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Desenvolvimento
Urbano Sustentável
CURSO DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA
MÓDULO 7
Monitorar, Avaliar, Criticar e Aprender com o desenvolvimento
urbano sustentável
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva
GIZ NO BRASIL
Diretor Geral
Michael Rosenauer
Departamento de Estruturação do
Desenvolvimento Urbano e Metropolitano
Equipe participante
Ana Luísa Oliveira da Silva
Marcella Menezes Vaz Teixeira
Thomaz Machado Teixeira Ramalho
Verena Laura Mattern
Viktoria Yasmin Carvalho de Matos
ORGANIZAÇÃO E ELABORAÇÃO TREINAMENTO EM COMUNICAÇÃO E
GRAVAÇÃO DE VÍDEOS
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Natalia Aurélio de Sá
Vice-reitora
Maria Arminda do Nascimento Arruda
Assistente de Dados
PROJETO GRÁFICO Júlio Santos
Lara Isa Costa Ferreira
Mariana Ribeiro Pardo Assistente de Comunicação
Ana Luiza Aun Al Makul Jessamine Santos
Mariana Byczkowski Iglecias
Designer Gráfico Júnior
Sávio Araújo
PROJETO AUDIOVISUAL
Streamax Produtora Produtor Audiovisual
Márcio Coelho Demétrio Portugal
Camila Mazzini
Ele é uma parceria entre o Ministério das Cidades e o Ministério Federal da Economia e
Ação Climática (BMWK) da Alemanha como parte da Iniciativa Internacional para o Clima
(IKI). É implementado pela Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ)
GmbH no contexto da Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável.
ATENÇÃO!
Esse logotipo será apresentado na
apostila quando o conteúdo didático
remeter a processos e produtos
ANDUS.
Sobre o curso
A partir do projeto de cooperação técnica intitulado “Apoio à Agenda Nacional de
Desenvolvimento Urbano Sustentável no Brasil – ANDUS”, o objetivo desse curso é apoiar
as pessoas atuantes na administração pública em nível federal, estadual e municipal na
implementação de estratégias de desenvolvimento e gestão urbana sustentável, com
capacitação e difusão do conhecimento técnico e especializado. Também, pretende-
se ampliar o acesso ao tema e a processos de promoção do desenvolvimento urbano
sustentável a pesquisadoras e pesquisadores e pessoas interessadas na temática, de
modo geral.
Decorre daí o diálogo com a universidade pública, para a preparação de material didático
e informativo. As apostilas e as videoaulas foram produzidas por um conjunto de pessoas
com experiência na gestão pública e na universidade, fazendo pesquisa e aprendendo
nesse diálogo entre ensino, pesquisa e prática.
Destaca-se, ainda, que o curso é produzido por meio da articulação remota dessa rede
nacional de pesquisadoras, pesquisadores e profissionais. Ele é produto do trabalho
coletivo de uma equipe de vários profissionais, que contou com a coordenação do
Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos - LABHAB da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e com a participação de mais de
25 convidadas e convidados docentes, profissionais, acadêmicos de todo o país ao longo
do curso.
Por fim, convidamos para que desfrutem do seu conteúdo e usufruam de suas
ferramentas, explorando seu potencial enquanto catalisador de novas comunidades e
redes profissionais e de pesquisa.
ATENÇÃO!
Sempre que aparecer o ícone ao
lado você poderá clicar e acessar o
conteúdo indicado de forma direta.
13
APRESENTAÇÃO
14
INTRODUÇÃO
16
CAPÍTULO 1. O PLANEJAMENTO TERRITORIAL
PARA O DESENVOLVIMENTO URBANO
SUSTENTÁVEL
45
CAPÍTULO 2. PLANO DIRETOR E INSTRUMENTOS
DE PLANEJAMENTO TERRITORIAL SUSTENTÁVEL
63
CONSIDERAÇÕES FINAIS
64
REFERÊNCIAS
Sobre o
autor
Jacy Soares
Corrêa Neto
GLOSSÁRIO
Supramunicipal: relações sociais e espaciais com outros municípios que vão além dos
limites do município.
APRESENTAÇÃO
APRESENTAÇÃO
MÓDULO 4
Apresentação do
Módulo 4 - Planejamento:
A dimensão territorial para
o desenvolvimento urbano
sustentável
14
Planejamento: A dimensão territorial para o desenvolvimento urbano sustentável
INTRODUÇÃO
A urbanização no século XXI ocorreu de maneira crescente em todo o planeta. Ela tem
trazido diversos desafios aos países em desenvolvimento, entre eles o Brasil. Percebe-se
também o aumento das desigualdades sociais, econômicas e ambientais que se esten-
dem pelos municípios brasileiros.
Uma solução possível para essa problemática global que está de acordo com o que vimos
no Módulo 1 é a discussão internacional de agendas territoriais e urbanas (Conferências
Habitat, Agenda 2030, com destaque especial ao Objetivo de Desenvolvimento
Sustentável 11, e Nova Agenda Urbana). Ela tem sido feita nacionalmente também, de
acordo com os marcos legais brasileiros (Política Urbana da Constituição Federal da
República, Estatuto da Cidade e Política Nacional de Desenvolvimento Urbano).
O planejamento de políticas públicas pode ser pensado do ponto de vista social, econô-
mico ou ambiental, por exemplo. Destacamos neste módulo o ponto de vista territorial
do planejamento, conhecido como Planejamento Territorial. O seu objetivo é realizar
processos de mudança através de melhorias no território.
Entende-se o território inicialmente como “[...] um espaço definido por relações de po-
der” (SOUZA, 2015, p. 78). Ou seja, ao delimitar um espaço geográfico, grupos sociais se
reconhecem e são reconhecidos por sua influência e domínio daquele espaço chamado
território.
O território é formado por grupos sociais diversos, formados por diferentes pessoas.
Por esse motivo, existirão interesses distintos de ocupação. Consequentemente, isso po-
derá gerar conflitos e disputas por causa das diferenças de interesses e pontos de vista
(HAESBAERT, 2014).
AULA MAGNA
MÓDULO 4
APROFUNDE-SE
Caso tenha interesse em
se aprofundar mais no
assunto, acesse o Guia
para Elaboração e Revisão
de Planos Diretores.
BRASIL; AGÊNCIA GIZ
NO BRASIL; INSTITUTO Aula Magna do
PÓLIS. Guia para Módulo 4 - Planejamento:
elaboração e revisão de A dimensão territorial para
planos diretores. 2022. o desenvolvimento urbano
sustentável
VOCÊ SABIA ?
Nas regiões Norte e Centro-Oeste
nicípios brasileiros. Eles possuem diferen-
tes tamanhos de população e de território,
distribuição regional e hierarquia urbana.
estão cerca de 16,5% dos municípios
brasileiros (917 municípios). As Cada município corresponde a um territó-
regiões Nordeste (32,2%, com 1.794 rio com usos do solo específicos. Eles são
municípios), Sudeste (29,9%, 1.668) e
Sul (21,4%, 1.191) somam 83,5% dos
determinados pelas administrações mu-
municípios brasileiros (BRASIL, 2021). nicipais, autoridades com autonomia para
O território brasileiro é composto pelos ordenar seu território e executar políticas
biomas Amazônia (49,5%), Cerrado
(23,3%), Mata Atlântica (13%), Caatinga
de desenvolvimento urbano (BRASIL; GIZ,
(10,1%), Pampa (2,3%) e Pantanal 2021). Considerando que os municípios
(1,8%) (IBGE, 2019). também possuem realidades e desafios
urbanos diferentes, cada caso deve ser
entendido a partir da leitura do território.
Isso ajuda a se desenvolver ações de pla-
nejamento territorial.
As diferenças também são ambientais. Elas são resultado das dinâmicas biofísicas do ter-
ritório, como a inserção de municípios no contexto de biomas continentais brasileiros, de
ecossistemas locais, de bacias hidrográficas e das mudanças climáticas. O Brasil possui
seis grandes biomas: Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pampa e Pantanal.
Biomas são grandes agrupamentos de ecossistemas semelhantes onde estão localizados
os municípios.
Figuras 03a, 03 b: À esquerda: Afuá (PA), cidade estruturada em palafitas de madeira no bioma Amazônia.
À direita: Festival Folclórico de Parintins (AM).
Fonte: Jacy S. Corrêa Neto (2022), Secretaria de Comunicação de Parintins (2022).
As cidades-gêmeas são municípios cortados pela linha de fronteira (seca ou fluvial) com
uma população maior que dois mil habitantes. Estão inseridas nos contextos de integra-
ção econômica, social e cultural com localidade de país vizinho, podendo apresentar ou
não conurbação (BRASIL, 2021). De norte a sul temos cidades-gêmeas, por exemplo:
Oiapoque (AP) e Saint-Georges, na Guiana Francesa; Santa do Livramento (RS) e Rivera,
no Uruguai.
TIPOS DE
TERRITÓRIO CARACTERÍSTICAS
Os meios para se identificar esses territórios podem ser a leitura do território (destaca-
da no subcapítulo 1.3) e os estudos adicionais, como a Tipologia municipal rural-urbana
(IBGE,2017). Este estudo pode ajudar a identificar os territórios numa visão global dos
municípios, sendo possível dividi-los em cinco classes: rural remoto, rural adjacente, in-
termediário remoto, intermediário adjacente e urbano.
24
Planejamento: A dimensão territorial para o desenvolvimento urbano sustentável
Essa leitura inicial da configuração municipal serve para objetivos diferentes de plane-
jamento territorial. Contribuem também no diagnóstico para se criar planos diretores,
de zoneamentos e setoriais. Assim, é possível alinhar estratégias e instrumentos de pla-
nejamento territoriais adequados e compatíveis com as características dos diferentes
territórios do município.
Figuras 06a, 06b: À esquerda: dinâmica socioambiental de área periurbana enquanto extensão
do tecido urbano sem infraestrutura básica na cidade de Afuá (PA). À direita: moradias
flutuantes no rio Solimões em área rural do município de Manaus (AM).
Fonte: Acervo do autor (2017), Id. (2011).
25
Planejamento: A dimensão territorial para o desenvolvimento urbano sustentável
Por fim, os termos apresentados servem para se realizar a leitura do território. Após a
leitura, por exemplo, nas consolidações de propostas, os termos devem ser ajustados às
definições das leis locais do município: leis de macrozoneamento e de perímetro urbano,
leis de parcelamento, uso e ocupação do solo, entre outras.
A escala municipal se refere ao que ocorre dentro dos limites do município, sendo re-
flexo de características de suas dinâmicas internas específicas (IPEA, 2020a). A escala
supramunicipal se relaciona às dinâmicas sociais e espaciais compartilhadas com outros
municípios e que vão além dos limites do município (IPEA, 2020b). A seguir apresenta-
mos pontos que ajudam a identificar de antemão as escalas do município.
• Porte populacional:
• Extensão territorial:
Figuras 07a, 07b: Exemplo de variação da extensão territorial dos municípios brasileiros:
Altamira (PA) e Santa Cruz de Minas (MG). As diferenças significativas no tamanho dos municípios
é um dos parâmetros da diversidade brasileira. Além disso, observa-se em diferentes regiões
administrativas a diferença da relação extensão territorial do município x área urbana. Nesse
caso, há predomínio de territórios rurais e naturais no município de Altamira. Isso pode estar
relacionado a sua inclusão no contexto de municípios da região Norte e do bioma Amazônia.
Fonte: Google Earth (2022).
A hierarquia urbana é a influência que as cidades têm sobre e recebem das outras de
acordo com as suas dinâmicas urbanas. Há cidades que oferecem serviços cotidianos ou
especializados, por exemplo: administrativos, comerciais, educacionais e de mobilidade.
E há cidades que são atraídas por esses serviços. Quando uma cidade oferece serviços
cotidianos ou especializados, ela tem influência sobre outros centros urbanos, criando
uma região de influência urbana (IBGE, 2020).
arranjos populacionais.
No Brasil existem 4.899 cidades, das quais 94,5% (4.632) se situam em um único mu-
nicípio, abrigando cerca de 44% da população brasileira. Por outro lado, 5,5% (267) das
cidades formam arranjos populacionais de dois ou mais municípios, com aproximada-
mente 56% da população do Brasil (IBGE, 2020). A interpretação dos arranjos popula-
cionais e dos “municípios isolados” pode ajudar a entender as relações urbanas entre
centros urbanos. Contudo, a responsabilidade administrativa de cada cidade se vincula
a seu município (IBGE, 2020).
2
PARA MAIS
tais regionais do país. Por outro lado, a maior parte
INFORMAÇÕES
dos centros locais se localizam na região Nordeste SOBRE O TEMA
(35,6%). A Figura 08 mostra como essas redes se VER TAMBÉM O
distribuem no território brasileiro, influenciando a MÓDULO 2.
dinâmica de cidades e municípios.
Figura 08: Rede Urbana Brasileira de 2018. Destaca-se no mapa a hierarquia entre os centros urbanos
(polígonos e quadrados) e suas regiões de influência (linhas de conexão ou grafos). A hierarquia dos centros
urbanos é demonstrada pelo tamanho de suas formas geométricas, enquanto a extensão dos traços mostra
sua influência sobre outros centros urbanos.
Fonte: IBGE (2020, p. 12).
29
Planejamento: A dimensão territorial para o desenvolvimento urbano sustentável
As FPICs são criadas quando a parceria entre municípios vizinhos com relações socioe-
conômicas é necessária para resolver suas problemáticas. Elas também podem estar re-
lacionadas a impactos socioambientais da habitação, infraestrutura urbana, mobilidade,
saneamento e meio ambiente.
No Brasil, as regiões metropolitanas (RMs)
permitem a integração dos municípios envol-
vidos para planejar e gerir as Funções Públicas
2
de Interesse Comum (planejamento de uso do PARA MAIS
solo, transportes e sistema viário regional, ha- INFORMAÇÕES
SOBRE O TEMA
bitação, saneamento básico, meio ambiente,
VER TAMBÉM O
entre outros). Começaram a ser formadas pelo MÓDULO 2.
Governo Federal em 1970 e a Constituição
Federal de 1988 repassou aos estados a fun-
ção de criar as regiões metropolitanas.
As ações de planejamento podem ser mais complexas nas RIDEs, pois envolvem articu-
lação entre a União, estados e municípios. As ações de planejamento das RIDEs promo-
vem projetos para dinamizar a economia e a infraestrutura regional, com estruturas de
funcionamento específicas vinculadas à atuação direta da União (CAVALCANTE, 2020).
Aula 2 - Leitura do
território: Diagnóstico
para planejamento do
1.3.1 Problemáticas municipais e desenvolvimento urbano
supramunicipais sustentável
Figura 10: Inserção regional do Município de Barreiras (BA), destacado no polígono preto.
À esquerda: seu vínculo territorial com a bacia hidrográfica de Rio Grande (BA).
À direita: sua inserção regional no contexto de mesorregiões do estado da Bahia.
Fonte: Guia para Elaboração e Revisão de Planos Diretores (2022, p. 60-61).
?
da ocupação do território urbano
Fonte: Adaptado do Guia para Elaboração e
Revisão de Planos Diretores (2022, p. 64).
VOCÊ SABIA
O Projeto MapBiomas disponibiliza
gratuitamente séries históricas anuais de
mapas da cobertura e uso do solo (ocupação) do
Brasil. É útil para compreender a evolução das áreas
urbanas de 1985 a 2020. Você pode acessá-lo em:
https://plataforma.brasil.mapbiomas.org/
Figuras 11a, 11b: Evolução do território urbano do Município de Açailândia (MA). Nas figuras se observa o crescimento
da mancha urbana ao longo do tempo, assim como mudanças no padrão de áreas vegetadas. Essas áreas tinham uma
configuração dispersa e se tornaram concentradas, ocorrendo também o aumento da superfície hidrográfica.
Fonte: MapBiomas (2022), Elaboração do autor (2022).
35
Planejamento: A dimensão territorial para o desenvolvimento urbano sustentável
Comparações ao longo do tempo são usadas para entender a evolução e dinâmica po-
pulacional. Além disso, é importante observar o perfil populacional em termos de ren-
da, gênero, etnia/raça, faixa etária, pessoas com deficiência e comunidades tradicionais.
Também é importante investigar a existência de processos de segregação ou exclusão
territorial.
É importante para caracterizar o uso do solo comparar os usos planejados em leis de ocu-
pação do solo ou zoneamentos (caso existam no município) com os usos atuais do ter-
ritório (uso real). Pode não haver compatibilidade entre o que foi planejado para aquele
território e o seu uso real. É dever do planejamento e da gestão municipal pensar sobre
essa questão com a sociedade a partir da leitura e da proposição de ações adequadas.
Questões que envolvem a estrutura fundiária e o mercado imobiliário podem ser as-
sociadas à caracterização indicada acima. A estrutura fundiária é o modo como ocorre
a distribuição de terras em áreas rurais e urbanas dentro do município num dado mo-
mento histórico (COUTINHO; RODRIGUES, 2015). O mercado imobiliário pode ser
classificado como formal ou informal. No primeiro caso, as relações de mercado são ins-
titucionalizadas e legais do ponto de vista jurídico e urbanístico. Quando é informal, não
obedecem a lógicas institucionais por lei (KREMER, 2008) e constituem crime de acordo
com a Lei Federal nº 6766/79.
38
Planejamento: A dimensão territorial para o desenvolvimento urbano sustentável
PRINCIPAIS ATORES
DO MERCADO IMOBILIÁRIO NO BRASIL
Destaque especial deve ser dado ao déficit habitacional quando se trata de condições
de moradia. Ele pode ser entendido de forma qualitativa e quantitativa. O déficit habita-
cional quantitativo se refere às moradias que devem ser construídas para acompanhar
o crescimento da população. Já o déficit qualitativo diz respeito à qualidade de acesso a
melhorias de moradia, infraestrutura urbana e condições ambientais e fundiárias. Essas
melhorias proporcionam saúde e bem-estar e é o que se entende por “habitabilidade”
(BRASIL, 2021, p. 94).
VOCÊ SABIA ?
Para a Política Nacional de
Habitação, os assentamentos precários
são “[...] conjuntos urbanos inadequados
ocupados por moradores de baixa renda, incluindo
as tipologias tradicionalmente utilizadas pelas
políticas públicas de habitação, tais como cortiços,
loteamentos irregulares de periferia, favelas
e assemelhados, bem como os conjuntos
habitacionais que se acham degradados”
(BRASIL, 2010, p. 9).
APROFUNDE-SE
Caso queira se aprofundar mais no assunto, acesse
a dissertação da Dra. Ana Gabriela Akaishi.
AKAISHI, A. G. Planejamento e Gestão
habitacional em pequenos municípios brasileiros:
O caso de Água Fria no semiárido baiano. 2013.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do
ABC, Santo André, 2013.
Disponível em: http://lepur.com.br/
wp-content/uploads/2017/12/08-
Disserta%C3%A7%C3%A3o-Ana-Gabriela-
Akaishi.pdf
Figuras 14a, 14b: À esquerda: ecossistemas locais popularmente chamados de Ressacas em Macapá (AP), em
estado de conservação ambiental. À direita: assentamento urbano em palafitas em área de Ressaca de Macapá.
Essas ocupações podem contribuir para a degradação ambiental dessas áreas, especialmente pela ausência de
saneamento ambiental adequado.
Fonte: Acervo do autor (2022), Id. (2014).
44
Planejamento: A dimensão territorial para o desenvolvimento urbano sustentável
VOCÊ SABIA
Os serviços ecossistêmicos são “[...] bens e serviços
?
fornecidos pelo meio ambiente que beneficiam e mantêm o
bem-estar das pessoas. Estes serviços vêm de ecossistemas naturais
(por exemplo, as florestas tropicais) e modificados (por exemplo, paisagens
agrícolas). Embora não haja um único método acordado para categorizar todos
os serviços ecossistêmicos, destaca-se que eles podem variar por exemplo entre
serviços ecossistêmicos de provisão (alimentos, plantas medicinais, madeira
etc.), serviços ecossistêmicos de regulação do ambiente (por exemplo, regulação
do clima, controle da erosão, controle biológico de pragas), e serviços
ecossistêmicos culturais (como patrimônio cultural, beleza cênica e de
conservação da paisagem, identidade espiritual e religiosa)” (GUIA
DE ELABORAÇÃO E REVISÃO DE PLANOS DIRETORES,
2022, p. 444).
ATIVIDADE
PROGRAMADA
Após discutirmos sobre a diversidade de municípios
e territórios municipais, você, participante, consegue
identificar qual(is) a(s) escala(s) e contexto(s) em que seu
município está inserido? Quais os principais aspectos
municipais e supramunicipais de seu município?
2
PARA MAIS
as coletas) necessárias para a definição de INFORMAÇÕES
políticas de dados. Esse tema foi discutido SOBRE O TEMA
no “Módulo 2 – Governança: a dimensão VER TAMBÉM O
política do desenvolvimento urbano sus- MÓDULO 2.
tentável”. Esses aspectos são fundamen-
tais para se desenvolver diagnósticos e
planejamentos adequados aos municípios
A execução do Plano Diretor deve considerar todo o território municipal. Sua revisão
obrigatória deve acontecer em até dez anos. A sua criação e execução devem contar com
a participação de diversos segmentos de grupos sociais, com transparência e acessibili-
dade às informações por quaisquer pessoas interessadas (Quadro 12).
8
PARA MAIS
uma forma de integrar os instrumentos. INFORMAÇÕES
O PROSAMIM foi uma iniciativa criada SOBRE O TEMA
pelo Governo do Estado do Amazonas VER TAMBÉM O
em parceria com o Banco Interamericano MÓDULO 8.
de Desenvolvimento (BID). O programa
atuou de 2003 a 2021 na urbanização
de assentamentos precários de Manaus,
em parceria com órgãos municipais, esta-
duais e federais.
52
Planejamento: A dimensão territorial para o desenvolvimento urbano sustentável
Figura 16: Plano Diretor e Áreas de Especial Interesse Social em áreas centrais de Manaus (AM), destacadas no
polígono em vermelho.
Fonte: Adaptado do Plano Diretor Urbano e Ambiental do Município de Manaus (2019).
Todo esse processo acontece por meio de perguntas abertas que convidam à reflexão
sobre qual poderia ser o melhor caminho para cada município. Quando essas leituras e
estratégias forem cruzadas, é possível se aprofundar nos caminhos sugeridos para cada
contexto. Outras referências locais, nacionais e até mesmo internacionais poderão ser
usadas para definir diretrizes urbanísticas adequadas para aquele local.
1
PARA MAIS
Desenvolvimento Sustentável (ODS). INFORMAÇÕES
A partir deles, poderá gerar indicadores SOBRE O TEMA
para atingir suas metas. VER TAMBÉM O
MÓDULO 1.
Indica-se que em cada etapa se construa um quadro síntese para organizar com maior
clareza o alinhamento de metas-diretrizes-instrumentos em conjunto. Não é suficiente
apenas formular instrumentos urbanísticos com qualidade, eles devem ser definidos de
acordo com a realidade do município.
Em seguida, esse conjunto de ações futuras deve passar pela consulta pública para in-
centivar o debate e a participação. Assim, ajusta-se e define-se propostas presentes nos
instrumentos. Se o poder Executivo municipal (na etapa de criação do Plano Diretor) e
Legislativo (debate e aprovação do Projeto de Lei do
Plano Diretor) não realizarem audiências públicas, sua
aprovação e execução poderá ser anulada. Isso ocorre,
porque a participação popular é um preceito consti-
tucional obrigatório nos processos de planejamento
(GUIA DE ELABORAÇÃO E REVISÃO DE PLANOS
DIRETORES, 2022).
55
Planejamento: A dimensão territorial para o desenvolvimento urbano sustentável
Os planos setoriais são planos operacionais e estratégicos para resolver problemáticas es-
pecíficas. Nesses planos, identificam-se diretrizes de desenvolvimento urbano sustentável
que devem estar presentes no Plano Diretor e se formulam objetivos específicos de acordo
com metas claras de realização de ações de planejamento territorial (FURUKAVA, 2012).
Destacamos a experiência de Santos (SP) como uma experiência de parceria entre diretri-
zes previstas no Plano Diretor e Planos Setoriais. O Plano Diretor de Desenvolvimento e
Expansão Urbana de Santos (PDDEU), Lei Complementar Municipal nº 1005/2018, pre-
vê um capítulo específico sobre mudanças climáticas, o qual fundamentou a criação do
Plano de Ação Climática de Santos (PACS).
A partir disso, devemos pensar as ações intraurbanas pactuadas, isto é, aquelas que
ocorrem nos territórios urbanos. Elas são resultado do esforço coletivo entre os diver-
sos setores da administração pública, ou seja, de forma multissetorial. É importante
entendermos que o planejamento urbano integrado não é uma utopia, apesar dos seus
desafios. Ao longo deste subcapítulo mostraremos como ele é utilizado em algumas ex-
periências brasileiras.
58
Planejamento: A dimensão territorial para o desenvolvimento urbano sustentável
8
integrado é a pactuação de diretrizes PARA MAIS
em projetos de requalificação urbana INFORMAÇÕES
SOBRE O TEMA
do Município de Conde, no estado da
VER TAMBÉM O
Paraíba. O município possui cerca de 25
MÓDULO 8.
mil habitantes e a requalificação previu a
reurbanização do centro da cidade.
A proposta ganhadora foi executada e tinha como objetivo principal fazer da área central
o principal lugar de moradia e de usos diversos pelos moradores. As soluções são simples
e funcionais, e estimulam a caminhabilidade, as travessias de pedestres. Elas incentivam
a integração de espaços públicos a partir de novos espaços e projetos paisagísticos com
arborização, o que estimulou os moradores a usá-los.
Os recursos de planejamento e execução
do planejamento urbano integrado vieram
da prefeitura, cerca de 5,5 milhões de reais. AULA 6
MÓDULO 4
Tudo isso só foi possível por conta da par-
ceria entre a Secretaria de Planejamento
(SEPLAN) e os profissionais da arquite-
tura e urbanismo das coordenadorias de
Habitação, Controle Urbano, Fiscalização
e Mobilidade Urbana (ROSSI, 2019).
Aula 6 - Pactuação de
diretrizes de planejamento
em projetos de intervenção
urbanística no território
2.4 Formulação de propostas:
Definir e selecionar instrumentos para a ação supramunicipal
Em contextos supramunicipais e regionais, ao se definir diretrizes de planos gera-se im-
pactos nas relações que vão além de um único município. A cooperação municipal e in-
terfederativa são fundamentais para garantir não só o planejamento, mas a gestão ter-
ritorial compartilhada.
A elaboração dos PDUIs deve contar com representantes do Estado e dos municípios
integrantes de aglomerações urbanas ou regiões metropolitanas envolvidas no plane-
jamento territorial. Da mesma forma, a participação popular é essencial para que as
demandas reflitam meios democráticos de resolução de problemáticas comuns e de in-
teresse metropolitano. Apresentamos no Quadro 14 os passos metodológicos de elabo-
ração de um PDUI.
METODOLOGIA DE ELABORAÇÃO
DE UM PDUI
1. Preparação: mobilização inicial, as análises preliminares, as definições
metodológicas, o mapeamento dos atores, a comunicação e a definição da
forma de participação social.
2. Definição do escopo: construção da visão (que metrópole queremos?),
a definição dos objetivos e principais temas a serem abordados, metas,
prioridades e horizontes.
3. Elaboração: caracterização e diagnóstico, estratégias e propostas.
4. Consolidação do plano: sistematização de todo o conhecimento
acumulado nas atividades anteriores.
5. Aprovação: apresentação final e instituição do plano.
6. Revisão: estabelecimento de revisões sistemáticas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na primeira metade deste módulo, tratamos de conceitos de planejamento territorial
e de como eles ajudam a entender a realidade municipal. Traçamos critérios importan-
tes para reconhecer e refletir sobre problemáticas territoriais intraurbanas e supra-
municipais, com o objetivo de apoiar o desenvolvimento de uma análise crítica dessas
problemáticas.
Desse modo, é importante elaborar e propor diretrizes para soluções adequadas à rea-
lidade de cada município brasileiro, nas suas variadas escalas e contextos. Igualmente
importante é entender como concretizar essas propostas ao longo do tempo e a partir da
promoção de políticas públicas.
64
Planejamento: A dimensão territorial para o desenvolvimento urbano sustentável
REFERÊNCIAS
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nas. Rio de Janeiro: Editora Lamparina, 2009.
BECKER, B. K. Espaço, Estado e Poder. In: LIMONAD, E.; MONTEIRO, J. C.; MANSILLA,
P. Planejamento Territorial: reflexões críticas e práticas alternativas. São Paulo: Editora
Max Limonad, 2021. p. 45-61. v. 2.
CRAWFORD, C.A função social da propriedade e o direito à cidade: teoria e prática atual.
Brasília; Rio de Janeiro: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2017. (Texto para dis-
cussão 2282). Disponível em: https://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/7651/1/
td_2282.pdf. Acesso em: 17 set. 2022.
GOULART, J. O.; TERCI, E.T.; OTERO, E. Planos diretores participativos e gestão urbana
em cidades médias sob o Estatuto da Cidade. Biblio 3w, Barcelona, v. 19, n. 1075, p. 1-28,
2014.
______. Classificação e caracterização dos espaços rurais e urbanos do Brasil: uma pri-
meira aproximação. Rio de Janeiro: IBGE, 2017.
______. Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população
brasileira: 2020. Rio de Janeiro: IBGE; Coordenação de População e Indicadores Sociais,
2020. 148 p. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101760.
pdf. Acesso em: 17 set. 2022.
66
Planejamento: A dimensão territorial para o desenvolvimento urbano sustentável
______. A agenda Urbana na Escala Supramunicipal: Estudo para uma hierarquia dos
arranjos institucionais para políticas públicas. Brasília: IPEA, 2020b. (Documento pre-
liminar Nota Técnica 1.3. sobre Agenda Urbana para desenvolvimento urbano/ TED
71/2019).
KREMER, J. Mercado Imobiliário. Indaial: Grupo UNIASSELVI, 2008. Disponível em: ht-
tps://www.uniasselvi.com.br/extranet/layout/request/trilha/materiais/livro/livro.php?-
codigo=7973. Acesso em: 17 set. 2022.
LIMONAD, E. Planejar por quê? In: LIMONAD, E.; MONTEIRO, J. C.; MANSILLA, P.
Planejamento Territorial: reflexões críticas e práticas alternativas. São Paulo: Editora
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