Você está na página 1de 314

DUQUE

ADRIANA BARRETO DE SOUZA

DE CAXIAS
O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
E Ar 7e ncia ao duque de Caxias se remete, nas

| Bugio ves sumo dupla imagem. Por um ado, à


"de patrono do Exército, modelo ideal e quase
Mn os”
o brasileiro, forjador da unidade
de soldado
epi

a — Sacrali izad
mM
8

— naci jonal durante o Segundo Reinado. Por outro, à de


JL am miar r “caxias”, implacável na repressão a
r novime antos Epopulares ou a inimigos políticos.
e

— Em ambas as imagens, é evidente o vínculo do


pago =
personagemcom a instituição da qual se tornou
yr
Te

emb ora isso tenha ocorrido apenas meio



ir] n

=
Aa!

UU

a
cm

No

| Dia

nA

a.
Ad
ua

Ss
[a

3
1Q

D
ê
3
o
Õ
eis musIS vezes, ora à reprodução de
Duque de Caxias
Ra
a
me aà memi ória lzlauc
udatóriaa. Elotau a msdamatona por

ur o homem por trás


do monumento
PE mm

do monumento é restituir
: RR
ms e E 4 ae Alram
. a - ro
“ti là he gue eoA. DS
:
E o
ae UA AIVES JE aitia a
- a um a E Nami E
Adriana Barreto de Souza

Duque de Caxias
o homem por trás do
monumento

a
CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA

Rio de Janeiro
2008
COPYRIGHT O Adriana Barreto de Souza, 2008

CAPA
Diana Cordeiro

DIAGRAMAÇÃO
ô de casa

À história ensina também a rir das solenidades da origem:


gosta-se de acreditar que as coisas em seu início se encontra-
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE vam em estado de perfeição; que elas saíram brilhantes da
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
mão do criador, ou na luz sem sombra da primeira manhã.
S713d Souza, Adriana Barreto de, 1971- À origem está sempre antes da queda, antes do corpo, antes
Duque de Caxias : o homem por trás do monumento / Adriana
do mundo e antes do tempo. Mas o começo histórico é bai-
Barreto de Souza. — Rio de Janeiro : Civilização Brasileira, 2008.
xo. Procura-se despertar o sentimento de soberania do ho-
Inclui bibliografia mem mostrando seu nascimento divino: isso agora se tornou
ISBN 978-85-200-0864-5
um caminho proibido, pois em seu limiar está o macaco.
1. Caxias, Luis Alves de Lima e Silva, Duque de, 1803-1880. 2. Mi-
litares — Brasil — Biografia. 1. Título. Nietzsche. Apud Michel Foucault, Microfísica do poder, RJ,
Edições Graal, 7º ed., 1988, p. 18.
08-3027. CDD: 923.5
CDU: 929:356.21

À tarefa do historiador consiste na exposição dos aconteci-


mentos. De um modo diverso ao do poeta, mas ainda assim
guardando com este semelhanças, o historiador precisa com-
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, armazenamento ou transmissão
de partes deste livro, através de quaisquer meios, sem prévia autorização por escrito. por um todo a partir de um conjunto de fragmentos.

Direitos desta edição adquiridos pela Wilhelm von Humboldt, Sobre a tarefa do
EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA historiador. Anima — História, teoria e cultura, Rio de Janeiro,
Um selo da
EDITORA RECORD LTDA. ano 1, nº 2, 2001, p. 79-80.
Rua Argentina 171 — 20921-380 Rio de Janeiro, RJ — Tel.: 2585-2000

PEDIDOS PELO REEMBOLSO POSTAL


Caixa Postal 23.052 — Rio de Janeiro, RJ — 20922-97(

Impresso no Brasil
2008
Para Wagner e Clara,
uma história de tanto amor

Msgs stop rra dra rylariãos


E EUSEES x as RR ee Tio od

Dar DR, ado


Ms e ”
Sumário

AGRADECIMENTOS 13
SIGLAS 17
PREFÁCIO: A BIOGRAFIA COMO ESCRITA DA HISTÓRIA 19
INTRODUÇÃO: O DUQUE-MONUMENTO 27

I. Para estímulo dos que servem nas colônias: os Lima da Silva


atravessam o Atlântico 45
EM PORTUGAL 50
A DIFÍCIL CHEGADA AO RIO DE JANEIRO 62
JOSÉ JOAQUIM E A METAMORFOSE SOCIAL DA FAMÍLIA 74

IH. Os Lima e Silva combatem a hidra da anarquia: os anos de


formação de Luiz Alves de Lima 105
NA REAL ACADEMIA MILITAR 112
COM O BATALHÃO DO IMPERADOR NA BAHIA 125
FRANCISCO DE LIMA EM PERNAMBUCO 138
DESCONSIDERAÇÕES DO IMPERADOR 160

HI. Luiz Alves no laboratório político da corte: um treinamento


intensivo na preservação das fronteiras sociais 175
O CONGRAÇAMENTO FUNDADO NO MEDO 183
AÇÃO REPRESSORA, POLÍTICA MILITAR 200
A GUARDA DE MUNICIPAIS PERMANENTES 216
CASAMENTO CLANDESTINO 240
Jogo roLítico 244
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
SUMÁRIO

O IRMÃO CRIMINOSO 252 ACERTOS FINAIS 527


RECONHECIMENTO PÚBLICO 257 ANJO SALVADOR 533

IV. Da chaga aberta deve nascer o espírito da ordem: a metamorfose Conclusão 551
em nobre e general 273 Anexo I: Genealogia de Luiz Alves de Lima e Silva — Duque de
MISTURAR SANGUES É MISTURAR DESTINOS 283 Caxias 565
MAIS MILITAR QUE POLÍTICO 290 Anexo IJ: Cronologia de Luiz Alves de Lima e Silva — Duque de
A GUERRA CIVILIZA 295 Caxias 567
COMBATES, ANISTIAS, INTRIGAS E ESPIAS 311 Anexo Ill: Euacios me rar Aços 373
A GRANDE FAMÍLIA BRASILEIRA 320 Anexo IV: Instruções Imperiais 575

Fontes 579

V. Em cena, o delegado de José Clemente Pereira: Luiz Alves adere aos Fe jfe ; Ra
asia Indice onomástico 601
princípios conservadores 343
OS ÁULICOS 347
CHAMANDO OS PAULISTAS À ORDEM 354
SR. DIOGO ANTÔNIO FEUÓ 365
MINAS O CHAMA 374
MORTE AO BARÃO DE CAXIAS 385

VI. Sangue-frio, experiência e otimismo: articulações e conflitos nas


terras de fronteira 399
MAIS FAZ QUEM QUER DO QUE QUEM PODE 408
O FANTASMA DE BENTO MANUEL 422
FALO GROSSO QUANDO MANDO 433
ESSAS AVES QUE VOAM PELOS CAMPOS 446
MAIS QUE UMA GUERRA CIVIL 461

VII. Um conservador firme, mas moderado: da intensa política na


guerra ao ingresso no Parlamento 479
MAIS DIPLOMATA QUE SOLDADO 484
MISTÉRIOS DA PACIFICAÇÃO 501
PORONGOS, UM PONTO OBSCURO DA HISTÓRIA PÁTRIA 512

A
10
Agradecimentos

Este livro é resultado de minha tese de doutoramento, defendida no Pro-


grama de Pós-Graduação em História Social da UFRJ, em agosto de
2004. Nos cinco anos de duração dessa pesquisa, contei com o apoio de
dois grandes orientadores. A Manoel Luís Salgado Guimarães agradeço
nada menos que minha maneira de ler e pensar História. Lembro mais
uma vez — com gratidão e carinho — que seu trabalho começou em 1988,
quando ingressei na universidade. Com sua orientação, ganhei mais que
um ofício: conheci a liberdade que só o constante e inesgotável exercício
de pensar historicamente pode nos dar. A Celso Castro devo minha for-
mação como pesquisadora. Uma história igualmente longa, iniciada em
1290. Sob sua orientação, conheci o tema “militares” e dei meus primei-
ros passos nos arquivos da cidade. Dele ganhei ainda um grande presen
te — a idéia da tese. Acompanhar o entusiasmo, a dedicação e o rigor com
que os dois exercem a profissão é a melhor experiência a que pode aspi-
rar um principiante.
Tive o privilégio de discutir os argumentos que apresento aqui com
Gilberto Velho, Ilmar Rohloff de Mattos e José Murilo de Carvalho. A
eles agradeço a oportunidade de um diálogo tão vivo e o incentivo que
cada um, ao longo desses anos, tem me concedido. A José Murilo de
Carvalho agradeço também o apoio generoso para que esse trabalho
ganhasse formato de livro.
Em Marco Morel encontrei incentivo no momento certo. A ele sou
grata pela criteriosa leitura dos originais e por sua incansável disposição
para o diálogo intelectual. A Hendrik Kraay, Marcos Bretas e Pedro Tór-
tima devo algumas preciosas indicações de fontes.

13
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

AGRADECIMENTOS
João Fragoso, Maria de Fátima Gouvêa e Antônio Carlos Jucá de
Sampaio abriram espaço para a discussão do primeiro capítulo deste li- Com Amara Rocha e Virginia Buarque partilhei dúvidas e conflitos
vro no Antigo Regime nos Trópicos: Centro de Estudos sobre a Dinâmica durante o doutorado. Duas amigas que me ajudaram a ver como nos-
Imperial no Mundo Português e fizeram críticas fundamentais. Desde en- sas inseguranças e dores podem transformar-se em elementos de en-
tão, é nesse fórum que tenho encontrado apoio para enfrentar o desafio contro. À Renato Amado sou imensamente grata pela confecção dos
de recuar ao mundo português setecentista. Aí também tenho contad três mapas mais complexos deste trabalho: os dois do Rio de Janeiro
o
com o companheirismo de um colega de universidade, Roberto Guedes. e um do Maranhão.
À todos, meus agradecimentos. Essa pesquisa exigiu que percorresse arquivos particulares, não aber-
Em 2001, estive vinculada ao Laboratoire de Démographie Histori- tos ao público, e arquivos públicos com acesso muito burocratizado. Ao
que da École des Hautes Études en Sciences Sociales com uma bols embaixador João Hermes e à sua esposa, Maria Amélia da Fonseca Cos-
a- ta Pereira de Araújo, agradeço a gentileza de abrir as portas de sua casa
sanduíche fornecida pelo CNPq. A Sabina Loriga, minha orientadora
em para que pesquisasse nos documentos da família Fonseca Costa. A Regi-
Paris, sou grata pela leitura de meu projeto de pesquisa e por suas aula
s, na Rego Monteiro, ao Dr. José Luís Campinho Pereira e à sua esposa,
um espaço privilegiado de encontro de alunos de várias nacionalidades.
Aparecida Pereira, sou grata pelas agradáveis tardes de conversa sobre
À riqueza desse diálogo me abriu um novo campo teórico, formado por
história do Brasil e pela chance de pesquisar em parte do arquivo do Dr.
uma bibliografia italiana e alemã.
Eugênio Vilhena de Morais. Às trinetas do duque de Caxias, Irene Cunha
Quando retornei de Paris, pude dar continuidade à discussão de par-
Carneiro da Silva, Eliana Cunha Cavour Maria, Thereza Queirós Almei-
te desses textos em um grupo de leitura sob orientação de Manoel Luís
da Cunha e Gisela Cunha Carneiro da Silva, agradeço a simpatia com
Salgado Guimarães - “Abordagens Teóricas da Cultura Histórica Oito que me acolheram em Quissamã e disponibilizaram os documentos da
-
centista?. Sou grata a ele e a todos os colegas do grupo pela oportunida- família. Ao coronel Vidal da Silveira Barros agradeço o rápido acesso ao
de de partilhar em reuniões mensais, durante dois anos, minhas dúvidas Arquivo Geral da Polícia Militar do Rio de Janeiro.
teóricas. O ambiente de companheirismo então criado tornou os últimos Grande parte das imagens deste livro pertencem à Coleção Mace-
anos de doutorado bem menos solitários. do Carvalho. O acesso a essas imagens e a sua reprodução só foram
Em Paris, fiz três boas amizades gaúchas. Temístocles Cezar e Eliane possíveis graças à generosidade de Lúcia Macedo Carvalho. A ela
Cezar foram extremamente generosos com suas dicas e apoio em terras meu agradecimento.
estrangeiras, lembranças que sempre guardarei com carinho. Ben Enquanto estive em Paris, contei com o dedicado auxílio de uma as-
ito Bis-
so Schmidt se tornou um constante interlocutor. sistente de pesquisa, Cíntia Rodrigues Dias Gouveia, que ainda conti-
Desde março de 2005, integro o corpo docente do curso de História nuou a pesquisar por mais alguns bons meses após meu retorno. Sem sua
da UFRuralR]. A Caetana Damasceno, Elisa Guaran ajuda, não teria finalizado a tempo essa pesquisa.
á, Luciana de Amo-
rim Nóbrega e Margareth de Almeida Gonçalves agradeço Em Octávio Souza continuo encontrando uma escuta atenta e, nes-
a receptivida-
de com que me acolheram na Universidade. Luís tes últimos anos, venho descobrindo ainda a possibilidade de uma in-
Edmundo de Souza
Moraes, com sua admirável dedicação terlocução inteligente e sensível sobre a história do Brasil.
à universidade pública, bom hu-
mor (que é fundamental) e generosidade, Agradeço à Capes a bolsa de pesquisa recebida durante o doutorado.
já é hoje um grande amigo.

14 15
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

Há ainda um agradecimento de longuíssimo prazo, que devo à mi.


nha família. Meu pai, Jorge, e minha mãe, Maria, cada qual à sua ma.
neira, sempre acompanharam e respeitaram minhas escolhas. Com Siglas
minha mãe, tenho uma dívida particular Mesmo com pouco est
udo, foi
ela quem me ensinou a ler, a sonhar e a ser persistente o bastante para
realizar esses sonhos. À meu irmão, Jorge, e minha irmã, Valéria,
agra-
deço nossa vida juntos. Além do meu sempre menino Dyego,
há os re-
cém-chegados Vinícius e Júlia. Por renovarem a alegria da
família.
ACMRJ Arquivo da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro
AGRJ Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro
AG PMERJ Arquivo Geral da Polícia Militar do Rio de Janeiro
AHEx Arquivo Histórico do Exército

Arquivo Histórico Militar (Lisboa)


Arquivo Histórico do Museu Imperial
Arquivo Histórico Ultramarino (Lisboa)
Arquivo Nacional do Rio de Janeiro
Arquivo Nacional da Torre do Tombo (Lisboa)
BN Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro
BNL Biblioteca Nacional de Lisboa
JHGB Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
RIHGB Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
RIHGRS Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande
do Sul

16
Prefácio: A biografia como escrita da História

Manoel Luiz Salgado Guimarães


UERJ/UFR]. Pesquisador CEO/PRONEX. CNPq-FAPER]
Para Clara, um dia.

O que torna a vida, esse misterioso espaço de tempo entre o nascer e O


morrer, narrável por meio de uma escrita a ser partilhada com outros?
Uma escrita, forma peculiar de transformar essa vida, de pura experiên-
cia biológica — zôê —, em bios, com a articulação de eventos e a sua re-
presentação pela via da narrativa que conta uma história e produz um
sentido que objetiva uma partilha. Narrar uma vida, portanto, impõe
um desejo de duração para além da pessoa cuja vida é contada, um de-
sejo de lembrança e de memória, e por essa via, articula-se com um pro-
jeto de escrita de uma história. Supõe essa escrita um interesse que
articula, em princípio, duas vidas: a narrada e a do narrador, aquele que
se debruça e olha a vida do outro afetado por alguma forma de desejo.
Uma biografia, como escrita da história, impõe necessariamente a pre-
sença de um outro para quem se narra, o qual não vivenciou as experiên-
cias narradas, mas, imagina-se, elas podem significar algo de relevante.
Torna visível o invisível, partilhável aquilo que só pode ser experimenta-
do — como experiência — por alguém individualmente, rompendo por
esse meio a solidão da vida biológica. Ao narrar a vida do outro, pode,
em alguma medida, narrar a sua própria, constituindo-a como experiên-
cia significativa. Enfim, narrar uma vida implica produzir para ela um
sentido, tornando-a, por essa via, não apenas partilhável, como também
significativa, e dessa forma tornando o tempo uma experiência social-

19
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
PREFÁCIO: A BIOGRAFIA COMO ESCRITA DA HISTÓRIA

mente compartilhável. Dentre as tantas maneiras de elaborar cultural.


grafia oitocentista, a biografia parecia condensar as desvantagens daquele
mente o transcurso do tempo, a biografia tem uma longa história como
modelo de escrita da história: uma narrativa factual voltada para a ação
gênero, preenchendo com sentidos diversos a prática de sua escrita.
dos grandes homens responsáveis pelo devir histórico. Durante o século
Invenção bem ateniense, segundo as palavras de Nicole Loraux, a ora-
XIX, momento de institucionalização do campo disciplinar, a biografia se
ção fúnebre se constituiu em narrativa exemplar que, ao narrar a vida de
articulava ao projeto de construção das Nações, organizando, por meio da
um morto pela cidade, buscava eternizar pela palavra a pólis como cons-
narrativa de determinados personagens eleitos, a galeria de seus grandes
trução dos homens. No limite, a vida contada para os ouvintes presentes
heróis — aqueles que, com suas vidas, deram provas de superação dos limi-
às cerimônias fúnebres importava como narrativa que deveria estimular o tes e das incertezas da vida humana e fizeram-se merecedores, por essa ra-
desejo de morrer pela cidade, desejando a eternidade da lembrança, pela zão, da lembrança da comunidade nacional em construção. Suas vidas
palavra, como forma de superar a contingência da própria vida humana, narradas se entrelaçam com a vida dessa mesma comunidade em formação,
Colocando-se no lugar do morto, ao ouvir a narrativa de sua morte, esse dando-lhe projeção para trás, num passado distante, como forma de legiti-
genero narrativo deveria produzir para o cidadão ateniense a capacidade mar organizações tão recentes. Narrar a vida dos que deveriam ser recor-
de identificação com aquela vida vivida, estimulando o desejo da imitação dados cumpria nesse projeto historiográfico a função de produzir exemplos,
e assegurando, dessa forma, a vida eterna para a comunidade política, inscrevendo-se a biografia, portanto, como parte do esforço retórico de
verdadeira protagonista da história narrada. Biografia da pólis produzin- construção nacional. Entendendo a retórica como a arte da persuasão, a
do a condição e o sentido para as biografias dos seus cidadãos! Uma vida narrativa das vidas dos homens ilustres pode ser compreendida como um
lembrada produz a ilusão de controle e domínio do tempo, de um cronos esforço necessário ao trabalho de convencimento para a ação no presente
implacável e devorador de seus filhos. segundo as exigências específicas da nova comunidade nacional.
Em outra chave interpretativa, As vidas paralelas de Plutarco, escritas Veio, contudo, o tempo da desconfiança e do descrédito em relação a
entre os anos 100 e 115 da nossa era, apresentam-se como um projeto de essa forma de escrever a história. À uma história pensada como espelho
fôlego que narra em paralelo a vida de personagens da história. Narrada da ação dos heróis, pautada pelos relatos políticos que enfarizavam a
mais com a finalidade do exemplo e tendo em vista o tempo presente e a ação do Estado, contrapunha-se, agora, a partir dos anos 1930, a história
ação, as biografias não se constituíram, em Plutarco, em exaustiva pesqui- das estruturas que passavam a explicar as ações humanas segundo deter-
sa histórica, mas em recortes de traços particulares que 0 autor pretendia minações que escapavam a esses homens no mundo. Tornava-os, assim,
fossem importantes para a vida no seu próprio presente. Modelo e exem- progressivamente, resultado da ação dessas estruturas, ao explicar a his-
plo, tornadas um monumento, as vidas paralelas de Plutarco conheceram tória e ao agir sobre ela — agora compreendida em seu sentido moderno
vida longa e tornaram-se referência central para o gênero biográfico. como sujeito dotado de lógica e sentido próprios. Conceito fundamental
Rea-
tualizada segundo demandas específicas, o monumento plutarquiano pod da modernidade, a História se transforma a um só tempo naquilo que
e
ser lido ao longo do tempo, ressignificado de acordo com as exigência explica e dá sentido à vida dos homens — eles se vêem como resultado da
s e
os propósitos de novos leitores em novos tempos. própria história — e naquilo que organiza o futuro das ações huma-
Sabemos, no entanto, que o gênero biográfico conh
eceu um longo pe- nas — agir segundo o sentido da história. A biografia perde, nesse cenário
ríodo de descrédito entre os historiadores de ofí historiográfico, seu sentido, mantendo-se prisioneira do gosto antiquário,
cio. Associada à historio-

21
20
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
PREFÁCIO: A BIOGRAFIA COMO ESCRITA DA HISTÓRIA

do interesse pelo curioso e afastada, assim, da pesquisa acadêmica e Cien-


tífica. Há que se considerar ainda o fato de que esse descrédito associava do — entre as quais podemos inscrever as narrativas biográficas, mas não
a biografia a uma história cujos comprometimentos políticos — tendo em somente — narrar as vidas é parte também de uma revalorização do sujeito
como agente no seu mundo, e também parece inscrever-se num projeto de
vista seu profundo nexo com os nacionalismos em suas diferentes verten.
identidade em que o próprio narrador pode ser objeto de uma futura nar-
tes — teriam sido responsáveis pelas experiências de catástrofes como as
rativa. Além disso, com o “giro subjetivo”, identificado por Beatriz Sarlo,
experimentadas nas duas guerras mundiais. Estava, então, desenhado o
tornou-se especialmente significativa a voz do indivíduo, daquele que viveu
cenário em que a biografia se apresentava como investimento intelectual
a experiência e que, na condição de testemunho, seria capaz de deslizar da
perigoso tanto por suas vinculações políticas com desdobramentos con-
experiência para a narrativa, dotando-a, por isso mesmo, de uma capacida-
denáveis quanto por sua epistemologia implícita, que supunha a história
de de falar a verdade do acontecido pela via da vida do narrador. Ainda que
como resultado da ação de personagens particulares e especiais.
não seja nosso objetivo retraçar a história do ressurgimento do gênero no
Como compreender o revival contemporâneo da biografia não apenas campo da produção historiográfica, alguns marcos podem ser identificados
como gênero literário — que como tal pôde conservar sua legitimidade mes- como especialmente significativos para reconsiderar o biográfico gênero
mo durante o período do descrédito como gênero histórico - mas também, relevante para a Academia e pertinente para a escrita da história.
e sobretudo, como forma de narrar a história cuja legitimidade é reconhe- Em janeiro de 1985 o prestigiado historiador da então Alemanha De-
cida, inclusive, na academia? As prateleiras de nossas livrarias reservam mocrática (DDR), Ernst Engelberg, publica uma volumosa biografia de
espaço especial para as biografias, e editoras de prestígio no meio acadêmi- um dos personagens centrais da formação do Estado nacional alemão:
co contam em sua linha editorial com o gênero biográfico, representado Otto von Bismarck. À figura de Engelberg, especialmente nos meios histo-
por obras de historiadores de renome e importantes tanto aqui como no riográficos da Alemanha Democrática, estava associada aos rumos desas-
exterior. Certamente se trata de outro regime de escrita biográfica, diferente trosos da recente história contemporânea alemã, quando a herança
das demandas tanto por exemplos para a ação quanto das fundadas na prussiana, especialmente representada pela figura de Bismarck, parecia
idéia de um personagem que explique a história de uma comunidade polí- prenunciar o desastre da política personificado na figura de Hirler e do
tica. Os tempos presentes talvez formulem à escrita biográfica demandas regime nacional-socialista. Para um historiógrafo de tradição marxista e
diferenciadas: no campo disciplinar, a possibilidade de alargar a compreen- estreitas vinculações a uma historiografia oficial, parecia ainda mais curio-
são do passado a partir da ação revalorizada dos atores so dedicar-se à escrita biográfica, especialmente de uma figura tão contro-
históricos, os quais,
se, por um lado, conduzem-se segundo condições versa como Bismarck. Sucesso editorial, a obra foi logo publicada por
que lhes são dadas, por
outro, são capazes de ressignificá-las, ao agir e ao alterá uma renomada editora da Alemanha Federal, deslanchando intenso deba-
-las, alertando o
historiador da necessidade de compreender te acerca do papel e do lugar da biografia para a escrita da história. No
os atores em ação sem que O
sentido final já esteja previamente inscrito em
sua própria ação. Em outras prefácio, o próprio autor não esconde o fato de que fora a “fascina-
palavras, a valorização da ação e dos atores se ção” — ainda que se situasse em campo oposto, como também faz questão
contrapõe ao projeto de
uma história | teleológica, quando a narrativa das
vidas desses atores adqui- de frisar — pelo personagem que o levou aos arquivos e a uma extensa
re outro sentido para a compreensão do pas
sado. No campo das demandas pesquisa biográfica acerca de Bismarck, que procurou estender cronologi-
mais gerais das sociedades contemporâ camente ao período integral de vida do biografado. Como um historiador
neas por narrativas acerca do passa-

23
22
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
PREFÁCIO: A BIOGRAFIA COMO ESCRITA DA HISTÓRIA

marxista abria espaço para a escrita de uma longa e bem fundamentad,


o renascimento da biografia faz parte, e que resultou numa ampliação, de
biografia, cujo foco era a vida do personagem, e não as estruturas
SOCiais maneira significativa, do foco possível para as análises do passado. Trata-
que definiriam sua ação no mundo? Nas palavras do autor, tudo aquilo
va-se de uma mutação importante no campo, que apontava na direção de
que pesquisara sobre a sociedade alemã do século XIX certamente estaria
uma valorização do eu, quer como sujeito da escrita histórica, quer como
presente em sua biografia; no entanto, a personalidade de Bismarck, com. ator que reivindica seu lugar numa narrativa da história.
preendida de diversos ângulos e em suas múltiplas e diversificadas relações
Este livro de Adriana Barreto de Souza resulta de sua tese de doutora-
com os homens de seu tempo deveria estar no foco de sua análise. Esse mento no Programa de Pós-graduação em História Social da UFRJ e inscre-
procedimento objetivava fazer de seu personagem e daqueles com ve-se num movimento de revisão da escrita biográfica como forma de
os quais
ele partilhou um tempo atores de “carne e osso”, e não apenas porta conhecimento histórico. À partir de interrogações nascidas de uma preocu-
-vozes
de um tempo histórico concebido para além de suas vidas e realiz pação marcadamente historiográfica, entendida como aquela que interroga
ações
ou de um conjunto de idéias materializáveis por suas ações como os objetos e as construções da própria história tornada memória pelos dis-
persona-
gens históricos — um deslocamento que indicava, ao mesmo tempo positivos peculiares à memória disciplinar, a autora se debruça sobre um
, uma
nova possibilidade de olhar aquele passado já intensamente visitado dos personagens centrais da história brasileira do século XIX, Caxias, pro-
pela
historiografia acadêmica. Os exemplos se multiplicam ao longo curando compreendê-lo com base na constante tensão entre as memórias
das déca-
das de 1980 e 1990, apontando na direção de uma mutação que dele se produziram e a ação do homem num tempo e submetido aos
significativa
em relação aos estudos de corte biográfico. Em 1996 é publicada pela constrangimentos de sua época, mas também investigando-o como ator no
Editora Gallimard de Paris a biografia de São Luis, de autoria do mundo em que viveu — suas escolhas e ações. O que o leitor terá ao final de
medie-
valista Jacques Le Goff — da qual se ocupara por mais de uma sua leitura é a imagem multifacetada de um personagem atravessado pelas
década -,
resultado de extensa e laboriosa pesquisa documental reunida num livro inseguranças próprias do seu tempo, e que buscava construir no mundo em
de
quase mil páginas. Em sua introdução Le Goff apresenta alguns dos desa- que lhe foi dado viver um lugar, um nome e uma história. A vida do perso-
fios da escrita biográfica como escrita da história, alertando-nos nagem, sua bios, fruto da escrita da historiadora, desvela-se no próprio
para o
fato de que escrever uma biografia significa postular alguns dos problemas movimento da escrita, e à idéia de uma unidade prévia, um destino que lhe
centrais da escrita contemporânea da história. Portanto, segundo estivesse assegurado — como as biografias do herói procuram construir um
ele, lon- Caxias predestinado às tarefas que desempenhou em seu tempo — Adriana
ge de provocar um estranhamento para um historiador forma
do na tradi-
ção da história social com visíveis ressalvas ao gênero de Barreto, pela operação historiográfica, aponta-nos a construção do perso-
escrita biográfica nagem até se transformar no Caxias heroicizado, monumentalizado e ne-
da história, Le Goff parece aceitar sua legitimidade como
gênero do cam- cessário aos usos políticos da história. Dessacralizado, o personagem
po historiográfico, valorizando-o particularmente
para a discussão dos
desafios de escrever história na atualidade. Evidente torna-se humano, homem entre os homens, e por isso passível de escrita
ressignificação do gê- histórica e não hagiográfica. Sem pretender narrar a vida de Caxias do nas-
nero estava em marcha pela mão de aclamados
e reconhecidos praticantes
do ofício, o que viria a assegurar no cimento até sua morte, pressupondo que esses marcos assegurariam a uni-
vamente legitimidade para a biogra
como form fia dade de uma vida a ser contada, a autora estabelece critérios para essa
a de escrita da história. A impo
rtância da micro-história e de
seus praticantes parece inscre narrativa, única condição possível de tornar a vida biológica em vida narra-
ver-se nesse movimento mais
largo, do qual

25
24
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

da — em biografia efetivamente. Por meio de uma narrativa clara, a autora


nos transporta para Os cenários em que se desenrolam os eventos, sugerindo Introdução: o duque-monumento
interpretações a partir de hipóteses rigorosamente fundamentadas. Alia, as-
sim, O prazer da narrativa — apelo sempre presente nas narrativas biográf-
cas quando associadas ao romance — à interpretação rigorosa de uma vasta
documentação pesquisada. Ao longo dos sete capítulos, mais a introdução
e a conclusão, o leitor é convidado a conhecer a história da constituição do
Estado Imperial brasileiro de uma ótica e um lugar específicos — os de Luiz
Alves de Lima e Silva, que não nascera predestinado a ser Caxias.
Os marcos cronológicos transcendem o nascimento do personagem, Dia 25 de agosto de 1949. Praça da República, centro da cidade do Rio
apontando com esse procedimento uma forma distinta de abordar a escrita de Janeiro. Ainda bem cedo, uma multidão já se aglomerava em frente
biográfica, e O primeiro capítulo investiga o estabelecimento da família deste ao prédio do Ministério da Guerra e ao longo da Avenida Presidente
lado do Atlântico e o longo processo de tecer as relações com a Coroa por- Vargas. Às 9h45, tinha início a solenidade de inauguração do monumen-
tuguesa, inicialmente, e com o Estado imperial, posteriormente. Nos capítu- to ao duque de Caxias. Com grande pompa, o prefeito do então Distrito
los seguintes, a autora pontua a ação de Luiz Alves de Lima e Silva nos Federal, general Ângelo Mendes de Morais, recebeu o presidente da Re-
diferentes momentos da história política do Brasil independente com parti- pública general Eurico Gaspar Dutra para, juntos, assistirem à chegada
cular destaque para as tensões que antecederam a abdicação do primeiro do cortejo que conduzia as urnas funerárias do homenageado e de sua
imperador do Brasil, a que se seguiu o longo e difícil processo de consolida- esposa, a duquesa de Caxias.
ção do poder imperial sediado no Rio de Janeiro, eventos particularmente A semana era de festa nacional. Comemorações oficiais estavam pre-
importantes para a construção de toda a mitologia em torno do herói como vistas para todos os dias de 19 a 25 de agosto, em todo o território brasi-
pacificador. Os dois últimos capítulos, finalmente, investigam a ação de Ca- leiro. Na capital, os preparativos começaram bem antes. Para a elaboração
xias no Rio Grande do Sul, combatendo a ameaça separatista representada do “programa das solenidades” havia sido criada uma “Comissão Espe-
cial de Homenagens Nacionais”, dirigida pelo vice-presidente da Repú-
pelo movimento farroupilha, ingrediente fundamental na construção da mi-
blica, e, para facilitar sua execução, foram criadas duas subcomissões:
tologia em torno de seu papel como unificador da Nação.
uma de divulgação e registro do evento e outra de preparação das home-
Uma apresentação, porém, deve encontrar o justo meio entre estimu-
nagens cívico-militares. As atividades se intensificaram a partir do dia 23,
lar o leitor e apresentar a obra que tem diante de s1, tarefa certamente
quando a comissão acompanhou, no cemitério do Catumbi, a exumação
difícil quando nos sentimos parte dela. Esta biografia de Caxias, a nar-
rativa de uma vida, é o resultado de quem faz história por que por ela dos corpos do duque e de sua esposa. No dia 24, sempre com convidados
esteve e está influenciada. É também a história de ilustres, as urnas foram trasladadas para a Igreja da Santa Cruz dos Mili-
uma cumplicidade que tares, na qual houve missa solene. Foi daí que elas partiram no dia 25,
vai muito além de exercermos — a auto
ra e eu — um mesmo ofício
para cumprir a última etapa do trajeto e chegar ao monumento da Aveni-
da Presidente Vargas.! À semelhança do panteão francês em homenagem
Santa Teresa, 29 de junho de 2008.
27
26
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
INTRODUÇÃO: O DUQUE-MONUMENTO

a Napoleão, o monumento ao duque de Caxias também era um panteão.


Mas a estruturação dessa memória, herdada pelas novas gerações de
De dimensões bem menores, em sua parte externa foi colocada uma está.
brasileiros, tem uma história ainda anterior à década de 1940. Um exa-
tua equestre do marechal, transferida para o local após haver permaneci-
me detalhado da estátua que orna o monumento de 1949 — uma estátua
do por cinco décadas na Praça Duque de Caxias, que pôde assim recuperar
equestre — mostra como a biografia do duque de Caxias, mesmo antes de
seu nome original, Largo do Machado.
sua morte, já constituía matéria-prima para a fundamentação de proje-
À exaltação patriótica promovida por essa semana de festas coroava
tos políticos, passando por algumas reelaborações até se tornar a biogra-
um movimento de “culto a Caxias” iniciado pelo Exército ainda em
fia de um “duque-monumento”.
1923, e que o transformaria em seu “patrono”. O duque celebrado nos Se olharmos com atenção a estátua equestre, ela representa um Ca-
discursos das autoridades ali presentes era um grande chefe militar a xias muito diferente daquele evocado pelos políticos presentes na inau-
serviço de um Estado forte. Mas — vale lembrar — de um certo tipo de guração do monumento. Seus traços são quase inertes: um cavalo sem
Estado, republicano e conservador. O que movia essas autoridades era aparência de movimento, a espada embainhada e um binóculo na mão.
a possibilidade de usar a imagem do duque de Caxias como uma espécie Nela, não há qualquer menção a seus feitos. O que orna a parte anterior
de antídoto contra a indisciplina militar dos anos 1920 e um exemplo da estátua são o brasão, a coroa e as armas ducais. Na parte posterior,
de vida dedicada à integridade da pátria.? Só então, o duque de Caxias aparecem apenas suas datas de nascimento e de morte. O escultor res-
se tornou essa imagem hoje naturalizada de um monumento ao rigor ponsável pela obra, Rodolfo Bernardelli, tinha uma explicação para es-
disciplinar e à meritocracia. O sepultamento de 1949 tinha uma função ses símbolos. Caxias fora para ele um estrategista, enquanto Osório teria
simbólica precisa: assinalava um renascimento. Em vida, o duque de sido o grande guerreiro. Responsável na mesma época pelos projetos das
Caxias abdicou de todas as honras funerárias a que tinha direito como estátuas dos dois generais, os traços esculpidos em bronze por Bernar-
duque e marechal do Exército imperial. Foi sepultado em 1880 com delli representam os interesses republicanos da década de 1890.
simplicidade. Mas a história desse homem, um general do século XIX, O entusiasmo da nascente República pelo general Osório fica eviden-
ficou para trás, esquecida sob o peso do monumento que o transforma- te no próprio local escolhido para a estátua e na forma como ele foi re-
va em herói nacional. presentado. A estátua foi colocada em uma das principais praças da
Enquanto realizava essa pesquisa, a pergunta que mais ouvi de vá- cidade, rebatizada, após 1889, com o nome de Praça XV de Novembro.
rias pessoas, do meio acadêmico e de fora dele, foi: Por que Caxias? Uma ampla reforma foi realizada em seus jardins para que o monumen-
O
tom entre surpresa e indignação, a princípio, me incomodava, mas to não fosse encoberto e, ao contrário do que se vê na estátua de Caxias,
a
recorrência da pergunta logo me fez ver quanto essa memó a que Bernardelli esculpiu em homenagem a Osório retrata uma situação
ria do du-
que de Caxias ainda é uma referência importante na de guerra: com uma das mãos o general controla um cavalo em movi-
organização de
identidades políticas. Obviamente isso se de mento, enquanto com a outra empunha a espada no ar. O uniforme que
ve a um outro estrato de
história, adicionado mais recentemente à me porta é o de campanha, bastante simples. Na parte anterior do monu-
mória coroada em 1949.
A repulsa que muitas vezes se sente pelo
duque de Caxias se deve a uma mento foram colocados emblemas de bronze dos principais atos da vida
história muito distante da vivida por ele: o golpe de
1964 e os 21 anos do general e, na parte posterior, o que Bernardelli chamou de Livro da
de ditadura militar. História. Há ainda um detalhe: apesar de os serviços prestados à monar-

29
28
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
INTRODUÇÃO: O DUQUE-MONUMENTO

quia também lhe terem rendido um título de nobreza — marquês de Her.


val —, esse dado da biografia de Osório não é lembrado pelo bronze de do monumento talvez tenham mantido a estátua porque acreditaram na
Bernardelli. Caxias era o duque, o militar da monarquia, e como tal lição dada, em 1878, pelo primeiro grande biógrafo do duque de Ca-
permaneceu por décadas em posição secundária na memória histórica xias, o padre Joaquim Pinto de Campos. Logo na primeira página de
seu livro, ele afirma que:
oficial, entre as copadas árvores do atual Largo do Machado. Osório er;
então festejado como general do novo regime, com uma estátua na praça
Tempos houve em que a sociedade pagava aos seus heróis esse feudo de
que também o homenageava — Praça XV de Novembro — e que, na épo- admiração, rendendo-lhes culto como a semideuses, figurando-lhes além
ca, era a porta de entrada da cidade para os visitantes estran campa uma residência em intermúndios. Outra, e mais razoável, é hoje a
geiros. Osg-
rio Os saudaria no centro da praça. recompensa dos coetâneos e a da posteridade: monumento melhor e mais
O monumento é composto de vários estratos de história. duradouro que os bronzes, a imprensa consagra, perpetua, lega aos sécu-
Ainda a los, nomes e feitos dos varões prelados. (Ênfases minhas.)
partir dele, é possível perguntar sobre o motivo de essa estátua
ter sido
mantida na composição de um monumento de exaltação da
imagem do A idéia que Pinto de Campos tinha de biografia é precisa: tratava-se de
duque de Caxias. Para isso, há algumas respostas possíveis.
um monumento narrativo. Na verdade, ele considerava as grandes bio-
Primeiro, é preciso lembrar que essa figura do “estrategista”,
para grafias ainda melhores que os monumentos de bronze, porque elas per-
manter a definição de Rodolfo Bernardelli, contribuía para afasta
r sim- petuavam nomes e feitos, ou seja, porque fixavam uma memória. Esse
bolicamente os militares das paixões e lutas políticas. Enquan
to Caxias conselho do padre foi ouvido com tanta atenção pelos interessados em
era o estrategista, Osório era — nos discursos ali realizados — o recuperar a memória do duque de Caxias que, em 1936, dentre as várias
símbolo
do soldado-cidadão, modelo de militar que teria sido respon medidas adotadas pelo ministro da Guerra para consolidar esse verda-
sável pela
primeira intervenção do Exército na política nacional: a Pro deiro “culto a Caxias”, estava exatamente — vale enfatizar — a reedição,
clamação da
República. Portanto, essas imagens — a do “estrategista” e a do para distribuição gratuita em todo o Exército, da biografia escrita por
“solda-
do-cidadão” —, elaboradas nos anos iniciais da República, ainda Pinto de Campos.* À história que o padre contou em 1878 era, desse
eram
bastante interessantes para aqueles que erguiam o panteão na modo, a que devia ser oficialmente guardada no século XX. Isso significa
década de
1240. Um Caxias estrategista colaborava para a idéia de neutralid que há uma narrativa biográfica e memorialista que sustenta o panteão
ade.
Se Caxias participou da política em alguns momentos, da Avenida Presidente Vargas. A memória do duque de Caxias por nós
o fez — como nos
quer fazer crer a memória ainda em vigor herdada foi em grande parte preparada durante a monarquia e a vida do
— contrariado, apenas para
defender os interesses nacionais. biografado, que a autorizou.
Um segundo dado que se deve levar em cont O padre-biógrafo escrevia de um lugar social bem definido. Ele era
a é que a encomenda de
E nova estátua, exclusiva para o monument membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, um centro oficial
o de 1949, poderia abrir
polémica, O que certamente não co de produção da memória nacional no século XIX. Coube ao Instituto
ntribuiria em nada para o silencia
dessa versão republicana menos favorá r
vel ao duque de Caxias delinear um perfil para a nação brasileira, fundamentando na história
Por fim, há um terceiro elemento que um projeto nacional e construindo seus mitos e representações.” O padre
recupera um estrato mais pro-
fundo desses embates memorialistas + Os Joaquim Pinto de Campos, além de pertencer a esse grupo de letrados
responsáveis pela concepção

31
30
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
INTRODUÇÃO: O DUQUE-MONUMENTO

comprometidos com a elaboração de um projeto centralizador, partici-


pou das disputas políticas que visavam à sua implantação. Ocupou por oficial do Exército é separado do Caxias político, e os inúmeros cargos
sete legislaturas uma vaga na Câmara dos Deputados como representan. ocupados pelo chefe militar são apresentados pelo padre-biógrafo como
te de Pernambuco e foi indicado algumas vezes para a lista tríplice do exigência imposta pelas circunstâncias nacionais — eles jamais expressa-
riam um interesse pessoal. Se Caxias assumiu encargos políticos, O teria
Senado. Foi também um nome-chave na repressão à Revolta Praieira,
feito em nome da nação. Pinto de Campos — que se apresenta como seu
reagrupando regionalmente as forças conservadoras em 1848. Não por
amigo pessoal — recorre, em sua argumentação, a uma confissão. Caxias
acaso, escreveu a biografia de dois grandes nomes do império — a de Ca-
lhe havia segredado preferir “anos da mais dura guerra a meses de
xias e uma outra, bem pequena, sobre d. Pedro II, também durante a
gabinete”.1º É verdade que Caxias fez declarações desse tipo. Mas é im-
vida e com o consentimento do imperador.
portante destacar que frases como essa datam do final de sua vida, sendo
Vida do grande cidadão brasileiro — título de sua obra — não foi o
repetidas com mais fregiiência após a guerra contra o Paraguai, quando
primeiro trabalho escrito sobre Caxias. Três outros textos foram consa- ele já não se reconhecia na política imperial, lamentando publicamente a
grados à vida do oficial antes mesmo de ele se tornar o marechal duque morte de alguns de seus “bons companheiros” da década de 1830." O
de Caxias.” Mas sem dúvida ela foi a responsável pela instituição de uma mais surpreendente é que, nos outros biógrafos, esse tema — atuação po-
memória do general. A mencionada reedição de 1936 deu à obra de Pin- lítica — desaparece como problema. Paulo Matos Peixoto se satisfaz em
to de Campos um caráter oficial. Fez dela a história que deveria ser con- afirmar, seguindo o texto do padre, que havia incompatibilidade entre as
tada às novas gerações. Para atestar sua força, sua capacidade de “agremiações políticas” e o Exército. Vários biógrafos não mencionam
mobilizar pessoas e produzir identidades, basta ler as biografias que fo- sequer que Caxias ocupou cargos políticos.!?
ram escritas posteriormente. Um bom indicativo da eficácia do processo Os anos de formação constituem o outro corte, ou região de silêncio.
de instituição de uma memória, coletiva ou individual, é a repetição, Para os biógrafos a trajetória de Caxias não deve receber um tratamento
quanto ela é relembrada.? Entre a publicação de sua obra em 1878 e as uniforme. Uma fase merece destaque: a em que “entrou a acentuar-se
últimas publicações do gênero, ocorridas na década de 1980, é possível essa alta individualidade”.!3 O ponto de emergência dessa individualida-
registrar 51 títulos. Em todos esses textos, a estrutura narrativa é a mes- de nos textos biográficos é em 1839, quando Caxias, aos 36 anos, inicia-
ma — raros são os casos em que há uma informação original. Todos re- va uma etapa de sucessos na sua carreira militar. Em 1837 teve início a
petem a montagem biográfica elaborada pelo padre -, que conseguia, rebelião dos balaios. Em 1839, ele seguiu para o Maranhão. Era a pri-
assim, erguer um monumento narrativo a Caxias. meira grande campanha militar do então coronel. Ão debelar o movi-
l É certo que a aceitação dessa montagem depende dos elemento
s que mento, foi agraciado com o título de barão de Caxias — cidade centro da
são levados em conta na sua composição. Há aí um jogo
que lembra, resistência dos balaios — e promovido a general-brigadeiro. Essa é para
mas que também institui silêncios, formando uma espécie
de matriz dis- seus biógrafos a data perfeita para começar a narrativa de sua trajetória.
cursiva. No caso da biografia de P; Tanto assim que na obra do padre Pinto de Campos os 36 anos anterio-
dois grandes cortes e Rã um meo da ieJetória ir EE ssts
de Caxias. ao a res à Balaiada foram abordados em 24 páginas, isso em uma obra com
; O aço corte procura apagar os traços de sua atua
ção política e nada menos que 496 páginas. Foi do encontro dessas duas regiões de
estacar a idéia de dever nacional anteriormente menc
ionada. O Caxias silêncio — dos anos iniciais de sua vida e de sua atuação política — que

33
32
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
INTRODUÇÃO: O DUQUE-MONUMENTO

surgiu a figura monumental do duque de Caxias. E, por isso, foi a Part;


da exploração desses mesmos silêncios que este livro se construiu, Po vida a um conjunto coerente e orientado por uma lógica linear, retros-
pectiva e prospectiva.!” A aquisição e o acúmulo de patentes, cargos
meio de uma vasta pesquisa em arquivos brasileiros e portugueses
também lidando com os limites dessa documentação -, ele se detém na políticos, mercês e títulos nobiliárquicos (anexo II) não são expressão de
uma vocação inata, de um “eu” superior, nem são determinados por
vida do jovem Luiz Alves de Lima e Silva.
uma abstrata necessidade da política nacional. Eles resultam de um lon-
go investimento geracional, da elaboração de projetos e de uma incansá-
vel atuação visando à sua realização. Luiz Alves foi o primogênito da
MEMÓRIA E HISTÓRIA
segunda geração dos Lima e Silva nascidos no Rio de Janeiro, posição
geracional que, sobretudo em sociedades tradicionais, é revestida de uma
A trajetória do duque de Caxias é conhecida por meio de textos biográ- série de expectativas. Se essa posição lhe abriu várias possibilidades so-
ficos que desejam impor a seus contemporâneos e à posteridade uma ciais, também inviabilizou outras opções. O modo como Luiz Alves dia-
imagem heróica do general. A falta de pesquisas sistemáticas sobre 0 logou com essa herança e com seus limites produziu uma forma específica
tema e Os poucos estudos existentes sobre o Exército brasileiro no século de ação militar e política, produziu o duque de Caxias.
XIX acabaram contribuindo, assim, para a difusão de um senso comum A segunda característica desse senso comum é o predomínio de uma
histórico que ainda organiza as reflexões sobre a atuação do marechal visão anacrônica do que é “ser militar”. Os biógrafos sempre destacam
em livros didáticos e trabalhos acadêmicos. que Caxias pertencia a uma tradicional família de militares portugueses.
Três características predominam nesse senso comum histórico. A pri- O esforço rende no máximo uma lista com nomes, patentes e grau de
meira é a perda de sua dimensão humana.'* O duque de Caxias continua parentesco. À lista é longa, é verdade. Mas o que isso significa? Aonde
representado como um monumento, resultado de um trabalho meticulo- esses dados nos podem levar? Creio que devem funcionar como um aler-
so purificação e de eliminação de todo vestígio humano. Prevalece à ta de que estamos tratando de outra época e de que é preciso haver dis-
|
idéia de que um “ grande homem” se faz por um processo autônomo, posição para pensar outros padrões de sociabilidade, critérios de
independentemente da sua existência social e de sua experiência como organização da carreira militar e de estruturação do próprio Exército.
ser humano. É preciso, ao contrário, mostrar que Caxias, Não se pode ignorar que Caxias nasceu em 1803 e que O Brasil nesse
como qual-
Ag om indivíduo, se encontrava inscrito em uma rede social especí- momento era parte do império português. Foi para defender os interes-
É= dos Po ieani rei ao longo de sa vidas que ses da Coroa na fronteira sul de suas possessões americanas que Os pri-
-- ia atê amizades do meio militar € meiros Lima e Silva desembarcaram no Rio de Janeiro em 1767.
na
político, passando pelos colegas de juventude. Ele não escapou à rede Integravam um dos três regimentos portugueses que se instalaram
de O
obrigações, de expectativas e de reciprocidade que caracteriza a vida cidade. Encontraram aqui apenas três precários regimentos regulares.
era
social. Talvez o primeiro passo seja começar por | restante da força militar que guarnecia a cidade e seus arredores
r seu nome. D
compos to de ord ena nça s e for ças aux ili are s. O suc ess o da mem óri a ins-
que de Caxias é o ponto de chegada” deu ea
E :
. majet traje
óri a be m- su ce di da sob re Cax ias ind uz, ness e caso , a uma fals a sen saç ão de familia-
astes disso, ee por º Css
An mui :
anos, ele foi apenas Luiz Alves de Lima e Silva. tituída
um Exército
Não hav ia ain da — é sem pre bom lem bra r —
ajude a romper com a ilusão que vincula ridade.
a história de

35
34
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
INTRODUÇÃO: O DUQUE-MONUMENTO

brasileiro.!é Tradições militares diferentes eram alinhavadas segundo in.


sados isoladamente, sem levar em conta sua inserção política. Esse é O
teresses conjunturais. À chegada desses regimentos portugueses alterou
terceiro traço do referido senso comum, que já havia destacado: o silên-
a lógica de organização do espaço da cidade e criou, como mostrare;
cio sobre sua vida política. O que se sabe é que Caxias era integrante do
novas formas de hierarquização das forças militares. Ou seja: criou eu
Partido Conservador. Meu interesse, entretanto, recai sobre a dinâmica
nova configuração social, específica, que não serve para pensar as forças
dessa vinculação. Nesse ponto, conto com o inestimável auxílio de pes-
militares de outras regiões da colônia. O uso anacrônico do termo “mi.
quisas realizadas no campo da história política.!? O Rio de Janeiro da
litares” nesse contexto implica perder essa dimensão plural do campo década de 1830 é reconhecido como um importante laboratório para a
institucional e suas nuances regionais. Ficar atento a essas variações não formulação dos princípios políticos conservadores que organizaram a
é preciosismo, sobretudo quando se trata de pensar uma biografia. O política nacional dos anos subsequentes. A primeira posição de coman-
jovem Luiz Alves era oficial do Exército português no ultramar. Ele as- do exercida pelo então major Luiz Alves de Lima — como costumava
sentou praça e recebeu suas primeiras patentes de oficial no 1º Regimen- assinar — foi exatamente a de comandante das Guardas Municipais Per-
to de Infantaria do Rio de Janeiro. Isso o coloca em um lugar preciso e manentes do Rio de Janeiro. Assumindo esse posto em 1832 e nele per-
ajuda a redimensionar a importância da sua atuação nos anos posterio- manecendo até 1839, por sete anos consecutivos, foi um dos responsáveis
res. O que denominamos Exército brasileiro só terá certa unidade ali- pela repressão aos movimentos de rua que se alastraram pela corte após
nhavada pela primeira vez - como espero deixar claro ao final do a abdicação de d. Pedro I.
livro — por meio dos “movimentos de pacificação” das décadas de 1830 Novamente é importante recuperar sua inserção social. Durante esse
e 1840. Em parte, devido à circulação e à atuação do próprio Caxias. decênio, a família de Luiz Alves ascendeu aos principais postos político-
Ainda assim, essa unidade seguiu princípios e valores particulares à épo- militares do império. Seu pai foi regente e senador do Brasil; um tio,
ca, e que pouco lembram as noções de disciplina e de preparo técnico Manoel da Fonseca de Lima e Silva, ocupou duas vezes o cargo de mi-
naturalmente atribuídas hoje à carreira das armas. nistro da Guerra e esteve à frente da pasta da Justiça; outro tio, José
São vários os trabalhos que apontam o caráter aristocrático dos exér- Joaquim de Lima e Silva, assumiu o Comando de Armas da cidade do
Rio de Janeiro, o posto de vogal do Conselho Supremo Militar, e foi
citos do século XVIII.” Um Exército aristocrático é caracterizado por
baixo grau de profissionalização do corpo de oficiais. A Real Academia eleito, em 1834, deputado pela província do Piauí. Acredito, desse
Militar, na qual o jovem Luiz Alves estudou, ao contrário do que se pen-
modo, que Luiz Alves pertencia ao grupo de jovens que, marcado pela
experiência desses conturbados anos, foi devidamente treinado pelas
sa, não era propriamente um centro de formação de oficiais militares: O
ensino era fraco, a disciplina inexistia como valor militar e o curso não lideranças conservadoras a partir da última regência. Antes de seguir
era nem mesmo um pré-requisito para ingresso na carreira. A ascensão
em expedição para o Maranhão e provar sua “alta individualidade”, foi
dentro da instituição dependia antes da prestação de serviços convidado para acompanhar o então ministro da Guerra, general Se-
à Coroa, bastião do Rego Barros, em uma viagem ao Rio Grande do Sul com a
que tanto poderia ocorrer em campos de batalha como nas Câmaras €
intenção de reanimar as forças do governo depois de uma grave crise
gabinetes políticos. Não é minha intenção negar os sucessos militares
de aberta pela deserção de comandantes militares para as fileiras farroupi-
Caxias. Acredito, contudo, que, pelo fato de ter sido um ofic
ial formado lhas. Meu interesse, desse modo, é pensar a política no âmbito da expe-
em uma tradição militar aristocrática, esses sucessos
não podem ser pen-
37
36
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
INTRODUÇÃO: O DUQUE-MONUMENTO

riência.!? Acompanhar a trajetória de Luiz Alves, de forma a recompor termo não é casual. Foram os nomes mencionados nos documentos, as
o jogo de identidades e oposições responsável pela formação de uma cidades que percorreu nas campanhas militares e os postos assumidos
rede de solidariedades que, no caso específico, deu lugar a um Projeto por ele que definiram os maços e coleções de documentos a ser anali-
político. A mesma rede que fez dele o “grande pacificador” e um dos sados. Tentava, com isso, recompor a rede social em que Caxias se
primeiros chefes do Partido Conservador. achava inscrito em diversos momentos de sua vida. O conceito de con-
figuração é, nesse caso, fundamental. Ele remete a uma imagem gráfi-
ca definida por esse exercício: todas as linhas partem do nome e
BIOGRAFANDO O DUQUE concorrem para o nome “Caxias”.
Essa estratégia metodológica expressa uma posição teórica. Todo in-
Os predicados atualmente atribuídos ao duque de Caxias - um general ex- divíduo ocupa um lugar numa teia humana composta de relações que
tremamente disciplinado, rigoroso e avesso à política — são completamente não lhe é permitido modificar senão dentro de certos limites. Escrever
estranhos aos valores e até mesmo aos critérios que organizavam a carreira um trabalho biográfico é, em parte, pensar essas relações que se precipi-
militar no século XIX. Essa é a imagem de um militar moderno, que rece- tam sobre o indivíduo no momento de seu nascimento e por meio das
beu uma formação orientada pela disciplina de uma vida de caserna. quais ele se insere no mundo.?! O conceito de configuração expressa essa
Entronizado em 1949 no panteão da Avenida Presidente Vargas, rede de dependências de forma plástica, como inter-relações em constan-
como símbolo de uma instituição já bastante distante daquela a que te adaptação. Os lugares por onde Caxias circulou, o modo como agia
serviu, e após 21 anos de ditadura militar, o diálogo com o duque de em relação às pessoas e o que decidia lhe permitiam dar continuidade às
Caxias se tornou cada vez mais difícil, sobretudo para historiadores, relações herdadas, reelaborá-las ou romper com elas, além de dar-lhe a
chance de tecer novas alianças. É nesse jogo relacional que se vai dese-
políticos e intelectuais de esquerda. Nesse lugar, só havia duas maneiras
de tratá-lo: ou por meio de textos laudatórios, escritos em sua maioria nhando o que entendo por biografia. Sem dúvida, esse exercício se
aproxima de questões da psicanálise, mas, apesar de reconhecer a pre-
por militares, ou por textos que, na oposição que faziam ao exército do
sença de componentes inconscientes na reação e na ação dos indivíduos
golpe de 1964, demonizavam seu patrono — o duque de Caxias. Mas
em sociedade, não é essa a minha questão. Outro conceito-chave é o de
ambos os tratamentos são — acredito eu — equivocados. Isso porque eles
ação. Ele pretende enfatizar o que há de consciente nas escolhas de um
o mantém nesse mesmo panteão, dialogando com um “duque-monu-
indivíduo, numa conduta que pretende atingir determinados fins, funda-
mento? erguido pelo século XX.
dos em projetos pessoais ou coletivos e, no caso, voltados para a políri-
Por isso, reafirmo: a preocupação central da pesquisa foi devolver
ca. Esses projetos, juntamente com os indivíduos, acham-se inscritos
Caxias à sua época. Pretendia acompanhar sua trajetória e recuperar
nessas mesmas redes de dependência, igualmente sujeitos às contingên-
o jogo relacional a partir do qual sua atuação como sujeito histórico
cias da experiência, e, por isso, guardam também certa plasticidade.
efetivo, em ação, era capaz de adquirir sentido. Assim, o nome
“Ca- Constituem uma conduta — como maneira de articular e expressar inte-
xias” funcionou, para empregar uma clássica imagem de
Carlo Ginz- resses, aspirações e sentimentos — e engendram práticas concretamente
burg, como uma bússola, que me guiou pelo vasto universo docume
ntal negociadas por indivíduos diante de um campo de possibilidades. À ex-
dos arquivos e organizou a narrativa.?º Procurei acompanhá
-lo, à e O
39
38
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
INTRODUÇÃO: O DUQUE-MONUMENTO

tensão desse campo é variável. No caso de Caxias, ele se alargou à medi.


da que assumia posições de liderança, militares ou políticas.? imaginar que o historiador dispõe, para a execução de sua pesquisa, de
Na recomposição desse campo de possibilidades outra estratégia um grande acervo documental. Isso é verdade apenas em parte. Realmen-
importante consistiu na exposição detalhada de vários acontecimentos, te há um vasto acervo disponível, mas de documentos oficiais, produzi-
dos por Caxias no exercício de postos militares e políticos. Documentos
Não se deve esperar encontrar nestas páginas, contudo, narrativas mi-
pessoais, além de escassos, estão espalhados por várias instituições. Não
litares. Não é esse o propósito deste livro. O que pretendo é decompor
existe um “arquivo duque de Caxias” — um acervo doado pela família,
o “duque-monumento?, contando a história de um oficial brasileiro
por exemplo — depositado numa única instituição de pesquisa. Em função
nascido numa família de militares portugueses, de origem não nobre,
disso, no último ano da pesquisa, dediquei-me a percorrer leilões e a ten-
que atravessou o Atlântico para tentar aumentar suas chances de as-
tar contatos com colecionadores e famílias que poderiam ter documen-
censão social. Na posição de primogênito, esse oficial deu segiiência ao tos. Devo dizer, desde logo, que o resultado foi modesto e que isso deixou
projeto de seu avô paterno, o primeiro Lima da Silva — grafia original marcas no texto. A mais importante é a impossibilidade de explorar mais
do nome da família — a estabelecer-se no Rio de Janeiro. Contando essa de perto sua dimensão humana, ou seja, suas dúvidas, fraquezas e contra-
história, pretendo mostrar também como, por meio dessas famílias, dições. O recurso utilizado nesses casos foi não só explicitar esses “vazios
uma tradição militar portuguesa de traços aristocráticos persistiu no documentais”, mas também explorar a sugestão de Natalie Davis e traba-
Exército após a independência. Transmitida às novas gerações, em uma lhar, a partir de uma minuciosa pesquisa sobre fontes indiretas, com a
época caótica, marcada por inúmeras lutas, essa tradição fundamen- idéia de “possibilidades históricas”.
tou processos de construção de identidades, sendo atualizada e con-
servada pelo engajamento de jovens como Luiz Alves de Lima, que
empenharam seus ideais e suas forças na consolidação do império do
Brasil. Essa consolidação, realizada nos moldes conservadores, se deu
pela conservação de heranças dos tempos coloniais. O livro termina,
assim, com a “pacificação” da Farroupilha, última revolta combatida
por Luiz Alves de Lima que colocava em risco a ordem que ele apren-
deu a preservar, ao observar e ouvir seus avós e ao lutar ao lado de seu
pai e de seus tios: a ordem imperial.?4
Por fim, há mais um ponto que deve ser explicitado. O esforço exaus-
tivo de recuperação dessa etapa inicial da trajetória do duque de Cax
ias,
realizada por meio de uma minuciosa pesquisa empírica, não elimina O
caráter fragmentário do texto. Primeiramente, porque, como toda re-
construção histórica, ele se ergueu com base em um
material fragmenta-
do, disperso
:
e isolado.”
1 2s
Mas, no caso específico da trajetória de Caxias,
há outra dificuldade. À relevância histórica do personagem nos
induz à

41
40
INTRODUÇÃO: O DUQUE-MONUMENTO

Notas
15. Refiro-me aqui às reflexões de Bourdieu sobre o que ele chamou de “ilusão biográ-
fica”. Pierre Bourdieu, “A ilusão biográfica”.
16. Um trabalho que chama a atenção para a inexistência de um Exército brasileiro por
meio de importante pesquisa empírica é o de Hendrik Kraay, Race, State, and Ar-
med Forces in Independence-Era Brazil.
17. Uma tipologia é apresentada e discutida por Samuel Huntington, O soldado e
o Estado, e por Alfred Vagts, History of militarism. Sobre os traços aristocrá-
ticos do Exército português há um trabalho em andamento de Fernando Dóres
1. O “Programa Geral das Comemorações” foi editado pela Revista Mili Costa, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Pode-se ter
tar Brasileira
de 25 de agosto de 1949, uma idéia desse trabalho por meio do artigo “O bom uso das paixões”. Os
2. O ponto de partida desse trabalho foi o texto de Celso Castro primeiros autores a apontar esses traços no Exército brasileiro foram José
“Entre Caxias e
Osório: a criação do culto ao patrono do Exército brasileiro”. Murilo de Carvalho, “As Forças Armadas na Primeira República”, e John
A ampliação dessa
pesquisa resultou em seu livro A invenção do Exército brasilei
ro. Sobre o projeto Schulz, O Exército na política. Esse é um tema sobre o qual tenho trabalhado
político que fundamenta esse movimento conservador republica desde o mestrado. Ver Adriana Barreto de Souza, O Exército na consolidação
no, ver José Muri-
lo de Carvalho, “Forças Armadas e política, 1930-1945”. do Império.
3. Uma análise mais detalhada sobre os monumentos pode ser enc 18. As reflexões de José Murilo de Carvalho em A construção da ordem e Teatro de
ontrada em Adriana
Barreto de Souza, “Osório e Caxias”. sombras e de Ilmar Matos em O tempo saquarema sobre a construção do Estado
4. Sobre a geração de militares que proclamou a república, imperial brasileiro foram fundamentais na estruturação dessas reflexões.
ver Celso Castro, Os mili-
tares e a República. 19. O conceito de “experiência” é trabalhado aqui seguindo as reflexões de Norbert
3. Joaquim Pinto de Campos, A vida do grande Elias em A sociedade dos indivíduos. À aplicação dessa noção para pensar a for-
cidadão brasileiro, p. 9.
6. Celso Castro, “Entre Caxias e Osório”, p. 110 mação de um grupo de elite política segue a discussão de Ilmar Mattos, Op. cit., e
.
7. Sobre o projero de história nacional produzido pelo José Murilo de Carvalho, A construção da ordem. Para pensar o Exército, ver Sa-
IHGB, ver Manoel Salgado
Guimarães, “Nação e civilização nos trópicos”. bina Loriga, “À experiência militar”.
8. Uma análise das biografias pode ser encontrad 20. Carlo Ginzburg, “O Nome e o Como: troca desigual e mercado historiográfico”,
a em Adriana Barreto de Souza,
“Entre o mito e o homem”. in: A Micro-História e outros ensaios.
2. Toda a reflexão aqui realizada sobre memóri 21. A referência para pensar a relação indivíduo-sociedade continua sendo Norbert
a se baseia em Michael Pollak,
L'expérience concentrationnaire, e no artigo Elias, A sociedade dos indivíduos.
do mesmo autor “Memória, esque-
cimento, silêncio”. 22. O conceito de “configuração social” pensado em termos geográficos e profissionais
10. Joaquim Pinto de Campos, A vida do gr
ande cidadão brasileiro, p. 396. tem orientado o trabalho de um grupo de pesquisadores europeus que procura
11. Nelson Lage Mascarenhas, Uya jorna lis
ta no Império, p. 243. fundamentar o conceito com base em pesquisas empíricas sobre a trajetória de in-
12. Paulo Matos Peixoto, Caxias: nome tut
elar da nacionalidade, p. 42. Entre os divíduos em diferentes cidades européias. Pode-se ter uma boa idéia do trabalho de
nem menciona m a Ocupação que cada um desses pesquisadores por meio do livro organizado por Maurizio Gribau-
a de cargos políti íti cos, podemos citar Silvio Romero,
um texto intitulado O Dugue de Ca em
xias e a integridade do Brasil di, Espaces, temporalités, stratifications.
13. Joaquim Pinto de Campos, op. Cit., p.
36. 23. Os conceitos de “projeto” e de “campo de possibilidade” são largamente utilizados
7 no
14. Essa perda da dimensão humana é
analisa da por Norbert Elias, Mozart: socio- por Gilberto Velho para analisar trajetórias e biografias. Sigo aqui suas reflexões
negociação
= Ra

livro Projeto e metamorfose. A idéia de projeto como instrumento de


cs

logia de um gênio. Mais recentemen


a = ”

te, u ma discussão sobre o tema pode


encontrada em Sabina Loriga, “À biogra ser e “mei o de com uni caç ão”
"

apar
=

ece no capí tulo “Mem


sil

ória, identidade
es de id m >

grafia como problema” e “Être historie da real idad e”


aujourd”hui”. ns
e projeto”, p. 103.

42 43
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

24. A idéia de pensar uma geração de fundadores do império e outra de consolidadores


unidas pela experiência em torno das lutas políticas da independência e das regências
tal como o par consolidação/conservação, devo a Ilmar Mattos, op. cit., p. 125-6, |
25. Wilhelm von Humboldt, “Sobre a tarefa do historiador”, p. 79.
26. O trabalho sobre “possibilidades históricas” só foi possível após a discussão de
Natalie Zemon, Davis, O retorno de Martin Guerre, Rio de Janeiro, Paz e Terra,
1987.

. Para estímulo dos que servem nas colônias:


os Lima da Silva atravessam o Atlântico

aa
No dia 5 de outubro de 1767, a nau da Ajuda atracou ao cais do porto
do Rio de Janeiro. O vice-rei do Estado do Brasil, conde da Cunha,
aguardava ansioso sua chegada. Sabia que, depois disso, a rotina da ci-
dade mudaria completamente. À nau trazia o tenente-general alemão
Johann Heinrich Bôhm, alguns brigadeiros e coronéis. Foi a última em-
barcação a chegar à cidade. Antes dela, já haviam atracado a esse mesmo
cais os quatro vasos de guerra que a escoltaram durante a travessia do
Atlântico e os navios que fizeram o transporte das tropas enviadas por
Sua Majestade. Uma operação que movimentou o porto do Rio de Janei-
ro ao longo de todo o mês de setembro, despejando na capital três regi-
mentos do Exército português.
O acontecimento era tão importante que, mesmo acamado, sofrendo
há dias “um grande afluxo catarral com febre ativa”, o conde da Cunha
não deixou de recepcionar o tenente-general. Apesar de não ter ido ao
cais do porto, como era esperado, preparou, na noite desse mesmo dia,
uma ceia em sua casa, dispensando a Bôhm e seus oficiais “todas as de-
monstrações de alegria e estimação”. Na verdade, o conde não tinha
opção. O fato de não ter comparecido aos festejos no cais já despertaria
comentários, e para amenizá-los o jantar era obrigatório. Semanas de-
pois, a fim de evitar maiores embaraços em Portugal, escreveu direta-
mente ao secretário de Estado do Reino e das Mercês para justificar-se.
Foi só então que contou sobre o estado “precário” de sua saúde.!
O tenente-general Bôhm gozava de prestígio na corte portuguesa.
Sua contratação fora indicada pelo conde de Lippe — um oficial da re-

4?
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
PARA ESTÍMULO DOS QUE SERVEM NAS COLÔNIAS

nomada “escola” prussiana que havia prestado serviços em Portu.


gal — para assumir nada menos que o comando de todas as tropas do viviam no Brasil, mas também os que chegavam. A base das relações
rei nas Índias Ocidentais.” Um prestígio que conferido ao tenente-pene. nessas unidades militares já se achava definida, sendo, por vezes, como
ral se estendia, com gradações diferentes, aos oficiais reunidos à Mesa no caso dos Lima da Silva, de origem familiar.
do conde da Cunha. Presença certa no jantar era a dos oficiais estran. O coronel Francisco de Lima da Silva — ou simplesmente Francisco de
Lima, como assinava — usou suas prerrogativas de comandante do Regi-
geiros.* O brigadeiro sueco Jacques Funck e o engenheiro italiano
mento de Bragança para, antes de deixar Portugal, promover seu irmão,
Francisco João Roscio foram os que, posteriormente, em função das
o cadete José Joaquim de Lima da Silva, a alferes, e embarcá-lo na expe-
obras que realizaram na cidade, tornaram-se mais conhecidos. Consi-
dição para o Rio de Janeiro.* A diferença de idade entre os dois, de 29
derando-o, porém, prestígio dos postos de comando, é quase certo que
anos, e a morte do pai pouco tempo antes fizeram com que Francisco de
os coronéis dos três regimentos portugueses também estivessem pre-
Lima assumisse a responsabilidade de orientar a carreira de José Joa-
sentes no jantar. Dentre eles, Francisco de Lima da Silva, coronel co-
quim. Diante desse quadro, algumas perguntas são inevitáveis: o que es-
mandante do 1º Regimento de Bragança. ses irmãos pretendiam com uma expedição a terras tão distantes? O que
Uma decisão como essa, de enviar três regimentos regulares de Por- deixavam para trás? Que lugar eles ocupavam na sociedade portuguesa?
tugal para o Rio de Janeiro, era extremamente delicada. Ela mobilizava A intenção deste capítulo é acompanhar a trajetória desses dois ofi-
e colocava em contato, de forma repentina, milhares de pessoas de cul- ciais para reconstituir, por meio de suas motivações pessoais e experiên-
turas diferentes. Além dos portugueses — alguns das ilhas dos Aço- cias institucionais, Os repertórios normativos pelos quais eles negociaram
res— havia ainda os mercenários, provenientes de outros países europeus. concretamente suas práticas como militares do Império português.
Para piorar, esses mercenários vinham como oficiais e assumiam postos Desse modo, o que se propõe é uma inversão no procedimento mais
de comando. Os conflitos eram inevitáveis e ocorriam em vários níveis. usual entre os historiadores, que consiste em partir de um contexto ge-
Não à toa, o conde da Cunha deixou de ir ao porto recepcionar 0 tenen- ral para situar a atuação de alguns personagens.” Aqui, o contexto será
te-general Bôhm. Mesmo na posição de vice-rei do Estado do Brasil sempre particular, desenhado em função da circulação dos irmãos Lima
sentia-se incomodado com a presença de uma autoridade militar de pres- da Silva pelo império e dos episódios em que se envolveram. Essa inver-
tígio, que contava com tantos favores do rei. A doença que descreveu em são é especialmente útil para a análise de sociedades de Antigo Regime.
seu ofício certamente era parte de uma encenação política. A O Exército setecentista não era uma instituição com alto padrão de ra-
chegada de
Bôhm romperia o equilíbrio de poder local e, percebendo isso, o conde cionalização. Em seus quadros integrava oficiais que haviam construído
resistia. Ou melhor, iniciava o jogo político, mostrando ao tenente-gene- suas carreiras por diferentes meios, e parte disso se deve ao monopólio
ral que, ali, no Rio de Janeiro, seu prestígio conheceria limites. Essa que a Coroa exercia sobre a distribuição de patentes, então vistas como
s
disputas não se restringiam aos altos círculos políticos: este mais um dos vários bens simbólicos distribuídos pelo monarca em re-
ndiam-se
também às esferas intermediárias e inferiores da hierarquia muneração aos serviços prestados por seus súditos. Com isso, a hierar-
social. A ex-
pedição despejou na cidade cerca de 2.300 homens, entre oficiais quia do Exército ficava vinculada à hierarquia social, impedindo a
de bai-
xo Enatao E soldados. Antigas regras de convívio e redes completa racionalização das regras de promoção na carreira.º Daí tam
de solidariedade
seriam inevitavelmente alteradas, afetando não bém - como pretendo mostrar — a importância dessa inversão analírica
apenas os militares que

49
48
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

PARA ESTÍMULO DOS QUE SERVEM NAS COLÔNIAS

À organização de uma escrita a partir da singularidade de uma vida


de duas, permite recompor, além do repertório normativo institucio queles que trabalhavam “em obra de pedra e cal, e em obras de alvenaria”,
|
as estratégias não formalizadas, porém muito eficazes, de dinami nal ) mas o verbete apresenta ainda um outro significado, bastante específico,
zaçã
da 0
ascensão na carreira e na vida social. ligado à artilharia militar: “oficial que operava uma boca-de-fogo anti-
Francisco de Lima, como veremos, foi um oficial que soube aprove ga, semelhante a um morteiro, destinada a lançar projéteis de pedra”."
tar as necessidades militares da Coroa para mant A confirmação do ofício exercido pelo avô dos irmãos Lima da Silva vem
er seu Vasto impéri
Foi por meio de várias expedições ultramarinas por outra fonte, na qual ele é identificado como oficial militar — “capitão
que conseguiu a
suas chances de ascensão na carreira, explorando do Regimento de Artilharia e Marinha da praça de Lagos”.'
também » Para isso, as4
mudanças político-institucionais operadas no re Outra informação segura é a de que os dois irmãos não tinham ori-
ino pelo marquês de
Pombal. Ao vir para o Brasil, apresentava a gem nobre. Não há notícias da família na Coleção de Genealogias Ma-
se u irmão as vantagens de
:bem servir à | monarquia. José Joaqu nuscritas da Torre do Tombo nem no nobiliário de Manuel José da Costa
im de Lima — como o jovem alferes
cou conhecido —, ao estabelecer-se no Felgueiras Gayo, obra de referência no assunto. Também não há registro
Rio de Janeiro, seguiu os passos de concessão de mercês régias para quaisquer de seus membros." João da
do irmão e, á dura nte o rein
] ado de d. João
ã VI, conseguiu atingir O genera- Silva da Fonseca, pai dos rapazes, só consta nos documentos também
lato, acumular diversas mercês régias
e integrar o estreito círculo dos como militar, e, mesmo assim, de carreira inexpressiva. À primeira noti-
“home7 ns bons” da cidade. O tortuoso
e exaustivo caminho que trilhou cia que temos dele é por meio do registro de batismo do primeiro filho."
para ingressar nesse estreito círculo é ai
nda um ótimo exemplo de como Nele, é identificado como tenente. Vinte e nove anos depois, quando nas-
o controle sobre os elementos disponívei na
s elaboração das estratégias ceu seu filho caçula, tinha subido apenas um posto — era capitão. Isso,
pessoais de ascensão social nunca
é absoluto, s ujeitando sua trajetória, porém, não basta para deduzirmos uma origem humilde. João da Silva da
mais que a de seu mao, a situações
de incerteza e a riscos. Fonseca pode ter sido um rico negociante e, por isso, mantido uma vin-
culação exclusivamente burocrática com o regimento de Lagos, no qual
servia. O fato de seu filho mais velho ter recebido a primeira praça como
EM PORTUGAL
alferes, sem precisar servir como oficial inferior— nos postos de furriel até
primeiro-sargento (anexo III) -, aponta para essa possibilidade.'*
Francisco de Lima da Silva
era o filh o mais velho de João da Sil
va da Em meados do século XVIII, havia dois caminhos possíveis para um
Fonseca e Isabel Josefa, mora
dores da cidade de Lagos, no Algarve. jovem iniciar na carreira militar com a patente de alferes. Além do anterior-
Identificar a posição social da
família é uma tarefa bastante difícil. O mente mencionado, que privilegiava os filhos de homens de cabedal inde-
pendentemente de sua nobreza, havia um outro, que se abria para os que
fossem apadrinhados por homens de prestígio na corte portuguesa. Um
traço típico dos exércitos europeus de Antigo Regime é o corte que atraves-
sa sua hierarquia, definido a partir de valores compartilhados por toda a
afirma
o POTEque seu avô do o pai de Isabel Josefa, era oficial de pedrei- sociedade: a nobreza detinha as altas patentes do Exército, e a tropa era
] O, segundo um dicionário da época, designava
o ofício da recrutada entre os setores populares mais desprotegidos.'* O que é preciso
íci -

50 51
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
PARA ESTÍMULO DOS QUE SERVEM NAS COLÔNIAS

destacar, no entanto, é a existência dos vários postos intermediários da


ções em que o conde tivesse influência.'? O certo é que existia uma desi-
hierarquia militar. Nessa época, o corpo de oficiais era dividido em Quatro
gualdade de origem social que alimentava essas relações. Se, por um lado,
escalões. Em ordem crescente, são os seguintes: oficiais inferiores, Oficiais
ela poderia abrir novas chances para o “servidor”, permitindo sua movi-
subalternos, oficiais superiores e oficiais generais. À nobreza monopo
lizava mentação social, por outro, fixava os limites desse movimento. Desse
as patentes deste último escalão, o generalato. Desse modo, O critério de
modo, o clientelismo poderia explicar o ingresso de um jovem no Exérci-
distribuição de todas as demais patentes estava em aberto, transformando.
to como alferes, só que dificilmente essa política bastaria para levar um
as numa excelente moeda de barganha para ampliação de bases políticas. alferes à patente de brigadeiro, como se deu com Francisco de Lima.
Com elas, a nobreza sempre podia premiar seus fiéis servidores de origem À trajetória de Francisco de Lima sugere, assim, uma outra experiên-
humilde ou distinguir homens de fortuna sem origem nobre. cia institucional que podia dinamizar essas redes clientelistas. Sua ascen-
Estabelece-se assim uma política clientelista ou, para usar uma ex- são na carreira foi rápida. Os postos em que permaneceu mais tempo
pressão consagrada por António Manuel Hespanha, cria-se uma “eco foram os de capitão, por seis anos, e de sargento-mor (major), por doze
no-
mia de favores”. Geralmente, por conta do predomínio dessa visã anos. Em todos os outros não ficou mais do que quatro anos.? À demo-
o
dicotômica, que destaca os pontos extremos da hierarquia militar, só pen- ra nesses dois postos — de capitão e de sargento-mor — não era estranha
samos o encontro dos que ocupam posições hierárquicas distintas como aos moradores do Algarve sem reconhecida nobreza. Como nenhuma
originário de atos de força. Mas a subordinação também conhecia cami- batalha ocorria na região, seus regimentos eram pequenos, e poucas va-
nhos mais suaves e cordiais, realizando-se cotidianamente, nas menores gas se abriam.” Além disso, quando um capitão é promovido, ele passa a
atitudes, como nas saudações que encerravam as correspondências da sargento-mor, O primeiro posto de oficial superior, sendo, por isso, con-
época: desse seu criado, seu servidor leal e dedicado ou seu devedor*? siderado um ponto de estrangulamento. A partir dele, tornava-se cada
Ainda que Hespanha não analise instituições militares, é possível en- vez mais difícil obter uma promoção e ascender no Exército (anexo II).
contrar dispersas na bibliografia várias histórias que confirmam a presen- À trajetória mais convencional, na verdade, foi a trilhada pelo pai de
ça dessa lógica aristocrática no Exército. Uma das mais famosas conta Francisco de Lima, que se tornou sargento-mor na ocasião de sua reforma.
que o conde de Lippe, logo que chegou a Portugal, foi convidado pelo O inquietante é encontrar o filho sendo promovido a sargento-mor oito
general e conde dos Arcos para um jantar em sua casa e ficou anos antes do pai.”! Enquanto a carreira de João da Silva da Fonseca se
surpreso ao
ver que seria servido à mesa por um capitão do regimento de cavalaria. encerrava na patente de sargento-mor, seu filho, com apenas 37 anos, ini-
Indignado, levantou-se e fez o oficial se sentar entre ele e o general.!º ciava, com essa mesma patente, uma nova etapa de sua vida militar Em
Essa
história geralmente é citada para destacar os valores modernos que orie 1754, ano da reforma de seu pai, Francisco de Lima foi transferido para
n-
tavam a conduta disciplinadora do conde de Lippe. O outra cidade do Algarve, Faro, bem mais importante militarmente.2 Até
problema é que,
dessa maneira, tal conduta deixa ao capitão apenas o lugar de vítima dos então, não é possível precisar a que forças militares Francisco pertencia.
desmandos do conde dos Arcos. É importante perceber que o capitão
poderia se beneficiar dessa posição. A intervenção do general e * Durante os séculos XVI e XVII, a maior missão militar da região era defender a costa
conde dos dos constantes ataques de corsários. No século XVIII, no entanto, eles cessam, e a
Arcos em ge
outras ocasiões, para| retribuir essa “ fidelidad população deixa de se envolver diretamente em guerras. Joaquim Rom
ero Magalhães,
e” » poderia render
ao oficial vários pequenos privil O algarve econômico, cap. II.
égios no Exército ou e m outras institui-

53
52
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

PARA ESTÍMULO DOS QUE SERVEM NAS COLÔNIAS

É provável que esses primeiros postos tenham sido exercidos em com A


nhias de ordenanças, tropas organizadas por autoridades locais. Mas Nesse posto, como sargento-mor, Francisco de Lima conheceu sua
após sua transferência para Faro, seguramente se tornou um oficial do primeira longa espera por uma promoção. Foram doze anos aguardando
Exército português. Foi de Faro que, anos depois, ele sairia para o Rio de uma oportunidade, e, dessa vez, ela não viria da participação em guer-

Janeiro. À carreira de Francisco de Lima só findou com seu retorno a Por- ras, mas sim de disputas políticas ocorridas no próprio reino.
À ascensão de d. José 1 ao trono em 1750 e a nomeação de Sebastião
tugal em 1777, como brigadeiro e governador de Castro Marim, também
José de Carvalho e Melo, futuro marquês de Pombal, para a Secretaria
em Faro. À Coroa, reconhecendo os serviços que prestou no Brasil, 0 agra-
de Estado da Guerra e Negócios Estrangeiros marcaram o início de um
ciou com uma patente de oficial-general e um cargo administrativo.
período de grandes mudanças em Portugal.” Nessa época, uma série de
O elemento que acredito ter sido um importante diferencial nessa
reformas foi implementada com o objetivo de fortalecer o Estado e, para
ascensão de Francisco de Lima no Exército, catalisando possíveis in-
que elas surtissem o efeito desejado, recorreu-se a uma dura política de
fluências de seu pai ou de um apadrinhamento, foi a decisão, tomada eliminação de todas as formas de contestação à autoridade central.
quando ainda era um jovem tenente, de deixar a casa dos pais e sua terra Como essa ação procurava conter setores importantes e tradicionais da
natal para lançar-se em uma expedição militar às Índias Orientais. O sociedade, a Coroa foi forçada a reelaborar suas bases de apoio políti-
tenente-general Bôhm, décadas mais tarde, já no Rio de Janeiro, consi- co.% O rigoroso combate ao antiabsolutismo da nobreza, nesse caso, é O
derou essa experiência do então coronel Lima uma “escola”, quando ele ponto que mais interessa. Lembrando que o grupo de oficiais generais de
teria aprendido a ser um “oficial de valor e muito honrado”.3 Embora um Exército de Antigo Regime era composto na sua maior parte de ho-
não tenha sido possível precisar o significado dessa experiência, ao que mens de origem nobre, fica fácil entender essa ação centralizadora da
tudo indica, tratava-se das campanhas de defesa das “relíquias da Índia Coroa.” Submeter a nobreza era também uma forma de assumir O con-
portuguesa”, ameaçadas na década de 1740 pelo crescente avanço do trole sobre as forças militares de Portugal.
império dos Maratas. Pelo menos, essas são as únicas campanhas milita- Nesse sentido, uma importante medida adotada pelo marquês de
res de que se tem notícia na região. Aberta a crise em maio de 1740, a Pombal foi a criação, em 1757, do título de cadete. O alvará, datado de
Coroa mandou organizar uma esquadra de seis naus com quatro bata- 16 de março, afirmava o interesse da Coroa de que a nobreza de seu
lhões de infantaria para defender Goa. Essa expedição, a primeira de Reino tivesse “escolas próprias para se instruir nas artes e disciplina mi-
uma série, partiu do Tejo sob o comando do marquês de Louriçal. Uma litares”. Para atrair essa nobreza, avessa ao serviço militar sistemático, O
outra partiu de Lisboa em princípios de 1746. O alvo dessa vez era Alor- rei favorecia o ingresso de seus filhos no Exército, concedendo-lhes uma
na, reconquistada pelos portugueses em maio daquele mesmo ano. nova distinção — o título de cadete.”
Às
datas coincidem. À promoção do tenente Francisco de Lima a capitão A medida era claramente intervencionista e tinha o objetivo de ame-
ocorreu em junho de 1740, um mês após a partida nizar, por meio de um investimento a longo prazo, Os problemas gerados
dos primeiros regi-
mentos de infantaria — vale lembrar que o tenent por um oficialato composto de homens que, na sua maioria, não faziam
e Lima pertencia a uma
unidade de infantaria — que se dirigiam
para Goa. Já a promoção a sar-
idéia do que significava subordinação. Nesse ponto, vale fazer duas ob-
gento-mor data exatamente de maio de servações. Primeiro, é preciso ficar atento ao termo “escola”. Ele não se
1746, q uando os portugueses
saíram vitoriosos da praça de Alorna.4 refere à criação de um estabelecimento de ensino, formalmente organiza-

55
54
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

PARA ESTÍMULO DOS QUE SERVEM NAS COLÔNIAS

do. À idéia é mais ampla: refere-se a um conjunto de princípios baseados


na subordinação. À segunda observação é quanto à história do termo conselho militar que poderia, pelo menos teoricamente, indeferir seu re-
cadete. Sua escolha para designar a nova distinção não foi casual Do querimento, deixando claro que sua origem social era pré-requisito, mas
latim capitettus, originalmente ele designava o filho mais moço não garantia, de que receberia o título. Uma vez cadete, o jovem deveria
de cada usar uniformes com divisas idênticas às dos oficiais — dragonas e carriéis de
família, tendo sido consagrado na literatura dos séculos
XVI e XVII ao ouro e prata — e apresentar boa conduta em lugares públicos. Deveria tor-
nomear um comportamento comum entre os estudantes de asce
ndência nar-se ainda um modelo de subordinação e fidelidade à Coroa, até porque,
nobre, em que predominavam as arruaças noturnas que quebra
vam a ingressando no Exército como cadete, sua primeira patente seria de oficial
tranquilidade das ruas estreitas e desprovidas de iluminaçã
o. A maior subalterno e ele teria de servir em cada um dos postos do oficialato até
parte desses jovens, em algum momento de suas vidas,
ingressava no chegar a oficial-general, o que só ocorreria prestando serviços à Coroa.
Exército, não deixando dúvidas, à vista de toda à soci
edade, sobre as Há ainda um detalhe nesse alvará que, por conta da atenção dada à su-
qualidades exigidas pelo ofício: os militares deveriam ser hom
ens impul- bordinação da nobreza, geralmente passa despercebido, não tendo sido até
SIvOS e arrogantes. hoje explorado. O alvará também concede o direito ao título de cadete a fi-
O alvará de 1757 atua justamente sobre o núcleo dess lhos de oficiais do Exército e dos terços auxiliares.*? No caso, a única preo-
e significado,
procurando fundar um outro padrão de comportamento. cupação era reservar O privilégio para os filhos de oficiais de patente. Para os
A partir de en-
tão, cadete passava a ser outro título concedido a esses oficiais do Exército, a patente mínima exigida era a de sargento-mox, e para
jovens quando
ingressavam no Exército. Mas, para obtê-lo, era preciso os oficiais dos terços auxiliares era a de coronel. A distinção igualava as-
cumprir uma ri-
gorosa regulamentação. O requerente deveria redigir uma peti sim — vale destacar — filhos de nobres e de oficiais militares. Na prática, ainda
ção para 0
coronel do regimento em que pretendesse servir, e este, ao des tinham uma vantagem: não precisavam se submeter ao longo processo de
pachar a
petição, ordenava que o mesmo suplicante fizesse prova de nob comprovação de nobreza. Para eles, bastava o registro de batismo.”
reza pe-
rante o auditor-geral da respectiva província. Na ocasião, É indiscutível que o marquês de Pombal, com esse alvará, tinha a in-
o jovem deve-
ria apresentar documentos que comprovassem sua nobreza por part tenção de submeter os filhos da nobreza às novas regras políticas e, desse
e dos
pais e dos quatro avós. Só após o exame das referidas provas modo, ao poder do Estado. Outra intenção não menos clara, porém, era
e da elabo-
ração pelo auditor de um parecer sobre a qualidade das tes atrair para a carreira os filhos de oficiais superiores. Para esses jovens,
temunhas e
documentos apresentados, a petição retornava ao regimento. Quando oriundos de setores não nobres da sociedade, portar dragonas e carriéis
tudo parecia terminado, o suplicante deparava ainda com de ouro e prata idênticos aos usados pelos oficiais era um grande símbolo
uma última
etapa, decisiva: o deferimento do requerimento depend de distinção, muito mais valorizado porque provavelmente era O único
ia da decisão de
um conselho composta de coronel, tenente-coro que tinham. Com essa atitude, a Coroa também demonstrava que vinha
nel, sargento-mor e capi-
tão mais antigos do regimento em que ele, olhando com mais cuidado para os grupos de oficiais subalternos e supe-
o suplicante, aspirava servir.”
Impor a um nobre o cumprimento de toda ess riores. A distinção dos filhos estimulava a ambição dos pais, ampliando
a burocracia era em si
uma eficiente forma de sujeição. Sua própria as bases de apoio da monarquia. Os primeiros anos do reinado de d. José
condição de nobre era colo-
cada sob suspeita, tinha de comprová-la, e quem I foram duros, marcados por várias revoltas da nobreza. À todas elas, a
avaliava sua documenta-
ção era um funcionário do Estado. monarquia respondeu com igual violência. O atentado contra a vida do
Depois disso, era submetido a um

57
56
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
PARA ESTÍMULO DOS QUE SERVEM NAS COLÔNIAS

rei em 1758 agravou os conflitos. À repressão então desencadeada culmi.


nou na Sentença da Inconfidência, que condenava a penas severíssimas Os essa decisão quanto pôde. Desde 1756, França e Inglaterra se achavam
envolvidas na disputa pela posse do Canadá. Essa, pelo menos, tinha
principais implicados nas revoltas, levando o governo a romper de forma
sido a razão inicial da guerra que, pouco a pouco, foi envolvendo vários
irreconciliável com a nobreza mais tradicional de Portugal.” Nesse mo.
países europeus em duas grandes redes de alianças. O apoio da Prús-
mento, certamente o monarca se ressentiu do Exército que possuía, uma
sia — a mais avançada potência militar do continente — à Inglaterra alar-
força pouco numerosa e com seus postos de comando dominados pela
mou os demais países europeus, e rapidamente Rússia, Áustria e Suécia
nobreza. À importante promoção para tenente-coronel que Francisco de
aderiram à causa francesa. Faltava apenas Espanha e Portugal se posi-
Lima — um oficial sem ascendência nobre — conseguiu meses antes do
cionarem. D. José 1 se esforçou ao máximo para manter sua política de
atentado à vida do rei e a criação do alvará de 1757 parecem mostrar que
neutralidade. Foram seis anos nessa posição. Os compromissos econô-
essa questão já era objeto de preocupação do marquês de Pombal, queà micos de Portugal com a Inglaterra impediam que a monarquia se ali-
época havia se tornado o homem forte da realeza. nhasse com os franceses e a proximidade geográfica destes, que se tornou
Poder contar com pessoas de fora da nobreza no comando dos regi- ainda maior com a entrada da Espanha na guerra ao lado da França,
mentos era não só mais seguro como, por vezes, mais eficiente. A maior tornava extremamente delicado um alinhamento com os ingleses. Em
parte dos oficiais nobres ingressava no Exército diretamente da vida civil 1762, porém, os acontecimentos se precipitaram. Para os franceses era
assumindo postos de comando sem nunca antes ter vivido a realidade importante isolar completamente a Inglaterra, e, para alcançar esse pro-
de um campo de batalha. Em função da educação que recebiam, até po- pósito, precisavam contar com amplo apoio do lado ocidental do conti-
diam manusear armas e espadas, mas quase nada sabiam sobre comando nente. Sem escolha, o marquês de Pombal iniciou um grande movimento
dos corpos e subordinação. Quem normalmente mantinha a disciplina das de reorganização das forças militares portuguesas. À primeira atitude
tropas na guerra era O tenente-coronel. Segundo relato de um militar da adotada foi o aumento do número de efetivos, com a formação de novas
época, tentava-se compensar a “falta de ciência e experiência dos generais unidades militares. Ao final do mês de abril, elas reuniam 40 mil ho-
e coronéis nomeando para tenente-coronel oficiais práticos, de sinalado mens. Depois, recorrendo à ajuda de sua rica aliada, a Inglaterra, rece-
serviço”.** Por aí, é possível avaliar melhor o significado da promoção de beu oito mil homens das tropas auxiliares sob o comando de Lord
Francisco de Lima. Ão que parece, ela expressava o reconhecimento de Townshend. Por fim, bem ao estilo setecentista, Pombal aceitou a suges-
seu valor militar, o que seria confirmado anos mais tarde, quando o tenen- tão da Inglaterra e contratou o conde de Lippe.*
te-general Bôhm escreveu, no Rio de Janeiro, sobre a prática que o oficial A chegada do conde com dois batalhões de suíços a Lisboa pôs em
havia adquirido nas Índias Orientais. evidência os problemas do Exército português. Nascido em Londres,
Se essas mudanças vinham criando outras oportunidades para Francis quando seu pai se achava a serviço da corte de Jorge I, Lippe formou-se
co de Lima afirmar sua capacidade e gradativamente ascender na hierar- em matemática pela Universidade de Genebra e, antes da eclosão da
quia militar, nenhuma delas se comparava às chances que um conflito Guerra dos Sete Anos, circulou por várias cortes européias. Na Prússia,
internacional abria para a carreira de um oficial sem nobreza de sangue. obteve da Coroa as funções de grão-mestre e comandante-geral da arti-
Em ao para sorte do tenente-coronel Lima, Portugal entrou num lharia de Hanover. Foi nesse posto que serviu até partir para Portugal.
desses conflitos — a Guerra dos Sete Anos. A Coroa portuguesa adiou Quando Pombal contratou seus serviços, o Exército prussiano já desfru-

59
58
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

PARA ESTÍMULO DOS QUE SERVEM NAS COLÔNIAS

tava grande prestígio na Europa, e Lippe foi recepcionado em Lisboa


com muita pompa. À Coroa confiou-lhe o comando geral do Exército não foi a primeira vez que os dois, Francisco de Lima e o marquês, se
português, e, logo em seguida, ele partiu para a guerra. encontraram. Como vimos, Louriçal comandou as tropas enviadas pela
A Inglaterra havia sugerido um bom nome, e Pombal acertou ao de- Coroa para defender Goa dos maratas e, valendo-me de indícios, tentei
cidir contratá-lo. O conde de Lippe fez história em Portugal. O regula- mostrar anteriormente como a promoção de Francisco de Lima a capitão,
mento disciplinar que instituiu nesse período continuou valendo até em 1740, possivelmente ocorreu em função de sua decisão de embarcar
nessa mesma expedição. É bem provável que, servindo sob as ordens do
meados do século XIX, inclusive no Brasil. Isso não significa que suas
marquês em Goa, o então capitão Lima tenha conquistado sua confiança
relações no Exército tenham sido marcadas pela cordialidade. O conde,
e, depois de terminada a guerra, mantido essa amizade. O marquês de
nos ofícios a Pombal, fazia duras críticas aos oficiais portugueses, con-
Louriçal não teria lembrado seu nome para coronel, um posto de extrema
tando-lhe episódios que considerava absurdos, como aquele do capitão
confiança em um contexto de guerra, se essa relação não tivesse perdura-
que servia O jantar na casa do general e conde dos Arcos. O conde de
do nos anos seguintes à viagem a Goa. Assim, aliando à prestação de
Saint-Priest, embaixador da França em Portugal durante a guerra, dizia
serviços à Coroa a amizade com um dos “grandes do império”, Francisco
que “era impossível encontrar um Exército em maior desordem”, afir- de Lima ampliava suas possibilidades no Exército e facilitava a vida de
mando que até a chegada do conde de Lippe “o Exército português tinha seu irmão. Com apenas 16 anos de idade, José Joaquim iniciou a carreira
por marechal-de-campo um tal marquês de Alvito, que nunca soube dar em uma posição bem mais confortável que a de Francisco. Além de ter
um tiro de espingarda nem comandar um regimento, mesmo em tempo sido beneficiado pelo alvará de 1757, assentando praça como cadete e
de paz”. Às inimizades criadas por Lippe foram tantas que, após a guer- usufruindo o prestígio da distinção, pôde contar com a proteção e orien-
ra, não teve como permanecer em Portugal. Sua tentativa de reestrutura- tação de um irmão bem posicionado no Exército. A morte de Isabel Jose-
ção do Exército não resistiu às intrigas dos cortesãos portugueses.” fa — mãe dos oficiais — logo após a Guerra dos Sete Anos, precedida da
Toda essa mudança provocada pela guerra favoreceu enormemente morte do pai, reafirmava essa influência e colocava o caçula da família
os irmãos Lima da Silva. À reorganização das tropas, o aumento do nú- sob a responsabilidade direta de Francisco de Lima.*?
mero de efetivos e a necessidade de oficiais experientes garantiram para Justo nesse momento, quando assumia a chefia da família, o coro-
Francisco de Lima a respeitável patente de coronel e o comando do 2º nel Lima foi afastado do comando do regimento, ficando nele como
Regimento de Faro. Essa promoção, por sua vez, tornou possível o in- simples agregado. Se a monarquia havia multiplicado as unidades mi-
gresso de seu irmão, José Joaquim, nesse mesmo regimento como cade- litares do reino em função da guerra, agora, com o seu fim, essas forças
te.” O requerimento do mais jovem Lima da Silva, filho de oficial de estavam sendo rapidamente dissolvidas.*! Na cidade de Faro, pequena
patente, não deve nem ter sido submetido ao conselho de oficiais, €, se O e distante da turbulenta fronteira norte de Portugal, a Coroa não pre-
foi, com o irmão no comando do regimento, José Joaquim podia dar cisava de mais que um regimento de infantaria, e, ao nomear seu co-
como certo seu deferimento. mandante, escolheu Gastão José da Câmara Coutinho, oficial oriundo
A promoção de Francisco de Lima a coronel foi assinada em abri
l de de uma tradicional família portuguesa.*? Experiente, o coronel Lima
1762 pelo marquês de Louriçal, quando este foi no não tinha dúvidas sobre quanto um serviço no ultramar poderia abrir
meado por Pombal
comandante das forças militares do Algarve. Mas, ao que par novas oportunidades para ele e sobretudo para seu irmão em início de
ece, essa

61
60
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

PARA ESTÍMULO DOS QUE SERVEM NAS COLÔNIAS

carreira. Foi assim que decidiu apresentar-se em 1767 a fim de integrar


a expedição do tenente-general Bôhm para o Rio de Janeiro, levando beleceu, mandou dizer pelo procurador da Coroa Alexandre Nunes Leal
com ele o jovem José Joaquim. que queria o soldo, a sege, os criados com libré e os cavalos de sela que
lhe haviam sido prometidos em Portugal. O conde em resposta — ainda é
ele quem nos conta — pediu que Bôhm redigisse uma representação para
A DIFÍCIL CHEGADA AO RIO DE JANEIRO
que esta fosse levada ao conhecimento da Coroa. A reação do oficial
parece ter sido tão rude que, “para lhe temperar o excesso”, o vice-rei,
Quando os irmãos Lima da Silva chegaram à capital do vice-reino do conde da Cunha, “mandou dizer que os seus soldos se lhe dariam quan-
do ele os quisesse e que a carruagem, bestas para ela, criados e librés se
Brasil certamente sonhavam com uma melhor colocação no Exército e
estava pondo tudo em pronto”. Ao final, o conde ainda ofereceu, por
em adquirir novas distinções sociais. A oportunidade era boa. Além de
intermédio de um mensageiro, que o tenente-general escolhesse seus ca-
seguirem em uma expedição importante para a Coroa portuguesa, ser-
valos dentre os que ele empregava na sua guarda pessoal. Bôhm não
viam sob as ordens de um oficial da “escola de Lippe?. O tenente-gene-
vacilou: logo se apressou para escolher os quatro melhores cavalos do
ral Bôhm, como oficial mercenário, também só aceitou essa comissão esquadrão do conde da Cunha.
porque almejava uma vida de prestígio, riqueza e distinções. Todas as Essas queixas do conde da Cunha não eram novidade para o secretá-
recomendações de Sua Majestade o favoreciam. Logo após o jantar na rio da Coroa. Meses antes, em julho, ele já havia solicitado ao marquês
casa do vice-rei, conde da Cunha, Bôhm foi conduzido até sua nova de Pombal a nomeação de um substituto para seu cargo. Em uma carta,
moradia pelo coche particular do conde, sendo escoltado por um esqua- expôs com clareza seus motivos: não concordava com o excesso de liber-
drão de cavalaria criado exclusivamente, segundo ordens da Coroa, dade dos moradores da cidade e criticava a arrogância dos militares, dos
para servir-lhe de guarda pessoal, À casa destinada a acolhê-lo era — na homens de negócio e da câmara eclesiástica que, na sua opinião, tinham
opinião do conde — um “luxo”: de “bons cômodos”, com um “excelen- sido muito mal acostumados por seu antecessor, o conde de Bobadella.
te jardim” e toda “armada nobelissimamente”. Foi cedida pelo ex-te- Reconhecia ainda, nessa mesma carta, que suas tentativas de se impor a
soureiro da Casa da Moeda sem nunca ter sido habitada, e o conde esses homens o tornaram uma pessoa “malquista” na região.º
ainda cuidou de provê-la com os alimentos e bens necessários aos pri- A presença do general alemão só piorava essa crise. Durante os me-
meiros dias de Bôhm na cidade. ses que antecederam sua chegada, o conde da Cunha havia recebido
Todos esses preparativos, devidamente arranjados, seguindo uma vários ofícios da corte tratando dessa expedição. Instruções detalhadas
orientação que vinha de Portugal, eram o maior símbolo da alta consi- lhe chegavam constantemente, indicando inclusive o modo como deve-
deração em que d. José 1 e seu secretário, o marquês de Pombal, tinham ria acolher Bôhm.“ Tudo isso, aos poucos, O foi irritando. Ele, que já
o tenente-general Bôhm. E foi em torno dessas “ gentilezas” que se deram dizia sofrer com a arrogância dos locais, por todos esses ofícios, podia
Os primeiros desentendimentos entre o conde da Cunha e Bôhm. imaginar O que seria o convívio com Bôhm. Se vinha tentando sem su-
A mé
nos de um mês da chegada da expedição militar, cesso podar a liberdade das autoridades da cidade, dificilmente se en-
o conde já escrevia à0
marquês de Pombal para queixar-se das “excessi tenderia com um general da “escola prussiana? que contava com tantos
vas e improcedentes ré”
clamações do tenente-general” * Este, segundo favores na corte portuguesa.
o conde, tão logo se esta”
63
62
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
PARA ESTÍMULO DOS QUE SERVEM NAS COLÔNIAS

A expedição era mais uma obra do marquês de Pombal, só que volta.


da para as possessões americanas da monarquia. Integrava uma nova O general Bôhm, portanto, desembarcava no Rio de Janeiro como sím-
política que tinha por objetivo fazer do Rio de Janeiro o centro de eravi- bolo da eficiência militar prussiana, uma imagem que se cristalizava à me-
dida que ele avançava na reorganização das forças da guarnição da capital.
dade do dispositivo militar colonial e, para entender essa política, é pre-
O Exército de Portugal, tão duramente criticado pelo conde de Lippe, era,
ciso lembrar que a cidade havia sido recentemente — apenas quatro anos
comparado a essas forças, um modelo de perfeição militar. Tanta desorga-
antes — alçada à posição de capital do vice-reino.” Com a expansão da
nização piorava a relação de Bôhm com as autoridades locais. O general se
economia mineradora, ela se tornou uma região estratégica na manuten.
achava no direito de interferir em todas as questões militares, e sua arro-
ção dos interesses do império português na América: era o caminho para
gância se tornou, entre os vice-reis com quem conviveu, uma unanimidade.
a região das Minas e o centro de articulação das bases de resistência às
O marquês do Lavradio, no relatório de 1779, escreveu sobre o “excesso
investidas espanholas que se intensificavam na fronteira sul do Brasil. O de jurisdição” de Bôhm, que, segundo ele, “queria mais do que lhe compe-
tenente-general Bôhm foi contratado com uma dupla missão. Deveria tia”, mencionando ainda os problemas de seu antecessor, o conde de Azam-
reorganizar militarmente a cidade e formar um exército para combater os buja, para controlar os excessos do general.”
espanhóis. A contratação dos serviços de Bôhm prova a importância des- Para evitar maiores conflitos, a princípio Bôhm preservou a estrutura
se projeto para a Coroa. Em sua execução, o marquês de Pombal seguia dos regimentos. Os três regimentos de infantaria vindos de Portugal não
exatamente a mesma orientação adotada quando Portugal ingressou na sofreram qualquer alteração. Já os da cidade foram submeridos a uma
Guerra dos Sete Anos. Não por acaso, o secretário solicitou ao conde de avaliação, e, em sua conclusão, Bôhm foi bastante ponderado. Como
Lippe a indicação de um nome para o comando da expedição. Bôhm era eram apenas três regimentos, dois de infantaria e um de artilharia, acre-
um oficial de confiança do conde e vinha para o Rio de Janeiro com a ditou que colocá-los em ordem era tão-somente uma questão de tempo.*
idéia de aplicar aqui seus “Artigos de Guerra”.*º Esses artigos, elabora- O que o preocupava seriamente eram os terços auxiliares e as ordenan-
dos logo após a campanha de 1762, eram inspirados no modelo militar ças.'* Bôhm simplesmente não conseguia aceitá-los como parte das forças
prussiano que, vitorioso no combate às três maiores potências européias, armadas da cidade. Na sua opinião, não passavam de paisanos fardados,
revolucionava a concepção de organização militar em vigor na Europa.” e se recusava a admitir a utilidade de seus serviços.” Ainda que a vanta-
O objetivo dos artigos era regulamentar a vida e a atuação dos militares gem econômica fosse óbvia — esses corpos não custavam nada ao Tesouro
em várias esferas. Eles tratavam de temas delicados, até então pouco
real —, o general resistia, afirmando que não havia como discipliná-los se
abordados. Em geral, eram questões relativas à subordinação, à “verdade o serviço não fosse regular. Não conseguia entender como Pombal, inte-
das informações recebidas pelos oficiais aos seus superiores, à covardia e ressado na construção de um Estado forte, e que concordava inteiramen-
à fuga ao combate, ao respeito devido às sentinelas, aos conflitos entre te com ele, Bôhm, sobre ser o Rio de Janeiro “a força desta parte da
soldados, ao barulho e embriaguez no serviço, ao casamento de oficiais € América”, admitia a presença de forças militares tão autônomas na cida-
soldados”, entre outros temas. O caráter inovador de.:s A polêmica só não teve desdobramentos mais sérios porque essas
a desses artigos estava forças estavam fora de seu campo de ação. Bôhm tinha sido contratado
? ciplina militar, desacreditando a idéia comum
no peso que atribuíam à dis
na época de que a eficácia da ação de um exército depend para reorganizar as tropas regulares. Se inicialmente se envolveu na juris-
ia unicamente dição dos auxiliares, só o fez, como afirmou o marquês do Lavradio,
do número de efetivos de que dispunha em suas fileiras 5!

65
64
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
PARA ESTÍMULO DOS QUE SERVEM NAS COLÔNIAS

porque os vice-reis não conseguiam conter seus excessos. No entender do


co de Lima, ficaram agregados às poucas unidades militares mantidas
marquês, Bôhm merecia todos “os cumprimentos e atenções” que ca.
pelo marquês. Toda a estrutura criada para defender a monarquia em
biam a um homem de sua posição, mas precisava entender que estava
1762 foi dissolvida, e Portugal praticamente voltou à situação militar
subordinado ao vice-rei. Assim, durante seu governo, O marquês do La.
anterior à guerra, inclusive com parte da nobreza — a que se subordinou
vradio impôs certos limites e não consentiu — afirma no relatório — que
ao rei —- monopolizando as altas patentes do Exército.
Bôhm “bulisse” na sua jurisdição.*”
Bôhm não era ingênuo. Havia servido em 1762 com o conde de Lip-
Sem chance de interferir nos corpos auxiliares, o general hierarqui. pe e, mesmo se não tivesse participado dessa campanha, certamente teria
zou as forças militares da capital e, a partir dessa hierarquia, definiu seu sido avisado pelo conde da inviabilidade de execução de uma reforma de
plano de reforma. No estrato mais baixo, situou as forças auxiliares. estilo prussiano em terras do império português. O primeiro sinal de que
Bôhm estava convencido de que elas só existiam devido à incapacidade não era exatamente essa a reforma pretendida veio da decisão da Coroa
da Coroa em assumir a defesa de suas colônias, tanto em termos econô- de manter as forças auxiliares fora da jurisdição de Bóôhm. Ao estabele-
micos, dado o alto custo de um exército, quanto politicamente, pelo re- cer uma hierarquia, o general fazia uma primeira adaptação em seu pro-
ceio de manter um efetivo elevado e bem armado em terras tão distantes jeto inicial, delimitando seu campo de ação e aceitando o fato de que só
do Reino.*º Às forças regulares da cidade ocupavam o nível intermediá- trabalharia com uma parcela das forças militares da cidade. No entanto,
rio. Eram legítimas, mas absolutamente carentes do mínimo de regula- por algum tempo, ele ainda insistiu. Tentou impor, a todo o custo, suas
mentação. No nível superior, Bôhm dispôs os regimentos portugueses. idéias aos vice-reis. Foi então que encontrou um outro limite à sua atua-
Comparados às forças do Rio de Janeiro, eles eram um exemplo de vida ção — o gênio do marquês do Lavradio. Ao assumir o cargo em 1770,
militar. Quando tentava definir, em seus ofícios, o estado das forças da apenas três anos após a chegada da expedição, o marquês incluiu, entre
capital, Bôhm geralmente escrevia: “ainda não possuem a mesma regu- seus vários projetos de reforma, um dirigido aos funcionários coloniais.
laridade das tropas do Reino”. À intenção era definir com mais precisão suas competências e atribuições
para evitar abusos. Em função dos conflitos fronteiriços na Região Sul e
O estado de calamidade das forças do Rio de Janeiro atingiu um pon-
da necessidade de redefinição das estratégias de defesa do vice-reino, os
to tal que o conde da Cunha, durante seu governo, não permitia que
oficiais militares foram seu alvo preferencial, o que o levou a enfrentar
exercícios militares fossem realizados em lugares visíveis da cidade. À
com firmeza os “excessos” de Bôhm.º2
intenção era impedir que os espanhóis soubessem da “desprezível figura
Sem alternativa, o tenente-general Bôhm se adequava gradarivamen-
de suas forças, compostas de soldados nus e descalços”. Por isso, 08
te à política local. O secretário marquês de Pombal, mantendo coerência
regimentos portugueses sobressaíam. Mas também estavam longe de ser
com a política do reino, não interferiu na direção imprimida às questões
o que Bôhm considerava um modelo de “economia e disciplina militar”.”
militares pelo marquês do Lavradio, que permaneceu como vice-rei do
Como vimos, depois da campanha militar de 1762, o conde de Lipp*
enfrentou violenta oposição no Reino e, embora tenha elaborado seus Brasil por nove anos, até o final do reinado de d. José I. À Coroa segura-
“Artigos de Guerra”, nunca chegou a implementá-los em Portugal. Foi O mente não tinha a intenção de militarizar a capital do vice-reino. Do
contrário, poderia ter ampliado os poderes de Bôhm e atendido a suas
marquês de Pombal quem, após a guerra, desmobilizou o Exército port” inúmeras solicitações de armamento, uniformes e verbas. À intervenção
guês. Dissolveu regimentos e afastou comandantes que, tal como Francis
3

67
66
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

PARA ESTÍMULO DOS QUE SERVEM NAS COLÔNIAS

no Rio de Janeiro, por meio dessa expedição militar, tinha objetivos mui.
to precisos. À monarquia pretendia amenizar as condições deploráveis Uma fatalidade marcara a chegada do coronel Lima ao Rio de Ja-
em que se achavam as forças militares da cidade, demonstrar a central;. neiro. Um tombo que tomou ainda na nau da Ajuda, quando fazia a
dade do poder da Coroa e, sobretudo, arregimentar homens para enfren. travessia do Atlântico, o deixou inutilizado para o serviço durante pelo
tar os espanhóis no Sul. Sua ação foi sempre defensiva. Só organizava as menos os dois primeiros meses em terra. Quem assumiu seu lugar no
comando do Regimento de Bragança foi seu imediato, o tenente-coro-
forças militares quando se via diante de uma guerra. Se não militarizou
nel do mesmo regimento.
o Reino, não faria isso em suas colônias.
À situação era bastante delicada. O desembarque de uma unidade
Apesar desses limites, o tenente-general Bôhm contava, nos regimen-
inteira do Exército em uma cidade estranha, estando tudo ainda por
tos regulares, com total liberdade de ação, sendo inclusive esperado que
acomodar-se, desde quartéis até a definição de áreas de atuação, criava
aplicasse neles seus princípios modernos de disciplina e comando. Foi
um ambiente propício à indisciplina, exigindo do comandante mais rigor
para isso que havia sido contratado. Ainda que o marquês de Pombal no controle das tropas. O Regimento de Bragança, bem como os demais
não pretendesse reproduzir na colônia o modelo militar prussiano, algu- regimentos do Reino, não estava imune a essas dificuldades e, no seu
ma mudança ele projetava. Os incidentes no Sul prosseguiam, e, em bre- caso específico, por não contar com seu comandante, elas seriam ainda
ve, seria preciso intervir. maiores. Mas o general Bôhm já atentava para isso. O estado de total
Passado o momento inicial de adaptação, o general Bôhm começou a desorganização em que mergulhou esse regimento durante os primeiros
trabalhar com determinação. Segundo a avaliação do marquês do Lavra- meses em terra não preocupou Bôhm, que, em seu relatório, afirmou ao
dio — um crítico da arrogância do general —, ele era profissionalmente com- marquês de Pombal que o retorno do coronel Francisco de Lima e “seu
petente, procurava manter a tropa em bom estado, assisti-la em tudo de exemplo, emulação e conselhos remediariam essa situação”.5
que precisava, e submetia seus homens a forte disciplina, exigindo que os Um ano depois, em outubro de 1768, Bôhm não parecia mais tão
“Artigos de Guerra” fossem observados, principalmente pelos oficiais de tranquilo. Pela primeira vez, decidia participar ao marquês de Pombal
sua expedição. Para os mais jovens, como José Joaquim, a experiência episódios de indisciplina ocorridos na cidade. Era o Regimento de Bra-
podia ser uma ótima chance de fazer “escola”, entrando em contato com gança que continuava criando problemas. Os excessos cometidos por
uma cultura militar cujos resultados vinham causando impacto na Europa. seus oficiais inferiores e soldados — escrevia o general — “já iam longe
Já para os oficiais mais velhos, como Francisco de Lima, as dificuldades demais”, deixando o regimento em um estado de “fazer pena”. Os pro-
foram muitas. À disposição para cruzar o Atlântico como comandante de blemas eram vários, desde a tradicional — mas não menos preocupan-
um regimento do Reino, sob as ordens de um general renomado, após lon- te — deserção até casos de roubo e desordens durante a patrulha da
gos anos de prestação de serviços à Coroa, a princípio garantiria prestígio cidade. Entre os casos de roubo, um tinha sido levado ao Conselho de

a qualquer coronel e, por consegiiência, a obtenção de novas distinções € Guerra, e, uma vez julgado, o soldado foi condenado a uma “ignominio-
de cargos na burocracia real, expressão da munificência da Coroa. Mas à sa expulsão”. A situação parecia estar fora de controle. Mas Bôhm, na
história de Francisco de Lima foi bem diferente. Apesar de seu esforço, O qualidade de comandante das tropas das Índias Ocidentais, assegurou
coronel parece não se ter adaptado a esses modernos valores militares, ao marquês que “nada será poupado para chamar [o regimento] ao seu
€ 2
expedição para ele acabou se tornando uma experiência melancólica. dever”. Francisco de Lima, após se restabelecer da queda que sofrera,

69
68
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

PARA ESTÍMULO DOS QUE SERVEM NAS COLÔNIAS

caiu vitimado por uma doença


| não identificada
es pelo general, mas que 0
afastou do comando do regimento por mais seis semanas. Só agora, em de Bragança tinha “a disciplina imprecisa da escola militar das Índias
)
fins de 1768, se achava completamente restabelecido, e Orientais”, e o marquês, depois de uma declaração muito semelhante, em
Bôhm afirmava
seguro, que ele “não deixará de contribuir”. j
que tentava explicar que Francisco de Lima “foi criado com as doutrinas
A condição a que o coronel se via reduzido era lamentável. O coman- velhas e, pior que tudo, com a disciplina das Índias”, fez uma compara-
do do Regimento de Bragança lhe tinha custado car ção definitiva. Escreveu que “não se faz possível na sua idade [do coronel)
o. Para obtê-lo, ha.
via deixado para trás sua terra natal e suas irmãs, sob aprender nova língua”.
re quem voltarei a
falar mais adiante. Trouxe com ele seu único Essa idéia do marquês do Lavradio de comparar as dificuldades do
irmão, que, com a morte
dos pais, dependia de seu sucesso para transitar melhor coronel com o novo regulamento ao aprendizado de uma nova língua
na Carreira e abre espaço para duas interpretações, opostas e excludentes. Uma delas
depois de todo esse esforço, ficava, por problemas
de saúde, sem sea é entender essa intervenção como uma defesa. Apesar das dificuldades,
esse comando durante quase um ano inteiro — o primeiro
da expedição Francisco de Lima era um oficial dedicado, que se aplicava com zelo no
no Rio de Janeiro. Mas o pior estava por vir. Quando
pôde finalmente serviço da Coroa. Por isso, o marquês intervinha, solicitava seu retorno
assumir suas funções no Regimento de Bragança, o corone
l Lima come- e um emprego para o oficial no Algarve. Nesse caso, o marquês poderia
çou a viver — segundo Bôhm — um outro dilema: não conseg
uia manter ser considerado até mesmo um homem sensível, capaz de avaliar essa
em ordem seus subordinados. “diferença de linguagem”. Uma outra interpretação possível é entender
Bôhm parecia apostar em seu talento para restabelecer a ordem essa comparação como uma sentença fatal. Por ser uma questão de for-
no
regimento, e durante o ano de 1769, ou seja, por um ano inteiro, nada mação, não havia alternativa para Francisco de Lima senão encerrar sua
comentou em seus ofícios. Os problemas com o regimento só voltaram carreira em alguma função administrativa no Algarve. O interesse maior
a
ser abordados por ele em fevereiro de 1770. O marquês do Lavradio do marquês e do general, nesse caso, seria garantir o afastamento do
vinha de assumir o governo e, com Bôhm, encaminhava o afastamento coronel Lima e seu retorno para Portugal. Em outro ofício, dirigido ao
do coronel Lima, afirmando que ele desejava e solicitava, “com a maior secretário da Guerra e dos Negócios de Ultramar, Martinho de Melo e
instância”, que Sua Majestade autorizasse seu retorno a Portugal, pedin- Castro, o marquês insistia no tema. Explicavao a ministro que as “dou-
do ainda que fosse “provido em algum governo no Algarve”. É
trinas velhas” exigiam do militar “só valor, ainda que esse fosse aplicado
Esse suposto requerimento de Francisco de Lima não foi localizado. desordenadamente” e que os oficiais mais antigos, como Francisco de
Sobre esse episódio, só contamos com os ofícios do marquês do Lavradio Lima, cuja experiência foi adquirida nas campanhas do império portu-
e do tenente-general Bôhm, que tinham a mesma opinião sobr guês no Oriente, não conheciam a rotina das tropas regulares e, por
e o coronel
Lima. Em ofício ao conde de Oeiras — futuro marquês de Pom consegiiência, não conseguiam reduzir seus regimentos “àquela discipli-
bal —, La-
vradio afirmou que o coronel “não era menos honrado na que lhes é tão necessária”.
ou menos valoro-
so [que os outros oficiais)”. Também não tinha Defendendo ou condenando Francisco de Lima, o fato é que, na ava-
- pros
seguia - “menos
zelo no serviço de Sua Majestade”, Ao dia liação do marquês e do general, o coronel fracassava à frente de seu re-
gnosticar o problema que O
impedia de impor ordem a seu regi mento, concor gimento, e isso acontecia porque era um militar de outra época, que não
dava totalmente com
o general: o problema era de formaç ão. Bôhm conseguia se adaptar ao modelo prussiano que vinha gradativamente se
escreveu que o Regimento

71
70
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

PARA ESTÍMULO DOS QUE SERVEM NAS COLÔNIAS


impondo na Europa. Em Portugal, até a contratação do conde
esse modelo de militar só circulava nos livros de Lippe
. Ribeiro Sanches, em 1759 do decreto de reforma do coronel Lima, e de outros oficiais,
vir seguido
discutia o tema em suas “Cartas sobre a educação da mocida de alguns benefícios. Em função das mudanças políticas ocorridas
de”, Cha, no
mava atenção para a mudança, afirmando que força e ânimo ous Reino com a morte do rei d. José I, o marquês estava convencido de
ado nã, que
bastavam mais para vencer uma guerra. Esta — escrevia o autor era preciso mobilizar a Coroa — e na posição de vice-rei podia fazê-
— “é hoj
uma ciência fundada em princípios que se aprendem lo — para as expectativas dos súditos que serviam na região. À rainha
e devem aprende;
antes que se veja O inimigo, necessita de estudo, de apl recém-coroada, marcada pela capitulação portuguesa em Santa Catari-
icação, de atenção
e reflexão”,7º A questão é que em Portugal essas na, estava ansiosa para pôr fim aos conflitos fronteiriços”? e poderia não
idéias não tinham saído
do papel. Do livro de Ribeiro Sanches, passaram perceber a “conveniência de se os honrar [os oficiais] para estímulo dos
para Os regulamento; que servem nas colônias e para nelas se acreditar a vida militar”3 A
do conde de Lippe. Mas, como vimos, nem ass
im foram implantadas estratégia funcionou. Por decreto de 2 de maio de 1777, d. Maria, rainha
Para Francisco de Lima, segundo os ofícios enviad
os ao Reino, não ha. de Portugal, reformava o coronel Francisco de Lima no mesmo posto
via mais tempo. Na sua idade, o melhor era desistir
com soldo integral e o fazia embarcar para assumir no reino o governo
Sua Majestade, no entanto, não concordou com a opi
nião do mar das armas de Castro Marim, região de onde o coronel partira em 1767
quês do Lavradio e de Bôhm. Apesar da insistência des
tes, que encami para servir ao trono em suas terras americanas.”
nharam vários ofícios durante todo O primeiro semest
re de 1771, A Coroa, o vice-rei e seus súditos sabiam que não era possível manter
Francisco de Lima continuou no comando. Provavelmente,
a Coroa não a “boa ordem?” de um governo sem prêmios e punições.” Esse é um prin-
estava disposta a facilitar o regresso de um de seus oficiais, agraci cípio que firma as monarquias de Antigo Regime.?é Francisco de Lima
ando-o
com um emprego, sem que ele tivesse ao menos executado a prin não poderia retornar a Portugal, após dedicar dez anos de sua vida à
cipal
missão da expedição — combater os espanhóis. Tanto assim que causa do império, sem receber algum tipo de benefício. Além do governo
a respos
ta da Coroa, autorizando o regresso do coronel Lima, só veio sete de Castro Marim, ele foi também promovido, meses depois, a brigadei-
anos
depois, em 1777, quando ele retornava da guerra. Até lá, man ro.” Independentemente do proveito de seus serviços, o que contava era
teve-se no
comando de seu regimento. a disposição do oficial de abandonar a segurança de sua terra natal para
Francisco de Lima continuava a receber elogios par
ciais de Bôhm. servir à Coroa no ultramar. À premiação de seu esforço era fundamen-
O general insistia nas dificuldades do coronel em man
ter a disciplina dos tal - como lembrou o marquês do Lavradio — para manter a crença na
corpos. Por outro lado, no que se referia à “fidelidade legitimidade da carreira militar entre os colonos e entre os próprios rei-
ao seu soberano
à disposição para se atirar ao fogo pelo nóis. Do contrário, no futuro, seria difícil para a monarquia conseguir
s interesses do trono”, afirmavê
o general, “o coronel Lima não fica arregimentar oficiais militares dispostos a defender seus interesses nas
a dever a ninguém”.7 Essa avaliação
foi, em seguida, utilizada pelo marquê colônias. Só a boa remuneração desses serviços poderia fazer crer na
s.
benevolência da Coroa e nas vantagens desse pacto político.
Ainda jovem, José Joaquim de Lima da Silva até então não tinha co-
secretário da Guerra e dos Negóci lhido benefícios com a expedição, e talvez por conta disso tenha resolvido
os do Ultramar, Martinho de Me
Castro. Tentava, com esse procedimen lo * permanecer no Brasil. Não se sabe ao certo o motivo dessa decisão. To-
to, mostrar à Coroa a importânci?

73
72
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

PARA ESTÍMULO DOS QUE SERVEM NAS COLÔNIAS

davia, vale destacar que ele teve uma boa chance de voltar para Portugal,
e a recusou. Em outubro de 1781, suas irmãs, que viviam em um conven- tra Os espanhóis nenhuma outra oportunidade se abriu para os militare
s
to na freguesia de Beja, encaminharam um requerimento à Coroa, solici. que serviam no Rio de Janeiro, podemos compreender mel
hor as dificul-
tando sua volta. Argumentaram que precisavam do irmão para cuidar dades por que passou. À ascensão de José Joaquim na carreira, de modo
dos bens deixados por Francisco de Lima. O brigadeiro Lima tinha fale- diverso do que ocorrera com o irmão, foi lenta.! O menor tempo de
cido havia dois anos, em 1779, e os procuradores vinham demonstran- espera por uma promoção foi de sete anos, pela patente de capitão, con-
do— na opinião dasirmãs — pouco zelo no trato dos bens.” Sua Majestade, cedida pouco antes de seu embarque para o Sul. Depois disso, tudo que
considerando justo o apelo das senhoras, autorizou a volta do capitão obteve foi uma transferência, ainda no mesmo posto de capitão, da 7º
José Joaquim. Este, porém, optou por ficar no Rio de Janeiro.” Companhia do Regimento de Bragança para a de granadeiros, que goza-
va de mais prestígio. Ainda assim, o meio por que conseguiu essa trans-
ferência evidencia sua ansiedade diante da total falta de oportunidades
na cidade para os oficiais militares de baixa patente.
JOSÉ JOAQUIM E A METAMORFOSE SOCIAL DA FAMÍLIA
Em dezembro de 1782, o novo vice-rei — substituto do marquês do
Lavradio —, Luiz de Vasconcelos e Souza, precisando expulsar “alguns
A morte de Francisco de Lima menos de dois anos após seu regresso a
estrangeiros” que se tinham apossado da ilha da Trindade, mandou orga-
Portugal não deve ter sido fácil para José Joaquim. Desde a perda dos
nizar uma expedição militar. Por tratar-se de uma operação de pequeno
pais, Francisco vinha exercendo a função de chefe da família Lima. A porte, convocou apenas a companhia de granadeiros do Regimento de
entrada de suas irmãs para um convento provavelmente foi a solução que Bragança. Sabendo da notícia, José Joaquim logo se animou. Não porque
encontrou para embarcar com tranquilidade rumo ao Brasil. Para um pertencesse a essa unidade — ainda estava na 7º Companhia —, mas por-
coronel arrimo de família, que partia a serviço da Coroa, não devia ser que havia sido informado de que o capitão de granadeiros estava adoen-
difícil conseguir uma vaga para as irmãs em um dos conventos do reino.” tado. Desse modo, não pensou duas vezes: redigiu um requerimento e o
Quanto ao irmão, a solução era mais simples. O jovem seguiria seus pas- encaminhou diretamente ao vice-rei. Nele, solicitava a vaga do capitão
sos, ingressando no Exército, em que ele, Francisco, poderia ajudá-lo: fez enfermo. Luiz de Vasconcelos, sensível ao interesse de José Joaquim de
O irmão assentar praça de cadete aos 14 anos de idade — aproveitando o Lima, não viu problemas em autorizar a substituição. Mas, para azar do
benefício instituído dois anos antes — e colocou-o para servir sob suas capitão Lima, o rapaz recuperou-se em tempo e, apresentando-se ao vice-
ordens. Trabalharam juntos durante catorze anos, boa parte desse tempo rei, conseguiu reverter a situação. Como atestaria um superior de ambos
longe de Portugal. Por tudo isso, a cumplicidade entre os irmãos Lima os oficiais, o coronel comandante do Regimento de Bragança: José Joa-
devia ser grande e — ainda que José Joaquim tenha feito sua escolha— ver- quim era um oficial “ambicioso”, buscava apenas “uma ocasião de se
se no Rio de Janeiro sem poder contar nem mesmo com o apoio distante distinguir”. E foi desse modo, “em atenção a seu incansável esforço”, que
de Francisco deve ter sido uma dura experiência. o vice-rei solicitou à Coroa sua transferência para a companhia de grana-
Capitão do regimento de Bragança, jovem, solteiro e vivendo em deiros. Ainda assim, José Joaquim teve de aguardar dois anos pela trans-
uma cidade que não era a sua, a condição de José Joaquim não era con- ferência, que só saiu em dezembro de 1784. Até então, permaneceu na 7?
fortável. Se somarmos a isso o fato de que após a campanha Companhia do Regimento de Bragança, em serviços ordinários.”
no Sul con-

14 75
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
PARA ESTÍMULO DOS QUE SERVEM NAS COLÔNIAS

Para obter uma promoção e passar à patente de sargento-mor (atual


dia o parecer do superior direto do suplicante. João de Barros Pereira do
posto de major), que lhe daria acesso ao escalão superior do Exército, Lago, comandante do 1º Regimento de Infantaria do Rio de Janeiro, foi
José Joaquim teve de esperar mais quinze anos, só tendo sido promovido quem avaliou o processo de José Joaquim de Lima, redigiu um parecer e
em maio de 1789. Pela patente de tenente-coronel, esperou outros onze o encaminhou para o tenente-general escolhido pelo secretário dos Ne-
anos. Diferentemente do irmão, que foi tenente-coronel aos 40 anos, gócios do Ultramar para ajudá-lo a julgar o caso.”
José Joaquim de Lima contava 54 anos quando foi promovido. Esses processos constituem um material valioso. Neles, a trajetória
Sem guerras, não havia novas vagas, e, quando elas surgiam, a dispu- do suplicante é revista em cada atestação e parecer, e, como está sob
ta era enorme. Em 1798, para passar a tenente-coronel, aproveitando julgamento, temos acesso aos critérios e valores que orientavam a avalia-
uma vaga aberta em seu próprio regimento — o 1º de Infantaria do Rio ção dessas autoridades. Aliás, não só a delas. O suplicante era obrigado
de Janeiro, antigo Regimento de Bragança -, José Joaquim de Lima foi a se auto-avaliar no requerimento e, ao fazê-lo, além de reunir todos os
obrigado a acionar a burocracia real. Havia onze anos aguardava essa argumentos que acreditava serem capazes de valorizar sua trajetória,
oportunidade, porém, com a reestruturação dos regimentos da cidade também a inscrevia na rede social local, fornecendo-nos uma imagem de
realizada um ano antes, em 1797, o sargento-mor Joaquim Xavier Cura- si e do grupo a que pertencia — nesse caso, o grupo de oficiais do escalão
do havia sido agregado no mesmo regimento como tenente-coronel. O intermediário do Exército.
desfecho do episódio era previsível: a vaga seria usada para regularizar a O tenente-general responsável por avaliar o requerimento de José
situação do tenente-coronel Xavier Curado, que passaria de agregado Joaquim de Lima foi José Narciso de Magalhães Menezes. Seu parecer É
para efetivo. Só que José Joaquim, sentindo-se preterido, decidiu lutar o mais completo. Além de dispor de todo o processo - o requerimento, as
pelo posto, requerendo em juízo contra a promoção de Xavier Curado. atestações e a avaliação do comandante do regimento -, O tenente-general
O procedimento era simples, mas desgastante. José Joaquim de Lima afirma que tem também uma idéia “bem aprofundada” do oficial. Ao que
parece, José Joaquim já havia servido sob suas ordens, e foi a partir desse
da Silva, na posição de suplicante, devia encaminhar um requerimento à
“conceito público” — termo com o qual o general define a imagem produ-
Sua Majestade. Esse era o espaço de que dispunha para se apresentar €,
zida pelo processo —, e de sua experiência pessoal, que decide traçar um
por meio de uma breve exposição de sua trajetória, defender seu reque-
perfil dos dois concorrentes. Sobre José Joaquim, escreve:
rimento. Na linguagem da época, deveria enumerar todos os serviços
que prestara à Coroa para, desse modo, convencê-la da “justiça de seu um homem
O suplicante José Joaquim de Lima é um português velho,
merecimento”. Esses serviços, no entanto, só seriam validados caso O são, cheio de sentimentos honrados e de conduta exemplar:
o seu caráter
suplicante anexasse, para cada um deles, uma “atestação” devidamenté um sol dad o val oro so, sub ord ina do e pro nto a exe cutar de
militar é de
pos sa exig ir e que alc anc em suas luzes; incapaz
assinada pelo superior sob cujas ordens servira. Prontificado, o requeri- boa vontade o que dele se
e os
es afr ont á-l o. Por ém, Os seus tal ent os nat ura is
mento passava à apreciação do secretário de Estado da Marinha e Do- de ceder ao perigo, ant
uen o alc anc e (...) Ele não pos sui mai s que idéias
adquiridos são de peq
mínios Ultramarinos e, meses depois, voltava ao Brasil. Para certificar-se uma roti na gro sse ira por que se con-
superficiais da sua pro nti fic açã o e
da “qualidade de consideração” que o suplicante podia merecer, o secre- que ele obre nunca por outros princípios.
duz, não sendo talvez possível
tário solicitava O parecer de uma autoridade de poder reconhecido nã
instituição em discussão — no caso, o Exército —, € este, por sua vez, pe

717
76
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
PARA ESTÍMULO DOS QUE SERVEM NAS COLÔNI
AS
Já o perfil que constrói de Xavier Curado é bem
diferente:
muito semelhante. Além do título de cadete, ambos participaram da
O suplicado Joaquim Xavier Curado é mais campanha contra os espanhóis. Até esse momento, a vantagem ainda era
um homem do mundo
outra polidez e creio que mais instrução; por de José Joaquim. Tinha a seu favor a antiguidade. Embarcou para o Sul
isso mais fácil de o
e produzir suas idéias e seu comportamento como capitão, enquanto Xavier Curado era alferes. A questão é que,
o tem feito reputar por -
sujeito digno na sociedade civil e militar:
não podendo eu nesta Rn depois de terminada a guerra, José Joaquim não conseguia mais serviços,
parte fazer um ajustado conceito do seu caráte
r (...) pois há pouco tem e o oficial goiano, dispondo de uma boa rede de relações e conhecendo
o comunico.
3 o interior da América portuguesa, teve mais facilidade para se empregar.
Não à toa, José Narciso menciona sua dignidade na sociedade civil. Essa
Ão apresentá-los, José Narciso mostra com clarez
a a diferença que há é a diferença entre os dois oficiais. Xavier Curado voltou para os “ser-
entre os dois oficiais. Mas é preciso ter alguns cu
idados. À expressão tões” e, cruzando diversas regiões, servia à Coroa no combate aos “ín-
“português velho” pode nos levar a dispor esses pe
rfis no tempo: É a dife- dios bravios” que ameaçavam ricas fazendas, a maior parte delas situada
rença entre oficiais seria geracional. Todavia, na Paraíba Nova, entre São Paulo e Minas. Depois disso, conseguiu ocu-
isso não é verdade. José
Joaquim de Lima era três anos mais novo que Joaq par um cargo político, como governador de Campos, sendo, em seguida,
uim Xavier Curado.
Logo, esses dois perfis de militar coexistiram. Não po enviado pelo vice-rei em comissão à corte portuguesa. Foi exatamente o
demos afirmar que
sm era mais moderno que o outro, já ultrapassado. Outr exercício dessas funções que lhe garantiu o posto de tenente-coronel
o ponto que nos
induz ao erro é a suposta instrução de Joaquim Xavier Cura agregado ao 1º Regimento de Infantaria do Rio de Janeiro, onde seu
do. Pior, essa
idéia completaria a anterior, fazendo-nos acreditar que os ofi destino cruzou com o de José Joaquim. A patente militar foi a moeda
ciais mais
jovens passavam por alguma formação acadêmica. Joaq utilizada para remunerar seus serviços políticos.
uim Xavier
Curado não só era mais velho, como também tinha exatamente o me O que fazia de Joaquim Xavier Curado um “homem do mundo” era
smo
nível de instrução de José Joaquim. Nenhum dos dois passou por uma esse seu trânsito social. Essa inserção política o levava a ser promovido
academia militar ou tinha educação superior. Tudo o que possuíam— par no Exército. Ao agir desse modo — esse é o motivo da reação de José
a
empregar uma expressão da época — eram os “rudimentos da escola ele- Joaquim =, o governo simplesmente ignorava a trajetória de oficiais que
mentar”. Xavier Curado, quando rapaz, até pretendia estudar em Lis- havia anos serviam nos regimentos da capital, aguardando, paciente-
boa, mas, com a morte do pai, tudo o que conseguiu foi sair de Goiás, mente, uma chance de provar sua fidelidade à monarquia. Esse é o ponto
onde nasceu, para o Rio de Janeiro. Chegando à capital, recorreu, tal central da argumentação do requerimento de José Joaquim de Lima. À
como José Joaquim de Lima, ao mais novo benefício criado pela Co Coroa não estava levando em conta o princípio — caro aos militares — de
roa, antiguidade. O sargento-mor Lima tinha três anos e nove meses a mais
assentando praça no Exército com o título de cadete.
Se a diferença entre os oficiais não era geracional nem de de serviço que o tenente-coronel Curado. Esse ponto será reforçado por
formação, todas as autoridades chamadas a avaliar seu requerimento. O parecer do
O que os distinguia? O termo que José Narciso opõe a “português velho”
é “homem do mundo?. Como não conhecia o “caráter militar” de Joa-
a” EE
33
uma =
tenente-general José Narciso Menezes é muito claro. Apesar das críticas
quim Curado, o tenente-general o julgou a par que fez a José Joaquim de Lima, no momento de pesar as qua idades de
tir de sua “dignidade na
au
sociedade civil”. Na verdade, a tra e E ambos os oficiais na “balança da justiça”, afirmou sua posição “fiel a
jetória dos dois oficiais no Exército é

79
78
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
PARA ESTÍMULO DOS QUE SERVEM
NAS COLÔNIAS

uma pura reflexão militar”. Por esta, não restavam dúvidas: «


têm mais preponderância os maiores e mais distintos Serviços brigadeiro Francisco de Lima da Silva”, destacando que o oficial ficou
Joaquim de Lima da Silva e sua legítima ação no posto a que se acha “conhecido pelos relevantes serviços prestados nos Estados das Índias”.
Recorria ao único vínculo familiar que o podia distinguir, mas que, após
imediato num regimento em que há tantos anos serve com prêéstimo
« a morte do irmão, não era mais tão eficaz. O desencanto de José Joa-
reputação”. Além do mais — lembrou o general -, o oficial servia
havia quim de Lima era tal que, antes mesmo de sair a resposta a seu requeri-
“33 anos fora de sua pátria”. Para finalizar, escrevia ainda que, se tudo
mento, ele já redigia um outro, em que solicitava diretamente ao
isso não fosse capaz de “tocar a pia sensibilidade de Sua Alteza
Real”. secretário dos Negócios da Marinha e Ultramar um cargo público. Per-
ao menos que se considerasse o caso para “não impor uma tão afrontosa
cebendo a importância de buscar uma melhor colocação, capaz de com-
preterição a um vassalo que, da sua parte, tem mostrado pensar seu fraco enraizamento social, o sargento-mor Lima procurava
e dado provas
de querer ser útil no seu serviço e fazer-se digno”. um posto fora do Exército. Depois de mais de 35 anos de dedicação à
Após dois anos de trânsito pela burocracia real, tendo cruzado quatro Coroa como militar, parecia desistir, e tentava ingressar na carreira de
vezes o Atlântico, o requerimento foi deferido pela Coroa e José Joaq homem público. Requeria, dessa vez, a “propriedade de um dos ofícios
uim
de Lima nomeado tenente-coronel do 1º Regimento de Infantaria do Rio que na dita cidade do Rio de Janeiro se achavam vagos”, e os listava:
de Janeiro. Mas, em hipótese alguma, o fato pode ser visto como uma “são os de escrivão da ouvidoria geral do civil, de inquiridor, contador
vitória do princípio de antigiidade militar. José Joaquim ficou com o e distribuidor geral, de escrivão da Coroa e o de tabelião de notas”. O
posto porque, em seu parecer, o tenente-general José Narciso de Menezes procedimento não era diferente. A única alteração é que, no lugar do
lembrou ao secretário dos Negócios do Ultramar que, naquele mesmo requerimento, o suplicante deveria redigir um ofício em terceira pessoa.
ano de 1800, Joaquim Xavier Curado tinha acabado de voltar ao Brasil O restante era igual. Mais uma vez, José Joaquim teve de organizar toda
de sua comissão na corte, e que o vice-rei já o tinha nomeado governador a documentação com as respectivas atestações. No ofício, dirigindo-se
interino da ilha de Santa Catarina, reconhecendo-lhe ainda as honras de ao secretário da Coroa para assuntos ultramarinos, novamente recor-
coronel. Mobilizado pelo episódio, o general cuidou de todos os detalhes, dou a Campanha de 1762, os 35 anos de serviço, os 28 anos fora de sua
pátria e a Campanha contra os espanhóis. Dessa vez, só não mencionou
indicando inclusive o lugar onde Joaquim Xavier Curado poderia ser em-
seu esforço para integrar a expedição da ilha da Trindade. Em contra-
pregado quando deixasse o posto em Santa Catarina: no “regimento de
partida, apelou à “Real Piedade” com uma história bem mais comoven-
Estremós, atualmente falto de coronel”. O oficial, com menos tempo de
te. Escreveu sobre seus nove filhos, assegurando que três deles já estavam
serviço, seria efetivado coronel.
“no serviço de Sua Majestade com praça de cadete”, comentou sobre
Tudo isso deve ter aumentado o desânimo de José Joaquim de Lima.
seu estado de pobreza e ainda lamentou que o soldo de sua patente não
Muito antes de saber da promoção de Xavier Curado, quando redigiu 0
lhe permitia viver sem vexame:
requerimento, em 1798, já se sentia marcado pelo “destino” que o con”
denava a uma carreira de “infelicidades” e “dissabores”. Percebia quê
O suplicante, soberana sra., é muito pobre, não tem mais do que o seu
lhe faltava um bom enraizamento social. Tanto que, ao apresentar-se
0 soldo para sustentar uma numerosa família de sua mulher e nove filhos,
requerimento, O primeiro ponto que destacou, antes mesmo
do tempo o que não pode conseguir sem vexame € trabalho para suprir suas gran-
de carreira e da distinção de cadete, foi o fato de “ser irmão do falecido

81
80
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

PARA ESTÍMULO DOS QUE SERVEM NAS COLÔNIAS

des despesas em um país em que tudo é caro, desejando o suplicante y;


no seio de sua família, e lembran do-se desampar
do o
ver independ ente nadeiros, após seu empenho para tentar integrar a expedição da ilha da
em que esta ficará por seu falecimento, reduzida à maior indigência E Trindade. Sua última promoção tinha sido onze anos antes e, diante da
falta de socorro, e como o suplicante não tem tido ainda remuneração falta de perspectivas, ele começava a inquietar-se. Casar com um mem-
alguma dos seus serviços, lhe é lícito suplicá-la a Vossa Majestade por
bro da família Fonseca Costa provavelmente foi mais uma de suas tenta-
este meio, que só pode remediar por sua Real Piedade as contínuas mi-
tivas de obter uma melhor colocação nos serviços da Coroa e ampliar
sérias de uma família pobre.
seus vínculos sociais no Rio de Janeiro.
Os Fonseca Costa se achavam estabelecidos na cidade desde o século
O sargento-mor Lima realmente estava disposto a mudar seu destino. Se
XVII e constituíam uma família tipicamente militar, que ocupava vários
a monarquia não organizava campanhas militares na América e seus ger.
postos nas forças de linha e entre os auxiliares.” Estes, mesmo desprestígia-
viços ordinários não eram suficientes para que fosse promovido no Exér.
dos pelas concepções militares mais modernas — o conde de Lippe os bati-
cito, apelaria à “Real Piedade”. Independentemente de seus méritos, 0
zou de “anfíbios”: meio militares, meio paisanos -, representavam um
fato de servir à Coroa havia 35 anos e de não ter obtido “ainda remune- traço central da política militar do império português. Não por acaso, O
ração alguma dos seus serviços” já legitimava sua “súplica”. Nesse senti- marquês do Lavradio, em seu relatório, reclamou do modo como o tenen-
do, o documento vale menos para avaliar a situação financeira do oficial te-general Bôhm avançava sobre a jurisdição dos vice-reis e tentava ampliar
que para destacar a estreita relação mantida entre o poder do Estado e os o alcance de sua reforma militar. Os coronéis das forças auxiliares eram
vários aspectos do que denominamos vida privada. Ainda que se possa homens escolhidos entre os “principais da terra” e, na prática, operavam
imaginar que o soldo de sargento-mor não era suficiente para manter como intermediários entre o vice-rei e a elite regional. Eram eles que ope-
com dignidade nove filhos, é surpreendente (para nossos padrões) a natu- ravam muitas das negociações necessárias à implantação de novas leis bai-
ralidade com que José Joaquim, para mostrar-se merecedor de um dos xadas pela Coroa, e, com isso, detinham grande poder, conferido exatamente
cargos vagos na capital, soma à lista de seus serviços informações pes- por essa circulação entre autoridades e “pessoas distintas da capitania”.
soais sobre sua vida familiar. Gerar filhos e empregá-los como militares Um tio e o pai de Joana Maria, esposa de José Joaquim, eram militares
no serviço da Coroa contava como mais uma demonstração do “zelo, das forças auxiliares. Dois primos, um irmão e um cunhado também se-
préstimo e atividade com que se empregava no real serviço”.º guiam a carreira. Um desses primos, Manoel Álvares da Fonseca Costa,
Como havia feito com todos os outros serviços, José Joaquim tam- aos 34 anos já era governador da fortaleza de São Clemente, no Rio de
bém anexou ao ofício cópias dos registros de batismo dos três filhos que Janeiro, e entrava com um processo de justificação de nobreza na corte.
já tinham assentado praça como cadete no Exército — Francisco, José Ao que tudo indica, ele e seu irmão foram os únicos na família a dar en-
Joaquim e José Luiz. Francisco, o mais velho, nesse ano de 1800, com trada em um processo desse tipo. Ainda que as peças do processo mostrem
pletaria seus 15 anos. Os três meninos foram beneficiados por uma nová que as pessoas mais influentes eram as da linha paterna da família, nele a
leis baixada pouco antes, em maio de 1797, e que eliminava a idade mí- menção à nobreza está no plural — “conhecida nobreza dos pais”. Definir
que escapa
nima de 15 anos para requerer o título de cadete, José Joaquim de Lima a natureza dessa nobreza é uma tarefa extremamente delicada,

esroo
di é de mao de 175, com Jara Ma Fon
que conseguiu passar a capitão de gra”
aos interesses dessa pesquisa. 91 O que vale destacar é que os Fonseca Costa
eram bem relacionados na cidade e possuiam vínculos na corte. Esses
dois

83
82
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

PARA ESTÍMULO DOS QUE SERVEM NAS COLÔNIAS


primos de Joana Maria se casaram e, por algum tempo, viveram em;
Is.
boa, exercendo cargos na burocracia militar e judiciária. É bem provável, pelo perfil dos homens que ocupavam cargos na Cã-
Para José Joaquim de Lima, o ingresso na família Fonseca Costa mara do Senado, que José Joaquim de Lima só tenha sido considerado
re.
presentava a chance de diminuir seu isolamento na cidade. Também deve apto para o mesmo no final de sua vida, e, desse modo, nos primeiros
ter sido reconfortante o fato de todas as tias de Joana Maria serem casa. anos do século XIX, ele ainda devia estar lutando com dificuldades para
das com portugueses. Ainda assim, os novos parentes não vinham con: expandir suas relações na cidade. Em 1802, quando acionava o secretário
seguindo mudar a sorte do oficial. Talvez, nesse momento, a ação maio da Coroa para agilizar seu segundo requerimento, tinha acabado de per-
r
da família tenha sido a de encorajá-lo. Mesmo após sua promoção der um filho recém-nascido. Seus outros quatro filhos homens, no entan-
para
tenente-coronel, José Joaquim prosseguiu firme em sua luta por to, já integravam o 1º Regimento de Infantaria do Rio de Janeiro (antigo
um car
go na administração pública. Em outubro de 1802, ao saber que “foi Regimento de Bragança), onde José Joaquim sempre serviu e, depois de
Sua Alteza Real servida de querer-me despachar, mandando os meus muito esforço, chegou a tenente-coronel. Repetindo a lição aprendida
ser-
viços para o Conselho Ultramarino (...) com ordem de se passar um com o irmão em Portugal, não deixaria de aproveitar o único privilégio a
que tinha direito. No ano seguinte à sua promoção para sargento-mor,
aviso ao vice-rei”, José Joaquim voltou a escrever ao secretário dos
Ne- patente mínima exigida pela legislação, levou seus dois filhos mais velhos,
gócios da Marinha e Ultramar. Solicitava agora seu apoio para movi-
na ocasião os únicos do sexo masculino, para assentarem praça como
mentar O processo e — muito bem informado — explicava que ele estava
cadetes. O segundo deles, José Joaquim de Lima da Silva, ainda não tinha
parado no Conselho Ultramarino desde setembro de 1800. Como, pela
completado quatro anos de idade. Essa história se repetiria com os de-
demora, aquelas vagas haviam sido “conferidas a outros pretendentes”,
mais, €, pouco a pouco, os Lima da Silva cresciam dentro do regimento.
antecipava-se, e nesse mesmo ofício já mandava ao secretário uma outra O primogênito do tenente-coronel Lima ganhou o nome do no, Fran-
lista de empregos disponíveis: “o de escrivão do registro da Paraibuna, o cisco (que viria a ser o pai de Caxias). A homenagem ao irmão falecido,
de tabelião da ilha Grande, e o de escrivão da provedoria do Espírito que tanto havia se dedicado à família, que tentou por todos os meios
Santo”. Qualquer um deles, concluía, “me convém”. melhorar sua colocação no Exército, lançando-se, para isso, em várias
Infelizmente, não foi possível saber se José Joaquim foi bem-sucedido guerras, em Portugal e fora de lá, nas Índias Orientais e Ocidentais, era
nessa investida. Mas, ao que parece, ele não desistiu de seu projeto. Mes- também uma forma de José Joaquim reafirmar o lugar do jovem Francis-
mo sem conseguirmos precisar a data, sabemos que, anos depois, ele co na família. Cabia ao rapaz — com 15 anos em 1800 — ajudá-lo a levar
conseguiu servir como almotacé na cidade.” Almotacé era um dos “catr- adiante o sonho de ascensão social da família Lima. Esse lugar não se
gos de governança? da capital, exercido por um mandato renovável de revelaria apenas no nome herdado. Francisco foi o único de seus filhos a
três anos. Por meio dele, José Joaquim se integrava na política da cidade. se casar bem jovem — com 16 anos de idade —, com uma moça mais velha
Para ocupar o cargo de almotacé, e outros ligados à Câmara do Senado; e com a qual não possuía laços de parentesco.
era preciso passar por um cuidadoso processo eletivo que tinha início O jovem Francisco de Lima da Silva, capitão do 1º Regimento de
com a organização, por ordem do ouvidor da comarca. de listas
nomi- Infantaria do Rio de Janeiro, casou-se no auge do esforço do pai para
melhor se posicionar politicamente na cidade, em novembro de 1801.
3
nais. Desse modo, só a inclusão de
a seu nome em uma dessas listas já O
colocava entre os “homens bons” da cidade. A cerimônia foi realizada na casa de seu bem-sucedido primo de segundo

84
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
PARA ESTÍMULO DOS QUE SERVEM NAS COLÔNIAS

grau, no bairro da Glória. Na época, apesar de ser oito anos mais mo


que o tenente-coronel Lima, o primo, Manoel Álvares da Fonseca Cost Joaquim Silvério acreditava que iria apenas prestar depoimento e,
já havia alcançado a patente de brigadeiro. À noiva era uma Jovem 4 em face das circunstâncias, imaginou que essa seria uma ótima ocasião
para ser apresentado ao vice-rei. Chegando Já, foi surpreendido. O vice-
18 anos, Mariana Cândido de Oliveira Bello, filha do coronel de Milícias
rei, desconfiado de seu caráter — “disposto para qualquer maldade” — e
Luiz Alves de Freitas Bello e de Ana Quitéria Joaquina de Oliveira. À
de suas intenções — “por suas dívidas, um dos mais descontentes daquela
família, bastante conhecida no Rio de Janeiro, também tinha tradição
capitania” —, mandou-o prender na fortaleza da ilha das Cobras.'? A
como militares das forças auxiliares (anexo III).
partir daí, sua vida virou pelo avesso. Durante os nove meses que ficou
A família Bello tinha vivido até 1789 nas Minas Gerais. Foi no Re.
retido na fortaleza, sua família, duramente hostilizada em Minas e sem
gistro de Paraibuna que o coronel Luiz Alves serviu à Coroa por 26 an;
condições de permanecer na capitania, seguiu para o Rio de Janeiro.
como cobrador do real subsídio, provedor e administrador dos reai Eram os Bello que fugiam assustados, após ter parte de seus bens confis-
contratos das passagens e dos escravos, e, por dezenove anos, comando: cada. Joaquim Silvério não tinha formalizado seu vínculo com a família,
os destacamentos que guarneciam aquele registro.” A correspondência ainda não tinha se casado com Bernardina. A perseguição era devida à
mantida com o contratador do contrato das estradas, Joaquim Silvério cumplicidade do coronel Luiz Alves de Freitas Bello com o delator. No
dos Reis, prova a importância dos cargos que ambos ocuparam durante ofício que enviou ao ministro dos Negócios do Ultramar, depois de solto,
a década de 1780. Os dois juntos controlavam a passagem de embarca pedindo autorização para levar os Bello com ele para o Reino, Joaquim
ções pela capitania e os rendimentos obtidos com a entrada delas.ºÀ Silvério conta que tanta hostilidade era uma resposta ao silêncio do co-
parceria deu tão certo que eles decidiram consolidá-la por meio de um ronel, que sabia de suas intenções e, mesmo sendo cunhado de dois cons-
novo contrato — dessa vez, de casamento. Joaquim Silvério foi “contra piradores, manteve-se “fiel à Coroa”, sem nada revelar a eles. O escândalo
tado” pelo coronel Luiz Alves Bello para casar-se com uma de suas f aumentou quando se soube na região que o coronel — continua Joaquim
lhas, Bernardina Quitéria, e — segundo o noivo — “há muitos mais ano Silvério — “mesmo assim não tinha dúvida a que se conclua meu casa-
já vivia em sua casa?”.?? mento com sua filha”. Sem conseguir autorização da Coroa para viver
A grande soma que Joaquim Silvério devia à Fazenda Real a princt no Reino, a família Bello se fixou no interior do Rio de Janeiro. Joaquim
Silvério partiu sozinho para Portugal."
pio o colocava entre os interessados no movimento conspiratório que &
articulava na região das Minas. Mas, como é sabido, Joaquim Silvério
Foi nessa família que, em novembro de 1801, Francisco de Lima,
para apoiar o projeto do pai, contratou casamento. Mesmo tendo-se
acabou optando por resolver seu problema financeiro de outra maneira
passado doze anos, os Bello eventualmente ainda eram assombrados pe-
Considerando a prática monárquica de distribuir prêmios a seus súditos
los fatos de 1789. Para escapar às perseguições, logo que chegaram ao
mais fiéis, denunciou de viva voz os conspiradores mineiros ao governi
Rio de Janeiro, não puderam se fixar na cidade, convulsionada pela ex-
dor da capitania. Sabia que, no mínimo, teria sua dívida perdoada. Mê
suas ambições iam além disso. Como, para concluir seu projeto, precisa" pectativa do julgamento dos implicados. Seguiram, então, para Campos.
va ser conhecido das autoridades da colônia e do Reino, aceitou a pr“ Tantos anos no serviço real deram ao coronel Bello a chance de formar
uma boa rede de relações e, por intermédio do chanceler da Relação do
posta do governador conde de Assumar de seguir com José Joaquim do
Silva Xavier — O Tiradentes — para o Rio de Janeiro Rio de Janeiro, conseguiu ser nomeado administrador-geral das fazendas

87
86
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
PARA ESTÍMULO DOS QUE SERVEM
NAS COLÔNIAS

do visconde de Asseca. Assim, passou a viver retirado, dedicando-se ape.


sentado em algum desses corpos, aínda que fosse com a intenção de
nas às fazendas e à família. Em 1791, Joaquim Silvério, cumprindo ,
articular se politicamente. Esse era, na verdade, um ponto comum às
palavra empenhada, voltou ao Brasil. À viagem à corte não o Írustrou,
duas famílias. O coronel Luiz Alves de Freitas Bello, assim como o te-
Era agora um fidalgo da Casa Real habilitado pela Ordem de Cristo,
nente-coronel Lima, nessa mesma época recorria à Coroa para tentar
prêmio concedido por Sua Majestade em remuneração ao Serviço que
melhorar sua colocação. Como não parecia ter problemas com empre-
prestara ao deletar o movimento. Bernardina Quitéria, com quem ele
gos, sua solicitação era outra. Tão logo se fixou na cidade, decidiu “pe-
casara pouco antes de partir, o esperava, voltando Joaquim Silvério a dir pelo Conselho Ultramarino à mercê do hábito da Ordem de Cristo,
viver com a família.
e o foro de fidalgo” em remuneração aos “importantes serviços que tem
À tranquilidade dos Bello duraria pouco. Não demorou, Joaquim Sil.
feito a Sua Majestade”. Certamente a mercê o ajudaria a impor-se na
vério começou a criar problemas. Envolvendo-se na administração das cidade, e a limpar seu nome. Aliás, não eram apenas os desentendimen-
fazendas, espalhou o terror entre os foreiros do visconde. Assegurava que tos com grupos regionais de elite que o comprometiam: a família tam-
tinha sido investido pela Coroa com amplos poderes e, recorrendo a bém estava endividada. Em março de 1801, oito meses antes do
“meios violentos”, iniciou a “usurpação de seus bens”. A atitude, respal- casamento de Francisco de Lima com Mariana Cândido, o vice-rei con-
dada ou não pela Coroa, explicitava os benefícios da delação e, pior, re- de de Rezende oficiou ao secretário dos Negócios do Ultramar para
volvia ódios do passado. Oito anos tinham se passado desde a delação, avisar que estava “embaraçando a licença de Joaquim Silvério de seguir
mas apenas cinco os separavam da execução de Tiradentes, realizada no para o Reino” a pedido dos credores do Rio de Janeiro.!*
Rio de Janeiro. Em agosto de 1797, esses foreiros, agindo em “nome do Por motivos diferentes, os Bello e os Lima precisavam se rearticular na
povo”, voltavam a hostilizar os Bello, fazendo circular na região “artigos cidade, por isso a união das famílias deve ter se tornado interessante. Para
difamatórios de suas pessoas, créditos e honra”. O episódio é contado os Bello, a aliança lhes ofereceria dois novos vínculos na cidade, ambos
pelo próprio Joaquim Silvério e por seu sogro, em um “instrumento de entre militares, sendo que um indiretamente os aproximaria de uma famí-
pública forma”, por meio do qual se defendem de uma representação lia antiga na cidade, os Fonseca Costa. O coronel Bello — vale destacar — ti-
enviada ao secretário dos Negócios do Ultramar por esses foreiros, idem nha cinco filhos, e, com esses novos vínculos, a carreira militar dos rapazes
tificados por eles — sugestivamente — como “conspiradores”.!º2 estaria devidamente assegurada. É bem provável também que, com esses
escândalos, sobretudo os financeiros, o coronel estivesse tendo problemas
Depois de o episódio ter chegado à Coroa, não houve jeito. O coro
para casar sua outra filha. Para os Lima, apesar do momento difícil pelo
nel Luiz Alves de Freitas Bello foi afastado do emprego, e a família tevê
mais uma vez de se mudar, seguindo, agora, para a cidade do Rio, pro qual os Bello passavam, o casamento era uma ótima oportunidade de o
tenente-coronel Lima ampliar suas chances de obter um emprego. Esse
vavelmente para uma casa na Rua Direita (hoje, 1º de Março).!ºº Essa
nova mudança, para o Centro do Rio de Janeiro, seguramente favore- problema o coronel Bello não conhecia. Quando partiu de Minas, levou
consigo atestações firmadas por governadores, provedores da Fazenda,
ceu o encontro dos Bello com os Lima. Apesar de todos os empregos
além da do chanceler da Relação do Rio de Janeiro, o qual lhe garantiu o
mantidos pelo coronel Bello, não se pode esquecer que, tal como parté
dos familiares da esposa do tenente-coronel Lima, ele sempre serviu cargo de administrador das fazendas do visconde de Asseca. O jovem
como militar nas forças auxiliares. Uma vez na
Francisco de Lima se tornaria ainda concunhado de Joaquim Silvério dos
cidade, à deve ter se apré

89
88
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
PARA ESTÍMULO DOS QUE SERVEM
NAS COLÔNIAS

Reis, um fidalgo da Casa Real habilitado pela Ordem de Cristo, embora


o marquês de Angeja, para cuidar dos corpos regulares da cidade, dan-
hostilizado por vários setores da população por causa de sua inconfidên.
do-lhe total liberdade de intervir e realizar as mudanças necessárias. O
cia, que levou ao martírio de Tiradentes. Pertencer a essa ordem era das
general, oriundo de uma das casas mais importantes do Reino, ficou es-
maiores distinções sociais portuguesas, “sendo a situação concreta mais
candalizado com o que encontrou. Em ofício ao conde de Linhares, se-
desejável e acessível no Reino. Com os hábitos, a pessoa automaticamente
cretário dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, afirmou que não era
se tornava nobre, e gozaria, assim, de muitos privilégios”.105
possível perceber a existência de qualquer regulamento na organização
O desejo de metamorfosear-se em nobre estava presente em toda ;
desses corpos, sobretudo nos de infantaria, que — segundo sua avalia-
sociedade. Expandir as relações sociais, sobretudo as familiares, era o ca.
ção -, nas manobras militares operadas, seguiam o arbítrio do oficial
minho mais simples para alcançar certa distinção em sociedades de Ântigo que os comandava. Agindo com diplomacia, o inspetor geral de Infanta-
Regime." Teria sido muito interessante para Francisco de Lima se o esfor. ria e Milícias, João de Souza Corte Real, sugeria ao secretário, conde de
ço de seu sogro em obter o hábito da Ordem de Cristo tivesse logrado re- Linhares, que evitasse “ocasião das tropas do Reino concorrerem com as
sultado. Mas o coronel Luiz Alves de Freitas Bello, assim que soube do do Rio de Janeiro”?.!º? Com o príncipe, havia desembarcado na cidade
parecer do Conselho Ultramarino, que exigia a apresentação dos originais um grande número de oficiais nobres de alta patente, e, desse modo, era
da documentação enviada, desistiu do processo.!?” Justificou-se, evocando preciso ficar atento para evitar conflitos.!º O melhor era não efetuar
“os riscos que corriam [os documentos] na presente conjunção em queo trocas de comando nos regimentos da cidade. Passado o momento ini-
mar está, cheio de ladrões e corsários inimigos e até parece ser imprudên- cial, de instalação dos oficiais portugueses, a expectativa era de que o
cia expô-los a tantos riscos”. O tenente-coronel José Joaquim de Lima sentimento de insegurança se dissipasse. Logo os oficiais antigos na capi-
nem tentaria uma cartada tão alta, sabia que não tinha a menor chan- tal perceberiam a real dimensão das mudanças que estavam para ser
ce — pelo menos não naquela conjuntura — de obter o hábito da Ordem de operadas com a instalação da corte, e até se animariam. Luccock, em seu
Cristo. Mesmo assim, nunca deixava de investir em sua descendência, fos diário de viagem, considera o setor militar o mais privilegiado pela ação
se por meio de contratos de casamento, fosse aumentando a presença da intervencionista do secretário conde de Linhares.”"! Provavelmente ne-
família Lima no 1º Regimento de Infantaria do Rio de Janeiro. nhum oficial, mesmo os mais entusiasmados com a proximidade da cor-
Esse projeto de ascensão social, no entanto, teria caminhado timida te, conseguiu imaginar tantas mudanças. Ainda em 1808, a Coroa
mente se não fosse a chegada, em 1808, da corte portuguesa ao Rio é mandou reorganizar os arsenais de Guerra e da Marinha, os hospitais
Janeiro. Até então, mesmo com tanto esforço, José Joaquim de Lima da militares e, além disso, criou duas novas instituições — o Conselho Supre-
Silva ainda era apenas um tenente-coronel. Em novembro de 1308, fo! mo Militar e o Arquivo Militar. Nos anos seguintes, mandou criar a Real
graduado coronel e, num curtíssimo prazo — um ano e sete meses, 0 mê Academia Militar, a Fábrica de Pólvora do Jardim Botânico, a Fábrica de
Ferro de Ipanema, o Laboratório Químico Militar e a biblioteca da Aca-
nor de toda a sua carreira —, obteve sua efetividade no posto. Finalmel
te, ocupava a vaga que já havia sido de seu irmão.108 demia Naval. Toda essa infra-estrutura, sem dúvida, tinha por objerivo
À rapidez dessas promoções certamente resultava das alterações efe uma reordenação geral do Exército, estando ainda prevista a criação de
tuadas na organização militar da capital para acolher a corte recém novas unidades militares das três armas — infantaria, cavalaria e artilha-
do Sul.!"2
ria —, tanto no Rio de Janeiro quanto no Rio Grande
chegada. O principe d. João destinou um general de sua inteira confiançº

91
90
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
PARA ESTÍMULO DOS QUE SERVEM
NAS COLÔNIAS

Tamanho investimento não buscava apenas proporcionar condições


prêmio por ter assumido o cargo de inspetor de milícias do Piauí. Três
para a implantação da corte portuguesa na cidade; ele explicitava tam.
anos depois, quando retornou à corte, Já era tenente-coronel. O fato de
bém as intenções militares dessa mesma corte na América. Oliveira Lima
ter aceitado se deslocar para uma capitania distante, e de lá permanecer
considera que “o reinado de d. João foi o único período de imperialismo
por tanto tempo, permitiu que o jovem oficial fosse agraciado com a pa-
consciente que registra a nossa história”.!? De fato, nesse período, a
tente antes de seu irmão mais velho, Francisco de Lima da Silva, que só a
monarquia reanexou a Guiana Francesa, de que Portugal abrira mão no
obteve cinco meses depois, em julho de 1818.1!5 Apesar da espera, Fran-
Congresso de Viena, e a estratégica Cisplatina. Se a falta de campanhas
cisco de Lima levava uma vantagem sobre o irmão — tornava-se tenente-
militares das décadas anteriores havia impedido a ascensão de José Joa-
coronel do 1º Regimento de Infantaria do Rio de Janeiro, assumindo um
quim de Lima no Exército, a conjuntura agora se tornava favorável,
posto que havia sido de seu pai e que, por isso, o mantinha na posição de
principalmente se lembrarmos que, além dessas conquistas empreendi- continuar a tradição da família. Vale lembrar que esse regimento corres-
das por d. João, havia ainda a chance de integrar uma expedição desti pondia ao antigo Regimento de Bragança, que chegara à cidade em 1767,
nada a reprimir revoltas como a de 1817, em Pernambuco. na expedição do tenente-general Johann Heinrich Bôhm. O coronel que
Acompanhar a participação dos Lima nesses eventos é difícil. Seus primeiro exerceu seu comando foi o português Francisco de Lima da Sil-
nomes não aparecem na documentação. Por outro lado, é possível assegu- va, tio já falecido do agora tenente-coronel do mesmo nome. Seguindo a
rar que os regimentos de infantaria do Rio de Janeiro estiveram presentes tradição portuguesa, o regimento em breve seria informalmente batizado
tanto em Caiena como na Cisplatina e em Pernambuco. Além disso, nesse com o nome da família, tornando-se o “regimento dos Lima”.M6
mesmo período, enquanto ocorriam esses conflitos, a família conhecia Os anos de 1817 e 1818 coroaram a carreira do brigadeiro José Joa-
uma ascensão social surpreendente. Depois de passar toda a vida esperan- quim de Lima da Silva. Em setembro de 1817, ele foi agraciado com o
do longos anos por uma promoção, José Joaquim de Lima da Silva, com prestigioso hábito da Ordem de Cristo, e, no ano seguinte, após ter sido
apenas dois anos de serviço no posto de coronel, foi promovido em 1812 graduado marechal-de-campo do Exército, recebia a mercê de fidalgo
a brigadeiro dos Exércitos Reais. No ano anterior, as tropas portuguesas cavaleiro da Casa Real.!'? No espaço de uma década, em razão das mu-
haviam marchado para Montevidéu, e em outubro de 1811 era assinado danças político-militares operadas na cidade com a transferência da cor-
te, a carreira e a vida do velho oficial conheceram mudanças impensáveis
um armistício. À chance de o coronel José Joaquim de Lima ter partici-
até O início do século. Aos 72 anos de idade, o marechal Lima da Silva
pado dessa campanha é grande, sobretudo porque na juventude ele havia
via realizado seu desejo de ascensão social — ingressava nos círculos mais
combatido na mesma fronteira sob as ordens do general Bôhm. Experiência
próximos ao rei.!!8 Sabia, porém, que sua tarefa não estava encerrada.
e conhecimento da região foram seguramente elementos considerados pela
Para sedimentar sua nova posição era preciso também reposicionar so-
Coroa para organizar e distribuir suas forças militares pelo território. Af-
cialmente a família. Se antes já tratava com grande zelo a carreira dos
nal, também havia conílitos em Caiena.!14
filhos, agora que desfrutava suficiente capital político, iria dedicar-se in-
A dinâmica dessas operações de guerra promovia uma circulação 1n-
tegralmente a ela. Sua primeira intervenção foi a favor do terceiro filho,
ter-regional bastante interessante para os oficiais militares. O segundo fi
o capitão Manoel da Fonseca de Lima e Silva. O jovem oficial recebia,
lho do brigadeiro José Joaquim de Lima da Silva, que herdara seu nome;
aos 25 anos, o hábito da Ordem de Cristo, em atenção a um requerimen-
recebeu em dezembro de 1814 uma promoção para sargento
-mor comô
93
92
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
PARA ESTÍMULO DOS QUE SERVEM NA
S COLÔNIAS

to de seu pai. Certamente, ao escolher Manoel da Fonseca, o marecha| Sepultado no convento de Santo Antônio, honraria
destinada somen-
levava em conta sua idade bastante avançada. Ainda no início da carrei. te à nobreza local, o marechal que chegara à cidade ainda rapaz havia
ra, o rapaz era, dos filhos mais velhos, o que menos condições teria de se transformado sua história e a de sua família.'2 O pacto político sobre o
posicionar na corte caso O pai viesse a falecer nos próximos anos. qual se mantinha O império português, em vez de cri- ar como por muito
A partir daí, tem início um curioso jogo de administração de mercês, tempo se imaginou — uma sociedade com fronteiras sociais estáticas (ou
Em 1819, d. João, numa nova demonstração de sua “real munificência”, quase estáticas), mostrava-se bastante permeável ao jogo das relações
concedeu mais um benefício ao marechal-de-campo José Joaquim de pessoais e de parentesco. Essa boa dose de plasticidade criava um siste-
Lima “pelos seus bons serviços praticados” — ele era agraciado com ma atraente que, por meio de negociações cotidianas, realizadas entre
“uma vida a mais na comenda de São Bento de Avis”. Isso significa que diferentes níveis hierárquicos (por isso, sempre marcadas pela desigual-
poderia passar a mercê para um de seus descendentes, e o escolhido — se- dade), conseguia garantir que princípios e valores aristocráticos enta-
guindo agora a tradição — foi seu primogênito, Francisco de Lima da lhassem novas sociedades na América portuguesa.
Silva. Em seguida, foi a vez do segundo filho — José Joaquim. Ele rece-
beu, também em 1819, o foro de fidalgo cavaleiro da Casa Real com
“todas as honras e direitos”. Enquanto o pai o tinha obtido “por sua
patente”, o filho era agraciado “por honra de seu pai”."*
A presença da Coroa portuguesa favorecia o enraizamento de uma
cultura de Antigo Regime no Rio de Janeiro, fundada, como no Reino,
numa verdadeira “economia de favores”.'2º Quando o marechal-de-
campo José Joaquim de Lima da Silva morreu, em 1821, parte da famí-
se
lia havia completado sua metamorfose e seus filhos mais velhos
aprese nta vam com o nobr es. Fran cisc o de Lima , cum pri ndo seu desti -
no, ao ser promovido coronel, assumiu o comando do 1º Regimento de
Joa
Infantaria da cidade com a comenda de São Bento de Avis. José
quim de Lima era tenente-coronel do mesmo regimento com o foro de
fidalgo cavaleiro da Casa Real. O jovem capitão da família, Manotl
Fon sec a de Lima , cont ava em sua fé-d e-of ício !2! com um serv iço em
da
buc o — na repr essã o à revo luçã o de 1817 — e era habi lita do pela
Per nam
Ordem de Cristo. No entanto, além deles, o marechal José Joaquim
deix ava dois outr os filh os ofic iais - João Man oel de Lim a da Silva *
Luiz Manoel de Lima da Silva. Ambos eram ainda bem jovens. João
16 ano s, e Lui z, 15. Ma s os doi s já in te gr av am O «regi'
Manoel tinha
mento da família”.
95
94
PARA ESTÍMULO DOS QUE SE
RVEM NAS COLÔNIAS

Notas 10. Registro Paroquial de Faro, conselho de Lagos, freguesia de Lagos,


caixa 138, livro
8, 11 de março de 1746, ANTT.
11. Antônio de Morais Silva, Dicionário da Língua Portuguesa
12. José Joaquin de Lima, er ofício à Coroa, menciona a existência em Portuga
l de
dois primos pertencentes à família Pedegache. Uma busca pelos
Pedegache em en-
ciclopédias mostra a vinculação entre as famílias e indica a profissão do avô
de
José Joaquim, Grande Enciclopédia Portuguesa-Brasileira, verbete Pedegache.
13. Foram consultados os índices dos seguintes fundos documentais do ANTT: Re-
gistro Geral de Mercês; Chancelaria de D. Afonso VI; Chancelaria de D. Pedro
1. Essa história é composta de dados retirados de ofícios do conde da Cunha e de um II; Chancelaria de D. João V; Chancelaria de D. José I; Chancelaria da Ordem
relatório do ten.-gen. Bôhm pertencentes à coleção de “Documentos Avulsos — Rio
de Cristo (antiga); Chancelaria da Ordem de Avis (antiga); Chancelaria da Or-
de Janeiro”, do AHU. Ver, respectivamente, caixa 89, doc. 74, de 30 de outubro de dem de Santiago (antiga); Inquisição, Habilitações do Santo Ofício; e Cartório
1767; caixa 82, doc. 75, de 30 de outubro de 1767; caixa 89, sem cota, de 30 de da Nobreza, processos de justificação de nobreza e livros de registro de brasões
outubro de 1767; e caixa 90, doc. 42, de 22 de novembro 1767. de armas.
2. Ver, João Batista Magalhães, A evolução militar do Brasil, p. 187. 14. Registro Paroquial de Faro, conselho de Lagos, freguesia de Lagos, caixa 138, livro
3. À menção à presença dos estrangeiros está em “Documentos Avulsos — RJ”, do 6, 11 de setembro de 1717, ANTT.
AHU, caixa 89, doc. 76, de 30 de outubro de 1767. 15. Livro Mestre do Regimento de Faro, do AHM, livro B-14-1-1, entrada nominal.
4. Sobre o número de militares, ver Henrique Oscar Wiederspahn, “O famoso conde 16. Às abordagens mais antigas sobre esse traço aristocrático nos exércitos europeus
de Lippe e o primeiro Exército luso-brasileiro unificado nas lutas contra os hispá- são as de Samuel Huntington, O soldado e o Estado, e Alfred Vagts, History of
nicos no Sul até 1777”, p. 267. Para a proveniência deles, relatório do tenente militarism. As abordagens mais recentes sobre o Exército português são de Fernan-
general Bôhm, “Documentos Avulsos — RJ”, do AHU, caixa 90, doc. 42, de 22 de do Dores Costa, “O bom uso das paixões” e “A nobreza é uma elite militar? O
novembro. de 1767. caso Castanhede-Marialva em 1658-1665”.
5. Documentos das Divisões do AHM, 1º Regimento de Infantaria de Bragança - 3 JA O trabalho de António Hespanha e Ângela Xavier destaca essas redes clientelistas
divisão — 43º seção — caixa 10, doc. 17. como organizadoras das relações de uma sociedade de Antigo Regime e afirma que
6. O conceito de experiência institucional aplicado ao Exército é de Sabina Loriga, elas não se restringiam à corte e a ambientes políticos: “estruturavam vários níveis
Soldats. Para a articulação dessa proposta, ver, ainda, Simona Cerutti, Normes de interação social e os comportamentos cotidianos”, ver António Manoel Hespa-
et pratiques, ou de la légitimité de leur opposition, e Maurizio Gribaudi, Itiné nha, “As redes clientelares”, p. 392.
raires ouvriers.
18. Fernando Pereira Marques, Exército e sociedade em Portugal, p. 39.
19. Sabina Loriga identifica essas redes clientelistas por meio da análise da trajetória de
7. Esse procedimento vem sendo criticado pelos próprios historiadores desde a década
de 1970, o que gerou vários debates sobre a articulação entre texto e contexto» À alguns indivíduos no Exército piemontês do século XVII. Sobre essas diversas
originalidade da proposta dos micro-historiadores, que pretendo seguir aqui, está experiências institucionais, ver, Sabina Loriga, Soldats, cap. 3.
20. Livro Mestre do Regimento de Faro, do AHM, livro B-14-1-1, entrada nominal.
em romper um pressuposto bastante comum: o de que existiria um contexto unif-
21. Sobre João da Silva, ver Decreto de Conselho de Guerra, do ANTT, decreto de 12
cado e homogêneo dentro do qual todos os atores sociais efetuariam suas escolhas
Para essa discussão, ver Os diversos textos reunidos por de janeiro de 1754, maço 113, nº 31. Sobre Francisco de Lima, ver Livro Mestre
Jacques Revel, Jogos de
escalas. do Regimento de Faro, do AHM, livro B-14-1-1, entrada nominal. :
22. Decreto de Conselho de Guerra, do ANTT, decretos de 12 de janeiro de 1754,
8. Sobre como se dava essa vinculação, ver Adriana Barreto de Souza, O Exército na
maço 113, nº 16.
consolidação do Império, cap. 1.
23. Coleção “Documentos Avulsos — RJ”; do AHU, caixa 96, doc. 30 de 22 de fevereiro.
9. As informações que se seguem foram obtidas mediante à análise dos Registros Par
roquiais do ANTT. de 1770.

97
96
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
PARA ESTÍMULO DOS QUE SERVEM
NAS COLÔNIAS

24. Sobre essas campanhas, ver Carlos Selvagem, Portugal militar, p. 470. Na recons.
trução da trajetória de Francisco de Lima, continuo usando dados extraídos do 40. Registro Paroquial de Faro, conselho de Lagos, freguesia de Lagos, caixa 142,
livro
Livro Mestre do Regimento de Faro, do AHM, livro B-14-1-1, entrada nominal. 2, 9 de fevereiro de 1764, ANTT.
25. Ao iniciar o reinado de d. José I, Sebastião José de Carvalho não possuía nenhuma 41. Decretos do Conselho de Guerra, ANTT. Para a dissolução do regimento de Fran-
titulação. Em 1759, ele foi agraciado com o título de 1º conde de Oeiras e Somen. cisco de Lima, ver o decreto de 5 de junho de 1763, maço 122, nº 95, e para
as
mudanças mais gerais, ver o decreto de 10 de maio de 1763, maço 122, nº 77.
te em 1769 se tornou marquês de Pombal. Como a partir de agora ele será um
42. Documentos das Divisões, do AHM: Regimento de Infantaria de Faro — 3 divi-
personagem recorrente nesta narrativa, para evitar maiores confusões, adotarei
são 43º seção caixa 63, doc. 7.
aqui o título pelo qual ele ficou conhecido.
43. Coleção “Documentos Avulsos — RJ”, do AHU, caixa 89, doc. 75, de 30 de outu-
26. Francisco Falcon, A época pombalina, cap. VI, “A prática do pombalismo”.
bro de 1767.
27. Uma ótima discussão sobre a relação da nobreza portuguesa com a carreira militar
. Coleção “Documentos Avulsos — RJ?, do AHU, caixa 89, doc. 74, de 30 de outu-
é realizada por Fernando Dores Costa, “A nobreza é uma elite militar? O caso
bro de 1767.
Castanhede-Marialva em 1658-1665”.
45. Carta do vice-rei do Brasil conde da Cunha a Francisco Xavier de Mendonça Fur-
28. Coleção das Leis, Alvarás e Decretos Militares, que desde o princípio do reinado tado acerca dos motivos que teve para pedir nomeação de sucessor, in: RIHGB,
do sr. rei d. José 1 se tem promulgado até o referente ano de 1791, alvará de 16 de tomo LXIX, parte 1, 1908.
março de 1757. 46. Relação das Instruções e Ordens que se expediram ao conde da Cunha, in: RIHGB,
29. Além do texto do alvará, ver Francisco de Paula Cidade, Cadetes e alunos militares tomo 35, parte 1, 1872.
através dos tempos, p. 15-21. 47. João Batista Magalhães, op. cit., p. 185.
30. Os terços auxiliares foram criados em 1645, quando passaram a ocupar O segundo 48. Sobre a cidade do Rio de Janeiro na segunda metade do século XVIII, ver Maria
escalão das tropas militares. Apesar de integrados também por paisanos, eram Fernanda Bicalho, A Cidade e o Império.
treinados e armados de modo a poder auxiliar prontamente as tropas regulares. 49. Coleção “Documentos Avulsos — RJ”, do AHU, caixa 90, doc. 42, de 22 de novem-
Por isso, os postos de sargento-mor e ajudante eram ocupados por oficiais tirados bro de 1767, e Relatório do marquês do Lavradio, vice-rei do Brasil, im: RIHGB,
dessas tropas. tomo IV, 1842, p. 412.
31. Todos esses dados foram retirados da Coleção das leis, alvarás e decretos militares, 50. Sabina Loriga, Soldats, op. cit. p. 31.
alvará de 16 de março de 1757. dk Fernando Pereira Marques, Exército, mudança e modernização, p- 151.
32. Francisco Falcon, op. cit., p. 377. 52. Relatório do marquês do Lavradio, vice-rei do Brasil, op. cit., p. 412-13.
33. João Batista Magalhães, op. cit., p. 214. ds Mapas dos regimentos anexos ao Relatório do tenente-general Bôhm, “Documen-
34. Apud Fernando Pereira Marques, Exército e sociedade em Port tos Avulsos - RJ”, do AHU, caixa 90, doc. 42, de 22 de novembro de 1767.
ugal, p. 36.
35. Sobre a participação de Portugal na Guerra dos Sete Anos, ver Carlos Selvagem 54. “Regimento das ordenanças” era um tipo de força militar criado em 1570 e com-
, 0):
cit., e Simão José Soriano, História do Reinado de El Rei D. José e da administra
: posto de paisanos. Era comandado por um capitão-mor, escolhido entre os “prin-
ção do marquês de Pombal, t. 1., cap. VI. cipais” de cada vila ou cidade. Isso isentava a Coroa dos gastos de manutenção da
36. Um bom artigo biográfico sobre o tropa e fortalecia as elites locais, transformando as ordenanças em importante
conde de Li ppe é o de Henrique Oscar Wieders:
pahn, op. cit. fonte de poder político.
37. 7. OO testemu nho do conde de Sai Relatório do marquês do Lavradio, vice-rei do Brasil, op. cit., p. 425.
nt-Priest
est éé cit
ci ado por Fernando Pereira Marq 55.
Exército, mudança e modernizacã ues
ã Ê 56. João Batista Magalhães, op. cit., p. 194.
ré as inimizades de Lippe, Henriqu
1 E E E

Oscar Wiederspahn, op. ci no 260,


ção P. 33. Sob

Relatório do marquês do Lavradio, vice-rei do Brasil, op. cit., p. 412-13.


;

37.
58. es de Mar tin ho de Mel lo e Cast ro a Luiz de Vasc oncelos e Sousa. In:
Difere ntes Graduações, Conduta e Préstimo Instruçõ
e SORTE, , rp
ais dades,
interiores e Cadetes do 1º Regimento de
Infantaria RIHGB, tomo XXV, 1862, p. 481. | se
do RJ. No 2º semestre de 1806” h da Cidade
3 COL o 59, Coleção “Documentos Avulsos — RJ”, do AHU, caixa 96, doc. 30, de 22 de feverei-
39. Simão José Soriano, OD. cit., p. 487 ah 743,5 0,-n 6, setor de Obras Raras, BN.
ro. de 1770, e caixa 97, doc. (57), de 23 de junho de 1770.

58 99
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
PARA ESTÍMULO DOS QUE SERVEM
NAS COLÔNIAS

60. Ofício do vice-rei conde da Cunha para Francisco Xavier Furtado, apud Christi;
Figueiredo Pagano de Melo, Os corpos de auxiliares e de ordena p 73. O crescente desespero do marquês do Lavradio com o desempenho do Exército na
metade do século XVIII, p. 139. guerra pode ser observado nos seus ofícios. Ver especialmente “Documentos
Avul-
61. Ver Relatório do tenente-general Bôhm, “Documentos Avulsos - RJ”, do AHU sos — RJ”, do AHU: caixa 112, docs. 14 e 16, de 3 de abril de 1777. A citação é do
caixa 90, doc. 42, de 22 de novembro de 1767. anexo do ofício do marquês ao secretário da Guerra, “Documentos Avulsos — RJ”,
62. Sobre o marquês do Lavradio ver, Dauril Alden, Royal government in coloni do AHU, caixa 115, doc. 44, sem data.
Brazil. Sobre Bôhm, ver Henrique Wiederspahn, O famoso conde de Lippe e 74. “Documentos Avulsos — RJ”, do AHU, caixa 112, doc. 31, de 2 de maio de 1777.
Primeiro Exército Luso-Brasileiro; e Washington Perry de 75. Carta do conde da Cunha para Francisco Xavier Furtado, apud Christiane Pagano
Almeida, Tereniniaa
ral ].H. Bôbm. de Melo, op. cit., p. 87.
)
63. Todos os dados deste parágrafo, e do anterior, 76. Sobre a importância das patentes, privilégios e mercês na estruturação de uma so-
foram extraídos do Relatório do
marquês do Lavradio, op. cit., p. 412. ciedade de Antigo Regime, organizada em torno de uma nobreza civil ou política,
64. Uma falha na segiiência de mapas dos regime ver Nuno Gonçalo Monteiro, op. cit., sobretudo o cap. 1.
ntos elaborados a cada mês sobre
estado da tropa e do corpo de oficiais impede 77. Decretos do Conselho de Guerra de 10 de julho de 1777, maço 136, nº 71.
o fornecimento de informação mais
precisa. Ainda assim, é possível afirmar com seg 78. O requerimento das irmãs está em “Documentos Avulsos - RJ”, do AHU, caixa
urança que o coronel Lima estew 127, doc. 34, de 18 de outubro de 1781. Para o óbito do brigadeiro, Registro Pa-
afastado do comando do seu regimento em outubr
o e novembro. Mapas anexos 20 roquial de Faro, conselho de Castro Marim, freguesia de Castro Marim, caixa 83,
Relatório do general Bôhm, op. cit.
livro 8, 11 de outubro de 1779. ANTT.
65. Relatório do tenente-general Bôhm à “Doc
umentos Avulsos — RJ”, d AHU 79. “Documentos Avulsos - RJ”, do AHU, caixa 127, doc. 34, de 18 de outubro de
20, doc. 42, de 22 de novembro de 1767.
Es dic 1781, anotações a lápis na margem.
66. Todos os documentos de Bôhm eram
redigidos em francês. Esse, à época, era o
ima da diplomacia. Assim, as citaçõ idio 80. Nem todos os livros de registro dos conventos de Beja foram recolhidos pela Torre do
es são traduções livres, realizadas po Tombo. Muitos se perderam. Por isso, não é possível precisar a data de entrada das
Documentos Avulsos — RJ”, do AHU: cai r mim.
xa 23, doc. 30, de 26 de outubro 1768 irmãs Ana Vitória Xavier de Lima e Maria Joaquina Xavier de Lima no convento.
67. Ofício do marquês do Lavradio ao
conde de Oeiras, “Documentos Avulsos 81. Os dados sobre a carreira de José Joaquim de Lima da Silva foram retirados de um
do AHU, caixa 96, doc. 29, de 20 — RF
de fevereiro de 1770 documento intitulado “Relação das Idades, Antiguidades, Diferentes Graduações,
68. Ambos os ofícios estão no AHU, |
Ofício do mar quês do | Lavradio a Pomb Conduta, Préstimo dos Oficiais, Oficiais Inferiores e Cadetes do 1º Regimento de
cumentos Avulsos - RJ”, caixa 26, al, “Do
doc. 29, de 20 de fevereiro de 1770, e Infantaria da Cidade do RJ. No Segundo Semestre de 1806”, cota h 7,3,50, nº 6,
tenente-general Bôhm, sem destinatário Ofício do
, “Do cumentos Avulsos — RJ”, caixa setor de Manuscritos, BN.
doc. 30, de 22 de fevereiro de 1770. 96,
82. Ver anexo ao requerimento “Documentos Avulsos — RJ”, do AHU, caixa 183, doc.
69. Coleção “Documentos Avulsos — RJ”, do
AHU, caixa 27, doc. 57, de 76, de 24 de abril de 1800.
de 1770. 23 de junho
83. Quem conta essa história é o próprio José Joaquim no requerimento que dirige à
70. Antônio Ribeiro Sanches, “Cartas sobre
» aed ã + Be Coroa, “Documentos Avulsos — RJ”, do AHU, caixa 183, doc. 76, de 24 de abril
ne Figueiredo Pagano de Melo, op. cit., p. 9, da mocidade”, apud Christia
de 1800”. Sobre a reestruturação dos regimentos da cidade, ver “Documentos
71, Anexo do ofício do marquês do La
vradio ao secretário da
Guerra, “Documentos Avulsos — RJ”, do AHU, caixa 160, doc. 100, 31 de outubro de 1798.
Avulsos — RJ”, do AHU: caixa 115, doc.
transcrevo o original: “Je
“4, sem data. Em função do tamanho, 84. O processo está na coleção “Documentos Avulsos — RJ”, do AHU, caixa 183, doc.
suis obligé de rép
souverain; de sa prompitude à se Jeter “ter, que du côté de la fidélité envers son 76, de 24 de abril de 1800.
au fe U pour ses intérêts; et de son obéi 85. Todos os dados biográficos sobre Joaquim Xavier Curad o foram retirados de Alfre-
le colonel Lima ne cedera personne” ssancêt; ilei ro de 1822 a 1889,
do Pretextato Maciel da Silva, Os generais do Exército bras
entrada nominal.
86. Para todo o processo: “Documentos Avulsos — RJ caixa 160, doc. 88,
mn
3 do AHU,

lant. 1800, setembro, 27].

100
101
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
PARA ESTÍMULO DOS QUE SERVEM
NAS COLÔNIAS

87. Quem analisa essa relação entre Estado e os aspectos do que seria uma vida Privad
é Norbert Elias, A sociedade de corte. ,
100. Todas as informações aqui apresentadas foram retiradas dos “Documentos Avul-
88. Sobre a nova lei, ver alvará de 18 de maio de 1797, Coleção das leis, alvarás e de. sos — RJ”, do AHU. Ver, de forma geral, caixa 145, doc. 724, de 3 de julho de
cretos militares, que desde o princípio do reinado do sr. rei d. José I se tem promul. 1790, caixa 148, doc. 364, de 25 de janeiro de 1791 e caixa 166, doc. 494, de 14
gado até o referente ano de 1791. O casamento é citado por Carlos Dantas : de agosto de 1797. Para as citações, ver especificamente caixa 143, doc. 784, de
Carlos Rheingantz, Achegas genealógicas à ascendência de Luiz Alves de Lima e 16 de junho de 1789.
Silva, duque de Caxias. 101. “Documentos Avulsos — RJ?, do AHU, caixa 148, doc. 36A, de 25 de janeiro de 1791.
82. Às patentes dos membros da família Fonseca Costa podem ser vistas em Carlos 102. Parte da história da família Bello foi reconstruída por Alberto Lamego, “O tronco
Dantas e Carlos Rheingantz, op. cit. Força de linha é outro nome dado às de Caxias”, Coleção Caxias, pasta 760, pasta 14, IHGB, p. 134. Até 1938, quando
forças
regulares. Compunham o primeiro escalão das forças militares do Reino e eram as esse texto foi publicado pela primeira vez, a linha materna da ascendência do du-
únicas a serem sustentadas pela Coroa. Por isso, também são chamadas de que de Caxias era pouco conhecida, não se sabendo dessa relação com a Inconf-
“forças
pagas” e seus integrantes de “soldados pagos”. dência Mineira. Sobre os “artigos difamatórios”, estão no “instrumento de pública
20. Para a expressão do conde de Lippe, ver “Observações militares dirigida forma”, “Documentos Avulsos — RJ”, do AHU, caixa 166, doc. 49A, de 14 de
s ao mar.
quês de Pombal”, apud Fernando Pereira Marques, op. cit., agosto de 1797.
p. 35. Sobre as tropas
auxiliares, ver Christiane Pagano de Melo, op. cit., cap. IL.6, p. 85. 103. Ver a escritura de venda da Fazenda São Paulo, onde consta o lugar de moradia da
Sl O mais provável é que não se tratasse de uma nob família em 1805, uma casa na Rua Direita, “Publicações do Arquivo Nacional”,
reza com jurisdição. Nesse
alhho-me j de discussões mais recentes da historiografia,
caso, val vol. XXXVI, de 1839, p. XIV.
que trabalham 104. O pedido de mercê do coronel Bello está em “Documentos Avulsos — RJ”, do AHU,
com a idéia de “nobreza da terra”. Ver João Fragos
o, A nobreza da República: caixa 173, doc. 64, de 26 de abril [ant. 1799]. Já o ofício do vice-rei para embaraçar
notas sobre a formação da primeira elite senhorial do Ri ;
o Rio de Janeiro (séculos a licença está no mesmo arquivo de caixa 191, doc. 47, de 27 de março de 1801.
XVI e XVII).
105. Giana Cláudia de Castro Araújo, Portugal, a idéia de nobreza e a América, p. 130.
22 - Ver Carlos Dantas e Carlos Rheingantz, op.
cit. e Processo de Justificação de No- 106. Maria de Fátima Gouvêa mostra como o componente das relações familiares era
breza, ANTT, maço 24, nº 29.
' uma forma de distinção e como ele foi utilizado pelos homens que ocupavam car-
93 Para o novo ofício de José Joaquim de Lima, “Docum
entos Avulsos - RJ”, do AHU, gos na Câmara do Senado do RJ na virada do século XVIII para “se metamorfose-
caixa 202, doc. 85, de 26 de outubro de
1802. ar em pessoas nobres”. Ver Maria de Fátima Gouvêa, op. cit., p. 321. À idéia vem
94 te “Lista das pessoas que têm servido de almotacé
na cidade”, Fundo Vice-Rei- sendo explorada na historiografia mais recente, sobretudo para analisar a trajetó-
E o, caixa pó pacote 2, do ANRJ. À
informação pode ser confirmada por ria de homens ligados ao comércio de grosso trato. Ver João Fragoso, Maria Fer-
ocumento depositado no AGR] , códice outro
40-3-85, vol. 3. Almotacé era um juiz nanda Bicalho e Maria de Fátima Gouvêa, O Antigo Regime nos trópicos; O caso
Êeleito p pela CâCãmara do Senado (poder
municiTo pal) e que inspecionava pesos, mais famoso é o da família Carneiro Leão.
as, viveres e outros objetos de polícia. medi-
107. “Documentos Avulsos — RJ”, do AHU, caixa 173, doc. 64, de 26 de abril [ant. 1799)
95 - Um texto-chave sobre a Câmara do
Senado do RJ é o de Maria de Fátima 108. Arquivo-Geral de Mercês e Graças Honoríficas do ANRJ, códice 137, livro 9, fl. 107.
“Redes de poder na América portu Gouvêa,
Buesa . Foi por meio dele que cheguei ao docu- 109. Ofícios do marquês de Angeja, setor de Manuscritos da BN, cota [1-34,15,22, ofi-
mento citado anteriormente.
96. cio de 22 de novembro de 1810. O ofício do inspetor Corte Real está nessa mesma
Dantas e Carlos Rheingantz, Op. cit. uam baseando-se no trabalho de Carlos cota, sendo datado de 26 de novembro de 1810.
97. Anexos do
110. Fernando Pereira Marques, Exército e sociedade em Portugal, p. 127.
“Instrumento
de Pública
AHU, caixa 166, doc.
Fo rma”,*
Documentos Avul ta

sos — RJ”, do
111. Apud Oliveira Lima, D. João VI no Brasil, p. 289.
494, de 14 de agosto de
28. Coleção Casa dos Contos do set 1797 112. Essas mudanças são descritas por João Batista Magalhães, op. cit., cap. 25.
or de Man eth con sid era O período joanino uma
1-10,24,2, nº S até 110,24,2,nog, -cMtos da BN, Ver sobretudo cotas 113. Oli vei ra Lim a, op. cit., p. 285. Mic hae l McB

99. “Documentos Avulsos — RJ”. do AHU.


cai
» Caixa 148, doc. 364, de 25 de janeiro de 1721. dez das promoções. Ver Michael McBeth, Brazi

102
103
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

114. Sobre a promoção de José Joaquim de Lima, Arquivo Gera


l de Mercês e Gra
Honoríficas do ANRJ, códice 137, livro 21, fl. 29. Para a guerra no Rio da Prata
José Antônio Soares de Souza, “O Brasil e o Prata até 1828 >, p. 312,
115. Sobre a expedição do sargento-mor José Joaquim de Lima ao Piauí, ver Alfredo
Pretextato Maciel da Silva, op. cit., entrada nominal. Às
informações relativas às
promoções estão no Arquivo Geral de Mercês e Graças Honoríficas do ANR],
Para José Joaquim de Lima, códice 137, livro 43, fl. 28v, e para a de Francisc
O de
Lima, códice 137, livro 45, fl. 48.
116. Essa tradição aparece em vários documentos sobre os regimentos portugue
ses. Ve,
para Portugal, os “Documentos das Divisões” do AHM e, para Os Lima e Silva combatem a hidra da
o Rio de Janeiro,
sobretudo o caso do “Regimento dos Lima”: o códice 88, “Corre
spondências dy anarquia: os anos de formação de
General e Comandante de Tropas do RJ (1799-1805 )”, deposi
117. Essas informações constam no Arquivo Geral de Mercês
tado no ANRJ. Luiz Alves de Lima
e Graças Honoríficas dy
ANRJ. Ver, respectivamente, códice 15, livro 3, fl. 158, e códi
ce 137, livro 34, fl. 28y,
118. Um decreto baixado em 13 de maio de 1789 por d.
Maria I garantia que “todos o:
oficiais militares que subirem aos postos de marechal-de-campo
ou de tenente-pe
neral dos meus exércitos “sejam tomados logo por fidalgos
da minha Casa Red,
expedindo-lhes pela mordomia-mor os seus competentes
alvarás sem dependência
de outro algum requisito mais do que o da certeza
de se acharem promovidos aos
referidos postos”, Coleção das leis, alvarás e decretos
militares, op. cit.
119. Todas essas informações constam no Arquivo Geral de
Mercês e Graças Honorif-
cas do ANRJ. O hábito da Ordem de Cristo recebido
por Manoel da Fonseca está
registrado no códice 15, livro 3, fl. 158; a vida na
comenda de São Bento de Aviz
está no códice 15, livro 7, fl. 42, e o foro
de fidalgo cavaleiro recebido por José
Joaquim está no códice 137, livro 52, fl.
133.
120. O conceito foi elaborado por Antóni
o Manuel Hes panha para análise da sociedade
idéia do enraizamento de uma cultura de

sua trajetória dentro do Exército.


122. Manuel Duarte Moreira de
Azevedo, Os túmulos de um clau
stro.

104
t uiz Alves de Lima, o primeiro filho homem de Francisco de Lima, nas-
dia 25 de ago sto de 180 3, um ano depo is de Ana Quit éria , pri-
ceu no
mog êni ta da famí lia. Foi nos ass ent os de bat ism o dess a ger açã o que O
a que
nome da família mudou oficialmente para “Lima e Silva”, aind
nasceram
continuassem usando apenas o “de Lima”.! As duas crianças
reposi-
quando os avós — tanto paternos como maternos — tentavam se
Rio de Jane iro. Foi jus tam ent e em 180 2 que José Joa quim de
cionar no
a esc rev eu par a o secr etár io dos Neg óci os da Mar inh a e Ult ramar,
Lim
solicitando apoio para seu segundo requerimento, por meio do qual ape-
Os car-
lava à “Real Piedade” para aumentar seus rendimentos. Listava
na cid ade e ten tav a con ven cer à Cor oa de sua fideli-
gos públicos vag os
and o os filh os que já se ach ava m no serv iço real com o mi-
dade, enumer
Fra nci sco de Lim a — seu pri mog êni to — ass umi a ao lado do pai
lita res.
pro mov er a asc ens ão soci al dos Lim a. Log o dep ois de
esse projeto de
entr e os Bell o, ren ova va à sati sfaç ão de José Joa-
contratar casamento
o a famí lia e dan do- lhe seu pri mei ro neto hom em.
quim, expandind
peq uen o Luiz Al ve— de
s que m her dav a o nom e-— tam -
O avô materno do
cur ava ree str utu rar sua vida . Rec ém- che gad o ao Rio de Jan eiro,
bém pro
uls o de Ca m pos com a famí lia, ten tav a sem
após ter sido praticamente exp
for o de fid alg o com o háb ito da Or de m de Cr isto. Às dívi-
sucesso obter o
por Joa qui m Sil vér i o do s Re is , re ta rd av am a
das da família, contraídas
O cor one l Bel lo cer ta me nt e co nt ava com a
partida deste para a corte, e
po lê mi co ge nr o par a pod er cir cul ar se m tantas dificuldades
viagem de seu
is que Jo aq ui m Sil vér io e sua fil ha Be rn ar di na embar-
na cidade. Logo depo

107
OS LIMA E SILVA COMBATEM A HIDRA DA ANARQUIA
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

caram para Portugal, ele comprou uma fazenda situada nos confins da uma vez que Joaquim Silvério morava nessa época em Portugal. Esse
baía de Guanabara, na freguesia de Inhomirim, e, como forma de paga- estreitamento de laços, que se repetiria no batismo de outros netos pelos
mento, deu a fazenda que possuía na vila de Barbacena, onde a família avós maternos, evidencia o desequilíbrio da aliança estabelecida entre
morou até o episódio da delação. Rompia, assim, com todos os vínculos os Lima e os Bello e confirma também as estratégias que organizavam
que ainda o mantinham preso a esse passado que se impunha esquecer. Na essas relações familiares.? Afinal, de que outra maneira se poderia pen-
nova fazenda, prosseguiria sem o genro e longe de Minas Gerais. sar o esforço da família em buscar um padrinho em terras tão distantes,
Apesar de o negócio só ter sido fechado em janeiro de 1805, Luiz quando vários tios maternos e paternos viviam no Rio de Janeiro (ane-
Alves nasceu nessa propriedade — na Fazenda São Paulo —, onde, ao que xo 1)? Talvez o interesse de Mariana Cândido e Francisco fosse evitar o
parece, os Bello já vinham vivendo ou passando temporada antes mesmo isolamento da irmã e do cunhado, que tinham sido obrigados a deixar
de adquiri-la. Talvez pela maior proximidade do avô materno é que o o Brasil pela continuidade das hostilidades que sofriam no Rio de Janei-
menino tenha recebido seu nome. Mas é difícil precisar o motivo da es- ro.“ No entanto, não há como ignorar que Joaquim Silvério era agora
colha. Na época, era comum homenagear um dos avós, mas não havia um fidalgo habilitado pela Ordem de Cristo, que vivia na corte de Lis-
regras sobre qual deles seria o primeiro. Podemos especular que talvez boa — um desejo frustrado do coronel Bello.
fosse melhor para o pequeno levar o nome do avô mais influente na ci- A forte presença dos avós maternos parece ter continuado nos pri-
dade, e com mais relações no governo. Para não excluir José Joaquim de meiros anos de vida de Luiz Alves. Um de seus biógrafos afirma que ele
uma
emp ocasião tão especial,
ia ele foi foi escolhido
| padrinho do neto, batizan-
; teria aprendido as primeiras letras e operações matemáticas na Fazenda
São Paulo, com a avó Ana Quitéria. Ainda que por falta de documentos
ma a ve dois E no três primeiros filhos na Fazenda não seja possível confirmar a informação, essa era uma prática comum
A e St rl e o para manter as crianças mais no século XIX. Outros meninos também iniciaram seus estudos em fa-
mília. Depois, ao que parece, Luiz Alves cursou o Seminário São Joa-
E quarto filho do casal, doamília
H eta iz ede Luiz
Bello. Além papiAlves,
É quim. Esses quinze anos de sua vida, porém, permanecem obscuros. Só
hai Na
via Ana Quitéria, a prima ogênRAita, que ganhou o nome da avó há notícias mais precisas sobre sua trajetória escolar a partir de 1818,
mater- im-
na e doi IS Outros mais novos, José é e Bernardi
na, que receberam o nome quando ingressou na Real Academia Militar — uma das novidades
dos | avósavó de Marian
; a. À famíli
liaa Lim
Li a só foi
lembrada quando nasceu 0 plantadas na cidade com a chegada da corte.”
quinto filho do casal, cujo nome que se matriculou na Real Academia Militar era um dos
finalmente resti giaava o avôA pater ; O rapaz
5
no — José Joaquim. pres tigi dos Lima”. Seguindo a tradição,
mais jovens integrantes do “regimento
de
assentara praça de cadete aos cinco anos de idade no 1º Regimento
ari a do Rio de Jan eir o— ant igo Reg ime nto de Bra gan ça. º Isso não
Infant
ific a que com eço u a serv ir ain da cri anç a, a vin cul açã o ao regimento
sign
mili-
era apenas honorífica, garantida pelo título concedido aos filhos de
ainda lutava
tares de patente — título de cadete. Naquela época seu avô
icu lda des par a con seg uir a pat ent e de cor one l. Só que ago ra,
com dif

109
108
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO OS LIMA E SILVA COMBATEM A HIDRA
DA ANARQUIA

quando o neto se tornava um jovem oficial, a história era diferente, Luiz reu em 1823, durante os combates travados pelo Batalhão do Imperador
Alves de Lima — nome com o qual assinou seu registro na Academia Mi- na Bahia. Era seu batismo de fogo. Luiz Alves seguia como ajudante do
litar em 1818 — era o neto mais velho de um brigadeiro do Exército Real batalhão, sob o comando de seu tio, coronel José Joaquim de Lima e
que, por serviços prestados, fora agraciado poucos meses antes com q Silva. À outra era resultado da passagem de Francisco de Lima por Per-
prestigioso hábito da Ordem de Cristo. Durante o primeiro ano letivo, nambuco em 1824. O jovem Luiz Alves não seguiu seu pai nesses com-
seu pai, Francisco de Lima, tornou-se tenente-coronel do regimento no bates. No entanto, acredito que o episódio deixaria profundas marcas
qual servia como cadete, e a família iniciava sua metamorfose so- em toda a família. Ele evidenciava as dificuldades ainda enfrentadas pe-
cial — parte dela se tornava nobre.” Isso em função da atuação de seus los Lima para se firmarem na corte, agora de d. Pedro 1.
tios, pai e avô nas campanhas militares realizadas pela Coroa no Sul, em Antes de prosseguir, porém, vale lembrar mais uma vez os límites im-
Caiena e em Pernambuco. postos pelas fontes a essa narrativa. Para essa fase — entre 1818€e 1831 -,a
Esse tipo de inserção militar e política dos Lima tornava quase pes- escassez de fontes impede a identificação e a recuperação de elementos
soal a vinculação de Luiz Alves ao regimento. Quando precisou, em no- que talvez tenham agido de forma mais direta na formação de Luiz Alves
vembro de 1817, de um documento atestando sua participação na de Lima. Sobre sua participação na Companhia Cisplatina, por exemplo,
cerimônia de “desembarque de Sua Alteza Real a Princesa Real”,
inte- não foi possível encontrar material expressivo. Luiz Alves permaneceu na
grando a Guarda de Honra, dirigiu um ofício, com outros oficiais, região por três anos. Não há como deixar de imaginar o valor dessa ex-
ao
brigadeiro “do regimento de infantaria José Joaquim de Lima
e Silva”, periência na formação do oficial. As questões de fronteira o levariam a
seu avô.º À atestação foi logo emitida, e certamente a
inclusão de seu revisitar essa mesma região em vários outros momentos de sua carreira.
nome na lista dos oficiais que participariam da guarda devia-se
aos mes- Mas talvez o próprio peso militar da campanha, que mobilizou um gran-
mos laços familiares. Esse é um traço importante dos
exércitos de Antigo de contingente naval e terrestre, tenha contribuído para diluir a presença
Regime. As “famílias mais fortes geriam a aprendizagem
militar de seus do Batalhão do Imperador — unidade em que servia Luiz Alves — na guer-
filhos e consideravam O regimento um prolongamento
da autoridade ra e nas narrativas sobre ela.2 Nem o livro escrito por seu Ho, o então
paterna?.? Ao contrário do que ocorre hoje, a passagem
pela Real Aca- capitão Luiz Manoel de Lima e Silva, que permaneceu em campo pelos
demia Militar Não era uma etapa import
ante, nem mesmo obrigatória, mesmos três anos em outra unidade, fornece informações mais sistemáni-
na formação dos oficiais militares do sé
culo XIX Muitos dos que atin- cas sobre a participação do Batalhão do Imperador, comandado na época
giram o generalato na década de 1840 de Lima e Silva.
: 13
não passaram pelas salas da Aca- por um de seus irmãos — Manoel da
: =
Fonseca :

demia.”” Essa não-obrigatoriedade


do curs o, na avaliação de sua junta
diretora, contribuía para que a instit
É preciso afirmar que esses limites estruturam O capítulo. Procurei
mtas: uição caísse em total descrédito." - com o mat eri al dis pon íve l — os amb ient es pel os qua is Lui z
reconstituir
Além disso, havia uma enorme distância entre o que se achava dispo
sto Alves circulou e as histórias que provavelmente vivenciou, mesmo sa-
do que isso não pro duz irá “pr ova s” sob re o sig nif ica do (ou significa-
ben
ele atr ibu iu a cad a uma del as no mo me nt o em que às viv ia, OU
dos) que
em fases posteriores de sua vida.

111
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
OS LIMA E SILVA COMBATEM A HIDRA DA ANARQUIA

NA REAL ACADEMIA MILITAR


definida nas primeiras páginas de seu estatuto, acabou produzindo um
currículo escolar com grande número de cursos distribuídos ao longo de
À criação da Real Academia Militar por carta régia de 4 de dezembro d a ç ã o : ! *
sete a n o s d e f o r m
1810 faz parte da grande reforma militar empreendida pela Coroa po ;
tuguesa ao se estabelecer com sua corte no Rio de Janeiro. A idéia is
da nos estatutos era aplicar a seus vassalos importantes doutrinas cÉRIE | MATÉRIAS
defesa do território, e, nesse sentido, não podemos deixar de lembrar
ambições militares do príncipe regente na América e o péssimo ei 1º ano | laritmética, álgebra, geometria, trigonometria e desenho.
dos regimentos que guarneciam a cidade.14 . álgebra, geometria, geometria E analítica ; cálculo diferencial
A IMStTUIÇÃO não era em absoluto uma novidade. Até então. 2º ano e integral, geometria descritiva e desenho.
a ci-
dade já havia abrigado diversas “aulas” e “academias militares” Fra
3º ano mecânica, balística e desenho.
Cisco de Lima chegou a fregiientar duas dessas academias. ps
ingressou na Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho O trigonometria esférica, física, astronomia, geodésia,
criada em 1792 para atender oficiais das quatro armas — infantaria, FE RÃo geografia geral e desenho.
cavalaria, artilharia e engenharia. Quando estava no meio do ro o tática, ; estratégia, ? castrametação, fortificação de E
5º ano campanha, reconhecimento de terreno e química.
som únração de três anos, o vice-rei conde de Rezende criou a
instituição — a Academia de Aritmética, Geometria, Fortificação, Dese
- fortificação regular e irregular, ataque e defesa de praças,
Ro e Língua Francesa -, exclusiva para o preparo de oficiais deusa: 6º ano arquitetura civil, estradas, portos, canais, mineralogia e
desenho.
Pa ça durante o ano de 1795, cursou aulas de geometria, desenho
pics é ita 7º ano artilharia, minas e história natural.
O interesse do conde de Rezende na instituição =
s dra e com seu exemplo”, matriculou seus dois filhos
ima gin ar o imp act o pro voc ado pel a pro pos ta qua ndo
Não é difícil
ent o de que se viv ia, enfim,
Td
dif und ir o sen tim
end a tudo colaborav a par a
a civ ili zad a. Ess e cur so não era con clu ído int egr almente
; era seu estatuto. Ão contrário uma cultur
das anteriores, pouco formalizadas, que funcionavam de forma intermi- alu nos . Aqu ele s que se des tin ava m às armas de infantaria
por todos os
tente, a Real Academia Militar era apresentada com vam as mat éri as do 1º ano (ma tem áti ca ele-
o um “ cur so regula r e cavalaria apenas estuda
ênci
das cilên ação
cias exatas, de observ mil ita res do 5º ano . Só dos art ilh eir os e enge-
mentar) e os assuntos
as que contêm apli-
3
de tod
cação aos estudos mililitares e práAticos as as matséri
constitutiva da ciência militar” e cur so com ple to. Por iss o, ess as arm as eram mais
nheiros era exigido o
“ci ent ífi cas ”. Re qu er ia m de seu s alu -
prestigiadas, sendo consideradas
e ainda oficiais da classe de engenhei sup eri or, for tif ica çõe s e bal íst ica . Val e des-
ros geógrafos e topógrafos nos estudos de matemátic a
que pos-
sam tamb| ém ter o útiltil e em prego o de de dirio: 3
que as arm as não con stituíam, tal como hoje, linhas es-
dirigir objetos administrativ os de mi- tacar, ainda,
cí fi ca s de es tu do s mi li ta re s, o qu e si gn if ic a di ze r qu e “o s sete anos
nas, caminhos, portos, canais, pontes ontes
3 e calçadas”,17
Essa finalidade, pe

113
112
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
OS LIMA E SILVA COMBATEM A HIDRA DA ANARQUIA

de estudos para artilheiros e engenheiros incluíam os


estudos de ;
taria e cavalaria”! O regime escolar era de externato, e não havia praticamente nenhuma
na
Luiz Alves de Lima, ao ingressar na escola, pretendia s regra disciplinar. O que se via nessa matéria encontrava-se também em
de infantaria. Cursou as matérias do 1º e, depois, as do 5º, sendo estabelecimentos civis. À respeito do horário das aulas, o estatuto infor-
vado plenamente em todas elas. Provavelment mava que “os estudantes devem achar-se nas respectivas aulas às horas
e pelos bons ERR
que obteve, deu prosseguimento aos estudos, voltando par em que se der princípio às lições” e exigia que “para com os mestres se
a fazer a
o 5º anos. Em 1822, chegou a se matricular no 4º à haverão com o maior respeito”. Nenhuma outra norma era fixada pelo
isti documento. Nada mencionava sobre uniformes ou formaturas. À Real
É quase certo que tenha abandonado o curso =
função dao eagdit aç ão Academia também não possuía um comando unificado. À direção era
política que tomava conta da cidade desde
O retorno de d. João a Portu.
gal no ano PRE
colegiada, composta de uma junta de cinco militares, devendo ser seu
quando a independência já pareci
experiência da família, Luiz
a inevitável Pela presidente um tenente-general do corpo de artilharia ou engenharia.Z
l
se anunciava bastava so ii Apesar de os “livros de registro e matrícula” da Academia terem sido
ae au pç
jetória militar de cada um dos Lima
e conservados, eles só estão completos para 1811, primeiro ano de seu
»eSob
t retudo E
dos imaisa jov ens , CR funcionamento. Dessa forma, não há como traçar um perfil da turma de
ainda a titi nham uma carreira
l por construir. Seu avô paterno ha
no ano anterior, e isso certamente via fale cido Luiz Alves.2 A leitura dos documentos mostra, porém, que em 1818,
fragilizava a todos.?! Voltaremos a ano de ingresso do jovem Lima na Academia, a instituição já apresenta-
essa história mais adiante. Por
ora, basta destacar o interesse do va problemas administrativos e disciplinares, envolvendo alunos e pro-
Luiz Alves em completar se us estudos jovem
e obter um grau “científico”, ape- fessores. Em 1811, a procura pelos cursos da Academia foi grande.
sar de a família pertencer
tradicionalmente à infantaria. O livro de matrícula registra 73 inscritos. Cinco anos depois, O quadro
Pelo estatuto, as aulas
ta Real Academia Militar tinham duração de era outro. A junta diretora informava ao marquês de Aguiar, secretário
dos Negócios da Guerra e Ultramar, que o número de matriculados esta-
meira delas era destinad sa em duas partes de 45 minutos. À pri-
A E à explicação da matéria, e a segunda ficava va em “contínua diminuição”.2* O motivo desse declínio — para os inte-
reservada par
Ao A ralmente, por meio de exercícios. Os grantes da junta — era a falta de articulação entre a ascensão na carreira
sábados editados
e a formação acadêmica. Reclamavam sobretudo da falta de envolvi-
semana e à realização de à " TEM matéria aprendida ao longo da
mento dos “chefes dos diversos corpos do Exército”, pedindo que “eles
quisa”. A Academia ia “des que estimulassem o “gosto pela pes- de
rios e gabinetes”. A l pos Para essas atividades, de “laborató- procurassem estimular seus súditos [de Sua Majestade] a que hajam
vir buscar a completa instrução nas ciências militares, alistando-se por
Peução de “exercícios práticos” também estava para estimular esses oficiais,
Academia. Nessa ocasião, os professo alunos da Academia”. Em termos práticos,
res € até então ig-
campo com bastava cumprir duas medidas já previstas nos estatutos,
e
prática, as operações que nas Os alunos para exercitar, na científica
noradas. Primeiro, “para conciliar O progresso da instrução
serviço diário dos corpos”, esses “chefes” deveriam regular o nú-
com o
mero de “oficiais, cadetes e soldados bem-educados a que se pode anu-
almente conceder licença para que se matriculem como discípulos da

115
114
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
OS LIMA E SILVA COMBATEM A HIDRA DA ANARQUIA

Real Academia Militar”. Em seguida, só era preciso cumprir o título 7º


contas do que se havia passado, narrou outro episódio, ocorrido em me-
da lei de 4 de dezembro de 1810, que assegurava dois terços das vagas
ados do mesmo ano, em que o presidente da junta diretora da Academia
dos corpos regulares para os oficiais que “tiverem completado digna-
teria permitido a um professor suspender por uma semana suas aulas.
mente seu curso de estudos na Real Academia Militar”.
Ainda nesse mesmo ofício, a direção explica que isso se deu para que os
Essa era, sem dúvida, uma questão central. Para se legitimarem os
alunos pudessem concluir com brevidade a cópia da apostila do curso. E,
cursos da Real Academia, era preciso mostrar a importância — como se
num tom exasperado, afirmou que o professor de desenho era “juiz in-
afirmava em um ofício — de que “todos tenham a mais completa instru-
competente” para avaliar a legitimidade dessa decisão da junta diretora e
ção nas ciências de sua profissão”. Mas não era só isso que provocava que, sendo esse assunto “relativo a objeto alheio de seu particular ensino,
o decréscimo no número de alunos da instituição. Em agosto de 1816, não poderia servir de fundamento para sua conduta”.
outro ofício da direção pedia a urgente contratação de um professor de Irritados com o procedimento do professor — a narrativa continua
matemática e avisava que para o curso de física não se conhecia nin- sendo da direção —, os integrantes da junta diretora decidiram fazer
guém “nesse reino, desembaraçado de outros empregos, a que se possa nova convocação, exigindo que ele, dessa vez, prestasse declarações
encarregar a regência dela”. A sugestão, nesse caso, era que se mandas- precisas sobre em que circunstâncias os alunos do 7º ano foram dispen-
se vir de Portugal um bacharel formado em Coimbra. O assunto, entre- sados de frequentar suas aulas, indagando ainda se, de fato, a congrega-
tanto, não contou com o apoio do secretário, ou não mobilizou a ção de lentes havia legitimado essa atitude. Para a junta diretora, era
Coroa. No ano de 1819, a cadeira continuava vaga, e os alunos se for- «hsolutamente necessário reconhecer se a desobediência à lei havia
mavam sem essas aulas.?é sido praticada só pelo professor de desenho ou se nela haviam tomado
À gravidade da crise que atravessava a Academia pode ser mais bem parte os lentes das faculdades científicas”. Todavia — para desespero da
avaliada por meio de um escândalo que irrompeu no final do ano letivo junta —, O professor se recusou mais uma vez a prestar contas do ocor-
respel-
de 1816 e que colocava em xeque a autoridade da junta diretora diante rido, redigindo um ofício que, apesar dos “afetados termos de
as críticas que ousava fazer à atuação da junta na
de alunos e professores. Após receber a notícia de que havia sido repro- to”, mal disfarç ava
vado por faltas no curso de desenho, um alferes, aluno do 6º ano, decidiu direção do estabelecimento.
chegou a seu limite. Os membro s da junta conclu íram o
dirigir um requerimento à Coroa. Não foi possível recuperar o documen- A situação
de forma categór ica que se sentiam “despoj ados de
to, mas como o rapaz conseguiu convencer a Coroa da injustiça de sua ofício afirmando
de respeito , bem como da autorid ade imediat a
reprovação e obteve permissão real para se matricular no 7º ano, a histó- seu decoro e destituídos
indiscr etas ou crimino sas”. De fato, todas as
ria teve desdobramentos. Segundo consta em um ofício da junta para O para reprimir audácia s
ia deviam cumprir um longo percurso na
ministro marquês de Aguiar — e seguramente foi essa a história contada decisões relativas à Academ
pelo rapaz em seu requerimento -, todos os alunos do 7º ano haviam sido real para chegar à Coroa, que decidia, individualmente,
burocracia
a puniçã o que seria aplicad a às faltas dos aa
habilitados pela congregação de lentes da Academia, nesse caso por caso, até sobre
mesmo ano, era — pa ava iação da dire-
sem terem fregiientado as aulas de desenho27 Considerando “estra nos. A demora de uma interve nção firme
ga: od nho O Real serviço neste importante
fato”, a junta exigiu que o professor de desenho se ção — “mais prejudi cial que útil ao bem do
explicasse. Ele, no
entanto, aproveitou a oportunidade para virar o jogo. Em e via este último episódi o, do professor de desenho,
vez de prestar estabelecimento?

117
116
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
OS LIMA E SILVA COMBATEM A HIDRA DA ANARQUIA

como um exemplo perfeito do modo pelo qual o “espírito de insubor.


Novamente o professor de desenho estava no centro da polêmica.
dinação” vinha grassando na Academia. “A subordinação”, escrev
E DR SE
ia Três anos depois, em 1822, um ofício denunciava o “estado de perfeito
é a base da disciplina militar”, nenhuma falta pode ser vista como é
abandono em que se acha a aula de desenho na Academia Militar”.
“ligeira? no estabelecimento.??
Quem o redigiu foi o próprio professor. Nele, reclamava que tinha 98
Não há documento que conte o desfecho dessa história. Mas, por
meio alunos no curso que ministrava, alunos de anos diferentes e, logicamen-
da leitura de outros ofícios desse arquivo, é possível inferir os resultados
te, com níveis também diferentes de instrução. Olhando com atenção o
de um episódio como esse para o cotidiano da Real Academia. A queda
currículo da Academia, fica mais fácil entender a queixa do professor.
brusca no número de alunos que prosseguiram com seus estudos em
1817, Nos sete anos de formação, há aulas de desenho em cinco. Pelo que ele
ano seguinte à confusão com o professor de desenho, é um dos vários in-
afirma — e isso é o surpreendente —, todos os alunos desses cinco anos e
dícios. No final desse ano, de 1817, a junta remeteu ao Minist
ério da mais os dos cursos matemáticos tinham aula juntos. Ele recebia, às dez
Guerra um mapa sobre o corpo discente da Academia. Nele, contando horas da manhã, alunos dos sete anos da Academia. Por isso, tinha 98
os
sete anos do curso, registravam-se 93 alunos. Mas só 18 tinham sido exa- alunos em sala. Tudo o que ele queria, ao redigir esse ofício, era autori-
minados e aprovados para cursar o ano seguinte. A junta explicou o fato. zação para dividir a aula, com duração de uma hora e meia, em duas
Ele se devia “à persuasão de que estão os militares da inutilidade dos estu- partes. A primeira seria de “preliminares” e dirigida por um substituto.
dos para seu acesso”. Informava ainda que, para o ano de 1818, algumas A outra seria dedicada aos “alunos mais adiantados” e ministrada por
aulas ficariam sem exercício por falta de alunos habilitados2º ele. Para evitar críticas, esclarecia que estaria presente, corrigindo os
Foi nessa Academia que o cadete Luiz Alves de Lima ingressou. Ele alunos, em ambas as partes.*
assinou O livro de matrícula no dia 4 de março de 1818.3º No meio desse É possível que essa situação não se verificasse em 1819, e que em sua
ano, um novo mapa elaborado pela junta diretora mostra a lista dos petição o cadete Luiz Alves de Lima estivesse, assim como outros alunos
“alunos faltosos”. O registro é outro indício das precárias condições de da Academia, apenas jogando com as dificuldades do curso que, em
funcionamento da Real Academia Militar — e impressiona. Havia alunos 1816, já aprovava, por motivos que não foi possível identificar, todos os
que faltavam meses de aula e depois apresentavam justificativas para con- alunos do 7º ano. A desorganização era grande, e os problemas podiam
seguir o abono de parte delas.?! Luiz Alves, em seu segundo ano na Aca- ser facilmente manipulados pelos alunos. Nesse mesmo ofício, por exem-
demia, em 1819, entrou nessa lista. Quando percebeu, no final do ano, plo, o professor reclamava ainda de outro problema — falta de material.
que “estava nas circunstâncias de perder o curso”, com 21 faltas não era uma deficiênci a antiga, acompanh ava o curso desde 1813, e
Essa
justificadas, redigiu uma petição afirmando que se achava nessa situação inviabilizava as aulas. “Por faltar os aparelhos que fazem parte essencial
por “não ter sido reconhecida uma atestação que alegou ao lente de dese- dos diversos ramos do desenho”, os alunos — explicou — passavam o tem-
nho, passada pelo cirurgião de seu batalhão”, Depois a |- po rabiscando arbitrariamente.”
Real
ção, apresentou uma alternativa. Escreveu que a ENTE Com todas essas questões, era impossível manter a disciplina na
era
faltas talvez se devesse ao fato de o professor de desenho o ter dispensado dem ia Mili tar. Lui z Alv es con seg uiu em 181 9 o abo no de sua s falt as,
Aca
das aulas dos primeiros meses por não haver lugar para todos os
alunos sendo aprovado plenamente em todas as aulas. No ano seguinte, seu
em sua sala, mas que O porteiro inadvertidamente lançou essas ano na Aca dem ia, env olv eu- se em pro ble mas dis cip lin are s. Tud o
terceiro
faltas.
119
118
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO OS LIMA E SILVA COMBATEM A HIDRA DA ANARQUIA

colaborava para isso. No ano anterior, dois alferes do batalhão nº 11 Primeiro, O valor dessas quantias era alto, caracterizando verdadeiras “ex-
alunos do primeiro ano, foram repreendidos pelo professor de matemá. torsões”. Depois, o problema era o emprego que os rapazes faziam desse
tica por passar toda a aula incomodando os colegas. “Se ocupavam” — ex. dinheiro. Eles saíam em grandes bandos por lugares “indignos de serem
plicou o professor, em escrever rótulos nas costas dos que lhes ficaram frequentados por alunos e oficiais militares”, realizando festins e banque-
fronteiriços e a perturbá-los com palavras e ações que os impossibilita- tes em companhias que só contribuíam para “desmoralizar a mocidade e
vam de prestar atenção às doutrinas”. Essa não era a primeira vez que despojá-la do princípio de brio”, tão caro à carreira militar.
criavam problemas, e não era o professor de matemática o único a se Para piorar O sentimento geral de crise, nesse ano, um dos “novatos”
queixar dos rapazes. Sua atitude, porém, não podia passar de uma “re- resolveu denunciar o fato, enviando uma petição ao governo. Cumprin-
preensão verbal”. Como o estatuto não mencionava nada sobre discipli- do novamente as formalidades, é a direção que encaminha o documento.
na, O único meio de aplicar uma punição era recorrendo à Coroa, por Nele, a junta explica ao ministro da Guerra que o suplicante, Miguel
meio de um longo trâmite burocrático. Irritado, o professor decidiu le- Gabriel Ignácio da Silva, era cadete do 1º Regimento de Cavalaria habi-
var a história adiante e redigiu um ofício para participar à direção o litado pela Ordem de Cristo. Certamente, esses dados — que não são
ocorrido. Cumprindo os trâmites legais, a junta diretora enviou o docu- apresentados pelo aluno em sua petição — davam outra dimensão ao epi-
mento ao ministro da Guerra e, ao encaminhá-lo, pediu autorização sódio. Do contrário, a junta diretora não os teria acrescentado a seu
para punir Os rapazes com dois meses de prisão no quartel do batalhão ofício. Por motivo que não é explicado, o rapaz havia incorrido no “de-
em que serviam. Só então a participação subiu à Coroa. Mas esta, talvez sagrado dos principais cabeças de tais badernas” e, assim, além de uma
porque tivesse assuntos mais importantes esperando sua régia decisão, “torrente de insultos e de indecentes palavras”, era esperado a pedradas
não analisou a participação. A direção desabafou: é preciso eliminar todo dia na saída da Academia. Ao final de sua petição, Miguel Gabriel
“este método lento, ineficaz e alheio à ordem do serviço militar”. da Silva identificava os veteranos envolvidos nessa “recepção”: Manoel
O ano letivo de 1820 tinha início sob o signo da derrota. O tom dos Antônio da Fonseca Costa, Ricardo Frederico Caldwell, Manoel Inácio
ofícios emitidos pela direção da Real Academia Militar é de lástima. Moreira Frein e o nosso Luiz Álves de Lima.
Nesses ofícios, reconhece a “evidente decadência do estabelecimento” e A junta diretora mais uma vez reclamou o direito de punir. Solicitou
informa que se encontrava “destituída de autoridade e meios para coibir à Coroa autorização para manter uma sentinela do corpo de polícia,
a continuação das frequentes e contínuas desordens”.3º Os atos de indis- todos os dias, na porta da Academia com ordens para, ao menor cumul-
ciplina a que se referia dessa vez eram provocados pela “recepção aos to, efetuar prisões e conduzir os alunos diretamente para à cadeia públi-
novatos”. Foi nisso que Luiz Alves se envolveu. ca.37 Ainda que não seja possível confirmar, é quase certo que esse novo
O hábito já estava instituído: os veteranos todo ano recepcionavam OS esforço da junta também não tenha contado com o apoio da Coroa, O
novos alunos com práticas duramente criticadas pela direção. Além de que só aumentava o desgaste dos diretores. Quatro meses após o episó-
da
insultá-los “com palavras e ações indignas de homens bem-criados e que
= ae EE ad a da
dio, em julho de 1820, acontecia a primeira alteração na direção
1816. Francisc o Shockler deixava a junta diretora, e,
se destinam P para a nobre prohssão
profissã das armas” ia ,
— é possível ler em um ofí-, Academia desde
cio -, os veteranos cobravam desses alunos, sob a denominação para substituí-lo, era nomeado Joaquim de Oliveira Álvares. As desor-
' de “paten- por
cao
tes”, quantias em dinheiro. Para a junta diretora dens, no entanto, prosseguiam. Um dos primeiros ofícios assinados
, o vexame era duplo.

121
120
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
OS LIMA E SILVA COMBATEM A HIDRA DA ANARQUIA

Joaquim Álvares, com os experientes João Manoel da Silva e Manoel tir de perto o significado desse lugar. O marechal José Joaquim de Lima
Nogueira da Gama, pedia a expulsão de quatro alunos. Entre eles, esta. e Silva era o esteio da família. Sua morte fragilizava a todos, especial-
va Ricardo Frederico Caldwell, colega de troças de Luiz Alves e que — na mente Francisco de Lima. À família estava bem posicionada na socieda-
avaliação da junta — já havia perdido o ano por incúria.* de. O velho marechal havia dedicado os últimos anos de sua vida à
Não por acaso o jovem cadete abandonou o curso da Academia Mi. expandir o capital político e social dos Lima na corte, mas a falta de uma
litar ao esquentar a temperatura política na cidade. O estabelecimento tradição tornava tudo muito vulnerável. Apesar de terem sido agracia-
funcionava precariamente, e tudo o que a família Lima tinha conseguido dos com algumas mercês, Francisco ainda era apenas coronel, e o irmão,
até aquele momento não havia passado pelo investimento em uma for- José Joaquim, tenente-coronel, ambos do 1º Regimento de Infantaria do
mação acadêmica. Luiz Alves certamente conhecia bem a história da Rio de Janeiro. Os outros Lima eram mais jovens. À tradição que se
família. Além de neto primogênito do marechal José Joaquim de Lima construía — e precisava ser consolidada — era a de militares desse regi-
ele permaneceu como seu único neto homem por seis anos. O Me mento. À continuação desse projeto, agora, estava nas mãos de Francis-
José de Lima, nascido em 1807, morreu, como outras crianças da famí- co e, nesse momento, Luiz Alves deve ter visto no pai seu futuro.
lia, antes de completar um ano de vida. Assim, Luiz Alves reinava sozi- A Real Academia Militar nessa época funcionava em um antigo pré-
nho. Na Fazenda São Paulo, a situação não parece ter sido diferente. dio no Largo de São Francisco de Paula (atual Instituto de Filosofia e
Com a partida dos tios Joaquim Silvério dos Reis e Bernardina Quitéria Ciências Sociais da UFR]), e a agitação política inaugurada com as dis-
para Lisboa, é provável que Luiz Alves também tenha sido por muito cussões sobre a volta da família real para Portugal tomava as praças do
tempo o único neto homem do coronel Bello, de quem herdara o nome. Centro da cidade. O Largo do Rocio (atual Praça Tiradentes), atrás da
O caminho percorrido pelos avós, de ambos os lados, para chegar aonde Real Academia, era um dos palcos centrais desses acontecimentos. Foi
haviam chegado, tinha sido o da prestação de serviços. No Exército, nas nessa praça, no dia 26 de fevereiro de 1821, que d. Pedro ocupou pela
milícias ou na administração real, o importante era estar atento às opor- primeira vez a cena pública para garantir à tropa — ordenanças, regimen-
tunidades criadas pelas mudanças políticas. Luiz Alves, aos 19 anos, tos auxiliares e forças regulares — que d. João se renderia às cortes e
quando decidiu abandonar a Academia Militar, sabia disso. As histórias mudaria o ministério. À poucos metros dali, na Praça do Comércio, a
de família, sobretudo em sociedades que cultivam valores aristocráticos; corte assistiu em abril a outra manifestação. A decisão do rei de voltar
constituem com muito mais vigor a identidade de um indivíduo. Quando para Lisboa foi seguida do anúncio de que d. Pedro permaneceria no
redigia uma petição ou um requerimento à Coroa, Luiz Alves listava, Brasil como regente. A idéia não agradou a todos, e um grupo de políri-
assim como seu avô e seu pai haviam feito, Os postos, as mercês, as cos, com a intenção de pressionar O governo, forçou a transferência da
con- reunião de eleitores, quando se discutiriam projetos do novo governo,
decorações e os feitos da família. Ele era neto, filho e sobrinho
antes de
ser (ou mesmo para ser) o cadete Luiz Alves de para a praça. Tratava-se de uma manobra política. Ampliar a presença
Lima e Silva.
Toda herança, porém, deve ser atualizada. Assim com de populares era um artifício para impor O debate sobre a criação de
o ocorreu com
seu pai, exatamente por ser o primogêni uma junta provisória como forma de governo e, assim, diminuir a força
to, Luiz Alves era preparado
para assumir, tão logo fosse preciso, a dire do príncipe. Tablados e arquibancadas foram montados, e a discussão,
ção da família. A morte de seu
avô no ano anterior, em 1821, segura para alguns, tornava-se excessivamente pública. Uma afluência extraor-
mente contribuiu para fazê-lo sen-
123
122
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
OS LIMA E SILVA COMBATEM A HIDRA DA ANARQUIA

dinária de cidadãos de todas as classes se dirigiu para a Praça do Comér.


mento de Infantaria do Rio de Janeiro. Os levantes de rua levavam d.
cio, transformando a convocação de eleitores em uma grande assembléia40
Pedro a se aproximar da oficialidade e, ao mostrar habilidade para ocu-
Esta começou a exigir, em meio a uma enorme gritaria, a pronta adoção
par as praças e se valer da tropa em momentos de grande tensão, o prín-
da Constituição espanhola. Depois, exigiu a formação de uma junta para
cipe firmava sua imagem como chefe militar.*? Essa aproximação era
acompanhar o governo do príncipe. À primeira exigência não desagra-
interessante não só para a família Lima, mas para todos os militares da
dou. Mas, repentinamente, no dia 22 de abril, o governo mudou de táti-
capital dispostos a participar dessa aliança proposta informalmente por
ca e, recorrendo à força das armas, dissolveu a assembléia.
d. Pedro, por meio de sua atuação política.
À ação, executada por militares brasileiros, resultou em muitas mor- Declarada a independência, Luiz Alves passou a integrar o Batalhão
tes. Depois disso, a Praça do Comércio, o Largo do Rocio e outros espa- do Imperador sob o comando de seu tio, José Joaquim de Lima, recém-
ços que favoreciam a aglomeração popular sofreram uma forte intervenção graduado no posto de coronel.*
e permaneceram ocupados até o dia 26 desse mês, dia da partida de d.
João, por tropas que se revezavam continuamente a fim de manter à or-
sem pública. Menos de dois meses depois, no dia 5 de junho, o Largo do COM O BATALHÃO DO IMPERADOR NA BAHIA
Rocio era mais uma vez tomado pela tropa — agora de corpos portugue-
ses — para que d. Pedro jurasse a Constituição recém-publicada.* A idéia de uma separação completa de Portugal era incerta, e a emanci-
É difícil imaginar que os alunos da Academia tenham permanecido pação só foi levada a efeito no último momento, como resistência às
alheios a tudo isso. Entre os professores, algumas participações podem medidas das cortes lisboetas. Conta-se que no Rio de Janeiro as insígnias
ofi-
ser confirmadas. Uma é a de Manoel Ferreira de Araújo Guimarães, portuguesas permaneceram sendo usadas em postos de comando,
professor de trigonometria esférica e geodésia, que teve intensa partici- cialmente, até novembro, dois meses após a declaração de independên-
pação na imprensa, nos jornais A Gazeta do Rio e O Espelho, sendo O que reta rdav a a ação das aut ori dad es era um dup lo temo r: de uma
cia.
is-
apontado por Jehovah Motta como “um dos que mais fizeram pela in- possível reação dos estrangeiros estabelecidos no Brasil e de que surg
o à re-
dependência do país”; outra é de Antônio José do Amaral, lente de sem concepções “de liberdade contrárias à Independência, visand
matemática elementar, que tomou parte nos acontecimentos de 26 de colonização, à fragmentação do território ou à instalação de um regime
fevereiro no Largo do Rocio. ano” . A cris e na Bahi a ali men tav a esse sen tim ent o de ince rte-
republic
Esse era, sem dúvida, um momento-chave da história do Brasil, Des de que oco rre ram em Salv ador os moti ns de Man uel Pedr o, em
e, za.
o dess e mes mo ano de 1822 , o clim a polí tico se tor nou tenso, €
presentes ou não nas praças públicas, os Lima não ignoravam esses epi- feve reir
nomeação de
sódios. Entre março e abril de 1822 começava-se a falar da independên- as divergências entre lusos e brasileiros, irreconciliáveis. A
ro por tug uês , Inác io Luís Mad eir a de Mel o, para o carg o de
cia, da formação de um império exclusivamente do Brasil. Era também um brigadei
ado r de Arm as, no lug do
ar brig adei ro Man uel Ped ro Gui marães,
o início do ano letivo na Academia Militar. Luiz Alves se matriculou govern
no açã o das cortes de
4º ano, brasilei ro de nas cim ent o, era tom ado com o pro voc
ARO, mas não
: E concluiu. De que lhe valeriam as aulas de um estabe-
maioria reinóis,
lecimento em “evidente decadência » "2 . ; Lisboa. Os comerciantes monopolistas de Salvador, na
? Ele já havia terminado o curso da res dos neg oci ant es de Lisboa e do
arma de sua família. Era um infante e integrava co se uniam aos inte ress es rec olo niz ado
mo alferes o 1º Regi-

125
124
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
OS LIMA E SILVA COMBATEM A HIDRA DA ANARQUIA

Porto, apoiando as cortes e as tropas de Madeira. Em contrapartida


vários baianos, sobretudo soldados, deixavam a capital em direção “ isso, decidiu fazer aí o desembarque das tropas e seguir por terra até O
Recôncavo, onde senhores de engenho e lavradores começavam a Orga- Recôncavo. Após a definição do trajeto que o batalhão percorreria, o
comandante José Joaquim redigiu várias proclamações e mandou seu
nizar uma resistência antilusa, que, militarmente, se prepararia pais
ajudante-de-ordens, o alferes Luiz Alves de Lima, entregá-la ao coman-
combater o brigadeiro Inácio Madeira de Melo.“
dante de Armas da província para que fossem devidamente distribuídas
| ÂÀ Rota desses continios trazia à memória de políticos e negociantes do
pelas povoações por onde passariam. Essas proclamações apresentavam
Rio de Janeiro os acontecimentos de 1817, agora com agravante: não havi
a o batalhão e informavam seu destino. Era preciso evitar conflitos desne-
um poder central capaz de debelá-los. O Nordeste — sobretudo Bahia e
cessários e garantir uma viagem tranqúila para a tropa. Tratava-se de
Pernambuco — era conhecido por sua simpatia aos ideais revolucionár
ios. uma expedição. Transportavam “artilharia, armamentos, munições, pe-
O isolamento econômico da região, que não integrava a rede comerc
ial que trechos de guerra e caixa militar” e, para que a marcha prosseguisse,
unia as províncias do sul, contribuía para a propagação de ideais
separatis- precisariam contar com a adesão desses vilarejos. Só assim poderiam en-
tas. À causa da independência deveria ser a causa da união em torno do
Rio contrar hospedagem, mantimentos para sustentar toda a tropa, transpor-
de Janeiro, e essa idéia certamente se tornou a preocupação central de
d. tes para seguir por terra e atravessar rios e— o que era fundamental — guias
Pedro quando assumiu o novo império. Tão importante quanto expulsar que conhecessem bem a região e garantissem a direção da marcha.”
os portugueses da capital baiana, era exercer uma direção sobre o movi- A viagem foi longa. O primeiro ofício do general Pedro Labatut co-
mento organizado pelos proprietários do Recôncavo. Por isso, logo em municando a chegada do batalhão data de 24 de março.” À tropa levou
outubro, no mês seguinte à declaração de independência, o general francês mais de um mês em marcha. O cumprimento desse trajeto, porém, era
Pedro Labatut foi enviado à região. Era preciso garantir a subordinação parte importante da missão para a qual foi destinada. Em cada lugarejo
dessas forças locais. Se a manutenção de uma ampla nação portuguesa era por que passava, o Batalhão do Imperador — o nome, nesse caso, é bas-
causa perdida, não se podia perder o nexo dos laços provinciais e permitir tante expressivo — deixava registrada a presença de d. Pedro e sua inten-
a dissolução do Brasil.” Seguindo essa mesma lógica, em 1823 um reforço de ção de expulsar os portugueses e assegurar a unidade territorial. Cada
tropas foi enviado para a Bahia: o Batalhão do Imperador. Criado por decre- manifestação de apoio da população e de autoridades locais à tropa era
to de 18 de janeiro, esse batalhão — rezava a lei — era a prova de quanto O também uma forma de adesão à monarquia sediada no Rio de Janeiro.
imperador buscava proporcionar meios de livrar a província da opressão das Por isso, a proclamação publicada no Recôncavo para oficializar a notí-
tropas portuguesas e de renovar os sentimentos patrióticos dos baianos pela cia da chegada das tropas do coronel Lima e Silva louvava a conduta
de um diálo-
causa do Brasil. O critério usado por d. Pedro | para escolher seu comandan- desse comandante e de seus oficiais. Dela dependia o início
impres-
te não é mencionado na lei, mas esta recaiu s ; á go político, e, durante sua marcha, O coronel Lima e Silva havia
do
Lima e Silva, um dos tios do jovem Luiz Ric DD a sionado. O bom arranjo e a subordinação militar dos “soldados
Diante da urgência da situação, não havia por que esperar. imperador” conseguiram deixar “saudosas lembranças nos lugares por
No dia 20 “as regalias
de fevereiro de 1823, o comandante do Bat onde transitaram”, e a demonstração que deram de respeito
alhão do Imperador coronel exal-
José Joaquim de Lima, já aportava em
Maceió. Esse era o port e foros dos habitantes dessas povoações” acalmava os ânimos mais
| o mais
próximo da Bahia que não havia sido ocupad
o pelos portugueses. Por tados em relação às intenções de d. Pedro.”

127
126
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
OS LIMA E SILVA COMBATEM A HIDRA DA ANARQUIA

No entanto, ainda que a capacidade de comando do


Coronel tenh,
sido chave, ele também contou, nessa marcha por que Luís Onofre era tenente do batalhão de artilharia cachoeirense, cria-
Alagoas, com uy
apoio extra. Quando o alferes Luiz Alves de Lima, na do por ele, e que a organização das forças militares era de sua competên-
função de aj Ga
te-de-ordens, se dirigiu ao comandante de Armas cia. Não era só do “caso Onofre” que Labatut reclamava. O governo
da província para Ei
tregar-lhe as proclamações que preparariam a população baiano também vinha organizando por conta própria regimentos e bata-
local, dir lhões inteiros. O “círculo das atribuições” é que estava sendo desrespei-
na verdade, a um de seus tios maternos,
Joaquim Mariano de Oliveir |
Bello. Ele era, à época, comandante de Armas, tado. Labatut afirma que, ao chegar à cidade, havia sido “reconhecido
e isso deve ter Saci como única autoridade militar da província” e que, por isso, considera-
bastante a chegada e a circulação do Batalhão
do Imperador pelo inte. va “um absurdo monstruoso que o governo civil organizasse os corpos
rior da região.'? Ampliados e tecidos entre
famílias com uma mesma para um militar [ele] comandar”.** Fazendo exercer sua autoridade,
ocupação, os laços de parentesco podiam fa
vorecer a implantação de mandou soltar o tenente Luís Onofre e prender o coronel Daltro. Tenta-
políticas e o desempenho de comissões militares.
va, com isso, pôr fim às “chicanas” e “rebuliços” dos locais.
Expedições desse tipo eram sempre cercadas
por dificuldades. Oficiais Nem sempre, porém, o general Labatut agiu de forma tão imperativa
estranhos à região, representantes de um pode
r distante e na maior parte com o governo civil. Até o mês de fevereiro — na sua opinião — tinha feito
do tempo ausente, de uma hora para outra passav
am a integrar comunida- os “maiores sacrifícios” para “abafar as intrigas sem-número que a cada
es políticas que não conheciam, assumindo postos
de comando. Essa po- passo se originavam entre os ricos habitantes do Recôncavo”. Naquele
SIção, propriamente intervencionista, exigia des
ses oficiais sensibilidade mês vinha realizando importantes combates e, mesmo estando às portas
política. Aliás, esse deve ter sido o maior aprendiz
ado do alferes Luiz Alves de Salvador, foi obrigado a conviver com a falta de pólvora, o crescente
na Bahia. Se seu tio até o momento vinha colhendo lour
os por onde passa- número de deserções e os problemas de manutenção das remessas de
va, a realidade que o Batalhão do Imperador encontrou ao cheg remédios e gêneros para o Exército. O governo — é ainda ele quem con-
ar a Cachoei-
ra — cidade centro da articulação das forças do Re
côncavo — era outra. ta — afirmava não possuir estoques, e o general aceitava a justificativa.
O ofício que comunicava a “feliz chegada do Batalhão Atribuía esse “boicote” ao redator do jornal O Constitucional, Francis-
do Impera-
dor”? era encaminhado ao Conselho Interino co Gomes Brandão Montezuma. Estava seguro de que o objetivo do re-
do governo da Bahia pelo
general Pedro Labatut para tratar na verdade de um dator era o de o “intrigar com o governo”, e, para neutralizar os planos
assunto bastante
delicado: da prisão do tenente Luís Onofre
de Carvalho.3 O motivo da desse “energúmeno baixo em sentimentos”, enviou ao Conselho Interi-
prisão não é mencionado nos documentos, ma no de Governo uma “exposição” em que falava com “toda a franqueza
s o que a tornava polêmi-
ca era O fato de ter sido efetuada por um coronel do Ex (...) sobre os negócios políticos e intrigas perturbadoras da boa ordem”.
ército, o coronel
ás E a a de um Conselho de Guerra e à revelia do
ge- Nela, denunciava ainda que seus ofícios estavam sendo interceptados.
Claramente procurava preservar sua relação com o governo civil e, para
jusfcarae pera o Conselho Iria gue tone! fo chamado
neéral Labatut. Diante da ã ]
romper em definitivo com o “esquema montezumaico”, chegou a ir pes-
Labatut considerou O caso um acinte. Submeter um
; a soalmente entregar o documento ao Conselho Interino de Governo.”
res militar de P patente a
um conselho civi
a : civil, sem que ele, o general-em-chefe das forças de Sua Todo esse esforço foi em vão. Labatut continuou sem receber pólvora,
JeStatt, tOSSE SEqUEr comunicado, caracterizava um ultraje. remédio e gêneros durante todo o mês de março e, além disso, ainda viu
Lembrou

129
128
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
OS LIMA E SILVA COMBATEM A HIDRA DA ANARQUIA

um oficial por ele nomeado ser destituído do posto de com


ando. Sent:
desafiado e escrevia ao ministro da Guerra dizendo que meio de um golpe militar e da prisão de Labatut, que seria posteriormen-
não da Ro
mento de concluir sua comissão para poder se retirar te remetido para a corte.
daquela “ no E A
de intrigas”. Um mês depois, em abril, reconhecia, Sobre a gestação desse golpe pouco se sabe. O que nos chega pelos
em novo ofí ea
ministro, que “a falta de conhecimento do local, das ofícios é a notícia de que vários boatos de conspiração contra Labatut
coisas e peito A
te Recôncavo” o levaram a se “enganar com alguns indiví levaram o general a ordenar a prisão do coronel comandante da Brigada
duos” 58 cad da Esquerda, Felisberto Gomes Caldeira, suspeito de liderar a conspira-
O desencanto experimentado por Labatut lem
bra os seas vivid ção. Esse teria sido O elemento deflagrador dos acontecimentos. Preocu-
pelo enente-general Bôhm em seus primeiros ano
s no Rio de Janeir ú pado com uma possível reação da tropa, ao que parece extremamente
E regimentos portugueses. Labatut tentava
piada e submetida apenas a seu comando,
criar uma força line dai fel ao coronel Gomes Caldeira, Labatut ordenou, em seguida, que o
opondo-se, assim c E coronel Lima e Silva, comandante do Batalhão do Imperador e da Briga-
Bôhm, aos auxiliares e à criação de companhias
de ola E da do Centro, marchasse imediatamente contra a Brigada da Esquerda.
que estava em questão quando se queixava
à Coroa da ncia de re : Sua escolha não foi aleatória. Labatut tinha motivos para acreditar na
mentos e batalhões pelo governo civil. Para
o Conselho Interino de Gm isenção política do coronel. Ele não só era um comandante nomeado
rena; porem, essa atitude era incompreensível.
Se os notáveis da região diretamente pela Coroa, como estava havia apenas dois meses no Recôn-
mantinham e equipavam essas unidades militares
, nada seria mais natu- cavo. O coronel Lima e Silva, no entanto, frustrou suas expectativas.
E que sua ingerência na organização das tropas.” A indignação do
Con- Considerando a possibilidade de a medida desencadear uma guerra civil,
selho Interino de Governo era tanta que, em dezembro
de 1822, enviou o coronel convocou a oficialidade da Brigada da Direita e do Centro
ao ministro um documento em que formalizava um
a série de acusações para deliberar sobre a questão. O documento que resultou dessa assem-
contra o general Labatut. Essas eram enumer
adas 3 uma após a outra, de bléia militar assegura que as forças do Recôncavo possuíam uma exce-
forma sistemática, para provar O caráter
despótico do general. Ao final, lente vantagem em face do inimigo, tendo-o sitiado por mar e por terra,
concluíam que sua atuação assustava “a uma divisão do Exército naquele momento ressuscitaria as tropas
mais impo rtante classe de cida- e que
| mou a
dãos, a classe due acia disso,
regência de Sua Majestade Imperial e que portuguesas, comandadas pelo general Madeira de Melo. Diante
quase miraculosamente vinha sustentando por
quatro meses a aclamação ficou decidido, por unanimidade, que o melhor seria mandar uma depu-
que tinha feito, qual seja, a classe de propri Labatut para apresentar-lhe essas considerações e ten-
etários”. tação ao general
O general Labatut parece, no en desse modo, convencê-lo a sustar as hostilidades. Mas isso nem foi
tanto, ter sido menos político que tar,
Bôhm. D. Pedro não estava em Ao final da assembléia, dois oficiais da Brigada da Esquerda
condições preciso.
regionais. À prioridade naquele mome chegaram ao acampamento de Pirajá, onde se achava
reunida a oficiali-
nto e ra expulsar os portugueses €
assentar a unidade territorial do
novo im pério, sediado no Rio de Ja- dade, e participaram a prisão do general Labatut.*
neiro. Desse modo, Labatut foi ficando p fal ta de um “ch efe ” par a o Exé rci to, o Co ns el ho Int eri no de Go-
rogressivamente isolado. Em Na
fevereiro, enquanto o general tent int eri nam ent e O cor one l Jos é Jo aq ui m de Lim a e Silva
ava se re aproximar do Conselho Inte- verno nomeou
rino de Governo, este jJáá solici he fe do Exé rci to e de tod as as tro pas de 1º e 2º linhas,
solicj tava sua demissãoné ao ministro da Guer
ra. «comandante-em-c
ex-general-em-
Como a Coroa não Se POsiici cionava, os conflitos foram resolvidos no exercício de todas quantas atribuições competiam ao
por
131
130
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
OS LIMA E SILVA COMBATEM A HIDRA DA ANARQUIA

chefe e brigadeiro Pedro Labatut”.º Obviamente, ao assumir o post


coronel Lima e Silva colocou sob suspeita toda a sua atuação no E deixasse embarcar em paz e tranquilamente” para Lisboa. No dia 2 de
] julho, após receber a confirmação de que o general já havia deixado a
ciamento da crise. Aliás, seu lucro com o golpe foi formidável. Á a
cidade, o coronel Lima e Silva fez uma entrada “memorável e feliz” na
do prestígio que desfrutava na posição de comandante do Bat
alhas cidade de Salvador. Segundo seu “artigo d'ofício”, o desespero do general
Imperador, ele, com a patente de coronel, em condições normais jam :
português era tal que “largou no cais mais de 20 cabeças de gado, 7/4 de
ascenderia à posição de comandante-em-chefe. Esse cargo
era de carne fresca, barricas de bolacha e farinha, artilharia, espingardas, pólvo-
exclusivamente a oficiais generais. Ainda nesse mês de
maio, poucos Fe ra e muitos objetos que ele tencionava destruir ou levar consigo”. Tudo
depois de assumir O comando-em-chefe, ele começou a reorgani
zar todas havia ficado à mercê do povo. À festa tomou as ruas. As freiras da Sole-
as repartições militares, substituindo vários oficiais. Seu
irmão, Manoel dade armaram à porta do convento um arco do triunfo e, ali, esperaram
da Fonseca de Lima e Silva, tenente-coronel do Batalhão do
Imperador, o Exército para ofertar a seus oficiais coroas verdes, “levantando aos ares
assumiu a 1º Brigada do Exército, seu primeiro posto de coma
ndo. Outro vivas a Sua Majestade, à Assembléia Constituinte e ao Exército entre
irmão, bem mais jovem, foi nomeado ajudante de ordens do nuvens de flores lançadas sobre os guerreiros”.*
comando-
em-chefe. Já o sobrinho, Luiz Alves de Lima, não aparece
na lista dos Todo o mês de julho foi de comemoração dos sucessos do coronel
contemplados com uma promoção. A posição que ocupava
nesse mo- comandante-em-chefe. Sua sintonia com militares e políticos locais pare-
mento dificultava uma ascensão. Ele já ocupava o cargo de ajudante-de- cia ser completa. Quando chegou à capital no dia 1º de agosto, o briga-
ordens desde que saíra do Rio de Janeiro, e para ser promovido
a capitão, deiro José Manoel de Morais, nomeado pelo imperador para assumir O
próximo passo nessa etapa de sua carreira, era preciso esperar uma gran- comando que vinha sendo exercido interinamente por Lima e Silva, O
de manobra das forças imperiais ou a vitória definitiva sobre os portu- governo civil, de imediato, enviou ao brigadeiro uma declaração afir-
gueses. De qualquer forma, Luiz Alves presenciava todas essas disputas mando que o afastamento do coronel não agradaria às tropas. Pelo que
político-militares, e sua assinatura consta na ata da reunião da oficialida- consta nos ofícios do Conselho Interino de Governo ao ministro da
a-
de ocorrida em Pirajá. Guerra, comandantes de vários corpos do Exército haviam encaminh
No início do mês de junho, apenas uma semana após essa reorganiza- gove rno uma repr esen taçã o soli cita ndo a perm anên cia do coro nel
do ao
efi-
ção, o Exército do Recôncavo empreendeu uma “avançada sobre as trin- Lima e Silva. A ação — voluntária ou induzida pelo coronel — foi tão
ordem do
cheiras lusitanas” que encheu de orgulho o novo comandante.
Em ordem ciente que, no dia seguinte, dia 2, O brigadeiro assinava uma
do carg o, e o coro nel agra deci a form alme nte sua deci são
do dia de 7 de junho, ele louvava a boa ordem e coragem da trop dia abdicando
a e da da paz e soss ego da cida de...”,
oficialidade.” A estratégia utilizada foi simples. Após tomar, de sacrificar “seu pun don or em bene fíci o
por meio de auto rida de mili tar” .
o ação firme, a principais posições do inimigo, alguns oficiais distri- um pouc o alte rado s com a repe ntin a mud anç a de
Lima e
ES arado ão Ene da cidade. Elas prometiam anis- Esse seria, porém, o último episódio feliz vivido pelo coronel
a “condescendên-
Silva na Bahia. Na mesma ordem do dia em que agradece
çaram a aparecer “inumeráveis e a repr esen taçã o dos coma ndan tes
paisanos e desertores das tropas lusas”. Com pouco mais de um mês cia” do brigadei ro Man oel de Mora is
de afirma que
comando, no dia 30 de junho, o coronel Lima e Silva receb dos corpos junto ao governo civil, José Joaquim de Lima e Silva
en- o”.º
sagem do general Madeira de Melo. Nela
, » ele “alguém?” foi a Sua Majestade Imperial “denegrir a minha reputaçã
JE pedipedia, sem erodeEios,
e qts
que h “O
133
132
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
OS LIMA E SILVA COMBATEM A HIDRA DA ANARQUIA

Era o sinal de que uma nova “cabala” estava em articulação. Se


M que as tropas”. Ele pediu, então, um tempo e acertou que no dia seguinte daria
saibamos o motivo, o mês de setembro teve início com uma séri
e d É COn-
flitos de rua entre o Batalhão do Imperador e alguns uma resposta “a Vossas Excelências verbalmente e na presença dos co-
corpos milita res da
província. Às patrulhas compostas dos “soldados do imperador” mandantes dos corpos”. Tinha, para isso, ordenado que todos os oficiais
diariamente atacadas com * Injuriosos epítetos e imprudentes
a o + comandantes estivessem no dia seguinte, “ao meio-dia, na sala do governo
Sarcasmos”
eram

O coronel Li ima e Silva, talvez por lembrar-se do gol para este fim”.”? Ao final, aceitou permanecer no comando do Exército.
pe aplicado ao gene- A montagem de toda essa cena para comunicar sua decisão mostra
ral Pedro Labatut, fazia o possível para conter
a tropa, solicitando aos com clareza O que era o jogo político provincial e as crises que os repre-
oficiais que mantivessem a disciplina dos mes
es anteriores, responsável sentantes da Coroa tinham de gerir. O coronel Lima e Silva e todos os
pela “gloriosa reputaçã=o” do batalhão
cÉ -
na região . Mas sabia que, com oficiais de seu batalhão — inclusive o tenente Luiz Alves de Lima, cuja
a E

tantas provocações, seria difícil controlá-los.


E aid .

participação nesses episódios foi intensa, tendo assinado todas as repre-


a = a

Assim, decidiu se demitir e


a a

por ofício, pediu ao governo civil um substituto,


PR a
“os

sentações organizadas por seu batalhão — tinham visto (ou até mesmo
à

solicitando ainda que


E:foss Rn idenciado “ sem demora um lugar de acantonamento par
a o participado) a queda do general Labatut, O retorno do brigadeiro Mano-
ItoÊ atalhãào enquanto não à embarcava” de volta para a corte.” As
nar- el de Morais para a corte e assistiam, agora, à “cabala” voltar-se contra
rativas sobre esse episódio são todas fragmentadas
. O coronel afirma em eles. Era esse quadro que tornava obrigatória a encenação. Lima e Silva,
ofício que agia assim porque acreditava que aquela por meio dela, pretendia avaliar se dispunha de apoio político e idenrifi-
s agressões eram parte
:do ê plan o x “fa
faccçõ
ções polítiíticascas” ” da regiao
jã para o imp car quem estaria disposto a firmar esse apoio com a própria presença,
| elir a tomar “medi-
as fortes”, referindo-se possivelmente a uma ação
armada do Batalhão publicamente, comparecendo à cerimônia no palácio do governo. Só as-
do Impera | dor contra esses corpos militares locais.
Se Isso aconteces- sim, contando com a promessa de que seria ajudado “na grande empresa
e
se — cogitava em outro ofício —, CE me acusariam .
de acender a guerra civil
...
de manutenção da ordem e do sossego público”, poderia voltar atrás
e lançariam mão desta para me comprometer, me enviar
para a corte permanecer no comando do Exército, como acabou fazendo.
como criminoso e o batalhão ignominiosamente, cobrin
do-o talvez com Mas a história não estava resolvida. Rumores como os que tinham
O labéu de fratricidas”.”! Para reafirmar sua autoridade, o o general Labatut voltaram a tomar as ruas de Salvador nos
coronel Lima e derrubado
ape-
Silva ainda anexou a seu ofício, em que pedia
um substituto, uma repre- primeiros dias de outubro. Às especulações, dessa vez, não atingiam
de
sentação de seus oficiais “mui subordinados
” » apoiando suas decisões.” nas o coronel Lima e Silva. Corriam ainda boatos sobre a deposição
O coronel A res-
Lima e Silva tinha razão quando afirmava que essa oposição alguns integrantes do governo e de vários funcionários públicos.
era feita por “facções políticas” e, ao pedir de foi imediata. Rapidament e começou a articular, para O
missão, desejava na verdade posta do coronel
Espicia essa situação. O governo civ mês, uma grande parada militar com todos os corpos do
il não desejava sua saída. No mes- dia 5 desse
mo dia, a 5 de setembro, respondeu ao seu ofício, sob pretexto de estar preparando a tropa para à solenidade de
pedindo que refletisse Exército,
Sua Majestade Imperial, prevista para o dia 12, data de
melhor sobre sua decisão e os inconvenientes
que dela poderiam resultar. aclamação de
natalício. A demonstraç ão de força provocou “nova tem-
Como Lima e Silva insistiu na demissão, o gove seu aniversário
rno, formado por um con- “mata, mata!”.? À po
selho, mandou três de seus membros conv pestade” e, nas ruas, só se ouviam OS gritos de
ersar diretamente com o coronel motim
sobre “os risc Os que correria a ProvinÍnc
ciia, ficando sem ter qu miúda, corria a notícia de que estava em andamento um grande
em comande
135
134
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO OS LIMA E SILVA COMBATEM A HIDRA DA ANARQUIA

popular, pronto para estourar exatamente no dia 12. Diante do


descon marcados por hostilidades, a expedição, considerada em seus objetivos mais
trole das ruas, o governo convocou uma reunião para o dia 2, com
todos gerais, tinha sido um total sucesso. À cidade de Salvador estava restaurada,
os comandantes de corpos militares e com o comandante-em-chefe coro- e a adesão dos baianos à causa da independência, assegurada. Era isso que
nel Lima e Silva. Ninguém deixou de comparecer. A maior parte dos interessava à nascente monarquia, tanto assim que d. Pedro I não demorou
comandantes “confirmou a existência dos boatos”, mas dizia ignorar a “abrir os cofres de suas graças”, remunerando muito bem seus fiéis vassa-
sua procedência. Ão ouvir essas declarações, Lima e Silva entendeu los. O coronel José Joaquim de Lima, em fevereiro de 1824, foi nomeado
que
sua “autoridade não tinha mais o apoio preciso” e entreg ajudante-de-campo do imperador,” dignitário da Ordem do Cruzeiro e al-
ou novamente
o comando. À diferença é que agora o Conselho Interino çado ao grupo de oficiais generais, recebendo a patente de brigadeiro. Ainda
de Governo
estava de acordo — não havia alternativa. A demissão do corone nesse mesmo mês, seu irmão, Manoel da Fonseca de Lima e Silva, foi efeti-
l Lima e
Silva era “o único caminho para se evitar os sobreditos motins popula vado no posto de tenente-coronel do Batalhão do Imperador e condecorado
-
res” e, com isso, manter a ordem na província? com a mercê de oficial da Ordem do Cruzeiro. João Manoel de Lima, caçula
Mais uma vez, é difícil precisar quem integrava essa “facção dos irmãos Lima e Silva, recebeu a patente de tenente.”
política”,
Inácio Accioli, em suas memórias, credita a articulação de Entre seus tios, Luiz Alves teve na Bahia sua primeira participação
todos esses
golpes ao coronel Felisberto Gomes Caldeira — o oficial que foi em uma expedição militar. A nova carta patente passada pelo imperador,
acusado de
conspiração e preso por Labatut. Esse episódio detonou o primei dessa vez, não trazia o nome de seu avô ou de seu pai. O jovem tornava-
ro golpe
militar. Para Accioli, com a prisão do general Labatut, um dos membro se capitão em remuneração aos serviços por ele mesmo prestados. Um
s
do governo civil teria oferecido o comando-em-chefe do Exército a documento resume seus feitos:
Felis-
berto Gomes Caldeira, que só declinou o convite “para fugir assim à tacha
de haver concorrido para essa deposição”. Mas teria sido graças à atu Assistiu ao ataque de 28 de março e às ações de 3 de maio e de 3 de ju-
ação nho, servindo distintamente em toda a campanha. Na primeira ação, à
desse mesmo coronel que a posse do brigadeiro Manoel de Morais não
testa de uma companhia, atacou uma casa-forte, onde o inimigo estava
ocorreu. À idéia sugerida por Accioli é de que Gomes Caldeira teria arti- entrincheirado, e o fez sair com perda. Nos dias de fogo, comparecia nos
culado o movimento de apoio ao coronel Lima e Silva para, lugares de maior perigo, mostrando sua exemplar bravura.”
em seguida,
por meio de novo golpe, assumir finalmente o comando.
Tendo sido ou não o responsável por esses sucessivos golpes, O coro Esse era o modo como se formava na época um oficial do Exército. Ain-
-
nel Felisberto Gomes Caldeira foi, sem dúvida, o maior ben da prevalecia na cultura militar portuguesa a tradição posteriormente
eficiado com
a queda de Lima e Silva. Foi justamente ele quem batizada depreciativamente de “tarimbeira”? — verdadeiro oficial se for-
assumiu o posto de
governador de Armas da província, que equivalia mava no campo de batalha. Por isso, a direção da Real Academia Militar
em tempo de paz ao de
se esforçava desde 1811 para tornar efetivo o título sétimo de seu esta-
tuto, que reservava um terço das vagas dos corpos regulares para oficiais
que estabilizou a política na região.” com formação acadêmica. Enquanto isso não ocorria, as aulas do esta-
José De pu de Lima e Silva voltou com o Ba belecimento de pouco valiam, e se a Coroa não atendia aos reclames da
talhão do Imperador para
a corte ainda em 1823. Mesmo com direção era porque ela mesma não acreditava ou não se interessava em
a tensão dos últimos meses na Bahia,

137
136
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO OS LIMA E SILVA COMBATEM À HIDRA DA ANARQUIA

mexer nessa tradição. Dirigindo um império tão vasto como o português Bahia, mas à configuração política era totalmente outra, bem mais deli-
ou uma monarquia de dimensões continentais como a brasileira, pare- cada. A confederação que havia sido declarada em julho daquele ano e
cia-lhe ser mais vantajoso desenvolver nesses oficiais, além da capacida- ameaçava incorporar províncias vizinhas de Pernambuco era uma res-
itá-
de de guerrear, uma habilidade específica — a de negociação, sobretudo posta clara de setores da sociedade pernambucana às atitudes autor
com autoridades regionais. Para isso, a circulação geográfica, por meio rias de d. Pedro. As Câmaras de Olinda e Recife, os dois maiores colégios
Consti-
de expedições militares, ainda se mostrava uma estratégia bastante efi- eleitorais da província, logo após a dissolução da Assembléia
an-
caz, e que perduraria por muito tempo entre os militares brasileiros. tuinte, em novembro de 1823, já mostravam sua insatisfação, recus
A tarefa de estabelecer um diálogo político entre a Coroa e as provín- do-se a realizar novas eleições. Uma representação dirigida ao imperador
cias, em parte, cabia aos militares. À chegada do coronel Lima e Silva ao o clima polít ico na regiã o como de desco nfian ça e repul sa às me-
definia
Recôncavo — como vimos — só foi festejada porque na primeira etapa de arbit rária s vinda s do Rio de Janei ro, o que reace ndia em seus ha-
didas
sua marcha, de Maceió até lá, ele havia conquistado os locais por meio bitantes o velho espírito liberal e contestatório de 1817.
mostra-
de demonstrações de respeito “às regalias e foros dos habitantes”. Com Na corte imperial, a lembrança desse movimento também se
D. Pedro reagi u de forma tão viole nta quant o seu pai
essa atitude, ele provava que o imperador não tinha a intenção de alterar va bastante viva.
ou imed iata ment e suspe nder as garan tias const ituci o-
o sistema de hierarquias implantado na região, e que preservaria sua em 1817. Mand
e, em segui da, corto u-lhe a coma rca do São Francisco,
configuração social. Mas para que essa intenção se verificasse havia uma nais na proví ncia
tégia semel hante , em 1817, havia resul tado no
contrapartida: a adesão das autoridades locais aos princípios políticos anexando-a à Bahia. Estra
de Alago as. Era um tipo de puniç ão que à cada nova
da nova monarquia. Essa era uma das tarefas da expedição militar à desmembramento
Bahia — negociar os termos dessa adesão. rebelião diminuía o território pernambucano.*
de Lima tinha diant e de si um grand e desaf io. A luta agora
Se os irmãos Lima e Silva começavam a ganhar espaço na corte de Francisco
“estr angei ros”, € O fato de algun s lídere s da Confe-
d. Pedro, isso se devia exatamente à capacidade que vinham demons- não era mais contra
os mesm os que havia m comb atid o pela re-
trando, em momentos politicamente tão instáveis, para “destruir e fazer deração serem reinc ident es,
anos antes , acirr ava OS ânimo s. Isso tamb ém Ra
abortar a hidra da anarquia”! e, dessa maneira, consolidar o projeto de pública sete
r, fazen do com que seu coma ndo fosse muito cobiçado
construção de uma monarquia sediada no Rio de Janeiro. expedição milita
Uma vitóri a sobre os confe derad os segu rame nte
pelos generais da corte.
a agir com gener osida de na distr ibuiç ão de Fpecãs
levaria o imperador
opor tuni dade para a obte nção de
Tratava-se, assim, de uma excelente
FRANCISCO DE LIMA EM PERNAMBUCO
orden s milit ares e asseg urar prom oçõe s € ten-
títulos nobiliárquicos, das IgA
ças no Exército.
E = E4

No dia 1º de agosto de 1824, Francisco de Lima e Silva embarcou para 0 ho me ns em um a di visão


av a co m 1. 20
O brigadeiro Lima embarc
o Nordeste, com destino a Pernambuco. A decisão de enviar o brigadeiro br ig ue , um a co rv et a € do is tr an sp or tes.
naval composta de uma na u, um
como general comandante das forças imperiais confirma a proximidade de 18 17 , só qu e ag or a O al mi rante era
A estratégia também re pe ti a a
e confiança que o jovem imperador depositava nos Lima e Silva. Poucos ca ri a em Ma ce io , en qu an to à di vi sã o
Lord Cochrane: a tropa desemb ar
meses tinham se passado desde a volta do Batalhão do Imperador da
139
138
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
OS LIMA E SILVA COMBATEM A HIDRA DA ANARQUIA

naval seguiria para o Recife com o objetivo de


canhonear a Capital, Tudo
se passou como previsto. No dia 13 de agosto, Cochra recionais”.º* Tanto a chegada a Pernambuco como à capital foram orga-
ne aportava em
Jaraguá, importante porto de Maceió. nizadas em função dessa geografia política. Não era toda a província que
Daí, a tropa Iniciou sua marcha
em direção à mata sul canavieira. Em Barr se insurgia. Por isso, as tropas da Coroa efetuaram a invasão pela mata
a Grande, com poucos dias de
marcha, o brigadeiro Lima encontrou Francisco sul. Parte dos plantadores locais, ligados à produção açucareira, aderia
Paes Barreto, Principal
nome entre os partidários da monarquia, à monarquia. O nome atribuído ao Exército explicita essa aliança. Entre
que tentava Organizar uma
reação armada e contava em suas fileiras com 40 os pernambucanos, havia grupos bastante dispostos a cooperar com a
0 homens. Da união “boa ordem” e outros que, na sua indiferença, simpatizavam com a figu-
dessas forças surgiu o Exército Cooperador da
Boa Ordem. ra do soberano. Ao brigadeiro Francisco de Lima cabia, para exterminar
Como o Batalhão do Imperador em 18
23, o Exército imperial utili- a Confederação, cultivar esse sentimento monárquico.
zava a marcha pelo interior da provínci
a para costurar vários apoios e Uma vez na capital, o Exército Cooperador da Boa Ordem só preci-
fixar a autoridade do imperador. Esse é
um aspecto importante. Francis- sava agora tomar O bairro do Recife, cuja principal fortaleza — do
co de Lima — como o general assinava se
u nome — levou um mês para Brum — continuava sob domínio confederado, e Olinda, transformada em
Iniciar as operações militares. Após reun
ir forças com Paes Barreto, capital e ponto central de reunião dessas forças. Tudo, no entanto, era
acampou no engenho Suassuna. Aí rece
beu novas adesões, munições e favorável aos imperiais. A vitória alcançada em poucas horas de combate
armamento. À força que deixou a corte co
m 1.200 homens, ao final de abriu uma crise entre os confederados, disseminando suspeitas e dividin-
duase Um mês, atingia um efetivo de 3.500
soldados. Foram essas mes- do seus líderes. Manuel de Carvalho Paes de Andrade, presidente da Con-
mas facções locais, fiéis à monarquia do Rio
de Janeiro, que forneceram federação do Equador, em meio aos conflitos do dia 12, tentou voltar ao
informações sobre a distribuição das forç
as confederadas e elaboraram, Recife e não foi mais visto. Suspeitava-se de que havia pedido asilo em
com o brigadeiro Lima, um plano para
cortar as comunicações dos re- um navio inglês, como depois se confirmaria.”” Além disso, a esquadra de
beldes com a capital. Na manhã do
dia 12 de set embro, enquanto Paes Cochrane permanecia estacionada frente à capital. Foi nesse momento
Barreto simulava um ataque ao acesso que, para decidir o combate, o brigadeiro Lima resolveu aproveitar a
principal a cidade do Recife — a
ponte dos Carvalhos — e distraía a atenção do exército desorganização, as deserções e mortes produzidas pelo avanço imperial e
confederado, cen-
trado na defesa da ponte, o brigadeiro Lima ameaçou realizar um ataque combinado por terra e março Mas nem pre-
, através de marchas força-
das, entrava na cidade por um ponto me cisou movimentar as tropas. Na manhã do dia 14, o Senado da Câmara
nos fortificado. Às quatro horas
da tarde desse mesmo dia, o brigadeiro era de Olinda solicitava um armistício de três dias para tratar da rendição.”
senhor dos bairros de Boa
Vista, de Santo Antônio e se instalava Francisco de Lima recusou o armistício, mas aceitou negociar a rendi-
no palácio do governo.”
A| Coroa e seu agente em Pern
ambuco — Francisc o de Lima — dava ção, iniciando uma intensa troca de nove correspondências com os on
um importante passo na repres m
são ao movimento. Mas, ao contrário do federados. A resistência estava praticamente desbaratada, e, por isso,
que se pensa, O sucesso da expedição não se devia à incomparável
supe- raros são os relatos do que se passou a partir de então. A historiografia se
rioridade militar do Exército limita a narrar a marcha iniciada nesse momento por alguns confedera-
imperial, todo arregimentado
na corte.
À relativa facilidade com que as fo dos contrários à decisão da Câmara, entre eles frei Caneca. Em seguida,
IV
o

rças imperiais entraram em Recife


E
e = a

resultava da exploração de « passa às execuções. No entanto, entre a rendição da Câmara de Olinda e


S uma certa “geografia dos movimentos insuf-

141
140
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
OS LIMA E SILVA COMBATEM A HIDRA DA ANARQUIA

a primeira execução, justamente do frei Caneca, no dia 13 de janeir


negociações com os emissários do Senado da Câmara, Francisco de
quase quatro meses se haviam passado. Destacar esse detalhe pode pas
Lima não garantiu anistia nem passaporte aos ditos “chefes de
cer preciosismo ou até um esforço para abrandar a duríssima Política rebelião”. Talvez já imaginando os limites dessa negociação, total-
repressiva da Coroa, que foi — indiscutivelmente — executada Por Francis
mente assimétrica, imposta pela força das armas, parte desses chefes
co de Lima. Todavia, nessa mesma historiografia, é possível achar de for- havia se colocado em marcha para o Ceará, na tentativa de recompor
ma dispersa referências à insatisfação de d. Pedro com a atuação do suas forças para prosseguir na luta. Assim, cabia ao brigadeiro Lima
brigadeiro.”! No mês de dezembro, essa insatisfação chegou a um ponto cumprir as ordens imperiais, ou seja, devia instalar a Comissão Militar
tal que O imperador enviou outro oficial, o brigadeiro Bento Barroso Pe. e sentenciar os “cúmplices” com o rigor exigido pelo imperador.
reira, para substituí-lo. Entre a execução de Caneca e a dos últimos sen- Mas não foi isso que se viu. Satisfeito com a completa tomada da
tenciados, no dia 12 de abril, passaram-se mais três meses. No total, são província na madrugada do dia 17, Francisco de Lima, no dia seguinte,
«sete meses. Difícil não perguntar o que ocorreu nesse período, sobretudo escreveu para o ministro da Guerra. Narrou com detalhes o processo de
porque, na posição privilegiada de quem olha para os fatos quase dois negociação por ele próprio dirigido e enviou, anexa, cópia de toda a
séculos depois, sabemos que Francisco de Lima participaria de forma correspondência trocada com os rebeldes. Ao final desse ofício, afirmou
ativa, em 1831, da abdicação do imperador, sendo eleito por duas vezes que deu continuidade ao diálogo por conta da “convicção” — as palavras
para ocupar uma das vagas da Regência. Por ora, porém, meu interesse é são dele — “em que estou de que Sua Majestade O Imperador antes quer
apenas contar a história dessa etapa da repressão aos confederados, exa- governar homens arrependidos e submissos do que reinar sobre montões
minando a relação do brigadeiro Lima com d. Pedro. Acredito que ela de ruínas e de cinzas e que me enviou a esta província para sujeitá-la e
não foi tão linear quanto parece à primeira vista, € que, para compreen- não para destruí-la”.”* Dez dias depois, voltou a escrever para a corte e,
dê-la, é preciso resgatar não golpes políticos, como os vividos por seu ir- dessa vez, dirigiu seu ofício ao ministro do império. Nele, em vez de no-
mão na Bahia, resultado de disputas locais, mas sim o complicado ticiar a instalação da Comissão Militar, apresentou uma avaliação das
jogo
de intrigas palacianas, bem à moda de uma sociedade de corte. condições políticas da província. À preocupação do brigadeiro era infor-
O brigadeiro Francisco de Lima e Silva havia deixado o Rio de mar ao imperador e a seu gabinete que, diferentemente do que eles ima-
Ja-
neiro em agosto com ordens expressas do imperador para colocar em ginavam, a província não estava dividida apenas entre opositores e
funcionamento a Comissão Militar tão logo fossem identificados Os partidários da Coroa. Destacava a existência de um terceiro grupo, pre-
“cúmplices da rebelião”. Essa Comissão havia sido criada por decreto ponderante: “os indiferentes a ambos os partidos”. À necessidade de
de 26 de julho como parte das duras medidas adotadas por d. Pedro “entrar com a mão armada nesta cidade”, continuava o brigadeiro, ti-
ao
ter notícia da formação da Confederação do Equador. Ela deveria nha assustado muitos desses homens, e isso era preocupante. Eles passa-
“sen-
tenciar verbal e sumariamente os réus, sem atenção a sua qualidade, vam da indiferença à hostilidade. Desse modo, o brigadeiro Lima
começava a defender um outro tratamento para Os prisioneiros. Na sua
empregos e graduações”. A entrada do Exército Cooperador da Boa
Ordem em Recife produziu os primeiros prisio opinião, “não convinha usar meios violentos”. Acreditava que “só por
neiros de expressão poli-
tica. Após a rendição de Olinda, O número de confedera meios conciliatórios, medidas vigilantes e muita prudência é que se pode
dos presos cres- chamar à ordem tanta gente”, e no final do ofício ainda recomendava
ceu. Nenhum deles » Porém,
integrava a cúpula do movimento. Em suas
143
142
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
OS LIMA E SILVA COMBATEM A HIDRA DA ANARQUIA

outra política: “uma grande reforma porque todas as classes estão con.
No ofício que diz ter enviado a d. Pedro no dia 23 ou 24 de setembro,
fundidas, não havendo nem sombra de respeito às autoridades” 95 Esta.
Manoel de Morais começava a tomar suas medidas para evitar “o que me
va tão convencido de que esta era a melhor estratégia para reorganizar q
sucedeu na Bahia no ano passado”. Ainda que não seja possível definir o
sociedade pernambucana que nem se pronunciava sobre a Comissão Mi
conteúdo exato do ofício, é ele quem afirma, em outra carta, dirigida ao
litar. Em outro ofício, datado de 3 de outubro, e dirigido ao mesmo mi-
“amigo Gomes”, que nele procurava apenas dizer “ao mesmo senhor
nistro, noticiou, com enorme satisfação, que a Câmara de Goiana já
aquilo que me pareceu dever chegar a seu imperial conhecimento”.” Se-
havia jurado solenemente a Constituição do império e que as Câmaras
manas depois, no dia 16 de outubro, uma carta imperial exigia do briga-
de Olinda, do Recife e de Santo Antão — as mais resistentes — lhe tinham
deiro Lima o cumprimento do decreto de 26 de julho, ou seja, a montagem
representado a mesma intenção.
da Comissão Militar. Essa carta faz clara menção a outro ofício no qual
Tudo parecia transcorrer com tranquilidade. Cauteloso, o brigadeiro
o brigadeiro Lima, tentando dissuadir d. Pedro, afirmava que ainda não
Francisco de Lima ouvia “o parecer de todos os magistrados
e pessoas tinha procedido contra os presos “pela falta de verdadeira inteligência de
probas”? da região.” Tentava, com isso, ampliar sua base política e,
de quais sejam ou se devam reputar os chefes e cabeças dela”. Isso parece ter
certa forma, orquestrar esse delicado “estado de confusão”.%8 Ele
só não irritado o imperador. Após exigir a pronta “execução da Comissão”, ele
podia imaginar que, cinco dias após enviar seu primeiro ofício narrando fez uma longa lista definindo quem deveria ser enquadrado como “cabe-
fo negociações com os confederados e a ocupação de Olinda pelos impe ça do movimento”.!90
-
riais, uma versão menos favorável dos fatos estaria sendo enviada, de Essa carta pode ser entendida como uma simples resposta de d. Pe-
Recife para a corte, pelo brigadeiro José Manoel de Morais. O leitor dro ao brigadeiro Lima. Mas o ofício de Manoel de Morais, enviado
deve estar lembrado desse nome. Manoel de Morais esteve na Bahia no antes de o brigadeiro Lima apresentar sua avaliação sobre a situação
ano anterior, em 1823. Havia sido nomeado para substituir o coronel política da província, deve ter contribuído para criar resistências à pro-
José Joaquim de Lima e Silva, que, desde a prisão de Labatut, vinha ocu- posta de reforma pacífica sugerida por ele. O que talvez, antes do ofício
pando interinamente o comando-em-chefe das forças imperiais. Por uma de Manoel de Morais, fosse lido por d. Pedro como excesso de prudência
ameaça de rebelião das tropas, ele não pôde assumir o com
ando. O co- do brigadeiro Lima ganhava, pelo tom da carta imperial, um sentido
ronel Lima e Silva agradeceu sua decisão de sacrificar “seu pundonor em preciso: resistência ao cumprimento de uma ordem imperial.
benefício da paz da cidade”. O brigadeiro voltou para a corte, mas muli- A essa altura, em meados de outubro, o brigadeiro Manoel de Morais
4 a , ' , a

to contrariado. Quando recebeu ordens de seguir par


a Pernambuco, che- se sentia ainda mais indignado. Isso porque, pelo desenrolar dos aconte-
gou a pedir a d. Pedro que o dispensasse da comissão. Aprese
ntou, para cimentos, parecia que o episódio da Bahia iria se repetir. Não era só em
Isso, vários motivos formais. Só não foi ingênuo a
ponto de citar o nome relação à Comissão Militar que o brigadeiro Lima desobedecia às ordens
«dq ' à
va”.”. Nãoa queria, afirma em carta à um amigo, ae
os Lima e Silva do imperador. Pelas instruções imperiais, ele também deveria, uma vez
“indispor-
me Ou antecipamer com esses srs, L.6,”. Dessa vez — continua — restaurada a capital, nomear José Carlos Mairinck da Silva Ferrão presi-
“eles
a
não me apanharão descalço”. O amig. o, destin
a 3 à dente da província de Pernambuco e José Manoel de Morais, seu coman-
atário da carta, era nin-
guém menos que Francisco Gomes da Silva — dante de Armas. O brigadeiro Lima, porém, parecia ignorar essas ordens.
o Chalaça —, secretário par-
ticular do imperador. Um mês já havia se passado, e nada de Comissão ou nomeações. Manoel

145
144
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO O5 LIMA E SILVA COMBATEM A HIDRA DA ANARQUIA

de Morais considerava isso tudo um “escandaloso desaforo”, O Ve «imediatamente desapareceu toda a gente que ali estava”. O mesmo se
Lima” — conta Morais — ia “presidir as sessões da Junta da Fazenda pre- passou no forte do Brum, que achou inteiramente abandonado. Ao
cedido por quatro soldados a cavalo, e seguido por uma guarda de cava- amanhecer, O brigadeiro Lima recebeu um recado para que fosse tomar
laria comandada por um oficial subalterno com seu tró-tró-tró de Olinda. Manoel de Morais afirma que a ação foi um vexame: “o inimi-
trombeta”, enquanto isso, “nós [vamos] por aqui pairando”. Mas toda go debandando-se, só ficaram ali alguns oficiais e soldados (inconscien-
essa “patifaria destes senhores L.S.” — na sua opinião — já era previsível. tes, já se vê) que queriam obedecer a Sua Majestade Imperial, e que não
Por isso, desde o dia 16 de setembro, data em que chegou a Recife, dispu- gostavam daquele modo de vida (agora que não podiam continuar)”.
nha de “bons espiões”?.!º! Foi desse modo que ele afirma ter obtido infor- Quando o brigadeiro Francisco de Lima chegou lá — prossegue Mo-
mações sobre as intenções do brigadeiro Lima na região e, agora, um mês rais - “não achou mais nem Canecas, nem Emilianos, nem Agostinhos,
depois, se punha a narrar todos os fatos, pormenorizadamente — e à sua nem Cazumbás, nem Carapebas, nem Soares Lisboa (e eles eram tolos
maneira — para o “amigo Gomes”, secretário do imperador. que lá ficassem à espera?)”.'%
À primeira carta é datada de 18 de outubro. Entre outras coisas, A prevenção do brigadeiro Morais com os Lima não o levava a in-
descreve como se deu a ocupação da capital. Sem saber dos detalhados ventar histórias. O que conta nessas linhas é provavelmente muito pró-
ofícios enviados pelo brigadeiro Lima, assumiu um tom de denúncia: a ximo do que se passou. De fato, Francisco de Lima era favorável à
ocupação não foi resultado de uma ação militar, mas sim de negocia- negociação. É bem provável, inclusive, que os líderes do movimento só
de
ções. Os confederados, em setembro — conta Manoel de Morais —, ocu- tenham se colocado em marcha para o Ceará depois que Francisco
pavam o forte do Brum e mantinham o grosso de seu exército em Olinda. Lima se recusou, nos “artigos de capitulação”, a anistiar O grupo. Sem
O brigadeiro Lima não os atacava, limitando-se a receber as várias de- dúvida, para confirmar essa hipótese, seria preciso dispor de informa-
detalhad as, pelo menos, sobre o horário de início da marcha e de
putações que “falavam em artigos de capitulação”. Uma delas viera ções
direto de Olinda e, afirma Manoel de Morais, havia sido mandada pela chegada do documento assinado pelo brigadeiro Lima. Mas um outro
própria Câmara. Francisco de Lima chegou a convidá-lo para ouvir a dado fornecido por Manoel de Morais permite sugerir essa interpreta-
entre-
deputação. Mas, achando aquilo um “desaforo”, o brigadeiro recusou ção. Ele afirma que os únicos a ficarem em Olinda, dispostos a se
forças imperiai s, foram alguns oficiais e soldados , exatame nte
a oferta. Francisco de Lima foi, então, pessoalmente encontrar os emis- gar às
a quem Francisc o de Lima, nos artigos 1º e 2º da “conven ção”
sários rebeldes e voltou dizendo que tinha dado prazo até meia-noite aqueles
garantiu anistia Ou, NO mínimo, passapor te para
com os confede rados,
para que se rendessem. Do contrário, ele atacaria. Querendo “ver a é que o brigadei ro Lima não dps
deixar a provínci a.!3 A grande diferenç a
festa acabada”, o brigadeiro Manoel de Morais — ainda é ele quem con- política. Por isso, não su manti-
nisso um problem a, mas uma estratégi a
ta — pôs-se “à mira, e logo fiz tenção de não me deitar”. Passado algum atuação, enviand o até cópia dessas
nha o governo informa do sobre sua
tempo, apareceu O capitão-de-mar-e-guerra Northon com vários ma- tentava convence r O imperad or de
correspondências para a corte, como
rujos dispostos a atacar o forte do Brum. Deu meia-noite, e nada de violento s não ajudaria a sobenete s os habitan-
que a adoção de métodos
notícias de rendição. Esperou-se até a uma hora da manhã, e nada. O sediada no Rio de Janeiro. Daí também sua resis-
tes da região à Coroa
brigadeiro Manoel de Morais — a expressão é dele — só “ficava atiçan-
tência em instalar a Comissão Militar.
do”. Finalmente, Francisco de Lima decidiu partir para o Recife, €
147

146
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO OS LIMA E SILVA COMBATEM A HIDRA DA ANARQUIA

Todas essas idéias eram resultado da experiência de Francisco de Lima claração semelhante, de que não era ladrão, não só não participou do
em Pernambuco. Ele provavelmente não assumiu o comando da expeg;. assalto como impediu que Emiliano o praticasse. Atitudes como essas tor-
ção com essa visão dos fatos. É preciso levar em conta o efeito da hospe- naram Agostinho Bezerra muito respeitado, mesmo entre os partidários de
dagem no engenho Suassuna, do trabalho cotidiano ao lado de Paes d. Pedro. Assim, tão logo se espalhou a notícia de sua prisão, um abaixo-
Barreto e da disposição para ouvir os magistrados e “pessoas probas” da assinado, organizado por negociantes portugueses, começou a correr a re-
província. Meses depois, em fevereiro, ele ainda escrevia de Pernambuco, gião. O documento, com centenas de assinaturas, foi entregue ao brigadeiro
impressionado com a “força das recordações de 18177. O destinatário da Lima, que, de imediato, o enviou para a corte. À expectativa era grande.
carta era um amigo, bem posicionado na corte, sobre quem voltarei a Solicitava-se o perdão para Agostinho. Mas d. Pedro indeferiu a petição.
falar mais adiante. O interessante, por ora, é destacar que nessa carta 0 Agostinho era anistiado de 1817, havia reincidido. No terceiro dia da qua-
brigadeiro Lima afirma ter assumido a tarefa de desmentir essas recorda- resma, foi executado, com o capitão Nicolau.!º
ções “por fatos de moderação e [fazer] germinar nesses corações endure- Quando o brigadeiro Manoel de Morais enviou sua carta para a cor-
cidos por uma educação pervertida pela ação de infernais periódicos o te, estes últimos fatos ainda não tinham ocorrido. Francisco de Lima
amor que deviam ter à sagrada pessoa do imperador”./4 Alguns relatos apenas iniciava suas negociações. Essa política, no entanto, era sua. Para
confirmam essa atitude do brigadeiro entre os locais. Um deles é sobre o instituí-la, resistia às ordens imperiais. O princípio que orientava uma
a
capitão Nicolau. Nomeado pelo governo confederado comandante do atitude tão arrojada — acredito eu — era sua convicção de que adotava
forte do Brum, Nicolau o defendeu até se ver inteiramente sozinho, aban- melhor estratégia de defesa dos interesses da Coroa em Pernambuco.
donado pela guarnição. Para tentar salvar sua vida, quando os “impe- Agindo desse modo, arriscava sua posição na corte. À metamorfose so-
riais” invadiram o forte, correu pela praia, entrou em uma canoa e cial dos Lima e Silva era uma conquista recente, alcançada com esforço
entregou-se diretamente a Francisco de Lima. O brigadeiro não o pren- pelo patriarca da família no final de sua vida. À criação de uma nova
deu, mandou que “se recolhesse à sua casa”. Surpreendentemente, o ca- corte, dirigida por um imperador jovem, livre do peso das mais tradicio-
pitão Nicolau obedeceu: foi para casa e lá permaneceu sem fugir. nais casas portuguesas, mexia no sistema de hierarquias, e essa desesta-
abria espaço para a emergência de famílias que pertenciam a
Um outro relato — bastante comovente — é sobre Agostinho Bezerra. bilização
mais pró-
um nível inferior dessa estrutura, recém-admitidas nos círculos
Cavaleiro da Ordem de Cristo, capitão, quartel-mestre-general e negro, ele
ximos ao imperador, como era o caso dos Lima e Silva. Dentro do meca-
era um nome importante dos confederados. Foi preso com o major Emilia- novos investimentos .!% Tendo
nismo da corte, a ocasião era perfeita para
no, outro rebelde bem conhecido. Por um arranjo do major com as senti- primogênito da família,
conquistado certa reputação, o brigadeiro Lima,
nelas, Agostinho teve chance de fugir da prisão. Todavia, decidiu ficar. posição. Concorria a chances
empenhava-se para elevar ainda mais sua
Dizia que “não se julgava criminoso, que não era ladrão nem assassino, € o fiel da balança. Sua promo-
de prestígio hierarquizada s. D. Pedro era
sim amante da liberdade de sua pátria”. Desse modo, não via sentido em O recuo de alguém. Manoel de Morais,
ção implicaria necessariamen te
fugir. Não era a primeira vez que Agostinho Bezerra afirmava com dignida- No ano anterior, outro Lima € Silva, por meio de
temeroso, se defendia.
de sua condição de confederado. Na noite do dia 23 de julho, o mesmo havia lhe roubado a chance de comandar as
uma manobra política, já
major, aproveitando-se dos tumultos de rua, decidiu “assaltar casas de por- na Bahia. Manteve-se firme. Voltou para a corte e deci-
forças imperiais
tugueses” e “convidou? Agostinho para acompanhá-lo. Fazendo uma de-
149

148
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO OS LIMA E SILVA COMBATEM A HIDRA DA ANARQUIA

diu, para preservar sua posição, cerrar fileiras ao lado de d. Pedro. Na Francisco de Lima talvez apostasse que tudo era uma questão de tem-
primeira oportunidade que se abriu, deu provas de sua mais completa po, e tinha motivos para isso. Além do apoio de parte da elite local, tinha
fidelidade ao imperador: aceitou a embaraçosa missão de fechar a As. a seu favor a distância e a dificuldade de comunicação entre a corte e a
sembléia Constituinte.!'” Agora, pela adesão ao jogo de intrigas, típico província. Só não podia contar com as cartas do brigadeiro Manoel de
dessa política de corte, procurava eliminar de vez a sombra que os Lima Morais. Este, sobretudo depois de perceber que não seria tão cedo nomea-
e Silva vinham fazendo em sua trajetória política. Ainda que Francisco do comandante de Armas de Pernambuco, intensificou sua atuação. Com
de Lima não estivesse sozinho, contando com alguns amigos e SOta-pa- a descrição que fez da ocupação de Recife ao “amigo Gomes” tentava
rentes no ministério, resistir às ordens do Rio de Janeiro era uma atitude nitidamente forçar a demissão do brigadeiro Francisco de Lima, intenção
extremamente arriscada.!º8 que é explicitada no final da carta, quando ele indaga ao amigo: “Dize-
À tensão era crescente. Francisco de Lima, que provavelmente ainda me tu, se és capaz, como se há de pôr em ordem a província sem que O
não desconfiava das cartas do brigadeiro Manoel de Morais, continuou presidente Mairinck tome posse já e o sr. Lima vá para o Rio de Janeiro?”
abrindo espaço para sua política. No dia 1º de novembro, mesmo depois Sendo o “amigo Gomes”, como era, secretário e homem forte do gover-
da carta imperial de 16 de outubro, que exigia a criação da Comissão no, a cabala — para usar uma expressão da época — estava armada. Hº
Militar, voltou a escrever ao ministro do império. Reiterou a disposição No dia 23 de novembro o brigue Guarany atracava em Recife. Nele,
das Câmaras de jurar a Constituição e, como precisava ganhar a con- vinham ofícios e instruções do ministro da Guerra, João Vieira da Costa
entre os quais uma portaria ordenando a instituição de um
fiança de d. Pedro, comunicou uma idéia que lhe parecia “muito conve- Carvalho,
Conselho Militar para que se procedesse à organização de uma expedi-
niente”. Tinha decidido retardar a cerimônia de juramento para fazê-la
com toda a pompa no dia 1º de dezembro, como parte dos festejos de ção ao Ceará e uma instrução fazendo chefe dessa expedição o brigadei-
comemoração do aniversário de coroação de Sua Majestade Imperial. ro Lima e Silva. As medidas mostravam a preocupação do imperador
Para esclarecer melhor sua estratégia, explicava no ofício que não era com a difusão do movimento revolucionário nas províncias vizinhas,
contrário à aplicação de castigos ao presidente Paes de Andrade e seus sobretudo no Ceará, para onde frei Caneca e outros líderes confederados
brigadeiro
“sequazes”. Concordava ainda que só “vigilância e força é o que pode haviam marchado depois de terem deixado Olinda.” Para o
de Lima, isso significava seu afastamento de Pernambuco e o
conter... essa mania revolucionária”. Mas, considerando a dita mania
Francisco
uma “moléstia endêmica nesse país”, insistia: “verdade é que eles [líde- fim de sua política de negociação na região.
desses documentos foram enviadas, pelo mesmo brigue, para
Cópias
res do movimento] nada mais fizeram que desenvolver o gás inflamável Ele exultava. Após ler e reler os ofi-
o brigadeiro Manoel de Morais.
que existia na província, preparações mais remotas dispuseram a maté- de farda de brigadeiro do Exér-
cios — conta em outra carta — “pus-me
ria que afinal incendiou”. Linhas depois, evocando sua “franqueza de 5r. Lima”. Queria apresentar-lhe “minha
cito (...) e parti para a casa do
soldado”, voltava a aconselhar “respeitosamente a V. Exa.”: “esta pro- relativos à sua ida ao Ceará”. Chegam;
papelada” e tratar “dos negócios
víncia precisa de uma grande reforma em magistrados, militares, ramos modos iniciar a conversa. Mas o brigadeiro
do lá, tentou por vários
da administração pública, e até mesmo entre o clero, porque poucos são não teria comigo:
Lima, aos poucos, “me fez ver” que “tal conferência
os que não foram mais ou menos envolvidos nos acontecimentos... pon- Agiu gentilmente: mostrou-lhe outros papéis, convidou-o para jantar,
do em seu lugar outros que sejam probos e de saber” 109
151

150
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
OS LIMA E SILVA COMBATEM A HIDRA DA ANARQUIA

mas não tocou no assunto da expedição. Tudo isso só deixava Manoel


Manoel de Morais voltou para casa, como ele mesmo disse, “com a viola
de Morais mais intrigado. “Como pela cara se conhece quem tem lom- no saco”. Na manhã seguinte, porém, voltou mais decidido. Na primeira
brigas”, e ele “sabia que o tal homenzinho [as] tem bastante e já crôni.
oportunidade, logo saiu “perguntando novamente se o sr. brigadeiro
cas”, deixou-se ficar, aceitando o convite para jantar. Só então soube
Lima ia comandar a expedição na forma das instruções”. Pelo que conta,
que Francisco de Lima esperava o retorno do coronel Salvador José
houve discussão e, para pôr fim àquilo tudo, Manoel de Morais puxou
Maciel, oficial de sua confiança, que havia partido com a missão de
pelo seu voto e o leu.'!? À solução tinha sido perfeita. Cada um dos pre-
prestar esclarecimentos a respeito do estado da província e sobre a po-
sentes, agora, teria de declarar seu voto e, para manter o apoio ao briga-
lítica militar do brigadeiro para, desse modo, tentar demover o impera-
deiro Lima, deveria se pronunciar contrário às ordens imperiais. O clima
dor da decisão de afastar Francisco de Lima, enviando-o em expedição ficou tenso, e o coronel Maciel, de imediato, disse “que o Conselho nada
para O Ceará. Controlada a crise na província, ele tentava agora am- tinha com a ida ou não do sr. general, que esse negócio era todo de s. exa.
pliar sua base política na corte. Esse tinha sido o motivo da viagem. o sr Lima, e que só o mesmo senhor era unicamente quem se responsabi-
to.
O brigue que trazia o coronel Salvador José Maciel chegou na tarde lizaria com Sua Majestade”. Pronto. Manoel de Morais estava satisfei
real-
daquele mesmo dia. Todos o aguardavam com ansiedade. Ainda na Só que o brigadeiro Lima, mesmo “murchando”, confirmou que
ir já, mas
Casa da Intendência da Marinha, situada no cais do porto, o brigadei- mente só ele era o responsável, “que é verdade que não podia
e
ro Lima recebeu a notícia de que d. Pedro decidira manter a expedição. que havia de ir depois, daqui a um mês, ou ainda antes, logo que acabass
Nada havia mudado. Manoel de Morais — ainda é ele quem conta -, € o que tinha a fazer em Pernambuco”.
tão alegre, deu “dois pulos em seco na cadeira em que estava sentado”, há como saber com precisã o em que forças política s Francisco
Não
Em casa, naquela noite, passou longas horas relendo as instruções im- para assumir uma posição tão radical, manten do sua
de Lima se apoiava
às ordens do imperad or. Manoel de Morais afirma que, assim
periais, com todo o cuidado, para ver se achava “pegadilha” que pu- resistência
o “irmão zinho Lima” na Bahia, ele contava com total apoio da
desse ser usada “para o Lima não ir e nem deixar de me entregar O como
locais. O brigade iro Morais parecia bem informa:
governo”. Ele conhecia bem os Lima.!!2 tropa e de autoridades
engano u em relação à posição de uma pessoa — José Mar
No dia seguinte, dia 24 de novembro, Manoel de Morais retornou à do. Ele só se
Apesar de indicad o pela Coroa para assumir à presidência
casa do brigadeiro Lima. Lá se encontravam também o coronel Salvador rinck Ferrão.
o do qu e pe ns av a O br ig ad ei ro Mo ra is , ER E
José Maciel, o ex-deputado e ex-ministro da Marinha Pedro José da Cos- da província, ao contrári
r Fr an ci sc o de Li ma . Am bo s er am , na iã a e,
ta Barros e alguns oficiais da Marinha. Reunidos em conselho, discutiam se sentia ludibriado po
ir in ck é qu e nã o de se ja va as su mi r a pr es idência,
a expedição para o Ceará. Ninguém, nem mesmo Francisco de Lima, fa- bem próximos, e Ma va ma
um ofí cio pa ra o Rio de Ja ne ir o em qu e af ir eh
zia menção às ordens recebidas do governo. Pareciam ter se esquecido de tendo inclusive e nv ia do
m tã o me li nd ro sa s ci rc un st ân ci as”.€
“e
que Manoel de Morais tinha cópia de tudo e estava com todas elas no se considerar inapto para o cargo
po rt an te pa re ci a vi r de Pa es Ba rr et o, a
bolso, escandalizado. Decidiu, então, tomar a palavra e “leu tudo com O apoio regional mais im ra is =] ran-
qu em — na op in iã o de Ma no el e Mo
todos os efes e erres”. Mal terminou a leitura, os referidos senhor dente de Pernambuco, a
es co- r no va me nt e di ri gi nd o a pr ov in ci a. Ac re di ta va,
meçaram a se levantar, “dizendo o Lima: eu não pos cisco d e Lima queria ve e. Se es sa s eram
so ir por isso e por ra nt ir pa ra si o C o m a n d o de A r m a s da Co rt
aquilo e até porque o Ceará a esta hora está pacificado”. O brigadeiro com Isso; ga

153
152
COA

DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO OS LIMA E SILVA COMBATEM A HIDRA DA ANARQUIA

mesmo as intenções do brigadeiro Lima, Manoel de Morais, mais uma Para finalizar, escreve que “afirmo tudo isso” com “a sinceridade do meu
vez, voltaria para a corte.!! coração e O respeito que consagro ao Nosso Augusto Imperador” e não
Sejam lá quais tenham sido os arranjos políticos que sustentavam essas para “cubtrair-me à marcha do Ceará”6
atitudes, o fato é que a situação de Francisco de Lima perante 0 imperador No dia 29 de novembro, o restante da força rebelde capitulava na
estava cada vez mais delicada. À essa altura, ele certamente já tinha perce- vila da Missão Velha. Mais uma vez, não houve combate. Antes disso, os
bido que alguém muito próximo o intrigava com o governo. Assim, antes imperiais levantaram bandeira parlamentar. Um ofício do major Lame-
de encerrar o mês de novembro, escreveu um longo ofício ao ministro da nha Lins, oficial imperial, convidava os confederados a capitularem e
Guerra. Nele, informava que uma força de mar e terra seguia imediatamen- lhes garantia que, se assim o fizessem, voltariam como irmãos e amigos,
te para o Ceará e aproveitava para enviar, em anexo, as atas das reuniões que encontrariam “no imperador um pai, que os receberia com clemên-
do Conselho Militar.!!'' Como este o deixara sozinho na decisão de não cia, e não um bárbaro sultão”.!!7 Parte da oficialidade e da tropa se
comandar a expedição, o brigadeiro resolveu assumir, diante do ministro, rendeu. Não havia mais como resistir. Devidamente desarmados, os re-
total responsabilidade sobre ela. Explicou que “já havia antecipado a pron- beldes seguiram, com as forças imperiais, para Pernambuco. Lá chegan-
tificação das tropas e petrechos ali marcados e que estava a ponto de sair, do, os líderes do movimento foram imediatamente presos. Francisco de
quando recebi as ordens [do Conselho] concernentes a esse objeto”. À jus- Lima não dispunha mais de uma grande margem de negociação. Na po-
tificativa para a frase veio logo em seguida, acompanhada de uma certa sição em que se achava, sabia que, para salvar seu emprego, teria de sa-
mágoa pelas demonstrações de desconfiança de d. Pedro: “Não é espírito crificar, ao menos, os líderes do movimento. À paciência de d. Pedro se
de vaidade e ainda menos pouco apreço por um Conselho respeitável que esgotava. A 16 de dezembro, por meio de duas cartas imperiais, sus-
me guiam a dizê-lo, mas é sim a justa ambição que tenho de que Vossa pendeu a expedição militar ao Ceará, encarregou o tenente-coronel Con-
Majestade Imperial se convença do meu zelo quando me confia comissões rado Jacob Niemeyer, comandante de Armas da província, de instalar

de tanta transcendência.” Faltava informar que não comandaria a expedi- em definitivo a Comissão Militar e enviou outro general para Pernambu-

ção, e Francisco de Lima permaneceu firme ao expor suas razões: co, o brigadeiro Bento Barroso Pereira, com ordens de substituir Francis-
co de Lima caso este ainda não tivesse iniciado os trabalhos da Comissão
Sendo o fito de Vossa Majestade Imperial a pacificação geral do Norte do Militar na província.!!8 Ainda assim, O brigadeiro tentou defender mais
império, sua integridade e segurança... e não entrando em dúvida de que uma vez sua política. Em ofício de 31 de dezembro, informou ao minis-
Pernambuco tem sido, é, e pode ser a potência da alavanca revolucioná- tro da Guerra que: “para salvar a responsabilidade que recai sobre podas
ria das secundárias províncias do Norte, segue-se que é Pernambuco O as pessoas de que se compõe o mesmo Conselho” e para não se apt
ponto a que devem aplicar-se todas as forças morais e físicas em oposição “novos inimigos, como aconteceu a partir de algumas irregularidades
às tentativas de uma revolta, a que geralmente são inclinados esses povos;
que para o seu próprio bem cumpre desarmar de todos os recursos de a praticadas em 1817, a Comissão julgou que (...) tais processos fossem
a e re fl ex ão
a , pa ra 0 qu e se ne NE
ce ssS”
ita
ar ez
fazerem; mas isso não se consegue senão com o uso da força, com medi- feit| os com toda a formalidade, cl Co mi ss ão Mi-
réu s co nv oc ad os pe la
das enérgicas e estudada prudência, e eu, tendo feito muito, quanto me tempo e provas”.!!? Os primeiros fo-
ri al no di a 18 da qu el e mê s,
tem sido possível, conheço faltar ainda o essencial, e saindo tão precipi- litar, iniciada sob pressão da carta Impe
tadamente, deixaria sem alicerce a obra que felizmente vou levantando. o em pr eg ad o da al fândega
ram o frei Joaquim do Amor Divino Caneca,

155
154
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
OS LIMA E SILVA COMBATEM A HIDPA DA AMARQUIA

Francisco de Souza Rangel e o capitão Agostinho Bezerra. No dia 13d


us sr , o e ordem imperial. Por ela, “teriam de ser executadas cem pessoas”.'3 O re-
jane
resiirod era realizada a pri
ç meira execução, a de frei Can
| eça. A Conster na. ceio o fez reforçar a estratégia. Com o coronel José Maciel seguiriam tam-
ção foi geral, e as atenções se voltavam para Francisco de Lima
Iniciava-se a segunda etapa dos trabalhos do brigadeiro na provínci bém para a corte um ofício para o ministro do Império, uma cópia desse
ET o . a, para O ministro da Justiça e uma carta ao amigo Luís José de Carvalho.
No dia seguinte à execução de frei Caneca, Francisco de Lim
a redigiu q Francisco de Lima pensava em uma ação coordenada. No ofício não fez
primeiro de três ofícios, com destino ao Rio de Janeiro, ponderando “
mais menção a seu projeto de reforma administrativa, defendendo apenas
há; a favor : dos réus”. Na verdade, para formalizar os processos,
* *
5
O brigadeiro
ER

um mecanismo de punição “mais conforme o sistema constitucional”. Ex-


Lima havia convocado testemunhas para depor e co
ntava agora com um pôs seus argumentos de forma bastante clara:'”
bom Es, a favor de alguns sentenciados pela Comissão
Militar.'2º Eram
esses processos e mais papéis acerca dos réus” que ele env
iava para a corte, ....tendo mediado pelas razões acima ditas mais de três meses desde que
O primeiro ofício intervinha a favor do capitão Agostinho
Bezerra Caval- se depuseram as armas até a execução dos primeiros réus, e havendo-se
cante e de Francisco de Souza Rangel. No dia 28 de janeir já feito alguns exemplos, parece mais conforme com o sistema constitu-
o, após mandar
executar Lázaro Fontes — a favor de quem, ao que parece, não cional mandado adotar por Sua Majestade, que todos que se acham
havia teste-
munhas —, recomendou à “imperial clemência” o réu James Heide Rod compreendidos nos crimes de rebelião sejam julgados por tribunais de
ges. justiça, os quais em todos os tempos não são tão odiosos, e mui princi-
Adotou procedimento idêntico no dia 3 de fevereiro. Depois da execução
de palmente na presente crise, na qual ainda estes povos não estão inteira-
Antônio Macário de Morais, escreveu para o Rio de Janeiro, intercede mente convencidos de que o bem geral do Brasil e a sua futura seguran-
ndo
em favor de Nicolau Martins Pereira e Antônio do Monte Olivei ça pediam a execução de medidas tão enérgicas. É mui notável a preven-
ra!2!
.
O imperador não perdoou nem mesmo comutou a pena de nenhum ção que ainda conservam os habitantes desta e mais províncias do Norte
desses sentenciados. Quem respondia aos ofícios do brigadeiro era o mi- contra o ministério do Rio de Janeiro, obra esta que com o tempo e
nistro da Justiça, Clemente Ferreira França. A decisão do imperador — se- muito maquiavelismo foi introduzida pelos colaboradores da detestável
facção democrática (...) E na atual crise, o sistema de rigorismo, bem
gundo o ministro — era tomada após ouvir seu Conselho de Estado.
longe de firmar a integridade do Império e consolidar a paz, promoverá
À resposta ao primeiro ofício de Francisco de Lima é datada de 7 de feve- o ódio e acenderá de novo o facho de discórdia. E debaixo desses incon-
reiro. Nela, a Coroa manda que fique “o dito presidente [da Comissão táveis princípios que eu, com aquela franqueza com que sempre hei fala-
Militar] na inteligência que as penas impostas por essa Comissão devem do a Sua Majestade, asseguro que a continuação da Comissão Militar,
logo se executar independentemente de subirem a sua imperi depois dos exemplos já feitos, produzirá resultados opostos âqueles que
al presença
se desejam para o bem do Brasil.
para buscar confirmação ou perdão”.'2 Mas antes de essa resposta che-
gar a Pernambuco, o brigadeiro Lima já havia resolvido intensifi
car sua
ação. Decidiu enviar novamente à corte o coronel Salvador José A carta ao amigo Luiz José de Carvalho tinha o mesmo teor. À diferença
Maciel,
que dessa vez embarcaria nessa longa viagem para “de viva voz ponderar estava no tom, mais franco, de alguém bastante cansado. Diferente da
ao mesmo Augusto Imperial Senhor os inconvenientes que há na conti- amizade entre o brigadeiro Manoel de Morais e o secretário Francisco
nuação dos trabalhos da Comissão Militar”. Era sua última cartada. Ten- Gomes da Silva, que dispensava todas as formalidades, Luiz José de Car-
é trato
valh — para
ado na carta como “Ilmo. Exmo. Sr.” e o brigadeiro Lima
tava, com Isso, evitar as outras execuções. Estava assustado com a última

157
156
e —
-
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
OS LIMA E SILVA COMBATEM A HIDRA DA ANARQUIA

evitar qualquer mal entendido — ainda lembra que só tomou a liberdade


de lhe escrever “particularmente” porque ele o tinha autorizado em caso ção, na forma da lei, taparão a boca aos que gritam contra o despotismo,
que dizem se querer plantar. V. exa., melhor que ninguém, sabe que as
de “negócio espinhoso”. Luiz José de Carvalho era magistrado, formado
Comissões Militares são tribunais de horror, e que só podem ter lugar
em Coimbra e com longa carreira na burocracia de Estado. Nascido na quando as circunstâncias urgem (...) Outrossim, continuando a Comissão
Bahia, exerceu seus primeiros postos em Portugal, tendo voltado para 0 Militar, continuará a ser governada a província militarmente. Não se ob-
Brasil apenas em 1808, na comitiva real. Durante o reinado de servará a Constituição. Não se pode proceder à eleição dos deputados e
d. João VI
ascendeu incrivelmente na carreira e, agora, desde novembro senadores, e estes entraves têm mui graves consequências, que deixados
de 1823 em desprezo serão tomadas em consideração, farão sem dúvida repetir O
vinha exercendo a direção da pasta dos Negócios Estrangeiros.!25
Por E que se acabou de supitar (sic), depois de tanto derramamento de sangue,
experiência na magistratura — além, é claro, de sua
posição como minis- e aniquilação desta, e outras províncias. É igualmente preciso que V. Exa.
tro de Estado -, ele podia ser um aliado valioso para Francisc se persuada que esses povos (...) quase constituem uma nação diferente
o de Lima
que lhe pedia “por quanto há de mais sagrado que, ouvind
o e acrediaa em costumes, caráter e bravura, e conhecem as vantagens locais, que a
do este honrado oficial [o coronel Maciel], coopere para natureza lhes outorgou (...) o reconhecimento de nossa independência
se suspender tal
medida”. A medida era a Comissão Militar. Daí a importânc porá sem dúvida termo a tudo, e enquanto isso não sucede, o que todos
ia do amigo ambicionam com a maior avidez [são] medidas prudentes e enérgicas, a
Luiz José E Carvalho ser um magistrado. Francisco de
Lima, em sua mais religiosa execução da Constituição, bons empregados públicos que
carta, explicava que havia “suspendido a execução das sent substituam os desafetos e os acusados de peculato, escritores que dinijam
enças” de al-
guns presos € recorrido à clemência de Sua Majestade por
já ter executa- a opinião pública, uma correspondência ativa por meio dos correios de
do os considerados “chefes da rebelião”. Os membros da Comissão vapor, uma inteira confiança naqueles que forem postos à testa dos gover-
acre-
ditavam — prossegue o brigadeiro — ser “melhor demorar a execuç nos produzirá melhor efeito que execuções... para alcançar tal mercê, a
ão e qual é a bem da integridade do império”. (Ênfases minhas.)
esperar imperiais ordens, do que fazer repetir a cena de 1817
, que se jul-
garam depois não serem cabeças indivíduos que já tinham sido precipita-
damente fuzilados”. Estava certo de que foram essas atitudes precipitadas
3 Ao final, uma nota dá a entender que cópias do ofício seriam entregues a
que EE “criê aram a obstin
.
açãmeo que hei . encontrado, [que] causaram essa rea- cada um dos conselheiros de Estado. Apesar de não ter sido possível con-
oa e ódio ao governo”. Só então ele começa a especificar a política que firmar a informação, os documentos mostram que as execuções em Per-
orientava sua ação militar:!2 nambuco continuaram e que, portanto, a política do brigadeiro Francisco
de Lima não encontrou respaldo nem entre os conselheiros, nem em
ro,
V. Exa, como sábio € experimentado nos grandes negócios, estará d. Pedro I. Em resposta ao segundo ofício do brigadeiro, de 28 de janei
bem
certo [de] QuRo dificultoso é classificar e punir crimes de opinião
(...) À
o imperador decidiu, em atenção “à falta de saúde que experimenta” O
continuação dos trabalhos da Comissão brigadei ro Fran cisc o de Lima , “com o por diver sas vezes lhe tem repr esen -
Militar, e depois dos exemplos
que têm havid bem longe de produzir bom
O, efeito, produzirão antes ódio tado”, “desonerá-lo da presidência da Comissão Militar”. O cargo seria
e rancor, O que passará de pais para filhos, pelo imenso poré m, ao que pare ce, ele não
número de pesso- assu mido pelo brig adei ro Bent o Barr oso,
as comprometidas (...) Os meios ordinários seriam mais
conducentes com O sistema constitucional, que
próprios e mais se encontrava mais na província, e Francisco de Lima permaneceu à fren-
te do que ele considerava ser um “tribunal de horror”.
adotou a nação, Os réus
classificados pela devassa geral, que se vai tirar,
sendo julgados pela Rela-

159
158
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
OS LIMA E SILVA COMBATEM A HIDRA DA ANARQUIA

Por carta imperial de 7 de março, d. Pedro mandou que fossem « pron.


que encontrou para o general comandante-em-chefe do Exército Coo-
tamente executados todos os réus que já estivessem sentenciados pela
perador da Boa Ordem foi o título de grão-cruz da Ordem do Cruzeiro,
Comissão Militar”. Aos réus pronunciados permitiu que fossem julgados
mesma graça com que premiou outros oficiais generais. Distribuiu, com
em foro ordinário e anistiou os que não tinham sido pronunciados. Dessa
mão larga, títulos nobiliárquicos e patentes do Exército. Mas Francisco
forma, no dia 21 de março, Francisco de Lima e Silva ordenou a execução
de Lima, ao contrário do que ocorreu com seus irmãos, após uma cam-
de Agostinho Bezerra Cavalcante e, no dia 12 de abril, mandou seguir
panha muito menor na Bahia, não seria promovido nem no Exército
para o patíbulo Antônio do Monte Oliveira, Nicolau Martins Pereira e nem na hierarquia da corte. Não se tornou ajudante-de-campo do im-
James Heide Rodges. Todos já haviam sido sentenciados.!27 perador e também não foi nomeado fidalgo da casa real. Continuou
com a patente de brigadeiro, e o único emprego encontrado para ele na
cidade foi o de comandante-geral de recrutas da Praia Vermelha, onde,
DESCONSIDERAÇÕES DO IMPERADOR ressentid o, teve de “sofrer 2.000 irlandeses ébrios”, integrant es de um
um
batalhão de mercenários lá alojado.'3! Para os coetâneos, O local era
Dos Lima e Silva só acompanharam a expedição a Pernambuco os dois depósito de “escravos brancos” ou, como preferiam alguns, de “vaga-
era
irmãos mais jovens do brigadeiro Lima — João Manoel de Lima e Silva bundos celerados”..!2 Se lembrarmos mais uma vez que O brigadeiro
e Luiz Manoel de Lima e Silva. Seu filho primogênito, Luiz Alves, per- dos Lima e consider armos o peso dessa posição na épo-
o primogênito
maneceu na corte, como capitão do Batalhão do Imperador. De qual- ca, é possível avaliar melhor a marca deixada por essas sucessivas des-
depois,
quer forma, ele deve ter acompanhado de muito perto todos esses considerações do imperador. Não foi por outro motivo que, anos
d. Pedro II lhe concedeu o título de barão da Barra Grande — ci-
acontecimentos, seja por cartas que seu pai certamente enviava da quando
de articulaç ão das forças imperiais em Pernambu co -, ele
província," seja pelo próprio impacto de suas atitudes na corte. José dade centro
quis fazer
Joaquim de Lima e Silva — irmão do brigadeiro e tio de Luiz Alves — era não reconheceu a mercê. Aceitou-a. Como bom súdito não
ao jovem imperador , mas nunca fez uso do título. Esse era
agora, depois de pacificada a Bahia, ajudante-de-campo do imperador e uma desfeita
que esperava ter recebido das mãos de d. Pedro I, pelos servi-
brigadeiro do Exército. Manoel da Fonseca de Lima e Silva — outro tio o prêmio
de Luiz Alves — era, também pelos serviços prestados na Bahia, moço ços prestados em 1825 na província.
pequenas desconsid erações não significa negar que
fidalgo da casa imperial e tenente-coronel do Exército.'2º Essas posições Reconhecer essas
seu lugar na corte do primeiro imperador . Mas
Francisco de Lima tivesse
lhes permitiam transitar pelo palácio imperial e ter acesso sobretudo à lugar. O desconte ntamento de d. Pedro
ajuda a precisar os limites desse
informações militares. ainda no ano de 1825, vea-
não o impediu de fazer do brigadeir o Lima,
D. Pedro, tão logo o brigadeiro Francisco de Lima retornou, mos- e, nessa posição — bastante
dor de semana da imperatri z d. Leopoldin a
trou a extensão de seu descontentamento. Mas, seguindo um padrão coube a ele apresenta r aos dignitários
prestigiosa, porém temporári a —,
cortesão de comportamento, não descarregou sua raiva em uma irrup- O recém-nas cido príncipe imperial."º
da corte, no Palácio São Cristóvão ,
aa pa Des paia e manifestou sua insatisfação em atitudes continua vam e, para percebê-l as, é pre-
As pequenas “punições ”, porém,
em calcFm
uladas.Bº A O abrir o cofre de suas graças, como normalmente de uma sociedade altamente hierarquizada.
ciso ficar atento às nuances
acontecia após uma campanha militar bem-sucedida, o único prêmio
161

160
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
OS LIMA E SILVA COMBATEM A HIDRA DA ANARQUIA

Seu concorrente em Pernambuco, o brigadeiro José Manoel de Morais dro para assumir interinamente o Comando de Armas da Corte e Pro-
logo depois da campanha, durante a qual não assumiu nenhum cargo de
víncia do Rio de Janeiro. Retornou. Não tinha completado um ano na
expressão, foi promovido a marechal-de-campo, em 1827, nomeado co.
corte, foi mais uma vez nomeado comandante de Armas de São Paulo.
mandante de Armas da Corte e da província do Rio de Janeiro e, em A razão dessa nova nomeação era a agitação provocada pelo assassinato
1828, tornou-se ajudante-de-campo do imperador. O brigadeiro Bento de Libero Badaró, redator do jornal liberal Observador Constitucional.
Barroso também foi bem recompensado. Depois de exercer o cargo de O jornalista liderava a oposição a d. Pedro entre os paulistas e, com sua
ajudante-general do Comando de Armas da Corte, foi escolhido, em morte, O clima político na província inspirava cuidado. Boatos envol-
1826, senador do império e, no ano seguinte, ministro da Guerra. Em viam o próprio imperador no evento. Dizia-se que o suposto mandante
contrapartida, depois que os irlandeses foram embarcados de volta para do crime, o ouvidor Cândido Japiaçu, teria contado com seu apoio para
seu país, atitude tomada pelo imperador após a sublevação do batalhão, executar a ação. O episódio exigia a presença na província de um gene-
Francisco de Lima não conseguiu outro emprego na cidade.!3* Foi nomea- ral moderado. D. Pedro lembrou-se, então, do brigadeiro Francisco de
do, por decreto de 5 de setembro de 1828, governador de Armas de São Lima. Além da habilidade que havia demonstrado em Pernambuco para
Paulo. Para um oficial superior, tenente-coronel ou coronel, sem o mes- negociar com as elites provinciais, alguns grupos liberais — como preten-
mo histórico do brigadeiro Lima, esse seria sem dúvida um posto impor- do mostrar no próximo capítulo — vinham se aproximando do brigadei-
tante. Também poderíamos considerá-lo positivamente, ou seja, como ro Lima. Este, percebendo a fragilidade política do imperador, decidiu
uma promoção, caso a província estivesse sublevada. Mas, fora dessas mostrar agora a extensão de sua mágoa: alegando que essas viagens
circunstâncias, a nomeação expressava ainda o descontentamento do constantes com toda sua família geravam muitas despesas, recusou for-
imperador com a independência com que Francisco de Lima agiu em malmente o cargo. Anos mais tarde, escreveu que essas nomeações para
Pernambuco. O posto era uma espécie de ostracismo. Longe da corte, ele São Paulo o faziam sentir-se um “joguete” em meio às “intrigas de al-
perdia todas as chances de se redimir por meio de novas demonstrações guns conselheiros do monarca”. Mais uma vez agiu de forma totalmente
de fidelidade e reverter os fatos a seu favor. De forma obediente, talvez independente. Optou por ficar na corte mesmo sem empreso, reduzido
arrependido, Francisco de Lima seguiu para a província e levou consigo ao simples soldo de sua patente. Vendeu alguns escravos para subsistir
toda a família, menos Luiz Alves. O rapaz ainda se encontrava em cam- com seus sete filhos, mas, como afirmou, se orgulhava de não ter cedido
uma
panha na Cisplatina e, mesmo que já tivesse retornado, após três anos de a “esses zangões do Estado”. Na sua opinião, todos eles agiam com
única e mesma intenção: “desmembrar a família Lima”.
2] " = 7a 136
= pit
= a

combates, não era momento de ele se afastar da corte. Apesar da derrota a co ma nd an te de Ar-
D. Pedro só vol tou a no me ar Fra nci sco de Lim
das forças brasileiras na guerra, tão logo voltou foi promovido a major ndo , ret orn and o de sua vi ag em a
mas da Corte em ma rç o de 183 1, qua
e, no ano seguinte, em 1829, condecorado com a Ordem da Rosa. Para fli tos € for tes de mo ns tr aç õe s de
Minas Gerais, enf ren tou div ers os con
voltar a ver sua família, teve de solicitar uma licença ao imperador — que . À rej eiç ão a seu gov ern o cre sci a e, com
hostilidade nas rua s da cid ade
lhe foi concedida em janeiro de 1829 — e viajar para São Paulo, onde ilu sit ano . Era mai s um pon to favorável ao
ela, um for te sen tim ent o ant
permaneceu, ao lado do pai, por um mês. 135 Fra nci sco de Lim a, bra sil eir o de nas cim ent o. Dia nte desse
brigadeiro
4 Egancisco de Rima corria toda a província organizando os corpos do a ace ita r ago ra 0 que não pôd e tol erar em
de quadro, d. Ped ro era obr iga
milícias. Pretendia descansar na capital quando foi chamado por d. Pe-
163

162
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO OS LIMA E SILVA COMBATEM A HIDRA DA ANARQUIA

1824, sobretudo em função das histórias que chegavam a seus Ouvidos e crer seus biógrafos."º À rede de relações que ia sendo tecida por meio do
lhe atingiam em cheio o ego — a independência do brigadeiro. Aquele deslocamento da família Lima pelo império nada tinha de harmônica.
imperador de 1822, político sensível, que cativava a oficialidade com sua O jovem Luiz Alves, a cada nova expedição organizada pela Coroa, mer-
capacidade de ocupar as praças, mostrava-se desde Pernambuco comple. gulhava em uma “comunidade de experiências” formada por combates
tamente inábil para gerir conflitos políticos. Do antigo chefe militar, po- armados, conflitos políticos, alianças locais e intrigas palacianas.? Foi
sição que lhe era garantida pelo direito dinástico, restavam apenas os o ingresso nessa “comunidade”, em seus mais diversificados aspectos,
descomedidos atos de força.!* que constituiu a base de sua formação militar.
Talvez ninguém tenha sentido mais o arbítrio do imperador que o
brigadeiro Lima. Ainda assim, não há como negar que os Lima viviam
um momento bastante especial em suas carreiras. Ocupavam importan-
tes postos militares na cidade e transitavam com certa facilidade na corte
de d. Pedro. O velho marechal José Joaquim de Lima, patriarca da famí-
lia, se ainda estivesse vivo, certamente ficaria orgulhoso de seus filhos,
O projeto a que tanto se dedicara começava a dar resultados. Mas não
era só isso. Ao combaterem a “hidra da anarquia”, os irmãos Lima se
firmavam nos altos círculos políticos da corte — e de algumas provín-
cias — como nomes centrais na articulação da unidade territorial e, por
conseguinte, na formação de um império brasileiro.
Os oficiais mais jovens da família Lima, entre eles Luiz Alves, tinham
assim uma iniciação privilegiada na carreira. Como vimos, a formação
de um oficial militar nessa época não passava nem pela aquisição de
conhecimentos técnicos específicos em uma academia militar, nem pela
incorporação de valores orientados por uma disciplina rigorosa. Apren-
diam na prática, à moda dos “tarimbeiros”, a combater e também à
negociar. Esse era um atributo fundamental para um militar do século
XIX, sobretudo em um império tão vasto como se pretendia o brasileiro.
Daí o esforço deste capítulo para recompor a complexidade da rede so-
cial e política na qual os Lima se encontravam inscritos nesses anos.
A formação de Luiz Alves se deu em meio a esses acontecimentos. Foi
com seus tios na Bahia e acompanhando, de longe, o drama vivido por
seu pai em Pernambuco, que o jovem oficial aprendeu a ser militar. Não
porque isso criasse a seu redor uma certa “aura”, como nos querem fazer
165

164
OS LIMA E SILVA COMBATEM A HIDRA DA ANARQUIA

NOTAS 13. Luiz Manoel de Lima e Silva, Guerra com as Províncias Unidas do Rio da Prata.
14. Para os estatutos da Real Academia Militar, uma obra de referência é a de Jehovah
Motta, Formação do oficial do Exército, p. 16.
15. Essa história pode ser inferida de um documento do AHM, que, apesar de só for-
necer dados para 1795, afirma que o oficial já assístia a cursos no ano anterior,
“Processos Individuais — Francisco de Lima da Silva, mapa dos nomes, idades e
observações dos alunos na nova Academia Militar do Rio de Janeiro, fixada em
novembro de 1795”, cota fundo 2, série 1, caixa 1, nº 36.
16. Sobre essas academias, Francisco de Paula e Azevedo Pondé, op. cit. Para o interes-
« Ver os registros de batismo depositados no ACMR]. Para o assento de Luiz Alves
se específico do conde de Rezende, p. 44.
de Lima, Igreja da Candelária, livro 9, f1.78.
17. A definição desses objetivos é uma interpretação dos estatutos da Real Academia Mili-
- Esses dados foram retirados da escritura de compra da fazenda, transcrito nas Pu-
tar feita por Oliveira Lima, op. cit. p. 162. Sobre as academias anteriores não Rá pes-
blicações Históricas do AN, vol. 36. quisas, quem as define como intermitentes é Jehovah Motta, op. cit., p- 12. nota 11.
« Sobre o local de nascimento das crianças e o nome dos parentes, ver Eugênio Vilhe- 18. As informações sobre o estatuto da Academia foram retiradas de Jchovah Morra,
No
na de Morais, Caxias!, lata 760, pasta 30 do IHGB, e Carlos Dantas e Carlos op. cit. Esse texto é referência obrigatória para quem trabalha com o tema.
Rheingantz, Achegas genealógicas à ascendência brasileira de Luiz Alves de Lima Celso
meio acadêmico, é importante destacar o trabalho pioneiro do antropólogo
sobre
e Silva. Castro sobre a Academia Militar das Agulhas Negras, que inclui um capítulo
As hostilidades a Joaquim Silvério são tão grandes que quase vinte anos depois da a história da instituição.
delação, quando ele retorna ao Brasil acompanhando a família real, não permane- 19. Celso Castro, O espírito militar, p. 106, grifo do autor
ce na cidade, estabelecendo-se com sua família no Maranhão. 20. “Livro de Registro e Matrícula da Real Academia Militar (1811-1822)”, do
« O biógrafo utilizado para essas informações é Joaquim Laranjeiras, Caxias. Nabu- AN - microfilme 001-1-75. oii
co de Araújo e o futuro visconde do Rio Branco também aprenderam as primeiras José Joaquim de Lima e Silva faleceu no dia 26 de abril de 1821, Eugênio Vilhena
21.
letras em casa. Ver, respectivamente, Joaquim Nabuco, Um estadista do Império, € de Morais, lata 760, pasta 30, do IHGB.
de Jchovah Morra,
Álvaro Lins, Rio Branco. Os livros de matrícula da Academia se encontram depo- 22. Todas essas citações, incluindo a do parágrafo anterior, são
sitados no AN, microfilme 001-1-75. Formação do oficial do Exército, p. 29-31.
partie de 1330,
« À fé-de-ofício de Caxias encontra-se no cofre do setor de manuscritos da BN, cota: 23. Só é possível fazer um trabalho mais sistemático com esses livros 2
mais regulares € completos. Para isso, há dois fundos: Fun-
49,2,14 nº 8. quando eles se tornam
AN. Um
Sobre o conceito de metamorfose social, ver Gilberto Velho, Projeto e metamorfo- do Ministério da Guerra — G3 e Ministério da EducaçãoaIE3, ambos no
se. exame da turma de 1811 é feito por Jehovah Motta, op. ait., p. 35, nora 38.
Silva e Manoel
8. O ofício dos oficiais acha-se no setor de manuscritos da BN, cota 11-34,25,30. 24. Integravam a junta em 1816: Francisco Shockler, João Manoel da
Jacinto Nogueira da Gama. A
a Sabina Loriga, Soldats, p. 108. A citação é uma tradução livre do francês. 19 de fev ere iro de 1816.
as as do par ágr afo estã o no ofíc io de
10. Adriana Barreto de Souza, op. cit., cap. 1, “A integração do alto oficialato”. 25. Essa citação e tod
3). am
11. Academia Real Imperial, Fundo Ministério da Guerra — IG3 2 (1816-1823), ofício Fundo Ministério da Guerra — IG3 2 (1816-182
o da Gue rra — IG3 2. O ofí cio a é de 28 de agosto de 1816.
de 19 de fevereiro de 1816. 26. Fundo Ministéri
Re
A última citação é do ofício de 1º de janeiro de 1
m Ex 81 E
= a o
” o = mm

12. Ao eclodir a guerra, em 1825, o Brasil já possuía uma esquadra numerosa no rio da
a a his tór ia é nar rad a pel a jun ta dir eto ra. Fun do Min ist éri o da pas -1IG32,
Prata. Tasso Fragoso chegou a dizer que se havia criado um “círculo de ferro” ao 27. Tod ea
ano
ofício de 20 de dez embro de 1816. A existencia de uma rurma de 7º
redor de Buenos Aires. Sobre as forças de terra, afirma que o imperador procedeu e ao faro de que os
Academia em seu sexto ano de funcionamento deve-s
a um “recrutamento geral e rigoroso”, Ver Tasso Fragoso, A Batalha do Passo do bas e de mat emá tic a ele men tar fic ava m ise nto s das aul as do 1º ano.
com boa
Rosário, p. 186- 209, respectivamente,

167
166
ne

DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO


OS LIMA E SILVA COMBATEM A HIDRA DA ANARQUIA

28. Excetuando-se a referência ao funcionamento da burocracia real, todo o res


to con.
tinua seguindo o ofício de 20 de dezembro de 1816. 45. Gladys Sabina Ribeiro, A liberdade em construção. Sobre as insígnias, p. 53; para
29. Fundo Ministério da Guerra — IG3 2, ofício de janeiro de 1818. O mapa está ane. a citação, p. 7/5.
xado a este ofício. 46. Wanderley Pinho, “A Bahia: 1808-1856”.
30. O documento foi reproduzido por Francisco de Paula e Azevedo Pondé, op. Cit., p. 69 47. Cartas de Silvestre Pinheiro Ferreira sobre a situação política do Brasil, apud Gla-
31. Fundo Ministério da Guerra — IG3 2, ofício de 11 de julho de 1818. dys Sabina Ribeiro, op. cit. p. 49.
32. Documento: reproduzido por Francisco de Paula e Azevedo Pondé, op. cit., p. 79 48. Coleção de Leis do Brasil, decreto de 18 de janeiro de 1823.
No lugar da palavra “desenho” aparece dezembro. Mas certamente se trata 49, Fundo Ministério da Guerra — IG1 249. Toda descrição se encontra no ofício de 20
de a
erro tipográfico. À continuidade da história mostra isso. de fevereiro de 1823.
33. Todos os dados e citações deste parágrafo foram extraídos do Fundo Mini 50. Fundo Ministério da Guerra — IG1 114, ofício de 24 de março de 1823.
stério da
Guerra — IG3 2, ofício de 11 de julho de 1822. 51. Fundo Ministério da Guerra — IG1 249, proclamação do general Pedro Labatut de
34. Fundo Ministério da Guerra — IG3 2, ofício de 11 de julho de 1822. O 28 de março de 1823.
problema da
falta de material no ano 1813 é mencionado no ofício de 18 de março 52. Fundo Ministério da Guerra — IG1 249, ofício de 20 de fevereiro de 1823.
de 1813. Há 53. Fundo Ministério da Guerra — IG1 114, ofício de 24 de março de 1823.
ainda outros ofícios desse mesmo ano e do ano seguinte, 1814, reclaman
do do 54. Fundo Ministério da Guerra — IG1 249, ofício de 31 de março de 1823.
mesmo problema.
55. Fundo Ministério da Guerra — IG1 249, ofício de 10 de fevereiro de 1823.
Da Fundo Ministério da Guerra — IG3 2, ofício de 10 de novembro de 1818. Ver tam-
56. Fundo Ministério da Guerra — IG1 249, ofício de 13 de março de 1823.
bém os documentos anexos.
57. Sobre essas intrigas, ver Fundo Ministério da Guerra — IG1 249, ofícios de 10 e 18
36. Fundo Ministério da Guerra — IG3 2, ofício de 21 de março de 1820. Essa decadên-
de fevereiro de 1823.
cia já era apontada pela junta em 1º de janeiro de 1819.
58. O reconhecimento de seu fracasso pode ser visto no Fundo Ministério da Guer-
Sid Toda essa história da “recepção aos novatos” consta no ofício de 21 de março de
ra — IG1 249. Ofícios de 13 de março e 7 de abril 1823.
1820 e em seus anexos.
59, Referência obrigatória para quem trabalha com Exército no século XIX é Hendrik
38. Fundo Ministério da Guerra — IG3 2, ofício de 19 de julho de 1820. Kraay, Op. cit., cap. 3.
SA Fundo Ministério da Guerra — IG3 2, ofício de dezembro de 1820. 60. Apud idem, p. 486. A tese e o livro que dela resultou estão em inglês. À citação €
40. Conforme destaca lara Lis Carvalho Souza, a Praça do Comércio não era propria- uma tradução livre.
mente uma praça. Era um edifício construído por comerciantes portugueses, bra- 61. Fundo Ministério da Guerra — IG1 114, ofício de 23 de fevereiro de 1823.
sileiros e ingleses, entre as Ruas da Alfândega, do Sabão e do Alecrim, com um 62. Para as informações que compõem essa história, ver Fundo Ministério da Guer-
dos lados voltados para o março A Rua da Alfândega ainda existe, a Rua do Sa- ra IG1 114, ofícios de 22 e 28 de maio de 1823. Um bom resumo baseado nesses
bão foi demolida para dar lugar à Avenida Presidente Vargas e a Rua do Alecrim documentos pode ser encontrado em Wanderley Pinho, op. cit. p. 266.
é a Rua Buenos Aires. Ela destaca ainda a importância das praças na celebração 63. Livro de Ordens do Dia do Batalhão do Imperador — códice 275, p. 32, ordem do
do contrato social entre d. Pedro e a elite. Ver Iara Lis Carvalho Souza, Pátria dia de 27 de maio de 1823.
coroada, p. 100. 64. Essa suspeita já foi apontada por Inácio Accioli Cerqueira da Silva, Memória histó-
41. Os fatos acima são narrados detalhadamente por Lúcia Maria Bastos Pereira das rica e política da província da Bahia, p. 4.
Neves, Corcundas e constitucionais, p. 252-254, e por Iara Lis Carvalho Souza
, 65. Livro de Ordens do Dia do Batalhão do Imperador, códice 275, p. 34. ordem do dia
op. cit., cap. 4, entre as p. 84-106. de 28 de maio de 1823. ;
42. Sobre os professores, ver Jehovah Motta, op. cit., p. 66. Fundo Ministério da Guerra — IG1 114, anexo do ofício de 2$ de maio de 1823.
37, nota 30.
43. Jara Lis Carvalho Souza, op. cit. Sobre a formação de um império 67. Livro de Ordens do Dia do Batalhão do Imperador — códice 275, p- 63, ordem do
do Brasil, p. 128;
e sobre a imagem militar de d. Pedro, p. 174. dia de 7 de junho de 1823.
- Foi graduado coronel em junho de 1822. Ver 68. Toda a história está no jornal O Independente Constitucional, de 2 de agosto de
Alfredo Pretextato Maciel, op. cit.» 1823, “Artigo d'ofício”.
entrada nominal.

169
168
e

DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO


OS LIMA E SILVA COMBATEM A HIDRA
DA ANARQUIA

69. Esta citação, a do parágrafo anterior e a declaração sobre o afastamento


d
Lima e Silva estão no Livro de Ordens do Dia do Batalhão do Imperado 85. Ulisses Brandão, A Confederação do Equador, p. 234.
É — Códice “Suplício do Caneca”, por uma testemunha ocular
275, p. 120-121, ordem do dia de 2 de agosto de 1823. B6. , in RIHGEB, tomo 51 — suple-
70. Esta citação e a anterior estão no anexo ao ofício de 16 de setembro de 1 mento 1888, vol. 78, p. 121.
tado de 5 de setembro, Fundo Ministério da Guerra — IG1 249. 823 3 da- 87. Uma narrativa detalhada desses combates pode ser encontrada em Ulisses Brandão,
op. cit., cap. XV.
71. Fundo Ministério da Guerra — IG1 249, ofício de 11 de outubro
de 1823. 88. A expressão é de Evaldo Cabral. Por meio dela, ele discute esses interesses intra-
72. Fundo Ministério da Guerra — IG1 249, anexo de 6 de sete
mbro de 1823. regionais, identificando o que chama “facção pernambucana da corte” e o senti-
73. Sobre essas negociações, ver Fundo Ministério da Guerra —
IG1 249, ofício de 6 mento monárquico dos habitantes do interior da província. Evaldo Cabral de Me-
7 de setembro de 1823.
llo, op. cit.
74. Esta expressão e a última citação do parágrafo anterior estão
in Fundo Ministéri 89. O drama vivido pelos rebeldes após os sucessos do dia 12 é narrado com detalhes
da Guerra — IG1 249, ofício de 11 de outubro de 1823.
à por Ulisses Brandão, idem, cap. XVI.
75. Fundo Ministério da Guerra — IG1 114, ofício de 22 de outu
bro de 1823, e anex 90. Uma narrativa detalhada desses embates pode ser encontrada em alguns ofícios do
datados de 9 e 10 outubro de 1823. , po brigadeiro Lima no códice 745, vol. 3, do AN. O texto-documento redigido pela
76. Todas essas considerações, inclusive as do parágrafo
anterior, estão em Inácio Ac- Câmara de Olinda foi reproduzido por Ulisses Brandão, idem, p. 253.
cioli Cerqueira e Silva, op. cit., p. 110-120. 91. Evaldo Cabral de Mello é um dos autores que apontam essa insatisfação do impe-
77. Ajudante-de-campo era o oficial que levava as ordens dos generais rador. Ver, para isso, a p. 46 da introdução citada. Uma interpretação bastante
e as distribuía
sem alteração entre os demais oficiais. curiosa desses fatos é apresentada pelo clássico Anais pernambucanos. Sem conse-
78. Para José Joaquim de Lima e Silva, ver a portaria de 17 de fevereiro de 1824 guir dar um lugar muito preciso para alguns ofícios do brigadeiro que solicitavam
da
Coleção de Leis do Brasil e o códice 15 — livro 10, fl. 73v do Arquivo Geral de perdão para certos condenados, o texto acaba inocentando-o por completo e trans-
Mercês e Graças Honoríficas. Nesse arquivo, está também a condecoração de Ma- ferindo toda a responsabilidade das execuções para os demais oficiais que integra-
noel da Fonseca, códice 15, livro 10, fl. 73. A carta patente concedida a João Ma- vam a Comissão Militar, portugueses de nascimento como o imperador, Francisco
noel de Lima está no Livro de Ordens do Dia do Batalhão do Imperador, códice Augusto Pereira da Costa, Anais pernambucanos. Ver vol. 9, p. 153.
275, p. 195, ordem do dia de 18 de fevereiro de 1824. 92. Carta imperial de 16 de outubro de 1824, setor de Manuscritos, BN, cota II-
79. À carta patente concedida a Luiz Alves de Lima está no Livro de Ordens do Dia do 32,1,26.
Batalhão do Imperador, códice 275, p. 195, ordem do dia de 18 de fevereiro de 93. As cláusulas desse “ajuste de capitulação” são descritas por Ulisses Brandão,
1824, e, para o documento citado, apud Joaquim Pinto de Campos, op. op. cit., p. 254-255.
cit.; p. 35;
nota 2. 24. Ofício de 18 de setembro de 1824, códice 745, vol. 3 - AN. Esse documento é
80. Somente em 1850 a Academia começou a aparecer como pré-requisito para atingir transcrito por Ulisses Brandão, idem, p. 239.
o oficialato e, mesmo assim, a lei foi implantada de forma progressiva e bastante DS. Todas essas citações foram retiradas do ofício de 28 de setembro de 1824, setor de
lenta. Ver Celso Castro, O espírito militar, p. 112. Manuscritos da BN, cota 1-31,22,1.
81. À imagem era comum na época. Esta frase em específico foi retirada 26. Ofício de 3 de outubro de 1824, setor de Manuscritos da BN, cota 1-31,22,1.
de uma pro- 97. Ofício de 3 de outubro de 1824, setor de Manuscritos da BN, cota [-31,22,1.
clamação do comandante de Armas da Bahia de 20 de setembro de 1823,
Fundo 98. Ofício de 28 de setembro de 1824, setor de Manuscritos da BN, cota [-31,22,1.
Ministério da Guerra — IG1 249.
82. Todas essas informações estão em Amaro 99. Essas citações foram extraídas da carta de Manoel de Morais de 18 de outubro de
Quintas, agitação republicana no
“A 1824, cota I-POB, 18.10.824, mor. C. 1-15, no AHML
Nordeste”, p. 228.
83. Esse paralelo é de Evaldo Cabral de Mello, “Frei Caneca ou a Outra Independên- 100. Esta citação e a anterior foram extraídas da Carta Imperial de 16 de outubro de
1824, setor de Manuscritos, BN, cota Il- 32,1,26.
cia?, in Frei Joaquim do Amor Divino, p.
46. 101. Essas expressões estão na carta de Manoel de Morais de 18 de outubro de 1824,
84. Tença era uma pensão temporária
ou vitalíc ia concedida a alguém como prêmio cota I-POB — 18.10.824 —- mor. €C. 1-15, no ARML.
por serviços prestados.

171

170
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
OS LIMA E SILVA COMBATEM A HIDRA DA ANA
RQUIA

102. Toda essa história é narrada na mesma carta de Manoel de Morais, cota: |
— 18.10.824, mor. C. 1-15, no AHMI. POB 121. Para recompor a data e o conteúdo desses ofícios foram utilizados os ofícios-res-
103. Esses artigos são descritos por Ulisses Brandão, op. cit., p. 254-255.
posta enviados da corte para o brigadeiro Lima. Todos estão reproduzidos na obra
104. Carta de Francisco de Lima a Luiz José de Carvalho de 13 de Ulisses Brandão, op. cit., p. 268-271.
de fevereiro de
setor de Manuscritos, BN, cota 63,4,1 1825
, — nº 69. 122. Ulisses Brandão, op. cit., p. 269.
105. Essas narrativas estão em dois documentos anônimos no setor de
Manuscritos da 123. Essas citações foram extraídas de uma carta enviada pelo brigadeiro Lima a um ami-
BN, “Expedição a Pernambuco em 1824”, cota II- 32,1,5, e go na corte, Luís José de Carvalho, setor de Manuscritos da BN, cota 63,4,1 nº 69.
“Pernambuco, 1824»
cota 11-32,1,1.
124. O documento é citado por Ulisses Brandão, op. cit., p. 273-274, Enfases da autora.
106. Essa interpretação é baseada nas | reflexões de Norbert Elias, 125. Sobre a trajetória de Luiz José de Carvalho, ver J. Galante de Sousa, op. cit., a en-
A sociedade de corte.
107. Octávio Tarquínio de Sousa, História dos fund trada é nominal.
adores do I mpério do Brasil, vo
3., p. 574. l
126. A citação foi extraída da carta já citada, setor de Manuscritos da BN, cota: 63,4,1
108. Essas relações de Francisco de Lima são destacadas po nº 69. Enfase da autora.
r Manoel de Morais em car.
ta de 18 de outubro de 1824, AMI, 11.51, D.2424. 127. Francisco Augusto Pereira da Costa, op. cit.
109. Ofício de 1º de novembro de 1824, divisão de 128. Como foi dito na Introdução, não há um arquivo da família. Mas as cartas que
manuscritos, da BN, cota 131, 22.
110. Carta do brigadeiro José Manoel de Morais a
Francisco Gomes da Silva, cota I- encontrei para períodos mais avançados, no setor de manuscritos da BN e no
POB — 26.11.824, mor. C, no AHMLI. IHGB, permitem imaginar que elas possam ter existido também para esses anos.
111. Sobre as instruções, ver o ofício do brigadeiro Fra
ncisco de Lima e Silva para 0 129. Alfredo Pretextato Maciel, op. cit., entrada nominal. Moço fidalgo era foro por
ministro da Guerra, datado de 30 de no
vembro de 1824, códice 745, vol. 3, no meio do qual o rei filiava algumas pessoas para seu serviço. Têm maior graduação
AN. Desde outubro, d. Pedro já havia suspendido aqueles que são moços fidalgos em exercício. |
os direitos constitucionais na
província e mandado criar uma Comissão Milita
r. Ver Coleção de Leis do Brasil, 130. Sobre comportamento e sensibilidade em uma sociedade de corre, Norbert Elias,
decreto de 5 de outubro de 1824. op. cit. capítulo sobre etiqueta e cerimonial.
112. Todas as citações e expressões deste parágrafo
e do anterior foram extraídas da 131. E ceccesiniaa foi expresso em uma carta ao imperador d. Pedro Il de 25 de
carta do brigadeiro José Manoel de Mor dezembro de 1841, maço 103, doc. 5.064, do AHML |
ais a Fra ncisco Gomes da Silva, cota I-
POB — 26.11.824, mr. C, no AHMI 132. Esses termos encontram-se em Juvêncio Saldanha Lemos, Os Mercenários do Im-
113. Esse voto encontra-se no AMI, POB, 26.01. perador. Ver, respectivamente, p. 369 e DA da
824, mor. C.
114. Ofício de 27 de setembro de 1824, destinado ao
ministro do império, setor de Ma-
133. Hélio Viana, “Os imperadores e os Lima e Silva”. Veador ou vedor era o mordomo
ser
nuscritos da BN, cota 1-31,22,1. Para todas essas opiniões de Manoel da casa real, responsável pela inspeção e provedor do necessário. O cargo podia
de Morais, à de Lima,
referência continua sendo AMI POB, 26.01.824, ocupado por um período determinado, como ocorreu com Francisco
mor. C.
115. Essas atas podem ser encontradas no AMII-POB, 26.01. nomeado veador da imperatriz para a semana em que ela daria à luz o prndipe
824, mor. €. am Fa
116. Ofício de Francisco de Lima e Silva para O ministro da 134. Sobre a sublevação dos irlandeses, ver Juvêncio Saldanha Lemos, Ee
Guerra, datado de 30 de No com te
novembro de 1824, códice 745 imperador, e o documento I1-34,16,12 no setor de Manuscritos da BN.
» Vol. 3, no AN, isco de Lima foi recon hecid a publicamen-
117. Itinerário que fez frei Joa à revolt a dos irland eses, a atuaç ão de Franc
quim do Amor Divino Caneca, saindo de Pernambuco à da BN.
16 de setembro de 1824 te. Ver Diário Fluminense de 25 de junho de 1828, setor de obras raras
» para a província do Ceará Grande, in Evaldo Cabral de nte de majo r acha -se no decr eto de 2 de dez emb ro de 1828 , com antiguidade
Mello, op. cit., p. 599. 135. A pate
de out ubr o daqu ele mes mo ano. Com o havi a dito, não dis pon ho de informa-
118. Uma cópia dessas cartas de 12
imperiais encontra-se na Divisão de Manuscritos da BN, guer ra. O padr e Pint o de Cam pos aii que a
cota [-31,22,1. ções sobr e sua part icip ação ness a
s teria real izad o no Sul um gran de ato de brav ura. Uma noit e, ... à testa de
119. Ofício do brigadeiro Francisc Alve ; Ei-
o de Lima e Silva para o ministro as
de 31 de dezembro de 1824, da Guerra, datado um punhado de homens resolutos, atravessou à galope e sem ser pressentido
códice 745, vol. 3, no AN ri que costumavam Iinterceptar E barcações sã
120. Alguns desses testem . nhas orientais” para atacar corsários
unhos estão publicados em José Murilo de Carvalho, op. cit.» imperiais e lhes roubar petrechos e gêneros ê do Exército.
ÉrCI Cercou-os e fez a todos
item 10, sobre o processo de
frei Caneca.

173
172
pa

DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

prisioneiros. A informação, porém, é de difícil avaliação. O padre não faz qualqu


menção ao modo como a teria obtido, não cita documentos nem
depoimentos
pessoais. Ver Joaquim Pinto de Campos, op. cit., p. 37. À condecoração
da Ordem
da Rosa acha-se no decreto de 18 de outubro de 1829. Para sua licença e viagem a
São Paulo, ver sua fé-de-ofício em 49,2,14 nº 8, setor de Manuscritos da BN.
136. Essas declarações de Francisco de Lima estão em uma carta a d. Pedro Il de 25 de
dezembro de 1841, maço 103, doc. 5.064, do AHMI.
137. Iara Lis Carvalho de Souza, op. cit., p. 174.
138. Todas as biografias do duque de Caxias escritas até hoje, por seu caráter laudatório, UI Luiz Alves no laboratório político da corte:
utilizam esse dado sobre a família para criar a idéia de um jovem predestinado à
carreira das armas, transformando o fato em um sinal de sua natureza especial. Q um tr enamento intensivo na preservação
termo “aura”? é de Joaquim Pinto de Campos, op. cit., p. 32. das fr onteir as SO ciais
139. O termo “comunidade de experiências” foi cunhado por Jacques Revel para
expli-
car as contribuições dos historiadores da micro-história para a história social. Ver
Jacques Revel, op. cit., p. 22.
Corte do Rio de Janeiro, dia 6 de abril de 1831. As três horas da tarde,
uma multidão de três a quatro mil pessoas se aglomerava ao lado do
Paço da Câmara, no Campo da Aclamação. Os ânimos estavam exalta-
dos. Aliás, as ruas da corte viviam sob estado de tensão desde a famosa
noite das garrafadas. Insultos e pancadarias trocados entre brasileiros e
portugueses exprimiam o forte sentimento de desconfiança da população
sobre as intenções de d. Pedro. Os boatos não cessavam. Nestes últimos
dias, falava-se na preparação de um golpe absolutista, na suspensão de
direitos, no fechamento do Parlamento e da imprensa. Grupos se forma-
vam a cada instante, em diversos pontos da cidade, para dar vivas à
Constituição e à Independência e, logo em seguida, com rapidez, se dis-
persavam. Articulações políticas estavam em curso quando a substitui-
ção do ministério dos brasileiros, na noite do dia 5, por um novo ga-
binete, composto basicamente de portugueses, precipitou Os aconteci-
mentos. Foi para dar um basta às arbitrariedades do imperador e exigir
a reintegração do ministério que pessoas de diferentes condições sociais,
de várias partes da cidade, ocuparam o campo em que, anos antes,
d. Pedro havia sido aclamado.
A multidão aí aglomerada reclamava a presença dos juízes de paz das
diversas freguesias da cidade. Às quatro horas da tarde, chegou o primei-
ro deles, o juiz da freguesia de Santana, Custódio Xavier de Barros. Rea-
lizouum breve discurso e, depois, recolheu-se assustado ao Quartel-General
de Infantaria para aguardar a chegada dos demais. No quartel, localizado
no mesmo campo, foi recepcionado pelo recém-nomeado comandante de

177
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE

Armas da Corte, o brigadeiro Francisco de Lima. Ali discutiram 0 mo.


No Campo da Aclamação, ao ouvir o relato dos juízes, a multidão
vimento, e o brigadeiro Lima decidiu enviar o sargento-mor Miguel rompeu em alaridos, de forma a que só se ouvia: “Morra o traidor! Está
de Frias e Vasconcelos, deputado do ajudante-geral, ao Paço de São
Cris. descoberta a traição! Às armas, cidadãos!” Ante tanta animosidade, O
tóvão. Sua missão era avisar o imperador do estado em que se achava brigadeiro Lima decidiu ir ele mesmo falar ao imperador. Mas seu esfor-
o Campo da Aclamação. Lá chegando, o oficial expôs os fatos a d. Pedro ço foi em vão. D. Pedro parecia acreditar que o ajuntamento popular era
e ouviu dele que estava preparado para receber a delegação de Juízes pequeno e que com alguma força conseguiria dissolvê-lo. Francisco de
de paz. Só tinha uma ordem a dar: que Francisco de Lima mantivesse Lima voltou então para a cidade. Aí chegando, foi informado de que o
q
controle sobre a tropa. 1º e o 2º Corpos de Artilharia de Posição haviam deixado seus quartéis
O jovem oficial ainda estava no paço quando uma proclamação, e que, reforçados por paisanos, tendo à frente o comandante geral de
emitida por d. Pedro antes de sua chegada a São Cristóvão, foi recebida Artilharia, brigadeiro Francisco de Paula e Vasconcellos, já se achavam
por Francisco de Lima no quartel-general. Após ler o documento, o bri- em armas no campo. Aí também já estava o 1º Batalhão de Granadeiros.
gadeiro chamou o juiz de paz Custódio Xavier de Barros e pediu que Todos tomavam posição entre o Paço da Câmara e o quartel-general.
seguisse a orientação nele contida. O imperador ordenava que suas pa- Tudo isso foi de novo comunicado ao imperador. Agora, pelo capitão
lavras fossem transmitidas ao povo. Dirigindo-se ao campo, O juiz ini- gentil-homem de sua câmara, Luiz Pinto Guedes, ajudante-de-ordens do
ciou a leitura do texto. Mas ao pronunciar as palavras “confiai em mim brigadeiro Francisco de Lima, e por este enviado direto ao paço. D. Pe-
e no ministério”, a proclamação foi arrebatada de sua mão e rasgada. dro, entretanto, permanecia inflexível. Enquanto isso, O Batalhão do Im-
Ãos gritos, a multidão exigia que o juiz partisse de imediato para São perador, que se achava de guarda no Paço de São Cristóvão, percebendo
Cristóvão. Nesse momento, dois outros juízes de paz já se encontravam a proporção que o movimento ganhava, abandonou o posto e, às onze
no campo, o juiz da freguesia de São José, Manoel Theodoro Ferreira de horas da noite, chegou ao campo. À frente do batalhão vinha seu co-
Araújo e Azambuja, e o juiz da freguesia do Sacramento, padre Moreira. mandante, o coronel Manoel da Fonseca Lima e Silva, acompanhado de
seu irmão, o brigadeiro e ajudante-de-campo do imperador José Joa-
Por volta das cinco e meia da tarde, os três deixaram o campo com uma
quim de Lima e Silva. Pouco depois, chegariam ainda os 3º e 26º Bata-
requisição do povo. Em São Cristóvão, foram admitidos na sala de cum-
lhões de Caçadores e o Corpo de Artilharia da Marinha.
primentos pelo imperador, que os recebeu sob o dossel de seu trono.
Diante da presença maciça das tropas e de parte da oficialidade no
Custódio Xavier de Barros, como juiz da freguesia onde se desenrolavam
Campo da Aclamação, inclusive de seus irmãos, Francisco de Lima tor-
os acontecimentos, antecipou-se aos demais, entregou a requisição à d.
nou a enviar o sargento-mor Miguel de Frias e Vasconcelos a São Cristó-
Pedro e o informou de que o povo reunido no Campo da Aclamação
vão. A essa altura, a adesão do brigadeiro ao movimento era certa. Mas,
exigia a reintegração do ministério dos brasileiros.
ainda assim, cumpria seu dever como comandante de Armas da Corte e
D. Pedro, irritado, em mais uma atitude pouco política, mandou di-
tentava fazer d. Pedro perceber seu total isolamento, político e militar.
zer que O ministério anterior não merecia sua imperial confiança, que seu
Embora já passasse da meia-noite, o imperador ordenou que se chamas-
poder era constitucional e que marchava segundo a Constituição. EM
se o senador Nicolau de Campos Vergueiro ao paço. Tinha tomado uma
frase famosa, teria dito ainda aos juízes de paz: “Se o povo não me acré- resolução: não cederia às exigências do povo e, desse modo, não reinte-
dita, eu não acredito no povo, tudo para o povo e nada do povo.”
179

178
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE

graria o antigo ministério, porém aceitava compor um outro, mais ao


gosto dos brasileiros. Pediu, assim, que Miguel de Frias aguardasse Lima e a outros oficiais foi entregue uma espada. Por fim, fechando a
chegada do senador Vergueiro, a quem encarregaria da Organização E cerimônia, O prestigiado brigadeiro presenteou o imperador menino com
gabinete. Foi nesse momento que o major do 1º Corpo de Artilharia
uma palma de flores.
Teve início então uma grande parada. Todos os oficiais, desarmados,
Montada entrou na sala para avisar ao imperador que o comandante
precedidos do bravo brigadeiro Francisco de Lima e de braços dados
João Carlos Pardal, um dos generais responsáveis pelo fechamento da
com os paisanos, em sinal de unanimidade de sentimentos, marcharam,
Assembléia Constituinte em 1823, temendo represálias, decidiu marchar
seguidos pela tropa, para o Te Deum na Igreja São Francisco de Paula.
para o campo, no que seria seguido pela Guarda de Honra. Talvez só
Das janelas dos sobrados, pelo caminho, pessoas recitavam poemas pa-
então d. Pedro tenha entendido o que se passava. Eram duas horas da
trióticos e cantavam hinos cívicos. Homenagens que eram entrecortadas,
manhã. O sargento-mor Miguel de Frias avisou que não podia mais es-
a todo o instante, por vivas a d. Pedro II.
perar, que sua demora poderia levar ao rompimento das tropas no cam-
po. Como não se localizava o senador Vergueiro, d. Pedro, orientado O relato desses acontecimentos foi impresso pela primeira vez ainda em
por seus ministros, decidiu lavrar o decreto de abdicação. 1831. Ele serve de base a todas as narrativas posteriormente escritas so-
Divulgada a notícia no Campo da Aclamação, povo e tropa prorrom- bre a abdicação de d. Pedro. Poucas vezes, no entanto, os dados nele
peram em festa. Comemoravam dando vivas ao sr. d. Pedro II, imperador contidos foram minuciosamente explorados.? A presença do brigadeiro
constitucional do Brasil. Francisco de Lima, prontamente, mandou trans- Francisco de Lima na orquestração dos acontecimentos, por exemplo, é
mitir a todas as tipografias da cidade, pelo secretário do Comando de Ar- um desses aspectos pouco narrados.? Ele esteve à frente das negociações
mas, cópias do decreto de abdicação do imperador. Naquela mesma manhã com d. Pedro desde o início do movimento. As idas e vindas de emissários
do dia 7 de abril, os deputados presentes na corte imperial se reuniram para e a decisão de ir pessoalmente ao Palácio São Cristóvão mostram sua
eleger uma regência trina e provisória. O brigadeiro Francisco de Lima e preocupação, compartilhada pelos políticos moderados, de que tudo
Silva, ao lado dos senadores Nicolau Pereira de Campos Vergueiro e mar- ocorresse sem quebra da hierarquia social e militar.” À direção que o bri-
quês de Caravelas, era eleito para a Regência do Império do Brasil. gadeiro exerceu garantiu a vitória da moderação. Esse fato foi festejado
Povo e tropa, dias depois, continuavam comemorando. Nem mesmo por grande parte da elite da época. Uma revolução exemplar e superior à
com a partida de d. Pedro, no dia 13, deixaram o Campo da Aclamação. francesa — diziam os contemporâneos —, porque feita sem derramamento
Uma celebração oficial foi então convocada para o dia 15. O brigadeiro de sangue. Não à toa, no dia 7 de abril, Francisco de Lima foi eleiro para
Francisco de Lima procedeu a um convite geral. No palacete situado no a Regência Trina Provisória e, em junho do mesmo ano, era o nome mais
meio do campo, palco central dos acontecimentos, teve início a come- votado para a Regência Permanente. Com sua manutenção no governo,
moração. Desse prédio, o futuro imperador d. Pedro Il e os regentes as- tentava-se controlar a oficialidade e as tropas e, dessa maneira, manter a
a despedida da tropa, que deixava ordenadamente O campo. Os ordem em uma cidade há meses agitada por conflitos émicos, políticos e
por um forte sentimento antilusitano. Essa tarefa o brigadeiro dividiu
juízes de paz da cidade, montados a cavalo, se colocaram em frente ao
com seus irmãos. No mesmo dia 7 de abril, o brigadeiro José Joaquim de
palacete. Cada um deles tinha no ombro esquerdo uma coroa cívica;
Lima, então ajudante-de-campo de d. Pedro, assumiu o Comando de Ar-
oferecida em nome da “nacã
a nação agradecida”, Ao brigadeiro Francisco de

180
pa”

DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO


LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE

mas da Corte, deixado por Francisco. Três meses depois, outro dos ;
da Fons eca de Lima , ante s no com and o do Bara lti sete anos, Luiz Alves passou a ocupar um lugar importante no sistema
mãos Lima, Manoel
do Imperador, assumiu nada menos que o Ministério da Guerra. policial da cidade. Essa guarda, criada pela Regência, correspondia ao
É
Luiz Alves de Lima era um homem de sorte. Aos 27 anos, via 0 pai que hoje seria a Polícia Militar. Luiz Alves, durante todos esses anos,

assumir a direção política do império e dois tios seus, os Prin circulou, cotidianamente, entre os diferentes mundos que compunham
cipais pos- essa sociedade. Além disso, atuava nas ruas, lugar onde eles se entrecru-
tos militares. Os anos seguintes à abdicação não foram menos
agitados zavam. Tudo isso enfrentando uma forte oposição política. Ao final dos
que os meses que a precederam. As ruas e as praças da cort
e foram to- dois primeiros anos de comando, ganhava o reconhecimento de várias
madas por sucessivos levantes até 1833. Neles, misturava
m-se soldados autoridades. Daí a idéia de laboratório. À expressão, cunhada por Ilmar
oficiais, negros, mulatos e partidários de um liberalismo radical.
e Mattos, é proposta para pensar a província fluminense como local onde,
o major Luiz Alves de Lima tomou parte na repressã
o a vários desses desde 1834, os políticos conservadores testavam algumas medidas que
movimentos. Em outubro de 1832, foi nomeado com
andante da Guarda seriam aplicadas em seguida à administração geral. Aproprio-me dela
de Municipais Permanentes, força militar criada pela
Regência para fa- para sugerir que não testavam apenas medidas, mas também treinavam
zer frente a esses conflitos. Ele permaneceu no posto por sete
anos, só 0 pessoas. Após esse longo “estágio” à frente da guarda, o tenente-coronel
deixando em dezembro de 1839, para assumir o comando
das forças Lima foi nomeado pela Regência conservadora de Araújo Lima para
organizadas para combater os balaios no Maranhão. comandar a Divisão Pacificadora do Norte. Jovem, eficiente defensor da
Ilmar Mattos destaca a experiência desses conflitos como chave para ordem e oriundo de uma família de militares monarquistas, Luiz Alves
a compreensão da formação da identidade política daqueles que vivi de Lima havia sido aprovado na defesa do princípio monárquico e no
am
no império do Brasil. Uma época de sonhos frustrados e intenções trans- controle das fronteiras sociais da capital do império.
formadas em ações vitoriosas. Este capítulo conta a história desses con-
flitos, das ações e reações de grupos políticos e de uma massa anônima
que habitava a cidade — identificada apenas como “povo e tropa” — para O CONGRAÇAMENTO FUNDADO NO MEDO
entender não as estratégias dos rebeldes, mas as dos repressores. Acredi-
to que ao participar da repressão a esses levantes ao lado do pai e dos A abdicação do imperador criou uma “política de congraçamento” na
tios, bem como de figuras como Diogo Antônio Feijó, Evaristo corte.” Ainda no Campo da Aclamação, em meio à multidão, divergên-
da Veiga
e Bernardo Pereira de Vasconcellos, Luiz Alves de Lima foi submetido a cias políticas eram facilmente percebidas. No momento em que a mulri-
um treinamento intensivo. O jovem oficial que na década anterior, CltCu dão arrancou das mãos do juiz de paz Custódio Xavier de Barros a
-
lando pelas províncias, aprendia a defender o princípio monárquico de proclamação assinada por d. Pedro, entre os gritos de “morra O traidor”,
uma Coroa sediada no Rio de Janeiro, ao mergulhar — como ocorreu podiam-se ouvir também diferentes vivas. Os exaltados davam vivas
nesses anos — nos conflitos que tomavam as ruas da corte, descobria à à federação e à república. Os vivas ao príncipe eram dados pelos mode-
importância de preservar outro elemento herdado dos tempos coloniais: rados, em uma clara disputa pelo apoio político da multidão. À aproxi-
o sistema de hierarquias sociais assentado na mação entre os dois grupos, exaltados e moderados, tinha ocorrido
escravidão. Ao ser nomea-
do para o comando da Guarda de Perman pouco antes do 7 de abril. Enquanto os exaltados tentavam exercer uma
entes e nele permanecer por
183
182
ini

DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO


LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE

direção sobre os movimentos de rua, aos modera


dos cabia mobiliza
Parlamento e a alta oficialidade. A escolha do major Miguel de E 0 À fragilidade da Regência era notória. Tradicionalmente essa fragilida-
para porta-voz de Francisco de Lima evidencia essa aliança cora de é pensada em termos estruturais: tratava-se de um poder despojado do
nea. O jovem oficial era um militante exaltado, com influência prestígio da Coroa e entregue a homens eletivos.'” Mas, além disso, vale
E
tropa.º O brigadeiro Francisco de Lima já havia expl acrescentar ainda três outros elementos: as divergências entre exaltados e
icitado em Per moderados, sérias e muito vivas ainda no Campo da Aclamação; o apoio
buco sua discordância com a política militar da
Coroa e, Nos anos E vacilante dos moderados ao 7 de abril, sempre marcado pelo receio de
guintes, em função do que considerava pequenas
demonstrações de uma radicalização do movimento, e a não-identificação dos membros da
desconsideração, afastava-se progressivamente do
imperador. Sua trans: Regência eleita com a tropa e o povo, cuja participação foi determinante
ferência para São Paulo em dezembro de 1830 foi be
m explorada pela no desenrolar dos acontecimentos. Diante desse quadro, a solução mais
imprensa oposicionista. Políticos moderados e ex
altados falavam em in- viável era tentar promover a suspensão, ainda que provisória, de antigas
trigas e tentavam, por intermédio do brigadeiro
, atingir os brios da ofi- rivalidades. Borges da Fonseca, um exaltado de prestígio, sensível à insta-
cialidade brasileira, instigando o nativismo antilu
sitano. Quando bilidade política do momento, redigia, no dia seguinte à abdicação, uma
Francisco de Lima decidiu não aceitar O cargo e perm
anecer no Rio de proclamação pedindo ao povo “prudência, conciliação, moderação, or-
Janeiro, recebeu várias manifestações de apoio dos jornai
s da corte. dem e respeito a todos os nossos chefes”.!* Os membros do governo pro-
O Astréia, que se destacou nesse trabalho de aprofundamento da cis curavam dar o exemplo. Após o 7 de abril, a reintegração do ministério
ão
entre d. Pedro e alguns grupos políticos, publicou um soneto em home- dos brasileiros era indiscutível. Fazia parte dele, como ministro da Guerra,
nagem ao brigadeiro Lima. Em seus versos finais, lia-se:1º ninguém menos que o então marechal José Manoel de Morais. Todas as
intrigas tramadas em Pernambuco tinham feito dele um grande rival do
Debalde o Monstro seu decreto sela brigadeiro Francisco de Lima. Era identificado por este como um dos
Contra ti, que em bens natura avulta, “zangões do Estado” sequiosos por desmembrar a família Lima. Agora,
O Povo, ó LIMA, a teu contrário insulta
trabalhariam juntos, no mesmo governo. Pior era a posição do brigadeiro
E te vota a porção mais linda e bela
José Joaquim de Lima, o “irmãozinho Lima”, que tinha despertado o ódio
Mas conhece que, a Pátria não desiste,
E a honra preza do Brazílio LIMA. de Manoel de Morais na Bahia. Como comandante de Armas da Corte,
ele estava diretamente subordinado ao ministro da Guerra — o marechal
Não deve ter sido difícil para os moderados obter o apoio do “brazílio Manoel de Morais. Mas o momento era tão delicado que José Joaquim
Lima”. Ele não só acreditava nas intrigas palacianas, como também com- parecia realmente disposto a esquecer o passado. Em uma ordem, baixada
partilhava as críticas do grupo ao autoritarismo de d. Pedro. Além disso; no dia 15, defendia essas recentes “reconciliações”, escrevendo que elas
a transformação do “caso Lima” em símbolo da preferência do imperador eram naturais, resultado dos “derradeiros acontecimentos maravilhosos”?
entre pessoas com “sentimentos patrióticos comuns”.
pelos portugueses criava valiosos adeptos. O irmão do
brigadeiro, José O grande perigo desses dias era reconhecidamente a tropa.'* Com-
Joaquim de Lima, ajudante-de-campo do imperador, apes
ar da posição posta de uma massa anônima de difícil identificação, sobre a qual não
que ocupava, apoiava a idéia e, segundo Armitage, mostrava-se
muito há fontes disponíveis, essa tropa assumia nos primeiros dias após o /
descontente e irritado com essas supostas preferências do impe
rador."
185
184
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA
CORTE

de abril uma posição ambígua no jogo político da cidade. Por


Ordem
da Regência, esses homens deveriam permanecer no Campo d Bravos defensores da pátria, estão completos todos os nossos votos (555)
à Acla. Sim, amados concidadãos, é tempo de descansar as armas, que nos cobri-
mação até a partida de d. Pedro para Portugal.
Sua Presença no cam ram de glória, sem que fossem manchadas com o sangue do nosso inimi-
po garantia O novo governo. Todavia, esses
mesmos homens era go: transportados de alegria corramos aos nossos lares e nos braços das
fonte dos maiores transtornos. Mantê-los reunidos ternas esposas e dos caros filhos (...) Ide pois descansar trangúilos, e
e armados ni
quando festejavam, era sempre um risco. Saíam pelas ruas e contai certos com a vigilância do governo, que é da vossa confiança e
emaa
suas
comemorações, inevitavelmente se envolviam em conflito brasileiro: conservai sempre em vossos corações a Constituição jurada,
s. |Para evi-
tá-los, a intervenção devia ser dura, e foi o que decidiu respeitai as autoridades constituídas e obedecei à lei para que nossa obra
fazer o co. seja completa e nossa felicidade permanente. Sede incansáveis em conci-
mandante de Armas da Corte brigadeiro Lima. Mandou
publicar no liar os ânimos, chamando-os à ordem, e fazendo com que uma só seja a
dia 11 uma ordem avisando que “todo cidadão vontade de todos.”
que armado se dirigir
a sair do Campo da Honra [novo nome do Campo
da Aclamação]
ainda que a pretexto de passeio, ou outro qualquer Mas o governo sabia que isso não bastava. Desde os últimos anos do
motivo melho:
te, tem por este ato declarado tacitamente querer reinado de d. Pedro, a sublevação de corpos militares era uma constante
desligar-se da brio-
sa tropa e cidadãos, que, para defesa da pátria se acham na cidade. Era preciso, assim, uma atitude mais positiva da Regência
reunidos.
Portanto, deve depor armas, quer suas, quer nacionai para recolher e tentar firmar sua autoridade diante da tropa. Não por
s, saindo do
campo para não mais voltar”. Em seguida, baixou outra acaso, a celebração do dia 15 de abril no Campo da Honra terminou
ordem: “que
todo cidadão reunido no dito campo, quando tiver representação com uma parada de “oficiais desarmados” e “paisanos” de braços dados
a
fazer sobre qualquer objeto, se deve dirigir à autoridade legal, a pelas ruas centrais da corte. À frente, dirigindo o grupo, estava justa-
qual
neste caso é a do Juiz de Paz da Paróquia onde se acha o campo, mente o regente Lima, brigadeiro do Exército. Ainda no campo, diante
de- de toda a tropa, coube a ele presentear o imperador menino com uma
vendo-o fazer por escrito”.16
O jornal Aurora Fluminense, nesse mesmo dia 11 de abril, agrade- palma de flores. Os corpos militares encerravam a marcha. Ganhavam
seu lugar na celebração, simbolicamente bastante expressiva. Por meio
cia publicamente os serviços prestados pelos “srs. Lima”. Reconhecia
dela, a Regência tentava se firmar como resultado do congraçamento das
o esforço da família “em toda esta ocorrência” e na preservação da
forças atuantes no 7 de abril, entre elas a própria tropa. Foi assim que
“ordem e sossego que têm reinado no Rio de Janeiro desde o dia 7”.
esta se recolheu em ordem aos quartéis.
Após a partida do imperador, a preocupação passava a ser outra:
Manter esse espírito conciliatório não era tarefa fácil. Em uma so-
como fazer para recolher a tropa ordenadamente a seus quartéis. O
ciedade atravessada por tanta desigualdade, o congraçamento tinha
assunto foi tratado com enorme cuidado. Ainda
no dia 13, logo após seus dias contados. Era paradoxalmente mantido sob dura repressão.
o navio que transportava d. Pedro ter deixado o cais da cidade,
uma Não demorou muito, os periódicos exaltados começaram a reclamar
proclamação, assinada pelo comandante
de armas José Joaquim de que em tudo se viam desordem e anarquia. Alijados do governo e dos
Lima, agradecia o patriotismo da trop
a e anunciava o “tempo de des- principais cargos administrativos da corte, inquietavam-se com a falta
cansar as ais como uma merecida recompensa pelo brioso

de disposição da Regência para promover as reformas constitucionais €


serviço
prestado à nação:

187
186
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE

progressivamente voltavam a hostilizar os moderados. O 7 de abri


Mendes, deputado moderado que exercia seu segundo mandato, tendo
para eles, era um marco revolucionário, que tinha “por fim
o estabele.
sido eleito pela primeira vez em 1826.
cimento do governo do povo por si mesmo, na significação mais lata da
As adesões foram impressionantes. Membros da Regência, oficiais
palavra” e, por isso, começaram a ver nos moderados oportunistas que
militares, deputados, antigos áulicos e mesmo alguns exaltados filia-
se “apoderaram do leme da revolução”, justamente eles
que só de últi. ram-se de imediato à sociedade. Em pouco tempo, ela gozava de grande
ma hora aderiram ao movimento.
prestígio na corte, € associações congêneres eram abertas nas provín-
Sem expressão na Assembléia, o grupo só podia exercer oposição por
cias. Dois dias após sua primeira sessão, no dia 12 de maio, o ministro
meio da imprensa e de manifestações de rua. Assim, em fins
de abril, da Marinha da Regência Provisória, José Manuel de Almeida, escrevia
voltava a se unir ao povo. Pequenos distúrbios, marcados por xingamen-
a Borges da Fonseca “rogando-lhe a admissão na sociedade” e pedia
tos e quebra-quebras, recomeçavam nas praças e ruas da cidade. Antigas que relevasse o fato de “não ir pessoalmente fazer essa súplica”. O tom
rivalidades, sobretudo contra os portugueses, não tinham sido esqueci- da carta deixa entrever O esforço do político exaltado para evitar a
das e, ao menor incidente, estouravam. Em meio aos tumultos, sempre entrada indiscriminada de moderados na associação.” Isso colocava
havia quem exigisse a destituição da Regência.!8 em risco seu caráter suprapartidário. Por outro lado, esse interesse do
no
Essas ocorrências, ainda que limitadas, foram suficientes para mobi- ministro também mostra a importância que a sociedade assumia
lizar diversas pessoas, com trajetórias políticas distintas, para a necessi- cenário político da corte.
em
dade de uma atuação mais firme em defesa do congraçamento. No dia O objetivo da Sociedade Defensora era explicitado com clareza
e combater
10 de maio, pouco mais de um mês após a abdicação, Borges da Fonse- sua primeira ata — devia “segurar e dirigir a opinião pública
ca, preocupado como estava com a ordem, reunia em sua casa cerca de os restauradores” .2 Apesar dos pedristas serem diretamente menciona-
Isso que
150 pessoas para fundar uma sociedade patriótica — a Sociedade Defen- dos, o temor maior era provocado pelas revoltas de rua. Era
A primeira
sora da Liberdade e Independência Nacional.!º estava implícito na expressão “segurar a opinião pública”.
da sociedade, quinze dias após a eleição de seu primeiro Conselho
O termo patriótico, no lugar de político, procurava destacar O cará- ação
uma representa-
ter suprapartidário da sociedade. A intenção era ampliar ao máximo Diretor, foi propor ao ministro da Justiça, por meio de
pelo aconira
seu alcance. Por isso, seus estatutos também não limitariam o número ção, a criação de rondas noturnas. O surpreendente é que,
na sessão de 27 de maio, os próprios sócios se prestaram à
de sócios. Definiam apenas que sua direção seria exercida por um con- definido
a socieda-
selho composto de 24 pessoas eleitas pelo conjunto da Sociedade e com fazer essas rondas. Para a Defensora — como era conhecida
da tranquilidade na corte era urgente “para
mandato de apenas três meses, abrindo assim a possibilidade de partici- de —, o restabelecimento
males futuros”. Assumiam a responsabilidade sobre Ro do
pação a um maior número de sócios. Os Lima e Silva não ficariam de prevenir
e convocavam todos os “cidadãos probos a se
fora de uma iniciativa desse tipo. Logo na primeira eleição, José Joa- policiamento da cidade
eles. Desejavam apenas que Os juízes de paz as organizas-
juntarem a
quim, comandante de Armas da Corte, e Manoel da Fonseca, no CO” ministro. No dia 30, uma convoca-
sem. À iniciativa foi aprovada pelo
mando do 1º Batalhão de Caçadores (antigo Batalhão do Imperador),
ção era realizada formalmente por meio do jornal Aurora Fluuminêntsãs
foram eleitos conselheiros. Manoel da Fonseca foi o segundo nome mais já todos os cidadãos, na forma do que determina
Ela convidava “desde
votado pela sociedade, com 129 votos, ficando atrás apenas de Odorico
189

188
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE

o código penal, a prestarem-se ao chamado dos juízes de paz, a fi


rondarem osErrespectivos distritos” — e aalertava — “se não quise
" + "
propagar esse sentimento de insegurança pela corte, funcionando assim
rem o a
, :

algum sacrifício agora, talvez ao depois já seja tarde, é que como valioso instrumento de pressão sobre a Câmara dos Deputados.
lastim A Da abdicação até a convocação da Assembléia Geral, os deputados tive-
vão a sua incúria e desleixo”.
sm ram dois meses para organizar sua agenda legislativa. À primeira lei,
Luiz A Ives de Lima era um dos sóci
Ci os da Sociedade Defe Nsora e,
seguramente, foi um dos vários oficiais a tomar parte aprovada em 6 de junho de 1831, dava ao poder central amplos poderes
nas ditas rondas, para manter a ordem pública. Por ela, o crime de ajuntamento ilícito,
ProsseguiaTe acom|panhando seu
Se s tios. O pai, ao que parece, ; não
uma posição ativa na associação. Seu nome nã
assumiu; caracterizado pela reunião de três ou mais pessoas “com a intenção de se
o consta nas listas d Os ajudarem mutuamente para cometerem algum delito”, deixaria de ser
conselheiros eleitos, sendo mencionado apenas
em uma lista parcial d Os punido com multas pecuniárias e justificaria a prisão por até nove meses
associados.?*
E 24
Manoel da Fonseca era nessa época o mais
popular d os dos envolvidos. Também passava a ser considerado crime a reunião no-
Lima. Dos irmãos, era o menos vinculado
a d. Pedro e, por ter aband turna de cinco ou mais pessoas que, uma vez detidas, estariam sujeitas a
nado, na noite do dia 6 de abril, o posto em Sã
o Cristóvão, foi aa três meses de prisão. Assim, não era nem mais necessário provar a inten-
do com vivas no campo pelo povo. João Armi
tage, sócio da Defensora ção criminosa do grupo. O número de pessoas caracterizava O crime.
afirma que o caçula dos irmãos Lima tinha “car A autoridade fortalecida por essa lei era o juiz de paz. Subordinado
áter firme e de lon
tempo já fazia coro com os liberais”. Opinião confir
mada por seu ca direto ao ministro da Justiça, ele era o responsável pela repressão aos
lente desempenho na eleição para conselheiro da soci
edade. Na verda- crimes contra a ordem pública. Recebia, por essa nova lei, o poder de
de, o fato de Odorico Mendes e Manoel da Fonseca
terem sido os dois nomear um delegado e até seis guardas civis para compor uma força
| es maismai votados para o conselho da Defensora é bastante
nom
significa- policial em cada um dos 16 distritos policiais da cidade. Essa frente em
tivo. Er Esse resultado firmava, na associação, a aliança
entre parte da defesa da ordem, entretanto, incluía ainda mais dois outros agentes do
oficialidade e moderados, poder central — o intendente de polícia e os juízes do crime. Todos deve-
Lima? incitada pela imprensa por meio do “caso
,
ima » em 1830. Nessa época, Odorico Mendes, jovem e entusiasma- riam reprimir as ofensas à ordem pública. À nítida justaposição de juris-
do, tinha sido escolhido entre os moderados para negociar o apoio des- dições efetuada pelo governo era uma estratégia para controlar essas
autoridades. O nível de suspeição era tal, que mesmo quem deveria le-

DO nnae aaa ido ria


E da O exemplo de Manoel da Fonseca — na avaliação do
galmente zelar pela ordem era constantemente vigiado por outras auto-
ridades. Após o 7 de abril, o governo tentava organizar um sistema
tais caçadores do Brasil”, facilitou qua isq uer circ unst ânci as, mei os de inter-
poli cial que lhe asse gura sse, em
Essa aproximação.” Desse modo, a escolha da dupla alguns dn
de-
pois para o conselho da sociedade, ambos legitimados por tant vir e controlar revoltas.”

selava a| utó
os votos;
Outra instituição policial cuja criação recebia total apoio da Socie-
vitónia
ri dessa estratégi
SO] a e caracterizava a simpatia dos só- a civi l cuja exp e-
dad e Def ens ora era a Gua rda Mun ici pal — uma forç
1Os — civis e militares — pela política
moderada rência no Rio de Janeiro fundamentou a criação da futura Guarda
Se essas r ondas noturnas da Sociedade Defensora
provavam o inte- Nacional. Aprovada na Câmara após a lei de 6 de junho, regulamenta-
e
da pela Regência ainda no dia 14 desse mês, sua organização permit

191

190
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE

definir com exatidão o conteúdo desse “grande medo” experimentad


Eram essas solidariedades — por omissão ou adesão — que atemoriza-
por uma parcela dos habitantes da cidade, além de permitir a VinuiES
vam a Regência. O comandante de Armas, brigadeiro José Joaquim de
ção do plano de intervenção articulado pelo governo. O critério a
Lima, havia passado todo o mês de maio alertando seus oficiais, por
recrutamento dos guardas era socioeconômico. Ao contrário do que
meio de ordens do dia, para o “perigo que há em se deixarem fascinar
ocorria no Exército — em cujas fileiras podiam ser encontra
dos escravos por indignos perturbadores do sossego público”. Lembrava que a fun-
fugidos, libertos e brancos extremamente pobres? —, os guardas Muni. ção deles era controlar a tropa e que, em caso de tumulto, “todos deve-
cipais deveriam ser recrutados entre aqueles que apresentassem
uma riam se recolher imediatamente a seus quartéis”.)! Nada disso, porém,
renda anual mínima de 200$000 e excluía de imediato
os libertos e parecia adiantar. Os tumultos prosseguiam com o envolvimento de ofi-
quem tivesse sido condenado por algum crime. Essa renda ciais, alguns de patente. Para evitar esses problemas, os guardas munici-
era a mesma
exigida para eleitor. Ou seja, a intenção do governo era arregimentar pais civis eram controlados por uma estrutura de poder bem mais
cidadãos. Tratava-se praticamente da institucionalização das rondas rigorosa. Ássim como os militares, eles estavam subordinados a coman-
noturnas da Sociedade Defensora. As unidades, compostas de
25 a 30 dantes e, tal como aqueles, só sob suas ordens poderiam pegar em ar-
homens, seriam organizadas pelo juiz de paz em cada uma das fregue- mas. Por outro lado, para evitar levantes, era vedada a comunicação
sias da cidade, que seguiriam as instruções do governo. Sua principal entre guardas civis de distritos diferentes e lhes era negado o direito de
tarefa era conter distúrbios, impedir brigas e prender criminosos, fican- fazer representações ao governo. A não-observação dessas regras seria
do sempre atentos a tramas de desestabilização da ordem pública. Qual- classificada como ajuntamento ilícito e punida de acordo com a nova lei,
quer ação suspeita deveria ser com rapidez notificada ao governo. de 6 de junho. Os comandantes só poderiam acionar a Guarda Munici-
Enquanto o poder público não tivesse condições de fornecer uniformes, pal a pedido do juiz de paz ou do intendente de polícia.*? Antes mesmo
armas e munições, os guardas deveriam apresentar-se ao serviço em de entrar em ação, a guarda, em sua estrutura interna, já exercitava a
trajes civis e com as armas de que pudessem dispor.2? obediência-subordinação, restituindo a legitimidade e impondo o poder
dessas autoridades. Intendente e juízes de paz cumpriam as disposições
À proposta, sem dúvida, consistia em utilizar o forte sentimento de
do ministro da Justiça. A ordem ameaçada era social e política. Por isso,
insegurança difuso pela população para mobilizar os “cidadãos probos”
era preciso mobilizar todos os cidadãos na sua preservação.
da cidade e os levar a pegarem em armas para defender seus interesses.
O passo seguinte da Regência para fortalecer o Executivo foi nomear
À renda de 200$000 não era alta. Assalariados livres alcançavam essa
Diogo Antônio Feijó para o Ministério da Justiça, colocando-o na coor-
renda trabalhando como balconistas ou artesãos. Aceitá-los na guarda
denação de todo esse sistema repressor. Iratava-se de um homem conhe-
era, na verdade, um modo de destacar a diferença que havia entre eles
cido por sua personalidade forte e pela capacidade de conciliar liberalismo
e a “escória” da população. Era fazê-los sentir que se tinham pouco à essas leis e
com centralização política. A ele caberia colocar em vigor
defender, não eram inteiramente desprovidos de bens e propriedades. trabalhar a política de congraçame nto. Mas não contou com muito tem-
A Fronteira que os distinguia dessa “escória” de escravos, libertos e mise po para executar a tarefa. a
ráveis era oficialmente reconhecida. Eles eram eleitores. Pertenciam à e de 12 de julh o, o 26º Bata lhão de Infa ntar ia do Exér cito ,
Na noit
sociedade política e não poderiam se omitir ou, como oco art ela do no Mos tei ro de São Ben to, amo tin ou- se. ÀO ouv ire m tIrOS,
rria em alguns aqu
casos, se juntar nas ruas da corte com “bandos
de malfeitores”
193

192
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE

os guardas que faziam ronda próximo à localidade apitaram pedind


reforço.** Em breve, a guarnição se via cercada de Regência, determinou a convocação do Exército e a reunião da tropa na
600 guardas nos
pais. À tropa protestava contra os maus-tratos e os castigos corporais Praça da Constituição (atual Praça Tiradentes). Aí estacionados, diver-
nos quartéis, mas não ofereceu resistência. Ante a promessa sos corpos aguardavam ordens para marchar sobre o quartel sublevado,
do governo
de que não haveria represálias, aceitou ser transferida onde os policiais já se encontravam recolhidos. À notícia do que se pas-
para a Bahia
província de origem da unidade. O embarque estava sava na praça, grupos de exaltados para lá se dirigiram e, misturando-se
previsto para o dia
14. Até lá, era preciso cautela. Para não manter os 572 homens à tropa, insuflavam os soldados. Em pequenos discursos, falavam sobre
do bata- a revolta dos policiais e da disposição da Regência de usar a força para
lhão aquartelados, a Regência decidiu empregá-los
no patrulhamento de
alguns pontos da cidade. Desse modo, não ficariam controlá-los. Logo romperam gritos contra o governo, exigindo a reu-
ociosos nem aglome- nião das tropas do Exército e da polícia.?”
rados. Durante a noite do dia 13, divididos em pequenos grupos,
Em face do estado de insubordinação, o brigadeiro Lima solicitou
participaram, com seus colegas da Guarda Real de
Polícia, das rondas que todos se dirigissem para o Campo da Honra. À intenção era afastar
noturnas. Apesar da intenção, a estratégia não foi nada prudente
. A Guar- os soldados do centro da cidade, da influência dos exaltados e tentar
da Real era uma força policial de tempo integral, militarizada,
criada em acalmar os ânimos. No entanto, o que se viu foi o contrário. No cami-
1802 como parte das mudanças instituídas na cidade com a chegada
da nho, ocorreram novos saques, brigas, depredações e tiros. Movidas pelo
família real portuguesa. Seus oficiais e soldados provinham das fileiras desespero, algumas famílias deixavam suas casas e procuravam refúgio
do Exército, sofrendo também com os castigos corporais aplicados por nos arrabaldes da cidade ou em navios ancorados no porto.” As rondas
comandantes particularmente conhecidos por seus métodos violentos. da Guarda Municipal, por ordem dos juízes de paz, foram suspensas.
Trabalhando juntos, soldados amotinados e policiais tiveram toda a noite Não tinham preparo nem armas para enfrentar os rebeldes. O pânico
para trocar idéias. No dia seguinte, dia do embarque, o Centro da cidade havia se instalado, e a população estava completamente desprotegida, à
estava tenso. mercê de criminosos comuns.” No campo, a situação se agravou. Do
O governo suspeitava de tramas para evitar o embarque da tropa. final da noite até a manhã do dia 15, um número crescente de pessoas se
Dessa forma, sem perda de tempo, o comandante de Armas da Corte, unia às tropas. Ao amanhecer, já eram cerca de quatro mil, mais uma vez
brigadeiro Lima, posicionou alguns corpos militares no cais do porto ocupando o Campo da Honra e repetindo os acontecimentos que, três
para inibir e, se necessário, enfrentar confrontos com a tropa. Porém, meses antes, tinham resultado na abdicação."
para surpresa de todos, tudo transcorreu com relativa trangjuilidade. O A Regência estava ameaçada. Líderes exaltados assumiam a direção
motim arrebentaria quando já não mais se esperava, horas mais tarde, do movimento. Entre um e outro discurso, sempre inflamados, elabora-
nos quartéis da 1º e da 2º companhias de polícia. Tomando de assalto as ram uma representação ao governo. Em seguida, anexaram ao texto
ruas do centro da cidade, policiais militares invadiam lojas, praticavam uma lista com o nome de 89 pessoas que deveriam ser banidas do país.
saques e disparavam tiros. Imediatamente, Além de marqueses, condes e viscondes, foram incluídos nessa lista,
os comandantes das respecti-
como era de esperar, o nome de vários portugueses. O mais interessante,
vas companhias, o major Reis Alpoim e o capitão Feliciano Firmo Mon-
teiro — ao que tudo indica, fiéis ao governo — comunicaram a ocorrência contudo, é observar quem e quantos eram os signatários da representa-
ção. Nada menos que 441 pessoas assinaram o documento. Misturados
ao Comando de Armas da Corte. O brigadeiro Lima, autorizado pela
195
194
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE

à tropa e ao povo, conduzindo as negociações com o 80verno, estavam


rados reunidos em sessão no paço já era outro. À primeira sugestão da
os redatores dos jornais de oposição e os militantes exaltados das ruas
Câmara foi para que a Regência armasse e colocasse nas ruas a Guarda
da corte. Entre eles, havia também padres, comerciantes, oficiais do
Municipal. Como o governo precisava de força, ficou decidido que os guar-
Exército, profissionais liberais, funcionários públicos, estudantes e até
das serviriam sob o comando de um oficial do Exército. Os vários juízes de
mesmo um senador — Antônio Luís Pereira da Cunha, barão de Inham-
paz foram então substituídos por um comando militar centralizado”? À
bupe.*” À preocupação dos moderados procedia. Eles sabiam que a “es.
escolha recaiu sobre o oficial de engenheiros Sebastião do Rego Barros.
cória” revoltada podia assustar. Mas essa ameaça, havia séculos, fazia
Jovem, recém-graduado em matemática por uma universidade prussiana, O
parte do cotidiano da cidade. O grande temor desses dias, que parte da
oficial exercia seu primeiro mandato como deputado e tinha, em sua fé-de-
elite tentava conter com a política de congraçamento, provinha dess
a ofício, O registro de participação na repressão ao movimento pernambuca-
subversão das fronteiras sociais.
no de 1817. No dia seguinte, ele era nomeado para o cargo.”
Na tarde do dia 15, Diogo Feijó, o mais novo ministro da Regência, Para atender à urgência dos interesses da Regência, a Guarda Muni-
a um
convocou a Câmara, o Senado e os ministros para uma sessão secreta no cipal passava por sua primeira reforma. Além de ficar subordinada
Paço Imperial. À convocação agrupou num único prédio a elite política milita r centra lizado , no dia 17 uma nova lei foi votada a fim
comando
da corte, o imperador, suas irmãs e tutores. As crianças estavam lá desde amplia r a habili tação para O serviç o em suas fileiras . Até então, O
de
Ou seja, jo-
o dia anterior. Com os conflitos na rua e o alvoroço da população, não critério estabelecido para o alistamento seguia o de eleitor.
era prudente fazê-las atravessar a cidade. Enquanto corria a sessão, civis menos de 25 anos e soltei ros estav am autom atica mente impe-
vens com
presta r serviç o na guarda . À lei ainda negava direito de voto
e militares, do lado de fora, brandindo armas, pressionavam para que a didos de
ou depen-
representação redigida no campo fosse aceita. Os políticos eram quase a homens que, independentemente da idade, fossem solteiros
exceçã o feita apenas aos que ocupa ssem cargos públi-
reféns naquele prédio. A Câmara se declarou em sessão permanente dentes dos pais,
guarda.
as 2h do dia 15, e assim ficou até as 14h30 do dia 20 de julho. Procla- cos. Logo, esses homens também estavam excluídos do serviço na
preoc upaçã o da nova lei era exata mente desvin cular os critérios. À Re-
mações tinham sido dirigidas pelo governo às tropas e aos brasileiros. A
a tão delica da, não podia deixar de contar na
A sessão secreta durou toda a madrugada. Só no dia 16, por volta das gência, em circun stânci
numer osos jovens bem prepa rados fisica mente e com
onze horas da manhã, ela chegaria ao fim. O ministério saía dela refor- guarda civil com
de tempo para O exercí cio da função . Assim , a partir
mado, com a demissão de quatro de seus seis integrantes. Mas nada se disponibilid ade
a aceita r jovens soltei ros com idade mínim a de 16
decidia sobre a representação dos rebeldes. dessa data, passava-se
Guard a Munic ipal. Todav ia — é impor tante desta-
anos nas fileira s da
O silêncio em relação à representação acabou sendo favorável ao go- que esses rapazes servissem
car —, o critéri o da renda perma necia . Para
verno. À multidão reunida no campo aos poucos começava a se dispersar. eleitor es. ves
na guarda, seus pais devia m ser
Algumas tropas, ainda amotinadas, seguiam para seus quartéis. Decidiam à crise, a Câmar a votava a extinção da
Ainda no dia 17, em meio
aguardar lá a resposta da Regência. Enquanto isso, manifestações de apoio praças foram dispe nsada s do serviç o e eco
Guarda Real de Polícia . As
chegavam ao Paço Imperial. A adesão ao movimento não havia sido com- para retorn ar a suas provín cias.* * A medida
beram transporte gratui to
pleta e parte expressiva da tropa e da população começava a se mobilizas, era previsível. A guarda de polícia tinha sido o núcleo inicial
da revolta.
protestando fidelidade ao governo. Na tarde do dia 16, 0 ânimo dos depu-
197

196
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE

Mas a lei só foi aprovada com facilidade porque a Regência


!
ERONa contando com um valioso apoio militar.
15, vinh x * *
3
2 desde O dia
nais, havia ainda, nessa faixa litorânea, o Paço Imperial, a Câmara dos
Quando as tropas
do Exército, insufladas pelos exaltados, tomaram conta das ruas da Deputados, a Alfândega e o porto.”
cidIda. O governo aos poucos ia se recompondo e esses “funestos aconteci-
de, algumas dezenas de oficiais, organizados pelo coronel João Paul
Santos e pelo major Luiz Alves de Lima, se apresentaram à Regência
Õ dos mentos” funcionavam para legitimar reformas institucionais e construir
O grupo dispunha-se a abrir mão de um valioso princípio militar a unidade em torno de uma leitura conservadora do 7 de abril. A “Ex-
m posição de Princípios” do novo ministério, organizado no auge dos con-
superioridade hierárquica — para assumir, de forma
voluntária, embora flitos, com o paço cercado por rebeldes, afirmava a necessidade de haver
temporária, a função de soldado.** A iniciativa, bastante opor
tuna, foi unidade no governo.”
amplamente festejada. O jornal Aurora Fluminense, em uma
atitude de O modo como se deu a escolha de dois dos quatro novos nomes desse
reconhecimento, saudou o corpo militar, batizando-o de
Batalhão dos gabinete mostra com clareza O papel das revoltas na construção dessa
Bravos da Pátria.” Outros o denominaram Batalhão Sagr
ado. Oficial- unidade. Um deles, o próprio redator da “Exposição”, Bernardo Pereira
mente, tratava-se do Batalhão dos Oficiais-Soldados Voluntár
ios da Pá- de Vasconcellos, assumia, ao lado de Feijó, a direção política do país.
tria. O nome explica a circunstância de sua criação. Esses oficiais esta A aproximação deles foi resultado da atuação de Vasconcellos, como
vam
disponíveis para exercer excepcionalmente a função de soldados porque deputado, no dia 15. Quando tudo parecia perdido, ele se levantou para
que OS
uma parte de seus corpos, em alguns casos o corpo inteiro, estava suble- declarar que a Câmara estava solidária com o governo, e exigiu
vada e seria certamente dissolvida. colegas não deixassem a casa até que medidas fossem acertadas. Afirmou
O comando do batalhão coube ao coronel João Paulo, enquanto 0 se o “perigo era iminente” , a Câmara não podia recuar. Nesse
que,
ener-
primogênito do regente Francisco de Lima, o major Luiz Alves de Lima, caso — continuou com a maior firmeza —, “não convém senão muita
s aos inimigos da ordem pública que os represent antes da
assumiu o posto de subcomandante. A unidade cresceu em poucos dias, gia: mostremo
não se aterram”.* ! Dois dias depois, no dia 17, mesmo dia em que
chegando a contar com 400 oficiais do Exército. Os irmãos do major nação
Luiz Alves, todos militares, aderiram imediatamente à causa. Eles eram foram aprovados o licenciamento da Guarda Real de Polícia e a reforma
três: Os tenentes Francisco de Lima e Silva e José Joaquim de Lima e Sil- da Guarda Municipal, Vasconcellos era nomeado para a pasta da Fazen-
“Exposiç ão de Princípios ”, ele transform ava seu discurso na Cã-
va, e o alferes Carlos Miguel de Lima e Silva. Os Lima mais jovens da. Na
político. Nela, formaliza va a disposiçã o do governo de
pegavam em armas para preservar a ordem e mantinham a tradição da mara num projeto
movimento
família na cidade. Coube a esse batalhão substituir a polícia militar no “não capitular com a desordem” e de “abafar as facções”. O
abril, no qual não tomou parte, recebia dele um conteúdo conser-
patrulhamento das ruas. Fariam as rondas noturnas e assumiriam a tare- de 7 de
revolução ” não teve O intuito — dizia o texto — “de
vador. À “gloriosa
fa prioritária do momento — a retomada do controle sobre os quartéis € e mudar a dinastia, nem o de
subverter as instituiçõ es constituc ionais
edifícios públicos da corte. Dessa forma, a ação do batalhão, nesses pri do incontestável
consagrar a violência e proclamar à anarquia; usou, sim,
meiros dias, se concentrou na região que se estendia da Ponta do Cala- à opressão e quis populariz ar a monarqui a arredan-
direito de resistênci a
bouço e do Arsenal do Exército (atual Museu Histórico Nacional) até O
do-se dela os abusos e os erros que a haviam tornado pesada aos povos,
Arsenal da Marinha, no sopé do morro de a fim de reconciliá-la com os princípios da verdadeira liberdade”*?
: São Bento. À área era estraté”
gica. Além dos suprimentos de armas e munição depositados nos ars”
199

198
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE

Também no dia 17, com Vasconcellos, o coronel Manoel da Fo


Nseca
de Lima e Silva era nomeado para a pasta da Guerra. Substituía 0 RIO DE JANEIRO (1831-1839)
Mare.
chal José Manoel de Morais. Se os Lima e o marechal haviam sus
pendi- A - Câmara dos Deputodos e Paço Imperial.
do as hostilidades, essa trégua não durou muito. No dia 15, por B- Arsenol da Marinho.
m
eio de (-Senodo e Rua do Areal (Perseguição à Miguel de
um ofício, o marechal, na posição de ministro da Guerra, com Frios).
Unicou à D - Ministério da Guerrae Quartel General de
Câmara que as tropas do Exército ocuparam a Praça da Constitu Infontorio.
ição e E- Arsenal do Exército.
depois o Campo da Honra por ordem do comand E-Ilha dos Cobros (Levante Militor).
ante de Armas da Cor G - Quartel da Guarda Municipal de Permanentes.
te José Joaquim de Lima e Silva. Manoel de Morais H- Largo da Carioca (Crime de Corlos Higuel).
não deixaria passar |-Lorgo de Santa Rita (Episódio das Eleições).
a oportunidade de responsabilizar o “irmãozinho Lima” J- Aliube (Episódio dos tiros no prisão).
pelos últimos
acontecimentos. Como em Pernambuco, não inventava
histórias. Toda-
via, ao divulgar a informação, colocava em discussão a atuação do co-
mandante. O ofício foi enviado à Câmara, no auge
da crise, quando
Vasconcellos exigia solidariedade ao governo. Se a intenção da Reg
ên-
cia — e de seu mais importante ministro, Diogo Feijó — era fortal Morro
ecer o Fortificações E
governo, abandonando a idéia de congraçamento e buscando uma uni- EE Região hobitodo ou edificado la de Vilegoigon
dade, realmente não havia mais espaço para o marechal no ministério.
Em contrapartida, o coronel Manoel da Fonseca era um nome perfeito.
Sua participação no 7 de abril era indiscutível, contava com grande pres-
tígio na Sociedade Defensora — que se firmava como representante da MAPA|
“verdadeira opinião pública” — e ainda era irmão do regente. Distribuí-
dos os principais postos militares do país entre irmãos tão unidos, O
governo saía da crise de julho fortalecido.

AÇÃO REPRESSORA, POLÍTICA MILITAR

Com o transcorrer dos dias, a vida da cidade voltava à normalidade.


Vários soldados, sob a promessa de que não haveria represálias, aban-
donavam as fileiras rebeldes e concordavam em se submeter 40
gover
no. Com isso, a ameaça daqueles que permaneciam em armas era cada
vez menor. Não havia entre eles nem unidade,
nem um plano de ação
bem traçado. Nesses levantes, os exaltados aproveitavam o estado
de
201

200
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE

tensão das ruas, permanente em uma cidade entrecortada e e


StrUturada
sobre tantos níveis de desigualdade. Controlar “hordas de uma das masmorras da cidade, havia ainda a represália da opínião pú-
bárbaros»
não era uma tarefa de difícil execução, ainda que nos espaç blica, que poderia comprometer seriamente suas carreiras.
Os ur banos
a experiência fosse menor. Segundo o ministro Feijó Era exatamente esse ponto que o ministro Diogo Feijó tentaria atingir
» Para a Contenção
de ladrões, escravos fugidos, vadios e turbulentos, ao declarar, no dia 20 de julho, que o juiz de paz que não indiciasse os en-
a polícia bastay
em 1831 eles proliferavam, isso se devia “à frouxidão da pol volvidos na rebelião debelada seria acusado de cumplicidade como disposto
a na lei de 6 de junho. O envolvimento em um processo ameaçava diretamen-
grande questão — para a qual deviam ser pensadas novas
j estratégia 9—era te o emprego desses homens. Esse foi o modo encontrado pelo governo para
como restaurar as fronteiras sociais. A ação desses
“agitadores políti- desencorajar certas solidariedades. A estratégia se repetiu quando Feijó sus-
cos” vinha conseguindo formar uma certa rede
de solidariedades qu pendeu, no dia 22, a concessão de cartas de seguro. De posse dessa carta, O
integrava mundos distintos, como aqueles dos signatári
os do Gar É réu não podia ser preso. Como escreve Tarquínio de Sousa, vários rebeldes
Santana. Isso era preocupante.
contavam com proteção, “encontravam apoio em deputados e juízes” e
| Embora uma reação já tivesse sido encetada, só
no dia 19 de julho, obtinham com facilidade tais cartas.” O governo avançava na repressão.
cinco dias depois de iniciados os conflitos, o governo sen
tiu-se confiante Mas a tensão se tornou ainda maior quando, no dia 27 de julho, Diogo
o suficiente para rejeitar a representação dos rebeldes, cla Feijó autorizou o intendente de polícia a distribuir armas para os proprietá-
ssificando suas
exigências como absurdas e inconstitucionais. Dava início,
então, a um rios de estabelecimentos comerciais localizados em ruas sem patrulhamen-
plano mais sistemático de restauração das fronteiras sociais. A primeira to, com atenção especial para os arredores da cidade. A decisão tinha o
intervenção realizada ocorreu no Campo da Honra, uma ação que se objetivo claro de transferir o conflito, até então dirigido à Regência, para a
estendeu, em seguida, para toda a área central da cidade. Pelo menos 35 sociedade, e de forçar “cidadãos” simpáticos aos rebeldes a rever suas posi-
pessoas, entre civis e militares, foram presas e enviadas para as cadeias ções. Do contrário, não enfrentariam só agentes da Regência. Seriam patru-
da capital e para as fortalezas de Villegaignon, São João, Santa Cruz e lhados por seus vizinhos, pela tão evocada “opinião pública”. A tárica foi
ilha das Cobras, onde deveriam aguardar o resultado da devassa. O sus- reforçada por outra decisão de Diogo Feijó, assinada logo em seguida, no
to, diante de um desfecho tão negativo, levou vários homens, sobretudo dia 30, e que estendia a distribuição de armas € cartuchame a todos os elei-
Os signatários da representação do dia 15 a publicar nos jornais da corte tores interessados em apoiar o governo. No total, três mil cidadãos foram
cartas em que se declaravam arrependidos. A força demonstrada pel armados e passavam a integrar as rondas diárias da cidade”
o Essa polític a repress ora é, sem dúvida, voltada para combat er a ameaça
governo começava a surtir efeito. Esses signatários, como vimos, eram ay
de uma insurreição social. Esse ponto, destacado por Thomas Hollow
pessoas, na sua maioria, com alguma posição na sociedade. Ao tomarem sus-
por meio de uma vasta pesquisa empírica, da qual sou devedora, tem
parte no movimento, o fizeram animados pelo 7 de abril. Diante do fra idéia partida desses conflit os e, por conseg uinte, do
tentad o contud o uma
cassa, se desesperavam. Temiam prisões e processos. O govern tão pro-
o conse sistema de repressão. Para Holloway, o “fantasma da anarquia”,
guia, assim, por meio de uma dura repressão, fazê-los
sentir o que não palado na imprensa e nos discursos políticos, “não se relacionava estrita-
foram capazes de perceber antes, nos na sua
discursos e atitudes de diversas mente com protestos políticos e sublevações militares”. Estes —
autoridades — diferentemente dos gover-
demais, eles tinham algo a perder. avaliação — seriam facilmente controlados. À preocupação maior do
Mesmo que se livrassem, Por apadrinhamento
ou prestígio, da prisão em
203

202
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE

no era “a ameaça latente da insurreição social”. Sua intenção com


proposta é marcar uma crítica à “historiografia tradiciona)”, que vê = feridos para províncias distantes. Muitos soldados e alguns oficiais foram
tipos de desordem “como pano de fundo para a segiiência dos k dispensados do serviço e ficaram suspensos o alistamento e a promoção
a
políticos do país”. Acredito, porém, que a compreensão dessa re
de oficiais remanescentes.” No dia 30 de agosto, uma nova lei reduziu
repressora do ministro Diogo Feijó e, obviamente, da Regência fe : a ainda mais o Exército, fixando seu efetivo em 10 mil soldados. Como
completa se colocamos o acento da questão exatament termo de comparação, basta mencionar que no Primeiro Reinado esse
e na na o
incomum que essas manifestações lideradas pelos exalta efetivo era de 18 mil, tendo subido durante a Campanha Cisplatina para
dos pi S aproximadamente 37 mil homens.& A atitude, a um só tempo, reduzia
unindo grupos pertencentes a mundos — para
os moderados — ineo
Ee enormemente o risco de novas sublevações militares na corte e desmobi-
Reagia-se para manter a Regência, pois sua
|
derrubada pelos a lizava a instituição-símbolo do autoritarismo do primeiro imperador. Se
vista como uma ameaça mais profunda às formas
de organizaçã a tropa era seduzida pelos exaltados, o generalato era na sua maioria in-
social e valores herdados dos tempos coloniais. Eze
quiel Correa d E tegrado por portugueses, sendo, desse modo, sempre colocado sob sus-
tos, por exemplo, defendia no jornal Nova Luz
Brasileira, do so E peição.** Não à toa, às vésperas do 7 de abril os moderados instigavam o
dator, uma democracia ampla, a abolição ime
diata da escravidão, : antilusitanismo na oficialidade brasileira. Independentemente das prefe-
implplan
anta
taçã
ção de um projet] o de reforma agrári
ár a e até mesmo a extensão da rências de d. Pedro, o fato é que os portugueses dominavam o Exército.
a D 5
A participação dos Lima nessa política de desmobilização do Exército
o se e Holloway não se relacionava estritamente com nenh ns
um grupo é na maioria das vezes incompreendida. Duas são as reações mais comu
r,
= ani E E Eae we formada pela junção de todos eles: exaltados, entre os historiadores: ou se considera Francisco de Lima um antimilita
mos-
E ent o eo um process de decantação social. ou se realça o sentimento de hostilidade da elite pelo Exército para
con-
ra ambém desmobilização do Exército. Presos trar que ele, bem como outros oficiais, não tinha senão a opção de
e ficando os demais submetidos a um forte sistema de formar-se. Sobre Francisco de Lima compartilhar a posição antimilitar
vig8ilância, ] s ustentado pela deciisã — posi ção defe ndid a por John Schu lz —, basta lemb rar que a
são de armar cidadãos comuns, era neces- da Regê ncia
va
sário agora retirar dessa liga as
tropas Essa intenção da Regên cia foi história da família desde pelo menos o final do século XVII se organiza
: à ih | brasileira,
anunciada na “Exposição dos Pr
incípios d o Ministério”, elaborada, como em torno do Exército. Foi servindo à Coroa, portuguesa ou
vimos, por Bernardo Pereira de V: asco milit ares, que a famíl ia cons egui u comp leta r sua meta morf ose so-
ncellos e a UaeA como
do à
dia 23 de julho. No documento, Vasco
ncellos recR
onhecei a cial, ingressando nos círculos mais próximos ao monarca € ascenden
a importância do Francisco
Exército: : Oo impéimpé
riorio “prepre cjcis
“prec i ava escorar-se ainda na força”. Mas ele é alta posição em que se achavam agora, em 1831. Além disso,
p a r á “o men- ns e todo s eram milit ares. Não destinou
cio nad o no parágrafo sobre política externa. O tema celaro: é ' de Lima tinha quat ro filho s home
é claro: “o govern nenhum deles para outra carreira. Quando os filhos Francisco
€ Carlos
procurará dar aos corpos da força de m
manterem com denodo a ho — AFeterra a instrução precisa para os mais jove ns da famíl ia, cheg aram à idade de inici ar seus estu-
Migu el,
aee nra nacional e Conservarem a subordinação € com dois
= E
dos superiores, a tão prestigiada carreira jurídica já contava
A a paz, Inace ssível
Í a
.
lião e das facções”.s às sugestões criminosas da rebe- centros de formação no Brasil, um em São Paulo e outro em Olinda
Ainda assim, eles foram matriculados na Real Academia Militar.

205
204
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE

Wilma Peres Costa, para corroborar a idéia de hostilidade da el


defendida também por Edmundo Campos Coelho, afirma que “o Caráter apoio, contudo, não expressa um abandono— eles, na verdade, conforma-
ram-se, participando da desmobilização do Exército. Mas nem por isso
sedicioso da tropa [e] sua permeabilidade às idéias republicanas”, tradicio.
partilhavam um sentimento antimilitar ou uma hostilidade que “apontava
nalmente apontados pela historiografia para explicar a política militar da
na direção da negação da idéia de um Exército profissional”?
Regência, “nos informa sobre a necessidade de reestruturar o Exército”, po-
A opção dos analistas entre essas alternativas (serem antimilitares ou
rém não explica sua “condenação”.º” De fato, os conflitos de rua, por si só
conformados) parte de um princípio que acredito ser equivocado: de que
não explicam a política de redução do Exército. Todavia, o impacto e
havia uma oposição constituída e nítida entre militares e civis no império.”
rusgas não pode ser minimizado. À descrição detalhada, sobretudo do levan-
Essa distinção será resultado exatamente do processo de profissionalização
te de julho, mostra como a elite política refém no Paço Imperial e parte da
do Exército, da formação de uma corporação militar, marcada por um
população viveram dias de pânico na corte imperial. Se à primeira vist
a era ethos que separa os aspirantes à carreira e os opõe simbolicamente, por
apenas mais uma “revolução” que irrompia, o problema é que
dessa vez ela meio de um intenso processo de socialização, ao restante da sociedade — os
lembrava o terror e o sangue derramado pelos franceses. Isso foi sentid civis. Isso estava longe de ocorrer nas décadas iniciais do século XIX.
o por
esses homens. À tropa, estopim desses conflitos, era composta, com A Academia Militar, atualmente o lugar por excelência de formação desse
o vimos
de “hordas de bárbaros”.& O que mais assustava — acredito eu — não espírito militar? como procurei mostrar no capítulo anterior, funcionava
ca
suas “idéias republicanas”. É bem provável que essas fossem compar precariamente. Não oferecia a seus alunos conhecimentos técnicos de qua-
tilhadas
apenas por parte da oficialidade. O ameaçador era sustentar esse
s homens, lidade e muito menos desenvolvia valores de disciplina, subordinação e
aquartelados e armados, na corte, centro do poder imperial. Por isso solidariedade corporativa. A ascensão na carreira nessa época dependia da
, o mi-
nistro Diogo Feijó em seu primeiro relatório à Câmara afirmou, em
tom de prestação de serviços à Coroa e do investimento em uma rede de relações
dever cumprido, que “a tropa de 1º linha da capital desaparec
eu ”.* pessoais. Havia sido assim com o tio-avô de Luiz Alves, que atravessou O
A redução do efetivo do Exército a um número inferior a
dez mil Atlântico em 1767 para servir à Coroa portuguesa. Seu irmão, O patriarca
homens produz de forma inevitável dos Lima, viveu anos de desânimo no Rio de Janeiro por falta de enraiza-
é um excedente no corpo de oficiais.
O Batalhão de Oficiais- Soldados Voluntários da Pátria é a prova maior mento social e político. Fez um grande esforço para construir essa rede:
desse problema. Se esse batalhão teve uma função impo contratou casamento numa família de militares milicianos com tradição na
rtante durante €
nos meses seguintes à crise de julho, também é verdade cidade, redigiu requerimentos à Coroa solicitando outros empregos públi-
que ele não pode-
ria continuar existindo por muitos anos. Os quatro filhos cos, participou de combates, colocou seus filhos desde cedo no serviço real
do brigadeiro
Francisco de Lima, inclusive Luiz Alves, participavam como militares e casou seu primogênito — Francisco de Lima, o agora re-
desse batalhão, ou
seja,Ja, € estavam E “desempregados”. Os corpos a que pertencia gente — em uma família com contatos na corte portuguesa. Essa era a cul-
m tinham sido
dissolvidos Ou O seriam em breve, em função das tura militar da família Lima. Todo esse investimento geracional para
sublevações. Não havia
motivo para o bri : ingressar nos círculos mais próximos ao imperador e dispor, assim, de ca-
a a ae A gadeiro Lima, na qualidade de regente, e seus irmãos,
Pp por controlar essas forças militares, não apoiarem a desmo- pital nesse jogo de uma “economia de favores” típica de sociedades de
bilização do Exército Ea Antigo Regime criava uma forte solidariedade entre os irmãos Lima (e,
da Eri eram ob ; Ee da posição delicada dos oficiais mais jovens posso generalizar, a alta oficialidade do Exército) e a elite civil do império.
SACOS à reconhecer a importância dessa política. Esse
207
206
QU E DE CAX IAS : O HO ME M POR TRÁ S DO MONUMENTO
DU LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE

Os Lima não tinham um espírito militar, no sentido atual do termo, terior das províncias — e as guardas civis municipais, criadas em junho.
Eles não se viam como parte de um “nós” — os militares — em Oposição Além da função de policiamento, trabalhando para “preservar ou esta-
a um “eles” — os civis. Por isso, acredito ser pouco produtivo adotar a belecer a ordem pública”, a Guarda Nacional deveria auxiliar o Exército
idéia de hostilidade. Se a desmobilização do Exército não se explica ape- na defesa das fronteiras e da integridade nacionais.”
nas pelas manifestações de rua, é importante ficar atento à lógica expli- A idéia de armar civis e organizá-los em uma instituição paramilitar
cativa da época. nacional é parte dos princípios liberais, moderados ou exaltados. À prin-
A contrapartida a um Exército reduzido foi a formação da Guarda cípio, a Guarda Nacional era considerada uma força democrática e po-
Nacional. No mesmo relatório em que Diogo Feijó anunciou à Câmara pular — “o povo em armas”. Essa imagem se deve ao caráter eletivo de
.
dos Deputados o desaparecimento da tropa de 1º linha da capital, ele seus postos, preenchidos por meio de escrutínio individual e secreto
ficava caracte-
informou também que “as rondas policiais e o auxílio à justiça” seriam Submetida à outra instituição liberal — o juiz de paz -, ela
“prestados pelos guardas nacionais”. À discussão sobre a criação de como uma milícia de cidadã os proprie tários, estrut urada em de-
rizada
À unidade
uma Guarda Nacional vinha mobilizando setores da sociedade de forma safio à posição tradicional do imperador como chefe militar.
mais sistemática desde o mês de maio. À Sociedade Defensora, sempre dos princí pios liberais , desde o Primei ro Reinad o, tinha suas
em torno
ativa, utilizava suas filiais nas províncias para promover uma campanha no combat e ao poder central , por sua tradici onal associ ação com
raízes
ida, assim,
pela aprovação do projeto. No dia 28 de maio, formalizou o movimen- um imperador estrangeiro e tirânico. À luta liberal era entend
e administra-
to, encaminhando para o então ministro da Justiça, Manoel José de Sou- como uma luta de brasileiros pela descentralização política
que perman eceu mesmo após o 7 de abril. Dessa forma,
sa França, uma representação assinada por seus sócios.”3 Como se tratava tiva. Um sentido
o primeiro Impe-
de uma força nacional, o projeto suscitou muita discussão na Câmara. a Regência continuava tendo como ponto referencial
tarefa era institui r uma espécie de “cuerr ilha burocr ática”
A criação da Guarda Municipal do Rio de Janeiro, no dia 6 de junho, pre- rador. Sua
polític o-milit ares direta mente associ adas a
parava de certa forma a instituição da Guarda Nacional. A semelhança para enfraquecer instituições
meio dessa estraté gia, esconj urar a consta nte ameaça de
entre as duas forças mostra essa vinculação. O critério para alistamento d. Pedro Ie, por
na Guarda Nacional, como para os municipais, era censitário, mantendo seu possível retorno ao Brasil.”
os postos da Guarda Nacion al, O cargo de juiz
as restrições eleitorais. Os filhos de eleitores continuavam sendo aceitos Tal como ocorria com
1827, era preenc hido por meio de eleição em nível pa-
nas fileiras da nova guarda, bastando, para isso, que tivessem a idade de paz, criado em
e seu exercíc io não era remune rado. Thoma s Flory acredita que a
mínima de 18 anos. Os nacionais, tal como os municipais, não eram re- roquial
vitória liberal — tinha por objetiv o desafia r a tra-
munerados e tinham de arcar com as despesas relativas aos uniformes. iniciativa — uma grande
de magist rados cujo prestíg io provin ha de uma estreita €
Uma diferença importante, contudo, estava no caráter militar da nova dicional elite
vincul ação coma Coroa. Bernar do Pereira de Vasconcellos—como
guarda. Sua instrução era feita por oficiais histórica
do Exército, e cabia ao gover- articul ação da polític a modera da de 1831 —era
no For nenE armamentos para seus corpos. Após as ocorrências de vimos, um nome central na
julho,
rado, formad o em Coimbr a, com uma promis sora carreira
com Feijó à frente do novo gabinete. a à filho de magist
provação do projeto ficou mais Isso não o impedi u, porém, de partici par de forma direta
na magistratura.
>

ei, A lei, datada de 18 de agosto, ao Foi não só


criar a Guarda Nacional, extin- dessa polític a de desest rutura ção da magist ratura profiss ional.
guia formalmente as milícias, as ordena
nças — forças tradicionais no in-
209
208
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE

o articulador político da Regência Trina Permanente, como também ela-


províncias. Essas intervenções eram, para ele, sempre delicadas e tensas.
borou, com o ministro Feijó, guias e manuais práticos para orientar esses
Por esse motivo, defendia, ainda em Pernambuco, uma política militar pau-
juízes, leigos e alheios ao coeso círculo da magistratura coimbrã,??
rada na negociação. Em sua última carta enviada à corte imperial, em ja-
O apoio dos Lima à política de desmobilização do Exército segue
neiro de 1825, por intermédio do coronel Salvador José Maciel, tentava
sensibilizar d. Pedro e seus conselheiros para o fato de que “esses povos” —a
exatamente a mesma lógica. Não eram antimilitares nem tinham se con-
formado diante da forte hostilidade cultivada pelos liberais em relação expressão não se referia só aos pernambucanos, mas também aos confede-
às forças regulares. Até mesmo porque, como mostra Flory, se existia um
rados — “quase constituem uma nação diferente em costumes, caráter e
sentimento de hostilidade, ele não era dirigido com exclusividade para o bravura”. Essa compreensão da vida provincial, compartilhada pelos mo-
Exército. O que unia os irmãos Lima a Vasconcellos, Feijó e Evaristo da
derados, exigia — na opinião do brigadeiro — a “mais religiosa execução da
Veiga era o firme propósito de dissolver uma estrutura burocrática cen- Consti tuição ”. Acredi tava també m no empreg o de “bons funcion ários pú-
tralizada sob o cetro de uma Coroa estrangeira e absolutista. blicos” , mais de acordo com os interes ses regiona is, bem como no de “es-
Pensada nesses termos, a atuação dos irmãos Lima é bastante coerente. dessa sua
critores que dirijam a opinião pública”. Ão final, como parte
A ascensão social e política por eles experimentada, ainda que fosse em parte “refor ma”, sugeria a criação de uma “corre spondê ncia ativa”
polêmica
devida à política militar de d. Pedro I, após a Confederação do Equador, os locais por meio de um eficient e sistema de “correi os de vapor”. ”?
com
mostrava claros limites. O predomínio de portugueses nos altos escalões do Francisco de Lima defende claramente nessa carta uma descentrali-
Exército era um deles. Indiscutivelmente, esse fato reduzia o número de va- O que seriam esses “bons funcio nários ” senão homen s
zação política.
gas disponíveis para brasileiros. A imprensa de 1830 havia transformado idos em acordo com os própri os locais, inteira dos dos conflitos
escolh
À Garda
Francisco de Lima na maior vítima dessa estrutura militar Uma ação siste- regionais e conhecedores das particularidades dessa “nação”?
mática de desorganização do Exército, com ele na direção do Executivo, re- era o desdob rament o, no campo militar, dessa posiçã o política.
Nacional
forçava seu tom liberal: tratava-se de uma reação contra o absolutismo. Para é preciso destaca r ainda que provav elment e a geração de militares
Aliás,
uma visão
o brigadeiro, havia também uma satisfação pessoal. Era a forma mais direta dos Lima não via as milícias como rivais do Exército. Essa é
de ele livrar a instituição de alguns desafetos e vingar a família. Nesse caso, é A cultura militar portug uesa, como se viu pela trajetória dos
moderna.
profissionalização
preciso lembrar o ressentimento do brigadeiro com aqueles que identificava primeiros Lima chegados ao Brasil, nunca investiu na
grande efetivo no Exércit o. À mobil izaçã o de
como zangões do Estado”. Acreditava na existência de um plano para “des- e na manutenção de um
era reativa , respon dia a conflit os externo s, €, nessas ocasiões,
membrar” os Lima. A mágoa era de tal ordem que se afastou de d. Pedro, tropas
mercen ários como o conde de Lippe e o tenente-
recusou uma nomeação e preferiu permanecer desempregado na corte a se- optava-se por contratar
ainda que festeja dos como repres entant es do
guir para São Paulo. Além do mais, um outro Exérci general Bôhm. Ambos ,
to, sem tantos portugue- a conviver em Portugal
ses, se tornava bastante atraente para uma famí moderno Exérci to prussi ano, foram obriga dos
lia composta de militares, No Brasil, Bôhm tentou resis-
todos ainda jovens. O preço de uma futura reforma era a reduçã com uma oficialidade pouco militar izada.
o momentã- onais milícia s cao A Coroa
nea da instituição. Para os Lima e seus amigos, tir, mas logo aprend eu a aceitar as tradici
não faltariam vagas. ao trabal ho desses oficiais. Quando,
a fato ponto de aproximação entre Francisco portuguesa nunca deu contin uidade
de Lima e os liberais mo- Regimento de
erados era O modo como pensava as intervençõ em 1767, Francisco de Lima, o coronel comandante do
es do poder central nas

211
210
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE

Bragança, decidiu atravessar O Atlântico com seu irmão caçula, q pa- das ocasionalmente como prisão e, desde as rusgas de maio, um paiol de
triarca dos Lima, o fez exatamente — O leitor deve estar lembrado — por pólvora desativado também vinha funcionando com esse fim. Era aí que
conta da desmobilização do Exército promovida pela Coroa com o fim se achava, desde que fora transferido da fortaleza de Villegaignon, em
da Guerra dos Sete Anos. maio, O líder Cipriano Barata. Havia ainda, ancorado próximo à ilha,
A política militar articulada pelos moderados contava com a intensa um navio-prisão — a Presiganga. O risco era previsível. Há dias corriam
participação dos irmãos Lima. À presença deles garantia a preservação da boatos sobre uma possível sublevação do corpo de artilharia da ilha. À
herança colonial no Exército brasileiro — a continuidade de um número desconfiança era tal que o ministro da Marinha, poucos dias antes de
reduzido de efetivos, de um recrutamento violento e dirigido à plebe, de rebentar a revolta, ordenou que fossem removidos do local todo o arma-
uma oficialidade hierarquicamente organizada segundo uma combinação mento e o cartuchame ali existentes, autorizou várias baixas, transferiu
de elementos dados por uma “economia de favores” e pela prestação de oficiais e mandou prender os suspeitos de liderar o movimento.”
serviços à Coroa e, por fim, de um Exército estruturado para conviver com Essa atitude do governo detonou a sublevação. No dia 6 de outubro,
sol-
forças paramilitares de cidadãos proprietários. Tratava-se de um típico o corpo de artilharia da ilha insubordinou-se, arrastando consigo os
Exército de Antigo Regime. Luiz Alves, o primogênito da segunda geração dados do navio-prisão. O pânico tomou mais uma vez conta da popula-
dos Lima no Brasil, foi introduzido na tradição miliciana dessa época ao ção. Temia-se que os rebeldes desembarcassem na cidade e, apoiados
ser nomeado em fevereiro de 1832 instrutor dos corpos de infantaria da pelos exaltados, tomassem O Arsenal de Marinha. Feijó repetia O roteiro
Guarda Nacional do Rio de Janeiro.*º Antes disso, porém, ele participaria reunindo a Câmara e O Senado em sessão permanent e. À dife-
de julho,
| 5;
de mais um movimento de repressão aos opositores dessa política. rença é que dessa vez o movimento era menor.
O objeti-
Voltemos ao desenrolar dos acontecimentos. Apesar de todo o esfor- Na manhã do dia 7, o governo mandou emissários à ilha.
conseguir a rendição dos marinheir os, sem recorrer às armas.
ço do governo, a guerra na imprensa crescia e, com ela, os conflitos de vo era
Raras
rua. Em setembro, tumultos no Teatro São Pedro (situado onde hoje é O Mas não houve negociação possível. Diante da notícia, as
José Ma-
Teatro João Caetano, na Praça Tiradentes) levaram novamente às pri- deram o rebate por toda a cidade, e, sem demora, O marechal
Peixoto conseguiu reunir uma força composta de 600 guardas
sões da cidade oficiais do Exército. Entre eles estava o major Miguel de ria Pinto
Mesmo formalme nte extintos, Os municipai s permanece-
Frias. Apesar de sócio da Sociedade Defensora, o jovem oficial, desde a municipais.
de policiame nto das ruas até a organizaç ão efetiva das
crise de julho, vinha fazendo oposição à Regência. Sua intervenção no ram no serviço
nacionais . Com Os municipai s, acorreu também à chamada o
episódio do teatro, protestando contra a prisão de dois outros oficiais, guardas
de Oficiais- Soldados. *” Ordenou então o marechal que O co-
fez o incidente degenerar em sério conflito. A tensão se agravou qua Batalhão
ndo, Dm
uma semana depois dos “tiros do teatro ”, uma rebelião armada, ronel João Paulo Barreto, comandante dos oficiais-soldados,
envol- deveriam dar assalto à forraleza. Três
vendo prisioneiros políticos e uma guarnição militar, irrompeu na ilha à organização das colunas que
então organizad as, misturan do integrant es da Guarda
colunas foram
Gas Cobras. Situada próxima ao Morro de São Bento, essa ilha era à de Oficiais- Soldados. A 1º coluna ficou sob O
principal base da artilharia costeira do Ri Municipal e do Batalhão
o e nela estava aquartelada comando do próprio coronel Barreto, da 2* coluna ficou
Encartpaaa
uma das duas únicas unidades milita
res que havia permanecido fiel ao de Lima, e o comando da 3º coluna foi passado ao
governo na crise de julho. Partes da o major Luiz Alves
fortaleza existente na ilha eram usa-
213
212
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE

cidadão Manoel Airosa. As forças do governo utilizaram a seu favor A


No total, 200 sublevados foram capturados. Mesmo assim, muitos,
posição da ilha. Além de embarcações de guerra ancoradas entre q ar.
nas buscas, tinham conseguido fugir. Esses, dois dias depois, ainda se
senal e a ilha, a Regência contava ainda com uma bateria de artilharia
achavam desaparecidos. Pensando nisso, o marechal Peixoto decidiu
de seis bocas apontada no adro de São Bento. A bateria abriu fogo. Os
prosseguir com a diligência, encarregando dela o coronel Barreto. Os
navios, comandados pelo chefe-de-divisão João Taylor, deram Segiiên-
oficiais-soldados voltaram então à ilha. Acreditava-se que os fugitivos
cia ao bombardeio. Sob a proteção dessas descargas, a 1º coluna embar-
tinham se ocultado nos edifícios e matos próximos à fortaleza, juntos
cou em lanchas, desembarcando sem encontrar a menor resistência no
talvez com antigos prisioneiros não capturados.?
porto da ilha das Cobras. Os oficiais-soldados, organizando na
frente A comoção entre os moderados era geral. O funeral do único guarda
da coluna uma linha de atiradores, protegiam as forças da retaguarda
municipal morto no conflito tornou-se o grande momento da Regência:
que, com velocidade, ganharam a esplanada da fortaleza.
Os subleva- sepultava-se o mártir da causa da autoridade constituída.” Ainda no
dos tentavam resistir com algumas descargas desordenadas. Todavia,
o dia 7, o ministro Diogo Feijó redigiu algumas comunicações à Câmara
revide imediato os levou a baterem em retirada, abandonando
os para- e ao Senado. Na primeira delas, à Câmara, afirmava que ninguém po-
peitos da fortaleza.
deria dissimular o terrível estado da capital: “a indignação ferve nos
Nesse momento, desembarcou a 2º coluna, comandada pelo major peitos dos cidadãos todos os dias ameaçados por meia dúzia de in-
Luiz Alves de Lima. Contornou a ilha pelo lado esquerdo trigantes e miseráveis indivíduos que têm a demência de querer ditar
e tomou a
frente oposta da fortaleza. Como a resistência continuava a lei ao império, mudar a forma de governo e colocar nele entes nulos
pequena, o
marechal Peixoto decidiu não enviar mais forças à ilha. Em e desprezíveis”.*
barcou em
uma lancha e, ao se aproximar do local, ainda viu alguns sublev O comunicado responsabilizava claramente os exaltados pela suble-
ados no
parapeito. Entre eles, surgiu uma bandeira nacional, o que não signifi- vação. Eles eram a meia dúzia de “intrigantes dementes” que queriam
cava rendição. Ao contrário, aproveitando a suspensão do fogo,
os re- ditar a lei ao império. Firme em sua cruzada contra a “anarquia”, o con-
beldes voltaram a atirar, matando o guarda municipal
Estevão Almeida selho da Sociedade Defensora, do qual o major Luiz Alves participava
Chaves. Nesse instante, já estavam no portão da fortal
eza o coronel como suplente desde agosto, não deixaria de vir a público se pronun-
Barreto e alguns de seus oficiais, tentando forçar a entrada com o coice ciar, Na sessão de 16 de outubro, redigiu uma carta-homenagem ao ma-
de suas armas. Como o portãoão não
nã cedia,
; o tenente-coronel Correia, rechal Peixoto e, em seguida, enviou o texto para a redação do Aurora
num movimento rápido, escalou a mural Fluminense. Publicada no dia 26, a carta dirigia-se ao “Cidadão Coman-
fortaleza, sendo seguido
h a e ganhou o parapeitito o da dante Geral das Guardas Municipais”. A patente de marechal do Exér-
por vários oficiais. Já do alto das mura
lhas, O
marechal Peixoto intimou que os guardas
sublevados se rendessem. En- cito não podia obscurecer a condição de cidadão de José Mania Pinto
quanto io, O major Luiz Alves
de Lima arrombava o portão Peixoto, até porque ele comandava uma guarda civil, integrada por vo-
oposto. Ão invadir a fortaleza, ainda do lado luntários. A unidade deveria ocorrer em torno de uma prerrogativa po-
enfrentou alguns rebeldes. Mas O
bombardeio inicicial contra a ilha,
realizado pela artilharia, tinh lítica — eram todos cidadãos. Na carta, o conselho agradecia ao
suas forças. Assim, a minado marechal-cidadão seu “ilustrado amor à pátria” e a coragem com que
sem muitas dificuld é u e aprisioTo
nou vários guardas.
2. ades Oficial domino
» OO ofici E
«“desalojou a anarquia de seu derradeiro baluarte”.

215
214
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE

A GUARDA DE MUNICIPAIS PERMANENTES


extinto em julho de 1831 por ter detonado a crise que quase derrubou a
“Um abismo horroroso está a um só passo diante de nós.”87 Com essa Regência. Guarda Municipal Permanente era, assim, um nome menos com-
frase, o ministro Diogo Feijó assumia publicamente, para toda a Câma. prometido e que lembrava a força policial anterior, criada pelos próprios
ra, a vertigem que lhe vinham provocando esses sucessivos levant moderados. Aliás, a preocupação em criar uma polícia militar nova, que não
es po- guardasse nenhuma relação com a precedente, era um dos objetivos declara-
pulares. Esse sentimento provavelmente era compartil
hado Por muitos dos por Feijó. A consternação causada pela Guarda Real de Polícia em julho
habitantes da corte em 1831, e o esforço para contê-lo seguia
intenso, não seria tão cedo esquecida, e o ministro estava convencido de que seu pro-
Em 10 de outubro, apenas três dias após a sublevação da
ilha das Co- blema, bem como a “repugnância pela profissão”, estava na “qualidade dos
bras, os deputados responderam aos rebeldes com
a criação de uma nova homens” recrutados.” Por isso, sua organização seria muito diferente.
força policial - os Guardas Municipais Permanentes.
Os permanentes reafirmavam a crença liberal de que o po horro-
Outra iniciativa do ministro Feijó, o projeto
havia sido encaminhado roso” desses dias era devido à dissolução das fronteiras sociais. Aos olhos
para a Câmara ainda em agosto. O episódio da ilha forç
ou mais uma vez a de Feijó, parecia absurdo que por tanto tempo se tivesse delegado a Fran
decisão dos deputados, reticentes em seu apoio às
reformas reclamadas tenção da ordem a homens de “tão baixa qa der O a de criação
pelo ministro. A grande diferença desse corpo poli
cial para os que o antece- das guardas permanentes, em seu artigo terceiro, é claro: “neste corpo se-
deram está em seu caráter profissional, perman
ente e militar Ele substituía rão alistados cidadãos brasileiros de 18 a 40 anos, de conduta moral e
em definitivo a guarda municipal civil. Apesar do
bom desempenho dos política”.?! Esses homens, no entanto, jamais se alistariam em uma força
civis nos últimos combates, o ministro reconhecia que
“este ônus é insupor- militar tradicional. O governo precisava acenar com mudanças se quisesse
tável?. A Guarda Municipal disputaria civis
com a recém-criada Guarda atraí-los para a vida militar. Dessa forma, o regafamento da nova guarda
Nacional. Era impraticável, para Feijó, co
ntinuar tamanha mobilização, proibia a conscrição. Diferentemente das praças do Exército, ospermanen-
subtraindo vários cidadãos de suas ocupações diária
s por tantos meses. Até tes deveriam ser voluntários. Um ponto-chave para marcar de forma deci-
o final daquele ano, em seis meses de existência
, a guarda civil jamais tinha siva essa mudança era a remuneração. Enquanto um soldado da Guarda
co mpletado o quadro previsto de 400 homens. Além Real de Polícia em julho recebia meros 2$400 mensais, um permanente
dos longos meses de
serviço, concorria ainda para o receberia em novembro 18$000. Essa diferença rendia ao novo guarda
não “Preenchimento de seus quadros o que
Feijó considerava “a repugnância 216$000 anuais, mantendo sua prerrogativa política. Não havia outro jei-
q ue têm os brasileiros pela profissão mi-
litar”. Reconhecia, ao final de seu pr
imeiro ano de governo, que “sem O to. Se o alistamento seguia um critério censitário, o salário phepatoeia nara
auxílio da primeira linha encarregada te tinha de manter essa renda mínima. Esse rendimento, sem dúvida, Sar
da guarnição da cidade não é possível
que possa continuar o atual método para as fileiras da guarda integrantes das camadas inferiores da soci
de segurança pública ”.8
Permanentes”:
[os
era assim
”, -
que os moradores da corte denomi a Mas pessoas do povo, e não mais a plebe.” Outro ponto pirita
formalmente a nova guarda. Tratava-s navam in- a
e, na verdade, de uma polícia proibição de castigos corporais. Os açoites eram a maior Expressão
Mas incluir um desses termos — sobretud militar. ad x
o polícia - em seu nome favoreceri milhação cotidiana sofrida pelos soldados regulares. Para exigir
a promisso dos guardas no exercício da força policial era preciso tratá-los
forma diferenciada. Afinal, eram homens livres e cidadãos.

217
216
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE

Ao elevar o nível socioeconômico dos soldados da nova guarda poli.


cial, Feijó mostrava que para a Regência não bastava para O Sul, acompanhando o então ministro da Guerra após uma derrota
reprimir, interessa.
das forças imperiais para os farrapos. Como os demais biógrafos se baseiam
va também conter a brutalidade generalizada, desregrada
e autoritária na obra de Pinto de Campos, esse período até hoje nunca foi abordado pelas
daqueles dias. Esse era o princípio do processo de decantação Social. O
biografias. Desse modo — é fundamental destacar -, o comando da Divisão
alistamento de homens de “melhor qualidade” mexia em
vários Vícios Pacificadora do Norte foi o segundo exercido por Luiz Alves de Lima, logo
das instituições militares. Primeiro, forçava uma mudança de atitude
em depois dessa experiência de sete anos no Rio de Janeiro.
seus superiores. O açoite prova que a brutalidade normalmente
começa- Antes de iniciar a análise de sua atuação à frente da guarda de perma-
va nas autoridades que dirigiam a força policial. Por ISSO,
Outra medida nentes, porém, é preciso se deter ainda na primeira vez que ele assumiu
do governo foi subordiná-la ao Ministério da Justiça, ao próprio
Diogo esse comando, temporariamente, por ordem do ministro Diogo Feijó. A
Feijó. A Intendência Geral de Polícia, instância a que
estava subordinada Regência precisava reprimir mais um levante na cidade. À operação foi
a antiga força policial, sempre agiu de modo truculento
e não cumpria rápida, durou um dia. Luiz Alves assumiu o comando apenas para conter
procedimentos legais básicos na repressão à desor
dem pública. Um se- a crise, depois ainda voltaria ao Batalhão de Oficiais-Soldados.?
gundo ponto que precisava ser reforçado era a idéia de que
a instituição A proximidade do primeiro aniversário do 7 de abril voltava à acender
tinha o papel de disciplinar e ensinar a obediência aos
cidadãos que nela os ânimos na corte. Rumores sobre tramas contra a Regência se dissemina:
se alistavam. Finalmente, essa mesma lógica —- como
veremos adian- vam com rapidez, e algumas famílias, mais sobressaltadas, decidiam dessa
te — devia chegar às ruas. Feijó, num ofício interno,
datado de fevereiro vez não esperar, dirigindo-se logo para os arrabaldes da cidade. Os modera-
de 1832, avisava ao comandante dos permanentes que dos, por outro lado, preparavam uma grande comemoração, sem desviar a
havia presenciado
uma ronda aplicando pancadas em negros e recriminava atenção, é claro, dos boatos e da movimentação do povo nas ruas. Ão que
à prática: “mui-
to desagradável me será ter notícia de que cidadãos parece, liderando mais uma vez O povo, os exaltados ariculavam pride
escolhidos, e que de-
vem ser Os primeiros em dar o exemplo de respeito às leis te para a noite do dia 2. É difícil precisar a proporção do evito, já que,
e aos direitos
dos outros, sejam olhados como inimigos de seus semelhant por conta de denúncias, a ação foi sustada. No dia 3, contudo, às seis horas
es”. — E com-
pletava — nenhum artigo das instruções da manhã, alguns militares, liderados pelo major Miguel de Frias e Vascon-
, pelas quais se devem regular,
dá-se tal autoridade ( «.) competindo-lhes so cellos, desembarcavam com uma peça de artilharia na Praia de Botafogo.
mente prendê-los”.?
Foi o comando dessa polícia, por tudo isso bast
ante prestigiada, que O O cancelamento do levante pouco antes da data marcada para seu irrompi-
major Luiz Alves de Lima assumiu em outubro de 18 mento impediu que todos os “cabeças da trama” em articulação fossem
32, nele permanecendo
Por sete anos consecutivos. Só deixou esse comand avisados a tempo. Miguel de Frias estava na fortaleza de ires desde
o em dezembro de 1832.
setembro, quando foi preso durante o episódio dos “tiros do teatro”. Desin-
formado, cumpriu sua parte no plano: seduziu os guardas da fortaleza, libe-
no combate aos balaios do Maranhão
.4 Joaquim Pinto de Campos — auto rou Os prisioneiros e colocou-se, com esses homens, em marcha para O
da primeira biografia do duque de Caxias — não r Campo da Honra, onde esperava reunir-se a Outros grupos Fevéicea
escreve uma só linha sobr?
Caminhando pelas ruas do Catete, da Lapa, das Mangueiras, dos Arcos
e do Lavradio, o grupo — cerca de 150 homens — alcançou o Campo da

219
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE

Honra e se colocou, tal como no dia 7 de abril, junto ao palacete, de frente major Frias não teve chances, e saiu preso do Teatro São Pedro. Feijó
para o quartel-general. Aí reunidos, exigiam a deposição da Regência, a
atribuía exatamente a essas solidariedades a continuidade dos conflitos.
formação da República e a convocação de uma Assembléia Constituinte
Desse modo, para se livrar das masmorras dos fortes da cidade, sem
À reação do governo foi imediata. Tomando conhecimento do que se
comprometer a ordem, e criar novos problemas para a Regência, o ma-
passava no campo, o ministro Feijó expediu, de seu próprio punho, or-
jor Miguel de Frias sairia, à noite, “do quarto do desembargador para os
dem para que o major Luiz Alves de Lima assumisse o comando das
Estados Unidos, onde esteve por um ano, até que obteve anístia”.!0
Guardas Municipais Permanentes e dispersasse “a ferro e fogo” os gru-
Esse episódio é bastante expressivo. O fato de Feijó ter mandado
pos armados que ali encontrasse.”” Com rapidez, o major dirigiu-se para chamar o jovem major Lima para comandar as tropas de infantaria dos
o quartel da Rua dos Barbonos (atual Evaristo da Veiga, onde ainda hoje permanentes, quando ele nem integrava o corpo da guarda, mostra que
se situa o quartel da Polícia Militar) e, assumindo o comando das tropas o oficial vinha ganhando alguma visibilidade na corte. Sua atuação na
de infantaria, partiu para o Campo da Honra. Em pouco tempo, repressão à sublevação da ilha das Cobras já havia sido elogiada e, ao
o grupo
rebelde estava cercado pelos corpos de infantaria e cavalaria dos que parece, rendeu-lhe essa outra oportunidade. Por mais que o alcance
perma-
nentes. O major Lima — segundo consta — entrou na praça da revolta tenha ficado muito aquém do que se previa, a vitória do go-
atacando a
“ferro frio”. Os revoltosos, vendo a decisão dos guardas verno seria comemorada com entusiasmo. Simbolicamente, ela mobili-
permanentes,
deram uma descarga, mas tal era a confusão que, depondo zava elementos fortes: acontecia às vésperas do primeiro aniversário do
armas, cada
qual procurava salvar sua vida, metendo-se em portões 7 de abril, no mesmo cenário de um ano antes, e era liderada por uma
das casas para,
em seguida, desaparecer. Apenas um dos permanentes foi atingido. personagem profundamente identificada com aquele evento.
Mi-
guel de Frias, em meio ao tumulto, tentou escapar pela Rua do O significado atribuído à abrilada — nome pelo qual ficou conhecido o
Areal
(hoje, Rua Moncorvo Filho). Atento ao que se passava, movimento — pode ser avaliado por meio das solenidades organizadas pela
o major Luiz
Alves saiu em seu encalço. As chances de Miguel de Frias Regência e pela Sociedade Defensora. O soldado morto no Campo da
eram peque-
nas. Assim, quando avistou a casa do desembargador Nabuco Honra tornou-se o mais novo mártir da moderação. À cidade parou para
de Araú-
Jo, então morador na Rua do Areal, não titubeou: entrou acompanhar seu funeral. Um préstito fúnebre saiu do quartel da Rua dos
em busca de
refúgio. Como se tratava de uma autoridade públic
a, além de amigo da Barbonos, integrado por guardas nacionais permanentes e cidadãos de di-
família de ambos os oficiais, Luiz Alves não encont
rou problemas para versas classes sociais, todos carregando tochas acesas. O caixão, coberto de
também entrar na casa. Lá dentro, achou Mi
guel escondido em um dos flores roxas, era ornado por uma faixa com as inscrições: “Saudades da
URLs. Apesar da corrida, ao final, a solução foi diplom pátria e dos cidadãos pelo cidadão que sucumbira em defesa da nação.”
ática. O major
Lima decidiu não prender o “amigo e compan
heiro de infância”. Fechou Esperando o cortejo, na igreja São Francisco de Paula, estavam os mem-
a porta e entregou a chave ao desembarga bros da Regência, ministros de Estado, deputados e vários cidadãos ilus-
dor. A história é contada por
Luiz Alves, anos mais tarde. É provável que a atitude tres. Os pais de Florentino José Lopes, o soldado morto, receberiam a partir
tenha sido aconse-
lhada pelo desembargador, ou resultado de algum ac dessa data uma pensão mensal do governo no valor do salário do filho."
erto entre os três-
Pelas ordens de Diogo Feijó, os agentes Três dias depois, festejos comemoravam o 7 de abril. Apesar dos
da repressão deveriam “cumprir
seu dever sem exceção de Pessoa alguma”.”” boatos anunciando o rompimento de novas rusgas e motins, O dia trans-
Por isso, 3 em setembro, O
)

221
220
LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

correu sem incidentes. Cada uma das etapas da festa foi executada como dores. Ali, naquelas salas, ele era não só filho de um dos regentes, so-
previsto. Durante o dia, os membros do governo se reuniram para um Te brinho do homenageado da noite, mas sobretudo um jovem oficial em
Deum na capela imperial, dirigindo-se, em seguida, ao paço, onde o im- quem o ministro Feijó — nome forte do governo — mostrava ter confian-
perador menino foi homenageado por um cortejo de cidadãos. A Regên- ça. De certa forma, se a festa transcorria “com plena seguridade”,!º3
cia, entretanto, não deixaria de celebrar com pompa um outro Te Deum isso se devia em parte a sua atuação no combate à abrilada. Por ter
na igreja que selou, no dia 15 de abril de 1831, o congraçamento entre sido O levante mais recente, ele era também o mais comentado, tanto
os membros da Regência Provisória, a tropa e o povo — a igreja São pelos convidados naquela noite como nos dias posteriores pelos jornais
Francisco de Paula. moderados da corte.
Um grande baile, financiado pela Sociedade Defensora da Liberdade No dia 7 de junho, o major Luiz Alves de Lima voltava ao quartel da
e Independência Nacional, encerrou as comemorações, reunindo, à noite, Rua dos Barbonos para assumir o posto de 2º comandante do Corpo de
em torno de 400 pessoas nas salas da Secretaria da Guerra, situada no Guardas Municipais Permanentes e, em outubro, no dia 18, era nomea-
Campo da Honra. A escolha do local não foi aleatória. Utilizar as depen- do comandante geral desse mesmo corpo. À essa altura, a cidade come-
dências onde funcionava a maior instância militar do país era não só uma cava a viver uma fase politicamente menos turbulenta, o ímpeto dos
demonstração de força, como mantinha acesa a disputa simbólica pelo rebeldes para sublevar guarnições militares parecia se esgotar. Davam os
Campo da Honra. A festa começou com uma eloquente e entusiástica primeiros sinais de cansaço diante de uma política repressiva que mobi-
oração pronunciada pelo sócio Francisco Sales Torres Homem. Em segui- lizava e colocava em armas uma parcela expressiva da população."*
da, o hino do 7 de abril foi cantado por outro sócio, Domingos Alves Mas nem por isso o desafio enfrentado pelo major Luiz Alves foi me-
Pinto, acompanhado de um pequeno coro de senhoras. O grande home- nor. A renhida resistência da imprensa exaltada e os pequenos conflitos de
nageado da noite, no entanto, foi o ministro da Guerra, e também sócio, rua, cotidianos na capital imperial, marcaram Os anos iniciais de sua a
Manoel da Fonseca de Lima. De forma solene, ele recebeu das mãos do no comando dos permanentes. Vários desses conflitos, inclusive, tinham
presidente da Sociedade Defensora, Manoel do Nascimento Castro e Sil- origem no comportamento descomedido de seus próprios oficiais fuaia
a
va, um ramo de honra “pelos serviços que prestou para a revolução glo- total falta de entendimento entre estes e as demais autoridades policiais
riosa?. Após O gesto, o mesmo senhor proferiu ainda uma “alocução”, cidade, principalmente os guardas nacionais. Esse seria, para vários minis-
exaltando o caráter e a bravura do nobre general. Só então deu-se início tros da Justiça, aos quais ele esteve subordinado nesses sete anos, seu gran-
às danças e à degustação de doces e refrescos. Mas, a cada intervalo, rea- de mérito à frente do corpo — efetivou a organização e disciplinou a nova
lizado para que os músicos pudessem descansar, discursos saudavam O 7 elogi os — como vere mos — não eram gratu itos. À taref a era de
guarda. Os
de abril, e hinos eram entoados. fato complexa, e a antipatia dos exaltados pelos guardas, somada ao inte-
Depois de dias de tensão, sob a ameaça constante de novos levan- resse pessoal de alguns desafetos, tornaria ainda mais difícil seu trabalho.
tes, O regozijo era geral. Nas conversas, nos pequenos círculos que se No ano de 1833, o major Lima ficaria particularmente exposto.
formavam, o assunto preferido era “a inabilidade e os fracos recursos A estrutura hierárquica do Corpo de Permanentes era simples. Orga-
102 * ;
dos revoltosos”.i? É bem provável que o major Luiz Alves estivesse nizando graficamente as informações fornecidas no decreto de criação
presente no baile, e, nesse caso, deve ter vivido moment do corpo, o quadro é o seguinte:
os recompensa-

223
222
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE

HIERARQUIA DOS PERMANENTES do “Livro Mestre” da unidade, onde é possível encontrar uma síntese da

Oficiais superiores trajetória de todos os oficiais nomeados entre os anos de 1831 e 1839,
Tenente-coronel (1) |Comandante-geral |
Major (1) 2º comandante mostra que, em um primeiro momento, eles foram preenchidos na sua
Oficiais subalternos
quase totalidade por militares de carreira. A organização de um outro
Capitães (4) 1º comandante de
Capitães (2) infantaria quadro comparativo da composição do corpo de oficiais subalternos e
Tenentes (4) 1º comandante de inferiores nessa primeira fase da unidade mostra uma diferença curiosa:
Tenentes (2) cavalaria
2º comandante de | Oficiais inferiores
Oficiais subalternos
infantaria
2º comandante de Militares de carreira 73,3% =
cavalaria
Cidadãos alistados 26,6% 100%
Oficiais inferiores Sargentos (18)
Furriéis (6) Total N=15 N=28

Cabos (36) Fonte: “Livro Mestre do Corpo de Guardas Municipais Permanentes da Corte — 1º Ji-
Soldados (550) vro — Alteração de oficiais (1834/1839)” — AG PMER]J.
FONTE: Decreto de organização do Corpo
O corpo de oficiais nessa primeira década estava claramente cindido en-
de Guardas Municipais Permanentes, ane
ao “Livro Mestre — 1º livro — Alteração xo
de oficiais (1834/1839)” - AG PMERJ.
tre cidadãos, para os quais a vida militar era recente, tendo iniciado pou-
Quando Luiz Alves de Lima assumiu o coma co antes como soldados, e militares que começariam na guarda sem pas-
ndo dos permanentes, em outu-
bro, ele ainda era major. Mas tão logo assumi
u o posto, foi graduado tenente- sar pelos postos inferiores. Não é difícil imaginar a razão dessa cisão.
coronel. Durante praticamente toda sua gestão Diante da inexperiência dos alistados, eles não podiam assumir Os postos
, contou com o auxílio, no 2º
Comando da Guarda, de Antônio Manoel de subalternos, aos quais só começaram a ascender depois de Eni À varia-
Melo, oficial paulista e forma-
do em engenharia pela Real Academia Militar. amente
Os dois teriam sob seu coman- ção que pode ser notada na coluna de oficiais subalternos é exat
do quatro companhias de infantaria e duas de cav resultado dessa mobilidade, da exoneração de alguns militares de carreira
alaria. Daí o número total
de capitães e tenentes definido no quadro. ao longo desses oito anos e da promoção de integrantes Go Reto to
Esses números eram fixos, o que
não ocorria quando se tratava dos oficiais inferiores. para essas vagas. Como vimos no quadro anterior, O número o no
Estes podiam variar em
função do número de cidadãos alis
tados, O decreto só estabelece o e fetivo decreto é de 12 subalternos e, apesar da variação, o de inferiores nunca
máximo de soldados, mas nem sempre ultrapassou o número de 24 oficiais. À maior parte desses Era A
se conseguia completar 0 corpo.
E
O mais interessante nesse quad TO, NO
entanto, são seus postos inter- res obteve uma promoção para os postos subalternos na déca º E
mediários de comando, que, por falta O grupo de militares de carreira, acrescido do comandante A
ves :
de pesquisas sobre a composição
cipais Permanentes, nunca foram Lima e do 2º coma ndan te Antô nio Mano el de Melo — tamb ém o ciais e
antes ana-
lisados. Se, ao criar a guarda, Feijó expôs carreira — é pequeno, integrado por 13 oficiais. O qua a seguir organi-
formalmente, em seu decreto de
organização, a intenção de compor za os dados biográficos fornecidos pelo “Livro Mestre do corpo, reve-
suas fileiras com cidadãos, não ficou
registrado como seriam preenchido lando o perfil relativamente homogêneo do grupo:
s esses postos. Um exame cu
idadoso

224 225
ET TI [ 9 OI bp OL (ET) jmoL
= — E is cad |
o | | BJI9JIS,
a | | unbeof
9 X X E — X ns
- | -a 008T [Y 250
E —
o | | eumop
o X X = E X X X LIST TH | Oospueig
o = a S
T ) ouurdsy o
S | — ouB)eD
5 X X - - - - -. 8821 “Ld ogoí
2 |
n ESTIG
= X vo | d- X X - X 908T [H| asofsin7
Es ss
" | BAIIS EP
sx X = X X — - 6621 [H| OJUId 2sof
BAIIS EP
X A = X x = X 8641 [4H | EITA OgOÍ
OIse|ON
BIT
PR =» Ê GENO | me - x 808 T N| omuguy
| | ESoIqON
EÕ || | ep unnbeof
s x X aa | EPE ea | mm
X TOST [W asof
Sad
Õ | | jose)
o K X | = X | X X x TO8T “4 ozo[
| ” . ' | '
= | ONSES)
| EIISIIS,
ÊO x X Es
x | - - mm
- pa
X SO8Tsm OW | OUoNEW »
PN
Lu l
ê | | | | OJONISEO)
op & X os X - X Post 4 | aB10[
- | | | OJJA
S | 9P [90UPIA
Õ X X EA | = : X x | vosras| ouquy
3 |
S eurT op
5 x X | cost [M| say znT
— Ea. | k
TE8T | eunejdso Jd ergeg | Jopezduy WVH 3YPeO | OJUMUOsEN
ospnay | equedwes | oquosy| osequo)| ogyeeg sopnisa BÍeI] | CIep/[eooT SSUON |
— = —— im | nd
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE

Essa composição inicial da guarda de permanentes define com precisão a trolar seus impulsos diante da insubordinação dos soldados da guarda.
política militar dos liberais. Luiz Alves de Lima assumia em outubro de Estavam proibidos de usar o açoite e — como mostra o segundo qua-
1832 uma força policial composta em seu estrato superior de oficiais que dro — deviam concordar em dividir funções de comando com os alista-
se encontravam avulsos em função da desmobilização do Exército. A nova dos. É certo que estes jamais alcançariam postos superiores. Mesmo as
polícia abrigava parte considerável dos oficiais do Batalhão do Imperador. carreiras mais bem-sucedidas, descritas no “Livro Mestre”, terminavam
Dos 13 oficiais de carreira que integravam seus quadros, 10 tinham per- com uma reforma no posto de capitão. Estas era a fronteira entre esses
tencido ao referido batalhão, uma guarda diretamente identificada com dois mundos. Mas, para que ela fosse preservada, os jovens militares de
d. Pedro. Esses oficiais, tão próximos do poder central, eram agora deslo- carreira precisavam reconhecer essa nuance, respeitá-la e não tratar os
cados para a organização de uma força composta de cidadãos. Caberia à soldados como à plebe. Nesse momento, até em relação à plebe era pre-
eles, nos anos seguintes, treinar esses homens e transformá-los em policiais ciso conter os excessos a fim de evitar conflitos que, às vezes por motivos
militares. Apenas um era português, os demais eram todos brasileiros. banais, comprometiam o equilíbrio já naturalmente tão frágil dessa so-
Dez
deles possuíam o título de cadete. Isso quer dizer que ou tinham nobreza ciedade. Daí a preocupação do ministro Feijó anteriormente menciona-
comprovada por parte dos quatro avós ou- como era mais provável -eram da, de impedir que os guardas permanentes dessem pancadas também
filhos de militares de patente.!5 Tendo em média 30 anos, estavam
no em negros — cativos ou libertos — nas ruas da cidade.
início da carreira. Todavia, não foram prejudicados com a desmobilização As patrulhas de permanentes circulavam dia e noite pela cidade. Nas
do Exército. Redistribuídos, por novas instituições militares, esses jovens
ruas do centro, o policiamento era realizado por soldados das compa-
oficiais, formados por um modelo militar condenado pelos liberais como
nhias de infantaria, geralmente em duplas. Nos subúrbios, áreas mais
tirânico e arbitrário, seriam reeducados. A experiência desses anos regen-
extensas e isoladas, empregava-se a cavalaria. Deviam zelar pela boa
ciais lhes mostraria o valor da “verdadeira liberdade”, aquela evocada por
ordem. Isso implicava prender bandidos procurados, os que estivessem
Vasconcellos durante a crise de julho. Uma liberdade herdada de seus an-
cometendo crime e os que estivessem para cometê-lo. É importante lem-
tepassados, que, de forma alguma, se confundia com a “anarquia” dos
brar que, após a lei de junho, o conceito do que era atividade criminosa
largos, praças e ruas. Esses jovens aprendiam a retirar dela qualquer con-
foi ampliado. A reunião de cinco ou mais pessoas, por exemplo, devia
teúdo democrático, para que fosse pensada apenas como resistência
à au- ser reprimida como ajuntamento ilícito. Também deveriam ser conside-
toridade do Estado.!ºs ser
rados suspeitos todos aqueles que portassem objetos que pudessem
A essa geração, nascida na primeira década do século XIX, caberia
utilizados como armas, mesmo que fosse um simples pedaço de madeira.
Nesse trabalho de prevenção, para prender quem estivesse para executar
consolidar os princípios que seus pais lutavam por preservar. Luiz Alves
de Lima, na função de comandante das Guardas Munici
pais Permanen- cil era agi r res pei tan do as des igu ald ade s que atr ave ssa-
um crime, o difí
tes, aprendia, cotidianamente, a circular por entre os vários mundos so- ilidade
vam a sociedade. O tod os da lei subentendia uma certa sensib
ciais que compunham a corte imperial. Com esse movimento sociais. Em
, devia para o reconhecimento, na pr ática, de uma série de desníveis
impedir que a generalização da brutalidade, típica dos anos anteri numa loja na Rua do Saco e ver um escravo
ores, julho de 1832, ao entrar
redundasse em luta pela igualdade. Antigos companheiros de Bat a patrulha local não
alhão portando um bastão, o permanente responsável pel
do Imperador, agora sob seu comando, eram, por isso, obrigados a con Par ou o ho me m e apr een deu -lh e o que , em suas mãos,
- pen sou dua s vez es.

228 229
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE

seguramente se converteria em uma arma.!º? Pouco mais de um ano de- Os juízes de paz, com certa fregúência, solicitavam que o ministro bai-
pois, uma patrulha de permanentes encontrou, entre o povo, no Campo xasse instrução ao comandante Luiz Alves de Lima para destacar forças
da Honra, Maurício José Lafuente, armado de um par de pistolas e um especiais, destinadas a cobrir eventos religiosos e culturais. O diretor da
estoque. O rapaz não foi preso. No momento em que foi abordado pelos Companhia Cômica do Teatro Público, situado na Rua dos Arcos, era um
permanentes, apresentou uma licença assinada por um dos juízes de paz que não dispensava a presença dos guardas permanentes na “conservação
do Engenho Velho, com data recente. A insegurança era de tal ordem da ordem e da tranquilidade das pessoas que concorrem aos espetáculos”.!º
que mesmo o comandante do corpo, o tenente-coronel Lima, ao ser co- A grande dificuldade é que, circulando entre grupos tão distintos, quando
municado por seus homens do ocorrido, preferiu não emitir opinião. os guardas se viam diante de uma situação de criminalidade eram obriga-
Escreveu direto ao ministro da Justiça, perguntando-lhe como
deveria dos a se cercar de cuidados para não cometer um erro e ser insultados pu-
proceder caso seus soldados voltassem a encontrar o rapaz armado. blicamente. Por isso, preferiam o serviço nas ruas. Mas, mesmo em locais
Per-
guntou inclusive se poderia “mandar apalpá-lo”. Pior foi a resposta populares, não estavam livres desses constrangimentos. O guarda Francis-
do
ministro. Longe de esclarecer, ela inseriu mais uma variante para co Ribeiro Pessoa, responsável, em março de 1834, por manter a ordem no
ser
analisada pelas patrulhas. Mandou que o comandante ficasse atento tumultuado chafariz da Carioca, decidiu encaminhar um requerimento ao
às
licenças falsas, que corriam por toda a corte: “devem as patrulhas ministro da Justiça depois de ter sido insultado e preso no cumprimento de
pren-
der os indivíduos que, como o dito, se tornarem suspeitos de usar armas suas funções. Estando de sentinela, o soldado viu quando um homem se
com licenças falsas”./08 Quem decidia sobre a validade da licença, aproximou do chafariz, afrontando escravos que, em fila, esperavam or-
na
rua, diante do suspeito, era o guarda. denadamente a vez de encher suas vasilhas e seus barris. Por se tratar de
Uma situação desse tipo contribuía para consolidar práticas de re- uma área vulnerável, de conflito fácil, o guarda procurou agir com rapidez.
pressão baseadas em estereótipos. Além dos serviços rotineiros de patru- Só não podia contar que o dito senhor fosse coronel do Exército. Preso e
lhamento da cidade, os permanentes eram requisitados por juízes de paz humilhado, ele representou, por meio do comandante Lima, ao ministro da
e outras autoridades policiais para diversos serviços, considerados excep- Justiça. Tudo que obteve do ministro, porém, foi a sugestão de “fazer com
cionais. O chefe da polícia da corte, apreensivo com a concentração de que o suplicante não monte mais guarda ali”.H!
vadios e criminosos que atuavam na área portuária do Saco do Alferes A tarefa mais difícil continuava sendo, no entanto, disciplinar as
durante o dia, ocultando-se à noite no Morro do Nheco, escreveu ao mi- guardas, e não se deve, com isso, pensar que o tenente-coronel Lima
nistro da Justiça, no dia 1º de fevereiro de 1833, solicitando para o local fosse um disciplinador no sentido moderno, que exigia de seus subordi-
uma patrulha especial de permanentes, composta de nove soldados nados o cumprimento de regras rigorosas e minuciosamente definidas.
e um
cabo. Destacados, os guardas passaram a atuar por algum tempo na lo- Formados na Real Academia Militar, em sistema de externato, nem O
calidade. Tinham ordens expressas de prender qualquer indivíduo tenente-coronel nem seus camaradas de Batalhão do Imperador — alguns
suspei-
to no morro, não consentindo nem mesmo nas tradicionais reuniões dos quais sequer tinham frequentado as aulas da Academia, como se vê
em
tavernas. Já em 1835, as ordens foram mais claras: as patrulhas no terceiro quadro — conheciam esse tipo de disciplina. O que ele exigia
deviam
parar todas as pessoas que, por seu estado, pela hora ou lugar, fossem dos guardas era um comportamento social mais controlado, tentando
suspeitas, revistando-as escrupulosamente.10º domar e modelar esses homens.!!2

230 231
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE

Vários incidentes ocorridos na cidade e que, por vezes, degenera- Não satisfeitos, O restante da guarda e as sentinelas carregaram armas e
vam em sérios conflitos eram decorrentes do predomínio de um padrão
espalharam a violência na Rua do Aljube. Todos os “cidadãos”, vizinhos
de comportamento social marcado por um baixo nível
de controle so- da cadeia e até os taverneiros, foram obrigados pelos guardas a se reco-
bre certos impulsos, como a violência. Desesperado, ven
do a hora em lher em suas casas, ficando todos proibidos de transitar pela rua.''3
que tombaria morto, atingido por um tiro, um preso
do Aljube — uma O ministro Aureliano Coutinho, ainda no dia 9, enviou esses dois
das cadeias da cidade —, que assinava barão de Bulow, escrev
eu da ca- documentos — o- bilhete do “barão” e o relatório do carcereiro — anexa-
deia, na noite do dia 8, para o ministro da Justiça. Com
seus garran- dos a uma correspondência para o comandante Luiz Alves de Lima. Re-
chos, em uma folha amarrotada, contava que
Os permanentes estavam comendava o exame dos relatos e que então se procedesse “na forma do
“fazendo fogo na prisão”, que já tinham atirado
seis Vezes e que, aos regulamento contra os soldados e o inferior de que se compunha a guarda
gritos, diziam estar cumprindo ordens. O “ba
rão” rogava por clemên- que ontem esteve na dita cadeia”. Afirmava ser fundamental “fazê-los
cia, para que Aureliano de Souza Coutinho,
o então ministro, “ sentir O quanto tal procedimento é destruidor da boa ordem, da confian-
humanidade”, interferisse na situação e tomass
e providências que “as- ça que no corpo existe e da disciplina dele”. Infelizmente, não foi possível
segurassem suas vidas”.
descobrir que tipo de punição o comandante Lima aplicou aos soldados
No dia seguinte, o carcereiro da prisão, em
relatório ao juiz de direi- e ao sargento. Mas ocorrências como essa, envolvendo bebida e o uso
to chefe de polícia, forneceu detalhes da oco
rrência. Tudo começou — se- indevido das armas, eram comuns.
gundo o relatório — quando às oito e meia
da noite, ele, o carcereiro, em No dia 29 de julho de 1836, um “espetáculo interessante” atraiu a
um procedimento de rotina, se dirigiu ao
arco da porta da sala livre, atenção dos passantes das ruas do centro da cidade. O preso Joaquim
destinada aos prisioneiros cuja detenção ser
ia breve, para apagar a luz. José, que por ordem do chefe de polícia deveria ser conduzido para a
Ao chegar ali, viu a sentinela da sala provocan
do dois presos. De repen- cadeia, chegou às cinco horas da tarde na casa de correção, carregando,
te, do fundo do prédio, onde ficava o xadrez
, outra sentinela deu um tiro em suas costas, o soldado permanente Manoel José Rodrigues, que “es-
em direção às janelas das celas. De imedia tava como morto, pelo estado de embriaguez em que se achava”. Inver-
to, a sentinela da sala livre
respondeu ao companheiro, com um novo
tiro. Os demais permanentes tendo os papéis, o preso tirou risadas do povo. Foi o próprio preso que
em serviço naquela noite, imaginando tratar
-se de uma rebelião, invadi- apresentou ao administrador da casa de correção o ofício do chefe de
ram o prédio. O carcereiro, “chegando em
cima”, pediu ao sargento polícia com a ordem de prisão, dizendo ainda, com certa ironia, que não
comandante da patrulha, “com toda civilidade”, se encaminhou para a prisão, conforme ordenava o documento, porque
para proibir um proce-
dimento o injusto. O sargento, sem na
da dizer, se retirou. Quatro no- “estava mais certo do caminho para esta casa”. À correspondência do
vos tiros aindaj foram disparados. Um res ministro da Justiça ao comandante Luiz Alves de Lima menciona ainda
p o caiu ferido, não houve
mortos. À sentinela, no entanto, contin
uava com a espingarda engatilha- outro episódio, ocorrido no mesmo dia. Conta que um grupo de onze
da. Aproximando-se, o carcereiro pe
rguntou-lhe o que estava fazendo,
e presos encarregado de transportar água para o Calabouço, depois de
a resposta foi curta: “estou caçando”, Ness
e instante, ele “sentiu uma quebrar as correntes, evadiu-se sem que o guarda que os conduzia perce-
bulha”. Antes mesmo que perguntasse,
a sentinela explicou: “era uma besse o ocorrido. Mais uma vez, o Ministério da Justiça — agora dirigido
garrafa que se arrojara no pátio”. Os guar
das estavam embriagados. por Gustavo Adolfo Pantoja — recomendava ao comandante Lima “man-

232 233
LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

dar castigar os referidos guardas (...) para que tão escandalosos aconte- petor de quarteirão para pôr fim àquela pouca vergonha. Q inspetor,
cimentos não se reproduzam”.!!4 mais uma autoridade responsável por preservar a ordem moral dos
O tenente-coronel Luiz Alves de Lima, em seu primeiro posto de co- bairros, já podia imaginar o que lhe aguardava. Não era a primeira vez
mando, passava assim por um treinamento intensivo, tendo que lidar com que estaria com Cândida Luiza. A mulher — conforme relatou — tinha
homens que, apesar de pertencerem à sociedade política — eram cidadãos -, suscitado a indignação geral do quarteirão por sua “vida de execrável
tinham um comportamento próximo ao atribuído à plebe. À troca de pa- prostituição”. Dessa vez, porém, ele não podia fazer muita coisa. Não
péis entre o guarda e o preso é um ótimo exemplo dessa proximidade e, tinha autoridade para entrar em residências particulares. Assim, limi-
por que não dizer, da cumplicidade entre esses mundos. Provavelmente, tou-se a ameaçá-la da rua. Foi então que o soldado permanente Manoel
foi esse tipo de sentimento que levou o outro guarda permanente a “não Joaquim Coelho, aparecendo na janela da casa, aos berros, começou a
ver” a fuga dos 11 presos acorrentados que conduzia. O tenente-coronel insultá-lo. Atacado em sua honra, o inspetor ficou numa situação difícil
Lima havia sido nomeado para manter a ordem na cidade. O ministro, em perante os vizinhos, que observavam aterrorizados a cena. Para sua sor-
seus ofícios, solicitava serviços de policiamento de prisões e fortalezas, de te, nesse exato momento, surgiram alguns guardas nacionais. Esses po-
repressão a capoeiras, a bandos armados de estoques e punhais e ordenava diam não só entrar na casa, como efetuar a prisão do permanente
até o destacamento de guardas para compor diligências contra quilom- Manoel Joaquim. Porém, nesse mesmo instante, uma patrulha de per-
bos."'º O comandante adquiria assim uma grande experiência em lidar manentes também chegou ao local. Antecipou-se aos guardas nacionais
com a plebe, ou, utilizando uma expressão mais forte, com a escória. O e anunciou que eles mesmos efetuariam a prisão, levando o colega para
aprendizado mais valioso, entretanto, estava em reprimir essa “massa as- o quartel da Rua dos Barbonos. O inspetor, desconfiado, ainda tentou
sustadora” com homens tão pouco acostumados a regras de convívio so- interferir. Mas os permanentes reagiram imediatamente, sacando suas
cial, incapazes de exercer o menor controle sobre seus impulsos. armas. Para acalmar os ânimos, os guardas nacionais e O inspetor recu-
Ainda que não seja possível acompanhar a forma como o tenente- aram e se contentaram em acompanhar a patrulha para se certificar de
coronel Lima intervinha nesses casos e o tipo de punição que aplicava que não libertariam Manoel Joaquim no caminho.!º
a seus subordinados, é importante destacar que, se era rigoroso, isso O juiz de paz do distrito onde ocorreu o confronto solicitou ao minis-
não implicava o cumprimento cego e rígido das leis. O cotidiano lhe tro da Justiça que procedesse contra os permanentes. Do contrário— dizia
mostrava, a cada momento, a necessidade de interpretar essas leis, de ele —, seria impossível fazer cumprir a lei. O ministro, como era habitual,
ter uma certa flexibilidade ao tratar seus subordinados. Afinal, alguns escreveu ao comandante Luiz Alves de Lima. Este respondeu, com segu-
deles, como Francisco Ribeiro Pessoa, o guarda do chafariz da Cario- rança, que o incidente tinha sido “muito exagerado” e que ele, como co-
ca, foram humilhados por exercer com dedicação a função para a qual mandante do corpo, não poderia punir o dito soldado: o rapaz não estava
haviam sido destinados. de serviço, não usava uniforme, e moralidade não era assunto de sua alça-
Um caso bastante expressivo dessa flexibilidade se passou em no- da. Aproveitou para informar o ministro de que Manoel Joaquim já tinha
vembro de 1834. Na noite do dia 3, os moradores da Rua da Concei- se apresentado ao dito juiz de paz para ação judicial. Mas o juiz, em sua
ção, vizinhos do nº 47, profundamente ofendidos com a algazarra da queixa, não se referia só ao soldado. Queria a punição da patrulha que
casa de Cândida Luiza Joaquina do Amparo, mandaram chamar o ins- interveio no caso € sacou armas para proteger um colega que tinha desa-

235
234
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE

catado uma autoridade. Luiz Alves, porém, se recusou categoricamente a bém era obrigado a ceder o número de soldados e oficiais solicitados.
punir a patrulha. Segundo ele, não era possível proceder à punição porque Estes serviriam juntos e sob ordens do comandante da Guarda Nacio-
os integrantes da patrulha eram acusados de usar pistolas e “não podiam nal.2! Tudo isso contribuía para aumentar a rivalidade entre as duas
estar de pistolas, por não serem estas as armas com que fazem o serviço de guardas, com prejuízo para Os guardas permanentes.
guarnição, e sim espingardas e baionetas”.!1? Não à toa, O tenente-coronel Lima não punia seus subordinados — sol-
O episódio nos remete a um outro problema bastante comum naque- dados ou oficiais — por essas desavenças, como no caso da patrulha que
les anos: a existência de várias instâncias policiais atuando na cidade, protegeu o colega na Rua da Conceição. É bem provável que tenha sido
com funções sobrepostas e limites imprecisos de autoridade. Pelo novo em função dessa mesma rivalidade que ele, Luiz Alves de Lima, logo no
sistema repressivo, havia a Guarda Nacional, as Guardas Permanentes início de sua gestão, em abril de 1833, pediu exoneração do cargo de
e
as primeiras instâncias judiciais. Incluídos nestas últimas estavam os ju-
Instrutor-geral de infantaria da Guarda Nacional.'2 Acumular funções
ízes de paz com seus inspetores de quarteirão e o chefe de polícia,
dis- nas duas guardas, sendo uma delas de comando, não seria nada fácil.
pondo de oficiais de expediente, auxiliados por pedestres, nos serviços
A única forma de ele exercer um controle mais efetivo sobre esses ho-
de rua.!'8 Esse intrincado sistema acabava produzindo confrontos
entre mens, operando em um sistema repressor tão confuso, enfrentando as
autoridades quando essas se encontravam durante o serviço. Os choques
dificuldades de aplicação da lei vivenciadas por sociedades com grandes
mais comuns envolviam guardas nacionais e permanentes. O quadro era
desníveis sociais e tentando atender às exigências de eficiência do minis-
muito delicado. Os guardas nacionais também eram responsáveis pelas tro, era por meio da criação de uma relação de cumplicidade com eles.
rondas da cidade. Eram os únicos, como vimos no episódio da Rua da
Se em certos momentos submeteu suas guardas a conselhos de disciplina,
Conceição, que tinham autoridade para prender guardas permanentes e, levou alguns deles à prisão e expulsou alguns outros da instituição, Luiz
por integrarem estratos superiores da sociedade, que podiam prestar ser-
Alves, por outro lado, também sabia ser protetor'2.
viço gratuitamente, eram preferidos pelo governo para realizar serviços O comandante Luiz Alves de Lima jamais utilizava as guardas em
mais amenos e prestigiados. A patrulha das casas imperiais — do Paço de tarefas servis. Obras no quartel, serviços de limpeza e transporte de água
São Cristóvão, da Fazenda de Santa Cruz e do Paço Imperial — só era eram feitos ou por “africanos livres”, ou por presos que cumpriam pena
realizada pelos guardas permanentes quando a família imperial não es- com trabalho forçado. Os africanos eram os mais utilizados. Essa catego-
tava presente. À troca da guarda sempre antecipava a chegada da família ria “africanos livres” era resultado de surtos de rigor na aplicação das
imperial, sendo os permanentes substituídos pelos guardas nacionais.1º leis. Desde 7 de novembro de 1831, tornou-se ilegal traficar escravos.
Antes de deixar o Ministério da Justiça, Diogo Feijó contribuiu para
Ainda que o tráfico permanecesse ativo, nas poucas vezes em que se resol-
o acirramento dessa rivalidade. Em julho de 1832, declarou que quando veu cumprir a lei, a atitude criou um impasse: O que fazer com esses ne-
a Guarda Nacional estivesse em combate contra os inimigos da ordem gros não aculturados? Como não podiam ser vendidos nem Ea para
pública, todo o corpo de Guardas Municipais Permanentes deveria ficar
viver por conta própria, já que nem mesmo falavam o português, passa
subordinado ao comando da Guarda Nacional.!20 Além disso, caso este ram a viver sob a tutela do Estado. Eram empregados em repartições
comando mandasse requisitar permanentes, ainda que fosse para servi-
públicas ou por particulares que, no caso, deveriam pagar um aluguel por
ços ordinários, o comandante do corpo das Guardas Municipais tam- seus serviços.!2 Eles eram a principal mão-de-obra utilizada no quartel

236 237
a
a
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE

da guarda policial de permanentes. São várias as solicitações de africanos zes, completava-se O ataque atirando-se em seguida, nessas cartolas, um
feitas pelo tenente-coronel Lima ao ministro da Justiça. Com ISSO, prote- pequeno saco de farinha de trigo. No carnaval de 1836, patrulhando o
gia seus guardas do vexame de prestar “serviços indignos”.'2S Alguns Largo da Sé (atual Praça Monte Castelo), os permanentes prenderam
deles, depois de conhecer os africanos, aproveitavam para contratá-los um homem que, ignorando as “posturas municipais”, jogava entrudo.
particularmente. Essas relações, apesar de restritas, pelo número reduz;-
Cândido José da Rosa, capitão da Guarda Nacional, presenciando a
do de “africanos livres” disponíveis, ajudam a entender a complexidade prisão, começou a insultar a patrulha. De imediato, também recebeu
dos vários níveis de hierarquia e segregação na corte imperial.
voz de prisão dos permanentes e foi levado, com o dito homem, à pre-
Em junho de 1836, o inspetor de Obras Públicas da cidade, por meio
sença do juiz de paz do 3º distrito da freguesia do Sacramento. Este,
de um requerimento, solicitou do ministro da Justiça alguns permanentes
porém, não seguiu os procedimentos habituais. Em vez de processar e
para manter sob vigilância especial a prática de esvaziar urinóis nas valas
punir Os infratores, colocou-os em liberdade e, em face do protesto dos
ao redor da fonte da Carioca. Era serviço dos guardas permanentes cuidar
permanentes, desarmou e prendeu a todos. Luiz Álves, ao receber o re-
para que não houvesse tumultos nas filas de escravos responsáveis por
latório da patrulha, providenciou uma cópia do documento e escreveu
buscar água nas fontes públicas. Deviam zelar pela ordem, essa era a fun-
indignado ao ministro da Justiça. O juiz de paz foi duramente repreen-
ção deles. Observar onde esses escravos despejariam os detritos e águas
dido pelo ministro, que condenou a “maneira violenta e ilegal por que
usadas nas casas em que serviam cabia aos inspetores de bairro, funcioná-
se conduziu nesse negócio, favorecendo a impunidade ao deixar de pro-
rios do Departamento de Obras Públicas. O comandante Luiz Alves aca-
ceder com vigor e energia contra os que com escândalo se lançam a
tou a ordem, mas não sem protestos. Mais uma vez defendia seus guardas. O e pia
transgredir a lei e os regulamentos policiais”.
Lembrava os limites de sua função e queixava-se da indignidade da tarefa, A relação que o comandante Lima construía com seus subordinados
que “definitivamente não pertencia aos permanentes” .125 tinha por base uma relação pessoal, de confiança. Esse estreitamento de
Conforme o tempo passava, Luiz Alves assumia uma posição cada vínculos era estimulado pelo clima tenso da cidade, marcado por fortes
vez mais firme no comando das Guardas Permanentes. Vigilante, saía manifestações de hostilidade à Regência. Vários dos incidentes envol-
em defesa de seus subordinados tão logo soubesse de atos que conside- vendo os permanentes tinham motivações políticas. Antes mesmo de
rasse humilhantes ou de desrespeito a sua autoridade. O carnaval era à Luiz Alves assumir o comando da guarda, quando ainda era 2º coman-
festa que sempre exigia do tenente-coronel Lima uma atenção especial. dante do corpo, uma dupla de soldados que fazia uma ronda de rotina
Diferente de outras datas festivas, esta não contava com sanção oficial. nas ruas do centro foi atacada por alunos do Seminário São José. En-
“cains” e
Isso significa que as normas reguladoras do cotidiano da cidade conti- quanto atiravam pedras, aos berros, chamavam OS guardas de
nuavam vigorando durante os festejos. Como a população não abdica- “esc ravo s de Feij ó”.! Zº O que para OS guar das era apen as um emprego,
va das diversões, o trabalho recaía, multiplicado, sobre as patrulhas de que m fazi a opos ição à Regê ncia trat ava- se de uma adesão. À pinça:
para
guardas permanentes. Coibir o entrudo estava entre as tarefas mais di- a guar da e a Regê ncia se torn ou mais dire ta com à nom eaç ão
lação entre
fíceis. À brincadeira, bastante popular nesses dias, era detestada pelos Alve s para seu com and o, e, a part ir de entã o, as agressões se
de Luiz
homens respeitáveis
Os bons mom ent os vivi dos pelo ofici al no bail e do pri-
da cidade, que tinham suas cartolas transformadas intensificaram.
em alvo preferido das bolas de cera, cheias de água perfumada. Às ve- lado pelos
meiro aniversário do 7 de abril, como o mais novo talento reve

238 239
LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

Lima e apoiado por Feijó, teriam um preço. Ao ser nomeado comandan- apenas 17 anos, Luiz Alves contava ainda com a amizade do irmão mais
te dos permanentes, esse reconhecimento era reiterado. Todavia, em ja- velho de Anna Luísa, Paulo Fernandes Carneiro Vianna, e do visconde
neiro, havia apenas três meses no cargo, veria, pela primeira Vez, sua de Mirandella e sua esposa, tios da moça. Já fregiientando a casa, o ofi-
vida pessoal exposta em um jornal oposicionista da capital. cial foi convidado para a comemoração do Dia de Reis como amigo
particular dos Carneiro Vianna. Anna Luísa, vestida com simplicidade,
usando apenas um vestido branco, colocou-se próxima ao pequeno altar.
CASAMENTO CLANDESTINO Luiz Alves, em sua habitual farda, também se manteve próximo. A um
sinal do padre José Morais Couto, cúmplice da combinação, os dois se
Na noite do dia 6 de janeiro, numa cerimônia rápida e discreta, O primo- ajoelharam e a união foi selada.!*
gênito do regente Francisco de Lima se casou com a filha do falecido Tratando-se de duas famílias tão importantes, a notícia correu com
desembargador Paulo Fernandes Vianna — Anna Luísa Carneiro Vianna, rapidez, e, no dia 22 de janeiro, O Exaltado — um jornal de oposição ao
de 16 anos de idade. Ao que parece, Luiz Alves levou meses para se apro- governo — dava sua versão do casamento.!*! O título do artigo — “Casa-
ximar da moça. Só começou a frequentar a casa da família, coincidente- mento ilícito, nulo, violento e clandestino de Luiz Alves de Lima, tenen-
mente situada no Campo da Honra, graças à mediação de Brás Fernandes te-coronel e comandante dos permanentes” — demonstra o nível de
Vianna, irmão de Anna Luísa, oficial do Exército e amigo de Luiz Alves. exposição a que foram submetidos o oficial e sua esposa. Logo no iní-
Romantizando a narrativa, um de seus biógrafos afirma que a jovem, cio, o texto se refere ao 7 de abril como um fato “malventurado”, e O
apaixonada, sempre acompanhava, das janelas de casa, as manobras mi- motivo disso era simples: “deu liberdade à obscura família dos senhores
litares realizadas no campo pelo oficial.!'2? Considerando apenas a posi- Lima, tornando-os de humildes escravos do ex-imperador Pedro le seus
ção do antigo solar, com sete janelas para a Rua do Conde e seis para O em senhores do Rio de Janeiro e do Brasil, digo da
prontos para tudo
são
Campo da Honra, é bem provável que a moça também tenha assistido, raça abjeta dos assassinos moderados”. A partir daí, Os insultos
dessas mesmas janelas, aos principais eventos políticos da época, inclu- vários. Alguns, até bem preconceituosos. O jornal afirma que Luiz Al-
sive à abrilada. ves não estava à altura da jovem, prometida ao “Exmo. visconde de
O modo como se casaram realmente lembra as clássicas histórias de Baependi (...) mais digno de seu consórcio, não só pela delicadeza de
amor. À discrição da cerimônia, realizada no oratório do solar, e a difi- sua educação, como por ser herdeiro de um dos primeiros ppa
culdade de Luiz Alves para iniciar a corte a Anna Luísa se deviam à do Brasil.” Segundo o jornal, em dezembro, no dia do aniversário e
oposição da mãe da moça ao casamento. Até o último momento, ela não Luiz Alves pediu formalmente a mão da Ene a Luiza Car-
Anna Luísa,
Ea respos-
sabia de nada. Nem sequer desconfiava. Entrou com pedido de licença neiro da Costa — sua mãe — e recebeu uma recusa catégorica.
não queria
para a realização da missa em sua casa e preparou o oratório, mas tudo ta, a senhora teria dito que não consentia na união “porque
com o intento de comemorar o Dia de Reis. O casal se valeu dessa missa, filha desgraçada, que ele não podia dar a sua ha um a a
fazer a
rar os
tradicional nas casas abastadas da cidade, para celebrar o casamento. to decente [e] que, além disso, era um militar muito odiado de
Sem dúvida, a trama só teve sucesso porque os “noivos” contavam seus patrícios”. Por isso, O casamento era — para Ó Eras NiCito;
com o apoio de várias pessoas da família. Além de Brás, na
época com violento e clandestino. Anna Luísa — ainda nessa versao — não estava

241
240
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE

decidida a se casar e vinha sendo influenciada pela tia, a viscondessa de lias da corte. Anna Luísa era neta de Brás Carneiro Leão, um influente e
Mirandella. O jornal afirma também que Luiz Alves tinha aterrado a poderoso negociante de grosso trato da virada do século. Como os Lima,
moça, ameaçando matar seu nobre pretendente, sua mãe e, depois, se Carneiro Leão havia chegado à cidade no século XVIII e, só depois de
matar, com as pistolas que supostamente portava. O texto é então fina- muito trabalhar, conseguiu completar sua metamorfose social, obtendo
lizado com a seguinte frase: “Eis aqui mais uma atrocidade e baixeza de de d. João VI o título de fidalgo da Casa Real. Integrava essa “nobreza
que só é capaz a moderação.” juso-brasileira”, constituída por meio da prestação de serviços à Coroa.
O mal-estar gerado pelo artigo foi tal que, menos de uma semana A moça era ainda filha do desembargador Paulo Fernandes Vianna, in-
depois, no dia 28, o tradicional jornal moderado Aurora Fluminense tendente de Polícia e braço direito de d. João no Rio de Janeiro. É difícil
publicou uma carta de Luiza Carneiro da Costa, desmentindo a versão acreditar — como nos quer fazer crer O Exaltado — que Luiza Carneiro
dO Exaltado: “se algum inimigo de meu genro, alterando a verdade, da Costa tenha reagido de forma agressiva quando Luiz Alves pediu a
quis macular a sua honra e probidade e a de pessoas a algumas das quais mão de sua filha em casamento. Estava diante do filho do regente, amigo
devo particular estima, muito má ocasião procurou, porque os fatos que de seus filhos. Luiza — segundo Vilhena de Morais — apenas tinha outros
inventa são mentirosos, incríveis e eu seria digna de censura se não des- planos para a filha. Assim como ela havia se casado com um homem da
mentisse por esta pública declaração âquela calúnia”. corte, capaz de elevar a posição da família Carneiro Leão, até então as-
O curioso é que nem mesmo nesse momento a mãe de Anna Luísa sociada a uma “atividade vil”, pretendia agora fazer o mesmo com a fi-
afirma ter consentido no casamento. Tudo que ela diz é que a filha tinha lha. Casando Anna Luísa com o primo Brás, primogênito de sua irmã,
concedido “muito anterior consentimento”. A união do casal sem dúvi- fortalecia os laços de família. Além disso, o rapaz tinha futuro certo. Era
da ocorreu sem sua autorização. Na certidão, é mencionado que os da- herdeiro de Manoel Jacinto Nogueira da Gama, homem com posição
dos pessoais do jovem casal constavam da “petição de dispensa de consolidada na corte: marechal do Exército imperial, fidalgo cavaleiro
habilitações”. Isso significa que eles foram dispensados das formalidades da Casa Real, dignitário da Ordem do Cruzeiro, marquês de Baependi
jurídicas geralmente exigidas para a realização de um casamento. Com e dono de largas propriedades de terra."
certeza, para a obtenção dessa dispensa, a influência dos Lima e do vis- Mas justamente essa situação é que deve ter sido bastante constrange-
conde de Mirandella deve ter contribuído muito. Também é importante dora. Assim como seu pai, Luiz Alves, no lugar de primogênito, devia dar
lembrar que o pai da moça já era falecido e seu irmão mais velho, Paulo continuidade ao projeto de ascensão social iniciado pelo avô e pensar na
Fernandes, também era favorável ao casamento.!2 consolidação da posição da família na cidade. O casamento era uma pe-
Essa história foi silenciada pelo mais famoso biógrafo de Luiz Alves nesse jogo de reposicionamento social — tratava-se de um con-
ça-chave
de Lima. Em seu livro, ele só faz referência a “obstáculos que haviam trato. Uma rejeição, por essa lógica, expressava a desigualdade da aliança
dificultado a tão almejada união”.133 Não é difícil imaginar as razões do Em outras palavras: a ascensão da família Lima, para a mãe de
proposta.
para
silêncio. Toda essa história deve ter sido no mínimo constrangedora para Anna Luísa, ainda não dava a Luiz Alves status social suficiente
os Lima. Independentemente dos sentimentos que uniam o casal, é ine- contratar casamento em uma família como os Careiro da Costa. Essa
Limad
gável que esse casamento foi um excelente negócio, do ponto de vista idéia era explicitada por O Exaltado ao escrever que Os “senhores
social, para Luiz Alves. Ingressava em uma das mais importantes famí- pertenciam a uma “obscura família” de “humildes escravos do ex-impe-

243
242
LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

rador”. Ainda que Luiz Alves, ao final, tenha provado a legitimidade de As eleições eram sempre um evento extremamente delicado. Geral-
sua proposta, aceita por parte da família, o episódio foi humilhante, mente, para garantir a ordem nesses dias, o juiz de paz recorria à Guarda
O filho do regente casava-se às escondidas, sem poder festejar a data com Nacional, e foi isso que o juiz da freguesia de Santa Rita fez, convocando
sua família, nem mesmo com o pai. O silêncio de seu biógrafo, tantos uma força de cem guardas nacionais para proteger a igreja onde se daria
anos depois, quando ele já era o duque de Caxias, sugere que foi realmen- a eleição. No entanto, recorrendo a um procedimento utilizado apenas
te desse modo que os Lima, particularmente Luiz Alves, vivenciaram o quando já se previa algum tumulto, solicitou também, ao ministro da
episódio. Afinal, a biografia era escrita com seu consentimento. Justiça, doze soldados de cavalaria dos permanentes. O tenente-coronel
O artigo publicado em O Exaltado tinha um objetivo puramente Lima, cumprindo ordens, enviou para o local a força solicitada, sob O
político. O casamento de Luiz Alves era explorado porque ele era “de comando do tenente Castrioto. Sabendo que se tratava de um caso excep-
Lima”, atacava-se a Regência e os moderados. A história devia pro- cional, em que já se previa confusão, ainda alertou o tenente para “não
va r afirma o jornal — a “baixeza de que só é capaz a moderação”.
— como dar motivos aos amotinadores de provocarem os soldados (...), devendo
Com o fim dos levantes militares, era para esse tipo de oposição que o pôr-se logo de acordo com o oficial comandante da Guarda Nacional”.
tenente-coronel Lima tinha de voltar sua atenção. Depois das histórias Ao chegar ao Largo de Santa Rita, o tenente Castrioto notou que tanto
de seu tio na Bahia e de seu pai em Pernambuco, era sua vez de ver-se os guardas quanto “algumas pessoas à paisana”, é ele quem conta”, ti-
envolvido em intrigas. À frente dos permanentes, era alvo certo dos exal- nham os olhos fitos em mim, como que receando alguma coisa”. Seguindo
tados. Essa guerra nos jornais mantinha a cidade sob constante tensão. as instruções recebidas, foi direto ao comandante da Guarda Nacional.
Todos esses homens se conheciam e, não raramente, após esses escânda- Este, admirado de o juiz de paz ter requisitado um acréscimo de força, que
los, se esbarravam na corte. Por isso, Luiz Alves desconsiderava algumas considerava desnecessário, ficou mais intrigado quando lembrou que o
acusações feitas às guardas de permanentes. Os opositores do gover- juiz não só o tinha “deixado ignorando tal medida”, como “lhe ordenou
no — exaltados, pedristas ou meros desafetos pessoais — muitas vezes não deixar se aproximar força alguma”. Percebendo o que se passava,
ocupavam funções no sistema repressor da Regência, e era no exercício contou a Castrioto que tão logo ele passou “pela Rua da Vala, algumas
dessas funções que Luiz Alves os encontraria. pessoas, talvez já combinadas, lhe foram dizer que ia ser atacada a guarda
pela cavalaria de permanentes (...) e que isso deu lugar a uma sentinela se
fica-
armar, entrarem várias pessoas pela igreja € alguns guardas nacionais
JOGO POLÍTICO rem disso persuadidos”. Como as patrulhas de cavalaria, distribuídas em
se Ei im
grupos de três, se afastaram do largo, “as sobreditas pessoas
Nas eleições de 13 de março de 1833, menos de dois meses após o epi- ram entre os guardas e começaram de novo à dizer que estavam cercadas”.
“quando já não era necessário”, O juiz de paz lhe informou que
sódio do casamento de Luiz Alves, o juiz de paz da freguesia de Santa Só depois,
Rita aproveitou sua posição de presidente da junta eleitoral e preparou permanente s tinham sido formalment e requisitados . Castrioto,
os guardas
uma verdadeira armadilha para os permanentes. Por pouco, o tenente- em seu “relatório de serviço”, encaminhado no dia seguinte ao comandan-
coronel Lima não se transformou, mais uma vez, em instrumento de corroborou a opinião do comandante da Guarda Nacional: “o
te Lima,
; r de pr op ós teo”n?. 135
it
acusações à Regência. procedimento do juiz
ui pa re ci a se

245
244
z
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE

O relatório do tenente Castrioto colocava sob suspeita a atuação do bom exemplo de como se dava a resistência. Como esses cargos eram
juiz de paz. Ele e o comandante dos guardas nacionais — pelo que consta eletivos, não havia meio de a Regência exercer um controle mais direto
no documento — não tinham dúvidas de que o juiz da freguesia de Santa sobre essas autoridades. Uma vez eleitas, tornavam-se quase indepen-
Rita tinha preparado uma armadilha. Talvez para evitar escândalos e dentes. A desmobilização do Exército e da judicatura do Primeiro Rei-
novas acusações nos jornais, Luiz Alves, apesar de anexar o relatório do nado, ao contrário do que se esperava, não bastou para conter “a
tenente ao ofício que encaminhava ao ministro da Justiça, não formali- opinião pública”. Ela só mudou o caráter das manifestações. A partir de
zou a acusação. Pinçou no meio do relatório a ordem passada pelo juiz então, não estouravam mais sublevações no centro da cidade. As pogas
ao comandante dos guardas nacionais para “não deixar
se aproximar instituições liberais abriam espaço para o exercício de uma eposiçao
força nenhuma” da igreja e o acusou tão-somente de exacerbar
a rivali- diferente, centrada na burocracia e que minava cotidianamente a credi-
dade entre as duas guardas de polícia. Isso — para O tenente-
coronel bilidade da Regência. Essa é a novidade assinalada pelo episódio do
Lima — configurava um “abuso de autoridade” e, por interméd
io dele, Largo de Santa Rita.
conseguia-se o “efeito de desbulhar aos cidadãos alistados neste
corpo o Por fim, esses relatos permitem ainda uma aproximação da cultura
direito de poderem assistir, como todos os outros cidadãos, à apur
ação política da época. O jogo de relações pessoais, base da “economia de
dos votos”.:36 O argumento é capcioso. Os permanentes, ainda que
fos- favores”, não era acionado apenas em casos isolados, para se obter um
sem cidadãos, naquele momento estavam armados, uniformizados
e ti- benefício específico. Amplas redes de solidariedade eram feitas em “po;
nham ordens para intervir em tumultos. O mais interessante, contudo, é sição a outras, constituídas entre os opositores. Era pormido dessa lógã
que o tenente-coronel Lima poderia ter apresentado uma acusação mais ca que esses homens do século XIX pensavam a política e exerciam
séria contra O juiz de paz e preferiu se calar. funções administrativas. O fato de Luiz Alves não ter explorado o rela-
Não é minha intenção, por meio desses relatos, insinuar que os mo- tório de Castrioto em seu ofício ao ministro da Justiça não Sieniiea que
derados, a Regência ou o próprio Luiz Alves não agissem politicamente, tivesse esquecido o episódio ou desistido de tomar alguma providência a
menos ainda apresentá-los como vítimas. O valor desses relatos — acre- respeito da armadilha preparada pelo juiz de paz. O relato de mo
dito eu — reside em três pontos. Primeiro, eles criam uma imagem menos caso, ocorrido três meses depois, em junho de 1833, Eos que, às ve-
uniforme dos acontecimentos. Se determinados projetos, grupos e per- zes, os desdobramentos desses conflitos corriam por vias informais e,
sonagens saíram vitoriosos dessa arena política, isso não aconteceu sem com isso, nem sempre vinham a público. Ou então reapareteiam de-
quando o vitimado tinha condições, por estar
lutas, tensões e conflitos — alguns bastante pessoais. Permitem também pois, em outras situações,
identificar outros níveis de resistência política, que, como vimos, nunca revestido de autoridade, de vingar antigas ofensas.
de junho, um escravo do tenente-coronel Lima,
se restringiram à plebe e às camadas inferiores do povo. A unidade pre- Na noite do dia 12
por
tendida por Diogo Feijó e obtida, a muito custo, por Bernardo Pereira de nome Inácio, foi preso por uma patrulha de guardas nacionais
armado. Conduzido ao juiz de paz da freguesia de Santana,
de Vasconcellos em julho de 1831, só se manteve enquanto o risco de se achar
Na ma-
uma revolução nos moldes franceses persistia. Tão logo essa ame
aça foi
este o enviou em custódia para o quartel do Campo da Mania,
O escravo foi mandado, pelo mesmo Juiz, o oe
afastada, os conflitos se deslocaram por completo para o interior da nhã seguinte,
sô apôs r
elite. Os juízes de paz e os comandantes da Guarda Nacional são um bouço, uma das prisões da cidade. Por ordem do juiz,

247
246
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE

25 açoites o escravo seria devolvido a seu dono. Sabendo disso, Inácio IImo. Sr. Paulo Fernandes,
Sobejas provas já eu tinha para estar bem persuadido de sua indispo-
manteve-se atento. Quando os guardas, para o conduzir até a prisão,
sição para comigo, mas de certo não o pensei tão vil que o julgasse capaz
passaram na frente da casa do tenente-coronel Lima, situada no mes.
de se valer de sua mesquinha autoridade para me desfeitear; soube agora,
mo campo, ele, de um golpe, escapou das mãos dos guardas e procurou
com espanto, que um escravo meu, de nome Inácio, tinha sido remetido
proteção. O tenente-coronel, porém, ao tomar conhecimento da ordem com uma ordem por sua própria letra escrita, para ser castigado, e entre-
do juiz de paz, não interferiu na questão. Permitiu que os guardas le- gue a mim depois, sem que tivesse a menor atenção para comigo. Eu já
vassem Inácio para o Calabouço.!3? sabia que em qualquer ocasião o Sr. ma havia de pregar, mas não pensei
A lei dava ao juiz de paz esse direito. Nas cidades, o problema do que fosse tão vil como acabo de me persuadir, e, se não vou pessoalmen-
controle dos escravos inspirava cuidados. O ministro da Justiça, em seu te a sua casa dizer-lhe o que acabo de escrever é para evitar que o Sr. me
relatório à Câmara de 1833, afirmava que “como esta propriedade mande autuar, valendo-se também de sua autoridade, mas fique bem cer-
não to que, eu o encontrando em lugar oportuno, lhe darei o agradecimento
se guarda, anda pelas ruas”, era preciso estar atento para evitar que
os que merece. Seu venerador, Luiz Alves. ( Ênfase minha.)
escravos, em contato com outros cativos, se organizassem. Daí a impor-
tância da interferência do Estado. Mas só raramente ele intervinha à re-
velia do senhor. Geralmente, este era consultado e a correção a O tiro, no entanto, saiu pela culatra. O acesso a esta carta só foi possí-
ser
aplicada era acordada entre os dois.!38 Afinal, a relação era de proprie- vel porque Paulo Fernandes, aproveitando a oportunidade de gerar nais
dade. Luiz Alves poderia ter protestado contra a decisão do juiz. Toda- um escândalo, remeteu-a ao Diário do Rio de Janeiro, que a publicou
via, optou por não fazê-lo. na seção de “Notícias Particulares” do número de 17 de junho, Com a
Se a princípio essa atitude do tenente-coronel Lima pode parecer um carta, foi publicado também um comentário do remetente. Tão impor-
exemplo de respeito à autoridade e às leis, por meio de uma carta pes- tante quanto tornar pública a ameaça feita pelo comandante do Corpo
soal, assinada por ele, é possível perceber que na verdade ele apenas ti- de permanentes era dar sua versão dos fatos. Após descrever Oocorrido,
base do relato anteriormente citado, Paulo Fernandes dizia que: “já tarda-
nha decidido não formalizar a queixa. O juiz de paz em questão era
voto
Paulo Fernandes Vianna, primo-irmão de sua mulher. Órfão ainda me- va que o lugar de juiz de paz, que tenho a honra de exercer pelo
nino, Paulo havia sido criado na família Carneiro Vianna. O tio desem-
dos meus compatriotas, me não trouxesse dissabores. Tenho até E
bargador, de quem levava o nome, o tratava como a um filho. Em 1832, servido, segundo creio, a contento de todos, cingindo-me somente à lei,
já tinha o futuro assegurado. Era deputado do Tribunal da Junta a fim de poder escapar à censura dos partidos que hoje fetaniara o Bra-
Comércio, guarda-roupa da Casa Imperial e possuía os hábitos da Or-
do sil”. Apesar do tom austero, de anunciar O desejo de não alimentar a
a sutil,
dem de Cristo e da Ordem de D. Pedro I. Pelo modo como encaminhou “política dos partidos”, é ele quem, no mesmo texto, de jot
o “caso Inácio”, é bem provável que tivesse sido contrário ao cas afirma que “o caso que vou relatar deve assustar à todo o cidadão que
em
amen-
to da prima. O silêncio de Luiz Alves estava longe de expressar uma tenha a desgraça de não partilhar os sentimentos dos que nos quer
por força dar a lei”. |
concordância. Ele apenas tinha resolvido protestar de outro modo, mais Lima escreveu
pessoal. Daí a carta:!3º A reação foi rápida. No mesmo dia, Luiz Alves de
ta- res pos ta e a enc ami nho u par a o Diá rio do Rio de Jan eir o.
uma car

249
248
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRAS DO MONUMENTO LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE

Não desmentiu uma só linha da carta publicada. Limitou-se a dizer que premeditada. Foram os nacionais que prenderam o escravo e o levaram
“admirou-me que esse senhor a fizesse publicar” e pediu aos leitores que até O juiz de paz. Acusaram-no de “estar em desordem e armado”. Luiz
relessem o texto, atentando para que — é ele quem escreve — “se eu falo Alves garante que não se tratava de arma, que o negro carregava apenas
em consideração para comigo ao Sr. Paulo Fernandes, não exijo que o o “ferro com que acabava de cortar O capim”.
ínte-
senhor juiz de paz suspenda o exercício de sua autoridade, para esperar Essa história revela, com toda sua sinuosiídade, alguns pontos
submetida
as ordens do major Luiz Alves de Lima, que é um dos que nos quer dar ressantes. Primeiro, os limites da lei, que era constantemente
próprio sis-
a lei por força; falo sim daquela atenção que meu vizinho, relacionado, a interpretações e a práticas não formalizadas. Com isso, O
usar O
companheiro de escola e parente podia, sem quebra de autoridade, nem tema abria espaço para a autoridade responsável por aplicar a lei
miíngua da justiça, ter para comigo”.!0 poder que detinha para vingar ofensas pessoais ou criar crises políticas.
É claro que transferir a questão para o plano pessoal era bastante caso, em funç ão do grau de paren tesco , não há como dissociar as
Nesse
ferir sua
conveniente para Luiz Alves. Isso lhe dava a chance, como fez em sua duas coisas. Paulo Fernandes podia ter evitado a situação sem
resposta, de proteger o governo — a questão era pessoal, não escreveu na Faria isso com um estra nho. Todav ia, não poup ou o paren -
autoridade.
qualidade de comandante das Guardas Municipais Permanentes. Mas ele o escra vo, publ icou a carta e não perde u a chanc e, ainda que
te. Pren deu
tem razão quando sublinha que não exigia do juiz a suspensão do exercí- o contr ário, de vincu lar O episó dio à polít ica regen cial. Ão falar
diga
cio de sua autoridade. O mais comum, como vimos, era que o juiz de paz em por força dar a lei”, esse “dos que quer em” é uma
“dos que quer
lhe comunicasse o fato. A prova disso é que o próprio Paulo Fernandes, menç ão à Regê ncia . Alian ças e rival idade s famil iares , amizades e
clara
de assuntos
em outro trecho de sua carta, afirma que nem teve tempo de assim proce- inimizades pessoais eram componentes comuns na condução
der: “Não tendo voltado ainda o soldado com o recibo do Calabouço ! Nada disso , poré m, pode mini miza r a amea ça efetuada
do governo.!t
a prisão do
(vejam quão pequeno foi o espaço de tempo), e antes de ter tido tempo de por Luiz Alves — esse é O terceiro ponto. Por acreditar que
participar ao major Luiz Alves, porque tenho outras coisas a fazer de moti vaçõ es pesso ais — ele afirm ava isso em sua primeira
escravo tinha
desis tiu da via legal e fez uma amea ça diret a a Paulo Fern andes.
mais urgência, e mesmo por não ter obrigação, recebi esta carta”. carta —,
te de uma impo rtan te força polic ial da cidad e, de form a
A grande questão é a existência de práticas político-administrativas Ele, o comandan
decid iu agir por conta própr ia, amea çand o uma autoridade
informais, paralelas à lei. Nem tudo cumpria os trâmites legais. Paulo impulsiva,
que não menc iona r Os cargo s ocup ados por cada um
Fernandes, como juiz de paz, não estava errado ao dizer que não tinha judicial. Achou
de Esta do era sufic iente para retir ar do confl ito seu
obrigação de comunicá-lo. À lei lhe dava esse direito. Por outro lado, ao deles no apar elho
decidir não seguir a prática corrente, mostra que tinha um interesse es- caráter público. "
amen tal para sedi ment ar O Exere tião de qual-
pecial em afrontar Luiz Alves. Talvez, por conhecer bem o primo-cunha- A subordinação, fund
se orga niza va nessa época a parti r de
do e colega de escola, já pudesse até prever sua reação. O jogo político quer cargo de chefia e lider ança,
ainda entre esses home ns a trad ição Ene trans-
era intenso. Luiz Alves, em sua versão do acontecido, afirma que o juiz outro registro. Persistia
ment o de Infan taria do Rio de Janei ro, na virada do
omitiu o fato de que o escravo Inácio foi preso quando acabava de cortar formou o 1º Regi
dos Lima . Não havia , no exer cíci o dessas funções,
capim, à porta de sua casa. Não é difícil imaginar, pela rivalidade exis- século, no regimento
típic a de form açõe s buroc rátic as mais complexas, cria
tente entre a Guarda Nacional e os permanentes, que a prisão tenha sido a impessoalidade

251
250
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE

das pelos Estados modernos.!? Paulo Fernandes Vianna, no cargo de


ma coisa; senhores caramurus?? Saiu, montou a cavalo e correu, a bom
juiz de paz, agia na cidade como se estivesse na administração de sua
galope; à vista de todos, pela Rua do Piolho (atual Rua da Carioca),
casa. Luiz Alves de Lima, por sua vez, demonstrava ter quase o mesmo
seguindo para à Praça da Constituição. Mais tarde, nesse mesmo dia,
nível de controle sobre seus impulsos do que o dos home
ns que coman-
dava. Chegou até a pensar em ir à casa de Paulo Fernandes rOv avelmente pressionado pela família, Carlos Miguel de Lima apre-
tirar satisfa- P 144
ção. Só desistiu, como ele mesmo confessa, pelo receio centou-se à polícia.
de ser autuado. A cidade estava consternada. Os jornais moderados, na tentativa de
acalmar os ânimos, se esforçavam para retirar do crime qualquer con-
to. No dia
O IRMÃO CRIMINOSO teúdo político. O Aurora Fluminense liderou esse movimen
e”
13, na seção denominada “Rio de Janeiro”, transformou a “catástrof
o
Essas diferenças, depois de sucessivos confrontos em um crime de defesa da honra. Clemente José de Oliveira — segund o
políticos pessoais, iam
se acumulando e, ao menor pretexto, podiam reb jornal — “caluniara com a maior infâmia as irmãs do sr. Carlos Miguel
entar com trema vio-
lência nas ruas da cidade. Foi isso que se viu no de Lima (...) em escritos cuja leitura faz arrepiar os cabelos àqueles mes-
dia 9 de setembro de e nã o es tã o c o m el as re la ci on ad os ”. N ã o se tr at av a de “ a p r o v a r
1833. Carlos Miguel de Lima, capitão de Estado-Mai mos qu
or, irmão caçula do uma ação que a lei condena” — fazia questão de afirmar a folha. Mas, ao
comandante Lima, das guardas permanentes, e fil
ho do regente Francis- final do artigo, apelava aos sentimentos de “qualquer pai, esposo ou ir-
co de Lima, deixou a cidade estarrecida ao golpea
do dia, em uma botica do Largo da Carioca, o red
r mortalmente, à luz mão”, perguntando: “O que fariam, se acerca do que lhe é mais caro, de
ator do jornal caramu-
ru Brasil Aflicto, Clemente José de Oliveira. O crime pessoas de um sexo que não tem defesa, um bandido (...) usasse da lin-
maior escândalo em que se envolveu a família Lima,
foi, sem dúvida, o guagem que usou em público o indivíduo que foi acutilado pelo sr. Car-
icos
tornando-se conhe- los Miguel de Lima?!” O mesmo tom foi seguido pelos demais periód
cido em todo o império. o sa ud ar a at it ud e
da mo d e r a ç ã o . O jo rn al A V e r d a d e c h e g o u a po nt de
Passando ao final da tarde do dia 9 no Largo da Car el lo
ioca, Carlos e dizer que, mesmo sendo contrária à lei, era “uma ação louváv pe
Miguel de Lima avistou Clemente José de Olivei letava: “Nós
ra na botica do sr. Men- público prezador da honra das famílias”. Em seguida, comp
donça — a mesma em que, em 1823, Davi Pamplo s de honra,
na foi agredido, tam- no s e n c h e m o s de ho rr or à vi st a do as sa ss in o, ma s no s ca so
bém por oficiais militares. Era um tradicional ponto de enc
ontro político
= -— 2145

nós obraremos como homem e não como cidadão.


Si
=”

na cidade.!!3 Carlos Miguel, oficial tex tos leg ais , no


do Exército, fardado, apeou do ca- ani a”, lar gam ent e em pr eg ad a nos
valo, o entregou a um negro e entrou na A palavra “cidad
a botica. Achou Clemente Oli- cotidiano, recebia várias interpretações, adaptando-se a práticas de uma
iranuma roda de cinco a seis homens, lei. Não por
conversando so bre as recentes cultura aristocrática. A honra estava acima de qualquer
operações da Guarda Nacional. De a uma mai s políti-
= EC costas para a rua, o redator — na acas o, os mod era dos pref eria m essa vers ão dos fat os
versão oposicionista
| = SÓ teve tempo de ouvir o ba ia. Os valores
do desembainhada. Ao se virar,
rulho da es pada sen- ca, que evidenciasse a forte oposição que se fazia à Regênc
Carlos Miguel rapidamente acab es disc urso s era m legí timo s e tinh am ape lo pop ula r. Além
puxar por ela, desfechou o golpe e de ou de presentes ness
ixou Clemente Oliveira por terra. o, temi a-se que “a calú nia man eja da com v ilez a se derramasse fora
diss
Ainda por essa versão, teria perguntado antes de partir: “Querem algu- da capital”, em grandes ond as “rev oluc ioná rias ”. 46

252 253
Moi DT cá
im
dica
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE

e
Do lado da oposição, a grita foi generalizada
. À tentativa moderada de de vista muito particular. As mortes imputadas aos Lima nesse trecho ocor-
justificar o crime apelando para o discurso da honra piorava a
situação, reram durante combates, quando eles cumpríam suas funções como milita-
Se antes as acusações e os insultos trocados entre os Lima
e seus oponentes res. Às acusações a José (Joaquim de Lima) e a Manuel (Fonseca de Lima)
eram muitos, agora eles perdiam completamente
os freios. O jornal O são as mais curiosas. Eles são, na verdade, acusados de serem partidários
Verdadeiro Caramuru, em seu número do dia 14, co
mparou a família dos da moderação. Aliás, até a identificação dos Lima não é precisa. João Ma-
“Srs. Lima” à “Família Real”. Para ele, o “Infante D. Carlos
Miguel de nuel não era sobrinho, e sim irmão mais novo do regente Líma.
Lima? seguia “o procedimento anterior de seus mu
i dignos irmãos” e de É certo que nada disso deve diminuir o peso do assassinato cometido
seu pai “Francisco I?. A família era acusada de
assassinar e insultar, com por Carlos Miguel. A análise dessas críticas e acusações nos ajuda ape-
o apoio dos moderados, “aos nobres cidadãos do
partido da oposição”, nas a não perder de vista que o crime era também uma peça a mais na
A idéia agradou ao redator do jornal O Bem
Te Vi, que a retomou no intensa disputa política regencial, desfavorável, nesse momento, aos
dia 17 de outubro, listando todos os “crimes”
praticados pelos Lima na Lima e aos moderados. Às cobranças mais sérias em relação ao assassi-
cidade. Os primeiros episódios recuperados
foram justamente os que nato vinham do jornal O Carioca, que, desde o dia 13, exigia que Car-
envolviam “um dos filhos do Sr Regente Li
ma (Luiz Alves)”. Dizia que los Miguel citasse os números do Brasil Aflicto, em que Clemente
o oficial “ameaçou por uma carta em ortografi
a de soldado a um juiz de Oliveira insultava suas irmãs. Menos de uma semana depois, no dia 19,
paz e (...) com uma pistola a uma rica moça
a casar com ele, achando-se voltou a pressionar: “Que vergonha, que lástima e que desonra para a
agora casado e rico, e comendo à nação para
RS dE
muito mais de 14008rs.- família do Sr. Carlos se não provar o que escreveu! Fazer um papel ridí-
por mês”. À partir daí, prosseguia com uma
série de acusações: culo, expor sua família ao descrédito só para vingar-se do redator do
jornal do Brasil Aflicto!” Para o redator do jornal, Carlos Miguel, ao
« Outro filho do mesmo Exmo. (Francisco) atacar Clemente Oliveira, não vingava a honra de suas irmãs, mas a de
assassinou ao tenente Lopes:
outro filho do mesmo Exmo. (Carlos) matou
covardemente (su) 0/5 seu pai. O Brasil Aflicto, havia meses, vinha lembrando os fatos da Con-
Clemente José de Oliveira (...) outro filho do Exmo
. (José) matou com federação do Equador e atacando o regente Francisco de Lima. Chama-
Elesiário (...) a muitos brasileiros que lhe pediam a vid
a de joelhos (...) va-o de déspota do “ex-imperador”, traidor, ingrato e ainda afirmava
um sobrinho, segundo dizem, do mesmo Exmo.
(João Manuel) esboroou
o alferes Faustino (...) hoje desgraçadamente preso
(...) por se opor ao 14
que “a piedade do presidente da Comissão Militar em 1824 (...) foi filha
de julho, cujo comandante era um irmão do mesmo
Exmo. (José) premia- da bolsa de alguns”. Ou seja, que em sua negociação com os rebeldes,
do ao depois com ser conselheiro de Gue
rra: outro irmão do Exmo. Re- Francisco de Lima vendia decretos de anistia. Em uma das frases, ainda
gente (Manoel), sendo ministro da Guerra foi O indagava: “Seria de certo seu coração filantropo ou a malvada cobiça do
iníquo instrumento de
vinganças as mais mesquinhas contra os militares
, cujas costas lhe servi- dinheiro recebido?” E a resposta não tardou, vindo poucas linhas abai-
ram de degraus para ele subir e sair
da obscuridade absoluta. xo: “a piedade recebeu dinheiro!”!4º
Carlos Miguel, atendendo aos reclames de O Carioca, publicou no
De todas as acusações, apenas duas podiam
ser caracterizadas como crime: | jornal moderado A Verdade, do dia 26 de outubro, uma carta com al-
o ana cometido por Carlos Miguel e a agressão
praticada por João guns documentos anexos. Nela, reafirmava a versão de defesa da honra.
Manuel.!*? Todas as outras ou foram manipulada
s, ou partem de um ponto Os documentos, porém, não provavam nada do que dizia. Poucos dias

254 255
=
=

DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA COR
TE

depois, Clemente Oliveira morria de tétano. Certamente o crime fo; mo-


depois de uma história dessas, certamente teria ordenado sua volta
tivado pelas acusações a Francisco de Lima. Como vimos, as histórias de
para O Rio de Janeiro, e o caminho de Manoel de Morais estaria intei-
Pernambuco tinham deixado marcas profundas na família. Nos anos
ramente desobstruído.
seguintes a 1824, a carreira do brigadeiro Lima ficou prejudicada
e ele De qualquer forma, essa acusação de Manoel de Morais permite
foi submetido por d. Pedro a um ostracismo. Não recebeu nenhum título
identificar o momento em que surgiu a imagem simplificadora da atua-
de nobreza, o único cargo que obteve do imperador
foi no depósito da ção de Francisco de Lima, como braço armado do imperador e chefe de
Praia Vermelha, comandando um amontoado de “irlandeses
ébrios” e, um tribunal de horror. Considerando os próprios artigos do Brasil Aflic-
em seguida, foi afastado da corte imperial com sua
família. Nessa época, to, até aqueles anos a imagem que se tinha dele era de um militar “pie-
Carlos Miguel tinha apenas 11 anos. Por ser um menino,
ainda morava doso” e de “coração filantropo”. Foi justamente para desfazê-la que o
com os pais. Mas já era crescido o suficiente para enten
der 0 que se pas- jornal retomava a história e fazia a acusação. Não é minha intenção
sava e acompanhar as frustrações do pai.
defender a versão filantrópica. Ela deve ter sido cultivada com zelo pelos
O autor dessas acusações era alguém muito próx
imo, um nome re- moderados, que ao final da década de 1820 intensificavam sua oposição
corrente nessa narrativa. Como ele próprio se identifica
no artigo men- a d. Pedro. O importante é ficar atento a esse jogo político e à batalha
cionado, que motivou o crime, foi “uma testemunha
ocular” dos fatos das memórias. Por isso, também vale ressaltar que o termo “tribunal de
de 1824. Por isso, sabia com precisão como atingir
a família Lima. O horror”, geralmente evocado para condenar sua atuação em Pernambu-
Brasil Aflicto era um instrumento caramuru, e Clem
ente José de Olivei- co, foi pela primeira vez utilizado pelo próprio brigadeiro, numa de suas
ra, um caramuru. O grupo era integrado por partidário
s de d. Pedro, cartas de 1825, quando solicitava à corte que os réus fossem julgados em
homens que, desde o início de 1832, quando a resis
tência exaltada per- “tribunais de justiça”.
dia seu ímpeto, vinham agindo e trabalhando na
cidade pelo retorno do Carlos Miguel foi a julgamento, mas ninguém se apresentou para
imperador. O chefe desse grupo, fundador da “Soci
edade Conservadora testemunhar contra ele. O processo foi arquivado, e o jovem oficial, de-
da Constituição Brasileira”, em torno da qual o
grupo se congregava, signado adido militar na Bélgica. Só retornou ao Brasil em 1842. Duran-
era ninguém menos que o marechal José Manoel de
Morais.!º O episó- te esses nove anos, permaneceu sendo financiado pelo Estado.!*º
dio de julho de 1831, que gerou sua demissão da pasta
da Guerra, tendo
sido substituído por um terceiro “irmãozinho Lima”
, Manoel da Fonse-
ca de Lima, não foi o último dessa longa história de ódio
e intrigas. Por RECONHECIMENTO PÚBLICO
meio do Brasil Aflicto, atravessava mais uma
vez a vida dos Lima.
É difícil imaginar que Manoel de Morais,
do modo como se com- No dia 11 de maio de 1837, Luiz Alves recebeu uma correspondência Bo
portou em Pernambuco, escrevendo compulsivamente
para o amigo ministro da Justiça, Gustavo Adolfo d'Aguilar Pantoja. Foi a primeira
Chalaça, colocando “bons espiões” no calcanhar de Francisco de grande demonstração pública e formal, por parte de uma np
Lima, não tenha revelado essa informação na
época. A notícia teria autoridade do governo, de reconhecimento por seu trabalho à frente do
caído como uma bomba na corte imperial is Permanentes: «151
e, se o imperador já se mos- corpo de Guardas Municipa
CInal

trava disposto a afastar o brigadeiro Lima


do comando da expedição,

256 2?
e

DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE

Ilmo. Exmo. Sr., e seu pai tinham servido à Coroa portuguesa durante o século XVII em
Os últimos instantes da minha administração devem ser consagrados
Angola, onde Eusébio nasceu. Transferido para o Reino do Brasil =
à gratidão; não me posso pois dispensar de patentear o meu reconheci-
mento ao digno Corpo de Guardas Municipais Permanentes de quem y. 1816, o pai de Eusébio ocupou vários postos judiciais em Minas Gerais,
s. é Digníssimo Chefe. Pernambuco e Bahia, tendo vivido os tumultuados anos da Independên-
À constância no trabalho, a exata subordinação para com seus supe- cia e adquirido, nesses postos, um bom conhecimento do funcionamento
riores, o empenho, atividade e disciplina com que ele se conduziu em to- da política provincial. Eusébio, ao ingressar no curso de direito, na pri-
das as ocasiões merecem os meus louvores, não sou exagerado quando meira turma da faculdade de Recife, dava prosseguimento, assim, à car-
afirmo que muito lhe devo.
reira da família e nela teria uma ascensão meteórica.
Fazendo a v.s.; a todos os seus oficiais e praças que comandam as
A Intendência de Polícia, em função de seu passado, vinculado a
minhas despedidas, cumpro um dever mui grato ao meu coração.
Retiro-me da direção do Estado, mas levo comigo a lisonjeira certeza de práticas arbitrárias e brutais de homens como Paulo Fernandes Vianna e
que os Bravos Municipais Permanentes terão sempre por devida a honra, a Francisco Alberto Teixeira de Aragão, estava praticamente desativada.
subordinação e a legalidade e que continuarão a ajudar o governo (...) Coube a Eusébio de Queiroz reerguê-la a partir de uma nova estrutura.
Sirva-se V. S., meu companheiro (nas fatigas) aceitar a grande parte Ele não só reestruturou funções administrativas de copiar, arquivar e
que lhe cabe desses sentimentos abertos, o transmiti-los em meu nome despachar relatórios, como também, gradativamente, sobretudo após a
aos teus excelentes oficiais e bravos camaradas.” (Ênfase minha.) retirada da Guarda Nacional das ruas, aumentou a participação de seus
homens no patrulhamento da cidade. Nessa atividade é que ele acabaria
À carta é um marco. À partir dela, Luiz Alves de Lima só colheria elogios
por se aproximar ainda mais do comandante Luiz Alves de Lima. Os
de todos os ministros da Justiça, sem exceção.!2 As ocorrências registra- dois trabalhariam lado a lado, na manutenção da ordem pública, por
das no livro de correspondências da polícia diminuíram. O tenente-coro- seis anos consecutivos. Eusébio de Queiroz permaneceu na Secretaria de
nel Lima tinha conseguido estabilizar a situação das ruas da capital e sua Polícia por nada menos que 11 anos, com um breve intervalo de seis
posição no comando dos permanentes. O início dessa virada se deu no meses entre 1840 e 1841. Isso favoreceu enormemente o desenvolvimen-
ano de 1834. A morte de d. Pedro I em Portugal desmobilizava comple- to de uma política de segurança para a corte. Em agosto de 1837, os dois
tamente os caramurus; os exaltados, desde 1832, já não tinham mais seriam elogiados pelo ministro da Justiça pelo desbaratamento de uma
força para exercer uma oposição firme à Regência, e, além disso, tam-
quadrilha de ladrões que atuava arrombando tavernas e assaltando ca-
bém no ano de 1834, a Guarda Nacional foi afastada do serviço de po- sas. A ação só tinha sido possível porque eles agiram em conjunto, orga-
liciamento da cidade, e Luiz Alves começava a se entender, depois de um nizando uma ação de busca por toda a cidade."
ano de trabalho em conjunto, com aquele que se tornaria seu grande Essa parceria era cotidiana. Em vários dos episódios descritos anterior-
aliado no combate à desordem — Eusébio de Queiroz.!º3 mente, Eusébio de Queiroz teve participação ativa. Para O comandante
A trajetória de Eusébio de Queiroz se assemelha em muitos aspectos Lima, esse apoio foi fundamental. Isso lhe permitia mudar O perfil dos per-
a de Luiz Alves. Nascido em 1812, Eusébio ainda não tinha completado manentes. Nas revistas, as patrulhas começavam a ser elogiadas por “seu
21 anos quando assumiu, em março de 1833, o posto de chefe de polícia estado de rigorosa disciplina e asseio”.!5S Na tarde do dia 2 de fevereiro de
da cidade. Oriundo de uma tradicional família de magistrados, seu avô 1838, o regente interino, acompanhado de Sua Majestade, o imperador, foi

259
258
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE

pessoalmente assistir ao exercício de fogo e às manobras executada


s pelo ras inteiramente destroçados. O sucesso da investida rendeu aos chefes
corpo de permanentes no Campo da Honra.
O então ministro da Justiça farroupilhas grande quantidade de pólvora, armamento e cartuchame.
Bernardo Pereira de Vasconcellos, em ofício ao comand
ante Lima E O comandante de uma das canhoneiras foi morto, e o outro, aprisiona-
economizou elogios. Os permanentes — na sua opinião — tin
ham dado Ê pro- do.'º O episódio abriu uma crise no governo. Parte da tripulação havia
va não equívoca do esmero com que ymce. se emprega
desvelado na sua abandonado precipitadamente as embarcações, e quem comandava a in-
disciplina; o que muito te louva e te agradece”. 156
vestida rebelde era ninguém menos que Bento Manuel Ribeiro, ex-co-
Dois meses depois, o mesmo ministro resolveu,
numa atitude nada mandante de Armas da Corte e ex-general do Exército imperial, que,
comum, convocar uma companhia do corpo
de Guardas Municipais contrariado em suas expectativas com a nomeação em 1837 de Antero
Permanentes, “composta de 80 baionetas e
oficiais correspondentes” José Ferreira de Brito para a presidência da província, havia passado para
para servir em Santa Catarina por seis mes
es,157 Seguiriam com o de o lado dos rebeldes. Tudo isso produzia uma enorme insegurança entre os
tivo de ajudar no combate aos farrapos. Par
a os guardas, a convocação imperiais e cultivava o desânimo em suas fileiras. Atribuía-se a continui-
era uma grande oportunidade. O tenent
e-coronel Lima, em apenas dois dade da guerra aos caprichos e à intransigência dos generais e, nesse mo-
dias, já tinha montado a companhia e escrevia
ao ministro Vasconcellos mento, com esse último revés, o brigadeiro e então presidente do Rio
mandando a relação das praças e noticiand
o que o interesse foi de tal Grande do Sul, Elzeário de Miranda, se tornava o símbolo maior do tipo
ordem que ele “ficou dispensado de fazer
nomeação alguma de oficial” de personalidade militar que se condenava.!!
uma vez que eles se “ofereceram e se man
ifestaram imediatamente” 1st A expedição ministerial tinha a intenção de “destruir as impressões
Esses homens saíam em comissão com seus
salários — vale lembrar — su- desse acontecimento”. Luiz Alves de Lima a integrava. Falava-se de um
periores aqueles pagos aos soldados de linha
e, ao voltar, seriam pre- total de 600 homens.!$2 Ela partiu da corte no dia 6 de março e, após
miados por terem ido “pugnar a integridade
do Império, pelas bandeiras uma escala na cidade do Desterro, aportou no dia 21 na cidade do Rio
imperiais e pelo trono do sr. d. Pedro”.15º Tendo
dado provas, aos olhos Grande. Daí se dirigiu a Porto Alegre. No trajeto, em Itapuã, o navio
de todos, na corte, de que “são credores dos
elogios do governo”, parte em que o ministro Rego Barros e sua comitiva seguiam viagem foi alve-
da guarda era deslocada para as outras áreas
de conflito do império. jado pelos rebeldes sem que estes conseguissem provocar grandes estra-
Bernar| do Pereira de Vasconcellos, em seu rel
atório, mostrava-se bastan- gos. Depois de Porto Alegre, a expedição ministerial passou pela cidade
te satisfeito com a experiência e afirmava,
diante de toda a Câmara que de São Gonçalo.163 Infelizmente, não foi possível recuperar informações
esse bom resultado devia-se “a seu
incansável chefe”. | sobre suas atividades na região. Mas, na corte, ela era duramente criti-
Em março de 1839 era Luiz Alves de
Lima — o incansável chefe — que cada pela imprensa. O Aurora Fluminense não dava trégua ao governo.
seguia para O Sul. Havia sido nomeado pelo
governo para acompanhar O Classificava a viagem de aparatosa e exigia prestação de contas, especu-
ministro da Guerra, Sebastião do Re go Barros, em
sua expedição ao Sul lando sobre os gastos realizados na sua execução.!* Para piorar a situa-
contra os farrapos. Nesse ínterim, a pas
ta da Guerra ficaria sendo exerci- ção do ministro Rego Barros — e do governo —, durante O mês de abril,
da por Joaquim Rodrigues Torres.
Era mais uma ação orquestrada por período em que permaneceu no Rio Grande do Sul, um grupamento
Vasconcellos. No dia 1º de fevereiro,
as forças imperiais tinham sofrido imperial foi batido, perdendo toda a cavalhada que transportava, uma
um grande revés no rio Caí, tendo um
lanchão armado e duas canhonei- força imperial de 70 homens foi rechaçada em São Borja e outra foi

260 261
"
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

derrotada num ataque ao quartel de Garibaldi, que afirmava, orgulho. Notas


so, só ter contado com 11 homens para enfrentar Os imperiais, 165
À expedição regressou à corte no dia 29 de abril. O general Sebas.
tião do Rego Barros não reassumiu a pasta da Guerra, pois o gabinete
havia caído durante sua viagem. No dia 6 de maio, Luiz Alves Já reto-
mava suas atividades no comando dos permanentes. Mas nele permane-
ceria por pouco tempo. Em dezembro desse mesmo ano de 1839 fo;
nomeado comandante da Divisão Pacificadora do Norte e seguiu para 1. A base do relato que se segue é o texto de Silvério Cândido de Faria, Breve história
combater os balaios no Maranhão. dos felizes acontecimentos políticos no Rio de Janeiro em os sempre memoráveis
dias 6, 7 de abril de 1831. Um relato sobre os conflitos entre portugueses e brasi-
leiros que antecederam o 7 de abril pode ser lido em Gladys Sabina Ribeiro, op. cit.
Introdução. Um outro, e que destaca a participação dos exaltados nesses episódios,
é o de Marcello Otávio Basile, Ezequiel Corrêa dos Santos.
2. Uma descrição minuciosa é realizada por Marcello Otávio Basile, op. cit.
3. Dois são os textos que destacam o papel dos irmãos Lima no 7 de abril. Um deles,
escrito por Michael McBeth, “The brazilian Army and its role in the abdicanon of
Pedro I”, é sobre a participação do Exército na abdicação e, ao final, incluí algu-
mas reflexões sobre a atuação dos Lima e Silva. Outro é a biografia escrita por
Tarquínio de Sousa sobre Evaristo da Veiga. Em ambos os casos, contudo, como O
objeto central não é a família, logo a análise é rápida e descontinua.
4. O pavor de Evaristo da Veiga pela “anarquia” fez com que ele não participasse do
movimento no Campo de Santana. Um de seus biógrafos chega a afirmar que no
dia 6 ele teria procurado asilo no consulado americano. Ver Octávio Tarquínio de
Sousa, Os fundadores do Império do Brasil, Evaristo da Veiga, p- 26.
Desde os últimos anos do Primeiro Reinado existiam dois grupos liberais na corte,
os exaltados e os moderados. Ambos faziam oposição ao autoritarismo do impe-
rador, o que possibilitou uma aliança em 1831. Os exaltados, contudo — e daí O
nome —, não limitavam a discussão ao campo político — exigiam também reformas
sociais.
5. Ilmar Rohloff de Mattos, O tempo saquarema, p. 2 e 4.
6. Idem, p. 252.
7. O termo é de Paulo Pereira Castro, “A experiência republicana, 1831-1840”,
p. 12.
Otávio Basile, op.
8. As referências sobre os exaltados foram extraídas de Marcello
cit., p. 85.
dias 22 e 25 de
9. Ver os números do Astréia do mês de dezembro e do Repúblico dos
dezembro.

263
262
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE

10. Sobre o trabalho do Astréia, ver Nelson Werneck Sodré, A história da imprensa no
. Todos os dados e as citaçõ es desse parágr afo e do anteri or estão em Thoma s Hollo-
27
Brasil, p. 114. O soneto foi publicado no Astréia de 23 de dezembro de 1830. A way, Polícia no Rio de Janeiro, p. 75-6.
ortografia, pontuação e o destaque foram mantidos tal como no original. h, “The brazi-
28. Sobre o recrutamento para O Exército imperial, ver Michael McBet
11 - John Armitage, História do Brasil, p. 219. the First Empire : slave or soldie r?”, e Hendri k Kraay, “Recon-
lian recruit during
12. A idéia de que a ausência da Coroa e o caráter eletivo enfraqueciam a Regência já sidering recruitment in imperial Brazil”.
era apresentada por Evaristo da Veiga em abril de 1831, apud Lúcia Paschoal o, p. 77.
Gui- 29. Thomas Holloway, Polícia no Rio de Janeir
marães, Em nome da ordem e da moderação, p. 21.
30. Idem, p. 93.
13 - Apud Lúcia Paschoal Guimarães, Em nome da ordem e da moderação, p. 23. 1831.
31. Aurora Fluminense, 27 de maio de
14. Ordem do dia publicada no jornal Aurora Fluminense, ay, op. cit.; p. 78.
de 15 de abril de 1831. 32. O funcionamento desse sistema é explicado por Thomas Hollow
Nela, o brigadeiro se refere à sua antiga rivalidade com um outro ofici 16.
al, o general 33. Paulo Pereira Castro, op. cit.; p.
Labatut, a quem José Joaquim substituiu no comando das forças
imperiais em 34. Manuel Duarte Moreira de Azevedo, “Sedição militar de julho de 183
1”,
combate na Bahia.
181.
15. Paulo Pereira de Castro escreve sobre o “perigo militar” nos meses segu informações estão em Thomas Holloway, op. cit. Para a sublevação, ver p. 78
intes à ab- 35. po
dicação, op. cit, p. 14.
e, para a Guarda Real de Polícia, ver p. 48.
16. Ordem publicada também pelo jornal Aurora Fluminense, no dia
13 de abril de 36. Setor de Manuscritos da BN, documentos biográficos, C 270,12.
1831.
37. Marcello Otávio Basile, op. cit., p. 23
17. Ordem publicada também pelo jornal Repúblico, no dia 21 de abril de
1831. 38. Manuel Duarte Moreira de Azevedo, op. cit. p. 182.
18. À referência continua sendo Marcello Otávio Basile, op. cit. À cita
ção do parágrafo 3a, Octávio Tarquínio de Sousa, op. cit., vol. VI, p. 152.
anterior foi extraída da p. 90.
40. Marcello Otávio Basile, op. cit.; p. 93.
19. Ata da primeira sessão preparatória da Sociedade, setor de Manuscri
tos da BN, 41. Para esse trabalho de identificação dos signatários, ver idem, p- 25.
.,
cota 11-34,31,14. 42. Toda a história da reação do governo está em Octávio Tarquínio de Sousa, op. cxt
20. Para a votação e a composição do conselho, ver documento depositado no setor de vol. VII, p. 151-65.
ios biográfi-
Manuscritos da BN — cota 11-34,31,14. Um perfil socioprofissional dos membros 43. Os ui Sa Sebastião do Rego Barros constam em vários dicionár
ografia brasileira, e em
desse primeiro conselho da sociedade foi traçado por Lúcia Maria Paschoal Gui- cos indicados por J. Galante de Souza, Índice de biobibli
maraães, Op. cit.; p. 28, ver, ainda, no caso de parlamentares, barão de Javari, Or fé-de-ofício depositada no Arquivo de Fés-de-Ofício do AHEx.
rágrafo anterior
ganizações e programas ministeriais. Sobre a extinção da Guarda Real de Polícia e a lei descrita no pa
Eis Essa explicação, bem como a citação anterior, encontram-se em Paulo Pereira ia çã o da s ha bi li ta çõ es pa ra as gu ar da s mu ni ci pa is , ve r Th om as Ho lloway,
Cas- de ampl
tro, Op. cit., p. 13. op. cit., p. 80-2.
22. Essa ata encontra-se no setor de Manuscritos da BN, cota 11-34,31,14. 45. Octávio Tarquínio de Sousa, op. cit., p. 162.
23. Norman Halub, “Política Liberal Moderada durante a Regência 46. Thomas Holloway, op. cit., p. 81.
Trina, 1831-
1834”, In RIHGB, nº 307, p. 154. o So us a, op . cit .; vo l. VI I, p. 16 2. . E
47. Apud Octávi Ta o rq uí ni de
24. À documentação da Sociedade Defensora, incluindo as listas dos conselheiros elei- at ro no do Ex ér ci to ” — «R el aç ão No mi na l do Ba ta lhão dos Oficiais
48. AHEx, caixa “P
tos, é bastante incompleta. Uma forma de minimizar esse problema é por meio da Soldados Voluntários da Pátria”.
consulta ao periódico O Homem e a América, um boletim da sociedade. Ainda 49. Thomas Holloway, op. cit. p. 81.
assim, ele só começa a ser publicado em dezembro de 1831, sete meses depois da 50. Octávio Tarquínio de Sousa, op. cit., vol. VI, p- 165.
sua fundação. 31. Apud idem, vol. V, p. 118. Ee +
25. Esta citação e a anterior foram extraídas de João Armitage, o dos Pri ncí pio s do Min ist éri o da Reg ênc ia. ” O texto integral pode ser
História do Brasil, vet, ida “Exposiçã
respectivamente, p. 221 e 219. o em Jos é Mur ilo de Car val ho, Ber nar do Per eir a de Vasconcellos. p. 200-3,
consultad
26. Jornal Repúblico, de 22 de dezembro de 1830. a citação é da p. 201.

265
264
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE

53. À história da demissão de Manoel de Morais e essa definição da


Defensora estão 69. Relatório do ministro da Justiça - 1832. O texto integral pode ser encontrado em
em Paulo Pereira Castro, op. cit., p. 16-18. Jorge Caldeira, Diogo Antônio Feijó.
54. Apud Thomas Holloway, op. cit., p. 83.
0. Wilma Peres Costa, Op. cit. p- 46. |
55. Todas essas informações foram extraídas de Marcello Otávio Basile, op. cit., p.
99. a. À identificação desse sentimento pela historiografia e suas conseguências sobre a
100.
análise das relações entre civis e militares no Império é um tema que desenvolvi
56. Octávio Tarquínio de Sousa, op. cit., vol. VII, p. 166-9.
no mestrado. Ver Adriana Barreto de Souza, O Exército na consolidação do
57. Além de Tarquínio de Sousa, outra referência central para
essas medidas é Thomas Império.
Holloway, op. cit., p. 82.
72. À expressão é título do livro de Celso Castro, uma referência para quem pretende
58. Idem, p. 82-3. entender o processo de formação de uma identidade social dos militares no Brasil
32. Ver Marcello Otávio Basile, op. cit., capítulo “O reformista social”.
contemporâneo, Celso Castro, O espírito militar.
60. Essa leitura do sistema repressor organizado pela Regência Trin
a segue as reflexões 73. Lúcia Maria Paschoal Guimarães, op. cit. p. 57. O jornal Aurora Fluminense pu-
de Ilmar Mattos no capítulo “Um Império e Três Mundos”.
Para o autor, a articu- blica no dia 1º de junho de 1831 a notícia de que a Sociedade Defensora havia
lação dos atributos de liberdade e propriedade organizava a sociedade
imperial. enviado à Câmara um requerimento pedindo a imediata organização das guardas
Fora dela, vistos como seus verdadeiros inimigos, estavam os escr : | | |
avos. À definição nacionais.
da sociedade política por um critério censitário estabelecia outr
o nível de hierar- 74. Todas essas informações foram retiradas da Coleção Leis do Brasil — lei de 18 de
quia, a distinção entre cidadãos e não-cidadãos. À preservação
das distinções entre agosto de 1831.
esses três mundos, segundo o autor, era o objetivo central das elite |
s dirigentes du- 75. Jeanne Berrance de Castro, A milícia cidadã.
rante O Império. Ver Ilmar Mattos, op. cit. por
76. Parte da argumentação e o termo “guerrilha burocrática” foram elaborados
61. José Murilo de Carvalho, Bernardo Pereira de Vasconcellos, op. cit., p. 203. o
Thomas Flory, El juez de paz y el jurado en el Brasil imperial. Para localizar
62. Coleção de leis do Brasil, lei de 17 de julho de 1831.
termo, ver p. 85.
63. Juvêncio Saldanha Lemos, Os mercenários do imperador, p. 185. dA
77, Idem, ibidem, p. 95.
64. rem a
Por esse ponto de vista, a partir de 1834, os liberais serão acusados de apoia
Em 1830, o grupo de oficiais generais do Exército imperial era integrado
por 44 78.
homens: 26 eram portugueses, 16 brasileiros, um inglês e um francês. Ver Prefácio
fragmentação territorial. Idem, p. 41.
de Ma-
de Sérgio Buarque de Holanda ao livro de Jeanne Berrance de Castro, A milícia
79. Todas as citações desse parágrafo foram retiradas dessa mesma carta, setor
cidadã, p. XV. Nesse ano, um general português foi assassinado e dois “renuncia- nuscritos da BN, cota 63,4,1, nº 62. 7 A
ri-
ram”. Em 1831, 1 voltou para o serviço português. Ver John Schulz, O Exército 80. A nomeação de 25 de fevereiro. Ver fé-de-ofício depositada no setor de Manusc
na política, p. 25. Assim, em 1831, ainda existiam 22 generais portugueses no tos da BN, cota 49,2,14, nº 8.
Exército brasileiro. 81. Thomas Holloway, op. cit., p. 20-1.
65. A idéia de que “A Regência Trina, que incluía o general Francisco de Lima e Silva, 82. Octávio Tarquínio de Sousa, op. cit. vol. VHL, p- 175. - e;
era antimilitar...” é de John Schulz, O Exército na política, p. 25. A idéia da hos- hist ória foi narr ada pelo mare chal Peix oto em ofíc io ao mini stro da Guerra.
83. Essa
tilidade da elite política e da necessidade de os oficiais se conformarem é defendida min ens e pub lic ou o ofíc io no núm ero de 26 de ae dedear ee
O Aurora Flu
por Edmundo Campo Coelho, Em busca de identidade, sobretudo p. 34. Wilma “Sedição militar na
também Manuel Duarte Moreira de Azevedo,
Peres Costa concorda com essa hostilidade, mas não menciona a máxima do “con- em 1851”.
formar-se ou perecer”. Wilma Peres Costa, A espada de Dâmocles, p. 45-46. 84. Thomas Holloway, op. cit., p. 21. F
66. Sobre o prestígio da carreira e a criação dessas faculdades, ver José Murilo de dirigido à Câmara pelo deputado Feijó em 31 de outubro de 1831, im Jorge
Car- 85. Ofício
valho, A construção da ordem, cap. 4. Caldeira, Op. cit., p. 79. |
67. Wilma Peres Costa, op. cit., p. 46. resultado das eleições para o conselho foi pu bli cad o no jornal Aurora Fluminen-
86. O
68. À expressão era muito utilizada por Evaristo da Veiga se do dia 26 de agosto de 1831.
. Ver Thomas Holloway,
op. cit., p. 82. Relatório do Ministro da Justiça — 1832. Jorge Caldeira, op. ait., p. 93.
87.

267
266
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE

88. Coleção de Leis do Brasil, lei de 10 de outubro de 1831. 106. Essa diferenciação entre uma liberdade moderna, asseguradora do domínio da
89. Todas as citações anteriores estão no Relatório do Ministro da Justiça — 1832. Jor- casa e entendida como um não-impedimento, e a liberdade antiga, que restítui
ge Caldeira, op. cit., p. 85. a associação entre liberdade e igualdade, é realizada por Ilmar Mattos, op. cit.,
20. Ofício dirigido à Câmara pelo deputado Feijó em 31 de outubro de 1831 p. 135.
ic Jorge
Caldeira, op. cit., p. 80. 107. Thomas Holloway, op. cit., p. 101.
21. Decreto de organização do corpo, anexado ao “Livro do Corpo de Munic
ipais 108. Correspondência do ministro da Justiça com o comandante geral do corpo — 19 de
Permanentes da Corte” — AG PMER]J. outubro de 1833. AG PMER].
92, A distinção é feita por Ilmar Mattos no capítulo “Um Império e três mundos”.
||. 109. Thomas Holloway, op. cit.; p. 134.
mar Rohloff de Mattos, op. cit. 110. Correspondência do ministro da Justiça com o comandante geral do corpo — 7 de
93. Apud Thomas Holloway, op. cit., p. 95, ênfases minhas. julho de 1833 — AG PMER].
.
94. Ver Joaquim Pinto de Campos, op. cit. p. 59. O primeiro hist
oriador a chamar 111. Idem, correspondência de 4 de março de 1834 — AG PMER]J
atenção para esse período foi Thomas Holloway, ao analisar
a organização das 112. Norbert Elias, O processo civilizador, vol. 2, p. 100.
ante do
Guardas Municipais Permanentes. Ver Thomas Holloway, op. cit.,
p. 98. 113. Toda história está na correspondência do ministro da Justiça com o comand
25. Dado retirado da fé-de-ofício do duque de Caxias, setor de corpo — 8 e 9 de outubro de 1835, AG PMER]J.
Manuscritos da BN
cota 49,2,14, nº 8.
€ 114. Correspondência do ministro da Justiça com o comandante do corpo — 29 de julho
26. À narrativa é baseada em dados retirados de Moreira de Azev e agosto 1836, AG PMER]. e
edo, “Motim político
de 3 de abril de 1832 no Rio de Janeiro”. 115. Ver sobretudo as correspondências de 13 de novembro de 1833, 12 de janeiro de
27. Sobre essa ordem de Feijó, ver “Apontamentos”, documento redigido 1835 e 2 de agosto de 1836, AG PMER].
por Caxias e
depositado no setor de Manuscritos da BN, cota C 970,19, e Carta 116. Apud Thomas Holloway, op. cit., p. 137.
de Caxias a
Feijó, datada de junho de 1842 e publicada no Jornal do Commercio
de 10 de ju- 117. A resposta do comandante Luiz Alves está em GIFI — SB 517, ofício de 22 de de-
lho de 1842. zembro de 1834, AN.
28. Os dados sobre o conflito foram retirados de uma proclamação publicada 118. Thomas Holloway, op. cit., p. 109.
pelo
jornal O Brasileiro no dia 4 de abril de 1832. 119. Correspondência do ministro da Justiça com o comandante-geral do corpo — 4 de
29. Apud Thomas Holloway, op. cit., p. 94. novembro de 1834 e 5 de setembro de 1835, AG PMER].
100. Ver os “Apontamentos” redigidos por Caxias muitos anos mais tarde, setor de 120. Thomas Holloway, op. cit., p. 101.
13 de
Manuscritos da BN, cota C 970,19. 121. Correspondência do ministro da Justiça com O comandante-geral do corpo —
101. Essa história é contada por Moreira de Azevedo, “Motim político de 3 de abril de maio de 1833, AG PMERJ.
1832 no Rio de Janeiro”, p. 378. 122. Idem, correspondência de 3 de abril de 1833, AG PMERJ. a
102. Essa narrativa é baseada em um artigo publicado pelo jornal Aurora Fluminense, 123. Um caso de conselho de disciplina pode ser visto em GIFI - SB 285, ofício de 6 de
em seu número de 11 de abril de 1832, e no texto de Moreira de Azevedo sobre
O maio 1839, AN. Sobre expulsão, ver GIFI — 5B 285, ofício de 30 de Granieo de
op. cit., p- 141-5.
motim de 3 de abril. Moreira de Azevedo, op. cit. 1833, AN. Ambos são citados por Thomas Holloway,
103. Aurora Fluminense, de 11 de abril de 1832. 124, A explicação está em Thomas Holloway, OP. cit; P. 118.
104. Relatório do Ministro da Justiça de 1833, apresentado à Câmara em maio
de 1834, 125. Esses pedidos podem ser encontrados no códice 326, vol. 6, do AN.
microfilme 004.0-82, AN, 126. Apud Thomas Holloway, op. cit. p. 142. op. cit., | p. 143. Para o episódio
105. As graduações exigidas são de major para os oficiais regulares e coronel para 127. Sobre o entrudo em gera l, ver Tho mas Hol low ay,
os de iça com O comandante-
Penna linha. Apesar da criação em outubro de 1820, por d. João, dos títulos 183 6, cor res pon dên cia do min ist ro da Just
específico de
R]J.
de 2º cadete e soldado particular, as exigências para obter o título de
cadete conti- geral do corpo — 24 de fevereiro de 1836, AG PME
nuavam as mesmas definidas no alvará de 1757. Ver Adr 128. Thomas Holloway, op. cit., p. 136.
iana Barreto de Souza, da figura de Caxias, p. 15.
O Exército na consolidação do Império, p. 49. 129. Eugê nio Vilh ena de Mora is, Nov os aspe ctos

269
268
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE

130. Essa história tem por base a narrativa de Eugênio Vilhena de Morais e do
artipo 148. Essas frases foram extraídas do artigo publicado no dia 29 de julho de 1833. Ele é
publicado pelo O Exaltado. o mais agressivo, mas OS artigos vinham sendo publicados desde maio desse ano.
131. Agradeço a informação sobre a existência desse artigo a Marcello Basile que m Ver também artigo publicado no dia 9 de julho de 1833.
cedeu uma cópia. 149. Sobre OS caramurus, ver Paulo Pereira Castro,
op. cit., p. 252.
132. Uma cópia da certidão pode ser vista in Eugênio Vilhena de Morais, op. cit. ay , op. cit . p. 110 e nota 1 do cap. 4.
» P. 37, 150. Ver Th om as Ho ll ow
133. Joaquim Pinto de Campos, op. cit., p. 51. tiç a co m o co ma nd an te -g eral do corpo, 11 de
151. Corres po nd ên ci a do min ist ro da Jus
134. Para dados biográficos, consultar J. Galante de Sousa, Índice
de biobibliografia maio de 1837, AG PMER].
brasileira, entrada nominal. tados.
152. Ver os relatórios do ministro da Justiça à Câmara dos Depu
135. Esse relato é baseado no relatório do tenente Castriot ro da Justiça de
o, GIFI— SB 285, Ofício de 14 153. Para o afastamento da Guarda Nacional, ver Relatório do minist
de março de 1833, AN.
136. Ofício do comandante Luiz Alves de Lima, GIFI —
1835, item denominado “Guardas Nacionais”.
, cit. Os dados
de 1833, AN.
5B 285, ofício de 14 de mar
154. Todas essas referências foram extraídas de Thomas Holloway op.
137. Essa história foi recuperada por Hélio Vianna e pub
ES biográficos de Eusébio de Queiroz estão na p. 105, e aqueles sobre sua atuação ao
licada no Jornal do Commer. lado de Luiz Alves estão na p. 126.
cio, de 26 de agosto de 1962, sob o título de “Caxias, O
escravo e o parente”. l do corpo — 9 de
138. Sobre a posição do Estado nas relações entre sen 155. Correspondência do ministro da Justiça com o comandante-gera
hores e escravos, ver Thomas
Holloway, op. cit., p. 115. O esforço do governo para evit junho de 1837, AG PMER].
l do corpo— 24 de
no Calabouço e, nesse sentido, buscar sempre soluções em
ar o acúmulo de escravos
156. Correspondência do ministro da Justiça com O comandante-gera
acordo com seu dono é
explicitado no aviso da Secretaria dos Negócios da Justiça fevereiro de 1838, AG PMER]J.
de 10 de fevereiro de eral do corpo — 19 de
1832, apud Jorge Caldeira, op. cit. p. 247. 157. Correspondência do ministro da Justiça com O comandante-g
132. Apud Hélio Vianna, artigo publicado no Jornal do Com abril de 1838, AG PMER].
mercio: “Caxias, o escravo abr de 1838.
e o parente”. O grifo é meu. 158. Esse ofício é citado na correspondência do ministro de 25 de
e as dem ais cit açõ es dess e par ágr afo são do rela tóri o do ministro da Justiça de
140. Ele se auto-intitula major porque era tenente-coronel gra 159. Esta
duado, ainda não tinha
sido efetivado no posto. Além disso, essa graduação tinha ocorri maio de 1836.
do para que pu-
desse assumir o comando de permanentes — uma força militar de segunda linh 160. Apud Walter Spalding, A Revolução Farroupilha, p. 156.
a. Miranda.
141. Norbert Elias entende que essa unidade entre interesses pessoa 161. Alfredo Pretextato Maciel, op.cit. Verbete dedicado a Elzeário de
is e profissionais é de 5 de março
típica das elites de corte dos Estados dinásticos, ver Norbert Elias, A 162. Esse número e a citação anterior estão no jornal Aurora Fluminense,
sociedade de
corte, p. 27. de 1839.
é descrito por Pretextato Ma ci el no ver bet e de Luiz Alves de Lima e Silva.
142. As referências aqui são as reflexões de Norbert Elias, O processo civi 163. O trajeto
lizatório, vol.
II. Para a cultura política brasileira, ver Ilmar Rohloff de Mat Alfredo Pretextaro Maciel, op.cit.
tos, op. cit., capítulo
os artigos publicados no jornal Au ro ra Fl um in en se , sobretudo nos dias 14 e 16
“A teia de Penélope”. As primeiras tentativas de se construir uma estrut 164. Ver
ura militar
burocratizada datam da década de 185 O, ver Adriana Barreto de Souza, O Exérc de março e 18 de abril.
i-
to na consolidação do Império, cap. 2. 165. Walter Spalding, op.cit., p.158.
143. Octávio Tarquínio de Sousa, op. cit., vol. 3,
p. 562.
144. Essa narrativa segue o relato apresentado pelo jornal O Carioca, de 13 de sete
mbro
de 1833.
145. Ver jornal A Verdade, de 14 de setembro de 1833,
grifo meu.
146. Jornal Aurora Fluminense, de 13 de set
embro de 1833.
147. O caso de João Manuel ocorreu durante a crise de julh
o de 1831 e foi denunciado
pelo jornal exaltado Nova Luz Brasileira, de
30 de julho de 1831, Há também
nesse mesmo número um suplemento aborda
ndo o caso.

271
270
y. Da chaga aberta deve nascer o espírito da
ordem: a metamorfose em nobre e general
As rusgas e os levantes militares dos primeiros anos regenciais criaram
no então ministro Diogo Feijó a sensação de que um “abismo horroro-
so” se abria a seus pés. Anos depois, quando “o espírito anárquico” se
alastrou pelas províncias, o mesmo sentimento veio à tona por meio de
uma nova metáfora. Domingos José Gonçalves de Magalhães, poeta ro-
mântico, secretário do coronel Luiz Alves de Lima em 1840 no Mara-
nhão, expressou sua consternação diante de tantas “lutas, tropeços e
fadigas”, comparando o império a um corpo seriamente comprometido
por uma grande chaga.' De fato, ela era grande. Entre 1831 e 1840,
nada menos que 19 rebeliões tinham rebentado em todo o território
brasileiro. Em 1839, ano em que o poeta embarcou na expedição do
coronel Lima para combater os balaios, uma província vizinha ao Mara-
nhão, o Pará, e uma outra, de fronteira delicada, o Rio Grande do Sul,
também estavam convulsionadas. Ambas em armas desde 18357 Se
Gonçalves de Magalhães pode ser otimista a ponto de ver a cicatrização
dessa chaga pelo “espírito da ordem” é porque escrevia em 1847. E,
mesmo assim, mesmo depois do sucesso obtido na repressão a esses mo-
vimentos, ele ainda a via “gotejar”?. Esses “passados males” — afirmava
o poeta — deixavam um “eco de dor para o futuro”.
Gonçalves de Magalhães, ao escrever sobre a revolução no Mara-
nhão, estava, sem dúvida, engajado na construção de uma memória es-
pecífica sobre esses acontecimentos, diretamente associada ao Partido
Conservador. O que eu gostaria de destacar, contudo, é que, no auge
dessas lutas, liberais e conservadores experimentaram sentimentos seme-

275
DA CHAGA ABERTA DEVE NASCER O ESPÍRITO DA ORDEM
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

pos criaram a República de pqranini rasca assim um novo “grande


lhantes. O “abismo” de Feijó e a “dor” de Gonçalves de Magalhães
eram provocados pela sensação de perda de controle sobre os conflitos
medo” — temia-se a fragmentação do império. Pela exploração desses
sociopolíticos. Foi a partir da discussão sobre como reconstruir q ordem medos - da “anarquia” e da fragmentação territorial -, a ala monarquis-
que os dois grupos se distinguiram. Apesar das discordâncias, homens ta fundamentou uma política conservadora e centralizadora.
como Honório, Vasconcellos e Araújo Lima, em 1831, estiveram unidos Em 18 de setembro de 1837, Feijó renunciou. No dia seguinte, o
a Diogo Feijó na defesa da Regência e na tarefa de conter a agitação das ministro do Império, Araújo Lima, assumiu a Regência, e o gabinete
ruas. Essa unidade, mesmo frágil, era mantida pelo receio de um possível organizado era fiel à nova política. Seu principal objetivo era reprimir as
retorno do primeiro imperador e de uma completa subversão das hierar- rebeliões nas províncias do Pará e do Rio Grande do Sul, além de restau-
quias sociais. Em 1834, d. Pedro I morreu em Portugal. No ano seguinte, rar a ordem local comprometida em todo o império. À figura de proa do
duas novas revoltas eclodiram em províncias distantes da corte. Uma gabinete, acumulando as pastas da Justiça e do Império, era Bernardo
delas, a farroupilha, surpreendia por ser uma revolta de proprietários. Pereira de Vasconcellos, que até 1835 tinha participado ativamente, ao
A primeira desse tipo, envolvendo parte da elite, tinha sido a guerra dos lado de Feijó, da montagem dessa “guerrilha burocrática”. O leitor deve
cabanos de Pernambuco e Alagoas. Ela aproximou, de forma assustado- se lembrar da eficiência da dupla. Na crise de julho de 1831, quando a
ra, pequenos proprietários, camponeses, índios e escravos.? Unindo-se Regência estava ameaçada, com militares e civis cercando o Paço Impe-
ou não ao povo e à plebe, os levantes de proprietários comprometiam os rial de armas na mão, Vasconcellos teve uma atuação brilhante na Cã-
liberais de 1831, sobretudo Feijó, então regente e um mara. Com um discurso irreparável, exigiu que os colegas não deixassem
importante nome
na defesa da autonomia provincial. a casa até que medidas fossem tomadas, e assumiu, ao lado de Feijó, a
O bloco monarquista tradicional, aglutinado em direção política do país. Ao longo de sua carreira liberal, defendeu com
torno de Honório
Hermeto, não mais ameaçado pela volta de d. Pedro, entusiasmo a criação dos juízes de paz, escrevendo manuais a fim de
abriu franca opo-
sição ao regente.* As rebeliões provinciais ocupavam orientá-los no exercício da função, para a qual eram completamente des-
um lugar central substituição
preparados; propôs o fim do Desembargo do Paço e a sua
nesse embate, sendo um referencial na organização de discursos e na
Superior de Justiça, e participou, ainda, da elaboração do
reorientação de posições políticas. Quem primeiro reclamou a falta de pelo Tribunal
o do Cód igo Cri min al e do Ato Adi cio nal .” Mas , com o ele mesmo
meios para “refrear a anarquia” foram os próprios liberais, aqueles que projet
dirigiam as províncias rebeladas. Preocupados, distantes da corte, envia- afirmaria, essas idéias eram parte de seu passado — havia sido liberal.
Vasconcellos agora era conservador e, durante o te mpo que estev | e à
vam inúmeros ofícios para o ministro da Guerra. Neles, lembravam que
frente do gabinete, demonstrou especial capacidade para organizar e
o Exército estava desmobilizado, e os postos de comando da Guarda Aliá s, a pre sen ça de piano no
treinar jov ens nos idea is con ser vad ore s.
Nacional, entregues a parte da elite envolvida nos conflitos.” O bloco a tra diç ão, três muinis-
gabinete sus cit ou mui tas crít icas . Con tra ria ndo
monarquista logo se valeu da situação para exigir mais força para O És- uns dep uta dos se refe-
tros não tin ham mai s de 35 ano s de ida de. Alg
tado. À questão era de arranjo institucional. A política descentralizadora 3
“cu jas suí ças e barbas mal
“crianç olas”,
*
o como
ua
riam a essa nova geraçã
a

liberal, implementada como uma espécie de “ guerrilha burocrática” ida de pro vec ta » 8 Por outro lado, esses
conseguia m dar a imp res são de
contra as arbitrariedades de d. Pedro após o 7 de abril, deixava o gover- os de uni ver sid ade s européias,
jovens, tod os di pl om ad os , rec ém- egr ess
no, agora, refém das facções provinciais. Para piorar, em 1836 os farra-

2717
276
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO DA CHAGA ABERTA DEVE NASCER O ESPÍRITO DA
ORDEM

com grandes possibilidades de fazer uma promissora carreira no


Serviço cer os deputados de que o Exército se ressentia de “falta de tropa de Ji-
público, tinham um enorme interesse no projeto de Vasconcellos
. Isso nha”. Só essa — prosseguia — “pode apresentar aquela unidade que lhe
porque ele propunha um regresso, a recentralização do pod
er sob con- vigora a ação e a disciplina e aquela organização que lhe é mister”. Por
trole do governo nacional. Considerava que o único modo de
frear q fim, concluía categoricamente pela importância da reforma: “é urgen-
“carro da revolução” era pela correção de supostas imp
rudências dos tíssima em face do desmantelamento em que se acha o Exército, a neces-
textos liberais. À proposta de reforma no Código
de Processo Criminal sidade, sentida por todos, de se lhe dar uma nova organização”.
é um bom exemplo do que foram essas correções. Ela removi
a Os pode- Todos esses projetos deveriam ser aprovados pela Câmara, e as resis-
res policiais atribuídos, por ele próprio, Vasconcellos, ano
s antes, aos tências foram muitas. Mesmo com uma Câmara majoritariamente con-
juízes de paz e os transferia para funcionários subord
inados a chefes de servadora, o ministro Sebastião do Rego Barros, para aprovar a proposta
polícia, que, por sua vez, eram escolhidos pelo pod
er central entre os que elevava as forças de terra para até 15 mil praças em circunstâncias
magistrados profissionais.” A reforma do código, com
binada com a extraordinárias, enfrentou forte oposição. O deputado Montezuma, do
proposta de Interpretação do Ato Adicional, ampliava
os poderes do Partido Liberal, afirmava sem rodeios que Rego Barros não tinha auto-
ministro da Justiça. À ele caberia, direta ou indiretam
ente, demitir des- ridade para julgar a atuação do Exército. Fazia clara referência à patente
de o desembargador até o guarda de prisão. Esse sistema
fundamentaria do ministro, capitão sem ter sequer efetividade no posto. Um fato possí-
a centralização política do Segundo Reinado.1º
vel apenas em exércitos aristocráticos, em que a hierarquia interna, da
Essa determinação de restaurar a autoridade política e a hierar
quia instituição, sofria interferências diretas do campo político. O deputado
social também levou o governo a propor uma ampla reforma do
Exér- tentava, com esse argumento, indispor o ministro com a oficialidade e,
cito, visando à recuperação e ampliação de seus quadros. O min assim, inviabilizar não só essa proposta, como também o projeto de re-
istro
responsável pela elaboração desse projeto de reforma foi Sebastião do forma militar do governo. Tudo isso só ocorria, no entanto, porque a
Rego Barros, outro nome da reação à crise de julho de 1831. maioria conservadora também tinha reservas em relação ao efetivo pro-
Na época,
além de oficial do corpo de engenheiros, Rego Barros era também dep posto, considerando-o excessivo. Essa reserva irritava os chefes do par-
u-
tado, e a Câmara recomposta por Vasconcellos o indicou para assumir tido regressista. Honório Hermeto Carneiro Leão reclamava do
o comando das Guardas Municipais da cidade, até então descentraliza- “desânimo das maiorias” diante das “discussões intermináveis”, Impos-
do entre os vários juízes de paz. Agora, em 1837, integrava a ala jov tas pelo regimento da casa.!2 Vivia-se um autêntico parlamentarismo, €
em
do ministério. Com apenas 34 anos, assumiu a direção do Ministério da
o governo dependia da votação da Câmara. Mas havia aí um Outro pro-
Guerra. O primeiro relatório que apresentou à Câmara dos Deputa blema, de solidez partidária. Muitos dos que se diziam conservadores
dos,
em 1838, mostra com clareza como os conservadores capitalizavam aderiam ao partido na tentativa de exorcizar os fantasmas da secessão
OS
efeitos das revoltas para legitimar seus projetos de centralização. A sen- e da “anarquia”, mas recuavam quando se tratava de armar O Estado.
sação de vertigem mais uma vez fundamentava as medidas.
Para O jo- A “tradição liberal brasileira”, construída como resistência ao poder cen-
vem ministro, era indiscutível que essa “vertigem revolucionár
ia” tral, nessas ocasiões, predominava. Em todo o império, nos últimos anos,
pre-
Ainsvava O “Vineulo indissolúvel de todas as partes do
império”. Assim, políticos e proprietários vinham engajando suas vidas e cabedais na
listando as queixas de vários presidentes de província, ten
tava conven- servação dessa tradição. Até os mais jovens acreditavam que fortalecer O

278 279
td- a

DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO DA CHAGA ABERTA DEVE NASCER O ESPÍRITO DA ORDEM

com grandes possibilidades de fazer uma promissora carreira no serviço cer os deputados de que o Exército se ressentia de “falta de tropa de li-
público, tinham um enorme interesse no projeto de Vasconcellos. Isso nha”. Só essa — prosseguia — “pode apresentar aquela unidade que lhe
porque ele propunha um regresso, a recentralização do poder sob con. vigora a ação e à disciplina e aquela organização que lhe é mister”. Por
trole do governo nacional. Considerava que o único modo de frear q fim, concluía categoricamente pela importância da reforma: “é urgen-
“carro da revolução” era pela correção de supostas imprudências dos tíssima em face do desmantelamento em que se acha o Exército, a neces-
textos liberais. A proposta de reforma no Código de Processo Criminal sidade, sentida por todos, de se lhe dar uma nova organização”.
é um bom exemplo do que foram essas correções. Ela removia os pode- Todos esses projetos deveriam ser aprovados pela Câmara, e as resis-
res policiais atribuídos, por ele próprio, Vasconcellos, anos antes, aos tências foram muitas. Mesmo com uma Câmara majoritariamente con-
juízes de paz e os transferia para funcionários subordinados a chefes de servadora, o ministro Sebastião do Rego Barros, para aprovar a proposta
polícia, que, por sua vez, eram escolhidos pelo poder central entre os que elevava as forças de terra para até 15 mil praças em circunstâncias
magistrados profissionais.” À reforma do código, combinada com a extraordinárias, enfrentou forte oposição. O deputado Montezuma, do
proposta de Interpretação do Ato Adicional, ampliava os poderes do Partido Liberal, afirmava sem rodeios que Rego Barros não tinha auto-
ministro da Justiça. À ele caberia, direta ou indiretamente, demitir des- ridade para julgar a atuação do Exército. Fazia clara referência à patente
de o desembargador até o guarda de prisão. Esse sistema fundamentaria do ministro, capitão sem ter sequer efetividade no posto. Um fato possí-
a centralização política do Segundo Reinado.!º vel apenas em exércitos aristocráticos, em que a hierarquia interna, da
Essa determinação de restaurar a autoridade política e a hierarquia instituição, sofria interferências diretas do campo político. O deputado
social também levou o governo a propor uma ampla reforma do Exér- tentava, com esse argumento, indispor o ministro com a oficialidade e,
cito, visando à recuperação e ampliação de seus quadros. O ministro assim, inviabilizar não só essa proposta, como também o projeto de re-
responsável pela elaboração desse projeto de reforma foi Sebastião do forma militar do governo. Tudo isso só ocorria, no entanto, porque a
Rego Barros, outro nome da reação à crise de julho de 1831. Na época, maioria conservadora também tinha reservas em relação ao efetivo pro-
além de oficial do corpo de engenheiros, Rego Barros era também depu- posto, considerando-o excessivo. Essa reserva irritava os chefes do par-
tado, e a Câmara recomposta por Vasconcellos o indicou para assumir tido regressista. Honório Hermeto Carneiro Leão reclamava do
o comando das Guardas Municipais da cidade, até então descentraliza- “desânimo das maiorias” diante das “discussões intermináveis”, impos-
do entre os vários juízes de paz. Agora, em 1837, integrava a ala jovem tas pelo regimento da casa.'? Vivia-se um autêntico parlamentarismo, €
do ministério. Com apenas 34 anos, assumiu a direção do Ministério da o governo dependia da votação da Câmara. Mas havia aí um outro pro-
Guerra. O primeiro relatório que apresentou à Câmara dos Deputados, blema, de solidez partidária.!” Muitos dos que se diziam conservadores
em 1838, mostra com clareza como os conservadores capitalizavam 08 aderiam ao partido na tentativa de exorcizar os fantasmas da secessão
efeitos das revoltas para legitimar seus projetos de central ização. À sen- e da “anarquia”, mas recuavam quando se tratava de armar O Estado.
sação de vertigem mais uma vez fundamentava as medidas. Para O jo A “tradição liberal brasileira”, construída como resistência ao poder cen-
vem ministro, era indiscutível que essa “ vertigem revolucionária” tral, nessas ocasiões, predominava. Em todo o império, nos últimos anos,
arriscava o “vínculo indissolúvel de todas as partes do império”. Assim, políticos e proprietários vinham engajando suas vidas e cabedais na pre-
listando as queixas de vários presidentes de província, tentava convell” servação dessa tradição. Até os mais jovens acreditavam que fortalecer O

279
278
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO DA CHAGA ABERTA DEVE NASCER O ESPÍRITO DA ORDEM

governo era atentar contra a liberdade. Para não comprometê-la, apren. o bom resultado alcançado pelo corpo se devia a seu incansável chefe, o
deram a eliminar, por meio da repressão aos conflitos de rua, seu conte. sr Luiz Alves de Lima. Logo no início desse ano, em fevereiro, por meio
údo democrático. Defender a liberdade — a “verdadeira liberdade” par de correspondências oficiais, já tecia vários elogios ao oficial comandan-
usar uma expressão do Vasconcellos da crise de julho — significava a te. Parabenizava-o sobretudo pelo asseio e disciplina com que os perma-
um sistema político organizado pelos “poderes da casa”.14 nentes se apresentavam para Os exercícios de fogo e manobra no Campo
A tensão era grande, as desconfianças, maiores ainda. Os liberais da Honra, um deles assistido pelo regente e por Sua Majestade.
aproveitavam essas discussões intermináveis para revolver histórias re- A nomeação de Luiz Alves para a expedição do ministro Rego Barros
centes, quando a sociedade se sentiu ameaçada pelos despotismos da Co- constituía, assim, parte desse trabalho de observação, seleção e treinamento
roa. Limpo de Abreu, outro deputado liberal, só se referia à proposta efetuado por Vasconcellos. Era mais um nome da nova geração que colocava
militar do gabinete como “política de militarização do império”. Acusa- seus serviços à disposição da Regência conservadora. O ministro e O oficial
va o governo de “agravar o espírito público” pela disseminação do “ter- tinham a mesma idade. Ambos eram de agosto de 1803. Também tinham em
ror?.Sóa poucaidade desses “meninos” afirmava Montezuma-justificava comum o fato de terem vivenciado a agitação pós-abdicação ainda no início
uma proposta desse tipo. Eles nada sabiam de política e se moviam pela da carreira, tendo, os dois, por conta das mudanças que então ocorriam,
ansiedade, pretendendo resolver tudo pelas armas, sem consideração al- exercido suas primeiras posições de comando em corpos auxiliares, com a
guma com a liberdade.!5 tarefa de preservar as fronteiras sociais da capital do império.
Luiz Alves de Lima, quando foi nomeado para acompanhar o minis- A situação do oficial, no entanto, não era nada confortável. À família
tro Sebastião do Rego Barros em expedição militar ao Sul, após sete Lima — mantemos o sobrenome mais utilizado por ela nesses anos — era
a no exercício do mesmo posto de comandante da Guarda de Muni- toda liberal. Um de seus tios, João Manoel de Lima, era inclusive líder
cipais Permanentes, estava ingressando no núcleo dessas discussões pelo farrapo. Além disso, Luiz Alves tinha ainda uma dívida de graridão para
lado conservador. Sua nomeação ocorreu em março de 1839. Nessa Diogo Feijó, que, na posição de homem forte do governo, havia
com
data, o gabinete orquestrado por Vasconcellos já estava mergulhado apostado, em 1832, em seu talento, nomeando-o para o comando de um
a
numa grave crise. O aumento de efetivo do Exército só havia sido auto- dos batalhões da Guarda de Municipais Permanentes para combater
o
rizado após dois meses de muita discussão, e o projeto de reforma mili- Abrilada. O Regresso Conservador se constituía nessa fase inicial com
coa liz ão em opo siç ão ao pad re libe ral. !* A ref orm a def end ida pelo
tar estava parado na Câmara. Para piorar, o Exército sofreu um revés uma
ministro Sebastião do Rego Barros, com quem Luiz Alves conviv
eu por
exatamente na província cuja “pacificação” era central para acreditar a
caso vitor iosa, de sm on ta ri a a pol íti ca de fe nd id a por
política do novo gabinete. Esse foi o motivo da expedição. quase dois meses,
de seus tios — Ma no el da Fo ns ec a de Li ma e
Bernardo Pereira de Vasconcellos também estava por trás da nomea- Feijó, por seu pai e outro
foi min ist ro da Gue rra da Reg ê nci a Fei jó, me sm o com João
ção de Luiz Alves. Sempre atento a jovens talentos, ele vinha observando Silva —, que
na lid era nça far rou pil ha. Tod os com par til hav am a opinião do
e incentivando a carreira do oficial desde setembro de 1837. Em seu pri- Manoel
de Abr eu de que som ent e “ym min ist éri o que não te-
meiro relatório como ministro da Justiça, no ano de 183 8, elogiou, publi- deputado Limpo
ita res pod erá mai s fac ilm ent e co ncil iar Os ânimos”. Te
camente, o desempenho da Guarda de Municipais Permanentes em missão nha tendências mil
a aut ono mia das pro vín cia s era um dire ito inalienável e, por
na província de Santa Catarina e afirmou, diante de toda a Câmara, que Para Feijó,

281
280
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO DA CHAGA ABERTA DEVE NASCER O ESPÍRITO DA ORDEM

isso, só acreditava em uma reconciliação pacífica. Quando nomeou Ma.


sem estar sob as ordens de um de seus tios. Deixava na cidade a mulher
noel da Fonseca para o Ministério da Guerra por dois gabinetes Conse- e duas filhas, Luiza, de 6 anos, e Ana, com 3. Seguía para combater uma
cutivos e para o exercício interino do Ministério do Império no gabinete
rebelião também considerada de bárbaros, apesar de ter contado, em sua
de novembro de 1836, a oposição intensificou suas críticas, acusando-o fase inicial, com a participação de proprietários. Minha intenção é mos-
de cumplicidade com os farrapos.!* Além de irmão de um dos líderes
trar como nessa campanha o coronel de 1839 criou uma forma própria
rebeldes, o ministro sempre escapava ao debate. O próprio padre, pro- de repressão, combinando sua experiência no comando das Guardas
curando um nome para o Ministério da Marinha, exercido interinamen- Permanentes, especialmente a habilidade para lidar com uma sociedade
te por Manoel da Fonseca, afirmou, em tom irônico, marcado por tão estratificada e reorganizar suas fronteiras sociais, com as estratégias
profundo desânimo, que o ministro sofria de “doença endêmica” que o de negociação de seu pai em Pernambuco. À mesma atitude que havia
impossibilitava de “acumular tão pouco trabalho”.1º ocasionado o isolamento de Francisco de Lima na corte depois de sua
Manoel da Fonseca realmente teve uma atuação inexpressiva, mas volta em 1825 passava a integrar sem problemas a política do segundo
porque acreditava que se exagerava, que se “via por todo canto revolu- imperador. A concessão de anistias facilitou enormemente a desarticula-
ções”. À única revolução preocupante, na sua opinião, que devia ser ção dos rebeldes e, por conseguinte, o trabalho de repressão, passando a
combatida com firmeza, era a dos “bárbaros do Pará”. No caso do Sul, ser adotada por Luiz Alves em todas as campanhas que comandou.
a situação era outra. Claramente se referia à origem social dos rebel-
des.?º A farroupilha era rebelião de brancos proprietários. Francisco de
MISTURAR SANGUES É MISTURAR DESTINOS
Lima certamente concordava com ele. Desde Pernambuco, na repressão
à Confederação do Equador, estava convencido de que o império era
É breve o adeus do herói — a esposa chora,
integrado por vários povos e que, por suas diferenças culturais, esses
A jovem, bela esposa; as inocentes
povos “quase constituem uma nação à parte”. Essas idéias e a existência
Filhinhas, a quem tanto o pai adora,
de um Lima farrapo sustentaram especulações acerca da fuga de Bento
Choram também dos braços seus pendentes
Gonçalves da prisão na Bahia às vésperas da eclosão do movimento.
Como dois anjos que prender intentam
Falava-se sobre uma suposta troca de correspondências confidenciais en-
As duas partes caras,
tre Francisco de Lima e o líder rebelde.?! Honório Hermeto, anos depois,
Que de amor puro, unidas se alimentam
em 1840, preocupava-se com as idas do ex-regente ao Clube da Maiori-
Maranhão, Maranhão, tu as separas!
dade. Fregiientando as sessões do clube, ele reafirmava sua aliança com
os liberais tradicionais. Articulador da ala monarquista, Honório temia (GONÇALVES DE MAGALHÃES, Ode ao Pacificador)
a influência do pai sobre o filho. Luiz Alves, nomeado pela Regência
Ber eng er e a bar ca a vap or São Seb ast ião de ix ar am O cais do
conservadora de Araújo Lima, em 1839, já estava no Maranhão, e, com O brigue
manhã do dia
amplos poderes, presidia e comandava militarmente a província.Z porto do Rio de Janeiro, com suas insígnias militares, na
de dez emb ro, trê s dia s ant es do Nat al. No bri gue iam as tro pas € Os
Era a primeira vez que o primogênito do ex-regente, e agora senador, 22
gue rra . O vap or tra nsp ort ava O cor one l Lui z Alv es de
deixava o Rio de Janeiro comandando sua própria expedição militar, apetrechos de

283
282
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
DA CHAGA ABERTA DEVE NASCER O ESPÍRITO DA ORDEM

Lima, seu secretário - Domingos José Gonçalves de Magalhães — seu


Ventos contrários atrasaram em muito a viagem. O brigue, desnor-
oficiais e o dr. Francisco de Souza Martins, nomeado para presid
ir reado, foi arribado a Montevidéu, e o comandante da barca, apesar de
província do Ceará. Segundo relato de Gonçalves de Magalhães
ia ter mantido sua direção, viu-se forçado a fazer uma parada em Vitória.
fonte de que dispomos para acompanhar a organização da Epedida d
só retomaram a rota três dias depois, até que outro problema obrigou a
nome do coronel Lima tinha surgido em uma reunião do Conselho
E nova parada, dessa vez no Rio Grande do Norte — a quilha do vapor
Ministros, ocorrida semanas antes.? A Regência continuava a ts
quebrou ao chocar-se contra um penedo. Avariado, ele não pôde prosse-
dirigida por Araújo Lima, mas o ministério era outro, instável, o e
guir viagem. O coronel Lima e toda a tripulação tiveram de aguardar,
do em cinco meses. Após a queda daquele presidido por Vasconcellos
por doze dias, a chegada do brigue Guararapes, que já seria enviado,
nenhum outro se firmaria. À reputação de Luiz Alves, no entan
to rp mesmo antes do acidente, ao Maranhão, comboiando uma escuna com
cia ser consenso entre os políticos. Seguia para São Luís aco
miitando os tropas da província. Antes de aportar em São Luís, ainda deixaram o dr.
cargos de presidente e comandante de Armas da província
do Mara- Martins no Ceará. À viagem só terminou no dia 4 de fevereiro.
nhão, tal como aconteceu com seu pai, em Pernambuco. Essa
era mais Na manhã do dia 5, ao longo do cais do porto de Santa Maria, parte
uma estratégia de força criada por d. Pedro I que os regressistas
recupe- da tropa maranhense, enfileirada, em uniforme de gala, recepcionava 0
ravam. Luiz Alves, ao que tudo indica, teve liberdade para escolher novo presidente e comandante da província. Altas autoridades, de am-
seu
secretário. “Amigo leal”, Gonçalves de Magalhães estava no Brasil bos os partidos — liberais e conservadores —, dignitários do clero e gente
ha-
via dois anos e meio, depois de ter viajado pela Europa e fregiientado do povo afluíram para o local. Esse espírito conciliatório era sinal de
por vários anos, aulas de direito, química e economia política em Paio, cansaço. Após mais de um ano de rebelião, a economia da província es-
formando-se em medicina. Outra jovem revelação, com apenas 28 anos, tava falida, e sua estrutura escravocrata, com sérias fissuras. Esse quadro
completados também em agosto, quatro meses antes de embarcar para favorecia Luiz Alves. Liberais e conservadores — bem-te-vis e cabanos,
São Luís, o secretário tinha um currículo admirável. Era membro do respectivamente —, depois de tudo comprometerem, superavam Slas di-
Instituto Histórico da França, do Instituto Histórico e Geográfico Bra- vergências para reprimir o movimento. Luiz Alves era a esperança desses
sileiro, havia integrado a Legação de Negócios na corte francesa e já era homens, dispostos a colaborar.
famoso por seus Suspiros poéticos e saudades. Regressou ao Brasil em Mas nem sempre havia sido assim. Os conflitos na província se deram
1837 e, desde então, vinha se dedicando a projetos culturais e às suas dois níve is. Um dele s envo lvia disp utas part idár ias. Nas elei ções de
em
va-
aulas no colégio Pedro 11.24 1836, os bem-te-vis, há anos no governo, foram derrotados. Desconfia
| Sobre os oficiais que acompanharam Luiz Alves, não foi possível colher os cab ano s, com mai ori a na ass emb léi a, hav iam inf lue nci ado no
se que
tensão
informações. O único identificado foi Agostinho Maria Piquet, alferes do resultado da votação. À recorrência a práticas violentas criou uma
Corpo de Permanentes, nomeado por Luiz Alves seu ajudante-de-ordens pio rou co m a apr ova ção , pel o Leg isl ati vo pro vin cial, em
extra. O clima
no Maranhão. Mas Gonçalves de Magalhães afirma que todos os oficiais 8, da Lei dos Pre fei tos e da Lei dos Gua rda s Nac ion ais. Por meio de-
183
ini str ati va da pro vín cia foi tot alm ent e alt era da. Em
foram escolhidos diretamente pelo coronel. Alguns soldados do corpo de las, a orga niz açã o adm
de cada comar-
permanentes também foram selecionados e voltariam de lá premiados com escala decrescente, a nova ordem instituía, para o governo
pre fei to; par a O gov ern o de cad a ter mo, um sub pre fei to; e, nos
patentes de oficial inferior.3 ca, um

285
284
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO DA CHAGA ABERTA DEVE NASCER O ESPÍRITO DA ORDEM

distritos, tantos comissários de polícia quanto o prefeito, ouvindo o sub.


como um criminoso cruel, outros dizem ter sido combatente do “Exército
prefeito, julgasse necessário. À todos esses funcionários foram atribuídos
Auxiliador” cearense e um fugitivo das violências do barão da Parnaíba,
amplos poderes, retirados dos juízes de paz eleitos localmente. O Executi- presidente do Piauí. Um dado pouco lembrado é que, antes de invadir a
vo municipal ficava, assim, sob domínio dos prefeitos e, como esses eram
cadeia, Raimundo Gomes tentou resolver a questão pela via formal. O ir-
nomeados pelo presidente da província, o sistema eliminava qualquer
mão havia sido preso de forma suspeita. Passava com outros vaqueiros por
oposição. À capacidade de controle se tornou ainda maior quando
os pre- Manga, tangendo manadas do patrão para vender, quando oficiais milita-
feitos passaram a nomear os chefes da Guarda Nacional. Essas leis mos-
res interceptaram o grupo, levando alguns homens como recrutas e o irmão
tram, na verdade, e com nitidez, o que era o rearranjo institucio
nal de Raimundo Gomes preso, sob acusação de assassinato. Este assistiu a
proposto pelos conservadores em plano nacional e o modo como
ele inter- tudo, mas conseguiu escapar. Inconformado, enviou ao subprefeito um re-
feria na política regional, provocando cisões e conflitos intra-elite.?? querimento, explicando o que considerava ser um mal-entendido e solici-
Outro nível de conflitos envolvia insatisfações sociais, de mestiços tando a libertação de seu irmão. O subprefeito, cabano, indeferiu o pedido.
e
negros escravos. À população de escravos da província nas primeira só então Raimundo Gomes decidiu pelo assalto.”
s déca-
das do século XIX era grande.?? Há uma estimativa de que em 1822,
ano O sucesso da ação rendeu inúmeras adesões, transformando o episó-
da Independência, a proporção fosse de dois escravos para um livre
. Cen- dio em movimento armado. Em pouco tempo, Raimundo Gomes tinha
tenas deles, fugindo dos maus-tratos de seus senhores, aquilombavam-se sob seu comando bandos de várias regiões da província. Cada qual tinha
nas matas, de onde saíam para surtidas rápidas e violentas sobre proprie- seu líder, todos de origem humilde. Os codinomes por eles adotados não
,
dades agrárias. Aos negros, recorria-se com desconfiança para decidir con- deixam dúvidas sobre essa origem: Tigre, Raio, Tetéu, Ruivo, Cafuzo
An-
flitos políticos. Mas os proprietários não tinham o mesmo cuidado com os Corisco, Mulungueta, Sete Estrelas, Caninana, Jitirana, Riachinho,
mestiços. Vaqueiros, barqueiros, trabalhadores domésticos e de sítio, O gru- dorinha e Relâmpago, entre outros. As forças do governo organizavam
urrá-
po formava o contingente em armas de todos os conflitos da província. Sua colunas, perseguiam os rebeldes, mas tudo que conseguiam era emp
participação nas lutas garantiu o sucesso da causa da Independência na para o Piau í, o que só agr ava va O pro ble ma. Por onde pass ava, Rar
los
região. Alguns dos líderes balaios, espalhados pelo Maranhão em 1939, Gom es deix ava simp atiz ante s e rece bia nova s ades ões. Do Piauí,
mundo
foram heróis em 1822. Domingos da Silva, o Matroá, era um deles. retornou com cerca de 600 homens a mais.
O episódio que deu origem à Balaiada mistura mais uma vez esses dois os líde res, não havi a nen hum repr esen tant e da elite local. Nin-
Entre
mundos. Ou, se o leitor preferir, cruza esses dois níveis de conflito. A 13 lvia de for ma dire ta na rebe lião . No ent ant o, o caos insti-
guém se envo
de dezembro de 1838, na vila de Manga, o mestiço Raimundo Gomes, à por dese stab iliz ar o gov ern o cons erva dor, atra ía ine vitavelmente
tuído,
frente de alguns homens, assaltou a cadeia pública para libertar seu irmão, cerc o e a ocu paç ão de Caxi as, segu nda cida de da prov íncia
os liberais. O
preso por homicídio. Além do irmão, libertou outros presos que ali esta- ort ânc ia eco nôm ica , par ece m ter sido faci lita dos pela oposição.
em imp
vam por decisão de autoridades locais. A guarda da cadeia não reagiu. ÃO Alguns rela tos afi rma m até mes mo que, dura nte O cerc o, em junh o De
te-v is teri am pro cur ado Rai mun do una : soli-
contrário, aderiu ao assalto. Raimundo Gomes era vaqueiro em Arari, nã 1839, emissári os bem-
o para uma proj etad a rev olt a. O assu nto é delicado.
fazenda do padre Inácio Mendes de Morais e Silva, do partido bem-te-vi. citado seu apoi
lib era is e reb eld es int ere ssa va aos co ns er va dores.
Há duas versões sobre seu caráter. A maior parte dos livros o apresenta Essa associação entre

287
286
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

Inclusive aos da corte. Mas se essas alianças militares podem ser questio.
nadas, por outro lado é inegável que, sobretudo no primeiro ano da
re- Marechal José Joaquim de Lima da Silva. Avô do
volta, liberais e rebeldes andaram bem próximos. Depois da tomada de duque de Caxias. Chegou ao Rio de Janeiro em

TA
O A
Caxias, os líderes do movimento criaram uma comissão militar para 1767, para combater os espanhóis na fronteira sul da
América portuguesa. Em 1808, assumiu o comando

E.
governar a cidade. Essa comissão, interessada em negociar um acordo

q
aut ts
de do 1º Regimento de Infantaria do Rio de Janeiro,

Bla
paz com o então presidente, Manoel Felizardo de Souza e que ficaria conhecido como “Regimento dos Lima”.
Melo, enviou

Sastiçãas
uma deputação à capital. O grupo era composto de “homens
ilustres”
todos do partido bem-te-vi. Meses depois, quando
a rebelião se aa
por toda a parte oriental da província, devastando fazenda
s, intercep-
tando a navegação dos principais rios e arrasando a populaç
ão, esses
homens negaram qualquer cumplicidade com os rebeldes,
jurando que
oram coagidos a integrar a deputação. Todavia, o texto
apresentado ao
presidente Felizardo — as “Instruções” — não deixa dúvidas
sobre a iden-
tificação política existente entre os dois grupos.

CARVALHO
O artigo 1º declarava — como faziam os liberais — que o conselho
mi-
litar respeitava Sua Majestade e a Constituição. O artigo seguinte
apre-

Coteção Macebo
Sentava à primeira exigência dos rebeldes: eles pediam a “ab-rogação das
leis provinciais que criaram as prefeituras e ofenderam a lei geral sobre a
organização de uma Guarda Nacional”. O artigo 3º solicitava anistia e
afirmava que “a presente luta (...) só tem por fim lançar por terra aquelas
leis que ameaçam as liberdades pátrias”. As exigências e o vocabulário
coincidem em tudo com os princípios liberais. Mas a confirmação da
proximidade entre liberais e rebeldes, nessa etapa do conflito, só é expli-
Marechal Francisco de Lima e Silva.
citada com clareza ao final. O último artigo, o 8º das “Instruções”, auto- Regente e senador do Império, pai do
duque de Caxias. Era comandante do
rizava esses “homens ilustres” a realizar outras negociações não firmadas
CiAMvARIL:

1º Regimento de Infantaria do Rio de


no texto das “Instruções”. Qualquer uma “que a deputação entender Janeiro quando Luiz Alves, então com
5 anos, assentou praça de cadete no
fazer em cumprimento dos interesses e dignidade do partido bem-te-vi”.”
Afarrmo

Regimento.
Ao contrário de coação, o texto indica clara relação de confiança. No ano
Corrção

seguinte, 1840, os rebeldes confirmavam, por meio de correspondências


com oficiais do coronel Lima, os motivos da luta. Pegavam
em ar-
mas — afirmavam convictos — “contra os cabanos para botar abaixo
a lei
dos prefeitos, subprefeitos e comissários” e, ao assinarem os ofícios, cada
Mariana Cândido de Oliveira Belo.
Mãe do duque de Caxias.

288
HG

4 nham
domino
A maTres
CARVALHO

has

CARVALHO
MaceDoO

MacEDoO
CoLeção

Coreção
Marechal José Joaquim de Lima e Silva, visconde
de Magé. Tio paterno do duque de Caxias. Foi Luiza do Loreto Viana de Lima,
sob suas ordens que o jovem Luiz Alves fez sua Marechal Manoel da Fonseca de Lima e Sil baronesa de Santa Mônica. Filha
primeira campanha militar, em 1823. barão de Suruí, Tio de Luiz Alves. Foi sob st mais velha do duque de Caxias.
comando que Caxias seguiu em 1825 para Ana Luiza Carneiro Viana. Esposa do
lutar na Guerra da Cisplatina. duque de Caxias. Pertencente a uma
das mais importantes famílias da
corte do Rio de Janeiro, era filha do
CARVALHO

desembargador Paulo Fernandes


CARVALHO

Viana, braço direito de d. João na


cidade.
MaceDo
Maceno

Coteção
Correção

CARVALHO
CARVALHO

Macino
MaceDo

Corição
Coeção

General João Manoel de Lima e Silva. Tio do Carlos Miguel de Lima e Silva. Irmão
Luiz Alves de Lima e Silva.
duque de Caxias e um dos líderes da caçula do duque de Caxias, enviado o Ana do Loreto Viana de Lima, Único filho homem do duque
Revolução Farroupilha. 1833 como adido militar para a Bélgict viscondessa de Ururaí. Segunda de Caxias, falecido aos I4 anos,
do
após golpear mortalmente o redator filha do duque de Caxias. vítima de encefalite.
jornal oposicionista O Brasil afiteto.
FESTA NACIONAL

do
Exumação do corpo do duque de Caxias no Cemitério
CARVALHO

KR]
nde ctapa
Catumbi, em 23 de agosto de 1949. Primeira gra

Dlistuiii as imo Enimidias


nida Presidente
da festa de inauguração do Panteão da Ave
Macroo

Vargas, Centro, Rio de Janeiro.


Coteção

im Amit
Acta
a + a :
| : edi

Báls
ms
o CR
Ainda no cemitério, oito praças da Polícia Militar do
Distrito Federal carregam a urna funerária,
acompanhados por populares.
Fazenda São Paulo, onde, em 1803, nasceu o duque de Caxias. Situada no atual

Rj.
município de Magé, no Rio de Janeiro, a fazenda era propriedade de seu avô

tuo Extncito,
materno, Luiz Alves de Freitas Belo.

Distókico
0 TTe— me 1 m E
CARVALHO

po Apetite
MaceDo

E poa * da ue ps -. "ar E so
q as a
O eg o E
Coreção

Ee pa ud Ea Er PES

Acrnvo
É LA nro did
a

duo Entmctio, HJ),


Acervo per Amquinãs Elisio
Cumprindo o trajeto do
Eai
cerimonial, um tanque do Exército
transporta a urna funerária. Nesta
Real Academia Militar, na qual o duque de Caxias realizou seus estudos, seguindo a arma de infantarê
A Academia era situada no prédio que hoje abriga o Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFR), foto, passa pela Avenida 1º de
no Largo de São Francisco, Centro da cidade do Rio de Janeiro. Março.
Missa solene na Igreja da Sa A estátua do duque de Caxias, no Largo
nta
R.].

CARVALHO
Cruz dos Militares. Uma vigília do Machado, onde foi colocada
Exrroiro,

cívica integrada por oficiais e originalmente. O cavalo estático, a


soldados das três forças armadas espada embainhada e o binóculo na

Macedo
mão compõem a imagem do aristocrata
po

guardou o local durante toda a


e estrategista.
Histórico

madrugada do dia 25 de agosto,

Coteção

uy
Do Arquivo
Acervo

Em e e Ao
TS ie TS coli
E caro
RJ.
Acervo bo Arquivo Hisrógico DO ExrrciTo,

A estátua do general Osório, em destaque


na Praça XV de Novembro até hoje. O
cavalo em movimento, a espada
à à E EP =

ne AD Eigr vestia
empunhada e o uniforme de campanha
id E O - — a

realçam a imagem do guerreiro e líder


militar popular.
Pela manhã, em uma carruagem, o cortejo seguiu pela Avenida -

Presidente Vargas para seu destino final.

CARVALHO
Coreção Macepo
Acervo DO Arquivo Histónico DO Exército, RJ.

Conta
.TUBSS AT

ea:

E
E es us | Tm
a. A tina

Epi |
Ê o aediê, »
Me o,

:
e
Mi
pé O
ba -

% mo

| PSD
a
k
e
: +
sd ui
“a L O
Rd
ps
|
inte!||) |
|
8

4;
O!

Inauguração do Panteão, que abriga os


Ei

restos mortais do duque e da duquesa de


Caxias. Esse segundo sepultamento
cristalizaria a imagem da qual somos
ça -<Snaa herdeiros, a de um duque-monumento.
DA CHAGA ABERTA DEVE NASCER O ESPÍRITO DA ORDEM
RETRATOS DE CAXIAS

um deles identificava a patente com que comandavam as — assim eles as


CARVALHO

denominavam — “forças bem-te-vis”.?


Grande parte dos proprietários e políticos locais parece só ter perce-
MaciDo

bido os riscos dessa aproximação depois que Raimundo Gomes tomou


Coteção

roda a parte oriental do Maranhão, ameaçando a capital, São Luís, a

CARVALHO
partir de Icatu, também controlada por um de seus bandos, e ramifican-
do-se pela margem piauiense do rio Parnaíba. Foi nessa ocasião que o

Maceno
movimento assumiu feição assustadora, com a devastação de fazendas
Coteção e a adesão da população local. Até então, a prática de chamar os mesti-
ços a decidir questões políticas, inclusive disputas partidárias, inquieta-
va apenas um ou outro fazendeiro. Um deles foi d. Martinha, proprietária
de extensas faixas de terra. Em 1835, ela abordava o tema nas cartas
que enviava ao censor João Antônio Garcia de Abrantes. Escrevia que
Marquês de Caxias. Título com o qual foi os mestiços, afirmando com orgulho sua condição de “nativos”, vinham
se julgando senhores da terra e da política. Angustiada, alertava: “mis-
agraciado em 1852, após retornar da campanha
Barão de Caxias. Primeiro título de nobreza, militar no Uruguai.
recebido em remuneração dos serviços prestados turar sangues é misturar destinos”.?
em 1841 no Maranhão: repressão à Balaiada. O coronel Lima, quando chegou ao Maranhão, substituiu o presidente
Manoel Felizardo de Souza e Melo, na direção da província desde março
CARVALHO
CARVALHO

de 1839. Apesar de também ser oficial do Exército, capitão do corpo de


engenheiros, Manoel Felizardo não assumiu o comando militar da provín-
MacEDO
Macepo

cia. Foi durante seu governo que o movimento se radicalizou. Num otício
CoLeção
CoLeção

datado de 26 de setembro, afirmava ao ministro da Justiça que, tal como


en-
na Bahia, a rebelião parecia ter tido origem nas eleições e que, inicialm
rsários.
te, o partido de oposição incitava a população contra seus adve
Mas naquele momento — ele fazia questão de destacar — a mesma popula-
se mobi liza va e ajud ava na repr essã o aos rebe ldes .” Para Gonçalves
ção
o pres iden te proc urav a, com essa vers ão, “ate nuar em sua
de Magalhães,
io.
mente o tamanho do mal” para “dar muitas boas novas” ao ministér
Seu governo, nessa ocasião, já estava completamente desmoralizado.
Manoel
Mesmo com parte da província dominada pelos rebeldes,
jornais criti-
Felizardo não saía da capital. Às censuras logo vieram. Os
Duque de Caxias em 1875. O título de te
duque só foi obrido em 1869, em cavam sua falta de iniciativa, “indecisão” e “docilidade”. O presiden
remuneração dos serviços prestados na
Guerra do Paraguai. Duque de Caxias em seus últimos dias de vida.
289
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO DA CHAGA ABERTA DEVE NASCER O ESPÍRITO DA
ORDEM

não agradava mais a nenhum dos dois partidos.” Também não soube cujo desfecho se tornou amplamente conhecido, sendo reproduzido à
fazer alianças. Isolou-se. O barão da Parnaíba, presidente do Piauí, um exaustão por seus biógrafos. Após lembrar a adesão dos maranhenses,
aliado importante, homem da região, se sentia “desgostoso” com a “fal. que, em vez de aterrar-se com o sangue derramado por esses band
idos,
ta de correspondência” do presidente Felizardo.:* Em novembro, a crise “engrossaram suas fileiras”, ele anuncia sua posição:
atingiu seu ápice. O tenente-coronel Francisco Sérgio de Oliveira, co-
mandante das tropas legais, irritado com a “pouca força moral e Maranhenses!, mais militar que político, eu quero até ignorar os nomes
física dos partidos que por desgraça entre vós existam. Deveis conhecer a ne-
do governo”, esqueceu a obediência que devia ao presidente e
lhe enviou cessidade e as vantagens da paz, condição da riqueza e da prosperidade
um ofício extremamente ofensivo. Pedia ao presidente que se dispusesse, dos povos; e confiando na Divina Providência, que por tantas vezes nos
“digamo-lo assim, a sacrificar-se para o fim de satisfazer à importante tem salvado, espero achar em vós tudo que for mister para o triunfo da
missão de seu cargo, salvar a província do Maranhão”. Sem qualquer nossa santa causa.
consideração, recomendava a “Vossa Excelência” que “se faça respeitar
e obedecer, em vez de esperar, de pedir e de condescender”.3? O texto é geralmente recuperade como um sinal de clarividência do co-
ronel, um símbolo de sua genialidade militar Há quem afirme que essas
idéias não eram suas, que ele defendia uma política do governo no Rio
MAIS MILITAR QUE POLÍTICO
de Janeiro. Outros creditam todo o mérito a seu secretário, Gonçalves de
Magalhães.*º Acredito que esse texto, e a política que ele anuncia, te-
Exulta, oh Maranhão, eu te saúdo,
nham um pouco de cada um desses elementos, e acrescento ainda um
Eis o teu salvador! Enxuga o pranto, último: a colaboração de Manoel Felizardo.
Tens por ti sua espada, e seu escudo: Sobre ser uma política traçada na corte, é importante fazer algumas
Comigo entoa da vitória o canto. ressalvas. À idéia, sem dúvida, está em perfeita consonância com o redi-
(GONÇALVES DE MAGALHÃES, Ode ao Pacificador) recionamento político efetuado pelo Regresso Conservador. ÀÃo exigir
que os partidos se recolham, ela realça o princípio monárquico. Não à
A crise do governo Manoel Felizardo explica a grande recepção realiza- toa — voltarei a esse ponto mais adiante —, Luiz Alves se tornou um gran-
da para o coronel Lima, com todas as honras militares, por bem-te-vis de nome do partido. Só que o movimento foi inverso: o partido é que
e cabanos, no cais do porto de Santa Maria. À presença de ambos 08 adotou sua política militar. Do Maranhão, pouco mais de um mês após
partidos na festa do dia S não era o primeiro “milagre de sedução” de sua posse, o coronel Lima escreveu ao regente informando sobre a polí-
Luiz Alves de Lima.* Ela exprimia o estado de calamidade da província tica adotada e perguntou se ela agradava ao governo. Não obteve res-
e o desespero da elite. posta. Voltou então a escrever no dia 17 de maio, dessa vez ao ministro
O grande mérito do coronel Luiz Alves de Lima foi saber capitalizar da Guerra. No ofício dizia não saber “se minha marcha administrativa e
todo esse “estado de desesperação”. Ou ainda, usando outro termo cO- militar estará agradando ao governo e particularmente a v. exa.”.
mum na época, todo esse “flagelo” que se abatia sobre a província. No Manter essa “política de neutralidade” não era fácil. Apesar de ter
dia de sua posse, 7 de fevereiro, publicou uma proclamação, a primeira; escolhido seus oficiais, Luiz Alves assumiu o comando-em-chefe de forças

291

290
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO DA CHAGA ABERTA DEVE NASCER O ESP
ÍRITO DA ORDEM

que estavam na região muito antes de sua chegada. Algumas eram Otigi- em 1823, José Joaquim, um desses tios, só assumiu o comando-em-
nárias de outras províncias, sobretudo do Ceará, Pernambuco e Piauí. In- chefe das forças militares em operação na província porque se envol-
gressava, assim, em uma trama política pronta e que contava, em sua veu diretamente no jogo político local, participando da prisão do
conformação, com elementos que eram completamente estranhos a ele, general Labatut e deixando para trás outro de seus superiores, o gene-
Esse dado certamente foi considerado pelo coronel ao instituir-se como ral Manoel de Morais. No entanto, logo depois, viu a “cabala” voltar-
uma espécie de “agente neutro”. Ainda assim, enfrentou problemas. O se contra ele. Luiz Alves, ainda rapaz, estava lá, e compartilhou tanto
tenente-coronel José Thomas Henriques, oficial pernambucano responsá- os lucros quanto os prejuízos do envolvimento de seu tio na política
vel pela repressão na delicada região do delta do Parnaíba, resistiu às no- local. Talvez o coronel José Joaquim só tenha se arriscado porque a
vas instruções. Luiz Alves teve que insistir, por meio de vários ofícios, para causa estava ganha. O inimigo — na época, os portugueses — já estava
que deixasse de manter correspondência com “influentes de partidos desta quase derrotado. Pessoalmente, também tinha pouco a perder. Não
capital”. Em seu ofício, alertava Thomas Henriques que “um [desses in- saiu da corte como comandante das forças imperiais, e só por meio da
fluentes] terá facilidade de fazer saber a todo mundo que v. s. está em es- participação nas lutas políticas poderia alcançar esse posto. À situação
treitas relações com seu partido e que de todos os movimentos [da tropa] de Luiz Alves em 1840 era bem diferente. Ele tinha sido nomeado pela
lhe faz participante”. Como dependia desses oficiais, não interessava a Regência comandante da expedição e das armas do Maranhão. Assu-
Luiz Alves iniciar um conflito. Por isso, em outro ofício, disse ao mesmo miu sua direção político-administrativa e, além disso, encontrou parte
tenente-coronel que “não nutro nenhuma prevenção contra a sua pessoa, considerável da província sob controle dos rebeldes.
pelo contrário, tenho por v. s. simpatia e o tempo lhe mostrará o quanto Mas Luiz Alves só pôde medir com mais precisão os riscos da políti-
lhe sou afeiçoado”. Seu apoio era imprescindível, e o coronel Lima sabia ca maranhense graças à colaboração de Manoel Felizardo. Ele não só
disso. Para manter uma expressão sua: ninguém comanda sem “súditos”. contou com informações passadas pelo presidente em seus ofícios à cor-
Em outro trecho, ainda nesse ofício, tentava conquistar a confiança do te, como também desfrutou sua companhia por quase um mês em São
oficial: “melhor é que o superior patenteie ao súdito os seus erros do que Luís. Manoel Felizardo só retornou à corte no início de março. Nesse
obrar em conseqiiência deles em segredo”. Precisava que Henriques enten- ínterim, o coronel Lima — é ele mesmo quem afirma — “tratava particu-
desse a necessidade de se “abster de mostrar parcialidade”.* larmente de informar-me com ele”.*2 A ajuda foi de grande valia. Termi-
A idéia de colocar-se acima dos partidos era do coronel Lima. Ele nada a campanha, Luiz Alves escreveu ao ex-presidente dando notícias
ansiava, do Maranhão, por uma palavra de aprovação do governo e, da província e dos oficiais que tinham sido por ele recomendados. À re-
por conta da última reviravolta política ocorrida na corte, com o golpe lação era de amizade. Em sua resposta, Manoel Felizardo escrevia:
da maioridade e o retorno dos liberais ao poder, em julho de 1840, fi- “Muito folguei vendo que minhas idéias sobre alguns oficiais do Mara-
caria sem ela. Mas creditar a Luiz Alves de Lima a autoria dessa polí- nhão combinam com as suas.” Apesar de tudo, mantinha-se atento à
tica não é o mesmo que atribuí-la apenas a uma genialidade ou trajetória desses homens. A carta — continuava ele — “me faz criar e con-
sensibilidade militares inatas. Primeiro, é preciso lembrar a larga expe- servar esperanças de que obterão o prêmio dos serviços que prestaram”.
riência dos Lima em expedições militares, além, é claro, daquela acu- Nem tudo havia sido desacerto em seu governo. Essa era, ao menos, a
mulada pelo próprio Luiz Alves, como “súdito” de seus tios. Na Bahia, opinião de Luiz Alves. Manoel Felizardo de fato não saía da capital.

293
292
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO DA CHAGA ABERTA DEVE NASCER O ESPÍRITO
DA ORDEM

Também lhe faltava poder de decisão. Mas — vale lembrar — ele não era sua nomeação.** O barão pertencia a uma das famílias mais influentes da
comandante de Armas da província. Era apenas seu presidente e, como região “norte” do império. Havia oito anos na presidência do Piauí, de-
tal, teve um mérito: manteve-se longe das disputas partidárias. Luiz Al- pois de ter exercido o mesmo cargo por cinco anos consecutivos, entre
ves estava convencido de que, de outro modo, as dificuldades teriam sido 1824 e 1829, 0 barão festejava a chegada do primogênito do ex-regente
bem maiores. No dia 5 de março, por ofício, explicou ao ministro da pacificador de Pernambuco, que também era sobrinho de um oficial mui-
Guerra que adotava, em termos políticos, a estratégia de seu “antecessor, to conhecido e querido na província.
que, no meio dos partidos, soube se conservar independente”. José Joaquim de Lima iniciou sua carreira no Piauí. No primeiro
Outra colaboração certa veio de Gonçalves de Magalhães. A função capítulo, sobre a travessia do Atlântico e a instalação dos irmãos Lima
dos secretários de governo, segundo ele mesmo insinua em seu relato no Rio de Janeiro, destaquei a importância de sua nomeação, em 1814,
sobre a “revolução do Maranhão”, era redigir documentos e ajudar o para instrutor de milícias da província. Logo que assumiu o cargo, foi
presidente na administração da província.” Jovem, recém-chegado de premiado com a patente de sargento-mor (major), ao retornar, obteve a
sua viagem de estudos a Paris, Gonçalves de Magalhães aproveitou o patente de tenente-coronel. Por meio da lógica da circulação geográfica,
cargo de secretário do governo para pesquisar e conhecer melhor “nos- em comissões militares, o jovem oficial impulsionava o projeto de ascen-
sos costumes e naturais tendências”. À exceção do primeiro capítulo, são social dos Lima na corte. Viveu no Piauí por três anos e, o que é mais
escreveu todo seu livro durante o tempo em que esteve na província. importante, soube cultivar boas relações. Elas foram tão duradouras
Nele aborda, inclusive, fatos ocorridos antes de sua chegada. Para isso, que, em 1834, a província o elegeu deputado, reelegendo-o por quatro
pesquisou nos jornais locais.'* Estava convencido de que só pelo estudo legislaturas seguidas, até 1843. Luiz Alves contaria na “pacificação” do
do passado “de nossas desordens” seria possível coligir uma “lição his- Maranhão com todo o apoio do barão e de seus aliados políticos, que
tórica?. Essa lição guardaria uma vinculação estreita com o presente: eram também os de seu tio José Joaquim.
ela permitia pensar uma intervenção na realidade e, em função disso,
evitava a perda de “fé no futuro”.?” Foi com esse espírito, quase missio-
A GUERRA CIVILIZA
nário, que Gonçalves de Magalhães participou, lado a lado com o coro-
nel Lima, da repressão aos balaios. Estava também engajado em pensar
Ei-lo na Vargem Grande! Ei-lo em Vianna!
a rebelião e os maranhenses. As proclamações do presidente, bem como
Ei-lo em Caxias! Ei-lo em toda parte!
outros textos oficiais, contavam, no mínimo, com sua revisão, mas é
Aqui a fúria aplaca a intriga insana,
provável que fossem integralmente redigidas por ele.
Ali a guerra ensina as leis e a arte.
Tão absurdo quanto imaginar que Luiz Alves era apenas um instru-
mento de alguns homens ilustrados residentes no Rio de Janeiro, é acre- (GONÇALVES DE MAGALHÃES, Ode ao Pacificador)
ditar que a “pacificação” foi obra de um único homem. O coronel Luiz
Alves de Lima ainda contaria no Maranhão com a rede de relações pes- O nível de civilização do Maranhão, para esses homens de corte, explicava
soais de sua família. Antes que deixasse a corte, seu pai e o tio José Joa- o que “à primeira vista d'olhos é inexplicável” — o “exército da rebeldia”.
quim escreveram a um velho amigo — o barão da Parnaíba — comunicando A narrativa é mais uma vez de Gonçalves de Magalhães. Mas o sujeito

294 295
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO DA CHAGA ABERTA DEVE NA
SCER O ESPÍRITO DA ORDEM

coletivo com valor de testemunho — “nós vimos” — sugere que ela era com. nhecer esses homens”. Só isso permitiria pensar uma ação eficaz. Tam-
partilhada por aqueles que viviam com ele a experiência na província, bém responsabilizava os proprietários pela proliferação de quilombos
O quadro pintado no segundo capítulo de sua obra sobre a “revolu-
nas matas do Maranhão. Para ele, os escravos só tentavam “subtrair-se
ção”, intitulado “usos e costumes do Maranhão”, é arrematado com ao jugo do senhorio” porque eram tratados “com bárbaro rigor”. Até O
uma pergunta final: “O que se pode esperar de homens não domados necessário sustento esses senhores lhes negavam: “uma espiga de milho é
por nenhum freio?” O editor do livro, um maranhense, incomodado
o seu almoço, arroz e farinha o seu jantar, do mais lhes fornecem a rapina
com a descrição de Magalhães das “coisas e gente da terra”, ainda ten-
e a caça”. “Esta é a gente”, conclui, “que incitada nos faz a guerra”.
tou, por meio de notas, relativizar suas críticas, lembrando que o autor
Tudo isso foi ouvido com atenção por Luiz Alves. Sem discordar de
vinha da Europa e, por isso, exagerava em seu julgamento. que a guerra é uma calamidade, encerrou seu relatório de governo, em
Em parte ele tem razão. Magalhães escrevia a partir de um modelo civi- 1841, afirmando que ela também pode ser “um meio de civilização para O
lizatório francês. Mas não eram as críticas em geral que afetavam o editor. futuro”.º*º Essa idéia organizou toda sua atuação na província. A primeira
O que produzia esse incômodo era um ponto preciso. O alvo de Gonçalves incursão que realizou pelo interior, por vilas que tinham estado sob domí-
de Magalhães era a elite maranhense. Não porque parte dela teria se apro- nio rebelde, só ocorreu precisamente um mês depois de sua posse, no dia
ximado dos mestiços para definir disputas partidárias. A crítica não é dirigi- 7 de março. Até essa data, Luiz Alves permaneceu na capital organizando
da aos liberais em especial. Ela é mais aguda. Para Magalhães, rebeldes e a administração militar da província.*! A administração civil também pas-
proprietários se encontravam no mesmo nível de civilização. Essa é a raiz da sou por uma expressiva reorganização, mas esta ocorreu de forma mais
questão. “Senhores fazendeiros”, eles próprios, não tinham “respeito algum lenta, ao longo do ano de 1840. Convertida em estratégia militar e políti-
às autoridades”. Eram vingativos e, sem considerar a lei, resolviam insultos ca, essa ação administrativa se tornou um marco do governo Luiz Alves,
por “suas mãos de particulares”. Para tanto — afirma o poeta —, valiam-se de evidenciando a sintonia existente entre o presidente e seu secretário. Se a
“facínoras”, davam-lhes abrigo e, por meio deles, se faziam “temíveis”. questão era “domar” esses homens, como sugeria Gonçalves de Maga-
Essa falta de “freios” os levava a “negar dívidas”, a “não pagar a seus cre- lhães, a guerra dirigida pelo coronel Lima devia implantar mecanismos de
dores”. Se a guerra dos balaios era “de bárbaros”, como se costumava dizer controle mais duradouros e de ação continuada — os “freios” de que falava
na corte, O termo estava longe de definir apenas a atuação dos rebeldes. seu secretário. Só assim ela podia civilizar Guerra e administração se
O Maranhão, na opinião de Magalhães, era uma sociedade de “bru- uniam num ponto — na necessidade de se reconstruir a ordem.
tos?, e quem a fazia assim era a elite. Toda vez que um político ou pro- Em parte dessa tarefa, o coronel Luiz Alves tinha experiência. Os sete
prietário recorria a um desses facínoras, estava estimulando “rixas”. anos no comando da Guarda de Municipais Permanentes lhe seriam mui-
Quando, levados pela preguiça, esses proprietários optavam por “tudo to úteis. Precisava reestruturar as fronteiras sociais do Maranhão. Tal
que é colher sem martirizar a terra”, abdicando da lavoura e coalhando como na corte, assumia a direção da repressão com parte do trabalho já
a província de “fazendas de gado vacum”, criavam ainda “cardumes de encaminhado. O coronel Lima não teve que iniciar o processo de “decan-
homens ociosos, sem domicílio (...) pouco dados a outros misteres e mui- tação social” na região. A explosiva liga de gente da elite, do povo e da
to à rapina e à caça, distinguindo-se dos selvagens apenas pelo
uso de plebe, dissolvida no Rio de Janeiro pela decisiva intervenção do então
nossa linguagem”. Era preciso, orientava Magalhães, “historiar”, “co- ministro Diogo Feijó, era desfeita, no Maranhão, pelos próprios rumos da

297
296
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO DA CHAGA ARERTA DEVE NASCER
O ESPÍRITO DA ORDEM

rebelião e pela “independência política” de Manoel Felizardo. Por isso, indisciplina não estava apenas nas tropas. Dias depois, o coronel determi-
anteriormente, afirmei que a “desesperação” provocada pela falência eco- nava aos comandantes que não tomassem dos fazendeiros nenhum objeto
nômica e pela generalização da violência favorecia o coronel Luiz Alves, para as tropas sem que aos mesmos se entreguem recibos”.53 Manter
Ele próprio reconhecia a vantagem. Logo no início de seu governo, dizia
esses homens em ordem era um desafio tão grande que, dentre várias es-
ao ministro da Guerra que não era difícil “inculcar esses rebeldes como tratégias, o coronel Lima adotou uma particularmente curiosa: dispensou
destituídos de qualquer cor política”. Esse trabalho já tinha sido feito por
todos os feitores do serviço militar para que pudessem — explicou ao mi-
seu antecessor e, quando chegou, “os homens mais abastados e influent
es nistro — “defender as fazendas dos excessos de nossas tropas”.
nestas províncias são os primeiros a clamar contra tais bandidos” 2 O efetivo do governo, nessa fase inicial, ficava em torno de 5.000
Luiz Alves devia assim consolidar essa fronteira social, que
voltava a homens, distribuídos em duas classes: uma de operações e outra de guar-
ser reconhecida por eles. Os rebeldes eram os bandidos. À elite cabia
, nição de fortalezas, vilas e cidades. À primeira classe se divídia em três
como ele afirmava em sua proclamação, cultivar “a paz, condição da ri-
colunas. À 1º coluna atuaria na região de Caxias e Pastos Bons; a 2º
queza e da prosperidade dos povos”. A imagem de “agente neutro” forta-
operava sobre Vargem Grande, e a 3º coluna ficaria em torno de Icatu.
lecia essa idéia. O presidente e coronel Lima estava ali, entre os maranhenses,
Cada uma delas era comandada por um tenente-coronel, que tinha sob
não para defender tal ou qual partido, mas para mostrar a esses homens suas ordens um oficial subalterno. O conjunto dessas forças formava
as vantagens da cultura civilizada que, em economia, significava prosperi- uma divisão, denominada Divisão Pacificadora do Norte.
dade. Não por acaso, sua primeira intervenção na região procurava resti-
A administração militar é que permitiria controlar esses homens, tão
tuir a ordem econômica. Apenas cinco dias após sua posse, Luiz Alves mais perigosos porque estavam armados. O controle devia começar pelos
baixava uma ordem para que “os senhores comandantes dos pontos exis- comandantes. Para que a ação funcionasse, eles deveriam, ao menos, obe-
tentes nas margens desse rio [Itapicuru] mandem acompanhar por uma decer ao governo. Daí todo o esforço de persuasão sobre o tenente-coro-
escolta até o ponto imediato, e assim por diante, todas as embarcações de nel Henriques: ele era comandante da 2º coluna. Só persuasão, no entanto,
comércio que transitarem pelo rio”. Esse foi o primeiro emprego que fez não bastava. O controle tinha de ser mais rigoroso e, para isso, dependia
das forças militares. Na verdade, a estratégia tentava recuperar a navega- da construção de uma rede técnico-burocrática. Todos esses comandantes
ção no rio, interceptada pelos rebeldes. A guerra civilizatória tinha obriga- tinham ampla liberdade para recrutar. Isso já era motivo para muita pre-
ção de “dar uma segura proteção ao comércio desta capital”. Além disso, ocupação. Tradicionalmente, o recrutamento era uma arma política.
ela reabria a melhor e mais barata via de acesso ao interior da província, Quem estava no governo recrutava gente da oposição ou, como o Impos-
por onde passariam mercadorias e, com elas, as tropas do governo. to era dirigido às classes populares, recrutavam-se pessoas diretamente
Para que essa estratégia atingisse seu objetivo, de capitalizar o apoio vinculadas a chefes do partido oposicionista. Assim, ao mesmo tempo
da elite, o presidente teria de passar para a administração de homens — de que autorizava o recrutamento, Luiz Alves exigia o envio das “relações”
sua tropa. No dia 21 de fevereiro, baixava outra ordem. Exigia dos “se- das praças recrutadas para o quartel do Comando das Armas “com todas
nhores comandantes (...) o maior cuidado para que as forças legais não as declarações para que o quartel-mestre as rubrique e comund ique ao sr.
:
nies deviam ain poa
cometam excessos por onde transitarem” e destacava que era imprescin- comissário pagador”. Essas relaçõ da ser “assinadas pelos
e
dível “manter a disciplina militar e o respeito às propriedades”. Mas a comandantes de companhia” e “rubricadas pelos das colu nas” .

299
298
DA CHAGA ABERTA DEVE NASCER O ESP
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO ÍRITO DA ORDEM

O cuidado prosseguia, e não era só com recrutas. Liberando o recru- era outro centro produtor de algodão. O presidente-coronel Lima preten-
tamento, era preciso ter controle sobre o efetivo total, sobre o modo dia, como afirmou ao ministro, “animar a região” com sua presença, fazer
como ele estava distribuído e sobre as ordens que eram passadas a esses “inspeções” e “melhoramentos convenientes”57
homens. Desse modo, as relações de recrutados, por exigência do coro- A visita a Icatu e Rosário durou nove dias. No dia 16 de março, O
nel Lima, deveriam ser arquivadas em um livro, o mesmo ocorrendo coronel Luiz Alves, que havia deixado São Luís na madrugada do dia 7,
com as ordens do dia, lançadas, todas, em um caderno. Cada comandan- chegava a Itapicuru. Daí, escreveu novo ofício ao ministro. Contava que
te de corpo também era responsável por enviar o mapa da força dessa encontrou nessas vilas “grandes irregularidades, faltas e mesmo graves
unidade — a menor de um Exército — ao comandante de guarnição, e este, abusos que ficaram remediados procurando conciliar a disciplina militar
por sua vez, enviaria, mensalmente, esses mapas ao Comando de Armas com a economia e fazenda, mantendo com todo o rigor a boa fiscaliza-
da província. Para evitar os conflitos de autoridade, foi exigido, por fim, ção no emprego do dinheiro destinado para fornecimento das tropas”.
que os requerimentos, por mais simples que fossem, obedecessem aos É preciso não esquecer que essa era uma das muitas rebeliões que, nos
trâmites marcados por lei para ser levado à autoridade competente. últimos anos, vinham ocorrendo no império. Os gastos com a “pacifica-
Essas providências logo surtiram o efeito esperado. No dia 6 de março, ção” eram enormes, e a prioridade do momento era controlar o Sul far-
com apenas um mês de governo, Luiz Alves de Lima escrevia ao ministro da rapo. Por isso, o trabalho administrativo de Luiz Alves também deveria
Guerra informando que as margens do rio Itapicuru estavam guarnecidas, levar em conta a economia. Um outro mapa que o comandante exigia de
em toda sua extensão, por tropas legalistas e que as cidades de Caxias e seus oficiais era exatamente de material, solicitando, ao mesmo tempo,
Tutóia também estavam livres dos rebeldes. Com o avanço legalista, estes as guias de vencimento das praças. As rações diárias do Exército em
haviam fugido. A notícia era excelente. Às margens do rio Itapicuru estavam marcha deveriam ser abonadas de acordo com a tabela fixada. Antônio
importantes fazendas de algodão da região. O coronel Lima ganhava, com Nunes de Aguiar, desde 14 de fevereiro na função de quartel-mestre-ge-
esses sucessos, O respeito e o apoio desses proprietários. Mas o trabalho de neral, era responsável por todo o serviço de inspeção e tinha ordens para
“pacificação” apenas se iniciava. Luiz Alves estimava que cerca de 3.000 dedicar especial atenção aos depósitos de artigos bélicos, aos hospitais

rebeldes permaneciam em armas, concentrando-se, a maior parte, na co-


militares e aos soldados licenciados, devendo também pensar em refor-
marca do Brejo, entre Tutóia e Morro Agudo, e na comarca de Pastos Bons. mas administrativas capazes de manter a “boa economia”.
Além desses núcleos, havia um grupo de cerca de 600 negros aquilombados De Itapicuru-mirim, Luiz Alves seguiu para Manga, vila de origem da
na mata próxima a Caxias. Em função disso, Luiz Alves comunicou ao mi- rebelião, e de lá marchou ao encontro da 3º coluna. À intenção era colo-
car-se à sua frente para “dirigir o ataque na comarca do Brejo contra a
nistro, nesse mesmo ofício, que as três colunas deixariam seus acampamen-
tos e marchariam para Chapadinha, onde se achavam os chefes rebeldes maior força dos rebeldes que aí se acha e tomar a vila”. Mas, ao passar
Raimundo Gomes e Pedro Alexandrino. A idéia era cercá-los, atacando em por Vargem Grande, uma notícia alterou seus planos. À gravidade do
ocorrido fez com que ele escrevesse de lá mesmo para o ministro da Guer-
várias frentes. Para aproveitar o impacto de toda essa movimentação de
ra: “apresso-me a participar a v. exa. que tendo eu chegado a esse acam-
tropas, Luiz Alves decidiu que era hora de deixar a capital, começando sua
pamento recebi a desagradável notícia de ter sido o porto de Miritiba
incursão por Icatu, Rosário e Itapicuru-mirim, vilas que, com o rio Mearim,
assaltado pelos rebeldes na noite de 19 do corrente”. Miritiba, situada
formavam uma espécie de cinturão de proteção a São Luís. Além disso, esse

301
300
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO DA CHAGA ABERTA DEVE NASCER O ESPÍRI
TO DA ORDEM

entre a costa e o rio Preguiça, ficava próxima demais de Icatu, dispensada à preservação das propriedades asseguraram um apoio-cha
vila sepa- ve,
rada da capital, São Luís, apenas pela baía de São José. Tratav
a-se de um o da elite. Mas conter o Exército era mais difícil. Atitudes impensadas como
porto-chave para o governo. O que mais irritava Luiz Alves, no
entanto, a do capitão Castro da Gama, ainda que comprometessem o governo, eram
era que, por ordem sua, esse porto devia estar guarnecido por 200 ho- pouco comuns — O risco maior era para 0 próprio oficial. Mais complicado
mens, sob o comando do capitão João Luís de Castro da
Gama. Mas a era manter a tênue linha divisória que separava a tropa dos bandos rebel-
notícia que tinha era outra: a guarnição na noite do ataque contav
a com des. Os soldados ganhavam mal e, com as limitações financeiras impostas
apenas $0 homens, na sua maioria “enfermos”. Os
rebeldes invadiram pelo Rio de Janeiro, serviam meses sem soldo. A visão do coronel Luiz Al
a vila porque foram avisados de que a tropa havia
saído em trabalho ves era hierarquizada. Com pouco dinheiro em caixa, dava prioridade ao
de “exploração”. Tudo isso se passou à revelia do Comando pagamento dos oficiais. Comandava, assim, uma massa descontente. Em
de Armas.
A missão exploradora havia sido, de fato, determina
da pelo Comando. junho, parte dessa massa se insurgiu. Pior, a sublevação ocorreu na guarni-
Mas, para sua execução, 0 coronel Lima destinou uma
força extra de 200 ção de Itapicuru-mirim, que, segundo o coronel Lima, constituía “o maior
homens, chefiados por Domiciniano Ayres. O revés resultava
, assim, de ponto de munições [da província] que bem se podem avaliar em cerca de
uma atitude irrefletida do capitão Castro da Gama, que 200 contos de réis, por ser ali um dos meus principais depósitos”. Luiz
decidiu reforçar
a expedição de Ayres, destinando 150 praças de sua guarni Alves considerava a atitude criminosa — um crime de traição.
ção para o
acompanhar, Às dez horas da noite, os rebeldes atacaram Miri Alguns sargentos, liderados por João do Rego Barros — na versão do
tiba.
O governo perdeu o porto, armamentos e, como diria Luiz Alves, coronel, um segundo-sargento ressentido por uma preterição sofrida no
o “infe-
liz capitão pagou com a vida o seu descuido, sendo ele a única vítima”. governo de Manoel Felizardo —, subornaram os soldados, incitando-os a
De imediato, Luiz Alves determinou a ida da Companhia de Mari- exigirem seus soldos. Como os oficiais, nos últimos dias, por conta da
nheiros Imperiais para Icatu. Em seguida, desistiu de sua marcha para 0 circulação de um pasquim dando vivas aos rebeldes, partiam toda noite
Brejo e optou por retornar a Itapicuru-mirim e, de lá, embarcar para para vários pontos avançados, não foi difícil para os soldados obterem o
Icatu. Seu plano era “cercar os rebeldes que nesse lugar [próximo a Ica- controle deles. Senhores da vila, enviaram um emissário — mulher, para
tu] se acham e batê-los decididamente”. Mas o comandante logo perce- não levantar suspeitas — aos rebeldes. A essa altura, só havia um meio de
beu que não adiantava ir de encontro aos rebeldes. Eles faziam guerra de controlar a tropa: pagando os soldos. O major comandante da guarni-
movimento e emboscada. Não pretendiam enfrentar as forças imperiais. ção, Carlos Augusto d'Oliveira, sabendo do valor de seu depósito de mu-
Atacavam cidades e fazendas, pilhavam-nas e, “habituados à vida erran- nições, mesmo doente, deixou o leito para tentar obter, com a população
te, nos bosques, quase nus (...), não sofrem as necessidades das nossas abastada da província, um empréstimo capaz de cobrir a despesa. Mas,
tropas”. O entusiasmo das primeiras semanas na província arrefecia, e, para espanto geral, nem após o pagamento a tropa depôs as armas.
tentando mobilizar o gabinete, Luiz Alves escrevia ao ministro que: A primeira força que viera em socorro da guarnição foi desbaratada e
“longe de se ir acalmando, o espírito da revolta toma novo corpo”
.*!
presa. Ainda pelo relato do coronel Lima, os sublevados só foram derro-
De fato, as dificuldades eram muitas. Os cuidados de que Luiz Alves se tados porque — “para felicidade nossa”, desabafava — Raimundo Gomes
cercou logo que chegou ao Maranhão lhe garantiram certa tranguilidade estava sitiado por forças imperiais em Carnaubal. O emissário só conse-
em relação às facções políticas. O lugar de “agente neutro” e guiu alcançar outro grupo de rebeldes, que foi obrigado a enfrentar, no
a atenção

303
302
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO DA CHAGA ABERTA DEVE NASCER O
ESPÍRITO DA ORDEM

caminho para Itapicuru, uma “rija peleja” com um destacamento legal, Além de remessas de dinheiro, Luiz Alves requeria do governo fardamen-
A ação encheu de orgulho o coronel Lima. Com 40 homens, o destaca- tos, armas € barcas. Nenhuma dessas solicitações, contudo, era atendida.
mento conseguiu deter 300 rebeldes durante 18 horas, tempo suficiente As vezes, eram atendidas apenas em parte. Esse foi o caso da requisição
para que reforços chegassem a Itapicuru. Para a “vingança” de Rego de fardamentos. Das 800 fardas que o coronel havia requisitado verbal-
Barros, não havia perdão. Ele e os demais sargentos sublevados foram mente, antes mesmo de deixar a corte, recebeu apenas a metade.
levados a Conselho de Guerra, e, “incursos em pena capital”, Luiz Alves A calamidade aumentava na “estação invernosa”, quando chuvas
só aguardava autorização do ministro para executar a pena.º copiosas e intermitentes transbordavam rios e espalhavam “pestes”, À
Infelizmente, não foi possível conhecer essa decisão. Nenhum ofício in- estação começava em dezembro e podia prosseguir até junho. Antes de
dica se a sentença do Conselho de Guerra foi executada. Mas a história não os rebeldes tomarem Miritiba, por exemplo, ainda em maio, Luiz Alves
seria esquecida por Luiz Alves. No mesmo dia em que escreveu ao ministro desembarcou na vila com 340 praças para explorar a região. “Todo [o]
da Guerra, enviava outro ofício, ainda sob impacto do ocorrido, ao ministro terreno estava inundado com as copiosas águas da estação pluviosa”,
da Marinha, Joaquim Rodrigues Torres. Participava-lhe que “os cofres des- registrava o coronel. Mas o que mais o assustava era que, tendo em vista
ta província se acham quase esgotados, faltando meios para sustentar a a época, “ela estava por demais rigorosa”. Em função disso, teve de al-
guerra”. Temeroso, declarava que, em breve, “não terei como fazer face às terar o rumo da exploração, dirigindo-se para a vila de Priá, menos atin-
mais urgentes necessidades da Repartição da Marinha” e, na tentativa de gida pelas chuvas. Um fato semelhante aconteceu com a expedição do
mobilizar o governo para a gravidade da situação, afirmou que, desse jeito, capitão Joaquim Pereira Chaves. Após um ataque bem-sucedido à vila
deixaria “até mesmo de pagar os vencimentos dos oficiais da armada”. de Ribeira, não pôde prosseguir no seu intento de bater os rebeldes.
Temia novas sublevações, sobretudo se elas viessem da oficialidade. O motivo? Havia perdido todo o cartuchame, inutilizado pelas águas.
São vários os ofícios que abordam o tema. Neles, o coronel Luiz Alves Com as chuvas, vinham ainda as febres intermitentes. Em janeiro, mês
deixava claro que não podia “manter rigorosa disciplina, quando os sol- climático dos mais difíceis, o coronel Luiz Alves escrevia ao ministro
dados mal cobertos estão a cinco ou seis meses sem receber coisa algu- dizendo que o hospital da capital “é por mim visitado quase diariamen-
ma”. O serviço militar prestado nessas condições era, na sua opinião, de te?. A peste, sobretudo no interior, fazia “imensos estragos”. Em três
" pouca valia. Na verdade, só produzia mais problemas. Atravessando ma- meses, morreram mais de 1.000 crianças de sarampo, e, em 9 dias, um
tas, rios e charcos, quase nus e sem ração suficiente, os soldados caíam acampamento perdeu “do mesmo mal 111 apresentados”.
doentes. No ofício de 21 de julho, quase seis meses após sua posse, O | O cuidado de visitar os hospitais, trabalho que ele vinha fazendo
coronel contava cerca de dois mil enfermos nos hospitais da província. desde agosto, entre uma incursão militar e outra, não atendia apenas a
Incapazes para O serviço, esses homens aumentavam as despesas do go- interesses militares. Luiz Alves — é importante lembrar — era também pre-
verno. Outro problema era a forte desconfiança que se difundia entre OS sidente da província. Devia zelar pelo atendimento médico de militares e
locais. “Os fornecedores”, afirmava o coronel Lima, “temendo a falta de civis. O quadro geral era dramático. Explicava ao ministro da Guerra,
nossos recursos, se recusam [a] vender seus gêneros”. O não-pagamento em ofício de agosto, que “a maior parte do Icatu era insalubre, onde um
de dívidas antigas agravava o quadro. Com a Fazenda Pública desacredi- terço da população é vitimada pelas febres intermitentes, obstruções e
tada, negociantes começavam a exigir, nas transações, pagamento à vista. feridas atônicas”. Levava a questão ao conhecimento do ministro para

305
304
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO DA CHAGA ABERTA DEVE NASCER O ESPÍRITO
DA ORDEM

ele entender a razão de tantos gastos. Insistia que todos os hospitais, ção, poder-se-iam “evitar as correrias e facilitar o trânsito e [a] navegação
mesmo Os civis, seguiam, em sua organização, o regulamento dos hospi- naquele rio [Mearim)?”.º
tais regimentais, mais econômico. As elevadíssimas despesas se deviam a Depois da abertura das sessões legislativas, no dia 3 de maio, O presi-
outros problemas, estruturais. O povo vivia em “lugares paludosos, sem
dente contou com o apoio irrestrito da Assembléia Provincial na aprovação
boa água e legumes”. Para ele, era impossível não gastar boa parte do
de várias leis e, por conseguinte, na ampliação dessa ação administrativa.
dinheiro público nos hospitais. À guerra não criava, mas agravava um
Quando se viu com essa vantagem política, iniciou a reforma de institui-
quadro comum para os habitantes da região.
ções educacionais e religiosas. O coronel Lima, talvez para satisfazer os
Por entender que parte desses problemas era anterior à guerra, é que 0
interesses de seu “amigo leal? e secretário de governo, optou por dirigir sua
secretário de Luiz Alves culpava a elite maranhense. O estado de abando-
atenção para instituições formadoras de valores. A intervenção, realizada
no da economia, saúde e transportes, tanto quanto a própria rebelião, re- no campo administrativo, tinha a clara intenção de criar os “freios” de que
sultava de sua pouca disposição para o trabalho. O que dificultava a a província, na avaliação de Gonçalves de Magalhães, se ressentia, contri-
atuação de Luiz Alves era o “estado bruto” dessa sociedade. Seu governo buindo, desse modo, para “domar” os corpos e as almas maranhenses.
devia, assim, assumir também uma função educativa. Devia ser um exem- A lei sancionada no dia 16 de julho de 1840 procurava regular a situa-
plo de intervenção eficaz na região e a prova de que, mesmo diante de ção dos professores. O artigo 1º controlava a qualidade do corpo docente,
tantas adversidades, era possível, por meio de um engajamento pessoal, tentando assegurar a difusão das “luzes da ciência” entre seus discípulos.
exercer uma direção sobre os negócios da província. Por isso, o coronel Instituía que os professores substitutos só seriam dispensados dos tradício-
Lima nunca desprezou o valor de sua presença nas vilas, comunicando ao nais exames de contratação caso fossem lentes do Liceu Maranhense ou
ministro, como parte de sua estratégia, que viajaria para O interior com o comprovassem habilitação “por carta de aprovação plena em Academias
objetivo de “animar a região”. Nesse sentido, a presença de Luiz Alves acreditadas”. Os artigos seguintes procuravam pôr “freios” nos professo-
era, ela mesma, uma intervenção, a primeira que realizava. Mas estava res, controlando-os no exercício de suas atividades. O artigo 2º autorizava
longe de ser a única. Compartilhando os ideais civilizatórios de Gonçalves o governo “a descontar a quinta parte do ordenado” dos professores que
de Magalhães, o coronel Lima não só assumiu de fato a direção da provín- “no decurso do ano letivo tiverem faltado vinte vezes sem causa justifica-
cia, como ampliou o alcance de sua ação administrativa. Quando, por da”. Para efetuar o desconto, sem prejuízo da justiça, o artigo 3º definia
exemplo, o proprietário Francisco Ferreira Carvalho mostrou interesse em que “a congregação remeterá ao Tesouro Público Provincial, no início de
organizar uma lavoura no Alto Mearim, Luiz Alves logo procurou enten- cada ano, o ponto dos professores com as respectivas observações”.
der-se com ele. Propôs ao fazendeiro que fundasse “ali uma povoação li- O texto do artigo 5º traz a marca indelével de Gonçalves de Maga-
vre, a fim de domesticar índios”. Para incentivar a empresa, lançou mão lhães. Ele favorece os bacharéis em letras, formados no Liceu Maranhen-
de suas prerrogativas de presidente, concedendo a Francisco Carvalho se, com um “privilégio que foi concedido pela lei de 16 de agosto de
“dez anos de isenção de dízimos e tributos provinciais sobre gêneros da 1830 aos bacharéis em letras das escolas de França, e aprovados em
nova colônia, e a dispensa de recrutamento e de qualquer serviço militar Coimbra”, Luiz Alves certamente não conhecia leis tão específicas sobre
em tempo ordinário”. Luiz Alves não tinha dúvidas: a concessão favorecia privilégios obtidos por bacharéis de letras na França e em Portugal. À
o governo. Por meio da domesticação de índios no interior dessa povoa- idéia era indiscutivelmente de seu secretário, um homem de letras. Esta-

307
306
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO DA CHAGA ABERTA DEVE NASCER
O ESPÍRITO DA ORDEM

va decidido a formar uma elite civilizada na província. O privilégio só imundices cobrem o chão sem assoalho, e até mesmo os altares; um
não foi instituído de imediato porque dependia da aprovação da Assem- va-
por pútrido, como O hálito da peste, se exala do santuário deserto, e tão
bléia-Geral. Mas o presidente se comprometia, por meio da Jei, a forma-
miserável é seu aspecto, que parecem monumentos de zombaria ao mais
lizar e enviar a proposta para o Rio de Janeiro. sublime dos sentimentos humanos”. É então que afirma: “Nós vimos e
Duas outras leis, também sancionadas em julho, tentavam impulsio- Jastimamos O que escrevemos!”, e emenda com a pergunta já transcrita:
nar instituições educacionais menos favorecidas, agindo, dessa Vez, por “O que se pode esperar de homens não domados por nenhum freio>”
meio da religião. À primeira, de 11 de julho de 1840, autorizava à organi- Afirmar que a política militar instituída por Luiz Alves de Lima estava
zação dos estatutos do Recolhimento de Nossa Senhora da Anunciação e
fundamentada em ideais civilizatórios não implica negar sua filiação po-
Remédios. O Recolhimento devia atender “a meninas órfãs necessitadas lítico-partidária. Tanto ele quanto Gonçalves de Magalhães defendiam os
ou filhas de pais reconhecidamente pobres”, mas poderia também admitir princípios conservadores de centralização política. Nesse momento, o
“meninas de pais abastados para serem educadas”, desde que estes discurso civilizatório permitia sustentar, entre os maranhenses, a imagem
contri-
buíssem “pontualmente com mesadas para esse fim anualmente estabele- de “agente neutro” do novo governo. Mas é óbvio que a civilização pre-
cidas”?. A outra lei, sancionada no dia 16, com a que regulamentava a gada não era neutra. Ela representava a classe proprietária e, nesse senti-
situação do professorado, autorizou a organização de novos estatutos para do, lutava pela preservação dos “interesses da casa”. Não por outro
a Santa Casa da Misericórdia. Nesse caso, a importância do conteúdo reli- motivo, a primeira medida de Luiz Alves foi reabrir a navegação dos rios.
gioso é explicitada. Em seu artigo 1º, fica definido que, “se os estatutos Depois dessa medida, mais urgente, autorizou a limpeza de vários rios
[propostos] contiverem matéria religiosa, serão executados interinamente, menores, para que se tornassem navegáveis, e distribuiu prêmios no valor
até que sejam aprovados pela Assembléia Provincial”.70 de 800 mil-réis para os empresários que disponibilizassem mais de um
Gonçalves de Magalhães apostava na religião como meio de civiliza- barco para agilizar a navegação. Nesses serviços técnicos, que incluíam
ção. Ela era, em sua opinião, capaz de cultivar “sentimentos sublimes” ainda O levantamento de mapas da província, o coronel Luiz Alves utili-
nos homens. O último tema abordado em seu capítulo sobre “os usos e zou engenheiros militares que integravam sua expedição.” O resultado
costumes do Maranhão” é justamente sobre a falta de religiosidade do agradou enormemente aos proprietários e negociantes locais.
povo maranhense. Indignado, afirma que “de todas as províncias do Por outro lado, todo esse trabalho evidenciava a incapacidade da
império em que estive, a do Maranhão, excetuando-se sua capital, é onde “casa” para exercer, sem influência do governo central, a direção da pro-
menos se acata a religião”. Não por acaso, emprega o termo acatar. O víncia. Esse é um outro aspecto desse esforço civilizatório, e era assim que
secretário de Luiz Alves continuava preocupado com a necessidade, pre- ele se vinculava aos princípios centralizadores. A civilização e suas luzes
mente para ele, de domar essa gente. Se a civilização não chegava a eles só poderiam alcançar as províncias e resgatá-las da barbárie por meio de
pelas luzes da ciência, que ao menos viesse através das “luzes do cristia- uma ação do governo nacional. Através da guerra, em situações-limite, e
nismo?. À descrição que faz das igrejas interioranas mostra seu comple- por meio da administração, quando a vida seguisse seu curso normal.
to desencanto com a elite da província, incapaz de assumir a direção de Essa era a intenção do relato de Gonçalves de Magalhães.
seus negócios e seu povo: “pobres pardieiros com nome de igrejas, ermas A “Revolução do Maranhão”, lida através do discurso civilizatório,
de fiéis, apenas aninham corujas, morcegos e mais aves noturnas, cujas legitimava a reforma institucional defendida pelos conservadores. A lei de

309
308
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO DA CHAGA ABERTA DEVE NASCER O ESP
ÍRITO DA ORDEM

6 de junho, uma das primeiras sancionadas na província durante o governo COMBATES, ANISTIAS, INTRIGAS E ESPIAS
de Luiz Alves, não deixa dúvidas sobre essa filiação política. Ela subordi.
nou por completo as finanças municipais ao Executivo provincial. O ba- Cheia de orgulho a lâmina repousa,
lanço das contas de receitas e despesas e o orçamento para o ano financeiro E a pena em tua mão bem vale a espada.
de cada município deveriam ser submetidos, ao final de cada ano, ao pre-
(GONÇALVES DE MAGALHÃES, Ode ao Pacificador)
sidente da província, sendo encaminhados por este, com as precisas obser-
vações, para a Assembléia Provincial. Tal como ocorria nos assuntos
militares, tudo isso devia tramitar segundo certos instrumentos técnico- LUIZ ALVES DE LIMA NO MARANHÃO
administrativos. Além “de um livro de receita e despesa, outro de contas- (1839-1841)
correntes e outro de caixa”, nos quais deveriam ser escriturados por cada Ea p
município “seus objetos”, instituiu-se ainda um modelo específico para
apresentação da receita e um para a despesa. À intervenção na administra-
ção municipal avançava. O artigo 13º, penúltimo da lei, definia que:

Nenhuma arrematação de contrato tanto de receita como de despesa mu-


nicipal será ultimada pelas respectivas Câmaras Municipais sem aprova-
ção do presidente de província, o qual poderá mandar que se renovem os
leilões, quando o presuma, que a arrematação foi feita contra as leis a
respeito, ou em prejuízo do município.”??

Com esse nível de intervenção, ela completava a lei dos prefeitos — iden-
tificada como o estopim da rebelião. Depois do Executivo, Luiz Alves
subordinava agora o Legislativo municipal.
É preciso, no entanto, observar que o discurso civilizatório de Gon-
calves de Magalhães não incluía temas modernos da política européia,
como democracia e igualdade. A maneira como agiram em relação aos
rebeldes e negros aquilombados mostra com clareza como esses ideais
civilizatórios se erguiam a partir de uma visão hierarquizada da socieda-
de. Cada grupo receberia, durante a “pacificação”, o tratamento que Luiz CONVENÇÕES:
Alves julgava compatível com sua posição social. O presidente — é o que A Quilombo
E à Algodão >
veremos agora — concordaria com as reflexões de d. Martinha: era preciso
não misturar sangues, para que também não se misturassem destinos. 5 ES

311
310
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO DA CHAGA ABERTA DEVE NASCER O ESPÍRITO DA ORDEM

O sucesso do ataque rebelde a Miritiba, logo em março, no segundo mês


força legal ainda conseguiu encontrar e “destroçar numeroso grupo que
de governo Luiz Alves, resultado da atitude impensada de um capitão,
procurava se esconder”. Mesmo assim, não havia alternativa. A atitude
mostrava ao coronel Lima não só quanto ele deveria estar atento a seus
mais sensata era reforçar as guarnições. Os rebeldes, tão logo sentissem
oficiais, como o tipo de guerra que enfrentaria. Quando decidiu, para
que haviam despistado o governo, reapareceriam, em rápidas surtidas,
recuperar o moral da tropa, reagir à altura, batendo pessoalmente os
para assaltar fazendas próximas.”
rebeldes a partir de Icatu, sentiu que a tarefa não seria simples. Embre-
Luiz Alves decidiu, assim, manter a ofensiva. Ordenou que a van-
nhados na mata, eles armavam emboscadas e faziam guerra de
movi- guarda da coluna de Henriques, acampada no Brejo depois da vitória do
mento, evitando confronto direto com as tropas. Foi então que, preocu-
dia 23, atravessasse O Parnaíba para investir contra a Fazenda da Con-
pado, Luiz Alves informou à corte que, longe de se acalmar, O espírito da ceição. Raimundo Gomes havia montado na propriedade uma pequena
revolta tomava novo corpo.
fábrica de pólvora e vinha trabalhando ali com vários dos fugitivos do
Apenas quatro dias depois desse ataque, no dia 23 de março, ataque àquela mesma vila. Outras forças, integradas por locais, foram
por
pouco um destacamento legal não foi destroçado numa grande embosca- encarregadas de fazer uma busca nas matas. Toda a comarca do Brejo
da. Nesse dia, o tenente-coronel Manoel Antônio, comandante das estava repleta de rebeldes e, como dizia Luiz Alves, quanto mais esses
tro-
pas cearenses acampadas em Sapucaia, na margem direita do Parnaíba, homens eram batidos, mais suas fileiras cresciam. Reagindo às investidas
investiu com seus homens contra a vila do Brejo, ocupada por uma colu- do coronel, no dia 8 de maio, às três horas da madrugada, eles atacaram
na rebelde. Contava com 320 homens. Durante horas, “sofreram aturado Carnaubeiras, outra vila próxima ao rio Parnaíba. Eram mais uma vez
fogo”. No total, 1.200 rebeldes resistiam sob o comando de Pedro Ale- superiores em números: 300 contra 100 praças. Apesar da desvantagem,
xandrino. Apesar da vantagem dos rebeldes, as forças legais avançavam, as forças legais conseguiram defender a vila, e Carnaubeiras não caiu em
e em breve a vila foi abandonada. Mas tudo não passava de uma armadi- poder dos rebeldes. Por outro lado, o combate revelava um dado que, se
lha. De fora da vila, os rebeldes começaram, por meio de marchas força- não era em si novo, começava a inquietar pela proporção que assumia:
das, a tomar postos para sitiá-la. Abriram fogo, e estavam determinados nas fileiras rebeldes, a quantidade de negros escravos crescia.”
a prosseguir até a rendição geral das tropas. Todavia, para espanto geral, Na comarca, havia três grandes quilombos. O maior, e mais visado
inclusive das forças sitiadas, nesse exato momento, a vanguarda de uma pelas autoridades da região, estava situado próximo a Vargem Grande e
coluna de 900 homens, sob o comando de José Thomas Henriques, che- era liderado pelo negro Cosme. Nem sempre rebeldes e negros se uniam.
gou ao local e conseguiu dispersar os rebeldes. O oficial cumpria ordens O preconceito dos mestiços contra os negros também era grande.” Mes-
do coronel Lima, bastante desconfiado após o revés de Miritiba. mo agora, a aproximação só ocorria em uma ou outra investida, sem
Alguns rebeldes morreram em campo, muitos saíram feridos. Os res- configurar uma verdadeira aliança. O fato, ainda assim, preocupava
tantes, contudo, voltavam a se embrenhar nas matas, partindo em dife- Luiz Alves, que já lutava contra muitos problemas. Além de todos aque-
rentes direções. As forças governistas eram então obrigadas a sair em seu les que diziam respeito a saúde, transporte, armamento, fardas e soldos,
encalço e, nesse tipo de combate, a disputa era desigual. As tropas de nesse mês de maio, por meio de uma avaliação do quadro humano do
cearenses e pernambucanos não tinham como manter a perseguição. Exército, ele indicava a existência de um outro, igualmente sério. Solici-
Corriam o risco de se perder. De volta à estrada, indo para Caxias, uma tava ao ministro da Guerra que lhe enviasse “todos os recrutas que se

313
312
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO DA CHAGA ABERTA DEVE NASCER O ESPÍRITO DA ORDEM

fizessem em Pernambuco”. Para justificar o pedido, uma vez que a prio-


das fazendas por onde passam”. Essa última estratégia rebelde voltava a
ridade — e ele sabia isso — era reforçar o Exército em operações contra os inquietar O coronel. Raimundo Gomes a adotava sempre que se via
farrapos, o coronel apresentava dois motivos. Primeiro, informava ao «acossado”.”” Ele, que a princípio “não quisera se ligar à escravatura”,
governo que dos 35.000 homens que possuía, “só 2.000 são de confiança,
complicava agora O governo, ensinando os negros a incendiarem as pro-
por serem de primeira linha. Do restante, 2.000 são rebeldes apresenta-
priedades que abandonavam. Novas forças eram organizadas, explora-
dos, ou mesmo aprisionados, que podem voltar às armas quando não
ções realizadas, e, muitas vezes, as forças legais saíam desses combates
vejam junto a si força regular que os contenha”. Luiz Alves combatia
com um saldo até bem positivo. No ataque ao forte do Bonfim, no dia
rebeldes com os próprios rebeldes. Desse modo, a vigilância da tropa de 24 de junho, um líder rebelde, conhecido como Macambira, foi morto.
linha, ou seja, das forças regulares do Exército, devia ser constante. Ou-
No mês anterior, depois de um dia inteiro de combates, uma força legal
tra questão que o levava a solicitar “todos” os pernambucanos era a
conseguiu prender o chefe Aleixo Gomes Balaio, que logo em seguída,
resistência e a eficiência deles nos combates. Observava ao ministro que em virtude de seus ferimentos, morreu.?? Nada disso, porém, animava O
“Os recrutas das províncias do Norte aqui melhor se disciplinam e com coronel Lima. A primeira quinzena de julho terminava sem avanços ex-
mais prontidão se afazem à guerra pela semelhança de clima, de terreno pressivos, e, abatido, ele escrevia ao ministro da Marinha: “notícias fa-
e de costumes, o que não acontece no Sul, onde, logo que chegam, vão voráveis têm se espalhado sem grande fundamento, porque o número de
para os hospitais por muito tempo antes que prestem o menor serviço”. rebeldes não tem diminuído, ao contrário, depois do ataque (...) ao
Para convencer a corte, mostrava a vantagem dessa espécie de estágio: Piauí, dispersos, eles atravessaram o rio Parnaíba e vieram a incorporar-
eles só seguiriam “para o Sul depois de disciplinados”.76 se aos desta província, os quais montam hoje a quatro mil?.
Uma série de ataques e encontros ocorreu durante os meses de junho Para vencer essas dificuldades e desbaratar a rebelião, Luiz Alves deci-
e julho. À força do tenente Sampaio, reunida à do alferes Chagas e ao diu recorrer a outro estratagema: “despertar a antiga indisposição contra
destacamento de Morro Alegre, explorou as vilas de Salitre, Rodeio e os negros”. Não era a primeira vez que lançava mão desse tipo de estraté-
Capivara, batendo bandos que “por ali roubavam capitaneados por Rai- gia. No dia 1º de junho, depois de receber notícias de seus pontos avança-
mundo Gomes”. No dia 7 de junho, uma outra força, comandada pelo dos, alertando que “mais de mil rebeldes passaram de novo O rio Parnaíba
capitão Castanhedes, sustentou “fogo desde as sete horas da manhã até para esta província”, com o objetivo de atacar “os pontos de Munim e de
ao ministro — e a expressão €
=”

as duas da tarde”, perseguindo o bando do temido chefe Tempestade. Itapicuru”, o coronel Lima informou
a
No dia 19, ainda em junho, o capitão Sampaio fez vivo fogo à “gente de dele — que “mandei aliciar”, por intermédio do comandante de uma forç
Raimundo Gomes” e, no dia 15 de julho, uma força integrada por tro- volante, Raimundo Gomes. Ao que tudo indica, o chefe rebelde já tinha
aria É
pas do Ceará e do Piauí efetuou uma grande investida na margem ensaiado uma aproximação, avisando, por carta, “que se apresent
só não
piauiense do rio Parnaíba. Em todos esses confrontos, foram feitos pri- lhe garantissem a vida, a dele e a de sua família”. À negociação
segu iu por cont a de um inci dent e, do qual Luiz Alve s se ressentiria:
sioneiros, mortos e muito se contabilizou de cavalos, armas e salitre pros
e a cart a caiu em mão de um ofici al que, não esta ndo ao fato
apreendidos. Ainda assim, malgrado todos os esforços, havia — é o coro- «infelizment
Con-
nel Lima quem o afirma — “grandes e numerosos magotes pelas matas, do que a este respeito havia, prendeu o portador e rasgou a carta”.
ma
que espiam o menor descuido nosso e que procuram sublevar escravos trariado, ele imaginava que o equívoco “deve sem dúvida causar algu

315
314
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO DA CHAGA ABERTA DEVE NASCER O ESPÍRITO DA ORDEM

desconfiança no chefe rebelde”. Mas garantia ao ministro da Guer


ta que Gomes. Quarenta homens, entre eles o irmão do chefe rebelde, Cândido
“desta ou de outra maneira pretendo inutilizá-lo em breve a
do Lago, depuseram armas. Antônio Viana, bagageiro de Raimundo Go-
Seja para indispor os rebeldes com os negros,
seja para entabular n mes, em seguida também se entregou. Dias depois, quando Luiz Alves já
gociações favoráveis ao governo, o fato é
que, durante o mês de ta estava no acampamento de Vargem Grande, mais 200 rebeldes se apre-
Luiz Alves começou a empregar “espias”
para “introduzir a cizânia sentaram. Com ânimo renovado, o coronel arriscava até uma previsão:
eles”.8º Em maio desse mesmo ano de 1840,
uma outra autoridade e ; “é provável que nesses três meses tudo esteja acabado”.
denunciada na corte por utilizar estratégia idên
tica. Um deputado liberal Após a defecção de parte de sua tropa, Raimundo Gomes ofereceu
afirmava na Câmara que Eusébio de Queiroz,
chefe de polícia da cidade seus serviços ao negro Cosme. Considerado por Luiz Alves uma “impor-
empregava “espiões que espalhavam o susto na
população”.8! Luiz E tante figura”, o negro gerava verdadeiro terror nos fazendeiros da pro-
tinha certa familiaridade com a estratégia. É quas
e certo que ela tenha víncia. Isso se devia não só à força crescente do grupo sob seu comando,
sido desenvolvida nos anos 1930, quando divi
diu com Eusébio de Quei- mas sobretudo à facilidade com que seduzia os escravos. Intitulando-se
FOZ, por sete anos consecutivos, a dura tarefa
de policiar as ruas da capi- “Tutor e Imperador das liberdades”, prometia alforria e chegou a criar
tal imperial. À eficiência da dupla—o leitor deve esta
r lembrado — projetara até uma “escola de ler e escrever”. O quilombo funcionava na fazenda da
o nome de Luiz Alves como chefe disciplinado Lagoa Amarela. Pelo que consta, os negros teriam se apossado dela de-
e incansável.
Uma representação dos rebeldes havia chegado pois de obrigar o proprietário a assinar 200 “cartas de liberdade” antes
até o coronel nos
últimos dias de julho. Por meio de uma proclamação, de assassiná-lo. Negro Cosme, aproveitando a experiência de Raimundo
ordenou “que de-
pusessem armas”. Meios brandos, “empregados com Gomes, o empregou na fabricação de pólvora. Falava-se também em um
gravidade e sem
quebra de força”, poderiam, na opinião de Luiz Alves, projetado ataque da dupla a Manga, vila de origem da revolta. Mas esses
“colher bons re-
sultados”. Tinha todo interesse em negociar uma rendição. fatos não deixavam mais Luiz Alves tão inquieto. Foi nesse mesmo ofício,
Apesar de
“destroçados e sem recursos”, os rebeldes provocavam “grandes aliás, que pela primeira vez previu o fim da guerra e também informou ao
danos
em suas contínuas correrias, incendiando e destruindo fazendas, burl ministro sobre os espias, usados para introduzir a cizânia entre os rebel-
an-
do com precipitadas fugas nossas pesquisas e embrenhando-se na mata des e, assim, “havê-los sem grande mortandade”.*
de onde só saem para interceptar as estradas”. No entanto, Rai
mundo Uma vila visitada pelos espias do comandante foi Carnaubal. No dia
Gomes e os “demais assinados” impuseram condições consideradas 20 de agosto, Luiz Alves enviou ao local quatro espias em “comissão de
“inatendíveis” pelo coronel. Com a recusa, ele fez marchar
uma força alta importância e segredo”. Por meio de carta reservada ao comandante
que a sustentasse. O chefe rebelde, por sua vez, respondeu que não esta- militar da vila de Itapicuru-mirim, major Carlos Augusto de Oliveira,
va em “estado de entregar as armas”, informando que tinha sob suas ordenava que o oficial pagasse a cada um deles 200 mil-réis e lembrava
ordens, naquele preciso momento, 2.000 homens. Era mais uma tentati- que não devia “exigir recibo para que não fiquem desconfiados”. Tudo
va de negociação que fracassava. Luiz Alves, acreditando que o chefe estava arranjado. Para a prestação de contas, o coronel Lima garantia ao
rebelde contava, entre esses homens, com negros das margens do rio
: - n 83
major que bastava apresentar “esta minha ordem”.
Itapicuru, mandou uma força “cair sobre o grupo e dispersá-lo”. No dia Ainda que não tenha sido possível identificar com precisão o serviço
3 de agosto, outra força bateu completamente o exército de Raimundo executado por essa “comissão”, a atenção que Luiz Alves lhe dedicou foi

317
316
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO DA CHAGA ABERTA DEVE NASCER O ESPÍRITO DA ORDEM

total. Ele acompanhou de perto o trabalho dos espias e aguardou para 200 homens. À relação confirma que o contato com esses chefes ocorria
conferir seus efeitos. A carta confidencial enviada ao major Oliveira é por meio de emissários, e sugere que a rendição era remunerada. Mesmo
datada do dia 20 de agosto. No dia 22, o coronel se achava na “entrada sem dispor de documentos que definam valores, ou explicitem o paga-
de Carnaubal?, em um lugarejo chamado Pau-Deitado. O lugar estava mento, é quase certo que a negociação com os chefes do movimento, tal
“infestado de rebeldes” e, ao que tudo indica, O acesso a Carnaubal, in- como acontecia com Os emissários, envolvesse dinheiro. Afinal, nenhu-
terrompido. No dia 23, apenas três dias após o envio da carta, Luiz Al- ma outra forma de remuneração é apontada nos ofícios. Neles, a apre-
ves deixava O lugarejo, comunicando ao ministro da Guerra que a estrada sentação dos rebeldes sempre aparece como uma ação espontânea,
já estava “desembaraçada”, e informando que havia colocado ali um expressão de arrependimento. Daí a legitimidade do perdão.
destacamento para manter seu “livre trânsito”.84 Francisco Ferreira Pedrosa — o outro chefe da relação de despesas, o
O trabalho dos espias vinha surtindo efeito. Era essa a avaliação do “chefe Pedrosa” — foi mais um dos “apresentados” de agosto e se tornou O
coronel Lima sobre os resultados de uma outra comissão, anterior a grande trunfo de Luiz Alves no combate aos negros. Em ofício ao ministro,
essa. Numa carta, datada do dia 16, ele afirmava, satisfeito: “tenho tido o coronel afirmou que, “sabendo há mais de dois meses” do interesse do
notícia pelos meus espias que a intriga que havia feito espalhar entre os rebelde em se apresentar, e tendo notícia também de seu receio de não ser
rebeldes tinha feito o que eu desejava, isto é, que eles desconfiassem uns perdoado, resolveu a situação por um emissário. Fez saber ao chefe rebelde
dos outros e se precipitassem a bater mutuamente”.8 Mais trangúilo, que “o governo o aceitava”, mas impunha uma condição: “que batesse os
Luiz Alves pôde retornar ao acampamento de Vargem Grande. A despe- negros”. Era esse o acordo. Por ter empunhado armas contra O governo,
sa com essas comissões foi contabilizada na lista das “despesas secretas”. devia se redimir através da prestação de serviços à causa legal. Primeiro,
Ao fim da guerra, o montante desses gastos chegou a 4 contos de réis, o batia os negros. Depois, poderia depor armas.*” O serviço do emissário e a
que equivalia à contratação de 20 espias. Por meio de um ofício dirigido adesão de Pedrosa entraram na lista das “despesas secretas”, que Luiz Al-
ao ministro da Guerra, é possível ter uma idéia dos serviços financiados ves garantia terem sido “de absoluta necessidade”. Com elas — escrevia ao
por essa despesa. À relação é apresentada pelo próprio coronel Lima, em ministro — “poupei maiores quantias e sangue”. Ele tinha toda a razão.
ofício: ela permitiu “promover a apresentação dos chefes rebeldes Pe- Essas negociações lhe permitiram, pela primeira vez, fazer uma previsão do
drosa, com 1.700 homens, e Cândido, com 200, recompensar emissários tempo que levaria para concluir a “pacificação” e, quanto menos tempo
que disto se encarregavam, pagar espias e escravos que entre os outros durassem as lutas, menores seriam as baixas e as despesas. Mas a negocia-
espalhassem [notícias]”.% ção, do modo como foi feita, também reforçou incrivelmente as fileiras le-
Cruzando essas informações, é fácil entender o ânimo renovado de gais e, o que é melhor, com mestiços da região. Francisco Pedrosa se
Luiz Alves no início do mês de setembro. Ele, enfim, tinha encontrado apresentou com 1.700 homens, nada menos que um terço do total das
um meio eficaz de deter os rebeldes. O sucesso que obteve no desbarata- forças imperiais. Todos esses homens, ou haviam crescido ou trabalhavam

mento das tropas de Raimundo Gomes, no dia 3 de agosto, também ti- naquelas matas e campos, conhecendo muito bem a região.
nha sido resultado dessas “ações secretas”. O “chefe Cândido” da Por isso, Luiz Alves parecia não se preocupar com a fuga de Raimun-
do Gomes para o quilombo do negro Cosme, nem com o suposto ataque
relação de despesas de Luiz Alves é Cândido do Lago, irmão de Raimun-
da dupla à vila de Manga. Apoiado em suas “estratégias secretas”, O
do Gomes, que depôs armas após o confronto do dia 3, levando consigo

319
318
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO DA CHAGA ABERTA DEVE NASCER O ESPÍRITO DA ORDEM

coronel já tinha projetado uma grande investida, “por diferentes pon- Tinha acabado de voltar da vila de Pau-Deitado, onde acompanhava o
tos”, contra os negros. O ataque se deu em agosto. Após “algumas horas trabalho de seus espias, quando o correio o encontrou. Foi ali, no
de fogo”, o sucesso foi quase absoluto. Os negros debandaram “com acampamento de Vargem Grande, que deu então início aos festejos.
prejuízo de 11 mortos, 52 capturados, quatro mulheres, quatro crianças, Mandou formar toda a tropa do acampamento, colocou-se à sua frente
um rebelde livre, 21 cavalos, 11 éguas, 19 cangalhas, cinco selas, algu- e, após salvas de artilharia e fuzilaria, entoou vivas a “Sua Majestade,
mas armas arruinadas, pólvora e chumbo”. Batidos, eles procuravam, o imperador”. À tropa respondeu aos vivas, entoando outros à maiori-
tal como os rebeldes, abrigo nas matas. À diferença é que agora Luiz dade. Ao final dessa pequena cerimônia protocolar, Luiz Alves come-
Alves seria capaz de persegui-los. Aí estava o valor de seu novo aliado. çou “a tomar algumas providências a respeito da campanha”, prepa-
Os negros que seguiram para Bela Água, região dominada por Pedrosa, rando-se, assim, para deixar O interior da província sem arriscar a se-
foram capturados com facilidade. De início, foram 140. Mas Pedrosa gurança do local.ºº Tão logo desembarcou em São Luís, “pondo pé em
prosseguiu na perseguição. Pelo acordo, devia bater os negros até que se terra”, cumpriu mais uma vez as formalidades, puxando novos vivas
rendessem. À eficácia das estratégias secretas do coronel Lima era indis- ao imperador. No palácio do governo, ainda no dia de sua chegada, 27,
cutível. Em fins do mês de setembro, Raimundo Gomes ainda estava assinou uma segunda proclamação. O texto, pouco conhecido, seguia
desaparecido, sem tentar novas investidas havia um mês. Dizia-se que a lógica de neutralidade política instituída pelo anterior, com a grande
tinha fugido para os lados de Miritiba. O negro Cosme já tinha sido lo- diferença de contar agora com o respaldo de um príncipe coroado para
calizado, talvez pela ação de espias. Tentava reunir os negros em Guada- exigir que os partidos se recolhessem:*!
lupe, vilarejo situado entre a lagoa Amarela e a vila do Brejo.”
Uma nova época abriu-se aos destinos da grande família brasileira: Sua
Majestade o Imperador empunhou o cetro da governança e assumiu OS
direitos que pela Constituição do Estado lhe competem. “
A GRANDE FAMÍLIA BRASILEIRA
Declarado maior, ei-lo enfim como um símbolo da paz, de união e de
justiça, colocado à frente da nação que o reclamava (...)
Os teus preceitos afrontar não ousa
Maranhenses!, um sublime pensamento deve agora inflamar O cora-
Dos vícios a caterva amedrontada ção brasileiro; aspérrima e longa foi a experiência, aproveitai-a. Amor ao
Sublimes pensamentos esquecidos, Imperador, respeito às leis e esquecimento de vergonhosas intrigas, que
do impera-
Surgi do fundo d'alma, só têm servido para enfraquecer-vos; um só partido enfim — o
impe-
Acolhidos sereis e protegidos dor; e no vosso entusiasmo, repeti mil vezes: Viva Sua Majestade
do
Por ele, que o justo empunha a palma. rial, o sr. d. Pedro II, imperador constitucional e Defensor Perpétuo
do!”
Brasil! Viva a nossa Santa Religião! Viva a Constituição do Esta
(GONÇALVES DE MAGALHÃES, Ode ao Pacificador) (Ênfases minhas.)

m. Armas,
Enquanto tudo isso se passava nas matas do Maranhão, na corte do Com a volta à capital, as estratégias de Luiz Alves mudava
ias e emi ssá rio s ced iam luga r, com a aju da de seu sec ret ári o de govai
esp
Rio de Janeiro um golpe político antecipava a maioridade de d. Pedro.
no e “amigo leal”, Gonçalves de Magalhães, às estratégias discursivas.
A notícia só chegou a Luiz Alves no dia 23 de agosto, um mês depois.

321
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO DA CHAGA ABERTA DEVE NASCER O ESPÍRITO DA ORDEM

A proclamação é irreparável. Logo de início procura conver


ter um fato Alves, “subindo O pano, apareceu o retrato de Sua Majestade, o impera-
político — a maioridade — em marco de ruptura com o passado. A “nova
dor sobre um teatro ricamente preparado, e o saudei com novos vivas, e
época”, ao devolver o “cetro da governança” a um imperador
legítimo e uma nuvem de lenços, de flores, de proclamações e versos impressos en-
constitucional, abria ao império uma fase de concórdia. À frente chia o espaço onde rezavam incessantes aclamações ao monarca brasilei-
da na-
ção, o jovem d. Pedro II se tornava “símbolo da paz
, da união e da jus- ro”. Em meio a esse regozijo geral, algumas senhoras cantaram o hino
tiça”. Comparado a um pai, ele assumia a direção dos “desti
nos da gran- nacional, cujo estribilho foi “em chuva? repetido por todo o auditório.?
de família Dessilgita pais evitar O que vinha comprometendo seu impé- A cidade permaneceu iluminada, como era hábito em ocasiões festi-
rio: a guerra entre irmãos. Aí está a segunda estratégia lançada
pela vas, e muitas comissões “por parte do povo e da tropa” foram nomea-
proclamação. O imperador é convertido, ele mesmo, em
um partido das para ir cumprimentar a Sua Majestade Imperial no Rio de Janeiro.?
Fora da grandiosidade desse novo partido político, desint
eressado e neu- No dia 6, um novo Te Deum reabria as comemorações oficiais. Dessa
tro, todo o restante deixa de ser considerado política par vez, ele foi oficiado no Recolhimento de Nossa Senhora da Anunciação
a assumir a
feição vergonhosa — porque mesquinha — de intriga. e dos Remédios, devidamente reformado pelo governo de Luiz Alves de
A proclamação termina conclamando os maranhenses a “re Lima. A festa do dia 7 foi preparada por particulares, que realizaram
petir mil
vezes” os vivas ao imperador, à “santa religião” e à Consti um grande baile e um novo espetáculo no teatro. No dia 8, era a vez de
tuição. Logo,
cabia ao governo criar situações para que esses vivas se rep
etissem, para os oficiais da Guarda Nacional oferecerem à cidade um outro baile.
que o povo pudesse expressar seu entusiasmo diante da boa-nova.
Teve Nesses três dias, a iluminação exterior do Arsenal da Marinha resplan-
início assim uma semana de festas, que deveriam prosseguir, conforme
os decia, rica e alegórica, tendo sido toda ela realizada “a expensas de seus
planos de Luiz Alves, até o dia 7 de setembro. Os festejos da maioridade empregados e dos oficiais da Armada do Império”. O mesmo foi provi-
vinculavam-se, desse modo, aos da Independência. Reunidos em um denciado pelos alunos do Liceu Maranhense. Todos estavam desejosos
grande evento, eles seriam capitalizados também para reforçar os últimos de expressar seu amor ao imperador.?
sucessos de Luiz Alves no combate à rebelião. Era uma “nova época” que O único incidente ocorrido nesses dias se deu em Viana. Às comemo-
se abria. Para que a frase tivesse efeito de realidade, os maranhenses de- rações no vilarejo — “infelizmente”, lamentava Luiz Alves — ficaram divi-
viam sentir o espírito dessa “nova época”. Depois de uma “aspérrima” didas em dois grupos. De um lado, cabanos; de outro, bem-te-vis. Numa
experiência, era chegada a hora de festejar. No dia 28 de agosto, dia se- vila tão pequena, o encontro era inevitável. Ambos disputavam as prin-
guinte à chegada de Luiz Alves a São Luís, um Te Deum, oficiado pelo cipais ruas locais e, por provocação, os bem-te-vis terminaram sua para-
bispo, “com a assistência de todas as corporações civis e militares”, deu da justo em frente ao quartel da Guarda Nacional, que era comandada,
Início às comemorações. Em seguida, um cortejo seguiu para o Palácio do desde a aprovação da nova lei, pelos cabanos. Estes, “como era de pre-
Governo. Em frente ao prédio, houve uma “grande parada” e, à noite, no sumir, lançaram ao rosto dos outros todos Os horrores da guerra civil”.
teatro da capital, um “espetáculo” foi aberto, com entrada “franca para Em contrapartida, um ex-deputado bem-te-vi soltou um brado, que sai-
todas as pessoas decentes”. Os camarotes, “ornados de famílias distin-' ria impresso no dia seguinte: “Viva O partido que fez a independência,
julho
:
tas” convidadas pelo governo, aguardavam, com a platéia, a chegada do que triunfou em 7 de abril de 1831, que tornou à triunfar a 23 de
por
presidente e comandante de Armas. “Mal cheguei à tribuna”, narra Luiz deste ano, dispensando a maioridade ao sr. d. Pedro II, parrido que

323
322
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
DA CHAGA ABERTA DEVE NASCER O ESPÍRITO
DA ORDEM

duas vezes salvou a Constituição imperial, partido que nesta província se coronel Henriques. Dias depois, Luiz Alves enviou esse mesmo ofício ao
chama bem-te-vi.”
ministro da Guerra. Chamava sua atenção para a “linguagem indigna e
Não houve confronto físico. Os cabanos se limitaram a aplaudir as
incorreta” empregada pelos rebeldes no documento. Essa era, para ele,
primeiras idéias do brado, e ao ouvirem a palavra bem-te-vi, estouraram
uma forma de mostrar ao ministro, tão distante daquele mundo, com
em gritos de “fora partido de assassinos e malvados”. Depois, como
que tipo de gente estava lidando, evidenciando assim a dificuldade que
afirmou o coronel Lima, “cansados de gritar, retiraram-se”, Ainda as-
encontrava ao tentar um diálogo com esses chefes. Por isso também, nas
sim, para preservar sua política, no mesmo dia o coronel dirigiu-se para
citações adiante, manterei a ortografia original dos documentos.
Viana. Lá chegando, conferenciou separadamente com cada uma
das Esses chefes se mostravam confusos com a maioridade. Tinham vis-
autoridades, passando, em seguida, a tratar com “os principais habitan- to — afirmavam eles — “V. Sas. darem vivas ao Noço Imperador Perpetuo
tes que ali influem”. Segundo conta, usou com eles uma “linguagem
o Sr. d. Pedro 2º” e, através de documentos roubados da mala do correio
imparcial”, sem considerar os partidos a que pertenciam. O tom era de
de Caxias, também já sabiam que o “Noço Imperador perpetuo Sr. d. Pe-
reprovação. Luiz Alves condenava os “excessos de palavras de parte a dro 2º jã tinha subido a seo trono e que estava de poce da sua Croua”.
parte” e, percebendo o uso que os cabanos faziam da força da Guarda A compreensão que tinham da política local era muito simples. Acredita-
Nacional existente no local, decidiu substituí-la por um correspondente vam que, de um lado, estavam eles: “que trabalhavão em defencio da
número de praças de primeira linha, deixando em seu comando um “ofi- Croua do Noço Imperador Perpetuo o Sr. d. Pedro 2º”. Do outro, os ca-
cial de confiança, e não dado à política”. Definia a medida como “muito banos: “trabalhando em defensa das leis dos prefeitos e subreprefeito e
salutar” para assegurar a tranquilidade da região. Comiçario”. Pronto, estava feita a confusão. Como podiam entender agora
Luiz Alves avisava ao ministro, em meio a esses tumultos, que, ape- as comemorações oficiais? Se o governo era favorável ao imperador, não
sar de ter controlado essas autoridades, não podia “afiançar sua impar- havia mais motivo político para a guerra: “estavão V. Sas. já no noço par-
cialidade”. Na verdade, tinha a exata noção de que o equilíbrio que tido”. Mas por que os ataques prosseguiam? Só havia uma resposta possi-
vinha conseguindo corria sobre um fio bem tênue. Ao menor pretexto, vel para eles: não se tratava mais de “guerra sobre partido público” e sim
essas diferenças podiam degenerar em conflitos. Pior, esses conflitos ine- de vingança contra os caboclos. Ofendidos, reagiam: “entre hestes cabou-
vitavelmente atingiriam, de uma forma ou de outra, os rebeldes. Isso clos tem muitos que são homens de prohibidade e que conhecem o direito
tornava a situação extremamente delicada. Era preciso trabalhar esses e que trabalham pelas leis e que não são corjas de ladroens”.”
níveis diferentes de conflito para evitar novas “ligas para o futuro”. Des- A simplicidade das idéias e a grafia do documento mostram com
se modo, os festejos promovidos pelo governo também deviam ser apro- precisão os desníveis sociais da região e, por conseguinte, as dificuldades
veitados em vários níveis. enfrentadas por Luiz Alves para percorrer “mundos” tão diferentes, com
A “nova época” não se abria só para os “principais habitantes da a tarefa de alinhavar uma unidade. Em situações como essa é que a ex-
província”. Seus ecos chegavam aos rebeldes. A publicação do decreto periência do coronel na Guarda de Permanentes deve ter sido muito útil.
imperial ajudava a divulgar a maioridade do imperador. No dia 26 de Sabia como cruzar essas fronteiras. Ao contrário de Manoel Felizardo,
setembro, um ofício assinado por sete “comandantes bentevis”, entre não se deixava intimidar. Esse discurso dos “comandantes bentevis”
eles João Castelo Branco e Graceano Gavião, foi enviado ao tenente- atendia com perfeição aos interesses do governo. À partir de então, os

325
324
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
DA CHAGA ABERTA DEVE NASCER O ESPÍRITO DA ORDEM

comandantes das forças legais passaram a lembrar, em quase todos os


uma cópia foi enviada ao Maranhão. Dessa forma, o coronel Lima já
ofícios que trocavam com os rebeldes, “que não há mais partidos: não
devia tê-lo em suas mãos desde fins de setembro. Se não publicava o
há cabanos, nem bentevis”?.”” A maioridade era convertida assim em
decreto, formalizando a anistia, era por temer seus efeitos na província.
mais um meio de impulsionar as negociações já iniciadas.
Escreveu ao ministro da Justiça, prometendo “dar o mais amplo desen-
Os rebeldes desconfiavam. Ao mesmo tempo que comunicações ofi-
volvimento à ordem nele contida”. Mas, antes de torná-lo público, pedia
ciais circulavam apelando para uma imagem paternal do imperador, pre-
que o esclarecesse “a respeito dos rebeldes que juntam ao crime de rebe-
ocupado em estabelecer a concórdia entre irmãos, forças legais continuavam
lião, o de frios assassinatos cometidos em pessoas indefesas de todos os
batendo os rebeldes nas matas, nos rios e vilarejos. É para essa contradi-
sexos e idades, e de roubos e de incêndios sem que razão alguma os pos-
ção que os sete “comandantes bentevis” apontavam: a guerra prosseguia.
sa justificar”.!ºº Temia que a anistia tivesse efeito contrário, dividindo o
Equacionaram a questão recorrendo ao tradicional preconceito contra
os apoio da “classe proprietária” e arrastando-a mais uma vez para o con-
mestiços. Ou seja, não acreditavam nas propostas de deposição de
armas flito. Ele realmente agia sobre um limite tênue, atravessando fronteiras
nem nas promessas de perdão. Não porque desconfiassem do imperador,
delicadas. Daí a contradição. Negociava perdão com os rebeldes, mas
que estava acima de qualquer suspeita. Desconfiavam daqueles que fala-
não podia sustar os ataques sem publicar o decreto do imperador.
vam em seu nome no Maranhão. Um outro ofício, assinado por mais
Luiz Alves, pessoalmente, também não concordava com essa ampla
quatro “comandantes bentevis”, datado de 15 de outubro, exigia o “de-
anistia. No início da campanha, em fevereiro, quando o gabinete ainda era
creto de perdão”. Eles são claros. Assim como lhes foi apresentado um
de conservadores, sob a regência de Araújo Lima, ele concordou com o
“decreto do Rio de Janeiro”, provando que “noço Imperador estava apo- então ministro da Justiça, Francisco Ramiro de Assis Coelho, “em não se
çado?, queriam ver o decreto que lhes concedia perdão: “não podemos conceder anistia aos rebeldes dessa província”. Dizia-se solidário à dor das
dar credito sem não vermos por decretos de Sua Majestade Imperador “tristes e contritas vítimas”. Anistia, para ele, devia ser aplicada apenas
Perpetuo Sr. d. Pedro 2º feitos em Rio de Janeiro”. para os “rebeldes políticos”.!! A diferença era simples, e nisso comparti-
Essa história dos decretos é bem curiosa. Esses homens também exigem lhava a opinião de quase toda a elite, sobretudo da corte, fossem liberais ou
os documentos porque, segundo afirmam, entraram nessa luta e defendiam conservadores. A guerra do Maranhão era feita por “bandidos”, enquanto
desde o princípio a “Croua do Noço Imperador” pelo fato de terem sido a guerra dos proprietários farrapos era “política”. O coronel só não repe-
convocados por meio de “huma proclamação tirada pelos decretos vindos tiria a atitude de seu pai em 1824. Sabia que estava ali para cumprir as
da corte do Rio de Janeiro a fim de botarmos as leis dos prefeitos e subre- ordens do imperador. Não à toa, antes de pedir alguns esclarecimentos,
prefeitos e cumiçarios abaxo ficando somente em vigor as leis gerais e as prometeu ao ministro que cumpriria de forma ampla o decreto.
provinciais”?.”” Obviamente, o decreto era falso. Mas ajuda a pensar como Tudo isso empurrava Luiz Alves para uma situação ainda mais deli-
o partido bem-te-vi pode ter jogado com a opinião dos mestiços e tê-los cada. Conceder anistia aos chefes rebeldes iria, sem dúvida, provocar
incitado, como confirmava Manoel Felizardo, a combater os cabanos. uma forte reação em boa parte da elite. A essa altura, até entre os liberais.
Para Luiz Alves, esse pedido não era, em si, um problema. Ele pos- Grande parte desses homens desejava vingar suas perdas, materiais e
sufa o decreto de anistia, não estava blefando. O documento tinha sido humanas. Os rebeldes continuavam resistindo. Nisso, a anistia podia ser
assinado pelo jovem imperador no dia 22 de agosto, e, no mesmo dia, bastante eficaz, pondo fim às perseguições. Mas ela também podia

327
326
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO DA CHAGA ABERTA DEVE NASCER O ESPÍRITO DA ORDEM

ser — na avaliação de Luiz Alves — “perniciosa”, caso fosse entendida acabada se não fosse por Raimundo Gomes. Os rebeldes, com o decreto
como “indício de fraqueza do governo imperial”. Havia ainda seus pró- de anistia, aos poucos se apresentavam. O chefe Gavião tinha sido o úl-
prios sentimentos. Discordava da medida, porém não estava disposto a rimo apresentado de novembro, trazendo consigo 200 homens. Muitos
discutir as ordens do Rio de Janeiro. Tentou adiar a publicação do decre. dos negros capturados já haviam sido entregues a seus senhores, tarefa
to. Por isso, negociava com base em promessas. Levou pelo menos mais prioritária para Luiz Alves. Eles eram tratados como outros bens mate-
um mês agindo desse modo. Só em novembro decidiu pela publicação, riais. Em face da miséria daquela “infeliz cidade”, logo que batiam re-
Mesmo assim, antes de fazê-lo, se cercou de uma série de cuidados. Te- beldes e achavam com eles “gêneros roubados”, o coronel mandava
mia sobretudo a reação dos caxienses. Os maiores atentados, em sua devolvê-los. Isso contribuía para manter o sentimento de justiça, abala-
opinião, tinham acontecido naquela cidade. Além disso, próximo a ela, do com a anistia, e fortalecia a confiança no coronel.o
ameaçando-a cotidianamente, havia ainda um grupo de 900 rebeldes Tão logo encaminhou a situação em Caxias, Luiz Alves mandou “im-
sob o comando dos chefes Pio e Tempestade. “Receando que o decreto primir [o decreto] em quantidade e espalhar por toda parte”. À intenção
fosse mal recebido”, o coronel optou por ir pessoalmente a Caxias, se era levar a notícia até mesmo àqueles que “vivem errantes sem chefe co-
fazendo “portador” da notícia, na esperança de conseguir acalmar os nhecido”. O segundo passo foi autorizar os comandantes das colunas le-
ânimos mais exaltados. Novamente apostava na força de sua presença. gais a publicarem “comunicações” nas regiões onde atuavam. Nelas,
Chegando lá, após conferenciar com alguns habitantes, mandou três for- informavam que para obter o perdão imperial era necessário se apresentar
ças legais sitiarem o grupo de rebeldes que ameaçava a cidade, impedin- formalmente em um dos acampamentos da legalidade, ou se unirem às
do qualquer reação. Mas não os atacou: iniciou as negociações. forças de Francisco Ferreira Pedrosa. Essa última alternativa buscava al-
Avisou que se O grupo se rendesse, “sem disparar um só tiro”, seriam cançar os rebeldes que se encontravam no meio da mata e — o que era bem
todos perdoados. Tudo transcorreu com tranquilidade. Os rebeldes ape- proveitoso — usar seus serviços na “caça” aos negros aquilombados. Às
nas pediram 20 dias para “juntarem os dispersos”. Como o decreto de “comunicações” procuravam evitar também alguns equívocos, como a
anistia concedia um prazo de até 60 dias para se apresentarem, o coronel crença de que o perdão independia da apresentação. Ao se difundir a no-
Luiz Alves não tinha como recusar a solicitação. Por precaução, “plan- tícia, muitos rebeldes voltavam para casa, acreditando-se anistiados.!*
tou” no local dois batalhões para observar o grupo. Tão logo soube que Cada um desses passos, no entanto, sempre gerava novos pontos de
lhe obedeciam, permanecendo em ordem no local à espera “de sua gente”, conflito. Os bandos menores e menos conhecidos recebiam com vivas a
o coronel voltou às negociações, recuperando as estratégias dos meses notícia da anistia. Um correio, encarregado pelo comandante Ernesto
anteriores. Ordenou que “fossem bater um grupo de negros escravos capi- Emiliano de Medeiros, major das forças legais, de levar a notícia a um
taneados (...) por Cosme Bento das Chagas”, o negro Cosme. Estava Con- desses grupos, contou que a exultação foi geral. Eles festejavam com
res-
vencido de que “excitar o Ódio entre os escravos e essa gente” evitava muitas “salvas de alegria”, garantiu O correio. Mas, em seguida, na
Raimundo Gomes.
“futuras insurreições”. Cada qual devia reconhecer seu lugar; mestiços posta que enviavam ao majoz, mostravam-se fiéis a
sua apresentação a uma autorização do chefe rebelde. As-
Vinculavam
eram diferentes de negros. Com estes, não havia negociação possível." ao
O sucesso da ação satisfez o coronel Lima. Ao final de seu ofício ao sim, era preciso intensificar as negociações. Os grupos mais ligados
Francisco Pedrosa dispensavam consultas a Raimundo Go-
ex-rebelde
ministro da Guerra, afirmou que poderia até mesmo considerar a guerra

329
328
Td
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO DA CHAGA ABERTA DEVE NASCER O ESPÍRITO DA ORDEM

mes e se apresentavam com rapidez. Mas — é importante não esque-


zeram estavam mortos. “Só faltava o sempre fugitivo Raimundo Go-
cer — havia outros chefes. A questão, então, era buscar contato mes”, afirmou Luiz Alves em ofício ao ministro da Guerra. Dependendo
direto
com eles. Essa foi, ao menos, a conclusão tirada pelo major Emiliano de
de sua prisão para dar por pacificada a província, o coronel decidiu en-
Medeiros, que, em ofício ao coronel Luiz Alves, se comprometia a To
são organizar um “forte destacamento” para fazer uma ampla busca na
pessoalmente falar com o Pio e o Tempestade”.'05
região de Miritiba, em cujas matas, segundo se dizia, estava escondido o
Para que tudo corresse bem, antes da ida do comandante, os rebeldes chefe rebelde com seu bando. A ordem era para bater todo e qualquer
foram presenteados até com garrafas de vinho. Nada disso, porém, disfar- «calteador” que se recusasse a depor armas, sendo ele reconhecido ou
çava a desconfiança mútua. O mesmo major Emiliano, no dia 20 de no-
não como integrante do bando procurado. Percebendo que “não podia
vembro, explicava para o coronel Lima que um tenente das forças
legais, dar um passo sem ser preso” e vitimado pela fome, Raimundo Gomes,
depois de reconhecer como apresentado um bando rebelde, distribuiu en- no dia 7 de janeiro, mandou um de seus homens se apresentar e, por
tre eles “500 cartuchos de munição” .1º6 Considerava a situação absurd
a e, meio dele, enviou um “papel, pedindo ser perdoado”. Como o decreto
para seu desespero, teve de fazer o mesmo quando negociou a rendição “não excetuava pessoa alguma envolvida na revolta”, Luiz Alves man-
dos chefes Tempestade e Pio. Esses solicitaram munição para bater os ne- dou “dizer que sem susto podia se apresentar”, definindo, no seu caso,
gros. À situação constrangia de tal modo o major que não atendeu os re- um prazo: ele tinha até o dia 20 para depor armas.!ºº Exatamente no dia
beldes de imediato. Voltou ao acampamento e só liberou a munição depois em que O prazo expirava, no dia 20 de janeiro, Antônio Carvalho, major
que negociou a subordinação do grupo ao capitão Domiciniano José comandante do acampamento de Miritiba, noticiava ao coronel Lima
Ayres, que, enviado para comandar os rebeldes, só então fez a distribuição que 364 rebeldes o tinham procurado para se apresentar. Na maioria,
da munição. Ainda assim, profundamente incomodado, comunicava ao homens das tropas de Raimundo Gomes. Noticiava também que, no dia
coronel Luiz Alves que: “estou há 16 meses empregado no serviço da guer- seguinte, dia 21, embarcaria todos eles, e a família do chefe rebelde, para
ra desta província, nenhum serviço me tem custado tanto”. Tempestade, o “Sul”. O recurso de banir da província alguns rebeldes estava previsto
para ele, não era um homem e sim um “monstro” que, na sua arrogância, no decreto de anistia. Cabia ao governo provincial decidir sobre a con-
“não se pejou de aparecer na minha presença com os uniformes militares veniência de se manterem certos “criminosos”, sobretudo os envolvidos
que há pouco roubou na Fazenda Gameleira”. Cercado por “soldados em “crimes políticos”, na região. Esses só teriam direito à anistia se as-
desertores”, ainda teve a coragem de lhe dizer uma série de “asneiras”. sinassem um termo, comprometendo-se, perante a autoridade compe-
Tudo isso — concluía o oficial — “contrafaz meu gênio” e só aceitou “mol- tente, a residir fora da província por um tempo previamente definido.!º
dá-lo com dignidade” para ver terminada essa “malfadada guerra”. De Embarcar a família do chefe rebelde para uma província do “Sul? era
fato, sua ação foi fundamental para o sucesso da “pacificação”. Tempes- parte do esforço de fazê-lo se apresentar. Luiz Alves entendeu essa última
tade e Pio eram os chefes rebeldes que ameaçavam a cidade de Caxias, e a recusa de Raimundo Gomes, seguida do “papel”, como um recado: “ele
subordinação deles era a chave para acreditar a política de anistia do im- não se entregaria a outro senão a mim”. Seguiu assim para Miritiba. Lá
perador sem complicar o governo de Luiz Alves na região. 197 chegando, mandou “por uma escolta dizer que viesse sem susto que ne-
Restavam agora Raimundo Gomes e o negro Cosme. Durante o mês nhum mal se lhe faria e, no caso contrário, que não lhe daria muito tempo
de dezembro, vários chefes rebeldes se apresentaram, e os que não o fi- de vida”. Só então, após tantos esforços e recorrendo mais uma vez à

331
330
“Li y s

DA CHAGA ABERTA DEVE NASCER O ESPÍRITO DA ORDEM


DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

força de sua presença, conseguiu finalmente “arrancar daquelas matas o gm janeiro de 1841, no Maranhão, o coronel Lima calculava que, dos
chefe dos sediciosos”. Depois dele, mais 700 homens se apresentaram. 3.000 negros que existiam aquilombados nas matas, restavam apenas
A “guerra civil”? estava encerrada. Na verdade, Luiz Alves comuni. 200. Em fins de fevereiro, no dia 28, comunicava ao ministro da Guerra
cou à corte seu término ainda no dia S de janeiro, após as sucessivas que para “complemento da inteira pacificação desta província foi preso
apresentações dos meses de novembro e dezembro. Certamente acredita. (...) O infame negro Cosme”. Não por coincidência, fala em complemen-
va que a prisão de Raimundo Gomes era uma questão de tempo, que o to. À “inteira pacificação” estava concluída. A prisão se deu depois de
venceria nem que fosse pela fome, É claro que preferia os louros de um “renhido ataque” das tropas legais. Cinquenta mortos ficaram nos
aprisioná-lo. Por isso, todo o seu empenho. Voltou para São Luís com campos do Calabouço, onde se fixara o quilombo. Cerca de 150 foram
Raimiundo Gomes preso, e só lá o anistiou. Tendo em vista todos os cri- presos. Cosme das Chagas também foi levado para São Luís, só que, de
mes cometidos, considerava a anistia um enorme lucro para o rebelde. modo diverso do que ocorreu com Raimundo Gomes, não seria anistia-
Só não podia mantê-lo no Maranhão, não apenas “pela preponderância do. Estava na capital “para receber o castigo de seus crimes. “As tantas
que exerceu em dois anos sobre a classe baixa”, mas também pelo risco mortes friamente perpetradas por sua própria mão” tinham um peso
de morte que corria. À anistia não eliminava o desejo de vingança de maior do que as cometidas pelos rebeldes mestiços. Permaneceu preso

muitos que se sentiam vitimados por ele. O termo de evacuação da pro- por mais de um ano, e, sendo levado em abril de 1842 a júri, foi senten-
ciado com, pena capital.!!
víncia que ele assinou era de oito anos, e o líder rebelde escolheu morar
Às oito horas da manhã do dia 10 de setembro de 1842, o negro
na província de São Paulo. Pretendia encontrar sua família, o que não
Cosme Bento das Chagas foi remetido à vila de Itapicuru-mirim e execu-
chegou a acontecer. Durante a viagem, ele morreu.!0
tado. Nessa data, o então brigadeiro Luiz Alves de Lima estava distante
O negro Cosme, para Luiz Alves, não era um rebelde. Tratava-o como
do Maranhão. Combatia rebeldes de outra estirpe, paulistas e mineiros.
um quilombola. A diferença parece sutil, mas a sua delimitação marcou
Luiz Alves de Lima entregou a administração do Maranhão a seu
a atuação do coronel na província. Rebeldes e negros pertenciam a mun-
sucessor no mês de maio de 1841, e, no dia 30 de junho, embarcava de
dos distintos. Logo, o tratamento não podia ser o mesmo. Em nenhum
volta à corte. A campanha fora um completo sucesso. Deixava a provín-
momento se dispôs a negociar com os negros. Eram escravos, não tinham cia eleito deputado por unanimidade. Não havia melhor resposta para
condições de decidir seus destinos. Também não cabia ao Estado puni- sua política de neutralidade. Cabanos e bem-te-vis, apesar de todas as
los. O papel de Luiz Alves, como representante da Coroa na região, era divergências, uniam-se em torno de seu nome. Aqueles que não puderam
devolvê-los a seus donos — esse era um domínio exclusivo da “casa”. estar com ele antes de sua partida escreviam-lhe lamentando e justifican-
Ainda que não tenha sido possível saber como Luiz Alves procedia do a ausência. Durante todo o ano de 1842, recebeu cartas de “amigos”
no combate aos quilombos dos arredores da corte, vimos no capítulo maranhenses dando notícias da província e da administração do novo
anterior que essa função foi exercida pela Guarda de Municipais Perma- Presidente. Havia também muitos pedidos para interceder junto ao go-
nentes enquanto ele esteve no comando. Ou seja, o coronel Lima não era verno a favor de um e outro conhecido ou parente.!!? Um contato de
inexperiente nessa tarefa. Talvez a estratégia de “indispor os rebeldes expressão na corte era a chave para a elite local, sobretudo agora, depois
com os negros” já tivesse até mesmo sido testada no Rio de Janeiro; das reformas centralizadoras instituídas pelos cabanos. Com a “lei dos
quando as ruas eram assaltadas cotidianamente por levantes populares.

333
332
“ ju: E

DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO DA CHAGA ABERTA DEVE NASCER O ESPIRITO DA ORDEM

prefeitos e subprefeitos”, toda a adiministração provincia Alta virtude estima,


l ficava subor-
dinada ao poder central, à política da corte. De quem como o meu Lima
Parte do sucesso de Luiz Alves se devia a Domingos Gon Por ela oferece a vida
çalves de
Magalhães. Ele deu forma não só a seu governo, elaborando proclama- Com amor puro e santo...
ções e trabalhando na administração civil, mas também erg
ueu Luiz
Alves de Lima a pacificador e herói. Os pequenos seu canto foi ouvido. Tão logo chegou à corte, o imperador promoveu
versos que serviram
de epígrafe aos itens deste capítulo foram escritos, tal
como sua Revo- Luiz Alves de Lima ao posto de brigadeiro de seus exércitos — primeiro
lução na província do Maranhão, ainda na província,
com o título de nível do generalato — e O agraciou com o título de barão, deixando à sua
“Ode ao Pacificador do Maranhão”. Em seu quinto
epodo, o secretá- escolha o nome com o qual seria admitido nos círculos da nobreza. Luiz
rio-poeta assumia responsabilidade sobre a história que contava: Alves escolheu Caxias. À justificativa quem dá é o padre-biógrafo Joa-
quim Pinto de Campos. À cidade, segunda em importância econômica
Ante mim apareça do Maranhão, simbolizava a rebelião subjugada. Tinha sido a mais aífli-
Quem diga: mente a Musa. gida pelos “horrores da guerra”, sendo tomada e retomada pelas forças
Consinto que pereça imperiais."3 Mas essas não foram as únicas demonstrações de reconhe-
Meu nome, e minha glória, cimento do jovem imperador. Desde agosto de 1840, Luiz Alves era tam-
Si seu abono a história
bém veador das princesas imperiais.
Ão canto meu recusa,
Nem mais do céu mereça
O vate ser ouvido
Oh! graças! Desmentido
Jamais, jamais serei;
Verdades só cantei.

À legitimidade do canto do poeta é dada pela história. Aliás, essa é uma


fronteira que o secretário cruzava com facilidade. Passava de uma narra-
tiva histórica bastante cuidadosa, atenta ao trabalho de pesquisa, para
uma escrita poética e, em seguida, voltava àquela. Na verdade, não reco-
nhecia esses limites. Nesses versos, a história ajudava a fundamentar
ainda mais a palavra do poeta — sua ode só narrava verdades. Por isso,
no último epodo, solicita que:

Complete meu canto


À pátria agradecida,
E mostre ao mundo a quanta

334 335
Ng

DA CHAGA ABERTA DEVE NASCER O ESPÍRITO DA ORDEM

Notas Sobre sua participação no clube, Octávio Tarquínio de Sousa, Op. cit., Três golpes
22.
de Estado, p. 156. O temor de Honório Hermeto é explicitado em carta a Luiz
Alves de maio de 1840, lata 748, pasta 29, IHGB.
23. Todo o relato sobre a viagem e sua organização segue Domingos José Gonçalves de
Magalhães, op. cit., p. 79-80.
24. Sobre sua trajetória, ver Cartas a Monte Alverne, publicadas pelo Conselho Esta-
dual de Cultura do estado de São Paulo, e um rascunho biográfico escrito por
Manuel de Araújo Porto-Alegre, lata 365, pasta 9, IHGB.
1. Domingos José Gonçalves de Magalhães, A Revolução da província do Mara 25. Essas informações foram extraídas do ofício do ministro da Justiça de 17 de dezem-
nhão, bro de 1839, AG PMER].
cap. 1.
2. Um quadro com dados sobre todas essas revoltas pode 26. Astolfo Serra, Caxias e o seu governo civil na província do Maranhão, p. 49.
ser encontrado em José
Murilo de Carvalho, Teatro de sombras, p. 13. 27. Sobre o tema, ver Arthur César Ferreira Reis, “O Grão-Pará e o Maranhão”, p.
3. Todas essas informações sobre as rebeliões continuam seguindo 158, e Maria Januária Vilela dos Santos, A Balaiada e a insurreição de escravos no
as reflexões de José Maranhão, p. 74.
Murilo de Carvalho, idem, p. 14.
28. Todas as informações desse parágrafo foram retiradas de Maria Januária Vilela dos
4. Paulo Pereira Castro, op. cit., p. 38.
Santos, op. cit., p. 20-6.
« Para esses ofícios e sobre a inoperância da Guarda Nacional, ver Adriana
Barreto
ln

29. A história é contada por Arthur César Ferreira Reis, op. cit., p. 159 e 160.
de Souza, op. cit., cap. 2.
30. Todas essas informações, inclusive as do parágrafo anterior, foram extraídas de
- Roderick Barman, Brazil, p. 193.
1D 9 N O

Rodrigo Otávio, A Balaiada, p. 17.


José Murilo de Carvalho, Bernardo Pereira de Vasconcellos, p. 19.
31. À Instrução é citada na íntegra por Domingos José Gonçalves de Magalhães, op.
Apud Gilberto Freire, Sobrados e mucambos, t. I, p. 241-2.
cit., p. 40.
Thomas Flory, op. cit., p. 266. 32. Essas cartas se encontram no arquivo do Maranhão e foram recentemente publica-
10. José Murilo de Carvalho, Bernardo Pereira de Vasconcellos, p. 31. das. Ver Maria Raimunda Araújo, Documentos para a história da Balaiada. A ci-
11. Todas essas citações foram extraídas do relatório do ministro da Guerra apresenta- tação está em um ofício assinado por diversos comandantes rebeldes de 26 de se-
do à Câmara em 1838. tembro de 1840.
12. Sobre a reforma do Exército e essas resistências, ver Adriana Barreto de Souza, op. 33. Apud Maria Januária Vilela dos Santos, op. cit., p. 29.
cit., cap. 2. 34. Coleção Caxias, caixa 808, AN, ofício de 26 de setembro de 1839. Vários outros
13. José Murilo de Carvalho, Teatro de sombras, cap. 5, “Eleições e partidos”. ofícios sobre o tema são transcritos por Maria Januária Vilela dos Santos, op. cit.,
14. Para uma atualização desse tradicional tema, ver Ilmar Mattos, op. cit., cap. “Lu- cap. “A eclosão da Balaiada”.
zias e Saquaremas, liberdades e hierarquias”. 35. Domingos José Gonçalves de Magalhães, op. cit. Sobre sua opinião a respeito de
15. Anais da Câmara dos Deputados, sessão de 15 de junho de 1838. Manoel Felizardo, p. 97, para os jornais, p. 45.
16. Roderick Barman, op. cit., p. 196. 36. Ofício do barão da Parnaíba a Luiz Alves de Lima em 7 de março de 1840. Coleção
17. Anais da Câmara dos Deputados, sessão de 15 de junho de 1838. Caxias, caixa 808, AN.
18. Paulo Pereira Castro, op. cit., p. 52. 37, Apud Gonçalves de Magalhães, op. cit., cap. XVI.
19. Apud Octávio Tarquínio de Sousa, op. cit., Diogo Feijó, p. 257. 38. A expressão é de Astolfo Serra, op. cit., p. 49.
20. Essa posição do ministro fica clara no ofício que ele envia à Câmara, recusando-se 39, Uma cópia dessa proclamação se encontra na caixa 808 da Coleção Caxias, AN.
a comparecer às sessões e mantendo apenas correspondência escrita. À recusa ge- 40. Essas versões são apresentadas por um de seus biógrafos que, negando-as, tenta
rou grande polêmica. Anais da Câmara dos Deputados, 1836, p. 283-326. destacar a idéia de clarividência. Ver Eugênio Vilhena de Morais, Novos aspectos
21. Paulo Pereira Castro, op. cit., p. 52-3. da figura de Caxias, capítulo intitulado “Mais militar que político”.

336 337
E uh pa

DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO


DA CHAGA ABERTA DEVE NASCER O ESPÍRITO DA ORDEM

41. Todas essas citações foram extraídas de Eugênio Vilhena de Mor


ais, Novos aspeç-
tos da figura de Caxias, mas vale fazer aqui uma observ 60. Ofício de 23 de março de 1840 ao ministro da Guerra, códice 927, vol. 1, AN.
ação: nenhu m desses do
mentos se encontra à disposição do pesquisador. Eles integram, cu- 61. Toda a história da tomada de Mirítiba, bem como as alterações de planos de Luiz
se gundo Eugênio Alves, está no ofício de 28 de março de 1840 ao ministro da Guerra, códice 927,
Vilhena de Morais, seu arquivo pessoal. Há, assim,
que ter algu NS Cuidados. vol. 1, AN.
autor foi um nome importante na recuperação da memória de Q
Caxias, durante
década de 1920, quando realizou um intenso trabalho de pesq q 62. Ofício de 28 de junho de 1840 ao ministro da Guerra, Coleção Caxias, caixa 808, AN.
ui sa sobre sua traje- 63. Ver sobretudo dois ofícios datados de 28 de junho de 1840, um para o ministro
tória. Nessa época, ele era diretor do Arquivo Nacional,
e tal vez por isso a famíli da Guerra e outro para o da Marinha; um ofício de 21 de julho de 1840 ao mi-
detenha até hoje a posse dos documentos. a
nistro da Guerra e um de 20 de outubro de 1840 ao ministro da Guerra, códice
42. Ofício de 11 de maio de 1840 ao ministro da
Justiça, códice 927, vol. 1, AN. 927, vol. 1, AN.
43. Carta de Manoel Felizardo de 9 de novembro de 1841
» Coleção Caxias, caixa 808,
AN.
64. Sobre esses problemas, ver ofício de 21 de julho de 1840 ao ministro da Guerra,
códice 927, vol. 1, AN.
- Ofício de 5 de março de 1840 ao ministro do Imp
ério, códice 927, vol. 1, AN 65. As expressões são de Domingos Gonçalves de Magalhães, op. cit., p. 15.
45. Domingos José Gonçalves de Magalhães, op. cit., p. 45.
A nda 66. Sobre a expedição de Luiz Alves, ver ofício de 1º junho de 1840 ao ministro da
46.
Guerra, e sobre a comandada pelo capitão Chaves, ver ofício de 28 de junho de
47. ; parágrafo foram extraídas do cap. I, Domingos 1840 ao ministro da Guerra, códice 927, vol. 1, AN.
José Gonçalves de Magalhães, op. cit.
67. Ofício de 5 de janeiro de 1841 ao ministro do Império, códice 927, vol. 1, AN.
48. Ofício do barão da Parnaíba datado de 7 de março de
1840. Coleção Caxias, caixa 68. Ofício de 8 de agosto de 1840 ao ministro da Guerra, códice 927, vol. 1, AN.
808, AN. , 69. Apud Astolfo Serra, op. cit., p. 98.
49. Todas as referências desse e dos três próximos parágrafos relativa
s à visão de Gon- 70. Todas essas leis foram transcritas por Astolfo Serra, op. cit., p. 106-12.
çalves de Magalhães da cultura e da elite maranhense foram extraídas
do segundo Pd Apud, idem, p. 90-1.
capítulo de seu livro. Ver Domingos José Gonçalves de Magalhães, op. cit. 72. Apud, idem, p. 89-102.
50. O relatório é reproduzido na íntegra por Astolfo Serra, op. cit., p. 148. PI: Ofício de 28 de abril de 1841 ao ministro da Guerra. Mas seguramente há um erro
Sl; Ofício de Luiz Alves de Lima ao ministro da Guerra de 6 de março de 1840, Cole- . na data: em abril de 1841, a guerra tinha acabado. O ofício é de 1840, códice 927,
ção Caxias, caixa 808, AN. vol. 1, AN.
Sd Ofício de 5 de março de 1840 ao ministro da Guerra, Coleção Caxias, caixa 808, 74. Ofício de 16 de maio de 1840 ao ministro da Guerra, códice 927, vol. 1, AN.
AN. 75. Maria Januária Vilela Santos, op. cit., p. 30.
J3. Essas citações foram todas extraídas das ordens do dia de 12, 21 e 26 de fevereiro 76. Ofício de 16 de maio de 1840 ao ministro da Guerra, códice 927, vol. 1, AN.
de 1840, Coleção Caxias, caixa 808, AN. Ofício de 21 de julho de 1840 ao ministro da Guerra, códice 927, vol. 1, AN.
34. Ofício de 5 de março de 1840 ao ministro do Império, códice 927, vol. 1, AN. 78. Ver ofícios de 8 de agosto e 1º de junho de 1840 ao ministro da Guerra, códice 927,
JO. O número de efetivos está no ofício de 6 de março de 1840, a organização do Exér- vol. 1, AN.
cito em uma ordem do dia de 19 de fevereiro de 1840 e o nome da divisão em Poe Ofícios de 1º de junho e 21 de julho de 1840 ao ministro da Guerra, códice 927,
outra ordem de 8 de fevereiro de 840. Todos fazem parte da Coleção Caxias, caixa vol. 1, AN.
808, AN. 80. Ofício de 1º de setembro de 1840 ao ministro da Marinha, códice 927, vol. 1, AN.
56. Essas ordens e as do parágrafo seguinte estão nas ordens do dia de 12, 14 81. Apud Otávio Tarquínio de Sousa, op. cit., vol. 8, p. 158.
e 19 de
fevereiro de 1840, Coleção Caxias, caixa 808, AN. 82. À história está no ofício de 1º setembro de 1840 ao ministro da Marinha, códice
57. Ofício de 6 de março de 1840 ao ministro da Guerra, Coleção Caxias, caixa 808, 927, vol. 1, AN. Sobre a deposição de armas do irmão de Raimundo Gomes e seu
AN.
58. Ofício de 23 de março de 1840 ao ministro da Guerra, códice 927, vol. 1, AN. bagageiro, ofício de Feliciano Galvão a Luiz Alves, datado de agosto, Coleção
59. Sobre O assunto, ver as ordens do dia de 14 e 19 de fevereiro de 1840, Coleção Caxias, caixa 808.
Caxias, caixa 808, AN. 83. Correspondência reservada de 20 de agosto de 1840, Coleção Caxias, caixa 808.

338 339
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
DA CHAGA ABERTA DEVE NASCER O ESPÍRITO DA ORDEM

84. Ofício de 1º de setembro de 1840 ao ministro da Guerra,


códice 927, vol. 1 AN
85. Apud Eugênio Vilhena de Morais, O duque de ferro, p. 63. 111. Sobre O número de quilombolas em janeiro de 1841, ver ofício dirigido ao ministro

86. Ofício de 5 de janeiro de 1841 ao ministro da Guerra no dia 9, códice 927, vol. 1, AN. Já a prisão e a execução do negro
da Guerra, Coleção Caxias, caixa 808.
87. Ofíc
io de 23 de setembro de 1840 ao ministro Cosme são narradas no ofício de 28 de fevereiro de 1841 ao ministro da Guerra,
da Guerra, códice 227, vol. 1 AN
88. Ofício de $ de janeiro de 1841 ao ministro da códice 927, vol. 1, AN; no anexo ao ofício do major Antônio de Carvalho de 20
Guerra, Coleção Caxias, ade 808
89. Ofício de 23 de setembro de 1840 ao ministro da Gue de fevereiro de 1841; no ofício do prefeito de Itapicuru-mírim de 6 de abril de
rra, códice 927, vol. 1 AN. 1842 e no ofício do presidente da província de 10 de setembro de 1842. Todos
20. Ofícios de 31 de agosto de 1840 ao min
istro do Império e 1º de setembro de
ao ministro da Guerra, códice 927, vol. 1, AN. 1840 foram transcritos por Maria Raimunda Araújo, op. cit.
91. Proclamação impressa datada de 27 de agosto 112. As justificativas podem ser vistas nas cartas de junho e julho de 1841. Há uma se-
1840, Coleção Caxias, caixa 808
a Ofício de 31 de agosto de 1840 ao ministro do Imp quência de cartas sobre a política local no mês de fevereiro de 1842. Os pedidos
ério, códice 927, vol. 1, AN estão dispersos, mas tudo se encontra na Coleção Caxias, caixa 808.
93. e de 31 de agosto de 1840 ao ministro do Imp
ério, Coleção Caxias, caixa 808.
94. Ofício de 23 de setembro de 1840 ao ministro do 113. Joaquim Pinto de Campos, op. cit., p. 68.
Império, códice 927, vol. 1, AN.
95. Ofício de 23 de setembro de 1840 ao ministro
do Império, códice 227, vol. 1, AN,
96. Ofício de 1º de setembro de 1840, códice 927, vol. 1, AN.
97. Ofício de 26 de setembro de 1340, Apud Maria Raimun
da Araújo, op. cit.
98. Comunicação do comandante da 2a coluna, de
21 de novembro de 1840, apud
Maria Raimunda Araújo, op. cit.
99. Ofício de 15 de outubro de 1840, apud Maria Raimunda Ara
újo, op. cit.
100. Ofício de 22 de outubro de 1840, códice 927, vol. 1, AN.
O texto da anistia foi
reproduzido por Astolfo Serra, p. 127-127.
101. À discordância em relação à anistia está no ofício de 29 de fevereiro ao mini
stro da
Justiça e em que se mostra solidário à dor das vítimas está em um ofício de 3
de
dezembro ao ministro do Império, ambos de 1840, códice 927, vol. 1, AN.
102. Ofícios de 1º de dezembro ao ministro da Guerra e do dia 3 de dezembro ao minis-
tro da Justiça, códice 927, vol. 1, AN. Sobre a recusa de negociar com os negros,
ofício de Emiliano de Medeiros de 18 de novembro de 1840, Maria Raimunda
Araújo, op. cit.
103. Ofício de 22 de outubro de 1840 ao ministro do Império, códice 927, vol. 1, AN.
104. Sobre a decisão de Luiz Alves, ver ofício de 3 de dezembro de 1840 ao ministro do
Império, códice 927, vol. 1, AN. Já as comunicações aos rebeldes encontram-se em
Maria Raimunda Araújo, op. cit.
105. Ofício de 18 de novembro de 1840, apud Maria Raimunda Araújo, op. cit.
106. Ofício de 20 de novembro de 1840, apud Maria Raimunda Araújo, op. cit.
107. Ofício de 22 de novembro de 1840, apud Maria Raimunda Araújo, op. cit.
108. Ofício de 9 de janeiro de 1841 ao ministro da Guerra, códice 927, vol. 1, AN.
109. Ofício de 20 de janeiro de 1841. Ver Maria Raimunda Araújo, op. cit., O decreto
está em Astolfo Serra, op. cit., p. 126-7.
110. Ofícios de 5 e 25 de janeiro de 1841, ambos dirigidos ao ministro do Império, có-
dice 927, vol. 1, AN.

340 391
v. Em cena, o delegado de José Clemente
Pereira: Luiz Alves adere aos princípios
conservadores
A situação de Luiz Alves de Lima no Rio de Janeiro começava a ficar
mais confortável. Sua nova posição no Exército e na corte imperial con-
solidava o nome da família Lima. À partir de então, só assinaria “briga-
deiro barão de Caxias”. Além dessas conquistas, obtidas pelos serviços
recentemente prestados no Maranhão, desde 1838, Luiz Alves vinha se
empenhando também na construção de um patrimônio pessoal. Em abril
desse ano, quando ainda era apenas o comandante das Guardas Munici-
pais Permanentes, adquiriu sua primeira propriedade com a ajuda da
sogra. Luiza Carneiro da Costa, ao que tudo indica, já o tinha perdoado
pelo “casamento clandestino”. Na qualidade de procuradora de Francis-
co Alberto Rubim, vendeu ao genro “meia légua de terras no sertão de
Valença, entre o rio Paraíba e o rio Preto”. O oficial pagou pela proprie-
dade 500 mil-réis, o que equivalia, tendo por referência o salário defini-
do no decreto de organização do corpo de Guardas Municipais Perma-
nentes, a quase metade de seu salário, de 1:020$000 réis mensais.! Luiz
Alves, por essa mesma escritura, morava no Campo de Santana. No ar-
quivo geral do Ofício de Notas, não consta nenhuma outra compra em
seu nome até essa data. Desse modo, é provável que morasse no solar da
família Carneiro da Costa.
Politicamente, sua situação também já era bem menos incômoda.
Acredito que só nesse momento, quando retornou do Maranhão e foi
nomeado para combater os movimentos liberais de 1842, Luiz Alves
aderiu, de forma definitiva, aos princípios da centralização conservado-
ra. À influência maior não foi de Bernardo Pereira de Vasconcellos nem

345
CU a

DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO EM CENA, O DELEGADO DE JOSÉ CLEMENTE PEREIRA

de Honório Hermeto Carneiro Leão, mas de um áulico, José CI os ÁULICOS


eMente
Pereira. À política de neutralidade implementada pelo então cor
One] no
Maranhão ajustou-se com perfeição aos propósitos da ala mon sando do retorno de Luiz Alves à corte, a crise gerada pela antecipação
além de permitir que se movimentasse entre as cartas do pai op ar quista, da maioridade de d. Pedro estava resolvida, e os conservadores,
substituí-
Osicionis.
ta — um tradicional liberal — e as de Honório Hermeto. dos pelos liberais depois do golpe, já tinham voltado ao governo. A política
Levou quase y
ano para pacificar o “Norte” e, mal havia voltado
à corte, foi no do partido era agora incorporada pelos áulicos e se tornava a política da
para combater os liberais de São Paulo e, em seguida,
os de Minas A Coroa. Toda a crise, desde a preparação do golpe até o retorno dos conser-
es Entre os chefes paulistas, estava Diogo Antônio vadores ao poder, em março de 1841, durou cerca de um ano. Luiz Alves
Feijó. Coube a Lui
ves prender o padre e remetê- ; estava no Maranhão, e o clima era da mais completa indefinição. Francisco
E a Em es O o mio pularoia as prome
a ad ssas de anistiae de Lima, seu pai, frequentava as sessões do Clube da Maioridade e, ao lado
antes de ela ser efetivamente decretada, irritava profundamente dos liberais, participava do golpe que pretendia colocar abaixo a Regência
os líde-
res rebeldes. O cônego José Antônio Marinho,
um dos líderes mineiros conservadora de Araújo Lima. Na verdade, os liberais se aproveitavam do
de tão irritado, batizou essa manipulação de “estratégi impulso dado pelos conservadores ao princípio monárquico. Tão logo as-
a de polícia”. Ao
final dessas campanhas — do Maranhão, de São Paulo sumiu a Regência, em 1837, Araújo Lima empenhou-se em projetar para O
e Minas —, seu
sucesso era indiscutível. Em setembro de 1842, Luiz Alves primeiro plano a figura do imperador menino, restabelecendo a etiqueta e
era marechal
de-campo, terceira patente do Exército (anexo III), ajudante-de-cam os cerimoniais cortesãos com um grau de formalização não executado nem
po
do imperador e o único nobre entre os Lima. mesmo nas cortes de d. Pedro I e d. João VI. Os conservadores recorriam
A repercussão desses sucessos, e mais a dos que viriam depois, con- ao prestígio do trono para legitimar a política regressista, atraindo, por um
tribuiu para eliminar a idéia de risco político. É importante não perder lado, os descontentes com os rumos do 7 de abril e, por outro, a simpatia
de vista que, em 1839, ao assumir o comando da expedição destinada a popular. Além disso, essa pompa tornava o imperador mais acessível.
combater os balaios, Luiz Alves era encarregado de uma missão em cuja Foi exatamente essa política que os liberais exploraram para retornar
execução outros fracassaram. De seu desempenho dependia a consolida- ao poder. Pregavam a idéia de que o trono era a melhor garantia para a
ção da posição dos Lima na corte. Por isso, reafirmo: foi o primeiro paz e unidade brasileiras. Se, a princípio, a idéia estava atrelada ao Re-
dentre eles a obter um título de nobreza. Apesar de todos os cargos ocu- gresso Conservador, ela era generalizada pelos liberais e ultrapassava
pados pelo pai e pelos tios, e da experiência que eles obtiveram em cam- agora os limites partidários. Todos pareciam estar de acordo com a neces-
sidade de se fortalecer a autoridade. Essa estratégia liberal lançava os
pos de batalha, nenhum tinha ainda ingressado na nobreza brasileira.
conservadores em uma posição delicada. Ainda que tivessem feito tudo
Seu pai tentou em 1824, e não conseguiu. Essa distinção sem dúvida
para canalizar a opinião pública na direção do imperador, a antecipação
contribuiu para ele também afirmar sua posição, sobretudo política, en-
da maioridade não era interessante para o partido. Possuíam a maioria
tre os Lima. Equilibrava ainda, por meio dessas conquistas pessoais, à
parlamentar, nisso residia sua estabilidade. O golpe maiorista devolveria
aliança entre as famílias Lima e Carneiro da Costa, cuja desigualdade 0
ao poder moderador o direito de dissolver a Câmara, submetendo os
expôs publicamente em 1832. Mas tudo isso — é bom lembr
ar — poderia conservadores ao arbítrio imperial. Por isso, resistiam ao golpe.
não ter acontecido. Luiz Alves também podia ter fracassado
.

347
346
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO EM CENA, O DELEGADO DE JOSÉ CLEMENTE PEREIRA

As negociações, avanços e retrocessos duraram meses. Luiz Alves Câmara temia a influência que Francisco de Lima poderia estar exercen-
acompanhava tudo isso de longe, pelas cartas de seu pai, freguentador do sobre o filho. Preocupava-se com as eleições gerais e afirmava com
das sessões do clube maiorista da Rua do Conde, e pelas cartas escritas toda a clareza que estava “persuadido de que o Sr. Francisco de Lima lhe
por Honório Hermeto, chefe conservador na Câmara e principal nome escrevera em sentido contrário, procurando persuadi-lo que faça a elei-
no combate ao projeto da maioridade. Grande parte das cartas trocadas ção com o partido do senador Pedro da Costa Ferreira”. Obviamente, o
nessa época entre pai e filho se perdeu. Há referências a algumas delas, partido em questão era O liberal. Ainda que tivesse sido nomeado co-
mas apenas uma foi localizada. Datada de 14 de abril de 1840, um mês mandante da Divisão Pacificadora do Norte pela Regência conservado-
antes da queda do gabinete de Manuel Antônio Galvão, ela abordava ra, a posição de Luiz Alves, em função da filiação política de sua família,
assuntos políticos. No dia anterior, tinham sido rejeitadas “na Câmara permanecia indefinida. Honório só decidiu lhe escrever depois da vota-
todas as medidas do Senado postas pelo ministério” e, para Francisco de ção do projeto maiorista no Senado. O motivo era simples. Com a vota-
Lima, não havia dúvidas — “o ministério está por terra, desorientadíssi- ção, a posição do ex-regente Lima se tornou pública. “Seu pai”, escreveu
mo”. Mandava ainda para o filho, com a carta, vários “jornais de opo- Honório a Luiz Alves, “foi iludido pela gente da oposição, porque votou
sição” e aproveitava para inteirá-lo dos nomes cotados para o próximo no Senado pela maioridade por via ordinária”. Daí seu receio. Tentava
gabinete. Era preciso que Luiz Alves, apesar da distância, se mantivesse certificar-se da continuação do apoio de Luiz Alves. Introduziu a frase
informado sobre a política da corte, inclusive das tramas a favor da anterior, confessando seu “desprazer” em dar ao “amigo” tal notícia. O
maioridade. Para o ex-regente, o futuro dependia de quanto se trabalha- “amigo”, até onde sabia, era conservador. Mandava-lhe também jornais
ria por ela. O quadro político era tão incerto que pedia ainda ao filho da corte. À oposição — na sua opinião — vinha recorrendo a meios suspei-
que Gonçalves de Magalhães tivesse mais cuidado ao escrever para a tos para promover a maioridade e queria que o coronel visse, por esses
corte — “tenho muito medo de poetas”. jornais, quais eram esses meios. Os votos conseguidos no Senado — Ho-
A união dos Lima era grande. Francisco de Lima não só se preocupa- nório não tinha dúvidas — se deviam à divulgação de uma “falsa nota”
va com a carreira de seu primogênito, como era muito carinhoso em suas por Holanda Cavalcanti e os Andrada. Por ela, “conseguiram aterrar
cartas, assinando sempre “teu paizinho” e dando notícias da mãe e dos alguns senadores”, afirmando-se “que o imperador desejava ser declara-
tios. Maria Cândida também escrevia ao filho. Ainda que não tenha sido do maior”. Por isso, dizia que Francisco de Lima tinha sido iludido.
possível recuperar sua correspondência, Francisco de Lima, nessa mes- Honório Hermeto ainda se preocupava em esclarecer Luiz Alves de
ma carta, avisa a Luiz que a mãe não lhe tem escrito por conta de uma que o partido não era contrário à maioridade. Colocar-se contra ela seria
erisipela que prejudicava sua saúde. Essa união, de uma família toda li- um suicídio político: havia “acendido no seu povo o desejo de ver Sua
beral, deve ter dificultado as escolhas políticas de Luiz Alves. Majestade Imperial à testa do governo”. Apenas desejava “abrir um meio
Além das cartas do pai, o coronel contava no Maranhão com outras legal para isso”. A definição da maioridade aos 18 anos era artigo consti-
fontes de informação. A versão oposicionista sobre o projetado golpe tucional. O chefe conservador temia a “violação” da Constituição pelo
chegava ainda por meio de contatos do visconde da Parnaíba, presidente corpo legislativo e, diante de tanta instabilidade, tinha motivos para isso.
do Piauí e amigo dos Lima, e a versão governamental, por intermédio de A experiência mostrava que a violação poderia “obviar pretextos para
Honório Hermeto, que lhe escrevia. O líder do Regresso Conservador na
mais uma rusga”. Sua idéia, lançada em forma de projeto na Câmara, era

349
348
UI á
e dl H
sp deb»

DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO


EM CENA, O DELEGADO DE JOSÉ CLEMENTE PEREIRA

“fazer lei autorizando a reforma do artigo 121, a fim de


que a legislaty
futura faça declarar legalmente Sua Majestade Imp servir no “Exército sul?. Depois que os liberais assumiram o gabinete,
erial maior antes 5 essas praças não seguiam mais para o Rio Grande do Sul, o ministro da
18 anos”. É claro que esse era também um meio de
adiar a maioridade a Guerra — assegurava Gonçalves de Magalhães - mandava “soltar a todos
artigo só seria alterado na próxima legislatura, que ain
da seria eleita. - nas ruas do Rio de Janeiro, com licença de irem para onde quisessem”.
Honório Hermeto conseguiu com esse pro
jeto paralisar por dois me. Além disso, ainda recomendava “que não se castigassem os rebeldes”.
ses a agitação liberal. Mas não podia imaginar
que havia de fato um in. Tudo isso era descrito com indignação por Magalhães, e suas reflexões
teresse do jovem imperador em ser declarado
maior A divulgação da recebiam o apoio, ainda que discreto, de Luiz Alves de Lima. Ambos
notícia mudou o rumo dos acontecimentos,
e o chefe conservador, ele concordavam que a política imperial devia ser intervencionista e, no caso
próprio, requereu na Câmara a retirada de seu
projeto. A agitação das do secretário, a crítica aos liberais era direta: “tudo foi baldado: era então
duas casas parlamentares tomou as ruas. O “quero
já!” pronunciado ministro da Guerra Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque”.?
pelo imperador no dia 23 de julho pôs fim à crise.
Mas eles não eram os únicos insatisfeitos. A falência da abertura de
O Segundo Reinado se iniciav Í negociações com os farrapos, tendo por base o mesmo decreto de anistia
ent
4 anto, era palaciano. A can dote per
e ado
aa r havianodefinidoo a
a situa- aplicado com sucesso no “Norte”, dividiu o gabinete sobre a nova política
ção e, com apenas 15 anos de idade, ele realmente
não tinha como assu- militar a ser adotada no Sul. Se todos os ministros acreditavam que medi-
mir funções efetivas, ficando sob forte influência
dos áulicos, agrupados das fortes deviam ser implantadas, eles discordavam seriamente quando se
em torno de Aureliano de Sousa e Oliveira Coutinho. Nes
ses primeiros tratava de definir essas medidas, o que gerou um confronto direto entre os
anos, Aureliano, além do cargo de ministro de Estrangei Andrada e Aureliano Coutinho. O desentendimento foi suficiente para
ros, exerceu 0
papel de pai do jovem d. Pedro II.º Assim, logo no dia seguinte à aproximar o líder áulico dos conservadores.º No dia 23 de março de 1841,
forma-
ção ministerial, como líder dos áulicos, vestiu “com a libré de camari oito meses após a maioridade, formava-se um novo ministério. À revira-
sta
Os seus cinco colegas” de ministério, aptos a partir de agora a se enfilei- volta era surpreendente: subiam ao poder elementos tradicionais da polí-
rarem “nas cerimônias da corte com a criadagem imperial”. Uma das tica palaciana e conservadores. Alinhavam-se com Aureliano Coutinho:
primeiras medidas do ministério liberal, no afã de cerrar fileira junto aos Araújo Viana, nome expressivo na política do Paço e mestre do impera-
áulicos, foi aprovar uma elevadíssima dotação para o imperador, no va- dor; Vilela Barbosa, braço forte do golpe maiorista; José Clemente Pereira,
lor anual de 800:000$000. No que se refere ao Ministério da Guerra, outro nome forte entre os áulicos; Miguel Calmon, ministro do célebre
O
gesto por excelência liberal foi a anistia aos rebeldes por meio do decreto gabinete conservador de 19 de setembro de 1837; e Paulino de Sousa, de-
imperial, apostando no início de um novo tempo. putado conservador. À “liga” — para usar um termo comum na época — não
Apesar das dúvidas de Honório Hermeto, todos esses acontecimentos era propriamente regressista, mas o “espírito” que a animou era o do Re-
aproximavam cada vez mais o coronel Luiz Alves dos princípios conser- gresso Conservador, no bom estilo de Bernardo Pereira de Vasconcellos.
vadores. Ainda que a maioridade e a anistia lhe tenham sido muito úteis Ainda que este não figurasse no gabinete, entraram na sua composição
no combate aos rebeldes, ele discordava da forma como o perdão foi nomes que estavam, na opinião de Octávio Tarquínio, diretamente vincu-
concedido, não distinguindo os homens pelos crimes cometidos. Outra lados a ele: um de “seus discípulos prediletos”, Paulino Soares de Sousa;
crítica do coronel dizia respeito ao envio de rebeldes aprisi um companheiro das lutas contra Feijó, Miguel Calmon, e José Clemente
onados para

351
350
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO EM CENA, O DELEGADO DE JOSÉ CLEMENTE PEREIRA

Pereira, com ele reconciliado desde 1835. O programa executado também militar. No máximo, administrador. Jamais, político. Quando combatia,
foi o concebido por Vasconcelos em 1837. Legitimado pela Coroa, ele era não defendia princípios políticos. Defendia a integridade nacional e con-
implantado agora “sem tropeços”. Em apenas um ano, foram aprovadas tribuía para civilizar irmãos pouco afeitos a normas e regras.
a lei de reforma do Código do Processo Criminal e a criação do Consel Em reconhecimento pelos serviços prestados, o imperador ainda
ho
de Estado.? No ano seguinte, em 1842, a reforma do Exército proposta concedeu ao barão um razoável período de férias. Eleito deputado pelos
por Sebastião do Rego Barros em 1837, e que tanta polêmica tinha gerado maranhenses, só tinha previsão de retornar ao trabalho estreando na
na Câmara, também era implantada sem oposição.!º A política do Repgres- Câmara e, portanto, na política formal, em 1842. Em março desse ano,
so, apropriada pelos áulicos, tornava-se política da Coroa. a Coroa decidiu dar-lhe mais um emprego, nomeando-o comandante de
Chegando em julho de 1841 à corte, Luiz Alves era poupado de toda Armas da Corte, segundo cargo em prestígio militar, subordinado ape-
essa crise. Havia três meses que os conservadores já estavam de volta ao nas ao ministro da Guerra. Mas novas reviravoltas políticas mudaram O
governo, e essa “liga” com os áulicos lhe era extremamente conveniente. rumo dos acontecimentos e de sua vida nos meses seguintes.
Mais do que nunca, predominava a idéia de uma política acima dos parti- Luiz Alves de Lima, brigadeiro e barão de Caxias, havia sido eleito
dos. Essa é a própria base da “liga”. Incorporados pela Coroa, os ideais para a legislatura de 1842. Essas eleições, conhecidas como “eleições do
conservadores de centralização política assumiam a feição de um projeto cacete”, acabaram suspensas em função da violência com que transcorre-
nacional não partidário. À política de Luiz Alves no Maranhão estava ram em todo o império. Os liberais, na tentativa de consolidar sua posi-
assim na mais completa sintonia com esse projeto. Se, em 1840, suas car- ção no governo, intervieram no processo eleitoral, substituindo fiscais,
tas a autoridades da corte, sobre a política de neutralidade que vinha ado- removendo juízes de direito, chefes de polícia e até presidentes de provín-
tando, ficavam sem resposta, agora elas despertavam grande interesse. cia. Capatazes assaltaram mesas eleitorais, espancaram e assassinaram
Não à toa, ele foi tão bem recompensado. eleitores, muitas vezes com a conivência da polícia. À fraude foi total e
A imagem de “agente neutro”, tão útil no Maranhão, acompanhará obviamente comprometeu o resultado do pleito. Em 1842, nas sessões
o então brigadeiro e barão de Caxias em seus próximos combates. Em preparatórias do mês de abril, anteriores à abertura da Câmara e dedica-
1840, ele recorreu a essa imagem como uma maneira de tentar suspender das à verificação das eleições, o caso do Maranhão era dos mais discuti-
os conflitos que dividiam a elite maranhense e, fazendo-se “mais militar dos. Para a comissão de verificação, era impossível “tomar conhecimento
que político”, obter o apoio de toda a elite na repressão à rebelião. Essa das eleições nessa província porque, não existindo (...) senão uma única
“neutralidade” ainda lhe foi útil na corte. Ela permitiu que não se com- ata parcial, a do Colégio de São José de Guimarães, não podia a comissão
prometesse diretamente com nenhum partido, não tendo assim de rom- fazer a verificação das atas geral e parciais, comparando-as com o diplo-
per declaradamente nem com sua família, nem com o governo que O ma apresentado pelo sr. barão de Caxias”. É simples. Luiz Alves de Lima
sustentava. Daí a insegurança de Honório Hermeto. Por ocasião da maio- havia sido eleito por unanimidade. Apresentou na corte um diploma elei-
ridade, quem o coronel Lima apoiava? Para o líder conservador na Câ- toral em que constava a participação de 4.000 eleitores, mas as atas das
mara, a questão não parecia definida. eleições não foram enviadas. Não havia assim documento que compro-
À imagem de administrador, marcada pela mesma neutralidade, tam- vasse esses votos. Além disso, o número de eleitores apresentado era “ex-
bém o acompanhará em sua trajetória. Por essa imagem, Luiz Alves erê traordinário, quase igual aos votos do Brasil inteiro”. Os liberais, porém,

353
352
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
EM CENA, O DELEGADO DE JOSÉ CLEMENTE PEREIRA

defendiam a validação do diploma. Um irmão Andrada, Antônio C


arlos, volta, articulados com os mineiros. Estes deveriam, por meio de levantes
chegou a argumentar que, se ele fora eleito por unanimidade, «
como se quiser, ele sempre será deputado”. menores, “distrair as forças legais”. Ambos não tinham pretensões sepa-
ratistas nem republicanas. Os mineiros, na avaliação do cônego Marinho,
Interessava menos assegurar a eleição de Luiz Alves que dar por e
«não desejavam sequer derramar sangue”. Ex-deputado, importante
cerrada a polêmica. A lista dos deputados cujos
poderes foram ea nome da revolta de Minas e autor do único relato existente sobre o mo-
dos deveria ser remetida para o imperador,
por intermédio do o | vimento, O cônego defendia que os insurgentes “não queriam agredir a
do Império, até o dia 30 de abril. Só de posse des
sa lista, Sua Mae ninguém”. Não eram “revolucionários”, faziam apenas uma “manifesta-
marcaria dia e hora para a abertura das sessões legislativas!
O Fi ção”. Tinham com eles a “idéia fixa de que o monarca faria cessar a luta
expirava, e os liberais temiam o que acabou ocorrendo
— a Câmara foi pela demissão do gabinete, que não lhe poderia mais ocultar uma tal ma-
dissolvida temporariamente por decreto imperial.
nifestação de ódio público contra a subversiva política que seguia”.!
O barão de Caxias não entrou, portanto, no exercí
cio legislativo, Mas a estratégia de “forçar a demissão do ministério” pelo poder das
Assumiu apenas, no dia 21 de março, o Comand
o de Armas da Corte armas mostrou-se completamente equivocada. O gabinete, bem enraiza-
no qual não chegaria a completar nem dois meses de
exercício. No dia do entre os palacianos, manteve a coerência de sua política, intervindo
17 de maio, era nomeado comandante-em-chefe das forças
em opera- com firmeza na região. O barão de Caxias era nomeado para executar a
ções em São Paulo. Dois meses depois, seguiria para Minas. Após tant
os política militar de 1837, defendida sem sucesso pelo então ministro Se-
reveses políticos, os liberais dessas províncias, tradicionalmente ligados bastião do Rego Barros, mesmo sendo a Câmara na época majoritaria-
ao 7 de abril, pegavam em armas para lutar contra as reformas centrali- mente conservadora. O leitor talvez esteja lembrado da viagem que o
zadoras que vinham sendo implementadas pelos conservadores. ministro, acompanhado pelo oficial, ambos bem jovens, realizou ao Rio
Grande do Sul para acreditar a nova política. O esforço, porém, foi em
vão. O gabinete caiu em 1839. Só agora sua política militar ganhava le-
CHAMANDO OS PAULISTAS À ORDEM gitimidade. O brigadeiro barão de Caxias embarcava para Santos como
representante de um governo forte, disposto a submeter a tradicional li-
A nomeação do barão de Caxias para o comando das forças imperiais berdade do “poder da casa” que, recorrendo às armas, dava aos chefes
ocorreu no mesmo dia em que, na cidade de Sorocaba, Rafael Tobias de conservadores argumentos preciosos para derrotá-lo. O episódio das
Aguiar era proclamado presidente interino de São Paulo. A escolha de “eleições do cacete”, sucedido pela revolta de 1842, mostrava — como
Tobias de Aguiar resumia as queixas rebeldes. Ele havia sido retirado da propalavam os defensores do governo — “o quanto” a liberdade do Par-
presidência da província com a ascensão do gabinete áulico conservador tido Liberal era pouco “verdadeira”, revelando-se cada vez mais exces-
de 23 de março de 1841. Desse modo, era a própria imagem dos interes siva e, dessa forma, anárquica.!4
ses liberais contrariados. Com a dissolução da Câmara, direito constitu- O barão de Caxias chegou a Santos às nove horas da manhã do dia
cional pela primeira vez exercido pela Coroa, os meios parlamentares de 21 de maio. Durante a viagem, havia efetuado uma única parada, em
resistência às “reformas invasivas” do gabinete tinham sido eliminados. uma vila próxima, a de São Sebastião. Procurava sondar no local o nível
Restava apenas o recurso às armas. Os liberais paulistas lideravam a fre de convulsão do espírito público para evitar surpresas desagradáveis em

355
354
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
EM CENA, O DELEGADO DE JOSÉ CLEMENTE PEREIRA

Santos. Permaneceu na vila apenas duas horas. Tendo achado tudo e d is.
de agradecimento. Caxias estava “sumamente grato às obsequiosas ex-
posto em favor da ordem”, escreveu o barão ao ministro da G
“deixei aí O tenente-coronel José Vicente de Amorim Bezerr Uerra, pressões com que v. exa. me honrou no seu ofício de 21 do corrente mês”.
a, com gr O ofício comunic ava ao ministro da Guerra, José Clemente Pereira, a “en-
de parte do 2º batalhão de artilharia a pé, e ordenei
que o restante a trada do general barão de Caxias em Sorocaba e o fim da rebelião”. Ca-
passe a Fortaleza da Barra dessa cidade”.
Também não se den xias sabia reconhecer o valor dessas “expressões obsequiosas”. O mesmo
muito em Santos. Uma providência imediatament
e adotada foi a e
de Elizeo de Azevedo Coutinho. O “indivíduo” — segund respeito à ordem hierárquica que O fazia exigir de seus “súditos” um tra-
o conta — E tamento adequado à sua posição também o fazia reconhecer, sem dificul-
de “influente no partido de oposição”, era dado a esp
alhar norteia Si dades, o valor desses elogios, dirigidos por um “superior” a um outro
acessórios inteiramente falsos”. Tinha proced
ido assim ao noticiar na ainda mais bem colocado, ministro de Estado e figura de expressão na
cidade a dissolução da Câmara dos Deputados
, contando “inúmeras | política palaciana. Em outra carta ao presidente, escrita durante a viagem
verdades” com a intenção de atiçar o ódio con
tra o governo. O a para Minas, no dia 16 de julho, Caxias lhe tributava seu “eterno reconhe-
não poderia prosseguir viagem, deixando-o ali em lib
erdade. Ordenou, cimento pela confiança que mereci de v. exa. e amizade com que me tratou
desse modo, que ele fosse “recolhido preso a bordo
da corveta Bertio- sempre”. Lembrava-lhe, ainda, que em breve se veriam na corte e teria
ga”, fundeada no porto.!s
então “melhor ocasião de exprimir meu reconhecimento”.!é
Com receio de que os rebeldes ocupassem a capital, Luiz Alv Em sua primeira conferência no Palácio do Governo, o brigadeiro
es esfor-
çou-se para chegar a São Paulo ainda naquele dia. Mas não ficou surpreso com as condições de defesa da capital. Encontrando-se os
conseguiu.
Quando terminou a reunião com as autoridades de Santos já era noit rebeldes “a uma marcha de distância desta cidade”, tinham-na isolado
e e
preferiu partir na madrugada do dia seguinte. Às onze horas da manhã por completo. As comunicações estavam interceptadas e só contavam
do dia 22, o barão de Caxias entrava em São Paulo. Seguiu direto para com “400 a 500 guardas nacionais, mal armados, mal equipados e sem
o palácio do governo, onde conferenciou com o presidente José da Costa terem oficial que os dirigisse”. Caxias estava seguro de que, “se tivesse
Carvalho, barão de Monte Alegre. me demorado mais 48 horas nessa corte, certamente estaria hoje esta
Mais uma vez, Luiz Alves poderia contar com uma atenção especial, cidade em poder do inimigo”. Sua primeira estratégia, portanto, era ex-
dispensada apenas àqueles que gozam de referência privilegiada. O barão clusivamente defensiva. Ao contrário de avançar logo sobre O inimigo,
de Monte Alegre era um grande amigo dos Lima, sobretudo do senador optou por ocupar duas das principais pontes da cidade, a dos Pinheiros
Francisco de Lima, pai de Caxias. Trabalharam juntos, na Regência do e a do Anastácio, e inutilizar outras duas, a de Santo Amaro e a ponte do
Império, por mais de quatro anos. A “cooperação” do presidente na “pa- Ó. Não via problemas em adotar uma posição tão recuada. Precisava
cificação” da província foi tal que, antes de deixar Sorocaba, no dia 23 de organizar suas forças e, além disso, acreditava que assim ainda teria uma
junho, Luiz Alves lhe escreveu para “dar os parabéns por tal desfecho” e chance de “iludir” os rebeldes. Se, animados por essa posição defensiva,
afirmava que ele “não seria tão pronto e feliz (...) sem a incessant eles avançassem sobre a capital, o brigadeiro planejava marchar “na re-
e coope-
ração de v. exa. e as sábias providências por v. exa. tomada taguarda do inimigo e metê-lo entre os meus fogos e os da cidade”.!
s”. O grau de
entendimento entre os dois pode ser avaliado pela quantidade de cartas Outras decisões faziam parte das instruções fornecidas pelo governo,
pessoais trocadas durante a campanha. A carta citada, por exemplo, erà não tendo sido iniciativa do brigadeiro. Uma delas, de extrema importân-

357
356
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONU MENTO
EM CENA, O DELEGADO DE JOSÉ CLEMENTE PEREIRA

cia, previa o envio de um coronel do Exército para ass


umir O Comand
geral da comarca de Curitiba. A região integr
ava, nessa época, a Deo comarca da capital de São Paio A negociação em torno desse interesse
cia de São Paulo, e havia ali um expressivo silenciou OS rebeldes de Curitiba, que, ignorando o acordo selado com os
foco de resistência ao governo, paulistas de Sorocaba,
O coronel João José da Costa Pimentel chegou deixaram de os socorrer quando precisaram.!?
à cidade de Curitiba pa
assumir O posto no dia 28 de maio. Vindo de Paranacuá Ainda nessa reunião, em comum acordo com o presidente barão de
Monte Alegre, Caxias decidiu montar acampamento na ponte dos Pi-
a serra e notícias inteiramente aterrador
as de Rig Éa
va sob poder dos sediciosos, os quais esta- nheiros. Aí foi instalado seu quartel. Essa posição lhe permitia proteger
em grande número amigos de Rafa- a capital e, mantendo-se na defensiva, prosseguir na organização de seu
el Tobias”. A notícia só em parte era falsa.
Curitiba não tinha caído em
poder dos rebeldes. Mas “com efeito prep “plano de pacificação?. Os focos de rebelião estavam centrados em três
onderava aí o partido de To- regiões: na comarca de Curitiba, ao sul da província; na faixa entre Tau-
bias? e reinava o “maior desânimo no da legalidad
e”.!8 baté e Areias, ao norte; e na região em torno de Sorocaba, principal nú-
Foi exatamente na discussão sobre
Curitiba que o barão de Monte cleo de resistência rebelde. Da ponte dos Pinheiros, paralelamente às
Alegre mostrou como poderia colaborar
com Caxias. Logo nessa primei- negociações em Curitiba, o barão de Caxias começava a distribuir suas
ra reunião, ocorrida ainda no dia da ch
egada do brigadeiro à cidade, ele tropas, atuando, ao mesmo tempo, nessas três frentes. No dia 29 de
colocou sua experiência política e seu
conhecimento dos chefes locais a maio, uma semana depois de sua chegada a São Paulo, o major Pedro
serviço da repressão, fornecendo dados im
portantes para a elaboração Paulo de Morais Rego foi nomeado comandante de todas as vilas ao
do plano de “pacificação”.
norte da província e partiu para Areias. À grande preocupação do briga-
A situação de Curitiba, para Monte Alegre, não
era novidade. Conhe- deiro, na frente norte, era a proximidade da corte. Mais que combater os
cia bem a região e os interesses de seus habitante
s. Quando soube da rebeldes, a principal missão do major Morais Rego era manter as fron-
instrução do governo, ordenando a nomeação de um
comandante militar teiras da rebelião, impedindo seu avanço sobre o Rio de Janeiro.
para a comarca, sugeriu imediatamente outro nome para o
cargo. Indi- No dia 3 de junho, uma força de tropas legais avançava na direção de
cou o coronel da Guarda Nacional João da Silva Machado. Ofi Campinas. Ainda de madrugada, Caxias “fez sair com cautela e em segre-
cial nasci-
do na província e com “grande influência sobre o povo daq do (...) uns 200 homens escolhidos, com uma peça de artilharia”. Coman-
uela comarca”,
era O único capaz de “levantar com rapidez forças de cavalaria”. Con- dados pelo tenente-coronel José Vicente de Amorim Bezerra, esses homens
fiando na opinião do presidente, Caxias expediu ordens ao coronel Ma- deveriam, pelos planos do brigadeiro, seguir até Campinas e lá se reunir à
chado para seguir em três dias diretamente para Curitiba. A numerosa força de guardas nacionais estacionada na cidade para, juntos,
nomeação
era perfeita. Para evitar que a chegada do novo comandante rebentasse fazerem o primeiro ataque às vilas ao redor de Sorocaba, sobretudo as de
em levantes, o coronel Machado, antes mesmo de partir, enviou uma car- Itu, da Constituição e de Venda Grande. Tomadas pelos rebeldes, essas
ta para alguns de seus amigos na comarca, e bastou
isso para que eles Vilas serviam como uma espécie de cinturão de proteção para Sorocaba,
“instassem com o principal legalista desse lugar”. Quem con sendo a idéia do barão de Caxias empurrar suas forças, todas, para dentro
ta muito
surpreso essa história ao barão de Caxias é O próprio coronel Pimentel. daquela cidade, “de maneira a que se reduzam a um único ponto”. A pri-
À misteriosa questão, explorada com astúcia pelo coronel Ma meira parte do plano era executada com sucesso três dias depois, no dia 6.
chado nã
carta, era O interesse dos curitibanos em conseguir “a separa De Campinas, o tenente-coronel Amorim Bezerra escrevia a Caxias infor-
ção dessa

359
358
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
EM CENA, O DELEGADO DE JOSÉ CLEMENTE PEREIRA

mando que, apesar do “embaraço ao trânsito da artilharia”, que só


« Com que apoiavam à revolta. Diante o Organização dos rebeldes, o barão
algum esforço de marcha, e muito custo, passava pelos caminhos”
aperfeiçoava suas estratégias. Após a dissolução da Câmara, os liberais
havia entrado às dez horas da manhã daquele dia na cidade » Ele
. Su rPreendia. voltaram às sociedades secretas, aos clubes que tanto valor tiveram em
se com O “regozijo do povo”. Não imaginava que seriam
tão bem Tecep- lutas anteriores. A edição mais recente desse tipo de organização política
cionados. “Apresentaram-se”, conta O tenente-coronel, “
concurso autoridades, cidadãos de todas as classes par
em Numeroso tinha sido o Clube da Maioridade, muito bem-sucedido em seus obje-
a tivos. Para essa nova luta, fundou-se o Clube dos Patriarcas Invisíveis.
caminho, bem dizendo a pronta, vital e enérgi
ca providência dada 0 A sede funcionava na corte. Mas, com a generalização de suas lojas, ele
exa. para salvação da cidade”. No dia seguin
te, em novo ofício ao baião contava com inúmeros filiados em São Paulo e Minas.2
seu entusiasmo era ainda maior. Comunicava,
dessa vez, O cbrilhant Para localizar essas lojas, identificar seus sócios e desarticulá-los é
triunfo das armas imperiais” sobre Venda
Grande, situada a apenas u que o brigadeiro barão de Caxias criou uma polícia especializada, agin-
légua de Campinas. À meia-noite, voltava
a escrever. Noticiava a : do de forma secreta. No ofício citado, dirigido ao ministro José Clemen-
chegada de Ba iaçã Itu, que, assustados, começaram a abandonar te Pereira no dia 8 de junho, ele informava que por meio dessa polícia
suas casas e seus negócios depois do sucesso sobre
Venda Grande2! vinha “colhendo bons resultados”. Por ser uma atividade sigilosa, não
Outra estratégia incluída logo nessa etapa inicial foi possível encontrar, apesar das várias tentativas efetuadas, documen-
da campanha foi a
recorrência ao jogo de intrigas, tão utilizado no Mar tos sobre o modo como esses policiais agiam e os usos que Caxias fazia
anhão. A diferença
em relação ao que se passou nessa província é que, des desse trabalho. Por outro lado, uma história contada por um de seus
sa vez, para agili-
zar, O barão criava em São Paulo uma polícia secreta militar. biógrafos, Eugênio Vilhena de Morais, o que mais se dedicou à pesquisa
O esquema funcionou. Em ofício de 8 de junho, Caxias já comunica- empírica, permite imaginar como essas informações eram exploradas
va ao ministro José Clemente Pereira seu primeiro resultado no pelo barão. Ele conta que, depois da tomada de Sorocaba, cidade centro
campo
rebelde — a substituição do major Francisco Galvão França pelo coronel da resistência paulista, o barão de Caxias, indo para o norte da provín-
Bento José de Morais. Essa substituição havia sido planejada pelo brig cia, passou por Pindamonhangaba. Aí chegando, decidiu fazer uma pau-
a-
deiro. Como explica ao ministro, o major Galvão, comandante-em-chefe sa na marcha, escolhendo, para se hospedar, a casa do monsenhor Ignácio
dos rebeldes, era “oficial bravo e inteligente”, enquanto seu sucessor Marcondes de Oliveira Cabral, um prestigioso chefe liberal. Vendo seu
,
apesar da patente superior, era “muito inferior aquele”. Além desse tra- interesse, o monsenhor deixou-lhe a casa e passou para uma chácara
balho, as intrigas vinham promovendo também as tradicionais deser- vizinha. No momento de ir embora, o barão de Caxias mandou chamar
ções. Só nos últimos três dias — informava o barão ao ministro — O proprietário para agradecer-lhe a acolhida e, entregando-lhe a “chavi-
foram
200 os apresentados. Tudo era obra — concluía ele — da “desconfiança” nha de um móvel”, recomendou atenção aos papéis que lá se achavam.
que começava a grassar entre os rebeldes. O monsenhor, no mesmo instante, procurou saber do que se tratava,
A polícia secreta militar possuía uma estrutura formalmente organi- abriu o móvel e encontrou um maço de “cartas anônimas denuncian-
zada. Comandada pelo brigadeiro reformado Francisco de Paula Mace- do-o, sem mais, como conspirador”.3
do, um homem “muito bem relacionado nesta província Obviamente, Caxias não interrompeu sua marcha em Pindamonhan-
e de espírito
pesquisador”, o órgão tinha sido criado para desbaratar os vários clubes gaba nem escolheu a casa onde se hospedaria aleatoriamente. Ele sabia

361
360
pao

DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO


EM CENA, O DELEGADO DE JOSÉ CLEMENTE PEREIRA

exatamente quem era o monsenhor. Hospedar-se em sua casa deixando n


endereçava seu ofício, que, pelo que podia sentir, “a senha dos rebeldes
pequeno móvel as ditas cartas era um aviso. Mostrava ao clérigo quant
As info rmaç ões cert amen te havi am sido col nda é, por aqui, matar à todos os novos empossados”. Não tinha dúvidas de
estava bem info rmad o.
pela ação de sua polícia secreta, que, por meios não identificados, nba que eram movidos pela vingança.”
devia estimular a denúncia. Ou, talvez, fabricasse, ela mesma, a partir das Para piorar, OS rebeldes também recorriam a estratégias polêmicas.
O comandante das vilas do norte, major Morais Rego, conforme havia
informações que detinha, essas cartas. Afinal, eram anônimas.
comunicado ao barão de Caxias, aguardava apenas a chegada de novas
Tratava-se, de qualquer forma, de uma ameaça. Além do mais, a es-
tratégia submetia o monsenhor Marcondes Cabral a uma humilhação forças para iniciar a campanha na região. Na verdade, esperava um ba-
talhão do Rio de Janeiro. Mas via com estranheza os dias se passarem
pública. O prestigioso liberal era obrigado a acolher, em sua própria
sem que o batalhão chegasse. Não demorou, boatos começaram a correr.
casa, seu algoz, aquele que veio combater a rebelião da qual participara,
Falava-se em suborno. Dizia-se que a “demora do batalhão fora tratada
Essa situação era criada quando a revolta já estava praticamente
desba- de propósito”, que seus oficiais e soldados tinham sido “comprados”
ratada. Com a atitude, Caxias mostrava ainda a esses homens, fragiliza-
para “não pegarem em armas contra o partido da oposição”. As fileiras
dos pelas circunstâncias, quanto eles dependiam de sua generosidade
, rebeldes, e todos sabiam disso, eram integradas por “fazendeiros mais
Poderia, com as cartas, prender vários deles. Mas não o fazia. Com os
grados e de influência”. Na tentativa de contornar a crise, Manoel Alves,
menos implicados, que não seriam considerados chefes do movimento, 0 comandante de Guaratinguetá, procurava averiguar os boatos e chegou
barão preferia manter a dívida. “a triste conclusão” de que “não são destituídos de fundamento”. Já
O clima nas vilas do norte era bem mais delicado. O major Pedro havia cinco dias que o batalhão estava estacionado na fazenda de Lucia-
Paulo de Morais Rego, comandante da região, tendo partido da capital no de Almeida, importante fazendeiro de Bananal. O proprietário havia
no dia 29, só chegou a seu destino, Areias, no dia 8 de junho. Essa vila “insinuado aos oficiais que não chegassem cá tão depressa”.
está situada no extremo norte da província e, em sua marcha, o major André Alves de Oliveira Bello, primo de Caxias, em outro ofício, dá
atravessou vários municípios para avaliar o estado das forças legais e da mais detalhes sobre a crise. Explica que o articulador do plano era o coro-
rebelião. No ofício que enviou de Areias, informava a Caxias que “todos nel Joaquim Breves, influente na região. Esse coronel, aliado a outros pro-
esses municípios e vilas estão sublevados”, sendo necessário, para iniciar prietários, tinha acertado com Rafael Tobias que organizaria uma força
a “pacificação”, reunir forças. Na vila de Silveiras, encontrou os parti- militar com mais de 2.000 homens e que, plantando-a nas “raias de São
dários da legalidade consternados. Semanas antes, uma “horda rebelde” Paulo com o Rio de Janeiro”, interceptaria “a passagem do batalhão ou
tinha atacado a vila, e, como o delegado só contava com “cento e tantos de qualquer outra força que viesse para São Paulo”. O batalhão, porém,
homens”, não houve resistência. Os rebeldes “assassinaram cruelmente” na primeira parte de seu trajeto, usou de toda a rapidez e com isso acabou
o subdelegado e deixaram mais 23 mortos. O episódio era descrito por inviabilizando o plano do coronel Joaquim Breves. Quando chegou a Ba-
Manoel Alves, oficial das forças de Guaratinguetá, outra vila próxima à nanal, não havia força capaz de detê-lo. O coronel mudou, então, de idéia.
Silveiras, como um “desastre”, Considerava que os “amigos da ordem”; Empregou seu dinheiro de outro modo, “promovendo a deserção no ba-
moradores da região, estavam “sobre um vulcão ou mina, que já come- talhão”. A crise era tão grave que o major Morais Rego optou por reco-
çou a rebentar”. Participava ainda ao presidente Monte Alegre, a quem nhecê-la publicamente, por meio de uma ordem do dia surpreendente.

363
362
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO EM CENA, O DELEGADO DE JOSÉ CLEMENTE PEREIRA

Nela, o major não só confirmava as deserções “devidas à sedução de pai N I O FEJÓ


para combat É O G O A N T Ô
prome ssa de darem dinhei ro”, como, sr. DI
sanos com a infame
la, recorria a uma promessa equivalente. Primeiro, proibia “a comunicação Na frente de Sorocaba, na noite do dia 11 de junho, o brigadeiro barão
dos soldados com qualquer pessoa paisana”. Em seguida, recorreu àS mes. de Caxias tomava pessoalmente a ofensiva com uma força de 900 ho-
mas armas rebeldes. Prometeu “dar 100$000 ao indivíduo que, mens. Marchou toda essa noite por “caminhos impraticáveis”, avançou
sendo se.
duzido, prenda o sedutor, e o apresente ao comandante”. Para até a fazenda do Prado, a três léguas de distância da Ponte dos Pinheiros,
tornar q
proposta ainda mais sedutora, prometia aos soldados que teriam “baixa seu quartel original. Imaginava encontrar
aí O inimigo. Mas este, ao que
do serviço logo que chegar à corte o batalhão”. parece, deixou O local ao saber de seu intento, indo acampar na margem
do rio Barueri. Até esse momento, Caxias atacava de frente o inímigo,
RR SENSE
= MOVIME NTAÇÃO
ARES eia
DO
aa ma

BARÃO
a na
DE CAX IAS
EM SAO PAULO ENIN
TARTE

S Ca AA E ORE SENNA ETs Ra REAR


fazendo-se acompanhar pelo coronel José Leite Pacheco, que o flanque-
RR ava. Tendo acampado às margens do mesmo rio, só retomou a ofensiva
A
q a :d =.picar,
j

PEE

Frea Nene
a aaama gtaLAR TAE
+ naÉ Es E! e E e mm aCd nm no AA] O 1

NS Na eiaai
ai " F esti aa

Ee
mo = BS q q qm
REvêE A STtarA as QueaR ça sta PRE PORT
Ea iEsa Ro tn Ea GEM ts
GAS e ASS E q
ia

td

=
ni
N

na noite do dia 13. Dessa vez, o coronel Pacheco seguia sozinho, para
“Aroxó :
borá
“Sta. Luzia
EN
Es
“carregar ao romper do dia sobre o campo rebelde”. Novamente, eles
haviam se retirado. O brigadeiro “perdia a esperança de bater os referi-
Coel N
N A

A
dos rebeldes aquém da cidade de Sorocaba”, para onde tinham escapado
Pit

À
RP a

na
E
Ss
“Moriona
N
Àà projetando organizar sua defesa. A marcha exigia agora maior cuidado.
“Ouro Preto
Caxias não podia sitiar Sorocaba antes de o coronel João da Silva Ma-
5
ES Queluz (Cons, Lafoiete) ?
chado, o guarda nacional responsável pela comarca de Curitiba, chegar
à ponte do Itararé. Do contrário, os rebeldes, acuados, poderiam escapar
E Companho”, "5, José Del Rai (iradentes) q
E S. João Del Rei" pela ponte e avançar sobre a comarca. Reduzia-se, assim, O ritmo da
marcha. Isso permitiria ainda — cogitava Caxias — que a força de Campi-
a
aES “Borbocena e
5 MINAS ch, S
nas, comandada pelo tenente-coronel Amorim Bezerra, a força do major
ape pur DO qiOP fone

SÃO PAULO
7 Sa usto João Bloem, diretor da fábrica de pólvora de Ipanema e comandante de
Tatuí, e a força do coronel Leite Pacheco, aquartelada no Parnaíba, con-
Ra SE

vergissem, a marchas forçadas, para “fazer junção comigo no Alto da


a a
a
Di EgoRO da e Of iaam ta pe
ra RR

Boa Vista, a uma légua de Sorocaba, a fim de cercar o inimigo”.


COR

elas a ope ganEiRO M No dia 20 de junho, o brigadeiro barão de Caxias entrou vitorioso
's. Fada (Campinas) =iyeiry"Bonpril dE
fingue! |
Vendo Toubojg —fgadetaisçO jo de Joneiro q
em Sorocaba. Não houve confronto. Quando o comandante de sua van-
guarda, o capitão Luís dos Reis Montenegro, às dez horas da manha,
E

co
S E

a E E a Past

avançou sobre a cidade, os rebeldes já a tinham abandonado. Satisfeito,


fE o ist pão

Caxias escreveu ao ministro José Clemente Pereira, dizendo que a gran-


aa

de “desmoralização dos influentes”, facilmente notada nesses dias, se


rd Aeon
E E

365
364
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONU
MENTO
EM CENA, O DELEGADO DE JOSÉ CLEMENTE PEREIRA

devia indiscutivelmente “à derrota de Campinas e à intriga que


jei?. Deixando Sorocaba, fez “um passei Tal como no episódio do monsenhor Ignácio Marcondes Cabral, a
o militar pela vila de pn
liz, cidade de Itu e vila da Parnaíba”. Plantou em cada uma delas Ê Fe. estratégia preferida de Caxias era submeter à humilhação. Identificar
guarnições e comandantes de sua confiança. O barão era todo or di essa preferência ajuda a entender outro episódio, muito conhecido, o das
Anexadas a seu ofício, enviou ainda ao
ministro cartas de chea o ' cartas trocadas com um ilustre rebelde, o senador e padre Diogo Feijó.
des, para que ele pudesse conferir os inúmeros pedidos de perdão que +] Poucos dias antes de as tropas de Caxias invadirem Sorocaba, padre
eram dirigidos. Mas, fazia questão de afirmar, Feijó, escolhido vice-presidente da província pelos rebeldes, enviou uma
não respondia a nenhuy o
das cartas. Queria tê-los em mãos, sem anistia. carta ao brigadeiro. Escrevendo de dentro da cidade, enquanto Caxias to-
Por isso, ativava “ ds par-
tidas que andam em busca deles”.2? mava posições para sitiá-la, o padre tentava, no último momento, conven-
Sobre essa forma de agir do barã cer o general da justiça de sua causa. Não apostou nessa medida à toa. Eles
jas, é i
gumas observações.| ai tinham uma história de respeito e amizade. Daí o tom inicial da carta:
o Lip que a j con
pe cesca
são de Eizo
anistiaA
era uma prerrogativa do imperador. Caxias era
, nesse sentido, apenas
um funcionário real. No Maranhão, não
concordou com o modo pelo Ilmo. Exmo. Sr. barão de Caxias:
qual as anistias foram concedidas e, mesmo ass Quem diria que em qualquer tempo o sr. Luiz Alves de Lima seria
im, executou as ordens
tal como estavam prescritas no decreto imperial. obrigado a combater o padre Feijó? Tais são as coisas desse mundo...
Ao que tudo indica,
não era favorável a que os paulistas fossem anisti Em verdade o vilipêndio que tem o governo feito aos paulistas e às
ados. Mas isso não leis anticonstitucionais da nossa Assembléia me obrigaram [sic] a parecer
significa dizer que agisse de forma cruel, opinião que aca
bou se difundin- sedicioso. Eu estaria em campo com a minha espingarda se não estivesse
do, ao longo dos anos, em um certo senso comum histórico moribundo; mas faço o que posso.
. Jamais de-
fenderia, por exemplo, a pena de morte, nem mesmo para os che
fes do
movimento. Imagino que viveria um drama muito parecido com o de seu Guardando as formalidades, o padre dirigiu-se ao brigadeiro com as hon-
pai, em 1824, caso recebesse ordens para montar, na província, uma ras devidas à sua posição militar e ao título com que tinha sido agraciado
Comissão Militar. A execução dos líderes — Caxias parecia convencido pela Coroa. Mas, logo na primeira frase, já se aproxima, chamando-o
disso — não ajudaria a cicatrizar essas chagas, e enquanto elas permane- pelo nome e tratando, a si próprio, simplesmente como padre Feijó, liber-
cessem abertas não havia meio de fazer “nascer o espírito da ordem”. dade só concedida aos amigos. O brigadeiro barão de Caxias, quando era
Ele era favorável, sim, à firme subordinação das elites locais. Ter em apenas o jovem filho do regente, ganhou, justamente das mãos de Feijó,
mãos esses líderes sem que estivessem anistiados era, para ele, uma for- a primeira oportunidade de mostrar na corte seu valor como militar, co-
ma mais inteligente e eficiente de impor uma derrota. Esse era o conceito mandando, em 1832, a repressão à Abrilada. Naquela época, lutavam no
de repressão que orientava sua atuação. Em carta particular enviada à mesmo campo, juntamente com todos os Lima, pai e tios de Luiz Alves.
José Clemente Pereira antes de deixar São Paulo, explicitava com Foi certamente tocado por lembranças dessa época que o padre Feijó,
clareza
o modo como concebia o lugar de “ pacificador”. Dando por encerrada reticente, escreveu: “tais são as coisas desse mundo”. Esse era também o
sua missão em São Paulo, escreveu ao ministro que “os influentes da único meio de que dispunha naquele momento para sensibilizar o briga-
a a
oposição estão corrigidívemssimos e que se envergonharão de aba 28 deiro, em armas contra ele. Como diz na carta, por mais que parecesse,
sair à rua”.

367
366
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
EM CENA, O DELEGADO DE JOSÉ CLEMENTE PEREIRA

não era sedicioso. Defendia as leis, a Constituição e, por conse


BUinte, a uma mágoa do velho padre. Por isso, dentre as reminiscências desse pas-
ordem. O padre Feijó propunha a Caxias uma “acomodação
de toda essa história, exigindo, para isso, a retirada “da
hon [Osa”
cado, resgata exatamente aquela em que estava na posição de devedor.
Ê Província d
barão de Monte Alegre” e a suspensão das reformas. Solicitava Recorda os dias 3 e 17 de abril. Mas o faz para mostrar sua surpresa.
3
ad, Como poderia padre Feijó, aquele que havia pessoalmente lhe dado or-
que Caxias intercedesse para que o imperador não
colocasse na direçã armas
da província “sócio, amigo ou aliado de dens para combater a ferro e fogo os rebeldes de 1832, pegar em
Vasconcellos”. Como ai e
tática de sedução, avisou, em um “p.s.” ao final da carta, contra o governo? Não por acaso, se sentia à vontade para também repe-
que 0 port x
“lhe entregará alguns exemplares do periódico que eu redijo”. eir: “tais são as coisas desse mundo!?. A diferença é que, na versão do
a barão, a frase não é reticente, termina com uma exclamação. Sua posição
Em sua resposta, Caxias reproduz cada uma das
expressões do padre
Feijó, mantendo o formato da carta recebida é imperativa, e, nesse sentido, o confronto epistolar é simbolicamente mui-
e mostrando que ele, exa-
tamente por compartilhar essas lembranças, ta ro forte. De um lado, moribundo, estão ideais de liberdade associados à
mbém se via a de autonomia provincial. Do outro, jovem, forte e ameaçador, estão os ideais
ter que combater Feijó. O jogo com as palavras do
padre tem início, tal de subordinação dessas “pequenas pátrias”. O diálogo político não era
como aquele fizera em sua carta, no tratamento que lhe dispen
sa: | mais possível. O parlamento estava fechado, e ainda que por anos eles
Ilmo. Exmo. Sr. Diogo Antônio Feijó, tenham estado no mesmo campo, um desvio, que na carta de Feijó surge
Respondo a v. exa. pelas me como um fantasma, os havia separado definitivamente. Esse desvio tinha
|
da. Direi: quando sie eu dm no queEsteria dede usar nome: Bernardo Pereira de Vasconcellos e seus “sócios”.
er a força
para chamar à ordem o sr. Diogo Antônio Feijó? Tais são as coisas desse O barão de Caxias ainda enviaria por um portador, imitando a atitu-
mundo! As ordens que recebi de S.M. o Imperador são em tudo seme- de do padre, não jornais, porque nunca os redigiu, mas “uma porção de
lhantes às que me deu o ministro da Justiça em nome da Regência, nos exemplares da proclamação que dirijo aos verdadeiros e leais paulistas”.
dias 3 e 17 de abril de 1832, isto é, que levasse a ferro e fogo todos os A notícia também seguia em um “p. s.” ao final da carta.
grupos armados que encontrasse; e da mesma maneira que as cumpri, as
O padre Feijó escreveria mais uma vez ao brigadeiro, no dia 18 de
cumprirei agora. Não é com armas na mão, exmo. sr., que se fazem sú-
Plicas ao monarca, e nem com elas empunhadas admitirei a menor das junho. Após reconhecer a indisposição do barão para negociar, dizia
condições que v. exa. me propõe na referida carta (...) e dentro em pou- que: “nunca contei com semelhante resolução sua”. Dois dias mais tar-
co a cidade de Sorocaba será cercada e obrigada pelos meus canhões e de, Caxias entrava com seu exército em Sorocaba, prendendo o único
baionetas a render-se. chefe rebelde ali presente, o senador e padre Diogo Antônio Feijó.”
Nenhuma resposta recebo que não seja a pronta dispersão e subordi- Essas cartas, reproduzidas de forma parcial ou integral por todos os
nação dos rebeldes. biógrafos de Feijó e Caxias, não ficaram famosas por acaso. O brigadei-
ro quis que assim fosse. Ele enviou cópia das três cartas para o barão de
O tratamento é exatamente o mesmo. A princípio formal, para em seguida Monte Alegre, pedindo que as encaminhasse para publicação no Gover-
se reduzir a um simples “sr. Diogo Antônio Feijó”, usando o nome com- nista, órgão oficial da província. Isso não fazia muito seu feitio. À atitu-
pleto do padre, como este fizera em sua carta, chamando Caxias de “st de era reativa. Procurava, por meio das cartas, defender-se de acusações
Luiz Alves de Lima”. Caxias não era insensível a Feijó, ao que talvez fosse feitas pelo Paulista, jornal redigido por estudantes da região. “Como em
- " 3 à a à

369
368
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
EM CENA, O DELEGADO DE JOSÉ CLEMENTE PEREIRA

. E Du |
um número do Paulista”, explicava o brigadeiro, “se disse que eu
havia O oficial encarregado dessa missão foi o 1º tenente do corpo de en-
proposto arranjamentos, julgo conveniente serem publicadas” 30
As cartas eram enviadas de Sorocaba apenas três dias após a tomad genheiros Tristão Pio dos Santos. À escolha agradou tanto ao padre que,
quando O presidente barão de Monte Alegre decidiu remetê-lo para a
da cidade. Esse era um tipo de crítica que Caxias não admitia.
é
= o. a
d

na E e Prezava corte e ele reclamou, dizendo ser tal medida inconstitucional, Caxias o
sua política de subordinação. Estava ali para aplicar um Corretivo aos
lembrou que foi “por condescender com v. exa. que conservei nessa co-
rebeldes. Assim como não respondeu às cartas de outros
líderes, que lhe missão O 1º tenente”.
pediam perdão, também não aceitou o “arranjamento” Propos
to pelo Tristão Pio dos Santos acompanhou o padre Feijó durante toda a
padre. Queria ter os demais chefes, como tinha agora o padre, preso,
viagem até a corte, parando alguns dias em Sorocaba e em Santos.
Isso, no entanto, já bastava. Nos anos seguintes, a oposição liberal ten-
A cada pequeno detalhe, Caxias dava demonstrações de consideração
taria criar uma memória da revolta. Nela, o procedimento
do barão de pelo velho padre. Nessa mesma carta, fazia questão de dizer-lhe que in-
Caxias com os rebeldes, sobretudo com padre Feijó, era definido com
o cumbiu “ao oficial mais graduado do Exército que comando, o coronel
um “procedimento bárbaro”.3! Mas os ofícios do brigadeiro nos contam
José Leite Pacheco, de acompanhar v. exa. para proteger sua marcha”.
outra história, de consideração com o padre.
Ainda que Sorocaba estivesse “pacificada”, a região norte da província
No mesmo dia em que entrou em Sorocaba, a 20 de junho, Caxias estava mergulhada em sérios conflitos, e os liberais de Minas já haviam
recebeu uma denúncia de que o senador Diogo Feijó “se achava homi- se sublevado. Dispensar um coronel e um tenente de engenharia para a
ziado em uma casa da cidade”. O general não pensou duas vezes, dando comissão era sinal de atenção. À atitude era tão excepcional que Caxias
imediatamente ordem de busca. Ao encontrá-lo, como não sabia se ele se sentiu na obrigação de explicar ao ministro Clemente Pereira o moti-
“se achava pronunciado”, decidiu mantê-lo sob custódia, na mesma vo de manter o tenente Pio dos Santos, tendo um coronel na comissão.
casa. Colocou no local uma guarda e destinou um oficial para sua vigi- Talvez para o padre Feijó, cuja causa política o fazia “se despossuir de
lância. Vigiar, aqui, tem um sentido duplo. Caxias sem dúvida temia que, títulos seculares”, tudo isso valesse pouco. Mas para um aristocrata como
por alguma ação de seus aliados, o senador escapasse. Mas a chance de Caxias cada detalhe era sem dúvida sinônimo de respeito. Ao final, os dois
esse tipo de ação ocorrer era pequena, e o padre, sozinho, jamais conse- parecem ter se entendido. Em carta particular ao mesmo ministro, O barão
guiria fugir. Era hemiplégico. Havia sofrido um ataque de paralisia pou- escrevia que o “senador Feijó já se acha nessa capital guardado por um
co antes de assumir a Regência, e seu estado se agravou quando, após à oficial e que nem por isso está mal comigo, tanto que nesse momento aca-
renúncia, sofreu um derrame. Por isso, ele se definia, na carta a Caxias, ba de sair da minha casa, e de dizer-me que não quer ser mais paulista, e
como um moribundo. O barão colocava o oficial em guarda para O pro que seu espírito está abatido”. A missão de Caxias estava cumprida. Paula
teger, “a fim de que não sofresse algum insulto”. Nesse caso, a vigilância Souza, outro líder rebelde de prestígio, senador, também estava vencido.
era dirigida às tropas e aos legalistas mais exacerbados. As vinganças Nessa mesma carta, Caxias prossegue contando que ele “chora diariamen-
eram comuns, embora talvez em menor grau do que as ocorridas nº te, tudo o aterra, e me declarou estar arrependido dos violentos discursos
Maranhão, até porque, em São Paulo, a violência da revolta também que pronunciara na Assembléia Provincial”. Somente depois de colocar o
fora menor. Os ataques da tropa, porém, eram certos. Cabia aos oficiais ministro a par desses fatos é que Caxias afirmou, ainda nessa carta, esta-
controlá-los e zelar pela vida dos rebeldes de mais prestígio.*? rem os “influentes da oposição corrigidíssimos e que se envergonharão de

371
370
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENT
O
EM CENA, O DELEGADO DE JOSÉ CLEMENTE PEREIRA

sair à rua”. Submeter a elite assumi


a um lugar tão importante
em sua Po- a. até o último dia de sua presidência”, mas garantia que só iria re-
lítica militar que ele deu a província por pa
cificada mesmo esta d v. eX
toda a região norte sublevada. Para quem tornar à corte depois de “deixar limpo de rebeldes o território dessa
vê a sociedade de a ; E
quizada, submeter os dirigentes significa
controlar a província o ei província”. Ao final, como já vimos, o tom era de “eterno reconheci-
Ainda no dia 2 de julho, quando escr mento”, e Caxias, com a “maior estima”, afirmava que deixaria para
evia essa car ta par|t
ministro José Clemente Pereira, de qu icular ao exprimir melhor essa consideração na corte, onde, conforme diz, os dois
em se aproximava cada
Ca xias expedia ordens para que uma força É se encontrariam brevemente.
de 100 homens ma E Em
di reção de Jacareí e avisava ao presid lt av a “l im pa r” , of er ec en do ai nd a fo rt e re sistência,
ente Monte Alegr E DE A A única vila que fa
depois seu irmão, Francisco de Lima, sai era a dos Silveira. Querendo encerrar sua comissão na província, Caxias
, ria c om mais 200 0 expediu ordens para que O coronel Manoel Antônio da Silva e o major
de
deocupar Taubaté. a As tropas legais, » seguind
SEgUINdO ç p ] ano de açãosado bri
pi ga- Pedro Paulo de Morais Rego assumissem a marcha sobre a vila. Dias
SO gora po diam se voltar de forma decisiva para
O norte. Aind depois, o episódio foi reconhecido pelo próprio barão como o mais “san-
que Caxias tivesse anunciado a
pacificação da província, a tua
norte era crítica. Os rebeldes de a guinolento das armas imperiais nessa província”. Todavia, ele também
Taubaté tinham indice ntaddo p confessava que, apesar da violência, o ataque tinha produzido “o efeito
nene a comunicação das vilas a :
da região com a capital. A Ea mais brilhante”. Estando o barão de Caxias distante dos Silveira, em
barão era E
reunir todas essas forças, mais as qu
e se achavam em C Pindamonhangaba, essa avaliação deve ter sido realizada com base em
va, sob o comando do major Solidônio
» para atacar Taubaté.É Toda
pevisa informações passadas pelo coronel Silva. O documento não foi localiza-
antes que ocorresse essa reunião, as fo
rças rebeldes de Taubaté se dies do, mas a violência do ataque é indiscutível. Atingiu um tal nível que no
saram. Novamente, não houve combat
e, e Caxias, em tom irônico. afir- mês seguinte, em agosto, quando Caxias já estava em Minas e o coronel
vo RO barão de Monte Alegre que “aca
bei de me convencer que a, José Thomas Henriques tinha assumido o Comando de Armas de São
provincia não há rebeldes a combater co Paulo, o ministro da Guerra Clemente Pereira solicitou a este, por meio
m armas na mão”,3º
Quando Caxias entrou em Taubaté, suas forç de uma carta reservada, que averiguasse o ocorrido. O resultado tam-
as avançadas já tinham
tomado a cidade. Ficou apenas dois dias no local, bém foi apresentado reservadamente, em ofício de 17 de agosto.
“chamando e consti-
tuindo as autoridades civis, que se tinham refugiado na Após rechaçar o inimigo, as tropas “arrombaram portas, deram bus-
s vilas vizinhas”.
Em seguida, partiu para Pindamonhangaba. Foi dessa ci cas e se apoderaram do que acharam indiscriminadamente, quebrando e
dade que escre-
veu ao ministro comunicando a chegada do decreto impe destruindo os objetos que lhes não serviam e não podiam conduzir ou
rial que o exo-
nerava da comissão em São Paulo e o nomeava “com vender facilmente, como garrafas, medicamentos e outras miudezas”. Em
andante-em-chefe
das forças em operações na província de Mina seguida, “abandonaram-se à embriaguez”. Mesmo com tantos prejuízos,
s Gerais”. O barão não
voltaria mais à capital, De Pindamonhangaba, passou uma sér O coronel Henriques assegurou que “os legalistas não se queixam, (...)
ie de ins-
truções a seus Oficiais € seguiu para Guaratinguetá e daí para Parati, de conformaram-se e até desculpam as tropas”. Podiam entender a situação.
onde embarcaria para a corte. A fim de não ferir suscetibilidades, escre- Afinal, os soldados tinham entrado “na vila ocupada por rebeldes e debai-
veu, antes de iniciar sua jornada, uma longa xo de fogo”. Também reconheciam a adesão do povo ao saque. Quem se
carta ao barão de Monte
Alegre. Desculpava-se “da falta em que incorr achava no mato, escondido, com medo do confronto, “recolheu-se à vila
i deixando de acompanhar

373
372
a Eli Õ. ga
qo 3h

DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO EM CENA, O DELEGADO DE JOSÉ CLEMENTE PEREIRA

depois da entrada das forças legais e avidamente se entregou ao s mais que OS mineiros) é que invadirá aquela província”. Nessa mesma
dque”3
Daí proveio — na opinião do coronel — a onda de violência. Afirmou aj d
carta, do dia 27, o ministro ainda felicitava Caxias pela rápida pacifica-
que “não é possível avaliar ao certo” o número
de mortos. Mas a ção de São Paulo, Et “Quem poderá com o barão de Caxias,
seguro de que se exagerava “em tal mortandade”.
Havia entre os ofici k pacificador de duas províncias?” O tom exultante da resposta mostra que
subalternos — conta Henriques — o terrível hábito de aumentar
q TS Caxias começava a acreditar nesses elogios. Na carta do dia 2, transitava
de vítimas para “exaltar seus feitos”, “narrar vantagens”
e “iludir os as entre confiante e imperativo: “Mesmo pelo estado político de Minas é
fes”. Dependiam disso para “fazer fama” e, assim, obter uma pena que eu julgo conveniente o meu regresso para essa corte, porque dali,
O caso foi dado por encerrado, São Paulo estava
pacificada. Q bri subindo a serra, irei bater a rebelião, caso S.M. assim julgue convenien-
gadeiro barão de Caxias chegou à corte no dia 23 de
julho. No dia 25 te” Por um lapso, justo ele, o barão de Caxias, tão atento às fórmulas
ele já partia para Minas. Em função dos serviços pre
stados em São sociais, parecia esquecer-se de sua posição e colocava seu julgamento na
Paulo, acumulou uma nova distinção, a de ajudante-de-campo do
im- frente do julgamento do imperador. Sabia, melhor do que ninguém, que,
perador, e recebia mais uma promoção — tornava-se marech após Sorocaba, “meus serviços como militar são aqui dispensáveis”.
al-de-cam-
po do Exército imperial.?” Na verdade, Caxias já começava a tomar várias providências para
assumir o comando das forças que agiriam sobre Minas. Na carta do dia
2, por exemplo, indicou quem deveria substituí-lo e ainda aproveitou
MINAS O CHAMA
para cobrar a promoção de oficiais cujos nomes tinha remetido ao go-
verno havia quase um mês, no dia 8 de junho. Para presidente e coman-
A nomeação para o comando das forças que operariam em Minas Gerais dante de Armas, indicou seu tio, o brigadeiro Wenceslau de Oliveira
não foi novidade para o barão de Caxias. Logo depois da tomada de Bello. Caxias temia que, uma vez concluída a pacificação da província, o
Sorocaba, ele seguiu para a capital e, de lá, no dia 2 de julho, escreveu barão de Monte Alegre pedisse exoneração do cargo e a Coroa pensasse
ao ministro da Guerra, José Clemente Pereira, para oferecer seus servi- em seu nome para o comando militar e para a presidência de São Paulo.
ços e mostrar o interesse que tinha em tal comissão. Deixando a forma- Por isso, ele se adiantava e sugeria o nome do tio. Mas afiançava “que
lidade de lado, abriu a carta dizendo que “ninguém deseja mais abraçar não são as relações de família que me ligam àquele general”. O general
a v. exa. no Rio de Janeiro do que eu” e, mantendo o tom, prosseguiu Bello, na sua opinião, tinha uma carreira brilhante e “já havia dado pro-
reconhecendo-se “sobejamente pago dos insignificantes serviços que vas de seu merecimento” ao exercer, pouco tempo antes, a presidência
prestei (...) com a certeza que v. exa. me dá de que o imperador e o mi- da província de Sergipe. Além do nais, prosseguia o barão, “quando se
nistério estão contentes de mim”. trata de coisa pública faço abstração de tais relações”.*º
Esse transbordamento, raro em sua correspondência particular, serv ia Abstraindo ou não essas relações — é difícil avaliar —, na lista remeti-
para introduzir o tema Minas Gerais. Em carta anterior, enviada no dia da ao governo constavam os nomes de seu irmão caçula, Carlos Miguel,
27 de junho, o ministro Clemente Pereira tinha lhe escrito sobre a crise de de volta ao Brasil depois do crime que praticou em 1833 contra o reda-
Minas e o risco de os rebeldes invadirem São Paulo. A resposta do barão tor do jornal Brasil Aflicto, e o de um primo, Luís José dos Reis Monte-
foi imediata: o Exército imperial “com paulistas fiéis (que sempre valerão negro, filho do delator Joaquim Silvério dos Reis. O que gostaria de

375
374
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
EM CENA, O DELEGADO DE JOSÉ CLEMENTE PEREIRA

destacar, porém, é como o barão de Caxias, nessa segunda campanh


- . he à, ] A revolta em Minas tinha eclodido no dia 11 de junho, com a publica-
contava com outras relações, cultivadas nos últimos anos Ainda
a , ne a ção do edital da Câmara de Barbacena. Nele, tal como os paulistas, os
lista aparecem os nomes de Agostinho Maria Piquet, “súdito” de C o
e ie:
desde a época da Guarda de Municipais Permanentes e que ocup -
dXI rebeldes mineiros diziam sustentar a “Constituição do Império, o trono e
E av defender estes sagrados objetos dos ataques que lhe eram feitos diretamen-
nessas expedições o posto de ajudante-de-ordens, e o de Ricardo 5!
Sabino, capitão que viera com ele de São Luís. Na carta do dia 2 envi te pela lei das reformas dos códigos”. Em circular aos municípios, prega-
da ao ns, ele ainda intercedia a favor de José Thomas
a = z m a ? Vla- vam a desobediência às autoridades criadas por essa “Jei de reforma dos
Henri ques, códigos”, além de substituir funcionários públicos e criar o corpo de guar-
que, no início da campanha no Maranhão, tinha resistido à
sua p Olítica
de neutralidade. Agora, por conta de seus elogios, esse coronel er das municipais permanentes. Quase sem oposição, o movimento rapida-
a O es- mente, em menos de quinze dias, avançou no sul da província, atingindo
colhido para o Comando de Armas de São Paulo.“
são José, Queluz, Bonfim, Pomba, São João del-Rei, Lavras, Aiuruoca,
No dia 12 de julho, apenas dez dias depois de sua carta, O ministro
Baependi e Oliveira.“
José Clemente Pereira dava-lhe a notícia de sua nomeação. Do
palácio Caxias também não aguardou instruções do Rio de Janeiro para co-
do governo, no Rio de Janeiro, escrevia:
meçar a movimentar a tropa. No dia 7 de julho, antes mesmo da confir-
mação de sua nomeação, ordenou a uma força de 500 homens que
Li com prazer sua última carta de 2 do corrente e não podia deixar de
felicitar-me com v. exa. pelo progresso alcançado que em tão poucos dias marchasse sobre Guaratinguetá e dali para Itajubá, pequena vila na divi-
teve a comissão de v. exa. Novos serviços exigem de v. exa. o imperador sa sul de Minas. Depois, passou ordens ao tenente-coronel Amorim Be-
ea pátria, a província de Minas o chama (...) será a terceira província zerra para seguir na direção de Ouro Fino, “com a 1º Brigada deste
restaurada, e adiante está a — que o espera: tantas fadigas e tantos rele- Exército e duas bocas-de-fogo”. No dia 16, com o decreto imperial em
vantes serviços não serão esquecidos, o público aprecia, e o cofre das mãos colocou em marcha para Pouso Alto, comandando o 1º Batalhão
graças do imperador não será mesquinho em os considerar. Provisório de Linha, outro de seus irmãos, o major Francisco de Lima e
Silva. Só então rumou para a corte.*
O imperador e a pátria exigiam novos serviços do barão de Caxias, é Exatamente por ter adiantado a marcha de parte de sua tropa é que
Minas o chamava. À resposta de Clemente Pereira permite entender me- Caxias ficou só dois dias no Rio de Janeiro, tempo para receber instruções
lhor a informalidade da carta de Caxias. Ele e o ministro estavam muito do governo e rever a família. A distância da mulher e das filhas lhe custava
próximos. Ão contrário de se incomodar com seu tom imperativo, José muito. Nas cartas a Anna Luísa, sua “querida Anica”, era extremamente
Clemente Pereira apoiava esse jeito arrojado do barão. Afinal, leu com carinhoso, reproduzindo um modelo de relação familiar que parece ter
prazer a carta e deve ter trabalhado nesses dias para obter sua nomea- sido a dos Lima. Poucas cartas estão disponíveis em arquivos, mas não é
ção. Um trabalho, sem dúvida, bastante fácil. Além do excelente desem- difícil perceber que elas existiram em bom número. Do Maranhão, no mês
penho do brigadeiro nas campanhas do Maranhão e de São Paulo, sua de agosto, quando enfrentava a pior fase da campanha, escreveu um bilhe-
política militar estava em perfeita sintonia com os ideais conservadores te para Ana Luiza às onze horas da noite, alojado em uma barraca de pa-
da monarquia, e Caxias — não é demais lembrar — tinha suas bases poli lha. Não tinha tempo para mais que algumas linhas, mas não podia perder
ticas na corte, formada por vários parentes e amigos. a saída da barca. Tudo para lhe fazer uma pequena declaração: “Tal é o

377
376
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
EM CENA, O DELEGADO DE JOSÉ CLEMENTE PEREIRA

cuidado que me dás e o amor que te tenho que, cheio de trabalhos, me não
esqueço de ti.” Invariavelmente, despedia-se com um: “Sou só teu. Luiz»
Desde fins de junho, a política militar de Caxias vinha sendo favore-
cida por um governo cada vez mais decidido a submeter as oposições
Do tempo em que esteve em São Paulo, restou apenas um bilhete
datado de 5 de julho. Nele, Caxias avisava à baronesa que no dia ani locais. Além de autonomia e do completo apoio do ministro da Guerra,
o marechal contava, desde o dia 23 de junho, com uma medida que seria
rior, por intermédio do ministro da Guerra, tinha lhe remetido uma carta
e “200$000 para fazeres um vestido bem bonito”, anunciando ainda sua
bastante eficaz no combate aos rebeldes de Minas. Nessa data, o impe-
rador assinou um aviso ameaçador. Recorrendo ao artigo 27 do Código
intenção com o presente: queria vê-la com o vestido “no primeiro baile dinhei-
Criminal, avisava que: “Havendo-se os rebeldes apoderado-se de
que houver depois da minha chegada”. Certamente, tinha dito algo se-
ros públicos, pertencentes às rendas gerais e provinciais, assim como de
melhante na carta que seguia pelo ministro, porque, linhas depois, ele seus
edifícios, bens e gêneros próprios da mesma Fazenda, obstando com
justificava mais aquele pequeno bilhete: queria aproveitar a “ida do José
atos criminosos a regular e legal arrecadação das ditas rendas (...), seus
Leite”. Não podia perder a chance de “dizer que estou muito bom e da-
bens estavam sujeitos à indenização da Fazenda Nacional.” A medida
nado para me ir embora”. Para que isso acontecesse, avisava O barão, só
caía como uma bomba. Até porque, no mesmo aviso, o governo intima-
faltava “dar um passeio até as vilas do norte, enquanto não chega quem
va ainda “a todos e quaisquer indivíduos, ou companhias nacionais ou
me renda”. Tinha por certa a nomeação.
estrangeiras, dessa ou de qualquer outra província, que não façam com
Ana Luiza provavelmente teve de esperar para estrear seu vestido. Dia os rebeldes trato, ou contrato algum sobre seus bens móveis, semoventes
25, o marechal barão de Caxias já partia para Minas Gerais. Tomava a ou de raiz, porque todos se hão de haver por nulos”.º
direção de São João del-Rei, quando lhe chegou a notícia de que uma for- O aviso não só começou a isolar os rebeldes, como também difundiu
ça rebelde tinha tomado parte da cidade e que, encorajados por este triun- o terror em suas fileiras. Vários de seus líderes, proprietários, só perma-
fo e o de Queluz, pouco mais ao norte, os rebeldes pretendiam unir forças neciam em armas porque imaginavam que o barão de Caxias, antes de
para, por meio de uma grande investida, tomar a capital. Imediatamente, os atacar, iria propor anistia. O imperador tinha lançado mão desse re-
Caxias mudou seus planos. Seguiu para Barbacena, reuniu forças com as curso no Maranhão e havia proposto o mesmo, por duas vezes, para OS
que ali se achavam sob o comando do coronel José Leite Pacheco e mar- apos . Por que não anis tiar ia min eir os e paul ista s? À notí cia da que da
farr
chou para Ouro Preto, entrando na cidade no dia 6 de agosto. Havia divi- de Sorocaba demorou a chegar aos rebeldes de Minas. Mesmo quando a
dido suas forças em cinco colunas. À primeira era comandada pelo coronel Coroa ordenou a distribuição de proclamações, anunciando a derrota
Antônio Joaquim da Silva Freitas; a segunda, pelo coronel José Leite Pa- paulista, lideranças mineiras, para evitar a total desmobilização das for-
checo; a terceira, por outro de seus irmãos, o coronel José Joaquim de ças rebeldes, desmentiam a informação, dando por falso o documento.
Lima e Silva; a quarta, pelo coronel Manoel Antônio da Silva, o oficial que Lembravam ainda que, se a guerra não marchasse bem em Sorocaba, Os
tinha comandado as tropas que massacraram a vila dos Silveira; e a quinta curitibanos lhes viriam em socorro. Tudo isso deixou o ambiente confu-
era comandada pelo tenente-coronel Amorim Bezerra. Considerando 0 so e tenso. Uma primeira proclamação, em circulação desde 19 de junho,
avanço rebelde, Caxias crou ainda uma brigada de reserva. À força ficou acenava com perdão para aqueles que abandonassem “os homens que
sob o comando do coronel José Feliciano de Morais Cid, que assumiu vos têm conduzido ao crime”. Recorrendo mais uma vez à imagem pa-
terna, o imperador aconselhava aos mineiros que desprezassem essas
ainda o comando militar de Ouro Preto e da cidade de Mariana.”

379
378
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO EM CENA, O DELEGADO DE JOSÉ CLEMENTE PEREIRA

“pérfidas sugestões”. Isso lhe pouparia, afirma ainda no documen ão de Cax ias . Que luz est ava sob dom íni o lega l, os líderes
to, e cia com O bar
dura necessidade de punir-vos”. Parecia, assim, ainda haver tem de vilas próximas depunham armas e as forças destinadas por Caxias
PO para
o arrependimento. Uma avaliação equivocada.”
para Ouro Fino, Itajubá e Pouso Alto provavelmente já estavam estacio-
As primeiras reações ocorreram quando o barão de Caxias ain d o con cor ria par a a sus pen são do ata que e muitos
nadas nes sas vila s. Tud
estava em São Paulo. Os próprios governistas de várias vilas, antes rec m, ent re eles o pre sid ent e int eri no Jos é Fel ici ano da
rebeldes titube ara
lhidos, amedrontados pela difusão do movimento rebelde, comedia rec uan do, dizi a não se res pon sab ili zar pel o que pudesse
Cunha, que ,
reagir. Em julho, na vila de Pouso Alegre, a legalidade, até o, nes se mes mo mom ent o, sur gia no gru po uma
então acuad acontecer. Por outro lad
com receio de uma insurreição da oposição local, recuperou sua e ex- dep uta do libe ral Teó fil o Oto ni. Ele assumiu a res-
nova lid era nça — O
seu prestígio. Vencida a crise interna, logo pôs uma coluna em marcha e pel o ata que , dep osi tan do tod a con fia nça nas col unas de
ponsabilidad
para a campanha. Daí, reforçada por tropas da Guarda Nacional
dessa Antônio Galvão e Francisco Alvarenga.
vila e por foragidos de Baependi e Aiuruoca, atacaram, no dia 20) de ju. A vit óri a reb eld e de Que luz abr ia aos ins urg ent es as por tas da cap ita l.
lho, Baependi, importante núcleo de resistência rebelde no sul era pre cis o dec idi r, € ráp ido . Cor ria m not íci as de que o bar ão de
da provin- Agora,
-Rei,
cia. Ainda que tenham sido rechaçados, a ação provava que o
estado de Caxias chegava à província. Com a tomada de parte de São João del
espírito da legalidade era outro. Essa disposição foi reforçada pelas pri- — os líde res reb eld es sab iam dis so — seg uir ia par a Our o Pre to.
o barão
capital
meiras defecções nas fileiras rebeldes. No dia 26 de julho, menos de uma A decisão mais acertada, portanto, era acelerar a marcha e tomar a
semana após o ataque, Gabriel Junqueira, aliado a outros “chefes distin- antes do barão. Após a vitória de Queluz, um ataque bem-sucedido a Ouro
tos”, depôs armas, dispersando a coluna de Baependi. Conforme conta Preto poderia mudar os rumos da rebelião, recuperando, para as fileiras
o cônego Marinho, Gabriel Junqueira não era inexperiente e guardava rebeldes, antigos aliados. Os líderes do movimento, no entanto, não che-
péssimas lembranças da última revolta em que tomara parte. Em 1833, gavam a um consenso. A derrota de São Paulo havia sido confirmada e,
no crítico período regencial, ao tomar parte na revolta da Fumaça, que com essa notícia, o presidente José Feliciano voltava a vacilar. Temia que a
chegou a fazer prisioneiro o vice-presidente Bernardo Pereira de Vascon- reação comprometesse “sem remédio e sem utilidade os insurgentes”. Es-
cellos, o prestigioso proprietário viu parte de sua família ser “massacra- tava particularmente interessado nas anistias e daí vinham suas “hesita-
da pela repressão”. Depois dos boatos sobre Sorocaba e do aviso de 23 ções, seus vagares e incertezas”. “Nenhuma resolução enérgica” teria, na
de junho, a reação e o ataque da legalidade se tornaram insuportáveis avaliação do cônego Marinho, “o assenso dele”. Por isso também, Os re-
para Junqueira. Dessa vez, optou pela segurança de seus bens e familia- beldes permaneceram três dias em Queluz sem decidir pelo assalto a Ouro
res. Não só dispersou a coluna, como protestou “obediência à lei de 3 de Preto. Só no dia 29 o exército insurgente pôs-se em marcha. Mas não se-
dezembro de 1841, ao ministério e à autoridade do presidente legítimo”. a par a a cap ita l: tom ou a dir eçã o de Our o Bra nco e, de lá, pre ten dia
gui
ais.*
A rebelião estava “completamente perdida ao Sul da província”.* marchar para Sabará, também dominada pelas forças leg
Queluz, atual cidade mineira de Conselheiro Lafaiete, era a única A decisão dividiu os insurgentes. “Pessoas distintas”, conta O cônego,
vila que resistia. Aí se deu a maior vitória dos rebeldes, ocorrida no mes “julgavam-se burladas e clamando altamente contra o desleixo e vacila-
ção dos chefes fizeram preparativos para se retirarem”. Novamente 3
E dia em que Junqueira dispersava a coluna de Baependi, no dia 26 coluna parava, agora na Bocaina. O descontentamento era geral. À ver-
Foi essa batalha que mudou o rumo das tropas que chegavam à provif”

381
380
Wi ques

DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO


EM CENA, O DELEGADO DE JOSÉ CLEMENTE PEREIRA

dade é que uma ou outra decisão provocaria defecções. Discutia-se


ciava-se e não havia solução que agrada » Nego. trabalho do marechal. Tão afeito comoicra ao emprego de espias, o ba-
| j sse a todos. Algun s pro
se retiraram, entre eles o dr. Camilo, Narciso Tava
Prietá r;
«ão de Caxias, logo que soube das Co que dividiam os rebeldes,
res Coimbra es eu ir.
mão, Jacó Dornelas. Homens que, na opinião de José Marinh
a aproveitou para explorá-las. O PrÓpEIO cônego Marinho, um líder de
o, tinh 1842, reconhecia, dois anos depois, em seu relato, que um “erro capital”
prestado muitos e valiosos serviços à causa
da revolução. Na tarde do E árias”.
6, Os líderes do movimento formalizaram a dos insurgentes foi “conservar grandes reuniões de forças estacion
discussão em um cons A concentração dessas forças facilitou a ação dos espias da legalidade,
O presidente interino tomou a palavra e, com
um discurso forte Ea que “se introduziam no meio delas para espalharem a intriga e o desâni-
mou o cumprimento do programa de 10 de jun
ho. Para ele, desde O né mo, tendo o cuidado de fazer-lhes ver a pacificação de São Paulo e exa-
cio, havia-se acertado que Minas Gerais só
entraria na revolta pa
manifestar seu apoio a São Paulo. Logo, “sufocada a gerando as forças legais e mostrando o triste estado dos insurgentes: uns
revolu ção paulisqta, deportados, outros presos € todos privados de seus bens”.
a mineira não podia, nem devia, progredir”.
Era a primeira vez que as estratégias do barão de Caxias eram denun-
O discur>s o arrasto a maiori
joria do conselho, à7 exceçã-]o de Manuel
ciadas. O dr. Camilo, um dos “distintos chefes” que abandonaram a revo-
Tommás ás e€ Teófilo Otoni. Decidiu- se pela deposiçã
o de armas e o presiden- lução, era, segundo relato do cônego, primo do barão de Caxias. Este,
te interino sugeriu o envio de um emissário
ao barão de Caxias para antes de chegar à capital, cuidou para que fossem distribuídas cartas anô-
pedir anistia. Teófilo Otoni tomou a palavra. Ins
istiu que só consegui- nimas no acampamento rebelde. Um “expresso” chegou ao local, distri-
riam ser ouvidos pelo marechal caso se mostrassem
fortes, fazendo com buindo as ditas cartas, supostamente vindas de Barbacena, no dia 5 de
que a negociação também lhe interessasse. O ataque
à capital estava agosto. Nelas, era assegurado aos chefes que não haveria ataque sem que O
definitivamente descartado e chegavam, enfim, a um acerto: barão de Caxias conferenciasse com o presidente interino. Por isso, José
seguiriam
para O norte, “com o pretexto de desassombrar-se aquele lado Feliciano insistia junto ao conselho para que fossem enviados emissários ao
da pro-
Víncia, dispersando-se as forças da legalidade que o ocupavam e nele barão. Desejando ser anistiado, acreditava nas cartas. O dr. Camilo havia
se
fortificarem, mas com o fim determinado de aproveitar o primeiro mo- sido citado nominalmente nelas. “O barão”, a narrativa continua sendo do
mento, que decentemente se oferecesse, para se realizar o desiderat cônego, “pedia a seu primo, dr. Camilo, a quem estimava como parente,
o do
presidente interino, que era evidentemente dar fim voltasse sem susto para sua casa, certo de que nada lhe aconteceria”*
à guerra civil, depon-
do armas, mediante a concessão, ou mesmo promessa de ani
stia”. Mar- O dr. Camilo não havia se retirado da revolução por conta dessas car-
charam assim para Sabará, com uma unidade mal alinhavada. O destino tas. Depois delas, foi procurado outras vezes por oficiais legalistas. À es-
da coluna já estava, desde então, comprometido tratégia irritava profundamente José Antônio Marinho, que, em tom
.'º
Enquanto a vitoriosa coluna de Queluz consumia seus dias jocoso, a batizou de “disposições policiais”. Apesar da ironia, O termo não
com dis-
cussões, no norte da província outras forças
menores enfrentavam, sem era impróprio. Afinal, em São Paulo, quando instituiu uma Polícia Secreta
auxílio algum, confrontos e perseguições das tropas legalistas. O barão Militar para realizar serviços de informação, Caxias era O primeiro a reco-
de Caxias, como fizera em São
Paulo, manteve seu quartel-general em nhecer a tática como policial. Ela se tornava uma marca registrada do
a
Ouro Preto. Dali, coordenava a movimentação do exéqrcito. Ma5 s ele não barão. Por ela, deviam-se evitar, inicialmente, as lutas. Depois, prometia-
g
chegou a e mpreender grandes ataques. Os chefes mineiros facilitaram 9 se anistia. Aí, então, era só esperar. Não demorava muito, os menos com-

383
382
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
EM CENA, O DELEGADO DE JOSÉ CLEMENTE PEREIRA

prometidos começavam a aparecer nos acampamentos imperiais, e E nhas após chamar Caxias de “delegado”, que Teófilo Otoni, por exem-
isso, gradativamente, as fileiras rebeldes iam se esvaziando iJ
e os Ro l o, SÓ soube da comissão na cadeia de Ouro Preto.
p
movimento ficando isolados. À mesma estratégia era aplicada ao gru
Explicitar essas disputas não significa defender o barão de Caxias e
mais estreito das lideranças. Aliás, foi exatamente usando essa
tátic d Quea os conservadores. Não é o papel de advogado que pretendo exercer. Ca-
Caxias conseguiu cindir de vez a brava coluna de Queluz. Parte d
É Seus xias, sem dúvida, guardava com orgulho suas dragonas. Imagino que
líderes, interessados na anistia e, por isso, não querendo
Mr as | PrOSseguir na «ambém devia ter suas metas pessoais e, nessas ocasiões, talvez pensasse,
resistência, já
tinha suspendido a tomada de Ouro Preto. Mas não ficou
séÓ sim, em acumulá-las. Como para qualquer outro militar, essas dragonas
nisso. Ansiando pela prometida anistia, ao entrar em Sabará, o mes
m eram para ele símbolos de uma carreira bem-sucedida, o que é diferente
grupo decidiu agir clandestinamente. Enviou o corone
l Francisco Vicente de afirmar que era capaz de provocar uma batalha só para aumentar sua
Souto-Maior e o dr. Manuel de Melo Franco como emi
ssários ao b arão de coleção de medalhas. O episódio da comissão pode ter outra explicação.
Caxias, sem comunicar a decisão ao conselho.
Quando a ignorou, e aos ofícios do dr. Melo Franco, Caxias mantinha
A comissão foi um completo fiasco. Nem o doutor
nem o coronel extrema coerência com sua política militar. Seu silêncio — que, de início,
conseguiram estar pessoalmente com o barão de Cax
ias e seus ofícios talvez não tenha passado de um mero desencontro — submeteu o doutor
foram ignorados por ele. O cônego Marinho, mais que
irritado, humi- e o coronel a uma posição constrangedora. Para suplicar o perdão impe-
lhado, pinta um retrato abominável do barão. A história, rial, eles foram procurar o barão em Ouro Preto. Sendo informados de
para ele, é uma
prova irrefutável da “sede de sangue brasileiro” daquele que se que ele havia deixado a capital, seguiram para Caeté. Não conseguindo
fez “dig-
no delegado de José Clemente Pereira”. Carregando nas cores, o cônego achá-lo, decidiram escrever os ofícios. No total, foram dois. O primeiro
atribui a Caxias uma personalidade egoísta, insensível e mesquinha, faz é comedido. Em nome dos “funestíssimos resultados” que a rebelião
dele um homem para quem “ter dragonas dos mais pesados cachos valia poderia ter, se limitaram a “suplicar” uma “anistia geral”. Já no segun-
muito bem a perda de milhares de famílias”. Obviamente, o retrato não do, deram conta para o barão de Caxias de absolutamente todos os de-
é desinteressado. Além de uma grande mágoa, experimentada ao ver sentendimentos ocorridos na Bocaina. Claramente tentavam escapar das
seus ideais políticos serem desqualificados como desorganizadores € represálias do governo. É verdade que não chegaram a citar o nome dos
anárquicos, há ainda uma intensa disputa memorialista. Quanto mais chefes que apoiaram o ataque a Ouro Preto, mas se apresentam — a eles
cruel, egoísta e autoritário é o barão, mais valentes, altruístas e liberais e ao presidente José Feliciano — como aqueles que fizeram todo o esforço
são os rebeldes. Não por coincidência, o relato é publicado em 1844. para dispersar a coluna de Queluz e que, enfrentando obstáculos, ainda
Nesse ano, os liberais retornaram ao governo. Atacar Caxias era atacar assim conseguiram sustentar a contramarcha para Sabará.
O ministério de março e os conservadores. O testemunho do côn
ego Ma-
rinho pode ser visto como uma forma sim bólica de manter-se em armas.
Ele esqueceu, ao pintar esse retrato, o que pôde ver de forma nítida MORTE AO BARÃO DE CAXIAS
em
outros momentos de seu relato: o egoísmo de muitos dos
líderes rebeldes
que, para salvarem a si próprios e suas propriedades, traíra A política do barão voltava a apresentar resultados. Só que isso não
m alguns de
seus companheiros, agindo clandestinamente. Ele mesmo bastava. Era preciso impor uma derrota. Daí a importância de haver
conta, poucas

385
384
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO EM CENA, O DELEGADO DE JOSE CLEMENTE PEREIRA

uma batalha. Usava sua polícia para aterrorizar e desmobilizar os rebel. A partir daí, a narrativa do cônego Marinho se torna melancólica,
des. Com isso, além de evitar, à sua maneira, uma “efusão de Sangue” mas, como O número de ofícios do barão de Caxias é reduzidíssimo para
entre irmãos, só entrava em combate quando já tinha praticamente asse. a revolta de Minas, sigo dando segiiência a ela.
gurada a vitória. Aceitar a rendição desses “chefes influentes” era não A cada dia passado, a angústia do presidente interino crescia. Sem
concluir a guerra, deixando-lhes uma brecha para o futuro: a chance de notícias do dr. Franco é tendo que manter segredo sobre a comissão, afas-
contarem uma história de resistência, guardando uma memória digna rava-se totalmente dos preparativos de guerra. Com isso, os boatos logo
desses fatos. É mais uma vez o cônego Marinho quem dá a dica para essa voltaram a correr. Joaquim Martins e outros amigos do presidente eram
interpretação. No auge de sua indignação, para mostrar O caráter abso- dados como “vendidos à legalidade”. Teófilo Otoni se esforçava para evi-
lutista do ministério, ele conta que José Clemente Pereira “sujeitou” q tar OS comentários, mas ao mesmo tempo tomava providências para, no
coronel Souto-Maior a conselho de guerra pelo simples fato de ter assu. caso de eles tentarem alguma “traição”, ter como intervir. Seis dias já se
mido a missão de dizer ao governo: “Os insurgentes estão fortes, são haviam passado e nenhuma notícia chegava do doutor e do coronel.
valentes, mas querem depor armas e para isso só pedem uma anistia” Dia 19 de agosto, véspera do dia previsto para o ataque às forças legais.
A derrota em campo de batalha inviabilizou essa memória.53 Tarde da noite, quando ninguém mais esperava, o presidente Feliciano de-
A derrota ocorreu na vila de Santa Luzia. Os rebeldes, com seu presi- cidiu abandonar as forças rebeldes. A atitude, na opinião do cônego Mari-
dente interino, tinham deixado Sabará no mesmo dia em que o dr. Mar- nho, era bem-intencionada. José Feliciano pretendia, com essa retirada
tins e o coronel Souto-Maior partiram em comissão para Ouro Preto, no tardia, impedir a desmobilização do exército. Imaginava que a notícia só se
dia 13 de agosto. Nesse mesmo dia, chegaram a Santa Luzia. O grupo tornaria pública no dia seguinte, após a batalha. O problema é que, por
estava completamente esfacelado. O pior inimigo com que lutavam, ava- consideração, resolveu comunicar sua retirada a amigos que tinham entra-
lia o cônego, era a “desconfiança, produzida pela intriga, habilmente es- do na luta levados por ele. Entre eles, estava o comandante da importante
palhada pelos legalistas”. Deixando a mágoa de lado, o cônego Marinho força da Lapa, Manuel Lemos, que com ele se retirou. O golpe foi duro.
reconhece nesse trecho que Santa Luzia tornou-se território livre para Às oito horas da manhã do dia 20, a insegurança tomava o campo
“todos emissários e portadores de cartas”, conduzidos pelos oficiais da rebelde e as discussões voltavam a dividir a opinião de seus líderes. O cli-
própria vanguarda rebelde para dentro da vila. Na sua maioria, eram ma permaneceu indeciso até a chegada do dr. Alvarenga, que, entrando de
emissários do barão de Caxias. Sua estratégia agora era mobilizar as fa- súbito no quartel insurgente, avisou que tinha acabado de mandar rom-
mílias. Parentes de Manuel Tomás, Pedro Alves e Joaquim Martins, três per fogo sobre a coluna legal postada na Lapa. Tratava-se da 3º coluna,
nomes de peso do exército rebelde, receberam correspondências do ba- sob o comando do coronel José Joaquim de Lima e Silva. Mas não houve
batalha. Os planos do barão de Caxias eram diferentes. Tinha dado or-
rão. Elas podiam ter um tom amigável, acenando com anistias, ou po”
diam apelar para o terror, lembrando o confisco de bens, além, é claro, de
dens a seu irmão para não aceitar combate até o dia 21, data em que ele
mencionar as prisões. O presidente José Feliciano não tomava qualquer pretendia formalmente abrir fogo contra os rebeldes. Teófilo Otoni e Jo-
providência. Ao contrário, aguardava ansiosamente os emissários na €S aquim Martins, presentes na Lapa, voltaram então para Santa Luzia. Mal
perança de que um deles fosse portador de uma pro acabavam de almoçar, quando chegou nova notícia, agora das forças de
posição de paz Se Galvão. O comandante tinha avançado contra as forças do tenente-coro-
trouxesse, ao menos, notícias de sua comiss
ão.'4

387
386
=“ '
DI;
À am

DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO EM CENA, O DELEGADO DE JOSÉ CLEMENTE PEREIRA

nel Ataíde, fazendo com que o oficial recuasse e, dessa maneira, co O sr. coronel José Joaquim de Lima e Silva, ouvindo o estrépito do renhi-
Mpro.
metesse a coluna do centro, onde se achava o próprio barão de do combate em que eu me achava empenhado desde as 8 14 da manhã,
Essas eram as forças da legalidade na região. No total, duas colun apenas com 800 homens contra 3.000 rebeldes, bem armados e munícia-
ds, Uma dos; e conhecendo que o momento do ataque ordenado para 21 tinha por
comandada pelo coronel Lima e outra por Caxias.
alguma ocorrência que ele ignorava sido antecipado, (...) avançou com a
O sucesso inicial do ataque de Galvão se devia, na versão
da legali- rapidez de um raio e caiu sobre O inimigo.
dade, a um “infame desertor”, que na véspera teria informado aos rebel.
des o tamanho real das colunas legais, bem inferior ao das Entre o relato do barão de Caxias, em sua ordem do dia, e aquele reali-
Colunas
insurgentes. Essa história não é confirmada pelo cônego Marinho, que, zado por Marinho, em suas memórias, há vários pontos de divergência.
em seu relato, desmente essa superioridade tão maior das forças O cônego, para combater a versão oficial, chega mesmo a numerar esses
rebel.
des. O fato é que, após recuar, o exército de Caxias conseguiu se recupe- pontos, didaticamente, sob o título de “imprecisões”. São cinco no total,
rar € bater o de Galvão, que retornou em debandada para Santa Luzia, sobre dados que não há como ser verificados. O que mais agride o cône-
Para o cônego Marinho, se nesse exato momento Caxias tivesse invadi- go, contudo, é a imagem que Caxias cria das forças rebeldes como um
do a vila atrás de Galvão, a batalha estaria perdida. Essa seria, na sua exército bem organizado e com incrível vantagem numérica. Só por isso,
opinião, a atitude mais previsível e, se Caxias não o fez, foi por falta de talvez, ele tenha decidido revelar toda a fraqueza da saga desses homens.
coragem. Este, por sua vez, explica em ordem do dia que preferiu manter É raro encontrar relatos de guerra com uma exposição tão franca dos
o plano inicial de retomar posições para atacar no dia seguinte, 21. medos, conflitos, covardias e traições de seus protagonistas. Mas esse
À entrada desordenada das forças de Galvão em Santa Luzia voltou parece ter sido o preço que o cônego decidiu pagar para combater a ver-
a abater o espírito dos chefes rebeldes. As onze horas da manhã, tudo são oficial: extraía dessas fraquezas a força dos rebeldes mineiros.
parecia estar acabado. Alguns deles começaram a se retirar, outros aguar- Às oito horas da noite, a vila de Santa Luzia estava sob domínio da
davam sem esperança a entrada da legalidade na cidade. Como as tropas legalidade e o barão de Caxias ocupava a casa do presidente Feliciano.
O susto foi grande. No dia seguinte, em carta à esposa, contava que ti-
legais não atacaram, o ânimo rebelde começou a se agitar: parecia haver
nha “ficado sempre no lugar de mais perigo” e, como quem desobedeceu
uma chance. À retirada de Caxias — é ele mesmo quem avalia — deu aos
a suas ordens, prometia “nunca mais fazer outra”. Reconhecia ainda
insurgentes a impressão de fraqueza. Tentando reunir forças, alguns líde-
que teve sorte: “Deus sempre me ajuda e a fortuna não me deixa um só
res instigavam os brios dos fugitivos da coluna de Galvão. Davam gritos
instante”, referindo-se à ação do irmão José Joaquim. Mais uma vez,
de guerra e, entre eles, podia-se ouvir um ecoando a morte do barão de
não deixou passar a chance de fazer suas pequenas declarações de amor,
Caxias. Das duas para a três horas da tarde, um batalhão insurgente deu
falando de sua saudade e que havia comprado, para seus “anjinhos”,
uma longa descarga sobre as tropas legais. Estas começaram, então, à
“bonecas de pedra feitas aqui”.56
bater em retirada. Ao retrocederem, faziam o mesmo percurso
que P ela O marechal barão de Caxias não demoraria muito tempo na provín-
manhã Galvão tinha feito, mas na direção oposta, fugindo de Santa Lu-
Cia, mas precisava comemorar e saudar seus habitantes leais. No dia 1º de
zia. No caminho, perderam bagagens e artilharia. Os rebeldes já se patê”
« E i setembro, fez uma entrada triunfal em Ouro Preto. O presidente da pro-
benizavam. Porém, inesperadamente, ouviu-se “a descarga da 3º coluna - "
víncia e o comandante de Armas da capital, o coronel Morais Cid, espe-
Deixo, então, a palavra ao próprio Caxias:

389
388
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
EM CENA, O DELEGADO DE JOSÉ CLEMENTE PEREIRA

ravam-no com uma capela de flores e um pequeno discurs o


Além da O barão de Caxias se firmava como agente militar da Coroa, um
iluminação geral, que durou três dias, celebrou-se um Te Deum na C
la do Carmo e um grande baile foi oferecido ao “ excelentíssimo e ape. “poder neutro” face às disputas regionais. À cada nova conquista, ele
seus prisionei-
A maior parte das famílias da capital compareceu e, se ral”, parecia ter mais clareza do valor dessa imagem. Entre
ros, sobretudo entre OS “influentes”, não se achou um relato que desa-
gundo O O
conservador O Brasil, o clima era da mais completa eta “del; Jornal
e bom gosto”, tendo o baile prosseguido até as seis bonasse a conduta do general. Ao contrário. Assim como o padre Feijó
horas da manhã
dia 6, o barão seguia para São João del-Rei. Mais uma vez, parece, 0 final, não ter guardado mágoas de Caxias, Teófilo Otoni — o
TR ="
afeições e simpatias dos bons mineiros”. No dia herói do cônego Marinho —, em seu relato, escrito na cadeia de Ouro
21, chegava à = TE
dos “fa Preto, fez até elogios à sua “urbanidade”. Tratando Caxias por “digno
Ss bricantes da capita
Er l”, dedi
| cado “às artes da destilação”, » d deci
premiá-lo com um “troféu especial”. Inspirado numa home
sildiu oficial”, Otoni conta que ele teria ordenado a um subalterno que “nos
nagem feita conservasse na mesma casa onde fôramos encontrados” e, chegando
Napoleão, produziu um licor exclusivo — “o licor
dos valorosos?. Q próximo aos presos, teria dito: “meus senhores, isso são consegiuências
nal Diário do Rio de Janeiro, em edição do dia
24 de setembro na do movimento, mas podem contar comigo para quanto estiver ao meu
va aos interessados que a bebida era uma pequen
a obra, com a grande alcance, exceto soltá-los”.
“variedade de cores” e com um “letreiro luxuos
o”, “em que sobressai Tinha atingido seu objetivo: submeter os rebeldes, impor-lhes uma
num escudo dºarmas o busto do exmo. sr. barão de Cax
ias”. Para adqui- derrota. Para isso, ameaçou e humilhou esses homens, recorreu a espias
ri-lo, bastava ir à confeitaria do Largo do Capim, nº 160
e 162. e cuidou de espalhar boatos e fazer intrigas. Se essa atitude irritava O
O grande herói da batalha de Santa Luzia, no entanto, foi o cônego Marinho, Teófilo Otoni parecia entendê-las de outra maneira.
coronel
José Joaquim de Lima e Silva. Ele também recebeu homenagens. O jornal Inicia seu relato — uma bela peça de história política — afirmando que
O Brasil publicou para toda a corte, no dia 15 de outubro, uma poderia ter escapado para Lagoa Santa, mas que tinha optado por per-
pequena
biografia do coronel. O oficial, com apenas 33 anos, seguia uma trajetória manecer na cidade de Santa Luzia e “aceitar tranqiúilo os corolários na-
diferente da de seu irmão. Tendo se casado com a filha do bar turais da posição em que me achava”. Havia lutado, se dedicado
ão do Piraí,
Já era, em 1842, um “fazendeiro abastado ?. e construía sua carreira mili- totalmente à causa liberal, e perdeu a guerra. O barão de Caxias cum-
tar fora do Exército, como comandante da Guarda Nacional do Piraí. pria sua função: prendia os rebeldes.'º
Dentre os Lima, foi o que mais se dedicou à compra e venda de proprieda- Quando deixou a corte na manhã do dia 22 de dezembro de 1832 no
dis, tanto rurais como urbanas. A homenagem do jornal era tamb
ém um vapor São Sebastião, seguindo para o Maranhão, Luiz Alves de Lima
meio de evitar que o coronel “sepultasse sua moci não poderia imaginar que em menos de três anos veria seu nome consa-
dade vigorosa” em uma
fazenda de café do Piraí”. Seu editor, o polêmico Jus grado como “pacificador” de três províncias, marechal dos exércitos re-
tiniano José da Ro-
cha, iniciava na verdade uma campanha pública para que o “trono” con ais e barão de Caxias, recebendo da Coroa, ainda em 1842, uma nova
vidasse o coronel “air pelejar nas campinas do Rio Grande do Sul”.” oportunidade, que era também uma indiscutível prova da confiança em
A família Lima consolidava definitivamente sua posição na corte. seu talento militar - o comando das forças em operações no Rio Grande
Da
segunda Beraçãoã de brasillei
eiros, saiía um nobre marechal e do Sul. Para que a sombra de suas vitórias posteriores não dilua a impor-
um grande
proprietário de lavouras de café tância dessa época, vale lembrar uma resposta bastante magoada de Ca-

391
390
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

xias a Honório Hermeto, quando este insinuou, em 1844, que ele e


| a |
sonegando ao governo informações do arquivo farrapo. Diz ele: Stari : Notas

Pois quem não temeu comprometer-se com semelhante


o governo estava vacilante e mesmo não se sabia com certeza qual ser;
o desfecho das desordens que apareciam nas províncias
em cores aa
gras, temeria depois da orde restabelecida em quase todo q Brad
m
cheio de favores dados pelo governo, comprometer-se com dois ou E
senadores de menos importância?! (Ênfase minha.)
di A escritura de compra do terreno está no livro 243, folha 154y, rolo 031.15-79,
AN. Sobre o salário, ver Decreto de Organização do Corpo de Guardas Munici-
Esses foram anos decisivos, e vacilantes. Recupe pais Permanentes, AG PMER).
rando a imagem criada
por Gonçalves de Magalhães, foram anos em Paulo Pereira Castro, op. cit., p. 61-2, e Octávio Tarquínio de Sousa, op. crt., vol.
que a chaga, aberta, ainda
purgava. O projeto conservador, fundado na preser 8, cap. Il.
vação do princípio Carta de 14 de abril de 1840, códice 551, AN.
monárquico e de um sistema hierárquico baseado

qa
na escravidão, e a A carta do visconde da Parnaíba é citada por Octávio Tarquínio de Sousa, op. cit.,
ação dos homens que o sustentavam, poderia não vol. 8., p. 149. À carta de Honório Hermeto, datada de maio de 1840, está na lata
ter vingado. Esse risco
político, assumido por eles cotidianamente, a cada dec 748, pasta 29, IHGB.
isão e a cada com-
bate que empreendiam, não pode ser esquecido. Para o golpe, ver Paulo Pereira Castro, op. cit., p. 63. Sobre o papel de Aureliano
Coutinho, ver Roderick Barman, op. cit., p. 211.
Apud Octávio Tarquínio de Sousa, op. cit., vol. 8., p. 202-3.
Gonçalves de Magalhães, op. cit. p. 115. Para as críticas de Luiz Alves, ofício de
2 de agosto de 1840, Coleção Caxias, caixa 808, AN.
Roderick Barman, op. cit., p. 212.
- Octávio Tarquínio de Sousa, op. cit., vol. 8, p. 209 e vol. 5, p. 235.
10. Adriana Barreto de Souza, op. cit., cap. “A precisa unidade do Exército”.
11. Ver Anais da Câmara dos Deputados, sobretudo as sessões de 27, 28, 29 e 30 de
abril de 1842. O discurso do deputado Andrada Machado foi realizado no dia 30
de abril, sexta sessão preparatória, p. 74. A explicação sobre a abertura das sessões
é dada em discurso pelo deputado liberal José Antônio Marinho, na sessão do dia
28 de abril, p. 25.
12. Na Coleção Caxias do AN, caixa 809, existem ofícios de Luiz Alves de Lima redi-
gidos enquanto esteve no Comando de Armas da Corte. Devido ao pouco tempo
em que permaneceu no exercício, os documentos são apenas burocráticos.
13. Ver Francisco Iglesias, “Minas Gerais”, € José Antônio Marinho, História do mo-
vimento político de 1842, p. 126.
14. Sobre os usos desses fatos pelos conservadores: Adriana Barreto de Souza, op. cit.,
p. 94.
15. Ofício de 21 de maio de 1842, coleção Caxias, caixa 809, AN.

392 393
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO EM CENA, O DELEGADO DE JOSÉ CLEMENTE PEREIRA

16. Sobre sua chegada a São Paulo, ver o ofício dirigido ao ministro da Gue Era de As cartas trocadas entre Feijó e Caxias foram publicadas no Jornal do Commercio
de maio de 1842, o qual, bem como o ofício do barão de Monte Alegre ao mini
25 29.
de 10 de julho de 1842 e recentemente transcritas no livro organizado por Jorge
da Guerra, encontra-se na Coleção Caxias, caixa 809, AN. As corresp Ti Caldeira, op. Cit. P- 222. Nessa análise usei ainda as reflexões, bastante sensíveis,
com o barão de Monte Alegre, inclusive as duas citadas, foram de Magda Ricci sobre o padre Feijó. Magda Ricci, Assombrações de um padre re-
Teproduzidas a
Anais do Museu Paulista, tomo 5, 1931, p. 375 a 384. o gente, sobretudo cap. 7.
17 Ofício de 25 de maio de 1842, ao ministro da Guerra, Coleção Caxias, cai xa 809, 30. A carta está nos Anais do Museu Paulista, op. cit., p. 378. Sobre os jornais, ver
AN. Nelson Werneck Sodré, op. cit., p. 203.
18. Ofício do coronel Costa Pimentel a Caxias, datado de 2 de junho de 1842 31. A crítica aparece nos debates da Câmara. Anais da Câmara dos Deputados, sessões
3 Coleção
Caxias, caixa 809, AN. de janeiro de 1843. O cônego Marinho, em seu livro, também faz críticas ao trata-
19. Sobre a sugestão do presidente, ver ofício de Caxias ao ministro da Guerra de 25 mento que Caxias teria dado ao padre. Ver José Antônio Marinho, op. cit., p. 165.
de maio de 1842. A situação de Curitiba e os efeitos da carta do coronel Machado 32. A preocupação de Caxias com a segurança de Feijó é explicitada no ofício ao mi-
podem ser lidos nos ofícios do coronel Pimentel a Caxias, de 2 de junho de nistro da Guerra de 21 de junho de 1842. Coleção Caxias, caixa 809, AN. Sobre a
1842
e de Antônio Manoel da Costa ao coronel Pimentel, também de 2 de junho doença de Feijó, ver a bela imagem criada por José Murilo de Carvalho sobre o
de
1842, Coleção Caxias, caixa 809, AN. duelo entre o padre e Vasconcellos. José Murilo de Carvalho, Bernardo Pereira de
20. Ofícios de Antônio Barbosa da Silva e Pedro Paulo de Morais
Rego, ambos data- Vasconcelos, p. 24.
dos de 3 de junho de 1842 e dirigidos ao ministro da Guerra, José Clemente Perei- 33. As queixas de Feijó sobre a inconstitucionalidade de sua prisão podem ser acom-
ra, Coleção Caxias, caixa 809, AN. panhadas por meio das cartas reproduzidas por Eugênio Vilhena de Morais, Ca-
21. Ofícios de José Vicente de Amorim Bezerra ao barão de Caxias, um deles datados xias em São Paulo, p. 144-8. As demonstrações de atenção de Caxias estão na
de 6 de junho de 1842 e dois outros datados de 7 de junho de 1842, Coleção Ca- carta dirigida diretamente ao padre e reproduzida na p. 152 desse livro; no ofício
xias, caixa 809, AN. dirigido ao ministro da Guerra de 21 de junho de 1842, Coleção Caxias, caixa
Za O ofício do barão de Caxias ao ministro da Guerra relativo à polícia militar secre- 809, AN; e na carta particular dirigida ao mesmo ministro, coleção particular, 53
ta é datado de 8 de junho de 1842 e encontra-se na Coleção Caxias, caixa 809, CP18, Luiz Alves de Lima e Silva, AN. Sobre a justificativa dada por Caxias para
manter O tenente na comissão, ver ofício de 7 de julho de 1842, Coleção Caxias,
AN. Sobre os clubes, ver Francisco Iglésias, op. cit., p. 406.
caixa 809, AN. Todas as observações sobre a personalidade de Feijó estão em
23. Eugênio Vilhena de Morais, Caxias em São Paulo, p. 121.
Magda Ricci, op. cit. Nesse caso, ver p. 452.
24. Ofícios do major Pedro Paulo Morais Rego ao ministro da Guerra de 8 de junho
34. Sobre a pacificação do norte, ver: carta particular ao barão de Monte Alegre de 2
de 1842 e de Manoel Alves ao presidente barão de Monte Alegre, datado de 7 de
de julho de 1842, Anais do Museu Paulista, op. cit., p. 379; ofícios de 9, 13, 14 e
junho de 1842. Coleção Caxias, caixa 809, AN.
16 de julho de 1842. Coleção Caxias, caixa 8092, AN.
25. São vários os ofícios que tratam dessa crise. Ver ofício de Manoel Alves ao barão 35. Carta particular ao barão de Monte Alegre de 16 de julho 1842. Anais do Museu
de Monte Alegre de 7 de junho de 1842; o ofício de André Alves de Oliveira Bello
Paulista, op. cit., p. 383.
ao barão de Caxias de 12 de junho de 1842; os ofícios do major Pedro Paulo de 36. Sobre a marcha e a tomada de Taubaté, ver ofício do barão de Monte Alegre para
Morais Rego ao ministro da Guerra de 9 e 14 de junho de 1842 e a ordem do dia o ministro da Guerra de 9 de julho de 1842 e o anexo ao ofício do mesmo barão
6 de junho de 1842, Coleção Caxias, caixa 809, AN. datado de 13 de julho de 1842. Há ainda para o tema, o importante ofício de Ca-
26. A história é contada por Caxias ao ministro da Guerra nos ofícios de 15 e 20 de xias para o mesmo ministro, datado de 16 de julho de 1842. Foi nesse ofício que
junho de 1842, Coleção Caxias, caixa 809, AN, ele comunicou ainda a chegada do decreto imperial e o episódio da vila dos Silvei-
27. Ofício de Caxias ao ministro da Guerra de 2 de julho de 1842, Coleção Caxias, ras. O ofício-relatório de Thomas Henriques é de 17 de agosto de 1842, Coleção
caixa 809, AN, Caxias, caixa 809, AN.
28. a particular ao ministro José Clemente Pereira, coleção particular, 53 CPI, 37. Ver, respectivamente, os decretos de 23 e 25 de julho de 1842, Coleção de Leis do
Luiz Alves de Lima e Silva, AN Brasil.

395
394
HEE pr

DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO EM CENA, O DELEGADO DE JOSÉ CLEMENTE PEREIRA

38. Todas essas citações e dados estão na carta ao ministro da Guerra, Coleção parti. lizei, para compor essa narrativa, duas fontes: a ordem do dia do barão de Ca-
cular, 53 CP18, AN. ;
Só.
| e
x1as DO de agosto, Coleção Caxias, caixa 810, AN, e o relato de José Antônio
32. Continuo seguindo a carta ao ministro da Guerra, Coleção particular, 53 Cris,
Marinho, realizado entre as p. 176-85.
AN.
Esta carta encontr a-se na lata 481, pasta 1, IHGB.
40. A lista acompanha ofício de 8 de junho de 1842. Coleção Caxias, caixa 809, AN. 56.
57. Sobre
o a movi mentação financeira dos Lima, ver o arquivo do Ofício de Notas do
41. Apud Eugênio Vilhena de Morais, Caxias em São Paulo, p. 176. | |
a entrada é nominal.
42. Sobre a revolta, ver Francisco Iglésias, op. cit., p. 408.
O nome das vilas está em o de Teófilo Otoni, intitulado “Prisão e Itinerário de Santa Luzia para o
José Antônio Marinho, op. cit., p. 115. 58.
Quro Preto, dos ex-deputados à Assembléia Geral dos srs. Dias de Carvalho e
43. Ver ofícios de Caxias para 0 ministro da Guerra, datados
de 7 e 16 de Julho de Otoni...”, foi reproduzido por José Antônio Marinho, op. cit., p. 210-19.
1842; e o ofício do barão de Monte Alegre para o mesmo ministro,
datado de 28
55. Apud Eugênio Vilhena de Morais, O duque
de ferro, p. 67.
de julho de 1842. Coleção Caxias, caixa 809, AN. O
decreto imperial é de 10 de
julho de 1842.
- Os bilhetes foram reproduzidos por Vilhena de Morais. Para
O bilhete do Mara-
nhão, O dugue de ferro, p. 61. Para o de São
Paulo, Novos aspectos da figura de
Caxias, p. 137-8. Como afirmei em outra nota, esses
documentos não estão depo-
sitados em arquivos, só sendo possível consultar os liv
ros citados. É bem provável
que o autor Os tivesse em arquivo particular.
43. Sobre a organização inicial das tropas, ver as ord
ens do dia de 31 de julho, 1º e 8
de agosto de 1842, Coleção Caxias, códice 925
, AN.
46. Apud José Antônio Marinho, p. 199. A aut
onomia de Caxias fica clara nas instru-
ções que recebe do ministério, tanto para São Pau
lo como para Minas. Apud Joa-
quim Pinto de Campo, Op. cit., p. 72-7.
47. Sobre a esperança da anistia, ver p. 138. O
esforço de desacreditar a derrota
paulista, sobretudo o esforço de Teófilo Oto
ni, pode ser visto na p. 151. À pro-
clamação de 19 de junho é reproduzida na p. 199
. Tudo em José Antônio Mari-
nho, op. cit.
48. Toda essa história é contada por José Antônio
Marinho, op. cit., p. 139-40.
49. Sobre a tomada de Queluz, p. 150-51. Para
a indecisão do presidente interino e as
citações, ver p. 154, idem.
50. Essa história é contada com detalhes por
José Antônio Marinho entre as p. 153-62
de sua obra sobre o movimento de 1
842. Para as citações efetuadas, ver, respecti-
vamente, as p. 154, 161-2.
51. À presença de espias entre os
rebeldes é contada na p. 148, e
so na p. 160, idem. a chegada do expres-
2; O termo “disposições policiais”
está na Pp. 164. O envio de emissário é contado a
partir da p. 165, idem.
53. Todas essas citações, inclusive o texto
integral dos ofícios, estão ente
idem. as p. 165-8;
54.

397
vi Sangue-frio, experiência e otimismo:
articulações e conflitos nas terras
de fronteira
é Ru ad

As comemorações € homenagens realizadas em Minas e na corte impe-


cial, para surpresa do barão de Caxias, não se traduziram em prêmios
muito significativos. Tudo que ele obteve ao final das duas campanhas, de
são Paulo e Minas, em remuneração a seus serviços, foi “meio posto”, ou
seja, a graduação no posto de marechal-de-campo, e a nomeação para
comandar o Exército imperial contra os farrapos. Essa economia da Co-
roa aborreceu Caxias, que, após quinze dias na corte, decidiu escrever ao
barão de Monte Alegre, muito contrariado, dizendo sentir-se “mamado”.
Tinha praticamente emendado as duas campanhas. No dia 23 de julho,
chegou de São Paulo à corte e no dia 25 já partia para Minas. Esteve
apenas dois dias com a família e, mesmo assim, foram dias entremeados
por horas de reunião no paço. De Minas, voltou no dia 22 de setembro.
Dois dias depois, “já estava com mala às costas para outra campanha”.
À relação entre o barão de Caxias e a corte sofria seu primeiro abalo.
A notícia de que o ministério e o imperador estavam “contentes” com
sua atuação não o deixava mais “sobejamente satisfeito” como em ju-
lho. Se na época vibrou, com um tom raramente visto em suas cartas, O
fez movido pela crença de que, como era de praxe, e como lhe havia
prometido o ministro Clemente Pereira, ao voltar para o Rio de Janeiro,
“O cofre das graças do imperador não seria mesquinho em os considerar
[seus serviços]”.2 Ainda na carta a Monte Alegre chegou a evocar uma
lei, não identificada por ele, que “manda dar [aos militares] um posto
Por serviços relevantes”. Se a questão era legal, poderia ter formalizado
à queixa. O ministro da Guerra vinha se revelando um grande amigo,

401
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO

alguém que acreditava em seu trabalho e que, além de dirigir a nd o ma nt er -s e em uma posição política
tas política s da co rt e, co ns eg ui
ministerial, tinha grande influência na corte do jovem imperado da ndefinida, oscilando entre O fiscra isTho da família e o apoio do gabinete
xias, no entanto, não recorreu a ele ou a qualquer outra instância a conservados, sobretudo de Honório Eeemeto vias agora ele estava — e
namental. Nenhuma correspondência oficial sobre o sa E sabia quanto — no centro de uma grave crise ministerial, Aureliano Cou-
localizada. O general, assim como fizera em 1833, quando um im E «inho era o chefe do ministério e líder áulico. Como vimos no capítulo
sua esposa prendeu um de seus escravos, preferiu a via informal. Den se ga bi ne te em ma rç o de 18 41 , ap ós de se nt en de r- se
anterior, compôs es
os amigos, mobilizou Monte Alegre. dE dr ad a so br e a po lí ti ca mi li ta r a ser im pl an ta da no Sul.
com os irmãos An
,
Amigo da família de longa data, tendo sido recentemente nomead Para isso, articulou-se com OS conservadores. Um ano e meio depois
s
conselheiro de Estado extraordinário, Monte Alegre também estava E quando Caxias retornava à corte, aclamado por mais duas importante
s, O mi ni st ér io er a o me sm o, só qu e di vi di do in te rn am en -
ra mais próximo do imperador.? Além disso, tinha conquistado essa po- vitórias milita re
sição por conta da “pacificação” de São Paulo, trabalhando com Caxias re li an o, co nt an do co m a pr ot eç ão da Co ro a, pr oc ur ou, desde a
re. Au
n-
cotidianamente, na administração civil da província. Outro clenaa primeira reunião, de juramento e posse do gabinete, afirmar sua asce
e o gr up o. Ob te ve de d. Pe dr o au to ri za çã o pa ra re ce be r se u
que talvez tenha contado na escolha de Monte Alegre foi exatamente o dê nc ia so br
fato de ele não integrar o governo. A carta, em suas poucas linhas,é irmão, Saturnino de Sousa e Oliveira, nessa primeira reunião de minis-
muito clara. Caxias acreditava que estava, pelo menos, entre os “candi- tros. À situação gerou um grande mal-estar. Saturnino se apresentava
datos” do governo a títulos e a um possível posto militar. Não podia para receber instruções relativas ao cargo de presidente da província do
correr O risco de ver seu nome retirado dessa suposta lista por uma quei- Rio Grande do Sul, uma nomeação proposta ao ministério anterior e que
xa desmedida, ou mal encaminhada. A subordinação é o princípio de este, só depois de muita discussão, cedendo à pressão de Aureliano, aco-
uma sociedade hierarquizada. Queria “se fazer lembrado”, mas não po- lheu. Assim, o que Aureliano fazia agora era impor o nome do irmão aos
dia agir de forma afobada. Enquanto fosse “candidato”, explicava a novos ministros, sem ouvi-los, nem mesmo a José Clemente Pereira, che-
Monte Alegre, as “esperanças” se mantinham, até “porque conto com fe da pasta da Guerra. No momento, não houve como reagir. Saturnino
foi empossado semanas depois, no dia 17 de abril. Mas a reação viria.
a proteção de V. Exa.” para não se repetir “o que aconteceu no Mara-
Paulino José Soares de Sousa, ministro da Justiça, poucos dias depois,
nhão, onde fui unanimemente votado há um ano e unanimemente des-
prezado agora”. Referia-se à eleição de 1841. Por aquele pleito, embora promovia em sua casa uma reunião com outros dois ministros, Miguel
Calmon e Clemente Pereira. Dali, saía uma coalizão. Decidiram procu-
não houvesse atas que comprovassem o resultado da votação, Caxias
havia sido eleito representante do Maranhão por unanimidade. Mas, rar O ministro do Império, Araújo Viana, um concorrente de Aureliano
entre os áulicos, para evitar que situações como essa se repetissem. À par-
agora, em 1842, quando uma nova eleição substituía a anterior, conside-
tir de então, o isolamento de Aureliano foi progressivo, sendo a chefia do
rada fraudulenta, que resultou na dissolução da Câmara, o barão não gabinete informalmente deslocada para Araújo Viana.
era mais sequer lembrado pelos maranhenses.
O retorno do barão de Caxias à corte se ajustava perfeitamente aos
dss0 ocorria num momento político especialmente delicado para O
interesses da coalizão. Não por acaso, Clemente Pereira, em carta de 27
a Na época do golpe que resultou na maioridade do imperados; de junho, dava apoio irrestrito às pretensões do barão de assumir O CO-
Caxias, em campanha no “Norte”, foi poupado das intrigas e reviravol-

403
402
pre

DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO

mando do Exército legal em Minas, mencionando a satisfação do impe. cisplatina. Mas funcionava também como “manivela” para isolar Aure-
rador e indagando: “Quem poderá com o barão de Caxias, pacificador liano é com isso, ampliar o poder dos conservadores no gabinete.
de duas províncias?” Investia no barão como uma arma importante con- Esse era um bom motivo para O barão não acionar o ministro Cle-
tra Aureliano. O plano é explicado com toda a clareza por Justiniano mente Pereira para tentar obter distinções, ou uma promoção no Exérci-
José da Rocha, deputado conservador, em carta a um amigo: «o. Ainda que sua insatisfação fosse legítima, era uma questão menor
às disputas em torno do comando e, por conseguinte, da política
face
Quanto a Caxias... a política manda por ora engrandecer esse homem
militar a ser adotada no Sul do império. José Clemente Pereira, apoiado
como manivela para derrocar uma influência perniciosa. Conto-te O que
nor Miguel Calmon, foi quem mais trabalhou por sua nomeação. Não
me é confiado em segredo: o imperador gosta muito do Caxias, e quanto na carta de julho,
estava, portanto, quebrando a promessa realizada
mais 0 elogiarem, mais ficará dele gostando. Ora, o Caxias prometeu não
ir para 0 Rio Grande com o Saturnino. O Aureliano, que já tem gana por quando, depois de informar ao barão que o imperador e o ministério
ver que é competidor oposto à glória de seu irmão, não quererá ceder-lhe estavam “contentes dele”, garantiu que o cofre das graças imperiais não
e anuir a uma demissão pouco honrosa, a menos que o Saturnino seja seriam “mesquinhos” em remunerar seus serviços. Era preciso apenas
eleito deputado pelo Rio de Janeiro, o que é mais que muito problemáti- «derrocar essa influência perniciosa” para que o melhor dos prêmios
co. Assim, terão de lutar Caxias e o ministério com Aureliano e o paço. viesse, a chance de pôr fim a uma rebelião que havia sete anos dominava
o Rio Grande do Sul.
Armada a trama, o resto era questão de tempo. Depois de Minas, o ba- Essa rede política é que sustentou o nome do barão de Caxias nas
rão de Caxias era o pacificador de três províncias. Um candidato forte disputas pelo cargo de comandante do Exército imperial. Afirmar isso
ao comando do Exército em operações no Rio Grande do Sul, mas não não diminui seu mérito como militar. O sucesso obtido nas três campa-
ao lado de Saturnino de Oliveira. E não era só Caxias que recusaria a nhas anteriores foi chave para tornar inapelável para Aureliano Couti-
companhia do presidente, este também não aceitaria trabalhar com O nho o afastamento de Saturnino. Na verdade, era exatamente sua
barão. Tinha seus próprios planos militares para a província e, para exe- capacidade militar que interessava aos conservadores. Acreditavam nela
cutá-los com liberdade, precisava de um comandante de Armas menos para debelar o movimento farroupilha, por isso seu nome era tão inte-
atuante, capaz de acatar fielmente suas ordens, sem discuti-las. Quando ressante para o partido. Mas o partido também era a chave para que O
o grupo de Araújo Viana, seguindo uma orientação tipicamente conser- barão pudesse dar continuidade à sua carreira, tendo quem defendesse
vadora, propôs que se investisse uma única autoridade com funções civis sua “candidatura” em momentos como esse.
e militares, a demissão de Saturnino estava selada.º A memória instituída sobre a trajetória do futuro duque apaga esses
Nomeado para o comando do Exército no dia 24 de setembro, o ba- traços. Caxias não defendia o que genericamente se denomina “interesse
rão de Caxias ficava diretamente vinculado ao Partido Conservador. Era nacional”. Defendia o projeto nacional conservador, elaborado e susten-
o nome do partido para executar uma política mais dura contra Os farra- tado por certos grupos. A intenção deste capítulo é justamente mostrar
pos. Nisso, sua nomeação expressava o indiscutível fracasso da política como essa rede política se consolidou. Ela resulta da ação de homens,
liberal dos anos anteriores, menos repressora e mais preocupada em con que, conforme vimos, só depois de muitos avanços e retrocessos conse
temporizar, cuidando apenas de isolar os rebeldes de seus partidários nã guiam derrotar a “cultura da liberdade” dominante nos anos anteriores.

405
404
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO

Caxias integrava essa rede. Colocou sua capacidade militar a Serviço des.
Antes de deixar à província, em 1846, Caxias ainda fez a eleição para
se projeto, acreditando e lutando por sua implantação. que o colocava no in-
Essa luta não deve
seu artido. Saiu eleito senador, um cargo vitalício
ser pensada só em seu sentido estrito, como emprego das armas. Caxias u as duas va-
não era apenas um teri É do estreito grupo da elite política imperial, e asseguro
“braço armado” do partido. Ele também fazia polít;. candidatos
ca. Por meio dessa gas d o Rio Grande do Sul na Câmara dos Deputados para
circulação geográfica, se inteirava do funcionamento Conquis tava, assim, uma posição proeminente no
també m conserva dores.
da política local e, apesar de vender uma imagem de neutralidade,
inter. partido e na
política nacional, como grandei trunfo conservador na guerra.
)
feria em sua organização.” Daí a importância
dos espiões, intrigas e anis- Nãoã conquistou esse lugar por ter exterminado seus oponentes. Sua inten-
tias. Pela ação dos espias, acumulava informaçõ
es extremamente úteis ção, sobretudo em rebeliões de brancos proprietários -—a Farroupilha foi
para espalhar a “cizânia” e, o que não é menos impo
rtante, para selecio- uma delas —, era identificar os poderes locais com a monarquia, subordi-
nar nomes dispostos a aderir à “causa do impé da Justiça, Na-
rio”. Ganhava duplamen- nando-os. Como anos depois, em 1853, o então iainistão
te: difundia a intriga e conseguia adesões. A
anistia era uma moeda de buco de Araújo, defendeu no Parlamento, Em discurso ic se imaçãa
barganha forte e, se somarmos a ela o poder de
nomeação do general, fica célebre, que o extermínio não podia ser a política pretendida pelo poncê
fácil entender como ele podia, sem as armas, apesar
de sob sua constante pio que se auto-intitula conservador, simplesmente porque o princípio
proteção, reorganizar essas forças locais. Quando
ele seguia como presi- não destruiria “as influências fundadas na grande propriedade e na
dente da província, esses poderes aumentavam.
Afinal, ampliava sua ca- riqueza”.? Mesmo na guerra, recorria-se à política. Entre E aços, Ca-
pacidade de negociação: estava em suas mãos também
a capacidade de xias era considerado o segundo “melhor bom senso? do império, só ficar
preencher cargos administrativos.
do atrás do marquês de Monte Alegre. Esse “bom senso”, para ocuam
Não por acaso, os conservadores defendiam essa política Nabuco, resultava da maneira como conseguia combinar “sangue-irio :
de concen-
trar poderes civis e militares em uma única pessoa. Quando “experiência” e “otimismo” no trato com homens, na guerra ou na vida
Caxias “pa-
cificou” a província do Rio Grande do Sul, deixou montada civil. Opinião semelhante era compartilhada pelo imperador, que, ao cha-
uma rede
político-militar que seria acionada em outros momentos, de guerra mar o marechal para presidir o gabinete ministerial de 1861, stmeáça
ou
eleições. A relação estabelecida com David Canabarro é um bom exem- justamente seu “espírito conciliador”, o fato de que “sempre foi dos con-
plo dessa estratégia. O líder Farroupilha, em 1851, empunhari servadores firmes, porém moderados”.!º
a armas
contra Oribe; em 1852, contra Rosas; e, na década de 1860, voltou a Esse perfil, como pretendo mostrar, se difundiu após a ampla nego-
pegar em armas para defender os interesses do império, lutando dessa ciação que realizou para “pacificar” a Farroupilha. À extensão dessas
vez contra 0 Paraguai. Ainda durante a Farroupilha, em 1843, o general negociações foi tal que preferi dividi-las em dois capítulos. Neste pri-
Bento Manuel escreveu ao barão de Caxias, afirmando que já era hora meiro, procuro examinar as alianças que Caxias firmou para conseguir
de fazer nomeações para postos civis como agir no Rio Grande do Sul, cujo interior, com suas coxilhas, constituía
para a “Câmara Municipal,
juízes de paz, de órfãos, etc.” As cidades de São Borja e Alegrete O primeiro grande desafio dos oficiais imperiais. Essa foi uma etapa de
eram,
na opinião do general, as que mais precisavam reestruturação do Exército e de reconhecimento do terreno, tendo sido
de tais medidas. Acredi-
tava que por meio dessas nomeações administrativas conseguiriam maio
r também a época onde ocorreu maior número de combates. A partir de
controle sobre a região, até então importan
te reduto rebelde. 1844, estes diminuem. O próximo capítulo é dedicado a esse segundo

406
407
quer

DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO


SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO

momento, quando, contando de novo com a sorte, com o


que dividiam os líderes farroupilhas, Caxias pôde intensific S Conflitos não os quisessem vender, a recorrer à desapropriação, “mandando inde-
gociações. À forma como pacificou a província criou uma 4T SUas ne. nizar O valor dos cavalos, pagando-os pelo justo preço”.
eNOrme po. O emprego de cavalos era chave sobretudo nas coxilhas, parte su-
lêmica, produzindo ainda hoje, de forma cíclica, deba
tes envolven
intelectuais, militares e grupos políticos. do doeste da província. À região vinha se revelando o grande trunfo rebel-
de. Por terem sido, em sua maioria, criados nessas colinas, os farrapos
corriam por elas com a maior facilidade, o que não acontecia com os
MAIS FAZ QUEM QUER DO QUE QUEM PODE oficiais imperiais. Foi exatamente aí, nessa região, que o brigadeiro
João Paulo dos Santos Barreto foi derrotado. Oficial renomado, com
Ao embarcar no dia 29 de outubro para o longa carreira no Exército, tendo participado da repressão ao movi-
Rio Grande do Sul » O barão
de Caxias partia investido de amplos po mento de 1817 em Pernambuco e sido secretário do conselho militar de
deres. O jovem imperador dei
xava à “sua inteira inteligência a adoção d. Pedro I, João Paulo Barreto caiu na armadilha. Após sucessivas cor-
do plano que julgasse E
conducente” para pôr fim ao que considerava um ridas pelas coxilhas, o brigadeiro viu seus meios militares esgotarem-
a “desastrada guerra”! se, perdendo completamente a comunicação com a capital. À situação
Essa política, de certo modo, já era esperada
. Havia sido assim com resultou em seu afastamento do comando militar em março de 1841,
comandantes remetidos à província antes de
Caxias. À única e significa- um vexame tão grande que Sisson preferiu nem citar a passagem do
tiva diferença era a cumplicidade e o apoio do
ministério. José Clemen- general pela província em sua Galeria dos brasileiros ilustres.P O epi-
te Pereira apostava firme no barão e, durante os me
ses que esteve na sódio serviu como lição, sendo lembrado agora, em 1842, por Clemen-
direção da pasta da Guerra, cuidaria de orientá-lo e
providenciar para te Pereira em suas instruções ao barão de Caxias. Todo cuidado era
que nada lhe faltasse.
pouco no interior da província. ;
A primeira providência veio antes mesmo de sua partida. Para ser
Outro elemento que levava os imperiais a temer O interior do Rio
mais preciso, quatro dias antes de sua partida, no dia 25 de outubro.
Grande do Sul era a possibilidade de os rebeldes, durante as perseguições,
Nesse dia, Caxias recebeu do ministro Clemente Pereira atravessarem a fronteira com o Estado Oriental (ou Uruguai). Clemente
as “instruções
de guerra”.!2 Por elas, o ministro formalizava à posição liberal de d. Pe- Pereira é muito claro em relação a esse tópico. Caxias jamais poderia es-
dro para, só em seguida, fornecer-lhe propriamente as inst
ruções. À pri- quecer que, pelos “Direitos das Gentes” não lhe é “lícito invadir o territó-
meira é quase um conselho. Observava o ministro que rio do mesmo Estado, entrando nele (...) em perseguição aos rebeldes”. Se
os cavalos, nas
vastas campinas do Sul, eram verdadeiros “agentes de estes lançarem mão do recurso, avisa o ministro, o barão “deverá se dirigir
guerra” e que, po!
Isso, não seria prudente dar início à campanha sem contar com uma Cà Oficialmente ao governo do referido Estado, exigindo dele que desarme os
valhada disponível, em bom número e estado. Temia que o barão, levado rebeldes e não consinta que se conservem unidos, ainda depois de desar-
pelo “ardente fogo de terminar a guerra”, descuidasse dessa particulari- mados, nos lugares vizinhos às fronteiras do império”. Mas a entrada no
dade da campanha e, depois, se visse na impossibilidade de continuá-la país estava vetada. O império, nesse momento, se esforçava por manter
por or falta de cavalos. Considj erando o valor
estratégico desse “agente de uma política de neutralidade no Prata, e o barão de Caxias, como repre-
gu erra” » Caxias ficava autorizado, desde então, caso os proprietietár
ário!s À
sentante da Coroa, devia provar, com atitudes, esse interesse.
14

408 409
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO

Sobre negociações, as “instruções” também são bem claras A ofi ciais


E a Única em dif ere nte s des tin os” , inc lui ndo aí, alé m dos
proposta admitida era de anistia e, mesmo assim, desde que os rebel efetivo, doentes,
de linha, OS da Guarda Nacional que estivessem empregados na guerra.
peçam fora de combate, ou em tal posição que sua prisão ou decr
É Apesar da liberdade concedida pelo imperador no que diz respeito ao
ser considerada como inevitável”. No máximo — essa é uma
Ra plano militar a ser adotado na região, o ministério enviava Caxias ao Sul
importante — o barão de Caxias “poderá prometer aos chef
es que a Si muito bem instruído, colocando-o a par das peculiaridades da guerra,
tarem alguma gratificação pecuniária”. Ou seja, O
suborno é ER mas também regulando sua capacidade de negociação e sua atuação à
tratado como recurso de guerra. O ministro só faz uma
ressalva: ele a
ser aplicado “no caso [de Caxias] entender que frente do Exército. Essas “instruções” são pouco exploradas pela histo-
rio grafia e pelas biografias do general, que, destacando a idéia de “ampla
essa concessão pode E f
tar vantagens consideráveis à terminação da guerra,
e sob a cá liberdade”, lhe atribuem uma autonomia muito maior do que de fato
que os mesmos chefes, se quiserem residir fora do imp
ério, não podera teve.!S O barão de Caxias não só estava submetido ao controle do gover-
escolher para residência o Estado Oriental”. Qua
nto a propostas Na no como, ao contrário do que se poderia imaginar, encarava isso com
dos “escravos armados”, a serviço dos rebeldes,
não há negociação possí- naturalidade. Era o general do gabinete de 1841 e o bom entendimento
vel. Caxias está proibido de reconhecer como condição para
deposição de entre eles, sobretudo com Clemente Pereira, era um privilégio para am-
armas a garantia de liberdade. A única promessa autorizada
é de que eles bos. Aumentava a confiança do barão no resultado da campanha e as
teriam total proteção de Sua Majestade, que não os obrigaria
a “servir chances de o ministério colher, com o Partido Conservador, os louros da
debaixo das ordens de seus antigos senhores”.
“pacificação dos farrapos”.
| No Exército, o barão de Caxias podia fazer nomeações para O
posto Sobre sua viagem para o Rio Grande do Sul, não há relatos detalha-
imediato até a patente de major, incluindo esta, sem precisar consultar a
dos. De qualquer modo, o navio não deve ter feito muitas paradas, nem
Coroa, nem mesmo o ministério. Bastava, para efetuar a promoção, que sofrido desvios por conta de intempéries, como ocorreu na longa viagem
ele considerasse notável a atuação de um oficial em campo de batalha, para o Maranhão. Tendo deixado o porto do Rio de Janeiro no dia 22
atribuindo-lhe “distinto valor, especificado e elogiado nas ordens do dia de outubro, em dez dias ele atracava em Porto Alegre. À única parada
que se seguirem à ação”. certa se deu em Santa Catarina. A escala estava prevista nas “instru-
Tudo isso, porém, devia ser regularmente comunicado à corte. Para ções”. Num de seus itens, o governo alterava o sistema de correio com a
controle do número de oficiais, as “instruções” exigiam que, tão corte. A difícil experiência dos últimos anos de guerra tinha ensinado
logo
possível, Caxias remetesse ao governo o quadro de todos os oficiais do que o sistema antigo, de enviar as correspondências por mar, direramen-
Exército de seu comando, tanto do estado-maior, como dos vários cor- te do Rio Grande do Sul, não funcionava. Assim, elas seriam encaminha-
pos, individualmente, e dos que se acharem empregados em outros servi- (atual Florianópolis). Seguiriam por terra nesse
das pelo Desterro
ços. Além disso, informava sobre os dados que não deveriam faltar no primeiro trecho — de Porto Alegre até o Desterro — e daí seriam embarca-
quadro, fornecendo ao barão, na verdade, um modelo. Em cada das para a corte. O motivo exato da alteração não é explicado nos ofí-
quadro
deveria constar a relação nominal de todas as praças, o dia de seu assen cios. Mas a escala em Santa Catarina ocorreu para que o barão de Caxias
tamento, se eram voluntárias ou recrutadas e, por fim, sua cor. Já o “Ma acertasse com o presidente da província os dias e lugar onde as malas do
p
Geral da Força
ça dodo ExércExércit
ito” o” deveriaA virui “com os seguintes dizeres: estado correio seriam trocadas. Pelas “instruções”, deveria ser um ponto O

410 411
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO

mais central possível entre as duas referidas cidades” e a troca acon r o governo de suas negociações com os rebeldes. Não é difícil
“duas vezes por mês em dias certos”,!6
tecer
informa
imaginar O motivo de tantos Feda dos A ascensão de Caxias implicava
No dia 9 de novembro, o barão de Caxias era empossado em Porto
Alegre. Novamente seus ofícios não trazem relatos, nem sobre a rec necessariamente O TECUO de alguém. Em uma sociedade de corte, as chan-
“Pção prestígio são hierarquizadas. Quem organizava esses níveis hierár-
ces de
oficial, nem sobre festas. Ao ministro da Guerra, o barão se limito
L ce quicos, por meio da distribuição de cargos e títulos, era o imperador, e,
municar o “bom agrado”
3 :
com que foi recebido
!
pelo povo e pelo Exército
a E

Caxias, na verdade, tornava-se cada vez mais reservado. O conteúdo


17 como escreveu Justiniano José da Rocha, d. Pedro “gostava muito do Ca-
de xias”. Saturnino de Oliveira perdeu para o barão a presidência do Rio
seus ofícios é claramente selecionado no Rio Grande do
Sul. Além da des. Grande do Sul e a oportunidade, bastante disputada por generais e políti-
crição de festas, sua correspondência oficial elimina
ainda as “relações de cos, de pacificar a província. Sua demissão abalou o irmão, Aureliano, que
despesas” com espias e informações sobre a ocasião em que foram
empre- se sentia, depois dela, desprestigiado na corte imperial. Aliás, duplamente
gados e lugares por onde circularam, muito embora o general mencio
ne desprestigiado. Ainda segundo a carta de Justiniano da Rocha, o único
em vários ofícios, estar trabalhando a partir de dados
colhidos por E meio de aplacar a “gana” de Aureliano era eleger Saturnino deputado pelo
“bombeiros” — termo típico da região para nomear os espiões usa
dos na Rio de Janeiro. Só que os conservadores também saíram vitoriosos desse
guerra.'” Nessa correspondência, também não é mais possível enc
ontrar confronto, elegendo seu candidato, o general Andréa.? Desesperado, Au-
listas com o nome dos chefes rebeldes que receberam “gratificações” reliano tentava se rearticular e, nesse momento, voltou a procurar os libe-
para
se apresentarem. Até o termo “espia” desaparece e, mesmo que vári rais. Ora, dois blocos importantes do partido, o paulista e o mineiro,
os au-
tores mencionem que o barão se valia de intrigas,!” não é possível identifi- tinham acabado de ser derrotados por Caxias. Homens como o padre
cá-las como antes, na repressão à Balaiada. É óbvio que isso não significa mineiro José Antônio Marinho, rebelde de 1842, não admitiam a derrota
que Caxias tenha deixado de recorrer a suas “estratégias de polícia”, ou e, como forma de resistência, divulgavam as estratégias de Caxias.Z No
recorrido a elas com moderação, assim como não se pode supor que Os dia 9 de novembro, quando Caxias tomou posse em Porto Alegre, o mi-
partidários do império deixaram de o recepcionar em Porto Alegre. No nistério ainda era o mesmo, marcado por disputas e conflitos entre conser-
caso das estratégias, seu apelo nessa época era de tal ordem, que até passa- vadores, de um lado, e Aureliano, do outro. Uma aliança com Aureliano
ram a ser recomendadas oficialmente. O governo, além de autorizar nas significava para muitos liberais a possibilidade de obter anistia e retornar
“instruções? os gastos com “gratificações pecuniárias”, estimulava Caxias ao Parlamento. Vindas de uma casa parlamentar, as críticas a Caxias se
a “levar a intriga ao campo rebelde” para espalhar o “desalento” e “con- tornariam mais sonoras. Além disso, teriam, em Aureliano, quem devida-
seguir alguma defecção”. Ainda que esta a princípio fosse peq mente as explorasse na corte. Tudo isso deve ter levado Caxias a pensar
uena, expli-
cava Clemente Pereira, “o fruto será grande afinal, porque a primeira será melhor nas informações de seus ofícios, o que até então não parecia lhe
acompanhada de outras” e todos “cairão na desconfiança dos rebeldes”? preocupar. Nessa tarefa, de preservar sua imagem, contana, durante a
Enquanto o ministério assumia declaradamente essas estratégias, O ba- campanha no Sul, com o talento de velhos companheiros.
rão de Caxias começava a cuidar melhor de sua imagem. A pre Domingos Gonçalves de Magalhães era um deles. No dia 29, embarcou
ocupação
com o conteúdo de seus ofícios torna-se indiscutível ao nal da cam
panha, em mais essa expedição militar para acompanhar o amigo que ajudara com
quando ele, pela primeira vez, lançou mão de uma escrita cifrada par? seu talento literário (em verso e prosa) a se tornar general e barão. Assumia

413
412
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO

novamente a Secretaria de Governo. Mas sobre essa expedição, também - e no instituto, em reunião promovida por seus sócios, a proposta de
silenciaria. Não registrou uma linha sequer, nem sobre a viagem, Descrj. E r sua biblioteca em um “depósito central”. Por essa proposta,
ções dos “usos e costumes” da região, análises da guerra, pesquisas e odes ane PE publicado no império uma cópia deveria ser obrigatoriamen-
não ocupariam o secretário no Rio Grande do Sul. Apesar disso, vale des. E a E ara o IHGB. Além disso, requeria-se para o instituto a guarda
tacar que essa é a única expedição militar lembrada nos verbetes sobre sua é pa da administração provincial, sobretudo de impressos, pen-
vida. À experiência anterior, no Maranhão, geralmente nem é mencionada, ER com isso, na criação de uma “central de dados estatísticos” le-
dessa
Gonçalves de Magalhães, como secretário, só é conhecido por sua atuação a nas províncias.?? Gonçalves de Magalhães pão participou
no Sul.” Por esta, ganhou de alguns autores o lugar de “braço direito” do dia em que ela ocorreu, 4 de dezembro , ele já estava em Porto
reunião. No
barão de Caxias e, em função das longas ausências do general, quase sem- Alegre. Mas certamente essas idéias já vinham Ss informa mé discu-
pre no interior, envolvido em perseguições, Walter Spalding afirmou até do instituto e talvez esteja aí a razão de todo seu Eae
tidas pelos sócios
que o secretário teria sido uma espécie de “governador civil”.25 Quando o poeta embarco u com o barão de Caxias
nho administ rativo.
quanto este, atrelado ao projeto conserva dor. j :
De fato, ele assumiu dessa vez peso maior na administração da provín- estava, tanto
cia. Nos arquivos, é possível vê-lo despachando pelo barão, assinand Outra tarefa assumida pelos sócios do IHGB foi a de criar nm panteão
o
mapas estatísticos, elaborando quadros informativos sobre diversas ques- de papel”, erguendo os mitos e as representações da nova nação. À revista
,
tões, civis e militares, além de ter mantido, ele próprio, correspondência do instituto — Revista do IHGB -, logo em seu segundo te: em 1839
direta com o ministro da Guerra. Essa sua dedicação à burocracia, con- abriu uma rubrica dedicada aos “brasileiros ilustres?” No Maranhão,
tudo, não deve ser vista como uma excentricidade, ou uma experiên Gonçalves de Magalhães já tinha ajudado o então coronel is a se cons-
cia
menos importante na biografia do poeta. Gonçalves de Magalhães era um truir, por meio de suas proclamações, como um “agente neutro”, represen-
homem de letras e continuava a sê-lo quando assumia cargos burocrát tante da Coroa isento em meio à disputa política local. Ao final, cantou
i- a
cos. Como membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, suas glórias militares, exigindo que os feitos do coronel fossem
tinha
um interesse preciso nessas viagens: conhecer as regiões rebela dos pela nação. Agora, no Rio Grande do Sul, não descuidaria dessa tar
das para do barã o de Caxi as, publ icad a no dia E sua pos-
incorporá-las ao projeto conservador de uma monarquia sediada no À primeira pro cla maç ão
Rio se, dia 9, fazia dele um militar predestinado a salvar O Império:
de Janeiro. Podia fazer isso, como no Maranhão,
intelectualmente, pesqui-
sando e escrevendo. Mas estava igualmente eng As
ajado nesse projeto ao Rio-grandenses. — Sua Majestade o Imperador, confiando-me
dedicar-se apenas a assuntos estritamente administrativos. A adm cia desta província e o comando em chefe do bravo Exêrcito des Eá
inistra-
a
ção pode ter vários usos. Um deles, já mencionado aqu
i, é como moeda de recomendou-me que eu restabelecesse a paz nesta parte do Império
Div
barganha política. Cargos são negociados para melhor a restabeleci no Maranhão, em São Paulo e Minas, € à Providência
controlar uma ré- ins tru men to de paz para à sa e js
gião. Há, porém, outros usos. Gonçalves de Magalhães, co na que de mim tem feit o um
mo secretário nasci fará que eu possa satisfazer os ardentes desejos do magnân
e
de governo, tinha acesso irrestrito a papéis, docume
ntos e arquivos, po- narca e do Brasil todo. Bravos rio-grandenses! Segui-me, ea paz or
dendo, por meio da coleta e sistematização e sua
de dados, produzir instrumen- nossos esforços. Viva a nossa santa religião. Viva O imperador
tos capazes de legitimar a escrita de uma hi
stória nacional. Essa tarefa, em gusta família. Viva a Constituição e a integridade do Império.
1842, era prioritária para os sócios do IH
GB. Exatamente nesse ano, dis-

415
414
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO

O texto claramente reedita a imagem de “agente neutro”. Nele ra isso, do que recuperar a Bíblia. Primeiro, comparam Caxias a
Caxias segue sendo apenas um representante da Coroa, sem que » suasO barão da
vin
lhos Pá
ob a proteç ão de Deus, Caxias poderia , tal como o personagem
Josué. 9
lações políticas sejam explicitadas. Acrescenta-se, porém, um elemento NE bíblico, manipular os elementos da natureza e fazer até mesmo parar O
e forte: a interferência da Providência divina. Ela vinha fazendo do barão A
sol para prosseguir com uma batalha que estivesse correndo favorável a
“instrumento de paz” para o império. O curioso é que, para noite só
demonstrar a seu Exército. Assim, todos veriam, com “espanto renovado”, a
interferência, recorre-se à experiência histórica. cia é ao episódi o do “chamamento de
Suas vitórias anterina cair após seu triunfo . Outra referên
Maranhão, em São Paulo e Minas, tornam-se prova de seus inimigo s, Gedeão se sentia
irrefutável da Po K Gedeão”. Quando, diante do avanço
Providência divina. Isso porque ela atua sobre o indivíduo. desamparado, Deus lhe falou por intermédio de um anjo. Garantiu ao
O barão de E
xias não é só um general competente: é um escolhido,
e esse seu Caráter es. soldado que, apesar de seus parcos recursos, venceria a guerra e livraria
pecial só pode ser observado por meio de sua própria ação no mundo.% A
Israel dos inimigos. E assim se fez, por Sua interferência: o anjo do Se-
talvez esteja mais um bom motivo para ele começar a prestar
mais atenção nhor colocou os inimigos de Israel à espada de Gedeão.
no conteúdo de seus ofícios. A omissão de certos detalhes Oselementosrecuperados pelos “profetas do apóstolo são Tomé” —-nome
não só retira da
oposição a possibilidade de fundamentar melhor suas críticas, como pelo qual o artigo identifica os farrapos —, apesar de exagerarem a imagem
reforça
essa imagem, do “predestinado”. Ou seja, o ergue como herói. evocada na proclamação, acertam ao destacar a falta de modéstia do barão
Diante de tamanha pretensão, os farrapos não perderiam a chance de Caxias. Irritado com os “invejosos” da corte imperial, Caxias chegou a
de
ironizar 0 barão. Num jornal da cidade de Alegrete, O Americano,
pu- Porto Alegre — é ele mesmo quem afirma — “resolvido a tudo arrostar em
blicaram um longo artigo sobre o “profundo saber e modéstia do exmo. pouco tempo”. Vinte dias depois de sua posse, assegurava ao ministro Cle-
sr. barão de Caxias”:3! mente Pereira, referindo-se de novo aos “invejosos”, que a guerra “não era
tão difícil como eles o apregoam”. Faltava-lhes, na sua opinião, perícia,
Quem há que reprova a moderação e a decência com que s. exa. fala de si atividade e força de vontade. Por isso, após relatar suas primeiras medidas
mesmo? (...) O perigo que nos ameaça é iminente. Se o nome des. exa. pela
na província, podia afirmar convicto que na guerra “mais faz quem quer
fama de sua habilidade estratégica era capaz de inspirar-nos pavor, que re-
do que quem pode”.
ceio incutirá agora, quando o braço invisível do Onipotente o escuda €
Nesses vinte dias, Caxias vinha reorganizando o Exército. Em atenção
protege? Instrumento de um Deus, tudo lhe obedece: a terra, O céu e a na-
as “instruções” do ministro, logo no início de seu primeiro ofício-relatório
tureza; Os próprios elementos lhe estão subordinados e se é preciso pata
completar seus triunfos que pare o sol, veremos com espanto renovado esse avisava que, após três dias na capital, partiu para O rincão dos Touros,
portento com que o criador do Universo honrou as façanhas de Josué. Novo uma estância de invernada, a fim de “passar em revista uma brigada de
Gedeão, s. exa. será o anjo da vitória no Brasil, como aquele foi de Israel. cavalaria que ali se achava e [verificar] a cavalhada de reserva”. Tinha,
porém, más notícias. Dos 5.000 cavalos que seu antecessor— Saturnino de
A ironia obviamente recai sobre esse misticismo. Os farrapos podiam Oliveira, vale lembrar — havia contabilizado na estância, o barão encon-
reconhecer, na trajetória do barão, sua “habilidade estratégica”. Isso já trou apenas 3.260. Além disso, segundo diz, os animais não estavam “em
lhes provocava “pavor”. Não era preciso recorrer ao Onipotente. Uma estado de poderem prestar serviços antes do fim de janeiro”. Para piorar,
vez realizado o apelo, sentem-se à vontade para interpretá-lo.
Nada mé não podia contar com “mais de 2.600 homens de cavalaria capazes de

417
416
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO

operar fora de seus distritos”, enquanto os rebeldes tinham uma força de Caxias se referia exatamente ao jornal O Americano. Mas a resposta
3.500 homens dessa arma. Assim, definia sua estratégia a partir desses |j. O general apenas se
à sua proclamação ainda não havia sido publicada.
mites. Pensava em guarnecer São Gonçalo só com canhoneiras e uma po- rava para a guerra. Realmente estava otimista. Nesse ofício, ao tra-
prepa
lícia de 100 cavalos, puxando toda a força para O rio Jacuí, onde ele prazo estimado para O término da campanha, Caxias afirmou
tar do
acreditava que se desenrolaria O teatro de guerra. Havia pensado ainda em
“com roda franqueza que se algum acontecimento inesperado me não
criar uma infantaria a cavalo e, mantendo a modéstia, depois vier transtornar O plano que tenho concebido, suponho que por todo o
de comuni
car a idéia, disse ao ministro não entender por que ninguém havia lembra-
mês d e março terei como anunciar o resultado de um combate geral”. Ou
do disso antes. Outras medidas procuravam reduzir as despesas com a seja, ele imaginava finalizar uma guerra de sete anos em quatro meses.”
guerra. Caxias informava, nesse mesmo ofício, que tinha iniciado os cor.
Toda essa confiança, como se pode notar, não advinha da crença numa
tes de despesa pela “Repartição da Guerra”. Já havia dissolvido o bata- proteção divina, muito menos de uma má avaliação do estado do Exército
lhão provisório estacionado, parte em Porto Alegre, parte no Rio Grande;
imperial. Caxias, em fins de novembro, tinha noção exata das dificuldades
tinha demitido trabalhadores que com “jornais avultados” cuidavam de
que enfrentaria. Ele apostava, na verdade, em sua “perícia e força de von-
“tirar de dia a areia que o vento de noite acumulava sobre as trincheiras tade”. Além disso, não falava só em seu nome. Um dado importante para
do Rio Grande”, empregando no serviço os próprios soldados de sua entender seu otimismo era o grau de entendimento que o unia ao ministé-
guarnição; e demitiu oficiais reformados sem préstimo na guerra. rio. Isso lhe dava confiança. A resposta de Clemente Pereira ao relatório do
À correspondência com a corte também já estava estabelecida nos barão, em 12 de dezembro, oferece uma idéia do que era essa relação. O
moldes exigidos pelo governo. O lugar escolhido para a troca de malas tratamento dedicado a Caxias já chama a atenção. Clemente Pereira sem-
foi Torres, vila na divisa entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Apro- pre abria seus ofícios com um “exmo. amigo e sr. barão”, e, nesse ofício do
veitando essa mudança, Caxias providenciou também para que mesmo dia 12 logo na primeira frase confessava que “esperava com impaciência
Os ofícios que chegassem fora dos dias previstos pudessem seguir sem por notícias suas”. A cumplicidade era grande e vinha do desejo prioritário
muita demora à corte. para ambos de pacificar a província. O ministro não disfarçava sua alegria
Em seguida, ainda nesse ofício, o barão fez suas primeiras requisi- ao descrever os elogios que Sua Majestade tinha feito ao general após ler
ções. Na verdade, foram apenas duas. Notificando o ministro da total seu relatório e, ao expor sua própria opinião sobre o documento, Clemen-
falta de armamentos, solicitou mais 3.000 armas, além das 2.000 que te Pereira escreveu entusiasticamente: “quanto a mim, eu me felicito por
havia pedido, como reserva, antes de deixar a corte. Na outra requisi- ter encontrado quem tão perfeitamente me entenda”.*
ção, solicitou uma “imprensa portátil”. Pedia que ela fosse enviada com Certamente esse era o tipo de relação que Caxias buscava quando,
a maior brevidade, para que pudesse riscar mapas e, desse modo, conse: assim que chegou ao Maranhão, ansioso, escrevia à corte sobre sua po-
guir “regularidade na escrituração e na campanha”. Mas havia outro lítica militar, perguntando se ela agradava ao ministério. Naquela época,
motivo para essa urgência. Caxias soubera que os rebeldes criaram “um em função da intensa disputa em torno da maioridade do imperador e
jornal em Alegrete” e achava muito conveniente “ter também no campo das exigências da guerra no Sul, o governo pouca atenção deu a suas
esta arma”. Para O barão, a imprensa seria de grande valia para desfazer cartas. Essa atenção era, agora em 1842, um diferencial. Caxias estava
“embustes”? que os farrapos espalhavam. totalmente amparado pelo governo. Nesse ofício, O ministro Clemente

419
418
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO

Pereira atendia a todas as exigências do barão. Sobre as armas, garanti de São Paulo, Rafael Tobias de Aguiar, foragido desde junho,
que mandaria “sem demora” todas as 5.000. Aliás, não só as garqaia foi preso depois de uma ação que se tornaria símbolo de seu empenho e
como avisou que ia enviar mais 1.000 “espingardas fulminantes”, a
renacidade. Desde o término das amp nas de São Paulo e Minas, havia
modelo novo, que os ingleses vinham testando. Apesar de sua formação e cidades
vários líderes rebeldes nessas condições, errando por vilarejos
coimbrã, no curso de direito, o ministro tinha um enorme interesse por
do interior. Sem anistia, todos eram procurados e alguns tentavam se re-
assuntos militares, desenvolvido na juventude, quando combateu a Inva- articular politicamente. Este era o caso de Rafael Tobias. Ele havia fugido
são francesa na península Ibérica. Tinha se alistado, assim como Outros
durante o cerco a Sorocaba e, desde então, vários boatos corriam, anun-
jovens portugueses de Coimbra, no “batalhão acadêmico”, servindo sob
ciando seu paradeiro ora entre Os rebeldes de Minas, ora entre os farrou-
o comando do que de Wellington até 1815, ano em que embarcou tentou
pilhas. Saturnino de Oliveira, na última vez que esteve no Sul,
para o Brasil. Só aqu deu início a sua carreira na magistratura, tendo Mas,
checar alguns boatos, organizando buscas nos lugares denunciados.
exercido, durante o reinado do primeiro imperador, o importante cargo
ao final, nada se confirmava. Na breve passagem de Caxias pelo Dester-
de intendente-geral de polícia da corte.'* Essas experiências com certeza
ro, novo boato ganhava as ruas e, assim que O barão chegou à capital
contribuíam para aproximá-lo mais de Caxias, além do que, não é de- gaúcha, o comandante da polícia de Vacaria, vila ao norte do Rio Grande
mais acrescentar, tinha quase a mesma idade do pai do barão, sendo do Sul, o procurou para avisar do boato. Falava-se que Rafael Tobias,
apenas dois anos mais moço que ele, e deve ter acompanhado, assim indo em direção às Missões, havia requisitado a Bento Gonçalves, líder
como outros políticos da corte, a ascensão de Caxias na carreira. farrapo, um auxílio para poder reunir-se a seu Exército. Tudo era muito
Como decorrência desse perfeito entendimento, assegurava também suspeito. Sabia-se até detalhes do trajeto cumprido por ele: acompanhado
ao barão o envio, até maio, de fardamento completo para 8.000 ho- de quatro a cinco indivíduos, Rafael Tobias teria passado por Guarapua-
mens. Essas fardas nem eram das requisições mais urgentes. Em seu ofí- va, uma vila paulista (atual território do Paraná) e, depois, por Campos
cio, O barão de Caxias tinha mencionado apenas a falta de “capotes”. Novos, em Santa Catarina. Apesar de todas as “denúncias falsas” dos
De resto, considerava mesmo que o “Exército está menos mal fardado”. meses precedentes, o barão não titubeou. No dia 13, quatro dias após sua
Uma avaliação desse tipo é rara nos ofícios. Geralmente sempre há ca- posse, expediu ordens ao brigadeiro José Maria Bittencourt, comandante
rência de fardamento durante as guerras. De São Luís, por exemplo, das forças acampadas em Santa Bárbara, para que enviasse uma força na
Caxias escrevia à corte envergonhado com o estado de sua tropa. Não direção de Passo Fundo, a fim de colher informações e, confirmando a
sei se apenas para mobilizar o então ministro da Guerra, que custava à denúncia, interceptar, nessa cidade, Rafael Tobias.
atender suas necessidades, mas ele, em seus ofícios, falava em soldados À busca levou quase um mês. O capitão que a comandava, Benedito
seminus. Toda essa dedicação de Clemente Pereira era, sem dúvida, uma Martins França, ao chegar a Passo Fundo, enfrentou dificuldades para
novidade para o barão. A “imprensa portátil” solicitada também já es: obter informações, mas, instruído quanto à importância de sua comis-
tava sendo providenciada e o ministro apoiava, sem restrições, todas às são, insistiu, descobrindo que o líder paulista já havia passado por lá e
medidas adotadas na província. seguia para Palmeira. Foi nessa estrada, para Palmeira, que Rafael To-
Para aumentar ainda mais a autoconfiança do barão, antes de com- bias foi preso. Entre os que o acompanhavam estava seu enteado, Feli-
pletar um mês de sua posse em Porto Alegre, O presidente rebelde da ciano Pinto de Castro. Ambos foram embarcados para a corte na barca

421
420
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO

a vapor Campista, e, por ordens do barão de Caxias, deveriam ser leva. 1 - era filho de desembargador -, ingressou em uma força miliciana
dos diretamente para a fortaleza de Villegaignon. Durante toda a Viagem com a patente de capitão, sem passar pelos postos inferiores. Terminada
estariam sob a guarda do tenente-coronel Antônio João Fernandes Pizar. a campanha, decidiu seguir na carreira, sob a proteção de Caxias. Parti-
ro Gabizo. A patente do oficial responsável pela guarda indica a impor. cipou das três expedições subsequentes. Quando voltou de Minas, o ge-
tância dada ao prisioneiro, um político liberal de prestígio. O Ministério neral solicitou à Coroa sua promoção para major. Ricardo Sabino só
festejou a notícia. À determinação do barão e sua “fortuna” impressio- não foi promovido porque, como afirma um biógrafo, era o que se defi-
navam.*” Considerando esses dois primeiros meses, tinha-se q
Sensação nia como “caipora”, um homem sem sorte. No Rio Grande do Sul, em
de que em pouco tempo ele liquidaria mais essa comissão, provando função do apoio dado por Caxias, que inclusive havia reiterado de lá a
que, de fato, ela não era tão difícil como apregoavam os “invejosos”, solicitação de sua promoção para major, mantinha esperanças de ser
lembrado pelo imperador.*
Nessa rede de relações aparecem ainda alguns parentes. Os irmãos
O FANTASMA DE BENTO MANUEL Francisco de Lima e Carlos Miguel de Lima o acompanhavam desde São
Paulo, e o primo Luís dos Reis Montenegro veio com Caxias para a cor-
Domingos Gonçalves de Magalhães não foi o único companheiro a em- te, depois da Balaiada. Francisco de Lima, até seguir para São Paulo, em
barcar com Caxias para o Rio Grande do Sul. Ele também contava na junho de 1842, era comandante da Guarda de Municipais Permanentes,
província com o apoio de alguns oficiais de sua inteira confiança. À lógi- seu primeiro posto de comando. Reproduzia exatamente os passos do
ca da criação de uma rede de relações pessoais/profissionais seguia em irmão. Enquanto Caxias havia se afastado do comando da guarda para
pleno funcionamento e, a cada nova expedição, tal rede tendia a se am- seguir com o ministro em viagem ao Sul, Francisco se ausentava para
pliar. Ainda que não tenha realizado para essa pesquisa um trabalho servir sob as ordens do irmão em São Paulo. Pelos serviços prestados
sistemático de levantamento e cruzamento do nome de todos os oficiais nesta campanha e na de Minas, obteve a efetividade no posto de major,
empregados em cada uma das expedições comandadas pelo barão,é no qual seguia agora para lutar no Sul. Carlos Miguel, que escapou de
possível notar, por meio de uma leitura atenta, a repetição de alguns ser punido pelo crime cometido em 1833, voltou ao Exército em 1842
desses nomes. Agostinho Piquet é o mais antigo deles. Acompanhava como tenente sob a proteção do irmão, para combater os paulistas. An-
Caxias desde o tempo da Guarda de Permanentes. Tinha assentado pra- tes de seguir para o Sul, foi promovido a capitão. Luís dos Reis Monte-
ça como soldado em 1836, nesse corpo de polícia, e agora, seis ano negro, filho de Joaquim Silvério, tinha deixado São Luís como capitão e
depois, servindo fielmente ao barão em todas suas campanhas, seguia partia agora para o Sul, como major, indicado pelo primo Caxias.”
para O Sul como primeiro-tenente. A ascensão foi rápida, e já ocupavê Outros dois nomes se incorporavam a essa rede durante a campanha.
uma boa posição para alguém de origem humilde. Um deles também era parente, mais um primo, João de Souza da Fonseca
Ricardo Leão Sabino foi outro militar fiel, seguia o barão de Caxias Costa. Bem jovem, João tinha acabado de ingressar na carreira € fazia sua
desde o Maranhão. Apesar de ser professor de latim, gozando de certo primeira campanha militar. Mas a afinidade com Caxias foi tanta que, a
partir de então, nunca deixou de acompanhá-lo em suas expedições,
prestígio em sua província, Ricardo Sabino resolveu pegar em arm ES
transformando-se em um de seus maiores amigos. O outro era ninguém
para defender a causa imperial durante a Balaiada. Por sua condiçã?

423
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO

menos que Miguel de Frias e Vasconcellos, que tinha protagonizado co rom imperatl vo, escrevia ao ministro: “y. exa. bem sabe que não sou
Caxias, em 1832, uma cena de perseguição pela rua do Areal. Miguel à a seu res peito [de Frias], e por isso deverá tomar em considera-
suspeito
Frias, à época, era um liberal exaltado. Preso na fortaleza deVillegaignor ção o que levo dito”.*!
e mal informado, se lançou em um movimento abortado. Caxias, ou me.
O caso Miguel de Frias expressa com precisão o modo como Caxias,
lhor, o jovem Luiz Alves foi encarregado pelo ministro Feijó de reprimir muit o jov em, ent end ia e des emp enh ava seu ofício como militar.
desde
a revolta. Partiu para O campo, dispersou o grupo e, de adversário, ele sempre avaliava a posição deste antes de tomar
imediato, se lan- Diante do
çou em perseguição ao major Frias, que, a galope, tentava escapar. En. tude. Eliminar era sua última opção. Daria preferência à
controu-o escondido na casa de um amigo comum e isso lhe bastou. Luiz

qualquer ati alguns casos, até liberava o implicado. € [
Vinha agindo assim,
prisão e, em
Alves decidiu não levá-lo preso. Simplesmente, deixou a casa. Miguel de gue rra , co m reb eld es de me no r gra nde za. Dep ois poderia
nesses anos de
Frias, dias depois, embarcou para os Estados Unidos.“ alg uns del es no ser viç o da Cor oa, co mo oco rre u co m Mi-
até empregar
Só agora, em 1842, Miguel de Frias voltava ao Exército imperial, de Fri as. Ag in do des se mo do , su bm et ia o opo nen te, às vez es, a ima
guel
r Ignácio
Sua carreira, em função do episódio de 1832, tinha sido interrompida
. posição humilhante, como fez, em São Paulo, com o monsenho
Permanecia major, enquanto Caxias, oficial de sua geração, de s de Oli vei ra Ca br al ? e ain da cri ava co m ele um vín culo pes-
na época Marcon
também um major, já era marechal-de-campo. Esse foi o preço um a dív ida de gra tid ão. Qu an do dir igi da a reb eld es bem pos iciona-
que pa- soa l,
iando de
gou pela derrota de seus ideais políticos. Todavia, como pertencia a uma dos na sociedade, a estratégia era extremamente atraente, ampl
família tradicional de militares portugueses, obteve O perdão da Coroa e ma sig nif ica tiv a a red e de rel açõ es pes soa is do bar ão. Ess a est rat égi a,
for
pôde voltar à carreira. No Rio Grande do Sul, assumiu o posto de quar- após alguns anos de circulação por várias províncias, lhe garantia uma
tel-mestre-general. Cabia a ele executar o corte de despesas recomenda- boa margem de negociação político-militar.
do pelo ministério. Em pouco tempo, descobriu “muitas espertezas” nas É claro que, no caso de Miguel de Frias, há uma particularidade. Em-
obras militares da região, além de ter identificado irregularidades no bora, no Rio Grande do Sul, Caxias tenha tentado convencer O ministro
pagamento de oficiais. Tudo isso favorecia a imagem do barão de Ca- Honório Hermeto do contrário, anos depois, ele próprio confirmou ter
xias, e de seu governo, junto ao imperador. Assim, as relações entre O sido “amigo e companheiro de infância” do major. Se na carta ã0 ministro,
maior legirimidade
major e o barão se estreitavam com rapidez e, ao final de novembro, com em 1843, negou essa amizade, foi exatamente para dar
menos de um mês de governo, Caxias já defendia sua promoção para a suas intervenções a favor do major Frias. Dedicou-lhe uma atenção eo
tenente-coronel. O argumento do barão, em seu ofício a Clemente Perei- pecial durante a Farroupilha, dando um grande impulso em sua carreira.
ra, pautava-se exatamente na eficiência do major Frias, que, em apenas Recomendou-o ao governo diversas vezes e, ao final da guerra, Miguel de
vinte dias, já havia reduzido de forma significativa os gastos com a guer- Frias voltou para a corte como tenente-coronel empregado, na opinião de
empenho Em
ra. Percebendo as dificuldades que o passado político de Frias ainda pô Caxias, “nos mais altos cargos do Exército”. Parte de seu
infân-
dia gerar, Caxias, muito astuto, antecipava-se e lembrava, ele próprio, O apoiar o major, ainda “malvisto por todos”, deve-se a esses laços de
episódio. Mas dessa vez para usá-lo a favor do oficial, a fim de enfatizar cia.” No entanto — é importante registrar — OS Frias e Vasconcellos sao
a legitimidade da aspiração de Frias e de sua própria interferência nº uma família de prestígio, com respeitável carreira no Exército. O pai do
caso. Reafirmando sua posição de “agente neutro” e empregando
major havia prestado vários serviços à Coroa portuguesa, inclusive em ou-
seu

425
424
JT k5 -

DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO SAMGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO

tras colônias de seu império. Seu irmão mais velho, em 1842, era Marechal de muitos homens. a esses, é bem possível que predominassem ho-
de-campo e, até um ano antes, comandava as Armas da Corte.4 Tudo o mens tidos como à “escória da população”. O recrutamento, não se pode
era devidamente observado pelo barão de Caxias. esquecer, era dirigido a eles. O que gostaria de destacar, porém, é que, ao
Embora a deferência às distinções sociais pareça, à primeira vista reprimir, Caxias não deixava de considerar a utilidade dos rebeldes, mos-
um valor partilhado por toda a elite, isso só é verdade em parte. As cápi mrando-se disposto a negociar até com caboclos, como fez no Maranhão,
das mudanças políticas dos anos 1820 e 1830, acompanhadas por várias para aproveitar O conhecimento que tinham das matas. Para quem tem
revoltas na corte e nas províncias, tinham agitado as fronteiras sociais um olhar hierarquizado, cada um dos estratos da sociedade possuí sua
até então aceitas e, nesses anos, tentava-se encontrar justamente uma função, e a eliminação de um deles é sempre preocupante, porque interfere
fórmula política capaz de restabelecer a ordem. Mas qual ordem se pre- no funcionamento do conjunto, podendo comprometê-lo. É o princípio
o
tendia? Daí, as rebeliões. Princípios políticos diversos, mais ou menos mesmo da conservação. Nenhum grupo social era inteiramente desprezad
formalizados, se expressavam nesses movimentos de caboclos, negros, por Caxias, o que valia também para os negros, sobretudo escravos. Ele
índios, brancos pobres ou proprietários. Às vezes, esses grupos se uniam sempre evitava matá-los indiscriminadamente, e o motivo era simples:
em uma liga inusitada e, para alguns, assustadora. Isso mostra quanto tratava-se de um bem economicamente valorizado e, além do mais, parti-
essas fronteiras estavam indefinidas. Nem todo general, quando assumia cular. Quando o negro Cosme foi executado no Maranhão, ele já estava
uma expedição militar, fazia sua a tarefa de renegociar essas fronteiras, longe, em São Paulo. Deixou a decisão para os proprietários locais.
muitos agiam nas províncias de forma intransigente e violenta e, por Explicitar essa disposição do barão de Caxias para pensar a guerra
vezes, produziam um efeito contrário ao que se esperava de suas comis- politicamente — é importante que fique claro — não é parte de uma estra-
sões, agravando a crise na região. Pedro Labatut e Francisco José Soares tégia de “defesa” da imagem do general. É, na verdade, parte de um es-
Andréa são dois bons exemplos desse tipo de conduta. Labatut, por não forço analítico, fundamental, por exemplo, para entender sua atuação
reconhecer os limites de sua atuação nem o poder da elite local, no início no Sul, principalmente sua aproximação do imprevisível general Bento
dessas mudanças, em 1823, se desentendeu seriamente com autoridades Manuel Ribeiro, quando políticos esbravejavam na corte considerando
políticas da Bahia. O resultado foi lamentável: parte da tropa se suble- a atitude de Caxias irresponsável.”
vou e, depois de alguns dias, o general foi embarcado de volta para à Antes de embarcar para o Sul, Caxias já tinha comunicado ao minis-
corte, preso. Já Francisco Soares Andréa não se desentendeu com grupos trO sua intenção de buscar um entendimento com O general Bento Ma-
nuel. Clemente Pereira concordou com a idéia, mas achou muito arriscado
de elite, mas ficou conhecido, sobretudo depois da repressão aos caba-
nos do Pará, em 1835, como um general extremamente violento, que dar-lhe um posto de comando. Assim, autorizou o barão a tentar uma
teria promovido verdadeiros massacres na região. aproximação, permitiu até a reincorporação do general ao Exército em
O barão de Caxias, ao contrário, era extremamente político. Afirmar campanha, porém proibiu que Caxias colocasse sob suas ordens uma
isso não significa dizer que não atacasse as forças inimigas e nem empre força armada, ainda que fosse um destacamento.º
A decisão era polêmica, e bastante delicada. Apesar de ter sido anis-
gasse a força. Afinal, era um general em combate. Numa guerra, há sem” tiado em 1840, tendo obtido inclusive, por decreto imperial, autorização
pre EE e, numa sociedade hierarquizada, a vida de uns, sem dúvida,
para morar no Estado Oriental, o crime de Bento Manuel ainda não ti-
vale mais que a de outros. Certamente Caxias foi responsável pela m e

427
426
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO

nha sido esquecido nem no Rio Grande do Sul, nem na cort um pequeno ato de vingança, demiti-lo pessoalmente. Verdade
e. Isso por.
que não se tratava apenas de perdoar sua adesão à causa farroupilha. 0 ui fato é que a viagem do presidente animou o general. Para
crime cometido pelo general foi mais sério. Quando rebentou a rebe a Rice de seu plano, Bento Manuel licenciou as forças do Exérci-
lião,
em 1835, o general Bento Manuel Ribeiro era comandante de Armas da Rs a n d o O b rigadeiro sem recursos para tentar uma reação. Depois,
to , d e i x
província. Na época, não aderiu à rebelião. Defendeu fielmente Foi só aguardar. Quando o brigadeiro se aproximou do passo do ltape-
as leis do
império e a Coroa por quase dois anos, até o governo do Rio de Janeiro vi em Caçapava, à vanguarda de Bento Manuel Geudna voz de prisão.
decidir nomear um novo presidente para a província, o bri
gadeiro Ânte- Seguido apenas por uma guarda pessoal, Antero de Brito percebeu| que
ro José Ferreira de Brito. Walter Spalding atribuiu ao temper ag ir e e n t r e g o u - s e .
amento in- E ra in út il re
transigente do brigadeiro Brito o desentendimento entre r vi r. N ã o sa ti sf ei to c o m a pr is ão do pr es idente
os dois. Mas há Mas o pior estava po
quem se lembre também, para explicar esse desentendimento, de dispu- , Ben to Man uel red igi u uma pro cla maç ão co ne s ao seus
da província
tas anteriores à atuação do brigadeiro na direção da província. os a ade rir em, com ele, à cau sa Far rou pil ha. Em fins de
Em um oficiais e sol dad
ato impensado, O governo central havia retirado do cargo um março, tornava-se um farrapo e entregava a estes, como pro
va da since-
civil, ami-
go e parente de Bento Manuel, o dr. José de Araújo Ribeiro, substituí de sua con ver são , um pri sio nei ro val ios o — o pre sid ent e-b rig ade i-
do ridade
por um oficial-general, que, por ser militar e por sua patente, era um ro Antero de Brito.
concorrente natural de Bento Manuel Ribeiro. A chegada do brigadeiro A notícia caiu como uma bomba na corte, agitando por meses os de-
Antero de Brito, por si só, independentemente de como ele viesse a agir bates parlamentares. Tendo sido nomeado comandante de Armas duran-
no Rio Grande do Sul, limitava as ambições da família Ribeiro, que, até tea regência do padre Feijó, Bento Manuel foi transformado, nos discursos
então, vinha mandando na província, exercendo seus dois principais conservadores, em símbolo da incapacidade liberal para solucionar, por
postos de direção, o civil e o militar.* meio de sua política de contemporização, a “anarquia” das províncias”
O brigadeiro Antero de Brito tomou posse no dia 5 de fevereiro de Era exatamente toda essa história que voltava à tona, quase ser anos
1837. De imediato, Bento Manuel solicitou, por ofício, seu afastamento depois, com a proposta de Caxias. A decisão era, sem dúvida, delicada, e,
do Comando de Armas da província. Alegou, como era usual em mo- obviamente, o barão e o ministério não compraram essa briga à oa
mentos de crise, problemas de saúde. Mas, na verdade, estava decidido Desde julho de 1839 Bento Manuel não era mais um Farroupilha,
a trabalhar pela deposição do brigadeiro. Primeiro, tentou um golpe. havia se desentendido também com Bento Gonçalves, líder do port
Promoveu uma reunião com todos os chefes do Exército e tentou con mento rebelde. O imperador o anistiou em 1840 e, a partir de então; o
vencê-los a representar o governo imperial contra o brigadeiro, acusan” general cuidava apenas de seus negócios particulares. Caxias, porta
do-o de desmando. Não tendo conseguido o apoio da oficialidade, estava convencido de que sua ajuda seria fundamental no combate à
rebelião. Aí entra seu pragmatismo. Em ofício a Clemente Pereira, vinte
recolheu-se, Todavia, não desistiu de seu intento. Bastou correr o anún-
cio de que Antero de Brito deixaria a capital e visitaria o Exército nº dias após sua posse, quando ainda organizava O Exército, explicou
interior, para Bento Manuel voltar à tramarço Sua demissão ainda não Como o general poderia lhe ser — o termo é dele — “únil”. Bento pianue
tinha sido autorizada pela Coroa, ele continuava no comando do Exér- O supriria no que considerava ser sua maior necessidade na região: co-
cito imperial e, segundo se dizia, Antero de Brito seguia em viagem
Nhecimento prático do terreno”. Além disso, esperava aproveitar tam-

429
428
SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

Pode um altivo humilhar-se,


bém “suas relações” na província para obter “mais gente de Cavalaria
Pode um teimoso ceder,
cavalos”. Bento Manuel, concluía o barão de Caxias, “tem Muitos in Pode um pobre enriquecer,
migos por aqui, mas tem também alguns amigos no Exército”
É, Entrej Pode um pagão batizar-se,
estes, “os melhores oficiais da província”. Pode um avaro prestar-se,
Confiante e pragmático. Esses dois predicados definem o humor do Pode um lascivo confessar-se,
barão de Caxias nesses primeiros meses no Rio Grande do Sul. O Ofício Pode um mouro ser cristão,
em que explica sua intenção para com Bento Manuel é o mesmo em que O arrependimento salvar-se,
assegura “tudo arrostar em pouco tempo” e, mediante o recei Tudo pode ter perdão!
o do mi- Só Bento Manuel, NÃO.
nistro, que temia as consequências dessa aproximação, o barão de Ga.
xias demonstrava firmeza e tranquilidade: “Descanse v. exa. que eu me
hei de manejar com cautela com ele e política com o Exército.” Ao final, O general, entretanto, era uma figura mais complexa do que sugere a
para que o ministro não guardasse dúvidas sobre a natureza dessa rela- quadrinha. Inspirava sentimentos dúbios. Era temido, gerava repulsa,
ção, o barão retomava o assunto: “agora repito que me hei de usar dele mas nem por isso deixava de exercer também um grande fascínio com
como meu vaqueano-mor”.?! seu talento e inteligência. O mesmo povo que, nesses pequenos versos,
É bem provável que Caxias só tenha feito uma declaração como essa negava-lhe perdão, praticamente o cultuava em histórias que atravessa-
porque o ministro era seu amigo. Vaqueano-mor não é mais arrogância, riam gerações. Uma delas rezava que o general, durante longas jornadas,
é sarcasmo. “Vaqueano” é sinônimo para “guia”, mas com um sentido dormia sobre o cavalo sem suspender a marcha e que se alguém, com
estritamente geográfico. Define o trabalho de quem conduz pessoas por receio de se perder, o acordasse de madrugada, ele facilmente acalmava
capim,
conhecer com perfeição os caminhos e atalhos de uma determinada re- a pessoa. Olhava para o céu, mastigava e cheirava porções de
gião.'* A comparação foi, sem dúvida, um recurso do barão para zom- ervas e arbustos e, ao final, dizia com precisão o ponto em que estavam
bar um pouco desse temor que Bento Manuel passou a inspirar em seus e por onde a marcha deveria prosseguir.
adversários, e sobretudo nos aliados. A recorrência ao termo “mor” em Nascido em Sorocaba, mas criado nas Missões gaúchas, Bento Ma-
nuel Ribeiro tinha participado de todas as campanhas militares ocorTi-
trocadilhos, pelo jeito, é antiga. O posto de vaqueano-mor não existia.
das na fronteira depois de 1800, ano em que se alistou no Regimento de
Tudo não passava de ironia do barão. Considerando o talento do gene-
Milícias do Rio Pardo. Conhecia como poucos a região e, de fato, daria,
ral, Caxias faria dele chefe de seus vaqueanos.
Por conta de sua trajetória nesses anos de rebelião, Bento Manuel um ótimo vaqueano. Só que suas habilidades excediam em muito as de
o melhor estra-
estava completamente isolado na província. Nenhum grupo — nem re um “guia”, Era considerado, até entre Os Farroupilhas,
tegista da província. Além, é claro, de conhecer muito bem, como só os
beldes, nem legalistas — conseguiria, mesmo se quisesse, confiar nova”
grandes caudilhos conheciam, o jogo de interesses e intrigas que organi-
mente no general. Seu nome inspirava aversão até na população comum,
Zava a política no Prata. Proprietário de vastas estâncias no Rio Grande
como revela essa quadrinha, cantada principalmente pelos simpatizan”
do Sul e no Estado Oriental, estava sempre atento à política de ambos os
tes da República:s3 esse
lados da fronteira, que cruzava constantemente.** Era justamente

431
430
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO

perfil “vaqueano-estrategista-político” que a cada dia despertava Mais q « uma família de militares, com experiência na administração do
ral, d
interesse do barão de Caxias. Quando Bento Manuel passou a integrar Rio Gra nde do Sul, José Maciel inicialmente não criaria problemas para
o corpo de oficiais do Exército em operações, como não podia sua reação foi como a dos outros ministros: achava a atitude
OcUpar Caxia s .
um comando, ficou empregado no estado-maior. Isso significa que parti. c a d a demais e temia que o barão sofresse um golpe fatal na provín-
arr i s
cipava do planejamento e controle das operações militares do Exército, c a s o Antero de Brito, apesar de haver ocorrido anos antes, reapa-
cia. O
uma função bastante conveniente, que permitia ao barão, como ele ex. recia nessas horas com uma força espetacular, assombrando a todos. Até
plicou a Clemente Pereira, “trazê-lo sempre comigo” e explorar suas porque um golpe sobre o barão de Caxias era iapira Nadia
habilidades, “consultando-o sobre qualquer movimento que pretend O partido, fornecendo aos liberais “munição” para, no
ia sentido por todo
fazer”. Foi exatamente nessa função, trabalhando ao lado do barão de mínimo, uma legislatura inteira de debates e acusações no Parlamento.*
Caxias cotidianamente, que o general conseguiu ampliar seu espaço no
Exército. Após três meses na província, longe de usá-lo apenas como
guia, O barão estava convencido de seu valor militar, a tal ponto que FALO GROSSO QUANDO MANDO
decidiu enfrentar a duríssima tarefa de defender sua nomeação para um
posto de comando, oficiando para o Rio de Janeiro, a esse respeito, no A empreitada, de fato, foi difícil. Só em abril, dois meses depois de ofi-
dia 22 de fevereiro. A intenção de Caxias era dividir com o general nada ciar para o Rio de Janeiro, Caxias pôde nomear Bento Manuel coman-
menos que o comando de todas as forças imperiais, ficando à frente da dante da 2º coluna em operações no sul. O clima era tenso. À nomeação
1º coluna, operando na parte centro-leste da província, e passando ao deixava Bento Manuel totalmente livre, tendo sob suas ordens boa parte
imprevisível general o comando da 2º coluna, que deveria atuar na re- do Exército em uma região que conhecia como nenhum outro oficial
gião mais recomendada pelo ministro em suas “instruções” — o temido imperial e onde, mesmo com toda sua habilidade, Caxias, caso prediso,
“interior” do Rio Grande do Sul. se, teria poucos meios com que reagir. Reconhecendo esses limites, to-
À atitude era extremamente arrojada e o barão, melhor que ninguém, logo suas prov idên cias . A prim eira dela s foi com por a 2 coluna
mou
sabia disso. No Rio de Janeiro, o ofício de Caxias foi recebido por um com “oficiais inteligentes e de minha inteira confiança”, entre eles um de
novo ministro da Guerra e discutido por um ministério recém-formado. seus irmãos, o major Francisco de Lima, e seu tio mais moço, O tenente
Aureliano Coutinho, depois de muito manobrar, tinha conseguido que coronel Luiz Manoel de Lima. Outra providência foi manter intenga cor-
sua demissão fosse seguida pela dissolução de todo o gabinete. Seus ad- respondência com o general. Ela era quase diária e, pela primeira vez, O
barão cuidou de criar um livro oficial para organizar e guardar, em or-
versários caíram com ele. Os conservadores, porém, permaneciam no po”
der, só que agora chefiados por Honório Hermeto Carneiro Leão. Como dem cronológica, cópia de tudo, tanto dos ofícios encaminhados por ele
a única exigência do jovem imperador, ao incumbir Honório de organizar como das respostas e ofícios assinados por Bento Manuel, o que gerou,
Ó gabinete, era de que ele promovesse uma renovação geral
ao final da guerra, três livros de correspondências.”
nos només
Por meio desse material, é possível notar o nível de investimento fic
que integravam o ministério anterior, Caxias perdia, no governo, O apoio
Caxias nessa relação, transformada por ele em uma verdadeira parceria.
do importante aliado e amigo José Clemente Pereira. A direção da P ao
O plano de operações era traçado pelos dois, juntos, etapa, por etapa é,
da Guerra ficou com outro oficial, Salvador José Maciel. Também gen

433
432
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO

durante a execução de cada uma delas, trocavam informações mão logo O general soube das mudanças políticas : conta o barão — “prin-
necessário, alterarem a direção prevista inicialmente. A liberdadePara, se cipiou à rosnar pela boca pequena que dra de opinião de duas autorida-
barão concedia a Bento Manuel é impressionante. Como a dia E ; nua ele— que
contio
des na província”, uma civil e outra militar, supo— nd
os separava era grande, investiu o general de autoridade era avess o”. Sua segur ança era só apare nte. O ba-
até para Ca o novo mistério “me
rar, sem precisar, nesses casos, sequer consultar um conselho. A E
o estav a “ desc once rtad o”, mas “fing ia” de nada saber. Preferia, como
ra
exigência do barão era que, havendo mudanças, ele fosse imediata = s anos anteriores, acionar seus amigos. Daí a carta
ao ex-ministro.
informado, reservando-se ainda o direito, na qualidade
no
ntav a à insta bilid ade produ zida pela muda nça de ga-
de coma E E Nel a, não só come
em-chefe, de discordar e reprovar a medida. io em sua relaç ão com Bento Manue l, mas também
binete, especialmente
, Desse modo, em abril, no dia 29, Bento Manuel já recebia pedia ao amigo que prestasse atenção às notícias que seriam publicadas
a cavalha
a comprada pelo tenente Hipóli 1Á a guerr a nos próx imos dias. O clima segui a tenso. Isso porque, na
sobre
dia Rs a “regressar a jogou pesado,
cs x Raia É Ra a tentativa de obter O “mando do Exército”, Bento Manuel
tião,
seguro e próprio para invernada”. Como O E mero EE mandando — quem conta ainda é Caxias — “seu filho, o dr Sebas
idade
havia explicado
: mM em suas “instruções”, esse era um grande ; agente
Rd: de para a corte com ordem de escrever contra mim e exagerar a capac
guerra na regiao, mas, ao nomear Bento Manuel, não havia jeito, do pai para o comando do Exército”.
Ca-
de
xias tinha que lhe confiar as cavalhadas, acreditando na avaliação
do Essa forma de agir do barão acabou lhe rendendo o que, vindo
general e confiando no destino que dizia lhes estar dando. Jamais
de- Bento Manuel, era um elogio. O general, percebendo que Caxias fingia
monstrava insegurança. Em seu ofício-resposta de 1º de maio escrevia “não se dar por sabedor”, continuando a tratá-lo “sempre com a mesma
estar “ciente” da medida, aprovava uma outra idéia de Bento Manuel, afabilidade e franqueza”, dizia que “se tinha por muito velhaco,” mas
sobre a criação de um esquadrão em Alegrete e, ao final, dava notícias — e é Caxia s quem escre ve — “eu era mais do que ele, tendo metade
que
detalhadas de sua marcha, escrevendo ainda, sem a mínima inquietação, de sua idade”.S8
que ao chegar com seus homens “na estância do falecido José Jacinto O termo “velhaco”, entre vários significados, na sua maioria bastan-
Peres | “daí não marcharei sem que tenhamos, juntos, combinado os desig na ainda quem “não se deixa prend er ou conduzir
te negativos,
movimentos que devemos praticar”. com facilidade”. Lendo-o dessa maneira, O termo não podia ser mais
Foi sem dúvid a essa habil idade para circu lar entre homens
| Essa segurança do barão, tanto quanto a autoridade de que ele inves- apropriado.
ade forte e dispo stos a tudo para atingi r seus fins, que per-
tiu re Manuel, é surpreendente, por isso deve ser lida com cuidado. de personalid
mitiu ao barão trabalhar com Bento Manuel, quando todos O temiam,
À princípio, ela pode parecer consequência de seu excesso de confiança
ou pode levar o leitor a imaginar que Caxias tinha neutralizado Bento ou lhe tinham verdadeira aversão. Caxias agia tendo em conta suas né
cessidades. Nesse momento, precisava de Bento Manuel, por isso fingia

dei to ir e em cem
e nas O que se vê é o contrário. Ela não passa de uma grande
não saber de nada. Tomava suas providências sem estardalhaço. Isso lhe
garantia uma certa proteção, ainda que esta nunca fosse completa. Man-
se jog o, ext rem ame nte arr isc ado e difí cil, ia exe cut and o seu s
xias afirmava que a queda a - Peso ps paeair Ec Rm - cia tendo-se nes
CENSO a punido havia reanimado, na pr Planos, o que não significa q ue estivesse ludibriando Bento
Manuel.
una?. Entre esses, Bento Manuel Ribeiro.

435
434
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO

Como o próprio general reconhecia, Caxias seguia tratando-o “Com afE liam pouco. À palavra
;
“país” realça
rs o nível de estranhamento.
se manter res Vá
e franqueza”. Na verdade, o barão só conseguiu
bilidade cap az de ajud á-lo a assu mir “tão árdu a co-
precisav a, ali, de alg uém
nimamente seguro ao lado de Bento Manuel, mesmo após esse epiaGda missão”. Em contrapartida, Bento Manuel poderia contar com ele.
porque decidiu jogar abertamente, com toda sua “franqueza”, in u
Defenderia-o longe dali, na corte. Não por acaso, o barão começo
mando-lhe, em carta particular, da briga que estava comprando essa troca de correspondências escrevendo sobre as resistências que o
na Corte
ao defender sua nomeação para um posto de comando. Ao explicitar nome de Bento Manuel produzia nos políticos do Rio de Janeiro. Mos-
fragilidade de sua posição, o barão obrigava o general a assumir a
rrava ao general que, na prática, a anistia concedida pelo imperador
compromisso pessoal com ele, colocando-o na posição de quem deve e não servia para muita coisa. Depois de tudo que fez, desmoralizando o
muito. À pressão foi tal que, em seu ofício-resposta, Bento Manuel império, se não desse provas de sincero arrependimento, nada conse-
dizia
“sentir sobremodo que haja indisposições contra v. exa. por meu respei- guiria da Coroa. Difícil seria encontrar alguém disposto a dar-lhe nova
to”, selando, em seguida, o acordo tacitamente proposto por Caxias: chance, e Caxias a oferecia. Estava em suas mãos a decisão. O barão,
“Pode ficar persuadido de que não pouparei sacrifícios para
melhorar: como diria depois a Honório Hermeto, estava “cheio de favores dados
sorte do Estado, reservando somente para mim a satisfação de caber-me pelo governo”, era marechal do Exército e podia, com seu prestígio,
no último quartel da vida a glória de ser um dos tantos soldados que v. mudar o futuro do general.
exa. tem sabido dirigir pelo caminho da honra na árdua e espinhosa
ta- Bento Manuel reconheceu o pacto. Iniciou seu ofício de 24 de maio
refa da pacificação de quatro províncias do império.” Para demonstrar
tratando o barão por “meu general, presidente e senhor” e, a partir de
sua consideração e respeito, substituiu, na assinatura, seu nome
pela então, só assinaria: “de v. exa. súdito e amigo”.
expressão “súdito e amigo Bento Manuel Ribeiro”.
Caxias firmava assim uma importante aliança, e, é preciso reconhecer,
Caxias logo aproveitou a brecha cedida pelo general para confirmar vinha agindo de forma inteligente. Por meio da troca diária de ofícios, ele
Os termos do pacto, correspondendo inclusive à forma de tratamento:
agora não só mantinha um certo controle sobre o general, como passava
end er com ele mui to sobr e as part icul arid ades da guer ra na região.
a apr
Esse é um outro ponto que merece ser destacado. O investimento na rela-
Exmo. Amigo e sr. ...
| Muito agradeço a v. exa. o empenho que mostra em ção com Bento Manuel só foi bem-sucedido porque Caxias, em alguns
me ajudar, € es-
teja Ve Cia. certo de que sou o primeiro a reconhecer seu merecimento € momentos, podia ser humilde, reconhecendo, sem meias palavras, os limi-
particular tino para a guerra desse país, e por
contar com a sua coopera- tes de sua atuação. Em agosto, por exemplo, depois de enviar ão general
ca me resolvi a tomar sobre meus ombros uma tão árdua comiss
ão. novas instruções, por julgar necessário alguns ajustes na guerra, escreveu-
ntinue portanto v. exa. a ajudar-me como até aqui e conte com
igo lhe pedindo seu parecer e reafirmando a importância do mesmo: “se a v.
como de v. exa. amigo e camarada, barão
de Caxias. exa. ocorrer mais alguma coisa, diga-me, pois bem sabe que o que desejo
é acertar e, por isso, estou sempre disposto à aceitar O parecer de quem
Esse era um m tip
ti o de negocijaçã
ação a que o barão recorria com freqiiência. tem razões para melhor conhecer o sistema de guerra da provincia”.*
O ponto de partida é o reconhecimento de um lim
ite: no Rio Grande A arrogância do barão que chegou ao Rio Grande do Sul prometen-
do Sul — Caxia º assumiaja 1sso
| claramente — seus conhecimento s milita- do “tudo arrostar em pouco tempo” não se sustentava apenas no poder

436 437
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO

militar, ele confiava antes em sua habilidade para “manejar” com se


«0º €; 20 final, assinava secamente, “Bento Manuel Ribeiro”. O texto
“súditos” ou, recuperando a expressão por ele usada para traniilizar,
em si também era formal, um relatório. O único ponto que chama aten-
ministro Clemente Pereira, para “manejar com política no Exército” :
ção no relato, a princípio bastante comum, sobre compra de cavalos e
ele tinha razão. Não lhe faltava realmente habilidade, nem disposição
para lidar com conflitos, armados ou não. Em perseguições, é uma passagem em que o general conta como o atraso
um Exército de Antigo
Regime, integrado por oficiais que não passaram por um dos cavalos vindos de São Gonçalo e seu próprio atraso, na marcha até
forte treina- Alegrete, tinham sido “fatalíssimos”. O coronel José Ribeiro, um de
mento disciplinar (hoje fornecido nas escolas e academias
militares), os
conflitos internos, hierárquicos, eram tão seus irmãos, tinha sido assassinado, as forças comandadas pelos capi-
sérios quanto os contra
armados. Um comandante, para obter um bom resultado tães Siqueira e Hipólito Cardoso derrotadas e os rebeldes tiveram tem-
de seus subor- po de refazer sua cavalhada.
dinados, precisava saber lidar com homens que,
dispondo muitas vezes O barão de Caxias seguramente sentiu tudo isso, e foi sua vez de
de expressivo capital político, só admitiam mandar,
estando completa-
mente desacostumados a cumprir ordens. silenciar. Só após cinco ofícios de Bento Manuel, um deles escrito ainda
A relação superior-subordinado, desse modo, sempre no dia 3, e onde, talvez arrependido, ele voltava a assinar “súdito e
guardava uma amigo”, reforçando o termo com um “sou com alta estima de v. exa.”?,
certa tensão, e entre Caxias e Bento Manuel não
seria diferente. À troca o barão respondeu. Já estavam, então, no dia 23 de outubro. Vinte dias
de gentilezas entre eles durou pouco mais de quatro
meses. Até que de havia se passado, tempo superior ao do sumiço de Bento Manuel. Ca-
repente, sem um motivo aparente, a comunicação,
que era tão eficaz, xias parecia satisfeito com essa ligeira punição e disposto a esquecer O
quase cotidiana, foi cortada. O barão, para não pensar
no pior, preferiu episódio. Confirmou o recebimento de seus cinco ofícios, disse quanto
acreditar que os farrapos tinham interceptado e
roubado o correio, é eles o “vieram aliviar do cuidado em que estava por falta de notícias” e
continuava escrevendo, informando Bento Manuel
sobre suas marchas e passou a tratar da guerra.º
avisando, a cada novo ofício, que estava “sem
notícias da divisão”. Fo- A crise havia sido superada. Tudo voltava a correr como antes. No
ram 15 dias de expectativa, sem respostas e sem
que os mensageiros re- dia 28, Bento Manuel já pedia favores ao barão. Solicitava anistia para
ainsi, Só no dia 3 de outubro, Bento Manuel
escreveria. Justificou um capitão, identificado apenas como Reginaldo, que, servindo aos re-
seu sumiço alegando falta de vaqueanos,
dizendo que Mancilha, um dos beldes, havia sido preso em combate, e pedia também por Bento José
mensageiros de Caxias, se recusou a retornar com seus
ofícios.” Ribeiro, seu sobrinho, filho do coronel assassinado. Caxias, cumprindo
Obviamente, a história estava mal contada. O
pouco interesse do sua parte no pacto de maio, procurava atender aos pedidos. Para evitar

pnCr
Ee

A
em explicar à situação e a naturalidade

a
com que começou a re- mal-entendidos, explicou atenciosamente ao general, no ofício seguinte,
datado de 31 de outubro, que não poderia interceder pelo capitão. Ele
não tinha poder para “anistiar um homem que, servindo como oficial,
Além disso, para um bom obser vador,
di havia
a ainda
up outros indícios. Bem- foi preso de armas na mão”. Explicou também que a anistia chamaria
to Manuel, nesse mesmo ofício, voltava a tratar
Caxi
axias com a formal li- ainda mais atenção porque, até então, os rebeldes “não tinham soltado
dade dos primeiros meses, diri
g indo o documento ao “ilmo. exmo. nenhum dos oficiais do nosso Exército”. Para provar seu interesse e boa
barão de Caxias, general-presid St
ente e comandante-em-chefe do Exérci- vontade, sugeria uma outra solução, escrevendo ao general que: “se

438 439
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO

v. exa. o quer favorecer, cometa a troca com algum dos nossos que lá em qualquer direção que ele seguisse. Ora, eu pao só adicionei a essa di-
v.s. me pedia , como uma briga da e, por certo , nisso
estão”. Isso, segundo Caxias, não seria tão difícil. visão o batalhão que
se supu sess e que v. 5. queri a com essas força s ocupar
Simples mesmo só o caso do sobrinho de Bento Manuel. A decisão não consentiria
o s € de i xar os rebel des engo rdar em seus caval os!
dependia unicamente de Caxias, que afirmava categórico: “nenhum pont
dúvida terei em fazer a nomeação que me pede”. O rapaz, explica o tio s o r “s r. b r i g a d e i r o ! » a b a n d o n a n do
tinha andado pelo Estado Oriental, se envolvido em “negócios” e am Era agora sua VEZ de tratá-lo apena p
p e i t o s o “v . e x a . ” d o s o f í c i o s a n t e r i o r e s , eo
o opcional e por iss o m a i s r e s
java voltar, para servir no Exército. Mas sentia “algum pejo”. Primeiro, n a v a . E s t a v a ads
o m a r a d a e a m i g o ” c o m q u e os a s s i
porque havia servido, anos antes, como tenente, aos rebeldes. Depois, simpátic “ca
t o . À q u e s t ã o a q u i e r a b e m e s p e c í fica.
porque se não contasse com a proteção de Caxias teria de começar como até então não se tinha vis
n a d o m a n t e r a p e r s e g u i ç ã o a o s r e b e l d e s. Essa
como “simples guarda”. Era esse o pedido de Bento Manuel, atendido Bento Manuel havia combi
ida om o objetivo de evitar que os farrapos
era parte da estratégia defin c
de imediato pelo barão, que o rapaz “servisse no mesmo posto de tenen. e s g a s t a r os q u e t i n ham.
s t a d o O r i e n t a l e p a r a d
te no corpo provisório”. recebessem cavalos do E e c ia
v i d C a n a b a r r o , g e n e r a l f a r r a p o , a p a r
Mas não era isso qu e se via. Da
Aceitar ex-rebeldes no Exército não era um problema para Caxias. e n t i a t r a í d o:
a s f e i t o d e c a v a l o s . O b a r ã o se s
Quando em dezembro defendia um entendimento com Bento Manuel, nas coxilh re
um dos argumentos que utilizou para convencer o ministro da importân- me dir igi u a 1* par te aci ma me nc io na da, ou se
Ou v. s. se enga no u qu an do
cia dessa aliança foi justamente o número de adesões que poderia obter, é pos sív el que os reb eld es, não ten do rec ebi do cava-
engana agora. Como a

p ad
a;

em con tín uo
*

de homens fiéis ao general. Além disso, um de seus tios, até ser assassi- do- se ma nt id o
=

lhadas de fora da pro vín cia , e


*
ten
-

nado em 1837, tinha sido um líder rebelde. Esses comprometimentos, de no ve mes es, po ss am est ar mai s be m mo nt ad os que nós:
perto
para ele, nunca eram irremediáveis.
o tom ríspido não
Alguma coisa, porém, voltou a acontecer nesses dias. Depois de se Ainda que essas cobranças fossem mais que naturais,
esforçar duas vezes para não entrar em conflito com Bento Manuel, nas , me sm o dia nte da ser ied ade do tem a, pel a ren ovação
se explica ape
usando o tempo como aliado, Caxias retomou o episódio de setembro, é cav alh ada reb eld e. Cax ias sab ia que era difí cil pat rul har toda a fron-
da
eram
lhe falou duro. Tudo aconteceu muito rápido. Esse ofício foi escrito no teira e, além disso, as articulações políticas dos farrapos no Prata
mesmo dia do anterior, 31 de outubro, e Caxias começava tratando de ida s em tod o o imp éri o. Era exa tam ent e isso que vin ha prolon-
conhec
assuntos da guerra. O tom, mais que imperativo, era par a esc apa r das per seg uiç ões , fos se para obter
ríspido: gando a guerra. Fos se
ld es cr uz av am à fr on te ir
| a co ns ta nt em ente, an to|
novos cavalos, os rebe
Trate de meter-se entre a força com que me acho, e a que está em Piratini, “i ns tr uç õe s” , al er to u Ca xi as so bre a tãtl-
assim que o ministro, em suas
e

que consiga bater a menor das duas antes de poder ser socorrid
a

vizinh os. De ss e mo do , me sm o que


a. S€
*

ca, para que não invadisse os países


durante o o inv
i erno essa div isãã o pode sempre seguir O inimigo, com
ivis todo seu talent o, se nd o ex tr em am ente vigi-
o ago Bento Manuel tivesse usado
ra, na estação mais |
lembrado pró pri a de ope rar , ela há de fic ar inativa? V. s. está lante, o risco não estava completamente eliminado.
Es ed PR me requisitou mais um batalhão de infantaria pata
pl an ej ad as pel o gen era l — que , se gu nd o Caxias,
onde E ai que o desejava para ficar a bagagem mais pesada Quanto às mudanças a-
ui çõ es e es ta ci on ar to da su a fo rç a em Sa nt
sê em Alegrete, e poder v. s. continuar a perseguir o inimigo pensava suspender as perseg

a41
440
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO

na do Livramento —, a situação era mais grave. Tinham trabalhado jun. ssassinato foram só devidos à deliberação tomada por v. s. de des-
ren |
der essas forças, não estando |
autorizado por mim, que o tinha antes
e =

tos nessa estratégia. O barão ouvia e dialogava sem reservas com Bento
ç
E

Manuel. Por que ele mudava agora de opinião? Foi certamente Com pr: evenido com a ordem acima mencionada.
essa
pergunta em mente que Caxias acabou relembrando a crise de sete
mbro, a a acusações. a na
Se na época, após dias de silêncio, decidiu relevar a atitude do gene o general Bento Manuel engoliu
ral, E
provavelmente o fez por considerar o momento difícil pelo qual ele pas- defender. Apenas afirmou, em poucas lin e Estar ei a
sava com a morte do irmão. Francisco de Lima, irmão de Caxias, come- trigas”. Lembrando um aten FeEutdo ele is E, 0 a frio
0, Ee E à E
çava a viver, também em setembro, problemas de saúde e o barão
se general Conrado, que dizia j ã aa nao fa
Era € e, dessa e a
condoía ao vê-lo fazer a campanha em uma sege, por não
conseguir mais gurava estar com sua conselência tranquila”.
a
andar. Decidia nesses dias se o mandava de volta à corte ou não para colocava um fim na história, evitando que dela surgisse uma a
se
tratar. Talvez por isso tenha sido mais tolerante
com Bento Manuel.
rornável. O barão, ao que tudo indica, parece ter, de fato, se aut o
Além do mais, continuava dependendo do general. Mas isso levar por intrigas. Todas as acusações que fez à Bento Manuel e
não signif-
ca que tivesse esquecido seu recente sumiço e sua atitude em seu ofício, como resposta a um outro, enviado pelo general no e
seca e distante
com um superior que nenhuma responsabilidade tinha 29 de outubro. Só que esse ofício, do dia 29, não menciona nada E re
sobre o aconteci-
do. Havia ainda a história do início do ano, quando renovação da cavalhada rebelde e nem comunica queldier digas E
o general mandou
o filho fazer intrigas por meio dos jornais da corte. estratégia previamente combinada. Bento Manuel não disse — pelo =
Nesse momento, ir-
ritado, Caxias relacionou todos os fatos, considerou nos não nesse ofício — que pretendia ficar estacionado em Santana o
que era preciso im-
por um limite, que estava sendo desrespeitado em Livramento. Limitou-se a informar que seguia em marcha para esta =
sua autoridade e,
como escreveu a um amigo comentando o assunto, dade com a intenção de “tomar as cavalhadas magras de Canabarro,
“não sou homem de agir
para sofrer que um meu súdito se atreva a me fazer cócegas que, segundo se dizia, excediam a 4.000. Ao final, ao oa
atrás das
orelhas”. No mesmo ofício, conseguiu ser ainda mai de forma independente, escrevia que, lá chegando, oficiaria a Caxias e
s duro com o gene-
ral, responsabilizando-o diretamente pela mort aguardaria novas ordens.
e do irmão:
Apesar de iniciar a campanha zombando do medo que todos es
Disse-me v. s. em um artigo de seu ofício de 3 des monstravam ter por Bento Manuel, o barão de foascias não estava o
se mês que a tardança
da cavalhada de São Gonçalo tinha causado a sua dem
ora em voltar so- às lendas contadas sobre o general, nem menos sujeito a assombrações
bre Alegrete, e que isso nos tinha sido fatalíssimo, não do passado. O sumiço de Bento Manuel deve tê-lo aterrorizado,
a E
só pela morte do
coronel José Ribeiro, como pela derrota Carreira e seu nome que estavam em jogo, nas mãos do Ens, ç E
dos capitães Siqueira e Hipólito
(...) V. s. estará lembrado que a ordem
que lhe mandei (...) foi de que passo em falso e todos seus sonhos, de uma promoção no Exército, &
manobrasse de maneira que cobrisse os municí
pios de Alegrete e Mis- novas comendas e até mesmo de um novo título de nobreza, pociam se
desfazer diante de seus olhos. Pior, tudo isso sem que ele tivesse muito
xasse força alguma em Al como reagir e se defender. Aguardou quinze dias para entender das
(oo egrete, € v. 8. me participou logo estar reunido
ao coronel Ribeiro (...) Portanto, estava se passando e, mais uma vez, arriscou, optando por man
Os destroços havidos nas duas partidas

das
442
SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

general. Vinte dias depois, como reação a uma história que desconh e
mos, vimos que todos esses sentimentos emergiam com extrema violên. nir ao Exército com a cavalhada”. Contou também que dis-
em se reu
cia. O fato é que, apesar dos termos gentis e da aparente amizade ua idéia quanto a suspender as perseguições e estacionar as
barão não acreditava na sinceridade de Bento Manuel. Tudo continuava rana do Livramento. Mas, nessa carta, o barão revela
como parte de um jogo. Em carta ao pai, de 11 de novembro, ou Seja m d a d o e uma outra região de disput a. Diz que Bento Manuel
mais u
apenas seis dias após a resposta do general, em que ele afirmava es a m o r t e d o ir mão não a ele, Caxias, mas ao coronel Manuel
atribuía pe-
g a ú c h o , e s t a v a a
sendo vítima de intrigas, Caxias escrevia: l e r a b e m m a is jovem ,
r o n e
Matos de Sotisa: > co e provinha de uma tradício-
nas uma patente abaixo de Bento Manuel,
Bento Manuel continua a comandar a coluna e bem a seu pesar vai vendo res , co m pai e avô gen era is. Al ém dis so, os Ma r-
nal família de milita
concluída a obra de suas mãos. Ele finge-se meu amigo, mas é porque não de po ss es .” Ou sej a, o cor one l era um co nc or-
tem ainda o menor apoio na força [militar], que o detesta, e que só por ques eram uma família
de Be nt o Ma nu el no Ex ér ci to e dev ia hav er, ain da, entre os
meu respeito o obedece. Eu conheço bem seu caráter, porém também rente direto
|
conheço sua habilidade para essas guerras, e por isso o aturo, e mesmo dois, pendências ligadas à política provincial.
Ca xi as , ao ser du ro co m Be nt o Ma nu el no ofí cio do dia
finjo ter nele confiança, para tirar dele todo o partido, mas sou da opi- O barão de
nião que, concluída a guerra, tu br o, est ava ce rt am en te te nt an do int erf eri r no cas o € pôr fim ao
ele não deve ficar aqui, pois do contrário 31 de ou
Bento Ma-
ela há de tornar a aparecer e, então, sem remédio... conflito entre eles. Tinha motivo suficiente para desconfiar de
vez , o co ro ne l te nh a se ap ro ve it ad o dis so. In de pe nd en te me nte
nuel e, tal
É difícil avaliar quais eram as reais intenções de Bento Manuel ao as- em tin ha raz ão, as re aç õe s do gen era l er am se mp re mai s am ea ça do-
de qu
sumir o comando da 2º divisão. Se, por um lado, sua trajetória revela ras. Ão se fragilizar com a morte do irmão, sumiu € deixou Caxias por
cada.
um homem muito político, um “velhaco”, com grandes ambições na quinze dias em situação bastante delicada. Aliás, duplamente deli
região, dono de uma fortuna em terras, gado e cavalos, nada há contra Primeiro, por não saber o que se passava. Depois, porque começou a
ele nesses anos. Serviu fielmente ao barão até o final da guerra. Ão que correr no Exército, chegando até a corte, a idéia de que Caxias andava
e cx e
- e

parece, estava realmente interessado, como escreveu a Caxias, em o Man uel ”. Era pelo men os isso que O próp rio bar ão
pela mão de Bent
aproveitar esse “último quartel de vida” para recuperar sua credibili- dizia ao amigo anônimo:
dade junto ao governo central. Por outro lado, havia no Exército e na
corte muita gente interessada em desestabilizar à imagem do barão de Manuel, como muita
Para v. exa. ver que não ando pela mão de Bento
Caxias. Todas essas histórias, tanto o sumiço de Bento Manuel como pen sa, e que falo gro sso qua ndo man do, aí vai a cópia do ofício que
gente
pei to do que ele me res pon deu , sem men or à que 1 a
reflexão,
as acusações feitas por Caxias, chegaram fácil ao Rio de Janeiro, indo lhe diri gi a res
cumprir tudo quanto eu lhe determinava.
parar nos jornais. Um amigo, cuja identidade permaneceu anônima,
EscevEa ao barão, muito preocupado, comentando alguns
boatos. ia sub-
Um jornal, explorando essas “desinteligências”, havia anunciado Caxias sentia necessidade de provar sua autoridade, e de que pod
nà ações se
cor
Ee te su a demississãão. Caxias; , que jáiá sabiacahi do tal artigo, estava irri meter o general. O clima no Exército continuava tenso. Sublev
jri tado. das por ofic iais .
bentav am nos cor pos , sen do, na mai ori a das veze s, lid era
*pueom 49 amigo que, de fato, Bento Manuel “em ofício atribuía-a

445
444
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO

Por isso, tinha de mostrar, com atitudes, que sabia falar grosso. Esta aviam deixado o local. Tudo que conseguiu, após breve perseguição, foi
como escreveu em outra carta ao pai, “de braços atados”, proibido
é arrematar 520 cavalos. Mas o barão já ficaria satisfeito. Estava muito
“fuzilar”, mesmo “duas ou três vidas”, para “sanar” problemas
de ins empenhado, nessa viagem às vilas do Sul, em aumentar a cavalhada do
bordinação. Como não queria “dar motivos a ser descomposto
sie Exército. A expedição era esperada em São José do Norte. Aí encontrou
mente”, nem “falava mais nesse poder”, ainda que acreditasse que ali F
o ba rão de Caxias com aproximadamente 4.500 cavalos, retirados do
fosse necessário, até porque, segundo ele, os farrapos
0 exerciam a rincão dos Touros (importante estância de invernada) e de várias pro-
mente, não tendo, para isso, que se sujeitar a qualquer formalidade.
não iria insistir. Manteria, apesar de todas as dificuldades
Mas priedades da região do Chuí.
, sua atual es- Foi nesse momento, quando precisava atravessar o rio São Gonçalo,
tratégia: exigir respeito, cuidando para ser, ao mesmo tempo,
“estimado com seus homens e toda a cavalhada, para seguir em direção a Rio Pardo
de todos os meus subordinados”. Consolidada essa tática, de quem
sabe e ganhar o interior da província, que O barão aplicou um golpe inespera-
falar grosso — afirmava o barão —- não tenho me
do de mais nada nesse do. Com rápidas manobras, deu a entender que passaria o São Gonçalo
mundo e irei assim carregando meu andor”.70
perto de Canudos, e seguiria para Piratini. Os rebeldes logo se posicio-
naram. Antônio Neto, general farrapo, o esperou naquelas imediações,
enquanto David Canabarro manteve-se em posto de observação. O ba-
ESSAS AVES QUE VOAM PELOS CAMPOS
rão, no entanto, à última hora, optou por outro caminho, considerado
pelos “práticos da província” de grande risco. Cruzou o rio na altura do
O barão de Caxias iniciara as operações militares no dia
11 de janeiro passo da Barra e seguiu até a vila de Camaquã aceleradamente. Esse
de 1843 com uma manobra que desconcertou os rebeldes.
O governo trecho, de planícies, era aberto e muito vulnerável. Por isso, tão logo
legal, até então, mantinha posse exclusiva de toda a linha
fluvial de na- alcançou a vila, Caxias comemorou. Daí em diante, ele e seus homens
vegação, desde a lagoa Mirim até a vila de Cachoeira,
às margens do estariam “cobertos pela serra do Erval à esquerda e, à direita, pela lagoa
Jacuí.” Havia dominado justamente os pont
os acessíveis aos vasos de dos Patos”. Poderiam então seguir com tranquilidade para Rio Pardo.
guerra, e foi por aí que Caxias iniciou sua movime
ntação. Durante os A possibilidade de um ataque inimigo era remota.”
meses de novembro e dezembro, período de
preparação da guerra, ele Os farrapos ficaram surpresos, o golpe tinha sido arrojado. O terre-
percorreu toda a região, inspecionando hospitais, depósitos, trincheiras,
no, naquele trecho, era hostil e o barão de Caxias certamente só execu-
see e ranchos, até São José do Norte, ao sul
da lagoa dos tou tal manobra porque estava assessorado por um ótimo estrategista.
" Em fins de dezembro, mandou vir de Porto Alegre, por essa la- Não que lhe faltasse competência, mas não tinha o que ele mesmo reco-
& composta de cinco corpos de cavalaria da nhecia, ainda no Rio de Janeiro, como fundamental nessa guerra — co-
Guarda Nacional, esquadrões das vilas de Faxinal e São Leop
oldo, 200 nhecimento prático do terreno”. Era, sem dúvida, o talento de Bento
Ne a E catarinense, À expedição deveria ata- Manuel que sobressaía, com seu tradicional brilho, aos olhos de todos,
car os rebeldes ac ados no irei ; inclusive do barão. Nessa época, sem autorização para assumir um pos-
u não sc na E E pise to de comando, o general vinha servindo, como vimos, no estado-maior,
viagem e, quand O à expedição aportou na
foz d
oz do Camaquaã, oses rebe [des planejando e controlando a execução das operações militares do Exér-

446 447
A aaa

DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO


SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO

cito. Não à toa, duas semanas depois, no dia 22, Caxias


dec
der junto ao ministério a nomeação do general para o com Idia defen. nantes, à essa altura acreditavam que destroçariam com facilidade os
ando da Za Farrapos. Mas a sorte estava do lado destes. Um destacamento rebelde,
divisão. Se a travessia até Rio Pardo podia ser considerad
desafio maior aguardava o barão na etapa seguinte, até q a um feito, de uns 50 soldados, em uma Faca de rotina, sem notar a presença dos
Missões — e ele sabia disso. Quatro dias
m mar a a z 4 região das imperiais, marchou justo na Gireção da emboscada. Percebendo que se-
antes, no dia 18, já havia escrFito riam descobertos, O coronel Jacinto Pereira se viu obrigado a atacar os
à corte, informando que a intenção dos rebeldes, agora que
chegado até Rio Pardo, era isolá-lo no meio da ca -ebeldes. Tiros foram disparados e um integrante da ronda correu para
mpanha, p ara evitar
que renovasse sua cavalhada, em grande parte alertar o general Portinho, que, avisado, fugiu com sua vanguarda. Ain-
fornecida pe los países da assim, os farrapos foram totalmente desbaratados. Dos 300 homens
vizinhos, ou seja, proveniente das linhas de fronteira.
vencer esse isolamento era tomando a ini
O únic O meio de que seguiam O general, apenas 40 o acompanharam na fuga. Onze caí-
ciativa e avançando com q ram mortos em campo e os demais, tentando salvar suas vidas, escapa-
Exército para oeste. Naquele momento, não
havia outra Opção: para ram sem direção certa. Parte deles, informava o barão ao ministro, vinha,
assumir a empreitada, a ajuda de Bento
Manuel era indispensável. O ba- depois disso, se apresentando nos campos imperiais.”
rão pretendia, como depois acabou faz
endo, entregar-lhe o comando da No final desse mês de março o barão executou com sucesso uma se-
força que realizaria esse avanço, conquistando
aos rebeldes a cidade gunda operação no interior. Alegrete permanecia sob domínio rebelde e
de Alegrete, centro da região das Missões,
de início Caxias pretendia realizar, como se dizia na região, uma “sur-
Mesmo dependendo de Bento Manuel, o barão
de Caxias começava presa” na cidade. Rumaria para o passo do Rosário com a maior parte
bem a campanha. Em dezembro, mal havia chegado de seu Exército, chamando a atenção dos rebeldes para essa manobra, e
à província, prende-
ra o procurado ex-presidente paulista Rafael Tobias de Aguiar enquanto isso faria seguir um destacamento para Alegrete. Mas, no dia
. No mês
seguinte, surpreendera dois renomados generais farrou previsto para a saída desse destacamento, o barão foi avisado de que o
pilhas com uma
grande “operação logística” e, em março, executou duas investida Exército que guardava a cidade havia partido para São Diogo. piudou
s com
excelentes resultados. então seus planos. Desconsiderava, por ora, a ida para Alegrete e, dei-
Às forças farroupilhas se dividiam sob o comando de vários chefes xando a bagagem em São Gabriel, guardada por três batalhões de caça-
militares. Uma delas, liderada pelo general Portinho, encontrava-se no dores, 500 homens de cavalaria e três peças de artilharia, decidiu cruzar
alto da serra do município de Cruz Alta desde à prisão de Rafael Tobias. o rio Santa Maria e seguir, com rapidez, para São Diogo. Pretendia, com
Ela havia sido deslocada para o local a fim de dar cobertura ao rebelde esse movimento e com 4.000 homens, impor um combate ou, no mini-
paulista e poder viabilizar sua junção com o “grosso do Exército farra mo, forçar o Exército rebelde a “emigrar com todas suas forças para O
po”. Após a prisão do ex-presidente, sua presença Estado Oriental”. Foi o que acabou acontecendo. Durante a noite, Os
na região ameaçava às
comunicações das tropas imperiais com a capital. Desse modo, farroupilhas, cerca de 2.500 homens, atravessaram a fronteira na altura
Caxias de Cunhaperu, levando junto toda a cavalhada que tinham reunido nas
deu ordens ao coronel Jerônimo Jacinto Pereira para
persegui-la, subin-
estâncias desse município.”
do a serra pela picada do Butucaray. Fazendo suas marchas à noite, O
coronel conseguiu emboscar-se, sem ser A vitória era das forças imperiais. O barão de Caxias finalmente
pressentido, em um lugarejo Co”
nhecido como São Pedro. dava início à circulação pelo temido interior da provincia, movimentan-
A armadilha estava pronta, os imperiais, COM”

449
448
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO

do-se com certa facilidade e forçando os rebeldes a se deslocarem J , a puniçã o era severa. Sua formali zação em ordem do dia ga-
Mas, or oral; a E a
por outro lado, estava entrando também num jogo cansativo e típi Co da ; a o registro da ocorrência em fé-de-ofício, comprometendo o ofi-
ran |
guerra na província: a corrida pelos campos. Sem valorizar a po no m o m e n t o de um a promoção.
SSE de cial
uma região ou cidade, os farrapos obrigavam as tropas imperiais
à Per. O primeiro revés do Exército imperial veio em abril, com uma humi-
segui-los, no que levavam sempre e inevitavelmente larga Vantagem, O ba rã o de Ca xi as , pr of un da me nt e con-
lhante derrota em São Gabriel.
Não só conseguiam renovar mais rapidamente sua cavalhada, guardada ti fi co u O fa to ao mi ni st ro Jo sé Ma ci el , af ir ma nd o que o
«rariado, no
nas estâncias que possuíam no Uruguai, onde contavam com o auxílio co ro ne l co ma nd an te da 2º di vi sã o, an te ce ss or de Be nt o Ma-
descuido do
de amigos e parentes, mas sobretudo porque, criados na
região, eles nuel, era «indesculpável”. Ele havia encarregado o dito coronel, Jacinto
dominavam completamente a geografia dessas colinas, percorrendo-as jo Co rr ea , da gu ar da da vi la de Sã o Ga br ie l, en qu an to se -
pinto de Ar aú
com grande desembaraço. Aliás, esse estilo de vida, nas coxi
lhas, em m gr an de pa rt e do Ex ér ci to pa ra a li nh a de fr on te ir a, às margens
guia co
corno de cavalos, encantava os imperiais e criava problemas
de indisci- Ta qu ar em bó Gr an de . À op er aç ão ti nh a do is ob je ti vo s. At ra vés dela,
do
plina muito peculiares. Soldados e, o que é pior, oficiais,
pe di r um a su po st a re me ss a de re cu rs os , in cl us iv e de ca va -
deixavam seus ele tentaria im
los, que, conforme soube, estavam para ser enviados aos farrapos por
postos e serviços para “galopar pelas colinas”. Gastavam
horas em
“potriações”, uma distração que logo se tornou muito popular
rt id ár io s do Es ta do Or ie nt al . Ma s nã o er am só os re be ld es qu e ti nh am
no Exér- pa
cito. Após selecionar os cavalos mais bravios, alguns homens solt o
avam contatos naquele país. O próprio barão estava ali — e esse era O segund
os animais no campo e o desafio era capturá-los. O passatempo,
à pri- objetivo da operação — para receber 3.000 cavalos que pouco antes ha-
meira vista inofensivo, era extremamente perigoso. No dia 29 de mar-
via encomendado aos orientais.
ço, por exemplo, um “grupo de indivíduos” distraiu-se de tal modo O coronel Araújo Correa não guardava exatamente São Gabriel,
com as potriações que “acabou divagando a grande distância do acam- havia sido comissionado para guardar toda a bagagem pesada do Exér-
pamento do Exército”, e só se deu conta disso quando foi surpreendido cito e parte da cavalhada que, de tão magra, não servia naquele momen-
por uma força inimiga. O resultado, anunciado em orde vila. Disp unha , para essa comi ssão,
m do dia pelo to para a guerr a, perm anec endo na
barão de Caxias, que não identificou a patente dos envolvidos, de uma força nada desprezível: três batalhões de caçadores, 500 cava-
foi “a
perda de quatro militares”: três capturados pelos leiros e três bocas-de-fogo. Por isso, a derrota, quase sem resistência,
rebeldes e um “morto
a distância de tiro de fuzil” 76
era “indesculpável”. Os rebeldes, que também recorriam a espiões, fica-
Oa episódio ocorria após a publicação
de uma outra ordem, que ram sabendo do afastamento do barão de Caxias e, por meio de “mar-
proibia “a todo militar galopar ou correr a cavalo sem que ten
ha ord em chas violentas”, chegaram rapidamente a São Gabriel, apoderando-se
expressa para o fazer”. Para ini
» om
bir a prática, o barão estabelecia puni- de toda a cavalhada, de dois bois, e matando todas as praças que guar-
E ões ri empre Tratando-se
E de praça, ela “será presa e, além de castigà a” davam os animais. Além disso, executaram ainda os soldados que, de
a corPpporalmente, » s SOfreráà maismai uma
marcha à pé á na guarda das brigadas forma inexplicável, “divagavam pela freguesia”, tendo sido achados a
E infantaria, conduzindo os arreios sobre
os ombros”. Se for um ofi meia légua da vila.
cial, o que para Caxias “não é de
esperar” , ele seráà “ “preso € admoesta”
et, Tão logo foi avisado do ocorrido, o barão de Caxias contramarchou,
do publicamente em ordem do
“? Mesmo eliminando o castigo dividindo sua força em duas colunas e entregando, pela primeira vez, O

450 451
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO

comando de uma delas a Bento Manuel. Sua intenção era voltar pa de dinhei ro, gente € cavalh ada?”, e ele assumiria a faixa central
ursos
atacar os rebeldes. Mas o sistema de informações Farroupilha foi E Bagé até Cruz Alta, passa ndo por São Gabrie l. Com distribui-
que val de
novo bastante eficaz. Quando o barão chegou, já tinham levantado 10 de forças, pretendia sistematizar a repressão.
sítio que faziam ao acampamento. Caxias, orientado pelo general, ainda
? O momento de testar o novo sistema logo apareceu. Achando-se às
tentou persegui-los, porém, pouco depois, concluíram que o esforço se. o barão teve notíci a de que os rebeld es marcha-
do rio Jaguar i,
ria inútil. Pressentindo a reação do barão, os rebeldes p ontas
haviam Tumado em direçã o a Bagé. Imedi atame nte passo u ordens a Bento Manuel
para Bagé. Contavam na região com a cobertura de Fructuoso vam
Rivera ssasse O rIO Raia Maria e, nitge ando o pela esquer da,
para que atrave
importante caudilho oriental, e, caso se vissem acossados, certamente a aprox imaçã o do genera l, esta se
perseguisse essa força. Mas, senti ndo
escapariam por ali, voltando depois, refeitos de cavalos e armas.
dividiu em dois grupos, contramarchando um deles, sob a direção de
Pensando nisso, o barão voltou com Bento Manuel
para São Gabriel David Canabarro, para Alegrete. Bento Manuel não pensou duas ve-
O saldo do ataque foi realmente lamentável. Em campo,
encontraram 7 zes. Para ganhar velocidade, guardou toda a bagagem de sua divisão
mortos; 1.500 reses tinham sido roubadas; e um coronel,
de nome Antô- em Vacaquá, sob a proteção do coronel Francisco de Arruda Câmara,
nio Pinto, preso. Não restavam muitas opções para
o barão. O coronel e voltou em perseguição a Canabarro. A corrida era firme e o general
comandante da divisão não podia permanecer impune.
Era o responsá- rebelde, percebendo a aproximação de Bento Manuel, decidiu mudar
vel pela guarda da vila e vários pequenos detalhes,
como a “divagação novamente de direção, retornando a Vacaquá, para tentar tirar ainda
de je pela freguesia,” tinham de ser explicados. Caxias
nomeou, algum proveito dessa corrida, atacando as forças do coronel Arruda
assim, um conselho de investigação para conhecer
o procedimento e Câmara e arrematando a bagagem e a cavalhada da divisão. Certamen-
disposições tomados pelo coronel”, passando o comando
da divisão, de te agiu motivado pelos sucessos do mês anterior, quando uma força
imediato, pára Bento Manuel. Tinha acabado
de obter autorização do rebelde encontrou São Gabriel desprotegida e pilhou a vila com facili-
Rio de Janeiro para empregar O general em posto
de comando e, apro- dade. Mas agora a história seria outra. Para surpresa dos farrapos, O
Felando a Ocasião, reorganizou completamente
o Exército, com a inten- coronel estava extremamente atento, com “posição vantajosa em linha
ção de centralizar seu comando. As três divisões
anteriores, chefiadas de batalha”, recebendo-os sob intenso fogo. Assustados, após perde-
por dois coronéis e um brigadeiro, foram reduzidas
a duas, sendo seus rem quatro homens, os rebeldes bateram em retirada. Na manhã se-
comandantes o general Bento Manuel Ribeiro e o próprio
xia
barão de Ca- guinte, ainda tentaram nova investida, apostando no relaxamento da
Rias, s, q que deixav a de Vez a capita| l para assumir; as operações militares no guarda. Mas nada conseguiram. Canabarro decidiu então se retirar,
Interior. O governo civil, em Porto
Alegre, ficava a cargo de seu secretá- para evitar um encontro com Bento Manuel. Todavia, ainda insistiu
rio, Gonçalves de Magalhães.” 5
Dez dias apó
uma terceira vez, deixando uma força, de uns 50 homens próximo ao
sã:
a) P9S O episódio, no dia 20, o barão de Caxias oficiou ao
ministro prometendo que realizaria campo imperial, para, numa ação oportunista, assaltar Vacaquá. Ten-
do, porém, desconfiado daquela retirada, o coronel Arruda deu ordens
ao capitão Albernaz, do 3º Corpo de Cavalaria, para inspecionar as
redondezas. A ação foi um sucesso. Localizado o destacamento, O ca-
Pitão abriu novo fogo, fazendo em uma hora 11 prisioneiros, entre eles

453
SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

um dos melhores oficiais do chefe rebelde Jacinto Guedes » O Capitão penho do coronel Arruda em Vacaquá, não havia por que
mo desem
Vicente Ferreira.” mudança. Entregou-lhe o comando de mais essa guarda,
arriscar uma
4. Destacou também 290 homens, em pequenas forças,
A resistência foi narrada com orgulho pelo barão em ordem do dia
agora em E Alegrete, na tentativa de arrematar cavalos que os
onde ele agradecia, publicamente, o empenho do general Bento Mani
do coronel Arruda, dos tenentes-coronéis José Inácio da Silva Ourives E Ra ) escondido, ao deixarem, em precipitada fuga, a região.
Luiz Manoel de Lima e Silva — seu tio mais moço — e, finalmente, do ao Re por volta do dia 15 de maio, Bento Manuel recebia
capitão Albernaz. Apesar dos nomes dos tenentes-coronéis não aparece. ne Ei era expedição,enviada pelo barão de Caxias, para Pai
rem nas narrativas, O barão assegurava que ambos haviam se destacado so «cido coroada do mais brilhante sucesso”. Quando o ba-
nos combates contra David Canabarro. RE depois de manobrar para São Diogo, obrigou E Pa
À firmeza com que o coronel Arruda e seus oficiais defenderam em no Esta do Orie ntal , estes acab aram aban donando
des a se internar -
Vacaquá, sobretudo após a péssima atuação do coronel Araújo de gu er ra nas im ed ia çõ es de Pai Pa ss o. Ca
Correa, seu recé m-adquirido arsenal
em São Gabriel, merecia sem dúvida elogios. Mas, por outro vi a te nt ad o re cu pe rá - lo, se m co ns eg ui r. Ca xias enviou,
lado, ela nabarro ainda ha
evidencia ainda certas dificuldades da guerra. Mesmo o empenho
do então, a expedição, que
melhor estrategista da região não parecia ser bastante para
garantir um de po rç ão de ferro, E
simples encontro com o Exército rebelde. Bento Manuel marchava se apoder ou de cin co bo ca s- de -f og o (... ) de gr an
sem ant ari a e cav ala ria , sei s tor nos de fer rei ro, e
o peso de sua bagagem, por uma região que conhecia como to armamento de inf
poucos, as um a gr an de qu an ti da de de bar ris de nta e óa
mas nem por isso conseguiu alcançar David Canabarro. Uma noite granada carreg ad
as de fuz il, cou raç as, lan ças e out ros obj eto s bélicos, e
inteira tinha se passado, com as tropas rebeldes forçando a muitas bal
entrada em assim de uma botica (...) de 7.000 patacões.”
Vacaquá, e nada. O general não chegou a tempo de impor um combate
ao general rebelde. O coronel responsável pela vila, Por tudo isso, a vibraçã o nas fileiras imperiais aumentava. Bento
Manuel
com uma força
bem inferior à rebelde, só podia resistir e impedir que o material su a pe rs eg ui çã o, atr ás das “p is ad as de Ca na barro, a
bélico seguia firme em
ta
da divisão fosse pilhado. Essa era sua missão, e a cumpriu
bem. Mas a todas as direções, mesmo sem que jamais O pudesse alcançar, à vis
promessa do barão ao ministro, de dar bi li da de de sua fo rç a” . No dia 21, cu mp ri nd o or de ns do ba-
combate aos farrapos, ficou grande mo
para outra ocasião, e quando ela apareceu, no final de maio, Bento rão, deslocou o coronel Arruda para Alegrete com 06 Batalhão a o
Manuel por pouco não viu sua divisão ser aniquilada, st ac am en to co m 12 0 ba io netas for ? e
resistindo a du- cadores, re fo rç an do ess e de
ras penas à ágil cavalaria rebelde. ta lh õe s e do es qu ad rã o do 11º Co rp o de Gu ar da s Na ci on ai s À inten
ba
O general tinha ordens expressas do barão Ca xi as era , al ém de “m an te r O do mí ni o leg al em tão importante
de Caxias para perseguis ção de
sem tréguas, David Canabarro. Após o episódio de Vacaquá, internou- vir ai nd a de re fe rê nc ia pa ra “o gr an de nú me ro de leg ali sta s qu e
vila”, ser
se na campanha, emendando 12 dias e parte çõe s e que a
não tem tom ado part e ativ na gu guerra
iva a na
das noites em perseguição» habitam aquelas ime dia

dC
Para manter uma boa velocidade nas corridas, desfez-se novamente ;

d Co o po
a
por receio de ficarem marcados” na região
o 82

da
o de tan tos des tac a me nt os , emais a fo
ai rça
Em função da or ga ni za çã
gu ar da r a ba ga ge m em Ca ve rá , Bento Manue
Ssquadrão de Cavalaria. Depois do ótt- respon sá ve l por

454 455
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO

em sua divisão com apenas 1.424 homens. No dia 25, recebeu not Juir a operação, Os esquadrões inimigos caíram sobre o Exér-
nc
de que o general rebelde Antônio Neto, inclinando-se para a Margem
Cia
desse o do, como Bento Manuel previa, “fogo por todos os lados”.
, a mn
cito;
3

esquerda do Santa Maria, tentava a “todo custo junção com Canabar. E esistência, o general deu ordens, segui. ndo a sugestão
me
do
Para O
ro”, para “carregarem contra a divisão”. Seguramente tentavam 4 coronel Luiz Manoel de Lima, tio de Caxias, para que seus
renente-
na maioria de infantaria, se fechassem em dois grandes qua-
junção porque já sabiam da nova organização das
forças imperiais, de homens;
que Bento Manuel chefiava só uma parte —- a menor — do Exército im. ad a so b in te ns o fo go . Ag ru pa do s, ele s
drados. À manobra foi execut
perial. Talvez já soubessem até mesmo da movimentação dos destaca- a as feto
aumentavam sua força, podendo até mesmo pe
mentos e, por consequência, de que a divisão, além de peq em me io à co nf us ão , um rebate fal-
uena, estava Fo ra m qu at ro ho ra s de co mb at e e,
incompleta. O fato é que no dia 26, ao romper a aur o
ora, enquanto so fez com que farrapos e imperiais recuassem ao mesmo tempo. r
marchava para a estância de Manoel Vieira da Cunha, e as
em Ponche após se retirarem do campo de batalha, Boda pola à
Verde, a vanguarda imperial descobriu que era acompanha
da, sobre os farrapos não responderam. Provavelmente imaginaram que se EO
seu flanco direito, por forças inimigas. Essa vangua assumia a ofensiva,
rda, nos últimos Manuel, após quatro horas de acirrado combate,
dias, vinha constantemente batendo a retaguarda de Can
abarro. Mas era porque o barão de Caxias devia estar próximo, pronto para entrar
esse era O único ponto de contato entre os dois exércitos |
. A presença em ação com o restante do Exército.
de rebeldes no flanco direito demonstrava que algo tinha
mudado e Bento Manuel, em ofício ao barão, narrou o episódio como uma
que não se tratava mais de uma perseguição. Bento Manuel
manteve à grande epopéia. São 12 páginas dedicadas à glória, bravura e coragem
marcha. À pressão aumentou com o surgimento, pelo me
smo flanco, das forças imperiais. Em sua versão, o combate termina não com um
de “grandes massas de cavalaria”, que, troteando cobertas
pelas coxi- rebate falso, mas com uma vergonhosa fuga dos chefes farroupilhas,
lhas, começaram a “engajar fogo vivo”. Ao acelerar à marcha, o
gene- que tiveram suas cavalarias destroçadas pela infantaria imperial. Esse
ral se deparou, subitamente, com “toda a força inimiga à sua frente,
final, obviamente, interessava ao general. Permitia-lhe noticiar a E
comandada por Bento Gonçalves, Neto, Canabarro, João Ant
ônio e xtas, em um momento-chave, quando os dois começavam a se aproxi-
Guedes”. Tratava-se simplesmente dos principais chefes rebeldes, reu- mar, a completa vitória da divisão sob seu comando, provando assim,
nidos com um exército de 2.500 homens de cavalaria
e cerca de 300 de mais uma vez, a importância de sua colaboração na repressão aos far-
infantaria. Conservaram-se, por muito tempo, de parte a par rapos. Esse era também o primeiro combate que comandava depois de
te, imó-
veis. Preparava-se o combate.
anos afastado da guerra, e Bento Manuel sabia que a história contada
Para entender a estratégia rebelde, Bento
Manuel procurou, em si- em seu ofício se tornaria a versão oficial, que seria enviada para O Rio
lêncio, acompanhar a movimentação da
cavalaria inimiga. Com isso, de Janeiro. Mas há outras versões. Francisco Pedro de Abreu, EorqneA
pôde certificar-se de que a intenção dos farrapos s”,
era cercar inteiramen- im pe ri al qu e to mo u pa rt e no me sm o co mb at e, em su as “M em ór ia
te as tropas imperiais para, só então, abrir fogo, de uma vez, por todos
afirma que a luta durou apenas duas horas, da uma às três o tarde, ê
Os lados. Apostando nisso, começou a agi
r. Precisava dispor do maior Considera que nela não houve vencedores, ficando o resultado inde
ciso,
número possível de homens,
Uiçã
e, para isso, dispersou toda a cavalhada “om ambos os lados sofrendo enormes perdas e, em seguida, cantando
da divisão » Que Ocupava muitos sold
ados. No entanto, antes
que pl” Vitória. O próprio barão de Caxias não oficiou o fato ao ministro da

456 457
SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

s di fi cu ld ad es , hav ia ain da as pe qu en as e cot ídi a-


Guerra com muito entusiasmo. Em seu ofício, também falava de duas Afor a essas grande
do por ofi cia is est ava ent re as pri nci pai s e, por ve-
usocometi
horas de combate e não mencionava os 300 infantes que Bento Manuel b
nas. O a ava na perda de pontos dominados ou na morte de parte da
dizia existir entre os rebeldes. Às forças desses, ainda que muito supe. 85) result
riores, eram, para O barão, de 2.500 homens. É claro que, pela des; rão precisava insistir, por meio de ordens do dia, em ques-
tropa. O ba r
sim ple s, co mo a de que um mil itar não podia, sem pre-
gualdade numérica, esse resultado pode ser considerado um importante tões, para NOS;
grupo, deixar O posto quando estivesse de sentinela e
feito das tropas imperiais, mas não uma vitória. Nenhum general, ou de todo
juízo“nha O
“por deverchegar à forma com suas armas e em P E
continência ”.
oficial rebelde de prestígio, foi aprisionado, e, ainda segundo Francisco que
qu e nã o ab an do na ss em a ma rc ha , ou o ca mp o de
Pedro, os farrapos arremataram toda a cavalhada imperial dispersada Orientava ainda para
pa re nt es e am ig os , prá tic a mai s co mu m entre Os
durante a luta, levando também a “carretinha” que transportava a ba- batalha, 2 para visitar
du ra nt e as cor rid as, pe rc or ri am vas tas ex tensoes da
gagem pessoal de Bento Manuel. cavalarianos, que,
ofi cia is nat ura is da reg ião , sen sib ili zad os pe la er a
Alguns autores avaliam de forma tão negativa o resultado do com. província. Alguns
tos so ld ad os que , nas cid os na pro vín cia , ha vi am-na eixa-
bate que acreditam que Bento Manuel perdeu uma boa oportunidade de de vida de cer
da cri anç as, os aj ud av am a loc ali zar seu s par ent es é, depois, a
se impor perante os oficiais imperiais. Henrique Wiederspahn, especia- do ain
gado a lem-
lista no tema, considera que, após O episódio de Ponche Verde, o gene- abandonar as fileiras do Exército. Com isso, o barão era obri
nto
ral “esquivar-se-ia de aceitar combate quando se encontrava em brar em ordem do dia que a prática era crime de deserção. Um mome
sem pre del ica do era às sei s hor as da tar de, qu an do se faz iam as rev ist as.
inferioridade numérica”.3* De fato, depois de 26 de maio, Bento Ma-
nuel não dirigiu mais sequer uma batalha, limitando sua ação às perse- Invariavelmente, faltavam oficiais que, nessas escapadas, eram acoberta:
guições nas coxilhas. Para ser mais precisa, até o final desse ano de 1843 dos por colegas. Outras vezes, Os oficiais criavam problemas mais sérios,
va m as fro nte ira s int ern as do Exé rci to, in di sp on do seu s
todas as operações do Exército imperial no oeste da província restringi- que ultrapassa
ma nd an te s co m pro pri etá rio s loc ais . Si mp le sm ente
ram-se à defesa dos pontos mais importantes, com esforço concentrado superiores e os co
sobre Alegrete e Missões, e ainda assim o resultado ficou aquém das roubavam e carneavam reses, promovendo, em seguida, verdadeiros fes-
expectativas. Em agosto, mesmo concentrando sua ação, OS imperiais, tins entre si e com os soldados.
dirigidos pelo coronel José Ribeiro, irmão de Bento Manuel, permiti- Tudo isso comprometia o sucesso das operações. Os dias seguintes
ram que Alegrete fosse mais uma vez ocupada pelos rebeldes. No ata ao combate de Ponche Verde foram tão difíceis que, no dia 22 de junho,
que, o coronel Ribeiro foi assassinado e o episódio, como vimos, acabou Bento Manuel escreveu ao barão de Caxias, dizendo para “não desani-
desestabilizando a relação de seu irmão com o barão. Este, que em off que em todo o mês de julho”, assegur ava O general, “vamos con-
mar,
cio do dia 20 de abril havia prometido ao ministro José Maciel der cluir com a rebelião no Rio Grande”. Obviamente o barão, em ua
rotas o. Mas, de fato, se não
ainda em maio, as tropas que, valendo resposta, foi taxativ o, negand o qualque r desânim
-se de sua ausência, pilharam São Marques de
Gabriel, foi obrigado a re
dimensiona r seus planos, contentando-se em fossem as vitórias dos coronéis Francisco Pedro e Manuel
oficiar à corte sobre a resistência de br , e do major Manuel Luís Osório num encontr o com
avos oficiais, que não entregavam Sousa em Piratini
de 28 far rap os, ta mb ém pr óx im o a ess a cid ade , o mês de ju-
Um grupo
E Emei, atacados.
leste, como Piratini e Canguçu.8sNotícias de vitória só daria das regiões à nho chegaria ao fim sem registro de sequer um combate favorável ao

459
458
SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

CA XI AS NO RI O GR AN DE DO SU L (1 84 2- 18 46 )
Exército imperial. Nas coxilhas, só ocorriam perseguições e, ao contrá. O BARÃO DE
rio do que previa Bento Manuel, o mês de julho seria ainda pior, Nada
mais acontecia além dessas “corridas”,*” e isso dava um perfil Muito es.
pecífico para as operações militares, transformando-as, sobretudo nessa
região da província, em “guerra de recursos”. Esse tipo de guerra, po-
rém, interessava mais aos rebeldes, que apostavam na cobertura que lhes
era dada por Fructuoso Rivera (caudilho que governava o Uruguai desde
1838). Tendo se dirigido em agosto para Corrientes, mantinha, de lá, as CORRIENTES
forças farroupilhas abastecidas de cavalhada e munição. A partir desse
mês, as perseguições de Bento Manuel foram interrompidas em várias ST Rio bicuy 4
: egreo eatbiai j
ocasiões por falta de cavalos.*º Era preciso ficar atento a quanto os ani- ESNua xcoorá r Sãu Gabriel
mais agúentariam para que o Exército não fosse surpreendido, no meio
da guerra, com falta de montaria. Cada cavalariano precisava dispor de
ao menos três cavalos para poder revezar no uso dos animais. Não por
acaso, Os farrapos investiam nessa guerra. Dispunham de mais meios na
ARGENTINA |
no
yRúGUA I tmb
ui dy 4

província e nas fronteiras. Caxias, ao final de outubro, dava sinais de tr?


abatimento, escrevendo a Bento Manuel que estava “triste com O que v.
JUL
Er rd
[us mi O pm
cs

exa. me disse que marcha sem esperanças de bater David [Canabarro)”.


“Parece incrível”? — confessava o barão — que “ele ainda tenha cavalos
para operar neste verão, quando todo o verão passado, e inverno, esteve
em contínuo movimento”.º?
A tática de Caxias, nesse final de ano, entre novembro e dezembro,
foi “estabelecer uma linha de postos desde São Gonçalo até Alegrete, Tratado de Sto. Ildefonso (1777)
mantendo três colunas móveis na campanha”. Sem muita opção, conti- — — do
do Cab
Acor ildo de Monteridéo (1819)

nuava apostando nas perseguições. Essa era a única maneira de tentar


um encontro €, com isso, impor um combate. Uma situação tão desgas-
tante que, em dezembro, para tentar animar as tropas com seu exemplo,
O barão escrevia em carta a um amigo que deixaria toda sua bagagem MAIS QUE UMA GUERRA CIVIL
pessoal em São Gabriel, levando para a marcha apenas “duas canastras”
ano de 1843, pela imei
prime ira vez O barãão de Caxia
ds s
e um * poncho”. Assim estaria em condições de proibir seus oficiais de Ainda no final desse
levarem mais que uma mala. Tudo isso para ver, escreve o barão, “S Se envolveu num assunto que reconhecia não ai is sua CO 2
posso alcançar essas aves que voam pelos campos”. cia - a política externa do império. Apesar de decidir manter as perse-

461
460
=
SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

Essa “política de
guições, redistribuindo suas forças em postos fixos e colunas móveis À mais vincu lados a ela que à política do Rio de Janeiro.
fim de ganhar mais agilidade na campanha, era da opinião — eescrevis .

ceutralidade
3
que vinha sendo mantida pelo império separava questões
isso ao ministro — que, “sem um acordo definitivo com um dos dois eram indis opas na A Coroa, ameaç ada por tantas
que para os gaúchos
contendores do Estado Oriental [Uruguai], nunca será possível con- revoltas internas — só no Rio Grande do Sul já eram oito anos de guer-
So-
cluir de todo a guerra nessa província”. Às opções eram Fructuoso ra - estava; segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulino
Rivera ou Manuel Oribe. Como aquele já vinha se acertando com os ares de Sousa, “exausta de recursos”. Por isso, pretendia primeiro pôr
rebeldes, Oribe parecia ser a solução.” fm à guerra contra OS farrapos para só depois enfrentar os conflitos no
À sugestão do barão resultava de sua experiência na província, Suas
far rap os, no ent ant o, con tes tav am jus tam ent e o pod er do Rio
prata. Os
perseguições de nada valeriam enquanto os rebeldes pudessem cruzar a er
de Janeiro e, ao criarem um governo independente, tentavam defend
fronteira com tanta facilidade. De um só golpe, protegiam-se, evitando a eles
os interesses desses negociantes no Prata, sendo muito atraente par
combates, e se refaziam de munição e cavalhada. Os imperiais ficavam guer-
a conquista de terras no Uruguai. A habilidade que mostravam na
sempre em desvantagem. A “política de neutralidade” adotada pelo im-
ra, sobretudo na arma de cavalaria, correndo como “aves pelos cam-
pério vinha dificultando a negociação de cavalhada nos territórios plati-
pos”, explicita na verdade O pertencimento a uma outra cultura, bastante
nos e a entrada das tropas nas terras de fronteira. Sem que a Coroa
particular, que poderíamos denominar, aproveitando as reflexões de
assumisse uma posição, não havia aliados e as possibilidades de aquisi-
Leitman sobre a economia da região, de uma cultura das terras de fron-
ção de cavalos ficavam limitadas a assaltos às forças rebeldes ou à nego-
teira. Foi exatamente por sentir a força dessa cultura, e se ver como um
ciação dentro da província. Só que esta última alternativa também era
estranho nessas terras, que Caxias buscou o polêmico apoio de Bento
muito limitada, não só porque a quantidade e qualidade de cavalhadas
Manuel Ribeiro, agindo ainda com extrema cautela para, apesar dos
da região, comparadas com as do Uruguai, não eram muito expressivas,
conflitos, manter essa aliança.?
mas também pela resistência dos negociantes em fazer acertos com O
O sudoeste do Rio Grande do Sul é uma região formada por um
Bovérno, temendo represálias por parte dos farrapos. No final do difícil
grupo social que sempre guardou uma grande independência da Coroa,
mês de junho, Caxias se irritava com a situação. Oficiava a Bento
Ma- mesmo quando se tratava da Coroa portuguesa. O grupo, identificado
nuel Ribeiro falando desse “medo dos negociantes de Alegrete de se
por Leitman como “soldados-estancieiros”, após várias tentativas da
comprometerem com os rebeldes”. Considerava que isso só acontecia aci a loc al e a
Cor oa par a dim inu ir seu pod er, con seg uiu man ter a sup rem
porque esses homens estavam “bem persuadidos de que o presidente
le- Coroa, para assegurar a posse dessas terras, foi obrigada a entrar em
g al da provinínci
ciaa ێ inc
i apaz de lançar mãão dos meios violentos de
que acordo com eles e suas tropas militares particulares que, ali estabeleci-
usam os rebeldes em tais ci Ana
'8 Circunstâncias”
' e, por isso, estava disposto
agora oa mu dar de atitude e “não ter mais a mesma contemplação com
das, protegiam as fronteiras das investidas espanholas. Foram esses ho-
e
ais inditerentes, ou coniventes da revolta da província”? mens que fizeram para o rei de Portugal as guerras de 1811 a 1817. Até
O que talve z o barão aí É percebesse em junho é que os nego” 1825, puderam se expandir pelas terras, mais férteis, da então anexada
gato Ria o
barã aind a não
Cisplatina (depois, Uruguai). Nesse período, entre 1817 € 1825, levaram
DES PU Os rebeldes, que também eram homens de negócio»
; | para o novo território capital para comprar terras e gado, trazendo ain-
econ
conôômi
mico s específicos na fronteira, estando muito
da grandes manadas para suas estâncias no Rio Grande do Sul. Daí os

462 463
SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

o re gi on al is mo dos loc ais que , si nt om at i-


chefes farrapos possuírem, em 1843, estâncias no Uruguai e Conhecere o des ses anos reforçando
lon
: e. só se referiam à província como “c ontinente”.%
tão bem a política no Prata. Após 1828, quando o império perdeu
Cisplatina, esses homens se viram economicamente mui Geo “obabilidades de a Coroa perder o território do Rio Grande do
to pre Udicados
Por incrível que pareça, a guerra lhes era mais interessante do que a ao de fat o, mu it o gr andes. Por outro lado, porém, o jogo de inte-
Sul
tal como tinha sido acordada pela Coroa. Por ses na re gi ão do Pr at a era ex tr em am en te co mp le xo , ha vendo várias
meio da guerra, cos res
guiam interromper a produção das charqu e se mp re mu it o ins táv eis . O pr im ei ro pa ss o pa ra co m-
eadas de Montevidéu, ne alianças possíveis
vando, com isso, as indústrias de Pelotas e do vale ess e jo go é le mb ra r qu e ta nt o os fa rr ap os qu an to o go ve rn o do
do rio Guaíba. N preend er
década de 1830, já existiam várias famílias que, pé ri o nã o se ar ti cu la va m co m Es ta do s na ci on ai s, E sim com forças
por meio das relações im
parentesco, ergueram grandes empresas, contro va m, ne ss es ter rit óri os, pel a he ge mo ni a pol íti ca. ” Pa ra
lando todo o processo de militares que luta
produção do charque, “desde a criação do gad en ça do im pé ri o bra sil eir o no Pra ta, por seu s de se jo s
o até a salga, o embarque "odas elas, a pres
lhe fazer frente
expansionistas, era ameaçadora. A única força capaz de
e a comercialização”. Todavia, nos pampas
argentinos e nas campinas
do Uruguai, em função do clima e das pastag nu el Ro sa s, go ve rn ad or da pr ov ín ci a de Bu en os Air es de sd e
ens, o “gado duplicava a era Juan Ma
cada três anos”, enquanto no Rio Grande do Sul 1829, ma s que , ag or a, no s an os 18 40 , en fr en ta va vár ios mo vi me nt os de
essa porcentagem era
bem ménor. Tudo isso, em 1843, era absolutament
e claro para Os estan- contestação, vindos sobretudo das províncias de Corrientes e Entre Ríos,
cieiros brasileiros que, tendo ingressado ou não
nas fileiras rebeldes, es- vizinhas, pelo lado oeste, do Rio Grande do Sul. Foi por ocupar essa
tavam muitíssimo interessados em ter acesso
a essas terras, trabalhando posição forte no Prata que em 1828 a Convenção de Paz teve como parte
para expandir as fronteiras. contratante, ao lado do Brasil, não o Uruguai e sim a Confederação Ar-
É nesse ponto que a guerra contra os farrapos, tal como reconheci sentina. O novo Estado funcionava como um “Estado-tampão”,
para a JD

a
O barão de Caxias, era “mais que uma guerra civil?. Os neutralizar o embate entre as forças da Confederação, dirigidas por Ro-
farrapos, quan-
do pegavam em armas contra a Coroa, estavam sas, e as do império. Por isso também as terras do Uruguai transforma-
recusando a política
econômica por ela imposta ao Rio Grande ram-se no centro dos conflitos.”
do Sul e ao mesmo tempo
costuravam 0 apoio de homens que não só
participavam dessa cultura, O Uruguai, sem dúvida, era o maior interessado em solucionar a
como poderiam, por meio de acordos, negociar
com mais vantagem es- questão das fronteiras, o que lhe daria mais forças para enfrentar as am-
sas fronteiras. Mas não é só isso. A guerra que em
também era “mais que uma bições do império e sobretudo as da Confederação Argentina,

mia o od
Enio o passo império. Parte do empenho dos far 1825 tinha reincorporado o Uruguai (com o antigo nome de Banda

e fe
rapos nesses com-
Oriental) às Províncias Unidas do Rio da Prata e assim o manteve por três
O demarcadas. A paz firmada em 182 anos, até a Paz de 1828. O novo país, entretanto, estava internamente
deppois da derr ota do Exérci 8,
árcitoto imp
| erial, resultou na independênci
a da divido entre as forças do então presidente Fructuoso Rivera € as de Ma-
Cispisp
latilatina, com a crilaç
açãã o da República do Uruguai. Só que os lim
ites nuel Oribe, contando este último com amplo apoio de Rosas para assu-
mir o governo. Os líderes farroupilhas, por seu interesse na posse de terras
cia imperial não foram fixados e, em
contíguas, tentavam retardar as negociações para efetuá-las num momenr-
1843, as negociações
continuava
império em resolver a m paradas. A falta de determinação do
questão 3 aliada à escassez de recursos, veio ã0 to que lhes parecesse mais propício. O império estava disposto a definir

465
464
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO

as fronteiras. Pretendia com isso fortalecer o Uruguai contra a Confed m 1843, sugeria ao governo buscar um acordo com o caudilho.
ração Argentina, ainda que significasse abrir definitivamente mão a das €
impé rio dever ia então se
blema é que, por essa mesm a lógic a, o
O pro
território. Já a Argentina preferia manter a instabilidade da fron e, Fructuoso Rivera. Só que este, por seu
teira apr oxi mar do maio r rival de Orib
que alimentava o conflito entre seus dois rivais: o Uruguai, que ela Pret reta ment e, já fazia ajust es Em os líderes
ers rurno , apes ar de tenta r agir disc
dia reanexar, e O Brasil, cuja presença no Prata não lhe agradava. para a proví ncia, em fins
farrapos. Qua ndo o barã o de Caxi as emba rcou
Ainda antes de eclodir a revolta na província do Rio Grande do Sul “ins truç ões” bem
o mini stro Clem ente Perei ra
o governo imperial tentou solucionar a questão, pro de 1842, recebeu do entã
bater
curando por dive
sas vezes o governo de Buenos Aires para discutir os limites do Uruguai, claras a respeito de Rivera. O ministro afirmava “que se ele [Rivera]
há de vir auxil iar os rebe ldes ”. Ou seja, o impé rio mantinha uma
Rosas, porém, sempre protelou a discussão, alegando Oribe,
que tinha proble-
mas internos sérios e urgentes para resolver. No ano de 183 “política de neutralidade” porque realmente se encontrava E relação ão
2, foram três de Janeiro
as tentativas do império. Acompanhando o esforço Prata completamente sem opção. Por isso o governo do Rio
do vizinho, o gover- — e essa era à orie ntaç ão de Clem ente Perei ra — penc a quan to
no uruguaio chegou a propor que o Brasil tratasse do ass preferia
unto diretamen- algu m golp e forte sobr e os rebel des, antes que Rive ra se de-
te com Montevidéu, sem a Argentina. Mas o governo, regencia for possí vel
l na época, sembaraçasse de Oribe” e viesse em auxílio dos farrapos.!ºº
enfrentando também sérios conflitos internos, com
as ruas da corte sen-
do assaltadas por levantes populares que reuniam “tr Ainda que ao final o resultado tenha sido semelhante, a previsão do
opa e povo”, pre- tro não se conf irmo u. No dia 6 de deze mbro de 1842 , Rive ra é que
feriu preservar sua relação com Rosas. minis
Em relação aos limites, o Brasil defendia o acordo obtido
foi derrotado pelas forças de Oribe na província de Entre Ríos. À surpresa
do de Montevidéu em 1819, em vigor desde 1821, qua
com o cabil- foi geral. Fructuoso Rivera desfrutava enorme prestígio, sendo considera-
ndo o Uruguai foi do, conforme escreve Clemente Pereira, um general “invencível”. Pelo ra-
anexado ao Brasil como Cisplatina. Essa linha divisória
era bastante pró- ciocínio do ministro, essa derrota acabaria com a possibilidade de o
xima da atual, passando apenas um pouco mais abaixo
do Chuí, onde caudilho ajudar os farrapos. De fato, esse auxílio estava comprometido.
hoje fica a cidade uruguaia de Angostura. Daí, ela
; À subia até a lagoa Mirim, deix aria m de se unir. Por Isso, ao final , o resultado
orrendo-lhe pela margem esquerda e, em Mas, nem por isso, eles
seguida, tal como hoje, acom- foi semelhante. A diferença é que agora os farroupilhas é que O apoiariam.
P a nhava o rio; Jaguarão.a Esse limite di era pouco interessante para os estan-
cieiros do Rio Grande do Sul, mas era ainda À orientação passada ao barão de Caxias após O ocorrido era para dedi-
bem melhor do que o limite car-se com zelo à fronteira, ficando atento à movimentação dos rebeldes,
que Manuel Oribe tentaria im
Por se assumisse o poder em Montevidéu.
Certamente ele reclamaria, apoiado no Tratad sobretudo às forças de Bento Gonçalves, que meses antes haviam recebido
o de Santo Ildefonso, de
“socorros de objetos bélicos de d. Fructo”, como era chamado Rivera.!!!
E a amp
1777, mpi açã
lia çã o do territór
itóri io uruguaio até o rio Ibicuí, o que
represen-
taria, para O império, a subtra A chance de derrotar de vez Fructuoso Rivera, eliminando-o das dis-
do entre este rio e 0 Qua raí NE S de odi o o mun icí pio de Ale grete, situa- putas pelo governo de Montevidéu, levou o governo de Buenos Aires, três
: região de grandes e ricas estâncias.” meses depois, em março de 1843, a buscar entendimento com o Rio de
2
mais o fato de ele ser um a goten tar ia exp and ir as fro nte iras uruguaias, Janeiro. Honório Hermeto, logo que assumiu a pasta dos Negócios Es-
nti aliado de Rosas, praticamente inviabili-
trangeiros, recebeu, quase perplexo, uma “nota” do general Guido, minis-
E Caxias, que, após as dificuldades enfrenta- tro plenipotenciário da Confederação Argentina. Na “nota”, O general

466 467
R Fr ”
1 r
ar

SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO


DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

er a pe rf ei to pa ra fo rç ar Ro sa s a
propunha uma aliança entre os dois países. A Argentina se dis te nd er co m O Br as il . O momento
Punha a se er
nitivo de pa z co m o im pé ri o. Ma s Ho nó ri o He rm et o
enviar a quantidade de cavalos necessária ao Exército brasileir « o tr at ad o de fi
as O se Este assiná um a pr om es sa do ge ne ra l
decidisse declarar guerra a Fructo (...) obrigando-se a conti us e pr ec ip it ando. Cont an do ap en as co m
nuá-] acabo s, subme-
fo rç ar ia pa ra co ns eg ui r a as si na tu ra de Ro sa
que o dito Fructo e seus partidistas fossem expulsos do Estado Ori de que se es
õ
” *

a Guido
i E

da província do Rio Grande do Sul”. Honór co u im ed ia ta me nt e. Só qu e, ao chegar


tifi
teu O tratado a d. Pedro. Este o ra
* a "

, io Hermeto não perd éUu tem-


ty
en

po. Respondeu ao general que o governo imperial estava “convencid en co nt ro u ou tr a co nj un tu ra . À de ci sã o do s re pr e-


E a Buenos Aires, Guido
alianç o re fl et ia os in te re ss es de se us go ve r-
| a de Fructo com os rebeldes e da vantagem e interesse comu m e te s da França e da In gl at er ra nã
=

sentan
O

dois
a governos de se entenderemnapara a pacificação da província am bo s ti nh am si do af as ta do s e Ro sa s re to ma va O domínio
Ínci e do Esta-% 05. Assim,
- Mas como temia a ingerência de R , ma nt en do in cl us iv e o ce rc o a Mo nt ev id éu . Lo go , O tratado
sobre a região
E
gover nado por por Orib
Uribe, apresentou uma condição: esta o i es qu ec id o e o im pe ra do r fi co u ex po st o. !' ?
Ei aliança deveri com o Brasil f
convencionada no tratado definitivo de paz”, concluindo
m
- ”

n ç os e re tr oc es so s af et av am di re ta me nt e as op er ações diri-
desse ” Esses ava
A

Trata
ado Provisório de Paz ao celeb
es rado em 1828 - Ou Ou seja, r ã o de Ca xi as . Co mo tu do ac en av a pa ra um ac erto entre O
sej Honórriio Herme asto gidas pelo ba
eresse imediato de Rosas para retomar com certa co u ag ua rd an do os ca va lo s pr om et id os pe la
império e Rosas, o barão fi
gemne a questão dos limites. - AlémAlém disso, ç ã o . ad o, Ho nó ri o He rm et o ti nh a ex pl ic ad o
diso. ;
incluí a ai nda a ne o Confeder a Em avis o reserv
dois países
esse comprome: terem a defende a c e b e r a c a v a l h a d a , ba st av a es cr ev er di re ta me nt e a
etendrer a a indep
; endência R do Urugu eai a Caxias que, par re -
o o n s i d e r a s s e b e m s e g u r o . A f i n a l , t r a t a v a
oncordou com o mini stro Honóróri io He € Oribe, acertand um local que c
tom reticente. ; Dirigigiu-lhe outras duas “ 0 v a l o s . C a x i a s , a p a r t i r d a o r i e n t a ç ã o r e c e b i d a , o f i c i o u re-
notas”, ” fazendo dis to,
consideraç õ se d e 6 . 0 0 c a
sobrendia urgên u a ç ã o o n s t r a n g e d or a. Ficou
tei sancia ada a alianali E para a pacificaçãão do Rio; Grand AEe do Sul e servadame n t e a Oribe e pass o u r
po u m a s i t c
Eira a r d a n d o a c a v a l h a d a , e d e p o i s d e s s a l o n g u í s s i ma
condições, principalmente a dos limites, eram “de mais de três meses agu
que, ca ud il ho di ze nd o, si mp le sm en te , “n ad a sa-
apesar da E “boa vontade dos doisl governos”, espera recebeu uma carta do
a” e que, ape
aelas ni poderia m suscitar embaraços, retardando com danos para ambos , Cax ias esc rev ia em jul ho ao min ist ro Hon óri o, diz endo
ber”. Indignado
so problema da pacificação dessas fronteiras ta de Or ib e an ex a, ex pl ic an do que se “ti vesse me fiado
que enviaria a car
o me ve ri a ho je em gr an de s em ba ra ço s para
em tal promessa por cert ma s nã o
ações”.
continuar as oper Os emb ara ços nã o fo ra m gr an de s,
evi tad os. Co mo Cax ias dis pun ha ape nas de 4.0 00 cavalos,
puderam ser
O
talvez tivesse que suspender as operações no inverno. Nessa época
sav a à dep end e r agora do
desgaste dos animais era enorme, e tudo pas
tigor da estação que se aproximava.!?
nes se me sm o mês de jul ho, Ca xi as de cidia pressio-
ntevidéu. Os represen- Não por acaso, O
ant es de Ale gre te. Apó s ess e epi sód io, que exp ôs até
en ça, no : .
entanto, intervieram e, de imediato;
nar os negoci
redigiram uma “nota” à Rosas Ja ne ir o vo lt av a à su a “p ol ít ic a de ne u-
» impondo um acordo entre este e Rivera: imperador, o governo do Rio de
Na verdade, foi por isso p menniz
izaar o golpe sof al id ad e” no Pr at a. Iss o si gn if ic a qu e, en qu an to OS re be ld es se aproxi-
: “SO, para ame rido à que Rosas tentavê tr

469
468
e Fi dê

DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO SANGUE-FRIO EXPERIÊNCIA E OTIMISMO

mavam de Rivera e Oribe seguia em sua consolidada aliança co -de rav a — exp lic ou o bar ão — que “Ro sas nos pode ser
O g o v e r n o c é
Oriental”.!ºº Na ver-
m
da
Rosas,
Caxias continuaria isolado, só podendo contar com a caval sal ele, se pre dom ina r na Ban
p r e j u d i c i a
conseguisse obter durante as perseguições e os combates, sendohada que mais a o bar ão de Cax ias nas cart as int erc eptadas foi
que es. q u ê s u r p r
d a d e , O
tes também podiam ter efeito contrário, caso a invest R i v e ra, que pas sav a a Ben to Gon çal ves detalhes de suas
ida não fosse bem. , fidelidade de
sucedida. Foi isso que se viu, por exemplo, em
maio, no combate de roridades brasileiras. Isso é que inviabilizava qualquer
con
Ponche Verde, quando Bento Manuel, para
aproveitar um Maior núme. a à le chegou ao final desse ano de 1843 convencido
nes j
ro de homens na infantaria, se desfez de toda a sua cavalhada.
de qa
que só uma à Es com Oribe, ainda que temporária, poderia con-
As dificuldades eram de tal ordem que, cinco Ri o G r a n d e do Su l.
meses depois, em de. C luir a guerra
no
zembro, mesmo sabendo da fracassada
tentativa do ministro Honório e
tendo passado ele próprio por um constrangimento,
o barão de Caxias
decidiu oficiar ao governo, sugerindo
um entendimento com Oribe.
Fructuoso Rivera, desde setembro, quando
sua correspondência foi in-
terceptada por forças legais, não era mais
visto como opção por Caxias.
O conteúdo dessa correspondência o havia
surpreendido. A relação do
caudil ho com os farrapos não se limitava, como
ele imaginava, ao forne-
cimento de material bélico e cavalos. O
contato era bem mais estreito,
sobretudo com Bento Gonçalves. D. Fructo,
explicou Caxias a Bento
Manuel, “conta-lhe todos os pormenores
de conversas havidas com 0
Nosso NOVO encarregado de negócios em Montevidéu
”. Seguindo essa
“política de neutralidade”, os plenipotenciários
brasileiros mantinham
relações e negócios tanto em Montevidéu
quanto em Buenos Aires. Rive-
ra ainda detinha o governo da
capital e, com isso, fazia jogo
Tratava com o ministro, escrevia cartas à duplo.
corte, se dizia “persuadido de
que nada mais lhe convém que à conservação
da amizade com o impera-
dor” e, em seguid: a, passava todas as in
3
.
formaçõe
Ea
s aos farrapos. Vi:nha
tratando a corte — definia
o barão — com “má-fé”104
Sem dúvida, não há

ciente dos riscos que co


rria,
Rio de Janeiro. Este o e mais, agia sob orientação do governo do
reco mendava, ainda em junho, a “usar de polí-
tica” com Rivera e Caxi
a S passava à instrução para Bento Manuel.

470 471
SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO

petal hes sobre O corr eio estão nas Inst ruçõ es de Guerra, anteriormente citada.
Notas 16.
O ofício de Caxias que confirma essa escala é datado de 12 de dezembro de 1842,
e foi enviado ao ministro da Guerra, Coleção Caxias, caixa 810, AN.
ofício de 29 de novembro de 1842. Coleção Caxias, caixa 810, AN.
17 .
Ver ofíci os do barã o a Bent o Manu el Ribei ro. O primeiro em que aparece o termo
18.
ain-
é datado de 24 de abril de 1843. Coleção Caxias, códice 927, vol. 2, AN, ver
da, Zeno Cardoso Nunes, Dicionário de regionalismos do Rio Grande do Sul.
Guerra dos Farrapos, p. 44; Tristão
91 . Spencer Leitman, Raízes sócio-econômicas da
Alencar de Araripe, Guerra civil no Rio Grande do Sul, p. 161; Henrique Wieders-
« Carta ao barão de Monte Alegre de 9 de outubro de 1842, transcrita n pahn, O convênio de Ponche Verde, p. 76; Alfredo Varela, História da grande re-
Os Anai
nais do
Museu Paulista, tomo 5, p. 384. volução, vol. 6. p. 501. Quem leva mais adiante a tentativa de provar o uso dessas
- Passagem narrada no capítulo anterior, entre as p. 229-30. “estratégias de polícia” é, curiosamente, um general, Marivalde Calvet Fagundes.
- Sébastien Auguste Sisson, op. cit., vol. 1, p. 84. Ele chega a citar uma “relação” do dinheiro recebido por cada um dos líderes
« Paulo Pereira Castro, “Política e Administração de 1840
a 1848”, p. $12-13. Sobre farrapos para aceitarem a pacificação da província. Ver Marivalde Calvet Fagun-
a data em que Saturnino de Oliveira foi nomeado e
empossado, ver Walter Spal- des, História da Revolução Farroupilha, p. 322.
ding, À Revolução Farroupilha, p. 5. 20. Ofício de José Clemente Pereira a Caxias de 12 de dezembro de 1842, cota II-32-
- Apud Paulo Pereira Castro, op. cit., p. 516. 3,4, nº 3, setor de Manuscritos, BN.
- Para todas essas informações, inclusive sobre a pol
ítica militar de Saturnino de 21. Barão de Javari, Organizações e programas ministeriais.
Oliveira, ver idem, p. 515. 22. Essas denúncias aparecem se forma mais sistematizada em seu livro, José Antônio
7. À importância política dessa circulação geográfica é destacada Marinho, op. cit.
por José Murilo de
Carvalho, A construção da ordem. 23. Essa aproximação e a anistia são analisadas por Paulo Pereira Castro, op. cit.,
8 - Ofício de 28 de outubro de 1843, códice 927, p. 519.
vol. 2, AN.
9 - Joaquim Nabuco, Usa estadista no Império, 24. J. Galante de Sousa, Índice de bio-bibliografia brasileira.
p. 154.
10 É A opinião sobre o bom senso de Caxias é do 25. Walter Spalding, “A administração de Caxias no Rio Grande do Sul”, p. 249.
barão de Cotegipe. Para as citações,
idem, respectivamente, p. 124-425. 26. Para ter uma noção desse trabalho, o melhor é examinar a Coleção Caxias, caixa
11 « Cota 11-32,3,3 nº 10, setor de Manuscrit
os, BN,
810, AN.
12 mg as informações a seguir foram extraí 2): Referência obrigatória para pensar o IHGB como lugar de produção de um projeto
das desse mesmo documento, idem.
13 « Sobre º brigadeiro João Paulo dos Santos Barreto,
ver Sébastien Auguste Sisson, nacional é o artigo “Nação e civilização nos trópicos”, de Manoel Luiz Salgado
Op. cit., p. 195, Walter Spalding, A Revolu
ção Farroupilha, p. 187, e o próprio Guimarães. Sobre a mencionada reunião de 1842, ver p. 16.
relato do mini stro José E Clemente 28. Sobre essa rubrica e a criação de um “panteão de papel”, ver Armelle Enders, O
Pereira em suas “iI nstruçõeÕ s”, Op.
14. J. Pandiá Calógeras, A po cit.
lítica exteri or do Império, vol. 3, cap. O Brasil é No
am Plutarco brasileiro.
Uruguai. ao: Coleção Caxias, caixa 810, AN. Walter Spalding reproduz o texto no livro À Revo-
15 .O s trabalhos que se dedi, cam a lução Farroupilha, p. 201.
analisar a Revolução Farroupilha,
duraçãção do movimento em função da 30. Esse é um modelo de heroicidade típico do século XIX. Por meio dele, a história se
ã , não chegam a abordar detalhes da nomeação de Caxias;
destacando, nessa f ; t. transforma em espaço de glorificação do indivíduo. O historiador inglês Thomas
» 9 8 fase, AS negociações d e Pp paz. Pred ominam neles també m a anã
lise das causa s do movi Carlyle, exatamente na década de 1840, ficou famoso por suas grandes conferências
sobre o “culto ao herói”. O herói moderno deixa de ser sobre-humano, como para
Os gregos, e torna-se um homem de personalidade exemplar. Procurei desenvolver
liberdade. melhor essa discussão em Adriana Barreto de Souza, “Entre o mito e o homem”.

473
472
ad
tio cad

DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO

31 . Apud Walter Spalding, “A administração de Caxias no Rio Grande d Õ Sul”, lfre do Pret exta to Maci el, Generais do Exército brasileiro, ver verbete sobre Fran-
AS. Alrre
p. 245-6. O jornal é de 21 de janeiro de 1843. «co deria Paula € Vasconcelos.
Hr «tó de Pedro Labatut foi referenciada no cap. 2 deste livro. Para Soares An-
32 . Sobre o episódio de Josué, ver Livro de Josué 10:12-15, para Gedeão, Livro dos
Juízes 6:11-40 e 7. 46. A hi s, “O Grã o-P ará e o Mar anh ão”, p. 124; Wal-
dréa, ver: Arthur Cez ar Fer rei ra Rei
33 . Ofício de 29 de novembro de 1842. Coleção Caxias, caixa 810, AN. ção Far rou pil ha, p. 3-1 78; e Sis son , ao tentar negar essa
ter Spalding; A Revolu
34. Todos esses dados foram extraídos do ofício de 29 de novembro de 1842, envi da con dut a do gen era l, aca ba ref orç and o-a qua ndo abr e seu verbete
ado avaliação
ao ministro da Guerra, Coleção Caxias, caixa 810, AN.
ass unt o. Co me ça log o def end end o o ea i afirmando que sempre
discutindo o
35. Esse ofício se encontra no setor de Manuscritos da BN, cota IJ, 32,3,4 nº 3, escentando aínda que as
se pautou pela «consciência do dever e da honra”, acr
ente vencidas,
«naixões que o contestavam? estavam naquele momento completam
36. Sébastien Auguste Sisson, Op. cit.
37. À história é narrada pelo barão ao ministro da Guerra e ao
ministro da Justiça em op. cit.; p- 103.
ofícios datados de 12 de dezembro de 1842. Sobre as ordens expedi o Mac iel , op. cit. Quanto às críticas e O
das ao briga- 47. Sobre a fam íli a Fri as, ver Alf red o Pre tex tat
deiro Bittencourt, ver ofício de 13 de nov, para a viagem 0 ofício
de 22 de dezem- receio de uma aliança com Ben to Manuel, ver ofícios trocados entre Caxias e Cle-
bro, para as comemorações do ministério, ver O ofício de
Clemente Pereira de 28 a nos mes es de nov emb ro e dez emb ro. Col eçã o Cax ias , caixa 810,
de dezembro Todos são de 1842 e pertencem à coleção
mente Pereir
Caxias, caixa 810, AN,
38. Para a trajetória de Agostinho Piquet, a melhor fonte é o de fev ere iro de 184 3, par a o min
=

ist
-

ro da
Livro de Registro da Guar- 22
=

48. A proibição é explicita


AN.
da no ofíc io de
da de Municipais Permanentes, muito utilizada no |
terceiro capítulo deste livro. Guerra, Coleção Caxias, caixa 810, AN.
A trajetória de Ricardo Sabino foi reconstituída por Rodrig pre sid ent e, ver Wal ter Spalding, A Revo -
o Otávio, A Balaiada. 49. Sob re o tem per ame nto int ran sig ent e do
39. Esses dados foram retirados de ordens do dia. Para acompanhar a as rela ções de par ent esc o é Spencer Let-
os postos no Rio ção Farrou pil ha, p. 129 -30 .Qu em des tac
Grande do Sul, ver as ordens de 12 de novembro de 1842 a segu ir segu e esse s auto res, além do ver-
e 6 de fevereiro de 1843, tman, op. cit., p. 38. A hist ória con tad a
Coleção Caxias, códice 925, AN. Há informações também extato Maciel, op. cit.s
no ofício de 17 de bete biográfico sobre Bento Manuel Ribeiro de Alfredo Pret
agosto de 1842. Coleção Caxias, caixa 810, AN.
p. 79-83.
40. À amizade de Caxias pelo primo João da Fonseca Costa pode ver Adria-
varias cartas pessoais trocadas por eles na década de
ser observada nas 50. Sobre como o episódio é explorado no Parlamento pelos conserva dores,
1850. Essas cartas pertencem na Barreto de Souza, Op. cit., p. 82. |
ao arquivo da família Fonseca da Costa, não disponível
em instituições de pesqui- 51. Ofício de 29 de novembro de 1842, Coleção Caxias, caixa 810, AN.
sa, mas que pude consultar. Já a história de Miguel de Frias
é contada com mais S2. A referência continua sendo Zeno Cardoso Nunes, op. cih.
detalhes no capítulo 3 deste livro.
41. As primeiras medidas do major Frias são descrit 53. Apud Walter Spalding, Poesia do Povo; p. 70. b Ema
as em um anexo do ofício de Ca- 34. À lenda é contada por Marivalde Calvet Fagundes, Op. Ciê., P- SL DO e e
Xias ao ministro da Guerra, ofício de 3 de janeiro de 1843. A e
Caxias a seu favor aparece no ofício 29 de
interferência de petência como estrategista e suas articulações no Prata, Ver Spencer Sea
novembro de 1842, Coleção Caxias,
caixa 810, AN. cit., p. 38 e 54, respectivamente. Os dados biográficos estão em Eri a
Op. cit., p. 54. '
42. Sobre o caso, ver p. 3561-362
deste livro. 55. A carta a Clemente Pereira é de 22 de abril de 1843. Apud Walter me
43. A amizade pb dois ofi
ciais é discutida por Vilhena de Morais na tentativa de e Bento Manuel, p. 8. A organização do Exército é dada por Tristão de E
provar que Caxias não agia protegendo amigos. Em seu artigo, lança mã Araripe, op. cit., p. 133. O ofício de 22 de fevereiro de 1843 faz parte da Coleção
o de uma
a BE neo a seu arquivo pessoal, e onde Caxias escrevia que Caxias, caixa 810, AN. ;
lo Pereira
Vilhena cita apenas da ni Ga que, como sempre faz em seus artigos; 56. A referência para a política de gabinete desse períod o continua sendo Pau
dE ide apoio e (ia o da cama, ainda hoje não disponível ao público. Carta Casto, op. cit., p. 517. ;
- “Apontamentos do pr - Apud Eugênio Vilhena de Morais, O duque de ferro, p: 41. 57. Sobre a escolha dos oficiais, ver ofício 17 de maio de 1843. Coleção Caxias, caixa
óprio punho de Caxias” - jográfi- As cart as tro cad as entr e O bar ão € O gen era l der am ori gem a um códice,
cos € 970,19, setor de Manuscritos, BN 810, AN.
MR Ai ON Coleção Caxias, códice 927, vols. 2 e 3, AN.

474 475
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO

58. Tudo isso está na carta de Caxias a Clemente Pereira de 22 de abril de 18 a nº 47, de 17 de maio de 1843, Coleção Caxias, códice 925, AN.
43. Apud
Walter Spalding, Caxias e Bento Manuel, p. 8. 80. Ordem do
ais aih de prata utilizada no Rio Grande do Sul no século XIX, e
59. Para o termo velhaco, ver Antônio de Morais Silva, Dicionário da Lingu
a Portu. g1. Patacão e”
guesa. Só temos notícia da carta particular de Caxias pelo
ofício-resposta de 15d : a a E Ri fazendo-se o cruzamento de dados do ofício de Caxias ao
maio de 1843, Coleção Caxias, códice 927, vol. 2, AN. 82. Essa história SR maio de 1843 com o ofício de Bento Manuel ao barão, de 29 de
60. Ofício de 17 de maio de 1843, Coleção Caxias, códice 227, vol.
2, AN. Ea E Ver, respectivamente, Coleção Caxias, caixa 810 e códice 925, AN.
61. Ofício de 8 de agosto de 1843, Coleção Caxias, códice 927, vol. 2, AN.
a E f as do ofício do barão de Caxias, exceto a que menciona
62. Para as tentativas de comunicação de Caxias com e E AA
Bento Manuel, ver sobretudo um retirada do ofício de Bento Manuel.
ofício de 27 de setembro e dois ofícios de 2 de outub
ro. Em ofício de 23 de outu- aa va se baseia no ofício de Bento Manuel de 29 de maio de 1843, Co-
bro, ele faz menção à tensão desses dias. Coleção
Caxias, códice 927, vol. 1, AN, Rana a dice 925, AN. As “memórias” de Francisco Pedro foram publica-
63. Os ofícios de Bento Manuel são dois datados de 3
de outubro, dois de 12 de outubr o de Caxias ao ministro é de 27 de maio de 1843. Coleção
e um de 13 de outubro O ofício onde Caxias diz o e RR O
estar aliviado é de 23 de outubro, 810 AN. O caráter indeciso do combate é mencionado por Walter
Tudo de 1843. Coleção Caxias, códice 927, vol. 1, Sa e E
AN. aa é seu a “Caxias e Bento Manuel Ribeiro”, cais 118, p. fo, e no
64. Ofício de 28 de outubro de 1843.
Todos os ofícios citados são da Coleção
códice 927, vol. 1, AN. Caxias, o anal Farroupilha, p. 209. Posteriornicites le pia ada
65. Para a trajetória desse tio de Caxias, João bém no Exército, sendo apresentado em obra de referência Pe E pe
Manuel de Lima e Silva, ver Henrique
Oscar Wiederspahn, O general farroupilha. Ver Hernani Donato, Dicionário das bataihas brasileiras, p. 413.
66. Ofício de 4 de novembro de 1843, Coleç 84. Henrique Oscar Wiederspahn, op. cit., p. 50. ae aros SE
ão Caxias, códice 927, vol. 1, AN.
67. Carta de 11 de novembro de 1843, cota: 85. Sobre a vitória nessas regiões, ver ordem do dia n e
maço 106, doc. 5.146, AHMI.
68. Carta de Caxias datada de 25 de dezemb Coleção Caxias, códice 925, AN. 1 e
ro de 1843, cota: maço 106, doc. 5160,
AHMI. 86. Ver as seguintes ordens do dia: nº 55, de 19
de junho de is E Rê Coleção
69. Alfredo Pretextato Maciel, op. cit. de 1843, nº 63, de 2 de julho de 1843, e nº 86, de 10 de outubro de 1843,
70. Carta de 5 de maio de 1844, cot Caxias, códice 925, AN. re ilha.
a maço 107, doc. 5195, AHMI.
71. Tristão de Alencar Araripe, op. 87. Esses dados foram sistematizados por Walter Spalding, À O aaa
cit., p. 127.
72. Ordem do dia nº 3, de 20 de no Para a movimentação do Exército nesse ano de 1843, ver p. a
vembro de 1842. Coleção Caxias,
73. Todos esses dados, códice 925, AN. 88. Ver ofícios de Bento Manuel de 17 de agosto, 23 e 28 de outubro
inclusive sobre a expedição que cruzou
a lagoa dos Patos e a
cavalhada arrematada por Caxias, Caxias, códice 927, AN. j ez Tristão de
estão no ofício ao ministro da Guer
fevereiro de 1843, Coleção Ca ra de 5 de 89. Sobre a quantidade de cavalos necessária para RR
xias, caixa 810, AN. na de 1843,
74. Ofício de 18 de março de 1843 e ordem do Alencar Araripe, op. cit., p. 131. O ofício de Caxias é de e
dia nº 36, de 9 de abril de 1843, respec-
tivamente, Coleção Caxias, caixa 810 e códice 925 Coleção Caxias, códice 927, AN. Ao aaa TG
75. Ofício de 31 de março de , AN. 20. Sobre a estratégia, ver a carta ao pai de 11 de novembro pl ; PASSES
1843, Coleção Caxias, caixa
76. Ordem do dia 810, AN. doc. 5146. A carta ao amigo anônimo é de 25 de dezembro de .
nº 35, de 31 de março de 1843, Cole
ção Caxias, códice 925, AN. À HMI. ] ro;
77. Ordem do dia nº 28, de
» de 3 de março de 1843, Coleção 106, doc. 5160, ambas depositj adas no
78. À história foi toda ela extr Caxias, códice 925, AN. 91. Ofício ao ministro da Guerra de 4 de dezembro de 1843. Coleção Caxias,
aída do ofício de 20 de abril de 1843, Coleção
Caxias, caixa 810, AN.
que estã em Walter Spalding, op. cit., p. 208, e para as a jas,
códice 927, AN.
alte- 92. Ofício de Cax ias dat ado de 30 de jun ho de 184 3. Col eçã o Cax ias ,
rações na Organização do Exército
, ver Tristão de Alencar Araripe, ízes s sócio-econômicas da
79. Ver ofício de 17 de mai op. cit., p- 148. Sobre a qualidade da cavalhada, ver Spencer Leitman, Raíze
lo de 1843, Coleção Caxias, respectivamente, caixa 810 € Guerra dos Farrapos, p. 98-100. E
23. Sobre essa política de neutralidade em 1843, ver J.A. Soares de Sousa,
o Rio da Prata de 1828 à queda de Rosas”.

476 477
a E) 8-2 a

DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

94. Todo esse parágrafo se baseia nas pesquisas de Leitman, op. cit, cap. III
, as Citações
estão na p. 98.
95. A frase de Caxias é de um ofício do final da guerra, datado de 17 de sete
Mbro de
1844, Coleção Caxias, códice 927, AN. Todos os demais dados continua
m Sendo
extraídos do livro de Spencer Leitman, op. cit., cap. IV.
96. Quem chama atenção para esse ponto é César Augusto
Barcellos Guazzelhi, O hori.
zonte da província: a república rio-grandense e os caudilhos do Rio
da Prata. p. 16,
97. À expressão “Estado-tampão” é de Spencer Leitman, op. cit.,
p. 104.

vil. Um conservador firme, mas moderado:


28. À referência continua a ser Spencer Leitman, op. cit. p. 103-5.
29. Sobre os limites do cabildo de Montevidéu, ver carta
de Honório Hermeto a Caxias
de 6 de março de 1843, cota II-32,3,6, nº 1, setor
de Manuscritos da BN, Sobre 0s da intensa política na guerra ao ingresso
interesses de Oribe, ver César Augusto Barcellos Guazzelli, op.
100. Instruções dadas ao barão de Caxias, cota:
cit., p. 368.
11-32,3,4, nº 3, setor de Manuscritos
no Parlamento
da BN.
101, Anexo do ofício do barão a Clemente Pereira de 19 de dezem
bro de 1842, Coleção
Caxias, caixa 810, AN.
102. Toda a história se baseia em uma carta de Honório
Hermeto a Caxias, exceto esse
último parágrafo, extraído do texto de J.A. Soares de
Sousa, op. cit., p. 120-5. A
referência da carta é cota JI-32, 3, 6,nº 1, setor de Manus
critos da BN.
103. Ofício de 16 de julho de 1843, Coleção Caxias,
caixa 810, AN.
104. Sobre a correspondência interceptada e a reação de Caxias,
ver ofício deste a Bento
Manuel de 19 de setembro de 1843. Já as cartas de Rivera à corte
são mencionadas
pelo barão em ofício de 30 de junho de 1843, Ambas
estão na Coleção Caxias,
códice 927, AN.
105. Ofício de Caxias a Bento Manuel de 30 de
junho de 1843. Coleção Caxias, códice
927, AN.

478
Bi ru1 ant

cautela. Não há,


Janeiro e fevereiro de 1844 foram meses marcados pela
Ma-
nesse período, registro de um combate sequer. Nos ofícios a Bento
antes só
nuel, a orientação do barão de Caxias era para que seus comand
en-
executassem operações seguras. Usando “bombeiros” — e esse é o mom
to em que eles parecem ter sido mais largamente empregados no Sul -, o
barão procurava manter-se informado a respeito da movimentação dos
rebeldes para, com isso, evitar confrontos desfavoráveis. No dia 28 de ja-
neiro, fez uma dessas intervenções. Escreveu a Bento Manuel que, tendo
sido avisado da aproximação de David Canabarro, e das possibilidades de
ção de vár ias for ças reb eld es, ord eno u a Fra nci sco Ped ro que se reti ras-
jun
a Pir ati ni “se não se jul gas se ali seg uro ”. Par a sat isf açã o do barão, O
se par
mensageiro que seguiu com a ordem, já havia retornado, e o certificava de
que Francisco Pedro havia marchado com segurança para Piratini. À aten-
ção de Caxias se voltava então para Bento Manuel, por isso lhe oficiava.
essá-
Agora, avisava, “só a divisão de v. exa. pode ser atacada”, sendo nec
da dita “ju nçã o”, que ela “ta mbé m se reti re”. Doi s dias
rio, por conta
ois , o bar ão rec ebi a a res pos ta do gen era l. Ele hav ia cum prido suas
dep
ordens, seguindo para a estância do Talaveira, enquanto os rebeldes toma-
a dir eçã o da est ânc ia do Ruf ino . O cap itã o de sen tin ela em “lugar de
ram
observação”, Vicente Alves de Lima, calculou que os rebeldes dispunham,
em duas divisões, de cerca de 1.600 a 1.800 homens.”
Observação era a palavra de ordem. Em 4 de fevereiro, Bento Ma-
nuel voltou a escrever. Seu trabalho nesses dias tinha se limitado a acom-
panhar as forças rebeldes, e nesse ofício do dia 4 tratava de narrar sua

481
POR TRÁS DO MONUMENTO UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM

movimentação ao barão. Após marchar por toda a noite, o “inimior iro s par a São Bor ja, as se gu ra nd o ao bar ão que
6º Batalhão de Fuzile
tinha amanhecido nas “imediações de Viana Carolina e foi passar ai “até amanhã à noite ele estará ali infalivelmente”. Agia assim imaginan-
de ontem a comer na lagoa das Conchas?. O general não conhecia : do que Antôni
o Neto partia para Alegrete a fim de proteger as forças de
lagoa, mas ficou sabendo que ela se situava “ao pé do coletor Gusmã a € Port inho , que tinh am subi do a serra dias ante s e deve-
João Antônio
Imaginando que nessa última noite, do dia 3 para o dia 4,0 inimigo se diri gind o, já bem próx imos , a São Borj a. Ele, Bent o
K riam estar agora
voltado a marchar e reconhecendo que não tinha como alcançá-lo Be Ê Manuel, permaneceria onde estava, na “estância de d. Anacleta”, aguar-
to Manuel decidiu ir para Ponche Verde e só depois tomar a direção : à noit e “a part e do capi tão Vice nte Alve s de Lima”, e se
dando, durante
passo da Armada. Mas não prosseguiria nessa marcha sem antes “ad; tia a escr ever ã0 barã o tão logo tives se novi dade s.
comprome
tar O capitão Vicente Alves de Lima para os campos do falecido Rochas troc a de info rmaç ões pros segu iria por todo o mês de
Essa intensa
dali mandar uma partida observar O inimigo novamente”. Qualquer no- ofíc ios send o envi ados , quas e diar iame nte, por ambos Os
fevereiro, com
tícia, escrevia O general, “comunicarei a v. exa.”. Por enquanto, a infor. no dia 9 Bent o Man uel pare cia deci dido a agir, planejan-
lados. Quando
um ataq ue às forç as rebe ldes , fora m estes que
mação de que dispunha não era muito confiável. Tinha sido ouvida em do, para O dia seguinte ,
se reti rara m. Pelo meno s é isso que O gene ral nos
“conversas dos soldados inimigos”. Ao que parece, Bento Manuel vinha nacreditavelmente
infiltrando seus “bombeiros” nas fileiras rebeldes, mas eles, sem conse- do dia 10. Antô nio Neto , avis ado por “bom beir os” da
conta, em ofíc io
guir chegar até os oficiais, traziam informações duvidosas, nas quais só ha do gene ral — os rebe ldes tam bém reco rram a eles —, “se retirou
marc
n-
se acreditava parcialmente. De qualquer modo, para que Caxias ficasse com direção a pontas de Inhanduí”. Desse modo, Bento Manuel, orie
iano
alerta, o general avisava que, segundo esses soldados, os chefes farroupi- tado por Caxias, decidia marchar durante toda a noite para Mar
orme
lhas “iam atacar Alegrete”, e “iam todos, David, Bento Gonçalves e José Pinto e, de lá, mandar atacar o rebelde João Antônio, que, conf
Gomes Jardim”. Só Neto e Guedes tomariam outra direção, para Itama- acreditava, “devia vir com muita cavalhada de São Borja”.
a
roti, com algo em torno de 300 a 500 homens. Nem combates, nem cavalos. Como escrevia Bento Manuel, “nad
| No dia seguinte, o barão já respondia. À partir dessas notícias, forne- se tem podido fazer”. Atribuía isso, em ofício de 17 de fevereiro, às con-
cidas por Bento Manuel, distribuía seus “bombeiros” e, depois, conjectu- tramarchas dos rebeldes. Entretanto, não era exatamente isso que se via.
rava sobre a direção tomada pelas forças rebeldes. Enviou “bombeiros” Do mesmo modo que os farrapos, Os imperiais também não tomavam
ia
para Os lados do Jaguari, d. Pedrito e Santa Maria. Não conseguiu, po- uma atitude firme em relação à guerra. Caxias, no dia 15, reconhec
do que pens ava em cons equê ncia

ça
deva gar

ep
s

ed
rém, obter “rim informação interessante sobre a “marcha de Neto que vinh a mar cha ndo “mai
va à ré
do mau estado dos cavalos” e Bento Manuel, no dia 17, começa
- ucontramarchou para Bagé, para onde
clamar de sua saúde, dizendo que “andava muito doente” por conta de
é natural que aflua a emigração dos extraviados de Rivera” todas essas marchas, “vendo a hora que cairia morto do cavalo,” como
vera”.
No mesmo di acontecera a um amigo.
à 5, Bento Manuel recebia o ofício e voltava a escrever
e;
pres era para avisá-
ao barão. À pressa lo que agora tinha certeza de que 0º Cautela, observação e marchas, longas marchas. Tudo isso desgastava
O Exército imperial e provocava um profundo desânimo entre a tropa € à
oficialidade. Bento Manuel já preparava seu afastamento, e se não fosse a

483
482
er

DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO

“fortuna” de Caxias, que em Santa Luzia já era reconhecida pel te, descansava em casa. O tiro, disparado pela janela da sala, não
o S€neral à noi
como sua grande aliada, a história da pacificação seria muito dj mato
u Paulino de imediato, mas, gravemente ferido, ele não resistiu, fa-
ferente,
A intenção deste capítulo, assim, é justamente contar como algu tecendo dias depois. O Eine E deu em picante, a nova capital da Repú-
NS inçj.
dentes, absolutamente inesperados, criaram condiç
ões para que O barão blica Rio-Grandense, e imediatamente vários rumores se espalharam.
de Caxias pudesse iniciar e, em seguida, intensificar o processo de Negocia- Houve quem atribuísse o crime a um plano dos legalistas. Falava-se em
ção dos termos de paz, todo ele cercado por uma série de mistérios. crime passional. Paulino — essa é a versão mais aceita — tinha uma aman-
te, mulher casada, e as suspeitas recaíam sobre o marido, ofendido em
«ua honra. Mas corria também a idéia de crime político e, pior, culpava-se
MAIS DIPLOMATA QUE SOLDADO Bento Gonçalves. Essa hipótese é pouco provável. O mais certo é que o
boato tenha sido lançado pela “minoria”, fechada no propósito de isolar
O clima de desânimo persistiu até 27 de fevereiro, quando
um fato ines- o presidente. Todavia, a simples consideração da hipótese bastava para
perado irrompeu entre os rebeldes. Nesse dia, dois líderes
farroupilhas se acirrar a tensão entre os rebeldes. Um episódio tão explorado politica-
enfrentaram num duelo, que resultou na morte por tétano
de um deles mente, que, um ano depois, ainda criaria problemas para a república.
Onofre Pires. A história, na verdade, já durava um ano.
Teve início am O coronel Onofre Pires, pertencente à “minoria”, ao ver se aproxi-
janeiro de 1843, nas reuniões da Assembléia Geral Constituinte mar o aniversário de morte de Paulino Fontoura, resolveu celebrar um
, instala-
da em dezembro, na cidade de Alegrete, para elaborar o projet ofício fúnebre em sua memória. À lembrança era natural, e a cerimônia
o de Cons-
tituição da República Rio-Grandense. Nessas reuniões, dissen esperada. Afinal, tratava-se do vice-presidente da república. A questão é
sões que
vinham se manifestando desde, pelo menos, o mês de julho culminara que, em seus discursos, como o crime não havia sido solucionado, o de-
m
na defecção de alguns nomes do governo. O grupo, identificado com putado revolveu os ditos rumores e acusou publicamente Bento Gonçal-
o
“minoria”, se articulava em torno da figura do vice-preside ves. De imediato, este lançou o desafio, que foi aceito por Onofre Pires.
nte da repú-
blica, Antônio Paulo da Fontoura, ou simplesmente Paulino Fontoura. Os dois contendores, sozinhos, em “lugar ermo”, “bateram-se à espa-
Com ele, deixaram o governo o ministro da Fazenda, da Guerra da”. Bento Gonçalves, bem mais ágil, deu dois golpes em Onofre Pires,
e da
Marinha, major Antônio Vicente da Fontoura, o que caiu por terra. A morte também lhe sobreviria lentamente, após al-
ministro da Justiça e do

Fadsn
Caiha ea Eri do Ps
manecia fiel ao presidente dos Er
guns dias sem os necessários cuidados médicos.
Agora, de fato, Bento Gonçalves era responsável por uma morte € a
crise se instalava de vez entre os chefes farroupilhas. No dia seguinte, dia
Peas ado | jr
que parece, o motivo dessa ia são
: foramaos váro ios
econvênios
a dee auxí-; 28, Caxias já comentava, em ofício a Bento Manuel, o desentendimento
firm ados entre O general Bento Gonçalves e entre os farrapos, e o desafio lançado pelo general Bento Gonçalves. À no-
Fructuoso Rivera,
uma aliança que não agradava a al tícia que lhe chegara era de que Onofre Pires teria chamado Bento Gonçal-
guns farrapos.
À crise, porém, estava ap ves de ladrão à frente da tropa de Canabarro. Parece que o termo tinha
no dia 3 de fevereiro de 18
“nas começando. Quase dois meses depois;
43, O vice-presidente Paulino Fontoura sofreu sido de fato usado, as demais fontes só não indicam qual era o público
um atentado. Segundo rel atos, O cr que assistia ao ofício fúnebre. Talvez tenha sido mesmo a tropa.
iminoso atirou-lhe no peito, quan
do,

485
484
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO

Bento Gonçalves, desde agosto, já não era mais o presidente olencarão à 200 homens, pois a gente toda hoje está mais disposta a estar
blica, tendo passado o cargo a seu vice, José Gomes Jardim. Alegouda repú, suas casas , que a anda r Voan do pelas coxilhas”.é
quieta em
sair do governo, “mau estado de saúde”, permanecia porém nt E! Aproveitando essa crise, os imperiais retomavam os combates, que
como militar. Os autores são unânimes em afirmar que o general ne não foram suspensos oficialmente em nenhum momento, mesmo após o
cou o cargo na esperança de minimizar os conflitos entre os farr e-
apos E início das negociações. Nem assim as forças de Bento Manuel cons
dias após sua retirada, no dia 7 de agosto, Antônio
Neto deixava o A guiam um bom resultado sobre os rebeldes. No dia 6 de abril, enquanto
mando-em-chefe do exército republicano, sendo subs Canabarro se esforçava para arregimentar homens, uma força de
Bento
tituído por D 2
Canabarro, mudança que caracterizava a vitória da “ mino Manuel foi derrotada no passo da Lagoa e, no dia 28, o acampamento
ria”, E
Para o barão de Caxias, o duelo não poderia
ter ocorrido em melho imperial, protegido pelo coronel Francisco José da Silva, da divisão de
momento. Após dois meses sem emplacar
um combate, sem Dea Bento Manuel, foi invadido ao anoitecer, sofrendo grandes danos. O ge-
neral amargava problemas sérios de insubordinação em sua tropa. Nesse
de estabelecer qualquer aliança no Prata,
sem dispor de cavalos em con-
dições de fazer a guerra e com Bento Manuel mesmo mês de abril um “batalhão se recusou a marchar sob sua voz” e,
falando em problemas de
saúde, o clima no Exército imperial não era nada após fazer junção com o barão de Caxias, “os soldados”, conta o barão
animador. Se não fos-
sem todos esses conflitos e a grande crise que em carta ao pai, “me dirigiram um requerimento pedindo para serem
se abateu sobre os farrapos
com a morte de Onofre Pires, o barão cert mudados da divisão que ele comandava”. Para evitar maiores proble-
amente teria um ano difícil
pela frente. Por isso mesmo, ficou muito satisfeito mas, Caxias ordenou que o batalhão fosse imediatamente dissolvido, e
20 saber, pelo coronel
Francisco Pedro, de algumas novidades do camp mandou prender o capitão que o comandava. Talvez essa fosse uma das
o rebelde. Um “cida-
dão” contou ao coronel que os oficiais rebeldes razões da doença de Bento Manuel, que, a cada dia, estava mais apagado
não suportavam mais as
desavenças de seus chefes, comentando, entre si, na guerra e redimensionava suas pretensões de obter, ao final da campa-
que se os desentendi-
meros não cessassem de vez “até o fim do verão, nha, um bom posto.”
que eles iam embora,
que deixariam David, Neto e Bento Gonçalves Nessa mesma carta ao pai, O barão de Caxias escrevia ainda que Os
sós nas coxilhas, dispa-
ando de um para outro lado”. A im “farrapos continuam a falar em paz” e, ele, Caxias, acreditava “mais
pressão geral era de que “por todo
o mês de março ou abril” a guerra
estaria acabada agora nisso que antes”. A aliança com Fructuoso Rivera também atraves-
Março ou abril ainda era mu sava um momento difícil. Após a derrota do caudilho para Manuel Ori-
ito próximo, mas sem dúvida essa sen-
sação dr
de qu “os os chef
a e cHeles se estã-o matando uns aos outros,” como escre- be, Os farrapos não conseguiam mais se reabastecer com a mesma rapidez.
de Caxias, aceleraria o processo de Os papéis tinham se invertido: Rivera é que buscava o apoio deles. O due-
"
certTaia ironiaI o barão
inter-
os ofic iais não ten ham dei xad o seus lo agravou essa crise. Desde então, Bento Gonçalves começou, por
HE
chefes E S nas cox! Por que , ain da que
» E
cres ci médio de um capitão de sua confiança, a tentar marcar “uma conferência
consid era vel men t ju » à des erç ão no exé rci to far rou pil ha
particular” com o barão para “cortar as dificuldades para a conclusão da
nabarro estava k E bril, Caxias informava a Bento Manuel que (2 guerra”. Mas Caxias não acedeu às solicitações. Pelo capitão, respondeu
and o a reuniããoo qu que man-
perrand
lota, » “esespe
dou fazer por esse s lados”
que o general “declarasse por escrito O que queria dizer pessoalmente”,
não o assustava. “Todo de E para O exército. Isso, no entanto;
= S me in 3 ! - a
Porque, como ele não ocupava naquela ocasião um cargo representativo
Ormam?, escrevia O barão, “que não

487
486
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO

entre os rebeldes, Caxias não o julgava com meios de tratar do assunt o manifestava com insistência, era na verdade uma forma de ga-
Bento Gonçalves não desistiu, continuou “instando pela entrevista”, a e P ara si, após tantos reveses, ao menos O título de pacificador. Só
“ ” ”
alo

rantir
maio, mandou dizer que “estava autorizado pelos demais chefes” ea enganara. David Canabarro e a “minoria” é que fariam esse tipo
entabular negociações. Só então Caxias decidiu recebê-lo. “Vendo ne is para manter O título entre eles, minoristas. Por isso, desfize-

nenhum mal poderia vir à causa do Império de eu
afi rma va o bar ão — às epo ca a por
me comunicar particu- A última hora —
larmente com Bento Gonçalves, e que de tal conferência algum bem se Gon çal ves . O gene ral, daí em dian te, o teri a mai s vez, estaria
Bento
poderia consentir”, explicou o barão ao ministro, “consenti inteiramente exc luí do do pro ces so de neg oci açã o. Essa s disp utas , por ém,
que ele viesse
a uma estância próxima ao meu acampamento e, fingindo
um passeio, fui par ser iam ent e o barã o, inte ress ado com o Estava
começavam a pre ocu
a esse ponto e com ele me encontrei”. À reunião Ain da ness e ofíc io, expl icou ao ministro
durou mais de duas ho- em fechar um aco rdo de paz.
ras. Primeiro, O general tentou negociar um projeto de federação, ita nei am as forç as estã o tão Fiv ali zad os entr e si,
defen.- que “os chefes que cap
dendo até a entrada, nesse projeto, do Uruguai e da que nen hum dele s pod erá se Ga ii
província argentina que estou certo; pela exp eri ênc ia,
de Corrientes. Falava autorizado pelos caudilhos — Rivera, ami gáv el, rece oso dos outr os seus ais )
pelo Uruguai meter com qualquer arra njo
e Madariaga, por Corrientes. Caxias nem considerou . Por isso , toda s essa s expl icaç ões do
a proposta, x Mas O governo impe rial insi stia
gumentou que esses homens não “tinham poder dos Imp era dor ” — inf orm ava O mini stro da Guer -
povos para levar a barão. “Sua Maj est ade o
efeito tais incorporações” e que nem ele próprio “estava que não fos sem “de spr eza dos os meio s con ven-
autorizado para ra — tinh a det erm ina do
tratar de tal coisa”. Bento Gonçalves fez então uma ra. Isso sign ific a que desejava prosseguir
segunda proposta, cionais” de se pôr fim a uma guer
limitada à questão interna, farroupilha. Exigiu, era tal que o mini stro suge riu ain ça ao
para fechar um acordo, com as negociações. O inte ress e
que o governo imperial assumisse a “dívida interna e externa
que eles ti- barão mandar à corte um emissário, oficial de confiança, para pintei
nham contraído” e que os militares farroupilhas fossem reconhe rcito :
cidos em das circunstâncias mais particulares do estado da guerra e do Exé
Seus postos, naqueles a que tinham sido “elevados pela revolução”. um amigo
Essa O escolhido foi o coronel João Frederico Caldwell, irmão de
Proposta, na opinião do barão, era negociável e, por isso, comprometeu- — de Aca dem ia Mili tar € das pol êmi cas “recep-
de juventude do bar ão
Se a submetê-la ao governo. Mas de nada segu iria para a cort e em set emb ro.
valeu seu esforço para nego- ções aos cal our os” —, que
ciar, pois os rebeldes recuaram. Dois dias depois, David Canabarro em fun ção dess a insi stên cia do gov ern o do Rio de Jana iro que, no
Foi
ogo
B O para desc onsi derar tudo que havia sido tratado final de agosto, o barão tinha decidido retomar, ele próprio, o diál
com ento Gonçalves. Os rebeldes, segundo ele, tinham a Mandou
força suficiente com os chefes rebeldes, sem esperar por uma iniciativa
para manter a guerra e bater conf erên cia, “aos cida dãos” José Pe
o Exército ; mperial nos campos, sem ual- cha mar em seu quar tel, para uma
.
quer negociação. Pp pos, sem q am apenas mensages-
ôni o da Silv eira . Amb os seri
droso e Severino Ant
O bar ão quer ia, seg und o esse s “ci dad ãos ”, que eles com unicassem
ros.
“os dese jos que nutr e em pro mov er à paci ficação
a David Canabarro
pro pon do, dess e mod o, que O gov ern o farr apo declarasse
buída a um fato — di ISsputas » ESSA repe ntina desistência só podia ser atri- deste país”,
ção da guerra
a
à cessa
um
guir
a
,
internas Quando esteve com “as condições com que lhes convé m conse
o general, 0
barão chegou
B a acredi Itar que essa sua as , pu de ss e lev á-l as à ap re ci aç ão da Co ro a. O general
disposição para negociar, que des- para que ele, Ca xi

489
488
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO

Canabarro não decidiu nada sobre a questão. Preferiu encamj não ho st il iz ar em mai s as for ças do Exé rci to que v.
o = o Nhar Og res olutos em
referidos “cidadãos” ao ministro da Guerra da República Rio-G = manda » Pediam ainda, nessa mesma Acarta, salvo-condutos que
tanden. exa. te pe la pr ov ín ci a.
se, Manuel Lucas de Oliveira, mais capacitado, na sua opinião os permitis se m ci rc ul ar li vr em en
avaliar “negócio de tão alta monta”. » Para
não perd eu tem po em man dar os salv o-co ndut os. Sabi a que
O barão
O argumento era realmente coerente. A proposta do barão a um “cer teir o golp e nos rebeldes”, alimentando a intriga
ISSO significari
ser discutida pelas instâncias competentes da república, e e ntre os chef es. Ness e ínte rim, poré m, Cana barr o já dizia
assim deveria e a hostilidade
subir à presidência pelo ministro da Guerra. Só que esse cui que esta va “dis post o a bate r estes dois chef es no mesmo
dado de ablicamente
David Canabarro era também uma manobra política
para ganhar te o em que eles deixassem O serviço rebelde”. Assim, tão logo
po. Ele tinha, exatamente no mesmo período, alve s rece beu O salv o-co ndut o, man dou , pelo mes mo emissá-
na virada do mês A Bento Gonç
agosto para setembro, enviado um emissário a Teófilo rio, que ele fosse devolvido ao barão. Junto, enviou-lhe
uma carta. Essa
Otoni, ex-rebel-
de de 1842, para consultá-lo “sobre a possibilidade it o obs cur a. Be nt o Go nç al ve s não acu sa ni ng ué m
de fazer reaparecer negociação é toda mu |
a revolução na província de Minas”, oferecendo-lhe, nd ên ci a, ma s dei xa cla ro que , me sm o de se ja nd o “ar den te-
como forma de na correspo
colaboração, os melhores oficiais rio-grandenses rm o da gu er ra ci vi l” , ja ma is tr al ri a se us co mp an he ir os, des-
para comandar a re. mente O te
volta naquela província. | O contato é narrado -se de pri ncí pio s que tin ha man ife sta do dir eta men te ao barão na
pelo próprio Otoni 3 que, viando
huma
em| resposta, disse que “ tinha horror à guerra
civil” e que jamais apoia- entrevista ocorrida meses antes. Ismael não era portador de nen
Ha O separatismo, porque considerava
“ a maior das desgraças para carta. Caxias conta ao ministro que o oficial fazia a proposta dos salvo-
uma nação ser pequena” - Sua única amb
ição, prosseguia Otoni, “era condutos “bocalmente” e ele, Caxias, é que teria exigido que a fizesse
ver OsE rio -Brandenses livres, reforçando o
Partido Liberal das outras por escrito. Daí a carta ser assinada por Ismael Soares. Das duas uma: ou
províncias irmãs?. O ex-rebelde assegurava
ainda que a idéia de fede- Bento Gonçalves se arrependeu de sua proposta ao vê-la por escrito e
ração seria “repelida”, aconselhando
Ca nabarro a aproveitar a “mag- saber da reação dos outros chefes, ou Caxias seduziu o oficial, conven-
nífica oportunidade” de acertar cendo-o a redigir a tal carta sobre os salvo-condutos, acrescentando al-
a paz.10
é Essa carta, porém, só foi redigida gumasidéias, quenão constavamna proposta original, feita “bocalmente”.
no final de setembro, no dia 24
.
ntes de ela chegar
ao Rio Grande do Sul, Canaba Como afirmou o próprio barão, esse seria um “golpe certeiro” e — é im-
ao barão de Caxias. Tentava ã
um último im po r o projeto fede- portante lembrar — não seria a primeira vez que ele cuidaria de espalhar
rativo ao Rio de Janeiro. Só gol pe par a
que, a cizânia entre os rebeldes. No Maranhão, essa palavra já aparecia em
a essa altura, a trama não era mais dos
nem acredita-
Seus ofícios. O fato, porém, é que O negócio dos salvo-condutos estava
não par ticipou,
desfeito. Bento Gonçalves negou na carta que enviou ao barão, com OS
Ri e E Bento Gonçalves
pe ra que O trabalhando desde maio pelo tratado de paz.
e ae ; tônio Neto, comandante do exército farrapo Salvo-condutos, tudo que supostamente teria dito a Ismael Soares. Isso
durante seus
» O general inda tentou negociar novamente Significa que nem ele, nem o general Antônio Neto, abandonariam
com Caxias.
“companheiros d'armas”, e que ambos, quando enviaram Ismael, pre-
não
tendiam apenas reiniciar as discussões sobre o tratado de paz. Se
tinha abandonado seus companheiros antes, quando eles neutralizavam

491
UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

seus esforços, escreveu Bento Gonçalves, não O faria agora que el a de ter razão. Fructuoso Rivera, a partir desse encontro,
nalmente concordavam sobre a urgência do tratado.!!
A s

es fi
? É
ra fom ent ar boat os e, com isso, desestabilizar as rela-
ter a ejJementos pa lhe seri a ext rem ame nte conv eniente, já
m p é r i o € R osas . Isso
Mas a avaliação de Bento Gonçalves estava certa apenas em « entre o i
çõe a , o r e n quan t o , is o l a d o n e s s e c o n f l i t o c o m o g o v e r n a d or de
David Canabarro, de fato, retomava as negociações com o barão y ça e a c h a v p
E E. à

es que que S
continuava, na verdade, procurando ganhar tempo. Como o po Bueno s Aires e seu al
iado no Ur ug ua i, Ma nu el Or ib e. Pe ns an do nis so,
posto a | Teófilo Otoni era r Os ór io co mo em issário.
: de criação de uma
; federação, que inclui riaai ar o ma jo
* .

nd
= =

ma
[ m

Caxias prefer iu
Uruguai e, talvez, Corrientes, Fructuoso Rivera foi o escolhido par pa me nt o de Ri ve ra , em ter rit óri o ur ug ua io , Osó-
no > à rei. Ao chegar ao acam
niciar as conversações, como representante dos farrapos. No final de Vi ce nt e da Fo nt ou ra , um dos líd ere s da ala “mi-
se- “o encontrou Antônio
tembro, no dia 30, o caudilho escreveu a Caxias propondo “suspensão d ic a. Ve nd o qu e a re sp os ta do ba rã o às pr op os tas do
norista » da repúbl
hostilidades”. Esse era o maior ou ra co me ço u a mo st ra r à “m ai or bo a von-
a : or i interesse do grupo. , Fo nt
age

gr caudilho foi negativa


O c

| O general Canabarro
tados estavam tão pouco interessados no tratado de paz que co ns id er an do até me sm o a idé ia de abr ir ne-
tade em concluir a guerra”,
após proporem um p prazo de 30 di tas sem combates, para que pudessem o de ar ma s. Ri ve ra , irr ita do co m Fo nt ou ra ,
v gociações sem suspensã e car E
elaborar o acordo que seria levado à Coroa, previam o “prolongamento” nd o qu e iss o era um a “i nd ig ni da de ” e, “p er de ndo a
descontrolou-se, dize
desse prazo por tempo indeterminado, depois que o texto do acordo asn eir a a Osó rio ». Ins ist ia na su sp en sã o de armas,
vol: cabeça”, “disse muita
fassa do Rio de Janeiro. O prazo deveria se estender pelo tempo necessá- lhe int ere ssa va. Só q ue a in te nç ão do ba rã o de Caxias
única proposta que
ro para que os chefes farrapos deliberassem novamente. Sem qualquer ent e eli min á-l o das neg oci açõ es co mo for ma de inv iab ili zar de
era exatam
c | nde pro jet o fed era tiv o no qua l o gru po de Dav id Ca na ba rr o vi-
a Rivera ainda propunha ao barão que até lá aguardasse: vez o gra
da guerra. No mês
q ueEr he envie] uma resposta que importe o mesmo consentimento”. nha investindo tanto, e com isso retardando o término
ms viamente a proposta foi l recusada. O barão, para isso, nãoã preci- ro , o bar ão co me mo ra ri a ess a sua “ha bil ida de” para
1 seguinte, em novemb
2 recorrer à sua habilidade política. Ele estava proibido pelo go- o do Riv era ” dos reb eld es, esc rev end o ao pai sob re as
“separar o velhac
ve sõe s do cau dil ho de “fa zer pap el de juiz de paz em nos sas des ave n-
qo cntar suspensãoA de armas”,e era isso que oficiaria
a Fructuoso pre ten
ua
Ivera: tenho ordens expressas do governo imperial
: para não
ã aceitar Ess a sep ara ção só se efe tiv ou no iní cio de no vembro.!
ças internas”.
; ú com o barão,
vi E a por parte dos rebeldes dessa província que não te: Fructuoso Rivera ainda tentou obter uma entrevista
te por Osó rio . Ma s tev e seu ped ido mais
À por Dase a “posição de armas, e uma vez que isso se efetue, suspen-
deposica enviando-lhe um ofí cio -co nvi
sas ficam as hostilidades”12 usa do. Co m ess a nov a rec usa , Cax ias que ria dei xar claro que
uma vez rec
Esse ofício, d atado o E diá log o pos sív el co m O “es tra nge iro ”. Iss o oco rri a por volta
só seria enviado ao caudilho não havia
diasias denoi
depois, , ag de 1º de
pelas mãos do maior outubro, dep ois de Teó fil o Oto ni ter res pon did o a
par Jor M Manuel Luísis Osório
Osóri (que futurame? o do dia 24 de outubr o, um mês
rã general, senador e marquês de H rro , e se ess a car ta ain da não hav ia che gad o, dev ia est ar pr óxima
Í sSt Canaba
do barão de Caxias em m “ “co erval). Apesar do grande interé Se gu nd o Can aba rro , só apó s rec ebe r a dita carta
ei 7 do Rio Grande do Sul .
fessada a Bento ManuelClem Ea de perto” d. Fructo, curiosidade Co! de paz . “Su a car ta” , esc rev eu a Otoni,
abri : . as Í O grupo se defini u pel o tra tad o
subtrair-se nesse momento au “il, ele deixaria passar a ocasião. Preferê con duz iu os con tin ent ist as ao esp era do por to” . Ref eri a-
“foi o farol que
va que isso poder la co m contato pessoal com o caudilho porqE se clarament e ao tra tad o. Teó fil o Oto ni não tin ha ace ita do sua pro pos ta
mprometer “nosso governo com Rosas

493
492
UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

de voltar a pegar em armas numa grande revolta federativa ao lado dos «a em seu diário que ficou surpreso com o “caráter generoso e polido”
con
rante todo o tempo df“most rou desejo s na conclu são da
farrapos, e para justificar-se fez uma longa e minuciosa exposição sobre de Caxias, que du
“o estado geral das coisas políticas” no império. Só após ler suas “sábias
» Sua proposta não era nova. Já tinha sido apresentada aos rebeldes
oca siã o. Que ria que env ias sem um emi ssá rio à cor te, a fim de tra-
reflexões”, prossegue Canabarro, “me convenci a empregar meus esfor. aa
o gov ern o imp eri al. Foi o que oco rre u. No dia 8, Fon -
ços na terminação da guerra”. ro rea com
Por esses mesmos dias, Caxias enviava uma carta a Bento Gonçalves vol tav am a seu exé rci to par a, com os dem ais chefes,
roura e padre Chagas
dev eri a seg uir par a o Rio de Jan eir o. |
datada de 22 de outubro. Nela, confirmava a devolução dos salvo-condu. escolherem o emissário que
tos pedidos “em seu nome pelo Ismael” e se dispunha novamente a nego- 10 de no ve mb ro , às qua tro hor as da tar de, em uma reu niã o
No dia
ciar, escrevendo que, se O general acreditasse em seu empenho para terminar dio tin ha com o pre sid ent e Jos é Go me s Jar dim , o
nos campos do Can
essa guerra de forma digna, tanto para Os imperiais como para Os farroupi- el Luc as de Oli vei ra e os gen era is Net o, Can aba rro e João
ministro Manu
lhas, que lhe enviasse um emissário para tratar do assunto. A carta, porém, gas e Fon tou ra pre sta ram con tas do que for a tra tado
Antônio, padre Cha
foi curiosamente parar nas mãos de David Canabarro, que, tendo recebido Tod os par ece m ter fic ado sat isf eit os e, pas san do- se à elei -
com o barão.
a recusa do ex-rebelde mineiro, aproveitou a chance para retomar as nego- nov o emi ssá rio , o gru po dec idi u man ter Ant ôni o Vic ent e Fon tou -
ção do
ciações sob novas bases: sem Fructuoso Rivera, sem Teófilo Otoni e sem ra à fre nte das neg oci açõ es. No dia 13, no ac am pa me nt o de Por ong os,
falar de federação. Aceitando a oferta de Caxias, O governo da República assinaram um documento denominado “credenciais”, que formalizava a
Rio-Grandense, presidido por José Gomes Jardim, enviou no dia 2 de no- missão de Vicente Fontoura, investindo o ministro de autoridade para
vembro dois emissários ao quartel-general das forças imperiais: Antônio representar o governo da república na corte. Nesse texto, um antigo ar-
Vicente da Fontoura, inimigo visceral de Bento Gonçalves, e O padre Fran- gumento, sugerido pelo barão de Caxias a Bento Gonçalves, na entrevis-
cisco das Chagas D'Ávila e Sousa, ambos partidários da “minoria”. Bento ta de maio, foi recuperado pelos farroupilhas. À idéia, conhecida como
Gonçalves era, assim, excluído das negociações. Só ficou sabendo da carta “oferta honrosa”, apresentava a missão Fontoura não como expressão
de Caxias, e da proposta que nela lhe fazia, quando os emissários de Cana- da derrota do movimento armado, mas sim como uma “desistência”
barro já estavam de volta do quartel-general do barão.! provocada pela ameaça estrangeira. À missão nessas “credenciais” era a
ável
A dupla de emissários marchou por todo o dia 2 e no dia 3 fez uma junção “da grande família brasileira” para “impor um dique formid
pausa em Jaguarão. Esperavam a contestação do barão à carta enviada ao estrangeiro audaz que pretende fulminar a ruína desta terra e do Bra-
por
padre Chagas e o salvo-conduto para que pudessem entrar no
campo impe- sil inteiro”. Essa ameaça externa era, sem dúvida, uma referência à ques-
rial. Esses documentos só chegaram às sete horas da noite do dia 4. Isso tão pla tin a, às con sta nte s inv est ida s de Ros as no Uru gua i, por meio de
ainda manteve os emissários nesse ponto por dois dias. Só retomaram à sua aliança com Manuel Oribe. A partir desse momento, vários boatos
* marcha às cinco horas da manhã seguinte, do dia $, chegando começaram a correr na província. Um deles assegurava que O chefe ar-
ao quartel-
general do barão de Caxias às quatro horas da tarde. O barão, porém, não gentino vinha “procurando influir no ânimo de alguns rebeldes” a fim de
GET 1
sp lá. E em Bagé, de onde vinha exclusivamente para a entrevis- firmar uma grande aliança dos povos do Sul contra o império.
ta. egou no dia 6 pela manhã,ã e a reunião
x com os emissários ocorreu àâ Quase uma semana depois, no dia 16, Vicente Fontoura deixava O
tarde, “durando desde as ave-marias até às nove é meia”, Vicente
EC
Candiotinha e partia para Bagé. Na viagem para a corte, iniciada no dia
Fontoutê

494 495
E ph Ih À, |

UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO


DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

19, ele seria acompanhado pelo irmão caçula do barão, capitão Carlo . últimos ajustes, desde as investidas de Rivera até a redação da “re-
Miguel de Lima, e pelo coronel Manuel Marques de Sousa, ; esentação ” que seria apresentada por Fontoura ao governo. Segundo
pr
É claro que tudo isso já estava devidamente acertado com o 80verno ocumento já teria passado por ele, para evitar que che-
O barão de Caxias, político como era, não enviaria um líder farroupilha imperado r “se não fosse concebida em termos acatosos e co-
gasse ao
». Explicava ainda, nesse ofício, a composição da comissão.
à corte imperial sem antes tomar uma série de providências. Todos os medidos”
de
seus passos, desde maio, quando as negociações começaram a adquirir Julgava que deveria enviar O emissário para a corte acompanhado
ei ra co nf ia nç a” . Ca rl os Mi gu el , se u ir mã o, er a
um caráter mais sistemático, eram comunicados ao Rio de Janeiro, con. dois oficiais de sua “int
me nt os “m ui to im po rt an te s” e o co ronel Mar-
tando com a aprovação do governo. Nem a mudança de gabinete, em portador de alguns do cu
“d e viv a vo z” ex po r ao mi ni st ro Je rô ni mo Coe-
fevereiro desse ano, com a saída dos conservadores chefiados por Honó- ques era enviado pa ra
co m re sp ei to à pa ci fi ca çã o” , al ém da qu il o “que
rio Hermeto, mudaria a posição do barão. Esse é um traço marcante em lho “todo o ocorrido
Ca xi as , “m ai s co nv en ie nt e par a de pr onto ulti-
sua forma de agir. Ele jamais sustentaria, pelo menos não até esse mo- me parece”, explic av a
mento, uma política militar que não contasse com uma boa base de apoio mar essa desastrosa guerra que nos aflige”.
, o ba rã o es cr ev eu ai nd a um a car ta do me sm o teor
na corte. Adversários ele sempre teve. O que Caxias nunca perdia de vista No mesmo dia
Inf orm ava , em pou cas lin has , sob re a par tid a da com iss ão,
era justamente o caráter político de uma intervenção militar. Tão logo para o pai.
concebia um plano de ação, começava a costurar alianças que o viabili- o na imp ort ânc ia dos “pa péi s” lev ado s pel o irm ão e das entre-
insistind
zassem, na província e na corte. Foi assim com o general Bento Manuel, vistas que o coronel Marques de Sousa teria com O ministro da Guerra,
que stã o de apr ese nta r o cor one l com o um ofic ial em que m de-
no início da campanha, e seria assim também com o novo gabinete. O fato fazendo
. Com isso , o bar ão de Cax ias aci ona va out ra
de ser todo ele liberal não poderia atrapalhar seus planos. Desse modo, positava total confiança
mesmo com a violenta oposição dos conservadores ao gabinete — alguns de rel açõ es, igu alm ent e ou mai s pod ero sa que a man tid a no gover-
rede
deles, como Eusébio de Queiroz e Clemente Pereira, seus amigos pes- no — sua família. Francisco de Lima, seu pai, ocupava uma cadeira no
soais —, O barão prosseguiu nas negociações. Criou com Jerônimo Francis- Senado desde 1837. Um de seus tios, José Joaquim, estava na Câmara
, Ma-
co Coelho, o então ministro da Guerra, uma ótima relação, pautada não dos Deputados, como representante do Pará, e outro de seus tios
de
em iennificações políticas, mas em vinculações pessoais. Jerônimo Coelho noel da Fonseca, gozava de grande prestígio no Exército e era, des
da pro vín cia de São Pau lo — isso par a fica r apenas nos
Ea De. era militar, tenente-coronel, havia sido seu contemporâneo de junho, presidente
trajetória polí-
Academia Militar e, além disso, os dois tinham amizades em comum, ptin- parentes mais próximos e mais velhos, que tinham uma
Je- tica de peso na corte.”
RR no Exército. Uma delas era a família Frias e Vasconcellos. emb para 0 Rio de Jane iro.
àE Só no dia 5 de dez emb ro a com iss ão arc ou
a a nai morte Dai
a dat a, a via gem era ain da den tro da pro vín cia , par a cruzar O
io a Arg; ie emaçies apa gde muito ao Até ess
cho de Bag é até São Jos é do Nor te, ond e fin alm ent e chegariam ao
tre
o interior. Mes-
corte, tornando-se amigo de toda a E E Ei Sueco eso pos março Era a primeira vez que Vicente Fontoura deixava
No dia seguinte à partida
parti de Vicente Jos é do Nor te ele não con hec ia. Tud o o enc ant ava . Est ava , com o
iara E ar Fontoura para
a corte, O barãoâ mo São
onel
a Jerônimo Francisco Coelho. Colocou o mini de todos escreve em seu diário, “feliz com tão dignos companheiros”. Ao cor
Inistro à par

497
496
UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

Marques, agradecia “milhares de atenções e favores”, e Carlos Miguel pont os, che gou , em suas narrativas, até a ida do padre Chagas e
árioS e SP
cativava: “Que belo moço! Que alma generosa e grande!” A polidez é e o seu quartel-general. Caxias só não discriminou, nesses
rapaz era a única que ele conseguia admirar. Às outras, achava insupor- «is, quais eram efetivamente as exigências dos chefes rebeldes. Prefe-
táveis: “Essas etiquetas chamadas de corte (...) nesses seus trejeitos a que eixar que O coron el Marques contasse esse detalhe “de viva voz”,
ju d
chamam ar palaciano, não só apresentam o mais jocoso ademã como provave Imente por prever a reação dos ministros. Por isso também, em
estropiam horrivelmente as palavras.” Só a polidez de Carlos Miguel lhe sua COLTESpO
ndência, destacava a confiança que depositava no oficial.
parecia elegante, talvez porque ele a “adquiriu em suas viagens pela Eu- rq ue s, pr es en te a essa entrev ista na corte, não rebate u uma só vez Os
Ma
ropa”. Viagens — vale lembrar — feitas após a morte do jornalista a quem ministros. Manteve-se calado. E assim permaneceu mesm
o quando o
golpeara numa botica do Largo da Carioca. ministro farroupilha reagiu, tomando a palavra:!
A 12 de dezembro, o ministro farroupilha registrava sua
chegada ao
Rio de Janeiro: “o Corcovado e o Pão de Açúcar (...) foram
a meus olhos E pois que v. exas., ou O governo imperial, fazendo-se desconhecidos do
se desdobrando”. Mas o encanto exercido pela cidade pararia por aí. No verdadeiro estado do Rio Grande, da força que ainda tem esse governo
dia seguinte, dia 13, Vicente Fontoura daria início a sua missão, que aqui me mandou; da eficaz e oferecida cooperação estrangeira; que-
€ a via-
gem perdia todo e qualquer ar turístico que pudesse ter assumido rem só guerra, e guerra de extermínio. O Brasil com luto o sentirá e nós
nesses sucumbiremos, mas nosso rosto não levará ao túmulo o cunho do enve-
dias. À primeira reunião, com parte do gabinete, transcorreu em “tom
lhecimento! Não que os rio-grandenses sabem morrer! Perdem v. exas. O
agro”. Participavam dela, além do ministro Jerônimo Coelho, Almei instante da glória de pacificadores do Rio Grande.
da
Torres, da pasta do Império, e Antônio Galvão, da Justiça. Todos,
na
versão de Fontoura, “ostentavam uma indiferença ridícula e um orgulho Pelo tipo de fonte é preciso, sem dúvida, relativizar o texto. O diário, se-
tolo”. Mal o ministro farrapo — a narrativa continua sendo dele — gundo o próprio Fontoura, foi escrito para seus filhos, como testemunho
come-
seu a ler os “artigos das proposições ou bases da paz”, os ministros im- dessa sua experiência e patriotismo. Por aí, já podemos imaginar quanto,
periais se impacientaram, respondendo, bruscamente, a cada tópico lido. como pai, tecendo sua imagem, ele pode ter enfatizado reações a princi-
Diziam que em nada podiam ceder, que isso seria “manchar o manto Pio talvez não tão expressivas. Além disso, embora afirme que não escre-
imperial”. Lembravam que já tinham autorizado o barão de Caxia
s à ve “para o grande público”, ele não só dotou cuidadosamente O diário de
conceder anistias e não podiam imaginar que “grupos dispersos de rebel-
um “prólogo”, onde presta esses esclarecimentos, como afirmou, nesse
des ainda pretendessem tanto do governo”. Mesmo Jerôn
imo Coelho, no Prólogo, que esse texto era um “documento”. Nada disso, porém, invali-
relato de Fontoura, parece ter se surpreendido com da seu depoimento. Mesmo que não tenha sido assim, com essas pala-
essas exigências.
; Agora fica mais fácil entender o papel dos acompanhantes vras, a reação deve ter ocorrido. Vicente Fontoura era um homem impul-
nessa mis-
são, sobretudo do coronel Manuel Marques. Em seus sivo e se sentiu afetado em seu orgulho pela arrogância daqueles minis-
ofícios, Caxias
unicando ao mininiistro todos os seus passos,
vinha comuni tros que, dali da corte, não tinham idéia do que era fazer política nas
cada um dos avan”
ços e retrocessos ocorridos durant terras de fronteira. No dia 15, escandalizou a todos ao se recusar a parti-
e . Co nt ou so br e àº
interferências de Rive:ra, sobre os sa as co nv er sa çõ es
de cordos en; tre Bento Gonçalves € cipar da cerimônia do beija-mão, realizada naquele dia justamente para
David Canabarro, sobre ,
que se curvasse diante do imperador. À recusa lhe parecia, porém, abso-
quanto isso favorecia o império e, passando pof
:

499
498
=
UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

“cão
posiça do 8 governo era resultad o da ação do coronel Mar-
lutamente natural. Afinal, ainda “não era brasileiro”, sendo, aliás, de P
ança de
cid | th oe
dão de uma república. Mas é claro que nisso havia ainda suas difculda de suas entrevistas.
des pessoais com as práticas da política de corte. Estava certo, “mito
ques;
m de vo lt a, po r co nt a de ve nt os nã o muito favoráveis, só teve
AV jage
certo”, escreve nesse mesmo dia, de que d. Pedro era “um O min ist ro far rou pil ha est ava Sat ish edt o com o Fes ulç ado
pobre Menino início N o dia 20. alg um
ia que a pac ifi caç ão com ple ta ain da aa
puxado sempre e sempre dirigido por um enxame de vis aduladores. de sua CO missão. Sab gra -
te est ive sse dis pos to a fec har “de bo m
Nesse mesmo dia do escândalo, Fontoura já hav
ia estado Com o pai bora pessoalmen
de paz sem os doi s art igo s exc luí dos pel o governo impe-
de Caxias, de quem — escreveu — “continuo a fre
quentar a casa”. À famí. do” o tratado
lia continuava também a cativá-lo. O “senador Lima” pos içã o não ser ia a predominante. De qualquer modo,
era, na sua opi. rial, sabia que essa en à
ída . O Eer one i n
nião, “uma bela alma! Um desses astros que
não se mancham na arte das negociações estava conclu
corrupção da corte e, a despeito dela, brilham com ba ga ge m doi s ofí cio s dir igi dos ao bar ão de
o mesmo fulgor”, a levando em sua
Infelizmente, ele não conta nada sobre essas con da Jus tiç a e ou tr o do da Gu er ra , as no va s 1a —

Caxias, um do ministro
]
versas. Só sabemos que a a
esteve mais de uma vez com o senador, em um de cr et o im pe ri a | “c on ce de nd o am pl a ani sti
sua casa. O Rio Grande do çõeEa s do governo e
Sul era praticamente desconhecido para Francisco todos os comprometidos na luta da reb eli ão”
eds
.
de Lima, que, a maior
parte das vezes, serviu à Coroa no “Norte”. Se
participou de alguma
campanha na fronteira meridional do império,
isso ocorreu quando era
moço, na década de 1810. Tinha, assim, muito o que MISTÉRIOS DA PACIFICAÇÃO
perguntar a Fon-
toura. Um dos irmãos do senador, o segundo mais jov
em, havia sido um ;título: “reserv A
líder farroupilha, morrendo, em 1837, em uma Todo o material — ofícios e instruções — vinha com O ado, ;
emboscada. Segundo
fora aventado, ainda nessa época, os liberais da corte,
entre eles Francis- Aliás, há meses esse caráter “reservado” vinha sendo imposto ss barão
co de Lima, não só mantinham contato, como apoi às negociações de paz. Foi exatamente quando elas se intens o
avam a luta dos far-
rapos. Agora o senador acompanhava as dificu
ldades de seu primogênito depois de junho, que ele recorreu pela primeira vez à uma eum cifra E
para pôr fim a essa guerra por “meios conciliatórios”, e, certament data do de 11 de julho , o uso de códi gos se EPE R
e, era No primeiro ofíci o,
favorável às negociações.1º e, por isso, aind a foi possí vel ident ifica r O assunto.
dois parágrafos
;
No dia 16 de dezembro, Vicente Fontoura foi re
cebido em nova en rão oficiava ao ministro a tomada de Piratini pelas forças do coronel Fran
trevista, cisco Pedro, que, durante a ação, tinha conseguido pqutar três a
rebeldes. A segunda vez que O barão fez uso dos códigos foi pum o )
muita polidez, muita afabilidade” e principal
[1 = . . mae . 4 -
é o ear
mente, observou Font Pequeno, mas que é quase todo cifrado. A data em que foi a
nd es ce nd ên ci a sob re nos sas exi- Usório
ênciasias relrelativ
enc Our
à a, por
Daz? “m ai s co aa X interessante, 17 de outubro. Ou seja, justo quando o major
dias, da primeira para a segunda entrev
ista, porque o ministério decidiu achava em entrevista no acampamento de Rivera e Bento Gonçalves es-
autorizar O barão de Caxias a Prosseguir com a pacifica crevia ao barão, devolvendo os salvo-condutos. O último orio cora
ção, reconhecen
Go, desde já, quase todos os artigos das
instruções de PontabEd Apenãs três páginas, em que palavras e códigos são entremeados, foi escrito T
dois — ele não menciona quais — foram excluídos. Certam vésperas da assinatura do tratado de paz, a 4 de fevereiro, sendo possíve
ente essa rápida
501
500
UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

perceber que ele trata de dificuldades ocorridas durante as Negociações »> Se ela era costumada, só um negócio de extrema importância
ícia * fé
Mas, ao final, o barão garante a Jerônimo Coelho ter “força moral bas aicf Ejiica «ia a recomendação. Nesse ponto, vale destacar o termo utiliza-
just o, para qualificar as negociações| de
tante” para levar “a efeito o que tenho tratado de acordo com as ordens lo
do pe O
mi nistro; nesse mesmo ofíci
das instruções” (anexo V).? omi ssã o é, par a ele, “me lin dro sa” . Às “instruções” enviadas
paz. Essa €
A missão do coronel Marques em parte também é sigilosa. Seu ob- nte 40 bar ão con têm 11 arti gos. O que chama de imediato
reservadame
ra. Após exi-
jetivo é claro: o coronel seguia para relatar “de viva voz” aos
Ministros xo é a disposição do governo para pôr termo à guer
tudo o que se tinha feito até aquele momento em termos de negociação Si 1º a ebe lde
a s sem pre
| exp res sem os
CE“de sejQUos de depDaor
gir, nO artigo
e explicar o que ao barão parecia mais conveniente “para de pronto (...) por mei o de pet içã o ass ina da oni oin o ud E E
armas
ultimar essa desastrosa guerra”. Com a resistência do ministério, não , O 2º, o gov ern o aut ori za o bar ão a “def erir ime jata-
artigo seguinte
há como negar o caráter estratégico da missão. Caxias recorria a ela de Sua Maj est ade O Imp era dor a qua pet içã o que
mente em nom e
porque estava seguro de que por meio de ofícios não conseguiria pelo s che fes reb eld es nos ter mos ind ica dos . Essa ea
obter for apresentada
autorização do governo para realizar uma verdadeira negociação, não se tra duz na con ces são E tota l libe rdad e ei ao
que sição, porém,
implicaria atender, ao menos, algumas exigências dos rebeldes. Mas trá rio , não ser iam nec ess ári os 11 arti gos. À função
a para agir . Do con
missão Marques evita também — é importante destacar — a explicitação es é exa tam ent e imp or a obs erv açã o de alg uns pon tos . Por Es
dest
dessas posições. O que é dito “de viva voz” não fica registrado. Tratan- negociações,
mesmas instruções, o barão de Caxias não poderia, nas
do-se de uma autoridade que vinha recorrendo a uma escrita cifrada reconhecer dívidas contraídas pelo governo republicano. Também esta
E + va
=“

nos ofícios, isso não é um detalhe. Se as exigências de Fontoura eram di do , co mo afi rma o art igo 3º, de ap ro ve it ar ofi cia is
fais reb eld es no
imped pe
im
tão ofensivas a ponto de se dizer que “manchariam o manto imperial Exército ou na Guarda Nacional, ficando todos eles “dispensados inde-
”,
O que teria feito o governo mudar de idéia? Quais teriam sido os argu- finidamente” destes serviços. Mas o artigo 5“era sem dúvida o ais de-
mentos expostos pelo coronel Marques? Ele esteve com todos os minis- licado. Ele regulamentava o destino dos escravos que serviara aos
tros? Falou-lhes separadamente? O imperador tomou parte nessas rebeldes. Por ele, todos seriam remetidos para a corte, ficando à dispost-
discussões? Tudo isso é uma incógnita. A que stã o é que esse s escr avos peg ara m em arm ãs em
ção do governo.
e.
Depois, é o governo que, aceitando o que fora proposto, mantém
esses troca de sua liberdade, e constituíam parte expressiva do efetivo rebeld
termos sigilosos. Os ofícios enviados ao barão, dos ministros da Gue
rra € Seria difícil, para os chefes farroupilhas, desfazerem agora, depois de
da Justiça, não têm senão um parágrafo. Não era preciso tantos anos de luta, o acordo que tinham com esses negros, para selar a
mais. Conforme
escreve Jerônimo Coelho: “e Porque nesta ocasião para o impé rio. O gov ern o impe rial só admi tia emp reg á-l os no ser-
aí regressa o men- paz com
cionado coronel Marques, ele informará a v. exa. todo o lib erd ade . 22
ocorrido no né viço do Estado, mas não = co nc ed er
gócio de que veio encarregado”. Em uma frase, no eir o, Cax ias rec ebi a das mã os do cor one l Ma rq ue s
mínimo, curiosa, ainda No dia 2 de jan
afirma que O governo imperial confia que, nas negociaçõ essas “instruções” e mais algumas outras, passadas de “viva Voz ia Teria
es, “v. exa. %
comportará com a sua costumada discrição e perícia” ainda, no dia seguinte, dia 3, uma reunião com Fontoura. Este egos
21
e perstinita inevitável é: por que q ministro da Guerra lembra 20 em seu diário que o barão, nesse encontro, lhe assegurou pampla boa-fé
à

barão a necessidade de ele se comportar com sua “costumada discrição da parte do governo. O ministro farroupilha não teve acesso às instruções

502 503
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO
Ê

imperiais e, no dia 17 de dezembro, ainda na corte, escreveu que q BOver. sivo ; mar cad o para fins de jane iro, na mes ma vila de Ponche
encon tro deci
no imperial ficou de autorizar o barão “para tratar plenamente da pacif- Ao que tudo indi ca, a data e o loca l foram acertados com Caxias
verde.
cação”. Acreditava nisso. Saiu dali para Ponche Verde, reunindo-se dia 12, quando Fontoura voltou ao campo imperial. A partir dali, seu
com a

os chefes rebeldes às oito horas da manhã do dia 9. Expôs-lh pi-


»

os chefes farrou
Aos

reunir todos
É

de
no

es o resulta- es forço se concentrou na difícil tarefa


do de sua comissão e, segundo o próprio Fontoura, todos estavam ex cl uí do s des sas ne go ci aç õe s e que não
de has, sobretudo aq ue le s qu e fo ra m
acordo, “exceto o Neto”. Novos problemas se avizinhavam. Mesmo as- m me sm o e re un iã o do dia 9 de jan eir o. À as si na tura
participaram ne
sim Fontoura prosseguiu com as negociações, indo para O campo impe- Go nç al ve s, que , por seu pap el
mais conc or ri da era se m dú vi da a de Be nt o
rial a fim de solicitar ao barão a suspensão das operações tar nu m tr at ad o de paz .
“enquanto se na revoluçã o e pr es tí gi o pol íti co, nã o po de ri a fal
ultima a paz”. Já no dia 12, estava de novo com Caxia pa ra sor te do gr up o de
s. Além da solici- As ne go ci aç õe s fin ais co m ele fo ra m int ens as e,
tação, trazia-lhe também as proposições dos chefes rebel to , a res ist ir Há
des e uma Carta Fontoura, ele nã o es ta va di sp os to , co mo seu am ig o Ne
do ministro da Guerra farroupilha, Manuel Lucas l às ne go ci aç õe s
de Oliveira. Nesta. o quase um ano , de sd e ma io , vi nh a se mo st ra nd o fa vo rá ve
ministro agradecia os salvo-condutos que o barão, a pedi me sm o gr up o, à
do seu, nhadhe com o ba rã o e, se nã o pa rt ic ip ou del as, foi po rq ue ess e
enviado. Os papéis destinavam-se aos próprios que de jan ei-
teriam de seguir vá- ch am ad a “m in or ia ”, o ali jou do pr oc es so . Por ess es dia s, me ad os
rios destinos para tratar da pacificação. Logo após pai do ge-
o jantar, Fontoura ro de 18 45 , Be nt o Go nç al ve s ac ha va -s e ret ira do na fa ze nd a do
deixou o campo. Estava otimista: “muito tenho cami
quinze dias teremos desfecho de tão espinhosa e
nhado, porém nestes neral Neto, conhecida na região como “Estância do Velho Neto”.
árdua negociação”.
Sua avaliação foi precipitada, de alguém que se deix O barão de Caxias, depois que a comissão voltou do Rio de Janeiro,
momento, mais pelo desejo que pela razão. Antônio
ou levar, por um
procurou estabilizar suas relações com os farroupilhas. Não trocou mais
Neto não desistiria correspondência com Bento Gonçalves e investiu numa aproximação maior
assim, tão facilmente. Sempre esteve aliado a Bento
Gonçalves, que há de David Canabarro. Tão logo Vicente Fontoura deixou o campo imperial,
muito era hostilizado pelo grupo de Fontoura. Depois da
reunião do dia ainda naquela mesma noite do dia 12 de janeiro, o barão escreveu ao gene-
9, enquanto Fontoura foi encontrar o barão, ele tomou
a direção de Pa- ral, Afirmou ter “ouvido” as proposições dos chefes que com
ele se reuni-
marotim. No caminho ia “blasfemando contra à paz
e alvoroçando o ram no dia 9, em Ponche Verde, e que agora mandava dizer, pelo pr
óprio
povo?. Prometia que, chegando a Piratini, iria reunir home
seguir com a guerra. A seu lado, contra o tratado de paz,
ns para pros- Fontoura, o que lhe parecia “mais conveniente” para se “levar a efeito a
estavam ainda pa ci fi ca çã o da pr ov ín ci a” . No fin al da pe qu en a car ta, esc rev ia ain da: “te -
dois outros oficiais, José Mariano e o francês João Serrasin.
fevereiro, outro chefe, João Antônio, se pron
No início de nho ilimitada confiança na boa-fé com que v. s. costuma tratar de negócios
Fontoura, em seu diári
unciava contra o acordo. semelhantes e por isso nutro esperanças de ver em breve terminada a guerra
ár
?
decepcpciionado, prin
10, chama a todos de “loucos” e se revela muito civil que há mais de nove anos desola esta bela província”. O barão fechava
incci
i palmente com este último. João An
ele, não aceitava a paz “sóO porque
tônio, escreve completamente com Vicente Fontoura € Canabarro.”
o governo i mperiajal l nãnão lhe co de jan eir o ter min ou, € nad a de enc ont ro em Pon che Ver de. Daí
a patente de ge nfirmou O mês
nera]!”.23 as.
Além disso, havia é pia
- o ofício do barão de 4 de fevereiro, entremeando códigos e palavr
Ms e Es também a própria dispersão dos chefes rebeldes. O pouco que podemos ler revela que Caxias escrevia ao
ministro para
;
ca mpos distantes, sendo Preciso comunicá-los sobre O comunicar que “foi impossível efetuar” as negociações, mas que não

504 505
UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

“julgava conveniente suspendê-las”. À palavra negociações


é SUpOsta. :< o “cidadão ministro” Manuel Lucas o representaria, como
avisou que
que está cifrada. Ao final, Caxias explica — esse trecho está claro — o Fe , de mo ns tr an do pr eo cu pa çã o com a leg iti mid ade
fez algumas sugestões
dos do cu me nt os en ca mi nh ad os por ou-
pelo qual ainda não tinha dado notícias: “demorei esta Com
unicação es. da assembléia. Sugeriu a leitura
perando pelo desenvolvimento deste importante negócio, par e le mb ro u ain da a im po rt ân ci a de se for mal iza r a reu niã o por
a Comunicar tro : chefes
a v. exa. porém, como pela razão dita, vai haver alguma demora, por isso de reg ist ro em ata . O general seguiu todas essas sugestões, não
meio
me apresso em fazer esse ofício, para tirar v. exa. de cuidados”. Ora, que de ler ne nh um a das “peças” e registrando a reunião, inclusive
deixando
“negócio” nessa virada de mês, de janeiro para fevereiro, pod ent e. Ent re as “pe ças ”, est ava m: a car ta de
eria ser tão o nome dos oficiais de alta pat
importante senão os acertos da “pacificação”? Ben to Go nç al ve s, e um do cu me nt o que apa rec e na ata da
Jardim, a de
No dia 25 de fevereiro de 1845, no acampamento da o tít ulo : “Ar tig os das con ces sõe s ob nc as do go ve rno
Carolina, em Assembléia com
Ponche Verde, David Canabarro, na condição fo ra m lid os em púb lic o, par a só dep ois se vot ar. Ess es
de “cidadão gene imperial.” Todos
chefe”, finalmente reunia em assembléia “todos
os oficiais residentes no co nc es sõ es ” ap re se nt ad os à ass emb léi a for am os mesmos
“Artigos das
acampamento, desde tenente até general, para liv
uc os dia s dep ois , co m O tra tad o de paz . O su rp re endente
re e espontaneamente divulgados, po E:
darem seus votos com respeito à paz que O governo, E mb ra m em na da as “in str uç ões imp eri ais ” que foram
sob o conselho dos é que eles nã o le
demais chefes da república, havia entabulado com o o de Ca xi as em jan eir o (a ne xo IV) . Ap ós se fix ar, no
governo imperial”. entregue s ao ba rã
Os esforços de Vicente Fontoura e David Canaba
rro eram bem recom- que “o ind iví duo que for pel os rep ubl ica nos ind ica do para
artigo 1º,
pensados. Na ata dessa reunião consta até a assinatura vín cia ” ser ia de ime dia to ap ro va do pel o governo impe-
do general Antô- pre sid ent e da pro
nio Neto. Bento Gonçalves não compareceu à assembléi seq uen tes def ine m aco rdo s que Cla ram ent e con-
a, mas enviou a rial, os três art igo s sub
ata de uma reunião que havia promovido com todos uçõ es imp eri ais ”. O art igo 2º pre vê que a pai mid a tias
seus oficiais e, com tradizem as “in str
ela, uma carta por meio da qual declarava seu voto e al, dev end o-s e apr ese nta r a pacato a
o do grupo: cional é pag a pel o gov ern o imp eri
açã o dos cré dit os. ..” , O art igo 3º fix a que “of ici ais da república que
rel
Minha opinião, sr. general, é e será aquela que adotar -e m- ch ef e for em ind ica dos pas sar ão a pergencêr
a maioria de meus por nosso comandan te
irmãos d'armas, sempre que esteja na razão
do justo e do honesto e, ain- nos me sm os pos tos ”. Só que m não ter ia pat ente
ao Exército do Brasil
da mesmo quando no caso vertente estes sagrados eram os generais.
objetos deixem de ser
observados, nem por isso serei capaz de a ela opor-m reconhecida, por conta do alto prestígio das a
e, tendo outros que “são livres e como tais
meios em semelhante caso para deixar ilesa minha honra
e consciência.
Já o artigo 4º declara, com todas as letras, 2n” 25
na revolução”.
reconhecidos todos os escravos que lutaram
são 12 artigos. Às vantagens obtidas pelos chefes farroupi-
Outr a ausênc No total. 3
ênciia
a foi foi a do presidente da que se faz , po ré m, é: ess as conquistas
república, José Gomes Jardim. lhas são espeta cul are s. À per gun ta
imegand o protlemas de saúdÍ e, o presiden
Al
das rea liz ada s nos dias que se
te não compareceu à assem- foram res ult ado das neg oci açõ es na cor te OU
eia para “assistir à realização pa rece pouco prova-
do tratado ent re O ta da co mi ss ão ? Est a últ ima hip óte se
Império do Brasil e esta repú de pa z qu e se agi ta seguiram à vol
blica”. Lamen tou O fato e, ao que parece da co mi ss ão até o dia da as se mb lé ia pa ss aram-se
estava sendo sincero. Teve vel. Desde o retorno
o cuidado de escrever ao general Canabarro mes es. É es tr an ho que , de po is de tan to esf orç o par a enviar
com antecedência, no dia 17 menos de dois
de janeir Jan eir o, co nt an do , nes se pro jet o, co m o apo io do
à comissão ao Rio de

507
506
-
-
UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

ministro Jerônimo Coelho, o barão de Caxias agora, de forma simples Jo coronel Marques, com os ofícios ministeriais, nunca veio a público.
decidisse desconsiderar as “instruções imperiais” e entrasse em acordo os chefe s da revolução não teriam se entendido. Tratava-se de
Se viesse;
direto com os farroupilhas, à revelia da corte, sobre os termos do tratado decreto de anistia e seu texto firmava a vitória do império e a comple-
um re-
de paz. Até porque um tal grau de independência certamente teria conse- aç ão do mo vi me nt o. Seu s líd ere s são con sid era dos , no dec
bordin
nu ma lut a “reprovada
c

, que ins ist iam


quências sobre sua carreira. Seu pai, em 1824, pagou caro por uma ambi. s”
-

do
=

s e de sv ai ra
"

dit os Tu di do
=

to, “sú
tá 9

ção semelhante, a de solucionar a seu modo os conflitos em Pernambuco, ira ”. Af ir ma -s e ain da que , se o im pepe
ragadodor agora lhes con-
pela| nação inte
O curioso é que esse assunto foi completamente silenciado. Nenhum os súditos “se acolhem arre-
cedia anistia, só o fazia porque esses mesm
biógrafo menciona essas negociações, na intensidade e obscuridade com a fra se des sa cairi
ria co mo um a bo mb a entre tre o os chefes
pendidos”. Um
que se desenrolaram. Apenas destacam o espírito conciliatório do barão ab il iz an do qu al qu er ne go ci aç ão . Ele s jam ais pediram
farroupilhas, in vi
e, quando citam os artigos do tratado de paz, listam uma versão resum;. am en te não im ag in av am que O té rm in o da gue rra estava
anistia, e ce rt
da, integrada apenas por quatro itens (anexo IV). Quem chama a aten-
do nes ses te rm os pel a Co ro a. Por iss o, ess e dec ret o nunca foi
sendo coloca |
ção para isso, num artigo ousado, se considerarmos a época de publicação is do Br as il .”
publicado na Coleção de Le
e a vinculação institucional do autor, é Henrique Wiederspahn, um ofi- o in co mp le to s e co nt ra di tó ri os , a ún ic a es tr at ég ia
Diante de dados tã ;
cial de carreira do Exército. Apontando para esse “mistério” que ronda Ee Rn tar unir esses
possível para extrair uma história desse “silêncio” é ten
as negociações de paz, ele sugere que essa outra versão dos artigos, a pon ho que com ece mos pel o últ imo dele s, pel a sug est ão
fragmentos. Pro
mais resumida, teria sido a que circulou no Rio de Janeiro na época. hn de que os art igo s que de fat o sel ara m o tra tad o de paz de
de Wiederspa
Infelizmente, Wiederspahn não vai adiante em suas considerações. Limi- for am div ulg ado s no Rio de Jan eir o e no res tan te do imp ério.
1845 não
ta-se a indicar que “há ainda hoje muito a ser desvendado”. Talvez ele Essa idéia ajuda a afirmar a hipótese de que a negociação desses artigos
não imaginasse que esses mistérios não se restringiam aos artigos, mas cort e, ain da dur ant e a est ada de Vic ent e Fon tou ra. Apó s recu -
ocorreu na
que circundavam as negociações desde julho, época em que Bento Gon- sar com “tom agro” as proposições dos rebeldes, 0 ministério se recolheu.
çalves iniciou o diálogo com o barão. e os três dias sub seq uen tes , enq uan to Fon tou ra fre que ntava a casa
Durant
As suspeitas de Wiederspahn sobre os quatro artigos não só proce- do senador Francisco de Lima, o coronel Marques certamente exe
cutava
dem como mostram que na verdade não existiu um tratado de paz entre sua missão. Ou seja, expunha aos ministros — ou talvez ao próprio impe-
os chefes farroupilhas e o império. Para que um documento seja reconhe- — até ond e as neg oci açõ es tin ham che gad o e o que 0
rador, não se sabe
cido como um tratado, sobretudo tendo sido — como nos quer fazer crer barão considerava importante para finalizar a guerra. É mui
to provável
a memória da “pacificação” — um ajuste “de potência a potência”, deve que, entre seus argumentos, O barão tenha insistido na
idéia, bastante
contar com a assinatura a para ele, de que O imp éri o prec isar ia dos líde res far rou pil has para
de plenipotenciários das partes interessadas. clar
Os 12 artigos que colocaram termo à guerra fron teir a no Prat a. Ele esta va lá, ness as terras de
levam apenas a assinatura enfrentar os conf lito s de
dos oficiais farrapos, e vinh a sen tin do cot idi ana men te as difi culd ades Se E fesena
és o
d O Impéri reunidos em Ponche Verde. Nenhum representante fron teir a,
assinou o documento. Também não foi publicado nenhum guerra naquela região. Toda sua experiência em gue
rras Gus de três
geo pa sobre esses acertos, O único decreto imperial, inte rnas , vali a pou co ali. Por isso , neg oci ou o pol êmi co apoio
citado nº campanhas
artigo 2º das “instruções”, e que havia seguido para o Sul por intermédi é
ad » .
de Bento Manuel Ribeiro e, agora, propunha ao governo do
Rio de Janei-
o

508 509
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO

ro agir de forma semelhante, negociando um tratado de paz com os f Au ni he sn ai a re al ” e, pá ra nã o co mp ro me ter o


se sempre dO discurso da ta , Fo ra
roupilhas. Isso não só consolidaria a paz interna, colocando fim a , o governo im pe ri al , es sa s co nc es sõ es te ri am na ci rc ul aç ão ee ni
ad os ne m o ar ti go s de co nc es so es ? do s
conflito de nove anos, que provocava verdadeira sangria nos cofres
Teais,É da província não foram pao ic
como permitiria à Coroa recorrer em breve a esses mesmos rebel isruções impetiaio Melhor era ser
rebeldes, nem Os 11 artigos das
guerra que já parecia inevitável contra Rosas. to e agi r co m pe rí ci a, co mo pe di u o mi ni st ro Je rô ni mo Co el ho . Da í
discre
versão resumida, com quatro itens bem amplos.
O único empecilho à realização dessa negociação era a “Opinião pú-
blica?. Temia-se que a divulgação dos termos desse tratado O negócio, no entanto, foi ainda mais “melindroso”. Toda a negocia-
desacreditas-
se o imperador, difundindo a idéia — adapto aqui uma expressão ção realizada no Rio Grande do Sul — e isso é impressionante — nunca foi
aplicada
ao barão, que o irritou bastante — de que o imperador andava pela mão o
reconhecida oficialmente. Isso não significa que o governo imperial nã
dos farrapos”. Essa crítica viria sobretudo dos escravocratas, que
senti- estivesse a par do que se passava. Sabia e concordou com todos os acertos
riam seus interesses profundamente ameaçados pela novidade de
a Coroa tratados pelo barão, só que não os oficializou. Com isso, o barão de Ca-
dar liberdade aos escravos que lutaram na guerra. Daí a
idéia. Mantendo xias ficava numa posição, no mínimo, curiosa. Ele fechou um acordo de
a estratégia do barão, com as “instruções imperiais”,
o governo deve ter paz com os rebeldes, afirmando que a Coroa aceitava Os 12 artigos pro-
enviado outras, passadas “de viva voz” pelo coronel Marques.
Pensando postos, mas usou, durante essas negociações, O referido decreto de anistia
desse modo, a afirmação de Fontoura, registrada em seu
diário a 15 de e as “instruções imperiais”. Falava respaldado nesses documentos e, para
dezembro, faz todo sentido. Ele escreveu — e a princípio parecia
desinfor- que isso funcionasse, jamais lhes deu publicidade. Ainda no dia 25 de
mado — que o ministério tinha ficado de “autorizar o barão plenamente
fevereiro, logo após a assembléia, o ministro da Guerra republicano, Ma-
para tratar das negociações, cedendo já a todos os
artigos”. No dia 18, nuel Lucas de Oliveira, oficiou ao barão para comunicar as decisões do
o E trecho, o mesmo em que escreveu não ter tido acesso às grupo e lembrar-lhe que agora, para se concluir definitivamente a “paci-
instruções imperiais”, Fontoura disse também que conseguiu ver algu- ficação”, eles aguardavam que “v. exa. se digne transmitir as autênticas
mas delas, como reconhecimento de postos (exceto dos generais),
paga- concessões do governo imperial para serem públicas”. Ou seja, não sa-
Ea dívida e liberdade aos escravos. Ao que tudo indica, ele viu um biam que essas concessões não existiam. O barão desconversou e escre-
Ocumento, com ou ] O ] veu para David Canabarro. Em tom cordial, confirmava o recebimento
informado. O Era cn E ko Sia = ar e E de uma outra carta, do dia anterior, congratulando-o pela assembléia, e
mentos. Um, de caráter oficial
» EM que aa E pg
Coroa impunha, ;
em 11 artigos, afirmava com tranqiilidade que: “Ao sr. Antônio Vicente da Fontoura
vária S condiçIÇÕ
ões para a assinatura do tratado de paz. Outro, mais flexi-Í mostrei não só o decreto imperial que garante o quanto tenho prometido,
vel, autorizava o barão a negociar
os quanto as instruções que o acompanharam, e espero que ele de tudo o
cientifique, dando-lhe as razões que tenho para não o enviar desde já.”?
condições. M Vis, 20 que QuevEFê O governo, interessava a imposição dessas
* pare e, acabou, de fato, concedendo ampla auto
parec Obviamente o barão de Caxias contou, nessas transações, com a
nomia ao barão,a deposi
EoGÉIETS
E
epositando nele toda a confiança para, primeiro, tentarà
É sá cumplicidade de Vicente Fontoura e, do que se deduz pelo ofício, tam-
; onseguindo impor as condições imperiais, ceder, à E bém, a partir de determinado momento, com a do general Canabarro.
exioênc: dos farroupilhas. Nesses casos, recorria
tulo de concessão, » àsÀS Exigências
No dia seguinte, dia 28 de fevereiro, Canabarro lhe enviava as procla-

510 511
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO

mações de Manuel Lucas e a dele, dando por encerrada a puerra civil « reunidas, cerca de 1.200 homens, pelos lados do serro de Poron-
força do geral permanecia com David Canabarro. Acampado em
província. Em função de todo esse jogo praticado pelo barão, alto O coman
sco Pe-
Spalding definiu sua atuação no Rio Grande do Sul numa
frase: ele foi nguçu, à alguns bons quilômetros de Porongos, estava Franci
Caanguçu,
“mais diplomata que soldado”. A frase, porém, evoca claramente uma im pe ri ai s, que , ev it ad o por seu s E bo mb ei ro s da
Aro, coronel das forças
outra e não há como deixar de sugerir que, se a memória de Caxias já o re be ld e, de ci di u ma rc ha r co m o ob je ti vo de su rp re en dé- los . so
posiçã
não estivesse consolidada em 1964, quando Spalding escreveu esse tex- isso, SÓ podia marchar à noite, emboscando-se durante o dia. Possuía
to, talvez ele tivesse dito: foi “mais político que militar”. Num tom mais ica tiv a de 1. 17 0 pr aç as , po ré m inf eri or à do in im ig o.
uma força signif
ríspido, Alfredo Varela, em uma obra clássica sobre a revolução ur pr es a era , de ss e mo do , a gr an de ar ma de Fr an ci sc o Pe dro,
farrou- O elemento-s
pilha, composta de seis volumes, concluiria que no sul o barão tinha et en di a en fr en ta r os ge ne ra is Ca na ba rr o, Ne to e Jo ão An tô ni o,
sido que não pr
“menos general que político”.30 um a ba ta lh a. Ap ós qu at ro noi tes de ma rc ha s fo rç ad as , pe las
juntos, em
No dia 1º de março de 1845, o barão de Caxias assinou a “procla- ho ra s da ma nh ã do dia 14, cai u de um só go lp e so br e o in im igo.
quatro
mação” que anunciava o fim da guerra e, no dia seguinte, dia 2, David ou -o pel o fl an co dir eit o, ca in do so br e o 4º re gi me nt o, par te de le in
Atac
mili-
Canabarro reuniu seu conselho de oficiais e decidiu pela permanênc
ia tegrado pelos “lanceiros negros”? — como o nome sugere, uma força
e
do barão de Caxias na presidência da província, da qual ele só
sairia ar de ex-escravos. O desbarato foi completo. Os generais rebeldes, qu
em outubro de 1846, tendo tempo suficiente, até lá, para completar se achavam do outro lado, à esquerda, conseguiram escapar. Ainda as-
suas negociações. sim, O espólio foi expressivo. Francisco Pedro tomou-lhes “o estandarte
da república, toda a bagagem, todo o armamento de infantaria, e muito
de cavalaria, toda a munição de guerra e mais 1.000 cavalos”. No cam-
PORONGOS, UM PONTO OBSCURO DA HISTÓRIA PÁT
RIA po, ficaram mais de 100 mortos. Foram feitos 300 prisioneiros, entre eles
o ministro da Fazenda e 33 oficiais. Apesar da narrativa ser do diário de
Dentre os c
“mistérios”
EE 32
que marcaram essa etapa final da guerra civil e
Pi Francisco Pedro, não há nela nenhum exagero. Tudo isso foi confirmado
suas negociações, há ainda um outro, extremamente polêmico, sobre O em seguida por outros relatos, e a “surpresa” se tornou um fato-chave no
qual muito já se escreveu, tendo-se inclusive registrado depoimentos de final desse ano de 1844, que desmotivou inteiramente quem ainda resistia
= de Caxiaaq s. 3
ààs negociaçõea s de paz com o barão
Ea militares que testemunharam o episódio. Trata-se da “surpresa
e patas » Ocorrida no dia 14 de novembro de 1844 Mas a polêmica em torno desse episódio só começou em janeiro,
a E -
, justamente
q uan cópi as de um ofíci o assi nado pelo barã o com eça ram à circ ular
: O Caxias acertava o envio de uma comissão para | rial
a corte impe quando
,
a fim de se avançar nas negociações
de paz. entre alguns chefes farroupilhas. O ofício, mais um com a marca E reser
cisco
E Log
= o à após
p Er lã do dia; 10, de Vice
nte Fontoura e do padre Cha- vado”, era datado do dia 9 de novembro e dirigido ao coronel Fran
g presi a Jardim, o ministro Manuel Lucas e os generais Neto; Pedro. Por ele, a “surpresa de Porongos” tinha sido ordenada pelo barão
m r E om

,
Canabarro e João Antônio, nos ca
> mpos da Candiotinits ha, para que os dois de Caxias, e pior, tudo havia sido prévia e minuciosamente acertado
emissários prest | do menos que O general
inclusive o dia e a hora do ataque, com ninguém
do que fora trat ado com o barão de Caxias;
os gseta À ela prese
itas
| e nspnntes
voltaram a seus postos. Os três tinham suas Canabarro. Vale reproduzir o documento:*

513
512
UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

Reservado — sr. cel. Francisco Pedro de Abreu, comandante da ga bri ntimento de traição. Sentimento tanto maior porque, em janeiro,
do Se
do Exército — Regule v. sa. suas marchas pela maneira que no dia ra o ofício veio à tona, Vicente Fontoura estava voltando da corte
quando
duas horas da madrugada, possa atacar as forças a mando de Cana a ma negociação que vinha sendo conduzida justamente por
ba ro, imperi al , de U
que estará nesse dia no Serro de Porongos. Não se descuide de mand
bombear o lugar do acampamento de dia, devendo ficar bem certo de A Canabarro. Além das mágoas criadas pelo “episódio Porongos”, outras
úvida s eram inevi távei s. Nin gué m arris cava, a essa altura, um palpite
ele há de passar a noite nesse mesmo acampamento. Suas
marchas de a d
ser o mais ocultas possível, inclinando-se sempre sobre b re até onde o gene ral teria se deix ado levar , corr endo inclu sive boat os
sua direita a so
posso afiançar-lhe que Canabarro e Lucas ajust
aram ter as suas Dt a respeito de seu envolvimento em um grande “conluio com o barão”.%
ções sobre o lado oposto. No conflito poupe sangue brasileiro o
au a Certamente foram essas dúvidas que retardaram a conclusão das nego-
puder, particularmente da gente branca da província
ou índios o bem ciações, inviabilizando a reunião prevista com Os chefes farrapos para fins
sabe que essa pobre gente nos pode ser útil no futuro. A relação
das pessoas a quem deve dar escápula, se por casualidade
E de janeiro. Como vimos, foi exatamente por conta de desentendimentos
caírem prisio-
neiras. Não receie a infantaria inimiga, pois ela bá entre esses chefes que o barão enviou ao ministro Francisco Coelho, no
de receber ordem de
um ministro de seu general-em-chefe para entregar o cartu dia 4 de fevereiro, um longo ofício, de quatro páginas, que entremeava
chame sob
pretexto de desconfiarem dele. Se Canabarro ou Lucas forem
prisionei- palavras e códigos. O barão pretendia, com esse ofício, “tirar v. exa. de
ros, deve dar-lhes escápula de maneira que ninguém possa nem
levemen- cuidados” que a demora nesses acertos podia criar. Ao final, escrevia ain-
te desconfiar, nem mesmo Os outros que eles pedem que não
sejam presos, da ter “força moral bastante” para fechar o acordo de paz (anexo V).
pois sa. bem deve conhecer a gravidade desse secreto negócio, que
nos Caxias, mais uma vez, não se enganou. Sua força moral era tal que
levará em poucos dias ao fim da revolta desta província (...)
tudo quanto lhe digo nesta ocasião, já v. sa. deverá estar bem ao
Além de não só pôs fim à guerra como, após a pacificação, conseguiu que essa
fato do
estado das coisas pelo meu ofício de 28 de outubro e, por polêmica fosse esquecida, sendo o general David Canabarro cultuado
isso, julgo que
o nie sera aproveitado dessa vez. Todo segredo e circunspeção é indis- como um grande herói da revolução. Só na “última quadra” do século
é Eu “mei rca E confio no seu zelo e discernimento
que não XIX o episódio foi recuperado. Quem o retomou foi Apolinário Porto
gredo. (Ênfases minhas.) Alegre, um intelectual gaúcho que havia integrado a Sociedade Partenon
Literário e que nos anos 1870, decidindo dedicar-se à história da provín-
O texto é muito claro e, pelo que vai escrito, não havia com
o negar que cia, escreveu um livro intitulado Rio Grande do Sul. Seu trabalho teve
a surpresa do Gia 14 havia sido combinada entre os generais, Dav
id Ca- um alcance limitado, só circulando na região, mas isso foi suficiente para
ia : barão de Caxias. Tudo tinha se passado exatamente, em seus despertar a atenção das novas gerações. Em 1892, o jovem Alfredo Ro-
drigues ingressava no debate. Com um artigo sobre a pacificação da
Farroupilha, defendia David Canabarro, discutindo o principal argu-
no ato sem mun içã o, e o que era mais grave, não
tinha cartuchame por mento de acusação apresentado por Porto Alegre. Para este, Canabarro
numa atitude E oiro Crê antes do ataque, o general Canabarro, por conta da resistência dos
havia entrado “em conluio” com Caxias
ca coisa que não teria cine ) ne dado ordens para recolhê-lo. À uni demais chefes, que não admitiam negociar um acordo de paz, insistindo
a recomendação de manter E , E piána, Para azar de Canabarro, fo! em manter a guerra. Alfredo Rodrigues considera a acusação um absur-
e disseminou, entre os chefes Pa a história se espalhou, gerou e
do e, para prová-lo, menciona um ofício enviado pelo general a Caxias
s, um grande mal-estar e um profun

515
514
2 P P dd
PI 1
-
l
=”

DE CAXIAS: 6 HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO


UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO
DUQUE

logo após a surpresa de Porongos, no qual “declarava estar disposto q “Al fre do Var ela , há muito interessado na história da revolução,
Caxias
continuar na luta”, tornando ainda sem efeito as conversações iniciadas anos depois, à publicar a maior obra sobre o tema, com nada
por Vicente Fontoura poucos dias antes, no acampamento imperial34 eis volumes, tinha achado o documento no arquivo de Do-
O mais complicado nesse debate, porém, é que todo ele se baseia em : de Almeida. À descoberta mudava o rumo das discussões.
uma certa tradição oral, de histórias que vinham sendo contadas há 50 só par eci a con fir mar o “co nlu io” , com o mos tra va que Os chefes
gla não
por todo s esse s anos . Dom ing os de
anos, desde a “pacificação”. O ofício citado por Alfredo Rodrigues, por farrapos também O tinham ocultado
exemplo, nunca foi localizado. Mas a versão de que Canabarro, irritado ent e, per ten cia à “ma ior ia” , ao gru po de guto , Gon-
Almeida, politicam
com a “surpresa”, decidiu continuar a luta está presente em vários ou- apó s o imp act o inic ial E e de
calves. Isso mostra que
tros livros, que tentavam defender o general farrapo, ou mesmo o barão s che fes opt ara m pelo Al s aeR eÃo aa IrO
janeiro de 1845 esse
de Caxias. Os autores que pretendem destacar a autoridade deste lem- exp lic ado par a seus “co mpa nhe iro s d'ar mas” — co
certamente deve ter se
bram que as negociações só prosseguiram, com a ida de Fontoura para a ima gin and o que a aut ent ici dad e do Foc a ser ia
gita Varela — e,
corte, porque o barão, em sua resposta, foi categórico com Canabarro, já se ant eci pou e, ain da ness e arti go, ind aga va por que
questionada, ele
dizendo que jamais tinha “assentido na deposição de armas”. Uma leitu- em com o tem per ame nto de Dav id Can aba rro , tão orgu-
motivo um hom
ra quase simplória, já que acredita que isso teria sido suficiente para o em def esa de sua hon ra e tira do sati sfaç ão com o
lhoso, não teri a saíd
demover o comandante-em-chefe do exército farroupilha da decisão de de Cax ias . Tam bém per gun tav a por que o pró pri o bar ão “de ixou
barão
pro-
voltar às armas e de suspender o envio do emissário à corte imperial. correr” um “documento apócrifo”, que o expunha igualmente, com
só havia
O polêmico ofício do barão de Caxias para Francisco Pedro também metendo todo seu esforço de “pacificação”. Para O historiador,
não tinha, até então, sido localizado, e o debate corria pautado em boatos, uma res pos ta poss ível : o doc ume nto era rea lme nte ver dad eir o, e “Po ron -
histórias contadas a partir do que se ouviu dizer. Às vezes, Os nomes evo- gos” tinh a sido res ult ado de um con lui o entr e os gene rais .
cados inspiravam mais confiança, quando, por exemplo, eram menciona- ano s dep ois , em 190 1, Alf red o Rod rig ues escr evia um arti go-
Doi s
dos osfilhos de Domingos José de Almeida, um respeitado líder farroupilha. A dem ora devi a-se ao tem po que dedi cara a novas
resposta ao de Varela.
Outras vezes, recorria-se ao relato de um velho oficial, que jurava ter visto Par a disc utir um ofíc io, à pri mei ra vist a, tão definitivo, era
pesquisas.
ou ouvido alguém ler o documento-prova da “traição”. Argumentos difí- pro vas . Com o os ace rvo s arqu ivís tico s não traziam
preciso reunir outras
ceis de serem analisados, sobretudo depois de mais de 50 anos.% ele men to nov o, e Alf red o Rod rig ues con tin uav a sem encontrar
nenhum
a expl icar aqu ele doc ume nto , deci diu apo sta r na
Foi nesse ponto do debate, para responder à defesa feita por Alfredo fontes que o ajudas sem
de aos de teste-
Rodrigues, que uma cópia do ofício sobre Porongos ganhou pela primei- realização de uma crítica interna do texto e na busca
ra vez publicidade. Mais um nome acorria ao debate, outro gaúcho, Ál- ca. Ant es diss o, por ém, rec upe rou um ant igo RrE RgARRO
munhos da épo
fredo pela, No dia 26 de janeiro de 1899, o historiador publicou nà Can aba rro , que havi a sido apr ese nta do por Apolinário Porto
con tra
Esses
primeira página do Jornal do Commercio, um jornal de grande circula Alegre mas que, em seguida, foi corroborado por Alfredo ps
ção no Rio de Janeiro, uma matéria na qual apresentava provas mais idéi a de que Dav id Can aba rro era O único o
autores insi stia m na
rou pil ha fav orá vel à paz e, por isso , na opi niã o deles, pPorongos
aê pe a “traição de Canabarro”. Intitulado “A pacificação far
e de um “gr and e con lui o”. Os gen era is Can aba rro e Cax ias se
o Rio Grande do Sul”|,o artigo
: s
trazia, na integra, a.
o ofício | de
do barao
fazia part

517
516
UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

uniram para, por meio de uma derrota, impor a neg ia] e, de fato, podiam ser portadores de uma proposta desse
ociação ao grupo campo imper
Acreditava-se que “o tratado de paz foi uma imposição deco
rrente à - Ela também poderia ter se dado de forma paralela à missão, envol-
traição de Canabarro”. Em seu artigo, no Jornal do Co E só o general. Às variantes são muitas. O difícil de imaginar é que
mmercio, Alfredo
Varela volta a essa idéia recorrendo ao depoimento de um “velho sargen. gi O próprio barão tenha feito uma proposta dessas Jogo na primeira
até
to”, identificado como João Amado, que já citava a que se recorre em último caso, depois de se ter
em seus relatos tre. entre vista. Isso é plano
chos do ofício de Caxias, quando ninguém ainda o conhecia.
O Sargento rentado vários recursos, € todos terem falhado. Além do mais, partindo
dizia que tinha “ouvido falar na traição” quando esteve pri da resi stên cia dos chef es ao acor do de paz, Canabarro não
sioneiro entre dessa idéia,
os imperiais. Um oficial — a narrativa é de João Amad
o — teria de forma “inha o menor motivo para aceitar esse conluio.*
descuidada lido o ofício na sua presença. Dizia,
ainda, que se comentava A crítica que Alfredo Rodrigues faz do ofício do barão é muito inte-
muito, no campo imperial, que David Canabarro “vinha um trab alho bast ante acur ado. Dent re vári as considerações,
pela paz” desde ressante,
a batalha de Ponche Verde, em maio de 1843, e que
sua intenção, nesse perg unta o que teria leva do o barã o de Caxi as a “ent rega r todo o plan o”
utar
combate, já era de se deixar derrotar para obriga
r os outros chefes a ao coronel, quando podia simplesmente dar-lhe instruções para exec
Pe-
entabular negociação com o barão de Caxias. o ataque. Como ordens do general comandante-em-chefe, Francisco
Alfredo Rodrigues recusa mais uma vez essa idéia.
Nesse ponto é dro as teria cumprido sem precisar saber que tudo estava devidamente
preciso fazer algumas considerações. David Canabarro arranjado em seus menores detalhes, tratando-se de um grande conluio.
, como vimos, foi
o último general a aceitar os convites do barão de
Caxias para ace E então observa: “Que estranho modo de guardar segredo, confiando-o
a paz. Enquanto Bento Gonçalves, esse sim, desde
maio — só que de sem necessidade a um homem como Francisco Pedro e aventurando-o na
1844, um ano depois do indicado por Varela — tentav mão de um portador que deveria cruzar pelo meio do campo inimigo.”
a obter entrevistas
com o barão, Canabarro resistia por todos os meios. A isso, junta outro detalhe: “Se o negócio era de tanto segredo, expres-
Antes de responder
positivamente aos ofícios do campo imperial, da par
te de Caxias, enviou samente recomendado, como ouviu o sargento Amado ler esse documen-
até mesmo um emissário à corte para sondar va pris ione iro? ” As perg unta s são real ment e instigantes,
Teófilo Otoni sobre a pos- to quan do esta
sibilidade de reacender a revolta em Minas Gerais sobretudo porque tudo isso não combina com as táticas a que o barão
. Isso ocorreu em se-
RD nd ae aguardava a resposta do ex-rebelde. vinha recorrendo nessa mesma guerra, quando queria manter algum as-
sunto sob sigilo. Para quem vinha usando linguagem cifrada e mensa-
no dia 2 de novembro. Entre : , “ent rega r todo o plan o” a um coro nel, num | ofíci o
a + mr gens “de viva voz”
rebelde, passaram-se oito Mi é imento,
- S6 no AR
dia 10 os dois a
emissários se reu- explícito, e ainda enviá-lo por um portador comum, é um proced
cutado
EA a companheiros para informar 0 que fora tratado com O no mínimo, suspeito. Ele mesmo, lembra Rodrigues, podia ter exe

que og ess emo eo olocumena, fica di nr Est ava mai s pró xim o de Por ong os que Fra nci sco Ped ro. ”
a operação.
um
Só depois de todas essas considerações, Alfredo Rodrigues publica
sado da mais dura resistênci » à Primeira, David Canabarro tenha pa depoimento que revelaria uma série de outros elementos
e, com eles, a
em participar d In Pa e total colaboracionismo, concordando de Porongos
possibilidade de contar uma nova história sobre a “surpresa
E == -

sra E O COnluio descrito no ofício de 9 de novembro. A data é


de 82 anos de
Pp Exatamente nesse dia, Fontoura e o padre Chagas deixavam
O e o polêmico ofício do barão. O entrevistado foi um senhor

519
518
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO Um CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO

idade, Félix de Azambuja Rangel, que assistira ao ataque como ajudante a Canabarro, que, por precaução, mandou recolher todo cartuchame,
de-armas de Francisco Pedro. Na versão desse “velho oficial”, o documen. declarando que ele seria distribuído por ocasião do combate. Félix Ran-
to era realmente falso, e só tinha sido redigido alguns dias depois do gel não se lembrava do nome do oficial, mas assegurou que o tinha visto
o
de Porongos, pelo próprio coronel Francisco Pedro.
A intenção do coro- prisioneiro € assistido à “tal conversação” com Francisco Pedro.
nel, por essa versão, era “fazer uma intriga contra Canabarro já qUe este O depoimento representou outra reviravolta no debate sobre Po-
era o único general rebelde capaz de “sustentar ainda a revolução”, Acam- rongos, e essa versão é mais plausível que a existente até então, susten-
pado no passo de Pequeri, após quase um mês de perseguição a Canabar- tada sobretudo por Alfredo Varela. A atitude que Félix Rangel imputa
ro, completamente frustrada, Francisco Pedro teria escrito ao barão de Caxias, não só de ter assentido na intriga armada por
o documento
recorrendo, ao final, à habilidade para “imitar firmas” de um major, João Francisco Pedro, como de tê-la legitimado, fazendo seu secretário co-
Machado Moraes. Observando outros ofícios, este teria assinado pelo ba- piar o dito ofício e, depois, assinando, ele próprio, o documento, com-
rão de Caxias. Mas isso não significa que o barão estivesse isento bina perfeitamente com suas táticas militares, aplicadas em outras
de toda
essa intriga. Félix Rangel nos conta ainda que, tendo encontrado campanhas. À esse respeito, Alfredo Rodrigues lembra um outro dado
dias de-
pois com o barão de Caxias, em Piratini, o coronel mostrou-lhe o importante. Ele explica que para o barão era muito oportuno criar,
ofício,
“no que Caxias aprovou, mandou tirar cópia por seu secretário e assinou, nesse momento, um grande desentendimento entre os rebeldes. Isso
entregando-o de novo a Francisco Pedro”. Só após esse encontro, e obvia- porque, afirma Rodrigues, ele “fizera concessões sem autorização ex-
mente com a autorização do barão, é que o coronel cuidou de divulgá-lo. pressa do governo, para facilitar a execução dela [da pazJ”. De fato,
Passando pela casa de Manoel Rodrigues Barboza, “republicano extrema- como vimos, o barão vinha mantendo o ministro Francisco Coelho
do”? — observou Félix Rangel -, mostrou-lhe o tal ofício e este, exaltando- informado, oficiando-lhe sobre todas suas tentativas de diálogo e sobre
se, chamando Canabarro de traidor, pediu que deixasse o documento a resistência da “minoria” — grupo de Canabarro — que insistia no pro-
a
fim de fazer, ele também, uma cópia. jeto federativo. Ao ministro, comunicou também as investidas de Fruc-
Félix de Azambuja Rangel tinha uma explicação até para a ordem tuoso Rivera, a dissensão entre os farrapos e as reiteradas solicitações
do
general Canabarro, de recolher todo o cartuchame de entrevista de Bento Gonçalves. Mas em nenhum momento o barão
da infantaria. Quando

oo ea
Francisco Pedro Se aproximou de Porongos, teve a ventura de fazer pri-

a
lhe contou sobre as condições que vinham sendo reclamadas pelos re-
beldes para negociarem a paz. lanto assim que, ao chegar à corte im-
Pee S trabalhos”, pedindo que fosse pe perial, Vicente Fontoura teve de enfrentar, em sua primeira reunião, a
O,
arrogância dos ministros. É certo que se a cizânia se espalhasse entre
esses chefes, divididos eles teriam menos condições de fazer qualquer
nheiros esnesse
Podiaserviço”. O cá eo
Prascis Tema aae quem4 cem pr
se into esó ae imposição. Aliás, o grupo que vinha definindo os termos dessa negocia-
Dre o Red Fo a Ss respondeu Cam ã ção, com a divulgação do ofício sobre Porongos, estaria completamen-
te desmoralizado. O barão de Caxias fazia sua aposta e, sabendo que
lo. O oficial foi solto. Chegando entre E o due haveria de enco” + Os farrapos não eram nada ingênuos, cuidou de fazer seu secretário
Neto, contando-lhe tudo que se ri ei copiar o ofício. À letra dele, depois de tanta correspondência trocada,
Passara. De imediat o,dA
o general levou-0

521
520
UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

era conhecida entre os chefes rebeldes, um detalhe do qual ele não de Há também uma coincidência que permanece obscura. O ataque
cuidaria. Félix Rangel afirma, em seu relato, que quando Bento
Es executado por Francisco Pedro, ao cair sobre o exército rebelde, atingiu
çalves reconheceu a letra do secretário do barão, “mandou incontinent; em cheio O 4º regimento — mais precisamente o corpo de “lanceiros ne-
uma carta a Canabarro, desafiando-o”.*” parte dos 100 mort os deix ados em camp o pelo coron el
gros”. Grande
O fato de tudo ter se passado como previsto, em seus menores e mais scra vos. Ou melh or, de home ns que luta vam para obter sua
era de ex-e
— é
comprometedores detalhes — o que impressiona qualquer um que lê o ofi- liberdade. Assim tinham acertado com os chefes farroupilhas e isso
cio, produzindo um efeito de verdade —, também ganha, nessa preciso lembrar —, durante a negociação das concessões, se transformou
versão
uma explicação. Nela, a lógica é invertida. Esses detalhes tornam-se e num ponto extremamente delicado. O governo imperial, no artigo 5º,
tamente um forte indício de que o documento era forjado, tendo sido dos 11 fixados nas “instruções imperiais”, definia que esses escravos
escrito depois do bem-sucedido ataque, quando o coronel Francisco
Pe- deveriam ficar à disposição do governo imperial, que lhes daria “um
dro, que coordenou toda a ação, podia contá-la com requinte
de minú- destino conveniente”. Não admitia liberdade. Ora, não há como deixar
cias. Até a ordem do general Canabarro, de mandar recolher o de destacar a coincidência, que, sem dúvida, foi extremamente conve
-
cartuchame
tinha sido verificada pessoalmente pelo coronel, e, depois da e qurta
a? niente para O término da guerra. Diminuindo o número de negros em
ele deve ter festejado mais esse sucesso. O golpe que aplicara
rir armas, reduzia-se também o impacto que a liberdade, a ser negociada no
o oficial tinha dado resultado. Rio de Janeiro, poderia provocar na “opinião pública”.
Mas há uma questão apresentada por Alfredo Varela que permanece Alfredo Varela acredita que foi esse artigo, sobre os negros, que
fem resposta: por que David Canabarro nunca esclareceu adiou a assembléia dos chefes rebeldes, em janeiro de 1845. Às nego-
esse episódio?
Além da honra ofendida com a pecha de traidor, e o duelo entre Bento ciações foram intensas. Esses homens, mandados recolher por David
Gon-
calves e Onofre Pires nos dá uma amostra de como essas querelas afetavam Canabarro, foram entregues ao barão. Em seguida, foram remetidos
esses homens, havia ainda a preocupação com a posteridade. proví ncia, rece bend o a carta de alfor ria no port o de che-
Do mesmo para fora da
modo Sue Vicente Fontoura imortalizou sua atuaçã
fina l, Cax ias con seg uiu cum pri r mai s ess a con ces são
o na “pacificação” com gada. Mas, ao
pes A emana no devia pensar na memória que se construiria exigida pelos rebeldes. Recorrendo ao aviso de 19 de novembro de
aziar O
» “tão, à perguntar: por que não se esforçou para 1838, com que Bernardo Pereira de Vasconcellos pretendia esv
esclarecer essa história, nem que foss
e deixando um relato pessoal? exército rebelde, obteve a liberdade para os soldados negros.
Por esse
Essa questão ão não nã se esclarece. A resposta de aviso, em seu pará grafo 3º, os libertos da República Rio-Grandens
e
Alfredo Rodrigues éé
quê insatisfatóróri
bastante i a. Ele afirma que o general teria à leg ali dad e ser iam rec onh eci dos livr es no impé-
sacrificado sua re- que se apresentassem
putação “para salvar a nação”
claro, depois d e ava lia dos , par a que seus pro prietários fossem
“0 Refere- se às próprias negociações com rio. Isso,
O barão de Caxias, que pode
riam ficar ameaçadas caso levantasse essa devidamente indenizados.
polêmica. Mas, mesmo co
sp on de u, no ar ti go do Jo rn al do Co mm er ci o, à de fesa
nsiderando ess e hipotético sacrifício, resta aln- Quando re
da a pergunta: e depois? Por rro exp ost a por Rod rig ues , Alf red o Var ela se mostrou in-
que não te ria cuidado disso depois da de Can aba
cificação?, quando se tornou um “pa “Um
gran de amigo de Caxias, voltando à comodado com o tom empregado pelo rapaz em seu texto.
trabalhar com ele, sob suas ordens esc rev eu Var ela , “in ade qua do par a pes soa de tão escassos
à em três outras campanhas no Sul? tom”,

523
522
UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

N ão prete ndo, com essa discussão, assegurar que eles não tenham re-
anos”. Reclamava da arrogância do jovem historiador, que acredita. nas negoci a-
cebido nenhuma recom pensa finan ceira para se engaj arem
va poder chegar à verdade dos fatos. Em uma frase lapidar, afirmou
ções. cubor no tamb ém era uma tática a que Caxia s já tinha recorr ido
categórico: “disparate ou tolice é outra coisa: é alimentar a louca
ema é a fonte que a susten ta. Domin gos de
pretensão de escrever monografias elucidando — definitivamen. durante a Balaiada. O probl
Foi ministro
te — pontos obscuros da história pátria”. Almeida, como já vimos, era um integrante da “maioria”.
da de Bento Gonça lves e també m se afasto u do governo repu-
O mais interessante é que Alfredo Varela reconheceu esse limite no da Fazen
Não admit ia as acusa ções de malve rsaçã o de fundo s que lhe
mesmo artigo em que publicava um documento que parecia comprovar em blicano.
definitivo a “traição de Canabarro” e, sem dúvida, nesse momento, era sua fazia à “minoria”. Quem mais o atacava, na época, era justamente
Além disso, tudo que a carta mostr a é que existia
experiência que fazia diferença. A “surpresa de Porongos” era, e seguirá Vicente Fontoura.
sendo, um desses “pontos obscuros da história pátria”. Talvez, algum dia entre os farrap os. Escrit a em 1860, por Domin gos de
mais esse boato
ov av el me nt e qu an do est e or ga ni za va seu ar qu iv o pessoal,
um documento ou uma informação nova apareça e ajude a interpretar S Almeida, pr
episódio. Só não devemos esquecer que, ao que parece, tudo foi armado va nt a um a sus pei ta, ma s não po de ser vir de bas e para acusa-
a carta le
para levantar suspeita, e para não ser esclarecido. O barão de Caxias não no s nã o en qu an to ou tr o s do cu me nt os não forem reuni-
ções. Pelo me
rit o é, inc lus ive , mu it o frá gil . É pre cis o pe ns ar
assumiria, depois, uma atitude como essa e, talvez, Canabarro tenha acei- dos. O que nela vai esc
ado manter 0 “mistério” em troca da amizade do barão, que, logo em se- ou ra rea lme nte tiv ess e ace did o à pro pos ta dos mi-
que se Vicente Font
guida, tornou-se conde. São muitos os interesses políticos, fazendo com o din hei ro ofe rec ido , dif ici lme nte o coro-
nistros imperiais, aceitando
que as disputas fossem intensas e os arranjos, inúmeros. A menor suspeita, s, ho me m de con fia nça de Cax ias , interessadíssimo em pôr
nel Marque
dependendo da pessoa implicada, poderia virar fato comprovado. No caso mo à gue rra , iria , por con ta de um rom pan te de org ulh o pro vincial,
ter
dos farroupilhas, há ainda a luta interna, entre os dois grupos, de Canabar- ne gó ci o. Era mai s cer to que O ofi cia l fes tej ass e. Isso não só
impedir o
ro e de Bento Gonçalves, pelos lugares de memória no panteão regional. Os esf orç os na cor te, co mo ain da dar ia a Ca xi as ma is
lhe economizaria
aliados de Bento Gonçalves, mais do que este, que parece ter fo me nt ar no va s int rig as e esp alh ar, co mo ele fez outras ve-
optado por dados par a
uma vida pública menos intensa, não deixariam de lutar para fixar uma zes, a cizânia entre os rebeldes.”
EEE um a qua lid ade do bar ão de Caxias
de dignidade, como os verdadeiros heróis. Em 1860, 15 anos Diante de tantas suscetibi lid ade s,
é sua hab ili dad e par a cir cul ar e intervir
am rs emma por exemplo, escreveu pare que se destaca nessa campanha
ext rai ndo del as, ape sar das res ist ências, acordos
ias » barão de Porto Alegre — pata ps em regiões de conflito,
Tu do iss o exi gia del e não um a per son ali dad e
vantajosos para O Império.
ter tentadoasubornar da , cap az so me nt e de cum pri r as leis , mas, ao
ir er
e io : derprecisando
ter aceitado, na : o a coroné rigorosamente disciplina
gu ém ba st an te mal eáv el, co ns ta nt em en te disposto a ne-
IOS nã o se vendem por dinheiro”. O ba- contrário, de al
rão de Porto Alegre não respondeu à carta. Não iria, a essa altura, revolv — a pe rs on al id ad e de um político.
gociar
es a so br e Po ro ng os , o ba rã o de Ca xi as prepa-
histórias tão antigas,alimentando essas discussã Quando recebeu a notíci
Essa suspeita, porém, deu Ê
par a mar cha r na dir eçã o de Bag é, ond e agu ard aria a chegada do
ve rava-se
lu ga r a af ir ma çõ es de qu e o tratado de eti do à cor te. Ânt es de ent rar na
paz tinha sido acertado porqu novo emissário rebelde, que ser ia rem
e chefes rebeldes teriam sido subornados:

325
524
UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

vila, porém, convocou uma reunião com seus oficiais comand - continuou a história sobre a entrada do barão em Bagé e, com
antes de
corpos. As instruções eram claras: estavam proibidas Comemorações ou - e sabemos se o réquiem chegou a ser celebrado na igreja local.
qualquer demonstração de júbilo pela vitória obtida, fic E a vale destacar que toda essa história, com suas várias versões
ando os Oficiais
responsáveis por controlar seus homens. O barão também avisava que os e o ainda hoje sustenta batalhas de memória. E revista Nossa
oficiais cujos soldados fossem flagrados insultando a popula História de abril de 2004 levantou mais uma vez a polêmica, reprodu-
ção local se-
riam punidos. Assim instruído, o Exército fez uma entrada tranquila na sindo O OfícIO do barão de Caxias ao general David Canabarro. 0 moti-
vila. Foi recebido pela oficialidade ali estacionada, por vár
ios funcioná- vo dessa retomada era a pretensa inauguração de sm Memorial dos
rios públicos, por habitantes e pelo pároco do local. Est Lanceiros Negros, no dia 14 de novembro. O memorial deveria ter sido
e, cumprindo seu
papel, perguntou a que horas o barão desejava que se fizesse na área onde ocorreu a batalha de Porongos. Parte iss re-
0 Te Deum construído
em ação de graças pela vitória alcançada. Este o olhou e res (três hectares de terra) foi desapropriad a e deu origem ao Sítio His-
pondeu; gião
co de Por ong os. Rec ent eme nte , em jan eir o de 200 8, o sítio foi
tóri
Sr. reverendo, a causa do governo ganhou um tri O me-
unfo; mas esse triunfo declarado Patrimônio Histórico e Cultural do Rio Grande do Sul.
foi obtido, ainda que não perigasse um só dos
meus soldados,
derramamento de sangue brasileiro. Eu não o con
com o morial, no entanto, permanece como projeto.
to como um troféu,
não me vanglorio com ele, porque não posso vanglo
riar-me com as des-
Braças dos meus concidadãos. É verdade que faço a gue
rra aos rio-
grandenses dissidentes, mas sinto as suas desditas, ACERTOS FINAIS
e choro pelas vítimas
que eles perdem nos combates, como um pai chorar pod
e a perda de
seus filhos. Vá, sr. reverendo, em lugar de um Te
Deum em ação de qu e an un ci ar am , da par te dos reb eld es, a pacificação
Às proclamações
graças pela vitória que obtiveram os defensores da lei, diga antes uma foram duas. Uma delas foi assinada pelo comandante-em- q chefe do exér-
missa de defuntos.
cito rebelde, David Canabarro, que vinha ] também o conduzin oasn eg

a ser ass ina da pel o pre sid ent e da e a e


ciações. A outra dev eri
Essas palavras não são do próprio barão Ê
de Caxias, mas daquele que não o foi. Quem continuou representando-o, tal como na es ae
pode ser considerado seu primeiro biógrafo, Lu ca s de 5
Patrício Augusto da Câmara 25 de fevereiro, foi o ent ão min ist ro da Gu er ra , Ma nu el
ti Sua identidade permaneceu incógnita ;a
por muito tempo. No ma- ra. Essa ausência era tão sentida que, ambos, O ministro € O E
nuscrito encontrado, em lugar da
assinatura, constava: “ por um ri
o-gran- mencionavam em suas proclamações. Manuel nes tentou txpicias.
e 5
! trabalho de identificaçãlo o do autor,
. ê
venerável Ed
até se chegar ao nome de referindo-se ao presidente José Gomes Jardim como
am
rear
a a Lima, » foiTot ár
á duo, sendo realizado as . O ce is
por EugêAni
ni o Vi lh en a de Mo . De no vo , sua ida de e sup ost a do en ça er am ev oc ad
an "TO, dO que tudo indica, é de 1845 época fo rç ad o par a, de a E
em que Caxias ainda por oca siã o da as se mb lé ia O pre sid ent e tin ha se es
presidmatoia a provínagi cia, o após a “pacit-..= na ba rro cora a o
pos a pacificação”, Nele, a imagem do gr
ande modo , to ma r par te no eve nto — es cr ev en do ; Dav id Ca
pacificador” é muito ia, e faz er sug est ões sobre
dias de ant ece dên cia , par a jus tif ica r sua aus ênc
Primeiras páginas, Câmara Lima afirma que Ca mi nh am en to a ser da do à re un iã o -, ago ra, jus to quanco a Sue
o enca
g u “mais pela política
xi1as agi íti e moderação que pelas armas”. Infelizmente - ter mo, ele se afa sta va. Par a qu em par eci a tão interessado
, cheg av a a seu

5217
526
UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

ra de meios para resistir às forças imperiais, | mas por ? conta de uma


na paz, seria simples enviar, como fez antes, pelo ministro Manuel Es
cas, uma proclamação. Tudo indica que algo havia mudado. Ou ele não ameaça maior: o governador de Buenos Aires reunir forças dessa re-
quis participar dessa etapa final, ou ninguém o informou sobre a procla. ão de fronteira em uma confederação. Esses chefes agora se diziam
gi
e nã o ti nh am a me no r in te nç ão de int egr ar
mação. Ainda que José Gomes Jardim tenha assumido o governo quan- art e da na çã o brasileira
p
do Bento Gonçalves deixou a presidência, em 1843, seu apoio ao general a ou tr a; l i d e r a d a po r Rosas.
um
d u a s p r o c l a m a ç õ e s c o n v o c a m os r i o - g r a n denses a “bai-
Canabarro nunca chegou a ser incondicional. Sem fazer oposição, optou Por fim, as !

ro Ma
se

O min ist
+ 33

vos sos fei tos ”.


F

tua r
ÉÉ

vir
va

a não des
uma

par
“o

por manter relativa distância das disputas políticas da “minoria” e sua xar sua ambição”,
rep ita m, jun tos , “s om os out ra vez bra sil eir os” ,
posição, de mais alta autoridade civil da república, acabou sendo aos nuel Lucas pede que tod os
a , CRS
poucos eclipsada pelo general. Ao final, este dirigia os negócios da repú- tan do: “se rem os sem pre idól atra s da lib erd ade constitucional”.
comple
sua pr oc la ma çã o co m um tom mai s for te, exi gin do a
blica e, só em ocasiões mais formais, recorria-se a Gomes Jardim. Agora, O general encerra
Cax ias : “Un ião , fra ter nid ade , res pei to às leis e ete rna
nem nessas ocasiões. Sua ausência também foi mencionada na proclama- união em torno de
ção de Canabarro, mas somente para assegurar que O general estava pre sid ent e da pro vín cia , o ilm o. exm o. bar ão = Sis
gratidão ao ínclito
“autorizado pelo magistrado civil” a declarar o fim da guerra. os esf orç os, que há fei to na pac ifi caç ão da pro vín cia.”
xias, pelos afanos
for am ass ina dos no dia 28 de fev ere iro, che-
Outro ponto comum às proclamações é a referência à “nuvem me- Esses dois docu me nt os
donha que há tempo troveja para o lado ocidental desse hemisfério”. ão no dia 1º de mar ço. Nes se me sm o dia , ele redigia sua
gando ao bar
A frase, redigida por Manuel Lucas, é uma clara referência a Rosas. io na r a am ea ça de Ro sa s, o ba rã o de Caxias
proclamação. Sem menc
as pe lo mo na rc a: As
id
Para ele, “o império do Brasil, por um rasgo de sua filantropia nos vai priorizou, em seu texto, as garantias oferec
hoje reunir ao grêmio da grande família brasileira de que todos descen-
demos” para poder fazer frente a essa ameaça. À atitude do império, na az er o ter de
pa ra mi m de in ex pl ic áv el pr
sua Opinião, era “nobre e magnânima”, e os republicanos tinham a ele Rio-grandenses! É sem dúvida ou essa
anunciar-vos que a guerracivil que por mais de nove anos devast
recorrido — ?unânimes”, assegura — “pelo bem que dele resulta o inte
bela província está terminada. s co-
Feat geral”, O mesmo “poder estranho” é identificado por Canabarro. at ía mo s es tã o ho je co ng ra tu la do
Os irmãos contra quem comb En
À eia diferença é que o general desloca a nobreza da atitude ao le gí ti mo go ve rn o do im pé ri o a
para 08 nosco, € já obedecem
republicanos rio-grandenses. Estes, por terem “corações brasileiros”, or de no u po r de cr et o de 18 de de ze mb ro de
Majestade o Imperador re co me e
nda no
a poderiam deixar de sentir essa “ameaça à integridade pa ss ad o e mu i po si ti va me nt e
do império”. o esquecimento do ne m po r Ss qual-
o se ja m ju di ci al me nt e

dpi e tepoo Brasil”. Os rio-grandenses acu


decreto que tais brasileiros nã
pel os at os qu e tenham sido praticados po
quer maneira in qu ie ta do s
do insoRio Vs ni a de li be ra çã o do mo narca bra-
ma gn ân im
te o tempo da revolução. Esta sob minha pa-
o pen Gras : teatro de Guias iniquidades”. dr sileiro há de ser religiosamen te cumprida. Eu o prometo
a ri o- gr an de ns es , ma ld iç ão et er na
nos un
lavra de honra. Uma só vontade an qi il id ad e se ja m
com Bento Gonçalves, em maio d are a ss en sõ es . Un iã o e tr
- e 1844, não só era ms definitivamen
E te a quem se recordar das nossas di pe ra do r consti-
Vi va a re li gi ão , vi va o im
incorporado ao discurso desses chefes ; base de hoje em diante nossa divisa. do império.
p r i » como também ém s servia
: de E uo do Bra sil . Vi va a in te gr id ad e
para a pacificação. Os farroupilhas desicr; tucional e defensor pe rp ét
esistiam de sua luta, não por tê

529
528
UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

Mais uma vez o barão de Caxias recorria ao decreto de 18 de dezem. no imper ial e, para serem ressa rcido s, os credores tinham apenas
gover
bro — agora não mais para avançar nas negociações e sim para aNUnciar resen tar seus recib os, que, em seguida, o Rania pelo
que aP
o fim definitivo da guerra. O decreto, porém, seguia Incógnito. Nin- barão ao Rio de Janeiro. O artigo 3º, sobre os oficiais da república, tam-
guém, a não ser Vicente Fontoura e, talvez, David Canabarro, o tinha bém foi executado. Aliás, atenciosamente executado. Ele acabou sendo
visto. Nenhuma cópia foi autorizada e não havia a menor chance de q rma do por Dav id Can aba rro
E e , em um óti mo dis pos iti
É vo de elimi-
an sfo
documento ser publicado. Nisso, as ordens imperiais foram de fato des- -naçãão da Op osição, ajudan | do a criar, ainda, entre ele e o So barão, uma certa
consideradas. O imperador, no próprio decreto, previa sua publicaçã id ad e. Pe lo ar ti go , ap en as pa ss ar ia pa ra o Ex ér ci to im pe ri al O
o c umplic
nas “diversas povoações da província”, tão logo os rebeldes depuses- gen era l co ma nd an te -e m- ch ef e da rep úbl ica — ou a
oficial indicado pelo
sem armas. Mas, afora a ordem de publicação, o barão seguia ca va as si m em sua s mã ã
os , € so me nt e nel as, o e er de
as instru- por Canabarro. Fi
ções do governo, inclusive ao garantir que não haveria perseguiçã co ro ne l Da ni el Go me s de Fre ita s, ofi cia l de con fia nça
o, decisão. Quando o
“nem judicialmente, nem por outra qualquer maneira”. ap re se nt ou , Ca na ba rr o, sem qu al qu er jus
jus tifica
tif icatitiva :
Isso constava do general Neto, se o a a
no decreto. O que Caxias alterou, em sua proclamação, foram Ep Ed A dec isã o ae
o dir eit o de pas sar às fil eir as imp eri ais .
os ter- não lhe concedeu
mos empregados. Rio-grandense é um deles, não foi empregado to era am ig | o fiel de Ben to Go nç al ve s e opo sit o rC
sequer polêmica. Antôni o Ne
uma vez pelo imperador. Este, por meio do decreto, falava a seus ele o gen era l | que ,
q u e , em jan eir o, dep ois da pri
z mei ra re unReião
“súdi- Canabarro. Foi ]
tos” e, de modo algum, reconhecia tratar-se de uma negociação.
s se co nt ra pô s ao ac or do de paz , “a vo ro ça ne
Ele os em Ponche Verde, mai
anistiava. Anistia devida a seu “coração paternal? e, acima
de tudo, ao que e m Pir ati ni reu nir ia ho me ns par a pro sseguir na
povo” e prometendo
fato de esses súditos terem se mostrado “arrependidos”. A era pu ra me nt e pol íti ca e de ix av a cla ro, aos
eliminação guerra. À atitud e, portan to,
desses termos — Caxias sabia disso melhor que ninguém — era ter iam lug ar nas for ças de lin ha os ra iojais ali ado As
condição olhos de todos, que só
para a pacificação. Destacava, assim, O que considerava importante
alg uns pr efe rir am exi lar -se a fic ar eno Rio R Gra
S n
a Canabarro. Assim,
para Os rio-grandenses naquele momento: que não
haveria perseguição. raa do do imp éri o”. O gen era l 7 An tô ni o Neto Era
Sul, " “sob a band ei
Do resto, cuidaria depois. p para o Ur ug ua i, on de pos
a sui a ter ras pod
Retirou-se, co m seu s ofifici ais,
cia is,
Daí a necessidade de manter o barão na presidência da província. o o psi
ria seguir com seus negócios particulares,
|
à

Certamente, sua escolha fazia parte do acordo fechado com esse


E

ortav
e

it o co nt
E

de Cax i as era mu
=

Vicente Fon- ção do


A posiIÇã ba rã ão
toura e David Canabarro, no início desse ano. À exigência, ta me nt e ise nto . Faz ia seu pap el, e ra O
logo no arti- por exemplo, saía comp le
go 1º das “concessões”, de que o presidente indicado pelos chefes art igo s das “c on ce ss õe
õ s” , só5 ser iam
s e r i a m 1 IN CO rpOI& es ao
acordado. Pel| os
farrapos fosse aprovado pelo governo imperial, preservava ica dos por Ca na ba rr o. À cm s ão cab eriaaa
os rebeldes € Exército imperial os oficiais ind is ind i
do m
estes mantendo a direção civil e militar int ern a, dos che fes far rou pil | has , e al ém
da província com o barão a ga- interferir. A questão era
rantia se tornava ainda maior pel a est rat ÉB
égiI a. Op os it or de Ca na ba rr o er a q quem
Os “mistérios” de toda essa negociação Caxias éera beneficiado
estariam resguardados e a ex da pac ifi caç ão; log o, era ta mb ém
cor daE
ecução das “conce ssões”, assegurada. ão co concordava com os te
não rm os
Foi exatamente o que ocorre
pio , O me lh or me sm o era que de ix as se m
e: a provinci
u. Todo S OS artigos das “concessões”, até or. A princí
oposititor. suas
os mais delicados, foram devi pre vis to no art igo 9º, pe rd er am
damente cumpridos pelo barão de Caxias. a Jáá os oficiais generais, conforme
À dívida da República Rio-
Grandense foi assumida integralmente pelo me nt e ano s mai s tar de, dep ois da ca mp anha de 1852, seriam
patentes. So

531
530
A o

UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO


DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

agraciados pelo imperador com o título de general, mas, ainda


assim ordados. Seu projeto na região previa o estabelecimento de
honorários. Nunca foram efetivados no posto. Desde chefes. Esse elemento não pode ser
relação de confiança com esses apr
1789, todos a ma
oficiais que ascendiam a um posto do generalato se tornavam, automati. ; prezado. David Canabarro e Antônio Vicente da Fontoura — ao lado,
s
de
camente, fidalgos da casa real, integrando os círculos mais Próximos ao o, d e s e u s a n t i g o s a l i a d o s , B e n t o M a n u e l R i b e i ro e Manuel Mar-
é cl ar 3 ss é me, As
rei. Esse decreto, baixado pela Coroa portuguesa, e que seria q meta de — for mar iam sua base polí tica na prov ínci a. Sairi a dali
es de Sousa
muitos oficiais de origem não nobre, única via de acesso à corte imperi
al outr a regi ao, com uma
- me

ampl a e bem conso-


o não saiu de nenhum a
é

como havia sido para o avô de Caxias, continuou valend xi as nã o il ud iu os ri o- gr an de ns es . Ão contrá-


o no Brasil, lidada rede de relações. Ca
Reconhecer a patente de general dos chefes farroupilhas significaria es ho me ns um ac or do ex ce le nt e com a
alcá- rio. Conseguiu fechar pa ra ess
los aos altos círculos da nobreza brasileira, estreitando ele s — val e le mb ra r — qu e de fi ni ra m os ar ti go s das
seus vínculos Coroa. Aliás, foram
com o imperador, que há pouco combatiam. Isso implic a qu e ess e “e le s” co rr es po nd es se a um a fa cç ão , era
aria ainda a vul- concessões e, aind
garização do decreto imperial e das estratégias de
na qu el a oc as iã o, a re pú bl ic a fa rr ou pi lh a. Se al-
ascensão social na essa facção que dirigia,
corte, mexendo em uma estrutura de poder muito nt ad as pel o bar ão de Cax ias , atr avé s de
delicada e cuidadosa- gumas dissensões fora m fo me
mente observada pelos cortesãos. Mas, por isso, havia foi ele qu em as cri ou. Em jul ho de 184 2,
também poucos notícias e ofícios falsos, não
motivos para preocupação. Os postos do generalato,
e os privilégios a de sua ch eg ad a à pro vin cia , ess a s dis sen sõe s já eram|
cinco meses ant es
eles vinculados, encontrariam no barão de Caxias um , apó s alg uns mes es, a0S dois
ótimo guardião. notadas entre os rebeldes, da nd o ori gem após
Recém-ingresso nesse círculo cortesão, a que ascendeu go ci ar Os te rm os da p acificação.
após um árduo grupos com qu e o ba rã o vir ia a ne
investimento geracional, de uma família de militares
que cruzou o Atlân-
tico para aumentar suas chances de ascensão social, a proveitando
justa-
mente a brecha criada pelo decreto imperial de 1789, o barão de
Caxias ANJO SALVADOR
Prata o tema com o zelo de um estreante, que começava a usu
fruir 08
benefícios de seu novo status. Não iria contribuir co me mo ra r. Fi nd as as ne go ci aç õe s
de
para a alteração das
regras que regulavam a luta por poder e prestígio jus Depois de tanto desgaste, era hora es fa rr oupi-
as to da s as pr oc la ma çõ es , do s ch ef
to quando atingia em Ponche Verde, publicad ge -
uma Ótima posição nessa hierarquia de corte. Nes al gu ns di as em Ba gé , em se u qu ar te l-
se caso, do artigo 9º, lhas e do barão, este ainda ficou
sobre a S patentes de oficiajai is generais,ig. não
Há houve negociação. Os chefes nh an do , de sd e de ze mb ro , O va i- e- ve m de sses
neral. Dali vinha acompa
farroupilhas tiveram que abrir mão de su li ta mb ém da ri a ag or a su as pr im ei ra s or-
as P patentes.?” chefes e suas negociações, € da
ate: imo
O últ Ar ma s € pr es id en te de um Ri o Gr an de do Sul
Fi era também o mais delicado, o que dens como comandante de
definia a da
ns di as pa ra di ss ol ve r ce rt os co rp os militares,
E dIro s neg ros . Por ele, é pos sív el também ava- pacificado. Precisava de algu
li jar O Sra o do barão de Caxias em cumprir tudo o que an do -o s so br et ud o pa ra à fr on te ira.
havia acor- manter e redistribuir Outros; desl oc
dado nos artigos das “Concessões”. Ainda ca ut el as ”, pa ra qu e os ex -f ar ro up ilhas
que parte do processo de Além disso, precisava ainda liberar o er a Fe al iz ad o em
pr ov ín ci a. Tu do
pudessem circular livremente pela
io de se u ma is no vo o fa vi o Ca na bar-
comum acordo e por interméd
tr at an do da s qu es tõ es mi li ta re s, en quanto
ro, que continuaria no interior

533
532
— AS

UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO


DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

o barão partia para a capital, onde era aguardado. Em seu 'o União. A moça, em seu54 texto, continuaria a rememora r a trajetória
trajeto, Porém E
percorreria as principais vilas da Campanha. Nenhuma celebração pode. de tão ínclito general, adicionando-lhe agora a pacificação da quarta
Sul.
ria ser melhor para anunciar o fim da guerra do que a visita do Pacifi
cador província, o Rio Grande do
Porto Alegre era o ponto final da viagem e, dessa maneira, dev
ia COnsagrar O cortejo voltava a percorrer as ruas da capital. Com um roteiro
o herói da pacificação. Por isso, apesar da ansiedade, essa demora previamente definido, passava por casas devidamente ornadas, com as
de algu-
mas semanas do barão se tornava bastante conveniente, sobretudo para janelas abrilhantadas pelo belo sexo. A parada seguinte foi na Igreja da
seu secretário, Gonçalves de Magalhães, e para os mor
adores da capital Matriz. À porta, O vigário Francisco Paula de Macedo e o clero aguar-
raram
mais envolvidos nos preparativos da recepção, que ganhavam
, assim, mais davam O barão. Depois dos devidos cumprimentos, todos ent
Conclu-
tempo para organizá-la. À capital preparava-se para uma
grande festa.” para, subindo ao altar, entoarem o hino “Te Deum laudamus”.
do 8º
No dia 10 de abril, pouco depois da uma hora da
tarde, o barão de ida a cerimônia, o barão foi saudado com os fogos de artilharia
Caxias desembarcava em Porto Alegre. Tão logo o vapor pos tad o em fren te à igre ja, no larg o da praç a. O cort ejo ga-
fundeou, uma batalhão,
pequena multidão acorreu em sua direção. Nesse Brupo, ão, mai s uma vez, as ruas de Por to Aleg re, para cum pri r seu
estava seu secre- nhou ent
tário, o marechal comandante da guarnição da capital, o che tre cho , até o pal áci o do gov ern o. Na sala cent ral dess e palá cio,
fe de polícia, último
o promotor público, os vereadores, várias autoridades e dem pro nun cia do o qui nto dis cur so das moç as do Col égi o Uni ão. Tod as
ais “pessoas foi
do vesti-
de representação”. Aí, Caxias acolheu a todos e, após os
cumprimentos, juntas, vestidas de branco, com fitas verdes no lugar do cinto
às quatro horas da tarde, saía finalmente no trapiche, onde ar el os no co rp o do me sm o, lev and o na cab eça delicadas
era recebido do, e laços am
com “vivas entusiásticos” pelo povo. Um cortejo foi então org tam bém bra nca s, rec ita ram O text o, ofe rta ndo ao bar ão, no
anizado e, grinaldas,
com todas essas autoridades “em forma ?, O barão cruzou a alf cer imô nia , um qua dro bor dad o de sed a rox a sob re cet im bran-
ândega até final da
um “arco bem arranjado”, onde um grupo de moças eira. Um
do Colégio União co contendo dois ramos verdes, um de louro e outro de oliv
aguardava sua chegada. Três delas, escolhidas entre as filhas
das melhores ão, eco ou: “Vi va O exm o. SE. bar ão de Cax ias ! Viva o pacifi-
brado, ent
famílias da capital, pronunciaram pequenos discur cador do Rio Grande do Sul!”
sos, análogos, mas
cada qual relembrando uma campanha do general. Ao final, sua traj do gove rno, Gonç alve s de Maga l hães, anun-
etó- No dia 11, o secretário
ria, do Maranhão até Minas Gerais, passando por São Paulo, tinha às segundas,
sido ciava, em edital, que o barão estaria dando audiências
revisitada, e cada uma das vitórias era celebrada com a entreg onze horas da manh
a ã até a uma da tarde , em
a ao barão, quartas e sextas-feiras, das

f e d ra o
che gou próximo ao de

d nd o t
pela moça que pronunciou o discurso, de uma “coroa no palá cio. Se o núm ero de visi tas
cívica”. seu gabinete,
no jor nal O Im pa rc ia l, ela s fo ram muit as. Quas àe
felicitações publicadas

em frente a0 palácio do governo.No Jocal, “uma porcão de ovens dos cí pi os da pr ov ín ci a es cr ev er am ao barã ni o,


todas as Câmaras dos mu ni
nd o- o pel a pa ci fi ca çã o. Os el og io s e ram muito s, e de vários
congratula
dois colégios nacionais esperava [o b e ral ro qr ai or de nt re os ge ne ra is br as il ei ro s” , ne ssas cartas, era tam-
e - tipos. O “m
do-lhe pétalas “com Cortesia e e de Su a Ma je st ad e Im pe ri al e ím ã da paz”. Os ve-
: pa é cespe ace e bém “a coluna do trono
arco. Em seguida, ainda cob pi enquanto ele passava sob á ga ra nt ia m ao ba rã o qu e ele dir igi a “u m po vo
readores de Porto Alegre dis e gu
mais um picasa seo e pétalas, Caxias parou para dd seu sa lv ad or ”. Ha vi a ai nd a os “sú dit os” que,
tado por uma outra aluna do Colê que o ama e venera como

535
534
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO

enviando seus votos individualmente, procuravam se distinguir, Esse fo; livro tin ha essa missão, de submeter o conde de Caxias
ao tribunal da
de Oliveir a, juiz de paz da vila de C ac
o caso de Narciso Peixoto sendo que ele já sabia qual seria o resultado do julgamento. De
história,
Por problemas de comunicação, O juiz só ficou sabendo do fim da guerra O re ti ro u nO “alto zênite da glória” . Caxias era, na sua opínião, um
lá,
no dia 5 de abril e, para evitar embaraços, escrevia logo ao barão. João ge ne ra is br as il ei ro s, qu e so ub e, c o m o ne -
grande homem, o melhor dos
Mena Barreto apresentava-se, em sua carta, como brasileiro, filho do r e x e m p l o “d e ac ri so la do am or , ze lo e ra ra de di ca ção ao
nhum outro, Se
Rio Grande do Sul e, ao final, após dar vivas ao pacificador, escrevia que G r a n d e do Su l, qu e ag or a o tr an sf or ma va , por ele ter
vosso país”, ao Rio
esperava “ser sempre digno da inapreciável estima de v. exa.”. Outra íd o- se de tã o at ur ad os so fr im en to s” , em se u “a nj o s a l v a dor”.
«condo
autoridade que não deixou de escrever ao barão, e que era também seu os r o s s e g u i r a m po r to do o mê s de ab ri l. Ai nd a no di a 10 , à
Os festej p
primo, compartilhando com ele o nome do avô, foi Luiz Alves Leite de o e c e b i m e n t o de v. ex a. ” se gu iu at é ta rd e, a ci da de
noite, como o “faust r
Oliveira Bello. Promotor público de Porto Alegre, Luiz Alves escrevia ao rt a do pa lá ci o u m a “b oa or qu es tr a” e mu it as
luminou-se, houve à po
primo que era com “êxtase de prazer” que essa geração, a sua, levava o ap ro ve it an do a pre sen ça do gen era l no pré dio , “concorreram
pessoas,
barão de Caxias “à posteridade nos anais da história brasileira”5! » No s int erv alo s da mús ica , mai s gen te se apr ese n-
para cumprimentá-lo
| Talvez E Rs de prazer” fosse devido à divulgação, na provin- . A lei tur a de poe s ias pr ed om in ou . Vár ias del as
tava com homenagens
Cia, dos dois últimos decretos imperiais. Um deles, do dia 12 de março, re um a e out ra, rep eti do s “vi vas ao pac ifi cad or do
foram recitadas. Ent
efetivava o barão no posto de marechal-de-campo. O segundo, datado Sul ” er am ouv ido s. Na s trê s n oit es seg uin tes , em frente
Rio Grande do
de 25 de março, o elevava a conde. Foi ainda toda essa atmosfera que o da al fâ nd eg a e o do pal áci o, ho uv e ap re se nt ação de
aos dois arcos,
certamente inspirou Patrício Augusto da Câmara Lima a escrever uma pe ra da era a “d an ça dos jar din eir os” , de um grupo fa-
dança. A mais es
obra sobre o “generalato do conde de Caxias”, a primeira dedicada à .
moso na capital. Até soldados fizeram um número
analise de seu “sistema militar e político”. Gonçalves de Magalhães de- ha vi a dia se m fes ta. No dia 13, a ir ma nd ad e de Nossa
E assim foi, não
via acompanhar tudo isso com satisfação. A musa de 1842, de fato, não re s ma nd ou cel ebr ar um sol ene Te De um. No dia 14,
Senhora das Do
O, ne qua rte l de art ilh ari a a ca va lo e, ao fi-
o previu o poeta, era depptáisaa pela histó- Caxias foi assistir à iluminaç ão do
um ric o fi am br e pel os ofi cia is” . Ess es festejos,
nal, “foi brindado co m
de era apenas o coronel dis di , dê x Mia Ea unit Ê ee se ab ri am par a o po vo . No s dia s 15 e 16, a
após sua retirada, sempre
E dia
o sentir.
a Da escri co m “i lu mi nação, doces e
e para aà história
Ê RR . gn an
Com Camára Lina, essa comemoração se rep eti u em ou tr os qua rté is,
foi de gal a. O tea tro par tic ula r Pe dr o H le-
marte posta. Logo em suas primeiras páginas, em refrescos”. A noite do dia 17
um item intitulado “dedicatória”, o autor considera a história de Sua Ex ce lê nc ia a peç a — O He ll o” . Antes de
“incor vou à cena “em obséquio
ruptível”, > e talvez por | vel o ao pa no O cad ete Ca rl os Corte Real de
Por isso tenha optado por esse tipo de escrita. Seu dar início ao espetácul o,
texto é, de período em A j e” as , fil ho do tio fa rr ou pi lh a as sa ss in ad o em
Lima — mais um primo de Ca xi
perío do, marca do pela expre ssão: “ela dirá”. int erv alo , dos E
“Ela” éé a história. Para ele, se ien te elo gio ”, e a ca da
m dúvida, um “ grande tribunal”, ao qual 1837 — para fazer-lhe um “eloqi
devem ser submetido re ci ta va m so ne to s em ho me na ge m ao herói.
s os fatos e os homens marotes, várias autoridade s
. A o historiador, no exercício O ma is co me nt ad o foi
de in ar am os ba il es .
seu ofício, basta nar
rar os fa Ô Daí até o final: do mês predom : ; ses
ade bailante”. Não era
altar da justiça o realizado no dia 19, na “ca sa que serv e à soc ied

537
536
“Sms Pr
EU Hi Lá
dj r

UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO


DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

esses
para menos. Ele contou com a presença do “sr. conde” e de homens “ilus. esmo nas vilas mais afastadas, onde ele nem tinha estado,
A se rep eti am. Pro vav elm ent e ele se via, com o esc rev eu seu prímo,
tres” do governo, inclusive do “dr. Magalhães”, seu secretário. Para reçe- a
bê-los, foi organizada uma comissão que, logo na entrada, saudava-os Bel lo, ent ran do def ini tiv ame nte par a os “an ais da his tór ia
o pro a
tendo cada um dos integrantes uma tocha na mão. À sala achava-se eg » Ma s ess es fes tej os não cel ebr am só o passado, eles também
brasileira
camente ornada e no centro dela, em frente ao coreto de música, estava preparam Õ futuro do conde. Sua presença neles, tanto quanto a abertura
armado um troféu d'armas”. A mesa do conde ficava diante do troféu te, dia ria men te, das onz e da man hã à uma da tarde, para
de seu gabine
mas, antes de sentar-se, fez questão, “com toda urbanidade que lhe : tin ha um ine gáv el car áte r pol ici ca No dia 20 de
audiências públicas,
própria”, de cumprimentar o “belo sexo”, que por ele esperava, de pé, ain da nem tin ha che gad o a Por to Ale gre , já era pub licado
março, Caxias
“em derredor da sala”. Para abrir o baile, foi cantado, pela “sra, Rita is o im pe ri al or de na nd o qu e se pr oc ed es se a elei-
no Rio de Janeiro um av
Malevai”, um hino, “depois do qual se deram entusiásticos vivas a Sua di as de po is , ou tr o av is o ma nd av a qu e se pr oc ed es-
ções para senador. Seis
Excelência como pacificador da província e à união rio-grandense”, Ter- pr ov in ci ai s. O res pon sáv el por org ani zá- las era O
se à eleições gerais e
minada a homenagem, Caxias de imediato se levantou e, ele próprio, deu a da s pr ov ín ci as do im pé ri o. De sse mo do , no dia
presidente de cada um gs
vivas a “Sua Majestade Imperial e à família imperial”. Foi a vez, então, ap ós o gr an de ba il e da “s oc ie da de ba il an te”, Caxias
22 de abril, três dias
de seu prestigioso secretário, doutor e poeta se levantar. Após alguns se- ple ito s. As ele içõ es pr im ár ia s oc or re ri am no dia 23 de
marcava a data dos
gundos do mais completo silêncio, começou a recitar uma ode. Nela, es es co lh er ia m os ele ito res . A ele ição dos
junho. Nessa etapa os vota nt
narrava “Os movimentos políticos” da província, destacando, a cada es- re s fi ca va ma rc ad a pa ra 9 de ju lh o. Ne las
la s, esses elei-
€deputados e senado
E
-
trofe, “os esforços e a política administrativa” do grande general. ir ia m co mp or a li st a trí pli ce do Se na
tores escolheriam os três nomes que
A copa estava toda “mui bem arranjada”, sortida “de licores finos pa ra qu e ele es co lh es se um de le s, e Os
do, depois submetid a ão imperador
e refrescos, que se pudessem apetecer, e de doces muito finos, e de di- a as se mb lé ia pr ov in ci al . No ca so do Rio
deputados para a Cã mara e para
versas qualidades”. A música era, como vinha sendo em todos os feste- co nt a da re vo lu çã o, to da s es sa s| ca de ir as estavam va-
Gr ande do Sul, por
não el eg ia m de pu ta do s de sd e a
gas havia muitos anos. Os rio-grandenses
jos, mesmo quando a orquestra se apresentava na praça, do “harmonioso
sz. Mendanha”. No total, “mais de 800 pessoas foram convidadas”. se m um re pr es en ta nt e nO Se na do de sd e
legislatura de 1838 e estavam s4
Eram muitos os que queriam participar de um momento tão especial é da So le da de , em 18 36 .
a morte do cônego Antônio Vieira do , er am extre-
comemorar, com 0 conde, a pacificação do Rio Grande do Sul. Este rt ic ul ar me nt e a va ga no Se na
Essas eleições, e mais pa uc o antes
brigiciaa a todos com sua companhia, dando a alguns o prazer de de Ca xi as . Le mb re mo s qu e po
sen- mamente atraentes para O conde 1842, muito res-
tar-se á a mesa e, como manda a etiqueta, foi o primeiro a se retira pa ra O Ri o Gr an de do Su l, em ou tu bro de
r de embarcar Rd
do baile, já pela madrugada. qu e ti nh a ec on om iz ad o ao re mu nerar sena
sentido com a Coroa, par
cr ev eu a um ax aR go , O a o de
À presença do conde de Caxias nesses festejos, tanto nos de rua quan em São Paulo e Minas, Caxias es
he
to nos particulares, como os bailes, pe gi nd o su a pe rR eç ÃO
tinha como objetivo celebrar, e imã Alegre, recém-nomeado conselheiro, ”,
, nã o fi ca r ma is um a Ve z e
ss que, para ele, devia ser muito uma chance de promoção
gr at if icante, após tantos sacrifícios, surgisse
me nt o E Ro su o mo a a
oia seu Rome entre vivas entoados como então se sentia. Esse re ss en ti
pelo povo e pela gente mais fina da que era “meio posto no Exer-
r enas
capital. Imagino também que
ficasse orgulhoso ao saber, pelos jornais, quando, depois de receber do imperado ap

539
538
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO

cito, viu seu nome ser esquecido pelos maranhenses na eleição de


1842, Mas o fato de estar tão interessado no cargo e autorizado pelo gover-
Um ano antes, quando ainda estava na província, tinha sido eleito «fazer a eleição como melhor entendesse” não levou o conde a re-
depu.
tado por unanimidade e, bastou sair de lá, para, em a meios escusos para vencer as eleições. Um desses meios — vale
uma Nova eleição E
organizada em função das fraudes ocorridas na de 1841, seu
DOT dizri utilizado na época — era levar os folgado: as eleições. Isso
ser — a expressão é dele — “completamente desprezado”,
tendo que recor- garantiria sua vitória. Só que Caxias, cada a mais, procurava preservar
rer a amigos na corte.
sua imagem. Numa outra carta ao pai, auteno ao pleito; ia que
Agora, em 1845, não deixaria passar a chance de ingressar
na políti- não ia recorrer aos soldados “para que não se diga que fuí eleito à ponta
ca. Não almejava mais uma cadeira na
Câmara, desejava ser Indicado de baionetas”. Depois das eleições, voltaria a escrever ao velho Lima.
para a lista tríplice e concorrer à vaga no Sena
do. Essa prática de se can. Agora, dizia que não só proibiu que os soldados Potassem, como, movi-
didatar a um cargo político como representante
da província onde se ti- mentando alguns corpos militares, mudando-os de regiao, SEO
nha finalizado um serviço era bastante em o a e
comum, quase uma regra entre os estratégicas , ligad as à fronte ira, acabo u reduz indo
oficiais militares de alta patente, Alguns deles
prestavam ServIÇOS já pen- oficiais votantes, uma vez que eles deixavam de a o prazo marcado
sando em ingressar no Parlamento, e
acabavam se dedicando inteira- pela lei de residência”. Por outro lado, isso não significa que Caxias não
mente à política. Esse, sem dúvida, não
era o caso de Caxias. O ponto tivesse feito política, firmado alianças e pedido votos. É ele mesmo quem
central de seus investimentos não era à
política. Sua carreira era a mili- afirma, nas duas cartas ao pai, que iria “recomendar, os mena amigos,
tar, no Exército. Só que as duas não
estavam assim tão dissociadas. Um um ou outro candidato que me pareça bom”. O Magalhães, como cha-
bom cargo político, como o de senador, O posi
cionaria no interior de um mava seu fiel secretário, foi por quem mais trabalhou, queria assegurar
grupo seleto, de elite política, levando- Pe E aaa
o a circular por esferas de discus- lhe uma cadeira na Câmara.
são e — vale destacar — de de
cisão, O que aumentaria incrivelmente seu Mesmo tendo muitos contatos na provincia, à ase políti
repertório de possibilidades é POI Conseguinte, Para
sua capacidade de nego- xias estava no Exército, e nesse momento não poderia desprezá-la.
ciação, dando-lhe inclusive a chance de ões acio nou essa rede, integ rada na maio r parte és RE
interferir na política militar do fazer as eleiç
império. Além disso, havia ainda uma Osór io foi um desse s A a E» É
questão de ordem prática. Como de sua conf ianç a. Manu el Luís
explicou ao pai, por carta de Caxia s, ERE S SE e cs E
guerra, havia se apro xima do basta nte
a servi r como emiss ário junto aos rebel des e é ru a
quase moças, e o que tenho atualmen- come çou
te não me chega para re por ele um as sã
partir ?, Como todo pai dedicado, já pensava ra, € agora continuava sendo cons ider ado
no
p ar
a mais velha, no final do ano, em dezembro, esse termo que O general se despedia Em seus ofícios Fes
Osóri o, pela prime ira vez, coma ndav a seu R Fê
de e, seguramente, Caxias queria proteger à do tenente-coronel.
o. Tant o a prom oção como esse come nto lhe ea ço Ge HE
º COMO O que experimentou para casar com regiment
a mãe dela, justo po ER Aa
r ser tã O notória a desigualdade da aliança pretendi- por Caxias e, agora, pouco antes das eleições, o Rr l e
da. Somando ao títu
lo de Nela, avisa va que, apesa r de Eso ter E c gs Ps
conde e à patente de marechal uma vaga n0 carta particular.
“ioio ” de ambo s os lados , não estar a a |
achar que havia
eleições. E d estacava: “desejo ser senador pela sua província”. Em segut-

541
540
UM CONSERVADOR
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO FIRME, MAS MODERADO

da, passava instruções a Osório: “Vá para Bagé e cabale forte onteiras. No meio do trajeto, antes mesmo de chegarem ao Rio Gran-
fr
mais por minha conta.” Ainda que tenha perdido votos com a tra cruzaram com a escuna Mockna, pela qual o governo mandava avi-
de,
rência de oficiais para as fronteiras, Caxias Caxias do projeto real. De imediato, seu secretário voltou para a
contava com o a sar
Nessa mesma carta, confirmava para o “amigo”
o que havia dito ao - capital. Havia muito a ser providenciado e, ainda que o aviso previsse
que “os soldados não votam para que se
não diga que eu quero e apenas para O dia 8 de outubro a saída dos ilustres visitantes, era pre-
uma eleição à província em baionetas”. Mas, diferentemen «iso começar a mobilizar o povo de Porto Alegre. Aliás, não só de lá.
te da di
dirigida ao pai, nessa a frase tinha continuidade: “po D. Pedro II pretendia percorrer também outras cidades e vilas e, para
rém os cab sh
ciais etc... não deixam de fazer número”.56 que isso transcorresse de forma tranquila, após tão pouco tempo de
in
O resultado dessa sua política foi excelente. Ele pacificação, OS esforços das autoridades provinciais deveriam ser bem
não só foi o candid
to mais votado para a lista tríplice, como
conseguiu eleger seus ami a maiores. Era preciso fazer o povo sentir o valor do acontecimento e
Das três cadeiras na Câmara dos Deputados
, fez duas. Uma ficou : | mobilizar os mais interessados em recepcionar o imperador, aqueles que
Gonçalves de Magalhães e a outra com poderiam ser remunerados, por sua atuação durante a guerra em postos
seu primo promotor, Luiz re
+ Oliveira Bello. Além desses cargos, hav militares ou civis, com títulos de nobreza, comendas, promoções e, de-
ia ainda os da eia o
vincial. Embora, para essa pesquisa, não ten pendendo do caso, até com pensões.
ha sido realizado um levan-
tamento dos deputados eleitos, é possível Tudo foi programado em seus mínimos detalhes. À intenção da via-
apontar, entre eles, pelo menos
um nome expressivo: o tenente-coronel
Manuel Luís Osório.” gem era “fortalecer os laços” entre o Rio de Janeiro e a província do Rio
Na manhã do dia 11 de setembro, chegava Grande do Sul. Nove anos de revolução, com a formalização da indepen-
ao Rio Grande do Sul 0
na oiial da eleição para senador O imperador dência e a proclamação de uma república eram suficientes para que O
havia escolhido,
região.
| oo o e a Es. eo tudas À essa notícia, acorreram governo concluísse pela importância da presença do imperador na
A comitiva real fez sua entrada na barra no dia 2 de dezembro, e a data
públic
Td i as,quaut
aioridad
ares civis, » dive divers
sosos ) fáEras -e pes
esssoa não foi casual: era aniversário de Sua Majestade. O fato era destacado
ass do
a ve
representaçã
ioo
como símbolo da alta conta em que o imperador tinha os rio-grandenses.
tomaram as ruas e, nin ds Da al o ur a Ele havia escolhido passar a “festa dos seus anos” ali, naquela terra, pro-
secretaria da Presidência en Igreja da
nin vando seu interesse em esquecer O passado. Após o Te Deum, na
Prima
Até o mês de dezembro Os rio-grand
; grandenses ter
padiam muirs
to queÀ come Matriz, organizou-se, no palácio do governo, à cerimônia do beija-mão.
; presentes no evento. Mas
Infelizmente, o jornal não noticiou os “ilustres”
de setembro uma outra “fausta noti- ntand o a fila, para se
É provável que Vicen te Fonto ura estive sse ali, enfre
die nte , dia nte do imp era dor . Era sem pre esse O objetivo da
» à notícia de que Sua Majestade o imperador € curvar, obe
sua esposa, acompanh nci ar o mon arc a. No Rio Gr an de do Sul , em dezembro
= ados do mininist cerimônia — revere
ro d jéri imp era dor enf ren tou uma lon-
de sua corte, Visitariam em Et de 184 5, ela ass umi a um val or esp eci al. O
breve ne
á , foi até a pro vín cia par a dar a ess es súditos, por meio desses
ga viagem
cerimoniais, à
a chance de provarem sua fidelidade. À noite, o conde de

543
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

Caxias oferecia, na casa do comendador Israel Soares de Paiva, um Notas


de baile em obséquio aos anos do jovem imperador, que nele pecm a
até a uma hora da manhã, entre seus súditos rio-grandenses. a
Durante todo o mês de dezembro, o imperador percorreria, conf
previsto, parte do interior e visitaria algumas vilas onde se desu RE
garra, cumprindo o trajeto: Triunfo, Rio Pardo, Cachoeira, Ca Er sa
São a Ponche Verde, região onde os rebeldes Par fere E : ai
da paz, não foi premiada com uma visita do imperador. Ela só Enio 28 e 30 de jan eir o de 184 4, Col eçã o Cax ias, códice 927, AN.
1. Ofícios de 5 de fev ere iro e os de-
4, ma s há ain da doi s dat ado s de
side
; Eai uma vila marco da paciflfica çã o pelos rio-grandenses, não tend
icaçã 2. O primeiro ofício é do dia ano de 1844 e per-
is úl ti mo s pa rá gr a fos. Tod os eles são do
sido jamais mencionada na corte. | - mais citados nesses do
N.
tencem à Coleção Caxias, códice 927, A
Wa lt er Sp al di ng , A Re vo lu çã o Fa rr oupilha, p. 195- 207.
3. Sobre o assunto, ver er ra ci vi ln o Ri o Gran-
Tris tã o Al en ca r Ar ar ip e, Gu
4. Essa história é extraída dos livros de ou pi lha, p- 207-13.
er Sp al di ng , A Re vo lu çã o Fa rr
de do Sul, p. 261-2,e de Walt
ra , um a ca rt a de On of re Pires a Bento Gonçalves, €X-
5. No diário de Vice nt e Fo nt ou
ri a- se 0 ge ne ra l co mo la dr ão , fo i tr anscrita
tremamente ofensiva, em que ele refe
ta pe lo ed it or , op. cit ., no ta da p. 238.
em no 18 44. Já o episódio do
e no ofí cio de 15 de ma rç o de
6. À frase de Caxias encontra-s ofí cio de 13 de abril 1844.
na ba rr o é na rr ad o no
recrutamento realizado por Ca
à Co le çã o Ca xi as , có di ce 92 7, AN.
Ambos pertence m Re vo lução Far-
dos po r Wa lt er Sp al di ng , A
7. Todos os combates foram sistematiza 184 4, cota: maço
ao pai é de 5 de mai o de
roupilha, ver p. 214. À carta de Caxias ão vi nha ocorrendo co m mais
ob le ma de in su bo rd in aç
107, doc. 5195, AHMI. O pr o, 2 de ma rç o € 13 de
de fe ve re ir
nc ia de sd e fe ve re ir o. Ve r Os ofícios de 28
frequê
18 44 , Co le çã o Ca xi as , có di ce 92 7, AN.
abril Tudo de 11 de se te mb ro de 18 44 ée um grande
o ao ministro da Gu erra
de
8. O Ofício do barã oc es so de ne go ci aç ão re alizado
um ap an hado de todo o pr
relatório, em qu e ele fa z Ca xi as , caixa
es tá na Co le çã o
nt o co m 05 re beldes. O original ofi-
até aque le mo me
0, pa st a 9, p- 16 , IH GB . O
ss ív el en co nt ra r Um a có pi a na lata 82
810, AN. É po €, me io de le , O ba rã o en caminha
mb ro De 18 44 é mais curto po r
o aos
AN. A história da “recepçã
cio de 12 de se te
ld we ll . Co le çã o Ca xi as , caixa 810,
o coronel Ca :
es tá ne st e livro, p. 65
ca lo ur os ”
d Ca na ba rr o de 1º de se te mbro 1844 e
de Jo ão An tô ni o da Silveira a Davi
9. Of íc io
da ta do de 18 de se re mb ro de 1844, lata
oupilha,
deste ao ministro da Guerra farr
P- 16 , re sp ec ti va me nt e, p- 2 e 3, IHGB.
820, pasta 2; ar ta aos eleitores de Minas”
il o Ot on i em su a “C
por Teóf
10. Essa história é contada Ca na ba rr o a Ot on i, no dia 30 de
ano seguinte po r
e em uma carta escrita no

545
544
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO

maio de 1845. Ambos os documentos podem ser encontrados na lata 820 of íc io do minis tro da Guerr a, datad o de 18 de deze mbro De 1844, acha-se na
21. O
9, p. 4-6, IHGB. o lata 323, pasta 25 do arquivo do IHGB. O do ministro da Justiça, de 17
de dezem-
Us Para esse episódio, ver a carta de Ismael Soares a Caxias, de 2 de outubro de 1844, está no setor de Manu scri tos da BN, cota II-32, 3, 4, nº 1. À impor-
1844, bro De
e o ofício de Caxias ao ministro da Guerra, com a mesma data. Ambos e da missã o do coron el Marq ues para mante r obscu ra essas negociações é
stão na rância
lata 820, pasta 9, p. 8, IHGB. À carta de Bento Gonçalves foi reproduzida Oscar Wied ersp ahn, O convê nio de Ponch e Verde, p. 118.
na RIH- sugerida por Henrique
GRS de 1828, com o título de “Cartas, Ofícios, Atas e Proclamações Fela acha m-se tamb ém na lata 323, pasta 95 do arquivo do IHGB.
tivas à 22. Essas instruções
pacificação de fevereiro a março de 1845”, p. 121. É inha.
12. Tanto a proposta de Rivera quanto a resposta de Caxias foram narradas a partir do diári o pode m ser encon trada s a partir das datas fornecidas
do 23. a pe ra
ofício-resposta escrito por este e datado de 1º de outubro de 1844, Este documen-
Lemb ro que ele foi publi cado pela RIHG RS de 1234. À carta de Manuel
no texto.
to foi reproduzido na RIHGRS de 1949, p. 466. Caxia s acha- se na lata 820, pasta 9, p. 38, IHGB . Na p. 42, nessa mesma
as a
solicitando
d

13. O interesse de Caxias em conhecer Rivera é confessado no ofício de 2 abril de 1844,


=
o,
soli
barã
na

mini stro ao
=

nha do pelo

lata, há ainda
Inc
o ped ido que fora enc ami
O encontro entre Osório, Rivera e Fontoura é contado por Caxias em |
ofício de 22 os salvo-condutos.
de outubro de 1844. Coleção Caxias, códice 927, AN. Outra fonte sobre esse mes-
Fo nt ou ra pa ra re un ir Os ch ef es di sp er so s po de ser visto sobretudo em
24. O esforço de
mo encontro é o Diário de Antônio Vicente da Fontoura, reproduzido
na RIHGRS oci açõ es com Ben to Gon çal ves po de m ser ac ompanhadas a partir
seu diário. As neg
de 1934. A carta ao pai, datada de 20 de novembro de 1844, também foi e do cu me nt os rep rod uzi dos pel a RI HG RS , de 1928, ver p-
reprodu- de correspondências
zida pela RIHGRS, no ano de 1949, a Can aba rro foi rep rod uzi da pel a me sm a rev ista em seu
125-9. A carta de Caxias
14. A carta de Canabarro para Otoni acha-se na lata 820, pasta 9, p. 6,
IHGB. A de número de 1928, p. 130-1.
Caxias para Bento Gonçalves foi reproduzida pela RIHGRS de 1828, p. 122. So- emb léi a de 25 de fev ere iro qua nto as car tas de José Gomes Jar-
25. Tanto a ata da ass
bre o desvio da carta, ver o Diário de Antônio Vicente Fontoura, op. cit. p. 80,€ e a ata da reu niã o des te gen era l com seu s subordinados
dim, de Bento Gonçalves s
a carta de José Gomes Jardim a Bento Gonçalves, de 10 novembro 1844, Esta foi RS de 182 8, p. 124 -8. Já os art igo s das concessõe
foram reproduzidas na RIHG 66,
reproduzida na RIHGRS de 1928, p. 122. tan to nes sa rev ist a, p. 129 , co mo em lata 820, pasta 9, p-
podem ser lidos
15 Toda a história contada até aqui segue informações do diário de Antônio Vicente
IHGB. (Ênfase minha.)
Fontoura, op. cit., p. 82 a 87. As “credenciais” do emissário são reproduzidas na in- e Eu gê ni o Vi lh en a de Mo ra is , os pr incipais biógrafos de
26. Joaquim Pinto de Campos
tegra por Henrique Wiederspahn, op. cit., p. 66. Os boatos divulgados sobre as inten- ent e por ci ma do as su nt o, nã o escrevendo nada sobre
Caxias, passam completam
ções de Rosas também são mencionados pelo autor nesse . Af on so de Ca rv al ho me nc io na O tratado, o ES
mesmo livro, ver p. 57. os artigos do tratado de paz foi pu o ee Re
16 Sobre os contatos com a corte, além dos ofícios já citados aqui, ver os de 11 de se- de He nr iq ue Os ca r Wi ed er sp ah n
à versão resumida. O artigo o. Ver sobr as
tembro, 2 de outubro e 10 de novembro Todos de 1844, Col ss o de Hi st ór ia do Se gu nd o Re in ad
eção Caxias, caixa RIHGB: Anais do Congre
810, AN. As vinculações do barão 4
com o ministro estão em Sébastien Auguste áginas iniciais, p. 186-22.
ç;E pr e
Op. cit., verbete sobre Jerônimo Francisco Coelho. Além disso, há ainda
27. À bioma a do decreto é apontado por varios
. Me st re de bras | e”, p. .
16Ep
er Sp al di ng , “C an ab ar ro
Orga niza ções e prog rama s ministeriais. pahn, há ainda Walt a Ponto pede
17 Sepf e Javar
ício pj i, da Guerra, datado de 20 novembro de 1844, integra a Coleção an tí ss im a ob ra de Alfredo Varela, a E
ciso de st ac ar a im po rt
axias, caixa 81 y re vo lu çã o, vol . 6, ver so ret uapa
grande
» AN. À carta
p. 462. Sobre o
ao pai, da mesma data, foi reproduzida pela a RIH outros “mistérios”, História da por He nn qu e l
GRS de 1949 ade o int egr a
do A s car gos ocupados pelos Lima e Silva, ver bara p. 490. O texto do decreto foi p
Javari, op. cit. êni Verde, p. à
18. e de Ca xi as es cr ev eu ao co ro ne l Manuel Mar-
28. pet ç E a os o E
19 Todos esses dados já foram de do da cor te, fa la nd o em gu er ra contra Rosas.
vida N aa s E qaeds que tinha rece bi
ques Os fa rr apos se aan aa
sobretudo os caps. 1 e 4. se tal gu er ra ac on te ce ss e,
Caxi a Gr ter certeza de que
20. Os ofícios citados foram diri Ap ud He nr iq ue Wi ed er sp ah n, O convênio
EUR, 810, AN,
E caixa min
gidos ao ministro leção péa
imn r e a guerra civil estaria acabada.
Caxias, da Guerra e integram a Coles p. 54.
de Ponche Verde;

547
546
UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

ia das neg oci açõ es do ite m sob re os sol dad os neg ros está em Alfredo Vare-
29. Tanto o ofício de Manuel Lucas 20 barão de Caxias quanto deste para David Ga. A his tór
41. a, História da grande revolução, vol. 6, p. 296-8. O artigo em que escreve sobre
nabarro foram reproduzidos na RIHGRS de 1828. Para isso, ver TESpectivamente ds
Rod rig ues é o mes mo cit ado ante s, Jor nal do Com mer cio , de 26 de janeiro
p. 133-4. (Os grif os dess e pará graf o são meus .) j
alfredo
|
30. As proclamações de Canabarro e Manuel Lucas também foram reproduzidas a de 1899.
os sob re Dom ing os José de Alm eid a qua nto a cart a acham-se em Al
RIHGRS de 1828, ver p. 134-5. Walter Spalding, A administração de Cax fast 42. Tanto os dad
ela . Esta foi ach ada pelo his tor iad or no arq uiv o de Domingos de Almeida
Rio Grande do Sul, p. 246. Alfredo Varela, História da grande revolução, p. 279, fredo Var
seu livr o His tór ia da gra nde rev olu ção , apên dice , p. 501. Mari-
31. A narrativa segue as informações de Francisco Pedro em seu diário, publicado na e reproduzida em
vet afi rma exis tir na Col eçã o Alf red o Vare la, no Arquivo Histórico do
RIHGRS de 1934, p. 201. Sobre o ataque ter atingido os lanceiros negros, a infor- valde Cal
Sul, uma rel açã o dos chef es que ace ita ram sub orn o e a quantia que
mação é de Henrique Oscar Wiederspahn, O convênio de Ponche Verde, p. 68. Rio Grande do
a faze r a pac ifi caç ão. Essa den únc ia não apa rece em
32. Apud Alfredo Ferreira Rodrigues, “David Canabarro e a surpresa de Porongos” cada um teria recebido par
mo em Alf red o Vare la. Ver Mar iva lde Calvet Fagun-
p. 323. auto r, nem mes
)
nenhum outro
33. Sobre a idéia de um “conluio”, bem como sobre o sentimento de traição, ver Alfre- des, História da Revolução F ao ilha, p ai » To er
43. Patrício Augusto da Câmara Lima, Reflexões sobre o gener conde
do Varela, História da grande revolução. À história é contada na p. III. Há porém,
ao final, uma discussão muito interessante no apêndice, nota 259. xias, p. 63.
o do aut or é mi nu ci os am en te nar rad o na apr esentação
34. Alfredo Ferreira Rodrigues, “A pacificação do Rio Grande do Sul”, p. 236. O trabalho de identificaçã do conde
Câ ma ra Lim a, Ref lex ões sob re O a
35. Um autor que depois reproduziria a história de que Canabarro teria desistido da do livro. Patrício Augusto da
cit ada sob re o car á
áte r pol ítico
íti co do bar ão estáÊ na p. 3. Ê
negociação é Walter Spalding, Canabarro. Mestre de brasilidade, p. 13. Sobre o de Caxias. A frase paPp
s pr oc la ma çõ es ach am- se na RI HGRS, de 1828, Sadi
relato do descendente de Domingos de Almeida, ver Alfredo Varela, História da 45. Cópias das trê
ifi caç ão — fev ere iro e ma rç o de 184 5”, p. 134-6.
grande revolução, apêndice, nota da p. 259. Para os oficiais de baixo escalão, ver e proclamações relativas à pac
ta mb é
ém na Co le çãão Ca xi as , ca ixixa a 810, 610, AN.
o artigo de Alfredo Varela no Jornal do Commercio, de 26 de janeiro de 1899. à de ser achada
tos no fin al de ss a tes e, anexo IV. O de-
Nele, o autor cita o depoimento de um “velho sargento”, João Amado. 46. D a das “concessões”
Os artigos AS
= »
podem ser vis
one l Fre ita s e general Canabarro é narrado por Alfredo
36. Esse outro texto de Alfredo Rodrigues, que continuaremos a seguir, intitula-se y mento entre O
sentendi cor
ão, P p. 2934. Ee
“David Canabarro e a surpresa de Porongos”. istóróriia da grande revolução,
Varela, Hist
di sp os
osiit
tiiv o de as ce ns ão
a so ci al é tr at ada no cap ítulo
37. Esta crítica de Alfredo Rodrigues está em “David Canabarro e a surpresa de Po- 47. A importância dessa lei como isp
uin do nes sas ref lex õ
ões a aná áli
lis e de Nor ber t Eliajas, s, À so-
rongos”, p. 329-32. I deste livro. Continuo seg
p. V.
38. O depoimento de Félix Azambuja Rangel, por conta da polêmica, ficou bastante ciedade de corte, sobretudo o ca di pl om at a que militar”, mais
or da da s no it em «M ai s
conhecido na época, sendo publicado, com outros depoimentos sobre esse é OU” 48. Essas dissensões foram ab | T e
?
-

tros temas da guerra na RIHGRS, sob o título “Apontamentos sobre a Históri? precisamente nas p. 301-2.

no s di as se gu in tes à pa
Ca na ba rr o, lo go
da Revolução de 1835-1845” RIHGRS, 1º e 2º trimestres de 1928, p. 45-7. À 49. Os ofícios trocados entre o barão € 0. Ver
, fo ra m re RIHGRS de 1928, p. 1374
produzidos na
questão de Porongos, na verdade, provocou uma verdadeira corrida por depoi ão, ai nd a em Ba gé
s da ta do s de 4 de ma rç o de 1845.
mentos. Há outros deles nessa mesma priincciapalmente OS ofíc
n io
revista, no volume correspondente aos l dei pe
o

xi as em Po rt o Al eg re E s
de Ra
e 2º trimestres de 1927 e aos 1º e 2º trimestres
de 1929. O único que defende 50. A descrição da recepção ao barão Ag ra de ço a | en y
de 12 de abril de 1 84 5.
O Imparc ia l, su pl em en to
Canabarro é Félix Rangel, e seu cunhado Manoel Patrício de Azambuja. Os 0% alguns artigos.
“ornal e a gentileza de ter cedido inclusive a cópia de
tros ou O acusam de traição ou não se ênci o a ed iç ão do di a 19 de
Posicionam, afirmando que não assistira br et ud
a n Ki

so
da

ados em O Imparcial. Ve r
om

. = f e t o t e a cu bl ic
à “surpresa”, 91. odos
39. Sobre a observação de Alfredo Ferreira Rodrigues, ver seu texto “David Canabar- abril de E da Câmara Lima, Reflexões sobre o generalato do conde de Ca-
? |- 52. Patrício is A ND a ER ao
ro e a surpresa de Porongos” xias. Sobre a história é O ata do historiador, ver, além da “dedicatória ,
peu sen e o dc E â frase e o novo desafio de Bento Gonsº
e Félix de Azambuja Rangel, p. 47. ciderações que faz nas p-
40. Alfredo Ferreira Rodrigues,
“David Canabarro e a surpresa de Porongos”, P' 338.
549

548
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

53. Para os festejos até o dia 18, ver O suplemento do jornal O Imparcial, de
19 abril
de 1845. A descrição do baile está na edição do dia 30 de abril. Outros festejos Conclusão
também são narrados pelo jornal. Ver especialmente os números de 23 d
€ abril p
30 de maio. Já a ode recitada por Domingos Gonçalves de Magalhães nã O foi en.
contrada, nem em jornais, nem em arquivos e bibliotecas.
34. Os avisos imperiais foram expedidos pelo Ministério do Império. Ver Coleção
d
Leis do Brasil. O ofício de Caxias fixando as eleições é reproduzido por Valter
Spalding, “A Administração de Caxias no Rio Grande do Sul”, p. 274,
Uma ótima
explicação sobre o funcionamento das eleições no império é dada
por Jairo Nico-
lau, História do voto no Brasil.
t su rt ou t en ta nt qu e li eu d' un e activi-
J9: Sobre a prática de oficiais de alto escalão se candidatarem a postos políticos, Vindividu est importan
ver th um ai ne de le ct ur e, d' in te rp ré ta ti on
Adriana Barreto de Souza, O Exército na consolidação do Império, item intitulado tóintense etspécifquemen
A integração do alto oficialato. Sobre a importância do cargo de senador dentro do et de construction du “réel”.
grupo de elite política imperial, ver José Murilo de Carvalho, A construção da or-
Maurízio Gribaudi
dem, especialmente O cap. 4, a carta de Caxias ao pai é datada de 15 de julho
de
1845, maço 108, doc. 5.297, AHMI.
36. As cartas ao pai são duas: uma datada de 1º de maio 1845, maço 108, doc. 5.277.
A outra é a citada na nota anterior, datada de 15 de julho. A carta a Osório
é re-
produzida por Fernando Luís Osório, História do general Osório, p. 422. José o Grande
si de nt e da pr ov ín ci a do Ri
Murilo de Carvalho chama a atenção para o fato de que a palavra “amigo” era No dia 23 de março de 1846, 0 pre o de Ja-
ar c ou no ca is do po rt o do Ri
usada no século XIX para indicar proximidade pessoal e política, indicação
da do Sul, conde de Caxias, desemb
indiferenciação entre o público e o privado, ver José Murilo de Carvalho, Entre a a im p er ia l pa ra as su mi r a cadeira no
neiro. Havia obtido uma licenç de ou -
autoridade e a liberdade, nota 14, p. 19. à ci da de de sd e o di a 30
Dia Sobre os deputados gerais, a referência continua sendo o barão de Javari, Organi- Senado. Era a primeira vez que voltava e a. Seu
o Cà is , pa rt iu J R
pa ra aa p
pr ov ín ci
ençhes e programas ministeriais. O número de votos obtidos por Caxias, nos vá- tubro de 1842, quando, no mesm
ma rc ad o po r fo rte emoção. INO
rios colégios eleitorais, pode ser visto no jornal O Imparcial, de 19 julho de 1845. retorno de ve te r si do
lh e es cr ev ia pe di nd o pi una ps e
Há ainda um ofício de Vicente Paulo de Oliveira Vilas Boas para o conde de Caxias
campanha, sua mu lh er já
sobre as eleições, com algumas considerações
de pe nd en te me nt e da s co nd ições qu De de
sobre as dificuldades gerais para se
comissão nenhum a” , in
Ea cem bom resultado, ofício de 12 de junho de 1845, Coleção Caxias, caixa
nt es € a pa ra ir ao ee A
rem”. Recusava convites de pa re
rt ic ip ar do “di a de ES Re çio, a Es a
58. A descrição dos preparativos e ouvia música, deixava de pa
dos fest ejos devidos à visita do imperador pode ser
vista nas edições dos dias
27 de setembro, 6 e 30 de dezembro do jotnal O Impar a d ase emi tn a
cial, tudo de 1845. e g u n a e i E es
(..O.) não acho
R RE
às) nda .
as te nt av a ac almar a éra dirmhdo que
ria aa do Su l, Ca xi
di a qu e nã o ac re di ta ss e nas mentiras que e
estava se cuid an do , pe
í” , da Co rt e, es pa lh av am so br e E t a e fazia eia E :
«rebel de s da
ia qu e na Su a vo lt a iri a ad qu ir ir “um camarote
messas. Pr om et

551
250
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO CONCLUSÃO

para que pudessem assistir às peças italianas de que


ela tanto gos grafos; para provarem à nobreza de sua origem, sempre apresentam os
prometia acompanhá-la na “visitação às igrejas” e cheg não das data s
e
)
ou até a pr Ome.
e títul os de seu pai e tios, segu indo uma ord em gera cion al,
ter que não sairia “mais do Rio, custe o que custar”, Ao final, o “som
«í em que eles foram concedidos. Caxias ainda era o único nobre da família
teu”? das cartas anteriores dava lugar a um “seu marido que a aderi
A Lima. Seu pai havia sido agraciado barão da Barra Grande, mas com um
Além da esposa, havia ainda “seus anjinhos”,
como Bostava d | sítulo “sem grandeza”, o que para um ex-regente e marechal-de-campo
referir às filhas. Luiza, a primogênita, já tinha
completado 12 e : era sinal de desprestígio. Além do mais, Barra Grande era uma região de
Ana, em junho, faria dez anos. Elas devem ter
ido, assim como o a E Recife. O título referia-se à Confederação do Equador, fato do qual
da família, receber o pai no cais do porto. Mas a
emoção do retorno Hi Francisco de Lima tinha péssimas recordações. Jamais utilizou o título,
se devia apenas à saudade e alegria de rever José Joaquim
ausência de mais de três anos. Esse era também
a família depois de = preferindo ser lembrado como regente. Os tios de Caxi—as
o momento de Caxias de Lima e Manoel da Fonseca de Lima e Silva — só se tornariam nobres
reencontrar seu pai após a perda de dois irmãos.
na década de 1850. Nenhum dos dois foi senador, nem José Joaquim,
A guerra tinha sido dura para os Lima.
Francisco, que em fins de que vinha fazendo carreira na política, tendo sido deputado por quatro
184 3 fazia a campanha carregado de sege,
morreu logo após chegarà legislaturas seguidas. Até no Exército Caxias já ultrapassava um deles.
ore em função de uma doença não identi
ficada. Ao saber da notícia Manoel da Fonseca só foi efetivado marechal-de-campo em março de
Caxias escreveu de imediato ao pai. Dizia
não se conformar com a o 1846, exatamente dois anos depois de seu sobrinho.
de seu “Caro irmão”, que nunca pensou que
ele “sucumbisse tão cedo”, O título de conde de Caxias não tinha origem em tempos imemo-
Mais jovem ainda, com 33 anos de idade, Carlos
Miguel também morreu riais. Era uma nobreza mais moderna, devida à prestação de serviços
o campanha, Tendo sido escolhido pelo irmão
para acompanhar Suas à Coroa. Seu tio José Joaquim, na mesma época do retorno de Caxias à
iuirers pie e gre na vigem pelo interior do Rio corte, em abril de 1846, tentava provar O contrário. Redigiu um texto
afir mava poss uir doc ume nto s comp roba tóri os da anti guid ade e
em que
Gonçalves de Magalhães, que é nd
catia ai nobreza de seus antepassados. O texto, uma espécie de genealogia sem
médico, ainda acorreu à Es É mapa DO a no € poel E do século XIL
registro oficial, liga os Lima aos Brandão da Normandia
cito. Mas ao chegarem lá. o r ompanhado ni pipi Ee verd ade e José Joa qui m tives se esses docu-
» O rapaz já tinha falecido. Dos dez filhos que Talv ez isso foss e real ment e
teve, Francisco de Lima ficava rece bido s pela famí lia no Brasil não
agora com quatro. Além
Ê de Caxias, Jos é ment os.“ Mas o fato é que os títul os
a-
obedecem a uma lógica linear, geracional e de sangue. Se os antepass
para
dos dos Lima pertenceram a casas tituladas — deixo essa questão
espe cial ista aval iar — essa trad ição por algu m motivo fot rompida,
um
gand o os Lima a inves tir muit o para alca nçar a posi ção socia l em
obri
volta ao Rio de Janeiro,
que se encontravam em 1846.
Pedro NI — era conde, s essas graç as. A prom essa de José
sen Do imperados, Caxi as rece bia toda
Clemente Pereira se cumpria. O cofre real não foi nem um pouco mes-
efetivado no posto de
Marechal-de- Ep :
mular todas Essas disti de campo. Era o primeiro Lima a acu O cond e de Caxi as não
nçõÇ0es, um fato que deve ser E quinho ao retri buir Os serv iços de seu fiel súdi to.
destacado. Seus bió

553
552
CONCLUSÃO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

precisaria mais voltar ao Sul. Em outubro, a Coroa o exonerava doc ga bi n etê,


quem a assumia era ninguém menos que o visconde de Monte
go de presidente do Rio Grande do Sul e de comandant
e-em-chefe is alegre. Eram todos amigos, homens bem afinados politicamente, que
forças estacionadas na província. Aliás, exonerou-o, permitiu que sua identi dade na repres são aos levante s de rua da corte
ne construíram
sumisse o Comando de Armas da corte e, como pós-abdicação ou nas províncias sublevadas. O conde de Caxias podia,
se não bastasse, a
lhe concedeu, entre março de 1847 e novembro de 1849 de fato, sair de férias. E o governo também podia ficar trangúilo. Ele era
, quatro licen -
com vencimentos para se afastar da cidade, s que tinham começ ado depois da maioridade” e
uma delas de seis nes mai s um desses “moço
duração. Era a vez de Caxias cumprir as promessas “repr esent avam os primei ros papéis ”. Em caso de guerra, O
que fez à esposa que ag ora
Ão que tudo indica, foram períodos de férias, em que a que m reco rrer , e Cax ias não prec isar ia mais fica r aten -
se recolheu a um | gabin e t e sabe ria
vida quase exclusivamente doméstica. O resultado ! despre-
logo foi sentido e to, preocupado se ficaria “mamado” ou se seria “unanimemente
dezembro de 1847, ganhava um herdeiro ervador.
do sexo masculino, bariaio zado”, deixava de ser candidato para ser O general do Partido Cons
como era de esperar, Luiz Alves de Lima o aju-
e Silva. Curiosamente, o nico Atuaria 40 lado de Manoel Felizardo, companheiro de farda que
Lima e Silva. As meninas eram só de Lima. o, com que m tra bal hou par a contro-
dou no Mar anh ão; do ami go Eus ébi
Esses anos seriam bastante tranquilos. A enorme técnicas policiais; e estaria sob O
chaga que compro- lar os levantes de rua, aplicando
Poeta o império, após décadas de lutas e conflito
s, parecia cicatrizar Sua comando de um grande amigo dos Lima, que dividiu a Regência com seu
última reação foi em 1848, com a Revolta tas.
da Praia. Ainda assim, o mo- pai e, em 1842, lhe deu total cobertura no combate aos paulis
vimento não aglutinava mais todos os liberais vad or, dep ois de qua tro ano s for a do
de Pernambuco. Por isso A força des se ret orn o con ser
o conde de Caxias podia finalmente descansar. dad e de voz es, que pri nci pia va no gab ine te e se
Além das guerras esti govern o, res idi a nes sa uni
praticamente extintas, o ano de 1848 trouxe um
os conservadores de volta ao estendia para a Câmara dos Deputados. Dos 111 deputados, apenas
governo. Mais que isso, marcou a vitória dos princípios ntes do
conservadores de era liberal — Bernardo de Sousa Franco.” Além disso, os dirige
ersstilzação da sociedade, que já não enfrentavam mais oposição antigo movimento regressista tinham conseguido aplainar as dis
sensões
.
x aa de E de setembro de 1848 era, na pato rnas que dur ant e a Reg ênc ia de 183 7, mes mo qua ndo a Câm ara era
inte
sis com “discussões

orm as
=

. mais forte e homogêneo que o país já teve . ref


EE

, inv iab ili zav am as


. E

quase toda conservadora


ec Ea E ' ár re sido construida ao longo desses anos de o. Esse ga-
con- intermináveis”, para manter a expressão de Honório Hermet
j reção dos ministérios era exatamente a geração tam bém con tou com uma out ra van tag em: foi o seg und o gabinete
binete
treinada na década de 1830 pelo entã ten do per man eci do três p e s ano s e sete meses
o ministro Bernardo Pereira de de maior duração do imp éri o,
ic er ce s do tr on o im pe ri al , com a cri açã o de uma cultura
no poder. Os al
vo rá ve l ao s pr in cí pi os ce nt ra li za do re s, es ta va m fi xados.
política mais fa
Po, morreu em maio, ar o Es ta do ” se dil uía pel as suc ess iva s pro vas , dadas
O receio de “arm
Pela primeira vez, co mo Cax ias du ra nt e a rep res são as re be li õe s provinciais,
por homens
s sa be ri am pre ser var “as in fl uê nc ia s fu nd ad as na
de que os conservadore
Guerra era ocupada riq uez a”. Co ns ol id av a- se um im pé ri o do Brasil
por grande propriedade e na
da saída de Pedro de Ara Manuel Felizardo de Sousa e Melo, e depois que gu ar da va for tes tra ços de seu pa ss ad o col oni al. O pri nci pal del es era
Ujo Lima, o regente de 1837, da presidência do

555
554
CONCLUSÃO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

ente fixados, firmando com seguranç a o império do Brasil. Antes


o sistema de hierarquias fundado na escravidão. Se Paulino José Soare devidam | rã
e Rodrigues Torres ampliaram sua influência na política fluminense = de coloca a |
r um ponto final, porém, gostaria de fazer dois comentários.
sando-se com as filhas de um proeminente cafeicultor da região, o nei Esse trabalho interfere em uma memória forte, forjada em bronze e
de Caxias ampliaria suas propriedades em Valença. Em 1849, comprou ela imprensa, de um dos “grandes homens” da história nacional. Um
a parte de seu cunhado, Brás Fernandes Carneiro Viana, na Faze df tar e político conservador que décadas após sua morte seria transfor-
nda mado em patrono do Exército brasileiro, uma instituição — como procu-
Vargem, herança da sogra Luiza Rosa Carneiro da Costa. Depo
is de se com aqu ela na qua l ele serviu.
metamorfosear em nobre, tornava-se agora propriet rei mos tra r — que pou ca rel açã o gua rda
ário de lavouras de
café, pagando por suas “570 braças de testada e meia O esforço maior deste livro foi justamente tentar retirá-lo desse lugar
légua de fundos”
seis contos de réis.º de herói nacional, ao qual nem sempre pertenceu, para tentar vê-lo como
um homem do século XIX. O Luiz Alves de Lima que encontrei nasceu
ao em uma família que, contando ou não com antepassados nobres, em fins
do século XVII, buscava por todos os meios uma melhor colocação so-
Em 1872, quando Caxias já era duque, morria cial. Para viabilizarem esse projeto, cruzaram o Atlântico e um deles,
no Rio de Janeiro Joa-
quim José Rodrigues Torres, último represen José Joaquim de Lima, o patriarca dos Lima no Brasil, decidiu se fixar no
tante do núcleo de dirigen-
tes conservadores que ascendeu ao poder pel Rio de Janeiro. Na capital, passou por momentos difíceis numa época
a primeira vez juntos em
1848 — a chamada trindade saquarema. Sua mort onde não havia muitas oportunidades de serviço para oficiais militares.
e evidenciava as agudas
transformações que se operavam na antiga orientaç Esse quadro só se alterou com a chegada da corte portuguesa. Servindo
ão conservadora, le-
vando, na ocasião, o então duque de Ca a Sua Majestade em várias partes de suas terras americanas, na década
xias a escrever a um amigo,
mostrando-se cético quanto ao futuro da de 1810, os Lima tiveram uma ascensão surpreendente no Exército, sen-
política nacional:
do agraciados também com várias mercês régias. A metamorfose de José
, .
euemp” Eituirá? NãoNs sei, nem vejo... Seu vácuo não será preenchido, Joaquim em fidalgo, a ascensão ao generalato e a obtenção de comendas
das ordens militares alteraram o destino de seus descendentes, filhos e
ta 01 0 de Eusébio, Paraná [Honório Hermeto], Uruguai [Pauli-
cares], Manuel Felizardo e muitos outros que nos ajudaram à netos. Estes, sobretudo Luiz Alves, por sua posição de primogênito, ain-
sustentar essa igrejinha, d
esmoronada O da foram beneficiados pela rápida sucessão de fatos políticos dos anos
abril de 1831. (Ênfase minh
a.) ir
de
subsegiientes e pela grande instabilidade que eles produziram. Em 1822,
miu com
para sustentar a monarquia do Rio de Janeiro, d. Pedro I assu
Vendo e sentindo a morte de
seus “ bons companheiros”, o duque de Ca- firmeza o lugar de chefe militar e estreitou suas relações com a oficialida-
xias, nesse trecho de sua cart de. Luiz Alves era na época um rapaz e deixou a Real Academia Militar
a, le mbra com certo saudosismo
em que atuaram juntos, da época
para enfrentar pela primeira vez os campos de batalha. Anos depois,
com a abdicação do primeiro imperador, viu sua família assumir a dire-
ção político-militar do império, com seu pai na Regência. O estado de
convulsão das ruas da corte lhe abriu novas oportunidades na carreira.

557
CONCLUSÃO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

Há na história do duque de Caxias, assim, um


a boa dose de Sorte zar essa elit e para Os per igo s de se asso ciar aos mest iços para so-
mobili
À configuração política da época, diferentemente do que ocorrera com E r conf lito s polí tico s, ens ina ndo -a a gov ern ar de forma conserva-
jucio n a
avô, foi-lhe totalmente favorável desde muito cedo. Isso, obvi OU seja , sem ame aça r de sub ver são o sist ema em vigo r. Par a isso,
amente, não dora ,
nega seu empenho e talento pessoal. O mais curioso, porém, é que com Os rebe ldes mest iços . Col oco u seus oficiais para
longe dialogou tam bém
trabalharem ao lado desses homens e, incitando o preconceito, fazendo
de se distinguir por uma personalidade rigorosament
e disciplinada, de
quem cumpre cegamente as leis, o talento que revelou foi para a negoci rec upe rou os cana is de com uni caç ão entre
a- intrigas, rec orr end o a espi ões,
ção. O baixo padrão de formalização do ensino minist log o — não é de mais reaf irma r — hier ar-
rado na Real Aca- eles e a elite mar anh ens e. Um diá
“demia Militar, como externato, misturando al
unos civis e militares, sem quizado, tanto o de seus oficiais com os mestiços como o que é restituído
ser nem mesmo obrigatório para a ascensão no ret udo O diri gido pelo
Exército, criava militares entre este s e a elite . Com isso , os qui lom bos , sob
com perfis variados. Luiz Alves de Lima, mais que tinh a se apr oxi mad o do mes-
outros oficiais, desde negro Cos me das Cha gas — um líde r que já
sua primeira campanha, contra os balaios no atados.
Maranhão, mostrou especial
capacidade para transitar entre diferentes mundos tiÇ o Raimundo Gomes —, foram com facilidade desbar
e lidar com vários códi- Pau lo, Min as Gera is e no Rio Gra nde do Sul, o tra bal ho de
Bos sociais, adaptando-os e traduzindo-os par Em São
a promover uma comunica- se limi tou aos círc ulos da elite prov inci al. A que stã o era sub ordi-
ção entre eles. Antes de mais nada, Caxias exer Caxias
É claro que uma mediação conservadora, que tinha
ceu 0 papel de mediador!! ná-la ao poder do Rio de Janeiro, ao projeto centralizador do núcleo
como objetivo central diri gent e con ser vad or. Nos três caso s, reco rreu igu alm ent e a seus espi ões
Festaurar as antigas fronteiras sociais de um
sistema ameaçado pelas su-
para des faz er a sol ida rie dad e dess es gru pos . Mas a int enç ão dos paul is-
cessivas revoltas rebentadas nas províncias e na pera
corte. Se houve fundado- tas e dos min eir os, des de o iníc io do mov ime nto , de luta r ape nas
res intelectuais do império do Brasil, que elaboraram
no Parlamento para defender seus ideais, houve
, discutiram e lutaram forçar a queda dos conservadores, acreditando que a Coroa cederia ao
também homens práticos,
de ação, dispostos a saírem da corte, apoiados em arma reclame pelas armas, fez com que as técnicas policiais de Caxias pg
so
rem por esses projetos nas províncias rebeladas
s, para trabalha- um efeito mais rápido, exigindo menos do general como mediador Já
. Caxias foi um desses ho- nte ã
mens. Daí a definição de d. Pedro, de que o ma Rio Grande do Sul, o que se viu foi exatamente O contrário. Fre
rechal era um conservador inchasive
firme, mas moderado. Não seguia em resistência e complexidade dos conflitos no Sul, que envolviam
suas campanhas com a intenção de intensificar sua
exterminar Os rebeldes. Estava mais regiões de fronteira, vizinhas ao império, Caxias teve de
disposto a negociar Nes se caso ; ão neg oci ar com Os far rapos o envio
Obviamente, isso não significa ação com o med iad or.
— como afirmei antes — que não ma- à cort e, crio u exp lic ita men te um cana l de com uni caç ão
tasse rebeldes. Não de um emissário
se pode esquecer que, diferente de outros mediado- mundos
res, ele era um mili t entre dois mundos que não se entendiam há nove anos. Dois
aL que saía: para intervir em províncias rebeladas. complexos, heterogêneos e que, em suas diferenças, pensavam
a política
Tinha consciência, en
sentia-se
ciso restabelec “"eFânto, que, por meio dessas campanhas, era pre- de forma muito particular. Não por acaso, Vicente Fontoura
cal. No MaranhE RCE comun icaçã o desfeitas pela guerra lo- incomodado € om os trejeitos palacianos dos ministros e estes, por sua
ã O» 20 Prestar atençãão ao
s interesses econômicos do s vez, à viam nele um bronco e trataram-no em tom agro.
de gado, restabeleceu a relação da Luiz Alves de Lima, depois Caxias, conseguia cruzar todas essas
u principal trabalho foi interno, de fronteiras: de uma elite maranhense pouco civilizada, dos mestiços rebel-

558 559
CONCLUSÃO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

des, dos políticos e proprietários sublevados de São Paulo e Minas e dos experiência militar dos Lima em Portugal, os sonhos de ascensão
, as situa-
líderes farroupilhas, tão identificados com a cultura platina. Isso, sem e é família no Brasil, os contratos de casamento efetuados
em gue rra s, sua pos içã o ger aci ona l, suas exp eri ênc ias na
mencionar as fronteiras existentes dentro do próprio Exército, sempre çõeTe
ameaçadas por conflitos muito semelhantes aos do restante da socieda. Aca dem ia Mili tar, entr e out ros . Par a tentar dar essa plasticidade ao
Real
cei to de con fig ura ção . p o que ele permite pen-
de. E mais, Caxias agia sempre em meio a guerras, O que tornava a ope- exto, optei pelo con
ôme nos mai s gera is, típi cos da hist ória polí tica ou
ração mais arriscada. Em Minas, por pouco não foi derrotado. Mas era car melhor como fen
exatamente por isso, por transitar e negociar em regiões de alto risco, afet ar a vida cot idi ana dos hom ens , for nec end o-lhes ele-
social, podem
com mai s ou men os con sci ênc ia, per mit em- lhe
que seu trabalho também era cada vez mais valorizado, tornan
do-o mui- mentos que, explorados
to respeitado nas províncias onde combatia e na corte imperial. A cada co ns ta nt em en te su a po si çã o em so ci ed ad e.
negociar
expedição, ampliava sua rede de relações, acrescentando novos contatos rç o nã o im pl ic a ne ga r ou de sq ua li fi ca r os re su lt a-
Destacar esse esfo
aos antigos. Sem dúvida foi essa atuação como mediador que, ao ad os pel as pe sq ui sa s que tr ab al ha m co m bio grafias repre-
final da dos apresent
guerra no Sul, garantiu sua nomeação para senador e s, tan to qu an to os es tu do s de cas o, são efi cie nte s e sempre
consolidou sua sentativas. Ela
posição entre os chefes do Partido Conservador. ant ido nas aná lis es do soc ial . Imp ort a ape nas diz er que O
terão lugar gar
Minha segunda observação é de natureza historiográfica. Outro gran- ere nte . En qu an to ess as se fu nd am na gen era liz ação,
procedimento é dif
de desafio desse livro foi articular uma escrita histórica a partir da exp eri ênc ia de uma vid a bu sc am esc rev er sob re O socE ial a
singu- as análises da
laridade de uma vida. No início parecia impossível escapar Est a fun cio nar ia, par a usa r uma exp res são de
às duas partir da singularidade.
abordagens mais frequentes do biográfico: a que trabalha com a n, com o uma bre cha de ace sso a ess e p pas sad
: o. :
idéia de Diddi i-Huberma
uma biografia representativa e a que transforma trajetórias individuais , nes se cas o o pas sad o não pod e ser pen sad o com o cotá
em Sem dúvida
estudos de caso. Sobretudo a primeira, para quem já havia trabalhado de uma qua lid ade , de um fun dam ent o def ini do par a alé m da ação dos
do
com algumas trajetórias de oficiais militares na dissertação de mestra o. Deix a de ser um tod o par a se tra nsf orm ar nos frag-
do, homens no mund
era extremamente tentadora. No entanto, justamente rita so-
por conta dessa mentos mencionados por Humbold t.14 A articulação de uma esc
mesma dissertação, quando pela primeira vez percebi a heterogeneidade ado estar ia vinc ulad a à ac ei ta çã o de ss a de sc ontinuidade,
bre esse pass
do corpo de Oficiais do Exército imperial, parecia impossível pr ee nc hi do s por ter mos co mo tal vez , é pos sív el que ,
trilhar a idéia desses vazios, só
de representatividade sem negligenciar o que me parecia do de um a ex pe ri ên ci a de vid a po de ser , assim,
mais rico — OS provavelmente etc. O estu
traços mais pessoais da história e da atua de se in da ga r so br e a pl ur al id ad e e as in ce rt ezas do
ção do duque de Caxias. um ótimo lugar de on
Um passo fundamental nã o tão co er en te , ma is suj eit o à pe re ci bilidade
nai para romper com esse procedimento clássico passado. De um passado
da história social — que seleciona uma trajetória
de vida por acreditar do próprio tempo.

la-prima dos historia dores, o tempo


histórico. Em vez de pensá- cad
e fixo, invariáv
oc omo um cenário el, tentei
reconstruí-lo a partir de ele
mentos particulares à trajetória de Caxias,

561
560
CONCLUSÃO

mbro de 2001 e dezembro de 2003, sob a orientação do professor Manoel


Notas auiz Salgado Guimarães no grupo de leitura “Abordagens teóricas da cultura
oitocentista”.
“crórica ca OItO
istóri | DNA
a ha primeira tentativa de escrever sobre O tema foi em “Trajetórias militares,
13.
olítica imperial e escrita da história”.
o = Ed E

:
singularités formelles.
14. Ê te xto de Didi-Huberman é “Pour une anthropologie des poda
Remarque sur Pinvention warburgienne”. Já o de Humboldt é intitulado, na ver
são francesa, “La tâche de Lhistorien”.

- Na carta de Ana Luiza não consta data,


mas ela responde a uma carta não locali-
zada de Caxias, datada de 28 de maio de 1844, lat
a /, pasta 20, IHGB. A carta em
que ele faz as promessas é de 2 de abril de 1844
e pertence a uma de suas descen-
dentes, Eliana Cunha Cavour, a quem agrade
ço a disponibilização do documento.
- A carta sobre a morte de Francisco é de 5 de maio
de 1844, maço 107, doc. 5 195,
AHMI. Sobre a morte de Carlos Miguel, ver o
jornal Diário do Rio de Janeiro, de
11e 21 de fevereiro de 1846.
- Essas informações estão em Carlos Sayão e Car
los Rheingantz, op. cit., e Sébastien
Auguste Sisson, op. cit., entrada nominal.
O documento pode ser encontrado em arm. 1,
prat. 2, escan. 25, pasta 484 do
IAGB.
+ Para essas licenças, ver sua fé-de-ofício depositada
no cofre do setor de Manuscri-
tos da BN.
« Sobre o gabinete de 29 de setembro, ver Joaquim Nab
uco, Um estadista no Impé-
ro, p. 121-2.
À referência continua sendo Joaquim Nabuco
, idem, p. 122.
« À informação sobre Paulino Soares e Rodrigues Tor
res está em Roderick Barman,
Op. cit., p. 197, sobre a propriedade adq
uirida pelo conde de Caxias, ver Arquiv
de Ofício de Notas, 1º Ofício de Notas, o
livro 259, fl. 122, AN.
Apud Nelson Lages Mascarenhas, Um jornalista no Império (Firmino Rodrigues
Silva), p. 234.
10. O termo no diminutivo era sinônimo de “ob
ra” ou “projeto”. Ver Antônio de
Morais Silva, Dicionário da Língua
Portuguesa.
1d: O conceito segue as reflexões do liv
ro organizado por Gilberto Velho e Karina
Kuchnir, sobretudo os artigos referentes à mediação no
campo político. Ver Gilber-
to Velho, Karina Kuschnir, Mediação,
cultura e política.
12. Para enfrentar esse desafio, além dos
livros citados ao longo do trabalho, na sua
maioria de autores italianos, com os quais
entrei em contato por intermédio da
orientação da professora Sabina Loriga, em Par
is, uma outra experiência foi fun-
damental. Refiro-me às discussões me
nsais realizadas durante dois anos,
entre

562 363
Anexo |

LOG IA DE LUIZ ALV ES DE LIM A E SIL VA — DUQUE DE CAXIAS


GENEA
Pao Fernandes Carreiro
Viana (RJ- 1804 | RU - 1865)
— Paulo Fernandes Viana
(RU- 1757 /RJ- 1821) Cel. Braz Fernandes Carneiro
Costa
da ro
Viana (RI - 1815 / RJ -1870)
— Luiza Rosa Carnei
Luiza do Loreto Vera de Lima

mma
/6
(RU- 178 RJ - 1843) ro
Ana Luiza CarnexViena / 33
(E » 18 Ri - 1502)
(RI- 181/6Ri - 1874)
Ara do Loreto Viana de Lima
- Padre Luiz =| Lutz Alves de Lima e Ska (Fá - 1836 ) Rd - 1884)
(RJ - 1803 / RJ - 1880)
L Mar. Joaquim Mariano de Luiz Aves de Lima e Sa
Overa Belo (MG - 1787 / 1852) - Ana Quit e Sa
Lima ia
de ér (Fá = 1847 ] RI - 1852)
(RI- 180217)
L Cel. Milícias Antônio Lopes
— Cel, Luiz Alves de Freitas (? / 1833)
de Olivei Belora . Bernardina Matide de Lima
Belo (PT - 1740 /RJ=?)
e Sina (RJ -1806| 7)
L Mar, Vencestaude Oliveira
Ana Quitéria Joaquina
(PT-7/RJ-?) Belo (MG- 1789 / ?- 1852) - José de Lima e Siva
(RI - 1807 / RJ - 1808)
= José Ricardo
e Sa
L. José Joaquim de Lima
— Bernardina Quitéria / RJ - 1894)
(RJ- 1807
» Mariana Cândido de Oliveira . Francisco de Liema Siva
Belo (RJ - 1783 / RI- 1841) (RJ - 1811 /RJ- 1844)

a
- Bro Francisco Siva |
de Liema | Cartos Miguel de Lima e Siva
(RI- 1785 [RI - 1853) (RU- 181RS3- 184 )6)

O

Ana Vit aa e
óerrdeiLim
Xavi Siva
. Camião de Liema
silva (RI = 1786 / RI - 1850) (AU- 181517)

- Mar. José Joaqdeui a €


Limm L Carlota Guilhermina de Lima
Siva (RJ- 1787 / Ri - 1855) e Sáva (RU = 1817 /RI- 1884)

de Lima
Francisco Maria Joana de Lima e Siva . Carolina Leopoldi naa
de Lim
- Sesgento-Mor
loão da / RI8- 2)
(RI - 178
ça ul Ages PT (PT= 17171 PT-1778]) eSiva (RJ= 181817)

Babe! Josefa Ana Vitória Kavier de Lima L joana Maria de Lima e Siva
(tura Lagos - PT) (RI= 179RI0=?)
Xavuieride
Maria Joaq aa
nLim
. losé Luiz de Lima e Siva
Limm
deui
Mar José Joaq a€ (RJ = 1791 /R9-2)
Sika (PT- 1746 /RI- 1821)
Emília de
|. Mari an e Siva
Lima a
= loana Maria Fonsec Cosata (Ri- 1792 /Ri-?)
(RI - 1762 RI- 1842)
Max MadanFono a delLima
sece
- Madre Maria (primogênta) eSiva (RJ- 1793 | Ri- 1869)

| Teresa CândedLim Sha


iade o
— Padre Mariano Joaquim
Amaraal
Fonsdoec (RI- 1793/ RJ - 1869)

Capião Manoel Fonseca — Madre Tereza . AntdeôLimnaie oSiva


(RI- 1727 [RI - 1800) Rd / RU0=?)
(RJ -180
| Ten. Cel. Manoel Antônio
Ana Joaquina Costa
(RI= 1739 /R1.2) Fonseca Costa Mader a ea
Limi Siva
(RU- 1803 / RJ- 1890) (RI - 1803 /RI-?)
- José Maria Fonseca Costa L Gen. João Mano Lima €
de el
1 RJ- 1835)
(RJ=7 Siva (RI - 18 05
| RI- 1837)

|. Mariana Francisco Fonseca | Mar Luiz Mano Lima e


de el
Costa (RU =? | RI- 1826) Siva (AU = 1806 / Ri - 1873)

— Joaquina Maria Fonseca


Costa (RI = 1773 / RI 1843)

565
Anexo |

NOL OGI A DE LUI Z ALV ES DE LIM A E SIL VA — DUQ UE DE CAXIAS


CRO

: 25 ago sto Nas ce na Faz end a São Pau lo, na Vila da Estr ela, Magé;
1803
ntaria
1808: 22 novembro Assenta praça como cadete no 1º Regimento de Infa
do Rio de Janeiro;
gio
1817: Conclui o curso preparatório no Seminário São Joaquim, depois Colé
Pedro II;

1818: janeiro Matricula-se na Real Academia Militar;


1821: 2 janeiro Promovido a tenente do 1º Batalhão de Fuzileiros da Corte;
não prosse-
1822: março Matricula-se no 4ºano da Real Academia Militar, mas
Com ple ta ape nas o curs o de infa ntar ia;
gue.
;
1823: 18 janeiro Nomeado tenente do Batalhão do Imperador
ço Via ja com O Bat alh ão do Imp era dor par a combater na Bahia;
24 mar

22 jan eir o Pro mov ido a cap itã o do Bat alh ão do Imp era dor;
1824:
com à co me nd a de cav ale iro da Or de m
17 fevereiro Agraciado
do Cruzeiro;
me nt o de fi de li da de à Co ns ti tu iç ão do império;
2 abril Presta jura
rc ha pa ra a gu er ra co nt ra a Re pública Argentina;
1825: 12 junho Ma
ad o co m a Me da lh a da In de pe nd ên ci a da Bahia;
2 julho Condecor
nd ec or ad o co m a co me nd a da Or de m de São Bento
1827: 12 outubro Co
de Avis;

567
ANEXO Il
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

41: 2 abril Exonerado do cargo de presidente da província do Maranhão;


1828: 4 outubro Recolheu-se à corte; 18
30 dezembro Promovido a major, adido ao Batalhão do Imperador; 30 junho Recolheu-se à corte, vindo do Maranhão;
18 julho Promovido a general-brigadeiro e agraciado com o título de
1829: 21 janeiro Obteve um mês de licença para ir a São Paulo visitar a família; barão de Caxias. É eleito deputado pela província do Maranhão para a
21 fevereiro Recolheu-se à corte; legislatura de 1842;
17 março É efetivado no Batalhão do Imperador;
21 ma rç o No me ad o co ma nd an te de Ar ma s da Corte;
18 outubro Condecorado com a comenda de cavaleiro da Ordem da 1842:
Rosa; 17 maio Nomeado comandante-em-chefe das forças em operações na
província de São Paulo;
1832: 18 fevereiro Ficou avulso por ter sido dissolvido o 1º Batalhão de Caça- 18 maio Nomeado vice-presidente da província de São Paulo;
dores (antigo Batalhão do Imperador); 19 maio Viaja para São Paulo;
25 fevereiro Incorporado à 3º classe dos oficiais avulsos da corte, achan- ;
23 maio Chega a São Paulo;
do-se no exercício do 2º Comando do Batalhão de Oficiais Solda
dos Vo- 16 julho Nomeado comandante-em-chefe das forças em operações na
luntários da Pátria e nomeado instrutor-geral de Infantaria da província de Minas Gerais; |
Guarda
dan-
Nacional do Rio de Janeiro; 23 julho Apresentou-se à corte, vindo de São Paulo, e é nomeado aju
7 junho Nomeado 2º comandante do Corpo de Guardas Municipai te-de-campo do imperador;
s
Permanentes; 25 julho Parte para Minas Gerais e é promovido a marechal-de-campo;
18 outubro Nomeado comandante-geral do Corpo de Guardas
Munici- 22 setembro Apresentou-se à corte, vindo de Minas Gerais;
pais Permanentes; 24 setembro Nomeado comandante-em-chefe das forças em operações
na província do Rio Grande do Sul e presidente dessa província;
1833: 6 janeiro Casa-se, no Rio de Janeiro, com Anna Luísa os;
Carneiro Viana; 30 outubro Segue para o Rio Grande do Sul para combater os farrap
15 maio Exonerado do emprego de instrutor-geral de Infantaria da
Guar- 9 novembro É empossado em Porto Alegre;
da Nacional e promovido a tenente-coronel;
em de São
1843; 11 setembro É agraciado com a comenda de grã-cruz da Ord
1837: 12 setembro É efetivado no posto de tenente-coronel; Bento de Avis;
tal da
1839: 4 março Nomeado para acompanhar o ministro da Gue
rra em comissão 1844: 12 março É convidado por ofício da Câmara Municipal da capi
ao Rio Grande do Sul; São Paul o a tom ar asse nto com o dep uta do à Ass emb léia
província de
2 dezembro Promovido a coronel; em funç ão do fale cime nto do des emb arg ado r Rodrigo
Geral Legislat iva,
E dezembro Nomeado presidente da província do ro de Bar ros . Efe tiv ado no pos to de ma re ch al -de-campo.
Maranhão e coman- Montei
ante-em-chefe das forças de operações |
na mesma província; Agr aci ado com o títu lo de con de de Cax ias ;
17 dezembro Exonerado do comando do co 184 5: 25 mar ço
rpo de Guardas Municipais Ele ito sen ado r pel o Rio Gra nde do Sul e escolhido na lista
Permanentes; 1 set emb ro
22 dezembro Embarca para o Ma tríplice pelo imperador;
ranhão; à
|
1840: 4 fevereiro Chega ao Maranhão; 1846: 11 maio Assume sua cadeira no Senado;
do Rio
2 agosto Nomeado veador das 8 outubro Exonerado do emprego de presidente da província
princesas imperiais; 3 Grande do Sul;

569
568
ANEXOII

DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

(861: 2 março É nomeado, pela segunda vez, presidente do Conselho de Ministros:


9 outubro Exonerado do cargo de comandante-em-chefe das forças em
;
operações na província do Rio Grande do Sul; 962: junho Morre Luiz Alves, único filho homem de Caxias
12 outubro Reassumiu o cargo de comandante de Armas da Corte; 2 dezembro É promovido a marechal-do-exército;
rações
1847: 22 março Obtém licença com vencimentos para sair da cidade; 1866: 10 outubro É nomeado comandante das forças brasileiras em ope
11 maio. Apresentou-se de licença na corte; no Paraguai;
20 setembro Reassume o Comando de Armas da Corte; 18 novembro Chega a Tuiuti;
1848: 5 abril Obtém licença com vencimentos para sair da cidade; guerra;
1867: 22 julho Reinicia as operações de
6 outubro Reassume o Comando de Armas da Corte; |
ja ne ir o En tr a em As su nç ão ;
19 dezembro Obtém licença com vencimentos para sair da cidade: 1869: 5 cença
o fo rm a te r sé ri os pr ob le ma s de sa úd e e re to rn a, se m li
17 janeir In
1849: 19 março Reassume o Comando de Armas da Corte;
imperial, para o Brasil;
21 setembro Exonerado do Comando de Armas da Corte; Ch eg a ao Rio de Jan eir o se m rec ebe r ho me na ge ns ;
15 fevereiro
2 novembro Obtém licença com vencimentos para sair da cidade; de sl ig ad o of ic ia lm en te do co ma nd o das for ças em op er aç ões
22 março É
|
1850: 26 setembro Membro da comissão encarregada da distribuição dos of- no Paraguai;
o É agr aci ado co m o tít ulo de du qu e de Cax ias ;
ciais pelas diferentes armas e corpos segundo suas habilitações; 23 març

1851: 15 junho Nomeado presidente da província do Rio Grande do Sul: 1874: 23 março Morre Anna Luísa, sua esposa;
16 junho Nomeado comandante-em-chefe do exército do Sul e promovi- 25 jul ho Ass ume , pel a ter cei ra vez, a pre sid ênc ia do Con sel ho de Ministros;
1875:
do a tenente-general;
1878: 5 janeiro Deixa o governo e recolhe-se na Tijuca;
1852: 14 março Condecorado com a Medalha dos Oficiais Generais, concedida
na faz end a de seu gen ro, o bar ão de Santa Mônica, em
aos que compuseram o Exército em operações na República do Uruguai; 1880: 7 mai o Mor re
26 junho Agraciado com o título de marquês de Caxias; Vassouras.
30 junho Apresentou-se na corte, vindo do Rio Grande do
Sul:
E Ee Exonerado do cargo de presidente da província do Rio Grande
o Sul;
22 julho Exonerado do cargo de comandante-em-chefe do Exército em
operações no sul;

1855: 14 junho Nomeado ministro da Guerra do gab


inete do marquês do
Paraná;

1856: 3 setembro Com a morte de Para


ná, assume a presidência do Conselho
ini
de Ministros;
1858: 18 dezembro Passa a integrar o Conselho Supr
emo Militar e de Justiça;

371
570
Anexo Ill - Quadros hierárquicos

UGUÊS
QUADRO HIERÁRQUICO DO EXÉRCITO PORT

OFICIAIS
Oficiais Generais Marechal-do-exército
Tenente-general
Marechal-de-campo
Brigadeiro

Oficiais Superiores Coronel


Tenente-coronel
Sargento-mor

Oficiais Subalternos Capitão


Tenente
Alferes

Oficiais Inferiores Primeiro-sargento


Segundo-sargento
Furriel

BAIONETAS
Cabo
Anspeçada
Soldado
s Mi li ta re s de Po rt ug al de di ca da ao Pr ín ci pe Regente
Fonte: Coleção Sistemática das Lei Ve rí ss imo Antônio da Cos-
or de m do Me sm o Se nh or po r
Nosso Senhor e Publicada por
en ce nt es à tr op a de lin ha, Li sb oa , Na Im prensa Régia,
ta, Primeira Parte — Leis pert
1816.

573
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

QUADRO HIERÁRQUICO DO EXÉRCITO BRASILEIRO


Anexo IV - Instruções imperiais
(a partir de 1831)

OFICIAIS

Oficiais Generais Marechal-do-exército


Tenente-general
Marechal-de-campo
Brigadeiro IM PE RI AI S DE 18 DE DE ZE MBRO DE 1844
INST RU ÇÕ ES
Oficiais Superiores Coronel
Tenente-coronel reb eld es con tin uem a man ife sta r des ejo s de dep or as armas,
4º — No caso que os
Major pod erá adm iti r ess a man ife sta ção de des ejo s, mas so-
o General-em-chef e
de pet içã o ass ina da pel os pri nci pai s che fes , dir igi das a Sua
Oficiais Subalternos Capitão mente por meio
em ter mos res pei tos os, que nad a ofen-

e
Primeiro-tenente Majestade o Impera dor , e con ceb ida s
da naç ão e aos pri ncí pio s fun dam ent ais da lei do Estado.
Segundo-tenente dam ao decoro
he fe é au to ri za do a def eri r im ed ia ta me nt e em no me de Sua
Oficiais Inferiores Primeiro-sargento 22 — O general-em-c
e o Im pe ra do r qua lqu er pet içã o que lhe for apr esentada pelos
Segundo-sargento Majestad
e nos ter mos ind ica dos no art igo ant ece den te, €
Furriel chefes rebeldes para o fim
O dec ret o imp eri al que nes ta oca siã o se lhe remete
BAIONETAS publicará em seguida
a, co nc ed en do amp la ani sti a a rod os os comprome-
pelo ministro da Justiç dif ere n-
Cabo qua l far á dar a mai or pub lic ida de nas
tidos na luta da rebelião, ao
Anspeçada tes povoações da província.
rt en ce nt es às for ças re be ld es , qu e nelas ocuparem
3º — Todos os indivíduos pe o de
Soldado
ser ão di sp en sa do s in de fi ni da me nt e do serviço tant
postos de oficiais, do
, o qu e se rá de cl ar ad o em or de m do dia
Fonte: Coleção de Leis do Brasil, mapa apresentado no
decreto de 4 de maio de 1831. linha como de guarda nacional ic ar todavia
no me s de tai s ind iví duo s, se m pu bl
Exército, mencionando os
dá por se re m ele s ofi cia is. O ge ne ra l- em -chefe exigirá
que essa disp ensa se
es so br e os in di ví du os em qu em co ncorrer a
informações dos chefes rebeld o
ze nd o del es trê s re la çõ es das qua is duas serã
circunstância indicada, fa
a de Es ta do dos Ne gó ci os da Gu er ra , outra à da
remetidas, uma à secretari
cei ra fic ará gu ar da da no ar qu iv o da pr ovíncia.
Justiça e a ter
fe po de rá en tr eg ar a ca da um do s indivíduos de que
4: O general-em-che
de nt e de cl ar aç ão po r esc rit o da di sp en sa do serviço de
trata o artigo antece e ju lg ue
on al , ma s ist o un ic am en te no ca so em qu
linha e de guarda naci
en sá ve l, qu er pa ra co ns eg ui r a pa ci fi ca ção, quer para
esta medida indisp
.
acautelar abusos

374 575
| ANEXO IV
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO |

ARTIGOS DAS CONCESSÕES OBTIDAS DO GOVERNO IMPERIAL DE 25 DE FEVEREIRO


5º — Os escravos que fizerem parte das forças rebeldes apresentados serão re
metidos para esta corte à disposição do governo imperial, que lhes dará DE 1845
conveniente destino.
6º — Todas as mais praças das ditas forças serão mandadas retirar para suas 1º — O indivíduo que for pelos republicanos indicado presidente da pro-
casas, e aquelas que voluntariamente quiserem servir no Exército poderão víncia é aprovado pelo governo imperial e passará a presidir a provín-
ser admitidas, se o general-em-chefe o julgar conveniente, distribuindo-as | cia.
pelos diferentes corpos. 9º — A dívida nacional é paga pelo governo imperial, devendo apresentar-se ao
7 —O general-em-chefe não deferirá a petição de conhecimento de dívida barão a relação dos créditos para ele entregar à pessoa, ou pessoas, para
contraída pelos rebeldes; quando porém apareçam estorvos isto nomeada a importância a que montar a dita dívida.
à terminação
da guerra por embaraços pecuniários da parte dos rebeldes, o mesmo pe- - Os oficiais republicanos que por nosso comandante-em-chefe forem
neral-em-chefe é autorizado para remover esses embaraços a des dos , pas sar ão a pert ence r ao Exér cito do Bras il no mes mo post o,
pender ind ica
das quantias destinadas às despesas gerais da guerra, até Exérci-
e os que quiserem suas demissões ou não quiserem pertencer ao

e
a quantia de
trezentos contos de réis. Esta disposição só terá lugar o em 1?
depois da anistia, e to, não serão obrigados a servir, tanto em guarda nacional, com
de depostas as armas rebeldes e, finalmente, quando o genera
l-em-chefe linha.
em sua discrição entender que há suficiente garantia para serviram na re-
que seja eficaz o - São livres, e como tais reconhecidos, todos os cativos que
emprego da medida. O general-em-chefe que dirigirá esta ope
ração, vela- pública.
rá que ela seja concluída de modo que não possa haver reclam do nul ida des esc and alo sas são vál ida s, bem como
ação algu- Sº — As causas civi s não ten
ma para O futuro. pen sas ecl esi ást ica s. |
todas as lic enç as e dis a
8º — Na ordem do dia do Exército se declarará que os oficiais anistiados Se l, e de pro pri eda de, em tod a a sua p
que 6º — É gar ant ida a seg ura nça ind ivi dua
tinham postos legais de 1º ou 23 linha, ou de guarda nacional antes
da nitude.
rebelião, ficam em conseqiiência da anistia restituídos ao gozo das prer um cor po de lin ha, rec ebe rá par a ele todos os
ro- 7º — Tendo o barão de org ani zar
gativas e dos direitos militares inerentes a esses post pre que ass im ele s vo lu ntariamente quel-
os. oficiais dos rep ubl ica nos , sem
2º — O general-em-chefe fará constar que o governo imperial dará as providên-
a
£
|
[dlll.
cias necessárias para a revalidação das dispensas e licenças concedidas eiros de guerra serão logo soltos, e aqueles que estão fora
pelo vigário capitular de nomeação dos rebeldes, depois de lhe hav 8º — Nossos prision | :
erem da província serão reco nd uz id os a el a.
a cassadas as faculdades outorgadas pelo diocesano, por ser esta sua s pa te nt es os no ss os ge ne ra is ; po ré m gozam
medi- 92 Não são reconhecidos em
à necessária para a tranquilidade das consciências e a paz | ame e
das famílias. das imunidades dos demais oficiais.
10º - O general-em-chefe procurará que tr at ar de fi nitiva mente da linha divisória com O
os principais ch efes rebeldes, por própria 10: O go ve rn o im pe ri al va i
: val ua e a bem da futura tranquilidade da província, se retirem dela para Estado Oriental. patio
qualquer parte de sua livre escolha dentro ou fora do império, não sendo para 11º — Os soldados da república pelos respectivos comandantes relacionados, f-
Os Estados limítrofes; e somente deixará de insistir sobre esta determinação cam isentos de recrutamento na 1º linha. TU

duando Ve que do seu cumprimento resulte a impossibilidade da pacificação 12º — Oficiais e soldados que pertenceram ao Exército simperial e se apresenta:
11º — Depois de cumprida como os demais repu-
eito dis p Osiç ões dos artigos antecedentes, o general- ram ao nosso serviço serão plenamente garantido
em-chefe faráta oO ExéExérc imperial tomar posição tanto na fronteira como
blicanos.
S
nos ço Interi eriores que julgar mais adequados,
e de tudo dará parte a0
governo, de quem esperará as convenientes
ordens.

577
276
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

QUATRO ARTIGOS DE PAZ DIVULGADOS PELO GOVERNO DO RIO DE JANEIRO Fontes

1º — Anistia geral e plena para todas as pessoas envolvidas na rebelião,


2º— Isenção de serviço militar e de guarda nacional para todos os indivíd
que tinham servido no exército da rebelião. Ea
3º - Gozarem os chefes rebeldes das honras de seus postos.
4º — Pertencerem os escravos, que serviram como soldados da república, a
tado, que os indenizará aos seus antigos senhores. ea

1 Arquivo Nacional
e Coleção Caxias:
Caixas: 805, 808, 809, 810, 811, 812 e 813.
306 , 546 , 547 , 550 , 551 , 924 , 925 , 927 , 928 , 929 (vo l. 2) e
Códices:
1050.
e Arquivo Geral de Mercês e Graças Honoríficas.
Arquivos particulares:
AP 7 — Eusébio de Queiroz Matoso Câmara
AP 9 - Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão
AP 54 — Alberto do Rego Rangel
e Arquivo de Ofício de Notas
e Arquivo de Verbas Testamentárias
Ac ad em ia Rea l Imp eri al, IG 3 2, Fu nd o Mi ni st ério da Guerra.
e Arquivo da
da Es co la Mil ita r, IE3 , Fu nd o Mi ni st ér io da Educação
e Arquivo Rio de
e Livro de Registros € Matrículas da Academia Real Militar do
Janeiro microfilme 001.1-75
e Coleções particulares:
e Silva
79 CP — Francisco de Lima
14 — Ma nu el da Fo ns ec a de Lima e Silva
39 CP
CP 18 — Lu iz Al ve s de Lima e Silva
53
—- Ma nu el Fe li za rd o de So uz a e Mello
41 CP 14
28 — Be rn ar do Pe re ir a de Vasconcellos
69 CP
do Ba ta lh ão do Im pe ra do r, códice 275
e Livro de Orde ns
ci a do pr es id en te de pr ov ín ci a da Ba hi a com o ministro
e Correspondên
82 3) , IG 1 11 4, Fu nd o Mi ni st ér io da Guerra
da Guerra (1
ci a do br ig ad ei ro Fr an ci sc o de Li ma e Si lv a co m a Corte,
e Correspondên
códice 7/45
Confederação do Equador,

579
578
A

DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO FONTES

e Coleção Desembargo do Paço, caixa 127, doc. 3, legitimação do fe


1y Divisão de Obras Raras: poli l a
te-coronel José Joaquim de Lima e Silva ei e SILVA, Antônio de Morais. Dicionário da Língua Cod
* Ordens do dia de diversos regimentos do Rio de Janeiro (1816-1825) e
pilado dos vocabulários impressos até id e nr E na -
IG8 146, Fundo Ministério da Guerra
novamente emendado, e muito acrescenta a poi ROLE PO
e Confederação do Equador, caixa 1179
Silva natural do Rio de Janeiro Re E gps pI
Correspondências do general e comandante de tropas do Rio
de Janeiro deroso Príncipe Regente N. Senhor. De am TS
(1722-1805), códice 88, vol. 1 de Janeiro, Oficinas da S.A. Litografia Fluminense, ;
* Secretaria de Estado, códice 812, vol. 1
ro Jos é da. Dic ion ári o por tug uês -la tin o. Lis boa , Rég ia
* Senado da Câmara do Rio de janeiro, caixa 5 00, pacote ” FONSECA, ; Ped
2 Oficina Tipográfica, 1771.
ae er
COLEÇÃO das Leis, Alvarás e Decretos Militares, que
o do sr. rei d. Jos é É I se tem pr om ul ga do ir é O: erefere
io do reinad
NS Ofi cin a An tô ni o Ro dr ig ue s Ga lh ar do , :
Divisão de Manuscritos: de 1791. Lisboa ,
Periódicos:
* Documentos biográficos:
Francisco de Lima e Silva
ida Fluminense (março 1868 a dezembro 1868)
los o e abril de 1832) EE
José Joaquim de Lima e Silva F O
Aurora Flu RES (maio 1831 a maio 1832 e janeiro à setembro
Manoel da Fonseca de Lima
e Silva 1833)
j à dadeiro Caramuru (setem bro 1833)
ro dE avulsos
* Documentos Uva Sia(terminal eletrônico): Ã E ni do Belchior (setembro 1833)
Regimentos do Rio de Janeiro A Loj
A Loja do Bem Te ViVi( (outubro 1833)
Batalhãoa do Imperador O Coalho (outubro 183 3)
O Constitucional (1823)
eee Farroupilha
Revolução dy Ejiador dependente Constitucional (1823)
O ln ep ba Farroupilha (setembro a outubro 1831)
Caxias
O de Góis e Vasconcelos R ara dos Farroupilhas (janeiro a fevereiro 1832)
- Pedro II ca Aflito (maio a agosto 1832)
a .
Francisco Otaviano de Almeida Rosa Aflito (novembro 1833)
Visconde de Porto Alegre O ne bio 1833)
Francisco de Lima e
Silva a
de Abril (s et em br o a ou tu br o 1833)
José Joaquim de Lima O Sete
e Silva Br as il ei ra (a br il a ou tu br o 18 31)
e Códices do Fundo do Nova Luz
Co nselho Ultramarino: | O Carioca (setem bro 1833)
“] (R$ — março a dezembro 1845) aci
Regist
Ra ros de Ofícios | DO pio Antônio Ferreira da. Coleção sistemática das leis
e Catálogo de fontes sobre q Rio de Janeiro | o cost »s de Portugal. Lisboa: Impressão Régia, 1816.
militar

380 581
“Ta k po
bl 7 al

FONTES
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

Arq uiv o do Mus eu Histórico


V Divisão de Periódicos: IX
º Anais da Câmara dos Deputados o Inventário do duque de Caxias
e Anais do Senado
* Coleção de Leis do Brasil Arquivo Histórico do Exército
e Periódicos: e Arquivo de Fés-de-Ofício
Diário do Rio de Janeiro (outubro 1866 a maio 1869) e Coleção Caxias
Jornal do Commercio (janeiro 1868 a março 1869) e Arquivo Fotográfico
Correio Mercantil (outubro 1866 a fev 1868)
Diário do Povo (fevereiro 1868 a março 1869) KI Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro
VI. Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e Relação de nomes de pessoas que costumam e podem servir nos cargos
de governança desta cidade e corte do Rio de Janeiro, 29 de novembro
º Coleção Caxias
1822 — Códice 40-3-85, vol. 3 (NT471-A).
º Coleção Osório
* Coleção João Lustosa da Cunha Parana
guá XII Arquivo Geral da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro
* Coleção Honório Hermeto Carneiro
Leão e Livro do Corpo de Municipais Permanentes da Corte — livro I (1834-
* Revista do Instituto Histórico e Ge
ográfico Brasileiro 1839)
(ver artigos consultados na bibliografia
)
º Revista do Instituto Histórico e XII Arquivo Nacional da Torre do Tombo (Lisboa)
Geográfico do Rio Grande do Sul
(ver artigos consultados na bibliogr
afia) e Processos de Justificação de Nobreza
* Anais do Museu Paulista, tomo
5 e Processos de Habilitação da Ordem de Cristo
VII Arquivo do Museu Imperial de Petr e Arquivos de Feitos Findos
ópolis
* Catálogo de documentos sobre e Registros Paroquiais de Faro
o duque de Caxias ;
* Documentos avulsos com
entrada nominal:
o istro Geral de Mercês
ria
Francisco de Lima e Silva o reais de D. Afonso VI; Chancelaria de D. Pedro Il; Chancela
Chan cela ria de D. José é 1: Chan cela
| ria da Orde ; m de Cristo
José Joaquim de Lima e Silva D. João V;
Chan cela ria da Orde m de Avis (anti ga); Chan cela ria da Ordem
Zacarias de Góes e Vasconce
los aii j

Manuel Luís Osório de Santiago (antiga)


e Cartório da Nobreza :
VIII Arquivo do Itamaraty mas
e Livros de Registro de Brasões de Ar
º Arquivo visconde do Ri
o Branco: e Coleção de Genealogias Manuscritas da Torre do Tombo
Cartas de Caxias para 0 vi
sconde do Rio Branco. boa)
Cartas do visconde do Ri
o Branco para Caxias, Arquivo Histórico Militar (Lis
Cartas do visconde de Ca e Processos individua
is
bo Frio para Caxias.
R e g i s t r o s do s L i v r o s M e stres |
e
u m e n t o s da s D i v i s õ e s M i l itares
o Doc
litar
e Boletins do Arquivo Histórico Mi

583
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

XV Arquivo Histórico Ultramarino (Lisboa) Bibliografia


e Documentos Avulsos — Rio de Janeiro (1767-1808)

XVI Biblioteca Nacional de Paris


e Coleção Sistemática das Leis Militares de Portugal dedicada a
Príncipe
Regente Nosso Senhor e Publicada Por Ordem Do Mesmo Se
Veríssimo Antônio Ferreira da Costa. Primeira Parte
Leis pertencentes
à tropa de linha. Lisboa, Na Imprensa Régia, 1816.
a “ + :

1,
ABREU, Francisco Pedro de. “Memórias”. In: RIHGRS. II Trimestre. Ano
1921.
In:
ABREU, João Capistrano de. “Traços biográficos do Visconde de Caxias”.
Ensaios e estudos. 2º série. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1976.
eneuve,
ALENCAR, José de. O marquês de Caxias. Rio de Janeiro: J. Vill
1867.
Janei-
ALENCASTRE, Álvaro Otávio. “Caxias e os generais de 1835”. Rio de
ro, Separata da Revista do Clube Militar. Dezembro de 1933.
“Caxias e os seus adversários”. RJ, Separata da Revista do Clube
Militar. Dezembro de 1933.
relativas
ALMEIDA, Domingos José de. “Cartas, Ofícios, Atas e Proclamações
à pacificação”. In: RIHGRS. 1º e 2º trimestres de 1928.
RAL , José Ribe iro de. Hist ória gera l: as revo luçõ es do 2º impé rio ea obra
AMA
de Caxias. Maranhão, s/e. 1922.
eza e a América.
ARAÚJO, Giana Cláudia de Castro. Portugal, a idéia de nobr
ção de mest rado , Pro gra ma de Pós -Gr adu açã o em Hist ória da UFF.
Diss erta
Niterói, fevereiro de 2002.
Hist ória do Bras il: desd e o perí odo de cheg ada da famí lia de
ARMITAGE, João.
, em 1808 , até a abdi caçã o de d. Pedr o I, em 1831 . Belo Horizon-
Bragança
1981.
re/São Paulo: Itatiaia/Universidade de São Paulo,
ória da Revolução
AZAMBUJA, Manuel Patrício. “Apontamentos para à hist
1º e 2º trimestres de
de 1835-1845. Ataque de Porongos”. In: RIHGRS.
1928. lh o de 1 8 31”.
e i r a de . “ S e d i ç ã o mi li ta r de ju
AZEVEDO, Manuel Duarte Mor
R I H G B . nº 37 , pa rt e II, 18 74.
In:
““Motim Político de 3 de abril de 1832 no Rio de Janeiro”. In:
. nº 37 , pa rt e Il , 18 74.
RIHG B
s m Cl au st ro ”. In : R I H G B . T o m o 29 , pa rt e 2, 18 66 .
“«Os Túmulo de u

585
584
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO BIBLIOGRAFIA

. “Sedição Militar na Ilha das


Cobras em 1831”, In: RIHG . A Construção da ordem: a elite política imperial. Brasília: Universi-
B
nº 34, 1871.
dade dê Brasília, 1981.
BARÃO DO JAVARI. Organizações e
programas Ministeriais: regime parla. . Teatro de sombras: À política imperial. São Paulo; Vértice, 1988.
mentar no Império. Rio de Janeiro: Ministério da Justiça, 1962.
. A formação das almas: o imaginário da república no Brasil. São
BASILE, Marcello Otávio. Ezequiel me
Corrêa dos Santos: um jacobino na corte Paulo: Companhia das Letras, 1 993.
imperial. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, 2001.
. “Forças Armadas e a política, 1930-1945”. In: A Revolução de 30,
BELO, Luiz Alves de Oliveira. Dois titãs do Império.
Rio de Janeiro: Imprensa seminário realizado pelo CPDOC/FGV. Brasília: UnB.
Nacional, 1941.
BERLINK, Eudoro Brasileiro. Caxias: apontamentos . “Introdução”. In: CARVALHO, José Murilo de (org.). Bernardo
para a história do duque ; de Vasconcelos. São
Pereira Editora
ã Paulo: : Editora 34, 34, 1999.
de Caxias. Rio de Janeiro: Briguiet, 1934.
BICALHO, Maria Fernanda. A Cidade e . “Entre a autoridade e a liberdade”. In: CARVALHO, José Murilo
o Império: o Rio de Janeiro no
século XVIII. Rio de Janeiro: Civilização de (org.). Visconde do Uruguai. São Paulo: Editora 34, 2002.
Brasileira, 2003. Nação e Cidadania no Império: novos horizontes. Rio de Janeiro:
BICALHO, Maria Fernanda e FERLINE, Vera
Lúcia Amaral (orgs.). Modos de
Governar. Idéias e práticas políticas Civilização Brasileira, 2007.
no Império português, séculos XVla
XIX, São Paulo: Alameda, 2005. CASTRO, Celso. O Espírito Militar: um estudo de antropologia social na Acade-
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólic mia Militar das Agulhas Negras. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1990.
o. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
1989. Os militares e a República: um estudo sobre cultura e ação política.
—— CA ilusão biográfica”, In: FERREIRA, Rio, de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1 995.
Marieta de Moraes e AMA-
DO, Janaina (org.). Usos & abusos da Hi “Entre Caxias e Osório: a criação do culto ao patrono do exército
stória Oral. Rio de janeiro: Fun-
dação Getulio Vargas, 1998, brasileiro”. In: Estudos Históricos. Rio de Janeiro, vol. 14, nº 25, ans
BRANDÃO, Berenice Cavalcante; MA A invenção do Exército brasileiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Edi-
TTOS, Ilmar Rohloff de e CARVAL
Maria Alice Rezende de. À polícia e a fo HO, tor, 2002.
rça policial no Rio de Janeiro. Rio
de Janeiro, 1981. (Série Estudo
s PUC/RJ, 4.)
CASTRO, Celso e SOUZA, Adriana Barreto de. “A defesa militar da Amazô-
nia: entre história e memória”. In: CASTRO, Celso (org.). ea e de-
BRANDÃO, Ulisses. A Confederação do Equador. Pe
rnambuco: Oficinas Grá-
ficas da Repartição de Publicações
Oficiais, 1924,
fesa nacional. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, 2006.
ional de 1831-
CALDEIRA, Jorge (org.). Diogo Antônio Fei CASTRO, 3 Jeanne Berrance de. Milícia cidadã: a Guarda Nac
jó. São Paulo: Editora 34, 1999. td
CALÓGERAS, J. Pandiá. A política exterior do Império. Vol. III. 1850. São Paulo: Nacional, 1979.
Brasília: Sena- “A Exp eri ênc ia Rep ubl ica na, 183 1-1 840 ”. In: HGCSB.
do Federal, 1998. CASTRO 3 dE Pere ira.
7 : Difu são Euro péia do Livro , 1967. P :
CAMPOS, Joaquim Pinto de, Vida do Tomo 2. Vol. 2. São Paulo :
grande cidadão brasileiro. Rio de Ja e Gonç alve s de Magalhães. São
ro: Imprensa Nacional, nei- CARTAS a Mont e Alve rne de Porto Alegr e
1939, À
Estad ual de Cultu ra, 1764. E R ha
CA RVALHO, Af Ons Paulo: Conselho
CARVALHO, na. “Nor mes et prati ques, ou de la légit imité de leur opposi
Francisco Augusto Ma UTTI, Simo
rtins. Subsídi ire
mentos de infantaria e ca
vala; por tlON' ” .To dia LEPETIT, , Bernard. Les formes de Vexperience: une autre histo
“le, Paris: Albin Michele, 19
da Universidade, 1888. Ea
as

Turi
1 95.

CARVALHO, José Murilo prere “Processo e experiência: indivíduos, grupos e identidades em Turim
de. “As forças armadas na esca las: a experiência da
poder desestabilizador”. In Primeira República: O n o sécu lo XVII ?. In: REV EL, Jacq ues. Jog os de
: HGCB 2. São Pa ulo: Difel, 1978 microanálise. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, 1928.

586 587
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO BIBLIOGRAFIA

CIDADE, Francisco de Paula. Cadetes e alunos militares através


dos tempos xia s Paci fica dor” . Revista Militar Brasileira. Edi-
Rio de Janeiro: Bibliex, 1961. D OCC A 3 Cor one l Souz a. “Ca
COELHO, Edmundo Campos. Em Busca de ide | ção comemorativa. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1936.
ntidade: O Exército e a Polícia
no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Forense Univer DONATO, Hernâni. Dicionário das batalhas brasileiras (Dos conflitos indíge-
si tária, 1976.
COSTA, Fernando Dores. “O Bom uso das paixõe “as aos choques da reforma agrária). Rio de Janeiro: Bibliex; São Paulo:
s: caminhos militares na mudan
do modo de governar”. In: Análise Social. Revista Ibrasa, 2001.
do Instituto de Ciências Sn sid ent e de pro vín cia ”. In:
da Universidade de Lisboa. Lisboa, Quarta séri DORIA, Lui z Gas tão de Esc rag nol le. “Ca xia s, pre
e, vol. XXXII, nº 149, 1998
- “À nobreza é uma elite militar? O
caso Castanhede-Marialva em Revista Militar Brasileira. Edição comemorativa. Rio de Janeiro: Imprensa
1658-1665”. In: MONTEIRO, Nuno Gonçal
o; CARDIM, Pedro e CUNHA Nacional, 1936.
Mafalda Soares da. Optima Pars. Elit
es I bero-Americanas do Antigo Re DUBY, George. Guilherme marechal ou o melhor cavaleiro do mundo. Rio de
me. Lisboa: ICS — Imprensa de Ciências -
Sociais, 2005. Janeiro: Graal, 1988.
e
E :Milícia e sociedade. In: BARATA,
Manuel Themudo e TEIXEIRA DUMOURIEZ, Charles-François. État du Royaume de Portugal. Lausanne,
da História Militar de Portugal. Vol. François Grasset & Compagnie, 17/5.
II. Lisboa: Círculo dos
ELIAS, Norbert. A Sociedade dos indivíduos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Edi-
COSTA, Fernando Marques da |
(org.). Do Antigo Regime ao Lib tor, 1994.
1850). Lisboa: Documento Histórico eralismo (1750-
, 1989. . Mozart: sociologia de um gênio. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,
COSTA, Francisco Augusto Pereir
a da. Anais pernambucanos 1995.
Vol. 9. Recife: Arquivo Público (1824-1 833)
Estadual, 1965. “O Processo civilizador: uma historia dos costumes. Vol. 1 e 2. Rio
COSTA, Francisco Felisberto | ;
Dias. V'École de | Armée de
Lisbonne. Lisbonne de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1990.
COSTA en Portugal, Exposition Universelle
de 1900, 1900. “A Sociedade de Corte. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.
PSA pico ço feniito sobre a utilidade
da extinção de cadetes. ENDERS, Armelle. “O Plutarco Brasileiro: a produção dos vultos nacionais no Se-
gundo Reinado”. In: Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 14, nº 25, 2000.
COSTA, Wilma Peres, A espada
de Dâmocles: o Exército, a
Guerra do Paraguai FALCON, Francisco José Calazans. A Época Pombalina (política econômica e
e a crise do Império. São Paulo: Hucitec/Unicamp,
1996. monarquia ilustrada). São Paulo: Ática, 1982.
no
FARIA, Silvério Cândido de. Breve história dos felizes acontecimentos políticos
Nacional, 1966. Rio de Janeiro em os sempre memoráveis dias 6 e 7 de abril de 1831 - Dedicada
CURTO, Diogo Ramada. “A
Cultura Política”. In: MAGAL
HÃES, Joaquim aos Ilustríssimos e Excelentíssimos Senhores Francisco de Lima e Silva e José
Romero de (org.). História de More ira, 1831. ;
de P Joaqui m de Lima e Silva . Bahi a: Rei mpr ess o na ED.
V.3. Lisboa: Editor= ial Estampa, 19or . gal. No Al vorecer da Moderniddae. ade
98tu
FONTOURA, Antônio Vicente da. “Diário de Antônio Vicente da Fontoura”.
cendência de Luiz Alves de Lima e & RIHGRS. I e Ill trimestres de 1934.
. Vi gi ar e Pu ni r. Pe tr óp ol is : Vo ze s, 19 87. ; |
FO UC AU LT , Mi ch el
Colégio Brasileiro de Genealogia, s/d. va, duque de Caxias. Rio de Janeiro:
Ê Sil 3 a a » =
a e

Luí s. Ho me ns de Gr os sa Av en tu ra . Ac ur mu la çã o e hi er arquia
DAVIS, Natalie Zemon. FRAGOSO, João
ESC ISA? O
retorno de Martin Guerre. Rio de Janeiro: Paz € pr aç a me rc an ti l do Ri o de Ja ne ir o (1 79 0- 18 30 ). Ri o de Ja ne ir o: Civiliza-
na
ma Brasileira, 1998.
DIDI-HUBERMAN » George. “ e =
A nobreza da República: notas sobre a formação da elite senhorial
o E
“Pour une anthropologie
les. Remarque sur Pinventi des singularités formel-
v. 1, n.
do Rio de Janeiro (séculos XVI e XVII)”. In: Topoi. Rio de Janeiro,
PEGO DA Sephiro
a = tion warb ] »

a
x

is Soc
a n

45-123, 2000.
1, P-

588
589
BIBLIOGRAFIA
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

FRAGOSO, João e FLORENTINO, Manolo. O arcaísmo com . “Escala, Pertinência e Configuração”. In: REVEL, Jacques. Jogos de
o Projeto. Mep.
cado Atlântico, sociedade agrária e elite mercantil no Rio de Janeiro Rd: a experiência da Microanálise. Rio de Janeiro: Fundação Getulio
(c.1790 — c.1840). Rio de Janeiro: Diadorim, 1993, Vargas, 1998.
FRAGOSO, João; BICALHO, Maria Fernanda e GOUVÊA, Maria
de Fátima GUAZZELLI, César Augusto Barcellos. O horizonte da província: a República
(orgs.). O Antigo Regime nos Trópicos: a dinâmica imperial Portuguesa Rio-Grandense e os Caudilhos do Rio da Prata (1835-1845). Tese de Dou-
(séculos XVI-X VIII). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. torado em História Social — IFCS/UFR]. Rio de Janeiro, 1997.
FREYRE, Gilberto. Sobrados e mucambos. Rio de Janeiro: GUIMARÃES, Lúcia Maria Paschoal. Em nome da ordem e da moderação: a
José Olympio, 1977
« Vida social no Brasil em meados do século XIX. Recife, s./e.
, 1 977. trajetória da Sociedade Defensora da Liberdade e da Independência Nacio-
FRUGONIL, Arsenio. Arnaud de Brescia. Paris: Les Belles
Lettres, 1993, val do Rio de Janeiro (1831-1835). Dissertação de Mestrado. Rio de Janei-
GARÇON, A. L'Armée portugaise. Paris: Limoges, 1887.
ro, IFCS/UFR]J, 1990.
GEERTZ, Clifford. A interpretação das Culturas. Ins-
Rio de Janeiro: Jorge Zahar GUIMARÃES, Manoel Luiz Salgado. “Nação e Civilização nos Trópicos: o
Editor, 1978.
GINZBURG, Carlo. O Queijo e os Vermes: O
tituto Histórico e Geográfico Brasileiro e o projeto de uma história nacio-
cotidiano e as idéias de um mo- nal”. In: Estudos Históricos. Rio de Janeiro, 1: 5-27, 1988. F
leiro perseguido pela Inquisição. São Paulo:
Companhia das Letras, 1987. “ “Micro-História: reconstruindo o campo de possibilidades”. To-
- Mitos, Emblemas, Sinais: morfologia e história |
. São Paulo: Compa- poi, RJ, nº 1, 2000.
nhia das Letras, 1989.
S Estudos sobre a escrita da História. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2006.
- À Micro-História e Outros Ensaios. Rio de Jan
1989.
eiro: Bertrand Brasil HAHNER, June. Relações entre civis e militares. São Paulo: Pioneira, 1975 ;
pás » Erving. Manicômios, prisões e conventos. São HESPANHA, António Manuel e XAVIER, Ângela Barreto. “As redes Clientela-
O An-
4.
Paulo: Perspectiva, res”, In: HESPANHA, António Manuel (org.). História de Portugal.
Reg ime . V. 4. Lisb oa: Est amp a, 1998 . ] 5 2
GOLDENBERG, Mirian. Toda mulher é meio tigo
Leia Diniz. Rio de Janeiro: Re- OW AY , Tho mas . Polí cia no Rio de Jane iro. Rep res são e resi stên cia numa
cord, 1996. HOLL
ade do sécu lo XIX . Rio de Jane iro: Fun daç ão Getu lio Vargas, 1997.
GOUVÊA, Maria de Fátima Silva. “Redes de Pod cid
er na América portuguesa. O ia”. RIHGB.
e e homens Bons do Rio de Janeiro, 1790-1822”. In: Rev HOLUB, Norman. “Política Liberal Moderada durante a Regênc
ista Brasilei- nº 307.
ra Ode Hlistória. São Paulo: Humanas
L Pub
ubllic
icaacõ
ções, vol. 18, nº : 36, 1998, p. OL DT , Wil hel m Von . La tãc he de L'h ist ori en. Vil len euv e d'Asca, Presses
HUMB
19 85 . x
—— a “Conexões Imperiais: oficiais régios no Brasil e versitaires de Lille,
Angola”. In: BICA- T E e O so ld ad o e o Es ta do . Rio de Janeiro: Biblioteca do
» Maria Fernanda e FERLINE, Vera Lúcia Am TR
aral (orgs.). Modos de
Governar. Idéias e práticas política Exército, 1996.
s no Imp Syi “Vida Política, 1848-1866”. In: HGCB. To
mo II. Vol. 3.
XIX. São Paulo: Alameda, 2005. ério
die português,
dana gira
sé XV la e pi Francisco.
Li vr o, 19 69 . | | |
GRIBAUDI, Maurizio. | tinéra São Paulo: Difusão Européia do
ires o
UE S Pa ul in o In ác io . Do is gi ga nt es do ci vi sm o br as il eiro. Rio de Janeiro:
JACQ
Forense, 1980.
M o r r i s . The profe ssion al soldie r: a social and political portrait.
ANOWITZ,
a Y o r k : F r e e P r e s s , 1971.
Nov
Y Hendrik. Race, State, and Armed Forces in independence-era Brazil:
o 1790s-1840s. Stanford: Stanford University Press, 2001.

591
590
BIBLIOGRAFIA
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

. “Mannequins ou faiseurs d'histoire?” Critique:


. “Reconsidering recruitment in imperial Brazil”. In: The Americas. revue générale des
publications françaises et étrangêres. Paris, janvie
Washington: Academy of American Franciscan History. 55:1, julho de r-février, 2000.
1998. . “Etre Historiens Aujourd'hui”. Conferência realizada
e
no Programa
de Pós-Graduação em História Social da UFRJ em julho de 2002.
o a r, = ”

LÂMEGO, Alberto. “O tronco de Caxias”. Jornal do Commercio, 9 de outy


bro
de 1938. MACHADO, Agostinho José. A facção saquarema: considerações GOlígicas:
LE GOFF, Jacques. “Comment écrire une biographie historique aujourd"hui?” Santos: Tipografia Imparcial de EM.R.DAlmeida, 1851.
Le Débat, mars-avril, 1989. MAGALHÃES, Domingos José Gonçalves de. A revolução na província do Ma-
— Saint Louis. Paris: Gallimard, 1996. ranhão desde 1839 a 1840. São Luís: Tipografia do Progresso, 1858.
LEITE, Glacyra Lazzari. A Confederação do Equador: Pern - Ode ao pacificador do Maranhão o ilmo. exmo. sr. coronel Luiz
ambuco em 1824,
contradições sociais e conflito armado. Tese de livre-docência Alves de Lima. Tipografia de I.). Ferreira, 1841.
da Universi-
dade Estadual Paulista para a disciplina de História do Brasil MAGALHÃES, João Batista. A evolução militar do Brasil. Rio de Janeiro: Bi-
, do departa-
mento de História, 1987. blioteca do Exército, 1998.
LEITMAN, Spencer. Raízes sócio-econômicas da Guerr MAGALHÃES JÚNIOR, Raimundo. Três panfletários do Segundo Reinado.
a dos Farrapos. Rio de
Janeiro: Graal, 1979. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1968.
LEMOS, Juvêncio Saldanha. Os mercenários do imperador. MAIA, Fernando da Costa. Subsídios para a história militar em Portugal. Lis-
Rio de Janeiro:
Bibliex, 1999. boa: Tipografia Universitária, 1904.
LEVI, Giovani. Le pouvoir au village: bistoire d'un exorciste MALERBA, Jurandir. A corte no exílio: civilização e poder no Brasil às vésperas
dans le Piémonte
du XVlle. Siêcle. Paris: Gallimard, 1989. da independência. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
» “Carriêres dºartisans et marché du travail à Turín MARQUES, Fernando Pereira. Exército e sociedade em Portugal. No declí-
(XVIII-XIXeme.
Sitcle)”. Annales ESC, n. 6, novembro-dezembro,
1990. nio do antigo regime e advento do liberalismo. Lisboa: À Regra do Jogo,
—— “Usos da Biografia”. In: FERREIRA, Marieta de Mora
es e AMA- 1981.
DO, Janaina (org.). Usos & abusos da História Oral
Rio de Janeiro: Fun- , Exército, Mudança e modernização. Lisboa: Edições Cosmos/Defe-
dação Getulio Vargas, 1998. E Rei
sa Nacional, 1999.
LIMA, Oliveira. D. João VI no Brasil. Rio de janeir
o: Topbooks, 1996. MARTINS, Luís Augusto Ferreira. História do Exército português. Lisboa: In-
LIMA, Patrício Augusto da Câmara. Reflexões sobre o gener
alato do conde de quérito, 1945. e fo
Caxias. Porto Alegre: Imprensa Isidoro José Lopes
, 1846. MASCARENHAS, Nelson Lage, Um jornalista no Império (Firmino Rodrigues
LINS, Álvaro. Rio Branco: biografia. São Paulo: 1. |
Alfa-Ômega, 1996. Silv a). São Paul o: Nac ion al, 196
LISBOA, tas João Francisco. Jornal de Timon. Eleico
- ções na Antigai
uidade, Idade Mé a MATTOS. Ilmar Rohloff de. O tempo saquarema: a formação do Estado impe-
dia, na Roma Católica, I nglaterra, Estados Unidos,
19 20 . |
França, Turquia. Parti- rial. São Paul o: Hu ci te c,
dos e eleições no Maranhão. Brasília:
LOBO,
Senado Federal, 2004. MCBETH. Michael Charles. The politicians vs. the generals: the decline os the
Luís. História Militar do Pará. Rio
LORIGA, Sabina. Soldats, un la
de Janeiro: Bedeschi. 1943. brazilian À rmy during the First Empire, 1822-1831. Ph.D. diss., University
boratoire disciplinaire: Parmée piémontaise au ington, 1972.
X Ville. siêcle. Paris; Mentha, of mc brazilian recruit during the First Empire: slave or soldier?” In:
1991.
- “À biografia como proble socioeconomic bis-
ma”. In: REVEL, Jacques. Jogos de esca- DEN, Douril, DEAN, Warren. Essays concerning the
las: a experiência da Microanálise. Rio de Janeiro: -
gas, 1998.
Fundação Getulio Var- tory O s Brazil and Portuguese India. Gainnesville: University Presses of Flo
a
rida, 1977.

393
392
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO BIBLIOGRAFIA

. “The brazilian Army and its role in the abdication of Pedro J”. In: NICOLAU, Jairo. História do voto no Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Edi-
Luso-Brazilian Review. Wisconsin: University os Wisconsin Press. Vol. 1 5; tor, 2002.
nº1, summer 1978. NUNES, Zeno Cardoso. Dicionário de regionalismos do Rio Grande do Sul.
MELLO, Christiane Figueiredo Pagano de. Os Corpos Porto Alegre: Martins Livreiro Editor, 1996.
de Auxiliares e de Orde-
nanças na segunda metade do século XVIII: as capitani ORICO, Osvaldo. O condestável do Império. Porto Alegre: Globo, 1933.
as do Rio de Janeiro,
São Paulo e Minas Gerais e a manutenção do Império OSÓRIO, Fernando Luís. História do general Osório. Vols. 1 e 2. Pelotas: Tip.
Português no centro-
sul da América. Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós- do Diário Popular, 1915. |
Gra-
duação em História da UFF. Niterói, 2002.
OTÁVIO, Rodrigo. A Balaiada, 1839. Depoimento de um dos heróis do cerco
MONTEIRO. Nuno Gonçalo. O crepúsculo dos Grande
s (1750-1832). Lisboa: a Caxias sobre a revolução dos “balaios”. Rio de Janeiro: Imprensa Nacio-
Imprensa Nacional da Casa da Moeda, 1998. Eu | |
nal, 1842.
MONTEIRO, Nuno Gonçalo; CARDIM, Pedro e
CUNHA, Mafalda Soares da. PEIXOTO, Paulo Matos. Caxias: nome tutelar da nacionalidade. Rio de Janei-
Optima Pars. Elites Ibero-Americanas do
Antigo Regime, Lisboa: ICS — Im- ro: Edico, 1973. rir
prensa de Ciências Sociais, 2005.
MONTEIRO, Pedro de Goes. “Caxias, comandante PINHO Tasé Wanderley. A Política e os Políticos no Império: o incidente Ca-
em chefe” - Rio de Janeiro: xias e a queda do gabinete em 1868. Rio de Janeiro, 1260. E
Imprensa Nacional, 1938.
MORAES, A. Quartim de. Caxias. São Paulo: “A Bahia: 1808-1856”. In: HGCB. Tomo II. 2º vol. São Paulo:
Três, 1974. | a sms
MORAES, E. Vilhena de. O Gabinete São João Difusão Européia do Livro, 1967.
: a última etapa da carreira po-
lítica do Marechal Duque de Caxias. Rio de POLLAK, a Michael. L'Expérience concentrationnaire. Paris: Editions Métailié,
Janeiro: Companhia Brasileira melho
de Artes Gráficas, 1977. 1990.
— Caxias em São Paulo. Rio de Janeiro: Calvino «Memória, esquecimento, silêncio”. In: Estudos Históricos. Rio de
Filho, 1933. epi
O Duque de Ferro. Rio de Janeiro: Calvino aneiro, 3: 3-15, 1989.
Filho, 1933.
- O Gabinete Caxias e a anistia aos bispos na “Quest son Francisco de Paula Azevedo. “A Academia Real Militar «Tn: a si
ão Religiosa”. Im-
Rio de Janeiro, 1930. Congreso de História da Independência do Brasil VI. Rio de Janeiro:
——— —. Novos aspectos da figura de Caxias. Nacional, 1975. Ra |
Rio de Janeiro: Leuzinger, 1937.
- O Pacificador das Consciências. Rio de Janeir
o: Cia. Brasileira de PRORER Rir ne de Caxias, sua vida na maçonaria. Rio de Janeiro, 1972.
Artes Gráficas, 1977. PROBLEMES et methodes de la biographie. Actes du colloque. Paris: Sorbonne,
MOREL, Marco. As transformações dos es jo 1985.
paços públicos. Imprensa, política e
sociabilidades| na cidade im berial. São Paulo: Hucitec, rei aR “T utas ao sul do Brasil”. In: BARATA, Manuel Themudo e
2005.
« Frei Caneca, entre Marília ea
pátria. Rio de Janeiro: Fundação TEIXEIRA, Nuno Severiano. História Militar de Portugal. Vol. IL. Lisboa:
tulio Vargas, 2000. Ge- Lei tor es, 200 4. |
í
- Palavra, imagem e poder. O surgimento da IL HO Sd Cax ias e nos sa dou tri na mil ita r. Rio de Janeiro:
imprensa no Brasil do ESSO
século XIX. Rio de Janeiro: do Exército, 1950. o
DP&A, 2003.
MOTA, J cová. Formação do oficial ESSE Cezar Ferreira. “O Grão-Pará e o Maranhão”. In: HGCB. São
brasileiro. Rio de Janeiro: Bibliote .
do Exército, 1998. ca : Difel, 1978.
RABUCO, Joaquim. Um estadista no Im
pério. Rio de Janeiro: Aguilar, 1975. R TÁ Militar Brasileira. Edição comemorativa da trasladação dos restos
NEVES, Lúcia Maria Bastos Pereira das ortais do duque de Caxias para o panth eon militar. Ano XXXVII, nº1,25
, Corcundas e constitucionais: a cultur m
a
política da independência (1820-1822). Rio de Janeiro. Reva de agosto de 1949.
n/Faperj, 2003.
595
594
An

BIBLIOGRAFIA
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

sILVA, Alfredo Pretextato Maciel da. Os generais do Exército Brasileiro de


RIBEIRO, Gladys Sabina. A liberdade em construção: identidade nacional e
1822 a 1889. Rio de Janeiro: Americana, 1906-1907.
conflitos antilusitanos no Primeiro Reinado. Rio de Janeiro: Relume-Duma-
SILVA, Francisco Gomes da. Memórias oferecidas à nação brasileira pelo con-
rá/Faper;), 2002.
RICCI, Magda. Assombrações de um padre regente: Diogo Feijó (1784-1 selheiro Francisco Gomes da Silva. Londres: L. Thompson, 1831.
843).
São Paulo: Unicamp, 2001. SILVA, Francisco José da. Evolution militaire du Portugal. Paris: Lisbonne,
RODRIGUES, Alfredo Ferreira. “A pacificação do Rio Grande do Sul”, Aillaudi, 1900. | |
In:
Vultos e Fatos da Revolução Farroupilha. Brasília: Impr SILVA, Luiz Manoel de Lima e. Guerra com as Províncias Unidas do Rio da
ensa Nacional,
1990. Prata. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1956. u
« “David Canabarro e a surpresa de Porongos”. In: Vultos SODRÉ, Nelson Werneck. História militar do Brasil. Rio de Janeiro: Civiliza-
e Fatos da
Revolução Farroupilha. Brasília: Imprensa Nacional, 1990. ção Brasileira, 1965. |
ROMERO, Silvio. O duque de Caxias ea integridade do SORIANO, Simão José da Luz. História do reinado de El-Rei d. José e da
Brasil. Rio de Janeiro:
Laemmert, 1903. administração do marquês de Pombal. T.1. Lisboa: Tipografia Universal,
SANTOS, Maria Januária Vilela. A Balaiada e
a insurreição de escravos no 1867. = | E
Maranhão. São Paulo: Ática, 1983. SOUSA, J. Galante de. Índice de biobibliografia brasileira. Rio de Janeiro: Ins-
SANTOS, Renato Peixoto. Batalhão D. Pedro IL. Petró tituto Nacional do Livro, 1963. à
polis: Imprensa Gráfica
Serrana, 1973. SOUSA, J. A. Soares de. “O Brasil e o Rio da Prata de 1828 à queda de Rosas”.
SAMPAIO, Antônio Carlos Jucá de. Na encruzilhada In: HGCB. Tomo II. Vol. 3. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1969.
do Império: hierarquias
sociais e conjunturas econômicas no Rio de Janei
ro (c. 1650-c. 1750). Rio SOUSA, Otávio Tarquíno de. História dos fundadores do Império do Brasil.
de Janeiro: Arquivo Nacional, 2003. Rio de Janeiro: José Olympio, 1260. am E:
SCHMIDT, Benito Bisso. O patriarca e O tribuno. SOUZA. Adriana Barreto de. O Exército na consolidação do Império: um estu-
Caminhos, encruzilhadas,
viagens e pontes de dois líderes socialistas — Francisco do histórica sobre a política militar conservadora. Rio de Janeiro: Arquivo
Xavier da Costa
(1878-1934) e Carlos Cavaco (1878-1961 ). Iese de Dout 1999, )
orado apresentada
ao Departamento de História do Instituto de Filosofia a o mito e o homem”: Caxias e a construção de uma heroi-
e Ciências Humanas
da Universidade Estadual de Campinas. Campinas:
Unicamp, 2002. cidade moderna. In: Locus: Revista de História. Vol. 7, nº 1. Juiz de Fora:
- “Construindo Biografias. Historiadores e jornalistas: aproxima
ções UEJE 2001. p. 93-106.
e afastamentos”. In: Estudos Históricos. Rio de Janei «Osório e Caxias: a memória militar que a república manda guar-
ro, 19: 3-19, 1997.
SCHULZ, John. “O Exército e o Império”. HGCB. dao Varia História. nº 25. Belo Horizonte: UFBH, julho de 2001. p.
6. São Paulo: Difel, 1974. ar . An:
- O Exército na política: origens da intervenção
militar (1850-1894).
são Paulo: Edusp, 1994. aa A Serviço de Sua Majestade: a tardição militar portuguesa na
SCHWARCZ, Lília Moritz. As barbas do Imperador. ão do generalato brasileiro (1837-1850)”. In: CASTRO, Celso;
D. Pedro II, um monarca comp E DEIN Vítor e KRAAY, Hendrik (org.). Nova História Militar Bra-
nos trópicos. São Paulo: Companhia das Let
ras, 1998.
SELVAGEM, Carlos. Portugal militar. Desde as origen ar de EUR Fundação Getulio Vargas/ Bom texto, cililris r
s do Estado portucalense
até o fim da dinastia de Bragança. Lisboa a ra Lis Carvalho. Pátria coroada: o Brasil como corpo político autô-
: Imprensa Nacional/Casa da Mo- SOUZA, ; 1780-1831). São Paulo: Unesp, 1999.
eda, 1991.
SERRA, Astolfo. Caxias e o seu governo civil na província do no Antônio Soares de, “O Brasil e o Prata até 1828”. In: HGCB.
Maranhão. Rio SOUZA, de vol. 1. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1965.
Ê

de Janeiro:
a

Biblioteca Militar, 1943. Tomo “>

597
596
BIBLIOGRAFIA

DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

ZAPPERI, Roberto. Annibale Carracci. Portrait de Vartiste en jeune homme.


SPALDING, Walter. A Epopéia Farroupilha. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exér- Aix-en-Provence, 1990.
pes-
cito, 1963. WIEDERSPAHN, Henrique Oscar. O convênio de Ponche Verde: atuação
. “A administração de Caxias no Rio Grande do Sul”. In: RIHGB. soal do então Barão de Caxias. Porto Alegre: Sulina, 1280.
nº 262. jan-mar, 1964. «O famoso conde de Lippe e o primeiro Exército luso-brasileiro
. “Caxias e o Rio Grande do Sul”. In: RIHGB. n. 285. out.-dez., 1969. os his pân ico s no sul até 177 7”. In: Ana is do Sim -
unificado nas lutas contra
. “Caxias e Bento Manuel Ribeiro”. Separata da RIHGRS. III Tri- me mo ra ti vo do Bic ent ená rio da Res tau raç ão do Rio Gr ande
pósio Co
mestre. Ano XVI, 1936.
o de Ja ne ir o: IH GB /I GH MB , 17 72 .
(1776-1976). Ri
. “Poesia de um Povo”. Separata da RIHGRS. IV Trimestre. Ano
s. Ca xi as no se u te mp o. Ar ac aj u: s./ e., 1954.
WYNNE, ). Pire
XII, 1934.
+» Canabarro, mestre de brasilidade”. In: RIHGB, out.-dez., 1947.
THOMPSON, Edward. Formação da classe operária inglesa. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1997.
TINOCO, Brigido. As duas paixões de Caxias. Rio de Janeiro: Laemmert, 1956.
URICOECHEA, Fernando. O minotauro imperial. São Paulo: s./e., 1978.
« “Coronéis e Burocratas no Brasil Imperial: crônica analítica de
uma síntese histórica”, In: NUNES, Edson Oliveira (org.). A Aventura So-
ciológica. Rio de Janeiro, s./e. 1978.
VAGTS, Alfred. History of militarism. Nova York: The Free Press, 1959.
VARELA, Alfredo. História da grande revolução. Vol. 6. Porto Alegre: Livraria
do Globo, 1933.
VELHO, Gilberto. Projeto e metamorfose. Antropologia das sociedades com-
plexas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1994.
- Individualismo e Cultura. Notas para uma Antropologia da socie-
dade contemporânea. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1999.
VELHO, Gilberto e KUSCHNIR, Karina. Mediação, cultura e política. Rio de
Janeiro: Aeroplano, 2001.
VIANA, Hélio. “A crise de fevereiro de 1868”. Publicado no folhetim do Jornal
do Commercio, de 11 de março de 1966.
- “Caxias, Bento Manoel e os “califórnias”. Publicado no Folhetim
do Jornal do Commercio, de 9 de outubro de 1964.
« “Caxias, O escravo Inácio e o parente”. Publicado no folhetim do
Jornal do Commercio, de 26 de agosto de 1962.
- Os imperadores e os Lima e Silva. Publicado no
folhetim do J ornal
do Commercio, de 23 de agosto de 1962.
- “Caxias Senador”. Revista Militar Brasileira. Rio de Janeiro: Im-
prensa Nacional, 1936.

599

598
Índice onomástico

A Andréa, Francisco José Soares, 426


Antônio, João, 456, 483, 495, 504,
Abrantes, João Antônio Garcia de, 282 512, 513
Abreu, Francisco Pedro de, 457 Antônio, Manoel, 312
Accioli, Inácio, 136, 169 Araripe, Tristão Alencar de, 473, 545
Araújo, 454
Agostinhos, 147, 142
Araújo, Manoel Theodoro Ferreira
Aguiar, Antônio Nunes de, 301
de, 178
Airosa, Manoel, 214
Araújo, Maria Raimunda, 337, 340,
Albuquerque, Francisco de Paula Ca-
341
valcanti de, 351
Araújo, Nabuco de, 166, 220, 407
Albuquerque, José Pedroso de, 484,
Armitage, João, 184, 190, 264
489
Arruda, 454, 455
Alegre, Apolinário Porto, 515; SIX
Ataíde, 388
Almeida, Domingos José de, 5 16,517,
Ayres, José, 330
524, 525, 548, 549
Azambuja, 178
Almeida, José Manuel de, 189
Alvarenga, Francisco, 381
121 B
Álvares, Joaquim de Oliveira,
Alves, Pedro, 386 Badaró, Libero, 163
Amado, João; 918; 548 Baependi, 380
124
Amaral, Antônio José do,
do, Barata, Cipriano, 213
Amparo, Cândida Luiza Joaquina
Barbosa, Vilela, 351
234 Barboza, Manoel Rodrigues, 520
Andrada, 351
Manuel de Carvalho Paes Barman, Roderick, 336, 393, 562
Andrade,
Barreto, Francisco Paes, 140
de, 141, 150
601
ÍNDICE ONOMÁSTICO

DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

Carvalho, Antônio de, 341 Costa, Fernando Dores, 43, 97, 98


Barreto, João Mena, 536 72, 83, 92, 93, 96, 29, 100, 130,
Carvalho, João Vieira da Costa, 151 Costa, Fonseca da, 83, 84, 89, 102
Barreto, João Paulo dos Santos, 213, 211
Carvalho, José da Costa, 98, 172, 474
214, 215, 409, 472 Branco, João Castelo, 324 Costa, Francisco Augusto Pereira da,
356
Barreto, Paes, 140, 148, 153 Branco, Rio, 166
Carvalho, José Murilo de, 13, 42, 43, 171, 173
Barros, Custódio Xavier de, 177, 178, Brandão, Ulisses, 171, 172, 173
172, 265, 266, 336, 395, 472, 550 Costa, Joana Maria da Fonseca, 82-84
183 Breves, Joaquim, 363
Carvalho, Luís José de, 157, 158, 173 Costa, João da Fonseca, 474
Barros, João do Rego, 303 brigadeiro Lima, 160
Carvalho, Luís Onofre de, 128 Costa, João de Souza da Fonseca, 423
Barros, Pedro José da Costa, 152 Brito, Antero José Ferreira de, 261, 428
Barros, Sebastião do Rego, 37, 197, Bulow, 232 Carvalho, Sebastião José de, 98 Costa, Luiza Carneiro da, 241, 242,

260, 262, 265, 278, 279, 280, 281, Castrioto, 245, 246, 247, 270 243, 345
Castro, Celso, 13, 42, 167, 170, 267 Costa, Luiza Rosa Carneiro da, 556
35253595 C
Castro, Paulo Pereira, 263, 264, 265, Costa, Manoel Álvares da Fonseca,
Barros, Vidal da Silveira, 15
266, 271, 336, 393, 472, 473 83, 86
Bello, 87, 88, 89, 103, 107, 108, 109, Caldeira, Felisberto Gomes, 131, 136
Cavalcante, Agostinho Bezerra, 148, Costa, Manoel Antônio da Fonseca,
122, 375, 539 Caldeira, Jorge, 267, 268, 270, 395
149, 156, 160 121
Bello, André Alves de Oliveira, 363, Caldwell, João Frederico, 489, 545
Caxias, Barão de, 599 Costa, Wilma Peres, 206, 266, 267
394 Caldwell, Ricardo Frederico, 121, 122
Caxias, conde de, 556, 562, 569 Coutinho, Aureliano de Souza, 232,
Bello, Joaquim Mariano de Oliveira, Calmon, Miguel, 351, 403, 405
Caxias, duquesa de, 27 233, 351, 393, 403, 405, 432
128 Calvet, Marivalde, 549
Caxias, marquês de, 570, 585 Coutinho, Gastão José da Câmara, 61
Bello, Luiz Alves de Freitas, 86, 87, Câmara, Francisco de Arruda, 453
Chagas, Cosme das, 313, 317, 312, Couto, José Morais, 241
88, 89, 90, 107-109, 122 Camilo, 382, 383
Bello, Luiz Alves Leite de Oliveira, Campos, Joaquim Pinto de, 31-33, 320, 328, 330, 332, 333, 341, 347, Cunha, Antônio Luís Pereira da, 196
Cunha, conde da, 47, 48, 62, 63, 66,
536, 539, 542 42, 170, 173, 174, 218, 219, 268, 499, 518, 559
96, 99, 100, 101
Bello, Mariana Cândido de Oliveira, 270, 355, 341, 347 Chalaça, Francisco Gomes da Silva,
Cunha, José Feliciano da, 381
86 Canabarro, David, 406, 441, 443, 447, 144
de Morais, 378, 389 Curado, Joaquim Xavier, 76, 78, 79,
Bello, Wenceslau de Oliveira, 375 453-456, 477, 481, 482, 485-495, Cid, José Feliciano
80, 101
Bernardelli, Rodolfo, 29, 30 498, 505, 506, 511-524, 527, 528, Cochrane, Lord, 132
o , F r a n c i s c o , 5 15 , 521
Bernardina, 87, 108 530, 531, 533, 545, 3547-549 Coelh D
J e r ô n i m o F r a n c i s c o , 496-498,
Bezerra, José Vicente de Amorim, 356, Cândida, Maria, 348 Coelho,
546
359, 365, 377, 378, 394 Cândido, Mariana, 89, 108 502, 508, 511,
o a q uim, 235 Daltro, 128, 129
M a n o e l J
Bittencourt, José Maria, 421 Caneca, Joaquim do Amor Divino, Coelho, 2 Dantas, Carlos, 102, 166
N a r c i s o T avares, 38
Bloem, João, 365 155, 172 Coimbra,
Davis, Natalie Zemon, 41, 44, 589
Bôhm, Johann Heinrich, 47, 48, 54, Carlos, Antônio, 354 Correa, À raújo, 451
Manoel da, 394 Didi-Huberman, 561, 563
58, 62, 63, 64,63,66, 67, 68, 69, 70, Carolina, Viana, 482

603
602
ÍNDICE ONOMÁSTICO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

Gouvêa, Maria de Fátima, 102, 103, ds Sa Ra 235


Dornelas, Jacó, 382 515, 516, 518, 521, 522, 524, 52 5,
Dutra, Eurico Gaspar, 27 530, 533, 343, 345, 546, 547, 559 104 | dn 8 )
Fragoso, João, 14, 102, 103 Gribaudi, Maurizio, 43, 96, 551 José 1, d.; 55, 57, 59, 62, 67, 73, 97,
E Fragoso, Tasso, 166 Guedes, Luiz Pinto, 179 98, 100, 102
França, Clemente Ferreira, 156 Guimarães, Manoel Ferreira de Araú- Josefa, Isabel, 50, 61
Elias, Norbert, 42, 43, 102, 172, 173, França, Manoel José de Sousa, 208 jo, 124 Junqueira, Gabriel, 380
269, 270, 549 Francisco, 74, 109, 182, 552 Guimarães, Manoel Luís Salgado, 42,
Emiliano, 147, 149 Francisco, José Luiz, 82 473, 563 K
Franco, Bernardo de Sousa, 555 Guimarães, Manuel Pedro, 125
F Franco, Manuel de Melo, 384, 385 Kraay, Hendrik, 13, 43, 169, 265,
Frein, Manoel Inácio Moreira, 121 H 549
Fagundes, Marivalde Calvet, 473, 475 Freitas, Antônio Joaquim da Silva, 378
Feijó, Diogo Antônio, 182, 193, 196 L
3 Freitas, Daniel Gomes de, 531 Henriques, José Thomas, 292, 299,
199, 200, 202, 203, 204, 206, 208, Funck, Jacques, 48 312, 324, 373, 376, 395
210, 213, 215-221, 223, 224, 229 Labatut, Pedro 126-132, 134-136,
3 Hermes, João, 15
236, 239, 240, 246, 267, 268, 275- G Hespanha, António Manuel, 52, 97, 144, 169, 264, 293, 426, 475
277, 281, 297, 336, 346, 351, 365, 104 Lafuente, Maurício José, 230
367-369, 370, 371, 391, 395, 424, Gabizo, Antônio João Fernandes Pi- Holloway, Thomas, 203, 204, 265-271 Lago, João de Barros Pereira do, 77
429, 596 zarro, 422 Leão, Honório Hermeto Carneiro,
Homem, Francisco Sales Torres, 222
Feliciano, José, 381, 383, 385-387, Galvão, Manuel Antônio, 348, 381, 279, 282, 337, 346, 3465,
Humboldt, Wilhelm von, 44, 561, 243, 276,
389 498, 387, 388 349, 350, 352, 392, 393, 403, 425,
3563
Felizardo, Manoel, 289, 290, 291, 293, Gama, João Luís de Castro da, 302 467, 468, 469, 470, 478,
Huntington, Samuel, 43, 97 432, 437,
298, 303, 325, 326, 337, 338, 555 Gama, Manoel Jacinto Nogueira da, 496, 555, 556, 582
Ferrão, José Carlos Mairinck da Silva, 122, 167, 243 Leite, José, 378
I
145 Gavião, Graceano, 324 Lemos, Manuel, 387
Ferreira, Silvestre Pinheiro, 169 Gayo, Manuel José da Costa Felguei- Inácio, escravo, 247-248 Leopoldina, Carolina, 552
Flory, Thomas, 209, 267, 336
ras, 51 Lima (Lima da Silva; Lima e Silva), 35,
Fonseca, Borges da, 185, 188, 189
Ginzburg, Carlo, 38, 43 40, 45, 49,51, 60, 62, 74, 85, 89,90,
Fonseca, João da Silva da, 5 0, 51, 53
Gonçalves, Bento, 282, 421, 429,
J 93, 105, 107-110, 114, 115, 122
Fontes, Lázaro, 156 495, 125, 127, 131, 132, 134, 136-138,
456, 467, 470, 471, 482, 484-492, Jard im , Jo sé Go me s, 48 6, 42 4,
Fontoura, Antônio Paulo da, 484, 485
494, 495, 498, 501, 504-508, 517, 506, 52 8; 52 7, 52 8, 54 6, 547 140, 144, 147, 149-153, 160, 161,
Fontoura, Antônio Vicente da, 484,
518, 521, 522, 524, 525, 528, 531, João, d., 90, 92, 24, 27, 10
3, 114, 163-165, 170, 173, 182, 185-188,
423, 494-500, 502-506, 509-5 12, 190, 198, 200, 207, 210-212,
545-548 123, 124, 243, 268

604 605
ÍNDICE ONOMASTICO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

240-245, 252, 256, 281, 377, 390, Machado, Andrada, 358, 394, 393 182, 183, 263, 266, 268-270, 336, Narciso, José, 78, /9
Neto, Antônio, 447, 456, 482, 483,
546, 552, 333, 359, 537, 561 Machado, João da Silva, 35 8, 365 586, 593
171, 486, 490, 491, 495, 504, 506, 512,
Lima, Câmara, 526, 536 Maciel, Alfredo Pretextato, 153, 15 8, Mello, Evaldo Cabral de, 170,
Lima, Carlos Corte Real de, 537 168, 173, 475, 476 313; 991
172
Lima, Joaquim de, 255 225 Niemeyer, Conrado Jacob, 155
Maciel, Bento Manuel Ribeiro de, 475 Melo, Antônio Manoel de, 224,
Nunes, Zeno Cardoso, 473, 4/5
Melo, Inácio Luís Madeira de, 125,
Lima, José de, 122 Maciel, Salvador José, 152, 156, 157.
Lima, Maria Joaquina Xavier de, 101 211, 432, 433, 451, 458 126, 131, 132
Lima, Oliveira, 167 Magalhães, Domingos José Gonçalves Melo, Manuel Felizardo de Sousa e,
O
Lima, Patrício Augusto da Câmara, de, 275, 276, 283, 284, 289, 290, 288, 289, 554
526, 336, 549 Oliveira, Ana Quitéria Joaquina de,
Melo, Sebastião José de Carvalho e, 55
291, 294, 295, 297, 3506-311, 320
,
Lima, Pedro de Araújo, 276, 554 321, 334, 336-339, 348, 351, 392, 86
Lima, Vicente Alves de, 481, 482, 483 Mendes, Odorico, 188, 190
393, 413-415, 422, 452, 534-536, Menezes, José Narciso de Magalhães, Oliveira, Antônio do Monte, 156,
Lins, Álvaro, 166 538, 541, 542, 550, 552, 587 77,79, 80 160
Lins, Lamenha, 155 Magalhães, João Batista, 96, 98, 99,
Montenegro, Luís José dos Reis, 375 Oliveira, Clemente José de, 252, 253,
Lippe, conde de, 47, 52, 59, 60, 62,
103 254, 256
64, 65, 66, 67, 72, 83, 96, 98, 100, Montezuma, Francisco Gomes Bran-
Magalhães, Joaquim Romero, 53
dão, 129 Oliveira, Francisco Sérgio de, 290
102, 211, 599 Mairinck, 151, 153
Moraes, João Machado, 520 Oliveira, Manuel Lucas de, 490, 495,
Lisboa, João Francisco, 338
Manuel, João, 254, 255, 270 504, 511, 527
Lopes, Florentino José, 221 Morais, Ângelo Mendes de, 27
Mariana Cândido, 109
Morais, Antônio Macário de, 147, Oliveira, Narciso Peixoto de, 536
Loriga, Sabina, 14, 42, 43, 96, 97, 99, Maria, d., 73, 100
153, 156 Oliveira, Saturnino de Sousa e, 403,
166, 562
Maria, Joana, 83, 84
Morais, Bento José de, 360 404, 405, 413, 417, 421, 472
Louriçal, 54, 60, 61
Mariano, José, 504
Morais, Eugênio Vilhena de, 166, Onofre, Luís, 129
Lucas, Manuel, 507, 512, 514 527,
Maria, Santa, 285, 290, 449, 453,
167, 269, 270, 337, 338, 340, 361, Oribe, Manuel, 406, 462, 465471,
528, 529, 547, 548 456, 482 478, 487, 493, 495
Luísa, Anna, 240, 241, 242,243, 377, 394-397, 474, 526, 547
Marinha, 84, 304, 484 Osório, Fernando Luís, 550
568, 571 Morais, José Manoel de, 133, 135, 136,
Marinho, José Antônio, 346, 380-383, Osório, Manuel Luís, 29, 30, 42, 459,
Luiza, 283, 540, 552 144-147, 149, 150-154, 157, 162,
3287-389, 391 393, 395-397, 413, 492, 493, 501, 541, 542, 546, 550,
Luiza, Cândida, 234, 235 171, 172, 185, 200, 256, 266, 223
473 582, 587, 595, 397
Marques, Fernando Pereira, 97,
98, Otoni, Teófilo, 381, 382, 385, 387,
M N
39, 102, 103 391, 396, 397, 490, 492, 493, 494,
Martins, Joaquim, 386, 387 m, 16 6, 407, 472,554, $18, 345
Macedo, Francisco de Paula, 360 Na bu co , Jo aq ui
Mascarenhas, Nelson Lages, 42, 562 Ourives, José Inácio da Silva, 454
Macedo, Francisco Paula de, 535 562
Mattos, Ilmar Rohloff de, 13, 43,
44, Napoleão, 28, 390

606 607
ÍNDICE ONOMÁSTICO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

6 Santos, Maria Januária Vilela dos, 337,


Pp 403, 405, 408, 432, 467, 472-476, Rezende, Maria Alice, 58
n t z , Ca rl os , 10 2, 16 6, 5 6 2 339
496, 553 Rheinga
o, B e n t o M a n u e l , 26 1, 40 6, 42 7, Schulz, John, 43, 205, 266
Pacheco, José Leite, 365, 371, 378 Pereira, José Jacinto, 434 Ribeir
Paiva, Israel Soares de, 544 Pereira, Maria Bastos, 594 428, 429, 431, 434, 436, 439, 445, Serrasin, João, 504

Pantoja, Gustavo Adolfo, 233 Pereira, Nicolau Martins, 156, 160 A51, 452, 455, 456, 462, 463, 470, Shockler, Francisco, 121, 167
Pardal, João Carlos, 180 Pessoa, Francisco Ribeiro, 231,234 473, 476-478, 481-483, 485-487, Silva, Alfredo Pretextato Maciel da,
Paschoal, Maria, 591 Pimentel, João José da Costa, 35 8, 394 492, 496, 509, 533 104
Pedrito, d., 482 Pinho, Wanderley, 169 Ribeiro, Gladys Sabina, 169, 263 Silva, Antônio Barbosa da, 394
Pedro, d.; 123, 124-127, 130, 138, 139, Pinto, Antônio, 452 Ribeiro, José de Araújo, 428, 439, Silva, Antônio de Morais, 97, 562
142, 144, 145, 149, 150, 152, 154, Pinto, Mariano, 483 442, 458 Silva, Bento Gonçalves da, 484
155, 160-164, 168, 172, 177-181, Piquet, Agostinho Maria, 284, 376, Rivera, Fructuoso, 452, 460, 462, Silva, Carlos Miguel de Lima e, 198,
183, 184, 186, 187, 190, 205, 210, 422, 474 465, 467, 468, 470, 471, 478, 482, 05, 1282-2555 29/51 9/95 2255
211, 228, 256, 257, 260, 276, 320, Pires, Onofre, 484-486, 522, 545 484, 487, 488, 492-494, 497, 498, 496-498, 552, 562
347, 403, 408, 413, 469, 500, 558 Pollak, Michael, 42 501, 521, 541, 546 Silva, Francisco de Lima da, 48, 49,
Pedro, Francisco, 458, 45 9, 477, 481, 404, 50, 53, 54, 58, 60, 61, 66, 68-74,
Rocha, Justiniano José da, 390,
486, 501, 513, 514, 516, 3519, 520,
Q 413 81, 85, 93, 94, 98-100 167, 187
521, 522, 523, 548, 585 Rodges, James Heide, 156, 160 Silva, Francisco de Lima e (irmão de
Pedro, Manuel, 125 Queiroz, Eusébio de, 258, 259, 271, 517, Caxias), 138, 142, 172, 180, 266,
Rodrigues, Alfredo, 315, 516,
Pedrosa, Francisco, 319, 329 316, 496, 554 371, 376, 423, 433, 442, 553
518, 519, 521, 522, 548, 549
Pedro 1, d., 37, 111, 126, 137, 159, Quintas, Amaro, 170 Rodrigues, Manoel José, 233 Silva, Francisco Gomes da, 157, 172
161, 209, 210, 241, 248, 258, 276, Quitéria, Ana, 107, 108, 109 Silva, Francisco José da, 487
Romero, Silvio, 42
284, 347, 409, 557, 585 Quitéria, Bernardina, 122 Silva, Inácio Accioli Cerqueira e, 170
Rosa, Cândido José da, 239
Pedro II, d., 32, 97, 161, 173, 174, Silva, João Manoel de Lima e, 94, 97,
Rosas, 406, 465, 466, 468, 469, 470,
180, 181, 321, 322, 323, 543, 350, R 471, 477, 492, 493, 495, 510, 528, 122, 137, 160, 167, 170, 281, 476
552, 580, 583, 596
529, 546, 54759,7 Silva, José Joaquim de Lima da, 49,
Peixoto, José Maria Pinto, 213-215, Rangel, Félix de Azambuja, 520, 521, 50, 73, 75-82, 84, 85, 88, 90, 92-
Roscio, Francisco João, 48
267, 489 522, 548 94, 97, 101-104, 107, 122, 164,
Peixoto, Paulo Matos, 33, 42 Rangel, Francisco de Souza, 156 557
S
Pereira, Bento Barroso, 142, 155 Real, João de Souza Corte, 91 Silva, José Joaquim de Lima e (tio de Ca-
Pereira, Jerônimo Jacinto, 448, 449 Rego, Pedro Paulo de Morais, 359, xias), 37, 60-62, 68, 74-84, 94, 101,
Sabino, Ricardo Leão, 376, 422
Pereira, José Clemente, 343, 346, 362, 373, 394
Sanches, Antônio Ribeiro, 100 104, 107, 108, 110, 111, 123, 125,
351, 357, 360, 361, 365, 366, 371, Reis, Joaquim Silvério dos, 86-89, Santos, Ezequiel Correa dos, 204 126, 127, 131, 133, 136, 137, 144,
372, 374, 376, 384, 386, 394, 399, 107, 108, 109, 122, 166, 375, 423 Santos, João Paulo dos, 198 160, 167, 170, 179, 181, 184-186,

608 609
ÍNDICE ONOMÁSTICO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO

Veiga, Evaristo da, 182, 210, 220,


188, 193-195, 198, 200, 233, 255, Silveira, João Antônio da, 545 T 263, 264, 266
264, 293-295, 497 Silveira, Severino Antônio da, 489
Velho, Gilberto, 13, 43, 166, 562
Silva, José Joaquim de Lima e (irmão Sisson, Sébastien Auguste, 472, 474, Taylor, Joao, 214
38 1, 3 86 Vergueiro, Nicolau Pereira de Cam-
de Caxias), 378, 387, 389, 390, 546, 362 T o m á s , M a n u e l ,
pos, 179, 180
552, 553 Soares, Ismael, 490, 491, 546 Torres, Almeida, 498
, 0, Viana, Antônio, 317
Silva, Luiz Alves de Lima e (Caxias), Soares, Paulino José, 554, 556, 562 Torres, Joaquim José Rodrigues 26
Viana, Araújo, 351, 403, 404
15, 2742, 85, 86, 102, 103, 105, Soledade, Antônio Vieira da, 539 304, 554, 556, 562
107-111, 114, Viana, Brás Fernandes Carneiro, 556
115, 118-128, 132, Soriano, Simão José, 98 Townshend, Lord, 52
135, 137, 160, 162, 164-166, 170, Sousa, Francisco das Chagas D'Ávila Vianna, Brás Fernandes, 240
173-175, 182, 183, 190, 198, 206, e, 484, 494
v Vianna, Paulo Fernandes, 240, 243,
207;:212215; 218272, 2723-295, Sousa, J. À. Soares de, 477 248, 252, 259
228, 230, 231, 233-244, 246-252, Sousa, J. Galante de, 173, 473 Vianna, Paulo Fernandes Careiro,
Vagts, Alfred, 43, 27
254, 257, 258-262, 268-271, 275, 241
Sousa, Manuel Marques de, 445, 459, Varela, Alfredo, 473, 512, 516; 517,
280-285, 287-289, 290-295, 297- 497499, 501-503, 509, 510, 525, VI, d. João, 50, 158, 243, 34/
518, 521, 522, 523, 524, 526, 547,
313, 314-335, 337-341, 345-363, 326, 533, 547 548, 549
3565-385, 387, 388, 390-397, 401- Sousa, Octávio Tarquínio de, 172, Vasconcellos, 179, 199, 200, 204,
W
430, 432-452, 454, 455, 457, 459- 263, 265, 266, 267, 270, 336, 337, 210, 228, 260, 276, 277, 278, 280,
464, 466, 467, 469-478, 481-508, 393 281, 284, 368, 395, 425, 496 Wiederspahn, Henrique Oscar, 96,
5911-547, 549-560, 562, 565, 567, Sousa, Paulino José Soares de, 351, 98, 100, 458, 473, 476, 508, 509,
Vasconcellos, Bernardo Pereira de,
569, 571, 579, 580, 582, 583, 585- 401, 461 546-548
182, 199, 204, 209, 246, 260, 265;
589, 592-599 Souto-Maior, Francisco Vicente, 384,
266, 277, 280, 336, 345, 351, 369,
Silva, Luiz Manoel de Lima e, 111, 386 X
380, 523, 554
160, 167, 433, 454, 457 Souza, Adriana Barreto de, 42, 43,
Vasconcelos, Luiz de, 75, 92
Silva, Manoel Antônio da, 372, 378 96, 166, 267, 268, 270, 336, 393, Xavier, José Joaquim da Silva, 86
Vasconcelos, Miguel de Frias e, 178,
Silva, Manoel da Fonseca de Lima da, 473, 475, 550
179, 180, 184, 212, 219, 220, 221,
93, 94, 182, 222, 256, 281 Souza, Iara Lis Carvalho de, 168, 174
424, 425, 474, 475, 496
Silva, Manoel da Fonseca de Lima e, Souza, José Antônio Soares de, 104
37, 111,93, 94, 104, 132, 137, 160, Souza, Luiz de Vasconcelos e, 75
170, 179, 182, 188, 190, 200, 222, Spalding, Walter, 271, 414, 428, 472,
256, 281, 282, 497, 553 473, 474, 475, 476, 477, 512, 526,
Silva, Manoel do Nascimento Castro 545, 545487,, 550
E 222
Silva, Miguel Gabriel Ignácio da, 121

610 61
Seja um Leitor Preferencial Record
e receba informações sobre nossos lançamentos.
Escreva para
RP Record
Caixa Postal 23.052
Rio de Janeiro, RJ - CEP 20922-970
dando seu nome e endereço
e tenha acesso a nossas ofertas especiais.

Válido somente no Brasil.

Ou visite a nossa home page:


http://www.record.com.br
| |]
MM

| Caxias herói nacional foi uma construção que teve início

nos anos 20 do século passado Met a liatolT em 1949, com

a inauguração do panteão a ele dedicado. Esse é


o duque de Caxias que todos conhecemos. Neste livro,

Adriana Barreto de Souza busca e revela um outro

Caxias, o Luiz Alves de Lima, membro de uma família de

militares portugueses que ascendeu na sociedade imperial


da época até atingir o topo da sua hierarquia. O livro se

concentra no período de formação de Caxias e vai até a

pacificação do Rio Grande do Sul. Salienta dois momentos


cruciais na vida de Luiz Alves de Lima: o casamento com

uma filha de duas das famílias mais importantes lo Rio

de Janeiro e o aprendizado político de sete anos como

comandante das Guardas Municipais Permanentes da

Corte. À ascensão social e a habilidade de mediador

foram aí consolidadas. Somos apresentados a um Caxias

para além do monumento e da memória, a um Caxias

mais humano, mais histórico, sem que por isso ele perca

a estátua de um grande brasileiro do século XIX. Adriana

Barreto apela Caxias do monumento e restitui-lhe o rosto

humano, abrindo novo caminho em sua biografia.

José Murilo de Carvalho

|
ISBN 978-85-200-0864-5
|
|

|
| |
|
9478852 0 Õ 0844
y5!

Você também pode gostar