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INFELIZMENTE JAMAIS

No instintivo temor das ruas


Maria hesitava nos passeios
até não pressentir
o mais fugaz
presságio.

Contorno de sombra
à berma de uma além –asfalto
fatal presságio da rua
infelizmente já não
a intimida.

Cumprido o funesto prenúncio


já atravessava uma avenida
infortunadamente já nenhum risco
intimida o espírito
de Maria.

Doentiamente eu amaria ver


Maria ainda amedrontada
e nunca como depois
em que já nada a intimida.
SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE ALDA DO ESPÍRITO SANTO
 
          Alda Neves da Graça do Espírito Santo (São Tomé e Príncipe 1926 - 9 de Março de 2010), conhecida como Alda do Espírito
Santo, foi uma escritora e poetisa de língua portuguesa.

LÁ NO ÁGUA GRANDE
 
Lá no "Agua Grande" a caminho da roça
negritas batem que batem co'a roupa na pedra.
Batem e cantam modinhas da terra.
 
Cantam e riem em riso de mofa
histórias contadas, arrastadas pelo vento.
 
Riem alto de rijo, com a roupa na pedra
e põem de branco a roupa lavada.
 
As crianças brincam e a água canta.
 
Brincam na água felizes...
 
Velam no capim um negrito pequenino.
 E os gemidos cantados das negritas lá do rio
ficam mudos lá na hora do regresso...
 
ANGOLA

CARLOS PIMENTEL
  
Nasceu no Namibe em 24 de setembro de 1944. Obras publicadas: Pano Barato (1989) e Tijolo a tijolo (1981), Menção honrosa
do Prêmio NOMA – 1982.
 
 Sementes
 
Lutanios
          Para que viva
                    da semente
          de cada morte oferecida
 
          Que somos nós
                    e os outros
          falados
 
                    e 
                    ignorados 
A canção colectiva
                    da vida
 
  CABO VERDE

ALZIRA CABRAL

Nasceu em Bissau, 1955. Sua obra poética está dispersa em revistas e antologias.

MANTENHA

Filha do teu adultério


existo
queiras ou não com a mesma pele.
Exilada
sobrevivo contente
na terra dos sem cor.
Com a boa vontade que ganhei
das gentes daqui,
sem ressentimentos nem vergonha
cultivo a mentira da tua grandeza
no existir dos meus descendentes.

E mando mantenhas, oh terra


através dos meus poemas vermelhos:

A cor que me deste!


 
  Filinto Elísio Correia e Silva é poeta e cronista, nasceu na cidade da Praia, em Cabo Verde. É bibliotecário e administrador de
empresas. Foi professor em Somerville, nos Estados Unidos. Foi assessor do Ministro da Cultura de Cabo Verde. Atualmente é
Consultor Internacional e Administrador do Seminário “ A Nação”, em Cabo Verde. Publicou as seguintes obras: “Do lado de
Cá da Rosa” (Poesia) “Prato do Dia” (crônica) “O inferno do Riso” (Poesia), “ Cabo Verde 30 anos de Cultura” (Antologia), “Das
Hespérides” (Poesia, Prosa e Fotografia) e “Das Frutos Serenadas” (poesia). Tem ainda a publicar “Sem Margens” (Crônica) e “
Praiademincidade” (Romance).

HAIKAI AGRIDOCE (POESIA III)


 
 Ao Mito
 
a flor de lotus, o mel de abelha, a borboleta exótica...
ainda que cuidemos do nosso jardim de sonhos
no vinagre dos dias haverá sol para o cravo do amanhecer?
  
ACERCA DO AMOR
 Do amor só digo isto:
 o sol adormece ao crepúsculo
no oferecido colo do poente
e nada é tão belo e íntimo,
 
0 resto é business dos amantes.
Dizê-lo seria fragmentar a lua inteira.
A CIDADE À NOITE

A festa dos reclamos luminosos


é minha.
Não gosto de coisas reais.
Todas as ilusões
me pertencem.
Sou milionário universal
da fantasia.
Gosto de passar pelas montras
e sonhar...

Sonhar sonhando,
sem cobiça,
sem pólvora, sem sangue,
sem ódio,
sem ferir o mundo.

Jorge Macedo/Angola

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