, podem contribuir
significativamente para maior redução das emissões dos GEE
(a chamada mitigação).

Iniciativas de âmbito municipal tais como a priorização de


“compras verdes”; o uso de veículos oficiais com combustível

73
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

flex; melhorias no trânsito e prioridades ao transporte coletivo;


uso de energia solar nos prédios públicos e inclusão de
exigências legais nos código de obras e incentivos para esse
uso nas habitações e empreendimentos privados; criação,
ampliação e manutenção de unidades de conservação e áreas
de preservação permanente; gestão adequada dos resíduos
sólidos são ideias que convergem para que os Municípios
sejam pró-ativos na questão das mudanças climáticas.

Além disso, é necessário perceber que, em médio prazo,


os efeitos das mudanças climáticas passarão a afetar
crescentemente as condições ambientais nos Municípios nas
diversas regiões, cada qual segundo suas características:
Municípios costeiros passarão a sentir efeitos da elevação
dos níveis dos oceanos, com impactos nos sistemas de
saneamento e drenagem; outros sentirão os efeitos de secas
em suas áreas rurais e na produção agrícola; outros ainda
estarão sujeitos a maiores índices pluviométricos. Em síntese,
as fragilidades municipais e urbanas se evidenciarão e muitas
medidas para o enfrentamento de suas consequências serão
necessárias. (IBAM, 2009).

Vamos encerrar a seção e o capítulo 3 com a atividade de


estudo proposta a seguir, que tem como base o exemplo dado
nacionalmente por Paragominas, apresentado abaixo.

Atividade de Estudos:

O exemplo do município de Paragominas foi notícia de âmbito


nacional e onze cidades procuram seguir seu modelo. Após leitura
atenta do texto abaixo, e fazendo uso das informações recebidas ao
longo deste capítulo, responda à pergunta: Quais são as principais
lições aprendidas da história de Paragominas? Procure conhecer
mais sobre o assunto, o case Paragominas, quais cidades estão
sendo influenciadas, em seguida faça uma redação contendo
suas considerações sobre desenvolvimento sustentável, suas
dimensões, as propostas adotadas em Paragominas e seus
resultados práticos.

ONZE CIDADES JÁ SEGUEM MODELO DE PARAGOMINAS


CONTRA O DESMATAMENTO DA AMAZÔNIA

Publicada em 22/08/2011 às 09h13m – O Globo


Cleide Carvalho - Enviada especial

PARAGOMINAS (PA) - O município de Paragominas, no

74
Capítulo 3 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL:
O GLOBAL E O LOCAL

Pará, começa a se transformar num modelo de desenvolvimento


sustentável para a Amazônia. Pelo menos outras 11 cidades
paraenses já aderiram ao programa Município Verde, do governo do
estado, criado com base nas ações adotadas em Paragominas para
reduzir o desmatamento a menos de 40 quilômetros quadrados por
ano e sair da lista dos maiores devastadores da Floresta Amazônica
no país.

Segundo dados do Sindicato de Produtores Rurais de


Paragominas, foram cadastradas 690 propriedades, que ocupam
94% da área rural do município. Desta forma, é possível o poder
público fiscalizar. Ao cruzar as imagens dos satélites do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) com o mapeamento rural,
sabe-se exatamente onde está ocorrendo um foco de desmatamento
ou queimada e quem é o responsável por aquele espaço.

Segundo Mauro Lúcio Costa, presidente do Sindicato, um dos


principais articuladores do pacto pela recuperação ambiental do
município, apenas 6% das propriedades não foram cadastradas. Em
troca da adesão ao cadastramento, proprietários rurais receberam
perdão de parte do valor devido em multas causadas por passivos
ambientais do passado. Áreas de Proteção Permanente (APAs) e
reservas legais estão sendo recompostas com o auxílio dos próprios
fazendeiros, para compensar o abatimento.

- A legalidade das terras é o ponto de partida para a transformação


do modelo de desmatamento predatório para o desenvolvimento
sustentável da Amazônia - diz Paulo Amaral, pesquisador do Imazon,
instituto que trabalha no monitoramento da floresta.

Os que mais devastam no Pará são os que não pagaram pela


terra que ocupam. Grileiros transformados em grandes fazendeiros,
eles não têm como legalizar terras e produção. Por isso, atuam na
clandestinidade, arrancando do solo tudo o que ele pode gerar de
riqueza enquanto está sob seu domínio.

Prefeitura aposta em investimento em educação

Mas o modelo de sustentabilidade de Paragominas não é


baseado na repressão, e sim na diversificação das atividades
econômicas do município e na qualificação dos produtos. Isso
significa que Paragominas quer ter propriedades rurais com criação
de gado, plantio de grãos, áreas de reflorestamento para produção

75
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

de madeira e manter preservada a área de floresta nativa, que


corresponde a 65% do total.

Para diversificar, é preciso acomodar o que já existe e impedir


que tudo isso avance sobre a parte mais frágil e mais valiosa, que é a
Floresta Amazônica. Adnan Demacki, prefeito de Paragominas, busca
agora verticalizar a produção do município, atraindo beneficiadoras
de grãos, indústrias moveleiras e frigoríficos.

• Uma cidade não pode depender de uma única atividade


econômica. É da interação entre os vários setores que poderemos
garantir desenvolvimento e evitar crises - diz ele.

Paralelamente ao plano de desenvolvimento econômico,


Paragominas investe em educação. O município é um dos poucos
a ter em andamento, desde 2010, um Plano Municipal de Educação,
elaborado com a participação dos professores.

Com cerca de 100 mil habitantes, o município investe fortemente


em educação, com remuneração adicional para professores,
inclusive de ensino fundamental, que tenham mestrado e doutorado.
Recentemente, foi anunciada a instalação de uma escola técnica
federal na cidade, o que deve acelerar a formação de mão de obra
especializada.

Fonte: CARVALHO, Cleide. Onze cidades já seguem modelo de Paragominas


contra o desmatamento da Amazônia. O Globo, Rio de Janeiro, 28 ago.
2011. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/pais/mat/2011/08/22/onze-
cidades-ja-seguem-modelo-de-paragominas-contra-desmatamento-da-
amazonia-925175224.asp#ixzz1XJt9KhgR>. Acesso em: 10 out. 2011.
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Capítulo 3 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL:
O GLOBAL E O LOCAL

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alGumaS conSiDeraçõeS
Ao longo deste capítulo discutimos sobre a importância do desenvolvimento
sustentável e sua influência, tanto global, quanto localmente, para a sobrevivência
do planeta Terra. Estamos todos os povos em um só mundo, mas sabemos o quão
esse mundo é diferenciado para cada povo, cada país, assim como é diferenciada
a vida de cada cidadão e cidadã internamente em seu país.

A busca por um futuro comum levou ao debate sobre as diferentes


configurações adotadas pelos processos produtivos no nível mundial, mas
nós nos ativemos ao mundo ocidental. Mesmo quando falamos em países do
Norte e do Sul, nossa análise não incluiu o lado oriental do mundo. E sabemos
o quanto ele difere, seja culturalmente, seja politicamente, do que estamos
habituados a vivenciar.

Assim, demonstramos que, se o futuro comum é planetário e as orientações


estratégicas também, as ações concretas ocorrem no território, no chão onde
pisamos, onde vivemos, e esse território é municipal e a concretude das ações
está diretamente ligada ao entendimento que os governantes municipais têm do
seu papel e das posturas responsáveis, dos posicionamentos que adotam em
seus municípios, como tão bem exemplificou Paragominas.

reFerÊnciaS
BEDINELLI Talita. ONG propõe ODM para negros no Brasil. São Paulo,
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77
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

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<http://www.rj.anpuh.org/resources/rj/Anais/2002/Comunicacoes/Fontes%20
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24 set. 2011.

78
C APÍTULO 4
aGenDaS locaiS e GlobaiS

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 Descrever os problemas referentes às agendas locais e globais


considerando as esferas de articulação internacional e nacional.

 Analisar a interrelação das agendas à luz dos papéis desempenhados


pelos atores globais e locais.
Capítulo 4 AGENDAS LOCAIS E GLOBAIS

conteXtualização
Como não poderia deixar de ser, ao longo do século XX os movimentos
sociais no Brasil foram sofrendo as transformações ocorridas no país ao mesmo
tempo em que nelas influíam. Se no início do século XX os movimentos ligados
ao rural se faziam mais presentes, também estiveram presentes movimentos
que lutavam pela conquista do poder político. Em meados de 1950, os espaços
rural e urbano adquiriram visibilidade através da realização de manifestações
em espaços públicos, como as avenidas, praças e rodovias. Com reivindicações
específicas, todos expressavam as contradições econômicas e sociais presentes
na sociedade brasileira.

Durante a segunda metade do século passado, os movimentos, quando


referenciados ao espaço urbano, abraçaram temáticas amplas, como as lutas
por creches, por escola pública, por moradia, transporte, saúde, saneamento
básico, reforma urbana, entre outros. Quando a referência estava no espaço rural,
a diversidade das reivindicações era expressa nos movimentos de boiasfrias,
principalmente das regiões cafeeiras, citricultoras e canavieiras, de posseiros,
sem-terra, arrendatários e pequenos proprietários.

Vale registrar que os movimentos populares urbanos no Brasil


Os movimentos
foram impulsionados pelas Sociedades Amigos de Bairro - SABs - e populares urbanos
pelas Comunidades Eclesiais de Base - CEBs. Nos anos 1960 e 1970 no Brasil foram
os movimentos não se calaram e as reivindicações por educação, impulsionados
moradia e pelo voto direto se fizeram presentes. O movimento estudantil pelas Sociedades
Amigos de Bairro
é a expressão política das tensões que permeiam o sistema. Os
- SABs - e pelas
movimentos feministas e de mulheres trazem as questões relacionadas Comunidades
à igualdade entre homens e mulheres, com respeito às diferenças, e a Eclesiais de Base -
campanha pelos direitos das mulheres e seus interesses. Em 1980 são CEBs.
as manifestações sociais pelas “Diretas Já”. Nos anos de 1990, o MST e
as ONGs, ao lado de outros sujeitos coletivos, tais como os movimentos sindicais
de professores, têm forte atuação. (FONTES, 2010)

Na primeira década do século XXI, as ações coletivas que tocam nos


problemas de amplitude planetária, como as questões relacionadas com a
violência e o efeito estufa, resultando em ações que denunciam a depredação
ambiental e a poluição dos rios e oceanos - lixo doméstico, acidentes com navios
petroleiros, lixo industrial, coexistem com ações coletivas voltadas para as
questões nacionais e locais. Essas ações coletivas denunciam a concentração de
terra, assim como procuram encaminhar propostas para a geração de empregos
no campo, ações coletivas que denunciam o arrocho salarial, como as greves de
professores e de operários de indústrias automobilísticas.
81
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

O espaço urbano se mostra como o locus para a visibilidade


Os movimentos das denúncias, reivindicações ou proposição de alternativas. E hoje
sociais não se
os movimentos sociais não se restringem aos espaços físicos, seja
restringem aos
espaços físicos, seja das cidades, seja da área rural, mas suas manifestações ganharam
das cidades, seja as infovias e a difusão de reivindicações, de mensagens, ganha
da área rural, mas o espaço virtual da internet, com o realce no papel das chamadas
suas manifestações Redes Sociais. Entretanto, continua sendo a ação em espaço público
ganharam as – praças e avenidas – que lhe empresta visibilidade, em especial
infovias e a difusão
quando desperta o interesse da mídia em geral. (CASTELLS, 1999).
de reivindicações,
de mensagens,
ganha o espaço
virtual da internet,
com o realce no aS conFerÊnciaS
papel das chamadas
Redes Sociais. internacionaiS e aS
aGenDaS GlobaiS
Podemos iniciar nossos estudos nos perguntando sobre a importância das
conferências internacionais nas soluções dos problemas globais, que resultariam
no bem-estar da humanidade. Para tanto vamos nos ater ao papel desempenhado
pela Organização das Nações Unidas - ONU nas questões relacionadas ao
desenvolvimento. Mas primeiro vamos saber um pouco sobre o
O processo de porquê da criação da ONU.
criação da ONU
envolveu amplo
planejamento e Após a II Guerra Mundial, a comunidade internacional, frente a um
a participação de sentimento generalizado de que era necessário encontrar uma forma
representantes dos de manter a paz entre os países, acordou a criação de um organismo
50 países presentes internacional que tivesse como objetivo oferecer uma plataforma para
à Conferência o diálogo com o objetivo de deter futuras guerras entre os países.
sobre Organização
O processo de criação da ONU envolveu amplo planejamento e a
Internacional,
reunida em São participação de representantes dos 50 países presentes à Conferência
Francisco de 25 sobre Organização Internacional, reunida em São Francisco de 25 de
de abril a 26 de abril a 26 de junho de 1945, quando ocorreu a elaboração da Carta
junho de 1945, das Nações Unidas. Entretanto, a ONU começou a existir oficialmente
quando ocorreu a em 24 de outubro de 1945, após a ratificação da Carta pela China,
elaboração da Carta
Estados Unidos, França, Reino Unido e a ex-União Soviética, bem
das Nações Unidas.
como pela maioria dos signatários.

Procure aprofundar seus conhecimentos sobre a história da


ONU e o papel desempenhado pela organização nos diferentes
países que fazem parte da comunidade que a compõe.
82
Capítulo 4 AGENDAS LOCAIS E GLOBAIS

Organizações Internacionais que Precederam a ONU

No final do século XIX países começaram a criar organismos


internacionais para cooperar em assuntos específicos. Por exemplo,
já em 1865 foi fundada a União Telegráfica Internacional, conhecida
hoje como União Internacional de Telecomunicações (ITU), e
em 1874 surgiu a União Postal Universal (UPU). Hoje ambas são
agências do Sistema das Nações Unidas.

Em 1899 aconteceu a primeira Conferência Internacional para


a Paz, em Haia (Holanda), que visava a elaborar instrumentos para
a resolução de conflitos de maneira pacífica, prevenir as guerras e
codificar as regras de guerra.

A Organização que podemos chamar de predecessora da ONU é


a Liga das Nações, uma instituição criada em circunstâncias similares,
durante a I Guerra Mundial, em 1919, sob o Tratado de Versailles. A
Liga das Nações deixou de existir devido à impossibilidade de evitar
a II Guerra Mundial.

Fonte: ONUBR. A história da Organização.


Disponível em: <http://www.onu.org.br/conheca-a-onu/a-
historia-da-organizacao/>. Acesso em: 15 set. 2011.

Retomando nossa pergunta inicial, sobre o porquê das Conferências e qual


seria sua importância e seus resultados concretos.

É sabido que as conferências e cúpulas internacionais convocadas pela


ONU geram uma grande mobilização em torno de temas de interesse mundial.
Essas reuniões internacionais convocam um público muito diverso, composto
desde militantes de organizações nãogovernamentais - ONGs até representantes
governamentais. As Conferências tiveram seu apogeu durante os anos de 1990,
mas continuaram sua trajetória na primeira década do século XXI.

Para a ONU as Conferências adquirem importância por alguns motivos como:

• por sua capacidade de atrair a atenção para temas socioeconômicos cruciais;

• pela possibilidade de orientar políticas nacionais;

• pela proposta de gerar debates e para a busca de consenso em torno de


temas mundiais;

83
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

• além de estabelecer metas que os governos se comprometam a cumprir.

As principais críticas a esse tipo de encontros referem-se ao nãocumprimento


de promessas e à escassez de compromissos. Geralmente a ONU informa sobre
alguns desses encontros em sua página na web.

As conferências têm seus ritos:

• são precedidas por um processo preparatório, que busca o consenso entre os


governos, no qual também participam ativamente as ONGs;

• implicam a apresentação de uma grande quantidade de documentos e uma


forte organização logística para receber milhares de participantes;

• ao terminarem, os governos subscrevem declarações políticas e formulam


planos de ação.

Algumas conferências, relacionadas com os temas do nosso estudo,


precisam de destaque tendo em vista a importância que adquiriram no cenário
internacional.

a) Estocolmo 1972

Sobre a Conferência de Estocolmo, destacam-se os seguintes


Primeira
aspectos:
Conferência Mundial
sobre o Homem e
o Meio Ambiente, • Primeira Conferência Mundial sobre o Homem e o Meio Ambiente,
também conhecida também conhecida como Estocolmo 1972, como referência ao local e
como Estocolmo ano em que se realizou, foi marcada por uma visão antropocêntrica de
1972, como mundo.
referência ao local
e ano em que se
• Durante a Conferência foi vivenciado um confronto entre
realizou, foi marcada
por uma visão as perspectivas dos países desenvolvidos e as dos países em
antropocêntrica de desenvolvimento.
mundo.

• A Conferência contou com representantes de 113 países, 250 organizações-


não-governamentais e dos organismos da ONU.

• A Conferência produziu a Declaração sobre o Meio Ambiente Humano.

b) ECO-92 ou Rio-92

84
Capítulo 4 AGENDAS LOCAIS E GLOBAIS

Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento,


também conhecida como CÚPULA DA TERRA. Realizada em 1992, no Rio de
Janeiro, reuniu 179 países e 108 chefes de Estado.

A Rio-92 teve como principais objetivos:

• identificar estratégias regionais e globais para ações referentes às principais


questões ambientais;

• examinar a situação ambiental do mundo e as mudanças ocorridas depois da


Conferência de Estocolmo;

• examinar estratégias de promoção de desenvolvimento sustentado e de


eliminação da pobreza nos países em desenvolvimento.

As autoridades brasileiras, em consonância com a repercussão internacional


das teses discutidas na Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente,
determinaram, em novembro de 1992, a criação do Ministério do Meio Ambiente -
MMA, órgão de hierarquia superior, com o objetivo de estruturar a política do meio
ambiente no Brasil. (www.mma.gov.br).

Acordos firmados durante a Conferência:

• Convenção do Clima

Documento propunha a redução das emissões do gás carbônico. Foi incluída


uma meta para que os países industrializados mantivessem suas emissões
de gases estufa, em 2000, nos níveis de 1990. Também contém o “princípio
de responsabilidade comum e diferenciada”, que significa que todos os países
têm a responsabilidade de proteger o clima, mas o Norte deve ser o primeiro a
atuar. Foi assinada por 153 países.A Convenção do Clima entrou em vigor em
1994 com o objetivo principal de alcançar a estabilização das concentrações de
gases de efeito estufa na atmosfera abaixo dos níveis perigosos para o equilíbrio
climático do planeta. Vale ressaltar que os Estados Unidos firmaram a convenção.
(NEGOCIAÇÕES, ...2011).

• Convenção da Biodiversidade

A meta principal era a proteção das espécies do planeta.Nessa Convenção, está


prevista a transferência de parte dos recursos ou lucros obtidos com a exploração
e comercialização dos recursos naturais para o local de origem dos mesmos, que

85
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

receberia esse volume de dinheiro para aplicar em programas de preservação e


de educação ambiental. Previa a transferência de tecnologia e reconhecimento de
patentes e produtos que fossem descobertos a partir dessa troca.

A Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD) já foi assinada por 175


países (em 1992, durante a ECO-92), dos quais 168 a ratificaram, incluindo o
Brasil (Decreto no 2.519 de 16 de março de 1998). Os EUA não ratificaram esse
tratado multilateral, colocando-se na posição de “observador”.

• Agenda 21

Documento com 2.500 recomendações para implantar a sustentabilidade,


sugeria ações ambientais a serem executadas nos anos seguintes ao término
da Conferência. Vários temas foram tratados, como população, resíduos tóxicos,
oceanos e desertos.

A Declaração do Rio • Declaração do Rio


é o documento mais
simbólico da Rio-92
e equivale, para Documento mais simbólico da Rio-92, equivale, para o meio
o meio ambiente, ambiente, à Declaração Universal dos Direitos do Homem.
à Declaração
Universal dos
Direitos do Homem. Dificuldades na implementação dos acordos assinados na
(OLHO)
Rio-92:

• É preciso reconhecer que as questões econômicas ainda se sobrepõem às


questões ambientais. As crises internacionais e nacionais, agravadas pelo
problema de desemprego, levam muitos governos a associarem a preservação
ambiental com a diminuição da atividade econômica.

• Os países ricos não fazem esforços reais para cumprir as legislações


internacionais, pois sofrem pressões de grupos empresariais que se sentem
prejudicados por muitos desses tratados, não compreendendo que esses
tratados significam, também, a salvação de seus próprios negócios.

• Os organismos internacionais dedicados à diminuição da pobreza e às


campanhas de educação ambiental padecem de falta de recursos financeiros.

• As tecnologias para a produção de energia limpa, bem como os programas


de reciclagem em escala industrial, necessitam de mais pesquisas para se
tornarem viáveis ao ponto de levarem ao abandono de práticas poluidoras.
86
Capítulo 4 AGENDAS LOCAIS E GLOBAIS

c) RIO+10 ou Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentado

A RIO+10, realizada em Johanesburgo, África do Sul, em 2002, sucedeu


adois eventos: a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento (CNUMAD), ocorrida no Rio de Janeiro em 1992 (a chamada
Rio-92); e a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano
(CNUMAH), ocorrida em Estocolmo em 1972.

Sua importância vem da necessidade de a humanidade chegar a um acordo


a respeito do grau de interferência antrópica sobre o meio ambiente. O propósito
da conferência foi obter um plano de ação factível.

Os problemas associados à globalização foram destacados pela


Os resultados
primeira vez, pois os benefícios e os custos a ela associados estão
da Conferência
distribuídos desigualmente. Os resultados da Conferência apontaram apontaram também
também para o risco de a pobreza gerar a desconfiança nos sistemas para o risco de
democráticos, o que poderia provocar o surgimento de sistemas ditatoriais. a pobreza gerar
Ressalta, também, a importância de instituições multilaterais e internacionais a desconfiança
mais efetivas, democráticas e responsáveis.(GIDDENS, 2000). nos sistemas
democráticos, o que
Segundo Diniz (2000), os signatários em Johanesburgo firmaram os poderia provocar
o surgimento de
seguintes compromissos:
sistemas ditatoriais.

• deve-se diminuir pela metade a proporção de pessoas sem acesso a


saneamento e a água potável até 2015;

• deve-se aumentar o acesso a serviços de energia modernos, à eficiência


energética e ao uso de energia renovável, sem definição de metas;

• deve-se procurar reduzir os subsídios à energia;

• espera-se que até 2020 os produtos químicos sejam utilizados e produzidos


de forma a minimizar os prejuízos à saúde e que haja também cooperação
para reduzir a poluição do ar (englobando os gases do efeito estufa);

• espera-se que até 2010 os países em desenvolvimento tenham acesso a


tecnologias alternativas desenvolvidas no sentido de diminuir a emissão de
produtos que interferem na camada de ozônio;

• espera-se a redução da perda de biodiversidade até 2010, a reversão da


tendência de degradação de recursos naturais, a restauração de pesqueiros
até 2015 e o estabelecimento de áreas marinhas protegidas até 2012;

• espera-se obter maior acesso a mercados alternativos (por exemplo, por meio
de blocos econômicos) [...].
87
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

Atividade de Estudos:

Leia atentamente o texto abaixo e à luz dos dados do Censo


2010, realizado pelo IBGE, estabeleça uma comparação com as
assertivas feitas por Diniz (2000) e analise a situação em que o país
se encontra, comparando-a com as considerações de Diniz.

Pensemos o que isso representa para um país como o Brasil.

De acordo com dados de 2000 do Instituto Brasileiro de


Geografia e Estatística (IBGE), há no Brasil um total de 3.705.308
domicílios sem banheiro, nem sanitário, a maioria localizada na
região Nordeste (2.686.471 domicílios, correspondendo a 72,5%
do total). Dentro dessa região, os piores índices pertencem à Bahia
(762.450 domicílios, correspondendo a 28,4% do total regional)
e ao Ceará (431.247 domicílios, correspondendo a 16,1% do total
regional).

O compromisso firmado em Johannesburgo significa, para


o Brasil, a instalação até 2015 de algum tipo de saneamento em
1.852.654 domicílios brasileiros (que equivale a 8,76% da rede
geral), dos quais 1.343.236 na região Nordeste (381.225 na Bahia
e 215.624 no Ceará). Essas são figuras ilustrativas, pois a análise
implica o congelamento da realidade de 2000 até 2015.

Obviamente, se as proporções permanecerem as mesmas, o


crescimento populacional e do número de domicílios resulta em uma
meta ainda maior em termos absolutos, e nosso cálculo significará
apenas o mínimo necessário de instalações.

Com relação ao acesso à água potável, um cenário semelhante


ocorre. No Brasil, de acordo com dados do IBGE de 2000, há
2.319.916 domicílios sem água canalizada (nem mesmo com acesso
a poço ou nascente na propriedade – o IBGE classifica o grupo
como “outra forma – não canalizada”). Desses, 77,2% são da região
Nordeste (1.791.182 domicílios).

Os compromissos de Johannesburgo implicariam a canalização


de água em pelo menos 1.159.958 domicílios (equivalente a 3,33%
da rede geral), dos quais 895.591 na região Nordeste. As mesmas
qualificações do exemplo anterior aplicam-se a esse caso.

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Capítulo 4 AGENDAS LOCAIS E GLOBAIS

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d) O Protocolo de Kyoto

É um acordo internacional assinado em 1997, em Kyoto, no Japão, O Protocolo de


para reduzir as emissões de gases-estufa dos países industrializados Kyoto, assinado em
e para garantir um modelo de desenvolvimento limpo aos países em 1997, em Kyoto,
desenvolvimento. O documento prevê que, entre 2008 e 2012, os países no Japão, previa
desenvolvidos reduzam suas emissões em 5,2% em relação aos níveis a redução das
emissões de gases-
medidos em 1990. O tratado foi assinado por 84 países. Destes, cerca
estufa dos países
de 30 já o transformaram em lei. O pacto entrará em vigor depois que industrializados e
isso acontecer em pelo menos 55 países. O Brasil é signatário de vários garantir um modelo
tratados internacionais ambientais, entre eles o Protocolo de Kyoto, de desenvolvimento
originado na COP 3 (Japão, 1997). limpo aos
países em
desenvolvimento.
O Protocolo entrou em vigor em fevereiro de 2005 e prevê que suas

89
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

metas sejam atingidas entre 2008 e 2012, quando ele expira. Os Estados Unidos,
maior emissor de dióxido de carbono do mundo, se opuseram ao Protocolo de
Kyoto afirmando que a implantação das metas prejudicaria a economia do país.
No final de 2007, durante a 13ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas,
em Bali, na Indonésia, os 187 países participantes concordaram em iniciar
negociações para formular o substituto de Kyoto, que deverá entrar em vigor em
2013. O novo tratado deve ser negociado, redigido e aprovado até a realização de
uma nova conferência da ONU, na ocasião prevista para ocorrer no final de 2009,
em Copenhague, na Dinamarca.

e) Conferência de Copenhague (Cop-15)

A 15a Conferência das Partes aconteceu entre os dias 7 e 18 de dezembro


de 2009, em Copenhague, capital da Dinamarca. O encontro é considerado o
mais importante da história recente dos acordos multilaterais ambientais, pois tem
por objetivo estabelecer o tratado que substituirá o Protocolo de Kyoto, vigente de
2008 a 2012.

A reunião de Copenhague ocorreu com a presença de dirigentes de países


de todo o mundo e tinha como objetivo chegar a um acordo sobre um tratado que
dê seguimento ao Protocolo de Kyoto. A União Europeia - UE defendeu um acordo
ambicioso, global e de âmbito mundial, que evitasse o aquecimento do planeta em
mais de 2ºC e que assegurasse a sustentabilidade do crescimento econômico.

A atmosfera de expectativa que envolveu a COP-15 se deu não só por sua


importância, mas também pelo contexto em que ocorre a discussão mundial sobre
as mudanças climáticas:

• o impasse entre países desenvolvidos e em desenvolvimento para se


estabelecer metas de redução de emissões e as bases para um esforço global
de mitigação e adaptação;

• os oito anos do governo Bush, que se recusou a participar das discussões e


do esforço de combate à mudança do clima;

• a chegada de Barack Obama ao poder nos EUA, prometendo uma nova


postura;

• os recentes estudos científicos, muitos deles respaldados pelo IPCC -


IntergovernmentalPanelonClimateChange ou Painel Intergovernamental
sobre Mudanças Climáticas, e econômicos, com destaque para o Relatório
Stern- relatório do economista britânico Nicholas Stern, cujo levantamento

90
Capítulo 4 AGENDAS LOCAIS E GLOBAIS

afirma que, se não forem tomadas medidas para a redução das emissões, a
concentração dos gases de efeito estufa poderá atingir o dobro do seu nível
pré-industrial em 2035. (MASI, 1999).

O desafio incluiu a conciliação de interesses de países ricos e nações em


desenvolvimento para chegar a níveis de redução de emissão de gases de efeito
estufa que evitem o colapso climático do planeta.

É possível dizer que essa foi a maior reunião da história, que A Rio+20 será uma
resultou em frustrações, visto que as expectativas eram grandes. Mas nova oportunidade
também ocorreram avanços significativos: o primeiro deles foi que o para a humanidade
mundo todo tomou conhecimento do problema; o segundo é que os assumir
Estados Unidos e a China, os dois maiores emissores de gases de efeito compromissos
estufa, concordaram em participar do acordo pela primeira vez com em torno de
uma economia
metas. É um avanço significativo, pois dá às empresas daqueles países
verde antes que
e do mundo um claro sinal de que o aquecimento deixa de ser apenas essa agenda se
uma preocupação ambiental. imponha pelo
simples aumento
Agora estamos vivendo os preparativos para a Rio+20 que, das tragédias
segundo ambientalistas e estudiosos do tema, será uma conferência ambientais, sociais
histórica, pois será dada uma nova oportunidade para a humanidade e econômicas.
assumir compromissos em torno de uma economia verde antes que
essa agenda se imponha pelo simples aumento das tragédias ambientais, sociais
e econômicas.

Como vimos no início deste capítulo, antes de todas as


Conferências há um período pré-conferência. Visite o http://www.
slideshare.net/Procambiental/gt4-apresentacao-final e se aproprie
dos debates em andamento considerando as visões críticas
apresentadas. Faça uma redação livre sobre os principais pontos, no
seu entendimento, levantados sobre o assunto.

o PoDer local
Como vimos nos capítulos anteriores, a população mundial vivenciou os
anos 80 e 90 na expectativa da realização de promessas de desenvolvimento e
distribuição de riqueza através da “mão invisível” do mercado, mas ao contrário
do cenário traçado, ocorreu no período uma ainda maior concentração de riqueza,

91
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

além da evidenciação de umas poucas cidades como centros dominantes no


mundo da globalização financeira e da dispersão das transações.

Os primeiros anos do século XXI encontram os tempos acelerados que


envolvem, abraçam sem incluir “os homens lentos e pobres do planeta‟, como nos
mostrou Santos (2008). Explicitam-se as desigualdades entre as forças globais do
capital internacional e as resistências locais.

Nesse cenário as resistências locais adquirem concretude, refletidas nas


atitudes tomadas pelos habitantes do planeta que continuam referenciados a um
local, ao qual vinculam seus interesses primários e vitais como indivíduos e como
seres sociais, compreendendo o local como o espaço social onde se conformam
comunidades e formam-se identidades territoriais. Nessas condições o poder
local objetiva ativar e melhorar, de maneira sustentável, as condições de vida dos
habitantes de uma comunidade.

Tanto o poder Procurando compreender poder local, é importante ressaltar


executivo, que tanto o poder executivo, representado pelo Prefeito Municipal,
representado quanto o poder legislativo, representado pela Câmara de Vereadores,
pelo Prefeito são partes de um todo maior, que representa a composição de
Municipal, quanto
forças, interesses, ações e expressões da organização de um dado
o poder legislativo,
representado município, ou um conjunto de municípios de uma microrregião. E
pela Câmara de são essas forças que contribuem para satisfazer as necessidades e
Vereadores, são aspirações da população local para a melhoria de suas condições de
partes de um vidanas dimensões econômica, social, cultural, política e ambiental.
todo maior.
A evolução qualitativa da participação local representará a
possibilidade real de:

• aumentar a autossuficiência local;


• satisfazer as necessidades básicas humanas;
• aumentar a equidade de gênero e raça/etnia;
• garantir a participação e a transparência;
• inserir a comunidade no uso de tecnologia apropriada.

Para tal evolução, estamos falando de:

• reestruturação das relações de poder;


• democratização dos processos sociais;
• aumento da participação popular;
• redução das desigualdades inter e intralocais.

O propósito da participação da população é a busca de um desenvolvimento

92
Capítulo 4 AGENDAS LOCAIS E GLOBAIS

local sustentável, que, compondo com a dimensão econômica, articula três outras
dimensões: eticopolítica, social e ambiental.

• eticopolítico: processo democrático e participativo de construção da


cidadania como direito e responsabilidade;

• social: prioridade estratégica de reverter a tendência para exclusão social,


integrar os excluídos e construir uma sociedade do bem-estar social, mesmo
em fase neoliberal da política econômica;

• ambiental: sociedade sustentada nos marcos de um novo contrato natural e


social.

Após leitura da notícia abaixo, procure compreender os papéis


desempenhados pelos diferentes grupos envolvidos e busque na
Internet, no período dos últimos dois anos, notícia semelhante à sua
cidade ou região.

JOGOS OLÍMPICOS DE 2016:


MORADORES SE ARTICULAM PARA APROVEITAR
MARÉ DE INVESTIMENTOS

Enviado por Luiz Gustavo Schmitt em 10.08.2011

Em meio a investimentos pesados voltados para as Olimpíadas


de 2016 — serão mais de R$ 2 bilhões só em obras viárias que
beneficiarão a região —, moradores da Barra da Tijuca e do Recreio
dos Bandeirantes (bairros da cidade do Rio de Janeiro) decidiram
se articular para tentar incluir na pauta reivindicações antigas. No
dia 25, na reunião do orçamento participativo, associações locais
entregaram seis pleitos à prefeitura. As solicitações poderão ser
incluídas na proposta orçamentária que será enviada à Câmara
dos Vereadores até 30 de setembro. Enquanto isso não acontece,
cobranças apresentadas noutras reuniões formais, nos últimos dois
meses, começam a sair do papel. Dos 18 pedidos levantados pelo
GLOBO-Barra, nove se referem a melhorias no trânsito e quatro, a
conservação do patrimônio. Completam a lista demandas por saúde
e ordem pública. Só a Associação de Moradores do Jardim Oceânico
(Amar) apresentou 12 pedidos no dia 1 de junho, em encontro na
Subprefeitura da Barra e Jacarepaguá. Na reunião do orçamento,
foram levadas outras três propostas.

93
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

Esses recursos precisam vir conjugados com melhorias


para o bairro. Isso não deixa de ser uma compensação pelos
transtornos que as intervenções têm causado. Temos de aproveitar
a oportunidade, diz Leonardo Cunha, diretor-administrativo da Amar.
A principal reivindicação da entidade, que já vem sendo atendida,
diz respeito a alterações viárias. O estudo da CET- Rio está
pronto, aguardando a aprovação dos moradores em um encontro
a ser agendado. Segundo a subprefeitura, o estudo compreende a
mudança de mão da rua Paranhos Antunes, além das ruas Prudência
do Amaral, John Kennedy, Ivone Cavaleiro e Zacco Paraná, além da
Avenida Arquiteto Afonso Reidy. Estão sendo planejadas instalação
de placas e sinais de trânsito, determinação de vagas e alteração do
sentido do fluxo de veículos.

Outra reivindicação prevê a elevação e o alargamento da


ponte sobre o Canal de Marapendi, uma ideia da Amar. Com isso, a
navegação de embarcações pelo canal seria facilitada.

O pleito para a construção de uma rampa de acessibilidade


no posto 3, onde funciona o projeto “Praia para todos”, destinado a
pessoas com deficiência, também está autorizado.

A Câmara Comunitária da Barra (CCBT) também apresentou


sete reivindicações, em reunião com o prefeito Eduardo Paes no dia
14 de julho. Entre as propostas, está a construção de mergulhões
nos quilômetros 1 e 4 (próximo ao BarraShopping) da Avenida
das Américas, a fim de eliminar sinais de trânsito. Além da CCBT,
a Associação do Bosque e Marapendi (ABM) e a Associação dos
Moradores do Recreio dos Bandeirantes (Amor) encaminharam
outras três reivindicações à prefeitura. A intenção das associações é
incluir os pedidos na proposta orçamentária de 2012.

A Subprefeitura da Barra e Jacarepaguá informa que os projetos


estão na Secretaria Municipal de Obras, para estudos de viabilidade
técnica e orçamentária.

Fonte: Disponível em: <http://oglobo.globo.com/rio/bairros/


posts/2011/08/10/moradores-se-articulam-para-aproveitar-mare-
de-investimentos-397731.asp>. Acesso em: 16 set. 2011

Em síntese, o que a notícia anterior nos apresenta constitui um processo de


participação popular.

94
Capítulo 4 AGENDAS LOCAIS E GLOBAIS

Para compreendermos melhor a expressão participação popular vamos


recorrer ao Manual do Prefeito (IBAM, 2009, p. 121), do qual transcrevemos o
texto a seguir, que chama a atenção para o fato de que:

essa expressãovem sendo usada em contextos e com


significados muito diferentes, às vezes também com objetivos
bem distantes daqueles originalmente pretendidos.

Na última década, dos manuais das agências internacionais


de financiamento aos discursos dos movimentos sociais mais
combativos, passando pelas orientações do governo federal,
a “incorporação da participação popular” se tornou uma
referência quase onipresente, algumas vezes sem que fique
suficientemente claro porque ou como ela deve ser buscada.

Temos hoje uma série de espaços institucionalizados para


a participação direta da população: conselhos gestores
de políticas públicas sejam setoriais ou por programas
específicos, orçamentos participativos, conferências nacionais
em diversas temáticas, fóruns locais e regionais, além de
uma série de oportunidades em que a população é chamada
a opinar ou participar de decisões, como na realização de
planos diretores ou implementação de grandes projetos.

Nesse contexto, fazer um governo contando com a


“participação popular” é objetivo quase sempre presente nos
discursos de palanque – afinal agir de forma democrática é
sempre bem visto e a afirmação funciona como uma garantia
das boas intenções do político –, mas nem sempre está claro
o que se pretende com essa tal participação, nem o que o
governo e o Estado podem ganhar ou perder com isso. Assim,
é importante discutir o tema.

De modo geral, fala-se em participação popular para designar


os mecanismos que incorporam a participação direta
da população na implementação ou formulação
de políticas públicas, na definição de prioridades Fala-se em
de ação do governo ou no controle da atuação participação popular
estatal de um modo geral. É claro que a população para designar
“participa” do processo político quando elege os os mecanismos
governantes – isso faz parte da própria definição que incorporam a
de democracia –, mas o que está implícito ao falar participação direta
em participação popular é sua ampliação para além
da população na
do processo eleitoral, ou seja, que estão sendo
adotados instrumentos que incorporam processo implementação
de democracia direta ao sistema representativo ou formulação de
existente. Tal processo parte de crítica teórica políticas públicas,
e política do funcionamento real do sistema na definição de
democrático, tanto no Brasil como em outros países. prioridades de ação
do governo ou no
Basicamente, a ideia levantada é que a democracia que temos é boa, controle da atuação
estatal de um
é o princípio a ser buscado, mas, na realidade, é insuficiente, precisa ser
modo geral.
ampliada para que tenhamos uma sociedade efetivamente democrática.

95
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

novoS PaPÉiS DoS GovernoS locaiS


A Constituição Brasileira de 1988 definiu que os municípios brasileiros
possuem autonomia política, autoadministração, autogoverno e auto-organização,
assim como quais tributos, ou seja, impostos e taxas, podem ser coletados pelos
municípios e qual será a sua participação nos tributos coletados pelos governos
federal e estadual. O município possui uma Lei Orgânica, que lhe confere uma
espécie de constituição local. Equivale juridicamente a uma Constituição Estadual,
e somente é permitido aos municípios deliberar sobre assuntos determinados na
Constituição Federal. Dispõem do poder executivo, exercido pelo Prefeito, e do
Legislativo, exercido pelos Vereadores na Câmara Municipal.

As estimativas populacionais são fundamentais para o cálculo de indicadores


econômicos e sociodemográficos nos períodos intercensitários, e são um dos
parâmetros usado pelo Tribunal de Contas da União na distribuição do Fundo
de Participação de Estados e Municípios. A divulgação anual das estimativas
populacionais obedece à Lei Complementar no 59, de 22 de dezembro de 1988, e
ao artigo 102 da Lei no 8443, de 16 de julho de 1992.

Em 31 de agosto de 2011 as estimativas das populações residentes nos


5.565 municípios brasileiros em 1o de julho de 2011 foram divulgadas pelo IBGE
tanto no seu site (http://www.ibge.gov.br) quanto pelos diferentes meios de
comunicação de âmbito nacional.

Estima-se que o Brasil tenha 192.376.496 habitantes,


1.620.697 a mais que em 2010, quando a população chegou
a 190.755.799. São Paulo continua sendo a cidade mais
populosa, com 11,3 milhões de habitantes, seguida por Rio
de Janeiro (6,4 milhões), Salvador (2,7 milhões), Brasília
(2,6 milhões) e Fortaleza (2,5 milhões). A capital federal,
que em 2000 ocupava o 6o lugar entre os municípios
mais populosos, passou, em 2011, para o 4o lugar. Belo
Horizonte, que em 2000 estava na 4a posição, em 2011 caiu
para a 6a (2,4 milhões), sendo ultrapassado por Brasília e
Fortaleza. Os 15 municípios mais populosos somam 40,5
milhões de habitantes, representando 21,0% da população.
(IBGE, 2011).

Significa dizer que 79% população brasileira estão distribuídos em


5.550municípios, dos quais cerca de 70% têm menos de 20 mil habitantes. No
quadro da distribuição demográfica brasileira, ainda segundo o IBGE, temos que:
apenas 4% dos municípios possuem mais de 100.000 habitantes e nesse território
reside mais da metade, 51%, da população brasileira; 90% dos municípios
possuem menos de 50.000 habitantes, dos quais 118 municípios possuem menos
que 2.000 habitantes. Vale lembrar que o município mais populoso do país é São

96
Capítulo 4 AGENDAS LOCAIS E GLOBAIS

Paulo, com aproximadamente 11.253 mil habitantes e uma densidade demográfica


de 166,52 hab/km².

Por outro lado, temos também municípios que, em alguns casos, possuem
área maior do que vários países no mundo, como é o caso de Altamira, no Pará,
com cerca de 99 mil habitantes, uma área de 159.533km², que é quase duas
vezes maior que Portugal, e densidade demográfica de 0,62 hab/km².

Significa também dizer que a baixa densidade demográfica em algumas áreas


do país, se por um lado pode representar qualidade de vida no sentido de menos
estresse, menor ritmo de vida urbana, por outro lado pode representar desafios
e dificuldades para os governos municipais no atendimento das necessidades
de suas populações conforme as competências determinadas na Constituição
Federal. Esse tema será apresentado nos próximos cadernos de estudo das
outras disciplinas que compõem esse curso.

O atendimento às necessidades básicas da coletividade está no centro da


discussão sobre desenvolvimento e qualidade de vida. Vale dizer, a atuação
do governo municipal deve considerar como ofertar à população possibilidades
de ampliar suas escolhas enquanto indivíduos, tanto nas áreas que visam à
sobrevivência, quanto naquelas referentes à participação política, diversidade
cultural, direitos humanos e liberdade de escolha.

Nesta seção vamos pensar um pouco sobre alguns novos desafios, que,
a bem da verdade, já não são tão novos, como compreender as mudanças em
curso na sociedade brasileira, refletidas não apenas nos usos e costumes, mas
também consolidadas em leis, como o caso da recente Lei Maria da Penha,
que combate a violência doméstica contra as mulheres, assim como na criação
de organismos institucionais,a Secretaria de Políticas para as Mulheres e a
Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, órgãos da estrutura da
Presidência da República.(FONTES, 2010)

Certamente, também como já falamos anteriormente, as mudanças nacionais


não surgem no espaço nacional, elas são gestadas no diaadia do viver as
diferentes realidades dos 5.565 municípios do país.

Nesse sentido, o desenvolvimento local sustentável se coloca como proposta


estratégica para o enfrentamento, pelos governos municipais, dos desafios postos
pelos cenários internacionais e nacionais, articulando as dimensões eticopolítica,
social e ambiental.

O desenvolvimento local sustentável se coloca como proposta estratégica


para o enfrentamento, pelos governos municipais, dos desafios postos pelos

97
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

cenários internacionais e nacionais, articulando as dimensões eticopolítica, social


e ambiental.

Para enfrentar esses desafios tornam-se necessáriasações públicas locais


que privilegiem as questões sociais, a construção do espaço da cidadania e o
reconhecimento de novos atores presentes no cenário de construção de novos
arranjos políticos, financeiros e institucionais capazes de viabilizar projetos locais
e regionais.

Os atores desse processo estão localizados no território municipal e podem


ser reconhecidos como empreendedores locais, sistema financeiro representado
pelos bancos instalados no território municipal, agências regionais, cooperativas,
órgãos públicos locais e organizações não governamentais. São esses atores
que fortalecerão fóruns, consórcios, assim como outras formas de organização
capazes de construir um pacto territorial local de forma democrática.

Para tanto é necessário trabalhar estrategicamente, considerando as


questões relacionadas com:

• fortalecimento institucional voltado para o desenvolvimento econômico;


• construção da imagem local;
• melhorias da infraestrutura urbana;
• integração vertical e horizontal de circuitos produtivos agrários e urbanos;
• integração de circuitos de distribuição e comercialização;
• integração dos sistemas de crédito formal e alternativo;
• capacitação dos agentes públicos e privados visando a opções de
integração local/global que privilegiem a utilização de recursos endógenos
do município/região;
• aprendizagem produtiva visando a aumentar suas escalas econômicas;
• construção de indicadores de sustentabilidade que integrem as visões
socioambientais e permitam o monitoramento das ações planejadas e
executadas.

Necessário ressaltar que, durante algum tempo, promover o desenvolvimento


local foi, basicamente, compreendido como favorecer e apoiar diferentes iniciativas
locais de desenvolvimento com a perspectiva de que a soma das iniciativas criaria
espontaneamente uma ambiência favorável a uma mudança e ao fortalecimento
de uma nova dinâmica de desenvolvimento.

Entretanto, vale ressaltar que trabalhar com a perspectiva estratégica do


desenvolvimento local consiste em potencializar o desenvolvimento socioeconômico
tomando como base principal a mobilização de recursos ambientais, humanos e
financeiros locais, o que significa uma reorganização institucional, permitindo a

98
Capítulo 4 AGENDAS LOCAIS E GLOBAIS

acumulação local por meio de pequenos empreendimentos, do associativismo, do


direcionamento da ação local à integração do mercado popular, com circuito de
acumulação, que surgem com a reestruturação econômica.

Reafirmamos quepromover o desenvolvimento e reduzir a pobreza passa


necessariamente por fortalecer a cidadania e influenciar o cotidiano da política a
favor da democracia, dando a devida atenção aos contextos históricos sociais e
institucionais que conformam os processos de crescimento.

Assim, ao pensar as questões relacionadas com o desenvolvimento local, o


governo municipal procura compreender e buscar respostas para:

• Como podem viver melhor mulheres e homens - crianças, jovens, adultos e


idosos -da minha comunidade?
• Como encaminhar soluções aos problemas surgidos na esfera internacional e
que ganha concretude no local, no território municipal?

Portanto, ainda que a ênfase esteja colocada no econômico, a


Cada município
preocupação central é melhorar a qualidade de vida dos habitantes de exige uma
um determinado território, visto que seu propósito é gerar maior bem- estratégia de
estar mediante a dinamização da economia local, com respeito às desenvolvimento
dimensões ambiental, social, cultural e política. Cada município exige local diferenciada,
uma estratégia de desenvolvimento local diferenciada, tendo em vista as tendo em vista
as características
características específicas do seu território. Não há receita de bolo.
específicas do
seu território.
Certamente não há receita de bolo, mas estamos falando de
bem-estar social e também de crescimento econômico e nesse caso os atores
fundamentais para a dinâmica da economia local, ou seja, para sua movimentação,
são as empresas em suas diversas modalidades.

As grandes empresas chegam ao local, no município, tanto por seus próprios


pés como atraídas por incentivos governamentais, dispondo de uma mobilidade
que as deixa “pairando” sobre os interesses locais. As demais possuem mais
laços com o local, sendo as micro e pequenas as mais fortemente relacionadas
com a economia local e geradoras de um maior número de empregos, no mais
das vezes formais.

Entretanto, é preciso ter cuidado quando categorizamos as empresas por


tamanho e não especificamos se usamos a medida do tamanho do capital ou do
número de empregos. Se são empresas intensivas no uso da força de trabalho ou
do capital,o que seria mais vantajoso para o município?

Certamente não há uma resposta única e tomar a decisão sobre que eixo poderia

99
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

ser estruturante para o desenvolvimento local vai depender do reconhecimento das


potencialidades locais, das forças políticas, sociais e econômicas presentes no
local, presentes em cada município.

o PaPel DoS movimentoS SociaiS naS


aGenDaS locaiS e GlobaiS
Para iniciarmos esta seção vamos nos apoiar no trabalho desenvolvido pela
professora e pesquisadora Ilse Scherer-Warren (2006, p.109), que chama nossa
atenção para o fato de que

arealidade dos movimentos sociais é bastante dinâmica e nem


sempre as teorizações têm acompanhado esse dinamismo.
Com a globalização e a informatização da sociedade, os
movimentos sociais em muitos países, inclusive no Brasil e em
outros países da América Latina, tenderam a se diversificar e se
complexificar. Por isso, muitas das explicações paradigmáticas
ou hegemônicas nos estudos da segunda metade do século
XX necessitam de revisões ou atualizações ante a emergência
de novos sujeitos sociais ou cenários políticos.

A autora parte de uma noção genérica e contemporânea de sociedade civil.


E, nesse sentido, chama atenção para o fato de que estamos tratando

com um conceito clássico da sociologia política, mas, na


atualidade, ele tende a ser utilizado num modelo de divisão
tripartite da realidade: Estado, mercado e sociedade civil. [...]

Nesta perspectiva teórica, a sociedade civil, embora configure


um campo composto por forças sociais heterogêneas,
representando a multiplicidade e diversidade de segmentos
sociais que compõem a sociedade, está preferencialmente
relacionada à esfera da defesa da cidadania e suas respectivas
formas de organização em torno de interesses públicos e
valores, incluindo-se o de gratuidade/altruísmo, distinguindo-se
assim dos dois primeiros setores acima que estão orientados,
também preferencialmente, pelas racionalidades do poder, da
regulação e da economia. Pode-se, portanto, concluir que a
sociedade civil é a representação de vários níveis de como os
interesses e os valores da cidadania se organizam em cada
sociedade para encaminhamento de suas ações em prol de
políticas sociais e públicas, protestos sociais, manifestações
simbólicas e pressões políticas. (SCHERER-WARREN,
2006,p.110).

A sociedade civil é a representação de vários níveis de como os interesses e


os valores da cidadania se organizam em cada sociedade para encaminhamento
100
Capítulo 4 AGENDAS LOCAIS E GLOBAIS

de suas ações em prol de políticas sociais e públicas, protestos sociais,


manifestações simbólicas e pressões políticas.

Os níveis organizacionais a que se refere Scherer-Warren(2006), presentes


atualmente na sociedade brasileira, são por ela genericamente tipificados:

• associativismo local: como as associações civis, os movimentos


comunitários e sujeitos sociais envolvidos com causas sociais ou culturais do
cotidiano, ou voltados a essas bases, como são algumas Organizações Não-
Governamentais (ONGs), o terceiro setor;

• formas de articulação interorganizacionais: dentre as quais se destacam


os fóruns da sociedade civil, as associações nacionais de ONGs e as redes de
redes, que buscam se relacionar entre si para o empoderamento da sociedade
civil, representando organizações e movimentos do associativismo local;

• mobilização na esfera pública: formas de protestos sociais de maior


abrangência, por um lado, e mais conjunturais, por outro.

Continuamos nos apoiando na professora e pesquisadora Ilse


Scherer-Warren. Após a leitura do texto de sua autoria transcrito
abaixo, complete seus estudos lendo o texto completo da autora
acessando o site: http://www.scielo.br/pdf/se/v21n1/v21n1a07.
pdf. Verifique como sua compreensão sobre o tema será mais
abrangente. Pesquise sobre as ações levadas adiante pelos
movimentos sociais em sua cidade ou região. Para realizar o trabalho
use como fonte de pesquisa tanto a Internet quanto a mídia local
ou ainda o conhecimento do diaadia. Lembre-se de que esta é uma
ação de estudo e pesquisa que depende apenas do seu interesse
para ser realizada.

NOVOS FORMATOS DE ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL

[...]

De acordo com a autora, as forças associativistas consideradas


como primeiro nível organizacional “são expressões locais e/ou
comunitárias da sociedade civil organizada”. Para citar apenas alguns
exemplos dessas organizações localizadas: núcleos dos movimentos
de sem-terra, sem-teto, piqueteiros, empreendimentos solidários,
associações de bairro, etc. As organizações locais também vêm
101
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

buscando se organizar nacionalmente e, na medida do possível,


participar de redes transnacionais de movimentos (Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra, Movimento dos Catadores de
Lixo, Movimento Indígena, Movimento Negro, etc.), ou através de
articulações interorganizacionais, característica central de outro nível
a ser mencionado a seguir. Entretanto, no nível local existem também
coletivos informais, sem nenhuma ou pouca institucionalidade, que
lutam por modos de vida alternativos, por reconhecimento ou são
produtores de novas formas de expressão simbólicas, como grupos
de neo-anarquistas e outras tribos urbanas”.

Quanto ao segundo nível organizacional, é através dessas


formas de mediação que se dá a interlocução e as parcerias mais
institucionalizadas entre a sociedade civil e o Estado. “Essas
articulações também se tornaram possíveis porque há meios
técnicos que as viabilizam: a Internet e os e-mails são práticas
cotidianas das redes do novo milênio. Os encontros presenciais
podem ser mais circunstanciais e espaçados, quando a comunicação
cotidiana está garantida pelos meios virtuais. Consequentemente,
tem se observado um crescimento expressivo de redes de ONGs e
associações, de fóruns e de redes de redes, conforme constatado
em nossa pesquisa”.

A autora chama atenção para o fato de que até então haviam


sido destacadas formas organizacionais que possuem certa
institucionalidade: algumas com registros legais e certificações,
outras apenas com normas ou procedimentos internos à associação.
Importante destacar que são essas normas que disciplinam o
cotidiano de atuação do associativismo civil.

Entretanto, no terceiro nível organizativo observa que “as


mobilizações na esfera pública são fruto da articulação de atores
dos movimentos sociais localizados, das ONGs, dos fóruns e
redes de redes, mas buscam transcendê-los por meio de grandes
manifestações na praça pública, incluindo a participação de
simpatizantes, com a finalidade de produzir visibilidade através
da mídia e efeitos simbólicos para os próprios manifestantes (no
sentido político-pedagógico) e para a sociedade em geral, como
uma forma de pressão política das mais expressivas no espaço
público contemporâneo”.

A autora ilustra com alguns exemplos essa forma de organização


e suas articulações: a Marcha Nacional pela Reforma Agrária, de

102
Capítulo 4 AGENDAS LOCAIS E GLOBAIS

Goiânia a Brasília (maio de 2005), foi organizada por articulações de


base como a Comissão Pastoral da Terra (CPT), Grito dos Excluídos
e o próprio MST e por outras, transnacionais, como a Via Campesina.
Também se realizaram articulações com universidades, comunidades,
igrejas, através do encaminhamento de debates prévios à marcha.
A Parada do Orgulho Gay tem aumentado expressivamente a cada
ano, desde seu início em 1995 no Rio de Janeiro, fortalecendo-
se através de redes nacionais, como a ABGLT, de grupos locais e
simpatizantes. A Marcha da Reforma Urbana, em Brasília (outubro
de 2005), resultou não só da articulação de organizações de base
urbana (Sem Teto e outras), mas também de uma integração mais
ampla com a Plataforma Brasileira de Ação Global contra a Pobreza.
A Marcha Mundial das Mulheres tem sido integrada por organizações
civis de todos os continentes. A Marcha vinculada à III Cúpula dos
Povos, em Mar Del Plata (novembro de 2005), “foi convocada pela
Aliança Social Continental, por estudantes, trabalhadores, artistas,
líderes religiosos, representantes das populações indígenas e das
mulheres, juristas, defensores dos direitos humanos, parte desse
movimento plural, que, pela terceira vez, celebra o encontro, após
os realizados em Santiago do Chile (1998) e Québec (2001)” (cf.
Adital, 4 nov. 2005). A Marcha Zumbi + 10 desmembrou-se em
duas manifestações em Brasília (uma em 16 e outra em 22 de
novembro de 2005), expressando a diversidade de posturas quanto à
autonomia em relação ao Estado. Portanto, vale destacar que essas
organizações em rede abrem-se para a articulação da diversidade,
mas com limites quanto à capacidade de absorção de posturas
ideológicas ou políticas conflitivas, vindo a se cindir quando os
conflitos se tornam não negociáveis, como no caso acima.

Fonte: Extraído e adaptado de: SCHERER-WARREN, Ilse. Das


Mobilizações às Redes de Movimentos Sociais. Sociedade e Estado,
Brasília, v. 21, n. 1, p. 109-130, jan./abr. 2006. Disponível em: <http://
www.scielo.br/pdf/se/v21n1/v21n1a07.pdf>. Acesso em: 17 set. 2011.

Chamamos a atenção, portanto, para os direitos dos cidadãos: de reunião,


associação e liberdade de expressão, que possibilitam o ato das associações
voluntárias tanto de indivíduos quanto coletivamente no processo de formação
de opinião e luta pelos direitos, tanto os políticos quanto os direitos individuais
exercidoscoletivamente, como foi visto no Capítulo 2. O fortalecimento da
cidadania ocorre no processo de tematização e defesa de questões de interesse
geral e as associações agem em nome dos sub-representados que têm dificuldade
de se organizar.
103
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

Por outro lado, sabemos que esses só se efetivam com a ação dos cidadãos,
cuja mobilização é, também, necessária na sua criação e implementação. A
inexistência de canais permanentes de interlocução entre os diferentes atores e
estruturas locais é, em grande parte, responsável pela dificuldade existente na
relação entre as organizações da sociedade civil e o poder político.

Desenhar, formular, estratégias que fortaleçam o processo de ampliação


da participação popular pode ocorrer considerando situações específicas que a
favoreçam:

• agravamento da crise internacional, com reflexos no local, suscitando uma


política nacional de viés liberal e monetarista, induzindo à redução dos
gastos sociais e transferência para os municípios de muitos dos encargos, no
processo dito de descentralização;

• crise do sistema representativo, com a perda da legitimidade dos partidos


políticos;

• eleição de políticos com propostas participativas.

Voltando a nos apoiar no Manual do Prefeito (IBAM, 2009), temos que:

as possibilidades de participação popular previstas na


As possibilidades Constituição de 1988 são, basicamente, de dois tipos. O
de participação primeiro agrupa a atuação direta através de plebiscitos,
popular previstas referendos e propostas de lei de iniciativapopular. Está
na Constituição de prevista também a iniciativa popular de projetos de leis de
1988 são: através interesse específico do Município, da cidade ou dos bairros,
de plebiscitos, através de manifestação de, pelo menos, cinco por cento do
eleitorado, e a cooperação das associações representativas
referendos e
no planejamento municipal (art. 29).
propostas de lei de
iniciativa popular O segundo tipo é o que de fato mais se desenvolveu. Na
e da participação maioria das vezes, quando se faz referência à participação
direta da população popular, esta implica na participação direta da população na
na gestão de gestão de políticas públicas, principalmente os Conselhos
políticas públicas, Gestores e os Orçamentos Participativos. Outros espaços
principalmente os também vêm ganhando importância, como a participação
Conselhos Gestores na elaboração dos planos diretores, os fóruns de
e os Orçamentos desenvolvimento regional e programas que promovem a
Participativos. integração de diversos Municípios e aqueles espaços que
não são direta ou exclusivamente convocados pelo Estado.
(IBAM, 2009, p.123)

É importante destacar que a Constituição de 1988 vem assegurar a


participação da população local, no qual fortalece a ideia de democracia e da
defesa da descentralização.
104
Capítulo 4 AGENDAS LOCAIS E GLOBAIS

alGumaS conSiDeraçõeS
Como vimos ao longo deste capítulo, são muitos os problemas referentes
à conformação das agendas locais e globais, considerando as esferas de
articulação internacional e nacional em que ocorrem as inúmeras trocas de
interesses políticos, econômicos, sociais e culturais. A dimensão ambiental se
fez fortemente presente, seja como pano de fundo para discussões teóricas e
formatação de planos de ações de longo prazo, seja como linha de frente de
interesses de indústrias de peso no cenário macroeconômico.

As agendas construídas ao longo dos últimos 30 anos ainda não são de


consenso, são agendas negociadas parágrafo por parágrafo, linha por linha, com
ganhos e perdas frente ao peso e transformações que os atores globais adquirem
de acordo com o passar dos anos e a importância estratégica que representam
no cenário mundial. No cenário nacional e municipal, guardadas as devidas
proporções, as necessidades de articulações são as mesmas.

Nesse cenário o fortalecimento da participação popular, dos movimentos


populares, deu-seem diferentes níveis organizacionais, mas nesse período o
país alcançou um amplo grau de desenvolvimento político. Esse desenvolvimento
se explicita seja através da denúncia de irregularidades ou do abuso do poder,
mediante a participação em conselhos deliberativos e de controle social, seja nos
movimentos de reclamação sobre a transparência na prestação de contas dos
gastos públicos.

Assim, ficou claro que a instituição de canais de representatividade


e participação da sociedade civil fortalece a democracia e exige um olhar
diferenciado para as especificidades apontadas pelas reivindicações dos
movimentos sociais em prol do desenvolvimento sustentável.

reFerÊnciaS
CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. 7ª ed. São Paulo: Paz e Terra,
1999.

DINIZ, Eliezer Martins. Os Resultados da Rio+10. Revista do Departamento de


Geografia, n. 15, p. 31–35, 2000.

FONTES, Angela. Governo municipal e o papel das mulheres no governo


local. Trabalho apresentado na Assembléia de Ação pela Igualdade de Gênero,
no 5º Fórum Urbano Mundial, Rio de Janeiro, 19-20 de março de 2010.
105
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

GIDDENS, Anthony. O mundo em Descontrole: o que a globalização está


fazendo de nós. Rio de Janeiro, RJ: Editora Record, 2000.

IBAM. Instituto Brasileiro de Administração Municipal. Manual do Prefeito, 13ª


ed. Revista, aum. e atual. Rio de Janeiro: IBAM, 2009.

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Sociedade no início do século XXI. 1 ed. Rio de Janeiro: Record, 2008.

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Sociedade e Estado, Brasília, v. 21, n. 1, p. 109-130, jan./abr. 2006. Disponível
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TAVARES, Maria da Conceição. Entupiu o sistema circulatório do capitalismo.


In: SISTER, Sérgio (Org.). O abc da crise. São Paulo: Editora Perseu Abramo,
2009.

106
C APÍTULO 5
o PaPel DaS PolíticaS PúblicaS
Frente ao DeSenvolvimento
SuStentável

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 Compreender os processos de negociação política, necessários à


formulação de políticas públicas, entre os diferentes atores frente a igual
número de interesses econômicos, sociais, culturais, étnicos/raciais e
ambientais.

 Analisar os impactos de uma política pública municipal sob os aspectos


econômicos, sociais e ambientais.
Capítulo 5 O PAPEL DAS POLÍTICAS PÚBLICAS
FRENTE AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

conteXtualização
A gente tem que lutar para tornar possível o que ainda não é possível.
Paulo Freire, educador e filósofo

Ao longo dos capítulos anteriores chamamos atenção para a ocorrência


das condicionantes dos processos de globalização da economia mundial por
meio da internacionalização do sistema financeiro e da capacidade produtiva;
o aumento do comércio internacional, das trocas internacionais de bens e
serviços; a interdependência e integração crescentes dos mercados nacionais;
a desregulamentação e abertura dos mercados e da economia devido às
políticas governamentais neoliberais; e o desenvolvimento acelerado da
tecnologia de informação.

Em contraponto temos a regionalização como a outra face da globalização


com a emergência de vários polos econômicos, tanto receptores de investimentos,
como ao mesmo tempo investidores. Foi na proposição de integração funcional
em meio a atividades geograficamente dispersas que ocorreram profundas
alterações no modo de vida das pessoas em seus locais de moradia, ou seja,
nos municípios.

É reconhecido que as economias e políticas locais, inseridas no cenário


internacional, produzem impactos específicos na vida de mulheres e homens
que habitam os diferentes lugares do mundo. Os impactos econômicos, sociais e
ambientais, sem falarmos das questões culturais, com seus aspectos intangíveis,
ocorridos em escala planetária, exigem diferentes formas de enfrentamento, tanto
por parte da sociedade quanto pelos governos.

Quando os governos optam pelas políticas neoliberais deixando ao mercado


o encaminhamento de soluções para a vida das pessoas (a partir de políticas
públicas que se concretizam em serviços públicos), significa que retiram parte
da rede de proteção social para as famílias (rede essa existente, no imaginário
coletivo brasileiro) para atender aos mais pobres.

É a consolidação de uma cultura que acredita que a prestação de serviços


públicos pelo Estado deve ser destinada para os pobres. Essa cultura corrobora
com a proposta política do neoliberalismo, que destina parte significativa da
população para os serviços privados.

Quando isso acontece, as famílias vão ao mercado comprar serviços privados,


em especial nas áreas da educação e saúde, e para a compra desses serviços
mais recursos, mais dinheiro, as famílias precisam ter. Ou seja, estabelece-se
uma competição entre desiguais.

109
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

Quando estamos falando de família é preciso considerar os diferentes tipos


e arranjos familiares existentes no mundo e, para efeito deste capítulo do nosso
curso, estamos circunscrevendo ao nosso país, conforme os dados do Censo
de 2010, realizado pelo IBGE. A literatura é vasta em apontar a importância dos
diferentes arranjos familiares nas formas de sobrevivência dos componentes dos
grupos familiares.

Nesse sentido, acompanhando o que foi estudado ao longo desta disciplina,


afirma-se que as políticas econômicas e sociais adotadas nas últimas décadas
contribuíram de forma desigual para a equidade de gênero. Ou seja, o acesso
às oportunidades, tanto ao trabalho quanto ao capital e à propriedade, não
foram iguais para homens e mulheres. Afirma-se que os universos dos homens
e mulheres foram afetados de modo distinto pelas políticas públicas adotadas em
suas diferentes dimensões, assim como também afirmamos a não neutralidade
das políticas econômicas em termos sociais.

Ao longo dos nossos estudos falamos de políticas públicas e desenvolvimento


sustentável, o que significa discutir as novas concepções de desenvolvimento.
Essas concepções incluem o desafio de chegar à equidade de gênero, conforme
propostas da Organização das Nações Unidas – ONU e do Banco Mundial, visto
que o mundo não mais pode abrir mão da produção de riqueza realizada por mais
da metade de sua população, as mulheres.

Nesse sentido a fala de Dominique Reiniche, na reunião de janeiro de


2011, do Fórum Econômico Mundial, em Davos, transmite as desafiantes
transformações culturais que enfrentam os movimentos de mulheres e feministas
em todo o mundo.

É tentador pensar sobre ricos e poderosos como um grupo


onde o sexo é neutro, que opera em uma bolha, sem
São as decisões privilégios. Mas ao contrário de muitos colegas do sexo
de políticas masculino, as mulheres de Davos têm algo poderoso em
públicas que se comum com suas colegas menos favorecidas: “A igualdade
concretizam em de gênero é uma preocupação que atravessa a divisão de
classes”, disse Dominique Reiniche, que dirige a Coca-Cola
planos, programas
na Europa. “As mulheres em todos os níveis têm uma causa
e projetos, que
em comum.” (VEJA, 2011).
tomam a forma dos
serviços públicos
realizados em No caso brasileiro, a decisiva e crescente participação das
mais escolas, mais mulheres no mercado do trabalho – formal e informal – vem exigindo
postos de saúde, por parte dos governos uma revisão no papel fundamental de
melhor atendimento, prestador de serviços públicos que em muito apoiam as famílias para
mais qualidade
que seus membros possam sair para o trabalho.
na prestação dos
serviços.
Voltamos a dizer, reforçando, são as decisões de políticas

110
Capítulo 5 O PAPEL DAS POLÍTICAS PÚBLICAS
FRENTE AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

públicas que se concretizam em planos, programas e projetos, que tomam a


forma dos serviços públicos realizados em mais escolas, mais postos de saúde,
melhor atendimento, mais qualidade na prestação dos serviços. E aqui estamos
trabalhando com os aspectos positivos dos projetos executados. Claro está que
existem os aspectos negativos da execução dos projetos, que resultam desde a
inexistência dos equipamentos à péssima qualidade e atendimento.

Assim, ressaltamos que são os serviços relacionados principalmente aos


“cuidados” com as crianças e com os idosos, tanto na área da educação quanto
da saúde, os que mais aliviariam a carga das tarefas domésticas ainda sob a
responsabilidade das mulheres. E essas são as áreas por excelência sob os
cuidados, a competência, a responsabilidade dos governos municipais. Entretanto,
os demais serviços públicos, também de competência municipal, como transporte
urbano, saneamento básico, urbanização, moradia, segurança pública, têm papel
relevante na liberação do tempo de trabalho empregado na trabalheira de todo o
dia para que as pessoas, em especial as mulheres e em alguns poucos casos os
homens, obtenham o usufruto pleno de sua inserção social.

Sobre as mulheres, em particular, as situações geradas pela reorganização


do mundo do trabalho exigem ajustes visando a garantir uma participação e
inserção com qualidade frente às relações de trabalho menos formais, à introdução
de novas tecnologias físicas e organizacionais, à elevação das necessidades de
qualificação e à separação entre crescimento econômico e geração de emprego.

A aceitação pelos e pelas formuladoras de políticas públicas da diversidade


atual das famílias e a consequente comprovação da inexistência da família
idealizada, modelo formatado na primeira metade do século XX, favorece as
discussões sobre a adoção de políticas intrinsecamente relacionadas a uma
mudança de atitude frente aos processos sociais, mudança essa que lida tanto
com uma dimensão subjetiva, quanto objetiva.

Nesse sentido, reconhecer que mulheres e homens possuem papéis


diferenciados implica admitir que as necessidades da população não
são homogêneas quando vistas sob a perspectiva de gênero. Significam
transformações relativas ao atendimento das necessidades de mulheres e homens
pelos serviços públicos das três esferas governamentais – federal, estadual e
municipal. Significam, portanto, a elaboração de políticas públicas que tenham a
compreensão dos públicos prioritários aos quais se destinam e as transformações
sofridas por esses mesmos públicos.

Reconhecer as transformações culturais, políticas e econômicas em curso


no mundo e no país, particularmente, e seus impactos socioambientais, implica a
necessidade do reconhecimento multifacetado da realidade local com o objetivo

111
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

de elaborar políticas públicas que venham a atender a essa nova realidade.


Implica reconhecer aspectos como:

• identificação dos diferentes segmentos ou grupos sociais, com seus objetivos


e necessidades plurais e diferenciadas, seus conflitos de interesses, seus pontos
de convergência;

• identificação e priorização de problemas locais e formulação de políticas


adequadas para enfrentar as demandas e desafios identificados;

• inclusão de programas e projetos nas peças orçamentárias.

Alcançar o desenvolvimento sustentável implica reconhecer a necessidade


estratégica da paridade entre a população feminina e a masculina. Implica
a implementação da transversalidade das questões de gênero na análise e
formulação da estratégia de desenvolvimento a ser adotada pelo governo em
suas esferas de poder – federal, estadual e municipal. Da mesma forma, implica
o reconhecimento de necessidades e possibilidades dos distintos grupos sociais,
etários ou étnicos. Ou ainda, o que impacta e como, as ações promovidas no
âmbito das políticas públicas, no modo de vida do conjunto das pessoas e famílias
das localidades, no ambiente, no território em que vivem.

Recuperamos o que estudamos no Capítulo 1 desta disciplina, reforçamos


que o mundo que habitamos é constituído por circuitos extremamente sensíveis,
pertencentes a um universo de relações no qual se entrecruzam causas e efeitos,
onde as transformações ocorridas em um circuito provocam alterações em
outros. É essa dinâmica que comprova a hipótese de que a luta pela equidade de
gênero e seu alcance trará benefícios sociais e econômicos para todas e todos na
amplitude do desenvolvimento sustentável. O que buscamos é a construção de
sociedades dinâmicas, sustentáveis e justas.

PolíticaS PúblicaS e SeuS


SiGniFicaDoS
Partindo da compreensão de que política é antes de tudo um processo de
negociação, que procura conciliar valores, necessidades e interesses divergentes,
administrando conflitos entre os vários segmentos da sociedade que demandam
os benefícios da ação governamental, vamos procurar entender os significados
da expressão políticas públicas.

Uma procura nos dicionários da língua portuguesa, como é o caso do Aurélio,


permite verificar que a expressão - política pública – é entendida como um:

112
Capítulo 5 O PAPEL DAS POLÍTICAS PÚBLICAS
FRENTE AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Conjunto de objetivos que enformam [no sentido de dar forma]


determinado programa de ação governamental e condicionam
sua execução [...] Habilidade no trato das relações
humanas, com vistas à obtenção dos resultados desejados
[...] Pertencente ou destinado ao povo, à coletividade.
(DICIONÁRIO AURÉLIO, 2011).

Assim, é possível considerar pública uma linha de atuação, uma política,


pensada e viabilizada no sentido de atender a alguns princípios básicos:

• é concebida para atender às necessidades da população;

• destina-se ao conjunto das pessoas “pertencentes” a um espaço previamente


definido;

• não hierarquiza direitos de acesso e usufruto, isto é, é incondicional, respeitado


o universo a ser atendido e os critérios considerados em sua formulação;

• considera, favorece e garante a igualdade e usufruto de oportunidades de


acesso e gozo às atividades nela preconizadas a todas as pessoas.

Podemos, então, compreender que políticas públicas tratam do


Uma política
conteúdo simbólico e do conteúdo concreto inerente às tomadas de
pública é uma
decisões políticas e do processo de construção e execução dessas diretriz elaborada
decisões. Uma política pública é uma diretriz elaborada para enfrentar para enfrentar um
um problema público, o que significa dizer que possui dois elementos problema público,
fundamentais: intencionalidade pública e resposta a um problema público. o que significa
dizer que possui
Podemos, também, ter inúmeras formas de abordar ou apresentar dois elementos
fundamentais:
políticas públicas, o que certamente será feito ao longo deste curso nas
intencionalidade
demais disciplinas, mas queremos ressaltar que qualquer definição é pública e resposta
arbitrária e que na literatura especializada não há um consenso quanto à a um problema
definição do que seja uma política pública. público.

Alguns questionamentos dizem bem sobre as dificuldades para


a definição de políticas públicas quando nos perguntamos:

• Quem elabora as políticas públicas? Apenas atores estatais ou


também podem ser formuladas por atores não estatais?

• Omissão ou negligência, ou seja, o não fazer, também pode se


configurar como uma política pública?

113
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

• Políticas públicas estão apenas no nível estratégico, as diretrizes


estruturantes, ou o nível operacional também pode ser considerado
política pública?

No âmbito desta seção não aprofundaremos as questões levantadas, apenas


nos posicionaremos brevemente e para tal nos apoiaremos em IBAM (2009) e
SECCHI (2010).

Assim, com relação à primeira questão, ou seja, ao protagonismo no


estabelecimento de políticas públicas, alguns autores e pesquisadores defendem
a abordagem estatista, enquanto outros defendem a abordagem multicêntrica.

A abordagem estatista define as políticas públicas como


A abordagem
monopólio dos atores estatais, ao passo que a abordagem
estatista define as
multicêntrica adota um enfoque mais interpretativo e menos positivista,
políticas públicas
como monopólio fazendo a distinção entre esfera pública e esfera privada, assim como
dos atores estatais, entre políticas governamentais e políticas públicas.
ao passo que
a abordagem Com relação ao segundo questionamento, ou seja, se o não fazer
multicêntrica adota também se configura como política pública, é preciso lembrar que
um enfoque mais nessa mesma seção afirmamos que uma política pública é uma diretriz
interpretativo e elaborada para enfrentar um problema público; ora, se nada fazemos,
menos positivista.
não há o enfrentamento do problema público e, consequentemente,
há uma ausência de política pública.

Quanto à terceira questão, alguns posicionamentos teóricos interpretam


que apenas as macrodiretrizes estratégicas seriam políticas públicas, ou seja,
as políticas nacionais. Nesse caso, como seriam consideradas as diretrizes
estratégicas formuladas nas esferas estadual e municipal? Vale
As políticas públicas ressaltar que estados e municípios definem estrategicamente,
estão inseridas considerando os limites de suas competências constitucionais, os
nas dimensões rumos que irão adotar para o enfrentamento de seus problemas
econômica, social, específicos. Vale lembrar que esse enfrentamento adquire concretude
cultural, ambiental sob a forma de programas e projetos.
e política do
desenvolvimento, Antes de prosseguirmos vale lembrar que as políticas públicas
refletindo o jogo estão inseridas nas dimensões econômica, social, cultural, ambiental
de forças dos
e política do desenvolvimento, refletindo o jogo de forças dos
interesses que
ocorre na arena interesses que ocorre na arena do enfrentamento político entre Estado
do enfrentamento e sociedade civil.
político entre
Estado e A seguir apresentaremos um elenco de políticas públicas sociais
sociedade civil. que podemos considerar como fundamentais para o fortalecimento

114
Capítulo 5 O PAPEL DAS POLÍTICAS PÚBLICAS
FRENTE AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

da participação da sociedade civil na formulação, implementação, avaliação e


controle social das políticas públicas.

São políticas construídas por estratégias da sociedade civil para enfrentar


as estruturas da desigualdade social. Deve-se considerar que o Estado não
é neutro, em especial sob o ponto de vista de gênero, classe social ou raça.
Vale ressaltar que não basta que o Estado apenas se abstenha de promover a
discriminação em suas leis e práticas administrativas, é importante o esforço para
favorecer a criação de condições efetivas, positivas e afirmativas que permitam
a todos beneficiar-se da igualdade de oportunidade e tratamento, assegurando a
eliminação de qualquer fonte de discriminação direta ou indireta. (GARCIA, 1998).

Quadro 1 – As políticas e suas diretrizes estratégias

POLÍTICAS DIRETRIZES ESTRATÉGICAS


Universalização do ensino fundamental e da educação infantil como
Educacional
instrumentação essencial para o exercício da cidadania.
Preservar o trato das identidades culturais, em especial nas comu-
nidades mais frágeis, como mecanismos de posicionamento frente
Cultural
aos processos de perda de identidade face à intensa divulgação
internacional de usos e costumes.
Comunicação e Promover e garantir o acesso aos meios de produção cultural e de
Tecnologia da conteúdo para todos os veículos de comunicação e mídia.
informação
Defesa da cidadania Não são produtos do governo, mas conquistas da sociedade.
Exercidas especificamente por grupos mais desiguais, segmentos
Conquista de Direitos
discriminados e excluídos.
Organizações Como defesa dos direitos políticos e construção de alternativas
partidárias sociais e alternância no poder.
Como defesa do direito do trabalho e ao trabalho, promover a igual-
Organizações Sindicais dade de gênero, considerando a dimensão étnico-racial nas relações
de trabalho.
Garantia do exercício de direitos e deveres e igualdade de oportuni-
dades com o reconhecimento da necessária redistribuição dos recur-
Justiça
sos e riquezas produzidas pela sociedade na busca de superação
da desigualdade social.
Garantia do direito de ir e vir, do acesso à justiça e à ampliação da
Segurança Pública assistência jurídica gratuita, do morar em paz assim como do não
Fonte: A autora.

estar exposto à violência.


Garantir o respeito aos princípios da administração pública: lega-
Serviços Públicos lidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, com
transparência nos atos públicos e controle social.

115
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

Cabe ao Estado formular políticas que visem atender as necessidades


da população, no que diz respeito a moradia, transporte, saúde, alimentação,
trabalho, lazer, entre outros. Entretanto, enquanto não houver uma perspectiva de
gênero e raça na formulação dessas políticas não alcançaremos o atendimento
pleno das necessidades da população, isso porque a perspectiva de gênero e
raça permite a compreensão dos problemas demográficos, econômicos, de
pobreza, emprego, saúde, habitação, entre outros.

Compreender as necessidades da população implica reconhecer seu perfil,


reconhecer a que público ela se destina. Em que dimensão da vida daquela
população, daquele público específico, irá atuar. Significa a construção da
credibilidade pública de modo a assegurar o apoio e o comprometimento das
diversas forças sociais ao Governo no momento da implementação dos serviços.
Serviços esses resultantes das políticas desenhadas por uma determinada esfera
de governo, objetivando atender aos reclamos dos públicos a que se destinam.
Esse princípio vale para todas as dimensões da política.

Exemplo do que estamos tratando está refletido nos debates


ocorridos no Congresso Nacional, neste ano de 2011, sobre a
aprovação do novo Código Florestal para o país. Quais os interesses
que ganharam concretude na mesa de negociação? Como se
estabeleceu o jogo de poder entre os representantes da população,
eleitos pelo voto, o Governo e os movimentos da sociedade civil?

Ao longo desta disciplina foram oferecidos a você elementos


que trabalham diretamente as possibilidades de respostas aos
questionamentos feitos acima. Por outro lado, procure ler sobre
o assunto, pesquisando na Internet e na mídia local e nacional.
Procure compreender a repercussão alcançada pelo tema e os
interesses econômicos e sociais que ganharam relevância nos
debates e discussões.

PolíticaS univerSaiS e PolíticaS


SetoriaiS
Reforçando que nossa disciplina versa sobre políticas públicas e
desenvolvimento sustentável, cabe aqui recuperar alguns pontos tendo por base
os capítulos anteriores, mais especificamente o Manual do Prefeito (IBAM, 2009):
116
Capítulo 5 O PAPEL DAS POLÍTICAS PÚBLICAS
FRENTE AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

• desenvolvimento local e sustentável é a expressão que vem sendo


A busca do
utilizada cada vez mais frequentemente tanto em escala mundial desenvolvimento
quanto no País; social não se limita
à satisfação das
• desenvolvimento não é apenas um processo de crescimento necessidades
e acumulação econômica, mas necessariamente se reflete em básicas de
saúde, educação,
desenvolvimento social, ou seja, em distribuição justa e equitativa
emprego, renda
da produção, em justiça social, em melhorias concretas da qualidade etc. Estende-
de vida, na integração e promoção dos diversos segmentos sociais; se à promoção
do exercício da
• desenvolvimento é, portanto, um processo de mudança social e, nesse cidadania no
sentido, é também e principalmente processo de conquistas de direitos; conjunto das
comunidades
que constituem
• não há desenvolvimento econômico sem desenvolvimento humano e dada sociedade,
social. promovendo o
estreitamento
Em outras palavras, a busca por novo padrão de laços de
de desenvolvimento deve se orientar por um cooperação e
tipo de crescimento que aproveite com mais solidariedade
eficiência os recursos endógenos das localidades e tornando os
ou regiões. Espera-se com esta iniciativa criar
indivíduos também
empregos e melhorar a qualidade de vida de
populações ali residentes, contribuindo para
sujeitos das
a superação da pobreza, sob uma nova ótica, ações promovidas
onde desenvolvimento social e desenvolvimento pelo Estado e
econômico situam-se numa perspectiva integrada pelo conjunto de
e sustentável. A busca do desenvolvimento social instituições da
não se limita à satisfação das necessidades sociedade civil.
básicas de saúde, educação, emprego, renda etc. (IBAM, 2009, p.81).
Estende-se à promoção do exercício da cidadania
no conjunto das comunidades que constituem
dada sociedade, promovendo o estreitamento de laços de
cooperação e solidariedade e tornando os indivíduos também
sujeitos das ações promovidas pelo Estado e pelo conjunto
de instituições da sociedade civil. (IBAM, 2009, p.81).

Os municípios brasileiros apresentam enormes diferenças entre si, embora


as regras a serem obedecidas pelos governantes sejam as mesmas, tanto para o
de maior quanto para o de menor orçamento.

São diferenças que vão de situações relacionadas com a população, território


e atividade econômica aos aspectos de gestão pública, uso dos recursos públicos,
investimentos tanto em tecnologia da informação quanto na rede de saneamento
básico. São diferenças que balizam a participação dos governos locais na oferta
de serviços sociais universais.

A municipalização dos serviços universais de saúde e educação fundamental

117
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

já não é mais contestada. Ambas as políticas foram concebidas como um


sistema complexo de relações intergovernamentais baseado em recompensas e
sanções. Tal sistema tornou racional para os municípios a adesão a uma nova
institucionalidade.

É possível afirmar que a questão do desenho das políticas públicas, sua


interdependência, tem recebido atenção crescente das três esferas de governo,
no que se refere ao papel na formulação e execução de políticas públicas.
Dependendo de suas características, o desenho institucional da política pode ser
decisivo no incentivo ou no constrangimento da prestação do serviço.

A municipalização das políticas de saúde e educação pode ser


considerada um desafio enfrentado pelo país com sucesso, pelo menos em
termos quantitativos. Por outro lado, as políticas de saneamento, habitação
e assistência social, também, segundo os ditames constitucionais, de caráter
universal, não obtiveram o mesmo resultado. As causas tanto do sucesso quanto
do insucesso estão relacionadas com a formulação de mecanismos financeiros,
gerenciais, de transferência de recursos e responsabilidades, assim como de
incentivos ou sanções.

A resposta positiva dos governos locais aos incentivos à municipalização da


saúde e do ensino fundamental está relacionada com o fato de que essas políticas
possuem mecanismos de execução bem definidos.

No caso da saúde, temos que considerar a injeção de recursos adicionais


nos cofres das prefeituras, por meio do Sistema Único da Saúde - SUS. No
caso do ensino fundamental, a existência de penalidades para o município que
não aumentar as matrículas nas escolas municipais, ao mesmo tempo em que
também injeta mais recursos nas comunidades locais mais pobres, pois a política
suplementa o salário dos professores nos municípios mais carentes.

A seguir transcrevemos informações básicas sobre as políticas


de saúde e educação no país. Procure conhecer mais sobre o
assunto, pesquisando tanto na internet quanto na biblioteca de sua
cidade, assim como na mídia local e nacional, com o objetivo de
compreender o alcance dessas políticas no dia a dia da população
do seu município, assim como na sua própria vida.

SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS

Criado no Brasil em 1988 com a promulgação da nova


Constituição Federal, o SUS tornou o acesso à saúde direito de todo

118
Capítulo 5 O PAPEL DAS POLÍTICAS PÚBLICAS
FRENTE AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

cidadão. Até então, o modelo de atendimento dividia os brasileiros


em três categorias: os que podiam pagar por serviços de saúde
privados, os que tinham direito à saúde pública por serem segurados
pela previdência social (trabalhadores com carteira assinada) e os
que não possuíam direito algum.

Com a implantação do sistema, o número de beneficiados


passou de 30 milhões de pessoas para 190 milhões. Atualmente,
80% desse total dependem exclusivamente do SUS para ter acesso
aos serviços de saúde.

A implantação do SUS unificou o sistema, já que antes de 1988 a


saúde era responsabilidade de vários ministérios, e descentralizou sua
gestão. A gestão do SUS deixou de ser exclusiva do Poder Executivo
Federal e passou a ser administrada por Estados e Municípios.

Segundo o Ministério da Saúde, o SUS tem 6,1 mil hospitais


credenciados, 45 mil unidades de atenção primária e 30,3 mil
Equipes de Saúde da Família (ESF). O sistema realiza 2,8 bilhões
de procedimentos ambulatoriais anuais, 19 mil transplantes, 236 mil
cirurgias cardíacas, 9,7 milhões de procedimentos de quimioterapia e
radioterapia e 11 milhões de internações.

Entre as ações mais reconhecidas do SUS estão a criação


do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), Políticas
Nacionais de Atenção Integral à Saúde da Mulher, de Humanização
do SUS e de Saúde do Trabalhador, além de programas de vacinação
em massa de crianças e idosos em todo o país e da realização de
transplantes pela rede pública.

Fonte: BRASIL. O que é o SUS. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/


sobre/saude/atendimento/o-que-e-sus/print>. Acesso em: 28 out. 2011.

SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO

Ensino Fundamental

O ensino fundamental é obrigatório para crianças e jovens


com idade entre 6 e 14 anos. Essa etapa da educação básica deve
desenvolver a capacidade de aprendizado do aluno, por meio do
domínio da leitura, escrita e do cálculo. Após a conclusão do ciclo, o
aluno deve ser também capaz de compreender o ambiente natural e
social, o sistema político, a tecnologia, as artes e os valores básicos
da sociedade e da família.

119
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

Desde 2005, a Lei no 11.114 determinou a duração de nove


anos para o ensino fundamental. Dessa forma, a criança entra na
escola aos 6 anos de idade, e não mais aos 7, e conclui aos 14 anos,
ou seja, no 9o ano.

O ensino fundamental de nove anos foi implementado no Brasil


em 2005.

A nova regra garante a todas as crianças tempo mais longo de


convívio escolar e mais oportunidades de aprender. A ampliação do
ensino fundamental começou a ser discutida no Brasil em 2004, mas
o programa só teve início em algumas regiões em 2005. Os estados
e municípios têm até 2010 para implantar o ensino de nove anos.
Até 2009, 92% dos municípios implantaram o Ensino Fundamental
de nove anos.

Segundo o Censo Escolar de 2010, 31.005.341 de alunos estão


matriculados no Ensino Fundamental Regular.

A grande maioria (54,6%) na rede municipal com 16.921.822


matrículas. As redes estaduais correspondem a 32,6% dos matriculados,
as privadas atendem a 12,7% e as federais a 0,1%.

Provinha Brasil

Para garantir a alfabetização de todas as crianças até os 8 anos,


o ensino fundamental conta com a Provinha Brasil. O exame permite
avaliar as habilidades relativas ao processo de alfabetização dos alunos
e ajuda a evitar que as crianças cheguem à quarta série do ensino
fundamental sem dominar a leitura e a escrita.

Fonte: BRASIL. Sistema Educacional brasileiro. Disponível em: <http://


www.brasil.gov.br/sobre/educacao/sistema-educacional-brasileiro/
ensino-fundamental>. Acesso em: 28 out. 2011.
A Constituição
Federal de 1988,
ao estabelecer
o princípio da A Constituição Federal de 1988, ao estabelecer o princípio da
universalização universalização dos direitos, definiu parâmetros precisos ao processo
dos direitos, definiu
de elaboração e fiscalização das diferentes políticas setoriais. Quando
parâmetros precisos
ao processo de falamos em políticas universais e desenvolvimento social estamos
elaboração e nos situando na rede da seguridade social. A universalização do
fiscalização das atendimento proposta no sistema de proteção social brasileiro, por
diferentes políticas exemplo, encontra-se, objetivamente, muito aquém do pretendido por
setoriais. esse princípio constitucional.

120
Capítulo 5 O PAPEL DAS POLÍTICAS PÚBLICAS
FRENTE AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Vale registrar que após inúmeros debates, comissões e plenários da Câmara


e do Senado foi instituído o Sistema Único de Assistência Social – SUAS, cujo
Projeto de Lei foi aprovado pelos senadores em 8 de junho de 2011, seguindo
agora para a sanção da Presidente Dilma Rousseff.

Segundo a Ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome,

o Senado, e o conjunto do parlamento, deu um passo


importante para a construção de um País mais justo ao aprovar
o Projeto de Lei que institui o SUAS. O fortalecimento da política
e da rede de assistência social é essencial para o sucesso do
Plano Brasil sem Miséria. A população extremamente pobre
apresenta inúmeras vulnerabilidades e são os profissionais da
assistência social que auxiliam e acompanham essa população
mais de perto. (ASCOM/MDS, 2011).

No mesmo contexto a Secretária Nacional de Assistência Social do


Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) avalia que a
aprovação no Legislativo é o reconhecimento de que a Assistência Social é uma
política de Estado.

Passa a ser um direito reclamável, e cria, por lei, o Programa


de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti). Institui também os
CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) e CREAS
(Centro de Referência Especializado de Assistência Social)
como equipamentos públicos responsáveis pelos atendimentos
às famílias. Define a primazia e a responsabilidade do Estado
no atendimento à família, idoso, pessoas com deficiência,
juventude e todos aqueles que estão em situação de
vulnerabilidade e risco. (ASCOM/MDS, 2011).

Após a leitura da notícia abaixo, procure se inteirar mais sobre


o assunto, pesquisando tanto na Internet quanto na mídia local,
para compreender os reflexos do SUAS no seu município e o papel
que os CRAS e CREAS estão desempenhando junto à população
do seu município.

PRESIDENTE DILMA ROUSSEFF SANCIONA


PROJETO DE LEI SUAS

6 de julho de 2011

A presidente Dilma Rousseff sancionou hoje (6 de julho) o


Projeto de Lei que dispõe sobre a organização da Assistência Social
e institui legalmente o Sistema Único de Assistência Social (SUAS).

121
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

O projeto é de autoria do Executivo e foi aprovado pelo Congresso


Nacional no dia 8 de junho.

Em discurso no evento da sanção, Dilma Rousseff falou sobre


a integração entre o SUAS e o recém-lançado Brasil sem Miséria.
“O sistema será determinante para o êxito do Plano Brasil Sem
Miséria, pois sua estrutura será a base da busca ativa das famílias
para inclusão no Cadastro Único de Programas Sociais e no
encaminhamento das ações do plano”, afirmou.

“O projeto sancionado pela presidente complementa a Lei


Orgânica de Assistência Social (LOAS), institui o SUAS como
meio de enfrentamento da pobreza e, principalmente, garante a
continuidade do repasse de recursos aos beneficiários e para os
serviços”, informa o site do Ministério do Desenvolvimento Social e
Combate à Fome (MDS).

O SUAS foi implementado em 2005 e de 2006 a 2010, o número


de trabalhadores do setor aumentou 57%, passando de 140 mil para
220 mil. Com a sanção, o sistema, que já tem a adesão de 99,5%
dos municípios brasileiros, passa a vigorar como lei.

Fonte: Presidente Dilma Rousseff sanciona Projeto de Lei SUAS.


Disponível em: <http://www.viablog.org.br/presidente-dilma-rousseff-
sanciona-projeto-de-lei-suas>. Acesso em: 29 set. 2011.

Por que essas políticas interessam nesse contexto do nosso curso?

Porque estamos falando de políticas universais, promotoras de igualdade,


com impactos compensatórios e redistributivos de renda.

Porque estamos falando de políticas universais e, de acordo com o projeto


de lei,

[...] o País passará a contar com formato de prestação de


assistência social descentralizado e com gestão compartilhada
entre governo federal, estados e municípios, com participação
de seus respectivos conselhos de assistência social e ainda
das entidades e organizações sociais públicas e privadas que
prestam serviços nessa área. (LAVINAS, 2011).

Lavinas (2011) também chama atenção para o fato de que é importante

122
Capítulo 5 O PAPEL DAS POLÍTICAS PÚBLICAS
FRENTE AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

situarmos o maior programa de transferência de renda do país, o Bolsa Família,


no âmbito do SUAS.

O Brasil, finalmente, conseguiu instituir um sistema de


cobertura ampliada em termos de segurança social para
sua população que associa, ao mesmo tempo, benefícios de
base contributiva, benefícios assistências para quem está
em situação de risco extremo, e também o Sistema Único de
Saúde. O Programa Bolsa Família se transformou num pilar
importante do Sistema Único de Assistência Social que ainda
terá que ser consolidado, porque, a princípio ele é fundado
como um direito em caso de necessidade, mas, na prática,
e essa é uma das fraquezas do Bolsa Família, não atende
a toda demanda. Isso porque o Bolsa Família considera um
universo de pessoas abaixo da linha da pobreza, cujo cálculo
foi elaborado a partir do Censo de 2000. Por isso, na prática, a
cobertura do Bolsa Família não garante que todos aqueles que
têm necessidades sejam contemplados. Essa é a maior falha
do programa.

Vale registrar que, dentro do SUAS, o Bolsa Família é o programa que ganhou
mais notoriedade, mas ele não é o único. Além dele, há o Banco de Dados do
Cidadão (BDC). Entretanto, o grande problema é que eles têm linhas de pobreza
distintas, assim como distintos valores para os benefícios.

Mesmo levando em consideração todas as contradições e dificuldades,


Lavinas (2011) avalia que estamos avançando para termos um Sistema
de Assistência Social que é integrado à lógica mais ampla do Sistema de
Proteção Social e não a uma coisa que tínhamos nos anos 1980, marcada pela
benevolência, uma atitude extremamente marginal e residual do Estado ligado à
atuação das Primeiras Damas.

FunçõeS Que SuStentam aS PolíticaS


PúblicaS: Formulação, PlaneJamento,
orçamento, eXecução
Como vimos nas seções anteriores, a formulação de uma política é um
processo que engloba diferentes atores e exige o cumprimento de algumas
etapas, alguns procedimentos que conformam o que é conhecido como o ciclo de
políticas públicas.

Para bem atuar em política pública é preciso construir uma metodologia,


planejar o trabalho, avaliando-o a cada etapa, repensá-lo com objetividade,

123
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

relacionando as variáveis de gênero, raça/etnia e classe social nas fases principais


do ciclo de políticas públicas:

1. Identificação do problema
2. Formação da agenda
3. Formulação de alternativas
4. Tomada de decisão
5. Implementação
6. Avaliação
7. Extinção

As sete fases parecem muito singelas, mas na verdade exigem, do processo


de formulação, sensibilidade política. Da realização do diagnóstico ao desenho
de planos estratégicos, com características de processos participativos e
transparentes, até a formulação de programas e projetos, tanto gerais quanto
aqueles que passam por uma ação afirmativa, considerando as variáveis de
gênero e raça/etnia, colocam-se grandes exigências para a formatação da política.

Em todo o processo é preciso considerar:

• como são formuladas as interrogações básicas ou como são estabelecidas as


demandas de informações – o que quero saber e o que será feito com aquela
informação;

• como se dará a constituição de elementos descritivos que constituem o


problema, para o qual se pretende encaminhar soluções;

• como se dará a construção de indicadores para detectar e medir o impacto


das ações; e,

• como teremos o resultado da identificação e medição, expressado em


unidades de medida.

Assim, entendendo como ocorrem as dinâmicas de mudanças estruturais e


culturais podemos também compreender o quanto é difícil e complexo sair, deixar
para trás, influir na mudança dos pressupostos e estereótipos construídos, seja na
área cultural, seja na área da prática administrativa e de serviços públicos.

Administrar não Sempre é bom chamar a atenção que administrar não é


é simplesmente simplesmente realizar programas e ações. É gerar e gerir processos.
realizar programas
e ações. É gerar e
gerir processos.
Quais questões norteiam nosso trabalho?
124
Capítulo 5 O PAPEL DAS POLÍTICAS PÚBLICAS
FRENTE AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Desafiam-nos a encontrar respostas nas esferas federal, estadual e municipal


quando vamos formular políticas públicas.

• Qual a inovação que podemos trazer para uma nova forma de formular políticas
públicas com perspectivas de gênero e raça/etnia que favoreça o processo de
desenvolvimento sustentável, tanto no local quanto no nível nacional?

• Como ultrapassar as brechas de gênero e raça/etnia com os olhos em novos


caminhos que superem a discriminação que sofrem as mulheres brancas,
negras e indígenas, assim como os homens não brancos, tendo presente a
relação de classe social?

• Será que pensar qualidade de vida sob novas perspectivas de gênero e raça/
etnia pode vir a ser um eixo inovador que deixe às claras, de modo preciso e
objetivo, as desigualdades existentes na sociedade, e o encaminhar soluções
indique que é possível perpassar as políticas setoriais?

Algumas políticas têm como pressuposto a contribuição do trabalho Algumas políticas


não remunerado por parte da população chamada beneficiária dos têm como
serviços ou bens delas resultantes, significando desde os mutirões para pressuposto a
contribuição do
a construção da casa própria, para a construção de estradas vicinais,
trabalho não
viabilizando o escoamento da produção, a manutenção de encostas, até remunerado por
o cuidado com idosos e crianças. parte da população
chamada
Essas políticas trabalham levando em consideração o que ainda beneficiária dos
serviços ou bens
tradicionalmente é esperado do desempenho de mulheres e homens.
delas resultantes,
Vale dizer, no imaginário coletivo ainda teríamos o modelo do homem significando desde
provedor de uma família e da mulher cuidadora. os mutirões para
a construção da
Assim, a participação da mulher, no mais das vezes, está relacionada casa própria, para
com a família, com o espaço doméstico, ela não é reconhecida como a construção de
estradas vicinais,
pessoa física, ela é vista como a mãe através da qual se chegará:
viabilizando o
escoamento
• às crianças e aos idosos, da produção, a
• à manutenção da propriedade da casa no seio da família, manutenção de
• à compra de bens para a família, encostas, até o
cuidado com idosos
• à redução da pobreza, e
e crianças.
• à saúde da mulher, com o foco na reprodução biológica.

Significa dizer que a mulher na maioria das vezes, para a maioria das
políticas, ainda não é reconhecida como pessoa que possui vida própria, mas sim
como uma extensão pela qual se chegará à família.

125
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

De um modo geral vamos encontrar políticas públicas direcionadas às


mulheres como pessoas, quando estão relacionadas ao mundo do trabalho
e, mesmo assim, estão focadas na proteção ao período da maternidade, como
a licença maternidade e a obrigatoriedade das creches. Esse último caso, já
estendido como benefício para os pais, por pressão dos movimentos de mulheres
e feministas, representa uma conquista na discussão sobre a divisão das
responsabilidades do dia a dia com os filhos.

Políticas específicas de reinserção no mercado de trabalho e capacitação


profissional ainda são pouco usuais, ao passo que com relação ao
empreendedorismo as mulheres, por se destacarem nos micro e pequenos
negócios, se impõem no mercado. Há, também, a criação de linhas de crédito
específico para as mulheres, em particular na agricultura familiar.

Os homens também são parte de uma família. Entretanto, no mais das vezes
essa percepção de elo com a família não se configura concretamente com a
pessoa física do homem. Essa situação fica muito clara quando analisamos os
programas a eles dirigidos e que estão relacionados com

• qualificação profissional,
• reinserção no mercado de trabalho,
• geração de emprego e renda, e
• saúde do homem.

Significa dizer que a individualidade e a competitividade dos homens são


reconhecidas. A inserção masculina no mundo do trabalho, tanto formal quanto
informal, recebe maior atenção dos formuladores de políticas públicas.

A área técnica de Saúde da Mulher é resultado de conquistas


dos movimentos de mulheres e feministas, são lutas que ocorrem
desde a década de 1980. Essa área é responsável pelas ações
de assistência ao pré-natal, incentivo ao parto natural e redução
do número de cesáreas desnecessárias, redução da mortalidade
materna, enfrentamento da violência contra a mulher, planejamento
familiar, assistência ao climatério, assistência às mulheres negras e
população LGBT.

A Política Nacional de Saúde do Homem, lançada em agosto


de 2009, tem por objetivo facilitar e ampliar o acesso da população
masculina aos serviços de saúde. A iniciativa é uma resposta à
observação de que as doenças que afetam o sexo masculino são um

126
Capítulo 5 O PAPEL DAS POLÍTICAS PÚBLICAS
FRENTE AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

problema de saúde pública. A cada três mortes de pessoas adultas,


duas são de homens. Eles vivem, em média, sete anos menos do
que as mulheres e têm maior incidência de doenças do coração,
câncer, diabetes, colesterol e pressão arterial mais elevada.

Fonte: Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/saude/


area.cfm?id_area=1623>. Acesso em: 28 out. 2011.

a eXecução De PolíticaS, ProGramaS


e ProJetoS Pelo Governo municiPal
Pensar políticas, programas e projetos inerentes ao desenvolvimento local
pressupõe reconhecer a realidade local e estabelecer com a sociedade as regras
do jogo a ser jogado em prol da melhoria de vida dessa mesma sociedade.

As linhas de uma política, estratégias, diretrizes e responsabilidades


O plano permite
estão delineadas num plano, no qual tomam forma.
a elaboração
de programas
O plano tem o sentido de sistematizar e compatibilizar objetivos e projetos
e metas, procurando otimizar o uso dos recursos existentes em suas específicos, com
dimensões econômica, financeira, humana, gerencial e ambiental. O uma perspectiva de
plano permite a elaboração de programas e projetos específicos, com coerência interna e
uma perspectiva de coerência interna e avaliação dos riscos internos e avaliação dos riscos
internos e externos,
externos, em relação ao contexto no qual será executado.
em relação ao
contexto no qual
O programa é o aprofundamento do plano, considerando os será executado.
objetivos setoriais do plano, que por sua vez irão constituir os objetivos
gerais do programa. O programa estabelece o quadro de referência do projeto.

O projeto é o documento que estabelece como acontecerá o processo


operacional da ação. É a unidade elementar do processo de racionalização da
tomada de decisões. É elaborado com o propósito de equacionar o processo de
produção de algum bem ou serviço, especificando o método de trabalho a ser
adotado com o objetivo de obter resultados definidos.

A definição de políticas de âmbito nacional pelo Governo Federal, no mais


das vezes, transborda para estados e municípios a necessidade de programas e
projetos complementares para sua execução, como é o caso, entre outros:

• do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres - PNPM;

127
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

• do Plano Nacional de Promoção da Igualdade Racial – PLANAPIR;

• do Plano Nacional de Saneamento Básico – PLANSAB..

Todos os planos citados exigem ações nos municípios, pois, voltamos a


afirmar, a vida é vivida nos municípios.

Ao mesmo tempo os governos municipais elaboram e executam políticas


públicas municipais de acordo com suas competências constitucionais. Essas
políticas também necessitam de planos, programas e projetos para chegarem até
o dia a dia dos munícipes.

Nesse sentido, vale lembrar que recentemente teve ampla repercussão na


mídia nacional e internacional a divulgação do relatório “Igualdade de gêneros e
desenvolvimento 2012”, apresentando os resultados de pesquisa realizada pelo
Banco Mundial (Bird).

No quadro a seguir estão transcritos trechos de matéria publicada. O


exercício proposto com base na leitura do texto, assim como os temas tratados
nas seções anteriores deste capítulo, têm o propósito de permitir a fixação da
correlação entre políticas, planos, programas e projetos.

Atividade de Estudos:

Ao fazer a leitura da notícia abaixo, procure ir anotando num papel


ao lado, ou em arquivo a parte no seu computador, o que lhe chama
atenção nos dados apresentados e como as informações que se obtêm
desses mesmos dados estão sendo trabalhadas no seu município.
Ao finalizar a leitura, e de posse das anotações feitas, pesquise quais
as políticas, programas e projetos em andamento no município, que
responderiam às questões suscitadas pela notícia lida. (Redação livre).

MAIS PESO DA MULHER NO MERCADO DE


TRABALHO PODE MELHORAR PRODUTIVIDADE
EM ATÉ 25%, DIZ BANCO MUNDIAL –

Vivian Oswald
Publicada em 18/09/2011 às 21h06m

BRASÍLIA. Nos últimos 25 anos, o crescimento sustentado foi


particularmente eficiente para reduzir as disparidades entre homens

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Capítulo 5 O PAPEL DAS POLÍTICAS PÚBLICAS
FRENTE AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

e mulheres no mundo, mas, sozinho, não resolverá as diferenças no


futuro, segundo o relatório “Igualdade de gêneros e desenvolvimento
2012”, do Banco Mundial (Bird). Países em desenvolvimento, cujas
economias avançaram mais depressa, mostraram uma evolução
mais rápida. Mas as desigualdades ainda são enormes e o seu
custo deve ser alto no mundo globalizado do século XXI. Se as
mulheres tiverem as mesmas oportunidades de emprego e posições
de comando, assim como salários equivalentes aos dos homens, a
produtividade no mundo pode aumentar de 3% a 25%, dependendo
do país. Na América Latina, este ganho pode variar de 4% a 16%.

• A produtividade agrícola pode ter um incremento de 2% a 4,5%, se


as mulheres tiverem o mesmo acesso que os homens a insumos e
equipamentos - destaca Ana Revenga, uma das autoras do estudo.

A maior demanda das economias dos países em


desenvolvimento acabou por inserir mais mulheres no mercado de
trabalho. No mundo, elas já são mais numerosas nas universidades
e tiram notas melhores do que os homens. Enquanto passou de 17,7
milhões em 1970 para 77,8 milhões o número de universitários, o
exército de universitárias, que era de 10,8 milhões em 1970, disparou
para 80,9 milhões, deixando para trás os homens da academia.

Mas, se elas estão mais preparadas, seus salários continuam


mais baixos. No Brasil, a diferença é de 25%, contra 12% da
Argentina e 20% do México, segundo o Bird.

Na política, a participação feminina é especialmente


desproporcional pelo mundo. Enquanto na África do Sul e na
Holanda, respectivamente, 45% e 41% dos assentos do parlamento
eram ocupados por mulheres em 2010, na Arábia Saudita não há
vagas para elas. Na América Latina, a média é de 24%, o que levou
o Bird a destacar a situação precária brasileira, onde o número de
cadeiras passou de 5% em 1990 para 9% em 2010, perdendo apenas
para a Colômbia na região, que ficou com 8% em 2010.

No mesmo ano, só seis países em desenvolvimento e 11 ricos


tinham mais de 25% de mulheres ministras em 2010. Nesse quesito,
pode ser que o Brasil venha a demonstrar uma forte melhora na
próxima edição do relatório. Isso porque os dados não chegaram
a computar a presença feminina no ministério da presidente Dilma
Rousseff. Dos 39 postos com status de ministro, dez são ocupados
por mulheres, entre elas seu braço direito, a ministra-chefe da Casa
Civil, Gleisi Hoffmann.

129
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

No Brasil, apesar da evolução positiva, as mulheres ainda são


donas de apenas 11% das terras, contra 27% no Paraguai. Mais da
metade delas recebe suas propriedades por meio de herança familiar,
e 37% compram no mercado imobiliário, ao passo que apenas 22%
homens herdam e 73% adquirem seus imóveis.

A falta de acesso das mulheres a serviços e infraestrutura


básicos ainda chamam atenção no país, onde um quarto do custo de
quem recebe atendimento médico em um hospital está relacionado
a transporte. É a mesma proporção registrada em Burkina Faso. O
problema é que, sem esses serviços, como creches, diminuem as
chances da população feminina de ganhar mobilidade, e, por isso, ter
acesso a empregos e maiores salários.

- As diferenças entre as mulheres as ricas e as mais pobres


também é imensa, e essas últimas têm bem menos acesso a
serviços e infraestrutura - afirma Revenga, destacando a importância
das políticas destinadas a bolsões de pobreza.

Em retrato do mercado de trabalho brasileiro, o estudo mostra


que os patrões ainda são os homens, que ocupam 70% dos postos
de empregadores. Eles também são maioria entre os trabalhadores
por conta própria, com 53% da mão de obra, e dos assalariados, com
53%. No universo dos serviços não remunerados, são as mulheres
que se destacam, com 72% do total. No Brasil, também há mais
mulheres com empregos informais.

O Bird insiste que o acesso aos meios de comunicação


também ajudam a mudar o quadro das desigualdades e enfatiza o
fato de, no Brasil, o gosto pelas novelas conseguiu reduzir a taxa
de fecundidade das mulheres na mesma proporção que o faria dois
anos a mais de estudos. Por essas e outras, o relatório afirma que
as políticas necessárias voltadas para a redução das desigualdades
de gênero devem considerar a questão comportamental. No Oriente
Médio, em alguns países da Ásia e da África, por exemplo, devem
ser considerados os aspectos religiosos.

Fonte: Disponível em: <http://oglobo.globo.com/economia/mat/


2011/09/18/mais-peso-da-mulher-no-mercado-de-trabalho-pode-
melhorar-produtividade-em-ate-25-diz-banco-mundial-925386386.
asp#ixzz1YmT3CZ5H>. Acesso em: 30 out. 2011.
© 1996 - 2011. Todos os direitos reservados a Infoglobo
Comunicação e Participações S.A.

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Capítulo 5 O PAPEL DAS POLÍTICAS PÚBLICAS
FRENTE AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

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PolíticaS PúblicaS e
DeSenvolvimento SuStentável:
DeSaFioS Para Sua aDoção PeloS
municíPioS braSileiroS
Nesta seção, ilustrando o desenvolvimento dos temas dos capítulos
anteriores, vamos apresentar cinco situações de como políticas públicas podem
possibilitar aos municípios brasileiros o enfrentamento dos desafios para a
adoção de políticas, programas e projetos no sentido de estabelecerem ações
que priorizem o desenvolvimento sustentável.

A cada situação apresentada, identifique as ações colocadas


em prática, relacionando-as com a proposta de desenvolvimento
sustentável apresentada ao longo deste caderno. Faça suas anotações

131
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

e, pensando em seu município, verifique as possibilidades de adoção,


pelo governo municipal, de propostas semelhantes. Perceba que
a cada situação apresentada é esperada uma análise sobre o que
acontece em seu local de moradia, em seu município. Recorra não
apenas ao estudado durante os últimos capítulos como também às
informações externas, seja nos órgãos públicos, seja na internet. Caso
considere que a situação não se aplica ao seu município, explicite o
que justifica sua avaliação.

PRIMEIRA SITUAÇÃO

HIDRÔMETROS INDIVIDUAIS, OBRIGATÓRIOS


NAS NOVAS CONSTRUÇÕES, SÃO PROCURADOS
TAMBÉM POR PRÉDIOS ANTIGOS

O Globo - Publicada em 07/05/2011 às 19h40m

RIO - Em quatro anos, 55% dos municípios brasileiros poderão


ter seu abastecimento de água comprometido em algum grau.
O dado é do “Atlas da Água”, divulgado pela Agência Nacional
de Águas (Ana) em março. Algumas regiões já enfrentam essa
realidade. Em Bagé, Rio Grande do Sul, a população sofre com
estiagem há seis meses. A quantidade de chuva é tão pequena que
o Departamento de Água e Esgotos da cidade racionou a água por
13 horas diárias e instituiu um baixo volume de consumo por cada
família: 15 metros cúbicos ao mês. Quem gastar menos garante
o crédito, em água, para meses subsequentes. Quem ultrapassar
paga caro: cada mil litros excedentes valem 50% do cobrado pelos
15 mil litros da tarifa base.

No Rio, o consumo médio mensal é de 30 mil litros por


família. Mas você sabe quanto a sua casa consome? Quem mora
em condomínio, onde a cobrança costuma ser rateada entre os
moradores, certamente vai ter dificuldades para responder a essa
pergunta. Até porque, quando não pesa no bolso, a água costuma ir,
literalmente, ralo abaixo.

Uma das soluções para se evitar o desperdício é instalar


hidrômetros individuais. No Rio, a prática virou lei, sancionada em
22 de março (Dia Mundial da Água). A obrigatoriedade, contudo, só
atinge as novas construções. Para as antigas, a decisão fica a cargo
do condomínio. Mas já cresce o número de prédios que aderem ao

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Capítulo 5 O PAPEL DAS POLÍTICAS PÚBLICAS
FRENTE AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

sistema como mostra reportagem de Karine Tavares publicada neste


domingo no Morar Bem.

• O hidrômetro individual é um avanço enorme, mas pelas


dificuldades técnicas de implantação em edifícios antigos,
não seria possível tornar sua instalação compulsória. O
incentivo a quem se dispuser a fazer o retrofit de seu edifício
pode ser o caminho - diz o presidente da Câmara Técnica de
Desenvolvimento Sustentável da Prefeitura do Rio, o economista
Sérgio Besserman.

Entusiasta da lei, Besserman lamenta que ela tenha chegado


só agora por aqui e acredita que um incentivo do governo estadual,
como a redução de impostos, poderia ser o empurrãozinho que falta
para mais condomínios considerarem a mudança das instalações.
As vantagens, garante, são inúmeras. Além da economia direta
com a conta d’água, há redução da inadimplência, das despesas
com energia elétrica (o volume de água a ser bombeado no prédio
diminui) e do esgoto produzido. A medida ainda facilita a identificação
de vazamentos.

As obras para instalação em prédios antigos, entretanto,


nem sempre são fáceis. Mas quem já fez garante que consegue
economizar em média 30% na conta. Em alguns casos, essa redução
chega a 40% ou 50%. O condomínio Alsacia, na Barra da Tijuca,
pagava R$ 30 mil por mês no verão. Com a individualização, a conta
caiu a R$ 14 mil na mesma época. E fica em R$ 12 mil nos meses
mais frios.

Em outro prédio, esse no Recreio, a obra ficou pronta em uma


semana. E a conta, de R$ 8 mil, chega a menos de R$ 2 mil. Os
condomínios continuam recebendo uma conta única da Cedae.
A leitura individualizada é feita pelas empresas que instalaram os
hidrômetros. É daí, aliás, que elas sobrevivem, cobrando taxa que
varia de R$ 3 a R$ 5 por condômino, para fazer a leitura do consumo
e a manutenção dos equipamentos. Ao condomínio, cabe cobrar às
unidades o valor gasto por cada uma.

Segundo especialistas, no entanto, prédios muito antigos


podem exigir uma obra estrutural complexa para a mudança de todo
o sistema de distribuição da água. - Em prédios com muitas entradas
de água, é preciso colocar novos ramais. Fica tão caro que acaba
inviabilizando a obra - explica o engenheiro civil Abílio Borges, do
Crea-RJ.
133
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

Fonte: Disponível em:<http://oglobo.globo.com/economia/morarbem/


mat/2011/05/06/hidrometros-individuais-obrigatorios-nas-novas-
construcoes-sao-procurados-tambem-por-predios-
antigos-924399802.asp>. Acesso em: 1 nov. 2011.

Quais são suas considerações sobre o texto apresentado?


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SEGUNDA SITUAÇÃO

INOVAÇÃO: PREFEITOS CRIAM REDE PARA INCENTIVAR


EMPREENDEDORISMO MUNICIPAL

Publicada em 26/05/2010 às 11h50m


Ione Luques

RIO - Com o intuito de difundir a cultura empreendedora na


gestão pública e incentivar a aprovação e implementação da Lei
Geral da Micro e Pequena Empresa nos municípios brasileiros, foi
oficialmente lançada, na semana passada, em Brasília, a Rede de
Prefeitos Empreendedores. Trata-se de um movimento nacional

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Capítulo 5 O PAPEL DAS POLÍTICAS PÚBLICAS
FRENTE AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

que busca disseminar as boas práticas administrativas que já


ocorrem nas cidades, estimular as novas lideranças a fomentarem
o empreendedorismo em suas regiões e ressaltar a importância das
micro e pequenas empresas para a economia do país.

• As pequenas empresas são estratégicas para o Brasil. São elas


que mais geram empregos e renda nos municípios - ressalta
Helder Salomão, prefeito de Cariacica, no Espírito Santo, e um
dos maiores incentivadores do projeto.

A semente da rede foi lançada em 2001, a partir da primeira


edição do prêmio “Prefeito Empreendedor”, homenagem concedida
pelo Sebrae aos melhores gestores de políticas públicas, envolvendo
pequenos negócios. Na ocasião, os participantes sentiram a
necessidade de se articularem e difundirem ideias inovadoras de
gestão, unindo o setor público à iniciativa privada. Em 2004, houve
o primeiro encontro dos interessados em manter a integração
e estimular a troca de experiência. Desde então, a iniciativa foi
amadurecendo.

• A rede é protagonizada por prefeitos empreendedores que


participaram das seis edições do prêmio. E aqueles que vierem
a participar serão convidados a se tornarem membros da rede. É
um movimento pluripartidário - acrescenta Salomão.- O que nos
une é a visão empreendedora e a necessidade de fortalecer o
apoio às micro e pequenas empresas do país.

Só este ano, 719 prefeitos se inscreveram para concorrer ao selo.


Automaticamente, eles já fazem parte do projeto. Além do Sebrae,
que providenciará um consultor para cuidar da parte administrativa, o
projeto conta com apoio da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), entre
outras entidades. Segundo Salomão, o próximo passo, agora, é fazer
com que a iniciativa seja conhecida em todo o Brasil.

• No dia 13 deste mês, em um encontro em São Paulo, foi aprovado


o documento final. A partir de agora, temos que trabalhar na
divulgação e na adesão de novos prefeitos. A ideia tem sido
muito bem recebida, mas ainda há muito a fazer. Só nas edições
dos prêmios, foram mais de 700 prefeitos. Temos que fazer o
documento chegar até eles - diz Salomão.

Outro passo importante, segundo o prefeito de Cariacica, será


definir o núcleo nacional (que será composto por mínimo de cinco

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Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

e máximo de dez integrantes) e os núcleos regionais. Salomão


acrescenta que, onde houver demanda dos estados, poderão ser
criados núcleos estaduais. Ainda segundo o político, os envolvidos
no projeto pretendem apresentar um documento aos candidatos à
Presidência da República com o posicionamento da rede sobre
empreendedorismo e implementação da Lei Geral da Micro e
Pequena Empresa.

• Ficamos à vontade de apresentar nossas ideias, porque contamos


com membros de todos os partidos políticos. Isso nos dá isenção
para debater o assunto sem o objetivo de beneficiar um ou outro
candidato. Queremos fazer a rede funcionar e envolver as cidades
no projeto para agilizar a implementação da lei nos municípios.

Em breve, a rede terá um site e um banco de dados com


projetos de sucesso. Além disso, a intenção é mobilizar os prefeitos
para que troquem experiência e conheçam as iniciativas implantadas
em outros municípios e países.

Fonte: Disponível em:<http://oglobo.globo.com/economia/boachance/


mat/2010/05/24/prefeitos-criam-rede-para-incentivar-empreendedorismo-
municipal-916671806.asp>. Acesso em: 1 nov. 2011.

Quais são suas considerações sobre o texto apresentado?


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Capítulo 5 O PAPEL DAS POLÍTICAS PÚBLICAS
FRENTE AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

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TERCEIRA SITUAÇÃO

PROJETO PARA A ILHA GRANDE SE


CANDIDATAR A PATRIMÔNIO NATURAL DA
UNESCO PREVÊ CONTROLE DE ACESSO

Publicada em 03/07/2011 às 23h46m

RIO - Já que beleza não falta à Ilha Grande, no litoral Sul


Fluminense, um grupo de 11 defensores do paraíso verde deu início
ao projeto de conquistar para o balneário o mesmo status alcançado
por outros santuários ecológicos, como Fernando de Noronha, Atol
das Rocas e o Parque Nacional do Iguaçu. Para que a Ilha Grande
obtenha o título de Patrimônio Natural Mundial da Unesco - órgão
das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura -, uma das
propostas é limitar o número de visitantes, como ocorre em Fernando
de Noronha.

O grupo de trabalho da candidatura da Ilha Grande será


formalizado, este mês, na Câmara de Vereadores de Angra e terá de
elaborar um dossiê para a Unesco, bom o suficiente para provar que
o local tem natureza exuberante e um ecossistema importante para
todo o planeta, no aspecto científico e de conservação. Juntar todas
as evidências técnicas leva tempo e ninguém se arrisca a dizer que o
dossiê fica pronto este ano.

Só no Aventureiro há lotação máxima

Quem já visitou pelo menos uma das 106 praias da Ilha Grande
- aproximadamente 11 vezes maior em território que a Ilha do
Governador, também no estado do Rio de Janeiro - sabe de cara que
a exuberância do balneário está garantida. O passo ambicioso será
melhorar ainda mais as regras de proteção ambiental. Integrantes do
grupo de trabalho da candidatura acreditam, por exemplo, que o lugar
terá de ganhar finalmente o seu Controle de Capacidade de Carga,

137
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

hoje restrito a uma de suas praias, a do Aventureiro, onde turistas


são controlados com pulseirinhas e a lotação é de 560 visitantes.
[...]

Tratamento de esgoto é um desafio

A favor de Ilha Grande pesa o fato de 90% de seu território


ser protegido por leis ambientais e ter seu arquipélago incluído na
Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, um título da Unesco mais
abrangente, que inclui 35 milhões de hectares de terra em 15 estados
brasileiros. Sete locais no Brasil são Patrimônio Natural, nenhum no
Estado do Rio de Janeiro.

Para provar que é sustentável, a Ilha Grande terá que resolver


o problema da falta de tratamento de esgoto de parte dos habitantes
da Praia do Abraão, considerada o centro da ilha, com cerca de cinco
mil pessoas, número que triplica na alta temporada. Já existe um
projeto orçado em R$ 13 milhões para sanear a praia.

• - A Ilha Grande tem um setor turístico consagrado, e a candidatura


será um bom pretexto para se aprovar um plano diretor de
desenvolvimento sustentável para a ilha. O local é paradisíaco,
mas está cheia de interferências perigosas, como a indústria do
petróleo - resume a deputada estadual Aspásia Camargo (PV),
integrante do grupo de trabalho.

A Baía de Ilha Grande, que margeia os municípios de Angra dos


Reis e Paraty, tem no seu litoral duas usinas nucleares, estaleiros
e grande tráfego de navios petroleiros para o terminal aquaviário
da estatal Transpetro. De olho no pré-sal, está em andamento a
construção do terceiro berço do seu porto, feito com expectativa de
escoar parte da produção da nova camada submarina.

• A proximidade dos navios petroleiros é um ponto a favor, pois


mostra que o zelo pela Ilha Grande e a sua proteção têm que ser
obrigatoriamente redobrados - acredita o presidente da Câmara
de Vereadores de Angra dos Reis.

Fonte: Disponível em:< http://oglobo.globo.com/participe/


mat/2011/07/03/>. Acesso em: 1 nov. 2011.
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Capítulo 5 O PAPEL DAS POLÍTICAS PÚBLICAS
FRENTE AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

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QUARTA SITUAÇÃO

OPINIÃO

UM CÓDIGO SUSTENTÁVEL

Publicada em 07/07/2011 às 19h34m


ISRAEL KLABIN - Presidente da Fundação
Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável

As atuais discussões no âmbito do Congresso Nacional para


a aprovação do novo Código Florestal não devem ser pautadas por
disputas partidárias ou demonstrações de força de um ou outro elo
da cadeia política, nem privilegiar a agenda de agentes econômicos.
Ao contrário, o debate deve fazer prevalecer uma visão de futuro em
relação ao tema da sustentabilidade. Afinal, o formato final do novo
Código Florestal é assunto sério demais para ser alvo de quedas de
braço que pouco têm a ver com o verdadeiro interesse nacional.

Não faltam razões para que o quadro atual seja visto com
preocupação. Um exemplo é o estudo patrocinado pelo Banco
Mundial e divulgado pela revista “BioScience” este ano. O

139
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

trabalho demonstra que se 20% da Amazônia forem atingidos pelo


desmatamento a região passará por um processo de desertificação
(o efeito Amazon Dieback), especialmente grave no sul e no leste
da floresta. Nesse contexto, a anistia para crimes de desmatamento
proposta pela votação do Código Florestal na Câmara dos Deputados
pode ser considerada verdadeira roleta-russa para toda a região,
considerada de fundamental importância para o equilíbrio climático
do planeta.

Por isso, é bastante alentador ver a presidente Dilma Rousseff


sinalizar sua intenção de vetar a chocante proposta de anistia ao
desmatamento, que uma vez aprovada funcionaria como senha para
o avanço do desmatamento, depois de tantos esforços de diferentes
setores da sociedade para frear esse processo nocivo nos últimos
anos. A preocupação não poderia ser maior quando se sabe que a
região precisa mesmo é de uma movimentação em direção oposta,
ou seja, um reflorestamento agressivo capaz de aumentar a margem
de segurança e conter o índice de cerca de 18% de área desmatada
já atingida (muito perto, portanto, daqueles 20% considerados
fronteira de um estado de desertificação).

Também é essencial regulamentar o controle da exploração da


floresta a partir da esfera federal. Permitir aos estados e municípios
determinar os limites aceitáveis de desmatamento em seus
territórios é uma receita para o desastre. Como a cada dois anos
realizam-se eleições para prefeitos ou governadores no país, tal
liberdade de decisão em níveis locais significaria abrir espaço para
toda sorte de influências resultantes de variáveis políticas capazes
de afetar a floresta amazônica. Esta deve ser manejada como um
sistema integrado, e por isso tratamentos diferenciados exercitados
por estados e municípios de acordo com suas conveniências
transformariam rapidamente a região em um mosaico incontrolável
e imprevisível.

O governo federal não pode permitir o desmatamento


pensando que ampliará e democratizará o acesso à terra, com
isso gerando um suposto aumento da produtividade do setor
agropecuário. Isso porque o sucesso dessa atividade econômica
depende da estabilidade do ecossistema no qual ela está inserida.
A tese de que a Lei Florestal é injusta para pequenos agricultores
ignora todas as ações do Incra e da União com relação à política de
reforma agrária, que por sinal não permite que assentamentos se
instalem em florestas primárias.

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Capítulo 5 O PAPEL DAS POLÍTICAS PÚBLICAS
FRENTE AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), fundação


pública federal vinculada à Secretaria de Assuntos Estratégicos da
Presidência da República, acaba de divulgar estudo que merece
atenção. Ele revela que, caso a proposta aprovada pela Câmara
dos Deputados seja implementada, implicará em emissões
adicionais de uma quantidade entre 18 bilhões e 25 bilhões de
toneladas de gases de efeito estufa na atmosfera. Esse retrocesso
multiplicaria em muitas vezes as emissões atuais do Brasil e nos
levaria a romper os compromissos de limites voluntários de emissão
aprovados pelo governo.

A presidente Dilma Rousseff será certamente reverenciada em


nível internacional se atuar nessa arena de múltiplos interesses de
forma a manter a reputação já conquistada pelo país: a de ter um
dos melhores sistemas de proteção florestal do planeta. Não há por
que não esperar do Senado brasileiro seriedade e compromisso em
relação ao tema, o que significa alterar substancialmente a versão
do Código Florestal aprovada pela Câmara dos Deputados. Ao
mesmo tempo, não há por que duvidar do papel decisivo que terá
na moldagem de uma nova proposta o senador Jorge Viana, homem
cujas raízes repousam na Região Amazônica e cuja serenidade
certamente contribuirá para produzir um Código Florestal à altura do
Brasil e da relevância alcançada pelo país no cenário global.

Fonte: Disponível em:<http://oglobo.globo.com/opiniao/


mat/2011/07/07/>. Acesso em: 1 nov. 2011.
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QUINTA SITUAÇÃO

GOVERNO VAI INVESTIR EM PESQUISAS


VOLTADAS À ECONOMIA VERDE

Enviado por Agostinho Vieira - 28.07.2011, 21h21m

O Ministério da Ciência e Tecnologia vai divulgar nas próximas


semanas um plano de investimentos em pesquisas voltado à
economia verde, disse ontem o coordenador-geral de Mudanças
Climáticas da pasta, Marcos Heil Costa. Ele participou de seminário
promovido pelo Centro China-Brasil de Mudança Climática e
Tecnologias Inovadoras para Energia, na Cidade Universitária, no
Rio de Janeiro.

Costa disse que o assunto está sendo tratado no planejamento


do ministério. “O Ministério da Ciência e Tecnologia pretende investir
em áreas como energias renováveis, economia do conhecimento
e até mesmo na economia do extrativismo de forma sustentável,
sempre promovendo o desenvolvimento sustentável.”

Os investimentos serão feitos por meio de editais do Conselho


Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e
também por mecanismos da Financiadora de Estudos e Projetos
(Finep), do próprio MC&T. De acordo com ele, tentar diminuir o
impacto das mudanças climáticas e prever com mais rapidez esses
eventos são dois desafios que o mundo terá de enfrentar nos
próximos anos.

Para ele, o Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres


Naturais (Cemaden) é a primeira grande resposta do governo
brasileiro às mudanças climáticas. “Desastres naturais têm ocorrido

142
Capítulo 5 O PAPEL DAS POLÍTICAS PÚBLICAS
FRENTE AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

no Brasil, aparentemente cada vez mais intensos, com maior perda


de vidas e de bens materiais, e o governo então criou esse centro
para responder a essa ameaça.”

O centro entrará em funcionamento em 25 municípios


brasileiros, em novembro próximo, e deverá estar operando 100%
em quatro anos, atendendo mil cidades que apresentem maior risco
de desastres naturais. Costa disse que, a princípio, o centro pretende
monitorar três tipos de desastres naturais: deslizamentos de terra,
enchentes e perdas de safra agrícola devido à seca, principalmente
no Nordeste.

Os tempos de resposta, assinalou ele, variam de acordo


com o tipo de desastre natural. “No caso dos deslizamentos, o
tempo de resposta estimado é entre duas e seis horas; no caso
de enchentes, entre 12 e 24 horas; e no caso de secas, são 30
dias. Em todos os casos, acredita-se que seja tempo suficiente
para que a Defesa Civil possa se organizar e atenuar os efeitos
do desastre natural seja removendo as pessoas de áreas afetadas
ou distribuindo alimentos, no caso de quebra de safra.” (Fonte/
Agência Brasil)

Fonte: Disponível em:< http://oglobo.globo.com/blogs/


ecoverde/posts/2011/07/28/>. Acesso em: 1 nov. 2011.

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Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

alGumaS conSiDeraçõeS
Nossos objetivos neste capítulo estão direcionados para a compreensão de
como se dão os processos de negociação política, necessários à formulação de
políticas públicas, entre os diferentes atores frente a igual número de interesses
econômicos, sociais, culturais, étnicos/raciais e ambientais, além da necessária
complementação de análise dos possíveis impactos de uma política pública
municipal sob os aspectos econômicos, sociais e ambientais.

Significa dizer que ao pensarmos políticas públicas, municipais ou de outras


esferas de poder, direcionadas sob o ponto de vista do desenvolvimento sustentável,
estamos dizendo que o desenvolvimento significa também: liberdade política,
econômica e social; oportunidades de criação, de produção e de comercialização;
desfrutar de autorrespeito pessoal; e, direitos humanos garantidos.

Nesse sentido, estamos dizendo, também, que as políticas que,


estrategicamente, se direcionam para o desenvolvimento sustentável,
pressupõem que homens e mulheres deverão ter: uma vida longa e saudável;
possibilidades de adquirirem conhecimentos que os incluam nos circuitos globais;
além das possibilidades de acessarem aos recursos necessários para viverem
com dignidade.

Ou seja, o mundo globalizado tem presenciado, nas últimas quatro


décadas, avanços consideráveis com relação ao desenvolvimento sustentável ao
mesmo tempo em que subsistem neste mesmo planeta situações de injustiças,
desigualdades e privações humanas com milhares, milhões de pessoas ainda
morrendo de fome.

O progresso humano é possível, a cooperação para o desenvolvimento


dá bons resultados e o que se precisa fazer é concentrar esforços em metas
essenciais e claras de superação da pobreza. A escassez de recursos se
apresenta como uma desculpa, mas a crise internacional em que o mundo vive
há mais de meia década demonstra que o que falta é a definição de prioridades.

Fica claro que os objetivos fundamentais relativos ao desenvolvimento


sustentável para as próximas décadas requerem a celebração de pactos mundiais.

E, no sentido de novos pactos mundiais que implicam a revisão dos


atuais, surgem os movimentos internacionais, que ganham análises na mídia e
manifestações entre os estudiosos do momento em que vivemos.

Considerando o período turbulento que o sistema capitalista vem vivenciando


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Capítulo 5 O PAPEL DAS POLÍTICAS PÚBLICAS
FRENTE AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

nos últimos 5 anos ou 8 anos, conforme a leitura do analista, assim como as


manifestações populares que ocorrem neste ano de 2011 e levam manifestantes
a ocuparem Wall Street, no coração de Nova York, levam a considerações
como a do filósofo e escritor Slavoj Zizek de que o sistema capitalista está se
autodestruindo ao mesmo tempo em que afirma que o casamento entre a
democracia e o capitalismo acabou (ZIZEK, 2011).

Naomi Klein, uma das principais intelectuais de esquerda do mundo, chama


atenção para o slogan que começou nas manifestações italianas em 2008,
“ricocheteou” para a Grécia, França, Irlanda e finalmente chegou a Wall Street,
esta milha quadrada onde a crise começou.

Se há uma coisa que sei, é que o 1% adora uma crise. Quando


as pessoas estão desesperadas e em pânico, e ninguém
parece saber o que fazer: eis aí o momento ideal para nos
empurrar goela abaixo a lista de políticas pró-corporações:
privatizar a educação e a seguridade social, cortar os serviços
públicos, livrar-se dos últimos controles sobre o poder
corporativo. Com a crise econômica, isso está acontecendo
no mundo todo. Só existe uma coisa que pode bloquear essa
tática e, felizmente, é algo bastante grande: os 99%. Esses
99% estão tomando as ruas, de Madison a Madri, para dizer:
“Não. Nós não vamos pagar pela sua crise”. (KLEIN, 2011).

No Brasil, nesse sentido, Rosiska Darcy de Oliveira chama atenção para


o mundo que os “indignados” estão semeando no nível planetário e que exige
respostas também planetárias. Segundo ela, “a indignação é uma resposta à
procura de sua pergunta.” Para a escritora, 2011 é um ano que ficará carregado
de simbolismo como foram 1968 e 1989. O primeiro pelos jovens nas ruas pedindo
“uns, imaginação no poder, outros, o povo no poder”. O segundo, 1989, quando a
queda do muro de Berlim levou “de roldão o carcomido socialismo real”. Em 2011,
“os protestos planetários dão o depoimento da agonia de um sistema político que,
contaminado pelo sistema econômico, perdeu legitimidade” Como transmitem
os diversos cartazes nas diferentes praças do mundo: “Não nos representam”.
(OLIVEIRA, 2011, p. 6).

A importância de refletirmos, ao final dessa disciplina, sobre as drásticas


mudanças em andamento no mundo globalizado demonstra a necessidade de
permanentemente estarmos conectados com esse mesmo mundo.

Mais uma vez fica evidenciada a relação entre os lugares escuros e os


lugares iluminados pelas novas tecnologias. Tecnologias essas que permitiram
que, ao tecerem a rede numa iniciativa cidadã, fossem reunidas, de forma
coordenada, tantas manifestações em tantas cidades distintas entre si, o
movimento dos “indignados”, iniciado na Espanha, que defendem a democracia
145
Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

e protestam contra as crises financeira e de representatividade se tornasse um


movimento internacional.

reFerÊnciaS
ASCOM/MDS. Aprovado no Senado, projeto de lei do Suas vai para sanção da
presidenta Dilma. Disponível em: <http://www.cbciss.org/manager/Aprovado%20
no%20Senado.pdf>. Acesso em: 28 set. 2011.

DICIONÁRIO AURÉLIO on-line. Disponíovel em: <www.uol.com.br>. Acesso em:


13 set. 2011.

FONTES, Ângela; NEVES, Maria da Graça. Gestão municipal e perspectiva de


gênero. Revista de Administração Municipal - RAM, v. 40, n. 206, Rio de Janeiro,
1993, p. 52-63.

GARCIA, Ivete. Gênero e Pólíticas públicas municipais. In: BORBA, Ângela;


FARIA, Nalu; GODINHO, Tatau (Orgs.). Mulher e política: gênero e feminismo
no Partido dos Trabalhadores. São Paulo: Perseu Abramo, 1998.

IBAM – Instituto Brasileiro de Administração Municipal. Marcos Flávio R.


Gonçalves (Coordenação Técnica). Manual do Prefeito, 13. ed. Revista, aum. e
atual. Rio de Janeiro: IBAM, 2009.

IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Políticas Sociais:


acompanhamento e análise. Vinte Anos da Constituição Federal. Brasília: IPEA,
2008.

KLEIN, Naomi. A coisa mais importante do mundo. Disponível em: <http://www.


revistaforum.com.br/conteudo/detalhe_noticia.php?codNoticia=9518%2Fa-coisa-
mais-importante-do-mundo>. Acesso em: 13 set. 2011.

LAVINAS, Lenas. Bolsa Família: avanços e limites. Entrevista especial.


Disponível em: <http://www.ie.ufrj.br/clipping/download/29%2009.pdf>. Acesso
em: 13 set. 2011.

OLIVEIRA. Rosiska Darcy de. O ano que está apenas começando. O Globo, Rio
de Janeiro, 16 out 2011, p.6.

SECCHI, Leonardo. Políticas Públicas: conceitos, esquemas de análise,


casos práticos. São Paulo: Cengage Learning, 2010.

146
Capítulo 5 O PAPEL DAS POLÍTICAS PÚBLICAS
FRENTE AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

VEJA. Fórum Econômico Mundial. É o momento ideal para a Mulher de Davos.


27 set. 2011. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/noticia/economia/e-o-
momento-ideal-para-a-mulher-de-davos>. Acesso em: 13 set. 2011.

ZIZEK, Slavoj. O casamento entre democracia e capitalismo acabou. Disponível


em: <http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_
id=18669>. Acesso em: 13 set. 2011.

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