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CENTRO UNIVERSITÁRIO SÃO CAMILO

Disciplina: Metafísica
Docente: Benedito Eliseu Leite Cintra
Aluna: Lilian Neves Mise RA 212055

O sentido da vida

Chama-se vida ao que preenche o espaço entre o nascer e o morrer.


Mas o que é que preenche este espaço? Será o tempo em seu fluxo interrupto?
O espaço que nosso corpo ocupa do momento do nascimento até se decompor
após a morte? Tempo e espaço são contínuos inseparáveis se penso em vida,
são de lugares e instantes em que cada momento da vida pode ser descrito,
expresso, vivido.

Mas não podemos dizer que a vida se oriente pelo tempo ou espaço,
pois estes só caminham em direção a morte, e não diríamos sentido da vida,
mas sentido da morte. O tempo é irreversível, e quanto ao espaço só
conhecemos como corpo que ocupa um lugar, uma medida, no mundo. O
sentido da vida é encontrado não apenas nos lugares e instantes da nossa
existência, mas transcende a estes. Para que a vida tenha sentido é necessário
um trabalho do sujeito, ao sair de si e encontrar o mundo, ele deve tornar
significativo cada momento, ponderando suas ações. Significar o momento é
transcender a existência, ou seja, é passar pelo tempo e espaço, mas também
estar acima, podendo a cada instante julgar, valorar, pesar.

A vida é tecida por atos, escolhas. A própria morte ganha assim nova
significação, não é (apenas) um final do tempo, uma degradação no espaço,
um ponto final. É um momento a ser sobrevoado e significado, diz-se que “não
sabe morrer, quem não sabe viver.” A morte não é sequer necessariamente
triste, ela é um tempo e espaço desprovido de sentido originalmente, é cada
ser em sua relação intencional com esta experiência que provê o sentido.

Levinas através do mandamento “Não Matarás” expressa deforma clara


o sentido da vida, é o que se opõe à morte. “Não matarás” é uma exaltação à
vida e um alerta, toda ação (ou falta de ação) que permite a morte vai em
sentido oposto a vida, assim não matar equivale a fazer tudo para que o outro
viva. O sentido da vida contem em si, para Lévinas, a bondade e generosidade.
Não é um bem inerente ao meu ser, mas que descuro em minha saída para o
mundo,e revelo na relação interessada com o outro.

Leio este mandamento no encontro com o Rosto do Outro, a interdição


expressa no rosto não impede que se mate o corpo de outrem, mas rosto é
transcende a própria manifestação e a violência que se faz contra o corpo não
atinge o inatingível do outro. Os gritos de Abel são ouvidos, Caim não pode
matá-lo totalmente. O assassínio e o suicídio são transgressões de uma lei
impossível de ser transgredido. É violência não apenas contra um corpo, mas
contra a alteridade no mesmo, é também a destruição de si (do Mesmo).

1.“A filosofia da transcendência nos joga sobre a grande estrada, no meio das
ameaças, sob uma luz ofuscante... Esta necessidade para a consciência de
existir como consciência de outra coisa, Husserl a denomina
“intencionalidade”.1

Sobre esta proposição de Sartre, vejamos por partes:

“A filosofia da transcendência nos joga sobre a grande estrada”: a


consciência de si só se faz possível – ou só acontece, na saída de si. Não há
um eu pré existente. Assim temos que o movimento de saída é anterior mesmo
a consciência de si. A transcendência é se por na grande estrada, sair de si é
cair na vida.

“no meio das ameaças, sob uma luz ofuscante”: É no incômodo do


mundo que a consciência torna-se consciência de si. Não é fechado no mundo
das representações que a consciência é possível. A consciência corre para fora
de si mesma para construir-se e conhecer , Sartre diz ainda que ela não tem
interior, ‘exceto um movimento para fugir de si”. 2 Isso é se ver em constante
ameaça, sem um dentro não há uma garantia que não vá se perder ou se
dissolver no mundo.

1
CINTRA 2002 p.2
2
CINTRA 2002 p.2
“Esta necessidade para a consciência de existir como consciência de
outra coisa, Husserl a denomina “intencionalidade”.: A intencionalidade é a
construção de sentido que só pode acontecer recepção ou no encontro com
algo exterior à própria consciência. O eu que pensa, sempre pensa algo.
Mesmo o pensamento não existe de forma solitária, ele só é possível como
abertura para a exterioridade.

2.”O face a face é a experiência da idéia do infinito, sem recurso a Deus


enquanto termo desta idéia.”3

3.Se “a relação com o infinito” é relação com outrem, não se entenda que
outrem seja “ontologicamente” infinito! Seria o Deus cartesiano. É infinita
“porque desborda o pensamento que o pensa”. Por isso, na relação com
outrem, “se produz [da relação] a sua própria infinição” 4

Cintra esclarece que, o face a face é o encontro que se dá entre o “eu de


mim mesmo” e o “outro de mim mesmo”, neste encontro pode-se tomar ou uma
atitude narcisista ou metafísica.5

Levinas usa a forma cartesiana para pensar o infinito, mas, diferente de


Descartes, encontra na investigação não um Deus perfeito e pleno – este só
seria eu mesmo em uma versão melhorada, e assim pode-se dizer que é a
opção narcísea. O que se encontra no face a face é o Estrangeiro,
absolutamente outro, indizível, infinitamente distante que se recusa a ser
possuído, verdadeiramente transcendente. É de modo surpreendente, a
alteridade no eu, infinito “porque desborda o pensamento que o pensa” 6

Este outro de mim mesmo não é em substância infinita, mas revela-se


como desejo do absolutamente Outro, ou desejo metafísico. Ao contrario de
uma opção narcisista ela é bondade, pois deseja o que lhe é diferente e assim
obriga-se a sair de si, abrindo-se ao exterior. No narcisismo onde a
manutenção do eu se faz necessária, se está cego qualquer exterioridade, tudo
é visto em graus de superioridade, ou perfeição, e inferioridade, ou imperfeição,
em relação a um eu.
3
CINTRA2002 p.6
4
CINTRA2002 p.8
5
CINTRA2002 p.3
6
CINTRA2002 p.8
O infinito revelado na relação transcendente acontece pelo próprio modo
de relação, o Eu jamais fecha uma totalidade com o Outro, mas permanece no
seu movimento de exteriorização, movimento que nunca se acaba em um
encontro,pois vai em direção ao que não se pode abarcar.

Referência:

CINTRA, Benedito Eliseu Leite. Emmanue Lévinas e a idéia de infinito.


Margem, São Paulo, n.16, p.1-10, dez. 2002.

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