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O eremita é um ser solitário. Um ser solitário é um ser cujo coração está alheio
das realidades efêmeras, e interiorizado na dimensão fenomênica de sua
humanidade excrescente não se fixa na auto imagem ilusória de seu ego ou das
realidades ao seu derredor. E em decorrência da profundeza do seu coração, o
núcleo das suas certezas não está incidido nos castelos de areia construídos pelos
egos de outrem, e tal forma que: o relacionamento com os outros é inexpressivo e
superficial, raramente proporcionando-lhe a satisfação necessária para sua
autorrealização.
O eremita é um ser que despiu-se das falsas necessidades, dos falsos conceitos e
preconceitos, dos falsos valores e tabus, dos totens erigidos para contenção
comportamental da humanidade grosseira, marcada pela degenerescência do
pecado. Todo homem está em busca dos valores primordiais estruturantes, nos
quais ele encontra a si mesmo no processo de autoconhecimento pacificando-se
interiormente. Contudo, os apegos a matéria vigente relacionam-lo há uma série de
dependências e obrigações as quais ele está institucionalizado.
Viver sozinho e egoisticamente apenas por não suportar a frenesi dos outros
famigerados e autoproclamados “humanos”, não é necessariamente proveitoso, nem
virtuoso. O eremita se constitui como tal por sua consciência de amor à
humanidade, não circunstancialmente pela fuga do mundo tumultuado. A
caracterização extrínseca do eremitério ter que estar localizado distante dos
estrépitos das grandes cidades não é uma fuga por medo do convívio com os outros
seres. É também verdade que a própria solidão revela a consciência do solitário a
pureza de suas intenções; e muito embora não seja legítimo viver sozinho mentindo
para si mesmo e sem a reta consciência contemplativa, o provérbio é claro: “antes
só do que mal acompanhado”. Muitos pecados seriam evitados se os seres humanos
fossem mais corajosos para enfrentar a solidão de seus corações, e permanecer
em silêncio sozinhos, pois a própria solidão é curativa e purgativa.
Na solidão um ser será escarrado por seus próprios demônios, e terá tempo para
refletir sobre a sua existência: o seu nascimento, o vazio de suas escolhas e o
momento derradeiro, a morte. Será muito natural para este ser constatar o motivo
pelo qual em todas as grandes religiões os santos e os sábios desenvolveram-se
espiritualmente na solidão e no silêncio. A solidão e o silêncio não é o único caminho,
e não é o caminho para todos; mas, sem dúvida, é o caminho mais autêntico e o mais
rápido para o desenvolvimento espiritual, porque querendo ou não: depois da morte
tudo que haverá é o silêncio da não-existência. Cada um de nós, os vivos, terá que
passar pela morte solitariamente, esse é misterioso motivo pelo qual a solidão
acentua a disciplina necessária para o homem retornar ao Altíssimo Deus. E é por
isso que: mas vale um ser que deseja permanecer em silêncio e sozinho, do que um
homem em busca de companhia de outrem e entretenimento para distrair-se; pois
enquanto o primeiro, ainda que possa ser egoísta e apegado à matéria grosseira,
possuirá a solidão como remédio para suas mazelas, enquanto o segundo
permanecerá na ilusão superficial das miragens auto geradas por seu ego e pelo ego
dos outros.
#Capítulo 2 – O silêncio
Quanto ao silêncio exterior, basta a bucólica vida no campo. A vida eremítica exige
o fugere urbem. A palavra grega “ἐρῆμος” (erêmos), “ἤρεμος” (ḗremos), e em latim
“eremus”, significa deserto e refere-se aos anacoretas, do grego antigo:
ἀναχωρητής, anachōrētḗs, "aquele que abdicou do mundo",do verbo ἀναχωρέω,
anachōréō, significando "retirar-se", "recolher-se" para viver nos desertos. Essa
fuga incide-se sob o núcleo da palavra grega μοναχός (monachós), e em latim
monachus (monge), que significa: sozinho, solitário, homem uno. Etimologicamente,
a raiz dessas palavras indica um fenômeno ôntico, que marcou o cerne de um
movimento espiritual de referencialidade e impacto transformadores para a
dimensão psicossocial do homem antigo frente a brutalidade e dinamismo de certas
perdas e anacronismos dissonantes do momento concreto, no qual essas palavras
reverberam-se com ainda mais impacto pelo testemunho da vida dos grandes
homens, cujas vidas verdadeiramente provadas no martírio ontológico cotidiano
resplandeceram um caminho espiritual de retorno ao Amor de Deus.
O fenômeno universal dos testemunhos autênticos tem mais força do que qualquer
interpretação lexical dos termos religiosos, haja vista a desinstitucionalização do
gênero de vida monacal ter sofrido a alterações no modus vivendi original desde as
instituições iniciais. Ora, não por acaso o fenômeno componente é um arquétipo
universalmente valioso para descrever a ontologia sagrada da trajetória humana,
este retorno à casa Paterna e os rumos dos corações perambulantes de cuja
solidão angustiante e silêncio dissonante, sobretudo nessas épocas conflituosas,
fugimos continuamente. Os monges dos primórdios do cristianismo são os “santos
eremitas”, os corajosos senhores de si próprios e suplantadores da aceitação
ontológica da nossa condição humana, cujas vidas todos homens modernos estão
convidados a imitar, caso queiram libertar-se dos entretenimentos vigentes. Eles
são os modelos arquetípicos de como todo homem deve ser para fugir da angústia
solitária, que o assombrará até a morte.
Quanto ao silêncio interior… que absurdo! Porque este autor deveria ensinar-vos a
viver de forma apropriada com conselhos espirituais quando o Evangelho de Jesus
Cristo explicitou o Caminho, a Verdade e a Vida? Ora, nesses tempos, porém, é
fato que o homem ensurdeceu-se pelos ruídos produzidos um amontoado de
mentiras e convenções de falsas necessidades: a cultura das distrações vãs, o
entretenimento modelado e configurado às estúpidas e midiáticas expressões
humanas, que nada mais são do que as o espetáculo tétrico do orgulho do homem
moderno em sua própria fraqueza e desgraça. Este é o culto dos ignorantes e
imbecis: o entretenimento massificado! Essa cultura assombrosa deveria
amedrontar o homem medíocre e tíbio de como sua vida é asquerosamente débil e
vazia, mas raramente os seres humanos possuem iluminação em si próprio para ter
o esclarecimento acerca de si do mundo do qual faz parte. Por isso, nós que somos
pouco iluminados e desafortunados, temos que recorrer a grandeza dos homens das
épocas áureas, cujos corações eram fortes para suportar a solidão.No passado, não
havia televisão, música, teatro ou sequer livros para se distrair...Que Seria
excepcionalmente maravilhoso que os homens tivessem uma educação de qualidade,
e fosse habituados ao entretenimento literário: Oh, sim, quanto eles poderiam
crescer intelectual e espiritualmente! Contudo, homens corajosos abandonaram
suas vidas comunitárias para viver, numa época na qual a ausência material de
recursos que suavizassem a solidão e preenchessem o silêncio com sons
dissonantes, única exclusivamente de meditação, oração, concentração e reflexão
aprofundada incomensurável realidade de suas condições humanas. E quanto ele se
aprofundaram nela, a tal ponto no próprio Deus conceder eles a pacificação, e por
seus rostos irradiar-se a luz maravilhosa, por reflexo de esplendor de suas vidas
esquecidas. Ali no esquecimento enterneceram-se no silêncio os espíritos dos
homens, cuja modalidade de vida o eremitas modernos devem imitar, sem diminuir a
fé, nem arrefecer o espírito,Tomando-os como referenciar e seguros para a
vivência do eremitismo puro e autêntico, cujo modelo se consagra por saber viver
em entender o silêncio interior pelo testemunho dê uma vida de oração. E se não
bastasse Jesus Cristo, que nos deixou o exemplo de sua vida, mensagem e obras, o
Santos Eremitas deixaram-nos as sentenças axiomáticas, com seus testemunhos:
os apotegmas.Embora seja pretensioso, pode se dizer, na realidade, que o caminho
para o reino dos céus é estreito e são os violentos, que tomá-lo-ão à força, sob
golpes pungentes de aceitação a quietude. Eis aí, pois, o motivo, De porquê a São
Francisco de Assis, conforme dizem, foi solicitada uma regra de vida: como se os
Evangelhos não bastassem, como se outros, os padres da Igreja e os padres do
deserto, antes dele não tivessem dito com gloriosa autoridade, como se a produção
de entretenimento literário preenchesse os corações solitários. E embora contra
sua vontade, não entendendo as solicitações do alto clero para definir e
categorizar juridicamente o movimento do qual ele fora acusado de fundar, mesmo
que por ele mesmo nem quis fundar coisa alguma, nem jogou necessário a escrita de
nada que pudesse expressar uma Moção interior e o influxo do que marcara sua
espiritualidade.E assim sendo pelo que se consta: por três vezes escreveu a regra
de vida, que tendo sido lida, não foi entendida; e se fosse entendida (como o foi),
não seria meditada à guisa de Francisco; mas se fosse meditada, não haveria a
necessidade de qualquer outra coisa, nem complemento, anexo ou separata, nem
comentário homilético ou exegético, nenhuma, mais a ser acrescentada, mas,
somente, e nada mais do que isso: calada, silenciada.
Silêncio interior não é mais do que isso: calar a boca e fechar a cara. Com a boca
calada o coração deve ser orante, e os olhos penetrantes devem estar fixados na
imagem do crucificado, portanto não há motivo para sorrir, pois a solidão e angústia
devem ser levadas com seriedade e coragem, mas isso não deve ser motivo de
tristeza, porque o fardo é suave e o jugo é leve. Na verdade, o vigor e o fervor do
eremita mais jovem, ão melhor praticados de forma mais estrita e sisuda, este
deve observar-se para não cair em excesso, por isso deve estar bem assistido por
um pai espiritual complacente. e conforme a insensibilidade proporcionar o caminho
da reta severidade ao Espírito jovem, este interesse será em santidade e
sabedoria, e assim surgiram um coração acolhedor do silêncio, cujo rosto carregará
um doce sorriso, o semblante terá sido abrandado: esta é a feitura de um homem
pacificado,cujo brio foi provado no cadinho dos fortes e dos justos. quando se é
jovem e a muita energia, a consciência deve perguntar-se continuamente: A que
caminho estou me dirijo? Quem sou eu no processo de transformação do Eu Sou
em mim? - e como energia para ser gastada é melhor pecar por certo excesso de
austeridade consigo próprio do que cometer faltas que transgridam o silêncio
interior, pois dessa forma quando decrépito, este ser não terá nada para se
arrepender. calar a boca e fechar a cara é um princípio de sabedoria: isso é
manter-se na presença do Altíssimo. E para um eremita é um caminho contínuo de
perseverança e dedicação.
Mais vale calar a boca e fechar a cara para o eremita, que deseja tornar-se um
santo eremita imortalizar-se no rol dos grandes Heróis da Fé, a fim de poder ser
digno e Honrar esses homens Por Amor a Jesus Cristo, do que serelepear em
atividades humanas inúteis. o Santos Eremitas são claros: abandonar o eremitério é
o maior dos pecados para o solitário; proferir palavras vãs é o impropério do
espírito. Estas são as duas fontes das distrações e reminiscências sensoriais
inapropriados. os cinco sentidos de um autêntico eremita devem estar todos
voltados para o imaterial: a visão, a audição, o tato, o olfato e o paladar. A visão do
eremita só contemplará o sagrado livro do saltério e as sagradas escrituras, e
nessas fontes dedicar-se a informar continuamente a inteligência e fortalecer a
vontade, a fim de lembrar-se do Altíssimo, o Eu Sou. A existência é tudo o que há:
Deus é Amor difusivo e Lei Eterna, portanto só ele basta! Em Deus, os sentidos
humanos estão todos saciados. Foi a curiosidade de Eva e de Pandora, segundo os
arquétipos primordiais, que ocasionou os males da degenerescência errática da qual
o homem é vítima e prisioneiro. A audição do eremita deve apenas escutar a
entoação do Sagrado salmos e das melodias sagradas. As mãos delimita só devem
tocar as coisas santas do Altíssimo, e só deve se entreter com os objetos com os
quais sua consciência se lembre do Todo Poderoso. O olfato do eremita deve
desprezar perfumes e aromas agradáveis, nos quais possa distrair-se do essencial,
o Único Necessário, o próprio Imaterial. E o paladar do eremita deve restringir-se
aos alimentos sóbrios.
Há coisas que são misteriosas na vida, mas em traços gerais o que somos é
resultado contíguo de fatores circunstanciais coadunados à temporalidade de leis
resultantes interpostas a forças cósmicas, nas quais estamos sustentados e das
quais não podemos transgredir. Uma lei espiritual e princípio ontológicos ligados à
condição humana é a solidão. A solidão - provavelmente - não é a raiz de todos os
males, mas é a raiz e o principal eixo por meio do qual a humanidade se sustenta no
Eterno Solitário. O elemento teológico da solidão divina é o que glorifica a condição
humana, mas paradoxalmente também é a nulidade que a rebaixa numa
degenerescência excrescente, denominada: “pecado”. Ora, a solidão de Deus não
nos é alcançável de maneira a podermos contemplada em toda sua infinitude,
porque ela é pessoal e transpessoal do ponto de vista teológico e antropológico,
considerando Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. A unidade das três
pessoas divinas condensa-se no eixo inigualável de pessoalidade, cuja Revelação nos
foi dada em Jesus Cristo. Cada uma das pessoas divinas, por apropriação,
relacionam-se a um atributo específico da dimensão solitária nessa unidade divina
compartilhada. Contudo,a manifestação da solidão divina é sobremodo salientada
especialmente considerando o abismo dessa unidade trinitária, cujos elos para a
processão divina de autocontemplação é o momento de glorificação máxima do
Filho, quando sofreu a Paixão e Morte. Essa é a marca indelével da solidão divina,
sentida na própria carne e por Jesus Cristo, o qual experienciou ausência completa
e o abandono para cumprir a vontade do Pai.Tanto na dimensão trinitária desse
mistério de solidão unitiva, cuja consagração de amor difusivo e contemplativo de
si próprio possibilitou a natureza humana ser assistida e amparada pelo Espírito
Santo, quando no momento da Redenção, o gênero humano foi elevado na
humanidade de Cristo, isto é no abandono sentido pelo mestre divino sobre o
madeiro da Cruz. Seria uma solidão destrutiva e ineficiente se Jesus Cristo não
tivesse ressuscitado, mas ele ressuscitou, aleluia! contudo o arquétipo do Calvário
paixão e morte e crucifixão continuo sendo válidos para a vida de um autêntico
seguidor de Jesus Cristo; aliás, muito mais válidos e cosmicamente caracterize
antes da realidade da condição humana do que a ressurreição que só se
manifestará como fenômeno quando, e se, Deus quiser. a morte é o que acompanha
a dimensão solitária vivida pelo homem, quero o homem una-se a Jesus Cristo na
solidão sentida por ele, quer o abandone ou faça uma interpretação inadequada
desse abandono.
Por alguma coisa: ninguém seria poeta, ninguém seria filósofo, nem místico, nem
eremita nem nada…! Pelo nada e pelo nada saborear, isto é, o não-ser, não-agir, não-
estar, não-sentir, esse como que caminho feito de sabor quintessente,ou seja, um
não sabor, não na vida mas pela sinestesia ontológica, - pudera um eremita
conseguir traduzir para os outros, mas não pode, e se pudesse, porque, claro que
isto é desejável, mas como poderia sobrepor-se ao nada? - esta arte de nadificar-
se. Estar com Jesus é estar preenchido... mas ser Jesus, ou mesmo outro ser: é
misterioso, é divino... é extático! Eis aí o mistério profundo de Amar a Deus sobre
todas as coisas e o próximo como a si mesmo. é claro que essa é uma lei espiritual,
uma regra de ouro, mas suspendesse em meditações considerando essa realidade
em toda sua dimensão e responsabilidade:somatiza-se em Jesus, já havia sido dito
antes e por outros profetas do Altíssimo, mas… tem peso ôntico! Uff! Essa
admiração ontológica, esse espanto, que até pode reduzir-se, embora não seja
exclusivamente isso, há uma arrepiar dos pelos do braço, um frio na barriga ou na
espinha… uma estupefação! Não que seja e nem que pareça em nada com que Jesus
Cristo viveu... não é nada! - Mas isto é realidade, é “alguma coisa” e é caminho de
espiritualidade eremítica!
Claro que o que é materialmente visível aos olhos, não significa absolutamente nada,
e isso sempre será verdade! Por isso este livro precisa ser escrito, assim como a
Bíblia foi escrita, em cada um dos seus livros, que compõem hoje uma realidade,
uma entidade viva. Porque as coisas podem ser feitas de muitos modos e é
conveniente que se escreva o modo como autêntica espiritualidade de um eremita
deve ser vivida, tal como santos eremitas viveriam-na hoje (talvez com maior
glória) se estivessem ligados a palavra escrita, as circunstâncias temporais de
aplicação metódica e sistemática da normatividade jurídica e no que concernira às
suas almas, expressa por coisas que fazem sentido: seja rezar 150 Salmos,
permanecerei de olhos fechados, de joelhos, com as mãos postas, com as pernas
cruzadas, ou prostrados, humilha-se com jejum em determinados dias, rezando em
pé com um saltério repousado sobre um facistol, e levantando-se e sentando-se
alternadamente, a fim de que a sonolência não entorpeceu o espírito, enfim, seja
nessa concretude ou em outra qualquer: esse é o tempo dessas coisas serem
descritas, porque o método da disciplina é o componente de fundamentação
material da espiritualidade eremítica. Todavia que fica estabelecido que isso em
nada tem a ver com solidão ontológica, pois realizar uma série de “coreografias” em
nada consagra o modus operandi da Quinta-Essência. A essa solidão a qual estamos
destinados, porém, segue uma irremediável nadificação humana, que, sim: é
previsível metodologicamente. Não há nada mais ridículo do que o tolo querer
inventar idiotices, acreditando de todo o coração está sendo original e seus
propósitos. Ora se os santos padres do deserto, os santos eremitas do passado,
soergueram-se e suplantaram métodos para viver da forma correta a solidão
ontológica, por que, diabos, a “geração Prozac” de dementes soberbos inventa
métodos desconsiderando-os? Jesus rezou na solidão, os santos eremitas rezaram
solitariamente, e todos os que desejam levar a espiritualidade ôntica de suas
próprias humanidades solitárias a sério devem abster-se de seguir falsos caminhos.
#Capítulo 4 – A angústia