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Português: Linguagens — William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães

Tema:
Amor
Estudo do texto

SONETO DA FIDELIDADE
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento


E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure


Quem sabe a morte, angústia de quem vive
quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):


Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
(Vinícius de Morais. Poesia completa e prosa. Rio
de Janeiro: Aguilar, 1974. p. 269.)

Professor: Se possível, promova em classe a audição do poema decla-


mado pelo próprio Vinícius. Uma das mais conhecidas gravações desse
poema encontra-se na faixa “Apelo”, do disco Toquinho/Vinícius e ami-
gos (RGE, 1974), cantada por ele e por Maria Creusa.

canto: poesia.
louvor: elogio, exaltação.
pranto: choro.
pesar: tristeza, desgosto.
vão: insignificante, banal.
zelo: dedicação, cuidado.
Procure no dicionário outras palavras que
você desconheça.

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PL-Miolo Interpretação 8ª-Aluno 290 8/8/06, 3:31 PM


■ COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO
1. A 1ª estrofe pode apresentar algumas dificuldades de compreensão. A fim de compreendê-lá me-
lhor, faça o que é pedido.
a) Ponha na ordem direta este trecho: “De tudo ao meu amor serei atento / antes”. Antes de tudo, serei atento
ao meu amor.
b) Explique o sentido da expressão ser atento (1º verso). Zelar, cuidar.
c) Indique a que se refere a expressão maior encanto (3º verso)? A outras pessoas interessantes, atraentes.
d) Responda: Para o eu lírico, a fidelidade supõe exclusividade ou não? Sim; de acordo com a 1ª estrofe, principalmente,
o eu lírico sugere uma dedicação exclusiva.
2. Na 2ª estrofe, o eu lírico afirma que vai dedicar-se à pessoa amada nos mais diferentes momentos da vida.
a) Quais são esses momentos? Os momentos tristes, alegres e comuns da vida.
b) Segundo o texto, o amor e a fidelidade terão de passar por situações contraditórias, como sugere
o verso “Ao seu pesar ou seu contentamento”. Que figura de linguagem se verifica nessa oposição
de situações? A antítese.

3. O poema pode ser visto como organizado em duas partes: a primeira, formada pelas duas
quadras (estrofes de quatro versos); a segunda, pelos dois tercetos (estrofes de três versos).
Observe as formas verbais presentes nessas partes:

1ª parte: “serei”, “quero viver”, “hei de espalhar”


2ª parte: “procure”, “possa”, “seja”, “dure” As da 1ª parte estão no modo
indicativo; as da segunda, no
c) Na 2ª, devido ao uso de formas verbais do modo subjuntivo. modo subjuntivo.
a) Em que modo estão as formas verbais de cada uma das partes?
b) As formas verbais das duas partes expressam fatos que ainda virão a ocorrer. Em qual delas,
porém, há a certeza de que esses fatos ocorrerão? Na 1ª, em razão do uso de formas verbais do modo indicativo.
c) Em qual das partes as formas verbais dizem respeito a um plano hipotético, imaginário, possível?
d) Que expressão do texto confirma sua resposta anterior? “Quem sabe”, que sugere possibilidade, dúvida, hipótese.
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4. Na 3ª estrofe, dois versos apresentam paralelismo sintático, isto é, construção sintática semelhan-
te. Veja:

“Quem sabe a morte, angústia de quem vive


quem sabe a solidão, fim de quem ama” O “PRA SEMPRE”
SEMPRE ACABA?
Observe, agora, uma esquematização desses versos:
O tema do amor eterno
morte = angústia de quem vive também foi abordado na mú-
sica popular. A visão pessimis-

solidão = fim de quem ama b) Repostas pessoais. Sugestão: Quem vive ta de Renato Russo sobre ele é
teme a morte. A solidão é o fim de quem demonstrada nestes versos:
ama, pois a vida só faz sentido quando se
São apostos, respectivamente, de morte e solidão. ama.
Se lembra quando a gente
a) Qual é a função sintática das palavras angústia e fim? chegou um dia a acreditar
b) Interprete esses dois versos: Por que, de acordo com o texto, a que tudo era pra sempre
morte é a angústia de quem vive, e a solidão é o fim de quem ama? sem saber que o pra sempre
c) Observe, na vertical, as relações do esquema. Levando-se em sempre acaba
conta as idéias gerais do texto, por que se pode dizer que mor- (Legião Urbana)

te está para solidão, assim como angústia está para fim?


Porque esses elementos se correspondem: morte e solidão correspondem ao fim do amor, assim como
angústia e fim correspondem ao sofrimento de quem ama.

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5. No plano hipotético, o eu lírico diz que “mais tar-
de”, quando estiver à beira da morte ou só, poderá ANTÍTESE ⴛ PARADOXO
dizer algo a si próprio sobre o amor. Observe que,
Qual é a diferença? A antítese aproxi-
no 1º verso da 4ª estrofe, o autor coloca entre pa- ma, ao longo do texto, idéias opostas, mas
rênteses a oração adjetiva que tive. sem criar entre elas uma unidade, como
a) Se não houvesse essa oração acompanhando a pa- no caso de riso e pranto (2ª estrofe), uma
lavra amor, o eu lírico estaria se referindo ao amor vez que em determinado momento se ri,
em geral (enquanto idéia) ou às suas experiências em outro se chora. Já o paradoxo expres-
amorosas particulares? Ao amor do ponto de vista filosófico, ao sa a convivência dos opostos, que formam
amor enquanto idéia.
uma unidade, como nestes versos de Ca-
b) E se essa oração não estivesse entre parênte-
mões, musicados pelo grupo Legião Ur-
ses, a que tipo de amor o eu lírico estaria se bana:
referindo? Às suas experiências pessoais no terreno amoroso.
c) Dê uma interpretação coerente: A que tipo de [Amor] é ferida que dói e não se sente;
é um contentamento descontente
amor se refere o eu lírico, considerando-se a for- é dor que desatina sem doer.
ma como está escrito o verso?
Resposta pessoal. Sugestão: O eu lírico parece querer fundir as duas idéias, ou
seja, falar do amor em geral partindo de suas experiências pessoais.
6. Você já aprendeu que metáfora é a substituição de um termo por outro

Image Bank/Getty Images


com base em uma comparação implícita, como ocorre neste verso de Ca-
mões: “Amor é fogo que arde sem se ver”.
No penúltimo verso do poema, o amor é conceituado por meio de uma
metáfora.
a) Identifique-a. O amor é chama.
b) Explique o sentido dela no contexto do poema.
O amor é quente, ilumina, pode queimar, mas apaga, termina.

7. O autor encerra o texto empregando um paradoxo, figura de linguagem


que consiste na convivência de dois elementos opostos, que à primeira
vista se excluem.

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“infinito enquanto dure” (o infi-
a) Identifique o paradoxo existente na última estrofe. nito pressupõe ausência de limites)
b) Explique o sentido dele no contexto do poema. A palavra infinito não significa sem limite temporal, pois o autor pressupõe o fim do
amor. O eu lírico sugere o infinito do ponto de vista da intensidade, da qualidade do amor.

8. O poema se intitula “Soneto da fidelidade”. Qual ou quais dos itens seguintes traduzem melhor o
conceito de fidelidade e de amor no texto?
X a) Fidelidade é entrega total à pessoa amada e renúncia a outras possibilidades amorosas.
b) Fidelidade é uma exclusividade amorosa que deve durar para sempre.
X c) O amor não é eterno, mas, enquanto dura, deve-se ser fiel a ele de forma intensa e qualitativa-
mente infinita.
d) Só há fidelidade no amor quando ele é infinitamente duradouro, embora ele possa um dia acabar.

■ A LINGUAGEM DO TEXTO
1. Na 1ª estrofe, o eu lírico faz uma jura de fidelidade. Para expressar sua dedicação a esse amor,
emprega uma figura de linguagem, o polissíndeto, que consiste na repetição de uma conjun-
ção.
a) Identifique o verso em que foi empregado o polissíndeto. 2º verso da 1ª estrofe
b) Que efeito de sentido o polissíndeto provoca no texto? Enfatiza a intensidade com que o eu lírico vai cuidar desse amor.

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2. O “Soneto da fidelidade” é um dos mais populares poemas de nossa literatura. Uma das razões desse
sucesso é a riqueza de imagens e de sons que ele apresenta. Além da metáfora, da antítese, do
paradoxo e do polissíndeto, o autor emprega outras figuras de linguagem. Por exemplo, nos versos
da 1ª estrofe, há uma constante repetição do fonema /t/: tudo, atento, Antes, tanto, encanto, encan-
te, pensamento. Esse recurso é chamado de aliteração.
Indique outras situações do texto em que esse mesmo recurso tenha sido empregado.
Entre outras: do fonema /s/: serei, antes, sempre, fac e, se, pensamento; do fonema /v/: v iv ê-lo, v ão, louvor; do fonema /R/: r ir, r iso, derr amar.

3. No verso “E rir meu riso e derramar meu pranto”, a expressão rir meu riso constitui outra figura de
linguagem. Além da aliteração, há o pleonasmo. Enfatiza a idéia do riso (em
todo o poema predomina uma idéia de intensidade: viver, amar,
a) Qual é ela e que efeito de sentido proporciona ao texto? rir, sofrer intensamente).
b) Que modificação deveria ser feita na expressão derramar meu pranto para que ela também
constituísse a mesma figura? Chorar meu pranto.

■ LEITURA EXPRESSIVA DO TEXTO


Nas duas opções de leitura indicadas a seguir, o poema
deve ser lido lentamente, de modo a valorizar cada pala-
vra e cada imagem. A leitura pode ser feita com um
fundo musical, se possível de violão, e ao vivo. Ex-
pressões como rir meu riso e derramar meu pranto
devem ser lidas de forma enfática, explorando a for-
ça das figuras de linguagem. A expressão infinito en-
quanto dure (último verso) deve ser lida de forma
pausada e enfática, destacando uma das idéias essen-
ciais do texto.
1ª opção: Um aluno lê ou declama o poema.
2ª opção: Dois ou quatro alunos se revezam na declama-
ção, de modo que cada um leia pelo menos uma estrofe.
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Trocando id
idéias
ias

1. O poema expressa um conceito de fidelidade amorosa.


a) Na sua opinião, é possível existir amor verdadeiro quando há infidelidade?
b) Como você lidaria com a infidelidade?

2. Você acha que o ciúme é natural e necessário no amor? O ciúme pode destruir um relacionamento
amoroso?

3. Tanto na opinião de Vinícius de Morais quanto na de Renato Russo, o amor é chama, o “pra sempre
sempre acaba”.
a) Você concorda com essa opinião ou defende um amor eterno?
b) O que você acha da idéia de Vinícius de que o amor deve ser infinito em intensidade?

4. Na sua opinião, qual é a fórmula de um relacionamento duradouro?

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