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A relação com o outro vai surgir com o questionamento moral, fundado em dois
conceitos centrais a Proximidade e a Responsabilidade. Proximidade é a vida humana
marcada pelo encontro com outro, ou seja, aquilo que não é eu. O rosto do outro que vem
até nós, que faz perceber que ele é igual a mim e ao mesmo tempo diferente. Igual
porque tem uma consciência e diferente porque tem uma outra consciência. Entender
sobre essa consciência faz nos sentirmos responsável pelos outros.
A ética é, para Lévinas (1980), filosofia primeira. A ética por ser relação antecede a
ontologia na relação com a Infinito com o infinitamente outro encontro enquanto outro
outro. Não é adequada a ideia teórica do outro eu próprio. O outro é a razão que
fundamenta o eu. Essa razão que dialoga na confrontação entre dois seres não é abstrata
mas o encontro com o totalmente eu. Em síntese a ética de Lévinas se sustenta apenas
pela experiência ética do Face a Face.
A Ética na modernidade do eu do outro, alteridade, o rosto e a transcendência, a
Totalidade que tem de reduzir o outro ao mesmo expressando domínio? Trata se do
primado do eu eu do mesmo. O homem se torna altamente ciente que ele acredita que se
tornou, com naturalidade, o senhor do mundo. É só uma coisa. Crença. O humano não é
em si mesmo mas ele é infinito no outro. Por conta do humano ser criatura e não criador.
O humano é um ser mortal. Mesmo sendo pensante ele precisa entrar em contato com
outros pensantes. Ele precisa do mundo. E não é o mundo que precisa dele. O agir
humano, do profissional, expressa a ideia de que ele é superior ao mundo que ele é
superior ao outro.
O rosto e a relação como Outro, e o chamamento a responsabilidade.
O tu põe-se diante de um nós. Ser nós não é andar aos encontrões
ou empurrar-se em volta de uma tarefa comum. A presença do rosto
- o infinito do outro- é indigência, presença do terceiro(isto é, de
toda a humanidade que nos observa) e ordem que ordena que
mande. Por isso, a relação com outrem ou discurso é não apenas
pôr em questão da minha liberdade, o apelo que vem do Outro para
me chamar a responsabilidade, não apenas a palavra pelo qual me
despojo da posse que me encerra, ao enunciar um mundo objectivo
e comum, mas também a pregação, a exortação, a palavra profética.
A palavra profética responde essencialmente à epifania do rosto,
duplica todo o discurso, não como um discurso sobre temas morais,
mas como um momento irredutível do discurso suscitado
essencialmente pela revelação do rosto enquanto ele atesta a
presença do terceiro, toda humanidade, nos olhos que me
observam.(LEVINAS,1980,p.181)
O autor dúvida que uma categoria qualquer de nossa linguagem não tenha sido
antecipado por uma atitude. É uma maneira de dizer que o vivencial precede a palavra e
talvez que a prática que domina o discurso. Lévinas achava que a substância do judaísmo
é filosofia e que o cerne da filosofia é a ética. Lévinas era estudioso do Talmude 1, que é
1 O que significa a palavra Talmude? Antiga coleção de leis, costumes e tradições, compilada pelos
doutores judeus. É o conjunto de 63 livros onde estão escritos os preceitos básicos das tradições, dos
composto por 63 tratados e surgiram por volta do século V, em duas versões a de
Jerusalém e a da Babilônia, as versões escritas apareceram na Europa do século XVI, os
estudiosos do Talmude tem por tradição comentar por escrito os textos sagrados judaicos.
Prática que mantém vivo os textos e para cada praticante revela a sua própria essência.
Uma opinião de um rabino passa para outra opinião diferente sem síntese nem
sistematização sem veredito final para cada parte porque cada um traz sua própria
experiência. Com a prática do Talmude Levinas fez suas reflexões a cerca do humano e
sua humanidade, seus escritos religiosos foram publicados em cadernos separados aos
dos ensaios filosóficos, mas ao conhecer suas obras é possível apontar alguns caminhos,
como suas vivências de guerra, o conhecimento religioso, o amor por poesia e por
filosofia que contribuiu para suas reflexões.
3 A transcendência trata-se daquilo que está além do mundo material, refere-se aos fenômenos de natureza
metafísica. Tem origem na palavra latina "trancendere", que significa ultrapassar.
4 Subjetividade é o processo de tornar o que é universal singular, único, isto é, de tornar o indivíduo único,
singular.
5 Nascido em uma pequena aldeia situada entre os rios Saône e Loire, no leste da França por volta da
virada do século XX, Maurice Blanchot, escritor, ensaísta, romancista e crítico de literatura, permaneceu,
uma figura enigmática, em grande parte privada, ao longo de sua vida. Iniciou seus estudos em filosofia na
Universidade de Estrasburgo, em meados dos anos 1920, onde conheceu o comentarista talmúdico e
filósofo Emmanuel Levinas, com quem permaneceria amigo para o resto da vida de Levinas.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Maurice_Blanchot
encontros, conheceu 6Gabriel Marcel, que organizava encontros filosóficos, pensava
sobre “mim e o outro” e despertou em Levinas o interesse pelo conceito (ideia).
Em 1931 obteve a nacionalidade francesa. Casado com Raïssa (Marguerite) Lévi
(1905-1994) em 1932, trabalhou para a Alliance Israelite Universelle (AIU) de 1933 a
1939. Teve três filhos: Eliane, falecida na infância, Simone Hansel (née Levinas), pediatra
e o pianista e compositor Michaël Levinas, inclusive muitos escritos de Levinas não foram
publicados devido a seus filhos não chegaram a um acordo sobre a publicação.
Em 1930, foi mobilizado assim como os outros jovens de 20 a 48 anos para
integrar o exército francês, devido suas habilidades com idiomas, foi intérprete do francês
para o russo e alemão. Nove meses depois, com a vitória alemã, ele foi feito prisioneiro
de guerra e deportado para um stalags (ou seja, Stammlager, campo comum para
prisioneiros de guerra) que estava localizado na Alemanha e também na Polônia.
É uma parte da história pouco documentada e pouco conhecida, em particular na
França. Levinas foi prisioneiro em Rennes por vários meses em um frontstalag 7, depois
enviado para a Alemanha perto de Hanover, onde permaneceu por cinco anos no Stalag
XI-B de Fallingbostel8, onde várias nacionalidades foram reunidos como prisioneiros de
guerra. Levinas escreveu lá a maior parte de seu livro Da existência ao existente 9, que foi
publicado em Paris em 1947 dois anos após a guerra. É nesse período da guerra que ele
muda a sua reflexão ele começa a se afastar da ontologia de Heidegger e começa a
pensar com o outro. É nesse período da guerra que ele muda a sua reflexão e começa a
se afastar da ontologia de Heidegger e começa a pensar com o outro.
As irmãs de Saint-Vincent-de-Paul 10, perto de Orleans, acolheram a esposa e a
filha de Levinas, enquanto quase toda a sua família que permaneceu na Lituânia foi
massacrada pelos nazistas durante a ocupação alemã em 1941-1944.
11Chanucá significa, literalmente, "Inauguração". A festa recebeu este nome em comemoração ao fato
histórico de que os macabeus "chanu" (descansaram) das batalhas no "cá" (25º dia) de Kislêv. Antiocus, rei
da Síria, governou a Terra de Israel depois da morte de Alexandre, o Grande.
as notícias que chegava dos massacres dos amigos e familiares e neste contexto que
Levinas escreve vários ensaios importantes que publica após guerra.
O adiamento do fim, da morte, fez com que Levinas pensasse na liberdade e na
responsabilidade com o outro, e seu trabalho para implantar uma ética que considera o
outro e não olha com indiferença para o outro, assumindo assim responsabilidade por ele.
A busca pela transcendência desde o início de seus estudos busca pela presença
do outro, um ser separado, não se trata de ir em busca do divino nem de o negar, refere-
se ao dialogar com o Outro e não reduzi-lo a objeto de um discurso. Não é o divino que
busca no próximo, é a consciência que desafia e questiona, que está a uma distância
infinita daquilo com que nunca estarei capaz de formar uma totalidade - do próximo e que
significa para ele sua devoção aos outros.
Levinas foi profundamente influenciado por seus professores Edmund Husserl e
12
Martin Heidegger, descobre a fenomenologia, que o faz transitar pela fenomenologia e
pela filosofia existencial. Introduziu Edmund Husserl na França através da tradução da
obra Meditações cartesianas, seu trabalho filosófico foi marcado também pela tradição
judaica e por suas próprias experiências de prisioneiro de guerra.
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