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Editor:
Thomaz Perroni
Editor assistente:
Ulisses Trevisan Palhavan
Tradução:
Bruno Alexander
Revisão:
Ronald Robson
Jefferson Bombachim
Preparação de texto:
João Mallet
Capa:
Vicente Pessôa
Diagramação:
Thatyane Furtado
Conselho Editorial:
Adelice Godoy
César Kyn d’Ávila
Silvio Grimaldo de Camargo
ficha catalográfica
Burnham, James.
O suicídio do Ocidente: um ensaio sobre o significado e o destino do esquerdismo /
James Burnham; tradução de Bruno Alexander — Campinas, sp: Vide Editorial, 2020.
isbn: 978-65-87138-12-1
Título original: Suicide of the West: An Essay on the Meaning and Destiny of Liberalism.
Prefácio ................................................................................... 9
Introdução............................................................................... 13
Prólogo.................................................................................... 31
CAPÍTULO I
A contração do Ocidente.......................................................... 33
CAPÍTULO II
Quem são os esquerdistas?....................................................... 47
CAPÍTULO III
A natureza humana e a sociedade justa.................................... 65
CAPÍTULO IV
O diálogo universal.................................................................. 83
CAPÍTULO V
Igualdade e bem-estar............................................................... 95
CAPÍTULO VI
Pensamento ideológico............................................................. 117
CAPÍTULO VII
Uma observação fundamental, feita de passagem..................... 143
CAPÍTULO VIII
Os esquerdistas realmente acreditam no esquerdismo?............. 163
CAPÍTULO IX
A ordem de valores do esquerdista........................................... 179
CAPÍTULO X
A culpa do esquerdista............................................................. 209
CAPÍTULO XII
A dialética do esquerdismo....................................................... 243
CAPÍTULO XIII
Novamente: quem são os esquerdistas?.................................... 261
CAPÍTULO XIV
A deriva da política externa dos eua........................................ 275
CAPÍTULO XV
Esquerdismo vs. realidade........................................................ 303
CAPÍTULO XVI
A função do esquerdismo......................................................... 323
Índice....................................................................................... 333
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ntre os elementos de uma síndrome ideológica, existem senti-
mentos, atitudes, hábitos e valores, além de idéias e teorias. Meu
foco neste e nos dois capítulos seguintes serão as idéias e teorias
da síndrome progressista: os sentidos “cognitivos” do progressismo que
podem ser declarados na forma de proposições aceitas pela ideologia
esquerdista como verdadeiras. A distinção sugerida aqui entre sentidos
cognitivos e sentidos afetivos ou emocionais é muito menos clara no
conteúdo do que na forma, e será necessário voltar ao assunto poste-
riormente, mas fornece uma estrutura conveniente para a exposição.
Meu objetivo aqui, então, é apresentar o progressismo moderno
como um conjunto mais ou menos sistemático de idéias, teorias e cren-
ças sobre a sociedade.1 Antes de prosseguir, gostaria de fazer um co-
mentário preambular sobre a ascendência intelectual do progressismo.
O progressismo moderno, como é sabido, é uma doutrina sin-
tética ou eclética, com uma árvore genealógica bastante complexa.
1 No capítulo viii, verificaremos se o sistema de idéias que então já terei explicitado “é realmente”
o esquerdismo, se os esquerdistas acreditam no esquerdismo. Enquanto isso, observo que meu
objetivo nestes três capítulos não é de forma alguma distorcer, alterar, difamar, caricaturar ou
refutar o esquerdismo como um sistema de idéias, mas apenas entendê-lo e descrevê-lo.
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2 Michael Oakeshott, Rationalism in Politics. Nova York: Basic Books, 1962, p. 14.
3 O Professor Charles Frankel, em The Case for Modern Man, Nova York: Harper & Bros.,
1956, p. 7, cita Voltaire, Condorcet e John Stuart Mill como “os grandes nomes” ligados à
filosofia da história por trás das idéias progressistas.
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Tendo nomeado essas múltiplas raízes, pode parecer que estou di-
zendo que a fonte intelectual do progressismo é todo o corpo do pensa-
mento pós-renascentista. É bastante natural que seja essa a impressão.
Nosso progressismo moderno é, na verdade, o representante contem-
porâneo, o principal herdeiro da principal linha (ou linhas) de pen-
samento pós-renascentista, a linha que tem o direito de se considerar
mais “moderna” e mais influente, moldando o mundo pós-renascentis-
ta e sendo moldada por ele.
Ainda assim, essa linhagem principal não é a única, mesmo que as
demais sejam menos significativas. De seus indubitáveis e reconheci-
dos antepassados, o progressismo herdou apenas uma parte dos bens;
uma parte, e em alguns casos uma parte importante da totalidade,
passivos e ativos, teve outra destinação. Se o progressista moderno
pode respaldar sua reivindicação da herança de Descartes, Diderot,
Rousseau, Adam Smith, Locke, Bentham, Ricardo, John Stuart Mill,
William James e Kautsky, fazendo-o por meio da apresentação de
muitos escritos à corte, um discordante será capaz de apresentar um
arquivo contrário substancial o suficiente para lançar sombra sobre
pelo menos parte do espólio. Pode-se até argumentar, como se tem
argumentado, que os progressistas de hoje mantêm seu domínio sobre
alguns dos bens (aqueles que remontam, num exemplo óbvio, a John
Stuart Mill ou John Locke) apenas pelo que os advogados chamariam
de “usucapião”, com o respaldo de seu controle atual do cartório
intelectual.
E, ainda com todas essas figuras proeminentes entre os ancestrais,
diretos, indiretos e adotados, do progressismo moderno, nem todos
os nomes foram mencionados, mesmo os da época pós-renascentista
(sem mencionar dos séculos sombrios anteriores ao advento da ciên-
cia e da democracia, cuja presença nos registros familiares do pro-
gressismo são, de qualquer forma, borrados e pouco nítidos).
Toda a tradição da filosofia católica, especialmente sua vertente
aristotélica principal, que afinal sobreviveu ao Renascimento, à Re-
forma e até a Isaac Newton, tem pouca ou nenhuma parte na linha-
gem do progressismo. Também não encontramos entre seus ancestrais
Thomas Hobbes ou Thomas Hooker, Blaise Pascal, David Hume,
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(a) Embora seja verdade que alguns católicos e freudianos (ou pós-
-freudianos) devem ser considerados esquerdistas, geralmente há um
pouco de desconforto, de ambos os lados, com essa questão. Em gran-
de escala, os católicos são recrutas relativamente recentes do esquer-
dismo. A geração mais velha de esquerdistas, metida a intelectual, fica
contente em receber contingentes tão impressionantes no campo da
virtude, mas não sem alguma desconfiança; e isso se deve em parte
ao sentimento de que há algo errado, do ponto de vista esquerdista,
com a teoria católica sobre a natureza humana e o destino do homem.
Esse sentimento é forte o suficiente para levar alguns progressistas,
como Paul Blanshard e seu Comitê para a Separação da Igreja e do
Estado, a se afastar completamente dos católicos. Quase todo esquer-
dista mantém seus dedos ideológicos cruzados ao observar um grupo
como os jesuítas começando a parecer esquerdista, como os jesuítas
americanos têm feito ultimamente nas páginas de sua principal revis-
ta, a America. Os esquerdistas mais sensatos não ficam surpresos, e
seguros em sua própria fé, quando, depois de fazer comentários apro-
priados sobre reformas sociais e extremistas de direita, a America,
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5 Clifton Brock, Americans for Democratic Action, Washington: Public Affairs Press, 1962,
pp. 177, 185.
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14 Essa fé na solubilidade dos problemas sociais foi tão proeminente e difundida nos Estados
Unidos que, no contexto americano, provavelmente deveria ser considerada mais uma carac-
terística nacional do que ideológica. Nos discursos, relatórios ou artigos americanos sobre
problemas políticos, econômicos ou sociais, um final “positivo” é praxe em quase todos os
círculos. Nesse sentido, o Professor Louis Hartz e outros historiadores intelectuais estão quase
corretos ao afirmar que “a tradição esquerdista” é a única tradição americana. Na Europa,
os conservadores e muitas tendências religiosas nunca tiveram esse otimismo social.
15 Oakeshott, op. cit., p. 5.
16 Schapiro, op. cit., p. 12.
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É essa ênfase nas mudanças de fins e meios que mais distingue o progressista
de um conservador em uma comunidade democrática. O dicionário define
progressista como aquele “favorável à mudança e à reforma, tendendo
na direção da democracia”. No léxico político de 1959, os progressistas
reconhecem a mudança como a lei inevitável da sociedade e a ação em
resposta à mudança como o dever primordial da política.
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18 Citação de Selected Papers of Bertrand Russell, Nova York: The Modern Library, 1927, pp. 99, 110.
19 John Stuart Mill, Sobre a liberdade. Citação da edição de Essential Works of John Stuart
Mill, da Bantam Books, editado e prefaciado por Max Lerner, Nova York, 1961, p. 318.
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