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UNIVERDADE FEDERAL DO MARANHÃO / CAMPUS VII – CODÓ

LICENCIATURA INTERDISCIPLINAR EM CIÊNCIAS HUMANAS – HISTÓRIA


DISCIPLINA: HISTÓRIA DA EUROPA I – 2022.1

DOCENTE: LILIANE CORRÊA

BIANCA DA COSTA DA SILVA

A QUEDA DO IMPÉRIO ROMANO: UM MARCO NA HISTÓRIA OCIDENTAL

Codó, MA
2022
Bianca da Costa da Silva 1

Resumo: O artigo irá expor por meio de uma revisão bibliográfica e historiográfica, uma série
de fatos e acontecimentos que, contribuíram direta ou indiretamente com a decadência do
Império Romano. Dessa forma, será possível a compreensão dos acontecimentos: invasões e
confrontos que levaram o Império ao apogeu. No entanto, ficará evidente que as invasões e
confrontos não foram os únicos responsáveis pelo declínio e sim, juntamente à eles, uma
anarquia militar, que ocasionou a fragmentação do exército e o enfraquecimento das fronteiras
do Império.

Palavras-chave: Império Romano. Invasões. Declínio. Anarquia. Ocidente.

INTRODUÇÃO

Atribuir a culpa da queda do Império Romano à um único acontecimento, ou a uma


invasão ou saque, é uma ideia um tanto que equivocada ou delimitada. Primeiramente, é
importante destacar que, no dia 24 de Agosto do ano de 410, quando os Visigodos, sob o
comando de Alarico, saquearam a cidade de Roma, não saquearam apenas a cidade de Roma,
e sim o “coração do Império.” Mesmo assim, um grande e poderoso Império como o de Roma,
não caiu apenas por este acontecimento citado anteriormente que, embora tenha tido um grande
peso e contribuição para a decadência, não teve por si só, força suficiente para derrubar esta
grande potência mundial.

Dentre os principais fatores que contribuíram com o declínio, houve um que teve uma
grande força: instaurou-se no Império, uma anarquia militar no séc. III d. C.. Assim, houve uma
quebra na cadeia de comando militar, isso ocasionou atos de insubordinação que partiram dos
poderosos generais em relação ao Imperador. Com isso, os soldados passaram a obedecer mais
os comandantes do que o próprio Imperador. Desta forma, essa anarquia ocasionou uma
fragmentação no exército – principal instituição do Império – essa fragmentação trouxe duas
consequências relevantes para o declínio do Império: 1- O enfraquecimento das fronteiras, onde
muitos generais se preocupavam mais em proteger suas terras do que os limites do Império; 2-
A crise da expansão territorial, ocorreu quando a economia de Roma começou a sentir os efeitos
da escassez da mão de obra escravizada e do desabastecimento das principais cidades.

1Graduanda em História – Universidade Federal do Maranhão – UFMA – 65400-000 – Codó – MA. E-mail:
bc.silva2@discente.ufma.br
Note que, nenhum saque ou invasão teria tanta força e impacto para por termo à um
Império tão poderoso. Isso só teve grande relevância por causa da anarquia presente no Império.
É evidente que, o enfraquecimento das fronteiras deu aos bárbaros, a possibilidade de invadir e
saquearem a cidade de Roma.

A queda do Império de Roma foi um marco na história ocidental. Ao contrário do que


escreveu o historiador francês André Piganiol em 1947. Segundo ele: “o Império Romano
morreu de morte natural.”

DOS TEMPOS DE GLORIA À CONSTRUÇÃO DE UM IMPÉRIO

A grande glória do Império Romano é o resultado de importantíssimas vitórias de


confrontos em três grandes guerras púnicas: o primeiro confronto ocorreu nas áreas próximas à
ilha da Sicília, onde Roma e Cartago disputavam o estreito de Messina. O segundo deu-se com
a conquista romana de Messina e teve como pivô as minas de prata e ferro exploradas pelos
cartagineses no sul da península Ibérica. O general cartaginês Aníbal, invadiu a península
Itálica, vencendo os romanos em várias batalhas, mas preferiu não marchar sobre Roma. Sua
hesitação permitiu que legiões romanas invadissem o norte da África. Obrigado a retornar a
Cartago, foi derrotado por Cipião Africano, em 202 a. C. A terceira guerra púnica, em 146 a.
C., chegou ao fim com a definitiva liquidação do exército cartaginês no norte da África.

A vitória das três guerras púnicas, garantiu aos romanos a posse dos territórios sob o
domínio de Cartago. A conquista desses territórios provocou grandes transformações no regime
de propriedade, estimulando assim, o crescimento da escravidão em Roma.

O expansionismo romano tinha como base um exército composto de pequenos


proprietários e com o tempo, de proletários. O fortalecimento do exército estimulou a ambição
política de muitos generais. Dentre os mais admirados e temidos generais: Caio Mário e Silas;
membro de família tradicional patrícia, Júlio César eleito para o cargo de cônsul em 59 a. C.
Aliou-se aos generais Crasso e Pompeu, formando assim um triunvirato para governar Roma.
Durante essa fase, Roma expandiu consideravelmente suas fronteiras.

As conquistas de Júlio César o rendeu a condição de principal general romano,


despertando a admiração dos historiadores antigos. O historiador grego Plutarco o comparou a
Alexandre, o grande, o fundador do Império Macedônico no séc. IV a. C. O historiador romano
Suetônio celebrou os feitos de César em sua célebre obra A vida dos doze Césares, mencionando
suas conquistas no Oriente: Veni, vidi, vinci (“Vim, vi e venci”), frase proferida por ele no
Senado romano. Em março de 44 a. C. César foi morto a facadas no Senado, dentre os
assassinos, estavam homens de confiança, como Brutus. Assim, as últimas palavras ditas pelo
virtual fundador do Império Romano teriam sido: Et tu Brutus? (“Até tu, Brutus”).

Em 43 a. C., assumiu o poder um segundo triunvirato, formado por Otávio – que recebeu
do exército o título de imperador em 40 a. C. – Marco Antônio e Lépido. Com Augusto, o
primeiro imperador da dinastia Júlio – Claudiana (27 a. C. -68 d. C.), o Império conheceu um
período de prosperidade – a pax romana - Assim, o mar mediterrâneo passou a ser chamado de
Mare nostrum (nosso mar) pelos romanos, servindo de ligação entre as diferentes regiões do
Império.

Após a morte de Augusto, em 14 a. C., Tibério como seu sucessor, assumiu o poder
defendendo o Império dos povos germânicos do norte. Assassinado aos 29 anos, em 41 d. C.,
foi substituído por Cláudio, fundador da província da Britânia e criador da província da
Mauritânia, no norte da África. Está dinastia encerrou-se com Nero no ano de 68. Alguns
historiadores consideram que Nero, assessorado pelo filósofo Sêneca, foi um bom governante.
Foi também acusado de mandar atear fogo em Roma, para que assim pudesse reconstruí-la mais
forte mais grandiosa, mas para os historiadores isso não ocorreu realmente. Perseguido pela
guarda pretoriana – a guarda pessoal do imperador – preferiu ele mesmo se matar, em 68 d. C.

Os imperadores seguinte pertenceram, sucessivamente, às dinastias dos Flávios (69 d. C.


-96 d. C.), dos Antoninos (96-192) e dos Severos (193-235). O largo período entre Augusto e o
o último dia Severos é conhecido como Principado ou Alto Império Romano (27 a. C. a 285 d.
C.). A mais célebre das dinastias foi a dos Antoninos. Imperadores como Adriano, Trajano e
Marco Aurélio que também era filósofo, estimularam a construção de lindas cidades, com
edifícios públicos, aquedutos e esgotos.

A prosperidade do império não foi abalada pela mudança da dinastia. Ao lado da


integração política das províncias, caminhou a descentralização econômica.

A CRISE NO IMPÉRIO ROMANO DO OCIDENTE

Baseado em uma economia escravista e incapaz de promover a autonomia econômica das


cidades em relação ao campo, o Império Romano atravessou o século III em crise. Após o
século III d. C., a reposição da mão de obra escrava tornou cada vez mais escassa com o fim
das guerras de conquistas. A crise de mão de obra escrava abalaria profundamente a economia
de Roma. Todavia, a expansão do cristianismo teve papel importante ao colocar à prova os
valores romanos, como destaque, a crença no poder divino do imperador. Os romanos adotaram
na Judéia – o berço do cristianismo – a mesma política das outras regiões anexadas por Roma.
As populações conquistadas tinham a liberdade de culto desde que estivessem sob o controle
dos sacerdotes e não desafiassem as autoridades do Império.

A penetração e a conversão da fé cristã nas cidades imperiais, puseram em xeque o


caráter divino de autoridade imperial e o panteão dos deuses romanos. O auge da perseguição
aos cristãos ocorreu no tempo do Imperador Diocleciano, no início do século IV. A perseguição
se intensificou a ponto de todos os cristãos do Império deveriam prestar culto aos deuses
imperiais, sob pena de morte.

No plano político, o desgoverno se manifestou na sucessão de imperadores militares que


de mantiveram no poder por um curto período de tempo. O vazio de poder e a desvalorização
da moeda provocaram revoltas no campo.

Em 293, o imperador romano instituiu uma tetrarquia. O Império foi dividido em 4


grandes territórios, para cada território, um Imperador.

Sobre as invasões, os romanos conseguiram conter a investida dos germanos, mas


tiveram de reorganizar o seu sistema defensivo para impedir futuros ataques. Nas cidades de
Milão, Trèves e Constantinopla foram instalados fortes para conter o avanço dos invasores.

Roma adotou armas e estratégias de combate do inimigo, reduziu o número de soldados


nas legiões de 6 mil para mil combatentes e incorporou cavaleiros de origem germânica. A
adoção de novas medidas restabeleceu o equilíbrio entre as forças romanas e os povos
invasores, mas abriu o caminho para a entrada pacífica de populações germânicas em muitas
regiões do Império.

A partir do século IV, a penetração dos “bárbaros” no império ocorreu com a licença e
mesmo com o incentivo do Estado. Roma permitiu que populações vindas de fora das fronteiras
ocupassem terras sob seu controle, mantendo seus costumes e tradições como povos federados.

Muitos dos chamados bárbaros chegaram a ocupar postos importantes na administração


imperial e no exército. Em 396, o vândalo Estilicão passou a governar Roma, transformando o
Imperador Honório em fantoche.
A aliança firmada entre os germanos e Roma foi um caminho sem volta. Quando os Hunos
invadiram as fronteiras do Império Romano, no século V, demonstraram a fragilidade da
política de integração dos povos federados.

Em 410, os Visigodos, liderados por Alarico, saquearam Roma e destroçaram o resto da


península Itálica. Ao longo do século V, os romanos permitiram que os suevos se fixassem na
Hispânia e os borgundios, na atual Suíça. Neste mesmo período os saxões se fixaram na
Britânia; os vândalos, na Mauritânia – norte da África; e os ostrogodos, na atual Hungria.
Assim, as fronteiras romanas se tornaram uma avenida por onde vinham os povos germânicos
das mais variadas procedências.

O Império Romano do Ocidente entrou em colapso: imperadores manipulados, povos


federados, legiões desestruturadas. A população mal sabia o nome do imperador, diante da
instabilidade do poder. As línguas germânicas eram mais faladas do que o latim. A instituição
mais bem organizada no mundo romano era a igreja, que, por isso mesmo, sobreviveria à
desagregação do Império.

ROMA: ÚLTIMO SUSPIRO

No século V, a parte ocidental do Império Romano se encontrava enfraquecida. Em 452,


Átila, o chefe dos hinos, iniciou um ataque, tendo como alvo a península Itálica. Destruiu Milão
e por pouco não conquistou Roma. No entanto, houve a intercessão do papa Leão I. As
negociações realizadas por Leão I reforçaram a autoridade papal no Ocidente em face de um
poder imperial cada vez mais frágil. A morte de Àtila, em 454, pôs fim ao Império Huno, assim
a situação do Império Romano só piorou.

Roma, não resistiu ao ataque desferido por Odoacro, o chefe dos herulos. Descontente
porque seu povo não estava incluído entre os povos federados, conquistou Roma e destronou o
Imperador Rômulo Augusto. Enviou as insignias imperiais a Constantinopla e assumiu o
governo da península Itálica, já que os outros domínios do Império Romano do Ocidente tinha
o mesmo nome do lendário fundador de Roma: Rômulo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O historiador francês Ferdinant Lot (1866-1952) atribuiu o fim do Império de Roma a
fatores internos e não à “avalanche bárbara”. Assim, podemos considerar que o fim do Império
deve ser atribuído a causas internas e externas, e não à um único fator. Essa visão negativa foi
rompida no século XIX. O romantismo resgatou a Idade Média e os povos bárbaros passaram
a ser vistos como o “sopro de vitalidade” que arejou o decadente Império Romano. As invasões
bárbaras deixaram de ser uma catástrofe repentina e passaram a ser entendidas como um fluxo
migratório pacífico”, visando ao assentamento. Assim, diante de tudo o que foi exposto
anteriormente, fica evidente que a queda do Império foi um Marco, que acima de tudo, não teve
um único e principal motivo responsável pelo seu fim. É injusto afirmar que, as invasões
bárbaras foram as culpadas pela queda de um Império que há muito, já havia mostrando sinais
de seu enfraquecimento. Um grande somatório de causas foram responsáveis pelo declínio da
tão gloriosa “senhora do mundo”.

BIBLIOGRAFIA

ARTIGOS:

BARROS, José D’Assunção. Passagens de Antiguidade Romana ao Ocidente Medieval:


leituras historiográficas de um período limítrofe. História, v.28, n.1, p.547-574, 2009.

Ribeiro Machado, Carlos Augusto. A ANTIGUIDADE TARDIA, A QUEDA DO IMPÉRIO


ROMANO E O DEBATE SOBRE O “FIM DO MUNDO ANTIGO”. Revista de História,
num. 173, São Paulo, 2015.

LIVROS:

GIBBON, Edward. Declínio e queda do Império Romano. São Paulo: Companhia das Letras,
2003.

GRANT, Neil. As conquistas romanas. São Paulo: Ática, 1992.

GRANT, Neil. Imperialismo greco-romano. São Paulo: Ática, 1991.

LE ROUX, Patrick. Império Romano. Porto Alegre: L&PM, 2009.

MENDES, Norma M. Sistema político do Império Romano do Ocidente. Rio de Janeiro:


DP&A Editora, 2002.

FILMES:
Átila, EUA, 2001. Direção: Dick Lowry. O filme retrata a expansão dos hunos, liderados por
Átila, e seus conflitos com os romanos e germânicos no século V a. C. Duração: 177 min.

Roma, EUA, 2006. Direção: vários. Minissérie em 22 episódios, que conta a história completa
de Roma desde os primórdios até o Império.

Spartacus, EUA, 1960. Direção: Stanley Kubrick. Clássico sobre a revolta de escravos na
Roma republicana. Duração: 183 min.

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