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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

NO RITMO DA BRASILIDADE
O papel do povo na criação de uma identidade nacional brasileira durante os
carnavais cariocas em meados do século XX

Projeto de Iniciação Científica


Anna Luisa Mascarenhas; nº USP: 13646933
Camile Rodrigues; nº USP: 13724096
Orientador: Profº Dr. José Geraldo Vinci de Moraes

São Paulo
2022
RESUMO

Há pelo menos um século, o carnaval é uma das maiores festividades do país, ocorrendo
todo início de ano. Essa festa que chegou aos trópicos com os colonizadores foi sendo moldada
por toda a diversidade que estava presente nos territórios luso americanos, deixando aos poucos
de ser o entrudo português e se tornando o carnaval brasileiro. Mesmo com muitas tentativas
da elite de tornar essa festividade algo exclusivo das aristocracias, as camadas populares
sempre comemoram o carnaval – quando a presença do povo como protagonistas desse feriado
se tornou impossível de ignorar, em meados da década de 1920 e durante toda a década de
1930, o Estado e as elites intelectuais se aproveitaram de tal para o estabelecimento do carnaval
como festa base de uma identidade nacional brasileira que se mantem até os dias atuais. A
partir de pesquisas em jornais cariocas da época, relatos presentes em livros e mídias
audiovisuais disponíveis, essa pesquisa tem como pretensão evidenciar o papel do povo na
criação de uma identidade nacional que tem como base o carnaval carioca – que desde o início
da festividade ganha destaque pelo seu tamanho e influência em outras partes do Brasil.

Palavras-chave: carnaval carioca; identidade nacional; anos 20; anos 30


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA ................................................................................ 4

1.1 Do entrudo português à folia brasileira ....................................................................... 4

1.2 O carnaval carioca no início do século XX .................................................................. 5

1.3 Fortuna crítica ................................................................................................................ 5

1.4 O carnaval carioca e a identidade nacional ................................................................. 9

2. OBJETIVOS....................................................................................................................... 10

3. METODOLOGIA E FONTES ......................................................................................... 10

4. DETALHAMENTO DAS ATIVIDADES........................................................................ 12

5. RESULTADOS PREVISTOS ........................................................................................... 12

6. CRONOGRAMA ............................................................................................................... 13

7. BIBLIOGRAFIA BÁSICA ............................................................................................... 14


4

1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA

1.1 Do entrudo português à folia brasileira


O carnaval brasileiro atrai anualmente milhares de turistas de todo o globo. É difícil
desassociar essa festividade do Brasil - mesmo que, esse feriado não tenha origem brasileira e
sim, lusitana. O entrudo chega aos territórios do atual Brasil junto com os colonizadores como
uma festa católica que era comemorada com os foliões arremessando farinha, limões de cheiro,
água etc. uns nos outros. Com a Proclamação da República em 1889, a festa que tinha fortes
ligações com Portugal foi deixada de lado e assim, começa a surgir o carnaval que é celebrado
até os dias de hoje1. Porém, não foi apenas o 15 de novembro que encerrou com a tradição do
entrudo, o fato de que, após a abolição da escravatura, os negros puderam ter maior participação
contribuiu também para que a elite branca não quisesse mais celebrar o feriado dessa maneira
que, a partir desse momento, era vista como bárbara. É nesse momento que surgem as
sociedades carnavalescas da elite – essas se propunham a ser uma comemoração “civilizada”
do carnaval. Agora, inspirados na alta sociedade veneziana, o carnaval era comemorado com
máscaras e fantasias de gala, desfiles ordenados e confetes. O povo que começava a ter maior
protagonismo oficial no entrudo se torna apenas um espectador dos desfiles. É evidente que,
mesmo com esse novo carnaval, a tradição lusitana permanecia viva, contudo, no início do
século XX, a repressão àqueles que ainda comemoravam o carnaval como o entrudo ficou
gradativamente maior, assim surgem os blocos populares, chamados popularmente de desfile
do Zé Pereira2 no início do século XX e mais a frente, na década de 1920 são denominados de
blocos, ranchos ou cordões3. Esses blocos imitavam as sociedades carnavalescas das elites, mas
adicionavam a eles diversos elementos da cultura africana como tambores e instrumentos de
percussão – é a partir desse momento que, novamente, o povo volta a protagonizar as festas de
carnaval, deixando o papel de espectadores da elite e inaugurando a festa que viria a ser vista
como um dos pilares da identidade nacional brasileira.

1
GERMANO, Iris. O Carnaval no Brasil: da origem europeia à festa nacional. Caravelle, Toulouse, v. 3, n. 73,
p. 133-144, dez.1999. Disponível em: https://shre.ink/1FT7. Acesso em: 19 nov. 2022.
2
Ibid.
3
BULCÃO, Renata. O carnaval carioca e a construção de uma identidade brasileira. Textos escolhidos de cultura
e artes populares, Rio de Janeiro, v.8, n.2, p. 149.
5

1.2 O carnaval carioca no início do século XX


O carnaval carioca não é uma farra anônima e sim, uma expressão do gênio da raça e, como tal, tem que
continuar espontâneo e livre para que continue a existir (...) Tirem-nos essas manifestações de sentimento e
ficaremos, talvez, completamente despersonalizados (...) Só o carnaval é privativamente nosso, irrevogavelmente
nosso. (NEVES, Berilo. Diário de Notícias, 4 de fevereiro de 1932)

Dentro dessa ampla temática que é a relação do carnaval com o estabelecimento de uma
brasilidade, esse projeto pretende estudar em específico sobre como essa relação ocorria nas
festas de carnaval da cidade do Rio de Janeiro durante as décadas de 1920 e 1930 - o local foi
escolhido pois era na capital do país que os rumos dos outros carnavais eram ditados, muitos
intelectuais do período inclusive, chamavam a capital de “metonímia do Brasil” 4. Foi em terras
cariocas que as bases do carnaval até os dias atuais, as escolas de samba, os desfiles, as
competições de sambas etc., surgem e são estabelecidas. A história do carnaval no Brasil se
confunde com a história do carnaval carioca, por isso, tendo em vista a importância do local
para o objeto de estudo dessa pesquisa, que o recorte espacial foi escolhido ali. O período por
sua vez foi priorizado pois foi nesse momento que as festas carnavalescas se consolidaram como
são até os dias atuais – são nas primeiras décadas do século XX que o carnaval começa a ser
institucionalizado com o surgimento do que viriam a ser as escolas de samba 5, que surgem de
fato os blocos, desfiles e escolas, por fim, é também nesse período que o Estado começa a
interferir diretamente no carnaval, não apenas no controle das festividades mas também no
conteúdo dos sambas e na relação dessa comemoração com a identidade nacional 6.

1.3 Fortuna crítica


O carnaval é um tema extremamente amplo. Existem estudos sobre essa festividade fora
das ciências humanas como por exemplo na área da saúde, do turismo, marketing etc. Dentro
das humanidades a bibliografia continua extensa, já que o carnaval pode ser estudado de
diversas maneiras com diversos recortes. Por isso, para a elaboração dessa revisão bibliográfica,
foram pesquisados estudos acerca da relação do carnaval com a criação de uma identidade
nacional brasileira. Com esse recorte, foram encontrados diversos artigos com enfoques
diferentes, como por exemplo, recortes mais regionais como a dissertação de Alessandra de

4
Ibid., p. 152.
5
OLIVEIRA, José Luiz de. Pequena História do Carnaval Carioca: De suas origens até os dias atuais. Encontros,
Rio de Janeiro, v. 18, n. 10, p. 61-85, 2012.
6
GERMANO, Iris. O Carnaval no Brasil: da origem europeia à festa nacional. Caravelle, Toulouse, v. 3, n. 73,
p. 133-144, dez.1999. Disponível em: https://shre.ink/1FT7. Acesso em: 19 nov. 2022.
6

Jesus Sodre Batista sobre o carnaval e identidade nacional no Amazonas na década de 1920 7.
Os trabalhos que mais se alinharam com a proposta dessa pesquisa terão suas ideias brevemente
dissertadas a seguir.
O primeiro artigo foi publicado na revista francesa Caravelle da Presses Universitaires
du Midi e se chama ‘O Carnaval no Brasil: da origem europeia à festa nacional’8. A autora
inicia seu texto com uma perspectiva histórica do carnaval desde o entrudo até a década de
1930. Para Germano, a história dessa festividade pode ser dividida em três momentos de
ressignificação: o primeiro, quando a população negra e pobre começa a participar do entrudo,
fazendo com que a elite abandone essa prática; o segundo, quando a aristocracia cria as
sociedades carnavalescas, tomando novamente o carnaval para si; por fim, u terceiro momento
seria quando, pela segunda vez, os populares se apropriam do carnaval da elite. Nessa parte do
artigo a autora compara a história do carnaval no Brasil com a história do futebol – ambos
elementos que vieram do exterior e pertenciam a elite, mas que, ao longo do tempo, se torna
um símbolo de brasilidade. Outro elemento da cultura nacional citado são a capoeira, o samba
e o candomblé, contudo, esses fizeram o movimento oposto, já que surgiram entre os
escravizados africanos, foram perseguidos pelo Estado, mas, a partir de um determinado
momento, foram vistas como elementos de expressão da cultura nacional.
Em um segundo momento do artigo, Germano disserta sobre como todas as sociedades
necessitam criar uma identidade nacional, um “sistema de ideias que ordena e dá sentido às
práticas, construindo um imaginário social”. Não sendo uma exceção, o Brasil começa a sua
busca após a independência de Portugal em 1822. Em seguida, a autora relaciona as duas partes
do artigo, ou seja, a história do carnaval e a criação de uma identidade nacional. Ela faz uma
breve passagem pela busca de identidade brasileira, citando a criação do IHGB, escritores
romancistas, Euclides da Cunha, teorias evolucionistas do século XIX e Gilberto Freyre –
evidenciando como na maior parte dessa busca, o Brasil foi visto como fruto da fusão de três
raças – brancos, negros e indígenas – e que a raça branca geralmente era vista com
superioridade. Ademais, havia também uma visão determinista que atravessa a busca por uma
brasilidade. É na década de 1930, principalmente com a ascensão de Vargas a presidência que,
para Germano, a invenção de uma identidade nacional se torna questão de Estado. Nesse
período também os intelectuais possuíram destaque para a modernização das visões que

7
BATISTA, Alessandra de Jesus Sodré. Vândalos na folia: carnaval e identidade nacional na Amazônia dos
anos 20. Tese (Mestrado em História) – Instituto de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade
Estadual de Campinas. 2001
8
GERMANO, Iris. O Carnaval no Brasil: da origem europeia à festa nacional. Caravelle, Toulouse, v. 3, n. 73,
p. 133-144, dez.1999. Disponível em: https://shre.ink/1FT7. Acesso em: 19 nov. 2022.
7

existiam sobre essa questão – Caio Prado Jr, Sérgio Buarque de Holanda e Gilberto Freyre são
destacados como principais autores que influenciaram na concepção de uma cultura brasileira
no período, deixando de lado a imagem negativa do mestiço. Além disso, para esses escritores
modernistas, o popular se torna nacional e é assim que o carnaval é apropriado como festa
nacional, uma festa que possuía as três culturas formadoras do Brasil.
Em conclusão, Germano afirma que o Estado autoritário de Vargas, a imprensa e os
intelectuais tiveram papel essencial no estabelecimento do carnaval como festa símbolo da
identidade brasileira.
O segundo artigo foi publicado pela revista de Estudos Ibero-americanos da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul e se chama ‘Festa popular e identidade nacional
nos dois lados do Atlântico durante o século XX’9. É o que possui menos afinidade com a
temática desse estudo, mas possui ideias interessantes para tal. O autor se propõe a analisar a
relação entre festas populares – as escolas de samba de Rio de Janeiro e as marchas populares
de Lisboa – e identidade nacional no século XX, dando enfoque nas ditaduras nacionalistas que
ocorriam no início desse século em ambos os países.
A questão que é mais relevante dentro do artigo para esse estudo é o argumento central
do autor que percorre todo o texto, a importância dos Estados nacionalistas para a transformação
dessas festas populares em festas tradicionais. Isso porque, para Melo, foram esses Estados que
institucionalizaram as celebrações e como consequência, há a disciplinação e padronização dos
eventos, além de reforço de componentes nacionais e nacionalistas. Além disso, o autor também
afirma que a elite acadêmica possui importância para tal fenômeno – nota-se que é uma
conclusão similar à conclusão de Germano.
Por fim, o terceiro e último artigo foi publicado na revista Textos escolhidos de cultura
e arte populares da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e se chama ‘O Carnaval carioca e
a construção de uma identidade brasileira’10. Nesse texto, a autora pretende utilizar do carnaval
carioca como um movimento da história intelectual, por isso, esse termo é definido logo no
início como “o campo historiográfico que se propõe a estudar as mentalidades, a produção e
circulação de ideias e conceitos”. Bulcão se propõe a entender as mudanças e tensões do

9
Melo, D. (2015). Festa popular e identidade nacional nos dois lados do Atlântico durante o século XX. Estudos
Ibero-Americanos, 41(1), 181–200. https://doi.org/10.15448/1980-864X.2015.1.20422
10
BULCÃO, Renata. O carnaval carioca e a construção de uma identidade brasileira. Textos escolhidos de
cultura e artes populares, Rio de Janeiro, v.8, n.2, p. 144-153.
8

carnaval carioca desde o século XIX até meados de 1930 a partir da compreensão da
mentalidade hegemônica do período.
O artigo é iniciado com uma contextualização de como estava a América latina durante
o século XIX. Nesse período, os países dessa região estavam construindo seus estados nacionais
inspirados nos países europeus e nos Estados Unidos, contudo, a questão da mestiçagem, para
os intelectuais, se tornava um empecilho para a criação de uma nação “civilizada” – é nesse
contexto que as teorias do darwinismo social aparecem como forma de solução para esse
obstáculo. Assim, projetos de eugenia vão sendo criados em todo o continente latino-americano,
e não apenas com o intuito do embranquecimento racial, mas cultural também, desse modo,
vários movimentos culturais se tornam objetos de disputa, e o carnaval é um deles. Aqui a
autora retoma a história do carnaval já citada em outros momentos desse projeto de pesquisa,
desde o entrudo até o surgimento dos bailes de carnaval da elite. Contudo, como esse ensaio
foca no carnaval carioca, seu recorte é direcionado ao Rio de Janeiro. Bulcão afirma que as
sociedades carnavalescas alcançaram o sucesso desde o início, se tornando um grande evento
que não demorou a ser copiado pelas camadas mais populares – movimento que não é exclusivo
do carnaval carioca, como foi visto no trabalho de Germano.
O trecho a seguir foi retirado de um manifesto feito pelas três principais sociedades da
elite carioca da época e evidencia bem o olhar da aristocracia para a retomada do carnaval ao
povo.
"Inaugurado o carnaval nesta corte, há longos anos (...) o seu aparecimento foi
acolhido com geral agrado pela população fluminense, que nesse folguedo viu, com
justeza e discernimento, uma prova de progresso e civilização, e que (...) baniu de seus
antigos hábitos, coomo nocivo, como anacrônico, como impróprio da sociedade
moderna e da civilização adiantada a que tem atingido, o bárbaro divertimento do
entrudo (...) Entretanto, de há dois anos para cá, o entrudo começou a ressurgir, e,
avançando gradativamente, ameaça este ano tomar proporções assustadoras. O seu
restabelecimento será o aniquilamento completo do carnaval, isto é, o atraso em vez
do progresso, a treva em lugar da luz, a morte substituindo a vida (...) Seria
incontestavelmente doloroso que esses dispendios, que estes sacrifícios, que estes
esforços fossem mal compreendidos e tivessem imerecido acolhimento, seno assim,
suplantado o carnaval que representa a civilização, pelo entrudo, que representa o
barbarismo!" (Jornal do Commercio, 25 de fevereiro de 1881)

Para Bulcão, esse manifesto explicita a clara relação entre o carnaval e a história
intelectual, já que o esforço em acabar com o entrudo popular e implementar um carnaval como
se fazia na Europa do período tinha como objetivo a invenção de uma identidade nacional
civilizada para o país latino. Contudo, na década de 1920, com a grande guerra e a ascensão do
nazifascismo, o continente europeu não era mais uma grande inspiração para os intelectuais,
por isso, a academia latina olha para sua realidade e tenta criar uma identidade que se encaixasse
9

com a população. Esse novo olhar dos intelectuais possui reflexo na imprensa também, que
agora via o carnaval popular como algo a ser incentivado. É assim que no Rio de Janeiro surgem
dois carnavais – o pequeno, popular e o grande, das elites. A autora ressalta que o não havia um
sentido pejorativo no ‘pequeno carnaval’, e sim uma visão positiva ligada a pureza e inocência.
A Era Vargas, como já foi dito pelos outros autores citados nesse capítulo, foi um
momento de grande incentivo de uma cultura nacional que representasse a mistura das raças e
reforçasse um sentimento nacionalista no país – assim, o carnaval era fomentado – os grupos
de samba, base do carnaval carioca, começam a surgir em 1910 e representavam a mistura das
três raças. Quando o carnaval foi oficializado pelo estado em 1932, os grupos de samba já
estavam famosos e desde então, as escolas de samba e o carnaval são elementos indissociáveis.
Bulcão conclui afirmando a importância de se estudar o carnaval carioca, já que suas
mudanças podem ser associadas com as alterações da intelectualidade brasileira e latino-
americana de modo geral.

Vale ressaltar que, os três artigos destacados nessa fortuna crítica, evidenciam como o
carnaval foi essencial para a criação da identidade nacional brasileira até os dias atuais, contudo,
os três autores realçam o papel do Estado enquanto o presente projeto objetiva realçar o papel
dos populares.

1.4 O carnaval carioca e a identidade nacional


É inegável, portanto, que o carnaval carioca é um elemento de suma importância para a
formação de uma identidade nacional brasileira. Também é evidente que o povo foi e ainda é
protagonista dessa festividade. Mesmo com as insistentes tentativas da elite em deixar essa
comemoração inacessível, a população sempre se apodera do carnaval – ademais, foram as
características atribuídas pelo povo que estabeleceu o carnaval como festa nacional que é hoje.
Contudo, de modo geral, quando a relação dessa festa com a criação de uma identidade nacional
brasileira é estudada, pouco se fala sobre o papel das classes populares para esse
estabelecimento. O foco é majoritário em como a elite intelectual fez do carnaval um objeto de
estudo dessa temática ou como o Estado interfere nesse feriado para atingir seus interesses – é
claro que, essas são variáveis fundamentais para compreender o tema aqui discorrido, mas faz-
se necessária também, uma análise dos verdadeiros protagonistas do carnaval carioca.
10

2. OBJETIVOS
O principal objetivo dessa pesquisa é identificar o papel do povo na criação de uma
identidade nacional a partir do carnaval carioca nas décadas de 1920 e 1930. Já os objetivos
específicos são:
● Descrever como as festividades carnavalescas foram formadas durante o período
estudado;
● Identificar e analisar o papel do carnaval carioca para a criação da identidade nacional
que é perpetuada até os dias atuais;
● Identificar a relação entre o Estado, a elite e o povo para o estabelecimento do carnaval
como festa nacional;

3. METODOLOGIA E FONTES
Para a conclusão dos objetivos, a principal fonte de pesquisa desse projeto será os
jornais da época. É a partir da análise do que era publicado no período estudado que será
possível visualizar a visão da elite, o papel do Estado e, principalmente, o papel das camadas
populares.
A busca nos periódicos será feita com o auxílio do site da Hemeroteca Nacional11.
Apenas pesquisando a palavra-chave ‘carnaval’ nos jornais do Rio de Janeiro no ano de 1920
até 1939, são encontradas cercas de 110 mil ocorrências, por isso, boa parte da pesquisa será o
estudo desses periódicos – é possível delimitar essas ocorrências com pesquisas mais
específicas já que nem sempre o termo ‘carnaval’ é utilizado estão falando sobre a festividade.
Além disso, principalmente nos primeiros anos da década de 1920, são anúncios de vendar de
artigos carnavalescos, ou seja, não serão foco dessa pesquisa, mas auxiliam na compreensão de
como o carnaval foi tomando protagonismo na realidade brasileira ao longo dos anos.
Outro fator importante que ajuda a refinar a pesquisa na Hemeroteca é a escolha dos
jornais. Não escolhemos um único canal de comunicação pois isso limitaria nossa visão e
estamos em busca de um panorama mais generalizado, por isso, selecionamos os jornais mais
populares da época. Para pesquisar a primeira década do recorte, os veículos escolhidos foram:
• Jornal do Brasil;
• Correio da Manhã;
• O Jornal;
• O Paiz12;

11
Disponível em: http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/. Acesso em 09 de dez. de 2022
12
Grafia da época.
11

• O Imparcial;
• A Noite;
• Gazeta de Notícias;
• O Fluminense.
Já para a pesquisa na década seguinte, alguns outros jornais foram adicionados a lista:
• Jornal do Commercio;
• Diário Carioca;
• Diário de Notícias;
• Gazeta de Notícias.
Fica evidente que a coleta de dados será numerosa. Por isso, com objetivo de melhor
organização e facilitação na hora da análise, serão feitas fichas catalográficas a partir das
informações coletadas nos periódicos. Segue abaixo um exemplo.
Ano de publicação: 1930 Nome do Jornal: Correio da Manhã

Resumo da matéria: Anúncio de um baile boêmio de carnaval com concurso de melhor


canção; Venda de entrada a preços populares.

Edição do jornal e página: 10743, pág 14.

Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=089842_04&pesq=%22Carnaval%22
&pasta=ano%20193&hf=memoria.bn.br&pagfis=56

Além dos jornais tradicionais, serão feitas pesquisas nos jornais das comunidades
carnavalescas e em relatos da época que estejam disponíveis em livros como ‘Ameno Resedá’,
já que as pessoas que participaram de tal período histórico já faleceram. Contudo, essas fontes
são mais escassas e, por isso, serão utilizadas menos do que os jornais.
Por fim, para observar a mudança do carnaval ao longo dos anos, também é possível
que sejam realizadas pesquisas a partir de filmagens do período disponíveis em plataformas
como o Youtube.
12

Para que fosse possível analisar e discorrer sobre as características do objeto de estudo,
escolhemos o método descritivo. No corpo da pesquisa, para iniciar essa análise, serão unidas
as informações sobre a sociedade brasileira, com enfoque nas camadas populares da região do
Rio de Janeiro, e a festa popular no contexto do recorte temporal, de forma a relacioná-las a fim
de entender como elas se completam ao longo desse tempo.
Esse estudo terá caráter qualitativo e irá focar em analisar conceitos e ideias através de
um viés etnográfico.

4. DETALHAMENTO DAS ATIVIDADES


Para conclusão dos objetivos e do desenvolvimento da pesquisa, as alunas deverão:
• Ler e fichar artigos sobre o tema;
• Ler e fichar a bibliografia;
• Consultar jornais da época nas hemerotecas e acervos digitais;
• Coletar relatos da época a partir de fontes primárias;
• Realizar relatórios parciais e finais;
• Realizar reuniões com o orientador;

5. RESULTADOS PREVISTOS
É esperado que essa pesquisa resulte:
• No aumento da dissertação sobre importância das massas para o carnaval;
• Na geração de um banco de dados resumido sobre o carnaval na mídia durante
o período estudado;
• Em um artigo para ser publicado em revistas acadêmicas;
• Apresentação do projeto em eventos como o Sincusp.
13

6. CRONOGRAMA

2023

Mês
Atividades
1° 2° 3° 4° 5° 6° 7° 8° 9° 10° 11° 12°

Leitura da bibliografia

Pesquisa em hemerotecas digitais

Leitura de relatos

Leitura de artigos acadêmicos

Elaboração do relatório parcial

Análise de resultados

Elaboração do relatório final

2024

Mês
Atividades
1° 2° 3° 4° 5° 6° 7° 8° 9° 10° 11° 12°

Leitura da bibliografia

Pesquisa em hemerotecas digitais

Leitura de relatos

Leitura de artigos acadêmicos

Elaboração do relatório parcial

Análise de resultados

Elaboração do relatório final


14

7. BIBLIOGRAFIA BÁSICA

ALBIN, Ricardo Cravo. Vai passar nessa avenida um samba popular. In: KAZ, Leonel e
LODDI, Nigge (org.). Meu Carnaval Brasil. Rio de Janeiro: Aprazível Edições, 2008.

BATISTA, Alessandra de Jesus Sodré. Vândalos na folia: carnaval e identidade nacional na


Amazônia dos anos 20. Tese (Mestrado em História) – Instituto de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da Universidade Estadual de Campinas. 2001

BULCÃO, Renata. O carnaval carioca e a construção de uma identidade brasileira. Textos


escolhidos de cultura e artes populares, Rio de Janeiro, v.8, n.2, p. 144-153.

COUTINHO, Eduardo Granja. Os cronistas de Momo: imprensa e carnaval na Primeira


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DEBRUN, Michel. A identidade nacional brasileira. Estudos avançados, v. 4, p. 39-49, 1990.

DELGADO, Anna Karenina Chaves. O carnaval como elemento identitário e atrativo turístico:
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DOS SANTOS, Fernando Burgos Pimentel. Carnaval e administração pública: o papel dos
governos locais na configuração das festas. Textos escolhidos de cultura e arte populares, v.
7, n. 2, 2010.

EFEGÊ, Jota. Ameno Resedá o rancho que foi escola. Rio de Janeiro: Letras e Artes, 1965.

FERREIRA, Felipe. O livro de ouro do carnaval brasileiro. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005.

FERREIRA, Felipe. Inventando carnavais: o surgimento do carnaval carioca no século


XIX e outras questões carnavalescas. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2005.

FERREIRA, Luiz Felipe. Rio de Janeiro, 1850-1930: A Cidade e seu Carnaval. Universidade
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GERMANO, Iris. O Carnaval no Brasil: da origem europeia à festa nacional. Caravelle,


Toulouse, v. 3, n. 73, p. 133-144, dez.1999. Disponível em: https://shre.ink/1FT7. Acesso em:
19 nov. 2022.

GUIMARÃES, Antonio Carlos M.; BARJA, Paulo Roxo. A reterritorialização da Marchinha:


O carnaval “caipira" de São Luís do Paraitinga. Revista Extraprensa, v. 9, n. 2, p. 128-141,
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LISTA: QUANDO A IDENTIDADE É CRIADA PARA O MERCADO. Textos Escolhidos
de Cultura e Arte Populares, v. 7, n. 2, 2010.

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15

NOGUEIRA, Rodrigo Muniz Ferreira. O carnaval como uma peça da construção identitária
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QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Carnaval brasileiro: o vivido e o mito. São Paulo:
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SILVA, Miranice Moreira da. Entre máscaras e serpentinas: por uma história dos festejos
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feirense (1900-1930). In: XXVIII SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA. Florianópolis,
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SOIHET, Rachel. Reflexões sobre o carnaval na historiografia: algumas abordagens. Academia


do samba. 1998.

SOIHET, Rachel. A subversão pelo riso: estudos sobre o carnaval carioca da Belle
Époque ao tempo de Vargas. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas, 1998.

THOMÉ, Claudia. Identidades construídas no ritmo do carnaval carioca. Rio de Janeiro.

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