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BAUDELAIRE
QUEM NÃO SABE POVOAR SUA SOLIDÃO, TAMBÉM NÃO SABERÁ FICAR SOZINHO
A rua, em torno, era ensurdecedora vaia. Brilho... e a noite depois! - Fugitiva beldade
Toda de luto, alta e sutil, dor majestosa, De um olhar que me fez nascer segunda vez,
Uma mulher passou, com sua mão vaidosa Não mais te hei de rever senão na
Pernas de estátua, era fidalga, ágil e fina. Longe daqui! tarde demais! nunca talvez!
Eu bebia, como um basbaque extravagante, Pois não sabes de mim, não sei que fim
adivinhaste!
Embriagai-vos!
Deveis andar sempre embriagados. Tudo consiste E si, alguma vez, nos degraus de um palácio, na
verde relva de uma vala, na solidão morna de vosso
nisso: eis a única questão. Para não sentirdes o
fardo horrível do Tempo, que vos quebra as quarto, despertardes com a embriaguez já
diminuída ou desaparecida, perguntai ao vento, à
espáduas, vergando-vos para o chão, é preciso que
vos embriagueis sem descanso. vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que
foge, a tudo que gene, a tudo o que rola, a tudo o
Mas, com quê? Com vinho, poesia, virtude. Como que canta, a tudo o que fala, perguntai que horas
quiserdes. Mas, embriagai-vos. são. E o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio
vos responderão:
[...]
Certa vez, num belo jardim,
Ao arrastar minha atonia,
Senti, como cruel ironia,
O sol erguer-se contra mim;