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• MOUFFE, Chantal. Sobre o Político. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2015. p. 1-32.
• BUTLER, Judith. Corpos em aliança e a política das ruas: notas para uma teoria performativa de assembleia. 1 ed.
Trad. de Fernanda Siqueira Miguens. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018. (livro todo).
•
• BROWN, WENDY, MARINO, Antunes Mario. Nas Ruínas do Neoliberalismo: a Ascensão da Política
Antidemocrática no Ocidente Capa comum – Edição padrão, 31 outubro 2019
• CRENSHAW, Kimberlé. Demarginalizing the Intersection of Race and Sex: A Black Feminist Critique of
Antidiscrimination Doctrine, Feminist Theory and Antiracist Politics. University of Chicago Legal Forum, n. 1, p.
139-167, 1989.
Olhar alguns contextos
Os sentidos diversos de
Atores ???
A autora é Belga, cientista política
pós marxista e pós estruturalista.
Professora no Reino UNIDO.
• Ver os vídeos e pensar estas experiências de atores e atoras sociais.
• Doc1: “Eu faço parte dessa história! Eu faço parte dessa luta! Sem Feminismo não há agroecologia.
• Doc2: “A agroecologia também é um espaço de luta das mulheres”. Reforma Agrária Popular no Assentamento
Contestado.
• Doc3: “Tudo que vem para nós vem da terra”. Agroecologia - uma pedagogia do cuidado com a vida.
• Doc4: “Nenhuma mulher se emancipa com bolso vazio” Agroecologia com democracia de gênero.
• https://www.youtube.com/playlist?list=PLV9uJxmrjflDjJajM996lZkbjA5Be6IO1
• +- 16horas.
Vamos unir o povo, valorizar a família, respeitar as religiões e nossa tradição judaico-cristã, combater a
ideologia de gênero, conservando nossos valores. (BRASIL, BOLSONARO, 2019).
[...] os valores culturais em que se sedimentam as nossas instituições mais caras: a família, a igreja, a escola, o estado e a
pátria, numa clara tentativa de sufocar os valores fundantes da nossa vida social. [...] é preciso também considerar que,
sem o apoio das famílias, da sociedade, dos estados e dos municípios, nossas chances de sucesso diminuem
significativamente. (NOVA ESCOLA, RODRÍGUEZ, 2019).
Montamos nossa equipe de forma técnica, sem o tradicional viés político que tornou o Estado ineficiente
e corrupto. (BRASIL, BOLSONARO, 2019b). A corrupção, os privilégios e as vantagens precisam acabar. Os
favores politizados, partidarizados devem ficar no passado, para que o Governo e a economia sirvam de
verdade a toda a Nação. (BRASIL, BOLSONARO, 2019)
• O nosso bravo capitão Jair Messias Bolsonaro sobreviveu ao cruel atentado
e, nos braços do povo que o apoiou desde o início, ganhou, honrosamente e
com grande margem de votos, as eleições presidenciais, fazendo com que a
data de 28 de outubro de 2018 seja lembrada pelo povo brasileiro como o
dia da redenção de nosso país. (NOVA ESCOLA, RODRÍGUEZ, 2019).
• Nós vamos também libertar a política externa brasileira, vamos libertar o
Itamaraty, como o presidente Bolsonaro prometeu que faríamos, em seu
discurso de vitória. (BRASIL, ARAÚJO, 2019).
• Um novo tempo? .
Um novo tempo
• Pandemia
• Guerra na Ucrânia
• Pessoas com fome
• Esgotamento do mundo neoliberal democrático?
• Desigualdades imensas medos e incertezas - tomará que seja
uma década curta.
• Segurança e esperança, - confiar que o futuro será melhor do que
presente. A esperança se trabalha cotidianamente.
Conjunturas atuais para pensar
Crise
Pistas de Crise Crise
geopolític
Chantal. sanitária climática
a
Crise Sanitária
• COVID e a pandemia. Exacerbou a hegemonia neoliberal como democracia
agregativa e deliberativa.
• Resistências ao modelo neoliberal no final desde 2008. A pandemia trouxe
outras questões. Sugere o populismo de esquerda adaptado à conjuntura
atual.
• As ações dos governos neoliberais para impedir o colapso durante a
pandemia. Muita intervenção estatal. A política neoliberal busca uma
reconquista por meio da intervenção do Estado. Aspecto que não se enquadra
com o intervencionismo de Estado. Novas formas de neoliberalismo.
Neoliberalismo digital autoritário. A pandemia significa um novo impulso por
meio das formas digitais ao neoliberalismo. O neoliberalismo que se adapta.
Fatores que explicam a nova fase
Inicio da
II aula
1 A política e o político
• O capítulo se foca nos argumentos de que existe distinção entre o
político e a política.
• O fato de fazer essa distinção sugere que existem dois tipos diferentes de
abordagem: o da ciência política, que lida com o campo empírico
da "política", e o da teoria política, esfera de ação dos filósofos,
que não investigam os fatos da "política", mas a essência do
"político". Se quiséssemos expressar essa distinção de maneira
filosófica, poderíamos dizer, recorrendo a Heidegger que a política se
refere ao nível "ôntico", enquanto "o político" tem a ver com o nível
"ontológico".
Isso significa que o ôntico tem a ver com as diferentes práticas da política convencional,
enquanto o ontológico refere-se precisamente à forma em que a sociedade é fundada.
Alguns teóricos, como Hannah Arendt, encaram o político como um espaço de liberdade e de
discussão pública, enquanto outros o consideram um espaço de poder, de conflito e de
antagonismo. Minha compreensão do "político" faz parte, evidentemente, da segunda
perspectiva.
• entendo por "o político" a dimensão de antagonismo
que considero constitutiva das sociedades humanas, enquanto entendo
por "política" o conjunto de práticas e instituições por meio das quais
uma ordem é criada, organizando a coexistência humana no contexto
conflituoso produzido pelo político. A minha principal área de
investigação deste livro diz respeito às práticas da política democrática, e
está, portanto, Iocalizada no nível "ôntico". Não obstante, sustento que
é a falta de compreensão do "político" em sua dimensão
ontológica que está na origem da atual incapacidade de pensar
de forma política. Embora uma parte significativa de minha
argumentação seja de natureza teórica, meu objetivo principal é político.
Escutar o vídeo
Chantal Mouffe y el pluralismo agonista
Chantal Mouffe utiliza el concepto de pluralismo
agonista para presentar una nueva forma de pensar la
democracia, diferente de la concepción liberal tradicional de la
democracia e da perspectiva de Smitt.
• Estou convencida de que o que está em jogo na discussão acerca da
natureza do "político" é o próprio futuro da democracia.
• Lembra algo?
• Assim ficamos sem o espaço agonístico porque a politica foi
reduzida a ordem estabelecida.
• Desapareceu para os cidadãos, a capacidade de decidir de
maneira politica entre os diferentes tipos de políticas públicas.
• A perda de soberania dos estados nacionais que estão cada vez
mais dependentes das imposições transnacionais, ... explica a crise
de representação que afeta as sociedades democráticas.
• Na medida em que os cidadãos sentem que foram
despojados da possiblidade de exercer seus direitos
democráticos e que as eleições não lhes oferecem possibilidades
de mudanças através ds partidos tradicionais de governo....não
se deve estranhar o êxito dos partidos populares de direita.
Assim o populismo também de esquerda cresce..............e as
politicas fomentam as desigualdades sociais.
Inicio da III
aula 21 set
2022
Sequencia aula III
• XXXX
• Enquanto esse recrutamento continua crescendo, centistas, neoliberais
mainstream, liberais e esquerdistas hesitam.
• Indignação, moralização, sátira e esperanças vãs de que facções internas
ou escândalos na direita produzirão sua autodestruição têm prevalecido
sobre estratégias sérias para desafiar essas forças por meio de
alternativas convincentes.
dramática "reprogramação do
liberalismo" que hoje conhecemos
como neoliberalismo.
• ..............isso não significa, entretanto, que nem os intelectuais
neoliberais originais - Friedrich Hayek, Milton Friedman e os seus meios-
irmãos, os ordoliberais alemães - e nem mesmo os próprios
formuladores das politicas neoliberais mirassem o presente politico e
econômico.
• Ao contrário, o entusiasmo popular com os regimes
autocráticos, nacionalistas e em alguns casos neofascistas,
abastecidos pela disseminação de mitos e pela demagogia,
afasta-se tão radicalmente dos ideais neoliberais quanto os
regimes comunistas estatais repressivos afastavam-se de Marx
e de outros intelectuais socialistas, mesmo que, em ambos os
casos, a planta disforme tenha crescido do solo fertilizado por
aquelas ideias.
Forjado no cadinho do fascismo
europeu, o neoliberalismo visou uma
imunização permanente das ordens de Ávidos por apartar a politica dos
mercado contra o rebrotar de mercados, ...............
sentimentos fascistas e poderes
totalitários.“
O neoliberalismo ........ ele teoriza a
atual formação como relativamente
inédita, divergindo dos autoritarismos,
fascismos, despotismos ou tiranias de
outras épocas e lugares e diferindo
também dos conservadorismos
convencionais ou conhecidos.
• Ele foca em como as formulações neoliberais de liberdade inspiram e
legitimam a extrema direita e como a direita mobiliza um
discurso de liberdade para justificar suas exclusões e
violações às vezes violentas e que reassegurar a
hegemonia branca, masculina e cristã, e não apenas
expandir o poder do capital.
• Por outro lado, a moralidade tradicional serve, por exemplo, para repelir o
combate às desigualdades como, por exemplo, assegurar a liberdade
reprodutiva das mulheres ou desmantelar a iconografia pública que celebra
um passado escravocrata.
A moralidade tradicional também liga a
preservação do passado ao patriotismo,
promovendo-o não apenas como ao
país, mas como amor ao modo como as
coisas eram. O que tacha de
antipatrióticas as objeções, à injustiça
racial e de gênero.
A ASCENSÃO DA POLÍTICA
ANTIDEMOCRÁTICA
• O presente livro argumenta que a ascensão da política
antidemocrática foi promovida por meio de ataques à
sociedade — compreendida como algo experimentado e
zelado de forma comum - e à legitimidade e à prática da
vida política democrática.
• O capítulo I inicia esta análise do projeto mercado-e-moral do
neoliberalismo examinando a crítica do neoliberalismo à sociedade e
seu objetivo de desmantelá- la.
• O capítulo 2 explora o ataque à democracia compreendida
como soberania popular e poder político compartilhado.
Homus economicus ,
transformando-se de um suieito Esses princípios tornam-se princípios de
da troca e da satisfação das realidade que. saturam e governam cada
necessidades em um sujeito de
competição e d aprimoramento esfera da existência e reorientam o
do capital humano
(neoliberalismo).
próprio
• Ao mesmo tempo, afirma Foucault, na formulação dos
neoliberais, os mercados competitivos necessitam de suporte
político e, portanto, de uma nova forma do que ele
chama de "governamentalização" do Estado. Na
nova racionalidade governamental, por um lado, todo governo
é para os mercados e orientado por princípios de
mercado, e, por outro, os mercados devem ser
construídos, viabilizados, ( amparados e
ocasionalmente até mesmo resgatados por
instituições políticas.
Governamentalidade
A partir de 1978, em seu curso no
Collège de France, Foucault analisa a
ruptura que se produziu entre o final do
século XVI e o início do século XVII e que
marca a passagem de uma arte de
governar herdada da Idade Média, cujos
princípios retomam a virtudes morais
tradicionais (sabedoria, justiça, respeito
a Deus) e o ideal de medida (prudência,
reflexão), para uma arte de governar cuja
racionalidade tem por princípio e campo
de aplicação o funcionamento do Estado:
a "governamentalidade" racional do
Estado.
• Essa "razão do Estado" não é entendida como a
suspensão imperativa das regras pré-existentes, mas
como uma nova matriz de racionalidade que não tem
a ver nem com o soberano de justiça, nem com o
modelo maquiavélico do Príncipe.
Por essa palavra 'governamentalidade, eu
quero dizer três coisas. Por
governamentalidade, eu entendo o conjunto
constituído pelas instituições, procedimento,
análises e reflexões cálculos e táticas que
permitem exercer essa forma bastante
específica e complexa de poder, que tem por
alvo a população, como forma principal de
saber a economia política e por instrumentos
técnicos essenciais os dispositivos de
segurança.
Em segundo lugar, por governamentalidade, entendo
a tendência que em todo o Ocidente conduziu
incessantemente, durante muito tempo, à
preeminência desse tipo de poder que se pode
chamar de "governo" sobre todos os outros -
soberania, disciplina etc [...
1. Enfim, por governamentalidade, eu creio que seria
preciso entender o resultado do processo através do
qual o Estado de justiça da Idade Média, que se
tornou nos séculos XVI e XVII Estado
administrativo, foi pouco a pouco
'governamentalizado.......
A nova governamentalidade da razão do
Estado se apóia sobre dois grandes
conjuntos de saberes e de tecnologias
políticas, uma tecnologia político militar e
uma "policia". O cruzamento dessas duas
tecnologias, encontra-se o comércio e a
circulação interestatal da moeda: "é do
enriquecimento pelo comércio que se
espera a possibilidade de aumentar a
população, a mão-de-obra, a produção e
a exportação, e de se dotar de armas
fortes e numerosas.
O par população-riqueza foi, na época do
mercantilismo e da cameralística, o objeto
privilegiado da nova razão governamental. Esse
par está no fundamento da formação de uma
"economia política", A governamentalidade
moderna coloca pela primeira vez o problema
da "população", isto é, não a soma dos sujeitos
de um território, o conjunto de sujeitos de
direito ou a categoria geral da "espécie
humana", mas o objeto construído pela gestão
politica global da vida dos indivíduos
(biopolítica).
A partir de la época clásica,
asistimos en occidente a una
profunda transformación de los
mecanismos de poder. El antiguo
derecho del soberano de hacer
morir o dejar vivir es reemplazado
por un poder de hacer vivir o
abandonar a la muerte.
• A partir del siglo XVII, el poder se ha organizado en torno de la vida,
bajo dos formas principales que no son antitéticas, sino que
están atravesadas por un plexo de
relaciones: por un lado, las disciplinas (una anatomo-política
del cuerpo humano), que tienen como objeto el cuerpo individual,
considerado como una máquina; por otro lado, a partir de mediados del
siglo XVIII, una biopolítica de la población, del cuerpo-especie, cuyo objeto será
el cuerpo viviente, soporte de los procesos biológicos (nacimiento, mortalidad,
salud, duración de la vida) (HS1, 183).
Por primera vez,
el hecho de vivir
no constituye
una base que
emerge de tanto
en tanto, en la
muerte y la
fatalidad;
ingresa en el
campo de
control del saber
y de las
intervenciones
del poder (HS1,
187).
Capitalismo
El biopoder ha sido un elemento indispensable para el
desarrollo del capitalismo. Ha servido para asegurar la
inserción controlada
de los cuerpos
en el aparato productivo y para
ajustar los fenómenos de la
población a los procesos
económicos (HS1, 185).
Sexualidad
• El sexo funciona como bisagra de las dos
direcciones en las que se ha desplegado el
biopoder, la disciplina y la biopolítica. Cada
una de las cuatro grandes políticas
del sexo que se han desarrollado en la
modernidad ha sido una manera de
componer las técnicas disciplinarias del
individuo con los procedimientos
reguladores de la población
Dos de ellas se han apoyado en la problemática de la
regulación de las poblaciones (el tema de la
descendencia, de la salud colectiva) y han producido efectos en el
nivel de la disciplina: la
sexualización de la
infancia y la histerización del cuerpo de la
mujer.
Las otras dos, inversamente, se apoyan en las disciplinas y
obtienen efectos en el nivel de la
población: control de los nacimientos,
psiquiatrización de las perversiones
(HS1, 191-193).
• Os mercados competitivos são bons, mas não exatamente naturais nem
autossuficientes. Para Foucault, essas duas características da
racionalidade neoliberal - a elaboração de princípios de
mercado como princípios de governo onipresentes e o
próprio governo reformatado para servir aos mercados -
estão entre aquelas que separam a racionalidade
neoliberal daquela do liberalismo econômico clássico, e
não apenas da democracia keynesiana ou da social-
democracia.
Elas constituem a "reprogramação da
governamentalidade liberal" que podia e ia se instalar
em todos os lugares, empreendedorizando o sujeito,
convertendo trabalho em capital humano e
reposicionando e reorganizando o Estado. Para , os
foucaultianos, então, mais importante do que a
reinicialização do capitalismo pelo neoliberalismo é
sua alteração radical dos valores, coordenadas e
princípios de realidade que governam, ou "conduzem
a conduta“ nas ordens liberais.
• Este livro se baseia tanto na abordagem neomarxista quanto
na foucaultiana do neoliberalismo, e também expande
ambas para saldar sua negligência mútua do aspecto
moral do projeto neoliberal.
• Não trata essas duas abordagens como opostas ou redutíveis à
compreensão materialista versus ideacional do poder e da mudança
histórica, mas as emprega por apresentarem diferentes dimensões das
transformações neoliberais que têm ocorrido em todo o mundo nas
últimas quatro décadas.
• A abordagem neomarxista tende a se concentrar nas instituições, políticas,
relações e efeitos econômicos, negligenciando os efeitos de longo alcance do
neoliberalismo como forma de governar a razão política e a produção de
sujeitos.
•Aula IV
A democracia também exige um cultivo
robusto da sociedade como o local em que
experimentamos um destino comum em
meio às nossas diferenças e distâncias.
Situado conceitual e praticamente entre o
Estado e a vida pessoal, o social é o local em
que cidadãos de origens e recursos
amplamente desiguais são potencialmente
reunidos e pensados como um conjunto. P.
38
A justiça social é o antídoto essencial para
as estratificações, exclusões, abjeções e O social é o local em que somos
desigualdades outrora despolitizadas que mais do que indivíduos ou
servem ao privatismo liberal nas ordens famílias, mais do que
capitalistas e é, em si mesma, uma réplica produtores, consumidores ou
modesta à impossibilidade da democracia investidores econômicos e mais
direta em grandes Estados-nação ou em do que meros membros da
seus sucessores pós-nacionais, como a nação.
União Europeia.
......., a moral e o mercado juntos geram a
conduta evoluída e disciplinada para e
sustentar a ordem ampliada". A conduta
evoluída "encontra- -se entre o instinto e a
razão" e não pode ser submetida à
justificativa racional, mesmo que possa ser
reconstruída racionalmente.
O mercado e a moral, portanto, não são nem compatíveis com
nem opostos à razão, não são racionais nem irracionais. Eles
perduram e são válidos porque surgem "espontaneamente",
evoluem e se adaptam "organicamente", unem os seres humanos
independentemente das intenções e estabelecem regras de
conduta sem depender da coerção ou punição estatais. Tanto o
mercado quanto a tradição moral geram uma ordem dinâmica, e
não estática, e criam novos "poderes humanos que de outra forma
não existiriam". Ambos propagam uma conduta propícia [felicüous]
em grandes populações sem depender dos excessos da intenção
humana ou das falácias da razão humana e sem empregar os
poderes do Estado.
• As regras morais são então, valores definitivos, não porque
resolvam os problemas dos fatos incognoscíveis e dos fins não
compartilhados, mas porque fornecem códigos para a ação a
despeito dos problemas.
• Os poderes do político são gerados pela comunidade (nua) que ele reúne,
mas não da maneira metódica e rastreável pela qual o trabalho é pensado
pelos marxistas como gerador de mais-valia. P. 68
• Também não estamos falando de superestrutura; o
politico não é mero reflexo dos poderes sociais, um
palco no qual as lutas reais" da sociedade civil são
encenadas. Pelo contrário o poder político sempre se materializa e é
moldado por uma racionalidade distinta, uma forma de razão e suas
oclusões, um conjunto de normas e seus efeitos gerativos.
• Como Michel Foucault nos lembra, o poder não é nem independente da
construção da verdade nem assimilável à verdade, e o poder político
não é exceção.
• Diferentemente do que pensam Schmitt e Arendt, o
politico nem possui fundamentos ontológicos nem
coordenadas e características historicamente imutáveis.
Ele não é autonômo em relação a outros domínios ou
poderes; ao contrario, poroso, impuro e sem amarras, ele
é saturado de forças e valores econômicos, sociais,
culturais e religiosos.
• o político é singular no que concerne a direção do
destino, até mesmo da vida e da morte, de
humanos e não humanos em larga escala. Nele
também reside distintivamente o significado de um
povo, gerando identidade individual e coletiva vis-à-
vis de outros.
A democracia sem o político é
um oximoro; a partilha de poder
que a democracia implica é um
somente o político resguarda a
projeto exclusivamente político
possibilidade da democracia
que requer renovação e apoio
entendida como o governo pelo
institucional. A legitimidade da
povo.’
democracia advém
exclusivamente de vocabulários e
ordenanças políticos.
Pensadores neoliberais viam o
político com desconfiança, e como
vamos analisar em profundidade
brevemente, eram abertamente
hostis tanto à sua variante
soberana quanto à democrática.
• O neoliberalismo, deste modo, visa limitar e conter o político, apartando-o da
soberania, eliminando sua forma democrática e definhando suas energias
democráticas. De suas aspirações e afirmação "pós-
ideológicas" da tecnocracia até sua economicização e
privatização das atividades governamentais, de sua
oposição desenfreada ao "estatismo" igualitário até sua
tentativa de deslegitimar e conter as reivindicações
democráticas, de seu objetivo de restringir direitos até seu
objetivo de limitar agudamente certos tipos de estatismo,
o neoliberalismo busca tanto constringir quanto
desdemocratizar o político.
Para isso, os neoliberais promoveram
Estados e instituições supranacionais
despolitizados, leis que "revestiriam e
protegeriam o espaço da economia
mundial", a governança baseada em
princípios de negócios e sujeitos orientados
pelo interesse e disciplinados pelo mercado
e pela moral.
•Gestão, lei e tecnocracia no lugar de
deliberação, contestação e partilha
democráticas do poder: várias décadas dessa
hostilidade multifacetada à vida política democrática geraram em
populações neoliberalizadas, na melhor das hipóteses, uma
desorientação generalizada quanto ao valor da democracia e, na pior,
opróbrio em relação a ela. P. 71
Os anos Reagan- -Thatcher foram
Por um lado, é óbvia a afirmação de moldados pelo refrão de que "o
que o ataque neoliberal à vida política governo é o problema, não a solução"
contribuiu para as rebeliões tanto para as questões econômicas
antidemocráticas de hoje. A política quanto para as sociais, refrão esse que
neoliberal visa afrouxar o controle se tornou o pretexto para os cortes de
político sobre atores econômicos e impostos, o desmantelamento do
mercados, substituindo a regulação e a Estado de bem-estar e o
redistribuição por liberdade de desacorrentamento do capital em
mercado e direitos de propriedade relação a qualquer tipo de restrição,
descomprometidos. P. incluindo aquelas impostas pelo poder
de barganha dos sindicatos.
para desdemocratizar a cultura política e os sujeitos
imersos nela, nas eleições presidenciais dos EUA de 2000 , George
W. Bush tornou-se um ícone desse processo por ser o primeiro detentor
de um MBA a assumir o cargo presidencial." Outro ícone surgiu durante
a campanha de 2016 na pessoa de um incorporador imobiliário que
explorou sua falta de conhecimento e experiência políticos como um
motivo para torná-lo presidente. A guerra declarada de Donald Trump
ao "pântano de Washington" e sua promessa de trazer princípios de
negócios e "a arte de fechar negócios" para o Salão Oval da Casa Branca
foram complementadas pela ambição de seu principal escudeiro, Steve
Bannon, de "desconstruir o Estado administrativo" e pelas agendas
privatizantes de seus nomeados para ministérios, muitos dos quais
também tinham pouca ou nenhuma experiência política antes de
assumirem as lideranças dos órgãos governamentais.’ p. 72
A demonização neoliberal do "estatismo" também preparou o terreno
para alianças de outro modo improváveis entre libertários econômicos,
plutocratas, anarquistas armados de direita, vigilantes da Ku Klux Klan,
opositores entusiastas do aborto e praticantes do ensino domiciliar." Em
resumo, conforme o princípio de "tirar o governo de nossas costas" se
metamorfoseava numa animosidade generalizada em relação ao
político, ele deu ânimo a um movimento a favor do liberalismo
autoritário em alguns domínios e do moralismo autoritário em outros.
Este seria o relato rápido de como passamos do neoliberalismo para o
presente.
Por outro lado, muitas coisas não se
alinham com o argumento de que a
antipolítica neoliberal gerou a onda
de autoritarismo antidemocrático
em todo o arco euroatlantico. P. 73.
Como, precisamente, a atração popular por homens fortes
políticos e o clamor por Estados de lei-e-ordem nasceram
de uma racionalidade que vê o poder político concentrado
como o perigo supremo para o mercado e a liberdade? O
crescente ultranacionalismo não sinaliza uma ruptura
radical com o neoliberalismo? Não é por isso que tantos
comentaristas viram no Brexit, na eleição de Trump e na
ascensão da direita nacionalista na Europa a sentença de
morte do neoliberalismo?’ E como encaixar a intensa
polarização política de nossos tempos com uma
racionalidade de governo antipolítica e antidemocrática? P.
73
• Para avaliar como a razão política neoliberal contribuiu para a ascensão da
direita antidemocrática, temos que examinar mais de perto seu ataque a
forma democrática do político. Quais são os conteúdos precisos da
desconfiança do neoliberalismo em relação à política e de sua hostilidade
ã democracia? Sua objeção central dirige-se ao poder político em si, ao
estatismo expansivo, a soberania, à democracia - ou todas as alternativas?
• O neoliberalismo esta principalmente preocupado em
conter os poderes dos Estados-nação a fim de
incrementar os poderes das federações e instituições
supranacionais que organizam o capitalismo global,
como argumenta Quinn Slobodian?!" Ou sua oposição
ao político é mais profunda, enraizada em preocupações
com a elevação de outros domínios e poderes - tradição,
mercado, moralidade, mas talvez também a ciência e a
técnica?" Como ele põe em ato sua oposição ao poder
político, em especial ao poder político democrático?
• Que cegueiras e efeitos não intencionais podem ser introduzidos por
sua aversão ao poder e à dinâmica políticos em seu próprio projeto?
Como ele acaba gerando forças plutocráticas e fascistóides que visava
excluir, além do afeto da massa politizada que pretendia pacificar? O
que ele politiza ou despolitiza, intencional ou inadvertidamente, de tal
forma que a raiva populista rancorosa se torna uma de suas crias? Que
outras forças interseccionam a racionalidade neoliberal - ordens de
gênero e raça no Ocidente, o imaginário imperial-colonial constitutivo
do Ocidente, niilismo, desarraigamento, dessublimação - gerando
formações ativamente temidas pelos intelectuais neoliberais
fundadores e que eles visavam evitar com sua nova reformatação do
liberalismo e do capitalismo? P. 74
A ANTIPOLÍTICA NEOLIBERAL
• Os intelectuais neoliberais diferiam em seu antagonismo em relação
ao político, especialmente em seus esforços para redefinir a relação
entre economia e Estado e para limitar a democracia. Milton
Friedman e Friedrich Hayek colocam o político
como um domínio perigosamente
autoexpansivo que tinha de ser atado com
firmeza e conformado aos propósitos
neoliberais.
O que torna possível reuni-los é
Os ordoliberais eram mais
que cada um e todos
próximos a Carl Schmitt,
consideravam as liberdades
procurando construir o Estado
individuais e o mercado,
forte necessário para a ordem e
juntamente com a moralidade
a estabilidade econômicas, ao
tradicional, como elementos
mesmo tempo que lhe conferiam
ameaçados pelos interesses e
uma forma tecnocrática e
poderes coercitivos,
isolavam-no das demandas
ingovernáveis e arbitrários
democráticas.
abrigados pelo político.
. Todos eles também se opuseram à plataforma que o
político fornece para os interesses que distorcem o
mercado, sejam os do grande capital, das maiorias
democráticas, dos pobres ou de quem promove noções do
bem comum. Eles se opuseram às sociedades
politicamente projetadas, logo, à maioria das políticas e
bens públicos. P. 75
• Assim, todos eles procuravam conter radicalmente os poderes políticos por
meio da submissão da política às coordenadas e métricas econômicas, por
um lado, de sua sujeição às exigências do mercado, por outro. A
economização do tecido social e a
subordinação de seus poderes à economia
Juntas, apaziguariam seus perigos.
• os neoliberais se uniram na oposição à
democracia robusta - movimentos sociais,
participação política direta ou demandas
democráticas ao Estado - que identificaram com o
totalitarismo, o fascismo ou o governo da plebe.