Você está na página 1de 4

AVALIAÇÃO DE METODOLOGIA DA HISTÓRIA

Professor: Dr. Rafael Athaides

Aluno(a): Matheus Medeiros Piquera

A História Social como corrente histórica tem em sua gênese um movimento


próprio com uma ideologia forte e característica, falar de História Social é falar do
movimento dos Annales criado por Marc Bloch e Lucian Febvre. Originalmente um
movimento que visava trazer uma “nova” história, uma história problema, que
diferentemente do que se fazia na historiografia até década de 20, podia trazer novos
sujeitos, novos objetos e novos olhares sobre a História, além de uma revolução, ou
melhor dizendo, uma revisão metodológica da escrita histórica de modo a enfatizar
esses novos anseios desses historiadores revolucionários. É nesse contexto que surge a
História Social.

Castro (1997) também coloca um questionamento pertinente relacionado a


estrutura da História como disciplina, como um consenso entre historiadores a história é
uma ciência que estuda o homem em sociedade, então é posta a indagação se toda a
História não seria uma História social. O debate é vivo e acirrado entre os historiadores,
mas como Castro argumenta: “Frente à crescente tendência à fragmentação das
abordagens historiográficas, esta acepção da expressão é mantida por muitos
historiadores como horizonte da disciplina.” (CARDOSO, 1997, p.43).

Para tanto utilizando do panorama detalhado de Hobsbawm, Castro assinala três


acepções por ele apontadas. Nas décadas de 30 e 40 a história social se via unida a uma
perspectiva culturalista que buscava estudar os costumes regionais e tradições nacionais,
uma história tradicional. Já no outro paralelo político é apontado, por consequência do
crescimento dos movimentos dos operários ligados ao socialismo crescente, uma
história social do trabalho e dos movimentos derivados do socialismo, esta linha da
História social predominante na Inglaterra, se preocupava como uma análise não mais
individualista, mas do coletivo político desses movimentos. Finalmente, a última
acepção assinalada é a história social e econômica ligada diretamente com os Annales
que vinha se desenvolvendo desde a década de 30, e além é claro, de se preocupar como
uma análise econômica e quantitativa, a psicologia coletiva se faz presente nesta
acepção da história social, este movimento tratava a história como um ciência social
propondo também ênfase no coletivo e na longa duração ao invés de uma história
preocupada apenas com o indivíduo e com eventos fixos, ou seja, uma história
tradicional e conservadora.

Porém, a história social se transformava e procurava atender novas demandas da


sociedade acadêmica de historiadores inspirados pelo movimento dos Annales. Agora
este ramo da história estava se firmando como uma especialização com metodologias
mais únicas e sua atenção se voltava para os crescentes estruturalismos, novas
abordagens quantitativas com a tecnologia em evolução e novamente com lutas sociais
derivadas do movimento marxista.

Castro continuando detalhando o processo de evolução da história social a


dividindo em escola francesa e inglesa, a escola francesa nesse período se encontrava
com espacializações da história social como a história econômica, demográfica, e a
nascente história das mentalidades, a abordagem da longa duração ganha maior ênfase e
o estruturalismo passa a ser uma abordagem constante com as problemáticas dos atores
históricos coletivos, “os grupos sociais”. O ramo da História social então, na França
ganha sua força e define melhor metodologias e problemática próprias.

Já analisando o caso da escola histórica anglo-saxã, Castro demarca que desde a


década de 60, a história desta escola que ainda tinha muitas raízes da história tradicional
é influenciada pelos Annales, e abre então seu leque de abordagens para algo
interdisciplinar, englobando a sociologia e antropologia social que tem grande enfoque a
partir desse período dentro da história social inglesa. Como já demarcado o grande
enfoque é a história social do trabalho e das lutas sociais que dado o histórico Inglês é
um tema de interesse muito forte na região e a história social era ideal para contemplá-
lo.

Com o crescimento das abordagens e da importância do conceito de história


social, seus interesses e problemáticas também entravam em debates e se modificavam
ou se ampliavam de certa forma, Castro assinala que inclusive outras problemáticas
geraram mudanças no campo do tempo histórico contemplado, em algumas pesquisas
agora se priorizava mais a curta duração.
No quesito metodológico, é apontado que a História Social a partir da década de
60 e 70 teve uma revolução de abordagens e fontes, os métodos quantitativos entraram
em foco e fontes eleitorais, fiscais, demográficas e de cartórios se tornavam fontes
inestimáveis para o estudo da história social. A demografia histórica é um método então
adotado pela História Social deu um enfoque muito grande para uma história social do
mundo privado, da família e dos sujeitos que compunham esse escopo. Castro assinala
que mesmo os estudos de história social que contemplavam temas de movimentos
sociais e que, por consequência, dependiam de abordagens mais qualitativas, também
sofreram impacto da revolução tecnológica do período e análises seriais se tornaram
fundamentais para essa composição histórica.

A trajetória da história social é complexa, dada a crise estruturalista o cerne da


história social se modificaria profundamente no período da década de 60 e 70, as
problemáticas das identidades sociais e hierarquização social levou a um uso maior de
estudos antropológicos e abordagens socioculturais se tornaram mais evidentes que a
economia social. Essa aproximação cultural, levou ao movimento na França da História
dos costumes e da vida privada, uma história socioantropológica. Já um outro ramo da
aproximação história/antropologia se deu na história vista de baixo, Thompson, da
escola Britânica, sendo seu maior precursor, dada a ênfase na história do trabalho, mas
agora com o escopo não sendo os movimentos e ativismos, mas as pessoas comuns, os
trabalhadores e suas vivências, e isto gerou uma revolução metodológica com adições
da história oral como ferramenta para se estudar esses sujeitos.

Esta revolução nas fontes também se deu em abordagens novas a fontes anteriores
como as fontes já mencionadas de cartórios e demográficas. Além de uma apropriação
de fontes ligadas a processos judiciais e inquisição que davam base para estudos da
história vista de baixo antes mencionada. Foucault e sua aproximação da história com a
crítica literária e suas reflexões sobre as relações de poder dadas pelo conflito durante a
dinâmica histórica também inspiraram trabalhos da história social. Também é
necessário comentar sobre o movimento, surgido na Itália na década de 70, da micro-
história, formato de pesquisa histórica que reduzia a escala social analisa, do objeto e
contexto a vivências históricas individuais que evidenciavam problemáticas contextuais
do período contemplado.

Porém, ainda que com uma história conturbada e cheia de transformações, a


História Social sempre manteve e ainda mantém um escopo objetivo de suas análises e
preocupações, as experiências humanas, em qualquer grau quantitativo, suas dinâmicas
enquanto sociedade mutável e processos de diferenciação de comportamentos assim
como identidades coletivas dentro do contexto histórico-social. Dessas características se
forma uma das mais conceituadas “frentes” historiográficas. A História Social ainda
hoje é com certeza debatida em sua importância e escopo, mas sem dúvida se faz
presente nos campos acadêmicos da História e sua relevância é inegável para a dinâmica
de toda a construção da história da Historiografia.

Você também pode gostar