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MOSÉ, Viviane. A espécie que sabe: Do Homo Sapiens à Crise da Razão.

Vozes, Petrópolis,
RJ, 2019. Disponível: https://acrobat.adobe.com/link/review?uri=urn:aaid:scds:US:c5a60fd8-
013b-32d0-82b1-34029f758b92. Acesso em: 08 de março, 2023.
Lucas Muniz Pinto de Oliveira
lucas.munizpinto@ufpe.br

O HOMEM DOENTE DE SI MESMO


Toda avaliação e percepção humana sobre os eventos acontecidos e os efeitos que eles o
causam vem da consciência de morte, ao mesmo tempo que a consciência de vida. Para a
percepção de uma, é necessário a consciência da outra, pois com vida há morte, e para haver a
morte é necessário ter vida, assim foi começando a se desenvolver a consciência humana e seu
indivíduo, e foi quando ele começou a ter consciência de si. “O humano é o ser que, a partir de
si, avalia.” (MOSÉ, 2019).
Saber que irá morrer para o ser humano faz com que quando chegue o momento, ele se
sinta reconfortado, pois toda sua existência foi baseada na espera de que um dia chegasse o “tal”
dia.
Isto é, vendo que a qualquer momento pode acabar, precisaria aproveitá-la até que chegasse a
hora. Pois é certo que irá acabar, mas o que iremos aproveitar até que uma hora ela acabe fica a
nosso critério. A forma como cada um lida com a morte o torna indivíduo, criando sua
consciência e sua maneira de levar a vida, dado o valor da morte para um ser ele escolhe se isso
será uma corrente ou uma libertação.
Toda a vivência e história humana é baseada na busca pela imortalidade, o ser humano
criou remédios, tecnologias, máquinas, tudo buscando estender sua estadia na terra até encontrar
a imortalidade, para assim todos os seres conseguirem chegar à resposta da pergunta primordial
e explicação da existência. E ao mesmo tempo que o ser humano ganha a visão do limitado (por
conta da morte), ganha também a percepção do ilimitado, do grandioso, do sublime, do
ETERNO... “O ser humano não apenas vive, mas sabe que vive, porque se vê de fora, e
interfere em si mesmo, se transforma.” (MOSÉ, 2019, p. 28).
Se tudo nasce e morre, a vida é apenas um intervalo entre uma coisa e outra, cada indivíduo por
ter essa noção é o que deve motivá-lo para criar a melhor experiência possível nesse pequeno
intervalo enquanto espera a morte, ou tenta esquecê-la.
O ser humano a todo momento está se contrapondo à morte, por meio do pensamento, pois
pensar, é criar, e criar é o modo afirmativo de se contrapor à morte, não pela permanência do
objeto ou de sua imagem na memória individual ou coletiva, mas pelo puro movimento de
criação. Por este motivo, se o ser humano é o único animal que sabe que vai morrer, ele também
é o único que incessantemente cria, produz, criando sentido para este intervalo que se deu entre
o nascimento e a morte (imutável).
A morte é o que instaura o primeiro valor humano: a vida.
Há uma diferença entre pensar e contemplar onde o ser humano que apenas pensa é
autodestrutivo pois não busca contemplar aquilo que está vivendo, aquele que contempla busca
realmente experenciar e admirar tudo que o envolve assim criando relações, sendo um
apreciador.
Pensar: vivemos vendo o que estamos vivendo.

O HOMEM DOENTE DE SI MESMO. lucas.munizpinto@ufpe.br


Contemplar: Nos vemos vivendo e morrendo... Assim, lutamos, nos reunimos, construímos, nos
iludimos, nos divertimos, nos comunicamos...
O ser humano não apenas vive, mas sabe que vive. Assim se moldando com a visão de
si próprio de fora, se transforma. Pensar, é agir. Pensar é ter consciência de alguma coisa e ser
consciente dessa consciência.
Aristóteles afirma que o pensamento filosófico é um estado que nos atinge quando nos admiramos com
alguma coisa, quando nos espantamos.

A filosofia é um modo de aprender a morrer, admirando, questionando e experenciando


enquanto responde as perguntas que você se faz durante a vida, ao invés de perguntar aos outros
você mesmo as responde, vivendo. Os outros animais, porque não se admiram, permanecem
presos à determinação natural. Já os seres humanos, mais do que ver, criam perspectivas,
interpretam a si mesmos e ao mundo. A grande liberdade do ser humano é dizer não a si
mesmo.
O ser humano acredita que para se afirmar precisa submeter a natureza, ou acreditar que
a submete, a controla, ao contrário de se aliar a ela, de completá-la ou de contemplá-la. Ser
humano tenta agir como uma negação da vida, como uma “contranatureza”. Porém, continua
submisso ao universo, atado à natureza, mesmo acreditando que não.
“A cultura se tornou uma nova natureza que, ao contrário de nos libertar, nos tiraniza.”
(MOSÉ, 2019, p. 32)
Ao contrário do que queria Aristóteles, o ser humano não busca conhecer, ele quer
dominar a natureza, como diz Nietzsche. O Homem diferentemente dos demais animais assim
como dito acima, ele não é como os outros, tanto no lado bom da frase, quanto no ruim. O
humano busca dominar tudo que puder para tentar evitar sua finitude, nem que precise sugar até
a última gota de vida da natureza para prosperar sua própria existência, destruindo-a por
completo. Assim, acaba ficando um homem doente de si mesmo... Pois, não conseguirá
transferir seu desejo em realidade, mesmo que encontre a imortalidade, o ser humano será
sempre vazio e com um espaço dentro de si que não pode ser preenchido por nada, já que nada o
saciará até o fim de sua existência. Atualmente o vazio encontra-se no fato de que tudo um
momento pode acabar já que somos finitos, porém se encontrarem uma alternativa para tal
questão ainda serão vazios por não saberem o que falta em si, e continua a busca eterna do
homem fadado a se aturar. O homem doente de si mesmo...

O HOMEM DOENTE DE SI MESMO. lucas.munizpinto@ufpe.br

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