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AUTORES
ULTRARROMÂNTICOS
Epicuro (341 – 270 a.C)
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CASIMIRO DE ABREU
O SAUDOSISTA
Meus oito anos
Oh! Que saudades que tenho Que auroras, que sol, que vida,
Da aurora da minha vida, Que noites de melodia
Da minha infância querida Naquela doce alegria,
Que os anos não trazem mais! Naquele ingênuo folgar! O céu
Que amor, que sonhos, que flores, bordado d’estrelas,
Naquelas tardes fagueiras A terra de aromas cheia,
À sombra das bananeiras, As ondas beijando a areia
Debaixo dos laranjais! E a lua beijando o mar!
Como são belos os dias Oh! dias da minha infância!
Do despontar da existência! Oh! meu céu de primavera!
- Respira a alma inocência Que doce a vida não era
Como perfumes a flor; Nessa risonha manhã.
O mar é - lago sereno, Em vez das mágoas de agora,
O céu - um manto azulado, Eu tinha nessas delícias
O mundo - um sonho dourado, De minha mãe as carícias
A vida - um hino d'amor! E beijos de minha irmã!
CASIMIRO DE ABREU (1839-1860)
• BIOGRAFIA:
• Nasceu na Barra de São João, Estado do Rio de Janeiro.
Era filho do rico comerciante português, José Joaquim
Marques de Abreu e da brasileira Luíza Joaquina das
Neves.
SAUDADE
SIMPLICIDADE
PUREZA
INFÂNCIA
DESEJO
NATUREZA
PESSIMISMO
CULPA
PÁTRIA
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AMOR E MEDO
Quando eu te vejo e me desvio cauto É que esse vento que na várzea — ao longe,
Da luz de fogo que te cerca, ó bela, Do colmo o fumo caprichoso ondeia,
Contigo dizes, suspirando amores: Soprando um dia tornaria incêndio
— "Meu Deus! que gelo, que frieza aquela!" A chama viva que teu riso ateia! Ai! se eu te visse, Madalena pura,
Sobre o veludo reclinada a meio,
Como te enganas! meu amor, é chama Ai! se abrasado crepitasse o cedro, Olhos cerrados na volúpia doce,
Que se alimenta no voraz segredo, Cedendo ao raio que a tormenta envia: Os braços frouxos — palpitante o seio!...
E se te fujo é que te adoro louco... Diz: — que seria da plantinha humilde,
És bela — eu moço; tens amor, eu — medo... Que à sombra dela tão feliz crescia? Ai! se eu te visse em languidez sublime,
Na face as rosas virginais do pejo,
Tenho medo de mim, de ti, de tudo, A labareda que se enrosca ao tronco Trêmula a fala, a protestar baixinho...
Da luz, da sombra, do silêncio ou vozes. Torrara a planta qual queimara o galho Vermelha a boca, soluçando um beijo!...
Das folhas secas, do chorar das fontes, E a pobre nunca reviver pudera.
Das horas longas a correr velozes. Chovesse embora paternal orvalho! Diz: — que seria da pureza de anjo,
Das vestes alvas, do candor das asas?
O véu da noite me atormenta em dores Ai! se te visse no calor da sesta, Tu te queimaras, a pisar descalça,
A luz da aurora me enternece os seios, A mão tremente no calor das tuas, Criança louca — sobre um chão de
E ao vento fresco do cair cias tardes, Amarrotado o teu vestido branco, brasas!
Eu me estremece de cruéis receios. Soltos cabelos nas espáduas nuas! ...
CANÇÃO DO EXÍLIO
Se eu tenho de morrer na flor dos anos Se eu tenho de morrer na flor dos anos
Meu Deus! não seja já; Meu Deus! não seja já!
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde, Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Cantar o sabiá! Cantar o sabiá!
Meu Deus, eu sinto e tu bem vês que eu morro Quero ver esse céu da minha terra
Respirando este ar; Tão lindo e tão azul!
Faz que eu viva, Senhor! dá-me de novo E a nuvem cor-de-rosa que passava
Os gozos do meu lar! Correndo lá do sul!
IDEALIZAÇÃO
• Morte; Dor; Mulher
ESCAPISMO
MORBIDEZ
IRONIA
FANTASIA
PESSIMISMO
MELANCOLIA
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ÁLVARES DE AZEVEDO
ASSASSINATO
NECROFILIA
PEDOFILIA
CANIBALISMO
IMORALIDADE
NOVELA COMPOSTA
POESIA TEATRO POR CONTOS
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É ela! é ela! - murmurei tremendo, Oh! decerto... (pensei) é doce página
E o eco ao longe murmurou - é ela!... onde a alma derramou gentis amores;
Eu a vi... minha fada aérea e pura, são versos dela... que amanhã decerto
A minha lavadeira na janela! ela me enviará cheios de flores...
É ELA! É ELA!
Dessas águas furtadas onde eu moro Tremi de febre! Venturosa folha!
eu a vejo estendendo no telhado Quem pousasse contigo neste seio!
os vestidos de chita, as saias brancas; Como Otelo beijando a sua esposa,
eu a vejo e suspiro enamorado! eu beijei-a a tremer de devaneio...
Como dormia! que profundo sono!... Mas se Werther morreu por ver Carlota
Tinha na mão o ferro do engomado... Dando pão com manteiga às criancinhas,
Como roncava maviosa e pura!... Se achou-a assim tão bela... eu mais te adoro
Quase caí na rua desmaiado! Sonhando-te a lavar as camisinhas!
NATUREZA – LIRISMO
BUCÓLICO
ANGÚSTIA
SOLIDÃO
DESENGANO
PESSIMISMO E MORTE
TEMAS SOCIAIS E
POLÍTICOS
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A CRUZ
Estrelas
Singelas,
Luzeiros
Fagueiros,
Esplêndidos orbes, que o mundo aclarais!
Desertos e mares, - florestas vivazes!
Montanhas audazes que o céu topetais!
Abismos
Profundos!
Cavernas
E t e r nas!
Extensos,
Imensos
Espaços
A z u i s!
Altares e tronos,
Humildes e sábios, soberbos e grandes!
Dobrai-vos ao vulto sublime da cruz!
Só ela nos mostra da glória o caminho,
Só ela nos fala das leis de - Jesus!
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Ninguém te disse o adeus da despedida, Não o tiveste! Os ferros e os açoites O ESCRAVO
Ninguém por ti chorou! Mataram-te a razão!
Embora! A humanidade em teu sudário Dobrado cativeiro! A teus algozes
Mostraras que das sombras do martírio
Os olhos enxugou! Dobrada punição! Por que nos teus
Também rebenta a luz!
[momentos de suplício,
Oh! teus grilhões seriam tão sublimes,
A verdade luziu por um momento De agonia e de dor,
Tão santos como a cruz!
De teus irmãos à grei: Não chamaste das terras africanas
Mas morreste sem lutas, sem protestos,
Se vivo foste escravo, és morto... livre O vento assolador?
Sem um grito sequer!
Pela suprema lei! Ele traria a força e a persistência
Como a ovelha no altar, como a criança
À tu’alma sem fé,
No ventre da mulher!
Tu suspiraste como o hebreu cativo Nos rugidos dos tigres de Benguela,
Morreste sem mostrar que tinhas n’alma
Saudoso do Jordão, Dos leões de Guiné!...
Uma chispa do céu!
Pesado achaste o ferro da revolta, Ele traria o fogo dos desertos,
Como se um crime sobre ti pesasse!
Não o quiseste, não! O sol dos areais,
Como se foras réu!
A voz de teus irmãos viril e forte,
Sem defesa, sem preces, sem lamentos,
Lançaste-o sobre a terra inconsciente O brado de teus pais!
Sem círios, sem caixão,
De teu próprio poder! Ele te sopraria às moles fibras
Passaste da senzala ao cemitério!
Contra o direito, contra a natureza, A raiva do suão
Do lixo à podridão!
Preferiste morrer! Quando agitando as crinas inflamadas
Tua essência imortal onde é que estava?
Fustiga a solidão!
Onde as leis do Senhor?
Do augusto condenado as leis são santas, Então ergueras resoluto a fronte,
Digam-no o tronco, o látego, as algemas
São leis porém de amor: E, grande em teu valor,
E as ordens do feitor!
Por amor de ti mesmo e dos mais homens Mostraras que em teu seio inda vibrava
A voz do Criador! 19
Preciso era o valor...
JUNQUEIRA FREIRE
TENSÃO DA VIDA RELIGIOSA
JUNQUEIRA FREIRE(1832-1855)
• BIOGRAFIA:
• Nasceu no Salvador.
• Com 19 anos, inconformado com os problemas que o
cercavam resolveu se refugiar na vida religiosa entrando
para o Mosteiro de São Bento.
• Depois de um ano de sacerdócio, sem vocação, a vida de
clausura no mosteiro provocou no jovem um grande conflito
existencial. A vida clerical lhe pareceu terrível, sobretudo
uma espécie de atração pela morte que o angustiava.
• Em 1853, Junqueira Freire pediu a secularização, que lhe
permitiria afastar-se da ordem mesmo permanecendo
sacerdote por força dos votos perpétuos. Em 1854, após
receber a autorização, voltou para casa.
• Em 1855, Junqueira Freire escreveu “Inspirações do
Claustro”, o testemunho das experiências pessoais vividas
no convento, cheias de dúvidas e ilusões. Seus versos
condenam as disciplinas religiosas e os votos de obediência.
• Em seu segundo livro, “Contradições Poéticas” (1855),
Junqueira Freire reflete suas vãs tentativas na busca da
solução para seu desequilíbrio emocional.
• Morreu aos 23 anos, por doença cardíaca
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JUNQUEIRA FREIRE
CLAUSURA
SEXUALIDADE REPRIMIDA
PESSIMISMO E MORTE
RELIGIOSIDADE
DEBILIDADE DO CORPO
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Louco (Hora de Delírio)
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Eras na vida a pomba predileta Ó filho de minh'alma! Última rosa Mas não! Tu dormes no infinito seio
Que sobre um mar de angústias conduzia Que neste solo ingrato vicejava! Do Criador dos seres! Tu me falas
O ramo da esperança. — Eras a estrela Minha esperança amargamente doce! Na voz dos ventos, no chorar das aves
Que entre as névoas do inverno cintilava Quando as garças vierem do ocidente, Talvez das ondas no respiro flébil!
Apontando o caminho ao pegureiro. Buscando um novo clima onde pousarem, Tu me contemplas lá do céu, quem sabe,
Eras a messe de um dourado estio. Não mais te embalarei sobre os joelhos, No vulto solitário de uma estrela.
Eras o idílio de um amor sublime. Nem de teus olhos no cerúleo brilho E são teus raios que meu estro aquecem!
Eras a glória, — a inspiração, — a pátria, Acharei um consolo a meus tormentos! Pois bem! Mostra-me as voltas do caminho!
O povir de teu pai! — Ah! no entanto, Não mais invocarei a musa errante Brilha e fulgura no azulado manto,
Pomba, — varou-te a flecha do destino! Ouço o tanger monótono dos sinos, Mas não te arrojes, lágrima da noite
Astro, — engoliu-te o temporal do norte! E cada vibração contar parece Nas ondas nebulosas do ocidente!
Teto, — caíste! — Crença, já não vives! As ilusões que murcham-se contigo! Brilha e fulgura! Quando a morte fria
Escuto em meio de confusas vozes, Sobre mim sacudir o pó das asas,
Cheias de frases pueris, estultas, Escada de Jacó serão teus raios
O linho mortuário que retalham Por onde asinha subirá minh'alma.
Para envolver teu corpo! Vejo esparsas
Saudades e perpétuas, — sinto o aroma
Do incenso das igrejas, — ouço os cantos
Dos ministros de Deus que mem repetem
Que não és mais da terra!... E choro embalde!... 25
AMOR
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