Você está na página 1de 15

Características do Romantismo em Prosa

• Sentimentalismo: supervalorização das emoções pessoais, com destaque para a melancolia.


• Subjetivismo: oposto ao objetivismo, há valorização das sensações do ser humano e da liberdade de
pensamento.
• Egocentrismo: foco no indivíduo, que passa a ser o centro das atenções.
• Escapismo: desejo de evasão para escapar da realidade como ela se apresenta, criando um mundo
idealizado.
• Idealizações: idealização da sociedade, do amor e da mulher, buscando uma realidade diferente.
• Oposição ao modelo clássico: valorização da arte popular e folclórica, oposta à arte erudita da
antiguidade clássica.
• Nacionalismo: forte exaltação da natureza e da pátria, com temas relacionados com a grandiosidade da
natureza e o sentimento de pertença.
• Retorno ao passado: a Idade Média passa a ser a referência para os artistas, que apreciavam as tradições
e a fé humana.

Contexto histórico do Romantismo em Prosa


O Romantismo surge no século XVIII na Europa junto ao iluminismo, movimento intelectual baseado na
ciência e na racionalidade em oposição à religião e à fé.

Com a revolução industrial inglesa, muitos trabalhadores do campo vão trabalhar nas indústrias. Isso
colaborou com o crescimento das cidades e o surgimento de uma classe operária.

Na França, o período é de agitação política e social com a revolução francesa (1789-1799), movimento com
foco na liberdade e igualdade de direitos.

Em 1806, Napoleão Bonaparte, líder militar da revolução, impõe o Bloqueio continental, que pretendia travar
a expansão econômica da Inglaterra, impedindo a entrada de embarcações inglesas em diversos países
europeus.

Como Portugal era um aliado comercial da Inglaterra, não participa do bloqueio continental. Temendo a
invasão de Napoleão, a corte Portuguesa vai para o Brasil em novembro de 1807, aportando no país em
janeiro de 1808.

Com a revolução liberal na cidade do Porto, em 1820, que exigia o retorno da família real do Brasil, Dom
João VI retorna a Portugal. Assim, a elite brasileira começa a arquitetar a independência do país, que se
realiza em 7 de setembro de 1822.

Prosa Romântica no Brasil


A prosa romântica introduziu o Romantismo no Brasil. Embora ainda segundo os padrões europeus, na
linha de romances como Walter Scott e Honoré de Balzac, a prosa romântica foi determinante para o
estímulo à arte nacional e ao sentimento nacional.

Folhetim
A difusão da prosa romântica foi impulsionada pelo folhetim. Os folhetins eram capítulos de romances de
periodicidade semanal publicados em jornais.

Por meio deles, o romance tornou-se extremamente popular e por ele, o sentimento de democracia aflorado
no País foi alastrado.

Com o folhetim, a literatura passa de bem destinado à aristocracia e ultrapassa a exclusividade da nobreza.

Surgem os primeiros consumidores da produção literária e a literatura é expandida ao leitor comum. E é pelo
folhetim que a prosa do Romantismo alcança o sucesso que obteve no Brasil.
Nacionalismo Romântico
O sentimento de nacionalismo no romantismo contribuiu para valorizar o Brasil e o desvinculou da influência
impositiva da arte portuguesa.

É um momento em que a literatura portuguesa também está mais voltada para Portugal. Há uma clareza da
distinção dos costumes da colônia e da metrópole.

Características

• Nacionalismo
• Subjetivismo
• Ufanismo
• Idealização da mulher
• Religiosidade
• Culto à natureza
• Amor platônico
• Idealismo
• Estética nativista

Obras e Autores
A prosa romântica no Brasil foi manifestada em Romance Indianista, Romance Urbano e Romance
Nacionalista.

As obras relatavam o comportamento social da época, exaltando as peculiaridades da cultura nacional.

Romance Indianista
O romance indianista busca valorizar o herói nacional, o índio. São explorados temas como a natureza, o
sentimentalismo. O heroísmo é representado pela nobreza de caráter e valentia das personagens.

Autores
O principal autor dessa fase da prosa romântica no Brasil é José de Alencar (1829-1877). Seria este um
estilo criado por ele.

Alencar escreveu O Guarani, Iracema e Ubirajara no estilo de prosa romântica nacionalista.

Romance Urbano
O romance urbano retrata a pequena burguesia, a ascensão da classe média, as relações sociais e morais.
São narrativas lentas, minuciosamente descritivas da ambientação das personagens.

Autores
Os autores de maior relevância dessa fase da prosa romântica no Brasil são:

• Joaquim Manoel de Macedo, com A Moreninha;


• Manoel Antônio de Almeida, com Memórias de um Sargento de Milícias;
• José de Alencar, com Diva e Senhora.

Romance Regionalista
A prosa romântica regionalista no Brasil representa o povo, diferente dos nobres na Corte. Demonstra o
ambiente rural, em oposição às cidades. Representam o sertanejo, as paisagens e os costumes do sertão.

Autores
José de Alencar está entre os principais autores dessa fase da prosa romântica brasileira, com a obra, O
Sertanejo. Também destacaram-se: Bernardo Guimarães, com A Escrava Isaura, e Visconde de Taunay,
com Inocência.

"Durante o período colonial, a prosa inexistiu. Nessa ausência de tradição, os autores românticos partiram do
nada e fizeram suas primeiras tentativas mais consistentes.
O marco inicial do romance brasileiro se dá a partir das obras de Teixeira e Sousa – O filho do pescador
(1843) e Joaquim Manuel de Macedo - A Moreninha (1844), a obra de Macedo se destaca dada a sua
qualidade estética superior e o grande sucesso entre os contemporâneos.

Nas décadas de 50 e 60 verifica-se o florescimento da prosa de ficção.

Os prosadores românticos procuraram cobrir diversos aspectos da vida brasileira, além das indefectíveis
histórias de amor.

Dentre os principais escritores dessa era, podemos destacar:

- Teixeira e Sousa

- Joaquim Manuel de Macedo

- José de Alencar

- Manuel Antônio de Almeida

- Bernardo Guimarães

- Alfredo Taunay

- Franklin Távora"

Prosa no Romantismo

Segunda metade do século XIX

O desenvolvimento da prosa no período romântico coincide com o desenvolvimento do romance como um


gênero novo que, no Brasil, chegou graças à influência dos romances europeus e do surgimento dos jornais -
que publicavam, diariamente, os folhetins, isto é, capítulos de histórias que compunham um romance.

As primeiras manifestações no gênero estavam empenhadas na descrição dos costumes da classe


dominante na cidade do Rio de Janeiro, que agora vivia um grande período de urbanização, e de algumas
amenidades da vida no campo. Ou então, apresentavam personagens selvagens, concebidos pela ideologia
e imaginação do período romântico como idealização do herói nacional por excelência: o índio.

Cronologicamente, o primeiro romance romântico publicado no Brasil foi O filho do pescador (1843), de
Teixeira de Souza. Porém, como o romance apresenta enredo confuso e foi considerado pelo público como
"sentimentaloide", A Moreninha (1844), de Joaquim Manoel Macedo, viria a ser considerado o primeiro
romance efetivamente brasileiro por receber uma maior aceitação do público e por definir as linhas dos
romance brasileiro.

Os principais autores do período são:

- Joaquim Manoel de Macedo


- Manuel Antônio de Almeida
- José de Alencar
- Martins Pena (constituindo o teatro nacional)
Autores do Romantismo (prosa)

Joaquim Manuel de Macedo

Joaquim Manuel de Macedo (1820 - 1882) nasceu e faleceu na cidade do Rio de Janeiro. Formado em
medicina, exerceu a carreira por pouco tempo dedicando-se posteriormente à vida literária e ao ensino.

É o patrono da cadeira de número vinte da Academia Brasileira de Letras. É considerado um dos romancistas
mais importantes do período por ter inaugurado o romance romântico brasileiro, em termos de temática,
estrutura e desenvolvimento de enredo.

Este último se desenvolve da seguinte maneira, com o seguinte movimento: descrição do ambiente,
surgimento de um conflito, resolução do mistério e restabelecimento do ambiente pacífico inicial.

Seu principal romance é A Moreninha (1844), em que estão representados os costumes da elite carioca da
década de 1840, bem como suas festas e tradições (viajar para o litoral era um costume das famílias
pertencentes à elite), e hábitos da juventude burguesa do Rio de Janeiro.

Ainda, segundo o professor Roger Rouffiax, "a fidelidade com que o romancista descreveu os ambientes e
costumes serviu como um documentário sobre a vida urbana na capital do Império."

Outras obras do autor são O Moço Loiro (1845) e A Luneta Mágica (1869).

A Moreninha

Em uma viagem ao litoral, Augusto, Filipe e outros dois amigos, todos estudantes de medicina, fazem uma
aposta: Augusto não se apaixonaria por nenhuma moça durante o período em que eles permaneceriam de
férias no litoral. Caso o estudante perdesse a aposta, deveria escrever um romance contando a sua história
de amor.

Na praia, mais especificamente na casa da avó de Filipe, em Paquetá, Augusto acaba se apaixonando por
Carolina, irmã de Filipe. Os dois passam a se conhecer melhor e o jovem recorda que, quando criança, havia
jurado amor a uma menina naquela praia e cujo nome desconhecia. Recorda também que havia dado a ela
um camafeu, isto é, um broche adornado com pedras, como símbolo do verdadeiro amor.

Carolina então revela a Augusto que possui um camafeu igual ao descrito pelo moço, o qual havia ganhado
de um menino por quem havia se apaixonado e jurado amor quando criança.

A coincidência faz com que os dois relembrem da infância e descubram que eram os amantes prometidos.
Augusto, então, revive a paixão pela menina e pede Carolina em casamento. Perdida a aposta, Augusto
escreve um romance. O título do livro foi dado pelo protagonista fazendo referência aos aspectos físicos de
Carolina, e seu apelido carinhoso dado pelas pessoas mais próximas, "a moreninha".

Autores do Romantismo (prosa)

Manuel Antônio de Almeida

Manuel Antônio de Almeida (1830 - 1861) nasceu no Rio de Janeiro e faleceu em Macaé (também no estado
do Rio de Janeiro), vítima de um naufrágio. Formado em medicina, abandonou o ofício para se dedicas às
letras, sendo nomeado, posteriormente administrador da Tipografia Nacional.

Foi um importante fomentador das letras brasileiras. Seu romance mais famoso, Memórias de um Sargento
de Milícias, foi publicado em formato de folhetim entre os anos de 1852 e 1853 no periódico Correio
Mercantil do Rio de Janeiro. A ideia para a composição do romance surgiu após ouvir as histórias de um
colega de jornal, um antigo sargento comandado pelo Major que inspirou o personagem homônimo do livro.
O romance é uma obra inovadora para sua época pois rompe com o retrato exclusivo da vida e dos hábitos
da aristocracia para retratar o ambiente e a linguagem do povo em sua simplicidade. Além disso,
Leonardinho, o protagonista, não é o protótipo do herói romântico, mas sim, um menino travesso que mais
tarde se transforma em um jovem pícaro, dado à vadiagem e à malandragem no lugar de procurar uma
ocupação.

O gênero picaresco

O gênero picaresco, na literatura, é caracterizado pela narrativa de um pícaro, sinônimo para malandro. O
personagem é, geralmente, um garoto inocente e puro que é corrompido e desiludido à medida em que
cresce e toma contato com a realidade do mundo adulto.

Nas suas origens espanholas e medievais, o personagem sempre termina desiludido e adaptado às
condições de um mundo na miséria ou em um casamento que não lhe proporciona nenhum tipo de prazer.
No entanto, no romance brasileiro o "pícaro" Leonardinho difere um pouco do espanhol por não ser um
personagem tão inocente e por terminar feliz em sua vida adulta e em seu casamento.

Se há tantas rupturas, o que faz de Manoel Antônio de Almeida um escritor do romantismo brasileiro?
Embora haja muitas convenções do romance romântico em sua obra, tais como o tom irônico e satírico do
narrador, o estilo frouxo, a linguagem descuidada e o final feliz do romance, o livro inova por envolve
personagens das classes mais baixas da sociedade, o clero e a milícia além de não idealizar seus
personagens.

O compadre quer ver Leonardinho instruído pois quer vê-lo como padre ou formado em Direito,
diferentemente do romance pícaro original, em que os protagonistas precisam fazer trabalhos manuais
(geralmente nas posições mais baixas como criado ou ajudante de cozinheiro) para garantir seu sustento.

Além disso, ao final do romance, ele casa com seu amor e recebe "cinco heranças" sem precisar trabalhar
para isso. O que faz de Leonardinho um pícaro com características à parte e o transforma em mais um tipo
brasileiro.

O romance é considerado por alguns teóricos como o primeiro romance realmente de costumes brasileiro por
retratar a sociedade em toda a sua simplicidade e Manoel Antonio de Almeida é por vezes considerado um
autor de transição entre o Romantismo e o período seguinte, o Realismo.

Além disso, o autor traz para o enredo elementos que até então não eram retratados pelos romancistas,
como acampamentos de ciganos e bares frequentados pelas camadas sociais mais baixas.

Memórias de um Sargento de Milícias (1852)

Publicado em formato de folhetim, o romance narra a história de Leonardinho, filho dos portugueses
Leonardo Pataca e Maria-da-Hortaliça que chegam ao Rio de Janeiro. Na viagem em direção ao Brasil,
Leonardo dá uma pisadela em Maria, que retruca com um beliscão. "Nove meses depois, filho de uma
pisadela e um beliscão, nascia Leonardo." Porém, abandonado pelos pais, acaba sendo criado pelo
compadre barbeiro. Largado à vagabundagem, o personagem é o protótipo do malandro brasileiro.

Autores do Romantismo (prosa)

José de Alencar

José de Alencar (1829 - 1877) nasceu em Messejana, no Ceará, e faleceu no Rio de Janeiro.

Advogado, jornalista e romancista, teve papel fundamental para o desenvolvimento do romance e do


pensamento intelectual no Brasil do século XIX. É patrono número vinte e três da Academia Brasileira de
Letras por escolha de Machado de Assis.
Primeiro escritor romântico a desenvolver o romance com temas mais variados e abrangentes do que seus
sucessores. Alencar empenhou-se em retratar diversas esferas e incluir o maior número de tipos de
personagens até então vistos na literatura brasileira.

Alencar não se contentou somente com a sociedade burguesa carioca de seu tempo mas, também,
empenhou-se nos tipos brasileiros como o gaúcho e o sertanejo. Sua intenção era de retratar um painel geral
do país, de norte a sul, além de tentar estabelecer uma linguagem brasileira.

Segundo o crítico José de Nicola em seu Literatura Brasileira: das origens aos nossos dias (ed. Scipione,
2001), a obra de José de Alencar é um retrato de suas condições políticas e sociais: grande proprietário de
terras, político e conservador, monarquista, nacionalista exagerado e escravocrata. O romancista transparece
essas posições em sua obra, como se pode perceber na maneira como retrata os índios e a sexualidade
feminina em seus romances.

José de Alencar (continuação)

Obras

Os críticos costumam dividir em quatro as fases principais da produção de José de Alencar:

a) urbana ou social: Cinco Minutos (1856), A viuvinha (1860), Lucíola (1862), Diva (1864), A pata da gazela
(1870), Sonhos d'ouro (1872), Senhora (1875), Encarnação (1893);

b) indianista: O Guarani (1857), Iracema (1865), Ubirajara (1874);

c) histórico: As Minas de Prata (1865), Guerra dos Mascates (1873);

d) regionalista: O gaúcho (1870), O Tronco do Ipê (1871), Til (1872), O Sertanejo (1875);

Curiosidade: no ano de 1856 Alencar publica uma série de cartas em resposta ao poema A Confederação
dos Tamoios (1857), de Gonçalves de Magalhães.

A coletânea de oito cartas, pubilcada sob o título de Cartas sobre a confederação dos tamoios pretendia
criticar o poema de Magalhães que, na época, era protegido do imperador Dom Pedro II. A crítica recai
principalmente no modelo escolhido por Magalhães para seu poema, o épico, um gênero clássico que não
seria adequado para cantar o índio brasileiro.

Além disso, critica a fraca musicalidade do poema, a falta de "arte" na descrição da natureza brasileira e dos
costumes indígenas. No ano seguinte (1857), Alencar publica seu primeiro romance indianista, O
Guarani como resposta ao poema de Magalhães.

a) romances urbanos ou sociais:

As características principais dos romances urbanos ou sociais são:

- final feliz ou ideal;


- prevalência do amor verdadeiro;
- protagonistas femininas (que refletem um "ideal de feminilidade");
- retrato das relações familiares;
- ambiente doméstico;
- casamentos;
- questões financeiras (heranças, dotes, títulos, falências...);

Os três romances mais conhecidos dessa fase são: Lucíola (1862), Diva (1864) e Senhora (1875) que fazem
parte da chamada trilogia "perfis de mulheres". Eles retratam uma sociedade elegante marcada pela
ascenção da burguesia carioca empenhada em seguir a moda das cidades europeias, mais notadamente de
Paris, no que diz respeito tanto às vestimentas quanto à vida cultural no período do Segundo Reinado.
Os enredos, dramáticos, seguem uma estrutura tradicional das histórias de amor: situação inicial -
conflito/quebra - reparação/solução. O drama quase sempre gira em torno de um jovem casal que precisa
enfrentar obstáculos sociais, geralmente envolvendo questões financeiras, se quiserem ficar juntos.

Enredos

Lucíola (1862) - o romance conta a história de amor entre um jovem rapaz que chega ao Rio de Janeiro e a
cortesã de luxo Lúcia. Narrado em primeira pessoa pelo personagem Paulo Silva, o romance é escrito sob a
forma de cartas, enviadas por Paulo para uma senhora, G. M., que mais tarde as publica sob a forma de um
romance.

Ao chegar na cidade, Paulo sai com um amigo para conhecer a cidade quando, na Rua das Mangueiras,
avista uma bela moça dentro de um carro por quem se encanta. Dias depois, revê a moça na festa religiosa
de Nossa Senhora da Glória e fica sabendo, no entanto, que a bela moça é a prostituta mais luxuosa e
cobiçada da cidade. Paulo então a procura com desejo de possuí-la e os dois acabam se encantando um
pelo outro, como amigos e amantes. Os amigos de Paulo tentam persuadí-lo acerca da índole da moça, além
de sugerir que a moça é caprichosa, excêntrica e avarenta, o que faz com que o moço se questione acerca
das intenções de Lúcia.

Um dos amigos de Paulo, o Sá, organiza uma festa na qual convida, entre outros, a Lúcia. A festa, na
realidade, era apenas um pretexto para mostrar a Paulo que tipo de mulher era Lúcia. No meio da janta, ela
se levanta e começa, nua, a imitar as poses lascivas dos quadros expostos na sala mediante pagamento dos
convidados. Momentos mais tarde, os dois amantes se encontram no jardim e Lúcia se justifica, dizendo que
fez o que fez em um momento de desespero, pois Paulo havia zombado dela anteriormente. Em seguida, os
dois se entregam ao amor.

Paulo passa a viver com Lúcia, que se redime de sua condição de prostituta e deseja viver única e
exclusivamente para seu amor. Para isso, deixa de frequentar a sociedade e volta-se para seu amor com
Paulo. Cometida por um sentimento de amor puro, Lúcia transforma-se consideravelmente, passando a,
inclusive, a não querer mais se entregar fisicamente para Paulo, que não compreende essa mudança de
atitude. Esse novo estilo de vida levanta uma série de reprovações por parte dos amigos de Paulo, que
reprovam sua atitute. Lúcia, querendo salvar-lhe a reputação, dispõe-se a voltar a aparecer em sociedade,
acarretando mais reprovações por parte de Paulo. Os dois não se entendem mais e Lúcia adoece.

A partir de então, Paulo passa a respeitá-la, pois compreende que a moça, na verdade, o ama em espírito e
confia nele a ponto de contar-lhe seus segredos e a história de sua vida. Ela, na verdade, chama-se Maria da
Glória e era uma criança feliz e inocente até que, aos 14 anos, a febre amarela levou consigo toda sua
família. Para sobreviver, precisou pedir ajuda a um rico vizinho, em troca de sua inocência. O pai, que
sobrevivera graças a ajuda conseguida pela filha, expulsou a moça de casa ao saber da procedência do
dinheiro. Maria da Glória, então, foi acolhida por uma caftina que a conduz à prostituição.

Na nova profissão, Maria da Glória fez amizade com outra moça que passara pelos mesmos infortúnios.
Lúcia era seu nome, e a moça veio a falecer pouco tempo depois. Maria da Glória, então, colocou seu próprio
nome no atestado de óbito e passou a assumir a identidade da amiga morta. Com a morte dos pais, a nova
Lúcia passou a guardar todo o dinheiro possível para garantir a educação da irmã Ana, que passou a viver
em um colégio. Lúcia, então, falece e pede a Paulo que cuide de sua irmã Ana como se fosse sua própria
filha, para que nada falte à menina.

O final do romance é considerado "ideal", pois não rompe as barreiras sociais que recaíram sobre o casal. A
união dos dois personagens não é apropriada, e não era vista com bons olhos pela sociedade conservadora
da época. Por isso, Alencar precisou dar um fim trágico a sua personagem, porém, redimindo-a de sua vida
de pecadora com a morte e com o amor verdadeiro.

É dito que o título do romance é uma alusão a Lúcifer, o diabo, dando a entender o caráter dúbio e
incompreensível do amor e da sexualidade feminina.
Obras de José de Alencar (continuação)

Diva (1864) - dando continuidade às cartas para a senhora G. M., agora Paulo conta a história de amor entre
seu amigo, o Dr. Augusto Amaral, e a jovem Emília. Paulo e Augusto se conheceram a bordo de um navio
rumo ao Recife: enquanto Paulo permanecera em sua cidade natal, o outro, jovem médico, partira para Paris
e lhe enviara um manuscrito, confessando ao amigo o amor pela moça, cujo conteúdo é o romance que se
segue.

Emília é uma menina feia que cresce em meio ao luxo das grandes famílias ricas do Rio de Janeiro. Porém,
quando muito jovem, contrai uma doença mas é salva pelo dr. Amaral. Dois anos mais tarde, depois de sua
viagem, o jovem médico retorna à casa a convite de seu pai mas a mnina, agora uma bela moça, o ignora e
mostra desdém.

Por "diva", compreende-se uma mulher que é muito bonita e altiva, com ares de divindade e superioridade e
que é assim vista por seus admiradores. O título do romance é explicado a partir da descrição que o narrador
(Augusto) faz de Emília.

O romance passa a maior parte do tempo mostrando os "jogos" e conflitos entre os dois personagens e o
esforço da parte de Augusto em compreender os motivos da atitude ríspida de Emília e meios para se
aproximar da moça, por quem está muito interessado. Ao final do romance, Augusto declara seu amor por
Emília, que diz não o amar. Porém, a moça se arrepende do que havia dito e assume que, na verdade, a
paixão que ele sente por ela é recíproca. Ela então se rende ao amor que sente por ele e os dois ficam
juntos.

O enredo denota as principais caracteristicas dos romancs urbanos de Alencar: um enredo simples, porém,
com personagens psicologicamente mais elabordos do que os vistos até então na literatura brasileira. A
descrição dos costumes da alta sociedade e da corte, do que se passava dentro dos salões e da intimidade
das alcovas das senhoras munido de um vocabulário rebuscado fez de Alencar um escritor singular em seu
tempo.

Curiosidade: No prólogo do romance, José de Alencar discursa sobre a produção de suas obras de acordo
com o estilo utilizado. Ele havia recebido críticas acerca da composição por esta ser excessivamente
composta por "galicismos". O autor discorda e afirma que, como defensor de uma língua em constante
evolução, em oposição a um exagerado clacissismo, que em nada contribuiria para o desenvolvimento da
língua na literatura. Com relação à "influência" do idioma estrangeiro, Alencar diz:

Sem o arremedo vil da locução alheia e a limitação torpe dos idioma estrangeiros,, devem as línguas aceitar
algumas novas maneiras de dizer, graciosas e elegantes, que não repugnem ao seu gênio e organismo.

Logo, Alencar estava começando a defender um novo idioma falado e escrito no país que naturalmente se
diferenciaria daquele falado no outro continente.

Senhora (1875) - um dos romances mais conhecidos de Alencar, agora o narrador conta uma história aos
leitores, não sendo mais Paulo (o narrador dos dois livros anteriores) quem assume a voz narrativa. Já no
prólogo, há uma nota informando seus leitores de que os fatos contidos no romance tratam de uma história
verídica a ele narrada.

Senhora conta a história de amor entre Aurélia Camargo, uma moça pobre e orfã que se apaixona pelo belo
Fernando Seixas. Os dois noivam, porém, o moço se desilude por ela ser pobre e por ter esperanças de
encontrar uma moça mais rica e, assim, faturar um dote significativo.

Inesperadamente, o avô de Aurélia falece, deixando para a moça uma vultosa herança transformando a
moça antes pobre em uma das mais ricas mulheres da corte. A partir daí, Aurélia maquina um plano para se
vingar de Fernando: por meio de seu tutor, o Sr. Lemos, ela manda uma proposta de casamento "anônima" a
Fernando, oferecendo cem contos de réis (soma grandiosa para a aquela época). O moço, ambicioso e em
péssimas condições financeiras, aceita a proposta, sem saber a identidade da noiva misteriosa.
No dia do casamento, quando o mistério é então resolvido, e os noivos se encontram, Aurélia anuncia que os
dois viverão em aposentos separados e que aparecerão juntos apenas em público, para a sociedade.
Fernando se arrepende da sua decisão e da sua leviandade e junta, com muito esforço, a soma
anteriormente paga pelo dote e propõe a separação.

Apesar de conflituoso, o breve casamento uniu os dois personagens que, através da experiência, puderam
amadurecer suas ideias sobre o amor e os sentimentos que nutriam um pelo outro. Por fim, os dois se
reconciliam e conseguem resolver as diferenças. Novamente, temos um final feliz para um romance de
Alencar.

Dividido em quatro partes: O Preço, Quitação, Posse e Resgate, a narrativa não segue uma ordem
cronológica.

A primeira parte retrata os eventos em um tempo presente à narrativa, isto é, a apresentação de Aurélia na
sociedade, a proposta de casamento à Fernando e a noite de núpcias, ao passo que Quitação trata do
passado dos dois personagens.

Em Poss, temos novamente o tempo presente da narrativa e os principais conflitos entre os personagens. O
amadurecimento de ambos e o gradual arrependimento de Fernando são as principais características dessa
parte. Por fim, em Resgate, um ano após o casamento, Fernando entrega a Aurélia a soma correspondente
ao valor do dote e propõe a separação. No entanto, Aurélia confessa que deixou toda sua fortuna como
herança para Fernando.

A narrativa é em terceira pessoa e acompanha o enredo do ponto de vista do que acontece com Aurélia. Isto
é, há um desenvolvimento psicológico da personagem ao mesmo tempo em que ela é idealizada pelo
narrador.

O romance reflete as intenções de uma elite carioca, na figura de Fernando Seixas, que via o casamento
como moeda de troca para a ascenção social. Enquanto a moça chora o amor perdido, o rapaz vai em busca
de dinheiro fácil e que valoriza apenas as aparências. Alguns críticos consideram o romance como um dos
precursores do realismo, que viria a ser desenvolvido em nossa literatura por Machado de Assis, ao
questionar os valores da sociedade da época e dos casamentos motivados por interesse.

Segundo o crítico José de Nicola, o romance revela um confronto entre a velha sociedade de Alencar,
aristocrática e rural, e a emergente sociedade burguesa, de comerciantes e capitalistas, que firmava raízes
no Rio de Janeiro.

Os clichês do romantismo aparecem em peso nesse romance: o pesar com a perda do amor, a fortuna
inesperada, o mistério, a redenção, o arrependimento e o final feliz com o casamento dos personagens
principais.

Por fim, o romance é considerado um dos mais interessantes da literatura brasileira pela estrutura narrativa,
pela crítica que faz à sociedade burguesa e pelo próprio enredo, que se destaca das demais obras até então
produzidas no Brasil.

Obras de José de Alencar (continuação)

b) romances indianistas

Características principais:

- nacionalistas;
- exaltação da natureza;
- idealização do índio;
- temas históricos;
- resgate de lendas;
- índio como um herói, europeizado, quase medieval;
- contato do índio com o europeu colonizador;
Os romances mais conhecidos da fase são O Guarani (1857), Iracema (1865) e Ubirajara (1874).

O Brasil, agora uma nação indepentende, precisava definir seus heróis nacionais e os autores indianistas
viam o índio como o personagem ideal por este ser quem primeiro expressou amor às terras brasileiras,
defendendo seu território e seu povo contra os colonizadores europeus.

Outros autores, como o Padre Anchieta, Basílio da Gama e Gonçalves Dias já haviam versado sobre a
singularidade do índio brasileiro, porém, com o desenvolvimento da prosa e a popularização dos romances
de folhetins, Alencar pôde não apenas criar histórias mas também desenvolver e difundir junto aos seus
leitores um sentimento de nacionalidade mais abrangente e que tocasse em todos os seus leitores baseando-
se nos heróis medievais europeus, símbolos de honra e bravura.

Enredos

O Guarani (1857) - publicado em formato de folhetim para o Diário do Rio de Janeiro durante o ano de 1857,
O Guarani é provavelmente o romance de Alencar mais conhecido e aclamado, sendo considerado um
clássico da literatura brasileira. O romance possui todos os elementos do romance romantico e indianista,
principalmente por se tratar do contato entre os indígenas que aqui estavam com os europeus.

O romance é uma história de amor entre um índio e a filha de um fidalgo português D. Antônio de Mariz que
viera às terras brasileiras recebidas por Mem de Sá, um dos primeiros administradores de terra da colônia.

Logo no Prólogo, Alencar avisa seus leitores de que a história que irá contar está presente em um manuscrito
encontrado em um velho armário na ocasião da compra de sua casa, de maneira a se eximir caso o trabalho
seja considerado ruim.

Dividido em quatro partes: Os Aventureiros, Peri, Os Aimorés e Catástrofe, o romance retorna ao ano de
1604, época em que os reinos de Portugal e Espanha ainda disputavam terras no novo continente. A trama
inicia às margens do rio Paquequer, um afluente do rio Paraíba, onde está localizado a residência fortificada
do fidalgo D. Antônio de Mariz, que vive com sua esposa, Dona Lauriana, seu filho Diogo, sua filha Cacília,
sua sobrinha Isabel e o índio Peri. Na propriedade viviam também aventureiros que participavam de
expedições, entre eles, Loredano, o ambicioso italiano que, mais adiante, torna-se o vilão do romance. Outro
personagem importante para a trama é Álvaro de Sá, um jovem nobre de confiança do fidalgo português.

O romance, além do fundo histórico, é uma história de amor entre o índio Peri e Cecília, moça loira e de olhos
azuis, descrita como dona de uma alma generosa e inocente. Peri é o índio imaginado dentro do ideal do
"bom selvagem", do filósofo francês Russeau, isto é, o índio bom e incorruptível por estar cada vez mais
distante da civilização.

O enredo de O Guarani se mostra mais complexo do que os demais romances de José de Alencar. Nele, há
dois principais conflitos: entre os índios e os portugueses que se estabeleceram nas terras e entre os
admiradores de Cecília (Peri, Álvaro e Loredano), que estavam interessados na mão da moça.

Resumo da obra:

Parte 1 -- Os Aventureiros

O romance inicia com o aventureiro Álvaro de Sá e seus companheiros que, ao retornarem do Rio de Janeiro,
encontram um selvagem, Peri, que se encontrava frente a frente com uma onça com o intuito de agradar a
sua senhora Cecília. O jovem índio havia abandonado sua tribo, os Goitacás, por causa da linda jovem.

Álvaro também se apaixona por Cecília e tenta se aproximar deixando um presente em sua janela. Loredano,
enciumado, derruba o presente da janela aos olhos de Peri.

No dia seguinte, Ceci e Isabel vão tomar banho de rio, quando são surpreeendidas por dois índios da tribo
dos Aimorés. Peri aparece para defendê-las e é vítima de uma flechada. O motivo do ataque é a vingança:
uma vez, Diogo matara sem querer uma índia aimoré e agora sua família viera prestar contas. Peri suspeita
que haja um ataque à fazenda de D. Antônio.
Enquanto se reabilitava da flechada com o uso de ervas medicinais, Peri ouve uma conspiração vinda de
Loredano, que pretende matar D. Antônio e sequestrar Cecília e Isabel para depois partir em busca de um
tesouro cujo mapa Loredano conseguiu de maneira escusa.

D. Antônio acha que o evento às margens do rio que quase pôs fim às vidas de Ceci e Isabel era uma
brincadeira de Peri e resolve mandá-lo embora de sua propriedade.

Parte II -- Peri

A narrativa retrocede em um ano e conta a história de Loredano, um frade carmelita que se apoderou de um
mapa das minas de Prata de Robério Dias. Abandona a vida religiosa e o nome de Frei Angelo di Luca para
se alojar na propriedade de D. Antônio. A partir daí, nutre planos para se apoderar de Cecília.

Há também a narrativa do pimeiro encontro dos personagens principais: o índio salva Cecília de ser
esmagada por uma rocha e associa a imagem de Ceci com a da Nossa Senhora, nutrindo total adoração e
fidelidade para com a moça.

De volta ao presente, D. Antônio encarrega Diego de levar adiante a honra da família e a Álvaro, para que
cuide de Cecília com a morte do patriarca. Descobre que Peri não estivera brincando no dia do ataque às
margens do rio e resolve perdoá-lo. O índio então adverte D. Antônio sobre a ameaça de ataque dos
aimorés. Enquanto isso, Cecília procura aproximar Álvaro e Isabel, que nutem admiração um pelo outro.

Parte III --Os Aimorés

D. Antônio manda Diogo para o Rio de Janeiro em busca de ajuda contra o iminente ataque dos aimorés.
Loredano entra no quarto de Cecília com o intuito de raptar a moça. Porém, tem sua mão transpassada por
uma flecha de Peri. Enquanto D. Antônio e Loredano lutam corajosamente, a fazenda é atacada pelos índios
e, por um momento, todos se unem para lutar contra o inimigo comum.

Porém, Peri planeja se infiltrar junto aos aimorés, se envenena e se deixa levar como prisioneiro.

Parte IV -- A Catástrofe

Enquanto Loredano prossegue com seu plano diabólico de sequestrar Cecília, seus companheiros, cientes
dos verdadeiros interesses do ex-religioso, decidem matá-lo. Peri é resgatado por Álvaro e revela seu plano
ao amigo: havia se envenenado com curare e se fez de vencido para que os inimigos, ao comerem sua carne
(prática comum entre as tribos indígenas), ingerissem também o veneno. Com o resgate, ingere um antídoto
e se livra do efeito do veneno.

Álvaro, desfalecido, é entregue a Isabel. A moça, ao imaginar que seu amado estivesse morto, ingere veneno
para acabar com a própria vida. Com esse último beijo, os dois acabam com suas vidas. D. Antônio batiza
Peri e o incumbe de uma missão: levar Ceci até a casa de uma tia, no Rio de Janeiro, para que ela seja
criada longe dos conflitos com os indígenas. Enquanto os dois fogem em uma canoa, Peri assiste a
destruição da fazenda pelos índios e a morte de seus habitantes (inclusive Loredano e D. Antônio). Quando
Ceci acorda, fica sabendo do acontecimento trágico e se sente cada vez mais próxima e encantada por Peri.

Uma enchente na Paraíba faz com que os dois se abriguem no topo de uma palmeira. Quando a água os
alcança, Peri evoca a lenda de Tamandaré. Arranca, então, a palmeira em um esforço praticamente
inverossímil. A narrativa encerra com os dois deslizando pela superfície do rio.

Obras de José de Alencar (continuação)

Iracema (1865) - o romance segue os mesmos moldes de O Guarani, isto é, apresenta uma história de amor
cujo pano de fundo é o conflito entre as tribos indígenas que habitavam o litoral e o interior do território
brasileiro e os conflitos entre os indígenas e os colonizadores europeus.
Porém, em Iracema, o que Alencar pretende é apresentar uma história baseada na lenda que deu origem ao
primeiro habitante nascido no Brasil: Moacir, nome que significa "filho da dor" e seria o filho entre a bela índia
dos lábios de mel e o guerreiro português Martim.

O romance pode ser considerado uma obra em "prosa poética" pois apresenta uma narrativa épica, um
lirismo amoroso e todo um trabalho com o vocabulário, porém, em formato de romance. Alencar não o fez em
forma de verso por julgar que os nativos brasileiros não combinavam com o estilo classicista, tão distante em
tempo e espaço dos gregos e romanos, e que a literatura brasileira deveria manifestar seu ideal de
nacionalidade por meio da língua, desenvolvendo uma escrita e um estilo prórpios, desvinculados do
clássico.

Segundo o próprio Alencar, em carta endereçada ao Dr. Jaguaribe e anexada ao final do romance:

Sem dúvida que o poeta brasileiro tem de traduzir em sua língua as ideias, embora rudes e grosseiras, dos
índios; mas nessa tradução está a grande dificuldade; é preciso que a língua civilizada se molde quanto
possa a singeleza primitiva da língua bárbara; e não represente as imagens e pensamentos indígenas senão
por termos e frases que ao leitor pareçam naturais na boca do selvagem. (...) A elasticidade da frase
permitiria então que se empregassem com mais claresa as imagens indígenas, de modo a não passarem
despercebidas. Por outro lado, conhecer-se-ia o efeito que havia de ter o verso pelo efeito que tivesse a
prosa.

É, geralmente, considerado um romance de difícil leitura em função de seu vocabulário rebuscado e das
inúmeras descrições que o autor faz da natureza e as comparações com seus personagens.

Enredo

A narrativa da lenda de Iracema inicia com uma cena em que o guerreiro português Martim Soares Moreno,
aliado da tribo dos Pitiguaras, tribo habitante das terras litorâneas, se perde nas matas do território próximo
à tribo dos Tabajaras, inimigos, habitantes das terras do interior. Lá, é surpreendido pela bela índia Iracema,
que ameaça matá-lo com uma flecha.

Iracema é filha de Araquém, pajé dos tabajaras, e sacerdotisa vestal que guarda o segredo/mistério/sonhoss
da Jurema, uma espécie de licor com propriedades alucinógenas. Ela e sua tribo acolhem Martim como
hóspede e, na noite em que ocorrem as celebrações para Irapuã, o maior chefe da nação tabajara, o
guerreiro branco decide fugir. Iracema o impede, alertando sobre os perigos da mata e pede para que ele
espere pelo retorno de Caubi, seu irmão, para que possa guiá-lo em segurança no dia seguinte.

Martim e Iracema se apaixonam, o que desperta a ira de Irapuã, zeloso do papel que a jovem índia deve
cumprir para com a sua tribo. Como guardiã do segredo da jurema, Iracema deve permanecer virgem, porém,
entrega-se a Martim em uma noite em que o guerreiro, sob efeito do líquido alucinógeno entregue por
Iracema, sonhou possuir a índia (quando, na verdade, estava possuindo mesmo). O guerreiro decide partir da
tribo dos tabajaras para se ver livre de Irapuã quando Iracema revela o que acontecera enquanto Martim
sonhava e se dispõe a acompanhá-lo.

Os dois partem ao encontro de Poti, chefe da tribo dos pitiguaras e considerado por Martim como um irmão.
Irapuã os segue, o que acaba por causar um conflito entre as duas tribos inimigas. Iracema passa a viver
com Martim, que adora o nome indígena de Coatiabo, e passa a gradativamente se desinteressar pela índia.
Grávida, Iracema sofre com o desdém e com as ausências de seu amado.

Ao regressar de uma batalha, Martim encontra Iracema e seu filho, porém, a índia se encontra muito
debilitada. Já sem forças, a índia entrega o filho Moacir, palavra indígena que significa "o nascido do
sofrimento", e pede que Martim a enterre aos pés de um coqueiro de que ela tanto gostava. Este lugar onde
Iracema supostamente estaria enterrada, segundo a lenda, passou a se chamar Ceará, que significa "canto
da jandaia", ave favorita de Iracema.

Martim decide retornar para a Europa, levando consigo o filho Moacir. Quatro anos mais tarde, retorna ao
Brasil com o filho para auxiliar na implantação da fé cristã. Poti, o chefe dos pitiguaras, recebe o nome
português de Felipe Camarão e os dois ajudam o comandante Jerônimo de Albuquerque na luta contra os
holandeses.
A narrativa de Iracema, no entanto, é fragmentada e o capítulo I inicia com a cena em que a embarcação em
que Martim e Moacir se encontram no regresso ao Brasil. Do capítulo II ao XXXII ocorre a narrativa da lenda
da Iracema, para, no capítulo XXXIII, retornar à cena da chegada de Martim e Moacir às terras americanas.

Obras de José de Alencar (continuação)

Ubirajara (1874) - o terceiro romance de temática indianista do autor, importante por dar sequência aos
romances anteriores, Ubirajara também é uma lenda transformada em romance por Alencar.

Logo no início, o autor faz uma advertência a seus leitores de que as informações que temos até hoje sobre
os indígenas provinham ou dos jesuítas ou dos aventureiros que chegavam no novo continente e que, nem
sempre, a linguagem utilizada para descrevê-los estava de acordo com os costumes dos indígenas.

Por isso, Alencar critica a visão destes primeiros viajantes e religiosos, pois davam ao indígena um caráter
meramente bárbaro, sem levar em consideração o aspecto sentimental e cultural da vida dos nativos.
Escreve Alencar:

As coisas mais poéticas, os traços mais generosos e cavaleirescos do caráter dos selvagens, os sentimentos
mais nobres desses filhos da natureza são deturpados por uma linguagem imprópria, quando não acontece
lançarem à conta dos indígenas as extravagâncias de uma imaginação desbragada.

Ubirajara também é considerado um texto "irmão" de Iracema, embora narre eventos acontecidos antes da
vinda dos europeus para o Brasil. Logo, os conflitos acontecem entre os povos indígenas, sem a intervenção
dos colonizadores.

Jaguarê, um jovem caçador, precisa combater um inimigo para conseguir o título de guerreiro. Porém,
encontra Araci, índia tocantim e filha do chefe da tribo inimiga, que o convence a lutar contra índios de sua
tribo para disputar seu amor.

O jovem índio luta contra o tocantim Pojucã e aprisiona-o com sua lança e deixa como esposa a jovem
Jandira, que era sua noiva. A índia foge para a floresta. A partir de então, Jaguarê torna-se Ubirajara, o
senhor da lança, e procura Araci para desposá-la. Compete novamente com demais pretendentes e ganha o
direito de se unir com Araci.

Descobre-se que Pojucã e Araci são irmãos e o jovem índio o liberta de seu cativeiro para que lute ao lado de
sua tribo em uma guerra imintente entre as duas tribos. Porém, Ubirajara consegue não apenas reconciliar as
duas tribos mas, também, as une, em uma nova e grande tribo nomeada Ubirajara, em seu nome e, como
prêmio, desposa as duas índias, Araci e Jandira.

Obras de José de Alencar (continuação)

c) romances históricos

São os romances de fundo histórico, voltados para o período colonial brasileiro propondo uma nova
interpretação para fatos marcantes do período colonial do século XVII, como a busca por ouro e as lutas pela
expansão territorial.

Seus enredos denotam, em vários momentos, nacionalismo exaltado e a importância da construção histórica
da pátria através da literatura.

Os principais romances desta fase são: As Minas de Prata (1865) e Guerra dos Mascates (1873). O
romance As Minas de Prata retrata o início pelas minas de prata e a corrida por metais preciosos e A guerra
dos Mascates trata dos conflitos entre as cidades históricas de Olinda e Recife.
d) romances regionalistas

Nesses romances, Alencar procurou dar conta da diversidade brasileira e das regiões que se encontravam
distantes da corte e das principais cidades que receberam forte influência europeia. O autor desejava cobrir
os territórios de maneira a mostrar como a vida de seus habitantes estava intimamente ligada ao meio físico
no qual travavam contato.

Nesses romances, os homens recebem os papéis de destaque, em detrimento das personagens femininas,
diversamente retratadas nos romances urbanos e sociais.

Porém, há controvérsias sobre o retrato feito por Alencar de seus homens: quando trata do nordestino e do
sertanejo, Alencar consegue ser fiel à realidade por conhecer mais profundamente a região e seus
habitantes. Porém, quando retrata o gaúcho o autor incorre em uma série de falhas, provenientes da falta de
familiaridade com o tipo retratado e com a distância que separava Alencar do sul do país.

Os romances mais conhecidos desta fase são: O gaúcho (1870), O Tronco do Ipê (1871), Til (1872) e O
Sertanejo (1875).

Demais autores do Romantismo

Embora menos expressivos quando se trata do cânone literário brasileiro, os autores a seguir são
importantes pois também contribuíram para a produção literária do período. São eles:

Bernardo Guimarães

Seu livro mais conhecido é A escrava Isaura (1875), romance com pretensões abolicionistas que conta a
história de Isaura, uma escrava branca, nobre e educada que é perseguida por Leôncio, seu senhor, um
homem marcado pelos vícios sociais. A moça é salva pelo herói Álvaro, que a retira das garras do vilão.

Embora aborde a temática escravista, o romance mostra uma ideologia patriarcal, ao retratar uma escrava
branca e que segue a educação dos moldes da elite. A questão dos escravos aparece de maneira superficial,
não revelando a verdadeira condição dos negros que eram submetidos ao sistema social escravista.

Escreveu também outros romances, como O Seminarista (1872) e O Garimpeiro (1872).

Demais autores do Romantismo (continuação)

Franklin Távora

Autor também empenhado no retrato da realidade nordestina e do cangaceiro, evidenciando a vida com as
secas no sertão.

Acredita que o Norte ainda tem muito o que oferecer para a formação da literatura brasileira, tendo em vista
que, diferentemente do Sul do país, ainda não foi totalmente invadido, e ainda possui muito o que ser
explorado.

O Cabeleira (1876), seu romance mais famoso, trata do cangaceiro José Gomes (o Cabeleira). A narrativa,
embora com tons realistas e combativa, recai na estrutura melodramática dos romances românticos.

O Cabeleira, ao reencontrar seu amor de infância, Luisinha, abandona sua vida de criminoso e dispõe -se a
total regeneração pelo amor da amada. A moça, porém, morre de uma enfermidade e o cangaceiro acaba
preso e enforcado na prisão.
O Romantismo: século XIX

Resumo

Contexto histórico

- Revolução da Imprensa e ascenção do romance;


- Vinda da Família Real para o Brasil (em 1808);
- Independência do Brasil (em 1822).

Características

- Individualismo;
- Subjetivismo;
- Verso livre e verso branco;
- Sentimento de nacionalidade;
- Culto à natureza.

Principais autores

Poesia

1ª Geração Romântica: Nacionalista ou Indianista

- Gonçalves de Magalhães
- Gonçalves Dias
- Araújo Porto-Alegre

2ª Geração Romântica: Mal do Século

- Álvares de Azevedo
- Casimiro de Abreu
- Junqueira Freire
- Fagundes Varela

3ª Geração Romântica: Condoreira

- Castro Alves
- Sousândrade

Prosa

- Joaquim Manoel Macedo


- Manoel Antônio de Almeida
- José de Alencar

Teatro

- Martins Pena

Você também pode gostar