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realidade do “eu”, e a solidão-plenitude ou a verdadeira solidão, em que somos,
com maior ou menor profundidade, conscientes da grandeza sublime do nosso
ser mais verdadeiro. É a esta solitude que se refere a escritura budista
Dhammapada: “Na solidão, que poucos apreciam, que ele descubra a alegria
suprema: livre de posses, livre de desejos e livre de tudo quanto lhe possa
obscurecer a mente”. Era também este isolamento espiritual que buscavam os
padres do deserto, nos primórdios do cristianismo. A vivência do despojamento
de si é descrita deste modo por Dionísio, o Areopagita: “Pois que é saindo de
tudo e de ti próprio, de modo irresistível e perfeito, que tu te elevarás num puro
êxtase até ao raio misterioso da divina Essência, depois de teres abandonado
tudo e te teres despojado de tudo”.
No outro extremo – infelizmente bem mais comum –, quando se
experimenta a solidão-vazio, não importa quão bem conhecemos os nossos
vícios e virtudes, as nossas qualidades e defeitos, quão vasta é a nossa cultura e
os nossos conhecimentos intelectuais, quão sábios e eruditos possamos ser
acerca de questões espirituais. Nessa altura, nada disso interessa, e a única coisa
que conta é o grau de consciência espiritual do “Eu”, o verdadeiro “Eu”, a Alma,
o Espírito, o Deus interior, aquilo que “Eu” sou! Porque cada um de nós É, nós
somos, mas somos o quê? De que me serve ler livros de culinária, maravilhosas
descrições de comida, se não tenho nada para comer? Que utilidade tem para
mim contemplar quadros lindíssimos de regatos e cascatas, água fresca e
abundante, quando tenho sede e quero beber? Para que quero eu ler centenas de
livros e escrituras que me falam de Deus e da revelação da divindade na minha
alma, se não possuo essa experiência, se o ser divino me não foi revelado?
E é este o cerne da questão vazio-plenitude: o vazio é a ausência do “Eu”,
da consciência de Si e a plenitude é a sua presença. Conhecimento teórico é
conhecimento teórico, experiência prática é experiência prática. Eu posso
acreditar que sou imortal, mas é certamente muito melhor experimentar essa
imortalidade do Amor que eu próprio sou e em mim contenho. Mas Deus não se
revela senão àqueles que O procuram e àqueles a quem Ele próprio escolhe. “A
Alma não é alcançada nem por meio de muitos estudos, nem por meio do
intelecto ou dos ensinos sagrados. É alcançada por aqueles por ela escolhidos –
porque a escolhem a ela. Aos seus escolhidos revela a Alma a sua glória”.
(Upanishades)