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Direitos Autorais

Título original: Beguiling the Earl


Landing a Lord series book 2
Copyright © 2014 by Saozinha Medeiros
Copyright da tradução©2023 Leabhar Books Editora Ltda.
 
Tradução: Vanessa Rodrigues Thiago
Revisão: Raquel Medeiros
Diagramação e Capa: Labellaluna Web®
 
Todos os direitos reservados.
Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sob
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Dedicatória

ÀM A
.
Agradecimentos

Obrigada a todos que ofereceram apoio e sugestões durante a redação


deste livro. Em particular, Aida Amaral, Maddy Barone, Maria Medeiros e
Maaike van der Leeden.
Também quero agradecer à minha editora, Anne Victory, por ser tão boa
no que faz!
Capítulo 1

1807
C E não deveria estar entediada. Estava em Londres, em
um baile lotado e dançando com um homem bonito. O céu sabia que ela
esperava sua primeira temporada há meses, desde que soube no outono
anterior que sua irmã logo se casaria com o Marquês de Overlea. Esse
evento mudou completamente suas vidas, para melhor. Até o dia em que
sua irmã fez o anúncio, ela nunca pensou que realmente iria à cidade,
participaria de todos os tipos de bailes e outros entretenimentos noturnos. E
estava ansiosa pela primavera com uma empolgação crescente desde então.
Agora, com menos de um mês de temporada, já estava cansada das
intermináveis demandas sociais. Bailes pelo menos uma vez por semana,
musicais, passeios e visitas ao teatro. Ela imaginou que toda a experiência
seria mais emocionante. Sabia que teria sido se ‘um homem’ estivesse
presente, um homem que prometeu estar ali para dançar com ela quando o
conheceu no outono passado.
Sorriu educadamente para seu parceiro, o Visconde Thornton, quando
suas mãos enluvadas se encontraram brevemente enquanto se moviam pelas
figuras da dança campestre. Ele era apenas alguns anos mais velho que ela,
e tinha que admitir que era muito bonito com seu cabelo loiro e olhos azuis.
Não podia deixar de compará-lo com o homem que ainda procurava em
cada baile, e em comparação, ele parecia pouco mais que um garoto
ansioso.
Ao término da dança, ele a levou de volta até sua irmã. Ela aceitou seus
elogios, por sua graça de movimento, com fria reserva e redirecionou a
conversa de volta para o assunto muito mais seguro, o tempo. Thornton não
escondia sua admiração, e ela suspeitava que ele se tornaria um estorvo se o
encorajasse, mesmo que levemente.
Foi com algum alívio que viu Louisa e Nicholas a poucos metros de
distância. Ele estava com as costas largas virada para a pista de dança, e foi
só quando ela se aproximou dele que se lembrou de que seu cunhado usava
um casaco azul escuro enquanto este homem, vestia preto. Uma sensação de
vibração começou em sua barriga.
Quando Louisa a viu, disse algo ao companheiro que se virou para
cumprimentá-la. A sensação de vibração floresceu em um tumulto cheio de
borboletas, e ela foi impotente para deter o sorriso que se espalhou em seu
rosto.
— Kerrick! — ela exclamou.
Ela conseguiu dar um rápido sorriso de despedida na direção de
Thornton antes de correr pelos últimos metros que a separavam do homem
que esperava ver novamente. Ela diminuiu o passo, sua respiração muito
irregular para ter sido causada pelo leve exercício da dança. Quase pegou as
mãos dele, mas resistiu ao impulso. Tinha aprendido o suficiente durante
seu tempo em Londres para saber que tal demonstração de afeto causaria
sobrancelhas levantadas e uma pequena quantidade de fofoca.
— Senhorita Evans. É tão bom revê-la.
Ele lhe deu um sorriso, seus olhos azuis enrugados nos cantos, e a
alegria se desenrolou dentro dela. Era tão bonito quanto se lembrava.
— Seu demônio, prometeu dançar comigo durante a minha temporada.
E aqui estamos nós, três semanas completas, e não compareceu a nenhum
dos bailes.
Ele fingiu uma expressão de consternação exagerada. — Me fere ao me
acusar de tal negligência. Infelizmente, eu tinha assuntos urgentes para
resolver, o que me impediu de vir à cidade.
Ela fingiu considerar cuidadosamente as palavras dele antes de lhe
responder. — Eu vou te perdoar. Mas só desta vez.
Seus olhos brilharam com diversão. — Sou um infeliz.
Só pôde sorrir em resposta. Ele se voltou para Louisa, e Catherine teve
que tomar cuidado para não deixar transparecer sua decepção.
— Recebeu notícias de seu irmão?
Depois de saber no outono anterior que Louisa havia aceitado a
proposta de casamento de Nicholas Manning, o Marquês de Overlea, seu
irmão John ficou furioso. O tio de Nicholas arruinou o pai deles e John não
conseguia acreditar que Louisa se aliaria àquela família. Louisa esperava
que seu irmão aceitasse o casamento com o tempo, mas, em vez disso, John
fugiu, deixando para trás um bilhete, afirmando que ele havia pedido a
ajuda de um amigo da família para comprar uma comissão no exército.
— Não — disse Louisa. — Escrevi para ele, mas não ouvi nada depois
de sua primeira resposta — sua voz vacilou antes de continuar. — Estou tão
preocupada. Ele nunca foi tão imprudente.
A irritação tomou conta de Catherine quando Kerrick segurou a mão de
sua irmã e lhe deu um aperto rápido e reconfortante. — A maioria dos
rapazes são imprudentes, mas felizmente acabamos superando isso. Tenho
certeza de que John está bem.
Antes que Catherine pudesse lembrar ao par que ela ainda estava
presente, eles foram interrompidos por um casal mais velho que se
aproximava de seu pequeno grupo. O homem era de estatura e constituição
medianas, o cabelo ralo generosamente salpicado de cinza. Sua esposa, no
entanto, era uma mulher atraente, cujos cabelos escuros estavam apenas
começando a mostrar sinais de cinza nas têmporas. Kerrick, os apresentou
como Lorde e Lady Worthington.
— Nós nos perguntamos quando retornaria para a cidade — Lorde
Worthington disse, virando sua atenção para Kerrick. — Rose ficou
bastante incomodada com sua negligência.
Kerrick ergueu uma sobrancelha e respondeu com fria equanimidade. —
Ninguém poderia supor isso, pelo comportamento dela.
Catherine seguiu seu olhar e avistou uma jovem que havia sido
anunciada antes como Srta. Rose Hardwick, filha dos Worthington. A
garota tinha mais ou menos sua idade e estava a vários metros de distância,
cercada por um grupo de jovens que disputavam sua atenção. Catherine não
se surpreendeu com a beleza quase radiante da jovem. Lindos cachos
castanhos emolduravam um rosto claro que era extraordinariamente bonito.
Seus olhos brilhavam, seus lábios faziam beicinho e suas bochechas
floresciam com um brilho rosado. Com seu cabelo claro e liso, Catherine se
sentia sem graça e sem vida em comparação.
Worthington deu de ombros. — Ela é jovem. Esperava que
simplesmente ficasse parada em um canto e ansiasse por sua volta?
Lady Worthington foi rápida em acrescentar: — Ela apenas flerta com
aqueles garotos. Sabe com quem está seu futuro.
O choque percorreu Catherine com as palavras da mulher mais velha, e
seu olhar voltou-se para Kerrick. Sua expressão não mudou, mas ele não
negou a afirmação de Lady Worthington.
— Ela parece estar se divertindo muito bem sem a minha atenção.
— Bobagem — disse Worthington. — Isso é porque ela não sabe que
está aqui. Nós mesmos acabamos de avistá-lo. Embora eu não consiga
imaginar por que não teria nos enviado uma mensagem avisando de seu
retorno.
— Acabei de chegar ontem à noite — disse ele.
Worthington assentiu, mas ficou claro que a resposta de Kerrick não o
satisfez. Ele se voltou para Catherine e Louisa. — Lady Overlea, Srta.
Evans, se nos derem licença?
Catherine apenas assentiu em resposta. Ela olhou novamente para Rose
Hardwick, seus pensamentos cheios de implicações das palavras do homem
mais velho. Recusava-se a acreditar que havia um entendimento entre Rose
e Kerrick. O destino não seria tão cruel.
Determinada a descobrir a verdade, ela se virou para questioná-lo, mas
Kerrick já havia se afastado para falar com o casal mais velho em particular.
Sua consternação aumentou quando eles se viraram, como um só, para se
aproximar da filha de Lorde e Lady Worthington. O grupo de homens se
dispersou na presença de seu pai, mas alguns ficaram por perto caso
tivessem outra oportunidade com ela.
Sua consternação se transformou em completa descrença, enquanto
observava Kerrick curvar-se sobre a mão da jovem e conduzi-la para o salão
de baile. Os acordes de uma valsa estavam começando a tocar. Incapaz de
observá-los juntos, ela voltou a encarar sua irmã.
Louisa, no entanto, continuou a observá-los. — Bem — ela disse
quando finalmente falou., — Nicholas nunca mencionou isso. Não fazia
ideia de que havia algo entre Kerrick e Rose Hardwick.
Catherine não suportava ficar ali e discutir a possibilidade de que
Kerrick pudesse ter um entendimento com outra mulher e tentou distrair sua
irmã. — Onde está Nicholas? Estou surpresa que ele não esteja colado ao
seu lado.
Louisa fez um pequeno som de exasperação. — Não somos tão ruins
assim.
— Sim, são — Catherine disse com um sorriso carinhoso. — Mas
admito que é revigorante ver algo assim em meio a todas as uniões práticas
na sociedade.
— O que sabe sobre uniões práticas?
Catherine balançou a cabeça. — Nada sei, não realmente. É que eu
costumava pensar que as classes altas eram as sortudas, mas por baixo de
seus ares, sinto que algo está faltando. Um vazio.
Louisa não escondeu sua surpresa. — Tornou-se muito astuta. Não é
mais apenas minha irmãzinha, mas uma mulher agora.
Catherine deu de ombros. — Não sou diferente hoje do que era ontem.
— Não — disse Louisa, com um sorriso levantando o canto dos lábios.
— Claro que não. E por falar em Nicholas, aí vem ele.

D tempo até que ele pudesse retornar ao pequeno grupo


de Overlea. Depois de sua dança obrigatória com Rose Hardwick, os pais
dela assumiram como missão monopolizar a sua companhia. Ele sabia que
estavam enviando um sinal a todos os outros pais com filhas em idade para
se casarem, de que tinham direito anterior a ele. Baseados apenas na longa
amizade de Lady Worthington com a mãe de Kerrick, mas que não tinha
base real na realidade. Toda a situação o deixou mais do que um pouco
desconfortável.
Por mais que quisesse, não podia ignorar completamente os
Worthington ou nunca saberia o fim de sua mãe, então teve que suportar a
companhia deles por muito mais tempo do que qualquer outra pessoa teria
feito, presumia. Ele resolveu, no entanto, ter uma conversa particular com
Worthington, e logo, para esclarecer ao homem sobre suas esperanças
equivocadas para o futuro de sua filha.
Finalmente, se cansando de sua companhia nada efusiva, Lorde
Worthington o deixou e foi para a sala de jogos e Lady Worthington voltou
sua atenção para uma de suas amigas. Livre da atenção sufocante, ele
examinou a sala. O aborrecimento aumentou quando viu Catherine Evans
falando com o Visconde Thornton.
Ele os observou dançando, quando chegou, e ficou surpreso com a
centelha de desgosto que sentiu. Até aquele momento, não se permitia
pensar no fato de que era Catherine quem estava ansioso para ver esta noite
e não seu melhor amigo, Nicholas. Por ela, que ele buscava.
Isso não daria certo.
Procurou Nicholas e sua esposa e manteve as costas para os casais que
dançavam para não revelar seu interesse nos movimentos de Catherine.
Quando Nicholas saiu para buscar uma bebida para sua esposa, Louisa
mencionou casualmente que sua irmã estava dançando com o Visconde
Thornton, e ele teve que trabalhar para manter uma expressão neutra no
rosto. Pouco sabia sobre Thornton, apenas que parecia muito jovem. Surgiu
o pensamento, espontâneo, de que Catherine precisava de alguém mais
velho, não de um jovem que era pouco mais que um menino inexperiente.
Não esqueceu a valsa que havia prometido a ela no outono anterior. Na
verdade, estava prestes a convidá-la para dançar quando Worthington o
interrompeu. Então, parou para falar com o regente da orquestra antes de
voltar até ela. Foi uma sorte para Thornton o fato de já ter se afastado
quando se aproximou.
— Eu não tinha certeza se o veríamos novamente esta noite — disse
Nicholas, diversão em seu olhar. — O que é isso que ouvi sobre ter um
entendimento com Rose Hardwick?
Nicholas estava claramente se divertindo às custas dele. De alguma
forma, Kerrick resistiu ao impulso de xingar, mas não conseguiu deixar de
lançar um rápido olhar para Catherine. Ela estava olhando para alguma
coisa do outro lado da sala, fingindo não estar interessada na conversa. Pela
rigidez de seus ombros, no entanto, soube que não era o caso.
— Eu não pretendo propor casamento a ela, se é isso que está se
perguntando.
Os olhos de Nicholas se estreitaram. — Pelo comportamento de
Worthington, ficou claro que ele espera que o faça.
Kerrick podia sentir cada ouvido nas proximidades se esforçando para
ouvir a conversa. Nicholas também percebeu e manteve a voz baixa.
Kerrick deu de ombros. — Ele é um visconde e eu sou um conde. Ele
deseja ver sua filha se casar bem. É claro que espera uma união.
Nicholas franziu a testa. — Não parecia inclinado a dissuadi-lo dessa
impressão.
Ele precisava interromper essa conversa antes que se tornasse ainda
mais desconfortável. — É complicado — disse ele, não querendo entrar nos
laços que uniam suas duas famílias. — Poderá me perguntar sobre isso mais
tarde. Por enquanto, porém, prometi uma dança à Srta. Evans, e temo que
ela fique chateada se eu voltar atrás em minha palavra.
Catherine sorriu para ele, mas o sorriso não alcançou seus olhos. Só
então os músicos terminaram sua peça atual e começaram a tocar a
próxima. Ele podia ver sua surpresa.
— Outra valsa?!
— Eu não prometi uma dança qualquer.
Tolo como era, seu coração se iluminou quando os olhos dela brilharam
com seu costumeiro bom humor. Grato por ela não parecer mais chateada
com ele, estendeu o braço para conduzi-la. Ela colocou sua pequena mão
em seu antebraço e seu coração ameaçou disparar.
Ignorando a careta que Louisa lançou em sua direção, ele conduziu
Catherine para o centro da sala. Ela não hesitou por um momento, mas
lançou-se aos braços dele como se ali pertencesse. E danem-se seus olhos se
não parecia que pertencia.
Ele tinha a sensação de que sua afeição por Catherine iria complicar sua
amizade com Nicholas e sua esposa. Suspeitara no outono passado que
Catherine tinha uma tendência por ele, e a última coisa que queria era
machucá-la. Ao mesmo tempo, não estava pronto para seguir o exemplo de
seu amigo na felicidade conjugal e teria que deixar claro que não poderia
haver nada além de amizade entre ele e Catherine. Porém, mais tarde. No
momento, não queria pensar em nada além da encantadora jovem em seus
braços. Aquela em quem, disse a si mesmo, deveria pensar apenas como
uma irmã mais nova.
Assim que começaram a se mover, ela começou a falar. Contando-lhe
sobre os eventos que ele perdeu, as peças que ela viu. Ele não pôde deixar
de compará-la a Rose Hardwick enquanto a olhava. Ambas eram lindas,
mas de maneiras totalmente diferentes. A beleza de Rose era natural e
óbvia, enquanto a de Catherine era delicada, quase etérea. Seu cabelo claro
estava preso no alto da cabeça em um arranjo complicado com mechas finas
que se enrolavam em volta do rosto e pescoço. Sua pele era macia e
cremosa e seus olhos de um tom vívido de azul que ele lembrava ter visto
apenas em outra pessoa, seu irmão, John, que conheceu brevemente no
casamento de Nicholas e Louisa. Louisa se parecia muito com Catherine,
mas seus olhos eram cinzentos e pareciam refletir sua natureza mais séria.
Olhando para Catherine, alguém poderia esperar que ela fosse o tipo de
pessoa que se mantinha indiferente e distante, mas era exatamente o oposto.
Era calorosa e generosa, uma descoberta que o surpreendeu a princípio.
Quando Catherine sorria, ela queria fazer isso. Seus sorrisos não eram
usados para causar efeito, e certamente não foram forçados e usados como
uma arma para convencer alguém a concordar com seu último capricho.
Não como era com a maioria das outras mulheres que ele conheceu. Não
como Rose Hardwick.
Ele se viu olhando-a com atenção extasiada enquanto ela contava o
quanto muitas das jovens tinham atraído a atenção de um pretendente muito
procurado.
No meio de uma história particularmente divertida, ela parou e franziu a
testa. — Parece tão sério.
— Eu? — ele não se sentia assim. — Estou tentando imaginar a pobre
Mildred Markham caindo no Serpentine enquanto tentava chamar a atenção
de Lorde Beckham. Tenho certeza de que ele vai se lembrar dela por um
bom tempo.
Ela riu, o som leve e ofegante, e ele pôde ver que as cabeças próximas
se viraram em sua direção. Catherine, no entanto, estava alheia ao interesse
que atraía.
— Eu realmente não deveria fofocar. Suas ações não são diferentes das
minhas.
Ele levantou uma sobrancelha para isso. — Caiu no Serpentine
enquanto tentava chamar a atenção de alguém?
— Oh, não — disse ela com um firme aceno de cabeça. — No entanto,
fiquei envergonhada quando me afastei para olhar algumas das flores do
Hyde Park na semana passada.
Kerrick lembrava-se do gosto de Catherine por plantas, especialmente
as exóticas, mas ela não teria encontrado nada em Rotten Row que se
comparasse à coleção de Overlea Manor. — Eu não consigo ver como isso
poderia ter lhe causado constrangimento.
— Eu vaguei para longe e em um pequeno bosque de árvores. Ainda
estava bem claro, mas aparentemente o pânico surgiu quando desapareci e
uma equipe de busca foi organizada. Dez cavalheiros que estavam visitando
o parque abandonaram suas companheiras para ajudar a me procurar.
Kerrick não conseguiu conter o riso ao imaginar a cena. — Acho difícil
acreditar que Louisa ou Nicholas teriam dado o alarme quando descobriram
que havia se afastado.
— Me conhece muito bem — ela disse, fingindo uma expressão de
desgosto. — No entanto, eu estava com Lorde Thornton. Ele não sabe do
meu gosto por plantas e jardins. Estávamos passeando calmamente quando
ele parou para cumprimentar um amigo. Quando ele percebeu que eu havia
desaparecido, presumiu que eu havia sido sequestrada e deu o alarme.
Ela esperava que ele risse, é claro. Os cantos de sua boca se ergueram
com uma alegria impenitente e foi com grande dificuldade que ele devolveu
o sorriso. Mas a admissão dela apagou a diversão dele. Por que estava
surpreso que os homens a estivessem cortejando? Thornton era jovem e
parecia inofensivo, mas odiava a ideia dos dois juntos. Eles formavam um
par impressionante quando dançavam, com sua juventude e boa aparência
de cabelos loiros e olhos azuis. Kerrick não conhecia Thornton o suficiente
para fazer mais do que cumprimentá-lo de passagem, mas se viu odiando o
homem.
Sua cabeça se inclinou com curiosidade quando ele não respondeu
imediatamente, e ele sabia que ela iria questionar. Antes que pudesse fazê-
lo, disse: — Espero que suas experiências até agora tenham correspondido
às suas expectativas. Lembro-me do quanto estava ansiosa por sua
temporada.
Ela suspirou. O som parecia tão desamparado e diferente dela.
— Admito que estou um pouco entediada.
Sua admissão o surpreendeu. — Não tenho muita experiência com
mulheres jovens entrando na sociedade, mas acho que nunca ouvi nenhuma
delas descrever o turbilhão social como chato.
— Oh, não — ela disse, correndo para se corrigir. — Bem, não
precisamente. Há muito o que fazer e gostei de muitos aspectos da vida na
cidade, especialmente do teatro. Mas a quantos bailes e reuniões se pode
esperar que alguém assista, antes que todos se misturem? Eu só desejo…
Quando ela não continuou, ele cutucou. — Só deseja…?
Ela balançou a cabeça. — Não é nada. Eu tenho lido sobre como os
jardins do Palácio de Richmond e Kew foram recentemente unidos e,
aparentemente, eles adquiriram plantas de várias expedições navais ao redor
do mundo. Plantas que não podem ser encontradas em nenhum outro lugar
da Inglaterra — ela suspirou novamente. — Eu esperava visitar os jardins,
mas devido à condição de Louisa, ela tem estado tão cansada ultimamente e
não quer se comprometer a fazer tantas caminhadas. E hesito em perguntar
a Nicholas, já que ele passa grande parte do tempo cuidando de minha irmã.
Eu sei que ele odiaria ficar longe dela por tanto tempo.
Levou apenas um momento para perceber o que ela estava insinuando.
— Louisa está grávida?
— Ah, não — ela disse, com uma expressão de horror no rosto. — Eu
não deveria dizer nada. Ainda é muito cedo e eles não querem anunciar
ainda.
Ele se inclinou um pouco mais perto, enquanto a arrastava pelo salão de
baile e falava em voz baixa. — Seu segredo está seguro comigo — seus
olhos se encontraram e se fixaram, e Kerrick teve a estranha sensação de
que estava se afogando nas profundezas azuis de seu olhar.
Foi então, que ele notou o perfume que ela escolheu usar. Ele a tinha
visto tantas vezes no conservatório durante sua estada em Overlea Manor
que passou a associar o perfume de flores tropicais com ela. Aqui, porém,
não poderia atribuir seu perfume ao ambiente. Era um perfume leve, mas
ainda exótico e tão, completamente, dela. Parecia alcançá-lo e envolvê-lo, e
por vários segundos o resto da sala desapareceu enquanto a olhava.
Ele deu a si mesmo uma rápida sacudida mental em sua cabeça
enquanto tentava se lembrar do que mais queria dizer. Ah, sim, Kew
Gardens. — Eu ficaria honrado em acompanhá-la aos jardins. Eu até
conheço alguém que deveria estar disposta a atuar como sua acompanhante.
O rosto de Catherine se iluminou de excitação e sua óbvia alegria o fez
sentir como se tivesse três metros de altura.
— Eu sabia que tudo ficaria melhor com seu retorno.

C conhecia o Duque de Clarington, um amigo de longa data


de Nicholas e Kerrick, e a nova duquesa de Clarington há menos de um
ano. Kerrick não tinha certeza de como a duquesa conseguiu, mas ela virou
a cabeça de Clarington com relativa facilidade durante a última temporada.
Na época, Kerrick se divertiu com o tormento de seu amigo quando ela
parecia favorecer outro em vez dele, mas tudo acabou bem no final, e os
dois eram um casal tão feliz quanto Nicholas e Louisa. O que, dado o
estado da maioria dos casamentos entre os membros da sociedade, era uma
grande anomalia.
O duque e a duquesa estavam conversando profundamente com Louisa
e Nicholas quando voltaram de sua valsa. A duquesa era mais alta que a
maioria das mulheres presentes, e sua altura, aliada ao cabelo ruivo, a
destacava em qualquer multidão. Ela era inegavelmente bonita, mas foi
Catherine quem prendeu sua atenção ao informar a todos, com grande
entusiasmo, sobre o passeio planejado para Kew Gardens.
Ele desviou o olhar de Catherine, a tarefa mais difícil do que ele havia
pensado anteriormente, e se voltou para a nova duquesa. — A Srta. Evans
mencionou que Lady Overlea não poderia se juntar a nós, então pensei em
pedir que nos acompanhasse. Ela esperava pela visita amanhã, mas
podemos marcar outro dia se isso for mais adequado para sua programação.
O alívio de Louisa por não ter sido convidada era claro, e ele não perdeu
o olhar que as irmãs trocaram. Sem dúvida ela estava se perguntando se
Catherine havia contado a ele sobre seu novo estado.
— Amanhã seria perfeito — disse a duquesa. — Ouvi dizer que os
jardins são lindos.
Kerrick ignorou o sorriso malicioso no rosto de Clarington. Descobriu
que estava realmente ansioso pelo passeio. Não porque ele estivesse
particularmente interessado em plantas ou jardins – ele nunca tinha prestado
muita atenção a essas coisas – mas porque isso significava que passaria
mais tempo com Catherine. Esse pensamento deveria tê-lo preocupado, mas
não o fez.
— Sei que não fui convidado — disse Clarington., — mas acho que vou
acompanhá-los. Não gostaria de deixá-lo em desvantagem em relação às
mulheres. – O brilho em seus olhos falava de motivos menos nobres para
querer se juntar ao grupo, e naquele momento Kerrick se arrependeu de ter
provocado o amigo no ano anterior, quando esse achava difícil resistir aos
encantos da duquesa.
Capítulo 2

K e entregou as rédeas de seu cavalo ao cavalariço que


esperava do lado de fora da casa de Overlea. Passava um pouco das onze e,
em sua busca para garantir que Catherine aproveitasse o dia, ele já tinha ido
a Kew e voltado. Não tinha certeza do porquê era tão importante fazê-la
feliz, mas não tinha dúvidas de que ela ficaria animada quando soubesse
que ele havia conseguido que o próprio jardineiro-chefe conduzisse o
passeio.
Ela não merecia menos. Quando se hospedou na propriedade de
Nicholas no outono anterior, Catherine era uma nova residente em Overlea
Manor. Ela se encarregou de fazer um inventário das plantas que a avó de
Nicholas havia coletado e exposto na estufa da mansão. Tinha visto em
primeira mão como ela desaparecia por horas a fio, apenas voltando de seu
trabalho em catalogar as plantas sem nome, quando o jantar era anunciado.
Uma grande carruagem preta laqueada com o brasão de Clarington, já
estava estacionada do lado de fora da casa. Ao entrar, encontrou todos
reunidos na sala de estar. Catherine estava sentada no sofá ao lado da
duquesa, as duas em uma intensa conversa. Louisa, parecendo não ter
dormido nada na noite anterior, sentava-se em uma cadeira colocada em
ângulo reto com elas. Clarington e Overlea estavam conversando na janela,
mas era impossível não notar a preocupação no rosto do último quando ele
olhava para sua esposa.
Kerrick aceitou as boas-vindas de todos antes de se juntar aos homens.
— Nicholas — disse ele, cumprimentando Overlea pelo seu nome de
batismo. Nicholas nunca esperou herdar o título e, tendo perdido o pai e o
irmão recentemente, preferia ser tratado informalmente por seus amigos
íntimos.
Kerrick viu a expectativa no rosto de Clarington quando voltou sua
atenção para ele. — Comporte-se esta tarde — disse ele, mantendo a voz
baixa para que as mulheres não o ouvissem.
— Claro — Clarington deu a ele um olhar calculista antes de
acrescentar: — Afinal, é o mínimo que posso fazer depois ter se recusado a
zombar de mim no ano passado sobre Charlotte em todas as chances que
teve.
Kerrick xingou baixinho e Clarington riu de alegria. Ele se virou para
Nicholas, mas seu loquaz apelo por simpatia morreu antes que as palavras
fossem ditas. O olhar no rosto de seu amigo quase o fez dar um passo para
trás.
— Não está cortejando Catherine — Nicholas disse, sua voz misturada
com ameaça.
Kerrick ficou sem palavras, mas apenas por um momento. — Quem te
disse que estava? Ela e eu somos apenas amigos.
Nicholas se mexeu de costas para as mulheres que, felizmente, não
notaram sua discussão acalorada. — Louisa está preocupada que Catherine
espere o contrário. Faria bem em dissuadi-la dessa ideia. Especialmente
porque todos parecem ter a impressão de que está formalmente noivo da
filha de Worthington.
Uma centelha de raiva, rápida e quente, disparou através dele. — Todo
mundo está errado — disse ele, sem se preocupar em esconder seu
aborrecimento. — Não se engane, se tal farsa acontecesse, com certeza
saberia. Acima de todas as pessoas, deve saber que eu nunca tiraria
vantagem de uma inocente, mesmo quando outros exigem que eu faça isso.
A expressão de aborrecimento no rosto de Nicholas lhe disse que ambos
estavam pensando no que haviam passado no outono anterior, quando
Nicholas recrutou a ajuda de Kerrick. Na época, Nicholas pensou que
estava sofrendo da mesma doença que já havia levado seu irmão e seu pai, e
pediu a Kerrick que tivesse um filho com Louisa para evitar que o
marquesado caísse nas mãos de seu primo inescrupuloso. Kerrick relutou
em concordar com o plano desde o início e decidiu que não o levaria
adiante quando percebeu, pouco depois de conhecê-la, que Louisa estava
muito apaixonada por seu novo marido.
Também não demorou muito para descobrir que Nicholas, embora
tentasse negar, queria muito sua esposa apenas para si. Um homem inferior
teria aproveitado a oportunidade oferecida pelo esquema de Nicholas.
Louisa era uma mulher bonita, afinal, e na época ela estava presa em um
casamento com um homem que fazia de tudo para se distanciar dela. Mas,
apesar de sua aparente fragilidade, a esposa de Nicholas tinha um núcleo de
aço, e ele soube imediatamente que ela não seria influenciada por nenhum
esforço de sua parte para seduzi-la. E respeitava demais os sentimentos de
seu amigo para sequer tentar. Estava apenas feliz por tudo ter dado certo no
final.
— O que estou perdendo? — Clarington perguntou, quebrando o
silêncio pesado.
Nicholas foi o primeiro a desviar o olhar. — Nada — disse ele, sua
mandíbula apertada. — História antiga.
Kerrick não entrou em detalhes. Uma das razões pelas quais Nicholas
escolheu abordá-lo sobre a paternidade de seu herdeiro foi o conhecimento
de que Kerrick, levaria o segredo de seu plano insano para o túmulo.
Clarington estava em lua de mel na época e nem soube do casamento de
Nicholas até que toda a situação fosse resolvida.
— Devemos ir, então. Uma tarde investigando a vegetação nos espera
— disse Clarington em uma tentativa óbvia de iluminar o ambiente.
Os quatro que compunham o grupo para o passeio saíram da casa em
meio a um coro de despedidas e conversas em geral. Clarington ajudou
primeiro sua esposa, depois Catherine, a entrar na carruagem antes de
seguir, deixando Kerrick para entrar por último. Quando o fez, encontrou-se
sentado em frente a Catherine.
Ele manteve o tom casual ao revelar que o jardineiro-chefe os guiaria
durante o passeio. A expressão no rosto de Catherine — uma mistura de
felicidade, empolgação e expectativa — mais do que compensou o esforço
extra que ele já havia feito naquela manhã.

C conseguia conter sua empolgação com a perspectiva de


ver pessoalmente muitas das plantas que só tinha visto em desenhos nos
livros. Ela achou tedioso quando, logo após chegar a Londres para o início
da temporada, descobrir que todos os membros da alta sociedade pareciam
contentes em limitar seu prazer na natureza a passeios à tarde no Hyde Park
durante as cavalgadas no verão, ou para visitar o Vauxhall Pleasure Gardens
para seus famosos entretenimentos noturnos. Para sua decepção, descobriu
que, quando se tratava de plantas, não havia nada digno de nota em nenhum
dos dois lugares.
Ela escutou apenas pela metade quando Clarington informou Kerrick
sobre o que ele havia perdido durante sua ausência da cidade. Não ficou
surpresa ao descobrir que os homens ficavam muito felizes em participar de
fofocas, embora suspeitasse que eles ficariam ofendidos por ela usar esse
termo. Eles provavelmente consideravam, manter-se informados sobre os
eventos atuais.
Tentou não encarar, mas Kerrick estava sentado bem a sua frente e era
natural que olhasse em sua direção. Se fosse possível, ele estava ainda mais
bonito do que quando o vira pela última vez no outono anterior. Seu cabelo
escuro estava mais curto do que se lembrava, mas gostou do corte. Os
detalhes de seu rosto eram mais perceptíveis agora. E como ela havia
esquecido a maneira como seus profundos olhos azuis se enrugavam
quando ele sorria? Seus olhos foram atraídos repetidas vezes para a boca
máscula, e se pegou imaginando como seria beijá-lo.
Lembrou, novamente, como ele a segurou em seus braços fortes
enquanto valsavam na noite anterior e se entregou a um devaneio em que
ele parava e, seus olhos nunca deixando os dela, puxava-a para seu peito e a
beijava. Ela não conseguiu conter o suspiro diante da fantasia. O olhar de
Kerrick voltou-se para o rosto dela e, por um momento, teve a noção
mortificante de que ele sabia o que ela estava pensando.
Seus olhos se encontraram e se sustentaram. Havia algo nele que não
reconhecia, mas fazia cada nervo de seu corpo formigar com antecipação.
Ficou sem fôlego e descobriu que tinha que se lembrar de continuar a
respirar. Ela notou a maneira como sua mandíbula se apertou pouco antes
de ele desviar o olhar dela e se virar para encarar Clarington. O ar entre eles
parecia crepitar com uma nova sensação de consciência. A princípio, ela
pensou que o aumento daquela consciência era apenas da parte dela, mas a
maneira como ele parecia hesitar um pouco antes de olhar para ela quanto
falava, indicava que também sentia o mesmo.
Esse conhecimento era quase suficiente para fazê-la esquecer o motivo
da viagem, mas logo chegaram a Kew Gardens. Kerrick quase pulou da
carruagem quando pararam do lado de fora dos portões principais. Ela não
tinha certeza se deveria se sentir insultada por sua aparente pressa em estar
longe de sua presença, mas se sentiu um pouco melhor quando ele a ajudou
a sair da carruagem, segurando sua mão por um tempo longo demais
enquanto a olhava. Quando a duquesa tossiu delicadamente, ele se
recompôs e a soltou para ajudar a outra mulher.
Clarington pareceu se divertir quando ele se afastou, mas Catherine não
sabia dizer por quê. No entanto, ela não perdeu a carranca que Kerrick fez
para seu amigo.
— Para onde devemos ir primeiro? — perguntou a duquesa.
Kerrick apontou para o sul. — Clifton disse que o encontraríamos perto
do templo de Bellona.
— A deusa romana da guerra — disse Catherine.
Kerrick não escondeu sua surpresa. — Conhece o mito.
— Provavelmente é um grande choque, mas sei algumas coisas além
dos nomes das plantas.
Em resposta à falsa censura em sua voz, Kerrick esboçou uma
reverência formal. — Vou ter que me lembrar de não subestimá-la no
futuro.
A duquesa se aproximou de Catherine e olhou para os dois homens. —
Não parece que o Sr. Clifton ouviu nossa carruagem chegar. Por que os dois
não verificam se ele está no templo enquanto Catherine e eu esperamos aqui
para ter certeza de que não o perderemos?
Clarington fez uma pequena saudação à esposa, que lhe rendeu um leve
tapa no braço, antes que os dois homens se dirigissem para o pequeno
prédio.
Catherine virou-se para a duquesa, que era apenas alguns anos mais
velha que ela. — Eu queria agradecer novamente, Vossa Graça, por
concordar em vir hoje. Sei que a maioria das pessoas acharia esse passeio
muito enfadonho.
A duquesa acenou com a mão. — Estou muito feliz pela oportunidade
de conhecê-la melhor. Falando nisso, acho que podemos deixar as
formalidades aqui. Eu insisto que me chame de Charlotte quando
estivermos longe da inflexibilidade da sociedade.
— Eu gostaria muito disso — disse Catherine.
— Bom. Agora que resolvemos esse assunto, conte-me sobre Kerrick.
Eu posso ver que gosta dele.
Catherine se perguntou se o mundo inteiro poderia dizer o quanto ela se
importava com Kerrick. No entanto, tentou agir com indiferença. — Ele é
amigo de Nicholas e passou algum tempo conosco no outono passado. Nós
nos tornamos amigos durante esse tempo.
Charlotte fez um som de tsk suave. — Não seja tímida. Sabe que não foi
isso que eu quis dizer.
Catherine suspirou. — Está certa. No entanto, não acho que sinta o
mesmo por mim — hesitou antes de compartilhar mais uma confidência. —
Ele parecia muito próximo de Louisa quando a visitou. Achei que ele
poderia ter sentimentos por ela.
— Acho que não acredito nisso — disse Charlotte depois de considerar
sua declaração. — Pelo que eu vi, o comportamento dele com ela é
amigável, mas tão circunspecto quanto comigo. Por outro lado, é diferente
quando ele a olha.
O pulso de Catherine disparou. — Acha mesmo? Às vezes, acho
impossível dizer se um cavalheiro está apenas sendo gentil ou se há algo
mais por trás dessa gentileza.
— Eu estava na mesma situação no ano passado.
— Com Sua Graça?
Charlotte assentiu. — Eu o conheço há anos, mas temi que ele sempre
me considerasse a amiga chata de sua irmã.
— Certamente não — observando a maneira como o duque adorava sua
esposa, era difícil acreditar que ele a considerava irritante.
Charlotte assentiu com gravidade. — Temo que sim. Eu era um estorvo
quando era mais jovem.
— O que mudou? — Catherine perguntou, ansiosa para saber como a
outra mulher finalmente conseguiu capturar o interesse do homem que
amava.
— Bem, primeiro passamos alguns anos sem nos ver, e durante esse
tempo eu cresci. Tanto na maturidade quanto na aparência física. No seu
caso, no entanto —disse, lançando um olhar crítico para Catherine, —
sempre foi muito bonita.
— Isso é tudo? — Se esse era o segredo da duquesa, seu caso era
realmente sem esperança. Kerrick dificilmente se apaixonaria, nem
escreveria sonetos elaborados sobre a beleza dela.
Charlotte balançou a cabeça. — Eu segui a sabedoria convencional que
diz, que os homens querem mais o que não podem ter.
Diante da óbvia confusão de Catherine, Charlotte sorriu. — Eu o fiz
acreditar que não estava nem um pouco interessada nele, e então comecei a
flertar com qualquer homem que me desse um olhar.
Catherine refletiu sobre esse conselho em sua cabeça. Conseguiria fingir
uma atração onde não existia nenhuma? Seus pensamentos foram para Rose
Hardwick. Era isso que a outra mulher estava fazendo? Fingindo ser
distante de Kerrick? Rose cercou-se de outros admiradores. Ela estava
tentando atrair o interesse de Kerrick fingindo indiferença? O pensamento a
fez se sentir um pouco mal, porque isso significaria que Catherine tinha
uma rival direta pela atenção dele. Alguém que já parecia ter a vantagem se
as expectativas de seus pais servissem de indicação.
— Não tenho certeza se posso fazer isso.
— Talvez, não precise — disse Charlotte. Ela deve ter percebido a
confusão de Catherine, pois acrescentou: — Kerrick já lhe gosta muito.
Catherine hesitou um momento antes de dizer: — Ouvi dizer que há
expectativas sobre o futuro dele.
Charlotte olhou para ela calmamente. — Clarington me disse que não
há noivado formal, e suponho que ele saiba. Posso ter apenas vinte e três
anos, mas ao longo do tempo tenho visto que as expectativas nem sempre se
transformam em realidade. Até que Kerrick se declare e seja aceito, ele está
livre para perseguir outras. Ou para ser perseguido.
A duquesa estava certa, claro. Se não houvesse entendimento formal
entre os dois, e uma vez que nenhuma das partes envolvidas mostrava
qualquer sinal de ter uma ligação romântica com a outra, o que custaria
seguir onde seu coração levava? Ela nunca se perdoaria se pelo menos não
tentasse conquistar o interesse de Kerrick.
— O que eu faço? Não posso flertar com outros homens. Não quando…
— não tinha certeza de como continuar, mas Charlotte sabia o que ela ia
dizer.
— Não quando a rival por suas afeições está usando a mesma tática? E
fazendo isso esplendidamente, devo acrescentar.
O tom de admiração na voz de Charlotte foi o suficiente para desesperar
Catherine.
— Terá que usar a estratégia oposta. Já que Rose Hardwick está se
esforçando muito para afastar Kerrick, teremos que garantir que ele seja
empurrado em sua direção.
Catherine gostou de como isso soava. — Como?
Charlotte considerou isso por vários segundos. — Para começar —
disse ela, — farei o possível para manter meu marido ocupado nas próximas
semanas. Se Kerrick deseja passar algum tempo de qualidade com um
amigo homem, ele será forçado a fazê-lo com Overlea. Isso deve colocá-lo
em seu caminho com mais frequência.
Catherine estava tão envolvida na conversa que não percebeu que
Kerrick e o duque já estavam voltando até que a duquesa silenciou o que
estava prestes a dizer estendendo a mão para seu braço e inclinando a
cabeça para a direita. Catherine virou-se para encontrá-los com um homem
de meia-idade de estatura mediana cuja pele atestava o fato de que ele
passava muito tempo ao ar livre.
Depois que Kerrick fez as apresentações, o Sr. Clifton sorriu para ela e
disse: — Ouvi dizer que a senhorita gosta muito de plantas. O que gostaria
que eu lhe mostrasse primeiro?
— Quero ver tudo — disse Catherine com uma risada autodepreciativa.
— Mas temo que meus companheiros não ficariam muito felizes em passar
as próximas horas vagando por cada acre de terra.
Os olhos do Sr. Clifton se aqueceram com seu óbvio entusiasmo. —
Receio que isso não seria possível, mesmo que eles estivessem dispostos,
mas posso lhe mostrar uma variedade do que coletamos aqui.
— Podemos começar com as plantas que foram coletadas em viagens ao
exterior?
— A senhorita é minha alma gêmea — ele disse, estendendo o braço
para ela pegar.
Nas três horas seguintes, Catherine viu muitas plantas que só tinha visto
em esboços em preto e branco, e algumas das quais nunca tinha ouvido
falar. Suas favoritas eram as flores tropicais. Ainda era o início da
primavera e muitas delas ainda não haviam florescido, mas a variedade de
cores e formas vibrantes eram suficientes para fazer sua mente girar.
Mais de uma vez ela exclamou sobre algo e se virou para encontrar
Kerrick olhando para ela. A princípio foi com diversão paciente, mas então
algo mudou. Não sabia exatamente o quê, e não queria exagerar para não
criar esperanças apenas para vê-las frustradas, mas definitivamente havia
uma nova conexão entre eles.
A duquesa parecia estar levando a sério sua promessa de ajudar a unir
ela e Kerrick e saiu de seu caminho para arrastar seu marido à cantos
isolados dos vários jardins que eles visitavam. Ela não achava que Kerrick
ou Clarington soubessem o que ela estava fazendo, o último provavelmente
pensou que a atmosfera romântica dos jardins estava por trás do desejo de
sua esposa de passar um tempo com ele separado do resto do grupo, mas
Catherine sabia exatamente o que estava acontecendo. e apreciou o esforço
da duquesa.
Quando chegaram à estufa com laranjeiras, a última parada de sua
excursão improvisada, até ela estava começando a fraquejar.
— Eu adoraria voltar no final do ano e ver as árvores com suas laranjas
— disse Catherine com um suspiro melancólico.
— Infelizmente, o local não está tão impressionante quanto
esperávamos — disse Clifton. — As árvores estão começando a mostrar
sinais de estresse porque não estão recebendo luz suficiente aqui. Teremos
que movê-las para algum lugar que tenha mais janelas. Talvez até um
telhado de vidro. Espero que elas não enfraqueçam muito antes que isso
aconteça.
— Espero que não — disse Catherine. — Isso seria uma pena.
Ela deu uma última olhada nas árvores antes de se voltar para os outros.
Estava relutante em partir e fez uma promessa de que voltaria um dia para
ver mais dos jardins.
— Qual é o problema — ela perguntou quando viu a estranha expressão
no rosto de Kerrick.
— Tem algo bem aqui — disse ele, passando o dedo pelo nariz.
Ela estendeu a mão e esfregou o próprio nariz e ouviu a risada de
Charlotte. Virou-se para olhar para a duquesa, mas a mulher apenas deu
uma piscadela rápida antes de arrastar seu marido e o Sr. Clifton para longe.
— Está só piorando as coisas — disse ele.
Ela olhou para as mãos e fez uma careta quando viu a sujeira em suas
luvas.
— Aqui — disse ele, tirando um lenço do bolso. Estava prestes a
entregá-lo, mas hesitou. — Se não se importa? — ele ergueu o quadrado de
tecido branco.
Catherine balançou a cabeça e fez de tudo para manter a respiração,
mesmo quando ele se aproximou e ergueu o lenço para limpar o que ela
esperava que fosse apenas uma pequena mancha de sujeira. Ele estava
impossivelmente perto, mais perto do que quando eles dançaram. Sua testa
franziu em concentração enquanto ele esfregava a sujeira de seu nariz.
Quando terminou, não recuou. Em vez disso, continuou a olhá-la.
— Está cansada — disse ele.
O olhar dele, junto com o calor dentro do laranjal, trouxe um rubor às
bochechas dela.
— E quente — ela conseguiu dizer quando se lembrou de respirar
novamente.
Seus olhos escureceram, e por um momento ela se pegou pensando que
ele iria beijá-la. Mas então, ele desviou o olhar e deu um passo para trás, e o
momento foi quebrado.
— Devemos nos juntar aos outros. Eles provavelmente estão a meio
caminho da carruagem agora.
Catherine só pôde acenar com a cabeça em resposta enquanto pegava o
braço dele e saíam da estufa.
Capítulo 3

E com Catherine naquela noite. Sonhos quentes nos quais ele


a separava do resto do grupo e a levava para um labirinto que existia apenas
em seu sonho. Acordou sentindo-se frustrado e mais do que um pouco
culpado. Enquanto estava deitado na cama, seu corpo ainda duro e sua
mente nublada com imagens eróticas, seus pensamentos foram para o aviso
de Nicholas para manter distância de Catherine. Se seu amigo descobrisse
que ele estava sonhando em despojar sua cunhada de suas roupas e fazê-la
notar algo diferente da vida vegetal infernal que tanto a interessava, ele
tiraria a pele de Kerrick.
Mas não era apenas o corpo dela que o atraía. Se estivesse apenas
sofrendo de frustração sexual, conhecia várias mulheres que ficariam mais
do que felizes em aliviar seu desconforto. Ele percebeu, porém, que
Catherine Evans era mais do que apenas uma jovem em sua primeira
temporada na sociedade. Ela era uma contradição. Parecia tão jovem e
inocente às vezes, e junto com essa juventude vinha uma exuberância que o
encantava. Mas também era inteligente. Gostava de jardinagem, sim, mas
seu interesse ia além de simplesmente apreciar flores bonitas. Ele notou
quando estava em Overlea Manor, no outono anterior, que ela estudou com
dedicação as plantas exóticas que a avó de Nicholas coletou ao longo dos
anos. Passava horas folheando livros e fazendo suas próprias anotações.
Não conseguia entender por que as plantas a fascinavam tanto ou por que
ela dedicava tanto tempo ao seu estudo. Sabia, pelo que Overlea lhe disse,
que o pensamento rápido de Catherine salvou a vida de sua irmã.
Catherine tinha características que não eram imediatamente óbvias
quando alguém a conhecia, e ele não podia negar que ansiava por explorar
essas camadas ocultas. Ansiava por aprender exatamente o que ela mais
desejava na vida. E percebeu que esperava que fosse ele, mas atribuiu esse
desejo à sua vaidade. As mulheres não faziam segredo de que o achavam
atraente, e Catherine não era imune a seus encantos. Ela havia dito que
estava entediada antes de seu retorno à cidade. Se o muito jovem Visconde
Thornton era uma indicação da companhia que ela tinha, não era de se
admirar que precisasse de uma companhia mais estimulante.
Balançou a cabeça quando percebeu a direção em que seus pensamentos
estavam indo. Overlea, estava correto em suas suposições no dia anterior.
Queria cortejar Catherine. Ela era mais nova que ele, sim, mas apenas onze
anos. Não era incomum que homens muito mais velhos do que ele, se
casassem com alguém da idade dela. Normalmente, ele preferia a
companhia de mulheres mais experientes que esperavam apenas um
envolvimento de curto prazo. Só havia um tipo de relacionamento que
poderia ter com Catherine Evans — um permanente. E pela primeira vez na
vida descobriu que a perspectiva do casamento já não lhe parecia tão
desagradável.
Mas tinha um assunto muito importante para resolver antes mesmo de
considerar a possibilidade de cortejar Catherine. Tinha que esclarecer a
questão da expectativa dos Worthingtons de que um dia ele se casaria com a
filha deles. Suspeitava que sua mãe os havia encorajado nessa crença.
Estava pensando se deveria dar a notícia primeiro para sua mãe ou para
Lorde Worthington, quando uma batida na porta de seu quarto o tirou de
suas reflexões. Quando ninguém entrou logo depois, soube que não era seu
criado chegando para vesti-lo para o dia. Se levantou, vestiu seu roupão e
abriu a porta para encontrar seu mordomo do outro lado, uma bandeja de
prata equilibrada em uma mão. Sua culpa imediatamente o fez pensar que
Overlea estava lá embaixo, naquele exato momento, pronto para esmurrá-lo
por seus pensamentos rebeldes. Esperando não estar prestes a ser
convocado simplesmente por olhar na direção de Catherine, pegou o cartão
de visita disposto cuidadosamente no centro da bandeja.
Ao ler o nome do visitante, conseguiu manter a expressão impassível.
Ofereceu um breve aceno de cabeça como resposta, fechou a porta com um
pouco de cuidado demais e moveu-se para a campainha para chamar seu
criado. O que ele realmente queria fazer, no entanto, era bater em alguma
coisa. Seu olhar disparou para a janela, um pensamento fugaz de fuga
piscando em sua mente, mas reprimiu o impulso com praticidade
implacável. Dado o fracasso de sua recente linha de investigação, não
deveria ter ficado surpreso ao saber que o representante não oficial do
Ministério do Interior achou por bem contatá-lo diretamente. Fugir agora só
atrasaria o inevitável.
O Conde de Brantford, o esperava na biblioteca, sentado em uma das
poltronas de espaldar alto diante da lareira apagada. Como sempre, o louro
era a imagem da indolência preguiçosa. Mas Kerrick sabia que ele estava
longe de ser o nobre despreocupado que fingia ser. O que o deixou em
alerta máximo, no entanto, foi o arquivo que Brantford colocou na mesinha
ao lado de seu cotovelo. O dia de Kerrick tinha acabado de piorar.
— Brantford — ele disse como forma de saudação enquanto se
acomodava na cadeira em frente a ele. — Devo dizer que preferia não vê-lo
de novo tão cedo.
— Infelizmente, a vida é cheia de decepções. Eu esperava estar muito
mais perto de encerrar este assunto também, mas recentemente descobri que
estava errado.
O aborrecimento aumentou, mas Kerrick não permitiu que
transparecesse. — Achei que tinha deixado claro que minha última rodada
de perguntas seria o fim do nosso acordo.
— Que estranho. Ouvi dizer que não descobriu nenhuma pista — como
sempre, o tom de Brantford era equilibrado.
— Ouviu certo. A trilha já estava fria quando cheguei e não encontrei
ninguém que soubesse de algo importante.
Brantford olhou para ele com firmeza. — Então não cumpriu, de fato,
seu dever final para com o Ministério do Interior.
Foi com grande esforço que Kerrick manteve seu temperamento sob
controle. — Sai em missão, que era tudo o que era exigido de mim. Esta
reunião está encerrada.
Ele começou a se levantar, mas o brilho nos olhos de Brantford, parou
seu movimento.
— Oficialmente, sim, seu mandato terminou. No entanto, acredito que
houve um favor pessoal que me pediu no outono passado. Eu pediria um
favor em troca. Não é, como se diz, obrigado a me atender…
Ele não precisou completar a frase. Kerrick se colocou em dívida com o
outro homem quando o chamou para ajudar Nicholas a descobrir quem
estava tentando prejudicar sua família. Só alguém sem honra ignoraria uma
dívida.
— Este é o último — disse ele.
— Claro.
Kerrick recostou-se na cadeira, resignado com mais uma viagem.
Brantford estava fazendo o possível para parecer entediado, o que ele sabia
que significava que não iria gostar do que estava por vir.
— Para onde vai me enviar?
— Na verdade, para lugar nenhum. Seus serviços são necessários bem
aqui na cidade.
Desconforto instalou-se dentro dele. — Fazendo o quê?
Brantford tirou um fiapo imaginário de sua manga, o movimento lento e
preciso, antes de encontrar seu olhar. — Worthington se tornou uma pessoa
de interesse em nossa tentativa de descobrir quem está vazando
informações confidenciais para os franceses. Não escapou de nossa atenção
que o homem tem certas expectativas sobre sua pessoa em relação à filha
dele. Isso o coloca na posição perfeita para observá-lo mais de perto.
As palavras caíram sobre ele como uma sentença de morte. Não
conseguia evitar que seus pensamentos fossem para a jovem que ele
esperava cortejar alguns minutos antes. Se fosse obrigado a cortejar Rose
Hardwick pelo resto da temporada, isso deixaria Catherine livre para formar
um vínculo em outro lugar. De alguma forma, ele escondeu sua amarga
decepção.
— E se eu não quiser que o mundo inteiro acredite que estou cortejando
a Srta. Hardwick?
Certamente ele apenas imaginou o lampejo de aborrecimento que
cruzou o rosto de Brantford, o leve aperto de sua mandíbula antes de
continuar.
— Duvido que alguém considere uma dificuldade cortejar uma bela
jovem. Não será o único homem dançando com ela. Contanto que tome
cuidado para não se encontrar em uma posição comprometedora, ela
sobreviverá à temporada com sua reputação intacta. Então, estará livre para
voltar sua atenção para a Srta. Evans.
Sim, Brantford estava definitivamente aborrecido, já que o estava
provocando. Kerrick deixou o comentário passar, no entanto. Não ganharia
nada discutindo com o homem.
— Conte-me tudo — disse Kerrick.
Brantford pegou o arquivo e se inclinou para entregá-lo a ele. Kerrick
pegou, mas não olhou para o conteúdo.
— As poucas informações que temos estão aí — disse Brantford. —
Receio que não seja muito, e é por isso que precisamos de sua ajuda.
Kerrick não sabia muito sobre Worthington, mas achava impossível
acreditar que o homem fosse um espião dos franceses. Ele não tinha a
sutileza necessária para o papel.
— Por que diabos alguém acreditaria que Worthington está vazando
informações? A menos que eu esteja enganado, ele não tem acesso ao tipo
de segredo que os franceses estão procurando.
— Não, claro que não — disse Brantford. — Suspeitamos que ele é
apenas um peão menor e, com toda a probabilidade, nem sabe no que está
se metendo. Percebemos, no entanto, que suas finanças melhoraram
recentemente. Não por uma quantia muito grande, mas o suficiente para nos
fazer pensar como poderia comprar uma casa muito maior em Mayfair. Até
recentemente, suas finanças estavam à beira do colapso.
— Talvez — Kerrick disse com um torcer amargo de seus lábios — ele
esteja apenas pegando emprestado a possibilidade de sua filha se casar bem.
Brantford balançou a cabeça. — Já fizemos algumas indagações
discretas e confirmamos que as finanças dele melhoraram. Não tanto que
ele não queira alinhar a família dele com a sua, claro, mas o suficiente para
que não precise mais se preocupar com os credores levando tudo o que não
está vinculado. O mesmo não poderia ser dito seis meses atrás.
— Acredita que há outra pessoa.
— Sim. Worthington agora está confortável, mas seu fluxo de caixa não
aumentou tanto a ponto de acreditarmos que ele está vendendo segredos
diretamente para os franceses. Mas ele tem amigos com altos cargos na
marinha. Acreditamos que está contando a outra pessoa o que ele sabe sobre
os movimentos de nossa frota naval. Quando soubermos com quem está
falando, esperamos descobrir quem tem mantido Napoleão bem-informado
sobre os planos da Grã-Bretanha em várias áreas. Dê uma olhada no
arquivo e verá por que estamos convencidos de que finalmente temos uma
pista para descobrir o traidor.
Kerrick levantou-se e Brantford fez o mesmo. — Vou mantê-lo
informado sobre minhas descobertas.
Era simpatia que via no rosto do outro homem?
— Não lhe pediríamos isso se não estivéssemos convencidos do
envolvimento de Worthington.
— Claro — disse Kerrick, seu coração já começando a esfriar em
antecipação ao estratagema que estava prestes a decretar.
Capítulo 4

C em êxtase. O passeio pelos jardins de Kew no dia


anterior não poderia ter sido mais perfeito. A beleza dos jardins ultrapassou
sua imaginação, nunca pensou em ver tal variedade de plantas exóticas em
sua vida. Mas tinha que admitir que não tinham sido o destaque de seu dia.
Não, o dia anterior tinha sido perfeito porque passara a maior parte do
tempo na companhia de Lorde Kerrick.
Ao contrário dos outros homens que apenas toleravam seu interesse pela
jardinagem, Kerrick parecia estar realmente curioso. Oh, ele estava fingindo
a princípio, isso era óbvio para todos os presentes. Ela não sabia o que
havia mudado, mas depois de um tempo pareceu que seu entusiasmo o
contagiou. E quando ele mencionou melhorar os jardins de sua própria
propriedade, ela não pôde deixar de imaginar como seria ter controle sobre
esse empreendimento como a dona da casa.
Outra coisa havia mudado durante a visita deles. Começou a acreditar
que ele não a via mais apenas como a jovem cunhada de seu amigo, mas
como uma mulher digna de atenção por seus próprios méritos.
Foi um choque, portanto, saber apenas uma hora antes do jantar que ele
havia enviado um bilhete à irmã dela dizendo que não poderia comparecer
ao jantar íntimo que Louisa e Nicholas planejaram para aquela noite. Ela
encurralou Louisa em seu quarto enquanto sua irmã se preparava para a
noite. Sua criada estava apenas adicionando os toques finais ao penteado
simples, mas elegante de Louisa.
Catherine não esperou que ela terminasse antes de dizer: — Nicholas
me disse que Kerrick não vem — ela não conseguiu esconder a decepção
em sua voz.
— É de se esperar — disse Louisa em um tom que claramente pretendia
acalmá-la. — Lorde Kerrick tem preocupações externas que muitas vezes o
levam a mudar seus planos.
A curiosidade de Catherine foi despertada. — Que tipo de
preocupações?
Louisa ficou em silêncio por um momento e Catherine suspeitou que ela
estava pensando em contar a verdade. — Eu não deveria ter dito nada.
Apenas saiba que tenho certeza de que ele teve um bom motivo para recusar
nosso convite em tão pouco tempo.
Ela ficou dividida entre irritação e resignação com a resposta de sua
irmã. Louisa era oito anos mais velha e às vezes ainda a tratava como uma
criança que precisava ser protegida. Ela esperou enquanto a criada
terminava, sua impaciência crescendo a cada segundo.
Sua irmã dispensou a mulher depois de alguns minutos e se levantou
para encará-la, momento em que as emoções de Catherine claramente se
transformaram em irritação.
— Parece ter esquecido com quem está falando. Depois de um
comentário tão misterioso, certamente não espera que eu apenas encolha os
ombros e continue como se não tivesse dito nada.
Louisa balançou levemente a cabeça. — Eu esperava que pudesse
deixar o assunto de lado, mas está claro que isso não vai acontecer.
— Eu não sou uma criança, Louisa. Deve parar de me tratar como uma.
Afinal, estou na cidade procurando um marido. Parece não ter aprendido
nada depois da partida de John.
Sua irmã se encolheu com a acusação e Catherine sentiu uma pontada
de remorso por tê-la lembrado das condições em que seu irmão as havia
deixado antes de se alistar no exército.
— Sinto muito — disse ela, estendendo a mão para apertar a mão de
Louisa e dando-lhe um aperto suave. — Isso foi desnecessário.
— No entanto, com certeza foi preciso.
Catherine não negou. Ambas sabiam que era a verdade. Tendo perdido a
mãe logo após o nascimento de Catherine e sendo muito mais velha que ela
e John, Louisa sempre trilhou uma linha tênue entre agir como uma irmã ou
uma mãe superprotetora.
— Sei que tem um interesse particular em Kerrick. Eu esperava que
fosse apenas uma paixão juvenil quando se conheceram no ano passado e
que o esqueceria quando sua temporada começasse e encontrasse outros
homens mais próximos da sua idade. Mas vejo que isso não aconteceu.
— Kerrick é apenas onze anos mais velho que eu. Ontem à noite ouvi
dizer que Lorde Hendricks está procurando uma nova esposa, e ele está pelo
menos na casa dos cinquenta — ela estremeceu. — Tenho pena da pobre
garota que, sem dúvida, será forçada por seus pais a essa união.
Louisa desviou o olhar por alguns momentos e então soltou um suspiro
resignado. Com aquela pequena exalação, Catherine soube que tinha
vencido. Louisa sentou-se, novamente, na cadeira diante do espelho de
vestir, mas desta vez ela se virou para encará-la. Catherine sentou-se na
beirada da cama da irmã e esperou.
Por quê, ela não tinha certeza, mas dada a expressão grave no rosto de
sua irmã, sua curiosidade começou a ficar mais sombria. Após o passeio no
dia anterior, ela quase se esqueceu daquela “ceninha” entre Kerrick e os
Worthington. E sobre como ele a deixou para dançar com Rose Hardwick
primeiro.
O medo começou a crescer dentro dela. Certamente sua irmã não iria
lhe contar que Kerrick estava cortejando Rose.
— Diga-me, Louisa — disse ela, quando não aguentou mais o silêncio.
A expressão assustada no rosto de sua irmã disse a ela que o que parecia
uma eternidade, provavelmente, tinha sido apenas alguns momentos.
— Lembra-se no outono passado, antes de descobrimos o que estava
acontecendo com Nicholas, que Lorde Kerrick havia retornado a Londres?
Catherine queria gritar quando a suspeita começou a se firmar de que
seu sonho de um futuro com Kerrick estava prestes a ser destruído. Ela
conseguiu um aceno sem palavras.
— Na época, Kerrick tinha certas conexões a quem pôde recorrer para
ajudar a descobrir o que estava acontecendo. Ele voltou à cidade para pedir
ajuda a uma dessas conexões.
Seu estômago começou a se contrair quando ela percebeu que isso não
tinha nada a ver com os Worthington. — Ele voltou com o Conde
Brantford.
Louisa estremeceu ao ouvir o nome. — Sim, foi isso. A presença do
conde foi uma surpresa para Nicholas, mas ele percebeu que Brantford não
é o que aparenta.
Catherine franziu a testa, agora completamente confusa. — O que
Brantford tem a ver com tudo isso?
Louisa balançou a cabeça. — Estou sendo uma tola. Se vou contar o que
sei, o que admito não ser muito, devo ser direta. O que estou prestes a
revelar não é de conhecimento geral, e deve prometer não repetir — ela fez
uma pausa, mas ao aceno vigoroso de Catherine ela respirou fundo e
continuou. — Brantford trabalha para o Ministério do Interior, reunindo
informações para o governo.
— Ministério do Interior?
— Ele é um espião. Ou pelo menos acreditamos que é isso que ele seja.
Nicholas nunca falou com ele sobre isso. E mesmo que sua suspeita esteja
correta, Brantford nunca admitiria.
Embora a revelação de sua irmã tenha sido uma surpresa, ela não tinha
certeza porque sua irmã estava contando sobre os segredos do Conde
Brantford.
— E?
— E Nicholas acredita que Kerrick, também pode ser um.
Essa era a última coisa que ela esperava ouvir. — Um espião? — sua
mente ficou momentaneamente em branco enquanto tentava assimilar essa
nova informação.
Kerrick era um espião. Um arrepio de excitação se espalhou por ela
depois que o choque inicial se desvaneceu. Ele certamente era bonito o
suficiente para o papel, e ela sabia em primeira mão que tinha o carisma que
alguém em tal posição precisaria.
— Catherine! — a voz de Louisa interrompeu seus pensamentos e seu
aborrecimento era evidente. — Este não é um livro de romance. Esta é a
vida real, e sendo um… — ela acenou com a mão, obviamente não
querendo dizer a palavra novamente. — Bem, é perigoso — ela franziu a
testa. — Ou suponho que poderia ser. Nicholas me disse que Kerrick
desaparece regularmente, às vezes por meses a fio, e ninguém sabe o que
ele está fazendo durante esse tempo.
— Claro que não — ela disse, tentando, mas falhando, em manter suas
verdadeiras emoções escondidas. — Está certa, isso é muito sério.
Louisa olhou para o céu, como se buscasse força, antes de encontrar
seus olhos novamente. — Eu não disse isso para envolver suas
sensibilidades românticas. Não sei o que Kerrick faz, mas é possível que ele
esteja envolvido em um trabalho que coloque sua vida em perigo. Deveria
procurar alguém mais apropriado.
— Mais chato, quer dizer.
— Não — disse Louisa, pronunciando a palavra para indicar seu
desagrado. — Alguém que não desapareça, para nunca mais voltar.
Ela não pôde deixar de sorrir com o anúncio de sua irmã. — Não muito
tempo atrás acreditava que Nicholas tinha uma doença que logo o levaria à
morte.
Passaram-se vários segundos antes que sua irmã respondesse, e a
angústia em seu rosto era clara de se ver. — Sim, acreditei. Mas eu não
sabia de sua condição quando nos casamos.
Catherine cruzou a distância que as separava, ajoelhou-se aos pés da
irmã e segurou-lhe as mãos.
— E se soubesse? Não teria se casado com ele mesmo assim?
Louisa fechou os olhos. Quando os abriu novamente, só conseguiu
acenar com a cabeça.
— Viu — disse Catherine. — Essas coisas têm uma maneira de
funcionar. Tenho certeza de que o mesmo acontecerá entre mim e Kerrick.

A ’.I . Apenas um ano antes, ele zombou de Clarington


por sua participação no mercado matrimonial anual de Londres, e agora ali
estava ele, fazendo o papel de um homem cortejando a mulher que toda a
sociedade presumia que seria sua futura noiva.
Sua chegada não passou despercebida. Ele já havia decidido atender às
expectativas de todos. Quanto mais cedo ele descobrisse a verdade sobre
Worthington, mais cedo ele poderia se distanciar da filha do homem. Sentiu
uma pontada de culpa por ter que enganá-la, mas duvidava que qualquer
homem pudesse reivindicar seu coração.
Ela tinha acabado de terminar sua dança atual e estava voltando para o
lado de sua mãe. Em instantes o jovem, que havia feito parceria com ela, foi
empurrado para fora do caminho pelo grupo de homens que parecia segui-la
por toda parte. Ela jogou a cabeça para trás e riu alegremente, deleitando-se
com a atenção.
Kerrick se recusou a ser apenas mais um membro desse grupo.
Felizmente, ou infelizmente, conforme o caso, sua mãe se esforçou para
dispersar a comitiva de Rose. Ele não tinha certeza de como ela conseguiu,
mas quando ele as alcançou, o círculo de jovens havia desaparecido.
— Lady Worthington — ele disse com uma leve reverência antes de se
virar para cumprimentar o objeto de seu engano. — Srta. Hardwick. Está
adorável esta noite, como sempre.
E estava. Seu cabelo estava preso em um arranjo complicado, com
vários cachos para emoldurar sua tez pálida e de bochechas rosadas. Ela
usava um vestido branco recatado, mas era impossível ignorar sua óbvia
generosidade. E seus olhos brilhavam com diversão, como se estivessem
compartilhando uma piada particular. Ele podia entender por que todos
aqueles filhotes buscavam seu favor. Tornaria as coisas mais fáceis se ele
compartilhasse seu entusiasmo por sua tarefa de cortejá-la. Sua mãe
certamente ficaria feliz se um casamento fosse feito entre ele e a filha de
sua boa amiga. Era quase impossível, no entanto, evitar que seus
pensamentos se voltassem para outra, cuja beleza era muito diferente, mas
não menos comovente, do que a da jovem diante dele.
— Lorde Kerrick — ela disse, mergulhando em uma reverência curta.
— Como estamos felizes em vê-lo aqui esta noite — disse Lady
Worthington. — Não sabíamos se o esperávamos.
— Com um incentivo tão bom como sua filha, eu dificilmente poderia
me manter afastado — ele respondeu suavemente.
O elogio rendeu-lhe um olhar presunçoso de Lady Worthington. Rose,
no entanto, parecia menos do que impressionada. Dados os elogios que ela
normalmente recebia, ele sabia que os dele seriam moderados em
comparação. Mas ele não estava disposto a fazer o papel de idiota
apaixonado. Não era um bom ator.
Sorriu para Rose. — Espero que tenha pensado em guardar uma dança
para mim esta noite.
Ela apontou uma carranca de consternação para ele. — Não tenho
certeza — disse ela. — Recebi tantos convites.
O suspiro de Lady Worthington foi quase cômico. — Bobagem, Rose
— ela disse, quase tropeçando em suas palavras. — Na verdade, não disse
que sua próxima dança estava livre?
Considerando que Kerrick podia ver um jovem parado apenas na
periferia de sua visão, atirando adagas nele com seu olhar, reconheceu a
declaração como uma mentira descarada. Se não tivesse ficado tão chateado
por ter sido convidado para desempenhar esse papel ridículo, teria achado
toda a situação divertida.
— Eu me consideraria o mais afortunado dos homens, então, se me
consentisse essa dança.
Por um momento, pensou que Rose iria negar, e percebeu que ela não
queria continuar com essa farsa mais do que ele. Um olhar reprovador de
sua mãe, no entanto, fez Rose inclinar a cabeça em aceitação e colocar a
mão na dele.
Ele achou que o olhar de triunfo que lançou para o agora carrancudo
pretendente foi um belo toque. Aquele olhar quase desapareceu de seu rosto
quando ele se virou e viu o Conde de Standish conduzindo Catherine Evans
para o salão de baile. Standish gostava de mulheres jovens, loiras e bonitas,
e Catherine era tudo isso. O que ela não era, no entanto, era fácil, mas isso
nunca havia parado o homem.
Manteve sua expressão de bom humor firmemente no lugar, mas não
estava disposto a permitir que Catherine fosse vítima das intenções nada
honradas de Standish. Para tanto, certificou-se de que ele e Rose estivessem
no mesmo cenário que Catherine e seu parceiro. E enquanto se moviam
pelos pares dançando, dividiu sua atenção entre sua própria parceira e
Standish. A dança era familiar e não exigia muita atenção dele, mas tinha
que tomar cuidado para que os outros do grupo não percebessem sua
distração. Não seria bom para todos verem que ele estava mais interessado
em Lorde Standish do que em Rose Hardwick. Mas o que exigia mais
esforço era evitar que seu olhar procurasse a forma esbelta de Catherine
enquanto ela se movia graciosamente entre os outros dançarinos.
Ele lutava para manter seu temperamento sob controle toda vez que via
Standish conceder seu sorriso presunçoso a ela, e pensou que conseguira
muito bem. Mas seu controle estalou quando a dança chegou ao final e ele
viu o outro homem parado muito perto de Catherine, com a cabeça baixa
enquanto murmurava algo em seu ouvido. Ela realmente corou, então riu
antes de lhe dar um tapinha amigável em seu braço. Quando Standish deu
um passo para trás, aquele sorriso presunçoso firmemente no lugar, Kerrick
não queria nada mais do que dar um soco no rosto do outro homem.
Voltou sua atenção para Rose, e quando viu a especulação em seus
olhos, temeu ter arruinado seu suposto namoro antes mesmo de começar.
Ele soltou um suspiro interior de alívio quando ela se iluminou novamente e
o olhou com o mesmo sorriso sedutor que ele a viu dar a inúmeros outros
homens. Teria que ser mais cuidadoso no futuro para garantir que não
traísse seus sentimentos.
Ele colocou a mão dela na curva de seu cotovelo e começou a levá-la de
volta para sua mãe, odiando o tempo todo por ter virado as costas para
Catherine e Standish. Eles deram apenas alguns passos quando outro dos
muitos admiradores de Rose os interceptou. Ele ficou muito feliz em
entregá-la, mas teve a presença de espírito de fingir que estava aborrecido.
Afastou-se para o lado e forçou-se a conversar com um de seus conhecidos.
Alguns minutos se passaram, antes que ele sentisse que era seguro
procurar para aonde Catherine tinha ido. Ficou aliviado ao descobrir que ela
estava agora com sua irmã e a Duquesa de Clarington. Pensou em abordá-la
para pedir uma dança, reconhecendo que seria melhor para o bem de ambos
se ele mantivesse distância, mas ciente que não conseguiria tal feito. Não se
Standish estivesse interessado nela.
Tinha que avisá-la sobre ele. Catherine não era como muitas das jovens
tolas presentes, mas ainda era inocente demais para se arriscar a entrar
naquelas águas infestadas de tubarões. O fato de ela agora ter seu cunhado
para cuidar dela não o confortava. Para sua própria paz de espírito, ele tinha
que garantir que Catherine não fosse a próxima jovem vítima de Standish.
Ao vê-la seguir, sozinha, para a porta que dava para o corredor, seguiu-a
a uma distância discreta. Falar com ela em particular seria infinitamente
melhor do que tentar arrancar algumas palavras aqui e ali enquanto
avançavam pelas figuras de outra dança aparentemente interminável.
Ele a seguiu enquanto se dirigia ao banheiro feminino, procurando um
quarto vazio onde pudesse esperá-la. Cinco minutos depois, ficou aliviado
ao vê-la sozinha quando voltava pelo corredor. Quando saiu da porta
sombria, ela se assustou. Estava prestes a falar, mas ele levou um dedo aos
lábios para silenciá-la. Ele voltou para o quarto sem dizer uma palavra.
Quando Catherine o seguiu, ele fechou a porta atrás dela.
Ele se virou para encará-la e a encontrou um pouco perto demais para
seu conforto. A sala, que parecia ser uma sala de estar, estava escura, a
única luz fornecida pela lua cheia brilhando através das janelas. No entanto,
ele podia ver o olhar de expectativa em seu rosto enquanto ela permanecia
ali em silêncio, esperando que ele lhe falasse por que havia armado aquele
encontro. Foi com grande esforço que ele quebrou o contato visual e se
aproximou das janelas.
Seus ombros se levantaram no que ele assumiu ser um suspiro suave
enquanto ela o seguia. Desta vez, ela manteve uma distância mais
respeitável entre eles quando parou.
— Suponho que este não seja um encontro romântico?
As imagens que surgiram em sua mente foram rápidas e vívidas, e ele
teve que desviar o olhar enquanto trabalhava para dissipá-las. Reconheceu
seu erro quando o perfume dela pareceu alcançá-lo e acariciá-lo.
Ele encontrou seu olhar curioso enquanto respondia. — Eu queria
alertá-la sobre Standish.
Ela franziu a testa, uma pequena ruga aparecendo entre as sobrancelhas.
— Lorde Standish? Por que me alertaria sobre ele?
Ele percebeu que seus punhos estavam cerrados ao lado do corpo e os
relaxou enquanto falava. — Estavam dançando.
Sua cabeça inclinada para o lado, sua expressão confusa. — E estava
dançando com Rose Hardwick.
Ele teve que trabalhar para não levantar a voz. — Não deveria estar
dançando com ele.
— Por que não? Dancei com mais homens esta noite do que gostaria de
lembrar. Dançar com Lorde Standish, não significava mais para mim do que
alguns minutos de atividade vigorosa seguidos de algumas palavras
agradáveis.
Ele quase rosnou quando sua mente ganhou vida com imagens de outras
atividades vigorosas que eram muito menos inocentes.
— Standish usa as garotas da sua idade, e depois descarta-as quando
termina. Precisa se afastar dele.
Ela balançou a cabeça e fechou a distância entre eles, parando a apenas
um pé de distância. — Está sendo ridículo. Eu estava em uma sala lotada
onde nada de desagradável poderia ter acontecido.
— Percebi isso — ele disse, seu tom afiado, aborrecido por ela não estar
levando seu aviso a sério. — Mas é um contato que não deveria perseguir.
Com familiaridade, ele começará a tomar outras liberdades contigo. —
Como ele não poderia?, acrescentou silenciosamente.
Uma centelha de raiva iluminou seus olhos. — É por isso que me trouxe
aqui?
— Precisa ter cuidado — disse ele, sem saber por que ela estava se
ofendendo, quando sua intenção era salvaguardar seu bem-estar.
Ela deu mais um passo, e agora estava perto o suficiente para que ele
pudesse ver as minúsculas manchas douradas em seus olhos azuis. Sua
garganta ficou seca.
— Não é meu pai — ela disse, apunhalando um dedo contra o peito dele
com raiva. — Nicholas e Louisa estão fazendo um bom trabalho me
sufocando e garantindo que ninguém chegue muito perto. Eu não preciso
que me trate como uma criança também — ela deu-lhe outro pequeno
golpe.
Suas bochechas estavam coradas agora, seus seios subindo e descendo
com sua raiva. Seu olhar cintilou para baixo antes que ele conseguisse
arrastar os olhos de volta para o rosto dela.
— Eu não te vejo como uma criança. E só Deus sabe que eu não
descreveria meus sentimentos por ti como paternais — a noção era a coisa
mais distante da verdade.
Ela pareceu tomar a admissão dele como um desafio, erguendo o queixo
e se aproximando mais um passo. Em vez de cutucá-lo, ela abriu os dedos e
pressionou a mão inteira contra o peito dele, exatamente onde seu coração
agora batia em um ritmo instável. Eles estavam tão próximos que não seria
necessário nenhum esforço para se inclinar e beijá-la. Seu olhar estava em
seus lábios e ele estava imaginando como seria a sensação de sua maciez
quando ela falou.
— Como caracterizaria seus sentimentos por mim? — as palavras eram
baixas, quase ofegantes.
Ela balançou em sua direção. Ele não refreou sua maldição enquanto se
afastava dela.
Sua mão caiu para o lado e seus ombros enrijeceram. A delicadeza que
ele tinha visto em sua expressão se foi. Quando ela falou, suas palavras
foram misturadas com decepção. — Devo voltar antes que alguém perceba
nossa ausência e chegue a uma conclusão incorreta.
Ela se virou para sair e, antes que ele percebesse que havia se mexido,
estendeu a mão para detê-la, passando a mão enluvada em torno de seu
braço nu. Ambos congelaram com o contato. Lentamente, ela se virou para
encará-lo.
— Há algo mais que gostaria de discutir comigo?
— Sim… Não… Droga.
Ele estava oscilando no limite da sanidade e Catherine provavelmente
iria empurrá-lo. A puxou para ele e tomou sua boca em um beijo ardente
que continha mais do que uma pitada de desespero.
Pela maneira como se enrijeceu no início, soube que a surpreendera,
mas não conseguiu conter a sensação de urgência que o impulsionava. Em
instantes, os braços de Catherine se ergueram para rodear seu pescoço e
apertar-se contra seu corpo. Ele não pôde conter seu gemido de desejo ao
sentir seu corpo aparentemente delicado, mas surpreendentemente firme,
moldado contra o dele. Ela abriu mais a boca, permitindo que explorasse
suas profundezas. Não demorou muito para que ela começasse a retribuir
com vigor.
Ela passou os dedos pelo cabelo na nuca dele, segurando-lhe a cabeça
no lugar. Quando a língua dela acariciou a sua, ele quase se desfez. Ele
queria… não, ele precisava de mais. Suas mãos se moveram para seu
traseiro e ele a puxou firmemente contra si. Uma batida suave na porta se
intrometeu na névoa de desejo que nublava sua mente.
Ele se afastou dela. Com os olhos ainda fechados ela balançou em sua
direção, mas ele deu um pequeno movimento em seus ombros. Os olhos
dela se abriram com grande lentidão e o olhou com uma maravilha
atordoada.
Amaldiçoou silenciosamente, querendo nada mais do que puxá-la de
volta para seus braços. Em vez disso, afastou-se completamente. Ela franziu
a testa, mas se recompôs rapidamente quando ouviu a segunda batida.
Quando a porta se abriu e Louisa entrou alguns segundos depois, Catherine
estava sentada calmamente em uma cadeira e ele estava de pé perto da
janela.
Kerrick começou a falar, mas Louisa levantou a mão para detê-lo.
— Eu não quero saber — ela se virou para a irmã. — Deveria voltar
para o salão de baile. E os dois devem se considerar afortunados por ter sido
eu, e não meu marido, quem os encontrou sozinhos aqui.
Catherine escolheu, sabiamente em sua opinião, permanecer em silêncio
enquanto saía da sala sem olhar para trás.
Louisa a seguiu, mas parou perto da porta. — Estou seguindo em frente
com a suposição de que seja o mesmo homem que conheci no outono
passado que não tiraria vantagem de uma jovem. E porque foi tão útil em
ajudar a mim e ao meu marido durante esse tempo, não vou falar sobre isso
com Nicholas. Por favor, não me dê motivos para que eu lamente minha
decisão.
Ela saiu da sala então, mas suas palavras de despedida o deixaram se
sentindo o pior tipo de canalha.
Capítulo 5

V se passaram desde que Kerrick a beijou. Catherine esperava


que aquele momento anunciasse uma mudança em seu relacionamento, mas
ele estava mais esquivo do que nunca. Não tinha aparecido em sua casa
desde aquela noite e havia recusado outro convite para jantar.
Estava mais do que um pouco tentada a marchar até a sua residência e
exigir que lhe dissesse se tinha algum sentimento por ela. Odiava a
incerteza. Em um momento estava certa de que ele se importava, mesmo
que um pouco, mas no próximo, ela se lembrava de como ele e Louisa
tinham sido próximos no outono anterior. Com esta última lembrança veio o
medo sombrio de que quando a beijou ele a tenha visto apenas como uma
substituta para a irmã que não poderia ter.
Talvez um dia ela tivesse coragem de tal ação, mas esse dia ainda não
havia chegado. Foi por isso que se certificou de que sua irmã aceitasse o
convite para o musical que os Worthingtons estavam apresentando. Se
Kerrick estava cortejando Rose Hardwick, como os boatos a faziam
acreditar, ele certamente estaria lá. E se os rumores fossem verdadeiros,
precisava ver com seus próprios olhos.
Foi com uma mistura de determinação e apreensão que Catherine
atravessou a soleira da casa dos Worthingtons naquela noite com a irmã e o
cunhado. A casa estava cheia de convidados, mas avistou Kerrick quase que
imediatamente. Ele estava ao lado de Rose Hardwick e sua mãe, sorrindo
para a primeira. O estômago de Catherine se contraiu. Queria se virar e
fugir antes que ele a visse, mas Nicholas conduziu Louisa para o grupo e ela
não teve outro recurso a não ser segui-los. Colocou um sorriso falso em seu
rosto e cumprimentou sua anfitriã antes de voltar sua atenção para Rose e
finalmente para Kerrick. Seu sorriso era despreocupado quando a
cumprimentou com cortesia educada. Ele agiu como se o beijo nunca
tivesse acontecido, e Catherine podia sentir o tênue fio de esperança que ela
segurava começar a se desfazer.
Como o grupo continuou a conversar facilmente, Catherine se
desculpou e se virou para se afastar. A expressão de Louisa continha um
toque de preocupação, mas não tentou impedi-la. Catherine não se
importava para onde iria. Só sabia que precisava se distanciar da
impressionante imagem de Kerrick parado ao lado da belíssima Rose
Hardwick como se ele pertencesse a ela.
Ela só se moveu alguns metros, no entanto, quando o som de seu nome
sendo chamado a fez parar. Virou-se e enrijeceu quando viu que sua rival,
pela afeição de Kerrick, a havia seguido.
— Estou feliz que tenha vindo — disse Rose. — Não tivemos a chance
de nos conhecer, mas espero mudar isso.
Se Rose tinha um motivo oculto para procurá-la, Catherine não
conseguiu detectar nenhum sinal disso em seu rosto. Em vez de se
vangloriar, como ela esperava, viu apenas honestidade.
— Eu gostaria muito disso — Catherine disse as palavras
automaticamente, como ditava a polidez, mas não era o que queria dizer. A
última coisa que queria era fazer amizade com sua rival.
Rose deve ter notado sua reticência, pois seu sorriso desapareceu. Ela
lançou um olhar por cima do ombro de Catherine antes de dizer: — Vejo
alguém com quem devo falar. Mais uma vez, obrigada por ter vindo e talvez
possamos nos falar mais tarde.
Ela se afastou e Catherine soltou a respiração com um suspiro de alívio.
Não resistiu em olhar para Kerrick e viu seu olhar se desviar dela. Percebeu
que ele havia testemunhado sua breve troca de palavras e se perguntou se a
estava observando ou a Rose. A ideia de que ele procurava a outra mulher
quando ela não estava por perto a deprimiu ainda mais.
O tempo parecia se arrastar enquanto ela cumprimentava as pessoas que
conhecera durante sua estada em Londres e se envolvia em sutilezas sociais
que significavam muito pouco. Louisa e Nicholas a encontraram novamente
não muito depois de ela ter se livrado de testemunhar Kerrick bajulando
outra mulher, e juntos se dirigiram para o modesto salão de baile. A sala
havia sido convertida em um pequeno teatro para o entretenimento da noite.
Catherine não deveria ter ficado surpresa, mas ficou, com o número de
cadeiras espalhadas na frente de um piano de cauda. Não tinha ideia de
como Rose conseguia se apresentar para tantas pessoas.
Ela era apenas humana e, embora não gostasse da ideia de alguém se
envergonhar diante de um público tão grande, ela esperava que a opinião
dos Worthingtons sobre os talentos de sua única filha fosse superestimada.
Mas é claro que isso provou não ser o caso. Os próprios talentos musicais
de Catherine eram modestos, mas ela reconhecia o verdadeiro talento
quando o ouvia. E Rose Hardwick tinha talento em abundância. Sua
habilidade no piano era inquestionável. E seu canto… Catherine realmente
queria odiá-la, mas seus pensamentos continuavam voltando para a
proposta de amizade de Rose e, em vez de ódio, o que sentiu foi culpa.
Precisando saber se o desempenho de Rose o estava afetando, o olhar de
Catherine continuou indo para onde Kerrick estava sentado no fundo da
sala, à sua esquerda. Ela se perguntou por que ele se sentou tão longe, e essa
curiosidade só aumentou quando o viu se levantar e se afastar da sala
exatamente no mesmo momento em que o Conde de Brantford se levantou
para fazer um pedido a Rose. A atenção de todos estava voltada para os dois
na frente da sala, especialmente quando o pedido pareceu desequilibrar a
garota. A própria sala pareceu prender a respiração antes de liberá-la
novamente quando Rose começou os primeiros acordes da peça que
Brantford havia solicitado.
Catherine tinha certeza de que ninguém havia notado a partida de
Kerrick. O que realmente deixou sua curiosidade no auge, porém, foi o fato
de que ele não tinha voltado até mais de um quarto de hora após o início da
apresentação.
Rose cantou uma última música, uma ode ao amor perdido, que fez
Catherine cerrar os dentes. Os aplausos foram entusiásticos e Catherine
juntou-se a eles. Ela não era tão sovina a ponto de não dar à outra mulher o
que merecia.
Rose havia tocado por quase meia hora e, quando se afastou do pequeno
estrado onde ficava o piano, duas de suas primas tomaram seu lugar. Sua
parte do entretenimento da noite durou apenas cerca de dez minutos e não
deixou ninguém em dúvida de que o musical havia sido organizado para
mostrar o talento de Rose.
Ela, Louisa e Nicholas estavam esperando sua vez de falar com Rose e
seus radiantes pais antes de partirem, quando Kerrick se aproximou do
grupo. Ele se virou para ela por último. Seus olhos eram calorosos quando
se encontraram com os dela, e ela sentiu o peso daquele olhar direto até os
dedos dos pés.
— Senhorita Evans — disse ele simplesmente, inclinando a cabeça em
saudação. Eles estavam cercados por todos os lados por um amontoado de
pessoas, mas todos pareciam desmoronar quando seus olhares se
encontraram.
— Lorde Kerrick — ela respondeu, desviando o olhar e quebrando seu
feitiço. Consciente novamente de todas as pessoas ao seu redor, incluindo
sua irmã e seu cunhado, tentou manter sua própria saudação formal. Mas
falhou, e o nome dele saiu em um sussurro ofegante.
— A senhorita Hardwick é muito talentosa — disse Louisa, desviando a
atenção dele.
— Sim — acrescentou Nicholas. — Foi um esforço e tanto, organizado
sem dúvida para seu benefício.
Kerrick encolheu os ombros, o movimento quase casual demais. — O
talento dela é ótimo. Acho difícil escolher uma peça favorita — ele se virou
na direção dela — O que me diz, Catherine?
Catherine se surpreendeu com o comentário dele, já que, até onde sabia,
ele estivera fora da sala durante a maior parte da apresentação. Claramente,
ele não queria que mais ninguém soubesse disso, então ela respondeu
honestamente. — Foram todas boas, mas a minha favorita foi a última
música. O amor não correspondido é sempre tão trágico, e a emoção em sua
voz quando ela cantou realmente me trouxe lágrimas aos olhos.
Um silêncio desconfortável seguiu seu pronunciamento, e ninguém
disse nada por vários segundos. Os olhos de Kerrick se estreitaram
enquanto ela falava, uma emoção em suas profundezas que ela achava
impossível nomear.
Louisa quebrou o silêncio novamente. — Bem, minha favorita foi a do
Mozart — ela suspirou. — Nunca imaginei que tocar com tanta proficiência
pudesse causar tanto impacto emocional em alguém. A pobre garota parece
bastante exausta.
Catherine seguiu seu olhar e viu que o Conde de Brantford estava
falando com os Worthingtons naquele instante. Rose, de fato, parecia um
pouco doente. Era ainda mais surpreendente porque ela normalmente era
tão vivaz. Talvez estivesse sofrendo com os nervos antes da apresentação,
afinal, e a tensão de mantê-los sob controle, só agora começava a aparecer.
Ela sentiu outra pontada de culpa ao se lembrar de como havia rejeitado a
oferta de amizade da outra mulher.
Seus olhos se estreitaram quando se fixaram em Brantford. Louisa disse
a ela que ele era um espião, mas isso não parecia possível. O homem
aparentava ter a idade de Kerrick, talvez alguns anos mais velho. Seu
cabelo era louro e cortado bem curto. Seu comportamento, no entanto, era o
de alguém que estava extremamente entediado com o ambiente. Enquanto
Kerrick sempre parecia estar ciente de tudo e de todos ao seu redor,
Brantford agia como se as pessoas não merecessem sua atenção.
Seu olhar se moveu de Brantford para Kerrick e vice-versa enquanto ela
tentava imaginar os dois homens trabalhando juntos para descobrir segredos
que outros desejavam manter escondidos. Ao fazê-lo, as peças de um
quebra-cabeça pareceram encaixar-se em sua mente. Brantford e Kerrick
eram ambos espiões. O primeiro fornecia uma distração enquanto o último
escapava quando ninguém mais estava prestando atenção nele. Isso só
poderia significar que Kerrick estava procurando por algo aquela noite.
Teria a ver com os Worthingtons ou o local foi meramente acidental?
Kerrick saiu da sala para se encontrar com alguém enquanto todos os outros
estavam ocupados?
Quando ela se virou novamente para olhar para Lorde Kerrick, seus
olhos estavam nela. Ele não perdeu seu exame em Lorde Brantford, e
naquele momento ela daria quase tudo para saber o que estaria pensando.
Ele percebeu que ela sabia sobre o serviço que ele e Brantford prestaram a
seu país? Ao menos sabia que Nicholas e Louisa desconfiavam que ele era
um espião? Ou talvez pensasse que ela achava Brantford atraente. Se este
último pensamento lhe causava alguma preocupação, esperava que fosse o
motivo de seu exame minucioso. Ela sorriu brilhantemente para Kerrick
antes de voltar para conversar com Louisa, mas no fundo de sua mente
estava formulando um plano.

S naquela noite provou-se inútil. Ele não tinha certeza do que


esperava encontrar no escritório de Worthington, mas esperava tropeçar em
algo, qualquer coisa, que o aproximasse do fim dessa investigação
inconveniente. Uma correspondência, talvez, ou mesmo um nome rabiscado
em um pedaço de papel. Foi arriscado escapar da apresentação para dar uma
olhada rápida nos papéis de Worthington, mas teve que tentar. Não teve
tempo suficiente para fazer uma busca completa, no entanto, e a frustração
pesou muito sobre ele quando percebeu que já estava fora há muito tempo.
Ver Catherine novamente renovou sua determinação de deixar todo esse
assunto para trás. Havia conseguido evitá-la nos últimos dias, mas isso
também significava evitar os vários entretenimentos noturnos que Rose
Hardwick frequentava. Ele procurou outras oportunidades para envolver
Worthington durante esse tempo. Ambos eram membros do White’s, mas
apesar do fato de que ele praticamente frequentava o clube de cavalheiros
na St. James Street, não havia encontrado o homem nenhuma vez.
Ele esperava realizar muito naquela noite quando aceitou o convite para
o musical. Como Nicholas havia sugerido, ele tinha poucas dúvidas de que
havia sido realizado em seu benefício. Um esforço da parte de seus pais
para mostrar os muitos talentos de Rose. A maneira como Worthington e
sua esposa caíram sobre ele quando chegou, como se fosse a resposta para
cada uma de suas orações, quase foi mais do que podia suportar. Ele aceitou
sua bajulação como um mal necessário, esperando encontrar uma
oportunidade para investigar. Brantford forneceu a distração que lhe
permitiu sair da sala, e foi uma tarefa fácil voltar e se juntar ao grupo de
homens parados perto do fundo da sala. Mas, no final, a única coisa que
conseguiu naquela noite foi fazer Worthington acreditar que a sua união
com sua filha era quase certa.
Como descobriria a culpa de Worthington, era uma incógnita. Ele estava
começando a pensar que o homem era inocente e que seus esforços eram
inúteis.
Algo na expressão de Catherine após a apresentação o preocupou,
quando a viu observando Brantford. Não pôde deixar de pensar que ela de
alguma forma percebeu o fingimento do outro homem. Claro, Kerrick havia
envolvido Brantford naquele assunto de Overlea no outono anterior, mas
tinha certeza de que disse a ela que Brantford era apenas um amigo. Não era
possível que ela tivesse descoberto que o conde, perpetuamente entediado,
tinha um conjunto de habilidades que o tornavam muito perigoso para seus
inimigos.
Ele forçou seus pensamentos longe de Catherine e de volta para a tarefa
em mãos. Até agora, sua investigação não havia revelado nada, e ele não
estava mais perto de encerrá-la do que quando Brantford o abordou. E
então, desesperado para encontrar algo concreto sobre a culpa ou inocência
de Worthington, deixou a residência do homem assim que a educação
permitiu e fez uma rápida viagem para casa. Quando saiu de novo, estava
vestido apropriadamente para uma visita às partes mais miseráveis de
Londres. Era hora de pedir um favor e fazer com que Worthington, fosse
seguido.
Capítulo 6

C por Kerrick algumas casas de distância, na rua de


sua casa. A sombra de uma árvore obscurecia sua figura encapuzada. Não
demorou muito para encontrar o endereço no escritório de Nicholas depois
que ele e Louisa foram para a cama. Ficou aliviada ao descobrir que a casa
de Kerrick ficava a poucos minutos a pé.
Sabia que o que estava fazendo era tolo e mais do que um pouco
perigoso, mas não estava mais satisfeita em sentar e se perguntar como
estava sua relação com Kerrick. Depois que ele a beijou, teve tanta certeza
de que ele sentia algo por ela, algo que ia além do mero carinho. Mas
quando o viu esta noite, não foi difícil acreditar que os rumores sobre ele e
Rose Hardwick eram verdadeiros. Apenas… ele saiu sorrateiro durante a
apresentação de Rose e mentiu sobre isso.
Ela não podia bancar a coquete, fingindo uma indiferença que não
sentia como Charlotte havia aconselhado. Ou melhor, ela não queria. E
então decidiu que deveria abordá-lo diretamente. Estava cansada de esperar
para ter alguns vislumbres dele todas as noites, apenas para ficar
desapontada quando ele não aparecia. E quando o fazia, ainda tinha o
cuidado de evitá-la.
Naquela manhã, nunca teria se imaginado corajosa o suficiente para
enfrentá-lo dessa maneira, mas não podia mais suportar a incerteza. Sua
mente se debatia com perguntas que exigiam respostas. Ela arriscou a
rejeição total, mas tinha que saber como ele se sentia. E para saber a
verdade, precisava falar com ele a sós sem ninguém que os interrompesse.
Ela ouviu Kerrick dizer a Nicholas que planejava ir para seu clube
depois do musical, então enviou sua criada – depois de dar a ela um bônus
muito alto para que não revelasse o que Catherine estava fazendo – para
vigiar a casa de Kerrick. Não tinha certeza se a jovem faria o que ela lhe
pedira ou relataria suas ações à governanta. Mas Catherine assumiu o risco,
sabendo que Lily estava enviando a maior parte de seu pagamento regular
para sua família, para ajudar a sustentá-los. Felizmente, sua aposta valeu a
pena.
Quando chegou para assumir o turno, Lily lhe disse que lorde Kerrick
estava em casa quando ela chegou, mas saiu novamente logo depois e ainda
não havia retornado. Lily estava relutante em sair de seu lado, mas
Catherine havia prometido a ela outro bônus. O fato de ela concordar era
uma prova de quanto Kerrick era querido. Se Catherine estivesse visitando
qualquer outro homem, duvidava que qualquer quantia fosse suficiente para
arrancar sua criada de seu lado.
Uma hora se passou e ela começou a se arrepender da decisão impulsiva
que a levou a sair de casa naquela noite quente de primavera. A noite estava
silenciosa e escura, os únicos sons eram os ocasionais cavalos e carruagens
em uma rua não muito distante.
Ouviu passos antes de ver a figura de um homem descendo a rua.
Estava muito escuro para dizer se era Kerrick, então esperou, pressionada
contra o tronco robusto da árvore, seu batimento cardíaco ecoando em seus
ouvidos.
A precariedade de sua situação não havia lhe ocorrido até aquele
momento. Apesar da sombra da árvore e do manto escuro que a obscurecia,
seria vista se ele passasse pela casa de Kerrick e olhasse em sua direção.
Deveria ter tomado mais cuidado ao escolher um esconderijo, mas agora era
tarde demais.
Seu batimento cardíaco acelerou, então saltou quando o homem se virou
e começou a subir os degraus da casa de Kerrick.
— Kerrick — ela chamou, saindo da sombra da árvore.
A voz dela não era mais do que uma exalação, mas ele a ouviu. Sua
cabeça virou e seu olhar caiu sobre ela. Ele balançou a cabeça em
descrença.
— Diga-me que estou perdendo a cabeça e que não está realmente aí
parada.
Algo em sua expressão lhe disse que ela não havia cometido um erro.
Empurrando para trás o capuz de sua capa, disse. — Não está perdendo
a cabeça.
Ele olhou para cima e para baixo na rua, então sacudiu a cabeça em
direção ao lado da casa. Ela o encontrou em uma porta lateral, escondida
nas sombras entre a casa dele e a do vizinho. Kerrick não falou novamente
enquanto destrancava a porta e a levava para dentro. O cômodo em que
entraram estava às escuras e ela levou alguns instantes para perceber que
estavam na cozinha.
Ele segurou a mão dela e a consciência a invadiu quando percebeu que,
como ela, ele não estava usando luvas. Catherine permaneceu em silêncio
enquanto o seguia por uma pequena escada e por um corredor curto. Ele a
levou para outro cômodo escuro e fechou a porta firmemente atrás deles
antes de soltá-la e se afastar. Ela ouviu o som de um fósforo, seguido pelo
bruxuleio repentino da chama quando ele se inclinou para acender uma
lâmpada. Viu então que estavam em seu escritório.
A tensão na sala, já pesada com o que não foi dito entre eles, só
aumentou quando ele se endireitou e se virou para encará-la. Esperava que
ele admitisse que estava feliz em vê-la, mas a expressão em seu rosto lhe
disse que ele não faria tal admissão facilmente. Um músculo flexionou ao
longo de sua mandíbula enquanto ele a sustentava com seu olhar por vários
segundos.
— O que estava pensando vindo aqui, sozinha, às — seu olhar varreu o
relógio em sua mesa antes de voltar para o dela — duas da manhã. E se
alguém a tivesse visto? Sua reputação estaria em frangalhos — ele balançou
a cabeça e deu uma risada seca e sem humor. — Além disso, ficar sozinha
na rua no meio da noite não é um lugar seguro para nenhuma mulher. Ainda
mais uma tão linda assim…
Ela foi até ele então, querendo apenas aliviar sua preocupação. Estendeu
as mãos para segurar as suas, mas congelou quando ele recuou para evitar
seu toque. Seus braços caíram para os lados.
— Não era longe e tomei muito cuidado para não ser vista.
Sua boca se firmou em uma linha sólida e ele parecia lutar para
encontrar as palavras. Ocorreu a ela que ele não queria perguntar-lhe por
que tinha vindo. Bem, se ele esperava evitar o assunto do que havia entre
eles, ela não permitiria que isso acontecesse.
— Não me perguntou por que eu o estava esperando.
— Não tenho ideia do que poderia ter acontecido que não pudesse
esperar pelo amanhã.
Ela suspirou, exasperada com sua teimosa recusa em reconhecer o
óbvio. — Acredito que saiba exatamente por que estou aqui — quando ele
não disse nada, ela perguntou: — Está cortejando Rose Hardwick?
Ele olhou incisivamente para o relógio novamente antes de responder,
mas ela reconheceu a ação pela tática de adiamento que era.
— Certamente não está aqui a esta hora para satisfazer sua curiosidade
sobre as últimas novidades.
— Não respondeu à minha pergunta.
Seus olhos se estreitaram. — Lady Worthington é uma amiga íntima de
minha mãe. Não é uma conhecida que eu possa evitar.
Ela queria sacudi-lo. — O que isso significa? Que está apenas sendo
amigável? Que existe um entendimento entre suas famílias sobre os dois?
Ele balançou sua cabeça. — Não, não existe esse entendimento.
Independentemente do que os Worthingtons decidam acreditar.
— Quer que haja um? — ela forçou a pergunta, não tendo certeza se
ainda queria saber a resposta.
Ele ficou em silêncio por um momento antes de responder. — Não. Eu
não quero.
A esperança ameaçou roubar seu fôlego. — Porque se importa comigo
— ela o ignorou quando ele balançou a cabeça novamente. — Me beijou
naquela noite no Almack’s. Por que faria isso se não se importasse nem um
pouco comigo?
Ele não conseguia encontrar os olhos dela. — Se esperar aqui, vou
providenciar uma carruagem para levá-la para casa.
Ela acreditou quando ele disse que não queria ficar com Rose
Hardwick, mas estava claro que ele ainda estava resistindo a sua própria
ligação. Sentiu a evidência de seu desejo por ela naquela noite no Almack’s
quando a beijou. Além disso, ele não era o tipo de homem que a
desencaminharia. Se não se importasse com ela, não teria dificuldade em
lhe dizer isso.
Algo o estava segurando, mas ela não tinha tais escrúpulos. O que
restava era mostrar a ele como se sentia.
Ela desamarrou a fita que prendia a capa e se virou para pendurar a
roupa sobre uma cadeira. Quando o encarou novamente, não perdeu o fato
de que seus olhos estavam fixos em seu corpo. O vestido verde claro que
estava usando era modesto, e por um momento ela desejou ter colocado um
de seus vestidos de noite com um decote mais baixo. Kerrick não pareceu
se importar, e a apreciação em seu olhar lhe deu coragem para falar.
— Não vou voltar para casa. Ainda não. Talvez mais tarde, depois que
tivermos… — ela deixou a voz sumir, sem coragem suficiente para dizer as
palavras, mas pela expressão dele, ficou claro que ela não precisava.
Quando ele respondeu, sua voz estava cheia de arrependimento. — Isso
não vai acontecer, Catherine. Não pode.
Ela deu outro passo à frente, seu ânimo aumentando quando ele não se
afastou. — Acho que nós dois sabemos que isso não é verdade.
Os olhos dele analisaram o rosto dela e Catherine notou que ele estava
muito perto, finalmente, de aceitar o que sempre fora inevitável.
— Eu deveria mantê-la segura, não a arruinar.
Ela balançou a cabeça e deu o passo final que removeu a distância entre
eles. Estavam tão perto agora que ela podia sentir o calor de seu corpo se
aproximando dela, acenando para ela. — Eu não me importo com isso. Eu
só me importo em estar contigo.
Na tentativa de manter alguma distância, ele ergueu as mãos para os
braços dela. O calor de seus dedos em sua pele nua teve um efeito quase
vertiginoso sobre ela.
— Deveria se importar, Catherine. Eu quero… — um espasmo de
emoção cruzou seu rosto. — Sabe o que eu quero, mas até que eu esteja
livre, não estou em posição de fazer promessas.
— Não estou pedindo que faça promessas.
Seus olhos se fecharam como se ele estivesse com dor. — Não podemos
fazer isso.
Em vez de segurar seus braços com força para mantê-la afastada, seus
dedos relaxaram e seus polegares fizeram pequenos círculos em sua pele
onde ele a segurou logo acima de seus cotovelos. Apesar de suas palavras
em contrário, sua determinação estava enfraquecendo. Ela se aproximou
dele. Ele resistiu por apenas um momento, e então seu aperto afrouxou.
Aproveitando-se de seu momento de fraqueza, ela levantou os braços para
agarrar seus ombros e se apertou contra seu peito duro, regozijando-se
quando sua respiração estremeceu.
— Kerrick.
Ele deve ter ouvido sua necessidade, porque seus olhos se abriram. O
calor ardeu em seu peito, quase queimando-a com sua intensidade.
— Eu quero isso — disse ela.
— Não sabe o que está me pedindo.
— Eu sei exatamente o que estou pedindo. Também sei que, aconteça o
que acontecer, não me arrependerei, mesmo que só possamos passar esta
noite juntos.
Desta vez não houve hesitação quando ele soltou seus braços e a puxou
com mais firmeza contra si. Ele abaixou a cabeça e tomou sua boca com um
desespero que ameaçou roubar seu fôlego. Uma necessidade correspondente
cresceu rapidamente dentro dela.
Ela realmente faria amor com o homem que ela não conseguia imaginar
ficar sem. Disse a ele que não precisava da promessa de um futuro juntos
para estar com ele esta noite, e foi o que realmente quis dizer. Isso não
significava que ela pararia de esperar por mais. Mas, por enquanto, isso
seria o suficiente.
Sua língua guerreou com a dele enquanto ela entrelaçava os dedos em
seu cabelo. Estava com medo de soltá-lo e que tudo fosse apenas um sonho.
Quando ele se afastou, ela começou a protestar.
— Shhh — ele colocou um dedo sobre os lábios dela para impedir seu
argumento.
Meros centímetros os separavam, e ela ainda podia sentir o calor de sua
respiração em seu rosto. Agindo puramente por instinto, apertou a mão dele
entre as dela e colocou o dedo dele em sua boca, circulando-o com a língua
e puxando-o. Seus olhos escureceram com aprovação.
— É o próprio diabo — disse ele, removendo o dedo e passando-o sobre
sua boca agora sensível. — Uma sedutora enviada para me conduzir às
chamas do inferno. Mas seria preciso mais força do que possuo para parar
agora. Não merece, no entanto, ser deflorada no chão do meu escritório.
Ele lhe pegou a mão novamente, desta vez levando-a pelo corredor
escuro até a escada principal. Ela ficou aliviada quando chegaram ao quarto
dele sem encontrar nenhum dos criados da casa. Essa noite ela teve que usar
toda a sua coragem para ir, sozinha, até a casa dele, e não achava que tinha
mais coragem para olhares de cumplicidade e palavras sussurradas no andar
de baixo.
Seu quarto era um reflexo dele. Escuro, masculino. O que mais a
surpreendeu, no entanto, foi a orquídea lavanda em um pequeno vaso em
sua mesa de cabeceira. Isso era uma coincidência, ou ele se lembrava dela
dizendo ao Sr. Clifton o quanto ela amava orquídeas?
Ele deve ter notado a direção do olhar dela, pois limpou a garganta antes
de dizer: — Eu sempre apreciei a beleza.
Seus olhos não estavam na flor, porém, nela. O elogio a aqueceu até os
dedos dos pés e afugentou a última de suas inibições. Ela se virou para
encará-lo e colocou a mão diretamente sobre o coração dele, onde podia
sentir sua batida constante.
Lambeu os lábios antes de dizer: — Deve me mostrar o que fazer.
Ele imitou sua ação, colocando a mão primeiro sobre a parte superior do
peito antes de movê-la para baixo. Em vez de se concentrar em seu coração,
no entanto, segurou um de seus seios em sua mão grande. Ela respirou
fundo, apenas para soltá-lo novamente com uma lufada de ar, surpresa
quando o polegar dele se moveu sobre o pico. A outra mão subiu para fazer
o mesmo em seu outro seio, e o prazer a percorreu.
— Para começar — ele disse, sua voz mais áspera do que ela jamais se
lembrava, — estamos usando roupas demais.
Ele a girou e fez um trabalho rápido com os laços de seu vestido e os
cordões de seu espartilho, sua familiaridade com roupas femininas mais
uma prova de que era muito mais experiente do que ela. Antes de tirar a
roupa de seu corpo, ele aproveitou o tempo para remover os grampos de seu
cabelo e espalhar os dedos pela massa pesada. Ela fechou os olhos em
êxtase quando ele acariciou sua orelha.
Quando ele afastou o vestido de seu corpo, deixando-o cair a seus pés
com um sussurro de cetim, e tirou o espartilho, ficou feliz por estar de
costas para ele. Ainda vestindo sua camisa, ela se recostou nele, desejando
seu toque, e ele cedeu, trazendo suas mãos ao redor e segurando seus seios
mais uma vez. Ele abaixou a cabeça para o lado de sua garganta, e ela
estremeceu quando sua boca pousou em sua pele.
Ela inclinou a cabeça para o lado para lhe conceder mais acesso.
— Catherine, me arruína — ele disse, sua respiração quente contra sua
pele.
Ela duvidava muito que ele pudesse se sentir mais à deriva do que ela
naquele momento. Suas mãos se moveram para o decote de sua camisa, e
quando ela percebeu que ele planejava removê-la, cobriu as mãos dele com
as dela para deter seu movimento e virou-se em seus braços.
— Eu não sou a única que usa roupas demais — disse, buscando uma
leviandade que estava longe de sentir.
Ele deu um passo para trás e Catherine quase pôde sentir a carícia de
seus olhos sobre ela enquanto seu olhar percorria seu corpo.
— Eu nunca desejaria desapontá-la.
Ele fez um trabalho rápido em sua gravata e nos botões de seu colete, e
quando terminou, Catherine se adiantou para tirar o fraque de seus ombros.
Espelhando seu descaso casual por suas próprias roupas, ela o deixou cair
no chão antes de fazer o mesmo com seu colete.
— Aprende rápido — disse ele, com um sopro em sua voz.
— Eu pretendo apenas agradar — ela respondeu enquanto tirava a
camisa dele de dentro da calça que o cobria. Colocou as mãos sob o tecido
para que pudesse finalmente sentir a pele dele.
Lembrando-se de como se sentiu quando ele provocou seus seios, ela
arrastou os dedos pelo torso dele, puxando o tecido de sua camisa para cima
enquanto procurava seus mamilos. Passou as unhas suavemente sobre eles e
foi recompensada por sua inalação áspera.
Ele tirou a camisa pela cabeça em um movimento rápido e jogou-a ao
chão. Sem mais preâmbulos, arrastou a camisa dela para baixo até que seus
seios estivessem livres e então abaixou a cabeça para tomar um mamilo
dolorido em sua boca. Todos os pensamentos a abandonaram. Com medo de
que seus joelhos se dobrassem a qualquer momento, Catherine só podia se
agarrar aos ombros dele enquanto ele a sugava. Uma mão brincava com o
outro seio enquanto a outra segurava seu traseiro e movia a metade inferior
de seu corpo até que ela estivesse firmemente contra ele. Sua excitação a
pressionou, mas não entre suas pernas, onde ansiava, fazendo-a se contorcer
contra ele.
Ele agarrou sua camisa onde descansava em sua cintura, e ela sentiu o
primeiro sinal de alarme quando Kerrick se ajoelhou diante dela. Suas mãos
flutuaram para os ombros dele em incerteza.
— O que está fazendo? — ela não conseguiu evitar o tremor em sua
voz.
Ele a olhou, seus olhos azuis normalmente vívidos, agora quase negros.
— Estou tentando garantir que goste disso tanto quanto eu sei que vou
gostar.
— Kerrick, eu…
Mas ele ignorou seu protesto e soltou sua camisa, que se acumulou a
seus pés. Catherine ficou diante dele apenas com seus sapatos e meias. Ele
fez um som baixo de aprovação antes de beijar sua barriga. Ela ainda estava
um pouco assustada com o que ele estava fazendo, mas essa sensação se
transformou em choque total quando ele abriu suas pernas e soprou
suavemente em seus cachos agora úmidos.
Suas pernas começaram a dobrar e ele se levantou rapidamente quando
ela balançou para frente. Antes que soubesse o que estava acontecendo, ele
a ergueu em seus braços, carregou-a para sua grande cama e a depositou
nela. Ela sabia o suficiente sobre o que acontecia entre um homem e uma
mulher para esperar que ele tirasse as calças e se juntasse a ela na cama. Em
vez disso, ele lhe abriu as pernas e a devorou com os olhos.
Embaraçada, colocou um braço sobre os olhos. Ela não iria impedi-lo,
não agora, mas sua bravura ameaçou abandoná-la na intimidade quase
insuportável de ser exposta a seu olhar faminto.
Nada aconteceu por vários segundos.
— Catherine?
Este era Kerrick, o homem que ela amava. Não precisava se sentir
tímida por ele vê-la assim.
Ela levantou o braço e o olhou entre suas coxas abertas, a incerteza
gravada em seu rosto. A preocupação dele só serviu para fazê-la se sentir
jovem e tola. Temendo tê-lo decepcionado e precisando se afastar de seu
olhar implacável, ela rolou de barriga para baixo e fechou os olhos.
A cama se moveu sob seu peso quando ele se abaixou na cama ao seu
lado. A mão quente dele pousou na pele nua da parte inferior das costas
dela e, quando falou, sua voz saiu tensa.
— Eu vou entender se quiser reconsiderar. Não vou ficar
particularmente satisfeito com isso, mas podemos parar agora. Ainda não
foi totalmente comprometida…
Precisando que ele parasse de falar, surpreendeu os dois virando-se e
lançando-se sobre ele. Kerrick rolou de costas e ela se acomodou, seu corpo
leve sustentado pelo seu corpo muito maior.
Ela fez um som suave no fundo de sua garganta enquanto se deliciava
com o efeito de pele contra pele. Estava ciente de muitas sensações ao
mesmo tempo: o calor dele penetrando nela, os seios dela esmagados contra
o peito musculoso e os pelos roçando seus mamilos. Ele ainda usava calças,
mas não havia dúvida de que a sua dura ereção pressionava a coxa dela. E o
cheiro dele… Por que nunca havia notado o quão maravilhosamente bem
ele cheirava? Ela estava quase tonta com o ataque de sensações.
— Não reconsiderou, então?
Ela balançou a cabeça e então não houve mais palavras. Ele segurou a
cabeça dela em suas mãos, seus dedos se enredando na massa de seu cabelo.
Seus olhos se encontraram e se mantiveram por longos segundos.
Sua respiração estremeceu quando ele a puxou para baixo e reivindicou
sua boca com um beijo comovente. Seu mundo se contraiu até que só
houvesse Kerrick e apenas este momento entre eles. Deixou-a assumir a
liderança do beijo, e ela explorou sua boca, sua língua guerreando com a
dele com uma intensidade que quase a assustou. Vagamente, ela percebeu as
mãos dele deixando um rastro de fogo por suas costas antes de pousar em
seus quadris. Ele a moveu até que suas pernas caíssem em ambos os lados
de seus quadris, e ela gemeu ao sentir seu comprimento duro pressionado
exatamente onde necessitava dele.
Interrompendo o beijo, falou com os lábios ainda nos dela. — Confia
em mim?
Confiava. Com sua própria vida. Ela assentiu com a cabeça e ele rolou
os dois até que ela se deitou embaixo dele, seu peso apoiado sobre ela.
Pensando que ele pretendia tomá-la naquele momento, passou os braços em
volta de seus ombros e tentou puxá-lo ainda mais para perto.
— Ainda não, minha impaciente.
Ela fez um som de protesto quando ele saiu de cima dela, mas ele a
ignorou e começou a beijar seu corpo. As objeções dela cessaram quando
parou para esbanjar atenção em seus seios. Mamou um de cada vez, cada
puxão de sua boca causando uma dor quase desesperada muito mais abaixo,
embora não estivesse se pressionando mais contra ela.
— Isso é demais — disse ela, o prazer quase esmagador.
Ele levantou a cabeça e seus olhos se encontraram com os seus, um
brilho perverso em suas profundezas. — Nós mal começamos — suas
palavras, juntamente com a intensidade de seu olhar, prometiam um prazer
inimaginável, e ela estremeceu em resposta.
Ele pressionou um beijo de boca aberta na parte inferior de seu ventre,
então se moveu ainda mais para baixo. Desta vez, ela deixou de lado seu
alarme quando ele beijou a parte interna de sua coxa, não querendo deixar
que seus nervos acabassem com o ato de amor. Pois era isso que estava
acontecendo. Ela o amava e precisava dele.
Algum instinto lhe disse o que ele queria, e abriu as coxas. Ele fez um
som que só poderia ser descrito como um grunhido de aprovação antes de
tocá-la onde ninguém jamais tocou.
— Já está molhada para mim — disse ele, acariciando-a.
— Nunca imaginei essas coisas.
Ela não tinha certeza se havia falado as palavras em voz alta e, no
momento seguinte, não se importou. Ele moveu a mão, substituindo-a pela
língua. A sensação chocante, junto com o calor de sua respiração onde ela
nunca esperava sentir isso, a fez se contorcer.
— Kerrick… — ela respirou.
Estava perto de perder a cabeça, mas ele não parou. Sua língua
desenhou círculos em um ponto particularmente sensível, e então colocou
primeiro um, depois dois dedos dentro dela. Enquanto continuava a
atormentá-la, tanto por dentro quanto por fora, ela rapidamente perdeu o
controle. Seu corpo pareceu se desfazer.
Poderia ter gritado, honestamente não saberia dizer, enquanto os
tremores assolavam seu corpo. Ele não parou, prolongando o tormento, até
que o último tremor passou.
Ela era incapaz de se mover e só podia ficar imóvel, cada músculo de
seu corpo lânguido, enquanto ele se movia para cobri-la novamente.
Quando a beijou, pôde provar a si mesma em seus lábios. Ele pressionou a
ponta de sua ereção contra sua entrada, e seu corpo voltou à vida, querendo
este ato final de intimidade.
Estava tão molhada, tão pronta e ansiosa por ele, que a primeira pontada
de dor em sua penetração a pegou de surpresa. Ele diminuiu o avanço com
seu grito agudo, esperando. Descansou a testa contra a dela, e
permaneceram assim pelo que deve ter sido um minuto inteiro, suas
respirações se misturando.
— É tão apertada. Diga-me que posso me mover agora antes que eu
perca a cabeça completamente.
Ela respondeu contraindo os músculos, apertando-o enquanto ele
esperava dentro dela, e o fez gemer. Kerrick começou a sair e Catherine
entrou em pânico, pensando que pretendia sair dela completamente e
sabendo que ele ainda não havia encontrado sua própria conclusão. Quando
ele se empurrou de volta, mais lentamente desta vez, o corpo dela deu
apenas uma leve pontada. Sua próxima penetração doeu ainda menos, e
então ela foi ao seu encontro, impulso após impulso, toda a memória da dor
esquecida.
— Eu não posso… — ele começou a se mover mais rápido e sua
urgência chamou por ela, acelerando seu prazer até que ela atingiu o pico
pela segunda vez. Ele se empurrou para dentro dela uma última vez antes de
soltar um gemido e sair completamente para derramar fora de seu corpo.
Levou alguns segundos para ela perceber o que havia acontecido. Ele se
retirou para impedi-la de conceber um filho. Sua mente sabia que era a
coisa certa a fazer, a única maneira de protegê-la. Suas emoções, no
entanto, podiam se prender a apenas um pensamento.
Sem promessas, ele disse. Ela e Kerrick podem nunca se casar, nunca
terem uma vida juntos. Nunca terem filhos.
Sentiu uma onda de tristeza e, não querendo que a visse, virou a cabeça
quando ele se deitou ao seu lado e a puxou de volta para seus braços.
Ficaram assim por vários minutos, a cabeça dela apoiada em seu peito, os
braços dele em sua volta enquanto a respiração de ambos diminuía e o suor
de seus corpos esfriava. Sua cabeça descansava sobre seu coração, sua mão
em sua cintura. Nenhum dos dois falou, sabendo que isso poria fim ao breve
interlúdio entre eles.
O desespero ameaçou consumi-la quando percebeu que havia cometido
um erro terrível. Se não tivesse vindo à sua procura, nunca poderia se
arrepender do que eles compartilharam. Ela esperava que esta noite de
paixão roubada trouxesse apenas felicidade. Uma memória para guardar e
olhar para trás com algo semelhante ao carinho. No mínimo, pensou que lhe
daria alegria saber que estendeu a mão e agarrou a chance de compartilhar a
intimidade definitiva com o homem que amava.
Ela tinha sido muito ingênua em sua certeza de como se sentiria depois.
Percebeu que agora seria muito pior, sabendo o que ela e Kerrick poderiam
ter juntos.
Tinha certeza de que, se pudesse fazê-lo, a escolheria em vez de Rose
Hardwick. Mas havia algo ligando-o àquela família, e não tinha como saber
se ele algum dia seria livre.
No silêncio que os envolveu, ela percebeu que os batimentos cardíacos
dele começaram a acelerar novamente. Levantou a cabeça para olhá-lo,
esperando ver desejo em seus olhos. O que viu, em vez disso, afastou o
comentário atrevido que ela estava prestes a fazer.
— Kerrick?
— Estava certa em suspeitar que eu estava lhe escondendo algo.
Capítulo 7

D , Kerrick não queria perder mais tempo afastando


Catherine. Brantford tiraria sua pele se suspeitasse que estava prestes a
confiar nela, mas sabia que a mulher em seus braços era confiável para
guardar seus segredos. Não cometeria o mesmo erro que Nicholas cometera
com Louisa, no outono anterior, quando fizera tudo ao seu alcance para
afastá-la. Isso significava que ele era um bastardo egoísta, mas Kerrick
queria dar a ela uma razão para esperar por ele. A questão, porém, era se ela
seria capaz de ficar para trás e vê-lo continuar cortejando outra mulher.
Ela se sentou e seus olhos se moveram diretamente para seus seios. O
desejo começou a se agitar novamente, e ele se amaldiçoou suavemente.
Levantou-se e pegou seu roupão.
— Não tenho certeza se serei capaz de manter meus pensamentos sobre
o assunto em mãos se estiver sentada aí, parecendo tão tentadora.
Os cantos de sua boca se ergueram naquele sorriso especial que usava
quando achava que ele estava sendo divertido e um pouco ridículo, mas ela
pegou o roupão e se levantou. Ele observou enquanto ela colocava a roupa
em volta dos ombros, suas mãos coçando para alcançá-la novamente. Só
quando já estava coberta ele desviou os olhos e pegou as calças.
Quando a olhou novamente, ela estava sentada de pernas cruzadas no
meio de sua cama, seu cabelo louro caindo pelas costas. Parecia ao mesmo
tempo jovem e muito desejável. Ele se abaixou na beirada da cama ao lado
dela e passou a mão pelo rosto.
Olhou para cima quando ela se aproximou e colocou a mão em seu
joelho.
— Eu sei sobre o seu trabalho.
Ele estava lutando com o quanto deveria confiar nela, e sua declaração o
pegou desprevenido. Manteve a voz neutra quando perguntou: — Meu
trabalho?
Ela assentiu. — Sim. Eu sei que é um espião.
Ele ficou boquiaberto por um momento antes de se recompor. — Por
que diria isso?
— Louisa me contou.
Ele estremeceu. — Sua irmã disse que eu era um espião? Por que ela
pensaria isso?
Ela acenou com a mão em desdém, como se estivesse afirmando algo
tão óbvio quanto a cor do sol. — Overlea, suspeita que tenha negócios com
o Ministério do Interior e está sempre desaparecendo. E esta noite, no sarau
dos Worthingtons, desapareceu por algum tempo e não queria que ninguém
soubesse.
Tinha tanta certeza de que ninguém o vira sair da sala, que a revelação
dela o abalou. Ele lhe agarrou a mão. — Alguém mais me viu?
Ela balançou a cabeça e ele soltou a respiração, alívio inundando-o.
— Eu queria que pensasse que eu estava gostando da música, mas na
verdade eu estava muito ocupada o observando.
Um rubor manchou suas bochechas quando admitiu isso. Ele seguiu o
rubor pela garganta dela e ficou distraído, imaginando até que ponto a cor
descia em sua pele. Foi com grande dificuldade que voltou ao assunto em
questão.
— Eu não sou um espião — diante da expressão de descrença dela, ele
continuou: — Ajudei aqui e ali reunindo informações, mas isso é tudo.
Ela inclinou a cabeça para o lado, uma leve ruga marcando sua testa. —
Não é isso que um espião faz?
Talvez ela tivesse razão. — Acho que está certa. Venho comparando
minhas ações com alguns dos empreendimentos mais perigosos de outras
pessoas a serviço do governo… — ele cobriu a boca dela com os dedos, seu
tom de paciência exagerada quando disse, — e não, eu não vou lhe contar
sobre com quem eu falo.
Ela afastou a mão dele e cruzou os braços. — Eu poderia adivinhar. Na
verdade, acho que já sei quem mais está envolvido, mas vou deixar isso
para outra hora.
Ele teria que se preocupar com isso mais tarde. — De qualquer forma,
não posso revelar a natureza da minha missão, mas quero que saiba que
estou fazendo tudo ao meu alcance para encontrar as respostas para o
assunto que me pediram para investigar. Feito isso, minha espionagem,
como a chama, terminará.
Ela ficou em silêncio por vários segundos. — Eu posso te ajudar —
disse quando finalmente falou.
O medo se enrolou em sua barriga com a excitação inocente em sua
voz. — Não, Catherine. Isso não é um jogo.
— É Lorde Worthington, não é? Está tentando coletar informações
sobre ele. É por isso que está cortejando Rose?
Ele balançou a cabeça, mas ela continuou.
— Eu posso fazer amizade com Rose. Somos da mesma idade e sei que
ela não desgosta de mim.
— Absolutamente não… — ele parou abruptamente quando percebeu
que sua resposta veemente havia acabado de confirmar o palpite dela.
— Claro que posso — disse ela, com um sorriso que ele esperaria ver
um adulto usar com uma criança pequena. — Não sou tola o suficiente para
perguntar a ela se o pai está envolvido em alguma atividade suspeita. O que
poderia ser mais normal do que uma jovem visitar outra e formar uma
amizade? Ninguém pensaria nisso, e isso me permitirá, de tempos em
tempos, visitá-la. Posso até ver se Lorde Worthington está recebendo algum
convidado suspeito.
Sua frustração — e medo — aumentou diante da insistência dela em se
injetar em sua investigação. Ele fechou os olhos e contou até dez antes de
abri-los novamente e repetir — É altamente improvável que alguém
envolvido em qualquer tipo de atividade ilegal receba contatos de seus
cúmplices durante o horário oficial de visitas. E não, isso não é uma
admissão de que estou investigando Worthington.
— Nesse caso, não terá motivos para se preocupar se eu visitar Rose
amanhã à tarde.
Ele queria dizer mais alguma coisa, mas Catherine, garota esperta que
estava se mostrando, o distraiu abrindo o cinto do roupão e tirando a roupa.
Ele admitiu a derrota no momento e a virou de costas. Discutiria com ela
mais tarde, quando pudesse pensar novamente.

C em casa pouco antes do amanhecer e conseguiu


entrar sorrateiramente em seu quarto sem ser vista. Dormira pouco
enquanto estava com Kerrick, mas não querendo despertar as suspeitas de
sua família, não dormiu além do horário normal naquela manhã. Contudo, a
falta de sono não afetou seu humor. A energia parecia surgir dentro dela, e
estava achando difícil não manter um sorriso perpétuo em seu rosto. Ela
nem se incomodava quando estava sozinha, mas fazia um esforço para
controlar sua expressão quando outras pessoas estavam presentes.
Agora, parada diante da casa dos Worthingtons naquela tarde, com sua
criada Lily ao seu lado, ela ergueu a pesada aldrava e a deixou cair com um
baque determinado. A porta foi aberta momentos depois por um imponente
mordomo, que aceitou seu cartão e a conduziu até a sala de estar. Lá,
encontrou Rose Hardwick, sentada em uma chaise longue baixa. Ela não
ficou surpresa ao encontrá-la cercada por sua corte habitual de admiradores.
Com seu cabelo escuro penteado não menos elaborado do que ela
normalmente usava para entretenimento noturno, a morena voluptuosa
parecia radiante em um vestido branco recatado de fitas azuis claras que
acentuavam o decote e a bainha. Catherine estava feliz por ter se assegurado
de estar no seu melhor. Ainda se sentia como uma sombra pálida ao lado da
beleza mais vivaz da outra mulher, mas a noite que passou com Kerrick foi
um longo caminho para fazê-la perceber que ele não sentia nenhuma
atração real pela mulher diante dela agora.
Se Rose ficou surpresa ao vê-la, não demonstrou quando desviou o
olhar de um jovem que estava tentando convencê-la a dar um passeio no
parque. Na verdade, foi ela quem se surpreendeu quando Rose se levantou e
atravessou a sala para apertar as mãos de Catherine entre as suas.
— Estou tão feliz que finalmente esteja aqui — disse Rose.
Catherine ficou confusa com a saudação entusiástica, mas essa confusão
se dissipou quando Rose se virou para enfrentar os seis homens que
permaneceram de pé, quando ela se levantou.
— Receio ter feito outros planos com a senhorita Evans para o resto da
tarde — disse ela, com um brilho malicioso em seus olhos quando seu olhar
encontrou o de Catherine. — Vou ter que me despedir agora, mas tenho
certeza de ao verei mais tarde esta noite, pelo menos alguns.
Catherine quase riu alto com as expressões idênticas de decepção nos
rostos dos homens.
— Onde estará? — um deles gritou atrás do grupo, mas Rose já havia
passado o braço pelo de Catherine e a virou.
— Não diminua a velocidade nem olhe para trás — Rose murmurou
baixinho enquanto as conduzia para os fundos da casa. Ela não parou até
que escaparam para o jardim dos fundos. Depois de fechar a porta atrás
delas, soltou o braço de Catherine e afundou em uma das várias cadeiras
que haviam sido colocadas no pequeno terraço. — Desculpe se a assustei.
Catherine sentou-se ao lado dela. Considerou a melhor abordagem a
tomar e decidiu-se finalmente pela honestidade. — Admito que estou
surpresa que sinta a necessidade de escapar.
Rose lançou um olhar direto para ela. — Acha que sou frívola e que
gosto de estar cercada por esses tolos pomposos.
Não era uma pergunta, e Catherine se viu pedindo desculpas. — Sim,
temo que sim. Nos passa essa impressão.
Rose suspirou. — Eu sei, e não a culpo por acreditar nisso. Afinal, é
isso que eu quero que os outros vejam.
Como elas estavam sendo honestas, Catherine não se opôs. — Acho
difícil de acreditar que não goste da atenção.
Rose sorriu. — Admito que nem tudo é atuação. Eu gosto de ver até
onde alguns deles irão para capturar meu interesse. Não acreditaria em
alguns dos presentes que recebi.
— Mas seu interesse está em outro lugar.
— Sim — disse Rose, desviando o olhar.
Catherine não queria fazer a próxima pergunta, especialmente depois do
que acontecera na noite anterior, mas ela tinha que saber.
— Lorde Kerrick?
Rose não respondeu de imediato, e Catherine sentiu seu ânimo afundar.
Era verdade então. Rose realmente sentia falta de Kerrick quando ele estava
fora da cidade, e realmente queria se casar com ele. Deve estar matando-a
por ele passar tanto tempo com a família de Catherine. Ela se perguntou se
a outra mulher suspeitava que o interesse de Kerrick não estava apenas em
interagir com seu amigo de muitos anos, mas com a nova cunhada desse
amigo. Com ela.
A resposta de Rose foi tão baixa que Catherine quase não ouviu. —
Não.
— Não? — Sua mente vacilou e ela quase gritou de alívio. Em vez
disso, levou alguns segundos para se recompor, antes de perguntar: — Mas
seus pais esperam que haja um casamento entre os dois. E acabou de
admitir que não se importa com os rapazes que estavam aqui hoje.
— Oh, o homem em questão não tem ideia de que estou viva.
A risada que ela deu foi amarga, e Catherine percebeu então por que
Rose agia daquela maneira.
— Está tentando chamar a atenção dele, esse homem que parece não te
ver.
A boca de Rose se curvou nos cantos em um fantasma de sorriso. —
Estou muito feliz por ter vindo aqui hoje. Suspeitei que me agradaria sua
companhia, mas não sabia se aceitaria minhas propostas de amizade — ela
hesitou um momento antes de acrescentar, — Especialmente já que está
apaixonada por Lorde Kerrick e toda a sociedade praticamente nos casou.
Catherine ficou alarmada com a percepção da outra mulher. — Bom
Deus, eu sou tão óbvia? — ela fechou os olhos enquanto o horror a
percorria. Perguntando-se como poderia enfrentar os pais de Rose se
estivessem em casa.
Rose estendeu a mão e a colocou sobre a dela, apertando-a levemente
antes de soltá-la. — Não para todos. Atrevo-me a dizer que meus pais e
outras pessoas pensam que é apenas uma conhecida casual. É sabido que
Kerrick é um bom amigo de Lorde Overlea, e é a irmã da esposa dele.
— Mas viu através disso.
Rose deu de ombros. — Eu também estou passando pela mesma coisa.
Não foi difícil ver essa mesma emoção refletida em ti. Vi o jeito que o olha,
especialmente quando ele dança comigo. Não foi difícil descobrir por que
isso acontecia.
Catherine lambeu os lábios, hesitando brevemente antes de fazer a
pergunta que não foi dita entre elas. — Receio não ter sido tão astuta no seu
caso. Por quem está interessada?
Rose recostou-se na cadeira, sem fazer nenhuma tentativa de esconder
sua dor. — Isso porque ele não frequenta aos entretenimentos noturnos
habituais e, quando vai, não dança. Não comigo e raramente com mais
alguém — riu, vendo claramente que Catherine estava tentando peneirar
todos os homens que conheceu durante sua estada em Londres.
— Sinto muito por me intrometer — disse Catherine.
Rose a considerou atentamente. — Não nos conhecemos, mas tenho um
pressentimento muito bom sobre ti. Se houvesse a menor chance… Bem,
não adianta discutir algo que nunca vai acontecer.
O coração de Catherine doeu ao ver a expressão de desesperança no
rosto de Rose. Tendo em vista o quão bom o dia anterior tinha sido para ela,
desejou poder ajudar a mulher que toda a sociedade via como a noiva de
Kerrick, menos no nome. Este era um lado tão diferente da Rose Hardwick
que todos tinham visto desde o início da temporada, que ela ficou nada
menos que chocada com a revelação. Também estava muito feliz por ter
escolhido a visitar naquela tarde. Tinha a sensação de que as duas poderiam
ser grandes amigas.
— Entretanto, se mudar de ideia e decidir que quer falar com alguém,
estarei ao seu lado. Receio nunca ter tentado arranjos casamenteiros, mas
talvez entre nós duas possamos encontrar uma maneira de capturar o
interesse deste homem.
O sorriso que Rose lhe deu era vazio. — Com alguma sorte, posso
aceitar sua oferta. Mas até lá… — ela se levantou, sua máscara corajosa de
volta no lugar, e passou a mão sobre o jardim coberto de mato. — Ouvi
dizer que conhece muito bem as plantas. Nosso jardineiro adoeceu
recentemente e não consegue cuidar do jardim adequadamente. Para ser
sincera, nunca gostei muito dele. Muito comum. O que acha de fazermos
um inventário e criarmos um projeto novo para apresentarmos aos meus
pais?
O olhar crítico de Catherine percorreu a paisagem simples antes de
voltar a se fixar em Rose. — Simples ou elaborado?
— Oh, elaborado, é claro. Quanto mais extravagante, melhor.
De alguma forma, Catherine evitou pular e abraçar a outra mulher. Um
jardim inteiro para planejar? Considerando o que ela tinha visto durante sua
visita a Kew Gardens, sua mente já estava cheia de ideias de plantas para
introduzir e possíveis configurações. Isso também lhe daria motivos para
visitar a casa dos Worthingtons com frequência e talvez descobrir algo que
pudesse ajudar Kerrick.
— Vai ser muito divertido — disse ela, levantando-se e seguindo Rose
pelos dois degraus do terraço até o jardim propriamente dito.
Capítulo 8

Q depois de sua visita à Rose, Catherine ficou surpresa


ao saber que Kerrick estava em sua casa. Ele não disse nada sobre isso
quando se separaram naquela manhã.
Ela entrou na sala um pouco rápido demais, com o coração disparado ao
saber que o veria novamente em breve, mas ficou desapontada ao encontrar
apenas sua irmã. Louisa estava trabalhando em um padrão de bordado que
planejava transformar em uma almofada decorativa para o quarto do bebê.
Louisa olhou para sua entrada e suspirou com exasperação mal contida.
— Kerrick está no escritório com Nicholas. Ele vai jantar conosco hoje
à noite antes de irmos ao teatro.
Catherine sentou-se no sofá ao lado de sua irmã e olhou para o bordado
no colo de Louisa. Apenas um pequeno canto do padrão foi concluído. — O
que finalmente decidiu? — ela perguntou.
— Cordeiro.
Catherine franziu o cenho. — Um dos pretos?
Louisa deu de ombros, um sorriso torto brincando em seus lábios. —
Dada a reputação de Nicholas antes de ele se estabelecer, achei que era uma
ideia divertida. E eu sei que está tentando mudar de assunto.
— Havia um assunto? Acabei de chegar.
Louisa olhou para ela de perto, e foi tudo o que Catherine pôde fazer
para não desviar o olhar embaraçada.
— Está de bom humor hoje — ela disse finalmente. — Quem visitou
esta tarde?
— Rose Hardwick — disse Catherine, sabendo que era o último nome
que sua irmã esperava ouvir.
Louisa levantou uma sobrancelha. — Se importa em me dizer por quê?
Catherine deu de ombros. — Temos a mesma idade e me parece ser uma
boa pessoa — hesitou antes de acrescentar: — Acontece que ela ficou feliz
com a distração. Parece que não tem muitas amizades.
— Talvez não amigas, mas metade dos homens da sociedade adorariam
ser muito mais.
Catherine se sentiu na defensiva em nome de Rose. — Eu gosto
bastante dela.
Assustada com sua veemência, Louisa disse: — Eu não quis ofender.
Catherine se recostou no sofá e respirou fundo para acalmar os nervos.
Não estava acostumada a esconder as coisas de sua irmã, e agora via-se
guardando todos os tipos de segredos. Ela também teve que admitir que
sentiu uma pequena pontada de vergonha por seu comportamento na noite
anterior. Sabia agora que a afeição de Rose estava em outro lugar, mas não
era o caso na noite anterior. Ao perseguir Kerrick, ela nem havia
considerado se estaria machucando a outra mulher. Ela se importava apenas
consigo mesma e com o que queria. Foi uma experiência reveladora
perceber que ela poderia ser capaz de tanto egoísmo.
— Rose gostaria que eu planejasse um novo jardim para a casa deles.
Ela espera apresentá-lo a seus pais assim que eu criar e desenvolver um
projeto.
Louisa ficou em silêncio por um momento antes de dizer: — Isso não
vai complicar as coisas? Achei que ela seria a última pessoa com quem
gostaria de fazer amizade. Especialmente considerando o entendimento que
parece haver entre Kerrick e sua família.
Catherine desviou o olhar, sabendo que não poderia trair as confidências
nem de Kerrick nem de Rose. Kerrick parecia pensar que era vital para suas
investigações que as pessoas continuassem a acreditar que ele esperava se
casar com Rose. Ela pegou o bordado que sua irmã havia deixado de lado e
traçou um dedo ao longo dos pontos no que ela esperava que fosse um
movimento casual.
— Eu posso ser amiga de ambos.
Louisa ficou em silêncio por quase um minuto inteiro. Catherine olhou
para cima finalmente, com cuidado para manter sua expressão neutra. A
confusão e a preocupação no rosto de sua irmã mais velha a fizeram sentir
uma pontada de culpa.
— Está tudo bem, Louisa. Confie em mim.
Sua irmã suspirou. — Estou tentando, mas não quero vê-la se machucar
se as coisas acontecerem como todos parecem acreditar.
— Já estou crescida. Não pode me proteger para sempre.
Louisa inclinou-se para o lado e encostou o ombro no dela. — Velhos
hábitos custam a morrer.
Ainda estavam rindo quando Kerrick entrou na sala e Catherine teve
que desviar o olhar. Depois do que compartilharam na noite anterior, ela
estava ciente de sua presença, de uma forma que nunca tinha estado antes.
De alguma forma, ela teria que evitar que os outros suspeitassem que algo
havia acontecido entre eles, e não tinha certeza se seria capaz de realizar
essa façanha.
Quando ela olhou para trás, conseguiu dar um pequeno sorriso que era
uma sombra pálida do que desejava dar a ele. Sua expressão era
cuidadosamente neutra quando ele devolveu a saudação. Ele se virou para
ouvir algo que sua irmã estava dizendo, e Catherine sentiu uma dolorosa
pontada de dúvida. A noite anterior tinha significado tanto para ele quanto
para ela? Sabia que ele teve amantes antes dela, e por um momento se
perguntou se seria apenas mais uma em uma longa fila de mulheres.
Afastou o pensamento deprimente. Ela nunca foi de pensar no negativo
e não começaria agora. Kerrick não estava livre para revelar seus
sentimentos por ela, mas sabia que ele se importava. Teria que se apegar a
essa crença.
Kerrick voltou sua atenção para Louisa. — Seu marido solicitou sua
presença no escritório. Acho que ele acabou de receber algumas contas da
costureira.
Louisa revirou os olhos e se levantou. — Não consigo imaginar por que
ele está surpreso, aqui estamos em duas, e eu vi algumas de suas contas do
alfaiate.
Catherine permaneceu sentada. Ela queria – não, precisava – falar com
Kerrick. Louisa arqueou uma sobrancelha enquanto olhava para ela e
Catherine devolveu um sorriso ensolarado. Sua irmã estava balançando a
cabeça enquanto saía da sala, deixando-os à sós.
Quando Louisa se foi, Kerrick voltou sua atenção para Catherine.
Esperava que se sentasse ao seu lado no sofá, mas ele se sentou na mesma
cadeira novamente. Agora que estavam sozinhos, Catherine estava livre
para se deleitar com sua aparência. O alívio a percorreu quando ele deixou
cair a máscara educada que usava e olhou para ela com o mesmo desejo que
ela sentia.
— Como está se sentindo hoje? — ele perguntou.
Ela sabia que ele estava referindo-se a dor física, mas acenou com a
mão em rejeição. — Bem. Feliz.
— Não parece feliz.
Ela exalou um suspiro frustrado. — É mais difícil do que eu imaginava,
vê-lo novamente e ter que fingir que não há nada entre nós — ela parou por
um momento, considerando se deveria admitir suas preocupações. No final,
apenas insinuou sua principal preocupação. Achava que nunca estaria
pronta para saber o que ele realmente sentira por Louisa.
— Mas isso não é tudo que a está incomodando.
Ela balançou a cabeça. — É muito bom em manter seus sentimentos
escondidos. Temi que a noite passada não significasse mais do que qualquer
outra noite… – incapaz de terminar o pensamento, ela deixou sua voz
sumir.
— Do que qualquer outra noite que passei com uma mulher.
Ela sentiu o calor tomar conta de seu rosto e teve que desviar o olhar.
Ficou surpresa quando ele se moveu para se sentar ao seu lado e lhe pegou
as mãos.
— Olhe para mim, Catherine.
Ela não queria, mas ele segurou seu rosto e o virou para ele. Seu polegar
acariciou seu lábio inferior, e ela não perdeu a forma como seus olhos
escureceram um pouco antes de ele deixar cair a mão. Ainda lhe segurava
uma das mãos.
— A noite passada foi como nenhuma outra noite que eu já
experimentei. Me afeta como nenhuma outra mulher fez antes. Sabe que
não estou em posição de lhe oferecer muito por agora, mas o faria se não
fosse essa maldita investigação para concluir.
Seu coração começou a acelerar quando ele a tocou, e, quando
mencionou um compromisso, pareceu pular uma batida. Ele não disse que a
amava, mas ela sempre foi uma boa juíza de caráter e agora podia dizer que
não estava mentindo. Ele se importava com ela. Ainda assim, não pôde
deixar de incitar.
— Está dizendo…
— Eu lhe peço que seja paciente comigo.
O canto da boca de Kerrick se curvou em diversão quando ela
respondeu a seu apelo com um suspiro exagerado. Ela ficou frustrada
quando ele soltou sua mão e se afastou dela no sofá, mas entendeu por que
ele precisava colocar distância entre eles. Tendo em vista que um criado, ou
que Deus os livrasse, Louisa ou Nicholas, poderia entrar a qualquer
momento, ela realmente não podia culpá-lo. A porta da sala estava aberta e
ela não tinha como saber se alguém já os tinha visto.
— Visitei Rose, esta tarde — ela disse.
Seus olhos se estreitaram. — Eu pedi para não fazer isso.
— Gosto bastante dela. Estamos embarcando em um projeto juntas. Um
projeto de jardinagem — e rapidamente acrescentou quando viu sua óbvia
preocupação. — Eu estarei segura. A menos, é claro, que tema que Rose
também esteja envolvida no que quer que esteja investigando?
Ele apenas balançou a cabeça em exasperação. — Duvido muito que
Rose Hardwick seja capaz de qualquer duplicidade.
— Poderia se surpreender com isso — em sua descrença aberta, ela
acrescentou: — Ela tem um lado oculto.
— Realmente?
Ela lhe lançou um olhar de falsa reprimenda. —Está proibido de
considerar seu lado oculto.
Ele estava rindo quando Louisa voltou para lhe dizer que era hora de se
vestir para jantar e a saída noturna.

F de toda a sua habilidade de atuação para sobreviver à


refeição. Sentado em frente a Catherine, Kerrick achou quase impossível
evitar devorá-la com os olhos. Ela claramente não tinha ideia de como o
afetava se pensava que era fácil para ele parecer alheio a seus encantos.
Suspeitava que ela se vestia de maneira a garantir que ele teria
dificuldade em manter esse fingimento. O corpete decotado de seu vestido
estava dentro dos limites do decoro, mas isso não significava que ele não
tivesse ficado surpreso quando a viu pela primeira vez com o vestido
amarelo claro. Contra seus cabelos louros, a cor a fazia parecer brilhante, e
seus seios pareciam ofertados como guloseimas para serem devorados. Ele
tinha visto o sorriso de satisfação dela com seu choque quando desceu para
jantar. Não queria nada mais naquele momento do que levá-la para um
canto tranquilo da casa onde ninguém os encontraria, tirar aquele vestido
dela e descobrir as delícias que sabia que estavam por baixo.
Quando ele se virou para cumprimentar Louisa, notou sua carranca e
respondeu com um pequeno encolher de ombros de desamparo. Ele era
apenas um homem mortal, afinal. Como ela esperava que reagisse ao se
deparar com tal banquete para os olhos? Felizmente, Nicholas não tinha
visto sua reação. Podia se considerar um sortudo por seu amigo estar tão
preocupado com a condição delicada de sua esposa que não tinha olhos para
mais ninguém além dela. Se Nicholas descobrisse o que havia acontecido
entre ele e Catherine na noite anterior… Sua mente se afastou de concluir
esse pensamento. Eles podem ser os melhores amigos, mas não ficaria
surpreso se seu amigo o chamasse à responsabilidade sobre o assunto.
Eles seguiram para o teatro na carruagem, Overlea. Ele não tinha
pensado em perguntar que peça estava passando, já que a alta sociedade
geralmente ia ao teatro não para se divertir, mas para ser vista pelos outros.
Se a peça exibida era agradável, isso era apenas um benefício colateral. Ele
quase riu alto quando viu o cartaz.
A Megera Domada.
Como era apropriado que a megera em questão se chamasse Catarina,
pensou Kerrick. Não que Catherine fosse rabugenta, mas certamente
precisava de um pouco de domesticação. A última coisa que precisava era
se preocupar com ela, involuntariamente, se colocando em perigo. Sabia
que ela provavelmente estava certa em sua suposição de que havia pouco
perigo em fazer amizade com Rose Hardwick. Ainda assim, a queria o mais
longe possível dos Worthingtons e até mesmo da menor possibilidade de
risco. Ele não achava que Worthington fosse um homem violento, mas não
poderia falar o mesmo sobre os outros com quem ele estava envolvido.
Duvidava muito que pudesse convencer os Overleas a levar Catherine
para longe de Londres. Não sem explicar o motivo de sua preocupação. Era
vital que ninguém suspeitasse que seu interesse pelos Worthingtons fosse no
pai e não na filha. Suas ações no dia anterior já haviam comprometido sua
missão.
Louisa e Catherine tinham acabado de entregar seus xales para os
atendentes quando a Srta. Hardwick se aproximou delas. Ele esperava que
Worthington não estivesse longe, mas quando olhou além dela, viu, em vez
disso, o sempre presente círculo de jovens que pareciam segui-la, aonde
quer que fosse.
Ele ficou surpreso ao ver o que parecia ser uma afeição genuína entre as
duas jovens quando se cumprimentaram e se perguntou que milagre
Catherine teria feito para que isso acontecesse.
O que quase o tirou de seu eixo, no entanto, foi o olhar de flerte que
Rose lançou em sua direção quando pegou a mão dela e se curvou. Isso era
novo. Rose normalmente parecia mal tolerar sua companhia. O que
aconteceu entre as duas mulheres naquela tarde?
Depois de trocarem algumas gentilezas sobre o tempo, Rose pediu
permissão para levar Catherine embora. Ele ficou alarmado quando a garota
começou a conduzir Catherine para o grupo de jovens que esperavam por
seu retorno.
— Senhorita Hardwick — ele gritou atrás delas.
Rose se virou para encará-lo. — Sim, Milorde?
Ele queria dizer a ela para deixar Catherine em paz. Para mantê-la longe
dos lobos que desceriam sobre ela se recebessem o menor incentivo, o que
até agora nesta temporada, ela pareceu não oferecer. O que disse, em vez
disso, foi: — Está aqui com seus pais esta noite?
Ele ignorou a careta que Louisa e Nicholas lhe apontaram. A única
coisa que importava era que Catherine sabia que ele estava dando uma
demonstração de cortejar o favor dos Worthingtons.
Rose olhou para Catherine antes de responder. — Eles foram na frente
para o camarote. Mamãe está com um pouco de dor de cabeça e não quis se
expor ao barulho da multidão.
— Parece uma ótima ideia — disse Louisa, sorrindo para o marido. —
Eu me sinto um pouco cansada esta noite também.
Se Nicholas pudesse carregá-la pelo resto do caminho, Kerrick tinha
uma forte suspeita de que ele o teria feito. Sua esposa não teria ficado
satisfeita com a atenção extra que tal ação lhes renderia. Depois de fazê-lo
prometer que mostraria à Catherine seu camarote, Nicholas e Louisa o
deixaram.
Ainda faltavam vinte e cinco minutos para o início da apresentação.
Kerrick fez a ronda, cumprimentando conhecidos ao longo do caminho e
parando não muito longe de onde havia começado, apenas alguns minutos
antes. Estava tentando parecer despreocupado com o fato de sua futura
noiva e a mulher que ele realmente queria, estarem cercadas por jovens
fanfarrões ansiosos para impressionar. O primeiro foi fácil de realizar, mas
o segundo foi decididamente mais difícil. Ele ouviu Catherine rir de algo
que um dos homens disse, e sabia que a carranca que apareceu
momentaneamente antes que ele pudesse alisá-la seria vista como mais uma
indicação de suas intenções para com a Srta. Hardwick.
— Ela é adorável, não é? — Lorde Standish parou ao lado dele e estava
olhando com interesse quase ansioso para Catherine e Rose.
Ele esperava que Standish estivesse se referindo a Rose, mas suas
próximas palavras lhe disseram o contrário.
— É uma pena que esteja prometido a outra. Mas sua perda é meu
ganho.
O sangue de Kerrick virou gelo e ele se virou para enfrentar Standish.
Apesar de conseguir não mostrar os dentes, ninguém perderia a ameaça
implícita em suas palavras. — Faria bem em focar em outro lugar.
Standish soltou um estalo de voz baixo. — Não acha que está sendo
ganancioso? — seu olhar se voltou novamente para Catherine e não havia
como confundir a lascívia em sua expressão. — Tenha certeza, a senhorita
Evans será minha.
Quando ele se virou para sair, Kerrick o deixou ir sem dizer mais nada.
Standish era conhecido por prosperar no conflito, e ele seria amaldiçoado
antes de lhe dar a satisfação de ver que suas palavras haviam infundido
terror em seu coração.
Ele sabia que Nicholas nunca permitiria que Standish se aproximasse de
Catherine. Ainda assim, teve que lutar contra o impulso de marchar até o
grupo de jovens — todos os quais o faziam se sentir muito mais velho do
que seus vinte e nove anos — e arrastar Catherine para longe. Em vez disso,
forçou-se a fazer outro circuito, até se permitiu ser arrastado para uma
conversa, antes de voltar para acompanhar Catherine.
Ela estava sorrindo para Lorde Thornton, e o fato de ele parecer estar
divertindo-a, azedou seu já sombrio humor.
— Sua irmã sem dúvida está se perguntando se perdeu-se no caminho
para o seu lugar.
— Eu ficaria mais do que feliz em acompanhá-la ao camarote de
Overlea — disse Thornton, sem se preocupar em esconder seu entusiasmo.
Kerrick estava rangendo os dentes para evitar dizer ao homem o que
pensava de sua sugestão quando Catherine se voltou para Thornton e sorriu
como desculpa. — Já confiaram a tarefa a Lorde Kerrick — disse ela,
pegando o braço que Kerrick oferecia.
Kerrick apenas acenou com a cabeça para Rose e os homens enquanto
levava Catherine embora. Não tinham ido muito longe quando disse: —
Parecia estar se divertindo — suas palavras saíram mais afiadas do que ele
pretendia. Se Catherine notou sua irritação, não demonstrou.
— Foi um pouco desconfortável no começo. Não estou acostumada a
ser o centro das atenções. Em casa havia poucos rapazes da minha idade, e
eles certamente não estavam interessados em se associar com uma família
que vivia quase na pobreza. Estou feliz por Rose estar comigo.
Normalmente ele teria feito alguma declaração despreocupada, mas
ainda assim verdadeira, sobre como aqueles garotos tinham sido tolos. O
fato de ele não ter feito isso agora, ajudava muito a mostrar o quanto
Kerrick estava irritado com a maneira como Catherine parecia se deleitar
com toda a atenção dispensada a ela.
— Vai me desculpar se eu deixar de agradecê-la.
Ela, então o olhou, assustada por seu tom. — Há algo de errado?
Ele balançou a cabeça, irritado consigo mesmo pelo que só poderia ser
visto como uma reação exagerada de sua parte.
— Está com raiva.
Deixe isso, Catherine, deixe o assunto morrer. — Não é nada.
Um olhar de espanto iluminou seu rosto. — Funciona — ela respirou
maravilhada.
A expressão dela o desequilibrou completamente. Isso o lembrou muito
de como ela parecia pouco antes de gozar. Ele teve que limpar a garganta
antes de poder perguntar: — O que funciona?
— Sua Graça… a Duquesa de Clarington disse que a melhor maneira de
chamar a atenção de um homem era mostrar interesse por outro homem. Ou
vários.
Ele olhou para ela. — Era isso que estava fazendo? Tentando despertar
meu ciúme? — não importava que tivesse funcionado.
Ela balançou a cabeça em negação. — Claro que não. Não tenho
motivos para isso, tenho? Não depois da noite passada.
— Catherine… — disse ele, a voz baixa e afiada enquanto olhava
furtivamente ao redor para se certificar de que ninguém tinha ouvido.
Ela acenou com a mão. — Não se preocupe. Ninguém está perto o
suficiente para ouvir.
Ela ia ser a morte dele. Felizmente ela não tocou mais no assunto.
Chegaram ao topo da escada e começaram a descer o corredor do lado de
fora dos camarotes privados, onde havia pessoas circulando.
Ele parou e teve que puxar Catherine para o lado quando alguém quase
colidiu com eles. Levou um momento para perceber que era Worthington. O
homem mais velho parecia agitado e mal os reconheceu enquanto passava.
Uma pontada de mal-estar instalou-se na base do crânio de Kerrick e ele se
virou a tempo de ver outra figura se afastando rapidamente do outro lado do
corredor. Ele estava muito longe e Kerrick não conseguiu identificar quem
era. Só podia ver que era um homem de cabelo castanho curto e que parecia
ter a sua altura. Poderia ter sido qualquer um. Ele pensou em segui-lo, mas
o homem havia se misturado a um grupo de espectadores. Segui-lo só
chamaria atenção indesejada, e Kerrick não tinha certeza se conseguiria
localizá-lo no meio da multidão.
— Isso foi incomum — disse Catherine, trazendo os pensamentos de
Kerrick de volta para ela. — Lorde Worthington nunca perde uma
oportunidade de lhe falar. Eu me pergunto o que poderia tê-lo deixado tão
preocupado.
Realmente, o que poderia ser? Droga. Talvez a informação de
Brantford estivesse correta, afinal, e Worthington tivesse se envolvido em
algo para o qual não era adequado.
— Ele provavelmente estava ansioso para não perder o início da peça
— como que para enfatizar suas palavras, os sinos sinalizando que todos os
convidados deveriam se sentar, começaram a tocar. — Venha — disse ele,
esperando distrair Catherine do comportamento curioso do outro homem.
— Devemos nos apressar antes que outro grupo de busca seja enviado para
encontrá-la.

K coisas demais na mente para prestar atenção na peça.


Algo ou alguém – o homem que ele vira desaparecendo no corredor – havia
deixado Worthington nervoso. Ele tinha apenas seus instintos para basear
essa suspeita, mas há muito aprendera a ignorá-los por sua própria conta e
risco.
E então havia Catherine. A garota se sentou ao seu lado e ele ansiava
por alcançá-la. No mínimo, sentiu uma necessidade quase avassaladora de
pegar uma das suas mãos, que estavam recatadas em seu colo, e apenas
segurá-la. Certificar-se de que o que aconteceu na noite anterior realmente
aconteceu e que a conexão entre eles era real. Mas Louisa estava sentada do
outro lado de Catherine, e não havia como ela não ver se ele agisse por
impulso. E então ele se sentou lá, tentando ignorar tanto o desejo de tocá-la
quanto o cheiro dela, que parecia abrir caminho até sua alma.
Sua frustração só aumentou quando Lorde Thornton visitou seu
camarote durante o intervalo. A avaliação franca no rosto do outro homem
quando notou o decote baixo de Catherine deu-lhe vontade de enfiar os
dentes do rapaz no fundo de sua garganta. Em vez disso, pediu licença e foi
até o camarote de Worthington.
Como esperava, estava tão cheio de homens competindo pela atenção de
Rose que ele mal tinha espaço para entrar. Ao vê-lo, especialmente no mau
humor que o dominava, o grupo se afastou para o lado para permitir que ele
passasse.
Ele deu um leve beijo nas costas da mão enluvada de Rose quando ela a
ofereceu a ele, imaginando brevemente ter vislumbrado diversão em seus
olhos, e perguntou se ela estava gostando do espetáculo.
— Sempre aprecio uma boa comédia, Lorde Kerrick — ela disse, seus
modos lhe dizendo que estava se referindo a mais do que apenas o que
acontecia no palco.
— Touché, Srta. Hardwick — ele disse, permitindo que sua própria
diversão aparecesse.
Ela inclinou a cabeça em reconhecimento ao elogio.
Droga, mas Catherine estava certa. Se ele não fosse forçado a
desempenhar o papel de um homem com a intenção de torná-la sua esposa,
realmente gostaria de Rose Hardwick. Bem, ele não desgostava dela,
exatamente, mas não estava totalmente confortável em sua presença, dado o
papel que estava representando.
A atenção de Rose foi imediatamente capturada por outro jovem quando
Kerrick se virou para cumprimentar seus pais.
— Lady Worthington, Lorde Worthington — disse ele, sentando-se ao
lado deles. Não pôde deixar de notar como Lady Worthington estava pálida
e lembrou-se de Rose dizendo que sua mãe não estava se sentindo bem. A
mulher sentada ao lado dele agora parecia estar sofrendo de mais do que
apenas uma dor de cabeça. — Ouvi dizer que não estava se sentindo muito
bem, Lady Worthington.
O sorriso que ela lhe ofereceu era uma pálida imitação de seu,
normalmente, sorriso efusivo. — Não é nada que uma boa-noite de sono
não resolva.
— E a algumas horas de distância da paixão constante, sem dúvida —
não adiantava negar as multidões que cercavam a filha dos Worthingtons
para aonde quer que ela fosse.
Lady Worthington deu de ombros, o pequeno movimento dizendo com
mais eficácia do que palavras, que estava acostumada. Sem dúvida, havia
passado pelo mesmo quando era mais jovem. Kerrick supôs que ela estava
apenas na casa dos quarenta agora, e ainda era uma mulher impressionante.
Ele não tinha certeza de como Worthington conseguiu conquistá-la como
sua esposa, nem se ela era tão popular quanto a filha.
— Eu estava pensando — disse ele, voltando agora sua atenção para o
marido dela, — que ainda não tivemos a oportunidade de nos conhecermos
muito bem. Devemos remediar isso.
Jogou a isca e Worthington se jogou para pegá-la como um homem
faminto. — Essa é uma ideia excelente — disse ele, com o peito estufado
ao contemplar o significado por trás da oferta de Kerrick. Ele não chegou a
dizer isso, mas estava claro que Worthington já pensava nele como seu
quase genro. — Gosto de cavalgar pela manhã. Um hábito que adquiri na
juventude e que ainda hoje desfruto. Gostaria de se juntar a mim? Sei, meu
rapaz, que hoje em dia, os jovens gostam de ficar acordados a noite toda
jogando e outras coisas e só voltam para casa quando estou saindo.
Era um teste óbvio de seu caráter, e Kerrick sorriu suavemente enquanto
assumia o papel de homem perfeito para Rose Hardwick. — Não sou de
jogos de azar — disse ele. — Não, a menos que eu saiba que posso vencer.
E admito que não tive tantas oportunidades de cavalgar quanto gostaria,
desde que cheguei à cidade.
— Esplêndido — disse Worthington. Se sua esposa não estivesse
sentada entre eles, Kerrick sabia que o homem lhe teria dado um tapinha
nas costas. — Podemos nos encontrar às sete da manhã em Rotten Row?
Deve estar tranquilo a essa hora.
— Estou ansioso por isso — disse Kerrick antes de se levantar e se
despedir.
Quando ele voltou para o camarote de Overlea, Thornton havia sumido.
A expressão nos olhos de Catherine quando encontrou os dele era divertida,
e em suas profundezas ele podia ver sua certeza de que ele era o único que
ela via como um parceiro romântico. Estava feliz por ela não ver Thornton
dessa forma, mas isso não o fazia gostar mais do homem.
Com a mente mais tranquila agora que faria planos para se aproximar de
Worthington, Kerrick pôde aproveitar o resto da noite. Ele havia lido A
Megera Domada na escola, mas nunca visto no palco. Originalmente,
ocorreu-lhe a ideia de que seria bom domar a impetuosidade de Catarina,
mas, enquanto observava, ficou perturbado com a maneira como Petruchio,
tratava de domar sua esposa megera. Ele não pôde deixar de pensar que ela
não havia sido domesticada, mas sim, quebrada. Catherine poderia testar
sua paciência, mas a última coisa que ele queria era ver seu espírito
destruído da mesma forma.
Quando a cortina baixou no final do quinto ato, eles permaneceram em
seu camarote para evitar o aperto de corpos que se moviam para deixar o
teatro de uma só vez. Alguns homens foram até seu camarote para
conversar com Nicholas. Kerrick não perdeu a maneira como seu amigo
puxou sua esposa para mais perto de seu corpo enquanto a especulação
passava pelos olhos de um homem, conhecido por seus flertes com
mulheres casadas da alta sociedade, e que estava conhecendo a nova
marquesa de Overlea pela primeira vez.
A preocupação de Nicholas em Louisa deu a ele a oportunidade de ter
alguns momentos a sós com Catherine enquanto eles se moviam para o
outro lado do camarote.
— Devo passar mais tarde esta noite? — sua voz era baixa para que
ninguém pudesse ouvi-los.
Kerrick teve que fechar os olhos por um momento enquanto lutava
contra a onda de luxúria que surgiu através dele com a sugestão. Quando ele
os abriu novamente, a ânsia nos olhos de Catherine lhe disse que ela estava
falando sério. Ela realmente arriscaria sua reputação e sua segurança para
visitá-lo novamente, se ele permitisse.
— Faça isso e terei que virá-la nos meus joelhos e castigá-la — disse
ele. Esse pensamento não ajudou a refrear seu desejo quando uma imagem
de Catherine, nua da cintura para baixo e espalhada sobre suas coxas, veio à
mente. A repreensão, no entanto, deixou Catherine amuada de decepção.
— Quando? — ela perguntou, claramente não contente em deixar o
assunto morrer.
— Quando tudo isso acabar.
Os olhos de Catherine se moveram para olhar por cima do ombro dele, e
ele se virou para descobrir que Nicholas tinha vindo atrás deles. Teve um
momento de pânico, com medo de que seu amigo tivesse supervisionado
toda a conversa, mas suas próximas palavras acabaram com essa
preocupação.
— Quando o que estiver acabado? — ele perguntou.
— A temporada — disse Kerrick, já que claramente não poderia estar
falando sobre a peça que já havia terminado. — Catherine estava me
perguntando se eu planejava visitar Overlea Manor novamente. Claro, isso
também dependeria se eu ainda seria bem-vindo lá.
O olhar de Nicholas mudou para Catherine, depois de volta para ele.
— Acho que isso vai depender de como vai ser o resto da primavera. E
se os corações ainda estarão intactos.
Nicholas não precisou dizer as palavras, mas Kerrick ouviu o aviso tão
claramente como se seu amigo tivesse falado. Pare de brincar com a óbvia
afeição que Catherine sente. Ele gostaria de garantir ao amigo que não
estava brincando com Catherine, e mais uma vez amaldiçoou o fato de não
estar em posição de fazê-lo.
Capítulo 9

K grandes esperanças em seu encontro com Worthington,


mas não seria bom parecer muito ansioso, então fez questão de chegar
exatamente na hora marcada na manhã seguinte. Notou com satisfação que
o outro homem já estava o esperando quando virou sua montaria para o
caminho da moda em Hyde Park. A essa hora da madrugada, porém, o
parque era frequentado principalmente por cavalariços que exercitavam as
montarias da aristocracia.
Worthington visivelmente inchou quando avistou Kerrick. — É uma
excelente manhã para cavalgar — ele disse como forma de saudação
quando a montaria de Kerrick se aproximou.
E era. O sol havia escolhido fazer uma de suas raras aparições, dando o
tom para o que prometia ser um dia agradável.
Os cavalos trotaram lado a lado por vários minutos, os homens falando
pouco, antes de Worthington mudar a conversa para o assunto que Kerrick
sabia estar no topo de seus pensamentos.
— Eu aprecio que me faça cortesia — Worthington inclinou-se para ele
e baixou a voz antes de continuar. — Cá entre nós, deve saber que pedir
minha permissão para propor a Rose é apenas uma formalidade. Será muito
melhor para ela do que aqueles outros garotos que procuram sua atenção —
o alívio que acompanhou essas palavras foi quase palpável.
Kerrick não conseguiu evitar o pensamento cínico de que
provavelmente era sua própria fortuna que Worthington estava de olho. Ele
inclinou a cabeça em reconhecimento ao elogio antes de continuar sua
tarefa de pegar o outro homem desprevenido. — Não estou aqui para pedir
permissão para me casar com sua filha.
Worthington ficou tenso com sua declaração. Ele começou a falar duas
vezes e teve que parar antes de finalmente dizer: — Mas pretende se casar
com ela? Todo mundo espera isso, e menosprezá-la causaria fofocas. E nós
dois sabemos que é o maior desejo de sua mãe e de Lady Worthington.
Kerrick cerrou os dentes contra a réplica de que todos esperavam tal
união apenas porque Worthington estava insinuando como fato em todos os
salões de baile e em todos os eventos sociais de Londres.
— Não tenho intenção de causar nenhum sofrimento à sua filha — suas
palavras eram verdadeiras porque ele estava começando a suspeitar que
Rose Hardwick, não desejava uma união entre eles mais do que ele. —
Pode ter certeza de que nenhuma reação negativa surgirá de minhas ações
para com a Srta. Hardwick. Observando-a, no entanto, fica muito claro para
mim que ela está desfrutando muito de sua temporada. Eu não gostaria de
tirar esse prazer declarando minhas intenções prematuramente.
— Um noivado formal não acabaria com seu prazer.
— Talvez não, mas tenho uma confissão a fazer.
A expressão no rosto do outro homem era uma mistura cômica de medo
e esperança, e Kerrick teve que se esforçar para evitar que os cantos de sua
boca se erguessem em diversão.
— Nunca gostei do turbilhão social.
Ele podia ouvir o suspiro de alívio que Worthington soltou em sua
declaração.
— Nenhum homem da sua idade — Worthington se apressou em dizer.
— Ainda não tem trinta anos, e tenho certeza de que há muitas maneiras
mais agradáveis de passar as noites. Eu também era um fã de jogos. Mas,
infelizmente, depois de alguns anos de casado… – ele encolheu os ombros.
— É pior quando se tem uma filha. Não há como ficar longe de todos os
eventos. Mas de vez em quando poderá dar uma escapada e perseguir seus
próprios interesses. E, felizmente, ninguém espera que um homem casado
compareça a todos esses bailes com a esposa.
Worthington deve ter percebido que ele estava tagarelando, pois, sua
boca se fechou com um estalo quase audível após seu último
pronunciamento.
Kerrick não pôde deixar de pensar em Nicholas e Clarington, que
pareciam gostar de ficar ao lado de suas esposas. É verdade que os dois
estavam casados há menos de um ano, mas Kerrick não esperava que o
comportamento deles mudasse tão cedo. Seus pensamentos foram para
Catherine e ele sabia que nunca ficaria satisfeito em se sentar em uma sala
de jogos enquanto sua esposa dançava com homens que sabia, atacavam as
mulheres que se sentiam negligenciadas por seus cônjuges.
Impiedosamente, ele arrastou seus pensamentos de volta ao presente.
Não podia se permitir se distrair. Se não concluísse essa investigação logo,
poderia acabar sendo convidado para o casamento de Catherine com o
Visconde Thornton.
— Eu me curvo ao seu conhecimento superior sobre o assunto — disse
Kerrick, observando como Worthington se envaidecia visivelmente com o
elogio. Com uma velocidade destinada a desequilibrar o outro homem, ele
mudou de assunto. — Eu não tive a chance ontem à noite de lhe perguntar
com quem estava falando fora de seu camarote antes da peça começar. Me
pareceu ter ficado chateado com o encontro.
A cor sumiu do rosto do homem mais velho e Kerrick sentiu uma
medida de satisfação ganhar vida dentro de seu peito. Brantford estava
certo: Worthington estava envolvido em algo profundo. Mas ainda
permanecia a questão de saber se também era um traidor.
O lorde se virou e Kerrick percebeu que ele estava lutando para
recuperar a compostura. Sua voz estava tensa quando respondeu.
— Quando Rose está presente nessas ocasiões, temos muitos
visitantes… Não consigo me lembrar de um homem em particular.
— A Srta. Hardwick ainda não estava lá em cima na hora.
Worthington lutou por alguns segundos antes de dizer: — Eu me lembro
agora de quem está falando. Minha esposa teve dor de cabeça. Antes de
começar a peça, procurei um lacaio e pedi que trouxesse um copo d’água
para o camarote.
Worthington estava mentindo. O homem que ele e Catherine tinham
visto saindo na noite anterior não era um lacaio. Ele ansiava por insistir no
assunto, mas a experiência lhe dizia que nada ganharia o pressionando por
informações, quando uma mão mais leve obteria mais resultados no final.
Ele tinha a confirmação que precisava, de que Worthington estava
envolvido em algo que não queria que ninguém descobrisse.
Ele se perguntou se a esposa do homem sabia algo a respeito e começou
a pensar em como poderia seguir essa linha de investigação. No fundo de
sua mente, surgiu o pensamento de que a nova amizade de Catherine com
Rose a colocava na posição perfeita para fazer perguntas discretas à mãe de
Rose, mas se recusou a considerar seriamente essa possibilidade. A última
coisa que queria era que Catherine se envolvesse ainda mais nessa
confusão. Ela se colocou lá, mas ele faria o que pudesse para garantir que
não corresse nenhum risco. Lorde e Lady Worthington não eram do tipo
perigosos, mas ele sabia, por outras missões, que pessoas desesperadas
muitas vezes agiam fora do personagem para se proteger. E se a segurança
de sua família estivesse envolvida… Não, ele definitivamente não pediria a
Catherine para se envolver nisso.
— Espero que Lady Worthington esteja se sentindo melhor esta manhã.
Todo o comportamento de Worthington relaxou com a mudança de
assunto. — Ela ainda estava na cama quando eu saí. Infelizmente, suas
dores de cabeça são mais comuns do que ela gostaria, mas normalmente
passam após uma noite de descanso. Agradeço sua preocupação.
Kerrick deu ao outro homem um sorriso destinado a deixá-lo à vontade.
— Estou muito feliz em ouvir isso. Ela estará bem o suficiente para
comparecer ao baile dos Hastings esta noite?
Worthington balançou a cabeça. — Ela normalmente gosta de uma noite
tranquila em casa depois de um de seus episódios, especialmente se
ocorrerem durante uma noite fora — seu alívio pelo fato de o sujeito ter
retornado a um terreno mais seguro era quase palpável.
— Não posso dizer que a culpo — disse Kerrick. — Como a maioria
dessas noites são intermináveis na melhor das circunstâncias, não consigo
imaginar ter que suportar uma enquanto me sinto mal.
Worthington riu, sua natureza normalmente efusiva mais uma vez em
primeiro plano. — É aí que nós, homens, somos muito diferentes das
mulheres. Temo que muito pouco as impeça de passar todas as noites fora
durante a temporada. Se ela não achasse que o evento desta noite se
transformaria em uma maneira de mostrar os talentos musicais das filhas de
Lady Hastings, ela se forçaria a ir, não importa o quão mal ela se sentisse.
Kerrick não precisou fingir horror. Ele já teve a infelicidade de ouvir a
filha mais velha se destroçar em Bach. — Eles não fariam isso.
— Considere-se avisado. Claro, Lady Hastings já sabe que sua atenção
está em outro lugar, então tenho certeza de que estará seguro.

A parou diante da chapelaria na Bond Street exatamente às


dez da manhã, e Catherine desceu, com sua criada seguindo atrás. Quando
não viu Rose, Catherine se perguntou se a outra mulher havia mudado de
ideia sobre encontrá-la. A nota que recebera há pouco, dizia que Rose já
estava saindo de casa, então ela deveria estar lá.
Estava indecisa entre mandar a carruagem embora e esperar na rua ou
voltar para casa. A nota parecia importante no entanto, então ela disse ao
cocheiro para voltar em meia hora. Quando a carruagem começou a se
afastar, ficou aliviada ao ver Rose sair de uma loja de roupas próxima, com
sua própria criada a reboque. Esse alívio mudou para preocupação quando
ela percebeu a rigidez das feições de sua amiga.
— Estou tão feliz que tenha conseguido me encontrar em tão pouco
tempo — disse Rose, agarrando suas mãos rapidamente e dando-lhes um
leve aperto antes de soltá-las novamente. — Eu não tinha certeza se seria
capaz de vir.
— Minhas manhãs são normalmente livres — disse Catherine,
pensando em como sua irmã estava deitada na cama, sofrendo com o
estômago agitado tão frequentemente visto em mulheres recém-grávidas. —
Sua nota parecia urgente. Há algo de errado?
— Caminhe um pouco comigo — disse Rose, pegando o braço de
Catherine e começando a caminhar pela rua em um ritmo lento.
Suas criadas as seguiram. Rose já devia ter dito a sua criada que queria
privacidade, pois as duas mulheres ficaram vários passos atrás. Catherine se
perguntou o que poderia ter acontecido para justificar a preocupação no
rosto de sua amiga. Afinal, ela a tinha visto na noite anterior e tudo parecia
bem.
— Está começando a me preocupar — disse Catherine.
Rose deu uma risada sem graça. — Peço desculpas. Posso ver como
estou sendo dramática, mas estava realmente preocupada e precisava lhe
falar imediatamente.
— Aconteceu alguma coisa?
Rose balançou a cabeça. — Ainda não, mas temo que esteja prestes a
acontecer. — ela ignorou aqueles que olharam em sua direção e sem dúvida
teriam parado para conversar se Rose tivesse mostrado a menor inclinação
de que ela receberia a intrusão. Ao continuar a falar, sua voz era quase
inaudível. — Quando minha criada me acordou esta manhã, disse-me que
meu pai tinha ido cavalgar com Lorde Kerrick.
Catherine não precisou fingir surpresa. Kerrick não lhe havia
mencionado nada sobre cavalgar com Lorde Worthington, porém não
tiveram muito tempo para conversar em particular. Mas suspeitava que ele
não mencionara a reunião, por ainda estar bastante inflexível sobre não a
envolver em suas investigações. Ela só teria que lhe mostrar como poderia
ajudar.
— Tenho certeza de que Lorde Kerrick costuma cavalgar — quando as
palavras escaparam de seus lábios, seus pensamentos voltaram para a noite
que passaram juntos, e ela teve que se virar para esconder o calor que podia
sentir rastejando em suas bochechas. Felizmente, Rose estava preocupada
demais para notar.
— Talvez, mas papai gosta de cavalgar sozinho pela manhã. Ele gosta
da solidão e do exercício. Se ele planejava se encontrar com Lorde Kerrick,
sei que é porque espera que ele peça permissão para propor casamento.
Catherine sabia que era improvável que isso acontecesse — ou pelo
menos esperava que fosse o caso — mas não podia dizer a Rose que suas
preocupações eram infundadas.
— O que fará se Lorde Kerrick propor?
Rose deu a ela um olhar de descrença. — Vou rejeitá-lo, é claro. Ele
parece muito bom e muito atraente…
— Mas tem sentimentos por seu homem misterioso.
Um sussurro de sorriso tocou os lábios de Rose. — É desesperador, eu
sei. E eu principalmente cheguei a um acordo com essa realidade. Mas se eu
aceitasse Lorde Kerrick, tornaria a vida, de três pessoas, miserável. Além de
mim, eu não poderia fazer isso contigo, ou com ele, porque é óbvio que ele
retribui o seu afeto.
Não havia nada que Catherine pudesse dizer em resposta. Ela só
esperava que não fosse tão óbvio para os outros, pois Kerrick precisava
manter boas relações com Lorde Worthington.
Os pensamentos de Rose devem ter voltado para o outro homem,
porque enquanto ela tentava esconder, Catherine podia ver seu desespero.
Seu coração partiu para a outra mulher. Se algo acontecesse para manter ela
e Kerrick separados, não sabia se seria capaz de suportar.
— Como seu pai reagiria se recusasse uma proposta de casamento de
Lorde Kerrick?
Rose esperou para responder até que passaram por uma jovem e o que
devia ser sua mãe saindo de uma costureira. Quando não havia ninguém por
perto, ela disse: Ele não ficaria feliz e temo que faria o que pudesse para me
fazer mudar de ideia.
O tom severo em sua voz fez Catherine franzir a testa. — Ele iria forçá-
la a aceitar?
— Até recentemente eu nunca teria pensado que ele era o tipo de pai
que me forçasse a um casamento que eu não desejo, mas agora… — ela
suspirou. — Sim, acredito que sim.
Um arrepio de desconforto percorreu a espinha de Catherine com o
pensamento. Sua irmã estivera em uma posição semelhante no ano anterior,
concordando em se casar com o Marquês de Overlea para garantir o futuro
de todos, mas desde o início ficou claro que ela se sentia atraída por
Nicholas. O casamento deles foi instável no início por causa da doença do
cunhado, mas no final tudo deu certo e agora eles eram o casal mais feliz
que Catherine conhecia. Ela não conseguia imaginar como seria se casar
com um homem e estar apaixonada por outro. E se ela fosse completamente
sincera, não queria nem mesmo contemplar um futuro onde Rose e Kerrick
fossem casados.
— Por que ele deseja tanto essa união? Não seria exagero dizer que
pode ter qualquer homem que quiser — quando Rose franziu a testa,
Catherine continuou: — Eu não sei quem é seu homem misterioso, mas
tenho certeza de que ele não seria imune a seus encantos se decidisse
mostrar seu interesse por ele.
Rose desviou o olhar. — Lorde Kerrick é imune.
Catherine esperava sinceramente que isso fosse verdade. — Tudo bem
então. Quase qualquer homem. Um dos homens de seu grupo de
admiradores não é o herdeiro do Marquês de Cranley?
— Sim, mas sua família não é tão rica quanto Lorde Kerrick.
Dada a pobreza recente de sua própria família, Catherine poderia muito
bem entender os motivos por trás do desejo de Lorde Worthington de
garantir o futuro de sua filha.
— Desculpe. Eu não sabia que a riqueza era um requisito.
Rose puxou-a para o pequeno espaço entre duas lojas e indicou às
criadas que esperassem do outro lado da rua antes de se virar para enfrentar
Catherine novamente.
— Isso é o que eu menos entendo. Alguns anos atrás, estávamos em um
mau caminho. Dois anos atrás, mamãe falou comigo sobre como eu
provavelmente não teria uma temporada. Mas então as coisas mudaram.
Mamãe disse algo sobre certas melhorias que papai fez e que nossa renda
aumentou como resultado.
O cabelo da nuca de Catherine se arrepiou. Os Worthingtons tiveram um
súbito aumento de fortuna. Até aquele momento, ela esperava saber que
Kerrick estava errado e que Lorde Worthington era inocente de tudo o que
suspeitava que tivesse feito. Mas se havia uma coisa que Catherine tinha
aprendido, era confiar em seus instintos. E agora, eles estavam lhe dizendo
que havia mais nessa mudança na sorte dos Worthington do que melhorias
sendo feitas em sua propriedade.
— Isso é muito interessante — ela disse, sua voz cuidadosamente
neutra. — Já soube o que foi feito?
O olhar que Rose dirigiu a ela lhe disse que sua amiga pensou que ela
havia enlouquecido.
— Papai não discute a administração da propriedade comigo. De
qualquer forma, isso está fora de questão. Dois anos atrás eu teria entendido
seu desejo de me ver casada com um homem com um título e uma rica
propriedade atrás dele. Mas agora? — ela balançou a cabeça. — Isso não
faz sentido para mim. Não nos falta nada e, embora eu saiba que ele quer
me ver bem-casada, há muitos outros homens que poderiam me sustentar de
maneira mais do que adequada. Não entendo por que ele insiste tanto em
que concentre toda a minha atenção em garantir o interesse de Lorde
Kerrick.
— Não houve um entendimento entre sua mãe e a de Lorde Kerrick? Eu
o ouvi dizer algo sobre as duas serem boas amigas.
Rose deu de ombros. — Sim, elas imaginaram um futuro onde as
famílias um dia seriam unidas, mas nunca houve um noivado formal entre
nós… Graças a Deus!
Isso explicaria por que Kerrick estava tão disposto a buscar um futuro
com ela em vez de Rose. Mas isso ainda não resolvia sua situação atual.
Catherine não sabia como poderia ajudar a transformá-la em vantagem para
todos eles.
— Este homem que capturou seu interesse… ele não tem dinheiro?
Rose riu, o som cheio de diversão genuína, mas havia um vazio por trás.
— Ele envergonha até a riqueza de Lorde Kerrick. Mas como raramente
olha em minha direção, dificilmente posso contar com o interesse dele em
impedir meu pai de tentar garantir que Lorde Kerrick e eu estejamos
casados antes que o ano termine.
Essa notícia assustou Catherine. — Esta é sua primeira temporada, com
certeza não há pressa.
Rose balançou a cabeça. — Não entendo sua urgência, mas temo que
esteja bastante determinado a nos ver casados muito em breve.
Catherine queria assegurar-lhe que isso nunca aconteceria, mas não
conseguiu evitar que uma ponta de dúvida se insinuasse em sua mente. E se
Kerrick se cansasse dela como se cansara de muitas outras mulheres com
quem estivera? Eles fizeram amor, mas isso não era garantia de que
ficariam juntos. Especialmente porque ninguém sabia sobre seu encontro.
Claro, se ela deixasse escapar para Louisa, não tinha dúvida de que
Nicholas se certificaria de que seu amigo a pedisse em casamento. Mas era
isso que ela queria? Forçar o pedido de Kerrick? E ele viria a odiá-la se ela
o fizesse? O pensamento pesava em seu estômago, criando um poço quase
insondável de desespero diante da possibilidade.
— Catherine, ouviu o que eu disse?
A mão de Rose em seu braço, sacudindo-a gentilmente, despertou-a de
seus pensamentos.
— Sinto muito — disse ela, esperando que seu sorriso de desculpas não
parecesse tão vazio quanto sentia.
— Eu entendo — disse Rose, apertando sua mão antes de soltá-la. —
Imagino que a ideia de Lorde Kerrick e eu nos casarmos lhe seja tão
desagradável quanto para mim. É por isso que devemos garantir que isso
nunca aconteça.
O olhar de determinação no rosto de Rose deixou Catherine com medo
de perguntar o que ela queria dizer. — E como faremos isso?
— Devemos ter certeza de que todos percebam que é com a sua pessoa
que Lorde Kerrick se preocupa e não comigo. E se tivermos sorte, talvez
possamos fazer com que ele lhe comprometa.
Suas palavras, tão próximas dos pensamentos que acabavam de passar
por sua própria mente, deixaram Catherine quase cambaleando em estado
de choque.
— Não, não podemos…
— Claro que nós podemos. Na verdade, devemos. Tenho certeza de que
nós duas podemos provocar isso.
Agora que havia decidido um plano de ação, Rose voltou a ser mais
leve e despreocupada. Era uma fachada, é claro, mas estava claro que a
resolução de Rose de ver Catherine e Kerrick juntos a enchera de vida nova.
Catherine, por outro lado, estava apavorada com essa nova reviravolta nos
acontecimentos. Kerrick não ficaria feliz quando soubesse do plano de
Rose.
Capítulo 10

Q B estava na cidade, fazia questão de visitar o White


todos os dias para consolidar sua reputação de membro ocioso da
aristocracia. Também lhe dava a oportunidade de se encontrar com muitas
de suas conexões sem chamar a atenção para si mesmo. Muitos procuravam
sua companhia apenas pelo prestígio de serem vistos com ele, o que
significava que ninguém achava incomum Kerrick abordá-lo ali.
Kerrick atravessou a sala da frente, suntuosamente decorada, e parou na
entrada do salão onde Brantford estava esparramado em uma poltrona com
asas. O outro homem o notou imediatamente; não havia muito que
escapasse de sua atenção. Com apenas um olhar casual de Brantford, os
dois homens com quem ele estava falando se levantaram de suas cadeiras e
se afastaram, permitindo a Kerrick a privacidade de que ele precisava para
esta reunião. Ele não tinha ideia de como Brantford fazia isso, mas há muito
desistira de tentar adivinhar quem estava na folha de pagamento do
Ministério do Interior e quem estava apenas tentando bajular o detentor de
um dos títulos mais antigos e ricos de todos os tempos na Inglaterra.
— Worthington definitivamente está escondendo algo — disse Kerrick
depois de ocupar um dos assentos vagos.
— Boa tarde, obrigado.
Havia uma nitidez em seu tom de voz que fez Kerrick parar para
examinar o outro homem. Brantford havia assumido sua pose habitual,
recostado na cadeira, uma taça de conhaque meio vazia pendurada em seus
dedos — uma que Kerrick sabia que não seria reposta — mas algo estava
errado. Não sabia dizer como percebeu, já que o outro homem sempre fora
impossível de ler. Hoje não era diferente, mas de alguma forma sabia que
Brantford não estava feliz em vê-lo.
— Eu interrompi algo importante?
Brantford levantou uma sobrancelha. — Com Bryers e Carlson?
Definitivamente não.
Bem, esta foi uma ocorrência interessante. Não era sempre que Kerrick
testemunhava as penas de Brantford sendo eriçadas. Ele se inclinou para
frente, apoiando os cotovelos nos joelhos enquanto não fazia nenhum
esforço para esconder seu exame do outro homem.
— Existe algo que gostaria de compartilhar comigo?
Os olhos de Brantford se estreitaram. Era quase imperceptível, e
Kerrick teria perdido se não o estivesse observando de perto.
— E eu que pensei que tinha informações para compartilhar comigo.
O canto da boca de Kerrick se ergueu. — Qualquer coisa que eu possa
ter para compartilhar, pode esperar. O que eu quero saber é, por que o conde
impassível está se mostrando menos do que indiferente.
Uma sugestão de algo que poderia ser divertido iluminou os olhos de
Brantford. — Por mais que esteja gostando desta conversa, temo ter outro
compromisso e devo partir em breve.
Kerrick soltou um suspiro exagerado. — E nós estávamos nos
divertindo tanto jogando conversa fora.
— Estava jogando conversa fora — disse Brantford, sua máscara neutra
mais uma vez firmemente no lugar. — Eu estava suportando.
— Está, é claro, completamente correto. Temo que devo estar perdendo
meu toque. Talvez seja melhor encontrar outra pessoa para me substituir.
— Em breve, Kerrick. Depois de completar esta última missão.
Ele ficou sério com o lembrete. Esse tempo não chegaria em breve.
— Ontem à noite no teatro, eu vi Worthington voltando para seu
camarote, mas não parecia o mesmo. Ele nunca perde uma oportunidade de
parar e falar comigo, mas ontem esbarrou em mim e estava visivelmente
abalado. Acho que estava voltando de um encontro, mas não consegui
identificar a pessoa com quem ele estava falando. Estava muito longe e se
dirigiu na direção oposta antes de se misturar à multidão. Havia muitas
pessoas por perto para tentar persegui-lo.
— Que pena — disse Brantford.
— Sim. Combinei de cavalgar com Worthington esta manhã e, quando
mencionei isso, ele ficou visivelmente abalado. Tentou dizer que estava
falando com um lacaio.
— Portanto, nossas suspeitas sobre ele parecem estar corretas.
— Sim — ele mal se absteve de maldizer.
Os olhos de Brantford se estreitaram. — Parece estar chateado.
Kerrick deu de ombros. — Isso não vai acabar bem. Se descobrirmos
que Worthington está envolvido na transmissão de segredos, toda a sua
família ficará arruinada. Sua esposa e filha não merecem isso.
Brantford ficou em silêncio por um tempo extraordinariamente longo.
Quando ele falou, disse simplesmente: — Não, acho que não.
Kerrick se endireitou e apoiou a cabeça no espaldar da cadeira. — Mal
posso esperar para terminar esse trabalho. Não consigo imaginar por que já
gostei disso.
— Se não me falha a memória, estava muito ansioso para ajudar seu
país quando o abordei.
— Eu também era jovem e estúpido.
— Tem sido um grande trunfo e sua falta será sentida.
O elogio o surpreendeu. Para Brantford, foi quase efusivo. Kerrick
inclinou a cabeça e esperou, sentindo que algo de grande importância estava
por vir. Seus instintos raramente estavam errados, e eles não falharam com
ele agora.
— Como está progredindo seu cortejo com a senhorita Hardwick?
Brantford estava ocupado olhando para a sala quando fez a pergunta
casual, mas Kerrick se concentrou na ação. A questão era de grande
importância para o homem sentado à sua frente, afetando a aparência de
quem segurava apenas o interesse mais leve no assunto em questão. Era
uma tática que Brantford costumava usar para desviar a atenção do quão
interessado estava na resposta.
Os olhos de Kerrick não deixaram o rosto do outro homem enquanto ele
respondia, seu tom igualmente casual. — Eu acredito que a Srta. Hardwick
possui qualidades que tenta muito manter escondidas dos outros. E descobri
que gosto dela.
A mão de Brantford parou por apenas um breve segundo enquanto ele
tirava o relógio do bolso para olhar as horas.
Kerrick esperou até que ele devolvesse o relógio antes de continuar. —
Todos acreditam que anunciaremos nosso noivado a qualquer momento.
Dadas as expectativas da sociedade e da minha própria família, tenho
pensado se devo continuar a cortejá-la a sério.
Kerrick quis exultar de triunfo quando a mandíbula de Brantford se
apertou. — Acho que isso não teria sua aprovação?
O olhar de Brantford fixou-se diretamente nele. — Não consigo ver o
que seus relacionamentos pessoais têm a ver comigo. Mas a senhorita
Evans não ficará desapontada?
Kerrick recusou-se a ser induzido a mudar de assunto. — Eu sei,
Brantford — ele estava blefando, mas todos os seus instintos lhe diziam que
o conde não afetado tinha sentimentos por Rose Hardwick.
— Se eu encontrar alguma informação que possa lhe ser útil em sua
investigação, vou repassá-la. Até lá, tenho um compromisso que não posso
faltar.
Brantford colocou sua bebida em uma mesa lateral, levantou-se e, sem
dizer mais nada, saiu da sala. Sua falta de resposta disse a Kerrick tudo o
que ele precisava saber.

S participado de um encontro daqueles, antes daquela noite, mas


Catherine descobriu que os preferia de longe aos bailes formais e noites
musicais. As festas menores eram mais íntimas e, para ela, muito mais
agradáveis. Se sentiu aliviada, após saber por Rose que sua família não
estaria presente. Não sabia se Kerrick estaria lá, mas se estivesse, ela não
teria que vê-lo cortejar outra pessoa. Mesmo sabendo a verdade da situação,
era difícil observá-lo a cada passo e tomar cuidado para não passar muito
tempo em sua companhia. Mas certamente, com os Worthingtons ausentes
e, todos cientes da grande amizade entre Kerrick e Nicholas, ninguém
olharia duas vezes se ela se permitisse desfrutar de sua companhia.
Sentiu uma pontada de culpa por Louisa. Normalmente, o mal-estar que
dominava sua irmã durante as horas da manhã teria desaparecido ao
entardecer. E Louisa tirava uma soneca quase todas as tardes para se sentir
revigorada para os entretenimentos noturnos. Catherine não pôde deixar de
notar, no entanto, que sua irmã não estava como sempre naquela noite. Mas
como Louisa não havia dito nada sobre não comparecer à reunião, e porque
estava ansiosa para ir, não perguntou à irmã se ela queria ficar em casa.
Uma boa pessoa, que não estivesse agindo de forma egoísta, teria
perguntado se sua irmã, de aparência um tanto abatida, estava com vontade
de sair. Louisa sempre teve a tendência de se sacrificar demais por sua
família, e Catherine não podia ignorar sua suspeita de que ela estava
fazendo o mesmo agora. O fato de Nicholas estar mais atento do que o
normal corroborava essa crença.
Ela disse a si mesma que, se Kerrick não aparecesse logo, insistiria para
que fossem para casa.
Quando Kerrick entrou na sala de estar dos Hastings logo após sua
chegada, parecendo particularmente bonito em preto e um colete azul
Royal, que refletia a cor de seus olhos, sua culpa só aumentou porque ela
sabia que não partiriam logo. Tentou reprimir o sentimento, argumentando
que sua irmã nunca colocaria sua gravidez em risco e poderia decidir por si
mesma se precisava ir embora.
O olhar dele varreu a sala e parou quando a viu. Ele não sorriu, mas ela
podia ver a satisfação em seus olhos. Ciente de que Louisa a estava olhando
e que sua irmã a conhecia quase melhor do que ela mesma, desviou o olhar
dele.
— Lorde Kerrick está aqui — disse Louisa.
Sua irmã via demais. De todos que ela conhecia, Catherine achava mais
difícil saber como se comportar perto dela quando o nome de Kerrick surgia
na conversa. Louisa já sabia que seus sentimentos por ele iam além da
amizade, Catherine mal havia sido sutil sobre isso no passado, então não
podia fingir desinteresse agora. Mas como poderia ser ela mesma perto do
homem e não demonstrar que o relacionamento deles tinha ido um passo
adiante? Louisa e Nicholas nunca deveriam suspeitar.
Enquanto lutava para pensar no que dizer a sua irmã, ficou feliz por
Nicholas ter ido buscar bebidas para eles. Por alguma razão, ele era muito
protetor com ela.
No final, optou pela brevidade. — Sim — ela disse simplesmente,
permitindo que seu sorriso de felicidade aparecesse. Fazer menos seria
despertar as suspeitas de sua irmã.
Estavam em um canto do salão e, quando olhou para cima, viu que ele
se aproximava. A consciência, nítida e rápida, passou por ela e achou
impossível desviar o olhar novamente. Para seu crédito, ele parou e falou
primeiro com um grupo de homens para não parecer muito ansioso para vê-
la. Mas ela sabia o contrário.
Louisa agarrou sua mão e Catherine voltou sua atenção para sua irmã.
— Por favor, lembre-se de que o interesse dele está em outro lugar —
disse Louisa.
Alívio passou por ela com a confirmação de que sua irmã não
suspeitava que já havia mais entre eles.
Não podia prometer à irmã que renunciaria a todo o interesse por
Kerrick, então, em vez disso, disse: — Não me lembro de um anúncio de
noivado? Saiu no jornal desta manhã e ninguém me contou?
Louisa suspirou exasperada e Catherine riu.
— É realmente incorrigível — disse sua irmã.
— Nós já sabíamos disso.
Catherine olhou para cima para ver Kerrick se desvencilhar de seus
amigos e agora estava diante delas. A diversão iluminou seus olhos e ela
sabia que ele estava se lembrando de um certo encontro depravado que ela
havia provocado há dois dias. Não sabia o que dizer, mas foi salva quando
Nicholas voltou com as bebidas. Ela agradeceu e tomou um gole do
refresco.
Kerrick voltou sua atenção para Louisa. — Está linda como sempre,
Lady Overlea.
O sorriso de Louisa foi rápido, mas por trás dele Catherine podia
detectar sinais de tensão. Outra onda de culpa passou por ela quando
Nicholas pegou o braço de Louisa, que sorriu para ele com alívio.
— Talvez devêssemos nos sentar. Minha esposa está se sentindo um
pouco indisposta esta noite. No caminho de volta, vi que uma das mesas de
jogos estava livre. Podemos nos aventurar para ver se esse ainda é o caso.
Nicholas não esperou pela resposta deles, mas virou-se e dirigiu-se para
o salão matinal, onde as mesas haviam sido colocadas para os convidados
que queriam jogar.
Kerrick ofereceu a Catherine seu braço, e quando ela o aceitou, o calor a
inundou. Levou cada grama de sua vontade para não afundar contra ele e se
aquecer em sua proximidade. A maneira como os dedos dele apertaram
brevemente os dela, que estavam em seu braço, disse a ela que ele não
desfrutaria de nada mais. Mas, em vez disso, mantiveram uma distância
circunspecta enquanto seguiam Louisa e Nicholas para a sala matinal.
Ao passarem pelo corredor, Catherine ficou feliz ao ver que o Duque e a
Duquesa de Clarington haviam acabado de chegar. A maneira como Lorde e
Lady Hastings cumprimentaram o casal, no entanto, disse a ela que
provavelmente levaria algum tempo antes que eles pudessem se
desvencilhar do anfitrião e da anfitriã.
Como a atenção de todos estava no par recém-chegado, Catherine fez
uma pausa e olhou para Kerrick. — Eu preciso lhe falar — ela disse
baixinho, as palavras quase inaudíveis.
— Eu não acho…
— Eu estava com Rose esta manhã. Ela me disse algo que deveria saber.
Ele assentiu, mas não disse nada quando um grupo passou por eles.
Avançaram novamente e, quando entraram na sala matinal, ela viu que o
cunhado havia conseguido fechar a mesa de jogo aberta. Nicholas estava
sentado em frente a Louisa, segurando as mãos dela, e quando ela e Kerrick
se aproximaram, pôde ouvi-lo incitando sua irmã a ir para casa.
Ela não podia mais ignorar sua culpa. Sentando-se entre eles, ela se
virou para Louisa. — Se não estiver se sentindo bem, podemos ir embora.
Sua irmã balançou a cabeça. — É um absurdo. Nicholas está apenas
sendo excessivamente protetor.
— Estou sendo o protetor certo — Nicholas disse com uma careta. —
Se pressiona demais.
Louisa deu-lhe um sorriso afetuoso e virou-se para Catherine. — Eu
ficarei bem. Se ficar muito cansada, avisarei a todos. Até lá, vamos jogar?
Kerrick aproveitou aquele momento para intervir. — Existe algo que eu
deva saber?
Catherine fez questão de não encontrar seus olhos quando ele fez a
pergunta. Ele sabia da gravidez de Louisa porque ela havia deixado escapar
a informação, mas um anúncio formal ainda não havia sido feito. Ele
manteve uma cara séria quando Nicholas transmitiu a notícia de que eles
esperavam um evento feliz no outono.
— O pai é alguém que eu conheço? — Kerrick perguntou, levantando
uma sobrancelha.
Catherine não conseguiu conter seu suspiro de surpresa com a sugestão
de que sua irmã trairia seu marido. Ela ficou ainda mais chocada, no
entanto, quando Louisa riu abertamente.
— Você é terrível.
Nicholas fez uma careta. — É muito cedo para essas piadas — disse ele.
Seu aborrecimento era claro, mas ele não estava tão zangado quanto tal
sugestão deveria deixa-lo.
O olhar que o cunhado lançou em sua direção, porém, a fez perceber,
mais uma vez, que algo existia entre os outros três. Algo que se esforçaram
muito para manter escondido dela. A diversão de Louisa com o que
qualquer outra pessoa consideraria um insulto era uma prova clara de que
Kerrick e sua irmã eram muito mais amigos do que deveriam. Mas foi a
falta de reação de Nicholas que mais a intrigou. Qualquer outro homem
teria exigido que Kerrick o encontrasse ao amanhecer por ter proferido tal
insulto à esposa.
Decidiram-se por uma partida de whist. Apesar das garantias de Louisa
de que ela se sentia bem, ficou claro que sua mente não estava totalmente
no jogo quando ela perdeu várias oportunidades de ganhar a rodada.
Nicholas não estava muito melhor. Ele estava tão preocupado com sua
esposa que mal olhou para suas próprias cartas. Não era de admirar que
Catherine e Kerrick ganhassem a primeira mão com quase nenhum esforço.
Louisa tentou, mas não conseguiu conter o bocejo, e Nicholas descartou
as cartas que ainda tinha. O olhar em seu rosto disse a ela que a noite estava
terminando e que ele não toleraria nenhuma negativa. Louisa nem tentou.
— Desculpe. Não sei por que sou uma companhia tão ruim esta noite.
Eu me levantei quase ao meio-dia.
Catherine esperava encontrar uma oportunidade durante a noite para
falar com Kerrick a sós, ou tão sozinha quanto alguém poderia estar em
uma sala cheia, mas ela não podia forçar sua irmã a ficar quando parecia
que poderia adormecer a qualquer momento. Ela apenas teria que deixar
que ele encontrasse uma maneira de conversarem logo.
— Eu deveria ter insistido que ficássemos em casa hoje — ela disse. —
Foi muito egoísta da minha parte fazê-la sair hoje à noite, quando pude ver
que estava cansada.
— Talvez eu possa sugerir uma alternativa.
Todos se viraram para olhar para Kerrick, que estava recostado na
cadeira, os braços cruzados sobre o peito.
— Os Claringtons chegaram quando estávamos saindo da sala de estar.
Tenho certeza de que a duquesa não se importaria em atuar como
acompanhante da Srta. Evans pelo restante da noite.
Catherine virou-se para a irmã, incapaz de esconder sua ansiedade com
a proposta. — Acha que seria bom? Nós nos divertimos quando fomos a
Kew Gardens. Ela pode não achar um fardo.
— Não vejo por que não — disse Louisa. — Se ela não se importar, eu
poderia ir para casa sem sentir como se tivesse estragado toda a sua
diversão.
Nicholas assentiu energicamente. — Vou falar com Clarington agora.
Não quero colocar a duquesa em uma posição embaraçosa perguntando
diretamente se eles têm planos de ir a outro lugar esta noite.
Ele se foi apenas alguns minutos, mas quando voltou, não estava
sozinho. O Duque e a Duquesa de Clarington estavam com ele. Charlotte
foi direto para Louisa e deu-lhe um abraço rápido.
— Overlea nos contou a boa notícia. Eu ficaria muito feliz em
acompanhar Catherine esta noite.
— Se tem certeza. Não desejo impor… — Louisa começou.
— Não é nenhuma imposição. Na verdade, Catherine e eu temos que
colocar a conversa em dia desde a última vez que nos falamos, e quero
saber se ela está gostando de Londres.
O brilho nos olhos da duquesa não deixou Catherine em dúvida sobre o
assunto. Charlotte queria saber se ela havia conseguido atrair o interesse de
Kerrick. Catherine não queria mentir para ela, mas não podia contar a
verdade.
Com a mente tranquila de que uma acompanhante adequada havia sido
encontrada, Louisa permitiu que Nicholas a levasse para casa. O resto da
noite transcorreu em um borrão de música e dança, seguido por um jantar
tardio. Quando a duquesa lhe disse que ela e o marido partiriam em breve,
Catherine ainda não havia encontrado um momento para contar a Kerrick
sobre os planos de Rose de juntar os dois em todas as oportunidades.
Ela olhou em volta para ver se conseguia dar uma última olhada nele,
mas ele parecia ter desaparecido. Tentou reprimir sua decepção. Kerrick
sabia que ela precisava falar-lhe em particular, e tinha que acreditar que ele
encontraria uma maneira de fazer isso acontecer em breve. Se não naquela
noite, então talvez visitasse a casa deles no dia seguinte.
Ao deixar a casa dos Hastings com o Duque e a Duquesa de Clarington,
ela notou distraidamente que a carruagem que os esperava não era a mesma
que eles pegaram em seu último passeio juntos. A de antes era maior e tinha
o brasão ducal de Clarington, mas esta não tinha nenhuma marca. Ela
raciocinou que os Claringtons sem dúvida tinham várias carruagens e talvez
usassem esta quando não desejavam atrair muita atenção.
Charlotte se acomodou ao lado dela na carruagem enquanto Clarington
ocupava o assento oposto. Ela teve apenas um momento para se perguntar
sobre expressão curiosa em seu rosto, quando a duquesa falou. — Qual é
exatamente seu relacionamento com Lorde Kerrick?
Não esperando a pergunta, especialmente não na frente do duque,
Catherine se atrapalhou por uma resposta. Não queria mentir, mas não podia
colocar em risco a confiança que Kerrick depositara nela.
— Ele é um bom amigo.
Charlotte não estava disposta a deixá-la fugir da pergunta. — Gosta dele
e deseja se aproximar. Apesar do fato de que ele está cortejando
abertamente outra mulher.
Clarington permaneceu em silêncio, mas o peso de seu olhar parecia
pousar pesadamente sobre ela. Envergonhada, Catherine fechou os olhos e
desejou ardentemente que um buraco se abrisse no chão da carruagem para
que pudesse escapar. A duquesa tinha boas intenções, mas ela e seu marido
deviam realmente achá-la patética. Ela meio que esperava receber um
sermão sobre como deveria abandonar suas fantasias tolas. Originalmente
pensou que Kerrick ser um espião era emocionante e romântico, mas
naquele momento odiou o que ele era. Odiava que ela fosse forçada a
mentir para todos e que eles, sem dúvida, a viam como uma garota boba e
delirante.
— Eu não gostaria de discutir esse assunto…
O duque a interrompeu. — Dado o que está prestes a acontecer, não
responder à pergunta de Charlotte não é uma opção.
A corrente de raiva em suas palavras a surpreendeu. Ela observou,
espantada, quando Charlotte estendeu a mão e colocou a mão no joelho de
seu marido, uma ação que claramente pretendia sinalizar que ele deveria
deixar as perguntas para ela. Clarington lhe lançou um olhar sombrio, mas
não disse mais nada.
— Se importa com Lorde Kerrick? — Charlotte perguntou.
Como estava claro que eles não iriam deixa-la fugir da pergunta, ela não
teve escolha a não ser responder.
— Sim — Catherine disse simplesmente. Eles poderiam pensar o que
quisessem, mas ela não negaria seus sentimentos.
Sua resposta pareceu satisfazer Charlotte, entretanto, e ela lançou um
olhar triunfante para seu marido.
— Alex não está feliz com isso, mas eu, por outro lado, sempre
acreditei no amor. Se eu não tivesse… bem, não estaríamos casados agora.
— Esta não é a mesma situação — disse Clarington.
— Talvez não, mas aprendi que às vezes precisa se arriscar, se ama
alguém.
O rosto de Clarington suavizou quando ele olhou para sua esposa, e
ficou claro para Catherine que ele a amava muito.
A carruagem parou naquele momento e ela se surpreendeu quando um
lacaio abriu a porta. Não podiam já estar em casa, uma suspeita que se
confirmou quando ela olhou para fora da porta. Eles pareciam estar em uma
rua escura, que Catherine não reconheceu.
— Por que estamos parando?
Charlotte sorriu e, para surpresa de Catherine, permitiu que o lacaio a
ajudasse a descer da carruagem. Clarington lançou um olhar sério para ela.
— Nicholas confia em mim e espero sinceramente não estar cometendo
um erro grosseiro de julgamento — ele balançou a cabeça bruscamente,
com uma expressão de afetuosa perplexidade. — Charlotte está tendo um
efeito terrível sobre mim.
Com essa declaração enigmática, também desceu da carruagem.
Catherine ficou lá em estado de choque, sem saber o que fazer. Eles
esperavam que ela os seguisse? Mas no momento seguinte tudo ficou claro
quando Kerrick entrou na carruagem, fechou a porta atrás de si e se
acomodou no assento que Clarington acabara de desocupar.
Pura alegria a invadiu quando percebeu que ele devia ter combinado
com o duque e a duquesa para que tivessem esse momento de privacidade.
A antecipação era um pulsar constante em suas veias quando a carruagem
começou a avançar novamente. Aqui, onde ninguém podia vê-los, ela
permitiu que seus sentimentos tivessem rédeas soltas enquanto bebia a
visão dele.
Capítulo 11

E no inferno por isso, logo depois que Nicholas o


desafiasse a um duelo. Fazia apenas dois dias desde que Catherine foi a sua
casa. Dois dias desde que jurou manter distância dela. E, no entanto, aqui
estava, já dando desculpas para vê-la novamente em particular. Ele poderia
ter levado um momento para puxá-la de lado durante a noite. Não haveria
nada de impróprio em ter uma conversa privada a alguns metros de
distância dos outros, mas à vista deles. Todos sabiam de sua amizade com o
cunhado de Catherine. Contanto que mantivesse uma distância respeitável
entre os dois, ninguém teria levantado uma sobrancelha. Mas ele não
resistiu à tentação de marcar esse encontro privado. Não tinha tão pouco
autocontrole, desde que era jovem.
Vendo-a agora, a felicidade brilhando em seu rosto, sabia que seria
quase impossível manter seu desejo por ela sob controle. No espaço
fechado da carruagem escura, o aroma exótico de seu perfume o envolveu.
Ele não queria nada mais do que puxá-la para seu colo e continuar de onde
pararam na última vez que estiveram sozinhos.
Catherine disse que precisava lhe falar sobre algo que Rose Hardwick
lhe contara. Ele precisava manter sua mente na tarefa em mãos se quisesse
concluir sua missão e se desvencilhar de seu atual envolvimento romântico
com Rose.
Catherine se inclinou para frente. — Como…? — ela parou
abruptamente e o calor subiu por seu rosto. — Clarington sabe sobre nós?
Sobre o que aconteceu?
Estendendo a mão, ele capturou a dela e balançou a cabeça. — Eu não
contei a ninguém, sabe que eu não falaria sobre o que aconteceu entre nós.
Não quando todos devem acreditar que estou cortejando Rose Hardwick.
— A duquesa sabe o que sinto a seu respeito. Ela pode ter contado a ele.
Por um momento, ele esperou o pior, mas precisava descobrir o quanto
Catherine havia revelado. — Não contou a ela…
— Não — disse Catherine com um firme aceno de cabeça. — Eu lhe
prometi que não contaria a ninguém sobre o que está fazendo. E se alguém
soubesse sobre aquela noite… — ela parou, puxou a mão da dele e
endireitou-se na banco. — Não seria prudente da minha parte expor o que
aconteceu. Eu sei que muitas não pensariam em convencer um homem se
oferecendo para ele, mas eu não sou uma dessas mulheres. De qualquer
forma, nós dois sabemos que não é livre, mesmo que eu fosse do tipo que
trama dessa maneira.
O aborrecimento ganhou vida dentro dele. Ela realmente acreditava que
ele era o tipo de homem que simplesmente a deixaria sofrer com uma
reputação arruinada? Sua atual linha de investigação poderia ir para o
inferno se alguém descobrisse que ele havia roubado a inocência dela.
Mesmo que ela não fosse irmã de Louisa, seu senso de honra nunca
permitiria que ele se comportasse de maneira tão arrogante.
Outro pensamento mais perturbador lhe ocorreu. Catherine acreditava
que ele estava apenas brincando com ela? Teve sua cota de ligações
amorosas ao longo dos anos, mas apenas com mulheres experientes que
sabiam que seus encontros não iriam mais longe. Ele nunca tinha
debochado de uma inocente, e o incomodava, mais do que ele poderia dizer,
que ela acreditasse que fosse capaz de tal coisa.
Duas linhas se formaram entre as sobrancelhas dela. — Há algo de
errado?
Ele percebeu que estava franzindo a testa e recorreu a seus anos de
prática em esconder seus pensamentos para suavizar sua expressão. Se
recusou a considerar sua suspeita de que estava agindo mais com base na
emoção do que no intelecto, algo que não poderia fazer até que toda essa
confusão terminasse. Só então, poderia voltar sua atenção totalmente para a
criatura sedutora diante dele.
— Disse que tinha algo importante para me contar sobre seu encontro
com a Srta. Hardwick esta manhã.
Por um momento ele pensou que ela não permitiria que fugisse de sua
pergunta, mas no final ela não insistiu.
— Não vai gostar de ouvir isso… vai colocar sua investigação em risco.
— O que aconteceu? — ele perguntou, sua mente pulando para o pior
cenário possível, que ele havia revelado sua mão naquela manhã quando
questionou Worthington sobre seu aborrecimento na noite anterior no teatro.
— Eu não disse nada para Rose, mas ela é muito observadora.
Adivinhou que eu tenho sentimentos por você.
Ele começou a respirar um pouco mais fácil com sua admissão. — Não
escondeu o fato de que tem um interesse por mim.
Os ombros dela se enrijeceram, dizendo a ele que a irritara, mas não
conseguia entender por quê. Pela maneira como todos agiam, sua afeição
por ele era amplamente conhecida. Ele só esperava que o afeto não se
voltasse para outra pessoa antes que todo esse negócio acabasse.
— Pode muito bem ser, senhor mestre espião extraordinário, mas irá
surpreendê-lo saber que não teve mais sucesso em manter seus próprios
sentimentos escondidos.
Isso apagou o sorriso de seu rosto. — O que exatamente está dizendo?
— Rose adivinhou que retribui minha afeição.
Seus pensamentos voltaram imediatamente para a noite anterior e para o
modo como Rose parecia à vontade com ele no teatro — mais à vontade do
que jamais estivera em sua presença — e ele percebeu que Catherine estava
falando a verdade. Não que ela tivesse qualquer razão para mentir sobre tal
coisa.
Xingou e recostou-se no assento da carruagem enquanto contemplava as
repercussões da revelação de Catherine.
Ela se levantou e atravessou o pequeno espaço que os separava para se
sentar ao lado dele. Ele virou a cabeça para olhá-la e ficou surpreso com a
preocupação em seus olhos.
— Juro que não traí sua confiança. Ela adivinhou.
Ele se endireitou e estendeu a mão para pegar a mão que pairava sobre
seu braço. A hesitação dela em tocá-lo o incomodava mais do que ele
queria admitir.
— Eu sei, Catherine. Se tivesse deixado escapar, me contaria.
A cabeça dela se inclinou e mesmo na escuridão ele pôde ver que seus
olhos brilharam.
— Confia em mim.
Ele apertou a mão dela em resposta. — Não estou feliz que tenha se
envolvido nisso e ainda espero convencê-la a se distanciar dos
Worthingtons, mas apenas porque me preocupo com sua segurança. Eu
confio em ti para não revelar nada do que eu lhe disse.
Ela balançou a cabeça como se não pudesse acreditar em suas palavras.
— Louisa ainda pensa em mim como sua irmãzinha e age como se
precisasse me proteger do mundo.
— Sua irmã é quase oito anos mais velha e cuida de você desde que sua
mãe morreu quando era criança. Ela sempre a verá como sua irmãzinha e
desejará protegê-la. Mas caso não tenha notado, eu a vejo como a jovem
bonita e inteligente que é.
Seus olhos se encontraram e se sustentaram. Kerrick estava a um passo
de atacá-la quando ela desviou o olhar e disse, com a voz fraca: — Tem
mais. Rose decidiu bancar a casamenteira entre nós.
— Claro que resolveu — a situação toda era tão ridícula que ele não
conseguiu conter uma rápida gargalhada. — Deus me livre de mulheres
românticas. Como devo continuar a cortejá-la quando ela tentará nos unir?
A boca de Catherine se ergueu. — É decididamente uma complicação.
— Isso, minha querida, é um grande eufemismo — sua diversão morreu
quando ele percebeu que precisava parar de se deixar distrair por sua
afeição por Catherine. Ele tinha que começar a prestar mais atenção em sua
e, com sorte, última missão. — Não podemos correr o risco de sermos
pegos juntos.
Ela soltou um suspiro suave. — Eu sei. E quando frequentamos as
mesmas reuniões, devemos ter o cuidado de manter distância. Rose está
bastante entusiasmada com seu plano para tentar nos unir.
Suas mãos ainda estavam unidas e ele as ergueu para dar um beijo na
palma da mão dela. Sua respiração acelerou com a carícia íntima.
— Esta pode ser a última vez que ficaremos sozinhos por algum tempo.
Farei tudo ao meu alcance para encerrar esta investigação rapidamente, mas
essas coisas nem sempre saem conforme o planejado.
A língua dela percorreu os lábios e todo o corpo dele se contraiu em
resposta.
— Não devemos desperdiçar esta oportunidade — disse ela, traçando a
linha de sua mandíbula com a outra mão.
Ele mal podia negar o desejo de tê-la em seus braços e resistir à
necessidade de respirar. Quando ele agarrou sua cintura para puxá-la para
seu colo, ele pretendia que ela se sentasse de lado, uma tentativa tímida de
se enganar pensando que ainda estava no controle deste encontro. Mas ela
não quis saber disso e o surpreendeu levantando o vestido e movendo-se
para montar nele.
Seus lábios estavam quase se tocando e, apesar de nada ter acontecido
entre eles, eles já respiravam pesadamente.
— Senhorita Evans, é uma surpresa deliciosa — ele conseguiu dizer
antes de tomar sua boca com a sua.
Ele queria levar seu tempo para aproveitar este momento com ela, mas
no fundo de sua mente estava no conhecimento sempre presente de que este
encontro logo chegaria ao final. Quando ele fez acordos com os Claringtons
para que Catherine fosse levada para sua carruagem, ele instruiu o motorista
a fazer um desvio para a casa de Overlea na cidade. Mas não queria arriscar
a reputação de Catherine prolongando a viagem por mais de dez minutos,
quinze no máximo. Isso não deixava muito tempo antes que esse breve
interlúdio terminasse.
Catherine deve ter percebido sua urgência, pois o desespero de seu beijo
parecia combinar com o dele. Ele manteve as mãos plantadas nos quadris
dela, dizendo a si mesmo que teria que se contentar com a sensação de seu
peso leve encostado nele enquanto as bocas e línguas se moviam juntas.
O calor que crescia no espaço confinado da carruagem ameaçava
engolfá-lo. Ele honestamente não poderia dizer quem se moveu primeiro,
mas dentro de segundos o corpo dela estava pressionado contra o dele, suas
pernas apertando contra seus quadris enquanto ela pressionava intimamente
contra sua ereção. Os suaves gemidos que ela fazia enquanto se balançava
contra ele ameaçavam levá-lo à loucura.
Não poderia tomá-la novamente, já haviam arriscado muito quando ela
passou a noite com ele, mas isso não significava que não pudesse lhe dar
prazer.
Cerrando os dentes para manter sua necessidade de entrar nela sob
controle, ele abaixou seu corpete enquanto ela continuava a se esfregar
contra ele. Como seu decote era baixo, ela usava um meio espartilho abaixo
do vestido azul-celeste. Em instantes, ele libertou seus seios e colocou um
mamilo apertado em sua boca. Uma mão acariciou seu seio enquanto a
outra apertou seu quadril. A falha em sua voz quando ela se aproximou de
seu clímax o fez lutar contra a necessidade quase irresistível de jogá-la de
costas e enterrar-se dentro dela.
— Kerrick… oh…
Ela congelou e ele a observou, encantado, enquanto seu orgasmo a
invadia. A ponto de derramar-se em suas calças como um jovem, ele
plantou as mãos contra os quadris dela e empurrou a parte inferior de seu
corpo para longe dele. Ela murmurou em protesto e tentou afundar contra
ele, mas ele manteve a parte inferior de seu corpo firmemente à distância.
Ela se abaixou para tocá-lo. Ele fechou os olhos por vários segundos
enquanto os dedos dela acariciavam seu membro, apertando levemente.
Uma guerra ocorreu dentro dele. Estava prestes a ceder à sua necessidade
por ela quando duas batidas fortes interromperam o momento: o sinal de
seu cocheiro de que eles estavam a apenas dois minutos da casa de Overlea.
Kerrick xingou e tirou Catherine de seu colo. Quando ele se moveu para
sentar-se à sua frente, ela o olhou confusa. Seus seios ainda estavam saindo
por cima do vestido e seu cabelo estava meio solto. Ele gemeu e desviou os
olhos para não a jogar de costas e terminar o que haviam começado.
— Em breve estaremos à sua porta e, a menos que pretenda entrar em
casa dessa maneira, é melhor… — ele acenou com a mão na direção de seu
corpete e não pôde evitar olhar para ela novamente.
O aviso serviu para tirar Catherine de sua confusão, e rapidamente ela
colocou o vestido de volta no lugar e alisou as saias. Ela estava tentando
prender o cabelo quando ele falou.
– Vou visitar a senhorita Hardwick amanhã à tarde. Tenho certeza de
que os pais dela vão encorajá-la a aceitar um passeio comigo até o Hyde
Park.
As mãos de Catherine pararam, mas apenas por um momento. — Eu
acho que isso é sábio. Só podemos esperar que os pais dela não sejam tão
observadores quanto Rose, mas no caso de eles suspeitarem que há algo
entre nós, será um longo caminho para consolidar seu relacionamento com
eles se fizer uma demonstração de procurá-la.
Sua voz era calma, mas ele quase podia ler seus pensamentos e sabia
que ela estava tentando mascarar sua mágoa. Nunca se sentiu mais como
um canalha insensível. Esgueirar-se na calada da noite para ter prazer com
ela enquanto corteja abertamente outra. Naquele momento, não importava
que ela conhecesse seus verdadeiros sentimentos e motivos.
— Catherine…
— Não — o sorriso que ela lhe dirigiu era frágil. — Eu entendo, de
verdade. E não precisa temer. Eu vou te esperar.
Falava com sua verdadeira generosidade de espírito que ela tentaria dar
a ele uma medida de conforto quando ela mesma estivesse sofrendo.
— Eu não te mereço — ele disse enquanto a carruagem desacelerava até
parar.
Ela estendeu a mão e a colocou em sua coxa e seu corpo, ainda duro
com o desejo frustrado, saltou para a vida. — Talvez não, mas me tem de
qualquer maneira.
A porta começou a se abrir e ela puxou a mão de volta. Ao vê-la descer
da carruagem com a ajuda de um lacaio, uma sensação de pânico tomou
conta dele. Ele queria a chamar de volta, mas é claro que não chamou. Ele
nunca se considerou um homem supersticioso, mas naquele momento
temeu que ambos estivessem desafiando o destino.
Capítulo 12

C o esboço que acabara de completar e suspirou. Esta


era sua terceira tentativa de projetar um novo jardim para a casa dos
Worthingtons, e ainda não estava feliz com os resultados. O layout era bom
e as plantas que escolheu eram bonitas, mas no geral, era comum. Talvez se
apresentasse algumas das plantas que tinha visto durante seu passeio a
Kew Gardens… Suspirou novamente, mais alto. Não podia ceder a esse
desejo. Rose havia mencionado que o jardineiro era mais velho e não
saberia lidar com plantas que precisassem de cuidados especiais. Ele se
incomodaria em desenterrar as plantas que precisavam ser mantidas dentro
de casa durante os frios invernos britânicos, ou elas seriam deixadas para
morrer? Essa incerteza significava que Catherine só poderia incluir plantas
no projeto que fossem mais resistentes. As mesmas plantas que estavam em
todos os outros jardins de Londres.
Frustrada, ela deixou o esboço de lado e pegou um novo pedaço de
papel. Sua mão parou quando, com o canto do olho, ela viu um movimento.
Olhou para cima para ver sua irmã parada na porta da biblioteca.
— Eu me perguntava onde estaria — disse Louisa quando entrou na
sala.
Catherine acenou com a mão sobre os papéis que estavam espalhados
sobre a pequena mesa em que estava sentada. — Acho a luz da manhã aqui,
excelente para desenhar.
Sua irmã se aproximou e olhou para os vários esboços. Seus olhos
pousaram no que Catherine havia desenhado primeiro.
— Não me lembro do jardim dos Worthingtons ser tão grande. Claro, eu
só o vislumbrei pelas portas do jardim durante o musical.
— Eu posso ter me empolgado com esse — disse Catherine enquanto
movia a página para o lado e entregava a Louisa os três esboços que ela
havia desenhado para Rose. — Estes são os que desenhei para os
Worthingtons.
Catherine não contou à irmã que estava sonhando acordada com seu
jardim perfeito quando trabalhou naquele primeiro desenho. Estava cheio
de plantas exóticas que eram completamente impraticáveis para o clima
britânico, mas com um planejamento cuidadoso e um pouco de trabalho
extra, ela acreditava que poderia conseguir um ambiente, verdadeiramente,
fora do comum. Não conseguia expressar seu desejo de ver aquele jardim
ganhar vida na propriedade de Kerrick. Como um desejo que se guardava
em seu coração depois de ver uma estrela cadente, ela temia que falar em
voz alta o condenaria.
Louisa examinou cada esboço, balançando a cabeça maravilhada. —
Estes são muito bons. Eu não deveria estar surpresa. Sempre admirei sua
habilidade para desenhar e acho que poucos podem rivalizar com seu
interesse por jardins e plantas. Ainda assim, nunca imaginei que seria capaz
de projetar algo tão bom.
Catherine recostou-se na cadeira. — É mais difícil do que eu imaginava
dar vida a algo único, quando o espaço é tão limitado.
— Talvez sim, mas teve um começo maravilhoso aqui. Acho que os
Worthingtons vão achar difícil escolher um favorito.
Catherine aceitou os desenhos de sua irmã e os deixou de lado. Ela não
iria mostrá-los para Rose até que estivesse feliz com eles. Algo estava
faltando, mas ela teria que pensar no assunto mais tarde. Agora ela só
conseguia pensar em Louisa, que parecia frágil.
Catherine se levantou e, pegando a mão da irmã, conduziu-a até o
assento da janela. — Parece cansada — disse ela. — Não dormiu bem
ontem à noite?
Louisa sentou-se com uma careta. — Me disseram que o cansaço que
estou sentindo é normal e que vai passar em algum momento. Não estou
convencida de que o médico esteja me dizendo a verdade.
— Vamos ficar em casa esta noite — Catherine sentiu uma pontada de
tristeza ao saber que renunciaria à oportunidade de ver Kerrick se não
saíssem naquela noite, mas ao mesmo tempo era um alívio saber que por
uma noite ela não teria que fingir que ele não passava de um amigo da
família se seus caminhos se cruzassem.
— Não — Louisa sacudiu a cabeça com firmeza. — Eu estava subindo
as escadas para tirar uma soneca. Tenho certeza de que estarei mais
descansada esta noite.
— Eu não me importo — disse Catherine. — Para ser honesta, eu
gostaria de uma noite tranquila. A vida aqui na cidade é tão diferente do que
estávamos acostumados.
— Eu deveria insistir, mas devo concordar. É uma espécie de choque
depois da vida tranquila que costumávamos levar.
— John teria odiado — disse Catherine.
— John estaria na escola se não tivesse se alistado, não comparecendo
aos bailes.
Vendo a dor de sua irmã, Catherine pegou sua mão e a apertou. — Ele
não a odeia.
— Não pode dizer isso com certeza.
— Eu posso — ela hesitou um momento antes de decidir contar à irmã
sobre a última conversa que teve com o irmão. — Discutimos durante o
baile que a avó de Nicholas ofereceu depois que se casaram. Ele falou em ir
embora…
— E não me contou?
— Eu não poderia. Era o dia do seu casamento… Nunca imaginei que
ele fosse embora naquela noite.
Louisa desviou o olhar e Catherine percebeu que ela ainda se culpava.
— Ele não apoiou seu casamento, mas John estava lá naquela noite
porque ele te ama. Poderia ter ido embora antes da cerimônia, mas ficou. Eu
ainda não sei por que ele sentiu que tinha que partir.
Louisa ficou em silêncio por um momento. — Tenho medo de nunca
mais o vermos — sua mão foi para a barriga, que ainda estava plana. —
Que ele nunca conheça sua sobrinha ou sobrinho e nunca saiba como
Nicholas e eu somos felizes.
Catherine não queria nada além de dizer a sua irmã que seus medos
eram infundados, mas ela não podia. Jovens morriam todos os dias na
guerra da Inglaterra com a França. Em vez disso, puxou a irmã para um
abraço sincero.
Ela recuou quando uma batida suave soou na porta da biblioteca.
Contente pela interrupção, Catherine olhou para cima para ver um lacaio de
pé a porta. Ele segurava uma pequena bandeja de prata, sobre a qual
repousava uma nota. Ele anunciou que uma mensagem havia chegado para
Catherine e seus batimentos cardíacos aumentaram.
O lacaio se aproximou e Catherine pegou a nota lacrada na bandeja.
— É de Rose? — perguntou Louisa.
Catherine esperou que o lacaio saísse antes de olhar para baixo onde seu
nome estava inscrito no papel pesado. Ela não reconheceu a caligrafia.
— Não — ela disse, sua mente correndo enquanto se perguntava se
Kerrick tinha enviado.
— Vai abrir?
Ela hesitou por um momento, mas sabia que não poderia esconder o
conteúdo do bilhete de sua irmã. Fazer isso apenas despertaria a suspeita de
Louisa de que Catherine estava guardando segredos. Dizendo a si mesma
que Kerrick não arriscaria enviar a ela uma nota que alguém poderia ter
interceptado, virou o envelope e quebrou o selo de cera.
Ela desdobrou o papel e olhou primeiro para a assinatura na parte
inferior. Ela não conseguiu conter a pequena pontada de decepção quando
não viu o nome de Kerrick. Chamando a si mesma de tola, leu o bilhete.
— De quem é? — Louisa estava inclinada para a frente no assento, os
olhos brilhando de curiosidade.
— É de Lorde Thornton. Ele me convidou para um passeio de cabriolé
no Hyde Park esta tarde.
— Achei isso adorável. Lorde Thornton parece um jovem tão bom —
Louisa deve ter notado sua hesitação porque acrescentou: — E se for, não
preciso me sentir tão culpada por ficar em casa esta noite.
Catherine sabia que Louisa só a estava empurrando para Thornton
porque ela se preocupava com sua ligação com Kerrick. Ainda assim, ela se
viu tendo que morder o lábio para não dar voz ao seu aborrecimento.
— Irá aceitar?
Catherine estava prestes a dizer não, mas então se lembrou das palavras
de despedida de Kerrick para ela na noite anterior. Ele precisava que Lorde
Worthington acreditasse que seu interesse por Rose era genuíno, e planejava
levar Rose para um passeio hoje. Não ajudaria a crença da sociedade de que
ela e Kerrick eram apenas amigos se ela fosse vista com Lorde Thornton?
Certamente Kerrick aprovaria seu plano.
Convencida de que estava seguindo o curso de ação mais sábio, o
sorriso que ela deu à irmã foi genuíno. — Eu acho que está certa. Um pouco
de ar fresco esta tarde seria o ideal.

E ridículo quantas vezes ela trocava de roupa por dia. Antes de


sua irmã se casar, os três irmãos Evans — Catherine, Louisa e John —
moravam em uma cabana modesta e com uma renda ainda mais módica.
Eles nem tinham condições de contratar um criado. E o vestido que
Catherine escolhia para usar todas as manhãs era o que ainda usava quando
se deitava à noite.
Mas tudo isso mudou depois de um encontro casual com o novo
Marquês de Overlea, então considerado um inimigo da família, já que foi o
tio de Nicholas o responsável por roubar sua casa e terras. Catherine ficou
atônita quando, poucos dias depois, Louisa havia aceitado a proposta de
casamento de Nicholas.
Agora toda a sua vida era diferente. Além de seu irmão, que escolheu se
juntar à luta contra Napoleão em vez de aceitar qualquer coisa da família de
Overlea, eles passaram da pobreza para o totalmente oposto. E tão
rapidamente que Catherine ainda achava difícil lembrar, às vezes, que não
precisava mais se preocupar com nada. Bem, com nada além da questão de
encontrar um marido. Esperava sinceramente que esse problema fosse
resolvido em breve e que ela e Kerrick pudessem tornar público seu
namoro.
Mas até que chegasse essa hora, teria que prestar atenção ao homem
sentado ao seu lado na carruagem. Lorde Thornton parecia especialmente
animado naquela tarde. Catherine realmente gostava dele, pois ele a
lembrava muito de seu irmão. Sim, ele era alguns anos mais velho que
John, que agora tinha dezenove anos, mas como seu irmão, Thornton era
louro. E parecia tão jovem. Especialmente quando comparado a Kerrick.
Corou quando percebeu que Lorde Thornton havia feito uma pergunta
enquanto ela pensava em outro homem.
— Sinto muito — disse ela. — Eu estava pensando sobre ontem à noite.
O sorriso dele a lembrava de um cachorrinho ansioso demais. — Estou
tão feliz por ter pensado em comparecer à reunião dos Hastings. Quase não
o fiz e teria odiado não a encontrar.
— Gosto da intimidade das festas caseiras menores.
— Fiquei desapontado por vê-la saindo tão cedo. Eu estava pensando…
— Thornton engoliu em seco. — Talvez no próximo baile poderíamos
dançar mais de uma vez.
Por um momento, ela realmente considerou conceder seu pedido.
Dançar várias vezes com o Visconde Thornton indicaria que ele era um
sério candidato à mão dela em matrimônio. Definitivamente ajudaria muito
a garantir que o nome dela não fosse romanticamente ligado ao de Kerrick.
Mas, no final, ela não se sentiu à vontade para enviar essa mensagem para
Thornton ou para a sociedade.
— Ainda é um pouco cedo para tais declarações, não é?
Com expressão séria, ele respondeu: — Não acredito em esperar quando
vejo algo que desejo.
Ela não sabia como responder e ocorreu-lhe que Rose saberia
exatamente o que dizer. Catherine não tinha quase nenhuma experiência
com romance além do que ela e Kerrick compartilharam. Não tinha a
habilidade de derrubar um homem com a sutileza que Rose possuía. Sua
amiga teria dito algo espirituoso e feito Lorde Thornton acreditar que ainda
tinha uma chance, mesmo enquanto ela o afastava.
Como se pensar em sua amiga a tivesse conjurado, outra carruagem
parou ao lado da deles no lotado caminho de cavalos do Hyde Park. O
alívio pela interrupção oportuna passou por ela quando viu que estava
ocupado com Kerrick e Rose.
— Que feliz coincidência encontrá-los aqui — Rose disse. — Talvez
possamos caminhar um pouco?
A expressão de Kerrick era neutra, mas o leve aperto em sua mandíbula
lhe disse que ele não estava feliz em vê-la ali. Um rápido olhar para
Thornton, que parecia feliz com a sugestão de Rose, indicou que ele não
havia notado o descontentamento de Kerrick. Catherine não via razão para
discordar. Ser vista em público com diferentes companheiros ajudaria a
aumentar a percepção de que ele não passava de um amigo da família.
Os veículos foram guiados para o lado e Thornton ajudou-a a descer.
Quando ele segurou a mão dela por vários segundos a mais do que o
necessário, ela não conseguiu evitar olhar para Kerrick. Ele não estava
olhando para eles, mas a rigidez de seus ombros era prova de que havia
notado o gesto íntimo e que não aprovava.
— Tente não se afastar e causar pânico — disse Rose com falsa censura
depois de chegar ao seu lado.
Catherine só conseguiu balançar a cabeça com desgosto. — Ouviu falar
sobre isso?
Rose riu, o som leve e musical. — Com o número de homens
envolvidos na equipe de busca, não acho que haja alguém que não tenha
ouvido a história.
Seus olhos encontraram os de Kerrick. Ele ainda não estava na cidade
para aquele incidente embaraçoso, mas ela lhe contou na primeira noite em
que dançaram juntos.
Afastando o olhar dele, ela se virou para Rose e disse com um pequeno
estremecimento: — Eu estava com medo de que fosse esse o caso.
Rose passou um braço pelo dela e começou a caminhar para longe das
carruagens em um ritmo moderado, os homens caminhando ao lado delas.
— Depois de ouvir a história, percebi que precisava conhecê-la. Eu decidi
que qualquer um que pudesse ter metade dos homens elegíveis da sociedade
perseguindo-a era alguém que eu tinha que conhecer.
Catherine sentiu uma pontada de alarme com a implicação da
declaração de sua amiga. — Faz parecer que o incidente foi calculado.
Garanto-lhe que não.
— Na época eu pensei que era — disse Rose com um encolher de
ombros. — Mas não tema, agora que a conheço, percebo que realmente se
afastou para ver algumas plantas.
— Em minha defesa, eu era recém-chegada a Londres e como era minha
primeira vez no Hyde Park, estava curiosa.
Kerrick acrescentou: — Quando fiquei em Overlea Manor no outono
passado, ela estava quase sempre na estufa. A avó de Overlea gosta bastante
de plantas incomuns, e Catherine assumiu como missão tentar catalogar
todas elas.
— Não estou surpresa em ouvir isso — disse Rose. O brilho em seus
olhos deu a Catherine apenas um segundo de aviso de que sua amiga estava
tramando algo antes de se virar para Lorde Thornton. — E o senhor,
milorde? Compartilha o amor da Srta. Evans pelas plantas?
A expressão no rosto de Thornton deu a impressão de que Rose acabara
de perguntar se o céu era roxo. Catherine franziu a testa e ele se apressou
em responder. — Admito que nunca dei muita atenção a elas. Minha mãe
diz que, quando eu era mais novo, costumava ser encontrado cuidando do
jardim com meus irmãos. Depois disso, passei a maior parte do tempo na
escola.
Catherine riu. — Meu irmão John era muito parecido. Receio que a
maioria dos meninos esteja cheia de energia demais para sentar e apreciar a
beleza da natureza.
— Eu nunca perguntei — disse Kerrick. — Terminou de catalogar todas
as plantas? Confesso que não consegui distinguir uma planta comumente
encontrada na Inglaterra das mais exóticas.
— Ainda há algumas que não consegui descobrir em nenhum dos textos
sobre plantas na biblioteca de Overlea Manor. Já comprei alguns livros que
pretendo levar comigo quando a temporada terminar — ela suspirou,
acrescentando: — Gostaria de ter pensado em trazer esboços das plantas
comigo para Londres. O Sr. Clifton poderia ter me ajudado a identificá-las.
— Clifton? Quem é esse? — Thornton perguntou.
— O jardineiro-chefe do Kew Gardens.
— Lorde Kerrick providenciou para levar a Srta. Evans em um passeio
pelos jardins de lá — com um olhar malicioso na direção de Catherine,
Rose acrescentou: — Deve ter sido muito romântico.
Thornton franziu a testa e Catherine poderia ter estrangulado sua amiga.
Estava claro que Rose não estava perdendo tempo em tentar bancar a
casamenteira entre ela e Kerrick. Apertou o braço de sua amiga em uma
súplica silenciosa para que desistisse e se voltou para Lorde Thornton. —
Claro que não. O Duque e a Duquesa de Clarington, também estiveram
presentes durante a visita.
Thornton pareceu satisfeito com sua resposta. — Talvez da próxima vez
que estiver em Londres, eu a leve pessoalmente a Kew Gardens, para que
possa mostrar os esboços de suas plantas misteriosas a este Sr. Clifton.
A expressão de Thornton era tão séria que Catherine sentiu uma pontada
de remorso por falsamente alimentar suas esperanças. Uma rápida olhada
em Kerrick mostrou que ele evitava o contato visual. Ela estava prestes a
mudar de assunto em vez de responder quando viu o aperto revelador de sua
mandíbula. Uma emoção a percorreu com a pequena prova de seu ciúme.
Uma centelha de malícia a incitou a testar sua teoria.
— Talvez — disse ela, encontrando seu olhar e, em seguida, olhando
para baixo em uma tentativa de timidez.
Ela copiou a ação de Rose, que a usava com grande efeito. Pareceu
funcionar, porque quando olhou para Thornton com o canto do olho, seu
sorriso se alargou. Ela levou um momento para perceber que Kerrick havia
parado de andar. Estava tão envolvida em sua pequena encenação que não
percebeu. Rose, no entanto, sim e puxou o braço de Catherine, fazendo-a
parar. O brilho nos olhos de sua amiga falava muito. Rose estava irritada
com ela por flertar com o homem errado.
Kerrick ofereceu a Rose seu braço, que o aceitou. Terminado o passeio,
Catherine foi deixada para tomar o braço de Thornton enquanto voltavam
para as carruagens. Rose e Kerrick andaram alguns passos à frente deles.
Kerrick curvou-se para murmurar algo apenas para os ouvidos de Rose, e
Catherine teve que cerrar os dentes quando sua amiga riu alegremente.
Os dois estão apenas representando um papel, disse a si mesma. Mas
isso não a impediu de sentir uma pontada de ciúme quando Kerrick ajudou
Rose a subir na carruagem. Ela queria tanto ser a mulher que se sentaria ao
lado dele em público. Eles tiveram um encontro maravilhoso na noite
anterior em sua carruagem fechada, mas à luz do dia isso não era mais
suficiente.
Capítulo 13

F uma semana desde que ela vira Kerrick pela última vez, e
Catherine sentia profundamente sua ausência. Se pensou em puni-la por
flertar com o Visconde Thornton, conseguiu. Todas as noites, depois de
voltar para casa de um dos muitos entretenimentos noturnos, ela tinha que
lutar contra a tentação de fugir e voltar à mansão de Kerrick. Havia
prometido que não faria aquilo novamente, mas enquanto estava deitada na
cama imaginando todas as coisas deliciosamente perversas que eles haviam
feito juntos, ansiando por seu toque, sua determinação enfraquecia.
Não ajudou que seu breve interlúdio na carruagem do Duque de
Clarington tivesse mostrado a ela que o prazer entre um homem e uma
mulher não se limitava ao quarto. Via-se procurando por Kerrick todas as
noites. Imaginou-o levando-a para um quarto privado — não era esnobe, até
mesmo um armário serviria — e fazendo amor com ela novamente. E todas
as noites, quando ele não aparecia, voltava para casa mais frustrada do que
nunca com o estado atual de seu relacionamento.
Porém mais importante do que seu desejo por Kerrick, era sua
determinação de que ele não a visse como uma garota tola que permitiria
que seus desejos egoístas colocassem sua missão atual em risco.
Logicamente, sabia que ele confiava nela, não lhe teria contado tanto se não
confiasse. Mas quando estava sozinha à noite, ela se lembrava de como ele
e Louisa eram próximos quando ele esteve em Overlea Manor após o
casamento de sua irmã com Nicholas. Uma pequena parte dela ainda se
perguntava se ele a via como uma substituta de Louisa. Era capaz de afastar
esses pensamentos à luz do dia, mas à medida que os dias passavam e ela
não conseguia vê-lo, sua dúvida começava a crescer.
Ela precisava vê-lo novamente, então foi um imenso alívio saber que ele
estaria presente no pequeno jantar que Louisa e Nicholas ofereceriam
naquela noite. Sabia que ele havia sido convidado, mas temia que enviasse
suas desculpas novamente.
Lembrando-se da reação de Kerrick na última vez em que ela usara seu
vestido de noite amarelo no teatro, teve um momento de incerteza quando
disse à criada que queria usar o vestido verde-claro mais modesto, aquele
que usara na noite em que o visitou em sua casa. A noite em que fizeram
amor. A maioria dos homens não se lembraria disso, mas ela sabia que
Kerrick se lembraria. Ele sempre prestava atenção nos mínimos detalhes,
uma característica que suspeitava ser inestimável para ele em seu trabalho
para o governo.
As vozes abafadas de sua irmã e cunhado no corredor quando passaram
por seu quarto disseram que era hora do jantar. Respirando fundo, ela alisou
as mãos sobre o vestido e olhou para o espelho acima da penteadeira para
garantir que estava com a melhor aparência. Seis dias se passaram desde
aquele passeio ao Hyde Park… sete, desde que ela e Kerrick estiveram
sozinhos em sua carruagem. Não deveria ficar nervosa com a ideia de vê-lo
novamente, mas estava.
Hesitou no topo da escada quando uma batida soou na porta da frente.
Um momento depois, ela ouviu a voz do Duque de Clarington e teve que
balançar a cabeça para seu próprio absurdo. Ela estava dando muito valor à
ausência de Kerrick.
Tinha acabado de chegar ao pé da escada quando houve outra batida na
porta. Esperou, com um friozinho na barriga, enquanto o mordomo abria a
porta. Quando viu Kerrick parado no patamar, não conseguiu conter o
sorriso que se espalhou por seu rosto. Quando ele passou pela soleira, seu
olhar se fixou no dela por um momento antes de se afastar. Quando seus
olhos encontraram os dela novamente, havia um calor lá que lhe disse que
ele lembrava da última vez que a tinha visto naquele vestido, e do que se
seguiu. O peso daquele olhar era quase uma carícia física.
Ela esperou enquanto Kerrick entregava o chapéu e as luvas ao
mordomo e se aproximava dela. Ele ofereceu-lhe o braço com uma
sobrancelha ligeiramente levantada e, para sua mortificação, ela corou.
Consciente de que o outro homem ainda estava atrás deles, ela pegou-lhe o
braço sem dizer uma palavra. Estavam a apenas alguns passos da sala de
estar e podiam ouvir as vozes dos outros, mas não se moveram para se
juntar a eles. Sentindo claramente que estava sobrando, o mordomo se
retirou depois de fazer uma leve reverência em sua direção.
— Parece preocupada — Kerrick disse quando eles estavam sozinhos.
— Há algum problema?
Catherine balançou a cabeça. — Não mais.
Ele apertou a mão que ela descansava em seu braço e estava prestes a
dizer algo mais, quando Louisa saiu para o corredor. Sua expressão deixou
claro que ela não estava feliz por encontrá-los sozinhos. Louisa já sabia dos
sentimentos de Catherine por Kerrick, mas era importante que não
suspeitasse que agora havia algo mais entre eles.
— Eu pensei que talvez algo estivesse errado já que não se juntaram a
nós.
Foi com relutância que Catherine se afastou dele. — Eu estava
verificando para ter certeza de que este homem era, de fato, Lorde Kerrick
— ela disse, visando leviandade. — Faz tanto tempo desde que o vimos,
não tenho certeza.
— Peço desculpas pela minha ausência — disse Kerrick. — Não estou
acostumado a ir a tantos bailes e precisava de um pouco de descanso de
todos os vários entretenimentos.
— Tenho certeza de que todos nós devemos ser-lhe uma provação —
disse Louisa. — Nicholas me disse que já esteve em mais jogos e bailes
nesta temporada do que em todos os anos anteriores juntos.
— Admito que é um pouco solitário agora que meus amigos mais
próximos trocaram seus modos habituais pela felicidade conjugal. Se eu
quiser vê-los, sou forçado a ir pessoalmente a esses bailes e desistir de
minhas assombrações de solteiro.
— Pobre Kerrick — Louisa disse com um sorriso carinhoso.
Catherine teve que cerrar os dentes e conter suas dúvidas quando viu a
evidência no rosto de Kerrick da afeição que ele tinha por sua irmã. Mais do
que isso, ela odiava que ainda se perguntasse o quão longe aquele afeto iria.
Mas pelo menos a tensão que surgiu por serem encontrados sussurrando no
corredor se dissipou, e juntos eles se juntaram a Nicholas e aos Claringtons,
na sala de estar.
O jantar foi mais difícil do que ela poderia imaginar. O grupo era
pequeno, então não havia chance de manter uma conversa particular com
Kerrick. Ele se sentou em frente a ela, mas Louisa estava entre eles, em
uma das pontas da mesa. Cada palavra que eles falavam era, naturalmente,
ouvida por sua irmã. A refeição pareceu se arrastar para sempre, mas
Catherine disse a si mesma que certamente ela e Kerrick conseguiriam
manter uma conversa longe dos outros mais tarde naquela noite.
Quando o jantar terminou e os homens se juntaram às mulheres na sala
de estar, depois de ficarem para trás para tomar o porto, Catherine ergueu os
olhos ansiosamente. O olhar de Kerrick encontrou o dela e nele ela viu algo
que fez seu pulso disparar. Ele começou a se mover em sua direção, mas foi
interrompido quando Louisa se colocou entre eles e capturou sua atenção.
Não demorou muito para ela perceber que sua irmã estava fazendo de
tudo para garantir que ela e Kerrick não tivessem a oportunidade nem
mesmo de um momento de conversa privada. Ela queria gritar de frustração
toda vez que se virava para encontrar Louisa os olhando, e sempre que
Kerrick se aproximava dela, ou ela dele, sua irmã fazia questão de
interceptá-los.
— O que está fazendo? — ela sibilou para Louisa depois de arrastá-la
para um canto da sala.
— Estou a protegendo de si mesma — a rigidez dos ombros de Louisa
indicava que estava se preparando para a resposta furiosa de Catherine.
Ela não tinha certeza de como responder. Entendeu a motivação por trás
das ações de sua irmã e ficou dividida entre a frustração por Louisa ainda
tratá-la como uma criança e a tristeza por seu relacionamento com Kerrick
permanecer em segredo. Foi salva de ter que responder, no entanto, quando
Nicholas se juntou a elas. Por sua expressão curiosa, ficou claro que ele
havia testemunhado a troca. Levou toda a força que ela possuía para se virar
e sorrir para seu cunhado.
— Espero que não esteja se cansando — disse ele a Louisa, a
preocupação gravada em suas feições.
O sorriso que Louisa deu ao marido continha mais do que um toque de
indulgência. — Pare de se preocupar, estou bem.
Catherine não pôde deixar de ver a ironia na declaração de sua irmã e
foi tentada a repetir as palavras de volta para ela com respeito à
preocupação de Louisa sobre seus sentimentos por Kerrick. Ela abriu a boca
para fazer exatamente isso, mas foi interrompida quando a duquesa se
juntou a eles.
— Senhorita Evans — disse ela, colocando a mão em volta do braço de
Catherine. — Lorde Kerrick acabou de me dizer que está projetando um
novo jardim para os Worthingtons.
— Sim, estou — ela ignorou o olhar de preocupação trocado entre
Louisa e Nicholas.
— Depois de nossa excursão a Kew Gardens, devo confessar que estou
inspirada a expandir os jardins de nossa propriedade — A duquesa fez uma
pausa antes de acrescentar: — Suponho que não tenha nenhum desenho de
seus planos? Fiquei muito impressionada com o seu conhecimento e estou
mais do que curiosa para vê-los.
— Eu tenho alguns esboços, mas admito que não estou muito feliz com
eles. Receio não ser nada como o famoso Capability Brown.
— Tenho certeza de que está sendo modesta. Seria muita imposição
pedir para vê-los?
Catherine não perdeu o brilho nos olhos da outra mulher e suspeitou que
ela não desejava apenas discutir sobre jardins. Como Rose, e ao contrário
de sua irmã, sabia que a duquesa esperava facilitar um casamento entre ela
e Kerrick. Não havia outro motivo para ela ter convencido o marido a
ajudar a marcar aquele encontro privado na carruagem.
— Estão na biblioteca. Gostaria de vê-los agora?
— Se não se importa — disse a duquesa com um sorriso que parecia
muito inocente.
Sem esperar por sua resposta, ela quase arrastou Catherine para fora da
sala. Enquanto se dirigiam à biblioteca, Catherine preparou-se para as
perguntas que sabia que viriam.
Ela não precisou esperar muito. Depois de cruzar a soleira, a duquesa
fechou a porta e se virou para encará-la.
— Como vão as coisas com Lorde Kerrick?
Catherine caminhou até a pequena escrivaninha onde guardava os
desenhos nos quais estava trabalhando. De costas para a duquesa enquanto
pegava a pequena pilha de papéis, ela disse: — Somos amigos.
A duquesa suspirou. — Eu esperava que depois de seu encontro na
carruagem os dois tivessem ido além da amizade.
Catherine virou-se para encará-la, os desenhos apertados contra o peito,
e expressou a pergunta que a preocupava. — Acha que Sua Graça vai contar
a Nicholas sobre aquela noite?
— Não, se ele quiser manter a paz. Não acho que Overlea ficaria feliz
em saber que ele ajudou a organizar um encontro privado entre seu melhor
amigo e sua jovem cunhada. Ele é bastante protetor contigo.
Catherine soltou a respiração que estava segurando. — Eu sei. Odeio
pensar em como ele será protetor se Louisa tiver uma menina.
A duquesa a olhou atentamente. — Estão circulando rumores… Espera-
se que Kerrick peça a mão de Rose Hardwick em casamento a qualquer
momento.
Catherine teve que se esforçar para não desviar o olhar quando
respondeu. — Receio que esses rumores possam ser verdadeiros.
— Como pode estar tão calma? Se isso for verdade, então ele a tratou de
maneira abominável.
Incapaz de sustentar o olhar da mulher, ela desviou o olhar. Ela não
precisou fingir suas emoções quando disse: — Não vou mentir e dizer que a
ideia de vê-los se casarem me deixa mais do que um pouco doente. Sabe
que eu me importo com ele, assim como minha irmã. Na verdade, temo que
o mundo inteiro saiba disso — ela estremeceu e se apressou em acrescentar:
— Mas Lorde Kerrick não se comportou de maneira inadequada.
Para evitar que a duquesa a questionasse mais, Catherine sabia que teria
que mentir abertamente. — Temo que Kerrick me veja apenas como a irmã
mais nova de Louisa. Ele quer fazer algo de bom para ela e Nicholas depois
que o bebê nascer. É por isso que ele queria falar comigo em particular, para
que ninguém soubesse de seus planos.
Ficou claro que a duquesa não acreditou nela. — E o que ele está
planejando?
— Não posso trair a confiança dele. Terá que ver junto com os outros.
A duquesa pareceu considerar suas palavras por um momento antes de
falar. — Talvez eu possa ajudar.
Catherine fechou os olhos por um momento, sem se preocupar em
esconder sua frustração. Parece que o mundo inteiro estava alinhado para
colocar obstáculos no caminho da investigação de Kerrick. Ela não podia
culpar a duquesa, no entanto. Como ela poderia saber que a única maneira
de ela e Kerrick ficarem juntos era permitir que ele continuasse a se
aproximar de outra mulher?
— Eu gostaria que não o fizesse — ela disse, encarando o olhar
preocupado da duquesa de frente. — Sei que seu coração está no lugar certo
e agradeço, mas toda essa situação já é mais do que um pouco difícil para
mim.
Catherine percebeu que a duquesa não queria deixar o assunto morrer,
mas em vez disso ela pegou os desenhos que Catherine ainda segurava
apertados contra o peito. Aliviada, Catherine os entregou à outra mulher.
O restante da noite passou rapidamente. Quando ela e a duquesa
voltaram para a sala de estar, Louisa tocava piano e os homens discutiam
sobre uma nova carne de cavalo que tinham visto no Tattersall’s. Catherine
fez uma nota mental para avisar Kerrick que ele tinha que planejar algo
especial para a chegada do primeiro filho de Louisa e Nicholas, para que a
duquesa não soubesse que mentiram para ela.
Questionou se algum dia teria essa oportunidade. Quando ela se retirou
para a dormir, estava além de frustrada. Ela passou a noite inteira na
companhia de Kerrick, mas a única conversa privada que tiveram foi depois
de sua chegada, quando trocaram algumas palavras.
Catherine refletiu sobre sua situação enquanto sua criada a ajudava a
tirar o vestido e a vestir a camisola. Estava tão absorta em seus próprios
pensamentos que foi somente quando estava sentada em sua penteadeira,
que se deu conta de que sua criada estava estranhamente silenciosa.
Normalmente, Lily gostava de tagarelar, mas não disse uma palavra
enquanto removia os grampos do cabelo de Catherine.
Ela se virou na cadeira para encarar a jovem. — Está muito quieta esta
noite, Lily.
Sua criada desviou o olhar e pareceu lutar consigo mesma antes de falar.
— Sinto muito, Srta. Evans.
A culpa cintilou no rosto da outra mulher e a respiração congelou nos
pulmões de Catherine enquanto sua mente saltava para o pior cenário
possível. — Para quem contou? — ela finalmente conseguiu.
Lily parecia confusa. — Contei?
— Sobre minha visita à casa de Lorde Kerrick. A quem contou?
Sua criada balançou a cabeça com veemência. — Oh não, eu não contei
a ninguém. Eu prometi que não o faria.
O aperto em seu peito aliviou um pouco. — Então pelo que sente muito,
Lily?
A mulher hesitou um momento antes de enfiar a mão no bolso do
uniforme e tirar um bilhete dobrado. — O lacaio me deu este bilhete para
lhe entregar. Ele disse que era de Sua Graça, mas a caligrafia parecia ter
sido escrita por um homem. Eu não tinha certeza se deveria entregar.
Ficou claro que sua criada estava tendo algumas dúvidas sobre
concordar em manter os segredos de sua patroa. Catherine manteve o tom
quando respondeu. — Confia em mim para saber o que estou fazendo?
Esse era o cerne da questão. Lily a via como uma jovem volúvel agindo
impetuosamente, perseguindo um homem que não estava disponível?
— Se Lady Overlea descobrir…
— Não vai lhe acontecer nada, Lily. Minha irmã me conhece bem o
suficiente para saber que posso ser muito teimosa quando se trata de
conseguir o que quero. Se ela souber das minhas… atividades… e culpar
alguém, serei eu. Vou garantir que nada lhe aconteça.
— E quanto a Senhorita? Quem vai garantir que nada lhe aconteça?
Catherine estendeu a mão para o bilhete. Quando Lily o soltou, ela
sorriu para a jovem. — Eu vou. Nós duas sabemos que Lorde Kerrick não
faria nada para irritar Lorde Overlea.
Isso não era exatamente verdade, mas as palavras pareciam dar algum
conforto a Lily. Catherine ansiava por dispensá-la e ler o bilhete, mas se
esperava que sua criada acreditasse que ela era uma jovem capaz com uma
boa cabeça sobre os ombros, teria que representar o papel, não importa o
quanto a matava esperar.
Catherine se voltou para o espelho, colocou o bilhete sobre a
penteadeira e esperou que sua criada terminasse de pentear seu cabelo.
Finalmente, depois do que pareceu uma eternidade, Catherine desejou boa
noite à mulher e a observou sair do quarto.
Suas mãos quase tremiam quando ela virou o bilhete. Estava lacrado e
na frente o nome dela escrito em negrito. Catherine quebrou o lacre e
desdobrou o papel. Seus olhos examinaram ansiosamente as poucas
palavras que estavam escritas ali.
Estou fazendo tudo o que posso para concluir o assunto que
discutimos. Por favor, não desista da esperança.

Sinto sua falta.

—K
Catherine apertou o bilhete contra o peito. Era um pobre substituto para
a presença de Kerrick, mas era tudo o que ela tinha dele.

C até mais tarde do que o normal na manhã seguinte.


Como a gravidez de sua irmã significava que Louisa tinha dificuldade em
manter a comida no estômago pela manhã, e como Nicholas tendia a pairar
sobre sua esposa na maioria das vezes, eles raramente desciam para o café
da manhã. Catherine tinha, portanto, começado a pedir que uma bandeja de
café fosse trazida para seu quarto. Chamou a criada para lhe trazer o chá
com torradas habitual, mas quando a jovem apareceu, informou a Catherine
que Rose havia chegado e que a esperava na sala de estar.
Lily a ajudou a se vestir rapidamente enquanto Catherine tentava se
lembrar se tinha feito planos de ir às compras com Rose naquela manhã. Ela
tinha tanto em mente ultimamente que não ficaria surpresa ao saber que
havia esquecido.
Quando entrou na sala dez minutos depois, percebeu imediatamente que
Rose estava chateada. Estava sentada na beirada do sofá, com as mãos
apertadas no colo enquanto olhava para o nada.
Catherine atravessou a sala e sentou-se ao lado da amiga. — Pensei que
talvez tivesse esquecido outra de suas excursões a Bond Street, mas pela
expressão em seu rosto posso ver que não é o caso. Estou quase com medo
de perguntar o que aconteceu.
Rose olhou para a porta para se certificar de que estavam sozinhas antes
de responder. — Meus pais acham que tenho um compromisso com a
costureira e não sabem que vim vê-la.
— Suponho que os levou a acreditar nisso, mas não entendo por quê.
— É simplesmente terrível, Catherine. Papai, aparentemente, tem
ouvido rumores sobre Lorde Kerrick passar tanto tempo aqui.
A preocupação de Rose a confundiu. — Não é segredo que ele e meu
cunhado são melhores amigos. Todo mundo sabe disso. Por que deveria
importar se ele ocasionalmente janta aqui?
— É por sua causa. Papai acha que Kerrick está me fazendo de boba e
que é contigo que ele pretende se casar.
Catherine se virou e balançou a cabeça enquanto lutava para esconder o
pânico que estava começando a crescer com as palavras de sua amiga.
— Já sabe como me sinto — disse Rose quando Catherine não
respondeu. — Espero fervorosamente que o que ele diz seja verdade. Mas
papai está muito zangado com isso e me proibiu de vê-la novamente. Se
puder imaginar, ele acredita que está me usando para se aproximar de Lorde
Kerrick. Temo que ele nunca me perdoaria se soubesse que estou fazendo
tudo ao meu alcance para promover seu compromisso.
— Não deveria dizer uma coisa dessas…
— Por que não? Eu vi a maneira como ele a olha e está claro que não
sou a única pessoa que notou.
Catherine sentiu como se estivesse sendo partida em duas. Odiava
mentir para a amiga, especialmente porque estava claro que Rose não era
tola e podia ver por si mesma como ela e Kerrick se sentiam, apesar de suas
tentativas de esconder. O fato de os outros estarem começando a notar era
um desastre. A última coisa que ela queria era trair a confiança de Kerrick
nela. Não poderia ser a razão do fracasso de suas investigações ou ele nunca
mais confiaria nela. E se perdesse sua confiança, ele continuaria cuidando
dela?
Queria acreditar que ele a amava tanto quanto ela a ele, mas não
conseguia calar aquela voz mesquinha que dizia que ela poderia ser
facilmente substituída. Kerrick não era de forma alguma um homem velho,
tinha apenas vinte e nove anos, mas era mais experiente do que ela. Ele era
um homem do mundo e ela sabia que teve amantes. Quão realista seria
acreditar que não seria capaz de substituí-la em um instante?
Teve que escolher suas palavras com cuidado ou sua amiga muito
perspicaz saberia que ela estava mentindo.
— Kerrick e eu somos apenas amigos.
Rose balançou a cabeça com exasperação. — Está tentando me
convencer ou a si mesma? Lorde Kerrick e eu ainda não estamos noivos. E
se se esforçasse um pouco, permitisse que ele visse como realmente se sente
em relação a ele, sei em meu coração que ele desistiria de seu ridículo
cortejo comigo. Não entendo por que pelo menos não tenta.
— Tenho medo, Rose. Medo de que meus sentimentos por Kerrick
acabem apenas em desgosto — e isso, em seu cerne, era a verdade de abalar
a terra. Aquela no qual ela tentou não pensar enquanto lutava para afastar
suas dúvidas.
— Acho que meu pai pretende pressioná-lo a declarar suas intenções em
breve.
Uma pontada de pânico atravessou Catherine. — Será que ele realmente
faria isso?
Rose assentiu solenemente. — Eu acredito que sim. Sei que ele sempre
desejou um casamento entre nós. Mamãe é muito amiga da mãe dele e,
quando eu era jovem, eles costumavam falar sobre como seria maravilhoso
unir nossas famílias. Mas ultimamente não é apenas um desejo. Ele parece
quase desesperado por um compromisso entre nós.
Catherine não queria acreditar que Lorde Worthington tivesse cometido
qualquer crime que Kerrick estivesse investigando, mas a confusão de Rose
sobre o comportamento incomum de seu pai estava disparando alarmes
internos.
Ela tentou manter a voz calma enquanto perguntava: — Existe uma
razão para essa mudança?
— Não que eu possa pensar — disse Rose com um pequeno aceno de
cabeça. — Na esperança de facilitar o caminho para você e Kerrick, eu
disse a papai que não queria me casar com ele.
Catherine estremeceu por dentro ao imaginar como Kerrick reagiria a
essa notícia. — O que ele disse sobre isso?
— Ele não quis saber. Disse que eu tinha que me certificar de manter o
interesse de Lorde Kerrick. Mas pior do que o fato de meu pai não se
importar se eu tenho algum sentimento por meu futuro marido era o olhar
dele. Eu ia insistir no assunto, mas algo nos olhos do meu pai me assustou.
Ele parecia com medo.
— Do quê? — Catherine perguntou, descobrindo que ela tinha que
trabalhar para manter sua respiração regular.
— Não sei. Não estamos tendo problemas de dinheiro… Tínhamos até
recentemente, mas papai recebeu algum tipo de herança. E sejamos francas:
eu poderia me casar com qualquer homem, alguns com títulos muito mais
prestigiosos e propriedades muito mais ricas do que as de Lorde Kerrick.
— Mas não o homem que realmente quer.
— Não — disse Rose, e Catherine podia ver que ela estava tentando
colocar uma cara corajosa. — Ele pode muito bem ser uma invenção da
minha imaginação pela probabilidade de eu ser notada por ele. Ouso dizer
que vou esquecê-lo com o tempo. Ele é muito velho para mim de qualquer
maneira.
A curiosidade de Catherine foi despertada, mas pela expressão fechada
de Rose ela sabia que sua amiga não tinha intenção de compartilhar mais
nada sobre o homem misterioso. Foi só então que Catherine percebeu o
quão estressante essa situação era para sua amiga também. Ela estava tão
envolvida em suas próprias preocupações que não havia pensado totalmente
na pressão que Rose estava enfrentando. E se seu pai fosse culpado de
qualquer delito, as repercussões que ela enfrentaria provavelmente a
levariam à ruína. Só pensar nisso, ameaçava deixá-la sem fôlego de pavor.
— Não tenho certeza do que posso dizer ou fazer para tornar toda essa
situação mais fácil — disse Catherine.
— Não há nada que possa fazer. Eu só queria que soubesse que não
poderei vê-la por um tempo. E se Lorde Kerrick realmente me pedir em
casamento e eu o negar… — um estremecimento a percorreu. — Para ser
honesta, não tenho certeza se meu pai realmente permitiria que eu fizesse
isso. De uma forma ou de outra, esta situação deve chegar ao final em
breve.
Rose se levantou e Catherine a seguiu até a porta. Depois de se
despedirem, ela voltou ao quarto para escrever um bilhete para Kerrick.
Tinha que avisá-lo sobre o que estava por vir com Lorde Worthington, mas
também tinha que ser cuidadosa sobre como redigir a nota para que outra
pessoa não a visse. No final, decidiu que a situação era urgente o suficiente
para justificar o uso do código que eles criaram para dizer a ele que ela
precisava vê-lo imediatamente. Impaciente, pegou uma folha de papel de
sua pequena escrivaninha, mergulhou a pena em um tinteiro e escreveu uma
palavra: Narcisos.
Capítulo 14

C que Kerrick não gostava de ópera, mas assim mesmo o


procurou naquela noite. Quando não o viu antes que a cortina subisse, ficou
ansiosa durante a apresentação, esperando que ele aparecesse no camarote
deles durante o intervalo. Ou talvez emboscá-los depois que a ópera
acabasse.
Quando não apareceu, começou a se questionar. Kerrick havia lhe
garantido que encontraria uma maneira de falar com ela se lhe enviasse uma
nota com a palavra-código. Mas era impossível não se preocupar quando se
perguntou se Lorde Worthington estava, mesmo naquele momento,
pressionando Kerrick a declarar suas intenções a Rose. Se Kerrick foi
forçado a fazê-lo por causa de sua investigação e se Rose foi pressionada
por seus pais a aceitar… então estava tudo acabado. Ela conhecia Kerrick o
suficiente para saber que ele tinha um senso de honra profundamente
arraigado. Mesmo que a sociedade não desaprovasse pesadamente um
cavalheiro por se comportar de maneira tão egoísta, ela sabia que ele nunca
humilharia Rose rompendo um noivado.
No momento em que voltaram para a casa, sua preocupação havia
crescido em uma enorme bola de desespero que pesava em seu coração. Ela
não teve sucesso em esconder seus sentimentos. Mas quando Nicholas
perguntou qual era o problema, ela esboçou um pequeno sorriso e disse que
estava com dor de cabeça.
Subiu para seu quarto e encontrou sua criada se aproximando do outro
lado do corredor.
— Não parece bem, Srta. Evans — Lily disse enquanto elas entravam
no quarto.
— É apenas uma pontada de dor de cabeça. Tenho certeza de que ficarei
bem depois de uma boa-noite de sono.
Lily lhe soltou o cabelo com movimentos rápidos e eficientes. —
Gostaria que eu trouxesse algo antes da senhorita se deitar?
— Isso não será necessário — disse ela, levantando-se para que sua
criada pudesse desabotoar as costas de seu vestido.
Ela mal conseguiu conter um pequeno guincho de surpresa quando
percebeu um movimento rápido atrás do biombo no canto de seu quarto.
Seu coração deu um pequeno salto e ela manteve os olhos treinados nessa
direção enquanto Lily a ajudava a tirar o vestido e o espartilho apertado que
usava por baixo. Quando sua criada foi até a cama para pegar sua camisola,
de costas para a tela, Kerrick colocou a cabeça para fora por trás dela. Ele
levou um dedo aos lábios para sinalizar que ela deveria permanecer em
silêncio e piscou para ela antes de se esconder atrás da tela. Catherine não
percebeu que estava sorrindo até que sua criada comentou sobre isso.
— Já parece estar de melhor humor.
Catherine assentiu e fez o possível para controlar sua expressão. — É
um alívio poder respirar fundo de novo — ela disse antes de conduzir Lily
até a porta.
— Mas sua camisola…
— Estou tão cansada que acho que vou dormir só de camisa.
Quando Lily saiu, Catherine trancou a porta atrás dela e agradeceu
rapidamente porque havia vários cômodos entre o seu quarto e o quarto
principal. Quando ela se virou para o biombo, Kerrick já havia se movido
para o campo aberto.
Sua voz mal passava de um sussurro quando ela perguntou: — Como
entrou aqui? — ela balançou a cabeça, surpresa de que ele corresse o risco
de ser pego entrando sorrateiramente em seu quarto e, para falar a verdade,
muito satisfeita com sua audácia.
— Fui hóspede aqui mais de uma vez ao longo dos anos. Conheço esta
casa quase tão bem quanto conheço a minha.
— Como sabia qual quarto era o meu?
Seu olhar a percorreu, escuro e intenso, e ela percebeu que o material de
sua camisa era tão fino que era quase transparente. — Não foi difícil… tem
o seu cheiro.
Seu coração derreteu e por um momento ela esqueceu o verdadeiro
motivo de sua visita. Suas próximas palavras foram como um esguicho de
água fria, encharcando seu romantismo.
— Me enviou um bilhete com nossa palavra-código.
— Minha criada estava nervosa com nossa comunicação, era necessário
fazê-la acreditar que nossa correspondência era sobre algo inocente — ela
teve que desviar o olhar e tentar recuperar a compostura antes de poder
continuar. — Esteve com Lorde Worthington hoje?
Ele balançou a cabeça. — Depois de receber sua nota, achei sensato
ouvir o que tinha a dizer primeiro.
Alívio tomou conta dela. Não era tarde demais. Kerrick ainda não havia
sido pressionado a fazer uma proposta de casamento.
— Rose me visitou esta manhã e estava bastante perturbada.
Aparentemente, o pai dela tem a impressão de que a estou usando para me
aproximar de você, que por sua vez, não a está levando a sério. Ele planeja
exigir que torne públicas suas intenções em relação a Rose o mais rápido
possível.
Kerrick xingou baixinho e se sentou na beirada da cama. Quando ele
deixou cair a cabeça em suas mãos, ela se sentou ao seu lado.
— Eu pensei que deveria avisá-lo.
Ele assentiu, mas permaneceu em silêncio por vários momentos.
— O que vai fazer? — perguntou Catherine.
Kerrick levantou a cabeça e se virou para olhá-la. — Vou tentar adiá-lo,
já que não tenho intenção de me comprometer formalmente com Rose. Ela
parece adorável, mas estabeleço o limite de me casar com alguém por causa
desta investigação. Eu não poderia, em sã consciência, usá-la de qualquer
maneira e, em seguida, rejeitá-la quando terminasse.
— Rose se preocupa profundamente com outra pessoa.
— Não estou surpreso.
Ambos sabiam que Rose tinha a intenção de arranjar um casamento
entre Kerrick e Catherine, mas havia algo em sua simples declaração que a
convenceu de que ele sabia de algo que ela desconhecia.
— Ela não vai me dizer quem, mas tenho a sensação de que saiba quem
seja.
— Eu tenho minhas suspeitas, mas isso é tudo. E não, não vou dizer
quem é — ele deu um aceno de cabeça triste quando ela soltou um suspiro
de frustração.
— Rose disse que achava que seu pai estava com medo, mas não sabia
dizer por que — ela hesitou brevemente antes de fazer a pergunta para a
qual realmente não queria saber a resposta. — Acha que é possível que ele
seja culpado de qualquer crime que seja suspeito de ter cometido?
Kerrick pareceu pesar suas palavras cuidadosamente. — Está
começando a parecer que sim. Mais do que isso, não posso dizer — ele
pegou uma das mãos dela e a segurou com força. — Depois do que me
contou, vou ter que ter mais cuidado e me afastar. Isso significa que não
aceitarei mais convites para jantar aqui e farei o possível para garantir que
não sejamos vistos juntos, mesmo em público.
Suas palavras causaram uma tristeza quase insuportável. Ela puxou a
mão da dele e se levantou. — É por isso que veio aqui esta noite? —
perguntou, com o coração apertado. — Para me dizer que não podemos nos
ver? Que não podemos nem nos falar se nossos caminhos se cruzarem em
público?
Ele fechou o espaço entre eles e a puxou para seus braços. — Não,
estou aqui porque não suporto a ideia de ficar longe.
Sua boca desceu sobre a dela, mas ao contrário de seus outros beijos,
que continham uma pitada de desespero, este foi lento, completo e
totalmente devastador. Quando ele se afastou um pouco, ela o seguiu, sem
vontade de terminar o beijo tão rapidamente.
Com um pouco de medo de que ele estivesse prestes a partir, ela passou
os braços em volta do seu pescoço e se inclinou para ele. — Eu odeio essa
separação — ela sussurrou enquanto ele chovia beijos na lateral de seu
pescoço.
Ele levantou a cabeça e olhou para ela, sua expressão solene. — Não
podemos continuar assim… não posso continuar assim. Mais uma semana.
Então, mesmo que eu não tenha descoberto nenhuma prova concreta de
uma forma ou de outra, desistirei da missão.
Suas palavras fervorosas foram pontuadas por um puxão forte em sua
camisa. O delicado tecido de linho rasgou ligeiramente e ele o tirou de seu
corpo.
O coração de Catherine ameaçou explodir em seu peito quando ela
estendeu a mão para desabotoar o seu colete. Ele acalmou sua ação com
uma mão sobre a dela.
— Ainda não. Minha paciência está quase no fim e não posso garantir
que vou conseguir fazer isso durar uma vez que sinta sua pele contra a
minha.
— E se eu não quiser esperar?
Sua mandíbula se apertou, mas em vez de responder, ele a tomou em
seus braços e deu alguns passos para a cama. Seu corpo nu foi apertado
contra o dele totalmente vestido. Ela deveria ter ficado constrangida, mas
em vez disso a diferença em seus estados de nudez, a maneira como sua
pele deslizava contra a lã fina de seu casaco e a seda de seu colete,
aumentava sua consciência da decadência de suas ações.
Ele a abaixou na cama e a seguiu, ficando de lado, colado a ela. Passou
a mão por seu comprimento, como se memorizasse sua forma, e ela
estremeceu.
— Eu já mencionei que seu perfume me deixa louco? Exótico, como as
flores de que tanto gosta, e nada do que se esperaria ao olhá-la — ele
enfatizou suas palavras enterrando o rosto na lateral do pescoço dela e
lambendo-a ali.
— Temo que não sou como as outras donzelas recatadas da minha
idade.
— Graças a Deus por isso — disse ele, tomando sua boca novamente.
Houve pouca conversa depois disso, enquanto ele usava as mãos e a
boca para adorar o corpo dela. Finalmente, quando estava prestes a gritar de
frustração pela liberação que ele parecia determinado a reter dela, Kerrick
enfiou dois dedos dentro dela e usou o polegar para acariciar aquele lugar
onde todas as sensações pareciam se concentrar. Ele a olhou atentamente
enquanto a levava ao clímax, capturando sua boca bem a tempo de engolir
seus gritos de conclusão.
Ela observou em silêncio, flutuando entre o langor e a antecipação do
que viria a seguir, enquanto Kerrick se levantava e começava a se despir.
Com cada peça de roupa que ele removia, a frequência cardíaca dela
começava a aumentar novamente. Quando ele estava só com as calças, ela
não conseguia mais ficar parada. Ergueu-se e colocou a mão sobre o cume
duro de sua excitação.
Seus braços caíram ao seu lado e ele a observou atentamente enquanto
ela desatava os botões de sua calça. Quando a peça se abriu, ela estendeu a
mão e a envolveu ao redor de seu membro. Ele gemeu e começou a abaixar
a cabeça para tomar sua boca novamente, mas ela o impediu colocando a
outra mão contra seus lábios.
— Agora eu acredito que seja a minha vez — disse, amando a maneira
como a respiração dele engatou quando ela colocou a boca sobre o peito
dele.
Ela lambeu seu mamilo plano e seu comprimento duro saltou em sua
mão, lhe dizendo o quanto ele gostava quando fazia isso. Então ele lhe disse
novamente enquanto o acariciava.
— Se continuar fazendo isso, a noite chegará ao final, muito
rapidamente.
A tensão em sua voz enfatizou suas palavras, mas ela não se importou.
Adorava poder explorá-lo do jeito que ele a havia explorado alguns minutos
antes. Ignorando-o, deixou cair beijos em seu abdômen. Ela o soltou para
abaixar as calças. Lembrou-se de algo que ouviu uma vez e hesitou um
momento antes de decidir que seu desejo de o agradar superasse sua
timidez.
Ela se abaixou na beirada da cama e encontrou seu olhar. Ele ainda
estava de pé, sua ereção nivelada com o seu queixo. Ela quase riu da
expressão em seu rosto, uma mistura de descrença e esperança. Ela o
agarrou e correu os lábios ao longo de seu comprimento antes de levá-lo em
sua boca.
Ele soltou uma maldição, mas não se moveu enquanto ela girava a
língua contra ele. Lembrando como ele gostava de tê-la, movendo a mão ao
longo de seu comprimento, ela imitou a ação com a boca, levando-o mais
fundo.
Ele estremeceu, suas mãos apertando o cabelo dela brevemente antes de
puxar sua boca para longe dele.
— Cristo, Catherine, onde diabos aprendeu a fazer isso?
Ela lambeu os lábios e notou a forma como os olhos dele seguiram a
ação. — Eu ouvi duas criadas conversando sobre isso. Na hora fiquei
escandalizada, mas agora não quero nada mais do que te colocar na minha
boca de novo e te dar prazer.
Ele fechou os olhos brevemente como se estivesse com dor antes de
jogar os dois na cama. Ela pensou que a rolaria sob ele, mas em vez disso
ele se deitou de costas e a ergueu sobre seu corpo. Abriu as coxas dela para
que descansassem em cada lado de seus quadris.
— Essa hora chegará, mas não será esta noite. Agora eu preciso estar
dentro de você.
Ele a pressionou para baixo de forma que sua carne íntima pressionasse
contra o comprimento dele. Agora foi sua vez de fechar os olhos quando o
desejo, quente e rápido, a invadiu.
— Monte-me, Catherine — disse, deslocando-a para que sua excitação
fosse contra sua entrada. — Mostre-me o quanto me quer.
Ela era impotente para fazer o contrário e permitiu que ele a arrastasse
sobre ele. Ele a encheu por inteiro e ela teve que morder o lábio inferior
para não gritar de prazer.
Quando ela hesitou por um momento, sem saber o que fazer a seguir,
seu aperto aumentou em seus quadris.
— Assim — ele disse, levantando-a até que apenas a ponta dele
estivesse dentro dela, então batendo-a sobre ele novamente.
Ela assumiu, deslocando-se ligeiramente para que cada golpe roçasse
contra aquele feixe de nervos no topo de sua fenda. Kerrick soltou seus
quadris e cobriu seus seios com as mãos. Quando beliscou seus mamilos,
ela sentiu o calor descer até seu centro. Ela não resistiu quando ele
pressionou uma mão contra suas costas e a trouxe para baixo para que
pudesse levar um pico de ponta rosada em sua boca.
Foi demais. A sensação de sua boca desenhando sobre ela enquanto ele
continuava a brincar com seu outro seio. Ela abaixou-se sobre ele uma vez,
duas vezes mais, então se despedaçou. Ele a soltou para agarrar seus
quadris, e ela ficou grata porque não tinha mais forças para continuar. Em
vez disso, ele a segurou enquanto a acariciava. Seus olhares se encontraram
e, lembrando-se do que havia acontecido na última vez que fizeram amor,
ela se preparou para o momento em que a ergueria para longe dele. Mas em
vez disso, ele a trouxe de volta contra ele e fechou os olhos enquanto
encontrava sua liberação dentro de seu corpo.
Ela desabou contra seu peito, ridiculamente feliz por ele não ter
terminado fora de seu corpo. Isso, mais do que qualquer palavra que ele
pudesse ter proferido, disse a ela que ele fora sincero. Planejava encerrar
sua investigação e se comprometer com ela. Finalmente.

E um retrato da calma enquanto estava na beira da pista de dança


do salão de baile, mas por dentro, cada nervo estava à flor da pele, sua
própria pele parecia muito tensa. Foi preciso um esforço quase desumano
para se separar de Catherine na noite anterior, e não conseguia se livrar da
sensação de que algo estava prestes a dar muito errado. Ele estava sendo
pressionado por todos os lados. Brantford tinha expectativas definidas sobre
ele, expectativas que caíram nas mãos de Worthington. Rose também tinha
expectativas de que ele desistiria de seu namoro e a salvaria de desapontar
seu pai quando ela o rejeitasse.
A única pessoa que não fazia exigências a ele era Catherine e,
perversamente, esse fato o incomodava. Pediu a ela para ser paciente
enquanto cumpria esta última obrigação para com o Ministério do Interior, e
o incomodava mais do que um pouco que ela estivesse fazendo exatamente
isso. À medida que aumentava sua frustração com sua infrutífera e
aparentemente interminável linha de investigação, também aumentava sua
impaciência com Catherine. Não era lógico, mas aparentemente esses
sentimentos não seriam negados. Ele queria que ela lhe fizesse exigências,
que o incentivasse a terminar esta tarefa ridícula para que pudesse
finalmente se comprometer com ela. Mas a cada dia que passava, parecia
que Worthington era, de fato, culpado de traição e agora Kerrick não tinha
escolha a não ser continuar.
Pelo menos ele finalmente recebeu algumas notícias do homem que
vinha seguindo Worthington, notícias que indicavam que o Conde de
Standish estava de alguma forma envolvido. Ele soube mais cedo naquele
dia que Worthington se encontrou com Standish. Os dois discutiram, mas
seu homem não conseguiu chegar perto o suficiente para ouvi-los. Ele não
entendia por que Standish se envolveria em atividades de traição mais do
que Worthington, mas seus instintos lhe diziam que o encontro deles era
significativo, e seus instintos raramente estavam errados.
Essa informação o estimulou a entrar furtivamente na casa de
Worthington mais cedo naquela noite, depois que a família saiu para um
baile. Vasculhou o escritório de Worthington minuciosamente, esperando
encontrar algo, qualquer coisa, que lhe permitisse deixar todo esse assunto
para trás. Ele já havia informado Brantford sobre o que descobriu e o
advertiu sobre seu confronto iminente com Worthington. Também disse que
não tinha intenção de realmente ficar noivo da filha dos Worthingtons.
Brantford aceitou bem, o que fortaleceu a suspeita de Kerrick de que o
homem sentia algo por Rose Hardwick. Claro, Brantford nunca agiria sobre
essa atração.
Vislumbrou Catherine quando finalmente chegou atrasado ao baile e a
vinha evitando desde então. Ele havia falado com Overlea e Louisa, já que
ignorá-los também levantaria muitas suspeitas; mas apenas quando
Catherine estava dançando com outra pessoa. Ele examinou os casais
dançando e disse a si mesmo que estava procurando por Rose.
Houve uma tosse discreta à sua esquerda e ele se virou para encontrar
um jovem lacaio parado muito perto.
— Milorde — ele começou, sua voz baixa, — me disseram que sua
presença é solicitada na biblioteca.
Ele levantou uma sobrancelha em surpresa. — Quem fez o pedido?
O jovem balançou a cabeça. — Não sei. Recebi as instruções por meio
de uma nota de outro membro da equipe.
Ele fechou os olhos brevemente em exasperação, a visão de
Worthington o encurralando e deixando suas exigências claras em sua
mente. Parecia que não conseguiria mais adiar esse confronto.
Mas quando ele se virou para seguir o lacaio do salão de baile, viu
Worthington conversando com outra pessoa. Ele nem sequer olhou na
direção de Kerrick e, a cada passo, Kerrick começou a pensar que talvez
Catherine tivesse enviado o bilhete. Ninguém mais o convocaria de maneira
tão furtiva. Brantford certamente não o faria, ele o abordaria diretamente.
Mas ele não tinha visto Catherine no último quarto de hora, pelo menos.
Tolamente, a antecipação começou a chiar em suas veias. Encontrar-se
em um lugar tão público era o cúmulo da insanidade, especialmente
considerando o fato de que os rumores sobre os dois já começavam a se
espalhar. Mas ele não conseguia sentir nenhuma raiva. Isso era o que ele
queria, afinal. Que Catherine finalmente começasse a fazer algumas
exigências.
Alcançou a porta aberta onde outro lacaio assentiu discretamente,
indicando a direção que deveria seguir. Perguntou-se brevemente se toda a
equipe sabia sobre essa reunião e descobriu que não se importava. Ele
apontou Brantford na direção de Standish e mal podia esperar para deixar
todo o assunto para trás. Não encontrou provas concretas da culpa de
Worthington, mas descobriu o suficiente para saber que o homem
definitivamente tinha segredos, e Kerrick sabia em seus ossos que Standish
estava envolvido. No que lhe dizia respeito, outra pessoa poderia assumir a
investigação agora e descobrir mais sobre os negócios de Standish.
Ele meio que esperava encontrar outro lacaio do lado de fora da
biblioteca, pronto para abrir a porta para ele, mas o corredor estava vazio.
Entrou na sala, um sorriso já no rosto. Aquele sorriso se transformou em
uma carranca quando descobriu que a mulher que esperava por ele não era
Catherine, mas Rose Hardwick. Sua decepção pareceu menor, no entanto,
quando comparada ao desespero no rosto de Rose quando ela olhou para
cima e o viu. Todo o seu comportamento mudou e ela caiu em sua cadeira
com uma risada melancólica.
Ela levantou a mão para massagear uma de suas têmporas. — Por favor,
não me diga que está aqui para me propor casamento.
Ele se moveu para ocupar o assento oposto a ela e ignorou sua
declaração. — Foi a senhorita quem quis me ver.
— Por favor, não se ofenda — ela disse com um pequeno aceno de
cabeça, — mas é a última pessoa que eu gostaria de ver.
— Então por que pediu a um lacaio que me chamasse?
— Eu certamente não fiz isso — ela se endireitou e tirou uma de suas
luvas. Dentro da palma havia uma pequena nota dobrada, que ela entregou a
ele. — Estou aqui porque recebi esse bilhete, mas esperava que fosse outra
pessoa que o tivesse enviado.
Kerrick desdobrou o pequeno pedaço de papel. Nele havia uma única
frase pedindo a Rose que esperasse na biblioteca. Não estava assinado.
Olhou para ela. — Eu não enviei isso. Além disso, disseram-me que alguém
queria me encontrar aqui.
— Então nós dois fomos convocados. Mas por quê?
— Não tenho ideia, mas acho melhor sairmos antes que alguém nos
descubra a sós.
Rose assentiu e ambos se levantaram.
— Foi uma tolice minha vir, mas eu esperava… — ela deu uma
pequena sacudida com sua cabeça. — Não importa o que eu esperava. Eu
me pergunto, no entanto. Não conseguiu esconder sua decepção quando me
viu. Esperava que fosse Catherine quem queria vê-lo?
Todo o seu ardil estava desmoronando ao seu redor e ele não se
importava mais. — É muito direta.
Rosa sorriu. — Ela é minha amiga e se importa contigo.
Profundamente. E acho que sente o mesmo por ela. Não quero que se sinta
obrigado a continuar me cortejando por causa de algum desejo tolo de
nossas mães.
— Também é muito perspicaz.
— Bom. Então agora podemos deixar todo esse episódio para trás.
— Foi um prazer, Srta. Hardwick — disse ele, levando a mão dela à
boca.
Foi então que todo o inferno desabou. A porta da biblioteca foi
escancarada e ele e Rose se separaram, mas não rápido o suficiente. Seu
estômago se apertou quando Lorde e Lady Worthington irromperam na sala.
Lady Worthington estava visivelmente aflita ao encontrar os dois sozinhos,
mas seu marido não conseguia esconder sua satisfação. Para piorar as
coisas, vários outros convidados estavam reunidos em volta da porta.
Kerrick sentiu suas vias respiratórias se contraírem como se alguém tivesse
colocado uma corda em seu pescoço. Uma rápida olhada em Rose disse a
ele que ela havia chegado à mesma conclusão que ele. Momentos atrás, eles
concordaram em se separar amigavelmente, mas agora, para salvar a
reputação dela, ele não tinha escolha a não ser anunciar o noivado e rezar
para que seu comportamento imprudente na noite anterior não significasse
que Catherine já estava grávida de seu filho.
Kerrick falou as palavras, para o deleite dos espectadores. Um, em
particular, olhou para a cena com satisfação. Standish.
Ele se curvou, novamente, sobre a mão de Rose, mas desta vez
murmurou alguma bobagem sobre como ela o fez feliz antes de pedir
licença e se dirigir à porta. Ele tinha acabado de ultrapassar a soleira
quando congelou. Dirigindo-se para lá estava Catherine, junto com sua irmã
e cunhado.
— Ouvimos dizer que houve algum tipo de comoção — disse Louisa
quando o grupo o alcançou. — O que aconteceu?
— Lorde Kerrick acaba de declarar sua intenção de se casar com minha
filha — disse Worthington enquanto lhe dava um tapinha nas costas. —
Faça-nos uma visita amanhã e podemos começar a fazer planos.
Kerrick o ignorou. Tudo o que importava naquele momento era
Catherine, e o olhar de total devastação em seu rosto antes que ela se
virasse e fugisse. Louisa a seguiu, e foi só então que ele se virou para olhar
para seu melhor amigo. A raiva saindo de Nicholas quase o fez recuar, mas
ele não conseguia esquecer a expressão no rosto de Standish e naquele
momento soube. Ele inicialmente pensou que Worthington havia planejado
este pequeno encontro, mas o homem realmente não era tão desonesto. Foi
Standish quem providenciou para que ele e Rose fossem pegos sozinhos, e
só teria feito isso por um motivo. Ele queria Catherine para si mesmo. O
pensamento gelou Kerrick até os ossos.
Livrou-se da mão de Worthington em seu ombro e se aproximou de
Nicholas. — Eu acredito que Standish tem planos para Catherine.
Certifique-se de que ele não a machuque.
— Mais do que já o fez? Não acho que isso seja possível.
As palavras, lançadas contra ele, tinham a intenção de ferir e atingiram
seu alvo. Kerrick não disse mais nada, sabendo que merecia o desprezo
claramente delineado em cada músculo do corpo de Nicholas enquanto o
homem virava as costas e se afastava.
Standish abordou Worthington então. Levou um esforço quase
desumano para Kerrick resistir ao impulso de arrastar o bastardo
presunçoso para fora e espancá-lo até virar uma polpa sangrenta. Em vez
disso, com os punhos cerrados ao lado do corpo para se controlar, observou
enquanto os homens trocavam algumas palavras. Standish estava virado e
Kerrick não podia ver seu rosto, mas podia ver o de Worthington. E o que
viu ali foi um misto de alívio e medo.
Então tinha sido por isso que Rose disse a Catherine que seu pai parecia
quase desesperado para que sua união fosse formalmente anunciada. Porque
Standish havia exigido. E como um idiota, ele caiu direto na armadilha.
Permaneceu imóvel quando Standish se aproximou dele.
— Ouvi dizer que preciso lhe cumprimentar — a presunçosa
superioridade no rosto do homem fez Kerrick cerrar os punhos ainda mais.
Com o canto do olho, ele não perdeu o fato de que Worthington se virou
para fugir, certificando-se de levar sua esposa e filha com ele.
A maioria dos curiosos os seguiram, mas alguns ficaram para trás, sem
dúvida esperando para ver se haveria mais sobre o que fofocar. Mas eles
estavam longe o suficiente para não ouvir o que Kerrick tinha a dizer.
— Eu sei que orquestrou isso.
O homem levantou uma sobrancelha. — Por que eu faria isso?
Standish o estava provocando, mas ele não se importava. Não tinha
mais nada a perder, afinal. — Está muito enganado sobre Overlea se acha
que ele permitirá que se aproxime dela.
O outro homem deixou cair sua máscara de civilidade. — Eu acho que
deveria se preocupar com sua futura noiva e deixar a Srta. Evans para mim
— ele disse com desdém. — Ao contrário de Vossa Graça, não tenho medo
de pegar o que quero.
Kerrick não parou para considerar as repercussões de suas ações. Seu
punho bateu no rosto de Standish com um efeito satisfatório. Standish
cambaleou para trás alguns passos, descrença e ódio gravados em seu rosto.
— O vejo no inferno primeiro — Kerrick apertou sua mão enquanto se
afastava, ignorando os sussurros entre aqueles que ficaram para trás para
testemunhar seu confronto com Standish.
Sua mão latejava, mas a dor não chegava perto de tocar a que ia em seu
coração.
Capítulo 15

S se estivesse se afogando. Primeiro, o choque de frio


quando seu corpo atingia a água, seguido de dormência quando suas
extremidades começaram a perder a sensação, a luta para evitar que as
profundezas escuras a engolissem inteira. A única coisa que a mantinha à
tona agora era a certeza de que o noivado de Kerrick e Rose não era real.
Não podia ser real, não depois de tudo que ela e Kerrick compartilharam.
Não depois que Rose disse a ela que não aceitaria uma proposta de
casamento dele.
Ela tinha sido comprometida… não tinha escolha a não ser aceitar.
Catherine impiedosamente esmagou a dúvida que ameaçava sua
sanidade. Não era real, ela disse a si mesma repetidamente enquanto
esperava por uma nota de Kerrick no dia seguinte. E quando não chegou,
ela lembrou que havia dito a ele que não podia mais confiar em Lily para
manter seus bilhetes em segredo.
Quando Louisa sugeriu que ficassem em casa naquela noite, Catherine
não quis nem ouvir falar sobre isso. Sua irmã achou que ela estava fazendo
cara de corajosa e tentou insistir, mas não foi a coragem que a fez decidir ir
a mais um baile naquela noite. Era desespero. Estava convencida de que
Kerrick encontraria uma maneira de falar com ela, de explicar o que
realmente estava acontecendo.
Quando entraram no salão de baile dos Abernathy, era impossível
perder os olhares especulativos lançados em sua direção, mas ela manteve a
cabeça erguida. Não estava disposta a mostrar qualquer fraqueza diante da
sempre faminta fábrica de fofocas.
Enquanto fingia indiferença na superfície, por dentro ela estava ciente
de tudo que acontecia ao seu redor. Kerrick ainda não havia chegado, e fez
o possível para não lançar olhares para a porta a cada minuto. Pegou Rose
olhando em sua direção e mais de uma vez pensou que sua amiga iria se
aproximar. Mas os pais de Rose permaneceram ao seu lado, sempre
vigilantes, e foram rápidos em desviar dela a atenção da filha.
Permitiu que Thornton dançasse com ela duas vezes. As pessoas já
estavam fofocando sobre ela, e preferia que voltassem suas atenções para
especulações sobre relacionamentos futuros do que seu coração partido ao
saber do noivado de Kerrick e Rose. E quando Thornton a procurava em
várias outras ocasiões durante a noite, pelo menos sua presença ajudava a
manter Lorde Standish afastado. Ela estava ciente da maneira como ele a
encarava desde o momento em que chegaram, e a expressão quase
predatória em seu rosto aumentou ainda mais seus nervos já em frangalhos.
Ficou ciente da presença de Kerrick no instante em que ele chegou.
Mesmo que não o tivesse visto caminhando para onde Rose estava sentada
do outro lado do salão, os olhares de pena lançados em sua direção seriam
impossíveis de perder. Ela disse a si mesma que tinha que permanecer forte,
por isso manteve o sorriso firme e aceitou todos os convites para dançar.
Até mesmo de Lorde Standish. Não pôde deixar de lembrar como Kerrick
reagiu na última vez que ela dançou com ele, como ele a puxou de lado e a
beijou pela primeira vez. Não o estava provocando intencionalmente, mas
foi satisfatório quando chamou sua atenção e viu seu descontentamento
claro.
Ao contrário da outra vez, no entanto, Louisa se recusou a sair de seu
lado quando não estava dançando. Então, quando ela se dirigiu ao banheiro
feminino, esperando que Kerrick a atacasse novamente no caminho de
volta, Louisa a acompanhou.
Mas Kerrick as abordou quando voltaram ao salão de baile. Apesar de
ele ter dito que tomaria cuidado para não ser visto com ela em público,
tinha certeza de que ele a convidaria para dançar agora. Era a única maneira
de poderem falar em particular. Então ela se forçou a aceitar sua breve
reverência e esperou, não tão pacientemente, quando ele se virou para falar
com Louisa.
— Eu não ousei me aproximar antes — ele disse com uma torção
irônica de sua boca. — Eu não queria dar a Nicholas a chance de me
desafiar.
— Não é a pessoa favorita dele agora, mas ouso dizer que ele vai
superar isso.
Kerrick assentiu em resposta e então voltou sua atenção para ela. Só que
em vez de convidá-la para dançar, ele apenas a olhou por alguns segundos.
Enquanto o silêncio se estendia, ela finalmente foi atingida pela realidade
da situação deles. A miséria refletida em seus olhos só podia significar uma
coisa: seu noivado com Rose era genuíno.
— Sinto muito… por tudo — ele conseguiu dizer antes de se virar e se
afastar delas. Dela.
Sem palavras, ela só podia olhar para suas costas enquanto ele recuava.
Ele não poderia tê-la chocado mais se a tivesse batido.
Ela mal percebeu que sua irmã enlaçava seu braço no dela e a afastava.
— Vamos embora em breve — ela sussurrou e Catherine só pôde inclinar a
cabeça em resposta.
Uma parte destacada de sua mente reconheceu que estava em choque, e
ela deu as boas-vindas ao entorpecimento. Ela sentiria mais tarde, mas
agora tinha que evitar desmoronar.
Não disse nada quando se aproximaram de seu cunhado, que estava
conversando com os Claringtons. A simpatia nos olhos de Charlotte disse a
ela que a duquesa havia testemunhado sua troca com Kerrick, e isso
ameaçou levar Catherine ao limite. Uma rápida olhada para os homens lhe
disse que eles não tinham visto o interlúdio. Louisa só teve que murmurar
algo sobre se sentir cansada e Nicholas insistiu em levá-la para casa. Mas,
ao contrário daquela outra noite, quando sua irmã e seu cunhado saíram
cedo de uma festa, ninguém disse nada sobre Catherine passar o resto da
noite com os Claringtons atuando como seus acompanhantes.
Louisa manteve um fluxo constante de conversa fiada enquanto saíam e
esperavam que a carruagem chegasse. Se Nicholas notou seu humor, ele não
disse nada. A carruagem Overlea estava se aproximando quando uma onda
de atividade chamou sua atenção.
Ao mesmo tempo, eles se viraram para ver Lorde Worthington saindo
da casa dos Abernathy, flanqueado por dois homens. Tudo sobre
Worthington, sua expressão de olhos mortos, a maneira como seus ombros
se encurvaram como se ele estivesse tentando se tornar menor, falava de um
homem derrotado. Eles observaram enquanto o pequeno grupo se movia
para uma carruagem que já estava esperando. Worthington nem sequer
olhou para eles enquanto subia no veículo antes de ser seguido pelos dois
homens.
— Eu me pergunto o que poderia ter acontecido — disse Louisa. —
Worthington parece muito abalado.
— Não tão abalado quanto sua esposa e filha.
Com as palavras de Nicholas, elas se viraram para ver Rose e sua mãe
saindo da casa. Kerrick estava apenas um passo atrás delas, sua expressão
sombria. Lady Worthington parecia estar à beira de um colapso, e Kerrick
moveu-se para apoiá-la.
Catherine observou em silêncio enquanto o pequeno grupo descia a rua
até onde um grupo de carruagens esperava. Eles não entraram na mesma
que Lorde Worthington.
Imersa em sua própria miséria, Catherine não conseguia encontrar
dentro de si uma resposta sobre o estranho quadro que acabavam de
testemunhar. A única coisa em que ela conseguia se concentrar era o fato de
que Kerrick já estivesse se comportando como se fosse parte da família
Worthington.
— Catherine.
A voz de sua irmã a arrastou para longe de seus pensamentos sombrios
enquanto subia na carruagem. Felizmente, ninguém disse uma palavra
durante o caminho para casa. Ela estava convencida de que essa era a única
razão pela qual conseguiu conter as lágrimas até estar em segurança em seu
quarto.

I amor, então? A certeza de que a vida nunca mais teria alegria


se não pudesse passá-la com a pessoa que inspirou aquela emoção?
Não era de surpreender que ele amasse Catherine Evans. Em algum
nível, ele supôs que sabia disso o tempo todo. Como não poderia? E não era
apenas porque ela era bonita, embora fosse isso. Era todo o resto. Ela era
gentil, generosa, mas também incrivelmente enlouquecedora quando se
decidia sobre algo. Ela nunca se contentaria em permanecer em segundo
plano.
Sua alegria pelas pequenas coisas da vida era encantadora. A maneira
como todo o seu comportamento se iluminava quando ela estava entre suas
preciosas plantas. A maneira como ela o olhava como se ele pudesse lhe dar
o próprio sol. E ele descobriu que ficaria contente em fazê-lo, em passar a
vida tentando fazê-la feliz. E agora ele nunca teria essa oportunidade. Pior
ainda, se sua imprudência ao visitar seu quarto desse frutos, ele seria a
causa de sua ruína e teria que assistir enquanto ela se casaria e criaria seu
filho com outra pessoa.
Se a melancolia que sentia naquele momento era amor, ele não queria
nada daquilo. Entendia agora por que Nicholas tinha se sentido tão infeliz
no outono anterior, quando acreditava que nunca poderia ter um futuro com
Louisa. Por isso bebia até cair no esquecimento, sabendo que o álcool
pioraria o progresso da doença da qual ele acreditava estar sofrendo.
Kerrick nunca foi de se perder no fundo de uma garrafa, mas naquele
momento não havia nada que ele desejasse mais.
Mas ele não fez. Worthington confessou ter cometido traição, mas era
tarde demais para salvar-se de um casamento sem amor. E esse ato egoísta
não seria justo com Rose, que queria esse casamento ainda menos do que
ele. Ambos estavam presos.
Não conseguiu dormir e desistiu de tentar quando o sol começou a
nascer. Ele percorria os corredores de sua casa como um fantasma, tentando
fazer com que as horas passassem mais rápido para que pudesse colocar as
coisas em movimento. Ele e Rose teriam que se casar rapidamente se ele
esperava proteger ela e sua mãe do pior da reação que viria quando a notícia
da confissão de Worthington se espalhasse. Para ser honesto, não tinha
certeza de quão eficaz seria sua proteção, mas faria o que pudesse. Rose e
sua mãe teriam que se retirar para o campo e permanecer lá por algum
tempo. Talvez depois de alguns anos, quando o escândalo se dissipasse e
novos surgissem, elas pudessem voltar para a cidade novamente.
Brantford provavelmente também estava acordado, e se perguntou
vagamente se havia questionado o próprio Worthington ou se alguém o
havia feito. Independentemente disso, ele sabia que Brantford reuniria todas
as informações que pudesse e então lhe faria uma visita, agora que esta
missão estava no fim.
Essa visita aconteceu pouco antes do meio-dia.
— Está horrível — Brantford disse entrando na biblioteca.
Claro, Kerrick não poderia dizer o mesmo de Brantford. Estava, como
sempre, impecavelmente arrumado, relaxado casualmente em uma cadeira e
parecia ter passado a noite em um sono longo e reparador. Kerrick não tinha
ideia de como o homem sempre conseguia parecer tão distante de tudo o
que acontecia ao seu redor.
— O que conseguiu com Worthington? — ele perguntou, ignorando o
comentário de Brantford e afundando em uma cadeira à sua frente.
— Absolutamente nada além do que já sabemos. Ele tem vendido
segredos aos franceses sobre os movimentos de nossa marinha. Informações
obtidas de sua amizade com o almirante Nicholby. Claro, ele foi rápido em
apontar que o almirante não estava envolvido e não tinha ideia do que
estava fazendo.
— Acredita nele?
Brantford levantou uma sobrancelha. — Por acaso não o faz?
— Não tenho certeza — disse Kerrick com um aceno de cabeça. —
Essa coisa toda não parece certa. Tenho certeza de que ele estava passando
informações e que Standish está de alguma forma envolvido, mas não
consigo entender por quê. Por mais que eu odeie o bastardo, não me parece
do tipo que trai seu país por dinheiro. Não quando ele tem mais do que nós
dois juntos.
Brantford ficou em silêncio por alguns segundos, e Kerrick se
perguntou se ele iria revelar mais alguma coisa. Afinal de contas, ele estava
agora fora de todo o negócio de extrair informações para o Ministério do
Interior.
— Acho que há mais nisso do que sabemos até agora – disse Brantford
finalmente. — Estamos tentando obter mais informações de Worthington,
mas ele se recusa a nomear um cúmplice. Diz que estava trabalhando
sozinho.
— Eu suspeito que esteja tentando proteger sua esposa e filha.
Brantford acenou com a cabeça, o movimento quase distraído, antes de
perguntar: — O que planeja fazer com a Srta. Hardwick?
O que mais? — Estou preso à minha palavra e não voltarei atrás. Elas
irão precisar da minha proteção agora mais do que nunca.
Brantford assentiu novamente e estava prestes a acrescentar algo
quando o mordomo interrompeu com uma batida discreta no batente da
porta.
— Desculpe-me, Milorde, mas há uma jovem aqui para vê-lo.
Seu tolo coração disparou, pensando que talvez fosse Catherine, mas
quando o mordomo continuou, ele soube que Rose estava esperando na sala
de estar com sua criada. Seu coração afundou. Claro que não era Catherine.
Ela provavelmente nunca mais queria vê-lo, um sentimento pelo qual ele
não poderia culpá-la.
Ele se virou para Brantford, mas antes que o conde pudesse se
desculpar, Rose passou pelo mordomo e entrou na sala.
— Senhorita Hardwick — Kerrick disse, levantando-se de sua cadeira
seguido de Brantford. — Não deveria estar aqui. Eu estava planejando
visitá-la e a sua mãe esta tarde.
Rose riu, o som amargo. — Está preocupado com a minha reputação?
Bem, é tarde demais para tal preocupação. As ações de meu pai já me
arruinaram.
— Vamos enfrentar essa tempestade juntos — disse ele, tentando
transmitir uma confiança que estava longe de sentir.
— Devo deixá-los para conversarem — disse Brantford.
Mas antes que ele pudesse fazer isso, Rose se virou para encará-lo.
— Não precisa se preocupar que eu vá manchar sua reputação com a
minha presença. O que tenho a dizer a Lorde Kerrick será breve, e não há
razão para que não possa ouvi-lo.
Havia uma pontada em seu tom, uma pitada de raiva que surpreendeu
Kerrick. O que mais o surpreendeu, porém, foi a expressão de emoção no
rosto do amigo. Por um breve momento, quase pareceu que ele queria
confortar Rose, mas então o sinal revelador desapareceu instantaneamente,
escondido atrás da máscara normal de indiferença de Brantford. Mas essa
emoção fugaz serviu para enfatizar a suspeita de Kerrick, de que Brantford
não era imune aos encantos de Rose Hardwick.
A bravata de Rose foi claramente uma tentativa de esconder sua mágoa.
Pensando apenas em acalmá-la, ele disse: — Vou visitá-la no final da tarde.
Sua mãe deveria estar incluída em nossos planos.
Rose tentou sorrir, mas acabou sendo mais uma careta. — É
precisamente por isso que estou aqui para lhe falar. Desejo romper nosso
noivado.
O coração de Kerrick deu um salto inesperado de alegria, mas ele
reprimiu a emoção. Não poderia deixar Rose desprotegida durante este
momento difícil. Egoisticamente, ele não queria nada mais do que aceitar
sua oferta antes que ela mudasse de ideia, mas não seria capaz de viver
consigo mesmo se o fizesse. Perversamente, também sabia que Catherine
nunca mais o respeitaria se o fizesse. Ela estava perdida para ele de
qualquer maneira.
Diminuindo a distância entre eles, pegou a mão dela entre as suas e deu
um leve aperto. — Está passando por um momento difícil agora e não deve
fazer nada de que possa se arrepender.
— Mas você e Catherine…
— Nunca poderá acontecer — ele disse, cortando aquela linha de
pensamento antes que ela pudesse continuar.
O sorriso que deu a ele desta vez foi genuíno. — É um bom homem,
mas não é o homem para mim.
— Rose…
— Não — ela puxou a mão da dele e deu um passo para trás. — Já me
decidi. Mandei mensagens para alguns amigos avisando que rompi nosso
noivado. Eles não devem ter ouvido falar do papai ainda, então não terão
motivos para devolver minhas notas fechadas.
— Não faça isso — disse ele. — Posso lhe oferecer proteção,
especialmente agora, quando mais precisam.
Ela balançou a cabeça, seus cachos castanhos dançando com o
movimento vigoroso. — Meu pai não é um traidor.
— Ele confessou — disse Brantford.
Rose se virou para encará-lo. — Ele nunca trairia seu país, e pretendo
provar isso. Então, veja bem — ela se voltou para Kerrick — não há razão
para o seu sacrifício. Será provada a inocência de meu pai e tudo ficará
como deveria. Incluindo o senhor e Catherine.
Ele não conseguia encontrar as palavras para responder. Dificilmente
aquele seria o primeiro noivado desfeito que a sociedade tinha visto,
embora fosse um dos mais curtos.
— Eu não sei o que dizer.
— Apenas me diga que fará Catherine feliz. Ela merece isso.
Brantford interrompeu, captando aquilo em que estivera distraído
demais para prestar atenção. — Se tem provas da inocência de seu pai,
posso garantir que elas cheguem àqueles que poderiam ajudá-lo.
Os lábios de Rose se apertaram brevemente em uma linha apertada
antes que ela respondesse. — Eu pensei que estava ansioso para partir. Tem
certeza de que não está se rebaixando para se dirigir a mim diretamente?
As sobrancelhas de Kerrick se ergueram com a resposta amarga, mas
permaneceu em silêncio.
— Se não deseja minha ajuda, Srta. Hardwick, isso depende
inteiramente de sua escolha. Desejo-lhe sorte em libertar seu pai por conta
própria.
Eles olharam de um para o outro por longos segundos antes de Rose
responder. — Não estamos recebendo visitas, não que alguém queira se
associar a nós assim que souber que meu pai confessou a traição, mas se for
nos ver amanhã à tarde, vou me certificar de que não seja rejeitado. Mamãe
está muito aflita, e já estive muito tempo longe dela hoje.
Brantford acenou com a cabeça em resposta e, sem outra palavra, Rose
partiu.
— Estou fora disso — disse Kerrick antes que Brantford pudesse falar.
— Claro — disse o outro homem. — Dificilmente pode ser visto se
escondendo na casa de Worthington agora que todos saberão de seu noivado
rompido. A menos, é claro, que espere fazê-la mudar de ideia.
— Acho que já conhece minha opinião sobre esse curso de ação. Rose
Hardwick é toda sua.
Brantford levantou uma sobrancelha em resposta e Kerrick riu. De
repente, o mundo parecia mais brilhante, e ele não resistiu a alfinetar o
amigo sobre a bela jovem que não parecia se intimidar com o conde
impassível. — O que foi que disse quando me abordou pela primeira vez
sobre esse assunto? Não seria difícil cortejá-la.
— O casamento não é para mim, meu amigo. Não agora e talvez nunca
— o rosto de Brantford era uma máscara em branco, mas Kerrick agora
podia detectar uma sugestão de algo por trás dela. Solidão?
— Nunca diga nunca, meu velho.
Capítulo 16

M dentro, mas Catherine estava determinada a seguir com sua


vida. Depois de ver Rose e Kerrick juntos, permitiu-se um dia trancada em
seu quarto, chafurdando em sua miséria e lutando contra o destino.
Quando o sol nasceu no segundo dia, em vez de puxar os cobertores
sobre a cabeça e se enterrar neles, que era o que ela mais queria fazer, os
jogou de lado e se levantou. Uma rápida olhada no espelho em sua
penteadeira revelou sinais de que ela havia chorado até dormir na noite
anterior claramente gravados em seu rosto. Pálpebras inchadas, nariz ainda
ligeiramente vermelho e tez intensificada com um tom rosado.
Dando as costas ao reflexo, foi até o lavatório, derramou água fria do
jarro na tigela e jogou água no rosto, esperando lavar a maldita prova de sua
mágoa. A água fria não era uma cura milagrosa, mas ajudaria. Só o tempo
cuidaria do resto dos sinais exteriores. Os sinais internos persistiriam por
algum tempo, mas ela se recusou a ceder a essa miséria. Se havia aprendido
alguma coisa, crescendo em uma família que não podia pagar nada além das
necessidades básicas, era que a vida sempre seguia em frente. Nunca se
ganhou nada permitindo-se pensar no impossível.
Gostaria de poder dizer que não se arrependia de seu relacionamento
com Kerrick, mas a verdade era que sim. Desejou agora que nunca tivesse
agido com tanta impetuosidade e ido para a casa dele na primeira vez que
fizeram amor. Ainda estaria com o coração partido, mas não podia deixar de
pensar que a dor que ela teria experimentado não seria nada perto do
profundo desespero da alma que ameaçava esmagá-la agora.
E o pior de tudo era que não podia ficar com raiva de Kerrick. Ele não
tinha planos de começar um relacionamento com ela enquanto estava
envolvido na investigação que o forçou a fingir cortejar Rose Hardwick. Foi
sua própria tolice que a levou a buscar um relacionamento íntimo com ele.
Catherine podia entender agora por que Louisa queria que ela fosse
cuidadosa ao lidar com ele. Sua irmã sabia claramente que a vida nem
sempre traz finais felizes. O fato de ela e Nicholas terem alcançado aquele
estado aparentemente impossível não cegou Louisa para as armadilhas que
existem no mundo, prontas para enredar jovens tolas como ela.
O fato de Kerrick ter se oferecido para se casar com Rose depois que
eles foram descobertos sozinhos, apesar de ele não sentir nenhum apego
romântico por ela, falava muito sobre sua natureza. E era uma das
principais razões pelas quais ela ainda o amava. Ela tinha dúvidas sobre os
sentimentos dele por Louisa, mas agora, com uma clareza que só poderia
ser obtida em retrospectiva, sabia que ele não a via apenas como uma
substituta de sua irmã.
Fazendo o possível para afastar seus pensamentos melancólicos,
Catherine chamou sua criada. Ela poderia dizer que Lily ficou surpresa ao
vê-la de pé e fora da cama. A consciência de que os criados sabiam o que
havia acontecido, que andavam fofocando sobre ela lá embaixo, a fez
estremecer. Fazia menos de um ano que Louisa se casou e eles se mudaram
para Overlea Manor, e ela ainda não estava acostumada a ter criados. Era
mais difícil do que ela imaginava saber que suas vidas estavam sem dúvida
sendo examinadas e dissecadas por outros.
Não lhes daria mais motivos para fofocas e começou a se vestir como se
fosse qualquer outra manhã, depois desceu as escadas.
O café da manhã, no entanto, provou ser mais estranho do que esperava.
Ela havia se acostumado a tomar café da manhã sozinha em seu quarto, mas
Louisa e Nicholas devem ter decidido se juntar a ela quando souberam que
não havia pedido sua bandeja habitual.
Louisa deu pequenas mordidas em um pedaço de torrada, o esforço
parecendo custar-lhe muito. Catherine esperava que fosse apenas a força de
vontade que impedia sua irmã de pular da mesa e esvaziar o conteúdo do
estômago. Ela e Nicholas alternavam entre observá-la cuidadosamente e
voltar sua atenção para seus pratos.
Catherine comeu rapidamente, ansiosa por se afastar do ambiente tenso.
Ela tinha acabado de tomar chá quando Nicholas bateu com o garfo na
mesa. Deu um pulo de surpresa, mas não perdeu o olhar que Louisa lançou
ao marido.
— Não posso ficar calado — disse ele à esposa antes de se virar para
Catherine. — Kerrick é como um irmão para mim, mas se ele lhe encostou
um dedo, eu o desafiarei.
— Não, não vai — disse Louisa.
Sua expressão era de descrença incrédula. — Como pode dizer isso?
Todos nós sabíamos que ele estava cortejando Rose Hardwick, mas ele não
fez nada para dissuadir Catherine de depositar suas esperanças nele.
— Sabe o que ele faz. Pode ter havido motivos…
— Seus motivos podem ir para o diabo, e ele junto.
Catherine sentiu sua fachada cuidadosamente construída começar a
rachar. Ela não podia fazer isso agora. Seu controle sobre sua sanidade era
tênue na melhor das hipóteses. Levantou-se e ambos voltaram sua atenção
para ela. Eles estavam tão concentrados em sua própria discussão que era
quase como se tivessem esquecido que ela estava na sala.
— Não aconteceu nada entre nós. Nada que não fosse da minha própria
imaginação.
Nicholas fez uma careta. — Não sinta que precisa mentir para protegê-
lo.
Ela queria dizer mais, mas não podia. A emoção obstruiu sua garganta e
ela sabia que mais uma sílaba dele, ou mais um olhar de simpatia de sua
irmã, a faria se dissolver em uma poça de lágrimas. Antes que isso pudesse
acontecer, ela se virou e fugiu da sala, apenas para ser interrompida pela
agitação no hall da frente.
Louisa a seguiu desde a sala de café da manhã e parou ao lado dela,
esperando enquanto o mordomo falava com os dois homens corpulentos na
porta.
— Milady — disse ele a Louisa quando notou as duas paradas ali. Ele
olhou além delas e Catherine sabia que Nicholas se juntou a eles. —
Milorde, eu estava apenas informando a esses senhores que as entregas
devem ser feitas na porta da cozinha.
Os homens pareceram se ofender com sua declaração. — Não somos
entregadores — disse um deles, avançando pelo corredor. O mordomo
tentou detê-lo, mas ele não era páreo para o sujeito corpulento. —
Trabalhamos para Kew Gardens e estamos aqui como um favor ao Conde
de Kerrick.
Apenas a menção de seu nome causou uma pontada de dor através dela.
Louisa virou-se para ela pedindo esclarecimentos, mas Catherine só
conseguiu balançar a cabeça em confusão. — Não sei o que pode ser. Ele
não me disse nada.
Louisa voltou-se para o marido. — Nicholas?
Sua mandíbula se apertou e suas mãos se fecharam em punhos. — Ele
certamente não me enviaria nada de Kew Gardens.
Catherine fechou os olhos, um pressentimento horrível caindo sobre ela.
Eles nunca falaram sobre isso, mas de alguma forma ela sabia o que os
homens estavam lá para entregar.
— A árvore está num vaso e podemos trazê-la para os fundos da casa se
tiverem um jardim. Mas há instruções muito específicas para o seu cuidado.
Não posso simplesmente deixá-la aqui até saber que será bem cuidada. É
muito valiosa…
Catherine não percebeu que tinha começado a se mover até que passou
pelos dois homens assustados e saiu para os degraus da frente da casa. Ali,
na parte de trás de uma grande carroça puxada por dois cavalos, havia uma
laranjeira de porte moderado.
Memórias que ela estava tentando tanto manter sob controle a
dominaram. Ela ainda se lembrava de cada detalhe daquele primeiro passeio
em Kew Gardens com o Duque e a Duquesa de Clarington quando Kerrick
chegou a Londres. Como ele conseguiu que o próprio jardineiro-chefe os
acompanhasse durante a maior parte do passeio. E, claro, houve a viagem
ao laranjal. Foi aí que algo mudou entre eles, e Kerrick finalmente começou
a vê-la como uma mulher e não apenas a irmã mais nova de Louisa. Ela
achou que ele estava entediado até a morte durante a maior parte da visita,
mas ele foi paciente. E claramente percebeu o interesse dela pelas
laranjeiras.
Ela não seria capaz de mantê-la quando o verão terminasse. O Sr.
Clifton havia explicado como as árvores não estavam recebendo luz
suficiente no laranjal e estavam sofrendo durante os meses de inverno, e ela
não achava que elas se sairiam melhor na estufa anexa a Overlea Manor.
Parecia que, como o próprio Kerrick, ela não seria capaz de manter esse
presente.
De alguma forma ela se virou e encarou o grupo de pessoas que a
observavam em silêncio e conseguiu manter a voz quando falou. —
Encontrei-me com o Sr. Clifton e lembro-me do que ele me disse sobre os
cuidados com elas.
Queria dizer mais, mas descobriu que não conseguia mais conter a onda
de emoções que ameaçava engolfá-la. Não precisava pedir para ser
dispensada. O grupo se dividiu em dois e em silêncio ela seguiu o caminho
que eles abriram. Ouviu Louisa falando com os homens, dizendo-lhes para
trazer a laranjeira para o jardim dos fundos através das cavalariças, mas seu
destino era a sala de música nos fundos da casa. Se ela voltasse para o
quarto agora, não seria capaz de conter as lágrimas.
Ela quase conseguiu, quando uma voz a parou.
— Não me importa o que planeja fazer comigo, mas devo falar com
Catherine.
Kerrick.
Ela ouviu passos. O medo tomou conta dela enquanto permanecia
congelada no lugar, sem saber se deveria fugir os poucos passos restantes
para a sala de música ou se virar. De alguma forma ela sabia que ele não
seria dissuadido por seu cunhado que, apesar de suas afirmações em
contrário, nunca faria mal a um de seus amigos mais próximos.
Os passos pararam e um breve silêncio se seguiu antes que ele
finalmente falasse. — Catherine.
Reunindo sua coragem, ela se virou para encará-lo. Quando o fez,
percebeu que esperava ver alguma indicação de que ele sentia uma fração
da angústia que ela achava que nunca a deixaria. Mas, em vez disso, ele
parecia notavelmente calmo. Na verdade, ele não parecia nem um pouco
triste. Pela primeira vez desde que todas as suas esperanças foram
frustradas, os anéis de raiva se acenderam dentro dela.
— Acredito que já dissemos tudo o que há para dizer. Se veio se
desculpar, não precisava ter perdido seu tempo — ela lançou um rápido
olhar para Louisa e Nicholas, ciente de que eles estavam ouvindo cada
palavra que falava com grande interesse. Apesar de estar ferida, e a tentação
de atacá-lo com raiva crescia com rapidez, ela prometeu a Kerrick que não
revelaria o quão longe o relacionamento deles havia se desenvolvido. Era
uma promessa que pretendia cumprir e por isso escolheu as próximas
palavras com cuidado. — Eu entendo que teve pouca escolha em como as
coisas aconteceram. Agora, se me der licença.
Ela se dirigiu desta vez para a escada. A sala de música não estava
longe o suficiente de todos e as lágrimas picando no fundo de seus olhos
não seriam negadas por muito mais tempo.
— Catherine, por favor. Preciso lhe falar.
Ela o ouviu começar a segui-la e lutou contra a vontade quase
irresistível de correr.
— Solte-me, Nicholas, ou perderá sua mão — ela o ouviu dizer.
— Já não a machucou o suficiente?
— Eu não vou embora até que tenhamos conversado — ele gritou atrás
dela. — Vou assombrar a sua porta se for preciso. Eventualmente, falará
comigo.
Ela parou e enxugou com raiva uma lágrima que havia escapado. Não
conseguiria falar com ele e manter o controle tênue que atualmente tinha
sobre sua dignidade. Mas parecia que não haveria saída para o confronto
iminente. Ela fechou os olhos por um momento, respirou fundo, trêmula, e
se virou para encará-lo.
— Eu estava indo para a sala de música. Podemos conversar lá.
Ela não esperou para ver se ele teria permissão para segui-la. As vozes
de sua família guerreavam com as de Kerrick. Nicholas não queria permitir,
mas Louisa insistiu para que ele lhes concedesse cinco minutos juntos.
Catherine acabava de entrar na sala de música quando ouviu seu cunhado
concordar relutantemente.
Ela caminhou até as janelas, que davam para o pequeno jardim dos
fundos. Os jardineiros acabavam de trazer a laranjeira, os dois lutando sob o
peso do grande vaso que a continha.
O medo se instalou na boca do estômago. A última coisa que ela queria
era enfrentar Kerrick agora; suas emoções ainda estavam muito cruas. Ela
continuou observando os jardineiros em silêncio enquanto Kerrick entrava
na sala e se movia para ficar ao seu lado.
— Eu sinto muito.
— A laranjeira é uma extravagância. Não deveria ter se dado ao
trabalho ou gasto.
— Tenho cinco minutos antes de Nicholas entrar aqui e me bater até
virar uma polpa sangrenta. Não pretendo perder esse tempo com conversa
fiada.
Ela balançou a cabeça levemente. — Eu não posso… — Ela teve que
respirar fundo antes de encontrar forças para se virar e encará-lo. —
Deveria ir. Não há mais nada a ser dito. Quaisquer fantasias que eu possa
ter sobre um futuro juntos, agora são coisas do passado. E a última coisa
que preciso ouvir agora é seu pedido de desculpas.
Ela se dirigiu para a porta, mas ele estendeu a mão e agarrou seu braço,
interrompendo seu progresso. Ela tentou se afastar, mas não foi páreo para a
força dele. Ele a puxou em sua direção e agarrou sua outra mão.
Doía demais olhar para ele e então ela olhou, em vez disso, para suas
mãos unidas.
— Eu não vou me casar com Rose.
Sua cabeça se ergueu com aquela declaração falada em voz baixa, e por
um momento ela temeu que sua dor estivesse fazendo com que perdesse o
controle de suas faculdades. Mas a maneira como sua boca se ergueu nos
cantos, o leve brilho em seus olhos que insinuava qualquer coisa, menos
tristeza, a levaram a acreditar no contrário. Ela não conseguiu evitar o leve
tremor em sua voz quando perguntou: — O que disse?
Ele levou as mãos dela à boca e beijou-lhe os dedos antes de responder.
— Eu não vou me casar com Rose. Ela já começou a espalhar a notícia de
que rompeu nosso noivado.
As emoções guerreavam dentro dela, mas a que estava à frente era a
alegria. Kerrick não ia se casar com outra mulher… uma que ela
considerava uma boa amiga. — Não vai se casar com Rose — ela repetiu as
palavras com admiração, permitindo-se realmente acreditar que eram
verdadeiras.
Seu sorriso se alargou. — Não. Mas isso me leva a outro assunto. Como
corro o risco de ser arrastado daqui a qualquer momento, não tenho tempo
para me dar ao luxo. Provavelmente não mereço tamanha felicidade, não
depois da dor que lhe causei, mas sou egoísta o suficiente para me agarrar à
esperança de que consentirá em ser minha esposa.
Ela não entendia muito bem o significado das palavras. Ele duvidava
que ela diria sim… Ela só podia assentir, lágrimas de felicidade ameaçando
dominá-la enquanto ele a arrastava para seus braços.
— Graças a Deus — ele disse, seus braços apertando ao redor dela. —
Eu estava com medo de que nunca me perdoasse. Não tenho certeza se não
faria isso, no seu lugar.
Ela balançou a cabeça e olhou para ele maravilhada. — Nunca poderia
haver outra pessoa para mim. Não poderia duvidar de mim.
— Não, nunca isso. Eu temia, porém, que duvidasse da profundidade do
meu amor. Depois do que a fiz passar… — Ele fechou os olhos por um
breve momento, e ela pôde ver a autorrecriminação gravada em seu rosto.
— Não consigo nem começar a expressar o quanto estou zangado comigo
mesmo por causar-lhe tanta dor. Eu nunca deveria ter me permitido
satisfazer meu desejo por ti. Não até que minha designação tivesse
terminado.
Ela acariciou a bochecha dele, incapaz de acreditar que ele assumiria
toda a culpa pelo relacionamento deles. — Eu não te dei escolha.
Ele riu disso. — Não, não deu. Mas, para ser honesto, não tenho certeza
se seria capaz de me conter mesmo sem o seu incentivo. Ainda assim,
apesar do fato de que eu sabia que se importava comigo, me preocupava —
ele parou e ela podia senti-lo lutando para continuar.
— Por quê?
— Thornton e todos aqueles outros disputando sua atenção… Fiquei
esperando que decidisse que não valia a pena.
— Não seria o homem que eu amava se tivesse recuado e permitido que
a reputação de Rose caísse em ruínas. Enquanto uma parte de mim te
odiava por isso, outra parte te amava ainda mais.
Ele fechou os olhos por um breve momento e a tensão restante em seu
corpo se esvaiu.
— Então foi Rose quem rompeu o noivado?
Ele assentiu em resposta. — No final, ela foi a mais nobre de todos nós.
Catarina balançou a cabeça. — Ela cuida dos outros. É uma amiga
querida, mas sua disposição de sofrer as fofocas após um noivado rompido
não será apenas por nós dois. Nunca me disse por quem ela se importa, mas
só posso esperar que, seja ele quem for, seja digno dela.
Sua expressão ficou grave. — Não tenho certeza se alguém a teria
agora.
Ela respirou fundo e soltou o ar rapidamente. — O pai dela…
Ele assentiu. — Worthington confessou ter passado informações
confidenciais para os franceses.
— Então ele era culpado, afinal. Pobre Rose — ela disse, uma pontada
de lamento por sua amiga passando por ela. — Devemos fazer tudo o que
pudermos por ela. Eu não vou abandoná-la.
— Eu não esperaria que o fizesse. Eu também concordo, especialmente
porque não tenho certeza se o envolvimento dele em todo o esquema foi
voluntário.
Catherine recuou com isso. — Então ainda podemos ajudá-la? O que
posso fazer?
— Não — Kerrick disse, puxando-a de volta em seus braços. — Estou
fora disso, assim como você. Terá que se contentar em viver a vida de uma
condessa comum.
— Mas devemos ajudar Rose…
— Ela tem a melhor ajuda disponível no momento. E não — ele disse,
colocando um dedo sobre os lábios dela para acalmar as perguntas que
surgiram em sua mente — eu não vou te dizer quem é.
Ela colocou o dedo dele em sua boca e seu olhar se concentrou em seus
lábios, seus olhos escurecendo. — Acho que posso adivinhar — disse ela
depois de soltá-lo. — Ele tem cabelos claros e, também é um conde.
A boca dele pousou sobre a dela e ela se inclinou para ele, consolando-
se com o conhecimento de que agora haveria muito mais beijos em seu
futuro. Ela fez um som suave de protesto quando ele recuou.
Ele balançou a cabeça ligeiramente como se para limpá-la. — Nicholas
não vai parar para ouvir nossas notícias se nos encontrar em um abraço
apaixonado — ele olhou para a porta, franzindo ligeiramente a testa quando
ela deu um passo para trás. — Estou surpreso que ele ainda não tenha
entrado aqui.
Catherine já sentia falta do toque de Kerrick. — Louisa provavelmente
o distraiu. Ela é muito boa nisso.
Um sorriso carinhoso cruzou seu rosto. — As irmãs Evans parecem ter
isso em comum.
Sua óbvia afeição por sua irmã a lembrou de como os dois pareciam
próximos quando ele ficou em Overlea Manor. Ela respirou fundo e fez a
última pergunta que precisava fazer. — Vai me dizer o que aconteceu entre
os dois no ano passado? — ela hesitou antes de continuar. — Às vezes eu
temia que fossem mais que amigos.
— Não, nunca isso — disse ele, pegando a mão dela e apertando-a para
tranquilizá-la. — Sei que pareceu assim e contarei tudo quando tivermos
mais tempo. Acho que, agora, vamos precisar compartilhar nossas
novidades. Sua irmã não conseguirá segurar Nicholas por muito tempo. Ele
é muito protetor contigo.
Catherine assentiu, mas seus olhos foram atraídos para a janela e para o
presente extravagante, mas pouco prático, que ele havia enviado. Ele deve
ter visto sua decepção.
— Não gosta da laranjeira?
— É adorável e tão rara na Inglaterra. Não acredito que conseguiu que o
Sr. Clifton se desfizesse dela.
— Não estava indo bem lá. Eu assegurei a ele que seria capaz de cuidá-
la para recuperá-la.
Ficou claro que ele não percebeu que ela não seria capaz de fazer isso.
— A luz não é mais forte em Overlea Manor. O jardim de inverno tem as
mesmas grandes janelas do laranjal. Se a mantivermos lá, a árvore acabará
por entrar em declínio. Teremos que encontrar outro lar para ela.
— Nunca pretendi que a árvore fosse para sua irmã e seu cunhado.
Havia um brilho em seus olhos e sua frequência cardíaca acelerou. —
Mas sua propriedade…
— Não, não tem estufa. Mas providenciei a visita de um arquiteto
dentro de uma semana. Pretendo colocar em uma estufa adequada. Claro,
minha futura esposa terá a última palavra sobre seu design.
Ela gritou e se jogou em seus braços, não se importando mais que sua
irmã e seu cunhado pudessem entrar a qualquer momento. Kerrick
claramente sentiu o mesmo porque quando ela ergueu o rosto, ansiosa por
seu beijo, ele aceitou seu convite. E desta vez ele não se conteve em
mostrar-lhe, o quanto sentia sua falta.

Obrigada por ler Seduzindo o Conde! Espero que tenha amado


Catherine e Kerrick tanto quanto eu.
O próximo livro da série Conquistando um lorde conta a história de
Brantford e Rose.
Nota da Autora
Obrigado por ler Seduzindo o Conde. Se gostou de ler este livro,
considere compartilhá-lo com um amigo. Todas as críticas honestas são
bem-vindas e apreciadas.
O jardineiro-chefe de Kew Gardens na época em que esta história se
passa era William Townsend Aiton. Eu não tinha certeza de qual papel do
dia a dia ele tinha em Kew Gardens — ele também era responsável pelos
jardins dos palácios de Kensington e Buckingham — então decidi inventar
o personagem de George Clifton para atuar no papel de jardineiro-chefe.
A história do Kew Royal Botanic Gardens é muito rica, e eu só poderia
abordá-la brevemente. Quando se considera essa história, não é difícil
entender por que Catherine Evans estava tão ansiosa para visitá-lo. Kew
Gardens já havia ganhado reconhecimento internacional durante o século
XIX por causa de sua grande coleção de plantas exóticas.
Isso se deve em grande parte ao botânico Sir Joseph Banks (1743-
1820), que foi presidente da Royal Society por mais de quarenta e um anos.
Ele próprio fez várias expedições de caça ao exterior e financiou outras
viagens. Na verdade, durante o início de 1800, todos os navios que
retornavam das colônias britânicas traziam consigo espécimes de plantas
para Kew Gardens.
Além disso, sim, incluí outra valsa neste livro, embora uma dança tão
íntima não fosse comum em Londres em 1807. Espero que perdoe a
liberdade criativa que tomei ao incluí-la aqui.
Suzanna
Encantando o Conde

Livro 3
Eles o chamam de Conde Inatingível…
Muitos buscam seu favor, homens e mulheres, mas poucos vislumbram
o que está por trás do exterior indiferente do Conde de Brantford.

Ela era a mulher que todos queriam…


Rose Hardwick era a debutante mais cobiçada de Londres até que um
escândalo tocou sua família e a transformou em uma pária social.

Só ele tem o poder de ajudá-la…


Rose está determinada a provar que seu pai é inocente do crime de
traição, mas primeiro ela deve convencer o conde inatingível a ajudá-la.
Quando as circunstâncias os forçarem a ficar mais próximos, ela será capaz
de encantá-lo a ponto de derreter o gelo que envolve seu coração?

Capítulo 1
Junho de 1807
OC Brantford saiu das sombras e se aproximou do homem de
cabelos escuros que esperava do lado de fora da cela que abrigava o
prisioneiro mais recente da Torre de Londres. Ele deu um breve aceno para
o guarda que também estava postado ali. O guarda não deu nenhuma
indicação de ter visto o comando silencioso de Brantford, mas se afastou.
Não longe o suficiente para que alguém pudesse acusá-lo de se esquivar de
seu dever, mas a distância garantiu que Brantford tivesse privacidade para
esta conversa.
Ele foi direto ao ponto. — Precisa mantê-la longe daqui.
O Conde Kerrick não demonstrou nenhuma surpresa ao vê-lo. — Não
posso controlar o que Rose Hardwick escolhe fazer. Eu não podia quando
todos esperavam que nos casássemos, e certamente não posso agora que ela
me deu a liberdade. Mas posso mantê-la segura. Por tudo que sacrificou
para unir Catherine e eu, é o mínimo que devo a ela.
Brantford reprimiu a irritação que despertou dentro dele com a
lembrança do antigo relacionamento do outro homem com Rose. Nunca foi
mais do que um cortejo, um que o próprio Brantford ordenou que Kerrick
mantivesse, mas a referência casual ao noivado de curta duração serviu
como um lembrete indesejado de que uma pequena parte dele queria
cumprir esse dever específico.
— Se deseja mantê-la segura, certifique-se de que ela não repita a visita
de hoje. Vir aqui faz dela um alvo.
Kerrick sabia que ele falava a verdade. Brantford podia ver isso no
aperto de sua mandíbula. Nenhum dos dois acreditava que o pai de Rose
agira sozinho. E se o homem, que eles desconfiavam de realmente ter
cometido os atos traiçoeiros aos quais Worthington confessou, suspeitasse
que ele havia compartilhado qualquer informação com sua filha, ele não
hesitaria em silenciá-la para sempre.
— O que gostaria que eu fizesse? Contê-la e forçá-la a ficar longe? A
mãe de Rose só concordou em permitir que ela permanecesse com Overlea
quando deixou Londres por causa de sua amizade com Catherine. Estar sob
a proteção de um marquês era mais do que a pobre mulher poderia esperar
depois que Rose terminou seu noivado comigo. Mas Overlea não pretende
mantê-la trancada em sua casa. Ele mesmo a levaria para a Torre, mas todos
nós sabemos que devo pelo menos isso a ela. Depois da turbulência dos
últimos dias e da maneira como todos lhe deram as costas, não vou impedi-
la de ver o pai.
Brantford queria insistir para que ele fizesse exatamente isso: trancar
Rose Hardwick em seu quarto e colocar alguém do lado de fora de sua
janela, se necessário, para mantê-la segura. Mas sabendo que isso nunca
aconteceria, seus pensamentos se voltaram para o próximo curso de ação.
Era óbvio que Lorde Worthington havia confessado a traição para
proteger sua esposa e filha. Não seria preciso muito esforço para convencer
o homem de que a melhor maneira de manter sua filha segura seria se
recusar a vê-la. Depois de ser rejeitada algumas vezes, Rose acabaria
parando de visitá-lo. Esperava que isso acontecesse antes que ela atraísse
mais atenção. Maldita fosse sua teimosia, ela estaria segura agora se tivesse
fugido de Londres com sua mãe.
Brantford se virou para sair, decidindo que seria melhor voltar mais
tarde, quando não corresse o risco de ver a mulher que estava ocupando
muito de seus pensamentos ultimamente. Então é claro que a porta da cela
se abriu naquele momento e Rose Hardwick saiu da cela onde seu pai
estava detido. Sua cabeça estava baixa, mas apesar da derrota evidente em
sua postura, ele ficou impressionado, como sempre, por sua beleza. Fazia
quase uma semana desde que a viu pela última vez, quando ela chegou à
casa de Kerrick para informá-lo de que tomara medidas para libertá-lo de
sua promessa de se casar com ela. Tinha sido um noivado que nenhum dos
dois queria, mas com o nome de Kerrick, Rose teria alguma proteção contra
as línguas cruéis que até agora destruíam a reputação de sua família.
Brantford esperava nunca mais vê-la.
Em vez de seus cachos normais, ela usava o cabelo castanho-
avermelhado bem preso. Mas essa não foi a única mudança em sua
aparência. Quando ela ergueu o rosto para olhar para Kerrick, Brantford
pôde ver os sinais de tensão que os últimos dias haviam causado. As
sombras escuras sob seus olhos eram novas. Ela tentou escondê-los com pó,
sem dúvida na tentativa de evitar que seu pai se preocupasse com ela, mas
nenhuma quantidade de cosméticos poderia escondê-las completamente. E
havia uma tensão em suas feições, um ar de fragilidade sobre ela que o fez
querer levá-la para dentro de casa, abraçá-la e protegê-la do mundo. Ele não
o faria, é claro, e irritava que esta mulher pudesse provocar-lhe tal emoção.
As emoções eram um sinal de fraqueza e ele não faria nada para se trair.
Aprendeu essa lição no colo de seu pai quando ainda era um menino.
Quando Kerrick lhe ofereceu o braço, ela lhe deu um sorriso cansado
antes de tomá-lo. Brantford sabia com certeza que não havia nada
desagradável entre os dois, mas não conseguiu evitar o aborrecimento que
ganhou vida ao vê-los juntos.
Ela o notou então. Deve ter presumido que ele era o guarda assim que
saiu pela primeira vez da cela de seu pai, mas quando o reconheceu, seus
olhos azuis endureceram e seu delicioso arco de boca se firmou em uma
linha reta.
Por alguma razão, Rose passou de uma aparente indiferença em relação
a ele para uma antipatia ativa, e não conseguia entender por quê. Ele mal
falava com ela, certificando-se de manter distância sempre que eles
participavam dos mesmos eventos sociais. Não podia explicar sua súbita
hostilidade, mas não permitiria que isso o afetasse.
— Senhorita Hardwick — disse ele, inclinando a cabeça em forma de
saudação. Dada a natureza sombria de sua visita, não havia nada que ele
pudesse dizer a ela além disso. Havia visitado a mãe dela no dia anterior,
pegando-a pouco antes de ela deixar Londres, mas a mulher não conseguiu
dizer-lhe nada. Rose já havia se estabelecido na casa de Overlea, um fato
que lhe convinha. Se Lady Worthington não sabia nada sobre as ações de
seu marido, era improvável que pudesse descobrir alguma coisa com sua
filha.
Rose se virou, mas não disse nada. Afinal, não havia nada a dizer.
Ele encontrou o olhar de Kerrick, enviando-lhe um comando silencioso
para fazer o que pudesse para manter Rose longe. As sobrancelhas do outro
homem se juntaram brevemente antes que ele conduzisse Rose pelo
corredor.
Deixa para lá. Brantford cuidaria do assunto. Ele permitiu que outros
questionassem Worthington, e seus esforços não deram frutos. Também
garantiria que o pai de Rose tomasse as medidas necessárias para evitar que
mais danos atingissem sua filha.
Sabendo que o guarda não faria nada para impedir sua entrada,
Brantford se aproximou da cela. Pegar Worthington de surpresa logo após a
visita de sua filha, poderia ser uma vantagem. Se o homem estivesse
afetado a metade do que sua filha havia sido, isso poderia dar a Brantford a
vantagem de que precisava para quebrar seu silêncio.
Como Worthington era apenas um visconde com uma ínfima riqueza,
ele não merecia um dos aposentos mais elaborados da Torre. Quartos que
outrora abrigaram a realeza.
Não, essa cela mal continha o necessário. Um pequeno catre no canto
servia de cama, uma pequena tela em outro canto, escondia o penico. Um
que não era esvaziado há algum tempo, se o cheiro que permeava o ar fosse
uma indicação. O ar pairava pesado e úmido. Havia várias pequenas janelas
altas ao longo de uma parede, mas a luz do dia que entrava, pouco ajudava a
aliviar a penumbra da cela.
Esteve em muitas dessas celas durante seu tempo trabalhando para o
Ministério do Interior, e nenhuma dessas visitas o afetou. Afinal,
renunciava-se a todo direito ao luxo e ao conforto quando se cometia
traição. Mas hoje, sabendo que Rose estivera naquele quarto apenas alguns
momentos antes, sabendo que ela havia olhado para o homem derrotado
curvado na beira da pequena cama, Brantford sentiu um peso incomum no
peito.
Não pelo homem sentado à sua frente, mas por sua filha, que fora
forçada a vê-lo daquele jeito.
Se ele tivesse um coração, supôs que também teria sentido pena de
Worthington. Em vez disso, tudo o que ele conseguiu sentir foi
aborrecimento. E se ele estava sendo honesto consigo mesmo, uma pitada
de raiva pelo que o homem havia feito com sua família.
Quando tudo isso começou, Brantford esperava que os boatos que seus
agentes haviam descoberto sobre Worthington vendendo segredos ingleses
para os franceses não dessem em nada. Fora uma esperança vã, mas ele
queria encontrar algo, qualquer coisa, que levasse a outra explicação.
Porém, agora que Worthington havia confessado, essa esperança se foi.
Worthington não o ouviu entrar, seu comportamento era o de um
homem imerso em pensamentos. Brantford atravessou a sala e sentou-se na
cadeira em que Rose sem dúvida estivera sentada durante a visita,
interrompendo o devaneio do homem com uma rapidez que fez
Worthington dar um pulo.
O olhar de Worthington endureceu quando percebeu que Rose não
voltou para vê-lo. Parecia que as defesas do homem não haviam sido
destruídas pela visita de sua filha.
Brantford começou seu interrogatório, mas já sabia que não descobriria
nada de novo. Não deixaria aquela cela, no entanto, até que extraísse a
promessa de Worthington de recusar futuras visitas de sua filha.
Conquistando um Lorde
Livro 1

Ele não deveria se apaixonar por ela…

O plano do Marquês de Overlea era perfeito. Casar com a desesperada


Louisa Evans, salvando-a, e a seus irmãos, da ruína e produzir um herdeiro.
Mas quando a pede em casamento, Nicholas não lhe conta o verdadeiro
motivo pelo qual devem se casar tão rapidamente.

Estão casados quando Louisa descobre que o Marquês não pretende ser
pai de seu futuro herdeiro. Atraída por seu novo marido de uma maneira
que nunca esperou, Louisa não tem intenção de concordar com sua proposta
escandalosa. Em vez disso, lhe mostra que o que está se desenvolvendo
entre eles vai muito além de um típico casamento de conveniência.

Nicholas nunca imaginou que se apaixonaria por Louisa. Apesar da


distância que tenta colocar entre eles, uma coisa logo fica clara: ele nunca
permitirá que outro homem a toque. Mesmo que isso acabe com o futuro de
sua família.
Sobre a Autora
A autora best-seller do USA Today, S M ,
escreve romances históricos ambientados na Regência. Ela
leu seu primeiro romance Harlequin no ensino fundamental e
se formou em Austen no ensino médio. Ela considera que
Orgulho e Preconceito deu o pontapé inicial em sua história
de amor com romance histórico e Persuasão cimentou essa paixão.
Nasceu e foi criada em Toronto, Canadá. Seu amor pela escrita a levou a
se formar em Literatura Inglesa pela Universidade de Toronto. Em seguida,
ela obteve o título de Bacharel em Educação, mas se formou em uma época
em que não havia empregos de professora disponível. Depois de trabalhar
em vários lugares interessantes, incluindo um escritório de investigação
federal, um escritório de liberdade condicional para jovens e o Escritório do
Corpo de Bombeiros de Ontário, decidiu prosseguir com seu primeiro amor
- escrever.
Suzanna é casada com seu herói próprio e é a orgulhosa mãe de filhas
gêmeas. Ela é uma romântica declarada que gosta de passar seus dias
escrevendo histórias de amor.
Ela gostaria de agradecer a seus pais por lhe mostrarem que o amor à
primeira vista e o feliz para sempre realmente existe.
Informações Leabhar
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