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PROJETO

UMA IMAGEM DE REPENTE

Algumas informações acerca da Literatura de Cordel

Por Franklin Costa

Projeto realizado pelo Auçuba – Comunicação e Educação, com recursos do


FUNCULTURA.
O Cordel é um gênero brasileiro e popular de poesia, e tem esse nome -
Cordel - porque os folhetos ficavam pendurados em cordões nos locais de
venda. O Cordel veio de Portugal no século dezessete, trazido pelos
colonizadores, mas era diferente de como conhecemos hoje. O Cordel ganhou
aqui no Brasil a forma de versos rimados e é até hoje uma tradição viva e
forte, principalmente no Nordeste, onde se manteve o costume e o nome, e os
folhetos são expostos à venda pendurados e presos por pregadores de roupa,
em barbantes esticados entre duas estacas. No início, o Cordel divulgava
histórias antigas de aventuras e desventuras, depois passou a narrar romances
e novelas de amor e de cavalaria, e posteriormente passou a relatar
acontecimentos recentes. Quando ainda não tinha televisão, nem rádio ou
jornal, o Cordel ocupava esse espaço através de cantorias e depois também na
forma escrita, através de folhetos vendidos nas feiras, e tornou-se um dos
meios mais importantes de divulgação dos fatos de interesse popular. O
escritor Jorge Amado definiu muito bem o que é a poesia de Cordel, nas
seguintes palavras:
“Nascida do povo e por ele realizada, a Literatura de Cordel corresponde às
necessidades de informação, comentário, crítica da sociedade e poesia do
mesmo povo que a concebe e a consome. É ao mesmo tempo, o noticiário dos
fatos mais importantes que ocorrem no mundo, no país, no estado, na cidade,
no bairro, e sua interpretação do ponto de vista popular. É ao mesmo tempo
a crítica por vezes contundente e a visão poética do universo e dos
acontecimentos. É puritana, moralista, mas igualmente cínica e amoral,
realista e imaginosa – dentro de suas contradições perdura a unidade
fundamental do choque da cultura e da vida do povo com a sociedade que
limita, oprime e explora as populações pobres e trabalhadoras. Pode-se dizer,
em resumo, que a Literatura de Cordel é uma arma do povo contra seus
inimigos.”

Gêneros do Cordel
Contando com os gêneros mais usados e os menos usados, e com os que já não
se usam mais, o Cordel possui 36 (trinta e seis) modalidades, quantidade
realmente espantosa, que demonstra através dos tempos o grande poder
criativo dos poetas populares.

Esquema das rimas


As letras repetidas indicam os versos que rimam entre si. Os versos indicados
com X não rimam com nenhum outro.

QUADRA

X Minha mãe era pretinha


A Da cor de jabuticaba
X Porém, mesmo sendo preta
A Cheirava que só mangaba
(Fabião das Queimadas)
SEXTILHA

X Eu moro parede e meia


A Com a tristeza e a saudade
X E sinto uma grande dor
A Que a meu coração invade
X Mas nas cordas da viola
A Encontro felicidade
(Dimas Batista)

SEPTILHA (também chamado de sete linhas ou sete pés)

X São Pedro desconfiado


A Perguntou ao valentão
X Quem é você meu amigo
A Que anda com este rojão
B Virgulino respondeu:
B Se não sabe quem sou eu
A Vou dizer: sou Lampião
(A chegada de Lampião no céu, de Rodolfo Coelho Cavalcante)

OITO PÉS A QUADRÃO

A É no sangue, é no povo, é no tipo, é na raça


A é no riso, é no gozo, é no gosto, é na graça
A É no pão, é no doce, é no bolo, é na massa
B é na massa, é no bolo, é no doce, é no pão
B É cruzado, vintém, é pataca, é tostão
C é tostão, é pataca, é vintém, é cruzado
C É quadrão, é quadrinha, é quadrilha, é quadrado
B é quadrado, é quadrilha, é quadrinha, é quadrão
(Dimas Batista)

MARTELO

A Lá existe tudo quanto é de beleza


B Tudo quanto é bom, belo e bonito
B Parece um lugar bendito
A Ou um jardim da divina natureza
A Imita muito bem pela grandeza
C A terra da antiga promissão
C Para onde Moisés e Aarão
D Conduziram o povo de Israel
D Onde dizem que corriam leite e mel
C E caía manjar do céu no chão
(Viagem a São Saruê, de Manoel Camilo dos Santos)
ACRÓSTICO
É uma estrofe onde os versos iniciam com as letras do nome do autor, ou da
pessoa a quem este se refere ou queira homenagear.

Leitor, não levantei falso


Escrevi o que se deu
Aquele grande sucesso
Na Bahia aconteceu
De forma que o velho cão
Rolou morto sobre o chão
Onde o seu senhor morreu
(O Cachorro dos Mortos, de Leandro Gomes de Barros)

ALGUNS NOMES DA POESIA DE CORDEL

Cego Aderaldo - Cantador famoso, voz excelente, veia política apreciável. Era um
dos mais inspirados de quantos que existiram nos sertões do Ceará. "Aderaldo
Ferreira Araújo" era seu verdadeiro nome. Nasceu no Crato, viveu em Quixadá e
morreu em Fortaleza, beirando os 90 anos, em 1967. Tomou parte em cantorias que
marcaram épocas. Os versos que escreveu são lidos e conhecido em todo o Brasil.
(Da Peleja de Zé Pretinho com o Cego P – Fale de outro jeito,
Aderaldo, escrita pelo poeta piauiense Com melhor agrado –
Firmino Teixeira do Amaral) Seja delicado,
A – Negro é raiz Cante mais perfeito!
Que apodreceu! Olhe, eu não aceito
Casco de judeu, Tanto desespero!
Moleque infeliz! Cantemos maneiro,
Vai pra teu país: Com verso capaz –
Senão eu te surro, Façamos a paz
Dou-te até de murro! E parto o dinheiro!
Tiro-te o regalo,
Cara de cavalo,
Cabeça de burro!

Cuíca de Santo Amaro - Misto de poeta e repórter, Cuíca de Santo Amaro foi um dos
personagens mais importantes da história da cultura baiana e do cordel. Seus versos
assustavam poderosos e gente comum e não havia segredo guardado a sete chaves
que não se tornava escândalo público na cidade através de seus cordéis. Amado por
uns e por outros odiado, ele vestia um fraque bem passado, flor na lapela e chapéu
coco. Dessa forma declamava seus versos no mercado Modelo e pelas ruas de
Salvador. Apesar de não estar entre os melhores cordelistas, Cuíca de Santo Amaro
forneceu um relato picante e interessante do seu tempo através de centenas de
folhetos impressos semanalmente durante 25 anos. Muitos desses cordéis fazem
denúncias contra os abusos praticados contra o povo. Sobreviveu da venda de seus
cordéis. Faleceu em 1964.
(Trechos de Políticos Demagogos e Na unha de muita gente
Homens sem palavra) O pobre come fogo
Porque antigamente
Disse um grande profeta Dizia-nos São Diogo
Com o seu grande saber É raro hoje o político
Que o pobre veio ao mundo Que não seja demagogo
Somente para sofrer (...)
E este seu sofrimento
Só acaba quando morrer (...)

Lourival Batista Patriota (Louro) - Irmão mais velho da trilogia de maiores


repentistas do Brasil, conhecida como “Os irmãos Batista” (Lourival, Dimas e
Otacílio). Natural de Itapetim, ficou conhecido como “Rei dos Trocadilhos”, “Rei do
verso” e “Rei dos Cantadores”, substituindo Antônio Marinho (seu sogro). Nasceu em
1915 em Itapetim-PE. Possuía uma facilidade incrível para improvisar versos com
alteração das palavras e por isso foi chamado de “Rei dos Trocadilhos”.
Os “irmãos Batista” veem de uma família de mais de cem poetas e cantadores.

(estrofe em que fala da sua vida) (glosa para o mote: “Não tive amores,
sonhei-os, Mas possuí-los, não pude”)
É muito triste ser pobre;
Pra mim, é um mal perene... Na vida provei abalos
Trocando o “p” pelo “n”, E desesperos medonhos...
É muito alegre ser nobre; Sonhos, sonhos e mais sonhos,
Sendo pelo “c”, é cobre, Sem nunca realizá-los.
Cobre, figurado, é ouro; Na fronte, inda trago os halos
Botando o “t”, fica touro; Das auras da juventude;
Como a carne e vendo a pele; Porém não tive a virtude
O “t”, sem o traço, é “l”; De dormir entre dois seios;
Termino só sendo “Louro”. Não tive amores, sonhei-os,
Mas, possuí-los, não pude!

Dimas Batista Patriota - Nasceu em Itapetim-PE em 1921, segundo irmão, em idade,


de Lourival e Otacílio. Foi professor universitário e poliglota. Dotado de uma
inteligência privilegiada e muita vontade de vencer. Aos 50 anos formou-se em
Letras. Segundo alguns estudiosos nenhum cantador conseguiu acumular tanta cultura
como ele. Foi considerado por isso o cantador mais culto de todos os tempos. Seus
versos, pela estrutura do fundo e segurança da forma, são considerados de sabor
clássico.
A suprema e divina onipotência As abelhas dão prova bem fiel
Que criou e governa os hemisférios De um perfeito sistema social,
Com seus grandes arcanos e mistérios, No trabalho incessante, cada qual
Desafia, dos homens, a ciência. Desempenha, por ordem, seu papel...
Busca o sábio, com sua inteligência, Fabricando, em segredo, o doce mel,
Descobrir, entender essa grandeza; Com perícia, cuidado e sutileza;
Mas, perdido na vala da incerteza, É tão bom seu sabor, tal a pureza,
Fica cego ante as trevas do abstrato, Que supera os de açúcares mais finos!
E murmura, vencido, estupefato: Até mesmo nos seres pequeninos,
Quanto é grande o poder da natureza! Quanto é grande o poder da natureza!
(...) (...)
Otacílio Batista Patriota - Terceiro dos “irmãos Batista”. Nasceu em São José do
Egito em 1923. Cantou pela primeira vez aos 17 anos. Foi vencedor de inúmeros
Festivais e Congressos de Cantadores no Nordeste e Sudeste do país. Cantou como
nomes famosos do Repente, como o Cego Aderaldo, e publicou inúmeros folhetos. É
co-autor do livro Antologia Ilustrada dos Cantadores. Por sua voz melodiosa e
vibrante foi chamado de “Uirapuru”.
(Trechos de Sou Poeta e Cantador) O poeta cantador
Tão humilde criatura
Sou poeta e cantador Canta com amor e ternura
O meu destino é cantar. Aquilo que ninguém canta.
Não aprendi a guardar Faz da poesia um trono
Mágoa nenhuma no peito. E da voz um passarinho
Diziam já os romanos Pousando de ninho em ninho
Há muitos anos atrás Na floresta da garganta.
O poeta não se faz
O poeta nasce feito.
(...)

Zé Limeira - Denominado “Poeta do Absurdo” por Otacílio Batista, é o criador de


uma escola – a dos versos dos disparates, cujo precursor foi o cearense Manoel de
Morais. Nasceu em1886. Carismático, sorridente, comunicativo e bonachão, sertanejo
legítimo. Ainda menino trocou a enxada pela viola. Com sua voz de barítono e dicção
perfeita, Zé Limeira dominou as cantorias de 1901 a 1954, tendo disputado com todos
os grandes repentistas nordestinos sem encontrar dificuldade. Inventava palavras e
era impecável na métrica.
Eu já cantei em Recife, Bonito é se ver o rio Amazona,
Dentro do Pronto Socorro, Que nasce na serra do serrote Preto:
Ganhei duzentos mil réis, Matou o poeta Tobias Barreto,
Comprei trezentos cachorro... Debaixo dum pé de manga azeitona.
Morri no ano passado, Dizem qu’esse rio gosta duma dona,
Mas, esse ano, eu não morro! E o pai do rio não deixa casar...
Largura e tamanho, eu sei calcular.
Há horas que desce, rios a baixo!
Só canta comigo, cabra que for macho,
Descrevendo os rios que embocam no
mar.

Manoel Camilo dos Santos - Nasceu em Guarabora, Paraíba, em 1905. Foi cantador
na década de 30. Tendo de cantar em 1940, dedicou-se a escrever e editar folhetos.
Iniciou as atividades editoriais em sua cidade natal, continuando em Campina
Grande. A Folhateria Santos, por ele fundada, cede, anos depois, seu lugar a A
"ESTRELA" DA POESIA. Um dos fundadores da Academia Brasileira de Cordel, onde
ocupa a cadeira nº 25, que tem como patrono Inácio Catingueira. Repentista e
violeiro, é autor de mais de 80 folhetos.

(Trechos de O Sabido sem estudo) É o caso que me refiro


De quem pretendo contar
Deus escreve em linhas tortas A vida d’um homem pobre
Tão certo chega faz gosto Que mesmo sem estudar
E fez tudo abaixo dele Ganhou o nome de sábio
Nada lhe será oposto E por fim veio a enricar
Um do outro desigual
Por isto o mundo é composto (...)

Leandro Gomes de Barros - Paraibano, pioneiro na publicação de folhetos rimados, é


autor de uma obra vastíssima e da mais alta qualidade, o que lhe confere, sem
exageros, o título de poeta maior da Literatura de Cordel. Nascido em Pombal-PB,
em 1865, faleceu no Recife-PE, em 1918, deixando um legado cerca de mil folhetos
escritos, embora centro cultural algum registre tal façanha. Foi, porém, o maior
editor antes de João Martins de Athayde, que o sucedeu. O vigoroso programa
editorial de Leandro levou a Literatura de Cordel às mais distantes regiões, graças ao
bem sucedido projeto de redistribuição através dos chamados agentes.

(Trechos de O Cavalo que Defecava Do fiofó do cavalo


Dinheiro) Ele fez um mealheiro
Saiu dizendo: _ Sou rico!
Na cidade de Macaé Inda mais que um fazendeiro,
Antigamente existia Porque possuo o cavalo
Um duque velho invejoso Que só defeca dinheiro.
Que nada o satisfazia
Desejava possuir Quando o duque velho soube
Todo objeto que via (...) Que ele tinha esse cavalo
Disse pra velha duquesa:
Se vendo o compadre pobre _Amanhã vou visitá-lo
Naquela vida privada Se o animal for assim
Foi trabalhar nos engenhos Faço o jeito de comprá-lo!
Longe da sua morada
Na volta trouxe um cavalo (...)
Que não servia pra nada (...)

José Camelo – Nasceu em Guarabira e morreu em Rio Tinto, na Paraíba, em 1964.


Poeta popular, cantador, carpinteiro e xilógrafo, era homem imaginoso e brilhante.
Começou a versar romances em 1923, mas não escrevia, guardava na memória pra
cantar onde se apresentasse. Autor de “Pavão Misterioso”, um dos maiores sucessos
da Literatura de Cordel.

(Trechos de O Pavão Misterioso) Residia na Turquia


Um viúvo capitalista,
Eu vou contar a história Pai de dois filhos solteiros –
Dum Pavão Misterioso, O mais velho João Batista,
Que levantou vôo da Grécia, Então o filho mais moço
Com um rapaz corajoso, Se chamava Evangelista.
Raptando uma condessa,
Filha dum conde orgulhoso. (...)

Rodolfo Coelho Cavalcanti - Nasceu em Rio Largo (AL) em 1919. Entretanto, consta
do registro de nascimento a data de 1917. Adolescente, percorre parte do Norte e
Nordeste, atuando como camelô, palhaço de circo, dentre outras atividades. Desde
essa fase, já se faz notar como bom versejador, participando de pastoris, cheganças
e reisados. Realizou na Bahia, em 1955, o I Congresso Nacional de Trovadores e
Violeiros. Como jornalista, fundou alguns periódicos, como A Voz do Trovador, O
Trovador e Brasil Poético. Percorreu vários temas da literatura de cordel, os mais
recorrentes foram os abecês, biografias, cantorias e fatos do cotidiano. Foi também
tema de vários poetas e pesquisadores da literatura de cordel.

A B
Açúcar três e duzentos Bacalhau não tem tabela
O quilo, sem se falar Vende lá como quiser
No peso que eles nos De dezoito a vinte e cinco
vendem Como ele quem poder
Quem quiser vá reclamar O pobre vive chorando
Arroz é quatro cruzeiros Coitados dos O rico sempre zombando
brasileiros Isto mesmo é que ele
Do câmbio negro sem quer!
par! ____________________
ABC da carestia.

Fabião das Queimadas - Fabião Hermenegildo Ferreira da Rocha nasceu escravo, em


1850, na Fazenda Queimadas, no atual município de Lagoa de Velhos (RN). Começou
a cantar durante os trabalhos na roça. Tornou-se tocador de rabeca, tendo adquirido
seu instrumento aos 15 anos, com o apoio do dono da Fazenda, que permitia e
incentivava que ele cantasse nas casas dos mais abastados da região e nas feiras.
Conseguiu angariar algum dinheiro que, aos 28 anos, possibilitou comprar a sua
alforria. Com o dinheiro das cantorias comprou também a alforria da sua mãe. Era
analfabeto, mas criava versos, como o "Romance do boi da mão de pau", com 48
estrofes. Suas composições apresentam traços dos romances herdados da Idade
Média. Morreu em 1928, aos sessenta e oito anos, de tétano, em uma pequena
fazendola de sua propriedade, chamada “Riacho Fundo”, próximo a Serra da Arara e
ao Rio Potengi, na atual cidade de Barcelona (RN).

Inácio da Catingueira - Negro escravo, cantador lendário e citado orgulhosamente


por todos os improvisadores do sertão. Seus dotes de espírito, a rapidez fulminante
das respostas, a graça dos remoques, a fertilidade dos recursos poéticos, a espantosa
resistência vocal, ficaram celebrados perpetuamente. Ainda que analfabeto não se
furtou a enfrentar os maiores cantadores do seu tempo, vencendo quase todos.
Nasceu no dia de santo Inácio Loiola, 31 de julho, na fazenda e povoação de
Catingueira, perto de Teixeira, Ribeira do Piancó, Paraiba, e faleceu aí, sexagenário,
em fins de 1879.

(trecho da cantoria famosa que fez com I - Eu sou muito conhecido,


Romano da Mãe D’Água) Aqui nesta ribeira,
Este é o seu criado
I - Me tirem de um engano: da Catingueira.
Me apontem com o dedo Dentro da Vila de Patos,
Quem é Francisco Romano, Compro, vendo e faço feira.
Pois eu ando no seu piso
Já não sei há quantos anos.

R - Negro, me diga o seu nome


Que eu quero ser sabedor,
Se é solteiro ou casado,
Aonde é morador,
Se acaso for cativo,
Diga quem é seu senhor.

Francisca Maria da Conceição (Chica Barrosa) - Nasceu na Paraíba nos meados de


1910. Genial repentista negra. Poucos dados existem sobre essa mulher, bastante
popular entre os cantadores. A Rainha Negra do Repente, representa uma das
maiores expressões artísticas e culturais do nordeste brasileiro, que entre o final do
século dezenove e começo do século vinte participou de inúmeras cantorias e
desafios de versos improvisados, encantando e divertindo platéias, conquistando
admiradores e despertando o interesse das pessoas pela cultura tradicional popular.
Mocinha de Passira - Em terra de "cabra macho", uma mulher dedicar-se ao repente
é uma verdadeira heresia. Valha-me Deus, t´esconjuro! Mocinha de Passira, mais de
50 de idade, enfrentou tudo quanto é cerca e impedimento masculino.
Pernambucana de Passira, cidade-sobrenome, a 100 km do Recife. Vive no mundo,
boléia de caminhão, aeronave ou lombo de burro. "Moro debaixo do meu chapéu",
conta ela. Começou aos 12 anos. Hoje, é repeitada por todos os repentistas e
violeiros do país. Onde chega, assusta. Bate tudo quanto é marmanjo no desafio das
rimas.

Ivanildo Vila Nova - Nascido em Caruaru (PE), em 13 de outubro de 1945, Ivanildo


Vila Nova cresceu acompanhando seu pai, o famoso cantador José Faustino Vila Nova,
pelas noitadas de cantorias. 60 anos de idade e 40 de repente, permanece se
dedicando exclusivamente à Arte do Improviso. O trabalho de Ivanildo Vila Nova se
destaca pela sutileza de seus versos, pela síntese de seus improvisos e pela variedade
temática. Eleito em 2000 o Cantador do Século, Ivanildo divide os louros com os
poetas de sua geração, entre os quais Geraldo Amâncio, Oliveira de Panelas, Moacir
Laurentino, Diniz Vitorino, Sebastião da Silva, Valdir Teles e a violeira Mocinha de
Passira.
NORDESTE INDEPENDENTE
(Imagine o Brasil)
(Ivanildo Vilanova e Braulio Tavares)

Já que existe no Sul este conceito O Brasil ia ter de importar


que o Nordeste é ruim, seco e ingrato, do Nordeste algodão, cana, caju,
já que existe a separação de fato carnaúba, laranja, babaçu,
é preciso torná-la de direito. abacaxi e o sal de cozinhar.
Quando um dia qualquer isso fôr feito O arroz e o agave do lugar
todos dois vão lucrar imensamente a cebola, o petróleo, o aguardente;
começando uma vida diferente o Nordeste é auto-suficiente
da que a gente até hoje tem vivido: nosso lucro seria garantido
imagine o Brasil ser dividido imagine o Brasil ser dividido
e o Nordeste ficar independente. e o Nordeste ficar independente.

Dividindo a partir de Salvador Se isso aí se tornar realidade


o Nordeste seria outro país: e alguém do Brasil nos visitar
vigoroso, leal, rico e feliz, neste nosso país vai encontrar
sem dever a ninguém no exterior. confiança, respeito e amizade
Jangadeiro seria o senador tem o pão repartido na metade
o cassaco de roça era o suplente tem o prato na mesa, a cama quente:
cantador de viola o presidente brasileiro será irmão da gente
e o vaqueiro era o líder do partido. venha cá, que será bem recebido...
Imagine o Brasil ser dividido imagine o Brasil ser dividido
e o Nordeste ficar independente. e o Nordeste ficar independente.

Em Recife o distrito industrial Eu não quero com isso que vocês


o idioma ia ser "nordestinense" imaginem que eu tento ser grosseiro
a bandeira de renda cearense pois se lembrem que o povo brasileiro
"Asa Branca" era o hino nacional é amigo do povo português.
o folheto era o símbolo oficial Se um dia a separação se fêz
a moeda, o tostão de antigamente todos dois se respeitam no presente
Conselheiro seria o Inconfidente se isso aí já deu certo antigamente
Lampião o herói inesquecido: nesse exemplo concreto e conhecido,
imagine o Brasil ser dividido imagine o Brasil ser dividido
e o Nordeste ficar independente. e o Nordeste ficar independente.

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