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Romantismo

Literatura
Prof.ª Renata
Relembrando…
● O Romantismo foi um movimento artístico e filosófico surgido na Europa que
ajudou na disseminação das ideias iluministas.
● Escritores vinculados à estética romântica: Lord Byron, na Inglaterra; Goethe, na
Alemanha; Victor Hugo e Alexandre Dumas, na França.
● Os temas e as personagens nas obras do Romantismo se referiam à burguesia,
classe em ascensão. O individualismo, a liberdade formal, o sentimentalismo e o
pessimismo são características recorrentes na escola romântica.
● O Romantismo português surgiu em um cenário de conflitos políticos e sociais e
da ascensão da burguesia.
● A escola romântica em Portugal é dividida em três gerações:

○ A primeira se caracterizou pela presença de elementos ainda vinculados ao


Classicismo e ao Arcadismo. Os principais autores foram Almeida Garrett e
Alexandre Herculano.
○ A segunda foi marcada pelo domínio da estética romântica. Soares de
Passos, na poesia, e Camilo Castelo Branco, na prosa, são seus principais
autores.
○ A terceira, por sua vez, representa um momento de transição, tendo sua mais
importante expressão na poesia de João de Deus.
Contexto histórico
A chegada da família real no Brasil, em 1808, trouxe novos ares à colônia.
Além de os portos terem sido abertos às nações amigas de Portugal, foram
criados o Museu Nacional, o Banco do Brasil e a Biblioteca Nacional. Outra medida
tomada foi a permissão para o funcionamento de tipografias: o início da
atividade editorial e da imprensa periódica foi de fundamental importância, pois
permitiu a formação de um público leitor.

Em 1822, quando ocorreu a proclamação da independência política do


Brasil, os intelectuais brasileiros se viram também com a oportunidade de
reivindicar uma independência artística. Inspirados nas revoluções sociais que
atingiam a Europa e na produção literária romântica desse continente, os
escritores brasileiros voltaram a atenção para os elementos nacionais. As
memórias da infância, a melancolia, a saudade do passado, a pátria e a
natureza idealizada foram alguns dos temas representados.

O Romantismo brasileiro é considerado por muitos estudiosos o


primeiro movimento literário brasileiro, pois fez surgir sentimento nacionalista,
retratado pela valorização da tradição e pelo amor à natureza idealizada, tendo o
indígena como genuíno representante nacional.
Romantismo no Brasil
No Brasil, a poesia romântica foi, inicialmente, marcada pelo senso
nacionalista e pelo patriotismo, a chamada afirmação nacional, a qual
caracterizava uma tentativa de compreender o que era ser brasileiro. Houve ainda
uma revolução na forma poética, buscando-se uma proximidade com a
musicalidade do cotidiano.

Gonçalves de Magalhães publicou a obra que é considerada o primeiro


livro de Romantismo brasileiro “Suspiros poéticos e saudades” (1836) e por muito
tempo, foi tido como mestre da nova escola, porém foi com Gonçalves Dias que o
Romantismo brasileiro se consolidou na principal vertente da época –
o indianismo –, combinando a força do posicionamento ideológico – baseado na
afirmação da identidade nacional – com a sensibilidade de uma linguagem de nível
estético reconhecidamente elevado. No famoso poema “Canção do exílio” já são
abandonadas as convenções clássicas, em nome do sentimento pessoal, da
saudade e do nacionalismo.
Romantismo no Brasil
A poesia romântica brasileira é dividida em três
gerações, cada uma focada em temáticas específicas:

● a primeira geração é voltada para o indianismo;

● a segunda para a melancolia e para


o ultrarromantismo;

● e a terceira para o ideal de liberdade e de denúncia da


escravidão.
Primeira geração – A poesia indianista

A primeira geração dos


poetas românticos tem como temas
principais o saudosismo (em relação
à pátria distante), o nacionalismo e
o indianismo, às vezes abordando
também o sentimentalismo e
a religiosidade. O indígena é
apresentado no lugar do cavaleiro
medieval idealizado do Romantismo
europeu e personifica os valores de
coragem, valentia e lealdade.
Primeira geração – A poesia indianista
Gonçalves Dias e o amor à pátria

O poeta maranhense Antônio Gonçalves Dias (1823-


1864) estreou no Romantismo com o livro Primeiros cantos,
publicado em 1846.

A poesia de Gonçalves Dias apresenta a exaltação


da natureza e o apego à terra. Além disso, inspirada pelo já
mencionado “mito do bom selvagem”, retrata o indígena
como símbolo nacional, como um homem incorruptível,
genuinamente bom.

O que singulariza a produção de Gonçalves Dias é


que essa idealização do indígena, semelhante às
características dos heróis medievais, deu-se de modo
bastante simples. Seus poemas se destacam pela qualidade
e pela linguagem ágil, marcada pela musicalidade e pelo
sentimentalismo.
Gonçalves Dias e o amor à pátria
Quando escreveu o poema, Gonçalves Dias estava em Portugal, cursando
Direito. Observe que o eu lírico exprime o estado de espírito nostálgico,
estabelecendo uma oposição da sua terra natal como “lugar distante − lá” e a
“terra do exílio − cá”. No decorrer da Canção, o poeta expressa a superioridade de
sua terra natal, espaço sentimental de sua infância e de seus amores. A afeição
pelo Brasil e por sua natureza presente no poema tornou-se emblemática, sendo,
inclusive, parafraseada por Joaquim Osório Duque Estrada na letra do Hino
Nacional:

Do que a terra, mais garrida,


Teus risonhos, lindos campos têm mais flores;
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida no teu seio mais amores.
Hino Nacional Brasileiro.

https://www.youtube.com/watch?v=sKd4vskI_e0&ab_channel=MusicTopInternacional
Gonçalves Dias e a figura do indígena
Em relação à figura do indígena, que se destaca pela bravura e pela
honra, o exemplo mais conhecido talvez seja o poema “I-Juca-Pirama”. A epopeia
indianista escrita por Gonçalves Dias conta a história do último descendente da
tribo tupi, feito prisioneiro pelos timbiras, que pretendiam realizar um ritual de
antropofagia.

Canto VIII
Tu choraste em presença da morte? Possas tu, isolado na terra,
Na presença de estranhos choraste? Sem arrimo e sem pátria vagando,
Não descende o cobarde do forte; Rejeitado da morte na guerra,
Pois choraste, meu filho não és! Rejeitado dos homens na paz,
Possas tu, descendente maldito Ser das gentes o espectro execrado;
De uma tribo de nobres guerreiros, Não encontres amor nas mulheres,
Implorando cruéis forasteiros, Teus amigos, se amigos tiveres,
Seres presa de vis Aimorés. Tenham alma inconstante e falaz!
I-Juca-Pirama, de Gonçalves Dias
Prosa romântica – Do folhetim ao romance
O Romantismo é apontado como a principal manifestação estética do século XIX.

No Brasil, essa escola trouxe mais do que inovações na linguagem e no conteúdo


de suas obras, ela representou, sobretudo, o desejo dos artistas e intelectuais
brasileiros do período de afirmar uma independência cultural em relação a
Portugal.

Para isso, passou-se a valorizar as cores, os hábitos e os tipos locais, tornando a


nação o seu principal tema. O indígena e a natureza foram alçados ao patamar
de símbolos do que era genuinamente brasileiro, sendo utilizados em diversas
produções artísticas.

Com a ascensão da burguesia, o hábito da leitura de folhetins aos poucos criava


leitores assíduos de novelas e romances. Nasce a prosa de ficção brasileira.

Em 1843 surge o primeiro romance publicado no Brasil: O filho do pescador, de


Teixeira e Sousa, obra ignorada pelos leitores da época. Em 1844, Joaquim Manuel
de Macedo publicou A Moreninha, romance bem aceito pelo público e que viria a
ser considerado o primeiro do país.
Romantismo no Brasil - prosa
● No período do Romantismo brasileiro, o indígena é representado
como figura heroica, legitimando a identidade nacional. A natureza
também ganha destaque nesse período, de modo a ressaltar os
traços locais.

● O escritor cearense José de Alencar, por exemplo, lançou o seu


projeto de busca pela identidade nacional no Romantismo,
dedicando-se à produção de textos literários bastante
representativos da cultura local, como o romance sobre a índia dos
lábios de mel, Iracema.

● Os indígenas são determinantes, assim como os africanos e os


europeus, na formação da nação brasileira. Desse modo, conhecer e
compreender as culturas desses povos é de extrema importância
para o entendimento da história nacional. Assim, o Romantismo se
propõe a voltar os olhos ao passado, mesclando realidade e ficção.
Prosa romântica – Do folhetim ao romance
A realização do projeto literário do Romantismo de divulgar os
propósitos de uma identidade nacional pôde ser organizada em
quatro grupos principais:

● romances indianistas – Iracema, O Guarani, Ubirajara (J. de


Alencar)
● romances históricos – As minas de prata (J. de Alencar - Guerra
dos mascates / Bahia)
● romances urbanos – Senhora, Lucíola (J. de Alencar), A moreninha
(Joaquim M. de Macedo), Memórias de um Sargento de Milícias (
Manuel Antônio de Almeida).
● romances regionalistas – O tronco do ipê, O sertanejo (J. de
Alencar), Inocência (Visconde de Taunay).
Segunda geração – A poesia ultrarromântica
Os poetas chamados “ultrarromânticos” deram à
poesia romântica novos rumos e abandonaram o
compromisso com o nacionalismo da primeira
geração. Não apresentavam interesse pela vida
política e social, pois estavam voltados para si
mesmos e suas necessidades.

Essa geração se mostrou bastante subjetivista,


com foco em temáticas voltadas ao amor, à
morte, à dúvida e ao tédio. Também demonstrou
uma predileção ao devaneio, ao pessimismo e a
um sentimento de constante insatisfação.

Quanto ao amor, os poetas ultrarromânticos


expressavam em seus versos uma espécie de
dualismo, representado pela cisão entre o amor e
o medo, entre o ideal e o real.
Segunda geração – A poesia ultrarromântica
Era uma geração que apreciava o sofrer, o
que fica evidente no chamado “mal do
século”. Os autores da segunda geração
romântica se sentiam perdidos; não
acreditavam nos ideais e valores
São características da segunda geração que levaram à Revolução Francesa.
Por isso, escolheram uma vida
romântica no Brasil: desregrada e expressavam esse
modo de viver em versos
pessimistas e escapistas.
• subjetivismo; Leitores assíduos de poetas como
• egocentrismo; Lord Byron e Alfred de Musset
buscavam imitar o estilo de vida
• escapismo (tendência ao sonho e à fuga desses autores europeus, dando
da realidade); origem, assim, no Brasil, ao grupo de
poetas ultrarromânticos.
• temáticas envolvendo amor e morte;
• idealização do amor e da mulher;
• medo do amor;
• amor platônico e irreal.
“SE EU MORRESSE AMANHÔ
Álvares de Azevedo Pálida, à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
O poeta, trágico como seus contemporâneos, Como a lua por noite embalsamada,
faleceu antes mesmo de completar 21 anos, Entre as nuvens do amor ela dormia!
em decorrência de uma tuberculose. Suas
produções se dividem em poesia, prosa e Era a virgem do mar! na escuma fria
teatro, e foram compostas principalmente Pela maré das águas embalada!
enquanto cursava a faculdade de Direito no Era um anjo entre nuvens d’alvorada
Rio de Janeiro. Que em sonhos se banhava e se
esquecia!
Álvares de Azevedo era conhecido como o
“poeta da morte”, ou o “poeta da solidão”. Sua Era mais bela! O seio palpitando...
bibliografia compreende, em poesia, a Lira dos Negros olhos as pálpebras abrindo...
vinte anos, em teatro, Macário, e, em conto, a Formas nuas no leito resvalando...
coletânea A noite na taverna.
Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti – as noites eu velei chorando,
Por ti – nos sonhos morrerei sorrindo!
Casimiro de Abreu
Considerado um dos poetas mais populares
Segredos
do Romantismo, Casimiro de Abreu é dono de
Eu tenho uns amores – quem é que não os
uma poesia simples, de versos musicais, que tinha
apresentam situações cotidianas. Nos tempos antigos? – Amar não faz mal;
A saudade da infância é uma temática As almas que sentem paixão como a minha,
recorrente, como se percebe no poema “Meus Que digam, que falem em regra geral.
oito anos”, um dos mais famosos de sua obra.
– A flor dos meus sonhos é moça bonita
Qual flor entreaberta do dia ao raiar;
Em relação ao amor, Casimiro de Abreu segue Mas onde ela mora, que casa ela habita,
um caminho diferente daquele explorado por Não quero, não posso, não devo contar!
Álvares de Azevedo: o sentimento aparece
associado à vida e à sensualidade. Ainda é
possível observar o medo de amar, mas de (...)
“Segredos”, Casimiro de Abreu.
forma disfarçada. O poeta também alcançou
notoriedade por abordar outras temáticas
além do amor e da infância, como a pátria, a
saudade, a solidão e a natureza.
Fagundes Varela Cântico do calvário
A vida de Fagundes Varela não foi fácil. A perda do À memória de meu filho, morto a 11 de
filho de apenas três meses inspirou o poema “Cântico dezembro de 1863.
do calvário”, responsável pela notoriedade do poeta.
Eras na vida a pomba predileta
Seus versos evidenciaram, por um lado, o “mal do Que sobre um mar de angústias conduzia
século”, e, por outro, anteciparam os temas da poesia O ramo da esperança. — Eras a estrela
da terceira geração, por apresentarem preocupação Que entre as névoas do inverno cintilava
social. Apontando o caminho ao pegureiro.
Eras a messe de um dourado estio.
Casou-se duas vezes e teve outros dois filhos. Porém, Eras o idílio de um amor sublime.
novas tragédias aconteceram em sua vida, Eras a glória, — a inspiração, — a pátria,
repercutindo em seus versos: a morte dos filhos, da O porvir de teu pai! — Ah! no entanto,
esposa e do grande amigo Castro Alves foram Pomba, — varou-te a flecha do destino!
responsáveis por sua eventual migração para o Astro, — engoliu-te o temporal do norte!
misticismo religioso. Teto, caíste! — Crença, já não vives!

Sua produção literária foi principalmente de versos (...)


pessimistas, com predileção pela solidão e pela
morte.
Até a próxima aula!

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