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PROF.

FRANCISCO KLING
Romantismo no Brasil
O Romantismo no Brasil foi um movimento literário que reuniu uma produção muito rica de textos
poéticos, teatrais e romances.

Teve como marco inicial a publicação do livro de poemas "Suspiros poéticos e saudades", de
Gonçalves de Magalhães (1811-1882), em 1836. Além dessa obra, a Revista Niterói, publicada
nesse mesmo ano em Paris, também foi precursora do movimento.

O romantismo no Brasil se caracterizou, num primeiro momento, pela busca da identidade


nacional e resgate das tradições e valores da cultura popular e do folclore. Temas como o índio, a
exaltação da natureza, os regionalismos e a realidade social do país são muito explorados pelos
autores românticos.

Iracema (
1884), obra de José Maria de Medeiros (1849-1925)

Com a Independência do Brasil, efetivada em 7 de setembro de 1822, os escritores desse período


buscam a autonomia da literatura, retomando diversos aspectos da cultura brasileira. Isso porque
durante séculos de colonização, o Brasil sofreu forte influência dos modelos europeus, sobretudo
de Portugal.

Nesse momento, os folhetins, pequenos capítulos de romances publicados nos jornais, começam
a se popularizar no país, o que fez surgir um público leitor, tornando a leitura mais acessível.

Características do romantismo no Brasil


As principais características da literatura romântica no Brasil são:
 Rompimento com a tradição clássica: o romantismo veio romper com os modelos
clássicos greco-romanos, fundamentados na busca da perfeição e na arte erudita.
 Maior liberdade formal: contrário ao formalismo e tradicionalismo das escolas anteriores, o
romantismo utiliza versos sem rima e sem métrica, além de uma linguagem informal e
regionalista.
 Indianismo: o índio é eleito como herói nacional, sendo idealizado como um ser puro e
inocente.
 Nacionalismo e ufanismo: os valores culturais, históricos e artísticos do Brasil são
exaltados pelos escritores que mostram orgulho da nação.
 Culto à natureza: associado ao nacionalismo, as belezas naturais do país são enfatizadas
pelos autores de maneira grandiosa.
 Amor platônico, idealismo: a idealização da sociedade, do amor e da realidade são comuns
nas obras românticas.
 Idealização da mulher: para os escritores românticos, a mulher representava a beleza, a
pureza, a inocência e a delicadeza.
 Subjetivismo e egocentrismo: a literatura romântica foca nos sentimentos e emoções dos
autores, reunindo textos de caráter individualista.
 Sentimentalismo exacerbado: a supervalorização das emoções pessoais, mostra que os
escritores desse momento se opõem ao pensamento racional e objetivo.
 Religiosidade: oposto ao racionalismo, que desconsidera os valores religiosos, no
romantismo há uma preocupação em se apegar aos valores cristãos.
 Evasão e escapismo: com o desejo de fugir do cotidiano, da realidade e dos sofrimentos,
os autores românticos criam um ambiente idealizado.

Contexto histórico do romantismo no Brasil


O romantismo no Brasil surge poucos anos depois da Independência do país, que aconteceu em 7
de setembro de 1822. Esse momento representou grandes mudanças sociais, culturais e
econômicas para o Brasil.

O país tentava se organizar e consolidar seu poder, depois de quase 400 anos de colonização
portuguesa. Esse processo de transição e mudanças começou um pouco antes de independência,
em 1808, com a vinda da família real portuguesa.

Quando chegou ao país fugindo das invasões napoleônicas na Europa, o príncipe regente, Dom
João, declarou a abertura dos portos às nações amigas, o que resultou na expansão da
comercialização e diversificação do comércio. Outro fator importante foi a transferência da
capital do país, que antes era Salvador, e passou a ser o Rio de Janeiro.

Esse processo foi crucial para alavancar a modernização da cidade, resultando na construção de
diversos edifícios públicos como o Museu Nacional, a Biblioteca Nacional e o Real Teatro São
João. Nesse momento, também foi criada a imprensa Régia e algumas instituições como o Banco
do Brasil e a Real Academia Militar.

Todos esses fatores foram essenciais para acelerar o processo de independência do Brasil,
declarada em 7 de setembro de 1822 por Dom Pedro.
Fases do romantismo no Brasil
O movimento romântico no Brasil está dividido em três fases, também chamadas de gerações.
Cada uma delas possui características próprias e reúne diversos escritores.

 Primeira geração romântica (1836 a 1852): nacionalista, indianista e religiosa.


 Segunda geração romântica (1853 a 1869): egocentrismo exacerbado e pessimismo.
 Terceira geração romântica (1870 a 1880): cunho social e libertário.

1.ª fase do romantismo no Brasil (1836-1852)


Após a independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822, a literatura brasileira buscou focar em
temas nacionais e que estivessem relacionados com o sentimento patriótico de uma nova nação
que estava sendo construída.

A primeira geração romântica no Brasil teve como principais características o nacionalismo e o


indianismo. Os temas mais explorados pelos escritores desse momento são: natureza,
sentimentalismo, religiosidade, ufanismo e nacionalismo.

A valorização da cultura, da história do país e das tradições populares estiveram muito presentes
nessa primeira fase. O indianismo expressa uma das buscas aos temas nacionais e, nesse
contexto, o índio é eleito como herói nacional e apontado como um ser puro e inocente.

Gonçalves de Magalhães (1811-1882) foi fundador do romantismo no Brasil e autor das


obras: Suspiros poéticos e saudades (1836), A Confederação de Tamoios (1857) e Os Indígenas do
Brasil perante a História (1860)

Gonçalves Dias (1823-1864) foi um escritor focado em temas nacionais e indianistas, autor das
seguintes obras: Canção do exílio (1843), I-Juca- Pirama (1851) e Os Timbiras (1857).

José de Alencar (1829-1877) escreveu diversos romances indianistas, regionalistas e históricos


com destaque para as obras: O Guarani (1857), Iracema (1865) e Ubirajara (1874).

Trecho da obra Iracema, de José de Alencar

Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem
dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu
talhe de palmeira.

O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito
perfumado.

Mais rápida que a corça selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde
campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava
apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.
2.ª fase do romantismo no Brasil (1853 a 1869)
Conhecida como a geração do “Mal do Século” ou “Ultrarromântica”, a segunda geração
romântica foi profundamente influenciada pela poesia do inglês George Gordon Byron, (1788-
1824). Por isso, é muitas vezes chamada de geração “Byroniana”.

Marcada por aspectos negativos, a poesia desse período romântico é permeada dos temas:
egocentrismo, negativismo, pessimismo, dúvida, desilusão, boêmia, exaltação da morte e fuga da
realidade.

Álvares de Azevedo (1831-1852) foi um dos principais escritores desse momento, com uma obra
focada na tristeza e na morte, tais como: Lira dos vinte anos (1853), Noite na taverna (1855)
e Macário (1855).

Casimiro de Abreu (1839-1860) explorou temas como a saudade da infância e a tristeza. Durante
sua vida, publicou somente uma obra, seu livro de poesias As primaveras (1859).

Trecho do poema Meus oito anos, de Casimiro de Abreu

Oh! que saudades que tenho


Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
De despontar da existência!
– Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é – lago sereno,
O céu – um manto azulado,
O mundo – um sonho dourado,
A vida – um hino d’amor!
Fagundes Varela (1841-1875) possui uma obra focada em temas pessimistas e melancólicos.
Destacam-se: Noturnas (1861), Cântico do Calvário (1863) e Cantos e fantasias (1865).

Junqueira Freire (1832-1855) explorou temas religiosos e o conflito existencial, sendo que sua
obra de maior destaque é Inspirações do Claustro, publicada postumamente.

3.ª fase do romantismo no Brasil (1870 a 1880)


Chamada de “Geração Condoreira”, a terceira geração romântica é caracterizada pela poesia
libertária e social.
Esse período está associado ao condor, águia da cordilheira dos Andes, com o intuito de revelar
sua mais importante característica: a liberdade.

Essa geração sofreu grande influência do escritor francês Victor-Marie Hugo (1802-1885), daí ser
conhecida também como geração “Hugoana”.

O grande foco dos escritores desse momento, foi os problemas sociais e também o
abolicionismo.

Trecho do poema O Navio Negreiro, de Castro Alves

Era um sonho dantesco... O tombadilho


Que das luzernas avermelha o brilho,
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar do açoite…
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras, moças... mas nuas, espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs.

Tobias Barreto (1839-1889) foi um grande expoente da poesia social e lírica dessa geração.
Merece destaque suas obras: Amar (1866), A Escravidão (1868) e Dias e noites (1893).

Sousândrade (1833-1902) foi um dos poetas mais originais e vanguardistas da terceira geração.
De sua obra, destacam-se: Harpas Selvagens (1857) e O Guesa, livro escrito entre os anos de 1858
e 1888.

ROMANTISMO
Principais obras e autores do Romantismo
As obras do Romantismo assumem características diferentes de acordo com a fase a que
pertencem. Essa escola literária é dividida em três fases, as quais se caracterizam principalmente
pelo nacionalismo (da primeira geração romântica), pelo pessimismo (da segunda geração
romântica) e pela liberdade e erotismo (da terceira geração romântica).
Principais obras da primeira geração do Romantismo
1.Suspiros Poéticos e Saudades (1836), de Gonçalves de Magalhães
2.O poeta e a Inquisição (1839), de Gonçalves de Magalhães
3.A Moreninha (1844), de Joaquim Manuel de Macedo
4.O Moço Loiro (1845), de Joaquim Manuel de Macedo
5.Canção do Exílio (1846), de Gonçalves Dias
6.A Destruição das Florestas (1846), de Manuel de Araújo Porto Alegre
7.I-Juca-Pirama (1851), de Gonçalves Dias
8.Memórias de um Sargento de Milícias (1852), de Manuel António de Almeida
9.Cinco Minutos (1856), de José de Alencar
10. A Confederação dos Tamoios (1857), de Gonçalves de Magalhães
11. Os Timbiras (1857), de Gonçalves Dias
12. O Guarani (1857), de José de Alencar
13. A Viuvinha (1857), de José de Alencar
14. O Sertanejo (1857), de José de Alencar
15. Os Indígenas do Brasil perante a História (1860), de Gonçalves de Magalhães
16. Brasilianas (1863), de Manuel de Araújo Porto Alegre
17. Iracema (1865), de José de Alencar
18. Colombo (1866), de Manuel de Araújo Porto Alegre
19. A Luneta Mágica (1869), de Joaquim Manuel de Macedo
20. As Vítimas-Algozes (1869), de Joaquim Manuel de Macedo
21. Ubirajara (1874), de José de Alencar

Características: as principais características presentes nas obras da primeira fase do


Romantismo são indianismo, exaltação da natureza e nacionalismo ufanista.

Contexto histórico: quando o Romantismo teve início no País, já havia acontecido a


Independência do Brasil (1822). Nesse momento, havia um forte sentimento de patriotismo.

Por esse motivo, o principal tema das obras da primeira geração romântica no Brasil foi o índio,
que assumiu o papel de herói nacional.

Em Portugal, destacam-se:

 Camões (1825), de Almeida Garret


 Eurico, o Presbítero (1844), de Alexandre Herculano
 A Chave do Enigma (1862), António Feliciano de Castilho

Principais obras da segunda geração do Romantismo


1.Macário (1852), de Álvares de Azevedo
2.Lira dos Vinte Anos (1853), de Álvares de Azevedo
3.Trovas (1853), de Laurindo Rabelo
4.Noite na Taverna (1855), de Álvares de Azevedo
5.Inspirações do Claustro (1855), de Junqueira Freire
6.Contradições Poéticas (1855), de Junqueira Freire
7.Páginas Soltas (1855), de Pedro de Calasans
8.Meus Oito Anos (1857), de Casimiro de Abreu
9.Últimas Páginas (1858), de Pedro de Calasans
10. As Primaveras (1859), de Casimiro de Abreu
11. Noturnas (1860), de Fagundes Varella
12. Cântico do Calvário (1863), de Fagundes Varella
13. Vozes da América (1864), de Fagundes Varella
14. Cantos e Fantasias (1865), de Fagundes Varella
15. A Morte de Uma Virgem (1867), de Pedro de Calasans
16. A Rosa e o Sol (1867), de Pedro de Calasans
17. Cantos Meridionais (1869), de Fagundes Varella
18. Cantos do Ermo e da Cidade (1869), de Fagundes Varella

Características: as principais características presentes nas obras da segunda fase do


Romantismo são pessimismo, escapismo (desejo de fugir da realidade) e gosto pelo mórbido.

Contexto histórico: neste momento da literatura brasileira, a juventude havia perdido a esperança,
e os problemas da sociedade não são valorizados. Egocêntricos, os problemas centram-se nos
problemas pessoais, especialmente nas desilusões amorosas.

Assim, as obras desta fase são marcadas pelo tom pessimista - muito influenciadas por Byron,
um dos principais românticos da Europa que era um autêntico pessimista. Por esse motivo, a
segunda geração do Romantismo ficou conhecida como “geração byroniana”.

Em Portugal, destacam-se:

 O Noivado do Sepulcro (1850), de Soares de Passos


 Amor de Perdição (1862), de Camilo Castelo Branco
 Memórias do Cárcere (1862), de Camilo Castelo Branco

Principais obras da terceira geração do Romantismo


1.Harpas Selvagens(1857), de Sousândrade
2.Glosa (1864), de Tobias Barreto
3.Amar (1866), de Tobias Barreto
4.O Gênio da Humanidade (1866), de Tobias Barreto
5.A Escravidão (1868), de Tobias Barreto
6.O Navio Negreiro (1869), de Castro Alves
7.A Poesia Contemporânea (1869), de Sílvio Romero
8.Espumas Flutuantes (1870), de Castro Alves
9.A Cachoeira de Paulo Afonso (1876), de Castro Alves
10. Cantos do Fim do Século (1878), de Sílvio Romero
11. O Gênio da Humanidade (1881), de Tobias Barreto
12. Os Escravos (1883), de Castro Alves
13. Abolicionismo (1883), de Joaquim Nabuco
14. Últimos Harpejos (1883), de Sílvio Romero
15. Escravos (1886), de Joaquim Nabuco
16. O Guesa Errante (1888), de Castro Alves
17. Minha Formação (1900), de Joaquim Nabuco

Características: as principais características presentes nas obras da terceira fase do Romantismo


são erotismo, liberdade e a temática em torno do abolicionismo.

Contexto histórico: depois da Independência do Brasil (1822), a monarquia começou a perder a


sua força, e as pessoas almejavam pela república.

Ao mesmo tempo, a escravidão incomoda e o abolicionismo assume o centro da temática nesta


fase do Romantismo no Brasil. Desta forma, Castro Alves é o autor brasileiro que mais se destaca,
pois explorou o tema do abolicionismo, ficando conhecido como o “poeta dos escravos”.

Em Portugal, destacam-se:

 As Pupilas do Senhor Reitor (1867), de Júlio Diniz


 Uma Família Inglesa (1868), de Júlio Diniz
 Flores do Campo (1868), de João de Deus

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