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República Federativa do Brasil

Ministério da Educação
Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

AVALIAÇÃO P1 – INTRODUÇÃO À ANTROPOLOGIA 2022/2


Prof. Henry M M Silva

Nome: data:

(BRAUDEL, F. No Brasil Baiano o presente


explica o passado. In: Escritos sobre a História.
Perspectiva. São Paulo: 2007)

1- Na obra Escritos sobre a História, Fernand Braudel reuniu textos que


articulados tinham por objetivo estabelecer o papel da História em meio às
outras ciências sociais.No capítulo intitulado No Brasil baiano o presente
explica o passado, o autor nos oferece uma resenha bastante crítica do
trabalho Towm and city in Brasil, do antropólogo norte-americano Marvin
Harrys, onde apresenta o que consiste, em sua perspectiva, a diferença entre
os métodos etnográfico e histórico. A partir dos textos e discussões feitas em
aulas, elabore um texto reflexivo apontando as críticas de Braudel ao método
antropológico, ressaltando em que medida a História supera a Antropologia
como ciência social.

RESPOSTA:

Braudel como membro dos Annales tinha como historiador o desejo


investigativo analítico e questionador para com seu objeto de estudo. A
História problema surgida com os Annales foi a grande revolução histórica
que deixou marcas profundas no trabalho historiográfico até os dias de hoje.
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A História como ciência é pautada em metedologias de análise que propõe


questionamentos plausíveis a ser respondidos, e esta característica particular
da História como ciência é o que difere esta da Antropologia como ciência.
A metodologia científica é a grande especificidade que
majoritariamente difere ambas ciências citadas, é claro que há outros fatores
menos relevantes que também diferem ambas as ciências, mas, que de forma
geral são circunstânciais. Braudel foca sua crítica no aspecto metodológico
de análise. A História como ciência crítica, nasce nos Annales com um
pretexto de ser a ciência dos homens no tempo como diz Bloch (2002),
pautada em métodos de análise crítica, com base em testemunhos, em fontes
materiais ou escritas, que ajudassem o historiador a compreender a
compatibilidade e as ligações de passado e presente, construindo um
complexo entendimento das sociedades que aborda comparativamente suas
diversas especificidades.
Nesse tocante, a Antropologia tem como objetivo o estudo de
sociedades, principalmente de seus aspetos culturais, geralmente ainda
existentes e longínquas. Como propõe Malinowski (1976), e que Marvin
Harris segue a risca, ainda que anterior a própria publicação do livro de
Malinowski, o antropólogo vai até seu objeto de estudo e convive com ele,
analisa e descreve seus costumes, porém sem o aspecto crítico, questionador,
usualmente não traça comparações e correlações, não observa fontes distintas
do mesmo tema. Tais características constituem boa parte do trabalho de
campo antropológico e de sua metodologia.
Braudel (1992) aponta diversas vezes o aspecto narrativista e descritivo
do estudo antropológico e como mesmo sendo um texto acadadêmico ele se
parecia um romance por ser tão leve. É justamente essa falta do questionar o
fato descrito pela fonte, e comparar com demais fontes, analisar os resultados
colocar sobre perspectiva temporal, entre outros processos analíticos, que
deixa tão marcante a Braudel essa diferença metodológica.
Para exemplificar tais contrastes entre as formas de se abordar o objeto
de estudo das duas ciências segue um trecho do texto de Braudel:
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Sinto-me perturbado, entretanto, pela maneira como Marvin Harris apresenta


a questão negra. Esta é tão tensa quanto ele leva a pensar? De um modo geral,
há, de um lado, os "ricos brancos" e do outro, os "pobres negros", segundo a
fórmula habitual, e também, bem entendido, brancos que não são inteiramente
ricos e negros abastados, instruídos, donde uma pirâmide social bastante
bizarra, efetuando-se a estratificação não na horizontal, mas de través. Aliás,
não é o que acontece na própria vizinhança? A tensão social e racial será aí
tanto mais viva, vejo-o bem, sobretudo ao nível do pobre branco, aquele cuja
mulher vai ela própria procurar lenha, ou, prova de miséria por si só, vai lavar
a louça ou a roupa no rio próximo. Essa tensão também será mais viva, ao nível
do negro abastado que, convidado à casa dos brancos, mas não como um igual,
permanece no seu canto, medroso, descontente, digno, demasiado digno.
Entretanto, é preciso atribuir a Minas Velhas, por causa de sua vida atenta e
fechada, um racismo particular, bem anormal no quadro da civilização
brasileira? Na escala da nação, a bonomia reina entre peles de cor diferente e
já faz muito tempo que Gilberto Freyre assinalou sua fraternização sexual.
Seguramente esse racismo, bastante benigno, de pequena cidade, se existe, não
parece entrar na linha histórica do passado brasileiro. (BRAUDEL, 1992,
p.231-232).

Nesse trecho é possível ver como Braudel critíca a descrição de Harris


de uma questão fundamentalmente estrutural da sociedade brasileira que em
nenhum momento em sua obra é abordada de forma problematizante, postura
criticada por Braudel, que se analisarmos é totalmente relacionável com o
método de análise antropológico. Além do trecho colocado como base para a
prova há outro que define em muito a crítica de Braudel, em suas próprias
palavras:
Mas detenhamos nossas críticas que, depois de tudo, nos permitiram prolongar
o prazer evidente de nossa leitura. Teria gostado, por certo, que Marvin Harris
orientasse seu livro de outra maneira; que soubesse, por duas ou três vezes,
girar sobre si próprio, para fazer face ao passado do pequeno povo que tinha
sob os olhos; que distinguisse o testemunho original de alguns homens — a
aberração de Minas Velhas— do testemunho banal da vidà cotidiana do
interior brasileiro. (BRAUDEL, 1992, p. 233).

Dado está análise, cabe concluir que o método histórico favorece a


composição de todo um complexo estudo que aborda as particularidades do
esquema social, um estudoo pautado em problematizações reais que por sua
vez possibilitam um maior grau de compreensão de tal sociedade através do
tempo em suas transformações. A Antropologia de forma singular com suas
análises holísticas propõe uma descrição precisa dos ritos culturais de cada
sociedade analisada e certamente oferece um estudo científico legítimo,
porém, não atinge o grau da História na criação de um conceito analítico
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socio-cultural de tal objeto de estudo tão singular, que só pode ser


completamente compreendido por meio de uma análise crítica, profunda e
amparada pela metodologia crítica usada na ciência histórica.

REFREÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BLOCH, Marc. Apologia da História ou o Ofício de Historiador. Rio de


Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
BRAUDEL, Fernand. Escritos sobre a História. São Paulo: Perspectiva, 1992.
MALINOWSKI, B. Argonautas do Pacífico Ocidental. São Paulo: Editora
Abril, 1976.

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