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CENTRO UNIVERSITÁRIO SÃO CAMILO

Disciplina: Metafísica
Docente: Benedito Eliseu Leite Cintra
Aluna: Lilian Neves Mise RA 212055

1–

O que é o bem? Para decidir-se a respeito do bem, é necessário saber o


que é o justo. Mas como é possível chegar a uma conclusão a respeito do que
é justo – esta se produz em uma reflexão solitária ou se dá de forma coletiva?

Pensemos se é possível pensar a justiça de forma solitária. Aquele que


deseja estabelecer a partir de si as normas a respeito de justiça estaria diante
de um problema, jamais poderia legislar a respeito do que transborda seus
limites. Tudo o que estabelece-se a respeito de sua vizinhança (sua
proximidade) , estaria fora de seu campo. Teria o risco de incorrer em
impiedade com seus vizinhos. Esta justiça, estabelecida no interior de um
pensamento, é, portanto limitada a si mesma – jamais poderia levar a um bem
comum, por ter sido surda ao que lhe era próximo. Também jamais leva a um
Bem à própria pessoa que pensou, afinal ela deixou a si cercada da
possibilidade de guerra, ao fechar a porta do diálogo.

A justiça deve ser então uma construção coletiva, é o pensamento


esforçando-se para ouvir outrem ao assumir a responsabilidade pela
construção do diálogo. O Bem nunca é fruto de um indivíduo, mas resultado do
que foi assumido como verdadeiro por uma coletividade. Qualquer julgamento
do que é verdadeiro se faz perante um coletivo. Injustiça é quebrar as regras
do diálogo - é não dar voz ao outro - e é isto que afasta do bem e da paz.

O Bem é então algo além, ou como diz Lévinas, melhor do que pensar, é
a recepção do outro no pensamento. Esta realização é a marca de um sujeito
responsável pela construção da paz.

2–

A fenomenologia é um método que nos possibilita pensar a relação


sujeito objeto não de forma separada, como se possível ver cada item
separadamente. Este sempre uma relação entre o mundo interior e mundo
exterior, uma doação de sentido que constrói ser.

Husserl nos mostra que o fenômeno é o próprio ser, isto equivale a dizer
que o conhecido só se tornou aquilo que é pelo sentido que lhe atribui. Desta
forma o que chamo de telefone pode ser para criança brinquedo (exemplo
dado pelo Cintra na aula). O objeto é acomodado, afetado pela minha intenção.
Nesta relação vemos o que é infinito – o objeto que pode vir a ser de infinitas
formas – se conformar a minha finitude, ou ao meu interesse/intenção.

Levinas propõe uma inversão: que o finito seja afetado pelo infinito. Só
nesta inversão é possível o aprendizado, a sociabilidade, a paz. Nesta relação
o sujeito se torna passivo e se deixa afetar pelo que é exterior, em outras
palavra, deixa de atribuir sentido e passa a receber o sentido de outrem, ou do
infinito.

Essa inversão é amor, onde não há posse, mas acolhimento do outro em


mim. Ao não encaixar o outro em minhas categorias abro espaço para minha
ampliação – o outro chega a mim, em minha casa e desorganiza minhas
crenças, teorias, todo saber prévio. É nesta relação de amor que o sujeito
experiência a transcendência, oportunidade de olhar acima de si mesmo, de se
libertar das próprias normas.

4–

Descartes na em suas Meditações Metafísicas chega a uma verdade


que é o cogito “Eu penso”. Porém dentro do cogito ele percebe uma idéia que
não pode ser contida dentro deste cogito, que é a idéia de infinito. Dentro da
ordem das idéias Descartes declara que o infinito é causa ou fundamento do
cogito, afinal nenhuma toda causa é superior ao efeito e embora a primeira
verdade encontrada tenha sido o cogito, é evidente para o sistema racional
cartesiano que a idéia de infinito é anterior e, portanto mais fundamental que o
cogito.

Em Kant o infinito já não está mais fora do cogito. Não existe um lá fora
para Kant, tudo é conhecido porque é organizado dentro das categorias de um
sujeito transcendental. Aqui tudo o que é pensável já está englobado dentro do
sujeito, não há metafísica possível em direção ao mundo exterior. A metafísica
kantiana é limitada ao olhar da razão sobre si mesma. A razão vive sua solidão,
e no encontro com o mundo apenas encaixa sua experiência em suas
categorias previamente estabelecidas.

Levinas recupera estas idéias, trazendo o infinito para a relação. Ao


modo de Descartes, o infinito levinasiano esta alem do cogito, é uma idéia que
transborda ao eu. Mas esta descoberta não se dá em uma racionalidade, é
antes na forma de Eros, ou do desejo do que é absolutamente estranho e
inapreensível, que é também o desejo do infinito. Ao modo kantiano para
Levinas este desejo está orientado para o mundo exterior ou para experiência.
O infinito de Levinas não é o perfeito e pleno Deus cartesiano, é antes relação
com a exterioridade, que sempre é infinita, por jamais se acabar em um
conceito. Mas diferente de Kant, não se trata de encaixar um mundo do
incognoscível nas minhas categorias, delimitando uma “coisa em si”
inapreensível. É ao contrário um esforço para receber o sentido que se pode
receber do exterior. Para Lévinas, é o pensamento ou a razão que ativamente
busca uma passividade, podendo estabelecer uma relação infinita com o
exterior. Na relação levinasiana a separação é sempre mantida, a sistemática
do eu sempre tem diante de si o imprevisto do outro, por isso é relação infinita.

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