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Para o sufismo a morte fisica é o terminar de uma experimentação de uma multiplicidade de estados,na
periferia do circulo, até ao momento do refluxo,do regresso á origem, ao Centro que está em toda parte.
Viver a efemeridade da nossa vida não deve ser associado com dor ou tragédia porque viver o passageiro é
realizar a essência profunda da Existência.
Para o Sufi na morte fisica é removido o véu ,para aqueles que não o fizeram em vida,que cobre a Realidade
e TODOS sem excepção, vêem a sua verdadeira natureza,TODOS conhecem a Deus
no momento da sua morte fisica.
A morte é apenas mais um acto de Misericórdia Divina que deu a existência ao mundo e que na morte
fisica dá uma oportunidade a TODOS.
Na morte,o homem é testemunha da Presença Divina em si ,obtém consciência dos Atributos Divinos que
possui e sabe verdadeiramente o que era estar vivo.
No instante da morte cada um realiza ,de acordo com a vida que levou na terra,a junção dos opostos e vê
quanto a sua vida respeitou a Realidade.
Cada um sabe , nesse momento, quanto afastado de Deus esteve na vida,por incúria ou submissão cega às
paixões .
Na morte acaba o véu do corpo em relação à Realidade e TODOS verão a visão verdadeira.
Allah diz no Corão a quem morre : Hoje levanta-se a cobertura e a tua visão será perfurante!
Quem não ‘encontrou’ Deus em vida, é confrontado com esse erro que ‘deforma’ o seu Eu superior,que o torna
‘feio‘.
O Inferno e suas penas é esse momento de intenso sofrimento que passam os que ‘não encontraram’ por
ou ‘não procurarem’ ou nem ao menos terem vivido em paz (salam) ou submissão (islam).
O homem desce ao fundo da sua propria vileza para alcançar a natureza do seu mal.
O Inferno é Real ?
Para o danado é-o de certeza,pois se confronta duramente com si mesmo,com a mentira da sua vida e
com a Verdade Real , para ele é real e interminável.
Como diz o poeta argentino José Luis Borges, o inferno real é o homem não se conhecer nem conhecer o
seu destino.
Maomé disse uma frase sobre este tema : ‘A morte abre uma ponte que cruza o inferno que ‘cada um
criou’,larga para quem reconheceu o Ser na sua vida,mais fina que o gume de uma espada para quem
venerou apenas o seu eu pequeno’.
O Ser Uno quer ser ‘conhecido’ por um ‘conhecedor’e para isso existe o homem.
Se o homem ‘não encontra’ Deus na sua vida, ‘frusta‘ esse ‘conhecimento’ e isso é um ‘desvalor’ enorme
no momento da morte, do Juizo final pois ‘falhou’ a finalidade para que foi criado.
Nesse ‘falhanço’ recebe não os seus Atributos Divinos mas a sua imagem invertida, essa imagem
Atributos do Rigor
invertida ( torna-o predador,satânico,dominador) determina o aparecimento dos
de Deus que são a expressão causal da Sua Ira.
Esta Ira, mesmo como Atributo Divino, não possui natureza emocional pois trata-se de repor o equilibrio
perdido, é a balança da Justiça Divina.
Percebe-se que o mal(desvalor) do castigo não é senão a expressão da Misericórdia, já que só mediante o mal
e através da pedagogia da pena pode o homem conceber o Bem e que aqui a Ira Divina (Não-Misericórdia) é
ainda e apenas Amor como um pai que castiga um filho.
Como diz um sufi : ‘Podemos desertar da nossa deiformidade (imagem de Deus) aproveitando as vantagens
mas não podemos escapar às consequências que ela implica’.
O sufi Al-Gazali afirma : ‘No dia do Juizo serão abertos os livros ,montada a balança porque o único valor
do homem reside no que fez no passado e será tarde demais para indemnizar o mal causado pelas suas
faltas.
O cálice da morte é amargo para quem em vida ‘não encontrou’ o Ser pois nesse cáilice saboreia-se a
Verdade e sofre-se o seu tormento.
Quem ‘não encontrou ‘ vê o horrendo que corporizou em contraste, insuportável,com a Beleza da sua
realidade transcendente.
Por isso, os hipócritas, os que mentem a si proprios, são na concepção islâmica, os que mais duramente se
penalizam.
As penas do Inferno são eternas ?
Não, porque eterno só existe Um.
A eternidade temporal das penas e do sofrimento é função da consciência e percepção espiritual que cada um
desenvolve, ao iniquo parece-lhe uma eternidade perpétua face ao confronto a que é exposto mas na
Realidade é um tempo finito.
Nalguns trechos do Corão fala-se no tempo interminável (do ponto de vista de quem o suporta) do
castigo,noutros fala-se ‘até que o Senhor o deseje’ (11:107) ou apenas por um tempo limitado (2:80-81).
Ibn Arabi afirma a finitude do inferno e do paraiso : ‘Ambas as situações(na verdade dádivas divinas)
regressarão à Misericórdia no final ‘.
No Corão se diz : Uma parede com uma porta existe entre o Paraiso e o Inferno, a face não-manifesta dessa
porta (interior) é o Paraiso da Misericórida ,a face manifesta(exterior) será o Inferno do castigo.
Ibn Arabi diz : O paradoxo da Misericórdia Divina é que ninguém nem nada pode ser definitivamente mau, uma
vez que tudo provém de Allah , tudo é por essência, no final supremo, destinado à Bondade e ao Bem.
O paradoxo da obediência ser uma Perfeição onde se manifestam os Nomes Divinos,Misericórida e
Generosidade mas também da desobediéncia ser outra Perfeição com os também Nomes Divinos como o
Vingador e Castigador.
Nascimento e morte são processos de expansão e contracção, uma série de ‘acidentes‘ da Essência Una que
, apesar de não poder ser ‘alterada’ pela sua propria definição Una, de uma certa forma A espelham e
refletem na sua infinita capacidade e potencial arquétipo.
Para quê ?
Como diz uma lindíssima frase sufi :
Não necessáriamente , existem 2 palavras , Tajrid ( despojamento ascético= nada possuir) e Tafrid( abolição =
não ser possuido por nada ) e a meta do Sufi sempre foi o Tafrid .
Atingir o Tajrid é meramente material (quem nada possui pode mesmo assim ser ‘tentado-perturbado’ pelo
exterior ,ser ‘influenciado’ mentalmente ) , atingir o Tafrid é ser indiferente a tudo exterior tendo ou não
tendo bens materiais , é estar já em outro nivel mental.
Ibn Arabi precisa : Quem renuncia ás coisas do mundo só o faz por ignorância e pelo véu que cobre os seus
olhos , se soubesse que o mundo é um louvor ,uma manifestação do Criador e que Dele dá testemumho
,como poderia renunciar a ele , se ele tem tal atributo ?
O sufi é panteista ?
Não, porque para o sufi o mundo não é Allah !
O mundo não tem realidade com R grande como a Existência ,existe ,baseia-se numa manifestação da Essência
mas é impermanente e temporário, não é a Essência , é uma ilusão neste sentido ( não de não existir ) ,um
reflexo da Existencia .
Para o sufismo importa não confundir a Ipseidade de Deus com a alteridade real do mundo.
A Essência de Deus ( al-Dhât ) contêm a sua Absoluta Possibilidade, projecção de uma Ipseidade sem alteridade
.
Assim sendo Deus ,simultaneamente , exterior( manifesto) e interior ( em potencia) Ele nunca pode ser
confundido com o Universo, um sufi se vê Deus em todas as coisas , nunca pode ‘experimentar’ que tudo
é Deus , pois os entes criados são meras possibilidaddes –potencialidades face à absolutidade ôntica de Allah .
O mestre ibérico Ibn Qasi dizia : Não se prova a existencia de Deus ,pois nada de exterior O pode
representar, cada um que O procura é que é a prova ,quando sobe à montanha .
Se o mundo fosse Deus então o Mal não existiria mas todos constatamos que ele existe no nosso dia a dia.
A natureza com as suas duras regras ,leis da vida , não conhece o Mal , é essencialmente ‘inocente ‘ como os
animais .
Para os sufis as diferenças entre os homens e o resto da criação são os Atributos ou Nomes Divinos
,enquanto o homem os reflecte na totalidade , a restante criação apenas o faz parcialmente .
Existe como que uma irradiação descendente , quanto mais para baixo menos intensa ou complexa em
Atributos é a Luz irradiada.
Toda a criação está impregnada pela Absoluta Essencia Divina ,apenas ,por assim dizer, o grau-nivel dessa
incorporação é diferente em cada ser segundo a sua complexidade.
Por isso se diz que o homem tanto se pode virar para cima e tornar-se no Anjo do Senhor ou para baixo e
ser como aos animais a comer na pocilga do mundo material e consumista das paixões .
A natureza da existência para o Sufi é pois virtual , uma contingência e não uma verdadeira existência .
O Profeta diz ‘ Deus é belo e ama a beleza’ , logo onde não há a Sua Luz é o reino da sombra,do Mal .
O Mal não existe per si ,existe onde falta a Luz ,é uma ausencia de Luz e não uma
existência própria.
Quanto mais o homem se afasta da Luz mais o Mal se aproxima dele .
Por isso Lucifer sendo uma energia invertida é no entanto um factor de Luz, o que faz a Luz.
Um sábio Sufi disse ‘o homem está entre os dois dedos de Allah ‘, ou seja , está entre o Ser e o Mal , entre a
contracção e a expansão ,entre a Ira e a Misericórdia .
O homem comum não vê as duas faces , mas apenas uma delas e pensa que o Mal é real quando é uma mera
ausência de Luz , um instrumento de ‘cura’ para a descoberta espiritual assim como uma cirurgia ou um
remédio amargo para a cura fisica.
Todo o mal tem o seu bem e toda a virtude o seu vicio , este é um dos aspectos do Coincidentia Oppositorium .
O mundo carrega uma privação existencial decorrente da natureza da Manisfestação Divina e assim pela
sua própria natureza ,jaz nele a fera adormecida do Mal que tanto faz cair como pode libertar .
Aqueles que ‘não sabem’ vivem e afirmam o seu eu em tudo o que no mundo o alimenta, como paixões e vicios
materiais .
O sábio percebe que ‘Deus escreve por linhas tortas’ e vê o Mal na sua verdadeira dimensão e contexto
dual , o sufi vive em paz porque percebe que o finito do mundo é uma mera possibilidade do Infinito, a
existência fisica um mera ilusão reflexa ,algo que é ‘não-Ele ‘ .
Como disse Ibn Arabi ‘ É Ele e não-Ele , Luz é Ser e escuridão ,é o Tudo que parece Nada ‘.
A queda de Adão é a queda do homem comum ,no desconhecimento , queda essa que o homem
comum protagoniza no seu dia a dia e é o rastilho do Mal .
Assim o Mal nunca se pode sobrepor ao Amor ,por mais maligno que o homem seja não pode nunca ‘desligar-
se’ por completo da sua verdadeira essência,da sua deiformidade.
Todo o homem em alguma altura da sua vida sente uma Voz interior ,pelo seu livre arbítrio pode ou não segui-
la .
Por isso o Alcorão diz : O bem vem de Deus , o mal de vós próprios e no entanto Tudo
vem de Deus’( 4:78/79) .
Deus não quer o Mal mas deixa-o ‘actuar’ indirectamente como catalizador e ‘cura’ do homem,Seu reflexo
na criação.
Vencer o mal significa voltar ao Centro em direcção à Luz e é esse o caminho do Sufi.
A maldade não é mera ausencia ética mas uma carência ôntica que exprime a deficiência de recepção da Luz
do Ser , as ‘boas intenções e rigor morais‘ são por si sós insuficientes se não houver Conhecimento .
É essa deficiente recepção de Luz que nos cria uma nostalgia ao vermos algo de Belo , que nos move a
procurarmos a beleza nas criaturas e na natureza , é um sentimento de Falta , de saudade do
arquétipo .
‘Toda a beleza é incrivelmente dolorosa‘ disse um mestre Sufi.
Aqui alguns sufis dizem que basta ‘estar próximo’ ou ‘contemplar ‘ Allah enquanto outros dizem que é possivel
ir ‘para além de Allah ‘ e ‘mergulhar’ no Um , fonte de Allah , tal como existe esta diferença em outras
doutrinas espirituais .
Um sábio sufi dizia :’ O homem quando vive dorme e desperta quando morre ‘.
Um Pai do Deserto para se manter alerta estava constantemente a perguntar ‘Que horas são ?’ .
O eu pequeno e material tem de se aniquilar á custa de um alerta permanente ao Eu grande espiritual que a
cada segundo tem de estar ‘virado’ para aquilo que realmente importa ao homem , a sua origem e destino
Verdadeiros.
Vai-se retirando sucessiva e progressivamente os véus (ou seja ,a ignorância do homem) que O escondem até
se chegar á Sua proximidade.
Começa-se por admitir/ter Fé em Allah , reconhecer que se é impotente para conhecer o Conhecimento ( isto
já é um conhecimento,uma humildade e um primeiro passo ) .
O caminho do sufi implica o aniquilamento gradual do eu até chegar a Allah (apenas à Sua proximidade
segundo alguns ) e perceber aí Allah como o Criador no centro plural de toda a criação.
O aniquilamento do eu não implica que o eu tenha tido alguma vez existência propria, é uma forma apenas de
expressão ,pois admitir sequer ter havido um aniquilamento implicaria dizer que o eu chegou a ter alguma vez
verdadeira existência o que é falso e uma ilusão.
Nota :
Claro que o eu pequeno existe e tem de ser aniquilado , a expressão acima sobre a ilusão e a irrealidade do eu
de alguns autores sufis é uma mera expressão filosófica assim como se diz que só o Um tem Realidade e tudo o
resto é ilusão irreal , ou seja está-se a falar em planos-niveis diferentes.
Essa ilusão ( pensarmos que o eu tem importância quando na ‘realidade’ não a tem) é criada porque sendo nós
um reflexo da Luz criadora ,essa Luz é de tal intensidade que mesmo os seus reflexos nos ‘ofuscam’ e nós
pensamos ( fruto da nossa ignorância) que somos reais (que o nosso eu é o único que existe e que importa e
não um mero reflexo virtual) quando não passamos de um reflexo divino,a verdadeira Realidade.
Alguém disse ‘ a ilusão terrestre reflecte uma situação real ‘,o problema do homem é pensar que essa
realidade é Real e andar atrás das coisas ,de meros fantasmas que nada reflectem do Real .
O caminho do sufi é ganhar Conhecimento-consciência desta ilusão e ter a humildade de reconhecer que a
Realidade não é ele mas quem o criou e começar a ‘cooperar ‘ com o seu Criador.
Antes do fanâ ( aniquilamento) vive-se no mundo irreal, mutável, impermanente , depois do fanâ está-se fora
do tempo numa subsistência atemporal (baqâ), um estado de vigilia , a calma do silencio absoluto , onde a
Unidade é Multiplicidade e vice versa.
Como diz a alegoria Zen , ‘sai-se do mercado mas ao reentrar nele vê-se o mercado com novos olhos ,com
mais Conhecimento do que é a vida ,a existência, a morte e a Existência .
Como diz o sufi ‘ Vê-se com 2 olhos tudo , o da Determinação e o da Indeterminação’, tudo é simples e
multiplo, tudo é dual e Uno .
Maomé disse : ‘’Quem conhece a sua alma ,conhece o seu Senhor, tu não existes agora, tal como não
existias antes da criação do mundo’’.
Ibn Arabi diz : A Auto-Revelação Divina não se repete,uns progridem no conhecimento e na aniquilação
progressiva ,outros estagnam na ilusória realidade do eu.
O Caminho do sufi passa por estados ( hâl-fases transitórias e pura Concessão/Graça de Allah ) e estações
( maqâm-graus ganhos pelo esforço de busca ) .
A meta do sufi é alcançar uma ‘estação não-estação’( lâ maqâm),através do desvelamento e da directa visão e
aí experimentar a realidade dos limites do seu anterior estado de percepção.
Nota :
Aqui de novo alguns sufis entendem que basta ‘contemplar’ o Criador-Allah enquanto outros querem passar
‘para lá da contemplação’,para o Um .
O caminho começa para alguns com Fé ,para outros com Conhecimento sendo a meta de ambos a visão
contemplativa e unificadora do homem e seu Criador ( ou mesmo o ‘mergulhar’ no Um,fonte do Criador ) .
Realiza-se o Homem Perfeito,sem atributo nem descrição e alcança-se a plena realidade do Islão na sua
dupla e una realidade da Paz e abandono a Allah .
Nota : Aqui de novo se notam as diferentes perpectivas sufis , uns quedam-se por contemplar Allah ,outros por
mergulhar no Um.
Pode-se falar apenas em Homem Perfeito naquele que passa para lá de Allah pois apenas esse se desprende dos
Atributos inerentes a Allah ?
Perguntaram ao Mestre Abu Yazid : Como estás esta manhã ? Ele respondeu : Eu já não tenho manhãs ou
noites, isso são apenas atributos e eu não os tenho.
Deixaram de existir obstáculos= véus entre criatura e o Criador/Allah ( esta é a teoria Sufi que busca
mergulhar no Um pois neste caso se deixava de ter Atributos estava para lá de Allah que os tem),entre
insubsistência e Existência .
‘O homem é pura imaginação,se bem que seja Real.Quem compreender isto terá alcançado os mistérios da
Via ‘.
Nota : Quem ama o Mundo, transforma-se no Mundo. Quem ama o Criador, transforma-se no Criador. Quem
ama o Um, transforma-se no Um.
Surge o ‘fakir’, o pobre rico em Deus , é ninguém e toda a agente , o possuidor de dois olhos (dhu’l-
aynayn) ,um que vê o Ser e outro que vê o nada.
‘Apaga-se’ individualmente para o mundo e ilumina-se por dentro , daí o chamado humanismo ocidental ser
considerado pernicioso no Islão porque falseia a realidade do homem dando-lhe uma existência ,baseada no
seu pequeno eu , que na verdade não tem.
Assume o ideal do Profeta quando age neste mundo como se vivesse mil anos e no outro como se fosse
morrer amanhã .
Não diz que Deus é Um (testemunho imperfeito pois seria associar o seu eu individual ao Ser ,enquanto
testemunha que contempla ) mas que Deus É ( aqui não existe contemplação apenas União/Imersão/Fusão
onde o Conhecimento apenas pertence ao Uno e a quem se encontra Nele dissolvido e reintegrado) .
Sábia lição para nós que todos os dias fazemos as mesmas perguntas e esquecemos que deve ser feita a
Sua Vontade e não a nossa ,porque afinal a Nossa é a Dele.
Ibn Arabi :
'Aquele que aceita ser guiado por Deus será guiado por si proprio ‘.
Definições base :
Segundo as escolas do Sufismo existem 3 planos-niveis base .
1) Um ,significa antes de Deus ser Deus , onde tudo existe em potencial,onde se encontram os
arquétipos base e o Mundo Imaginal , fonte de toda a futura criação como um banco de dados de toda
a criação .
É o buraco negro que é Tudo e Nada , donde nada escapa,nem a Luz , é o Mistério Magno.
2) Deus – Allah – Criador , emana desse Um como fonte de criação , para criar baseia-se
nos arquétipos do Mundo imaginal emanados do Um e origina os Atributos-Verbo de toda a criação.
3) O homem criado por Deus, tem os seus Atributos mas como também tem em si partes do Mundo
arquétipo e imaginal do Um , pode situar-se antes de Deus ser Deus e aí se ‘dissolver’ , se integrar
caso evolua espiritualmente-interiormente nesse sentido(ver nota abaixo).
Nota : Existem escolas em que a meta é chegar à mera contemplação de Allah , outras dizem ser
necessário passar ‘para além’ de Allah , onde Allah ainda não era Allah , ao mergulho no Um .
Alguém disse em termos simplistas : O objecto só existe se houver alguém para o ver .
Ou como diz a sabedoria popular : Só se conhece quem tem alguém que o olhe .
O Um não engendra porque nada pode existir senão Ele próprio manifestado.
Ele manifesta-se a Si Próprio sob uma outra forma de Si Mesmo que é Deus,Allah.
Allah revela-se através da expansão da Sua Luz , cada existência reflecte um Atributo/Nome do Criador , assim
as existências possiveis são em numero infinito pois infinitos são os Seus atributos.
Ele cria pela Sua imaginação num processo eterno e continuo capaz de alimentar a Criação para todo
o sempre.
Tal como a chama o homem não tem autonomia própria mas o seu arder (o viver do homem) dá-lhe uma certa
forma de ‘existência’ , a chama não subsiste sem o azeite o homem não pode subsistir sem o ‘sopro’
arquétipo que dá vida à matéria que o Criador vai criando e o sustenta em vida sempre em renovação.
Esse ‘sopro’ é uma expressão das infinitas possibilidades dos modelos arquétipos ao dispor do Criador .
O Criador ao criar o cosmos cria o Tempo onde emerge a criação , tudo o que antecede a criação não tem
tempo ,é eterno .
Sem Criação não haveria Tempo , Ibn Arabi diz : ‘Deus é um só Dia sem começo nem fim’ , é a diversidade da
criação , reflexo da manifestação dos Atributos Divinos que transforma o Dia Uno em dias multiplos no Tempo.
A formula corânica da criação é SÊ ( Kun) !! não o FAÇA-SE ( Fiat)!! da Biblia e esta diferença de
uma mera palavra é imensa pois pelo Corão é o Ser Absoluto (O Um) que se revela a Si proprio (não precisa de
alguém o FAÇA por Ele pois Deus –Allah é já um reflexo do Um , o degrau mais proximo por assim dizer na
escada da criação).
Ninguem conhece Allah a não ser Allah , só é conhecido pelos Seus Atributos , pela sua criação multifacetada .
Encontra-se oculto por véus ( hijab) ou barreiras , barreiras essas criadas pela própria natureza humana com a
sua percepção habitual e limitada .
Allah está velado pela luz da Sua incomparibilidade.