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n Imnsfarântia da Enrta
1. DECLARAçÁo DA
Na passagem do século XVIII para o XIX, o INDEPENDENCIA Dos
AMÉRICA, JULHo DE
|uçóes, que causaram profundo impacto nos
1776
seus contemporâneos, não sendo os Iuso-bra- NA AMÉRICA PORTUGUESA,
2. A PATRlA EM PERIGo
peito da mesma se passa[va]'.'2 Considerando~se que a Gazeta de
ou 0 ALISTAMENTo
nos v0LUNTAR|os, Lisboa vivia sob censura, curvando-se, portanto, às diretrizes do go-
c. 1797-1799 verno absolutista português e, ainda, que o desembargador Cruz e
A REVOLUçÃo FRANCESA
Silva encontrava-se encarregado de punir pessoas acusadas de cons- r
MEXEU PROFUNDAMENTE /
A
° Essas revoluções que marcaram a vírada do século XVIll para o
AMsRICA GUERRA
cIassiñcada pela Gazeta de Lisboa, de 18 de se- viam, de forma gera|, uma rediâçqssão do passado e de eIementos do
tembro de 1778, como a "Revo|ução mais Antigo Regime - absqutiámo, coIoniaIismo, sociedade estamenta|,
memorável” havida "no nosso gIobo',' cujas monopólio comercial e escravismo - como um todo ou isoladamen~
conseqüências, no dizer do mesmo jornaI, te- te. Suas vertentes mais radicais, assim, fustigavam as exorbitâncias
riam grande”inf1uência no sistema geral de to- do poder rea|, os privilégios do rei e da nobreza, o monopólio comer-
das a_s nações'.” cia|, o escravismo e o peso do ñsco; teciam críticas ferozes à religião
A Revolução Francesa, de acordo com a católica e à infalíbilidade papa|, refutando a escritura sagrada, de-
avaliação do desembargador Antônio Diniz da nunciando a intolerância religiosa, maldizendo a Inquisição e o fana~
Cruz e SiIva,juiz encarregado de investígar a tismo. Dentre os pensadores ilustrados, houve quem apoiasse o/deís-
suposta conspiração do Rio de Janeiro de mo, o ateísmo, o materialismo, ou mesmo a insurgêncía dos vassalos
1794, era ”um dos sucessos mais extraordiná- contra seus soberanos e dos colonos contra as metrópoles.4 0 abade
rios, não só da História Moderna, mas também Rayna|, por exemp|o, em seu Iivro Históría ñlosóñca da coloniza-
da antiga,e que na mesma História”far¡a”uma ção européia nas duas Índías, narrava a Independência dos Estados
memorável época',' não havendo por isso Unidos e confrontava as imensas ríquezas do Brasil à degradação
mesmo “¡nd¡víduo aIgum que, peIa mesma em que se encontrava o Reino Iusitano, propugnando a realização
razão, se não interesslass]e a saber o que a res- de uma série de reforrhas nos domínios desse, que iam da supressão
14 mmonuçko Virando o século (1789-1808)
INmoouçÀo Virando o século (1789-1808) 15
Índias Orientais.5 °
\
medieva|_, reIendo as idéias de Aristóteles e os ensinamentos de sa_r]-
l
\
Suárez (1548-161 7), Roberto Bellarmino (1542-1621), Luís de MoIina
r/ Jm IÁ Âzzlzvlí IÃMJ ÍZZW
Ãzj zà MZIÉJ z/r nímmzf
:
\
poder da Segunda Escolástica? Esses movimentos tiveram uma ço~
I|ul'urmismu ||ustradn, "Havulucñn"
Il
a
'
expressão?
medida essa unidade e aqueles projetos foram materializados pelo no de d. José | e a ascensão
príncipe _regente d.João ao ínstalar sua Corte em território carioca. ao ministério de Sebastião
agraciado sucessivamen- 17
, .
'
de de OeIras e marquês
§$
de Pomba|, o governo por- f \&
tugués passou a desenvol- XN w
|mpério Luso-Brasileiro
18 CAPITULOI 0 Reformismo ||ustrado, a "Revolução"e o
m intermedíários, os
as prerrogativas absolutistas do
idéias ilustradas que questionavam
mntrabandistas e os
religião católica. Por outro, procur
ou rea-
trono, o domínío colonial e a
'
uwrcadores ingleses,
'l\izawr-reformas econômico-sociais no
sentido de promover o desenvol-
mnstituindo compa-
metrópo|e e de romper com o
vimento manufatureiro e comercial da nhias privilegiadas de
estabelecido em Portugal e seus
domínios. Nesse
panorama cuIturaI
mmérciof Apoiou os
cor-
ao desenvolvimento cientíñco e as
sentidoíqmrbateq a oposição qrandes comerciantes
rentes milenaristas ainda em voga, que difundiam profecias segundo u a nova nobreza -
, temporal e
as quaís um rei Encoberto instalaria um Quinto lmpér¡o
Iormada por indiví-
nobreza -
Segunda Escolástica, poís essas, embora não se chocassem frontal-
lha vincu-
do poder do Estado, não davam uma
sus-
mente com a centralização
ldda à propríedade da
impondo-lhe limitgs na medida em
tentação sólida ao absolutismo, lerra e à agricultura,
"popular”e que postulavam_l_[mj-,
que atribuíam ao poder uma origem defensora da pureza de sangue e da linhagem,
2- MARouêS DE POMBAL
o'
seu exercíció,2 admitindo o direíto da SEB^5T'ðJ°5ÉDE
>értico-rerligiósa_s para Em
tqgçes adepta dos veIhos métodos de governoi
chegando CARVALHOEMELLO
casos de tirania,
cqmunidade de retomar o poder nos
. . . . ~ _ _
JOSEHNQ É PERSONAGEM
o Sebastião José de Carval
ho e Me||o.Pombal
pylsrqurterdo seu miniàtr a uma secular dIscnminação. Incorgorou alrlqa,
CONTROVERTIDO ENTRE 05
a lgreja
- incluindo-se,aqui,os jesuítas_.4 Promoveu reformas na po|í-
o O rejnado de dona Maria l (1777-1792) ¡,
/ '»›o)~,.q J
*'
“ 9 '"
seus cargos
- ou guindou ¡I.nn.|,especiñcamente,ve-
a outros
- pessoas que ›Hm›u-se um certo dis-
Inmíamento em relação
participaram do reinado
.“¡
porspectiva imperial
de d. José |.9'Tanto dona
regente de 1792
quv a ação governamen-
d. João,
continuidade ao Reform¡s-
m dos interesses e pre-
mnceitos da metrópo|e,
mo Hustrado, introduzín-
como BEATA vvr a metrópole e a colônia,5em contudo rom- JoÃo oeu CONnNuonE
o nas o.
exclusivismo comercial metropolítan
REPUTADA
(ELA IMPEDIU QUE de comércioJ lornando a primeira capaz de assimilar as van- D. JosE |. SUA REGENQA
as companhias privi|egiadas
RHNADo FORAM
lagens da exploração coIoniaL desenvolvendo
o PRINCIPE Do BRASIL, E SEU
CONDENAÇÃO Dos
alienando na área das ciências naturais para fomentar a
INCONHDENTES DE MINAs
administfação díreta das empresas,
reais;13 ao mesmo tem- produção de matérias-primas na Am_érica.'7
GERAI5, Deu comlNUIDADE os estabelecimentos
A POLmCA REFORMISTA As reformas de cunho econômico-social
po, procurou~se aprimo
rar tecnicamente a
DE szu PAL
como na colô~ cmpreendidas pela Coroa portuguesa, _naçi_o;
produção tanto na metrópole
nalistas e protecíonistas
- e cuja tendéncia
incentivando-se a diversificação das
ativí-
nia,
era pór a metrópole como pó|o articulador e
ú|tima.'4 cr
dades produtivas nesta
"Revolução"e o |mpério Luso-Brasileiro mPIwwI 0 Reformismo I|ustrado, a"Revo|ução"e o lmpério Luso-Bras¡leiro 23
zz CAPITuwI O Reformismo Ilustrado, a
5. FAc~síMILE Do
índústria e a agrícultura) no conjun-
valorizar os setores produtívos (a
e o exclusivismo
rMm Mn n._á,:,;?.¡.,.,z,.', .4 Éyoumu,.;.
DESPACHo Do MARQUES
to da economia de todo o império, reforçando~s Iânaúvm mrunumwzwvrum lqmrmííuvuçw DE POMBAL PARA Luís
rnw76fnuu
comercial Iuso-brasileiro
-
Ievaram a um crescimento econômíco
unkgcíwr
.
múmgguMmMTmm êpíulñ
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4
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PINTo DE Sou2A, LISBOA,
PALACIo DE NOSSA
uruEaDurÍvmaQo nãÍÍm duruÉQ
economian un nÃmneíaÃníd 6n'4 Íãal Ãqlúgr Yaíçzmmbâq
Cma l
vendo os diversos setores da
*
wm Jywmw JÃJQW ka
Qmu um 7uu Ja Ao MINISTRO
DIRIGINDo-SE
descontando-se os movimentos m vamúnn ríu m.
/nas relações comerciais com o Brasil,
lr mfúymmmmçbalp ap anml ira :
MJJ Ià meúl PLEMPOTENUARIO EM
mqân ar PÍmA ñnyàmi ufvlaffwmñm
orias; a indústria Iusitana, wan uuáímu
de metal precioso do conjunto das mercad (bu mn Wélwguu dm cvmdlcom mjlvaJmÍh
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LONDREs, o MARQUEs DE
tzlñgM Q “sz PRONunmA
ia cerca de 30% dos a~an7mwlàa éãnfnym ãzumqyumw POMBAL
com destaque para o Iinho e as ferragens, fornec Quñha
a-
a amerícana. As reexporta-
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uaííhu Gfalmw
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qu SOBRE 'As SUBLEVAÇOES, As
nüáyuíáfwírã wím gm gq
áuol Hnímnín idua amionh
ções dos produtos brasileíros, Mth:
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64,4% do conjunto das exportações portu aÃnaqun 7w zlu vmdúfm¡,'mwzs muà amÃnmíD
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LIBERDADE DA Amémox
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mento econom1- INGLESAm CLASSIHCANDO
° 0 Reformlsmo Ilustrado, enñm, promoveu um crescn
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Cymlum urfgàt nn zunwnmn ozíwfq
tovn ungnn o "PLAN0" E os "MEIos DE
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P ERNAMBUCO E DA BAHIA
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comRA os HOLANDESES.
0 perigo da "Rezzolução” Wagumg_/m)h PROGNOSTICANDO A V|ToR1A
Dos INSURRETos,
A ipdependréncia das Treze CoIônjas |nglçsas_da Amériça do Nort_e,
ACONSELHA A COROA
Hfracílí
como”fato memoráve|',' não foi um possível conflito com a lnglaterra, Por isso BRITÀNICA A POR FIM A
classiñcada pe|a Gazeta de Lisboa
GUERRA, TRANSFORMANDO
por ser_Portuga| çom
mente assimilada pe|a Coroa portuguesa.2° Primeiro, PortugaL inicialmente, alinhou-se LQndre_s,
EM PARLAMENTo A
coloníais na Améríca, o que criava pbstá~ lochando, em 1776, os portos portugueses aos_ ASSEMBLÉIA GERAL DAs
uma potência com domíníos
COLONIAS E CONSERVANDQ
culos para que a Coroa aprovasse o movimento, uma vez que poderia nnvios norte~amerícanos, embora tivesse com
Asswl, A SOBERANIA lsso
DE CONFERIR As SUAs
ia a proteção política inglesa nas da Espanha e da França, que viam na indepen-
Revolução Americana, o que envolv PROPRIAS POSSESSOES
lusita- uma
vação dos domíníos coloniaís dôncia dos Estados Unidos oportunídade
relações internacionais e a preser AMERICANAS oumo srA rus
essa posição abriria portas para Os prejuízos econômicos trazídos pelo fecha- A SOBERAMA PORTUGUESA.
Estados Unidos da América, vísto que
uwnuwl 0 Reformismo I|ustrado,a "Revo|ução”e o Impérío Luso-Brasi|eiro 25
mas com tom cauteloso.26 çáo de 1792.A Gazeta de Lísboa, em 9 de novembro de 1793, informa-
cas só retornariam em julho de 1790,
transmitiu alguns fe¡- va, com desgosto, que nessa possessão francesa,"no decurso da car-
Nos anos de 1792 e 1793, a Gazeta de Lísboa
a visão pró-Luís XVI, nagem matavam os Negros indistintamente, tanto Brancos, como
tos revo|ucionários, mas sempre resguardando
26 CAPITULOI 0 Reformismo I|ustrado, a "Revo|ução"e o lmpério Luso-Bras¡|eiro mvnuw 0 Reformlsmo
'
'
lIustrado,a 'Revo|uçao”e
' "
o lmpeno Luso-Bras¡|elro
' '
VI
27
rl
autorida-
Mulatosím Todas essas revoluções despertavam o temor das ((›roa, comutando--se ”aos réus exceto Tiradentes, a pena de morte
e no ultra-
des em reIação a suas possíveis conseqüências na América um degredo perpétuo para os Iugares ddavÁfrica','
sendo registradas,
d. Vícente de Souza Çoutinho, alertava as autoridades mráter sacro da monarquia e, sobretudo, a associação da _ra_in_ha,
(
\
francesa e o
_
em Lisboa, Imprimira 12 miI exemplares da Constituição Hmdentes, expressava ”o inato ampr' que a soberana consagrava
Almanach du pêre Géraid, traduzidos para o português.32 Em Lisboa,_ “.u›s seus vassalos, quaI o termo de ”~!\~/lWãe4
mãépara seus ñIhos__'.'35'Es;a
quês mordomo--mor sua preocupação com as pessoas que”andavam I(›rná- Ia exemplar. o alferes foi eanrcado e esquartejado, e os quar-
Santa
Iibertinamente falando nos Mistérios mais sagrados da nossa
w
los de seu corpo foram esparramadps n_o caminho que Iigava o Rio
na Real Pessoa de Sua Majestade'_'dona Maria I e na do prírkr do Janeiro as Minas ñcando sua cabeça ñxada
_
Religião, em Vila Rica, Iembran-
"o governo dos Franceses”;
cipe regente d. João, e que aprovavam V do n todos 0 que poderia advír de uma rebelião contra tão”sereníssi-
d_enunciava, a|ém disso, Manoel Te|les de Negreiros” por estas culpas mn jugo'.'370
de Iibertinagem'.' Acrescentava, ainda, que teria mandado Negreiros
A repressão à denominada lnconñdência do Rio de Janeim de
para um dos Prezidios de Angola se não temesse que lá mesmo revoI- l/94 igualmente comprova que as autoridades governamentais
tasse os Povos” (itálicos meus), o que demonstra sua preocupação com Ivmiam uma revolução na América Portuguesa e móstra AcoÉJa
que as o universo colonjal portu;~ nssociavam aos eventos ocorridos fora dos domínios Iusitanos (no
id_éias revolucvionárrriraswgtingissem
guês, no caso, a África.33 mso, na França). O conde de Resende, d. José de Castro, vice- rei
° repressão aos inconñdentes de Minas Gerais revela o quanto do
A_
a_
Brasi|, embora avaliasse que os acusados de mconñdencna pudes-
ocorrência de uma ”revo|ução” na América atemorizava a Çoroa. 0 wm não ter o propósito de re_a|¡zar uma retJeíao julgava que tinham
3
julgamento da Conspiração Mineira foi uma verdadeira encenação, vsquecido ”de si e da honra do nome portugués, que até o presente
cujo sentido era gloriñcar a imagem da rainha, resvtrabelreçendowadr mnsistía princípalmente no amor e ñdelídade aos nossos clementíssi-
No Rio de Janeiro, palco dojulgamen- mos soberanos” Esquecidos dessa
ordem macu|ada pela sedição. ñdelidade, os conjurados, naquela
guarnecidos, numa demonstração visível de força. Por cerca de dezoi- wntes ao ”governo públíco dos Estados',' añrmando ”que os reis não
"¡
to horas, procedeu- se, no dia 18 de abril de 1792, à leitura da senten- sno necessários; que os homens são
\
o ”po- 0 Para a colônia, além dísso, foram enviadas obras impressas contra
tar dela
norante',' podiam (wrais, d. Bernardo JOsé de Lorena,em 1799, mandou para dívulgação,
produzir ”conse- .¡<› juiz da Câmara da cidade de Mariana, alguns exemplares de uma
qüências muíto pe- nhra sobre a Revolução Francesa em que se denunciavam'fos abomi-
rigosas" que con- uáveis princípios” do então governo da França, que ”até os mesmos”
6. PANORAMA DA PRAçA A idéia de que convinha ”ata|har”as”conse- (.Istro, governador da Bahia, porém, sugeria que a revolução, temida
TIRADENTES, c0M polas autoridades metropolitanas, aterrorizava também aos”homens
qüências muito perígosas”que poderiam advir
PALACIo Dos
de palavras e conversas que consagrassem os vmpregados e estabelecidos” na própria colônia, com”bens e proprie-
GOVERNADORES
Ao FUNDo
valores e feitos da Revolução Francesa moti-
dades',' donos de escravos, pois uma conspiração contra a Coroa e
NA ATUAL PRAÇA
vou investidas das autoridades régias na virada soberania portuguesas exporia tais homens ao risco de”serem assas-
TIRADENTES, FOI AHXADA
A CABEÇA oo ALFERES do século XVIII para o XleEm 1792, o secretário sinados pelos seus próprios escravos'.'44 Com esse argumento, pelo
JOAQUIM JosE DA SILVA qual buscava comprovar o não-envo|vimento das
português de Estado da Marinha e do UItramar elites baianas na
XAVIER. SITUADA NUM
prevenira os governadores do Brasil contra os Inconñdência de 1798, o governador da Bahia, enñm, indicava que a
Dos Pomos MAls
ELEVADos DA CIDADE,
intentos dos cIubes jacobinos franceses de pro-
musa revqucionária poderia dividir e opor, na virada do sécu|o,as e|i-
A PRAÇA TIRADENTES
DA CUNHA MENEZES. do UItramar, mandou à América Portuguesa os jornaís, endossando suas simpatias em relação às revoluções;
-.
x
Iância especial dos que fossem suspeitos de tuguês vieram a evítar notícias favoráveis à Revolução FrancesaÀ e a
professar idéias po|íticas e religiosas considera- promover, ao mesmo tempo, uma defesa do absolutismo e de Luís
mrluuor O Reformismo ||ustrado, a “Revo|ução"e o Império Luso-Bras¡leiro 31
da América, África e Ásia eram”'províncias da monarqu¡a', partes inte- uma o espanholas, mandou preparar
grantes de um todo cujo centro é europeu',' e procurava ”prevenir o num osquadra para trazer o rei d.Jo-
° Em consonância com o objetivo de formar um grande Estado .¡-. polências européías fracassavam
I|I.I~.il
r- enñm retomada por d. Rodrigo de ENCOBERTO ous
estímular ânimos de independência.5°/D. Rodrigo, porém, viu-se b|o-
CONSTITUIRIA o QUINTo
queado na maioria de suas íniciativas e, em 1803,foi aIijado do cargo.510 'u›um Coutinho em 1803 e contando com o
IMPERIo Do MUNDo.
o Dentre as propostas de d. Rodrigo de Souza Coutinho estava a nlmio da Inglaterra - partia da avaliação de
guesa. Em 1580, quando a Espanha invadiu Portuga|,o prior do Crato, uvnlv poderia ”criar um poderoso império'.'57
pretendente ao trono português, foi aconselhado a viajar para o Bra- Pvnnanecer em Portugal implicaría o risco de
InvudirPortugaLSS o
contrastar a estreiteza do terrítório Iusitano com a pujança das rique-
zas do Brasil, aconselhou a transferência de eI-re¡ para a coIônia, onde X As idéias de transferência da capital e de
omnau < uja descrição evocava a ”que temos no Paraíso Terrea|'.'61 Â Iai-
Nu l.':j/r'›rn/i.x'mo à sedição
8. PANORAMA Do RIo idéias milenaristas, em voga em Portugal l'uu'~m, quando a Inglaterra iníciou o processo de industríalízação e
DE JANE|R0, EM TRES suce-
desde o século XVI, à semelhança do que tvmnu submeter suas colônias da América do Norte às Iinhas do sis-
FOLHAs, 1795
outros países europeus como a
|n-
dia em Ivnm u›|onia|, preservando seu mercado, deflagrou-se o processo de
PANORAMA Do Rno DE
JANEIR0, NA VIRADA glaterra. Na América lnglesa os mi|enarismos ulw do sistema.0u seja,/in¡ciou-se um ”conjunto de tendências po|í-
sécu|o XV||| para o X|X, ilustrados como d. ' Nn mso das relações entre Portugal e Brasil, do ponto de v¡s-
Luís da Cunha, d. Rodrigo de Souza Coutinho e In mmômicq a crise do sistema coIoniaI só se iniciou em 1808.
Hipólito José da Costa cultivaram a utopia da Mmmda peIa ameaça francesa de invasão e pela pressão inglesa, a
constituição de um ”¡mpéri0 ñorente" no Bra- t uma portuguesa decidiu, a 29 de dezembro de 1807, transferir-se
associada por a|guns à edenização, sendo um u~m_.u› do império colonia|: isso porque a transferência da Corte
exemplo o citado Hipólito José da Costa, que, pmluqucsa para o Río de Janeiro, concretizada em 1808, fez-se
em 1813, em seu Correío Braziliense, escrevia .u umpanhar da abertura dos portos brasileiros, franqueando-se a
contra a transferência da capita_| para o Rio de mmmla dos manufaturados ingleses e rompendo-se com o exclusi-
Janeiro, considerando-a uma cidade sem con- vlnnm omercial, base do désenvolvímento manufatureiro metropo-
(
°
dições para tanto e alegando que a escçlha ll|.nu›.
comerciantes
se Ionge de se atenuar a tensão entre fazendeiros e os IM'|IIII() II
co re|ativamente heterogêneo. 0
RICA, A EPOCA DA
sm ussivas reuniões, nas quais debateram a INDEPENDENCIA,
|Inlms muito gerais de uma nova ordem políti- UM Pouco ACIMA, A CASA
'
DE CAMARA CADEIA
m v (-conomica. o
E
EA IGREJA Do CARMO.
À DIREITA, Ao AL10,
NA UNIVERSIDADE DE
hummm | nquanto Maciel estava ameaçado de perder seu patrimônio
Co¡MBRA, ESTUDARAM vm hllm (l(› dr. José Álvares Macie|, ex-caixa de contratos de entra-
MEMBRos DAs
c0L0NIAIs,
ELITEs
EM PARTICULAR
.I.r.\ unn qmndes dívidas em atraso com a Coroa - e o ouvidor
NA VIRADA Do sECULo mmmqu possuía uma riqueza centrada em boa parte no vestuário
0 XIX›
XVIII PARA
ALGUNS DEsses
UM Wn), Alvzurenga Peixoto e Cláudio Manuel da Costa eram ricos
Ex-c01MBRÃos .I. uu ›-. dv turras minerais e agrícolas, sendo o úItimo também usurário.3 0
ENVOLVERAM-SE NAs
u llm wqundo grupo é constituído pelos cIérigos com formação
INCONFIDENCIAS E TIVERAM
PARTICIPAçÃo DECISIVA NA
uuvlw Iu.¡l na própria colôniazo cônego Luís Vieira da Silva,professor
INDEPENDENCIA Do BRASIL du wminário de Mariana; o padre Carlos Correia de ToIedo, pároco
que pressupunha uma formação especíñca, um do segundo conde de Bobade|a, ex-governador de Minas Gerais,
ainda que prática, e que Ihes servia de fonte de n wqundo homem na hierarquia miIitar da capitania, cunhado de
remuneração: eram ou clérigos, ou advogados, Alvares Maciel, ríco e influente.5 Joaquim José da SiIva Xavier,ñlho de
oñciais de tropa paga. Em grande parte eram, lu'~m a essa categoriaztendo a patente de aIferes, a mais baixa do oñ-
ainda, proprietários de escravos: catorze incon- «I.¡I.1to, não progrediu de posto ou de remuneração em sua carreiraf
'fidentes possuíam escravaria. Metade deles l|.uvia, ainda, o grupo dos proprietários de terras minerais e agrícolas
quatro desenvolviam só a agrícultura; um, ape- tlos na comarca do Rio das Mortes: José Aires Gomes, verdadeiro
nas a mineração.' o potentado loca|; Francisco Antônio de OIiveira Lopes, cujo_s negócios
indivíduos formados pela Universidade de tinas; e José Resende Costa, o pai, com um fIIho homônímo também
CAPITULou Minas Gerais, 1789: inconñdências no pIuraI
Minas Gerais, 1789: inconñdências no pIural
41
40 CAPITULou
de Janeiro.7 Por ñm, vinham os contratantes de impostos, dois deles A MINERAÇÃO SEMPRE FOI
Abreu
não implicados na devassa da inconñdênciaz Domingos de UMA ATIVIDADE ECONOMICA
IMPORTANTE NA COMARCA
Vieira, que devia à Fazenda Real cerca de 200 mil contos de réis;João
DE VILA RICA, MAs os
DE MARIANA REVELAM
ativo; e Joaquim Silvério dos Re¡s, com débitos maiores que 220 mil
o CRESCIMENTO
contos.8 o DA PARTICIPAÇÃO DA
AGRICULTURA Ao LONGo
o As identidades e as redes de interesses forjadas pelos inconñden-
Do TEMPoz A ELA SE
tes entre si, bem como o modo como eles se apropriaram das tradi- DEDICAVA A MAIOR PARTE
cíñcas de Minas Geraís ao ñnal do sécu|o XV|I|, no quadro geral do MARIANA, INVENTAR105,
29 0Flc10, 1714-1822).
Reformismo Ilustrado. Os pesos respectivos da mineração e da agri-
então,em meio
/prodqudam
à crise da
ñância com um
tempwwgíravasa
para o su|,
num percepção
mmmditóríosz de
quv
dua|,
a coIônia possuía
um
que combinava termos
Iado, a constatação
zia demonstrações de relativa auto-suñciência: entre 1776 e 1788, a thuvza, certa auto-suñciênc¡a, e, por outro, a
29%, vendo o número de homens negros elevar-se em ritmo menor, pmlia explicar a pobreza e a miséria','“ de que ¡
'
do braço escravo;já a comarca de Vila Rica teve um decréscimo popu- ¡›ul›reza'."2 A prosperidade econômica, somada
de 1%.9 Malgrado sua pujança econômica,a região do Rio das porcepção das vexações impostas peIo siste-
.“¡
Iacional
Mortes encontrava-se sub-representada do ponto de vista político nm coIoniaI, favoreceu o surgímento de uma
próximo à virada do século XV||| para o X|X: localidades como Cam- mnsciência crítica. Signiñcativamente, dos 24 ,\›
panha do Rio Verde, Borda do_Campo e |greja Nova não possuíam o Iüus condenados pelo crime de inconñdência,
\
não tendo, portanto, câmaras.1° o mlorze eram da comarca mais rica, a do Rio
status de vi|a,
° política coloniaI deflnida por dona Maria distanciando-se da das Mortes; tais conjurados, ademais, eram os
A I,
da colônia e da metrópo|e, produziu no seio da elite mineira - cujos vos, como mostra João Pinto Furtado: concen-
CAPITULOII Minas Gerais, 1789: inconñdências no pluraI 43
42 (APITULOII Minas Gerais, 1789zinconñdências no plural
5. Mouo DE LAVAR
travam 88% da es-
os DIAMANTES
DEU-SE EM 1723, E EM
dos pelos juízes da 1727 DECLARou-5E A
Momopóuo DA C0R0A,
w
0 A crítica às me-
SENDo FORMADo o
tais e à situação
denunciá-Ió à rainhaJS
lm nníidentesJB Por ñm, orãéñóuuóubanimento
padre José da SiIva e Oliveira RoIim, notório
Cunha Menezes desagradou também
ulu
a
°
Andrade e a seu mnu.nbandista, pego como bode expiatório.19
Francisco de Paula Freire de
Em 1786 ordenou
- () onvolvimento de aIguns conjurados com
sogro, Álvares Maciel (o pai).
u umlrabandq aos olhos dos seus contempo-
a busca de documentos incriminadores na
uma ação contra o mlwom era evidente, a ponto de ser tomado
fazenda de Macie|, iniciando
mesmo para resolver o pagamento de débitos mmn o motivo que os Ievara à prisão. Os con-
contava com o apoio de Do- dwlv 1754, investigando os abusos ocorridos nas arrematações e o
mingos de Abreu Víeira, con- hm mso da junta da Fazenda em cobrar as dívidas (em boa parte de
tratante dos dízimos, que Innn Rodrigues de Macedo e de Joaquim SiIvério dos Reis); e a subs-
presentes a Gonzaga, o qua|, c nm.¡. Determinavam também a obrigação de garantir cem arrobas
por sua vez, fazia vista gros- m- nuro anuais à Fazenda ReaI e que, caso isso não acontecesse, o
sa ao embarque i|ega| de puvu deveria ceder todo o ouro extraído às casas de fundíção e, não
pedras para a Europa; já w .ningindo ainda a quot_a_,__seria obrigado a pagar a derrama, isto é,a
Cláudio Manuel da Costa mmplcmentar as cem arrobas por meio do pagamento per capíta,
provavelmente lavava os |u- wlnmivo a toda a população.“ Mello e Castro não aceitava que a pro-
6. TROPA DA CAPITANIA
°
O visconde de Barbacena, sucessor de mlm devido aos abusos; a rainha, no entanto, aconselhara-o a reco-
DE MINAs GERAIS
Menezes no governo da capitania, recebeu em nwmlar a Barbacena que avaliasse se o povo das Minas estava em
cououzmoo UM
CARREGAMENTO 1788 instfrgçggieãvaAarrtinho de Mçllo e Castro, mmligóes de suportar a derrama.n o
'
Àc u
.
As TRopAs PERMITIAM ministro de dona Marla l,que contmham medI- 0 Hsnrbacena chegou a Minas Gerais em julho de 1788, tendo Iogo
o
o ABASTECIMENTO E
/dñàs para aume_ntar a receita e amp_|_iarr_a
depen- mln n ado lamjrdasadvertênciasdelisbom da
TRANSPomE DE PESSOAs
E COMERCIANTES VIAJANTES, dência da economia mineira em re|ação a ulm wlaçào da derrama e da anulação dos contratos. A repercussão
A CAVALo ou EM MULAs,
Portugal, em conformidade com o Reformismo dwuls novidades não foi boa, trazendo pânico aos contratantes de
EM MINAs GERAIs.
rllustrado português e suas inflexões no perío- Impmlog aos magistrados, aos clérigos, aos envolvidos com o contra-
A PRIMEIRA TROPA DATA
DE 1731.
do mariano, trazendo prejuízos especialmente Immlo e, ainda, às câmaras e às gentes no geral. Em Mariana, divulga-
aos interesses dos inconñdentes. Envolviam a mm w uns pasquins que diziam "Tudo o que for homem do reino há
correção dos abusos do cIero, regu|amentan- ulv mnrrer" e”só ñcarão algum veIho e clérigos'.'23 Em São José del Rei,
do-se a cobrança extorsiva dos direitos ec|e- nu dm 8 de outubro de 1788, várias pessoas se reuniram no batizado
siásticos; o exame das práticas dos magistrados alv qlnia ñlhos de AIvarenga Peixoto. Na ocasião, muitos dos presentes
(vio|ências nas correições e muItip|icação dos mnnllvstaram sua insatisfação. Luís Vaz de Toledo Piza brindou à saúde
processos); a avaliação da inoperância dos clv "*›ilvério dos Reis, dizendo-lhe que 'cedo se havia de ver Iivre da
intendentes em relação aos contrabandistas; a lnmula Real”.'24 AIvarenga Peixoto añrmou que a capitania”era um for-
di- '“o
ñxação de novos valores para os e|evados mltlúvvl império',' tendo Carlos Correia de Toledo dito que sería
cimento dos produtos metropolitanos nas Im|lmm7 sua esposa,“a Rainha'.'25'0 batizado, ao que parece, deu iní-
para desencadear a re- d<›" ~ e, noutra, com José Aires Gomes.28 Os conjurados, no entanto,
sião em que os incon- Imia ouvido Tiradentes falar pela primeira vez no assunto, em agosto
_
ñdentes manifestaram du I788, não Ihe dando muito crédito.3°Tiradentes,a|ém de ultrapassar
aqúe|a consciência dua|: .¡ lronteira da capitania de Minas, Ievou a idéia de sedição do âmbito
aÊapitania Seria for- pmpriamente doméstico para Iocais públicos, como os caminhos, e,
midavelmente ríca e a .nn(la, para espaços que recebiam maior aquxo de pessoas, como a
“"
dominrafçãp Vcolornial se- mmlagem de João da Costa, na comarca do Rio da Mortes, e as casas
7. CASA Dos CONTos gregaria pobrêza ou,ao menos,na_que|a conjun- clv meretrizes,em Vi|a Rica.31 0 alferes, por ñm, na medida em que tinha
A ATUAL CASA Dos
ameaçaria os cabedais dos que haviam pm objetivo conquistar apoio miIitar para a rebelião,
tura, manteve vários
CONT05, QUE ABRIW on
REPARTIÇOES Do ._çgr¡\quecido, Iicita ourívlfiçi airmente. tlmlogos com seus colegas de farda.32 o
AÀ ydÀeWIErlalBÉísco
MINISTERIO DA FAZENDA, 0 gasá de Paula Freire de
FOI RESIDENCIA Do HOMEM
INCONFIDENCIA. entre eles o padre OIiveira Rolim,Tiradentes, o II.'m foi a decretação da derrama, notícia que, acreditavam, vexaria os
padre Correia de Toledo, o dr. ÁIvares Maciel e puvos - tal como sucedera quando a Coroa inglesa tentou instituir
Gonzaga - emprestaram Iivros, debatendo "(¡mndes tributos” nas suas treze colônias da América do Norte - e
.p'5
N sobre o seu conteúdo, formularam estratégias dmia oportunidade para príncipiar a rebelíãa Aos oIhos deIes, o
para a rebelião e deñniram as Iinhas da nova ~.m vsso da rebelião seria mais certo se Minas Gerais se unisse às capi-
M
Y
Nb Outro centro ativo da conspiração foi a res¡- |umibi|idade de obter ajuda de cinco ou mais negociantes do Rio de
dência de João Rodrigues de Macedo,atua| Casa l.nwiro. Alimentavam, ainda, a esperança de apoio externo, da França
dos Contos,também em Vi|a Rica, onde se hos- puincipalmente, embora falassem em "nações estrangeiras" em abs-
pedava o cônego Luís Vieira da Silva, vindo de II.II(›, estimuladas em apoiá-Ios pelo interesse em comercíalízar com
Mariana,e onde Alvarenga Peixoto”estava sem- Minas Gerais.33
pre todo o dia e noite”jogando cartas, tendo Para garantir o sucesso da Iuta, os conjurados pensaram no abaste-
numa dessas ocasiões dialogado sobre o Ievan- clmento de póIvora e ferro, tendo sido atribuído ao dr. José Álvares
te com Tiradentes -”um oñcial feio, e espanta- M.¡('ie| o papel de arrumar póIvora, além de desenvolver algumas
CAPITULOII Minas Gerais, 1789: inconñdências no pIuraI 49
48 CAPITULo u Minas Gerais, 1789: inconñdências no plural
8. PANORAMA
manufaturas.34 Discutiram também a arregi- mm a metrópole. Os homens da comarca de 9, DIAMANTINA,
EM MEADos Do
DA CIDADE DE SAo
forças militares, ñcando AIva- Vila Rica, no entanto, posícionaram-se contra a
PAULo, vnsro no Rlo mentação dé sÉCULo XlX
m
TERRA DE omGEM Do
ggvbrancosí sen- lavam poder”fazer algumas despesas, e pagar a
PADRE CARLos CORRHA DE \ie_negros ser ñwaior do que 9
TOLEDQ lnegros,_”pa›rva conseguirem a lropa que fosse necessária'.'38
doíõégííêíqúé ós
contrário” da AIguns conjurados defenderam a idéía de
|Ridáde7 tomassem o ”partido
A|varenga que, no dia da eclosão do |evante, o aIferes
sedição. Para resolver o impasse,
cionaram-se a favor da a|forria dos mulatos e era quem nos governava; de hoje em diante
carecia de governadores'.'4°
V
pois”e|as pretend[er]iam a |iberdade do negócio na Amé- quais do bom governo. As ímagens do bom governo e da tirania
que teriam,
Manuel da Costa, o cônego Euís Vieira da mnstituídas peIo poeta de ViIa Rica mostram sua ñliação às teorias
rica,e seus portos'.'42 Cláudio
escrito as |eis da nova ordem, mrporativas de poder da Segunda Escolástícaz o governante não
Si|va e Tomás Antônio Gonzaga teriam
de qua|- pode tudo; deve respeitar as as diferenças de
estabelecendo que todo plebeu poderia vestir cetins ou rouba
Ieis, direito e as hierar-
t¡r-se apenas com as”fazendas próprias do País'.' Determinaram,além lnil›utos; necessíta procurar a felicidade do reino, repartir com justiça
que os dízimos ñca~ pnümios e castígos.45 lnversamente, é tirania o governo que afronta
disso, que a extração dos diamantes seria |ivre,
riam com os vigários - ”com condição de sustentarem uns tantos mus princípios, sendo Fanfarrão um exemplo perfeito de tiranoz fun-
mestres, hospita¡s, e outros estabelecimentos - que pios” e haveria r|.u se-ia no temor; não se guiaria peIa Ieitura de”doutos |ivros”; não
"na primeira ação" militar. puniria os insultos de seus soldados; só cuidaria das milícias; vioIaria
prêmios para os que mais se distinguissem
os socorresse durante a guerra seria conce~
.r. Ieis, sob as mais variadas formas; cobraria os impostos sem consi-
À nação que primeiro
dida ”ma¡s vantagem nos seus
portos'.'43 Em termos políticos, estabe- ¡l«-mr a capacidade de pagamento dos governados, bem como as
mudaria para São João del Rei, por ser a região alvsigualdades entre eIes; desconsideraria as formas diferenciadas de
|eceu-se que a capital
uma universidade”como em Coimbra'.'44 Embora nmlanças de gentios reaIizadas anteríormente pelos europeus na
Ia Rica seria criada
político a ser adotado: AIvarenga Peixoto queria um que deveriam, sob o prisma escolástico, reger a ação dos sobera~
quanto ao regíme
52 CAPITULou Minas Gerais, 1789z inconñdências no plural CAPITULOII Minas Gerais, 1789: inconñdêncías no pIuraI 53
Nos
nos - ao seguir a máxima de ñngir zeIo peIa ma.49 Em resumo, nas Cartas chilenas, Gonzaga VILA RICA, CUJo
INIcuos
ADENSAMENTO URBANO
Do sECULo XIx
religião.47 AIgumas idéias de Gonzaga sobre o mostra-se ñliado às teorías corporativas de
ERA VISIVELMENTE MENOR
NAs CARrAs CHILENA3, bom governo, é importante saIientar, encontra- poder, aos seus ideais de bom governo, irma- Do QUE o OBSERVADO
PALACIo Dos prévio defepsorz o padre Antônio Vieira, tam- Antônio Vieira;ao mesmo tempo,aplica as teo- DE SÃo Jvo DEL REI
GOVERNADORES (A DIREITA
/\N _
-~..__._\,,_,›__ _
E SEDIARIA UMA
bem ele_ InfluenCIado pela Segunda Escolásticafm ° rias corporativas à situação colonial e é recep-
NA AQUARELA) PARA seus UNIVERSIDADE, Nos MOLDES
Encomnos ssxum
g Nas Cartas chilehàà Gónzaga classiñca co- tivo à crítica iIustrada ao despotismo, sem, DE COIMBRA.
mo tirânica a matança do gentio, um correla- porém, abraçar o princípio que consagra aos
to da colonização. Essa classiñcação e a caracte- povos o díreito de resistir à tiran¡a.5° 0
poderiam ser indícios de que o ouvidor de com seu apoio ao combate à tirania, marcada-
Víla Rica endossaria o direito de resistência mente no que tangia às vexações tributárias,
dido pelos neo-escolástícos e por vários pen- América Portuguesa, em particular das Minas
sadores da Ilustração, como o abade Rayna|. Gerais, palco de motins na primeira_ metade do
Contudo, a posição de Gonzaga é ambígua: século XVII|, destacando-se, entre eles, o ocorri-
“
mollvnçhm o 0 ritual dessas rebeliões coloniais guardavam similitu- Segundo o padre
movimento cujo epicentro fora o próprio PortugaL
dcs com o que díziam os inconñdentes de Minas Gerais em 17892 a Carlos ToIedo, o abade Raynal ensinava como fazer a rebelião, seu Iivro
opressão ñscal como causa de descontentamento, a deposição das "trazia o modo de se fazerem os Ievantes'.'53 TaI modo consistiria em
autoridades metropolitanas nos Iocais de sedição, a referência a
cortar a ”cabeça do governador e fazendo uma faIa ao povo e repet¡-
apoios externos e os vivas à Iiberdade durante a revolta. Possuíam,
da por um sujeito erudito'.'54 Na parte da obra de Raynal sobre a inde-
porém, algumas díferençaÊaPrimeiramente, enquanto os inconfiden-
pendência da América |ng|esa não há nenhuma referência que Iem-
tes de Minas Gerais de 1788-1 789 falaram explicitamente em repúb|i- bre esse”cortando a cabeça do governadoñT Tal referência encontra-
ca e em ruptura dos Iaços com a mãe-pátri§,apenas a rebelião do ser- se na narrativa concernente à Restauração Portuguesa de 1640, em
tão do São Francisco chegou a questionar a soberania portuguesa,
trecho posteríor ao translado do sermão que o padre Antônio Vieira
não se veriñcando posição similar nos demais motinsf Em segundo
pronunciou quando os holandeses ameaçavam invadir a Bah¡a.Após
Iugar, na Inconñdência Mineira houve o envoIvimento ostensivo dos
elogiar esse movimento, pelo quaI os portugueses se Iibertaram do
letrados, algo não evidénciado nas sediçóes ocorridas antes.51 t jugo espanho|, Raynal conta que o mesmo trarnscorreu sem que cor-
o A novidade da inconñdência, porém, se esvai num ponto: na resse uma gota de sangue, com exceção de Miguel de Vasconcelos,
república sonhada para a virada do sécu|o, as instituições políticas
secretário de Estado,”instrumento da tirania'.'55
mestras seriam os denominados "par|amentos',' capitaneados por u Essa narrativa brevíssima feita por Raynal pouco Iembra ”o modo
um "parlamento” principa|, que não parecem ser senão as próprias
mas Iembram-no diretamente os relatos detalha-
se fazer o Ievante','
câmaras das viIas, instituições já existentes sob a dominação co- dos encontrados em outros I¡vros sobre a Restauração Portuguesa. Na
IoniaL A república dos inconfídentes míneiros, portanto, pouco
obra Hístóría de Portugal restaurado, do conde da Ericeira, d. Luís de
inovava em termos das estruturas de poder político na colônia; os Menezes,tio-avô de Luís da Cunha Menezes, a Restauração é cIassiñ-
inconñdentes mineiros de 1789, dessa forma, parecem surpreenden-
cada como um movimento peIo qual as gentes portuguesas - opri-
temente próximos daqueles que se revoltaram anteriormente na
midas por um governo tirânico que desrespeitava o pacto primeiro
capitanía e, de resto, na colônia, que também preservavam as estru- estabelecído por FiIipe |I, vexadas por excessos tributários - restituí-
turas de poder preexístentes. Perto da virada do século XVIII para o ram a coroa ao seu herdeiro Iegítimo, o duque de Bragança, el-rei
XIX, a Inconñdência Mineira trazia o cheiro dos veIhos motins. E em d. João IV.56 A morte de Miguel de Vasconcelos é apresentada como
1791, reprimida a conjuração, o visconde de Barbacena, percebendo
recurso para incitar o povo e como cástigo por seus serviços ao domí-
esses antigos odores, deu~lhes uma resposta, transformando Igreja nio espanho|; ela é cercada por gritos em defesa da Iiberdade e em
Nova na ViIa de Barbacena, que ganhava assim representação políti- aclamação a d.João IV;Vasconce|os é, ainda, Iançado à fúria da mu|t¡-
ca; anos mais tarde, a Coroa criou a Vila de Campanha, Iocal onde dão.57 Na Hístória genealógíca da Casa Real Portuguesa, de d. Antônio
AIvarenga Peixoto tinha terras.52 o Caetano de Souza (obra existente na biblioteca do cônego inconf1-
o A descrição do rituaI da sedição arquitetada peIos inconñdentes,
dente Luís Vieira da Silva), conta-se que d.Antôn¡oTe|o ferira d. Miguel
aIém de assemelhar-se' a esses velhos motins evocava um
coloniais, de Vasconcelos com um tiro e,”ainda vivo',' os restauradores o Iança-
ss CAPITULOII Minas Gerais, 1789: ínconñdências no plural
wnuwn Mínas Gerais, 1789: inconñdêncías no plural s7
lenha ñm'.'59 o
a Isso tudo está bastante próximo do”modo de se fazer os Ievante$”
NOVA FOI ELEVADo lV, morram os traidores',' em meio a ”um grande ~Mineira à Restauração Portuguesa de 1640 segreda uma verdade
A CONDIçÃo DE VILA
número de gente do povo','que furiosa e crue|- inquestionáveL os conjurados de Minas Gera¡s, identiñcando--se com
EM 1791, RECEBENDO
o NOME Do GOVERNADOR mente atacou o”corpo moribundo'.'58 a Iuta da metrópole contra o domínio engaíIToTrevelam o quañtãse
DE ENTÀQ o v15c0NDE DE
No Iivro Hístória geral de Portugal, de viam como portuguesesz nessa época, de fato, os colonos reconhe-
BARBACENA.
Nicolas de La Cléde, conta-se que os envolvidos ciam- se cóm>6_5au|istas, bàiàhos, mineiros, pérñainbucanog mas ”ser
na Restauração Portuguesa dívidiram-se em paulista, pernambucano ou baiense signiñcava ser português, ainda
dois grupos, ñcando um encarregado de pegar que s'e
tratasse de uma forma diferenciada de sê-\l_o_','›isto é, ser porty-
”Migue| de Vasconcelos para Iançá-Io
pelas gyês gg_América.6° Ao mesmo tempo, a citada ñliaçãódsúgerle qúé bs
janelas do Paçoíenquanto o outro devia ”apos- coníiírrádós dãç Minas Gerais de ñns do século XVIII poderiam ter
sar-se da Sala do Paço, e de todas as entradas, alvos distintos, em geral vinculados, mas eventualmente dissociados:
que havia para ela, para excitar, e animar o Iutavam contra a tirania e/ou contra a situação colonial, não se voItan-
Povo a dizer em voz aIta: Líberdade;viva o novo do contra os '0portugueses'.'61
Rei'.' Então Miguel de AImeida, tendo chegado ° O cônego Vieira da Silva era simpático à ínstalação de um império
a uma janela e falado ao povo sobre a recon- Iuso-brasileiro com sede na América, não rompendo a integridade dos
quista da ”Iiberdade',' sobre a entrega da coroa
domínios da dínastia de BragançãApaixonado peIa história e peIo seu
ao duque de Bragança,”Re¡, e Senhof Iegítimo',' ”país','fez conjecturas sobre o que tería ocorrido se d. João IV tivesse
sa CAPITULOII Minas Gerais, 1789: inconñdências no pluraI CAPITULOII Minas Gerais, 17892 inconñdências no pIuraI 59
PRIMEIRo BISPo
poema ”Invisíveis vapores',' endereçado à dona
13. Fnonnsvlao DE MARIANA, D. FRH
se instalado na América ou no futuro,a Coroa
se, Maria I, provavelmente da prisão, pe|o inconñ- MANUEL DA CRUL
DA oanA HIsromE
PHILosopmous
portuguesa tomasse semelhante decísãoz”se no dente Inácio José de Alvarenga Peixotoz64 o SEMINARIo DE NOSSA
mudar a Rainha a sua corte para a América'.'62 AIvarenga completa seu raciocínío fazen-
Portanto, além de fazer especulações retrospec- uma de perdão, no que
do,à soberana, súpIíca
tívas, o cônego realizava projeções para o futu- alguns intérpretes vêem uma alusão à inconñ-
ro, reveIando-se nesse sentido um verdadeiro e dência e, rñais ainda, um indicativo de que
. P .
Acertelro profeta.63 Suas palavras Iam ao encon- essa úItima não implícaria um intento separa-
tro, ademais, da proposta de transferência do tista, mas simplesmente a inserção do Brasil
soberano português para o Brasil aventada no num grande império |uso-brasi|eiro.65 Pode-
Reino anteriormente e que seria retomada anos se suspeitar que Alvarenga Peíxoto estivesse
depois, bem na passagem do século XVIII para querendo aliviar sua culpa como réu de incon-
60 CAPIIULon Minas Gerais, 1789: inconñdências no plural CAPITULOII MinasGeraís, 1789:inconf|dências no plural 61
°
ñdência; porém, em algum grau, comprova-se que a idéia de um Entre as peças do mosaico inconñdente, no entanto, havia contra-
império |uso~brasí|eiro, centrado na América e preservando a unida- dições.As próprias posições dcgngggglag §gggggmgmbjgijgg
de polítíca da nação portuguesa, ao menos circulava entre os íncon- tendo ele defendido o direitô dósunaturais da América constituírem
conjurados. Embora se possa suspeitar de que os ínconñdentes co- peu não podia ter nada com a América',' um ”país Iivre',' e consideran-
nhecessem as idéias miIenaristas,°7 é certo que despiram a tópica do do Tiradentes”homem anímoso e que, se houvesse muitos como eIe','
impérío de qualquer conteúdo relígioso, Iaicizando-a, ao mesmo o Brasil seria”uma república florente'72Vieira da SiIva,aIém disso,añr-
tempo que Ihe deram um caráter anticoloníalista. Essa orientação mou que”E|-Rei de Portugal nada gãéíáu nesta conquista',' ao paàso
expressa-se em falas de Tiradentes e do próprio Joaquim SiIvério dos que”os nacíonaisjá a tiraram dos holandeses,fazendo sua guerra sem
Reis. Segundo Tiradentes,”este país podía ser um Império; e que se EI-Reí contríbuir com dinheiro algum para e|a; depois disto, os france-
achasse quem o ajudasse, havia de pô-Io Iivre da sujeição da Europa, ses tomaram o Rio de Janeiro, que os habitadores da cidade Iha com-
encarecendo as suas produções, maiormente de ouro e diamantes'.'68 praram com o s'eu dinheiro'.'73 A partir da história da coIônia, portan-
Joaquim Silvérío dos Reis, por sua vez, disse ”que estes países pela to, Vieira da Silva questionou os direitos da Coroa portuguesa e
sua grandeza e extensão eram adequados para se fundar neles um defendeu a capacídade de |uta dos naturais da América,traçando um
império se não fossem sujeitos”;69 falara também que, em Minas, histórico que aIicerçava e Iegitimava um Ievante contra o domínio do
organizava-se um Ievante ”e que posto ele, dito Coronel, fosse de monarca Iusitano. Essa idéia de que nada se devía à Coroa, destaque-
Portugal, estava pronto a seguir, porquanto bem podía ser esta terra se, tinhavanteõedentes em Minaszfora defendida peIos sediciosos do
um lmpério pelas riquezas que tinha” (itá|icos meus).7° Não se tratava, sertão do São Francisco, em 1736.74 °
anticoloníalismo que opunha os membros da nação portuguesa, direitos régios e, ao mesmo tempo, revelam que, aos oIhos de alguns
mas que apresentava apenas a recusa à sujeíção da América pela dos inconñdentes, o anticoloníalismo podía romper a unidade políti-
uropa. Essa sutileza permite, enñm,juntar as peças do mosaico da ca da nação portuguesa dada pelo domínio da dínastia de Bragança.
inconñdênciaz tratava-se de uma Iuta contra a tirania, geralmente~ Para tanto,foi crucíal a concepção segundo a qua|, na América, havia
estendendo-se a idéia de tirania à dominação colonial,sem,contudo, um contraste entre riqueza e pobreza, o que se evidencía em es-
opor os portugueses dos dois Iados do AtIântico, e, ainda, deixando critos de AIvarenga Peixoto e em falas de Tiradentes. No ”Canto
entreaberta a preservação da unidade política da nação por meio d04 Genetlíaco',' AIvarenga Peíxoto sugere que a transposição da ”raça
estabelecimento de outros vínculos entre os ”países” da América e. portuguesa para a América estava criando uma grande civilização,
PortugaL Um víncqu explicitamente cogitado foi a instalação de um capaz de bastar-se a si mesma'.'75 O poeta recomenda às gentes das
“florente" império Iuso-brasileiro com sede na América, sob a égide Minas a recordação dos”males',' revolvendo o”horror das sepulturas”
da dinastia de Bragança." a - no que parece haver uma crítica ao morticínío provocado pela
u ummmu Mlnm (.mnl~, lluozlmonñdências no plural CAPÍIULOII Minas Geraís, 1789: inconñdências no pIuraI 63
V
Se o povo miserável779 o
À CONMÇÃO DE uDADE ainda, das próprias ”brenhas” (ísto porque a Europa, como esponja, Ihe estivesse chu-
é, de Minas à maior miséria,só
EMALZÊÍRPÂRÂIPMOEÍZ
Gerals).75 Exalta as ríquezas
das serras ”na apa- pando toda a substância, e os exmos. Generais de três em três anos
rência feias',' que traziam ”as ricas que chamavam que depois de
DIOCESEDE MINAsGERNS_
entranhas traziam uma quadrilha, a criados,
todas cheias" de ”prata, oiro e pedras comerem que deviam ser dos habitan-
precio- a honra, a fazenda, e os ofícios,
sas'.'77
Terra rica, terra de onde saíam a ”força tes, se iam rindo deles para Portugalím Em acréscimo, dizia que era
das potêncías majestosas” e o ”Ienho” preciso”Restaurar'.'
encon-
trado nos palácios; terra cuja ”riqueza”a ”todo
a Raynal associava, em sua Histoire philosophique etpolítique,a vexa-
o mundo assusta[va]',' Minas era habítada por ção dos impostos e o monopólio à pobreza do Brasi|, uma terra poten-
homens ”Pardos e pretos, tintos e tostados',' cialmente be|a;82 Tiradentes falava numa pobreza sendo engendrada
isto pelos ”escravos duros e
é, valente5',' os pela Europa e pela ação dos governadores e seus”criados','sua ”quadri-
quais eram acostumados aos ”penosos em que tiravam
traba- |ha'.' O padre Vieira, no sermão citado, falava tributos
lhos'.'78
0 Iouvor às riquezas da pátría e aos para rPuortugaÍ ó que dava 0 Brasil e em ministros-governadores que,
seus ”homens de vários acidentes”- desembarcavam aqui e que, como ”nuvens','
em que de três em três anos,
talvez se possam ver ecos da ”chupavam”a riqueza da colôn¡a, carreando-a para Lisboa e Madr¡.Os
crítica ilustrada
à escravidão - completa-se, num outro poe- ministros-nuvens sorveriam ”por oculto segredo da natureza grande
ma, com a idéia de miséría, exprimindo uma quantidade de água','indo chover, depois de"bem carregada[s]',' "a c¡n-
visão em que se assinala a dualidade pobreza- qüenta |éguas'.' Além disso, os ministros que vinham ”ao Brasil” e ”as
rIquezaz não faziam ”mais que chupan adquirir, ajuntar,
partes uItramarinas”
64 CAPíIULOII Minas Gerais, 17892 inconñdências no plural
CAPITULOII Minas Gerais, 1789: ínconñdências no plural 65
16. HABITANTES
ao cabo de três ou quatro anos, em vez de ferti- uma puramente VILA RICA FOI o CENTRo
que, na origem, era crítíca
DAs ARTICULAÇOES FEITAS
Iizarem a nossa terra com águra que era nossa',' administrativa. ° PELos INCONHDENTES
serztudo o que se tirar do BrasiL com o Brasil se peIos inconñdentes entre si e nos pedidos de
há de gastar'.'84 Tiradentes repetia os mesmos tradução de Tiradentes, ñca patente também a
elementos: falava em governadores, em perío- curiosidade pela América Inglesa.86 À curiosi-
do de três anos, em riqueza chupada... Falava, dade somava-se a simpatia pela causa: o cône-
ainda,em restaurar! Substituía apenas”nuvens" mostrava ”gosto” e ”comp|acên-
go Luís Vieira
por”esponja” (cujo formato, Iembra o de
aIiás, cia””quando praticava com outros, e Iiam a
uma nuvem); acrescentava ”quadri|ha” e "cria-
história do Ievante da América Inglesa”;87 e,
dos”aos governadores e, ainda, pensava numa segundo Vícente Vieira da Mota, havia nos
riqueza que seria natural se não houvesse a es- "ñ|hos da América taI gosto e complacência
poliação coloniaL As similítudes com o sermão em Ier a história da Iiberdade das Américas
66 CAPITULo II Minas Gerais, 17892 inconñdências no pIuraI CANTULOII Minas Gerais, 1789: inconñdências no pIuraI 67
Inglesas, que Ihe parecia que se eles tivessem outra tal ocasião, a
possibilídade de um Ievante contra o domínio metropolitano e a ins-
abraçaríam'.'88 Para esses Ieitores da história da América Inglesa, en- talação de uma ”repúbl¡ca',' sem precisar, contudo, a natureza dessa e
fim, essa servia para que interviessem na história da América Por- restringindo seus Iímites à própria capitanía, quando muito estenden-
tuguesa, ¡n5urg¡ndo-se contra a dominação coloníal e ínstaurando uma do-os ao Río de Janeiro e a São Pau|o.
República.
_
jlv
Juntando as fontes e os modelos díversos que inspiraram os
° O abade Rayna|, além da defesa do direito de rebelião dos povos, inconñdentes, sem entretanto suprimír de todo as contradições, o
añrmava que a América Portuguesa poderia ser uma das mais felizes cônego Vieira da SiIva formulou uma explicação para negar seu
colônias do gIobo se fossem executadas reformas que obedecessem envolvimento no Ievante de Mihas e refutar sua exeqüibilidade, ao
aos princípios da economia de“mercado.89 Dizia também que os mesmo te_mpo que elaborou uma teoria das revoluções, comparando
povos da América deviam cultuar a pátria; que a América era rica,
a inconñdência, algo vivido por e|e, à independência norte-america-
mas que a Europa a devastava. Ao mesmo tempo, enâinmqueo na e à Restauração Portuguesa de 1640. 0 cônego, dia nte do juíz da
problema dos impostos tinha estimulado osÊõÍÍeamericanos a se
devassa, analísou essas experiências individualmente e, depois, che~
rebelarem e que o apoio da França havia sido essencial para o suces- gou uma --
a idéia geral sobre a ocorrência das rebeliões os povos
so.9° Da associação feita por Raynal entre a independência da podiam rebelar-se por diferentes causas, sendo os impostos uma
América Inglesa e a questão tributáría, os inconñdentes concluíram deIas.Tudo isso para atingír a conclusão, necessária para provar sua
que,em Minas, a derrama surtiria os mesmos efeitos, despertando o inocênc¡a, de que sería impensável uma rebelíão em Mi nas, poís falta-
ódio nos povos e tornando-os aIiados da sedíção.9' Concluíram igua|- vam-Ihe generais, armas, alianças e soldados. Nas entrelinhas, porém,
mente que era importante conquistar o apoio das”potências estran- mostrou-se defensor do princípio iIustrado e escolástico que consa-
geiras',' como a França e os Estados Unidos.92 Por isso, o padre Toledo, grava o direito à rebelião e,ao mesmo tempo,explícítou o Iugar estra-
Freire de Andrade, Tiradentes, Alvarenga Peixoto e o padre Rolim tégico ocupado pela derrama na realização do Ievante.95
consideraram”que o Abade Raynal tínha sido um escritor de grandes ° Concebendo-se como membros da
nação portuguesa, perturba-
vístas'.'93 0
dos com as aIterações da política colonial metropolitana, que imp|i-
0 aIferes, assim como outros, exacerbava o raciocínio de Raynal cavam a perda de postos, de posições lucrativas e o empobrecimen-
sobre a riqueza da América Portuguesa, cruzando-o com a indepen- to; atentos às transformações que ocorriam em Minas Gerais, cuja
dência dos Estados Unidos e, ainda, depreendendo desse confronto economía dava sinais de diversiñcação, auto-suñciência e ríqueza;
melhores possibílídades para Minas Gerais,”pe|as maiores comodida- entusiasmados com o sucesso dos norte-americanos; marcados pela
des” que ter¡a.94 Assim, se a obra de Raynal trouxe subsídios para os história da Restauração Portuguesa; herdeiros quase sem saber dos
inconñdentes na Iuta contra o domínio colonia|, alguns deles foram motins coloniais, os inconñdentes planejaram realizar uma rebelião
Ieitores inventivos a ponto de buscarem as especiñcidades de Minas em Minas Gera¡s. |nf1uenciaram-se claramente pela obra do abade
e de apropriarem-se das idéias desse Iivro usando-as para criticar e Raynal e, ainda, reínterpretaram, se não os escritos dos teólogos neo-
intervir na realidade histórica ímediata em que vivíam, postulando a escolásticos, ao menos os do padre Antônio Vieira, de dÇLuís de
53 wlrutou Minas Gerais, 1789z inconñdências no plural
Iocais preexistentes. 0
1. Vlsm no RIo
A chamada Inconñdência do Rio de Janeiro
DE JANEIRQ 1817
de 1794 não foi, de fato, uma inconñdência, CAWLDO V,CE.RE.N0 Do