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Apresentação
Quando usamos o termo “popular” associado à literatura, estamos nos referindo a um conjunto de
produções literárias com características bem específicas e com uma ampla significação. O que
entendemos por “povo” é extremamente importante para estudar a literatura popular.
Bons estudos.
Boa leitura!
LITERATURA
POPULAR
Alessandra
Bittencourt
Flach
Eliana Cristina
Caporale
Barcellos
Literatura popular e
identidade cultural
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Apontar os mecanismos envolvidos na formação da identidade
cultural.
Demonstrar a importância da literatura popular na formação da
identidade cultural.
Identificar, na literatura popular, as marcas da identidade cultural.
Introdução
Quando usamos o termo “popular” associado à literatura, estamos
nos referindo a um conjunto de produções literárias com característi-
cas bem específicas e com uma ampla significação. O que entende-
mos por “povo” é extremamente importante para estudar a literatura
popular. No entanto, o fundamental é que a literatura, juntamente
com outras expressões artísticas populares, faz parte de um imenso
patrimônio cultural, que representa nossa identidade e evidencia um
importante senso de pertencimento. Neste texto, você vai conhecer
um pouco mais sobre a relação entre a literatura popular e a identi-
dade cultural.
Diversidade cultural
Diversidade cultural é um conceito relativamente recente, como são re-
centes as leis que determinam promover e valorizar a diversidade cul-
tural. Com isso, a cultura popular e suas manifestações ganham amparo e in-
centivo, um meio de fazer com que chegue a mais pessoas e seja reconhecida
como parte da nossa identidade.
Isso tem relevância porque, por muito tempo, o mais valorizado era a cul-
tura “estrangeira”. No século XIX, por exemplo, quando o Brasil ainda era
Literatura popular e identidade cultural 95
No final do século XIX, houve, no mundo todo, um importante avanço das ciências natu-
rais, com descobertas significativas e uma valorização do olhar cientificista. Teorias como
o evolucionismo de Charles Darwin e o determinismo de Hippolyte Taine defendiam a
importância da adaptação do homem ao meio, destacavam as reações instintivas e indi-
cavam que a genética tinha grande interferência nesse processo. Daí interpretações um
tanto equivocadas que priorizavam a importância de uma pureza de raça
Figura 2. Evolucionismo.
Fonte: williammpark/Shutterstock.com
O brasileiro, sob essa perspectiva, era visto como mais fraco, mas susce-
tível (física e moralmente), porque produto de uma diversidade, diversidade
essa que ainda contava com a influência africana, também menosprezada.
E a literatura? Bem, a literatura erudita, de alguma forma, submeteu-se a
essa perspectiva, e isso se deu de duas formas – menosprezando o elemento
96 Literatura popular
O NEGRO PACHOLA
EXEMPLO 3 – MINHOCÃO
Entrevistado: Vadô
Outro dia, foi dois dia de festa, dois dia de festa. Dois, três dia que nós ia embora pra
buscar padre que tinha lá, pra nós fazer essa brincadeira. Não, mas diz que é, eu tô
falando pro senhor, é realidade! O que eu falo o senhor escreve, eu assino. Então, o
senhor vê como é. Então tá.
Bandeira ficava quadro, cinco dia. Comia capivara, peixe, o que tiver, né? Ah! Nesse
tempo, mandioca tinha todo dia na beira do rio aí. Passava aquela lancha aí, a Cabuxio,
a Panamericana, tudo. No tempo que matava capivara, sabe? Matava jacaré. [...]
Aí, nós tomando umas pinga e tal... Aí o companheiro falou:
– Ah! Rapaz, eu tô cum uma fome muito forte! Eu vou matar uma capivara!
Falei:
– Vamos, eu vou cum vocês.
Outro falou:
– Eu também vou! Vamos caçar aí, matar umas capivara aí, lontra, qualquer coisa, né?
E eu tava enjoado dos remédio e bem passado da bebida. Pegamos essa canoa.
Aaooô rapaz! [...]
E esse rapaz caçava, esse que num quis pegar a bandeira, caçava também. Foi e
atirou nesse bicho. Mas atirou: pá! [...]
Aí o pessoal me disseram:
– Cê sabe o que que é? Esse é o bicho que ele atirou. Esse é o minhocão.
(FERNANDES, 2002, p. 168-169)
CASCUDO, L. da C. Contos tradicionais do Brasil. 13. ed. São Paulo: Global, 2003.
JOLLES, A. Formas simples: legenda, saga, mito, adivinha, ditado, caso, memorável, con-
to, chiste. São Paulo: Cultrix, 1975.
MEYER, M. (Org.). Autores de cordel: literatura comentada. São Paulo: Abril Educação,
1980.
Leituras recomendadas
BERND, Z.; UTÉZA, F. (Orgs.) Produção literária e identidades culturais: estudos de literatura
comparada. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 1997.
ONG, W. Oralidade e cultura escrita: a tecnologização da palavra. São Paulo: Papirus, 1998.
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Na prática
Promover a cultura e reforçar uma identidade de grupo são duas importantes consequências da
literatura popular. Na região da Campanha do Rio Grande do Sul, na fronteira com Argentina e
Uruguai, por exemplo, um gênero oral bastante comum ainda hoje são os causos.
Os causos compõem um conjunto de narrativas com teor ficcional, mas cujos temas envolvem as
memórias da região e as experiências dos habitantes daquele espaço, como as histórias de guerra e
ocupação e a lida com o gado.
Os contadores, assim, evidenciam uma sinergia entre as culturas dos três países, por meio das
histórias que envolvem práticas comuns e consolidam a cultura local de tradição oral, muito além de
uma imposição geográfica.
Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:
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