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CAPÍTULO I
1. INTRODUÇÃO
Há 86 anos atrás as mulheres conquistaram o direito de votar e serem votadas, desse
tempo até os dias atuais, muitas lutas e conquistas foram alcançadas incluindo o direito ao
próprio corpo, de decidir o que vestir, aonde ir, casar, engravidar, moldar este corpo da forma
que mais lhe agradasse. Mas para que haja melhor compreensão da evolução deste corpo
feminino, voltamos um pouco na história para relembrar os corpos de cada época.
Partindo do Renascimento, observamos mulheres marcadas pela sensualidade de seus
espartilhos apertados que marcavam suas silhuetas , e ao mesmo tempo restringiam seus
movimentos. Junto com a primeira guerra mundial veio também a necessidade dessas
mulheres assumirem trabalhos nos campos e cidades e com isso a necessidade de diminuir e
até abolir o espartilho, pois necessitavam de maior mobilidade.
Dando um salto no tempo até a década de 70 a mulher tomou posições decisivas que
começaram a dar maior independência, destacando a “queima dos sutiãs”, um ato simbólico
onde também foi queimado outras peças do vestuário feminino em protesto ao concurso “Miss
América” no EUA em 1968 contra o modelo de beleza imposto pela sociedade.
Ter o poder sobre as próprias decisões e seu próprio corpo, ou melhor, sua própria vida
sempre foi uma luta para as mulheres, olhar para si e decidir como se vestir, se iria ter filhos
até pouco tempo era algo imposto não só pela sociedade, mas pela Igreja que age de maneira
influente e intensa, onde determinava a superioridade masculina e culpava a mulher pelo
pecado original. Toda mulher deveria ser vigiada e obediente, teriam quantos filhos seu
marido quisesse, usariam a roupa que lhes era mandado, iam onde era permitido e falavam o
mínimo quando autorizadas. Seus cônjuges eram escolhidos e tornavam-se seus donos, e essas
mulheres apenas repetiam o que lhes era passado por suas mães, e assim sucessivamente.
Com o passar dos anos a relação da mulher com seu corpo foi se tornando cada vez
mais íntima, mas ao mesmo tempo criou-se um paradoxo onde se busca a independência de
suas escolhas e ao mesmo tempo se tornam escravas de uma imposição sociocultural, onde a
mídia dita o que é belo e grande parte das mulheres obedecem, na maioria das vezes
inconsciente. Afinal, aquilo que vestimos, o corpo que moldamos terá sido mesmo uma
escolha ou uma obediência involuntária? Toda a luta feminina para se tornar independente
apenas teria mudado quem dita as regras? Considerando a mulher contemporânea que busca a
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cada dia parecer mais jovem e estar dentro dos parâmetros sociais e culturais impostas, se
permitindo cada vez mais intervenções estéticas, até que ponto isso não se torna maléfico?
Cria-se então uma imagem supervalorizada com base na beleza e no externo, o corpo
deixa de ser apenas um corpo e passa a ser uma personificação dos parâmetros estabelecidos
pela sociedade e pela mídia, não que seja ruim cuidar da aparência muito pelo contrário,
quando isso é buscado em conjunto com outros fatores e não apenas pelo que é exposto. Criar,
valorizar e reconhecer um corpo bonito está além do que é exibido, é a conjunção da saúde
do corpo e da mente, e nessa busca pela perfeição contribui-se inconscientemente com uma
aceitação passiva a essa ditadura da beleza, onde cada dia mais mulheres dizem insatisfeitas
com seu corpo, e mesmo com toda a independência adquirida se tornam cada dia mais
dependentes da construção da imagem.
1.1 OBJETIVO DO ESTUDO
O presente estudo objetivou realizar uma revisão histórica e social em formato
narrativo, buscando as transformações e evoluções temporais, as influências culturais, o
paradoxo da beleza e as implicações a saúde da mulher contemporânea.
1.2 JUSTIFICATIVA
Com a influência cultural e uma ditadura da beleza imposta as mulheres, este estudo
vem tratar da importância no cuidado com o corpo em sua plenitude, como conjunto de físico,
mental e bem estar para a mulher. O número de mulheres insatisfeitas com seu próprio corpo
só aumenta a cada dia e está atingindo cada vez mais faixas etárias menores, onde pré-
adolescentes vivem em função do que é dito belo, aceitável e padrão, com isso os transtornos
psicológicos, alimentares e até mesmo de crescimento aumentam em conjunto. As doenças
causadas pela idealização de corpo perfeito imposto culturalmente podem levar mulheres a
morte. Segundo Arch Gen Psychiatry and American Medical Association (2011) a média das
taxas de mortalidade (1000 pessoas/ano) foi de 5,1 para Anorexia Nervosa, 1,7 para Bulimia
Nervosa e 3,3 para Transtornos Alimentares , sem outra especificação. Um em cada 5 mortes
por Anorexia Nervosa havia cometido suicídio, o que deixa em evidência que transtornos
alimentares podem estar associados a resultados fatais. A faixa etária atingida está cada vez
mais abrangente, e a mulher contemporânea busca mais a cada dia a juventude, a perfeição e
se declina as tendências buscando todos os recursos e se importando apenas com a estética
esquecendo da saúde do corpo, o que também pode ser descrito no índice de mortalidade de
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mulheres por cirurgias plásticas. O corpo feminino vem sofrendo pressões sociais e se
adaptando ao momento contemporânea, ao trabalho diário, ao vestuário, rotinas, escolhas,
enfim, a cada mulher de forma única. Sendo essa a possibilidade de contribuição do presente
estudo, no tocante a preocupação com a singularidade e a saúde da mulher, destacando que a
busca pela beleza pode e deve estar associada a saúde e ao bem estar.
1.3 DELIMITAÇÃO DO TEMA
O estudo de revisão apresenta foco nas transformações e evoluções temporais
relacionadas ao corpo da mulher contemporânea, as influências culturais e os riscos em busca
do corpo perfeito com suas implicações na saúde.
2. METODOLOGIA
O presente estudo é uma revisão narrativa sob ponto de vista teórico ou conceitual com
base em análise da literatura científica na interpretação e análise crítica de autores, visando
contribuir no debate da temática relacionada as questões do corpo feminino sob aspectos
sociais, culturais e históricos. Nesse sentido, colaborando na aquisição do conhecimento em
curto espaço de tempo.
A coleta do material foi realizado de forma não sistemática no período entre janeiro e
junho de 2019. Foram pesquisadas bases de dados científicas, tais como: Scielo, Senai Cetiqt
e Revista de Psicologia.
2. REVISÃO DA LITERATURA
3.1. A MULHER E O DOMÍNIO SOBRE SEU PRÓPRIO CORPO: CONSIDERAÇÕES
HISTÓRICAS
Segundo Alves e Pitanguy (1991), até meados do século XIX, as mulheres eram submissas as
vontades dos homens, obedecendo e cumprindo seu dever como mulher a fazer tudo que lhe
era ordenado. Deveriam se manter na castidade e sendo visto como único propósito, a
procriação. Após o movimento feminista e com o surgimento do capitalismo as mulheres
começaram a se libertar dessas amarras e começaram a conquistar direitos como voto,
trabalho e escolha de seus parceiros, conquistando seu espaço na sociedade. A construção
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O corpo é o espelho da cultura que o cerca, daquilo que é imposto ou dito que é o certo
seguindo padrões que vem moldando o corpo da mulher desde seu nascimento e culturalmente
empregado pelos séculos. Segundo Daolio (1995) “No corpo estão inscritas todas as regras,
todas as normas e todos os valores de uma sociedade específica, por ser ele o meio de contato
primário do indivíduo com o ambiente que o cerca”
Estudar a evolução e as mudanças do corpo humano é vivenciar a história da
civilização, da criação de suas culturas e normas de cada sociedade, de cada lugar onde pode
se testemunhar os padrões e posturas que cada mulher era disciplinada a ter. Os padrões de
beleza, do que era bonito pra cada região, o que era sensual, o que indicava uma mulher fértil
e boa para ter filhos, mulheres fortes e mais delicadas (BARBOSA; et al, 2011). Algumas
culturas obrigavam as mulheres a deformarem seu corpo, como é a tradição das “mulheres
girafas” na Tailândia, onde elas utilizam aros em volta do pescoço que dão a sensação de
alonga los, mas que na verdade apenas exercem uma pressão nos músculos e clavícula, além
das vértebras assumirem um ângulo de 45º. Sendo peças extremamente pesadas podendo
chegar a 25 aros que são colocados desde o cinco anos de idade, alcançando até 10kg. Nos
tempos atuais esta cultura já está ficando obsoleta por sua finalidade inicial sendo utilizadas
apenas para finas lucrativos e sobrevivência econômica, se tornando apenas mais uma atração
turística (ANTUNES, 2012).
Fonte: http://curiosidadeseculturas.blogspot.com/2011/10/mulheres-girafas-da-thailandia.html
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No renascimento o corpo passa a ser mais do que um corpo cheio de regras e passa a ter
a visão da ciência servindo como objeto de estudos e experiências (BARBOSA; et al, 2011),
mas a medicina acabou se tornando base para discussões relacionadas ao gênero dando poder
para decisões a serem tomadas baseados nas diferenças entre homem e mulher as restringindo
a um controle social utilitarista (ANGELI, 2004), o que naquele momento veio apenas para
fortalecer o lugar da mulher onde foi instituída na sociedade, mãe, dona de casa, sexo frágil.
Neste período da história o corpo feminino era representado com mulheres de seios fartos,
quadril largo e isso é usado para designar fertilidade, ou seja, uma mulher boa para ter filhos,
este modelo de beleza foi eternizado em quadros e ilustrações.
Fonte:https://educador.brasilescola.uol.com.br/estrategias-ensino/o-renascimento-arte-periodo.htm
Fonte: http://femininu.blogspot.com/2012/01/moda-na-decada-de-20.html
Chegando a década de 40 as mulheres ganham mais poder e passam a usar seus cabelos
soltos, atraentes e sedutoras, já na década de 50 surge um modelo e um símbolo do corpo
feminino, Marilyn Monroe com toda sensualidade e expressão se tornando símbolo sexual e
sendo cobiçada pelos homens e inspiração para muitas mulheres, neste momento da história o
corpo feminino ganhou volume mas preservou a cintura fina, eram chamadas de “mignons”.
Fonte: https://focusfoto.com.br/marilyn-monroe-na-grade-do-metro/
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Uma mudança bem significativa ocorre na década de 60 onde a moda e elegância eram
quem ditava as regras, um corpo magro era o que a sociedade considerava padrão, sem curvas
e volumes. Na década de 70 essa visão do corpo magro permanece e é influenciado pelas
modelos, altas, muito magras e sem curvas, um marco ocorrido em 1971 foi a exposição de
seu corpo gestante na praia de Ipanema pela atriz Leila Diniz, que apesar de ter sido pela
época um escândalo veio para ditar moda e libertado alguns laços preso ao que era dito como
certo e belo.
Fonte:https://br.pinterest.com/pin/487725834617803287/?autologin=true
Fonte: https://br.pinterest.com/pin/385268943095697859/
Além das tribos indígenas que já estavam aqui, o Brasil recebeu colonos e imigrantes
por todo território e foi criando ao longo dos anos uma biotipologia definida segundo as
características étnicas, raciais e culturais do país criando a ideia de “brasilidade”
(PANDOLFI, 1999). Considerando esta miscigenação, é impossível criar um padrão para o
corpo da mulher brasileira, cada região do país possuí uma caraterística única, mesmo sendo
referência mundial a mulher morena com bunda grande.
Segundo Lee (et al 2007), existem sete biótipos que são gerados a partir de cálculos
matemáticos de acordo com as medidas de cada mulher, são eles: Bottom Hourglass –
quando o quadril se apresenta maior que o tórax; Top Hourglass – quando o tórax se apresenta
maior que o quadril; Rectangle – é representada pela forma do retângulo, quando a mulher
apresenta tórax , cintura e quadril em proporções iguais; Hourglass – quando a mulher possui
a forma de uma ampulheta, ou seja, quadril proporcional ao tórax; Spoon – representada pela
forma de colher, quando a mulher possui o quadril levemente maior e mais alto; Trinagle – é
representada pela forma do triangulo, quando a mulher possui quadril bem maior que o tórax
e sua cintura não tem destaque; Inverted Tringle – representada por um triangulo invertido,
quando a mulher possui o tórax maior que o quadril e sua cintura não tem destaque.
Um projeto chamado SIZEBR realizado pelo SENAI CETIQT (BASTOS; et al, 2014),
percorreu o território nacional por dez anos coletando dados por medidas antropométricas
tentando estabelecer um padrão de medidas para cada região com a finalidade de auxiliar a
indústria têxtil na fabricação de calças jeans, o resultado obtido foi, diferente do que se
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esperava a mulher brasileira possui um corpo retangular principalmente a região nordeste com
70.3%, já as mulheres da região sul se apresentam na forma de ampulheta, totalizando 6.1%.
como já mencionado, o Brasil é um dos países mais ricos em miscigenação e com isso muito
difícil de padronizar o corpo da mulher brasileira, com isso cada região possui sua própria
forma seja por influência cultural, social ou herança genética. Cada região do país recebeu
colonos e imigrantes em várias fases da história criando sua própria sociedade e cultura, o que
pode explicar a forma ampulheta das mulheres sendo a maioria de origem europeia. Este
estudo também apontou a variação de acordo com a idade da mulher, quanto mais velha maior
é a aproximação do corpo em forma retangular, o que causa uma controvérsia nos padrões
valorizados pela maioria das mulheres, o corpo em forma de ampulheta, ou seja, quadril e
tórax uniformes e cintura fina.
Segundo Chacham (2004), há uma grande contraposição da mulher brasileira em
relação a satisfação com sua aparência e a procura cada vez maior por serviços estéticos, o
qual associou a pressão cultural do modelo de beleza dito como correto o que levou também a
questões relacionadas a distúrbios alimentares como bulimia e anorexia. O ponto curioso
levantado pela autora é o discurso dessas mulheres que buscam pelo corpo perfeito não só
para se sentirem satisfeitas com sua aparência física mas por questões de saúde, onde é
observado que o que vale é o que elas enxergam, ou seja, se um corpo está bonito por fora
então está saudável por dentro, o que não é verdade já que até mesmo nesta busca pela
perfeição do corpo, muitas se submetem a procedimentos que na verdade podem prejudicar a
saúde e até mesmo levar a óbito.
O corpo feminino brasileiro se tornou então um corpo maleável que pode ser moldado
ao gosto de como este indivíduo deseja parecer, de como ele deseja ser, se mostrar perante a
sociedade e isto constitui, cria o indivíduo como um corpo manipulável. Destaca-se, para esse
estudo, as questões relacionadas a evolução e transformação sociocultural com as influências
da mídia na saúde da mulher.
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Fonte: b9.com.br
O que realmente pode ser dito como belo, correto e aceitável? Afinal, o que é julgado e
ditado é realmente a forma correta? Criamos um modelo de beleza e muitas vivem a seguir e
praticar este modelo, mas afinal, o que a cultura influência nestes padrões? Será que o modelo
magra ou bunda grande é o verdadeiro pivô desta ditadura, mesmo observando nos dias atuais
as mudanças nos padrões e maior aceitação do próprio corpo, ainda há duras críticas a quem
viver da forma que lhe faz bem, ou será que não faz tão bem assim?
Vivemos uma era do empoderamento feminino, onde as mulheres estão comandando a
própria vida, possuem cargos altos em sua vida profissional e decidem se casam ou tem filhos,
o que a pouco tempo era algo questionado fortemente pela sociedade. Mas com essa
independência lidamos com um leque de questões, quando uma mulher se olha no espelho e
se sente bem, ela está no corpo considerado bonito, esta mulher cuida do seu corpo com
musculação, alimentação e tratamento estéticos, ela ama o que vê, mas até que ponto ela vive
realmente feliz e não se sente em cárcere de seu próprio corpo, presa a esta ditadura de estar
sempre bela, é pra ela ou pra esta mulher se encaixar na sociedade? Ou temos o outro lado
desta incógnita, quando uma mulher está acima do peso e aceita seu corpo desta forma e cria a
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visão de felicidade e se encaixa na sociedade desta forma, ela cria seu espaço por seu amor
próprio e seu empoderamento, esta mulher realmente está feliz ou apenas camuflando algo
que ela não quer demonstrar, ela realmente é feliz no corpo que esta, ou assim como a outra
vive em uma imagem cultivada para agradar a outros? Muitas perguntas nos fazemos, e este
viés psicológico é algo aberto a ser estudado e não será tratado com profundidade por esta
revisão, onde quero chegar é, até que ponto a cultura influência não só no corpo mas na vida
da mulher, quando vemos tantas mulheres com transtornos psicológicos e alimentares, pode
se contribuir com este estudo e a obtenção de respostas a própria liberdade e independência as
mulheres, que com o passar dos anos adquiriram tarefas múltiplas e a maioria tem emprego
fixo ou negócio próprio, são mães, cuidam de suas casas acumulando uma rotina tripla de
trabalho e estresse diários.
Nesta afirmação de Lipovetsky, (1999) refere que “a beleza é vista como algo
necessário para que alguém possa atingir a felicidade “, ou seja, as pessoas que não se
encaixam nos padrões do que é belo não são felizes. Com isso podemos teorizar que não há
felicidade sem beleza, até que ponto isso pode realmente significar algo concreto. A verdade é
que um corpo belo pode ser visto de várias maneiras e cada olhar irá enxergar de uma forma,
cada pessoa possui o padrão de beleza para outra, ou seja, o que é belo para pode não ser para
outro, há o que acham bonito um corpo magro, outros maiores, seios grandes, seios pequenos,
enfim, uma infinidade de características que podem ser moldadas e mudadas ao bel prazer de
si e de outros, para se agradar ou se encaixar em um certo grupo.
Segundo Lipovetsky (1999) essa busca pela beleza, pelo corpo perfeito, mesmo que
recebendo influência pela mídia, é positiva e essencial para a vida de qualquer pessoa. Por
mais que esta afirmação esteja correta, e não indo contra ele mas buscando um intermédio
pois a busca pela beleza do corpo deve estar ligada ao ser íntimo e não só a carne, ou seja,
aquele que habita no carne, a consciência do ser deve estar vivendo esta busca e estar bem
com isso, nunca esquecer que o corpo não é só carne, mas existência de um ser. Podemos ver
esta ligação na citação de Novaes (2006) diz que o corpo, no registro imaginário, é uma
possível demarcação do dentro e fora, onde o corpo é compreendido como uma exteriorização
do interior psíquico do indivíduo. Nesta mesma citação é dito que as pessoas são
representações de suas culturas e são observadas em sua postura, roupas, higiene pessoal,
práticas corporais, gírias, o modo de se portar e interagir com as pessoas e o meio e a forma
de demonstrar afeto.
Segundo Nasio (1993) o corpo representa a imagem que o outro vê: “Não a minha
própria imagem no espelho, mas a imagem que me é remetida pelo outro, meu semelhante”;
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“A imagem de meu corpo, acima e antes de tudo, é fora do meu corpo que eu percebo”.
Nestas afirmações pode-se entender que o corpo é criado e moldado para esta bonito e
agradável aos olhos de outros e que o que eles estão vendo e se aprovam, é importante, e o
indivíduo recebe as reações das pessoas sobre seu corpo como um reflexo no espelho, ou seja,
se agrada meu semelhante agrada a mim.
A mulher vem sofrendo influência da mídia desde as primeiras revistas voltadas para o
público feminino, vindo em sequência as fotonovelas e a telenovela surgindo em meados da
década de 70 criando uma nova auto visão para as mulheres principalmente da classe média,
trazendo influências de moda, estética, postura, valorizando a independência financeira da
mulher. Com esta nova tecnologia surgiu um paradoxo neste âmbito, pois ao mesmo que as
mulheres lutavam por seus direitos e espaço no mercado de trabalho, a mídia já influenciava
as ações femininas ditando como a mulher deveria ser, se vestir, moldar seu corpo. Uma
mulher não poderia sair sem suas roupas da moda, maquiagem, cabelos e unhas bem feitos,
apesar do direito de escolha, se tornaram escravas de sua própria liberdade, um molde criado
pela cultura e exposta pela mídia sustentada pelo capitalismo, onde a publicidade convida ao
consumo e faz acreditar que sem aquele produto o indivíduo não será parte da sociedade
(NASCIMENTO; et al, 2012 p.392) ,”assim, as mulheres são induzidas a consumir e a viver
de acordo com o que é transmitido como ideal e desejável para elas pela mídia, o que
influencia seu comportamento e seu modo de ser-no-mundo” (BORIS; CESÍDIO, 2007) ,
podendo ser perfeitamente exemplificado no Marketing utilizado pelos produtos Jequiti, onde
diz que “Não existe mulher feia, existe mulher que não conhece os produtos Jequiti”.
Segundo Freyre (2006) “A verdade é que a especialização de tipo físico e moral da
mulher, em criatura franzina, neurótica, sensual, religiosa, romântica, ou então, gorda, prática
e caseira, nas sociedades patriarcais e escravocratas, resulta, em grande parte dos fatores
econômicos, ou antes, sociais e culturais, que a comprimem, amolecem, alargam-lhe as ancas,
estreitam-lhe a cintura, acentuam-lhe o arredondado das formas, para melhor ajustamento de
sua figura aos interesses do sexo dominante e da sociedade organizada sobre o domínio
exclusivo de uma classe, uma raça e de um sexo.”
Com o passar do tempo as formas foram se reinventando, modificando e criando novos
modelos de beleza, publicado pela revista Veja em 1969 o padrão estatura média, corpo
roliço, seios e quadril maiores, cabelos pretos e lisos, já na década de 70 o modelo de beleza
era a mulher alta, pele bronzeada, pernas e dedos compridos, chegando ao corpo malhado,
abdômen e coxas definidos, seios firmes, procedimentos estéticos como silicone, botox,
plástica facial, lipoesculturas, e até os cabelos e as unhas deixaram de ser real e se tornaram
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apliques e unhas postiças, tudo em prol da ditadura da beleza imposta pela cultura e pela
mídia, onde a mulher busca cada vez mais a beleza e a juventude. O corpo se tornou um
produto da cultura e influência midiática, transformando a mulher em uma “escrava da
beleza” passando por sua obsessão do cuidado com o rosto e sua pele branca para um corpo
estético (SAMARÃO, 2007, p. 50), sendo brilhantemente representado nos concursos de
Miss.
Nos tempo atuais, nota-se uma mudança nos padrões e pode-se observar que existe
manifestações da moda, cultura e mídia para todos os tipos de mulheres, podendo ser o
começo de uma “despadronização” desta ditadura, apesar de muito embrionário, as várias
formas das mulheres ganham cada dia mais espaço e podemos ver todos os tipos de mulheres
sendo representadas na mídia, cultura e na sociedade em geral, é claro que ainda existe muito
estereótipo sobre o corpo e como ele deve ser, a mulher de academia – fitness - com suas
penas e glúteos definidos e hipertrofiados, seios grandes, entre tantas outras características.
Fonte: EGO
Fonte:https://www.lacremania.com.br/2017/07/maquiagem-transformacao.html
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Nos dias atuais, o corpo virou um objeto dos anseios sociais e virtuais, um corpo
narcisista. Segundo Giddens (2000 apud VIEIRA, 2005 p.217) “O corpo é um veículo.
Habitá-lo, às vezes, é encarado como privilégio, noutras como uma pena imposta.” Nesta
citação o autor busca mostrar que alguns estão satisfeitos com seu corpo e outros não e
colocam isso de forma punitiva para sim, como se viver naquele corpo que não deseja, que
não o representa seja uma forma de castigo, preso em um corpo que não ama. A frase “a
grama do vizinho é mais verde” é um ótimo exemplo sobre como algumas ou a maioria das
pessoas olham para as outras, indagando sobre o que o indivíduo tem em seu corpo que ele
gostaria de ter, mas que para esta pessoa é mais fácil ou nada fez para ter, como exemplo uma
mulher de seios fartos e outra com seios pequenos, a mulher de seios fartos gostaria de ter
seios menores pois ela considera um incomodo, já a mulher de seios menores gostaria de ter
seios maiores pois se acha pouco atraente com a falta desta característica.
O corpo, o modo de se vestir e se portar são as primeiras impressões que terá de uma
pessoa, e apesar dos homens estarem se preocupando mais a cada dia com a estética, a mulher
ainda é campeã quando o quesito é imagem corporal. O que é passado para outras pessoas
como informação só com sua roupa, seu jeito de andar, seu corpo são muito pensados pelas
mulheres, como é dito na frase: “ a primeira impressão é a que fica”, na maioria das vezes é
levado em consideração na hora de escolher a roupa que vai usar, maquiagem, sapatos entre
outros adereços. Se cuidar e querer buscar a beleza pode ser muito benéfico, como já foi
exposto neste estudo, mas por outro lado pode ser extremamente maléfico, pois até que ponto
essa mulher chega para ficar do jeito que ela espera. No século dos transtornos mentais é
perigoso viver em função de algo ou outros para se sentir bem, a depressão é uma doença que
atinge milhares de pessoas, principalmente mulheres, entre vários fatores destaca-se a
sobrecarga de múltiplas tarefas, e mesmo assim ela busca estar sempre bonita, mas em grande
parte, esta beleza não é para elas mas para outros. Outra doença que assola muitas mulheres
na busca do corpo perfeito é a bulimia e a anorexia, transtornos alimentares que podem levar a
morte, assim como dietas sem controle e o uso de medicamentos sem acompanhamento
médico especializado, até mesmo cirurgias como a bariátrica. Em um outro ponto temos um
transtorno similar porém contrário, a popularmente conhecida “gordorexia”, este transtorno
faz com a mulher não se veja acima do peso mesmo estando muito acima, é o extremo oposto
da famosa anorexia nervosa, o que pode levar a sérios problemas de saúde como hipertensão,
diabetes, distúrbios hormonais, alteração nos níveis de colesterol, entre outros fatores que se
não tratados podem desencadear uma cascata de problemas de saúde havendo a possibilidade
de vir a óbito.
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Fonte: https://www.jamudei.com.br/saude/1822-dismorfia-corporal-disturbio-alem-da-autocritica
que aquela cultura dita como certo e belo e naquele corpo é marcado com suas transformações
para se adaptar aquela sociedade.
Segundo Garrini (2007), o valor cultural do corpo é o que o integra e o destaca ao
mesmo tempo, se consagrando com um corpo perfeito representando uma vitória sobre a
natureza e domínio de seu corpo e destino. Tornando símbolo da indisciplina e o fracasso com
o próprio corpo a gordura e a flacidez, afinal você é dono do seu destino, suas escolhas e
então escolhe não cuidar do seu corpo, fracassando com o mesmo. A cultura utiliza da
imagem para classifica-lo e colocá-lo em seu grupo determinado e a gordura corporal se torna
doença, pois só é considerado bonito e saudável quem possuir um corpo malhado, criando a
estes indivíduos um reconhecimento social, ou seja, cada um será encaixado em grupo
determinado automaticamente apenas por sua imagem, assim visto nesta citação de Garcia
(2005) : “aspectos de beleza, juventude, erotismo e sexualidade são critérios julgados a favor
da engrenagem que move a circulação midiática do corpo.” .
É sabido que para alcançar um corpo “perfeito” deve haver dedicação, esforço e até
abdicações, e este estilo de vida vem crescendo cada vez mais buscando a perfeição do corpo
e o retardo do envelhecimento, seja com exercício, alimentação ou procedimentos cirúrgicos e
estéticos (GARRINI, 2007). Os tempos são outros e com a mudança no estilo de vida
podemos observar nitidamente essas reações ou consequências nos próprios indivíduos,
fazendo uma comparação com mulheres de algumas décadas anteriores e da atualidade
observamos que uma mulher com cinquenta anos na década de 70 até 90 eram mulheres que
já apresentavam exaustão e iniciando sua fase idosa, hoje em dia uma mulher de cinquenta
anos ainda está ativa e vive o ápice de sua liberdade e vitalidade sendo muitas destas mulheres
nem aparentam ter a idade que tem.
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Fonte:www.instagram.com/brunalombardioficial
A mulher contemporânea é livre para cuidar e amar seu corpo, e o faz. É um corpo
trabalhado e cultivado para que não envelheça ou que retarde este processo, uma mulher
independente que escolhe como quer viver e onde usará o capital que adquiriu com seu
próprio trabalho. É a consciência de seu próprio corpo e saber que ele é a exposição do que
está por dentro, do íntimo da mulher, é o poder desta mulher contemporânea e o domínio
sobre seu corpo, por ter o poder de escolher se irá fazer uma tatuagem, se irá colocar um
piercing, se vai se bronzear, se terá filhos, se vai pôr silicone ou cortar o cabelo, se vai ou não
seguir a moda ou a cultura, enfim, é ter liberdade de escolha. Mas apesar de toda essa
independência e esse discurso sobre o corpo há um grande paradoxo de interesses, pois o
mesmo corpo que busca sua liberdade é o mesmo que se aprisiona em regras, modas e status
impostos socialmente.
3.5. O EMPONDERAMENTO DO CORPO FEMININO
Segundo Castilho (2001) o século XXI está marcado pelo culto ao corpo e a busca de
aperfeiçoa-lo obsessivamente, virando para algumas pessoas um estilo de vida, destacando
mulheres de classes médias urbanas. O corpo magro, definido é o objetivo da maioria que
busca por este estilo de vida, sendo saúde e bem estar um interesse acoplado. Apesar da
mulher impor e se destacar cada dia mais na sociedade, o preconceito contra obesidade ainda
é grande, isso sem aprofundar na questão racial que apesar de não ser conteúdo abrangente
direto deste estudo merece ser exposto por futuros estudos. Uma mulher magra se torna
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sua silhueta... A mulher deve ter um belo corpo para mostrar após os filhos estarem criados”.
Nesta citação temos uma mulher poderosa que busca o domínio sobre seu corpo e sua beleza,
uma mulher forte e corajosa que ao mesmo tempo se submete a sociedade que impõe o que a
mulher deve fazer e como agir, pois como dito, é imperdoável que a gravidez faça com que a
mulher perca sua forma física anterior a gestação.
Empoderar-se é ter o poder sobre si, sobre suas escolhas e também se tornar responsável
por elas, ter o domínio sobre sua própria vida. Nos dias atuais a mulher se tornou dona de si,
assumindo responsabilidades e imagens públicas, alcançando espaço e poder, ela escolhe
entre ser executiva, medica ou motorista de caminhão, tem o poder de escolher entre ter filhos
ou não e como será o parto, se é feliz ao lado de um homem, de uma mulher ou sozinha, se irá
se depilar ou não, enfim, o controle da sua própria vida, mas com isso também vem as
consequências do apontamento de uma sociedade ainda retrograda que só aceita e acredita que
seja bom aquilo que já foi estipulado como certo. Uma mãe solteira, por exemplo, ainda é
criticada e julgada por não ter a imagem do marido ao lado.
O corpo desta mulher contemporânea carrega marcas de luta, de vitórias e também do
preconceito que ainda espreita a vida e escolhas de cada uma, algumas destas marcas se
tornam físicas com agressões diretas de seu próprio companheiro. Segundo Soihet (2002), a
violência do homem surgiu com sua incapacidade de exercer o poder sobre a mulher, de não
conseguir mais controla-la, sendo a maioria das agressões por motivos fúteis como deixar de
realizar alguma tarefa ou mesmo esquecer, ou não fazer por alguma insatisfação com o
companheiro. Mesmo esse não sendo tema nem assunto central deste estudo, é importante
ressaltar que mesmo em um período de empoderamento da mulher, onde ela se auto realiza e
deveria ser dona de sua vida, muitas mulheres ainda sofrem com a violência doméstica por
uma cultura criada e cultivada desde o início dos tempos, e esta mulher sempre carregará as
marcas desta intolerância, visíveis ou não.
As jovens mulheres de hoje buscam ascensão social e posicionamento por sua imagem,
sua aparência e estilos de vida com a possibilidade de tornar o corpo uma constante
transformação em busca de algo que seja perfeito para aquele momento, pelo que a mídia
mostra, um ciclo vicioso e sem fim em busca da beleza e aceitação na sociedade (DAMICO;
et al, 2006).
31
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1.Família e o corpo
Além da influência da mídia e da cultura, a família também faz parte desta composição
que forma a mulher, os ensinamentos e a educação recebida, os exemplos e a própria cultura
familiar que muitas vezes carrega por gerações e é passado de pais para filhos. Normalmente
o que foi ensinado àquela mulher será passado para sua filha e assim sucessivamente.
A descoberta da sexualidade da mulher traz a tona a descoberta de seu corpo e sua visão
começa a mudar, e com o passar do tempo esta descoberta inicia-se cada vez mais cedo e com
isso muitas meninas se tornam mulheres muito antes do tempo, se portando e usando artifícios
como uma mulher adulta, formada e consciente de seu próprio corpo. Esta influência sexual
precoce, apesar de ser muito influenciado pela mídia, também acaba sendo trabalhado dentro
de sua própria casa, como um ciclo vicioso de mulheres que saíram muito cedo da infância,
tiveram filhos muito novas e esses filhos seguem aquilo que veem como exemplo de base
familiar.
Segundo Ressel et al (2011) a sexualidade do adolescente é de acordo com os valores
familiares passados a ele desde a infância compreendo as condutas e a postura aceitável para
sua socialização, ou seja, o que é certo e errado, e é nessa socialização que ele irá
compreender sua realidade e aprender a identificar seu papel social e suas atitudes no grupo
ao qual se encaixou na sociedade, absorvendo automaticamente e fixando tudo que for
aprendido.
A família é o primeiro contato e orientação que o indivíduo terá sobre como ser, se
portar, o que fazer. Um bom exemplo é um pai ou mãe que teve uma educação fechada e uma
base de educação antiga, onde questionam a filha por usar muita maquiagem, ou pintar o
cabelo de vermelho, pintar as unhas, usar roupas curtas, enfim, tudo aquilo for contra a
educação que esta pessoa recebeu, mas sem perceber que não estão educando e sim limitando
esta mulher a se descobrir e até mesmo fazer parte de um grupo, de se encaixar na sociedade.
A consciência corporal da mulher é reformulada a cada fase de seu desenvolvimento, é
a representação mental do próprio corpo, ou seja, como esta mulher se vê e compreende não
32
só os sentidos, mas tudo que engloba o próprio corpo, onde na maior parte estes sentimentos
são inconscientes (SCHILDER, 1999).
A presença da base familiar com uma boa orientação deve fazer parte do crescimento
não só de meninas mas também de meninos, mas enfocando no assunto em questão as
mudanças e novos conhecimentos e descobertas precisam ser debatidos e orientados. Como já
foi citado neste estudo, o corpo é expressão do que representa o indivíduo, é com ele que você
passará sua primeira impressão aos que te olham, ele é usado para atrair e se destacar. Uma
jovem que inicia sua vida sexual e aprende sobre seu corpo começa a querer molda-lo e expô-
lo para se parecer com modelos de beleza que são exaltados naquele momento e no grupo
social que ela faz parte, assim como visto nesta citação de Kehl (2001) : “Além da falta do
apoio social para lidar com suas transformações, as jovens deparam-se com os modelos de
beleza e com a extrema valorização da aparência veiculada pelos meios de comunicação.”
A influência cultural sofrida pelas mulheres não só sobre seu corpo e tudo que o condiz,
mas também sobre sua personalidade, escolhas e modo de pensar também é acometido dentro
de sua casa desde a infância. Os próprios pais acabam influenciando A menina e gerando
consequências na mulher que irá se tornar, seja para algo bom ou algo ruim, pois em certos
momentos a pressão psicológica sobre ela ser e agir de alguma forma que ele não quer pode
causar transtornos e ao invés dela ser orientada, se desorienta e perde seu próprio eu, assim
como citado por Angeli (2004 p.211): “Devemos ressaltar mais uma vez que o sujeito não
representa apenas um momento particular, antes é constituído por uma série de eventos
discursivos que acontecem na vida de uma pessoa.”
Em plena era digital e do acesso a informação a rede ocupa uma posição cada vez mais
importante, no Brasil o acesso a internet começa cedo, crianças com dois anos já tem contato
com este mundo e segundo o IBOPE/NetRaitings (2012), as pessoas passam cerca de 33:52
horas por mês na rede (MEDEIROS; et al, 2014) dado este que aumentou com passar dos
anos elevando para nove horas e quatorze minutos por dia. Este dado traz a consequência da
inserção do aparelho celular com acesso à rede, a disponibilidade e facilidade de leva-lo e
conectar em qualquer lugar contribuiu exponencialmente com este aumento, com isso as
mídias sociais se tornaram parte integrante da rotina diária na vida das pessoas.
33
Figura 13 - Ensaio fotográfico assinado por Nany Carrara retrata mulheres mastectomizadas
Fonte:https://www.sigamais.com/noticias/geral/ensaio-fotografico-assinado-por-nany-carrara-retrata-mulheres-
mastectomizadas/
Apesar das redes sociais serem um dos locais mais perigosos para expor sua vida
pessoal, muitas destas mulheres encontraram conforto e uma “família” para apoia-las durante
e após o período da doença. Tentar retomar a consciência corporal e sua imagem é algo
incansável para essas mulheres e as redes sociais podem criar um vínculo de conexões
significativas com interações regulares de inúmeras pessoas conhecidas e desconhecidas, de
familiares a profissionais da saúde buscando apoio emocional, seguindo um bom exemplo de
interação e apoio porque não dizer, material, muitas tatuadores se sensibilizam com estas
mulheres e oferecem refazer seus seios por meio do desenho com a tatuagem tentando
35
Figura 14 - Seio após mastectomia com tatuagem realizada por Luciano Souza
Fonte:http://www.a2.jor.br/site/2015/06/tatuando-no-coracao/
Vemos então o outro lado da rede, do apoio emocional a estas mulheres, onde ao invés
de influencia-las a modificar seu corpo auxiliando a aceitar e amar suas marcas. Existem
inúmeros grupos de apoio a incontáveis problemas disponíveis na rede, desde físicos aos
psicológicos.
Em busca de literatura para este estudo, pouco foi encontrado sobre o assunto, e é
surpreendente saber que pouco se fala em influência das redes na era da tecnologia e interação
social a distância em relação ao corpo. A mídia é uma grande influenciadora, mas a rede
social é um complexo de informações conectadas 24 horas por dia, as pessoas nos dias atuais
passam mais tempo interagindo nas redes do que convivendo com outras pessoas fisicamente
ou pessoalmente.
Como visto em Castells (2003) a internet e o computador são mais do que meios de
comunicação e instrumentos de trabalho, são também meios de interação e organização
essenciais para a sociedade contemporânea em rede. Esta interação criada pelo acesso as
redes contribui para a formação de identidades e subjetividades, apesar do número de pessoas
adultas e meia idade estarem aumentando com esta interação social nas redes, a maioria dos
36
acessos ainda são de jovens em plena formação e vulneráveis a acompanhar o que estiver em
alta naquele momento.
Esta influência das redes sociais é algo recente e vem reforçando o narcisismo
impactante na imagem corporal da mulher que é construída na mente com sentimentos,
pensamentos e ações relacionados ao corpo e a insatisfação pelo mesmo se dá a uma alteração
associada entre a imagem corporal real e a idealizada. Esta imagem corporal recebe influência
de diversos fatores, considerando os de grande importância: os pais, os amigos e a mídia,
sendo esta a de maior fator (LIRA; et al, 2017).
Lira ainda afirma que a insatisfação corporal e a influência da rede é maior entre as
jovens, e em um estudo, constatou que a maioria das jovens, mesmo estando em condições
nutridas e aparência saudável não estavam satisfeitas com sua imagem corporal, desejando
aparentar mais magras, esta insatisfação foi encontrada em mais de 80% das jovens avaliadas
mulheres, independendo de classe social e escolaridade, sendo a maior frequência de
mulheres acima do peso, apontando na literatura uma norma geral de insatisfação do sexo
feminino principalmente em relação ao peso e suas formas corporais.
Atualmente as informações recebidas e ditadas pela mídia, destacando as redes sociais,
não são iguais as imagens corporais reais das mulheres, onde cada ser é individual e único por
características biológicas, sociais, rotinas diárias, e isso afeta este grande grupo de mulheres
que buscam sempre melhorar sua imagem, mas possuem fatores externos e até mesmo
internos, e quanto maior é a busca maior é a auto cobrança, e quanto mais buscam sem
alcançar resultados significativos maior é a frustração, onde muitas delas se tornam mulheres
lindas, frustradas, insatisfeitas com o próprio corpo e sempre em busca de mais.
Segundo a autora supracitada, em sua pesquisa pela literatura “poucos estudos até aqui
avaliaram o impacto de redes sociais em adolescentes [...] Correlações foram encontradas
entre Instagram e preocupações com a imagem corporal e vigilância do corpo, e entre
Facebook e Pinterest e pressão percebida pela mídia [...]verificaram que mulheres entre 17 e
25 anos que passaram algum tempo no Facebook apresentaram humor mais negativo do que
aquelas que passaram algum tempo em um site controle."
A “prescrição” exposta ao corpo da mulher é cada dia mais intensa, principalmente pela
indústria da beleza e os meios de comunicação. A busca pela beleza se torna então algo
37
estipulado e não realmente desejado por esta mulher, em muitas vezes esta busca se torna algo
não é tão simples de se alcançar, inacessível por vários motivos, questões culturais, religiosas,
sociais e financeiras. Esta mulher então não conseguindo cumprir o objetivo de deixar seu
corpo como deseja, ou melhor, ditam ela começa a desenvolver transtornos psicológicos em
relação a sua imagem , quem ela é ou quem quer ser, ou como querem que ela seja, inicia-se
também uma exclusão social e a autocritica em cima do seu suposto fracasso, levando-a a
perda de sua autoestima acumulando e generalizando tudo em um grande sofrimento psíquico.
(SEVERIANO; et al, 2010).
“As meninas de outras épocas escreviam principalmente sobre os desafios do
amadurecimento do caráter; hoje em dia, a preocupação central gira em torno da aparência
física e da apresentação do corpo para os outros. Para essas meninas, a autoestima parece
depender muito mais do tamanho do nariz, da cintura ou das pernas do que da maneira que
desenvolvem capacidades de relacionamento com o mundo.” (ADELMAN 2003).
Apesar de existir um movimento forte que abrange direta ou indiretamente a maioria
das mulheres que buscam seu lugar na sociedade, observa-se um grande paradoxo onde a
maioria dessas mulheres vivem entre ditar e obedecer, de buscar pela liberdade de escolha e
escolher aceitar seguir o que lhe é ditado.
“Atualmente, a beleza simboliza sucesso pessoal e profissional. Com isso em vista, os
indivíduos perseguem desesperadamente uma “perfeição corporal provisória” e, ao mesmo
tempo, acumulam um vazio enquanto seres humanos, porque indiretamente sabem que essa
busca por uma imagem corporal ideal, no mundo contemporâneo, não chega a um fim.” (DA
SILVA, 2010)
Viver a liberdade é algo mais difícil do que se pensa, e se encaixar e ser aceito na
sociedade ou em um grupo se inclui nesta variância. Cada indivíduo vive a sua maneira e
encontra seu grupo onde é adaptável ao seu modo de viver e pensar, se por algum motivo, seja
qual for, você mude este estilo de vida, automaticamente está se excluindo daquele grupo
,afinal você não faz mais parte daquela vivência e naturalmente se encontra em outro. O ser
humano é um ser adaptável e em constante mudança, nossos pensamentos e atitudes de hoje
podem ser totalmente diferentes amanhã, isso varia da idade, local, necessidades, enfim,
fatores que influenciam diretamente no dia a dia e no crescimento de cada um.
Neste sentindo, busca-se uma reflexão crítica sobre este paradoxo, em lutar por
liberdade e viver a mercê do que é ditado pela moda e pela sociedade, tentando buscar uma
reflexão superficial do “eu” de cada mulher, afinal além de cada mulher ser única, são
também seres unicamente complexos.
38
O que se observa é que as relações sociais acontecem de acordo com a imagem de cada
um, a pessoa se torna caracterizada pelo que ela expõe, ou seja, um corpo bonito seria a
garantia de felicidade, saúde, autoestima, sucesso, enquanto um corpo considerado feio é
caracterizado a um indivíduo desleixado, por alguém sem poder e força de vontade consigo, o
que atinge também no ambiente de trabalho.
“A indústria da beleza e do entretenimento, ferramentas básicas da atual indústria
cultural evidencia, ainda hoje, a conciliação entre indivíduo e sociedade, o reino da
positividade e o culto ao presente imediato em seus apelos ao corpo idealizado do consumo.
Celulares, carros, computadores, cartões de créditos, assim como corpos “sarados”, são
convertidos em uma espécie de “passe” para a inclusão social e um “certificado” de “estilo e
personalidade”. (SEVERIANO; et al, 2010).
Nesta citação, observa-se como a imagem da mulher é tratada como objeto de lucro para
a indústria, que impõe o culto ao corpo e ao consumo para que ela seja “aceitável” pela
sociedade. Assim, uma mulher livre se torna cárcere de sua própria imagem.
Com medo de julgamentos e com a expectativa em relação a recepção social, o
indivíduo busca os cuidados e seus efeitos sobre o corpo se preparando para esta exposição,
apesar de ser algo que afeta ambos os sexos, a mulher se tornou o indivíduo mais preocupado
com a estética e com o olhar de outros para si. O nível de cuidados, além de pessoa, pode ser
“medido” de acordo com a visibilidade que aquele individuo espera ter, ou seja, evitar o olhar
ou se expor. Um bom exemplo deste desejo de estar bem para se sentir bem em expor seu
corpo é alguém que procura uma academia pra se preparar para o verão e usar um biquini sem
sentir vergonha do próprio corpo, afinal segundo o que é estipulado sobre a sociedade, esta
mulher não encontrava nos parâmetros ideais, ou pelo menos ela não se via assim. Todo esse
esforço em busca de reconhecimento e aceitação social não passa de um jogo de espelhos
onde esta mulher é a imagem refletida do que o outro vê, como citado por NOVAES; et al,
(2003): “Vivenciado na modernidade diferentemente da forma como o era nas sociedades
tradicionais, o corpo na cultura atual possui especificidades no modo como é percebido
esteticamente.”
Segundo Barthes (1982, apud NOVAES; et al, 2003 p.18) , o corpo é a imagem que
acredita-se que o outro tenha, seguindo o pensamento do espelho, onde a imagem corporal é o
resultado da influência do meio estando em constante transformação. Em busca deste
espelhamento perfeito e da ascensão social, assim como a juventude eterna, cada dia mais
mulheres aderem a procedimentos que as tornam direta ou indiretamente presas, um creme
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diário para rugas, um pro dia e outro pra noite, creme para estrias e celulites, redutores de
medidas, cintas modeladoras, procedimentos estéticos, esticar, puxar, aumentar diminuir, tudo
em prol do resultado final, ou não tão final assim, já que como já foi dito, o corpo está em
constante mudança em busca desta perfeição.
Um texto que retrata muito bem esta dependência e submissão da mulher a esta
ditadura, foi escrito por uma indiana que abandou a carreira de engenheira para se tornar
escritora, em pouco tempo seu texto obteve mais de nove mil compartilhamentos na rede, o
que nos leva a crer que a identificação com a escrita é sofrido por grande parte do público
feminino. A escritora, Naina katarina, inspirou-se em escreve-lo após um evento o qual estava
onde havia uma propagando de laminas para mulheres, e ela indagou ao companheiro sobre o
fato de que as celebridades não deveriam fazer propagando para este tipo de produto, pois
subjetivava que a mulher precisa daquele produto para ser bonita, e o companheiro a chamou
de feminista.
Segue o texto em tradução livre:
Quando um homem me fala que sou linda (When a man tells me I’m beautiful)
“Quando um homem me fala
Eu sou linda
Eu não acredito nele
Em vez disso, eu relembro os dias no colégio
Quando não importava o quão boa eu era
Porque eu sempre era a garota com bigode
Ele não sabe como é isso
de crescer em uma família maternal
em que seu corpo é o único que
que deve aumentar o orgulho de seu pai
enquanto sua mãe senta e se lamenta
‘Não é nada feminino’
Ele não conhece a adolescente
que se completa com
consolações vazias
de ser amada por quem ela é – algum dia.
Ele não conhece a hipocrisia
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Fonte: https://www.buzzfeed.com/soniathomas/when-a-man-calls-me-beautiful
muda, sua primeira menstruação ocorre, ela vira uma mulher, até o ato de ter sua primeira
relação sexual interfere na consciência corporal desta mulher, um dia ela engravida e seu
corpo vira uma contínua máquina de modificações para gerar, conceber e alimentar aquele
ser, e ela deve aceitar que seu corpo mudou e provavelmente levará as marcas da gestação por
toda a vida, e com os anos passando chega também a menopausa e seu corpo não para nunca
de se transformar, de se adaptar. A mulher amadurece mais rápido que o homem, e com isso
essas transformações também são mais precoces, em consequência também entram na
menopausa mais cedo que os homens (neste caso, andropausa), gerando uma cascata infinita
de mudanças.
Nossa imagem corporal é refeita inúmeras vezes, se adaptando as mudanças e tentativas
de buscar o corpo ideal (BARROS, 2005). A diversidade corporal feminina é rica,
principalmente no Brasil, são mulheres altas, baixas, magras, obesas, um pouco acima do
peso, loiras, morenas, brancas, mulatas, negras, cabelos lisos, cacheados, crespos, a mulher
com o corpo malhado, a mulher com seu natural preservado, enfim, inúmeras imagens
corporais vinculadas ao mesmo sexo.
A mulher possui uma grandiosa consciência corporal que é adaptada a cada etapa da sua
vida. Nos dias atuais podemos observar a diversidade feminina, em sua muitas que se fazem
expressar por seu corpo e o que ele transmite. Cabelos coloridos, depilar ou não depilar,
roupas justas e curtas, roupas mais confortáveis, tênis ou salto alto, enfim, cada uma em sua
representatividade, mas todos mulheres, que desejam ser e ter o direito de expor a imagem
que lhe satisfaça, que a faça se sentir mais ela mesma, ou seja, ter o controle de sua
consciência e imagem e transmitir não apenas o que é imposto mas o que lhe faz bem e a faz
se reconhecer, se amar quando vislumbrar seu reflexo.
Nos dias atuais a imagem corporal é formada por estereótipos no qual se o indivíduo
não se enquadrar ela se torna inferiorizada e excluída dos grupos sociais. Outro grupo que
sofre com esta imagem pré-formada são as mulheres obesas, que segundo Da Silva (2010):
“no que se refere a imagem corporal, detectou se que o indivíduo obeso que não teve suas
qualidades físicas reforçadas ao longo da vida passa a sentir-se inferior diante do outro, pois
cada pessoa tem uma estrutura psicológica, influenciável pelo contato com o meio social. O
indivíduo obeso é discriminado desde a infância, por ser visto com diferença pelo outro e,
principalmente, por permitir que essa diferença ponha-o à margem da sociedade.”
Estudos relacionados a construção da imagem corporal é de suma importância para
compreender a mulher que é atingida diariamente pelas imposições estereotipadas pela
sociedade, determinando seu “status” pelo grau de “atração” que ela exerce sobre outros, o
43
que está ligado diretamente a autoestima e insegurança desta mulher. (PENNA, 1989. Para
muitas mulheres obesas, emagrecer não é uma tarefa tão fácil e se faz necessário um
acompanhamento com especialistas, muitas não possuem esse acesso e condições para o
mesmo. Sendo uma questão não só estética mas de cuidados com a saúde, quando uma mulher
deseja mudar sua imagem e sua condição de vida e é afetada por esse apontamento social o
sentimento de culpa e fracasso se acumula, e com isso a dificuldade dela mudar esse quadro
será maior.
Fonte: http://envelhecimentosaudavelbr.com.br/2019/04/03/obesidade-e-depressao/
Conhecer seu corpo e estar em harmonia com ele é algo fundamental para que o físico e
o psicológico trabalhem juntos. Existem muitas maneiras de aprimorar e aprofundar essa
relação com a consciência corporal, entre muitas, evidencio a dança por suas inúmeras
possibilidades educacionais. Segundo Nanni (2005), “acredita-se que a dança pode prestar
contribuição significativa para a melhoria da consciência corporal, com aplicação no
desenvolvimento da autoimagem, do autoconhecimento e da autoestima [...] , ainda possa ser
considerada como manifestação fundamental no processo de socialização do ser.”
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Fonte:https://www.posfmu.com.br/danca-e-consciencia-corporal/noticia/266
Padronizar a mulher é tentar domar uma natureza que é bela e perfeita por suas
diferenças, é limitar a visão da autoimagem e fazer com que a mulher deixe de ser ela e passe
a buscar ser alguém que a impuseram ser. Não existe “corpo perfeito”, existe a perfeição para
si, e mesmo assim sempre haverá a busca para melhorar o que se vê. Sempre terá um grupo ou
alguém pra dizer que ela é alta demais, magra demais, branca demais, musculosa demais, ou
seja, sempre haverá a imperfeição pelos olhos de outras pessoas. Com isso a imagem corporal
refletida no outro sempre será ofuscada e não representará realmente a essência daquela
mulher.
Para este vasto mundo feminino, a imagem corporal deve ser dialógica e reflexiva e
cuidada desde a infância. Aprender a amar, aceitar e conviver com seu corpo é o primeiro
passo para ser feliz sem imposições sociais. Aceitar sua imagem corporal não significa se
acomodar com a forma que ele está (assim como em mulheres obesas onde a questão não é só
estética e social, mas de saúde), mas estar em harmonia com as possíveis modificações que
fará porque é desejável aquela mudança, e isso lhe fará feliz. A busca pelo autoconhecimento
deve ser diário, afinal assim como já citado neste estudo, as modificações são constantes e
sempre se está na busca pelo que deve ser perfeito para si, pois é na sua imagem refletida no
espelho que deve se guiar e não o reflexo pelo olhar de outros.
45
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A mulher contemporânea é multiprofissional e representa uma diversidade de modelos
corporais, tornou-se independente e ao mesmo tempo vive um paradoxo da busca pela
liberdade e a submissão pela ditadura da moda e a aceitação de seu corpo diante da imagem
corporal vista pelo outro, ou seja, para a maioria das mulheres se torna mais importante sua
representatividade social do que para com ela .
Este estudo não se diferenciou por raças, idade ou cultura, sendo pontos abordados
como formas de exemplificar e generalizar o proposto no mesmo, analisar a consciência
corporal de mulheres contemporâneas. Mostrou neste estudo que a grande parte das mulheres
vivem em busca do corpo perfeito baseando-se na imagem imposta e influenciada social e
culturalmente.
A mídia está entre as maiores ditadoras de moda e atinge diretamente a imagem da
mulher, que busca incessantemente estar parecida ou tentar se igualar a estes exemplos de
beleza impostos, modelos estes que diariamente sofrem modificações, assim então esta
constância permanece na busca do perfeito que nunca será satisfatório. Esta incessante busca
faz com que cada dia mais mulheres sofram por problemas emocionais/psicológicos e por
doenças relacionas a imagem corporal como a bulimia e a anorexia.
A cultura popular se faz inteiramente presente na rotina de escolhas das mulheres, em
como elas devem se vestir, se maquiar, moldar seu corpo. Esta influência pode ser observada
desde a infância onde os pais presenteavam as filhas com maquiagens, transformando este
objeto utilizado por mulheres adultas em brinquedos, levando ao estereótipo de que mulher
deve se maquiar e seguir a linhagem da imagem corporal perfeita e bela , desde de cedo.
Observou-se neste estudo a importância da consciência corporal da mulher e sua
grandiosidade em todas as fases da vida. As mudanças ocorridas no corpo da mulher durante
todo seu crescimento até sua fase idosa são formadas e conscientizadas em sua imagem
corporal. Todas as mudanças sendo absorvidas e transformadas para esta mulher se adaptar ao
novo corpo, ao novo “eu”. Da menina a mulher, do crescimento dos seios, dos pelos, da
primeira menstruação, primeira relação sexual, gestação, menopausa, enfim, por todas as
fases da vida a mulher modifica seu corpo externo e internamente. Se compõe de imagens
formuladas por toda a vida para forma um único ser pensante, onde o corpo deve andar em
conjunto com a mente.
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A mulher em sua diversidade, se apresenta de várias formas e cada dia mais jovem. A
busca pela beleza também se dá a busca pela juventude eterna, onde cada dia mais mulheres
se submetem a tratamentos e cirurgias estéticas como silicone, botox e lipoescultura entre
outras, pela imagem perfeita e saudável de uma mulher que deseja ser eternamente jovem. É
visível que essa juventude também se deu não só apenas a inserção destes tratamentos a vida
da mulher, mas também a busca por uma alimentação mais balanceada e atividades físicas,
comparando mulheres de alguns anos atrás e as mulheres da atualidade, pode-se observar que,
quando se atingia 50 anos a mulher já era considera idosa e se apresentava como tal, seu
corpo correspondia a sua idade com rugas e postura, vestimentas e resguardos sociais, nos
dias atuais o que vemos é uma consequência desta busca pela juventude, onde ter 50 anos não
é mais representado por uma mulher idosa e sim um corpo saudável, belo e ativo.
Muitas mulheres buscam em sua vida muito mais do que seguir padrões de beleza
ditados pela sociedade, observou se neste estudo, de forma sucinta, a luta de mulheres
amputadas ou submetidas a tratamentos agressivos, como a quimioterapia, que estavam em
busca não só de fazer parte da sociedade, mas de reencontrar sua autoimagem, de ter sua
consciência corporal refeita e aceita por ela, onde muitas encontravam no esporte um novo
meio de vida e outras buscaram suporte pelas redes sociais por meio de grupos de apoio.
Esta mesma rede social que apoia também agride e influência, dita como a mulher deve
ser e agir, qual tendência ela deve adotar para estar sociável. A rede é o meio de acesso à
informação mais utilizado do mundo e não existe lugar mais propicio a influência, o que é
utilizado em ampla escala para que o indivíduo seja a imagem que está sendo exposta, para
que deseje ser como aquela modelo, assim compre os produtos que são indicados. Marcas de
roupas, cosméticos, academias, clinicas plásticas, enfim, tudo que você puder consumir para
ter aquela imagem e ser aceita em seu grupo social.
Fazer parte de um grupo também não é algo eterno, pois como observado, o ser humano
está em constante mudança. Ter um estilo para compor um certo grupo social é tão frágil que
pode ser desfeito em apenas uma mudança na cor do cabelo.
A imagem corporal depende de inúmeros fatores que a complementa, não sendo apenas
um elemento orgânico, mas um aglomerado de fatores sociais, cultuais, psicológicos,
religiosos.
O corpo é um meio de comunicação ligado a linguagem dos gestos, da vestimenta, dos
grupos sociais aos quais pertence, reproduzindo seus desejos, afetos, emoções. A sociedade
afeta e constrói o corpo, modificando-o e o determinando-o por sua identidade aos grupos que
lhe será resignado, influenciado por sua interação com o ambiente, sua resposta emocional,
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sua construção pessoal, seu objetivo de imagem corporal, enfim, sua interação com o meio,
que será desenvolvida e refeita durante toda a vida.
Por toda a história, as mulheres foram se compondo do que lhes era dito como correto e
por seu valor inicial, a de ser esposa, mãe e do lar. Mostrou neste estudo a evolução do corpo
feminino e como o meio influenciou em suas transformações. Características físicas já foram
implicadas para que uma mulher fosse boa para casar, por exemplo, possuir ancas largas que
mostrava uma mulher boa para ter filhos, se estivesse acima do peso era considerada uma
mulher forte para cuidar da casa, em outras épocas ou sociedades, as mulheres deveriam ser
magras, assim seriam elegantes, finas e seriam esposas educadas e submissas. O corpo da
mulher também já foi sinônimo de pecado e luxuria, simbolizando a tentação para o homem.
Vive-se hoje em sociedade onde valores relacionados a beleza e a imagem corporal são
fundamentais para conseguir seu lugar e se destacar, isso abrange tanto o pessoal quanto o
profissional. O narcisismo se tornou constante e presente em questão do corpo,
principalmente nas mulheres, que são constantemente cobradas por sua aparência, assim como
uma mulher que esta obesa é julgada como desleixada e culpada por sua imagem. Apesar da
constante luta das mulheres por independência profissional e pessoal, observou-se um
paradoxo predominante sobre a mulher que deseja liberdade mas vive sob as leis da cultura do
belo.
A mulher contemporânea busca por sucesso profissional e possui suas escolhas na
palma das mãos. Ela irá decidir em que deseja trabalhar, se irá casar, com quem e se terá
filhos, ela decide o tamanho dos seus seios e seus cabelos, a cor do mesmo e o formato do seu
corpo. A mulher contemporânea cuida de sua aparência e está em constante evolução, e
mesmo com toda a liberdade ainda se mantem a mercê da sociedade em que vive, para expor
a imagem que lhe é dita como correta, o “corpo perfeito”. A mulher contemporânea não se
permite engordar por causa de uma gravidez, nem perder seu corpo por causa do mesmo, um
mês após ter dado a luz esta mulher já quer estar com seu corpo antigo. Mas as marcas
psicológicas dessa submissão e luta contra sua própria imagem é danoso para a vida da
mulher, que nos dias atuais possui várias funções. Esta mulher começa a perder sua própria
essência e sua imagem, se torna reflexo do que é visto na mídia, e o que é visto refletido no
espelho é a imagem da construção cultural.
A mulher carrega as marcas de sua luta pela liberdade e ao mesmo tempo a insatisfação
com seu próprio corpo em busca de uma beleza impossível de se alcançar, pois as mudanças
são constantes e nunca está perfeito, sempre haverá algo diferente, algo a se buscar, a
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complementar, a melhorar. A cada dia surge uma moda nova, uma nova “perfeição” a ser
seguida, uma nova regra gerando uma caminhada narcisistica viciosa e sim fim.
Então, conclui-se que apesar desta mulher contemporânea ter alcançado a
independência pessoal e profissional, ela não é livre, pois ainda precisa se submeter a imagem
cultivada pela sociedade e estar nos parâmetros por ela descritos como corretos. Ela só terá
destaque e será vista com “bons olhos” se seguir e se adequar a esse molde narcisístico que
coloca a beleza em primeiro lugar.
Este estudo deixa em aberto futuras pesquisas que aprofundem o conhecimento,
principalmente relevantes a cada questão. Em suma, é possível concluir que mesmo diante de
muitos estudos realizados com grandes avanços neste assunto, ainda se torna possível ampliar
e aprofundar o conhecimento, embasando futuras pesquisas e mulheres que se propõem em
buscar este tipo de informação, que nos dias hoje se torna pertinente a situação. Sugere-se a
comunidade acadêmica um olhar mais cuidadoso em relação ao tema abordado, devido ao
número expressivo de mulheres que fazem parte desta perspectiva. Para continuidade do
estudo, propõe-se uma análise sobre aspectos fisiológicos, sociais e psíquicos mais
aprofundados, que possam envolver as principais percepções sobre o tema, considerando a
abrangência e complexidade do mesmo, com maior inclusão de detalhes no que diz respeito
aos aspectos econômicos, demográficos e culturais.
49
6. REFERÊNCIAS
ALVES, B. M., & Pitanguy, J. (1991). O que é feminismo? (Coleção Primeiros Passos). São
Paulo: Brasiliense.
ANDRADE, Sandra dos Santos. Saúde e beleza do corpo feminino – algumas representações
no Brasil do Século XX – Movimento, Porto Alebre, v. 9, n. 1, p. 119-143, janeiro/abril de
2003.
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