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governos militares
Nilson Borges
Professor de ciência política do Centro de Ciências Jurídicas da UFSC.
Professor visitante do Departamento de Ciência Política da UFMG.
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O BRASIL REPUBLICANO
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não se aplica até o estado de guerra clássica. É dentro desse contexto, por-
tanto, que surge a Doutrina de Segurança Nacional, cujos fundamentos fo-
ram elaborados nos gabinetes do National War College, em Washington, onde
oficiais de exércitos amigos são treinados.
A Escola Superior de Guerra, mais conhecida como ESG, foi criada em
1949, pelo Exército brasileiro, e se tornou o bastião do anticomunismo e a
defensora do livre comércio. Segundo Kenneth P. Serbin, a ESG formulou
uma nova Doutrina de Segurança Nacional, que refletia a experiência de
guerra total na Europa e o temor de ameaças à segurança da guerra fria. O
que a Doutrina queria, sob os moldes da Escola Superior de Guerra, "era
resgatar o desejo secular do Brasil de se tornar uma potência mundial e colo-
car as Forças Armadas como defensoras da civilização cristã ocidental contra
o comunismo" (Serbin, 2001, p. 87).
É com a criação da Escola Superior de Guerra que a Doutrina de Segu-
rança Nacional se inscreve na vida política brasileira. Os estudos que nela se
organizam e as propostas que daí resultam vão garantir a presença política
dos militares no interior do aparelho de Estado. Nessa direção a Escola assu-
me, por um bom tempo, um papel fundamental no processo político brasi-
leiro, através da criação e propagação da Doutrina, com os diversos cursos
que ali são realizados. Os cursos programados pela Escola, que de início eram
dirigidos somente a militares, atingem também segmentos civis, notadamente
profissionais liberais, empresários, magistrados, sindicalistas, professores
universitários e dirigentes de órgãos públicos.
Tendo por base a sede da Escola, no Rio, esses cursos propagam-se por
todo o país, onde cada Estado-membro se encarrega de implementar as filiais,
denominadas de Adesg, ou seja, Associação dos Diplomados da Escola Supe-
rior de Guerra. Com o objetivo de estudar os problemas brasileiros, os cur-
sos da Adesg, sempre sob o controle da Escola Superior de Guerra, são
dirigidos para um público-alvo, em que o binômio desenvolvimento e segu-
rança é a única resposta para a solução dos problemas do país.
Vinculando segurança externa a segurança interna, os formuladores da
Doutrina no Brasil criam no imaginário dos estagiários (é como são chama-
dos, ainda hoje, os alunos da Escola) a concepção de que o inimigo interno
está infiltrado em toda a sociedade brasileira, agindo organizadamente para
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que a Escola Superior de Guerra chama de poder nacional nos campos polí-
tico, econômico, social e militar.
Em 9 de abril, logo após o golpe de 1964, os novos donos do poder
publicaram o Ato Institucional nº 1, cujo preâmbulo deixava claro as inten-
ções do regime que estava sendo implantado. Deixava claro que a revolução
não buscaria no Parlamento a sua legitimação, como também limitava dras-
ticamente seus poderes. O controle do Judiciário e a suspensão dos direitos
fundamentais foram uma forma de abrir caminho para a implantação da
Doutrina de Segurança Nacional. O referido Ato já trazia uma lista daqueles
que perderiam seus mandatos eleitorais e teriam cassados seus direitos polí-
ticos. O general Castelo Branco, primeiro presidente pós-64, assumiu a pre-
sidência da República sob novas bases jurídicas. A Operação Limpeza, como
ficaram conhecidas as primeiras medidas provocadas pelo AI-1, promoveu
expurgos nas burocracias civil e militar e valeu-se de Inquéritos Policiais
Militares (IPMs) para neutralizar qualquer cidadão que pretendesse opor-se
organizadamente a políticas em aplicação (Alves, 1984, p. 78). Tais medidas,
tanto no âmbito político quanto no econômico, destinavam-se a prover o
presidente Castelo das bases iniciais para o processo de segurança e desen-
volvimento pretendido pela Doutrina.
A publicação do Ato Institucional tomou de surpresa as lideranças civis
que haviam conspirado contra o governo de Goulart, pois as Forças Arma-
das não só tomaram a direção do Estado como, também, contavam com um
projeto de governo. A criação do Serviço Nacional de Informações, que deu
início à rede do aparato repressivo do Estado, a desarticulação do Congres-
so Nacional e, mais tarde, o desaparecimento do sistema pluripartidário, com
a publicação do Ato Institucional nº 2, permitiram ao general-presidente
Castelo Branco instaurar o Estado de Segurança Nacional.
A Carta de 1967, outorgada por Castelo, constitucionaliza a Doutrina
de Segurança Nacional, à medida que incorpora no seu texto os principais
pontos dos atos institucionais anteriores e dos atos complementares.
Em 13 de dezembro de 1968, o general-presidente Costa e Silva baixa o
Ato Institucional nº 5, resultado de uma crise entre a Câmara dos Deputados
e o próprio governo, cujas medidas consolidam a Doutrina de Segurança
Nacional e transformam o Brasil num Estado de segurança interna absoluta.
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