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CHARLES

BAUDELAIRE
QUEM NÃO SABE POVOAR SUA SOLIDÃO, TAMBÉM NÃO SABERÁ FICAR SOZINHO

EM MEIO A UMA MULTIDÃO.


Baudelaire, um filho pródigo, mas diferente do da bíblia.
Nasceu e morreu em Paris. 1821 - 1867.
1857 - lança o livro de poemas ''As Flores do Mal''.
A UMA PASSANTE

A rua, em torno, era ensurdecedora vaia. Brilho... e a noite depois! - Fugitiva beldade
Toda de luto, alta e sutil, dor majestosa, De um olhar que me fez nascer segunda vez,
Uma mulher passou, com sua mão vaidosa Não mais te hei de rever senão na

Erguendo e balançando a barra alva da saia; eternidade?



Pernas de estátua, era fidalga, ágil e fina. Longe daqui! tarde demais! nunca talvez!
Eu bebia, como um basbaque extravagante, Pois não sabes de mim, não sei que fim

No tempestuoso céu do seu olhar distante, levaste,


A doçura que encanta e o prazer que assassina. Tu que eu teria amado, ó tu que o


adivinhaste!

Embriagai-vos!

Deveis andar sempre embriagados. Tudo consiste E si, alguma vez, nos degraus de um palácio, na
verde relva de uma vala, na solidão morna de vosso
nisso: eis a única questão. Para não sentirdes o
fardo horrível do Tempo, que vos quebra as quarto, despertardes com a embriaguez já
diminuída ou desaparecida, perguntai ao vento, à
espáduas, vergando-vos para o chão, é preciso que
vos embriagueis sem descanso. vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que
foge, a tudo que gene, a tudo o que rola, a tudo o
Mas, com quê? Com vinho, poesia, virtude. Como que canta, a tudo o que fala, perguntai que horas
quiserdes. Mas, embriagai-vos. são. E o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio

vos responderão:

- É a hora de vos embriagardes! Para não serdes


escravos martirizados do Tempo, embriagai-vos!
Embriagai-vos sem cessar! Com vinho, poesia,
virtude! Como quiserdes!

As Flores do Mal - A que está sempre alegre


[...]
Certa vez, num belo jardim,
Ao arrastar minha atonia,
Senti, como cruel ironia,
O sol erguer-se contra mim;

E humilhado pela beleza


Da primavera ébria de cor,
Ali castiguei numa flor
A insolência da Natureza.[...]

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