Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Língua Portuguesa
Professor H umberto de Araújo
Pequena
Antologia
Ultrarromântica
1
Álvares de Azevedo
2
S oneto
3
S p leen e ch ar u t o s
I
Vag ab undo
4
Falando ao coração... que nota aérea
Deste céu, destas águas se desata?
Canta assim algum gênio adormecido
Das ondas mortas no lençol de prata?
5
S p leen e ch ar u t o s
III
Vag ab undo
Eat, drink, and love; what can the rest avail us?
B YRON, DON J UA N.
6
Namoro e sou feliz nos meus amores,
Sou garboso e rapaz… Uma criada
Abrasada de amor por um soneto,
Já um beijo me deu subindo a escada…
7
Sinto-me um coração de lazzaroni,
Sou filho do calor, odeio o frio,
Não creio no diabo nem nos santos…
Rezo a Nossa Senhora e sou vadio!
8
S oneto
9
P or q ue m ent i a s ?
10
Toda aquela mulher tem a pureza
Que exala o jasmineiro no perfume,
Lampeja seu olhar nos olhos negros
Como, em noite d’escuro, um vagalume…
11
S oneto
12
D inh eir o
13
Casimiro de Abreu
14
Meus oito an o s
15
Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d’estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
16
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
Lisboa, 1857
17
Canção do exíl io
18
Se eu tenho de morrer na flor dos anos
Meu Deus! não seja já!
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Cantar o sabiá!
19
Quero morrer cercado dos perfumes
Dum clima tropical,
E sentir, expirando, as harmonias
Do meu berço natal!
Lisboa, 1857
20
Barbosa de Freitas
21
S edução
22
Desgraçado — na fronte macilenta,
Tinha gravado o selo da loucura!
Tinha no peito indômita tormenta.
Amei a bacanal julgando-a pura!…
Amei-a! dei-lhe os sonhos de poeta…
Messalina — julguei-a ser estrela.
Mancenilha — julguei-a violeta,
Seu veneno traguei, morri por ela…
................................
Hoje porém, mulher, do charco imundo,
Lavei a lama vil que me cingia,
E, súbito, acordei lá n’outro mundo,
Onde há coros d’arcanjos, não orgia.
Agora que despi-me dos adornos
Com que, D. Juan — entrara nos saraus,
De todo abandonei os beijos mornos
Que rolavam do crime nos degraus.
23
Oh! não temas, senhora, a noite é bela,
Olha a face celeste azul e nua…
Eu serei o teu guia, a tua estrela,
Companheira — somente a branca lua.
Maranguape, 1879.
24