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DE CAXIAS
O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
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Adriana Barreto de Souza
Duque de Caxias
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CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA
Rio de Janeiro
2008
COPYRIGHT O Adriana Barreto de Souza, 2008
CAPA
Diana Cordeiro
DIAGRAMAÇÃO
ô de casa
Direitos desta edição adquiridos pela Wilhelm von Humboldt, Sobre a tarefa do
EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA historiador. Anima — História, teoria e cultura, Rio de Janeiro,
Um selo da
EDITORA RECORD LTDA. ano 1, nº 2, 2001, p. 79-80.
Rua Argentina 171 — 20921-380 Rio de Janeiro, RJ — Tel.: 2585-2000
Impresso no Brasil
2008
Para Wagner e Clara,
uma história de tanto amor
AGRADECIMENTOS 13
SIGLAS 17
PREFÁCIO: A BIOGRAFIA COMO ESCRITA DA HISTÓRIA 19
INTRODUÇÃO: O DUQUE-MONUMENTO 27
IV. Da chaga aberta deve nascer o espírito da ordem: a metamorfose Conclusão 551
em nobre e general 273 Anexo I: Genealogia de Luiz Alves de Lima e Silva — Duque de
MISTURAR SANGUES É MISTURAR DESTINOS 283 Caxias 565
MAIS MILITAR QUE POLÍTICO 290 Anexo IJ: Cronologia de Luiz Alves de Lima e Silva — Duque de
A GUERRA CIVILIZA 295 Caxias 567
COMBATES, ANISTIAS, INTRIGAS E ESPIAS 311 Anexo Ill: Euacios me rar Aços 373
A GRANDE FAMÍLIA BRASILEIRA 320 Anexo IV: Instruções Imperiais 575
Fontes 579
V. Em cena, o delegado de José Clemente Pereira: Luiz Alves adere aos Fe jfe ; Ra
asia Indice onomástico 601
princípios conservadores 343
OS ÁULICOS 347
CHAMANDO OS PAULISTAS À ORDEM 354
SR. DIOGO ANTÔNIO FEUÓ 365
MINAS O CHAMA 374
MORTE AO BARÃO DE CAXIAS 385
A
10
Agradecimentos
13
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
AGRADECIMENTOS
João Fragoso, Maria de Fátima Gouvêa e Antônio Carlos Jucá de
Sampaio abriram espaço para a discussão do primeiro capítulo deste li- Com Amara Rocha e Virginia Buarque partilhei dúvidas e conflitos
vro no Antigo Regime nos Trópicos: Centro de Estudos sobre a Dinâmica durante o doutorado. Duas amigas que me ajudaram a ver como nos-
Imperial no Mundo Português e fizeram críticas fundamentais. Desde en- sas inseguranças e dores podem transformar-se em elementos de en-
tão, é nesse fórum que tenho encontrado apoio para enfrentar o desafio contro. À Renato Amado sou imensamente grata pela confecção dos
de recuar ao mundo português setecentista. Aí também tenho contad três mapas mais complexos deste trabalho: os dois do Rio de Janeiro
o
com o companheirismo de um colega de universidade, Roberto Guedes. e um do Maranhão.
À todos, meus agradecimentos. Essa pesquisa exigiu que percorresse arquivos particulares, não aber-
Em 2001, estive vinculada ao Laboratoire de Démographie Histori- tos ao público, e arquivos públicos com acesso muito burocratizado. Ao
que da École des Hautes Études en Sciences Sociales com uma bols embaixador João Hermes e à sua esposa, Maria Amélia da Fonseca Cos-
a- ta Pereira de Araújo, agradeço a gentileza de abrir as portas de sua casa
sanduíche fornecida pelo CNPq. A Sabina Loriga, minha orientadora
em para que pesquisasse nos documentos da família Fonseca Costa. A Regi-
Paris, sou grata pela leitura de meu projeto de pesquisa e por suas aula
s, na Rego Monteiro, ao Dr. José Luís Campinho Pereira e à sua esposa,
um espaço privilegiado de encontro de alunos de várias nacionalidades.
Aparecida Pereira, sou grata pelas agradáveis tardes de conversa sobre
À riqueza desse diálogo me abriu um novo campo teórico, formado por
história do Brasil e pela chance de pesquisar em parte do arquivo do Dr.
uma bibliografia italiana e alemã.
Eugênio Vilhena de Morais. Às trinetas do duque de Caxias, Irene Cunha
Quando retornei de Paris, pude dar continuidade à discussão de par-
Carneiro da Silva, Eliana Cunha Cavour Maria, Thereza Queirós Almei-
te desses textos em um grupo de leitura sob orientação de Manoel Luís
da Cunha e Gisela Cunha Carneiro da Silva, agradeço a simpatia com
Salgado Guimarães - “Abordagens Teóricas da Cultura Histórica Oito que me acolheram em Quissamã e disponibilizaram os documentos da
-
centista?. Sou grata a ele e a todos os colegas do grupo pela oportunida- família. Ao coronel Vidal da Silveira Barros agradeço o rápido acesso ao
de de partilhar em reuniões mensais, durante dois anos, minhas dúvidas Arquivo Geral da Polícia Militar do Rio de Janeiro.
teóricas. O ambiente de companheirismo então criado tornou os últimos Grande parte das imagens deste livro pertencem à Coleção Mace-
anos de doutorado bem menos solitários. do Carvalho. O acesso a essas imagens e a sua reprodução só foram
Em Paris, fiz três boas amizades gaúchas. Temístocles Cezar e Eliane possíveis graças à generosidade de Lúcia Macedo Carvalho. A ela
Cezar foram extremamente generosos com suas dicas e apoio em terras meu agradecimento.
estrangeiras, lembranças que sempre guardarei com carinho. Ben Enquanto estive em Paris, contei com o dedicado auxílio de uma as-
ito Bis-
so Schmidt se tornou um constante interlocutor. sistente de pesquisa, Cíntia Rodrigues Dias Gouveia, que ainda conti-
Desde março de 2005, integro o corpo docente do curso de História nuou a pesquisar por mais alguns bons meses após meu retorno. Sem sua
da UFRuralR]. A Caetana Damasceno, Elisa Guaran ajuda, não teria finalizado a tempo essa pesquisa.
á, Luciana de Amo-
rim Nóbrega e Margareth de Almeida Gonçalves agradeço Em Octávio Souza continuo encontrando uma escuta atenta e, nes-
a receptivida-
de com que me acolheram na Universidade. Luís tes últimos anos, venho descobrindo ainda a possibilidade de uma in-
Edmundo de Souza
Moraes, com sua admirável dedicação terlocução inteligente e sensível sobre a história do Brasil.
à universidade pública, bom hu-
mor (que é fundamental) e generosidade, Agradeço à Capes a bolsa de pesquisa recebida durante o doutorado.
já é hoje um grande amigo.
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Prefácio: A biografia como escrita da História
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INTRODUÇÃO: O DUQUE-MONUMENTO
riência.!? Acompanhar a trajetória de Luiz Alves, de forma a recompor termo não é casual. Foram os nomes mencionados nos documentos, as
o jogo de identidades e oposições responsável pela formação de uma cidades que percorreu nas campanhas militares e os postos assumidos
rede de solidariedades que, no caso específico, deu lugar a um Projeto por ele que definiram os maços e coleções de documentos a ser anali-
político. A mesma rede que fez dele o “grande pacificador” e um dos sados. Tentava, com isso, recompor a rede social em que Caxias se
primeiros chefes do Partido Conservador. achava inscrito em diversos momentos de sua vida. O conceito de con-
figuração é, nesse caso, fundamental. Ele remete a uma imagem gráfi-
ca definida por esse exercício: todas as linhas partem do nome e
BIOGRAFANDO O DUQUE concorrem para o nome “Caxias”.
Essa estratégia metodológica expressa uma posição teórica. Todo in-
Os predicados atualmente atribuídos ao duque de Caxias - um general ex- divíduo ocupa um lugar numa teia humana composta de relações que
tremamente disciplinado, rigoroso e avesso à política — são completamente não lhe é permitido modificar senão dentro de certos limites. Escrever
estranhos aos valores e até mesmo aos critérios que organizavam a carreira um trabalho biográfico é, em parte, pensar essas relações que se precipi-
militar no século XIX. Essa é a imagem de um militar moderno, que rece- tam sobre o indivíduo no momento de seu nascimento e por meio das
beu uma formação orientada pela disciplina de uma vida de caserna. quais ele se insere no mundo.?! O conceito de configuração expressa essa
Entronizado em 1949 no panteão da Avenida Presidente Vargas, rede de dependências de forma plástica, como inter-relações em constan-
como símbolo de uma instituição já bastante distante daquela a que te adaptação. Os lugares por onde Caxias circulou, o modo como agia
serviu, e após 21 anos de ditadura militar, o diálogo com o duque de em relação às pessoas e o que decidia lhe permitiam dar continuidade às
Caxias se tornou cada vez mais difícil, sobretudo para historiadores, relações herdadas, reelaborá-las ou romper com elas, além de dar-lhe a
chance de tecer novas alianças. É nesse jogo relacional que se vai dese-
políticos e intelectuais de esquerda. Nesse lugar, só havia duas maneiras
de tratá-lo: ou por meio de textos laudatórios, escritos em sua maioria nhando o que entendo por biografia. Sem dúvida, esse exercício se
aproxima de questões da psicanálise, mas, apesar de reconhecer a pre-
por militares, ou por textos que, na oposição que faziam ao exército do
sença de componentes inconscientes na reação e na ação dos indivíduos
golpe de 1964, demonizavam seu patrono — o duque de Caxias. Mas
em sociedade, não é essa a minha questão. Outro conceito-chave é o de
ambos os tratamentos são — acredito eu — equivocados. Isso porque eles
ação. Ele pretende enfatizar o que há de consciente nas escolhas de um
o mantém nesse mesmo panteão, dialogando com um “duque-monu-
indivíduo, numa conduta que pretende atingir determinados fins, funda-
mento? erguido pelo século XX.
dos em projetos pessoais ou coletivos e, no caso, voltados para a políri-
Por isso, reafirmo: a preocupação central da pesquisa foi devolver
ca. Esses projetos, juntamente com os indivíduos, acham-se inscritos
Caxias à sua época. Pretendia acompanhar sua trajetória e recuperar
nessas mesmas redes de dependência, igualmente sujeitos às contingên-
o jogo relacional a partir do qual sua atuação como sujeito histórico
cias da experiência, e, por isso, guardam também certa plasticidade.
efetivo, em ação, era capaz de adquirir sentido. Assim, o nome
“Ca- Constituem uma conduta — como maneira de articular e expressar inte-
xias” funcionou, para empregar uma clássica imagem de
Carlo Ginz- resses, aspirações e sentimentos — e engendram práticas concretamente
burg, como uma bússola, que me guiou pelo vasto universo docume
ntal negociadas por indivíduos diante de um campo de possibilidades. À ex-
dos arquivos e organizou a narrativa.?º Procurei acompanhá
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Notas
15. Refiro-me aqui às reflexões de Bourdieu sobre o que ele chamou de “ilusão biográ-
fica”. Pierre Bourdieu, “A ilusão biográfica”.
16. Um trabalho que chama a atenção para a inexistência de um Exército brasileiro por
meio de importante pesquisa empírica é o de Hendrik Kraay, Race, State, and Ar-
med Forces in Independence-Era Brazil.
17. Uma tipologia é apresentada e discutida por Samuel Huntington, O soldado e
o Estado, e por Alfred Vagts, History of militarism. Sobre os traços aristocrá-
ticos do Exército português há um trabalho em andamento de Fernando Dóres
1. O “Programa Geral das Comemorações” foi editado pela Revista Mili Costa, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Pode-se ter
tar Brasileira
de 25 de agosto de 1949, uma idéia desse trabalho por meio do artigo “O bom uso das paixões”. Os
2. O ponto de partida desse trabalho foi o texto de Celso Castro primeiros autores a apontar esses traços no Exército brasileiro foram José
“Entre Caxias e
Osório: a criação do culto ao patrono do Exército brasileiro”. Murilo de Carvalho, “As Forças Armadas na Primeira República”, e John
A ampliação dessa
pesquisa resultou em seu livro A invenção do Exército brasilei
ro. Sobre o projeto Schulz, O Exército na política. Esse é um tema sobre o qual tenho trabalhado
político que fundamenta esse movimento conservador republica desde o mestrado. Ver Adriana Barreto de Souza, O Exército na consolidação
no, ver José Muri-
lo de Carvalho, “Forças Armadas e política, 1930-1945”. do Império.
3. Uma análise mais detalhada sobre os monumentos pode ser enc 18. As reflexões de José Murilo de Carvalho em A construção da ordem e Teatro de
ontrada em Adriana
Barreto de Souza, “Osório e Caxias”. sombras e de Ilmar Matos em O tempo saquarema sobre a construção do Estado
4. Sobre a geração de militares que proclamou a república, imperial brasileiro foram fundamentais na estruturação dessas reflexões.
ver Celso Castro, Os mili-
tares e a República. 19. O conceito de “experiência” é trabalhado aqui seguindo as reflexões de Norbert
3. Joaquim Pinto de Campos, A vida do grande Elias em A sociedade dos indivíduos. À aplicação dessa noção para pensar a for-
cidadão brasileiro, p. 9.
6. Celso Castro, “Entre Caxias e Osório”, p. 110 mação de um grupo de elite política segue a discussão de Ilmar Mattos, Op. cit., e
.
7. Sobre o projero de história nacional produzido pelo José Murilo de Carvalho, A construção da ordem. Para pensar o Exército, ver Sa-
IHGB, ver Manoel Salgado
Guimarães, “Nação e civilização nos trópicos”. bina Loriga, “À experiência militar”.
8. Uma análise das biografias pode ser encontrad 20. Carlo Ginzburg, “O Nome e o Como: troca desigual e mercado historiográfico”,
a em Adriana Barreto de Souza,
“Entre o mito e o homem”. in: A Micro-História e outros ensaios.
2. Toda a reflexão aqui realizada sobre memóri 21. A referência para pensar a relação indivíduo-sociedade continua sendo Norbert
a se baseia em Michael Pollak,
L'expérience concentrationnaire, e no artigo Elias, A sociedade dos indivíduos.
do mesmo autor “Memória, esque-
cimento, silêncio”. 22. O conceito de “configuração social” pensado em termos geográficos e profissionais
10. Joaquim Pinto de Campos, A vida do gr
ande cidadão brasileiro, p. 396. tem orientado o trabalho de um grupo de pesquisadores europeus que procura
11. Nelson Lage Mascarenhas, Uya jorna lis
ta no Império, p. 243. fundamentar o conceito com base em pesquisas empíricas sobre a trajetória de in-
12. Paulo Matos Peixoto, Caxias: nome tut
elar da nacionalidade, p. 42. Entre os divíduos em diferentes cidades européias. Pode-se ter uma boa idéia do trabalho de
nem menciona m a Ocupação que cada um desses pesquisadores por meio do livro organizado por Maurizio Gribau-
a de cargos políti íti cos, podemos citar Silvio Romero,
um texto intitulado O Dugue de Ca em
xias e a integridade do Brasil di, Espaces, temporalités, stratifications.
13. Joaquim Pinto de Campos, op. Cit., p.
36. 23. Os conceitos de “projeto” e de “campo de possibilidade” são largamente utilizados
7 no
14. Essa perda da dimensão humana é
analisa da por Norbert Elias, Mozart: socio- por Gilberto Velho para analisar trajetórias e biografias. Sigo aqui suas reflexões
negociação
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No dia 5 de outubro de 1767, a nau da Ajuda atracou ao cais do porto
do Rio de Janeiro. O vice-rei do Estado do Brasil, conde da Cunha,
aguardava ansioso sua chegada. Sabia que, depois disso, a rotina da ci-
dade mudaria completamente. À nau trazia o tenente-general alemão
Johann Heinrich Bôhm, alguns brigadeiros e coronéis. Foi a última em-
barcação a chegar à cidade. Antes dela, já haviam atracado a esse mesmo
cais os quatro vasos de guerra que a escoltaram durante a travessia do
Atlântico e os navios que fizeram o transporte das tropas enviadas por
Sua Majestade. Uma operação que movimentou o porto do Rio de Janei-
ro ao longo de todo o mês de setembro, despejando na capital três regi-
mentos do Exército português.
O acontecimento era tão importante que, mesmo acamado, sofrendo
há dias “um grande afluxo catarral com febre ativa”, o conde da Cunha
não deixou de recepcionar o tenente-general. Apesar de não ter ido ao
cais do porto, como era esperado, preparou, na noite desse mesmo dia,
uma ceia em sua casa, dispensando a Bôhm e seus oficiais “todas as de-
monstrações de alegria e estimação”. Na verdade, o conde não tinha
opção. O fato de não ter comparecido aos festejos no cais já despertaria
comentários, e para amenizá-los o jantar era obrigatório. Semanas de-
pois, a fim de evitar maiores embaraços em Portugal, escreveu direta-
mente ao secretário de Estado do Reino e das Mercês para justificar-se.
Foi só então que contou sobre o estado “precário” de sua saúde.!
O tenente-general Bôhm gozava de prestígio na corte portuguesa.
Sua contratação fora indicada pelo conde de Lippe — um oficial da re-
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Janeiro. À carreira de Francisco de Lima só findou com seu retorno a Por- ras, mas sim de disputas políticas ocorridas no próprio reino.
À ascensão de d. José 1 ao trono em 1750 e a nomeação de Sebastião
tugal em 1777, como brigadeiro e governador de Castro Marim, também
José de Carvalho e Melo, futuro marquês de Pombal, para a Secretaria
em Faro. À Coroa, reconhecendo os serviços que prestou no Brasil, 0 agra-
de Estado da Guerra e Negócios Estrangeiros marcaram o início de um
ciou com uma patente de oficial-general e um cargo administrativo.
período de grandes mudanças em Portugal.” Nessa época, uma série de
O elemento que acredito ter sido um importante diferencial nessa
reformas foi implementada com o objetivo de fortalecer o Estado e, para
ascensão de Francisco de Lima no Exército, catalisando possíveis in-
que elas surtissem o efeito desejado, recorreu-se a uma dura política de
fluências de seu pai ou de um apadrinhamento, foi a decisão, tomada eliminação de todas as formas de contestação à autoridade central.
quando ainda era um jovem tenente, de deixar a casa dos pais e sua terra Como essa ação procurava conter setores importantes e tradicionais da
natal para lançar-se em uma expedição militar às Índias Orientais. O sociedade, a Coroa foi forçada a reelaborar suas bases de apoio políti-
tenente-general Bôhm, décadas mais tarde, já no Rio de Janeiro, consi- co.% O rigoroso combate ao antiabsolutismo da nobreza, nesse caso, é O
derou essa experiência do então coronel Lima uma “escola”, quando ele ponto que mais interessa. Lembrando que o grupo de oficiais generais de
teria aprendido a ser um “oficial de valor e muito honrado”.3 Embora um Exército de Antigo Regime era composto na sua maior parte de ho-
não tenha sido possível precisar o significado dessa experiência, ao que mens de origem nobre, fica fácil entender essa ação centralizadora da
tudo indica, tratava-se das campanhas de defesa das “relíquias da Índia Coroa.” Submeter a nobreza era também uma forma de assumir O con-
portuguesa”, ameaçadas na década de 1740 pelo crescente avanço do trole sobre as forças militares de Portugal.
império dos Maratas. Pelo menos, essas são as únicas campanhas milita- Nesse sentido, uma importante medida adotada pelo marquês de
res de que se tem notícia na região. Aberta a crise em maio de 1740, a Pombal foi a criação, em 1757, do título de cadete. O alvará, datado de
Coroa mandou organizar uma esquadra de seis naus com quatro bata- 16 de março, afirmava o interesse da Coroa de que a nobreza de seu
lhões de infantaria para defender Goa. Essa expedição, a primeira de Reino tivesse “escolas próprias para se instruir nas artes e disciplina mi-
uma série, partiu do Tejo sob o comando do marquês de Louriçal. Uma litares”. Para atrair essa nobreza, avessa ao serviço militar sistemático, O
outra partiu de Lisboa em princípios de 1746. O alvo dessa vez era Alor- rei favorecia o ingresso de seus filhos no Exército, concedendo-lhes uma
na, reconquistada pelos portugueses em maio daquele mesmo ano. nova distinção — o título de cadete.”
Às
datas coincidem. À promoção do tenente Francisco de Lima a capitão A medida era claramente intervencionista e tinha o objetivo de ame-
ocorreu em junho de 1740, um mês após a partida nizar, por meio de um investimento a longo prazo, Os problemas gerados
dos primeiros regi-
mentos de infantaria — vale lembrar que o tenent por um oficialato composto de homens que, na sua maioria, não faziam
e Lima pertencia a uma
unidade de infantaria — que se dirigiam
para Goa. Já a promoção a sar-
idéia do que significava subordinação. Nesse ponto, vale fazer duas ob-
gento-mor data exatamente de maio de servações. Primeiro, é preciso ficar atento ao termo “escola”. Ele não se
1746, q uando os portugueses
saíram vitoriosos da praça de Alorna.4 refere à criação de um estabelecimento de ensino, formalmente organiza-
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no Rio de Janeiro, por meio dessa expedição militar, tinha objetivos mui.
to precisos. À monarquia pretendia amenizar as condições deploráveis Uma fatalidade marcara a chegada do coronel Lima ao Rio de Ja-
em que se achavam as forças militares da cidade, demonstrar a central;. neiro. Um tombo que tomou ainda na nau da Ajuda, quando fazia a
dade do poder da Coroa e, sobretudo, arregimentar homens para enfren. travessia do Atlântico, o deixou inutilizado para o serviço durante pelo
tar os espanhóis no Sul. Sua ação foi sempre defensiva. Só organizava as menos os dois primeiros meses em terra. Quem assumiu seu lugar no
comando do Regimento de Bragança foi seu imediato, o tenente-coro-
forças militares quando se via diante de uma guerra. Se não militarizou
nel do mesmo regimento.
o Reino, não faria isso em suas colônias.
À situação era bastante delicada. O desembarque de uma unidade
Apesar desses limites, o tenente-general Bôhm contava, nos regimen-
inteira do Exército em uma cidade estranha, estando tudo ainda por
tos regulares, com total liberdade de ação, sendo inclusive esperado que
acomodar-se, desde quartéis até a definição de áreas de atuação, criava
aplicasse neles seus princípios modernos de disciplina e comando. Foi
um ambiente propício à indisciplina, exigindo do comandante mais rigor
para isso que havia sido contratado. Ainda que o marquês de Pombal no controle das tropas. O Regimento de Bragança, bem como os demais
não pretendesse reproduzir na colônia o modelo militar prussiano, algu- regimentos do Reino, não estava imune a essas dificuldades e, no seu
ma mudança ele projetava. Os incidentes no Sul prosseguiam, e, em bre- caso específico, por não contar com seu comandante, elas seriam ainda
ve, seria preciso intervir. maiores. Mas o general Bôhm já atentava para isso. O estado de total
Passado o momento inicial de adaptação, o general Bôhm começou a desorganização em que mergulhou esse regimento durante os primeiros
trabalhar com determinação. Segundo a avaliação do marquês do Lavra- meses em terra não preocupou Bôhm, que, em seu relatório, afirmou ao
dio — um crítico da arrogância do general —, ele era profissionalmente com- marquês de Pombal que o retorno do coronel Francisco de Lima e “seu
petente, procurava manter a tropa em bom estado, assisti-la em tudo de exemplo, emulação e conselhos remediariam essa situação”.5
que precisava, e submetia seus homens a forte disciplina, exigindo que os Um ano depois, em outubro de 1768, Bôhm não parecia mais tão
“Artigos de Guerra” fossem observados, principalmente pelos oficiais de tranquilo. Pela primeira vez, decidia participar ao marquês de Pombal
sua expedição. Para os mais jovens, como José Joaquim, a experiência episódios de indisciplina ocorridos na cidade. Era o Regimento de Bra-
podia ser uma ótima chance de fazer “escola”, entrando em contato com gança que continuava criando problemas. Os excessos cometidos por
uma cultura militar cujos resultados vinham causando impacto na Europa. seus oficiais inferiores e soldados — escrevia o general — “já iam longe
Já para os oficiais mais velhos, como Francisco de Lima, as dificuldades demais”, deixando o regimento em um estado de “fazer pena”. Os pro-
foram muitas. À disposição para cruzar o Atlântico como comandante de blemas eram vários, desde a tradicional — mas não menos preocupan-
um regimento do Reino, sob as ordens de um general renomado, após lon- te — deserção até casos de roubo e desordens durante a patrulha da
gos anos de prestação de serviços à Coroa, a princípio garantiria prestígio cidade. Entre os casos de roubo, um tinha sido levado ao Conselho de
a qualquer coronel e, por consegiiência, a obtenção de novas distinções € Guerra, e, uma vez julgado, o soldado foi condenado a uma “ignominio-
de cargos na burocracia real, expressão da munificência da Coroa. Mas à sa expulsão”. A situação parecia estar fora de controle. Mas Bôhm, na
história de Francisco de Lima foi bem diferente. Apesar de seu esforço, O qualidade de comandante das tropas das Índias Ocidentais, assegurou
coronel parece não se ter adaptado a esses modernos valores militares, ao marquês que “nada será poupado para chamar [o regimento] ao seu
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expedição para ele acabou se tornando uma experiência melancólica. dever”. Francisco de Lima, após se restabelecer da queda que sofrera,
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davia, vale destacar que ele teve uma boa chance de voltar para Portugal,
e a recusou. Em outubro de 1781, suas irmãs, que viviam em um conven- tra Os espanhóis nenhuma outra oportunidade se abriu para os militare
s
to na freguesia de Beja, encaminharam um requerimento à Coroa, solici. que serviam no Rio de Janeiro, podemos compreender mel
hor as dificul-
tando sua volta. Argumentaram que precisavam do irmão para cuidar dades por que passou. À ascensão de José Joaquim na carreira, de modo
dos bens deixados por Francisco de Lima. O brigadeiro Lima tinha fale- diverso do que ocorrera com o irmão, foi lenta.! O menor tempo de
cido havia dois anos, em 1779, e os procuradores vinham demonstran- espera por uma promoção foi de sete anos, pela patente de capitão, con-
do— na opinião dasirmãs — pouco zelo no trato dos bens.” Sua Majestade, cedida pouco antes de seu embarque para o Sul. Depois disso, tudo que
considerando justo o apelo das senhoras, autorizou a volta do capitão obteve foi uma transferência, ainda no mesmo posto de capitão, da 7º
José Joaquim. Este, porém, optou por ficar no Rio de Janeiro.” Companhia do Regimento de Bragança para a de granadeiros, que goza-
va de mais prestígio. Ainda assim, o meio por que conseguiu essa trans-
ferência evidencia sua ansiedade diante da total falta de oportunidades
na cidade para os oficiais militares de baixa patente.
JOSÉ JOAQUIM E A METAMORFOSE SOCIAL DA FAMÍLIA
Em dezembro de 1782, o novo vice-rei — substituto do marquês do
Lavradio —, Luiz de Vasconcelos e Souza, precisando expulsar “alguns
A morte de Francisco de Lima menos de dois anos após seu regresso a
estrangeiros” que se tinham apossado da ilha da Trindade, mandou orga-
Portugal não deve ter sido fácil para José Joaquim. Desde a perda dos
nizar uma expedição militar. Por tratar-se de uma operação de pequeno
pais, Francisco vinha exercendo a função de chefe da família Lima. A porte, convocou apenas a companhia de granadeiros do Regimento de
entrada de suas irmãs para um convento provavelmente foi a solução que Bragança. Sabendo da notícia, José Joaquim logo se animou. Não porque
encontrou para embarcar com tranquilidade rumo ao Brasil. Para um pertencesse a essa unidade — ainda estava na 7º Companhia —, mas por-
coronel arrimo de família, que partia a serviço da Coroa, não devia ser que havia sido informado de que o capitão de granadeiros estava adoen-
difícil conseguir uma vaga para as irmãs em um dos conventos do reino.” tado. Desse modo, não pensou duas vezes: redigiu um requerimento e o
Quanto ao irmão, a solução era mais simples. O jovem seguiria seus pas- encaminhou diretamente ao vice-rei. Nele, solicitava a vaga do capitão
sos, ingressando no Exército, em que ele, Francisco, poderia ajudá-lo: fez enfermo. Luiz de Vasconcelos, sensível ao interesse de José Joaquim de
O irmão assentar praça de cadete aos 14 anos de idade — aproveitando o Lima, não viu problemas em autorizar a substituição. Mas, para azar do
benefício instituído dois anos antes — e colocou-o para servir sob suas capitão Lima, o rapaz recuperou-se em tempo e, apresentando-se ao vice-
ordens. Trabalharam juntos durante catorze anos, boa parte desse tempo rei, conseguiu reverter a situação. Como atestaria um superior de ambos
longe de Portugal. Por tudo isso, a cumplicidade entre os irmãos Lima os oficiais, o coronel comandante do Regimento de Bragança: José Joa-
devia ser grande e — ainda que José Joaquim tenha feito sua escolha— ver- quim era um oficial “ambicioso”, buscava apenas “uma ocasião de se
se no Rio de Janeiro sem poder contar nem mesmo com o apoio distante distinguir”. E foi desse modo, “em atenção a seu incansável esforço”, que
de Francisco deve ter sido uma dura experiência. o vice-rei solicitou à Coroa sua transferência para a companhia de grana-
Capitão do regimento de Bragança, jovem, solteiro e vivendo em deiros. Ainda assim, José Joaquim teve de aguardar dois anos pela trans-
uma cidade que não era a sua, a condição de José Joaquim não era con- ferência, que só saiu em dezembro de 1784. Até então, permaneceu na 7?
fortável. Se somarmos a isso o fato de que após a campanha Companhia do Regimento de Bragança, em serviços ordinários.”
no Sul con-
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AS
Já o perfil que constrói de Xavier Curado é bem
diferente:
muito semelhante. Além do título de cadete, ambos participaram da
O suplicado Joaquim Xavier Curado é mais campanha contra os espanhóis. Até esse momento, a vantagem ainda era
um homem do mundo
outra polidez e creio que mais instrução; por de José Joaquim. Tinha a seu favor a antiguidade. Embarcou para o Sul
isso mais fácil de o
e produzir suas idéias e seu comportamento como capitão, enquanto Xavier Curado era alferes. A questão é que,
o tem feito reputar por -
sujeito digno na sociedade civil e militar:
não podendo eu nesta Rn depois de terminada a guerra, José Joaquim não conseguia mais serviços,
parte fazer um ajustado conceito do seu caráte
r (...) pois há pouco tem e o oficial goiano, dispondo de uma boa rede de relações e conhecendo
o comunico.
3 o interior da América portuguesa, teve mais facilidade para se empregar.
Não à toa, José Narciso menciona sua dignidade na sociedade civil. Essa
Ão apresentá-los, José Narciso mostra com clarez
a a diferença que há é a diferença entre os dois oficiais. Xavier Curado voltou para os “ser-
entre os dois oficiais. Mas é preciso ter alguns cu
idados. À expressão tões” e, cruzando diversas regiões, servia à Coroa no combate aos “ín-
“português velho” pode nos levar a dispor esses pe
rfis no tempo: É a dife- dios bravios” que ameaçavam ricas fazendas, a maior parte delas situada
rença entre oficiais seria geracional. Todavia, na Paraíba Nova, entre São Paulo e Minas. Depois disso, conseguiu ocu-
isso não é verdade. José
Joaquim de Lima era três anos mais novo que Joaq par um cargo político, como governador de Campos, sendo, em seguida,
uim Xavier Curado.
Logo, esses dois perfis de militar coexistiram. Não po enviado pelo vice-rei em comissão à corte portuguesa. Foi exatamente o
demos afirmar que
sm era mais moderno que o outro, já ultrapassado. Outr exercício dessas funções que lhe garantiu o posto de tenente-coronel
o ponto que nos
induz ao erro é a suposta instrução de Joaquim Xavier Cura agregado ao 1º Regimento de Infantaria do Rio de Janeiro, onde seu
do. Pior, essa
idéia completaria a anterior, fazendo-nos acreditar que os ofi destino cruzou com o de José Joaquim. A patente militar foi a moeda
ciais mais
jovens passavam por alguma formação acadêmica. Joaq utilizada para remunerar seus serviços políticos.
uim Xavier
Curado não só era mais velho, como também tinha exatamente o me O que fazia de Joaquim Xavier Curado um “homem do mundo” era
smo
nível de instrução de José Joaquim. Nenhum dos dois passou por uma esse seu trânsito social. Essa inserção política o levava a ser promovido
academia militar ou tinha educação superior. Tudo o que possuíam— par no Exército. Ao agir desse modo — esse é o motivo da reação de José
a
empregar uma expressão da época — eram os “rudimentos da escola ele- Joaquim =, o governo simplesmente ignorava a trajetória de oficiais que
mentar”. Xavier Curado, quando rapaz, até pretendia estudar em Lis- havia anos serviam nos regimentos da capital, aguardando, paciente-
boa, mas, com a morte do pai, tudo o que conseguiu foi sair de Goiás, mente, uma chance de provar sua fidelidade à monarquia. Esse é o ponto
onde nasceu, para o Rio de Janeiro. Chegando à capital, recorreu, tal central da argumentação do requerimento de José Joaquim de Lima. À
como José Joaquim de Lima, ao mais novo benefício criado pela Co Coroa não estava levando em conta o princípio — caro aos militares — de
roa, antiguidade. O sargento-mor Lima tinha três anos e nove meses a mais
assentando praça no Exército com o título de cadete.
Se a diferença entre os oficiais não era geracional nem de de serviço que o tenente-coronel Curado. Esse ponto será reforçado por
formação, todas as autoridades chamadas a avaliar seu requerimento. O parecer do
O que os distinguia? O termo que José Narciso opõe a “português velho”
é “homem do mundo?. Como não conhecia o “caráter militar” de Joa-
a” EE
33
uma =
tenente-general José Narciso Menezes é muito claro. Apesar das críticas
quim Curado, o tenente-general o julgou a par que fez a José Joaquim de Lima, no momento de pesar as qua idades de
tir de sua “dignidade na
au
sociedade civil”. Na verdade, a tra e E ambos os oficiais na “balança da justiça”, afirmou sua posição “fiel a
jetória dos dois oficiais no Exército é
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esroo
di é de mao de 175, com Jara Ma Fon
que conseguiu passar a capitão de gra”
aos interesses dessa pesquisa. 91 O que vale destacar é que os Fonseca Costa
eram bem relacionados na cidade e possuiam vínculos na corte. Esses
dois
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to de seu pai. Certamente, ao escolher Manoel da Fonseca, o marecha| Sepultado no convento de Santo Antônio, honraria
destinada somen-
levava em conta sua idade bastante avançada. Ainda no início da carrei. te à nobreza local, o marechal que chegara à cidade ainda rapaz havia
ra, o rapaz era, dos filhos mais velhos, o que menos condições teria de se transformado sua história e a de sua família.'2 O pacto político sobre o
posicionar na corte caso O pai viesse a falecer nos próximos anos. qual se mantinha O império português, em vez de cri- ar como por muito
A partir daí, tem início um curioso jogo de administração de mercês, tempo se imaginou — uma sociedade com fronteiras sociais estáticas (ou
Em 1819, d. João, numa nova demonstração de sua “real munificência”, quase estáticas), mostrava-se bastante permeável ao jogo das relações
concedeu mais um benefício ao marechal-de-campo José Joaquim de pessoais e de parentesco. Essa boa dose de plasticidade criava um siste-
Lima “pelos seus bons serviços praticados” — ele era agraciado com ma atraente que, por meio de negociações cotidianas, realizadas entre
“uma vida a mais na comenda de São Bento de Avis”. Isso significa que diferentes níveis hierárquicos (por isso, sempre marcadas pela desigual-
poderia passar a mercê para um de seus descendentes, e o escolhido — se- dade), conseguia garantir que princípios e valores aristocráticos enta-
guindo agora a tradição — foi seu primogênito, Francisco de Lima da lhassem novas sociedades na América portuguesa.
Silva. Em seguida, foi a vez do segundo filho — José Joaquim. Ele rece-
beu, também em 1819, o foro de fidalgo cavaleiro da Casa Real com
“todas as honras e direitos”. Enquanto o pai o tinha obtido “por sua
patente”, o filho era agraciado “por honra de seu pai”."*
A presença da Coroa portuguesa favorecia o enraizamento de uma
cultura de Antigo Regime no Rio de Janeiro, fundada, como no Reino,
numa verdadeira “economia de favores”.'2º Quando o marechal-de-
campo José Joaquim de Lima da Silva morreu, em 1821, parte da famí-
se
lia havia completado sua metamorfose e seus filhos mais velhos
aprese nta vam com o nobr es. Fran cisc o de Lima , cum pri ndo seu desti -
no, ao ser promovido coronel, assumiu o comando do 1º Regimento de
Joa
Infantaria da cidade com a comenda de São Bento de Avis. José
quim de Lima era tenente-coronel do mesmo regimento com o foro de
fidalgo cavaleiro da Casa Real. O jovem capitão da família, Manotl
Fon sec a de Lima , cont ava em sua fé-d e-of ício !2! com um serv iço em
da
buc o — na repr essã o à revo luçã o de 1817 — e era habi lita do pela
Per nam
Ordem de Cristo. No entanto, além deles, o marechal José Joaquim
deix ava dois outr os filh os ofic iais - João Man oel de Lim a da Silva *
Luiz Manoel de Lima da Silva. Ambos eram ainda bem jovens. João
16 ano s, e Lui z, 15. Ma s os doi s já in te gr av am O «regi'
Manoel tinha
mento da família”.
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24. Sobre essas campanhas, ver Carlos Selvagem, Portugal militar, p. 470. Na recons.
trução da trajetória de Francisco de Lima, continuo usando dados extraídos do 40. Registro Paroquial de Faro, conselho de Lagos, freguesia de Lagos, caixa 142,
livro
Livro Mestre do Regimento de Faro, do AHM, livro B-14-1-1, entrada nominal. 2, 9 de fevereiro de 1764, ANTT.
25. Ao iniciar o reinado de d. José I, Sebastião José de Carvalho não possuía nenhuma 41. Decretos do Conselho de Guerra, ANTT. Para a dissolução do regimento de Fran-
titulação. Em 1759, ele foi agraciado com o título de 1º conde de Oeiras e Somen. cisco de Lima, ver o decreto de 5 de junho de 1763, maço 122, nº 95, e para
as
mudanças mais gerais, ver o decreto de 10 de maio de 1763, maço 122, nº 77.
te em 1769 se tornou marquês de Pombal. Como a partir de agora ele será um
42. Documentos das Divisões, do AHM: Regimento de Infantaria de Faro — 3 divi-
personagem recorrente nesta narrativa, para evitar maiores confusões, adotarei
são 43º seção caixa 63, doc. 7.
aqui o título pelo qual ele ficou conhecido.
43. Coleção “Documentos Avulsos — RJ”, do AHU, caixa 89, doc. 75, de 30 de outu-
26. Francisco Falcon, A época pombalina, cap. VI, “A prática do pombalismo”.
bro de 1767.
27. Uma ótima discussão sobre a relação da nobreza portuguesa com a carreira militar
. Coleção “Documentos Avulsos — RJ?, do AHU, caixa 89, doc. 74, de 30 de outu-
é realizada por Fernando Dores Costa, “A nobreza é uma elite militar? O caso
bro de 1767.
Castanhede-Marialva em 1658-1665”.
45. Carta do vice-rei do Brasil conde da Cunha a Francisco Xavier de Mendonça Fur-
28. Coleção das Leis, Alvarás e Decretos Militares, que desde o princípio do reinado tado acerca dos motivos que teve para pedir nomeação de sucessor, in: RIHGB,
do sr. rei d. José 1 se tem promulgado até o referente ano de 1791, alvará de 16 de tomo LXIX, parte 1, 1908.
março de 1757. 46. Relação das Instruções e Ordens que se expediram ao conde da Cunha, in: RIHGB,
29. Além do texto do alvará, ver Francisco de Paula Cidade, Cadetes e alunos militares tomo 35, parte 1, 1872.
através dos tempos, p. 15-21. 47. João Batista Magalhães, op. cit., p. 185.
30. Os terços auxiliares foram criados em 1645, quando passaram a ocupar O segundo 48. Sobre a cidade do Rio de Janeiro na segunda metade do século XVIII, ver Maria
escalão das tropas militares. Apesar de integrados também por paisanos, eram Fernanda Bicalho, A Cidade e o Império.
treinados e armados de modo a poder auxiliar prontamente as tropas regulares. 49. Coleção “Documentos Avulsos — RJ”, do AHU, caixa 90, doc. 42, de 22 de novem-
Por isso, os postos de sargento-mor e ajudante eram ocupados por oficiais tirados bro de 1767, e Relatório do marquês do Lavradio, vice-rei do Brasil, im: RIHGB,
dessas tropas. tomo IV, 1842, p. 412.
31. Todos esses dados foram retirados da Coleção das leis, alvarás e decretos militares, 50. Sabina Loriga, Soldats, op. cit. p. 31.
alvará de 16 de março de 1757. dk Fernando Pereira Marques, Exército, mudança e modernização, p- 151.
32. Francisco Falcon, op. cit., p. 377. 52. Relatório do marquês do Lavradio, vice-rei do Brasil, op. cit., p. 412-13.
33. João Batista Magalhães, op. cit., p. 214. ds Mapas dos regimentos anexos ao Relatório do tenente-general Bôhm, “Documen-
34. Apud Fernando Pereira Marques, Exército e sociedade em Port tos Avulsos - RJ”, do AHU, caixa 90, doc. 42, de 22 de novembro de 1767.
ugal, p. 36.
35. Sobre a participação de Portugal na Guerra dos Sete Anos, ver Carlos Selvagem 54. “Regimento das ordenanças” era um tipo de força militar criado em 1570 e com-
, 0):
cit., e Simão José Soriano, História do Reinado de El Rei D. José e da administra
: posto de paisanos. Era comandado por um capitão-mor, escolhido entre os “prin-
ção do marquês de Pombal, t. 1., cap. VI. cipais” de cada vila ou cidade. Isso isentava a Coroa dos gastos de manutenção da
36. Um bom artigo biográfico sobre o tropa e fortalecia as elites locais, transformando as ordenanças em importante
conde de Li ppe é o de Henrique Oscar Wieders:
pahn, op. cit. fonte de poder político.
37. 7. OO testemu nho do conde de Sai Relatório do marquês do Lavradio, vice-rei do Brasil, op. cit., p. 425.
nt-Priest
est éé cit
ci ado por Fernando Pereira Marq 55.
Exército, mudança e modernizacã ues
ã Ê 56. João Batista Magalhães, op. cit., p. 194.
ré as inimizades de Lippe, Henriqu
1 E E E
37.
58. es de Mar tin ho de Mel lo e Cast ro a Luiz de Vasc oncelos e Sousa. In:
Difere ntes Graduações, Conduta e Préstimo Instruçõ
e SORTE, , rp
ais dades,
interiores e Cadetes do 1º Regimento de
Infantaria RIHGB, tomo XXV, 1862, p. 481. | se
do RJ. No 2º semestre de 1806” h da Cidade
3 COL o 59, Coleção “Documentos Avulsos — RJ”, do AHU, caixa 96, doc. 30, de 22 de feverei-
39. Simão José Soriano, OD. cit., p. 487 ah 743,5 0,-n 6, setor de Obras Raras, BN.
ro. de 1770, e caixa 97, doc. (57), de 23 de junho de 1770.
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60. Ofício do vice-rei conde da Cunha para Francisco Xavier Furtado, apud Christi;
Figueiredo Pagano de Melo, Os corpos de auxiliares e de ordena p 73. O crescente desespero do marquês do Lavradio com o desempenho do Exército na
metade do século XVIII, p. 139. guerra pode ser observado nos seus ofícios. Ver especialmente “Documentos
Avul-
61. Ver Relatório do tenente-general Bôhm, “Documentos Avulsos - RJ”, do AHU sos — RJ”, do AHU: caixa 112, docs. 14 e 16, de 3 de abril de 1777. A citação é do
caixa 90, doc. 42, de 22 de novembro de 1767. anexo do ofício do marquês ao secretário da Guerra, “Documentos Avulsos — RJ”,
62. Sobre o marquês do Lavradio ver, Dauril Alden, Royal government in coloni do AHU, caixa 115, doc. 44, sem data.
Brazil. Sobre Bôhm, ver Henrique Wiederspahn, O famoso conde de Lippe e 74. “Documentos Avulsos — RJ”, do AHU, caixa 112, doc. 31, de 2 de maio de 1777.
Primeiro Exército Luso-Brasileiro; e Washington Perry de 75. Carta do conde da Cunha para Francisco Xavier Furtado, apud Christiane Pagano
Almeida, Tereniniaa
ral ].H. Bôbm. de Melo, op. cit., p. 87.
)
63. Todos os dados deste parágrafo, e do anterior, 76. Sobre a importância das patentes, privilégios e mercês na estruturação de uma so-
foram extraídos do Relatório do
marquês do Lavradio, op. cit., p. 412. ciedade de Antigo Regime, organizada em torno de uma nobreza civil ou política,
64. Uma falha na segiiência de mapas dos regime ver Nuno Gonçalo Monteiro, op. cit., sobretudo o cap. 1.
ntos elaborados a cada mês sobre
estado da tropa e do corpo de oficiais impede 77. Decretos do Conselho de Guerra de 10 de julho de 1777, maço 136, nº 71.
o fornecimento de informação mais
precisa. Ainda assim, é possível afirmar com seg 78. O requerimento das irmãs está em “Documentos Avulsos - RJ”, do AHU, caixa
urança que o coronel Lima estew 127, doc. 34, de 18 de outubro de 1781. Para o óbito do brigadeiro, Registro Pa-
afastado do comando do seu regimento em outubr
o e novembro. Mapas anexos 20 roquial de Faro, conselho de Castro Marim, freguesia de Castro Marim, caixa 83,
Relatório do general Bôhm, op. cit.
livro 8, 11 de outubro de 1779. ANTT.
65. Relatório do tenente-general Bôhm à “Doc
umentos Avulsos — RJ”, d AHU 79. “Documentos Avulsos - RJ”, do AHU, caixa 127, doc. 34, de 18 de outubro de
20, doc. 42, de 22 de novembro de 1767.
Es dic 1781, anotações a lápis na margem.
66. Todos os documentos de Bôhm eram
redigidos em francês. Esse, à época, era o
ima da diplomacia. Assim, as citaçõ idio 80. Nem todos os livros de registro dos conventos de Beja foram recolhidos pela Torre do
es são traduções livres, realizadas po Tombo. Muitos se perderam. Por isso, não é possível precisar a data de entrada das
Documentos Avulsos — RJ”, do AHU: cai r mim.
xa 23, doc. 30, de 26 de outubro 1768 irmãs Ana Vitória Xavier de Lima e Maria Joaquina Xavier de Lima no convento.
67. Ofício do marquês do Lavradio ao
conde de Oeiras, “Documentos Avulsos 81. Os dados sobre a carreira de José Joaquim de Lima da Silva foram retirados de um
do AHU, caixa 96, doc. 29, de 20 — RF
de fevereiro de 1770 documento intitulado “Relação das Idades, Antiguidades, Diferentes Graduações,
68. Ambos os ofícios estão no AHU, |
Ofício do mar quês do | Lavradio a Pomb Conduta, Préstimo dos Oficiais, Oficiais Inferiores e Cadetes do 1º Regimento de
cumentos Avulsos - RJ”, caixa 26, al, “Do
doc. 29, de 20 de fevereiro de 1770, e Infantaria da Cidade do RJ. No Segundo Semestre de 1806”, cota h 7,3,50, nº 6,
tenente-general Bôhm, sem destinatário Ofício do
, “Do cumentos Avulsos — RJ”, caixa setor de Manuscritos, BN.
doc. 30, de 22 de fevereiro de 1770. 96,
82. Ver anexo ao requerimento “Documentos Avulsos — RJ”, do AHU, caixa 183, doc.
69. Coleção “Documentos Avulsos — RJ”, do
AHU, caixa 27, doc. 57, de 76, de 24 de abril de 1800.
de 1770. 23 de junho
83. Quem conta essa história é o próprio José Joaquim no requerimento que dirige à
70. Antônio Ribeiro Sanches, “Cartas sobre
» aed ã + Be Coroa, “Documentos Avulsos — RJ”, do AHU, caixa 183, doc. 76, de 24 de abril
ne Figueiredo Pagano de Melo, op. cit., p. 9, da mocidade”, apud Christia
de 1800”. Sobre a reestruturação dos regimentos da cidade, ver “Documentos
71, Anexo do ofício do marquês do La
vradio ao secretário da
Guerra, “Documentos Avulsos — RJ”, do AHU, caixa 160, doc. 100, 31 de outubro de 1798.
Avulsos — RJ”, do AHU: caixa 115, doc.
transcrevo o original: “Je
“4, sem data. Em função do tamanho, 84. O processo está na coleção “Documentos Avulsos — RJ”, do AHU, caixa 183, doc.
suis obligé de rép
souverain; de sa prompitude à se Jeter “ter, que du côté de la fidélité envers son 76, de 24 de abril de 1800.
au fe U pour ses intérêts; et de son obéi 85. Todos os dados biográficos sobre Joaquim Xavier Curad o foram retirados de Alfre-
le colonel Lima ne cedera personne” ssancêt; ilei ro de 1822 a 1889,
do Pretextato Maciel da Silva, Os generais do Exército bras
entrada nominal.
86. Para todo o processo: “Documentos Avulsos — RJ caixa 160, doc. 88,
mn
3 do AHU,
100
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87. Quem analisa essa relação entre Estado e os aspectos do que seria uma vida Privad
é Norbert Elias, A sociedade de corte. ,
100. Todas as informações aqui apresentadas foram retiradas dos “Documentos Avul-
88. Sobre a nova lei, ver alvará de 18 de maio de 1797, Coleção das leis, alvarás e de. sos — RJ”, do AHU. Ver, de forma geral, caixa 145, doc. 724, de 3 de julho de
cretos militares, que desde o princípio do reinado do sr. rei d. José I se tem promul. 1790, caixa 148, doc. 364, de 25 de janeiro de 1791 e caixa 166, doc. 494, de 14
gado até o referente ano de 1791. O casamento é citado por Carlos Dantas : de agosto de 1797. Para as citações, ver especificamente caixa 143, doc. 784, de
Carlos Rheingantz, Achegas genealógicas à ascendência de Luiz Alves de Lima e 16 de junho de 1789.
Silva, duque de Caxias. 101. “Documentos Avulsos — RJ?, do AHU, caixa 148, doc. 36A, de 25 de janeiro de 1791.
82. Às patentes dos membros da família Fonseca Costa podem ser vistas em Carlos 102. Parte da história da família Bello foi reconstruída por Alberto Lamego, “O tronco
Dantas e Carlos Rheingantz, op. cit. Força de linha é outro nome dado às de Caxias”, Coleção Caxias, pasta 760, pasta 14, IHGB, p. 134. Até 1938, quando
forças
regulares. Compunham o primeiro escalão das forças militares do Reino e eram as esse texto foi publicado pela primeira vez, a linha materna da ascendência do du-
únicas a serem sustentadas pela Coroa. Por isso, também são chamadas de que de Caxias era pouco conhecida, não se sabendo dessa relação com a Inconf-
“forças
pagas” e seus integrantes de “soldados pagos”. dência Mineira. Sobre os “artigos difamatórios”, estão no “instrumento de pública
20. Para a expressão do conde de Lippe, ver “Observações militares dirigida forma”, “Documentos Avulsos — RJ”, do AHU, caixa 166, doc. 49A, de 14 de
s ao mar.
quês de Pombal”, apud Fernando Pereira Marques, op. cit., agosto de 1797.
p. 35. Sobre as tropas
auxiliares, ver Christiane Pagano de Melo, op. cit., cap. IL.6, p. 85. 103. Ver a escritura de venda da Fazenda São Paulo, onde consta o lugar de moradia da
Sl O mais provável é que não se tratasse de uma nob família em 1805, uma casa na Rua Direita, “Publicações do Arquivo Nacional”,
reza com jurisdição. Nesse
alhho-me j de discussões mais recentes da historiografia,
caso, val vol. XXXVI, de 1839, p. XIV.
que trabalham 104. O pedido de mercê do coronel Bello está em “Documentos Avulsos — RJ”, do AHU,
com a idéia de “nobreza da terra”. Ver João Fragos
o, A nobreza da República: caixa 173, doc. 64, de 26 de abril [ant. 1799]. Já o ofício do vice-rei para embaraçar
notas sobre a formação da primeira elite senhorial do Ri ;
o Rio de Janeiro (séculos a licença está no mesmo arquivo de caixa 191, doc. 47, de 27 de março de 1801.
XVI e XVII).
105. Giana Cláudia de Castro Araújo, Portugal, a idéia de nobreza e a América, p. 130.
22 - Ver Carlos Dantas e Carlos Rheingantz, op.
cit. e Processo de Justificação de No- 106. Maria de Fátima Gouvêa mostra como o componente das relações familiares era
breza, ANTT, maço 24, nº 29.
' uma forma de distinção e como ele foi utilizado pelos homens que ocupavam car-
93 Para o novo ofício de José Joaquim de Lima, “Docum
entos Avulsos - RJ”, do AHU, gos na Câmara do Senado do RJ na virada do século XVIII para “se metamorfose-
caixa 202, doc. 85, de 26 de outubro de
1802. ar em pessoas nobres”. Ver Maria de Fátima Gouvêa, op. cit., p. 321. À idéia vem
94 te “Lista das pessoas que têm servido de almotacé
na cidade”, Fundo Vice-Rei- sendo explorada na historiografia mais recente, sobretudo para analisar a trajetó-
E o, caixa pó pacote 2, do ANRJ. À
informação pode ser confirmada por ria de homens ligados ao comércio de grosso trato. Ver João Fragoso, Maria Fer-
ocumento depositado no AGR] , códice outro
40-3-85, vol. 3. Almotacé era um juiz nanda Bicalho e Maria de Fátima Gouvêa, O Antigo Regime nos trópicos; O caso
Êeleito p pela CâCãmara do Senado (poder
municiTo pal) e que inspecionava pesos, mais famoso é o da família Carneiro Leão.
as, viveres e outros objetos de polícia. medi-
107. “Documentos Avulsos — RJ”, do AHU, caixa 173, doc. 64, de 26 de abril [ant. 1799)
95 - Um texto-chave sobre a Câmara do
Senado do RJ é o de Maria de Fátima 108. Arquivo-Geral de Mercês e Graças Honoríficas do ANRJ, códice 137, livro 9, fl. 107.
“Redes de poder na América portu Gouvêa,
Buesa . Foi por meio dele que cheguei ao docu- 109. Ofícios do marquês de Angeja, setor de Manuscritos da BN, cota [1-34,15,22, ofi-
mento citado anteriormente.
96. cio de 22 de novembro de 1810. O ofício do inspetor Corte Real está nessa mesma
Dantas e Carlos Rheingantz, Op. cit. uam baseando-se no trabalho de Carlos cota, sendo datado de 26 de novembro de 1810.
97. Anexos do
110. Fernando Pereira Marques, Exército e sociedade em Portugal, p. 127.
“Instrumento
de Pública
AHU, caixa 166, doc.
Fo rma”,*
Documentos Avul ta
sos — RJ”, do
111. Apud Oliveira Lima, D. João VI no Brasil, p. 289.
494, de 14 de agosto de
28. Coleção Casa dos Contos do set 1797 112. Essas mudanças são descritas por João Batista Magalhães, op. cit., cap. 25.
or de Man eth con sid era O período joanino uma
1-10,24,2, nº S até 110,24,2,nog, -cMtos da BN, Ver sobretudo cotas 113. Oli vei ra Lim a, op. cit., p. 285. Mic hae l McB
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DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
104
t uiz Alves de Lima, o primeiro filho homem de Francisco de Lima, nas-
dia 25 de ago sto de 180 3, um ano depo is de Ana Quit éria , pri-
ceu no
mog êni ta da famí lia. Foi nos ass ent os de bat ism o dess a ger açã o que O
a que
nome da família mudou oficialmente para “Lima e Silva”, aind
nasceram
continuassem usando apenas o “de Lima”.! As duas crianças
reposi-
quando os avós — tanto paternos como maternos — tentavam se
Rio de Jane iro. Foi jus tam ent e em 180 2 que José Joa quim de
cionar no
a esc rev eu par a o secr etár io dos Neg óci os da Mar inh a e Ult ramar,
Lim
solicitando apoio para seu segundo requerimento, por meio do qual ape-
Os car-
lava à “Real Piedade” para aumentar seus rendimentos. Listava
na cid ade e ten tav a con ven cer à Cor oa de sua fideli-
gos públicos vag os
and o os filh os que já se ach ava m no serv iço real com o mi-
dade, enumer
Fra nci sco de Lim a — seu pri mog êni to — ass umi a ao lado do pai
lita res.
pro mov er a asc ens ão soci al dos Lim a. Log o dep ois de
esse projeto de
entr e os Bell o, ren ova va à sati sfaç ão de José Joa-
contratar casamento
o a famí lia e dan do- lhe seu pri mei ro neto hom em.
quim, expandind
peq uen o Luiz Al ve— de
s que m her dav a o nom e-— tam -
O avô materno do
cur ava ree str utu rar sua vida . Rec ém- che gad o ao Rio de Jan eiro,
bém pro
uls o de Ca m pos com a famí lia, ten tav a sem
após ter sido praticamente exp
for o de fid alg o com o háb ito da Or de m de Cr isto. Às dívi-
sucesso obter o
por Joa qui m Sil vér i o do s Re is , re ta rd av am a
das da família, contraídas
O cor one l Bel lo cer ta me nt e co nt ava com a
partida deste para a corte, e
po lê mi co ge nr o par a pod er cir cul ar se m tantas dificuldades
viagem de seu
is que Jo aq ui m Sil vér io e sua fil ha Be rn ar di na embar-
na cidade. Logo depo
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OS LIMA E SILVA COMBATEM A HIDRA DA ANARQUIA
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
caram para Portugal, ele comprou uma fazenda situada nos confins da uma vez que Joaquim Silvério morava nessa época em Portugal. Esse
baía de Guanabara, na freguesia de Inhomirim, e, como forma de paga- estreitamento de laços, que se repetiria no batismo de outros netos pelos
mento, deu a fazenda que possuía na vila de Barbacena, onde a família avós maternos, evidencia o desequilíbrio da aliança estabelecida entre
morou até o episódio da delação. Rompia, assim, com todos os vínculos os Lima e os Bello e confirma também as estratégias que organizavam
que ainda o mantinham preso a esse passado que se impunha esquecer. Na essas relações familiares.? Afinal, de que outra maneira se poderia pen-
nova fazenda, prosseguiria sem o genro e longe de Minas Gerais. sar o esforço da família em buscar um padrinho em terras tão distantes,
Apesar de o negócio só ter sido fechado em janeiro de 1805, Luiz quando vários tios maternos e paternos viviam no Rio de Janeiro (ane-
Alves nasceu nessa propriedade — na Fazenda São Paulo —, onde, ao que xo 1)? Talvez o interesse de Mariana Cândido e Francisco fosse evitar o
parece, os Bello já vinham vivendo ou passando temporada antes mesmo isolamento da irmã e do cunhado, que tinham sido obrigados a deixar
de adquiri-la. Talvez pela maior proximidade do avô materno é que o o Brasil pela continuidade das hostilidades que sofriam no Rio de Janei-
menino tenha recebido seu nome. Mas é difícil precisar o motivo da es- ro.“ No entanto, não há como ignorar que Joaquim Silvério era agora
colha. Na época, era comum homenagear um dos avós, mas não havia um fidalgo habilitado pela Ordem de Cristo, que vivia na corte de Lis-
regras sobre qual deles seria o primeiro. Podemos especular que talvez boa — um desejo frustrado do coronel Bello.
fosse melhor para o pequeno levar o nome do avô mais influente na ci- A forte presença dos avós maternos parece ter continuado nos pri-
dade, e com mais relações no governo. Para não excluir José Joaquim de meiros anos de vida de Luiz Alves. Um de seus biógrafos afirma que ele
uma
emp ocasião tão especial,
ia ele foi foi escolhido
| padrinho do neto, batizan-
; teria aprendido as primeiras letras e operações matemáticas na Fazenda
São Paulo, com a avó Ana Quitéria. Ainda que por falta de documentos
ma a ve dois E no três primeiros filhos na Fazenda não seja possível confirmar a informação, essa era uma prática comum
A e St rl e o para manter as crianças mais no século XIX. Outros meninos também iniciaram seus estudos em fa-
mília. Depois, ao que parece, Luiz Alves cursou o Seminário São Joa-
E quarto filho do casal, doamília
H eta iz ede Luiz
Bello. Além papiAlves,
É quim. Esses quinze anos de sua vida, porém, permanecem obscuros. Só
hai Na
via Ana Quitéria, a prima ogênRAita, que ganhou o nome da avó há notícias mais precisas sobre sua trajetória escolar a partir de 1818,
mater- im-
na e doi IS Outros mais novos, José é e Bernardi
na, que receberam o nome quando ingressou na Real Academia Militar — uma das novidades
dos | avósavó de Marian
; a. À famíli
liaa Lim
Li a só foi
lembrada quando nasceu 0 plantadas na cidade com a chegada da corte.”
quinto filho do casal, cujo nome que se matriculou na Real Academia Militar era um dos
finalmente resti giaava o avôA pater ; O rapaz
5
no — José Joaquim. pres tigi dos Lima”. Seguindo a tradição,
mais jovens integrantes do “regimento
de
assentara praça de cadete aos cinco anos de idade no 1º Regimento
ari a do Rio de Jan eir o— ant igo Reg ime nto de Bra gan ça. º Isso não
Infant
ific a que com eço u a serv ir ain da cri anç a, a vin cul açã o ao regimento
sign
mili-
era apenas honorífica, garantida pelo título concedido aos filhos de
ainda lutava
tares de patente — título de cadete. Naquela época seu avô
icu lda des par a con seg uir a pat ent e de cor one l. Só que ago ra,
com dif
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DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO OS LIMA E SILVA COMBATEM A HIDRA
DA ANARQUIA
quando o neto se tornava um jovem oficial, a história era diferente, Luiz reu em 1823, durante os combates travados pelo Batalhão do Imperador
Alves de Lima — nome com o qual assinou seu registro na Academia Mi- na Bahia. Era seu batismo de fogo. Luiz Alves seguia como ajudante do
litar em 1818 — era o neto mais velho de um brigadeiro do Exército Real batalhão, sob o comando de seu tio, coronel José Joaquim de Lima e
que, por serviços prestados, fora agraciado poucos meses antes com q Silva. À outra era resultado da passagem de Francisco de Lima por Per-
prestigioso hábito da Ordem de Cristo. Durante o primeiro ano letivo, nambuco em 1824. O jovem Luiz Alves não seguiu seu pai nesses com-
seu pai, Francisco de Lima, tornou-se tenente-coronel do regimento no bates. No entanto, acredito que o episódio deixaria profundas marcas
qual servia como cadete, e a família iniciava sua metamorfose so- em toda a família. Ele evidenciava as dificuldades ainda enfrentadas pe-
cial — parte dela se tornava nobre.” Isso em função da atuação de seus los Lima para se firmarem na corte, agora de d. Pedro 1.
tios, pai e avô nas campanhas militares realizadas pela Coroa no Sul, em Antes de prosseguir, porém, vale lembrar mais uma vez os límites im-
Caiena e em Pernambuco. postos pelas fontes a essa narrativa. Para essa fase — entre 1818€e 1831 -,a
Esse tipo de inserção militar e política dos Lima tornava quase pes- escassez de fontes impede a identificação e a recuperação de elementos
soal a vinculação de Luiz Alves ao regimento. Quando precisou, em no- que talvez tenham agido de forma mais direta na formação de Luiz Alves
vembro de 1817, de um documento atestando sua participação na de Lima. Sobre sua participação na Companhia Cisplatina, por exemplo,
cerimônia de “desembarque de Sua Alteza Real a Princesa Real”,
inte- não foi possível encontrar material expressivo. Luiz Alves permaneceu na
grando a Guarda de Honra, dirigiu um ofício, com outros oficiais, região por três anos. Não há como deixar de imaginar o valor dessa ex-
ao
brigadeiro “do regimento de infantaria José Joaquim de Lima
e Silva”, periência na formação do oficial. As questões de fronteira o levariam a
seu avô.º À atestação foi logo emitida, e certamente a
inclusão de seu revisitar essa mesma região em vários outros momentos de sua carreira.
nome na lista dos oficiais que participariam da guarda devia-se
aos mes- Mas talvez o próprio peso militar da campanha, que mobilizou um gran-
mos laços familiares. Esse é um traço importante dos
exércitos de Antigo de contingente naval e terrestre, tenha contribuído para diluir a presença
Regime. As “famílias mais fortes geriam a aprendizagem
militar de seus do Batalhão do Imperador — unidade em que servia Luiz Alves — na guer-
filhos e consideravam O regimento um prolongamento
da autoridade ra e nas narrativas sobre ela.2 Nem o livro escrito por seu Ho, o então
paterna?.? Ao contrário do que ocorre hoje, a passagem
pela Real Aca- capitão Luiz Manoel de Lima e Silva, que permaneceu em campo pelos
demia Militar Não era uma etapa import
ante, nem mesmo obrigatória, mesmos três anos em outra unidade, fornece informações mais sistemáni-
na formação dos oficiais militares do sé
culo XIX Muitos dos que atin- cas sobre a participação do Batalhão do Imperador, comandado na época
giram o generalato na década de 1840 de Lima e Silva.
: 13
não passaram pelas salas da Aca- por um de seus irmãos — Manoel da
: =
Fonseca :
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colaborava para isso. No ano anterior, dois alferes do batalhão nº 11 Primeiro, O valor dessas quantias era alto, caracterizando verdadeiras “ex-
alunos do primeiro ano, foram repreendidos pelo professor de matemá. torsões”. Depois, o problema era o emprego que os rapazes faziam desse
tica por passar toda a aula incomodando os colegas. “Se ocupavam” — ex. dinheiro. Eles saíam em grandes bandos por lugares “indignos de serem
plicou o professor, em escrever rótulos nas costas dos que lhes ficaram frequentados por alunos e oficiais militares”, realizando festins e banque-
fronteiriços e a perturbá-los com palavras e ações que os impossibilita- tes em companhias que só contribuíam para “desmoralizar a mocidade e
vam de prestar atenção às doutrinas”. Essa não era a primeira vez que despojá-la do princípio de brio”, tão caro à carreira militar.
criavam problemas, e não era o professor de matemática o único a se Para piorar O sentimento geral de crise, nesse ano, um dos “novatos”
queixar dos rapazes. Sua atitude, porém, não podia passar de uma “re- resolveu denunciar o fato, enviando uma petição ao governo. Cumprin-
preensão verbal”. Como o estatuto não mencionava nada sobre discipli- do novamente as formalidades, é a direção que encaminha o documento.
na, O único meio de aplicar uma punição era recorrendo à Coroa, por Nele, a junta explica ao ministro da Guerra que o suplicante, Miguel
meio de um longo trâmite burocrático. Irritado, o professor decidiu le- Gabriel Ignácio da Silva, era cadete do 1º Regimento de Cavalaria habi-
var a história adiante e redigiu um ofício para participar à direção o litado pela Ordem de Cristo. Certamente, esses dados — que não são
ocorrido. Cumprindo os trâmites legais, a junta diretora enviou o docu- apresentados pelo aluno em sua petição — davam outra dimensão ao epi-
mento ao ministro da Guerra e, ao encaminhá-lo, pediu autorização sódio. Do contrário, a junta diretora não os teria acrescentado a seu
para punir Os rapazes com dois meses de prisão no quartel do batalhão ofício. Por motivo que não é explicado, o rapaz havia incorrido no “de-
em que serviam. Só então a participação subiu à Coroa. Mas esta, talvez sagrado dos principais cabeças de tais badernas” e, assim, além de uma
porque tivesse assuntos mais importantes esperando sua régia decisão, “torrente de insultos e de indecentes palavras”, era esperado a pedradas
não analisou a participação. A direção desabafou: é preciso eliminar todo dia na saída da Academia. Ao final de sua petição, Miguel Gabriel
“este método lento, ineficaz e alheio à ordem do serviço militar”. da Silva identificava os veteranos envolvidos nessa “recepção”: Manoel
O ano letivo de 1820 tinha início sob o signo da derrota. O tom dos Antônio da Fonseca Costa, Ricardo Frederico Caldwell, Manoel Inácio
ofícios emitidos pela direção da Real Academia Militar é de lástima. Moreira Frein e o nosso Luiz Álves de Lima.
Nesses ofícios, reconhece a “evidente decadência do estabelecimento” e A junta diretora mais uma vez reclamou o direito de punir. Solicitou
informa que se encontrava “destituída de autoridade e meios para coibir à Coroa autorização para manter uma sentinela do corpo de polícia,
a continuação das frequentes e contínuas desordens”.3º Os atos de indis- todos os dias, na porta da Academia com ordens para, ao menor cumul-
ciplina a que se referia dessa vez eram provocados pela “recepção aos to, efetuar prisões e conduzir os alunos diretamente para à cadeia públi-
novatos”. Foi nisso que Luiz Alves se envolveu. ca.37 Ainda que não seja possível confirmar, é quase certo que esse novo
O hábito já estava instituído: os veteranos todo ano recepcionavam OS esforço da junta também não tenha contado com o apoio da Coroa, O
novos alunos com práticas duramente criticadas pela direção. Além de que só aumentava o desgaste dos diretores. Quatro meses após o episó-
da
insultá-los “com palavras e ações indignas de homens bem-criados e que
= ae EE ad a da
dio, em julho de 1820, acontecia a primeira alteração na direção
1816. Francisc o Shockler deixava a junta diretora, e,
se destinam P para a nobre prohssão
profissã das armas” ia ,
— é possível ler em um ofí-, Academia desde
cio -, os veteranos cobravam desses alunos, sob a denominação para substituí-lo, era nomeado Joaquim de Oliveira Álvares. As desor-
' de “paten- por
cao
tes”, quantias em dinheiro. Para a junta diretora dens, no entanto, prosseguiam. Um dos primeiros ofícios assinados
, o vexame era duplo.
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Joaquim Álvares, com os experientes João Manoel da Silva e Manoel tir de perto o significado desse lugar. O marechal José Joaquim de Lima
Nogueira da Gama, pedia a expulsão de quatro alunos. Entre eles, esta. e Silva era o esteio da família. Sua morte fragilizava a todos, especial-
va Ricardo Frederico Caldwell, colega de troças de Luiz Alves e que — na mente Francisco de Lima. À família estava bem posicionada na socieda-
avaliação da junta — já havia perdido o ano por incúria.* de. O velho marechal havia dedicado os últimos anos de sua vida à
Não por acaso o jovem cadete abandonou o curso da Academia Mi. expandir o capital político e social dos Lima na corte, mas a falta de uma
litar ao esquentar a temperatura política na cidade. O estabelecimento tradição tornava tudo muito vulnerável. Apesar de terem sido agracia-
funcionava precariamente, e tudo o que a família Lima tinha conseguido dos com algumas mercês, Francisco ainda era apenas coronel, e o irmão,
até aquele momento não havia passado pelo investimento em uma for- José Joaquim, tenente-coronel, ambos do 1º Regimento de Infantaria do
mação acadêmica. Luiz Alves certamente conhecia bem a história da Rio de Janeiro. Os outros Lima eram mais jovens. À tradição que se
família. Além de neto primogênito do marechal José Joaquim de Lima construía — e precisava ser consolidada — era a de militares desse regi-
ele permaneceu como seu único neto homem por seis anos. O Me mento. À continuação desse projeto, agora, estava nas mãos de Francis-
José de Lima, nascido em 1807, morreu, como outras crianças da famí- co e, nesse momento, Luiz Alves deve ter visto no pai seu futuro.
lia, antes de completar um ano de vida. Assim, Luiz Alves reinava sozi- A Real Academia Militar nessa época funcionava em um antigo pré-
nho. Na Fazenda São Paulo, a situação não parece ter sido diferente. dio no Largo de São Francisco de Paula (atual Instituto de Filosofia e
Com a partida dos tios Joaquim Silvério dos Reis e Bernardina Quitéria Ciências Sociais da UFR]), e a agitação política inaugurada com as dis-
para Lisboa, é provável que Luiz Alves também tenha sido por muito cussões sobre a volta da família real para Portugal tomava as praças do
tempo o único neto homem do coronel Bello, de quem herdara o nome. Centro da cidade. O Largo do Rocio (atual Praça Tiradentes), atrás da
O caminho percorrido pelos avós, de ambos os lados, para chegar aonde Real Academia, era um dos palcos centrais desses acontecimentos. Foi
haviam chegado, tinha sido o da prestação de serviços. No Exército, nas nessa praça, no dia 26 de fevereiro de 1821, que d. Pedro ocupou pela
milícias ou na administração real, o importante era estar atento às opor- primeira vez a cena pública para garantir à tropa — ordenanças, regimen-
tunidades criadas pelas mudanças políticas. Luiz Alves, aos 19 anos, tos auxiliares e forças regulares — que d. João se renderia às cortes e
quando decidiu abandonar a Academia Militar, sabia disso. As histórias mudaria o ministério. À poucos metros dali, na Praça do Comércio, a
de família, sobretudo em sociedades que cultivam valores aristocráticos; corte assistiu em abril a outra manifestação. A decisão do rei de voltar
constituem com muito mais vigor a identidade de um indivíduo. Quando para Lisboa foi seguida do anúncio de que d. Pedro permaneceria no
redigia uma petição ou um requerimento à Coroa, Luiz Alves listava, Brasil como regente. A idéia não agradou a todos, e um grupo de políri-
assim como seu avô e seu pai haviam feito, Os postos, as mercês, as cos, com a intenção de pressionar O governo, forçou a transferência da
con- reunião de eleitores, quando se discutiriam projetos do novo governo,
decorações e os feitos da família. Ele era neto, filho e sobrinho
antes de
ser (ou mesmo para ser) o cadete Luiz Alves de para a praça. Tratava-se de uma manobra política. Ampliar a presença
Lima e Silva.
Toda herança, porém, deve ser atualizada. Assim com de populares era um artifício para impor O debate sobre a criação de
o ocorreu com
seu pai, exatamente por ser o primogêni uma junta provisória como forma de governo e, assim, diminuir a força
to, Luiz Alves era preparado
para assumir, tão logo fosse preciso, a dire do príncipe. Tablados e arquibancadas foram montados, e a discussão,
ção da família. A morte de seu
avô no ano anterior, em 1821, segura para alguns, tornava-se excessivamente pública. Uma afluência extraor-
mente contribuiu para fazê-lo sen-
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O coronel Li ima e Silva, talvez por lembrar-se do gol para este fim”.”? Ao final, aceitou permanecer no comando do Exército.
pe aplicado ao gene- A montagem de toda essa cena para comunicar sua decisão mostra
ral Pedro Labatut, fazia o possível para conter
a tropa, solicitando aos com clareza O que era o jogo político provincial e as crises que os repre-
oficiais que mantivessem a disciplina dos mes
es anteriores, responsável sentantes da Coroa tinham de gerir. O coronel Lima e Silva e todos os
pela “gloriosa reputaçã=o” do batalhão
cÉ -
na região . Mas sabia que, com oficiais de seu batalhão — inclusive o tenente Luiz Alves de Lima, cuja
a E
sentações organizadas por seu batalhão — tinham visto (ou até mesmo
à
137
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mexer nessa tradição. Dirigindo um império tão vasto como o português Bahia, mas à configuração política era totalmente outra, bem mais deli-
ou uma monarquia de dimensões continentais como a brasileira, pare- cada. A confederação que havia sido declarada em julho daquele ano e
cia-lhe ser mais vantajoso desenvolver nesses oficiais, além da capacida- ameaçava incorporar províncias vizinhas de Pernambuco era uma res-
itá-
de de guerrear, uma habilidade específica — a de negociação, sobretudo posta clara de setores da sociedade pernambucana às atitudes autor
com autoridades regionais. Para isso, a circulação geográfica, por meio rias de d. Pedro. As Câmaras de Olinda e Recife, os dois maiores colégios
Consti-
de expedições militares, ainda se mostrava uma estratégia bastante efi- eleitorais da província, logo após a dissolução da Assembléia
an-
caz, e que perduraria por muito tempo entre os militares brasileiros. tuinte, em novembro de 1823, já mostravam sua insatisfação, recus
A tarefa de estabelecer um diálogo político entre a Coroa e as provín- do-se a realizar novas eleições. Uma representação dirigida ao imperador
cias, em parte, cabia aos militares. À chegada do coronel Lima e Silva ao o clima polít ico na regiã o como de desco nfian ça e repul sa às me-
definia
Recôncavo — como vimos — só foi festejada porque na primeira etapa de arbit rária s vinda s do Rio de Janei ro, o que reace ndia em seus ha-
didas
sua marcha, de Maceió até lá, ele havia conquistado os locais por meio bitantes o velho espírito liberal e contestatório de 1817.
mostra-
de demonstrações de respeito “às regalias e foros dos habitantes”. Com Na corte imperial, a lembrança desse movimento também se
D. Pedro reagi u de forma tão viole nta quant o seu pai
essa atitude, ele provava que o imperador não tinha a intenção de alterar va bastante viva.
ou imed iata ment e suspe nder as garan tias const ituci o-
o sistema de hierarquias implantado na região, e que preservaria sua em 1817. Mand
e, em segui da, corto u-lhe a coma rca do São Francisco,
configuração social. Mas para que essa intenção se verificasse havia uma nais na proví ncia
tégia semel hante , em 1817, havia resul tado no
contrapartida: a adesão das autoridades locais aos princípios políticos anexando-a à Bahia. Estra
de Alago as. Era um tipo de puniç ão que à cada nova
da nova monarquia. Essa era uma das tarefas da expedição militar à desmembramento
Bahia — negociar os termos dessa adesão. rebelião diminuía o território pernambucano.*
de Lima tinha diant e de si um grand e desaf io. A luta agora
Se os irmãos Lima e Silva começavam a ganhar espaço na corte de Francisco
“estr angei ros”, € O fato de algun s lídere s da Confe-
d. Pedro, isso se devia exatamente à capacidade que vinham demons- não era mais contra
os mesm os que havia m comb atid o pela re-
trando, em momentos politicamente tão instáveis, para “destruir e fazer deração serem reinc ident es,
anos antes , acirr ava OS ânimo s. Isso tamb ém Ra
abortar a hidra da anarquia”! e, dessa maneira, consolidar o projeto de pública sete
r, fazen do com que seu coma ndo fosse muito cobiçado
construção de uma monarquia sediada no Rio de Janeiro. expedição milita
Uma vitóri a sobre os confe derad os segu rame nte
pelos generais da corte.
a agir com gener osida de na distr ibuiç ão de Fpecãs
levaria o imperador
opor tuni dade para a obte nção de
Tratava-se, assim, de uma excelente
FRANCISCO DE LIMA EM PERNAMBUCO
orden s milit ares e asseg urar prom oçõe s € ten-
títulos nobiliárquicos, das IgA
ças no Exército.
E = E4
141
140
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outra política: “uma grande reforma porque todas as classes estão con.
No ofício que diz ter enviado a d. Pedro no dia 23 ou 24 de setembro,
fundidas, não havendo nem sombra de respeito às autoridades” 95 Esta.
Manoel de Morais começava a tomar suas medidas para evitar “o que me
va tão convencido de que esta era a melhor estratégia para reorganizar q
sucedeu na Bahia no ano passado”. Ainda que não seja possível definir o
sociedade pernambucana que nem se pronunciava sobre a Comissão Mi
conteúdo exato do ofício, é ele quem afirma, em outra carta, dirigida ao
litar. Em outro ofício, datado de 3 de outubro, e dirigido ao mesmo mi-
“amigo Gomes”, que nele procurava apenas dizer “ao mesmo senhor
nistro, noticiou, com enorme satisfação, que a Câmara de Goiana já
aquilo que me pareceu dever chegar a seu imperial conhecimento”.” Se-
havia jurado solenemente a Constituição do império e que as Câmaras
manas depois, no dia 16 de outubro, uma carta imperial exigia do briga-
de Olinda, do Recife e de Santo Antão — as mais resistentes — lhe tinham
deiro Lima o cumprimento do decreto de 26 de julho, ou seja, a montagem
representado a mesma intenção.
da Comissão Militar. Essa carta faz clara menção a outro ofício no qual
Tudo parecia transcorrer com tranquilidade. Cauteloso, o brigadeiro
o brigadeiro Lima, tentando dissuadir d. Pedro, afirmava que ainda não
Francisco de Lima ouvia “o parecer de todos os magistrados
e pessoas tinha procedido contra os presos “pela falta de verdadeira inteligência de
probas”? da região.” Tentava, com isso, ampliar sua base política e,
de quais sejam ou se devam reputar os chefes e cabeças dela”. Isso parece ter
certa forma, orquestrar esse delicado “estado de confusão”.%8 Ele
só não irritado o imperador. Após exigir a pronta “execução da Comissão”, ele
podia imaginar que, cinco dias após enviar seu primeiro ofício narrando fez uma longa lista definindo quem deveria ser enquadrado como “cabe-
fo negociações com os confederados e a ocupação de Olinda pelos impe ça do movimento”.!90
-
riais, uma versão menos favorável dos fatos estaria sendo enviada, de Essa carta pode ser entendida como uma simples resposta de d. Pe-
Recife para a corte, pelo brigadeiro José Manoel de Morais. O leitor dro ao brigadeiro Lima. Mas o ofício de Manoel de Morais, enviado
deve estar lembrado desse nome. Manoel de Morais esteve na Bahia no antes de o brigadeiro Lima apresentar sua avaliação sobre a situação
ano anterior, em 1823. Havia sido nomeado para substituir o coronel política da província, deve ter contribuído para criar resistências à pro-
José Joaquim de Lima e Silva, que, desde a prisão de Labatut, vinha ocu- posta de reforma pacífica sugerida por ele. O que talvez, antes do ofício
pando interinamente o comando-em-chefe das forças imperiais. Por uma de Manoel de Morais, fosse lido por d. Pedro como excesso de prudência
ameaça de rebelião das tropas, ele não pôde assumir o com
ando. O co- do brigadeiro Lima ganhava, pelo tom da carta imperial, um sentido
ronel Lima e Silva agradeceu sua decisão de sacrificar “seu pundonor em preciso: resistência ao cumprimento de uma ordem imperial.
benefício da paz da cidade”. O brigadeiro voltou para a corte, mas muli- A essa altura, em meados de outubro, o brigadeiro Manoel de Morais
4 a , ' , a
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de Morais considerava isso tudo um “escandaloso desaforo”, O Ve «imediatamente desapareceu toda a gente que ali estava”. O mesmo se
Lima” — conta Morais — ia “presidir as sessões da Junta da Fazenda pre- passou no forte do Brum, que achou inteiramente abandonado. Ao
cedido por quatro soldados a cavalo, e seguido por uma guarda de cava- amanhecer, O brigadeiro Lima recebeu um recado para que fosse tomar
laria comandada por um oficial subalterno com seu tró-tró-tró de Olinda. Manoel de Morais afirma que a ação foi um vexame: “o inimi-
trombeta”, enquanto isso, “nós [vamos] por aqui pairando”. Mas toda go debandando-se, só ficaram ali alguns oficiais e soldados (inconscien-
essa “patifaria destes senhores L.S.” — na sua opinião — já era previsível. tes, já se vê) que queriam obedecer a Sua Majestade Imperial, e que não
Por isso, desde o dia 16 de setembro, data em que chegou a Recife, dispu- gostavam daquele modo de vida (agora que não podiam continuar)”.
nha de “bons espiões”?.!º! Foi desse modo que ele afirma ter obtido infor- Quando o brigadeiro Francisco de Lima chegou lá — prossegue Mo-
mações sobre as intenções do brigadeiro Lima na região e, agora, um mês rais - “não achou mais nem Canecas, nem Emilianos, nem Agostinhos,
depois, se punha a narrar todos os fatos, pormenorizadamente — e à sua nem Cazumbás, nem Carapebas, nem Soares Lisboa (e eles eram tolos
maneira — para o “amigo Gomes”, secretário do imperador. que lá ficassem à espera?)”.'%
À primeira carta é datada de 18 de outubro. Entre outras coisas, A prevenção do brigadeiro Morais com os Lima não o levava a in-
descreve como se deu a ocupação da capital. Sem saber dos detalhados ventar histórias. O que conta nessas linhas é provavelmente muito pró-
ofícios enviados pelo brigadeiro Lima, assumiu um tom de denúncia: a ximo do que se passou. De fato, Francisco de Lima era favorável à
ocupação não foi resultado de uma ação militar, mas sim de negocia- negociação. É bem provável, inclusive, que os líderes do movimento só
de
ções. Os confederados, em setembro — conta Manoel de Morais —, ocu- tenham se colocado em marcha para o Ceará depois que Francisco
pavam o forte do Brum e mantinham o grosso de seu exército em Olinda. Lima se recusou, nos “artigos de capitulação”, a anistiar O grupo. Sem
O brigadeiro Lima não os atacava, limitando-se a receber as várias de- dúvida, para confirmar essa hipótese, seria preciso dispor de informa-
detalhad as, pelo menos, sobre o horário de início da marcha e de
putações que “falavam em artigos de capitulação”. Uma delas viera ções
direto de Olinda e, afirma Manoel de Morais, havia sido mandada pela chegada do documento assinado pelo brigadeiro Lima. Mas um outro
própria Câmara. Francisco de Lima chegou a convidá-lo para ouvir a dado fornecido por Manoel de Morais permite sugerir essa interpreta-
entre-
deputação. Mas, achando aquilo um “desaforo”, o brigadeiro recusou ção. Ele afirma que os únicos a ficarem em Olinda, dispostos a se
forças imperiai s, foram alguns oficiais e soldados , exatame nte
a oferta. Francisco de Lima foi, então, pessoalmente encontrar os emis- gar às
a quem Francisc o de Lima, nos artigos 1º e 2º da “conven ção”
sários rebeldes e voltou dizendo que tinha dado prazo até meia-noite aqueles
garantiu anistia Ou, NO mínimo, passapor te para
com os confede rados,
para que se rendessem. Do contrário, ele atacaria. Querendo “ver a é que o brigadei ro Lima não dps
deixar a provínci a.!3 A grande diferenç a
festa acabada”, o brigadeiro Manoel de Morais — ainda é ele quem con- política. Por isso, não su manti-
nisso um problem a, mas uma estratégi a
ta — pôs-se “à mira, e logo fiz tenção de não me deitar”. Passado algum atuação, enviand o até cópia dessas
nha o governo informa do sobre sua
tempo, apareceu O capitão-de-mar-e-guerra Northon com vários ma- tentava convence r O imperad or de
correspondências para a corte, como
rujos dispostos a atacar o forte do Brum. Deu meia-noite, e nada de violento s não ajudaria a sobenete s os habitan-
que a adoção de métodos
notícias de rendição. Esperou-se até a uma hora da manhã, e nada. O sediada no Rio de Janeiro. Daí também sua resis-
tes da região à Coroa
brigadeiro Manoel de Morais — a expressão é dele — só “ficava atiçan-
tência em instalar a Comissão Militar.
do”. Finalmente, Francisco de Lima decidiu partir para o Recife, €
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Todas essas idéias eram resultado da experiência de Francisco de Lima claração semelhante, de que não era ladrão, não só não participou do
em Pernambuco. Ele provavelmente não assumiu o comando da expeg;. assalto como impediu que Emiliano o praticasse. Atitudes como essas tor-
ção com essa visão dos fatos. É preciso levar em conta o efeito da hospe- naram Agostinho Bezerra muito respeitado, mesmo entre os partidários de
dagem no engenho Suassuna, do trabalho cotidiano ao lado de Paes d. Pedro. Assim, tão logo se espalhou a notícia de sua prisão, um abaixo-
Barreto e da disposição para ouvir os magistrados e “pessoas probas” da assinado, organizado por negociantes portugueses, começou a correr a re-
província. Meses depois, em fevereiro, ele ainda escrevia de Pernambuco, gião. O documento, com centenas de assinaturas, foi entregue ao brigadeiro
impressionado com a “força das recordações de 18177. O destinatário da Lima, que, de imediato, o enviou para a corte. À expectativa era grande.
carta era um amigo, bem posicionado na corte, sobre quem voltarei a Solicitava-se o perdão para Agostinho. Mas d. Pedro indeferiu a petição.
falar mais adiante. O interessante, por ora, é destacar que nessa carta 0 Agostinho era anistiado de 1817, havia reincidido. No terceiro dia da qua-
brigadeiro Lima afirma ter assumido a tarefa de desmentir essas recorda- resma, foi executado, com o capitão Nicolau.!º
ções “por fatos de moderação e [fazer] germinar nesses corações endure- Quando o brigadeiro Manoel de Morais enviou sua carta para a cor-
cidos por uma educação pervertida pela ação de infernais periódicos o te, estes últimos fatos ainda não tinham ocorrido. Francisco de Lima
amor que deviam ter à sagrada pessoa do imperador”./4 Alguns relatos apenas iniciava suas negociações. Essa política, no entanto, era sua. Para
confirmam essa atitude do brigadeiro entre os locais. Um deles é sobre o instituí-la, resistia às ordens imperiais. O princípio que orientava uma
a
capitão Nicolau. Nomeado pelo governo confederado comandante do atitude tão arrojada — acredito eu — era sua convicção de que adotava
forte do Brum, Nicolau o defendeu até se ver inteiramente sozinho, aban- melhor estratégia de defesa dos interesses da Coroa em Pernambuco.
donado pela guarnição. Para tentar salvar sua vida, quando os “impe- Agindo desse modo, arriscava sua posição na corte. À metamorfose so-
riais” invadiram o forte, correu pela praia, entrou em uma canoa e cial dos Lima e Silva era uma conquista recente, alcançada com esforço
entregou-se diretamente a Francisco de Lima. O brigadeiro não o pren- pelo patriarca da família no final de sua vida. À criação de uma nova
deu, mandou que “se recolhesse à sua casa”. Surpreendentemente, o ca- corte, dirigida por um imperador jovem, livre do peso das mais tradicio-
pitão Nicolau obedeceu: foi para casa e lá permaneceu sem fugir. nais casas portuguesas, mexia no sistema de hierarquias, e essa desesta-
abria espaço para a emergência de famílias que pertenciam a
Um outro relato — bastante comovente — é sobre Agostinho Bezerra. bilização
mais pró-
um nível inferior dessa estrutura, recém-admitidas nos círculos
Cavaleiro da Ordem de Cristo, capitão, quartel-mestre-general e negro, ele
ximos ao imperador, como era o caso dos Lima e Silva. Dentro do meca-
era um nome importante dos confederados. Foi preso com o major Emilia- novos investimentos .!% Tendo
nismo da corte, a ocasião era perfeita para
no, outro rebelde bem conhecido. Por um arranjo do major com as senti- primogênito da família,
conquistado certa reputação, o brigadeiro Lima,
nelas, Agostinho teve chance de fugir da prisão. Todavia, decidiu ficar. posição. Concorria a chances
empenhava-se para elevar ainda mais sua
Dizia que “não se julgava criminoso, que não era ladrão nem assassino, € o fiel da balança. Sua promo-
de prestígio hierarquizada s. D. Pedro era
sim amante da liberdade de sua pátria”. Desse modo, não via sentido em O recuo de alguém. Manoel de Morais,
ção implicaria necessariamen te
fugir. Não era a primeira vez que Agostinho Bezerra afirmava com dignida- No ano anterior, outro Lima € Silva, por meio de
temeroso, se defendia.
de sua condição de confederado. Na noite do dia 23 de julho, o mesmo havia lhe roubado a chance de comandar as
uma manobra política, já
major, aproveitando-se dos tumultos de rua, decidiu “assaltar casas de por- na Bahia. Manteve-se firme. Voltou para a corte e deci-
forças imperiais
tugueses” e “convidou? Agostinho para acompanhá-lo. Fazendo uma de-
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diu, para preservar sua posição, cerrar fileiras ao lado de d. Pedro. Na Francisco de Lima talvez apostasse que tudo era uma questão de tem-
primeira oportunidade que se abriu, deu provas de sua mais completa po, e tinha motivos para isso. Além do apoio de parte da elite local, tinha
fidelidade ao imperador: aceitou a embaraçosa missão de fechar a As. a seu favor a distância e a dificuldade de comunicação entre a corte e a
sembléia Constituinte.!'” Agora, pela adesão ao jogo de intrigas, típico província. Só não podia contar com as cartas do brigadeiro Manoel de
dessa política de corte, procurava eliminar de vez a sombra que os Lima Morais. Este, sobretudo depois de perceber que não seria tão cedo nomea-
e Silva vinham fazendo em sua trajetória política. Ainda que Francisco do comandante de Armas de Pernambuco, intensificou sua atuação. Com
de Lima não estivesse sozinho, contando com alguns amigos e SOta-pa- a descrição que fez da ocupação de Recife ao “amigo Gomes” tentava
rentes no ministério, resistir às ordens do Rio de Janeiro era uma atitude nitidamente forçar a demissão do brigadeiro Francisco de Lima, intenção
extremamente arriscada.!º8 que é explicitada no final da carta, quando ele indaga ao amigo: “Dize-
À tensão era crescente. Francisco de Lima, que provavelmente ainda me tu, se és capaz, como se há de pôr em ordem a província sem que O
não desconfiava das cartas do brigadeiro Manoel de Morais, continuou presidente Mairinck tome posse já e o sr. Lima vá para o Rio de Janeiro?”
abrindo espaço para sua política. No dia 1º de novembro, mesmo depois Sendo o “amigo Gomes”, como era, secretário e homem forte do gover-
da carta imperial de 16 de outubro, que exigia a criação da Comissão no, a cabala — para usar uma expressão da época — estava armada. Hº
Militar, voltou a escrever ao ministro do império. Reiterou a disposição No dia 23 de novembro o brigue Guarany atracava em Recife. Nele,
das Câmaras de jurar a Constituição e, como precisava ganhar a con- vinham ofícios e instruções do ministro da Guerra, João Vieira da Costa
entre os quais uma portaria ordenando a instituição de um
fiança de d. Pedro, comunicou uma idéia que lhe parecia “muito conve- Carvalho,
Conselho Militar para que se procedesse à organização de uma expedi-
niente”. Tinha decidido retardar a cerimônia de juramento para fazê-la
com toda a pompa no dia 1º de dezembro, como parte dos festejos de ção ao Ceará e uma instrução fazendo chefe dessa expedição o brigadei-
comemoração do aniversário de coroação de Sua Majestade Imperial. ro Lima e Silva. As medidas mostravam a preocupação do imperador
Para esclarecer melhor sua estratégia, explicava no ofício que não era com a difusão do movimento revolucionário nas províncias vizinhas,
contrário à aplicação de castigos ao presidente Paes de Andrade e seus sobretudo no Ceará, para onde frei Caneca e outros líderes confederados
brigadeiro
“sequazes”. Concordava ainda que só “vigilância e força é o que pode haviam marchado depois de terem deixado Olinda.” Para o
de Lima, isso significava seu afastamento de Pernambuco e o
conter... essa mania revolucionária”. Mas, considerando a dita mania
Francisco
uma “moléstia endêmica nesse país”, insistia: “verdade é que eles [líde- fim de sua política de negociação na região.
desses documentos foram enviadas, pelo mesmo brigue, para
Cópias
res do movimento] nada mais fizeram que desenvolver o gás inflamável Ele exultava. Após ler e reler os ofi-
o brigadeiro Manoel de Morais.
que existia na província, preparações mais remotas dispuseram a maté- de farda de brigadeiro do Exér-
cios — conta em outra carta — “pus-me
ria que afinal incendiou”. Linhas depois, evocando sua “franqueza de 5r. Lima”. Queria apresentar-lhe “minha
cito (...) e parti para a casa do
soldado”, voltava a aconselhar “respeitosamente a V. Exa.”: “esta pro- relativos à sua ida ao Ceará”. Chegam;
papelada” e tratar “dos negócios
víncia precisa de uma grande reforma em magistrados, militares, ramos modos iniciar a conversa. Mas o brigadeiro
do lá, tentou por vários
da administração pública, e até mesmo entre o clero, porque poucos são não teria comigo:
Lima, aos poucos, “me fez ver” que “tal conferência
os que não foram mais ou menos envolvidos nos acontecimentos... pon- Agiu gentilmente: mostrou-lhe outros papéis, convidou-o para jantar,
do em seu lugar outros que sejam probos e de saber” 109
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mesmo as intenções do brigadeiro Lima, Manoel de Morais, mais uma Para finalizar, escreve que “afirmo tudo isso” com “a sinceridade do meu
vez, voltaria para a corte.!! coração e O respeito que consagro ao Nosso Augusto Imperador” e não
Sejam lá quais tenham sido os arranjos políticos que sustentavam essas para “cubtrair-me à marcha do Ceará”6
atitudes, o fato é que a situação de Francisco de Lima perante 0 imperador No dia 29 de novembro, o restante da força rebelde capitulava na
estava cada vez mais delicada. À essa altura, ele certamente já tinha perce- vila da Missão Velha. Mais uma vez, não houve combate. Antes disso, os
bido que alguém muito próximo o intrigava com o governo. Assim, antes imperiais levantaram bandeira parlamentar. Um ofício do major Lame-
de encerrar o mês de novembro, escreveu um longo ofício ao ministro da nha Lins, oficial imperial, convidava os confederados a capitularem e
Guerra. Nele, informava que uma força de mar e terra seguia imediatamen- lhes garantia que, se assim o fizessem, voltariam como irmãos e amigos,
te para o Ceará e aproveitava para enviar, em anexo, as atas das reuniões que encontrariam “no imperador um pai, que os receberia com clemên-
do Conselho Militar.!!'' Como este o deixara sozinho na decisão de não cia, e não um bárbaro sultão”.!!7 Parte da oficialidade e da tropa se
comandar a expedição, o brigadeiro resolveu assumir, diante do ministro, rendeu. Não havia mais como resistir. Devidamente desarmados, os re-
total responsabilidade sobre ela. Explicou que “já havia antecipado a pron- beldes seguiram, com as forças imperiais, para Pernambuco. Lá chegan-
tificação das tropas e petrechos ali marcados e que estava a ponto de sair, do, os líderes do movimento foram imediatamente presos. Francisco de
quando recebi as ordens [do Conselho] concernentes a esse objeto”. À jus- Lima não dispunha mais de uma grande margem de negociação. Na po-
tificativa para a frase veio logo em seguida, acompanhada de uma certa sição em que se achava, sabia que, para salvar seu emprego, teria de sa-
mágoa pelas demonstrações de desconfiança de d. Pedro: “Não é espírito crificar, ao menos, os líderes do movimento. À paciência de d. Pedro se
de vaidade e ainda menos pouco apreço por um Conselho respeitável que esgotava. A 16 de dezembro, por meio de duas cartas imperiais, sus-
me guiam a dizê-lo, mas é sim a justa ambição que tenho de que Vossa pendeu a expedição militar ao Ceará, encarregou o tenente-coronel Con-
Majestade Imperial se convença do meu zelo quando me confia comissões rado Jacob Niemeyer, comandante de Armas da província, de instalar
de tanta transcendência.” Faltava informar que não comandaria a expedi- em definitivo a Comissão Militar e enviou outro general para Pernambu-
ção, e Francisco de Lima permaneceu firme ao expor suas razões: co, o brigadeiro Bento Barroso Pereira, com ordens de substituir Francis-
co de Lima caso este ainda não tivesse iniciado os trabalhos da Comissão
Sendo o fito de Vossa Majestade Imperial a pacificação geral do Norte do Militar na província.!!8 Ainda assim, O brigadeiro tentou defender mais
império, sua integridade e segurança... e não entrando em dúvida de que uma vez sua política. Em ofício de 31 de dezembro, informou ao minis-
Pernambuco tem sido, é, e pode ser a potência da alavanca revolucioná- tro da Guerra que: “para salvar a responsabilidade que recai sobre podas
ria das secundárias províncias do Norte, segue-se que é Pernambuco O as pessoas de que se compõe o mesmo Conselho” e para não se apt
ponto a que devem aplicar-se todas as forças morais e físicas em oposição “novos inimigos, como aconteceu a partir de algumas irregularidades
às tentativas de uma revolta, a que geralmente são inclinados esses povos;
que para o seu próprio bem cumpre desarmar de todos os recursos de a praticadas em 1817, a Comissão julgou que (...) tais processos fossem
a e re fl ex ão
a , pa ra 0 qu e se ne NE
ce ssS”
ita
ar ez
fazerem; mas isso não se consegue senão com o uso da força, com medi- feit| os com toda a formalidade, cl Co mi ss ão Mi-
réu s co nv oc ad os pe la
das enérgicas e estudada prudência, e eu, tendo feito muito, quanto me tempo e provas”.!!? Os primeiros fo-
ri al no di a 18 da qu el e mê s,
tem sido possível, conheço faltar ainda o essencial, e saindo tão precipi- litar, iniciada sob pressão da carta Impe
tadamente, deixaria sem alicerce a obra que felizmente vou levantando. o em pr eg ad o da al fândega
ram o frei Joaquim do Amor Divino Caneca,
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Seu concorrente em Pernambuco, o brigadeiro José Manoel de Morais dro para assumir interinamente o Comando de Armas da Corte e Pro-
logo depois da campanha, durante a qual não assumiu nenhum cargo de
víncia do Rio de Janeiro. Retornou. Não tinha completado um ano na
expressão, foi promovido a marechal-de-campo, em 1827, nomeado co.
corte, foi mais uma vez nomeado comandante de Armas de São Paulo.
mandante de Armas da Corte e da província do Rio de Janeiro e, em A razão dessa nova nomeação era a agitação provocada pelo assassinato
1828, tornou-se ajudante-de-campo do imperador. O brigadeiro Bento de Libero Badaró, redator do jornal liberal Observador Constitucional.
Barroso também foi bem recompensado. Depois de exercer o cargo de O jornalista liderava a oposição a d. Pedro entre os paulistas e, com sua
ajudante-general do Comando de Armas da Corte, foi escolhido, em morte, O clima político na província inspirava cuidado. Boatos envol-
1826, senador do império e, no ano seguinte, ministro da Guerra. Em viam o próprio imperador no evento. Dizia-se que o suposto mandante
contrapartida, depois que os irlandeses foram embarcados de volta para do crime, o ouvidor Cândido Japiaçu, teria contado com seu apoio para
seu país, atitude tomada pelo imperador após a sublevação do batalhão, executar a ação. O episódio exigia a presença na província de um gene-
Francisco de Lima não conseguiu outro emprego na cidade.!3* Foi nomea- ral moderado. D. Pedro lembrou-se, então, do brigadeiro Francisco de
do, por decreto de 5 de setembro de 1828, governador de Armas de São Lima. Além da habilidade que havia demonstrado em Pernambuco para
Paulo. Para um oficial superior, tenente-coronel ou coronel, sem o mes- negociar com as elites provinciais, alguns grupos liberais — como preten-
mo histórico do brigadeiro Lima, esse seria sem dúvida um posto impor- do mostrar no próximo capítulo — vinham se aproximando do brigadei-
tante. Também poderíamos considerá-lo positivamente, ou seja, como ro Lima. Este, percebendo a fragilidade política do imperador, decidiu
uma promoção, caso a província estivesse sublevada. Mas, fora dessas mostrar agora a extensão de sua mágoa: alegando que essas viagens
circunstâncias, a nomeação expressava ainda o descontentamento do constantes com toda sua família geravam muitas despesas, recusou for-
imperador com a independência com que Francisco de Lima agiu em malmente o cargo. Anos mais tarde, escreveu que essas nomeações para
Pernambuco. O posto era uma espécie de ostracismo. Longe da corte, ele São Paulo o faziam sentir-se um “joguete” em meio às “intrigas de al-
perdia todas as chances de se redimir por meio de novas demonstrações guns conselheiros do monarca”. Mais uma vez agiu de forma totalmente
de fidelidade e reverter os fatos a seu favor. De forma obediente, talvez independente. Optou por ficar na corte mesmo sem empreso, reduzido
arrependido, Francisco de Lima seguiu para a província e levou consigo ao simples soldo de sua patente. Vendeu alguns escravos para subsistir
toda a família, menos Luiz Alves. O rapaz ainda se encontrava em cam- com seus sete filhos, mas, como afirmou, se orgulhava de não ter cedido
uma
panha na Cisplatina e, mesmo que já tivesse retornado, após três anos de a “esses zangões do Estado”. Na sua opinião, todos eles agiam com
única e mesma intenção: “desmembrar a família Lima”.
2] " = 7a 136
= pit
= a
combates, não era momento de ele se afastar da corte. Apesar da derrota a co ma nd an te de Ar-
D. Pedro só vol tou a no me ar Fra nci sco de Lim
das forças brasileiras na guerra, tão logo voltou foi promovido a major ndo , ret orn and o de sua vi ag em a
mas da Corte em ma rç o de 183 1, qua
e, no ano seguinte, em 1829, condecorado com a Ordem da Rosa. Para fli tos € for tes de mo ns tr aç õe s de
Minas Gerais, enf ren tou div ers os con
voltar a ver sua família, teve de solicitar uma licença ao imperador — que . À rej eiç ão a seu gov ern o cre sci a e, com
hostilidade nas rua s da cid ade
lhe foi concedida em janeiro de 1829 — e viajar para São Paulo, onde ilu sit ano . Era mai s um pon to favorável ao
ela, um for te sen tim ent o ant
permaneceu, ao lado do pai, por um mês. 135 Fra nci sco de Lim a, bra sil eir o de nas cim ent o. Dia nte desse
brigadeiro
4 Egancisco de Rima corria toda a província organizando os corpos do a ace ita r ago ra 0 que não pôd e tol erar em
de quadro, d. Ped ro era obr iga
milícias. Pretendia descansar na capital quando foi chamado por d. Pe-
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1824, sobretudo em função das histórias que chegavam a seus Ouvidos e crer seus biógrafos."º À rede de relações que ia sendo tecida por meio do
lhe atingiam em cheio o ego — a independência do brigadeiro. Aquele deslocamento da família Lima pelo império nada tinha de harmônica.
imperador de 1822, político sensível, que cativava a oficialidade com sua O jovem Luiz Alves, a cada nova expedição organizada pela Coroa, mer-
capacidade de ocupar as praças, mostrava-se desde Pernambuco comple. gulhava em uma “comunidade de experiências” formada por combates
tamente inábil para gerir conflitos políticos. Do antigo chefe militar, po- armados, conflitos políticos, alianças locais e intrigas palacianas.? Foi
sição que lhe era garantida pelo direito dinástico, restavam apenas os o ingresso nessa “comunidade”, em seus mais diversificados aspectos,
descomedidos atos de força.!* que constituiu a base de sua formação militar.
Talvez ninguém tenha sentido mais o arbítrio do imperador que o
brigadeiro Lima. Ainda assim, não há como negar que os Lima viviam
um momento bastante especial em suas carreiras. Ocupavam importan-
tes postos militares na cidade e transitavam com certa facilidade na corte
de d. Pedro. O velho marechal José Joaquim de Lima, patriarca da famí-
lia, se ainda estivesse vivo, certamente ficaria orgulhoso de seus filhos,
O projeto a que tanto se dedicara começava a dar resultados. Mas não
era só isso. Ao combaterem a “hidra da anarquia”, os irmãos Lima se
firmavam nos altos círculos políticos da corte — e de algumas provín-
cias — como nomes centrais na articulação da unidade territorial e, por
conseguinte, na formação de um império brasileiro.
Os oficiais mais jovens da família Lima, entre eles Luiz Alves, tinham
assim uma iniciação privilegiada na carreira. Como vimos, a formação
de um oficial militar nessa época não passava nem pela aquisição de
conhecimentos técnicos específicos em uma academia militar, nem pela
incorporação de valores orientados por uma disciplina rigorosa. Apren-
diam na prática, à moda dos “tarimbeiros”, a combater e também à
negociar. Esse era um atributo fundamental para um militar do século
XIX, sobretudo em um império tão vasto como se pretendia o brasileiro.
Daí o esforço deste capítulo para recompor a complexidade da rede so-
cial e política na qual os Lima se encontravam inscritos nesses anos.
A formação de Luiz Alves se deu em meio a esses acontecimentos. Foi
com seus tios na Bahia e acompanhando, de longe, o drama vivido por
seu pai em Pernambuco, que o jovem oficial aprendeu a ser militar. Não
porque isso criasse a seu redor uma certa “aura”, como nos querem fazer
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NOTAS 13. Luiz Manoel de Lima e Silva, Guerra com as Províncias Unidas do Rio da Prata.
14. Para os estatutos da Real Academia Militar, uma obra de referência é a de Jehovah
Motta, Formação do oficial do Exército, p. 16.
15. Essa história pode ser inferida de um documento do AHM, que, apesar de só for-
necer dados para 1795, afirma que o oficial já assístia a cursos no ano anterior,
“Processos Individuais — Francisco de Lima da Silva, mapa dos nomes, idades e
observações dos alunos na nova Academia Militar do Rio de Janeiro, fixada em
novembro de 1795”, cota fundo 2, série 1, caixa 1, nº 36.
16. Sobre essas academias, Francisco de Paula e Azevedo Pondé, op. cit. Para o interes-
« Ver os registros de batismo depositados no ACMR]. Para o assento de Luiz Alves
se específico do conde de Rezende, p. 44.
de Lima, Igreja da Candelária, livro 9, f1.78.
17. A definição desses objetivos é uma interpretação dos estatutos da Real Academia Mili-
- Esses dados foram retirados da escritura de compra da fazenda, transcrito nas Pu-
tar feita por Oliveira Lima, op. cit. p. 162. Sobre as academias anteriores não Rá pes-
blicações Históricas do AN, vol. 36. quisas, quem as define como intermitentes é Jehovah Motta, op. cit., p- 12. nota 11.
« Sobre o local de nascimento das crianças e o nome dos parentes, ver Eugênio Vilhe- 18. As informações sobre o estatuto da Academia foram retiradas de Jchovah Morra,
No
na de Morais, Caxias!, lata 760, pasta 30 do IHGB, e Carlos Dantas e Carlos op. cit. Esse texto é referência obrigatória para quem trabalha com o tema.
Rheingantz, Achegas genealógicas à ascendência brasileira de Luiz Alves de Lima Celso
meio acadêmico, é importante destacar o trabalho pioneiro do antropólogo
sobre
e Silva. Castro sobre a Academia Militar das Agulhas Negras, que inclui um capítulo
As hostilidades a Joaquim Silvério são tão grandes que quase vinte anos depois da a história da instituição.
delação, quando ele retorna ao Brasil acompanhando a família real, não permane- 19. Celso Castro, O espírito militar, p. 106, grifo do autor
ce na cidade, estabelecendo-se com sua família no Maranhão. 20. “Livro de Registro e Matrícula da Real Academia Militar (1811-1822)”, do
« O biógrafo utilizado para essas informações é Joaquim Laranjeiras, Caxias. Nabu- AN - microfilme 001-1-75. oii
co de Araújo e o futuro visconde do Rio Branco também aprenderam as primeiras José Joaquim de Lima e Silva faleceu no dia 26 de abril de 1821, Eugênio Vilhena
21.
letras em casa. Ver, respectivamente, Joaquim Nabuco, Um estadista do Império, € de Morais, lata 760, pasta 30, do IHGB.
de Jchovah Morra,
Álvaro Lins, Rio Branco. Os livros de matrícula da Academia se encontram depo- 22. Todas essas citações, incluindo a do parágrafo anterior, são
sitados no AN, microfilme 001-1-75. Formação do oficial do Exército, p. 29-31.
partie de 1330,
« À fé-de-ofício de Caxias encontra-se no cofre do setor de manuscritos da BN, cota: 23. Só é possível fazer um trabalho mais sistemático com esses livros 2
mais regulares € completos. Para isso, há dois fundos: Fun-
49,2,14 nº 8. quando eles se tornam
AN. Um
Sobre o conceito de metamorfose social, ver Gilberto Velho, Projeto e metamorfo- do Ministério da Guerra — G3 e Ministério da EducaçãoaIE3, ambos no
se. exame da turma de 1811 é feito por Jehovah Motta, op. ait., p. 35, nora 38.
Silva e Manoel
8. O ofício dos oficiais acha-se no setor de manuscritos da BN, cota 11-34,25,30. 24. Integravam a junta em 1816: Francisco Shockler, João Manoel da
Jacinto Nogueira da Gama. A
a Sabina Loriga, Soldats, p. 108. A citação é uma tradução livre do francês. 19 de fev ere iro de 1816.
as as do par ágr afo estã o no ofíc io de
10. Adriana Barreto de Souza, op. cit., cap. 1, “A integração do alto oficialato”. 25. Essa citação e tod
3). am
11. Academia Real Imperial, Fundo Ministério da Guerra — IG3 2 (1816-1823), ofício Fundo Ministério da Guerra — IG3 2 (1816-182
o da Gue rra — IG3 2. O ofí cio a é de 28 de agosto de 1816.
de 19 de fevereiro de 1816. 26. Fundo Ministéri
Re
A última citação é do ofício de 1º de janeiro de 1
m Ex 81 E
= a o
” o = mm
12. Ao eclodir a guerra, em 1825, o Brasil já possuía uma esquadra numerosa no rio da
a a his tór ia é nar rad a pel a jun ta dir eto ra. Fun do Min ist éri o da pas -1IG32,
Prata. Tasso Fragoso chegou a dizer que se havia criado um “círculo de ferro” ao 27. Tod ea
ano
ofício de 20 de dez embro de 1816. A existencia de uma rurma de 7º
redor de Buenos Aires. Sobre as forças de terra, afirma que o imperador procedeu e ao faro de que os
Academia em seu sexto ano de funcionamento deve-s
a um “recrutamento geral e rigoroso”, Ver Tasso Fragoso, A Batalha do Passo do bas e de mat emá tic a ele men tar fic ava m ise nto s das aul as do 1º ano.
com boa
Rosário, p. 186- 209, respectivamente,
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166
ne
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e
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DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
OS LIMA E SILVA COMBATEM A HIDRA DA ANA
RQUIA
102. Toda essa história é narrada na mesma carta de Manoel de Morais, cota: |
— 18.10.824, mor. C. 1-15, no AHMI. POB 121. Para recompor a data e o conteúdo desses ofícios foram utilizados os ofícios-res-
103. Esses artigos são descritos por Ulisses Brandão, op. cit., p. 254-255.
posta enviados da corte para o brigadeiro Lima. Todos estão reproduzidos na obra
104. Carta de Francisco de Lima a Luiz José de Carvalho de 13 de Ulisses Brandão, op. cit., p. 268-271.
de fevereiro de
setor de Manuscritos, BN, cota 63,4,1 1825
, — nº 69. 122. Ulisses Brandão, op. cit., p. 269.
105. Essas narrativas estão em dois documentos anônimos no setor de
Manuscritos da 123. Essas citações foram extraídas de uma carta enviada pelo brigadeiro Lima a um ami-
BN, “Expedição a Pernambuco em 1824”, cota II- 32,1,5, e go na corte, Luís José de Carvalho, setor de Manuscritos da BN, cota 63,4,1 nº 69.
“Pernambuco, 1824»
cota 11-32,1,1.
124. O documento é citado por Ulisses Brandão, op. cit., p. 273-274, Enfases da autora.
106. Essa interpretação é baseada nas | reflexões de Norbert Elias, 125. Sobre a trajetória de Luiz José de Carvalho, ver J. Galante de Sousa, op. cit., a en-
A sociedade de corte.
107. Octávio Tarquínio de Sousa, História dos fund trada é nominal.
adores do I mpério do Brasil, vo
3., p. 574. l
126. A citação foi extraída da carta já citada, setor de Manuscritos da BN, cota: 63,4,1
108. Essas relações de Francisco de Lima são destacadas po nº 69. Enfase da autora.
r Manoel de Morais em car.
ta de 18 de outubro de 1824, AMI, 11.51, D.2424. 127. Francisco Augusto Pereira da Costa, op. cit.
109. Ofício de 1º de novembro de 1824, divisão de 128. Como foi dito na Introdução, não há um arquivo da família. Mas as cartas que
manuscritos, da BN, cota 131, 22.
110. Carta do brigadeiro José Manoel de Morais a
Francisco Gomes da Silva, cota I- encontrei para períodos mais avançados, no setor de manuscritos da BN e no
POB — 26.11.824, mor. C, no AHMLI. IHGB, permitem imaginar que elas possam ter existido também para esses anos.
111. Sobre as instruções, ver o ofício do brigadeiro Fra
ncisco de Lima e Silva para 0 129. Alfredo Pretextato Maciel, op. cit., entrada nominal. Moço fidalgo era foro por
ministro da Guerra, datado de 30 de no
vembro de 1824, códice 745, vol. 3, no meio do qual o rei filiava algumas pessoas para seu serviço. Têm maior graduação
AN. Desde outubro, d. Pedro já havia suspendido aqueles que são moços fidalgos em exercício. |
os direitos constitucionais na
província e mandado criar uma Comissão Milita
r. Ver Coleção de Leis do Brasil, 130. Sobre comportamento e sensibilidade em uma sociedade de corre, Norbert Elias,
decreto de 5 de outubro de 1824. op. cit. capítulo sobre etiqueta e cerimonial.
112. Todas as citações e expressões deste parágrafo
e do anterior foram extraídas da 131. E ceccesiniaa foi expresso em uma carta ao imperador d. Pedro Il de 25 de
carta do brigadeiro José Manoel de Mor dezembro de 1841, maço 103, doc. 5.064, do AHML |
ais a Fra ncisco Gomes da Silva, cota I-
POB — 26.11.824, mr. C, no AHMI 132. Esses termos encontram-se em Juvêncio Saldanha Lemos, Os Mercenários do Im-
113. Esse voto encontra-se no AMI, POB, 26.01. perador. Ver, respectivamente, p. 369 e DA da
824, mor. C.
114. Ofício de 27 de setembro de 1824, destinado ao
ministro do império, setor de Ma-
133. Hélio Viana, “Os imperadores e os Lima e Silva”. Veador ou vedor era o mordomo
ser
nuscritos da BN, cota 1-31,22,1. Para todas essas opiniões de Manoel da casa real, responsável pela inspeção e provedor do necessário. O cargo podia
de Morais, à de Lima,
referência continua sendo AMI POB, 26.01.824, ocupado por um período determinado, como ocorreu com Francisco
mor. C.
115. Essas atas podem ser encontradas no AMII-POB, 26.01. nomeado veador da imperatriz para a semana em que ela daria à luz o prndipe
824, mor. €. am Fa
116. Ofício de Francisco de Lima e Silva para O ministro da 134. Sobre a sublevação dos irlandeses, ver Juvêncio Saldanha Lemos, Ee
Guerra, datado de 30 de No com te
novembro de 1824, códice 745 imperador, e o documento I1-34,16,12 no setor de Manuscritos da BN.
» Vol. 3, no AN, isco de Lima foi recon hecid a publicamen-
117. Itinerário que fez frei Joa à revolt a dos irland eses, a atuaç ão de Franc
quim do Amor Divino Caneca, saindo de Pernambuco à da BN.
16 de setembro de 1824 te. Ver Diário Fluminense de 25 de junho de 1828, setor de obras raras
» para a província do Ceará Grande, in Evaldo Cabral de nte de majo r acha -se no decr eto de 2 de dez emb ro de 1828 , com antiguidade
Mello, op. cit., p. 599. 135. A pate
de out ubr o daqu ele mes mo ano. Com o havi a dito, não dis pon ho de informa-
118. Uma cópia dessas cartas de 12
imperiais encontra-se na Divisão de Manuscritos da BN, guer ra. O padr e Pint o de Cam pos aii que a
cota [-31,22,1. ções sobr e sua part icip ação ness a
s teria real izad o no Sul um gran de ato de brav ura. Uma noit e, ... à testa de
119. Ofício do brigadeiro Francisc Alve ; Ei-
o de Lima e Silva para o ministro as
de 31 de dezembro de 1824, da Guerra, datado um punhado de homens resolutos, atravessou à galope e sem ser pressentido
códice 745, vol. 3, no AN ri que costumavam Iinterceptar E barcações sã
120. Alguns desses testem . nhas orientais” para atacar corsários
unhos estão publicados em José Murilo de Carvalho, op. cit.» imperiais e lhes roubar petrechos e gêneros ê do Exército.
ÉrCI Cercou-os e fez a todos
item 10, sobre o processo de
frei Caneca.
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pa
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pa”
mas da Corte, deixado por Francisco. Três meses depois, outro dos ;
da Fons eca de Lima , ante s no com and o do Bara lti sete anos, Luiz Alves passou a ocupar um lugar importante no sistema
mãos Lima, Manoel
do Imperador, assumiu nada menos que o Ministério da Guerra. policial da cidade. Essa guarda, criada pela Regência, correspondia ao
É
Luiz Alves de Lima era um homem de sorte. Aos 27 anos, via 0 pai que hoje seria a Polícia Militar. Luiz Alves, durante todos esses anos,
assumir a direção política do império e dois tios seus, os Prin circulou, cotidianamente, entre os diferentes mundos que compunham
cipais pos- essa sociedade. Além disso, atuava nas ruas, lugar onde eles se entrecru-
tos militares. Os anos seguintes à abdicação não foram menos
agitados zavam. Tudo isso enfrentando uma forte oposição política. Ao final dos
que os meses que a precederam. As ruas e as praças da cort
e foram to- dois primeiros anos de comando, ganhava o reconhecimento de várias
madas por sucessivos levantes até 1833. Neles, misturava
m-se soldados autoridades. Daí a idéia de laboratório. À expressão, cunhada por Ilmar
oficiais, negros, mulatos e partidários de um liberalismo radical.
e Mattos, é proposta para pensar a província fluminense como local onde,
o major Luiz Alves de Lima tomou parte na repressã
o a vários desses desde 1834, os políticos conservadores testavam algumas medidas que
movimentos. Em outubro de 1832, foi nomeado com
andante da Guarda seriam aplicadas em seguida à administração geral. Aproprio-me dela
de Municipais Permanentes, força militar criada pela
Regência para fa- para sugerir que não testavam apenas medidas, mas também treinavam
zer frente a esses conflitos. Ele permaneceu no posto por sete
anos, só 0 pessoas. Após esse longo “estágio” à frente da guarda, o tenente-coronel
deixando em dezembro de 1839, para assumir o comando
das forças Lima foi nomeado pela Regência conservadora de Araújo Lima para
organizadas para combater os balaios no Maranhão. comandar a Divisão Pacificadora do Norte. Jovem, eficiente defensor da
Ilmar Mattos destaca a experiência desses conflitos como chave para ordem e oriundo de uma família de militares monarquistas, Luiz Alves
a compreensão da formação da identidade política daqueles que vivi de Lima havia sido aprovado na defesa do princípio monárquico e no
am
no império do Brasil. Uma época de sonhos frustrados e intenções trans- controle das fronteiras sociais da capital do império.
formadas em ações vitoriosas. Este capítulo conta a história desses con-
flitos, das ações e reações de grupos políticos e de uma massa anônima
que habitava a cidade — identificada apenas como “povo e tropa” — para O CONGRAÇAMENTO FUNDADO NO MEDO
entender não as estratégias dos rebeldes, mas as dos repressores. Acredi-
to que ao participar da repressão a esses levantes ao lado do pai e dos A abdicação do imperador criou uma “política de congraçamento” na
tios, bem como de figuras como Diogo Antônio Feijó, Evaristo corte.” Ainda no Campo da Aclamação, em meio à multidão, divergên-
da Veiga
e Bernardo Pereira de Vasconcellos, Luiz Alves de Lima foi submetido a cias políticas eram facilmente percebidas. No momento em que a mulri-
um treinamento intensivo. O jovem oficial que na década anterior, CltCu dão arrancou das mãos do juiz de paz Custódio Xavier de Barros a
-
lando pelas províncias, aprendia a defender o princípio monárquico de proclamação assinada por d. Pedro, entre os gritos de “morra O traidor”,
uma Coroa sediada no Rio de Janeiro, ao mergulhar — como ocorreu podiam-se ouvir também diferentes vivas. Os exaltados davam vivas
nesses anos — nos conflitos que tomavam as ruas da corte, descobria à à federação e à república. Os vivas ao príncipe eram dados pelos mode-
importância de preservar outro elemento herdado dos tempos coloniais: rados, em uma clara disputa pelo apoio político da multidão. À aproxi-
o sistema de hierarquias sociais assentado na mação entre os dois grupos, exaltados e moderados, tinha ocorrido
escravidão. Ao ser nomea-
do para o comando da Guarda de Perman pouco antes do 7 de abril. Enquanto os exaltados tentavam exercer uma
entes e nele permanecer por
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algum sacrifício agora, talvez ao depois já seja tarde, é que como valioso instrumento de pressão sobre a Câmara dos Deputados.
lastim A Da abdicação até a convocação da Assembléia Geral, os deputados tive-
vão a sua incúria e desleixo”.
sm ram dois meses para organizar sua agenda legislativa. À primeira lei,
Luiz A Ives de Lima era um dos sóci
Ci os da Sociedade Defe Nsora e,
seguramente, foi um dos vários oficiais a tomar parte aprovada em 6 de junho de 1831, dava ao poder central amplos poderes
nas ditas rondas, para manter a ordem pública. Por ela, o crime de ajuntamento ilícito,
ProsseguiaTe acom|panhando seu
Se s tios. O pai, ao que parece, ; não
uma posição ativa na associação. Seu nome nã
assumiu; caracterizado pela reunião de três ou mais pessoas “com a intenção de se
o consta nas listas d Os ajudarem mutuamente para cometerem algum delito”, deixaria de ser
conselheiros eleitos, sendo mencionado apenas
em uma lista parcial d Os punido com multas pecuniárias e justificaria a prisão por até nove meses
associados.?*
E 24
Manoel da Fonseca era nessa época o mais
popular d os dos envolvidos. Também passava a ser considerado crime a reunião no-
Lima. Dos irmãos, era o menos vinculado
a d. Pedro e, por ter aband turna de cinco ou mais pessoas que, uma vez detidas, estariam sujeitas a
nado, na noite do dia 6 de abril, o posto em Sã
o Cristóvão, foi aa três meses de prisão. Assim, não era nem mais necessário provar a inten-
do com vivas no campo pelo povo. João Armi
tage, sócio da Defensora ção criminosa do grupo. O número de pessoas caracterizava O crime.
afirma que o caçula dos irmãos Lima tinha “car A autoridade fortalecida por essa lei era o juiz de paz. Subordinado
áter firme e de lon
tempo já fazia coro com os liberais”. Opinião confir
mada por seu ca direto ao ministro da Justiça, ele era o responsável pela repressão aos
lente desempenho na eleição para conselheiro da soci
edade. Na verda- crimes contra a ordem pública. Recebia, por essa nova lei, o poder de
de, o fato de Odorico Mendes e Manoel da Fonseca
terem sido os dois nomear um delegado e até seis guardas civis para compor uma força
| es maismai votados para o conselho da Defensora é bastante
nom
significa- policial em cada um dos 16 distritos policiais da cidade. Essa frente em
tivo. Er Esse resultado firmava, na associação, a aliança
entre parte da defesa da ordem, entretanto, incluía ainda mais dois outros agentes do
oficialidade e moderados, poder central — o intendente de polícia e os juízes do crime. Todos deve-
Lima? incitada pela imprensa por meio do “caso
,
ima » em 1830. Nessa época, Odorico Mendes, jovem e entusiasma- riam reprimir as ofensas à ordem pública. À nítida justaposição de juris-
do, tinha sido escolhido entre os moderados para negociar o apoio des- dições efetuada pelo governo era uma estratégia para controlar essas
autoridades. O nível de suspeição era tal, que mesmo quem deveria le-
selava a| utó
os votos;
Outra instituição policial cuja criação recebia total apoio da Socie-
vitónia
ri dessa estratégi
SO] a e caracterizava a simpatia dos só- a civi l cuja exp e-
dad e Def ens ora era a Gua rda Mun ici pal — uma forç
1Os — civis e militares — pela política
moderada rência no Rio de Janeiro fundamentou a criação da futura Guarda
Se essas r ondas noturnas da Sociedade Defensora
provavam o inte- Nacional. Aprovada na Câmara após a lei de 6 de junho, regulamenta-
e
da pela Regência ainda no dia 14 desse mês, sua organização permit
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Os Lima não tinham um espírito militar, no sentido atual do termo, terior das províncias — e as guardas civis municipais, criadas em junho.
Eles não se viam como parte de um “nós” — os militares — em Oposição Além da função de policiamento, trabalhando para “preservar ou esta-
a um “eles” — os civis. Por isso, acredito ser pouco produtivo adotar a belecer a ordem pública”, a Guarda Nacional deveria auxiliar o Exército
idéia de hostilidade. Se a desmobilização do Exército não se explica ape- na defesa das fronteiras e da integridade nacionais.”
nas pelas manifestações de rua, é importante ficar atento à lógica expli- A idéia de armar civis e organizá-los em uma instituição paramilitar
cativa da época. nacional é parte dos princípios liberais, moderados ou exaltados. À prin-
A contrapartida a um Exército reduzido foi a formação da Guarda cípio, a Guarda Nacional era considerada uma força democrática e po-
Nacional. No mesmo relatório em que Diogo Feijó anunciou à Câmara pular — “o povo em armas”. Essa imagem se deve ao caráter eletivo de
.
dos Deputados o desaparecimento da tropa de 1º linha da capital, ele seus postos, preenchidos por meio de escrutínio individual e secreto
ficava caracte-
informou também que “as rondas policiais e o auxílio à justiça” seriam Submetida à outra instituição liberal — o juiz de paz -, ela
“prestados pelos guardas nacionais”. À discussão sobre a criação de como uma milícia de cidadã os proprie tários, estrut urada em de-
rizada
À unidade
uma Guarda Nacional vinha mobilizando setores da sociedade de forma safio à posição tradicional do imperador como chefe militar.
mais sistemática desde o mês de maio. À Sociedade Defensora, sempre dos princí pios liberais , desde o Primei ro Reinad o, tinha suas
em torno
ativa, utilizava suas filiais nas províncias para promover uma campanha no combat e ao poder central , por sua tradici onal associ ação com
raízes
ida, assim,
pela aprovação do projeto. No dia 28 de maio, formalizou o movimen- um imperador estrangeiro e tirânico. À luta liberal era entend
e administra-
to, encaminhando para o então ministro da Justiça, Manoel José de Sou- como uma luta de brasileiros pela descentralização política
que perman eceu mesmo após o 7 de abril. Dessa forma,
sa França, uma representação assinada por seus sócios.”3 Como se tratava tiva. Um sentido
o primeiro Impe-
de uma força nacional, o projeto suscitou muita discussão na Câmara. a Regência continuava tendo como ponto referencial
tarefa era institui r uma espécie de “cuerr ilha burocr ática”
A criação da Guarda Municipal do Rio de Janeiro, no dia 6 de junho, pre- rador. Sua
polític o-milit ares direta mente associ adas a
parava de certa forma a instituição da Guarda Nacional. A semelhança para enfraquecer instituições
meio dessa estraté gia, esconj urar a consta nte ameaça de
entre as duas forças mostra essa vinculação. O critério para alistamento d. Pedro Ie, por
na Guarda Nacional, como para os municipais, era censitário, mantendo seu possível retorno ao Brasil.”
os postos da Guarda Nacion al, O cargo de juiz
as restrições eleitorais. Os filhos de eleitores continuavam sendo aceitos Tal como ocorria com
1827, era preenc hido por meio de eleição em nível pa-
nas fileiras da nova guarda, bastando, para isso, que tivessem a idade de paz, criado em
e seu exercíc io não era remune rado. Thoma s Flory acredita que a
mínima de 18 anos. Os nacionais, tal como os municipais, não eram re- roquial
vitória liberal — tinha por objetiv o desafia r a tra-
munerados e tinham de arcar com as despesas relativas aos uniformes. iniciativa — uma grande
de magist rados cujo prestíg io provin ha de uma estreita €
Uma diferença importante, contudo, estava no caráter militar da nova dicional elite
vincul ação coma Coroa. Bernar do Pereira de Vasconcellos—como
guarda. Sua instrução era feita por oficiais histórica
do Exército, e cabia ao gover- articul ação da polític a modera da de 1831 —era
no For nenE armamentos para seus corpos. Após as ocorrências de vimos, um nome central na
julho,
rado, formad o em Coimbr a, com uma promis sora carreira
com Feijó à frente do novo gabinete. a à filho de magist
provação do projeto ficou mais Isso não o impedi u, porém, de partici par de forma direta
na magistratura.
>
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Bragança, decidiu atravessar O Atlântico com seu irmão caçula, q pa- das ocasionalmente como prisão e, desde as rusgas de maio, um paiol de
triarca dos Lima, o fez exatamente — O leitor deve estar lembrado — por pólvora desativado também vinha funcionando com esse fim. Era aí que
conta da desmobilização do Exército promovida pela Coroa com o fim se achava, desde que fora transferido da fortaleza de Villegaignon, em
da Guerra dos Sete Anos. maio, O líder Cipriano Barata. Havia ainda, ancorado próximo à ilha,
A política militar articulada pelos moderados contava com a intensa um navio-prisão — a Presiganga. O risco era previsível. Há dias corriam
participação dos irmãos Lima. À presença deles garantia a preservação da boatos sobre uma possível sublevação do corpo de artilharia da ilha. À
herança colonial no Exército brasileiro — a continuidade de um número desconfiança era tal que o ministro da Marinha, poucos dias antes de
reduzido de efetivos, de um recrutamento violento e dirigido à plebe, de rebentar a revolta, ordenou que fossem removidos do local todo o arma-
uma oficialidade hierarquicamente organizada segundo uma combinação mento e o cartuchame ali existentes, autorizou várias baixas, transferiu
de elementos dados por uma “economia de favores” e pela prestação de oficiais e mandou prender os suspeitos de liderar o movimento.”
serviços à Coroa e, por fim, de um Exército estruturado para conviver com Essa atitude do governo detonou a sublevação. No dia 6 de outubro,
sol-
forças paramilitares de cidadãos proprietários. Tratava-se de um típico o corpo de artilharia da ilha insubordinou-se, arrastando consigo os
Exército de Antigo Regime. Luiz Alves, o primogênito da segunda geração dados do navio-prisão. O pânico tomou mais uma vez conta da popula-
dos Lima no Brasil, foi introduzido na tradição miliciana dessa época ao ção. Temia-se que os rebeldes desembarcassem na cidade e, apoiados
ser nomeado em fevereiro de 1832 instrutor dos corpos de infantaria da pelos exaltados, tomassem O Arsenal de Marinha. Feijó repetia O roteiro
Guarda Nacional do Rio de Janeiro.*º Antes disso, porém, ele participaria reunindo a Câmara e O Senado em sessão permanent e. À dife-
de julho,
| 5;
de mais um movimento de repressão aos opositores dessa política. rença é que dessa vez o movimento era menor.
O objeti-
Voltemos ao desenrolar dos acontecimentos. Apesar de todo o esfor- Na manhã do dia 7, o governo mandou emissários à ilha.
conseguir a rendição dos marinheir os, sem recorrer às armas.
ço do governo, a guerra na imprensa crescia e, com ela, os conflitos de vo era
Raras
rua. Em setembro, tumultos no Teatro São Pedro (situado onde hoje é O Mas não houve negociação possível. Diante da notícia, as
José Ma-
Teatro João Caetano, na Praça Tiradentes) levaram novamente às pri- deram o rebate por toda a cidade, e, sem demora, O marechal
Peixoto conseguiu reunir uma força composta de 600 guardas
sões da cidade oficiais do Exército. Entre eles estava o major Miguel de ria Pinto
Mesmo formalme nte extintos, Os municipai s permanece-
Frias. Apesar de sócio da Sociedade Defensora, o jovem oficial, desde a municipais.
de policiame nto das ruas até a organizaç ão efetiva das
crise de julho, vinha fazendo oposição à Regência. Sua intervenção no ram no serviço
nacionais . Com Os municipai s, acorreu também à chamada o
episódio do teatro, protestando contra a prisão de dois outros oficiais, guardas
de Oficiais- Soldados. *” Ordenou então o marechal que O co-
fez o incidente degenerar em sério conflito. A tensão se agravou qua Batalhão
ndo, Dm
uma semana depois dos “tiros do teatro ”, uma rebelião armada, ronel João Paulo Barreto, comandante dos oficiais-soldados,
envol- deveriam dar assalto à forraleza. Três
vendo prisioneiros políticos e uma guarnição militar, irrompeu na ilha à organização das colunas que
então organizad as, misturan do integrant es da Guarda
colunas foram
Gas Cobras. Situada próxima ao Morro de São Bento, essa ilha era à de Oficiais- Soldados. A 1º coluna ficou sob O
principal base da artilharia costeira do Ri Municipal e do Batalhão
o e nela estava aquartelada comando do próprio coronel Barreto, da 2* coluna ficou
Encartpaaa
uma das duas únicas unidades milita
res que havia permanecido fiel ao de Lima, e o comando da 3º coluna foi passado ao
governo na crise de julho. Partes da o major Luiz Alves
fortaleza existente na ilha eram usa-
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Honra e se colocou, tal como no dia 7 de abril, junto ao palacete, de frente major Frias não teve chances, e saiu preso do Teatro São Pedro. Feijó
para o quartel-general. Aí reunidos, exigiam a deposição da Regência, a
atribuía exatamente a essas solidariedades a continuidade dos conflitos.
formação da República e a convocação de uma Assembléia Constituinte
Desse modo, para se livrar das masmorras dos fortes da cidade, sem
À reação do governo foi imediata. Tomando conhecimento do que se
comprometer a ordem, e criar novos problemas para a Regência, o ma-
passava no campo, o ministro Feijó expediu, de seu próprio punho, or-
jor Miguel de Frias sairia, à noite, “do quarto do desembargador para os
dem para que o major Luiz Alves de Lima assumisse o comando das
Estados Unidos, onde esteve por um ano, até que obteve anístia”.!0
Guardas Municipais Permanentes e dispersasse “a ferro e fogo” os gru-
Esse episódio é bastante expressivo. O fato de Feijó ter mandado
pos armados que ali encontrasse.”” Com rapidez, o major dirigiu-se para chamar o jovem major Lima para comandar as tropas de infantaria dos
o quartel da Rua dos Barbonos (atual Evaristo da Veiga, onde ainda hoje permanentes, quando ele nem integrava o corpo da guarda, mostra que
se situa o quartel da Polícia Militar) e, assumindo o comando das tropas o oficial vinha ganhando alguma visibilidade na corte. Sua atuação na
de infantaria, partiu para o Campo da Honra. Em pouco tempo, repressão à sublevação da ilha das Cobras já havia sido elogiada e, ao
o grupo
rebelde estava cercado pelos corpos de infantaria e cavalaria dos que parece, rendeu-lhe essa outra oportunidade. Por mais que o alcance
perma-
nentes. O major Lima — segundo consta — entrou na praça da revolta tenha ficado muito aquém do que se previa, a vitória do go-
atacando a
“ferro frio”. Os revoltosos, vendo a decisão dos guardas verno seria comemorada com entusiasmo. Simbolicamente, ela mobili-
permanentes,
deram uma descarga, mas tal era a confusão que, depondo zava elementos fortes: acontecia às vésperas do primeiro aniversário do
armas, cada
qual procurava salvar sua vida, metendo-se em portões 7 de abril, no mesmo cenário de um ano antes, e era liderada por uma
das casas para,
em seguida, desaparecer. Apenas um dos permanentes foi atingido. personagem profundamente identificada com aquele evento.
Mi-
guel de Frias, em meio ao tumulto, tentou escapar pela Rua do O significado atribuído à abrilada — nome pelo qual ficou conhecido o
Areal
(hoje, Rua Moncorvo Filho). Atento ao que se passava, movimento — pode ser avaliado por meio das solenidades organizadas pela
o major Luiz
Alves saiu em seu encalço. As chances de Miguel de Frias Regência e pela Sociedade Defensora. O soldado morto no Campo da
eram peque-
nas. Assim, quando avistou a casa do desembargador Nabuco Honra tornou-se o mais novo mártir da moderação. À cidade parou para
de Araú-
Jo, então morador na Rua do Areal, não titubeou: entrou acompanhar seu funeral. Um préstito fúnebre saiu do quartel da Rua dos
em busca de
refúgio. Como se tratava de uma autoridade públic
a, além de amigo da Barbonos, integrado por guardas nacionais permanentes e cidadãos de di-
família de ambos os oficiais, Luiz Alves não encont
rou problemas para versas classes sociais, todos carregando tochas acesas. O caixão, coberto de
também entrar na casa. Lá dentro, achou Mi
guel escondido em um dos flores roxas, era ornado por uma faixa com as inscrições: “Saudades da
URLs. Apesar da corrida, ao final, a solução foi diplom pátria e dos cidadãos pelo cidadão que sucumbira em defesa da nação.”
ática. O major
Lima decidiu não prender o “amigo e compan
heiro de infância”. Fechou Esperando o cortejo, na igreja São Francisco de Paula, estavam os mem-
a porta e entregou a chave ao desembarga bros da Regência, ministros de Estado, deputados e vários cidadãos ilus-
dor. A história é contada por
Luiz Alves, anos mais tarde. É provável que a atitude tres. Os pais de Florentino José Lopes, o soldado morto, receberiam a partir
tenha sido aconse-
lhada pelo desembargador, ou resultado de algum ac dessa data uma pensão mensal do governo no valor do salário do filho."
erto entre os três-
Pelas ordens de Diogo Feijó, os agentes Três dias depois, festejos comemoravam o 7 de abril. Apesar dos
da repressão deveriam “cumprir
seu dever sem exceção de Pessoa alguma”.”” boatos anunciando o rompimento de novas rusgas e motins, O dia trans-
Por isso, 3 em setembro, O
)
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DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
correu sem incidentes. Cada uma das etapas da festa foi executada como dores. Ali, naquelas salas, ele era não só filho de um dos regentes, so-
previsto. Durante o dia, os membros do governo se reuniram para um Te brinho do homenageado da noite, mas sobretudo um jovem oficial em
Deum na capela imperial, dirigindo-se, em seguida, ao paço, onde o im- quem o ministro Feijó — nome forte do governo — mostrava ter confian-
perador menino foi homenageado por um cortejo de cidadãos. A Regên- ça. De certa forma, se a festa transcorria “com plena seguridade”,!º3
cia, entretanto, não deixaria de celebrar com pompa um outro Te Deum isso se devia em parte a sua atuação no combate à abrilada. Por ter
na igreja que selou, no dia 15 de abril de 1831, o congraçamento entre sido O levante mais recente, ele era também o mais comentado, tanto
os membros da Regência Provisória, a tropa e o povo — a igreja São pelos convidados naquela noite como nos dias posteriores pelos jornais
Francisco de Paula. moderados da corte.
Um grande baile, financiado pela Sociedade Defensora da Liberdade No dia 7 de junho, o major Luiz Alves de Lima voltava ao quartel da
e Independência Nacional, encerrou as comemorações, reunindo, à noite, Rua dos Barbonos para assumir o posto de 2º comandante do Corpo de
em torno de 400 pessoas nas salas da Secretaria da Guerra, situada no Guardas Municipais Permanentes e, em outubro, no dia 18, era nomea-
Campo da Honra. A escolha do local não foi aleatória. Utilizar as depen- do comandante geral desse mesmo corpo. À essa altura, a cidade come-
dências onde funcionava a maior instância militar do país era não só uma cava a viver uma fase politicamente menos turbulenta, o ímpeto dos
demonstração de força, como mantinha acesa a disputa simbólica pelo rebeldes para sublevar guarnições militares parecia se esgotar. Davam os
Campo da Honra. A festa começou com uma eloquente e entusiástica primeiros sinais de cansaço diante de uma política repressiva que mobi-
oração pronunciada pelo sócio Francisco Sales Torres Homem. Em segui- lizava e colocava em armas uma parcela expressiva da população."*
da, o hino do 7 de abril foi cantado por outro sócio, Domingos Alves Mas nem por isso o desafio enfrentado pelo major Luiz Alves foi me-
Pinto, acompanhado de um pequeno coro de senhoras. O grande home- nor. A renhida resistência da imprensa exaltada e os pequenos conflitos de
nageado da noite, no entanto, foi o ministro da Guerra, e também sócio, rua, cotidianos na capital imperial, marcaram Os anos iniciais de sua a
Manoel da Fonseca de Lima. De forma solene, ele recebeu das mãos do no comando dos permanentes. Vários desses conflitos, inclusive, tinham
presidente da Sociedade Defensora, Manoel do Nascimento Castro e Sil- origem no comportamento descomedido de seus próprios oficiais fuaia
a
va, um ramo de honra “pelos serviços que prestou para a revolução glo- total falta de entendimento entre estes e as demais autoridades policiais
riosa?. Após O gesto, o mesmo senhor proferiu ainda uma “alocução”, cidade, principalmente os guardas nacionais. Esse seria, para vários minis-
exaltando o caráter e a bravura do nobre general. Só então deu-se início tros da Justiça, aos quais ele esteve subordinado nesses sete anos, seu gran-
às danças e à degustação de doces e refrescos. Mas, a cada intervalo, rea- de mérito à frente do corpo — efetivou a organização e disciplinou a nova
lizado para que os músicos pudessem descansar, discursos saudavam O 7 elogi os — como vere mos — não eram gratu itos. À taref a era de
guarda. Os
de abril, e hinos eram entoados. fato complexa, e a antipatia dos exaltados pelos guardas, somada ao inte-
Depois de dias de tensão, sob a ameaça constante de novos levan- resse pessoal de alguns desafetos, tornaria ainda mais difícil seu trabalho.
tes, O regozijo era geral. Nas conversas, nos pequenos círculos que se No ano de 1833, o major Lima ficaria particularmente exposto.
formavam, o assunto preferido era “a inabilidade e os fracos recursos A estrutura hierárquica do Corpo de Permanentes era simples. Orga-
102 * ;
dos revoltosos”.i? É bem provável que o major Luiz Alves estivesse nizando graficamente as informações fornecidas no decreto de criação
presente no baile, e, nesse caso, deve ter vivido moment do corpo, o quadro é o seguinte:
os recompensa-
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HIERARQUIA DOS PERMANENTES do “Livro Mestre” da unidade, onde é possível encontrar uma síntese da
Oficiais superiores trajetória de todos os oficiais nomeados entre os anos de 1831 e 1839,
Tenente-coronel (1) |Comandante-geral |
Major (1) 2º comandante mostra que, em um primeiro momento, eles foram preenchidos na sua
Oficiais subalternos
quase totalidade por militares de carreira. A organização de um outro
Capitães (4) 1º comandante de
Capitães (2) infantaria quadro comparativo da composição do corpo de oficiais subalternos e
Tenentes (4) 1º comandante de inferiores nessa primeira fase da unidade mostra uma diferença curiosa:
Tenentes (2) cavalaria
2º comandante de | Oficiais inferiores
Oficiais subalternos
infantaria
2º comandante de Militares de carreira 73,3% =
cavalaria
Cidadãos alistados 26,6% 100%
Oficiais inferiores Sargentos (18)
Furriéis (6) Total N=15 N=28
Cabos (36) Fonte: “Livro Mestre do Corpo de Guardas Municipais Permanentes da Corte — 1º Ji-
Soldados (550) vro — Alteração de oficiais (1834/1839)” — AG PMER]J.
FONTE: Decreto de organização do Corpo
O corpo de oficiais nessa primeira década estava claramente cindido en-
de Guardas Municipais Permanentes, ane
ao “Livro Mestre — 1º livro — Alteração xo
de oficiais (1834/1839)” - AG PMERJ.
tre cidadãos, para os quais a vida militar era recente, tendo iniciado pou-
Quando Luiz Alves de Lima assumiu o coma co antes como soldados, e militares que começariam na guarda sem pas-
ndo dos permanentes, em outu-
bro, ele ainda era major. Mas tão logo assumi
u o posto, foi graduado tenente- sar pelos postos inferiores. Não é difícil imaginar a razão dessa cisão.
coronel. Durante praticamente toda sua gestão Diante da inexperiência dos alistados, eles não podiam assumir Os postos
, contou com o auxílio, no 2º
Comando da Guarda, de Antônio Manoel de subalternos, aos quais só começaram a ascender depois de Eni À varia-
Melo, oficial paulista e forma-
do em engenharia pela Real Academia Militar. amente
Os dois teriam sob seu coman- ção que pode ser notada na coluna de oficiais subalternos é exat
do quatro companhias de infantaria e duas de cav resultado dessa mobilidade, da exoneração de alguns militares de carreira
alaria. Daí o número total
de capitães e tenentes definido no quadro. ao longo desses oito anos e da promoção de integrantes Go Reto to
Esses números eram fixos, o que
não ocorria quando se tratava dos oficiais inferiores. para essas vagas. Como vimos no quadro anterior, O número o no
Estes podiam variar em
função do número de cidadãos alis
tados, O decreto só estabelece o e fetivo decreto é de 12 subalternos e, apesar da variação, o de inferiores nunca
máximo de soldados, mas nem sempre ultrapassou o número de 24 oficiais. À maior parte desses Era A
se conseguia completar 0 corpo.
E
O mais interessante nesse quad TO, NO
entanto, são seus postos inter- res obteve uma promoção para os postos subalternos na déca º E
mediários de comando, que, por falta O grupo de militares de carreira, acrescido do comandante A
ves :
de pesquisas sobre a composição
cipais Permanentes, nunca foram Lima e do 2º coma ndan te Antô nio Mano el de Melo — tamb ém o ciais e
antes ana-
lisados. Se, ao criar a guarda, Feijó expôs carreira — é pequeno, integrado por 13 oficiais. O qua a seguir organi-
formalmente, em seu decreto de
organização, a intenção de compor za os dados biográficos fornecidos pelo “Livro Mestre do corpo, reve-
suas fileiras com cidadãos, não ficou
registrado como seriam preenchido lando o perfil relativamente homogêneo do grupo:
s esses postos. Um exame cu
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224 225
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DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE
Essa composição inicial da guarda de permanentes define com precisão a trolar seus impulsos diante da insubordinação dos soldados da guarda.
política militar dos liberais. Luiz Alves de Lima assumia em outubro de Estavam proibidos de usar o açoite e — como mostra o segundo qua-
1832 uma força policial composta em seu estrato superior de oficiais que dro — deviam concordar em dividir funções de comando com os alista-
se encontravam avulsos em função da desmobilização do Exército. A nova dos. É certo que estes jamais alcançariam postos superiores. Mesmo as
polícia abrigava parte considerável dos oficiais do Batalhão do Imperador. carreiras mais bem-sucedidas, descritas no “Livro Mestre”, terminavam
Dos 13 oficiais de carreira que integravam seus quadros, 10 tinham per- com uma reforma no posto de capitão. Estas era a fronteira entre esses
tencido ao referido batalhão, uma guarda diretamente identificada com dois mundos. Mas, para que ela fosse preservada, os jovens militares de
d. Pedro. Esses oficiais, tão próximos do poder central, eram agora deslo- carreira precisavam reconhecer essa nuance, respeitá-la e não tratar os
cados para a organização de uma força composta de cidadãos. Caberia à soldados como à plebe. Nesse momento, até em relação à plebe era pre-
eles, nos anos seguintes, treinar esses homens e transformá-los em policiais ciso conter os excessos a fim de evitar conflitos que, às vezes por motivos
militares. Apenas um era português, os demais eram todos brasileiros. banais, comprometiam o equilíbrio já naturalmente tão frágil dessa so-
Dez
deles possuíam o título de cadete. Isso quer dizer que ou tinham nobreza ciedade. Daí a preocupação do ministro Feijó anteriormente menciona-
comprovada por parte dos quatro avós ou- como era mais provável -eram da, de impedir que os guardas permanentes dessem pancadas também
filhos de militares de patente.!5 Tendo em média 30 anos, estavam
no em negros — cativos ou libertos — nas ruas da cidade.
início da carreira. Todavia, não foram prejudicados com a desmobilização As patrulhas de permanentes circulavam dia e noite pela cidade. Nas
do Exército. Redistribuídos, por novas instituições militares, esses jovens
ruas do centro, o policiamento era realizado por soldados das compa-
oficiais, formados por um modelo militar condenado pelos liberais como
nhias de infantaria, geralmente em duplas. Nos subúrbios, áreas mais
tirânico e arbitrário, seriam reeducados. A experiência desses anos regen-
extensas e isoladas, empregava-se a cavalaria. Deviam zelar pela boa
ciais lhes mostraria o valor da “verdadeira liberdade”, aquela evocada por
ordem. Isso implicava prender bandidos procurados, os que estivessem
Vasconcellos durante a crise de julho. Uma liberdade herdada de seus an-
cometendo crime e os que estivessem para cometê-lo. É importante lem-
tepassados, que, de forma alguma, se confundia com a “anarquia” dos
brar que, após a lei de junho, o conceito do que era atividade criminosa
largos, praças e ruas. Esses jovens aprendiam a retirar dela qualquer con-
foi ampliado. A reunião de cinco ou mais pessoas, por exemplo, devia
teúdo democrático, para que fosse pensada apenas como resistência
à au- ser reprimida como ajuntamento ilícito. Também deveriam ser conside-
toridade do Estado.!ºs ser
rados suspeitos todos aqueles que portassem objetos que pudessem
A essa geração, nascida na primeira década do século XIX, caberia
utilizados como armas, mesmo que fosse um simples pedaço de madeira.
Nesse trabalho de prevenção, para prender quem estivesse para executar
consolidar os princípios que seus pais lutavam por preservar. Luiz Alves
de Lima, na função de comandante das Guardas Munici
pais Permanen- cil era agi r res pei tan do as des igu ald ade s que atr ave ssa-
um crime, o difí
tes, aprendia, cotidianamente, a circular por entre os vários mundos so- ilidade
vam a sociedade. O tod os da lei subentendia uma certa sensib
ciais que compunham a corte imperial. Com esse movimento sociais. Em
, devia para o reconhecimento, na pr ática, de uma série de desníveis
impedir que a generalização da brutalidade, típica dos anos anteri numa loja na Rua do Saco e ver um escravo
ores, julho de 1832, ao entrar
redundasse em luta pela igualdade. Antigos companheiros de Bat a patrulha local não
alhão portando um bastão, o permanente responsável pel
do Imperador, agora sob seu comando, eram, por isso, obrigados a con Par ou o ho me m e apr een deu -lh e o que , em suas mãos,
- pen sou dua s vez es.
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DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE
seguramente se converteria em uma arma.!º? Pouco mais de um ano de- Os juízes de paz, com certa fregúência, solicitavam que o ministro bai-
pois, uma patrulha de permanentes encontrou, entre o povo, no Campo xasse instrução ao comandante Luiz Alves de Lima para destacar forças
da Honra, Maurício José Lafuente, armado de um par de pistolas e um especiais, destinadas a cobrir eventos religiosos e culturais. O diretor da
estoque. O rapaz não foi preso. No momento em que foi abordado pelos Companhia Cômica do Teatro Público, situado na Rua dos Arcos, era um
permanentes, apresentou uma licença assinada por um dos juízes de paz que não dispensava a presença dos guardas permanentes na “conservação
do Engenho Velho, com data recente. A insegurança era de tal ordem da ordem e da tranquilidade das pessoas que concorrem aos espetáculos”.!º
que mesmo o comandante do corpo, o tenente-coronel Lima, ao ser co- A grande dificuldade é que, circulando entre grupos tão distintos, quando
municado por seus homens do ocorrido, preferiu não emitir opinião. os guardas se viam diante de uma situação de criminalidade eram obriga-
Escreveu direto ao ministro da Justiça, perguntando-lhe como
deveria dos a se cercar de cuidados para não cometer um erro e ser insultados pu-
proceder caso seus soldados voltassem a encontrar o rapaz armado. blicamente. Por isso, preferiam o serviço nas ruas. Mas, mesmo em locais
Per-
guntou inclusive se poderia “mandar apalpá-lo”. Pior foi a resposta populares, não estavam livres desses constrangimentos. O guarda Francis-
do
ministro. Longe de esclarecer, ela inseriu mais uma variante para co Ribeiro Pessoa, responsável, em março de 1834, por manter a ordem no
ser
analisada pelas patrulhas. Mandou que o comandante ficasse atento tumultuado chafariz da Carioca, decidiu encaminhar um requerimento ao
às
licenças falsas, que corriam por toda a corte: “devem as patrulhas ministro da Justiça depois de ter sido insultado e preso no cumprimento de
pren-
der os indivíduos que, como o dito, se tornarem suspeitos de usar armas suas funções. Estando de sentinela, o soldado viu quando um homem se
com licenças falsas”./08 Quem decidia sobre a validade da licença, aproximou do chafariz, afrontando escravos que, em fila, esperavam or-
na
rua, diante do suspeito, era o guarda. denadamente a vez de encher suas vasilhas e seus barris. Por se tratar de
Uma situação desse tipo contribuía para consolidar práticas de re- uma área vulnerável, de conflito fácil, o guarda procurou agir com rapidez.
pressão baseadas em estereótipos. Além dos serviços rotineiros de patru- Só não podia contar que o dito senhor fosse coronel do Exército. Preso e
lhamento da cidade, os permanentes eram requisitados por juízes de paz humilhado, ele representou, por meio do comandante Lima, ao ministro da
e outras autoridades policiais para diversos serviços, considerados excep- Justiça. Tudo que obteve do ministro, porém, foi a sugestão de “fazer com
cionais. O chefe da polícia da corte, apreensivo com a concentração de que o suplicante não monte mais guarda ali”.H!
vadios e criminosos que atuavam na área portuária do Saco do Alferes A tarefa mais difícil continuava sendo, no entanto, disciplinar as
durante o dia, ocultando-se à noite no Morro do Nheco, escreveu ao mi- guardas, e não se deve, com isso, pensar que o tenente-coronel Lima
nistro da Justiça, no dia 1º de fevereiro de 1833, solicitando para o local fosse um disciplinador no sentido moderno, que exigia de seus subordi-
uma patrulha especial de permanentes, composta de nove soldados nados o cumprimento de regras rigorosas e minuciosamente definidas.
e um
cabo. Destacados, os guardas passaram a atuar por algum tempo na lo- Formados na Real Academia Militar, em sistema de externato, nem O
calidade. Tinham ordens expressas de prender qualquer indivíduo tenente-coronel nem seus camaradas de Batalhão do Imperador — alguns
suspei-
to no morro, não consentindo nem mesmo nas tradicionais reuniões dos quais sequer tinham frequentado as aulas da Academia, como se vê
em
tavernas. Já em 1835, as ordens foram mais claras: as patrulhas no terceiro quadro — conheciam esse tipo de disciplina. O que ele exigia
deviam
parar todas as pessoas que, por seu estado, pela hora ou lugar, fossem dos guardas era um comportamento social mais controlado, tentando
suspeitas, revistando-as escrupulosamente.10º domar e modelar esses homens.!!2
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DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE
Vários incidentes ocorridos na cidade e que, por vezes, degenera- Não satisfeitos, O restante da guarda e as sentinelas carregaram armas e
vam em sérios conflitos eram decorrentes do predomínio de um padrão
espalharam a violência na Rua do Aljube. Todos os “cidadãos”, vizinhos
de comportamento social marcado por um baixo nível
de controle so- da cadeia e até os taverneiros, foram obrigados pelos guardas a se reco-
bre certos impulsos, como a violência. Desesperado, ven
do a hora em lher em suas casas, ficando todos proibidos de transitar pela rua.''3
que tombaria morto, atingido por um tiro, um preso
do Aljube — uma O ministro Aureliano Coutinho, ainda no dia 9, enviou esses dois
das cadeias da cidade —, que assinava barão de Bulow, escrev
eu da ca- documentos — o- bilhete do “barão” e o relatório do carcereiro — anexa-
deia, na noite do dia 8, para o ministro da Justiça. Com
seus garran- dos a uma correspondência para o comandante Luiz Alves de Lima. Re-
chos, em uma folha amarrotada, contava que
Os permanentes estavam comendava o exame dos relatos e que então se procedesse “na forma do
“fazendo fogo na prisão”, que já tinham atirado
seis Vezes e que, aos regulamento contra os soldados e o inferior de que se compunha a guarda
gritos, diziam estar cumprindo ordens. O “ba
rão” rogava por clemên- que ontem esteve na dita cadeia”. Afirmava ser fundamental “fazê-los
cia, para que Aureliano de Souza Coutinho,
o então ministro, “ sentir O quanto tal procedimento é destruidor da boa ordem, da confian-
humanidade”, interferisse na situação e tomass
e providências que “as- ça que no corpo existe e da disciplina dele”. Infelizmente, não foi possível
segurassem suas vidas”.
descobrir que tipo de punição o comandante Lima aplicou aos soldados
No dia seguinte, o carcereiro da prisão, em
relatório ao juiz de direi- e ao sargento. Mas ocorrências como essa, envolvendo bebida e o uso
to chefe de polícia, forneceu detalhes da oco
rrência. Tudo começou — se- indevido das armas, eram comuns.
gundo o relatório — quando às oito e meia
da noite, ele, o carcereiro, em No dia 29 de julho de 1836, um “espetáculo interessante” atraiu a
um procedimento de rotina, se dirigiu ao
arco da porta da sala livre, atenção dos passantes das ruas do centro da cidade. O preso Joaquim
destinada aos prisioneiros cuja detenção ser
ia breve, para apagar a luz. José, que por ordem do chefe de polícia deveria ser conduzido para a
Ao chegar ali, viu a sentinela da sala provocan
do dois presos. De repen- cadeia, chegou às cinco horas da tarde na casa de correção, carregando,
te, do fundo do prédio, onde ficava o xadrez
, outra sentinela deu um tiro em suas costas, o soldado permanente Manoel José Rodrigues, que “es-
em direção às janelas das celas. De imedia tava como morto, pelo estado de embriaguez em que se achava”. Inver-
to, a sentinela da sala livre
respondeu ao companheiro, com um novo
tiro. Os demais permanentes tendo os papéis, o preso tirou risadas do povo. Foi o próprio preso que
em serviço naquela noite, imaginando tratar
-se de uma rebelião, invadi- apresentou ao administrador da casa de correção o ofício do chefe de
ram o prédio. O carcereiro, “chegando em
cima”, pediu ao sargento polícia com a ordem de prisão, dizendo ainda, com certa ironia, que não
comandante da patrulha, “com toda civilidade”, se encaminhou para a prisão, conforme ordenava o documento, porque
para proibir um proce-
dimento o injusto. O sargento, sem na
da dizer, se retirou. Quatro no- “estava mais certo do caminho para esta casa”. À correspondência do
vos tiros aindaj foram disparados. Um res ministro da Justiça ao comandante Luiz Alves de Lima menciona ainda
p o caiu ferido, não houve
mortos. À sentinela, no entanto, contin
uava com a espingarda engatilha- outro episódio, ocorrido no mesmo dia. Conta que um grupo de onze
da. Aproximando-se, o carcereiro pe
rguntou-lhe o que estava fazendo,
e presos encarregado de transportar água para o Calabouço, depois de
a resposta foi curta: “estou caçando”, Ness
e instante, ele “sentiu uma quebrar as correntes, evadiu-se sem que o guarda que os conduzia perce-
bulha”. Antes mesmo que perguntasse,
a sentinela explicou: “era uma besse o ocorrido. Mais uma vez, o Ministério da Justiça — agora dirigido
garrafa que se arrojara no pátio”. Os guar
das estavam embriagados. por Gustavo Adolfo Pantoja — recomendava ao comandante Lima “man-
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LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
dar castigar os referidos guardas (...) para que tão escandalosos aconte- petor de quarteirão para pôr fim àquela pouca vergonha. Q inspetor,
cimentos não se reproduzam”.!!4 mais uma autoridade responsável por preservar a ordem moral dos
O tenente-coronel Luiz Alves de Lima, em seu primeiro posto de co- bairros, já podia imaginar o que lhe aguardava. Não era a primeira vez
mando, passava assim por um treinamento intensivo, tendo que lidar com que estaria com Cândida Luiza. A mulher — conforme relatou — tinha
homens que, apesar de pertencerem à sociedade política — eram cidadãos -, suscitado a indignação geral do quarteirão por sua “vida de execrável
tinham um comportamento próximo ao atribuído à plebe. À troca de pa- prostituição”. Dessa vez, porém, ele não podia fazer muita coisa. Não
péis entre o guarda e o preso é um ótimo exemplo dessa proximidade e, tinha autoridade para entrar em residências particulares. Assim, limi-
por que não dizer, da cumplicidade entre esses mundos. Provavelmente, tou-se a ameaçá-la da rua. Foi então que o soldado permanente Manoel
foi esse tipo de sentimento que levou o outro guarda permanente a “não Joaquim Coelho, aparecendo na janela da casa, aos berros, começou a
ver” a fuga dos 11 presos acorrentados que conduzia. O tenente-coronel insultá-lo. Atacado em sua honra, o inspetor ficou numa situação difícil
Lima havia sido nomeado para manter a ordem na cidade. O ministro, em perante os vizinhos, que observavam aterrorizados a cena. Para sua sor-
seus ofícios, solicitava serviços de policiamento de prisões e fortalezas, de te, nesse exato momento, surgiram alguns guardas nacionais. Esses po-
repressão a capoeiras, a bandos armados de estoques e punhais e ordenava diam não só entrar na casa, como efetuar a prisão do permanente
até o destacamento de guardas para compor diligências contra quilom- Manoel Joaquim. Porém, nesse mesmo instante, uma patrulha de per-
bos."'º O comandante adquiria assim uma grande experiência em lidar manentes também chegou ao local. Antecipou-se aos guardas nacionais
com a plebe, ou, utilizando uma expressão mais forte, com a escória. O e anunciou que eles mesmos efetuariam a prisão, levando o colega para
aprendizado mais valioso, entretanto, estava em reprimir essa “massa as- o quartel da Rua dos Barbonos. O inspetor, desconfiado, ainda tentou
sustadora” com homens tão pouco acostumados a regras de convívio so- interferir. Mas os permanentes reagiram imediatamente, sacando suas
cial, incapazes de exercer o menor controle sobre seus impulsos. armas. Para acalmar os ânimos, os guardas nacionais e O inspetor recu-
Ainda que não seja possível acompanhar a forma como o tenente- aram e se contentaram em acompanhar a patrulha para se certificar de
coronel Lima intervinha nesses casos e o tipo de punição que aplicava que não libertariam Manoel Joaquim no caminho.!º
a seus subordinados, é importante destacar que, se era rigoroso, isso O juiz de paz do distrito onde ocorreu o confronto solicitou ao minis-
não implicava o cumprimento cego e rígido das leis. O cotidiano lhe tro da Justiça que procedesse contra os permanentes. Do contrário— dizia
mostrava, a cada momento, a necessidade de interpretar essas leis, de ele —, seria impossível fazer cumprir a lei. O ministro, como era habitual,
ter uma certa flexibilidade ao tratar seus subordinados. Afinal, alguns escreveu ao comandante Luiz Alves de Lima. Este respondeu, com segu-
deles, como Francisco Ribeiro Pessoa, o guarda do chafariz da Cario- rança, que o incidente tinha sido “muito exagerado” e que ele, como co-
ca, foram humilhados por exercer com dedicação a função para a qual mandante do corpo, não poderia punir o dito soldado: o rapaz não estava
haviam sido destinados. de serviço, não usava uniforme, e moralidade não era assunto de sua alça-
Um caso bastante expressivo dessa flexibilidade se passou em no- da. Aproveitou para informar o ministro de que Manoel Joaquim já tinha
vembro de 1834. Na noite do dia 3, os moradores da Rua da Concei- se apresentado ao dito juiz de paz para ação judicial. Mas o juiz, em sua
ção, vizinhos do nº 47, profundamente ofendidos com a algazarra da queixa, não se referia só ao soldado. Queria a punição da patrulha que
casa de Cândida Luiza Joaquina do Amparo, mandaram chamar o ins- interveio no caso € sacou armas para proteger um colega que tinha desa-
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catado uma autoridade. Luiz Alves, porém, se recusou categoricamente a bém era obrigado a ceder o número de soldados e oficiais solicitados.
punir a patrulha. Segundo ele, não era possível proceder à punição porque Estes serviriam juntos e sob ordens do comandante da Guarda Nacio-
os integrantes da patrulha eram acusados de usar pistolas e “não podiam nal.2! Tudo isso contribuía para aumentar a rivalidade entre as duas
estar de pistolas, por não serem estas as armas com que fazem o serviço de guardas, com prejuízo para Os guardas permanentes.
guarnição, e sim espingardas e baionetas”.!1? Não à toa, O tenente-coronel Lima não punia seus subordinados — sol-
O episódio nos remete a um outro problema bastante comum naque- dados ou oficiais — por essas desavenças, como no caso da patrulha que
les anos: a existência de várias instâncias policiais atuando na cidade, protegeu o colega na Rua da Conceição. É bem provável que tenha sido
com funções sobrepostas e limites imprecisos de autoridade. Pelo novo em função dessa mesma rivalidade que ele, Luiz Alves de Lima, logo no
sistema repressivo, havia a Guarda Nacional, as Guardas Permanentes início de sua gestão, em abril de 1833, pediu exoneração do cargo de
e
as primeiras instâncias judiciais. Incluídos nestas últimas estavam os ju-
Instrutor-geral de infantaria da Guarda Nacional.'2 Acumular funções
ízes de paz com seus inspetores de quarteirão e o chefe de polícia,
dis- nas duas guardas, sendo uma delas de comando, não seria nada fácil.
pondo de oficiais de expediente, auxiliados por pedestres, nos serviços
A única forma de ele exercer um controle mais efetivo sobre esses ho-
de rua.!'8 Esse intrincado sistema acabava produzindo confrontos
entre mens, operando em um sistema repressor tão confuso, enfrentando as
autoridades quando essas se encontravam durante o serviço. Os choques
dificuldades de aplicação da lei vivenciadas por sociedades com grandes
mais comuns envolviam guardas nacionais e permanentes. O quadro era
desníveis sociais e tentando atender às exigências de eficiência do minis-
muito delicado. Os guardas nacionais também eram responsáveis pelas tro, era por meio da criação de uma relação de cumplicidade com eles.
rondas da cidade. Eram os únicos, como vimos no episódio da Rua da
Se em certos momentos submeteu suas guardas a conselhos de disciplina,
Conceição, que tinham autoridade para prender guardas permanentes e, levou alguns deles à prisão e expulsou alguns outros da instituição, Luiz
por integrarem estratos superiores da sociedade, que podiam prestar ser-
Alves, por outro lado, também sabia ser protetor'2.
viço gratuitamente, eram preferidos pelo governo para realizar serviços O comandante Luiz Alves de Lima jamais utilizava as guardas em
mais amenos e prestigiados. A patrulha das casas imperiais — do Paço de tarefas servis. Obras no quartel, serviços de limpeza e transporte de água
São Cristóvão, da Fazenda de Santa Cruz e do Paço Imperial — só era eram feitos ou por “africanos livres”, ou por presos que cumpriam pena
realizada pelos guardas permanentes quando a família imperial não es- com trabalho forçado. Os africanos eram os mais utilizados. Essa catego-
tava presente. À troca da guarda sempre antecipava a chegada da família ria “africanos livres” era resultado de surtos de rigor na aplicação das
imperial, sendo os permanentes substituídos pelos guardas nacionais.1º leis. Desde 7 de novembro de 1831, tornou-se ilegal traficar escravos.
Antes de deixar o Ministério da Justiça, Diogo Feijó contribuiu para
Ainda que o tráfico permanecesse ativo, nas poucas vezes em que se resol-
o acirramento dessa rivalidade. Em julho de 1832, declarou que quando veu cumprir a lei, a atitude criou um impasse: O que fazer com esses ne-
a Guarda Nacional estivesse em combate contra os inimigos da ordem gros não aculturados? Como não podiam ser vendidos nem Ea para
pública, todo o corpo de Guardas Municipais Permanentes deveria ficar
viver por conta própria, já que nem mesmo falavam o português, passa
subordinado ao comando da Guarda Nacional.!20 Além disso, caso este ram a viver sob a tutela do Estado. Eram empregados em repartições
comando mandasse requisitar permanentes, ainda que fosse para servi-
públicas ou por particulares que, no caso, deveriam pagar um aluguel por
ços ordinários, o comandante do corpo das Guardas Municipais tam- seus serviços.!2 Eles eram a principal mão-de-obra utilizada no quartel
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a
a
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da guarda policial de permanentes. São várias as solicitações de africanos zes, completava-se O ataque atirando-se em seguida, nessas cartolas, um
feitas pelo tenente-coronel Lima ao ministro da Justiça. Com ISSO, prote- pequeno saco de farinha de trigo. No carnaval de 1836, patrulhando o
gia seus guardas do vexame de prestar “serviços indignos”.'2S Alguns Largo da Sé (atual Praça Monte Castelo), os permanentes prenderam
deles, depois de conhecer os africanos, aproveitavam para contratá-los um homem que, ignorando as “posturas municipais”, jogava entrudo.
particularmente. Essas relações, apesar de restritas, pelo número reduz;-
Cândido José da Rosa, capitão da Guarda Nacional, presenciando a
do de “africanos livres” disponíveis, ajudam a entender a complexidade prisão, começou a insultar a patrulha. De imediato, também recebeu
dos vários níveis de hierarquia e segregação na corte imperial.
voz de prisão dos permanentes e foi levado, com o dito homem, à pre-
Em junho de 1836, o inspetor de Obras Públicas da cidade, por meio
sença do juiz de paz do 3º distrito da freguesia do Sacramento. Este,
de um requerimento, solicitou do ministro da Justiça alguns permanentes
porém, não seguiu os procedimentos habituais. Em vez de processar e
para manter sob vigilância especial a prática de esvaziar urinóis nas valas
punir Os infratores, colocou-os em liberdade e, em face do protesto dos
ao redor da fonte da Carioca. Era serviço dos guardas permanentes cuidar
permanentes, desarmou e prendeu a todos. Luiz Álves, ao receber o re-
para que não houvesse tumultos nas filas de escravos responsáveis por
latório da patrulha, providenciou uma cópia do documento e escreveu
buscar água nas fontes públicas. Deviam zelar pela ordem, essa era a fun-
indignado ao ministro da Justiça. O juiz de paz foi duramente repreen-
ção deles. Observar onde esses escravos despejariam os detritos e águas
dido pelo ministro, que condenou a “maneira violenta e ilegal por que
usadas nas casas em que serviam cabia aos inspetores de bairro, funcioná-
se conduziu nesse negócio, favorecendo a impunidade ao deixar de pro-
rios do Departamento de Obras Públicas. O comandante Luiz Alves aca-
ceder com vigor e energia contra os que com escândalo se lançam a
tou a ordem, mas não sem protestos. Mais uma vez defendia seus guardas. O e pia
transgredir a lei e os regulamentos policiais”.
Lembrava os limites de sua função e queixava-se da indignidade da tarefa, A relação que o comandante Lima construía com seus subordinados
que “definitivamente não pertencia aos permanentes” .125 tinha por base uma relação pessoal, de confiança. Esse estreitamento de
Conforme o tempo passava, Luiz Alves assumia uma posição cada vínculos era estimulado pelo clima tenso da cidade, marcado por fortes
vez mais firme no comando das Guardas Permanentes. Vigilante, saía manifestações de hostilidade à Regência. Vários dos incidentes envol-
em defesa de seus subordinados tão logo soubesse de atos que conside- vendo os permanentes tinham motivações políticas. Antes mesmo de
rasse humilhantes ou de desrespeito a sua autoridade. O carnaval era à Luiz Alves assumir o comando da guarda, quando ainda era 2º coman-
festa que sempre exigia do tenente-coronel Lima uma atenção especial. dante do corpo, uma dupla de soldados que fazia uma ronda de rotina
Diferente de outras datas festivas, esta não contava com sanção oficial. nas ruas do centro foi atacada por alunos do Seminário São José. En-
“cains” e
Isso significa que as normas reguladoras do cotidiano da cidade conti- quanto atiravam pedras, aos berros, chamavam OS guardas de
nuavam vigorando durante os festejos. Como a população não abdica- “esc ravo s de Feij ó”.! Zº O que para OS guar das era apen as um emprego,
va das diversões, o trabalho recaía, multiplicado, sobre as patrulhas de que m fazi a opos ição à Regê ncia trat ava- se de uma adesão. À pinça:
para
guardas permanentes. Coibir o entrudo estava entre as tarefas mais di- a guar da e a Regê ncia se torn ou mais dire ta com à nom eaç ão
lação entre
fíceis. À brincadeira, bastante popular nesses dias, era detestada pelos Alve s para seu com and o, e, a part ir de entã o, as agressões se
de Luiz
homens respeitáveis
Os bons mom ent os vivi dos pelo ofici al no bail e do pri-
da cidade, que tinham suas cartolas transformadas intensificaram.
em alvo preferido das bolas de cera, cheias de água perfumada. Às ve- lado pelos
meiro aniversário do 7 de abril, como o mais novo talento reve
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Lima e apoiado por Feijó, teriam um preço. Ao ser nomeado comandan- apenas 17 anos, Luiz Alves contava ainda com a amizade do irmão mais
te dos permanentes, esse reconhecimento era reiterado. Todavia, em ja- velho de Anna Luísa, Paulo Fernandes Carneiro Vianna, e do visconde
neiro, havia apenas três meses no cargo, veria, pela primeira Vez, sua de Mirandella e sua esposa, tios da moça. Já fregiientando a casa, o ofi-
vida pessoal exposta em um jornal oposicionista da capital. cial foi convidado para a comemoração do Dia de Reis como amigo
particular dos Carneiro Vianna. Anna Luísa, vestida com simplicidade,
usando apenas um vestido branco, colocou-se próxima ao pequeno altar.
CASAMENTO CLANDESTINO Luiz Alves, em sua habitual farda, também se manteve próximo. A um
sinal do padre José Morais Couto, cúmplice da combinação, os dois se
Na noite do dia 6 de janeiro, numa cerimônia rápida e discreta, O primo- ajoelharam e a união foi selada.!*
gênito do regente Francisco de Lima se casou com a filha do falecido Tratando-se de duas famílias tão importantes, a notícia correu com
desembargador Paulo Fernandes Vianna — Anna Luísa Carneiro Vianna, rapidez, e, no dia 22 de janeiro, O Exaltado — um jornal de oposição ao
de 16 anos de idade. Ao que parece, Luiz Alves levou meses para se apro- governo — dava sua versão do casamento.!*! O título do artigo — “Casa-
ximar da moça. Só começou a frequentar a casa da família, coincidente- mento ilícito, nulo, violento e clandestino de Luiz Alves de Lima, tenen-
mente situada no Campo da Honra, graças à mediação de Brás Fernandes te-coronel e comandante dos permanentes” — demonstra o nível de
Vianna, irmão de Anna Luísa, oficial do Exército e amigo de Luiz Alves. exposição a que foram submetidos o oficial e sua esposa. Logo no iní-
Romantizando a narrativa, um de seus biógrafos afirma que a jovem, cio, o texto se refere ao 7 de abril como um fato “malventurado”, e O
apaixonada, sempre acompanhava, das janelas de casa, as manobras mi- motivo disso era simples: “deu liberdade à obscura família dos senhores
litares realizadas no campo pelo oficial.!'2? Considerando apenas a posi- Lima, tornando-os de humildes escravos do ex-imperador Pedro le seus
ção do antigo solar, com sete janelas para a Rua do Conde e seis para O em senhores do Rio de Janeiro e do Brasil, digo da
prontos para tudo
são
Campo da Honra, é bem provável que a moça também tenha assistido, raça abjeta dos assassinos moderados”. A partir daí, Os insultos
dessas mesmas janelas, aos principais eventos políticos da época, inclu- vários. Alguns, até bem preconceituosos. O jornal afirma que Luiz Al-
sive à abrilada. ves não estava à altura da jovem, prometida ao “Exmo. visconde de
O modo como se casaram realmente lembra as clássicas histórias de Baependi (...) mais digno de seu consórcio, não só pela delicadeza de
amor. À discrição da cerimônia, realizada no oratório do solar, e a difi- sua educação, como por ser herdeiro de um dos primeiros ppa
culdade de Luiz Alves para iniciar a corte a Anna Luísa se deviam à do Brasil.” Segundo o jornal, em dezembro, no dia do aniversário e
oposição da mãe da moça ao casamento. Até o último momento, ela não Luiz Alves pediu formalmente a mão da Ene a Luiza Car-
Anna Luísa,
Ea respos-
sabia de nada. Nem sequer desconfiava. Entrou com pedido de licença neiro da Costa — sua mãe — e recebeu uma recusa catégorica.
não queria
para a realização da missa em sua casa e preparou o oratório, mas tudo ta, a senhora teria dito que não consentia na união “porque
com o intento de comemorar o Dia de Reis. O casal se valeu dessa missa, filha desgraçada, que ele não podia dar a sua ha um a a
fazer a
rar os
tradicional nas casas abastadas da cidade, para celebrar o casamento. to decente [e] que, além disso, era um militar muito odiado de
Sem dúvida, a trama só teve sucesso porque os “noivos” contavam seus patrícios”. Por isso, O casamento era — para Ó Eras NiCito;
com o apoio de várias pessoas da família. Além de Brás, na
época com violento e clandestino. Anna Luísa — ainda nessa versao — não estava
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decidida a se casar e vinha sendo influenciada pela tia, a viscondessa de lias da corte. Anna Luísa era neta de Brás Carneiro Leão, um influente e
Mirandella. O jornal afirma também que Luiz Alves tinha aterrado a poderoso negociante de grosso trato da virada do século. Como os Lima,
moça, ameaçando matar seu nobre pretendente, sua mãe e, depois, se Carneiro Leão havia chegado à cidade no século XVIII e, só depois de
matar, com as pistolas que supostamente portava. O texto é então fina- muito trabalhar, conseguiu completar sua metamorfose social, obtendo
lizado com a seguinte frase: “Eis aqui mais uma atrocidade e baixeza de de d. João VI o título de fidalgo da Casa Real. Integrava essa “nobreza
que só é capaz a moderação.” juso-brasileira”, constituída por meio da prestação de serviços à Coroa.
O mal-estar gerado pelo artigo foi tal que, menos de uma semana A moça era ainda filha do desembargador Paulo Fernandes Vianna, in-
depois, no dia 28, o tradicional jornal moderado Aurora Fluminense tendente de Polícia e braço direito de d. João no Rio de Janeiro. É difícil
publicou uma carta de Luiza Carneiro da Costa, desmentindo a versão acreditar — como nos quer fazer crer O Exaltado — que Luiza Carneiro
dO Exaltado: “se algum inimigo de meu genro, alterando a verdade, da Costa tenha reagido de forma agressiva quando Luiz Alves pediu a
quis macular a sua honra e probidade e a de pessoas a algumas das quais mão de sua filha em casamento. Estava diante do filho do regente, amigo
devo particular estima, muito má ocasião procurou, porque os fatos que de seus filhos. Luiza — segundo Vilhena de Morais — apenas tinha outros
inventa são mentirosos, incríveis e eu seria digna de censura se não des- planos para a filha. Assim como ela havia se casado com um homem da
mentisse por esta pública declaração âquela calúnia”. corte, capaz de elevar a posição da família Carneiro Leão, até então as-
O curioso é que nem mesmo nesse momento a mãe de Anna Luísa sociada a uma “atividade vil”, pretendia agora fazer o mesmo com a fi-
afirma ter consentido no casamento. Tudo que ela diz é que a filha tinha lha. Casando Anna Luísa com o primo Brás, primogênito de sua irmã,
concedido “muito anterior consentimento”. A união do casal sem dúvi- fortalecia os laços de família. Além disso, o rapaz tinha futuro certo. Era
da ocorreu sem sua autorização. Na certidão, é mencionado que os da- herdeiro de Manoel Jacinto Nogueira da Gama, homem com posição
dos pessoais do jovem casal constavam da “petição de dispensa de consolidada na corte: marechal do Exército imperial, fidalgo cavaleiro
habilitações”. Isso significa que eles foram dispensados das formalidades da Casa Real, dignitário da Ordem do Cruzeiro, marquês de Baependi
jurídicas geralmente exigidas para a realização de um casamento. Com e dono de largas propriedades de terra."
certeza, para a obtenção dessa dispensa, a influência dos Lima e do vis- Mas justamente essa situação é que deve ter sido bastante constrange-
conde de Mirandella deve ter contribuído muito. Também é importante dora. Assim como seu pai, Luiz Alves, no lugar de primogênito, devia dar
lembrar que o pai da moça já era falecido e seu irmão mais velho, Paulo continuidade ao projeto de ascensão social iniciado pelo avô e pensar na
Fernandes, também era favorável ao casamento.!2 consolidação da posição da família na cidade. O casamento era uma pe-
Essa história foi silenciada pelo mais famoso biógrafo de Luiz Alves nesse jogo de reposicionamento social — tratava-se de um con-
ça-chave
de Lima. Em seu livro, ele só faz referência a “obstáculos que haviam trato. Uma rejeição, por essa lógica, expressava a desigualdade da aliança
dificultado a tão almejada união”.133 Não é difícil imaginar as razões do Em outras palavras: a ascensão da família Lima, para a mãe de
proposta.
para
silêncio. Toda essa história deve ter sido no mínimo constrangedora para Anna Luísa, ainda não dava a Luiz Alves status social suficiente
os Lima. Independentemente dos sentimentos que uniam o casal, é ine- contratar casamento em uma família como os Careiro da Costa. Essa
Limad
gável que esse casamento foi um excelente negócio, do ponto de vista idéia era explicitada por O Exaltado ao escrever que Os “senhores
social, para Luiz Alves. Ingressava em uma das mais importantes famí- pertenciam a uma “obscura família” de “humildes escravos do ex-impe-
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rador”. Ainda que Luiz Alves, ao final, tenha provado a legitimidade de As eleições eram sempre um evento extremamente delicado. Geral-
sua proposta, aceita por parte da família, o episódio foi humilhante, mente, para garantir a ordem nesses dias, o juiz de paz recorria à Guarda
O filho do regente casava-se às escondidas, sem poder festejar a data com Nacional, e foi isso que o juiz da freguesia de Santa Rita fez, convocando
sua família, nem mesmo com o pai. O silêncio de seu biógrafo, tantos uma força de cem guardas nacionais para proteger a igreja onde se daria
anos depois, quando ele já era o duque de Caxias, sugere que foi realmen- a eleição. No entanto, recorrendo a um procedimento utilizado apenas
te desse modo que os Lima, particularmente Luiz Alves, vivenciaram o quando já se previa algum tumulto, solicitou também, ao ministro da
episódio. Afinal, a biografia era escrita com seu consentimento. Justiça, doze soldados de cavalaria dos permanentes. O tenente-coronel
O artigo publicado em O Exaltado tinha um objetivo puramente Lima, cumprindo ordens, enviou para o local a força solicitada, sob O
político. O casamento de Luiz Alves era explorado porque ele era “de comando do tenente Castrioto. Sabendo que se tratava de um caso excep-
Lima”, atacava-se a Regência e os moderados. A história devia pro- cional, em que já se previa confusão, ainda alertou o tenente para “não
va r afirma o jornal — a “baixeza de que só é capaz a moderação”.
— como dar motivos aos amotinadores de provocarem os soldados (...), devendo
Com o fim dos levantes militares, era para esse tipo de oposição que o pôr-se logo de acordo com o oficial comandante da Guarda Nacional”.
tenente-coronel Lima tinha de voltar sua atenção. Depois das histórias Ao chegar ao Largo de Santa Rita, o tenente Castrioto notou que tanto
de seu tio na Bahia e de seu pai em Pernambuco, era sua vez de ver-se os guardas quanto “algumas pessoas à paisana”, é ele quem conta”, ti-
envolvido em intrigas. À frente dos permanentes, era alvo certo dos exal- nham os olhos fitos em mim, como que receando alguma coisa”. Seguindo
tados. Essa guerra nos jornais mantinha a cidade sob constante tensão. as instruções recebidas, foi direto ao comandante da Guarda Nacional.
Todos esses homens se conheciam e, não raramente, após esses escânda- Este, admirado de o juiz de paz ter requisitado um acréscimo de força, que
los, se esbarravam na corte. Por isso, Luiz Alves desconsiderava algumas considerava desnecessário, ficou mais intrigado quando lembrou que o
acusações feitas às guardas de permanentes. Os opositores do gover- juiz não só o tinha “deixado ignorando tal medida”, como “lhe ordenou
no — exaltados, pedristas ou meros desafetos pessoais — muitas vezes não deixar se aproximar força alguma”. Percebendo o que se passava,
ocupavam funções no sistema repressor da Regência, e era no exercício contou a Castrioto que tão logo ele passou “pela Rua da Vala, algumas
dessas funções que Luiz Alves os encontraria. pessoas, talvez já combinadas, lhe foram dizer que ia ser atacada a guarda
pela cavalaria de permanentes (...) e que isso deu lugar a uma sentinela se
fica-
armar, entrarem várias pessoas pela igreja € alguns guardas nacionais
JOGO POLÍTICO rem disso persuadidos”. Como as patrulhas de cavalaria, distribuídas em
se Ei im
grupos de três, se afastaram do largo, “as sobreditas pessoas
Nas eleições de 13 de março de 1833, menos de dois meses após o epi- ram entre os guardas e começaram de novo à dizer que estavam cercadas”.
“quando já não era necessário”, O juiz de paz lhe informou que
sódio do casamento de Luiz Alves, o juiz de paz da freguesia de Santa Só depois,
Rita aproveitou sua posição de presidente da junta eleitoral e preparou permanente s tinham sido formalment e requisitados . Castrioto,
os guardas
uma verdadeira armadilha para os permanentes. Por pouco, o tenente- em seu “relatório de serviço”, encaminhado no dia seguinte ao comandan-
coronel Lima não se transformou, mais uma vez, em instrumento de corroborou a opinião do comandante da Guarda Nacional: “o
te Lima,
; r de pr op ós teo”n?. 135
it
acusações à Regência. procedimento do juiz
ui pa re ci a se
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z
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O relatório do tenente Castrioto colocava sob suspeita a atuação do bom exemplo de como se dava a resistência. Como esses cargos eram
juiz de paz. Ele e o comandante dos guardas nacionais — pelo que consta eletivos, não havia meio de a Regência exercer um controle mais direto
no documento — não tinham dúvidas de que o juiz da freguesia de Santa sobre essas autoridades. Uma vez eleitas, tornavam-se quase indepen-
Rita tinha preparado uma armadilha. Talvez para evitar escândalos e dentes. A desmobilização do Exército e da judicatura do Primeiro Rei-
novas acusações nos jornais, Luiz Alves, apesar de anexar o relatório do nado, ao contrário do que se esperava, não bastou para conter “a
tenente ao ofício que encaminhava ao ministro da Justiça, não formali- opinião pública”. Ela só mudou o caráter das manifestações. A partir de
zou a acusação. Pinçou no meio do relatório a ordem passada pelo juiz então, não estouravam mais sublevações no centro da cidade. As pogas
ao comandante dos guardas nacionais para “não deixar
se aproximar instituições liberais abriam espaço para o exercício de uma eposiçao
força nenhuma” da igreja e o acusou tão-somente de exacerbar
a rivali- diferente, centrada na burocracia e que minava cotidianamente a credi-
dade entre as duas guardas de polícia. Isso — para O tenente-
coronel bilidade da Regência. Essa é a novidade assinalada pelo episódio do
Lima — configurava um “abuso de autoridade” e, por interméd
io dele, Largo de Santa Rita.
conseguia-se o “efeito de desbulhar aos cidadãos alistados neste
corpo o Por fim, esses relatos permitem ainda uma aproximação da cultura
direito de poderem assistir, como todos os outros cidadãos, à apur
ação política da época. O jogo de relações pessoais, base da “economia de
dos votos”.:36 O argumento é capcioso. Os permanentes, ainda que
fos- favores”, não era acionado apenas em casos isolados, para se obter um
sem cidadãos, naquele momento estavam armados, uniformizados
e ti- benefício específico. Amplas redes de solidariedade eram feitas em “po;
nham ordens para intervir em tumultos. O mais interessante, contudo, é sição a outras, constituídas entre os opositores. Era pormido dessa lógã
que o tenente-coronel Lima poderia ter apresentado uma acusação mais ca que esses homens do século XIX pensavam a política e exerciam
séria contra O juiz de paz e preferiu se calar. funções administrativas. O fato de Luiz Alves não ter explorado o rela-
Não é minha intenção, por meio desses relatos, insinuar que os mo- tório de Castrioto em seu ofício ao ministro da Justiça não Sieniiea que
derados, a Regência ou o próprio Luiz Alves não agissem politicamente, tivesse esquecido o episódio ou desistido de tomar alguma providência a
menos ainda apresentá-los como vítimas. O valor desses relatos — acre- respeito da armadilha preparada pelo juiz de paz. O relato de mo
dito eu — reside em três pontos. Primeiro, eles criam uma imagem menos caso, ocorrido três meses depois, em junho de 1833, Eos que, às ve-
uniforme dos acontecimentos. Se determinados projetos, grupos e per- zes, os desdobramentos desses conflitos corriam por vias informais e,
sonagens saíram vitoriosos dessa arena política, isso não aconteceu sem com isso, nem sempre vinham a público. Ou então reapareteiam de-
quando o vitimado tinha condições, por estar
lutas, tensões e conflitos — alguns bastante pessoais. Permitem também pois, em outras situações,
identificar outros níveis de resistência política, que, como vimos, nunca revestido de autoridade, de vingar antigas ofensas.
de junho, um escravo do tenente-coronel Lima,
se restringiram à plebe e às camadas inferiores do povo. A unidade pre- Na noite do dia 12
por
tendida por Diogo Feijó e obtida, a muito custo, por Bernardo Pereira de nome Inácio, foi preso por uma patrulha de guardas nacionais
armado. Conduzido ao juiz de paz da freguesia de Santana,
de Vasconcellos em julho de 1831, só se manteve enquanto o risco de se achar
Na ma-
uma revolução nos moldes franceses persistia. Tão logo essa ame
aça foi
este o enviou em custódia para o quartel do Campo da Mania,
O escravo foi mandado, pelo mesmo Juiz, o oe
afastada, os conflitos se deslocaram por completo para o interior da nhã seguinte,
sô apôs r
elite. Os juízes de paz e os comandantes da Guarda Nacional são um bouço, uma das prisões da cidade. Por ordem do juiz,
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25 açoites o escravo seria devolvido a seu dono. Sabendo disso, Inácio IImo. Sr. Paulo Fernandes,
Sobejas provas já eu tinha para estar bem persuadido de sua indispo-
manteve-se atento. Quando os guardas, para o conduzir até a prisão,
sição para comigo, mas de certo não o pensei tão vil que o julgasse capaz
passaram na frente da casa do tenente-coronel Lima, situada no mes.
de se valer de sua mesquinha autoridade para me desfeitear; soube agora,
mo campo, ele, de um golpe, escapou das mãos dos guardas e procurou
com espanto, que um escravo meu, de nome Inácio, tinha sido remetido
proteção. O tenente-coronel, porém, ao tomar conhecimento da ordem com uma ordem por sua própria letra escrita, para ser castigado, e entre-
do juiz de paz, não interferiu na questão. Permitiu que os guardas le- gue a mim depois, sem que tivesse a menor atenção para comigo. Eu já
vassem Inácio para o Calabouço.!3? sabia que em qualquer ocasião o Sr. ma havia de pregar, mas não pensei
A lei dava ao juiz de paz esse direito. Nas cidades, o problema do que fosse tão vil como acabo de me persuadir, e, se não vou pessoalmen-
controle dos escravos inspirava cuidados. O ministro da Justiça, em seu te a sua casa dizer-lhe o que acabo de escrever é para evitar que o Sr. me
relatório à Câmara de 1833, afirmava que “como esta propriedade mande autuar, valendo-se também de sua autoridade, mas fique bem cer-
não to que, eu o encontrando em lugar oportuno, lhe darei o agradecimento
se guarda, anda pelas ruas”, era preciso estar atento para evitar que
os que merece. Seu venerador, Luiz Alves. ( Ênfase minha.)
escravos, em contato com outros cativos, se organizassem. Daí a impor-
tância da interferência do Estado. Mas só raramente ele intervinha à re-
velia do senhor. Geralmente, este era consultado e a correção a O tiro, no entanto, saiu pela culatra. O acesso a esta carta só foi possí-
ser
aplicada era acordada entre os dois.!38 Afinal, a relação era de proprie- vel porque Paulo Fernandes, aproveitando a oportunidade de gerar nais
dade. Luiz Alves poderia ter protestado contra a decisão do juiz. Toda- um escândalo, remeteu-a ao Diário do Rio de Janeiro, que a publicou
via, optou por não fazê-lo. na seção de “Notícias Particulares” do número de 17 de junho, Com a
Se a princípio essa atitude do tenente-coronel Lima pode parecer um carta, foi publicado também um comentário do remetente. Tão impor-
exemplo de respeito à autoridade e às leis, por meio de uma carta pes- tante quanto tornar pública a ameaça feita pelo comandante do Corpo
soal, assinada por ele, é possível perceber que na verdade ele apenas ti- de permanentes era dar sua versão dos fatos. Após descrever Oocorrido,
base do relato anteriormente citado, Paulo Fernandes dizia que: “já tarda-
nha decidido não formalizar a queixa. O juiz de paz em questão era
voto
Paulo Fernandes Vianna, primo-irmão de sua mulher. Órfão ainda me- va que o lugar de juiz de paz, que tenho a honra de exercer pelo
nino, Paulo havia sido criado na família Carneiro Vianna. O tio desem-
dos meus compatriotas, me não trouxesse dissabores. Tenho até E
bargador, de quem levava o nome, o tratava como a um filho. Em 1832, servido, segundo creio, a contento de todos, cingindo-me somente à lei,
já tinha o futuro assegurado. Era deputado do Tribunal da Junta a fim de poder escapar à censura dos partidos que hoje fetaniara o Bra-
Comércio, guarda-roupa da Casa Imperial e possuía os hábitos da Or-
do sil”. Apesar do tom austero, de anunciar O desejo de não alimentar a
a sutil,
dem de Cristo e da Ordem de D. Pedro I. Pelo modo como encaminhou “política dos partidos”, é ele quem, no mesmo texto, de jot
o “caso Inácio”, é bem provável que tivesse sido contrário ao cas afirma que “o caso que vou relatar deve assustar à todo o cidadão que
em
amen-
to da prima. O silêncio de Luiz Alves estava longe de expressar uma tenha a desgraça de não partilhar os sentimentos dos que nos quer
por força dar a lei”. |
concordância. Ele apenas tinha resolvido protestar de outro modo, mais Lima escreveu
pessoal. Daí a carta:!3º A reação foi rápida. No mesmo dia, Luiz Alves de
ta- res pos ta e a enc ami nho u par a o Diá rio do Rio de Jan eir o.
uma car
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Não desmentiu uma só linha da carta publicada. Limitou-se a dizer que premeditada. Foram os nacionais que prenderam o escravo e o levaram
“admirou-me que esse senhor a fizesse publicar” e pediu aos leitores que até O juiz de paz. Acusaram-no de “estar em desordem e armado”. Luiz
relessem o texto, atentando para que — é ele quem escreve — “se eu falo Alves garante que não se tratava de arma, que o negro carregava apenas
em consideração para comigo ao Sr. Paulo Fernandes, não exijo que o o “ferro com que acabava de cortar O capim”.
ínte-
senhor juiz de paz suspenda o exercício de sua autoridade, para esperar Essa história revela, com toda sua sinuosiídade, alguns pontos
submetida
as ordens do major Luiz Alves de Lima, que é um dos que nos quer dar ressantes. Primeiro, os limites da lei, que era constantemente
próprio sis-
a lei por força; falo sim daquela atenção que meu vizinho, relacionado, a interpretações e a práticas não formalizadas. Com isso, O
usar O
companheiro de escola e parente podia, sem quebra de autoridade, nem tema abria espaço para a autoridade responsável por aplicar a lei
miíngua da justiça, ter para comigo”.!0 poder que detinha para vingar ofensas pessoais ou criar crises políticas.
É claro que transferir a questão para o plano pessoal era bastante caso, em funç ão do grau de paren tesco , não há como dissociar as
Nesse
ferir sua
conveniente para Luiz Alves. Isso lhe dava a chance, como fez em sua duas coisas. Paulo Fernandes podia ter evitado a situação sem
resposta, de proteger o governo — a questão era pessoal, não escreveu na Faria isso com um estra nho. Todav ia, não poup ou o paren -
autoridade.
qualidade de comandante das Guardas Municipais Permanentes. Mas ele o escra vo, publ icou a carta e não perde u a chanc e, ainda que
te. Pren deu
tem razão quando sublinha que não exigia do juiz a suspensão do exercí- o contr ário, de vincu lar O episó dio à polít ica regen cial. Ão falar
diga
cio de sua autoridade. O mais comum, como vimos, era que o juiz de paz em por força dar a lei”, esse “dos que quer em” é uma
“dos que quer
lhe comunicasse o fato. A prova disso é que o próprio Paulo Fernandes, menç ão à Regê ncia . Alian ças e rival idade s famil iares , amizades e
clara
de assuntos
em outro trecho de sua carta, afirma que nem teve tempo de assim proce- inimizades pessoais eram componentes comuns na condução
der: “Não tendo voltado ainda o soldado com o recibo do Calabouço ! Nada disso , poré m, pode mini miza r a amea ça efetuada
do governo.!t
a prisão do
(vejam quão pequeno foi o espaço de tempo), e antes de ter tido tempo de por Luiz Alves — esse é O terceiro ponto. Por acreditar que
participar ao major Luiz Alves, porque tenho outras coisas a fazer de moti vaçõ es pesso ais — ele afirm ava isso em sua primeira
escravo tinha
desis tiu da via legal e fez uma amea ça diret a a Paulo Fern andes.
mais urgência, e mesmo por não ter obrigação, recebi esta carta”. carta —,
te de uma impo rtan te força polic ial da cidad e, de form a
A grande questão é a existência de práticas político-administrativas Ele, o comandan
decid iu agir por conta própr ia, amea çand o uma autoridade
informais, paralelas à lei. Nem tudo cumpria os trâmites legais. Paulo impulsiva,
que não menc iona r Os cargo s ocup ados por cada um
Fernandes, como juiz de paz, não estava errado ao dizer que não tinha judicial. Achou
de Esta do era sufic iente para retir ar do confl ito seu
obrigação de comunicá-lo. À lei lhe dava esse direito. Por outro lado, ao deles no apar elho
decidir não seguir a prática corrente, mostra que tinha um interesse es- caráter público. "
amen tal para sedi ment ar O Exere tião de qual-
pecial em afrontar Luiz Alves. Talvez, por conhecer bem o primo-cunha- A subordinação, fund
se orga niza va nessa época a parti r de
do e colega de escola, já pudesse até prever sua reação. O jogo político quer cargo de chefia e lider ança,
ainda entre esses home ns a trad ição Ene trans-
era intenso. Luiz Alves, em sua versão do acontecido, afirma que o juiz outro registro. Persistia
ment o de Infan taria do Rio de Janei ro, na virada do
omitiu o fato de que o escravo Inácio foi preso quando acabava de cortar formou o 1º Regi
dos Lima . Não havia , no exer cíci o dessas funções,
capim, à porta de sua casa. Não é difícil imaginar, pela rivalidade exis- século, no regimento
típic a de form açõe s buroc rátic as mais complexas, cria
tente entre a Guarda Nacional e os permanentes, que a prisão tenha sido a impessoalidade
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252 253
Moi DT cá
im
dica
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e
Do lado da oposição, a grita foi generalizada
. À tentativa moderada de de vista muito particular. As mortes imputadas aos Lima nesse trecho ocor-
justificar o crime apelando para o discurso da honra piorava a
situação, reram durante combates, quando eles cumpríam suas funções como milita-
Se antes as acusações e os insultos trocados entre os Lima
e seus oponentes res. Às acusações a José (Joaquim de Lima) e a Manuel (Fonseca de Lima)
eram muitos, agora eles perdiam completamente
os freios. O jornal O são as mais curiosas. Eles são, na verdade, acusados de serem partidários
Verdadeiro Caramuru, em seu número do dia 14, co
mparou a família dos da moderação. Aliás, até a identificação dos Lima não é precisa. João Ma-
“Srs. Lima” à “Família Real”. Para ele, o “Infante D. Carlos
Miguel de nuel não era sobrinho, e sim irmão mais novo do regente Líma.
Lima? seguia “o procedimento anterior de seus mu
i dignos irmãos” e de É certo que nada disso deve diminuir o peso do assassinato cometido
seu pai “Francisco I?. A família era acusada de
assassinar e insultar, com por Carlos Miguel. A análise dessas críticas e acusações nos ajuda ape-
o apoio dos moderados, “aos nobres cidadãos do
partido da oposição”, nas a não perder de vista que o crime era também uma peça a mais na
A idéia agradou ao redator do jornal O Bem
Te Vi, que a retomou no intensa disputa política regencial, desfavorável, nesse momento, aos
dia 17 de outubro, listando todos os “crimes”
praticados pelos Lima na Lima e aos moderados. Às cobranças mais sérias em relação ao assassi-
cidade. Os primeiros episódios recuperados
foram justamente os que nato vinham do jornal O Carioca, que, desde o dia 13, exigia que Car-
envolviam “um dos filhos do Sr Regente Li
ma (Luiz Alves)”. Dizia que los Miguel citasse os números do Brasil Aflicto, em que Clemente
o oficial “ameaçou por uma carta em ortografi
a de soldado a um juiz de Oliveira insultava suas irmãs. Menos de uma semana depois, no dia 19,
paz e (...) com uma pistola a uma rica moça
a casar com ele, achando-se voltou a pressionar: “Que vergonha, que lástima e que desonra para a
agora casado e rico, e comendo à nação para
RS dE
muito mais de 14008rs.- família do Sr. Carlos se não provar o que escreveu! Fazer um papel ridí-
por mês”. À partir daí, prosseguia com uma
série de acusações: culo, expor sua família ao descrédito só para vingar-se do redator do
jornal do Brasil Aflicto!” Para o redator do jornal, Carlos Miguel, ao
« Outro filho do mesmo Exmo. (Francisco) atacar Clemente Oliveira, não vingava a honra de suas irmãs, mas a de
assassinou ao tenente Lopes:
outro filho do mesmo Exmo. (Carlos) matou
covardemente (su) 0/5 seu pai. O Brasil Aflicto, havia meses, vinha lembrando os fatos da Con-
Clemente José de Oliveira (...) outro filho do Exmo
. (José) matou com federação do Equador e atacando o regente Francisco de Lima. Chama-
Elesiário (...) a muitos brasileiros que lhe pediam a vid
a de joelhos (...) va-o de déspota do “ex-imperador”, traidor, ingrato e ainda afirmava
um sobrinho, segundo dizem, do mesmo Exmo.
(João Manuel) esboroou
o alferes Faustino (...) hoje desgraçadamente preso
(...) por se opor ao 14
que “a piedade do presidente da Comissão Militar em 1824 (...) foi filha
de julho, cujo comandante era um irmão do mesmo
Exmo. (José) premia- da bolsa de alguns”. Ou seja, que em sua negociação com os rebeldes,
do ao depois com ser conselheiro de Gue
rra: outro irmão do Exmo. Re- Francisco de Lima vendia decretos de anistia. Em uma das frases, ainda
gente (Manoel), sendo ministro da Guerra foi O indagava: “Seria de certo seu coração filantropo ou a malvada cobiça do
iníquo instrumento de
vinganças as mais mesquinhas contra os militares
, cujas costas lhe servi- dinheiro recebido?” E a resposta não tardou, vindo poucas linhas abai-
ram de degraus para ele subir e sair
da obscuridade absoluta. xo: “a piedade recebeu dinheiro!”!4º
Carlos Miguel, atendendo aos reclames de O Carioca, publicou no
De todas as acusações, apenas duas podiam
ser caracterizadas como crime: | jornal moderado A Verdade, do dia 26 de outubro, uma carta com al-
o ana cometido por Carlos Miguel e a agressão
praticada por João guns documentos anexos. Nela, reafirmava a versão de defesa da honra.
Manuel.!*? Todas as outras ou foram manipulada
s, ou partem de um ponto Os documentos, porém, não provavam nada do que dizia. Poucos dias
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=
=
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TE
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e
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Ilmo. Exmo. Sr., e seu pai tinham servido à Coroa portuguesa durante o século XVII em
Os últimos instantes da minha administração devem ser consagrados
Angola, onde Eusébio nasceu. Transferido para o Reino do Brasil =
à gratidão; não me posso pois dispensar de patentear o meu reconheci-
mento ao digno Corpo de Guardas Municipais Permanentes de quem y. 1816, o pai de Eusébio ocupou vários postos judiciais em Minas Gerais,
s. é Digníssimo Chefe. Pernambuco e Bahia, tendo vivido os tumultuados anos da Independên-
À constância no trabalho, a exata subordinação para com seus supe- cia e adquirido, nesses postos, um bom conhecimento do funcionamento
riores, o empenho, atividade e disciplina com que ele se conduziu em to- da política provincial. Eusébio, ao ingressar no curso de direito, na pri-
das as ocasiões merecem os meus louvores, não sou exagerado quando meira turma da faculdade de Recife, dava prosseguimento, assim, à car-
afirmo que muito lhe devo.
reira da família e nela teria uma ascensão meteórica.
Fazendo a v.s.; a todos os seus oficiais e praças que comandam as
A Intendência de Polícia, em função de seu passado, vinculado a
minhas despedidas, cumpro um dever mui grato ao meu coração.
Retiro-me da direção do Estado, mas levo comigo a lisonjeira certeza de práticas arbitrárias e brutais de homens como Paulo Fernandes Vianna e
que os Bravos Municipais Permanentes terão sempre por devida a honra, a Francisco Alberto Teixeira de Aragão, estava praticamente desativada.
subordinação e a legalidade e que continuarão a ajudar o governo (...) Coube a Eusébio de Queiroz reerguê-la a partir de uma nova estrutura.
Sirva-se V. S., meu companheiro (nas fatigas) aceitar a grande parte Ele não só reestruturou funções administrativas de copiar, arquivar e
que lhe cabe desses sentimentos abertos, o transmiti-los em meu nome despachar relatórios, como também, gradativamente, sobretudo após a
aos teus excelentes oficiais e bravos camaradas.” (Ênfase minha.) retirada da Guarda Nacional das ruas, aumentou a participação de seus
homens no patrulhamento da cidade. Nessa atividade é que ele acabaria
À carta é um marco. À partir dela, Luiz Alves de Lima só colheria elogios
por se aproximar ainda mais do comandante Luiz Alves de Lima. Os
de todos os ministros da Justiça, sem exceção.!2 As ocorrências registra- dois trabalhariam lado a lado, na manutenção da ordem pública, por
das no livro de correspondências da polícia diminuíram. O tenente-coro- seis anos consecutivos. Eusébio de Queiroz permaneceu na Secretaria de
nel Lima tinha conseguido estabilizar a situação das ruas da capital e sua Polícia por nada menos que 11 anos, com um breve intervalo de seis
posição no comando dos permanentes. O início dessa virada se deu no meses entre 1840 e 1841. Isso favoreceu enormemente o desenvolvimen-
ano de 1834. A morte de d. Pedro I em Portugal desmobilizava comple- to de uma política de segurança para a corte. Em agosto de 1837, os dois
tamente os caramurus; os exaltados, desde 1832, já não tinham mais seriam elogiados pelo ministro da Justiça pelo desbaratamento de uma
força para exercer uma oposição firme à Regência, e, além disso, tam-
quadrilha de ladrões que atuava arrombando tavernas e assaltando ca-
bém no ano de 1834, a Guarda Nacional foi afastada do serviço de po- sas. A ação só tinha sido possível porque eles agiram em conjunto, orga-
liciamento da cidade, e Luiz Alves começava a se entender, depois de um nizando uma ação de busca por toda a cidade."
ano de trabalho em conjunto, com aquele que se tornaria seu grande Essa parceria era cotidiana. Em vários dos episódios descritos anterior-
aliado no combate à desordem — Eusébio de Queiroz.!º3 mente, Eusébio de Queiroz teve participação ativa. Para O comandante
A trajetória de Eusébio de Queiroz se assemelha em muitos aspectos Lima, esse apoio foi fundamental. Isso lhe permitia mudar O perfil dos per-
a de Luiz Alves. Nascido em 1812, Eusébio ainda não tinha completado manentes. Nas revistas, as patrulhas começavam a ser elogiadas por “seu
21 anos quando assumiu, em março de 1833, o posto de chefe de polícia estado de rigorosa disciplina e asseio”.!5S Na tarde do dia 2 de fevereiro de
da cidade. Oriundo de uma tradicional família de magistrados, seu avô 1838, o regente interino, acompanhado de Sua Majestade, o imperador, foi
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10. Sobre o trabalho do Astréia, ver Nelson Werneck Sodré, A história da imprensa no
. Todos os dados e as citaçõ es desse parágr afo e do anteri or estão em Thoma s Hollo-
27
Brasil, p. 114. O soneto foi publicado no Astréia de 23 de dezembro de 1830. A way, Polícia no Rio de Janeiro, p. 75-6.
ortografia, pontuação e o destaque foram mantidos tal como no original. h, “The brazi-
28. Sobre o recrutamento para O Exército imperial, ver Michael McBet
11 - John Armitage, História do Brasil, p. 219. the First Empire : slave or soldie r?”, e Hendri k Kraay, “Recon-
lian recruit during
12. A idéia de que a ausência da Coroa e o caráter eletivo enfraqueciam a Regência já sidering recruitment in imperial Brazil”.
era apresentada por Evaristo da Veiga em abril de 1831, apud Lúcia Paschoal o, p. 77.
Gui- 29. Thomas Holloway, Polícia no Rio de Janeir
marães, Em nome da ordem e da moderação, p. 21.
30. Idem, p. 93.
13 - Apud Lúcia Paschoal Guimarães, Em nome da ordem e da moderação, p. 23. 1831.
31. Aurora Fluminense, 27 de maio de
14. Ordem do dia publicada no jornal Aurora Fluminense, ay, op. cit.; p. 78.
de 15 de abril de 1831. 32. O funcionamento desse sistema é explicado por Thomas Hollow
Nela, o brigadeiro se refere à sua antiga rivalidade com um outro ofici 16.
al, o general 33. Paulo Pereira Castro, op. cit.; p.
Labatut, a quem José Joaquim substituiu no comando das forças
imperiais em 34. Manuel Duarte Moreira de Azevedo, “Sedição militar de julho de 183
1”,
combate na Bahia.
181.
15. Paulo Pereira de Castro escreve sobre o “perigo militar” nos meses segu informações estão em Thomas Holloway, op. cit. Para a sublevação, ver p. 78
intes à ab- 35. po
dicação, op. cit, p. 14.
e, para a Guarda Real de Polícia, ver p. 48.
16. Ordem publicada também pelo jornal Aurora Fluminense, no dia
13 de abril de 36. Setor de Manuscritos da BN, documentos biográficos, C 270,12.
1831.
37. Marcello Otávio Basile, op. cit., p. 23
17. Ordem publicada também pelo jornal Repúblico, no dia 21 de abril de
1831. 38. Manuel Duarte Moreira de Azevedo, op. cit. p. 182.
18. À referência continua sendo Marcello Otávio Basile, op. cit. À cita
ção do parágrafo 3a, Octávio Tarquínio de Sousa, op. cit., vol. VI, p. 152.
anterior foi extraída da p. 90.
40. Marcello Otávio Basile, op. cit.; p. 93.
19. Ata da primeira sessão preparatória da Sociedade, setor de Manuscri
tos da BN, 41. Para esse trabalho de identificação dos signatários, ver idem, p- 25.
.,
cota 11-34,31,14. 42. Toda a história da reação do governo está em Octávio Tarquínio de Sousa, op. cxt
20. Para a votação e a composição do conselho, ver documento depositado no setor de vol. VII, p. 151-65.
ios biográfi-
Manuscritos da BN — cota 11-34,31,14. Um perfil socioprofissional dos membros 43. Os ui Sa Sebastião do Rego Barros constam em vários dicionár
ografia brasileira, e em
desse primeiro conselho da sociedade foi traçado por Lúcia Maria Paschoal Gui- cos indicados por J. Galante de Souza, Índice de biobibli
maraães, Op. cit.; p. 28, ver, ainda, no caso de parlamentares, barão de Javari, Or fé-de-ofício depositada no Arquivo de Fés-de-Ofício do AHEx.
rágrafo anterior
ganizações e programas ministeriais. Sobre a extinção da Guarda Real de Polícia e a lei descrita no pa
Eis Essa explicação, bem como a citação anterior, encontram-se em Paulo Pereira ia çã o da s ha bi li ta çõ es pa ra as gu ar da s mu ni ci pa is , ve r Th om as Ho lloway,
Cas- de ampl
tro, Op. cit., p. 13. op. cit., p. 80-2.
22. Essa ata encontra-se no setor de Manuscritos da BN, cota 11-34,31,14. 45. Octávio Tarquínio de Sousa, op. cit., p. 162.
23. Norman Halub, “Política Liberal Moderada durante a Regência 46. Thomas Holloway, op. cit., p. 81.
Trina, 1831-
1834”, In RIHGB, nº 307, p. 154. o So us a, op . cit .; vo l. VI I, p. 16 2. . E
47. Apud Octávi Ta o rq uí ni de
24. À documentação da Sociedade Defensora, incluindo as listas dos conselheiros elei- at ro no do Ex ér ci to ” — «R el aç ão No mi na l do Ba ta lhão dos Oficiais
48. AHEx, caixa “P
tos, é bastante incompleta. Uma forma de minimizar esse problema é por meio da Soldados Voluntários da Pátria”.
consulta ao periódico O Homem e a América, um boletim da sociedade. Ainda 49. Thomas Holloway, op. cit. p. 81.
assim, ele só começa a ser publicado em dezembro de 1831, sete meses depois da 50. Octávio Tarquínio de Sousa, op. cit., vol. VI, p- 165.
sua fundação. 31. Apud idem, vol. V, p. 118. Ee +
25. Esta citação e a anterior foram extraídas de João Armitage, o dos Pri ncí pio s do Min ist éri o da Reg ênc ia. ” O texto integral pode ser
História do Brasil, vet, ida “Exposiçã
respectivamente, p. 221 e 219. o em Jos é Mur ilo de Car val ho, Ber nar do Per eir a de Vasconcellos. p. 200-3,
consultad
26. Jornal Repúblico, de 22 de dezembro de 1830. a citação é da p. 201.
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88. Coleção de Leis do Brasil, lei de 10 de outubro de 1831. 106. Essa diferenciação entre uma liberdade moderna, asseguradora do domínio da
89. Todas as citações anteriores estão no Relatório do Ministro da Justiça — 1832. Jor- casa e entendida como um não-impedimento, e a liberdade antiga, que restítui
ge Caldeira, op. cit., p. 85. a associação entre liberdade e igualdade, é realizada por Ilmar Mattos, op. cit.,
20. Ofício dirigido à Câmara pelo deputado Feijó em 31 de outubro de 1831 p. 135.
ic Jorge
Caldeira, op. cit., p. 80. 107. Thomas Holloway, op. cit., p. 101.
21. Decreto de organização do corpo, anexado ao “Livro do Corpo de Munic
ipais 108. Correspondência do ministro da Justiça com o comandante geral do corpo — 19 de
Permanentes da Corte” — AG PMER]J. outubro de 1833. AG PMER].
92, A distinção é feita por Ilmar Mattos no capítulo “Um Império e três mundos”.
||. 109. Thomas Holloway, op. cit.; p. 134.
mar Rohloff de Mattos, op. cit. 110. Correspondência do ministro da Justiça com o comandante geral do corpo — 7 de
93. Apud Thomas Holloway, op. cit., p. 95, ênfases minhas. julho de 1833 — AG PMER].
.
94. Ver Joaquim Pinto de Campos, op. cit. p. 59. O primeiro hist
oriador a chamar 111. Idem, correspondência de 4 de março de 1834 — AG PMER]J
atenção para esse período foi Thomas Holloway, ao analisar
a organização das 112. Norbert Elias, O processo civilizador, vol. 2, p. 100.
ante do
Guardas Municipais Permanentes. Ver Thomas Holloway, op. cit.,
p. 98. 113. Toda história está na correspondência do ministro da Justiça com o comand
25. Dado retirado da fé-de-ofício do duque de Caxias, setor de corpo — 8 e 9 de outubro de 1835, AG PMER]J.
Manuscritos da BN
cota 49,2,14, nº 8.
€ 114. Correspondência do ministro da Justiça com o comandante do corpo — 29 de julho
26. À narrativa é baseada em dados retirados de Moreira de Azev e agosto 1836, AG PMER]. e
edo, “Motim político
de 3 de abril de 1832 no Rio de Janeiro”. 115. Ver sobretudo as correspondências de 13 de novembro de 1833, 12 de janeiro de
27. Sobre essa ordem de Feijó, ver “Apontamentos”, documento redigido 1835 e 2 de agosto de 1836, AG PMER].
por Caxias e
depositado no setor de Manuscritos da BN, cota C 970,19, e Carta 116. Apud Thomas Holloway, op. cit., p. 137.
de Caxias a
Feijó, datada de junho de 1842 e publicada no Jornal do Commercio
de 10 de ju- 117. A resposta do comandante Luiz Alves está em GIFI — SB 517, ofício de 22 de de-
lho de 1842. zembro de 1834, AN.
28. Os dados sobre o conflito foram retirados de uma proclamação publicada 118. Thomas Holloway, op. cit., p. 109.
pelo
jornal O Brasileiro no dia 4 de abril de 1832. 119. Correspondência do ministro da Justiça com o comandante-geral do corpo — 4 de
29. Apud Thomas Holloway, op. cit., p. 94. novembro de 1834 e 5 de setembro de 1835, AG PMER].
100. Ver os “Apontamentos” redigidos por Caxias muitos anos mais tarde, setor de 120. Thomas Holloway, op. cit., p. 101.
13 de
Manuscritos da BN, cota C 970,19. 121. Correspondência do ministro da Justiça com O comandante-geral do corpo —
101. Essa história é contada por Moreira de Azevedo, “Motim político de 3 de abril de maio de 1833, AG PMERJ.
1832 no Rio de Janeiro”, p. 378. 122. Idem, correspondência de 3 de abril de 1833, AG PMERJ. a
102. Essa narrativa é baseada em um artigo publicado pelo jornal Aurora Fluminense, 123. Um caso de conselho de disciplina pode ser visto em GIFI - SB 285, ofício de 6 de
em seu número de 11 de abril de 1832, e no texto de Moreira de Azevedo sobre
O maio 1839, AN. Sobre expulsão, ver GIFI — 5B 285, ofício de 30 de Granieo de
op. cit., p- 141-5.
motim de 3 de abril. Moreira de Azevedo, op. cit. 1833, AN. Ambos são citados por Thomas Holloway,
103. Aurora Fluminense, de 11 de abril de 1832. 124, A explicação está em Thomas Holloway, OP. cit; P. 118.
104. Relatório do Ministro da Justiça de 1833, apresentado à Câmara em maio
de 1834, 125. Esses pedidos podem ser encontrados no códice 326, vol. 6, do AN.
microfilme 004.0-82, AN, 126. Apud Thomas Holloway, op. cit. p. 142. op. cit., | p. 143. Para o episódio
105. As graduações exigidas são de major para os oficiais regulares e coronel para 127. Sobre o entrudo em gera l, ver Tho mas Hol low ay,
os de iça com O comandante-
Penna linha. Apesar da criação em outubro de 1820, por d. João, dos títulos 183 6, cor res pon dên cia do min ist ro da Just
específico de
R]J.
de 2º cadete e soldado particular, as exigências para obter o título de
cadete conti- geral do corpo — 24 de fevereiro de 1836, AG PME
nuavam as mesmas definidas no alvará de 1757. Ver Adr 128. Thomas Holloway, op. cit., p. 136.
iana Barreto de Souza, da figura de Caxias, p. 15.
O Exército na consolidação do Império, p. 49. 129. Eugê nio Vilh ena de Mora is, Nov os aspe ctos
269
268
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO LUIZ ALVES NO LABORATÓRIO POLÍTICO DA CORTE
130. Essa história tem por base a narrativa de Eugênio Vilhena de Morais e do
artipo 148. Essas frases foram extraídas do artigo publicado no dia 29 de julho de 1833. Ele é
publicado pelo O Exaltado. o mais agressivo, mas OS artigos vinham sendo publicados desde maio desse ano.
131. Agradeço a informação sobre a existência desse artigo a Marcello Basile que m Ver também artigo publicado no dia 9 de julho de 1833.
cedeu uma cópia. 149. Sobre OS caramurus, ver Paulo Pereira Castro,
op. cit., p. 252.
132. Uma cópia da certidão pode ser vista in Eugênio Vilhena de Morais, op. cit. ay , op. cit . p. 110 e nota 1 do cap. 4.
» P. 37, 150. Ver Th om as Ho ll ow
133. Joaquim Pinto de Campos, op. cit., p. 51. tiç a co m o co ma nd an te -g eral do corpo, 11 de
151. Corres po nd ên ci a do min ist ro da Jus
134. Para dados biográficos, consultar J. Galante de Sousa, Índice
de biobibliografia maio de 1837, AG PMER].
brasileira, entrada nominal. tados.
152. Ver os relatórios do ministro da Justiça à Câmara dos Depu
135. Esse relato é baseado no relatório do tenente Castriot ro da Justiça de
o, GIFI— SB 285, Ofício de 14 153. Para o afastamento da Guarda Nacional, ver Relatório do minist
de março de 1833, AN.
136. Ofício do comandante Luiz Alves de Lima, GIFI —
1835, item denominado “Guardas Nacionais”.
, cit. Os dados
de 1833, AN.
5B 285, ofício de 14 de mar
154. Todas essas referências foram extraídas de Thomas Holloway op.
137. Essa história foi recuperada por Hélio Vianna e pub
ES biográficos de Eusébio de Queiroz estão na p. 105, e aqueles sobre sua atuação ao
licada no Jornal do Commer. lado de Luiz Alves estão na p. 126.
cio, de 26 de agosto de 1962, sob o título de “Caxias, O
escravo e o parente”. l do corpo — 9 de
138. Sobre a posição do Estado nas relações entre sen 155. Correspondência do ministro da Justiça com o comandante-gera
hores e escravos, ver Thomas
Holloway, op. cit., p. 115. O esforço do governo para evit junho de 1837, AG PMER].
l do corpo— 24 de
no Calabouço e, nesse sentido, buscar sempre soluções em
ar o acúmulo de escravos
156. Correspondência do ministro da Justiça com O comandante-gera
acordo com seu dono é
explicitado no aviso da Secretaria dos Negócios da Justiça fevereiro de 1838, AG PMER]J.
de 10 de fevereiro de eral do corpo — 19 de
1832, apud Jorge Caldeira, op. cit. p. 247. 157. Correspondência do ministro da Justiça com O comandante-g
132. Apud Hélio Vianna, artigo publicado no Jornal do Com abril de 1838, AG PMER].
mercio: “Caxias, o escravo abr de 1838.
e o parente”. O grifo é meu. 158. Esse ofício é citado na correspondência do ministro de 25 de
e as dem ais cit açõ es dess e par ágr afo são do rela tóri o do ministro da Justiça de
140. Ele se auto-intitula major porque era tenente-coronel gra 159. Esta
duado, ainda não tinha
sido efetivado no posto. Além disso, essa graduação tinha ocorri maio de 1836.
do para que pu-
desse assumir o comando de permanentes — uma força militar de segunda linh 160. Apud Walter Spalding, A Revolução Farroupilha, p. 156.
a. Miranda.
141. Norbert Elias entende que essa unidade entre interesses pessoa 161. Alfredo Pretextato Maciel, op.cit. Verbete dedicado a Elzeário de
is e profissionais é de 5 de março
típica das elites de corte dos Estados dinásticos, ver Norbert Elias, A 162. Esse número e a citação anterior estão no jornal Aurora Fluminense,
sociedade de
corte, p. 27. de 1839.
é descrito por Pretextato Ma ci el no ver bet e de Luiz Alves de Lima e Silva.
142. As referências aqui são as reflexões de Norbert Elias, O processo civi 163. O trajeto
lizatório, vol.
II. Para a cultura política brasileira, ver Ilmar Rohloff de Mat Alfredo Pretextaro Maciel, op.cit.
tos, op. cit., capítulo
os artigos publicados no jornal Au ro ra Fl um in en se , sobretudo nos dias 14 e 16
“A teia de Penélope”. As primeiras tentativas de se construir uma estrut 164. Ver
ura militar
burocratizada datam da década de 185 O, ver Adriana Barreto de Souza, O Exérc de março e 18 de abril.
i-
to na consolidação do Império, cap. 2. 165. Walter Spalding, op.cit., p.158.
143. Octávio Tarquínio de Sousa, op. cit., vol. 3,
p. 562.
144. Essa narrativa segue o relato apresentado pelo jornal O Carioca, de 13 de sete
mbro
de 1833.
145. Ver jornal A Verdade, de 14 de setembro de 1833,
grifo meu.
146. Jornal Aurora Fluminense, de 13 de set
embro de 1833.
147. O caso de João Manuel ocorreu durante a crise de julh
o de 1831 e foi denunciado
pelo jornal exaltado Nova Luz Brasileira, de
30 de julho de 1831, Há também
nesse mesmo número um suplemento aborda
ndo o caso.
271
270
y. Da chaga aberta deve nascer o espírito da
ordem: a metamorfose em nobre e general
As rusgas e os levantes militares dos primeiros anos regenciais criaram
no então ministro Diogo Feijó a sensação de que um “abismo horroro-
so” se abria a seus pés. Anos depois, quando “o espírito anárquico” se
alastrou pelas províncias, o mesmo sentimento veio à tona por meio de
uma nova metáfora. Domingos José Gonçalves de Magalhães, poeta ro-
mântico, secretário do coronel Luiz Alves de Lima em 1840 no Mara-
nhão, expressou sua consternação diante de tantas “lutas, tropeços e
fadigas”, comparando o império a um corpo seriamente comprometido
por uma grande chaga.' De fato, ela era grande. Entre 1831 e 1840,
nada menos que 19 rebeliões tinham rebentado em todo o território
brasileiro. Em 1839, ano em que o poeta embarcou na expedição do
coronel Lima para combater os balaios, uma província vizinha ao Mara-
nhão, o Pará, e uma outra, de fronteira delicada, o Rio Grande do Sul,
também estavam convulsionadas. Ambas em armas desde 18357 Se
Gonçalves de Magalhães pode ser otimista a ponto de ver a cicatrização
dessa chaga pelo “espírito da ordem” é porque escrevia em 1847. E,
mesmo assim, mesmo depois do sucesso obtido na repressão a esses mo-
vimentos, ele ainda a via “gotejar”?. Esses “passados males” — afirmava
o poeta — deixavam um “eco de dor para o futuro”.
Gonçalves de Magalhães, ao escrever sobre a revolução no Mara-
nhão, estava, sem dúvida, engajado na construção de uma memória es-
pecífica sobre esses acontecimentos, diretamente associada ao Partido
Conservador. O que eu gostaria de destacar, contudo, é que, no auge
dessas lutas, liberais e conservadores experimentaram sentimentos seme-
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DA CHAGA ABERTA DEVE NASCER O ESPÍRITO DA ORDEM
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
liberal, implementada como uma espécie de “ guerrilha burocrática” ida de pro vec ta » 8 Por outro lado, esses
conseguia m dar a imp res são de
contra as arbitrariedades de d. Pedro após o 7 de abril, deixava o gover- os de uni ver sid ade s européias,
jovens, tod os di pl om ad os , rec ém- egr ess
no, agora, refém das facções provinciais. Para piorar, em 1836 os farra-
2717
276
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO DA CHAGA ABERTA DEVE NASCER O ESPÍRITO DA
ORDEM
278 279
td- a
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO DA CHAGA ABERTA DEVE NASCER O ESPÍRITO DA ORDEM
com grandes possibilidades de fazer uma promissora carreira no serviço cer os deputados de que o Exército se ressentia de “falta de tropa de li-
público, tinham um enorme interesse no projeto de Vasconcellos. Isso nha”. Só essa — prosseguia — “pode apresentar aquela unidade que lhe
porque ele propunha um regresso, a recentralização do poder sob con. vigora a ação e à disciplina e aquela organização que lhe é mister”. Por
trole do governo nacional. Considerava que o único modo de frear q fim, concluía categoricamente pela importância da reforma: “é urgen-
“carro da revolução” era pela correção de supostas imprudências dos tíssima em face do desmantelamento em que se acha o Exército, a neces-
textos liberais. A proposta de reforma no Código de Processo Criminal sidade, sentida por todos, de se lhe dar uma nova organização”.
é um bom exemplo do que foram essas correções. Ela removia os pode- Todos esses projetos deveriam ser aprovados pela Câmara, e as resis-
res policiais atribuídos, por ele próprio, Vasconcellos, anos antes, aos tências foram muitas. Mesmo com uma Câmara majoritariamente con-
juízes de paz e os transferia para funcionários subordinados a chefes de servadora, o ministro Sebastião do Rego Barros, para aprovar a proposta
polícia, que, por sua vez, eram escolhidos pelo poder central entre os que elevava as forças de terra para até 15 mil praças em circunstâncias
magistrados profissionais.” À reforma do código, combinada com a extraordinárias, enfrentou forte oposição. O deputado Montezuma, do
proposta de Interpretação do Ato Adicional, ampliava os poderes do Partido Liberal, afirmava sem rodeios que Rego Barros não tinha auto-
ministro da Justiça. À ele caberia, direta ou indiretamente, demitir des- ridade para julgar a atuação do Exército. Fazia clara referência à patente
de o desembargador até o guarda de prisão. Esse sistema fundamentaria do ministro, capitão sem ter sequer efetividade no posto. Um fato possí-
a centralização política do Segundo Reinado.!º vel apenas em exércitos aristocráticos, em que a hierarquia interna, da
Essa determinação de restaurar a autoridade política e a hierarquia instituição, sofria interferências diretas do campo político. O deputado
social também levou o governo a propor uma ampla reforma do Exér- tentava, com esse argumento, indispor o ministro com a oficialidade e,
cito, visando à recuperação e ampliação de seus quadros. O ministro assim, inviabilizar não só essa proposta, como também o projeto de re-
responsável pela elaboração desse projeto de reforma foi Sebastião do forma militar do governo. Tudo isso só ocorria, no entanto, porque a
Rego Barros, outro nome da reação à crise de julho de 1831. Na época, maioria conservadora também tinha reservas em relação ao efetivo pro-
além de oficial do corpo de engenheiros, Rego Barros era também depu- posto, considerando-o excessivo. Essa reserva irritava os chefes do par-
tado, e a Câmara recomposta por Vasconcellos o indicou para assumir tido regressista. Honório Hermeto Carneiro Leão reclamava do
o comando das Guardas Municipais da cidade, até então descentraliza- “desânimo das maiorias” diante das “discussões intermináveis”, impos-
do entre os vários juízes de paz. Agora, em 1837, integrava a ala jovem tas pelo regimento da casa.'? Vivia-se um autêntico parlamentarismo, €
do ministério. Com apenas 34 anos, assumiu a direção do Ministério da o governo dependia da votação da Câmara. Mas havia aí um outro pro-
Guerra. O primeiro relatório que apresentou à Câmara dos Deputados, blema, de solidez partidária.!” Muitos dos que se diziam conservadores
em 1838, mostra com clareza como os conservadores capitalizavam 08 aderiam ao partido na tentativa de exorcizar os fantasmas da secessão
efeitos das revoltas para legitimar seus projetos de central ização. À sen- e da “anarquia”, mas recuavam quando se tratava de armar O Estado.
sação de vertigem mais uma vez fundamentava as medidas. Para O jo A “tradição liberal brasileira”, construída como resistência ao poder cen-
vem ministro, era indiscutível que essa “ vertigem revolucionária” tral, nessas ocasiões, predominava. Em todo o império, nos últimos anos,
arriscava o “vínculo indissolúvel de todas as partes do império”. Assim, políticos e proprietários vinham engajando suas vidas e cabedais na pre-
listando as queixas de vários presidentes de província, tentava convell” servação dessa tradição. Até os mais jovens acreditavam que fortalecer O
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DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO DA CHAGA ABERTA DEVE NASCER O ESPÍRITO DA ORDEM
governo era atentar contra a liberdade. Para não comprometê-la, apren. o bom resultado alcançado pelo corpo se devia a seu incansável chefe, o
deram a eliminar, por meio da repressão aos conflitos de rua, seu conte. sr Luiz Alves de Lima. Logo no início desse ano, em fevereiro, por meio
údo democrático. Defender a liberdade — a “verdadeira liberdade” par de correspondências oficiais, já tecia vários elogios ao oficial comandan-
usar uma expressão do Vasconcellos da crise de julho — significava a te. Parabenizava-o sobretudo pelo asseio e disciplina com que os perma-
um sistema político organizado pelos “poderes da casa”.14 nentes se apresentavam para Os exercícios de fogo e manobra no Campo
A tensão era grande, as desconfianças, maiores ainda. Os liberais da Honra, um deles assistido pelo regente e por Sua Majestade.
aproveitavam essas discussões intermináveis para revolver histórias re- A nomeação de Luiz Alves para a expedição do ministro Rego Barros
centes, quando a sociedade se sentiu ameaçada pelos despotismos da Co- constituía, assim, parte desse trabalho de observação, seleção e treinamento
roa. Limpo de Abreu, outro deputado liberal, só se referia à proposta efetuado por Vasconcellos. Era mais um nome da nova geração que colocava
militar do gabinete como “política de militarização do império”. Acusa- seus serviços à disposição da Regência conservadora. O ministro e O oficial
va o governo de “agravar o espírito público” pela disseminação do “ter- tinham a mesma idade. Ambos eram de agosto de 1803. Também tinham em
ror?.Sóa poucaidade desses “meninos” afirmava Montezuma-justificava comum o fato de terem vivenciado a agitação pós-abdicação ainda no início
uma proposta desse tipo. Eles nada sabiam de política e se moviam pela da carreira, tendo, os dois, por conta das mudanças que então ocorriam,
ansiedade, pretendendo resolver tudo pelas armas, sem consideração al- exercido suas primeiras posições de comando em corpos auxiliares, com a
guma com a liberdade.!5 tarefa de preservar as fronteiras sociais da capital do império.
Luiz Alves de Lima, quando foi nomeado para acompanhar o minis- A situação do oficial, no entanto, não era nada confortável. À família
tro Sebastião do Rego Barros em expedição militar ao Sul, após sete Lima — mantemos o sobrenome mais utilizado por ela nesses anos — era
a no exercício do mesmo posto de comandante da Guarda de Muni- toda liberal. Um de seus tios, João Manoel de Lima, era inclusive líder
cipais Permanentes, estava ingressando no núcleo dessas discussões pelo farrapo. Além disso, Luiz Alves tinha ainda uma dívida de graridão para
lado conservador. Sua nomeação ocorreu em março de 1839. Nessa Diogo Feijó, que, na posição de homem forte do governo, havia
com
data, o gabinete orquestrado por Vasconcellos já estava mergulhado apostado, em 1832, em seu talento, nomeando-o para o comando de um
a
numa grave crise. O aumento de efetivo do Exército só havia sido auto- dos batalhões da Guarda de Municipais Permanentes para combater
o
rizado após dois meses de muita discussão, e o projeto de reforma mili- Abrilada. O Regresso Conservador se constituía nessa fase inicial com
coa liz ão em opo siç ão ao pad re libe ral. !* A ref orm a def end ida pelo
tar estava parado na Câmara. Para piorar, o Exército sofreu um revés uma
ministro Sebastião do Rego Barros, com quem Luiz Alves conviv
eu por
exatamente na província cuja “pacificação” era central para acreditar a
caso vitor iosa, de sm on ta ri a a pol íti ca de fe nd id a por
política do novo gabinete. Esse foi o motivo da expedição. quase dois meses,
de seus tios — Ma no el da Fo ns ec a de Li ma e
Bernardo Pereira de Vasconcellos também estava por trás da nomea- Feijó, por seu pai e outro
foi min ist ro da Gue rra da Reg ê nci a Fei jó, me sm o com João
ção de Luiz Alves. Sempre atento a jovens talentos, ele vinha observando Silva —, que
na lid era nça far rou pil ha. Tod os com par til hav am a opinião do
e incentivando a carreira do oficial desde setembro de 1837. Em seu pri- Manoel
de Abr eu de que som ent e “ym min ist éri o que não te-
meiro relatório como ministro da Justiça, no ano de 183 8, elogiou, publi- deputado Limpo
ita res pod erá mai s fac ilm ent e co ncil iar Os ânimos”. Te
camente, o desempenho da Guarda de Municipais Permanentes em missão nha tendências mil
a aut ono mia das pro vín cia s era um dire ito inalienável e, por
na província de Santa Catarina e afirmou, diante de toda a Câmara, que Para Feijó,
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Inclusive aos da corte. Mas se essas alianças militares podem ser questio.
nadas, por outro lado é inegável que, sobretudo no primeiro ano da
re- Marechal José Joaquim de Lima da Silva. Avô do
volta, liberais e rebeldes andaram bem próximos. Depois da tomada de duque de Caxias. Chegou ao Rio de Janeiro em
TA
O A
Caxias, os líderes do movimento criaram uma comissão militar para 1767, para combater os espanhóis na fronteira sul da
América portuguesa. Em 1808, assumiu o comando
E.
governar a cidade. Essa comissão, interessada em negociar um acordo
q
aut ts
de do 1º Regimento de Infantaria do Rio de Janeiro,
Bla
paz com o então presidente, Manoel Felizardo de Souza e que ficaria conhecido como “Regimento dos Lima”.
Melo, enviou
Sastiçãas
uma deputação à capital. O grupo era composto de “homens
ilustres”
todos do partido bem-te-vi. Meses depois, quando
a rebelião se aa
por toda a parte oriental da província, devastando fazenda
s, intercep-
tando a navegação dos principais rios e arrasando a populaç
ão, esses
homens negaram qualquer cumplicidade com os rebeldes,
jurando que
oram coagidos a integrar a deputação. Todavia, o texto
apresentado ao
presidente Felizardo — as “Instruções” — não deixa dúvidas
sobre a iden-
tificação política existente entre os dois grupos.
CARVALHO
O artigo 1º declarava — como faziam os liberais — que o conselho
mi-
litar respeitava Sua Majestade e a Constituição. O artigo seguinte
apre-
Coteção Macebo
Sentava à primeira exigência dos rebeldes: eles pediam a “ab-rogação das
leis provinciais que criaram as prefeituras e ofenderam a lei geral sobre a
organização de uma Guarda Nacional”. O artigo 3º solicitava anistia e
afirmava que “a presente luta (...) só tem por fim lançar por terra aquelas
leis que ameaçam as liberdades pátrias”. As exigências e o vocabulário
coincidem em tudo com os princípios liberais. Mas a confirmação da
proximidade entre liberais e rebeldes, nessa etapa do conflito, só é expli-
Marechal Francisco de Lima e Silva.
citada com clareza ao final. O último artigo, o 8º das “Instruções”, auto- Regente e senador do Império, pai do
duque de Caxias. Era comandante do
rizava esses “homens ilustres” a realizar outras negociações não firmadas
CiAMvARIL:
Regimento.
Ao contrário de coação, o texto indica clara relação de confiança. No ano
Corrção
288
HG
4 nham
domino
A maTres
CARVALHO
has
CARVALHO
MaceDoO
MacEDoO
CoLeção
Coreção
Marechal José Joaquim de Lima e Silva, visconde
de Magé. Tio paterno do duque de Caxias. Foi Luiza do Loreto Viana de Lima,
sob suas ordens que o jovem Luiz Alves fez sua Marechal Manoel da Fonseca de Lima e Sil baronesa de Santa Mônica. Filha
primeira campanha militar, em 1823. barão de Suruí, Tio de Luiz Alves. Foi sob st mais velha do duque de Caxias.
comando que Caxias seguiu em 1825 para Ana Luiza Carneiro Viana. Esposa do
lutar na Guerra da Cisplatina. duque de Caxias. Pertencente a uma
das mais importantes famílias da
corte do Rio de Janeiro, era filha do
CARVALHO
Coteção
Correção
CARVALHO
CARVALHO
Macino
MaceDo
Corição
Coeção
General João Manoel de Lima e Silva. Tio do Carlos Miguel de Lima e Silva. Irmão
Luiz Alves de Lima e Silva.
duque de Caxias e um dos líderes da caçula do duque de Caxias, enviado o Ana do Loreto Viana de Lima, Único filho homem do duque
Revolução Farroupilha. 1833 como adido militar para a Bélgict viscondessa de Ururaí. Segunda de Caxias, falecido aos I4 anos,
do
após golpear mortalmente o redator filha do duque de Caxias. vítima de encefalite.
jornal oposicionista O Brasil afiteto.
FESTA NACIONAL
do
Exumação do corpo do duque de Caxias no Cemitério
CARVALHO
KR]
nde ctapa
Catumbi, em 23 de agosto de 1949. Primeira gra
im Amit
Acta
a + a :
| : edi
Báls
ms
o CR
Ainda no cemitério, oito praças da Polícia Militar do
Distrito Federal carregam a urna funerária,
acompanhados por populares.
Fazenda São Paulo, onde, em 1803, nasceu o duque de Caxias. Situada no atual
Rj.
município de Magé, no Rio de Janeiro, a fazenda era propriedade de seu avô
tuo Extncito,
materno, Luiz Alves de Freitas Belo.
Distókico
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CARVALHO
po Apetite
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Cruz dos Militares. Uma vigília do Machado, onde foi colocada
Exrroiro,
Macedo
mão compõem a imagem do aristocrata
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Coteção
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Do Arquivo
Acervo
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RJ.
Acervo bo Arquivo Hisrógico DO ExrrciTo,
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empunhada e o uniforme de campanha
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Acervo DO Arquivo Histónico DO Exército, RJ.
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CARVALHO
partir de Icatu, também controlada por um de seus bandos, e ramifican-
do-se pela margem piauiense do rio Parnaíba. Foi nessa ocasião que o
Maceno
movimento assumiu feição assustadora, com a devastação de fazendas
Coteção e a adesão da população local. Até então, a prática de chamar os mesti-
ços a decidir questões políticas, inclusive disputas partidárias, inquieta-
va apenas um ou outro fazendeiro. Um deles foi d. Martinha, proprietária
de extensas faixas de terra. Em 1835, ela abordava o tema nas cartas
que enviava ao censor João Antônio Garcia de Abrantes. Escrevia que
Marquês de Caxias. Título com o qual foi os mestiços, afirmando com orgulho sua condição de “nativos”, vinham
se julgando senhores da terra e da política. Angustiada, alertava: “mis-
agraciado em 1852, após retornar da campanha
Barão de Caxias. Primeiro título de nobreza, militar no Uruguai.
recebido em remuneração dos serviços prestados turar sangues é misturar destinos”.?
em 1841 no Maranhão: repressão à Balaiada. O coronel Lima, quando chegou ao Maranhão, substituiu o presidente
Manoel Felizardo de Souza e Melo, na direção da província desde março
CARVALHO
CARVALHO
cia. Foi durante seu governo que o movimento se radicalizou. Num otício
CoLeção
CoLeção
não agradava mais a nenhum dos dois partidos.” Também não soube cujo desfecho se tornou amplamente conhecido, sendo reproduzido à
fazer alianças. Isolou-se. O barão da Parnaíba, presidente do Piauí, um exaustão por seus biógrafos. Após lembrar a adesão dos maranhenses,
aliado importante, homem da região, se sentia “desgostoso” com a “fal. que, em vez de aterrar-se com o sangue derramado por esses band
idos,
ta de correspondência” do presidente Felizardo.:* Em novembro, a crise “engrossaram suas fileiras”, ele anuncia sua posição:
atingiu seu ápice. O tenente-coronel Francisco Sérgio de Oliveira, co-
mandante das tropas legais, irritado com a “pouca força moral e Maranhenses!, mais militar que político, eu quero até ignorar os nomes
física dos partidos que por desgraça entre vós existam. Deveis conhecer a ne-
do governo”, esqueceu a obediência que devia ao presidente e
lhe enviou cessidade e as vantagens da paz, condição da riqueza e da prosperidade
um ofício extremamente ofensivo. Pedia ao presidente que se dispusesse, dos povos; e confiando na Divina Providência, que por tantas vezes nos
“digamo-lo assim, a sacrificar-se para o fim de satisfazer à importante tem salvado, espero achar em vós tudo que for mister para o triunfo da
missão de seu cargo, salvar a província do Maranhão”. Sem qualquer nossa santa causa.
consideração, recomendava a “Vossa Excelência” que “se faça respeitar
e obedecer, em vez de esperar, de pedir e de condescender”.3? O texto é geralmente recuperade como um sinal de clarividência do co-
ronel, um símbolo de sua genialidade militar Há quem afirme que essas
idéias não eram suas, que ele defendia uma política do governo no Rio
MAIS MILITAR QUE POLÍTICO
de Janeiro. Outros creditam todo o mérito a seu secretário, Gonçalves de
Magalhães.*º Acredito que esse texto, e a política que ele anuncia, te-
Exulta, oh Maranhão, eu te saúdo,
nham um pouco de cada um desses elementos, e acrescento ainda um
Eis o teu salvador! Enxuga o pranto, último: a colaboração de Manoel Felizardo.
Tens por ti sua espada, e seu escudo: Sobre ser uma política traçada na corte, é importante fazer algumas
Comigo entoa da vitória o canto. ressalvas. À idéia, sem dúvida, está em perfeita consonância com o redi-
(GONÇALVES DE MAGALHÃES, Ode ao Pacificador) recionamento político efetuado pelo Regresso Conservador. ÀÃo exigir
que os partidos se recolham, ela realça o princípio monárquico. Não à
A crise do governo Manoel Felizardo explica a grande recepção realiza- toa — voltarei a esse ponto mais adiante —, Luiz Alves se tornou um gran-
da para o coronel Lima, com todas as honras militares, por bem-te-vis de nome do partido. Só que o movimento foi inverso: o partido é que
e cabanos, no cais do porto de Santa Maria. À presença de ambos 08 adotou sua política militar. Do Maranhão, pouco mais de um mês após
partidos na festa do dia S não era o primeiro “milagre de sedução” de sua posse, o coronel Lima escreveu ao regente informando sobre a polí-
Luiz Alves de Lima.* Ela exprimia o estado de calamidade da província tica adotada e perguntou se ela agradava ao governo. Não obteve res-
e o desespero da elite. posta. Voltou então a escrever no dia 17 de maio, dessa vez ao ministro
O grande mérito do coronel Luiz Alves de Lima foi saber capitalizar da Guerra. No ofício dizia não saber “se minha marcha administrativa e
todo esse “estado de desesperação”. Ou ainda, usando outro termo cO- militar estará agradando ao governo e particularmente a v. exa.”.
mum na época, todo esse “flagelo” que se abatia sobre a província. No Manter essa “política de neutralidade” não era fácil. Apesar de ter
dia de sua posse, 7 de fevereiro, publicou uma proclamação, a primeira; escolhido seus oficiais, Luiz Alves assumiu o comando-em-chefe de forças
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ÍRITO DA ORDEM
que estavam na região muito antes de sua chegada. Algumas eram Otigi- em 1823, José Joaquim, um desses tios, só assumiu o comando-em-
nárias de outras províncias, sobretudo do Ceará, Pernambuco e Piauí. In- chefe das forças militares em operação na província porque se envol-
gressava, assim, em uma trama política pronta e que contava, em sua veu diretamente no jogo político local, participando da prisão do
conformação, com elementos que eram completamente estranhos a ele, general Labatut e deixando para trás outro de seus superiores, o gene-
Esse dado certamente foi considerado pelo coronel ao instituir-se como ral Manoel de Morais. No entanto, logo depois, viu a “cabala” voltar-
uma espécie de “agente neutro”. Ainda assim, enfrentou problemas. O se contra ele. Luiz Alves, ainda rapaz, estava lá, e compartilhou tanto
tenente-coronel José Thomas Henriques, oficial pernambucano responsá- os lucros quanto os prejuízos do envolvimento de seu tio na política
vel pela repressão na delicada região do delta do Parnaíba, resistiu às no- local. Talvez o coronel José Joaquim só tenha se arriscado porque a
vas instruções. Luiz Alves teve que insistir, por meio de vários ofícios, para causa estava ganha. O inimigo — na época, os portugueses — já estava
que deixasse de manter correspondência com “influentes de partidos desta quase derrotado. Pessoalmente, também tinha pouco a perder. Não
capital”. Em seu ofício, alertava Thomas Henriques que “um [desses in- saiu da corte como comandante das forças imperiais, e só por meio da
fluentes] terá facilidade de fazer saber a todo mundo que v. s. está em es- participação nas lutas políticas poderia alcançar esse posto. À situação
treitas relações com seu partido e que de todos os movimentos [da tropa] de Luiz Alves em 1840 era bem diferente. Ele tinha sido nomeado pela
lhe faz participante”. Como dependia desses oficiais, não interessava a Regência comandante da expedição e das armas do Maranhão. Assu-
Luiz Alves iniciar um conflito. Por isso, em outro ofício, disse ao mesmo miu sua direção político-administrativa e, além disso, encontrou parte
tenente-coronel que “não nutro nenhuma prevenção contra a sua pessoa, considerável da província sob controle dos rebeldes.
pelo contrário, tenho por v. s. simpatia e o tempo lhe mostrará o quanto Mas Luiz Alves só pôde medir com mais precisão os riscos da políti-
lhe sou afeiçoado”. Seu apoio era imprescindível, e o coronel Lima sabia ca maranhense graças à colaboração de Manoel Felizardo. Ele não só
disso. Para manter uma expressão sua: ninguém comanda sem “súditos”. contou com informações passadas pelo presidente em seus ofícios à cor-
Em outro trecho, ainda nesse ofício, tentava conquistar a confiança do te, como também desfrutou sua companhia por quase um mês em São
oficial: “melhor é que o superior patenteie ao súdito os seus erros do que Luís. Manoel Felizardo só retornou à corte no início de março. Nesse
obrar em conseqiiência deles em segredo”. Precisava que Henriques enten- ínterim, o coronel Lima — é ele mesmo quem afirma — “tratava particu-
desse a necessidade de se “abster de mostrar parcialidade”.* larmente de informar-me com ele”.*2 A ajuda foi de grande valia. Termi-
A idéia de colocar-se acima dos partidos era do coronel Lima. Ele nada a campanha, Luiz Alves escreveu ao ex-presidente dando notícias
ansiava, do Maranhão, por uma palavra de aprovação do governo e, da província e dos oficiais que tinham sido por ele recomendados. À re-
por conta da última reviravolta política ocorrida na corte, com o golpe lação era de amizade. Em sua resposta, Manoel Felizardo escrevia:
da maioridade e o retorno dos liberais ao poder, em julho de 1840, fi- “Muito folguei vendo que minhas idéias sobre alguns oficiais do Mara-
caria sem ela. Mas creditar a Luiz Alves de Lima a autoria dessa polí- nhão combinam com as suas.” Apesar de tudo, mantinha-se atento à
tica não é o mesmo que atribuí-la apenas a uma genialidade ou trajetória desses homens. A carta — continuava ele — “me faz criar e con-
sensibilidade militares inatas. Primeiro, é preciso lembrar a larga expe- servar esperanças de que obterão o prêmio dos serviços que prestaram”.
riência dos Lima em expedições militares, além, é claro, daquela acu- Nem tudo havia sido desacerto em seu governo. Essa era, ao menos, a
mulada pelo próprio Luiz Alves, como “súdito” de seus tios. Na Bahia, opinião de Luiz Alves. Manoel Felizardo de fato não saía da capital.
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DA ORDEM
Também lhe faltava poder de decisão. Mas — vale lembrar — ele não era sua nomeação.** O barão pertencia a uma das famílias mais influentes da
comandante de Armas da província. Era apenas seu presidente e, como região “norte” do império. Havia oito anos na presidência do Piauí, de-
tal, teve um mérito: manteve-se longe das disputas partidárias. Luiz Al- pois de ter exercido o mesmo cargo por cinco anos consecutivos, entre
ves estava convencido de que, de outro modo, as dificuldades teriam sido 1824 e 1829, 0 barão festejava a chegada do primogênito do ex-regente
bem maiores. No dia 5 de março, por ofício, explicou ao ministro da pacificador de Pernambuco, que também era sobrinho de um oficial mui-
Guerra que adotava, em termos políticos, a estratégia de seu “antecessor, to conhecido e querido na província.
que, no meio dos partidos, soube se conservar independente”. José Joaquim de Lima iniciou sua carreira no Piauí. No primeiro
Outra colaboração certa veio de Gonçalves de Magalhães. A função capítulo, sobre a travessia do Atlântico e a instalação dos irmãos Lima
dos secretários de governo, segundo ele mesmo insinua em seu relato no Rio de Janeiro, destaquei a importância de sua nomeação, em 1814,
sobre a “revolução do Maranhão”, era redigir documentos e ajudar o para instrutor de milícias da província. Logo que assumiu o cargo, foi
presidente na administração da província.” Jovem, recém-chegado de premiado com a patente de sargento-mor (major), ao retornar, obteve a
sua viagem de estudos a Paris, Gonçalves de Magalhães aproveitou o patente de tenente-coronel. Por meio da lógica da circulação geográfica,
cargo de secretário do governo para pesquisar e conhecer melhor “nos- em comissões militares, o jovem oficial impulsionava o projeto de ascen-
sos costumes e naturais tendências”. À exceção do primeiro capítulo, são social dos Lima na corte. Viveu no Piauí por três anos e, o que é mais
escreveu todo seu livro durante o tempo em que esteve na província. importante, soube cultivar boas relações. Elas foram tão duradouras
Nele aborda, inclusive, fatos ocorridos antes de sua chegada. Para isso, que, em 1834, a província o elegeu deputado, reelegendo-o por quatro
pesquisou nos jornais locais.'* Estava convencido de que só pelo estudo legislaturas seguidas, até 1843. Luiz Alves contaria na “pacificação” do
do passado “de nossas desordens” seria possível coligir uma “lição his- Maranhão com todo o apoio do barão e de seus aliados políticos, que
tórica?. Essa lição guardaria uma vinculação estreita com o presente: eram também os de seu tio José Joaquim.
ela permitia pensar uma intervenção na realidade e, em função disso,
evitava a perda de “fé no futuro”.?” Foi com esse espírito, quase missio-
A GUERRA CIVILIZA
nário, que Gonçalves de Magalhães participou, lado a lado com o coro-
nel Lima, da repressão aos balaios. Estava também engajado em pensar
Ei-lo na Vargem Grande! Ei-lo em Vianna!
a rebelião e os maranhenses. As proclamações do presidente, bem como
Ei-lo em Caxias! Ei-lo em toda parte!
outros textos oficiais, contavam, no mínimo, com sua revisão, mas é
Aqui a fúria aplaca a intriga insana,
provável que fossem integralmente redigidas por ele.
Ali a guerra ensina as leis e a arte.
Tão absurdo quanto imaginar que Luiz Alves era apenas um instru-
mento de alguns homens ilustrados residentes no Rio de Janeiro, é acre- (GONÇALVES DE MAGALHÃES, Ode ao Pacificador)
ditar que a “pacificação” foi obra de um único homem. O coronel Luiz
Alves de Lima ainda contaria no Maranhão com a rede de relações pes- O nível de civilização do Maranhão, para esses homens de corte, explicava
soais de sua família. Antes que deixasse a corte, seu pai e o tio José Joa- o que “à primeira vista d'olhos é inexplicável” — o “exército da rebeldia”.
quim escreveram a um velho amigo — o barão da Parnaíba — comunicando A narrativa é mais uma vez de Gonçalves de Magalhães. Mas o sujeito
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SCER O ESPÍRITO DA ORDEM
coletivo com valor de testemunho — “nós vimos” — sugere que ela era com. nhecer esses homens”. Só isso permitiria pensar uma ação eficaz. Tam-
partilhada por aqueles que viviam com ele a experiência na província, bém responsabilizava os proprietários pela proliferação de quilombos
O quadro pintado no segundo capítulo de sua obra sobre a “revolu-
nas matas do Maranhão. Para ele, os escravos só tentavam “subtrair-se
ção”, intitulado “usos e costumes do Maranhão”, é arrematado com ao jugo do senhorio” porque eram tratados “com bárbaro rigor”. Até O
uma pergunta final: “O que se pode esperar de homens não domados necessário sustento esses senhores lhes negavam: “uma espiga de milho é
por nenhum freio?” O editor do livro, um maranhense, incomodado
o seu almoço, arroz e farinha o seu jantar, do mais lhes fornecem a rapina
com a descrição de Magalhães das “coisas e gente da terra”, ainda ten-
e a caça”. “Esta é a gente”, conclui, “que incitada nos faz a guerra”.
tou, por meio de notas, relativizar suas críticas, lembrando que o autor
Tudo isso foi ouvido com atenção por Luiz Alves. Sem discordar de
vinha da Europa e, por isso, exagerava em seu julgamento. que a guerra é uma calamidade, encerrou seu relatório de governo, em
Em parte ele tem razão. Magalhães escrevia a partir de um modelo civi- 1841, afirmando que ela também pode ser “um meio de civilização para O
lizatório francês. Mas não eram as críticas em geral que afetavam o editor. futuro”.º*º Essa idéia organizou toda sua atuação na província. A primeira
O que produzia esse incômodo era um ponto preciso. O alvo de Gonçalves incursão que realizou pelo interior, por vilas que tinham estado sob domí-
de Magalhães era a elite maranhense. Não porque parte dela teria se apro- nio rebelde, só ocorreu precisamente um mês depois de sua posse, no dia
ximado dos mestiços para definir disputas partidárias. A crítica não é dirigi- 7 de março. Até essa data, Luiz Alves permaneceu na capital organizando
da aos liberais em especial. Ela é mais aguda. Para Magalhães, rebeldes e a administração militar da província.*! A administração civil também pas-
proprietários se encontravam no mesmo nível de civilização. Essa é a raiz da sou por uma expressiva reorganização, mas esta ocorreu de forma mais
questão. “Senhores fazendeiros”, eles próprios, não tinham “respeito algum lenta, ao longo do ano de 1840. Convertida em estratégia militar e políti-
às autoridades”. Eram vingativos e, sem considerar a lei, resolviam insultos ca, essa ação administrativa se tornou um marco do governo Luiz Alves,
por “suas mãos de particulares”. Para tanto — afirma o poeta —, valiam-se de evidenciando a sintonia existente entre o presidente e seu secretário. Se a
“facínoras”, davam-lhes abrigo e, por meio deles, se faziam “temíveis”. questão era “domar” esses homens, como sugeria Gonçalves de Maga-
Essa falta de “freios” os levava a “negar dívidas”, a “não pagar a seus cre- lhães, a guerra dirigida pelo coronel Lima devia implantar mecanismos de
dores”. Se a guerra dos balaios era “de bárbaros”, como se costumava dizer controle mais duradouros e de ação continuada — os “freios” de que falava
na corte, O termo estava longe de definir apenas a atuação dos rebeldes. seu secretário. Só assim ela podia civilizar Guerra e administração se
O Maranhão, na opinião de Magalhães, era uma sociedade de “bru- uniam num ponto — na necessidade de se reconstruir a ordem.
tos?, e quem a fazia assim era a elite. Toda vez que um político ou pro- Em parte dessa tarefa, o coronel Luiz Alves tinha experiência. Os sete
prietário recorria a um desses facínoras, estava estimulando “rixas”. anos no comando da Guarda de Municipais Permanentes lhe seriam mui-
Quando, levados pela preguiça, esses proprietários optavam por “tudo to úteis. Precisava reestruturar as fronteiras sociais do Maranhão. Tal
que é colher sem martirizar a terra”, abdicando da lavoura e coalhando como na corte, assumia a direção da repressão com parte do trabalho já
a província de “fazendas de gado vacum”, criavam ainda “cardumes de encaminhado. O coronel Lima não teve que iniciar o processo de “decan-
homens ociosos, sem domicílio (...) pouco dados a outros misteres e mui- tação social” na região. A explosiva liga de gente da elite, do povo e da
to à rapina e à caça, distinguindo-se dos selvagens apenas pelo
uso de plebe, dissolvida no Rio de Janeiro pela decisiva intervenção do então
nossa linguagem”. Era preciso, orientava Magalhães, “historiar”, “co- ministro Diogo Feijó, era desfeita, no Maranhão, pelos próprios rumos da
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rebelião e pela “independência política” de Manoel Felizardo. Por isso, indisciplina não estava apenas nas tropas. Dias depois, o coronel determi-
anteriormente, afirmei que a “desesperação” provocada pela falência eco- nava aos comandantes que não tomassem dos fazendeiros nenhum objeto
nômica e pela generalização da violência favorecia o coronel Luiz Alves, para as tropas sem que aos mesmos se entreguem recibos”.53 Manter
Ele próprio reconhecia a vantagem. Logo no início de seu governo, dizia
esses homens em ordem era um desafio tão grande que, dentre várias es-
ao ministro da Guerra que não era difícil “inculcar esses rebeldes como tratégias, o coronel Lima adotou uma particularmente curiosa: dispensou
destituídos de qualquer cor política”. Esse trabalho já tinha sido feito por
todos os feitores do serviço militar para que pudessem — explicou ao mi-
seu antecessor e, quando chegou, “os homens mais abastados e influent
es nistro — “defender as fazendas dos excessos de nossas tropas”.
nestas províncias são os primeiros a clamar contra tais bandidos” 2 O efetivo do governo, nessa fase inicial, ficava em torno de 5.000
Luiz Alves devia assim consolidar essa fronteira social, que
voltava a homens, distribuídos em duas classes: uma de operações e outra de guar-
ser reconhecida por eles. Os rebeldes eram os bandidos. À elite cabia
, nição de fortalezas, vilas e cidades. À primeira classe se divídia em três
como ele afirmava em sua proclamação, cultivar “a paz, condição da ri-
colunas. À 1º coluna atuaria na região de Caxias e Pastos Bons; a 2º
queza e da prosperidade dos povos”. A imagem de “agente neutro” forta-
operava sobre Vargem Grande, e a 3º coluna ficaria em torno de Icatu.
lecia essa idéia. O presidente e coronel Lima estava ali, entre os maranhenses,
Cada uma delas era comandada por um tenente-coronel, que tinha sob
não para defender tal ou qual partido, mas para mostrar a esses homens suas ordens um oficial subalterno. O conjunto dessas forças formava
as vantagens da cultura civilizada que, em economia, significava prosperi- uma divisão, denominada Divisão Pacificadora do Norte.
dade. Não por acaso, sua primeira intervenção na região procurava resti-
A administração militar é que permitiria controlar esses homens, tão
tuir a ordem econômica. Apenas cinco dias após sua posse, Luiz Alves mais perigosos porque estavam armados. O controle devia começar pelos
baixava uma ordem para que “os senhores comandantes dos pontos exis- comandantes. Para que a ação funcionasse, eles deveriam, ao menos, obe-
tentes nas margens desse rio [Itapicuru] mandem acompanhar por uma decer ao governo. Daí todo o esforço de persuasão sobre o tenente-coro-
escolta até o ponto imediato, e assim por diante, todas as embarcações de nel Henriques: ele era comandante da 2º coluna. Só persuasão, no entanto,
comércio que transitarem pelo rio”. Esse foi o primeiro emprego que fez não bastava. O controle tinha de ser mais rigoroso e, para isso, dependia
das forças militares. Na verdade, a estratégia tentava recuperar a navega- da construção de uma rede técnico-burocrática. Todos esses comandantes
ção no rio, interceptada pelos rebeldes. A guerra civilizatória tinha obriga- tinham ampla liberdade para recrutar. Isso já era motivo para muita pre-
ção de “dar uma segura proteção ao comércio desta capital”. Além disso, ocupação. Tradicionalmente, o recrutamento era uma arma política.
ela reabria a melhor e mais barata via de acesso ao interior da província, Quem estava no governo recrutava gente da oposição ou, como o Impos-
por onde passariam mercadorias e, com elas, as tropas do governo. to era dirigido às classes populares, recrutavam-se pessoas diretamente
Para que essa estratégia atingisse seu objetivo, de capitalizar o apoio vinculadas a chefes do partido oposicionista. Assim, ao mesmo tempo
da elite, o presidente teria de passar para a administração de homens — de que autorizava o recrutamento, Luiz Alves exigia o envio das “relações”
sua tropa. No dia 21 de fevereiro, baixava outra ordem. Exigia dos “se- das praças recrutadas para o quartel do Comando das Armas “com todas
nhores comandantes (...) o maior cuidado para que as forças legais não as declarações para que o quartel-mestre as rubrique e comund ique ao sr.
:
nies deviam ain poa
cometam excessos por onde transitarem” e destacava que era imprescin- comissário pagador”. Essas relaçõ da ser “assinadas pelos
e
dível “manter a disciplina militar e o respeito às propriedades”. Mas a comandantes de companhia” e “rubricadas pelos das colu nas” .
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DA CHAGA ABERTA DEVE NASCER O ESP
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO ÍRITO DA ORDEM
O cuidado prosseguia, e não era só com recrutas. Liberando o recru- era outro centro produtor de algodão. O presidente-coronel Lima preten-
tamento, era preciso ter controle sobre o efetivo total, sobre o modo dia, como afirmou ao ministro, “animar a região” com sua presença, fazer
como ele estava distribuído e sobre as ordens que eram passadas a esses “inspeções” e “melhoramentos convenientes”57
homens. Desse modo, as relações de recrutados, por exigência do coro- A visita a Icatu e Rosário durou nove dias. No dia 16 de março, O
nel Lima, deveriam ser arquivadas em um livro, o mesmo ocorrendo coronel Luiz Alves, que havia deixado São Luís na madrugada do dia 7,
com as ordens do dia, lançadas, todas, em um caderno. Cada comandan- chegava a Itapicuru. Daí, escreveu novo ofício ao ministro. Contava que
te de corpo também era responsável por enviar o mapa da força dessa encontrou nessas vilas “grandes irregularidades, faltas e mesmo graves
unidade — a menor de um Exército — ao comandante de guarnição, e este, abusos que ficaram remediados procurando conciliar a disciplina militar
por sua vez, enviaria, mensalmente, esses mapas ao Comando de Armas com a economia e fazenda, mantendo com todo o rigor a boa fiscaliza-
da província. Para evitar os conflitos de autoridade, foi exigido, por fim, ção no emprego do dinheiro destinado para fornecimento das tropas”.
que os requerimentos, por mais simples que fossem, obedecessem aos É preciso não esquecer que essa era uma das muitas rebeliões que, nos
trâmites marcados por lei para ser levado à autoridade competente. últimos anos, vinham ocorrendo no império. Os gastos com a “pacifica-
Essas providências logo surtiram o efeito esperado. No dia 6 de março, ção” eram enormes, e a prioridade do momento era controlar o Sul far-
com apenas um mês de governo, Luiz Alves de Lima escrevia ao ministro da rapo. Por isso, o trabalho administrativo de Luiz Alves também deveria
Guerra informando que as margens do rio Itapicuru estavam guarnecidas, levar em conta a economia. Um outro mapa que o comandante exigia de
em toda sua extensão, por tropas legalistas e que as cidades de Caxias e seus oficiais era exatamente de material, solicitando, ao mesmo tempo,
Tutóia também estavam livres dos rebeldes. Com o avanço legalista, estes as guias de vencimento das praças. As rações diárias do Exército em
haviam fugido. A notícia era excelente. Às margens do rio Itapicuru estavam marcha deveriam ser abonadas de acordo com a tabela fixada. Antônio
importantes fazendas de algodão da região. O coronel Lima ganhava, com Nunes de Aguiar, desde 14 de fevereiro na função de quartel-mestre-ge-
esses sucessos, O respeito e o apoio desses proprietários. Mas o trabalho de neral, era responsável por todo o serviço de inspeção e tinha ordens para
“pacificação” apenas se iniciava. Luiz Alves estimava que cerca de 3.000 dedicar especial atenção aos depósitos de artigos bélicos, aos hospitais
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TO DA ORDEM
entre a costa e o rio Preguiça, ficava próxima demais de Icatu, dispensada à preservação das propriedades asseguraram um apoio-cha
vila sepa- ve,
rada da capital, São Luís, apenas pela baía de São José. Tratav
a-se de um o da elite. Mas conter o Exército era mais difícil. Atitudes impensadas como
porto-chave para o governo. O que mais irritava Luiz Alves, no
entanto, a do capitão Castro da Gama, ainda que comprometessem o governo, eram
era que, por ordem sua, esse porto devia estar guarnecido por 200 ho- pouco comuns — O risco maior era para 0 próprio oficial. Mais complicado
mens, sob o comando do capitão João Luís de Castro da
Gama. Mas a era manter a tênue linha divisória que separava a tropa dos bandos rebel-
notícia que tinha era outra: a guarnição na noite do ataque contav
a com des. Os soldados ganhavam mal e, com as limitações financeiras impostas
apenas $0 homens, na sua maioria “enfermos”. Os
rebeldes invadiram pelo Rio de Janeiro, serviam meses sem soldo. A visão do coronel Luiz Al
a vila porque foram avisados de que a tropa havia
saído em trabalho ves era hierarquizada. Com pouco dinheiro em caixa, dava prioridade ao
de “exploração”. Tudo isso se passou à revelia do Comando pagamento dos oficiais. Comandava, assim, uma massa descontente. Em
de Armas.
A missão exploradora havia sido, de fato, determina
da pelo Comando. junho, parte dessa massa se insurgiu. Pior, a sublevação ocorreu na guarni-
Mas, para sua execução, 0 coronel Lima destinou uma
força extra de 200 ção de Itapicuru-mirim, que, segundo o coronel Lima, constituía “o maior
homens, chefiados por Domiciniano Ayres. O revés resultava
, assim, de ponto de munições [da província] que bem se podem avaliar em cerca de
uma atitude irrefletida do capitão Castro da Gama, que 200 contos de réis, por ser ali um dos meus principais depósitos”. Luiz
decidiu reforçar
a expedição de Ayres, destinando 150 praças de sua guarni Alves considerava a atitude criminosa — um crime de traição.
ção para o
acompanhar, Às dez horas da noite, os rebeldes atacaram Miri Alguns sargentos, liderados por João do Rego Barros — na versão do
tiba.
O governo perdeu o porto, armamentos e, como diria Luiz Alves, coronel, um segundo-sargento ressentido por uma preterição sofrida no
o “infe-
liz capitão pagou com a vida o seu descuido, sendo ele a única vítima”. governo de Manoel Felizardo —, subornaram os soldados, incitando-os a
De imediato, Luiz Alves determinou a ida da Companhia de Mari- exigirem seus soldos. Como os oficiais, nos últimos dias, por conta da
nheiros Imperiais para Icatu. Em seguida, desistiu de sua marcha para 0 circulação de um pasquim dando vivas aos rebeldes, partiam toda noite
Brejo e optou por retornar a Itapicuru-mirim e, de lá, embarcar para para vários pontos avançados, não foi difícil para os soldados obterem o
Icatu. Seu plano era “cercar os rebeldes que nesse lugar [próximo a Ica- controle deles. Senhores da vila, enviaram um emissário — mulher, para
tu] se acham e batê-los decididamente”. Mas o comandante logo perce- não levantar suspeitas — aos rebeldes. A essa altura, só havia um meio de
beu que não adiantava ir de encontro aos rebeldes. Eles faziam guerra de controlar a tropa: pagando os soldos. O major comandante da guarni-
movimento e emboscada. Não pretendiam enfrentar as forças imperiais. ção, Carlos Augusto d'Oliveira, sabendo do valor de seu depósito de mu-
Atacavam cidades e fazendas, pilhavam-nas e, “habituados à vida erran- nições, mesmo doente, deixou o leito para tentar obter, com a população
te, nos bosques, quase nus (...), não sofrem as necessidades das nossas abastada da província, um empréstimo capaz de cobrir a despesa. Mas,
tropas”. O entusiasmo das primeiras semanas na província arrefecia, e, para espanto geral, nem após o pagamento a tropa depôs as armas.
tentando mobilizar o gabinete, Luiz Alves escrevia ao ministro que: A primeira força que viera em socorro da guarnição foi desbaratada e
“longe de se ir acalmando, o espírito da revolta toma novo corpo”
.*!
presa. Ainda pelo relato do coronel Lima, os sublevados só foram derro-
De fato, as dificuldades eram muitas. Os cuidados de que Luiz Alves se tados porque — “para felicidade nossa”, desabafava — Raimundo Gomes
cercou logo que chegou ao Maranhão lhe garantiram certa tranguilidade estava sitiado por forças imperiais em Carnaubal. O emissário só conse-
em relação às facções políticas. O lugar de “agente neutro” e guiu alcançar outro grupo de rebeldes, que foi obrigado a enfrentar, no
a atenção
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ESPÍRITO DA ORDEM
caminho para Itapicuru, uma “rija peleja” com um destacamento legal, Além de remessas de dinheiro, Luiz Alves requeria do governo fardamen-
A ação encheu de orgulho o coronel Lima. Com 40 homens, o destaca- tos, armas € barcas. Nenhuma dessas solicitações, contudo, era atendida.
mento conseguiu deter 300 rebeldes durante 18 horas, tempo suficiente As vezes, eram atendidas apenas em parte. Esse foi o caso da requisição
para que reforços chegassem a Itapicuru. Para a “vingança” de Rego de fardamentos. Das 800 fardas que o coronel havia requisitado verbal-
Barros, não havia perdão. Ele e os demais sargentos sublevados foram mente, antes mesmo de deixar a corte, recebeu apenas a metade.
levados a Conselho de Guerra, e, “incursos em pena capital”, Luiz Alves A calamidade aumentava na “estação invernosa”, quando chuvas
só aguardava autorização do ministro para executar a pena.º copiosas e intermitentes transbordavam rios e espalhavam “pestes”, À
Infelizmente, não foi possível conhecer essa decisão. Nenhum ofício in- estação começava em dezembro e podia prosseguir até junho. Antes de
dica se a sentença do Conselho de Guerra foi executada. Mas a história não os rebeldes tomarem Miritiba, por exemplo, ainda em maio, Luiz Alves
seria esquecida por Luiz Alves. No mesmo dia em que escreveu ao ministro desembarcou na vila com 340 praças para explorar a região. “Todo [o]
da Guerra, enviava outro ofício, ainda sob impacto do ocorrido, ao ministro terreno estava inundado com as copiosas águas da estação pluviosa”,
da Marinha, Joaquim Rodrigues Torres. Participava-lhe que “os cofres des- registrava o coronel. Mas o que mais o assustava era que, tendo em vista
ta província se acham quase esgotados, faltando meios para sustentar a a época, “ela estava por demais rigorosa”. Em função disso, teve de al-
guerra”. Temeroso, declarava que, em breve, “não terei como fazer face às terar o rumo da exploração, dirigindo-se para a vila de Priá, menos atin-
mais urgentes necessidades da Repartição da Marinha” e, na tentativa de gida pelas chuvas. Um fato semelhante aconteceu com a expedição do
mobilizar o governo para a gravidade da situação, afirmou que, desse jeito, capitão Joaquim Pereira Chaves. Após um ataque bem-sucedido à vila
deixaria “até mesmo de pagar os vencimentos dos oficiais da armada”. de Ribeira, não pôde prosseguir no seu intento de bater os rebeldes.
Temia novas sublevações, sobretudo se elas viessem da oficialidade. O motivo? Havia perdido todo o cartuchame, inutilizado pelas águas.
São vários os ofícios que abordam o tema. Neles, o coronel Luiz Alves Com as chuvas, vinham ainda as febres intermitentes. Em janeiro, mês
deixava claro que não podia “manter rigorosa disciplina, quando os sol- climático dos mais difíceis, o coronel Luiz Alves escrevia ao ministro
dados mal cobertos estão a cinco ou seis meses sem receber coisa algu- dizendo que o hospital da capital “é por mim visitado quase diariamen-
ma”. O serviço militar prestado nessas condições era, na sua opinião, de te?. A peste, sobretudo no interior, fazia “imensos estragos”. Em três
" pouca valia. Na verdade, só produzia mais problemas. Atravessando ma- meses, morreram mais de 1.000 crianças de sarampo, e, em 9 dias, um
tas, rios e charcos, quase nus e sem ração suficiente, os soldados caíam acampamento perdeu “do mesmo mal 111 apresentados”.
doentes. No ofício de 21 de julho, quase seis meses após sua posse, O | O cuidado de visitar os hospitais, trabalho que ele vinha fazendo
coronel contava cerca de dois mil enfermos nos hospitais da província. desde agosto, entre uma incursão militar e outra, não atendia apenas a
Incapazes para O serviço, esses homens aumentavam as despesas do go- interesses militares. Luiz Alves — é importante lembrar — era também pre-
verno. Outro problema era a forte desconfiança que se difundia entre OS sidente da província. Devia zelar pelo atendimento médico de militares e
locais. “Os fornecedores”, afirmava o coronel Lima, “temendo a falta de civis. O quadro geral era dramático. Explicava ao ministro da Guerra,
nossos recursos, se recusam [a] vender seus gêneros”. O não-pagamento em ofício de agosto, que “a maior parte do Icatu era insalubre, onde um
de dívidas antigas agravava o quadro. Com a Fazenda Pública desacredi- terço da população é vitimada pelas febres intermitentes, obstruções e
tada, negociantes começavam a exigir, nas transações, pagamento à vista. feridas atônicas”. Levava a questão ao conhecimento do ministro para
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ele entender a razão de tantos gastos. Insistia que todos os hospitais, ção, poder-se-iam “evitar as correrias e facilitar o trânsito e [a] navegação
mesmo Os civis, seguiam, em sua organização, o regulamento dos hospi- naquele rio [Mearim)?”.º
tais regimentais, mais econômico. As elevadíssimas despesas se deviam a Depois da abertura das sessões legislativas, no dia 3 de maio, O presi-
outros problemas, estruturais. O povo vivia em “lugares paludosos, sem
dente contou com o apoio irrestrito da Assembléia Provincial na aprovação
boa água e legumes”. Para ele, era impossível não gastar boa parte do
de várias leis e, por conseguinte, na ampliação dessa ação administrativa.
dinheiro público nos hospitais. À guerra não criava, mas agravava um
Quando se viu com essa vantagem política, iniciou a reforma de institui-
quadro comum para os habitantes da região.
ções educacionais e religiosas. O coronel Lima, talvez para satisfazer os
Por entender que parte desses problemas era anterior à guerra, é que 0
interesses de seu “amigo leal? e secretário de governo, optou por dirigir sua
secretário de Luiz Alves culpava a elite maranhense. O estado de abando-
atenção para instituições formadoras de valores. A intervenção, realizada
no da economia, saúde e transportes, tanto quanto a própria rebelião, re- no campo administrativo, tinha a clara intenção de criar os “freios” de que
sultava de sua pouca disposição para o trabalho. O que dificultava a a província, na avaliação de Gonçalves de Magalhães, se ressentia, contri-
atuação de Luiz Alves era o “estado bruto” dessa sociedade. Seu governo buindo, desse modo, para “domar” os corpos e as almas maranhenses.
devia, assim, assumir também uma função educativa. Devia ser um exem- A lei sancionada no dia 16 de julho de 1840 procurava regular a situa-
plo de intervenção eficaz na região e a prova de que, mesmo diante de ção dos professores. O artigo 1º controlava a qualidade do corpo docente,
tantas adversidades, era possível, por meio de um engajamento pessoal, tentando assegurar a difusão das “luzes da ciência” entre seus discípulos.
exercer uma direção sobre os negócios da província. Por isso, o coronel Instituía que os professores substitutos só seriam dispensados dos tradício-
Lima nunca desprezou o valor de sua presença nas vilas, comunicando ao nais exames de contratação caso fossem lentes do Liceu Maranhense ou
ministro, como parte de sua estratégia, que viajaria para O interior com o comprovassem habilitação “por carta de aprovação plena em Academias
objetivo de “animar a região”. Nesse sentido, a presença de Luiz Alves acreditadas”. Os artigos seguintes procuravam pôr “freios” nos professo-
era, ela mesma, uma intervenção, a primeira que realizava. Mas estava res, controlando-os no exercício de suas atividades. O artigo 2º autorizava
longe de ser a única. Compartilhando os ideais civilizatórios de Gonçalves o governo “a descontar a quinta parte do ordenado” dos professores que
de Magalhães, o coronel Lima não só assumiu de fato a direção da provín- “no decurso do ano letivo tiverem faltado vinte vezes sem causa justifica-
cia, como ampliou o alcance de sua ação administrativa. Quando, por da”. Para efetuar o desconto, sem prejuízo da justiça, o artigo 3º definia
exemplo, o proprietário Francisco Ferreira Carvalho mostrou interesse em que “a congregação remeterá ao Tesouro Público Provincial, no início de
organizar uma lavoura no Alto Mearim, Luiz Alves logo procurou enten- cada ano, o ponto dos professores com as respectivas observações”.
der-se com ele. Propôs ao fazendeiro que fundasse “ali uma povoação li- O texto do artigo 5º traz a marca indelével de Gonçalves de Maga-
vre, a fim de domesticar índios”. Para incentivar a empresa, lançou mão lhães. Ele favorece os bacharéis em letras, formados no Liceu Maranhen-
de suas prerrogativas de presidente, concedendo a Francisco Carvalho se, com um “privilégio que foi concedido pela lei de 16 de agosto de
“dez anos de isenção de dízimos e tributos provinciais sobre gêneros da 1830 aos bacharéis em letras das escolas de França, e aprovados em
nova colônia, e a dispensa de recrutamento e de qualquer serviço militar Coimbra”, Luiz Alves certamente não conhecia leis tão específicas sobre
em tempo ordinário”. Luiz Alves não tinha dúvidas: a concessão favorecia privilégios obtidos por bacharéis de letras na França e em Portugal. À
o governo. Por meio da domesticação de índios no interior dessa povoa- idéia era indiscutivelmente de seu secretário, um homem de letras. Esta-
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va decidido a formar uma elite civilizada na província. O privilégio só imundices cobrem o chão sem assoalho, e até mesmo os altares; um
não foi instituído de imediato porque dependia da aprovação da Assem- va-
por pútrido, como O hálito da peste, se exala do santuário deserto, e tão
bléia-Geral. Mas o presidente se comprometia, por meio da Jei, a forma-
miserável é seu aspecto, que parecem monumentos de zombaria ao mais
lizar e enviar a proposta para o Rio de Janeiro. sublime dos sentimentos humanos”. É então que afirma: “Nós vimos e
Duas outras leis, também sancionadas em julho, tentavam impulsio- Jastimamos O que escrevemos!”, e emenda com a pergunta já transcrita:
nar instituições educacionais menos favorecidas, agindo, dessa Vez, por “O que se pode esperar de homens não domados por nenhum freio>”
meio da religião. À primeira, de 11 de julho de 1840, autorizava à organi- Afirmar que a política militar instituída por Luiz Alves de Lima estava
zação dos estatutos do Recolhimento de Nossa Senhora da Anunciação e
fundamentada em ideais civilizatórios não implica negar sua filiação po-
Remédios. O Recolhimento devia atender “a meninas órfãs necessitadas lítico-partidária. Tanto ele quanto Gonçalves de Magalhães defendiam os
ou filhas de pais reconhecidamente pobres”, mas poderia também admitir princípios conservadores de centralização política. Nesse momento, o
“meninas de pais abastados para serem educadas”, desde que estes discurso civilizatório permitia sustentar, entre os maranhenses, a imagem
contri-
buíssem “pontualmente com mesadas para esse fim anualmente estabele- de “agente neutro” do novo governo. Mas é óbvio que a civilização pre-
cidas”?. A outra lei, sancionada no dia 16, com a que regulamentava a gada não era neutra. Ela representava a classe proprietária e, nesse senti-
situação do professorado, autorizou a organização de novos estatutos para do, lutava pela preservação dos “interesses da casa”. Não por outro
a Santa Casa da Misericórdia. Nesse caso, a importância do conteúdo reli- motivo, a primeira medida de Luiz Alves foi reabrir a navegação dos rios.
gioso é explicitada. Em seu artigo 1º, fica definido que, “se os estatutos Depois dessa medida, mais urgente, autorizou a limpeza de vários rios
[propostos] contiverem matéria religiosa, serão executados interinamente, menores, para que se tornassem navegáveis, e distribuiu prêmios no valor
até que sejam aprovados pela Assembléia Provincial”.70 de 800 mil-réis para os empresários que disponibilizassem mais de um
Gonçalves de Magalhães apostava na religião como meio de civiliza- barco para agilizar a navegação. Nesses serviços técnicos, que incluíam
ção. Ela era, em sua opinião, capaz de cultivar “sentimentos sublimes” ainda O levantamento de mapas da província, o coronel Luiz Alves utili-
nos homens. O último tema abordado em seu capítulo sobre “os usos e zou engenheiros militares que integravam sua expedição.” O resultado
costumes do Maranhão” é justamente sobre a falta de religiosidade do agradou enormemente aos proprietários e negociantes locais.
povo maranhense. Indignado, afirma que “de todas as províncias do Por outro lado, todo esse trabalho evidenciava a incapacidade da
império em que estive, a do Maranhão, excetuando-se sua capital, é onde “casa” para exercer, sem influência do governo central, a direção da pro-
menos se acata a religião”. Não por acaso, emprega o termo acatar. O víncia. Esse é um outro aspecto desse esforço civilizatório, e era assim que
secretário de Luiz Alves continuava preocupado com a necessidade, pre- ele se vinculava aos princípios centralizadores. A civilização e suas luzes
mente para ele, de domar essa gente. Se a civilização não chegava a eles só poderiam alcançar as províncias e resgatá-las da barbárie por meio de
pelas luzes da ciência, que ao menos viesse através das “luzes do cristia- uma ação do governo nacional. Através da guerra, em situações-limite, e
nismo?. À descrição que faz das igrejas interioranas mostra seu comple- por meio da administração, quando a vida seguisse seu curso normal.
to desencanto com a elite da província, incapaz de assumir a direção de Essa era a intenção do relato de Gonçalves de Magalhães.
seus negócios e seu povo: “pobres pardieiros com nome de igrejas, ermas A “Revolução do Maranhão”, lida através do discurso civilizatório,
de fiéis, apenas aninham corujas, morcegos e mais aves noturnas, cujas legitimava a reforma institucional defendida pelos conservadores. A lei de
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6 de junho, uma das primeiras sancionadas na província durante o governo COMBATES, ANISTIAS, INTRIGAS E ESPIAS
de Luiz Alves, não deixa dúvidas sobre essa filiação política. Ela subordi.
nou por completo as finanças municipais ao Executivo provincial. O ba- Cheia de orgulho a lâmina repousa,
lanço das contas de receitas e despesas e o orçamento para o ano financeiro E a pena em tua mão bem vale a espada.
de cada município deveriam ser submetidos, ao final de cada ano, ao pre-
(GONÇALVES DE MAGALHÃES, Ode ao Pacificador)
sidente da província, sendo encaminhados por este, com as precisas obser-
vações, para a Assembléia Provincial. Tal como ocorria nos assuntos
militares, tudo isso devia tramitar segundo certos instrumentos técnico- LUIZ ALVES DE LIMA NO MARANHÃO
administrativos. Além “de um livro de receita e despesa, outro de contas- (1839-1841)
correntes e outro de caixa”, nos quais deveriam ser escriturados por cada Ea p
município “seus objetos”, instituiu-se ainda um modelo específico para
apresentação da receita e um para a despesa. À intervenção na administra-
ção municipal avançava. O artigo 13º, penúltimo da lei, definia que:
Com esse nível de intervenção, ela completava a lei dos prefeitos — iden-
tificada como o estopim da rebelião. Depois do Executivo, Luiz Alves
subordinava agora o Legislativo municipal.
É preciso, no entanto, observar que o discurso civilizatório de Gon-
calves de Magalhães não incluía temas modernos da política européia,
como democracia e igualdade. A maneira como agiram em relação aos
rebeldes e negros aquilombados mostra com clareza como esses ideais
civilizatórios se erguiam a partir de uma visão hierarquizada da socieda-
de. Cada grupo receberia, durante a “pacificação”, o tratamento que Luiz CONVENÇÕES:
Alves julgava compatível com sua posição social. O presidente — é o que A Quilombo
E à Algodão >
veremos agora — concordaria com as reflexões de d. Martinha: era preciso
não misturar sangues, para que também não se misturassem destinos. 5 ES
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as duas da tarde”, perseguindo o bando do temido chefe Tempestade. Itapicuru”, o coronel Lima informou
a
No dia 19, ainda em junho, o capitão Sampaio fez vivo fogo à “gente de dele — que “mandei aliciar”, por intermédio do comandante de uma forç
Raimundo Gomes” e, no dia 15 de julho, uma força integrada por tro- volante, Raimundo Gomes. Ao que tudo indica, o chefe rebelde já tinha
aria É
pas do Ceará e do Piauí efetuou uma grande investida na margem ensaiado uma aproximação, avisando, por carta, “que se apresent
só não
piauiense do rio Parnaíba. Em todos esses confrontos, foram feitos pri- lhe garantissem a vida, a dele e a de sua família”. À negociação
segu iu por cont a de um inci dent e, do qual Luiz Alve s se ressentiria:
sioneiros, mortos e muito se contabilizou de cavalos, armas e salitre pros
e a cart a caiu em mão de um ofici al que, não esta ndo ao fato
apreendidos. Ainda assim, malgrado todos os esforços, havia — é o coro- «infelizment
Con-
nel Lima quem o afirma — “grandes e numerosos magotes pelas matas, do que a este respeito havia, prendeu o portador e rasgou a carta”.
ma
que espiam o menor descuido nosso e que procuram sublevar escravos trariado, ele imaginava que o equívoco “deve sem dúvida causar algu
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total. Ele acompanhou de perto o trabalho dos espias e aguardou para 200 homens. À relação confirma que o contato com esses chefes ocorria
conferir seus efeitos. A carta confidencial enviada ao major Oliveira é por meio de emissários, e sugere que a rendição era remunerada. Mesmo
datada do dia 20 de agosto. No dia 22, o coronel se achava na “entrada sem dispor de documentos que definam valores, ou explicitem o paga-
de Carnaubal?, em um lugarejo chamado Pau-Deitado. O lugar estava mento, é quase certo que a negociação com os chefes do movimento, tal
“infestado de rebeldes” e, ao que tudo indica, O acesso a Carnaubal, in- como acontecia com Os emissários, envolvesse dinheiro. Afinal, nenhu-
terrompido. No dia 23, apenas três dias após o envio da carta, Luiz Al- ma outra forma de remuneração é apontada nos ofícios. Neles, a apre-
ves deixava O lugarejo, comunicando ao ministro da Guerra que a estrada sentação dos rebeldes sempre aparece como uma ação espontânea,
já estava “desembaraçada”, e informando que havia colocado ali um expressão de arrependimento. Daí a legitimidade do perdão.
destacamento para manter seu “livre trânsito”.84 Francisco Ferreira Pedrosa — o outro chefe da relação de despesas, o
O trabalho dos espias vinha surtindo efeito. Era essa a avaliação do “chefe Pedrosa” — foi mais um dos “apresentados” de agosto e se tornou O
coronel Lima sobre os resultados de uma outra comissão, anterior a grande trunfo de Luiz Alves no combate aos negros. Em ofício ao ministro,
essa. Numa carta, datada do dia 16, ele afirmava, satisfeito: “tenho tido o coronel afirmou que, “sabendo há mais de dois meses” do interesse do
notícia pelos meus espias que a intriga que havia feito espalhar entre os rebelde em se apresentar, e tendo notícia também de seu receio de não ser
rebeldes tinha feito o que eu desejava, isto é, que eles desconfiassem uns perdoado, resolveu a situação por um emissário. Fez saber ao chefe rebelde
dos outros e se precipitassem a bater mutuamente”.8 Mais trangúilo, que “o governo o aceitava”, mas impunha uma condição: “que batesse os
Luiz Alves pôde retornar ao acampamento de Vargem Grande. A despe- negros”. Era esse o acordo. Por ter empunhado armas contra O governo,
sa com essas comissões foi contabilizada na lista das “despesas secretas”. devia se redimir através da prestação de serviços à causa legal. Primeiro,
Ao fim da guerra, o montante desses gastos chegou a 4 contos de réis, o batia os negros. Depois, poderia depor armas.*” O serviço do emissário e a
que equivalia à contratação de 20 espias. Por meio de um ofício dirigido adesão de Pedrosa entraram na lista das “despesas secretas”, que Luiz Al-
ao ministro da Guerra, é possível ter uma idéia dos serviços financiados ves garantia terem sido “de absoluta necessidade”. Com elas — escrevia ao
por essa despesa. À relação é apresentada pelo próprio coronel Lima, em ministro — “poupei maiores quantias e sangue”. Ele tinha toda a razão.
ofício: ela permitiu “promover a apresentação dos chefes rebeldes Pe- Essas negociações lhe permitiram, pela primeira vez, fazer uma previsão do
drosa, com 1.700 homens, e Cândido, com 200, recompensar emissários tempo que levaria para concluir a “pacificação” e, quanto menos tempo
que disto se encarregavam, pagar espias e escravos que entre os outros durassem as lutas, menores seriam as baixas e as despesas. Mas a negocia-
espalhassem [notícias]”.% ção, do modo como foi feita, também reforçou incrivelmente as fileiras le-
Cruzando essas informações, é fácil entender o ânimo renovado de gais e, o que é melhor, com mestiços da região. Francisco Pedrosa se
Luiz Alves no início do mês de setembro. Ele, enfim, tinha encontrado apresentou com 1.700 homens, nada menos que um terço do total das
um meio eficaz de deter os rebeldes. O sucesso que obteve no desbarata- forças imperiais. Todos esses homens, ou haviam crescido ou trabalhavam
mento das tropas de Raimundo Gomes, no dia 3 de agosto, também ti- naquelas matas e campos, conhecendo muito bem a região.
nha sido resultado dessas “ações secretas”. O “chefe Cândido” da Por isso, Luiz Alves parecia não se preocupar com a fuga de Raimun-
do Gomes para o quilombo do negro Cosme, nem com o suposto ataque
relação de despesas de Luiz Alves é Cândido do Lago, irmão de Raimun-
da dupla à vila de Manga. Apoiado em suas “estratégias secretas”, O
do Gomes, que depôs armas após o confronto do dia 3, levando consigo
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coronel já tinha projetado uma grande investida, “por diferentes pon- Tinha acabado de voltar da vila de Pau-Deitado, onde acompanhava o
tos”, contra os negros. O ataque se deu em agosto. Após “algumas horas trabalho de seus espias, quando o correio o encontrou. Foi ali, no
de fogo”, o sucesso foi quase absoluto. Os negros debandaram “com acampamento de Vargem Grande, que deu então início aos festejos.
prejuízo de 11 mortos, 52 capturados, quatro mulheres, quatro crianças, Mandou formar toda a tropa do acampamento, colocou-se à sua frente
um rebelde livre, 21 cavalos, 11 éguas, 19 cangalhas, cinco selas, algu- e, após salvas de artilharia e fuzilaria, entoou vivas a “Sua Majestade,
mas armas arruinadas, pólvora e chumbo”. Batidos, eles procuravam, o imperador”. À tropa respondeu aos vivas, entoando outros à maiori-
tal como os rebeldes, abrigo nas matas. À diferença é que agora Luiz dade. Ao final dessa pequena cerimônia protocolar, Luiz Alves come-
Alves seria capaz de persegui-los. Aí estava o valor de seu novo aliado. çou “a tomar algumas providências a respeito da campanha”, prepa-
Os negros que seguiram para Bela Água, região dominada por Pedrosa, rando-se, assim, para deixar O interior da província sem arriscar a se-
foram capturados com facilidade. De início, foram 140. Mas Pedrosa gurança do local.ºº Tão logo desembarcou em São Luís, “pondo pé em
prosseguiu na perseguição. Pelo acordo, devia bater os negros até que se terra”, cumpriu mais uma vez as formalidades, puxando novos vivas
rendessem. À eficácia das estratégias secretas do coronel Lima era indis- ao imperador. No palácio do governo, ainda no dia de sua chegada, 27,
cutível. Em fins do mês de setembro, Raimundo Gomes ainda estava assinou uma segunda proclamação. O texto, pouco conhecido, seguia
desaparecido, sem tentar novas investidas havia um mês. Dizia-se que a lógica de neutralidade política instituída pelo anterior, com a grande
tinha fugido para os lados de Miritiba. O negro Cosme já tinha sido lo- diferença de contar agora com o respaldo de um príncipe coroado para
calizado, talvez pela ação de espias. Tentava reunir os negros em Guada- exigir que os partidos se recolhessem:*!
lupe, vilarejo situado entre a lagoa Amarela e a vila do Brejo.”
Uma nova época abriu-se aos destinos da grande família brasileira: Sua
Majestade o Imperador empunhou o cetro da governança e assumiu OS
direitos que pela Constituição do Estado lhe competem. “
A GRANDE FAMÍLIA BRASILEIRA
Declarado maior, ei-lo enfim como um símbolo da paz, de união e de
justiça, colocado à frente da nação que o reclamava (...)
Os teus preceitos afrontar não ousa
Maranhenses!, um sublime pensamento deve agora inflamar O cora-
Dos vícios a caterva amedrontada ção brasileiro; aspérrima e longa foi a experiência, aproveitai-a. Amor ao
Sublimes pensamentos esquecidos, Imperador, respeito às leis e esquecimento de vergonhosas intrigas, que
do impera-
Surgi do fundo d'alma, só têm servido para enfraquecer-vos; um só partido enfim — o
impe-
Acolhidos sereis e protegidos dor; e no vosso entusiasmo, repeti mil vezes: Viva Sua Majestade
do
Por ele, que o justo empunha a palma. rial, o sr. d. Pedro II, imperador constitucional e Defensor Perpétuo
do!”
Brasil! Viva a nossa Santa Religião! Viva a Constituição do Esta
(GONÇALVES DE MAGALHÃES, Ode ao Pacificador) (Ênfases minhas.)
m. Armas,
Enquanto tudo isso se passava nas matas do Maranhão, na corte do Com a volta à capital, as estratégias de Luiz Alves mudava
ias e emi ssá rio s ced iam luga r, com a aju da de seu sec ret ári o de govai
esp
Rio de Janeiro um golpe político antecipava a maioridade de d. Pedro.
no e “amigo leal”, Gonçalves de Magalhães, às estratégias discursivas.
A notícia só chegou a Luiz Alves no dia 23 de agosto, um mês depois.
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duas vezes salvou a Constituição imperial, partido que nesta província se coronel Henriques. Dias depois, Luiz Alves enviou esse mesmo ofício ao
chama bem-te-vi.”
ministro da Guerra. Chamava sua atenção para a “linguagem indigna e
Não houve confronto físico. Os cabanos se limitaram a aplaudir as
incorreta” empregada pelos rebeldes no documento. Essa era, para ele,
primeiras idéias do brado, e ao ouvirem a palavra bem-te-vi, estouraram
uma forma de mostrar ao ministro, tão distante daquele mundo, com
em gritos de “fora partido de assassinos e malvados”. Depois, como
que tipo de gente estava lidando, evidenciando assim a dificuldade que
afirmou o coronel Lima, “cansados de gritar, retiraram-se”, Ainda as-
encontrava ao tentar um diálogo com esses chefes. Por isso também, nas
sim, para preservar sua política, no mesmo dia o coronel dirigiu-se para
citações adiante, manterei a ortografia original dos documentos.
Viana. Lá chegando, conferenciou separadamente com cada uma
das Esses chefes se mostravam confusos com a maioridade. Tinham vis-
autoridades, passando, em seguida, a tratar com “os principais habitan- to — afirmavam eles — “V. Sas. darem vivas ao Noço Imperador Perpetuo
tes que ali influem”. Segundo conta, usou com eles uma “linguagem
o Sr. d. Pedro 2º” e, através de documentos roubados da mala do correio
imparcial”, sem considerar os partidos a que pertenciam. O tom era de
de Caxias, também já sabiam que o “Noço Imperador perpetuo Sr. d. Pe-
reprovação. Luiz Alves condenava os “excessos de palavras de parte a dro 2º jã tinha subido a seo trono e que estava de poce da sua Croua”.
parte” e, percebendo o uso que os cabanos faziam da força da Guarda A compreensão que tinham da política local era muito simples. Acredita-
Nacional existente no local, decidiu substituí-la por um correspondente vam que, de um lado, estavam eles: “que trabalhavão em defencio da
número de praças de primeira linha, deixando em seu comando um “ofi- Croua do Noço Imperador Perpetuo o Sr. d. Pedro 2º”. Do outro, os ca-
cial de confiança, e não dado à política”. Definia a medida como “muito banos: “trabalhando em defensa das leis dos prefeitos e subreprefeito e
salutar” para assegurar a tranquilidade da região. Comiçario”. Pronto, estava feita a confusão. Como podiam entender agora
Luiz Alves avisava ao ministro, em meio a esses tumultos, que, ape- as comemorações oficiais? Se o governo era favorável ao imperador, não
sar de ter controlado essas autoridades, não podia “afiançar sua impar- havia mais motivo político para a guerra: “estavão V. Sas. já no noço par-
cialidade”. Na verdade, tinha a exata noção de que o equilíbrio que tido”. Mas por que os ataques prosseguiam? Só havia uma resposta possi-
vinha conseguindo corria sobre um fio bem tênue. Ao menor pretexto, vel para eles: não se tratava mais de “guerra sobre partido público” e sim
essas diferenças podiam degenerar em conflitos. Pior, esses conflitos ine- de vingança contra os caboclos. Ofendidos, reagiam: “entre hestes cabou-
vitavelmente atingiriam, de uma forma ou de outra, os rebeldes. Isso clos tem muitos que são homens de prohibidade e que conhecem o direito
tornava a situação extremamente delicada. Era preciso trabalhar esses e que trabalham pelas leis e que não são corjas de ladroens”.”
níveis diferentes de conflito para evitar novas “ligas para o futuro”. Des- A simplicidade das idéias e a grafia do documento mostram com
se modo, os festejos promovidos pelo governo também deviam ser apro- precisão os desníveis sociais da região e, por conseguinte, as dificuldades
veitados em vários níveis. enfrentadas por Luiz Alves para percorrer “mundos” tão diferentes, com
A “nova época” não se abria só para os “principais habitantes da a tarefa de alinhavar uma unidade. Em situações como essa é que a ex-
província”. Seus ecos chegavam aos rebeldes. A publicação do decreto periência do coronel na Guarda de Permanentes deve ter sido muito útil.
imperial ajudava a divulgar a maioridade do imperador. No dia 26 de Sabia como cruzar essas fronteiras. Ao contrário de Manoel Felizardo,
setembro, um ofício assinado por sete “comandantes bentevis”, entre não se deixava intimidar. Esse discurso dos “comandantes bentevis”
eles João Castelo Branco e Graceano Gavião, foi enviado ao tenente- atendia com perfeição aos interesses do governo. À partir de então, os
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ser — na avaliação de Luiz Alves — “perniciosa”, caso fosse entendida acabada se não fosse por Raimundo Gomes. Os rebeldes, com o decreto
como “indício de fraqueza do governo imperial”. Havia ainda seus pró- de anistia, aos poucos se apresentavam. O chefe Gavião tinha sido o úl-
prios sentimentos. Discordava da medida, porém não estava disposto a rimo apresentado de novembro, trazendo consigo 200 homens. Muitos
discutir as ordens do Rio de Janeiro. Tentou adiar a publicação do decre. dos negros capturados já haviam sido entregues a seus senhores, tarefa
to. Por isso, negociava com base em promessas. Levou pelo menos mais prioritária para Luiz Alves. Eles eram tratados como outros bens mate-
um mês agindo desse modo. Só em novembro decidiu pela publicação, riais. Em face da miséria daquela “infeliz cidade”, logo que batiam re-
Mesmo assim, antes de fazê-lo, se cercou de uma série de cuidados. Te- beldes e achavam com eles “gêneros roubados”, o coronel mandava
mia sobretudo a reação dos caxienses. Os maiores atentados, em sua devolvê-los. Isso contribuía para manter o sentimento de justiça, abala-
opinião, tinham acontecido naquela cidade. Além disso, próximo a ela, do com a anistia, e fortalecia a confiança no coronel.o
ameaçando-a cotidianamente, havia ainda um grupo de 900 rebeldes Tão logo encaminhou a situação em Caxias, Luiz Alves mandou “im-
sob o comando dos chefes Pio e Tempestade. “Receando que o decreto primir [o decreto] em quantidade e espalhar por toda parte”. À intenção
fosse mal recebido”, o coronel optou por ir pessoalmente a Caxias, se era levar a notícia até mesmo àqueles que “vivem errantes sem chefe co-
fazendo “portador” da notícia, na esperança de conseguir acalmar os nhecido”. O segundo passo foi autorizar os comandantes das colunas le-
ânimos mais exaltados. Novamente apostava na força de sua presença. gais a publicarem “comunicações” nas regiões onde atuavam. Nelas,
Chegando lá, após conferenciar com alguns habitantes, mandou três for- informavam que para obter o perdão imperial era necessário se apresentar
ças legais sitiarem o grupo de rebeldes que ameaçava a cidade, impedin- formalmente em um dos acampamentos da legalidade, ou se unirem às
do qualquer reação. Mas não os atacou: iniciou as negociações. forças de Francisco Ferreira Pedrosa. Essa última alternativa buscava al-
Avisou que se O grupo se rendesse, “sem disparar um só tiro”, seriam cançar os rebeldes que se encontravam no meio da mata e — o que era bem
todos perdoados. Tudo transcorreu com tranquilidade. Os rebeldes ape- proveitoso — usar seus serviços na “caça” aos negros aquilombados. Às
nas pediram 20 dias para “juntarem os dispersos”. Como o decreto de “comunicações” procuravam evitar também alguns equívocos, como a
anistia concedia um prazo de até 60 dias para se apresentarem, o coronel crença de que o perdão independia da apresentação. Ao se difundir a no-
Luiz Alves não tinha como recusar a solicitação. Por precaução, “plan- tícia, muitos rebeldes voltavam para casa, acreditando-se anistiados.!*
tou” no local dois batalhões para observar o grupo. Tão logo soube que Cada um desses passos, no entanto, sempre gerava novos pontos de
lhe obedeciam, permanecendo em ordem no local à espera “de sua gente”, conflito. Os bandos menores e menos conhecidos recebiam com vivas a
o coronel voltou às negociações, recuperando as estratégias dos meses notícia da anistia. Um correio, encarregado pelo comandante Ernesto
anteriores. Ordenou que “fossem bater um grupo de negros escravos capi- Emiliano de Medeiros, major das forças legais, de levar a notícia a um
taneados (...) por Cosme Bento das Chagas”, o negro Cosme. Estava Con- desses grupos, contou que a exultação foi geral. Eles festejavam com
res-
vencido de que “excitar o Ódio entre os escravos e essa gente” evitava muitas “salvas de alegria”, garantiu O correio. Mas, em seguida, na
Raimundo Gomes.
“futuras insurreições”. Cada qual devia reconhecer seu lugar; mestiços posta que enviavam ao majoz, mostravam-se fiéis a
sua apresentação a uma autorização do chefe rebelde. As-
Vinculavam
eram diferentes de negros. Com estes, não havia negociação possível." ao
O sucesso da ação satisfez o coronel Lima. Ao final de seu ofício ao sim, era preciso intensificar as negociações. Os grupos mais ligados
Francisco Pedrosa dispensavam consultas a Raimundo Go-
ex-rebelde
ministro da Guerra, afirmou que poderia até mesmo considerar a guerra
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força de sua presença, conseguiu finalmente “arrancar daquelas matas o gm janeiro de 1841, no Maranhão, o coronel Lima calculava que, dos
chefe dos sediciosos”. Depois dele, mais 700 homens se apresentaram. 3.000 negros que existiam aquilombados nas matas, restavam apenas
A “guerra civil”? estava encerrada. Na verdade, Luiz Alves comuni. 200. Em fins de fevereiro, no dia 28, comunicava ao ministro da Guerra
cou à corte seu término ainda no dia S de janeiro, após as sucessivas que para “complemento da inteira pacificação desta província foi preso
apresentações dos meses de novembro e dezembro. Certamente acredita. (...) O infame negro Cosme”. Não por coincidência, fala em complemen-
va que a prisão de Raimundo Gomes era uma questão de tempo, que o to. À “inteira pacificação” estava concluída. A prisão se deu depois de
venceria nem que fosse pela fome, É claro que preferia os louros de um “renhido ataque” das tropas legais. Cinquenta mortos ficaram nos
aprisioná-lo. Por isso, todo o seu empenho. Voltou para São Luís com campos do Calabouço, onde se fixara o quilombo. Cerca de 150 foram
Raimiundo Gomes preso, e só lá o anistiou. Tendo em vista todos os cri- presos. Cosme das Chagas também foi levado para São Luís, só que, de
mes cometidos, considerava a anistia um enorme lucro para o rebelde. modo diverso do que ocorreu com Raimundo Gomes, não seria anistia-
Só não podia mantê-lo no Maranhão, não apenas “pela preponderância do. Estava na capital “para receber o castigo de seus crimes. “As tantas
que exerceu em dois anos sobre a classe baixa”, mas também pelo risco mortes friamente perpetradas por sua própria mão” tinham um peso
de morte que corria. À anistia não eliminava o desejo de vingança de maior do que as cometidas pelos rebeldes mestiços. Permaneceu preso
muitos que se sentiam vitimados por ele. O termo de evacuação da pro- por mais de um ano, e, sendo levado em abril de 1842 a júri, foi senten-
ciado com, pena capital.!!
víncia que ele assinou era de oito anos, e o líder rebelde escolheu morar
Às oito horas da manhã do dia 10 de setembro de 1842, o negro
na província de São Paulo. Pretendia encontrar sua família, o que não
Cosme Bento das Chagas foi remetido à vila de Itapicuru-mirim e execu-
chegou a acontecer. Durante a viagem, ele morreu.!0
tado. Nessa data, o então brigadeiro Luiz Alves de Lima estava distante
O negro Cosme, para Luiz Alves, não era um rebelde. Tratava-o como
do Maranhão. Combatia rebeldes de outra estirpe, paulistas e mineiros.
um quilombola. A diferença parece sutil, mas a sua delimitação marcou
Luiz Alves de Lima entregou a administração do Maranhão a seu
a atuação do coronel na província. Rebeldes e negros pertenciam a mun-
sucessor no mês de maio de 1841, e, no dia 30 de junho, embarcava de
dos distintos. Logo, o tratamento não podia ser o mesmo. Em nenhum
volta à corte. A campanha fora um completo sucesso. Deixava a provín-
momento se dispôs a negociar com os negros. Eram escravos, não tinham cia eleito deputado por unanimidade. Não havia melhor resposta para
condições de decidir seus destinos. Também não cabia ao Estado puni- sua política de neutralidade. Cabanos e bem-te-vis, apesar de todas as
los. O papel de Luiz Alves, como representante da Coroa na região, era divergências, uniam-se em torno de seu nome. Aqueles que não puderam
devolvê-los a seus donos — esse era um domínio exclusivo da “casa”. estar com ele antes de sua partida escreviam-lhe lamentando e justifican-
Ainda que não tenha sido possível saber como Luiz Alves procedia do a ausência. Durante todo o ano de 1842, recebeu cartas de “amigos”
no combate aos quilombos dos arredores da corte, vimos no capítulo maranhenses dando notícias da província e da administração do novo
anterior que essa função foi exercida pela Guarda de Municipais Perma- Presidente. Havia também muitos pedidos para interceder junto ao go-
nentes enquanto ele esteve no comando. Ou seja, o coronel Lima não era verno a favor de um e outro conhecido ou parente.!!? Um contato de
inexperiente nessa tarefa. Talvez a estratégia de “indispor os rebeldes expressão na corte era a chave para a elite local, sobretudo agora, depois
com os negros” já tivesse até mesmo sido testada no Rio de Janeiro; das reformas centralizadoras instituídas pelos cabanos. Com a “lei dos
quando as ruas eram assaltadas cotidianamente por levantes populares.
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Notas Sobre sua participação no clube, Octávio Tarquínio de Sousa, Op. cit., Três golpes
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de Estado, p. 156. O temor de Honório Hermeto é explicitado em carta a Luiz
Alves de maio de 1840, lata 748, pasta 29, IHGB.
23. Todo o relato sobre a viagem e sua organização segue Domingos José Gonçalves de
Magalhães, op. cit., p. 79-80.
24. Sobre sua trajetória, ver Cartas a Monte Alverne, publicadas pelo Conselho Esta-
dual de Cultura do estado de São Paulo, e um rascunho biográfico escrito por
Manuel de Araújo Porto-Alegre, lata 365, pasta 9, IHGB.
1. Domingos José Gonçalves de Magalhães, A Revolução da província do Mara 25. Essas informações foram extraídas do ofício do ministro da Justiça de 17 de dezem-
nhão, bro de 1839, AG PMER].
cap. 1.
2. Um quadro com dados sobre todas essas revoltas pode 26. Astolfo Serra, Caxias e o seu governo civil na província do Maranhão, p. 49.
ser encontrado em José
Murilo de Carvalho, Teatro de sombras, p. 13. 27. Sobre o tema, ver Arthur César Ferreira Reis, “O Grão-Pará e o Maranhão”, p.
3. Todas essas informações sobre as rebeliões continuam seguindo 158, e Maria Januária Vilela dos Santos, A Balaiada e a insurreição de escravos no
as reflexões de José Maranhão, p. 74.
Murilo de Carvalho, idem, p. 14.
28. Todas as informações desse parágrafo foram retiradas de Maria Januária Vilela dos
4. Paulo Pereira Castro, op. cit., p. 38.
Santos, op. cit., p. 20-6.
« Para esses ofícios e sobre a inoperância da Guarda Nacional, ver Adriana
Barreto
ln
29. A história é contada por Arthur César Ferreira Reis, op. cit., p. 159 e 160.
de Souza, op. cit., cap. 2.
30. Todas essas informações, inclusive as do parágrafo anterior, foram extraídas de
- Roderick Barman, Brazil, p. 193.
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v. Em cena, o delegado de José Clemente
Pereira: Luiz Alves adere aos princípios
conservadores
A situação de Luiz Alves de Lima no Rio de Janeiro começava a ficar
mais confortável. Sua nova posição no Exército e na corte imperial con-
solidava o nome da família Lima. À partir de então, só assinaria “briga-
deiro barão de Caxias”. Além dessas conquistas, obtidas pelos serviços
recentemente prestados no Maranhão, desde 1838, Luiz Alves vinha se
empenhando também na construção de um patrimônio pessoal. Em abril
desse ano, quando ainda era apenas o comandante das Guardas Munici-
pais Permanentes, adquiriu sua primeira propriedade com a ajuda da
sogra. Luiza Carneiro da Costa, ao que tudo indica, já o tinha perdoado
pelo “casamento clandestino”. Na qualidade de procuradora de Francis-
co Alberto Rubim, vendeu ao genro “meia légua de terras no sertão de
Valença, entre o rio Paraíba e o rio Preto”. O oficial pagou pela proprie-
dade 500 mil-réis, o que equivalia, tendo por referência o salário defini-
do no decreto de organização do corpo de Guardas Municipais Perma-
nentes, a quase metade de seu salário, de 1:020$000 réis mensais.! Luiz
Alves, por essa mesma escritura, morava no Campo de Santana. No ar-
quivo geral do Ofício de Notas, não consta nenhuma outra compra em
seu nome até essa data. Desse modo, é provável que morasse no solar da
família Carneiro da Costa.
Politicamente, sua situação também já era bem menos incômoda.
Acredito que só nesse momento, quando retornou do Maranhão e foi
nomeado para combater os movimentos liberais de 1842, Luiz Alves
aderiu, de forma definitiva, aos princípios da centralização conservado-
ra. À influência maior não foi de Bernardo Pereira de Vasconcellos nem
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As negociações, avanços e retrocessos duraram meses. Luiz Alves Câmara temia a influência que Francisco de Lima poderia estar exercen-
acompanhava tudo isso de longe, pelas cartas de seu pai, freguentador do sobre o filho. Preocupava-se com as eleições gerais e afirmava com
das sessões do clube maiorista da Rua do Conde, e pelas cartas escritas toda a clareza que estava “persuadido de que o Sr. Francisco de Lima lhe
por Honório Hermeto, chefe conservador na Câmara e principal nome escrevera em sentido contrário, procurando persuadi-lo que faça a elei-
no combate ao projeto da maioridade. Grande parte das cartas trocadas ção com o partido do senador Pedro da Costa Ferreira”. Obviamente, o
nessa época entre pai e filho se perdeu. Há referências a algumas delas, partido em questão era O liberal. Ainda que tivesse sido nomeado co-
mas apenas uma foi localizada. Datada de 14 de abril de 1840, um mês mandante da Divisão Pacificadora do Norte pela Regência conservado-
antes da queda do gabinete de Manuel Antônio Galvão, ela abordava ra, a posição de Luiz Alves, em função da filiação política de sua família,
assuntos políticos. No dia anterior, tinham sido rejeitadas “na Câmara permanecia indefinida. Honório só decidiu lhe escrever depois da vota-
todas as medidas do Senado postas pelo ministério” e, para Francisco de ção do projeto maiorista no Senado. O motivo era simples. Com a vota-
Lima, não havia dúvidas — “o ministério está por terra, desorientadíssi- ção, a posição do ex-regente Lima se tornou pública. “Seu pai”, escreveu
mo”. Mandava ainda para o filho, com a carta, vários “jornais de opo- Honório a Luiz Alves, “foi iludido pela gente da oposição, porque votou
sição” e aproveitava para inteirá-lo dos nomes cotados para o próximo no Senado pela maioridade por via ordinária”. Daí seu receio. Tentava
gabinete. Era preciso que Luiz Alves, apesar da distância, se mantivesse certificar-se da continuação do apoio de Luiz Alves. Introduziu a frase
informado sobre a política da corte, inclusive das tramas a favor da anterior, confessando seu “desprazer” em dar ao “amigo” tal notícia. O
maioridade. Para o ex-regente, o futuro dependia de quanto se trabalha- “amigo”, até onde sabia, era conservador. Mandava-lhe também jornais
ria por ela. O quadro político era tão incerto que pedia ainda ao filho da corte. À oposição — na sua opinião — vinha recorrendo a meios suspei-
que Gonçalves de Magalhães tivesse mais cuidado ao escrever para a tos para promover a maioridade e queria que o coronel visse, por esses
corte — “tenho muito medo de poetas”. jornais, quais eram esses meios. Os votos conseguidos no Senado — Ho-
A união dos Lima era grande. Francisco de Lima não só se preocupa- nório não tinha dúvidas — se deviam à divulgação de uma “falsa nota”
va com a carreira de seu primogênito, como era muito carinhoso em suas por Holanda Cavalcanti e os Andrada. Por ela, “conseguiram aterrar
cartas, assinando sempre “teu paizinho” e dando notícias da mãe e dos alguns senadores”, afirmando-se “que o imperador desejava ser declara-
tios. Maria Cândida também escrevia ao filho. Ainda que não tenha sido do maior”. Por isso, dizia que Francisco de Lima tinha sido iludido.
possível recuperar sua correspondência, Francisco de Lima, nessa mes- Honório Hermeto ainda se preocupava em esclarecer Luiz Alves de
ma carta, avisa a Luiz que a mãe não lhe tem escrito por conta de uma que o partido não era contrário à maioridade. Colocar-se contra ela seria
erisipela que prejudicava sua saúde. Essa união, de uma família toda li- um suicídio político: havia “acendido no seu povo o desejo de ver Sua
beral, deve ter dificultado as escolhas políticas de Luiz Alves. Majestade Imperial à testa do governo”. Apenas desejava “abrir um meio
Além das cartas do pai, o coronel contava no Maranhão com outras legal para isso”. A definição da maioridade aos 18 anos era artigo consti-
fontes de informação. A versão oposicionista sobre o projetado golpe tucional. O chefe conservador temia a “violação” da Constituição pelo
chegava ainda por meio de contatos do visconde da Parnaíba, presidente corpo legislativo e, diante de tanta instabilidade, tinha motivos para isso.
do Piauí e amigo dos Lima, e a versão governamental, por intermédio de A experiência mostrava que a violação poderia “obviar pretextos para
Honório Hermeto, que lhe escrevia. O líder do Regresso Conservador na
mais uma rusga”. Sua idéia, lançada em forma de projeto na Câmara, era
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Pereira, com ele reconciliado desde 1835. O programa executado também militar. No máximo, administrador. Jamais, político. Quando combatia,
foi o concebido por Vasconcelos em 1837. Legitimado pela Coroa, ele era não defendia princípios políticos. Defendia a integridade nacional e con-
implantado agora “sem tropeços”. Em apenas um ano, foram aprovadas tribuía para civilizar irmãos pouco afeitos a normas e regras.
a lei de reforma do Código do Processo Criminal e a criação do Consel Em reconhecimento pelos serviços prestados, o imperador ainda
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de Estado.? No ano seguinte, em 1842, a reforma do Exército proposta concedeu ao barão um razoável período de férias. Eleito deputado pelos
por Sebastião do Rego Barros em 1837, e que tanta polêmica tinha gerado maranhenses, só tinha previsão de retornar ao trabalho estreando na
na Câmara, também era implantada sem oposição.!º A política do Repgres- Câmara e, portanto, na política formal, em 1842. Em março desse ano,
so, apropriada pelos áulicos, tornava-se política da Coroa. a Coroa decidiu dar-lhe mais um emprego, nomeando-o comandante de
Chegando em julho de 1841 à corte, Luiz Alves era poupado de toda Armas da Corte, segundo cargo em prestígio militar, subordinado ape-
essa crise. Havia três meses que os conservadores já estavam de volta ao nas ao ministro da Guerra. Mas novas reviravoltas políticas mudaram O
governo, e essa “liga” com os áulicos lhe era extremamente conveniente. rumo dos acontecimentos e de sua vida nos meses seguintes.
Mais do que nunca, predominava a idéia de uma política acima dos parti- Luiz Alves de Lima, brigadeiro e barão de Caxias, havia sido eleito
dos. Essa é a própria base da “liga”. Incorporados pela Coroa, os ideais para a legislatura de 1842. Essas eleições, conhecidas como “eleições do
conservadores de centralização política assumiam a feição de um projeto cacete”, acabaram suspensas em função da violência com que transcorre-
nacional não partidário. À política de Luiz Alves no Maranhão estava ram em todo o império. Os liberais, na tentativa de consolidar sua posi-
assim na mais completa sintonia com esse projeto. Se, em 1840, suas car- ção no governo, intervieram no processo eleitoral, substituindo fiscais,
tas a autoridades da corte, sobre a política de neutralidade que vinha ado- removendo juízes de direito, chefes de polícia e até presidentes de provín-
tando, ficavam sem resposta, agora elas despertavam grande interesse. cia. Capatazes assaltaram mesas eleitorais, espancaram e assassinaram
Não à toa, ele foi tão bem recompensado. eleitores, muitas vezes com a conivência da polícia. À fraude foi total e
A imagem de “agente neutro”, tão útil no Maranhão, acompanhará obviamente comprometeu o resultado do pleito. Em 1842, nas sessões
o então brigadeiro e barão de Caxias em seus próximos combates. Em preparatórias do mês de abril, anteriores à abertura da Câmara e dedica-
1840, ele recorreu a essa imagem como uma maneira de tentar suspender das à verificação das eleições, o caso do Maranhão era dos mais discuti-
os conflitos que dividiam a elite maranhense e, fazendo-se “mais militar dos. Para a comissão de verificação, era impossível “tomar conhecimento
que político”, obter o apoio de toda a elite na repressão à rebelião. Essa das eleições nessa província porque, não existindo (...) senão uma única
“neutralidade” ainda lhe foi útil na corte. Ela permitiu que não se com- ata parcial, a do Colégio de São José de Guimarães, não podia a comissão
prometesse diretamente com nenhum partido, não tendo assim de rom- fazer a verificação das atas geral e parciais, comparando-as com o diplo-
per declaradamente nem com sua família, nem com o governo que O ma apresentado pelo sr. barão de Caxias”. É simples. Luiz Alves de Lima
sustentava. Daí a insegurança de Honório Hermeto. Por ocasião da maio- havia sido eleito por unanimidade. Apresentou na corte um diploma elei-
ridade, quem o coronel Lima apoiava? Para o líder conservador na Câ- toral em que constava a participação de 4.000 eleitores, mas as atas das
mara, a questão não parecia definida. eleições não foram enviadas. Não havia assim documento que compro-
À imagem de administrador, marcada pela mesma neutralidade, tam- vasse esses votos. Além disso, o número de eleitores apresentado era “ex-
bém o acompanhará em sua trajetória. Por essa imagem, Luiz Alves erê traordinário, quase igual aos votos do Brasil inteiro”. Os liberais, porém,
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Santos. Permaneceu na vila apenas duas horas. Tendo achado tudo e d is.
de agradecimento. Caxias estava “sumamente grato às obsequiosas ex-
posto em favor da ordem”, escreveu o barão ao ministro da G
“deixei aí O tenente-coronel José Vicente de Amorim Bezerr Uerra, pressões com que v. exa. me honrou no seu ofício de 21 do corrente mês”.
a, com gr O ofício comunic ava ao ministro da Guerra, José Clemente Pereira, a “en-
de parte do 2º batalhão de artilharia a pé, e ordenei
que o restante a trada do general barão de Caxias em Sorocaba e o fim da rebelião”. Ca-
passe a Fortaleza da Barra dessa cidade”.
Também não se den xias sabia reconhecer o valor dessas “expressões obsequiosas”. O mesmo
muito em Santos. Uma providência imediatament
e adotada foi a e
de Elizeo de Azevedo Coutinho. O “indivíduo” — segund respeito à ordem hierárquica que O fazia exigir de seus “súditos” um tra-
o conta — E tamento adequado à sua posição também o fazia reconhecer, sem dificul-
de “influente no partido de oposição”, era dado a esp
alhar norteia Si dades, o valor desses elogios, dirigidos por um “superior” a um outro
acessórios inteiramente falsos”. Tinha proced
ido assim ao noticiar na ainda mais bem colocado, ministro de Estado e figura de expressão na
cidade a dissolução da Câmara dos Deputados
, contando “inúmeras | política palaciana. Em outra carta ao presidente, escrita durante a viagem
verdades” com a intenção de atiçar o ódio con
tra o governo. O a para Minas, no dia 16 de julho, Caxias lhe tributava seu “eterno reconhe-
não poderia prosseguir viagem, deixando-o ali em lib
erdade. Ordenou, cimento pela confiança que mereci de v. exa. e amizade com que me tratou
desse modo, que ele fosse “recolhido preso a bordo
da corveta Bertio- sempre”. Lembrava-lhe, ainda, que em breve se veriam na corte e teria
ga”, fundeada no porto.!s
então “melhor ocasião de exprimir meu reconhecimento”.!é
Com receio de que os rebeldes ocupassem a capital, Luiz Alv Em sua primeira conferência no Palácio do Governo, o brigadeiro
es esfor-
çou-se para chegar a São Paulo ainda naquele dia. Mas não ficou surpreso com as condições de defesa da capital. Encontrando-se os
conseguiu.
Quando terminou a reunião com as autoridades de Santos já era noit rebeldes “a uma marcha de distância desta cidade”, tinham-na isolado
e e
preferiu partir na madrugada do dia seguinte. Às onze horas da manhã por completo. As comunicações estavam interceptadas e só contavam
do dia 22, o barão de Caxias entrava em São Paulo. Seguiu direto para com “400 a 500 guardas nacionais, mal armados, mal equipados e sem
o palácio do governo, onde conferenciou com o presidente José da Costa terem oficial que os dirigisse”. Caxias estava seguro de que, “se tivesse
Carvalho, barão de Monte Alegre. me demorado mais 48 horas nessa corte, certamente estaria hoje esta
Mais uma vez, Luiz Alves poderia contar com uma atenção especial, cidade em poder do inimigo”. Sua primeira estratégia, portanto, era ex-
dispensada apenas àqueles que gozam de referência privilegiada. O barão clusivamente defensiva. Ao contrário de avançar logo sobre O inimigo,
de Monte Alegre era um grande amigo dos Lima, sobretudo do senador optou por ocupar duas das principais pontes da cidade, a dos Pinheiros
Francisco de Lima, pai de Caxias. Trabalharam juntos, na Regência do e a do Anastácio, e inutilizar outras duas, a de Santo Amaro e a ponte do
Império, por mais de quatro anos. A “cooperação” do presidente na “pa- Ó. Não via problemas em adotar uma posição tão recuada. Precisava
cificação” da província foi tal que, antes de deixar Sorocaba, no dia 23 de organizar suas forças e, além disso, acreditava que assim ainda teria uma
junho, Luiz Alves lhe escreveu para “dar os parabéns por tal desfecho” e chance de “iludir” os rebeldes. Se, animados por essa posição defensiva,
afirmava que ele “não seria tão pronto e feliz (...) sem a incessant eles avançassem sobre a capital, o brigadeiro planejava marchar “na re-
e coope-
ração de v. exa. e as sábias providências por v. exa. tomada taguarda do inimigo e metê-lo entre os meus fogos e os da cidade”.!
s”. O grau de
entendimento entre os dois pode ser avaliado pela quantidade de cartas Outras decisões faziam parte das instruções fornecidas pelo governo,
pessoais trocadas durante a campanha. A carta citada, por exemplo, erà não tendo sido iniciativa do brigadeiro. Uma delas, de extrema importân-
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na noite do dia 13. Dessa vez, o coronel Pacheco seguia sozinho, para
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“carregar ao romper do dia sobre o campo rebelde”. Novamente, eles
haviam se retirado. O brigadeiro “perdia a esperança de bater os referi-
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dos rebeldes aquém da cidade de Sorocaba”, para onde tinham escapado
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Àà projetando organizar sua defesa. A marcha exigia agora maior cuidado.
“Ouro Preto
Caxias não podia sitiar Sorocaba antes de o coronel João da Silva Ma-
5
ES Queluz (Cons, Lafoiete) ?
chado, o guarda nacional responsável pela comarca de Curitiba, chegar
à ponte do Itararé. Do contrário, os rebeldes, acuados, poderiam escapar
E Companho”, "5, José Del Rai (iradentes) q
E S. João Del Rei" pela ponte e avançar sobre a comarca. Reduzia-se, assim, O ritmo da
marcha. Isso permitiria ainda — cogitava Caxias — que a força de Campi-
a
aES “Borbocena e
5 MINAS ch, S
nas, comandada pelo tenente-coronel Amorim Bezerra, a força do major
ape pur DO qiOP fone
SÃO PAULO
7 Sa usto João Bloem, diretor da fábrica de pólvora de Ipanema e comandante de
Tatuí, e a força do coronel Leite Pacheco, aquartelada no Parnaíba, con-
Ra SE
elas a ope ganEiRO M No dia 20 de junho, o brigadeiro barão de Caxias entrou vitorioso
's. Fada (Campinas) =iyeiry"Bonpril dE
fingue! |
Vendo Toubojg —fgadetaisçO jo de Joneiro q
em Sorocaba. Não houve confronto. Quando o comandante de sua van-
guarda, o capitão Luís dos Reis Montenegro, às dez horas da manha,
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. E Du |
um número do Paulista”, explicava o brigadeiro, “se disse que eu
havia O oficial encarregado dessa missão foi o 1º tenente do corpo de en-
proposto arranjamentos, julgo conveniente serem publicadas” 30
As cartas eram enviadas de Sorocaba apenas três dias após a tomad genheiros Tristão Pio dos Santos. À escolha agradou tanto ao padre que,
quando O presidente barão de Monte Alegre decidiu remetê-lo para a
da cidade. Esse era um tipo de crítica que Caxias não admitia.
é
= o. a
d
na E e Prezava corte e ele reclamou, dizendo ser tal medida inconstitucional, Caxias o
sua política de subordinação. Estava ali para aplicar um Corretivo aos
lembrou que foi “por condescender com v. exa. que conservei nessa co-
rebeldes. Assim como não respondeu às cartas de outros
líderes, que lhe missão O 1º tenente”.
pediam perdão, também não aceitou o “arranjamento” Propos
to pelo Tristão Pio dos Santos acompanhou o padre Feijó durante toda a
padre. Queria ter os demais chefes, como tinha agora o padre, preso,
viagem até a corte, parando alguns dias em Sorocaba e em Santos.
Isso, no entanto, já bastava. Nos anos seguintes, a oposição liberal ten-
A cada pequeno detalhe, Caxias dava demonstrações de consideração
taria criar uma memória da revolta. Nela, o procedimento
do barão de pelo velho padre. Nessa mesma carta, fazia questão de dizer-lhe que in-
Caxias com os rebeldes, sobretudo com padre Feijó, era definido com
o cumbiu “ao oficial mais graduado do Exército que comando, o coronel
um “procedimento bárbaro”.3! Mas os ofícios do brigadeiro nos contam
José Leite Pacheco, de acompanhar v. exa. para proteger sua marcha”.
outra história, de consideração com o padre.
Ainda que Sorocaba estivesse “pacificada”, a região norte da província
No mesmo dia em que entrou em Sorocaba, a 20 de junho, Caxias estava mergulhada em sérios conflitos, e os liberais de Minas já haviam
recebeu uma denúncia de que o senador Diogo Feijó “se achava homi- se sublevado. Dispensar um coronel e um tenente de engenharia para a
ziado em uma casa da cidade”. O general não pensou duas vezes, dando comissão era sinal de atenção. À atitude era tão excepcional que Caxias
imediatamente ordem de busca. Ao encontrá-lo, como não sabia se ele se sentiu na obrigação de explicar ao ministro Clemente Pereira o moti-
“se achava pronunciado”, decidiu mantê-lo sob custódia, na mesma vo de manter o tenente Pio dos Santos, tendo um coronel na comissão.
casa. Colocou no local uma guarda e destinou um oficial para sua vigi- Talvez para o padre Feijó, cuja causa política o fazia “se despossuir de
lância. Vigiar, aqui, tem um sentido duplo. Caxias sem dúvida temia que, títulos seculares”, tudo isso valesse pouco. Mas para um aristocrata como
por alguma ação de seus aliados, o senador escapasse. Mas a chance de Caxias cada detalhe era sem dúvida sinônimo de respeito. Ao final, os dois
esse tipo de ação ocorrer era pequena, e o padre, sozinho, jamais conse- parecem ter se entendido. Em carta particular ao mesmo ministro, O barão
guiria fugir. Era hemiplégico. Havia sofrido um ataque de paralisia pou- escrevia que o “senador Feijó já se acha nessa capital guardado por um
co antes de assumir a Regência, e seu estado se agravou quando, após à oficial e que nem por isso está mal comigo, tanto que nesse momento aca-
renúncia, sofreu um derrame. Por isso, ele se definia, na carta a Caxias, ba de sair da minha casa, e de dizer-me que não quer ser mais paulista, e
como um moribundo. O barão colocava o oficial em guarda para O pro que seu espírito está abatido”. A missão de Caxias estava cumprida. Paula
teger, “a fim de que não sofresse algum insulto”. Nesse caso, a vigilância Souza, outro líder rebelde de prestígio, senador, também estava vencido.
era dirigida às tropas e aos legalistas mais exacerbados. As vinganças Nessa mesma carta, Caxias prossegue contando que ele “chora diariamen-
eram comuns, embora talvez em menor grau do que as ocorridas nº te, tudo o aterra, e me declarou estar arrependido dos violentos discursos
Maranhão, até porque, em São Paulo, a violência da revolta também que pronunciara na Assembléia Provincial”. Somente depois de colocar o
fora menor. Os ataques da tropa, porém, eram certos. Cabia aos oficiais ministro a par desses fatos é que Caxias afirmou, ainda nessa carta, esta-
controlá-los e zelar pela vida dos rebeldes de mais prestígio.*? rem os “influentes da oposição corrigidíssimos e que se envergonharão de
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depois da entrada das forças legais e avidamente se entregou ao s mais que OS mineiros) é que invadirá aquela província”. Nessa mesma
dque”3
Daí proveio — na opinião do coronel — a onda de violência. Afirmou aj d
carta, do dia 27, o ministro ainda felicitava Caxias pela rápida pacifica-
que “não é possível avaliar ao certo” o número
de mortos. Mas a ção de São Paulo, Et “Quem poderá com o barão de Caxias,
seguro de que se exagerava “em tal mortandade”.
Havia entre os ofici k pacificador de duas províncias?” O tom exultante da resposta mostra que
subalternos — conta Henriques — o terrível hábito de aumentar
q TS Caxias começava a acreditar nesses elogios. Na carta do dia 2, transitava
de vítimas para “exaltar seus feitos”, “narrar vantagens”
e “iludir os as entre confiante e imperativo: “Mesmo pelo estado político de Minas é
fes”. Dependiam disso para “fazer fama” e, assim, obter uma pena que eu julgo conveniente o meu regresso para essa corte, porque dali,
O caso foi dado por encerrado, São Paulo estava
pacificada. Q bri subindo a serra, irei bater a rebelião, caso S.M. assim julgue convenien-
gadeiro barão de Caxias chegou à corte no dia 23 de
julho. No dia 25 te” Por um lapso, justo ele, o barão de Caxias, tão atento às fórmulas
ele já partia para Minas. Em função dos serviços pre
stados em São sociais, parecia esquecer-se de sua posição e colocava seu julgamento na
Paulo, acumulou uma nova distinção, a de ajudante-de-campo do
im- frente do julgamento do imperador. Sabia, melhor do que ninguém, que,
perador, e recebia mais uma promoção — tornava-se marech após Sorocaba, “meus serviços como militar são aqui dispensáveis”.
al-de-cam-
po do Exército imperial.?” Na verdade, Caxias já começava a tomar várias providências para
assumir o comando das forças que agiriam sobre Minas. Na carta do dia
2, por exemplo, indicou quem deveria substituí-lo e ainda aproveitou
MINAS O CHAMA
para cobrar a promoção de oficiais cujos nomes tinha remetido ao go-
verno havia quase um mês, no dia 8 de junho. Para presidente e coman-
A nomeação para o comando das forças que operariam em Minas Gerais dante de Armas, indicou seu tio, o brigadeiro Wenceslau de Oliveira
não foi novidade para o barão de Caxias. Logo depois da tomada de Bello. Caxias temia que, uma vez concluída a pacificação da província, o
Sorocaba, ele seguiu para a capital e, de lá, no dia 2 de julho, escreveu barão de Monte Alegre pedisse exoneração do cargo e a Coroa pensasse
ao ministro da Guerra, José Clemente Pereira, para oferecer seus servi- em seu nome para o comando militar e para a presidência de São Paulo.
ços e mostrar o interesse que tinha em tal comissão. Deixando a forma- Por isso, ele se adiantava e sugeria o nome do tio. Mas afiançava “que
lidade de lado, abriu a carta dizendo que “ninguém deseja mais abraçar não são as relações de família que me ligam àquele general”. O general
a v. exa. no Rio de Janeiro do que eu” e, mantendo o tom, prosseguiu Bello, na sua opinião, tinha uma carreira brilhante e “já havia dado pro-
reconhecendo-se “sobejamente pago dos insignificantes serviços que vas de seu merecimento” ao exercer, pouco tempo antes, a presidência
prestei (...) com a certeza que v. exa. me dá de que o imperador e o mi- da província de Sergipe. Além do nais, prosseguia o barão, “quando se
nistério estão contentes de mim”. trata de coisa pública faço abstração de tais relações”.*º
Esse transbordamento, raro em sua correspondência particular, serv ia Abstraindo ou não essas relações — é difícil avaliar —, na lista remeti-
para introduzir o tema Minas Gerais. Em carta anterior, enviada no dia da ao governo constavam os nomes de seu irmão caçula, Carlos Miguel,
27 de junho, o ministro Clemente Pereira tinha lhe escrito sobre a crise de de volta ao Brasil depois do crime que praticou em 1833 contra o reda-
Minas e o risco de os rebeldes invadirem São Paulo. A resposta do barão tor do jornal Brasil Aflicto, e o de um primo, Luís José dos Reis Monte-
foi imediata: o Exército imperial “com paulistas fiéis (que sempre valerão negro, filho do delator Joaquim Silvério dos Reis. O que gostaria de
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cuidado que me dás e o amor que te tenho que, cheio de trabalhos, me não
esqueço de ti.” Invariavelmente, despedia-se com um: “Sou só teu. Luiz»
Desde fins de junho, a política militar de Caxias vinha sendo favore-
cida por um governo cada vez mais decidido a submeter as oposições
Do tempo em que esteve em São Paulo, restou apenas um bilhete
datado de 5 de julho. Nele, Caxias avisava à baronesa que no dia ani locais. Além de autonomia e do completo apoio do ministro da Guerra,
o marechal contava, desde o dia 23 de junho, com uma medida que seria
rior, por intermédio do ministro da Guerra, tinha lhe remetido uma carta
e “200$000 para fazeres um vestido bem bonito”, anunciando ainda sua
bastante eficaz no combate aos rebeldes de Minas. Nessa data, o impe-
rador assinou um aviso ameaçador. Recorrendo ao artigo 27 do Código
intenção com o presente: queria vê-la com o vestido “no primeiro baile dinhei-
Criminal, avisava que: “Havendo-se os rebeldes apoderado-se de
que houver depois da minha chegada”. Certamente, tinha dito algo se-
ros públicos, pertencentes às rendas gerais e provinciais, assim como de
melhante na carta que seguia pelo ministro, porque, linhas depois, ele seus
edifícios, bens e gêneros próprios da mesma Fazenda, obstando com
justificava mais aquele pequeno bilhete: queria aproveitar a “ida do José
atos criminosos a regular e legal arrecadação das ditas rendas (...), seus
Leite”. Não podia perder a chance de “dizer que estou muito bom e da-
bens estavam sujeitos à indenização da Fazenda Nacional.” A medida
nado para me ir embora”. Para que isso acontecesse, avisava O barão, só
caía como uma bomba. Até porque, no mesmo aviso, o governo intima-
faltava “dar um passeio até as vilas do norte, enquanto não chega quem
va ainda “a todos e quaisquer indivíduos, ou companhias nacionais ou
me renda”. Tinha por certa a nomeação.
estrangeiras, dessa ou de qualquer outra província, que não façam com
Ana Luiza provavelmente teve de esperar para estrear seu vestido. Dia os rebeldes trato, ou contrato algum sobre seus bens móveis, semoventes
25, o marechal barão de Caxias já partia para Minas Gerais. Tomava a ou de raiz, porque todos se hão de haver por nulos”.º
direção de São João del-Rei, quando lhe chegou a notícia de que uma for- O aviso não só começou a isolar os rebeldes, como também difundiu
ça rebelde tinha tomado parte da cidade e que, encorajados por este triun- o terror em suas fileiras. Vários de seus líderes, proprietários, só perma-
fo e o de Queluz, pouco mais ao norte, os rebeldes pretendiam unir forças neciam em armas porque imaginavam que o barão de Caxias, antes de
para, por meio de uma grande investida, tomar a capital. Imediatamente, os atacar, iria propor anistia. O imperador tinha lançado mão desse re-
Caxias mudou seus planos. Seguiu para Barbacena, reuniu forças com as curso no Maranhão e havia proposto o mesmo, por duas vezes, para OS
que ali se achavam sob o comando do coronel José Leite Pacheco e mar- apos . Por que não anis tiar ia min eir os e paul ista s? À notí cia da que da
farr
chou para Ouro Preto, entrando na cidade no dia 6 de agosto. Havia divi- de Sorocaba demorou a chegar aos rebeldes de Minas. Mesmo quando a
dido suas forças em cinco colunas. À primeira era comandada pelo coronel Coroa ordenou a distribuição de proclamações, anunciando a derrota
Antônio Joaquim da Silva Freitas; a segunda, pelo coronel José Leite Pa- paulista, lideranças mineiras, para evitar a total desmobilização das for-
checo; a terceira, por outro de seus irmãos, o coronel José Joaquim de ças rebeldes, desmentiam a informação, dando por falso o documento.
Lima e Silva; a quarta, pelo coronel Manoel Antônio da Silva, o oficial que Lembravam ainda que, se a guerra não marchasse bem em Sorocaba, Os
tinha comandado as tropas que massacraram a vila dos Silveira; e a quinta curitibanos lhes viriam em socorro. Tudo isso deixou o ambiente confu-
era comandada pelo tenente-coronel Amorim Bezerra. Considerando 0 so e tenso. Uma primeira proclamação, em circulação desde 19 de junho,
avanço rebelde, Caxias crou ainda uma brigada de reserva. À força ficou acenava com perdão para aqueles que abandonassem “os homens que
sob o comando do coronel José Feliciano de Morais Cid, que assumiu vos têm conduzido ao crime”. Recorrendo mais uma vez à imagem pa-
terna, o imperador aconselhava aos mineiros que desprezassem essas
ainda o comando militar de Ouro Preto e da cidade de Mariana.”
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“pérfidas sugestões”. Isso lhe pouparia, afirma ainda no documen ão de Cax ias . Que luz est ava sob dom íni o lega l, os líderes
to, e cia com O bar
dura necessidade de punir-vos”. Parecia, assim, ainda haver tem de vilas próximas depunham armas e as forças destinadas por Caxias
PO para
o arrependimento. Uma avaliação equivocada.”
para Ouro Fino, Itajubá e Pouso Alto provavelmente já estavam estacio-
As primeiras reações ocorreram quando o barão de Caxias ain d o con cor ria par a a sus pen são do ata que e muitos
nadas nes sas vila s. Tud
estava em São Paulo. Os próprios governistas de várias vilas, antes rec m, ent re eles o pre sid ent e int eri no Jos é Fel ici ano da
rebeldes titube ara
lhidos, amedrontados pela difusão do movimento rebelde, comedia rec uan do, dizi a não se res pon sab ili zar pel o que pudesse
Cunha, que ,
reagir. Em julho, na vila de Pouso Alegre, a legalidade, até o, nes se mes mo mom ent o, sur gia no gru po uma
então acuad acontecer. Por outro lad
com receio de uma insurreição da oposição local, recuperou sua e ex- dep uta do libe ral Teó fil o Oto ni. Ele assumiu a res-
nova lid era nça — O
seu prestígio. Vencida a crise interna, logo pôs uma coluna em marcha e pel o ata que , dep osi tan do tod a con fia nça nas col unas de
ponsabilidad
para a campanha. Daí, reforçada por tropas da Guarda Nacional
dessa Antônio Galvão e Francisco Alvarenga.
vila e por foragidos de Baependi e Aiuruoca, atacaram, no dia 20) de ju. A vit óri a reb eld e de Que luz abr ia aos ins urg ent es as por tas da cap ita l.
lho, Baependi, importante núcleo de resistência rebelde no sul era pre cis o dec idi r, € ráp ido . Cor ria m not íci as de que o bar ão de
da provin- Agora,
-Rei,
cia. Ainda que tenham sido rechaçados, a ação provava que o
estado de Caxias chegava à província. Com a tomada de parte de São João del
espírito da legalidade era outro. Essa disposição foi reforçada pelas pri- — os líde res reb eld es sab iam dis so — seg uir ia par a Our o Pre to.
o barão
capital
meiras defecções nas fileiras rebeldes. No dia 26 de julho, menos de uma A decisão mais acertada, portanto, era acelerar a marcha e tomar a
semana após o ataque, Gabriel Junqueira, aliado a outros “chefes distin- antes do barão. Após a vitória de Queluz, um ataque bem-sucedido a Ouro
tos”, depôs armas, dispersando a coluna de Baependi. Conforme conta Preto poderia mudar os rumos da rebelião, recuperando, para as fileiras
o cônego Marinho, Gabriel Junqueira não era inexperiente e guardava rebeldes, antigos aliados. Os líderes do movimento, no entanto, não che-
péssimas lembranças da última revolta em que tomara parte. Em 1833, gavam a um consenso. A derrota de São Paulo havia sido confirmada e,
no crítico período regencial, ao tomar parte na revolta da Fumaça, que com essa notícia, o presidente José Feliciano voltava a vacilar. Temia que a
chegou a fazer prisioneiro o vice-presidente Bernardo Pereira de Vascon- reação comprometesse “sem remédio e sem utilidade os insurgentes”. Es-
cellos, o prestigioso proprietário viu parte de sua família ser “massacra- tava particularmente interessado nas anistias e daí vinham suas “hesita-
da pela repressão”. Depois dos boatos sobre Sorocaba e do aviso de 23 ções, seus vagares e incertezas”. “Nenhuma resolução enérgica” teria, na
de junho, a reação e o ataque da legalidade se tornaram insuportáveis avaliação do cônego Marinho, “o assenso dele”. Por isso também, Os re-
para Junqueira. Dessa vez, optou pela segurança de seus bens e familia- beldes permaneceram três dias em Queluz sem decidir pelo assalto a Ouro
res. Não só dispersou a coluna, como protestou “obediência à lei de 3 de Preto. Só no dia 29 o exército insurgente pôs-se em marcha. Mas não se-
dezembro de 1841, ao ministério e à autoridade do presidente legítimo”. a par a a cap ita l: tom ou a dir eçã o de Our o Bra nco e, de lá, pre ten dia
gui
ais.*
A rebelião estava “completamente perdida ao Sul da província”.* marchar para Sabará, também dominada pelas forças leg
Queluz, atual cidade mineira de Conselheiro Lafaiete, era a única A decisão dividiu os insurgentes. “Pessoas distintas”, conta O cônego,
vila que resistia. Aí se deu a maior vitória dos rebeldes, ocorrida no mes “julgavam-se burladas e clamando altamente contra o desleixo e vacila-
ção dos chefes fizeram preparativos para se retirarem”. Novamente 3
E dia em que Junqueira dispersava a coluna de Baependi, no dia 26 coluna parava, agora na Bocaina. O descontentamento era geral. À ver-
Foi essa batalha que mudou o rumo das tropas que chegavam à provif”
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prometidos começavam a aparecer nos acampamentos imperiais, e E nhas após chamar Caxias de “delegado”, que Teófilo Otoni, por exem-
isso, gradativamente, as fileiras rebeldes iam se esvaziando iJ
e os Ro l o, SÓ soube da comissão na cadeia de Ouro Preto.
p
movimento ficando isolados. À mesma estratégia era aplicada ao gru
Explicitar essas disputas não significa defender o barão de Caxias e
mais estreito das lideranças. Aliás, foi exatamente usando essa
tátic d Quea os conservadores. Não é o papel de advogado que pretendo exercer. Ca-
Caxias conseguiu cindir de vez a brava coluna de Queluz. Parte d
É Seus xias, sem dúvida, guardava com orgulho suas dragonas. Imagino que
líderes, interessados na anistia e, por isso, não querendo
Mr as | PrOSseguir na «ambém devia ter suas metas pessoais e, nessas ocasiões, talvez pensasse,
resistência, já
tinha suspendido a tomada de Ouro Preto. Mas não ficou
séÓ sim, em acumulá-las. Como para qualquer outro militar, essas dragonas
nisso. Ansiando pela prometida anistia, ao entrar em Sabará, o mes
m eram para ele símbolos de uma carreira bem-sucedida, o que é diferente
grupo decidiu agir clandestinamente. Enviou o corone
l Francisco Vicente de afirmar que era capaz de provocar uma batalha só para aumentar sua
Souto-Maior e o dr. Manuel de Melo Franco como emi
ssários ao b arão de coleção de medalhas. O episódio da comissão pode ter outra explicação.
Caxias, sem comunicar a decisão ao conselho.
Quando a ignorou, e aos ofícios do dr. Melo Franco, Caxias mantinha
A comissão foi um completo fiasco. Nem o doutor
nem o coronel extrema coerência com sua política militar. Seu silêncio — que, de início,
conseguiram estar pessoalmente com o barão de Cax
ias e seus ofícios talvez não tenha passado de um mero desencontro — submeteu o doutor
foram ignorados por ele. O cônego Marinho, mais que
irritado, humi- e o coronel a uma posição constrangedora. Para suplicar o perdão impe-
lhado, pinta um retrato abominável do barão. A história, rial, eles foram procurar o barão em Ouro Preto. Sendo informados de
para ele, é uma
prova irrefutável da “sede de sangue brasileiro” daquele que se que ele havia deixado a capital, seguiram para Caeté. Não conseguindo
fez “dig-
no delegado de José Clemente Pereira”. Carregando nas cores, o cônego achá-lo, decidiram escrever os ofícios. No total, foram dois. O primeiro
atribui a Caxias uma personalidade egoísta, insensível e mesquinha, faz é comedido. Em nome dos “funestíssimos resultados” que a rebelião
dele um homem para quem “ter dragonas dos mais pesados cachos valia poderia ter, se limitaram a “suplicar” uma “anistia geral”. Já no segun-
muito bem a perda de milhares de famílias”. Obviamente, o retrato não do, deram conta para o barão de Caxias de absolutamente todos os de-
é desinteressado. Além de uma grande mágoa, experimentada ao ver sentendimentos ocorridos na Bocaina. Claramente tentavam escapar das
seus ideais políticos serem desqualificados como desorganizadores € represálias do governo. É verdade que não chegaram a citar o nome dos
anárquicos, há ainda uma intensa disputa memorialista. Quanto mais chefes que apoiaram o ataque a Ouro Preto, mas se apresentam — a eles
cruel, egoísta e autoritário é o barão, mais valentes, altruístas e liberais e ao presidente José Feliciano — como aqueles que fizeram todo o esforço
são os rebeldes. Não por coincidência, o relato é publicado em 1844. para dispersar a coluna de Queluz e que, enfrentando obstáculos, ainda
Nesse ano, os liberais retornaram ao governo. Atacar Caxias era atacar assim conseguiram sustentar a contramarcha para Sabará.
O ministério de março e os conservadores. O testemunho do côn
ego Ma-
rinho pode ser visto como uma forma sim bólica de manter-se em armas.
Ele esqueceu, ao pintar esse retrato, o que pôde ver de forma nítida MORTE AO BARÃO DE CAXIAS
em
outros momentos de seu relato: o egoísmo de muitos dos
líderes rebeldes
que, para salvarem a si próprios e suas propriedades, traíra A política do barão voltava a apresentar resultados. Só que isso não
m alguns de
seus companheiros, agindo clandestinamente. Ele mesmo bastava. Era preciso impor uma derrota. Daí a importância de haver
conta, poucas
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uma batalha. Usava sua polícia para aterrorizar e desmobilizar os rebel. A partir daí, a narrativa do cônego Marinho se torna melancólica,
des. Com isso, além de evitar, à sua maneira, uma “efusão de Sangue” mas, como O número de ofícios do barão de Caxias é reduzidíssimo para
entre irmãos, só entrava em combate quando já tinha praticamente asse. a revolta de Minas, sigo dando segiiência a ela.
gurada a vitória. Aceitar a rendição desses “chefes influentes” era não A cada dia passado, a angústia do presidente interino crescia. Sem
concluir a guerra, deixando-lhes uma brecha para o futuro: a chance de notícias do dr. Franco é tendo que manter segredo sobre a comissão, afas-
contarem uma história de resistência, guardando uma memória digna rava-se totalmente dos preparativos de guerra. Com isso, os boatos logo
desses fatos. É mais uma vez o cônego Marinho quem dá a dica para essa voltaram a correr. Joaquim Martins e outros amigos do presidente eram
interpretação. No auge de sua indignação, para mostrar O caráter abso- dados como “vendidos à legalidade”. Teófilo Otoni se esforçava para evi-
lutista do ministério, ele conta que José Clemente Pereira “sujeitou” q tar OS comentários, mas ao mesmo tempo tomava providências para, no
coronel Souto-Maior a conselho de guerra pelo simples fato de ter assu. caso de eles tentarem alguma “traição”, ter como intervir. Seis dias já se
mido a missão de dizer ao governo: “Os insurgentes estão fortes, são haviam passado e nenhuma notícia chegava do doutor e do coronel.
valentes, mas querem depor armas e para isso só pedem uma anistia” Dia 19 de agosto, véspera do dia previsto para o ataque às forças legais.
A derrota em campo de batalha inviabilizou essa memória.53 Tarde da noite, quando ninguém mais esperava, o presidente Feliciano de-
A derrota ocorreu na vila de Santa Luzia. Os rebeldes, com seu presi- cidiu abandonar as forças rebeldes. A atitude, na opinião do cônego Mari-
dente interino, tinham deixado Sabará no mesmo dia em que o dr. Mar- nho, era bem-intencionada. José Feliciano pretendia, com essa retirada
tins e o coronel Souto-Maior partiram em comissão para Ouro Preto, no tardia, impedir a desmobilização do exército. Imaginava que a notícia só se
dia 13 de agosto. Nesse mesmo dia, chegaram a Santa Luzia. O grupo tornaria pública no dia seguinte, após a batalha. O problema é que, por
estava completamente esfacelado. O pior inimigo com que lutavam, ava- consideração, resolveu comunicar sua retirada a amigos que tinham entra-
lia o cônego, era a “desconfiança, produzida pela intriga, habilmente es- do na luta levados por ele. Entre eles, estava o comandante da importante
palhada pelos legalistas”. Deixando a mágoa de lado, o cônego Marinho força da Lapa, Manuel Lemos, que com ele se retirou. O golpe foi duro.
reconhece nesse trecho que Santa Luzia tornou-se território livre para Às oito horas da manhã do dia 20, a insegurança tomava o campo
“todos emissários e portadores de cartas”, conduzidos pelos oficiais da rebelde e as discussões voltavam a dividir a opinião de seus líderes. O cli-
própria vanguarda rebelde para dentro da vila. Na sua maioria, eram ma permaneceu indeciso até a chegada do dr. Alvarenga, que, entrando de
emissários do barão de Caxias. Sua estratégia agora era mobilizar as fa- súbito no quartel insurgente, avisou que tinha acabado de mandar rom-
mílias. Parentes de Manuel Tomás, Pedro Alves e Joaquim Martins, três per fogo sobre a coluna legal postada na Lapa. Tratava-se da 3º coluna,
nomes de peso do exército rebelde, receberam correspondências do ba- sob o comando do coronel José Joaquim de Lima e Silva. Mas não houve
batalha. Os planos do barão de Caxias eram diferentes. Tinha dado or-
rão. Elas podiam ter um tom amigável, acenando com anistias, ou po”
diam apelar para o terror, lembrando o confisco de bens, além, é claro, de
dens a seu irmão para não aceitar combate até o dia 21, data em que ele
mencionar as prisões. O presidente José Feliciano não tomava qualquer pretendia formalmente abrir fogo contra os rebeldes. Teófilo Otoni e Jo-
providência. Ao contrário, aguardava ansiosamente os emissários na €S aquim Martins, presentes na Lapa, voltaram então para Santa Luzia. Mal
perança de que um deles fosse portador de uma pro acabavam de almoçar, quando chegou nova notícia, agora das forças de
posição de paz Se Galvão. O comandante tinha avançado contra as forças do tenente-coro-
trouxesse, ao menos, notícias de sua comiss
ão.'4
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=“ '
DI;
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DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO EM CENA, O DELEGADO DE JOSÉ CLEMENTE PEREIRA
nel Ataíde, fazendo com que o oficial recuasse e, dessa maneira, co O sr. coronel José Joaquim de Lima e Silva, ouvindo o estrépito do renhi-
Mpro.
metesse a coluna do centro, onde se achava o próprio barão de do combate em que eu me achava empenhado desde as 8 14 da manhã,
Essas eram as forças da legalidade na região. No total, duas colun apenas com 800 homens contra 3.000 rebeldes, bem armados e munícia-
ds, Uma dos; e conhecendo que o momento do ataque ordenado para 21 tinha por
comandada pelo coronel Lima e outra por Caxias.
alguma ocorrência que ele ignorava sido antecipado, (...) avançou com a
O sucesso inicial do ataque de Galvão se devia, na versão
da legali- rapidez de um raio e caiu sobre O inimigo.
dade, a um “infame desertor”, que na véspera teria informado aos rebel.
des o tamanho real das colunas legais, bem inferior ao das Entre o relato do barão de Caxias, em sua ordem do dia, e aquele reali-
Colunas
insurgentes. Essa história não é confirmada pelo cônego Marinho, que, zado por Marinho, em suas memórias, há vários pontos de divergência.
em seu relato, desmente essa superioridade tão maior das forças O cônego, para combater a versão oficial, chega mesmo a numerar esses
rebel.
des. O fato é que, após recuar, o exército de Caxias conseguiu se recupe- pontos, didaticamente, sob o título de “imprecisões”. São cinco no total,
rar € bater o de Galvão, que retornou em debandada para Santa Luzia, sobre dados que não há como ser verificados. O que mais agride o cône-
Para o cônego Marinho, se nesse exato momento Caxias tivesse invadi- go, contudo, é a imagem que Caxias cria das forças rebeldes como um
do a vila atrás de Galvão, a batalha estaria perdida. Essa seria, na sua exército bem organizado e com incrível vantagem numérica. Só por isso,
opinião, a atitude mais previsível e, se Caxias não o fez, foi por falta de talvez, ele tenha decidido revelar toda a fraqueza da saga desses homens.
coragem. Este, por sua vez, explica em ordem do dia que preferiu manter É raro encontrar relatos de guerra com uma exposição tão franca dos
o plano inicial de retomar posições para atacar no dia seguinte, 21. medos, conflitos, covardias e traições de seus protagonistas. Mas esse
À entrada desordenada das forças de Galvão em Santa Luzia voltou parece ter sido o preço que o cônego decidiu pagar para combater a ver-
a abater o espírito dos chefes rebeldes. As onze horas da manhã, tudo são oficial: extraía dessas fraquezas a força dos rebeldes mineiros.
parecia estar acabado. Alguns deles começaram a se retirar, outros aguar- Às oito horas da noite, a vila de Santa Luzia estava sob domínio da
davam sem esperança a entrada da legalidade na cidade. Como as tropas legalidade e o barão de Caxias ocupava a casa do presidente Feliciano.
O susto foi grande. No dia seguinte, em carta à esposa, contava que ti-
legais não atacaram, o ânimo rebelde começou a se agitar: parecia haver
nha “ficado sempre no lugar de mais perigo” e, como quem desobedeceu
uma chance. À retirada de Caxias — é ele mesmo quem avalia — deu aos
a suas ordens, prometia “nunca mais fazer outra”. Reconhecia ainda
insurgentes a impressão de fraqueza. Tentando reunir forças, alguns líde-
que teve sorte: “Deus sempre me ajuda e a fortuna não me deixa um só
res instigavam os brios dos fugitivos da coluna de Galvão. Davam gritos
instante”, referindo-se à ação do irmão José Joaquim. Mais uma vez,
de guerra e, entre eles, podia-se ouvir um ecoando a morte do barão de
não deixou passar a chance de fazer suas pequenas declarações de amor,
Caxias. Das duas para a três horas da tarde, um batalhão insurgente deu
falando de sua saudade e que havia comprado, para seus “anjinhos”,
uma longa descarga sobre as tropas legais. Estas começaram, então, à
“bonecas de pedra feitas aqui”.56
bater em retirada. Ao retrocederem, faziam o mesmo percurso
que P ela O marechal barão de Caxias não demoraria muito tempo na provín-
manhã Galvão tinha feito, mas na direção oposta, fugindo de Santa Lu-
Cia, mas precisava comemorar e saudar seus habitantes leais. No dia 1º de
zia. No caminho, perderam bagagens e artilharia. Os rebeldes já se patê”
« E i setembro, fez uma entrada triunfal em Ouro Preto. O presidente da pro-
benizavam. Porém, inesperadamente, ouviu-se “a descarga da 3º coluna - "
víncia e o comandante de Armas da capital, o coronel Morais Cid, espe-
Deixo, então, a palavra ao próprio Caxias:
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qa
na escravidão, e a A carta do visconde da Parnaíba é citada por Octávio Tarquínio de Sousa, op. cit.,
ação dos homens que o sustentavam, poderia não vol. 8., p. 149. À carta de Honório Hermeto, datada de maio de 1840, está na lata
ter vingado. Esse risco
político, assumido por eles cotidianamente, a cada dec 748, pasta 29, IHGB.
isão e a cada com-
bate que empreendiam, não pode ser esquecido. Para o golpe, ver Paulo Pereira Castro, op. cit., p. 63. Sobre o papel de Aureliano
Coutinho, ver Roderick Barman, op. cit., p. 211.
Apud Octávio Tarquínio de Sousa, op. cit., vol. 8., p. 202-3.
Gonçalves de Magalhães, op. cit. p. 115. Para as críticas de Luiz Alves, ofício de
2 de agosto de 1840, Coleção Caxias, caixa 808, AN.
Roderick Barman, op. cit., p. 212.
- Octávio Tarquínio de Sousa, op. cit., vol. 8, p. 209 e vol. 5, p. 235.
10. Adriana Barreto de Souza, op. cit., cap. “A precisa unidade do Exército”.
11. Ver Anais da Câmara dos Deputados, sobretudo as sessões de 27, 28, 29 e 30 de
abril de 1842. O discurso do deputado Andrada Machado foi realizado no dia 30
de abril, sexta sessão preparatória, p. 74. A explicação sobre a abertura das sessões
é dada em discurso pelo deputado liberal José Antônio Marinho, na sessão do dia
28 de abril, p. 25.
12. Na Coleção Caxias do AN, caixa 809, existem ofícios de Luiz Alves de Lima redi-
gidos enquanto esteve no Comando de Armas da Corte. Devido ao pouco tempo
em que permaneceu no exercício, os documentos são apenas burocráticos.
13. Ver Francisco Iglesias, “Minas Gerais”, € José Antônio Marinho, História do mo-
vimento político de 1842, p. 126.
14. Sobre os usos desses fatos pelos conservadores: Adriana Barreto de Souza, op. cit.,
p. 94.
15. Ofício de 21 de maio de 1842, coleção Caxias, caixa 809, AN.
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DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO EM CENA, O DELEGADO DE JOSÉ CLEMENTE PEREIRA
16. Sobre sua chegada a São Paulo, ver o ofício dirigido ao ministro da Gue Era de As cartas trocadas entre Feijó e Caxias foram publicadas no Jornal do Commercio
de maio de 1842, o qual, bem como o ofício do barão de Monte Alegre ao mini
25 29.
de 10 de julho de 1842 e recentemente transcritas no livro organizado por Jorge
da Guerra, encontra-se na Coleção Caxias, caixa 809, AN. As corresp Ti Caldeira, op. Cit. P- 222. Nessa análise usei ainda as reflexões, bastante sensíveis,
com o barão de Monte Alegre, inclusive as duas citadas, foram de Magda Ricci sobre o padre Feijó. Magda Ricci, Assombrações de um padre re-
Teproduzidas a
Anais do Museu Paulista, tomo 5, 1931, p. 375 a 384. o gente, sobretudo cap. 7.
17 Ofício de 25 de maio de 1842, ao ministro da Guerra, Coleção Caxias, cai xa 809, 30. A carta está nos Anais do Museu Paulista, op. cit., p. 378. Sobre os jornais, ver
AN. Nelson Werneck Sodré, op. cit., p. 203.
18. Ofício do coronel Costa Pimentel a Caxias, datado de 2 de junho de 1842 31. A crítica aparece nos debates da Câmara. Anais da Câmara dos Deputados, sessões
3 Coleção
Caxias, caixa 809, AN. de janeiro de 1843. O cônego Marinho, em seu livro, também faz críticas ao trata-
19. Sobre a sugestão do presidente, ver ofício de Caxias ao ministro da Guerra de 25 mento que Caxias teria dado ao padre. Ver José Antônio Marinho, op. cit., p. 165.
de maio de 1842. A situação de Curitiba e os efeitos da carta do coronel Machado 32. A preocupação de Caxias com a segurança de Feijó é explicitada no ofício ao mi-
podem ser lidos nos ofícios do coronel Pimentel a Caxias, de 2 de junho de nistro da Guerra de 21 de junho de 1842. Coleção Caxias, caixa 809, AN. Sobre a
1842
e de Antônio Manoel da Costa ao coronel Pimentel, também de 2 de junho doença de Feijó, ver a bela imagem criada por José Murilo de Carvalho sobre o
de
1842, Coleção Caxias, caixa 809, AN. duelo entre o padre e Vasconcellos. José Murilo de Carvalho, Bernardo Pereira de
20. Ofícios de Antônio Barbosa da Silva e Pedro Paulo de Morais
Rego, ambos data- Vasconcelos, p. 24.
dos de 3 de junho de 1842 e dirigidos ao ministro da Guerra, José Clemente Perei- 33. As queixas de Feijó sobre a inconstitucionalidade de sua prisão podem ser acom-
ra, Coleção Caxias, caixa 809, AN. panhadas por meio das cartas reproduzidas por Eugênio Vilhena de Morais, Ca-
21. Ofícios de José Vicente de Amorim Bezerra ao barão de Caxias, um deles datados xias em São Paulo, p. 144-8. As demonstrações de atenção de Caxias estão na
de 6 de junho de 1842 e dois outros datados de 7 de junho de 1842, Coleção Ca- carta dirigida diretamente ao padre e reproduzida na p. 152 desse livro; no ofício
xias, caixa 809, AN. dirigido ao ministro da Guerra de 21 de junho de 1842, Coleção Caxias, caixa
Za O ofício do barão de Caxias ao ministro da Guerra relativo à polícia militar secre- 809, AN; e na carta particular dirigida ao mesmo ministro, coleção particular, 53
ta é datado de 8 de junho de 1842 e encontra-se na Coleção Caxias, caixa 809, CP18, Luiz Alves de Lima e Silva, AN. Sobre a justificativa dada por Caxias para
manter O tenente na comissão, ver ofício de 7 de julho de 1842, Coleção Caxias,
AN. Sobre os clubes, ver Francisco Iglésias, op. cit., p. 406.
caixa 809, AN. Todas as observações sobre a personalidade de Feijó estão em
23. Eugênio Vilhena de Morais, Caxias em São Paulo, p. 121.
Magda Ricci, op. cit. Nesse caso, ver p. 452.
24. Ofícios do major Pedro Paulo Morais Rego ao ministro da Guerra de 8 de junho
34. Sobre a pacificação do norte, ver: carta particular ao barão de Monte Alegre de 2
de 1842 e de Manoel Alves ao presidente barão de Monte Alegre, datado de 7 de
de julho de 1842, Anais do Museu Paulista, op. cit., p. 379; ofícios de 9, 13, 14 e
junho de 1842. Coleção Caxias, caixa 809, AN.
16 de julho de 1842. Coleção Caxias, caixa 8092, AN.
25. São vários os ofícios que tratam dessa crise. Ver ofício de Manoel Alves ao barão 35. Carta particular ao barão de Monte Alegre de 16 de julho 1842. Anais do Museu
de Monte Alegre de 7 de junho de 1842; o ofício de André Alves de Oliveira Bello
Paulista, op. cit., p. 383.
ao barão de Caxias de 12 de junho de 1842; os ofícios do major Pedro Paulo de 36. Sobre a marcha e a tomada de Taubaté, ver ofício do barão de Monte Alegre para
Morais Rego ao ministro da Guerra de 9 e 14 de junho de 1842 e a ordem do dia o ministro da Guerra de 9 de julho de 1842 e o anexo ao ofício do mesmo barão
6 de junho de 1842, Coleção Caxias, caixa 809, AN. datado de 13 de julho de 1842. Há ainda para o tema, o importante ofício de Ca-
26. A história é contada por Caxias ao ministro da Guerra nos ofícios de 15 e 20 de xias para o mesmo ministro, datado de 16 de julho de 1842. Foi nesse ofício que
junho de 1842, Coleção Caxias, caixa 809, AN, ele comunicou ainda a chegada do decreto imperial e o episódio da vila dos Silvei-
27. Ofício de Caxias ao ministro da Guerra de 2 de julho de 1842, Coleção Caxias, ras. O ofício-relatório de Thomas Henriques é de 17 de agosto de 1842, Coleção
caixa 809, AN, Caxias, caixa 809, AN.
28. a particular ao ministro José Clemente Pereira, coleção particular, 53 CPI, 37. Ver, respectivamente, os decretos de 23 e 25 de julho de 1842, Coleção de Leis do
Luiz Alves de Lima e Silva, AN Brasil.
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394
HEE pr
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO EM CENA, O DELEGADO DE JOSÉ CLEMENTE PEREIRA
38. Todas essas citações e dados estão na carta ao ministro da Guerra, Coleção parti. lizei, para compor essa narrativa, duas fontes: a ordem do dia do barão de Ca-
cular, 53 CP18, AN. ;
Só.
| e
x1as DO de agosto, Coleção Caxias, caixa 810, AN, e o relato de José Antônio
32. Continuo seguindo a carta ao ministro da Guerra, Coleção particular, 53 Cris,
Marinho, realizado entre as p. 176-85.
AN.
Esta carta encontr a-se na lata 481, pasta 1, IHGB.
40. A lista acompanha ofício de 8 de junho de 1842. Coleção Caxias, caixa 809, AN. 56.
57. Sobre
o a movi mentação financeira dos Lima, ver o arquivo do Ofício de Notas do
41. Apud Eugênio Vilhena de Morais, Caxias em São Paulo, p. 176. | |
a entrada é nominal.
42. Sobre a revolta, ver Francisco Iglésias, op. cit., p. 408.
O nome das vilas está em o de Teófilo Otoni, intitulado “Prisão e Itinerário de Santa Luzia para o
José Antônio Marinho, op. cit., p. 115. 58.
Quro Preto, dos ex-deputados à Assembléia Geral dos srs. Dias de Carvalho e
43. Ver ofícios de Caxias para 0 ministro da Guerra, datados
de 7 e 16 de Julho de Otoni...”, foi reproduzido por José Antônio Marinho, op. cit., p. 210-19.
1842; e o ofício do barão de Monte Alegre para o mesmo ministro,
datado de 28
55. Apud Eugênio Vilhena de Morais, O duque
de ferro, p. 67.
de julho de 1842. Coleção Caxias, caixa 809, AN. O
decreto imperial é de 10 de
julho de 1842.
- Os bilhetes foram reproduzidos por Vilhena de Morais. Para
O bilhete do Mara-
nhão, O dugue de ferro, p. 61. Para o de São
Paulo, Novos aspectos da figura de
Caxias, p. 137-8. Como afirmei em outra nota, esses
documentos não estão depo-
sitados em arquivos, só sendo possível consultar os liv
ros citados. É bem provável
que o autor Os tivesse em arquivo particular.
43. Sobre a organização inicial das tropas, ver as ord
ens do dia de 31 de julho, 1º e 8
de agosto de 1842, Coleção Caxias, códice 925
, AN.
46. Apud José Antônio Marinho, p. 199. A aut
onomia de Caxias fica clara nas instru-
ções que recebe do ministério, tanto para São Pau
lo como para Minas. Apud Joa-
quim Pinto de Campo, Op. cit., p. 72-7.
47. Sobre a esperança da anistia, ver p. 138. O
esforço de desacreditar a derrota
paulista, sobretudo o esforço de Teófilo Oto
ni, pode ser visto na p. 151. À pro-
clamação de 19 de junho é reproduzida na p. 199
. Tudo em José Antônio Mari-
nho, op. cit.
48. Toda essa história é contada por José Antônio
Marinho, op. cit., p. 139-40.
49. Sobre a tomada de Queluz, p. 150-51. Para
a indecisão do presidente interino e as
citações, ver p. 154, idem.
50. Essa história é contada com detalhes por
José Antônio Marinho entre as p. 153-62
de sua obra sobre o movimento de 1
842. Para as citações efetuadas, ver, respecti-
vamente, as p. 154, 161-2.
51. À presença de espias entre os
rebeldes é contada na p. 148, e
so na p. 160, idem. a chegada do expres-
2; O termo “disposições policiais”
está na Pp. 164. O envio de emissário é contado a
partir da p. 165, idem.
53. Todas essas citações, inclusive o texto
integral dos ofícios, estão ente
idem. as p. 165-8;
54.
397
vi Sangue-frio, experiência e otimismo:
articulações e conflitos nas terras
de fronteira
é Ru ad
401
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO
alguém que acreditava em seu trabalho e que, além de dirigir a nd o ma nt er -s e em uma posição política
tas política s da co rt e, co ns eg ui
ministerial, tinha grande influência na corte do jovem imperado da ndefinida, oscilando entre O fiscra isTho da família e o apoio do gabinete
xias, no entanto, não recorreu a ele ou a qualquer outra instância a conservados, sobretudo de Honório Eeemeto vias agora ele estava — e
namental. Nenhuma correspondência oficial sobre o sa E sabia quanto — no centro de uma grave crise ministerial, Aureliano Cou-
localizada. O general, assim como fizera em 1833, quando um im E «inho era o chefe do ministério e líder áulico. Como vimos no capítulo
sua esposa prendeu um de seus escravos, preferiu a via informal. Den se ga bi ne te em ma rç o de 18 41 , ap ós de se nt en de r- se
anterior, compôs es
os amigos, mobilizou Monte Alegre. dE dr ad a so br e a po lí ti ca mi li ta r a ser im pl an ta da no Sul.
com os irmãos An
,
Amigo da família de longa data, tendo sido recentemente nomead Para isso, articulou-se com OS conservadores. Um ano e meio depois
s
conselheiro de Estado extraordinário, Monte Alegre também estava E quando Caxias retornava à corte, aclamado por mais duas importante
s, O mi ni st ér io er a o me sm o, só qu e di vi di do in te rn am en -
ra mais próximo do imperador.? Além disso, tinha conquistado essa po- vitórias milita re
sição por conta da “pacificação” de São Paulo, trabalhando com Caxias re li an o, co nt an do co m a pr ot eç ão da Co ro a, pr oc ur ou, desde a
re. Au
n-
cotidianamente, na administração civil da província. Outro clenaa primeira reunião, de juramento e posse do gabinete, afirmar sua asce
e o gr up o. Ob te ve de d. Pe dr o au to ri za çã o pa ra re ce be r se u
que talvez tenha contado na escolha de Monte Alegre foi exatamente o dê nc ia so br
fato de ele não integrar o governo. A carta, em suas poucas linhas,é irmão, Saturnino de Sousa e Oliveira, nessa primeira reunião de minis-
muito clara. Caxias acreditava que estava, pelo menos, entre os “candi- tros. À situação gerou um grande mal-estar. Saturnino se apresentava
datos” do governo a títulos e a um possível posto militar. Não podia para receber instruções relativas ao cargo de presidente da província do
correr O risco de ver seu nome retirado dessa suposta lista por uma quei- Rio Grande do Sul, uma nomeação proposta ao ministério anterior e que
xa desmedida, ou mal encaminhada. A subordinação é o princípio de este, só depois de muita discussão, cedendo à pressão de Aureliano, aco-
uma sociedade hierarquizada. Queria “se fazer lembrado”, mas não po- lheu. Assim, o que Aureliano fazia agora era impor o nome do irmão aos
dia agir de forma afobada. Enquanto fosse “candidato”, explicava a novos ministros, sem ouvi-los, nem mesmo a José Clemente Pereira, che-
Monte Alegre, as “esperanças” se mantinham, até “porque conto com fe da pasta da Guerra. No momento, não houve como reagir. Saturnino
foi empossado semanas depois, no dia 17 de abril. Mas a reação viria.
a proteção de V. Exa.” para não se repetir “o que aconteceu no Mara-
Paulino José Soares de Sousa, ministro da Justiça, poucos dias depois,
nhão, onde fui unanimemente votado há um ano e unanimemente des-
prezado agora”. Referia-se à eleição de 1841. Por aquele pleito, embora promovia em sua casa uma reunião com outros dois ministros, Miguel
Calmon e Clemente Pereira. Dali, saía uma coalizão. Decidiram procu-
não houvesse atas que comprovassem o resultado da votação, Caxias
havia sido eleito representante do Maranhão por unanimidade. Mas, rar O ministro do Império, Araújo Viana, um concorrente de Aureliano
entre os áulicos, para evitar que situações como essa se repetissem. À par-
agora, em 1842, quando uma nova eleição substituía a anterior, conside-
tir de então, o isolamento de Aureliano foi progressivo, sendo a chefia do
rada fraudulenta, que resultou na dissolução da Câmara, o barão não gabinete informalmente deslocada para Araújo Viana.
era mais sequer lembrado pelos maranhenses.
O retorno do barão de Caxias à corte se ajustava perfeitamente aos
dss0 ocorria num momento político especialmente delicado para O
interesses da coalizão. Não por acaso, Clemente Pereira, em carta de 27
a Na época do golpe que resultou na maioridade do imperados; de junho, dava apoio irrestrito às pretensões do barão de assumir O CO-
Caxias, em campanha no “Norte”, foi poupado das intrigas e reviravol-
403
402
pre
mando do Exército legal em Minas, mencionando a satisfação do impe. cisplatina. Mas funcionava também como “manivela” para isolar Aure-
rador e indagando: “Quem poderá com o barão de Caxias, pacificador liano é com isso, ampliar o poder dos conservadores no gabinete.
de duas províncias?” Investia no barão como uma arma importante con- Esse era um bom motivo para O barão não acionar o ministro Cle-
tra Aureliano. O plano é explicado com toda a clareza por Justiniano mente Pereira para tentar obter distinções, ou uma promoção no Exérci-
José da Rocha, deputado conservador, em carta a um amigo: «o. Ainda que sua insatisfação fosse legítima, era uma questão menor
às disputas em torno do comando e, por conseguinte, da política
face
Quanto a Caxias... a política manda por ora engrandecer esse homem
militar a ser adotada no Sul do império. José Clemente Pereira, apoiado
como manivela para derrocar uma influência perniciosa. Conto-te O que
nor Miguel Calmon, foi quem mais trabalhou por sua nomeação. Não
me é confiado em segredo: o imperador gosta muito do Caxias, e quanto na carta de julho,
estava, portanto, quebrando a promessa realizada
mais 0 elogiarem, mais ficará dele gostando. Ora, o Caxias prometeu não
ir para 0 Rio Grande com o Saturnino. O Aureliano, que já tem gana por quando, depois de informar ao barão que o imperador e o ministério
ver que é competidor oposto à glória de seu irmão, não quererá ceder-lhe estavam “contentes dele”, garantiu que o cofre das graças imperiais não
e anuir a uma demissão pouco honrosa, a menos que o Saturnino seja seriam “mesquinhos” em remunerar seus serviços. Era preciso apenas
eleito deputado pelo Rio de Janeiro, o que é mais que muito problemáti- «derrocar essa influência perniciosa” para que o melhor dos prêmios
co. Assim, terão de lutar Caxias e o ministério com Aureliano e o paço. viesse, a chance de pôr fim a uma rebelião que havia sete anos dominava
o Rio Grande do Sul.
Armada a trama, o resto era questão de tempo. Depois de Minas, o ba- Essa rede política é que sustentou o nome do barão de Caxias nas
rão de Caxias era o pacificador de três províncias. Um candidato forte disputas pelo cargo de comandante do Exército imperial. Afirmar isso
ao comando do Exército em operações no Rio Grande do Sul, mas não não diminui seu mérito como militar. O sucesso obtido nas três campa-
ao lado de Saturnino de Oliveira. E não era só Caxias que recusaria a nhas anteriores foi chave para tornar inapelável para Aureliano Couti-
companhia do presidente, este também não aceitaria trabalhar com O nho o afastamento de Saturnino. Na verdade, era exatamente sua
barão. Tinha seus próprios planos militares para a província e, para exe- capacidade militar que interessava aos conservadores. Acreditavam nela
cutá-los com liberdade, precisava de um comandante de Armas menos para debelar o movimento farroupilha, por isso seu nome era tão inte-
atuante, capaz de acatar fielmente suas ordens, sem discuti-las. Quando ressante para o partido. Mas o partido também era a chave para que O
o grupo de Araújo Viana, seguindo uma orientação tipicamente conser- barão pudesse dar continuidade à sua carreira, tendo quem defendesse
vadora, propôs que se investisse uma única autoridade com funções civis sua “candidatura” em momentos como esse.
e militares, a demissão de Saturnino estava selada.º A memória instituída sobre a trajetória do futuro duque apaga esses
Nomeado para o comando do Exército no dia 24 de setembro, o ba- traços. Caxias não defendia o que genericamente se denomina “interesse
rão de Caxias ficava diretamente vinculado ao Partido Conservador. Era nacional”. Defendia o projeto nacional conservador, elaborado e susten-
o nome do partido para executar uma política mais dura contra Os farra- tado por certos grupos. A intenção deste capítulo é justamente mostrar
pos. Nisso, sua nomeação expressava o indiscutível fracasso da política como essa rede política se consolidou. Ela resulta da ação de homens,
liberal dos anos anteriores, menos repressora e mais preocupada em con que, conforme vimos, só depois de muitos avanços e retrocessos conse
temporizar, cuidando apenas de isolar os rebeldes de seus partidários nã guiam derrotar a “cultura da liberdade” dominante nos anos anteriores.
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DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO
Caxias integrava essa rede. Colocou sua capacidade militar a Serviço des.
Antes de deixar à província, em 1846, Caxias ainda fez a eleição para
se projeto, acreditando e lutando por sua implantação. que o colocava no in-
Essa luta não deve
seu artido. Saiu eleito senador, um cargo vitalício
ser pensada só em seu sentido estrito, como emprego das armas. Caxias u as duas va-
não era apenas um teri É do estreito grupo da elite política imperial, e asseguro
“braço armado” do partido. Ele também fazia polít;. candidatos
ca. Por meio dessa gas d o Rio Grande do Sul na Câmara dos Deputados para
circulação geográfica, se inteirava do funcionamento Conquis tava, assim, uma posição proeminente no
també m conserva dores.
da política local e, apesar de vender uma imagem de neutralidade,
inter. partido e na
política nacional, como grandei trunfo conservador na guerra.
)
feria em sua organização.” Daí a importância
dos espiões, intrigas e anis- Nãoã conquistou esse lugar por ter exterminado seus oponentes. Sua inten-
tias. Pela ação dos espias, acumulava informaçõ
es extremamente úteis ção, sobretudo em rebeliões de brancos proprietários -—a Farroupilha foi
para espalhar a “cizânia” e, o que não é menos impo
rtante, para selecio- uma delas —, era identificar os poderes locais com a monarquia, subordi-
nar nomes dispostos a aderir à “causa do impé da Justiça, Na-
rio”. Ganhava duplamen- nando-os. Como anos depois, em 1853, o então iainistão
te: difundia a intriga e conseguia adesões. A
anistia era uma moeda de buco de Araújo, defendeu no Parlamento, Em discurso ic se imaçãa
barganha forte e, se somarmos a ela o poder de
nomeação do general, fica célebre, que o extermínio não podia ser a política pretendida pelo poncê
fácil entender como ele podia, sem as armas, apesar
de sob sua constante pio que se auto-intitula conservador, simplesmente porque o princípio
proteção, reorganizar essas forças locais. Quando
ele seguia como presi- não destruiria “as influências fundadas na grande propriedade e na
dente da província, esses poderes aumentavam.
Afinal, ampliava sua ca- riqueza”.? Mesmo na guerra, recorria-se à política. Entre E aços, Ca-
pacidade de negociação: estava em suas mãos também
a capacidade de xias era considerado o segundo “melhor bom senso? do império, só ficar
preencher cargos administrativos.
do atrás do marquês de Monte Alegre. Esse “bom senso”, para ocuam
Não por acaso, os conservadores defendiam essa política Nabuco, resultava da maneira como conseguia combinar “sangue-irio :
de concen-
trar poderes civis e militares em uma única pessoa. Quando “experiência” e “otimismo” no trato com homens, na guerra ou na vida
Caxias “pa-
cificou” a província do Rio Grande do Sul, deixou montada civil. Opinião semelhante era compartilhada pelo imperador, que, ao cha-
uma rede
político-militar que seria acionada em outros momentos, de guerra mar o marechal para presidir o gabinete ministerial de 1861, stmeáça
ou
eleições. A relação estabelecida com David Canabarro é um bom exem- justamente seu “espírito conciliador”, o fato de que “sempre foi dos con-
plo dessa estratégia. O líder Farroupilha, em 1851, empunhari servadores firmes, porém moderados”.!º
a armas
contra Oribe; em 1852, contra Rosas; e, na década de 1860, voltou a Esse perfil, como pretendo mostrar, se difundiu após a ampla nego-
pegar em armas para defender os interesses do império, lutando dessa ciação que realizou para “pacificar” a Farroupilha. À extensão dessas
vez contra 0 Paraguai. Ainda durante a Farroupilha, em 1843, o general negociações foi tal que preferi dividi-las em dois capítulos. Neste pri-
Bento Manuel escreveu ao barão de Caxias, afirmando que já era hora meiro, procuro examinar as alianças que Caxias firmou para conseguir
de fazer nomeações para postos civis como agir no Rio Grande do Sul, cujo interior, com suas coxilhas, constituía
para a “Câmara Municipal,
juízes de paz, de órfãos, etc.” As cidades de São Borja e Alegrete O primeiro grande desafio dos oficiais imperiais. Essa foi uma etapa de
eram,
na opinião do general, as que mais precisavam reestruturação do Exército e de reconhecimento do terreno, tendo sido
de tais medidas. Acredi-
tava que por meio dessas nomeações administrativas conseguiriam maio
r também a época onde ocorreu maior número de combates. A partir de
controle sobre a região, até então importan
te reduto rebelde. 1844, estes diminuem. O próximo capítulo é dedicado a esse segundo
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quer
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mais central possível entre as duas referidas cidades” e a troca acon r o governo de suas negociações com os rebeldes. Não é difícil
“duas vezes por mês em dias certos”,!6
tecer
informa
imaginar O motivo de tantos Feda dos A ascensão de Caxias implicava
No dia 9 de novembro, o barão de Caxias era empossado em Porto
Alegre. Novamente seus ofícios não trazem relatos, nem sobre a rec necessariamente O TECUO de alguém. Em uma sociedade de corte, as chan-
“Pção prestígio são hierarquizadas. Quem organizava esses níveis hierár-
ces de
oficial, nem sobre festas. Ao ministro da Guerra, o barão se limito
L ce quicos, por meio da distribuição de cargos e títulos, era o imperador, e,
municar o “bom agrado”
3 :
com que foi recebido
!
pelo povo e pelo Exército
a E
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DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO
novamente a Secretaria de Governo. Mas sobre essa expedição, também - e no instituto, em reunião promovida por seus sócios, a proposta de
silenciaria. Não registrou uma linha sequer, nem sobre a viagem, Descrj. E r sua biblioteca em um “depósito central”. Por essa proposta,
ções dos “usos e costumes” da região, análises da guerra, pesquisas e odes ane PE publicado no império uma cópia deveria ser obrigatoriamen-
não ocupariam o secretário no Rio Grande do Sul. Apesar disso, vale des. E a E ara o IHGB. Além disso, requeria-se para o instituto a guarda
tacar que essa é a única expedição militar lembrada nos verbetes sobre sua é pa da administração provincial, sobretudo de impressos, pen-
vida. À experiência anterior, no Maranhão, geralmente nem é mencionada, ER com isso, na criação de uma “central de dados estatísticos” le-
dessa
Gonçalves de Magalhães, como secretário, só é conhecido por sua atuação a nas províncias.?? Gonçalves de Magalhães pão participou
no Sul.” Por esta, ganhou de alguns autores o lugar de “braço direito” do dia em que ela ocorreu, 4 de dezembro , ele já estava em Porto
reunião. No
barão de Caxias e, em função das longas ausências do general, quase sem- Alegre. Mas certamente essas idéias já vinham Ss informa mé discu-
pre no interior, envolvido em perseguições, Walter Spalding afirmou até do instituto e talvez esteja aí a razão de todo seu Eae
tidas pelos sócios
que o secretário teria sido uma espécie de “governador civil”.25 Quando o poeta embarco u com o barão de Caxias
nho administ rativo.
quanto este, atrelado ao projeto conserva dor. j :
De fato, ele assumiu dessa vez peso maior na administração da provín- estava, tanto
cia. Nos arquivos, é possível vê-lo despachando pelo barão, assinand Outra tarefa assumida pelos sócios do IHGB foi a de criar nm panteão
o
mapas estatísticos, elaborando quadros informativos sobre diversas ques- de papel”, erguendo os mitos e as representações da nova nação. À revista
,
tões, civis e militares, além de ter mantido, ele próprio, correspondência do instituto — Revista do IHGB -, logo em seu segundo te: em 1839
direta com o ministro da Guerra. Essa sua dedicação à burocracia, con- abriu uma rubrica dedicada aos “brasileiros ilustres?” No Maranhão,
tudo, não deve ser vista como uma excentricidade, ou uma experiên Gonçalves de Magalhães já tinha ajudado o então coronel is a se cons-
cia
menos importante na biografia do poeta. Gonçalves de Magalhães era um truir, por meio de suas proclamações, como um “agente neutro”, represen-
homem de letras e continuava a sê-lo quando assumia cargos burocrát tante da Coroa isento em meio à disputa política local. Ao final, cantou
i- a
cos. Como membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, suas glórias militares, exigindo que os feitos do coronel fossem
tinha
um interesse preciso nessas viagens: conhecer as regiões rebela dos pela nação. Agora, no Rio Grande do Sul, não descuidaria dessa tar
das para do barã o de Caxi as, publ icad a no dia E sua pos-
incorporá-las ao projeto conservador de uma monarquia sediada no À primeira pro cla maç ão
Rio se, dia 9, fazia dele um militar predestinado a salvar O Império:
de Janeiro. Podia fazer isso, como no Maranhão,
intelectualmente, pesqui-
sando e escrevendo. Mas estava igualmente eng As
ajado nesse projeto ao Rio-grandenses. — Sua Majestade o Imperador, confiando-me
dedicar-se apenas a assuntos estritamente administrativos. A adm cia desta província e o comando em chefe do bravo Exêrcito des Eá
inistra-
a
ção pode ter vários usos. Um deles, já mencionado aqu
i, é como moeda de recomendou-me que eu restabelecesse a paz nesta parte do Império
Div
barganha política. Cargos são negociados para melhor a restabeleci no Maranhão, em São Paulo e Minas, € à Providência
controlar uma ré- ins tru men to de paz para à sa e js
gião. Há, porém, outros usos. Gonçalves de Magalhães, co na que de mim tem feit o um
mo secretário nasci fará que eu possa satisfazer os ardentes desejos do magnân
e
de governo, tinha acesso irrestrito a papéis, docume
ntos e arquivos, po- narca e do Brasil todo. Bravos rio-grandenses! Segui-me, ea paz or
dendo, por meio da coleta e sistematização e sua
de dados, produzir instrumen- nossos esforços. Viva a nossa santa religião. Viva O imperador
tos capazes de legitimar a escrita de uma hi
stória nacional. Essa tarefa, em gusta família. Viva a Constituição e a integridade do Império.
1842, era prioritária para os sócios do IH
GB. Exatamente nesse ano, dis-
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O texto claramente reedita a imagem de “agente neutro”. Nele ra isso, do que recuperar a Bíblia. Primeiro, comparam Caxias a
Caxias segue sendo apenas um representante da Coroa, sem que » suasO barão da
vin
lhos Pá
ob a proteç ão de Deus, Caxias poderia , tal como o personagem
Josué. 9
lações políticas sejam explicitadas. Acrescenta-se, porém, um elemento NE bíblico, manipular os elementos da natureza e fazer até mesmo parar O
e forte: a interferência da Providência divina. Ela vinha fazendo do barão A
sol para prosseguir com uma batalha que estivesse correndo favorável a
“instrumento de paz” para o império. O curioso é que, para noite só
demonstrar a seu Exército. Assim, todos veriam, com “espanto renovado”, a
interferência, recorre-se à experiência histórica. cia é ao episódi o do “chamamento de
Suas vitórias anterina cair após seu triunfo . Outra referên
Maranhão, em São Paulo e Minas, tornam-se prova de seus inimigo s, Gedeão se sentia
irrefutável da Po K Gedeão”. Quando, diante do avanço
Providência divina. Isso porque ela atua sobre o indivíduo. desamparado, Deus lhe falou por intermédio de um anjo. Garantiu ao
O barão de E
xias não é só um general competente: é um escolhido,
e esse seu Caráter es. soldado que, apesar de seus parcos recursos, venceria a guerra e livraria
pecial só pode ser observado por meio de sua própria ação no mundo.% A
Israel dos inimigos. E assim se fez, por Sua interferência: o anjo do Se-
talvez esteja mais um bom motivo para ele começar a prestar
mais atenção nhor colocou os inimigos de Israel à espada de Gedeão.
no conteúdo de seus ofícios. A omissão de certos detalhes Oselementosrecuperados pelos “profetas do apóstolo são Tomé” —-nome
não só retira da
oposição a possibilidade de fundamentar melhor suas críticas, como pelo qual o artigo identifica os farrapos —, apesar de exagerarem a imagem
reforça
essa imagem, do “predestinado”. Ou seja, o ergue como herói. evocada na proclamação, acertam ao destacar a falta de modéstia do barão
Diante de tamanha pretensão, os farrapos não perderiam a chance de Caxias. Irritado com os “invejosos” da corte imperial, Caxias chegou a
de
ironizar 0 barão. Num jornal da cidade de Alegrete, O Americano,
pu- Porto Alegre — é ele mesmo quem afirma — “resolvido a tudo arrostar em
blicaram um longo artigo sobre o “profundo saber e modéstia do exmo. pouco tempo”. Vinte dias depois de sua posse, assegurava ao ministro Cle-
sr. barão de Caxias”:3! mente Pereira, referindo-se de novo aos “invejosos”, que a guerra “não era
tão difícil como eles o apregoam”. Faltava-lhes, na sua opinião, perícia,
Quem há que reprova a moderação e a decência com que s. exa. fala de si atividade e força de vontade. Por isso, após relatar suas primeiras medidas
mesmo? (...) O perigo que nos ameaça é iminente. Se o nome des. exa. pela
na província, podia afirmar convicto que na guerra “mais faz quem quer
fama de sua habilidade estratégica era capaz de inspirar-nos pavor, que re-
do que quem pode”.
ceio incutirá agora, quando o braço invisível do Onipotente o escuda €
Nesses vinte dias, Caxias vinha reorganizando o Exército. Em atenção
protege? Instrumento de um Deus, tudo lhe obedece: a terra, O céu e a na-
as “instruções” do ministro, logo no início de seu primeiro ofício-relatório
tureza; Os próprios elementos lhe estão subordinados e se é preciso pata
completar seus triunfos que pare o sol, veremos com espanto renovado esse avisava que, após três dias na capital, partiu para O rincão dos Touros,
portento com que o criador do Universo honrou as façanhas de Josué. Novo uma estância de invernada, a fim de “passar em revista uma brigada de
Gedeão, s. exa. será o anjo da vitória no Brasil, como aquele foi de Israel. cavalaria que ali se achava e [verificar] a cavalhada de reserva”. Tinha,
porém, más notícias. Dos 5.000 cavalos que seu antecessor— Saturnino de
A ironia obviamente recai sobre esse misticismo. Os farrapos podiam Oliveira, vale lembrar — havia contabilizado na estância, o barão encon-
reconhecer, na trajetória do barão, sua “habilidade estratégica”. Isso já trou apenas 3.260. Além disso, segundo diz, os animais não estavam “em
lhes provocava “pavor”. Não era preciso recorrer ao Onipotente. Uma estado de poderem prestar serviços antes do fim de janeiro”. Para piorar,
vez realizado o apelo, sentem-se à vontade para interpretá-lo.
Nada mé não podia contar com “mais de 2.600 homens de cavalaria capazes de
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DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO
operar fora de seus distritos”, enquanto os rebeldes tinham uma força de Caxias se referia exatamente ao jornal O Americano. Mas a resposta
3.500 homens dessa arma. Assim, definia sua estratégia a partir desses |j. O general apenas se
à sua proclamação ainda não havia sido publicada.
mites. Pensava em guarnecer São Gonçalo só com canhoneiras e uma po- rava para a guerra. Realmente estava otimista. Nesse ofício, ao tra-
prepa
lícia de 100 cavalos, puxando toda a força para O rio Jacuí, onde ele prazo estimado para O término da campanha, Caxias afirmou
tar do
acreditava que se desenrolaria O teatro de guerra. Havia pensado ainda em
“com roda franqueza que se algum acontecimento inesperado me não
criar uma infantaria a cavalo e, mantendo a modéstia, depois vier transtornar O plano que tenho concebido, suponho que por todo o
de comuni
car a idéia, disse ao ministro não entender por que ninguém havia lembra-
mês d e março terei como anunciar o resultado de um combate geral”. Ou
do disso antes. Outras medidas procuravam reduzir as despesas com a seja, ele imaginava finalizar uma guerra de sete anos em quatro meses.”
guerra. Caxias informava, nesse mesmo ofício, que tinha iniciado os cor.
Toda essa confiança, como se pode notar, não advinha da crença numa
tes de despesa pela “Repartição da Guerra”. Já havia dissolvido o bata- proteção divina, muito menos de uma má avaliação do estado do Exército
lhão provisório estacionado, parte em Porto Alegre, parte no Rio Grande;
imperial. Caxias, em fins de novembro, tinha noção exata das dificuldades
tinha demitido trabalhadores que com “jornais avultados” cuidavam de
que enfrentaria. Ele apostava, na verdade, em sua “perícia e força de von-
“tirar de dia a areia que o vento de noite acumulava sobre as trincheiras tade”. Além disso, não falava só em seu nome. Um dado importante para
do Rio Grande”, empregando no serviço os próprios soldados de sua entender seu otimismo era o grau de entendimento que o unia ao ministé-
guarnição; e demitiu oficiais reformados sem préstimo na guerra. rio. Isso lhe dava confiança. A resposta de Clemente Pereira ao relatório do
À correspondência com a corte também já estava estabelecida nos barão, em 12 de dezembro, oferece uma idéia do que era essa relação. O
moldes exigidos pelo governo. O lugar escolhido para a troca de malas tratamento dedicado a Caxias já chama a atenção. Clemente Pereira sem-
foi Torres, vila na divisa entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Apro- pre abria seus ofícios com um “exmo. amigo e sr. barão”, e, nesse ofício do
veitando essa mudança, Caxias providenciou também para que mesmo dia 12 logo na primeira frase confessava que “esperava com impaciência
Os ofícios que chegassem fora dos dias previstos pudessem seguir sem por notícias suas”. A cumplicidade era grande e vinha do desejo prioritário
muita demora à corte. para ambos de pacificar a província. O ministro não disfarçava sua alegria
Em seguida, ainda nesse ofício, o barão fez suas primeiras requisi- ao descrever os elogios que Sua Majestade tinha feito ao general após ler
ções. Na verdade, foram apenas duas. Notificando o ministro da total seu relatório e, ao expor sua própria opinião sobre o documento, Clemen-
falta de armamentos, solicitou mais 3.000 armas, além das 2.000 que te Pereira escreveu entusiasticamente: “quanto a mim, eu me felicito por
havia pedido, como reserva, antes de deixar a corte. Na outra requisi- ter encontrado quem tão perfeitamente me entenda”.*
ção, solicitou uma “imprensa portátil”. Pedia que ela fosse enviada com Certamente esse era o tipo de relação que Caxias buscava quando,
a maior brevidade, para que pudesse riscar mapas e, desse modo, conse: assim que chegou ao Maranhão, ansioso, escrevia à corte sobre sua po-
guir “regularidade na escrituração e na campanha”. Mas havia outro lítica militar, perguntando se ela agradava ao ministério. Naquela época,
motivo para essa urgência. Caxias soubera que os rebeldes criaram “um em função da intensa disputa em torno da maioridade do imperador e
jornal em Alegrete” e achava muito conveniente “ter também no campo das exigências da guerra no Sul, o governo pouca atenção deu a suas
esta arma”. Para O barão, a imprensa seria de grande valia para desfazer cartas. Essa atenção era, agora em 1842, um diferencial. Caxias estava
“embustes”? que os farrapos espalhavam. totalmente amparado pelo governo. Nesse ofício, O ministro Clemente
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Pereira atendia a todas as exigências do barão. Sobre as armas, garanti de São Paulo, Rafael Tobias de Aguiar, foragido desde junho,
que mandaria “sem demora” todas as 5.000. Aliás, não só as garqaia foi preso depois de uma ação que se tornaria símbolo de seu empenho e
como avisou que ia enviar mais 1.000 “espingardas fulminantes”, a
renacidade. Desde o término das amp nas de São Paulo e Minas, havia
modelo novo, que os ingleses vinham testando. Apesar de sua formação e cidades
vários líderes rebeldes nessas condições, errando por vilarejos
coimbrã, no curso de direito, o ministro tinha um enorme interesse por
do interior. Sem anistia, todos eram procurados e alguns tentavam se re-
assuntos militares, desenvolvido na juventude, quando combateu a Inva- articular politicamente. Este era o caso de Rafael Tobias. Ele havia fugido
são francesa na península Ibérica. Tinha se alistado, assim como Outros
durante o cerco a Sorocaba e, desde então, vários boatos corriam, anun-
jovens portugueses de Coimbra, no “batalhão acadêmico”, servindo sob
ciando seu paradeiro ora entre Os rebeldes de Minas, ora entre os farrou-
o comando do que de Wellington até 1815, ano em que embarcou tentou
pilhas. Saturnino de Oliveira, na última vez que esteve no Sul,
para o Brasil. Só aqu deu início a sua carreira na magistratura, tendo Mas,
checar alguns boatos, organizando buscas nos lugares denunciados.
exercido, durante o reinado do primeiro imperador, o importante cargo
ao final, nada se confirmava. Na breve passagem de Caxias pelo Dester-
de intendente-geral de polícia da corte.'* Essas experiências com certeza
ro, novo boato ganhava as ruas e, assim que O barão chegou à capital
contribuíam para aproximá-lo mais de Caxias, além do que, não é de- gaúcha, o comandante da polícia de Vacaria, vila ao norte do Rio Grande
mais acrescentar, tinha quase a mesma idade do pai do barão, sendo do Sul, o procurou para avisar do boato. Falava-se que Rafael Tobias,
apenas dois anos mais moço que ele, e deve ter acompanhado, assim indo em direção às Missões, havia requisitado a Bento Gonçalves, líder
como outros políticos da corte, a ascensão de Caxias na carreira. farrapo, um auxílio para poder reunir-se a seu Exército. Tudo era muito
Como decorrência desse perfeito entendimento, assegurava também suspeito. Sabia-se até detalhes do trajeto cumprido por ele: acompanhado
ao barão o envio, até maio, de fardamento completo para 8.000 ho- de quatro a cinco indivíduos, Rafael Tobias teria passado por Guarapua-
mens. Essas fardas nem eram das requisições mais urgentes. Em seu ofí- va, uma vila paulista (atual território do Paraná) e, depois, por Campos
cio, O barão de Caxias tinha mencionado apenas a falta de “capotes”. Novos, em Santa Catarina. Apesar de todas as “denúncias falsas” dos
De resto, considerava mesmo que o “Exército está menos mal fardado”. meses precedentes, o barão não titubeou. No dia 13, quatro dias após sua
Uma avaliação desse tipo é rara nos ofícios. Geralmente sempre há ca- posse, expediu ordens ao brigadeiro José Maria Bittencourt, comandante
rência de fardamento durante as guerras. De São Luís, por exemplo, das forças acampadas em Santa Bárbara, para que enviasse uma força na
Caxias escrevia à corte envergonhado com o estado de sua tropa. Não direção de Passo Fundo, a fim de colher informações e, confirmando a
sei se apenas para mobilizar o então ministro da Guerra, que custava à denúncia, interceptar, nessa cidade, Rafael Tobias.
atender suas necessidades, mas ele, em seus ofícios, falava em soldados À busca levou quase um mês. O capitão que a comandava, Benedito
seminus. Toda essa dedicação de Clemente Pereira era, sem dúvida, uma Martins França, ao chegar a Passo Fundo, enfrentou dificuldades para
novidade para o barão. A “imprensa portátil” solicitada também já es: obter informações, mas, instruído quanto à importância de sua comis-
tava sendo providenciada e o ministro apoiava, sem restrições, todas às são, insistiu, descobrindo que o líder paulista já havia passado por lá e
medidas adotadas na província. seguia para Palmeira. Foi nessa estrada, para Palmeira, que Rafael To-
Para aumentar ainda mais a autoconfiança do barão, antes de com- bias foi preso. Entre os que o acompanhavam estava seu enteado, Feli-
pletar um mês de sua posse em Porto Alegre, O presidente rebelde da ciano Pinto de Castro. Ambos foram embarcados para a corte na barca
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a vapor Campista, e, por ordens do barão de Caxias, deveriam ser leva. 1 - era filho de desembargador -, ingressou em uma força miliciana
dos diretamente para a fortaleza de Villegaignon. Durante toda a Viagem com a patente de capitão, sem passar pelos postos inferiores. Terminada
estariam sob a guarda do tenente-coronel Antônio João Fernandes Pizar. a campanha, decidiu seguir na carreira, sob a proteção de Caxias. Parti-
ro Gabizo. A patente do oficial responsável pela guarda indica a impor. cipou das três expedições subsequentes. Quando voltou de Minas, o ge-
tância dada ao prisioneiro, um político liberal de prestígio. O Ministério neral solicitou à Coroa sua promoção para major. Ricardo Sabino só
festejou a notícia. À determinação do barão e sua “fortuna” impressio- não foi promovido porque, como afirma um biógrafo, era o que se defi-
navam.*” Considerando esses dois primeiros meses, tinha-se q
Sensação nia como “caipora”, um homem sem sorte. No Rio Grande do Sul, em
de que em pouco tempo ele liquidaria mais essa comissão, provando função do apoio dado por Caxias, que inclusive havia reiterado de lá a
que, de fato, ela não era tão difícil como apregoavam os “invejosos”, solicitação de sua promoção para major, mantinha esperanças de ser
lembrado pelo imperador.*
Nessa rede de relações aparecem ainda alguns parentes. Os irmãos
O FANTASMA DE BENTO MANUEL Francisco de Lima e Carlos Miguel de Lima o acompanhavam desde São
Paulo, e o primo Luís dos Reis Montenegro veio com Caxias para a cor-
Domingos Gonçalves de Magalhães não foi o único companheiro a em- te, depois da Balaiada. Francisco de Lima, até seguir para São Paulo, em
barcar com Caxias para o Rio Grande do Sul. Ele também contava na junho de 1842, era comandante da Guarda de Municipais Permanentes,
província com o apoio de alguns oficiais de sua inteira confiança. À lógi- seu primeiro posto de comando. Reproduzia exatamente os passos do
ca da criação de uma rede de relações pessoais/profissionais seguia em irmão. Enquanto Caxias havia se afastado do comando da guarda para
pleno funcionamento e, a cada nova expedição, tal rede tendia a se am- seguir com o ministro em viagem ao Sul, Francisco se ausentava para
pliar. Ainda que não tenha realizado para essa pesquisa um trabalho servir sob as ordens do irmão em São Paulo. Pelos serviços prestados
sistemático de levantamento e cruzamento do nome de todos os oficiais nesta campanha e na de Minas, obteve a efetividade no posto de major,
empregados em cada uma das expedições comandadas pelo barão,é no qual seguia agora para lutar no Sul. Carlos Miguel, que escapou de
possível notar, por meio de uma leitura atenta, a repetição de alguns ser punido pelo crime cometido em 1833, voltou ao Exército em 1842
desses nomes. Agostinho Piquet é o mais antigo deles. Acompanhava como tenente sob a proteção do irmão, para combater os paulistas. An-
Caxias desde o tempo da Guarda de Permanentes. Tinha assentado pra- tes de seguir para o Sul, foi promovido a capitão. Luís dos Reis Monte-
ça como soldado em 1836, nesse corpo de polícia, e agora, seis ano negro, filho de Joaquim Silvério, tinha deixado São Luís como capitão e
depois, servindo fielmente ao barão em todas suas campanhas, seguia partia agora para o Sul, como major, indicado pelo primo Caxias.”
para O Sul como primeiro-tenente. A ascensão foi rápida, e já ocupavê Outros dois nomes se incorporavam a essa rede durante a campanha.
uma boa posição para alguém de origem humilde. Um deles também era parente, mais um primo, João de Souza da Fonseca
Ricardo Leão Sabino foi outro militar fiel, seguia o barão de Caxias Costa. Bem jovem, João tinha acabado de ingressar na carreira € fazia sua
desde o Maranhão. Apesar de ser professor de latim, gozando de certo primeira campanha militar. Mas a afinidade com Caxias foi tanta que, a
partir de então, nunca deixou de acompanhá-lo em suas expedições,
prestígio em sua província, Ricardo Sabino resolveu pegar em arm ES
transformando-se em um de seus maiores amigos. O outro era ninguém
para defender a causa imperial durante a Balaiada. Por sua condiçã?
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menos que Miguel de Frias e Vasconcellos, que tinha protagonizado co rom imperatl vo, escrevia ao ministro: “y. exa. bem sabe que não sou
Caxias, em 1832, uma cena de perseguição pela rua do Areal. Miguel à a seu res peito [de Frias], e por isso deverá tomar em considera-
suspeito
Frias, à época, era um liberal exaltado. Preso na fortaleza deVillegaignor ção o que levo dito”.*!
e mal informado, se lançou em um movimento abortado. Caxias, ou me.
O caso Miguel de Frias expressa com precisão o modo como Caxias,
lhor, o jovem Luiz Alves foi encarregado pelo ministro Feijó de reprimir muit o jov em, ent end ia e des emp enh ava seu ofício como militar.
desde
a revolta. Partiu para O campo, dispersou o grupo e, de adversário, ele sempre avaliava a posição deste antes de tomar
imediato, se lan- Diante do
çou em perseguição ao major Frias, que, a galope, tentava escapar. En. tude. Eliminar era sua última opção. Daria preferência à
controu-o escondido na casa de um amigo comum e isso lhe bastou. Luiz
€
qualquer ati alguns casos, até liberava o implicado. € [
Vinha agindo assim,
prisão e, em
Alves decidiu não levá-lo preso. Simplesmente, deixou a casa. Miguel de gue rra , co m reb eld es de me no r gra nde za. Dep ois poderia
nesses anos de
Frias, dias depois, embarcou para os Estados Unidos.“ alg uns del es no ser viç o da Cor oa, co mo oco rre u co m Mi-
até empregar
Só agora, em 1842, Miguel de Frias voltava ao Exército imperial, de Fri as. Ag in do des se mo do , su bm et ia o opo nen te, às vez es, a ima
guel
r Ignácio
Sua carreira, em função do episódio de 1832, tinha sido interrompida
. posição humilhante, como fez, em São Paulo, com o monsenho
Permanecia major, enquanto Caxias, oficial de sua geração, de s de Oli vei ra Ca br al ? e ain da cri ava co m ele um vín culo pes-
na época Marcon
também um major, já era marechal-de-campo. Esse foi o preço um a dív ida de gra tid ão. Qu an do dir igi da a reb eld es bem pos iciona-
que pa- soa l,
iando de
gou pela derrota de seus ideais políticos. Todavia, como pertencia a uma dos na sociedade, a estratégia era extremamente atraente, ampl
família tradicional de militares portugueses, obteve O perdão da Coroa e ma sig nif ica tiv a a red e de rel açõ es pes soa is do bar ão. Ess a est rat égi a,
for
pôde voltar à carreira. No Rio Grande do Sul, assumiu o posto de quar- após alguns anos de circulação por várias províncias, lhe garantia uma
tel-mestre-general. Cabia a ele executar o corte de despesas recomenda- boa margem de negociação político-militar.
do pelo ministério. Em pouco tempo, descobriu “muitas espertezas” nas É claro que, no caso de Miguel de Frias, há uma particularidade. Em-
obras militares da região, além de ter identificado irregularidades no bora, no Rio Grande do Sul, Caxias tenha tentado convencer O ministro
pagamento de oficiais. Tudo isso favorecia a imagem do barão de Ca- Honório Hermeto do contrário, anos depois, ele próprio confirmou ter
xias, e de seu governo, junto ao imperador. Assim, as relações entre O sido “amigo e companheiro de infância” do major. Se na carta ã0 ministro,
maior legirimidade
major e o barão se estreitavam com rapidez e, ao final de novembro, com em 1843, negou essa amizade, foi exatamente para dar
menos de um mês de governo, Caxias já defendia sua promoção para a suas intervenções a favor do major Frias. Dedicou-lhe uma atenção eo
tenente-coronel. O argumento do barão, em seu ofício a Clemente Perei- pecial durante a Farroupilha, dando um grande impulso em sua carreira.
ra, pautava-se exatamente na eficiência do major Frias, que, em apenas Recomendou-o ao governo diversas vezes e, ao final da guerra, Miguel de
vinte dias, já havia reduzido de forma significativa os gastos com a guer- Frias voltou para a corte como tenente-coronel empregado, na opinião de
empenho Em
ra. Percebendo as dificuldades que o passado político de Frias ainda pô Caxias, “nos mais altos cargos do Exército”. Parte de seu
infân-
dia gerar, Caxias, muito astuto, antecipava-se e lembrava, ele próprio, O apoiar o major, ainda “malvisto por todos”, deve-se a esses laços de
episódio. Mas dessa vez para usá-lo a favor do oficial, a fim de enfatizar cia.” No entanto — é importante registrar — OS Frias e Vasconcellos sao
a legitimidade da aspiração de Frias e de sua própria interferência nº uma família de prestígio, com respeitável carreira no Exército. O pai do
caso. Reafirmando sua posição de “agente neutro” e empregando
major havia prestado vários serviços à Coroa portuguesa, inclusive em ou-
seu
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JT k5 -
nê
tras colônias de seu império. Seu irmão mais velho, em 1842, era Marechal de muitos homens. a esses, é bem possível que predominassem ho-
de-campo e, até um ano antes, comandava as Armas da Corte.4 Tudo o mens tidos como à “escória da população”. O recrutamento, não se pode
era devidamente observado pelo barão de Caxias. esquecer, era dirigido a eles. O que gostaria de destacar, porém, é que, ao
Embora a deferência às distinções sociais pareça, à primeira vista reprimir, Caxias não deixava de considerar a utilidade dos rebeldes, mos-
um valor partilhado por toda a elite, isso só é verdade em parte. As cápi mrando-se disposto a negociar até com caboclos, como fez no Maranhão,
das mudanças políticas dos anos 1820 e 1830, acompanhadas por várias para aproveitar O conhecimento que tinham das matas. Para quem tem
revoltas na corte e nas províncias, tinham agitado as fronteiras sociais um olhar hierarquizado, cada um dos estratos da sociedade possuí sua
até então aceitas e, nesses anos, tentava-se encontrar justamente uma função, e a eliminação de um deles é sempre preocupante, porque interfere
fórmula política capaz de restabelecer a ordem. Mas qual ordem se pre- no funcionamento do conjunto, podendo comprometê-lo. É o princípio
o
tendia? Daí, as rebeliões. Princípios políticos diversos, mais ou menos mesmo da conservação. Nenhum grupo social era inteiramente desprezad
formalizados, se expressavam nesses movimentos de caboclos, negros, por Caxias, o que valia também para os negros, sobretudo escravos. Ele
índios, brancos pobres ou proprietários. Às vezes, esses grupos se uniam sempre evitava matá-los indiscriminadamente, e o motivo era simples:
em uma liga inusitada e, para alguns, assustadora. Isso mostra quanto tratava-se de um bem economicamente valorizado e, além do mais, parti-
essas fronteiras estavam indefinidas. Nem todo general, quando assumia cular. Quando o negro Cosme foi executado no Maranhão, ele já estava
uma expedição militar, fazia sua a tarefa de renegociar essas fronteiras, longe, em São Paulo. Deixou a decisão para os proprietários locais.
muitos agiam nas províncias de forma intransigente e violenta e, por Explicitar essa disposição do barão de Caxias para pensar a guerra
vezes, produziam um efeito contrário ao que se esperava de suas comis- politicamente — é importante que fique claro — não é parte de uma estra-
sões, agravando a crise na região. Pedro Labatut e Francisco José Soares tégia de “defesa” da imagem do general. É, na verdade, parte de um es-
Andréa são dois bons exemplos desse tipo de conduta. Labatut, por não forço analítico, fundamental, por exemplo, para entender sua atuação
reconhecer os limites de sua atuação nem o poder da elite local, no início no Sul, principalmente sua aproximação do imprevisível general Bento
dessas mudanças, em 1823, se desentendeu seriamente com autoridades Manuel Ribeiro, quando políticos esbravejavam na corte considerando
políticas da Bahia. O resultado foi lamentável: parte da tropa se suble- a atitude de Caxias irresponsável.”
vou e, depois de alguns dias, o general foi embarcado de volta para à Antes de embarcar para o Sul, Caxias já tinha comunicado ao minis-
corte, preso. Já Francisco Soares Andréa não se desentendeu com grupos trO sua intenção de buscar um entendimento com O general Bento Ma-
nuel. Clemente Pereira concordou com a idéia, mas achou muito arriscado
de elite, mas ficou conhecido, sobretudo depois da repressão aos caba-
nos do Pará, em 1835, como um general extremamente violento, que dar-lhe um posto de comando. Assim, autorizou o barão a tentar uma
teria promovido verdadeiros massacres na região. aproximação, permitiu até a reincorporação do general ao Exército em
O barão de Caxias, ao contrário, era extremamente político. Afirmar campanha, porém proibiu que Caxias colocasse sob suas ordens uma
isso não significa dizer que não atacasse as forças inimigas e nem empre força armada, ainda que fosse um destacamento.º
A decisão era polêmica, e bastante delicada. Apesar de ter sido anis-
gasse a força. Afinal, era um general em combate. Numa guerra, há sem” tiado em 1840, tendo obtido inclusive, por decreto imperial, autorização
pre EE e, numa sociedade hierarquizada, a vida de uns, sem dúvida,
para morar no Estado Oriental, o crime de Bento Manuel ainda não ti-
vale mais que a de outros. Certamente Caxias foi responsável pela m e
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nha sido esquecido nem no Rio Grande do Sul, nem na cort um pequeno ato de vingança, demiti-lo pessoalmente. Verdade
e. Isso por.
que não se tratava apenas de perdoar sua adesão à causa farroupilha. 0 ui fato é que a viagem do presidente animou o general. Para
crime cometido pelo general foi mais sério. Quando rebentou a rebe a Rice de seu plano, Bento Manuel licenciou as forças do Exérci-
lião,
em 1835, o general Bento Manuel Ribeiro era comandante de Armas da Rs a n d o O b rigadeiro sem recursos para tentar uma reação. Depois,
to , d e i x
província. Na época, não aderiu à rebelião. Defendeu fielmente Foi só aguardar. Quando o brigadeiro se aproximou do passo do ltape-
as leis do
império e a Coroa por quase dois anos, até o governo do Rio de Janeiro vi em Caçapava, à vanguarda de Bento Manuel Geudna voz de prisão.
decidir nomear um novo presidente para a província, o bri
gadeiro Ânte- Seguido apenas por uma guarda pessoal, Antero de Brito percebeu| que
ro José Ferreira de Brito. Walter Spalding atribuiu ao temper ag ir e e n t r e g o u - s e .
amento in- E ra in út il re
transigente do brigadeiro Brito o desentendimento entre r vi r. N ã o sa ti sf ei to c o m a pr is ão do pr es idente
os dois. Mas há Mas o pior estava po
quem se lembre também, para explicar esse desentendimento, de dispu- , Ben to Man uel red igi u uma pro cla maç ão co ne s ao seus
da província
tas anteriores à atuação do brigadeiro na direção da província. os a ade rir em, com ele, à cau sa Far rou pil ha. Em fins de
Em um oficiais e sol dad
ato impensado, O governo central havia retirado do cargo um março, tornava-se um farrapo e entregava a estes, como pro
va da since-
civil, ami-
go e parente de Bento Manuel, o dr. José de Araújo Ribeiro, substituí de sua con ver são , um pri sio nei ro val ios o — o pre sid ent e-b rig ade i-
do ridade
por um oficial-general, que, por ser militar e por sua patente, era um ro Antero de Brito.
concorrente natural de Bento Manuel Ribeiro. A chegada do brigadeiro A notícia caiu como uma bomba na corte, agitando por meses os de-
Antero de Brito, por si só, independentemente de como ele viesse a agir bates parlamentares. Tendo sido nomeado comandante de Armas duran-
no Rio Grande do Sul, limitava as ambições da família Ribeiro, que, até tea regência do padre Feijó, Bento Manuel foi transformado, nos discursos
então, vinha mandando na província, exercendo seus dois principais conservadores, em símbolo da incapacidade liberal para solucionar, por
postos de direção, o civil e o militar.* meio de sua política de contemporização, a “anarquia” das províncias”
O brigadeiro Antero de Brito tomou posse no dia 5 de fevereiro de Era exatamente toda essa história que voltava à tona, quase ser anos
1837. De imediato, Bento Manuel solicitou, por ofício, seu afastamento depois, com a proposta de Caxias. A decisão era, sem dúvida, delicada, e,
do Comando de Armas da província. Alegou, como era usual em mo- obviamente, o barão e o ministério não compraram essa briga à oa
mentos de crise, problemas de saúde. Mas, na verdade, estava decidido Desde julho de 1839 Bento Manuel não era mais um Farroupilha,
a trabalhar pela deposição do brigadeiro. Primeiro, tentou um golpe. havia se desentendido também com Bento Gonçalves, líder do port
Promoveu uma reunião com todos os chefes do Exército e tentou con mento rebelde. O imperador o anistiou em 1840 e, a partir de então; o
vencê-los a representar o governo imperial contra o brigadeiro, acusan” general cuidava apenas de seus negócios particulares. Caxias, porta
do-o de desmando. Não tendo conseguido o apoio da oficialidade, estava convencido de que sua ajuda seria fundamental no combate à
rebelião. Aí entra seu pragmatismo. Em ofício a Clemente Pereira, vinte
recolheu-se, Todavia, não desistiu de seu intento. Bastou correr o anún-
cio de que Antero de Brito deixaria a capital e visitaria o Exército nº dias após sua posse, quando ainda organizava O Exército, explicou
interior, para Bento Manuel voltar à tramarço Sua demissão ainda não Como o general poderia lhe ser — o termo é dele — “únil”. Bento pianue
tinha sido autorizada pela Coroa, ele continuava no comando do Exér- O supriria no que considerava ser sua maior necessidade na região: co-
cito imperial e, segundo se dizia, Antero de Brito seguia em viagem
Nhecimento prático do terreno”. Além disso, esperava aproveitar tam-
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perfil “vaqueano-estrategista-político” que a cada dia despertava Mais q « uma família de militares, com experiência na administração do
ral, d
interesse do barão de Caxias. Quando Bento Manuel passou a integrar Rio Gra nde do Sul, José Maciel inicialmente não criaria problemas para
o corpo de oficiais do Exército em operações, como não podia sua reação foi como a dos outros ministros: achava a atitude
OcUpar Caxia s .
um comando, ficou empregado no estado-maior. Isso significa que parti. c a d a demais e temia que o barão sofresse um golpe fatal na provín-
arr i s
cipava do planejamento e controle das operações militares do Exército, c a s o Antero de Brito, apesar de haver ocorrido anos antes, reapa-
cia. O
uma função bastante conveniente, que permitia ao barão, como ele ex. recia nessas horas com uma força espetacular, assombrando a todos. Até
plicou a Clemente Pereira, “trazê-lo sempre comigo” e explorar suas porque um golpe sobre o barão de Caxias era iapira Nadia
habilidades, “consultando-o sobre qualquer movimento que pretend O partido, fornecendo aos liberais “munição” para, no
ia sentido por todo
fazer”. Foi exatamente nessa função, trabalhando ao lado do barão de mínimo, uma legislatura inteira de debates e acusações no Parlamento.*
Caxias cotidianamente, que o general conseguiu ampliar seu espaço no
Exército. Após três meses na província, longe de usá-lo apenas como
guia, O barão estava convencido de seu valor militar, a tal ponto que FALO GROSSO QUANDO MANDO
decidiu enfrentar a duríssima tarefa de defender sua nomeação para um
posto de comando, oficiando para o Rio de Janeiro, a esse respeito, no A empreitada, de fato, foi difícil. Só em abril, dois meses depois de ofi-
dia 22 de fevereiro. A intenção de Caxias era dividir com o general nada ciar para o Rio de Janeiro, Caxias pôde nomear Bento Manuel coman-
menos que o comando de todas as forças imperiais, ficando à frente da dante da 2º coluna em operações no sul. O clima era tenso. À nomeação
1º coluna, operando na parte centro-leste da província, e passando ao deixava Bento Manuel totalmente livre, tendo sob suas ordens boa parte
imprevisível general o comando da 2º coluna, que deveria atuar na re- do Exército em uma região que conhecia como nenhum outro oficial
gião mais recomendada pelo ministro em suas “instruções” — o temido imperial e onde, mesmo com toda sua habilidade, Caxias, caso prediso,
“interior” do Rio Grande do Sul. se, teria poucos meios com que reagir. Reconhecendo esses limites, to-
À atitude era extremamente arrojada e o barão, melhor que ninguém, logo suas prov idên cias . A prim eira dela s foi com por a 2 coluna
mou
sabia disso. No Rio de Janeiro, o ofício de Caxias foi recebido por um com “oficiais inteligentes e de minha inteira confiança”, entre eles um de
novo ministro da Guerra e discutido por um ministério recém-formado. seus irmãos, o major Francisco de Lima, e seu tio mais moço, O tenente
Aureliano Coutinho, depois de muito manobrar, tinha conseguido que coronel Luiz Manoel de Lima. Outra providência foi manter intenga cor-
sua demissão fosse seguida pela dissolução de todo o gabinete. Seus ad- respondência com o general. Ela era quase diária e, pela primeira vez, O
barão cuidou de criar um livro oficial para organizar e guardar, em or-
versários caíram com ele. Os conservadores, porém, permaneciam no po”
der, só que agora chefiados por Honório Hermeto Carneiro Leão. Como dem cronológica, cópia de tudo, tanto dos ofícios encaminhados por ele
a única exigência do jovem imperador, ao incumbir Honório de organizar como das respostas e ofícios assinados por Bento Manuel, o que gerou,
Ó gabinete, era de que ele promovesse uma renovação geral
ao final da guerra, três livros de correspondências.”
nos només
Por meio desse material, é possível notar o nível de investimento fic
que integravam o ministério anterior, Caxias perdia, no governo, O apoio
Caxias nessa relação, transformada por ele em uma verdadeira parceria.
do importante aliado e amigo José Clemente Pereira. A direção da P ao
O plano de operações era traçado pelos dois, juntos, etapa, por etapa é,
da Guerra ficou com outro oficial, Salvador José Maciel. Também gen
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durante a execução de cada uma delas, trocavam informações mão logo O general soube das mudanças políticas : conta o barão — “prin-
necessário, alterarem a direção prevista inicialmente. A liberdadePara, se cipiou à rosnar pela boca pequena que dra de opinião de duas autorida-
barão concedia a Bento Manuel é impressionante. Como a dia E ; nua ele— que
contio
des na província”, uma civil e outra militar, supo— nd
os separava era grande, investiu o general de autoridade era avess o”. Sua segur ança era só apare nte. O ba-
até para Ca o novo mistério “me
rar, sem precisar, nesses casos, sequer consultar um conselho. A E
o estav a “ desc once rtad o”, mas “fing ia” de nada saber. Preferia, como
ra
exigência do barão era que, havendo mudanças, ele fosse imediata = s anos anteriores, acionar seus amigos. Daí a carta
ao ex-ministro.
informado, reservando-se ainda o direito, na qualidade
no
ntav a à insta bilid ade produ zida pela muda nça de ga-
de coma E E Nel a, não só come
em-chefe, de discordar e reprovar a medida. io em sua relaç ão com Bento Manue l, mas também
binete, especialmente
, Desse modo, em abril, no dia 29, Bento Manuel já recebia pedia ao amigo que prestasse atenção às notícias que seriam publicadas
a cavalha
a comprada pelo tenente Hipóli 1Á a guerr a nos próx imos dias. O clima segui a tenso. Isso porque, na
sobre
dia Rs a “regressar a jogou pesado,
cs x Raia É Ra a tentativa de obter O “mando do Exército”, Bento Manuel
tião,
seguro e próprio para invernada”. Como O E mero EE mandando — quem conta ainda é Caxias — “seu filho, o dr Sebas
idade
havia explicado
: mM em suas “instruções”, esse era um grande ; agente
Rd: de para a corte com ordem de escrever contra mim e exagerar a capac
guerra na regiao, mas, ao nomear Bento Manuel, não havia jeito, do pai para o comando do Exército”.
Ca-
de
xias tinha que lhe confiar as cavalhadas, acreditando na avaliação
do Essa forma de agir do barão acabou lhe rendendo o que, vindo
general e confiando no destino que dizia lhes estar dando. Jamais
de- Bento Manuel, era um elogio. O general, percebendo que Caxias fingia
monstrava insegurança. Em seu ofício-resposta de 1º de maio escrevia “não se dar por sabedor”, continuando a tratá-lo “sempre com a mesma
estar “ciente” da medida, aprovava uma outra idéia de Bento Manuel, afabilidade e franqueza”, dizia que “se tinha por muito velhaco,” mas
sobre a criação de um esquadrão em Alegrete e, ao final, dava notícias — e é Caxia s quem escre ve — “eu era mais do que ele, tendo metade
que
detalhadas de sua marcha, escrevendo ainda, sem a mínima inquietação, de sua idade”.S8
que ao chegar com seus homens “na estância do falecido José Jacinto O termo “velhaco”, entre vários significados, na sua maioria bastan-
Peres | “daí não marcharei sem que tenhamos, juntos, combinado os desig na ainda quem “não se deixa prend er ou conduzir
te negativos,
movimentos que devemos praticar”. com facilidade”. Lendo-o dessa maneira, O termo não podia ser mais
Foi sem dúvid a essa habil idade para circu lar entre homens
| Essa segurança do barão, tanto quanto a autoridade de que ele inves- apropriado.
ade forte e dispo stos a tudo para atingi r seus fins, que per-
tiu re Manuel, é surpreendente, por isso deve ser lida com cuidado. de personalid
mitiu ao barão trabalhar com Bento Manuel, quando todos O temiam,
À princípio, ela pode parecer consequência de seu excesso de confiança
ou pode levar o leitor a imaginar que Caxias tinha neutralizado Bento ou lhe tinham verdadeira aversão. Caxias agia tendo em conta suas né
cessidades. Nesse momento, precisava de Bento Manuel, por isso fingia
dei to ir e em cem
e nas O que se vê é o contrário. Ela não passa de uma grande
não saber de nada. Tomava suas providências sem estardalhaço. Isso lhe
garantia uma certa proteção, ainda que esta nunca fosse completa. Man-
se jog o, ext rem ame nte arr isc ado e difí cil, ia exe cut and o seu s
xias afirmava que a queda a - Peso ps paeair Ec Rm - cia tendo-se nes
CENSO a punido havia reanimado, na pr Planos, o que não significa q ue estivesse ludibriando Bento
Manuel.
una?. Entre esses, Bento Manuel Ribeiro.
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Como o próprio general reconhecia, Caxias seguia tratando-o “Com afE liam pouco. À palavra
;
“país” realça
rs o nível de estranhamento.
se manter res Vá
e franqueza”. Na verdade, o barão só conseguiu
bilidade cap az de ajud á-lo a assu mir “tão árdu a co-
precisav a, ali, de alg uém
nimamente seguro ao lado de Bento Manuel, mesmo após esse epiaGda missão”. Em contrapartida, Bento Manuel poderia contar com ele.
porque decidiu jogar abertamente, com toda sua “franqueza”, in u
Defenderia-o longe dali, na corte. Não por acaso, o barão começo
mando-lhe, em carta particular, da briga que estava comprando essa troca de correspondências escrevendo sobre as resistências que o
na Corte
ao defender sua nomeação para um posto de comando. Ao explicitar nome de Bento Manuel produzia nos políticos do Rio de Janeiro. Mos-
fragilidade de sua posição, o barão obrigava o general a assumir a
rrava ao general que, na prática, a anistia concedida pelo imperador
compromisso pessoal com ele, colocando-o na posição de quem deve e não servia para muita coisa. Depois de tudo que fez, desmoralizando o
muito. À pressão foi tal que, em seu ofício-resposta, Bento Manuel império, se não desse provas de sincero arrependimento, nada conse-
dizia
“sentir sobremodo que haja indisposições contra v. exa. por meu respei- guiria da Coroa. Difícil seria encontrar alguém disposto a dar-lhe nova
to”, selando, em seguida, o acordo tacitamente proposto por Caxias: chance, e Caxias a oferecia. Estava em suas mãos a decisão. O barão,
“Pode ficar persuadido de que não pouparei sacrifícios para
melhorar: como diria depois a Honório Hermeto, estava “cheio de favores dados
sorte do Estado, reservando somente para mim a satisfação de caber-me pelo governo”, era marechal do Exército e podia, com seu prestígio,
no último quartel da vida a glória de ser um dos tantos soldados que v. mudar o futuro do general.
exa. tem sabido dirigir pelo caminho da honra na árdua e espinhosa
ta- Bento Manuel reconheceu o pacto. Iniciou seu ofício de 24 de maio
refa da pacificação de quatro províncias do império.” Para demonstrar
tratando o barão por “meu general, presidente e senhor” e, a partir de
sua consideração e respeito, substituiu, na assinatura, seu nome
pela então, só assinaria: “de v. exa. súdito e amigo”.
expressão “súdito e amigo Bento Manuel Ribeiro”.
Caxias firmava assim uma importante aliança, e, é preciso reconhecer,
Caxias logo aproveitou a brecha cedida pelo general para confirmar vinha agindo de forma inteligente. Por meio da troca diária de ofícios, ele
Os termos do pacto, correspondendo inclusive à forma de tratamento:
agora não só mantinha um certo controle sobre o general, como passava
end er com ele mui to sobr e as part icul arid ades da guer ra na região.
a apr
Esse é um outro ponto que merece ser destacado. O investimento na rela-
Exmo. Amigo e sr. ...
| Muito agradeço a v. exa. o empenho que mostra em ção com Bento Manuel só foi bem-sucedido porque Caxias, em alguns
me ajudar, € es-
teja Ve Cia. certo de que sou o primeiro a reconhecer seu merecimento € momentos, podia ser humilde, reconhecendo, sem meias palavras, os limi-
particular tino para a guerra desse país, e por
contar com a sua coopera- tes de sua atuação. Em agosto, por exemplo, depois de enviar ão general
ca me resolvi a tomar sobre meus ombros uma tão árdua comiss
ão. novas instruções, por julgar necessário alguns ajustes na guerra, escreveu-
ntinue portanto v. exa. a ajudar-me como até aqui e conte com
igo lhe pedindo seu parecer e reafirmando a importância do mesmo: “se a v.
como de v. exa. amigo e camarada, barão
de Caxias. exa. ocorrer mais alguma coisa, diga-me, pois bem sabe que o que desejo
é acertar e, por isso, estou sempre disposto à aceitar O parecer de quem
Esse era um m tip
ti o de negocijaçã
ação a que o barão recorria com freqiiência. tem razões para melhor conhecer o sistema de guerra da provincia”.*
O ponto de partida é o reconhecimento de um lim
ite: no Rio Grande A arrogância do barão que chegou ao Rio Grande do Sul prometen-
do Sul — Caxia º assumiaja 1sso
| claramente — seus conhecimento s milita- do “tudo arrostar em pouco tempo” não se sustentava apenas no poder
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pnCr
Ee
A
em explicar à situação e a naturalidade
a
com que começou a re- mal-entendidos, explicou atenciosamente ao general, no ofício seguinte,
datado de 31 de outubro, que não poderia interceder pelo capitão. Ele
não tinha poder para “anistiar um homem que, servindo como oficial,
Além disso, para um bom obser vador,
di havia
a ainda
up outros indícios. Bem- foi preso de armas na mão”. Explicou também que a anistia chamaria
to Manuel, nesse mesmo ofício, voltava a tratar
Caxi
axias com a formal li- ainda mais atenção porque, até então, os rebeldes “não tinham soltado
dade dos primeiros meses, diri
g indo o documento ao “ilmo. exmo. nenhum dos oficiais do nosso Exército”. Para provar seu interesse e boa
barão de Caxias, general-presid St
ente e comandante-em-chefe do Exérci- vontade, sugeria uma outra solução, escrevendo ao general que: “se
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v. exa. o quer favorecer, cometa a troca com algum dos nossos que lá em qualquer direção que ele seguisse. Ora, eu pao só adicionei a essa di-
v.s. me pedia , como uma briga da e, por certo , nisso
estão”. Isso, segundo Caxias, não seria tão difícil. visão o batalhão que
se supu sess e que v. 5. queri a com essas força s ocupar
Simples mesmo só o caso do sobrinho de Bento Manuel. A decisão não consentiria
o s € de i xar os rebel des engo rdar em seus caval os!
dependia unicamente de Caxias, que afirmava categórico: “nenhum pont
dúvida terei em fazer a nomeação que me pede”. O rapaz, explica o tio s o r “s r. b r i g a d e i r o ! » a b a n d o n a n do
tinha andado pelo Estado Oriental, se envolvido em “negócios” e am Era agora sua VEZ de tratá-lo apena p
p e i t o s o “v . e x a . ” d o s o f í c i o s a n t e r i o r e s , eo
o opcional e por iss o m a i s r e s
java voltar, para servir no Exército. Mas sentia “algum pejo”. Primeiro, n a v a . E s t a v a ads
o m a r a d a e a m i g o ” c o m q u e os a s s i
porque havia servido, anos antes, como tenente, aos rebeldes. Depois, simpátic “ca
t o . À q u e s t ã o a q u i e r a b e m e s p e c í fica.
porque se não contasse com a proteção de Caxias teria de começar como até então não se tinha vis
n a d o m a n t e r a p e r s e g u i ç ã o a o s r e b e l d e s. Essa
como “simples guarda”. Era esse o pedido de Bento Manuel, atendido Bento Manuel havia combi
ida om o objetivo de evitar que os farrapos
era parte da estratégia defin c
de imediato pelo barão, que o rapaz “servisse no mesmo posto de tenen. e s g a s t a r os q u e t i n ham.
s t a d o O r i e n t a l e p a r a d
te no corpo provisório”. recebessem cavalos do E e c ia
v i d C a n a b a r r o , g e n e r a l f a r r a p o , a p a r
Mas não era isso qu e se via. Da
Aceitar ex-rebeldes no Exército não era um problema para Caxias. e n t i a t r a í d o:
a s f e i t o d e c a v a l o s . O b a r ã o se s
Quando em dezembro defendia um entendimento com Bento Manuel, nas coxilh re
um dos argumentos que utilizou para convencer o ministro da importân- me dir igi u a 1* par te aci ma me nc io na da, ou se
Ou v. s. se enga no u qu an do
cia dessa aliança foi justamente o número de adesões que poderia obter, é pos sív el que os reb eld es, não ten do rec ebi do cava-
engana agora. Como a
p ad
a;
em con tín uo
*
de homens fiéis ao general. Além disso, um de seus tios, até ser assassi- do- se ma nt id o
=
nado em 1837, tinha sido um líder rebelde. Esses comprometimentos, de no ve mes es, po ss am est ar mai s be m mo nt ad os que nós:
perto
para ele, nunca eram irremediáveis.
o tom ríspido não
Alguma coisa, porém, voltou a acontecer nesses dias. Depois de se Ainda que essas cobranças fossem mais que naturais,
esforçar duas vezes para não entrar em conflito com Bento Manuel, nas , me sm o dia nte da ser ied ade do tem a, pel a ren ovação
se explica ape
usando o tempo como aliado, Caxias retomou o episódio de setembro, é cav alh ada reb eld e. Cax ias sab ia que era difí cil pat rul har toda a fron-
da
eram
lhe falou duro. Tudo aconteceu muito rápido. Esse ofício foi escrito no teira e, além disso, as articulações políticas dos farrapos no Prata
mesmo dia do anterior, 31 de outubro, e Caxias começava tratando de ida s em tod o o imp éri o. Era exa tam ent e isso que vin ha prolon-
conhec
assuntos da guerra. O tom, mais que imperativo, era par a esc apa r das per seg uiç ões , fos se para obter
ríspido: gando a guerra. Fos se
ld es cr uz av am à fr on te ir
| a co ns ta nt em ente, an to|
novos cavalos, os rebe
Trate de meter-se entre a força com que me acho, e a que está em Piratini, “i ns tr uç õe s” , al er to u Ca xi as so bre a tãtl-
assim que o ministro, em suas
e
que consiga bater a menor das duas antes de poder ser socorrid
a
a41
440
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO
na do Livramento —, a situação era mais grave. Tinham trabalhado jun. ssassinato foram só devidos à deliberação tomada por v. s. de des-
ren |
der essas forças, não estando |
autorizado por mim, que o tinha antes
e =
tos nessa estratégia. O barão ouvia e dialogava sem reservas com Bento
ç
E
Manuel. Por que ele mudava agora de opinião? Foi certamente Com pr: evenido com a ordem acima mencionada.
essa
pergunta em mente que Caxias acabou relembrando a crise de sete
mbro, a a acusações. a na
Se na época, após dias de silêncio, decidiu relevar a atitude do gene o general Bento Manuel engoliu
ral, E
provavelmente o fez por considerar o momento difícil pelo qual ele pas- defender. Apenas afirmou, em poucas lin e Estar ei a
sava com a morte do irmão. Francisco de Lima, irmão de Caxias, come- trigas”. Lembrando um aten FeEutdo ele is E, 0 a frio
0, Ee E à E
çava a viver, também em setembro, problemas de saúde e o barão
se general Conrado, que dizia j ã aa nao fa
Era € e, dessa e a
condoía ao vê-lo fazer a campanha em uma sege, por não
conseguir mais gurava estar com sua conselência tranquila”.
a
andar. Decidia nesses dias se o mandava de volta à corte ou não para colocava um fim na história, evitando que dela surgisse uma a
se
tratar. Talvez por isso tenha sido mais tolerante
com Bento Manuel.
rornável. O barão, ao que tudo indica, parece ter, de fato, se aut o
Além do mais, continuava dependendo do general. Mas isso levar por intrigas. Todas as acusações que fez à Bento Manuel e
não signif-
ca que tivesse esquecido seu recente sumiço e sua atitude em seu ofício, como resposta a um outro, enviado pelo general no e
seca e distante
com um superior que nenhuma responsabilidade tinha 29 de outubro. Só que esse ofício, do dia 29, não menciona nada E re
sobre o aconteci-
do. Havia ainda a história do início do ano, quando renovação da cavalhada rebelde e nem comunica queldier digas E
o general mandou
o filho fazer intrigas por meio dos jornais da corte. estratégia previamente combinada. Bento Manuel não disse — pelo =
Nesse momento, ir-
ritado, Caxias relacionou todos os fatos, considerou nos não nesse ofício — que pretendia ficar estacionado em Santana o
que era preciso im-
por um limite, que estava sendo desrespeitado em Livramento. Limitou-se a informar que seguia em marcha para esta =
sua autoridade e,
como escreveu a um amigo comentando o assunto, dade com a intenção de “tomar as cavalhadas magras de Canabarro,
“não sou homem de agir
para sofrer que um meu súdito se atreva a me fazer cócegas que, segundo se dizia, excediam a 4.000. Ao final, ao oa
atrás das
orelhas”. No mesmo ofício, conseguiu ser ainda mai de forma independente, escrevia que, lá chegando, oficiaria a Caxias e
s duro com o gene-
ral, responsabilizando-o diretamente pela mort aguardaria novas ordens.
e do irmão:
Apesar de iniciar a campanha zombando do medo que todos es
Disse-me v. s. em um artigo de seu ofício de 3 des monstravam ter por Bento Manuel, o barão de foascias não estava o
se mês que a tardança
da cavalhada de São Gonçalo tinha causado a sua dem
ora em voltar so- às lendas contadas sobre o general, nem menos sujeito a assombrações
bre Alegrete, e que isso nos tinha sido fatalíssimo, não do passado. O sumiço de Bento Manuel deve tê-lo aterrorizado,
a E
só pela morte do
coronel José Ribeiro, como pela derrota Carreira e seu nome que estavam em jogo, nas mãos do Ens, ç E
dos capitães Siqueira e Hipólito
(...) V. s. estará lembrado que a ordem
que lhe mandei (...) foi de que passo em falso e todos seus sonhos, de uma promoção no Exército, &
manobrasse de maneira que cobrisse os municí
pios de Alegrete e Mis- novas comendas e até mesmo de um novo título de nobreza, pociam se
desfazer diante de seus olhos. Pior, tudo isso sem que ele tivesse muito
xasse força alguma em Al como reagir e se defender. Aguardou quinze dias para entender das
(oo egrete, € v. 8. me participou logo estar reunido
ao coronel Ribeiro (...) Portanto, estava se passando e, mais uma vez, arriscou, optando por man
Os destroços havidos nas duas partidas
das
442
SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
general. Vinte dias depois, como reação a uma história que desconh e
mos, vimos que todos esses sentimentos emergiam com extrema violên. nir ao Exército com a cavalhada”. Contou também que dis-
em se reu
cia. O fato é que, apesar dos termos gentis e da aparente amizade ua idéia quanto a suspender as perseguições e estacionar as
barão não acreditava na sinceridade de Bento Manuel. Tudo continuava rana do Livramento. Mas, nessa carta, o barão revela
como parte de um jogo. Em carta ao pai, de 11 de novembro, ou Seja m d a d o e uma outra região de disput a. Diz que Bento Manuel
mais u
apenas seis dias após a resposta do general, em que ele afirmava es a m o r t e d o ir mão não a ele, Caxias, mas ao coronel Manuel
atribuía pe-
g a ú c h o , e s t a v a a
sendo vítima de intrigas, Caxias escrevia: l e r a b e m m a is jovem ,
r o n e
Matos de Sotisa: > co e provinha de uma tradício-
nas uma patente abaixo de Bento Manuel,
Bento Manuel continua a comandar a coluna e bem a seu pesar vai vendo res , co m pai e avô gen era is. Al ém dis so, os Ma r-
nal família de milita
concluída a obra de suas mãos. Ele finge-se meu amigo, mas é porque não de po ss es .” Ou sej a, o cor one l era um co nc or-
tem ainda o menor apoio na força [militar], que o detesta, e que só por ques eram uma família
de Be nt o Ma nu el no Ex ér ci to e dev ia hav er, ain da, entre os
meu respeito o obedece. Eu conheço bem seu caráter, porém também rente direto
|
conheço sua habilidade para essas guerras, e por isso o aturo, e mesmo dois, pendências ligadas à política provincial.
Ca xi as , ao ser du ro co m Be nt o Ma nu el no ofí cio do dia
finjo ter nele confiança, para tirar dele todo o partido, mas sou da opi- O barão de
nião que, concluída a guerra, tu br o, est ava ce rt am en te te nt an do int erf eri r no cas o € pôr fim ao
ele não deve ficar aqui, pois do contrário 31 de ou
Bento Ma-
ela há de tornar a aparecer e, então, sem remédio... conflito entre eles. Tinha motivo suficiente para desconfiar de
vez , o co ro ne l te nh a se ap ro ve it ad o dis so. In de pe nd en te me nte
nuel e, tal
É difícil avaliar quais eram as reais intenções de Bento Manuel ao as- em tin ha raz ão, as re aç õe s do gen era l er am se mp re mai s am ea ça do-
de qu
sumir o comando da 2º divisão. Se, por um lado, sua trajetória revela ras. Ão se fragilizar com a morte do irmão, sumiu € deixou Caxias por
cada.
um homem muito político, um “velhaco”, com grandes ambições na quinze dias em situação bastante delicada. Aliás, duplamente deli
região, dono de uma fortuna em terras, gado e cavalos, nada há contra Primeiro, por não saber o que se passava. Depois, porque começou a
ele nesses anos. Serviu fielmente ao barão até o final da guerra. Ão que correr no Exército, chegando até a corte, a idéia de que Caxias andava
e cx e
- e
parece, estava realmente interessado, como escreveu a Caxias, em o Man uel ”. Era pelo men os isso que O próp rio bar ão
pela mão de Bent
aproveitar esse “último quartel de vida” para recuperar sua credibili- dizia ao amigo anônimo:
dade junto ao governo central. Por outro lado, havia no Exército e na
corte muita gente interessada em desestabilizar à imagem do barão de Manuel, como muita
Para v. exa. ver que não ando pela mão de Bento
Caxias. Todas essas histórias, tanto o sumiço de Bento Manuel como pen sa, e que falo gro sso qua ndo man do, aí vai a cópia do ofício que
gente
pei to do que ele me res pon deu , sem men or à que 1 a
reflexão,
as acusações feitas por Caxias, chegaram fácil ao Rio de Janeiro, indo lhe diri gi a res
cumprir tudo quanto eu lhe determinava.
parar nos jornais. Um amigo, cuja identidade permaneceu anônima,
EscevEa ao barão, muito preocupado, comentando alguns
boatos. ia sub-
Um jornal, explorando essas “desinteligências”, havia anunciado Caxias sentia necessidade de provar sua autoridade, e de que pod
nà ações se
cor
Ee te su a demississãão. Caxias; , que jáiá sabiacahi do tal artigo, estava irri meter o general. O clima no Exército continuava tenso. Sublev
jri tado. das por ofic iais .
bentav am nos cor pos , sen do, na mai ori a das veze s, lid era
*pueom 49 amigo que, de fato, Bento Manuel “em ofício atribuía-a
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DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO
Por isso, tinha de mostrar, com atitudes, que sabia falar grosso. Esta aviam deixado o local. Tudo que conseguiu, após breve perseguição, foi
como escreveu em outra carta ao pai, “de braços atados”, proibido
é arrematar 520 cavalos. Mas o barão já ficaria satisfeito. Estava muito
“fuzilar”, mesmo “duas ou três vidas”, para “sanar” problemas
de ins empenhado, nessa viagem às vilas do Sul, em aumentar a cavalhada do
bordinação. Como não queria “dar motivos a ser descomposto
sie Exército. A expedição era esperada em São José do Norte. Aí encontrou
mente”, nem “falava mais nesse poder”, ainda que acreditasse que ali F
o ba rão de Caxias com aproximadamente 4.500 cavalos, retirados do
fosse necessário, até porque, segundo ele, os farrapos
0 exerciam a rincão dos Touros (importante estância de invernada) e de várias pro-
mente, não tendo, para isso, que se sujeitar a qualquer formalidade.
não iria insistir. Manteria, apesar de todas as dificuldades
Mas priedades da região do Chuí.
, sua atual es- Foi nesse momento, quando precisava atravessar o rio São Gonçalo,
tratégia: exigir respeito, cuidando para ser, ao mesmo tempo,
“estimado com seus homens e toda a cavalhada, para seguir em direção a Rio Pardo
de todos os meus subordinados”. Consolidada essa tática, de quem
sabe e ganhar o interior da província, que O barão aplicou um golpe inespera-
falar grosso — afirmava o barão —- não tenho me
do de mais nada nesse do. Com rápidas manobras, deu a entender que passaria o São Gonçalo
mundo e irei assim carregando meu andor”.70
perto de Canudos, e seguiria para Piratini. Os rebeldes logo se posicio-
naram. Antônio Neto, general farrapo, o esperou naquelas imediações,
enquanto David Canabarro manteve-se em posto de observação. O ba-
ESSAS AVES QUE VOAM PELOS CAMPOS
rão, no entanto, à última hora, optou por outro caminho, considerado
pelos “práticos da província” de grande risco. Cruzou o rio na altura do
O barão de Caxias iniciara as operações militares no dia
11 de janeiro passo da Barra e seguiu até a vila de Camaquã aceleradamente. Esse
de 1843 com uma manobra que desconcertou os rebeldes.
O governo trecho, de planícies, era aberto e muito vulnerável. Por isso, tão logo
legal, até então, mantinha posse exclusiva de toda a linha
fluvial de na- alcançou a vila, Caxias comemorou. Daí em diante, ele e seus homens
vegação, desde a lagoa Mirim até a vila de Cachoeira,
às margens do estariam “cobertos pela serra do Erval à esquerda e, à direita, pela lagoa
Jacuí.” Havia dominado justamente os pont
os acessíveis aos vasos de dos Patos”. Poderiam então seguir com tranquilidade para Rio Pardo.
guerra, e foi por aí que Caxias iniciou sua movime
ntação. Durante os A possibilidade de um ataque inimigo era remota.”
meses de novembro e dezembro, período de
preparação da guerra, ele Os farrapos ficaram surpresos, o golpe tinha sido arrojado. O terre-
percorreu toda a região, inspecionando hospitais, depósitos, trincheiras,
no, naquele trecho, era hostil e o barão de Caxias certamente só execu-
see e ranchos, até São José do Norte, ao sul
da lagoa dos tou tal manobra porque estava assessorado por um ótimo estrategista.
" Em fins de dezembro, mandou vir de Porto Alegre, por essa la- Não que lhe faltasse competência, mas não tinha o que ele mesmo reco-
& composta de cinco corpos de cavalaria da nhecia, ainda no Rio de Janeiro, como fundamental nessa guerra — co-
Guarda Nacional, esquadrões das vilas de Faxinal e São Leop
oldo, 200 nhecimento prático do terreno”. Era, sem dúvida, o talento de Bento
Ne a E catarinense, À expedição deveria ata- Manuel que sobressaía, com seu tradicional brilho, aos olhos de todos,
car os rebeldes ac ados no irei ; inclusive do barão. Nessa época, sem autorização para assumir um pos-
u não sc na E E pise to de comando, o general vinha servindo, como vimos, no estado-maior,
viagem e, quand O à expedição aportou na
foz d
oz do Camaquaã, oses rebe [des planejando e controlando a execução das operações militares do Exér-
446 447
A aaa
449
448
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do-se com certa facilidade e forçando os rebeldes a se deslocarem J , a puniçã o era severa. Sua formali zação em ordem do dia ga-
Mas, or oral; a E a
por outro lado, estava entrando também num jogo cansativo e típi Co da ; a o registro da ocorrência em fé-de-ofício, comprometendo o ofi-
ran |
guerra na província: a corrida pelos campos. Sem valorizar a po no m o m e n t o de um a promoção.
SSE de cial
uma região ou cidade, os farrapos obrigavam as tropas imperiais
à Per. O primeiro revés do Exército imperial veio em abril, com uma humi-
segui-los, no que levavam sempre e inevitavelmente larga Vantagem, O ba rã o de Ca xi as , pr of un da me nt e con-
lhante derrota em São Gabriel.
Não só conseguiam renovar mais rapidamente sua cavalhada, guardada ti fi co u O fa to ao mi ni st ro Jo sé Ma ci el , af ir ma nd o que o
«rariado, no
nas estâncias que possuíam no Uruguai, onde contavam com o auxílio co ro ne l co ma nd an te da 2º di vi sã o, an te ce ss or de Be nt o Ma-
descuido do
de amigos e parentes, mas sobretudo porque, criados na
região, eles nuel, era «indesculpável”. Ele havia encarregado o dito coronel, Jacinto
dominavam completamente a geografia dessas colinas, percorrendo-as jo Co rr ea , da gu ar da da vi la de Sã o Ga br ie l, en qu an to se -
pinto de Ar aú
com grande desembaraço. Aliás, esse estilo de vida, nas coxi
lhas, em m gr an de pa rt e do Ex ér ci to pa ra a li nh a de fr on te ir a, às margens
guia co
corno de cavalos, encantava os imperiais e criava problemas
de indisci- Ta qu ar em bó Gr an de . À op er aç ão ti nh a do is ob je ti vo s. At ra vés dela,
do
plina muito peculiares. Soldados e, o que é pior, oficiais,
pe di r um a su po st a re me ss a de re cu rs os , in cl us iv e de ca va -
deixavam seus ele tentaria im
los, que, conforme soube, estavam para ser enviados aos farrapos por
postos e serviços para “galopar pelas colinas”. Gastavam
horas em
“potriações”, uma distração que logo se tornou muito popular
rt id ár io s do Es ta do Or ie nt al . Ma s nã o er am só os re be ld es qu e ti nh am
no Exér- pa
cito. Após selecionar os cavalos mais bravios, alguns homens solt o
avam contatos naquele país. O próprio barão estava ali — e esse era O segund
os animais no campo e o desafio era capturá-los. O passatempo,
à pri- objetivo da operação — para receber 3.000 cavalos que pouco antes ha-
meira vista inofensivo, era extremamente perigoso. No dia 29 de mar-
via encomendado aos orientais.
ço, por exemplo, um “grupo de indivíduos” distraiu-se de tal modo O coronel Araújo Correa não guardava exatamente São Gabriel,
com as potriações que “acabou divagando a grande distância do acam- havia sido comissionado para guardar toda a bagagem pesada do Exér-
pamento do Exército”, e só se deu conta disso quando foi surpreendido cito e parte da cavalhada que, de tão magra, não servia naquele momen-
por uma força inimiga. O resultado, anunciado em orde vila. Disp unha , para essa comi ssão,
m do dia pelo to para a guerr a, perm anec endo na
barão de Caxias, que não identificou a patente dos envolvidos, de uma força nada desprezível: três batalhões de caçadores, 500 cava-
foi “a
perda de quatro militares”: três capturados pelos leiros e três bocas-de-fogo. Por isso, a derrota, quase sem resistência,
rebeldes e um “morto
a distância de tiro de fuzil” 76
era “indesculpável”. Os rebeldes, que também recorriam a espiões, fica-
Oa episódio ocorria após a publicação
de uma outra ordem, que ram sabendo do afastamento do barão de Caxias e, por meio de “mar-
proibia “a todo militar galopar ou correr a cavalo sem que ten
ha ord em chas violentas”, chegaram rapidamente a São Gabriel, apoderando-se
expressa para o fazer”. Para ini
» om
bir a prática, o barão estabelecia puni- de toda a cavalhada, de dois bois, e matando todas as praças que guar-
E ões ri empre Tratando-se
E de praça, ela “será presa e, além de castigà a” davam os animais. Além disso, executaram ainda os soldados que, de
a corPpporalmente, » s SOfreráà maismai uma
marcha à pé á na guarda das brigadas forma inexplicável, “divagavam pela freguesia”, tendo sido achados a
E infantaria, conduzindo os arreios sobre
os ombros”. Se for um ofi meia légua da vila.
cial, o que para Caxias “não é de
esperar” , ele seráà “ “preso € admoesta”
et, Tão logo foi avisado do ocorrido, o barão de Caxias contramarchou,
do publicamente em ordem do
“? Mesmo eliminando o castigo dividindo sua força em duas colunas e entregando, pela primeira vez, O
450 451
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO
comando de uma delas a Bento Manuel. Sua intenção era voltar pa de dinhei ro, gente € cavalh ada?”, e ele assumiria a faixa central
ursos
atacar os rebeldes. Mas o sistema de informações Farroupilha foi E Bagé até Cruz Alta, passa ndo por São Gabrie l. Com distribui-
que val de
novo bastante eficaz. Quando o barão chegou, já tinham levantado 10 de forças, pretendia sistematizar a repressão.
sítio que faziam ao acampamento. Caxias, orientado pelo general, ainda
? O momento de testar o novo sistema logo apareceu. Achando-se às
tentou persegui-los, porém, pouco depois, concluíram que o esforço se. o barão teve notíci a de que os rebeld es marcha-
do rio Jaguar i,
ria inútil. Pressentindo a reação do barão, os rebeldes p ontas
haviam Tumado em direçã o a Bagé. Imedi atame nte passo u ordens a Bento Manuel
para Bagé. Contavam na região com a cobertura de Fructuoso vam
Rivera ssasse O rIO Raia Maria e, nitge ando o pela esquer da,
para que atrave
importante caudilho oriental, e, caso se vissem acossados, certamente a aprox imaçã o do genera l, esta se
perseguisse essa força. Mas, senti ndo
escapariam por ali, voltando depois, refeitos de cavalos e armas.
dividiu em dois grupos, contramarchando um deles, sob a direção de
Pensando nisso, o barão voltou com Bento Manuel
para São Gabriel David Canabarro, para Alegrete. Bento Manuel não pensou duas ve-
O saldo do ataque foi realmente lamentável. Em campo,
encontraram 7 zes. Para ganhar velocidade, guardou toda a bagagem de sua divisão
mortos; 1.500 reses tinham sido roubadas; e um coronel,
de nome Antô- em Vacaquá, sob a proteção do coronel Francisco de Arruda Câmara,
nio Pinto, preso. Não restavam muitas opções para
o barão. O coronel e voltou em perseguição a Canabarro. A corrida era firme e o general
comandante da divisão não podia permanecer impune.
Era o responsá- rebelde, percebendo a aproximação de Bento Manuel, decidiu mudar
vel pela guarda da vila e vários pequenos detalhes,
como a “divagação novamente de direção, retornando a Vacaquá, para tentar tirar ainda
de je pela freguesia,” tinham de ser explicados. Caxias
nomeou, algum proveito dessa corrida, atacando as forças do coronel Arruda
assim, um conselho de investigação para conhecer
o procedimento e Câmara e arrematando a bagagem e a cavalhada da divisão. Certamen-
disposições tomados pelo coronel”, passando o comando
da divisão, de te agiu motivado pelos sucessos do mês anterior, quando uma força
imediato, pára Bento Manuel. Tinha acabado
de obter autorização do rebelde encontrou São Gabriel desprotegida e pilhou a vila com facili-
Rio de Janeiro para empregar O general em posto
de comando e, apro- dade. Mas agora a história seria outra. Para surpresa dos farrapos, O
Felando a Ocasião, reorganizou completamente
o Exército, com a inten- coronel estava extremamente atento, com “posição vantajosa em linha
ção de centralizar seu comando. As três divisões
anteriores, chefiadas de batalha”, recebendo-os sob intenso fogo. Assustados, após perde-
por dois coronéis e um brigadeiro, foram reduzidas
a duas, sendo seus rem quatro homens, os rebeldes bateram em retirada. Na manhã se-
comandantes o general Bento Manuel Ribeiro e o próprio
xia
barão de Ca- guinte, ainda tentaram nova investida, apostando no relaxamento da
Rias, s, q que deixav a de Vez a capita| l para assumir; as operações militares no guarda. Mas nada conseguiram. Canabarro decidiu então se retirar,
Interior. O governo civil, em Porto
Alegre, ficava a cargo de seu secretá- para evitar um encontro com Bento Manuel. Todavia, ainda insistiu
rio, Gonçalves de Magalhães.” 5
Dez dias apó
uma terceira vez, deixando uma força, de uns 50 homens próximo ao
sã:
a) P9S O episódio, no dia 20, o barão de Caxias oficiou ao
ministro prometendo que realizaria campo imperial, para, numa ação oportunista, assaltar Vacaquá. Ten-
do, porém, desconfiado daquela retirada, o coronel Arruda deu ordens
ao capitão Albernaz, do 3º Corpo de Cavalaria, para inspecionar as
redondezas. A ação foi um sucesso. Localizado o destacamento, O ca-
Pitão abriu novo fogo, fazendo em uma hora 11 prisioneiros, entre eles
453
SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
um dos melhores oficiais do chefe rebelde Jacinto Guedes » O Capitão penho do coronel Arruda em Vacaquá, não havia por que
mo desem
Vicente Ferreira.” mudança. Entregou-lhe o comando de mais essa guarda,
arriscar uma
4. Destacou também 290 homens, em pequenas forças,
A resistência foi narrada com orgulho pelo barão em ordem do dia
agora em E Alegrete, na tentativa de arrematar cavalos que os
onde ele agradecia, publicamente, o empenho do general Bento Mani
do coronel Arruda, dos tenentes-coronéis José Inácio da Silva Ourives E Ra ) escondido, ao deixarem, em precipitada fuga, a região.
Luiz Manoel de Lima e Silva — seu tio mais moço — e, finalmente, do ao Re por volta do dia 15 de maio, Bento Manuel recebia
capitão Albernaz. Apesar dos nomes dos tenentes-coronéis não aparece. ne Ei era expedição,enviada pelo barão de Caxias, para Pai
rem nas narrativas, O barão assegurava que ambos haviam se destacado so «cido coroada do mais brilhante sucesso”. Quando o ba-
nos combates contra David Canabarro. RE depois de manobrar para São Diogo, obrigou E Pa
À firmeza com que o coronel Arruda e seus oficiais defenderam em no Esta do Orie ntal , estes acab aram aban donando
des a se internar -
Vacaquá, sobretudo após a péssima atuação do coronel Araújo de gu er ra nas im ed ia çõ es de Pai Pa ss o. Ca
Correa, seu recé m-adquirido arsenal
em São Gabriel, merecia sem dúvida elogios. Mas, por outro vi a te nt ad o re cu pe rá - lo, se m co ns eg ui r. Ca xias enviou,
lado, ela nabarro ainda ha
evidencia ainda certas dificuldades da guerra. Mesmo o empenho
do então, a expedição, que
melhor estrategista da região não parecia ser bastante para
garantir um de po rç ão de ferro, E
simples encontro com o Exército rebelde. Bento Manuel marchava se apoder ou de cin co bo ca s- de -f og o (... ) de gr an
sem ant ari a e cav ala ria , sei s tor nos de fer rei ro, e
o peso de sua bagagem, por uma região que conhecia como to armamento de inf
poucos, as um a gr an de qu an ti da de de bar ris de nta e óa
mas nem por isso conseguiu alcançar David Canabarro. Uma noite granada carreg ad
as de fuz il, cou raç as, lan ças e out ros obj eto s bélicos, e
inteira tinha se passado, com as tropas rebeldes forçando a muitas bal
entrada em assim de uma botica (...) de 7.000 patacões.”
Vacaquá, e nada. O general não chegou a tempo de impor um combate
ao general rebelde. O coronel responsável pela vila, Por tudo isso, a vibraçã o nas fileiras imperiais aumentava. Bento
Manuel
com uma força
bem inferior à rebelde, só podia resistir e impedir que o material su a pe rs eg ui çã o, atr ás das “p is ad as de Ca na barro, a
bélico seguia firme em
ta
da divisão fosse pilhado. Essa era sua missão, e a cumpriu
bem. Mas a todas as direções, mesmo sem que jamais O pudesse alcançar, à vis
promessa do barão ao ministro, de dar bi li da de de sua fo rç a” . No dia 21, cu mp ri nd o or de ns do ba-
combate aos farrapos, ficou grande mo
para outra ocasião, e quando ela apareceu, no final de maio, Bento rão, deslocou o coronel Arruda para Alegrete com 06 Batalhão a o
Manuel por pouco não viu sua divisão ser aniquilada, st ac am en to co m 12 0 ba io netas for ? e
resistindo a du- cadores, re fo rç an do ess e de
ras penas à ágil cavalaria rebelde. ta lh õe s e do es qu ad rã o do 11º Co rp o de Gu ar da s Na ci on ai s À inten
ba
O general tinha ordens expressas do barão Ca xi as era , al ém de “m an te r O do mí ni o leg al em tão importante
de Caxias para perseguis ção de
sem tréguas, David Canabarro. Após o episódio de Vacaquá, internou- vir ai nd a de re fe rê nc ia pa ra “o gr an de nú me ro de leg ali sta s qu e
vila”, ser
se na campanha, emendando 12 dias e parte çõe s e que a
não tem tom ado part e ativ na gu guerra
iva a na
das noites em perseguição» habitam aquelas ime dia
dC
Para manter uma boa velocidade nas corridas, desfez-se novamente ;
d Co o po
a
por receio de ficarem marcados” na região
o 82
da
o de tan tos des tac a me nt os , emais a fo
ai rça
Em função da or ga ni za çã
gu ar da r a ba ga ge m em Ca ve rá , Bento Manue
Ssquadrão de Cavalaria. Depois do ótt- respon sá ve l por
454 455
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO
em sua divisão com apenas 1.424 homens. No dia 25, recebeu not Juir a operação, Os esquadrões inimigos caíram sobre o Exér-
nc
de que o general rebelde Antônio Neto, inclinando-se para a Margem
Cia
desse o do, como Bento Manuel previa, “fogo por todos os lados”.
, a mn
cito;
3
esquerda do Santa Maria, tentava a “todo custo junção com Canabar. E esistência, o general deu ordens, segui. ndo a sugestão
me
do
Para O
ro”, para “carregarem contra a divisão”. Seguramente tentavam 4 coronel Luiz Manoel de Lima, tio de Caxias, para que seus
renente-
na maioria de infantaria, se fechassem em dois grandes qua-
junção porque já sabiam da nova organização das
forças imperiais, de homens;
que Bento Manuel chefiava só uma parte —- a menor — do Exército im. ad a so b in te ns o fo go . Ag ru pa do s, ele s
drados. À manobra foi execut
perial. Talvez já soubessem até mesmo da movimentação dos destaca- a as feto
aumentavam sua força, podendo até mesmo pe
mentos e, por consequência, de que a divisão, além de peq em me io à co nf us ão , um rebate fal-
uena, estava Fo ra m qu at ro ho ra s de co mb at e e,
incompleta. O fato é que no dia 26, ao romper a aur o
ora, enquanto so fez com que farrapos e imperiais recuassem ao mesmo tempo. r
marchava para a estância de Manoel Vieira da Cunha, e as
em Ponche após se retirarem do campo de batalha, Boda pola à
Verde, a vanguarda imperial descobriu que era acompanha
da, sobre os farrapos não responderam. Provavelmente imaginaram que se EO
seu flanco direito, por forças inimigas. Essa vangua assumia a ofensiva,
rda, nos últimos Manuel, após quatro horas de acirrado combate,
dias, vinha constantemente batendo a retaguarda de Can
abarro. Mas era porque o barão de Caxias devia estar próximo, pronto para entrar
esse era O único ponto de contato entre os dois exércitos |
. A presença em ação com o restante do Exército.
de rebeldes no flanco direito demonstrava que algo tinha
mudado e Bento Manuel, em ofício ao barão, narrou o episódio como uma
que não se tratava mais de uma perseguição. Bento Manuel
manteve à grande epopéia. São 12 páginas dedicadas à glória, bravura e coragem
marcha. À pressão aumentou com o surgimento, pelo me
smo flanco, das forças imperiais. Em sua versão, o combate termina não com um
de “grandes massas de cavalaria”, que, troteando cobertas
pelas coxi- rebate falso, mas com uma vergonhosa fuga dos chefes farroupilhas,
lhas, começaram a “engajar fogo vivo”. Ao acelerar à marcha, o
gene- que tiveram suas cavalarias destroçadas pela infantaria imperial. Esse
ral se deparou, subitamente, com “toda a força inimiga à sua frente,
final, obviamente, interessava ao general. Permitia-lhe noticiar a E
comandada por Bento Gonçalves, Neto, Canabarro, João Ant
ônio e xtas, em um momento-chave, quando os dois começavam a se aproxi-
Guedes”. Tratava-se simplesmente dos principais chefes rebeldes, reu- mar, a completa vitória da divisão sob seu comando, provando assim,
nidos com um exército de 2.500 homens de cavalaria
e cerca de 300 de mais uma vez, a importância de sua colaboração na repressão aos far-
infantaria. Conservaram-se, por muito tempo, de parte a par rapos. Esse era também o primeiro combate que comandava depois de
te, imó-
veis. Preparava-se o combate.
anos afastado da guerra, e Bento Manuel sabia que a história contada
Para entender a estratégia rebelde, Bento
Manuel procurou, em si- em seu ofício se tornaria a versão oficial, que seria enviada para O Rio
lêncio, acompanhar a movimentação da
cavalaria inimiga. Com isso, de Janeiro. Mas há outras versões. Francisco Pedro de Abreu, EorqneA
pôde certificar-se de que a intenção dos farrapos s”,
era cercar inteiramen- im pe ri al qu e to mo u pa rt e no me sm o co mb at e, em su as “M em ór ia
te as tropas imperiais para, só então, abrir fogo, de uma vez, por todos
afirma que a luta durou apenas duas horas, da uma às três o tarde, ê
Os lados. Apostando nisso, começou a agi
r. Precisava dispor do maior Considera que nela não houve vencedores, ficando o resultado inde
ciso,
número possível de homens,
Uiçã
e, para isso, dispersou toda a cavalhada “om ambos os lados sofrendo enormes perdas e, em seguida, cantando
da divisão » Que Ocupava muitos sold
ados. No entanto, antes
que pl” Vitória. O próprio barão de Caxias não oficiou o fato ao ministro da
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SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
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458
SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
CA XI AS NO RI O GR AN DE DO SU L (1 84 2- 18 46 )
Exército imperial. Nas coxilhas, só ocorriam perseguições e, ao contrá. O BARÃO DE
rio do que previa Bento Manuel, o mês de julho seria ainda pior, Nada
mais acontecia além dessas “corridas”,*” e isso dava um perfil Muito es.
pecífico para as operações militares, transformando-as, sobretudo nessa
região da província, em “guerra de recursos”. Esse tipo de guerra, po-
rém, interessava mais aos rebeldes, que apostavam na cobertura que lhes
era dada por Fructuoso Rivera (caudilho que governava o Uruguai desde
1838). Tendo se dirigido em agosto para Corrientes, mantinha, de lá, as CORRIENTES
forças farroupilhas abastecidas de cavalhada e munição. A partir desse
mês, as perseguições de Bento Manuel foram interrompidas em várias ST Rio bicuy 4
: egreo eatbiai j
ocasiões por falta de cavalos.*º Era preciso ficar atento a quanto os ani- ESNua xcoorá r Sãu Gabriel
mais agúentariam para que o Exército não fosse surpreendido, no meio
da guerra, com falta de montaria. Cada cavalariano precisava dispor de
ao menos três cavalos para poder revezar no uso dos animais. Não por
acaso, Os farrapos investiam nessa guerra. Dispunham de mais meios na
ARGENTINA |
no
yRúGUA I tmb
ui dy 4
461
460
=
SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
Essa “política de
guições, redistribuindo suas forças em postos fixos e colunas móveis À mais vincu lados a ela que à política do Rio de Janeiro.
fim de ganhar mais agilidade na campanha, era da opinião — eescrevis .
ceutralidade
3
que vinha sendo mantida pelo império separava questões
isso ao ministro — que, “sem um acordo definitivo com um dos dois eram indis opas na A Coroa, ameaç ada por tantas
que para os gaúchos
contendores do Estado Oriental [Uruguai], nunca será possível con- revoltas internas — só no Rio Grande do Sul já eram oito anos de guer-
So-
cluir de todo a guerra nessa província”. Às opções eram Fructuoso ra - estava; segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulino
Rivera ou Manuel Oribe. Como aquele já vinha se acertando com os ares de Sousa, “exausta de recursos”. Por isso, pretendia primeiro pôr
rebeldes, Oribe parecia ser a solução.” fm à guerra contra OS farrapos para só depois enfrentar os conflitos no
À sugestão do barão resultava de sua experiência na província, Suas
far rap os, no ent ant o, con tes tav am jus tam ent e o pod er do Rio
prata. Os
perseguições de nada valeriam enquanto os rebeldes pudessem cruzar a er
de Janeiro e, ao criarem um governo independente, tentavam defend
fronteira com tanta facilidade. De um só golpe, protegiam-se, evitando a eles
os interesses desses negociantes no Prata, sendo muito atraente par
combates, e se refaziam de munição e cavalhada. Os imperiais ficavam guer-
a conquista de terras no Uruguai. A habilidade que mostravam na
sempre em desvantagem. A “política de neutralidade” adotada pelo im-
ra, sobretudo na arma de cavalaria, correndo como “aves pelos cam-
pério vinha dificultando a negociação de cavalhada nos territórios plati-
pos”, explicita na verdade O pertencimento a uma outra cultura, bastante
nos e a entrada das tropas nas terras de fronteira. Sem que a Coroa
particular, que poderíamos denominar, aproveitando as reflexões de
assumisse uma posição, não havia aliados e as possibilidades de aquisi-
Leitman sobre a economia da região, de uma cultura das terras de fron-
ção de cavalos ficavam limitadas a assaltos às forças rebeldes ou à nego-
teira. Foi exatamente por sentir a força dessa cultura, e se ver como um
ciação dentro da província. Só que esta última alternativa também era
estranho nessas terras, que Caxias buscou o polêmico apoio de Bento
muito limitada, não só porque a quantidade e qualidade de cavalhadas
Manuel Ribeiro, agindo ainda com extrema cautela para, apesar dos
da região, comparadas com as do Uruguai, não eram muito expressivas,
conflitos, manter essa aliança.?
mas também pela resistência dos negociantes em fazer acertos com O
O sudoeste do Rio Grande do Sul é uma região formada por um
Bovérno, temendo represálias por parte dos farrapos. No final do difícil
grupo social que sempre guardou uma grande independência da Coroa,
mês de junho, Caxias se irritava com a situação. Oficiava a Bento
Ma- mesmo quando se tratava da Coroa portuguesa. O grupo, identificado
nuel Ribeiro falando desse “medo dos negociantes de Alegrete de se
por Leitman como “soldados-estancieiros”, após várias tentativas da
comprometerem com os rebeldes”. Considerava que isso só acontecia aci a loc al e a
Cor oa par a dim inu ir seu pod er, con seg uiu man ter a sup rem
porque esses homens estavam “bem persuadidos de que o presidente
le- Coroa, para assegurar a posse dessas terras, foi obrigada a entrar em
g al da provinínci
ciaa ێ inc
i apaz de lançar mãão dos meios violentos de
que acordo com eles e suas tropas militares particulares que, ali estabeleci-
usam os rebeldes em tais ci Ana
'8 Circunstâncias”
' e, por isso, estava disposto
agora oa mu dar de atitude e “não ter mais a mesma contemplação com
das, protegiam as fronteiras das investidas espanholas. Foram esses ho-
e
ais inditerentes, ou coniventes da revolta da província”? mens que fizeram para o rei de Portugal as guerras de 1811 a 1817. Até
O que talve z o barão aí É percebesse em junho é que os nego” 1825, puderam se expandir pelas terras, mais férteis, da então anexada
gato Ria o
barã aind a não
Cisplatina (depois, Uruguai). Nesse período, entre 1817 € 1825, levaram
DES PU Os rebeldes, que também eram homens de negócio»
; | para o novo território capital para comprar terras e gado, trazendo ain-
econ
conôômi
mico s específicos na fronteira, estando muito
da grandes manadas para suas estâncias no Rio Grande do Sul. Daí os
462 463
SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
a
O barão de Caxias, era “mais que uma guerra civil?. Os neutralizar o embate entre as forças da Confederação, dirigidas por Ro-
farrapos, quan-
do pegavam em armas contra a Coroa, estavam sas, e as do império. Por isso também as terras do Uruguai transforma-
recusando a política
econômica por ela imposta ao Rio Grande ram-se no centro dos conflitos.”
do Sul e ao mesmo tempo
costuravam 0 apoio de homens que não só
participavam dessa cultura, O Uruguai, sem dúvida, era o maior interessado em solucionar a
como poderiam, por meio de acordos, negociar
com mais vantagem es- questão das fronteiras, o que lhe daria mais forças para enfrentar as am-
sas fronteiras. Mas não é só isso. A guerra que em
também era “mais que uma bições do império e sobretudo as da Confederação Argentina,
mia o od
Enio o passo império. Parte do empenho dos far 1825 tinha reincorporado o Uruguai (com o antigo nome de Banda
e fe
rapos nesses com-
Oriental) às Províncias Unidas do Rio da Prata e assim o manteve por três
O demarcadas. A paz firmada em 182 anos, até a Paz de 1828. O novo país, entretanto, estava internamente
deppois da derr ota do Exérci 8,
árcitoto imp
| erial, resultou na independênci
a da divido entre as forças do então presidente Fructuoso Rivera € as de Ma-
Cispisp
latilatina, com a crilaç
açãã o da República do Uruguai. Só que os lim
ites nuel Oribe, contando este último com amplo apoio de Rosas para assu-
mir o governo. Os líderes farroupilhas, por seu interesse na posse de terras
cia imperial não foram fixados e, em
contíguas, tentavam retardar as negociações para efetuá-las num momenr-
1843, as negociações
continuava
império em resolver a m paradas. A falta de determinação do
questão 3 aliada à escassez de recursos, veio ã0 to que lhes parecesse mais propício. O império estava disposto a definir
465
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DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO
as fronteiras. Pretendia com isso fortalecer o Uruguai contra a Confed m 1843, sugeria ao governo buscar um acordo com o caudilho.
ração Argentina, ainda que significasse abrir definitivamente mão a das €
impé rio dever ia então se
blema é que, por essa mesm a lógic a, o
O pro
território. Já a Argentina preferia manter a instabilidade da fron e, Fructuoso Rivera. Só que este, por seu
teira apr oxi mar do maio r rival de Orib
que alimentava o conflito entre seus dois rivais: o Uruguai, que ela Pret reta ment e, já fazia ajust es Em os líderes
ers rurno , apes ar de tenta r agir disc
dia reanexar, e O Brasil, cuja presença no Prata não lhe agradava. para a proví ncia, em fins
farrapos. Qua ndo o barã o de Caxi as emba rcou
Ainda antes de eclodir a revolta na província do Rio Grande do Sul “ins truç ões” bem
o mini stro Clem ente Perei ra
o governo imperial tentou solucionar a questão, pro de 1842, recebeu do entã
bater
curando por dive
sas vezes o governo de Buenos Aires para discutir os limites do Uruguai, claras a respeito de Rivera. O ministro afirmava “que se ele [Rivera]
há de vir auxil iar os rebe ldes ”. Ou seja, o impé rio mantinha uma
Rosas, porém, sempre protelou a discussão, alegando Oribe,
que tinha proble-
mas internos sérios e urgentes para resolver. No ano de 183 “política de neutralidade” porque realmente se encontrava E relação ão
2, foram três de Janeiro
as tentativas do império. Acompanhando o esforço Prata completamente sem opção. Por isso o governo do Rio
do vizinho, o gover- — e essa era à orie ntaç ão de Clem ente Perei ra — penc a quan to
no uruguaio chegou a propor que o Brasil tratasse do ass preferia
unto diretamen- algu m golp e forte sobr e os rebel des, antes que Rive ra se de-
te com Montevidéu, sem a Argentina. Mas o governo, regencia for possí vel
l na época, sembaraçasse de Oribe” e viesse em auxílio dos farrapos.!ºº
enfrentando também sérios conflitos internos, com
as ruas da corte sen-
do assaltadas por levantes populares que reuniam “tr Ainda que ao final o resultado tenha sido semelhante, a previsão do
opa e povo”, pre- tro não se conf irmo u. No dia 6 de deze mbro de 1842 , Rive ra é que
feriu preservar sua relação com Rosas. minis
Em relação aos limites, o Brasil defendia o acordo obtido
foi derrotado pelas forças de Oribe na província de Entre Ríos. À surpresa
do de Montevidéu em 1819, em vigor desde 1821, qua
com o cabil- foi geral. Fructuoso Rivera desfrutava enorme prestígio, sendo considera-
ndo o Uruguai foi do, conforme escreve Clemente Pereira, um general “invencível”. Pelo ra-
anexado ao Brasil como Cisplatina. Essa linha divisória
era bastante pró- ciocínio do ministro, essa derrota acabaria com a possibilidade de o
xima da atual, passando apenas um pouco mais abaixo
do Chuí, onde caudilho ajudar os farrapos. De fato, esse auxílio estava comprometido.
hoje fica a cidade uruguaia de Angostura. Daí, ela
; À subia até a lagoa Mirim, deix aria m de se unir. Por Isso, ao final , o resultado
orrendo-lhe pela margem esquerda e, em Mas, nem por isso, eles
seguida, tal como hoje, acom- foi semelhante. A diferença é que agora os farroupilhas é que O apoiariam.
P a nhava o rio; Jaguarão.a Esse limite di era pouco interessante para os estan-
cieiros do Rio Grande do Sul, mas era ainda À orientação passada ao barão de Caxias após O ocorrido era para dedi-
bem melhor do que o limite car-se com zelo à fronteira, ficando atento à movimentação dos rebeldes,
que Manuel Oribe tentaria im
Por se assumisse o poder em Montevidéu.
Certamente ele reclamaria, apoiado no Tratad sobretudo às forças de Bento Gonçalves, que meses antes haviam recebido
o de Santo Ildefonso, de
“socorros de objetos bélicos de d. Fructo”, como era chamado Rivera.!!!
E a amp
1777, mpi açã
lia çã o do territór
itóri io uruguaio até o rio Ibicuí, o que
represen-
taria, para O império, a subtra A chance de derrotar de vez Fructuoso Rivera, eliminando-o das dis-
do entre este rio e 0 Qua raí NE S de odi o o mun icí pio de Ale grete, situa- putas pelo governo de Montevidéu, levou o governo de Buenos Aires, três
: região de grandes e ricas estâncias.” meses depois, em março de 1843, a buscar entendimento com o Rio de
2
mais o fato de ele ser um a goten tar ia exp and ir as fro nte iras uruguaias, Janeiro. Honório Hermeto, logo que assumiu a pasta dos Negócios Es-
nti aliado de Rosas, praticamente inviabili-
trangeiros, recebeu, quase perplexo, uma “nota” do general Guido, minis-
E Caxias, que, após as dificuldades enfrenta- tro plenipotenciário da Confederação Argentina. Na “nota”, O general
466 467
R Fr ”
1 r
ar
er a pe rf ei to pa ra fo rç ar Ro sa s a
propunha uma aliança entre os dois países. A Argentina se dis te nd er co m O Br as il . O momento
Punha a se er
nitivo de pa z co m o im pé ri o. Ma s Ho nó ri o He rm et o
enviar a quantidade de cavalos necessária ao Exército brasileir « o tr at ad o de fi
as O se Este assiná um a pr om es sa do ge ne ra l
decidisse declarar guerra a Fructo (...) obrigando-se a conti us e pr ec ip it ando. Cont an do ap en as co m
nuá-] acabo s, subme-
fo rç ar ia pa ra co ns eg ui r a as si na tu ra de Ro sa
que o dito Fructo e seus partidistas fossem expulsos do Estado Ori de que se es
õ
” *
a Guido
i E
sentan
O
dois
a governos de se entenderemnapara a pacificação da província am bo s ti nh am si do af as ta do s e Ro sa s re to ma va O domínio
Ínci e do Esta-% 05. Assim,
- Mas como temia a ingerência de R , ma nt en do in cl us iv e o ce rc o a Mo nt ev id éu . Lo go , O tratado
sobre a região
E
gover nado por por Orib
Uribe, apresentou uma condição: esta o i es qu ec id o e o im pe ra do r fi co u ex po st o. !' ?
Ei aliança deveri com o Brasil f
convencionada no tratado definitivo de paz”, concluindo
m
- ”
n ç os e re tr oc es so s af et av am di re ta me nt e as op er ações diri-
desse ” Esses ava
A
Trata
ado Provisório de Paz ao celeb
es rado em 1828 - Ou Ou seja, r ã o de Ca xi as . Co mo tu do ac en av a pa ra um ac erto entre O
sej Honórriio Herme asto gidas pelo ba
eresse imediato de Rosas para retomar com certa co u ag ua rd an do os ca va lo s pr om et id os pe la
império e Rosas, o barão fi
gemne a questão dos limites. - AlémAlém disso, ç ã o . ad o, Ho nó ri o He rm et o ti nh a ex pl ic ad o
diso. ;
incluí a ai nda a ne o Confeder a Em avis o reserv
dois países
esse comprome: terem a defende a c e b e r a c a v a l h a d a , ba st av a es cr ev er di re ta me nt e a
etendrer a a indep
; endência R do Urugu eai a Caxias que, par re -
o o n s i d e r a s s e b e m s e g u r o . A f i n a l , t r a t a v a
oncordou com o mini stro Honóróri io He € Oribe, acertand um local que c
tom reticente. ; Dirigigiu-lhe outras duas “ 0 v a l o s . C a x i a s , a p a r t i r d a o r i e n t a ç ã o r e c e b i d a , o f i c i o u re-
notas”, ” fazendo dis to,
consideraç õ se d e 6 . 0 0 c a
sobrendia urgên u a ç ã o o n s t r a n g e d or a. Ficou
tei sancia ada a alianali E para a pacificaçãão do Rio; Grand AEe do Sul e servadame n t e a Oribe e pass o u r
po u m a s i t c
Eira a r d a n d o a c a v a l h a d a , e d e p o i s d e s s a l o n g u í s s i ma
condições, principalmente a dos limites, eram “de mais de três meses agu
que, ca ud il ho di ze nd o, si mp le sm en te , “n ad a sa-
apesar da E “boa vontade dos doisl governos”, espera recebeu uma carta do
a” e que, ape
aelas ni poderia m suscitar embaraços, retardando com danos para ambos , Cax ias esc rev ia em jul ho ao min ist ro Hon óri o, diz endo
ber”. Indignado
so problema da pacificação dessas fronteiras ta de Or ib e an ex a, ex pl ic an do que se “ti vesse me fiado
que enviaria a car
o me ve ri a ho je em gr an de s em ba ra ço s para
em tal promessa por cert ma s nã o
ações”.
continuar as oper Os emb ara ços nã o fo ra m gr an de s,
evi tad os. Co mo Cax ias dis pun ha ape nas de 4.0 00 cavalos,
puderam ser
O
talvez tivesse que suspender as operações no inverno. Nessa época
sav a à dep end e r agora do
desgaste dos animais era enorme, e tudo pas
tigor da estação que se aproximava.!?
nes se me sm o mês de jul ho, Ca xi as de cidia pressio-
ntevidéu. Os represen- Não por acaso, O
ant es de Ale gre te. Apó s ess e epi sód io, que exp ôs até
en ça, no : .
entanto, intervieram e, de imediato;
nar os negoci
redigiram uma “nota” à Rosas Ja ne ir o vo lt av a à su a “p ol ít ic a de ne u-
» impondo um acordo entre este e Rivera: imperador, o governo do Rio de
Na verdade, foi por isso p menniz
izaar o golpe sof al id ad e” no Pr at a. Iss o si gn if ic a qu e, en qu an to OS re be ld es se aproxi-
: “SO, para ame rido à que Rosas tentavê tr
469
468
e Fi dê
mavam de Rivera e Oribe seguia em sua consolidada aliança co -de rav a — exp lic ou o bar ão — que “Ro sas nos pode ser
O g o v e r n o c é
Oriental”.!ºº Na ver-
m
da
Rosas,
Caxias continuaria isolado, só podendo contar com a caval sal ele, se pre dom ina r na Ban
p r e j u d i c i a
conseguisse obter durante as perseguições e os combates, sendohada que mais a o bar ão de Cax ias nas cart as int erc eptadas foi
que es. q u ê s u r p r
d a d e , O
tes também podiam ter efeito contrário, caso a invest R i v e ra, que pas sav a a Ben to Gon çal ves detalhes de suas
ida não fosse bem. , fidelidade de
sucedida. Foi isso que se viu, por exemplo, em
maio, no combate de roridades brasileiras. Isso é que inviabilizava qualquer
con
Ponche Verde, quando Bento Manuel, para
aproveitar um Maior núme. a à le chegou ao final desse ano de 1843 convencido
nes j
ro de homens na infantaria, se desfez de toda a sua cavalhada.
de qa
que só uma à Es com Oribe, ainda que temporária, poderia con-
As dificuldades eram de tal ordem que, cinco Ri o G r a n d e do Su l.
meses depois, em de. C luir a guerra
no
zembro, mesmo sabendo da fracassada
tentativa do ministro Honório e
tendo passado ele próprio por um constrangimento,
o barão de Caxias
decidiu oficiar ao governo, sugerindo
um entendimento com Oribe.
Fructuoso Rivera, desde setembro, quando
sua correspondência foi in-
terceptada por forças legais, não era mais
visto como opção por Caxias.
O conteúdo dessa correspondência o havia
surpreendido. A relação do
caudil ho com os farrapos não se limitava, como
ele imaginava, ao forne-
cimento de material bélico e cavalos. O
contato era bem mais estreito,
sobretudo com Bento Gonçalves. D. Fructo,
explicou Caxias a Bento
Manuel, “conta-lhe todos os pormenores
de conversas havidas com 0
Nosso NOVO encarregado de negócios em Montevidéu
”. Seguindo essa
“política de neutralidade”, os plenipotenciários
brasileiros mantinham
relações e negócios tanto em Montevidéu
quanto em Buenos Aires. Rive-
ra ainda detinha o governo da
capital e, com isso, fazia jogo
Tratava com o ministro, escrevia cartas à duplo.
corte, se dizia “persuadido de
que nada mais lhe convém que à conservação
da amizade com o impera-
dor” e, em seguid: a, passava todas as in
3
.
formaçõe
Ea
s aos farrapos. Vi:nha
tratando a corte — definia
o barão — com “má-fé”104
Sem dúvida, não há
470 471
SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO
petal hes sobre O corr eio estão nas Inst ruçõ es de Guerra, anteriormente citada.
Notas 16.
O ofício de Caxias que confirma essa escala é datado de 12 de dezembro de 1842,
e foi enviado ao ministro da Guerra, Coleção Caxias, caixa 810, AN.
ofício de 29 de novembro de 1842. Coleção Caxias, caixa 810, AN.
17 .
Ver ofíci os do barã o a Bent o Manu el Ribei ro. O primeiro em que aparece o termo
18.
ain-
é datado de 24 de abril de 1843. Coleção Caxias, códice 927, vol. 2, AN, ver
da, Zeno Cardoso Nunes, Dicionário de regionalismos do Rio Grande do Sul.
Guerra dos Farrapos, p. 44; Tristão
91 . Spencer Leitman, Raízes sócio-econômicas da
Alencar de Araripe, Guerra civil no Rio Grande do Sul, p. 161; Henrique Wieders-
« Carta ao barão de Monte Alegre de 9 de outubro de 1842, transcrita n pahn, O convênio de Ponche Verde, p. 76; Alfredo Varela, História da grande re-
Os Anai
nais do
Museu Paulista, tomo 5, p. 384. volução, vol. 6. p. 501. Quem leva mais adiante a tentativa de provar o uso dessas
- Passagem narrada no capítulo anterior, entre as p. 229-30. “estratégias de polícia” é, curiosamente, um general, Marivalde Calvet Fagundes.
- Sébastien Auguste Sisson, op. cit., vol. 1, p. 84. Ele chega a citar uma “relação” do dinheiro recebido por cada um dos líderes
« Paulo Pereira Castro, “Política e Administração de 1840
a 1848”, p. $12-13. Sobre farrapos para aceitarem a pacificação da província. Ver Marivalde Calvet Fagun-
a data em que Saturnino de Oliveira foi nomeado e
empossado, ver Walter Spal- des, História da Revolução Farroupilha, p. 322.
ding, À Revolução Farroupilha, p. 5. 20. Ofício de José Clemente Pereira a Caxias de 12 de dezembro de 1842, cota II-32-
- Apud Paulo Pereira Castro, op. cit., p. 516. 3,4, nº 3, setor de Manuscritos, BN.
- Para todas essas informações, inclusive sobre a pol
ítica militar de Saturnino de 21. Barão de Javari, Organizações e programas ministeriais.
Oliveira, ver idem, p. 515. 22. Essas denúncias aparecem se forma mais sistematizada em seu livro, José Antônio
7. À importância política dessa circulação geográfica é destacada Marinho, op. cit.
por José Murilo de
Carvalho, A construção da ordem. 23. Essa aproximação e a anistia são analisadas por Paulo Pereira Castro, op. cit.,
8 - Ofício de 28 de outubro de 1843, códice 927, p. 519.
vol. 2, AN.
9 - Joaquim Nabuco, Usa estadista no Império, 24. J. Galante de Sousa, Índice de bio-bibliografia brasileira.
p. 154.
10 É A opinião sobre o bom senso de Caxias é do 25. Walter Spalding, “A administração de Caxias no Rio Grande do Sul”, p. 249.
barão de Cotegipe. Para as citações,
idem, respectivamente, p. 124-425. 26. Para ter uma noção desse trabalho, o melhor é examinar a Coleção Caxias, caixa
11 « Cota 11-32,3,3 nº 10, setor de Manuscrit
os, BN,
810, AN.
12 mg as informações a seguir foram extraí 2): Referência obrigatória para pensar o IHGB como lugar de produção de um projeto
das desse mesmo documento, idem.
13 « Sobre º brigadeiro João Paulo dos Santos Barreto,
ver Sébastien Auguste Sisson, nacional é o artigo “Nação e civilização nos trópicos”, de Manoel Luiz Salgado
Op. cit., p. 195, Walter Spalding, A Revolu
ção Farroupilha, p. 187, e o próprio Guimarães. Sobre a mencionada reunião de 1842, ver p. 16.
relato do mini stro José E Clemente 28. Sobre essa rubrica e a criação de um “panteão de papel”, ver Armelle Enders, O
Pereira em suas “iI nstruçõeÕ s”, Op.
14. J. Pandiá Calógeras, A po cit.
lítica exteri or do Império, vol. 3, cap. O Brasil é No
am Plutarco brasileiro.
Uruguai. ao: Coleção Caxias, caixa 810, AN. Walter Spalding reproduz o texto no livro À Revo-
15 .O s trabalhos que se dedi, cam a lução Farroupilha, p. 201.
analisar a Revolução Farroupilha,
duraçãção do movimento em função da 30. Esse é um modelo de heroicidade típico do século XIX. Por meio dele, a história se
ã , não chegam a abordar detalhes da nomeação de Caxias;
destacando, nessa f ; t. transforma em espaço de glorificação do indivíduo. O historiador inglês Thomas
» 9 8 fase, AS negociações d e Pp paz. Pred ominam neles també m a anã
lise das causa s do movi Carlyle, exatamente na década de 1840, ficou famoso por suas grandes conferências
sobre o “culto ao herói”. O herói moderno deixa de ser sobre-humano, como para
Os gregos, e torna-se um homem de personalidade exemplar. Procurei desenvolver
liberdade. melhor essa discussão em Adriana Barreto de Souza, “Entre o mito e o homem”.
473
472
ad
tio cad
31 . Apud Walter Spalding, “A administração de Caxias no Rio Grande d Õ Sul”, lfre do Pret exta to Maci el, Generais do Exército brasileiro, ver verbete sobre Fran-
AS. Alrre
p. 245-6. O jornal é de 21 de janeiro de 1843. «co deria Paula € Vasconcelos.
Hr «tó de Pedro Labatut foi referenciada no cap. 2 deste livro. Para Soares An-
32 . Sobre o episódio de Josué, ver Livro de Josué 10:12-15, para Gedeão, Livro dos
Juízes 6:11-40 e 7. 46. A hi s, “O Grã o-P ará e o Mar anh ão”, p. 124; Wal-
dréa, ver: Arthur Cez ar Fer rei ra Rei
33 . Ofício de 29 de novembro de 1842. Coleção Caxias, caixa 810, AN. ção Far rou pil ha, p. 3-1 78; e Sis son , ao tentar negar essa
ter Spalding; A Revolu
34. Todos esses dados foram extraídos do ofício de 29 de novembro de 1842, envi da con dut a do gen era l, aca ba ref orç and o-a qua ndo abr e seu verbete
ado avaliação
ao ministro da Guerra, Coleção Caxias, caixa 810, AN.
ass unt o. Co me ça log o def end end o o ea i afirmando que sempre
discutindo o
35. Esse ofício se encontra no setor de Manuscritos da BN, cota IJ, 32,3,4 nº 3, escentando aínda que as
se pautou pela «consciência do dever e da honra”, acr
ente vencidas,
«naixões que o contestavam? estavam naquele momento completam
36. Sébastien Auguste Sisson, Op. cit.
37. À história é narrada pelo barão ao ministro da Guerra e ao
ministro da Justiça em op. cit.; p- 103.
ofícios datados de 12 de dezembro de 1842. Sobre as ordens expedi o Mac iel , op. cit. Quanto às críticas e O
das ao briga- 47. Sobre a fam íli a Fri as, ver Alf red o Pre tex tat
deiro Bittencourt, ver ofício de 13 de nov, para a viagem 0 ofício
de 22 de dezem- receio de uma aliança com Ben to Manuel, ver ofícios trocados entre Caxias e Cle-
bro, para as comemorações do ministério, ver O ofício de
Clemente Pereira de 28 a nos mes es de nov emb ro e dez emb ro. Col eçã o Cax ias , caixa 810,
de dezembro Todos são de 1842 e pertencem à coleção
mente Pereir
Caxias, caixa 810, AN,
38. Para a trajetória de Agostinho Piquet, a melhor fonte é o de fev ere iro de 184 3, par a o min
=
ist
-
ro da
Livro de Registro da Guar- 22
=
474 475
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO SANGUE-FRIO, EXPERIÊNCIA E OTIMISMO
58. Tudo isso está na carta de Caxias a Clemente Pereira de 22 de abril de 18 a nº 47, de 17 de maio de 1843, Coleção Caxias, códice 925, AN.
43. Apud
Walter Spalding, Caxias e Bento Manuel, p. 8. 80. Ordem do
ais aih de prata utilizada no Rio Grande do Sul no século XIX, e
59. Para o termo velhaco, ver Antônio de Morais Silva, Dicionário da Lingu
a Portu. g1. Patacão e”
guesa. Só temos notícia da carta particular de Caxias pelo
ofício-resposta de 15d : a a E Ri fazendo-se o cruzamento de dados do ofício de Caxias ao
maio de 1843, Coleção Caxias, códice 927, vol. 2, AN. 82. Essa história SR maio de 1843 com o ofício de Bento Manuel ao barão, de 29 de
60. Ofício de 17 de maio de 1843, Coleção Caxias, códice 227, vol.
2, AN. Ea E Ver, respectivamente, Coleção Caxias, caixa 810 e códice 925, AN.
61. Ofício de 8 de agosto de 1843, Coleção Caxias, códice 927, vol. 2, AN.
a E f as do ofício do barão de Caxias, exceto a que menciona
62. Para as tentativas de comunicação de Caxias com e E AA
Bento Manuel, ver sobretudo um retirada do ofício de Bento Manuel.
ofício de 27 de setembro e dois ofícios de 2 de outub
ro. Em ofício de 23 de outu- aa va se baseia no ofício de Bento Manuel de 29 de maio de 1843, Co-
bro, ele faz menção à tensão desses dias. Coleção
Caxias, códice 927, vol. 1, AN, Rana a dice 925, AN. As “memórias” de Francisco Pedro foram publica-
63. Os ofícios de Bento Manuel são dois datados de 3
de outubro, dois de 12 de outubr o de Caxias ao ministro é de 27 de maio de 1843. Coleção
e um de 13 de outubro O ofício onde Caxias diz o e RR O
estar aliviado é de 23 de outubro, 810 AN. O caráter indeciso do combate é mencionado por Walter
Tudo de 1843. Coleção Caxias, códice 927, vol. 1, Sa e E
AN. aa é seu a “Caxias e Bento Manuel Ribeiro”, cais 118, p. fo, e no
64. Ofício de 28 de outubro de 1843.
Todos os ofícios citados são da Coleção
códice 927, vol. 1, AN. Caxias, o anal Farroupilha, p. 209. Posteriornicites le pia ada
65. Para a trajetória desse tio de Caxias, João bém no Exército, sendo apresentado em obra de referência Pe E pe
Manuel de Lima e Silva, ver Henrique
Oscar Wiederspahn, O general farroupilha. Ver Hernani Donato, Dicionário das bataihas brasileiras, p. 413.
66. Ofício de 4 de novembro de 1843, Coleç 84. Henrique Oscar Wiederspahn, op. cit., p. 50. ae aros SE
ão Caxias, códice 927, vol. 1, AN.
67. Carta de 11 de novembro de 1843, cota: 85. Sobre a vitória nessas regiões, ver ordem do dia n e
maço 106, doc. 5.146, AHMI.
68. Carta de Caxias datada de 25 de dezemb Coleção Caxias, códice 925, AN. 1 e
ro de 1843, cota: maço 106, doc. 5160,
AHMI. 86. Ver as seguintes ordens do dia: nº 55, de 19
de junho de is E Rê Coleção
69. Alfredo Pretextato Maciel, op. cit. de 1843, nº 63, de 2 de julho de 1843, e nº 86, de 10 de outubro de 1843,
70. Carta de 5 de maio de 1844, cot Caxias, códice 925, AN. re ilha.
a maço 107, doc. 5195, AHMI.
71. Tristão de Alencar Araripe, op. 87. Esses dados foram sistematizados por Walter Spalding, À O aaa
cit., p. 127.
72. Ordem do dia nº 3, de 20 de no Para a movimentação do Exército nesse ano de 1843, ver p. a
vembro de 1842. Coleção Caxias,
73. Todos esses dados, códice 925, AN. 88. Ver ofícios de Bento Manuel de 17 de agosto, 23 e 28 de outubro
inclusive sobre a expedição que cruzou
a lagoa dos Patos e a
cavalhada arrematada por Caxias, Caxias, códice 927, AN. j ez Tristão de
estão no ofício ao ministro da Guer
fevereiro de 1843, Coleção Ca ra de 5 de 89. Sobre a quantidade de cavalos necessária para RR
xias, caixa 810, AN. na de 1843,
74. Ofício de 18 de março de 1843 e ordem do Alencar Araripe, op. cit., p. 131. O ofício de Caxias é de e
dia nº 36, de 9 de abril de 1843, respec-
tivamente, Coleção Caxias, caixa 810 e códice 925 Coleção Caxias, códice 927, AN. Ao aaa TG
75. Ofício de 31 de março de , AN. 20. Sobre a estratégia, ver a carta ao pai de 11 de novembro pl ; PASSES
1843, Coleção Caxias, caixa
76. Ordem do dia 810, AN. doc. 5146. A carta ao amigo anônimo é de 25 de dezembro de .
nº 35, de 31 de março de 1843, Cole
ção Caxias, códice 925, AN. À HMI. ] ro;
77. Ordem do dia nº 28, de
» de 3 de março de 1843, Coleção 106, doc. 5160, ambas depositj adas no
78. À história foi toda ela extr Caxias, códice 925, AN. 91. Ofício ao ministro da Guerra de 4 de dezembro de 1843. Coleção Caxias,
aída do ofício de 20 de abril de 1843, Coleção
Caxias, caixa 810, AN.
que estã em Walter Spalding, op. cit., p. 208, e para as a jas,
códice 927, AN.
alte- 92. Ofício de Cax ias dat ado de 30 de jun ho de 184 3. Col eçã o Cax ias ,
rações na Organização do Exército
, ver Tristão de Alencar Araripe, ízes s sócio-econômicas da
79. Ver ofício de 17 de mai op. cit., p- 148. Sobre a qualidade da cavalhada, ver Spencer Leitman, Raíze
lo de 1843, Coleção Caxias, respectivamente, caixa 810 € Guerra dos Farrapos, p. 98-100. E
23. Sobre essa política de neutralidade em 1843, ver J.A. Soares de Sousa,
o Rio da Prata de 1828 à queda de Rosas”.
476 477
a E) 8-2 a
94. Todo esse parágrafo se baseia nas pesquisas de Leitman, op. cit, cap. III
, as Citações
estão na p. 98.
95. A frase de Caxias é de um ofício do final da guerra, datado de 17 de sete
Mbro de
1844, Coleção Caxias, códice 927, AN. Todos os demais dados continua
m Sendo
extraídos do livro de Spencer Leitman, op. cit., cap. IV.
96. Quem chama atenção para esse ponto é César Augusto
Barcellos Guazzelhi, O hori.
zonte da província: a república rio-grandense e os caudilhos do Rio
da Prata. p. 16,
97. À expressão “Estado-tampão” é de Spencer Leitman, op. cit.,
p. 104.
478
Bi ru1 ant
481
POR TRÁS DO MONUMENTO UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM
movimentação ao barão. Após marchar por toda a noite, o “inimior iro s par a São Bor ja, as se gu ra nd o ao bar ão que
6º Batalhão de Fuzile
tinha amanhecido nas “imediações de Viana Carolina e foi passar ai “até amanhã à noite ele estará ali infalivelmente”. Agia assim imaginan-
de ontem a comer na lagoa das Conchas?. O general não conhecia : do que Antôni
o Neto partia para Alegrete a fim de proteger as forças de
lagoa, mas ficou sabendo que ela se situava “ao pé do coletor Gusmã a € Port inho , que tinh am subi do a serra dias ante s e deve-
João Antônio
Imaginando que nessa última noite, do dia 3 para o dia 4,0 inimigo se diri gind o, já bem próx imos , a São Borj a. Ele, Bent o
K riam estar agora
voltado a marchar e reconhecendo que não tinha como alcançá-lo Be Ê Manuel, permaneceria onde estava, na “estância de d. Anacleta”, aguar-
to Manuel decidiu ir para Ponche Verde e só depois tomar a direção : à noit e “a part e do capi tão Vice nte Alve s de Lima”, e se
dando, durante
passo da Armada. Mas não prosseguiria nessa marcha sem antes “ad; tia a escr ever ã0 barã o tão logo tives se novi dade s.
comprome
tar O capitão Vicente Alves de Lima para os campos do falecido Rochas troc a de info rmaç ões pros segu iria por todo o mês de
Essa intensa
dali mandar uma partida observar O inimigo novamente”. Qualquer no- ofíc ios send o envi ados , quas e diar iame nte, por ambos Os
fevereiro, com
tícia, escrevia O general, “comunicarei a v. exa.”. Por enquanto, a infor. no dia 9 Bent o Man uel pare cia deci dido a agir, planejan-
lados. Quando
um ataq ue às forç as rebe ldes , fora m estes que
mação de que dispunha não era muito confiável. Tinha sido ouvida em do, para O dia seguinte ,
se reti rara m. Pelo meno s é isso que O gene ral nos
“conversas dos soldados inimigos”. Ao que parece, Bento Manuel vinha nacreditavelmente
infiltrando seus “bombeiros” nas fileiras rebeldes, mas eles, sem conse- do dia 10. Antô nio Neto , avis ado por “bom beir os” da
conta, em ofíc io
guir chegar até os oficiais, traziam informações duvidosas, nas quais só ha do gene ral — os rebe ldes tam bém reco rram a eles —, “se retirou
marc
n-
se acreditava parcialmente. De qualquer modo, para que Caxias ficasse com direção a pontas de Inhanduí”. Desse modo, Bento Manuel, orie
iano
alerta, o general avisava que, segundo esses soldados, os chefes farroupi- tado por Caxias, decidia marchar durante toda a noite para Mar
orme
lhas “iam atacar Alegrete”, e “iam todos, David, Bento Gonçalves e José Pinto e, de lá, mandar atacar o rebelde João Antônio, que, conf
Gomes Jardim”. Só Neto e Guedes tomariam outra direção, para Itama- acreditava, “devia vir com muita cavalhada de São Borja”.
a
roti, com algo em torno de 300 a 500 homens. Nem combates, nem cavalos. Como escrevia Bento Manuel, “nad
| No dia seguinte, o barão já respondia. À partir dessas notícias, forne- se tem podido fazer”. Atribuía isso, em ofício de 17 de fevereiro, às con-
cidas por Bento Manuel, distribuía seus “bombeiros” e, depois, conjectu- tramarchas dos rebeldes. Entretanto, não era exatamente isso que se via.
rava sobre a direção tomada pelas forças rebeldes. Enviou “bombeiros” Do mesmo modo que os farrapos, Os imperiais também não tomavam
ia
para Os lados do Jaguari, d. Pedrito e Santa Maria. Não conseguiu, po- uma atitude firme em relação à guerra. Caxias, no dia 15, reconhec
do que pens ava em cons equê ncia
ça
deva gar
ep
s
ed
rém, obter “rim informação interessante sobre a “marcha de Neto que vinh a mar cha ndo “mai
va à ré
do mau estado dos cavalos” e Bento Manuel, no dia 17, começa
- ucontramarchou para Bagé, para onde
clamar de sua saúde, dizendo que “andava muito doente” por conta de
é natural que aflua a emigração dos extraviados de Rivera” todas essas marchas, “vendo a hora que cairia morto do cavalo,” como
vera”.
No mesmo di acontecera a um amigo.
à 5, Bento Manuel recebia o ofício e voltava a escrever
e;
pres era para avisá-
ao barão. À pressa lo que agora tinha certeza de que 0º Cautela, observação e marchas, longas marchas. Tudo isso desgastava
O Exército imperial e provocava um profundo desânimo entre a tropa € à
oficialidade. Bento Manuel já preparava seu afastamento, e se não fosse a
483
482
er
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO
“fortuna” de Caxias, que em Santa Luzia já era reconhecida pel te, descansava em casa. O tiro, disparado pela janela da sala, não
o S€neral à noi
como sua grande aliada, a história da pacificação seria muito dj mato
u Paulino de imediato, mas, gravemente ferido, ele não resistiu, fa-
ferente,
A intenção deste capítulo, assim, é justamente contar como algu tecendo dias depois. O Eine E deu em picante, a nova capital da Repú-
NS inçj.
dentes, absolutamente inesperados, criaram condiç
ões para que O barão blica Rio-Grandense, e imediatamente vários rumores se espalharam.
de Caxias pudesse iniciar e, em seguida, intensificar o processo de Negocia- Houve quem atribuísse o crime a um plano dos legalistas. Falava-se em
ção dos termos de paz, todo ele cercado por uma série de mistérios. crime passional. Paulino — essa é a versão mais aceita — tinha uma aman-
te, mulher casada, e as suspeitas recaíam sobre o marido, ofendido em
«ua honra. Mas corria também a idéia de crime político e, pior, culpava-se
MAIS DIPLOMATA QUE SOLDADO Bento Gonçalves. Essa hipótese é pouco provável. O mais certo é que o
boato tenha sido lançado pela “minoria”, fechada no propósito de isolar
O clima de desânimo persistiu até 27 de fevereiro, quando
um fato ines- o presidente. Todavia, a simples consideração da hipótese bastava para
perado irrompeu entre os rebeldes. Nesse dia, dois líderes
farroupilhas se acirrar a tensão entre os rebeldes. Um episódio tão explorado politica-
enfrentaram num duelo, que resultou na morte por tétano
de um deles mente, que, um ano depois, ainda criaria problemas para a república.
Onofre Pires. A história, na verdade, já durava um ano.
Teve início am O coronel Onofre Pires, pertencente à “minoria”, ao ver se aproxi-
janeiro de 1843, nas reuniões da Assembléia Geral Constituinte mar o aniversário de morte de Paulino Fontoura, resolveu celebrar um
, instala-
da em dezembro, na cidade de Alegrete, para elaborar o projet ofício fúnebre em sua memória. À lembrança era natural, e a cerimônia
o de Cons-
tituição da República Rio-Grandense. Nessas reuniões, dissen esperada. Afinal, tratava-se do vice-presidente da república. A questão é
sões que
vinham se manifestando desde, pelo menos, o mês de julho culminara que, em seus discursos, como o crime não havia sido solucionado, o de-
m
na defecção de alguns nomes do governo. O grupo, identificado com putado revolveu os ditos rumores e acusou publicamente Bento Gonçal-
o
“minoria”, se articulava em torno da figura do vice-preside ves. De imediato, este lançou o desafio, que foi aceito por Onofre Pires.
nte da repú-
blica, Antônio Paulo da Fontoura, ou simplesmente Paulino Fontoura. Os dois contendores, sozinhos, em “lugar ermo”, “bateram-se à espa-
Com ele, deixaram o governo o ministro da Fazenda, da Guerra da”. Bento Gonçalves, bem mais ágil, deu dois golpes em Onofre Pires,
e da
Marinha, major Antônio Vicente da Fontoura, o que caiu por terra. A morte também lhe sobreviria lentamente, após al-
ministro da Justiça e do
Fadsn
Caiha ea Eri do Ps
manecia fiel ao presidente dos Er
guns dias sem os necessários cuidados médicos.
Agora, de fato, Bento Gonçalves era responsável por uma morte € a
crise se instalava de vez entre os chefes farroupilhas. No dia seguinte, dia
Peas ado | jr
que parece, o motivo dessa ia são
: foramaos váro ios
econvênios
a dee auxí-; 28, Caxias já comentava, em ofício a Bento Manuel, o desentendimento
firm ados entre O general Bento Gonçalves e entre os farrapos, e o desafio lançado pelo general Bento Gonçalves. À no-
Fructuoso Rivera,
uma aliança que não agradava a al tícia que lhe chegara era de que Onofre Pires teria chamado Bento Gonçal-
guns farrapos.
À crise, porém, estava ap ves de ladrão à frente da tropa de Canabarro. Parece que o termo tinha
no dia 3 de fevereiro de 18
“nas começando. Quase dois meses depois;
43, O vice-presidente Paulino Fontoura sofreu sido de fato usado, as demais fontes só não indicam qual era o público
um atentado. Segundo rel atos, O cr que assistia ao ofício fúnebre. Talvez tenha sido mesmo a tropa.
iminoso atirou-lhe no peito, quan
do,
485
484
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO
Bento Gonçalves, desde agosto, já não era mais o presidente olencarão à 200 homens, pois a gente toda hoje está mais disposta a estar
blica, tendo passado o cargo a seu vice, José Gomes Jardim. Alegouda repú, suas casas , que a anda r Voan do pelas coxilhas”.é
quieta em
sair do governo, “mau estado de saúde”, permanecia porém nt E! Aproveitando essa crise, os imperiais retomavam os combates, que
como militar. Os autores são unânimes em afirmar que o general ne não foram suspensos oficialmente em nenhum momento, mesmo após o
cou o cargo na esperança de minimizar os conflitos entre os farr e-
apos E início das negociações. Nem assim as forças de Bento Manuel cons
dias após sua retirada, no dia 7 de agosto, Antônio
Neto deixava o A guiam um bom resultado sobre os rebeldes. No dia 6 de abril, enquanto
mando-em-chefe do exército republicano, sendo subs Canabarro se esforçava para arregimentar homens, uma força de
Bento
tituído por D 2
Canabarro, mudança que caracterizava a vitória da “ mino Manuel foi derrotada no passo da Lagoa e, no dia 28, o acampamento
ria”, E
Para o barão de Caxias, o duelo não poderia
ter ocorrido em melho imperial, protegido pelo coronel Francisco José da Silva, da divisão de
momento. Após dois meses sem emplacar
um combate, sem Dea Bento Manuel, foi invadido ao anoitecer, sofrendo grandes danos. O ge-
neral amargava problemas sérios de insubordinação em sua tropa. Nesse
de estabelecer qualquer aliança no Prata,
sem dispor de cavalos em con-
dições de fazer a guerra e com Bento Manuel mesmo mês de abril um “batalhão se recusou a marchar sob sua voz” e,
falando em problemas de
saúde, o clima no Exército imperial não era nada após fazer junção com o barão de Caxias, “os soldados”, conta o barão
animador. Se não fos-
sem todos esses conflitos e a grande crise que em carta ao pai, “me dirigiram um requerimento pedindo para serem
se abateu sobre os farrapos
com a morte de Onofre Pires, o barão cert mudados da divisão que ele comandava”. Para evitar maiores proble-
amente teria um ano difícil
pela frente. Por isso mesmo, ficou muito satisfeito mas, Caxias ordenou que o batalhão fosse imediatamente dissolvido, e
20 saber, pelo coronel
Francisco Pedro, de algumas novidades do camp mandou prender o capitão que o comandava. Talvez essa fosse uma das
o rebelde. Um “cida-
dão” contou ao coronel que os oficiais rebeldes razões da doença de Bento Manuel, que, a cada dia, estava mais apagado
não suportavam mais as
desavenças de seus chefes, comentando, entre si, na guerra e redimensionava suas pretensões de obter, ao final da campa-
que se os desentendi-
meros não cessassem de vez “até o fim do verão, nha, um bom posto.”
que eles iam embora,
que deixariam David, Neto e Bento Gonçalves Nessa mesma carta ao pai, O barão de Caxias escrevia ainda que Os
sós nas coxilhas, dispa-
ando de um para outro lado”. A im “farrapos continuam a falar em paz” e, ele, Caxias, acreditava “mais
pressão geral era de que “por todo
o mês de março ou abril” a guerra
estaria acabada agora nisso que antes”. A aliança com Fructuoso Rivera também atraves-
Março ou abril ainda era mu sava um momento difícil. Após a derrota do caudilho para Manuel Ori-
ito próximo, mas sem dúvida essa sen-
sação dr
de qu “os os chef
a e cHeles se estã-o matando uns aos outros,” como escre- be, Os farrapos não conseguiam mais se reabastecer com a mesma rapidez.
de Caxias, aceleraria o processo de Os papéis tinham se invertido: Rivera é que buscava o apoio deles. O due-
"
certTaia ironiaI o barão
inter-
os ofic iais não ten ham dei xad o seus lo agravou essa crise. Desde então, Bento Gonçalves começou, por
HE
chefes E S nas cox! Por que , ain da que
» E
cres ci médio de um capitão de sua confiança, a tentar marcar “uma conferência
consid era vel men t ju » à des erç ão no exé rci to far rou pil ha
particular” com o barão para “cortar as dificuldades para a conclusão da
nabarro estava k E bril, Caxias informava a Bento Manuel que (2 guerra”. Mas Caxias não acedeu às solicitações. Pelo capitão, respondeu
and o a reuniããoo qu que man-
perrand
lota, » “esespe
dou fazer por esse s lados”
que o general “declarasse por escrito O que queria dizer pessoalmente”,
não o assustava. “Todo de E para O exército. Isso, no entanto;
= S me in 3 ! - a
Porque, como ele não ocupava naquela ocasião um cargo representativo
Ormam?, escrevia O barão, “que não
487
486
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO
entre os rebeldes, Caxias não o julgava com meios de tratar do assunt o manifestava com insistência, era na verdade uma forma de ga-
Bento Gonçalves não desistiu, continuou “instando pela entrevista”, a e P ara si, após tantos reveses, ao menos O título de pacificador. Só
“ ” ”
alo
rantir
maio, mandou dizer que “estava autorizado pelos demais chefes” ea enganara. David Canabarro e a “minoria” é que fariam esse tipo
entabular negociações. Só então Caxias decidiu recebê-lo. “Vendo ne is para manter O título entre eles, minoristas. Por isso, desfize-
cã
nenhum mal poderia vir à causa do Império de eu
afi rma va o bar ão — às epo ca a por
me comunicar particu- A última hora —
larmente com Bento Gonçalves, e que de tal conferência algum bem se Gon çal ves . O gene ral, daí em dian te, o teri a mai s vez, estaria
Bento
poderia consentir”, explicou o barão ao ministro, “consenti inteiramente exc luí do do pro ces so de neg oci açã o. Essa s disp utas , por ém,
que ele viesse
a uma estância próxima ao meu acampamento e, fingindo
um passeio, fui par ser iam ent e o barã o, inte ress ado com o Estava
começavam a pre ocu
a esse ponto e com ele me encontrei”. À reunião Ain da ness e ofíc io, expl icou ao ministro
durou mais de duas ho- em fechar um aco rdo de paz.
ras. Primeiro, O general tentou negociar um projeto de federação, ita nei am as forç as estã o tão Fiv ali zad os entr e si,
defen.- que “os chefes que cap
dendo até a entrada, nesse projeto, do Uruguai e da que nen hum dele s pod erá se Ga ii
província argentina que estou certo; pela exp eri ênc ia,
de Corrientes. Falava autorizado pelos caudilhos — Rivera, ami gáv el, rece oso dos outr os seus ais )
pelo Uruguai meter com qualquer arra njo
e Madariaga, por Corrientes. Caxias nem considerou . Por isso , toda s essa s expl icaç ões do
a proposta, x Mas O governo impe rial insi stia
gumentou que esses homens não “tinham poder dos Imp era dor ” — inf orm ava O mini stro da Guer -
povos para levar a barão. “Sua Maj est ade o
efeito tais incorporações” e que nem ele próprio “estava que não fos sem “de spr eza dos os meio s con ven-
autorizado para ra — tinh a det erm ina do
tratar de tal coisa”. Bento Gonçalves fez então uma ra. Isso sign ific a que desejava prosseguir
segunda proposta, cionais” de se pôr fim a uma guer
limitada à questão interna, farroupilha. Exigiu, era tal que o mini stro suge riu ain ça ao
para fechar um acordo, com as negociações. O inte ress e
que o governo imperial assumisse a “dívida interna e externa
que eles ti- barão mandar à corte um emissário, oficial de confiança, para pintei
nham contraído” e que os militares farroupilhas fossem reconhe rcito :
cidos em das circunstâncias mais particulares do estado da guerra e do Exé
Seus postos, naqueles a que tinham sido “elevados pela revolução”. um amigo
Essa O escolhido foi o coronel João Frederico Caldwell, irmão de
Proposta, na opinião do barão, era negociável e, por isso, comprometeu- — de Aca dem ia Mili tar € das pol êmi cas “recep-
de juventude do bar ão
Se a submetê-la ao governo. Mas de nada segu iria para a cort e em set emb ro.
valeu seu esforço para nego- ções aos cal our os” —, que
ciar, pois os rebeldes recuaram. Dois dias depois, David Canabarro em fun ção dess a insi stên cia do gov ern o do Rio de Jana iro que, no
Foi
ogo
B O para desc onsi derar tudo que havia sido tratado final de agosto, o barão tinha decidido retomar, ele próprio, o diál
com ento Gonçalves. Os rebeldes, segundo ele, tinham a Mandou
força suficiente com os chefes rebeldes, sem esperar por uma iniciativa
para manter a guerra e bater conf erên cia, “aos cida dãos” José Pe
o Exército ; mperial nos campos, sem ual- cha mar em seu quar tel, para uma
.
quer negociação. Pp pos, sem q am apenas mensages-
ôni o da Silv eira . Amb os seri
droso e Severino Ant
O bar ão quer ia, seg und o esse s “ci dad ãos ”, que eles com unicassem
ros.
“os dese jos que nutr e em pro mov er à paci ficação
a David Canabarro
pro pon do, dess e mod o, que O gov ern o farr apo declarasse
buída a um fato — di ISsputas » ESSA repe ntina desistência só podia ser atri- deste país”,
ção da guerra
a
à cessa
um
guir
a
,
internas Quando esteve com “as condições com que lhes convé m conse
o general, 0
barão chegou
B a acredi Itar que essa sua as , pu de ss e lev á-l as à ap re ci aç ão da Co ro a. O general
disposição para negociar, que des- para que ele, Ca xi
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488
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO
Canabarro não decidiu nada sobre a questão. Preferiu encamj não ho st il iz ar em mai s as for ças do Exé rci to que v.
o = o Nhar Og res olutos em
referidos “cidadãos” ao ministro da Guerra da República Rio-G = manda » Pediam ainda, nessa mesma Acarta, salvo-condutos que
tanden. exa. te pe la pr ov ín ci a.
se, Manuel Lucas de Oliveira, mais capacitado, na sua opinião os permitis se m ci rc ul ar li vr em en
avaliar “negócio de tão alta monta”. » Para
não perd eu tem po em man dar os salv o-co ndut os. Sabi a que
O barão
O argumento era realmente coerente. A proposta do barão a um “cer teir o golp e nos rebeldes”, alimentando a intriga
ISSO significari
ser discutida pelas instâncias competentes da república, e e ntre os chef es. Ness e ínte rim, poré m, Cana barr o já dizia
assim deveria e a hostilidade
subir à presidência pelo ministro da Guerra. Só que esse cui que esta va “dis post o a bate r estes dois chef es no mesmo
dado de ablicamente
David Canabarro era também uma manobra política
para ganhar te o em que eles deixassem O serviço rebelde”. Assim, tão logo
po. Ele tinha, exatamente no mesmo período, alve s rece beu O salv o-co ndut o, man dou , pelo mes mo emissá-
na virada do mês A Bento Gonç
agosto para setembro, enviado um emissário a Teófilo rio, que ele fosse devolvido ao barão. Junto, enviou-lhe
uma carta. Essa
Otoni, ex-rebel-
de de 1842, para consultá-lo “sobre a possibilidade it o obs cur a. Be nt o Go nç al ve s não acu sa ni ng ué m
de fazer reaparecer negociação é toda mu |
a revolução na província de Minas”, oferecendo-lhe, nd ên ci a, ma s dei xa cla ro que , me sm o de se ja nd o “ar den te-
como forma de na correspo
colaboração, os melhores oficiais rio-grandenses rm o da gu er ra ci vi l” , ja ma is tr al ri a se us co mp an he ir os, des-
para comandar a re. mente O te
volta naquela província. | O contato é narrado -se de pri ncí pio s que tin ha man ife sta do dir eta men te ao barão na
pelo próprio Otoni 3 que, viando
huma
em| resposta, disse que “ tinha horror à guerra
civil” e que jamais apoia- entrevista ocorrida meses antes. Ismael não era portador de nen
Ha O separatismo, porque considerava
“ a maior das desgraças para carta. Caxias conta ao ministro que o oficial fazia a proposta dos salvo-
uma nação ser pequena” - Sua única amb
ição, prosseguia Otoni, “era condutos “bocalmente” e ele, Caxias, é que teria exigido que a fizesse
ver OsE rio -Brandenses livres, reforçando o
Partido Liberal das outras por escrito. Daí a carta ser assinada por Ismael Soares. Das duas uma: ou
províncias irmãs?. O ex-rebelde assegurava
ainda que a idéia de fede- Bento Gonçalves se arrependeu de sua proposta ao vê-la por escrito e
ração seria “repelida”, aconselhando
Ca nabarro a aproveitar a “mag- saber da reação dos outros chefes, ou Caxias seduziu o oficial, conven-
nífica oportunidade” de acertar cendo-o a redigir a tal carta sobre os salvo-condutos, acrescentando al-
a paz.10
é Essa carta, porém, só foi redigida gumasidéias, quenão constavamna proposta original, feita “bocalmente”.
no final de setembro, no dia 24
.
ntes de ela chegar
ao Rio Grande do Sul, Canaba Como afirmou o próprio barão, esse seria um “golpe certeiro” e — é im-
ao barão de Caxias. Tentava ã
um último im po r o projeto fede- portante lembrar — não seria a primeira vez que ele cuidaria de espalhar
rativo ao Rio de Janeiro. Só gol pe par a
que, a cizânia entre os rebeldes. No Maranhão, essa palavra já aparecia em
a essa altura, a trama não era mais dos
nem acredita-
Seus ofícios. O fato, porém, é que O negócio dos salvo-condutos estava
não par ticipou,
desfeito. Bento Gonçalves negou na carta que enviou ao barão, com OS
Ri e E Bento Gonçalves
pe ra que O trabalhando desde maio pelo tratado de paz.
e ae ; tônio Neto, comandante do exército farrapo Salvo-condutos, tudo que supostamente teria dito a Ismael Soares. Isso
durante seus
» O general inda tentou negociar novamente Significa que nem ele, nem o general Antônio Neto, abandonariam
com Caxias.
“companheiros d'armas”, e que ambos, quando enviaram Ismael, pre-
não
tendiam apenas reiniciar as discussões sobre o tratado de paz. Se
tinha abandonado seus companheiros antes, quando eles neutralizavam
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UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
seus esforços, escreveu Bento Gonçalves, não O faria agora que el a de ter razão. Fructuoso Rivera, a partir desse encontro,
nalmente concordavam sobre a urgência do tratado.!!
A s
es fi
? É
ra fom ent ar boat os e, com isso, desestabilizar as rela-
ter a ejJementos pa lhe seri a ext rem ame nte conv eniente, já
m p é r i o € R osas . Isso
Mas a avaliação de Bento Gonçalves estava certa apenas em « entre o i
çõe a , o r e n quan t o , is o l a d o n e s s e c o n f l i t o c o m o g o v e r n a d or de
David Canabarro, de fato, retomava as negociações com o barão y ça e a c h a v p
E E. à
es que que S
continuava, na verdade, procurando ganhar tempo. Como o po Bueno s Aires e seu al
iado no Ur ug ua i, Ma nu el Or ib e. Pe ns an do nis so,
posto a | Teófilo Otoni era r Os ór io co mo em issário.
: de criação de uma
; federação, que inclui riaai ar o ma jo
* .
nd
= =
ma
[ m
Caxias prefer iu
Uruguai e, talvez, Corrientes, Fructuoso Rivera foi o escolhido par pa me nt o de Ri ve ra , em ter rit óri o ur ug ua io , Osó-
no > à rei. Ao chegar ao acam
niciar as conversações, como representante dos farrapos. No final de Vi ce nt e da Fo nt ou ra , um dos líd ere s da ala “mi-
se- “o encontrou Antônio
tembro, no dia 30, o caudilho escreveu a Caxias propondo “suspensão d ic a. Ve nd o qu e a re sp os ta do ba rã o às pr op os tas do
norista » da repúbl
hostilidades”. Esse era o maior ou ra co me ço u a mo st ra r à “m ai or bo a von-
a : or i interesse do grupo. , Fo nt
age
| O general Canabarro
tados estavam tão pouco interessados no tratado de paz que co ns id er an do até me sm o a idé ia de abr ir ne-
tade em concluir a guerra”,
após proporem um p prazo de 30 di tas sem combates, para que pudessem o de ar ma s. Ri ve ra , irr ita do co m Fo nt ou ra ,
v gociações sem suspensã e car E
elaborar o acordo que seria levado à Coroa, previam o “prolongamento” nd o qu e iss o era um a “i nd ig ni da de ” e, “p er de ndo a
descontrolou-se, dize
desse prazo por tempo indeterminado, depois que o texto do acordo asn eir a a Osó rio ». Ins ist ia na su sp en sã o de armas,
vol: cabeça”, “disse muita
fassa do Rio de Janeiro. O prazo deveria se estender pelo tempo necessá- lhe int ere ssa va. Só q ue a in te nç ão do ba rã o de Caxias
única proposta que
ro para que os chefes farrapos deliberassem novamente. Sem qualquer ent e eli min á-l o das neg oci açõ es co mo for ma de inv iab ili zar de
era exatam
c | nde pro jet o fed era tiv o no qua l o gru po de Dav id Ca na ba rr o vi-
a Rivera ainda propunha ao barão que até lá aguardasse: vez o gra
da guerra. No mês
q ueEr he envie] uma resposta que importe o mesmo consentimento”. nha investindo tanto, e com isso retardando o término
ms viamente a proposta foi l recusada. O barão, para isso, nãoã preci- ro , o bar ão co me mo ra ri a ess a sua “ha bil ida de” para
1 seguinte, em novemb
2 recorrer à sua habilidade política. Ele estava proibido pelo go- o do Riv era ” dos reb eld es, esc rev end o ao pai sob re as
“separar o velhac
ve sõe s do cau dil ho de “fa zer pap el de juiz de paz em nos sas des ave n-
qo cntar suspensãoA de armas”,e era isso que oficiaria
a Fructuoso pre ten
ua
Ivera: tenho ordens expressas do governo imperial
: para não
ã aceitar Ess a sep ara ção só se efe tiv ou no iní cio de no vembro.!
ças internas”.
; ú com o barão,
vi E a por parte dos rebeldes dessa província que não te: Fructuoso Rivera ainda tentou obter uma entrevista
te por Osó rio . Ma s tev e seu ped ido mais
À por Dase a “posição de armas, e uma vez que isso se efetue, suspen-
deposica enviando-lhe um ofí cio -co nvi
sas ficam as hostilidades”12 usa do. Co m ess a nov a rec usa , Cax ias que ria dei xar claro que
uma vez rec
Esse ofício, d atado o E diá log o pos sív el co m O “es tra nge iro ”. Iss o oco rri a por volta
só seria enviado ao caudilho não havia
diasias denoi
depois, , ag de 1º de
pelas mãos do maior outubro, dep ois de Teó fil o Oto ni ter res pon did o a
par Jor M Manuel Luísis Osório
Osóri (que futurame? o do dia 24 de outubr o, um mês
rã general, senador e marquês de H rro , e se ess a car ta ain da não hav ia che gad o, dev ia est ar pr óxima
Í sSt Canaba
do barão de Caxias em m “ “co erval). Apesar do grande interé Se gu nd o Can aba rro , só apó s rec ebe r a dita carta
ei 7 do Rio Grande do Sul .
fessada a Bento ManuelClem Ea de perto” d. Fructo, curiosidade Co! de paz . “Su a car ta” , esc rev eu a Otoni,
abri : . as Í O grupo se defini u pel o tra tad o
subtrair-se nesse momento au “il, ele deixaria passar a ocasião. Preferê con duz iu os con tin ent ist as ao esp era do por to” . Ref eri a-
“foi o farol que
va que isso poder la co m contato pessoal com o caudilho porqE se clarament e ao tra tad o. Teó fil o Oto ni não tin ha ace ita do sua pro pos ta
mprometer “nosso governo com Rosas
493
492
UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
de voltar a pegar em armas numa grande revolta federativa ao lado dos «a em seu diário que ficou surpreso com o “caráter generoso e polido”
con
rante todo o tempo df“most rou desejo s na conclu são da
farrapos, e para justificar-se fez uma longa e minuciosa exposição sobre de Caxias, que du
“o estado geral das coisas políticas” no império. Só após ler suas “sábias
» Sua proposta não era nova. Já tinha sido apresentada aos rebeldes
oca siã o. Que ria que env ias sem um emi ssá rio à cor te, a fim de tra-
reflexões”, prossegue Canabarro, “me convenci a empregar meus esfor. aa
o gov ern o imp eri al. Foi o que oco rre u. No dia 8, Fon -
ços na terminação da guerra”. ro rea com
Por esses mesmos dias, Caxias enviava uma carta a Bento Gonçalves vol tav am a seu exé rci to par a, com os dem ais chefes,
roura e padre Chagas
dev eri a seg uir par a o Rio de Jan eir o. |
datada de 22 de outubro. Nela, confirmava a devolução dos salvo-condu. escolherem o emissário que
tos pedidos “em seu nome pelo Ismael” e se dispunha novamente a nego- 10 de no ve mb ro , às qua tro hor as da tar de, em uma reu niã o
No dia
ciar, escrevendo que, se O general acreditasse em seu empenho para terminar dio tin ha com o pre sid ent e Jos é Go me s Jar dim , o
nos campos do Can
essa guerra de forma digna, tanto para Os imperiais como para Os farroupi- el Luc as de Oli vei ra e os gen era is Net o, Can aba rro e João
ministro Manu
lhas, que lhe enviasse um emissário para tratar do assunto. A carta, porém, gas e Fon tou ra pre sta ram con tas do que for a tra tado
Antônio, padre Cha
foi curiosamente parar nas mãos de David Canabarro, que, tendo recebido Tod os par ece m ter fic ado sat isf eit os e, pas san do- se à elei -
com o barão.
a recusa do ex-rebelde mineiro, aproveitou a chance para retomar as nego- nov o emi ssá rio , o gru po dec idi u man ter Ant ôni o Vic ent e Fon tou -
ção do
ciações sob novas bases: sem Fructuoso Rivera, sem Teófilo Otoni e sem ra à fre nte das neg oci açõ es. No dia 13, no ac am pa me nt o de Por ong os,
falar de federação. Aceitando a oferta de Caxias, O governo da República assinaram um documento denominado “credenciais”, que formalizava a
Rio-Grandense, presidido por José Gomes Jardim, enviou no dia 2 de no- missão de Vicente Fontoura, investindo o ministro de autoridade para
vembro dois emissários ao quartel-general das forças imperiais: Antônio representar o governo da república na corte. Nesse texto, um antigo ar-
Vicente da Fontoura, inimigo visceral de Bento Gonçalves, e O padre Fran- gumento, sugerido pelo barão de Caxias a Bento Gonçalves, na entrevis-
cisco das Chagas D'Ávila e Sousa, ambos partidários da “minoria”. Bento ta de maio, foi recuperado pelos farroupilhas. À idéia, conhecida como
Gonçalves era, assim, excluído das negociações. Só ficou sabendo da carta “oferta honrosa”, apresentava a missão Fontoura não como expressão
de Caxias, e da proposta que nela lhe fazia, quando os emissários de Cana- da derrota do movimento armado, mas sim como uma “desistência”
barro já estavam de volta do quartel-general do barão.! provocada pela ameaça estrangeira. À missão nessas “credenciais” era a
ável
A dupla de emissários marchou por todo o dia 2 e no dia 3 fez uma junção “da grande família brasileira” para “impor um dique formid
pausa em Jaguarão. Esperavam a contestação do barão à carta enviada ao estrangeiro audaz que pretende fulminar a ruína desta terra e do Bra-
por
padre Chagas e o salvo-conduto para que pudessem entrar no
campo impe- sil inteiro”. Essa ameaça externa era, sem dúvida, uma referência à ques-
rial. Esses documentos só chegaram às sete horas da noite do dia 4. Isso tão pla tin a, às con sta nte s inv est ida s de Ros as no Uru gua i, por meio de
ainda manteve os emissários nesse ponto por dois dias. Só retomaram à sua aliança com Manuel Oribe. A partir desse momento, vários boatos
* marcha às cinco horas da manhã seguinte, do dia $, chegando começaram a correr na província. Um deles assegurava que O chefe ar-
ao quartel-
general do barão de Caxias às quatro horas da tarde. O barão, porém, não gentino vinha “procurando influir no ânimo de alguns rebeldes” a fim de
GET 1
sp lá. E em Bagé, de onde vinha exclusivamente para a entrevis- firmar uma grande aliança dos povos do Sul contra o império.
ta. egou no dia 6 pela manhã,ã e a reunião
x com os emissários ocorreu àâ Quase uma semana depois, no dia 16, Vicente Fontoura deixava O
tarde, “durando desde as ave-marias até às nove é meia”, Vicente
EC
Candiotinha e partia para Bagé. Na viagem para a corte, iniciada no dia
Fontoutê
494 495
E ph Ih À, |
19, ele seria acompanhado pelo irmão caçula do barão, capitão Carlo . últimos ajustes, desde as investidas de Rivera até a redação da “re-
Miguel de Lima, e pelo coronel Manuel Marques de Sousa, ; esentação ” que seria apresentada por Fontoura ao governo. Segundo
pr
É claro que tudo isso já estava devidamente acertado com o 80verno ocumento já teria passado por ele, para evitar que che-
O barão de Caxias, político como era, não enviaria um líder farroupilha imperado r “se não fosse concebida em termos acatosos e co-
gasse ao
». Explicava ainda, nesse ofício, a composição da comissão.
à corte imperial sem antes tomar uma série de providências. Todos os medidos”
de
seus passos, desde maio, quando as negociações começaram a adquirir Julgava que deveria enviar O emissário para a corte acompanhado
ei ra co nf ia nç a” . Ca rl os Mi gu el , se u ir mã o, er a
um caráter mais sistemático, eram comunicados ao Rio de Janeiro, con. dois oficiais de sua “int
me nt os “m ui to im po rt an te s” e o co ronel Mar-
tando com a aprovação do governo. Nem a mudança de gabinete, em portador de alguns do cu
“d e viv a vo z” ex po r ao mi ni st ro Je rô ni mo Coe-
fevereiro desse ano, com a saída dos conservadores chefiados por Honó- ques era enviado pa ra
co m re sp ei to à pa ci fi ca çã o” , al ém da qu il o “que
rio Hermeto, mudaria a posição do barão. Esse é um traço marcante em lho “todo o ocorrido
Ca xi as , “m ai s co nv en ie nt e par a de pr onto ulti-
sua forma de agir. Ele jamais sustentaria, pelo menos não até esse mo- me parece”, explic av a
mento, uma política militar que não contasse com uma boa base de apoio mar essa desastrosa guerra que nos aflige”.
, o ba rã o es cr ev eu ai nd a um a car ta do me sm o teor
na corte. Adversários ele sempre teve. O que Caxias nunca perdia de vista No mesmo dia
Inf orm ava , em pou cas lin has , sob re a par tid a da com iss ão,
era justamente o caráter político de uma intervenção militar. Tão logo para o pai.
concebia um plano de ação, começava a costurar alianças que o viabili- o na imp ort ânc ia dos “pa péi s” lev ado s pel o irm ão e das entre-
insistind
zassem, na província e na corte. Foi assim com o general Bento Manuel, vistas que o coronel Marques de Sousa teria com O ministro da Guerra,
que stã o de apr ese nta r o cor one l com o um ofic ial em que m de-
no início da campanha, e seria assim também com o novo gabinete. O fato fazendo
. Com isso , o bar ão de Cax ias aci ona va out ra
de ser todo ele liberal não poderia atrapalhar seus planos. Desse modo, positava total confiança
mesmo com a violenta oposição dos conservadores ao gabinete — alguns de rel açõ es, igu alm ent e ou mai s pod ero sa que a man tid a no gover-
rede
deles, como Eusébio de Queiroz e Clemente Pereira, seus amigos pes- no — sua família. Francisco de Lima, seu pai, ocupava uma cadeira no
soais —, O barão prosseguiu nas negociações. Criou com Jerônimo Francis- Senado desde 1837. Um de seus tios, José Joaquim, estava na Câmara
, Ma-
co Coelho, o então ministro da Guerra, uma ótima relação, pautada não dos Deputados, como representante do Pará, e outro de seus tios
de
em iennificações políticas, mas em vinculações pessoais. Jerônimo Coelho noel da Fonseca, gozava de grande prestígio no Exército e era, des
da pro vín cia de São Pau lo — isso par a fica r apenas nos
Ea De. era militar, tenente-coronel, havia sido seu contemporâneo de junho, presidente
trajetória polí-
Academia Militar e, além disso, os dois tinham amizades em comum, ptin- parentes mais próximos e mais velhos, que tinham uma
Je- tica de peso na corte.”
RR no Exército. Uma delas era a família Frias e Vasconcellos. emb para 0 Rio de Jane iro.
àE Só no dia 5 de dez emb ro a com iss ão arc ou
a a nai morte Dai
a dat a, a via gem era ain da den tro da pro vín cia , par a cruzar O
io a Arg; ie emaçies apa gde muito ao Até ess
cho de Bag é até São Jos é do Nor te, ond e fin alm ent e chegariam ao
tre
o interior. Mes-
corte, tornando-se amigo de toda a E E Ei Sueco eso pos março Era a primeira vez que Vicente Fontoura deixava
No dia seguinte à partida
parti de Vicente Jos é do Nor te ele não con hec ia. Tud o o enc ant ava . Est ava , com o
iara E ar Fontoura para
a corte, O barãoâ mo São
onel
a Jerônimo Francisco Coelho. Colocou o mini de todos escreve em seu diário, “feliz com tão dignos companheiros”. Ao cor
Inistro à par
497
496
UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
Marques, agradecia “milhares de atenções e favores”, e Carlos Miguel pont os, che gou , em suas narrativas, até a ida do padre Chagas e
árioS e SP
cativava: “Que belo moço! Que alma generosa e grande!” A polidez é e o seu quartel-general. Caxias só não discriminou, nesses
rapaz era a única que ele conseguia admirar. Às outras, achava insupor- «is, quais eram efetivamente as exigências dos chefes rebeldes. Prefe-
táveis: “Essas etiquetas chamadas de corte (...) nesses seus trejeitos a que eixar que O coron el Marques contasse esse detalhe “de viva voz”,
ju d
chamam ar palaciano, não só apresentam o mais jocoso ademã como provave Imente por prever a reação dos ministros. Por isso também, em
estropiam horrivelmente as palavras.” Só a polidez de Carlos Miguel lhe sua COLTESpO
ndência, destacava a confiança que depositava no oficial.
parecia elegante, talvez porque ele a “adquiriu em suas viagens pela Eu- rq ue s, pr es en te a essa entrev ista na corte, não rebate u uma só vez Os
Ma
ropa”. Viagens — vale lembrar — feitas após a morte do jornalista a quem ministros. Manteve-se calado. E assim permaneceu mesm
o quando o
golpeara numa botica do Largo da Carioca. ministro farroupilha reagiu, tomando a palavra:!
A 12 de dezembro, o ministro farroupilha registrava sua
chegada ao
Rio de Janeiro: “o Corcovado e o Pão de Açúcar (...) foram
a meus olhos E pois que v. exas., ou O governo imperial, fazendo-se desconhecidos do
se desdobrando”. Mas o encanto exercido pela cidade pararia por aí. No verdadeiro estado do Rio Grande, da força que ainda tem esse governo
dia seguinte, dia 13, Vicente Fontoura daria início a sua missão, que aqui me mandou; da eficaz e oferecida cooperação estrangeira; que-
€ a via-
gem perdia todo e qualquer ar turístico que pudesse ter assumido rem só guerra, e guerra de extermínio. O Brasil com luto o sentirá e nós
nesses sucumbiremos, mas nosso rosto não levará ao túmulo o cunho do enve-
dias. À primeira reunião, com parte do gabinete, transcorreu em “tom
lhecimento! Não que os rio-grandenses sabem morrer! Perdem v. exas. O
agro”. Participavam dela, além do ministro Jerônimo Coelho, Almei instante da glória de pacificadores do Rio Grande.
da
Torres, da pasta do Império, e Antônio Galvão, da Justiça. Todos,
na
versão de Fontoura, “ostentavam uma indiferença ridícula e um orgulho Pelo tipo de fonte é preciso, sem dúvida, relativizar o texto. O diário, se-
tolo”. Mal o ministro farrapo — a narrativa continua sendo dele — gundo o próprio Fontoura, foi escrito para seus filhos, como testemunho
come-
seu a ler os “artigos das proposições ou bases da paz”, os ministros im- dessa sua experiência e patriotismo. Por aí, já podemos imaginar quanto,
periais se impacientaram, respondendo, bruscamente, a cada tópico lido. como pai, tecendo sua imagem, ele pode ter enfatizado reações a princi-
Diziam que em nada podiam ceder, que isso seria “manchar o manto Pio talvez não tão expressivas. Além disso, embora afirme que não escre-
imperial”. Lembravam que já tinham autorizado o barão de Caxia
s à ve “para o grande público”, ele não só dotou cuidadosamente O diário de
conceder anistias e não podiam imaginar que “grupos dispersos de rebel-
um “prólogo”, onde presta esses esclarecimentos, como afirmou, nesse
des ainda pretendessem tanto do governo”. Mesmo Jerôn
imo Coelho, no Prólogo, que esse texto era um “documento”. Nada disso, porém, invali-
relato de Fontoura, parece ter se surpreendido com da seu depoimento. Mesmo que não tenha sido assim, com essas pala-
essas exigências.
; Agora fica mais fácil entender o papel dos acompanhantes vras, a reação deve ter ocorrido. Vicente Fontoura era um homem impul-
nessa mis-
são, sobretudo do coronel Manuel Marques. Em seus sivo e se sentiu afetado em seu orgulho pela arrogância daqueles minis-
ofícios, Caxias
unicando ao mininiistro todos os seus passos,
vinha comuni tros que, dali da corte, não tinham idéia do que era fazer política nas
cada um dos avan”
ços e retrocessos ocorridos durant terras de fronteira. No dia 15, escandalizou a todos ao se recusar a parti-
e . Co nt ou so br e àº
interferências de Rive:ra, sobre os sa as co nv er sa çõ es
de cordos en; tre Bento Gonçalves € cipar da cerimônia do beija-mão, realizada naquele dia justamente para
David Canabarro, sobre ,
que se curvasse diante do imperador. À recusa lhe parecia, porém, abso-
quanto isso favorecia o império e, passando pof
:
499
498
=
UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
“cão
posiça do 8 governo era resultad o da ação do coronel Mar-
lutamente natural. Afinal, ainda “não era brasileiro”, sendo, aliás, de P
ança de
cid | th oe
dão de uma república. Mas é claro que nisso havia ainda suas difculda de suas entrevistas.
des pessoais com as práticas da política de corte. Estava certo, “mito
ques;
m de vo lt a, po r co nt a de ve nt os nã o muito favoráveis, só teve
AV jage
certo”, escreve nesse mesmo dia, de que d. Pedro era “um O min ist ro far rou pil ha est ava Sat ish edt o com o Fes ulç ado
pobre Menino início N o dia 20. alg um
ia que a pac ifi caç ão com ple ta ain da aa
puxado sempre e sempre dirigido por um enxame de vis aduladores. de sua CO missão. Sab gra -
te est ive sse dis pos to a fec har “de bo m
Nesse mesmo dia do escândalo, Fontoura já hav
ia estado Com o pai bora pessoalmen
de paz sem os doi s art igo s exc luí dos pel o governo impe-
de Caxias, de quem — escreveu — “continuo a fre
quentar a casa”. À famí. do” o tratado
lia continuava também a cativá-lo. O “senador Lima” pos içã o não ser ia a predominante. De qualquer modo,
era, na sua opi. rial, sabia que essa en à
ída . O Eer one i n
nião, “uma bela alma! Um desses astros que
não se mancham na arte das negociações estava conclu
corrupção da corte e, a despeito dela, brilham com ba ga ge m doi s ofí cio s dir igi dos ao bar ão de
o mesmo fulgor”, a levando em sua
Infelizmente, ele não conta nada sobre essas con da Jus tiç a e ou tr o do da Gu er ra , as no va s 1a —
Caxias, um do ministro
]
versas. Só sabemos que a a
esteve mais de uma vez com o senador, em um de cr et o im pe ri a | “c on ce de nd o am pl a ani sti
sua casa. O Rio Grande do çõeEa s do governo e
Sul era praticamente desconhecido para Francisco todos os comprometidos na luta da reb eli ão”
eds
.
de Lima, que, a maior
parte das vezes, serviu à Coroa no “Norte”. Se
participou de alguma
campanha na fronteira meridional do império,
isso ocorreu quando era
moço, na década de 1810. Tinha, assim, muito o que MISTÉRIOS DA PACIFICAÇÃO
perguntar a Fon-
toura. Um dos irmãos do senador, o segundo mais jov
em, havia sido um ;título: “reserv A
líder farroupilha, morrendo, em 1837, em uma Todo o material — ofícios e instruções — vinha com O ado, ;
emboscada. Segundo
fora aventado, ainda nessa época, os liberais da corte,
entre eles Francis- Aliás, há meses esse caráter “reservado” vinha sendo imposto ss barão
co de Lima, não só mantinham contato, como apoi às negociações de paz. Foi exatamente quando elas se intens o
avam a luta dos far-
rapos. Agora o senador acompanhava as dificu
ldades de seu primogênito depois de junho, que ele recorreu pela primeira vez à uma eum cifra E
para pôr fim a essa guerra por “meios conciliatórios”, e, certament data do de 11 de julho , o uso de códi gos se EPE R
e, era No primeiro ofíci o,
favorável às negociações.1º e, por isso, aind a foi possí vel ident ifica r O assunto.
dois parágrafos
;
No dia 16 de dezembro, Vicente Fontoura foi re
cebido em nova en rão oficiava ao ministro a tomada de Piratini pelas forças do coronel Fran
trevista, cisco Pedro, que, durante a ação, tinha conseguido pqutar três a
rebeldes. A segunda vez que O barão fez uso dos códigos foi pum o )
muita polidez, muita afabilidade” e principal
[1 = . . mae . 4 -
é o ear
mente, observou Font Pequeno, mas que é quase todo cifrado. A data em que foi a
nd es ce nd ên ci a sob re nos sas exi- Usório
ênciasias relrelativ
enc Our
à a, por
Daz? “m ai s co aa X interessante, 17 de outubro. Ou seja, justo quando o major
dias, da primeira para a segunda entrev
ista, porque o ministério decidiu achava em entrevista no acampamento de Rivera e Bento Gonçalves es-
autorizar O barão de Caxias a Prosseguir com a pacifica crevia ao barão, devolvendo os salvo-condutos. O último orio cora
ção, reconhecen
Go, desde já, quase todos os artigos das
instruções de PontabEd Apenãs três páginas, em que palavras e códigos são entremeados, foi escrito T
dois — ele não menciona quais — foram excluídos. Certam vésperas da assinatura do tratado de paz, a 4 de fevereiro, sendo possíve
ente essa rápida
501
500
UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
perceber que ele trata de dificuldades ocorridas durante as Negociações »> Se ela era costumada, só um negócio de extrema importância
ícia * fé
Mas, ao final, o barão garante a Jerônimo Coelho ter “força moral bas aicf Ejiica «ia a recomendação. Nesse ponto, vale destacar o termo utiliza-
just o, para qualificar as negociações| de
tante” para levar “a efeito o que tenho tratado de acordo com as ordens lo
do pe O
mi nistro; nesse mesmo ofíci
das instruções” (anexo V).? omi ssã o é, par a ele, “me lin dro sa” . Às “instruções” enviadas
paz. Essa €
A missão do coronel Marques em parte também é sigilosa. Seu ob- nte 40 bar ão con têm 11 arti gos. O que chama de imediato
reservadame
ra. Após exi-
jetivo é claro: o coronel seguia para relatar “de viva voz” aos
Ministros xo é a disposição do governo para pôr termo à guer
tudo o que se tinha feito até aquele momento em termos de negociação Si 1º a ebe lde
a s sem pre
| exp res sem os
CE“de sejQUos de depDaor
gir, nO artigo
e explicar o que ao barão parecia mais conveniente “para de pronto (...) por mei o de pet içã o ass ina da oni oin o ud E E
armas
ultimar essa desastrosa guerra”. Com a resistência do ministério, não , O 2º, o gov ern o aut ori za o bar ão a “def erir ime jata-
artigo seguinte
há como negar o caráter estratégico da missão. Caxias recorria a ela de Sua Maj est ade O Imp era dor a qua pet içã o que
mente em nom e
porque estava seguro de que por meio de ofícios não conseguiria pelo s che fes reb eld es nos ter mos ind ica dos . Essa ea
obter for apresentada
autorização do governo para realizar uma verdadeira negociação, não se tra duz na con ces são E tota l libe rdad e ei ao
que sição, porém,
implicaria atender, ao menos, algumas exigências dos rebeldes. Mas trá rio , não ser iam nec ess ári os 11 arti gos. À função
a para agir . Do con
missão Marques evita também — é importante destacar — a explicitação es é exa tam ent e imp or a obs erv açã o de alg uns pon tos . Por Es
dest
dessas posições. O que é dito “de viva voz” não fica registrado. Tratan- negociações,
mesmas instruções, o barão de Caxias não poderia, nas
do-se de uma autoridade que vinha recorrendo a uma escrita cifrada reconhecer dívidas contraídas pelo governo republicano. Também esta
E + va
=“
nos ofícios, isso não é um detalhe. Se as exigências de Fontoura eram di do , co mo afi rma o art igo 3º, de ap ro ve it ar ofi cia is
fais reb eld es no
imped pe
im
tão ofensivas a ponto de se dizer que “manchariam o manto imperial Exército ou na Guarda Nacional, ficando todos eles “dispensados inde-
”,
O que teria feito o governo mudar de idéia? Quais teriam sido os argu- finidamente” destes serviços. Mas o artigo 5“era sem dúvida o ais de-
mentos expostos pelo coronel Marques? Ele esteve com todos os minis- licado. Ele regulamentava o destino dos escravos que serviara aos
tros? Falou-lhes separadamente? O imperador tomou parte nessas rebeldes. Por ele, todos seriam remetidos para a corte, ficando à dispost-
discussões? Tudo isso é uma incógnita. A que stã o é que esse s escr avos peg ara m em arm ãs em
ção do governo.
e.
Depois, é o governo que, aceitando o que fora proposto, mantém
esses troca de sua liberdade, e constituíam parte expressiva do efetivo rebeld
termos sigilosos. Os ofícios enviados ao barão, dos ministros da Gue
rra € Seria difícil, para os chefes farroupilhas, desfazerem agora, depois de
da Justiça, não têm senão um parágrafo. Não era preciso tantos anos de luta, o acordo que tinham com esses negros, para selar a
mais. Conforme
escreve Jerônimo Coelho: “e Porque nesta ocasião para o impé rio. O gov ern o impe rial só admi tia emp reg á-l os no ser-
aí regressa o men- paz com
cionado coronel Marques, ele informará a v. exa. todo o lib erd ade . 22
ocorrido no né viço do Estado, mas não = co nc ed er
gócio de que veio encarregado”. Em uma frase, no eir o, Cax ias rec ebi a das mã os do cor one l Ma rq ue s
mínimo, curiosa, ainda No dia 2 de jan
afirma que O governo imperial confia que, nas negociaçõ essas “instruções” e mais algumas outras, passadas de “viva Voz ia Teria
es, “v. exa. %
comportará com a sua costumada discrição e perícia” ainda, no dia seguinte, dia 3, uma reunião com Fontoura. Este egos
21
e perstinita inevitável é: por que q ministro da Guerra lembra 20 em seu diário que o barão, nesse encontro, lhe assegurou pampla boa-fé
à
barão a necessidade de ele se comportar com sua “costumada discrição da parte do governo. O ministro farroupilha não teve acesso às instruções
502 503
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO
Ê
imperiais e, no dia 17 de dezembro, ainda na corte, escreveu que q BOver. sivo ; mar cad o para fins de jane iro, na mes ma vila de Ponche
encon tro deci
no imperial ficou de autorizar o barão “para tratar plenamente da pacif- Ao que tudo indi ca, a data e o loca l foram acertados com Caxias
verde.
cação”. Acreditava nisso. Saiu dali para Ponche Verde, reunindo-se dia 12, quando Fontoura voltou ao campo imperial. A partir dali, seu
com a
os chefes farrou
Aos
reunir todos
É
de
no
504 505
UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
507
506
-
-
UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
ministro Jerônimo Coelho, o barão de Caxias agora, de forma simples Jo coronel Marques, com os ofícios ministeriais, nunca veio a público.
decidisse desconsiderar as “instruções imperiais” e entrasse em acordo os chefe s da revolução não teriam se entendido. Tratava-se de
Se viesse;
direto com os farroupilhas, à revelia da corte, sobre os termos do tratado decreto de anistia e seu texto firmava a vitória do império e a comple-
um re-
de paz. Até porque um tal grau de independência certamente teria conse- aç ão do mo vi me nt o. Seu s líd ere s são con sid era dos , no dec
bordin
nu ma lut a “reprovada
c
quências sobre sua carreira. Seu pai, em 1824, pagou caro por uma ambi. s”
-
do
=
s e de sv ai ra
"
dit os Tu di do
=
to, “sú
tá 9
ção semelhante, a de solucionar a seu modo os conflitos em Pernambuco, ira ”. Af ir ma -s e ain da que , se o im pepe
ragadodor agora lhes con-
pela| nação inte
O curioso é que esse assunto foi completamente silenciado. Nenhum os súditos “se acolhem arre-
cedia anistia, só o fazia porque esses mesm
biógrafo menciona essas negociações, na intensidade e obscuridade com a fra se des sa cairi
ria co mo um a bo mb a entre tre o os chefes
pendidos”. Um
que se desenrolaram. Apenas destacam o espírito conciliatório do barão ab il iz an do qu al qu er ne go ci aç ão . Ele s jam ais pediram
farroupilhas, in vi
e, quando citam os artigos do tratado de paz, listam uma versão resum;. am en te não im ag in av am que O té rm in o da gue rra estava
anistia, e ce rt
da, integrada apenas por quatro itens (anexo IV). Quem chama a aten-
do nes ses te rm os pel a Co ro a. Por iss o, ess e dec ret o nunca foi
sendo coloca |
ção para isso, num artigo ousado, se considerarmos a época de publicação is do Br as il .”
publicado na Coleção de Le
e a vinculação institucional do autor, é Henrique Wiederspahn, um ofi- o in co mp le to s e co nt ra di tó ri os , a ún ic a es tr at ég ia
Diante de dados tã ;
cial de carreira do Exército. Apontando para esse “mistério” que ronda Ee Rn tar unir esses
possível para extrair uma história desse “silêncio” é ten
as negociações de paz, ele sugere que essa outra versão dos artigos, a pon ho que com ece mos pel o últ imo dele s, pel a sug est ão
fragmentos. Pro
mais resumida, teria sido a que circulou no Rio de Janeiro na época. hn de que os art igo s que de fat o sel ara m o tra tad o de paz de
de Wiederspa
Infelizmente, Wiederspahn não vai adiante em suas considerações. Limi- for am div ulg ado s no Rio de Jan eir o e no res tan te do imp ério.
1845 não
ta-se a indicar que “há ainda hoje muito a ser desvendado”. Talvez ele Essa idéia ajuda a afirmar a hipótese de que a negociação desses artigos
não imaginasse que esses mistérios não se restringiam aos artigos, mas cort e, ain da dur ant e a est ada de Vic ent e Fon tou ra. Apó s recu -
ocorreu na
que circundavam as negociações desde julho, época em que Bento Gon- sar com “tom agro” as proposições dos rebeldes, 0 ministério se recolheu.
çalves iniciou o diálogo com o barão. e os três dias sub seq uen tes , enq uan to Fon tou ra fre que ntava a casa
Durant
As suspeitas de Wiederspahn sobre os quatro artigos não só proce- do senador Francisco de Lima, o coronel Marques certamente exe
cutava
dem como mostram que na verdade não existiu um tratado de paz entre sua missão. Ou seja, expunha aos ministros — ou talvez ao próprio impe-
os chefes farroupilhas e o império. Para que um documento seja reconhe- — até ond e as neg oci açõ es tin ham che gad o e o que 0
rador, não se sabe
cido como um tratado, sobretudo tendo sido — como nos quer fazer crer barão considerava importante para finalizar a guerra. É mui
to provável
a memória da “pacificação” — um ajuste “de potência a potência”, deve que, entre seus argumentos, O barão tenha insistido na
idéia, bastante
contar com a assinatura a para ele, de que O imp éri o prec isar ia dos líde res far rou pil has para
de plenipotenciários das partes interessadas. clar
Os 12 artigos que colocaram termo à guerra fron teir a no Prat a. Ele esta va lá, ness as terras de
levam apenas a assinatura enfrentar os conf lito s de
dos oficiais farrapos, e vinh a sen tin do cot idi ana men te as difi culd ades Se E fesena
és o
d O Impéri reunidos em Ponche Verde. Nenhum representante fron teir a,
assinou o documento. Também não foi publicado nenhum guerra naquela região. Toda sua experiência em gue
rras Gus de três
geo pa sobre esses acertos, O único decreto imperial, inte rnas , vali a pou co ali. Por isso , neg oci ou o pol êmi co apoio
citado nº campanhas
artigo 2º das “instruções”, e que havia seguido para o Sul por intermédi é
ad » .
de Bento Manuel Ribeiro e, agora, propunha ao governo do
Rio de Janei-
o
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DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO
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DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO
mações de Manuel Lucas e a dele, dando por encerrada a puerra civil « reunidas, cerca de 1.200 homens, pelos lados do serro de Poron-
força do geral permanecia com David Canabarro. Acampado em
província. Em função de todo esse jogo praticado pelo barão, alto O coman
sco Pe-
Spalding definiu sua atuação no Rio Grande do Sul numa
frase: ele foi nguçu, à alguns bons quilômetros de Porongos, estava Franci
Caanguçu,
“mais diplomata que soldado”. A frase, porém, evoca claramente uma im pe ri ai s, que , ev it ad o por seu s E bo mb ei ro s da
Aro, coronel das forças
outra e não há como deixar de sugerir que, se a memória de Caxias já o re be ld e, de ci di u ma rc ha r co m o ob je ti vo de su rp re en dé- los . so
posiçã
não estivesse consolidada em 1964, quando Spalding escreveu esse tex- isso, SÓ podia marchar à noite, emboscando-se durante o dia. Possuía
to, talvez ele tivesse dito: foi “mais político que militar”. Num tom mais ica tiv a de 1. 17 0 pr aç as , po ré m inf eri or à do in im ig o.
uma força signif
ríspido, Alfredo Varela, em uma obra clássica sobre a revolução ur pr es a era , de ss e mo do , a gr an de ar ma de Fr an ci sc o Pe dro,
farrou- O elemento-s
pilha, composta de seis volumes, concluiria que no sul o barão tinha et en di a en fr en ta r os ge ne ra is Ca na ba rr o, Ne to e Jo ão An tô ni o,
sido que não pr
“menos general que político”.30 um a ba ta lh a. Ap ós qu at ro noi tes de ma rc ha s fo rç ad as , pe las
juntos, em
No dia 1º de março de 1845, o barão de Caxias assinou a “procla- ho ra s da ma nh ã do dia 14, cai u de um só go lp e so br e o in im igo.
quatro
mação” que anunciava o fim da guerra e, no dia seguinte, dia 2, David ou -o pel o fl an co dir eit o, ca in do so br e o 4º re gi me nt o, par te de le in
Atac
mili-
Canabarro reuniu seu conselho de oficiais e decidiu pela permanênc
ia tegrado pelos “lanceiros negros”? — como o nome sugere, uma força
e
do barão de Caxias na presidência da província, da qual ele só
sairia ar de ex-escravos. O desbarato foi completo. Os generais rebeldes, qu
em outubro de 1846, tendo tempo suficiente, até lá, para completar se achavam do outro lado, à esquerda, conseguiram escapar. Ainda as-
suas negociações. sim, O espólio foi expressivo. Francisco Pedro tomou-lhes “o estandarte
da república, toda a bagagem, todo o armamento de infantaria, e muito
de cavalaria, toda a munição de guerra e mais 1.000 cavalos”. No cam-
PORONGOS, UM PONTO OBSCURO DA HISTÓRIA PÁT
RIA po, ficaram mais de 100 mortos. Foram feitos 300 prisioneiros, entre eles
o ministro da Fazenda e 33 oficiais. Apesar da narrativa ser do diário de
Dentre os c
“mistérios”
EE 32
que marcaram essa etapa final da guerra civil e
Pi Francisco Pedro, não há nela nenhum exagero. Tudo isso foi confirmado
suas negociações, há ainda um outro, extremamente polêmico, sobre O em seguida por outros relatos, e a “surpresa” se tornou um fato-chave no
qual muito já se escreveu, tendo-se inclusive registrado depoimentos de final desse ano de 1844, que desmotivou inteiramente quem ainda resistia
= de Caxiaaq s. 3
ààs negociaçõea s de paz com o barão
Ea militares que testemunharam o episódio. Trata-se da “surpresa
e patas » Ocorrida no dia 14 de novembro de 1844 Mas a polêmica em torno desse episódio só começou em janeiro,
a E -
, justamente
q uan cópi as de um ofíci o assi nado pelo barã o com eça ram à circ ular
: O Caxias acertava o envio de uma comissão para | rial
a corte impe quando
,
a fim de se avançar nas negociações
de paz. entre alguns chefes farroupilhas. O ofício, mais um com a marca E reser
cisco
E Log
= o à após
p Er lã do dia; 10, de Vice
nte Fontoura e do padre Cha- vado”, era datado do dia 9 de novembro e dirigido ao coronel Fran
g presi a Jardim, o ministro Manuel Lucas e os generais Neto; Pedro. Por ele, a “surpresa de Porongos” tinha sido ordenada pelo barão
m r E om
,
Canabarro e João Antônio, nos ca
> mpos da Candiotinits ha, para que os dois de Caxias, e pior, tudo havia sido prévia e minuciosamente acertado
emissários prest | do menos que O general
inclusive o dia e a hora do ataque, com ninguém
do que fora trat ado com o barão de Caxias;
os gseta À ela prese
itas
| e nspnntes
voltaram a seus postos. Os três tinham suas Canabarro. Vale reproduzir o documento:*
513
512
UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
Reservado — sr. cel. Francisco Pedro de Abreu, comandante da ga bri ntimento de traição. Sentimento tanto maior porque, em janeiro,
do Se
do Exército — Regule v. sa. suas marchas pela maneira que no dia ra o ofício veio à tona, Vicente Fontoura estava voltando da corte
quando
duas horas da madrugada, possa atacar as forças a mando de Cana a ma negociação que vinha sendo conduzida justamente por
ba ro, imperi al , de U
que estará nesse dia no Serro de Porongos. Não se descuide de mand
bombear o lugar do acampamento de dia, devendo ficar bem certo de A Canabarro. Além das mágoas criadas pelo “episódio Porongos”, outras
úvida s eram inevi távei s. Nin gué m arris cava, a essa altura, um palpite
ele há de passar a noite nesse mesmo acampamento. Suas
marchas de a d
ser o mais ocultas possível, inclinando-se sempre sobre b re até onde o gene ral teria se deix ado levar , corr endo inclu sive boat os
sua direita a so
posso afiançar-lhe que Canabarro e Lucas ajust
aram ter as suas Dt a respeito de seu envolvimento em um grande “conluio com o barão”.%
ções sobre o lado oposto. No conflito poupe sangue brasileiro o
au a Certamente foram essas dúvidas que retardaram a conclusão das nego-
puder, particularmente da gente branca da província
ou índios o bem ciações, inviabilizando a reunião prevista com Os chefes farrapos para fins
sabe que essa pobre gente nos pode ser útil no futuro. A relação
das pessoas a quem deve dar escápula, se por casualidade
E de janeiro. Como vimos, foi exatamente por conta de desentendimentos
caírem prisio-
neiras. Não receie a infantaria inimiga, pois ela bá entre esses chefes que o barão enviou ao ministro Francisco Coelho, no
de receber ordem de
um ministro de seu general-em-chefe para entregar o cartu dia 4 de fevereiro, um longo ofício, de quatro páginas, que entremeava
chame sob
pretexto de desconfiarem dele. Se Canabarro ou Lucas forem
prisionei- palavras e códigos. O barão pretendia, com esse ofício, “tirar v. exa. de
ros, deve dar-lhes escápula de maneira que ninguém possa nem
levemen- cuidados” que a demora nesses acertos podia criar. Ao final, escrevia ain-
te desconfiar, nem mesmo Os outros que eles pedem que não
sejam presos, da ter “força moral bastante” para fechar o acordo de paz (anexo V).
pois sa. bem deve conhecer a gravidade desse secreto negócio, que
nos Caxias, mais uma vez, não se enganou. Sua força moral era tal que
levará em poucos dias ao fim da revolta desta província (...)
tudo quanto lhe digo nesta ocasião, já v. sa. deverá estar bem ao
Além de não só pôs fim à guerra como, após a pacificação, conseguiu que essa
fato do
estado das coisas pelo meu ofício de 28 de outubro e, por polêmica fosse esquecida, sendo o general David Canabarro cultuado
isso, julgo que
o nie sera aproveitado dessa vez. Todo segredo e circunspeção é indis- como um grande herói da revolução. Só na “última quadra” do século
é Eu “mei rca E confio no seu zelo e discernimento
que não XIX o episódio foi recuperado. Quem o retomou foi Apolinário Porto
gredo. (Ênfases minhas.) Alegre, um intelectual gaúcho que havia integrado a Sociedade Partenon
Literário e que nos anos 1870, decidindo dedicar-se à história da provín-
O texto é muito claro e, pelo que vai escrito, não havia com
o negar que cia, escreveu um livro intitulado Rio Grande do Sul. Seu trabalho teve
a surpresa do Gia 14 havia sido combinada entre os generais, Dav
id Ca- um alcance limitado, só circulando na região, mas isso foi suficiente para
ia : barão de Caxias. Tudo tinha se passado exatamente, em seus despertar a atenção das novas gerações. Em 1892, o jovem Alfredo Ro-
drigues ingressava no debate. Com um artigo sobre a pacificação da
Farroupilha, defendia David Canabarro, discutindo o principal argu-
no ato sem mun içã o, e o que era mais grave, não
tinha cartuchame por mento de acusação apresentado por Porto Alegre. Para este, Canabarro
numa atitude E oiro Crê antes do ataque, o general Canabarro, por conta da resistência dos
havia entrado “em conluio” com Caxias
ca coisa que não teria cine ) ne dado ordens para recolhê-lo. À uni demais chefes, que não admitiam negociar um acordo de paz, insistindo
a recomendação de manter E , E piána, Para azar de Canabarro, fo! em manter a guerra. Alfredo Rodrigues considera a acusação um absur-
e disseminou, entre os chefes Pa a história se espalhou, gerou e
do e, para prová-lo, menciona um ofício enviado pelo general a Caxias
s, um grande mal-estar e um profun
515
514
2 P P dd
PI 1
-
l
=”
logo após a surpresa de Porongos, no qual “declarava estar disposto q “Al fre do Var ela , há muito interessado na história da revolução,
Caxias
continuar na luta”, tornando ainda sem efeito as conversações iniciadas anos depois, à publicar a maior obra sobre o tema, com nada
por Vicente Fontoura poucos dias antes, no acampamento imperial34 eis volumes, tinha achado o documento no arquivo de Do-
O mais complicado nesse debate, porém, é que todo ele se baseia em : de Almeida. À descoberta mudava o rumo das discussões.
uma certa tradição oral, de histórias que vinham sendo contadas há 50 só par eci a con fir mar o “co nlu io” , com o mos tra va que Os chefes
gla não
por todo s esse s anos . Dom ing os de
anos, desde a “pacificação”. O ofício citado por Alfredo Rodrigues, por farrapos também O tinham ocultado
exemplo, nunca foi localizado. Mas a versão de que Canabarro, irritado ent e, per ten cia à “ma ior ia” , ao gru po de guto , Gon-
Almeida, politicam
com a “surpresa”, decidiu continuar a luta está presente em vários ou- apó s o imp act o inic ial E e de
calves. Isso mostra que
tros livros, que tentavam defender o general farrapo, ou mesmo o barão s che fes opt ara m pelo Al s aeR eÃo aa IrO
janeiro de 1845 esse
de Caxias. Os autores que pretendem destacar a autoridade deste lem- exp lic ado par a seus “co mpa nhe iro s d'ar mas” — co
certamente deve ter se
bram que as negociações só prosseguiram, com a ida de Fontoura para a ima gin and o que a aut ent ici dad e do Foc a ser ia
gita Varela — e,
corte, porque o barão, em sua resposta, foi categórico com Canabarro, já se ant eci pou e, ain da ness e arti go, ind aga va por que
questionada, ele
dizendo que jamais tinha “assentido na deposição de armas”. Uma leitu- em com o tem per ame nto de Dav id Can aba rro , tão orgu-
motivo um hom
ra quase simplória, já que acredita que isso teria sido suficiente para o em def esa de sua hon ra e tira do sati sfaç ão com o
lhoso, não teri a saíd
demover o comandante-em-chefe do exército farroupilha da decisão de de Cax ias . Tam bém per gun tav a por que o pró pri o bar ão “de ixou
barão
pro-
voltar às armas e de suspender o envio do emissário à corte imperial. correr” um “documento apócrifo”, que o expunha igualmente, com
só havia
O polêmico ofício do barão de Caxias para Francisco Pedro também metendo todo seu esforço de “pacificação”. Para O historiador,
não tinha, até então, sido localizado, e o debate corria pautado em boatos, uma res pos ta poss ível : o doc ume nto era rea lme nte ver dad eir o, e “Po ron -
histórias contadas a partir do que se ouviu dizer. Às vezes, Os nomes evo- gos” tinh a sido res ult ado de um con lui o entr e os gene rais .
cados inspiravam mais confiança, quando, por exemplo, eram menciona- ano s dep ois , em 190 1, Alf red o Rod rig ues escr evia um arti go-
Doi s
dos osfilhos de Domingos José de Almeida, um respeitado líder farroupilha. A dem ora devi a-se ao tem po que dedi cara a novas
resposta ao de Varela.
Outras vezes, recorria-se ao relato de um velho oficial, que jurava ter visto Par a disc utir um ofíc io, à pri mei ra vist a, tão definitivo, era
pesquisas.
ou ouvido alguém ler o documento-prova da “traição”. Argumentos difí- pro vas . Com o os ace rvo s arqu ivís tico s não traziam
preciso reunir outras
ceis de serem analisados, sobretudo depois de mais de 50 anos.% ele men to nov o, e Alf red o Rod rig ues con tin uav a sem encontrar
nenhum
a expl icar aqu ele doc ume nto , deci diu apo sta r na
Foi nesse ponto do debate, para responder à defesa feita por Alfredo fontes que o ajudas sem
de aos de teste-
Rodrigues, que uma cópia do ofício sobre Porongos ganhou pela primei- realização de uma crítica interna do texto e na busca
ra vez publicidade. Mais um nome acorria ao debate, outro gaúcho, Ál- ca. Ant es diss o, por ém, rec upe rou um ant igo RrE RgARRO
munhos da épo
fredo pela, No dia 26 de janeiro de 1899, o historiador publicou nà Can aba rro , que havi a sido apr ese nta do por Apolinário Porto
con tra
Esses
primeira página do Jornal do Commercio, um jornal de grande circula Alegre mas que, em seguida, foi corroborado por Alfredo ps
ção no Rio de Janeiro, uma matéria na qual apresentava provas mais idéi a de que Dav id Can aba rro era O único o
autores insi stia m na
rou pil ha fav orá vel à paz e, por isso , na opi niã o deles, pPorongos
aê pe a “traição de Canabarro”. Intitulado “A pacificação far
e de um “gr and e con lui o”. Os gen era is Can aba rro e Cax ias se
o Rio Grande do Sul”|,o artigo
: s
trazia, na integra, a.
o ofício | de
do barao
fazia part
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UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
uniram para, por meio de uma derrota, impor a neg ia] e, de fato, podiam ser portadores de uma proposta desse
ociação ao grupo campo imper
Acreditava-se que “o tratado de paz foi uma imposição deco
rrente à - Ela também poderia ter se dado de forma paralela à missão, envol-
traição de Canabarro”. Em seu artigo, no Jornal do Co E só o general. Às variantes são muitas. O difícil de imaginar é que
mmercio, Alfredo
Varela volta a essa idéia recorrendo ao depoimento de um “velho sargen. gi O próprio barão tenha feito uma proposta dessas Jogo na primeira
até
to”, identificado como João Amado, que já citava a que se recorre em último caso, depois de se ter
em seus relatos tre. entre vista. Isso é plano
chos do ofício de Caxias, quando ninguém ainda o conhecia.
O Sargento rentado vários recursos, € todos terem falhado. Além do mais, partindo
dizia que tinha “ouvido falar na traição” quando esteve pri da resi stên cia dos chef es ao acor do de paz, Canabarro não
sioneiro entre dessa idéia,
os imperiais. Um oficial — a narrativa é de João Amad
o — teria de forma “inha o menor motivo para aceitar esse conluio.*
descuidada lido o ofício na sua presença. Dizia,
ainda, que se comentava A crítica que Alfredo Rodrigues faz do ofício do barão é muito inte-
muito, no campo imperial, que David Canabarro “vinha um trab alho bast ante acur ado. Dent re vári as considerações,
pela paz” desde ressante,
a batalha de Ponche Verde, em maio de 1843, e que
sua intenção, nesse perg unta o que teria leva do o barã o de Caxi as a “ent rega r todo o plan o”
utar
combate, já era de se deixar derrotar para obriga
r os outros chefes a ao coronel, quando podia simplesmente dar-lhe instruções para exec
Pe-
entabular negociação com o barão de Caxias. o ataque. Como ordens do general comandante-em-chefe, Francisco
Alfredo Rodrigues recusa mais uma vez essa idéia.
Nesse ponto é dro as teria cumprido sem precisar saber que tudo estava devidamente
preciso fazer algumas considerações. David Canabarro arranjado em seus menores detalhes, tratando-se de um grande conluio.
, como vimos, foi
o último general a aceitar os convites do barão de
Caxias para ace E então observa: “Que estranho modo de guardar segredo, confiando-o
a paz. Enquanto Bento Gonçalves, esse sim, desde
maio — só que de sem necessidade a um homem como Francisco Pedro e aventurando-o na
1844, um ano depois do indicado por Varela — tentav mão de um portador que deveria cruzar pelo meio do campo inimigo.”
a obter entrevistas
com o barão, Canabarro resistia por todos os meios. A isso, junta outro detalhe: “Se o negócio era de tanto segredo, expres-
Antes de responder
positivamente aos ofícios do campo imperial, da par
te de Caxias, enviou samente recomendado, como ouviu o sargento Amado ler esse documen-
até mesmo um emissário à corte para sondar va pris ione iro? ” As perg unta s são real ment e instigantes,
Teófilo Otoni sobre a pos- to quan do esta
sibilidade de reacender a revolta em Minas Gerais sobretudo porque tudo isso não combina com as táticas a que o barão
. Isso ocorreu em se-
RD nd ae aguardava a resposta do ex-rebelde. vinha recorrendo nessa mesma guerra, quando queria manter algum as-
sunto sob sigilo. Para quem vinha usando linguagem cifrada e mensa-
no dia 2 de novembro. Entre : , “ent rega r todo o plan o” a um coro nel, num | ofíci o
a + mr gens “de viva voz”
rebelde, passaram-se oito Mi é imento,
- S6 no AR
dia 10 os dois a
emissários se reu- explícito, e ainda enviá-lo por um portador comum, é um proced
cutado
EA a companheiros para informar 0 que fora tratado com O no mínimo, suspeito. Ele mesmo, lembra Rodrigues, podia ter exe
que og ess emo eo olocumena, fica di nr Est ava mai s pró xim o de Por ong os que Fra nci sco Ped ro. ”
a operação.
um
Só depois de todas essas considerações, Alfredo Rodrigues publica
sado da mais dura resistênci » à Primeira, David Canabarro tenha pa depoimento que revelaria uma série de outros elementos
e, com eles, a
em participar d In Pa e total colaboracionismo, concordando de Porongos
possibilidade de contar uma nova história sobre a “surpresa
E == -
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DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO Um CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO
idade, Félix de Azambuja Rangel, que assistira ao ataque como ajudante a Canabarro, que, por precaução, mandou recolher todo cartuchame,
de-armas de Francisco Pedro. Na versão desse “velho oficial”, o documen. declarando que ele seria distribuído por ocasião do combate. Félix Ran-
to era realmente falso, e só tinha sido redigido alguns dias depois do gel não se lembrava do nome do oficial, mas assegurou que o tinha visto
o
de Porongos, pelo próprio coronel Francisco Pedro.
A intenção do coro- prisioneiro € assistido à “tal conversação” com Francisco Pedro.
nel, por essa versão, era “fazer uma intriga contra Canabarro já qUe este O depoimento representou outra reviravolta no debate sobre Po-
era o único general rebelde capaz de “sustentar ainda a revolução”, Acam- rongos, e essa versão é mais plausível que a existente até então, susten-
pado no passo de Pequeri, após quase um mês de perseguição a Canabar- tada sobretudo por Alfredo Varela. A atitude que Félix Rangel imputa
ro, completamente frustrada, Francisco Pedro teria escrito ao barão de Caxias, não só de ter assentido na intriga armada por
o documento
recorrendo, ao final, à habilidade para “imitar firmas” de um major, João Francisco Pedro, como de tê-la legitimado, fazendo seu secretário co-
Machado Moraes. Observando outros ofícios, este teria assinado pelo ba- piar o dito ofício e, depois, assinando, ele próprio, o documento, com-
rão de Caxias. Mas isso não significa que o barão estivesse isento bina perfeitamente com suas táticas militares, aplicadas em outras
de toda
essa intriga. Félix Rangel nos conta ainda que, tendo encontrado campanhas. À esse respeito, Alfredo Rodrigues lembra um outro dado
dias de-
pois com o barão de Caxias, em Piratini, o coronel mostrou-lhe o importante. Ele explica que para o barão era muito oportuno criar,
ofício,
“no que Caxias aprovou, mandou tirar cópia por seu secretário e assinou, nesse momento, um grande desentendimento entre os rebeldes. Isso
entregando-o de novo a Francisco Pedro”. Só após esse encontro, e obvia- porque, afirma Rodrigues, ele “fizera concessões sem autorização ex-
mente com a autorização do barão, é que o coronel cuidou de divulgá-lo. pressa do governo, para facilitar a execução dela [da pazJ”. De fato,
Passando pela casa de Manoel Rodrigues Barboza, “republicano extrema- como vimos, o barão vinha mantendo o ministro Francisco Coelho
do”? — observou Félix Rangel -, mostrou-lhe o tal ofício e este, exaltando- informado, oficiando-lhe sobre todas suas tentativas de diálogo e sobre
se, chamando Canabarro de traidor, pediu que deixasse o documento a resistência da “minoria” — grupo de Canabarro — que insistia no pro-
a
fim de fazer, ele também, uma cópia. jeto federativo. Ao ministro, comunicou também as investidas de Fruc-
Félix de Azambuja Rangel tinha uma explicação até para a ordem tuoso Rivera, a dissensão entre os farrapos e as reiteradas solicitações
do
general Canabarro, de recolher todo o cartuchame de entrevista de Bento Gonçalves. Mas em nenhum momento o barão
da infantaria. Quando
oo ea
Francisco Pedro Se aproximou de Porongos, teve a ventura de fazer pri-
a
lhe contou sobre as condições que vinham sendo reclamadas pelos re-
beldes para negociarem a paz. lanto assim que, ao chegar à corte im-
Pee S trabalhos”, pedindo que fosse pe perial, Vicente Fontoura teve de enfrentar, em sua primeira reunião, a
O,
arrogância dos ministros. É certo que se a cizânia se espalhasse entre
esses chefes, divididos eles teriam menos condições de fazer qualquer
nheiros esnesse
Podiaserviço”. O cá eo
Prascis Tema aae quem4 cem pr
se into esó ae imposição. Aliás, o grupo que vinha definindo os termos dessa negocia-
Dre o Red Fo a Ss respondeu Cam ã ção, com a divulgação do ofício sobre Porongos, estaria completamen-
te desmoralizado. O barão de Caxias fazia sua aposta e, sabendo que
lo. O oficial foi solto. Chegando entre E o due haveria de enco” + Os farrapos não eram nada ingênuos, cuidou de fazer seu secretário
Neto, contando-lhe tudo que se ri ei copiar o ofício. À letra dele, depois de tanta correspondência trocada,
Passara. De imediat o,dA
o general levou-0
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UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
era conhecida entre os chefes rebeldes, um detalhe do qual ele não de Há também uma coincidência que permanece obscura. O ataque
cuidaria. Félix Rangel afirma, em seu relato, que quando Bento
Es executado por Francisco Pedro, ao cair sobre o exército rebelde, atingiu
çalves reconheceu a letra do secretário do barão, “mandou incontinent; em cheio O 4º regimento — mais precisamente o corpo de “lanceiros ne-
uma carta a Canabarro, desafiando-o”.*” parte dos 100 mort os deix ados em camp o pelo coron el
gros”. Grande
O fato de tudo ter se passado como previsto, em seus menores e mais scra vos. Ou melh or, de home ns que luta vam para obter sua
era de ex-e
— é
comprometedores detalhes — o que impressiona qualquer um que lê o ofi- liberdade. Assim tinham acertado com os chefes farroupilhas e isso
cio, produzindo um efeito de verdade —, também ganha, nessa preciso lembrar —, durante a negociação das concessões, se transformou
versão
uma explicação. Nela, a lógica é invertida. Esses detalhes tornam-se e num ponto extremamente delicado. O governo imperial, no artigo 5º,
tamente um forte indício de que o documento era forjado, tendo sido dos 11 fixados nas “instruções imperiais”, definia que esses escravos
escrito depois do bem-sucedido ataque, quando o coronel Francisco
Pe- deveriam ficar à disposição do governo imperial, que lhes daria “um
dro, que coordenou toda a ação, podia contá-la com requinte
de minú- destino conveniente”. Não admitia liberdade. Ora, não há como deixar
cias. Até a ordem do general Canabarro, de mandar recolher o de destacar a coincidência, que, sem dúvida, foi extremamente conve
-
cartuchame
tinha sido verificada pessoalmente pelo coronel, e, depois da e qurta
a? niente para O término da guerra. Diminuindo o número de negros em
ele deve ter festejado mais esse sucesso. O golpe que aplicara
rir armas, reduzia-se também o impacto que a liberdade, a ser negociada no
o oficial tinha dado resultado. Rio de Janeiro, poderia provocar na “opinião pública”.
Mas há uma questão apresentada por Alfredo Varela que permanece Alfredo Varela acredita que foi esse artigo, sobre os negros, que
fem resposta: por que David Canabarro nunca esclareceu adiou a assembléia dos chefes rebeldes, em janeiro de 1845. Às nego-
esse episódio?
Além da honra ofendida com a pecha de traidor, e o duelo entre Bento ciações foram intensas. Esses homens, mandados recolher por David
Gon-
calves e Onofre Pires nos dá uma amostra de como essas querelas afetavam Canabarro, foram entregues ao barão. Em seguida, foram remetidos
esses homens, havia ainda a preocupação com a posteridade. proví ncia, rece bend o a carta de alfor ria no port o de che-
Do mesmo para fora da
modo Sue Vicente Fontoura imortalizou sua atuaçã
fina l, Cax ias con seg uiu cum pri r mai s ess a con ces são
o na “pacificação” com gada. Mas, ao
pes A emana no devia pensar na memória que se construiria exigida pelos rebeldes. Recorrendo ao aviso de 19 de novembro de
aziar O
» “tão, à perguntar: por que não se esforçou para 1838, com que Bernardo Pereira de Vasconcellos pretendia esv
esclarecer essa história, nem que foss
e deixando um relato pessoal? exército rebelde, obteve a liberdade para os soldados negros.
Por esse
Essa questão ão não nã se esclarece. A resposta de aviso, em seu pará grafo 3º, os libertos da República Rio-Grandens
e
Alfredo Rodrigues éé
quê insatisfatóróri
bastante i a. Ele afirma que o general teria à leg ali dad e ser iam rec onh eci dos livr es no impé-
sacrificado sua re- que se apresentassem
putação “para salvar a nação”
claro, depois d e ava lia dos , par a que seus pro prietários fossem
“0 Refere- se às próprias negociações com rio. Isso,
O barão de Caxias, que pode
riam ficar ameaçadas caso levantasse essa devidamente indenizados.
polêmica. Mas, mesmo co
sp on de u, no ar ti go do Jo rn al do Co mm er ci o, à de fesa
nsiderando ess e hipotético sacrifício, resta aln- Quando re
da a pergunta: e depois? Por rro exp ost a por Rod rig ues , Alf red o Var ela se mostrou in-
que não te ria cuidado disso depois da de Can aba
cificação?, quando se tornou um “pa “Um
gran de amigo de Caxias, voltando à comodado com o tom empregado pelo rapaz em seu texto.
trabalhar com ele, sob suas ordens esc rev eu Var ela , “in ade qua do par a pes soa de tão escassos
à em três outras campanhas no Sul? tom”,
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UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
N ão prete ndo, com essa discussão, assegurar que eles não tenham re-
anos”. Reclamava da arrogância do jovem historiador, que acredita. nas negoci a-
cebido nenhuma recom pensa finan ceira para se engaj arem
va poder chegar à verdade dos fatos. Em uma frase lapidar, afirmou
ções. cubor no tamb ém era uma tática a que Caxia s já tinha recorr ido
categórico: “disparate ou tolice é outra coisa: é alimentar a louca
ema é a fonte que a susten ta. Domin gos de
pretensão de escrever monografias elucidando — definitivamen. durante a Balaiada. O probl
Foi ministro
te — pontos obscuros da história pátria”. Almeida, como já vimos, era um integrante da “maioria”.
da de Bento Gonça lves e també m se afasto u do governo repu-
O mais interessante é que Alfredo Varela reconheceu esse limite no da Fazen
Não admit ia as acusa ções de malve rsaçã o de fundo s que lhe
mesmo artigo em que publicava um documento que parecia comprovar em blicano.
definitivo a “traição de Canabarro” e, sem dúvida, nesse momento, era sua fazia à “minoria”. Quem mais o atacava, na época, era justamente
Além disso, tudo que a carta mostr a é que existia
experiência que fazia diferença. A “surpresa de Porongos” era, e seguirá Vicente Fontoura.
sendo, um desses “pontos obscuros da história pátria”. Talvez, algum dia entre os farrap os. Escrit a em 1860, por Domin gos de
mais esse boato
ov av el me nt e qu an do est e or ga ni za va seu ar qu iv o pessoal,
um documento ou uma informação nova apareça e ajude a interpretar S Almeida, pr
episódio. Só não devemos esquecer que, ao que parece, tudo foi armado va nt a um a sus pei ta, ma s não po de ser vir de bas e para acusa-
a carta le
para levantar suspeita, e para não ser esclarecido. O barão de Caxias não no s nã o en qu an to ou tr o s do cu me nt os não forem reuni-
ções. Pelo me
rit o é, inc lus ive , mu it o frá gil . É pre cis o pe ns ar
assumiria, depois, uma atitude como essa e, talvez, Canabarro tenha acei- dos. O que nela vai esc
ado manter 0 “mistério” em troca da amizade do barão, que, logo em se- ou ra rea lme nte tiv ess e ace did o à pro pos ta dos mi-
que se Vicente Font
guida, tornou-se conde. São muitos os interesses políticos, fazendo com o din hei ro ofe rec ido , dif ici lme nte o coro-
nistros imperiais, aceitando
que as disputas fossem intensas e os arranjos, inúmeros. A menor suspeita, s, ho me m de con fia nça de Cax ias , interessadíssimo em pôr
nel Marque
dependendo da pessoa implicada, poderia virar fato comprovado. No caso mo à gue rra , iria , por con ta de um rom pan te de org ulh o pro vincial,
ter
dos farroupilhas, há ainda a luta interna, entre os dois grupos, de Canabar- ne gó ci o. Era mai s cer to que O ofi cia l fes tej ass e. Isso não só
impedir o
ro e de Bento Gonçalves, pelos lugares de memória no panteão regional. Os esf orç os na cor te, co mo ain da dar ia a Ca xi as ma is
lhe economizaria
aliados de Bento Gonçalves, mais do que este, que parece ter fo me nt ar no va s int rig as e esp alh ar, co mo ele fez outras ve-
optado por dados par a
uma vida pública menos intensa, não deixariam de lutar para fixar uma zes, a cizânia entre os rebeldes.”
EEE um a qua lid ade do bar ão de Caxias
de dignidade, como os verdadeiros heróis. Em 1860, 15 anos Diante de tantas suscetibi lid ade s,
é sua hab ili dad e par a cir cul ar e intervir
am rs emma por exemplo, escreveu pare que se destaca nessa campanha
ext rai ndo del as, ape sar das res ist ências, acordos
ias » barão de Porto Alegre — pata ps em regiões de conflito,
Tu do iss o exi gia del e não um a per son ali dad e
vantajosos para O Império.
ter tentadoasubornar da , cap az so me nt e de cum pri r as leis , mas, ao
ir er
e io : derprecisando
ter aceitado, na : o a coroné rigorosamente disciplina
gu ém ba st an te mal eáv el, co ns ta nt em en te disposto a ne-
IOS nã o se vendem por dinheiro”. O ba- contrário, de al
rão de Porto Alegre não respondeu à carta. Não iria, a essa altura, revolv — a pe rs on al id ad e de um político.
gociar
es a so br e Po ro ng os , o ba rã o de Ca xi as prepa-
histórias tão antigas,alimentando essas discussã Quando recebeu a notíci
Essa suspeita, porém, deu Ê
par a mar cha r na dir eçã o de Bag é, ond e agu ard aria a chegada do
ve rava-se
lu ga r a af ir ma çõ es de qu e o tratado de eti do à cor te. Ânt es de ent rar na
paz tinha sido acertado porqu novo emissário rebelde, que ser ia rem
e chefes rebeldes teriam sido subornados:
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vila, porém, convocou uma reunião com seus oficiais comand - continuou a história sobre a entrada do barão em Bagé e, com
antes de
corpos. As instruções eram claras: estavam proibidas Comemorações ou - e sabemos se o réquiem chegou a ser celebrado na igreja local.
qualquer demonstração de júbilo pela vitória obtida, fic E a vale destacar que toda essa história, com suas várias versões
ando os Oficiais
responsáveis por controlar seus homens. O barão também avisava que os e o ainda hoje sustenta batalhas de memória. E revista Nossa
oficiais cujos soldados fossem flagrados insultando a popula História de abril de 2004 levantou mais uma vez a polêmica, reprodu-
ção local se-
riam punidos. Assim instruído, o Exército fez uma entrada tranquila na sindo O OfícIO do barão de Caxias ao general David Canabarro. 0 moti-
vila. Foi recebido pela oficialidade ali estacionada, por vár
ios funcioná- vo dessa retomada era a pretensa inauguração de sm Memorial dos
rios públicos, por habitantes e pelo pároco do local. Est Lanceiros Negros, no dia 14 de novembro. O memorial deveria ter sido
e, cumprindo seu
papel, perguntou a que horas o barão desejava que se fizesse na área onde ocorreu a batalha de Porongos. Parte iss re-
0 Te Deum construído
em ação de graças pela vitória alcançada. Este o olhou e res (três hectares de terra) foi desapropriad a e deu origem ao Sítio His-
pondeu; gião
co de Por ong os. Rec ent eme nte , em jan eir o de 200 8, o sítio foi
tóri
Sr. reverendo, a causa do governo ganhou um tri O me-
unfo; mas esse triunfo declarado Patrimônio Histórico e Cultural do Rio Grande do Sul.
foi obtido, ainda que não perigasse um só dos
meus soldados,
derramamento de sangue brasileiro. Eu não o con
com o morial, no entanto, permanece como projeto.
to como um troféu,
não me vanglorio com ele, porque não posso vanglo
riar-me com as des-
Braças dos meus concidadãos. É verdade que faço a gue
rra aos rio-
grandenses dissidentes, mas sinto as suas desditas, ACERTOS FINAIS
e choro pelas vítimas
que eles perdem nos combates, como um pai chorar pod
e a perda de
seus filhos. Vá, sr. reverendo, em lugar de um Te
Deum em ação de qu e an un ci ar am , da par te dos reb eld es, a pacificação
Às proclamações
graças pela vitória que obtiveram os defensores da lei, diga antes uma foram duas. Uma delas foi assinada pelo comandante-em- q chefe do exér-
missa de defuntos.
cito rebelde, David Canabarro, que vinha ] também o conduzin oasn eg
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+ 33
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vir
va
a não des
uma
par
“o
por manter relativa distância das disputas políticas da “minoria” e sua xar sua ambição”,
rep ita m, jun tos , “s om os out ra vez bra sil eir os” ,
posição, de mais alta autoridade civil da república, acabou sendo aos nuel Lucas pede que tod os
a , CRS
poucos eclipsada pelo general. Ao final, este dirigia os negócios da repú- tan do: “se rem os sem pre idól atra s da lib erd ade constitucional”.
comple
sua pr oc la ma çã o co m um tom mai s for te, exi gin do a
blica e, só em ocasiões mais formais, recorria-se a Gomes Jardim. Agora, O general encerra
Cax ias : “Un ião , fra ter nid ade , res pei to às leis e ete rna
nem nessas ocasiões. Sua ausência também foi mencionada na proclama- união em torno de
ção de Canabarro, mas somente para assegurar que O general estava pre sid ent e da pro vín cia , o ilm o. exm o. bar ão = Sis
gratidão ao ínclito
“autorizado pelo magistrado civil” a declarar o fim da guerra. os esf orç os, que há fei to na pac ifi caç ão da pro vín cia.”
xias, pelos afanos
for am ass ina dos no dia 28 de fev ere iro, che-
Outro ponto comum às proclamações é a referência à “nuvem me- Esses dois docu me nt os
donha que há tempo troveja para o lado ocidental desse hemisfério”. ão no dia 1º de mar ço. Nes se me sm o dia , ele redigia sua
gando ao bar
A frase, redigida por Manuel Lucas, é uma clara referência a Rosas. io na r a am ea ça de Ro sa s, o ba rã o de Caxias
proclamação. Sem menc
as pe lo mo na rc a: As
id
Para ele, “o império do Brasil, por um rasgo de sua filantropia nos vai priorizou, em seu texto, as garantias oferec
hoje reunir ao grêmio da grande família brasileira de que todos descen-
demos” para poder fazer frente a essa ameaça. À atitude do império, na az er o ter de
pa ra mi m de in ex pl ic áv el pr
sua Opinião, era “nobre e magnânima”, e os republicanos tinham a ele Rio-grandenses! É sem dúvida ou essa
anunciar-vos que a guerracivil que por mais de nove anos devast
recorrido — ?unânimes”, assegura — “pelo bem que dele resulta o inte
bela província está terminada. s co-
Feat geral”, O mesmo “poder estranho” é identificado por Canabarro. at ía mo s es tã o ho je co ng ra tu la do
Os irmãos contra quem comb En
À eia diferença é que o general desloca a nobreza da atitude ao le gí ti mo go ve rn o do im pé ri o a
para 08 nosco, € já obedecem
republicanos rio-grandenses. Estes, por terem “corações brasileiros”, or de no u po r de cr et o de 18 de de ze mb ro de
Majestade o Imperador re co me e
nda no
a poderiam deixar de sentir essa “ameaça à integridade pa ss ad o e mu i po si ti va me nt e
do império”. o esquecimento do ne m po r Ss qual-
o se ja m ju di ci al me nt e
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Mais uma vez o barão de Caxias recorria ao decreto de 18 de dezem. no imper ial e, para serem ressa rcido s, os credores tinham apenas
gover
bro — agora não mais para avançar nas negociações e sim para aNUnciar resen tar seus recib os, que, em seguida, o Rania pelo
que aP
o fim definitivo da guerra. O decreto, porém, seguia Incógnito. Nin- barão ao Rio de Janeiro. O artigo 3º, sobre os oficiais da república, tam-
guém, a não ser Vicente Fontoura e, talvez, David Canabarro, o tinha bém foi executado. Aliás, atenciosamente executado. Ele acabou sendo
visto. Nenhuma cópia foi autorizada e não havia a menor chance de q rma do por Dav id Can aba rro
E e , em um óti mo dis pos iti
É vo de elimi-
an sfo
documento ser publicado. Nisso, as ordens imperiais foram de fato des- -naçãão da Op osição, ajudan | do a criar, ainda, entre ele e o So barão, uma certa
consideradas. O imperador, no próprio decreto, previa sua publicaçã id ad e. Pe lo ar ti go , ap en as pa ss ar ia pa ra o Ex ér ci to im pe ri al O
o c umplic
nas “diversas povoações da província”, tão logo os rebeldes depuses- gen era l co ma nd an te -e m- ch ef e da rep úbl ica — ou a
oficial indicado pelo
sem armas. Mas, afora a ordem de publicação, o barão seguia ca va as si m em sua s mã ã
os , € so me nt e nel as, o e er de
as instru- por Canabarro. Fi
ções do governo, inclusive ao garantir que não haveria perseguiçã co ro ne l Da ni el Go me s de Fre ita s, ofi cia l de con fia nça
o, decisão. Quando o
“nem judicialmente, nem por outra qualquer maneira”. ap re se nt ou , Ca na ba rr o, sem qu al qu er jus
jus tifica
tif icatitiva :
Isso constava do general Neto, se o a a
no decreto. O que Caxias alterou, em sua proclamação, foram Ep Ed A dec isã o ae
o dir eit o de pas sar às fil eir as imp eri ais .
os ter- não lhe concedeu
mos empregados. Rio-grandense é um deles, não foi empregado to era am ig | o fiel de Ben to Go nç al ve s e opo sit o rC
sequer polêmica. Antôni o Ne
uma vez pelo imperador. Este, por meio do decreto, falava a seus ele o gen era l | que ,
q u e , em jan eir o, dep ois da pri
z mei ra re unReião
“súdi- Canabarro. Foi ]
tos” e, de modo algum, reconhecia tratar-se de uma negociação.
s se co nt ra pô s ao ac or do de paz , “a vo ro ça ne
Ele os em Ponche Verde, mai
anistiava. Anistia devida a seu “coração paternal? e, acima
de tudo, ao que e m Pir ati ni reu nir ia ho me ns par a pro sseguir na
povo” e prometendo
fato de esses súditos terem se mostrado “arrependidos”. A era pu ra me nt e pol íti ca e de ix av a cla ro, aos
eliminação guerra. À atitud e, portan to,
desses termos — Caxias sabia disso melhor que ninguém — era ter iam lug ar nas for ças de lin ha os ra iojais ali ado As
condição olhos de todos, que só
para a pacificação. Destacava, assim, O que considerava importante
alg uns pr efe rir am exi lar -se a fic ar eno Rio R Gra
S n
a Canabarro. Assim,
para Os rio-grandenses naquele momento: que não
haveria perseguição. raa do do imp éri o”. O gen era l 7 An tô ni o Neto Era
Sul, " “sob a band ei
Do resto, cuidaria depois. p para o Ur ug ua i, on de pos
a sui a ter ras pod
Retirou-se, co m seu s ofifici ais,
cia is,
Daí a necessidade de manter o barão na presidência da província. o o psi
ria seguir com seus negócios particulares,
|
à
ortav
e
it o co nt
E
de Cax i as era mu
=
531
530
A o
533
532
— AS
o barão partia para a capital, onde era aguardado. Em seu 'o União. A moça, em seu54 texto, continuaria a rememora r a trajetória
trajeto, Porém E
percorreria as principais vilas da Campanha. Nenhuma celebração pode. de tão ínclito general, adicionando-lhe agora a pacificação da quarta
Sul.
ria ser melhor para anunciar o fim da guerra do que a visita do Pacifi
cador província, o Rio Grande do
Porto Alegre era o ponto final da viagem e, dessa maneira, dev
ia COnsagrar O cortejo voltava a percorrer as ruas da capital. Com um roteiro
o herói da pacificação. Por isso, apesar da ansiedade, essa demora previamente definido, passava por casas devidamente ornadas, com as
de algu-
mas semanas do barão se tornava bastante conveniente, sobretudo para janelas abrilhantadas pelo belo sexo. A parada seguinte foi na Igreja da
seu secretário, Gonçalves de Magalhães, e para os mor
adores da capital Matriz. À porta, O vigário Francisco Paula de Macedo e o clero aguar-
raram
mais envolvidos nos preparativos da recepção, que ganhavam
, assim, mais davam O barão. Depois dos devidos cumprimentos, todos ent
Conclu-
tempo para organizá-la. À capital preparava-se para uma
grande festa.” para, subindo ao altar, entoarem o hino “Te Deum laudamus”.
do 8º
No dia 10 de abril, pouco depois da uma hora da
tarde, o barão de ida a cerimônia, o barão foi saudado com os fogos de artilharia
Caxias desembarcava em Porto Alegre. Tão logo o vapor pos tad o em fren te à igre ja, no larg o da praç a. O cort ejo ga-
fundeou, uma batalhão,
pequena multidão acorreu em sua direção. Nesse Brupo, ão, mai s uma vez, as ruas de Por to Aleg re, para cum pri r seu
estava seu secre- nhou ent
tário, o marechal comandante da guarnição da capital, o che tre cho , até o pal áci o do gov ern o. Na sala cent ral dess e palá cio,
fe de polícia, último
o promotor público, os vereadores, várias autoridades e dem pro nun cia do o qui nto dis cur so das moç as do Col égi o Uni ão. Tod as
ais “pessoas foi
do vesti-
de representação”. Aí, Caxias acolheu a todos e, após os
cumprimentos, juntas, vestidas de branco, com fitas verdes no lugar do cinto
às quatro horas da tarde, saía finalmente no trapiche, onde ar el os no co rp o do me sm o, lev and o na cab eça delicadas
era recebido do, e laços am
com “vivas entusiásticos” pelo povo. Um cortejo foi então org tam bém bra nca s, rec ita ram O text o, ofe rta ndo ao bar ão, no
anizado e, grinaldas,
com todas essas autoridades “em forma ?, O barão cruzou a alf cer imô nia , um qua dro bor dad o de sed a rox a sob re cet im bran-
ândega até final da
um “arco bem arranjado”, onde um grupo de moças eira. Um
do Colégio União co contendo dois ramos verdes, um de louro e outro de oliv
aguardava sua chegada. Três delas, escolhidas entre as filhas
das melhores ão, eco ou: “Vi va O exm o. SE. bar ão de Cax ias ! Viva o pacifi-
brado, ent
famílias da capital, pronunciaram pequenos discur cador do Rio Grande do Sul!”
sos, análogos, mas
cada qual relembrando uma campanha do general. Ao final, sua traj do gove rno, Gonç alve s de Maga l hães, anun-
etó- No dia 11, o secretário
ria, do Maranhão até Minas Gerais, passando por São Paulo, tinha às segundas,
sido ciava, em edital, que o barão estaria dando audiências
revisitada, e cada uma das vitórias era celebrada com a entreg onze horas da manh
a ã até a uma da tarde , em
a ao barão, quartas e sextas-feiras, das
f e d ra o
che gou próximo ao de
d nd o t
pela moça que pronunciou o discurso, de uma “coroa no palá cio. Se o núm ero de visi tas
cívica”. seu gabinete,
no jor nal O Im pa rc ia l, ela s fo ram muit as. Quas àe
felicitações publicadas
535
534
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO
enviando seus votos individualmente, procuravam se distinguir, Esse fo; livro tin ha essa missão, de submeter o conde de Caxias
ao tribunal da
de Oliveir a, juiz de paz da vila de C ac
o caso de Narciso Peixoto sendo que ele já sabia qual seria o resultado do julgamento. De
história,
Por problemas de comunicação, O juiz só ficou sabendo do fim da guerra O re ti ro u nO “alto zênite da glória” . Caxias era, na sua opínião, um
lá,
no dia 5 de abril e, para evitar embaraços, escrevia logo ao barão. João ge ne ra is br as il ei ro s, qu e so ub e, c o m o ne -
grande homem, o melhor dos
Mena Barreto apresentava-se, em sua carta, como brasileiro, filho do r e x e m p l o “d e ac ri so la do am or , ze lo e ra ra de di ca ção ao
nhum outro, Se
Rio Grande do Sul e, ao final, após dar vivas ao pacificador, escrevia que G r a n d e do Su l, qu e ag or a o tr an sf or ma va , por ele ter
vosso país”, ao Rio
esperava “ser sempre digno da inapreciável estima de v. exa.”. Outra íd o- se de tã o at ur ad os so fr im en to s” , em se u “a nj o s a l v a dor”.
«condo
autoridade que não deixou de escrever ao barão, e que era também seu os r o s s e g u i r a m po r to do o mê s de ab ri l. Ai nd a no di a 10 , à
Os festej p
primo, compartilhando com ele o nome do avô, foi Luiz Alves Leite de o e c e b i m e n t o de v. ex a. ” se gu iu at é ta rd e, a ci da de
noite, como o “faust r
Oliveira Bello. Promotor público de Porto Alegre, Luiz Alves escrevia ao rt a do pa lá ci o u m a “b oa or qu es tr a” e mu it as
luminou-se, houve à po
primo que era com “êxtase de prazer” que essa geração, a sua, levava o ap ro ve it an do a pre sen ça do gen era l no pré dio , “concorreram
pessoas,
barão de Caxias “à posteridade nos anais da história brasileira”5! » No s int erv alo s da mús ica , mai s gen te se apr ese n-
para cumprimentá-lo
| Talvez E Rs de prazer” fosse devido à divulgação, na provin- . A lei tur a de poe s ias pr ed om in ou . Vár ias del as
tava com homenagens
Cia, dos dois últimos decretos imperiais. Um deles, do dia 12 de março, re um a e out ra, rep eti do s “vi vas ao pac ifi cad or do
foram recitadas. Ent
efetivava o barão no posto de marechal-de-campo. O segundo, datado Sul ” er am ouv ido s. Na s trê s n oit es seg uin tes , em frente
Rio Grande do
de 25 de março, o elevava a conde. Foi ainda toda essa atmosfera que o da al fâ nd eg a e o do pal áci o, ho uv e ap re se nt ação de
aos dois arcos,
certamente inspirou Patrício Augusto da Câmara Lima a escrever uma pe ra da era a “d an ça dos jar din eir os” , de um grupo fa-
dança. A mais es
obra sobre o “generalato do conde de Caxias”, a primeira dedicada à .
moso na capital. Até soldados fizeram um número
analise de seu “sistema militar e político”. Gonçalves de Magalhães de- ha vi a dia se m fes ta. No dia 13, a ir ma nd ad e de Nossa
E assim foi, não
via acompanhar tudo isso com satisfação. A musa de 1842, de fato, não re s ma nd ou cel ebr ar um sol ene Te De um. No dia 14,
Senhora das Do
O, ne qua rte l de art ilh ari a a ca va lo e, ao fi-
o previu o poeta, era depptáisaa pela histó- Caxias foi assistir à iluminaç ão do
um ric o fi am br e pel os ofi cia is” . Ess es festejos,
nal, “foi brindado co m
de era apenas o coronel dis di , dê x Mia Ea unit Ê ee se ab ri am par a o po vo . No s dia s 15 e 16, a
após sua retirada, sempre
E dia
o sentir.
a Da escri co m “i lu mi nação, doces e
e para aà história
Ê RR . gn an
Com Camára Lina, essa comemoração se rep eti u em ou tr os qua rté is,
foi de gal a. O tea tro par tic ula r Pe dr o H le-
marte posta. Logo em suas primeiras páginas, em refrescos”. A noite do dia 17
um item intitulado “dedicatória”, o autor considera a história de Sua Ex ce lê nc ia a peç a — O He ll o” . Antes de
“incor vou à cena “em obséquio
ruptível”, > e talvez por | vel o ao pa no O cad ete Ca rl os Corte Real de
Por isso tenha optado por esse tipo de escrita. Seu dar início ao espetácul o,
texto é, de período em A j e” as , fil ho do tio fa rr ou pi lh a as sa ss in ad o em
Lima — mais um primo de Ca xi
perío do, marca do pela expre ssão: “ela dirá”. int erv alo , dos E
“Ela” éé a história. Para ele, se ien te elo gio ”, e a ca da
m dúvida, um “ grande tribunal”, ao qual 1837 — para fazer-lhe um “eloqi
devem ser submetido re ci ta va m so ne to s em ho me na ge m ao herói.
s os fatos e os homens marotes, várias autoridade s
. A o historiador, no exercício O ma is co me nt ad o foi
de in ar am os ba il es .
seu ofício, basta nar
rar os fa Ô Daí até o final: do mês predom : ; ses
ade bailante”. Não era
altar da justiça o realizado no dia 19, na “ca sa que serv e à soc ied
537
536
“Sms Pr
EU Hi Lá
dj r
esses
para menos. Ele contou com a presença do “sr. conde” e de homens “ilus. esmo nas vilas mais afastadas, onde ele nem tinha estado,
A se rep eti am. Pro vav elm ent e ele se via, com o esc rev eu seu prímo,
tres” do governo, inclusive do “dr. Magalhães”, seu secretário. Para reçe- a
bê-los, foi organizada uma comissão que, logo na entrada, saudava-os Bel lo, ent ran do def ini tiv ame nte par a os “an ais da his tór ia
o pro a
tendo cada um dos integrantes uma tocha na mão. À sala achava-se eg » Ma s ess es fes tej os não cel ebr am só o passado, eles também
brasileira
camente ornada e no centro dela, em frente ao coreto de música, estava preparam Õ futuro do conde. Sua presença neles, tanto quanto a abertura
armado um troféu d'armas”. A mesa do conde ficava diante do troféu te, dia ria men te, das onz e da man hã à uma da tarde, para
de seu gabine
mas, antes de sentar-se, fez questão, “com toda urbanidade que lhe : tin ha um ine gáv el car áte r pol ici ca No dia 20 de
audiências públicas,
própria”, de cumprimentar o “belo sexo”, que por ele esperava, de pé, ain da nem tin ha che gad o a Por to Ale gre , já era pub licado
março, Caxias
“em derredor da sala”. Para abrir o baile, foi cantado, pela “sra, Rita is o im pe ri al or de na nd o qu e se pr oc ed es se a elei-
no Rio de Janeiro um av
Malevai”, um hino, “depois do qual se deram entusiásticos vivas a Sua di as de po is , ou tr o av is o ma nd av a qu e se pr oc ed es-
ções para senador. Seis
Excelência como pacificador da província e à união rio-grandense”, Ter- pr ov in ci ai s. O res pon sáv el por org ani zá- las era O
se à eleições gerais e
minada a homenagem, Caxias de imediato se levantou e, ele próprio, deu a da s pr ov ín ci as do im pé ri o. De sse mo do , no dia
presidente de cada um gs
vivas a “Sua Majestade Imperial e à família imperial”. Foi a vez, então, ap ós o gr an de ba il e da “s oc ie da de ba il an te”, Caxias
22 de abril, três dias
de seu prestigioso secretário, doutor e poeta se levantar. Após alguns se- ple ito s. As ele içõ es pr im ár ia s oc or re ri am no dia 23 de
marcava a data dos
gundos do mais completo silêncio, começou a recitar uma ode. Nela, es es co lh er ia m os ele ito res . A ele ição dos
junho. Nessa etapa os vota nt
narrava “Os movimentos políticos” da província, destacando, a cada es- re s fi ca va ma rc ad a pa ra 9 de ju lh o. Ne las
la s, esses elei-
€deputados e senado
E
-
trofe, “os esforços e a política administrativa” do grande general. ir ia m co mp or a li st a trí pli ce do Se na
tores escolheriam os três nomes que
A copa estava toda “mui bem arranjada”, sortida “de licores finos pa ra qu e ele es co lh es se um de le s, e Os
do, depois submetid a ão imperador
e refrescos, que se pudessem apetecer, e de doces muito finos, e de di- a as se mb lé ia pr ov in ci al . No ca so do Rio
deputados para a Cã mara e para
versas qualidades”. A música era, como vinha sendo em todos os feste- co nt a da re vo lu çã o, to da s es sa s| ca de ir as estavam va-
Gr ande do Sul, por
não el eg ia m de pu ta do s de sd e a
gas havia muitos anos. Os rio-grandenses
jos, mesmo quando a orquestra se apresentava na praça, do “harmonioso
sz. Mendanha”. No total, “mais de 800 pessoas foram convidadas”. se m um re pr es en ta nt e nO Se na do de sd e
legislatura de 1838 e estavam s4
Eram muitos os que queriam participar de um momento tão especial é da So le da de , em 18 36 .
a morte do cônego Antônio Vieira do , er am extre-
comemorar, com 0 conde, a pacificação do Rio Grande do Sul. Este rt ic ul ar me nt e a va ga no Se na
Essas eleições, e mais pa uc o antes
brigiciaa a todos com sua companhia, dando a alguns o prazer de de Ca xi as . Le mb re mo s qu e po
sen- mamente atraentes para O conde 1842, muito res-
tar-se á a mesa e, como manda a etiqueta, foi o primeiro a se retira pa ra O Ri o Gr an de do Su l, em ou tu bro de
r de embarcar Rd
do baile, já pela madrugada. qu e ti nh a ec on om iz ad o ao re mu nerar sena
sentido com a Coroa, par
cr ev eu a um ax aR go , O a o de
À presença do conde de Caxias nesses festejos, tanto nos de rua quan em São Paulo e Minas, Caxias es
he
to nos particulares, como os bailes, pe gi nd o su a pe rR eç ÃO
tinha como objetivo celebrar, e imã Alegre, recém-nomeado conselheiro, ”,
, nã o fi ca r ma is um a Ve z e
ss que, para ele, devia ser muito uma chance de promoção
gr at if icante, após tantos sacrifícios, surgisse
me nt o E Ro su o mo a a
oia seu Rome entre vivas entoados como então se sentia. Esse re ss en ti
pelo povo e pela gente mais fina da que era “meio posto no Exer-
r enas
capital. Imagino também que
ficasse orgulhoso ao saber, pelos jornais, quando, depois de receber do imperado ap
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DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO
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UM CONSERVADOR
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO FIRME, MAS MODERADO
da, passava instruções a Osório: “Vá para Bagé e cabale forte onteiras. No meio do trajeto, antes mesmo de chegarem ao Rio Gran-
fr
mais por minha conta.” Ainda que tenha perdido votos com a tra cruzaram com a escuna Mockna, pela qual o governo mandava avi-
de,
rência de oficiais para as fronteiras, Caxias Caxias do projeto real. De imediato, seu secretário voltou para a
contava com o a sar
Nessa mesma carta, confirmava para o “amigo”
o que havia dito ao - capital. Havia muito a ser providenciado e, ainda que o aviso previsse
que “os soldados não votam para que se
não diga que eu quero e apenas para O dia 8 de outubro a saída dos ilustres visitantes, era pre-
uma eleição à província em baionetas”. Mas, diferentemen «iso começar a mobilizar o povo de Porto Alegre. Aliás, não só de lá.
te da di
dirigida ao pai, nessa a frase tinha continuidade: “po D. Pedro II pretendia percorrer também outras cidades e vilas e, para
rém os cab sh
ciais etc... não deixam de fazer número”.56 que isso transcorresse de forma tranquila, após tão pouco tempo de
in
O resultado dessa sua política foi excelente. Ele pacificação, OS esforços das autoridades provinciais deveriam ser bem
não só foi o candid
to mais votado para a lista tríplice, como
conseguiu eleger seus ami a maiores. Era preciso fazer o povo sentir o valor do acontecimento e
Das três cadeiras na Câmara dos Deputados
, fez duas. Uma ficou : | mobilizar os mais interessados em recepcionar o imperador, aqueles que
Gonçalves de Magalhães e a outra com poderiam ser remunerados, por sua atuação durante a guerra em postos
seu primo promotor, Luiz re
+ Oliveira Bello. Além desses cargos, hav militares ou civis, com títulos de nobreza, comendas, promoções e, de-
ia ainda os da eia o
vincial. Embora, para essa pesquisa, não ten pendendo do caso, até com pensões.
ha sido realizado um levan-
tamento dos deputados eleitos, é possível Tudo foi programado em seus mínimos detalhes. À intenção da via-
apontar, entre eles, pelo menos
um nome expressivo: o tenente-coronel
Manuel Luís Osório.” gem era “fortalecer os laços” entre o Rio de Janeiro e a província do Rio
Na manhã do dia 11 de setembro, chegava Grande do Sul. Nove anos de revolução, com a formalização da indepen-
ao Rio Grande do Sul 0
na oiial da eleição para senador O imperador dência e a proclamação de uma república eram suficientes para que O
havia escolhido,
região.
| oo o e a Es. eo tudas À essa notícia, acorreram governo concluísse pela importância da presença do imperador na
A comitiva real fez sua entrada na barra no dia 2 de dezembro, e a data
públic
Td i as,quaut
aioridad
ares civis, » dive divers
sosos ) fáEras -e pes
esssoa não foi casual: era aniversário de Sua Majestade. O fato era destacado
ass do
a ve
representaçã
ioo
como símbolo da alta conta em que o imperador tinha os rio-grandenses.
tomaram as ruas e, nin ds Da al o ur a Ele havia escolhido passar a “festa dos seus anos” ali, naquela terra, pro-
secretaria da Presidência en Igreja da
nin vando seu interesse em esquecer O passado. Após o Te Deum, na
Prima
Até o mês de dezembro Os rio-grand
; grandenses ter
padiam muirs
to queÀ come Matriz, organizou-se, no palácio do governo, à cerimônia do beija-mão.
; presentes no evento. Mas
Infelizmente, o jornal não noticiou os “ilustres”
de setembro uma outra “fausta noti- ntand o a fila, para se
É provável que Vicen te Fonto ura estive sse ali, enfre
die nte , dia nte do imp era dor . Era sem pre esse O objetivo da
» à notícia de que Sua Majestade o imperador € curvar, obe
sua esposa, acompanh nci ar o mon arc a. No Rio Gr an de do Sul , em dezembro
= ados do mininist cerimônia — revere
ro d jéri imp era dor enf ren tou uma lon-
de sua corte, Visitariam em Et de 184 5, ela ass umi a um val or esp eci al. O
breve ne
á , foi até a pro vín cia par a dar a ess es súditos, por meio desses
ga viagem
cerimoniais, à
a chance de provarem sua fidelidade. À noite, o conde de
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DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
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DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO
maio de 1845. Ambos os documentos podem ser encontrados na lata 820 of íc io do minis tro da Guerr a, datad o de 18 de deze mbro De 1844, acha-se na
21. O
9, p. 4-6, IHGB. o lata 323, pasta 25 do arquivo do IHGB. O do ministro da Justiça, de 17
de dezem-
Us Para esse episódio, ver a carta de Ismael Soares a Caxias, de 2 de outubro de 1844, está no setor de Manu scri tos da BN, cota II-32, 3, 4, nº 1. À impor-
1844, bro De
e o ofício de Caxias ao ministro da Guerra, com a mesma data. Ambos e da missã o do coron el Marq ues para mante r obscu ra essas negociações é
stão na rância
lata 820, pasta 9, p. 8, IHGB. À carta de Bento Gonçalves foi reproduzida Oscar Wied ersp ahn, O convê nio de Ponch e Verde, p. 118.
na RIH- sugerida por Henrique
GRS de 1828, com o título de “Cartas, Ofícios, Atas e Proclamações Fela acha m-se tamb ém na lata 323, pasta 95 do arquivo do IHGB.
tivas à 22. Essas instruções
pacificação de fevereiro a março de 1845”, p. 121. É inha.
12. Tanto a proposta de Rivera quanto a resposta de Caxias foram narradas a partir do diári o pode m ser encon trada s a partir das datas fornecidas
do 23. a pe ra
ofício-resposta escrito por este e datado de 1º de outubro de 1844, Este documen-
Lemb ro que ele foi publi cado pela RIHG RS de 1234. À carta de Manuel
no texto.
to foi reproduzido na RIHGRS de 1949, p. 466. Caxia s acha- se na lata 820, pasta 9, p. 38, IHGB . Na p. 42, nessa mesma
as a
solicitando
d
mini stro ao
=
nha do pelo
“
lata, há ainda
Inc
o ped ido que fora enc ami
O encontro entre Osório, Rivera e Fontoura é contado por Caxias em |
ofício de 22 os salvo-condutos.
de outubro de 1844. Coleção Caxias, códice 927, AN. Outra fonte sobre esse mes-
Fo nt ou ra pa ra re un ir Os ch ef es di sp er so s po de ser visto sobretudo em
24. O esforço de
mo encontro é o Diário de Antônio Vicente da Fontoura, reproduzido
na RIHGRS oci açõ es com Ben to Gon çal ves po de m ser ac ompanhadas a partir
seu diário. As neg
de 1934. A carta ao pai, datada de 20 de novembro de 1844, também foi e do cu me nt os rep rod uzi dos pel a RI HG RS , de 1928, ver p-
reprodu- de correspondências
zida pela RIHGRS, no ano de 1949, a Can aba rro foi rep rod uzi da pel a me sm a rev ista em seu
125-9. A carta de Caxias
14. A carta de Canabarro para Otoni acha-se na lata 820, pasta 9, p. 6,
IHGB. A de número de 1928, p. 130-1.
Caxias para Bento Gonçalves foi reproduzida pela RIHGRS de 1828, p. 122. So- emb léi a de 25 de fev ere iro qua nto as car tas de José Gomes Jar-
25. Tanto a ata da ass
bre o desvio da carta, ver o Diário de Antônio Vicente Fontoura, op. cit. p. 80,€ e a ata da reu niã o des te gen era l com seu s subordinados
dim, de Bento Gonçalves s
a carta de José Gomes Jardim a Bento Gonçalves, de 10 novembro 1844, Esta foi RS de 182 8, p. 124 -8. Já os art igo s das concessõe
foram reproduzidas na RIHG 66,
reproduzida na RIHGRS de 1928, p. 122. tan to nes sa rev ist a, p. 129 , co mo em lata 820, pasta 9, p-
podem ser lidos
15 Toda a história contada até aqui segue informações do diário de Antônio Vicente
IHGB. (Ênfase minha.)
Fontoura, op. cit., p. 82 a 87. As “credenciais” do emissário são reproduzidas na in- e Eu gê ni o Vi lh en a de Mo ra is , os pr incipais biógrafos de
26. Joaquim Pinto de Campos
tegra por Henrique Wiederspahn, op. cit., p. 66. Os boatos divulgados sobre as inten- ent e por ci ma do as su nt o, nã o escrevendo nada sobre
Caxias, passam completam
ções de Rosas também são mencionados pelo autor nesse . Af on so de Ca rv al ho me nc io na O tratado, o ES
mesmo livro, ver p. 57. os artigos do tratado de paz foi pu o ee Re
16 Sobre os contatos com a corte, além dos ofícios já citados aqui, ver os de 11 de se- de He nr iq ue Os ca r Wi ed er sp ah n
à versão resumida. O artigo o. Ver sobr as
tembro, 2 de outubro e 10 de novembro Todos de 1844, Col ss o de Hi st ór ia do Se gu nd o Re in ad
eção Caxias, caixa RIHGB: Anais do Congre
810, AN. As vinculações do barão 4
com o ministro estão em Sébastien Auguste áginas iniciais, p. 186-22.
ç;E pr e
Op. cit., verbete sobre Jerônimo Francisco Coelho. Além disso, há ainda
27. À bioma a do decreto é apontado por varios
. Me st re de bras | e”, p. .
16Ep
er Sp al di ng , “C an ab ar ro
Orga niza ções e prog rama s ministeriais. pahn, há ainda Walt a Ponto pede
17 Sepf e Javar
ício pj i, da Guerra, datado de 20 novembro de 1844, integra a Coleção an tí ss im a ob ra de Alfredo Varela, a E
ciso de st ac ar a im po rt
axias, caixa 81 y re vo lu çã o, vol . 6, ver so ret uapa
grande
» AN. À carta
p. 462. Sobre o
ao pai, da mesma data, foi reproduzida pela a RIH outros “mistérios”, História da por He nn qu e l
GRS de 1949 ade o int egr a
do A s car gos ocupados pelos Lima e Silva, ver bara p. 490. O texto do decreto foi p
Javari, op. cit. êni Verde, p. à
18. e de Ca xi as es cr ev eu ao co ro ne l Manuel Mar-
28. pet ç E a os o E
19 Todos esses dados já foram de do da cor te, fa la nd o em gu er ra contra Rosas.
vida N aa s E qaeds que tinha rece bi
ques Os fa rr apos se aan aa
sobretudo os caps. 1 e 4. se tal gu er ra ac on te ce ss e,
Caxi a Gr ter certeza de que
20. Os ofícios citados foram diri Ap ud He nr iq ue Wi ed er sp ah n, O convênio
EUR, 810, AN,
E caixa min
gidos ao ministro leção péa
imn r e a guerra civil estaria acabada.
Caxias, da Guerra e integram a Coles p. 54.
de Ponche Verde;
547
546
UM CONSERVADOR FIRME, MAS MODERADO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
ia das neg oci açõ es do ite m sob re os sol dad os neg ros está em Alfredo Vare-
29. Tanto o ofício de Manuel Lucas 20 barão de Caxias quanto deste para David Ga. A his tór
41. a, História da grande revolução, vol. 6, p. 296-8. O artigo em que escreve sobre
nabarro foram reproduzidos na RIHGRS de 1828. Para isso, ver TESpectivamente ds
Rod rig ues é o mes mo cit ado ante s, Jor nal do Com mer cio , de 26 de janeiro
p. 133-4. (Os grif os dess e pará graf o são meus .) j
alfredo
|
30. As proclamações de Canabarro e Manuel Lucas também foram reproduzidas a de 1899.
os sob re Dom ing os José de Alm eid a qua nto a cart a acham-se em Al
RIHGRS de 1828, ver p. 134-5. Walter Spalding, A administração de Cax fast 42. Tanto os dad
ela . Esta foi ach ada pelo his tor iad or no arq uiv o de Domingos de Almeida
Rio Grande do Sul, p. 246. Alfredo Varela, História da grande revolução, p. 279, fredo Var
seu livr o His tór ia da gra nde rev olu ção , apên dice , p. 501. Mari-
31. A narrativa segue as informações de Francisco Pedro em seu diário, publicado na e reproduzida em
vet afi rma exis tir na Col eçã o Alf red o Vare la, no Arquivo Histórico do
RIHGRS de 1934, p. 201. Sobre o ataque ter atingido os lanceiros negros, a infor- valde Cal
Sul, uma rel açã o dos chef es que ace ita ram sub orn o e a quantia que
mação é de Henrique Oscar Wiederspahn, O convênio de Ponche Verde, p. 68. Rio Grande do
a faze r a pac ifi caç ão. Essa den únc ia não apa rece em
32. Apud Alfredo Ferreira Rodrigues, “David Canabarro e a surpresa de Porongos” cada um teria recebido par
mo em Alf red o Vare la. Ver Mar iva lde Calvet Fagun-
p. 323. auto r, nem mes
)
nenhum outro
33. Sobre a idéia de um “conluio”, bem como sobre o sentimento de traição, ver Alfre- des, História da Revolução F ao ilha, p ai » To er
43. Patrício Augusto da Câmara Lima, Reflexões sobre o gener conde
do Varela, História da grande revolução. À história é contada na p. III. Há porém,
ao final, uma discussão muito interessante no apêndice, nota 259. xias, p. 63.
o do aut or é mi nu ci os am en te nar rad o na apr esentação
34. Alfredo Ferreira Rodrigues, “A pacificação do Rio Grande do Sul”, p. 236. O trabalho de identificaçã do conde
Câ ma ra Lim a, Ref lex ões sob re O a
35. Um autor que depois reproduziria a história de que Canabarro teria desistido da do livro. Patrício Augusto da
cit ada sob re o car á
áte r pol ítico
íti co do bar ão estáÊ na p. 3. Ê
negociação é Walter Spalding, Canabarro. Mestre de brasilidade, p. 13. Sobre o de Caxias. A frase paPp
s pr oc la ma çõ es ach am- se na RI HGRS, de 1828, Sadi
relato do descendente de Domingos de Almeida, ver Alfredo Varela, História da 45. Cópias das trê
ifi caç ão — fev ere iro e ma rç o de 184 5”, p. 134-6.
grande revolução, apêndice, nota da p. 259. Para os oficiais de baixo escalão, ver e proclamações relativas à pac
ta mb é
ém na Co le çãão Ca xi as , ca ixixa a 810, 610, AN.
o artigo de Alfredo Varela no Jornal do Commercio, de 26 de janeiro de 1899. à de ser achada
tos no fin al de ss a tes e, anexo IV. O de-
Nele, o autor cita o depoimento de um “velho sargento”, João Amado. 46. D a das “concessões”
Os artigos AS
= »
podem ser vis
one l Fre ita s e general Canabarro é narrado por Alfredo
36. Esse outro texto de Alfredo Rodrigues, que continuaremos a seguir, intitula-se y mento entre O
sentendi cor
ão, P p. 2934. Ee
“David Canabarro e a surpresa de Porongos”. istóróriia da grande revolução,
Varela, Hist
di sp os
osiit
tiiv o de as ce ns ão
a so ci al é tr at ada no cap ítulo
37. Esta crítica de Alfredo Rodrigues está em “David Canabarro e a surpresa de Po- 47. A importância dessa lei como isp
uin do nes sas ref lex õ
ões a aná áli
lis e de Nor ber t Eliajas, s, À so-
rongos”, p. 329-32. I deste livro. Continuo seg
p. V.
38. O depoimento de Félix Azambuja Rangel, por conta da polêmica, ficou bastante ciedade de corte, sobretudo o ca di pl om at a que militar”, mais
or da da s no it em «M ai s
conhecido na época, sendo publicado, com outros depoimentos sobre esse é OU” 48. Essas dissensões foram ab | T e
?
-
tros temas da guerra na RIHGRS, sob o título “Apontamentos sobre a Históri? precisamente nas p. 301-2.
no s di as se gu in tes à pa
Ca na ba rr o, lo go
da Revolução de 1835-1845” RIHGRS, 1º e 2º trimestres de 1928, p. 45-7. À 49. Os ofícios trocados entre o barão € 0. Ver
, fo ra m re RIHGRS de 1928, p. 1374
produzidos na
questão de Porongos, na verdade, provocou uma verdadeira corrida por depoi ão, ai nd a em Ba gé
s da ta do s de 4 de ma rç o de 1845.
mentos. Há outros deles nessa mesma priincciapalmente OS ofíc
n io
revista, no volume correspondente aos l dei pe
o
xi as em Po rt o Al eg re E s
de Ra
e 2º trimestres de 1927 e aos 1º e 2º trimestres
de 1929. O único que defende 50. A descrição da recepção ao barão Ag ra de ço a | en y
de 12 de abril de 1 84 5.
O Imparc ia l, su pl em en to
Canabarro é Félix Rangel, e seu cunhado Manoel Patrício de Azambuja. Os 0% alguns artigos.
“ornal e a gentileza de ter cedido inclusive a cópia de
tros ou O acusam de traição ou não se ênci o a ed iç ão do di a 19 de
Posicionam, afirmando que não assistira br et ud
a n Ki
so
da
ados em O Imparcial. Ve r
om
. = f e t o t e a cu bl ic
à “surpresa”, 91. odos
39. Sobre a observação de Alfredo Ferreira Rodrigues, ver seu texto “David Canabar- abril de E da Câmara Lima, Reflexões sobre o generalato do conde de Ca-
? |- 52. Patrício is A ND a ER ao
ro e a surpresa de Porongos” xias. Sobre a história é O ata do historiador, ver, além da “dedicatória ,
peu sen e o dc E â frase e o novo desafio de Bento Gonsº
e Félix de Azambuja Rangel, p. 47. ciderações que faz nas p-
40. Alfredo Ferreira Rodrigues,
“David Canabarro e a surpresa de Porongos”, P' 338.
549
548
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
53. Para os festejos até o dia 18, ver O suplemento do jornal O Imparcial, de
19 abril
de 1845. A descrição do baile está na edição do dia 30 de abril. Outros festejos Conclusão
também são narrados pelo jornal. Ver especialmente os números de 23 d
€ abril p
30 de maio. Já a ode recitada por Domingos Gonçalves de Magalhães nã O foi en.
contrada, nem em jornais, nem em arquivos e bibliotecas.
34. Os avisos imperiais foram expedidos pelo Ministério do Império. Ver Coleção
d
Leis do Brasil. O ofício de Caxias fixando as eleições é reproduzido por Valter
Spalding, “A Administração de Caxias no Rio Grande do Sul”, p. 274,
Uma ótima
explicação sobre o funcionamento das eleições no império é dada
por Jairo Nico-
lau, História do voto no Brasil.
t su rt ou t en ta nt qu e li eu d' un e activi-
J9: Sobre a prática de oficiais de alto escalão se candidatarem a postos políticos, Vindividu est importan
ver th um ai ne de le ct ur e, d' in te rp ré ta ti on
Adriana Barreto de Souza, O Exército na consolidação do Império, item intitulado tóintense etspécifquemen
A integração do alto oficialato. Sobre a importância do cargo de senador dentro do et de construction du “réel”.
grupo de elite política imperial, ver José Murilo de Carvalho, A construção da or-
Maurízio Gribaudi
dem, especialmente O cap. 4, a carta de Caxias ao pai é datada de 15 de julho
de
1845, maço 108, doc. 5.297, AHMI.
36. As cartas ao pai são duas: uma datada de 1º de maio 1845, maço 108, doc. 5.277.
A outra é a citada na nota anterior, datada de 15 de julho. A carta a Osório
é re-
produzida por Fernando Luís Osório, História do general Osório, p. 422. José o Grande
si de nt e da pr ov ín ci a do Ri
Murilo de Carvalho chama a atenção para o fato de que a palavra “amigo” era No dia 23 de março de 1846, 0 pre o de Ja-
ar c ou no ca is do po rt o do Ri
usada no século XIX para indicar proximidade pessoal e política, indicação
da do Sul, conde de Caxias, desemb
indiferenciação entre o público e o privado, ver José Murilo de Carvalho, Entre a a im p er ia l pa ra as su mi r a cadeira no
neiro. Havia obtido uma licenç de ou -
autoridade e a liberdade, nota 14, p. 19. à ci da de de sd e o di a 30
Dia Sobre os deputados gerais, a referência continua sendo o barão de Javari, Organi- Senado. Era a primeira vez que voltava e a. Seu
o Cà is , pa rt iu J R
pa ra aa p
pr ov ín ci
ençhes e programas ministeriais. O número de votos obtidos por Caxias, nos vá- tubro de 1842, quando, no mesm
ma rc ad o po r fo rte emoção. INO
rios colégios eleitorais, pode ser visto no jornal O Imparcial, de 19 julho de 1845. retorno de ve te r si do
lh e es cr ev ia pe di nd o pi una ps e
Há ainda um ofício de Vicente Paulo de Oliveira Vilas Boas para o conde de Caxias
campanha, sua mu lh er já
sobre as eleições, com algumas considerações
de pe nd en te me nt e da s co nd ições qu De de
sobre as dificuldades gerais para se
comissão nenhum a” , in
Ea cem bom resultado, ofício de 12 de junho de 1845, Coleção Caxias, caixa
nt es € a pa ra ir ao ee A
rem”. Recusava convites de pa re
rt ic ip ar do “di a de ES Re çio, a Es a
58. A descrição dos preparativos e ouvia música, deixava de pa
dos fest ejos devidos à visita do imperador pode ser
vista nas edições dos dias
27 de setembro, 6 e 30 de dezembro do jotnal O Impar a d ase emi tn a
cial, tudo de 1845. e g u n a e i E es
(..O.) não acho
R RE
às) nda .
as te nt av a ac almar a éra dirmhdo que
ria aa do Su l, Ca xi
di a qu e nã o ac re di ta ss e nas mentiras que e
estava se cuid an do , pe
í” , da Co rt e, es pa lh av am so br e E t a e fazia eia E :
«rebel de s da
ia qu e na Su a vo lt a iri a ad qu ir ir “um camarote
messas. Pr om et
551
250
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO CONCLUSÃO
553
552
CONCLUSÃO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
orm as
=
555
554
CONCLUSÃO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
557
CONCLUSÃO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
558 559
CONCLUSÃO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
des, dos políticos e proprietários sublevados de São Paulo e Minas e dos experiência militar dos Lima em Portugal, os sonhos de ascensão
, as situa-
líderes farroupilhas, tão identificados com a cultura platina. Isso, sem e é família no Brasil, os contratos de casamento efetuados
em gue rra s, sua pos içã o ger aci ona l, suas exp eri ênc ias na
mencionar as fronteiras existentes dentro do próprio Exército, sempre çõeTe
ameaçadas por conflitos muito semelhantes aos do restante da socieda. Aca dem ia Mili tar, entr e out ros . Par a tentar dar essa plasticidade ao
Real
cei to de con fig ura ção . p o que ele permite pen-
de. E mais, Caxias agia sempre em meio a guerras, O que tornava a ope- exto, optei pelo con
ôme nos mai s gera is, típi cos da hist ória polí tica ou
ração mais arriscada. Em Minas, por pouco não foi derrotado. Mas era car melhor como fen
exatamente por isso, por transitar e negociar em regiões de alto risco, afet ar a vida cot idi ana dos hom ens , for nec end o-lhes ele-
social, podem
com mai s ou men os con sci ênc ia, per mit em- lhe
que seu trabalho também era cada vez mais valorizado, tornan
do-o mui- mentos que, explorados
to respeitado nas províncias onde combatia e na corte imperial. A cada co ns ta nt em en te su a po si çã o em so ci ed ad e.
negociar
expedição, ampliava sua rede de relações, acrescentando novos contatos rç o nã o im pl ic a ne ga r ou de sq ua li fi ca r os re su lt a-
Destacar esse esfo
aos antigos. Sem dúvida foi essa atuação como mediador que, ao ad os pel as pe sq ui sa s que tr ab al ha m co m bio grafias repre-
final da dos apresent
guerra no Sul, garantiu sua nomeação para senador e s, tan to qu an to os es tu do s de cas o, são efi cie nte s e sempre
consolidou sua sentativas. Ela
posição entre os chefes do Partido Conservador. ant ido nas aná lis es do soc ial . Imp ort a ape nas diz er que O
terão lugar gar
Minha segunda observação é de natureza historiográfica. Outro gran- ere nte . En qu an to ess as se fu nd am na gen era liz ação,
procedimento é dif
de desafio desse livro foi articular uma escrita histórica a partir da exp eri ênc ia de uma vid a bu sc am esc rev er sob re O socE ial a
singu- as análises da
laridade de uma vida. No início parecia impossível escapar Est a fun cio nar ia, par a usa r uma exp res são de
às duas partir da singularidade.
abordagens mais frequentes do biográfico: a que trabalha com a n, com o uma bre cha de ace sso a ess e p pas sad
: o. :
idéia de Diddi i-Huberma
uma biografia representativa e a que transforma trajetórias individuais , nes se cas o o pas sad o não pod e ser pen sad o com o cotá
em Sem dúvida
estudos de caso. Sobretudo a primeira, para quem já havia trabalhado de uma qua lid ade , de um fun dam ent o def ini do par a alé m da ação dos
do
com algumas trajetórias de oficiais militares na dissertação de mestra o. Deix a de ser um tod o par a se tra nsf orm ar nos frag-
do, homens no mund
era extremamente tentadora. No entanto, justamente rita so-
por conta dessa mentos mencionados por Humbold t.14 A articulação de uma esc
mesma dissertação, quando pela primeira vez percebi a heterogeneidade ado estar ia vinc ulad a à ac ei ta çã o de ss a de sc ontinuidade,
bre esse pass
do corpo de Oficiais do Exército imperial, parecia impossível pr ee nc hi do s por ter mos co mo tal vez , é pos sív el que ,
trilhar a idéia desses vazios, só
de representatividade sem negligenciar o que me parecia do de um a ex pe ri ên ci a de vid a po de ser , assim,
mais rico — OS provavelmente etc. O estu
traços mais pessoais da história e da atua de se in da ga r so br e a pl ur al id ad e e as in ce rt ezas do
ção do duque de Caxias. um ótimo lugar de on
Um passo fundamental nã o tão co er en te , ma is suj eit o à pe re ci bilidade
nai para romper com esse procedimento clássico passado. De um passado
da história social — que seleciona uma trajetória
de vida por acreditar do próprio tempo.
561
560
CONCLUSÃO
:
singularités formelles.
14. Ê te xto de Didi-Huberman é “Pour une anthropologie des poda
Remarque sur Pinvention warburgienne”. Já o de Humboldt é intitulado, na ver
são francesa, “La tâche de Lhistorien”.
562 363
Anexo |
mma
/6
(RU- 178 RJ - 1843) ro
Ana Luiza CarnexViena / 33
(E » 18 Ri - 1502)
(RI- 181/6Ri - 1874)
Ara do Loreto Viana de Lima
- Padre Luiz =| Lutz Alves de Lima e Ska (Fá - 1836 ) Rd - 1884)
(RJ - 1803 / RJ - 1880)
L Mar. Joaquim Mariano de Luiz Aves de Lima e Sa
Overa Belo (MG - 1787 / 1852) - Ana Quit e Sa
Lima ia
de ér (Fá = 1847 ] RI - 1852)
(RI- 180217)
L Cel. Milícias Antônio Lopes
— Cel, Luiz Alves de Freitas (? / 1833)
de Olivei Belora . Bernardina Matide de Lima
Belo (PT - 1740 /RJ=?)
e Sina (RJ -1806| 7)
L Mar, Vencestaude Oliveira
Ana Quitéria Joaquina
(PT-7/RJ-?) Belo (MG- 1789 / ?- 1852) - José de Lima e Siva
(RI - 1807 / RJ - 1808)
= José Ricardo
e Sa
L. José Joaquim de Lima
— Bernardina Quitéria / RJ - 1894)
(RJ- 1807
» Mariana Cândido de Oliveira . Francisco de Liema Siva
Belo (RJ - 1783 / RI- 1841) (RJ - 1811 /RJ- 1844)
a
- Bro Francisco Siva |
de Liema | Cartos Miguel de Lima e Siva
(RI- 1785 [RI - 1853) (RU- 181RS3- 184 )6)
O
—
Ana Vit aa e
óerrdeiLim
Xavi Siva
. Camião de Liema
silva (RI = 1786 / RI - 1850) (AU- 181517)
de Lima
Francisco Maria Joana de Lima e Siva . Carolina Leopoldi naa
de Lim
- Sesgento-Mor
loão da / RI8- 2)
(RI - 178
ça ul Ages PT (PT= 17171 PT-1778]) eSiva (RJ= 181817)
Babe! Josefa Ana Vitória Kavier de Lima L joana Maria de Lima e Siva
(tura Lagos - PT) (RI= 179RI0=?)
Xavuieride
Maria Joaq aa
nLim
. losé Luiz de Lima e Siva
Limm
deui
Mar José Joaq a€ (RJ = 1791 /R9-2)
Sika (PT- 1746 /RI- 1821)
Emília de
|. Mari an e Siva
Lima a
= loana Maria Fonsec Cosata (Ri- 1792 /Ri-?)
(RI - 1762 RI- 1842)
Max MadanFono a delLima
sece
- Madre Maria (primogênta) eSiva (RJ- 1793 | Ri- 1869)
565
Anexo |
: 25 ago sto Nas ce na Faz end a São Pau lo, na Vila da Estr ela, Magé;
1803
ntaria
1808: 22 novembro Assenta praça como cadete no 1º Regimento de Infa
do Rio de Janeiro;
gio
1817: Conclui o curso preparatório no Seminário São Joaquim, depois Colé
Pedro II;
22 jan eir o Pro mov ido a cap itã o do Bat alh ão do Imp era dor;
1824:
com à co me nd a de cav ale iro da Or de m
17 fevereiro Agraciado
do Cruzeiro;
me nt o de fi de li da de à Co ns ti tu iç ão do império;
2 abril Presta jura
rc ha pa ra a gu er ra co nt ra a Re pública Argentina;
1825: 12 junho Ma
ad o co m a Me da lh a da In de pe nd ên ci a da Bahia;
2 julho Condecor
nd ec or ad o co m a co me nd a da Or de m de São Bento
1827: 12 outubro Co
de Avis;
567
ANEXO Il
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
569
568
ANEXOII
1851: 15 junho Nomeado presidente da província do Rio Grande do Sul: 1874: 23 março Morre Anna Luísa, sua esposa;
16 junho Nomeado comandante-em-chefe do exército do Sul e promovi- 25 jul ho Ass ume , pel a ter cei ra vez, a pre sid ênc ia do Con sel ho de Ministros;
1875:
do a tenente-general;
1878: 5 janeiro Deixa o governo e recolhe-se na Tijuca;
1852: 14 março Condecorado com a Medalha dos Oficiais Generais, concedida
na faz end a de seu gen ro, o bar ão de Santa Mônica, em
aos que compuseram o Exército em operações na República do Uruguai; 1880: 7 mai o Mor re
26 junho Agraciado com o título de marquês de Caxias; Vassouras.
30 junho Apresentou-se na corte, vindo do Rio Grande do
Sul:
E Ee Exonerado do cargo de presidente da província do Rio Grande
o Sul;
22 julho Exonerado do cargo de comandante-em-chefe do Exército em
operações no sul;
371
570
Anexo Ill - Quadros hierárquicos
UGUÊS
QUADRO HIERÁRQUICO DO EXÉRCITO PORT
OFICIAIS
Oficiais Generais Marechal-do-exército
Tenente-general
Marechal-de-campo
Brigadeiro
BAIONETAS
Cabo
Anspeçada
Soldado
s Mi li ta re s de Po rt ug al de di ca da ao Pr ín ci pe Regente
Fonte: Coleção Sistemática das Lei Ve rí ss imo Antônio da Cos-
or de m do Me sm o Se nh or po r
Nosso Senhor e Publicada por
en ce nt es à tr op a de lin ha, Li sb oa , Na Im prensa Régia,
ta, Primeira Parte — Leis pert
1816.
573
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
OFICIAIS
e
Primeiro-tenente Majestade o Impera dor , e con ceb ida s
da naç ão e aos pri ncí pio s fun dam ent ais da lei do Estado.
Segundo-tenente dam ao decoro
he fe é au to ri za do a def eri r im ed ia ta me nt e em no me de Sua
Oficiais Inferiores Primeiro-sargento 22 — O general-em-c
e o Im pe ra do r qua lqu er pet içã o que lhe for apr esentada pelos
Segundo-sargento Majestad
e nos ter mos ind ica dos no art igo ant ece den te, €
Furriel chefes rebeldes para o fim
O dec ret o imp eri al que nes ta oca siã o se lhe remete
BAIONETAS publicará em seguida
a, co nc ed en do amp la ani sti a a rod os os comprome-
pelo ministro da Justiç dif ere n-
Cabo qua l far á dar a mai or pub lic ida de nas
tidos na luta da rebelião, ao
Anspeçada tes povoações da província.
rt en ce nt es às for ças re be ld es , qu e nelas ocuparem
3º — Todos os indivíduos pe o de
Soldado
ser ão di sp en sa do s in de fi ni da me nt e do serviço tant
postos de oficiais, do
, o qu e se rá de cl ar ad o em or de m do dia
Fonte: Coleção de Leis do Brasil, mapa apresentado no
decreto de 4 de maio de 1831. linha como de guarda nacional ic ar todavia
no me s de tai s ind iví duo s, se m pu bl
Exército, mencionando os
dá por se re m ele s ofi cia is. O ge ne ra l- em -chefe exigirá
que essa disp ensa se
es so br e os in di ví du os em qu em co ncorrer a
informações dos chefes rebeld o
ze nd o del es trê s re la çõ es das qua is duas serã
circunstância indicada, fa
a de Es ta do dos Ne gó ci os da Gu er ra , outra à da
remetidas, uma à secretari
cei ra fic ará gu ar da da no ar qu iv o da pr ovíncia.
Justiça e a ter
fe po de rá en tr eg ar a ca da um do s indivíduos de que
4: O general-em-che
de nt e de cl ar aç ão po r esc rit o da di sp en sa do serviço de
trata o artigo antece e ju lg ue
on al , ma s ist o un ic am en te no ca so em qu
linha e de guarda naci
en sá ve l, qu er pa ra co ns eg ui r a pa ci fi ca ção, quer para
esta medida indisp
.
acautelar abusos
374 575
| ANEXO IV
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO |
e
a quantia de
trezentos contos de réis. Esta disposição só terá lugar o em 1?
depois da anistia, e to, não serão obrigados a servir, tanto em guarda nacional, com
de depostas as armas rebeldes e, finalmente, quando o genera
l-em-chefe linha.
em sua discrição entender que há suficiente garantia para serviram na re-
que seja eficaz o - São livres, e como tais reconhecidos, todos os cativos que
emprego da medida. O general-em-chefe que dirigirá esta ope
ração, vela- pública.
rá que ela seja concluída de modo que não possa haver reclam do nul ida des esc and alo sas são vál ida s, bem como
ação algu- Sº — As causas civi s não ten
ma para O futuro. pen sas ecl esi ást ica s. |
todas as lic enç as e dis a
8º — Na ordem do dia do Exército se declarará que os oficiais anistiados Se l, e de pro pri eda de, em tod a a sua p
que 6º — É gar ant ida a seg ura nça ind ivi dua
tinham postos legais de 1º ou 23 linha, ou de guarda nacional antes
da nitude.
rebelião, ficam em conseqiiência da anistia restituídos ao gozo das prer um cor po de lin ha, rec ebe rá par a ele todos os
ro- 7º — Tendo o barão de org ani zar
gativas e dos direitos militares inerentes a esses post pre que ass im ele s vo lu ntariamente quel-
os. oficiais dos rep ubl ica nos , sem
2º — O general-em-chefe fará constar que o governo imperial dará as providên-
a
£
|
[dlll.
cias necessárias para a revalidação das dispensas e licenças concedidas eiros de guerra serão logo soltos, e aqueles que estão fora
pelo vigário capitular de nomeação dos rebeldes, depois de lhe hav 8º — Nossos prision | :
erem da província serão reco nd uz id os a el a.
a cassadas as faculdades outorgadas pelo diocesano, por ser esta sua s pa te nt es os no ss os ge ne ra is ; po ré m gozam
medi- 92 Não são reconhecidos em
à necessária para a tranquilidade das consciências e a paz | ame e
das famílias. das imunidades dos demais oficiais.
10º - O general-em-chefe procurará que tr at ar de fi nitiva mente da linha divisória com O
os principais ch efes rebeldes, por própria 10: O go ve rn o im pe ri al va i
: val ua e a bem da futura tranquilidade da província, se retirem dela para Estado Oriental. patio
qualquer parte de sua livre escolha dentro ou fora do império, não sendo para 11º — Os soldados da república pelos respectivos comandantes relacionados, f-
Os Estados limítrofes; e somente deixará de insistir sobre esta determinação cam isentos de recrutamento na 1º linha. TU
duando Ve que do seu cumprimento resulte a impossibilidade da pacificação 12º — Oficiais e soldados que pertenceram ao Exército simperial e se apresenta:
11º — Depois de cumprida como os demais repu-
eito dis p Osiç ões dos artigos antecedentes, o general- ram ao nosso serviço serão plenamente garantido
em-chefe faráta oO ExéExérc imperial tomar posição tanto na fronteira como
blicanos.
S
nos ço Interi eriores que julgar mais adequados,
e de tudo dará parte a0
governo, de quem esperará as convenientes
ordens.
577
276
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Códices:
1050.
e Arquivo Geral de Mercês e Graças Honoríficas.
Arquivos particulares:
AP 7 — Eusébio de Queiroz Matoso Câmara
AP 9 - Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão
AP 54 — Alberto do Rego Rangel
e Arquivo de Ofício de Notas
e Arquivo de Verbas Testamentárias
Ac ad em ia Rea l Imp eri al, IG 3 2, Fu nd o Mi ni st ério da Guerra.
e Arquivo da
da Es co la Mil ita r, IE3 , Fu nd o Mi ni st ér io da Educação
e Arquivo Rio de
e Livro de Registros € Matrículas da Academia Real Militar do
Janeiro microfilme 001.1-75
e Coleções particulares:
e Silva
79 CP — Francisco de Lima
14 — Ma nu el da Fo ns ec a de Lima e Silva
39 CP
CP 18 — Lu iz Al ve s de Lima e Silva
53
—- Ma nu el Fe li za rd o de So uz a e Mello
41 CP 14
28 — Be rn ar do Pe re ir a de Vasconcellos
69 CP
do Ba ta lh ão do Im pe ra do r, códice 275
e Livro de Orde ns
ci a do pr es id en te de pr ov ín ci a da Ba hi a com o ministro
e Correspondên
82 3) , IG 1 11 4, Fu nd o Mi ni st ér io da Guerra
da Guerra (1
ci a do br ig ad ei ro Fr an ci sc o de Li ma e Si lv a co m a Corte,
e Correspondên
códice 7/45
Confederação do Equador,
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599
598
Índice onomástico
260, 262, 265, 278, 279, 280, 281, Castrioto, 245, 246, 247, 270 243, 345
Castro, Celso, 13, 42, 167, 170, 267 Costa, Luiza Rosa Carneiro da, 556
35253595 C
Castro, Paulo Pereira, 263, 264, 265, Costa, Manoel Álvares da Fonseca,
Barros, Vidal da Silveira, 15
266, 271, 336, 393, 472, 473 83, 86
Bello, 87, 88, 89, 103, 107, 108, 109, Caldeira, Felisberto Gomes, 131, 136
Cavalcante, Agostinho Bezerra, 148, Costa, Manoel Antônio da Fonseca,
122, 375, 539 Caldeira, Jorge, 267, 268, 270, 395
149, 156, 160 121
Bello, André Alves de Oliveira, 363, Caldwell, João Frederico, 489, 545
Caxias, Barão de, 599 Costa, Wilma Peres, 206, 266, 267
394 Caldwell, Ricardo Frederico, 121, 122
Caxias, conde de, 556, 562, 569 Coutinho, Aureliano de Souza, 232,
Bello, Joaquim Mariano de Oliveira, Calmon, Miguel, 351, 403, 405
Caxias, duquesa de, 27 233, 351, 393, 403, 405, 432
128 Calvet, Marivalde, 549
Caxias, marquês de, 570, 585 Coutinho, Gastão José da Câmara, 61
Bello, Luiz Alves de Freitas, 86, 87, Câmara, Francisco de Arruda, 453
Chagas, Cosme das, 313, 317, 312, Couto, José Morais, 241
88, 89, 90, 107-109, 122 Camilo, 382, 383
Bello, Luiz Alves Leite de Oliveira, Campos, Joaquim Pinto de, 31-33, 320, 328, 330, 332, 333, 341, 347, Cunha, Antônio Luís Pereira da, 196
Cunha, conde da, 47, 48, 62, 63, 66,
536, 539, 542 42, 170, 173, 174, 218, 219, 268, 499, 518, 559
96, 99, 100, 101
Bello, Mariana Cândido de Oliveira, 270, 355, 341, 347 Chalaça, Francisco Gomes da Silva,
Cunha, José Feliciano da, 381
86 Canabarro, David, 406, 441, 443, 447, 144
de Morais, 378, 389 Curado, Joaquim Xavier, 76, 78, 79,
Bello, Wenceslau de Oliveira, 375 453-456, 477, 481, 482, 485-495, Cid, José Feliciano
80, 101
Bernardelli, Rodolfo, 29, 30 498, 505, 506, 511-524, 527, 528, Cochrane, Lord, 132
o , F r a n c i s c o , 5 15 , 521
Bernardina, 87, 108 530, 531, 533, 545, 3547-549 Coelh D
J e r ô n i m o F r a n c i s c o , 496-498,
Bezerra, José Vicente de Amorim, 356, Cândida, Maria, 348 Coelho,
546
359, 365, 377, 378, 394 Cândido, Mariana, 89, 108 502, 508, 511,
o a q uim, 235 Daltro, 128, 129
M a n o e l J
Bittencourt, José Maria, 421 Caneca, Joaquim do Amor Divino, Coelho, 2 Dantas, Carlos, 102, 166
N a r c i s o T avares, 38
Bloem, João, 365 155, 172 Coimbra,
Davis, Natalie Zemon, 41, 44, 589
Bôhm, Johann Heinrich, 47, 48, 54, Carlos, Antônio, 354 Correa, À raújo, 451
Manoel da, 394 Didi-Huberman, 561, 563
58, 62, 63, 64,63,66, 67, 68, 69, 70, Carolina, Viana, 482
603
602
ÍNDICE ONOMÁSTICO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
604 605
ÍNDICE ONOMASTICO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
240-245, 252, 256, 281, 377, 390, Machado, Andrada, 358, 394, 393 182, 183, 263, 266, 268-270, 336, Narciso, José, 78, /9
Neto, Antônio, 447, 456, 482, 483,
546, 552, 333, 359, 537, 561 Machado, João da Silva, 35 8, 365 586, 593
171, 486, 490, 491, 495, 504, 506, 512,
Lima, Câmara, 526, 536 Maciel, Alfredo Pretextato, 153, 15 8, Mello, Evaldo Cabral de, 170,
Lima, Carlos Corte Real de, 537 168, 173, 475, 476 313; 991
172
Lima, Joaquim de, 255 225 Niemeyer, Conrado Jacob, 155
Maciel, Bento Manuel Ribeiro de, 475 Melo, Antônio Manoel de, 224,
Nunes, Zeno Cardoso, 473, 4/5
Melo, Inácio Luís Madeira de, 125,
Lima, José de, 122 Maciel, Salvador José, 152, 156, 157.
Lima, Maria Joaquina Xavier de, 101 211, 432, 433, 451, 458 126, 131, 132
Lima, Oliveira, 167 Magalhães, Domingos José Gonçalves Melo, Manuel Felizardo de Sousa e,
O
Lima, Patrício Augusto da Câmara, de, 275, 276, 283, 284, 289, 290, 288, 289, 554
526, 336, 549 Oliveira, Ana Quitéria Joaquina de,
Melo, Sebastião José de Carvalho e, 55
291, 294, 295, 297, 3506-311, 320
,
Lima, Pedro de Araújo, 276, 554 321, 334, 336-339, 348, 351, 392, 86
Lima, Vicente Alves de, 481, 482, 483 Mendes, Odorico, 188, 190
393, 413-415, 422, 452, 534-536, Menezes, José Narciso de Magalhães, Oliveira, Antônio do Monte, 156,
Lins, Álvaro, 166 538, 541, 542, 550, 552, 587 77,79, 80 160
Lins, Lamenha, 155 Magalhães, João Batista, 96, 98, 99,
Montenegro, Luís José dos Reis, 375 Oliveira, Clemente José de, 252, 253,
Lippe, conde de, 47, 52, 59, 60, 62,
103 254, 256
64, 65, 66, 67, 72, 83, 96, 98, 100, Montezuma, Francisco Gomes Bran-
Magalhães, Joaquim Romero, 53
dão, 129 Oliveira, Francisco Sérgio de, 290
102, 211, 599 Mairinck, 151, 153
Moraes, João Machado, 520 Oliveira, Manuel Lucas de, 490, 495,
Lisboa, João Francisco, 338
Manuel, João, 254, 255, 270 504, 511, 527
Lopes, Florentino José, 221 Morais, Ângelo Mendes de, 27
Mariana Cândido, 109
Morais, Antônio Macário de, 147, Oliveira, Narciso Peixoto de, 536
Loriga, Sabina, 14, 42, 43, 96, 97, 99, Maria, d., 73, 100
153, 156 Oliveira, Saturnino de Sousa e, 403,
166, 562
Maria, Joana, 83, 84
Morais, Bento José de, 360 404, 405, 413, 417, 421, 472
Louriçal, 54, 60, 61
Mariano, José, 504
Morais, Eugênio Vilhena de, 166, Onofre, Luís, 129
Lucas, Manuel, 507, 512, 514 527,
Maria, Santa, 285, 290, 449, 453,
167, 269, 270, 337, 338, 340, 361, Oribe, Manuel, 406, 462, 465471,
528, 529, 547, 548 456, 482 478, 487, 493, 495
Luísa, Anna, 240, 241, 242,243, 377, 394-397, 474, 526, 547
Marinha, 84, 304, 484 Osório, Fernando Luís, 550
568, 571 Morais, José Manoel de, 133, 135, 136,
Marinho, José Antônio, 346, 380-383, Osório, Manuel Luís, 29, 30, 42, 459,
Luiza, 283, 540, 552 144-147, 149, 150-154, 157, 162,
3287-389, 391 393, 395-397, 413, 492, 493, 501, 541, 542, 546, 550,
Luiza, Cândida, 234, 235 171, 172, 185, 200, 256, 266, 223
473 582, 587, 595, 397
Marques, Fernando Pereira, 97,
98, Otoni, Teófilo, 381, 382, 385, 387,
M N
39, 102, 103 391, 396, 397, 490, 492, 493, 494,
Martins, Joaquim, 386, 387 m, 16 6, 407, 472,554, $18, 345
Macedo, Francisco de Paula, 360 Na bu co , Jo aq ui
Mascarenhas, Nelson Lages, 42, 562 Ourives, José Inácio da Silva, 454
Macedo, Francisco Paula de, 535 562
Mattos, Ilmar Rohloff de, 13, 43,
44, Napoleão, 28, 390
606 607
ÍNDICE ONOMÁSTICO
DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
Pantoja, Gustavo Adolfo, 233 Pereira, Nicolau Martins, 156, 160 A51, 452, 455, 456, 462, 463, 470, Shockler, Francisco, 121, 167
Pardal, João Carlos, 180 Pessoa, Francisco Ribeiro, 231,234 473, 476-478, 481-483, 485-487, Silva, Alfredo Pretextato Maciel da,
Paschoal, Maria, 591 Pimentel, João José da Costa, 35 8, 394 492, 496, 509, 533 104
Pedrito, d., 482 Pinho, Wanderley, 169 Ribeiro, Gladys Sabina, 169, 263 Silva, Antônio Barbosa da, 394
Pedro, d.; 123, 124-127, 130, 138, 139, Pinto, Antônio, 452 Ribeiro, José de Araújo, 428, 439, Silva, Antônio de Morais, 97, 562
142, 144, 145, 149, 150, 152, 154, Pinto, Mariano, 483 442, 458 Silva, Bento Gonçalves da, 484
155, 160-164, 168, 172, 177-181, Piquet, Agostinho Maria, 284, 376, Rivera, Fructuoso, 452, 460, 462, Silva, Carlos Miguel de Lima e, 198,
183, 184, 186, 187, 190, 205, 210, 422, 474 465, 467, 468, 470, 471, 478, 482, 05, 1282-2555 29/51 9/95 2255
211, 228, 256, 257, 260, 276, 320, Pires, Onofre, 484-486, 522, 545 484, 487, 488, 492-494, 497, 498, 496-498, 552, 562
347, 403, 408, 413, 469, 500, 558 Pollak, Michael, 42 501, 521, 541, 546 Silva, Francisco de Lima da, 48, 49,
Pedro, Francisco, 458, 45 9, 477, 481, 404, 50, 53, 54, 58, 60, 61, 66, 68-74,
Rocha, Justiniano José da, 390,
486, 501, 513, 514, 516, 3519, 520,
Q 413 81, 85, 93, 94, 98-100 167, 187
521, 522, 523, 548, 585 Rodges, James Heide, 156, 160 Silva, Francisco de Lima e (irmão de
Pedro, Manuel, 125 Queiroz, Eusébio de, 258, 259, 271, 517, Caxias), 138, 142, 172, 180, 266,
Rodrigues, Alfredo, 315, 516,
Pedrosa, Francisco, 319, 329 316, 496, 554 371, 376, 423, 433, 442, 553
518, 519, 521, 522, 548, 549
Pedro 1, d., 37, 111, 126, 137, 159, Quintas, Amaro, 170 Rodrigues, Manoel José, 233 Silva, Francisco Gomes da, 157, 172
161, 209, 210, 241, 248, 258, 276, Quitéria, Ana, 107, 108, 109 Silva, Francisco José da, 487
Romero, Silvio, 42
284, 347, 409, 557, 585 Quitéria, Bernardina, 122 Silva, Inácio Accioli Cerqueira e, 170
Rosa, Cândido José da, 239
Pedro II, d., 32, 97, 161, 173, 174, Silva, João Manoel de Lima e, 94, 97,
Rosas, 406, 465, 466, 468, 469, 470,
180, 181, 321, 322, 323, 543, 350, R 471, 477, 492, 493, 495, 510, 528, 122, 137, 160, 167, 170, 281, 476
552, 580, 583, 596
529, 546, 54759,7 Silva, José Joaquim de Lima da, 49,
Peixoto, José Maria Pinto, 213-215, Rangel, Félix de Azambuja, 520, 521, 50, 73, 75-82, 84, 85, 88, 90, 92-
Roscio, Francisco João, 48
267, 489 522, 548 94, 97, 101-104, 107, 122, 164,
Peixoto, Paulo Matos, 33, 42 Rangel, Francisco de Souza, 156 557
S
Pereira, Bento Barroso, 142, 155 Real, João de Souza Corte, 91 Silva, José Joaquim de Lima e (tio de Ca-
Pereira, Jerônimo Jacinto, 448, 449 Rego, Pedro Paulo de Morais, 359, xias), 37, 60-62, 68, 74-84, 94, 101,
Sabino, Ricardo Leão, 376, 422
Pereira, José Clemente, 343, 346, 362, 373, 394
Sanches, Antônio Ribeiro, 100 104, 107, 108, 110, 111, 123, 125,
351, 357, 360, 361, 365, 366, 371, Reis, Joaquim Silvério dos, 86-89, Santos, Ezequiel Correa dos, 204 126, 127, 131, 133, 136, 137, 144,
372, 374, 376, 384, 386, 394, 399, 107, 108, 109, 122, 166, 375, 423 Santos, João Paulo dos, 198 160, 167, 170, 179, 181, 184-186,
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DUQUE DE CAXIAS: O HOMEM POR TRÁS DO MONUMENTO
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9478852 0 Õ 0844
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