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O pré-modernismo

PROFª ELAINE ARARIBA


Contexto histórico-cultural

O termo “Pré-modernismo” foi usado na década de 1950.


Consiste na produção literária compreendida entre 1902 (Canaã
e os Sertões).
O Pré-modernismo de um lado ainda é conservador e de outro
revolucionário.
Não é propriamente uma escola literária.
Na política, religião, economia, eis os principais acontecimentos:

• A Guerra de Canudos, na Bahia, entre 1895-1897;


• O fenômeno do cangaço, tipicamente nordestino que ascende a partir de 1900;
• O comportamento fanático-religioso nordestino; o misticismo; o “Padim Padre
Ciço”, no Ceará;
• A revolta contra a vacina obrigatória, no Rio de Janeiro;
• O Ciclo da Borracha, no Amazonas, cujo apogeu ocorreu em 1913;
• A Revolta da Chibata em 1910;
• República café com Leite
Os temas

a) Euclides da Cunha: a insanidade da Guerra de Canudos, a miséria do nordestino, sua


submissão religiosa;

b) Lima Barreto: o preconceito racial. No romance mais importante, Triste fim de Policarpo
Quaresma, faz crítica aos corruptos, aos não patriotas, à República recém-instaurada e,
sobretudo, ao caráter de Marechal Floriano Peixoto;

c) Monteiro Lobato: o regionalismo, seus tipos humanos, costumes político-sociais;


d) Graça Aranha: a imigração, sobretudo a alemã;

e) Augusto dos Anjos: a poesia escatológica, da podridão da carne humana em


decomposição, a angústia e a morte.
Euclides da Cunha

Os Sertões (1902).

O escritor descreve a luta na região Nordeste da Bahia, encravada


no Vale do Rio Vasa-Barris, ladeada pelas serras do Cocorobó e
do Cambaio: é lá, em Canudos, onde 20 mil habitantes são
liderados por Antônio Conselheiro – um líder messiânico e fanático
religioso -, que ocorrerá o maior genocídio brasileiro.
A divisão da obra

1. A terra:
 Traça do perfil das condições geográficas brasileiras
"Ao sobrevir das chuvas, a terra, como vimos, transfigura-se em mutações fantásticas, contrastando com a
desolação anterior. Os vales secos fazem-se rios. Insulam-se os cômoros escalvados, repentinamente verdejantes. A
vegetação recama de flores, cobrindo-os, os grotões escancelados, e disfarça a dureza das barrancas, e arredonda
em colinas os acervos de blocos disjungidos -de sorte que as chapadas grandes, entremeadas de convales, se ligam
em curvas mais suaves aos tabuleiros altos. Cai a temperatura. Com o desaparecer das soalheiras anula-se a secura
anormal dos ares. Novos tons na paisagem: a transparência do espaço salienta as linhas mais ligeiras, em todas as
variantes da forma e da cor. Dilatam-se os horizontes. O firmamento, sem o azul carregado dos desertos, alteia-se,
mais profundo, ante o expandir revivescente da terra. E o sertão é um vale fértil. É um pomar vastíssimo, sem
dono. Depois tudo isto se acaba. Voltam os dias torturantes; a atmosfera asfixiadora; o empedramento do solo; a
nudez da flora; e nas ocasiões em que os estios se ligam sem a intermitência das chuvas -o espasmo assombrador
da seca.
A natureza compra-se em um jogo de antíteses.”
2. O Homem

• “O homem é, antes de tudo, um


forte”.
• Euclides da Cunha pretende
demonstrar, nesta segunda parte de
seu livro, um estudo etnológico
brasileiro.
• O índio, o negro e o branco português
e o resultado da miscigenação
O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços
neurastênicos do litoral.
A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica
impecável, o desempeno, a estrutura corretíssima das organizações atléticas.
É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo, reflete no aspecto a fealdade típica
dos fracos. O andar sem firmeza, sem aprumo, quase gingante e sinuoso, aparenta a
translação de membros desarticulados. Agrava-o a postura normalmente abatida, num
manifestar de displicência que lhe dá um caráter de humildade deprimente. A pé, quando
parado, recosta-se invariavelmente ao primeiro umbral ou parede que encontra; a cavalo, se
sofreia o animal para trocar duas palavras com um conhecido, cai logo sobre um dos estribos,
descansando sobre a espenda da sela. Caminhando, mesmo a passo rápido, não traça
trajetória retilínea e firme. Avança celeremente, num bambolear característico, de que parecem
ser o traço geométrico os meandros das trilhas sertanejas. E se na marcha estaca pelo motivo
mais vulgar, para enrolar um cigarro, bater o isqueiro, ou travar ligeira conversa com um
amigo, cai logo — cai é o termo — de cócoras, atravessando largo tempo numa posição de
equilíbrio instável, em que todo o seu corpo fica suspenso pelos dedos grandes dos pés,
sentado sobre os calcanhares, com uma simplicidade a um tempo ridícula e adorável.
É o homem permanentemente fatigado.
3. A luta

• Parte mais significativa da obra.


• Euclides da cunha narra o que era
o povoado com 20 mil almas sob
custódia religiosa de Conselheiro
Fechemos este livro.

Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo
a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que
todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam
raivosamente 5 mil soldados.

Forremo-nos à tarefa de descrever os seus últimos momentos. Nem poderíamos fazê-lo. Esta página, imaginamo-la
sempre profundamente emocionante e trágica; mas cerramo-la vacilante e sem brilhos.

Vimos como quem vinga uma montanha altíssima. No alto, a par de uma perspectiva maior, a vertigem. . .

Ademais, não desafiaria a incredulidade do futuro a narrativa de pormenores em que se amostrassem mulheres
precipitando-se nas fogueiras dos próprios lares, abraçadas aos filhos pequeninos...
Lima Barreto

Romances:
Recordações do escrivão isaías caminha (1909);
Triste fim de policarpo quaresma (1915);
Numa e a ninfa (1915)
Clara dos anjos (1948)
CONTOS, SÁTIRAS, ARTIGOS E CRÔNICAS
 Um dos poucos em nossa literatura que combateram o preconceito racial e a
discriminação social do negro e do mulato.
 Paixão pelo Rio de Janeiro, os subúrbios e seus dramas humildes.
 Críticas a figuras da classe média que lutam desesperadamente para ascender
socialmente
Monteiro lobato

(1882-1948) foi um dos escritores brasileiros de maior prestígio, em


consequência de sua atuação como intelectual polêmico e autor de histórias
infantis.
Com jeca tatu , Lobato critica a face de um brasil agrário, atrasado e ignorante.
Seu ideal de país era um brasil moderno, estimulado pela ciência e pelo
progresso.
 foi um dos primeiros autores de literatura infantil em nosso país.
Em resumo, as características inovadoras mais comuns na
prosa pré modernista são:

 Denúncia da realidade social brasileira;


 Retrato de tipos humanos marginalizados no país (o
sertanejo, o caipira, o suburbano, o imigrante);
 Profunda ligação com fatos políticos, sociais e econômicos da
época (A Guerra de Canudos, a Revolta da Armada);
 Linguagem mais simples, em alguns casos (como Lima
Barreto).
Augusto dos anjos

(1884-1914): produziu textos de grande originalidade.


Considerado por alguns como poeta simbolista.
Eu (1912)- chocam pela agressividade do vocabulário e da visão
angustiante da matéria, da vida e do cosmos.
Compõem sua linguagem termos antipoéticos.
Versos íntimos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável


Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!


O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!


O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que
apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua


chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Psicologia de um vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco,


Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância…
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme – este operário das ruínas –
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!

(ANJOS, A. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. )


.
Em resumo, as características da poesia pré modernista
são:

 Ecletismo (presença de elementos de vários estilos:


Romantismo, Parnasianismo, Naturalismo,
Simbolismo).
 Termos apoéticos;
 Abordagens inusitadas.

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