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Tache, se já ouviu falar

Circule, se já leu a respeito


Sublinhe, se já leu algo

Conceição Evaristo Cruz e Souza Gregório de Matos Tomás Antônio Gonzaga

Gonçalves Dias Machado de Assis Lima Barreto Manuel Bandeira Clarice

Lispector Leodegária de Jesus Maria Firmina dos Reis Júlia Lopes de Almeida

Graciliano Ramos Euclides da Cunha Aluísio Azevedo Anne Rice Álvares de

Azevedo Castro Alves Fernando Pessoa Edgar Allan Poe J. K. Rowling José

Saramago Fernando Sabino Carmo Bernardes Cora Coralina Bernardo Élis

Aristóteles Franz Kafka Virginia Woolf Guimarães Rosa Jane Austen Jorge Luis

Borges Lewis Caroll Dante Alighieri Hilda Hilst Homero Mary Shelley James

Joyce Liev Tolstói Agatha Christie Oscar Wilde Augusto dos Anjos J. R. R.

Tolkien Stephen King Stephenie Meyer C. S. Lewis Arthur Conan Doyle Willian

Shakespeare Manoel de Barros Julio Verne Antoine de Saint-Exupéry George

Orwell Bram Stoker George R. R. Martin José J. Veiga Fiódor Dostoiévski

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Neil Gaiman Carolina Maria de Jesus José de Alencar Carlos Drummond de

Andrade Monteiro Lobato Mário de Andrade Rubem Fonseca Moacyr Scliar

Marina Colasanti Olavo Bilac Rubem Alves Ziraldo Lygia Fagundes Telles Chico

Buarque Ferreira Gullar Érico Veríssimo Luis Fernando Veríssimo Ruth Rocha

Maurício de Souza Bernardo Carvalho André Vianco Byron Jorge Amado João

Cabral de Melo Neto Álvares de Azevedo Ariano Suassuna Raquel de Queiroz

1
DA CALMA E DO SILÊNCIO Não era engano, cordura,
(Conceição Evaristo) Não era afeto mentido;
Se ela assim te não cativa,
Quando eu morder Esquece-a, que sou altiva,
a palavra, Esquece-a, sim ─ fementido.
por favor,
não me apressem, SINFONIA EM AMARELO
quero mascar, (Oscar Wilde)
rasgar entre os dentes,
a pele, os ossos, o tutano Como amarela borboleta
do verbo, Cruza a ponte a diligência;
para assim versejar Um transeunte, intermitente,
o âmago das coisas. Surge tal mosca inquieta.

Quando meu olhar Contra o molhe se arremessam


se perder no nada, As lanchas de feno amarelo,
por favor, E a bruma vela o cais, um selo
não me despertem, Ou lenço amarelo de seda.
quero reter,
no adentro da íris, Amarelas, folhas fanadas
a menor sombra, Caem dos olmos de Temple;
do ínfimo movimento. Verde, a meus pés, jaz o Tamisa
Tal vara de jade estriada.
Quando meus pés A LARANJEIRA
abrandarem na marcha, (Júlia Lopes de Almeida)
por favor,
não me forcem. Perfumada laranjeira,
Caminhar para quê? Linda assim dessa maneira,
Deixem-me quedar, Sorrindo à luz do arrebol,
deixem-me quieta, Toda em flores, branca toda
na aparente inércia. – Parece a noiva do Sol
Nem todo viandante Preparada para a boda.
anda estradas,
há mundos submersos, E esposa do Sol, que a adora,
que só o silêncio Com que cuidados divinos
da poesia penetra. Curva ela os ramos, agora!
E entre as folhas abrigados,
ESQUECE-A Seus filhos, frutos dourados,
(Maria Firmina dos Reis) Parecem sois pequeninos.

Amor é gozo ligeiro, MAR PORTUGUÊS


Mas é grato e lisonjeiro (Fernando Pessoa)
Como o sorriso infantil;
Promessa doce, e mentida, Ó mar salgado, quanto do teu sal
Alenta, destrói a vida; São lágrimas de Portugal!
É um delírio febril. Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Muito te amei… minha lira, Quantos filhos em vão rezaram!
Que triste agora suspira, Quantas noivas ficaram por casar
Nesta erma solidão, Para que fosses nosso, ó mar!
Bem sabes ─ ricas de flores,
Cantava os ternos amores, Valeu a pena? Tudo vale a pena
Do meu terno coração. Se a alma não é pequena.
Minha afeição era pura. Quem quer passar além do Bojador

2
Tem que passar além da dor. A UM POETA
Deus ao mar o perigo e o abismo deu, (Olavo Bilac)
Mas nele é que espelhou o céu.
Longe do estéril turbilhão da rua,
SONETO 73 Beneditino escreve! No aconchego
(William Shakespeare) Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha e teima, e lima, e sofre, e sua!
Em mim tu podes ver a quadra fria
Em que as folhas, já poucas ou nenhumas, Mas que na forma se disfarce o emprego
Pendem do ramo trêmulo onde havia Do esforço: e trama viva se construa
Outrora ninhos e gorjeio e plumas. De tal modo, que a imagem fique nua
Rica mas sóbria, como um templo grego
Em mim contemplas essa luz que apaga
Quando no poente o dia se faz mudo Não se mostre na fábrica o suplicio
E pouco a pouco a negra noite o traga, Do mestre. E natural, o efeito agrade
Gêmea da morte, que cancela tudo. Sem lembrar os andaimes do edifício:

Em mim tu sentes resplender o fogo Porque a Beleza, gêmea da Verdade


Que ardia sob as cinzas do passado Arte pura, inimiga do artifício,
E num leito de morte expira logo É a força e a graça na simplicidade

Do quanto que o nutriu ora esgotado. NÃO TE AMO MAIS


Sabê-lo faz o teu amor mais forte (Clarice Lispector)
Por quem em breve há de levar a morte
Não te amo mais.
CÍRCULO VICIOSO Estarei mentindo dizendo que
(Machado de Assis) Ainda te quero como sempre quis.
Tenho certeza que
Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume: Nada foi em vão.
"Quem me dera que fosse aquela loura estrela, Sinto dentro de mim que
Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!" Você não significa nada.
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme: Não poderia dizer jamais que
Alimento um grande amor.
"Pudesse eu copiar o transparente lume, Sinto cada vez mais que
Que, da grega coluna à gótica janela, Já te esqueci!
Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela!" E jamais usarei a frase:
Mas a lua, fitando o sol, com azedume: EU TE AMO!
Sinto, mas tenho que dizer a verdade
"Mísera! tivesse eu aquela enorme, aquela É tarde demais...
Claridade imortal, que toda a luz resume!"
Mas o sol, inclinando a rútila capela: Obs.: Agora leia de baixo para cima.

"Pesa-me esta brilhante auréola de nume... NOS OLHOS TRAZ O AMOR A MINHA DAMA...
Enfara-me esta azul e desmedida umbela... (Dante Alighieri)
Por que não nasci eu um simples vaga-lume?"
Nos olhos traz o Amor a minha dama
e tudo o que ela olha se enobrece.
Todos se voltam para vê-la – e aquece
os corações, do seu aceno, a chama.

Baixando os olhos, cada qual proclama


suas culpas num silêncio de prece
e todo o mal de odiar desaparece:

3
Moças, me ajudem a cantar sua fama. Mas confesso minha implicância com aquele
“meio-dia e meia”.
Tudo que é doce, humilde, simples, vivo, Sei que “meio-dia e meio” está errado; “meio”
brota no coração de quem a escuta, se refere à hora e tem de ficar no feminino. Sim,
pois que, antes de ouvi-la, a viu, feliz. “meio-dia e meia” está certo. Mas a língua é como
a mulher de César: não lhe basta ser honesta,
Basta um sorriso: o coração cativo convém que o pareça. Aquele “meia” me dá ideia
não sabe mais o que a mente perscruta, de teste de colégio para pegar estudante distraído.
pois tudo o que a supera ela não diz. Para que fazer da nossa língua um alçapão?
Lembrando um conselho que me deu certa vez
RETRATO um amigo boêmio quando lhe perguntei se
(Cecília Meireles) certa frase estava certa (“olhe, Rubem, faça como
eu, não tope parada com a gramática: dê uma
Eu não tinha este rosto de hoje, voltinha e diga a mesma coisa de outro jeito”), eu
assim calmo, assim triste, assim magro, preferiria dizer “doze e meia” ou “meio-dia e trinta”,
nem estes olhos tão vazios, sem nenhuma afetação. Aliás a língua da gente não
nem o lábio tão amargo. tem apenas regras: tem um espírito, um jeito, uma
pequena alma que aquele “meio-dia e meia” faz
Eu não tinha estas mãos tão sem força, sofrer. E, ainda que seja errado, gosto da moça que
Tão paradas e frias e mortas; diz: “Estou meia triste...” Aí, sim, pelo gênio da
Eu não tinha este coração língua, o “meia” está certo.
Que nem se mostra. BRAGA, Rubem. Recado de primavera. Rio de Janeiro: Record, 1984. p. 58.

Eu não dei por esta mudança,


Tão simples, tão certa, tão fácil:
– Em que espelho ficou retida
a minha face?

A PERFEIÇÃO
(Clarice Lispector)

O que me tranquiliza
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.
O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fração de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.
Tudo o que existe é de uma grande exatidão.
Pena é que a maior parte do que existe
com essa exatidão
nos é tecnicamente invisível.
O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.
Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição.

MEIO-DIA E MEIA
(Rubem Braga)

Acho muito simpática a maneira de a Rádio


Jornal do Brasil anunciar a hora: “onze e meia”
no lugar de “vinte e três e trinta”, “um quarto para
as cinco” em vez de “dezesseis e quarenta e cinco”.

4
UM MUNDO LINDO sempre companheiros. E o mundo, povoado de
(Marina Colasanti) companheiros, era lindo.
Mas os outros, os outros todos foram acabando
Morreu o último caracol da Polinésia. Havia um aos poucos, vítimas do único predador disposto a
caracol da Polinésia, um caracol de árvore, e transformar suas conchas em objetos turísticos. E o
nenhum outro. Era o último. E morreu. Morreu de último caracol da Polinésia, cansado de ser o último,
quê? Ninguém sabe me dizer. O jornal não acha cansado de ser tão só, deixou-se pisar pela Morte
importante revelar a causa mortis de um caracol da que passava apressada, certo talvez de poder
Polinésia. Noticia apenas que com ele extinguiu-se renascer em algum mundo lindo, em que milhares
a sua espécie. Ninguém nunca mais verá em lugar de ovos de caracol preparam-se para eclodir.
algum, nem mesmo na Polinésia, um polinesiano Marina Colasanti In: A casa das palavras. São Paulo: Ática, 2002. p. 15-16
caracol.
Pois eu ouso dizer que sei o que foi que o matou.
Ele morreu de ser o último. Morreu de sua extrema
solidão. Sua vida não era acelerada, nada capaz de
causar-lhe stress, mas era dinâmica; ao longo de
um ano, graças a esforços e determinação e
impulso fornecido pela própria natureza, o molusco
lograva deslocar-se cerca de setenta centímetros.
Mais, teria sido uma temeridade. Assim mesmo, de
que adiantavam esses setenta centímetros suados,
batalhados dia a dia, sem ninguém para medi-los,
sem nenhum parente amigo companheiro que lhe
dissesse, você hoje bateu sua marca? Sem ninguém
para esperá-lo na chegada?
O último caracol da Polinésia olhava ao redor e
não via ninguém. Ali estava, frequentemente, seu
tratador – o caracol vivia no Zoológico de Londres –
mas o tratador não era ninguém, o tratador era
qualquer coisa menos importante que o tronco
sobre o qual o caracol se deslocava, o tratador era
de outra espécie. E via, sim, de vez em quando via
os pesquisadores que o examinavam, olho
agigantado pela lente. Mas os pesquisadores não
tinham uma concha rosada cobrindo-lhes as costas.
Os pesquisadores também não eram ninguém.
Então o caracol da Polinésia olhava o mundo, e o
mundo estava vazio. E como pode alguém viver,
como pode alguém querer viver num mundo
esvaziado de seus semelhantes?
Seguramente ele era muito bem tratado no
Zoológico, comida não havia de lhe faltar – o que
come, comia, um caracol da Polinésia? – e de dia e
de noite estava livre de predadores. Seus
antepassados, talvez ele mesmo na infância,
tinham tido que lutar pela sobrevivência. E a vida
era dura. Mas lutavam em companhia. Quando um
deles era esmagado – quantos caracóis são
esmagados mesmo na Polinésia! – outros
lamentavam sua sorte. Quando um deles se
atrasava em sua marcha – é tão fácil a um caracol
se atrasar – outros esperavam por ele. Havia

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