Você está na página 1de 4

DISCIPLINA: LITERATURA II

DOCENTE: PÂMELA NERI


OBJETIVO: Estudo da 1ª Geração Romântica, com base no conceito de
nacionalismo, transculturalidade, indianismo.

AULA 2: 1ª Geração Romântica: o nacionalismo de Gonçalves Dias

1 PRIMEIRAS PALAVRAS1
A poesia feita no Brasil durante o Romantismo foi dividida pelos críticos em três
gerações. Primeira geração: os poetas nacionalistas O crescente sentimento
de orgulho nacional manifestou-se, frequentemente, na representação da
exuberante natureza brasileira. Além disso, ao buscar uma “cor local”, os poetas
românticos empreenderam um retorno ao passado de nossa nação,
representado pela figura do indígena, símbolo do elemento formador original do
Brasil.

1.1. Gonçalves Dias: a poesia épica

Em 1846, Gonçalves Dias estreou com “Primeiros cantos”, apresentando ao


leitor, entre outros temas, poemas indianistas. Nessa verdadeira “poesia
americana” (nome dado por Gonçalves Dias a seu núcleo poético indianista), a
paisagem, as lendas e as figuras indígenas fundem-se, criando imagens de
singular beleza2.

Para começar...

Leia um trecho do poema “Canto do Piaga”, mas precisamente a parte III

III Que nos ares pairando — lá vão.


Pelas ondas do mar sem limites
Basta selva, sem folhas, i vem; Oh! quem foi das entranhas das águas,
Hartos troncos, robustos, gigantes; O marinho arcabouço arrancar?
Vossas matas tais monstros contêm. Nossas terras demanda, fareja...
Traz embira dos cimos pendente Esse monstro... — o que vem cá
— Brenha espessa de vário cipó — buscar?
Dessas brenhas contêm vossas matas, Não sabeis o que o monstro procura?
Tais e quais, mas com folhas; é só! Não sabeis a que vem, o que quer?
Negro monstro os sustenta por baixo, Vem matar vossos bravos guerreiros,
Brancas asas abrindo ao tufão, Vem roubar-vos a filha, a mulher!
Como um bando de cândidas garças, Vem trazer-vos crueza, impiedade —

1 O ROMANTISMO NA EUROPA E NO BRASIL. Disponível em:


https://cesad.ufs.br/ORBI/public/uploadCatalago/17293316022012Literatura_Brasileira_I_Aula_
3.pdf. Acesso em: 17 abr. 2021.
2
A publicação de Suspiros poéticos e saudades (1836), de Gonçalves de Magalhães, deu início ao
Romantismo brasileiro, movimento que perdurou até 1881, quando as publicações de O mulato, de Aluísio
Azevedo, e de Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, inauguraram o Realismo-
Naturalismo.
Dons cruéis do cruel Anhangá; poesia e prosa completas. Rio de
Vem quebrar-vos a maça valente, Janeiro: Nova Aguilar, 1998.
Profanar Manitôs, Maracá.
DIAS, Gonçalves. In: BUENO, Alexei
(org.). Gonçalves Dias:

VOCABULÁRIO
a) Basta: cerrada, fechada.
b) I: aí.
c) Hartos: fortes.
d) Embira: corda, cipó.
e) Cimos: cumes, picos.
f) Brenha: mata cerrada.
g) Negro monstro: o casco das naus.
h) Brancas asas: as velas das naus.
i) Marinho arcabouço: estrutura das embarcações.
j) Anhangá: espírito maléfico.
k) Maça: clava; arma usada para a defesa.
l) Manitôs: deuses indígenas.
m) Maracá: chocalho indígena usado em cerimônias religiosas.

Para pensar... O que o filósofo iluminista Rousseau entendia como “bom


selvagem”3?

1.2. Características

INDIANISMO/ IDEALIZAÇÃO/ NACIONALISMO: fuga para um mundo criado à


base da imaginação, no qual se idealizavam o amor, a mulher, a natureza, a
pátria, o passado (medieval), o índio e a religião.

1.3. Mais poemas indianistas


VERSOS DE “I-JUCA PIRAMA”, DE GONÇALVES DIAS:
IV Que agora anda errante
Meu canto de morte, Por fado inconstante,
Guerreiros, ouvi: Sou filho das Guerreiros, nasci;
selvas, Sou bravo, sou forte,
Nas selvas cresci; Sou filho do Norte;
Guerreiros, descendo Meu canto de
Da tribo tupi. morte,
Guerreiros, ouvi.
Da tribo pujante,

3
ORMUNDO, Wilton. Se liga nas linguagens: português. São Paulo: Moderna. ed. 11. 2020.
VIII Possas tu, descendente maldito
"Tu choraste em presença da morte? De uma tribo de nobres guerreiros,
Na presença de estranhos choraste? Implorando cruéis forasteiros,
Não descende o cobarde do forte; Seres presa de via Aimorés.
Pois choraste, meu filho não és!

2. O NACIONALISMO UFANISTA

a) CANÇÃO DO EXÍLIO- (GONÇALVES DIAS)

Minha terra tem palmeiras, Em cismar — sozinho, à noite —


Onde canta o Sabiá; Mais prazer encontro eu lá;
As aves, que aqui gorjeiam, Minha terra tem palmeiras,
Não gorjeiam como lá. Onde canta o Sabiá.
Nosso céu tem mais estrelas, Não permita Deus que eu morra,
Nossas várzeas têm mais flores, Sem que eu volte para lá;
Nossos bosques têm mais vida, Sem que desfrute os primores Que
Nossa vida mais amores. não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Minha terra tem primores, Onde canta o Sabiá.
Que tais não encontro eu cá;

PARÓDIAS

b) Canção do exílio (Murilo Mendes)

Minha terra tem macieiras da Os sururus em família têm por


Califórnia testemunha a Gioconda.
onde cantam gaturamos de Eu morro sufocado em terra
Veneza. estrangeira.
Os poetas da minha terra Nossas flores são mais bonitas
são pretos que vivem em torres de nossas frutas mais gostosas
ametista, mas custam cem mil réis a dúzia.
os sargentos do exército são Ai quem me dera chupar uma
monistas, cubistas, carambola de verdade
os filósofos são polacos vendendo a e ouvir um sabiá con certidão de
prestações. idade!
A gente não pode dormir com os
oradores e os pernilongos.

c) Canto de regresso à pátria [Oswald de Andrade]

Minha terra tem palmares E quase que mais amores


Onde gorjeia o mar Minha terra tem mais ouro
Os passarinhos daqui Minha terra tem mais terra
Não cantam como os de lá
Minha terra tem mais rosas
Ouro terra amor e rosas Não permita Deus que eu morra
Eu quero tudo de lá Sem que volte pra São Paulo
Não permita Deus que eu morra Sem que veja a Rua 15
Sem que volte para lá E o progresso de São Paulo

COMENTÁRIO CRÍTICO:

“O Romantismo é, sem dúvida, uma reação contra o mundo do burguês, porém


apenas contra o que ele tem de exterior, de acidental. Lutava, aparentemente,
contra os valores burgueses. Mas o que propunha em troca? É Hegel quem
responde: o Amor, a Honra, a Lealdade. Isto é, os mesmos valores da cavalaria.
Um retorno mal disfarçado às abstrações medievais (...)”.

(BOAL, Augusto. Teatro do oprimido e outras poéticas políticas. Rio de Janeiro:


Editora Record, 2005)4.

4
ROMANTISMO BRASILEIRO (1836 – 1881). Disponível em:
https://www.policiamilitar.mg.gov.br/conteudoportal/uploadFCK/ctpmbarbacena/13042018102836613.pdf. Acesso em:
11 ago. 2021.

Você também pode gostar