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Escola Superior de Educação - Unidade Tchico Té

Curso: Licenciatura em Língua Portuguesa |2ºano |Turmas A e B


Cadeira: Literatura e Culturas Brasileiras
Ano letivo 2022/2023
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Romantismo no Brasil (1836 - 1881)

1. Introdução
O romantismo no Brasil teve como marco a publicação, em 1836, do livro de poemas Suspiros
Poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães, e terminou em 1881 com a publicação da obra
inaugural do Realismo no Brasil Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis (1839-
1908).

Nos primórdios dessa fase literária, 1833, um grupo de jovens estudantes brasileiros em Paris iniciou,
sob a orientação de Gonçalves de Magalhães e de Manuel de Araújo Porto Alegre, um processo de
renovação das letras influenciado pelo escritor português Almeida Garrett e pela leitura dos
românticos franceses. Ainda em Paris, em 1836, o mesmo grupo de brasileiros fundou a Revista
Brasiliense de Ciências, Letras e Artes, cujas duas primeiras edições traziam como epígrafe a seguinte
frase: "Tudo pelo Brasil e para o Brasil".

Esse movimento é visível pela valorização do nacionalismo e da liberdade que se deu na produção
literária nessa época, que se ajustava ao processo de nacionalização e autoafirmação necessário após
a independência. O Romantismo é antecedido pelo Arcadismo e precede os
movimentos Realistas, Naturalistas e Parnasiano.

2. Contexto histórico do Romantismo

Entre 1823 e 1831, o Brasil viveu um período conturbado como reflexo do autoritarismo de D. Pedro
I: a dissolução da Assembleia Constituinte; a Constituição outorgada; a Confederação do Equador;
a luta pelo trono português contra seu irmão D. Miguel; a acusação de ter mandado assassinar Líbero
Badaró e, finalmente, a abdicação em favor de seu filho, Dom Pedro II. Segue-se o período regencial e
a maioridade prematura de Pedro II. É neste ambiente confuso e inseguro que surge o Romantismo
brasileiro, carregado de lusofobia e, principalmente, de nacionalismo. Assim é que, a primeira
geração do Romantismo destaca-se na tentativa de diferenciar o movimento das origens europeias
e adaptá-lo, de maneira nacionalista, à natureza exótica e ao passado histórico brasileiro. Os

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primeiros românticos eram utópicos. Para criar uma nova identidade nacional, buscavam suas bases
no nativismo do período literário anterior, no elogio à terra e ao homem primitivo.

Inspirados em Montaigne e Rousseau idealizavam os índios como bons selvagens, cujos valores
heróicos tomavam como modelo da formação do povo brasileiro. Com o incremento da
industrialização e do comércio, notadamente a partir da Revolução Industrial do século XVIII,
a burguesia, na Europa, vai ocupando espaço político e ideológico maior. As ideias do emergente
liberalismo incentivam a busca da realização individual, por parte do cidadão comum. Nas últimas
décadas do século, esse processo levou ao surgimento, na Inglaterra e na Alemanha, de autores que
caminhavam num sentido contrário ao da racionalidade clássica e da valorização do campo, conforme
normas da arte vigente até então. Esses autores tendiam a enfatizar o nacionalismo e identificavam-
se com a sentimentalidade popular. Essas ideias foram o germe do que se denominou romantismo.

Algumas atitudes, e outras consequentes delas, foram se consolidando e, ao chegarem à França,


receberam um vigoroso impulso graças à Revolução Francesa de 1789. Afinal, essas tendências
literárias individualistas identificavam-se amplamente com os princípios revolucionários franceses de
derrubada do absolutismo e ascensão da burguesia ao poder, através de uma aliança com camadas
populares. A partir daí, o ideário romântico espalhou-se por todo o mundo ocidental, levando consigo
o caráter de agitação e transgressão que acompanhava os ideais revolucionários franceses que
atemorizavam as aristocracias europeias. A desilusão com esses ideais lançaria muitos românticos
em uma situação de marginalidade em relação à própria burguesia. Mesmo assim, devemos associar
a ascensão burguesa à ascensão do Romantismo na Europa.

Existem três fundamentos do estilo romântico: o egocentrismo, o nacionalismo e liberdade de


expressão. Segundo Fabio Luiz Sobieski, Romantismo, ainda chamado de Romanticismo, foi um abalo
artístico, político e filosófico aparecido nas derradeiras décadas do século XVIII na Europa que
persistiu por boa parte do século XIX, diferenciando-se como uma visão de mundo adversa ao
racionalismo e ao iluminismo, procurou um nacionalismo que viria a materializar os estados pátrios
na Europa.

O egocentrismo: também chamado de subjetivismo, ou individualismo. Evidencia a tendência


romântica à pessoalidade e ao desligamento da sociedade. O artista volta-se para dentro de si mesmo,
colocando-se como centro do universo poético. A primeira pessoa ("eu") ganha relevância nos
poemas.

O nacionalismo: corresponde à valorização das particularidades locais. Opondo-se ao registro de


ambiente árcade, que se pautava pela mesmice, vendo pastoralismo em todos os lugares, o
Romantismo propõe um destaque da chamada "cor local", isto é, o conjunto de aspectos particulares
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de cada região. Esses aspectos envolvem componentes geográficos, históricos e culturais. Assim, a
cultura popular ganha considerável espaço nas discussões intelectuais de elite.

A liberdade de expressão: é um dos pontos mais importantes da escola romântica. "Nem regra, nem
modelos "- afirma Victor Hugo, um dos mais destacados românticos franceses. Pretendendo explorar
as dimensões variadas de seu próprio "eu", o artista se recusa a adaptar a expressão de suas emoções
a um conjunto de regras pré-estabelecido. Da mesma forma, afasta-se de modelos artísticos
consagrados, optando por uma busca incessante da originalidade.

Como decorrência da supremacia do sujeito na estética romântica, o sentimentalismo ganha


destaque especial. A emoção supera a razão na determinação das ações das personagens românticas.
O amor, o ódio, a amizade o respeito e a honra são valores sempre presentes.

Na sua luta contra a racionalidade, o artista romântico valoriza todo e qualquer estado onírico, isto
é, dominado pelo sonho, pela fantasia e pela imaginação. São momentos de suspensão passageira
ou definitiva da razão que definem o ser humano passional, dentro do Romantismo. Toda loucura é
válida.

E se o mundo não corresponde aos anseios românticos, o artista parte para a idealização criando um
universo independente, particular, original. Nesse universo ele deposita suas aspirações de liberdade
e à perfeição física. A figura da mulher amada, por exemplo, será associada à sempre um exemplo
moral a ser seguido pelos leitores, por sua inteireza de caráter e sua moralidade irrepreensível.

Se de um lado temos sempre a figura do herói associada ao Bem, de outro é quase obrigatória nos
romances a presença de um vilão, que encarna o Mal. Essa concepção moral de oposição absoluta
entre Bem e Mal recebe o nome de maniqueísmo. No romantismo, o maniqueísmo constituiu mesmo
a espinha dorsal das narrativas.

Normalmente, associamos o Romantismo a imagens de inocência e lirismo, mas ele tem sua face
escura, tétrica e trágica. O pessimismo romântico aparece nas referências à morte e no
arrebatamento passional, que às vezes conduz à loucura ou aos finais infelizes.

A Natureza, tão fundamental no Neoclassicismo, ganhará contornos particulares no Romantismo. No


primeiro estilo, servia sempre como pano de fundo harmoniosos para o cenário bucólico e pastoril.
No segundo, acompanha os estados de espírito do poeta ou das personagens dos romances. Assim,
momentos de tristeza ou desilusão corresponderão a paisagens lúgubres; bem como instantes de
alegria aparecerão sempre associados a imagens luminosas.

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O romântico, ao desenvolver um mundo particular, pode transformá-lo em seu espaço de fuga: é o
escapismo. As saídas, para o artista, são aquelas apontadas anteriormente: o sonho, a morte, a
Natureza exótica. Ainda dentro do escapismo, destaque-se um espaço particular de fuga: o passado.

3. Características do Romantismo

 Subjetivismo - A personalidade do autor está em destaque. A poesia e a prosa romântica


apresentam uma visão particular da sociedade, de seus costumes e da vida como um todo.
 Sentimentalismo - Os sentimentos dos personagens entram em foco. O autor passa a usar a
literatura como forma de explorar sentimentos comuns à sociedade, como: o amor, a cólera,
a paixão etc. O sentimentalismo geralmente implica a exploração da temática amorosa e os
dramas de amor.
 Nacionalismo, ufanismo - Surge a necessidade de criar uma cultura genuinamente brasileira.
Como uma forma de publicidade do Brasil, os autores brasileiros procuravam expressar uma
opinião, um gosto, uma cultura e um jeito autênticos, livres de traços europeus.
 Maior liberdade formal - As produções literárias estavam livres para assumir a forma que
quisessem, ou seja, entrava em evidência a expressão em detrimento da estrutura formal
(versificação, rima etc).
 Vocabulário mais brasileiro - Como um meio de criar uma cultura brasileira original os artistas
buscavam inspiração nas raízes pré-coloniais utilizando-se de vocábulos indígenas
e regionalismos brasileiros para criar uma língua que tivesse a cara do Brasil.
 Religiosidade - A produção literária romântica, utiliza-se não só da fé católica como um meio
de mostrar recato e austeridade, mas utiliza-se também da espiritualidade, expressando uma
presença divina no ambiente natural.
 Mal do século - Essa geração, também conhecida como Byroniana e Ultrarromantismo,
recebeu a denominação de mal do século pela sua característica de abordar temas obscuros
como a morte, amores impossíveis e a escuridão.
 Evasão - O artista romântico (do ultrarromantismo) interpretava o mundo como cruel e
frequentemente buscava a fuga da sociedade que não o aceitava.
 Indianismo - O autor romântico utilizava-se da figura do índio como inspiração para seu
trabalho, depositando em sua imagem a confiança num símbolo de patriotismo e brasilidade,
adotando o indígena como a figura do herói nacional (bom selvagem).
 A idealização da realidade - A análise dos fatos, das aparências, dos costumes etc era muito
superficial e pessoal, por isso era idealizada, imaginada, assim o sonho e o desejo invadiam o
mundo real criando uma descrição romântica e mascarada dos fatos.
 Escapismo - Os artistas românticos procuravam fugir da opressão capitalista gerada
pela revolução burguesa (revolução industrial). Apesar de criticarem a burguesia, os artistas
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tinham que ser sutis pois os burgueses eram os mecenas de sua literatura e por isso
procuravam escapar da realidade através da idealização.
 As formas de escape seriam as seguintes: Fuga no tempo, Fuga no sonho e na imaginação,
Fuga na loucura, Fuga no espaço e Fuga na morte.
 O culto à natureza - Com a busca de um passado indígena e de uma cultura naturalmente
brasileira surge o culto ao natural, aos elementos da natureza, tão cultuados pelos índios.
Passava-se a observar o ambiente natural como algo divino e puro.
 A idealização da Mulher (figura feminina)- a mulher era a fonte de toda a inspiração. Era
intocável, vista como um anjo em que jamais poderiam desfrutar de suas caracteristicas puras
e angelicais.

4. Principais obras do Romantismo

4.1 Poesia Romântica

No Brasil, a poesia romântica é marcada, num primeiro momento, pelo teor patriótico, de afirmação
nacional, de compreensão do que era ser brasileiro, ou pela expressão do eu, isto é, pela expressão
dos sentimentos mais íntimos, dos desejos mais pessoais, diferente do ideal de imitação da natureza
presente na poesia árcade. Isto tudo seguido de uma revolução na linguagem poética, que passou a
buscar uma proximidade com o cotidiano das pessoas, com a linguagem do dia-a-dia. No poema
"Invocação do Anjo da Poesia", Gonçalves de Magalhães diz que vai abandonar as convenções
clássicas (cultura grega) em favor do sentimento pessoal e do sentimento patriótico.

Quanto à forma, a poética do romantismo abandona a rigidez clássica do soneto e da ode para
explorar formas mais líricas, como a balada e a canção. Adota-se ritmo mais vinculado à melodia que
a preocupações estritas com a métrica. Os poetas românticos costumam recorrer
a redondilhas maiores e menores, em busca de uma cadência popular.

A poesia romântica surge em meio aos fervores independentistas da primeira metade do século XIX,
tendo como marco inicial a obra de Gonçalves de Magalhães, "Suspiros Poéticos e Saudades".
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Apesar de servir como marco de início do romantismo no Brasil, a obra "Suspiros Poéticos e
Saudades" não apresenta grande notoriedade ou importância no cenário artístico poético do
romantismo brasileiro assim como as outras obras de Gonçalves de Magalhães.

De acordo com as características e vertentes assumidas por cada poeta romântico, a poesia
romântica pode ser dividida em:

4.1.1 Primeira geração - Indianista ou Nacionalista

A primeira geração do Romantismo no Brasil foi marcada por um forte sentimento nacionalista e,
portanto, houve uma valorização da pátria e dos elementos que a compõem.

Índios Tupinambás - O indianismo foi um dos temas principais da primeira geração do Romantismo no Brasil

CANÇÃO DO EXÍLIO

Minha terra tem palmeiras,


Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,

Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,


Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

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Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar - sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,


Sem que volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

(Gonçalves Dias)

Nota-se que o eu lírico expressa a saudade de sua pátria, comparando suas belezas, sua natureza,
com o local onde se encontra exilado. Esse tipo de produção foi muito importante para a
construção das bases da poesia no Brasil, pois, nesse momento da literatura, o país passava por
transformações significativas, como a vinda da família real e, posteriormente, a independência,
fatos que suscitaram a abordagem de temas sobre a pátria, a natureza, a religião, entre outros.
Assim, o romantismo apresentou características de um movimento anticolonialista e antilusitano,
ou seja, foi um movimento que se opunha aos moldes portugueses, uma vez que rejeitava
a literatura produzida na época colonial. Portanto, um de seus traços essenciais foi o nacionalismo.

O contexto histórico da época foi influenciador direto das produções do movimento romântico. A
vinda da família real possibilitou o contato com as novas tendências literárias trazidas do velho
continente (continente europeu), com moldes franceses e ingleses. Como consequência dessa
mudança da família real para o Brasil, o processo de independência instalara -se, despertando o
sentimento nacionalista, o que fez com que o brasileiro olhasse para seu passado histórico como
forma de enaltecer a sua pátria, valorizando a natureza e elegendo o índio como seu herói
nacional.

Com o rompimento dos moldes clássicos baseados na literatura grega e latina, surgiu uma nova
forma de produção literária, que possuía um público novo, pertencente às classes populares da
sociedade. Assim, houve uma valorização da língua do povo brasileiro, o que possibilitava o acesso
mais fácil ao texto conhecido como romance, gênero literário que não existia no período clássi co.

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Outro facto que influenciou bastante esse movimento foi a criação de novas escolas, bibliotecas,
museus, casas tipográficas e órgão de imprensa no Rio de Janeiro (nova sede da monarquia), o que
contribuiu para a promoção das informações, bem como para o incentivo a novas ideias no país.
Além disso, D. João VI decretou a abertura dos portos para o comércio com outras nações,
possibilitando a entrada de novas tendências no Brasil.

Esse período foi marcado por um forte sentimento de busca de identidade nacional, já que éramos
um país recém-independente. Dessa forma, a primeira fase do Romantismo no Brasil apresentou
como temas principais o amor impossível, o índio, a saudade da pátria, a natureza e a religiosidade.

As características gerais da Primeira Geração do Romantismo no Brasil:

 Exaltação à natureza: buscava uma linguagem nova que valorizasse as características físicas,
sociais e culturais que faziam parte da pátria. Assim, houve uma valorização do vocabulário
típico do brasileiro. Por meio da exaltação à natureza e à liberdade, os românticos fugiam
da realidade que os massacravam em um país com problemas econômicos e sociais sérios.
Dessa maneira, houve a produção de uma poesia que tinha o índio como herói nacional e
que era expressa por meio de uma linguagem simples e acessível;

 Indianismo/medievalismo (índio como grande herói nacional): busca do índio como o


elemento medieval que representava o nosso passado, a raiz do povo brasileiro e, por isso,
esse elemento foi um dos temas principais dessa primeira geração. O índio substituiu a
imagem do herói medieval, trazido pelas influências europeias.

 Nacionalismo, ufanismo: O sentimento nacionalista de um país recém-independente era


expresso de forma exagerada, uma vez que eram exaltados apenas os aspectos positivos
da pátria. Assim, o olhar sobre a pátria era impregnado de idealização.

 Influência direta da Independência do Brasil (1822)

Os principais autores da poesia são Domingos José Gonçalves de Magalhães (1811 a 1882) e
Antônio Gonçalves Dias (1823 a 1864) e da prosa, José de Alencar, Joaquim Manuel de Macedo e
Manuel Antônio de Almeida

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4.1.2 Segunda geração - Ultrarromantismo ou Mal do Século

Findada a primeira fase romântica, fase em que o índio, a natureza e a pátria constavam entre os
principais temas, tiveram início a prosa e a poesia gótica, cujo conteúdo temático em muito diferia
daquele que despertava o interesse de escritores como Gonçalves Dias e José de Alencar. A
literatura indianista deu lugar à literatura soturna e melancólica dos escritores ultrarromânticos.

O sofrimento, a dor existencial, a angústia e o amor sensual e idealizado foram os principais temas
da literatura produzida durante a segunda fase do Romantismo.

A publicação do livro Poesias, de Álvares de Azevedo, em 1853, foi considerada o marco inicial da
poesia de inspiração gótica. Outros escritores também fizeram do ultrarromantismo seu projeto
literário, entre eles Fagundes Varela, Junqueira Freire e Casimiro de Abreu, fortemente inspirados
pelo inglês Lord Byron, pelo italiano Giacomo Leopardi e pelos franceses Alphonse de Lamartine e
Alfred de Musset.

Nunca antes a poesia e a prosa brasileira haviam experimentado assuntos que alcançassem um
grau tão elevado de subjetivismo, percorrendo temas como o amor e a morte, a dúvida e a ironia,
o entusiasmo e o tédio. Houve uma ruptura drástica com os padrões literários vigentes e também
com os valores da sociedade, já que a literatura da segunda fase romântica afrontou o
materialismo e o racionalismo burgueses, desbravando zonas antilógicas do subconsciente,
apresentados temas pouco ortodoxos que foram capazes de causar repulsa e estranhamento na
crítica literária e no público.

A exacerbação da sentimentalidade e a morbidez estão entre os aspectos que definem a estética


ultrarromântica. Na obra de Álvares de Azevedo, considerado o poeta mais importante de sua
geração, é comum encontrar expressões que transportam o leitor para um universo mórbido e
depressivo.

Entre as principais obras do período estão o livro de poemas Lira dos Vinte Anos, o livro de
contos Noite na taverna, a peça teatral Macário — todos de Álvares de Azevedo —, Primaveras,
de Casimiro de Abreu, Noturnas e Vozes da América, de Fagundes Varela, e o livro
póstumo Poesias Completas, de Junqueira Freire.

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Essas obras, sobretudo a obra de Álvares de Azevedo, permanecem vivas no mundo da
subcultura, influenciando outras manifestações artísticas, entre elas a música e o cinema, e
oferecendo vasta documentação para a psicanálise, que tenta desvendar o desencantamento
dos escritores ultrarromânticos.

Entre os principais representantes da segunda geração do Romantismo brasileiro estão Álvares


de Azevedo, Casimiro de Abreu e Fagundes Varela

Poema(s), exemplo(s):

Último soneto

Já da noite o palor me cobre o rosto,


Nos lábios meus o alento desfalece,
Surda agonia o coração fenece,
E devora meu ser mortal desgosto!

Do leito, embalde num macio encosto,


Tento o sono reter!... Já esmorece
O corpo exausto que o repouso esquece...
Eis o estado em que a mágoa me tem posto!

O adeus, o teu adeus, minha saudade,


Fazem que insano do viver me prive
E tenha os olhos meus na escuridade.

Dá-me a esperança com que o ser mantive!


Volve ao amante os olhos, por piedade,
Olhos por quem viveu quem já não vive!

(Álvares de Azevedo)

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Minh'alma é triste

Minh'alma é triste como a rola aflita


Que o bosque acorda desde o alvor da aurora,
E em doce arrulo que o soluço imita
O morto esposo gemedora chora.

E, como a rôla que perdeu o esposo,


Minh'alma chora as ilusões perdidas,
E no seu livro de fanado gozo
Relê as folhas que já foram lidas.

E como notas de chorosa endeixa


Seu pobre canto com a dor desmaia,
E seus gemidos são iguais à queixa
Que a vaga solta quando beija a praia.

Como a criança que banhada em prantos


Procura o brinco que levou-lhe o rio,
Minha'alma quer ressuscitar nos cantos
Um só dos lírios que murchou o estio.

Dizem que há, gozos nas mundanas galas,


Mas eu não sei em que o prazer consiste.
— Ou só no campo, ou no rumor das salas,
Não sei porque — mas a minh'alma é triste!

(Casimiro de Abreu)

4.1.3 Terceira Geração – Condoreira

A Terceira Geração do romantismo (1870 – 1880) tem como pano de fundo o abolicionismo e as
tentativas da República de acabar com a Monarquia. Ficou conhecida como “geração condoreira”
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devido ao condor, ave que representa liberdade e, portanto, significava o desejo de renovação da
sociedade Brasileira. Foi muito influenciada pela obra político-social do poeta e escritor francês Victor
Hugo (Os Miseráveis), ficando por essa razão conhecida também como “geração hugoana”. Os poetas
dessa geração buscam uma poesia de cunho social em que a sociedade trabalhe por igualdade, justiça
e liberdade.

Ela ainda mantém o nacionalismo da primeira geração. Porém, enquanto a primeira geração exalta
somente a união do branco e do índio, a terceira busca a identidade nacional focada também na etnia
negra e faz duras críticas à escravidão e as condições dos negros no país.

Nesta fase, também, a mulher deixa de ser idealizada e inatingível e passa a ser vista com suas
virtudes e pecados, e é apresentada como algo tocável. O amor platónico das gerações anteriores
desaparece e surge uma atmosfera de sensualidade e erotismo.

A Terceira Geração do romantismo no Brasil tem, portanto, como principais características:


 Erotismo/mulher presente, carnal/ negação do amor platônico;
 Luta pela liberdade, temáticas sociais;
 Abolicionismo/abolição da Escravatura (1888) – influenciado pelos acontecimentos sociais,
discursa sobre liberdade, questões sociais;
 Progresso (volta-se para o futuro); e
 Uso de exclamações, exageros, apóstrofes.

Alguns principais autores da Terceitra Geração são Castro Alves (“Poeta dos Escravos”,) Sousândrade
("o Poeta da transição" considerado o poeta "divisor de águas" entre o Romantismo e a nova escola
o Realismo), Tobias Barreto de Meneses, Joaquim Nabuco, Sílvio Romero, sendo esses dois primeiros
os mais importantes.

Poema(s), exemplo(s):

Navio Negreiro, Canto V

Senhor Deus dos desgraçados!


Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura… se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co’a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?…
Astros! noites! tempestades!
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Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!
Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa…
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!…
São os filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus…
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão…
São mulheres desgraçadas,
Como Agar o foi também.
Que sedentas, alquebradas,
De longe… bem longe vêm…
Trazendo com tíbios passos,
Filhos e algemas nos braços,
N’alma — lágrimas e fel…
Como Agar sofrendo tanto,
Que nem o leite de pranto
Têm que dar para Ismael.
(…)

(Castro Alves)
( Conhecido como “Poeta dos Escravos”, Castro Alves é o mais importante representante da terceira geração
romântica no Brasil. Ele era diretamente envolvido na campanha abolicionista, e sua poesia tinha o objetivo de
sensibilizar os outros sobre as questões sociais de seu tempo. Seus poemas também eram diferenciais, pois
mostravam amor pela vida e não a busca pela morte. Uma de suas principais obras foi o poema Navio Negreiro.)

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4.2 Prosa Romântica

A prosa romântica inicia-se com a publicação do primeiro romance brasileiro "O Filho do Pescador",
de Antônio Gonçalves Teixeira e Sousa em 1843. O primeiro romance brasileiro em folhetim foi "A
Moreninha", de Joaquim Manuel de Macedo, publicado em 1844. O romance brasileiro caracteriza-
se por ser uma "adaptação" do romance europeu, conservando a estrutura folhetinesca europeia,
com início, meio e fim seguindo a ordem cronológica dos fatos.

O Romance brasileiro poderia ser dividido em duas fases: Antes de José de Alencar e Pós-José de
Alencar, pois antes desse importante autor as narrativas eram basicamente urbanas, ambientadas
no Rio de Janeiro, e apresentavam uma visão muito superficial dos hábitos e comportamentos da
sociedade burguesa.

E com José de Alencar surgiram novos estilos de prosa romântica como os romances regionalistas,
históricos e indianistas e o romance passou a ser mais crítico e realista. Os romances brasileiros
fizeram muito sucesso em sua época já que uniam o útil ao agradável: A estrutura típica do romance
europeu, ambientada nos cenários facilmente identificáveis pelo leitor brasileiro (cafés, teatros, ruas
de cidades como o Rio de Janeiro).

O sucesso também se deve ao fato de que os romances eram feitos para a classe burguesa,
ressaltando o luxo e a pompa da vida social burguesa e ocultando a hipocrisia dos costumes
burgueses. Por isso pode-se dizer que, no geral, o romance brasileiro era urbano, superficial,
folhetinesco e burguês.

Dentre os vários romancistas românticos brasileiros, merecem destaque:

 José de Alencar. É considerado o patriarca da literatura brasileira. Inaugurou novos estilos


românticos e consolidou o romantismo no Brasil desenhando o retrato cultural brasileiro
de forma completa e abrangente. E devido a essa visão ampla do cenário brasileiro, sua
obra iniciaria um período de transição entre Romantismo e Realismo. A sua produção
literária pode ser fragmentadas em três categorias:
 Romances Urbanos : Senhora ( faz crítica ao casamento por interesse, à hipocrisia, à
cobiça e à soberba burguesa), Lucíola (critica o fato de a burguesia, que financia a prostituição
durante a noite, ter aversão às mesmas durante o dia) e Diva (ressalta a beleza das jovens e
ricas burguesas, o virtuosismo e a pureza e, em contrapartida, critica o casamento por
interesse financeiro).
 Romances Regionalistas : O Gaúcho, O Sertanejo e O Tronco do Ipê
 Romances Históricos e Indianistas: O Guarani, Ubirajara, As Minas de Prata e Iracema.

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 Joaquim Manuel de Macedo. As principais obras: A Moreninha, O Moço Loiro e As vítimas-
algozes.
 Bernardo Guimarães
 Franklin Távora. Dentre seus principais romances estão O Cabeleira e Lourenço.
 Visconde de Taunay. Dentre as principais de obras estão Inocência e A Retirada da Laguna
 Manuel Antônio de Almeida. Dentre as obras de Manuel Antônio de Almeida destaca-se
Memórias de um Sargento de Milícias.

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Fontes, consultadas em janeiro de 2023 [com algumas alterações]:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Romantismo_no_Brasil
https://www.portugues.com.br/literatura/primeira-geracao-Romantismo-no-brasil.html
https://www.portugues.com.br/literatura/segunda-geracao-romantismo.html
https://admifpr.wordpress.com/2015/04/21/a-terceira-geracao-do-romantismo-no-brasil-os-
negros-e-a-liberdade-na-poesia-social-2/

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