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Tema:

Relações étnico-raciais: Educar para o (re) conhecimento e


valorização da diversidade e da diferença.

Carnaval foi pioneiro em dar visibilidade à


cultura negra, defende pesquisa
3 DE FEVEREIRO DE 2016 – Pesquisa e Inovação

ui para difundir temas sobre a cultura negra (Foto: Tata


Barreto/Riotur/Fotos Públicas/2015)
Professores e alunos da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
corroboram, por meio de pesquisas e análises, a transfiguração do Carnaval de
uma festa introduzida no Brasil por europeus em uma das mais fortes
manifestações da identidade cultural do país. A celebração foi uma das primeiras
a dar visibilidade à cultura afro-brasileira e atualmente se depara com o desafio
de manter a espontaneidade diante dos holofotes da mídia, do marketing e do
turismo.
O Programa de Pós-graduação em Comunicação da UFJF desenvolve
pesquisa, por meio do estudante do mestrado Rafael Rezende e da professora
Teresa Neves, sobre as formas com que a cultura negra influencia o carnaval
brasileiro e como ela é representada na festa ao longo dos últimos 50 anos. “O
estudo busca perceber se e como a representação da cultura negra é alterada
no decorrer do tempo, conforme o contexto histórico. A dissertação também se
propõe a verificar se os aspectos dionísicos e apolíneos, relacionados ao
inebriante, à espontaneidade, são mantidos em um espetáculo tão
midiaticamente produzido”, afirma Teresa. Na mitologia grega, o deus Dionísio é
associado à festa, ao vinho e ao bacanal, enquanto Apolo está vinculado ao Sol,
à inspiração artística, à beleza e à liderança de musas.
“O carnaval é um reflexo das muitas referências culturais dos povos que
chegaram ao Brasil. Elas se combinaram de variadas formas, a ponto de se
tornar um produto original”, avalia Rezende. As festividades carnavalescas,
importadas da Europa, contam com dança e sonoridade essencialmente negras
no seu estabelecimento no Brasil. “A maior contribuição do negro nesse
processo creio ter sido na elaboração de gêneros musicais apropriados para a
folia, como o samba, o samba-enredo, o maracatu, o afoxé e o axé”, pontua. “Os
negros ainda participaram ativamente das várias modalidades da festa, criando
os cordões, as escolas de samba e muitos blocos famosos, além da temática
negra ser comumente explorada nos enredos das escolas de samba.” A festa
ainda torna-se instrumento de resistência e celebração de ícones culturais que,
em demais veículos de representação, são negligenciados. “O carnaval
contribuiu decisivamente para levar ao conhecimento da população a existência
e a importância de nomes como Zumbi dos Palmares, Chico Rei e Chica da Silva,
na época em que estes personagens eram ignorados pela ‘história oficial’
apresentada nos livros escolares”, exemplifica Rezende.

O carnaval permanece relevante para a cultura negra, ao mantê-la viva e


ativa nas celebrações. “Nelas o negro é protagonista”, afirma Rezende. “O
carnaval é uma possibilidade de ele se enxergar positivamente, ter orgulho de
si, além de oferecer conhecimento e, com isso, desfazer preconceitos por meio
de enredos que o represente, principalmente no que se refere à religiosidade,
alvo constante de manifestação de intolerância. Então, pelas vias culturais, ele
pode encontrar o espaço que ainda lhe é negado.” “Ao juntar, em clima de
descontração pessoas das mais variadas idades, situações econômicas e
culturas, o carnaval se torna um espaço de intenso diálogo e negociador das
tensões sociais que perpassam as relações no dia-a-dia das cidades”, conclui o
mestrando.

Brasil como fonte

Professor do curso de Turismo da UFJF e doutor em sociologia pela


universidade francesa Paris Descartes, Marcelo do Carmo, dedica-se ao estudo
de efervescências culturais. “O carnaval já está arraigado na cultura brasileira.
Embora tenha sido trazido para cá por meio da colonização europeia, os
contornos brasileiros se reforçaram em nossas festas, principalmente no fim do
século 19 e durante o século 20. Atualmente são os outros países que bebem
da fonte do Brasil.”
Nos primórdios da sua história no Brasil, o carnaval foi uma herança
trazida pelos portugueses, manifestado principalmente na comemoração
chamada de “entrudo”, pela qual eram promovidas brincadeiras como jogar
farinha, tinta e água nas pessoas. A festa, no entanto, não passou imaculada
pela cultura brasileira e foi influenciada pelos folclores indígena e africano,
incorporado pelos escravos. A variedade da festividade é observada até hoje em
várias regiões do país. “Embora já observemos traços midiáticos no carnaval,
que também se promove como oportunidade de marketing e turismo, não tem
como desvincular as representações culturais da festa. E ela não deixa de refletir
a cultura do povo”, atesta o pesquisador. “Observei isso principalmente durante
período que passei acompanhando ‘O homem da meia-noite’, na cidade de
Olinda”, relembra Carmo, referindo-se ao bloco tradicional nordestino, baseado
em lenda folclórica da região. “O carnaval é democrático e vai carregar sempre
a identidade cultural brasileira.”

Fonte:
https://www2.ufjf.br/noticias/2016/02/03/carnaval-foi-pioneiro-em-dar-visibilidade-a-
cultura-negra-defende-pesquisa/ - Acesso: 06/02/2024
Atividade de apoio (anote perguntas e respostas no seu caderno).

1º) Segundo estudos desenvolvidos pela equipe de professores da


UFJF, como se apresenta atualmente o desafio de manter a
espontaneidade das festas carnavalescas diante dos holofotes da
mídia, do marketing e do turismo?

2º) O que estudo busca perceber quanto a representação da cultura


negra no decorrer do tempo, conforme o contexto histórico?

3º) Explique a afirmação apresentada: “O carnaval é um reflexo das


muitas referências culturais dos povos que chegaram ao Brasil.”

4º) Segundo o texto (Carnaval foi pioneiro em dar visibilidade à cultura


negra, defende pesquisa), qual a maior contribuição do negro nas
festividades carnavalescas?

5º) Destaque a relação festividades carnavalescas e a preservação


de memória de personagens históricos.

6º) “O carnaval é uma possibilidade de ele se enxergar


positivamente, ter orgulho de si, além de oferecer conhecimento e,
com isso, desfazer preconceitos...” Explique a fala apresentada pelo
professor da UFJF.

7º) Explique o processo histórico de introdução das festividades


carnavalescas a cultura brasileira.

8º) É possível afirmar que a forma como a mídia e o próprio marketing


apresenta as festas de carnavais nos dias atuais “apagam” a força
das festividades? Explique.
HISTÓRIA DO CARNAVAL

O Carnaval é uma das principais manifestações culturais do Brasil, sendo


realizado em todo o território nacional, nos meses de fevereiro ou março. O
Carnaval é uma data móvel, em virtude de ser realizado na terça-feira anterior à
chamada quarta-feira de cinzas, que é definida de acordo com a celebração
da Páscoa cristã. A relação do Carnaval com o catolicismo serve como ponto de
partida para entender a origem dessa festa popular comemorada não só no
Brasil, mas em diversos países.
Origem do Carnaval
O Carnaval é uma festa de origem pagã, que remonta à Antiguidade. Em
face de uma de suas principais características, a inversão dos papéis
sociais durante as comemorações – como os escravos se fantasiarem de
senhores, por exemplo –, a origem do Carnaval pode ser encontrada tanto na
Mesopotâmia quanto na Grécia ou em Roma.
Na Babilônia, um exemplo de inversão dos papéis pode ser encontrado
nas Saceias, uma festa em que um prisioneiro assumia durante poucos dias as
insígnias reais e suas vestimentas, podendo ainda dormir com as esposas do
rei. Após esse período de poucos dias, o prisioneiro era castigado com
chicotadas, sendo depois enforcado ou empalado.
Na Grécia, uma das origens e características do Carnaval podem ser
encontradas nas festas dedicadas a Dionísio, também conhecido como Baco
entre os romanos, o deus das videiras e do vinho. A inversão de papéis também
era verificada, com prostitutas vestindo-se de virgens e homens de mulheres,
por exemplo. A bebedeira também estava presente, servindo combustíveis para
a prática dos atos de libertinagem.
Em Roma, essas características eram verificadas em festas como
as Saturnálias, celebradas em dezembro, e as Lupercálias, ocorridas em
fevereiro, que marcavam o período anterior ao ano-novo para os romanos,
comemorado em março. O consumo de bebidas, comidas, a inversão dos papéis
sociais e a libertinagem dessas festas pagãs desagradavam a moralidade e o
controle social que a Igreja Católica pretendia exercer. Com o objetivo de
estruturar seu poder e garantir seu crescente domínio na sociedade que habitou
o Império Romano, a Igreja buscou disciplinar tais festas e impor alguns limites.
Com a criação da quaresma no século VIII, a Igreja limitou a realização das
festas até essa data, comemorada 40 dias antes da Páscoa.
Como a quaresma era um período de jejum e controle dos
comportamentos, as festas anteriores a ela eram marcadas pela liberdade no
consumo e no comportamento. Talvez essas características expliquem uma das
hipóteses para a origem do vocábulo Carnaval. Sua origem pode ser o termo
latino carnis levale, que significa retirar a carne, uma referência ao jejum da
quaresma.

Tela de Johannes Lingelbach (1622-1674), Carnaval em Roma, que mostra um carnaval da commedia
dell'arte.
Mesmo com o controle católico, a festa continuou a ser praticada durante
toda a Idade Média e à época moderna. Na Renascença até o século XVIII, um
exemplo da prática do carnaval pode ser encontrado com
a commedia dell'arte italiana, de onde teriam saído figuras características, como
o pierrô e a colombina.

Carnaval no Brasil
No Brasil, o Carnaval chegou possivelmente com o entrudo, uma festa
anterior à quaresma praticada pelos portugueses. Entrudo significa entrada,
marcando assim a entrada do período de carestia religiosa. No Brasil, ela era
praticada desde o período colonial, principalmente por escravos e as camadas
populares.
O entrudo pintado por Jean-Baptiste Debret (1768-1848).

O entrudo consistia na tomada das ruas por pessoas fantasiadas, com os


rostos pintados com farinha, que era jogada nas pessoas. Além disso, os
chamados limões-de-cheiro, com perfumes quase sempre desagradáveis, eram
jogados também nas pessoas que estavam nas ruas. A prática era considerada
violenta, além de haver uma sátira com as posições sociais, o que desagradava
a elite do Brasil. Uma primeira tentativa de controlar o entrudo ocorreu na década
de 1840 no Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo, a elite da capital do Império
passava a celebrar o Carnaval em clubes fechados e pagos, nos moldes do
Carnaval de Veneza.
Aos poucos, a elite conseguiu sair às ruas do Rio de Janeiro, após a
repressão ao entrudo, principalmente com o desfile das chamadas sociedades.
A partir daí duas práticas carnavalescas distintas ocorreram na então capital do
Brasil. De um lado, a elite, com as sociedades e depois com os corsos,
desfiles em carros conversíveis pela Avenida Central. Do lado popular,
surgiram os ranchos e os cordões, cortejos acompanhados de alguns
instrumentos de percussão, que se assemelhavam esteticamente às procissões
religiosas. Mais uma vez é possível perceber a inversão de valores da sociedade
durante o Carnaval, além da disputa do espaço urbano entre a elite e as classes
populares.
Gêneros musicais surgiram também no Carnaval, podendo ser citados
as marchinhas e o samba. As chamadas escolas de samba surgiram na década
de 1920 e fortaleceram-se ao longo das décadas, ganhando impulso financeiro
e comercial em 1960 para se transformarem em uma das principais atrações
turísticas do país.
No Nordeste, podemos destacar ainda o Carnaval de Salvador, cujas
características remontam aos afoxés dos descendentes de escravos surgidos na
virada do século XIX para o XX, e que ganhou impulso com o desenvolvimento
dos trios elétricos na década de 1950. Em Pernambuco, o destaque do Carnaval
está no frevo e no maracatu praticados nas ruas de cidades como Olinda e
Recife.
O Carnaval como festa popular ainda mantém algumas características da
Antiguidade, como a inversão dos papéis e a liberalização de comportamento.
Porém, tornou-se um importante negócio para a sociedade capitalista brasileira.
Créditos das imagens Miguel / Shutterstock - Vinicius Tupinambá / Shutterstock

Por: Tales Pinto


https://www.preparaenem.com/historia/uma-historia-carnaval.htm - 10/02/2023

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