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A abordagem da anistia oferecida por este ara os que viveram aquela fase, a campanha pela anistia do final dos anos a Comissão Nacional da Verdade – criada pelo
governo da presidente Dilma Rousseff em
livro distingue-se das demais, ainda, por enten-
der que a lei de 1979 traduz, em linhas gerais, a
1970 foi um belo momento da luta contra a ditadura militar no Brasil. Em-
bora a frente que a sustentou tivesse várias faces, a possibilidade de tirar Renato Luís do Couto Neto e Lemos 2011/2012 para investigar “graves violações
vitória da tradição conciliatória e contrarrevo- da prisão centenas de militantes e de receber de volta outro tanto de exilados de direitos humanos” por agentes do Estado
lucionária preventiva das classes dominantes era alentadora. Mas o desfecho do movimento, com a decretação da Anistia pelo brasileiro entre 1946 e 1988. O objetivo prin-
brasileiras. O que a tornou possível foi uma governo Figueiredo, a 23 de agosto de 1979, ficou aquém do que desejávamos. cipal do livro é analisar a questão da anistia
1964-1979
que envolvem o tema, e para isto recorre a
pelo general Ernesto Geisel nos primeiros mo- com ênfase na de 1979, que ele apresenta como basicamente uma vitória dos
um amplo conjunto de acervos documentais
mentos do seu governo (1974-1979). militares, cujas marcas negativas estão presentes até hoje em nosso processo
e a vasta bibliografia secundária.
O livro assume posição em face de um político. Nutrido da perspectiva histórica, Renato Lemos vê de forma inovadora Os resultados da pesquisa são apresenta-
1964-1979
aspecto atual – e por demais delicado – dos aquele episódio como um capítulo a mais da triste contrarrevolução preventiva dos na forma de uma narrativa que combina
desdobramentos da Lei de Anistia de 1979: a brasileira. A partir da caracterização do regime do pós-1964 como uma ditadura um foco de abrangência nacional com uma
instituição da reparação financeira a vítimas bonapartista, ele localiza nos anos 1974-1989 a bem-sucedida contrarrevolução interpretação do processo que supera as
da ditadura. Trata-se de momentos do proces- preventiva democrática, que teve seu ponto alto na lei da Anistia. Nos dias de versões comprometidas com a perspectiva li-
so de despolitização do problema da anistia, hoje, imersos numa conjuntura de reversão das poucas conquistas populares e beral-democrática (anistia como “pacificação”
que consolida a vitória estratégica da direção democráticas possibilitadas pela Constituição de 1988, sabemos bem o que sig- dos brasileiros), hegemônica nesse campo de
conservadora do processo de transição políti- nifica o reacionarismo de classe no Brasil, mesmo no século XXI. Este livro pode estudos. Também é criticada a tese de que a
ca iniciado em 1974. nos ajudar a entender seus aspectos estruturais e históricos. É muito bem-vindo. concessão da anistia constituiu uma vitória
do “movimento popular” contra a ditadura, se
RENATO LUÍS DO COUTO NETO E LEMOS é his- JOÃO ROBERTO MARTINS FILHO não pela concretização de alguns dos seus
toriador graduado, mestre, doutor e pós-dou- objetivos, ao menos porque teria constituído
Professor titular sênior da Universidade Federal de São Carlos
tor pela UFF. É professor titular de História do um fator de pressão decisivo para o “recuo” do
Brasil do Instituto de História da UFRJ e coor- regime da sua proverbial recusa a conceder
dena o Laboratório de Estudos sobre os Mili- a medida. A ambas as perspectivas é contra-
tares na Política (LEMP). Tem artigos e livros posta a tese de que a campanha pela anistia,
publicados, entre os quais: Benjamin Constant
CONSEQUÊNCIA
de fato, sofreu forte influxo tanto dos setores
– vida e história (Topbooks, 1999), Uma história ISBN 978-85-69437-52-9 oposicionistas liberal-democráticos quanto
do Brasil através das caricaturas (Org.; Bom do “movimento popular”, mas a medida só se
Texto, 2006) e Justiça fardada: o general Peri concretizou quando os dirigentes do regime a
Constant Bevilaqua no Superior Tribunal Militar, consideraram adequada ao conjunto de táticas
9 788569 437529
1965-1969. (Org.; Bom Texto, 2004). CONSEQUÊNCIA voltadas para o avanço do processo de transi-
Colaboração especial
Cristina Monteiro de Andrada Luna
Flávia Burlamaqui Machado
Revisão técnica
Rejane Carolina Hoeveler
CONSEQUÊNCIA
© 2018, Renato Luís do Couto Neto e Lemos
Conselho editorial
João Rua
Alvaro Ferreira
Ruy Moreira
Carlos Walter Porto-Gonçalves
Marcelo Badaró Mattos
Marcos Saquet
Apresentação ............................................................................................................ 15
2.1 As táticas da distensão e as brechas para a campanha pela anistia .... 163
2.2 O Movimento Feminino pela Anistia ................................................... 180
2.3 A anistia e a nova política do imperialismo para a América Latina .. 208
2.4 A anistia como moeda de troca .............................................................. 221
2.5 O Comitê Brasileiro pela Anistia (CBA) ............................................... 240
2.6 O CBA-SP .................................................................................................. 280
2.7 A conciliação como horizonte ................................................................ 291
2.8 O Congresso Nacional pela Anistia ....................................................... 305
Anistia e contrarrevolução
No momento em que escrevo estas linhas, 53 anos após o golpe que insta-
lou a longa ditadura empresarial-militar iniciada em 1964, vive-se no deba-
te político público no Brasil uma situação trágica. Assistimos não apenas à
apologia do regime ditatorial em cadeia nacional por políticos eleitos pelas
regras da democracia representativa, como também, o que por certo é ain-
da pior, tal apologia conta com apoio crescente de um contingente signifi-
cativo de brasileiros e brasileiras, incluindo um segmento jovem, nascido
depois do fim da ditadura.
Há quem afirme, com razão, que esse é o resultado de um déficit de
História. Como parte dos arranjos “pelo alto” que caracterizaram a tran-
1
Professor Titular de História do Brasil da Universidade Federal Fluminense.
11
12 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
Este livro é, portanto, uma história, sim, da anistia. Aqui o leitor poderá
encontrar desde as primeiras manifestações pela anistia no parlamento, ain-
da em abril de 1964, até defesas públicas como a empreendida por Alceu de
Amoroso Lima, em 1965, assim como proposições de anistia no interior do
Superior Tribunal Militar, como as formuladas pelo general Peri Bevilaqua,
também desde 1965. Por certo, encontrará, também, a trajetória das orga-
nizações estruturadas nos anos 1970 em torno da luta pela anistia, como o
Movimento Feminino pela Anistia (1975) e o CBA – Comitê Brasileiro pela
Anistia Ampla, Geral e Irrestrita (1977). A análise não se resume ao plano na-
cional, incluindo as denúncias de crimes da ditadura e proposições de anistia
feitas no exterior, assim como a conexão da ditadura brasileira com suas con-
gêneres posteriormente implantadas na América do Sul. Merece destaque a
recuperação da forte influência das elaborações da política externa dos Esta-
dos Unidos nos desdobramentos políticos da ditadura brasileira, rastreando
a presença de Samuel Huntington e de suas análises sobre o Brasil, desde os
anos 1960, bem como o impacto das novas orientações emanadas da admi-
nistração de Jimmy Carter, na segunda metade dos anos 1970.
O livro, no entanto, vai muito além de uma análise monográfica do tema
da anistia, porque, através do estudo solidamente fundamentado aqui apre-
sentado, chegamos a uma interpretação mais ampla do processo político-
-social brasileiro recente. Ditadura, transição e democracia ganham senti-
do, então, como faces (ou disfarces) de um mesmo padrão de dominação
de classes, em que a mudança do regime político em 1964 é fruto de um
recurso consciente de setores empresariais à intervenção militar, enquanto
a saída do regime ditatorial é transacionada desde cima – apesar dos con-
tratempos impostos pelas lutas vindas desde baixo – pelos portadores do
mesmo projeto político, em sua essência, contrarrevolucionário.
Conhecemos o desfecho do processo e este livro o recupera em detalhes,
explicando como, utilizada como tática pela cúpula do regime, a anistia a
14 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
que se chegou frustrou todas as demandas para que fosse “ampla, geral e
irrestrita”, além de ter incluído os assim chamados “crimes conexos”. Por
esse caminho, como lembra o autor, não ocorreu a “identificação dos de-
saparecidos políticos, a responsabilização criminal de agentes do Estado e
o desmantelamento dos aparatos de repressão”. Tomada das mãos da opo-
sição, que através dessa bandeira mobilizava resistências, a anistia foi do-
mesticada, conformada aos interesses dominantes e esvaziada de qualquer
potencial antissistêmico.
Embora o livro conclua sua análise com a recuperação dos fatos e textos
legais em torno à lei de 1979, Renato Lemos avança, especialmente na con-
clusão, uma explicação de por que a questão da anistia acabou circunscrita
ao âmbito dos direitos individuais (monetarizados, inclusive). Embora não
descarte a explicação corrente da força do lobby militar, destaca a necessi-
dade de explicar essa força a partir de fatores externos aos quartéis. De um
lado, temos a opção consciente dos “representantes e dirigentes políticos
das classes dominantes de manter as forças armadas como instrumento de
reserva da sua dominação social”. Por outro lado, há reputações e interesses
corporativos que seriam ameaçados por uma outra leitura do passado dita-
torial recente. Afinal, “importantes segmentos empresariais tiveram atua-
ção efetiva e direta na concepção, construção e execução das práticas mais
violentas com que o regime contrarrevolucionário tratou os vários matizes
da oposição a partir de 1964”, como nos lembra Lemos.
Podemos assim voltar ao problema atual que apresentei no início deste
prefácio, que diz respeito a uma seletiva nostalgia da ditadura. Ao percor-
rer do início ao fim o livro que agora tens em mãos, você, caro(a) leitor(a),
poderá apreciar uma contribuição original e poderosa ao esforço de apro-
fundar a necessária compreensão do processo histórico atravessado pelo
Brasil pós-1964. É o tipo de história que precisamos para combater versões
positivadas correntes sobre uma suposta “ditabranda”, versões que se ali-
mentam tanto da ignorância dos que as difundem por fidelidade aos seus
“guias” quanto da astúcia dos que as formulam e sustentam por conveniên-
cia de classe. Não cabe, porém, ao livro em si difundir essa análise crítica
sobre ditadura e transição, cabe a nós. Mobilizar o conhecimento que obras
como esta aprofundam, com o objetivo de desvelar as máscaras ideológicas
da memória adocicada sobre o período, é o nosso desafio, combatendo na
arena política aqueles que não agem por desconhecimento, mas por com-
prometimento com a face mais brutal da autocracia burguesa no Brasil.
APRESENTAÇÃO
1
Sobre a graça, o indulto e a anistia, ver: Constituição Federal (Art. 5º, XLIII), Código
Penal (Art. 107, II), arts. 734 a 742 do Código Processo Penal (Decreto-lei nº 3.689, de 3 de
outubro de 1941) e Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984) ‒ Capítulo
III - Da anistia e do indulto.
2
CARVALHO FILHO, Luís Francisco. Impunidade no Brasil: Colônia e Império. Estudos
Avançados, São Paulo, v. 18, n. 51, 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ea/
v18n51/a11v1851.pdf>. Acesso em: 29 jan. 2016.
15
16 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
3
A propósito, consultar PERELMAN, Chaim. Ética e direito. Trad. Maria Ermantina Galvão.
São Paulo: Martins Fontes, 1996, p. 600-610. A noção de “ficção jurídica” é mobilizada por
Leon Trotsky quando trata das formas de propriedade nas diferentes formações sociais. Para
o revolucionário russo, havia que distinguir entre aquelas reais e as que correspondiam a
“ficções jurídicas”, que também cumpririam uma “função real”, embora em um “plano mais
elevado”. El carácter de clase del estado soviético, 1° de enero de 1936. Disponível em: <http://
www.ceip.org.ar/El-caracter-de-clase-del-estado-sovietico>. Acesso em: 29 mar. 2016.
4
Ver RODRIGUES, José Honório. Conciliação e reforma no Brasil. Desafio histórico-cultu-
ral. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965.
Apresentação 17
5
MARTINS, Roberto Ribeiro. Liberdade para os Brasileiros. Anistia ontem e hoje. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1978. Atualizado e publicado, em 2010, com o título Anistia
ontem e hoje, pela editora Brasiliense, de São Paulo.
6
DEL PORTO, Fabíola Brigante. A luta pela anistia no regime militar brasileiro: a consti-
tuição da sociedade civil no país e a construção da cidadania. Dissertação (Mestrado em
Ciência Política) – Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, 2002.
7
CIAMBARELLA, Alessandra. “Anistia ampla, geral e irrestrita”: a campanha pela anistia
política no Brasil (1977-1979). Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal
Fluminense, Rio de Janeiro, 2002. p. 23.
8
GRECO, Heloísa. Dimensões fundacionais da luta pela anistia. Tese (Doutorado em Histó-
ria) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2003. p. 6.
18 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
tia, distingue-se dos anteriores por ter como objetivo principal estudar a
campanha como um momento privilegiado do processo de instituição de
um campo de luta pelo respeito aos direitos humanos no Brasil.
A partir de meados da década de 2000, proliferaram trabalhos sobre a
anistia. Avanços em pesquisas documentais, iniciativas políticas no campo
dos direitos humanos, formação de comissões voltadas para a recuperação da
“memória, verdade e justiça”, subsídios e verbas governamentais etc. fizeram
do tema, em pouco mais de cinco anos, um autêntico subcampo historiográ-
fico e político. Trata-se de uma produção orientada, majoritariamente, pela
perspectiva liberal-democrática, preocupada com a apuração de violações de
direitos humanos e reparação simbólica e material das vítimas, bem como
com a ideia estratégica de que, por meio de providências jurídicas, políticas
e educacionais, pode-se conseguir que tais violências nunca mais ocorram.9
Esta vasta produção será objeto de comentários pontuais ao longo do livro,
sempre que necessários à exposição dos meus argumentos.
Ainda em 2002, publiquei a minha primeira contribuição ao estudo da te-
mática.10 No artigo, propus a hipótese geral que viria a orientar este livro, ba-
sicamente: “a tradição brasileira em matéria de anistia política expressa tam-
bém duas outras tradições, mais abrangentes: a da conciliação como forma
de preservação dos interesses fundamentais das classes dominantes na nossa
sociedade e a da contrarrevolução preventiva como estratégia anticrises”.11
Desta perspectiva, o livro pretende construir uma narrativa que combi-
ne o foco no processo político nacional com uma interpretação que supere
as versões comprometidas com a visão liberal-democrática hegemônica
nesse campo de estudos. Mas, visa, também, criticar o entendimento ‒ si-
tuado mais à esquerda no campo historiográfico e político ‒ de que a cam-
panha pela anistia significou uma vitória do “movimento popular” durante
o regime ditatorial, se não pela concretização de seus objetivos, ao menos,
porque teria constituído um fator de pressão decisivo para o “recuo” do
regime em face da sua permanente recusa a conceder a anistia política.
9
Teci considerações sobre esta bandeira em “Sob o signo do Corvo: a Comissão Nacional da
Verdade e o bordão ‘nunca mais’”. Comunicação apresentada na Fundação Getúlio Vargas, em
26 de junho de 2013, durante debate sobre o primeiro ano da Comissão Nacional da Verdade.
Disponível em: <https://ufrj.academia.edu/RenatoLemos/>. Acesso em: 22 jan. 2016.
10
LEMOS, Renato. Anistia e crise política no Brasil pós-1964. Topoi, Rio de Janeiro, n. 5, p.
287-313, dez. 2002.
11
Idem, p. 289.
Apresentação 19
12
O relatório final da CNV foi entregue à presidente Dilma Rousseff em 10 de dezembro
de 2014 e pode ser consultado em: <http://www.cnv.gov.br/index.php/outros-destaques/
574-conheca-e-acesse-o-relatorio-final-da-cnv>. Acesso em: 22 jan. 2016.
13
A propósito das fontes, há que mencionar a importância da imprensa porta-voz de or-
ganizações de esquerda situadas na ilegalidade durante o período examinado. Em 1978,
Roberto Ribeiro Martins observou: “Já está sobejamente comprovada a existência no Brasil
de correntes de opinião que não têm vida legal, e que certamente terão suas ideias e posições
a respeito da anistia. Só no futuro poder-se-á dimensionar com exatidão o papel efetivo
cumprido por essas correntes […] no nascimento e evolução da ideia de anistia no pós-64”.
Liberdade para os brasileiros, p. 137.
20 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
14
As próximas páginas reproduzem, basicamente, “Ditadura militar, violência política e
anistia”, disponível em: <http://ufrj.academia.edu/RenatoLemos/Papers>.
15
Ver, por exemplo, declarações de Marcelo Paixão de Araújo, que atuou como torturador
do Exército, em Veja, 2 de dezembro de 1998.
16
A tese que deu origem a este livro – apresentada, em julho de 2016, como pré-requisito
para a minha progressão a professor titular do Instituto de História da UFRJ – contém um
capítulo em que é apresentado um esquema interpretativo da história política brasileira ba-
seado nas considerações de Fernand Braudel sobre as múltiplas temporalidades da história,
expostas em seu artigo “A longa duração”. Ele foi omitido aqui por questão de espaço, mas
seu conteúdo básico pode ser conhecido em “Contrarrevolução e ditadura no Brasil - ele-
mentos para uma periodização do processo político brasileiro pós-1964”, disponível em:
<http://ufrj.academia.edu/RenatoLemos/Papers>.
Apresentação 21
17
Sobre a história da ESG, ver ARRUDA, Antônio. ESG: história de sua doutrina. São Paulo:
GRD, 1980, e FERRAZ, Francisco César Alves. À sombra dos carvalhos: Escola Superior de
Guerra e política no Brasil, 1948-1955. Londrina: Editora da UEL, 1997. O papel da ESG na
construção do regime ditatorial é objeto de vários estudos. O primeiro autor a apontá-lo de
maneira sistemática foi Alfred Stepan, em livro publicado nos Estados Unidos em 1971 e,
no Brasil, como Os militares na política. As mudanças de padrões na política Brasileira. Trad.
Ítalo Tronca. Rio de Janeiro: Artenova, 1975. Ver, também, COMBLIN, Joseph. A ideologia
da segurança nacional. O poder militar na América Latina. Trad. A. Veiga Fialho. Rio de Ja-
neiro: Civilização Brasileira, 1978, e OLIVEIRA, Eliezer Rizzo de. Forças Armadas: política
e ideologia no Brasil (1964-1969). Petrópolis, RJ: Vozes, 1976.
18
Análises que dão ênfase à dinâmica modernizadora do regime implantado em 1964 podem
ser encontradas em SCHNEIDER, Ronald. The political system of Brazil. Emergence of a “mo-
dernizing” authoritarian regime, 1964-1970. New York: Columbia University Press, 1971, e
FIETCHER, Georges-André. O regime modernizador do Brasil, 1964-1972. Trad. Maria Cecília
Baeta Neves e Natanael Caxeiro. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1974.
Apresentação 23
sugere, por exemplo, o papel central exercido pelo Legislativo nas crises
que deram margem à edição dos atos institucionais nº 2 (27 de outubro
de 1965) e nº 5 (13 de dezembro de 1968). Igualmente, o Judiciário foi
elemento ativo em vários episódios de resistência jurídica a pressões di-
tatoriais do Executivo, que acabaram resultando na sua reforma, também
por força de atos institucionais.19
A implantação e a reprodução do regime político contrarrevolucionário
foram tarefas que implicaram surtos de violência concentrada, de par com
práticas violentas cotidianas, menos espetaculares, embora nem por isso
pouco significativas. Executada pelos órgãos de polícia política, sob a re-
gência do Serviço Nacional de Informações (SNI), criado logo após o golpe,
a violência da repressão atingiu o campo, visando as ligas camponesas e
sindicatos rurais. Nas cidades, os alvos prioritários foram as organizações
de trabalhadores e de estudantes, bem como instituições culturais e edu-
cacionais. Inquéritos policial-militares (IPMs) foram abertos para apurar
acusações de subversão comunista e corrupção, resultando em suspensão
de direitos políticos, cassação de mandatos parlamentares, afastamento de
emprego e prisão de acusados.
A caixa de Pandora da ditadura foi aberta com especial virulência em
momentos críticos, como os que deram origem ao primeiro Ato Institucio-
nal (9 de abril de 1964) e àqueles de nº 2 e 5, já referidos. Na esteira de am-
bos, o Executivo militar desencadeou os mencionados surtos de violência
concentrada, reabrindo a temporada de cassação de mandatos, suspensão
de direitos políticos e prisões, estas, com seu costumeiro cortejo macabro
de invasões de domicílio, detenções sem mandado judicial, submissão dos
presos a incomunicabilidade por prazos dilatados, torturas e assassinatos.
Vistos de uma perspectiva mais ampla, contudo, esses atos institucio-
nais constituíram, também, instrumentos de implantação de medidas que
os dois primeiros presidentes militares (marechais Humberto de Alencar
Castelo Branco e Artur da Costa e Silva), tal como ocorrera com Jânio Qua-
dros (1961) e João Goulart, vinham enfrentando dificuldades para aprovar
no Congresso, em especial as reformas das áreas judiciária, bancária, admi-
19
Uma crítica à subestimação do Legislativo e do Judiciário como fatores da dinâmica polí-
tica do regime ditatorial brasileiro pode ser encontrada em LEMOS, Renato. Poder militar e
poder Judiciário. In: CASTRO, Celso; IZECKSOHN, Vítor; KRAAY, Hendrick (Org.). Nova
história militar brasileira. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas; Bom Texto,
2004. Disponível em: <http://ufrj.academia.edu/RenatoLemos/Papers>.
24 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
20
SAES, Décio. A questão da “transição” do regime militar à democracia. In: ______. Re-
pública do capital. Capitalismo e processo político no Brasil. São Paulo: Boitempo Editorial,
2001. p. 39-40.
26 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
21
“Anistia e crise política no Brasil pós-1964”, op. cit., p. 293.
Apresentação 27
22
Hoje professoras, respectivamente, da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e da
Prefeitura Municipal de Rio Branco e do estado do Acre.
28 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
23
Aluna do curso de doutorado em História da Universidade Federal Fluminense (RJ).
Capítulo 1
Anistia: uma impossibilidade sistêmica
(1964-1974)
1
Este padrão classificatório está explicado em “Contrarrevolução e ditadura no Brasil - ele-
mentos para uma periodização do processo político brasileiro pós-1964”, disponível em:
<http://ufrj.academia.edu/RenatoLemos/Papers>.
2
A propósito deste conceito, ver nota 317.
3
Sobre a sua vida, ver KELLER, Vilma; LEMOS, Renato. Roberto Campos. In: ABREU, Alzi-
ra Alves de et al. (Coord.) Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro. Rio de Janeiro: Editora
FGV/CPDOC, 2001.
4
BERTALANFFY, Ludwig von. Teoria geral dos sistemas. Fundamentos, desenvolvimento e
aplicações. Trad. Francisco M. Guimarães. 7. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013. Embora não
haja uma definição consensual da teoria, pode-se dizer que um dos seus enunciados bási-
cos é o de que tudo que existe se estrutura como um organismo composto de partes que se
relacionam no exercício de funções destinadas a manter em equilíbrio o todo que, por seu
turno, não se reduz à soma de suas partes. Desta perspectiva, afirma-se a existência de “sis-
temas políticos”, “sistemas econômicos” etc.
5
A publicação é datada de 1974, quando as organizações da esquerda clandestina já se en-
contravam totalmente desarticuladas, remanescendo apenas um grupamento guerrilheiro
no Sul do Pará. O autor, talvez, considerava o potencial de reorganização desses grupos ou
o surgimento de novos.
29
30 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
6
CAMPOS, Roberto de Oliveira. A opção política brasileira. In: SIMONSEN, Mário Henri-
que; CAMPOS, Roberto de Oliveira. A nova economia brasileira. Rio de Janeiro: José Olym-
pio, 1974, p. 224. Grifo no original.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 31
7
PINHEIRO, Milton. A ditadura militar no Brasil (1964-1985) e o massacre contra o PCB.
Disponível em: <http://resistir.info/brasil/massacre_pcb.html#asterisco>. Acesso em: 16 jul.
2014. “Em 1965, a sanha assassina da ditadura matou o ex-militar, que havia participado
das lutas dos tenentes com Luiz Carlos Prestes, Severino Elias de Melo (PB)” (Idem). Estes
números, e outros que surgirão de qualquer levantamento que se faça, são interessantes para
o debate de teses que negam o caráter ditatorial do regime político brasileiro no período
1964-1968, que serão comentadas adiante.
32 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
1961, que concedera anistia política retroativa a 1934.8 Era beneficiada uma
ampla gama de categorias – operários, estudantes, militares, jornalistas – e
cidadãos em geral que tivessem cometido atos capitulados em lei como cri-
mes políticos. A sua amplitude geraria discussões igualmente abrangentes.
Desde a promulgação do decreto, os parlamentares discutiam o tema
da anistia. O Diário do Congresso Nacional e os Anais do Senado Fede-
ral registram as intervenções de parlamentares referentes ao assunto. De
acordo com a Constituição de 1946, cabia exclusivamente ao Congresso
a iniciativa de apresentar projetos de anistia. Uma vez aprovados, trans-
formavam-se em decretos legislativos, sem carecer de sanção presiden-
cial.9 Segundo Roberto Martins, os principais beneficiários das anistias
concedidas entre 1950 e 1964 foram os trabalhadores que haviam se en-
volvido em greves.10 Entretanto, outras categorias também pleiteavam o
benefício.
O senador fluminense Aarão Steinbruch, do Movimento Trabalhis-
ta Renovador (MTR),11 proferiu, em 6 de dezembro de 1963, discurso sobre
o projeto de anistia aos sargentos que se haviam sublevado em Brasília,
reivindicando o direito de se elegerem para cargos parlamentares.12 A Re-
volta dos Sargentos − também conhecida como Levante de Brasília − fora
deflagrada em 12 de setembro contra decisão do Supremo Tribunal Federal
(STF) que reafirmara a inelegibilidade da categoria para órgãos do poder
Legislativo. Depois de terem tomado prédios públicos na capital federal e
mantido autoridades como reféns por algumas horas, os sargentos foram
dominados por tropas do Exército.13
8
Para uma análise detalhada do texto, ver MARTINS, Roberto Ribeiro. Liberdade para os
brasileiros. Anistia ontem e hoje. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978. p. 101-103.
9
Ibidem, p. 97.
10
Ibidem.
11
Dissidência do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Ver LEAL, Carlos Eduardo. Movi-
mento Trabalhista Renovador. In: ABREU, Alzira Alves de et al. (Coord.). Dicionário histó-
rico-biográfico brasileiro pós-1930, op. cit.
12
Diário do Congresso Nacional, Brasília, Seção II, 7/12/63, p. 3719.
13
Sobre o assunto, ver LAMARÃO, Sérgio. Revolta dos sargentos. In: ABREU, Alzira Alves
de et al. (Coord.). Dicionário histórico-biográfico brasileiro pós-1930, op. cit.; MOROSINI,
Liseane. Mais deveres que direitos. Os sargentos e a luta pela cidadania plena. Dissertação
(Mestrado em História Social) –Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
1998; PARUCKER, Paulo Eduardo Castello. Praças em pé de guerra. O movimento político
dos subalternos militares no Brasil (1961-1964) e a Revolta dos Sargentos de Brasília. São
Paulo: Expressão Popular, 2009.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 33
14
Câmara dos Deputados. Diretoria de Registro Taquigráfico de Debates. Seção de His-
tórico de Debates. Agradeço a Sandro Héverton da Silva pelo acesso a esta fonte, por ele
levantada em sua pesquisa de mestrado inconclusa, sob a minha orientação no Programa
de Pós-Graduação em História Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ver
SILVA, Sandro Héverton Câmara da. Anistia política: conflito e conciliação no âmbito do
Congresso Nacional Brasileiro (1964-1979). Dissertação (Mestrado em História) – Uni-
versidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007, que, curiosamente, omite as
aulas e o trabalho de orientação comigo do rol de atividades acadêmicas que contextuali-
zam a sua elaboração.
15
Sobre o assunto, ver Revolta dos marinheiros. In: ABREU, Alzira Alves de et al. (Coord.).
Dicionário histórico-biográfico brasileiro pós-1930, op. cit.; CAPITANI, Avelino Bioen. A re-
belião dos marinheiros. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 1997; RODRIGUES, Flávio Luís. Vozes
do mar: o movimento dos marinheiros e o golpe de 64. São Paulo: Cortez, 2004.
16
Diário do Congresso Nacional, Brasília, Seção II, 01/04/1964, p. 668.
34 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
Logo após o golpe militar, uma vasta campanha de busca e detenção foi
desencadeada em todo o país. O Exército, a Marinha e a Aeronáutica foram
mobilizados […] para levar a efeito operações em larga escala de “varre-
dura com pente-fino”. Ruas inteiras eram bloqueadas e cada casa era sub-
metida a busca para detenção de pessoas cujos nomes constavam de listas
previamente preparadas. O objetivo era “varrer” todos os que estavam liga-
dos ao governo anterior, a partidos políticos considerados comunistas ou
altamente infiltrados por comunistas e a movimentos sociais do período
anterior a 1964. Especialmente visados eram líderes sindicais e estudantis,
intelectuais, professores, estudantes e organizadores leigos dos movimentos
católicos nas universidades e no campo.18
17
Esquerda armada – testemunho dos presos políticos do presídio Milton Dias Moreira, no Rio
de Janeiro. Sel. de Luzimar Nogueira Dias. Vitória: Edições do Leitor, 1979, p. 85. Ver, tam-
bém, LEMOS, Renato. Justiça Militar e processo político no Brasil (1964-1968). In: 1964-
2004. 40 anos do golpe. Ditadura militar e resistência no Brasil. Anais do seminário. UFRJ,
UFF, CPDOC e APERJ. Rio de Janeiro: 7Letras; FAPERJ, 2004. Há indicações de que a trans-
ferência do julgamento de crimes políticos da jurisdição da Justiça Comum para a da Justiça
Militar foi patrocinada por setores identificados com a “linha dura”. Ver GASPARI, Elio. A
ditadura envergonhada. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 256-258.
18
ALVES, Maria Helena Moreira. Estado e Oposição no Brasil (1964-1984). Petrópolis, RJ:
Vozes, 1984. p. 59.
19
Câmara dos Deputados. Diretoria de Registro Taquigráfico de Debates. Seção de Histórico
de Debates.
20
Os textos completos dos dezessete atos institucionais baixados durante o regime ditatorial
podem ser encontrados em: <http://www4.planalto.gov.br/legislacao/legislacao-historica/
atos-institucionais>. Acesso em: 9 jun. 2013.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 35
21
Naquele momento, encontrava-se na condição de chefe do poder formal o deputado Ra-
nieri Mazzilli, presidente da Câmara, mas o poder de fato se encontrava sob o controle dos
oficiais citados.
22
Para uma arguta análise do AI-1, ver ALVES, Maria Helena Moreira, op. cit., p. 53-56.
O significado dos atos institucionais na caracterização do regime político pós-64 é discu-
tido em CIOTOLA, Marcello. Os atos institucionais e o regime autoritário no Brasil. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 1997. Uma lista de pessoas que foram atingidas pelos atos punitivos
da ditadura é encontrada em OLIVEIRA, Paulo Affonso Martins de. (Comp.). Atos institu-
cionais. Sanções políticas. Brasília: Câmara dos Deputados, 2000. Disponível em: <http://
bd.camara.gov.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/6384/atos_%20institucionais_oliveira.
pdf?sequence=>. Acesso em: 19 jan. 2014.
23
O IPM já existia como uma figura do direito militar, instrumento de apuração de crimes
militares. Na área civil, praticava-se o inquérito policial. A extensão do IPM a civis, na con-
tramão da Constituição de 1946 e da Lei de Segurança Nacional vigente (Lei nº 1802, de 5
de janeiro de 1953), constituiu o primeiro passo na militarização do tratamento conferido
ao crime político pelo regime ditatorial.
36 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
24
De acordo com o serviço de arquivo da Câmara dos Deputados, essa portaria, publi-
cada originalmente no Diário Oficial da União - Seção 1 - 14/4/1964, p. 3313, constituía
o Ato nº 8 do Comando Supremo da Revolução. Ver: <http://www2.camara.leg.br/legin/
fed/portar/1960-1969/portaria-1-14-abril-1964-378840-norma-csr.html>. Acesso em: 9
jun. 2013.
25
Sobre o papel da imprensa brasileira na criação de condições favoráveis ao golpe, ver STE-
PAN, Alfred. The Military in Politics. Changing Patterns in Brazil. Princeton: Princeton Uni-
versity Press, 1971. A ação conspiratória de órgãos da grande imprensa é analisada em SILVA,
Eduardo Gomes. A Rede da Democracia e o golpe de 1964. Dissertação (Mestrado em História)
– Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2008, e CARVALHO, Aloysio Castelo de. A Rede
da Democracia. O Globo, O Jornal e Jornal do Brasil na queda do governo Goulart (1961-
1964). Niterói: Editora da UFF; Nitpress, 2010. Uma discussão mais geral é feita em FRANCO,
Geisa Cunha. O papel da grande imprensa na preparação dos golpes militares. Estudo compa-
rativo entre o Brasil, 1964, e a Argentina, 1976. Dissertação (Mestrado em História) – Univer-
sidade de São Paulo, São Paulo, 1997, e AMADO, João. Da redação do Jornal do Brasil para
as livrarias: Os idos de março e a queda em abril, a primeira narrativa do golpe de 1964. Dis-
sertação (Mestrado em História) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
2008. Amostras de reação negativa de órgãos da imprensa ao golpe podem ser encontradas em
ALVIM, Thereza Cesário. O Golpe de 1964: a imprensa disse não. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1979. Para uma crítica a este livro, ver AMADO, op. cit.
26
Republicada em CONY, Carlos Heitor. O ato e o fato. Crônicas políticas. 4. ed. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1964, p. 25-27.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 37
Não basta apurar a culpa dos que aplicaram a tortura física, a culpa dos car-
rascos do momento, dos investigadores de serviço, treinados e escolhidos
para a função de torturadores. É preciso apurar a culpa dos mandantes. E
qual a responsabilidade dos que se omitiram ou compactuaram tacitamente
com as torturas. A omissão não justifica nem absolve ninguém. A culpa não
é só dos que executaram as ordens criminosas, mas também dos mandantes e
dos responsáveis pelos mandantes. Desde que não se apure a responsabilida-
de das torturas, todos serão culpados. Todos, sem exceção.
Uma coisa é certa. Se só existisse uma única pessoa torturada, isto bastaria para
comprometer moralmente qualquer governo, desde que tivesse conhecimento
do crime e não mandasse apurar a responsabilidade do criminoso. Mas não
se trata de uma pessoa somente. Trata-se de centenas de pessoas. Não basta
suspender a tortura de agora para diante. Deixando impunes os torturadores,
todos são culpados. Todos, sem exceção. Desde Castelo Branco, passando por
Carlos Lacerda, que fez da Guanabara o principal reduto das torturas, até o mais
indigno dos torturadores, todos são culpados. Todos, sem exceção.27
Ainda não havia, naquele momento, dados suficientes para uma ava-
liação do sentido mais amplo da violência – estatal, mas também privada,
principalmente por parte de proprietários de terras28 –, que começava a se
ampliar. Em outro lugar, observei que o desdobramento das práticas vio-
lentas indicaria que:
27
“Torturadores e torturados”, Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 14 de outubro de 1964,
reproduzido em MONIZ, Edmundo. O golpe de abril. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1965, p. 110. A matéria também se encontra em: ALVIM, Tereza Cesário (Org.). O Golpe de
64: a imprensa disse não, op. cit., p. 76-80.
28
Ver Comissão Nacional da Verdade. Relatório final. Violações de direitos humanos no
campo, 1946 a 1988. Brasília, dezembro de 2014.
38 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
29
LEMOS, Renato Luís do Couto Neto e. “Rever ou não rever. Eis a questão? O debate
atual sobre a lei de anistia de 1979”. Comunicação apresentada no I Seminário Nacional
Práticas Sociais, Narrativas Visuais e Relações de Poder, Universidade Federal de Viçosa
(MG), março de 2010. Disponível em: <http://ufrj.academia.edu/RenatoLemos/Papers>.
Acesso em: 22 set. 2013. O general Paul Aussaresses, que foi agente do serviço secreto da
França, veterano das guerras do Vietnã e da Argélia e adido militar no Brasil entre 1973 e
1975, foi bem claro, em entrevista à imprensa, quando perguntado em que circunstâncias
a tortura era inevitável: “Quando a ação terrorista adversa quer ter efeitos de propaganda
e tem por vítimas, sobretudo, mulheres e crianças. Penso que, se a tortura pode evitar a
morte de inocentes, ela se justifica”. Para prevenir situações desse tipo, o general adestrou
oficiais brasileiros – e de outros países da América do Sul ‒ na prática da tortura, em cur-
sos ministrados no Centro de Instrução de Guerra na Selva, em Manaus, durante os quais
eles faziam tanto o papel de torturadores quanto o de torturados. Tal tipo de assessoria
“técnica” obedecia, também, a conveniências do empresariado industrial francês. Segun-
do o general, era um dos meios a que o adido militar recorria para convencer o governo
brasileiro de que a França era um país amigo e a comprar material bélico francês. Ver:
Folha de S. Paulo, 4 de maio de 2008.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 39
[…] usada como meio geral de obtenção de informações, mas também in-
tegrou o repertório de recursos na luta específica contra organizações de
esquerda, armadas ou não. A desigualdade de forças materiais entre os con-
tendores não descaracteriza a natureza bélica da relação. A estratégia de luta
armada adotada por forças do campo da esquerda tomava essa assimetria
como premissa e supunha, com base em experiências como as das revolu-
ções chinesa e cubana e as das lutas anticoloniais na Indochina e Argélia,
poder superá-la por meios políticos.30
30
LEMOS, Renato Luís do Couto Neto e. “Rever ou não rever”, op. cit.
31
Para uma densa e bem informada análise da guerra revolucionária, consultar SAINT-
-PIERRE, Héctor Luis. A política armada. Fundamentos da guerra revolucionária. São Pau-
lo: Editora da UNESP, 2000.
32
Em cursos proferidos em 1955, o coronel da infantaria colonial francesa Charles Lacheroy,
pioneiro no estudo de estratégias contra a guerra revolucionária, citava a revolução chinesa
e a guerra da Indochina como os dois casos a serem tomados como típicos. Ver Scénario-
-type de guerre révolutionnaire, disponível em: <http://guerrealautre.hypotheses.org/190>.
Acesso em: 8 set. 2013.
33
O conflito na Argélia teve uma forte tradução fílmica em A Batalha de Argel (1966), ba-
seado em fatos reais e dirigido por Gillo Pontecorvo. Disponível em: <https://www.youtube.
com/watch?v=PB-xK_ViPck>. Acesso em: 6 jun. 2015.
40 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
Desde meados dos anos 50, após a fragorosa derrota em Dien Bien Phu34
e a eclosão da rebelião na Argélia, fortaleceu-se no Exército francês a
ideia de que a principal razão da derrota na Indochina fora o fato de
que a doutrina militar não estava preparada para enfrentar um novo
tipo de guerra. A principal característica desta forma de conflito era
a indistinção entre os meios militares e os não militares e a particular
combinação entre política, ideologia e operações militares que ela pu-
nha em funcionamento.35
34
Travada de 3 de março a 7 de maio de 1954, foi a batalha final da Guerra da Indochina.
35
MARTINS FILHO, João Roberto. A influência doutrinária francesa sobre os militares
brasileiros nos anos de 1960. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 23, n. 67, p.
41, jun. 2008.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 41
36
La Vanguardia Española, Barcelona, 19 de abril de 1958, p. 7.
37
ARAÚJO, Rodrigo Nabuco de. Conquête des espirits et le commerce des armes. La diploma-
tie militaire française au Brésil, 1945-1974. Tese (Doutorado em História) – Université de
Toulouse 2, Le Mirail, Toulouse (Fr), 2011. p. 179.
38
ABRAMOVICI, Pierre. L’autre sale guerre d’Aussaresses. Disponível em: <http://www.
lepoint.fr/actualites-politique/2007-01-19/l-autre-sale-guerre-d-aussaresses/917/0/55193>.
Acesso em: 18 jun. 2013.
39
“Brasil já começou o ensaio da guerra revolucionária”. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 3
de julho de 1960, p. 10.
42 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
40
Assinado por 42 coronéis e 39 tenentes-coronéis e dirigido à alta hierarquia militar, o
documento constituiu um protesto contra a limitação dos recursos destinados ao Exército
e contra a proposta governamental de elevação do salário mínimo em 100%. LAMARÃO,
Sérgio. Manifesto dos coronéis. In: ABREU, Alzira Alves de et al. (Coord.). Dicionário histó-
rico-biográfico brasileiro pós-1930, op. cit.
41
Tendo participado do movimento insurrecional que, em 1930, alçou Getúlio Vargas ao
poder nacional, foi, durante o regime ditatorial pós-1964, comandante do II Exército (1971-
1974) e chefe do Estado-Maior das Forças Armadas (1974). ABREU, Alzira Alves de et al.
(Coord.). Dicionário histórico-biográfico brasileiro pós-1930, op. cit.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 43
42
João Roberto Martins Filho observa: “Não há detalhes nas publicações brasileiras sobre a
data do curso. No entanto, o pesquisador argentino Ernesto López, em sua excelente história
das doutrinas militares daquele país, esclarece em nota de rodapé que o referido curso ‘com
a participação de 14 países latino-americanos realizou-se em Buenos Aires em outubro de
1961’”. Ver: “A educação dos golpistas: cultura militar, influência francesa e golpe de 1964”.
Disponível em: <www2.ufscar.br/uploads/forumgolpistas.doc>. Acesso em: 22 set. 2013.
43
Correio da Manhã, 27 de setembro de 1961, p. 1.
44 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
44
Participante da “revolta tenentista” de 1922, exerceu, entre outros cargos, os de coman-
dante da Zona Militar Leste (1954-1956) – quando protagonizou a operação militar que
garantiu a posse de Juscelino Kubitschek na Presidência da República ‒, comandante do
I Exército (1956-1960), sediado no Rio de Janeiro, e ministro da Guerra (1960-1961). Foi
importante conspirador contra o presidente João Goulart em 1964. ABREU, Alzira Alves de
e outros (Coord.). Dicionário histórico-biográfico brasileiro pós-1930, op. cit.
45
É vasta a bibliografia sobre a Crise da Legalidade, em particular sobre a resistência no Sul.
Ver, por exemplo, MARKUN, Paulo; HAMILTON, Duda. 1961: que as armas não falem. São
Paulo: Editora SENAC, 2001.
46
Para uma introdução à sua biografia, ver KELLER, Vilma. Carlos Lacerda. In: ABREU,
Alzira Alves de et al. (Coord.). Dicionário histórico-biográfico brasileiro pós-1930, op. cit.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 45
47
“O micro” [editorial], Correio da Manhã, 31 de outubro de 1961, p. 6. Grifos no original.
Em 1963, Carlos Lacerda traduziu, prefaciou, anotou e publicou, pela Distribuidora Record
– editora do Rio de Janeiro ligada ao Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), um
dos principais centros de conspiração contra o governo de João Goulart –, o livro Em cima
da hora, da escritora francesa Suzanne Labin, eminente propagandista do anticomunismo e
campeã da propaganda dos métodos de combate à guerre révolutionnaire.
46 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
Coronéis que não se encontram nas mãos da Justiça, porque certos setores
da administração franco-argelina não querem encontrá-los.
No entanto, é possível citar nomes. Pois esses culpados, embora entrinchei-
rados atrás de outros, não põem a máscara do anonimato. Os coronéis Ar-
goud e Broizat – e outros – são francos. Sua franqueza vai até expor publi-
camente seus projetos e pormenorizar os processos que pretendem adotar
ou já adotaram.
Num artigo de revista, pouco lido e por ninguém comentado à época – na
Revue militaire d’information, número de fevereiro de 1957 – forneceram
exposição franca e detalhada dos seus métodos de – como dizem – “guer-
ra revolucionária”: intimidação da população civil; terrorismo sistemático;
“guerra psicológica”, isto é, divulgação deliberada de notícias falsas; e, antes
de tudo, a “Operação microestado”. Esta última consiste em apoderar-se
de todos os recursos administrativos e policiais de um pedaço qualquer do
território nacional (o “microestado”) e usá-lo como trampolim para con-
quistar o resto.48
Esses processos foram anunciados em fevereiro de 1957. Foram postos em
prática, com sucesso, em maio de 1958, para abolir, por golpe dos para-
quedistas, a Constituição. Quando o novo chefe de Estado, o presidente de
Gaulle, não se prestava a servir de máscara oficial daqueles coronéis, segui-
ram-se as duas revoltas (fracassadas) na Argélia. E a luta continua, porque
os lutadores continuam desde 1957 impunes.
O último objetivo sempre é a interrupção do processo democrático-repre-
sentativo de legislação e governo e sua substituição por um estado de ex-
ceção, por prazo mal definido. Anulação de eleições, fechamento de parla-
mentos, suspensão dos direitos políticos – tudo isso pode parecer familiar
48
Em 1964, já deflagrado o golpe contra Goulart a partir de Minas Gerais, o governador
José de Magalhães Pinto teria tomado providências para conseguir de parte de potências
estrangeiras o eventual reconhecimento do estado de beligerância no país Cf. FAUST, J. J. A
revolução devora seus presidentes. Rio de Janeiro: Saga, 1965, p. 78.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 47
49
Correio da Manhã, 25 de maio de 1962, p. 1, assinado O. M. C. Em novembro de 1962,
o jornal informou ter-se realizado, na Segunda Subchefia do Estado-Maior do Exército, de
31 de agosto a 5 de novembro, um “Estágio de guerra revolucionária”, na forma de vinte e
duas conferências. O evento “despertou grande interesse pela sua importância”. Correio da
Manhã, 28 de novembro de 1962, 2º Caderno, p. 6.
50
MARTINS FILHO, João Roberto. “A educação dos golpistas: cultura militar, influência
francesa e golpe de 1964”, op. cit.
48 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
51
PEDROSA, Mário. A opção brasileira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966. Ver,
também, STOTZ, Eduardo. As faces do moderno Leviatã. In: MELLO, Maria Amélia (Org.).
Vinte anos de resistência. Alternativas da cultura no regime militar. Rio de Janeiro: Espaço e
Tempo, 1986, p. 14-15.
52
Dois anos depois, Ruy Mauro Marini afirmaria que um dos principais elementos para a
compreensão do papel dos militares na deposição de João Goulart foi o trabalho feito pela
Escola Superior de Guerra no sentido de difundir “teorias como a da ‘agressão comunista
interna’ e da ‘guerra revolucionária’ criadas pelos franceses em sua campanha militar na
Indochina”. MARINI, Ruy Mauro. A dialética do desenvolvimento capitalista no Brasil. In:
______. Subdesenvolvimento e revolução. Trad. Fernando Correa Prado e Marina Machado
Gouvêa. 3. ed. Florianópolis: Insular, 2012 [1968], p. 109.
53
Castelo Branco – que viria a ser o primeiro presidente do regime ditatorial – foi chefe
do Estado-Maior do Exército de 1963 a 1964 e, “com intenções conspiratórias”, segundo o
jornalista, se aproveitara da função de “responsável pela endoutrinação e pelo preparo psi-
cológico da tropa” para oficializar a doutrina militar. (Ibidem).
54
“A guerra colonial”, Correio da Manhã, 8 de outubro de 1964, 1º Caderno, p. 6. Ver, acima,
os comentários sobre o “microestado”.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 49
55
Referente às teorias e métodos do fisiologista russo Ivan Petrovitch Pavlov (1849-1936),
que se notabilizou por suas pesquisas sobre reflexos condicionados.
56
ALVES, Hermano, op. cit. Grifo meu, para destacar afirmação de época que reforça a ideia
de que o golpe que depôs João Goulart não foi produto de decisões tomadas exclusivamente
em função da crise que seu governo viveu na fase presidencialista.
57
Idem.
58
Que seriam reunidos em livro: PINTO, Bilac. Guerra revolucionária. Rio de Janeiro: Fo-
rense, s.d. [1964].
59
Cf. IANNI, Octavio. O colapso do populismo no Brasil, op. cit., p. 131, 151 e 154.
50 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
60
Informações de grande interesse sobre a disseminação da doutrina entre civis que manti-
nham relações políticas e pessoais com chefes militares na fase conspiratória contra Goulart
podem ser encontradas em GONÇALVES, Martina Spohr. A relação civil-militar no golpe
de 1964: o caso de Aliomar Baleeiro. Monografia (Bacharelado em História) – Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006. Ver, também, CHIRIO, Maud. A política nos
quartéis. Revoltas e protestos de oficiais na ditadura militar brasileira. Trad. André Telles.
Rio de Janeiro: Zahar, 2012, p. 27.
61
Acompanho, aqui, descrição já apresentada por mim em “O complexo industrial-militar
e o Estado brasileiro (1964-1967)”. In: IX Simpósio Nacional Estado e Poder: Gramsci na
pesquisa histórica, 2016, Niterói. Anais do IX Simpósio Nacional Estado e Poder. Niterói:
Núcleo de Pesquisas sobre Estado e Poder no Brasil, 2016, p. 148-162.
62
Fórum Roberto Simonsen. Segurança Nacional. São Paulo: Centro e Federação das Indús-
trias do Estado de São Paulo, 1962.
63
De sua autoria, o Fórum publicou, também, em 1961, o livrinho A guerra subversiva em mar-
cha. Informações sobre a sua vida podem ser encontradas em: <http://www.academiamedici-
nasaopaulo.org.br/biografias/137/BIOGRAFIA-ANTONIO-CARLOS-PACHECO-E-SILVA.
pdf>. Acesso em: 24 dez. 2015. Agradeço estas referências a Luiza Gomes das Neves, historia-
dora integrante dos quadros da Escola Superior de Guerra, que está iniciando um promissor
projeto de doutorado sobre a trajetória política deste interessante personagem.
64
Cf. Dreifuss (1981).
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 51
ano anterior. Intitulada “Segurança nacional e guerra fria”, ela se baseia lar-
gamente na escritora Suzanne Labin para discutir a nova forma de guerra
‒ a guerra fria, “guerra política, revolucionária e subversiva”, utilizada em
“larga escala” pelos soviéticos.65 Ao final, dá grande destaque ao que chama
“Um apelo impressionante ao mundo livre”, feito pela Conferência Inter-
nacional sobre a Guerra Política dos Soviéticos, que se reunira em Paris
em dezembro de 1960, por iniciativa de Suzanne Labin.66 As “nações mais
visadas pela propaganda e ação comunista” deveriam ter presente, segundo
ele, que o comunismo visava “subjugar todas as nações”; que a via para con-
seguir isso era “o plano civil […], internamente, por meio de um colossal
aparelho de guerra política”; que,
[…] enquanto o mundo livre não se prepara senão para a guerra de fogue-
tes, que provavelmente jamais se travará, na frente da guerra política, que
se tornou decisiva e já está em curso, permanece ele ‒ Helás! Surdo, cego
e mudo. Não tendo presente que de nada serve armar o braço, se deixar,
passivamente, o inimigo desarmar o cérebro.67
65
Ibidem, p. 176. Em 1980, já em pleno processo de transição política e adotadas várias
medidas redemocratizadoras, Pacheco e Silva, curiosamente, voltaria a se valer de uma obra
de autoria feminina para reforçar seu libelo anticomunista, agora por meio da imprensa. O
artigo “Origens da guerra revolucionária comunista”, publicado em Digesto Econômico (n.
271, jan./fev. 1980, p. 71-80), da Associação Comercial de São Paulo, resenha o livro de uma
ex-comunista alemã – Margarete Buber Neumann ‒, intitulado A revolução mundial, que,
segundo ele, traria informações inéditas sobre a tentativa de levante comunista organizada
pela Aliança Nacional Libertadora (ANL) em 1935. A resenha é parte de uma narrativa que
situa na fundação do Partido Comunista do Brasil, em 1922, as origens da guerra revolucio-
nária comunista no Brasil.
66
O relatório distribuído pela organizadora no evento foi publicado pela editora Presença,
do Rio de Janeiro, com o título A guerra política. Armas do comunismo internacional. As
comunicações ‒ inclusive a do representante do Brasil, o indefectível direitista almirante
Carlos Pena Boto ‒ foram publicadas em LABIN, Suzanne. Vie ou mort du monde libre.
Paris: La Table Ronde, 1961.
67
Elementos daquilo que se consagraria como doutrina de segurança nacional podem ser
identificados, em vários países, já no século XIX. Ver CRAHAN, Margret E. National Se-
cutiry Ideology and Human Rights. In: ______ (Ed.). Human Rights and Basic Needs in
the Americas. Washington, DC: Georgetown University Press, 1982, esp. p. 103-109. Ver,
também, D’ARAÚJO, Maria Celina. Segurança Nacional e tribunais especiais no Brasil. In:
______. Militares, democracia e desenvolvimento. Brasil e América do Sul. Rio de Janeiro:
Editora FGV, 2010.
52 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
A história veio provar que a tese da “guerra revolucionária” não tinha vali-
dade.68 A queda rápida do governo do sr. João Goulart e a desintegração das
forças que o apoiavam mostraram que – na melhor (ou pior) das hipóteses
– a administração deposta poderia, apenas, querer perpetuar-se por meios
tradicionais e não por métodos revolucionários.69
68
Hermano Alves publicaria, logo após o golpe, crônica repleta de ironia sobre os desmen-
tidos práticos de muitas das acusações que se faziam a Goulart quando presidente. Ver “So-
lércia bolchevista”, Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 12 de junho de 1964.
69
Op. cit.
70
Para uma discussão do papel da doutrina de guerra revolucionária na orientação política
dos militares oposicionistas a Goulart, ver FARIA, Fabiano Godinho. Os militares e a crise de
1964: crise orgânica e golpe de classe. Curitiba: Prismas, 2015. Uma análise que se estende à
primeira metade da década de 1970 se encontra em MARTINS FILHO, João Roberto. Tor-
tura e ideologia: os militares brasileiros e a doutrina da guerre révolutionaire (1959-1974).
In: SANTOS, Cecília Macdowell; TELLES, Edson; TELLES, Janaína de Almeida (Org.).
Desarquivando a ditadura. Memória e justiça no Brasil. São Paulo: Hucitec, 2009, v. II, p.
179-202. Ver, ainda, CHIRIO, op. cit., p. 19-27. Uma opinião que, claramente, subestima a
importância da doutrina para a orientação do regime ditatorial brasileiro se encontra em
GASPARI, Elio. A ditadura envergonhada, op. cit., p. 328-329.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 53
71
Uma análise da tortura como prática mórbida pode ser encontrada em Tribunale Russell
II. Brasile. Violazione dei diritti dell’uomo. A cura di Linda Bimbi. Milano: Feltrinelli, 1975,
p. 201-217.
72
Em 1972, passei um dia detido nas dependências do Departamento de Ordem Política e
Social (DOPS) do Rio de Janeiro. Saí de lá juntamente com uma moça a quem não conhecia
e que me revelou que policiais haviam usado um alicate para lhe machucar os seios, de ma-
neira a fazê-la revelar o seu codinome ‒ a sua identidade falsa. Ela sequer conhecia a palavra,
porque não tinha ligações com a política. Fora presa pelo fato de namorar um rapaz que
militava em uma organização comunista clandestina.
54 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
Após o golpe militar, fulminante e incruento [sic], o país estava, como está,
em perfeita calma. As torturas não buscavam informações urgentes, não
eram exercidas contra inimigos em pé de guerra. […]. Não existia a mais
remota possibilidade de reação organizada contra o governo constituído. A
débâcle das forças que apoiavam os senhores João Goulart, Leonel Brizola,
Miguel Arraes e outros fora completa. O Exército empolgara o poder com
mão firmíssima. A recomposição das forças de esquerda até hoje é politica-
mente problemática. Militarmente era impossível. Consequentemente, as tor-
73
Esquerda armada (testemunho dos presos políticos do presídio Milton Dias Moreira, no
Rio de Janeiro), p. 85-86.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 55
74
Torturas e torturados. Rio de Janeiro: Idade Nova, 1966, p. 22.
75
ALVES, Márcio Moreira, op. cit., p. 30.
56 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
existissem. Elas existem e são o preço que nós, os velhos do Exército, pa-
gamos aos jovens. Caso tivessem os oficiais jovens empolgado o poder, os
senhores estariam hoje reclamando não de torturas, mas de fuzilamentos.
Nós torturamos para não fuzilar. 76
76
Idem, p. 25.
77
Sobre as correntes em que se dividiram os militares brasileiros durante a ditadura, ver:
STEPAN, Alfred, op. cit.; DREIFUSS, René Armand. 1964: a conquista do Estado. Petrópo-
lis, RJ: Vozes, 1981; MARTINS FILHO, João Roberto. O palácio e a caserna, op. cit.; FICO,
Carlos. Além do golpe. Versões e controvérsias sobre 1964 e a ditadura militar. Rio de Janei-
ro: Record, 2004; CHIRIO, op. cit.
78
Com os jovens da “linha dura” de seu tempo, se pareceria, aliás, até recentemente, como
presidente do Clube Militar por seis anos, posição de que se valeu para continuar fazendo
propaganda política de extrema-direita.
79
Projeto Brasil: nunca mais. t. III. Perfil dos atingidos. Petrópolis, RJ: Vozes, 1988. p. 270.
80
Citado em ALVES, Márcio Moreira. Torturas e torturados, op. cit., p. 32-33, onde a decla-
ração de Roberto Campos é classificada como “vinheta de humor negro”. Grifo meu.
81
Sobre o assunto, ver: FIGUEIREDO, Marcus F. A política de coação no Brasil pós-64. In:
KLEIN, Lúcia; FIGUEIREDO, Marcus F. Legitimidade e Coação no Brasil pós-64. Rio de Ja-
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 57
neiro: Forense Universitária, 1978; ALVES, Maria Helena Moreira. Estado e Oposição no Brasil
(1964-1984). Petrópolis, RJ: Vozes, 1984; Brasil: nunca mais. Petrópolis, RJ: Vozes, 1985; VAS-
CONCELOS, Cláudio Beserra de. A política repressiva aplicada a militares após o golpe de 1964.
Tese (Doutorado em História) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2010.
82
O seu caso foi relatado em TÉRCIO, Jason. A espada e a balança: crime e política no banco
dos réus. Rio de Janeiro: Zahar, 2002, p. 70-71.
83
Sobre a sua trajetória política ver Peri Bevilacqua [sic]. In: ABREU, Alzira Alves de et al.
(Coord.). Dicionário histórico-biográfico brasileiro pós-1930, op. cit.; LEMOS, Renato. O ge-
neral juiz. In: ______. (Org.). Justiça fardada. O general Peri Bevilaqua no Superior Tribunal
Militar (1965-1969). Rio de Janeiro: Bom Texto, 2004, p. 9-32.
84
Documento do Arquivo Peri Constant Bevilaqua, depositado no Museu Casa de Benja-
min Constant (Instituto Brasileiro de Museus – IBRAM), no Rio de Janeiro. Um interessante
artigo sobre a participação de mulheres nas lutas política da época se encontra em: GAR-
CIA, Priscila Fernanda da Costa. “As mulheres no movimento estudantil dos anos 1960”. I
Simpósio sobre Estudos de Gênero e Políticas Públicas, Universidade Estadual de Londrina
(PR), 24 e 25 de junho de 2010. GT 2. Gênero e movimentos sociais. Anais. Disponível em:
<http://www.uel.br/eventos/gpp/pages/arquivos/7.PriscilaGarcia.pdf>. Acesso em: 6 jan.
2016. Ver, também, MARQUES. Teresa Cristina Schneider. A esquerda brasileira exilada
e o feminismo: a atuação política das brasileiras no Chile e na França (1968-1979). Projeto
História, São Paulo, n. 52, p. 112-139, ago. 2015.
85
Correio da Manhã, 1º de janeiro de 1965. Um projeto sobre a anistia fora proposto à
Câmara, em 30 de novembro, pelo deputado Croaci de Oliveira (PTB-RS). Autorizava o
presidente da República a rever os processos punitivos e a indultar ou anistiar os cidadãos
atingidos após o movimento de 31 de março de 1964. Câmara dos Deputados. Diretoria de
Registro Taquigráfico de Debates. Seção de Histórico de Debates.
58 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
1965, o novo ano chegou, como é costumeiro, de braço dado com velhos
problemas. Em março, estudantes cariocas realizaram, no campus da Uni-
versidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) na ilha do Fundão, uma ma-
nifestação contra o governo Castelo Branco, e intelectuais lançaram um
manifesto nacional pelo restabelecimento das liberdades democráticas no
país.87 A anistia voltou às páginas do Correio da Manhã, como elemento da
conjuntura inaugurada pelas eleições, tanto as estaduais quanto as presi-
denciais, marcadas para o ano seguinte.88 Em torno delas, digladiavam-se a
facção governista, que anunciava pretender realizá-las, e setores civil-mili-
tares “duros”, empenhados no seu adiamento. Edmundo Moniz as via asso-
ciadas à anistia como pré-condição para o restabelecimento da normalida-
de democrática no país:
86
Anistia. São Paulo: Edição S. A., abril de 1978, p. 16.
87
Brasil dia a dia. Almanaque especial. São Paulo: Abril, 1990, p. 52. Um precioso levanta-
mento-denúncia da ação repressiva da ditadura contra escritores, estudantes, professores e
cientistas pode ser encontrado em “O terrorismo cultural”, Revista Civilização Brasileira, Rio
de Janeiro, ano I, n. 1, mar. 1965, p. 239-298.
88
Segundo Barbosa Lima Sobrinho, a Assembleia Geral da Associação Brasileira de Impren-
sa (ABI) desse ano defendeu a anistia ampla, geral e irrestrita. Boletim ABI, agosto/setembro
de 1979, p. 13.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 59
O ano de 1965 será o da luta pela anistia a fim de que se realizem, democra-
ticamente, as eleições de que a nação necessita.89
89
“A solução democrática”. Correio da Manhã, 3 de janeiro de 1965, reproduzido em MO-
NIZ, Edmundo. O golpe de abril. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965, p. 116-117.
90
Correio da Manhã, 27 de abril de 1965.
91
Última Hora, 10 de maio de 1965.
92
Sobre os problemas de disciplina militar no primeiro ano do novo regime, ver SODRÉ,
Nelson Werneck. História Militar do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965.
93
Sobre o sentido da política econômica do governo Castelo Branco, ver OLIVEIRA, Fran-
cisco de. Padrões de acumulação, oligopólios e Estado no Brasil (1950-1976). In: ______. A
economia da dependência imperfeita. Rio de Janeiro: Graal, 1977, p. 76-113.
60 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
94
Última Hora, Rio de Janeiro, 10 de maio de 1965. Em 17 de julho, o general, em depoimen-
to à revista Manchete, voltaria a defender publicamente a concessão de anistia. MARTINS,
Roberto Ribeiro. Liberdade para os brasileiros, op. cit., p. 123.
95
PENNA, Cornélio. Fronteira. Rio de Janeiro: Ediouro, s. d. [1935], p. 55.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 61
96
“Anistia”. Revista Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, ano I, n. 1, mar. 1965, p. 22.
97
Sobre Gustavo Corção, ver PAULA, Christiane Jalles de. Combatendo o bom combate: polí-
tica e religião nas crônicas jornalísticas de Gustavo Corção (1953-1976). Tese (Doutorado em
Ciência Política) – Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007.
98
“Anistia”, op. cit., p. 22-23. Ao final do artigo, Cony atirou no que viu e acertou no que não
viu. Sustentou uma ideia de anistia estranha às relações de força entre os campos políticos
− “Repito: anistia não é barganha” −, quando a tradição indicava o contrário, vindo a ser
confirmada, como se verá adiante, pela Lei de Anistia de 1979. Por outro lado, foi premo-
62 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
nitório quanto às circunstâncias em que a medida seria adotada quase quinze anos depois:
“E terá de vir, mais cedo ou mais tarde, por injunções internas ou por pressões externas do
próprio imperialismo internacional”, antecipando a pressão exercida pelos países capitalis-
tas centrais sobre os governos militares brasileiros para que liberalizassem o regime político.
99
Brasil dia a dia, p. 52.
100
Sobre o assunto, ver OLIVEIRA, Francisco de, op. cit., p. 92-98.
101
Em seguida, foi implantado no país o bipartidarismo. A Aliança Renovadora Nacional
(Arena), criada em abril de 1966, passou a representar os interesses políticos majoritários
das classes dominantes do país. A oposição legal abrigou-se no Movimento Democrático
Brasileiro (MDB), fundado no mês anterior. Consultar os respectivos verbetes em ABREU,
Alzira Alves de et al. (Coord.). Dicionário histórico-biográfico brasileiro pós-1930, op. cit.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 63
nacional” passaram a ser julgados pela Justiça Militar, fossem civis ou mi-
litares.
Mesmo com a edição do AI-2, os governadores eleitos em Minas e na
Guanabara foram empossados, não sem alguma resistência por parte, prin-
cipalmente, dos mencionados setores militares empenhados no aprofunda-
mento da ditadura. O coronel Francisco Boaventura, por exemplo, manifes-
tou-se contra a posse de Negrão de Lima e foi preso por isso. O episódio é
expressivo do esforço que o governo ditatorial fazia para consolidar sua au-
toridade no meio castrense, ainda marcado pelos expurgos praticados após o
golpe. Boaventura tornou-se, assim, objeto do primeiro pedido de anistia em
benefício de um golpista, apresentado em 30 de novembro de 1965, como um
apelo ao presidente da República, pelo deputado federal Eurico de Oliveira,102
que, eleito em 1962 na legenda da Aliança Socialista Trabalhista, formada
pela coligação do PTB com o Partido Socialista Brasileiro (PSB), depois se
filiaria ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB).103
O AI-2 motivou uma importante modificação no quadro político nacio-
nal. Um setor que, se não apoiara praticamente o golpe, vira com bons olhos
a deposição de Goulart, percebeu naquela medida o prenúncio de tempos
funestos. Entre os militares, foi o caso do general Peri Constant Bevilaqua,
agora ministro do Superior Tribunal Militar (STM) e que não participara
do movimento político-militar de 1964, mas o interpretava “como uma an-
tecipação a um projeto revolucionário patrocinado pelo próprio presidente
João Goulart”, uma “antirrevolução”, portanto. Para ele, o AI-2 constituiu
um golpe de Estado “que transformou em uma profunda revolução a antir-
revolução que caracterizou o Movimento de 31 de março”.104
Esse sentido de garantir a “pureza’ do movimento golpista orientava
também o artigo publicado pelo escritor Alceu Amoroso Lima – uma voz
que costumava ser ouvida por amplo auditório católico de tendência liberal
–, no mesmo mês do AI-2, conclamando os novos donos do poder a con-
ceder a anistia: “É a maior prova de força que poderiam dar os promotores
102
Câmara dos Deputados. Diretoria de Registro Taquigráfico de Debates. Seção de Histó-
rico de Debates.
103
Diário de Notícias, 6 de dezembro de 1962; ABREU, Alzira Alves de et al. (Coord.). Dicio-
nário histórico-biográfico brasileiro pós-1930, op. cit.
104
Citado em LEMOS, Renato. Por inspiração de Dona Tiburtina: o general Peri Bevilaqua
no Superior Tribunal Militar. Locus: Revista de História, Juiz de Fora (MG), v. 9, n. 1, 2003,
p. 120.
64 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
105
“Pela anistia”. Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, ano III, n. 7, outubro de 1965, p. 49. Assi-
nado por Tristão de Ataíde, pseudônimo que marcaria a carreira literária do autor.
106
Citado em CASTRO, Marcos de. A Igreja e o autoritarismo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
1985, p. 17. Sobre o papel dos bispos como porta-vozes da hierarquia católica no Brasil, ver
ALVES, Márcio Moreira. L’Église et la Politique au Brésil. Paris: Les Éditions du CERF, 1974.
Resultado da tese de doutoramento do autor, este livro foi publicado no Brasil com o título A
Igreja e a Política no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1977. A edição brasileira ampliou e atuali-
zou a versão francesa e será citada aqui sempre que a informação não constar do texto original.
107
Idem, p. 31.
108
ALVES, Márcio Moreira. L’Église et la Politique au Brésil, p. 174.
109
Segundo Márcio Moreira Alves, o primeiro presidente do regime ditatorial “ordenou que
nenhum padre fosse detido sem a prévia e expressa autorização da Presidência da Repúbli-
ca”. Op. cit., p. 201.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 65
[…] contra o qual me manifestei desde o primeiro momento, não foi impa-
triótico, pois os seus promotores agiram de boa fé e na convicção de que o
lançavam para evitar dias negros para o Brasil. Mas, foi impopular, pois o
povo ficou à margem, pois tão pouco estava satisfeito com o regime depos-
to, que vinha revelando sua incompetência e sua dissolução e, para muitos,
seu propósito de lançar o Brasil numa aventura “fidelista”, o que não creio
que acontecesse, mas também não é impossível que sucedesse.112
Este sim é a grande ameaça iminente. Sempre sustentei que nada tínhamos
a temer do comunismo, mas tudo do neofascismo. E a revolução de abril
confirmou plenamente esses temores. O Estado Novo, que foi uma expe-
110
ATAÍDE, Tristão de. Pela anistia. Tempo Brasileiro, ano III, n. 7, out. 1965, p. 46.
111
Idem, p. 50. Note-se que esta tese foi recuperada por correntes historiográficas que, pro-
cedendo à revisão de explicações consideradas clássicas do golpe de 1964 – com especial
atenção às marxistas –, atribuem a Goulart e seus apoiadores reformistas a responsabilidade
pela sua própria deposição. Ver FIGUEIREDO, Argelina Cheibub. Democracia ou refor-
mas? Alternativas democráticas à crise política: 1961-1964. Trad. Carlos Roberto Aguiar.
São Paulo: Paz e Terra, 1993.
112
ATAÍDE, Tristão de, op. cit., p. 49-50.
113
Idem, p. 46.
66 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
114
Grifo no original.
115
CARVALHO, José Murilo de. Vargas e os militares: o aprendiz de feiticeiro. In: D’ARAÚ-
JO, Maria Celina (Org.). As instituições brasileiras da era Vargas. Rio de Janeiro: EdUERJ/
Ed. FGV, 1999. p. 55-81.
116
A presença estadonovista no novo regime pós-1964 começou com o primeiro Ato Ins-
titucional, cujo autor, o jurista Francisco Campos, já redigira a Constituição de 1937, que
sintetizou o espírito político da ditadura varguista.
117
A propósito, ver “Alceu Amoroso Lima”. In: ABREU, Alzira Alves de et al. (Coord.). Di-
cionário histórico-biográfico brasileiro pós-1930, op. cit.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 67
O neofascismo vem ganhando terreno de dia para dia, e não faltam mili-
tares e civis a nos advertirem que, desta vez, os militares “não largarão o
poder enquanto não tiverem posto ordem onde os civis faliram”. Os que
mais combateram o Integralismo, em 1938, estão hoje pondo em prática,
com outro nome, o que os “camisas verdes”118 pregaram, logo depois de
1932, quando se opuseram à “revolução paulista”, por não acreditarem nem
na Constituição, nem na lei, nem na democracia. Ou, antes, propugnando
uma nova constituição, uma nova lei, uma nova democracia, baseada na
violência, no autoritarismo e nos chefes carismáticos.119
118
Referência à cor do uniforme usado pelos integralistas, também alcunhados jocosamente,
por seus adversários, de “galinhas verdes”, porque adotavam em suas paradas o “passo de gan-
so” copiado do exército nazista. Sobre a influência de integralistas no regime ditatorial pós-64,
ver TRINDADE, Hélgio. O radicalismo militar em 64 e a nova tentação fascista. In: SOARES,
Gláucio Ary Dillon; D’ARAÚJO, Maria Celina (Org.). 21 anos de regime militar. Balanços e
perspectivas. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1994, p. 123-141.
119
ATAÍDE, Tristão de. Pela anistia, op. cit., p. 47. Grifo do autor.
120
LEMOS, Renato. Costa e Silva. In: ABREU, Alzira Alves et al. (Coord.)., op. cit.
121
Que, no entanto, só seria suspenso em caso de crimes políticos, em 1968, com o Ato Ins-
titucional nº 5, que, como se verá adiante, seria entendido, por analistas de diversas orienta-
ções, não como “uma segunda revolução”, mas como um “golpe dentro do golpe”. No entan-
to, a menção à medida, das mais graves do ponto de vista da teoria democrática, sugere que
já em 1965 era uma das possibilidades postas no cenário político.
68 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
122
Op. cit., p. 47. Grifos meus.
123
Idem, p. 50.
124
Idem, p. 48-49.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 69
Alceu Amoroso Lima, vê-se, inscrevia-se entre aqueles que ainda acre-
ditavam na possibilidade de limitar a intervenção golpista a uma mudança
de equipe no governo, sem acerto de contas políticas com os governantes
depostos. Por isso, sustentava que os eventuais crimes de corrupção come-
tidos pelos “sequazes” de Goulart poderiam ser apurados e cobrados pela
justiça comum, contanto que se concedessem aos acusados condições para
se defenderem.128 No plano político, a prioridade seria normalizar a vida do
país com vistas ao futuro, decretando, “quanto antes, a anistia”:
125
Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e João Goulart.
126
Sobre a natureza contrarrevolucionária de tais “conciliações” na história da sociedade
brasileira, ver RODRIGUES, José Honório. Conciliação e reforma no Brasil. Interpretação
histórico-política. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965.
127
Op. cit., p. 49. Grifos do autor.
128
Idem, p. 50.
70 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
129
Idem, p. 50-51. Grifos do autor.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 71
[…] aqueles que foram vítimas de injustiças devem ter corrigidas estas in-
justiças o quanto antes. De há muito venho me pronunciando no Superior
Tribunal Militar em favor da anistia geral para os indiciados em crimes po-
líticos, que deverão ainda ter uma revisão dos atos que os afastaram das
Forças Armadas, para que continuem na carreira militar.130
130
Correio da Manhã, 30 de dezembro de 1965. Considerando “salutar a tradição come-
morativa do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo, de conceder perdão aos sentenciados em
condições de merecê-lo e proporcionar novas oportunidades aos que se mostrem recupera-
dos para o convívio social”, e, “justa, posto medida humanizadora do direito, a extensão do
Decreto nº 359, de 29 de novembro de 1965, aos condenados pela Justiça Militar, que não
estejam cumprindo pena em penitenciária civil”, o governo concedeu indulto a sentenciados
pela corte castrense, por meio do Decreto n. 57.567, de 3 de janeiro de 1966.
131
Manchete, 22 de janeiro 1966, citado em MARTINS, Roberto Ribeiro. Liberdade para
os brasileiros, p. 123. Esta entrevista é sempre mencionada como uma das poucas reivin-
dicações de anistia no período 1964-1975. Os autores que assim a consideram, no entanto,
não valorizam adequadamente o fato de que se tratava de dois dos generais mais antigos na
carreira e membros da corte de justiça associada à instituição que canalizava os principais
recursos de poder no regime.
132
IstoÉ, 1º de março de 1978, p. 12-13. Ainda em agosto de 1966, o deputado Adauri Fernan-
des (MDB-GB) justificou na Câmara um projeto que pretendia apresentar com o objetivo de
conceder anistia tanto aos trabalhadores condenados por terem participado de movimentos
de apoio ao governo Goulart como aos jornalistas condenados por crimes de imprensa.
Como exercia o mandato na condição de suplente, não chegou a apresentar efetivamente
o projeto. Câmara dos Deputados. Diretoria de Registro Taquigráfico de Debates. Seção de
Histórico de Debates; “Adauri Fernandes”. In: ABREU, Alzira Alves de et al. (Coord.), op. cit.
72 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
133
Para uma introdução ao assunto, ver LAMARÃO, Sérgio. Frente Ampla. In: ABREU,
Alzira Alves de et al. (Coord.), op. cit.
134
Anistia, op. cit., p. 12.
135
Disponível em: <http://www.senado.gov.br/atividade/materia/Consulta_parl.asp?Tipo_
Cons=15&p_cod_senador=1593>. Acesso em: 9 jan. 2014.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 73
É muito importante que o advogado, mesmo que não tenha nada de novo
a dizer e nada para fazer, porque os processos em geral são muito lentos e
longos, vá ver o seu réu sempre que puder. O advogado é como um médico
136
A anistia foi discutida também no plano das relações entre estados. O V Congresso da
União Parlamentar Interestadual, realizado em Recife, incluiu em seu temário a tese da anistia
geral a todos os perseguidos pelo “movimento político de março de 1964”. Câmara dos De-
putados. Diretoria de Registro Taquigráfico de Debates, sessão em 18 de setembro de 1967.
137
Foi o primeiro dos vários projetos que a deputada apresentaria nesse sentido e que lhe
custariam o mandato, cassado em 1º de outubro de 1969 por medida baseada no Ato Ins-
titucional nº 5 (AI-5), de 13 de dezembro do ano anterior. Ver “Nísia Carone”. In: ABREU,
Alzira Alves de et al. (Coord.). Dicionário histórico-biográfico brasileiro pós-1930, op. cit.
138
Em 1968, o deputado teria seu mandato cassado por medida baseada no AI-5. COSTA,
Marcelo. Gastone Righi. In: ABREU, Alzira Alves de et al. (Coord.). Dicionário histórico-bio-
gráfico brasileiro pós-1930, op. cit.
139
Câmara dos Deputados. Diretoria de Registro Taquigráfico de Debates, sessões em 16 e
28 de março, 26 de abril, 16 e 26 de maio, 8 e 22 de junho de 1967. Ver, também, Jornal de
Brasília, 28 de junho de 1979, p. 4. O deputado Jamil Amiden teria o mandato cassado em
janeiro de 1969, por medida baseada no AI-5. Ver seu verbete em ABREU, Alzira Alves de
et al. (Coord.), op. cit.
74 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
que visita seu doente. Sua presença sempre será um alento e uma esperança,
mesmo que não houver nada mais a fazer. O fato de pessoas desconhecidas
nos adotarem conseguia nos levantar e dava a nós uma consciência da am-
plitude política da nossa prisão.140
140
Depoimento de Frei Beto, em BOVO, Cassiano Ricardo Martines. Anistia Internacional.
Roteiros da cidadania-em-construção. São Paulo: Annablume; FAPESP, 2002, p. 249. Nesta
mesma fonte (p. 163, n. 166. Grifo meu), afirma-se que eram “poucos os advogados que se dis-
punham a lutar pelos presos políticos com medo da repressão, mas alguns se arriscaram, como
José Carlos Dias, Mário Simas, Dalmo Dallari, Luís Eduardo Greenhalgh, Antônio Funari etc.”.
A lista apresentada sugere que o universo considerado se limitou aos advogados que milita-
vam em São Paulo. Ela poderia ser substancialmente ampliada − tornando inadequada a ideia
de “poucos” − com a inclusão de, entre outros, Antônio Evaristo de Morais Filho, Antônio
Modesto da Silveira, Eni Raimundo Moreira, Evandro Lins e Silva, George Tavares, Geraldo
Magela, Heleno Fragoso, Heráclito Sobral Pinto, Marcelo Alencar, Marcelo Cerqueira, Osval-
do Mendonça e Técio Lins e Silva, que também enfrentaram a ditadura no terreno jurídico e
policial − muitos chegaram a sofrer violências, como prisões, atentados terroristas etc. − desde
os primeiros dias após o golpe de 1964. A propósito, ver: SÁ, Fernando; MUNTEAL, Oswaldo;
MARTINS, Paulo Emílio (Org.). Os advogados e a ditadura de 1964. A defesa dos perseguidos
políticos no Brasil. Petrópolis, RJ: Vozes; Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2010.
141
Provavelmente, enfrentando algum tipo de pressão por parte do governo dos EUA, caso
este tenha seguido a orientação do seu Departamento de Estado no sentido de tentar mo-
dificar o sistema político brasileiro, durante o governo de Costa e Silva, por meio de “pres-
são sutil” em favor de algumas medidas, entre as quais a concessão de anistia parcial. Cf.
GREEN, James N. Apesar de vocês. Oposição à ditadura brasileira nos Estados Unidos, 1964-
1985, op. cit., p. 136. Nesta obra, encontra-se um bem documentado acompanhamento das
posições dos governos estadunidenses a respeito dos “direitos humanos” no Brasil.
142
FIECHTER, Georges-André. Le régime modernisateur du Brésil, 1964-1972. Etude sur les
interactions politico-économiques dans un régime militaire contemporain. Genève: Institut
Universitaire de Hautes Etudes Internationales, 1972, p. 186, nota 335.
143
Ver discursos de Oscar Noronha Filho (MDB-GB). Câmara dos Deputados. Diretoria
de Registro Taquigráfico de Debates, sessão de 24 de maio de 1966. Em defesa do governo,
discursos dos deputados arenistas Temístocles Teixeira (MA) e Clóvis Stenzel (RS).
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 75
144
Câmara dos Deputados. Diretoria de Registro Taquigráfico de Debates. Seção de Histó-
rico de Debates, sessões em 9 e 24 de agosto e 5 de setembro de 1967. O deputado Antônio
Sílvio Cunha Bueno teve o mandato cassado em 16 de janeiro de 1969, por medida baseada
no AI-5. Cunha Bueno. In: ABREU, Alzira Alves de et al. (Coord.). Dicionário histórico-bio-
gráfico brasileiro pós-1930, op. cit.
145
Correio da Manhã, 1º de abril de 1967, citado em MARTINS, Roberto Ribeiro, op. cit., p.
124 e 138; Folha de S. Paulo, 8 de abril de 1979.
146
O mais destacado, na época, era Carlos Castello Branco, titular da Coluna do Castello no
Jornal do Brasil. Grande parte do material jornalístico por ele produzido pode ser lida em
<http://www.carloscastellobranco.com.br/index.php>. Acesso em: 5 nov. 2013.
147
História Militar do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965. Sobre o autor, ver
CUNHA, Paulo; CABRAL, Fátima (Org.). Nelson Werneck Sodré. Entre o sabre e a pena. São
Paulo: Editora da UNESP, 2006; e SILVA, Marcos (Org.). Dicionário Crítico Nelson Werneck
Sodré. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2008.
148
A escolha da sociedade brasileira como objeto de estudo por analistas estrangeiros é
bem anterior à Revolução Cubana, traduzindo múltiplos fatores, especialmente acadêmicos.
Para um amplo e diversificado panorama das pesquisas dos “brasilianistas”, ver os trabalhos
de José Honório Rodrigues: A historiografia estrangeira sobre o Brasil. In: ______. Vida e
história. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966, p. 151-198, e “Os estudos brasileiros
e os Brazilianists”. In: ______. História combatente. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982,
p. 54-155. Também: BARBOSA, Rubens Antônio; EAKIN, Marshall C.; ALMEIDA, Paulo
76 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
Roberto (Org.). O Brasil dos Brasilianistas. Um guia dos estudos sobre o Brasil nos Estados
Unidos, 1945-2000. São Paulo: Paz e Terra, 2002; e GREEN, James N. Apesar de vocês: opo-
sição à ditadura brasileira nos Estados Unidos, 1964-1985, op. cit.
149
Fundada em 1946 como um projeto conjunto da Força Aérea dos EUA e da empresa Dou-
glas Aircraft, a Rand passou a operar em conexão com instâncias estratégicas do Estado nor-
te-americano, como o Pentágono (sede do Departamento de Defesa) e Agência Central de
Inteligência (CIA), bem como com as grandes corporações transnacionais. Cf. CHILCOTE,
Ronald H. Teorias de política comparativa. A busca de um paradigma reconsiderado. Trad.
Carlos Alberto Silveira Netto Soares. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998, p. 66. A Rand Corporation
tinha ligações orgânicas também com inúmeros outros institutos do gênero, como o Insti-
tute for Defense Analyses (IDA) e, em especial, o Council of Foreign Relations (CFR). Cf.
DREIFUSS, René Armand. A internacional capitalista. Estratégias e táticas do empresariado
transnacional, 1918-1986. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo, 1986, p. 49. Agradeço a Rejane
Carolina Hoeveler a indicação destes vínculos da Rand com a IDA e o CFR.
150
Talvez a mais impactante entre nós tenha sido SKIDMORE, Thomas. Politics in Brazil.
1930-1964. An Experiment in Democracy (New York: Oxford University Press, 1967), pu-
blicado no Brasil, em 1969, pela editora Saga e, em seguida, em várias edições, pela editora
Paz e Terra, com o título Brasil: de Getúlio a Castelo. Sobre o processo político brasileiro,
o autor publicaria, também, The Politics of Military Rule in Brazil, 1964-1985 (New York:
Oxford University Press, 1988), editado no Brasil, com o título Brasil: de Castelo a Tancredo,
também pela Paz e Terra. (1988).
151
Pioneira, a sua pesquisa resultaria no livro The Military in Politics. Changing Patterns in
Brazil. Princeton: Princeton University Press, 1971, publicado no Brasil, em 1975, pela edi-
tora Artenova, do Rio de Janeiro, em tradução de Ítalo Tronca e com o título Os militares na
política. As mudanças de padrões na vida brasileira.
152
STEPAN, Alfred. The Military in Politics, op. cit., p. 223-224.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 77
153
“Situação nacional configura-se difícil”. O Estado de S. Paulo, 30 de abril de 1967, p. 6.
154
Ver ALVES, Maria Helena Moreira. Estado e Oposição no Brasil (1964-1984). Petrópolis,
RJ: Vozes, 1984; e MARTINS FILHO, João Roberto. O Palácio e a Caserna. A dinâmica mi-
litar das crises políticas na ditadura (1964-1969). São Carlos, SP: Editora da UFSCar, 1995.
155
ALVES, Maria Helena Moreira, op. cit.
156
STEPAN, Alfred. The Military in Politics, p. 223-224.
157
Idem, p. 229-256.
78 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
158
Ver MARTINS FILHO, João Roberto. As políticas militares dos EUA para a América
Latina (1947-1989). Teoria e Pesquisa, São Carlos (SP), n. 46, p. 105-139, jan. 2005.
159
Escrevendo pouco após o golpe, um jornalista explicou o uso que fez da nomenclatura
referente às correntes militares: “A divisão entre ‘duros’ e ‘moderados’ ainda agora suscita con-
trovérsias entre os militares. Neste livro, porém, chamamos ‘duros’ os que desejaram levar o
expurgo às últimas consequências e se inclinavam, no fim das contas, para a instauração de
uma ditadura militar, declarada ou não”. PEDREIRA, Fernando. 31 de março. Civis e militares
no processo da crise brasileira. Rio de Janeiro: José Álvaro, 1964, p. 65. Ver, também, p. 24.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 79
160
Ibidem.
161
“Situação nacional configura-se difícil”.
162
Diário do Congresso Nacional, Brasília, Seção II, 9/11/67, p. 2871.
80 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
163
VI Congresso do Partido Comunista Brasileiro. “Informe de balanço do Comitê Central.
Dezembro de 1967”. In: Documentos do Partido Comunista Brasileiro (1960-1975). Lisboa:
Avante, 1976, p. 102.
164
Para uma análise da conjuntura política sob a vigência da Constituição de 1967, ver AL-
VES, Maria Helena Moreira. Estado e Oposição no Brasil, op. cit.
165
Sobre as greves operárias em 1968, ver WEFFORT, Francisco. Participação e conflito
industrial: Contagem e Osasco. São Paulo: Cebrap, 1972; sobre os estudantes, MARTINS
FILHO, João Roberto. Movimento estudantil e ditadura militar, 1964-1968. Campinas, SP:
Papirus, 1987.
166
Brasil dia a dia, p. 51.
167
Ibidem.
168
Ibidem. Ver WEFFORT, Francisco, op. cit.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 81
169
MARTINS, Roberto Ribeiro. Liberdade para os brasileiros, p. 124.
170
Brasil dia a dia, p. 48.
171
WEFFORT, Francisco, op. cit
172
Brasil dia a dia, p. 48.
173
ARGOLO, José A.; RIBEIRO, Kátia; FORTUNATO, Luiz Alberto. A direita explosiva no
Brasil. A história do Grupo Secreto que aterrorizou o País com suas ações, atentados e cons-
pirações. Rio de Janeiro: Mauad, 1996. Ver, também, FIGUEIREDO, Lucas. Ministério do
82 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
silêncio. A história do serviço secreto brasileiro de Washington Luís a Lula, 1927-2005. Rio
de Janeiro: Record, 2005, esp. p. 159-162.
174
ARGOLO, José A.; RIBEIRO, Kátia; FORTUNATO, Luiz Alberto, op. cit., p. 278-285.
175
ALVES, Maria Helena Moreira. Estado e Oposição, p. 119. Sobre o papel de parentes em
face das prisões políticas, ver MACHADO, Vanderlei. Paternidade, maternidade e ditadura:
a atuação de pais e mães de presos, mortos e desaparecidos políticos no Brasil. História Uni-
sinos, São Leopoldo (RS), v. 17, n. 2, p. 179-188, maio/ago. 2013.
176
Anistia, p. 13.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 83
177
Jornal do Brasil, 11 de agosto de 1968.
178
Câmara dos Deputados. Diretoria de Registro Taquigráfico de Debates, sessões em 9 de
abril, 22 de maio, 5 e 6 de agosto de 1968. Os três deputados teriam seus mandatos cassados
pouco tempo depois, por medidas baseadas no Ato Institucional nº. 5: Márcio Moreira Al-
ves − pivô da crise que deu pretexto ao Ato − em 30 de dezembro de 1968, Paulo Macarini
em janeiro e Wilson Martins em fevereiro do ano seguinte.
179
Getúlio Barbosa de Moura, participante ativo da vida política nacional desde 1930, teve
seu mandato cassado em fevereiro de 1969, por medida baseada no AI-5. ABREU, Alzira
Alves de et al. (Coord.). Dicionário histórico-biográfico brasileiro pós-1930.
180
“Uma exigência que se faz desde 1964”. Movimento, Rio de Janeiro, Edição Especial Anis-
tia, abril de 1978, p. 12. O senador é mencionado aqui como autor do primeiro projeto de
anistia após o golpe de 1964.
84 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
181
Pronunciamento do deputado Maurílio Ferreira Lima (MDB-PE). Câmara dos Depu-
tados. Diretoria de Registro Taquigráfico de Debates, sessão em 12 de agosto de 1968. Su-
plente em exercício do mandato, o deputado deixou a Câmara em outubro seguinte, vindo
a ter seus direitos políticos cassados no fim do ano, por força de medida baseada no AI-5. A
hipótese de corrupção de parlamentares foi aventada na nota “Derrubada da anistia já acer-
tada na Arena”, publicada pelo jornal carioca Correio da Manhã, conforme pronunciamento
do deputado Mário Piva (MDB-BA) na Câmara em 19 de agosto. O deputado também teria
seu mandato cassado em janeiro de 1969, por medida igualmente lastreada no AI-5.
182
Cf. MARTINS FILHO, João Roberto. O palácio e a caserna, op. cit.
183
Cf. discurso do deputado Edílson Melo Távora (Arena-CE), Câmara dos Deputados. Di-
retoria de Registro Taquigráfico de Debates, sessão em 20 de agosto de 1968.
184
MELLO, Jaime Portela de. A revolução e o governo Costa e Silva. Rio de Janeiro: Guavira,
1979. p. 567-568.
185
Anistia, p. 12; MARTINS, Roberto Ribeiro. Liberdade para os brasileiros, p. 125; IstoÉ 500
anos.
186
Diário do Congresso Nacional, Brasília, Seção II, 25/10/68, p. 4874.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 85
tes, impedindo a reunião.187 Nesse mesmo dia, foi morto, em ação realizada
por uma organização revolucionária socialista, Charles Chandler, capitão
do Exército estadunidense que estudava no Brasil e foi considerado um
espião da Agência Central de Inteligência (CIA) dos EUA em atividade no
país. Na capital pernambucana, o arcebispo de Olinda e Recife, D. Hélder
Câmara – então no campo oposicionista à ditadura e que, em janeiro de
1971, teria seu nome sugerido para o Prêmio Nobel da Paz por membros
social-democratas do Parlamento sueco –, teve sua residência metralhada
no dia 24 seguinte.
Por ter providenciado o local para o encontro estudantil, foi presa Therezinha Godoy
187
Zerbine, esposa de um general cassado e futura líder do Movimento Feminino pela Anistia
(MFPA), criado em 1975.
86 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
188
Ver: <http://www1.folha.uol.com.br/livrariadafolha/2014/01/1401697-historiador-de-
fende-que-a-ditadura-brasileira-durou-11-anos.shtml>. Para uma crítica, MELO, Demian.
A historietografia de Marco Antonio Villa: um negacionismo à brasileira. Disponível em:
<http://blogconvergencia.org/?p=2016>. Acesso a ambos em: 14 jun. 2015.
189
STEPAN, Alfred. The Military in Politics, p. 254.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 87
190
Idem, p. 234, nota n. 15.
191
Idem, p. 216.
192
Anistia, p. 12.
193
A greve de fome é uma forma muito antiga de pressão sobre detentores de algum poder.
Muito frequente como tática de presos políticos, também a usam condenados pela lei co-
mum. A título de ilustração, podem ser mencionados dois casos ocorridos na época. Em
inícios de julho de 1970, presos fizeram greve de fome em uma delegacia policial de Nova
Iguaçu (RJ), em protesto contra a qualidade da alimentação que recebiam. Jornal do Brasil,
2 de julho de 1970, p. 20. Em 16 de março de 1972, detentos da 21ª Delegacia de Polícia, no
bairro de Bonsucesso (RJ), entraram em greve de fome contra o racionamento da comida.
Jornal do Brasil, 17 de março de 1972, p. 24.
194
Disponível em: <http://www.documentosrevelados.com.br/repressao/forcas-armadas/a-
-greve-de-fome-dos-presos-do-mr8/>. Acesso em: 24 jan. 2014.
88 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
195
SCELZA, Maria Fernanda Magalhães. Entre o controle e a resistência: o presídio da Ilha
das Flores como espaço de luta e afirmação de identidade de ex-prisioneiros políticos. In:
Anais do XXIV Simpósio Nacional de História – História e multidisciplinaridade: territórios
e deslocamentos. São Leopoldo (RS): Unisinos, 2007. Disponível em: <http://anpuh.org/
anais/?p=14194>. Acesso em: 27 jan. 2014.
196
Sobre o assunto, ver Comissão Nacional da Verdade. Relatório final, v. 2, Texto 8 - Ci-
vis que colaboraram com a ditadura. Disponível em: <http://g1.globo.com/politica/noti-
cia/2014/12/consulte-integra-do-relatorio-final-da-comissao-nacional-da-verdade.html>.
Acesso em: 26 dez. 2015. Informações podem ser encontradas, também, em GASPARI, Elio.
A ditadura escancarada. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 59-68.
197
Sobre a participação de empresas multinacionais na montagem e operação dos órgãos
repressivos do Estado ditatorial brasileiro, ver BANDEIRA, Moniz. Cartéis e desnacionali-
zação (A experiência brasileira: 1964-1974). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975, p.
202-207. FIECHTER, Georges-André. Le régime modernisateur du Brésil, 1964-1972, p. 173,
nota 277, comenta a condição ambígua da Operação Bandeirante, como “organismo provi-
sório”: “Não tem organização oficial, mas a imprensa fala dele abertamente”.
198
A propósito, ver o documentário Cidadão Boilesen, dirigido por Chaim Litewski. Dis-
ponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=yGxIA90xXeY>. Acesso em: 14 set. 2013.
Ver, ainda: IANNI, Octávio. O colapso do populismo no Brasil, op. cit., p. 199-215; FON,
Antônio Carlos. Tortura. A história da repressão política no Brasil. São Paulo: Comitê Brasi-
leiro pela Anistia; Global, 1979, p. 54-62; DREIFUSS, René Armand. 1964 – a conquista do
Estado. Ação política, poder e golpe de classe. Petrópolis, RJ: Vozes, 1981.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 89
199
Então com o nome de Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), em homenagem
a um grupo homônimo que, meses antes, o governo anunciara ter extinguido.
200
Na época, houve questionamento da medida. Em 31 de março de 1970, por exemplo,
a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) se declararia totalmente contrária à
pena de morte, criticando também as organizações guerrilheiras, às quais pedia o mesmo
respeito à vida que esperava do governo. Em 18 de março de 1971, Theodomiro Romeiro
dos Santos seria condenado à morte pelo assassinato de um sargento da Aeronáutica que, à
paisana, o detivera em Salvador. Em 2 de junho, o Instituto dos Advogados do Brasil (IAB)
enviaria mensagens ao Congresso Nacional e ao presidente da República pedindo a revoga-
ção do AI-14, que instituíra a pena. Alguns dias depois, o Superior Tribunal Militar (STM)
converteria a pena de Theodomiro em prisão perpétua, que seria, mais tarde, reduzida pelo
Supremo Tribunal Federal (STF) para trinta anos de reclusão. O deputado Tancredo Neves
90 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
[…] ninguém pode negar que o Brasil se encontra sob um regime de exce-
ção, circunstancial e transitório. Compreendemos as causas da atual situa-
ção, mas consideramos indispensável que o país volte à normalidade jurídi-
ca, por intermédio de uma Constituição capaz de satisfazer os verdadeiros
interesses e aspirações nacionais. Esta exigência supõe, evidentemente, o
funcionamento normal dos poderes Legislativo e Judiciário. Verificamos,
com profunda tristeza, o alargamento dos conflitos ideológicos no seio da
família brasileira. Lamentamos as posições extremistas e as suas diversas
manifestações, tais como os movimentos terroristas da direita e da esquer-
da, as atividades clandestinas, as prisões, as torturas, os sequestros e, fruto
trágico deste ambiente, a pena de morte.203
202
Para um analista, os principais prejudicados pela mudança foram muitos dos ex-militares
envolvidos na tentativa de revolução da Aliança Nacional Libertadora (ANL), em 1935, e
em episódios de campanhas nacionalistas em 1952, cujos processos ainda não haviam sido
julgados. “Na prática, contrariando toda a tradição jurídica, revogava-se a anistia de 1961”.
MARTINS, Roberto Ribeiro. Liberdade para os brasileiros, p. 104.
203
O Globo, 22 de setembro de 1969, citado em ALVES, Márcio Moreira. A Igreja e a política
no Brasil. Op. cit., p. 188-189, que aponta esse documento como o marco da “resolução da
Igreja em situar na defesa dos direitos humanos o seu campo privilegiado de ação política
[…]”. Evidências de que a escolha do general Emílio Médici envolveu um acordo entre fac-
ções militares que propiciou o retorno dos “castelistas” ao poder político nacional podem
ser encontradas em GASPARI, Elio. A ditadura escancarada, Parte I.
204
Sobre o tenso processo que resultou na sua escolha pelo Alto Comando das Forças Arma-
das, ver MARTINS FILHO, João Roberto. O palácio e a caserna.
92 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
205
BANDEIRA, Moniz. Brasil-Estados Unidos, p. 182. Ver o capítulo 7 desse livro para uma
análise do peso do “nacionalismo militar” na definição da política econômica do período.
206
Sobre o episódio, ver GORENDER, Jacob. Combate nas trevas. 5ª ed. rev., ampl. e atualiz.
São Paulo: Ática, 1998.
207
O MR-8 e a VAR-Palmares chegaram, em fins dos anos 1960, a implantar núcleos guer-
rilheiros no oeste do Paraná. Ver PALMAR, Aluísio. Onde foi que vocês enterraram nossos
mortos? 4. ed. Curitiba: Travessa dos Editores, 2012. Disponível em: <https://docs.google.
com/viewer?url=http://www.documentosrevelados.com.br/wp-content/uploads/2012/04/
Onde_foi_que_voces_enterraram_nossos_mortos.pdf>. Acesso em: 14 set. 2013. Ver, tam-
bém, depoimento de Izabel e Alberto Favero à Comissão Nacional da Verdade na Câmara
Municipal de Foz do Iguaçu, em 27 de junho de 2013, disponível em: <http://www.youtube.
com/watch?v=locPa46TQF0>. Acesso em: 14 set. 2013.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 93
208
Quando da sua posse, o general Médici recebeu uma carta de um colega de farda que de-
fendia a concessão de “anistia como medida saneadora e pacificadora, principalmente com
o fito de recuperar a união das Forças Armadas divididas radicalmente pelo movimento
armado de 64”. Carta do general Mário Fonseca, São Leopoldo (RS), 21 de abril de 1978.
Arquivo Peri Constant Bevilaqua.
209
Brasil dia a dia, p. 105. Sobre as posições adotadas pela OAB em face do golpe e do regime
ditatorial, ver ROLLEMBERG, Denise. Memória, opinião e cultura política. A Ordem dos
Advogados do Brasil sob a ditadura (1964-1974). In: REIS, Daniel Aarão; ROLLAND, De-
nis (Org.). Modernidades Alternativas. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas,
2008, p. 57-96. Para um quadro mais amplo da entidade, consultar MOTTA, Marly Silva da.
História da Ordem dos Advogados do Brasil. Da redemocratização ao estado democrático de
direito (1946-1988). Vol. 5. Rio de Janeiro: OAB, 2006.
210
Brasil dia a dia, p. 122.
94 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
Não sem fundamento, uma análise, elaborada por William Wright e assi-
nada pelo próprio cônsul-geral dos Estados Unidos em São Paulo, Robert
F. Corrigan, concluiu que 29 dos 31 atentados a bomba, ocorridos naquela
cidade até janeiro de 1969 e creditados à organização do líder comunis-
ta Carlos Marighela [Aliança Libertadora Nacional], foram praticados, na
verdade, pela extrema-direita, com o objetivo de provocar e justificar o en-
durecimento da repressão.212
211
CASTRO, Marcos de. A Igreja e o autoritarismo, p. 27-28.
212
BANDEIRA, Moniz. Brasil-Estados Unidos. A rivalidade emergente (1950-1988). Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1989, p. 182. Organizações paramilitares favoráveis ao apro-
fundamento da ditadura cometiam, também, assassinatos, como o do auxiliar de D. Hélder
Câmara, padre Antônio Henrique Pereira Neto, morto em maio de 1969 pelo Comando de
Caça aos Comunistas (CCC). CASTRO, Marcos de, op. cit., p. 34. Ver, também, ALVES,
Márcio Moreira. L’Église et la Politique au Brésil, p. 176. O Grupo Secreto continuava na ativa
no Rio de Janeiro. Em setembro/outubro de 1969, atacou com bombas a residência do côn-
sul de El Salvador e a embaixada da Tchecoslováquia. Em março do ano seguinte, instalou
um artefato explosivo na redação do jornal O Pasquim, que, no entanto, não foi detonado.
Um mês depois, outra bomba foi colocada no mesmo local e explodiu, causando danos
materiais. ARGOLO, José A.; RIBEIRO, Kátia; FORTUNATO, Luiz Alberto, op. cit., p. 261.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 95
213
Ver CAVALCANTI, Pedro Celso Uchôa; RAMOS, Jovelino (Coord.). Memórias do exílio.
Brasil, 1964-19??. São Paulo: Livramento, 1978; e COSTA, Albertina de Oliveira et al. (Dir.).
Memórias das mulheres do exílio. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980. Há um interessante
quadro da evolução das ondas de exilados brasileiros, em conexão com as variações da con-
juntura política nacional a partir do golpe de 1964, em MACHADO, Cristina Pinheiro. 5
mil brasileiros à espera da anistia. São Paulo: Alfa-Omega, 1979. Ver, ainda, ROLLEMBERG,
Denise. Exílio. Entre raízes e radares. Rio de Janeiro: Record, 1999.
214
WEID, Jean-Marc von der. A luta pela anistia no exterior. In: Movimento Feminino pela
Anistia e Liberdades Democráticas. Origens e lutas. Rio de Janeiro: [s.n.], 1991, p. 13. Observe-
-se que a perspectiva de “resistência democrática”, ao contrário do que a passagem transcrita
sugere, não era unânime entre os grupos que, tanto no Brasil como no exterior, faziam oposi-
ção à ditadura e, em território nacional, realizavam operações de sequestro. Não era inexpres-
siva a existência de ativistas e intelectuais defensores da ideia de que a proposta de luta mais
consequente contra o regime militar não era a que postulava apenas o retorno à democracia,
mas a que defendia uma alternativa socialista para, combinadamente, eliminar o poder de
classe construído a partir do golpe de 1964 e encaminhar soluções efetivas para os proble-
mas sociais que mesmo as formas democráticas vinham reproduzindo quase secularmente no
96 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
Tomei essa iniciativa de caráter inteiramente pessoal por entender […] que
aqueles militares ou civis que tentaram promover uma revolta no Brasil, à
qual se deu o nome de rebelião de Aragarças, tinham em mente − errada-
mente, a meu ver − evitar, como eles próprios têm declarado, que o Brasil
caminhasse por rumo incerto e perigoso para o nosso futuro.
[…] estou sinceramente convicto de que agiram com essa intenção. Evi-
dentemente, não estavam a par do que ocorria no país; evidentemente, não
observavam com precisão as atitudes do supremo magistrado de então, o
sr. Juscelino Kubitschek de Oliveira. Se tivessem observado sua atuação, se
lhe tivessem concedido pequena dose de confiança, já baseados nos atos
anteriores de S. Exa., não teriam tomado a iniciativa de promover um mo-
vimento visando a promover uma hipotética [sic] revolta que lhes entrara
na cabeça. […]
219
A propósito do projeto de anistia, o senador João Villasboas (UDN-MT), ao informar a
aprovação de seu partido, também manifestou simpatia pelo movimento derrotado: “Discu-
te-se a razão que determinou a atitude assumida pelos militares e civis envolvidos naquele
movimento, tomando uma orientação que parecia condenável, mas que somente no futuro,
conhecidas as causas determinantes do seu gesto, poderemos ajuizar devidamente”. Diário
do Congresso Nacional, 22 de junho de 1961, p. 707. Os tais “moços” mencionados por Filin-
to, como Burnier e Veloso, se destacariam como elementos radicais do golpe de 1964 contra
o governo de João Goulart e do regime ditatorial a partir daí implantado no país, o que
talvez responda às dúvidas do senador Villasboas quanto às “causas de terminantes do seu
gesto”. Para mais detalhes sobre os dois, ver os respectivos verbetes em ABREU, Alzira Alves
de et al. (Coord.). Dicionário histórico-biográfico brasileiro pós-1930, op. cit.
220
Diário do Congresso Nacional, 22 de julho de 1961, p. 705-706.
98 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
221
Diário do Congresso Nacional, 22 de julho de 1970, p. 367.
222
Brasil dia a dia, p. 89 e 110.
223
Ver ALVES, Márcio Moreira. L’Église et la Politique au Brésil, p. 202-205.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 99
manos em todo o mundo.224 Alguns dias depois, ela mesma seria objeto de
pressões, quando, em 30 de agosto, a IX Assembleia Geral dos Religiosos
do Brasil (CRB) aprovou moção que solicitava maior empenho da CNBB
na defesa dos direitos humanos dos presos políticos.225
A ação da Igreja Católica cruzaria com as disputas políticas no inte-
rior do regime quando, em inícios de setembro, o cardeal Avelar Bran-
dão, recém-nomeado arcebispo primaz de Salvador, compareceu à Escola
Superior de Guerra (ESG) para pronunciar uma conferência, a convite
do seu comandante, general Rodrigo Otávio Jordão Ramos, que iniciara
uma série de debates sobre a conjuntura política nacional.226 O principal
eixo de discussão era o que se vinha chamando de “institucionalização
do processo revolucionário” iniciado em 1964. O cardeal defendeu a tese
de que o diálogo do governo com a oposição não deveria ser visto, ne-
cessariamente, como um risco para a segurança nacional e que o debate
deveria se dar em torno de temas como as distorções sociais resultantes
da política econômica, o controle dos órgãos de repressão e uma posição
mais flexível em face das reivindicações legítimas dos jovens e da opo-
sição em geral.227 Os apelos do cardeal saíram pela culatra, porque não
foram ouvidos e contribuíram para que o general Rodrigo Otávio viesse a
ser destituído do comando da ESG.228
224
Idem, p. 115.
225
Ibidem.
226
Durante a crise sucessória desencadeada pela doença do marechal Costa e Silva, o general
Rodrigo Jordão havia defendido, em carta ao Alto Comando do Exército, que se encontrasse
uma solução comprometida, entre outros pontos, com o restabelecimento da normalidade
democrática no país. Naturalmente, as suas sugestões não foram aceitas, mas são indicativas
da existência de uma opinião, associada ao exercício de um alto posto na hierarquia militar,
preocupada com a definição de um fim para o regime ditatorial. Disponível em: <http://
www.documentosrevelados.com.br/wp-content/uploads/2014/01/imagem-exercito-cri-
se-1969-116.jpg>. Acesso em: 16 jan. 2014.
227
SEDOC, novembro de 1971, p. 629-638, citado em ALVES, Márcio Moreira. L’Église et la
Politique au Brésil, p. 197-198.
228
A posição do comandante da ESG favorável à volta do país ao Estado de direito resultou
na proibição de uma das palestras previstas e, por insistir em realizá-la sob a sua respon-
sabilidade pessoal, na sua demissão em dezembro de 1971. Ver “Rodrigo Otávio (1)” em
ABREU, Alzira Alves de et al. (Coord.). Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro Pós-1930;
e COITINHO, Angélica do Carmo. Sob a toga e a farda: o ministro general do Exército Ro-
drigo Octávio Jordão Ramos no Superior Tribunal Militar (1973-1979). Dissertação (Mes-
trado em História) – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
2012, p. 85 e segs.
100 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
229
A propósito, ver o verbete do partido em ABREU, Alzira Alves de et al. (Coord.), op. cit.;
e NADER, Ana Beatriz. Autênticos do MDB, semeadores da democracia. História oral de vida
política. São Paulo: Paz e Terra, 1998.
230
ALVES, Márcio Moreira; BAPTISTA, Artur. As eleições de 1978 no Brasil. Revista Crítica
de Ciências Sociais, Coimbra, n. 3, dez. 1979, p. 29-52. A edição consultada on-line não traz
numeração nas páginas e informa que uma primeira versão do artigo já estava pronta em
dezembro de 1978, quando foi apresentada no Simpósio Brasil no Limiar da Década dos 80,
em Estocolmo.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 101
231
Para um relato detalhado do movimento pela anistia no exterior, ver GRECO, Heloísa Amélia.
Dimensões fundacionais da luta pela anistia. Tese (Doutorado em História) – Universidade Fe-
deral de Minas Gerais, Belho Horizonte, 2003, especialmente o capítulo 6. Sobre as campanhas
contra a ditadura fora do Brasil, um interessante estudo se encontra em: MARQUES, Teresa
Cristina Schneider. A oposição à ditadura brasileira no exterior através de charges e caricaturas
(1964-1979). História Unisinos, São Leopoldo (RS), v. 19, n. 2, p. 208-217, maio/ago. 2015.
232
Brasil dia a dia, p. 89.
233
O Globo, 2 de novembro de 1978.
234
Anistia, p. 39.
102 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
O preso que era conhecido pela mídia, pela imprensa, e que tinha alguma
relação com alguma entidade internacional, o fato de ser conhecido e ter
algum contato, mesmo estando preso, era fundamental para a sobrevivência
física da pessoa, quer dizer, essa pessoa não vai mais ser morta, porque se
ele morrer vão constatar que ele foi morto na prisão, quer dizer, sob con-
trole da polícia, o que contribuirá para denegrir a imagem do país. […]
Eles tinham uma enorme preocupação com isso […] se comunicasse logo a
órgãos e entidades ou igrejas, era importante para se fazer conhecido, dar a
notícia para o exterior […]. Podem interrogar, eventualmente nos torturar,
mas a probabilidade, sem dúvida, ela diminui, e sobretudo a possibilidade
de ser morto já praticamente desaparece […].236
235
BOVO, Cassiano Ricardo Martines. Anistia Internacional. Roteiros da cidadania-em-cons-
trução. São Paulo: Annablume; FAPESP, 2002, p. 14. Ver, também, MEIRELLES, Renata. A
Anistia Internacional e o Brasil: o princípio da não violência e a defesa de presos políticos.
Tempo & Argumento, Florianópolis, v. 6, n. 11, p. 327-354, jan./abr. 2014. Disponível em:
<http://periodicos.udesc.br/index.php/tempo/article/view/2175180306112014327/3075> e
“Contra a tortura: a Anistia Internacional durante a ditadura militar no Brasil”. ANPUH.
XXVIII Simpósio Nacional de História. Florianópolis, 27 a 31 de julho de 2015. Anais. Dis-
ponível em: <http://www.snh2015.anpuh.org/resources/anais/39/1426185442_ARQUIVO_
anpuh_Renata_meirelles.pdf>. Acesso a ambos em: 6 jan. 2016.
236
BOVO, Cassiano Ricardo Martines. , Opop. cit., p. 219.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 103
237
O Cruzeiro, Rio de Janeiro, setembro de 1972, citada em BOVO, Cassiano Ricardo Mar-
tines, op. cit., p. 137.
238
Diário do Congresso Nacional, 22 de outubro de 1970; Brasil dia a dia, p. 119.
104 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
PH).239 Informou, ainda, que a Holanda havia boicotado, pela segunda vez,
a Bienal de Arte de São Paulo e se empenhava em fazer com que a Organi-
zação das Nações Unidas (ONU) discutisse oficialmente a questão dos pri-
sioneiros políticos no Brasil. Antônio Carlos Magalhães defendeu energi-
camente o governo ditatorial, garantindo: “O governo do presidente Emílio
Garrastazu Médici não adota, não aceita, não protege, não tolera qualquer
sistema de tortura de prisioneiros − sejam eles aqueles que respondem à
acusação de crimes contra a segurança nacional, sejam quaisquer outros”.
Entretanto, não podendo negar absolutamente a ocorrência de violências,
recorreu a argumentos que, isentando os governos militares de qualquer
responsabilidade, teriam largo trânsito nos arraiais da ditadura alguns anos
depois, quando entraria em discussão pública a natureza de tais práticas:
Se, porventura, alguns desses ou daqueles hajam sofrido violências, elas não
decorreram da execução de qualquer sistema patrocinado pela autoridade
constituída. Inserem-se na categoria de atos de responsabilidade individual de
agentes de autoridade, estranhos à orientação superior, correntes em qualquer
nação civilizada […]. O governo, por outro lado, tem apurado todas as denún-
cias de violências a prisioneiros e cumprido a lei na sua prevenção e punição.240
239
O Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH) foi criado em 16 de
março de 1964, dias antes do golpe, mas continuou a existir, ao menos formalmente, durante
todo o período ditatorial. Subordinado ao Ministério da Justiça e Negócios Interiores, era,
segundo a Lei nº 4.319, integrado pelos seguintes membros: ministro da Justiça e Negócios
Interiores, presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, professor
catedrático de direito constitucional de uma das faculdades federais, presidente da Asso-
ciação Brasileira de Imprensa, presidente da Associação Brasileira de Educação e líderes da
maioria e da minoria, na Câmara dos Deputados e no Senado. Pela Lei nº 12.986, de 2 de
junho de 2014, foi transformado em Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH).
Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2014/lei-12986-2-junho-2014-
778850-norma-pl.html>. Acesso em: 4 jan. 2017.
240
Diário do Congresso Nacional, 22 de outubro de 1970.
241
Idem, citando a imprensa do dia, que publicou declarações de Rossi, regressado de Roma
na véspera.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 105
242
Brasil dia a dia, op. cit., p. 88.
243
Idem, p. 89. No campo da Igreja Católica, eram grandes as divergências políticas. Em julho
de 1972, por exemplo, D. Antônio Fragoso, bispo de Crateús (CE), fez campanha nos Estados
Unidos em favor da “teologia da libertação”, contra a opressão na América Latina e a tortura
de presos políticos no Brasil. No mês seguinte, D. Vicente Scherer, arcebispo de Porto Alegre,
usaria seu programa radiofônico para atacar a “teologia da libertação”, criticando o livro Jesus
Cristo libertador, do frei franciscano Leonardo Boff, de Petrópolis (RJ). Idem, p. 122.
244
Somente em 1971, os “inexistentes” presos políticos promoveram três greves de fome.
Na primeira semana de março de 1971, os presos no DOPS de Recife, exigindo que fossem
transferidos para a Casa de Detenção. Jornal do Brasil, 11 de março de 1971, p. 26. No dia 5
do mesmo mês, presos políticos do Presídio Regional de Linhares, em Juiz de Fora (MG),
por melhores condições carcerárias. O movimento terminou em 21 de março, tendo obtido
a satisfação de algumas exigências. Jornal do Brasil, 15 de março de 1971, p. 4, e 24 de março
de 1971, p. 15. Também, VIANA, Gilney Amorim; CIPRIANO, Perly. Fome de liberdade: a
luta dos presos políticos pela anistia. 2. ed. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2009, p. 42.
Em setembro, novamente em Linhares, agora contra a invasão da penitenciária ordenada
pelo DOI-CODI e executada pelas tropas da Polícia Militar, contra atos que consideravam
de humilhação pessoal e, principalmente, contra a transferência súbita das companheiras
da ala feminina para local ignorado, sob o pretexto de que os presos políticos estavam pro-
movendo uma “tentativa de motim” no presídio. Idem, p. 43. Ver, também, RIBEIRO, Flávia
Maria Franchini. “Confidências mineiras”. Disponível em: <http://www.revistadehistoria.
com.br/secao/artigos/confidencias-mineiras>. Acesso em: 28 jan. 2014. Finalmente, em 6
de novembro de 1971, presos do Instituto Penal Cândido Mendes, na Ilha Grande, e, em
solidariedade, do Presídio Hélio Gomes (parte do Complexo Penitenciário Frei Caneca),
ambos no Rio de Janeiro, contra maus tratos. O movimento terminaria em 3 de dezembro,
com a substituição do diretor da unidade prisional da ilha. Jornal do Brasil, 2 de dezembro
de 1971, p. 15. Ver, também, VIANA, Gilney Amorim; CIPRIANO, Perly, op. cit., p. 42.
106 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
Considerando:
Que a defesa da liberdade e da justiça e o respeito aos direitos fundamentais
da pessoa humana, reconhecidos pela Declaração Americana dos Direitos
e Deveres do Homem e pela Declaração Universal dos Direitos Humanos,
são deveres primordiais dos Estados;
Que a Assembleia Geral da Organização, na Resolução 4, de 30 de junho de
1970, condenou energicamente os atos de terrorismo e, em especial, o se-
questro de pessoas e a extorsão com este conexa, qualificando-os de graves
delitos comuns;
245
IstoÉ, 1º de março de 1978, p. 11.
246
Ver a sua versão em BARBOZA, Mário Gibson. Na diplomacia, o traço todo da vida. Rio
de Janeiro: Record, 1992.
247
Brasil dia a dia, p. 119. Um Comitê de Solidariedade aos Revolucionários no Brasil seria
criado em Portugal e realizaria sua segunda reunião em fevereiro de 1974. Comitê Pró-Anistia
Geral dos Presos Políticos no Brasil. Dos presos políticos brasileiros. Acerca da repressão fascista
no Brasil. Lisboa: Edições Maria da Fonte, 1976, p. 15. Ver, também, FREIRE, Américo. Ecos
da estação Lisboa. O exílio das esquerdas brasileiras em Portugal. Sociologia, Problemas e Prá-
ticas, n. 64, 2010. Disponível em: <http://spp.revues.org/241>. Acesso em: 6 jan. 2016.
248
Brasil dia a dia, p. 119.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 107
Que vêm ocorrendo com frequência atos delituosos contra pessoas que me-
recem proteção especial de acordo com as normas do direito internacional
e que tais atos revestem transcendência internacional devido às consequên-
cias que podem advir para as relações entre os Estados;
Que é conveniente adotar normas que desenvolvam progressivamente o di-
reito internacional no tocante à cooperação internacional na prevenção e
punição de tais atos;
Que na aplicação das referidas normas deve manter-se a instituição do asilo
e que deve também ficar a salvo o princípio da não intervenção.
Artigo 1
Os Estados Contratantes obrigam-se a cooperar entre si, tomando todas as
medidas que considerem eficazes de acordo com suas respectivas legislações
e, especialmente, as que são estabelecidas nesta Convenção, para prevenir e
punir os atos de terrorismo e, em especial, o sequestro, o homicídio e outros
atentados contra a vida e a integridade das pessoas a quem o Estado tem o
dever de proporcionar proteção especial, conforme o direito internacional,
bem como a extorsão conexa com tais delitos.
Artigo 2
Para os fins desta Convenção, consideram-se delitos comuns de transcen-
dência internacional, qualquer que seja o seu móvel, o sequestro, o homi-
cídio e outros atentados contra a vida e a integridade das pessoas a quem o
249
Sobre a OLAS e o Brasil, ver MARQUES, Artêmio S. A Organização Latino-Americana
de Solidariedade (OLAS) e o embate ideológico na esquerda brasileira, 1960: o caso do PCB.
Dissertação (Mestrado em Integração Latino-Americana) –Universidade Federal de Santa
Maria, Santa Maria, 2009.
108 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
250
Brasil dia a dia, p. 119. A convenção entraria em vigor internacional em 8 de março
de 1973, mas o governo brasileiro só a ratificaria em 3 de dezembro de 1998, quando o
Congresso Nacional aprovou o Decreto Legislativo nº 87, e a promulgaria em 6 de abril de
1999, pelo Decreto Executivo nº 3.018. A íntegra do decreto se encontra em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3018.htm>. Agradeço a Rejane Carolina Hoeveler a in-
formação sobre o documento.
110 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
251
PINHEIRO, Milton. “A ditadura militar no Brasil (1964-1985) e o massacre contra o
PCB”. Disponível em: <http://resistir.info/brasil/massacre_pcb.html#asterisco>. Acesso em:
16 jul. 2014.
252
Brasil dia a dia, p. 119.
253
“J. G. de Araújo Jorge”. In: ABREU, Alzira Alves de et al. (Coord.). Dicionário histórico-
-biográfico brasileiro pós-1930, op. cit.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 111
254
Jornal do Brasil, 12 de maio de 1973.
255
Brasil dia a dia, p. 89.
256
Ibidem. Sobre as posições assumidas pela entidade em face do golpe e do regime dita-
torial, ver LUNA, Cristina Monteiro de Andrada. A Associação Brasileira de Imprensa e a
ditadura militar (1964-1977). Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal
do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007. Uma visão oficiosa pode ser encontrada em MO-
REL, Edmar. A Trincheira da Liberdade: história da Associação Brasileira de Imprensa. Rio
de Janeiro: Record, 1985.
257
Ver a Carta de Princípios em O Estado de S. Paulo, 9 de maio de 1971.
258
IstoÉ 500 anos; MARTINS, Roberto Ribeiro. Liberdade para os brasileiros, p. 129; Anistia,
p. 12.
259
Câmara dos Deputados. Diretoria de Registro Taquigráfico de Debates, sessão em 17 de
abril de 1972.
112 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
260
O Globo, 18 de julho de 1978.
261
Para uma visão historiográfica que toma a inevitável participação de setores sociais – a
maioria, entidades que haviam apoiado, senão participado dele, o golpe de 1964 – em pro-
moções cívicas do Estado, em especial a comemoração do Sesquicentenário da Independên-
cia, como indiscutível indicador de altos índices de legitimidade do regime ditatorial, ver
CORDEIRO, Janaína Martins. Anos de chumbo ou anos de ouro? A memória social sobre
o governo Médici. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 22, n. 43, p. 85-104, jan./jun. 2009.
Para uma crítica a esta visão, ver MELO, Demian. O Golpe de 64 e meio século de contro-
vérsias: o estado atual da questão. In: ______ (Org.). A miséria da historiografia: uma crítica
ao revisionismo contemporâneo. Rio de Janeiro: Consequência, 2014, p. 168-169.
262
Câmara dos Deputados. Diretoria de Registro Taquigráfico de Debates, sessões em 10 e
30 de agosto e 8 de setembro de 1972.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 113
Tabela 1.
263
Sobre a propaganda política no governo Médici, ver FICO, Carlos. Reinventado o otimis-
mo. Ditadura, propaganda e imaginário social no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Fundação
Getúlio Vargas, 1997.
264
É vasta a literatura crítica desta fase da política econômica do regime ditatorial. Um estudo
produzido na época, e já clássico, é SINGER, Paul. Evolução da economia brasileira: 1955-1975.
In: ______. A crise do “milagre”. Interpretação crítica da economia brasileira. 3. ed. Rio de Janei-
ro: Paz e Terra, 1977, p. 99-119. Para uma introdução ao assunto de um ponto de vista mais re-
cente, ver EARP, Fabio Sá; PRADO, Luiz Carlos. O “milagre” brasileiro. Crescimento acelerado,
integração internacional e distribuição de renda, 1967-1973. In: FERREIRA, Jorge; DELGADO,
Lucília (Org.). O Brasil Republicano. Vol. 4, O tempo da Ditadura: regime militar e movimentos
sociais em fins do século XX. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. Ver, também, TAVA-
RES, Maria da Conceição; ASSIS, J. Carlos de. O grande salto para o caos, esp. p. 29-41.
114 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
265
SOUZA, Pedro Ferreira de. “Série inédita brasileira mostra salto da desigualdade no
começo da ditadura”. Disponível em: <http://brasil.elpais.com/brasil/2015/10/29/econo-
mia/1446146892_377075.html>. Acesso em: 28 dez. 2015.
266
Idem.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 115
267
Disponível em: <http://www.administradores.com.br/informe-se/informativo/milagre-
-pos-1964-concentrou-renda-em-periodo-de-expansao-economica/21981/>. Acesso em:
28 dez. 2015.
268
Os presos continuavam recorrendo à greve de fome como forma de luta por direitos
mínimos. Em São Paulo, foram realizados, em 1972, dois movimentos dessa natureza, na
tentativa de oferecer resistência às autoridades, que tinham planos de dividir os presos po-
líticos em vários pequenos grupos, levando-os para diversas cadeias do estado. O primeiro,
de 12 a 19 de maio de 1972, envolvendo 34 homens e 13 mulheres, reclusos nos presídios
Tiradentes, Casa de Detenção e Penitenciária do Carandiru. O segundo movimento, a partir
de 9 de junho seguinte, contando com a participação de 32 homens e com a adesão ime-
diata das detentas, mas restrito às penitenciárias do Carandiru e de Presidente Venceslau,
próximo à fronteira com o atual estado de Mato Grosso do Sul. O Comitê de Solidariedade
aos Presos Políticos de São Paulo divulgou, em julho de 1972, um documento denunciando
torturas em dois detentos praticadas na OBAN, durante a greve de fome, que se estendeu
por 33 dias, terminando sem vitória. Jornal do Brasil, 20 de maio de 1972. Disponível em:
<http://www.portalan.arquivonacional.gov.br/media/DSI%20Avulsos%20final%2020%20
ago.pdf>, acesso em 27 jan. 2014; <http://www.documentosrevelados.com.br/geral/docu-
mento-denunciando-torturas-a-dois-presos-politicos-durante-greve-de-fome/>, acesso em
24 jan. 2014. Também: VIANA, Gilney Amorim; CIPRIANO, Perly, op. cit., p. 43.
116 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
A classe dominada não tem outra saída para se libertar senão seguir o longo
e difícil caminho, já iniciado, que conduz à propriedade social dos meios
de produção. Nele está o fundamento principal de um gigantesco proje-
to histórico de transformação global da sociedade atual numa sociedade
nova, na qual se torne possível criar as condições objetivas que permitam
aos oprimidos recuperar a humanidade de que foram despojados, fazer cair
as cadeias do seu sofrimento, vencer o antagonismo de classes e, enfim,
conquistar a liberdade.270
269
Citado em CASTRO, Marcos de. A Igreja e o autoritarismo, p. 15. Grifo no original.
Para uma perspectiva historiográfica que não percebe conexões causais entre o “empo-
brecimento dos pobres” e a “fortuna dos ricos”, apenas constata e descreve a discrepância
entre as duas situações, ver: REIS, Daniel Aarão. Ditadura, esquerdas e sociedade. Rio de
Janeiro: Zahar, 2000, p. 61-62. Do mesmo autor e com a mesma visão, “A ditadura civil-
-militar”. O Globo, caderno Prosa & Verso, 31 de março de 2012. Para uma crítica, ver
LEMOS, Renato Luís do Couto Neto. “A ‘ditadura civil-militar’ e a reinvenção da roda
historiográfica”, carta ao jornal O Globo, não publicada, disponível em <http://blogcon-
vergencia.org/?p=239&print=pdf>. Acesso em: 6 jun. 2015.
270
Citado em ALVES, Márcio Moreira. L’Église et la Politique au Brésil, p. 172-173.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 117
271
Uma apologia deste projeto se encontra em VELLOSO, João Paulo dos Reis. Brasil: a
solução positiva. São Paulo: ABRIL-TEC, 1977.
272
BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. Brasil e os golpes na Bolívia, Uruguai e Chile: 30 anos
depois. Espaço acadêmico, n. 28, setembro de 2003. Disponível em: <http://www.espacoaca-
demico.com.br/028/28bandeira.htm>. Acesso em: 2 mar. 2015.
273
Em outra acepção, não militar, o conceito de subimperialismo ocupa um importante
lugar no debate sobre a natureza das relações entre a economia brasileira e as demais do
continente. Da lavra de Ruy Mauro Marini, o conceito surgiu em 1965, no artigo “Brazilian
‘interdependence’ and imperialist integration”, publicado por ele na revista Monthly Review
(v. 17, n. 7). Uma versão mais elaborada se encontra em seu livro Subdesarrollo y revolución,
de 1969. O interesse sobre o tema renasceu a partir da recente expansão de empresas bra-
sileiras no continente e em países africanos. Ver, a propósito, FONTES, Virgínia. Capital
imperialismo brasileiro – controvérsias e novos dilemas. In: ______. O Brasil e o capital-im-
perialismo. Teoria e história. 2. ed. Rio de Janeiro: EPSJV; Editora UFRJ, 2010.
118 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
274
BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. “Brasil e os golpes na Bolívia, Uruguai e Chile: 30 anos
depois”.
275
Em dezembro de 1970, os governos da Bolívia e do Peru, imbuídos do “espírito natali-
no”, concederam anistia a vários presos políticos, suscitando no jornal do PCB críticas ao
governo brasileiro que, caminhando em sentido contrário, realizava prisões em massa de
opositores do regime. Voz Operária, janeiro de 1971.
276
BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz, op. cit.
277
O depoimento de um oficial envolvido nos preparativos para a invasão se encontra em
GRAEL, Coronel Dickson M. À sombra da impunidade. Aventura, corrupção, terrorismo.
3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1985. O autor informa, à página 19, que o coronel Leuzinger
Marques Lima, então adido da Aeronáutica no Uruguai, levou para lá “explosivos, que fo-
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 119
ram prontamente utilizados pela Polícia para destruir células do Partido Comunista, que se
exibia ostensivamente, já que tinha existência legal naquele país”. Ver, também, FERNAN-
DES, Ananda Simões. “A política externa da ditadura brasileira durante os ‘anos de chumbo’
(1968-1974): as intervenções do ‘Brasil Potência’ na América Latina” e SILVA, Vicente Gil.
“O papel intervencionista da ditadura civil-militar brasileira na América do Sul”, ambos em
História Social, Campinas (SP), n. 18, 2010.
278
BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz, op. cit.
120 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
279
Idem. René Armand Dreifuss informa sobre uma “conexão brasileira”, que cumpriu uma
função importante na campanha de desestabilização política do governo de Salvador Al-
lende. A expertise do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES) e recursos financeiros
dos EUA foram introduzidos no Chile com este fim. A internacional capitalista, op. cit., p.
228-229. Agradeço a Rejane Carolina Hoeveler por esta informação.
280
O Globo, 2 de julho de 2012. Segundo o general Paul Aussaresses, que atuou como adido
militar junto à embaixada francesa no Brasil entre 1973 e 1975 e como instrutor de técnicas
antiguerrilha a militares brasileiros, o Brasil participou ativamente do golpe contra Allende,
enviando oficiais, armas e aviões franceses, municiados com projéteis fabricados na França
pela sociedade Thomson-Brandt. Folha de S. Paulo, 4 de maio de 2008. Ecos desta presença
são detectados em BAUER, Caroline Silveira. Aproximações entre o combate à Guerrilha do
Araguaia e o Operativo Independência na Argentina: preceitos da guérre revolutionnaire no
Cone Sul. Escritas, Araguaína (TO), v. 3, p. 84-102, 2011.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 121
281
LEMOS, Renato. “A anatomia da transição é a chave da anatomia da ditadura: o governo
Geisel e a contrarrevolução no Cone Sul da América”. Disponível em: <http://blogconver-
gencia.org/blogconvergencia/?p=360>. Acesso em: 2 mar. 2015.
282
Idem. Ver PADRÓS, Enrique Serra. Como el Uruguay no hay... Terror de Estado e Seguran-
ça Nacional - Uruguai (1968-1985): do Pachecato à Ditadura Civil-Militar. Tese (Doutorado
em História) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005; e BAUER,
Caroline Silveira. Um estudo comparativo das práticas de desaparecimento nas ditaduras ci-
vil-militares argentina e brasileira e a elaboração de políticas de memória em ambos os países.
Tese (Doutorado em História) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre;
Universitat de Barcelona, Barcelona, 2012.
122 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
283
CABRAL, Reinaldo; LAPA, Ronaldo (Org.). Desaparecidos políticos. Prisões, sequestros,
assassinatos. Rio de Janeiro: Opção; Comitê Brasileiro pela Anistia – RJ, 1979, p. 227.
284
Idem, p. 233.
285
Proclamada pela Assembleia Geral da ONU em 10 de dezembro de 1948.
286
Em 1973, iniciou-se a temporada do general Paul Aussaresses no Brasil como adido mi-
litar junto à embaixada da França, cargo que ocuparia até 1975. O general “é uma das es-
pinhas dorsais da exportação da tortura e dos desaparecimentos, dois modelos herdados
da guerra da Indochina a da Argélia e difundidos depois em todo o continente americano
por um compacto grupo de oficiais francesas do qual Aussaresses foi um dos mais ativos
representantes”. FEBBRO, Eduardo. O general francês que veio ensinar a torturar no Bra-
sil. Trad. Katarina Peixoto. Carta Maior, 24 de julho de 2012. Disponível em: <http://pcb.
org.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=4395:o-general-fran-
ces-que-veio-ensinar-a-torturar-no-brasil&catid=64:ditadura>. Acesso em: 26 fev. 2014.
287
ARNS, D. Paulo Evaristo. Um drama agonizante. In: CABRAL, Reinaldo; LAPA, Ronaldo
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 123
teve início antes que os efeitos da crise se tornassem plenamente visíveis, quando as elites
econômicas e as autoridades governamentais ainda estavam influenciadas pelo clima de oti-
mismo gerado pela era do milagre” (p. 331)
292
Escrevendo em fins de 1974, Antônio Barros de Castro observou que, naquele momento,
ninguém mais duvidava de que a economia capitalista se encontrava em uma crise de graves
proporções e que tudo indicava que a “tecnoestrutura” fora colhida por ela de surpresa: “A crise
atual não foi prevista e não creio que as teses que prevaleceram nas últimas décadas permitam
entendê-la”. O capitalismo ainda é aquele. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1979, p. 11-12.
293
“Apresentação”. In: MANDEL, Ernest. O capitalismo tardio. Trad. Carlos E. S. Matos, Regis
de C. Andrade e Dinah de A. Azevedo. São Paulo: Abril, 1982, p. VII. O fato de existirem, desde
fins da década de 1960, indícios objetivos de crise econômica – economias tendentes à super-
produção e à estagnação, surto inflacionário etc. ‒ não resulta automaticamente na percepção do
fenômeno, que só se torna plena a partir de certo grau de amadurecimento do processo.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 125
294
Um observador estrangeiro, porém de um ângulo internacionalista, também entendeu a
situação dessa maneira: “Todo mundo sabe que as aberturas democráticas no Brasil e na Es-
panha foram pensadas e preparadas sob o velho regime, antes mesmo que a crise econômica
e política, e o ascenso de massas, o obrigassem a colocá-las em prática”. MORENO, Nahuel.
As revoluções do século XX. São Paulo: Instituto José Luiz e Rosa Sundermann, 2003, p. 26.
295
Ver BRANDÃO, Gildo M. Desconstruindo Huntington. República, novembro de 2001. Dis-
ponível em: <http://www.acessa.com/gramsci/?page=visualizar&id=220>. Acesso em: 5 jan.
2016; CLEMENT, Christopher I. E TECH, Virginia. Organic Intellectuals and the Discourse
on Democracy: Academia, Foreign Policy Makers, and Third World Intervention. New Politi-
cal Science, v. 25, n. 3, p. 351-364, September 2003; RODRIGUE, Matthew M. Rethinking Aca-
demia: A Gramscian Analysis of Samuel Huntington. Houston University, Honors Capstone
Thesis, Academic Year 2006-2007; RAGO FILHO, Antônio. Os ensinamentos de Samuel Hun-
tington para o progresso da autorreforma da autocracia burguesa bonapartista. Anais do XIX
Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão. ANPUH/SP-USP. São Paulo, 8 a 12
de setembro de 2008. Cd-Rom; e HOEVELER, Rejane Carolina. Ditadura e democracia restri-
ta: a elaboração do projeto de descompressão controlada no Brasil (1972-1973). Monografia
(Bacharelado em História) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012.
296
GRAMSCI, Antônio. Os intelectuais e a organização da cultura. 4. ed. Trad. Carlos Nelson
Coutinho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982, p. 3.
297
Ver, por exemplo, HUNTINGTON, Samuel. Transnational Organizations in World Poli-
tics. World Politics, v. 25, n. 3, p. 333-368, April 1973.
126 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
Brasil a partir de 1964. As suas ideias, como se verá, traduziam visões in-
ternacionais dos setores hegemônicos no sistema capitalista mundial e fo-
ram introduzidas no Brasil, basicamente, no espaço de uma década. Ideias
que se ajustaram a tendências já presentes no interior do núcleo dirigente
do regime ditatorial. Livros e artigos foram o veículo da sua disseminação,
complementada pela presença física de Huntington em eventos político-a-
cadêmicos e contatos com personagens centrais do regime.
Após a deposição de Goulart, mal se haviam ajeitado os novos donos do
poder em suas poltronas, Samuel Huntington já era conhecido no Brasil.
Seu nome foi citado na imprensa pelo escritor Otto Maria Carpeaux, em
novembro de 1964,298 em meio a autores de obras sobre as relações entre
militares e civis na América Latina. A sua primeira visita ao Brasil, progra-
mada desde o fim do primeiro semestre de 1965,299 foi produto da estada do
cientista político Candido Mendes,300 alguns meses antes, na Universidade
Harvard e aconteceu em outubro desse ano.
298
“Generais bolivianos e outros”. Correio da Manhã, 8 de novembro de 1964, p. 4.
299
Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 20 de junho de 1965, p. 25.
300
A viagem se deu a convite do Center for International Affairs (Harvard University), por
intermédio do embaixador norte-americano no Brasil, Lincoln Gordon, e teve como objeti-
vo a realização de pesquisas, palestras e seminários sobre a temática da relação entre nacio-
nalismo e desenvolvimento. É este, aliás, o título do livro que o cientista político publicara
em 1963, pelo Instituto Brasileiro de Estudos Afro-Asiáticos, por ele fundado no Rio de Ja-
neiro quando assessor do presidente da República. Correio da Manhã, 31 de janeiro de 1965,
Econômico, p. 3. Candido Antonio Mendes de Almeida nasceu no Rio de Janeiro, em 1928.
Professor universitário nas áreas de ciência política e direito desde 1951, lecionou na Ponti-
fícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e na Escola Brasileira de Adminis-
tração Pública (EBAP) da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Chefe da Assessoria Técnica do
Presidente Jânio Quadros em 1961, foi professor visitante em universidades estadunidenses
de 1965 a 1971. A partir deste ano, passou a atuar em várias entidades católicas nacionais e
internacionais dedicadas às áreas da educação, justiça e paz. No campo acadêmico, foi, tam-
bém, vice-presidente (1973-76 e 1976-79) e presidente (1979-1982) da IPSA (International
Political Science Association) e secretário-geral do Grupo de Estudos Políticos do Consejo
Latinoamericano de Ciencias Sociales (CLACSO), instituição internacional não governa-
mental criada em 1967 a partir de uma iniciativa da UNESCO (Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). Disponível em: <http://www.academia.org.
br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=11888&sid=325>. Acesso em: 21 out. 2013. Du-
rante o governo do general Emílio Médici (1969-1974), ao mesmo tempo em que contribuía
para a disseminação das teses huntingtonianas sobre a necessidade de “descompressão polí-
tica” no Brasil, protagonizou uma importante articulação entre setores católicos e militares
com vistas ao exame e tomada de providências em relação a denúncias de violações de di-
reitos humanos. Ver MENDES, Cândido; BANDEIRA, Marina. Comissão Brasileira Justiça e
Paz (1969-1995). Empenho e memória. Rio de Janeiro: EDUCAM, 1996, p. 60-61 e 74-75; e
SERBIN, Kenneth P. Diálogos na sombra. Bispos e militares, tortura e justiça social na dita-
dura. Trad. Carlos Eduardo Lins da Silva. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 127
301
CHILCOTE, Ronald H. Teorias de política comparativa. A busca de um paradigma re-
considerado. Trad. Carlos Alberto Silveira Netto Soares. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998, p. 68.
302
CLEMENT, Christopher I.; TECH, Virginia, op. cit., p. 335-336.
303
Sobre o CFR, entidade sediada em Nova Iorque e dedicada ao assessoramento aos gover-
nos dos EUA na área da política internacional, ver HOEVELER, Rejane Carolina. As elites
orgânicas transnacionais diante da crise: os primórdios da Comissão Trilateral (1973-1979).
Dissertação (Mestrado em história). Niterói, Universidade Federal Fluminense, 2015, esp.
p. 115 e segs.
304
Henry Alfred Kissinger – nascido, em 1923, em Fürth, Alemanha, e batizado Heinz
Alfred Kissinger – foi, como secretário de Estado, protagonista da política externa dos Es-
tados Unidos de 1968 a 1976. Detentor do prêmio Nobel da Paz, que lhe foi concedido em
1973, é acusado de vários “crimes contra a humanidade”, como a morte de seiscentos mil
civis no Camboja e de quinhentos mil em Bangladesh (1971), o planejamento da conspi-
ração contra o presidente Salvador Allende, do Chile (1973), e do golpe militar em Chipre
(1974), bem como de ter apoiado o genocídio de duzentos mil pessoas em Timor Leste,
perpetrado pelo general Suharto em 1975. Ver HITCHENS, Christopher. O julgamento
de Kissinger. Trad. Adelina França. São Paulo: Boitempo, 2002. Uma detalhada análise
das relações entre Kissinger e a política externa brasileira durante a ditadura, baseada em
ampla e original documentação, se encontra em SPECTOR, Matias. Kissinger e o Brasil.
Rio de Janeiro: Zahar, 2009.
305
CLEMENT, Christopher I.; TECH, Virginia, op. cit., p. 335-336.
306
Grupo consultivo militar análogo a um estado-maior conjunto das três forças militares.
128 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
[…] objetivo explícito era atrair cientistas altamente qualificados para au-
xiliar na segurança nacional. Em 1961, Samuel Huntington escreveu um
relatório IDA que lançou, pela primeira vez, uma tese sobre a turbulência
e instabilidade no Terceiro Mundo, que mais tarde seria ampliado em sua
obra seminal, Ordem política em sociedades em mudança.307
307
CLEMENT, Christopher I.; TECH, Virginia, op. cit., p. 335-336.
308
Memorando de 4 de dezembro de 1964, transcrito em HOROWITZ, Irving Louis (Coord.).
Ascensão e Queda do Projeto Camelot. Estudos sobre as relações entre a ciência social e a práti-
ca política. Trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969 [1967], p. 5.
309
CLEMENT, Christopher I.; TECH, Virginia, op. cit., p. 335-336.
310
HOROWITZ, Irving Louis, op. cit., p. 5.
311
Ibidem.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 129
Por uma série de fatores que não cabe discutir aqui, o projeto Camelot foi
alvo de fortes resistências, nos EUA e fora dele, e acabou sendo suspenso um
Idem, p. 12.
312
PAGE, Joseph. A. Notas de uma prisão em Recife. In: ______. A revolução que nunca
313
houve. O Nordeste do Brasil, 1955-1964. Trad. Ariano Suassuna. Rio de Janeiro: Record,
1972, p. 298-299.
130 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
314
Ver HOROWITZ, Irving Louis, op. cit.
315
“A própria Aliança para o Progresso, criada em 1961, para realizar o programa enunciado
na Carta de Punta del Leste, não foi senão uma operação de tipo contrarrevolucionário. Sob
uma linguagem reformista, a Carta e a Aliança consubstanciaram uma reaglutinação de for-
ças conservadoras e reacionárias do hemisfério”. IANNI, Octávio. Imperialismo na América
Latina. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1974, p. 20.
316
Consultar MARTINS FILHO, João Roberto. Os Estados Unidos, a Revolução Cubana e a
contrainsurreição. Revista de Sociologia e Política, Curitiba, n. 12, p. 67-82, junho de 1999.
317
Huntington acabara de publicar, sobre o assunto, o artigo “Political Development and
Political Decay”, World Politics, v. 17, n. 3, p. 386-430, apr. 1965.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 131
318
Provavelmente, em decorrência da participação do Exército brasileiro, em maio de 1965,
na intervenção militar na República Dominicana, organizada pelo governo dos EUA com o
objetivo de impedir o retorno do presidente nacional-reformista Juan Bosch ‒ deposto por
forças direitistas ‒ ao poder.
319
Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 14 de outubro de 1965, p. 7.
320
Jornal do Brasil, 12 de outubro de 1965, p. 10.
321
Diário de Notícias, 14 de outubro de 1965, p. 7. Huntington seria objeto de graves acusa-
ções de corresponsabilidade pelo bombardeio de aldeias vietnamitas com o objetivo de es-
vaziar a área rural do país, que tinha valor estratégico no plano militar, porque constituíam a
base das forças revolucionárias que os EUA combatiam. Cf. CHOMSKY, Noam; HERMAN,
Edward S. The Washington Connection and Third World Fascism. Boston: South End Press,
p. 343-344.
322
Idem, p. 100. Grifo do autor. Tradução minha.
132 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
323
Para uma introdução ao assunto, ver BERNSTEIN, Henry. “Desenvolvimento e subde-
senvolvimento”. In: OUTHWAITE, William e BOTTOMORE, Tom (Ed.). Dicionário do
pensamento social do século XX. Trad. Álvaro Cabral e Eduardo Francisco Alves. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 1996, p. 197-201, e MORLINO, Leonardo. “Estabilidade política”. In:
BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola & PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de po-
lítica. Trad. Carmen C. Varriale, Gaetano Lo Mônaco, João Ferreira, Luís Guerreiro Pinto
Cacais e Renzo Dini. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1998, v. 1, p. 394-401.
324
CHILCOTE, Ronald H. Teorias de política comparativa. A busca de um paradigma recon-
siderado, p. 68, 140 e 302. Sobre a adequação da perspectiva de Huntington ao Brasil, ver:
SCHNEIDER, Ronald M. The Political System of Brazil. The emergence of a “modernizing”
authoritarian regime, 1964-1970, p. 8-36.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 133
325
Correio da Manhã, 9 de agosto de 1966, p. 9.
134 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
A distinção política mais importante entre os países se refere não à sua for-
ma de governo, mas ao seu grau de governo. As diferenças entre democra-
cia e ditadura são menores que as existentes entre os países cuja política
compreende consenso, comunidade, legitimidade, organização, eficiência,
estabilidade e os países cuja política é deficiente nessas qualidades.328
326
Diário de Notícias, 13 de março de 1968, p. 3.
327
New Haven: Yale University Press, escrito sob os auspícios da Universidade de Harvard.
Há edição brasileira: A ordem política nas sociedades em mudança. Trad. Pinheiro de Lemos.
Rio de Janeiro: Forense-Universitária; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1975.
328
A ordem política nas sociedades em mudança, p. 13.
329
Idem, p. 210. Ver mais em CHILCOTE, Ronald H., op. cit., p. 295-296.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 135
330
Edição de 13 de agosto de 1972. Por outro lado, um pesquisador estadunidense entendeu,
em 1971, que as concepções de Huntington acerca de questões como participação e autori-
dade haviam sido pouco presentes nas discussões sobre estruturas políticas contemporâneas
travadas nas sessões do curso da Escola Superior de Guerra (ESG) oferecido em 1969. SCH-
NEIDER, Ronald M., op. cit., p. 248.
331
Cf. STEPAN, Alfred. Os Militares: da Abertura à Nova República. 4. ed. Trad. Adriana Lo-
pez e Ana Luíza Amendola. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986, p. 51. Do autor, ver, também,
Rethinking Military Politics. Brazil and the Southern Cone. Princeton: Princeton Universi-
tary Press, 1988, p. 33.
136 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
332
CAMARGO, Aspásia. A gênese da abertura. In: GÓES, Walder de; CAMARGO, Aspásia.
O drama da sucessão e a crise do regime. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984, p. 100. Gri-
fo da autora. Ver uma instigante análise do processo distensionista a partir da “teoria dos
jogos” em SOARES, Samuel Alves. Marcha moderada: as estratégias de uma abertura por
contenção. XX Encontro Anual da ANPOCS. GT “Forças Armadas, Estado e Sociedade”. Ca-
xambu (MG), 22 a 26 de outubro de 1996. Disponível em: <http://www.anpocs.org/portal/
index.php?option=com_content&view=article&id=463%3Aanais=-do-encontro-gt&catid-
1051%3A20o-encontro&Itemid=361>. Acesso em: 28 dez. 2015.
333
Informações sobre o debate podem ser encontradas em VITULLO, Gabriel E. Transitolo-
gia, consolidologia e democracia na América Latina: uma revisão crítica. Revista de Sociolo-
gia e Política, Curitiba, n. 17, nov. 2001.
334
Uma perspectiva diferente pode ser encontrada em: OLIVEIRA, Lucas Monteiro de. As
dinâmicas da luta pela anistia na transição política. Dissertação (Mestrado em História So-
cial) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.
335
Sigo, aqui, a indicação de FORJAZ, Maria Cecília Spina. Da distensão à abertura política:
os percalços da estratégia militar (1974-1978). Relatório de pesquisa. São Paulo: Escola de
Administração de Empresas de São Paulo, Fundação Getúlio Vargas, 1986, p. 43.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 137
336
Para uma análise do assunto, teoricamente orientada e empiricamente rica, consultar
HOEVELER, Rejane Carolina. Ditadura e democracia restrita: a elaboração do projeto de
descompressão controlada no Brasil (1972-1973), op. cit.
337
Ver acima, neste capítulo.
138 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
elas geradas, que a discussão em torno das medidas requeridas para a plena
configuração do “modelo político” ganha maior intensidade, passando a ser
assumida quase ostensivamente pela cúpula do aparelho governamental.338
338
CRUZ, Sebastião Velasco; MARTINS, Carlos Estevam. De Castello a Figueiredo: uma
incursão na pré-história da “Abertura”. In: SORJ, Bernardo; ALMEIDA, Maria Hermínia
Tavares de (Org.). Sociedade e política no Brasil pós-64. São Paulo: Brasiliense, 1983, p. 44.
Grifo meu. Ver, também, KUCINSKI, Bernardo. Abertura, a história de uma crise. São Pau-
lo: Brasil Debates, 1982, p. 15. FIETCHER, Georges-André, op. cit., p. 271, afirma que o
debate político no Brasil já estava “suficientemente aberto” desde a segunda metade de 1971,
apresentando como evidências disso, entre outras, declaração do general Rodrigo Octavio
de que o momento era adequado para a normalização institucional do país; a edição de um
número especial da revista Visão, de grande influência no meio empresarial, sobre o tema
“desenvolvimento – liberdade – segurança nacional”, e uma conferência feita pelo professor
Darcy Bessone na ESG sobre a “abertura”.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 139
Na ocasião, Huntington declarou que o Brasil não era mais um país sub-
desenvolvido, porque o crescimento obtido nos últimos anos não podia
ser considerado uma “explosão acidental”, mas evitou se pronunciar sobre
339
Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 26 de outubro de 1969, p. 14; Jornal do Brasil, Rio de Janeiro,
27 de outubro de 1969, p. 17; Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 27 de outubro de 1969, p. 6.
340
Correio da Manhã, 29 de outubro de 1969, p. 6.
341
Publicado com o título “Elite de Poder, Democracia e Desenvolvimento”. Dados – Revista
de Ciência Sociais, Rio de Janeiro, n. 6, 1969.
342
Correio da Manhã, 30 de outubro de 1969, p. 1.
343
Jornal do Brasil, 14 de outubro de 1972, p. 3.
344
Edição de 18 de outubro de 1972, p. 22.
140 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
345
Um pesquisador suíço então trabalhando no Brasil deu, em livro, testemunho de que as
teses de Huntington sobre as instituições políticas eram estudadas “com interesse” no país
em 1972. FIETCHER, Georges-André, op. cit., p. 277, publicado como Le régime monder-
nizateur du Brésil, 1964-1972. Étude sur les interactions politique-économiques dans un
régime militaire contemporain. Genève, Institut Universitaire de Hautes Études Internatio-
nales, 1972. Em fins da década de 1980, essas ideias de Huntington seriam apontadas por
alguns analistas como matrizes do “novo pensamento autoritário” do governo chinês. Em
sua defesa, outros analistas argumentariam que o problema não estaria nas ideias, mas no
uso que delas fazia um governo personalista que atuava ao arrepio das leis. Cf. CHILCOTE,
Ronald H., op. cit., p. 246.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 141
346
Jornal do Brasil, 17 de outubro de 1972, p. 10, e 22 de outubro de 1972, p. 18.
347
GÓES, Walder de. “A crise do regime e a sucessão”. In: GÓES, Walder de; CAMARGO,
Aspásia. O drama da sucessão e a crise do regime, p. 126.
348
Mais precisamente, no dia 13 de outubro de 1972. Veja, 25 de outubro de 1972, p. 16.
349
GÓES, Walder de. “A crise do regime e a sucessão”. In: GÓES, Walder de; CAMARGO,
Aspásia, op. cit., p. 126-127. Grifo meu.
142 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
Tendo chegado, portanto, “até o fim”, até a completa ditadura militar, resta-
vam aos militares duas opções: ou ficarem onde estavam ou ensaiarem eles
próprios uma volta atrás. A terceira alternativa possível, isto é, a de se virem
os militares forçados a defender o seu status quo contra uma sociedade civil
indignada e inconformada, logo se mostrou inexistente. Destruídos, com
o alívio geral [sic] os reduzidos agrupamentos terroristas [sic], confinada e
contida a eventual oposição esquerdista a setores estudantis e intelectuais,
o país inteiro [sic] parecia aceitar o estado de coisas com passividade e, até,
a partir de meados de 70, com uma dose crescente de entusiasmo. Ficaram
de fora, apenas, os núcleos mais antigos e mais respeitáveis do pensamento
liberal (no sentido europeu e não norte-americano do termo).351
350
“Decompression in Brazil?”, publicado no Brasil com o título “Esses incorrigíveis otimis-
tas, os brasileiros”. In: PEDREIRA, Fernando. Brasil Política, 1964-1975. São Paulo: DIFEL,
1975, p. 271-290.
351
Idem, p. 285. No original, o trecho que grifei é um pouco diferente: “The only groups out-
side the far Left refusing to join in were the oldest and most respected bastions of liberalism
(once again, in the European, not the American, sense of the word)”. Na edição brasileira
é consignado o mês de março como o da publicação na revista, em vez de abril, como é o
correto. Agradeço a Rejane Carolina Hoeveler esta observação.
352
Idem, p. 286.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 143
353
Ibidem.
354
Idem, p. 287. Um expressivo indicador da maneira como o núcleo militar do regime
concebeu esta estratégia pode ser verificado no extenso inquérito procedido pelo SNI em
torno da “abertura” política. Foram mobilizados a Agência Central, as agências estaduais e
do Distrito Federal e os serviços de inteligência da Marinha (CENIMAR), da Aeronáutica
(CISA) e do Exército (CIE), que apresentaram avaliações do impacto político que as inicia-
tivas do governo estavam tendo em suas regiões e áreas de cobertura. Trata-se de um do-
cumento riquíssimo, que exige uma análise profunda, impossível de ser feita aqui. Entre os
pontos a pesquisar, estão as diferenças entre as avaliações em relação ao futuro da abertura
apresentadas pelos órgãos de informações das três forças singulares: francamente otimista
para o CIE, levemente cética para o CENIMAR e francamente negativa para o CISA. Ver
“Apreciação da Conjuntura Nacional” – Anexo B ‒ Análise sobre a abertura política, 10 de
setembro de 1974. Disponível em: <https://www.ufmg.br/brasildoc/temas/2-orgaos-de-in-
formacao-e-repressao-da-ditadura/2-4-sni/>. Acesso em: 11 maio 2016.
355
Referência ao processo de reformas iniciado no Peru com o movimento político-militar
liderado pelo general Juan Velasco Alvarado, que executou a reforma agrária e medidas
estatizantes e nacionalistas no campo econômico.
356
Referência ao Movimento das Forças Armadas, que, em 25 de abril de 1974, liderou o
processo revolucionário que resultou na derrubada da ditadura do Estado Novo em Portu-
gal, vigente desde 1926.
357
Ibidem.
144 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
358
Idem, p. 288. As teses de Fernando Pedreira estão presentes no esquema explicativo do
processo de abertura que Alfred Stepan desenvolveu em Os Militares: da Abertura à Nova
República. e Rethinking Military Politics. Brazil and the Southern Cone. Aliás, em The Mili-
tary in Politics. Changing Patterns in Brazil, o brasilianista já fizera uma tentativa de apro-
priação científica do conceito de “poder moderador”, trabalhado pelo jornalista em 31 de
março. Civis e militares no processo da crise brasileira.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 145
México, n. 19, p. 7-24, primavera de 2003. Para a crítica da “teoria clássica da democracia”,
consultar SCHUMPETER, Joseph A. Capitalismo, socialismo e democracia. Trad. Sérgio
Góes de Paula. Rio de Janeiro: Zahar, 1984, esp. cap. XXIII - Outra teoria da democracia.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 147
360
Grifo meu.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 151
ser contemplada, por uma ironia da história, com a lei de anistia sanciona-
da em 1979, tema do último capítulo deste livro.361
Em 1973, Carlos Castello Branco, considerado, à época, o mais impor-
tante jornalista político nacional, se referiria com muita cautela ao trabalho
de Huntington:
361
No último dia da sua estada no Rio, Huntington, sempre em companhia do professor
Candido Mendes, almoçou com o ministro da Fazenda, Delfim Netto. Jornal do Brasil, 17
de outubro de 1972, p. 10, e 22 de outubro de 1972, p. 18. Ministro da Fazenda (1969-1974)
durante o “Milagre brasileiro”, Delfim Netto seria acusado, já em 1974, de ter falsificado
os índices de inflação no período, cujo drástico declínio foi uma das proezas apresentadas
como resultado da miraculosa operação.
362
“Missão e problemas”. Jornal do Brasil, 1 de março de 1973.
363
FIGUEIREDO, Marcus Faria; CHEIBUB, José Antônio Borges. A abertura política de
1973 a 1981: quem disse o quê, quando – inventário de um debate. BIB, Rio de Janeiro, n.
14, p. 15, 2º semestre de 1982. Neste artigo, a palestra é apresentada como um dos momen-
tos-chave do início do processo de abertura política. Sobre o IPEAC e suas funções políticas
associadas ao Congresso Nacional, ver HOEVELER, Rejane Carolina. Ditadura e democra-
cia restrita: a elaboração do projeto de descompressão controlada no Brasil (1972-1973), p.
35-37, que analisa mais detalhadamente a palestra, bem como os debates que a seguiram.
364
Criado pelo Decreto nº 37.608, de 14 de julho de 1955, como órgão do Ministério da Edu-
cação e Cultura, o Instituto Superior de Estudos Brasileiros foi constituído por um grupo de
intelectuais que tinham como objetivos estudar a realidade brasileira e intervir no processo
152 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
o início dos anos 1960, Wanderley Guilherme dos Santos publicou em 1962
um livro em que indicava a iminência de um golpe de Estado no Brasil.365
Ainda nesta época, teve intensa militância política no campo nacionalista de
esquerda, envolvendo-se inclusive com o movimento das Ligas Camponesas.
Fez estudos de doutorado em ciência política na Stanford University entre
1967 e 1969, embora só viesse a obter o título dez anos depois. Tornou-se, em
1971, professor e pesquisador do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio
de Janeiro (IUPERJ), de cuja fundação participara dois anos antes. Produto
de convênio entre a Universidade Candido Mendes e a Fundação Ford, o IU-
PERJ se notabilizaria, entre outros aspectos, como uma caixa de ressonância
da ciência política estadunidense no Brasil.366
Na palestra, que seria publicada em livro,367 a discussão de fundo pro-
posta é a definição de uma “estratégia não revolucionária” para substituir o
“autoritarismo”368 ‒ ou seja, uma estratégia contrarrevolucionária preventiva
para promover a mudança de regime político sem modificar o conteúdo da
dominação classista. A substituição se faria necessária em face da crise po-
lítica brasileira, cuja natureza estaria radicada na instabilidade institucional:
369
Idem, p. 145.
370
Sobre o assunto, no plano teórico, ver DREITZEL, Hans Peter. Ação racional e orientação
política. In: ______ e outros. Tecnocracia e ideologia. Sel., trad. e introd. Gustavo F. Bayer.
Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1975, p. 11-47. Os termos adotados por Wanderlei Gui-
lherme dos Santos são muito próximos aos da análise desenvolvida, vinte anos depois, em
FIGUEIREDO, Argelina. Democracia ou reformas? Alternativas democráticas à crise políti-
ca: 1961-1964. Trad. Carlos Roberto Aguiar. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993.
371
SANTOS, Wanderley Guilherme dos, op. cit., p. 146.
372
Ibidem.
373
Ibidem.
154 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
374
Idem, p. 150. Grifo do autor.
375
Ibidem. Itálico do autor, negrito meu.
376
Para uma introdução ao tema, ver STOPPINO, Mário. Autoritarismo. In: BOBBIO, Nor-
berto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de política, v. 1, p. 94-
104. Uma densa discussão do conceito se encontra em FERNANDES, Florestan. Aponta-
mentos sobre a “teoria do autoritarismo”. São Paulo: Hucitec, 1979.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 155
É importante não perder de vista que a palestra foi feita para parlamen-
tares a quem o autor pretendia seduzir politicamente com ideias e estimular
à ação prática. Neste sentido, propôs uma estratégia não “naturalista” de
institucionalização da estabilidade via “descompressão”, partindo da pre-
missa de que a história dá lições, nesse caso, “a de que a organização não
autoritária do poder resulta e deve resultar não de uma evolução natural,
do processo político e social, mas de deliberada intervenção com o objetivo
de implantar uma ordem de estabilidade institucionalizada”.378
A efetivação dessa estratégia implicava a adoção do método adequado.
Reproduzindo a advertência huntingtoniana de que a “descompressão” não
poderia ser feita em ritmo acelerado, sob risco de haver uma “recompres-
são”, propôs uma “política incrementalista”: “avanços moderados, uma ino-
vação por vez enquanto se controla o resto do sistema”, de maneira, a, tra-
balhando-se com “pequena faixa de imprevisibilidade”, reduzir ao mínimo
o risco de “recompressão”.379 O método incrementalista impunha algumas
“normas práticas”.
Uma delas seria o tratamento sequencial dos problemas, sem simulta-
neidade de pressões, tornando mais fácil a formação de coalizões de apoio
do que se as decisões se referissem a modelos globais: “Daí que: liberdade
de imprensa, habeas corpus, regime eleitoral, regime partidário, mecanis-
mos sucessórios etc. sejam problemas que devem ser tratados separada-
377
SANTOS, Wanderley Guilherme dos, op. cit., p. 151-152.
378
Idem, p. 151. Observe-se que o “incrementalismo” configura claramente uma tática típica
da contrarrevolução preventiva por métodos democráticos. Ver LEMOS, Renato. Anistia e
crise política no Brasil pós-64. Topoi, Rio de Janeiro, n. 5, p. 287-313, dezembro 2002.
379
SANTOS, Wanderley Guilherme dos, op. cit., p. 153.
156 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
380
Idem, p. 154.
381
Idem, p. 155.
382
Idem, p. 155-156.
383
Idem, p. 157.
384
Idem, p. 157-8. Grifos do autor.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 157
385
Idem, p. 158-159.
386
Idem, p. 159
158 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
387
O controle de publicações (livros e revistas), diversões e espetáculos públicos, bem como
a programação das emissoras de rádio e televisão, estava regulado pelo Decreto-lei nº 1.077,
de 26 de janeiro de 1970, que regulamentou a execução do artigo 153, § 8º, parte final, da
Constituição de 1967, estabelecendo a censura prévia (Art. 2º).
388
Opinião, Rio de Janeiro, 26 de agosto de 1974, p. 3. Carta na edição de 2 de setembro de
1974, p. 23.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 159
em mudança. Como não foi uma proposta com impacto efetivo no processo
político brasileiro, não a analisei. Optei por discutir, exatamente, as ideias
que Wanderley Guilherme diz estarem ausentes do documento do cientista
político norte-americano. Causa estranheza a posição assumida por ele, tal-
vez decorrente de um propósito de arrogar-se a paternidade da “estratégia
de descompressão gradual”, então “na moda” no jargão dos meios políticos
nacionais e plenamente contemplada nesta passagem, encontrada na segun-
da página de versão do documento de Huntington que consultei: “A descom-
pressão eficaz e duradoura deve, portanto, ser um processo gradual sobre que
o governo mantenha firme controle”. Embora seja difícil medir a influência
direta de ambos os documentos ‒ produzidos em meio a um debate relati-
vamente amplo, que envolveu outros importantes intelectuais orgânicos do
regime, como Roberto Campos e Gilberto Freyre389 ‒ sobre os dirigentes do
regime ditatorial brasileiro, o dado objetivo é o fato de que o processo político
nacional seguiria, a partir da posse do general Ernesto Geisel, as linhas gerais
preconizadas pelos dois cientistas políticos.390
Huntington retornou ao Brasil em fevereiro de 1974, para sua sexta visita
ao país – a segunda nos últimos doze meses. Segundo Thomas Skidmore,
veio a convite do general Golbery do Couto e Silva, então se preparando para
assumir, no mês seguinte, a chefia da Casa Civil do governo do general Er-
nesto Geisel (1974-1979). Na agenda dos dois, a continuidade da discussão
sobre o documento “Abordagens da descompressão política”. O historiador
norte-americano faz referência a fontes jornalísticas que noticiaram a pre-
sença de Huntington no Brasil, mas não a esse contato com Golbery e, muito
menos, à matéria da suposta conversa havida entre os dois.391 Assim, é de
supor que tenha utilizado canais de acesso privilegiado para poder resumir
389
Ver, a propósito, HOEVELER, Rejane Carolina. Ditadura e democracia restrita: a elabora-
ção do projeto de descompressão controlada no Brasil (1972-1973), op. cit.
390
Por causa da colaboração intelectual que deu à estratégia política do regime, Octávio
Ianni incluiu Wanderley Guilherme dos Santos entre os “ideólogos e escribas da ditadura”,
aqueles que: “Oferecem recomendações aos membros do bloco de poder, em um país no
qual esse próprio poder mantém o povo disperso, dispersado pela violência”. O ciclo da
revolução burguesa. Petrópolis, RJ: Vozes, 1984, p. 19-20.
391
Com base no acervo documental herdado do general Golbery do Couto e Silva, sobre
o qual exerce efetivo monopólio, o jornalista Elio Gaspari fornece informações da reunião
com Samuel Huntington. O general teria guardado má impressão do seu trabalho sobre a
“descompressão”, classificando-o de “pedestre”. GASPARI, Elio. A ditadura derrotada. São
Paulo: Companhia das Letras, 2003, p. 344-346.
160 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
o seu conteúdo:
392
SKIDMORE, Thomas. Brasil: de Castelo a Tancredo, 1964-1985. Trad. Mário Salviano
Silva. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989, p. 326-327.
393
Correio da Manhã, 4 de fevereiro de 1974, p. 6.
394
Jornal do Brasil, 10 de fevereiro de 1974, p. 24.
395
Georgios Papadopoulos, apoiado ativamente pelo governo dos Estados Unidos, liderou
o golpe de 1967 na Grécia e chefiou a junta militar que governou o país até julho de 1974.
Quando Huntington deu essa declaração, vivia-se na Grécia um processo de transição po-
lítica que resultaria, no fim do ano, na implantação de uma república democrática. A pro-
pósito, ver: POULANTZAS, Nicos. La crise des dictatures. Portugal, Grèce, Espagne. Paris:
François Maspero, 1975, especialmente, p. 100-106.
Anistia: uma impossibilidade sistêmica (1964-1974) 161
396
FIGUEIREDO, Marcus Faria; CHEIBUB, José Antônio Borges. A abertura política de
1973 a 1981: quem disse o quê, quando – inventário de um debate. BIB, Rio de Janeiro, n.
14, p. 15, 2º semestre de 1982.
162 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
Em “How Countries Democratize”, Huntington afirma ter trabalhado com o general Gol-
397
1
Criado em 1966 com o nome de Tribunal Internacional contra os Crimes de Guerra no
Vietnã, teve como presidente de honra o filósofo britânico Bertrand Russell e, como presi-
dente executivo, o escritor e filósofo marxista francês Jean-Paul Sartre. Ver Tribunal Russell.
Sesiones de Estocolmo y Roskilde, 1969, primeiro livro publicado pela seção espanhola da
importante editora mexicana Siglo Veintiuno. A explicação de Sartre para o sentido político
desse tipo de tribunal pode ser encontrada em seu artigo “O crime”, Revista Civilização Bra-
sileira, Rio de Janeiro, ano 1, n. 11-12, p. 38-47, dez. 1966/mar. 1967. Sobre as articulações
entre exilados brasileiros visando à constituição do Tribunal Russell II, ver GREEN, James
N. Apesar de vocês. Oposição à ditadura brasileira nos Estados Unidos, 1964-1985. Trad. S.
Duarte. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 375-376.
2
“Discorso inaugurale del presidente Lelio Basso”, 30 de março de 1974. In: Tribunale Rus-
sell II. Brasile. Violazione dei diritti dell’uomo, p. 9. Ver nota 3. Tradução minha.
163
164 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
3
Os registros das atividades relativas ao Brasil foram publicados em Tribunale Russell
II. Brasile. Violazione dei diritti dell’uomo. A cura di Linda Bimbi. Milano: Feltrinelli, 1975
(I nuovi testi, 84). Os registros relativos ao Chile, Bolívia e Uruguai foram publicados, si-
multaneamente, pela editora Marsílio, de Veneza. Outras sessões aconteceriam em Bruxelas
(1975) e Roma (1976), para julgar os casos do Paraguai, da Argentina, do Haiti, de S. Do-
mingos, da Guatemala, da Nicarágua, de Porto Rico e da Colômbia. A análise da situação
nestes países ressaltou, entre outras evidências, o papel que a polícia política brasileira cum-
priu na transmissão de técnicas de intimidação e obtenção de informações por meio de
tortura às suas congêneres chilena, argentina e uruguaia. A internacionalização dos sistemas
repressivos destes países resultaria na criação da Operação Condor, como se verá adiante.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 165
4
Tribunale Russell II, p. 312. Tradução minha.
5
Idem, p. 311. Várias listas com nomes de praticantes de torturas já haviam sido divulgadas
por presos políticos, jornais e entidades de defesa de direitos humanos, e outras mais ainda
o seriam.
6
Idem, p. 316.
7
Anistia, nº 2, nov./dez. de 1978, p. 2.
8
Op. cit., p. 441.
166 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
Mais para o fim do ano, novas pressões contra a ditadura brasileira sur-
giriam nos EUA, depois que, em setembro, Fred B. Morris, um pastor me-
todista norte-americano que prestava serviços sociais em Recife, foi preso e
torturado em dependências do IV Exército, acusado de envolvimento com
atividades subversivas no país.11 A imagem do governo Geisel liberalizador
saiu do episódio bastante questionada. Houve movimentações na Câmara
dos Representantes dos EUA e o depoimento de Morris foi publicado com o
título “Tortura e opressão no Brasil”. Em novembro, a revista Time, uma das
mais lidas no país e na qual Morris costumava colaborar, dedicou ao seu caso
um longo artigo, intitulado “Tortura em estilo brasileiro”. A revista organizou
um conjunto de atividades para promover o artigo, inclusive uma aparição
do pastor no programa matinal de entrevistas que na época detinha o recorde
de audiência televisiva e em mais de vinte outros programas de televisão e
rádio. Em todos, Morris narrou o acontecido e fez comentários sobre a pre-
cariedade da situação dos direitos humanos na América Latina.12
Na mesma época, realizou-se no Rio de Janeiro, em agosto de 1974, o
Seminário sobre o Legislativo e Desenvolvimento, promovido pelo Con-
9
Entre os “desaparecimentos” registrados no período março-abril de 1974, estão os dos
militantes comunistas José Roman, João Massena de Melo, Luís Inácio Maranhão Filho,
David Capistrano da Costa, Ieda Santos Delgado, Issami Nakamura Okano, Ísis Dias de Oli-
veira, Ana Rosa Kucinski, Wilson Silva e Tomás Antônio Meireles. KUCINSKI, Bernardo.
Abertura, a história de uma crise, p. 46.
10
Apud GREEN, James, Op. cit., p. 440. Em meados de 1974, os presos políticos detidos no
Instituto Penal Sarazate, em Fortaleza, entraram em greve de fome contra as restrições à visi-
tação e às más condições carcerárias a eles impostas. VIANA, Gilney Amorim e CIPRIANO,
Perly, op. cit., p. 43.
11
GREEN, James, op. cit., p. 439.
12
Idem, p. 440-441.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 167
13
Jornal do Brasil, 3 de agosto de 1974, p. 7. Ver MENDES, Candido (Org.). O Legislativo
e a tecnocracia. Seminário sobre o Legislativo e desenvolvimento (agosto de 1974). Rio de
Janeiro: Imago, 1975. Aí se encontra a lista completa de participantes, com as respectivas
filiações institucionais.
14
A discussão espelha uma temática que se impôs no universo político-intelectual capita-
lista a partir da década de 1930, a saber, a ideia de uma nova forma de organização social
em que a economia seria dirigida por técnicos e planejadores. Um padrão administrativo
definido a partir dos critérios de eficiência e neutralidade técnica garantiria um governo
acima dos interesses individuais e de classe. Sobre o conceito de tecnocracia e seu histórico,
ver MARTINS, Carlos Estevam. Tecnocracia e capitalismo. A política dos técnicos no Brasil.
São Paulo: CEBRAP, 1974, p. 11-15. Na Parte III deste livro, encontra-se uma interessante
discussão dos resultados de uma pesquisa feita, em 1970, com engenheiros, economistas,
cientistas naturais e cientistas sociais brasileiros em torno de questões pertinentes à relação
sociedade-poder político.
168 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
15
Jornal do Brasil, 15 de agosto de 1974, p. 7.
16
Jornal do Brasil, 15 de agosto de 1974, p. 7.
17
Entretanto, as relações da Igreja Católica brasileira com a estratégia transicional em curso
eram contraditórias. O caráter repressivo do regime se mantinha, especialmente no tocante
às classes exploradas da sociedade. Assim, as lutas dos camponeses e trabalhadores sem-ter-
ra, por exemplo, eram tratadas, literalmente, a ferro e fogo, levando na onda de violência
ativistas católicos, tanto religiosos como leigos. Comentando um desses episódios, ocorrido
em momento mais avançado da transição, um analista estrangeiro observaria: “O caso To-
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 169
cantins ‒Araguaia ressaltou alguns dos limites da abertura política. Nas regiões rurais, ainda
havia muita repressão contra os esforços populares para organizar e exigir seus direitos. Os
fazendeiros, a polícia e os militares e, na maioria dos casos, o Judiciário, continuaram pouco
dispostos a modificar o padrão de dominação que prevalecia no Brasil rural. O governo
federal, até mesmo enquanto promovia a abertura, estava pouco disposto a modificar as
políticas agrícolas que exacerbavam as tensões ou a obrigar as elites a aderir ao espírito
da abertura. As elites rurais eram uma das principais fontes de apoio ao regime militar e
este não se dispunha a colocar em risco tal apoio”. MAINWARING, Scott. Igreja Católica e
política no Brasil, 1916-1985. Trad. Heloísa Braz de Oliveira Prieto. São Paulo: Brasiliense,
1989, p. 185-187.
18
Jornal do Brasil, 15 de agosto de 1974, p. 7.
19
SKIDMORE, Thomas. Brasil: de Castelo a Tancredo, 1964-1985, p. 327, nota 17.
20
Jornal do Brasil, Informe JB, 14 de agosto de 1974.
170 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
21
Tradução de Pinheiro de Lemos para a Editora Forense-Universitária, do Rio de Janeiro,
em parceria com a Editora da Universidade de São Paulo. Uma resenha desfavorável ao
livro se encontra em NOGUEIRA, Marco Aurélio. A ordem e a desordem. Opinião, Rio de
Janeiro, 19 de março de 1976, p. 21, e uma favorável, em BALEEIRO, Aliomar. Huntington,
os golpes e a floresta. Jornal do Brasil, suplemento Livro, 10 de janeiro de 1976, p. 4.
22
Jornal do Brasil, Coluna do Castello, 5 de outubro de 1975.
23
Provavelmente, referência ao adjetivo “democráticas”.
24
Opinião, Rio de Janeiro, 2 de setembro de 1974, p. 2
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 171
25
O termo foi usado publicamente por Geisel, pela primeira vez, em agosto de 1975, em dis-
curso a dirigentes da Arena, quando frisou as suas características: “lenta, gradativa e segura”.
Cf. KUCINSKI, Bernardo. Abertura, a história de uma crise, p. 41-42.
26
Anais da V Conferência Nacional da Ordem dos Advogados do Brasil de 11 a 16 de Agosto
de 1974. Rio de Janeiro: OAB, 1974; Veja, 1º de março de 1978, p. 36. Segundo Denise Rol-
lemberg, foi em 1974 que a OAB transitou da colaboração ao enfrentamento com o regime
ditatorial. Ver “Memória, Opinião e Cultura Política. A Ordem dos Advogados do Brasil sob
a Ditadura (1964-1974)”. In: REIS, Daniel Aarão; ROLLEMBERG, Denis (Org.). Moderni-
dades alternativas, p. 57-96.
27
Carta do Comitê Brasileiro pela Anistia (CBA) ao general Ernesto Geisel, Rio de Janeiro,
28 de dezembro de 1978. Para os contatos entre membros da Igreja Católica e dos governos
militares em torno da questão dos “direitos humanos”, ver SERBIN, Kenneth P. Diálogos na
sombra, p. 335 para os contatos de agosto de 1974.
28
Maria de Lourdes de A. Fávero informa que o movimento estudantil existiu, de 1969 a
1979, “restrito à clandestinidade, ressurgindo lentamente enquanto organização, a partir
do XXXI Congresso da UNE, em 1979”. UNE em tempos de autoritarismo. Rio de Janeiro:
Editora UFRJ, 1994, p. 71.
29
MARTINS, Roberto Ribeiro. Liberdade para os brasileiros, p. 128; Brasil dia a dia, p. 113.
172 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
30
Grupo Tortura Nunca Mais – Bahia. Construindo a memória: a luta pela anistia na Bahia.
Org. Ana Guedes e Lucimar S. C. Mendonça. Salvador: [s.n.], 2006, p. 32.
31
ABREU, Alzira Alves de et al. (Coord.). Dicionário histórico-biográfico brasileiro pós-1930,
op. cit.
32
Para as informações sobre 1974: Câmara dos Deputados. Diretoria de Registro Taquigrá-
fico de Debates. Seção de Histórico de Debates, sessões de 17 de maio, 28 de junho, 26 de
agosto, 30 de setembro, 30 de outubro e 25 de novembro.
33
Jornal de Brasília, 28 de junho de 1978.
34
O Globo, 18 de julho de 1978; Diário do Congresso Nacional, 4 de março de 1975 apud
Câmara dos Deputados. Diretoria de Registro Taquigráfico de Debates. Seção de Histórico
de Debates.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 173
35
KINZO, Maria D’Alva Gil. Oposição e autoritarismo. Gênese e trajetória do MDB, p. 154-
156. Segundo Therezinha Zerbine, foi Tancredo Neves (MG) o responsável pela introdução da
anistia no programa político do MDB em 1972, o que teria dado oportunidade para a criação
do MFPA em 1975, já que o programa era reconhecido pelo Tribunal Superior Eleitoral e a
anistia, portanto, uma reivindicação legal. ZERBINE, Therezinha, op. cit., p. 255.
36
MARTINS, Roberto Ribeiro. Liberdade para os brasileiros, p. 129.
37
Depoimento de Fernando Henrique Cardoso em KINZO, Maria D’Alva Gil, op. cit., p.
154-155.
38
Comentando o espaço ocupado pela anistia nas campanhas eleitorais do MDB neste pe-
ríodo, uma revista observou que, nos pleitos de 1970 e 1974, “a oposição preferiu atacar o
AI-5 e o custo de vida”. IstoÉ, 1º de março de 1978, p. 12-13.
39
Documento datado de 18 de outubro de 1974 e integrante do Arquivo Peri Constant Bevi-
laqua, depositado no Museu Casa de Benjamin Constant, no Rio de Janeiro.
174 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
Qual uma vitamina moral, terá a virtude de, desarmando os espíritos, res-
taurar a unidade moral do povo brasileiro, restabelecer a confiança e o oti-
mismo dos cidadãos e contribuir para vitalizar as instituições nacionais,
ensejando uma nova convivência dos brasileiros no respeito meticuloso à
lei que a todos obriga, governantes e governados.
40
A proposta de uma federação que mantivesse unidos Portugal e suas colônias africanas foi
defendida pelo ex-governador-geral da Guiné Portuguesa, general António de Spínola, em seu
livro Portugal e o futuro, publicado em março de 1974 ‒ portanto, um mês antes da revolução
que extinguiu a ditadura salazarista e pouco mais de seis meses antes da carta de Bevilaqua.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 175
cia, gerando a violência, parece haver tornado inviável, nos nossos dias,
aquela solução.
Espínola seria uma das principais personagens do processo político português após a Revo-
lução dos Cravos, tendendo sempre mais a ocupar posições direitistas centradas no combate
ao comunismo.
41
Grifo meu.
176 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
42
Secretaria de Ordem Política e Social, denominação adotada à época em alguns estados,
como Bahia e Rio Grande do Sul.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 177
43
O capitão Sérgio Carvalho seria promovido a brigadeiro cinco dias após a sua morte,
ocorrida em 5 de fevereiro de 1994. Em 1997, a sua família receberia um valor correspon-
dente aos vencimentos a que ele teria feito jus caso não tivesse sido afastado da carreira. Para
mais informações, ver LIMA, Eneida; SOUZA, Márcia de. Sérgio Carvalho. In: ABREU,
Alzira Alves de et al. (Coord.). Dicionário histórico-biográfico brasileiro pós-1930, op. cit.
44
Conforme informações do punho do general, encontradas em seu arquivo pessoal.
178 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
45
Para uma explicação dos resultados numéricos da eleição, bem como das formas como
foram interpretados, ver KINZO, Maria D’Alva Gil, op. cit., p. 157-163.
46
Brasil dia a dia, p. 108.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 179
47
Anistia, p. 33.
48
Brasil dia a dia, p. 113.
49
Anistia, p. 13. MARTINS, Roberto Ribeiro, op. cit., p. 135. Nesse mesmo mês de novem-
bro, quatorze presos políticos detidos na Fortaleza de Santa Cruz (RJ) entraram em greve de
fome pelo fim da política de destruição física e psicológica a que estariam sendo submeti-
dos: espancamentos, explosão de bombas de gás lacrimogêneo nas celas etc. VIANA, Gilney
Amorim; CIPRIANO, Perly, op. cit., p. 43.
50
Referência ao Jubileu, celebrado a cada 25 anos.
180 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
51
MARTINS, Roberto Ribeiro, op. cit., p. 135. Apesar desta posição limitada, a atuação
de líderes católicos no trabalho de base urbano e rural estimulava, em setores do aparato
repressivo, caracterizações do clero um tanto alarmistas, talvez destinadas a justificar a sua
própria existência, ameaçada pela política do governo de reduzir, ainda que homeopatica-
mente, a presença dos militares nos centros decisórios do regime. É este o sentido de um
relatório do 2º Exército, datado de 1974, onde se lê: “O clero se constitui no mais atuante dos
inimigos que atentam contra a segurança nacional, promovendo, através de processos ni-
tidamente subversivos, a substituição da estrutura político-social-econômica brasileira por
uma nova ordem, em tudo semelhante à filosofia marxista” (Apud MAINWARING, Scott,
Igreja Católica e política no Brasil, 1916-1985, p. 178).
52
Anistia, p. 39. VIANA, Gilney Amorim; CIPRIANO, Perly, op. cit., p. 43.
53
WEID, Jean-Marc von der. A luta pela anistia no exterior. In: Movimento Feminino pela
Anistia e Liberdades Democráticas, p. 14.
54
Cf. ver GREEN, James N. Apesar de vocês, p. 456-462.
55
Opinião, Rio de Janeiro, 23 de maio de 1975, p. 2.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 181
56
Sobre o assunto, ver DUARTE, Celina Rabello. Imprensa e redemocratização no Brasil: um
estudo de duas conjunturas, 1945 e 1974-1978. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais)
– Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 1987, e “Imprensa e redemocra-
tização no Brasil”, Dados, Rio de Janeiro, v. 6, n. 2, 1983, p. 181-195. Também, ABREU, Al-
zira Alves de. A mídia na transição democrática brasileira. Sociologia, problemas e práticas,
Lisboa, n. 48, p. 53-65, 2005. Disponível em: <http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=s-
ci_arttext&pid=S0873-65292005000200005>. Acesso em: 6 fev. 2017.
57
Veja, 13 de agosto de 1975.
58
O Estado de S. Paulo, 23 de agosto de 1975. Como que em resposta à mobilização estudan-
til, o general Geisel reafirmou, em encontro com estudantes de engenharia da Universidade
Mackenzie (SP), de sólida tradição conservadora, que o Decreto-lei nº 477 continuava o
instrumento adequado para disciplinar a vida universitária. Idem, 3 de setembro de 1975.
182 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
59
VI Congresso do Partido Comunista Brasileiro. “Informe de balanço do Comitê Central”.
Dezembro de 1967. In: Documentos do Partido Comunista Brasileiro (1960-1975). Lisboa:
Avante, 1976, p.101.
60
KUCINSKI, Bernardo, op. cit., p. 109. Eu mesmo fui, em 1970, testemunha da busca te-
merária de minha mãe em unidades militares do Rio de Janeiro por informações sobre meu
irmão, à época com dezenove anos de idade e preso no início do ano.
61
Mulheres que se reúnem na Plaza de Mayo, em Buenos Aires, para exigir notícias de seus
filhos desaparecidos durante a ditadura argentina (1976-1983).
62
Marcelo Alencar, citado em ALVES, Márcio Moreira. Teotônio, guerreiro da paz. Petrópo-
lis, RJ: Vozes, 1983, p. 170.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 183
63
GEYER, Georgie, “Um grupo de mulheres para a libertação do Brasil”, artigo publicado
em dezembro de 1978 no Los Angeles Times e em mais de trezentos jornais dos Estados
Unidos, reproduzido em ZERBINE, Theresinha Godoy. Anistia sementes da liberdade. São
Paulo: Escolas Profissionais Salesianas, 1979, p. 240-242.
64
ALVES, Márcio Moreira. Teotônio, guerreiro da paz. Petrópolis, RJ: Vozes, 1983, p. 170.
65
Movimento Feminino pela Anistia e Liberdades Democráticas, p. 20.
66
Idem, p. 16.
67
As fontes não são unânimes em relação ao número e aos nomes das fundadoras do movi-
mento. A própria Therezinha Zerbine cita dados diferentes em Anistia sementes da liberdade
e em AMARAL, Mariana. Anjo da guarda. Caros Amigos, ano V, n. 53, p. 20, ago. 2001. A
revista Manchete, Rio de Janeiro, nº 1374, 19 de agosto de 1978, acrescenta o nome de Neusa
Cunha Neto Franco (socióloga) e omite os de Ana Lobo e Lila Galvão Figueiredo.
184 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
no governo de João Goulart), Regina Van Der Weid (mãe de Jean Marc Van
Der Weid , ex-presidente da UNE, banido do país e exilado na Europa) e
Judite Lisboa (mãe de uma presa política e fundadora da União das Mães
Brasileiras).68
O grupo remeteu milhares de cartas para mulheres69 e fez contatos
em vários pontos do país, em especial com setores da Igreja Católica,
graças ao apoio, recebido desde o início, de D. Paulo Evaristo Arns, en-
tão arcebispo de São Paulo.70 O objetivo imediato era sensibilizar entida-
des, como sindicatos e associações de trabalhadores, para a necessidade
da anistia e encampar toda e qualquer iniciativa em favor desta reivin-
dicação.71 As integrantes do movimento passaram a proferir palestras e
a redigir manifestos em defesa da anistia, enviando-os a personalidades
políticas e entidades de relevo no cenário nacional.72 O jornal do MFPA
explicaria:
Com base em uma visão restrita dos partidos políticos, o MFPA se pre-
tendia dissociado da luta político-partidária:
68
ALVES, Márcio Moreira. Teotônio, guerreiro da paz, p. 170.
69
ZERBINE, Therezinha Godoy, op. cit., p. 8.
70
AMARAL, Mariana. “Anjo da guarda”, p. 20. Em 22 de maio de 1977, o cardeal receberia,
juntamente com o presidente norte-americano, Jimmy Carter, o título de doutor honoris
causa da Universidade de Notre Dame, nos EUA, em reconhecimento de suas ações em
defesa dos direitos humanos. Brasil dia a dia, p. 90.
71
Movimento Feminino pela Anistia e Liberdades Democráticas. Origens e lutas. p. 21.
72
Para mais detalhes da atuação do MFPA, ver: ZERBINE, Therezinha Godoy, op. cit.; Mo-
vimento Feminino pela Anistia e Liberdades Democráticas.
73
Cada núcleo teria “autonomia para agir, porque as condições variam em cada estado”.
ZERBINE, Therezinha Godoy, op. cit., 92.
74
“A nossa causa e o nosso símbolo”, Maria Quitéria. Boletim informativo oficial do Movi-
mento Feminino pela Anistia, n. 1, p. 2. O grupo fundou, também, o jornal Brasil Mulher,
do qual se desligaria em pouco tempo.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 185
75
Conferência em Salvador, 15 de janeiro de 1977, trecho reproduzido em ZERBINE, The-
rezinha Godoy, op. cit., p. 75. Na fase de debates que se seguiu à palestra, a presidente do
MFPA foi questionada acerca das limitações de classe do movimento e assumiu a condi-
ção de “média burguesia para alta”, sugerindo que outros tentassem organizar as mulheres
operárias e camponesas para a luta pela anistia. Em 1975, comentando o Congresso In-
ternacional da Mulher, ofereceu pistas para o entendimento da maneira como encarava a
“problemática da mulher: “Do meu ponto de vista de observadora aberta para o diálogo e
sem preconceito, pude observar o seguinte: na Europa e nos Estados Unidos, consideradas
as nações [sic] mais desenvolvidas, pude notar nitidamente problemas e colocações de uma
sociedade velha, decadente, com problemas como o lesbianismo, prostituição, aborto etc.,
que não deixam de ser problemas, mas não tão fundamentais”. Idem, p. 30.
76
MARTINS, Roberto Ribeiro. Liberdade para os brasileiros, op. cit., p. 130. Boletim ABI,
maio/junho de 1975, p. 6.
77
ZERBINE, Therezinha Godoy, op. cit., p. 7, onde afirma ter sido a única representante do
Brasil para, mais à frente (p. 31), mencionar a participação de “uma brasileira, Dra. Car-
186 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
82
Jornal do Brasil, 8 de agosto de 1975. O deputado Ademar Santillo, “autêntico” do MDB de
Goiás, comentaria a resposta na Câmara em 8 de agosto, citando os nomes de cidadãos goia-
nos a quem, “na defesa dos interesses do País, deveriam ser devolvidos os direitos políticos”.
Seis dias depois, veicularia, no mesmo recinto, o “Manifesto das Mulheres Brasileiras pela
Anistia”, entregue aos líderes partidários na Câmara e no Senado, onde foi lido e endossado
por Franco Montoro (MDB-SP). Câmara dos Deputados. Diretoria de Registro Taquigrá-
fico de Debates. Seção de Histórico de Debates, sessão em 8 de agosto de 1975. ZERBINE,
Therezinha Godoy, op. cit., p. 57.
83
Jornal do Brasil, 12 de julho de 1975. Para mais informações sobre o MFPA gaúcho, ver
RODEGHERO, Carla Simone. Para uma história da luta pela anistia: o caso do Rio Grande
do Sul (1974 – 1979). Tempo e argumento, Florianópolis, v. 1, n. 1, p. 99-122, jan./jun. 2009;
VARGAS, Marilucci Cardoso de. Deslocamentos, vínculos afetivos e políticos, conquistas e
transformações das mulheres opositoras à ditadura civil-militar: a trajetória do Movimento
Feminino pela Anistia no Rio Grande do Sul (1975-1979). Dissertação (Mestrado em Histó-
ria) – Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, 2010; e RODEGHERO, Carla
Simone; DIENSTMANN, Gabriel; TRINDADE, Tatiana. Anistia ampla, geral e irrestrita.
História de uma luta inconclusa. Santa Cruz do Sul, RS: EDUNISC, 2011.
84
VIANA, Gilney Amorim; CIPRIANO, Perly. Fome de liberdade: a luta dos presos políticos
pela anistia, op. cit., p. 44.
188 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
85
ZERBINE, Therezinha Godoy, op. cit, p. 25 e 61; MARTINS, Roberto Ribeiro, op. cit., p.
130; Anistia, p. 12.
86
Folha de Londrina, Londrina (PR), 28 de janeiro de 1979, reproduzido em ZERBINE,
Therezinha Godoy, op. cit., p. 246.
87
ZERBINE, Therezinha Godoy, op. cit., p. 44; Movimento Feminino pela Anistia e Liber-
dades Democráticas, op. cit., p. 20.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 189
88
ZERBINE, Therezinha Godoy, op. cit., p. 27. Movimento Feminino pela Anistia e Liberda-
des Democráticas, op. cit., p. 23. Maiúsculas no original do manifesto. Observe-se, no trecho
que marquei em itálico, a ideia de “união da nação” como um dos “objetivos nacionais”, ra-
ciocínio que remete às formulações da Doutrina de Segurança Nacional sistematizada pela
Escola Superior de Guerra. Suponho que se trate de um indicativo do grau de disseminação,
no meio civil, da ideologia elaborada por esse aparelho de produção ideológica do Estado
brasileiro. Cf. Escola Superior de Guerra. Manual básico, 1977-1978. Rio de Janeiro, 1977,
Cap. I, Seção I.
89
Veja, 1º de março de 1978, p. 35.
90
Panorama, Londrina (PR), 26 de setembro de 1975, citado em ZERBINE, Therezinha Go-
doy, op. cit., p. 49. Problema análogo aconteceria em 20 de março de 1976, quando não poderia
realizar conferência sobre “direitos humanos” na sede da Associação das Voluntárias de João
Pessoa, cuja direção alegaria que a entidade “não se envolve em problemas políticos”. O Norte,
João Pessoa, 21 de marco de 1976, citado em ZERBINE, Therezinha Godoy, op. cit., p. 66.
91
ABREU, Alzira Alves de et al. (Coord.). Dicionário histórico-biográfico brasileiro pós-1930,
op. cit.
190 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
92
Jornal do Brasil, 4 de março de 1975.
93
O Globo, 18 de julho de 1978.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 191
94
Jornal de Brasília, 28 de junho de 1978, p. 4; O Globo, 18 de julho de 1978. O decreto-lei
mencionado estabeleceu o Código do Processo Penal Militar.
95
Para as informações parlamentares relativas a 1975: Câmara dos Deputados. Diretoria de
Registro Taquigráfico de Debates. Seção de Histórico de Debates, sessões em 3, 11, 17, 30 e
31 de março, 1º, 17 e 18 de abril, 9, 13 e 26 de junho, 8, 11 e 14 de agosto, 8 e 12 de setembro,
1º e 23 de outubro, 14 e 26 de novembro e 4 de dezembro.
96
Veja, 1º de março de 1978, p. 35.
192 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
97
Disponível em: <http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/melo-
-humberto-de-sousa>. Acesso em: 9 jan. 2016.
98
Idem.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 193
99
Jornal da Tarde, São Paulo, 15 de outubro de 1975.
100
Naquele momento, estavam presos ali vários outros jornalistas. MARTINS FILHO, Ha-
milton. A sangue-quente. A morte do jornalista Vladimir Herzog. São Paulo: Alfa-Omega,
1978, p. 14.
101
Este tipo de suicídio não era novidade no âmbito do anticomunismo internacional: “Em
1940, durante a época colonial da Indochina francesa, a mulher de Giap, militante comunista
como o marido, fora barbaramente torturada pelos militares franceses. Seu marido havia via-
jado à China para encontrar-se com o líder vietnamita Ho Chi Minh, refugiado naquele país.
A história oficial do colonizador atribuiu a morte da mulher de Giap a um suicídio, tática em-
pregada posteriormente na Argélia pelos mesmos militares franceses para justificar mortes sob
tortura”. DUARTE-PLON, Leneide. Os últimos vestígios da França colonial. Observatório da
imprensa, 07 de janeiro de 2014. Disponível em: <http://www.observatoriodaimprensa.com.
br/news/view/_ed780_os_ultimos_vestigios_da_franca_colonial>. Acesso em: 7 mar. 2015.
102
Brasil dia a dia, p. 114.
103
“Ednardo D’Ávila Melo”. In: ABREU, Alzira Alves de et al. (Coord.). Dicionário histó-
rico-biográfico brasileiro pós-1930. Ver, também, ALMEIDA FILHO, Hamilton. A sangue
194 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
quente. A morte do jornalista Vladimir Herzog. São Paulo: Alfa-Omega, 1986, p. 67 e segs.
104
General Adalberto Massa, delegado Regional do Trabalho, encarregado pelo governo fe-
deral de resolver o conflito.
105
Disponível em: <http://www.documentosrevelados.com.br/geral/em-plena-ditadura-
-trabalhadores-de-empreiteira-de-itaipu-fazem-manifestacao-e-sao-sumariamente-demi-
tidos/>. Acesso em: 21 jan. 2014. Também em: <http://www.h2foz.com.br/historias-sin-
ceras-da-fronteira-especial>. Sobre as condições vividas pelos trabalhadores de Itaipu no
transcurso da obra, ver MANARIN, Odirlei. Peões da barragem. Memórias e relações de
trabalho dos operários na construção da hidrelétrica de Itaipu, 1975-1991. Dissertação
(Mestrado em História) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Marechal Cândido
Rondon (PR), 2008. Em fins de 1975, outra greve de fome aconteceria, agora no Presídio
Militar Romão Gomes, popularmente conhecido como presídio do Barro Branco, em São
Paulo, onde os presos políticos se insurgiriam contra arbitrariedades e limitações impostas
à sua situação carcerária. VIANA, Gilney Amorim; CIPRIANO, Perly. Fome de liberdade: a
luta dos presos políticos pela anistia, op. cit., p. 43.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 195
106
Apud GREEN, James. Apesar de vocês, p. 444-445.
107
Ibidem.
196 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
Por um lado, a política oficial de distensão deu aos setores da oposição mais
espaço para se organizar e maior possibilidade de êxito. Por outro lado, as
pressões coordenadas por melhoria das condições de vida, fim da censura
à imprensa e revogação da legislação repressiva intensificaram os temores
dos setores mais estreitamente identificados com a Doutrina de Segurança
Interna. À medida que se fortalecia o movimento de defesa dos direitos
108
“Ednardo D’Ávila Melo”. In: ABREU, Alzira Alves de et al. (Coord.). Dicionário histórico-
-biográfico brasileiro pós-1930, op. cit.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 197
109
Estado e Oposição no Brasil, p. 200. Uma análise da dinâmica da transição no interior da
instituição militar pode ser encontrada em OLIVEIRA, Eliezer Rizzo de. Conflitos militares
e decisões políticas sob a presidência do general Geisel (1974-1979). In: ROUQUIÉ, Alan
(Coord.) Os partidos militares no Brasil. Rio de Janeiro: Record, [s. d.], p. 114-153.
110
Ver depoimento de um membro do aparato de repressão em “Autópsia da sombra”, Veja,
8 de novembro de 1992.
111
Disponível em: <http://resistir.info/brasil/massacre_pcb.html#asterisco>. Acesso em: 7
fev. 2014.
112
Peter Flynn chama, de passagem, a atenção para o impacto que a revolução em Portugal
teve sobre a política brasileira, em especial sobre segmentos militares envolvidos direta-
mente com a repressão política, que teriam ficado temerosos de que processo de ruptura
198 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
semelhante no Brasil pudesse reproduzir medidas tomadas naquele país europeu contra
membros das forças armadas comprometidos com a ditadura salazarista. Brazil: a political
analysis. Boulder (CO): Westview Press, 1978, p. 480.
113
GOMES, Bernardino; SÁ, Tiago Moreira de. Carlucci vs Kissinger. Os EUA e a revolução
portuguesa. Lisboa: D. Quixote, 2008.
114
Ou uma “reação com táticas democráticas”, como prefere Valério Arcary, em “A revolu-
ção solitária”. In: VARELA, Raquel (Coord.). Revolução ou transição: história e memória da
Revolução dos Cravos. Lisboa: Bertrand, 2012, p. 14.
115
GOMES, Bernardino e SÁ, Tiago Moreira de, op. cit., p. 72-73, 247-248.
116
A impactante imagem que a revolução portuguesa ‒ como ameaça comunista ‒ projetou
sobre a burguesia brasileira emerge da cobertura que dois dos principais órgãos da imprensa
burguesa brasileira – a revista Veja e o jornal Folha de S. Paulo ‒ lhe dedicaram. Ver SILVA,
Carla Luciana. A Revolução de Abril na imprensa brasileira. In: VARELA, Raquel (Coord.),
op. cit., p. 207-227. Informações sobre a maneira como a cúpula militar do governo Geisel
via a questão portuguesa em 1975 se encontram em GASPARI, Elio. A ditadura encurralada.
São Paulo: Companhia das Letras, 2004, p. 29-31.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 199
Outra situação que pode ter sido incorporada ao cálculo político dos
distensionistas foi a do fim do Estado Novo varguista (1937-1945). Destro-
çado pela repressão durante o regime, o PCB, graças à imagem martirizada
de seu líder Luís Carlos Prestes e ao prestígio alcançado pela União Sovié-
tica no fim da Segunda Guerra Mundial, obteve a terceira maior votação
nas eleições presidenciais de 1945, mesmo tendo como candidato um enge-
nheiro politicamente obscuro que sequer pertencia aos quadros do partido,
Iedo Fiúza.
Embora o PCB não constituísse um partido revolucionário na primeira
metade da década de 1970, a sua legenda poderia representar um problema
para os rumos da distensão, pela imprevisibilidade da dinâmica eleitoral
em conjunturas de transição, como indicado pelos dois exemplos acima.
E, também, porque setores militares do regime contrários ao processo de
transição e desesperadamente anticomunistas poderiam fazer pressões so-
bre o governo do general Ernesto Geisel para restringir as metas políticas.
No espectro político brasileiro da época, não haveria força organizada
em que se apoiar para neutralizar uma eventual aparição do PCB em um
cenário político de redemocratização, papel afinal cumprido em Portugal
pelo Partido Socialista. Possivelmente por esses dois fatores, a opção do go-
verno terá sido enfraquecer o partido por meio do assassinato de dirigentes
e outros quadros partidários.
Esta hipótese encontra apoio na análise das forças de esquerda clan-
destinas feita pelo Serviço Nacional de Informações (SNI) em março de
1974, portanto, no mês da posse do general Ernesto Geisel na Presidên-
cia da República e pari passu com a crise política em Portugal. O docu-
mento é intitulado “Panorama atual da subversão no país e suas ligações
mais acentuadas no exterior”.117 O seu sumário é constituído por quatro
itens: Organizações subversivas (O que é; situação atual; possibilidades);
Clero; Área estudantil e Área trabalhista. No item referente às organizações
subversivas, são listadas vinte, mas foram analisados apenas o Partido Co-
munista Brasileiro (PCB), o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), a Ação
Popular Marxista-Leninista do Brasil (APML-B) [sic] e a Aliança Nacional
117
Presidência da República. Serviço Nacional de Informações. Agência Central. Documen-
to de Informações n. 0055/10/AC/74. 28 mar 74. Difusão: Chefe do SNI (2 exemplares).
Disponível em: <https://www.ufmg.br/brasildoc/temas/2-orgaos-de-informacao-e-repres-
sao-da-ditadura/2-4-sni/>. Acesso em: 11 maio 2016.
200 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
118
Folha 6.
119
Ver GASPARI, Elio. A ditadura encurralada, p. 30.
120
Folha 4.
121
Idem.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 201
segmento do clero, o que deveria ser examinado com atenção, “uma vez que,
de tal entrosamento, poderão advir dificuldades para a ação dos órgãos de
segurança, nem sempre suficientemente orientados quanto à mais adequada
e aconselhável forma de aturarem contra apoio de tal espécie”.122
Contudo, o tópico em que mais se evidencia a visão que o principal
órgão de inteligência do regime tinha das condições em que se deveria tra-
var a luta contra o comunismo é referido ao Partido Comunista Brasileiro
(PCB). Se, por um lado, a vetusta agremiação comunista é caracterizada
como uma força avessa à revolução violenta, o que certamente deveria
agradar ao aparato de segurança, é, por outro, considerada a principal e
mais perigosa organização de esquerda em atividade no país. O registro
de que o partido seguia a orientação da União Soviética (Moscou) “para a
conquista do poder através de meios pacíficos” robustece a hipótese de que
o SNI não estava preocupado prioritariamente com a esquerda armada,
reduzida e controlada. O foco era dirigido para a estratégia pacifista, a um
só tempo mais visível e mais difícil de controlar e reprimir, porque preocu-
pada em manter-se dentro da legalidade.
122
Folha 5.
123
Folha 2. Grifo meu.
202 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
O jornalista Elio Gaspari procura dissociar a ação repressiva contra o PCB do presidente
124
Geisel, colocando-a na conta do aparato do Exército: “Sem terroristas para caçar e com o
Araguaia devolvido ao silêncio da floresta, o Centro de Informações do Exército avançara
novamente sobre o Partido Comunista. Essa ofensiva, lançada no início de 1975, abriu a pri-
meira crise militar do governo Geisel”. A ditadura encurralada, p. 24. Nas páginas seguintes,
dá informações sobre os objetivos da ofensiva.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 203
125
IstoÉ, 8 de fevereiro de 1978. Jornal do Brasil, 27 de fevereiro de 1978. Câmara dos De-
putados. Diretoria de Registro Taquigráfico de Debates. Seção de Histórico de Debates não
registra este projeto.
126
Fundada em 1948 com o objetivo de reunir os cientistas brasileiros em torno da luta
“pelo progresso e pela defesa da Ciência” no Brasil, “como as centenárias associações inglesa
e norte-americana, a francesa, a italiana, a argentina e outras”. Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência. Ciência e Cultura [online], v. 62, n. esp. 1, p. 1-3, 2010. Em diferentes
momentos, a SBPC expressou posições contrárias a governos cujas práticas colidiam com o
seu programa. Após o golpe de 1964, atuou em defesa de cientistas que foram afastados de
universidades e centros de pesquisa por razões políticas e constituiu, durante muito tempo,
em especial durante seus encontros anuais, um importante espaço de manifestação de seto-
res oposicionistas ao regime ditatorial. Agência Fapesp. Balanço histórico da SBPC. Dispo-
nível em: <http://agencia.fapesp.br/9130>. Acesso em: 18 jan. 2014.
127
AMARAL, Mariana. Anjo da guarda. Caros Amigos, ano V, n. 53, p. 22, ago. 2001.
204 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
128
CABRAL, Jaqueline. Alcides Franciscato. In: ABREU, Alzira Alves de et al. (Coord.) Di-
cionário histórico-biográfico brasileiro pós-1930, op. cit.
129
Para as informações parlamentares relativas a 1976: Câmara dos Deputados. Diretoria
de Registro Taquigráfico de Debates. Seção de Histórico de Debates, sessões em 22 de abril,
11 e 21 de maio, 9, 12, 27 e 30 de agosto, 3, 9, 20 e 28 de setembro, 4, 19 e 23 de novembro.
130
ZERBINE, Therezinha Godoy, op. cit., p. 73-74, 84-86.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 205
131
Boletim ABI, maio/junho de 1976, p. 6. Grifo meu.
132
Ver OLIVEIRA, Eliezer Rizzo de. As Forças Armadas: política e ideologia no Brasil (1964-
1969). Petrópolis, RJ: Vozes, 1976.
133
ZERBINE, Therezinha Godoy, op. cit., p. 84, 90.
134
O Pasquim, Rio de Janeiro, 8-14 de julho de 1977 apud ZERBINE, Therezinha Godoy,
op. cit., p. 86.
135
ZERBINE, Therezinha Godoy, op. cit., p. 11. Ver, também, LANNA, Anna Flávia Arruda.
“Mulheres e anistia: entre bandeiras e fuzis”. Disponível em: <http://www.ichs.ufop.br/coni-
fes/anais/MPC/mpc0405.htm>. Acesso em: 13 jan. 2016.
136
Jornal do Brasil, 16 de abril de 1978.
137
Anistia, p. 13.
138
Ibidem.
206 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
139
Em agosto de 1978, segundo estimativas de Zerbine, o MFPA contava com cerca de qui-
nhentas participantes ativas, já tendo sido apoiado, somando-se as diversas ocasiões, por
cerca de cem mil pessoas. ZERBINE, Therezinha Godoy, op. cit., p., 218
140
Idem, p. 156.
141
Todas as informações em Brasil dia a dia, p. 78. Uma rica pesquisa sobre as articulações
terroristas da extrema-direita civil-militar brasileira encontra-se em ARGOLO, José Ama-
ral; RIBEIRO, Kátia Maria; FORTUNATO, Luiz Alberto. A direita explosiva no Brasil. Rio
de Janeiro: Mauad, 1996.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 207
cito para que não haja torturas. Eu não nego que elas existam neste país
e lamento que haja elementos despreparados trabalhando em setores nos
quais há essa violação dos direitos da pessoa humana”.142 Percebe-se, no
trecho grifado por mim, o artifício retórico que procura despolitizar a
ação dos elementos de extrema-direita, na verdade, peças constituintes
do regime, uma vez que localizados nos aparelhos de repressão do Esta-
do. A atribuição das práticas violentas a condutas excepcionais dissocia
o uso da tortura da natureza própria da ditadura, apresentando-a como
“acidente de trabalho” ou produto de idiossincrasias de funcionários do
governo. Em outras áreas situacionistas, contudo, havia mais pressa em
reverter o quadro político que ensejava práticas de violência. Em discur-
so de recepção a um novo ministro no Superior Tribunal Militar (STM),
general Reinaldo Melo de Almeida, o general Rodrigo Otávio Jordão Ra-
mos pediu, em 10 de dezembro, uma nova Constituição ‒ mais liberal ‒,
o fim dos atos de exceção e o restabelecimento das tradicionais garantias
do Judiciário.143
A estratégia distensionista do regime ditatorial estava sendo exigida ao
máximo em seu aspecto de equilibrismo. Para tornar segura a distensão
lenta e gradual, o governo, ao mesmo tempo em que enfraquecia a oposição
militar, recorria ao arsenal de instrumentos ditatoriais de segurança, em
especial os atos institucionais, contra setores da oposição resistentes ao seu
projeto. Com base no AI-5, reprimiu oposições sindicais, cassou mandatos
e suspendeu direitos políticos em grande quantidade, reavivando velhas
acusações de 1964 − ligações com os comunistas e corrupção −, às quais
agregou as de ofensa à “Revolução de 1964” e ao regime, críticas aos órgãos
de segurança etc.
A mão repressiva do governo – presidido, observe-se, por um protestan-
te luterano ‒ fechou o ano de 1976 em grande estilo. Em 15 de dezembro,
o sacerdote católico francês François Jacques Jentel, enquadrado na Lei de
Segurança Nacional, foi expulso do país.144 No dia seguinte, uma operação
policial no bairro paulistano da Lapa resultou na morte de três dirigentes
do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) − Pedro Pomar, Ângelo Arroio
142
Brasil dia a dia, p. 90.
143
Idem, p. 114.
144
Brasil dia a dia p. 123. Para detalhes, ver ALVES, Márcio Moreira. L’Église et la Politique
au Brésil, p. 183-185; SERBIN, Kenneth P. Diálogos na sombra, op. cit., capítulo seis.
208 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
Com a posse de James Earl “Jimmy” Carter, Jr. na Presidência dos EUA,
em 20 de janeiro de 1977, uma peça fundamental do jogo de xadrez políti-
co na América Latina mudou de posição, com reflexos na situação interna
brasileira: a estratégia estadunidense em relação ao subcontinente. Jimmy
Carter se notabilizaria por sua “política de direitos humanos”. À sombra da
plataforma liberal voltada para a garantia de direitos individuais que, de
resto, a sua diplomacia desde muito ajudava a sufocar na América Latina,
os EUA passaram a exercer pressão sobre governos ancorados em regimes
ditatoriais. Como fora, no mínimo, promotor de todos eles, estabeleceu-se
um aparente desencontro entre a nova política e os interesses que o Estado
norte-americano tradicionalmente defendera na área. A aparência de de-
sencontro, entretanto, se esfuma quando o giro político da promoção de
golpes e patrocínio de ditaduras à diplomacia de defesa dos direitos huma-
nos é situado devidamente na conjuntura internacional da década de 1970.
Já em 1976, alguns analistas percebiam que a diplomacia dos EUA vi-
nha, em seu relacionamento com os países da América do Sul, reduzindo
a ênfase em táticas militares associadas à estratégia da contrainsurgência,
adotada desde os primeiros anos do pós-Segunda Guerra Mundial. Desde
então, a política externa do país tivera como eixo o anticomunismo, com
foco na União Soviética (URSS), em face da qual, especialmente entre 1948
e 1958, foi mantida uma atitude rígida e potencialmente belicista. A polí-
145
Ver POMAR, Pedro Estevan da Rocha. Massacre na Lapa. Como o Exército liquidou o
Comitê Central do PCdoB. São Paulo, 1976. São Paulo: Busca Vida, 1987.
146
MARTINS, Roberto Ribeiro. Liberdade para os brasileiros, p. 140.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 209
147
SIST, Arturo; IRIARTE, Gregório. Da segurança nacional ao trilateralismo. Razões pelas
quais o governo Carter defende a vigência dos direitos humanos. In: ASSMAN, Hugo (Ed.).
A Trilateral – nova fase do capitalismo mundial. Trad. Hugo Pedro Boff. Petrópolis, RJ:
Vozes, 1979, p. 168.
148
Idem, p. 172.
149
Do francês deténte, adotado no jargão diplomático internacional e, também, como já foi
visto, utilizado em tradução para nomear o processo de transição política brasileiro em seu
início.
210 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
151
Idem, p. 168. Ver, também, IANNI, Octavio. Imperialismo y cultura de la violencia em
America Latina. 6. ed. Mexico D.F.: Siglo Veintiuno, 1970; e VENERONI, Horacio L. Estados
Unidos y las fuerzas armadas de America Latina. Buenos Aires: Periferia, 1971. Uma esclare-
cedora apresentação das conexões policiais entre os EUA e a América Latina encontra-se em
HUGGINS, Martha. Polícia e política: relações Estados Unidos/América Latina. Trad. Lólio
Lourenço de Oliveira. São Paulo: Cortez, 1998.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 211
agora tingido de moralidade e de idealismo ... Para isso, nada melhor do que
içar, diante da fachada do mundo, o estandarte dos direitos humanos.152
152
SIST, Arturo; IRIARTE, Gregório, op. cit., p. 177-178.
153
Jornal do Brasil, 13 de agosto de 1974, p. 7.
154
“A new face for counter-revolution”, NACLA, New York, v. 11, July 1977, n. 6. Sobre a
fortuna das ideias pioneiras sustentadas nesses três artigos, informa o autor: “De forma mais
elaborada, desenvolvi essa tese na intervenção que fiz numa mesa-redonda do Núcleo de
Estudos do Caribe e da América Latina (NECLA), do México, da qual participaram Agus-
tín Cueva, Theotônio [dos Santos] e Pío García, sendo o debate publicado em Cuadernos
Políticos, nesse mesmo ano, e no ensaio “La cuestión del Estado en las luchas de clases en
América Latina”, que, em 1979, levei à conferência que, anualmente, os iugoslavos promo-
viam em Cavtat. O texto de Cavtat saiu em várias publicações, entre elas Socialism in the
World, revista multilíngue iugoslava; Monthly Review en Castellano (Barcelona); Cuadernos
del CELA (UNAM); Boletín de la Asociación Latinoamericana de Información (ALAI), sen-
do, finalmente, incluído no reading editado pela Universidade Autônoma Metropolitana, do
México, El Estado militar”. MARINI, Ruy Mauro. Escritos. Memória. Disponível em: <http://
www.marini-escritos.unam.mx/001_memoria_port.htm>. Acesso em: 25 nov. 2013. Sobre a
NACLA, ver GREEN, James N., op. cit., p. 112-114.
212 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
155
Cf. CROZIER, Michel; HUNTINGTON, Samuel P.; WATANUKI, Joji. The crisis of demo-
cracy: report on the governability of democracies to the Trilateral Commision. New York:
New York University Press, 1975. Um perspicaz analista percebeu de imediato a relevância
das teses contidas neste relatório no quadro da discussão das alternativas postas ao regime
democrático nos Estados Unidos: GÓES, Walder de. A democracia americana (4/7/1976).
In: ______. O Brasil do General Geisel, p. 181-183. No seu entendimento, para os autores
do relatório, “o problema é que a democracia estaria exigindo do Estado mais atividade,
enquanto lhe concede menos autoridade”.
156
MARINI, Ruy Mauro. Escritos. Memória. Disponível em: <http://www.marini-escritos.
unam.mx/001_memoria_port.htm>. Acesso em: 25 nov. 2013. Tradução minha.
157
MARINI, Ruy Mauro. “A new face for the counter-revolution”, p. 3-4. Tradução minha. A
“política de direitos humanos” era, contudo, seletiva: “Para avaliar o pragmatismo político
de Carter – tão distanciado do idealismo bonachão – basta lembrar que a política em favor
dos direitos humanos não será aplicada na Coréia do Sul, nas Filipinas e no Irã, pela simples
razão de que, pelo momento, isto não convém aos interesses dos EUA. O próprio Carter
assim o declarou. Entretanto, todos sabem que esses países cometem graves violações”. SIST,
Arturo; IRIARTE, Gregório, op. cit., p. 179.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 213
158
Para uma estimulante análise das injunções internacionais da transição espanhola, ver, de
Encarnación Lemus: Em Hamelin... La transición española más allá de la frontera. Oviedo:
Septem, 2001; e Estados Unidos y la transición Española. Entre la revolución de los claveles y
la Marcha Verde. Madrid: Sílex, 2011.
159
GONZÁLEZ, J. C. A América Latina e a situação internacional. Versus, São Paulo, n. 28,
p. 20-21, jan. 1979.
160
Presidente do Chase Manhattan Bank – então, o terceiro dos EUA. Segundo um pesqui-
sador, a Comissão Trilateral foi criada como um departamento do Chase Manhattan Bank,
como um projeto rockfelleriano e com um objetivo claro: “oferecer respostas, dentro do
capitalismo contemporâneo, aos problemas econômicos e sociais da época, sem perder as
tradicionais posições de força. Em outras palavras, tentava-se trilateralizar as decisões do
capitalismo industrial em uma etapa de transformações e transnacionalização indubitáveis
da economia”. GARCIA, Enrique Ruiz. La era de Carter. Las transnacionales, fase superior
del imperialismo. Madrid: Alianza Editorial, 1978, p. 35. Tradução minha. Ver outra pers-
pectiva em: SHOUP, Laurence. The Carter Presidency and Beyond: Power and Politics in the
1980’s. Palo Alto: Ramparts Press, 1980. Rockfeller esteve, no ano de fundação da Comissão
Trilateral, na vanguarda do movimento de aproximação econômico-financeira entre seu
país e a União Soviética: abriu a primeira filial do Chase Manhattan Bank em Moscou, com
endereço, ironicamente, na Praça Karl Marx, e tornou-se presidente do Overseas Develo-
214 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
[…] nos poucos meses que já se passaram depois que Carter assumiu a Pre-
sidência dos EUA, suas ideias e novas posições diante dos regimes militares
da América Latina já se fizeram sentir, de maneira clara e contundente. […]
Muitos chegaram a pensar que a defesa dos direitos humanos era a prin-
cipal motivação da política de Carter, sem perceber que ela não é senão a
consequência de análise e tomadas de posição muito mais transcendentais
para a segurança e a expansão do poderio norte-americano. A defesa dos
direitos humanos é talvez o elemento mais cotidiano e sensacional; porém,
o mais profundo e determinante nasce da crise econômica mundial, minu-
ciosamente analisada pelos que integram a Comissão Trilateral.164
pment Council of the US-USSR Trade and Economic Council, fundado igualmente nesse
ano. Disponível em: <http://wikispooks.com/ISGP/organisations/introduction/PEHI_Da-
vid_Rockefeller_bio.htm>. Acesso em: 30 nov. 2013.
161
GARCIA, Enrique Ruiz Garcia, op. cit.; SIST, Arturo; IRIARTE, Gregório, op. cit., p. 171.
Ver, também, CHOMSKY, Noam. A administração Carter: mito e realidade. Encontros com
a Civilização Brasileira, n. 15, p. 11-42, set. 1979; e DINIZ, Freitas. Trilateralismo, a receita
das multinacionais para o regime militar brasileiro. Encontros com a Civilização Brasileira,
n. 16, outubro de 1979, p. 15-26.
162
SIST, Arturo; IRIARTE, Gregório, op. cit., p. 171.
163
Ibidem. GARCIA, Enrique Ruiz, op. cit.
164
SIST, Arturo; IRIARTE, Gregório, op. cit., p. 170.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 215
165
GONZÁLEZ, J. C. “A América Latina e a situação internacional”, p. 21.
166
Idem, p. 23. Consultar HOEVELER, Rejane Carolina. As elites orgânicas transnacionais
diante da crise: os primórdios da Comissão Trilateral (1973-1979), op. cit.
167
Jornal do Brasil, 13 de agosto de 1974, p. 7.
168
SIST, Arturo; IRIARTE, Gregório. “Da segurança nacional ao trilateralismo. Razões pelas
quais o governo Carter defende a vigência dos direitos humanos”, p. 167. Um balanço do efe-
tivo alcance da “política de direitos humanos pode ser encontrado em HOEVELER, Rejane
Carolina, op. cit., cap. 5.
216 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
De um lado, esses regimes são hostilizados pela opinião pública das demo-
cracias ocidentais, cujos líderes veem-se forçados a adotar cuidados espe-
ciais para evitar que seus compromissos com autoritarismos externos com-
prometam sua posição interna. De outro, entende-se nos Estados Unidos e
na Europa ocidental que os regimes autoritários de direita estão, no fundo,
preparando terreno para a reação de esquerda, tornando-se, em consequên-
cia, potencialmente perigosos para os interesses básicos do Ocidente demo-
crático. A recente pressão liberal ou semiliberal dos empresários paulistas169
resulta de aplicação dessa análise às relações das classes sociais. Sem em-
bargo do apoio dado pela comunidade empresarial do Ocidente a regimes
autoritários de direita, verifica-se que um número crescente de empresários
compreende que a longo prazo o esmagamento dos cenários democráticos
conspira contra seus interesses. O Ocidente democrático como um todo
tende a abandonar regimes militares como os do Cone Sul.170
169
Ver mais à frente.
170
GÓES, Walder de. O Brasil do General Geisel, p. 166.
171
A propósito, ver VIZENTINI, Paulo Fagundes. A política externa do regime militar bra-
sileiro. Multilateralização, desenvolvimento e construção de uma potência média (1964-
1985). Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 1998, p. 197-270.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 217
O ano inicial do governo Geisel fora pródigo em eventos com essa sig-
nificação. O Brasil foi o primeiro país a reconhecer o governo português, de
orientação socialista, saído da Revolução dos Cravos três dias depois da sua
eclosão em 27 de abril de 1974. Na esteira do desfecho da revolução anti-
colonial africana, visceralmente ligada à queda do salazarismo, reconheceu
imediatamente a independência, obtida sob a direção de coalizões dirigidas
por socialistas e comunistas, de Giné-Bissau, em julho, e de Angola, em no-
vembro de 1975. Esta, por sinal, no dia seguinte à sessão da ONU em que foi
aprovada, com o voto do delegado brasileiro, a moção condenatória do regi-
me de apartheid da África do Sul, apoiado pela diplomacia dos EUA, como
um sistema racista. Ainda em 1974, o governo brasileiro reconhecera a Re-
pública Popular da China, restabelecendo relações rompidas logo após o gol-
pe de 1964 e, em consequência, suspendendo o relacionamento com Taiwan
(China nacionalista), considerado importante ponto de apoio geopolítico na
Ásia pelos EUA, cujo governo só adotaria a mesma medida em 1978.
Um dos mais importantes itens do contencioso nas relações entre os
EUA e o Brasil no período disse respeito à política nuclear, item central do
conjunto de preocupações estratégicas de ambos os países. Um acordo para
financiamento de um complexo tecnológico e construção de uma usina nu-
clear no município de Angra dos Reis (RJ) fora firmado entre os governos
dos dois países em setembro de 1972. As negociações, contudo, não pro-
grediram e, em junho de 1975, o governo brasileiro assinou com a Repú-
blica Federal da Alemanha um acordo sobre cooperação para uso pacífico
da energia nuclear.172 O acordo foi muito mal recebido pelo governo dos
EUA, diante da possibilidade de que o Brasil viesse a adquirir condições
para produzir a bomba atômica. Em 27 de fevereiro de 1977, chegava ao
país o subsecretário de Estado Warren Christopher para discutir aspectos
do documento e pressionar diretamente o governo brasileiro. Alguns dias
depois, o general Geisel anunciou o rompimento do acordo militar que o
Brasil tinha com os EUA desde 1952.
A conduta do governo Geisel na questão nuclear correspondeu às ca-
racterísticas militares do Estado brasileiro. Desde, pelo menos, a década
de 1910, quando um segmento do oficialato, que ficaria conhecido como
172
Ver LIMA, Maria R. Acordo nuclear Brasil-Alemanha. In: ABREU, Alzira A. et al.
(Coord.). Dicionário histórico-biográfico brasileiro pós-1930; e ANDRADE, Ana Maria Ri-
beiro de. A opção nuclear: 50 anos rumo à autonomia. Rio de Janeiro: MAST, 2006.
218 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
173
Sobre os “jovens turcos”, ver CAPELLA, Leila Maria Corrêa. As malhas de aço do tecido
social: a revista A Defesa Nacional e o serviço militar obrigatório. Dissertação (Mestrado
em História) – Universidade Federal Fluminense, Niterói, 1985; e LUNA, Cristina Monteiro
de Andrada. O desenvolvimento do Exército brasileiro e as relações militares entre Brasil e
Alemanha (1900-1920). Tese (Doutorado em História Social) –Universidade Federal do Rio
de Janeiro, Rio der Janeiro, 2011.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 219
174
Sobre o encontro, ver GASPARI, Elio. A ditadura encurralada, p. 391-398.
175
Em represália, o deputado enviou, logo em seguida, uma carta a Rosalyn Carter, de-
nunciando que funcionários brasileiros da embaixada dos Estados Unidos não tinham suas
carteiras profissionais assinadas. CARMINA, Maria; SOUSA, Luís Otávio de. Álvaro Vale.
In: ABREU, Alzira Alves de et al. (Coord.). Dicionário Histórico-biográfico brasileiro pós-
1930, op. cit.
220 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
176
Brasil dia a dia, p. 90.
177
Idem, p. 115. Mais detalhes em: RODEGHERO, Carla Simone; DIENSTMANN, Gabriel;
TRINDADE, Tatiana. Anistia ampla, geral e irrestrita, p. 84-88. Essas cassações seriam as
últimas praticadas pelo regime ditatorial.
178
Brasil dia a dia, p. 90.
179
Idem, p. 115. Sobre o caráter de “frente” do MDB e o papel particular que o PCB cumpriu
no seu interior, consultar KINZO, Maria D’Alva Gil. Oposição e autoritarismo, p. 55-60.
180
Brasil dia a dia, p. 123. Ver ALVES, Márcio Moreira. L’Église et la Politique au Brésil; e
SERBIN, Kenneth P. Diálogos na sombra.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 221
181
Ver detalhes em GREMAUD, Amaury Patrick; PIRES, Júlio Manuel. “II Plano Nacional
de Desenvolvimento – II PND (1975-1979)”. In: KON, Anita (Org.). Planejamento no Brasil
II. São Paulo: Perspectiva, 1999, p. 67-102.
182
LESSA, Carlos. A estratégia do desenvolvimento 1974-76: sonho e fracasso. Rio de Janeiro.
Tese de professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1978 (mimeo); CAS-
TRO, Antônio Barros de; SOUZA, Francisco Eduardo Pires de. A economia brasileira em
marcha forçada. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985; TAVARES, Maria da Conceição; ASSIS, J.
Carlos de. O grande salto para o caos. A economia política e a política econômica do regime
autoritário. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985; CRUZ, Sebastião Velasco e. Empresariado e
Estado na transição brasileira. Um estudo sobre a economia política do autoritarismo (1974-
77). São Paulo: Editora Unicamp/Fapesp, 1995; AGUIRRE, Basília Maria Baptista; SADDI,
Fabiana da Cunha. Uma alternativa de interpretação do II PND. Revista de Economia Po-
lítica, São Paulo, v. 17, n. 4, p. 78-98, out./nov. 1997; e “A fantasia política ou a política da
fantasia?”. Revista de Economia Política, São Paulo, v. 18, n. 2, p. 145-147, abr./jun. 1998;
VELLOSO, João P. R. A fantasia política: a nova alternativa de interpretação do II PND.
Revista de Economia Política, São Paulo, v. 18, n. 2, p. 133-144, abr./jun. 1998.
183
MANTEGA, Guido. O governo Geisel, o II PND e os economistas, p. 3. Disponível em:
Disponível em: <http://hdl.handle.net/10438/2935>. Acesso em: 9 fev. 2014.
222 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
[…]
Contrariando as aparências da primeira hora, Geisel faria um dos governos
mais intervencionistas do ciclo militar, respondendo ao cenário recessivo que
se formava no horizonte internacional com a manutenção de altas taxas de
investimento. Reagiu aos ventos neoliberais, que sopravam com muita for-
ça dos países mais avançados em direção ao Continente Latino-americano
[sic], com um programa econômico estritamente desenvolvimentista, que só
ampliava a já considerável participação do Estado brasileiro na economia.184
184
Idem, p. 5.
185
Uma excelente análise do estilo de governo adotado por Geisel se encontra em CODATO,
Adriano Nervo. Sistema estatal e política econômica no Brasil pós-64. São Paulo: HUCITEC;
ANPOCS; Curitiba: Editora UFRJ, 1997. Ver, especialmente, p. 71-77.
186
Instituído em 1 de maio de 1974.
187
CODATO, Adriano Nervo, op. cit.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 223
188
Idem.
224 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
vido à fraqueza do setor nacional, que não possuía nem os recursos do setor
estatal e nem o poder tecnológico e financeiro das empresas estrangeiras.
189
MANTEGA, Guido. O governo Geisel, o II PND e os economistas.
190
Ver MALIN, Mauro; COSTA, Marcelo. Severo Gomes. In: ABREU, Alzira Alves de et al.
(Coord.). Dicionário histórico-biográfico brasileiro pós-1930, op. cit.
191
Para uma biografia elogiosa de Gudin, ver SCALERCIO, Márcio. Eugênio Gudin. Inventá-
rio de flores e espinhos. Um liberal em estado puro. Rio de Janeiro: Insight, 2012.
192
SCALERCIO, Márcio. Eugênio Gudin, p. 244.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 225
193
CARDOSO, Fernando Henrique. O papel dos empresários no processo de transição: o
caso brasileiro. Dados, Rio de Janeiro, v. 26, n. 1, p. 23-25, 1983. Ver, a propósito da relação
entre o conjunto da burguesia industrial brasileira e os regimes de dominação classista, o
ensaio ‒ contemporâneo aos fatos discutidos e integrante de coletânea por eles motivada ‒
de CERQUEIRA, Eli Diniz; BOSCHI, Renato Raul. Elite industrial e Estado: uma análise
da ideologia do empresariado nacional nos anos 70. In: MARTINS, Carlos Estevam (Org.).
Estado e capitalismo no Brasil. São Paulo: HUCITEC, 1977, esp. p. 182-187.
226 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
res sociais. A pressão pela autonomia das categorias sociais e pela quebra
de vínculos com o Estado foi encorajada (noutras classes) pela Igreja, teve
franca acolhida entre intelectuais e foi transformada em política por sindi-
calistas. Os empresários, por seu turno, manifestaram-se favoravelmente à
quebra de liames corporativistas entre o Estado e a sociedade. Há, mesmo,
um certo paralelismo na visão dos empresários sobre o tipo de socieda-
de emergente e na que prevalece entre lideranças operárias, intelectuais e
eclesiásticas. Pode-se detectar um modo comum de articulação do discurso
político geral destas distintas categorias sociais.
Parecem existir, portanto, elementos estruturais, derivados da formação de
uma sociedade industrial e de massas, que levam à busca de um modelo so-
cietário que valoriza a sociedade civil frente ao Estado. É de notar que, assim
como a liderança trabalhista autêntica ampliou seu espaço e ocupou sindi-
catos e movimentos intersindicais, empresários liberalizantes aumentaram
sua influência nas organizações de classe e chegaram a controlar a poderosa
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. A partir desta posição re-
forçaram, simultaneamente, seus contatos com o governo e com as oposições.
[…]
Não creio, contudo, que se possa sustentar a ideia de que existe um hori-
zonte de possibilidades para uma ‘hegemonia burguesa’ nova constituída a
partir da liderança de empresários nacionais, empenhados na construção
de uma sociedade democrática.194
194
CARDOSO, Fernando Henrique. “O papel dos empresários no processo de transição: o
caso brasileiro”, p. 23.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 227
195
Brasil dia a dia, p. 115.
196
Câmara dos Deputados. Diretoria de Registro Taquigráfico de Debates. Seção de Históri-
co de Debates, sessão em 22 de março de 1977.
197
A Espanha passava, nesse momento, por uma fase orientada pela mesma estratégia políti-
ca do aberturismo brasileiro: sair da ditadura franquista para uma “democracia concedida”,
de maneira suave, controlada, isenta de rupturas institucionais que pudessem colocar em
risco a ordem econômico-social. Sobre o processo político na Espanha, ver LEMUS, Encar-
nación. En Hamelin ... La transición española más allá de la frontera, op. cit. Visões diferen-
tes, de perspectivas conservadoras, podem ser encontradas em DUPAS, Gilberto (Org.). A
transição que deu certo: o exemplo da democracia espanhola. Trad. Martha Soares Cirne de
Toledo e José Eduardo de Faro Freire. São Paulo: Trajetória Cultural, 1989.
228 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
198
COITINHO, Angélica do Carmo. “O Superior Tribunal Militar durante a ditadura brasi-
leira: a atuação do Ministro General de Exército Rodrigo Otávio Jordão Ramos (1973-1979)”.
Disponível em: <http://www.encontro2010.rj.anpuh.org/resources/anais/8/1282589987_
ARQUIVO_AngelicadoCarmoCoitinho_OSuperiorTribuna.pdf>. Acesso em: 20 nov. 2013.
Da mesma autora: Sob a toga e a farda: o ministro general de exército Rodrigo Octávio Jor-
dão Ramos no Superior Tribunal Militar (1973-1979). Dissertação (Mestrado em História)
– Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012.
199
É muito ampla a literatura que trata deste tema, mas pode-se afirmar que boa parte dela
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 229
entende o “Pacote de Abril” como apenas um pretexto para a adoção de medidas duras ou
um retrocesso no processo distensionista.
200
Uma boa análise das reformas é a que se encontra em ALVES, Maria Helena Moreira.
Estado e Oposição no Brasil (1964-1984), p. 192-196.
201
Sobre aspectos técnicos das emendas, ver JACQUES, Paulino. As emendas constitucionais
n. 7, 8 e 9 explicadas. Rio de Janeiro: Forense, 1977.
202
Os senadores eleitos indiretamente foram apelidados pela oposição, jocosamente, de
“biônicos”, em alusão ao seriado “O homem biônico” (também conhecido no Brasil como
“O Homem de seis milhões de dólares”, do nome original em inglês, “The Six Million Dollar
Man”), apresentado na televisão, cujo protagonista havia sido “reconstruído” após um aci-
dente e seu braço direito, as pernas e o olho esquerdo, substituídos por peças cibernéticas
ou “biônicas”. Em suma, a metáfora sugeria que o laboratório da ditadura produzira um
Frankenstein político.
230 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
que esta emenda operou no estatuto das polícias militares, cujos membros
passaram a ser julgados por tribunais militares especiais, compostos de ofi-
ciais da própria corporação. Maria Helena Moreira Alves percebeu o al-
cance desta medida para a consolidação do aparato repressivo da ditadura:
203
Nota n. 12, op. cit, p. 192.
204
Ibidem.
205
Idem, p. 315.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 231
206
Este decreto introduziu o “abono pecuniário de férias” na CLT (Decreto-lei nº 5.452, de 1º
de maio de 1943). Significativamente, pois foi baixado quando sindicatos de trabalhadores
começavam a se mobilizar contra a política salarial do regime ditatorial, teve o início de
vigência marcado também para 1º de maio, Dia do Trabalhador, ao contrário dos demais,
que começariam a vigorar de imediato, na data da sua publicação.
207
KINZO, Maria D’Alva Gil. Oposição e autoritarismo, p. 191.
232 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
208
Câmara dos Deputados. Diretoria de Registro Taquigráfico de Debates. Seção de Históri-
co de Debates, sessão em 27 de abril de 1977.
209
Brasil dia a dia, p. 115. Folha de S. Paulo, 10 de maio de 1977.
210
Brasil dia a dia, p. 115.
211
Ver mais informações em BENJAMIN, Iramaya. Ofício de mãe. Depoimento a Margarida
Autran. Rio de Janeiro: Marco Zero, [1982], p. 69-76.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 233
212
Folha de S. Paulo, 10 de maio de 1977.
213
Reproduzida em ZERBINE, Therezinha Godoy, op. cit., p. 161-174.
214
Câmara dos Deputados. Diretoria de Registro Taquigráfico de Debates. Seção de Históri-
co de Debates, sessão em 10 de junho de 1977.
215
Brasil dia a dia, p. 115.
216
Câmara dos Deputados. Diretoria de Registro Taquigráfico de Debates. Seção de Históri-
co de Debates, sessão em 21 de junho de 1977.
234 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
217
Câmara dos Deputados. Diretoria de Registro Taquigráfico de Debates. Seção de Históri-
co de Debates, sessão em 24 de junho de 1977. O Globo, Rio de Janeiro, 18 de julho de 1978.
Anistia, p. 14.
218
MARTINS, Roberto, op. cit., p. 131.
219
Idem.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 235
220
No dia 22 deste mês, a Polícia Militar de São Paulo, sob o comando do coronel Erasmo
Dias, invadiu a Pontifícia Universidade Católica, onde estudantes realizavam assembleia se-
creta como atividade de reorganização da União Nacional dos Estudantes (UNE). Os agen-
tes da repressão destruíram instalações, agrediram e prenderam estudantes, professores e
funcionários da universidade. ALVES, Maria Helena Moreira, op. cit., p. 207.
221
CALICCHIO, Vera. Petrônio Portela. In: ABREU, Alzira Alves de et al. (Coord.), op. cit.
222
Em 1978, o jornalista Mino Carta manifestaria alívio por considerar o poder, antes divi-
dido entre “governo e sistema”, reunido “nas mãos do general Geisel, talvez o mais poderoso
de toda a nossa história republicana”. “Prefácio”. In: ALMEIDA FILHO, Hamilton. A sangue
quente. A morte do jornalista Vladimir Herzog. São Paulo: Alfa-Omega, 1986, p. XI. Em
artigo muito instigante, o também jornalista Jorge Pinheiro, então dirigente do Movimento
de Convergência Socialista, partiu da mesma premissa – de que se trata do presidente mais
poderoso dentre todos do regime ditatorial pós-64 – para classificar Geisel de bonapartista.
Ver: “Geisel já vai tarde - Um Luís Bonaparte?”. Versus, São Paulo, n. 29, p. 47, fev. 1979.
223
Ver RAMOS, Plínio de Abreu; COSTA, Marcelo. João Batista Figueiredo. In: ABREU,
Alzira Alves de et al. (Coord.), op. cit.
224
A versão do general defenestrado do governo pode ser encontrada em FROTA, Sylvio.
Ideais traídos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
236 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
225
Jornal da Bahia, 1 de julho de 1977, transcrito em ZERBINE, Therezinha Godoy, op. cit.,
p. 102.
226
ZERBINE, Therezinha Godoy, op. cit., p. 97 e 101.
227
O Pasquim, Rio de Janeiro, 8-14 de julho de 1977, citado em ZERBINE, Therezinha Go-
doy, op. cit., p. 8. Aliás, a presidente do MFPA fazia questão de deixar claro, também, que
não era feminista, mas, sim, “pela participação da mulher na vida econômica, social e polí-
tica do país”. Idem, p. 89.
228
Entrevista ao Diário da Tarde, Belo Horizonte, 24 de outubro de 1977, por ocasião do
Encontro das Mulheres Mineiras do MFPA, realizado na véspera na capital mineira com a
presença de cerca de 250 participantes. Reproduzida em ZERBINE, Therezinha Godoy, op.
cit., p. 119. Sobre a tradição pacifista brasileira e de Caxias, em particular, ver RODRIGUES,
José Honório. Conciliação e reforma no Brasil.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 237
Então, veio a rebelião e vivemos os dias trágicos de 68 a 75. Será que não
se aprendeu nada em todo esse tempo? Será que todo esse sacrifício foi
em vão? Sacrifício de todos os lados: de mães, de pais, de filhos, até dos
torturadores, até de quem cometeu a violência contra os outros. Porque em sã
consciência ninguém faz isso, então é hora da gente parar para pensar. São
treze anos. […] Nós, mulheres brasileiras, nós, o povo brasileiro, nós, os
cidadãos conscientes, não podemos entender como fatos passados há treze,
quatorze anos atrás ainda venham a influir como entrave do progresso e da
paz nacional.231
O fato é que, a despeito das ressalvas feitas por ela, o movimento pela
anistia implicava atitudes essencialmente ideológicas. Desde logo, pela na-
tureza dos problemas que atacava, verbalizados a partir de recursos retóri-
cos que combinavam sentimentalismo e valores liberal-democráticos:
229
Palestra na Câmara Municipal de Florianópolis, em novembro de 1977, reproduzida em
ZERBINE Therezinha Godoy, op. cit., p. 121.
230
Ver, por exemplo, VILLA, Marco Antônio. “Golpe à brasileira”, onde se afirma: “Não é
possível chamar de ditadura o período 1964-1968 (até o AI-5), com toda a movimentação
político-cultural. Muito menos os anos 1979-1985, com a aprovação da Lei de Anistia e as
eleições para os governos estaduais em 1982”. Disponível em: <http://opiniao.estadao.com.
br/noticias/geral,golpe-a-brasileira-imp-,1131917>. Acesso em: 26 ago. 2014.
231
Palestra realizada na Câmara dos Deputados [sic] de Florianópolis, Santa Catarina, no-
vembro de 1977. Instalação do núcleo do MFPA de Santa Catarina apud ZERBINE, There-
zinha Godoy, op. cit., p. 124. Grifo meu.
238 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
Nós não podemos aceitar situações de injustiça, como a de não termos ha-
beas corpus, que o direito de nacionalidade seja negado aos filhos de nossos
exilados, que pessoas continuem presas depois de terem cumprido suas pe-
nas […], que cidadãos brasileiros morram fora de sua pátria, como a estu-
dante de medicina que se suicidou na Alemanha sobre os trilhos do metrô
em Colônia e nosso presidente João Goulart impedido de voltar à nossa
terra.232
232
Conferência em São Paulo, 3 de julho de 1977, trecho reproduzido em ZERBINE, There-
zinha Godoy, op. cit., p. 95.
233
Conferência em Salvador, 15 de janeiro de 1977, trecho reproduzido em ZERBINE, The-
rezinha Godoy, op. cit., p. 76.
234
Brasil dia a dia, p. 90.
235
Ibidem.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 239
236
MARTINS, Roberto Ribeiro. Liberdade para os brasileiros, p. 132.
237
MAUÉS, Eloisa Aragão. “Em câmara lenta”, de Renato Tapajós: a história do livro, ex-
periência histórica da repressão e narrativa literária. Dissertação (Mestrado em História)
– Universidade do Estado de São Paulo, São Paulo, 2008. Resumo.
238
“Julgamento do MEP mostra a farsa da reorganização partidária”. Anistia, Rio de Janeiro,
n. 2, nov./dez. 1978. Sobre a organização, ver BENONI, Nilson Benoni; COELHO, Franklin
Dias. Movimento pela Emancipação do Proletariado. In: ABREU, Alzira Alves de et al.
(Coord.). Dicionário histórico-biográfico brasileiro pós-1930, op. cit.
240 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
239
Disponível em: <http://www.desaparecidos.org/arg/victimas/h/habbeger/>. Acesso em:
4 out. 2013.
240
Sobre a Operação Condor, ver DINGES, John. Os anos do condor. Uma década de ter-
rorismo internacional no Cone Sul. Trad. Rosaura Eichenberg. São Paulo: Companhia das
Letras, 2005.
241
Diário de Pernambuco, Recife, 11 de novembro 1977.
242
Brasil dia a dia, p. 115.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 241
243
Ibidem. MARTINS, Roberto Ribeiro. Liberdade para os brasileiros, p. 132.
244
Câmara dos Deputados. Diretoria de Registro Taquigráfico de Debates. Seção de Históri-
co de Debates, sessão em 24 de agosto de 1977.
245
Câmara dos Deputados. Diretoria de Registro Taquigráfico de Debates. Seção de Históri-
co de Debates, sessão em 30 de agosto de 1977.
242 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
246
KINZO, Maria D’Alva Gil. Oposição e autoritarismo, p. 194. Brasil dia a dia, p. 115. MAR-
TINS, Roberto Ribeiro. Liberdade para os brasileiros, p. 132-133.
247
Referências do mês de setembro: Câmara dos Deputados. Diretoria de Registro Taquigrá-
fico de Debates. Seção de Histórico de Debates, sessões nos dias 5, 8, 13, 14 e 16 de setembro
de 1977.
248
Brasil dia a dia, p. 115. Sempre procurando esvaziar o conteúdo político da reivindicação,
o insistente deputado arenista Alcides Franciscato voltou a defendê-la, em 6 de outubro,
para os atingidos por atos institucionais, anunciando que solicitaria ao presidente da Re-
pública a instituição do “dia do perdão”, de maneira a “promover a pacificação da família
brasileira”.
249
Em 18 de outubro, o deputado Ernesto de Marco (MDB-SC) defendeu a anistia, mas se
anunciou disposto a aceitar a “revisão das punições impostas no período revolucionário”
no âmbito da “abertura política”. Referências do mês de outubro: Câmara dos Deputados.
Diretoria de Registro Taquigráfico de Debates. Seção de Histórico de Debates, sessões em 5,
6, 17, 18. 20 e 24 de outubro de 1977.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 243
250
Brasil dia a dia, p. 90. Em fins de outubro de 1977, presas políticas da Penitenciária Ta-
lavera Bruce, no subúrbio carioca de Bangu, entraram em greve de fome para conseguir
que fossem transferidas para o Complexo Penitenciário Frei Caneca, no centro da cidade.
Antes disso, haviam tentado por diversos meios, inclusive a intermediação de parlamentares
do MDB, convencer as autoridades penitenciárias de que não desfrutavam, onde estavam
reclusas, de segurança física nem garantia de seus direitos. Obtiveram a solidariedade, na
forma de greves de fome, dos presos políticos da penitenciária Frei Caneca e da ala mas-
culina da penitenciária de Bangu, bem como dos detentos da Penitenciária Lemos Brito,
em Salvador. Contudo, no dia 12 de novembro, o movimento foi suspenso, sem que as rei-
vindicações fossem atendidas. WOITOWICZ, Karina Janz. Lutas e vozes das mulheres na
imprensa alternativa: a presença do feminismo nos jornais Opinião, Movimento e Repórter
na década de 1970 no Brasil. In: ______. (Org.). Histórias & memórias da comunicação no
Brasil. Ponta Grossa, PR: Ed. UEPG, 2009, p. 42. Jornal do Brasil, 13 de novembro de 1977;
VIANA, Gilney Amorim e CIPRIANO, Perly. Fome de liberdade: a luta dos presos políticos
pela anistia, p. 44.
251
“Rodrigo Otávio (1)”. In: ABREU, Alzira Alves de et al. (Coord.). Dicionário Histórico-
-Biográfico Brasileiro Pós-1930, op. cit.
252
Câmara dos Deputados. Diretoria de Registro Taquigráfico de Debates. Seção de Históri-
co de Debates, sessão em 8 de novembro de 1977.
253
Câmara dos Deputados. Diretoria de Registro Taquigráfico de Debates. Seção de Históri-
co de Debates, sessão em 5 de dezembro de 1977.
244 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
254
Brasil dia a dia, p. 116.
255
Brasil dia a dia, p. 116. Sobre as contradições políticas no interior do STM, ver OLIVEI-
RA, Eliezer Rizzo de. “Conflitos militares e decisões políticas sob a presidência do general
Geisel (1974-1979)”.
256
Ver SOUZA, André Pinheiro de. Do Movimento Feminino pela Anistia (MFPA-CE) ao Co-
mitê Brasileira pela Anistia (CBA-CE): as motivações e os caminhos percorridos pela anistia
política no Ceará (1975 a 1980). Dissertação (Mestrado em História e Culturas) – Universi-
dade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2012.
257
Sobre a luta pela anistia neste estado, ver: CONRADI, Carla Cristina Nacke. “Por uma
história das mulheres no Paraná: o Movimento Feminino pela Anistia e sua concepção do
feminino”. Seminário Internacional Enlaçando Sexualidades. Salvador, 15 a 17 de maio de
2013. Disponível em: <http://www.uneb.br/enlacandosexualidades/files/2013/06/Por-uma-
-hist%C3%B3ria-das-mulheres-no-Paran%C3%A1-o-Movimento-Feminino-pela-Anistia-
-e-sua-concep%C3%A7%C3%A3o-de-feminino.pdf>. Acesso em: 6 jan. 2016.
258
Folha de S. Paulo, 9 de dezembro de 1977 apud ZERBINE, Therezinha Godoy, op. cit., p.
128-129; Anistia, p. 13. Sobre o relacionamento entre a seção gaúcha do MFPA e políticos do
extinto Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), ver Carla Simone; DIENSTMANN, Gabriel;
TRINDADE, Tatiana. Anistia ampla, geral e irrestrita, p. 74-84.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 245
que cada núcleo teria o seu regimento, balizado pelo Estatuto do MPFA,
bem como vida jurídica autônoma e diretoria própria.259 Ao final, o Encon-
tro elaborou um documento, que teve como principal responsável Neide
Azevedo, professora e presidente do núcleo paranaense do MFPA. Dizia o
texto:
259
Movimento Feminino Pela Anistia e Liberdades Democráticas, op. cit., p. 27.
246 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
260
Jornal do Brasil e Diário Popular, São Paulo, 11 de dezembro de 1977 apud ZERBINE,
Therezinha Godoy, op. cit., p. 134.
261
Veja, 1 de março de 1978, p. 36; ZERBINE, Therezinha Godoy, op. cit., p. 14-15, 175. Em
entrevista concedida em novembro de 1978 durante viagem a Portugal, Therezinha Zerbine
não incluiu o CBA ou qualquer outro comitê pela anistia no rol de “outros movimentos” e “ou-
tras organizações” a que o MFPA teria dado origem e agora o apoiavam. Diário de Lisboa, 20
de novembro de 1978 apud Therezinha Godoy, op. cit., p. 237. Apenas em 1979, faria menção
pública a eles: “Em 1978, como cogumelos depois da chuva, começaram a pipocar os comitês
de anistia e de direitos humanos. Isto, para nossa felicidade e alegria”. Idem, p. 248.
262
BENJAMIN, Iramaya. Ofício de mãe, p. 70. A autora cita, como organizadores do CBA,
além dela mesma, as advogadas Eni Raimundo Moreira e Ana Maria Müller, o advogado
Arthur Müller e a ex-professora Josefa Magalhães e Silva, entre outras pessoas.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 247
263
Estatuto do CBA-RJ de 02/01/1978. A síntese que se segue está baseada em LUNA, Cristi-
na Monteiro de Andrada. O Comitê Brasileiro pela Anistia e a campanha pela anistia ampla,
geral e irrestrita. Monografia (Bacharelado em História) – Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, 2004, p. 25-27.
248 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
264
Anistia, p. 14.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 249
[…] até porque ele estava plenamente identificado com a visão estratégica
do presidente Geisel, com a transição, com a anistia. Era compreensível que
Geisel não quisesse correr riscos com outra escolha. E, na sua ótica, Figuei-
redo continuaria e culminaria o processo de abertura por ele iniciado. Esta-
va afinado com essa proposta e tinha a obsessão paterna do velho Euclides
Figueiredo, o mito do pai democrata.267
265
Jornal do Brasil, 14 de fevereiro de 1978.
266
O general publicou dois livros em que oferece a sua versão de diversos episódios políticos
em que esteve envolvido: O outro lado do poder (1979) e Tempo de crise (1980; edição póstu-
ma), ambos pela editora Nova Fronteira, do Rio de Janeiro.
267
Apud D’ARAÚJO, Maria Celina; SOARES, Gláucio Ary Dillon; CASTRO, Celso (Introd.
e org.). A volta aos quartéis: a memória militar sobre a abertura. Rio de Janeiro: Relume-
250 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
o STM, que no ano de 1977 foi o fórum de sério debate sobre o problema
dos direitos humanos, em 1978 poderá ser o local mais adequado a essa dis-
cussão. E talvez acabe tornando-se o próprio tribunal das revisões. É o que
propõe o brigadeiro Délio Jardim de Matos, ministro do STM. O brigadeiro
reconhece que a Revolução cometeu muitos atos injustos e que é “chegado
o tempo de corrigi-los”, e assim entra em sintonia com o almirante Júlio de
Sá Bierrenbach, colega de tribunal: “Sempre que há uma Revolução, acon-
tecem punições justas e injustas”, disse Bierrenbach “e as injustas estão a
merecer revisões”. […] Um ponto básico para o brigadeiro é a situação dos
terroristas, que considera criminosos comuns e para os quais, portanto, não
admite a possibilidade de anistia.273
273
Veja, 1º de fevereiro de 1978.
274
Anistia, p. 11.
275
Brasil dia a dia, p. 121. Ver TAVARES, Flávio. Memórias do esquecimento. São Paulo:
Globo, 1999.
276
Folha de S. Paulo no dia 28 de janeiro, Veja em 21 de fevereiro e Em Tempo, na edição de
1-7 de março.
252 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
277
Jornal do Brasil, 29 de janeiro de 1978.
278
Isabel Santana (presidente), Ângela Franco (vice-presidente), Vera Motta (secretária) e
Isabela Guedes (tesoureira). Ibidem.
279
Tribuna da Bahia, Salvador, 28 de janeiro de 1978 apud ZERBINE, Therezinha Godoy, op.
cit., p. 149; Jornal do Brasil, 29 de janeiro de 1977.
280
Jornal do Brasil, 26 de dezembro de 1977.
281
Jornal do Brasil, 29 de janeiro de 1978.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 253
[…] para que produza todos os benefícios de que é capaz. Não é a anistia,
como equivocadamente pensam alguns, uma medida sentimental. Não. Ela
é muito mais cerebral do que sentimental. É medida de alta sabedoria polí-
tica. Ela destina-se, em primeiro lugar, a desarmar os espíritos, a dissipar a
sementeira de ódios que as injustiças e violências provocam, a premunir as
vinditas futuras, a permitir e promover a reconciliação.285
282
O Decreto-lei nº 477, de 26 de fevereiro de 1969, definiu infrações disciplinares prati-
cadas por professores, alunos, funcionários ou empregados de estabelecimentos de ensino
público ou particulares. Vindo a ser conhecido como “o AI-5 das universidades”, o decreto
legalizou a perseguição política às categorias mencionadas.
283
BENJAMIN, Iramaya. Ofício de mãe; “Anistia”. Movimento, São Paulo, 20 de fevereiro de
1978, p. 3.
284
Citando o papa Paulo VI e o escritor católico Tristão de Ataíde, definiu a anistia como o
“problema máximo da humanidade”. Alguns dias depois, recebeu telegrama em que Tristão
lhe dizia: “Sua conferência foi magistral”. Arquivo Peri Constant Bevilaqua.
285
“O discurso do general”. Movimento, São Paulo, 20 de fevereiro de 1978, p. 4.
254 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
286
O Estado de S. Paulo, 15 de fevereiro de 1978. Grifo meu.
287
Ver, por exemplo, Veja, 22 de fevereiro de 1978, p. 30, e 1º de março de 1978, p. 34-36; Jor-
nal do Brasil, 27 de fevereiro de 1978; IstoÉ, 1º de março de 1978, p. 12. O jornal Movimento,
ativo porta-voz de setores políticos oposicionistas, inseriu, na matéria com que noticiou o
lançamento do CBA (20/2/1978, p. 3), um bloco explicativo dos tipos de anistia em que apenas
explicou sucintamente o que significava o adjetivo “recíproca”, sem discutir suas implicações
ético-políticas. No livro de Therezinha Zerbine, transcreve-se uma entrevista em que a pre-
sidente do MFPA é instada a dar opinião a uma proposta de anistia recíproca que teria sido
formulada pelo líder trabalhista Leonel Brizola. Ver Anistia. Semente da Liberdade, p. 160.
288
Jornal do Brasil, 15 de fevereiro de 1978.
289
Veja, 1 de março de 1978.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 255
290
Há indicações de que, de fato, o lançamento, do qual o discurso do general Bevilaqua foi
a peça de resistência, aumentou a procura de informações sobre a luta pela anistia junto ao
CBA, que passou a receber muitas ligações telefônicas.
291
BENJAMIN, Iramaya. Ofício de mãe, p. 70.
292
O Estado de S. Paulo, 15 de fevereiro de 1978.
293
Latin America Political Report, v. XII, n. 137, April 1978. Carta de John W. F. Dulles a
Latin American Newsletters, editora do periódico, em 7 de abril de 1978. Arquivo Peri Cons-
tant Bevilaqua. Cópias do pronunciamento na ABI foram enviadas pelo general a figuras
256 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
de projeção política no país, como Tancredo Neves, então deputado federal (MDB-MG).
Telegrama de Tancredo Neves em 26 de abril de 1978 e carta do general em 29 de abril de
1978. Arquivo Peri Constant Bevilaqua.
294
Carta de Jean-Marc van der Weid ao general Peri Constant Bevilaqua, Paris, 11 de março
de 1978. Arquivo Peri Constant Bevilaqua.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 257
rará sua imagem e terá à mão, para qualquer eventualidade, todos os que no
exterior denunciaram seus crimes e arbitrariedades.
Assim sendo, creio que a luta pela anistia ampla e irrestrita deva coincidir
com a luta pelas liberdades no seu sentido mais geral: pela democracia −
sem adjetivos.295
A luta pela democracia seria a luta contra a ditadura. Neste sentido, ha-
veria, do ponto de vista da anistia, duas tarefas a cumprir. Uma delas seria
“acabar com toda a máquina que produziu os perseguidos políticos, os pre-
sos, os torturados, os assassinados nas prisões e quartéis”. A outra, conse-
295
Idem. Grifo no original. Em 6 de outubro, os três comitês franceses de “solidariedade para
com a luta do povo brasileiro” realizariam em Paris, na Casa dos Sindicatos, um encontro,
com a participação das duas grandes centrais sindicais operárias do país, que reafirmou o
apoio dos trabalhadores franceses “à luta do povo brasileiro”. CONGRESSO NACIONAL
PELA ANISTIA. Resoluções. Intervenção de Etienne Bloch, novembro de 1978, p. 82.
296
ALVES, Márcio Moreira. Teotônio, guerreiro da paz, p. 170.
297
Anistia, n. 1, 1978.
258 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
guir que “as Forças Armadas demonstrem sua total rejeição do câncer que
se instalou no seu seio e que tantos crimes cometeu em seu nome”. Quanto
a este ponto, Jean-Marc percebia a força com que emergia a proposta con-
ciliatória, que acabaria vingando pouco mais de um ano depois.
Alguns pensam, general, e o CBA parece estar entre eles, que é preciso anis-
tiar “os dois lados”. O argumento seria o de que um “revanchismo” poderia
provocar um movimento de autodefesa do aparelho de repressão e uma
solidariedade de classe no meio militar.
Me permito dizer-lhe, general, que este raciocínio é perigoso. A meu juízo, en-
quanto os militares permitirem que se faça este tipo de identificação entre as
FFAA e o aparelho de repressão, nenhuma democracia estará a salvo no país.298
298
Op. cit.
299
Veja, 1º de março de 1978, p. 35.
300
Movimento, São Paulo, n. 139, 27 de fevereiro de 1978, p. 5.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 259
301
É de notar, aqui, o possível ato falho cometido por Sarney ao utilizar duas vezes a expres-
são “sob pena”, que pode ser entendida em mais de um sentido: tanto de “sob risco” quanto
de “sob punição”. Grifos meus.
302
Jornal do Brasil, 22 de fevereiro de 1978. Grifo meu. O deputado entendia, portanto,
que o regime aperfeiçoado seria incompatível com os efeitos pretendidos pelos defensores
da anistia. Observe-se que José Sarney – presidente da República de 1985 a 1990 ‒ e Mar-
co Maciel ‒ vice-presidente da República durante dois mandatos do presidente Fernando
Henrique Cardoso (1995-2003) ‒ exerceriam papéis de primeiro plano em governos for-
260 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
mados a partir das bases definidas neste momento da transição. O ministro da Previdên-
cia Social, Luiz Gonzaga do Nascimento e Silva, apoiou a proposta de revisão. O Globo,
24 de fevereiro de 1978.
303
Mensagem ao Congresso Nacional na abertura da sessão legislativa de 1978. Disponí-
vel em: <http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/ex-presidentes/ernesto-geisel/mensa-
gens-presidenciais/mensagem-ao-congresso-nacional-na-abertura-da-sessao-legislativa-
-de-1978/view>. Acesso em: 6 jan. 2014. Grifos meus.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 261
304
É fato intrigante que uma rica biografia do mais importante bispo católico na campanha
pelos direitos humanos no país omita totalmente a participação da CNBB na campanha
pela anistia. Ver SYDOW, Evanize; FERRI, Marilda. Dom Paulo Evaristo Arns. Um homem
amado e perseguido. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.
305
Brasil dia a dia, p. 90.
306
Criada em 1972 no âmbito da Arquidiocese de São Paulo.
307
Jornal do Brasil, 24 de fevereiro de 1978. Grifos meus.
262 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
308
Veja, 1º de março de 1978, p. 36. Na primeira semana de maio, o deputado Laerte Vieira
(MDB-SC) apresentou projeto de lei ‒ o 11º em tramitação ‒ para anistiar “os que hajam sofri-
do a suspensão de seus direitos políticos ou tenham sido atingidos por quaisquer sanções pre-
vistas em atos revolucionários, a partir de 1964 até a vigência desta lei”, excluindo os acusados
de “atos criminosos”. O deputado se baseou em interpretação pessoal do artigo 57 da Consti-
tuição em vigor, pelo qual o Legislativo poderia anistiar os casos não capitulados como “crime
político”. Câmara dos Deputados. Diretoria de Registro Taquigráfico de Debates. Seção de
Histórico de Debates, sessão em 10 de maio de 1978; O Estado de S. Paulo, 13 de maio de 1978.
309
Jornal do Brasil, 25 de fevereiro de 1978.
310
Edição de 25 de fevereiro de 1978.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 263
311
Jornal do Brasil, 4 de março de 1978.
312
D. Tomás Balduíno, bispo de Goiás, por exemplo, apoiava a tese da anistia ampla, geral e
irrestrita: “Ela deveria ser uma reivindicação de toda a Igreja, porém não vejo muita possi-
bilidade de ser assumida pela CNBB como assembleia. […] O motivo é talvez que é muito
mais fácil soltar um documento como aquele de Itaici, ‘Exigências cristãs de uma ordem
política’, do que tomar uma posição concreta, se comprometer com uma determinada ati-
tude que tem várias implicações imediatas. […] Mas, eu acredito que amplos setores do
episcopado apoiariam a ideia”. Anistia, abril, p. 18. Sobre a posição das igrejas evangélicas,
ver MACHADO, Adriano Henriques; CRUZ, Heloisa de Faria. O debate em torno do mo-
vimento pela anistia nas igrejas evangélicas: posicionamentos e tensões no caso das igrejas
luterana e metodista. Religare, João Pessoa, v. 11, n. 2, setembro de 2014, p. 161-190. Ver,
também: TRABUCO, Zózimo Antônio Passos. “À direita de Deus, à esquerda do povo”: Pro-
testantismos, esquerdas e minorias em tempos de ditadura e democracia (1974-1994). Tese
(Doutorado em História) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015.
313
Jornal do Brasil, 26 de abril de 1978.
264 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
Ela não é o primeiro problema a ser atacado. Para nós, que almejamos sair
do estado de arbítrio, o mais importante, na escala das prioridades, é restau-
rar certas liberdades democráticas, entre as quais a liberdade fundamental,
que é a liberdade física resguardada pelo habeas corpus. E mais a garantia
da magistratura, a reforma da Lei de Segurança Nacional, a modificação da
incomunicabilidade dos dez dias. Daí, como consequência, chegaríamos à
anistia. Suponhamos que amanhã se conceda uma anistia ampla e irrestrita,
sem se tocar nessa estrutura que aí está, repleta de instrumentos coercitivos.
314
Anistia, p. 29. Grifo meu. Em 26 de abril, nova greve de fome foi desencadeada pelos
presos políticos de Itamaracá, ainda pela quebra do isolamento de Rholine Sonde Cavalcan-
te e Carlos Alberto Soares. O movimento foi seguido por diversos atos de solidariedade, e
também pararam de se alimentar presos políticos dos presídios Frei Caneca e Bangu (RJ),
Barro Branco (SP), Lemos de Brito (BA) e Linhares (MG), totalizando 84 grevistas. Os pre-
sos de Itamaracá suspenderam o movimento em 10 de maio, quando também terminaram
as greves de solidariedade. Ver FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO. Relação das principais
greves de fome. Disponível em: <http://novo.fpabramo.org.br/content/relacao-das-princi-
pais-greves-de-fome>. Acesso em: 12 jan. 2016.
315
Jornal do Brasil, 27 de fevereiro de 1978. Uma análise da atuação da OAB no processo de
transição pode ser encontrada em MOTTA, Marly. “Dentro da névoa autoritária acendemos
a fogueira...” – a OAB na redemocratização brasileira (1974-80). Culturas Jurídicas, Rio de
Janeiro, v. 3. n. 1, jan./jun. 2008.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 265
Podemos então notar que existem muitas coisas erradas e de certa forma to-
dos nós temos muito de responsáveis, porque pecamos por omissão, porque
todos podemos fazer alguma coisa de algum jeito. Nas escolas, nas igrejas,
nas organizações de trabalho, nas nossas associações. Por exemplo: tem a
associação dos advogados. Advogado que não acreditar em justiça e liber-
dade pode procurar outra profissão. Mas, a Ordem dos Advogados até hoje
não se manifestou pela anistia.317
316
IstoÉ, 1º de março de 1978, p. 14. Grifo meu.
317
Palestra na Câmara Municipal de Florianópolis, novembro de 1977, transcrita em ZER-
BINE, Therezinha Godoy, op. cit., p. 126.
318
Sobre a organização, ver COUTO, André. Convergência Socialista. In: ABREU, Alzira
Alves de et al. (Coord.). Dicionário histórico-biográfico brasileiro pós-1930.
319
Diário do Grande ABC, Santo André (SP), 9 de março de 1978, reproduzido em ZERBI-
NE, Therezinha Godoy, op. cit., p.153.
266 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
Lutamos por uma anistia ampla e irrestrita e essa luta só terminará quando
a meta for alcançada. Quanto à simples revogação do artigo 185 da Cons-
tituição, achamos não corresponder aos anseios da nação e propomos que
se convoque uma assembleia constituinte. Esta, sim, viria verdadeiramente
normalizar e pacificar a vida política nacional.320
Na Câmara dos Deputados, a anistia era proposta ainda como uma entre
outras soluções para a situação dos atingidos pelos atos da ditadura. Alguns
representantes do MDB a defendiam desta perspectiva, como J.G. de Araú-
jo Jorge (RJ) e Israel Dias Novais (SP), que argumentava com exemplos de
numerosos países sul-americanos onde a medida tinha sido adotada em
benefício dos presos políticos. Em março, o deputado Joaquim Bevilacqua
(MDB-SP) manifestou-se a favor da concessão da anistia, combinadamen-
te com outras medidas, como a revogação do AI-5, o restabelecimento da
liberdade sindical e a aplicação do Estatuto da Terra. Os deputados José
Carlos Teixeira (MDB-SE) e João Gilberto (MDB-RS) enfatizaram a neces-
sidade da anistia como meio de “pacificação da família política brasileira”
e “união de todos os brasileiros”, no que foram secundados pelo deputado
José Maurício (MDB-RJ), que, no entanto, frisou que a medida deveria ser
ampla e irrestrita, como preparatória para a convocação de uma assembleia
constituinte.321 Numa chave mais conciliadora, Pedro Simon, presidente
do diretório gaúcho do MDB, defendeu a tese da “anistia recíproca”, isto é,
também para agentes do Estado acusados de violência contra presos políti-
cos,322 e o deputado Jorge Ferraz (MDB-MG), a anistia restrita, entendendo
320
Cinco de Março, Goiânia, 13-19 de março de 1978 apud ZERBINE, Therezinha Godoy,
op. cit., p. 158. Grifo meu. Observe-se o avanço político do MFPA, aderindo à proposta de
convocação de uma assembleia constituinte.
321
Câmara dos Deputados. Diretoria de Registro Taquigráfico de Debates. Seção de Históri-
co de Debates, sessões de março de 1978.
322
Na verdade, o engajamento do MDB na campanha pela anistia não ia além das declara-
ções individuais, apesar de a medida constar do programa de lutas do partido. De acordo
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 267
que o benefício não deveria ser concedido a todos os punidos, mas apenas
“aos injustiçados pela ordem revolucionária vigente no país”.
Outros, porém, pensavam em caminhos diferentes. O emedebista Mar-
celo Medeiros (RJ), integrante da corrente chaguista, se identificava com o
campo governista e apresentou no mesmo mês projeto que atribuía ao Su-
perior Tribunal Militar (STM) competência para rever os processos de cas-
sações. E Minoru Massuda, representante de São Paulo e membro da Polícia
Militar paulista, considerou a hipótese de revisão das “punições revolucioná-
rias”, observando que as vozes a favor da anistia partiam de oficiais da ativa,
comandantes de tropa, como o tenente-coronel Tarcísio Nunes Ferreira.323
Para o senador Jarbas Passarinho (Arena-PA), a campanha pela anistia en-
cobria o propósito de sabotar o projeto de distensão do governo, e o mais
adequado seria, conforme sugerira em 1975, a revisão das punições políticas
pelo STM: “[…] a Revolução, num gesto de grandeza, permitiria que aqueles
que foram punidos por ela comparecessem à mais alta Corte de Justiça Mili-
tar para apresentar suas defesas”.324 Mas as decisões no Judiciário não vinham
sendo favoráveis aos derrotados de 1964. Em 8 de março, o Supremo Tribu-
nal Federal (STF) negou recurso dos políticos gaúchos Sereno Chaise, Aja-
dil de Lemos e Wilson Vargas, que, expirado o prazo de suspensão dos seus
direitos políticos por dez anos, determinada pelo primeiro Ato Institucional
(9/4/1964), pleiteavam desde 1974 o direito de se inscreverem no MDB. Para
setores oposicionistas, a decisão do STF era previsível: “O STF é, para muitos
advogados, ‘mais duro que o Superior Tribunal Militar’. A maioria dos juízes
que o compõem é conhecida como de orientação ‘técnica’, ou seja, aceita que
a apreciação da legislação de exceção não é da competência do Judiciário,
com o deputado estadual fluminense Edson Khair, a direção partidária não conseguia que as
bases locais apoiassem efetivamente a anistia. Veja, 1º de março de 1978, p. 36
323
Câmara dos Deputados. Diretoria de Registro Taquigráfico de Debates. Seção de Histórico
de Debates, sessão em 23 de março de 1978. Comandante do 13º Batalhão de Infantaria Blin-
dada, no Paraná, o tenente-coronel Tarcísio Nunes Ferreira faria em março de 1978, com Ivo
Arzua, ex-ministro do governo Costa e Silva (1967-1969) e um dos signatários do AI-5, um
pronunciamento no Lions Clube de Ponta Grossa (PR) em que protestava contra os “desvios
do movimento militar de 1964” e a favor da abertura política. Em seguida, concedeu entrevista
com o mesmo teor ao Jornal do Brasil (edição de 11 de março de 1978) e foi preso duas vezes,
na primeira por dois dias, e, na segunda, por um mês. Foi, também, destituído da função.
Disponível em: <http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_secao=1&id_noticia=207824>.
Acesso em: 22 jan. 2014. Também, Estado do Paraná, 30 de abril de 1985.
324
Jornal do Brasil, 8 de março de 1978.
268 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
que deve apenas cumpri-la”.325 Uma resposta dura aos pleitos de anistia tinha
defensores também no Congresso. Alguns dias depois do pronunciamento
de Passarinho, o deputado Ivair Garcia (Arena-SP) condenou a campanha
oposicionista em favor da anistia total e irrestrita, tachando-a de insincera e
mistificadora da opinião pública.326
No governo, o tema da anistia era terreno minado. Levantamento feito
pelo Jornal do Brasil na última semana de março de 1978 revelou que ape-
nas três ministros consultados aceitavam se manifestar publicamente sobre
o assunto.327 Era forte a tendência a reagir à campanha pela anistia com a
contraposição da violência esquerdista. Durante missa realizada pelas “ví-
timas do terrorismo” em 27 de março, o comando do III Exército divulgou
nota oficial em que considerava a iniciativa “tão mais oportuna quando
são destacados, maldosamente, pela imprensa diária, os recalques e ressen-
timentos de uma minoria mesquinha, capaz de insinuar anistias amplas,
irrestritas, recíprocas e mútuas”.328 As vítimas da ditadura foram lembra-
das no dia seguinte, quando estudantes comemoraram um Dia Nacional
de Luta em memória de Edson Luís de Lima Souto e Alexandre Vanucchi
Leme, assassinados, respectivamente, dez e cinco anos antes, e concluíram
o ato com a exigência de “anistia ampla, geral e irrestrita”.329
Depois de anunciada por longo tempo, afinal se concretizou em fins
de março a visita do presidente dos EUA, Jimmy Carter, ao Brasil. Reuni-
ram-se com ele o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB),
325
Anistia, p. 24; Brasil dia a dia, p. 108. Uma semana depois, surgiu mais um elemento de
reforço indireto à reivindicação, quando o governo do Peru baixou um decreto de anis-
tia permitindo que exilados, banidos e deportados se reintegrassem ao processo político e
participassem das eleições para a Assembleia Nacional Constituinte, convocada para junho
seguinte. Anistia, p. 11.
326
O deputado era delegado de Polícia, ex-diretor do Departamento de Ordem Política e
Social (DOPS) paulista, defensor dos interesses corporativos dos policiais na Câmara, bem
como do Esquadrão da Morte e do delegado Sérgio Paranhos Fleury, e envolvido com o as-
sassinato de presos comuns e políticos e com a campanha do general Sílvio Frota, candidato
do aparato repressivo do governo à sucessão do general Ernesto Geisel. Câmara dos Depu-
tados. Diretoria de Registro Taquigráfico de Debates. Seção de Histórico de Debates, sessão
em 21 de março de 1978. Sobre o deputado, ver ALVES, Alzira Alves de et al. (Coord.).
Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro pós-1930.
327
Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 25 de março de 1978.
328
IstoÉ, 5 de abril de 1978, p. 32.
329
IstoÉ, 12 de abril de 1978, p. 32; MARTINS, Roberto Ribeiro. Liberdade para os brasileiros,
p. 133.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 269
330
Brasil dia a dia, p. 122. SYDOW, Evanize; FERRI, Marilda, op. cit., p. 243.
331
Idem, p. 244.
332
O Estado de S. Paulo, 30 e 31 de março de 1978.
333
Câmara dos Deputados. Diretoria de Registro Taquigráfico de Debates. Seção de Históri-
co de Debates, sessão em 28 de março de 1978.
334
Idem, sessão em 4 de abril de 1978.
270 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
deputado voltaria ao tema no dia 17, acusando o MDB de não ser claro na
definição e na abrangência da anistia que propunha.335
A anistia foi objeto de intensa atividade na Câmara dos Deputados du-
rante o mês de abril. O exemplo de Caxias e sua tão decantada capacidade de
perdoar adversários vencidos foi mobilizado no dia 6 pelo deputado Florim
Coutinho (MDB-RJ) para defender a aprovação de seu novo projeto de lei,
concedendo “anistia a civis e militares punidos por delitos políticos” a partir
de 1º de abril de 1964. Em apoio de sua proposta, leu requerimento aprova-
do pela Câmara Municipal de Osasco (SP) no mesmo sentido. Ainda nessa
sessão, o deputado Jarbas Vasconcelos (MDB-PE) declarou não compreen-
der a viabilidade de reformas políticas que visassem ao restabelecimento da
normalidade constitucional do país desvinculadas da anistia ampla e irres-
trita e da convocação de uma assembleia constituinte.336 Cinco dias depois,
o projeto de Florim Coutinho seria rejeitado na Comissão de Constituição
e Justiça da Câmara, sob o argumento do relator, deputado Nunes Rocha
(Arena-MT), de que era inconstitucional, inócuo e tecnicamente malfeito.337
Neste mesmo dia, o deputado J. G. de Araújo Jorge apresentou projeto de
lei complementar que concedia anistia aos punidos por motivos políticos,
medida defendida novamente, na mesma sessão, pelo deputado Humberto
Lucena (PB), em nome do MDB e em favor do Estado de direito.338
No dia 17, o deputado Laerte Vieira (MDB-SC) pronunciou-se endos-
sando uma sugestão da Assembleia Legislativa de Santa Catarina ao Con-
gresso Nacional no sentido de que, por meio de emenda constitucional,
fosse restituída ao poder Legislativo a prerrogativa de propor a anistia, que
335
Idem, sessão em 17 de abril de 1978.
336
Idem, sessão em 6 de abril de 1978. No dia 7, o deputado Antônio Ueno (Arena-SP), a
propósito da comemoração do 70º aniversário da imigração japonesa para o Brasil, propôs
anistia para cerca de oitenta japoneses incriminados em 1945 por participação no movi-
mento Shindo-Rem-Mei (Liga do Caminho dos Súditos), que acreditava, após o término da
Segunda Guerra Mundial (1939-1945), na vitória do seu país. Seus seguidores, que forma-
vam expressivo percentual da população de origem nipônica em São Paulo, perseguiram os
imigrantes que sabiam sobre a derrota do Japão, tendo assassinado, entre janeiro de 1946
e fevereiro de 1947, vinte e três deles no estado. O assunto está tratado em MORAIS, Fer-
nando. Corações sujos: a história da Shindo Renme. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
Câmara dos Deputados. Diretoria de Registro Taquigráfico de Debates. Seção de Histórico
de Debates, sessão em 7 de abril de 1978.
337
Jornal do Brasil, 12 de abril de 1978.
338
Câmara dos Deputados. Diretoria de Registro Taquigráfico de Debates. Seção de Históri-
co de Debates, sessão em 11 de abril de 1978.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 271
339
Câmara dos Deputados. Diretoria de Registro Taquigráfico de Debates. Seção de Históri-
co de Debates, sessão em 17 de abril de 1978.
340
Idem, sessão em 18 de abril de 1978.
341
Grupo Tortura Nunca Mais – Bahia. Construindo a memória: a luta pela anistia na Bahia.
Org. Ana Guedes e Lucimar S. C. Mendonça. Salvador: [s.n.], 2006, p. 43.
272 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
342
Em Tempo, São Paulo, n. 20, 17 a 23 de julho de 1978, p. 7.
343
Câmara dos Deputados. Diretoria de Registro Taquigráfico de Debates. Seção de Históri-
co de Debates, sessão em 10 de maio de 1978.
344
Jornal do Brasil, 21 de abril de 1978.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 273
Nunca a imprensa falou tanto sobre o tema − e tão livremente − como ago-
ra. Sessões públicas pela anistia são realizadas sem maiores percalços. E os
núcleos do MFA, surgidos desde 1975, multiplicaram-se por uma dezena
de estados, integrados geralmente por mães, esposas e outros familiares de
condenados, além de estudantes e profissionais liberais.
345
Câmara dos Deputados. Diretoria de Registro Taquigráfico de Debates. Seção de Históri-
co de Debates, sessão em 20 de abril de 1978. Ver GUIMARÃES, Maria Beatriz Guimarães;
MARQUES, Ana Amélia. Francisco Pinto. In: ABREU, Alzira Alves de et al. (Coord.). Di-
cionário Histórico-Biográfico Brasileiro pós-1930.
346
Jornal do Brasil, 16 de abril de 1978.
347
Idem. Na época, Amapá, Roraima, Rondônia e o arquipélago de Fernando de Noronha
eram enquadrados na categoria “territórios”.
348
Movimento, São Paulo, 24 de abril de 1978. Sobre esse tipo de ação dos órgãos de segu-
rança, ver LAGOA, Ana. SNI, como nasceu, como funciona. São Paulo: Brasiliense, 1983;
FICO, Carlos. Como eles agiam. Os subterrâneos da Ditadura Militar: espionagem e polícia
política. Rio de Janeiro: Record, 2001; ANTUNES, Priscila Carlos Brandão. SNI & ABIN.
Uma leitura da atuação dos serviços secretos brasileiros ao longo do século XX. Rio de Ja-
neiro: Editora FGV, 2002.
274 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
349
MARTINS, Roberto Ribeiro. Liberdade para os brasileiros, p. 134.
350
Jornal do Brasil, 10 de maio de 1978.
351
Veja, 1º de março de 1978, p. 35. A revista apoiava a tese da anistia parcial e restrita.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 275
A anormalidade política era por demais evidente, no início dos anos 70,
para permitir o prolongamento indefinido da legitimidade que o regime
extraía da eficácia, tanto mais que às reações da sociedade, dentro do país,
começou a se somar a ação dos exilados, sobretudo os que se encontravam
na Europa Ocidental. Os exilados davam tranquilidade interna ao regime,
na medida em que se excluíam das lutas domésticas, mas lhe criavam des-
conforto externo, pois sua ação de denúncia através da imprensa interna-
cional era algo totalmente fora da capacidade de prevenção e represália por
parte dos detentores do poder. A simples existência de exilados brasileiros,
ademais numerosos e ativos, funcionava como sinal de problema que cum-
pria resolver e cuja resolução somente poderia ser obtida mediante aperfei-
çoamento político que permitisse a volta dos que se encontravam fora”. 353
352
Jornal do Brasil, 16 de abril de 1978.
353
GÓES, Walder de. “A crise do regime e a sucessão de 1985”, p. 132.
354
Em Coimbra, foi lançado oficialmente, em 13 de julho de 1976, o Comitê de Coimbra
pela Anistia Geral no Brasil. Seu programa girava em torno da defesa dos seguintes pontos:
anistia geral para todos os presos políticos no Brasil; supressão de todos os organismos des-
tinados à repressão; punição de todos os responsáveis pelos atentados cometidos contra a
276 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
Grupo Brasileiro de Apoio na Argélia à Luta pela Anistia, Grupo pela Anistia
no Brasil de Berlim Ocidental, Comitê Belga de Anistia no Brasil, Comitê
Brasil da Holanda e Comitê Dinamarquês de Anistia no Brasil. Os delegados
reiteraram o programa de luta do CBA: anistia ampla e irrestrita, volta dos re-
fugiados ao Brasil, anulação de todos os atos punitivos, fim da tortura contra
adversários do regime e ampliação das liberdades em geral. Para as entidades,
a anistia já se transformara em reivindicação de milhares de pessoas e nunca
estivera tão próxima de concretizar-se.355 O CBA da capital francesa, porém,
era o que mais procurava vincular o problema da anistia ao contexto mais
abrangente do regime implantado em 1964:
pessoa humana; revogação de toda a legislação fascista e respeito pela Declaração universal
dos Direitos do Homem. Informe secreto do Centro de Informações da Aeronáutica – CI-
SA-RJ, 20 de setembro de 1976. Disponível em: <http://www.documentosrevelados.com.br/
wp-content/uploads/2015/09/ass-mulheres.pdf>. Acesso em: 4 set. 2015.
355
O Estado de S. Paulo, 28 de abril de 1978. Segundo outra fonte, os comitês pela anistia no
exterior eram, às vésperas da decretação da anistia: 22 na Europa, doze na África, quatro na
América Latina, um nos Estados Unidos e um no Canadá. O Globo, 24 de junho de 1979, p. 9.
356
“Declaração dos Brasileiros do CBA de Paris (proposta)”, documento para discussão in-
terna datado de 31 de março de 1978, citado em MIR, Luís. A revolução impossível. A es-
querda e a luta armada no Brasil. São Paulo: Best Seller, 1994, p. 688-689.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 277
Para o partido a questão, portanto, era: “uma anistia parcial que se con-
siga obter servirá ou não, em que medida, para unir as forças que compõem
o campo democrático?”. A resposta dependeria da forma como a luta pela
anistia fosse inserida
357
A expressão por mim grifada sugere que o PCB se subordinava à direção liberal da cam-
panha pela anistia, que assinalava a existência de situações de prisões injustas entre os pre-
sos, o que implicava reconhecer que haveria caso de prisões justas, ainda que no quadro da
legalidade ditatorial.
358
“Anistia, uma campanha justa na luta pela democracia”. Voz Operária, n. 145, abril de
1978, p. 2. Grifos meus.
278 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
359
Deputado José Maurício (MDB-RJ), Câmara dos Deputados. Diretoria de Registro Ta-
quigráfico de Debates. Seção de Histórico de Debates, sessão em 28 de abril de 1978.
360
Deputado Israel Dias Novais (MDB-SP), idem, sessão em 3 de maio de 1978.
361
Deputado José Carlos Teixeira (MDB-SE), idem, sessão em 8 de maio de 1978.
362
Deputado Odacir Klein (MDB-RS), idem, sessão em 8 de maio de 1978.
363
Deputado Antônio Pais de Andrade (MDB-CE), idem, sessão em 9 de maio de 1978.
Nessa mesma sessão, o deputado Rui Brito (MDB-SP) tocou em um ponto que viria a cons-
tituir elemento complicador da concessão de anistia. Reportou-se a atos do governo Castelo
Branco na vigência do Ato Institucional baixado em 9 de abril de 1964, que, na sua opinião,
“não concedia ao presidente da República poderes para nomear ou demitir empregados das
empresas de economia mista, que tinham […] direito à estabilidade”. Por isso, sustentava
que se devia conceder anistia a esses trabalhadores, objeto do projeto de lei que prometia
apresentar em breve.
364
Deputado João Gilberto (MDB-RS), idem, sessão em 11 de maio de 1978.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 279
365
O Globo, 6 de maio de 1978. Ver MARTINS, Roberto Ribeiro. Liberdade para os brasilei-
ros, p. 136, para detalhes da mobilização nacional e resultado do movimento; o manifesto
está em Movimento, São Paulo, 24 de abril de 1978.
366
Em Tempo, São Paulo, n. 20, 17-23 de julho de 1978, p. 7.
367
Jornal do Brasil, 10 de maio de 1978.
368
Brasil dia a dia, p. 116.
280 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
2.6 O CBA-SP
Instruída por uma perícia, a juíza federal que cuidava do caso deu ga-
nho de causa ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, estabelecendo o
índice de 34,1% como parâmetro para a reposição salarial. A partir daí, es-
truturou-se o trabalho de organização de um movimento grevista que teria
como epicentro a região do ABC paulista, onde se encontrava o grosso da
indústria automobilística em território nacional. A localização da vanguar-
da grevista não se deveu a fatores aleatórios, mas às próprias características
da modernização industrial desencadeada no período 1968-1973. Segundo
uma analista:
369
GÓES, Walder de. Brasil-Estados Unidos (2/10/1977). In: ______. O Brasil do General
Geisel. Estudo do processo de tomada de decisão no regime militar-burocrático. Rio de Ja-
neiro: Nova Fronteira, 1978. p. 175-176.
370
HIRATA, Helena. Movimento operário sob a ditadura militar (1964-1979). In: LÖWY,
Michel et al. Introdução a uma história do movimento operário brasileiro no século XX. Belo
Horizonte: Vega, 1980. p. 103.
282 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
371
Depois do golpe, a Lei nº 4.330, de 1º de junho de 1964, regulamentou o direito de greve
em condições tão restritivas que passou a ser conhecida como “Lei do delito de greve”. O
Decreto-lei nº 1.632, de 4 de agosto de 1978, proibiria a greve nas “atividades essenciais
de interesse da segurança nacional”, como “as relativas a serviços de água e esgoto, ener-
gia elétrica, petróleo, gás e outros combustíveis, bancos, transportes, comunicações, carga
e descarga, hospitais, ambulatórios, maternidades, farmácias e drogarias, bem assim as de
indústrias definidas por decreto do Presidente da República”.
372
NORONHA, Eduardo. A explosão das greves na década de 80. In: BOITO JR., Armando
(Org.). O sindicalismo brasileiro nos anos 80. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991. p. 95.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 283
373
Disponível em: <http://www.abcdeluta.org.br/materia.asp?id_CON=34>. Acesso em: 12
fev. 2014.
374
NORONHA, Eduardo, op. cit., p. 104. Para um aprofundamento no tema da relação entre
o movimento sindical e o processo político nesse momento, ver, do mesmo autor, Greves na
transição brasileira. Dissertação (Mestrado em Ciência Política) – Universidade Estadual de
Campinas, Campinas, 1992.
284 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
376
Inventário CBA-Unicamp, pasta 15. Carta de Hélio Bicudo lida durante o lançamento
do CBA-SP em 12 de maio de 1978, que coincide com a carta política aprovada na ocasião.
O jurista foi, portanto, o autor. Em Tempo, São Paulo, n. 12, 22-28 de maio de 1978, p. 11.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 285
377
ALVES, Márcio Moreira. Teotônio, guerreiro da paz, p. 170. Sobre o movimento no Rio
Grande do Norte, ver MEDEIROS, Aliny Dayany Pereira de. O Comitê pela anistia no Rio
Grande do Norte e a Associação Norte-Rio-Grandense de Anistiados Políticos como espaços de
história, memória e política (1979-2001). Dissertação (Mestrado em História e Espaços) –
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2012.
378
CBA-SP, “Balanço político e organizativo dos movimentos de anistia”, junho de 1979.
286 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
379
Entre as entidades que compunham a Comissão Executiva do CBA-SP, estavam: Mo-
vimento Unidade e Participação dos Advogados, Associação dos Médicos Sanitaristas do
Estado de SP, Associação de Docentes da Universidade de São Paulo (ADUSP), Sindicato
dos Artistas, Convergência Socialista, União Estadual dos Estudantes (UEE), CBA-RJ e o
Núcleo de Familiares de Presos Políticos.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 287
380
Esta política de frente não era específica de São Paulo, como indica o lançamento, em 8
de abril, do Comitê Unitário de Luta pela Anistia de Porto Alegre, formado por 32 entida-
des, entre as quais o Movimento Feminino pela Anistia, o Diretório Central dos Estudantes
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o Setor Jovem Metropolitano do MDB e a
Associação Gaúcha de Médicos Residentes
381
Jornal do Brasil, 9 de abril de 1978.
288 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
382
“Carta de Princípios e Programa de Ação Mínimo” divulgado pelo CBA-SP em julho de
1978, Arquivo Edgar Leuenroth.
383
O Estado de S. Paulo, 13 de abril de 1978.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 289
384
Na ocasião, declarou-se, ainda, a favor da legalização do Partido Comunista e criticou
o AI-5, bem como a ideia de substituí-lo por salvaguardas para o Estado, que vinha sendo
aventada por representantes do regime.
385
O Estado de S. Paulo, 4 de maio de 1978.
386
Jornal do Brasil, 19 de maio de 1978.
290 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
387
O lançamento oficial aconteceria em 27 de julho. Brasil dia a dia, p. 116. Expressão de
dissidências no interior do bloco no poder, a FNR foi uma articulação lançada em maio de
1977 por José de Magalhães Pinto ‒ golpista histórico contra o governo de João Goulart,
banqueiro, ex-governador de Minas Gerais e então senador pelo estado ‒, com o propósito
de reunir setores civis e militares de oposição ao governo. Inicialmente, Magalhães Pinto
foi o candidato civil da FNR à sucessão do presidente Geisel, mas acabou substituído pelo
general Euler Bentes Monteiro, que se filiou ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB)
para viabilizar legalmente a sua candidatura, tendo o senador gaúcho Paulo Brossard como
vice. Realizado o pleito indireto em dia 15 de outubro de 1978, saíram vitoriosos os candi-
datos da situação, que obtiveram 355 votos contra 226 dados à chapa Euler-Brossard. “Euler
Bentes Monteiro”. In: ABREU, Alzira Alves de et al. (Coord.). Dicionário histórico-biográfico
brasileiro pós-1930.
388
Câmara dos Deputados. Diretoria de Registro Taquigráfico de Debates. Seção de Históri-
co de Debates, sessão em 19 de maio de 1978.
389
Idem, sessão em 24 de maio de 1978. O Globo, 25 de maio de 1978.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 291
390
Boletim ABI, maio/jun. de 1978.
391
ZERBINE, Therezinha Godoy, op. cit., p. 251.
392
Em Tempo, São Paulo, n. 9, 1-7 de maio de 1978, p. 2; Movimento Feminino pela Anistia
e Liberdades Democráticas. Origens e lutas. Rio de Janeiro: [s.n.], 1991, p. 30; Boletim ABI,
junho/ago. 1978.
393
ABREU, Alzira Alves de et al. (Coord.). Dicionário histórico-biográfico brasileiro pós-1930.
394
O Globo, 10 de maio de 1978.
292 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
395
Câmara dos Deputados. Diretoria de Registro Taquigráfico de Debates. Seção de Históri-
co de Debates, sessão em 12 de junho de 1978. Em 3 de maio, Arbage desqualificara as cam-
panhas pela anistia e a constituinte, confiante na vitória do governo nas eleições previstas
para 15 de novembro seguinte. Idem, sessão em 3 de maio de 1978.
396
Idem, sessão em 12 de junho de 1978.
397
Idem, sessão em 20 de junho de 1978.
398
Idem, sessão em 23 de junho de 1978.
399
Idem sessão em 27 de junho de 1978.
400
Jornal do Brasil, 5 de maio de 1978. A proposta do senador Nelson Carneiro seria apre-
sentada ao Congresso em 4 de dezembro de 1978, recebendo o número 25/78.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 293
401
Ibidem. Desde o início do ano, em iniciativas individuais, exilados começaram a con-
seguir passaportes em embaixadas brasileiras, por força de recursos impetrados na justiça
federal. IstoÉ, 1º de março de 1978, p. 11.
402
ALVES, Maria Helena Moreira, Estado e oposição, p. 246-247.
403
Veja, 21 de junho de 1978, p. 20-21.
404
Ver a tramitação da emenda, até a sua promulgação, em <http://www2.senado.leg.br/
bdsf/bitstream/handle/id/224162/000393165.pdf?sequence=1>. Acesso em: 9 jan. 2014.
294 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
405
Veja, 28 de junho de 1978, p. 23.
406
Ibidem.
407
Idem, p. 21.
408
Idem, p. 23.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 295
409
Ibidem.
410
ALVES, Maria Helena. Estado e Oposição no Brasil, p. 218.
411
Veja, 27 de setembro de 1978, p. 22.
412
Op. cit., p. 219.
296 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
413
Veja, 12 de julho de 1978, p. 25.
414
O Estado de S. Paulo, 22 de julho de 1978. No dia 4 de agosto, o deputado Jorge Arbage
(Arena-PA) ‒ o indefectível campeão da luta contra a anistia! ‒ criticou a tentativa oposicio-
nista de emendar o projeto das reformas políticas, em especial no tocante às “salvaguardas
para defesa do Estado”, à anistia, às eleições diretas e à convocação de uma assembleia na-
cional constituinte. Câmara dos Deputados. Diretoria de Registro Taquigráfico de Debates.
Seção de Histórico de Debates, sessão em 4 de agosto de 1978.
415
Jornal do Brasil, 11 de agosto de 1978.
416
MARTINS, Roberto Ribeiro. Liberdade para os brasileiros, p. 177.
417
Idem, p. 172.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 297
[…] o argumento de que os que pegaram em armas não devem ser anistia-
dos não encontra nenhum fundamento nas tradições jurídicas, políticas e
históricas nacionais. Um só exemplo bastaria para esvaziar o argumento.
Mas existem centenas. No passado, pegaram em armas e foram anistiados
do general Euclides Figueiredo ao brigadeiro Eduardo Gomes; de Cordeiro
de Farias a Juarez Távora. Uns na época à esquerda, outros à direita, mas
todos procurando derrubar as instituições vigentes. E foram anistiados.418
418
Idem, p. 175-176.
419
Idem, p. 176.
420
Ibidem. É interessante lembrar que os militares foram o segmento corporativo estatal
mais atingido pela primeira onda repressiva após o golpe. E, também, adiantar que, mesmo
após a Lei de Anistia de 1979 e as que a ampliaram em 1985 e 1995, é composta por militares
a maioria dos reclamantes de exclusão dos benefícios por elas concedidos. A propósito, ver
298 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
422
Jornal do Brasil, 8 de março de 1978. Até meados de 1978, o único projeto de anistia
apresentado por um parlamentar situacionista continuava sendo do senador Edward Catete
Pinheiro (Arena-PA), de 1967, comentado no capítulo anterior. O Globo, Rio de Janeiro, 18
de julho de 1978.
423
Anistia, p. 20.
424
ABREU, Alzira Alves de et al. (Coord.). Dicionário histórico-biográfico brasileiro pós-1930.
425
Brasil dia a dia, p. 78.
426
Em Tempo, São Paulo, nº 20, 17-23 de julho de 1978, transcrito em ZERBINE, Therezinha
Godoy, op. cit, p. 193.
300 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
início deste ano. Este número tende a aumentar, mas não passa e dificilmen-
te passará de uma pequena parcela de exilados.
Estes casos, relativamente isolados, de retorno de companheiros são o fruto,
é claro, do avanço das lutas pelas liberdades democráticas. O reforçamento
[sic] dos setores democráticos obrigou o recuo do regime em muitos aspec-
tos, criando condições para a reintegração de alguns de nós.
Queremos, no entanto, lembrar que estes retornos não se fazem sem riscos.
Ameaças e intimidações têm sucedido ao primeiro contato dos exilados
com o Brasil, ao desembarcarem.
Para a grande maioria dos exilados, as condições para o retorno não estão ainda
conquistadas. Somente uma anistia ampla, geral e irrestrita para todos os pre-
sos, perseguidos, exilados e banidos permitirá a volta de todos nós. Somente
um regime democrático nos resguardará, como a todo o povo, das perseguições
do aparelho policial militar que nos torturou, prendeu, obrigou-nos à clandesti-
nidade e ao exílio e mais que tudo assassinou tantos companheiros.427
427
Pasta 04 - Série I: Produção, Subséries: Núcleos *DOC 5: Carta do CBA-Paris, agosto de
1978.
428
Câmara dos Deputados. Diretoria de Registro Taquigráfico de Debates. Seção de Históri-
co de Debates, sessão em 8 de agosto de 1978.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 301
Oficial, o CNA pretendia lutar pela anistia a atingidos por todas as catego-
rias de punições decorrentes das “leis de exceção” editadas a partir de 1964:
prisões, banimentos, condenações por atividades políticas, afastamentos,
demissões, cassações de direitos políticos e mandatos parlamentares etc.,
“pelo fato de que estes réus não tiveram o elementar direito de defesa cabí-
vel a todos os humanos”.
Em Mato Grosso, o movimento firmou suas bases em 1º de agosto, com
a instalação, em Campo Grande, do Movimento Mato-grossense pela Anis-
tia e Direitos Humanos, iniciativa do advogado Ricardo Brandão. A sole-
nidade aconteceu após a aula inaugural da Faculdade de Direito das Facul-
dades Unidas Católicas de Mato Grosso, da qual participaram o presidente
do MFPA, Flávio Bierrenbach − professor de direito da Pontifícia Universi-
dade Católica de São Paulo, vereador na capital paulista pelo MDB e autor
de moção pela anistia aprovada por unanimidade − e Wilson Fadul, último
ministro da Saúde do governo de João Goulart e um dos fundadores do
Centro Brasil Democrático (CEBRADE – frente legal de atuação do Parti-
do Comunista Brasileiro) de Mato Grosso.429 Estiveram presentes, também,
Wilson Barbosa Martins e Nelson Trad, políticos regionais cassados após
1964, e vários parlamentares, tanto do MDB − a maioria − quanto da Are-
na. Os palestrantes dissertaram sobre temas como o “Estado de direito” e
“Anistia” para uma plateia calculada em mais de duas mil pessoas, em gran-
de parte, acadêmicos de Direito. Na ocasião, Flávio Bierrenbach – que, em
dezembro de 1999, viria a se tornar ministro do Superior Tribunal Militar,
cargo que ocuparia até outubro de 2009, tendo exercido a vice-presidência
da instituição no biênio 2005/2007 ‒ lembrou o apoio que representantes
do meio jurídico haviam dado à ditadura e apontou o caráter de classe do
regime: “Os juristas e tecnocratas que alugaram suas inteligências ao regi-
me de opressão deverão figurar na galeria dos juristas prostituídos. Este
poder não teve o apoio do povo, e sim o apoio da burguesia, determinados
setores do clero e dos capitais estrangeiros”. Therezinha Zerbine e Wilson
Fadul, por sua vez, frisaram que as entidades por ambos fundadas não ti-
nham qualquer conotação política ou ideológica.430
429
Ver os verbetes de Bierrenbach e Fadul em ABREU, Alzira Alves de et al. (Coord). Dicio-
nário histórico-biográfico brasileiro pós-1930.
430
A Tribuna, Campo Grande (MT), 1 e 2 de agosto de 1978, Jornal da Praça, Dourados (MT),
4 de agosto de 1978, reproduzido em ZERBINE, Therezinha Godoy, op. cit., p. 200-201.
302 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
Cada grupo social que apoia a anistia tem sua própria maneira de reivin-
dicá-la e não se pode impor pontos de vista. Também não é correto assu-
mirem-se posições que afastem a possibilidade de participação de qualquer
corrente que seja na luta por anistia.
A luta pela anistia é uma luta de caráter democrático, não só pelo seu con-
teúdo, como pela heterogeneidade dos seus futuros beneficiários, oriundos
de todas as classes sociais e categorias profissionais. Não pode ser excluída
nenhuma classe ou categoria atingida. Nem tampouco setores que falam em
pacificação do país, em unidade da família brasileira, conciliação nacional.
A Igreja fundamenta seu apoio à anistia na necessidade de tolerância cristã
431
Idem, p. 249.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 303
432
MARTINS, Roberto Ribeiro. Liberdade para os brasileiros, p. 180-1.
304 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
perigo. Quem pode admitir que quase uma centena de cidadãos seja presa
e desapareça? E isto não provoca uma comissão de inquérito para apurar as
responsabilidades!
Propugnamos por uma Anistia Ampla, Geral e Irrestrita. Mas, é claro, não
negociaremos, para obtê-la, com os crimes praticados contra a humanida-
de. Anistia, como medida política, só será possível com a mobilização de
todos os setores e, neste caso, ela estará inserida dentro de um contexto
mais amplo das liberdades de organização, de pensamento, de opinião. Está
inserida, enfim, no restabelecimento do Estado de direito. Ora, em um Es-
tado de direito, os tribunais terão, por imperativo da consciência jurídica,
obrigação de apreciar, apurar e punir os responsáveis pelo desaparecimento
de nossos parentes.433
433
Anistia, p. 33. Grifo meus. Os desdobramentos da questão se encarregariam de desman-
char essa ilusão juridicista. Até a data em que escrevo, os tribunais não corroboraram, na
prática, a previsão feita no documento.
434
ZERBINE, Therezinha Godoy, op. cit., p. 209-215.
435
Boletim ABI, julho-agosto de 1978, p. 23. Nesse mesmo dia, o deputado Fernando Coelho
(MDB-CE) defendeu na Câmara a decretação da anistia ampla, geral e irrestrita como “pas-
so inadiável para a verdadeira reconciliação nacional” e maior homenagem que se poderia
prestar à memória do ex-presidente Juscelino Kubitschek no segundo aniversário de sua
morte. No dia seguinte, o deputado José Maurício (MDB-RJ) se opôs à reforma da Consti-
tuição por outro caminho que não a assembleia nacional constituinte, que não poderia ser
convocada sem a prévia concessão de “anistia ampla e irrestrita a todos os brasileiros casti-
gados pelos atos de exceção”. Câmara dos Deputados. Diretoria de Registro Taquigráfico de
Debates. Seção de Histórico de Debates, sessões em 21 e 22 de agosto de 1978.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 305
436
Brasil dia a dia, p. 117.
306 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
437
Jornal do Brasil, 8 de setembro de 1978.
438
Idem, 9 de setembro de 1978.
439
“Encontro de Salvador diz não a proposta de anistia limitada”. Jornal do Brasil. 9 de se-
tembro de 1978.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 307
440
Ibidem.
441
Idem, 10 de setembro de 1978.
442
Jornal do Brasil, 8 de setembro de 1978.
308 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
443
Câmara dos Deputados. Diretoria de Registro Taquigráfico de Debates. Seção de Histó-
rico de Debates, sessão em 11 de setembro de 1978. O governador da Bahia era o arenista
Roberto Santos, eleito indiretamente em 1974.
444
“Anistia”. Em Tempo, São Paulo, 18 a 24 de setembro de 1978, p. 11.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 309
Em grande medida, esta maior definição dos núcleos pró-anistia teve como
um de seus marcos a Carta de Princípios aprovada pelo CBA de São Pau-
lo, em junho do corrente ano, que, além de se definir claramente por uma
anistia ampla e irrestrita, definiu como princípios lutar pela liberdade de
expressão, liberdade de greve, sindical e partidária. O CBA/SP não só, com
a sua Carta, vinculava assim a questão da anistia à luta geral pelas liberda-
des democráticas e pelo fim do regime autoritário, como definia também
um programa mínimo para a luta pela anistia, levantando questões como o
retorno dos exilados, o fim das torturas e de todos os aparatos repressivos,
a libertação dos presos políticos e o retorno dos direitos de todos que foram
casados e banidos.445
445
Em Tempo, São Paulo, n. 35, 30 de outubro/5 de novembro de 1978, p. 5.
446
Pronunciamento do deputado Odacir Klein (MDB-RS). Câmara dos Deputados. Dire-
toria de Registro Taquigráfico de Debates. Seção de Histórico de Debates, sessão em 12 de
setembro de 1978. Governava o estado o arenista Sinval Sebastião Duarte Guazzelli, eleito
indiretamente em 1974.
447
Brasil dia a dia, p. 78.
310 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
tadas pelo governo em junho na forma da PEC 7/78.448 Este ato legislati-
vo constituiu uma síntese do sentido estratégico do projeto distensionista,
conduzido a um novo patamar de institucionalização, que balizaria o pro-
cesso político nacional durante uma década, isto é, até a promulgação da
Constituição de 1988. Reuniu dialeticamente a preservação dos poderes
conferidos ao Executivo pelos atos institucionais, agora transformados em
atributos constitucionais, à satisfação dos setores moderados da oposição,
de modo a incorporá-los ao projeto.449
Mais do que isso, a EC-11 viabilizou, do ponto de vista jurídico, a continui-
dade da ordem que se queria preservar naquela que veio substituí-la.450 Re-
zava o seu “Art. 3º ‒ São revogados os Atos institucionais e complementares,
no que contrariarem a Constituição Federal, ressalvados os efeitos dos atos
praticados com bases neles, os quais estão excluídos de apreciação judicial”.451
Ora, o texto constitucional em vigor era o da Constituição de 1967 ‒ que
assumiu a perspectiva da Doutrina de Segurança Nacional ‒, amplamente
agravado pela Emenda Constitucional nº 1 (EC-1), de 1969, que incorporou
os preceitos dos principais atos institucionais. Não há consenso entre os es-
pecialistas quanto à classificação jurídica da EC-1. Foi de tal monta a altera-
ção operada no texto de 1967, que muitos constitucionalistas a consideram
uma nova Constituição. Manoel Gonçalves Ferreira Filho, um dos juristas
que mais serviços prestaram ao regime ditatorial, discorda deste ponto de
vista, entendendo que, “se são muitas as alterações que a Emenda Constitu-
cional estabeleceu no texto promulgado em 1967, essas mudanças não foram
448
Ver tramitação em: <http://legis.senado.leg.br/mateweb/servlet/PDFMateServlet?m=
9706&s=http://www.senado.leg.br/atividade/materia/MateFO.xsl&o=ASC&o2=A&a=0>.
Acesso em: 12 jan. 2016. Texto completo da EC-11 em: <http://www.planalto.gov.br/cci-
vil_03/constituicao/Emendas/Emc_anterior1988/emc11-78.htm>. Acesso em: 9 jan. 2014.
449
Um resumo técnico das modificações trazidas pela emenda pode ser encontrado em JA-
CQUES, Paulino. Emenda Constitucional n. 11. Disponível em: <http://www2.senado.leg.
br/bdsf/bitstream/handle/id/181167/000366196.pdf?sequence=3>. Acesso em: 9 jan. 2014.
450
Não foi a primeira vez, em nossa história, que a necessidade de manter a dominação clas-
sista exigiu esse tipo de artifício jurídico. Durante o processo de independência, as Ordena-
ções Filipinas se tornaram o Código brasileiro com a Constituição de 1824, operação que
garantiu a continuidade dos interesses portugueses no Brasil nas novas condições políticas
da colônia que se transformava em nação independente. MARTINS, Wilson. História da
inteligência no Brasil, v. 2, p. 174.
451
Na parte grifada por mim, percebe-se que se manteve a preocupação, expressa no texto
de vários dos atos institucionais, com uma futura reversão da relação de forças políticas, que
pudesse ensejar uma cobrança pelas medidas de caráter ditatorial.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 311
452
Câmara dos Deputados. O pensamento constitucional brasileiro. Ciclo de conferências
realizado pela Universidade de Brasília no período de 24 a 26 de outubro de 1977. Brasília:
Centro de Documentação e Informação, 1978, p. 198.
453
VIEIRA, José Ribas. O autoritarismo e a ordem constitucional no Brasil. Rio de Janeiro:
Renovar, 1988, p. 93. Grifo do autor.
454
Idem, p. 98.
455
Idem, p. 95. Para uma visão positiva das “medidas de emergência” em relação com seus
objetivos políticos gerais (a guerra e a subversão), ver SANTOS, Aricê Moacyr Amaral. O
Estado de Emergência. São Paulo: Sugestões Literárias, p. 198. Há, subjacente a elas, a ale-
gação da insuficiência das medidas de tipo liberal para defender o Estado nas condições
conflituosas modernas, em especial a guerra nuclear e a guerra revolucionária, em face das
quais o “estado de sítio” seria inoperante. Sobre isso, ver FERREIRA FILHO, Manoel Gon-
çalves. A reconstrução da democracia. Ensaio sobre a institucionalização da democracia no
mundo contemporâneo e em especial no Brasil. São Paulo: Saraiva, 1979, em particular o
Cap. 10 – A segurança do Estado.
312 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
456
A figura do “decurso de prazo” foi instituída pela EC-1, como um meio de forçar a apro-
vação de decretos-leis junto ao Congresso. Aqueles que não fossem votados no prazo de
sessenta dias estariam automaticamente aprovados. Dessa maneira, contornavam-se even-
tuais situações em que os parlamentares governistas estivessem em minoria no Congresso,
porque eles poderiam se ausentar do plenário e impedir a formação do quórum exigido pelo
regimento da Casa para as votações.
457
A EC-11 constituiu um dos momentos áureos da construção jurídico-política do regime
ditatorial iniciado com o golpe de 1964. Desta obra de autêntico furor legiferante, disse um
comentador: “Desenvolvimento econômico e anticomunismo político, eis a ideologia por
trás da sucessão convencional de constituições (duas), atos institucionais (17) e atos com-
plementares (73) [na verdade, 105], além de milhares de decretos-leis, ditados geralmente
pelos tecnoburocratas ao arrepio de qualquer coerência jurídica […]”. CHACON, Vamireh.
Vida e morte das constituições brasileiras. Rio de Janeiro: Forense, 1987, p. 209.
458
Brasil dia a dia, p. 117.
459
Ibidem. A tramitação do projeto até a promulgação da lei pode ser acompanhada em:
<http://www.senado.leg.br/atividade/Materia/Detalhes.asp?p_cod_mate=10710&titu-
lo=MSG%2095%20de%201978%20-%20MENSAGEM>. Acesso em: 10 jan. 2014.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 313
460
Jornal do Brasil, 21 de outubro de 1978. Era governador do estado do Rio de Janeiro o
arenista Floriano Peixoto Faria Lima, nomeado para o cargo pelo governo federal em 1974.
461
Em Tempo, São Paulo, n. 36, 6-12 de novembro de 1978, p. 3.
462
Jornal do Brasil, 2 de novembro de 1978.
463
O Globo, 2 de novembro de 1978.
314 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
464
Jornal do Brasil, 1º de novembro de 1978.
465
CONGRESSO NACIONAL PELA ANISTIA. Resoluções, São Paulo, novembro de
1978, p. 1.
466
Idem, p. 1-2.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 315
467
Idem, p. 2-3.
468
Ver a lista detalhada de todos os participantes em Idem, p. 71-81.
469
“Anistia para todo o povo!”. Movimento, São Paulo, 6-12 de novembro de 1978, p. 12.
470
CONGRESSO NACIONAL PELA ANISTIA. Resoluções, São Paulo, novembro de 1978,
p. 69.
316 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
471
Idem, p. 69-70.
472
Idem, p. 65-66.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 317
473
Idem, p. 66-67
474
Em nome do Comitê Brasil Anistia do Comitê França-América Latina, também repre-
sentado no evento pelos juristas Louis Joinet e André Jacques.
475
CONGRESSO NACIONAL PELA ANISTIA. Resoluções, São Paulo, novembro de 1978,
p. 82.
476
Liga Suíça dos Direito Humanos, Comissão para o Terceiro Mundo da Igreja Católica de
Genebra e Comissão América Latina da Associação “Que fazer”.
318 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
gresso que é uma esperança para todos os povos que conduzem o mesmo
tipo de luta no mundo e em particular para todos dos povos da América
Latina.477
477
CONGRESSO NACIONAL PELA ANISTIA, op. cit., p. 84.
478
Documento que, em 1945, formalizou a criação da Organização das Nações Unidas
(ONU).
479
CONGRESSO NACIONAL PELA ANISTIA, op. cit., p. 86 e 88.
480
Idem, p. 90-141.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 319
481
“Sugeridas ações às famílias dos presos”. O Estado de S. Paulo, 4 de novembro de 1978,
p. 11.
482
“Anistia homenageia Lamarca e Marighela”. Jornal do Brasil, 4 de novembro de 1978.
483
“Sugeridas ações às famílias dos presos”. O Estado de S. Paulo, 4 de novembro de
1978, p. 11.
320 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
484
Em 10 de novembro, o ministro das Relações Exteriores, Antônio Azeredo da Silveira,
recebeu de cerca de cem brasileiros exilados, por meio dos seus advogados, interpelação
requerendo o restabelecimento de seus direitos de cidadãos. Brasil dia a dia, p. 117.
485
Em 17 de novembro, ela recebeu a visita do cônsul brasileiro em Montevidéu, Agenor Soa-
res do Santos, que, em seguida, informou oficialmente que, ao contrário do que havia sido de-
nunciado, ela estaria gozando de boas condições de saúde. Em dezembro, encerrou-se a cam-
panha nacional das entidades pró-anistia que visava pressionar o governo brasileiro a intervir
junto ao governo uruguaio pela libertação de Flávia. Foi arrecadada uma quantia para totalizar
a taxa de quinze mil dólares que a Junta Militar do Uruguai vinha exigindo em ressarcimento
das despesas com a permanência da presa no país. ZERBINE, Therezinha Godoy, op. cit., p.
238-239. No dia 12 de novembro, fora sequestrada em Porto Alegre uma família uruguaia ‒
Lílian Celiberti, Universindo Diaz e seus dois filhos, de dez e quatorze anos ‒, em operação
conjunta de forças policiais do Brasil e do Uruguai, típica da Operação Condor.
486
“Congresso em SP debate punições revolucionárias”. O Globo, 4 de novembro de 1978.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 321
487
“Cassações Brancas”, Movimento Feminino pela Anistia e Liberdades Democráticas, p. 32.
488
Carta do Congresso Nacional pela Anistia. Congresso Nacional pela Anistia. Resoluções,
novembro/1978, p. 8.
489
Brasil Mulher, n. 14, novembro de 1978, p. 12-13. Grifos meus.
322 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
É impossível que o general Geisel não soubesse que tinha à frente da Se-
cretaria de Segurança de São Paulo um caso patológico, o coronel Erasmo
Dias, hoje candidato a deputado federal; impossível que não soubesse da
existência de um torturador e assassino no comando da polícia paulista,
que é o delegado Sérgio Fleury.490
490
Brasil Mulher, n. 14, novembro de 1978, p. 12-13.
491
Cf. GRECO, Heloisa Amélia. Dimensões fundacionais da luta pela anistia.
492
CONGRESSO NACIONAL PELA ANISTIA. Resoluções, p. 4.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 323
493
Idem, p. 142.
494
Idem, p. 5.
495
Idem, p. 5-6.
496
Ibidem.
324 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
497
Ibidem.
498
Idem, p. 7.
499
Movimento Feminino pela Anistia e Liberdades Democráticas, op. cit., p. 31. Ainda em
novembro, Therezinha Zerbine viajou a Washington e Nova Iorque, para participar da fun-
dação de um comitê de apoio à luta pela anistia no Brasil, e a Lisboa, a convite do Comitê
Português Pró-Anistia do Brasil, para divulgar os objetivos e o programa do MFPA. A Ca-
pital, Lisboa, 20 de novembro de 1978, reproduzido em ZERBINE, Therezinha Godoy, op.
cit., p. 231-232.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 325
A oposição venceu as eleições para o Senado nos estados de São Paulo, Rio
de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Goiás
e Paraíba. Em suma, excetuando-se os estados de Goiás e Paraíba, que per-
tencem às regiões Centro-Oeste e Nordeste, respectivamente, a oposição
venceu na maior parte dos estados do Sudeste, bem como em todos os es-
tados da região Sul. Em conjunto, estes oito estados englobavam, em 1978,
69% do eleitorado brasileiro (65%, se apenas considerarmos os Estados de-
senvolvidos do Sul e Sudeste). Ademais, os candidatos do MDB para o Se-
nado obtiveram votação superior à da Arena em todas as capitais de estado,
com exceção de três. Isto significava que mesmo nas áreas urbanizadas dos
estados menos desenvolvidos do Norte e Nordeste, o MDB havia conquista-
do expressivo apoio eleitoral. Isto também significava que o reduto eleitoral
da Arena se havia reduzido às áreas de base rural, onde o clientelismo e
todas as outras formas de controle do voto continuavam a exercer papel
decisivo na definição das eleições.502
500
Movimento, São Paulo, n. 60, 12 de novembro de 1978, p. 12.
501
KINZO, Maria D’Alva Gil. Oposição e autoritarismo, p. 201.
502
KINZO, Maria D’Alva Gil. Oposição e autoritarismo, p. 202.
326 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
Diante dos resultados obtidos pelo MDB, Márcio Moreira Alves, jorna-
lista, ex-deputado e agora professor do Instituto Superior de Economia de
Lisboa, escreveu um artigo logo em cima dos fatos,503 questionando a ava-
liação que a oposição e a imprensa brasileira teriam feito das eleições como
“uma vitória antigovernamental”: “a euforia demonstrada pelos dirigentes
do MDB e pela imprensa liberal e de esquerda carece de bases sólidas, em-
bora seja possível constatar uma sensível melhoria na definição ideológi-
ca da representação oposicionista […]”. Para o autor, era digno de nota o
fato “de terem as eleições de 15 de novembro gerado, tanto a nível estadual
como federal, a melhor representação popular que o Brasil já teve ao longo
de mais de 150 anos de história parlamentar”, com a consagração de líderes
sindicais, mulheres engajadas em campanhas de gênero, militantes de mo-
vimentos sociais etc. Entretanto, o sistema eleitoral permitira à Arena con-
servar sua posição majoritária no Congresso e em grande parte das assem-
bleias legislativas. Este dado traduziria “o comportamento extremamente
conservador do eleitorado em geral e do oposicionista em particular”.
503
ALVES, Marcio Moreira; BAPTISTA, Artur. As eleições de 1978 no Brasil. Revista Crítica
de Ciências Sociais, Coimbra, n. 3, p. 29-52, dez. 1979. A edição consultada on-line não traz
numeração nas páginas. Observe-se que uma primeira versão do artigo já estava pronta em
dezembro de 1978, quando foi apresentada no Simpósio Brasil no Limiar da Década dos 80,
em Estocolmo. Idem.
504
Termo do jargão político referido, no caso, a práticas destinadas a desviar a atenção do
eleitorado oposicionista dos assuntos que realmente importariam, como os problemas gera-
dos pela natureza concentradora de riqueza do regime em vigor no país.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 327
505
Em MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã, várias edições.
506
Sobre a reunião, ver GRECO, Heloisa Amélia. Dimensões fundacionais da luta pela anis-
tia, v. 1, p. 73.
328 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
507
Anistia, n. 3, janeiro-fevereiro de 1979, p. 5.
508
O Diário de Pernambuco publicou, em 22 de dezembro, documento preparado por deze-
nove presos políticos do presídio Barreto Campelo, com os nomes de 78 pessoas acusadas de
participar de sessões de tortura no estado entre 1968 e 1978. Brasil dia a dia, p. 90.
509
Jornal do Brasil, 6 de dezembro de 1978.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 329
510
Brasil dia a dia, p. 117. O texto da lei e as alterações que sofreu ao longo do tempo
podem ser vistos em: <http://presrepublica.jusbrasil.com.br/legislacao/128355/lei-de-segu-
ranca-nacional-de-1978-lei-6620-78?ref=home>. Acesso em: 10 jan. 2014.
511
E. M. n. 336-A, de 16 de outubro de 1978. In: BRASIL. Senado Federal. Subsecretaria de
Edições Técnicas. Segurança nacional; Lei n. 6620/78 – antecedentes, comparações, anota-
ções, histórico. Por Ana Valderez A. N. de Alencar. Brasília: Senado Federal, 1980, p. 346.
Grifo meu.
330 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
Cabe ampliarmos a nossa luta para os setores que mais necessitam do fim
do regime repressivo, para os setores populares, em particular para os tra-
balhadores da cidade e do campo. A questão da ampliação da luta pela anis-
tia é a própria questão da sua popularização. Preservando e ampliando os
vínculos que possuímos com os setores liberais, mas criando as condições
para que a bandeira da anistia possa ser empunhada por aqueles que de fato
têm interesse em jogar sua força para levá-la às suas últimas consequências.
Neste sentido o CBA se esforçará para ativar o trabalho junto às entidades,
para criar novos núcleos e para ampliar a filiação de novos sócios. Procu-
rará ainda intensificar a associação de seus quadros de personalidades que
concordem com nosso programa.513
512
Documento intitulado “Anistia e repressão e elaborado” por Luiz Eduardo Greenhalgh,
provavelmente em agosto de 1979.
513
Idem.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 331
514
Carta de CBA-RJ ao presidente da República, general Ernesto Geisel, Rio de Janeiro, 28
de dezembro de 1978. O Globo, Rio de Janeiro, 29 de dezembro de 1978.
515
O Globo, 29 de dezembro de 1978.
332 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
516
Jornal do Brasil, 29 de dezembro de 1978.
517
Decreto nº 82.960, de 29 de dezembro de 1978.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 333
REIS, Daniel Aarão. Ditadura militar, esquerdas e sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
519
520
Idem, p. 11.
O projeto distensionista e a anistia (1974-1978) 335
Referência ao reino fictício onde se desenrola a trama da novela Que rei sou eu, sátira
522
1
Menção a matérias da Folha de S. Paulo, Veja e Em Tempo.
337
338 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
2
“Anistia parcial: mais uma manobra do regime”. Anistia, Rio de Janeiro, janeiro de 1979,
Editorial, p. 3.
3
Resolução da Assembleia Geral do CBA-RJ, de 21 de janeiro de 1979. Entendendo as refor-
mas políticas como efetivas operações eufêmicas, o escritor e teatrólogo Augusto Boal dis-
sera, um ano antes: “De nada serve substituir palavras, se a realidade que elas designam não
é também substituída. No Chile, pretendeu-se substituir a palavra ‘ditadura’ pela expressão
‘democracia autoritária’, porém o Pinochet continuou o mesmo. ‘A junta chilena acaba de in-
ventar o submarino a vela’ − divertiu-se um jornalista francês. Pretende-se agora substituir
o ‘toque de queda’ por ‘restrições às deslocações noturnas’, porém, entre a meia-noite e as
cinco da manhã ninguém pode sair à rua, agora como antes. No Brasil, pretende-se substi-
tuir ‘leis de exceção’ por ‘salvaguardas legais’. Se eu estivesse de bom-humor, achava graça.
Não acho”. Anistia, Rio de Janeiro, abril de 1978, p. 42.
A anistia como tática do regime 339
4
Documento de fevereiro de 1979, produzido pelo CBA-SP. Sobre o PDR (Partido Demo-
crático Republicano), ver KORNIS, Mônica. Pedro Aleixo. In: ABREU, Alzira Alves de et al.
(Coord.). Dicionário histórico-biográfico brasileiro pós-1930.
5
Unidade Proletária, ano IV, n. 29, fevereiro de 1979, p. 8.
6
Voz Operária, n. 154, janeiro de 1979, p. 1.
7
Sobre o MR-8, ver ABREU, Alzira Alves de; MASCARENHAS, Lícia. Movimento Revolu-
cionário 8 de Outubro - MR8. In: ABREU, Alzira Alves et al. (Coord.). Dicionário histórico-
340 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
-biográfico brasileiro pós-1930; e SILVA, Antônio Ozai da. História das tendências no Brasil.
(Origens, cisões e propostas). 2. ed. rev. e ampl. [S.l: s.n., s.d.], p. 108-11. A bibliografia sobre
o PCB é muito vasta e acessível, podendo a história do partido ser encontrada nas fontes
citadas nestas notas.
8
“Unidade e participação das massas populares contra o continuísmo de Figueiredo”. Voz Ope-
rária, fevereiro de 1979, p. 3. Grifos meus. Observe-se a expressão “equilíbrio precário”, matriz
de uma interpretação do processo político brasileiro que, posteriormente, entenderia o período
pós-reformas de 1978 como caracterizado por um “Estado de direito precário”, como visto no
final do capítulo anterior. É interessante, também, a caracterização do regime ditatorial como
“fascista” e da estratégia distensionista como “recuo” diante do “avanço das forças democráticas”.
Já havia, na época, como mostrado no capítulo anterior, elementos de compreensão da iniciativa
liberalizante do governo em pleno auge do regime e refluxo das “forças democráticas”. O epíteto
“fascista” pode ser creditado a uma transposição mecanicista da configuração dos regimes nazi-
fascistas a qualquer ditadura, dada a violência estatal praticada nesses regimes.
A anistia como tática do regime 341
A luta pela anistia vive um momento decisivo. Junto com ela, vive um mo-
mento decisivo o conjunto do movimento operário e popular em luta con-
tra a ditadura e a exploração. Embora a crise econômica do capitalismo
tenha se aprofundado em nível nacional e internacional, a ditadura dos pa-
trões conseguiu refazer parcialmente sua unidade política.
Por isso, e enquanto isso, nosso ditador de plantão amplia sua capacidade de
iniciativa política e avança rumo à institucionalização do regime, indo mais
longe nas reformas de fachada, cada vez mais necessárias à manutenção da
ditadura dos patrões.
Tudo isso, sem abrir mão do seu arsenal de leis e aparelhos repressivos.
Este objetivo geral de consolidação da ditadura através de reformas de fa-
chada coesiona [sic] não apenas amplos setores da burguesia, mas também
os oportunistas que, ao levantarem a bandeira da consolidação e do forta-
lecimento da democracia dos patrões, convergem para a mesma trincheira,
contribuindo para o isolamento e a perda de independência e da iniciativa
política do movimento operário e popular.
Se a conquista da anistia ampla, geral e irrestrita pode ser sinônimo da der-
rubada pura e simples da ditadura, temos de reconhecer que o movimento
operário e popular ainda não acumulou forças para tanto.
Mesmo assim, deve estar claro que não é baixando a cabeça e aceitando a
ditadura reformada, aceitando a dinâmica da conciliação de classes, que ab-
sorve os movimentos populares, mantendo o mesmo regime de exploração
e miséria social; não é baixando a cabeça, dizíamos, mas ao contrário, é na
luta concreta que esta força deverá ser acumulada.
Dos céus ou do parlamento não se deve esperar nenhum maná. O caminho
da derrubada da ditadura é a pressão organizada, de massa, de baixo para
cima. Aí está a importância atual da questão da anistia.
342 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
[…]
Quem quer liberdade de manifestação e organização para os trabalhadores
e oprimidos, quem quer melhoras efetivas nas condições de vida e trabalho
do povo brasileiro deve, hoje, sem hesitar, sair às ruas.
É aqui que se acumulam forças, aqui o movimento popular pode e tem que
ter a iniciativa.
Esta é a conclusão dos encontros pela anistia que reuniram nas últimas sema-
nas movimentos pela anistia de todo o país, entidades sindicais, estudantis,
parlamentares, intelectuais etc. Esta é a conclusão de combatentes revolucio-
nários condenados e que permanecem presos nos cárceres da ditadura.
Nosso jornal assume a bandeira levantada por todos estes setores e partici-
pa da conclamação geral às pichações, panfletagens, debates, comícios, ca-
ravanas, atos públicos e manifestações de rua já programadas pelos comitês
de anistia e outras entidades de classe em todo o Brasil.
Chega de ditadura. Chega de exploração. Às ruas pela anistia ampla, geral
e irrestrita.9
Mudou o regime?
Em que sentido modificou-se a legislação de exceção?
Em que essas mudanças afetaram a existência, atuação e poder dos órgãos
do sistema informativo-repressivo?
Em verdade, nada mudou no essencial.
O regime em toda a sua estrutura de poder continua fundamentalmente
sendo uma ditadura militar.
9
Companheiro, n. 8, 18-31 de julho de 1979, p. 3. Grifos meus.
10
Ver uma orgulhosa reafirmação dessa abordagem em REIS, Daniel Aarão. A ditadura
faz cinquenta anos: história e cultura política nacional-estatista. In: REIS, Daniel Aarão;
RIDENTI, Marcelo; MOTTA, Rodrigo Patto Sá (Org.). A ditadura que mudou o Brasil: 50
anos do golpe de 1964. Rio de Janeiro: Zahar, 2014. p. 11.
A anistia como tática do regime 343
11
“O nosso testemunho” (documento datado de 18 de abril de 1979 e dirigido à Ordem dos
Advogados do Brasil, à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, à Associação Brasileira
de Imprensa, à Comissão de Direitos Humanos do MDB, ao Comitê Brasileiro pela Anistia,
ao Movimento Feminino pela Anistia e a todas as entidades e personalidades que lutam pela
anistia e pelos direitos humanos no Brasil e no exterior). In: Esquerda armada (testemunho
dos presos políticos do presídio Milton Dias Moreira, no Rio de Janeiro), p. 62-63.
344 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
Batista Figueiredo”, frisando que poderia oferecê-la ao país como “um bom-
bom”.12 Quinze dias depois, o líder do governo na Câmara, deputado Nelson
Marchezan (Arena-RS), forneceu mais detalhes da composição da metafórica
guloseima ‒ aliás, tradicionalmente associada a operações de sedução amo-
rosa: o governo encaminharia ao Congresso, nos próximos meses, projeto de
“anistia ampla, mas não total, abrangendo os delitos de opinião e excluindo
determinados crimes da legislação comum”.13 A esta altura, a imprensa já dava
a anistia como assunto decidido nos meios governistas, “mesmo nos mais
empedernidos”. Restaria, no entanto, resolver o problema fundamental da
resistência apresentada à medida por setores militares:
12
Jornal do Brasil, 28 de janeiro de 1979.
13
O Globo, 16 de fevereiro de 1979.
14
BARDAWIL, José Carlos. Ampla? É possível. Mas, bem gradual. IstoÉ, 14 de fevereiro de
1979, p. 12.
A anistia como tática do regime 345
Mas, hoje, ele encontra respaldo na opinião pública nacional e nos altos
escalões das Forças Armadas, que o entendem como consequência natural
do processo de abertura política deflagrado pelo presidente Geisel.15
Eles trabalham, no momento, a ideia de que uma anistia restrita poderia ser
até benéfica ao sistema. Primeiro, porque reduziria as áreas do revanchis-
15
Folha de S. Paulo, 25 de janeiro de 1979. Ver capítulo 1 deste livro.
16
Referência ao movimento iraniano que, em inícios de 1979, derrubou o regime liderado
pelo xá Mohammad Reza Pahlavi, aliado dos países imperialistas, e iniciou a implantação
de uma república teocrática no país.
17
Referência a faixas surgidas no meio de torcidas durante partidas de futebol.
18
BARDAWIL, José Carlos. A velocidade assusta. IstoÉ, 21 de fevereiro de 1979, p. 4-5.
19
BARDAWIL, José Carlos. Ampla? É possível. Mas, bem gradual, op. cit.
346 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
20
O Globo, 9 de março de 1979. Grifos meus.
21
BARDAWIL, José Carlos. “A velocidade assusta”.
22
No primeiro dia do ano, a presidente do MFPA, Terezinha Zerbine, declarara estar certa
de que o futuro presidente haveria de conceder a anistia “até por uma questão de inteligên-
cia, porque o general Figueiredo não vai ter condições de governar um país dividido”. Jornal
do Brasil, 2 de janeiro de 1979.
A anistia como tática do regime 347
nados por crimes não políticos”. Esta seria uma condição para evitar re-
sistências de setores do governo: “A anistia tem que ser ampla, mas não
total, porque não há consenso entre os dirigentes do país: teme-se que uma
anistia que inclua os assassinos e os assaltantes ponha em risco a distensão
que se processa no país”.23 Mesma preocupação foi expressa pelo porta-voz
da Presidência da República, coronel Rubem Ludwig, a propósito da anis-
tia no contexto da consolidação da abertura política: “Não acredito que os
senadores e deputados cometam excessos, diante da abertura. O Congresso
está perfeitamente consciente de sua realidade e só posso admitir que ocor-
ram excessos isolados, de um ou de outro lado”.24 Ainda nesse mês, Antô-
nio Carlos Magalhães, Guilherme Palmeira e Tarcísio Buriti, governadores
arenistas eleitos indiretamente da Bahia, Alagoas e Paraíba, respectivamen-
te, defenderam a anistia restrita, com exclusão dos que tivessem cometido
crime de morte ou terrorismo.25 Em 24 de janeiro, o almirante Júlio de Sá
Bierrenbach, ministro do Superior Tribunal Militar (STM), também con-
denou a concessão de anistia ampla e irrestrita. Finalmente, neste mesmo
dia, o futuro ministro da Justiça e articulador político do governo a ser em-
possado, senador Petrônio Portela (Arena-PI), declarou-se “rigorosamente
contra a anistia irrestrita”, o que indicava que a medida seria adotada, mas
não como desejavam as entidades que lutavam por ela.26
Era diversificado o arsenal de argumentos situacionistas contra a anistia
ampla, geral e irrestrita. O senador Rui Santos (Arena-BA), por exemplo,
era contra a anistia para pessoas como Miguel Arraes e Luís Carlos Prestes:
“Eles têm de ser presos assim que voltarem ao país, assim como o Brizo-
la”.27 Concordava com ele o deputado Francisco Rossi (Arena-SP), que se
opunha à proposta de anistia ampla, geral e irrestrita, porque beneficiaria
23
O Globo, 5 de janeiro de 1979. Por isso, provavelmente, foi duramente reprimida pelo
DOPS, em 5 de janeiro, uma manifestação organizada pelo CBA e MFPA em Belo Horizonte
para arrecadação de fundos necessários à libertação da brasileira Flávia Schilling, presa no
Uruguai por vinculação ao grupo guerrilheiro Tupamaros. As bombas de gás lacrimogêneo
lançadas pela polícia feriram várias pessoas. Jornal do Brasil, 6 de janeiro de 1979. No dia
15 de fevereiro, uma comissão, formada por políticos da oposição e pela diretoria do CBA,
tentaria fazer contato com o consulado uruguaio no Brasil para exigir a sua libertação. Brasil
dia a dia, p. 122.
24
O Globo, 12 de janeiro de 1979.
25
Idem.
26
Folha de S. Paulo, 25 de janeiro de 1979; O Globo, 25 de janeiro de 1979.
27
Brasil dia a dia, p. 117.
348 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
28
Câmara dos Deputados..., sessão em 6 de março de 1979.
29
Câmara dos Deputados..., sessão em 12 de março de 1979.
30
Câmara dos Deputados..., sessão em 28 de março de 1979. Nunca será demasiado lembrar
que o deputado Antônio Erasmo Dias (1924- 2010) era militar e, nesta condição, participou,
em 1970, das operações de combate ao movimento guerrilheiro liderado pelo ex-capitão
Carlos Lamarca, no Vale do Ribeira (SP). Exerceu o cargo de secretário de Segurança Pú-
blica do Estado de São Paulo, tendo comandado, em 22 de setembro de 1977, a invasão da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), para reprimir uma reunião de es-
tudantes que pretendiam reorganizar a União Nacional dos Estudantes (UNE). Ver COSTA,
Marcelo. Erasmo Dias. In: ABREU, Alzira Alves de et al. (Coord.). Dicionário histórico-bio-
gráfico brasileiro pós-1930.
A anistia como tática do regime 349
31
Câmara dos Deputados..., sessão em 19 de abril de 1979.
32
Jornal do Brasil, 23 de abril de 1978.
33
Brasil dia a dia, p. 117.
34
Jornal do Brasil, 30 de janeiro de 1979.
350 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
35
Referia-se à Constituição de 1967, modificada amplamente pela Emenda Constitucional
nº 1, de 1969.
36
Jornal do Brasil, 2 de janeiro de 1979; posição defendida, também, pelo deputado Freitas
Nobre (MDB-SP) e reafirmada em Folha de S. Paulo, 25 de janeiro de 1979.
37
O Globo, 18 de fevereiro de 1979. Tales Ramalho estava informado: “O calcanhar de Aqui-
les [da anistia] é a questão dos militares punidos, que são mais de mil”. Veja, 31 de janeiro
de 1978, p. 14.
38
Cf. ABREU, Alzira Alves de et al. (Coord.). Dicionário histórico-biográfico brasileiro pós-
1930.
A anistia como tática do regime 351
39
Boletim ABI, abr./maio de 1979, p. 11.
40
Resoluções do 2° Encontro Nacional dos Movimentos pela Anistia, em Belém.
41
Em 11 de fevereiro, o CBA-SP conseguiria exibir no estádio do Morumbi, durante partida
de futebol entre os clubes Santos e Corinthians, uma faixa com os dizeres “Anistia Ampla,
Geral e Irrestrita”. Exibida pelas emissoras que transmitiam o jogo, a faixa foi parar, no dia
seguinte, nas páginas dos principais jornais do país. COSTA, Marcelo. Comitê Brasileiro
pela Anistia. In: ABREU, Alzira Alves de et al. (Coord.). Dicionário histórico-biográfico bra-
sileiro pós-1930.
42
Documento produzido pelo CBA-SP de 15 de fevereiro de 1979.
352 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
43
BARDAWIL, José Carlos. Ampla? É possível. Mas bem gradual, p. 13. Também, Veja, 5 de
fevereiro de 1979, p. 20.
44
O Globo, 7 de fevereiro de 1979.
45
Veja, 15 de fevereiro de 1979, p. 21. Os quatro primeiros, que haviam sido condenados por
ligação com a organização Resistência Armada Nacional (RAN) e assaltos a bancos, foram
libertados no dia 9. Na ocasião, um membro do CBA observou que “a LSN, se possibilitou
a redução de penas, também facilitou novos enquadramentos, como os dos militantes do
MEP, do PCR [Partido Comunista Revolucionário] e da Convergência Socialista”. O Globo,
10 de fevereiro de 1979.
46
Brasil dia a dia, p. 108. Em 17 de fevereiro, foi comemorado o “Dia nacional de visita aos
presos políticos”, de acordo com as decisões tomadas no Encontro Nacional de Entidades pela
Anistia, em Belém. Neste mesmo dia, foi libertado, depois de nove anos de prisão, o ex-pa-
dre Alípio Cristiano de Freitas, condenado em vários processos, acusado de crimes políticos
durante o governo de João Goulart, quando atuou junto às Ligas Camponesas, e, depois do
golpe de 1964, por participação em organizações clandestinas, como a Ação Popular (AP) e o
Partido Revolucionário dos Trabalhadores (PRT). Ainda neste dia, militantes do Movimento
Feminino pela Anistia tentaram realizar um ato em frente ao Consulado-Geral do Uruguai, no
Rio de Janeiro, após entregar uma carta de apelo pela libertação de Flávia Schilling, mas sequer
conseguiram abrir faixas de protesto, tendo sido dispersados antes pela Polícia Militar, que fez
uso de bombas de gás lacrimogêneo e prendeu vários manifestantes. O Globo, 18 de fevereiro
de 1979. Em 31 de maio, o CBA-RJ conseguiria estender faixas no estádio do Maracanã, no
354 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
Rio de Janeiro, durante partida de futebol entre as seleções nacionais brasileira e uruguaia. As
faixas, assim como panfletos distribuídos no local, estampavam, entre outras reivindicações, a
da libertação de Flávia Schilling. Anistia, n. 5, maio/jun. 1979, p. 8.
47
O STM funciona, desde a sua criação, em regime de escabinato, sendo composto por juí-
zes civis togados e militares sem formação jurídica.
48
MARRA, Antônio Bellucco. Unanimidade e divergências no tribunal. IstoÉ, 21 de feve-
A anistia como tática do regime 355
53
Anistia, janeiro/fevereiro de 1979, p. 8.
54
O Globo, 6 de março de 1979
55
Deputado federal pela Bahia, representou o CBA-BA junto aos exilados brasileiros em
Roma, Paris e Lisboa, com os quais conversou sobre o projeto de anistia do governo João Fi-
gueiredo, apresentado mais adiante. Cf. ABREU, Alzira Alves de et al. (Coord.). Dicionário
histórico-biográfico brasileiro pós-1930.
A anistia como tática do regime 357
56
Câmara dos Deputados..., sessões em 5 e 6 de março de 1979.
57
O Globo, 12 de março de 1979.
58
Ex-deputada pelo MDB-SC, cassada em 1969. ABREU, Alzira Alves de et al. (Coord.).
Dicionário histórico-biográfico brasileiro pós-1930.
59
O Globo, 9 de março de 1979.
60
Anistia, março/abril de 1979, p. 6.
61
Câmara dos Deputados..., sessão em 8 de março de 1979. No dia 10 de março, foi fundado
o CBA-CE.
358 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
62
Câmara dos Deputados..., sessão em 13 de março de 1979.
63
Disponível em: <http://www.abcdeluta.org.br/materia.asp?id_CON=145>. Acesso em: 7
set. 2014.
64
Referência aos processos revolucionários em curso no Irã e na Nicarágua, onde, em 1979,
foram depostas longevas ditaduras.
65
Câmara dos Deputados..., sessão em 14 de março de 1979.
A anistia como tática do regime 359
66
“Em 1978, depois que o então presidente Ernesto Geisel indicou o general João Baptista
Figueiredo, do Serviço Nacional de Informações, para ser seu sucessor, o governo iniciou
uma campanha para popularizar a imagem do chefe do SNI, chamado de ‘João do Povo’. A
iniciativa fracassou, em boa parte devido à personalidade do general. Em agosto daquele
ano, ao conceder uma entrevista sobre seu grande apreço pelos cavalos, um repórter per-
guntou se o futuro presidente gostava do ‘cheiro do povo’. Figueiredo respondeu: ‘O chei-
rinho do cavalo é melhor [do que o do povo]’’.” Folha de S. Paulo, 2 de novembro de 2000.
360 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
67
Em Tempo, São Paulo, 19-25 de abril de 1979, p. 4.
A anistia como tática do regime 361
68
Disponível em: <http://csbh.fpabramo.org.br/o-que-fazemos/memoria-e-historia/exposi-
coes-virtuais/nota-do-cbasp-imprensa-sobre-despacho-do-juiz-a>. Acesso em: 23 fev. 2014.
69
Câmara dos Deputados..., sessão em 19 de março de 1979.
364 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
70
Câmara dos Deputados..., sessão em 20 de março de 1979.
71
O Globo, 20 de março de 1979.
72
Brasil dia a dia, p. 117. Materiais não incluídos na reportagem foram publicados pelo
autor no livro Tortura: a história da repressão política no Brasil. São Paulo: Global, 1979.
73
Encaminhada no dia 19 à comissão mista encarregada de examiná-la, instalada em 21 de
março, tendo como relator o deputado Ernani Sátiro (Arena-PB). Disponível em: <http://
legis.senado.leg.br/mateweb/servlet/PDFMateServlet?m=18374&s=http://www.senado.leg.
br/atividade/materia/MateFO.xsl&o=ASC&o2=A&a=0>. Acesso em: 28 fev. 2014.
74
Jornal de Brasília, 28 de junho de 1979, p. 4.
A anistia como tática do regime 365
75
Câmara dos Deputados..., sessão em 22 de março de 1979. Uma semana depois, um jornal
de São Paulo comentaria que o projeto governista de anistia teria sofrido uma desaceleração
em virtude do auge da greve dos metalúrgicos do ABC e da apresentação do projeto do
MDB. Folha de S. Paulo, 29 de março de 1979.
76
Na ocasião, registrou a criação do Comitê Brasileiro pela Anistia no Espírito Santo. Câma-
ra dos Deputados..., sessão em 22 de março de 1979.
366 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
77
Documento sem título de 26/03/1979, produzido pelo CBA-SP.
78
Em 1979, também entraram em greve, entre outras categorias, os trabalhadores da cons-
trução civil, motoristas e cobradores, médicos e professores. NORONHA, Eduardo. “A ex-
plosão das greves na década de 80”, p. 105. Analistas calcularam em mais de três milhões o
número de trabalhadores brasileiros em greve no ano de 1979. Um dos resultados da maré
montante grevista foi a alteração da política salarial do governo, “que objetivava conter e
A anistia como tática do regime 367
foi tratado em nove reuniões no palácio do Planalto, a partir dos primeiros dias de abril. Há
destaque para a discussão do artigo que definiria os beneficiários da anistia e os crimes “co-
nexos”. Ver GASPARI, Elio. A ditadura acabada. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2016. p. 160-165.
A anistia como tática do regime 369
81
Em Tempo, São Paulo, 19-25 de abril de 1979, p. 5.
370 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
82
Movimento, São Paulo, n. 207, 16-22 de junho de 1979, p. 7.
83
Veja, 18 de abril de 1979, p. 20-21.
A anistia como tática do regime 371
[…] a ideia de que se deve pura e simplesmente anistiar quem matou fun-
cionários de banco, agentes de polícia ou meros passantes não conta com
apoio da maioria dos brasileiros nem é uma exigência nacional. Neste mo-
mento, ela é apenas a expressão de um grupo, entre tantos outros na socie-
dade, que quer impor sua vontade − nada mais que isso.
84
Em maio, o Partido Comunista Brasileiro também expressou essa preocupação: “É pos-
sível incorporar massas crescentes da população à campanha pela anistia. É necessário de-
senvolver neste momento o máximo de iniciativa e estimular a organização de comitês que
patrocinem manifestações de nível nacional, regional ou local, onde seja exigida a concessão
imediata da anistia”. “Resolução política do Comitê Central do Partido Comunista Brasilei-
ro”, maio de 1979. In: CORRÊA, Hercules. A classe operária e seu partido. Textos do exílio.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980, p. 242.
85
IstoÉ, 25 de abril de 1979, p. 115.
86
Unidade Proletária, ano IV, n. 32, maio de 1979, p. 9.
372 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
87
Disponível em: <http://legis.senado.leg.br/mateweb/servlet/PDFMateServlet?m=183
74&s=http://www.senado.leg.br/atividade/materia/MateFO.xsl&o=ASC&o2=A&a=0>.
Acesso em: 28 fev. 2014.
88
Câmara dos Deputados..., sessão em 24 de abril de 1979. Neste dia, foi libertado, em Reci-
fe, Marcelo Mário de Melo, o primeiro preso político beneficiado pela nova Lei de Segurança
Nacional, segundo o Jornal do Brasil, 25 de abril de 1979.
89
Jornal do Brasil, 26 de abril de 1978.
90
Idem, 9 de maio de 1979.
A anistia como tática do regime 373
91
Idem, 3 de maio de 1979.
92
Disponível em: <http://legis.senado.leg.br/mateweb/servlet/PDFMateServlet?m=18374
&s=http://www.senado.leg.br/atividade/materia/MateFO.xsl&o=ASC&o2=A&a=0>. Aces-
so em: 28 fev. 2014.
93
Câmara dos Deputados..., sessão em 10 de maio de 1979.
94
Câmara dos Deputados..., sessão em 14 de maio de 1979.
374 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
O Governo resolveu antecipar para fins de maio o envio do projeto que con-
cede anistia política aos punidos pela Revolução, com exceção apenas dos
que praticaram “crimes de sangue”, segundo informação que foi transmitida
pelos ministros Petrônio Portela e Golbery do Couto e Silva a líderes arenis-
tas. O presidente da República e os ministros da Justiça e do Gabinete Civil
ficaram preocupados com o alto grau de insatisfação que domina amplas
áreas do Congresso, em particular da Arena, conforme o demonstraram os
últimos acontecimentos relacionados com o debate e votação da emenda
que restabelecia eleição direta para a escolha de governadores.
O governo teme que essa insatisfação coloque em risco o sólido apoio que
lhe oferecem as bancadas da Arena na Câmara e no Senado e pretende ali-
viar as tensões existentes com o envio do projeto de anistia antes que se
encerre o mês de maio. […]
As manifestações de rebeldia de muitos arenistas em relação ao restabe-
lecimento da eleição direta na escolha dos governadores, verificadas por
ocasião do exame da Emenda Montoro na Comissão Mista do Congresso
e a consequente aprovação de uma subemenda do deputado arenista do
Maranhão, Edson Vidigal, levaram o governo a reconsiderar sua decisão de
só enviar o projeto de anistia em junho. […]
O senador José Sarney, assim como os líderes Jarbas Passarinho e Nelson
Marchezan, tomaram a iniciativa de comunicar ao presidente da República
e seus principais conselheiros políticos que a insatisfação decorre da alega-
da falta de definição do governo em relação aos problemas políticos mais
importantes da atualidade, que vão desde a anistia às eleições diretas e à
reorganização partidária.
95
Jornal do Brasil, 18 de maio de 1979.
A anistia como tática do regime 375
96
Jornal do Brasil, 20 de maio de 1979.
97
Brasil dia a dia, p. 117.
98
Jornal do Brasil, 23 de maio de 1979.
99
Movimento, São Paulo, 4-10 de junho de 1979, p. 3.
100
Disponível em: <http://legis.senado.leg.br/mateweb/servlet/PDFMateServlet?m=18374
&s=http://www.senado.leg.br/atividade/materia/MateFO.xsl&o=ASC&o2=A&a=0>. Aces-
so em: 28 fev. 2014.
376 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
101
Estado e oposição no Brasil, p. 256-257.
A anistia como tática do regime 377
Sem dúvida alguma foi, dado o estado de guerra interna, implantado fi-
losoficamente, pelo governo no país, que se propiciou a opção de alguns
brasileiros pela forma de luta política pelo terrorismo, e a outros brasileiros
optarem pela alternativa do foquismo, da guerrilha rural, bem como outros
pela guerrilha urbana. Sem dúvida alguma, todos esses movimentos sur-
giram após 1968, com a edição do AI-5 e com o cerceamento absoluto de
todas as liberdades públicas.102
102
Diário do Congresso Nacional, 4 de abril de 1979.
103
Câmara dos Deputados..., sessão em 7 de junho de 1979.
378 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
104
“Anistia não é perdão nem esquecimento”. Em Tempo, 21-27 de junho de 1979, p. 4. A úl-
tima questão proposta por Helena Greco – naturalmente, retórica ‒ teria que ser respondida
afirmativamente. João Paulo Moreira Burnier (1919 -2000), por exemplo, um dos líderes
da revolta de Aragarças contra o presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961), planejou na
época o bombardeio dos palácios do Catete e das Laranjeiras, no Rio de Janeiro. Depois do
golpe de 1964, concebeu uma série de atentados ‒ alguns dos quais, se efetivados, teriam
resultado em verdadeiro morticínio, como a explosão do gasômetro do Rio de Janeiro ‒, que
deveriam ser atribuídos a organizações comunistas. O Caso Para-Sar, como ficou conheci-
do, já foi comentado em capítulo anterior.
105
“Subsídios para discussão sobre quem são os terroristas no Brasil”, novembro de 1978,
CBA-MG.
A anistia como tática do regime 379
No Brasil não houve terrorismo, mas apenas luta armada. E não sou eu que
o digo, mas as autoridades militares. Na Alemanha e na Itália, por exemplo,
pode-se falar em terrorismo, como o Baader-Meinhoff e as Brigadas Ver-
melhas.106 Mas, aqui não. É um erro histórico isolar o fato do seu contexto,
é um grande erro jurídico pretender redefinir como crime aquilo que a lei
anterior não definia, mas apenas como agravante.107
106
Organizações guerrilheiras urbanas, o Grupo Baader-Meinhof, ou Fração do Exército
Vermelho, foi fundado na antiga Alemanha Ocidental em 1970 e dissolvido em 1998, en-
quanto as Brigadas Vermelhas surgiram na Itália em 1969, extinguindo-se em 1984.
107
O Globo, 27 de junho de 1979.
108
Idem.
109
O Globo, 2 de agosto de 1979. A rigor, as tais “leis draconianas” contra o terrorismo cons-
tituíam, antes de tudo, uma proteção do Estado. Após a Segunda Guerra Mundial, países
380 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
suas memórias, evocaria outro argumento, talvez mais decisivo, que teria
esgrimido no Senado: em face das exigências de liberdade imediata para
todos os presos políticos, lembrava
11-12.
382 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
113
Unidade Proletária, ano V, n. 33, p. 3, junho de 1979.
114
O Globo, 13 de junho de 1979.
115
O Globo, 4 de janeiro de 1979.
116
Câmara dos Deputados..., sessão em 6 de junho de 1979.
117
Câmara dos Deputados..., sessão em 20 de junho de 1979.
118
Anistia, n. 5, maio/junho de 1979, p. 2.
A anistia como tática do regime 383
Notícias frequentes vindas do Brasil indicam que a pressão por uma anistia
geral, ampla e irrestrita ganha cada vez maior importância, tendo mesmo
levado o regime militar a prometer uma anistia parcial e restrita.
As crescentes mobilizações pela liberdade de expressão, de organização po-
lítica e sindical, pelo direito de greve etc. levaram o regime a uma resposta
semelhante: concessões secundárias, modificações formais nos instrumen-
tos do poder e a manutenção do sistema arbitrário que já dura quinze anos.
Poderes excepcionais continuam à disposição do novo general-presidente,
ex-chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), organismo capital do
aparelho repressivo, responsável por milhares de assassinatos, desapareci-
mentos e torturas, que continua intacto e ativo.
As brutalidades do governo brasileiro, repetidamente condenadas pela opi-
nião pública internacional, encontraram uma permanente resistência dos
mais variados setores da população. Nos últimos cinco anos, a coalizão de
forças populares e democráticas derrotou repetidamente os representantes
governamentais, nas eleições organizadas e controladas pelo regime.
Enquanto importantes setores da Igreja Católica representaram um firme
baluarte de apoio às lutas populares, os trabalhadores souberam reorgani-
zar-se, desafiando a interdição do direito de greve, e constrangeram a dita-
dura a fazer concessões.
Mais do que nunca, todos aqueles que se preocupam com a liberdade e o
respeito os direitos dos homens e dos povos devem somar os esforços para
denunciar as novas ameaças do regime brasileiro e apoiar o movimento
popular e democrático, que luta no Brasil pelo fim da ditadura.
Respondendo aos apelos dos mais amplos setores da oposição no Brasil e no
exílio, nós, abaixo assinados, chamamos à realização de uma Conferência
Internacional pela Anistia e pelas Liberdades Democráticas no Brasil, nos
dias 28, 29 e 30 de junho, em Roma, sob o patrocínio da Liga Internacional
dos Direitos dos Povos.119
119
O documento foi assinado por figuras significativas na Europa e na América Latina, den-
tre elas Joop Den Uyl (ex-primeiro ministro e então líder da bancada do Partido do Traba-
lho no Parlamento Holandês), Alfred Kastler (francês, detentor do prêmio Nobel de Física),
Sean Mac Bride (prêmio Nobel da Paz), Noam Chomsky (linguista e conhecido intelectual
crítico do imperialismo e das ditaduras), Gabriel García Márquez (escritor colombiano) e
Giulio Carlo Argan (historiador e teórico da arte e prefeito de Roma). “Conferência interna-
cional pela anistia e democracia no Brasil”, CBA-SP, [1978].
384 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
Não seria razoável supor que a resistência oferecida por Geisel à anistia
tenha sido superada por Figueiredo como uma decisão pessoal. Ao menos
publicamente, pronunciamentos de parlamentares governistas já vinham
indicando que o problema frequentava as discussões dos estrategistas po-
líticos do regime. Embora se possa objetar um provável interesse político
em dissociar a aceitação da ideia de anistia das pressões de setores oposi-
cionistas, é indiscutível que houve coerência entre o método − gradualismo
− com que a medida foi preparada e o estilo da transição de regime em
andamento. No depoimento de alguém que teve participação importante
no encaminhamento da questão:
[…] na carreira militar, as promoções exigem, a cada passo, uma nova qua-
lificação do oficial. Assim, por exemplo, só pode passar a major o capitão
que tiver feito o curso da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais. Então,
464 e 482.
A anistia como tática do regime 385
121
Veja, 6 de junho de 1979, p. 22-23.
122
Veja, 27 de junho de 1979, p. 22.
123
Unidade Proletária, junho de 1979, p. 3. Esta foi, provavelmente, a primeira manifestação
pública de lideranças sindicais expressivas em favor da anistia política.
124
Câmara dos Deputados..., sessão em 4 de junho de 1979.
386 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
125
Câmara dos Deputados..., sessão em 5 de junho de 1979.
126
Idem, sessão em 11 de junho de 1979.
127
Idem, sessão em 12 de junho de 1979.
128
Movimento Feminino pela Anistia e Liberdades Democráticas, p. 35.
A anistia como tática do regime 387
quais, juntamente com familiares dos presos, também fizeram, por um dia,
uma greve de fome e uma vigília nas escadarias da Câmara Municipal do Rio
de Janeiro e nas dependências da Associação Brasileira de Imprensa (ABI).129
Enquanto se reuniam as entidades, os ministros Petrônio Portela, da
Justiça, e general Golbery do Couto e Silva, da Casa Civil, entregavam ao
presidente general João Figueiredo, no dia 17, o anteprojeto de anistia.130
Neste mesmo dia, uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo informava o
ponto de vista de militares cassados sobre as intenções do governo:
129
Ibidem.
130
Brasil dia a dia, p. 117.
131
LAGOA, Ana. Anistia parcial é arma política. Folha de S. Paulo, 17 de junho de 1979, p. 7.
388 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
132
Guia de Fontes do CPDOC (A anistia política de 1979). UG cd1979.03.29 / Pasta II. DOC
2 / Lisboa, 19 de junho de 1979.
133
Veja, 20 de junho de 1979.
134
Câmara dos Deputados..., sessão em 19 de junho de 1979.
390 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
tituinte”, que não eram, a seu ver, os únicos caminhos necessários à superação
do regime autoritário que domina o país”.135 Na sessão do dia 21, o deputa-
do Fued Dib (MG) criticou o projeto político do governo, cuja proposta de
abertura considerou “vaga e indefinida” e destinada a “perpetuar no poder o
sistema político-social vigente, sob o predomínio nocivo das multinacionais”,
o que se evidenciaria pela preservação da “figura dos senadores biônicos” e
da “Lei Falcão”, o adiamento das convenções partidárias, a prorrogação dos
mandatos dos prefeitos e vereadores, a concessão de anistia parcial e a extin-
ção dos partidos políticos, “medida esta destinada a impedir o aumento da
densidade eleitoral do MDB nas próximas eleições, o que propiciaria uma
futura alternância do Poder”.136
Já a cúpula da Igreja Católica, que, como tem sido visto, cumpria impor-
tante papel na negociação política entre o regime e a oposição, mantinha-se
indefinida em relação ao projeto do governo. D. Paulo Evaristo Arns, arce-
bispo de São Paulo, defendia que se aceitasse o projeto do governo, porque
significaria a reintegração de, pelo menos, cinco mil pessoas à sociedade,
mas ressalvava: “Não se deve é anistiar os torturadores, porque temos cen-
tenas deles que foram reconhecidos, temos os processos. Se não se pode jul-
gar a todos, não se pode perdoar a todos”. No seu entendimento, o governo
deveria instaurar processos públicos para apurar o ocorrido “nos porões
dos DOI-CODIs, DOPS e quartéis do Brasil”.137 Às vésperas da votação do
projeto, o padre voltaria a defender a anistia irrestrita: “A Igreja entende
que a reconciliação total138 é indispensável para que não sobrem restos que
possam gerar vinganças. Portanto, a anistia ampla, geral e irrestrita é a so-
lução e não significa aval para nenhum crime cometido”.139
O secretário-geral da CNBB, D. Luciano Mendes de Almeida, por sua
vez, manifestava-se a favor de uma “anistia sem excluídos”, uma “anistia
sem restos”, o que incluía a defesa da extensão do benefício aos agentes do
135
Idem, sessão em 20 de junho de 1979.
136
Idem, sessão em 21 de junho de 1979.
137
O Globo, 11 de julho de 1979.
138
Que incluiria, pode-se depreender, com base em pronunciamentos anteriormente cita-
dos, a “anistia recíproca”, isto é, beneficiando, também, agentes do Estado que viessem a ser
denunciados por violações de direitos humanos no tratamento concedido aos presos políti-
cos. Da mesma maneira, deixava aberta a porta para a exclusão de autores de “crimes”, como
estavam sendo caracterizadas ações que haviam resultado em “sangue”.
139
Jornal do Brasil, 12 de agosto de 1979. Grifos meus.
A anistia como tática do regime 391
140
Folha de S. Paulo, 24 de junho de 1979.
141
Jornal do Brasil, 24 de junho de 1979; O Globo, 25 de junho de 1979.
142
Jornal de Brasília, 28 de junho de 1979; O Globo, 28 de junho de 1979.
392 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
nio Portela, para quem a proposta do governo seria “100 vezes melhor” do
que a emenda constitucional apresentada pelo MDB, que conteria discri-
minações e incongruências.143 No dia 26, finalmente, o ministro da Justiça
apresentou a líderes da Arena o anteprojeto de lei de anistia. O Globo teve
acesso ao texto e publicou-o no dia seguinte. Contudo, a versão apresenta-
da ao Congresso a 27 de junho era diferente em vários pontos da divulgada,
com destaque para o Parágrafo 2º do Art. 1º: onde, na primeira versão,
era dito que se excetuavam “dos benefícios deste artigo os que, atentando
contra a segurança nacional, foram condenados pela prática de crimes de
sequestro, assalto e terrorismo de que resultou morte”, o anteprojeto apre-
sentou a seguinte redação: “Excetuam-se dos benefícios da anistia os que
foram condenados pela prática de crimes de terrorismo, assalto, sequestro
e atentado pessoal”. O jornal concluiu que, com essa alteração, ficava mais
restrita a abrangência da anistia, já que todos os condenados pelos crimes
listados no artigo seriam excluídos do benefício, mesmo que seus atos não
tenham resultado em morte. Ainda segundo o jornal, o governo admitia
que os excluídos poderiam ser beneficiados por indulto no fim de ano.144
Tornado público o projeto, a discussão deixou de ser apenas especulati-
va para focar em pontos concretos. O deputado Ulisses Guimarães (MDB-
-SP), na qualidade de presidente do MDB, começou a receber pressões e
pedidos de todas as naturezas. Muitos, na forma de correspondências, estão
depositados no Centro de Pesquisa e Documentação de História Contem-
porânea do Brasil (CPDOC), da Fundação Getúlio Vargas,145 e ilustram o
que estava em jogo. Eis alguns exemplos.
143
Jornal do Brasil, 28 de junho de 1979.
144
O Globo, 28 de junho de 1979.
145
Guia de Fontes do CPDOC (A anistia política de 1979). UG cd1979.03.29 / Pasta I e UG
cd1979.03.29 / Pasta II.
146
Na sessão da Câmara em 27 de junho, os deputados Gilson de Barros (MDB-MT) e Edson
Kahir (MDB-RJ) leram um manifesto de subtenentes e sargentos atingidos pelo regime ditatorial
em que se argumentava que “os movimentos aparentemente políticos em que estiveram envol-
A anistia como tática do regime 393
vidos eram, na realidade, um processo reivindicatório, em favor das classes a que pertenciam”
e manifestava-se preocupação com as comissões que, segundo dispunha o projeto de anistia do
governo, iriam estudar os pedidos de reincorporação dos militares anistiados. Jornal de Brasília,
28 de junho de 1979, p. 5, e Câmara dos Deputados..., sessão em 27 de junho de 1979.
394 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
Caro presidente:
Os abaixo-assinados, presidentes de diretórios distritais e municipais, de-
legados à Convenção Regional e presidentes de comissões provisórias para
constituição de diretórios do Movimento Democrático do Brasil [sic], vêm
através deste expressar a sua crítica ao projeto de anistia recém-assinado
pelo General João Baptista Figueiredo.
Uma anistia que não liberta aqueles que há anos amargam o cárcere por
terem ousado pegar em armas contra o regime de arbítrio imposto ao nosso
povo ‒ e justamente num período que era indisfarçável a face antidemocrá-
tica e ditatorial deste regime148 –, mas que garante a impunibilidade daque-
147
O deputado Freitas Nobre (MDB-SP) também considerou o envio do projeto de lei sobre
anistia ao Congresso “resultado da luta do MDB, das comissões pró-anistia, da Ordem dos
Advogados do Brasil, dos operários, estudantes, profissionais liberais e da Igreja”. Jornal de
Brasília, 28 de junho de 1979, p. 5; Câmara dos Deputados..., sessão em 27 de junho de 1979.
148
O jurista e advogado Heráclito Sobral Pinto, conselheiro da OAB, argumentava de ma-
neira muito sagaz em favor da opinião de que a anistia deveria incluir os acusados de crime
de sequestro: “Os sequestros serviram para soltar muitos presos. Fizeram o papel do habeas
corpus quando ele foi extinto”. Jornal do Brasil, 27 de junho de 1979.
396 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
149
A esse respeito, o projeto do governo despertou reações polares e taxativas na Câmara dos
Deputados. Do deputado Erasmo Dias (Arena-SP), militar de extrema-direita, por exemplo:
“Não podemos concordar com a concessão de anistia a comunistas-terroristas, bem como
a seus incitadores doutrinários, intelectuais encapuzados, verdadeiros ídolos de barro”. Em
contrapartida, do deputado Benedito Marcílio, líder metalúrgico de Santo André (SP) e liga-
do ao Movimento de Convergência Socialista: “Não podemos aceitar a anistia que restrinja a
participação de determinadas pessoas. Se querem punir os crimes de sangue, então teremos
que achar os responsáveis pelos assassinatos, desaparecimentos e torturas”. Jornal de Bra-
sília, 28 de junho de 1979, p. 5; Câmara dos Deputados..., sessão em 27 de junho de 1979.
150
Na sessão da Câmara em 26 de junho, o deputado Osvaldo Macedo (MDB-PR) condenou
o projeto de anistia do governo, porque o considerava “mera tentativa de permanência do
regime vigente”, empenhado em promover aberturas democráticas “por estar em sérias difi-
culdades econômicas”. Câmara dos Deputados..., sessão em 26 de junho de 1979.
151
Segundo um jornalista, curiosamente, o general João Figueiredo, por descuido ou pre-
caução, assinou o documento com uma caneta preta do tipo “hidrocor”, cuja tinta pode
apagar-se sob o efeito de um pouco de água. Houve quem sentisse falta de uma pena de ouro
para simbolizar a importância do ato. STUMPF, André Gustavo. A manchete frustrada. Jor-
nal de Brasília, 28 de junho de 1979, p. 6.
A anistia como tática do regime 397
152
O Globo, 27 de junho de 1979.
398 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
153
Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/verdade/resistencia/livro_congresso_nacio-
nal_anistia_volume01.pdf>. Acesso em: 9 mar. 2014. Grifo meu.
A anistia como tática do regime 401
o jornalista Carlos Chagas, a medida “não foi tão ampla quanto se chegou a
esperar e até a redigir, dias atrás, mas, de outro lado, não tão restrita quanto
certos setores pretendiam”, expressando o embate entre correntes milita-
res no interior do governo. A “linha dura” teria obtido vitórias: a exclusão
dos “condenados pela prática de crimes de terrorismo, assalto, sequestro e
atentado pessoal” (art. 1º) foi vitória do “pensamento castrense mais rígi-
do, vigente no Exército […]”; o não pagamento dos atrasados aos antigos
servidores civis e militares anistiados (art. 6º) “funciona como uma espé-
cie de punição, ou, pelo menos, serve para demonstrar que o passado não
foi completamente apagado para os anistiados. Em termos militares, teria
sido importante essa ressalva”. Por outro lado, as vitórias dos “setores mais
abertos” na área castrense teriam sido: o retorno dos funcionários civis e
militares anistiados ao serviço ativo, “hipótese […] considerada durante
muitas semanas inadmissível, especialmente no Exército, seja pelo cons-
trangimento que poderia causar, seja pelas mudanças e dificuldades criadas
no quadro das promoções para os que se encontram na ativa”.154
O articulista André Gustavo Stumpf, por sua vez, destacou que o caráter
excludente da anistia fizera parte das intenções declaradas do general João
Figueiredo desde “candidato”, mas o texto enviado ao Congresso deixava
uma porta aberta para a sua ampliação:
154
“Novos (e melhores) tempos desde ontem”. Jornal de Brasília, 28 de junho de 1979, p. 2.
155
Ao anunciar que a anistia não incluiria “os condenados pela Justiça Militar em razão da
prática de crimes de terrorismo, assalto, sequestro e atentado pessoal”, o general João Figuei-
redo disse: “Muito meditei sobre esta exclusão. O terrorista, o assaltante, o sequestrador, o
agressor da segurança de pessoas inocentes é criminoso distinto daquele de que se conde-
nam os atos, no estrito domínio político. O terrorista não se volta contra o governo ou o re-
gime. Seu crime é contra a humanidade”. Recebeu uma resposta de conhecido caricaturista:
“Primo Figueiredo. Ontem, às 15 horas, nós o povo decidimos anistiar o governo por todos
os delitos políticos que cometeu nos últimos quinze anos. Só ficarão excluídos aqueles que
cometeram torturas, sequestros e atentados pessoais. Muito meditamos sobre esta exclusão,
mas seus crimes não são políticos, são crimes contra a humanidade. Revogam-se as dispo-
sições em contrário. Abraços do primo, Henfil”. Jornal de Brasília, 28 de junho de 1979, p. 5.
A anistia como tática do regime 403
156
“Alívio após a reunião do Conselho”. Jornal de Brasília, 28 de junho de 1979, p. 2. Grifo
no original.
157
Jornal de Brasília, 28 de junho de 1979, p. 7.
404 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
158
O Globo, 28 de junho de 1979.
159
Jornal do Brasil, 28 de junho de 1978.
160
Operário, membro da Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo, ex-preso político du-
rante o governo do general Emílio Médici (1969-1974), por ter atuado na Pastoral Operária,
entidade ligada às comunidades eclesiais de base (CEBs) da Igreja Católica. Foi coordenador
do Movimento do Custo de Vida na capital paulista, de 1974 a 1978, quando se elegeu depu-
tado federal. Cf. COSTA, Marcelo. Aurélio Peres. In: ABREU, Alzira Alves de et al. (Coord.).
Dicionário histórico-biográfico brasileiro pós-1930.
161
Presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo de 1975 a
1977, teve destacada atuação na defesa da categoria em face da repressão durante o governo
do general Ernesto Geisel (1974-1979). ABREU, Alzira Alves de et al. (Coord.). Dicionário
histórico-biográfico brasileiro pós-1930.
A anistia como tática do regime 405
162
Já Teotônio Vilela ‒ usineiro e senador alagoano neoemedebista, tendo trocado a Arena
pelo MDB em 25 de abril ‒ associaria sagazmente a anistia concebida pelo governo à “dou-
trina da Trilateral”, formulada pelos “três grandes blocos desenvolvidos do Ocidente − Ja-
pão, Europa Ocidental Estados Unidos”, que, “acompanhando o presidente Jimmy Carter”,
pretenderia “um regime de capitalismo democrático em todos os países subdesenvolvidos,
de forma a evitar que caiam em revoluções que os aproximem do bloco socialista”. A anistia
decorreria do “cumprimento de diretrizes externas” e seria seguida da reformulação parti-
dária e do estabelecimento de regras para a escolha de um presidente civil, tudo para “legi-
timar a atual estrutura de poder”: “Enfim, trata-se de um estratagema político-eleiçoeiro e,
dentro da concepção de democracia relativa (que a Trilateral chama de democracia restrita),
serve aos interesses do poder”. Folha de S. Paulo, 13 de julho de 1978.
163
O Globo, 29 de junho de 1979.
164
Edição de 3 de julho de 1979.
165
Ex-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) e expulso do Serviço Federal de
Processamento de Dados (Serpro) em 1981, ainda na fase de estágio probatório, foi declarado
anistiado político em 2007, obtendo direito a uma prestação mensal de R$ 6.221,00, quantia
equivalente ao salário de um analista de funções de suporte. “Ministério da Justiça anistia dois
ex-presidentes da UNE”. Folha de S. Paulo, on-line, 6 de julho de 2007. Disponível em: <http://
www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u310100.shtml>. Acesso em: 13 jan. 2016.
166
Ex-presidente da Frente Unida dos Estudantes do Calabouço (FUEC), foi declarado anis-
tiado político em 2004, quando também lhe foi concedida “reparação econômica, de caráter
indenizatório, em prestação única no valor correspondente a 360 (trezentos e sessenta) salá-
rios mínimos, equivalentes nesta data a R$ 93.600,00 (noventa e três mil e seiscentos reais),
e a contagem do tempo, para todos os efeitos, do período compreendido entre, 13.01.1971
e 28.08.1979, perfazendo um total de 08 (oito) anos, 07 (sete) meses e 15 (quinze) dias, nos
termos dos artigos 1º, incisos I, II e III, 4º, § 1º da Lei n.º 10.559, de 13 de novembro de
2002”. Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/diarios/857530/pg-32-secao-1-diario-
-oficial-da-uniao-dou-de-28-12-2004>. Acesso em: 12 mar. 2014.
406 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
167
“O porquê da anistia parcial”. Em Tempo, São Paulo, 28 de junho/4 de julho de 1979, p. 5.
A anistia como tática do regime 407
outros cálculos indicavam que seriam mais de cinco mil pessoas.168 Já se-
gundo dados da Justiça Militar, mais de seiscentos condenados por crimes
contra a segurança nacional não seriam abrangidos pela anistia, entre os
quais acusados de assalto a banco, sequestro, atos terroristas e atentado pes-
soal.169 De resto, o próprio Superior Tribunal Militar (STM) logo anunciou
ter constituído uma comissão de quatro advogados para estudar o projeto
de anistia e formular propostas de aplicação das suas disposições, inclusive
a ex-funcionários da justiça castrense atingidos por atos institucionais.170
De todo modo, o jornal O Globo obteve, junto ao STM, dados que o auto-
rizaram a concluir que aproximadamente trezentas pessoas, condenadas
definitivamente pela corte militar no período de 1964 a 1978, não seriam
anistiadas, por terem sido enquadradas em artigos da Lei de Segurança Na-
cional que puniam os crimes citados acima.171 Abaixo, um resumo desses
dados, referentes ao período 1964-1978 e organizados de acordo com os
artigos das chamadas “leis de segurança nacional”.172
168
Jornal do Brasil, 28 de junho de 1978.
169
O Estado de S. Paulo, 28 de junho de 1979.
170
O Globo, 28 de junho de 1979.
171
O Globo, 28 de junho de 1979.
172
Lei nº 1.802, de 1953, Decreto-lei nº 314, de 1967, Decreto-lei nº 510, de 1969, e Decre-
to-lei nº 898, do mesmo ano. Deduz-se que não havia condenados segundo a Lei nº 6.620,
de 1978, então em vigor.
408 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
173
Ruth Escobar nasceu em Portugal em 1936. Chegou ao Brasil em 1951 e se destacou como
produtora cultural e atriz. Em 1964, abriu sua própria casa de espetáculos, orientada para
a vanguarda artística. No Teatro Ruth Escobar foram encenadas A Ópera dos Três Vinténs,
de Bertolt Brecht, em 1964, assim como outras peças de cunho político-social. Participou
ainda, em 1968, da montagem da peça Roda Viva, de Chico Buarque de Holanda, e em 1978
produziu A Revista do Henfil, sob a direção de Ademar Guerra. Participou ativamente do
Comitê Brasileiro pela Anistia, fazendo parte da Comissão Executiva da seção de São Paulo,
e cedeu seu teatro para várias reuniões dos movimentos pró-anistia, inclusive o Congresso
Nacional pela Anistia, realizado em novembro de 1978.
174
A Fundação Lelio Basso foi criada em 1975 pelo senador italiano de mesmo nome, já
mencionado. Membro do Partido Socialista Italiano (PSI), Basso participou da elaboração
da Constituição italiana em 1946, sendo eleito senador sucessivas vezes. Advogado e jurista,
doou sua biblioteca e sua casa para uma Fundação que se destinava ao estudo da questão
dos direitos humanos ‒ a Liga de Defesa dos Direitos dos Povos. Vindo a falecer no dia 18 de
dezembro de 1978, não pôde participar da Conferência Internacional. Referências obtidas
em: “Companheiros e companheiras”, documento produzido em janeiro de 1979 por Ruth
Escobar, e Conferência Internacional pela Anistia e Democracia no Brasil de junho de 1979,
ambos pertencentes ao arquivo do CBA.
A anistia como tática do regime 409
mentos com que conta o governo para manter a iniciativa tática. Se houve
mudanças no regime com relação à anistia, elas não apontam para a anistia
ampla, geral e irrestrita. Essas podem ser consideradas conquistas parciais
do movimento social, o qual, contudo, tem poucas condições políticas de
assegurá-las e de impedir recursos e postergações. A amplitude da anistia
− do ponto de vista do regime − está na relação direta das etapas que ele já
percorreu e ainda tem a percorrer no caminho dos objetivos já apontados:
reorganização política de suas bases e do esquema militar e divisão do movi-
mento social.
De certo modo, a Conferência de Roma não escapará de alguns condicio-
nantes gerais na luta pela anistia: dificilmente irá além do nível já atingido
na organização dos CBAs, no Brasil e no exterior, seus resultados políticos
dependerão em parte dos acordos, compromissos e convergências mais ou
menos explícitos entre os diversos grupos e orientações políticas que se fa-
rão representar em Roma. O MDB, por exemplo, por mais significativa que
seja a participação de seus deputados autênticos (alguns já confirmaram
que irão a Roma), dificilmente se empenhará de modo distinto daquele com
que vem tratando a questão da anistia. Ou seja, um envolvimento formal
pela anistia irrestrita que não estabelece uma tática correspondente − e,
consequentemente, a definição dos princípios. Daí a timidez, para dizer o
mínimo, da ação do MDB.
Por outro lado, a luta pela anistia não parece ter ampliado suas bases sociais,
embora o movimento sindical tenha assumido a sua bandeira. Há ainda um
espaço a ser preenchido entre a adoção desta bandeira e uma ampla mobi-
lização política do movimento popular pela anistia […].175
[…] é uma resposta a conta-gotas àquilo que o povo deseja aos barris. É
uma manobra para tentar deter o clamor popular pela anistia completa.
Pressionado, o governo cede um pouco, para não ser colocado diante de
uma situação onde tenha de ceder muito mais.
176
Unidade Proletária, ano V, n. 34, julho de 1979, p. 2-3.
177
Ibidem.
412 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
projeto pela simples razão de que a esmagadora maioria da Nação não to-
lerava mais a situação de marginalidade política e judicial a que o regime
relegou numerosas personalidades e diversas correntes de oposição. Não
se trata, portanto, de concessão governamental ou qualquer outra coisa do
mesmo tipo. Este governo, assim como os que o precederam desde 64, só se
movimenta a partir de pressões das correntes de opinião; entregue à própria
inércia, o que aparece é sua natureza antidemocrática.
A anistia pela qual lutam os comunistas e as demais forças de oposição é
irrestrita, porque a questão é colocada no quadro mais geral da luta pela
democracia. E não pode haver democracia sem a participação plena e legí-
tima, no processo político nacional, de todas as correntes e personalidades
que foram arbitrária e injustamente excluídas do cenário político brasileiro.
Dessa maneira, a anistia que propõem as forças democráticas acompanha o
sentido da luta pela democracia. A anistia que propõe Figueiredo procura
frear esta luta e cristalizar a situação do país no seu quadro atual, na medida
em que exclui do projeto vários opositores do regime.178
[…] um dos momentos políticos mais altos atingidos pelo movimento popu-
lar e democrático de oposição à ditadura, particularmente em sua evolução
mais recente, marcada pela movimentação estudantil de 1977, pela greve do
ABC paulista de 1978, pelas eleições parlamentares de novembro último e
pelo movimento grevista sem precedentes do primeiro semestre deste ano.179
178
“União dos democratas para ampliar Anistia”. Voz Operária, n. 160, julho de 1979, p. 1.
179
“O projeto da Anistia do governo”. Idem, p. 3.
A anistia como tática do regime 413
180
“Regime tentará tudo para esvaziar avanço democrático”. Voz Operária, n. 160, julho de
1979, p. 3.
181
Segundo a revista Veja, edição de 4 de julho de 1979, o evento contou com cerca de tre-
zentos exilados brasileiros.
182
Como é notório, a iniciativa seria frustrada por manobras do governo João Figueiredo,
que conseguiu que Ivete Vargas, sobrinha-neta de Getúlio Vargas, assegurasse juridicamente
a propriedade da sigla, restando a Leonel Brizola e seus seguidores fundar uma nova legen-
da, o Partido Democrático Trabalhista (PDT).
183
Jornal do Brasil, 27 e 28 de junho de 1979, e O Globo, 27 de junho de 1979.
414 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
184
“Conferência Internacional pela Anistia e Democracia no Brasil”, documento sem data,
produzido pelo CBA-SP à época da organização da Conferência Internacional; Anistia, n. 6,
julho de 1979, p. 4; O Globo, 30 de junho de 1979.
185
Anistia, n. 6, julho de 1979, p. 4; Voz Operária, n. 160, julho de 1979, p. 2.
A anistia como tática do regime 415
186
Companheiro, n. 8, 18-31 de julho de 1979, p. 3. Grifo meu. Observe-se, nas entrelinhas
do trecho grifado, a percepção do sucesso da tática adotada pelo regime para, a um só tem-
po, dividir o campo oposicionista e construir outro, um centro conservador unificado em
torno do projeto aberturista.
416 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
187
Anistia, n. 5, maio/junho de 1979, p. 2.
A anistia como tática do regime 417
Isto significa anistiar o agente policial, a autoridade que, abusando das fun-
ções que exercia, praticou, muitas vezes contra o preso indefeso, atos aten-
tatórios à dignidade humana, atos que são condenados por todos os países
civilizados da Terra, atos de tortura, de espancamento do preso, quando
este já se encontrava nas mãos da autoridade.
[…] aquelas autoridades civis ou militares, ou sejam quais forem, que tenham
praticado delitos dessa ordem não podem simplesmente ser anistiadas.
[…] A meu juízo, tais monstros não podem receber a anistia, pois dela não
são dignos, porque não cometeram crimes políticos, cometeram, isto sim,
crimes contra a humanidade.190
188
O Globo, 8 de julho de 1979. Grifo meu.
189
O Globo, 11 de julho de 1979.
190
Diário do Congresso Nacional, 30 de julho de 1979, p. 3230.
418 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
O maior responsável por isto foi, sem dúvida, o próprio governo. Quando
veio a público, o projeto governamental recebeu críticas de todos os setores,
não só pelo seu caráter odioso e discriminatório, como pelo entendimento
de que seu texto e a mensagem do general Figueiredo configuram mais um
passo na tentativa de institucionalização do arbítrio. Esta repercussão influiu
sobremodo nas entidades de anistia, as quais já trouxeram de suas bases um
pronunciamento claro de repúdio à iniciativa do regime. […] A condenação
do projeto governamental levou a uma resolução quase unânime das entida-
des presentes (19 a 5), que tem como pontos essenciais o repúdio ao proje-
to governamental, a apresentação de um substitutivo e a realização de uma
grande campanha de massas, a culminar com uma caravana a Brasília nos
dias da votação, procedimentos estes indicados aos parlamentares.192
191
“3° Encontro Nacional dos Movimentos pela Anistia”. Em Tempo, n. 72, 12-18 de julho
de 1979, p. 6.
192
Movimento, n. 211, 16-22 de julho de 1979, p. 6.
A anistia como tática do regime 419
[…] embora todos sejam iguais perante a lei, o projeto distingue uma pes-
soa já condenada, que estaria então excluída da anistia, enquanto outra,
processada pelo mesmo crime, tendo mesmo participado da mesma ação,
poderia ser beneficiada pelo simples fato de seu processo não ter sido ainda
julgado.194
193
O Globo, 11 de julho de 1979. Sobre a repressão sofrida por militares durante o regime
ditatorial, consultar VASCONCELOS, Cláudio Beserra de. A política repressiva aplicada a
militares após o golpe de 1964. Tese (Doutorado em História) – Universidade Federal do
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2010. A luta dos militares excluídos dos benefícios da lei de
anistia é analisada em MACHADO, Flávia Burlamaqui. As Forças Armadas e o processo de
anistia no Brasil. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, 2006.
194
Estado de S. Paulo, 12 de julho de 1979.
420 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
195
Folha de S. Paulo, 17 de julho de 1979.
196
Jornal do Brasil, 18 de julho de 1979.
197
Anistia, n. 6, julho de 1979, p. 3.
198
Jornal do Brasil, 18 de julho de 1979.
199
Jornal do Brasil, 20 de julho de 1979.
A anistia como tática do regime 421
200
O Globo, 19 de julho de 1979.
201
Anistia, n. 6, julho de 1979, p. 8.
202
Folha de S. Paulo, 24 de julho de 1979.
203
O Globo, 21 de julho de 1979. Nesse mesmo dia, o Conselho de Defesa dos Direitos da
Pessoa Humana, presidido pelo próprio Petrônio Portela, autorizou a reabertura das inves-
tigações sobre o caso do deputado Rubens Paiva, detido pelas forças de repressão em 1971
e desde então dado como “desaparecido”. Dia a dia, p. 90. O seu assassinato seria confirma-
do, em 2013, a partir de documentos levantados pela Comissão Nacional da Verdade. Ver:
<http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2013/02/comissao-da-verdade-atesta-que-
-rubens-paiva-foi-morto-no-doi-codi>. Acesso em: 13 jan. 2016.
422 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
É por isso que reafirmamos aqui a não aceitação de qualquer tipo de in-
dulto, reafirmamos nosso compromisso inabalável com a luta pela anistia
ampla, geral e irrestrita. Nossa opção por uma greve de fome em repúdio
ao atual projeto de anistia e a aceitação serena do risco de nossas próprias
vidas.
Que todos os demais brasileiros, comprometidos nessa luta, assumam seu
posto, se mobilizem e lutem até a vitória da anistia ampla, geral e irres-
trita.204
204
Folha de S. Paulo e Jornal do Brasil, edições de 23 de julho de 1979.
205
Folha de S. Paulo, 24 de julho de 1979.
206
Em Tempo, São Paulo, 26 de julho-1º de agosto de 1979, p. 14.
424 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
207
“Nous avons appris qu’ un certain nombre de prisonniers politiques dans des prisons de
votre pays sont en grève de faim depuis le 23 juillet 1979, pour obtenir du Gouvernement une
amnistie large, générale et sans restrictions. Nous voulons ici, au nom des droits humanitaires,
vous demander de faire approuver une loi d’amnistie qui ouvre complètement les portes des
prisons à ceux qui ont été condamnés par les tribunaux d’exception, comprenant également les
travailleurs licenciés par le lois du travail et les étudiants pénalisés par la loi d’exception nº 477.
Nous voulons également exprimer notre préoccupation concernant la santé des grévistes et
demander une action résolue de votre part, visant à satisfaire leurs revendications.” Disponível
em: <http://csbh.fpabramo.org.br/o-que-fazemos/memoria-e-historia/exposicoes-virtuais/
telegramas-em-frances>. Acesso em: 21 jan. 2014. Tradução minha.
208
Anistia, n. 6, julho de 1979, p. 3.
A anistia como tática do regime 425
209
O Globo, 25 de julho de 1979.
210
“Anteprojeto de Decreto Legislativo para Anistia Ampla, geral e Irrestrita”, elaborado pelo
CBA-RJ provavelmente entre os meses de junho e agosto de 1979.
211
Veja, 1º de agosto de 1979, p. 24.
212
O Globo, 26 de julho de 1979.
426 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
213
Jornal do Brasil, 27 de julho de 1979 e Veja, 1º de agosto de 1979, p. 24.
214
O Globo, 31 de julho de 1979.
215
Documento sem título e data, mas provavelmente de agosto de 1979, produzido pelo
CBA-SP. As moções de apoio a greves são mais abundantes na documentação produzida
pelo CBA-SP, talvez porque a seção estivesse no olho do furacão, isto é, na região onde
elas se concentraram especialmente. No entanto, outras seções do CBA também ofereceram
apoio a movimentos fora de São Paulo.
A anistia como tática do regime 427
217
CBA-RJ. Relatório da reunião CEN em Brasília – 1º e 2 de agosto. Rio de Janeiro, 6 de
agosto de 1979.
428 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
Dia 2:
Na Câmara, o deputado Valdir Valter (MDB-RS) destaca a importância
do trabalho dos comitês de anistia do Brasil, “responsáveis pela formação
de uma mentalidade coletiva para a conquista da anistia política”, e regis-
tra a greve de fome deflagrada pelos presos políticos do Rio de Janeiro e
Pernambuco, lamentando a “insensibilidade governamental diante do fato”.
218
O Globo, 3 de agosto de 1979.
A anistia como tática do regime 429
Dia 3:
Deputado Ulisses Guimarães envia telegrama aos membros da Comis-
são Executiva do MDB, à Comissão de Anistia e aos vice-líderes do MDB
no Senado Federal e na Câmara dos Deputados convocando a todos a se
reunirem na residência do senador Teotônio Vilela para o exame de um
219
Para entender o sentido desta proposta, ver VASCONCELOS, Cláudio Beserra de. A po-
lítica repressiva aplicada a militares após o golpe de 1964.
220
Todas as informações do dia 2 em Câmara dos Deputados..., sessão em 2 de agosto de
1979.
430 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
221
CPDOC - UG cd1979.03.29 / Pasta I.
222
O deputado Alceu Colares (MDB-RS) também elaborou uma proposta de substitutivo,
essencialmente semelhante à assinada por Ulisses Guimarães. Idem.
A anistia como tática do regime 431
223
CPDOC - UG cd1979.03.29 / Pasta I.
432 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
Dia 5
Os presos políticos do Rio de Janeiro recebem a visita oficial da Sub-
comissão Mista do Congresso que examinava o projeto de anistia do go-
verno, integrada pelos senadores Pedro Simon (MDB-RS), Itamar Franco
(MDB-MG) e Benjamin Farah (MDB-RJ) e deputados Délio dos Santos
(MDB-RJ), Marcelo Cerqueira (MDB-RJ), Felipe Pena (MDB-RJ) e Ed-
son Khair (MDB-RJ). Também visitam os presos, neste dia, alguns dos
principais dirigentes sindicais do país – entre eles Luiz Inácio da Silva – e
diversos artistas de rádio, televisão, cinema e teatro, como Bete Mendes
e Ney Latorraca.
Maurício Anísio de Araújo, o único preso político do Rio Grande do
Norte, adere à greve de fome.
Dia 6
Os presos políticos de Fortaleza aderem à greve de fome.
Dezessete refugiados políticos em Genebra decidem fazer uma greve de
fome simbólica de 24 horas em solidariedade aos presos políticos brasilei-
ros. O CBA faz ato público em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, exi-
gindo o fim da violência, o desmantelamento do Esquadrão da Morte224 e a
anistia ampla geral e irrestrita. Comparecem representantes de sindicatos e
o deputado Francisco Amaral (MDB-RJ).225
Deputado Ademar Santillo (MDB-GO) reclama a extensão da anistia
aos punidos por atividades consideradas terroristas, “especialmente aos
jovens que, a partir da edição do AI-5, em 1968, só tiveram como alter-
nativa empunhar armas na tentativa de modificar a situação da sociedade
brasileira”.
Deputado Walter Silva (MDB-RJ) protesta contra a prisão, pelo DOPS
do Rio de Janeiro, do professor Godofredo da Silva Pinto, que, na condi-
ção de presidente da Sociedade Estadual de Professores (SEP), convocou
a categoria profissional para discutir os rumos da greve do magistério
224
Forma de organização parapolicial clandestina, voltada para o extermínio de pessoas
consideradas perigosas à ordem social ou política, presente em inúmeros países. A sua his-
tória no Brasil pode ser encontrada em BICUDO, Hélio. Meu depoimento sobre o Esquadrão
da Morte. São Paulo: Martins Fontes, 2002. Ver, também, COSTA, Márcia Regina da. “São
Paulo e Rio de Janeiro: a constituição do Esquadrão da Morte”. Disponível em: <http://www.
omartelo.com/omartelo23/materia2.html>. Acesso em: 19 set. 2014.
225
Jornal do Brasil, 7 de agosto de 1979.
A anistia como tática do regime 433
226
Sobre a greve, ver MIRANDA, Kênia. “Professores não são desordeiros”: repressão po-
licial e radicalização do CEP na greve de 1979”. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓ-
RIA – ANPUH, 26., São Paulo. Anais... São Paulo, julho 2011. Disponível em: <http://www.
snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1300889057_ARQUIVO_ANPUH2011KeniaMi-
randa.pdf>. Acesso em: 20 set. 2014.
227
Depois de sete anos de regime militar, o Equador adotou, em 10 de agosto de 1979, nova
Constituição.
228
Derrubado do poder o general Hugo Banzer em 1978, a Bolívia, um ano depois, pareceria
estar se encaminhando para um regime constitucional democrático. Sob um regime militar
desde 1978, o Peru organizou em 1979 uma Assembleia Nacional Constituinte, que dotou o
país de uma constituição democrática.
229
Câmara dos Deputados..., sessão em 6 de agosto de 1979. O governo Figueiredo iniciou-
-se sob o signo da crise do modelo que viabilizara o “Milagre econômico”, combinando-se
elementos de esgotamento interno com adversidades oriundas da economia internacional,
pressionada pelo chamado “segundo choque do petróleo”, em inícios de 1979. A propósito,
ver MACARINI, José Pedro. Crise e política econômica: o Governo Figueiredo (1979-1984).
IE/UNICAMP, junho 2008. (Texto para Discussão, n. 144). Disponível em: <http://www.
eco.unicamp.br/docprod/downarq.php?id=1774&tp=a>. Acesso em: 20 set. 2014.
434 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
Dia 7
Deputada Cristina Tavares (MDB-PE) lê pronunciamentos de entidades
contrárias ao critério restritivo do projeto de anistia do governo.
Deputado Benedito Marcílio (MDB-SP) – líder metalúrgico em Santo
André (SP) ligado ao movimento Convergência Socialista ‒ se insurge con-
tra o projeto, frisando tratar-se apenas de “esboço de um perdão parcial”
injusto, “por deixar a critério das administrações a readmissão dos que per-
deram o emprego em decorrência de atos de exceção”.
Deputado Iranildo Pereira (MDB-CE)) manifesta solidariedade aos
presos políticos do Instituto Penal Paulo Sarasate, no Ceará, em greve de
fome contra o projeto de anistia do governo.230
“Show da Anistia” reúne cerca de três mil pessoas no Circo Renascente,
no Rio de Janeiro. Organizado pelo Comitê Brasileiro pela Anistia, o even-
to contou com a participação de artistas como Gilberto Gil, Luís Melodia,
Jorge Mautner e Jards Macalé.
3º Encontro Nacional dos Movimentos pela Anistia em Piracicaba (SP).
Dia 8
Cinco231 − Aldo Silva Arantes, Aton Fon Filho, Carlos Alberto Soares,
Francisco Gomes da Silva e Manuel Cirilo de Oliveira Neto − dos doze
presos políticos do presídio do Barro Branco, em São Paulo, entram em
greve de fome com o objetivo de sensibilizar o governo para “o atendi-
mento do anseio nacional de uma anistia ampla, geral e irrestrita”. A nota
assinada pelos cinco, e distribuída pelo Comando-Geral pela Anistia Am-
pla, Geral e Irrestrita em manifestação realizada na Praça da Sé, na capital
paulista, por cerca de cinco mil pessoas, diz que “o projeto de anistia do
Governo, conquistado pelos setores oprimidos da sociedade brasileira,
transformou-se numa manobra do governo que, fiel a uma política de
violência e repressão, elaborou um instrumento para ocultar seus pró-
prios crimes, beneficiando o mínimo possível suas vítimas”. O projeto é
interpretado como parte do processo de institucionalização do regime,
por isso, os presos paulistas entendem que a luta pela anistia é um passo
231
Elza Monnerat, então com 66 anos de idade e única presa política de São Paulo, tam-
bém aderiu à greve de fome, como já foi mencionado, embora, na mesma situação de Aldo
Arantes, em tese estivesse habilitada à anistia pelo projeto do governo. Movimento, 20-26 de
agosto de 1979, p. 6.
A anistia como tática do regime 435
232
O Globo, 9 de agosto de 1979.
233
Idem, 10 de agosto de 1979.
234
Câmara dos Deputados..., sessão em 8 de agosto de 1979
436 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
Dia 9
Presos do Barro Branco (SP) recebem a visita do senador Teotônio Vile-
la, presidente da Comissão Mista do Congresso. Várias manifestações pela
anistia ampla, geral e irrestrita ocorrem pelo país: em Porto Alegre, Salva-
dor, Juiz de Fora, Maceió e Rio de Janeiro.
Vigília com greve de fome simbólica organizada pelo CBA-RJ.
Cerca de trezentas pessoas fazem manifestação no centro do Rio de
Janeiro em solidariedade aos presos em greve de fome. Participam pa-
rentes e amigos dos presos, artistas de televisão, teatro, rádio, cinema e
circo. O arcebispo de Porto Alegre, cardeal Dom Vicente Scherer, nega-se
a ceder a Catedral Metropolitana para a realização de uma vigília cívico-
-religiosa, promovida por representantes de quinze entidades políticas e
estudantis da capital gaúcha em favor da anistia ampla, geral e irrestrita.
O cardeal argumenta que Igreja não tem ideologia, procurando sempre o
bem comum.235
Deputado Jorge Viana (MDB-BA) informa a respeito de manifestações
da Federação dos Servidores Públicos de Brasília e da Confederação dos
Servidores Públicos do Brasil sobre o projeto de anistia do governo. Depu-
tado Carlos Alberto (MDB-RN) acusa o projeto de “visar, antes de tudo, ao
perdão dos crimes cometidos pelos próprios agentes do governo”.236
Dia 10
Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Eduardo Seabra
Fagundes, volta a defender a modificação do projeto de anistia para torná-
-lo mais abrangente.237
Deputado Valdir Valter (MDB-RS) aborda a greve de fome dos presos
políticos, defende a anistia ampla, geral e irrestrita e destaca pronuncia-
mento de Adolfo Suárez, presidente da Espanha (1976-1981), desmentindo
que teria declarado estar arrependido da anistia ampla que concedera em
seu país.
Deputado João Gilberto (MDB-RS) situa o projeto do governo no mo-
mento político de “abertura controlada”, de “descompressão sem questiona-
mento do poder”, quando são apresentados, “como caminhos para a pacifi-
235
O Globo, 10 de agosto de 1979.
236
Câmara dos Deputados..., sessão em 9 de agosto de 1979.
237
O Globo, 11 de agosto de 1979.
A anistia como tática do regime 437
cação nacional, uma meia anistia, uma falsa reformulação partidária e, até
mesmo, uma distorcida Constituinte”.
Deputado Euclides Scalco (MDB-PR) denuncia a prisão, no Paraná,
dos universitários José Roberto Vasconcelos Galdino, Taoro Watari, Sidnei
Dadona e Miriam Shiro Fukuda, que percorriam Curitiba fazendo propa-
ganda de ato público em favor da anistia ampla, geral e irrestrita, marcado
para o dia 14 seguinte. Ainda a propósito do tema, deplora a atividade anti-
comunista no estado, em especial a ação do Comando de Caça aos Comu-
nistas (CCC), que vinha intimidando a população curitibana por meio de
cartas ameaçadoras.238
Senador Franco Montoro (MDB-SP) lê no plenário representações de lí-
deres trabalhistas, cientistas e artistas, enviadas ao ministro da Justiça e às
lideranças do MDB e da Arena, com pedidos de emenda ao projeto de anistia
em tramitação no Congresso, visando a ampliação dos benefícios previstos.
O pleito dos sindicalistas, encaminhado através de uma comissão, diz res-
peito a trabalhadores afastados dos seus empregos por medidas não formal-
mente políticas, portanto excluídos do rol de beneficiários da anistia por não
terem sido atingidos pelos atos institucionais. O documento apresentado por
uma delegação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)
exige que a reintegração de professores e cientistas anistiados se dê automa-
ticamente, e não, como previsto no projeto de anistia do governo, por meio
de requerimento administrativo feito pelo interessado, exigência entendida
como incompatível com a dignidade de sua posição. A proposta se baseia na
premissa de que é do interesse do país, mais do que deles próprios, a sua re-
integração automática na comunidade científica e acadêmica nacional. A re-
presentação dos artistas, referendada por cerca de setecentas assinaturas, diz:
Povo brasileiro
Homens do Governo
Presidente desta Nação
Finalmente, sentimos que é possível, pelo menos, falar. Nós, artistas brasi-
leiros, por tanto tempo amordaçados em nossa sensibilidade criativa pela
238
Câmara dos Deputados..., sessão em 10 de agosto de 1979.
438 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
[…] vitória dessa etapa da luta de libertação nacional, o que vale dizer vitó-
ria de uma anistia ampla, geral e irrestrita para todos os brasileiros, com o
desmantelamento do aparelho repressivo do estado ditatorial e o direito de
voltar ao país, sem constrangimentos, de todos os exilados, sem quaisquer
discriminações, é o objetivo de todos os que lutam pelas liberdades demo-
cráticas em nossa Pátria.240
239
Diário do Congresso Nacional, 11 de agosto de 1979, p. 3549-3550.
240
O Globo, 11 de agosto de 1979.
A anistia como tática do regime 439
Dia 11
O arcebispo de Olinda e Recife, D. Helder Câmara, visita os presos po-
líticos em greve de fome em Recife, transferidos para o Hospital da Polícia
Militar.
O cardeal-arcebispo de São Paulo, D. Paulo Evaristo Arns, volta a defen-
der, em nome da Igreja Católica, a anistia de maneira ambígua, deixando
brecha para a aceitação da cláusula de reciprocidade: “A Igreja entende que
a reconciliação total é indispensável para que não sobrem restos que pos-
sam gerar vinganças. Portanto, a anistia ampla, geral e irrestrita é a solução
e não significa aval para nenhum crime cometido”.241
Início, no Rio de Janeiro, do Encontro Nacional dos Atingidos, aprova-
do no II Encontro Nacional de Movimentos pela Anistia. O encontro, que
se estenderia ao dia seguinte, sistematiza grande número de denúncias da
situação dos presos políticos, dos ex-presos e da prática de torturas no país,
bem como da situação dos mortos e desaparecidos, cujos familiares envia-
ram uma carta ao presidente da República, reclamando o esclarecimento
do seu paradeiro. Como principal resolução do encontro, fica decidido o
reforço da caravana a Brasília no dia da votação do projeto sobre anistia no
Congresso Nacional. A Comissão de Exilados elabora um documento em
que apresenta duas medidas a serem exigidas do governo como comple-
mento da anistia: 1. “Eliminação dos fichários policiais do Serviço Nacional
de Informações (SNI), das estatais, dos ministérios etc., a fim de que os
atingidos não venham a sofrer restrições de ingresso no mercado de traba-
lho, em virtude de suas vinculações político-partidárias”; 2. “Considerar os
exilados, em todos os aspectos da vida, como o que realmente são − brasi-
leiros com todos os direitos assegurados”.242
Dia 13
Realiza-se no Teatro Ruth Escobar, em São Paulo, reunião de cerca de
trezentos ex-presos políticos, que repudiam o projeto de anistia do governo
e reafirmam o apoio à luta pela anistia ampla, geral e irrestrita. Na ocasião,
o antropólogo Darci Ribeiro, ex-chefe da Casa Civil do governo de João
Goulart, afirma que o projeto de anistia parcial corresponde a um “governo
pequeno, que só é capaz de atos medíocres, que pensa que a história lhe vai
241
Jornal do Brasil, 12 de agosto de 1979.
242
Movimento Feminino pela Anistia e Liberdades Democráticas, p. 37.
440 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
dar anistia pelo golpe de 64, pois quem precisa de anistia são eles, crimino-
sos, que conspiraram contra a Constituição”.243
Deputado Ulysses Guimarães, presidente nacional do MDB, vai ao pre-
sídio Frei Caneca (RJ) acompanhado de uma comitiva de parlamentares.
Presos políticos de Fortaleza são visitados pelo deputado Roberto Frei-
re (MDB-PE), membro da Comissão Mista do Congresso encarregada de
analisar o projeto de lei de anistia.
Deputado Valdir Valter (MDB-RS) comenta o processo de redemocrati-
zação do Equador, ressaltando a concessão de anistia ampla, geral e irrestri-
ta a todos os perseguidos pelo regime militar que vigorara no país, cujo fim
considera “auspicioso para a democracia no continente”, enquanto condena
a presença do vice-presidente da República do Brasil nas comemorações do
25º aniversário do regime ditatorial comandado no Paraguai pelo general
Alfredo Stroessner.
Deputado José Costa (MDB-AL) reforça a posição dos que acusam o
projeto de anistia de visar apenas “os que, em nome da nova ordem, viola-
ram os direitos humanos, reservando para os que discordaram do regime
uma anistia pífia e ilusória”.244
Dia 14
No “Dia Nacional de Luta pela Anistia Ampla, Geral e Irrestrita”, milhares
de pessoas atendem à convocação feita por quase cem instituições ‒ CBA,
MFA, entidades estudantis e sindicais, entre outras ‒ e realizam ato público
na Cinelândia, no Rio de Janeiro. O ato se transforma em passeata, que per-
corre algumas ruas do centro da cidade entoando slogans como: “O povo,
na raça, já conquistou a praça”, “Agora, já, libertem nossos presos” e “Anistia
é a geral, não é a parcial”. À frente, representantes de 132 entidades, treze
parlamentares do MDB e líderes da greve dos professores estaduais. Artistas
e estudantes do Grupo Independente de Teatro pela Anistia encenam uma
peça sobre o drama dos presos políticos. Uma coroa de flores é depositada
aos pés da estátua de Tiradentes. Faz-se, também, um minuto de silêncio
em homenagem aos mortos e desaparecidos, após o que é entoado o Hino
Nacional. A polícia acompanha a manifestação, sem reprimi-la. Panfletos
com informações sobre os presos políticos são distribuídos por elementos
243
Movimento, 20-26 de agosto de 1979, p. 7.
244
Câmara dos Deputados..., sessão em 13 de agosto de 1979.
A anistia como tática do regime 441
Dia 15
Quarenta e dois bispos, padres e pastores das igrejas cristãs divulgam
manifesto por uma anistia ampla, geral e irrestrita:
245
O Globo, 14 de agosto de 1979.
246
Veja, 22 de agosto de 1979, p. 38.
247
Movimento, 20-26 de agosto de 1979, p. 7.
248
Ibidem.
249
Jornal do Brasil, 15 de agosto de 1979 e O Globo, 15 de agosto de 1979.
250
Câmara dos Deputados..., sessão em 14 de agosto de 1979.
442 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
251
O Globo, 16 de agosto de 1979.
252
Câmara dos Deputados..., sessão em 15 de agosto de 1979.
A anistia como tática do regime 443
Dia 16
Deputado Benedito Marcílio (MDB-SP) lê, para que conste dos anais, o
documento final do II Encontro dos Movimentos de Anistia, realizado em
São Paulo, em julho.
Deputado Edgar Amorim (MDB-MG) relata visita que, com o deputado
Ulisses Guimarães, fez aos presos políticos em greve de fome no Rio de Ja-
neiro, ressaltando o fato como “mais uma demonstração de repúdio da opi-
nião pública nacional ao caráter restrito e discriminatório de que se reveste
o projeto de anistia encaminhado pelo governo ao Congresso Nacional”.
Deputado Epitácio Cafeteira (MDB-MA) protesta contra a orientação do
relator da Comissão que examina a proposta de anistia do Governo Federal
ao não incluir no substitutivo que apresenta as emendas nº 479 e nº 275, de
sua autoria, que “visavam, a primeira, corrigir injustiça cometida contra o
servidor demitido sob a acusação de improbidade e absolvido posterior-
mente pelo Poder Judiciário, e, a segunda, devolver os bens confiscados
por suspeita de improbidade aos seus legítimos proprietários, desde que
tenham sido considerados inocentes pela Justiça”. Afirma, ainda, estranhar
que “o referido substitutivo não conceda anistia para os honestos e benefi-
cie os acusados de corrupção eleitoral”. Deputado Tidei de Lima (MDB-SP)
critica o caráter restrito da proposta de anistia do governo e analisa o con-
ceito de “terrorista”, que, no seu entender, não se aplicaria aos “que parti-
ciparam dos movimentos armados havidos […] no período 1967-1973”.253
Dia 17
Em Lisboa, é realizada manifestação em apoio à anistia ampla, geral e
irrestrita no Brasil.
Cerca de mil pessoas participam em São Paulo de manifestação orga-
nizada por entidades sindicais e estudantis contra o projeto de anistia do
governo, contra as prisões de trabalhadores que vinham acontecendo em
Belo Horizonte e Porto Alegre e em solidariedade à greve de fome dos pre-
sos políticos, que completava um mês naquele dia. A convocatória para o
ato dizia:
A ditadura prova, mais uma vez, que sua anistia é uma farsa e que sua aber-
tura não serve para os trabalhadores. Assim, não só a grande maioria dos
253
Câmara dos Deputados..., sessão em 16 de agosto de 1979.
444 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
Dia 19
Os presos do Rio em greve de fome são surpreendidos pela visita do
presidente do Senado, Luís Viana Filho (Arena-BA), acompanhado do se-
nador Teotônio Vilela.
O preso político Haroldo Lima entra em greve de fome na Bahia.
Dia 20
Deputado Francisco Pinto (MDB-BA) comenta a fuga de Theodomiro
Romeiro dos Santos − como já visto, primeiro condenado à morte no país
depois que a ditadura restabeleceu a pena, em 1969 − da Penitenciária Le-
mos de Brito, em Salvador, apontando no episódio a primeira consequên-
cia da anistia restrita que o presidente da República propôs ao Congresso
Nacional.257 Declara apoiar a greve de cerca de 40 mil professores do 1º e 2º
graus na Bahia.
Deputado Ronan Tito (MDB-MG) corrobora a tese de que foi a incerteza
diante da decisão do Congresso sobre a anistia que provocou a fuga de Theo-
domiro em Salvador, “que arriscou a própria vida ao escapar da prisão”.
Deputado Antônio Zacarias (Arena-SP) apela aos presos políticos em
greve de fome no sentido de interromperem este “sacrifício inútil”.
Deputado João Gilberto (MDB-RS) transmite manifestação do Sindi-
cato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro “contra a
intensidade da ação repressiva exercida sobre a classe e em defesa da con-
cessão de uma anistia ampla, geral e irrestrita para que se processe a autên-
tica redemocratização do país”.
257
A decisão de fugir decorreu da certeza que tinha de estar excluído da anistia que o go-
verno concederia. Exilado na França, Theodomiro dos Santos só retornaria ao Brasil em
1985, quando prescreveu a sua condenação. Sobre o assunto, ver ESCARIZ, Fernando. Por
que Theodomiro fugiu. São Paulo: Global, 1980; e SILVA, Ângela Moreira Domingues da.
Ditadura militar e repressão legal: a pena de morte rediviva e o caso Theodomiro Romeiro
dos Santos (1969-1971).
446 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
258
Termo usado pelo general Ernesto Geisel, quando presidente, para qualificar o conteúdo
democrático do processo de transição política por ele desencadeado.
259
Câmara dos Deputados..., sessão em 20 de agosto de 1979.
A anistia como tática do regime 447
tão, que moral tem o governo que exclui uns sob alegação de terrorismo,
mas que sequer submete a processo torturadores?”.260
Dia 21
Ato público, promovido pelo CBA-SP contra o projeto de anistia do Go-
verno, reúne cerca de dez mil pessoas na Praça da Sé, na capital paulista.
Congresso Nacional realiza duas sessões para discutir o projeto de anis-
tia do governo. Centenas de defensores da anistia ampla, geral e irrestrita,
vindos de vários pontos do país, ocupam as galerias e o plenário da Câmara.
Está presente uma comitiva do MFPA-RJ, integrada por, entre outras, Judite
Lisboa, Regina Sodré von der Weid, Iracema Teixeira, Antonieta Campos
da Paz, Cleonice Nicoll, Iolanda Pires, Maria Luísa Vilela de Andrade, Ma-
ria Helena Moreira Alves. A elas se juntam outros ativistas da luta pela anis-
tia para visitar os parlamentares em seus gabinetes e convencê-los a votar
na emenda de Djalma Marinho (Arena-RN), considerada mais abrangente
do que o projeto do governo.261 No plenário, os emedebistas aparentam se
dividir: alguns deputados e senadores tendem a votar contra o projeto do
governo, enquanto a liderança do partido recomenda outra posição, como
o senador Paulo Brossard (RS): “Se apenas cinco pessoas forem anistiadas,
serão cinco pessoas anistiadas graças à pregação do MDB”. A posição da
Arena também suscita discussões, principalmente em relação à fidelidade
dos parlamentares ao governo. Diante de informações dando conta de que
alguns arenistas poderiam até votar na emenda proposta pelo deputado
Djalma Marinho, os líderes decidem “fechar questão simbolicamente”, re-
comendando a todo o partido votar no substituto do relator Ernani Sátiro
(Arena-PB), que incorporou mais de sessenta emendas ao projeto origi-
nal.262 Segundo um órgão de imprensa:
260
Diário do Congresso Nacional, 21 de agosto de 1979.
261
Movimento Feminino Pela Anistia e Liberdades Democráticas, p. 38.
262
A ampliação da abrangência da anistia para o período entre 2 de setembro de 1961 −
data da anistia anterior − e 27 de junho de 1979 − dia da remessa do projeto ao Congresso
Nacional – resultou da incorporação de emenda apresentada pelo senador Aderbal Jurema
(Arena-PE). PASSARINHO, Jarbas. Um híbrido fértil, p. 482.
448 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
263
Veja, 22 de agosto de 1979, p. 38.
264
O Globo, 22 de agosto de 1979.
A anistia como tática do regime 449
Dia 22
Enquanto o Congresso se prepara para votar a Lei da Anistia, grandes
manifestações públicas são realizadas em vários estados.
Deputado Elquisson Soares (MDB-BA) declara-se contra o projeto do
governo por ser restrito e propõe que o MDB, já que não se abstivera diante
dele, não dê qualquer apoio à proposta governamental.
Deputado Florim Coutinho (MDB-RJ) observa ter sido o primeiro par-
lamentar a apresentar um projeto de anistia, em 1974 ‒ reapresentado em
1975 ‒, lamenta os termos em que foi rejeitada a emenda que apresentou ao
projeto de anistia do governo e lê artigo “Anistia irrestrita e recíproca”, de
Meneval Dantas.
265
Ver capítulo 2 deste livro.
266
Sobre os dois movimentos, ver capítulo 1 deste livro.
267
Câmara dos Deputados..., sessão em 21 de agosto de 1979.
452 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
268
Câmara dos Deputados..., sessão em 22 de agosto de 1979.
269
Jornal do Brasil, 23 de agosto de 1979.
A anistia como tática do regime 455
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
270
Diário Oficial da União, 28 de agosto de 1979.
456 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
271
O Globo, 23 de agosto de 1979.
272
Jornal do Brasil, 23 de agosto de 1979.
273
O Globo, 23 de agosto de 1979.
A anistia como tática do regime 459
Dia 28
General presidente João Figueiredo sanciona a Lei de Anistia, aprovada
no Congresso. O texto traz um veto à expressão “e outros diplomas legais”
ao fim do Art. 1º, assim explicado:
MENSAGEM n. 267
274
Câmara dos Deputados..., sessão em 23 de agosto de 1979.
460 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
tuição, resolvi vetar, parcialmente, o projeto de Lei nº 14, de 1979 (CN), que
“concede anistia e dá outras providências”.
Incide o veto sobre a expressão “e outros diplomas legais”, incluída na parte
final do artigo 1º, caput.
É certo que tal expressão foi incluída no projeto com o propósito de atender
às razões da Emenda nº 35,275 que objetivava alcançar, explicitamente, os
servidores que, “também por motivos políticos”, tenham sido punidos com
fundamento “em quaisquer outros diplomas legais”, diversos dos Atos Insti-
tucionais ou Complementares.
Entretanto, deixando de reproduzir-se no substitutivo a expressão “também
por motivos políticos”, integrativa lógica do texto daquela Emenda, resul-
tou ampliada a parte final do artigo 1º em termos que dariam à lei alcance
demasiado, incompatível com a inspiração do diploma de anistia política e,
mesmo, divorciado do que pretendeu o ilustre autor da citada Emenda 35.
Com efeito, observado que na redação dada ao Artigo 1º os servidores civis
e militares, como os dirigentes e representantes sindicais, são contempla-
dos isoladamente sem necessária vinculação aos delitos indicados na parte
inicial do artigo, impõe-se compreender que, ali, a anistia cuidou particu-
larmente das punições de conotação política impostas àqueles servidores e
dirigentes ‒ daí referir-se aos Atos Institucionais e Complementares ‒, afi-
gurando-se imprópria, assim, qualquer generalização que despreze o mo-
tivo político.
Mantida na lei a expressão ora vetada, admissível seria entender que o per-
dão, para aquelas pessoas, desprezaria o pressuposto político da sanção,
chegando ao extremo privilégio de alcançar todo e qualquer ilícito porven-
tura cometido, independentemente de sua natureza ou motivação.
Estas, as razões de interesse público que me levaram a vetar parcialmente o
Projeto e que ora submeto à elevada apreciação dos Senhores Membros do
Congresso Nacional.
Brasília, em 28 de agosto de 1979.276
275
De autoria do deputado Cantídio Sampaio (Arena-SP).
276
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/Mensagem_Veto/anterior_98/
vep267-L6683-79.pdf>. Acesso em: 6 jul. 2014. Depois transformada na Mensagem nº 81, de
1979. Diário do Congresso Nacional - 4/9/1979, Página 1819 (Veto). Sobre aspectos técnicos
do veto, ver: <http://jus.com.br/artigos/24170/adpf-153-a-lei-de-anistia-ante-o-supremo-
-tribunal-federal#ixzz36iVn6WrL>. Acesso em: 6 jul. 2014.
A anistia como tática do regime 461
Dia 29
Glênio Perez e Marcos Klassmann, anistiados, reassumem suas cadeiras
na Câmara Municipal de Porto Alegre, perdidas em 1977, quando foram
cassados.278
Dia 30
O Superior Tribunal Militar (ST) considera anistiadas 316 pessoas en-
volvidas em processos pela Lei de Segurança Nacional, dezesseis das quais
ainda presas.279
Setembro
Dia 3
Deputado João Gilberto (MDB-RS) contesta, em nome da Liderança
do MDB, o veto do presidente da República ao Art. 1º do projeto de anistia
aprovado pelo Congresso Nacional, entendendo que a medida comprome-
tia seriamente o alcance da anistia para os servidores públicos.280
Dia 6
Retorna ao Brasil, depois de quinze anos de exílio, Leonel Brizola, ex-go-
vernador gaúcho e ex-deputado federal pelo antigo estado da Guanabara.
277
Câmara dos Deputados..., sessão em 28 de agosto de 1979.
278
Brasil dia a dia, p. 117.
279
Idem, p. 108.
280
Câmara dos Deputados..., sessão em 3 de setembro de 1979.
462 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
Dia 13
Deputado Rosenburgo Romano (MDB-MG) lamenta ter sido rejeitada
emenda por ele apresentada no sentido de proceder-se à “reabilitação da
memória dos punidos por motivos políticos”.281
Dia 15
Retornam ao Brasil, Miguel Arraes, ex-governador pernambucano, e
Márcio Moreira Alves, ex-deputado federal pelo antigo estado da Guanabara.
Dia 18
Comemorado o Dia Nacional de Luto pelos mortos e desaparecidos,
promovido pelo CBA-SP.
Dia 21
Deputado Henrique Eduardo Alves (MDB-RN) apresenta projeto de lei
para alterar a redação do caput do art. 1º da Lei nº 6.683/79 (Anistia), a fim
de restabelecer a expressão “e outros diplomas legais”, constante do projeto
original e objeto do veto presidencial mantido pelo Congresso Nacional.
Retornam ao Brasil José Sales, dirigente do PCB, e os ex-líderes estudan-
tis José Luís Guedes e Jean Marc van der Weid. 282
Dia 29
Retornam ao Brasil Gregório Bezerra, Luís Tenório de Lima, Lindolfo
Silva e Hércules Correia, dirigentes do PCB.283
Outubro
Dia 8
Deputado Roberto Freire (MDB-PE) denuncia a situação de presos po-
líticos de Pernambuco que tiveram seus pedidos de livramento condicional
negados pelo Conselho Penitenciário do Estado.284
Dia 11
Deputado Walter Silva (MDB-RJ) critica o veto presidencial ao art. 1º
do projeto de anistia, por restringir “mais uma proposição de alcance já
reduzido, com prejuízo para servidores e funcionários punidos por atos da
Revolução e que foram vítimas de perseguição política”, e manifesta discor-
dância do uso do termo “perdão” na Mensagem presidencial, mostrando
281
Idem, sessão em 13 de setembro de 1979.
282
Idem, sessão em 21 de setembro de 1979.
283
Brasil dia a dia, p. 117.
284
Câmara dos Deputados..., sessão em 8 de outubro de 1979.
A anistia como tática do regime 463
Novembro
Dia 1
O general presidente João Figueiredo regulamenta a Lei de Anistia. A
partir daí, torna-se massivo o retorno de exilados, os presos políticos rema-
nescentes são libertados e pessoas que se encontravam na clandestinidade
retornam à vida normal.289
285
Idem, sessão em 11 de outubro de 1979.
286
Idem, sessões em 17 e 18 de outubro de 1979.
287
Brasil dia a dia, p. 117.
288
Ibidem.
289
Idem, p. 118.
464 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
Dia 4
Realiza-se em Salvador o 2º Congresso Nacional pela Anistia, único or-
ganizado após a promulgação da Lei nº 6.683.
Dia 7
Deputado Federal Amadeu Geara (MDB-PR) sustenta que “o longo pe-
ríodo de pressões sofrido pelo povo brasileiro − em nome de uma suposta
segurança nacional e através de inúmeros atos de arbítrio − serviu para
fortalecer o nosso trabalhador que, participando de comitês pró-anistia,
apoiando movimentos estudantis e valorizando suas lideranças autênticas
nos sindicatos e nas fábricas, assumiu sua verdadeira posição na sociedade,
forçando o governo a mudar de estratégia política” e que “a anistia concedi-
da pela Revolução não enganou o povo”, lendo manifesto dos trabalhadores
na indústria do petróleo e petroquímica que, reunidos em Brasília, decidi-
ram reivindicar às autoridades federais a reintegração dos seus companhei-
ros punidos por motivos políticos.290
Dia 20
O Decreto nº 84.223 inclui presos políticos no benefício do indulto de
Natal.291
Dia 22
Deputado federal Valter de Prá (Arena-ES) alerta para “os perigos que
ameaçam a democracia e o povo brasileiro em decorrência da volta dos co-
munistas anistiados ao país”, apelando ao general presidente João Figueiredo
para que “proíba os extremismos, tanto de direita quanto de esquerda”.292
Dia 26
Deputado federal Ernani Sátiro (Arena-PB) faz a defesa do “movimento
revolucionário de 1964”, cujos compromissos considera “em grande parte
realizados”.293
Dezembro
Dias 1-2
Realiza-se no Rio de Janeiro um encontro dos movimentos pela anistia.
290
Câmara dos Deputados..., sessão em 7 de novembro de 1979.
291
Brasil dia a dia, p. 118.
292
Câmara dos Deputados..., sessão em 22 de novembro de 1979.
293
Idem, sessão em 26 de novembro de 1979.
A anistia como tática do regime 465
Dia 17
Theodomiro Romeiro dos Santos viaja para o México, cujo governo
aceitou seu pedido de asilo político.294
294
Brasil dia a dia, p. 118.
295
COSTA, Marcelo. Comitê Brasileiro pela Anistia. In: ABREU, Alzira Alves de et al.
(Coord.). Dicionário histórico-biográfico brasileiro pós-1930.
296
Ver o manifesto e as resoluções em: <http://novo.fpabramo.org.br/content/manifesto-do-
-ii-congresso-nacional-de-anistia>. Acesso em: 31 ago. 2015.
297
Cf. COSTA, Marcelo, op. cit.
466 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
298
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/cciVil_03/Constituicao/Emendas/Emc_ante-
rior1988/emc26-85.htm>. Acesso em: 11 fev. 2017.
A anistia como tática do regime 467
300
Disponível em: <http://arte.folha.uol.com.br/especiais/2014/03/23/o-golpe-e-a-ditadura-
-militar/o-acerto-de-contas.html>. Acesso em: 31 ago. 2015. Sobre a discussão, e o voto
do ministro Eros em particular, ver SILVA, Técio Lins e. “A construção da anistia”. Dis-
ponível em: <http://www.linsesilva.adv.br/sites/default/files/A%20Constru%C3%A7%-
C3%A3o%20da%20Anistia.TLS_.Vers%C3%A3oAtualizada%20Agosto2011.doc>. Acesso
em: 13 jan. 2016.
301
STF é contra revisão da Lei da Anistia por sete votos a dois. Disponível em: <http://www.stf.
jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=125515>. Acesso em: 31 ago. 2015.
302
MEYER, Emílio Peluso Neder; OLIVEIRA, Marcelo Andrade Cattoni de. “Responsabiliza-
ção criminal por atos praticados por agentes públicos na ditadura de 1964-1985”. Disponível
em: <http://jus.com.br/artigos/25562/responsabilizacao-criminal-por-atos-praticados-por-
-agentes-publicos-na-ditadura-de-1964-1985#ixzz3kOor2hSm>. Acesso em: 31 ago. 2015.
Ver a íntegra da sentença em: <http://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_219_
por.pdf>. Especialmente, p. 113 e seguintes. Acesso em: 31 ago. 2015.
A anistia como tática do regime 469
Crime?... Crime não vejo. É o que acho, por mim é o que declaro:
com a opinião dos outros não me assopro. Que crime? Veio guerrear,
como nós também. Perdeu, pronto! A gente não é jagunços? A pois:
jagunço com jagunço − aos peitos, papos. Isso é crime? Perdeu, está
aí, feito umbuzeiro que boi comeu por metade... Mas, brigou valente,
mereceu... Crime que sei, é fazer traição, ser ladrão de cavalos ou de
gado... não cumprir a palavra...1
1
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. 12. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1978
[1956]. p. 203.
2
“Nada a desculpar”, de João Bosco e Aldir Blanc, música do disco João Bosco, RCA, 1973,
citada em Versus, São Paulo, n. 20, p. 30, abr. 1978.
471
472 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
3
Uma instigante discussão do quadro se encontra em MACIEL, David. De Sarney a Collor.
Reformas políticas, democratização e crise (1985-1990). São Paulo: Alameda; Goiânia: Fu-
nape, 2012.
4
SAMPAIO JR., Plínio de Arruda. Brasil: as esperanças não vingaram. Disponível em:
<http://biblioteca.clacso.edu.ar/ar/libros/osal/osal18/AC18Sampaio.pdf>. Acesso em: 11
set. 2015.
Conclusão 473
5
O conceito está explicado em BACHELARD, Gastón. La formación del espíritu científico.
Contribución a un psicoanálisis del conocimiento objetivo. Trad. José Babini. Buenos Aires:
Siglo XXI, 1972. Cap. 1.
474 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
Neste livro, pretendi criticar essas posições a partir de uma visão clas-
sista, para a qual reivindico uma eficácia explicativa superior, porque dis-
cute de que matéria social e política se compuseram os problemas que a
perspectiva liberal-democrática toma por objeto. Marginalizada em termos
políticos e acadêmicos pela supremacia da perspectiva liberal-democrática,
6
RODRIGUES, José Honório. A luta metodológica e ideológica. Conferência proferida na
aula magna de abertura do ano letivo de 1980 na Universidade Federal da Paraíba. João
Pessoa: Editora da UFPb, 1981. p. 16.
Conclusão 475
7
A relação do senso comum com o processo de conhecimento científico é discutida em
VIANA, Nildo. Senso comum, representações sociais e representações cotidianas. Bauru, SP:
Edusc, 2008.
8
Uma boa amostra dessa linha de pesquisa pode ser encontrada em: DREIFUSS, René
Armand. 1964: a conquista do Estado. Ação Política, Poder e Golpe de Classe. Petrópolis,
RJ: Vozes, 1981; STARLING, Heloísa Maria Murgel. Os Senhores das Gerais. Os novos in-
confidentes e o golpe de 1964. Petrópolis, RJ: Vozes, 1986; RAMIREZ, Hernán Ramiro. Os
institutos de estudos econômicos de organizações empresariais e sua relação com o Estado de
perspectiva comparada: Argentina e Brasil (1961-1996). Tese (Doutorado em História) –
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005; BRISO NETO, Joaquim
Luiz Pereira. O conservadorismo em construção: o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais
(IPES) e as reformas financeiras da ditadura militar (1961-1966). Dissertação (Mestrado
em Desenvolvimento Econômico) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2008;
DEUSDARÁ, Pâmella Passos. Vozes a favor do golpe! O discurso anticomunista do Ipês
como materialidade de um projeto de classe. Dissertação (Mestrado em História) – Uni-
versidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008; CIDADÃO de bem. Direção:
Chaim Litewski. Documentário, 2009 (92 min); GONÇALVES, Martina Sphor. Páginas
golpistas: democracia e anticomunismo através do projeto editorial do IPES (1961-1964).
Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2010;
MELLO, José Jorge de. Boilesen, um empresário da ditadura: a questão do apoio do empre-
sariado paulista à OBAN/Operação Bandeirantes, 1969/1971. Dissertação (Mestrado em
História) – Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2012; MORAES, Thiago Aguiar de.
“Entreguemos a empresa ao povo antes que o comunista a entregue ao Estado”: os discursos da
fração “vanguardista” da classe empresarial gaúcha na revista “Democracia e Empresa” do
Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais do Rio Grande do Sul (1962-1971). Dissertação
(Mestrado em História) – Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2012;
BORTONE. Elaine de Almeida. A participação do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais
(IPES) na reforma administrativa da ditadura civil-militar. Dissertação (Mestrado em Ad-
ministração) – Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2013; CAMPOS, Pedro Henrique
Pedreira. Estranhas catedrais. As empreiteiras brasileiras e a ditadura civil-militar. Niterói:
Eduff, 2014; OLIVEIRA, Helena Kleine de. Lei de Mercado de Capitais (4.728/65): Linhas
e entrelinhas de seu processo legislativo. Dissertação (Mestrado em Sociologia e Direito) –
Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2014; BRASIL. Ministério da Justiça. Comissão
de Anistia. A Investigação Operária: empresários, militares e pelegos contra os trabalhado-
res. São Paulo, 2015.
476 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
9
Visão sobre a qual, se a conhecesse, o Pastor Hirte certamente lançaria o seu paradoxo pre-
ferido: é de uma estreiteza sem limites. Ver MANN, Thomas. Os Buddenbrook. Decadência
de uma família. Trad. Herbert Caro. 2. ed. São Paulo: Círculo do Livro, 1975. p. 59.
10
Há analistas que se dedicam a esse conjunto temático de outras perspectivas, a exemplo
de: TRAVERSO, Enzo. Le Passé, mode d’emploi: histoire, mémoire, politique. Paris: La Fa-
brique, 2005 ; e ROSAS, Fernando. Seis teses sobre memória e hegemonia, ou o retorno da
política. Germinal: Marxismo e Educação em Debate, Londrina (PR), v. 1, n. 1, 2009.
11
Os dicionários da língua portuguesa Houaiss e Aurélio apresentam os verbos vitimar e
vitimizar como sinônimos. Vitimizar é usado aqui para denotar um processo de construção
da figura da vítima.
12
Tenho consciência de que uma leitura apressada ou mal-intencionada poderá encontrar
traços de identidade entre esta visão e a de setores saudosos da ditadura, sempre empe-
nhados em desqualificar a esquerda armada em sua luta contra aquele regime. Meu ponto
é outro. Reconheço a validade histórica desta luta, inclusive por seus equívocos, demons-
trados na prática política. Não entendo a violência que seus militantes sofreram como um
“castigo merecido”, nem como um “abuso de autoridade estatal”, e sim como um imperativo
da derrota em uma guerra travada contra um inimigo infinitamente mais poderoso, mas sob
“regras” ampla e previamente conhecidas por ambos os lados.
Conclusão 477
13
“Segundo a lei [nº 10.559], a reparação econômica poderá ser concedida em prestação
única correspondente a 30 salários mínimos por ano de perseguição política até o limite
de 100 mil reais, ou prestação mensal, permanente e continuada aos que conseguem com-
provar a existência de vínculos laborais à época das violações de seus direitos. A prestação,
nesse caso, corresponderá ao posto, cargo, graduação ou emprego que o anistiando ocuparia
se na ativa estivesse, observado o limite do teto da remuneração do servidor público federal”.
Como requerer sua anistia política? Disponível em: <http://www.justica.gov.br/seus-direitos/
anistia/como-requerer-sua-anistia-politica>.
478 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
14
TROTSKY, Leon. Moral e revolução. A nossa moral e a deles. Trad. Otaviano de Fiore. Rio
de Janeiro: Paz e Terra, [s.d.]. p. 5.
15
ROSSI, Clóvis. Falta um “mea culpa”. Folha de S. Paulo, 6 de agosto de 1995. Grifos meus.
16
LAMPEDUSA, Giuseppe Tomasi di. O leopardo. Trad. Leonardo Codignoto. São Paulo:
Nova Cultural, 2002 [1958]. p. 22.
Conclusão 479
17
Aqui, surge a tentação de enveredar por uma discussão sobre a relação entre ética e res-
ponsabilidade individual. Isto, contudo, desviaria significativamente o curso deste livro.
Opto por, simplesmente, colocar a questão em termos do par honestidade/responsabilidade,
atributo de valor jamais absoluto, mas razoável de se cobrar de indivíduos no plano da vida
em sociedade, em especial no da política.
18
As doutrinas do direito, naturalmente comprometidas, embora em vertentes diversas,
com a legitimação do Estado capitalista, discutem a fundo a questão dos condicionantes
morais da infração à lei. Este ponto de vista – que não é o deste livro – pode ser conhecido
em PRINS, Adolphe. Science pénale et droit positif. Bruxelles: Bruylant-Christophe, 1899, p.
153-158.
19
Uma das referências era o Minimanual do guerrilheiro urbano, escrito por Carlos Ma-
righella em 1969. Uma versão está disponível em: <https://www.marxists.org/portugues/
marighella/1969/manual/>. Acesso em: 9 fev. 2016. Falo, também, com base em minha pró-
pria experiência, como militante secundarista entre 1967 e 1969. Aos 18 anos, fiz treinamen-
to militar coletivo, com aulas de tiro e preparo de bombas de razoável teor explosivo. Eram
480 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
muitas as discussões que tínhamos sobre os riscos que o grupo correria quando em ação. A
pílula de cianureto (cianeto) de potássio, poderoso veneno indicado para suicídio em caso
de prisão, era uma quimera que assombrava nossos sonos revolucionários.
20
Em busca do tesouro. Rio de Janeiro: Codecri, 1982. Quando não indicado em contrá-
rio, as informações sobre datas e valores indenizatórios estão disponíveis em: <http://www.
planejamento.gov.br/assuntos/gestao-publica/arquivos-e-publicacoes/beneficiados-da-
-lei-10-1.559>. Acesso em: 9 fev. 2016.
21
Os carbonários. São Paulo: Círculo do Livro, 1980.
22
Onde foi que vocês enterraram nossos mortos? Foz do Iguaçu, PR: Travessa dos Editores,
2005.
23
Depoimento em: <https://www.youtube.com/watch?v=KN1vEfGBd0w>. Acesso em: 9
fev. 2016.
24
Náufrago da utopia. São Paulo: Geração, 2005.
25
Gracias a la vida: memórias de um militante. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013.
26
“O que a nossa geração produziu, a repressão não tinha como destruir”. Entrevista ao
blogue Sul21, disponível em: <http://www.sul21.com.br/jornal/flavio-koutzii-o-que-a-nos-
sa-geracao-produziu-a-repressao-nao-tinha-como-destruir/>. Acesso em: 9 fev. 2016.
27
Em 2008, concedeu uma longa entrevista em que dá muitos detalhes da militância revo-
lucionária no meio universitário da segunda metade da década de 1960. O título é “Valia a
pena lutar” e está disponível em: <http://www.zedirceu.com.br/valia-a-pena-lutar/>. Acesso
em: 4 fev. 2016.
28
“O inventário inacabado”. Entrevista ao Jornal da Unicamp, Campinas (SP) , p. 8-9, março
de 2001, disponível em: <http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/mar2001/os-
sopag8e9.html>. Acesso em: 9 fev. 2016.
Conclusão 481
29
Entrevista em SCHERER-WARREN, Ilse; ROSSIAUD, Jean. A Democratização Inacabá-
vel: as memórias do futuro. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. p. 212-219.
30
Depoimento em: <https://www.youtube.com/watch?v=e1e1iyZKFOU>. Acesso em: 9 fev.
2016.
31
Cacos de sonhos: cartas de uma ex-prisioneira da Vila Militar (1971-1974). Rio de Janeiro:
Ponteio, 2015.
32
VIANNA, Martha. Uma tempestade como a sua memória – A história de Lia, Maria do
Carmo Brito. Rio de Janeiro: Record, 2009.
33
Ou seja, como se não bastasse a mercantilização da derrota revolucionária, ainda se criou
uma estratificação social entre aqueles que haveriam de se locupletar com o rendimento da
operação.
34
“Tribunal quer investigar se há pensões exageradas [sic] vítimas da ditadura”. Disponível
em: <http://www.jb.com.br/pais/noticias/2008/10/18/tribunal-quer-investigar-se-ha-pen-
soes-exageradas-vitimas-da-ditadura/>. Acesso em: 4 fev. 2016.
482 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
35
COSTA, Luciano Martins. “Toque nos anistiados intocáveis”. Disponível em: <http://ob-
servatoriodaimprensa.com.br/imprensa-em-questao/toque-nos-anistiados-intocaveis/>.
Acesso em: 4 fev. 2016.
36
Em 2008, o ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH) da Presidên-
cia da República, Paulo de Tarso Vannuchi, defendeu o trabalho da Comissão de Anistia,
concedendo que poderiam ter acontecido distorções no cálculos “em um caso ou dois ou
três entre 30 mil. Algumas indenizações podem ter sido excessivas, para os padrões da so-
ciedade brasileira, mas não se pode falar apenas desses casos com indenizações elevadas”.
Ver: <http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2008-05-01/vannuchi-rebate-criti-
cas-indenizacoes-milionarias-da-comissao-de-anistia>. Acesso em: 4 fev. 2016. O ministro
Paulo Vannuchi, preso político na década de 1970, foi beneficiado em 2002 com uma inde-
nização de R$ 54.000,00. Ver: <http://www.planejamento.gov.br/assuntos/gestao-publica/
arquivos-e-publicacoes/beneficiados-da-lei-10-1.559>. Acesso em: 4 fev. 2016.
37
Ver “Bolsas Ditadura alcançam R$ 3,4 bi”. Disponível em: <http://www.defesanet.com.
br/dita/noticia/14802/Bolsas-Ditadura-alcancam-R$-3-4-bi/>. Acesso em: 31 jan. 2016. A
visão da extrema-direita está bem apresentada em “Memorial 1964 – Primeira parte”. Dis-
ponível em: <http://www.ternuma.com.br/index.php/memorial>. Acesso em: 31 jan. 2016.
A autodefesa de Cony está em “Indenizações milionárias - Cony justifica o seu processo”.
Disponível em: <http://www.sulradio.com.br/destaque_indenizacoes_cony_justifica.asp>.
Acesso em: 4 fev. 2016.
38
“De olho nas indenizações milionárias, o Tribunal de Contas da União (TCU) está ques-
tionando os critérios adotados pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça na con-
cessão de valores mensais e retroativos como reparação econômica aos perseguidos durante
o regime militar. Os dois casos mais recentes em análise no TCU envolvem os jornalistas
Sérgio Jaguaribe, o Jaguar, e Ziraldo Alves Pinto, que dirigiam o extinto O Pasquim e, pela
alegada perseguição durante a ditadura, foram beneficiados, cada um deles, em abril deste
ano [2008], com uma bolada retroativa de R$ 1,2 milhão, além de R$ 4.365,88 mensais pelo
resto de suas vidas”. “Tribunal quer investigar se há pensões exageradas [sic] vítimas da di-
tadura”. Disponível em: <http://www.jb.com.br/pais/noticias/2008/10/18/tribunal-quer-in-
vestigar-se-ha-pensoes-exageradas-vitimas-da-ditadura/>. Acesso em: 4 fev. 2016.
Conclusão 483
39
A belíssima canção “O bêbado e a equilibrista”, de João Bosco e Aldyr Blanc, que, lançada
em 1979, ficaria consagrada como o “hino da anistia”, generaliza tal possibilidade. A letra
homenageia Betinho ‒ Herbert José de Sousa, o “irmão do Henfil” mencionado ‒, militante
socialista desde a década de 1950 e que, quando do golpe de 1964, dirigia a Ação Popular,
organização da qual fora um dos fundadores em 1962. Instalada a ditadura no país, Betinho
militou clandestinamente até 1971, quando se exilou no Chile, então sob o governo socialis-
ta da Unidade Popular. Na música ele é associado ao indefinido grupo de “Tanta gente que
partiu / Num rabo de foguete”. Ora, sabe-se que a expressão “rabo de foguete” remete a uma
situação complicada em que se entra inadvertidamente. Referida a um experiente militante
de esquerda, que seguiu na vida o rumo determinado por suas convicções ideológicas, a
letra contribui para dissociá-lo deste referente político essencial e para que seja visto como
apenas mais uma vítima de imprevista violência ditatorial. Ouvir a música, na emocionante
interpretação de Elis Regina (1979), em: <https://www.youtube.com/watch?v=1g_p4Xcn-
5CE>. Acesso em: 30 jan. 2016.
40
Foi comandante da Divisão Mineira que combateu as forças paulistas em 1932. Dispo-
nível em: <http://www.arquivoestado.sp.gov.br/exposicao_1932/pdf/BR_APESP_AAC_62-
2_041_001.pdf>. Quatro anos depois, integrou a Câmara dos Quarenta, um dos órgãos
dirigentes da Ação Integralista Brasileira (AIB). A Razão, 7 de outubro de 1936. Dispo-
nível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/Hotpage/HotpageBN.aspx?bib=720941&pag-
fis=101&pesq=&url=http://memoria.bn.br/docreader#>. Ambas as páginas acessadas em:
30 jan. 2016.
484 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
41
HILTON, Stanley. A guerra civil brasileira (História da Revolução Constitucionalista de
1932). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982. p. 326.
42
Militante revolucionário e preso político na passagem de 1969 para 1970, foi agraciado,
em 2008, com uma indenização federal no valor de R$ 100 mil. Informação disponível em:
<http://www.planejamento.gov.br/assuntos/gestao-publica/arquivos-e-publicacoes/benefi-
ciados-da-lei-10-1.559>. Acesso em: 4 fev. 2016.
43
Foi o caso de Jessie Jane Vieira de Souza, militante revolucionária e presa política na dé-
cada de 1970. Beneficiada pela lei estadual, recebeu também da comissão federal, em 2007,
o direito a uma prestação mensal, esta no valor de R$ 7.489,07. Informações disponíveis,
respectivamente, em: <http://www.oabrj.org.br/noticia/54417-indenizacao-a-ex-presos-
-politicos-esta-parada> e <http://www.planejamento.gov.br/assuntos/gestao-publica/arqui-
vos-e-publicacoes/beneficiados-da-lei-10-1.559>. Acesso a ambas em: 4 fev. 2016.
Conclusão 485
44
A despolitização pode ser entendida, também, como uma forma de tornar a anistia e seus
desdobramentos palatáveis para os setores militares mais renitentes. Ver depoimento do ge-
neral Zenildo Zoroastro de Lucena em CASTRO, Celso; D’ARAÚJO, Maria Celina. (Org.).
Militares e Política na Nova República. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas,
2001. p. 225.
45
Para uma visão apologética do fenômeno, ver SALVADORI, Massimo L. Eurocomunismo e
socialismo sovietico. Problemi attuali del PCI e del movimento operaio. Turin: Einaudi, 1978.
Uma visão crítica se encontra em MANDEL, Ernest. Crítica do eurocomunismo. Lisboa:
Antídoto, 1978.
46
É significativa a maneira ironicamente desqualificadora como é tratada a militância contra
a ditadura nas páginas do livro ‒ já citado aqui ‒ Ditaduras, esquerdas e sociedade, como
na página 8, onde se lê: “Bravos jovens! Radicais equivocados, mas generosos”. Seu autor,
Daniel Aarão Reis Filho, então um destes jovens, integrou uma organização revolucionária
que realizou o sequestro de um embaixador. Preso, foi libertado graças a outro sequestro,
partindo para o exílio. Como reparação pelo seu radicalismo equivocado, solicitou e obteve,
em 2009, a mercê de uma generosa prestação mensal no valor de R$ 8.012,17. Disponível
em: <http://www.planejamento.gov.br/assuntos/gestao-publica/arquivos-e-publicacoes/be-
neficiados-da-lei-10-1.559>. Acesso em: 4 fev. 2016.
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ABREU, Alzira Alves de; BELOCH, Israel; LATTMAN-WELTMAN, Fer-
nando; LAMARAO, Sérgio Tadeu de Niemeyer (Coord.). Dicionário
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487
488 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
Periódicos:
Boletim Anistia – órgão oficial do CBA
Boletim Maria Quitéria – Boletim Informativo do MFPA
Em Tempo
Folha de S. Paulo
IstoÉ
Jornal do Brasil
Movimento
O Estado de S. Paulo
O Globo
Veja
Euclides Figueiredo
Euler Bentes Monteiro
Filinto Müller
Francisco Pinto
Frente Ampla
Frente Parlamentar Nacionalista (FPN)
Gastone Righi
Getúlio Barbosa de Moura
Jamil Amiden
João Batista Figueiredo
Lindolfo Collor
Marco Maciel
Movimento Democrático Brasileiro (MDB)
Movimento pela Emancipação do Proletariado (MEP)
Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8)
Movimento Trabalhista Renovador (MTR)
Nísia Carone
Pedro Aleixo
Peri Bevilacqua
Petrônio Portela
Revolta de Aragarças
Revolta de Jacareacanga
Revolta dos marinheiros
Revolta dos sargentos
Roberto Campos
Rodrigo Otávio
Sérgio Carvalho
Severo Gomes
PALMAR, Aluísio. Onde foi que vocês enterraram nossos mortos? 4. ed.
Curitiba: Travessa dos Editores, 2012. Disponível em: <https://docs.
google.com/viewer?url=http://www.documentosrevelados.com.br/wp-
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Índice remissivo
519
520 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
Associação dos Marinheiros e Fuzi- 111, 186, 190, 204, 290, 410
leiros Navais, 33 Autoritarismo, 38, 67, 139, 152,
Associação Internacional de Ciên- 153, 154, 155, 216, 225, 299 , 341,
cia Política (IPSA), 135 361, 362, 474, 483
Associação Que Fazer / Association Avilan (reino), 335
Que Faire? (Suíça), 309, 424 AZEVEDO, Clóvis Soares, 188
Associação Suíça pela Anistia Geral AZEVEDO, Neide, 245
dos Prisioneiros Políticos no Brasil Baader-Meinhoff, 379
/ Association pour l’Amnistie gé- Bagaço, 291
nérale des prisonniers politiques au BALDUÍNO, Dom Tomás, 220, 263
Brésil, 316, 424 BANDEIRA, Luís Alberto Moniz, 94
ATAÍDE, Tristão de, ver LIMA, BANZER, Hugo, 118, 251, 272, 432
Alceu Amoroso BAPTISTA, Luiz, 458
Ato Institucional (AI-1), 35, 290, BARBALHO, Jader, 451
393, 394
BARBOSA, Júlio, 132, 133
Ato Institucional nº 12, 89
BARROS, Celso, 271, 272
Ato Institucional nº 13, 89
BASSO, Lelio, 163, 313, 316, 323,
Ato Institucional nº 14, 89 382, 384
Ato Institucional nº 16, 90 BATISTA, Nilo, 374
Ato Institucional nº 17, 90 BAUVOIR, Simone de, 105, 238
Ato Institucional nº 2 (AI-2), 23, BELLINATI, Vladmir, 449
53, 58, 62, 157, 227, 231
BENJAMIN, Cid Queirós, 480
Ato Institucional nº 5 (AI-5), 23,
BENJAMIN, Iramaya Queirós, 246,
24, 67, 73, 75, 83, 84, 85, 86, 87, 90,
248, 252, 291, 465
92, 94, 100, 157, 173, 176, 177, 181,
BERMUDES, Sérgio, 375
182, 207, 227, 228, 229, 231, 234,
BERNARDINO, Angélico, 382
237, 241, 253, 255, 266, 267, 274,
BESSONE, Darcy, 138
282, 289, 290, 293, 294, 311, 330,
337, 339, 348, 353, 377, 381, 405, BEVILAQUA, Peri Constant, 13,
432, 461 19, 57, 60, 63, 70, 71, 173, 253, 255,
288, 304
Ato Institucional, 23, 34, 36, 58, 61,
66, 70, 72, 111, 172, 266, 267, 278, BEZERRA, Gregório, 413, 442, 462
364, 394, 455, 478 BICUDO, Hélio, 284, 379
AUSSARESSES, Paul, 38, 120, 122 BIERRENBACH, Júlio de Sá, 251,
Autênticos (do MDB), 100, 110, 347
522 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
Consolidação das Leis do Trabalho Corrupção, 23, 59, 69, 77, 84, 207,
(CLT), 230, 290, 364, 393, 431 316, 338, 349, 387, 443
Constituição de 1946, 32, 35, 68 COSTA, David Capistrano da, 244
Constituição de 1967, 80, 158, 227, COSTA, Humberto Reis, 50
310, 311 COSTA, Ruy Corrêa da, 393
Constituição de 1988, 310, 467, Costismo, 136
472, 476 Costista, 136
Construção memorialística, 480 Council of Foreign Relations, 76
Contrainsurgência, 208, 212 COUTINHO, Florim, 112, 172,
Contrarrevolução burguesa, 473 189, 241, 270, 451
Contrarrevolução continental, 112, COVAS, Mário, 349
121, 122, 212 CPI da tortura, 367
Contrarrevolução democrática, Crime de opinião, 349
198, 213, 214, 485 Crimes comuns, 15, 263, 294, 297,
Contrarrevolução modernizadora, 346, 350, 372, 387, 391, 412, 468
22 Crimes conexos, 14, 16, 396, 403,
Contrarrevolução permanente, 27, 417, 471
472, 473 Crimes de sangue, 227, 346, 374,
Contrarrevolução preventiva por 377, 382, 396, 412, 435, 448
métodos democráticos, 155 Crise da Legalidade (1961), 43, 57
Contrarrevolução preventiva, 12, Críticos empiristas, 474
18, 24, 27, 130, 155 Cunha, João, 191, 204, 272, 299,
Contrarrevolução terrorista, 117 450
Contrarrevolução violenta 130 CUNHA, Marcus, 365
Contrarrevolução, 11, 26, 45, 210, Curso de Operações Especiais do
476 Exército, 41
Convicções ético-políticas, 479 D’OLIVEIRA, Divo Fernandes, 31
CONY, Carlos Heitor, 36, 60, 482 DALLARI, Dalmo, 74, 261
Coojornal, 291 DANTAS, Audálio, 404
CORÇÃO, Gustavo, 61 DAVIES, Nathaniel, 119
CORDEIRO, Marcelo, 429, 450 De Fato, 291
CORREIA, Hércules, 414, 462 Declaração de Porto Alegre, 111
Correio da Manhã (RJ), 45, 55, 82 Déclaration de Berne-Genève, 424
CORRIGAN, Robert F., 94 Decreto Legislativo nº 18, 31, 90
Índice remissivo 527
44, 45, 48, 49, 52, 54, 56, 59, 63, 68, Guerra revolucionária, 22, 29, 35,
69, 72, 73, 81, 92, 96, 97, 111, 113, 39, 40, 41,42, 43, 46, 47, 48, 49, 50,
115, 117, 216, 238, 290 51, 52, 92, 193, 210, 230, 311, 377,
Graça, 15 453, 478
Gradualismo anistiante, 351, 352, Guerre révolutionnaire, 39, 41, 45,
355 47, 48, 120
GRAMSCI, Antônio, 125, 327, 479 Guerrilha rural, 92, 200, 377
GRECO, Helena, 313, 377, 378, Guerrilha urbana, 119, 377
413, 415, 465 GUIMARÃES, Honestino, 82
GREENHALGH, Luís Eduardo, 74, GUIMARÃES, Magnus, 190, 195,
306, 316, 413 308
Greve de fome, 87, 115, 166, 179, GUIMARÃES, Ulisses, 98, 100,
180, 187, 194, 240, 243, 264, 274, 292, 321, 363, 372, 392, 396, 403
278, 279, 280, 357, 360, 361, 362, Habeas corpus, 67, 86, 87, 155, 157,
386, 387, 416, 420, 421, 422, 423, 238, 240, 264, 274, 291, 293, 330,
424, 425, 426, 428, 431, 432, 434, 332, 337, 352, 353, 354, 395
436, 438, 439, 441, 442, 443, 444, Hamburg Morgenpost, 98
445, 446, 448, 451, 459 HAMMARBERG, Thomas, 240
GRUNEWALD, Augusto Hamann Harvard (universidade), 123, 125,
Rademaker, 35 126, 17, 129, 130, 133, 134, 138,
Grupo Anticomunista (GAC), 271, 158, 161, 162, 168, 169
279, 299 Henfil, 402, 483
Grupo Brasileiro de Apoio na Ar- HERZOG, Vladimir, 193, 196, 321,
gélia à Luta pela Anistia, 276 465
Grupo de Solidariedade com a Historiografia, 17, 75, 80, 112, 333,
Anistia, da Itália, 275 474
Grupo pela Anistia no Brasil, de HOLANDA, Chico Buarque de, 81,
Berlim Ocidental, 276 328, 408
Grupo Secreto, 81, 94 HOLLEBEN, Ehrenfried A.T. L.
Grupo Tortura Nunca Mais, 465 von, 98
GUDIN, Eugênio, 224 HUMMES, dom Cláudio, 265, 365
Guerra da Indochina, 39, 122 HUNTINGTON, Samuel, 13, 125,
Guerra de Independência da Argé- 126, 128, 130, 135, 139, 150, 158,
lia, 39 159, 167, 169, 170, 211, 212, 214,
Guerra psicológica, 45, 46, 49 215
532 DITADURA, ANISTIA E TRANSIÇÃO POLÍTICA NO BRASIL (1964-1979)
Igreja Católica, 65, 91, 97, 98, 99, Instituto Penal Candido Mendes,
104, 105, 115, 122, 168, 171, 179, 105, 180
184, 261262, 263, 315, 346, 383, Integralismo, 66, 67
390, 417, 420, 439 Intelectual orgânico, 29, 125, 145
Imperialismo / imperialista, 40, 62, IRIBARNE, Manuel Fraga, 40
117, 119, 129, 130, 131, 145, 165, IstoÉ, 367
195, 198, 208, 212, 213, 218, 323
Jacareacanga, 451
Impossibilidade sistêmica, 26, 29,
JAGUARIBE, Sérgio (o Jaguar),
60, 112, 260
291, 482
Imprensa alternativa, 291, 368
JORGE, J. G. de Araújo, 110, 123,
Impunidade, 25, 175, 230, 263, 287
177, 266, 270, 450
Incrementalismo / incremental / in-
Jornal da ABI, 291
crementalista, 155, 156, 57, 158, 295
Jornal do Brasil, 82, 135, 173, 175,
Indenização, 202, 401, 444, 457,
268
467, 480, 481, 482, 484
Judiciário, 22, 23, 24, 35, 61, 62, 67,
Indulto, 15, 71, 75, 112, 249, 272,
70, 86, 87, 91, 169, 207, 228, 229,
392, 423, 435, 450, 464
230, 261, 267, 330, 343, 375, 394,
Informations Catholiques Interna-
443, 473
tionales, 94
JULIÃO, Francisco, 345, 403, 414,
Inimigo interno, 26, 31, 51, 112,
442,
180, 330, 376, 416
JUREMA, Aderbal, 447, 450
Inquérito policial-militar (IPM),
23, 35, 36, 60, 68, 95, 227 Justiça Militar, 33, 34, 63, 71, 98,
Institucionalização do regime, 33, 230, 243, 267, 279, 331, 333, 379,
68, 99, 132, 135, 139, 141, 145, 149, 402, 407
150, 151, 152, 153, 155, 175, 260, KHAIR, Edson, 267, 358, 373, 389,
295, 310, 341, 406, 418, 434, 472, 414, 432, 448, 451, 453
473 KISSINGER, Henry, 127, 139, 209
Institute for Defense Analyses KLEIN, Odacir, 204, 356, 373, 433,
(IDA), 76, 127 459
Instituto de Pesquisas e Estudos KLOMBE, Marga A. M., 103
Sociais (IPES), 45, 50, 120 KOHL, Nelson de Sousa, 122
Instituto de Pesquisas, Estudos e KORRY, Edward, 119
Assessoria do Congresso (IPEAC), KOUTZII, Flávio, 320, 329, 362,
151 480
Índice remissivo 533
LISBOA, Judite, 184, 188, 447 Marchezan, Nelson, 344, 346, 355,
Lista negra, 105 374, 403, 453, 454
LOBÃO, Edison, 405 MARCÍLIO, Benedito, 265, 396,
Lobby militar, 14, 473 434, 443, 449, 451
LOBO, Ana, 183 MARIGHELA, Carlos, 94
LORSCHEIDER, Dom Aloísio, 98, MARINHO, Josafá, 83
235, 262 MARINI, Ruy Mauro, 48, 117, 211
LORSCHEITER, Dom Ivo, 262, MARIZ, Dinarte, 84, 350, 368, 428
391, 420 MARQUES, Paulo, 219, 292, 446
LUCENA, Humberto, 202, 203, MARTINS, Roberto Ribeiro, 17,
234, 270 19, 296
LUDWIG, Rubem, 331, 347 MARTINS, Wilson, 83
LUNA, Cristina Monteiro de An- Massachusetts Institute of Techno-
drada, 27 logy (MIT), 127, 133
LUNGARETTI, Celso, 480 MASSUDA, Minoru, 267
Luta armada, 31, 39, 85, 92, 197, MATOS, Délio Jardim de, 251, 354,
377, 378, 379, 393, 444, 478 454
Lutas anticoloniais, 39 MATTOS, Marcelo Badaró, 11, 28
MACARINI, Paulo, 83 MAURÍCIO, Lúcia Velloso, 481
MACEDO, Murilo, 364 MAX, Mauro, 365, 458
MACEDO, Norton, 348 MEDEIROS, Marcelo, 267
MACHADO, Flávia Burlamaqui, 27 MÉDICI, Emílio Garrastazu, 91,
MACIEL, Lisânias, 123, 179, 180, 92, 93, 104, 112, 113, 117, 118, 119,
315, 322, 328, 396 120, 121, 123, 126, 135, 136, 137,
141, 142, 151, 162, 205, 298, 404
MACIEL, Marco, 259
MELO, Ednardo D’Ávila, 192, 193,
MAGALHÃES, Antônio Carlos,
196
103, 104, 347, 450
MELO, Francisco de Assis Correia
MAGALHÃES, Juraci, 62
de, 34
MALUF, Paulo, 331
MELO, Humberto de Sousa, 42,
MANDEL, Ernest, 156
118, 192
Manifesto da mulher brasileira em
MELO, Judite Cunha, 188, 271
favor da anistia, 188
MELO, Severino Elias de, 31
Manifesto dos coronéis, 42
Memória, 12, 14, 20, 362, 462, 469,
Manual de Campanha do MDB, 173
476, 480
Índice remissivo 535
Project Camelot, 128, 129, 130 467, 476, 477, 481, 482, 484, 485
Projeto distensionista, 227, 283, Repórter, 243, 291
295, 296, 310 Repressão, 14, 23, 26, 30, 31, 53, 70,
QUADROS, Jânio, 23, 44, 69, 111, 74, 82, 94, 99, 106, 107, 109, 118,
216, 321 120, 156, 165, 169, 182, 194, 196,
QUEIROZ, Otacílio, 365, 431 197, 203, 207, 220, 230, 241, 256,
RAFAEL, Abel, 34 275, 316, 317, 324, 332, 333, 343,
RAMALHO, Tales, 202, 252, 350 344, 361, 362, 367, 376, 379, 391,
RAMOS, Rodrigo Otávio Jordão, 471, 475, 477
99, 207, 227, 228, 240, 243, 349 República Dominicana, 129, 130,
Rand Corporation, 76, 131 131, 164
RAULINO, Ludgero, 444 Resistência democrática, 95
Reconciliação, 58, 68, 69, 112, 204, Revanchismo, 258, 344, 345, 404
241, 253, 254, 262, 263, 304, 360, Revolta dos Marinheiros, 33
373, 382, 390, 439, 454, 458, 469 Revolta dos Sargentos, 332
Redemocratização, 100, 136, 137, Revolução Cubana, 21, 75, 130
160, 175, 199, 224, 242, 265, 300, Revolução de 64, 103, 191, 250, 393
387, 388, 389, 427, 440, 445, 449, Revolução dos Cravos, 175, 198,
465, 472 217
Referenciais éticos, 485 Revolução Russa de 1917, 39, 52
Reforma partidária, 148, 367, 384, Revue militaire d’information, 46
386, 422, 472 RIBEIRO, Darci, 328, 439
Regime ditatorial, 11, 13, 18, 19, RIGHI, Gastone, 73
20, 22, 24, 25, 26, 29, 30, 35, 37, 38, RIZZO, Eliézer, 409
52, 53, 67, 81, 86, 90, 102, 110, 112, RODRIGUES, José Honório, 75,
113, 118, 120, 123, 126, 142, 146, 474
148, 159, 176, 193, 197, 207, 218, RODRIGUES, Lauro, 191
225, 234, 235, 237, 286, 310, 312, RODRIGUES, Sebastião, 349
321, 327, 339, 340, 379, 380, 392, ROQUE, Israel Tavares, 31
465, 471, 472, 473, 474, 475, 483
ROSAS, Carlos, 41
REGO FILHO, Eduardo de Almei-
ROSSI, Dom Agnelo, 104, 105
da, 93
ROSSI, Francisco, 347
REIS FILHO, Daniel Aarão, 485
ROSTOW, Walt W., 127
Reparação financeira/simbólica, 11,
ROTTA, Francisca Brizola, 244
18, 27, 255, 277, 391, 393, 405, 409,
Índice remissivo 539