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6º CURSO – A CANÇÃO POPULAR E O ENSINO DE HISTÓRIA

Maracatu: da tradição à vanguarda


Texto 2

O Brasil foi constituído pelo entrechoque de muitas culturas, povos e civilizações. Em


função disso, no começo do séc. XX, refletindo sobre a identidade nacional brasileira, os
intelectuais ligados ao movimento modernista se perguntavam: se não somos europeus, apesar da
colonização portuguesa; se também não somos indígenas, apesar de estes serem os povos
originários desta terra; se não somos africanos, apesar de termos sido o país que mais recebeu
africanos trazidos como escravos; o que somos? O que é ser brasileiro? Mário de Andrade, um
destes intelectuais, e também musicólogo e folclorista, foi buscar nas manifestações da cultura
popular os elementos que seriam brasileiros, não mais europeus, indígenas ou africanos, apesar de
receberem influências destas matrizes. Dentre os seus trabalhos, Mário de Andrade organizou as
Missões de Pesquisas Folclóricas em várias regiões do Brasil, com o objetivo de coletar material
que era produzido por poetas, mestres de cultura popular e nas manifestações culturais, sobretudo
na música. Para ele, não foi a escultura, a pintura ou o teatro que melhor expressou a identidade
brasileira, mas a música.
Naquele momento, início do século XX, ainda não existia a expressão Musica Popular
Brasileira (MPB) e, portanto, Mário de Andrade considerava como música popular – ou folclórica -
aquela produzida nas áreas rurais do país, menos tocadas pelas influências modernizantes que o
Brasil vinha passando no começo do século. Estas músicas gravadas nas Missões de Pesquisa
Folclórica eram produzidas para posteriores estudos e não tinham como intenção a venda do
material como produto cultural na forma de discos, por exemplo. A propósito disso, na década de 20
ainda não havia a tecnologia de gravação de músicas em LPs, como viria a surgir algumas décadas
depois. De igual maneira, aqueles que produziam as músicas durante as manifestações culturais
também não estavam produzindo um produto vendável.
Os grupos de maracatu rural de Pernambuco surgiram de maneira organizada no começo do
século XX, no mesmo período em que Mário de Andrade organizava as Missões, sendo o mais
antigo ainda em atividade no Brasil, o Maracatu Cambinda Brasileira, fundado em 1918. Como nas
outras manifestações culturais de então, as canções não eram gravadas, mas eram feitas no
momento mesmo da celebração ou da apresentação pelos membros dos grupos e para os membros
do grupo, numa espécie de indistinção entre público e artista. No entanto, mais recentemente,
alguns mestres de maracatu rural têm gravado CDs com suas poesias e suas músicas.
Escute a seguir a primeira música (até o 8’52’’) do disco Poetas da Mata Norte, volume 5,
dos mestres João Paulo e Barachinha.

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