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Moses Finley foi o principal proponente da perspetiva primitivista segunda a qual a economia
romana era "subdesenvolvida e ineficiente", caraterizada por agricultura de subsistência,
centros urbanos que consumiam mais do que produziam em termos de comércio e indústria,
artesãos de baixo estatuto social, desenvolvimento tecnológico lento e uma "falta de
racionalidade económica".
O processo que levou à queda o Império Romano do Ocidente foi longo e complexo. Para
compreender este acontecimento é preciso compreender o contexto de ameaças de invasões e
crises pelo qual passava o Império. (Gibbon, 2005).
Após um longo período de estabilidade, conhecido como o período da Pax Romana, no qual o
Império se expandiu ao máximo, chegando ao seu maior tamanho territorial, houve uma
intensa crise, ocorrida justamente pela dificuldade em manter um império tão vasto em
segurança e estabilidade. O envio de tropas às diferentes regiões custava caro e necessitava de
infraestrutura. Com a crise do terceiro século defender o território que sofria constantes
ameaças de invasão tornava-se difícil e dispendioso. O envio de soldados às regiões distantes
de Roma tornava-se mais difícil e assim, a conquista de novos escravos também não ocorria.
Neste cenário foram surgindo diversos problemas a serem enfrentados directamente.
Suas fronteiras eram constantemente ameaçadas por povos bárbaros – aqueles que não
falavam nem o grego nem o latim – e foi preciso uma forte mobilização, de pessoal, mas
também financeira – para lutar contra os invasores. Para dar conta dessas demandas o Império
passou a cobrar cada vez mais impostos, especialmente nas cidades, tornando a vida no
espaço urbano difícil e onerosa, e causando assim um movimento migratório de diversas
famílias para o interior das províncias. Ainda assim, as famílias mais pobres sofreram com a
crise financeira. Trabalhando em sistemas de colonato, onde deveriam devolver parte do que
produziam para o proprietário da terra em forma de pagamento, e não podendo adquirir bens
em seu nome, a mobilidade social era praticamente impossível. Com as péssimas condições
de vida no interior, esses colonos também se rebelaram contra o império, promovendo
rebeliões que precisavam ser contidas, gerando mais gastos para o Império, que repreendia os
movimentos com rigor. (Gibbon, 2005).
Durante o terceiro século o Império Romano viu a crise fugir de seu controle. Foram muitas
as tentativas de manter o império vivo. Dentre as principais medidas destacam-se as propostas
de Diocleciano. Para melhor controle do vasto território o Imperador propôs uma divisão do
império. Ele seria dividido em quatro partes, cabendo a cada uma delas o seu próprio
imperador. Era uma tetrarquia, estabelecida com vistas a restabelecer a ordem e retomar o
controle do território romano. Na tetrarquia o regime de governo ficou conhecido como
dominato, um regime monárquico, despótico e militarizado. A construção da imagem do
imperador passou a ser uma questão central para o Império: ele deveria passar a mensagem de
força e união e, para isso, passou a carregar símbolos visíveis da sua condição de imperador:
coroas, mantos e tudo o que pudesse destacar sua imagem. No entanto o novo modelo de
governo proposto por Diocleciano não atingiu os resultados esperados, pois os imperadores de
cada uma das regiões entraram em disputas entre si, com vistas ao poder central. O envio de
funcionários da administração, do Imperador e a construção de moradias nas cidades sedes de
cada um dos imperadores também custou caro aos cofres, não resolvendo, portanto, o
problema da crise conforme se pretendia. Diocleciano deixou de ser imperador em 305,
quando abdicou de seu cargo. (Gibbon, 2005).
As ameaças de povos bárbaros eram muito comuns à época. É preciso lembrar que os
territórios do mundo antigo foram disputados por diversos povos. Além disso, grupos não
romanos tinham interesse não só em tomar o poder dos romanos, mas também nas suas terras,
que eram férteis e nelas se podia produzir muita coisa. Assim, suas fronteiras encontravam-se
em constante ameaça, especialmente por parte dos povos germânicos, tais como os francos, os
visigodos, os vândalos e os anglo-saxões. As guerras contra os povos bárbaros também
mexiam com as finanças do Império, afinal, custavam caro aos cofres públicos, que gastava
com o envio do exército e com obras estruturais. Para dar conta de tantas demandas mais uma
vez o Império tratou de aumentar a arrecadação de impostos, fazendo com que a população
sofresse diariamente com as invasões bárbaras. Mas, não somente as terras causavam
preocupações ao Império. A difusão de novas culturas a partir das invasões bárbaras era uma
das maiores preocupações do Império Romano, pois, afinal de contas, pretendia-se único, sem
dissonâncias. Com vistas a resolver o problema foi proposto, inicialmente, um acordo com
alguns povos bárbaros: enquanto eles se instalavam nas terras do Império com a sua
autorização, deveriam fornecer a defesa das fronteiras. Assim, os gastos do Império Romano
diminuiriam sensivelmente. (Gibbon, 2005).
Embora a proposta tenha sido aceita, os povos bárbaros continuavam a representar ameaça
aos romanos. Isso porque, já instalados nas terras do império, passaram a planejar tomar o
poder, cada um em sua região. Essa era uma nova forma de ameaça, que, somada à crise
econômica, modificou o contexto do Império Romano. Inúmeras foram as invasões bárbaras
nessa época e cabe destacar as mais contundentes: os vândalos ocuparam a região norte da
África; os visigodos a Península Ibérica; os francos tomaram parte da Gália e os anglo-saxões
tomaram a Bretanha. Essa tomada de poder por parte dos povos bárbaros enfraqueceu mais
ainda o Império Romano. (Gibbon, 2005).
Durante as invasões bárbaras o que mais ocasionou desestabilização foram os saques a Roma.
Roma já havia sido saqueada em outras ocasiões e, em sua história, seria saqueada novamente
tempos mais tarde. No entanto, três saques marcaram esse período de declínio do Império
Romano. O primeiro deles foi feito pelos visigodos, em 410 d.C., acontecimento que marca o
início do processo de queda e desintegração do Império Romano. O segundo foi efetivado
pelos vândalos, e ocorrido no ano de 455. As fontes do período indicam que este foi o mais
violento dos saques. Mas, foi o terceiro, efectuado pelos hérulos, em 476, que foi o golpe
definitivo que pôs fim ao Império Romano do Ocidente. Foram os hérulos que invadiram,
saquearam e derrubaram Rômulo Augusto, o último Imperador Romano com aquela
formulação. Enquanto o Império do Ocidente caiu, o Império Romano no Oriente manteve-se
fortalecido, durando até o ano de 1453. (Gibbon, 2005).
O ano de 476 é o marco do fim do que conhecemos como Idade Antiga, dando início ao
período que costumamos chamar de Medieval, que será marcado pela formação do Império
Bizantino e pela propagação do cristianismo. Embora esses marcos estejam presentes na
historiografia até os nossos dias é preciso destacar que esse modelo que estabelecer uma linha
do tempo sucessória de acontecimentos é baseado na experiência europeia e na sua
historiografia. Portanto, ao falar de outras sociedades, localizadas e baseadas em diferentes
partes do globo, é difícil manter os mesmos referenciais. Ainda assim, de acordo com a
historiografia, pode-se entender o ano de 476 como um ano chave para a compreensão da
queda do Império Romano do Ocidente e para o fim da Antiguidade. (Gibbon, 2005).
Durante todo o período em que existiu o Império Romano foi responsável por fomentar
práticas próprias que se espalharam pelo mundo e que fazem com que seja lembrado até os
dias de hoje, e permanência de sua cultura e sociedade se fazem presentes até hoje em
diversas sociedades do mundo ocidental. Cabe aqui destacar o latim, como língua que
originou diversas outras neolatinas, como o francês, o português e o espanhol; o direito
romano, que é a principal base do nosso direito brasileiro; a arquitectura romana até hoje
presente em forma de ruínas que atraem turistas de todo o mundo; os valores do exército
romano, como a disciplina e a estratégia, também bastante difundidos entre exércitos de
diversas sociedades; e o cristianismo, o maior e mais evidente legado do Império Romano.
(Funari, 2002).
Língua
O Latim era considerado a língua oficial do Império Romano e servia de base para diferenciar
os cidadãos romanos dos povos bárbaros. Ele foi o responsável por unificar o Império e
promover uma identidade entre seus cidadãos. Com o processo expansionista do Império, os
dialetos locais dos povos conquistados foram se misturando ao latim, fazendo surgir novas
línguas, as chamadas línguas neolatinas, como o francês, o português e o espanhol.
Artes
No campo das artes podemos destacar a arquitetura romana, que possui exemplares até os dias
atuais em ruínas, que são diariamente visitadas por turistas de todas as partes do mundo. Neste
ponto se destaca o Coliseu, um anfiteatro que servia tanto para apresentações teatrais como
para os jogos gladiadores, possibilitando que todos tivessem visão ampla do que ocorria no
centro. (Funari, 2002).
O Império Romano também deixou um importante legado para formações de exércitos. Como
se sabe o exército romano foi uma das principais características que possibilitou o seu
desenvolvimento e a sua expansão. O exército romano era formado com base em dois
princípios: a disciplina e a estratégia, que até hoje são valores basilares na formação de
exércitos de diversas nações pelo mundo.
Direito romano
O direito romano também se difundiu pelo mundo ocidental e foi uma importante base para o
desenvolvimento do direito moderno em diversas sociedades. Surgido da necessidade de
mediar as relações entre os diferentes grupos sociais, o direito romano iniciou-se a partir da
Lei das Doze Tábuas em 450 a.C. e foi se desenvolvendo desde então. Porém, é o Corpo de
Direito Civil, ou Corpus Juris Civilis, uma obra jurídica desenvolvida durante o governo de
Justiniano I no Império Bizantino (o Império Romano do Oriente), que serviu de base para o
direito civil moderno. (Funari, 2002).
Religião: cristianismo
Por fim cabe destacar que o principal legado deixado pelos romanos foi o cristianismo, uma
religião nascida no Império Romano, que tinha nas suas bases a tradição judaica que pregava
a crença na chegada de um messias à Terra, aquele que seria responsável por salvar os
pecadores. Com base nisto surgiu uma nova religião que, inicialmente foi perseguida e
combatida, mas que aos poucos passou a ganhar seguidores fiéis, como acontece até o nosso
presente. Foi o desenvolvimento do cristianismo romano que instituiu a crença em um novo
messias, Jesus Cristo, nascido há aproximadamente dois mil anos atrás, advindo da Judéia –
actual Palestina. Os Evangelhos do Novo Testamento foram escritos por seus seguidores, os
apóstolos, e compõem a Bíblia Sagrada cristã, até hoje o livro mais vendido no mundo.
Muitos foram os aspectos culturais e sociais desenvolvidos no Império Romano que chegaram
até o nosso presente, através de permanências de sua cultura. Isso não significa que as práticas
antigas não tenham sofrido alterações, mas indicam a potência do Império Romano. (Funari,
2002).
Conclusão
O processo que levou à queda do Império Romano do Ocidente iniciou-se com a crise do
terceiro século e as sucessivas tentativas de manter um império tão vasto, com a maior
extensão de terras do mundo antigo, de forma unificada, estável e coesa. As propostas que se
seguiram por parte de seus Imperadores não resolveram as crises, e o Império precisou lidar
com diversas outras questões, sendo as mais contundentes as invasões bárbaras e os saques a
Roma, que levaram, por fim, à desintegração do Império Romano do Ocidente.
Durante todo o período em que existiu o Império Romano foi responsável por fomentar
práticas próprias que se espalharam pelo mundo e que fazem com que seja lembrado até os
dias de hoje, e permanência de sua cultura e sociedade se fazem presentes até hoje em
diversas sociedades do mundo ocidental. Podemos destacar o latim, como língua que originou
diversas outras neolatinas, como o francês, o português e o espanhol; o direito romano, que é
a principal base do nosso direito brasileiro; a arquitectura romana até hoje presente em forma
de ruínas que atraem turistas de todo o mundo; os valores do exército romano, como a
disciplina e a estratégia, também bastante difundidos entre exércitos de diversas sociedades; e
o cristianismo, o maior e mais evidente legado do Império Romano.
Referências bibliográficas
, Edward. (Gibbon, 2005). Declínio e Queda do Império Romano. São Paulo: Companhia das
Letras.
Giordani, Mario Curtis. (2001). História de Roma: A antiguidade Clássica II. Petrópolis, Ed.
Vozes.