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A dimensão religiosa do ser humano

Normalmente sobre esta questão da religião distingue-se dois tipos de crentes, o crente que acredita na
existência de deus e o crente que acredita na não existência de deus. Ambos são crentes porque nenhum dos
dois tem provas, nenhum dos dois consegue provar se a sua posição é válida ou não, portanto qualquer um
destes dois crentes é preconceituoso na medida em consideram ambos que têm a resposta certa a uma questão
que é difícil de responder ou até eventualmente impossível.
Bom, e em relação a esta questão da existência ou não existência de deus, só há uma certeza absoluta que é a
seguinte: Ou é verdade que deus existe ou é verdade que deus não existe, mas, no entanto, não se sabe qual
das duas é que está correta, sabemos apenas que uma delas é verdadeira e outra é falsa.
Desde que o homem se conhece, desde que o ser humano tem consciência de si próprio, que o ser humano é
caracterizado também pela dimensão religiosa. Quer dizer o ser humano é um ser religioso, é um ser que tem
um apelo para com um transcendente, não permanece na esfera do finito á um apelo, á uma tendência que ele
tem de se relacionar com algo que o supera, com algo que o ultrapassa e porquê que há este apelo? Nós
podemos considerar que este apelo acontece porque é fruto da ilusão do homem que se engana a si próprio e
que inventa deus só para se sentir melhor, para se sentir mais tranquilo, isto é uma hipótese no caso de
considerarmos que a deus não existe e a religião estar errada, mas temos uma outra hipótese que é a hipótese
de deus existir e ter colocado uma marca no homem que é sua criatura e homem ter necessidade de se
aproximar do seu criador, ter necessidade de tender para aquele do qual deriva, do qual depende e isto ia
explicar também o porque do homem se relacionar com um transcendente.
Ora este apelo surge/deriva, do maior problema do homem ou do único problema do homem, que é a morte é
sabermos que somos mortais, para mostrar melhor isto o problema do sentido da vida, vou abordar a história
de Sísifo, Sísifo foi um homem que na antiguidade foi condenado para toda a eternidade a pegar numa pedra
ás costas e leva-la até ao cimo de uma montanha, ou seja ele tinha de subir toda a montanha e colocar a pedra
em cima, mas o problema é que sempre que ele fazia isto a pedra caía de imediato e consequentemente
voltava a descer toda a montanha, e Sísifo sabia disso ele sabia que nunca ia conseguir deixar a pedra em
cima da montanha, mas mesmo assim tinha de o fazer, então sempre que ele subia a montanha e colocava a
pedra em cima a pedra caía e então ele tinha de voltar a descer a montanha, depois voltar a subi-la com a
pedra e assim sucessivamente para toda a eternidade. Quer dizer Sísifo é o símbolo do absurdo ele vive o
absurdo e acontece que todos nós somos Sísifo, todos nós vivemos este absurdo que é o absurdo de nascer
para morrer, o ser é o intervalo do não ser, mais propriamente o absurdo de sabermos que nascemos para
morrer, ou seja a consciência da morte. Nós quando somos, sabemos que viemos do não ser para voltar a ser
o não ser, ora isto para nós é inexplicável, é como se fosse um milagre. E esta ameaça de voltarmos a ser o
não ser faz-nos caminhar para a tragédia (a morte).
No fundo é a consciência da morte que nos leva á necessidade de encontrar um sentido para a vida e esta
necessidade de encontrar um sentido para a vida é que nos leva á necessidade da religião, isto porque
encontrar um sentido para a vida é romper o absurdo, tentar evitar que o absurdo nos sufoque, ora a resposta
mais obvia, mais rápida para ultrapassar o absurdo é dada pela religião, pois esta diz que a morte não é o fim,
diz que a morte é uma passagem para uma vida mais autentica e mais feliz, e se isso for verdade deixamos de
viver o absurdo e portanto o problema está resolvido. Se não houvesse morte não havia necessidade de haver
religião, só existe religião porque nós precisamos de redenção, de salvação, precisamos de alguém que nos
salve.
Paradoxo da ausência de plenitude
O paradoxo da ausência de plenitude defende que quanto mais perto do nada nós estamos mais necessitamos
do todo, por exemplo: Imaginemos que a nossa vida se situa entre o 10 e o 0, sendo o 10 o máximo de
felicidade e o 0 o mínimo a ausência total de felicidade, ora quando nós estamos por exemplo no 6, estamos
medianamente bem e podemos eventualmente chegar ao 7, ao 8… podemos até jogar no Euromilhões para
tentarmos chegar ao 10, bem e nós quando estamos no 6 esquecemo-nos que estamos inevitavelmente
condicionados e determinados a ir parar ao 0, independentemente de que se consiga, do que tenhamos, da
felicidade que temos, podemos ir parar ao 0, mas quando nós estamos no nível 6 esquecemo-nos deste plano
de transcendência. Agora quando nós estamos ao pé do nível 0, onde estamos na miséria (no sentido
humano), vamos pensar em chegar ao 10 mas o problema é que em algumas situações quando a miséria onde
nos encontramos é tão grande que chegar ao nível 10 não resolve nada, nós precisamos é de chegar a algo
acima do 10, precisamos de chegar ao infinito, nada do finito resolve o problema, só a totalidade e o pleno é
que podem resolver o problema, por isso é que quanto mais no nada, quanto mais consciência nos temos da
nossa precaridade, mais consciência nós temos também do quanto nós precisamos do pleno, por isso é que
várias pessoas quando estão bem não têm qualquer relação com o transcendente e quando estão mal passam a
ter uma relação com o transcendente. Agora isso acontece porque lhe dá jeito inventar deus e acreditar numa
ilusão para se sentir bem ou acontece porque a consciência da morte leva-o a aproximar-se do criador? Tudo
depende se existe deus ou não.
Ora o que a religião permite é dar um salto entre o finito e o infinito, coisa que a ciência e a matemática não
conseguem fazer, e o que permite á religião dar esse salto é a fé, e esse salto permite-nos por fim ao absurdo e
isso no fundo é a sobrevivência da consciência, isto é a garantia de nós sabermos sempre o que somos, pois o
nosso grande tormento é sentirmos a possibilidade de algum dia deixarmos de saber o que somos, ou
deixarmos de saber o que fomos.
Ora o ser humano vive neste paradoxo de persentir o nada e quanto mais persente o nada mais quer o tudo,
mas o próprio ser humano é nele próprio um paradoxo, é um paradoxo porque o ser humano no domínio
físico, terrestre é extremamente limitado, as coisas que ele pode fazer são limitadas como por exemplo, eu
não posso estar em 2 sítios ao mesmo tempo, e com isso eu vou fazendo escolhas ao longo da vida que me
vão condicionando e me vão limitando e que vão impedindo de fazer outras e portanto estou sujeito a um
tempo breve de vida, a doenças… e então podemos dizer que vivemos num plano limitado finito, no entanto
temos outra dimensão ao nível do pensamento, da vontade que somos ilimitados e nós vivemos este contraste
e este contraste é que nos angustia, pois eu vivo no finito, mas persinto o infinito eu penso o infinito eu vivo
num tempo curto, mas consigo pensar na eternidade e isto é um tormento, tendo em conta que eu tenho
consciência da infinitude, no entanto vivo no limitado e não consigo sair deste limitado. No fundo todos nós
somos um paradoxo, por um lado somos extremamente limitados, mas por outro somos completamente
ilimitados e é esta dualidade que nos leva a estas contradições.
As vias de acesso a Deus
Santo Anselmo cria o argumento Ontológico, o qual tenta provar a existência de Deus usando a razão. Este
ato foi controverso, pois a igreja considerava que só a fé deveria ser necessária para acreditar que Deus
existe, no entanto, a razão não desvaloriza a fê e pelo contrário pode servir como suporte. Por outro lado, se
Deus existe e é o ser mais poderoso e que está acima de tudo então não há como a razão o negar. Deus é
definido por Santo Anselmo como “Algo, maior do que o qual nada se pode pensar", sendo assim algo de
fácil compreensão em que todos conseguem pensar. Este algo a partir do momento em que conseguimos
pensar em algo acima dele passará a algo, maior do que o qual alguma coisa se pode pensar e, assim aquilo
em que pensamos que está acima do pensamento inicial passa a ser o "algo, maior do que o qual nada se pode
pensar. Á medida que isto acontece vai-se sempre substituindo até chegar ao verdadeiro pensamento que está
acima de todos os outros. O algo que terá todas as qualidades que é melhor ter do que não ter e, portanto, a
sua própria existência esta incluída, uma vez que é melhor que ele exista do que não exista. A existência real
necessita de estar incluída neste algo, porque se não haveria uma contradição, já que passaria a haver algo
superior a si, por podermos pensar numa versão existente do mesmo. Todas as qualidades que este tem
podem chocar, pois é preferível ser justo a injusto e também misericordioso do que não misericordioso, mas a
justiça e misericórdia não são exatamente compatíveis. No entanto Deus é algo divino que não tem as
limitações humanas e assim este problema pode ser resolvido já que por não ser limitado este tem a
capacidade de as conciliar.
A primeira pessoa a se manifestar a fim de anular o argumento ontológico de St. Anselmo foi Gaunilo: o
argumento de St. Anselmo consiste na ideia de que um ser divino e perfeito tem de existir, caso contrário não
seria absolutamente perfeito.
Gaunilo, para criar a sua objeção contra o argumento ontológico, parte da ideia de uma ilha perfeita,
ou seja, na melhor ilha que podemos pensar, com águas transparentes, areias brancas, climas tropicais e que
exista na realidade. Gaunilo desafia St. Anselmo a encontrar uma ilha com estas características, caso St.
Anselmo não consiga, então assume o seu argumento falso, provando que Deus não existe, visto que da
mesma forma que St. Anselmo chegou à existência de Deus através da noção “Algo maior do que o qual nada
se pode pensar”, Gaunilo também usou essa noção para encontrar a ilha mais perfeita que possa existir.
No entanto, a partir da resposta de St. Anselmo podemos concluir que esta objeção é falaciosa e
fraca. St. Anselmo responde, afirmando que as características dadas para caracterizar a melhor ilha que
podemos pensar, não tem nada a ver com as características dadas para caracterizar Deus.
Na noção de “Algo maior do que o qual nada se pode pensar”, as características: Omni-sapiente,
omnipotente, justo, bom, e que exista na vida real, são predicados essenciais, visto que se tirarmos um deles
deixaria de ser “Algo maior do que o qual nada se pode pensar”, tal como num quadrado, se tirássemos um
dos lados, deixaria de ser um quadrado, dado que ter 4 lados iguais é um predicado essencial na construção de
um quadrado.
Se pensarmos numa ilha, o seu predicado essencial tem de ser o facto de ser um espaço territorial
rodeado de água por todos os lados, e caso isto não aconteça, deixaria de ser uma ilha. Todas os atributos
dados por Gaunilo para a melhor ilha que podemos pensar são predicados ocidentais, ou seja, consigo pensar
numa ilha sem qualquer uma daquelas características, incluindo a própria existência real. Todos nós
conseguimos pensar numa ilha sem que ela exista, apenas tem de cumprir o seu predicado essencial, ou seja,
estar rodeada de água por todos os lados.
A existência real é apenas um predicado essencial na noção de “Algo maior do que o qual nada se
pode pesar”, dado que era impossível pensar no melhor ser que pode existir sem que ele exista realmente.
Ora, St. Anselmo conclui que a existência de Deus é mais real do que a nossa própria existência, visto que é
possível pensar num ser humano inexistente, porém é impossível pensar em “Algo maior do que o qual nada
se pode pensar” que não exista.
Esta resposta de St. Anselmo á objeção proferida por Gaunilo permitiu que o seu argumento
ontológico se permanecesse válido por muito mais tempo, e só Kant, já no século XVIII (18), conseguiu
fundamentar outra objeção válida, no entanto, desta vez com a impossibilidade de St. Anselmo responder,
dado que já estaria morto.
Kant vai concordar que do ponto de vista lógico e racional, o argumento ontológico de St. Anselmo
não tem falhas, no entanto vai declarar que o argumento apenas comprova que a razão consegue chegar a
Deus, não comprova que a realidade obedeça à razão e à lógica, visto que não existe nenhuma lei que
comprove que a realidade segue aquilo que é lógico e racional. Desta forma, Kant vai manter a existência de
Deus como um mistério, que pode ou não existir.

Argumento cosmológico:
Passando para o argumento cosmológico de S. Tomás de Aquino, que ao contrário do argumento ontológico
de St. Anselmo, parte de um conhecimento aposteori, isto é, baseia-se no conhecimento à cerca do mundo,
para chegar a Deus.
Pelo conhecimento aposteori em relação ao mundo, sabe-se que tudo o que existe tem uma causa
para tal, e nada existe ao acaso. Todas as coisas dependem de outras para existir, incluindo nós, os seres
humanos. Nós apenas existimos porque os nossos pais nos “causaram”; os nossos pais apenas existem porque
os pais deles, os nossos avós, os “causaram”, e assim sucessivamente. Se pensarmos um bocado, verificamos
que tudo o que existe, seja natural ou artificial, tem uma causa. À sequência de causas e efeitos chamamos de
cadeias causais, e é aqui que S. Tomás de Aquino parte para fundamentar o seu argumento cosmológico. Para
S. Tomás de Aquino as cadeias causais não podem regredir infinitamente, pelo que tem de existir algo que
seja a causa para tudo o resto. Esta causa para S. Tomás de Aquino é Deus.
Por exemplo: se pensarmos em X, temos obrigatoriamente de pensar na causa de X. Para pensar na
causa de X, tenho de pensar na causa da causa de X, e assim sucessivamente. Esta sucessão regressiva causa
um paradoxo, visto que não dá para pensar na causa da causa de X infinitamente. Desta forma tem de existir
uma causa incausada, ou seja, aquela causa que originou tudo, e que não tem causas. Esta causa incausada,
segundo S. Tomás de Aquino é Deus, visto que Deus é o criador do céu e da terra.

Objeções ao argumento cosmológico:

1 – a primeira das principais objeções ao argumento de S. Tomás de Aquino afirma que o argumento é
contraditório, na medida que inicialmente defendia que tudo o que existe tem uma causa, no entanto conclui
que há algo que se causa a si próprio, ou seja, Deus.
Esta objeção é falsa, visto que S. Tomás de Aquino apenas afirma que no mundo natural tudo tem
uma causa e a sua conclusão é que tem de existir algo que passe do plano natural para o plano transcendente
para poder iniciar a cadeia causal. Para S. Tomás de Aquino o responsável pela cadeia causal é Deus e Deus
não faz parte do mundo natural e sim de um plano divino e superior a nós, e desta forma esta objeção torna-se
inofensiva e incorreta.

2 – a segunda objeção questiona o porquê de a primeira causa, a causa incausada, ser Deus e não ser, por
exemplo o Big Bang, tal como os físicos defendem.
Ora, uma causa incausada tem de ser uma causa de si própria. O Big-Bang nunca poderia ser a causa
incausada visto que é necessário recorrer a algo exterior a ele para poder explicar o seu fenómeno. Já Deus
não precisa de se autojustificar, visto que Deus é o primeiro criador. Se houvesse algo a criar Deus, esse algo
passaria a ser Deus.

3 – a terceira e a última objeção que falamos aborda o facto de ser impossível caracterizar o Deus que o
argumento cosmológico prova como o Deus bom. Não há nada no argumento cosmológico que nos garanta
que foi um Deus bom a causa de tudo o que existe. Pode ter sido um Deus que se encontrava no tédio e que
decidiu criar o mundo para se distrair naquele momento. A única coisa que o argumento conclui é que existiu
um ser divino, Omni sapiente, omnipotente, etc, que criou o mundo. Pode até ter sido um ser mau…é
impossível saber através deste argumento. O que não acontecia no argumento ontológico de Santo Anselmo,
que concluía que tem de existir um ser divino e superior a todos nós, no entanto tem de ser um ser bom, visto
que é “Algo maior do que o qual nada se pode pensar”.

Argumento do desígnio:
Quando abordamos o argumento por analogia, que compara duas coisas semelhantes em muitos
aspetos para concluir que elas também são semelhantes em relação a um aspeto específico, abordamos
subentendidamente o argumento do desígnio, que se baseia numa analogia entre objetos e a natureza e as suas
complexidades e sistematizações.
Por exemplo: encontramos um relógio num ambiente impróprio para o ser humano. Neste caso, o
relógio prova-nos que ser humano já esteve naquela zona, embora seja imprópria para ele. Mas porquê?
Isto acontece devido à complexidade do objeto em causa, o relógio. Seria impossível existir aquele
objeto com um grau de complexidade tão elevado e com um propósito tão complicado de se fazer (medir as
horas), sem que houvesse um autor. Neste caso teve de existir algum ser humano (um relojoeiro) que fez
aquele relógio e que o deixou naquele ambiente. Este relojoeiro é infinitamente superior ao relógio que fez.
O argumento do desígnio diz-nos que, da mesma forma que teve de existir um autor para o relógio,
dado o seu grau de complexidade, também tem de existir um criador do mundo, tendo em conta que o mundo
é ilimitadamente superior ao relógio. Desta forma, o criador do mundo também tem de ser ilimitadamente
superior ao criador do relógio. Assim, conclui-se que o criador do mundo tem de ser um ser divino e
transcendente, Deus.

Objeções ao argumento do desígnio:

1 – a primeira objeção é a de que a analogia usada para formar o argumento é muito fraca e incoerente. Uma
boa analogia é aquela onde prevalecem as semelhanças das diferenças, daquilo que se está a comparar. Um
relógio apesar de ser complexo, é infinitamente inferior ao mundo, e inclusive faz parte dele. Ou seja, seria
disparatado comparar duas coisas, sendo que uma faz parte da outra. No entanto é o que acontece na analogia
usada no argumento do desígnio, por isso ser uma fraca analogia.
2 – a segunda objeção ao argumento do desígnio é idêntica à 3º objeção ao argumento cosmológico de S.
Tomás de Aquino. Neste argumento apenas podemos concluir que o criador do mundo é superior a nós e
todo-poderoso, nada nos garante de que ele é bom, justo, Omni-sapiente, etc. Tal como no relógio existem
avarias provocadas por falhas nos relojoeiros, no mundo também existem catástrofes que causam a destruição
e sofrimento. Logo, segundo este argumento Deus também comete erros, visto que criou um mundo cheio de
imperfeições. Logo, se pudéssemos inferir algo acerca do criador do mundo, conforme o argumento do
desígnio, é que ele está longe de ser perfeito.

3 – a terceira objeção consiste no facto do argumento do desígnio não ser compatível com a teoria da
evolução das espécies, de Charles Darwin. A teoria de Darwin diz que as espécies evoluem através de
mudanças ambientais, e que só os seres que mais facilmente se adaptam a novas circunstâncias sobrevivem.
Se Deus criou os seres vivos, por que motivos precisam eles de evoluir de modo a sobreviver? Se
fossemos criações divinas, já deveríamos estar suficientemente adaptadas ao meio ambiente.

A Aposta do Pascal

Pascal foi um filósofo do século XVII (17) que vai propor um argumento para provar a existência de
Deus, no entanto de forma diferente dos últimos três argumentos que falei.
Enquanto os argumentos anteriores utilizaram a razão para provar a existência de Deus, Pascal vai
tentar, pela razão provar a sensatez na crença da existência de Deus. Pascal acha que nunca conseguiremos
provar a existência de Deus, visto que ele está para lá da nossa compreensão, então apenas nos resta justificar
a fé em Deus através de uma aposta. Temos de pesar quais as vantagens e desvantagens de apostar na
existência de Deus para saber em qual delas apostar, ou seja, vamos usar o mesmo método que um apostador
desportivo utiliza para maximizar o seu lucro:
Por exemplo: peguemos no jogo Benfica – Vizela, cujo Benfica está com uma odd de 1,.20 e o
Vizela com uma odd de 10. Se apostarmos 50€ no Vizela e se o Vizela ganhar, ganhamos 500€, se o Vizela
perder, perdemos 50€. Por outro lado, se apostarmos 50€ no Benfica e se o Benfica vencer, ganhamos 60€,
mas se o Benfica perder, perdemos 50€. Ora, um apostador desportivo tem de escolher a aposta, onde otimize
os ganhos e minimize os erros. Neste caso seria apostar no Vizela, visto que os potenciais ganhos anulam as
potenciais percas, o que não acontece se apostarmos no Benfica.
A aposta Pascal funciona mais ou menos assim, no entanto a aposta divide-se em acreditar que Deus
existe, ou acreditar que Deus não existe. Da mesma forma da aposta no jogo Benfica – Vizela, temos de
refletir sobre os ganhos ou as percas de cada um dos lados da aposta, para saber em qual apostar:

- Se apostarmos em acreditar que Deus existe, se acertarmos ganhamos a felicidade eterna, por outro lado se
errarmos, não perdemos nem ganhamos nada, visto que nunca vamos saber se erramos.
- Se apostarmos em acreditar que Deus não existe, se acertarmos não ganhamos nada, pois nunca vou saber
que acertei, mas se errarmos perdemos a Felicidade eterna, e vou para o inferno.
Ora, se fizermos uma apreciação global em relação ás duas apostas, não é muito difícil perceber em
qual devemos apostar: obviamente que apostaríamos em acreditar que Deus existe, pois é a opção onde mais
podemos ganhar e onde menos podemos perder.
Desta forma justificamos indiretamente a crença em Deus.

Objeções à Aposta Pascal:

1 – a primeira objeção consiste em concluir que a Aposta Pascal leva-nos a acreditar num Deus bizarro.
Por exemplo: existe um serial killer, que durante o dia mata pessoas, no entanto à noite reza a Deus,
pedindo perdão pelos seus pecados. No dia seguinte volta a cometer os mesmos crimes e a rezar novamente a
Deus, e assim sucessivamente.
Por outro lado, existe uma pessoa solidária, bondosa e humilde, no entanto não acredita em Deus.
Segundo a Aposta de Pascal, quando ambos morressem, Deus mandaria o serial killer para o céu,
apenas por acreditar nele, e mandaria a pessoa bondosa para o inferno, por não acreditar nele, o que não faz
qualquer tipo de sentido. Deus não deveria olhar e recompensar as pessoas, apenas por elas acreditarem nele,
mas sim pelos seus atoas e ações.

2 – A segunda objeção começa por apontar o facto de Pascal considerar Deus como um ser infinitamente
incompreensível, daí a necessidade de apostar se acreditamos ou não nele. No entanto, o mesmo diz que se
não acreditarmos em Deus ele irá nos castigar e direcionar para o inferno. Mas como Pascal pode concluir
que Deus terá esta atitude, se o mesmo considera-o como um ser superior a nós e por isso incompreensível.
Assim, concluímos que o argumento da aposta de Pascal é incoerente e contraditório.

O problema do mal

Até agora todos os argumentos que falamos defendiam a existência de Deus através da razão, quer
diretamente quer indiretamente, no entanto no problema do mal vamos usar a razão para provar a não
existência de Deus.
Para isso vai partir do paradoxo do Epicuro, que pretende saber como podemos compatibilizar a
existência do mal com a existência de Deus. Se Deus é Omni-sapiente, então sabe que o mal existe no
mundo. Como Deus é bom e justo, então quer impedir este mal que existe no mundo. Por fim, como ele é
omnipotente, tem as capacidades para o fazer. Ora, este paradoxo mostra que Deus é incompatível com a
existência do mal, e por isso geram-se 2 hipóteses:
- Deus é omnipotente, mas não é bom;
- Deus é bom, mas não é omnipotente;
- Deus não existe.
Como as duas primeiras hipóteses não fazem sentido, então apenas nos resta a última, ou seja, a que
Deus não existe.

Respostas ao problema do mal:

1 – O mal resulta da liberdade humana:


Esta resposta consiste em defender que Deus, por bondade, no criou com liberdade. E esta liberdade
permite-nos optar em fazer o bem ou fazer o mal. Infelizmente, há pessoas que escolhem fazer o mal. No
entanto é preferível Deus ter nos dado liberdade invés de ter-nos criado programados.
Contudo esta resposta não resolve o problema do mal, ela apenas resolve o mal provocado pelo
homem. Continua a existir mal provocado, por exemplo, pela natureza, como tsunamis, tremores de terra, etc.
Desta forma, esta resposta ao problema do mal é incompleta.

2 – Deus é inefável (ou incognoscível):


Já que Deus está muito acima da nossa capacidade cognitiva, então não sabemos nada sobre ele.
Desta forma não podemos supor nada sobre ele. No entanto esta resposta também é errada, pois embora prove
que o problema está errado, também justifica o facto de não termos motivos para acreditar em Deus.

3 – O bem justifica o mal:


Esta resposta consiste em defender que Deus permite o mal porque se não houvesse mal as pessoas
não se poderiam aperfeiçoar moralmente.
Um exemplo atual: a guerra que provoca sofrimento, morte, etc permite a existência de atos caridosos e
heroicos por certas pessoas.
No entanto esta resposta tem sido muito contestada: nada justifica, por exemplo, que uma criança
seja torturada até à morte. É sempre preferível um mundo onde não exista o mal a um mundo onde o mal
abunda para que algumas pessoas tenham atos heroicos e bondosos.

4 – O que parece o mal pode acontecer um bem futuro e maior:


O mal que acontece no presente, apenas é um mal imediato, mas a longo prazo pode trazer algo
positivo. Em várias ocasiões, quando nos acontece algo terrível, nesse momento achamos que nunca iremos
conseguir ultrapassar aquele acontecimento. No entanto, passado algum tempo, acontece algo de bom apenas
pelo facto daquele acontecimento que nos tinha deixado devastados. Ora, o que é um infortúnio no início,
pode esconder um final feliz.

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