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História, Cultura e Texto

 A Nova História Cultural – Lynn Hunt


 A idéia do livro A Nova História Cultural surgiu em 1987,
de uma Conferência História Francesa: textos e cultura,
realizada na Universidade da Califórnia, Berkeley, em
1987, por ocasião da visita de um mês de Roger Chartier
a Berkeley. Natalie Zemon Davis atuou como
comentarista.
Histórico:
 Década de 60: período em que, para a autora, multiplicam-se os
estudos de história social, a sociologia histórica. A história social,
nesse período suplanta a história política como área mais importante
da pesquisa histórica (nos EUA há uma quadruplicação das teses de
doutorado em história social entre os anos de 1958 e 1978).
 
 O avanço para o social foi estimulado pela influência de dois
paradigmas de explicação dominantes: o marxismo, por um lado e a
Escola dos Annales, por outro.
 
 *Final da década de 50 e primeiros anos da década de 60, jovens
historiadores marxistas começaram a publicar livros sobre a “história
vinda de baixo”.
Ex: George Rude (classes populares parisienses)
Albert Soboul (sans-cullotes parisienses)
E. P. Thompson (classe operária inglesa)
 Este é o período da era Braudeliana (após a Segunda Guerra Mundial)
da Escola dos Annales. Neste momento, enfatizava-se as abordagens
seriais, funcionais e estruturais do entendimento da sociedade como
organismo total e integrado. Braudel, entretanto, dá a tônica
economicista ao período (coisa que faz por meio das três unidades de
tempo que desenvolve: a noção de estrutura – longa duração, a de
conjuntura – média duração, e o evento efêmero, a curta duração).
 
 Nos trabalhos da terceira geração dos Annales predominava a história
social e econômica. Havia três níveis de explicação:

 Primeiro nível: Tendências econômicas junto com o clima, a biologia e


a demografia, o da longa duração
 Segundo nível: Relações Sociais, mais sujeitas às flutuações da
conjuntura (dez, vinte, cinqüenta anos)
 Terceiro nível: Vida política, Cultural e Intelectual, pode estar ligado à
curta duração e é um reflexo dos outros dois níveis, que se articulam.

 A preocupação com os fins econômicos e sociais é a tônica.


 Então, tudo isso contribui para a ascensão da história social. Nos últimos, anos,
todavia, há um interesse, cada vez maior, tanto de marxistas, quanto dos
adeptos dos Annales, pela história da cultura.
 

 Este interesse já estava presente na obra de E. P. Thompson. Thompson rejeitou


a metáfora da base/superestrutura e dedicou-se às chamadas mediações
culturais e morais – a maneira como se lida com as experiências culturais, de
modo material. [1]Para ele, consciência de classe: maneira como as experiências
das relações produtivas são manipuladas em termos culturais: incorporadas em
tradições, sistemas de valores, idéias e formas institucionais.
 
 Além disso, há um desvio dos historiadores marxistas para a cultura no seu
interesse pela linguagem. A atenção à linguagem pode desafiar as teorias
reflexivas do conhecimento, pode focalizar as funções semióticas da linguagem.
[2]
 
 Embora a história econômica, social e demográfica tenha predominado na
própria Annales entre as décadas de 60 e 70, a história intelectual e cultural
passou a ocupar um sólido segundo lugar. Houve uma volta aos interesses das
“mentalidades”, pela quarta geração dos Annales.

 
 [1] Tha Making of The English Working Class.
 [2] SEWELL, H. William. Work and Revolution in France: The Language of Labor from the
Old Regime to 1848 (Cambridge, 1980). Trabalho sobre a linguagem de trabalho da classe
operária francesa.
Historiadores como Roger Chartier e Jacques
Revel (4ageração) rejeitam a caracterização
mentalidades como parte do terceiro nível de
experiência histórica. O terceiro nível, não é um
nível, mas um determinante básico da realidade
histórica.
 
A relação não é de dependência das estruturas mentais quanto a suas
determinações materiais, mas as próprias representações do mundo
social são os componentes da realidade social. [1]As relações
econômicas e sociais não são anteriores às culturais, nem as
determinam; elas próprias são campos de prática cultural e produção
cultural – o que não pode ser dedutivamente explicado por referência
a uma dimensão extracultural da experiência.

 
[1]CHARTIER. Roger. Intelectual History or Sociocultural History? The French
Trajectories. Em Modern European Intellectual History: Reappraisals and New
Perspectives.
 
Estes historiadores das práticas culturais foram influenciados pela crítica
de Foucault acerca dos pressupostos fundamentais da história social.
Foucault argumentou que não existem quaisquer objetos intelectuais
“naturais”. Não há categorias universais para o método histórico, os
discursos produzem efeitos de verdade e há regras anônimas que
governam as práticas coletivas. Foucault repudiou a possibilidade de
método nas ciências sociais, recusou-se a oferecer análises causais e
negou a validade de qualquer relação redutiva entre as formações
discursivas e seus contextos sócio-políticos. Repudiou, ainda, a pesquisa
das genealogias, das origens. Como ele diz:
 
“Nunca escrevi outra coisa, a não ser
ficções”.
Qual o Programa da Nova História Cultural?

 -A Nova História Cultural lida com os


pressupostos da antropologia e da
teoria literária, campos no qual a
explicação social não é dada como
ponto pacífico.
Qual o Programa da Nova História Cultural?

 -Junto com a Antropologia Cultural de


cunho interpretativo, a Nova História
Cultural busca significados, mais do que
explicações causais (interpretação do
significado cultural como um texto a ser
lido).
Qual o Programa da Nova História Cultural?

 -Chartier enfatiza que os historiadores da cultura não devem


substituir uma teoria redutiva da cultura enquanto reflexo da
realidade social, por outro pressuposto, igualmente redutivo,
de que os rituais e outras formas de ação simbólica
simplesmente expressam um significado central, coerente e
comunal. Resgata o papel do leitor.
 
 -Os documentos que descreveram ações simbólicas do passado
não são textos inocentes e transparentes, foram escritos por
autores com diferentes intenções e estratégias, e os
historiadores da cultura devem criar suas próprias estratégias
para lê-los. Textos devem ser considerados como foram
concebidos, impressos e lidos (R. Chartier).
 -Há influências da crítica literária nos estudos. Algumas
enfatizam a recepção ou leitura dos textos, outras a coerência e
unidade do significado, outras o papel da diferença e as
maneiras como os textos funcionam no sentido de subverter
suas aparentes finalidades. Para a interpretação antiquada,
pergunta-se ao texto, o que ele significa(unidade). As mais
recentes querem saber como ele funciona .
(descontrução/Derrida).
 
 Os historiadores não precisam escolher entre sociologia ou
antropologia, ou entre antropologia e teoria da literatura para
conduzirem suas pesquisas, bem como não precisam fazer
escolha definitiva entre as estratégias baseadas no significado,
por um lado, e as estratégias desconstrutivas, baseadas nos
modos de produção de um texto, por outro. Essa tensão é,
também, própria do historiador da cultura.
 A cultura não se situa acima e abaixo das relações
econômicas e sociais, nem pode ser alinhada com elas.
Todas as práticas, sejam econômicas ou culturais,
dependem das representações utilizadas pelos
indivíduos para darem um sentido ao seu mundo.[1]
 

[1] CHARTIER, Roger. The Cultural Uses of Print.
 Historiadores culturais não negam a
realidade, não desconsideram a
presença do real, apenas partem do
pressuposto que esse real é construído
pelo olhar.

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