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#Capítulo 1 - O eremita

O eremita é um ser solitário. Um ser solitário é um ser cujo coração está alheio
das realidades efêmeras, e interiorizado na dimensão fenomênica de sua
humanidade excrescente não se fixa na auto imagem ilusória de seu ego ou das
realidades ao seu derredor. E em decorrência da profundeza do seu coração, o
núcleo das suas certezas não está incidido nos castelos de areia construídos pelos
egos de outrem, e tal forma que: o relacionamento com os outros é inexpressivo e
superficial, raramente proporcionando-lhe a satisfação necessária para sua
autorrealização.

O eremita é um ser que despiu-se das falsas necessidades, dos falsos conceitos e
preconceitos, dos falsos valores e tabus, dos totens erigidos para contenção
comportamental da humanidade grosseira, marcada pela degenerescência do
pecado. Todo homem está em busca dos valores primordiais estruturantes, nos
quais ele encontra a si mesmo no processo de autoconhecimento pacificando-se
interiormente. Contudo, os apegos a matéria vigente relacionam-lo há uma série de
dependências e obrigações as quais ele está institucionalizado.

O princípio de manutenção das estruturas vigentes, postula a lei de


proporcionalidade: quanto maior a ambição humana e conquistar maior espaço,
maior tempo deverá ser dedicado para a manutenção dos bens adquiridos. Uma
pessoa inteligente refletindo um pouco sobre a vida chega à conclusão de que não
existem verdades absolutas, e que o único fato seguro para todos os viventes é a
realidade inevitável da morte. Devido ao temor da morte o ser humano se angustia.
De fato, todos os problemas psico-afetivos e espirituais de um ser destinado à
morte certa estão relacionados a incapacidade de aceitação do sofrimento,
condição inerente da realidade humana. A lei espiritual é clara: o sofrimento existe
para o homem e o homem realiza-se para além do sofrimento, não aceitar o
sofrimento inerente à condição humana não exime o ser de passar pela morte.
Aceitar o sofrimento é uma atitude inteligente e iluminada, porém, quase todas as
pessoas passam a vida inteira tentando aceitar essa simples realidade. O homem
não morre uma única vez; o homem morre todos os dias e a cada instante, a partir
do momento em que veio à existência. O elemento que marca a existência do
homem sobre a terra e o define enquanto uma entidade destinada a viver sem
determinações intrínsecas para morrer é o tempo.O tempo é um espelho da
eternidade: reflete tanto o nosso vazio, quanto a vacuidade temporal humana.
Se a morte certa, e a vida incerta, cabe o homem aproveitar cada segundo da vida
para fazer algo útil consigo mesmo? Contudo, supostamente, até hoje nenhum
poeta, filósofo o mestre espiritual concedeu-nos uma definição clara a respeito do
que é útil para o homem, enquanto ele vive sua relatividade temporal. Um eremita,
ao contrário, julga que existir é uma gotícula condensada de absurdidade, e embora
não compreendendo o motivo, este ser espiritual substancializa o tempo vivendo na
essência de seu próprio coração, de onde se originam todos os fenômenos com os
quais a realidade humana interage. Em outras palavras: o homem cria a sua própria
realidade, porque é livre. Todos os seres são livres por natureza e o homem possui
uma liberdade antropológica constitutiva à sua realidade.Deus criou nos livre mente
para que a ele retornemos livremente.Não é simples, nem intuitivo, explicar este
“retorno para Deus”, que o coração dos seres tanto anseia; este é o sentido
etimológico do verbo “re-ligare”, esta é a via unitiva por meio da qual o homem deve
unir-se a Deus; esse retorno foi proposto por todas as religiões vigentes, marcados
por muitos elementos verossimilhantes.

A intuição confere a linguagem espiritual uma aceitação do sofrimento e da morte,


e para além disso: uma vivência autêntica para o eterno retorno. Quando certas leis
espirituais ficam absolutamente claras para consciência de um ser, então a sua
iluminação lhe proporciona sabedoria para proceder pelos caminhos, nos quais a sua
vocação se realizará. O eremita é um ser, cuja vocação realiza-se completamente
na solidão, isto é: este ser é feliz sozinho, por que na solidão sente-se unido a Deus
e, portanto, a todo o cosmos. Pressupõe-se, evidentemente, para o discernimento
vocacional de uma eremita aquisição de uma série de valores de ordem espiritual e
a compreensão de verdades reveladas. Esse processo deve ser acompanhado por
um pai espiritual, conforme a tradição dos santos eremitas entendia, mas,
sobretudo, pela personificação da sublimidade, pois eremita é um ser encarnado
que sendo homem não é homem, mas Um ser espiritual dedicado única e
exclusivamente à transcendência, assim como: sendo vivo não é vivo, sendo homem
não é homem, sendo anjo, não é anjo; sendo o material é puro espírito no Deus Uno.
Enquanto os homens em geral ficam conflituados por essa dualidade humana, o
eremita consegue administrá-la satisfatoriamente: vivendo no mínimo de sua
humanidade material, para ser na essência de sua imaterialidade, um ente livre de
sua condição de morte.

O eremita é um contemplador contínuo do Deus Altíssimo e meditador de si mesmo


e da sua morte cotidiana: é um observante vigilante de si mesmo, focado dirigir
atos palavras pensamentos e sentimentos para o Deus único é necessário, a fim de
obter a libertação de sua condição humana e mortal, porque só pode ser
verdadeiramente livre quem está pronto para morrer e desapegado das coisas
deste mundo vigente. É, portanto, absurdo o homem lutar por sua liberdade com
ações políticas e sociais.Não vive na essência de seu próprio coração e é
prisioneiros de suas próprias paixões é escravo de si próprio, e vivendo uma vida
inteira sem ter a consciência correta, os pensamentos corretos, os sentimentos
corretos, as palavras corretas, e as ações corretas dirigidas única e
exclusivamente para Deus e na reflexão do fato seguro da morte vivi uma vida de
projeções e inautênticas ilusórias, vive uma vida de mentiras. A vida do eremita é
projeção autêntica por excelência, se e somente se: o eremita canalizar todas as
suas energias ser em Deus e Nele estar substanciado em colapso de realidade única
e necessária.

Viver sozinho e egoisticamente apenas por não suportar a frenesi dos outros
famigerados e autoproclamados “humanos”, não é necessariamente proveitoso, nem
virtuoso. O eremita se constitui como tal por sua consciência de amor à
humanidade, não circunstancialmente pela fuga do mundo tumultuado. A
caracterização extrínseca do eremitério ter que estar localizado distante dos
estrépitos das grandes cidades não é uma fuga por medo do convívio com os outros
seres. É também verdade que a própria solidão revela a consciência do solitário a
pureza de suas intenções; e muito embora não seja legítimo viver sozinho mentindo
para si mesmo e sem a reta consciência contemplativa, o provérbio é claro: “antes
só do que mal acompanhado”. Muitos pecados seriam evitados se os seres humanos
fossem mais corajosos para enfrentar a solidão de seus corações, e permanecer
em silêncio sozinhos, pois a própria solidão é curativa e purgativa.

Na solidão um ser será escarrado por seus próprios demônios, e terá tempo para
refletir sobre a sua existência: o seu nascimento, o vazio de suas escolhas e o
momento derradeiro, a morte. Será muito natural para este ser constatar o motivo
pelo qual em todas as grandes religiões os santos e os sábios desenvolveram-se
espiritualmente na solidão e no silêncio. A solidão e o silêncio não é o único caminho,
e não é o caminho para todos; mas, sem dúvida, é o caminho mais autêntico e o mais
rápido para o desenvolvimento espiritual, porque querendo ou não: depois da morte
tudo que haverá é o silêncio da não-existência. Cada um de nós, os vivos, terá que
passar pela morte solitariamente, esse é misterioso motivo pelo qual a solidão
acentua a disciplina necessária para o homem retornar ao Altíssimo Deus. E é por
isso que: mas vale um ser que deseja permanecer em silêncio e sozinho, do que um
homem em busca de companhia de outrem e entretenimento para distrair-se; pois
enquanto o primeiro, ainda que possa ser egoísta e apegado à matéria grosseira,
possuirá a solidão como remédio para suas mazelas, enquanto o segundo
permanecerá na ilusão superficial das miragens auto geradas por seu ego e pelo ego
dos outros.
#Capítulo 2 – O silêncio

O silêncio é um elemento absolutamente imprescindível para a vivência da


espiritualidade eremítica. Quando o consideramos, se faz necessário defini-lo
como: exterior e interior; maior e menor; objetivo e subjetivo; libertador e
aprisionante; modeladora e neutro. O silêncio absoluto é uma realidade
inconsistente, mas as virtudes necessárias para conservação da quietude interior
são alcançáveis por meio de métodos específicos segundo os quais a própria
vivência incorporar a tranquilidade silenciosa ao espírito do praticante. No caso de
uma espiritualidade eremítica, o coração do praticante é um metódico campo sob o
qual é cultivado o conjunto de desejos fortuitos e as “ausências existenciais”,
marca distintiva desse silêncio a ser alcançado pelo eremita.

Outrora, o santos eremitas não possuíam tantos obstáculos para a vivência de um


silêncio, no qual pudessem cultivar a prática da Disciplina Sagrada. O silêncio por si
só é um elemento curativo e catártico de reconciliação com Deus, e não raras às
vezes, enfatizando uma relação do homem com a natureza. Tendo em vista a perda
da conexão que o homem estabelecera, desde a sua origem cósmica primordial, ao
tentar retomar a relação com existente, por meio da decifração do indecifrável,
num processo de introspecção a natureza recôndita, cujas marginalidades
expressam-se por balbucios devaneios e disparatados distrações, sendo
propositadamente capazes de oferecer ao núcleo de volição a permanência pela
imobilidade e o desejo em tencionar o espírito do homem num entardecer
entorpecido; e quando o entorpecimento chega ao ponto das forças humanas serem
sobrepujadas, finalmente, neste momento de emboscada, para além da
compreensão estruturante, não mais sendo admissível o ser sustentar-se por si
próprio no processo da existência, nem sequer num hausto de enternecimento
imaginativo, por ter incorporado tão densissimamente a quietude do ocaso, como
um vácuo instaura-se em seu coração, e então o dia espiritual termina, e a noite
escura inicia-se. Os raios da princesa do amanhecer, quando, completamente
tomada pelo sono, o praticante tenciona com demasiada precisão, noite adentro em
contínua meditação, surpreendem-no pela radiância de um recomeço
misericordioso:são raios de um novo dia, de um recomeçar para que por novos
espectros revele outras formas caleidoscópicas.O grito do silêncio misericordioso
do Amado, cuja instância dardejou o coração do Onipotente por uma presença
estável, sem mais nada importar, apenas o vislumbramento da diáfana: o momento
da causalidade em que uma e outra palavra (ou não-palavra), coincide em ausência.
Já não há mais linguagem! E o que há para dizer ao Altíssimo, se as palavras estão
canalizados para o inexistente, senão a mais a força da sua significação por meio
de uma necessidade real, mas, é na própria ausência que se faz a concretude do
ser? E não é isso, acaso, o paradoxo da Bondade? Não como se não fossemos
merecedores... mas de fato não somos! Todavia, é da ausência completa de apegos
e incongruências, não como se doenças não estivessem pautadas sobre um fluxo
intransigente, e tipicamente regurgitados pelos fragmentos de uma psique
delirante, - pois raramente nos eximimos de semelhantes flagelos, seja pela
educação ou uma cultura enferma - que deflagrou se em cada escolha feita em
nome e em prol de um falso “eu”, o qual está no centro das perspectivas existentes.
Seja pelo desgaste ou cansaço, vivências arrazoadas ou desejo de aniquilação
silenciosa, possivelmente vividos de tensionamento em tensionamento, num
determinado ponto a rigidez dos devaneios humanos, já não pode acumular
deturpações consonantes, e, apenas ressoando o Assombroso, o Terrível, o
Insondável o espírito dissonante ecoará a sagrada nota mística do amor, porque
esse esvaziamento de frequências aquiescentes ao aparato sensorial humano não
mais estará conjugado a uma realidade comunicativa. Neste dia… nem mais o ser
ressonante e vivificado no Onipotente, o Alfa e o Ômega, precisará comunicar-se
por meio de palavras, nem precisará fazer uso delas para comunicar-se; aqui,
embora idealizado enquanto fenômeno, sem a necessidade de estatutos e
observâncias normativas, pois o silêncio maior terá transpassado o coração do
solitário, cuja alma estivera por longo tempo entrecortada pelo Uníssono, este som
multiversificado e concentrado na vacuidade mesma, apenas suplantado a um mero
ato de contemplação silenciosa. Claro que, para além da idealização mística haverá
uma pessoa de carne e osso, cuja mente não desaprendeu a imbecilidade e a
maldade dos homens, mas: a boca não mais terá desejos de romper o silêncio; não
mais haverá uma necessidade pulsante e compulsiva de proferir fofocas e
novidades correntes.Este é um colapso de ressonância silenciosa.

Não há nada mais triste do que: um idoso desprovido de sabedoria e um eremita


interessado nos rumores do século corrente e passageiro. Ambos não cumprem a
excelência de suas vidas humanas, e não tendo adquirido a penetração na luz da
verdade tornaram-se em vida uma expressão espúria e inautêntica de quem deveria
ser, antes fossem um aborto ou não fossem absolutamente nada!

Quanto ao silêncio exterior, basta a bucólica vida no campo. A vida eremítica exige
o fugere urbem. A palavra grega “ἐρῆμος” (erêmos), “ἤρεμος” (ḗremos), e em latim
“eremus”, significa deserto e refere-se aos anacoretas, do grego antigo:
ἀναχωρητής, anachōrētḗs, "aquele que abdicou do mundo",do verbo ἀναχωρέω,
anachōréō, significando "retirar-se", "recolher-se" para viver nos desertos. Essa
fuga incide-se sob o núcleo da palavra grega μοναχός (monachós), e em latim
monachus (monge), que significa: sozinho, solitário, homem uno. Etimologicamente,
a raiz dessas palavras indica um fenômeno ôntico, que marcou o cerne de um
movimento espiritual de referencialidade e impacto transformadores para a
dimensão psicossocial do homem antigo frente a brutalidade e dinamismo de certas
perdas e anacronismos dissonantes do momento concreto, no qual essas palavras
reverberam-se com ainda mais impacto pelo testemunho da vida dos grandes
homens, cujas vidas verdadeiramente provadas no martírio ontológico cotidiano
resplandeceram um caminho espiritual de retorno ao Amor de Deus.

O fenômeno universal dos testemunhos autênticos tem mais força do que qualquer
interpretação lexical dos termos religiosos, haja vista a desinstitucionalização do
gênero de vida monacal ter sofrido a alterações no modus vivendi original desde as
instituições iniciais. Ora, não por acaso o fenômeno componente é um arquétipo
universalmente valioso para descrever a ontologia sagrada da trajetória humana,
este retorno à casa Paterna e os rumos dos corações perambulantes de cuja
solidão angustiante e silêncio dissonante, sobretudo nessas épocas conflituosas,
fugimos continuamente. Os monges dos primórdios do cristianismo são os “santos
eremitas”, os corajosos senhores de si próprios e suplantadores da aceitação
ontológica da nossa condição humana, cujas vidas todos homens modernos estão
convidados a imitar, caso queiram libertar-se dos entretenimentos vigentes. Eles
são os modelos arquetípicos de como todo homem deve ser para fugir da angústia
solitária, que o assombrará até a morte.

Quanto ao silêncio interior… que absurdo! Porque este autor deveria ensinar-vos a
viver de forma apropriada com conselhos espirituais quando o Evangelho de Jesus
Cristo explicitou o Caminho, a Verdade e a Vida? Ora, nesses tempos, porém, é
fato que o homem ensurdeceu-se pelos ruídos produzidos um amontoado de
mentiras e convenções de falsas necessidades: a cultura das distrações vãs, o
entretenimento modelado e configurado às estúpidas e midiáticas expressões
humanas, que nada mais são do que as o espetáculo tétrico do orgulho do homem
moderno em sua própria fraqueza e desgraça. Este é o culto dos ignorantes e
imbecis: o entretenimento massificado! Essa cultura assombrosa deveria
amedrontar o homem medíocre e tíbio de como sua vida é asquerosamente débil e
vazia, mas raramente os seres humanos possuem iluminação em si próprio para ter
o esclarecimento acerca de si do mundo do qual faz parte. Por isso, nós que somos
pouco iluminados e desafortunados, temos que recorrer a grandeza dos homens das
épocas áureas, cujos corações eram fortes para suportar a solidão.No passado, não
havia televisão, música, teatro ou sequer livros para se distrair...Que Seria
excepcionalmente maravilhoso que os homens tivessem uma educação de qualidade,
e fosse habituados ao entretenimento literário: Oh, sim, quanto eles poderiam
crescer intelectual e espiritualmente! Contudo, homens corajosos abandonaram
suas vidas comunitárias para viver, numa época na qual a ausência material de
recursos que suavizassem a solidão e preenchessem o silêncio com sons
dissonantes, única exclusivamente de meditação, oração, concentração e reflexão
aprofundada incomensurável realidade de suas condições humanas. E quanto ele se
aprofundaram nela, a tal ponto no próprio Deus conceder eles a pacificação, e por
seus rostos irradiar-se a luz maravilhosa, por reflexo de esplendor de suas vidas
esquecidas. Ali no esquecimento enterneceram-se no silêncio os espíritos dos
homens, cuja modalidade de vida o eremitas modernos devem imitar, sem diminuir a
fé, nem arrefecer o espírito,Tomando-os como referenciar e seguros para a
vivência do eremitismo puro e autêntico, cujo modelo se consagra por saber viver
em entender o silêncio interior pelo testemunho dê uma vida de oração. E se não
bastasse Jesus Cristo, que nos deixou o exemplo de sua vida, mensagem e obras, o
Santos Eremitas deixaram-nos as sentenças axiomáticas, com seus testemunhos:
os apotegmas.Embora seja pretensioso, pode se dizer, na realidade, que o caminho
para o reino dos céus é estreito e são os violentos, que tomá-lo-ão à força, sob
golpes pungentes de aceitação a quietude. Eis aí, pois, o motivo, De porquê a São
Francisco de Assis, conforme dizem, foi solicitada uma regra de vida: como se os
Evangelhos não bastassem, como se outros, os padres da Igreja e os padres do
deserto, antes dele não tivessem dito com gloriosa autoridade, como se a produção
de entretenimento literário preenchesse os corações solitários. E embora contra
sua vontade, não entendendo as solicitações do alto clero para definir e
categorizar juridicamente o movimento do qual ele fora acusado de fundar, mesmo
que por ele mesmo nem quis fundar coisa alguma, nem jogou necessário a escrita de
nada que pudesse expressar uma Moção interior e o influxo do que marcara sua
espiritualidade.E assim sendo pelo que se consta: por três vezes escreveu a regra
de vida, que tendo sido lida, não foi entendida; e se fosse entendida (como o foi),
não seria meditada à guisa de Francisco; mas se fosse meditada, não haveria a
necessidade de qualquer outra coisa, nem complemento, anexo ou separata, nem
comentário homilético ou exegético, nenhuma, mais a ser acrescentada, mas,
somente, e nada mais do que isso: calada, silenciada.

Silêncio interior não é mais do que isso: calar a boca e fechar a cara. Com a boca
calada o coração deve ser orante, e os olhos penetrantes devem estar fixados na
imagem do crucificado, portanto não há motivo para sorrir, pois a solidão e angústia
devem ser levadas com seriedade e coragem, mas isso não deve ser motivo de
tristeza, porque o fardo é suave e o jugo é leve. Na verdade, o vigor e o fervor do
eremita mais jovem, ão melhor praticados de forma mais estrita e sisuda, este
deve observar-se para não cair em excesso, por isso deve estar bem assistido por
um pai espiritual complacente. e conforme a insensibilidade proporcionar o caminho
da reta severidade ao Espírito jovem, este interesse será em santidade e
sabedoria, e assim surgiram um coração acolhedor do silêncio, cujo rosto carregará
um doce sorriso, o semblante terá sido abrandado: esta é a feitura de um homem
pacificado,cujo brio foi provado no cadinho dos fortes e dos justos. quando se é
jovem e a muita energia, a consciência deve perguntar-se continuamente: A que
caminho estou me dirijo? Quem sou eu no processo de transformação do Eu Sou
em mim? - e como energia para ser gastada é melhor pecar por certo excesso de
austeridade consigo próprio do que cometer faltas que transgridam o silêncio
interior, pois dessa forma quando decrépito, este ser não terá nada para se
arrepender. calar a boca e fechar a cara é um princípio de sabedoria: isso é
manter-se na presença do Altíssimo. E para um eremita é um caminho contínuo de
perseverança e dedicação.

Mais vale calar a boca e fechar a cara para o eremita, que deseja tornar-se um
santo eremita imortalizar-se no rol dos grandes Heróis da Fé, a fim de poder ser
digno e Honrar esses homens Por Amor a Jesus Cristo, do que serelepear em
atividades humanas inúteis. o Santos Eremitas são claros: abandonar o eremitério é
o maior dos pecados para o solitário; proferir palavras vãs é o impropério do
espírito. Estas são as duas fontes das distrações e reminiscências sensoriais
inapropriados. os cinco sentidos de um autêntico eremita devem estar todos
voltados para o imaterial: a visão, a audição, o tato, o olfato e o paladar. A visão do
eremita só contemplará o sagrado livro do saltério e as sagradas escrituras, e
nessas fontes dedicar-se a informar continuamente a inteligência e fortalecer a
vontade, a fim de lembrar-se do Altíssimo, o Eu Sou. A existência é tudo o que há:
Deus é Amor difusivo e Lei Eterna, portanto só ele basta! Em Deus, os sentidos
humanos estão todos saciados. Foi a curiosidade de Eva e de Pandora, segundo os
arquétipos primordiais, que ocasionou os males da degenerescência errática da qual
o homem é vítima e prisioneiro. A audição do eremita deve apenas escutar a
entoação do Sagrado salmos e das melodias sagradas. As mãos delimita só devem
tocar as coisas santas do Altíssimo, e só deve se entreter com os objetos com os
quais sua consciência se lembre do Todo Poderoso. O olfato do eremita deve
desprezar perfumes e aromas agradáveis, nos quais possa distrair-se do essencial,
o Único Necessário, o próprio Imaterial. E o paladar do eremita deve restringir-se
aos alimentos sóbrios.

A lei espiritual dá paciência e perseverança contínua, postulam: “O solitário que


Cala a boca e dedica-se somente a pensar no Deus altíssimo, ano após ano consegue
aquietar o coração,Mas após permanecer em silêncio por mais de 50 anos, um
eremita será apenas um discípulo na sabedoria Sagrada”. A qualquer momento,
mesmo o mais sábio dos homens, enquanto ainda estiver encarnado em corpo
mortal, pode cometer faltas graves contra o silêncio interior. O eremita que
guarda sua língua de proferir coisas vãs e o seu coração do entretenimento e das
vãs distrações tem maior chance de não envelhecer sendo um tolo estúpido, um
decreto homem desprovido de sabedoria iluminação. Não há coisa mais feia do que
um velho fofoqueiro... talvez, um aborto, um suicida ou um ser que não veio a
existência, seja mais lucrativo na roda da vida do que um ser solitário, que não foi
preenchido na sua solidão pela força do Amor Divino, nem silenciado pelo verbo
Sagrado, a única palavra necessária ao eremita, autêntico praticante do Evangelho,
fiel e amigo de Jesus Cristo e filho espiritual dos santos eremitas.

#Capítulo 3 - A solidão Ontológica

Há coisas que são misteriosas na vida, mas em traços gerais o que somos é
resultado contíguo de fatores circunstanciais coadunados à temporalidade de leis
resultantes interpostas a forças cósmicas, nas quais estamos sustentados e das
quais não podemos transgredir. Uma lei espiritual e princípio ontológicos ligados à
condição humana é a solidão. A solidão - provavelmente - não é a raiz de todos os
males, mas é a raiz e o principal eixo por meio do qual a humanidade se sustenta no
Eterno Solitário. O elemento teológico da solidão divina é o que glorifica a condição
humana, mas paradoxalmente também é a nulidade que a rebaixa numa
degenerescência excrescente, denominada: “pecado”. Ora, a solidão de Deus não
nos é alcançável de maneira a podermos contemplada em toda sua infinitude,
porque ela é pessoal e transpessoal do ponto de vista teológico e antropológico,
considerando Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. A unidade das três
pessoas divinas condensa-se no eixo inigualável de pessoalidade, cuja Revelação nos
foi dada em Jesus Cristo. Cada uma das pessoas divinas, por apropriação,
relacionam-se a um atributo específico da dimensão solitária nessa unidade divina
compartilhada. Contudo,a manifestação da solidão divina é sobremodo salientada
especialmente considerando o abismo dessa unidade trinitária, cujos elos para a
processão divina de autocontemplação é o momento de glorificação máxima do
Filho, quando sofreu a Paixão e Morte. Essa é a marca indelével da solidão divina,
sentida na própria carne e por Jesus Cristo, o qual experienciou ausência completa
e o abandono para cumprir a vontade do Pai.Tanto na dimensão trinitária desse
mistério de solidão unitiva, cuja consagração de amor difusivo e contemplativo de
si próprio possibilitou a natureza humana ser assistida e amparada pelo Espírito
Santo, quando no momento da Redenção, o gênero humano foi elevado na
humanidade de Cristo, isto é no abandono sentido pelo mestre divino sobre o
madeiro da Cruz. Seria uma solidão destrutiva e ineficiente se Jesus Cristo não
tivesse ressuscitado, mas ele ressuscitou, aleluia! contudo o arquétipo do Calvário
paixão e morte e crucifixão continuo sendo válidos para a vida de um autêntico
seguidor de Jesus Cristo; aliás, muito mais válidos e cosmicamente caracterize
antes da realidade da condição humana do que a ressurreição que só se
manifestará como fenômeno quando, e se, Deus quiser. a morte é o que acompanha
a dimensão solitária vivida pelo homem, quero o homem una-se a Jesus Cristo na
solidão sentida por ele, quer o abandone ou faça uma interpretação inadequada
desse abandono.

A “outra solidão divina”, cujos aspectos da dimensão caracteriza no mesmo


ministério, é a seguinte: Deus Pai, Deus filho e Deus Espírito Santo a nada podem
se comparar, pois eles são primordiais a todo o existente, são promanadores da
vida e sustentadores que permanecem unidos à criação. Contudo, a individualidade
salvaguardada cada uma das pessoas trinitárias, definem-se por si mesmas por
serem quem são. O Pai é a fonte emanadora de tudo o que existe e é impossível ter
uma ideia minimamente mensurável da Solidão intrínseca do Deus, que nos criou por
puro Amor colapsado; tal realidade inigualável, assumiu a expressão exata do seu
significado ontológico de singularidade explícita na humanidade e na divindade de
Jesus Cristo, somente nele pode-se ter uma ideia humanizada do que vem a ser a
profunda solidão do pai, e por quanto, conforme manifestou-se segundo as
exigências ao plano salvífico, do próprio ato de sacrifício de Jesus por todo o
gênero humano.

Refletir sobre a solidão de Jesus Cristo é um elemento essencial para um eremita,


o qual se faz ausente e presente na solidão em cujo tempo faz de sua própria vida
palco de temporalidade para a permanência do eterno, mediante a inconsistência e
a impermanência, instabilidade e dinamismo da relação cósmica existente o ser e o
divino. A consciência nesse processo não tem escapatória, senão singularizar assim
si própria e viver uma experiência única e particular, isto é: o mesmo tempo
fantástico e aterrador. Pare para pensar sobre isso: Como Jesus se sentia sendo
Ele mesmo? Claro Jesus era Deus, então do ponto de vista teológico ele só poderia
se sentir como Deus, sendo homem; mas do ponto de vista da humanidade do Cristo
há implicações sutis que podemos constatar. Jesus não se assemelha a nenhum
homem, e mesmo se tivesse alguma similaridade, como todos nós em nossa
humanidade podemos carregar certos traços e semelhança uns com os outros
somos únicos por quem nós somos, mas Jesus sendo Ele, por mais paradoxal que
isso pareça: carrega em ato o gérmen de humanidade do qual nenhum homem é
solidário por sua estrutura estrutural constituinte. Pense sobre isso: quais eram os
pensamentos de Jesus? Quais eram os sentimentos de Jesus? De que forma Jesus
se sentia diante das circunstâncias temporais nas quais estava inserido? Impossível
de determinar-se por meio de palavras…! Essa realidade subjetiva os
acontecimentos plasmados na forma de reminiscências mnemônicas com as quais a
interação ontológica do ser (ente) da consciência de Jesus Cristo se defrontava
com os fenômenos, sejam eles quais for... é indecifrável, inexprimível, inefável!
Isso é válido tanto para o mais cretino dos homens como para o maior gênio de
todos os tempos, o próprio Cristo, a quem nenhum fariseu conseguiu apanhá-lo por
meio de embustes pérfidos. Jesus Cristo não tinha absolutamente ninguém com
quem pudesse conversar, porque estava cercado de ignorantes e débeis, sórdidos
pecadores degenerados; e o único a quem Jesus poderia recorrer, que de fato o
entendia na profundidade do seu próprio ser era a Deus Pai. O apóstolo nos ensina
que o próprio espírito intercede por nós com gemidos inefáveis, isso se deve ao
fato de que procedência do espírito é a emanação da vontade solitária do Filho no
Pai, e isto é um alento... um suspiro, um balbucio muito silencioso! Há uma
característica patente no Filho que é a confiança incondicional, fonte da
experiência com o Pai e baluarte para a realidade da condição na qual Jesus se
encontrava sendo ele; assim também no pai uma Evidente característica: a
paciência divina, a impassibilidade, ausência, o abandono.

Para nós, seres humanos execráveis, impossível compreender essa misteriosa


realidade: como Deus Pai amava Jesus, o filho, mas o abandonará relegado a
subjetividade ontológica de uma experiência terrena, sentida na carne de forma
tão cruenta! E, não por menos, pois na plenitude dos tempos, a ignorância daqueles
execráveis seres humanos, aproveitadores pérfidos, imundos e ingratos, que é
aproximando-se de Jesus para serem curados e receberem pão em abundância, não
demorando muito para gritar “crucifica-o”,talvez fosse a mais brutal e bestial
expressão de humanidade que um ser de agudíssima inteligência e sensibilidade
poderia suportar sendo homem comum, como eu e você… Imagina sentir o peso
dessa dor sozinho, sem ter absolutamente ninguém para compartilhá-la! Claro,
Jesus tinha o Pai, e para Jesus, nesse caso, sim, as palavras de Felipe são corretas:
“o pai lhe basta!”. Mas a presença do Pai é uma presença ausente; é uma presença
solitária: e é o arquétipo do modo como os autênticos eremitas devem orar e
meditar. Pois sendo Jesus de natureza especialíssima é natural que não se sentisse
bem entre os seus conacionais praticando costumes meramente humanos e
concernentes a degenerescência grosseira deu uma humanidade fracassada.Se
Jesus viveu com Maria e José foi cultivado certamente entre silêncios, os quais
eram preenchidos com trabalho simples e oração. E os olhares, gestos e a
taciturnidade vivenciada no abandono dessa presença inflamada, uma solidão divina
condensada por meio de inexpressões: de algo como que… de um querer dizer para
além do dito... de algo muito mais penetrante do que a transposição de palavras ou a
interpolação de termos grosseiros, e muito mais sutil do que esse ser no estar
divino, que se perpetua em cada nuance ontológico plenamente adquirido, vivido,
meditado e se é que pode-se dizer “sentido”, mas não como se sente, não como a
sensibilidade cinestésica nos dá a poder sentir as coisas em sua substanciação, mas
muito mais por ser o que elas não poderiam ser se não fosse elas mesmas, e só
sendo elas numa categoria inexprimível expressam-se: e esse mistério proporciona
a capacidade de um “modus”, uma “entidade”. Esse real atende os critérios, e essas
são apenas palavras não significam absolutamente nada, não expressam nada...
Mas quando o eremita para pensar na relação do filho com o pai, então surge uma
luz, algo dentro da alma, uma coisa indecifrável, uma interrogação ou uma incógnita,
uma partícula de coisa impossível de se definir, e a própria alma do ser
contemplativo torna-se imóvel - tanto quanto isso é particularmente possível a
dimensão do desenvolvimento intelectual e espiritual da própria alma, juntamente
com o plano vivencial das suas virtudes integradas - e subitamente, mas como que
num processo atemporal, sem ter um início é um fim vou ser marcado graduações,
parado nesse plano de imobilidade indestrutível, ali está ele: o inexpugnável do
espírito, o Santíssimo Nome de Jesus Cristo, a presença-ausente e constristadora.
Essa indivisibilidade ocasional é o que há de excruciante: é o não-existente. é o
precioso e inexpresso em palavras, o imperceptível é a não-imagem da imagem
retratável do que remotamente pode ser imaginado, mas não sacia o suficiente.
Como uma gota de orvalho caindo muito lentamente de uma folha sobre a grama, em
cujas micropartículas de água entre a estrutura da folha e o toque da pequeníssima
gramínea, um espaço imensurável, no qual se condensa todo amor e toda vontade de
cair sobre o solo, como que por força da gravidade permanecendo na
intemporalidade: aquele momento da queda. Essa suspensão dos pensamentos e da
própria inteligência, como que uma certeza de que, embora sozinho acompanhado,
mas solitário pela estrutura ordenante, e um desejo cujo núcleo não se basta pelo
movimento inicial realizado, ele mesmo precisa auto realizar-se, esse é um
permanecer estável e imóvel: essa elevação.... essa suspensão eterna! talvez seja
por isso que o reino dos céus é suspenso; talvez por isso nós apontamos os céus
para cima, como sendo súpero a nossa existência, um hiperurânio... talvez por isso
os anjos tem uma asas e voem, e quem sabe não esse o fenômeno por meio do qual
muitos místicos de tão suspensos no eterno, ficando tão leves no esquecimento…
simplesmente levitam! Vão para cima, sobem! Porque, estamos destinados a um
retorno a essa fonte original, e este movimento solitário que marcou a alma do
Cristo, no qual ele foi sustentado e por meio do qual ele atua, seja lá, o princípio de
como essa realidade acontece: que importa...! Por nada…!

Por alguma coisa: ninguém seria poeta, ninguém seria filósofo, nem místico, nem
eremita nem nada…! Pelo nada e pelo nada saborear, isto é, o não-ser, não-agir, não-
estar, não-sentir, esse como que caminho feito de sabor quintessente,ou seja, um
não sabor, não na vida mas pela sinestesia ontológica, - pudera um eremita
conseguir traduzir para os outros, mas não pode, e se pudesse, porque, claro que
isto é desejável, mas como poderia sobrepor-se ao nada? - esta arte de nadificar-
se. Estar com Jesus é estar preenchido... mas ser Jesus, ou mesmo outro ser: é
misterioso, é divino... é extático! Eis aí o mistério profundo de Amar a Deus sobre
todas as coisas e o próximo como a si mesmo. é claro que essa é uma lei espiritual,
uma regra de ouro, mas suspendesse em meditações considerando essa realidade
em toda sua dimensão e responsabilidade:somatiza-se em Jesus, já havia sido dito
antes e por outros profetas do Altíssimo, mas… tem peso ôntico! Uff! Essa
admiração ontológica, esse espanto, que até pode reduzir-se, embora não seja
exclusivamente isso, há uma arrepiar dos pelos do braço, um frio na barriga ou na
espinha… uma estupefação! Não que seja e nem que pareça em nada com que Jesus
Cristo viveu... não é nada! - Mas isto é realidade, é “alguma coisa” e é caminho de
espiritualidade eremítica!

Por isso, o reflexo imediato na solidão ontológica quando “compreendida” (ou


“vivida”) pela consciência dos seres é a natural gratidão e o louvor. é de votar ao
Deus altíssimo o reconhecimento “daquilo que o torna”: primordial e incriado. claro
que concretamente a gratidão será por alguma coisa concreta e o louvor pelas
atribuições divinas das manifestações ao longo da história e cuja as incidências
estão marcadas por personagens e figuras palpáveis, mas o santos eremitas, que
foram autênticos seguidores de Jesus Cristo, e rezaram como o próprio mestre
divino ensinou, agradeceram muito mais pelo imaterial o impalpável o inconcreto o
insensível o imemoriável, do que pelo palpável, concreto, sensível e memorável! Por
isso, os santos eremitas se tornaram arquétipos testemunhais de Jesus Cristo.

Claro que o que é materialmente visível aos olhos, não significa absolutamente nada,
e isso sempre será verdade! Por isso este livro precisa ser escrito, assim como a
Bíblia foi escrita, em cada um dos seus livros, que compõem hoje uma realidade,
uma entidade viva. Porque as coisas podem ser feitas de muitos modos e é
conveniente que se escreva o modo como autêntica espiritualidade de um eremita
deve ser vivida, tal como santos eremitas viveriam-na hoje (talvez com maior
glória) se estivessem ligados a palavra escrita, as circunstâncias temporais de
aplicação metódica e sistemática da normatividade jurídica e no que concernira às
suas almas, expressa por coisas que fazem sentido: seja rezar 150 Salmos,
permanecerei de olhos fechados, de joelhos, com as mãos postas, com as pernas
cruzadas, ou prostrados, humilha-se com jejum em determinados dias, rezando em
pé com um saltério repousado sobre um facistol, e levantando-se e sentando-se
alternadamente, a fim de que a sonolência não entorpeceu o espírito, enfim, seja
nessa concretude ou em outra qualquer: esse é o tempo dessas coisas serem
descritas, porque o método da disciplina é o componente de fundamentação
material da espiritualidade eremítica. Todavia que fica estabelecido que isso em
nada tem a ver com solidão ontológica, pois realizar uma série de “coreografias” em
nada consagra o modus operandi da Quinta-Essência. A essa solidão a qual estamos
destinados, porém, segue uma irremediável nadificação humana, que, sim: é
previsível metodologicamente. Não há nada mais ridículo do que o tolo querer
inventar idiotices, acreditando de todo o coração está sendo original e seus
propósitos. Ora se os santos padres do deserto, os santos eremitas do passado,
soergueram-se e suplantaram métodos para viver da forma correta a solidão
ontológica, por que, diabos, a “geração Prozac” de dementes soberbos inventa
métodos desconsiderando-os? Jesus rezou na solidão, os santos eremitas rezaram
solitariamente, e todos os que desejam levar a espiritualidade ôntica de suas
próprias humanidades solitárias a sério devem abster-se de seguir falsos caminhos.

#Capítulo 4 – A angústia

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