Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
os centros urbanos, sob ataque das invasões bárbaras. As vilas (villas) configuraram-se
como centros produtivos habitados pelo senhor, responsável por conduzir a vida eco-
nômica, política e militar da localidade. No em torno dela, estavam os servos dos se-
nhores.
As tochas de Nero, de Henryk Siemiradzki (1878). Segundo Tácito, Nero usou cristãos como tochas
humanas. Fonte: Henryk Siemiradzki, This file comes from The National Museum in Kraków Digital
Collection.
17 HISTÓRIA MEDIEVAL
Disposta a conquistar tudo aquilo que lhe fosse favorável, Roma, agora estava
em meio ao transtorno resultante da crise do imperialismo e do escravismo, suas ba-
ses de sustentação de poder. Ademais, o avanço do cristianismo foi preponderante
para a deterioração do Império Romano no século V. A perseguição feita pelos impe-
radores as comunidades primitivas cristãs ocorreu intermitentemente por mais de
dois séculos. Dos plebeus a elite patrícia, o culto cristão ganhou extrema relevância
na sociedade. A predominância do cristianismo incide duas etapas distintas. Uma,
em 313, com o Édito de Milão, estipulado pelo imperador Constantino, concedendo
liberdade de culto a fé cristã. Depois, em 380, por meio do Édito de Tessalônica, de-
creto de Teodósio I instituindo-o como religião oficial do Estado romano.
sob o qual teriam o direito de utilizar a terra, todavia, deveriam pagar impostos e ce-
der soldados. Tudo isto transcorreu pacificamente.
O século IV exprimiu uma mudança desse panorama de aparente passividade.
Os hunos, grupos nômades de etnia eurasiana, eram grandes guerreiros e comumente
aterrorizavam civilizações nos locais em que passavam. Ao se deslocarem para o oeste
até o Ocidente, levaram pânico aos germânicos que não tiveram outra escolha se não
buscar refúgio no Império Romano. Chefiados por Átila, os hunos outrossim invadi-
ram o império, mas o poder desta confederação tribal sucumbiu à morte do seu rei.
Quanto aos germanos, milhares deles saquearam, pilharam e destruíram todo o
que encontravam pela frente, fugindo dos nômades. Os cidadãos romanos nada pu-
deram fazer. Em 410, Alarico II, comandou os visigodos no saque de Roma. Com o
tempo, além dos visigodos, os ostrogodos, anglos, saxões, alanos e outros povos do-
minaram o território. Em 4 de setembro de 476, Odoacro, líder dos hérulos, invadiu
Roma e depôs o último imperador, Rômulo Augusto, decretando o desaparecimento
do Império Romano do Ocidente. Para a historiografia, este é considerado o marco
final da Antiguidade Clássica e o princípio da Idade Média na Europa Ocidental.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste capítulo, vimos que a partir do século III, instalou-se uma grave crise po-
lítica e econômica no Império Romano. Este cenário crítico procedeu do expansio-
nismo territorial de Roma, ou melhor, da cessação de conquistas de novas terras, do
enfraquecimento do poder militar e político, má administração e, acima de tudo,
pela penetração de povos bárbaros por força da fragilidade das áreas fronteiriças.
Após séculos de agonia, o Império Romano sucumbiu ao caos que ele mesmo confi-
gurou. A parte Ocidental não foi capaz de suportar tantos problemas, ao contrário da
Oriental, que se manteve firme, sendo conduzida pela cidade de Constantinopla, e
tornando-se Império Bizantino. Em 476, Odoacro, impetuoso líder dos hérulos,
ocupou Roma e destituiu o último imperador ocidental, Rômulo Augusto, colocan-
do um ponto final na história do maior império de todos os tempos. Na visão da his-
toriografia, a queda de Roma marca também o término de uma era, a Antiguidade
Clássica, e o começo de outro ciclo, a Idade Média. Tem-se, aí, uma nova realidade
política, econômica, social e cultural como alicerce da Europa Ocidental.
19 HISTÓRIA MEDIEVAL
A ANTIGUIDADE TARDIA
“Em 476, o último imperador romano ocidental, Rômulo Augusto, pôs fim ao Impé-
rio no Ocidente. A partir daí, o Império Romano, no Ocidente, passou a ser um momento
de glória no passado, que muitos tentaram restaurar, inclusive com esse nome, como no
caso de Carlos Magno, coroado imperador romano em 800 d.C., ou no posterior Sacro
Império Romano (962-1806). De fato, eram outros impérios, mas buscavam legitimação
fazendo referência ao antigo Império Romano. Apesar das grandes diferenças existentes en-
tre o Ocidente, governado pelos germanos, e o Oriente, grego sob o domínio romano,
houve também continuidades. Até ao menos a expansão do islamismo, no século VII, a cul-
tura antiga, agora já como parte da nova ordem cristã, persistiu, assim como os contatos
comerciais entre essas duas grandes regiões. O latim continuou como língua de comunica-
ção. Por outro lado, a adoção do cristianismo como religião pelo Estado romano criara
condições para o desenvolvimento de um modo de pensar e de viver que diferia em muitos
pontos dos princípios da cultura greco-latina, que reconhecia a diversidade e a existência
de inúmeros deuses, o que não era mais possível no mundo do cristianismo de Estado. Os
estudiosos que enfatizaram não apenas as rupturas, mas também as continuidades difundi-
ram o conceito de Antiguidade tardia. Ainda que seja difícil determinar início e fim desse
período, muitos propõem que, até o advento de Carlos Magno (747-814), perseveraram
na Europa características do mundo antigo. Para eles, a coroação de Carlos Magno como
sacro imperador romano no Natal do ano 800 já representa outra situação, marca o início
de outra era, outro período histórico. Mas podemos perguntar: quando deixamos mesmo a
Grécia e a Roma antigas, se, de muitos modos, elas estão conosco até hoje?!” (F UNARI,
2018, pp. 146-147).
20 DA CRISE DO IMPÉRIO ROMANO AS INVASÕES BÁRBARAS
REFERÊNCIAS
SUGESTÕES DE LEITURA