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Palestra – “Desapego – Os prazeres da alma”.

"Somos todos visitantes deste tempo, deste lugar. Estamos


só de passagem. O Nosso objetivo é observar, crescer,
amar. E depois vamos para casa." Provérbio Aborígene.

"Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quer vir


após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-
me. Pois aquele que quiser salvar a sua vida, vai perdê-la,
mas o que perder a sua vida por causa de mim, vai
encontrá-la. De fato, que aproveitará ao homem se ganhar
o mundo inteiro mas arruinar a sua vida?" '

"Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome


a sua cruz e siga-me." "Negar-se a si mesmo" é ultrapassar
a transitoriedade do mundo visível e penetrar na essência
oculta das criações e criaturas. É desapegar-se
verdadeiramente e viver na integridade da vida; não querer
perpetuar o "ego". "Tomar a sua cruz" é reconhecer que
este momento vai se desvanecer e não se perpetuará. É
perceber os difíceis dilemas mentais pelos quais passamos,
o que nos permitirá transitar íntegros na via
de mão dupla por onde se move, de um lado, a busca
imediatista do "ego" e, do outro, a inspiração da infinita
Sabedoria Divina.

"Pois aquele que quiser salvar a sua vida (apegar-se ao


ego), vai perdê-la (perder de vista o Si mesmo), mas o que
perder a sua vida (desapegar-se do ego) por causa de mim,
vai encontrá-la (integrar-se ao Si mesmo)".

De todas as dificuldades da Humanidade, o apego é a mais


difícil de se contornar. É preciso aprender a desapegar-se.
O homem é apegado até mesmo aos seus sofrimentos, por
isso a dificuldade em auxiliá-los na cura de todos os males.

O homem apega-se aos bens materiais, aos amores, à


aquisição do poder, ao "status" social, aos vícios; apega-se
ao corpo que lhe é morada provisória em sua breve
existência terrena, esquecendo-se de que é apenas
usufrutuário dos bens terrenos. Jesus ensina o desapego
para a liberdade desse presídio que é o corpo físico. Então,
o homem sofre por não compreender o verdadeiro sentido
da vida que é o amor e a caridade.

Nos deparamos com dois tipos de desapego: O “desapego


defensivo", que é o mecanismo de fuga da realidade,
utilizado, de forma inconsciente ou não, por pessoas que
possuem um constrangimento auto imposto proveniente do
medo de amar, ou mesmo de se perder na sede de amor
por objetos, pessoas ou ideias e de serem absorvidas por
enorme necessidade de dependência e submissão fora do
próprio controle.

Essas pessoas adotam uma atitude de contenção dos


sentimentos e se isolam com indiferença e desprezo diante
do seu mundo sensível.
Declaram-se desinteressados e frios, mantendo no seu
íntimo, o seguinte pensamento: "Eu não me importo".Aliás,
a palavra 'importar" vem do latim importare - "trazer para
dentro" ou "trazer para si". Assim, não se sentirão
frustrados ou ameaçados pelos conflitos, porque acreditam
ter atingido um "real desapego”. As criaturas do mundo
estão cheias de fictícios desapegos que, na realidade,
reduzem a visão da verdadeira espiritualidade, dificultando
as muitas maneiras de despertar as potencialidades da
alma.

Por outro lado, o "desapego saudável" é uma vivência que


leva ao crescimento íntimo e a uma expansão da
consciência.

Em O Livro dos Espíritos  vamos encontrar a informação


que o sinal mais característico de imperfeição é
o interesse pessoal, sendo sinal notório de inferioridade
o apego às coisas materiais. Quando o nosso ego
domina nossas ações temos atitudes egoísticas de somente
satisfazer nossos desejos e vontades, sem medir as
consequências por essa escolha.

Sábio é aquele que renuncia pela força da verdade a si


mesmo, libertando-se do egoísmo – caminho seguro para a
felicidade plena. Os Espíritos Superiores nos orientam a
agir no bem sem segunda intenção, a sacrificar o interesse
pessoal pelo bem do próximo, exercitando a mais meritória
das virtudes: a verdadeira e desinteressada caridade.

Desapegar-se é preservar a alma livre das coisas


exteriores, libertando-se das paixões e do ódio (e dos
impulsos que o geram). O meio mais eficaz de combater o
predomínio da natureza corpórea é praticar a abnegação e
o desprendimento de si mesmo. 

Quando se propõe o desapego, não significa abandonar o


“mundo”, mas entender a existência terrena
como transitória e impermanente; o que é imortal e
verdadeiro é o Espírito. Desconhecendo ou abdicando desta
verdade muitos comprometem a saúde, a família, os
amigos e a própria felicidade em busca das conquistas
temporárias. Esquecer ou deixar para mais tarde a
evolução espiritual, a aquisição das riquezas “que as traças
não corroem” em troca dos prazeres e dos tesouros
materiais, é marca inegável de apego e imperfeição.

A vida é feita em ciclos. É preciso saber quando uma etapa


chega ao final e permitir que ela se encerre. A felicidade
consiste em desapegar-se das coisas, pessoas, situações e
sentimentos e permitir que uma nova etapa se inicie em
nossa vida, assegurando-nos de não ficarmos magoados e
nem deixarmos mágoas nos outros. Isso não significa amar
menos ou descuidar, mas, ao contrário, enquanto o amor
liberta e cuida, o apego aprisiona e sufoca.

A Vida é dinamismo, movimento e transformação


incessantes, em todos os níveis e dimensões em que se
manifesta. Portanto, aquele que deseja viver em harmonia
com o fluxo renovador da vida precisa constantemente
despojar-se, libertar-se, deixar o que já passou, o que não
mais serve ao momento evolutivo. É um grande desafio que
requer muita vigilância e atenção, pois há a tendência de se
acomodar naquilo que é conhecido e aparentemente
seguro. O desapego, embora pareça uma perda, ao se abrir
mão de algo, na verdade é um ganho, pois fica-se livre
daquilo que não mais serve ou não mais contribui para a
vida, a harmonia e a felicidade. Causa apreensão inicial a
ousadia de se desprender de algo, de um vício, preconceito,
de uma ideia, pois permanecem em seu lugar uma
insegurança, um vazio. Mas é só nesse vazio deixado pelo
desapego que pode surgir o novo, a energia criativa e
renovadora que impulsiona a evolução de tudo o que
existe.

Allan Kardec  afirma: ”o egoísmo é a fonte de todos os


vícios, como a caridade é a fonte de todas as virtudes.
Destruir um e desenvolver a outra, tal deve ser o alvo de
todos os esforços do homem, caso queira assegurar a sua
felicidade tanto neste mundo quanto no futuro”.

Desapegar-se é deixar de ser egoísta é estar cada vez mais


próximo de si mesmo, de Deus, e muito  - mas muito mais
-  próximo da felicidade. 

 “Tudo passa e o Bem permanece.” (Bezerra de Menezes.)

Notas:

², ³, 4, 5 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, 1ª ed.


Comemorativa do Sesquicentenário. Rio de Janeiro:
Federação Espírita Brasileira, questões 895,893,912,917.

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