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Barbosa, M. R., Matos, P. M. & Costa, M. E.

“Um olhar sobre o corpo: o corpo ontem e hoje”

UM OLHAR SOBRE O CORPO: O CORPO ONTEM E HOJE*


A GLANCE INTO THE BODY: YESTERDAY’S AND TODAY’S BODY

Maria Raquel Barbosa, Paula Mena Matos e Maria Emília Costa


Universidade do Porto, Porto, Portugal

RESUMO
O entendimento dos sentidos construídos para o corpo na actualidade requer uma caminhada, ainda que breve,
pela história, pela forma como o corpo foi pensado e sentido. Deste modo, neste ensaio em torno do tema do
corpo, propomos pensar nalguns aspectos sociais e culturais, que contribuíram para a construção do corpo na
nossa sociedade, a forma como ele tem sido e pode ser olhado e representado.
Palavras-chave: significados do corpo; representações; sociedade

ABSTRACT
To understand the ways in which people make meaning out of the body nowadays, it is necessary to go back in
time, even if briefly, through history, through the ways in which the body has been experienced. Thus, it is the
aim of these structured reflections, having the body as its focus, to think about some of the social and cultural
aspects influencing its construction in our society, how it has been and can be seen and perceived.
Keywords: body meanings; perceptions; society.

1. O corpo na história ou a história do corpo vendo entre eles uma relação entre o actual e o virtual,
um modo próprio de ser do real que se associa a um
“No corpo estão inscritas todas as regras, processo de “desterritorialização”e a novos fenómenos
todas as normas e todos os valores de uma sociedade espaço-temporais (Tucherman, 2004, p.13). De facto,
específica, por ser ele o meio de contacto primário do perplexidade parece ser o sentimento mais frequente
indivíduo com o ambiente que o cerca” experienciado nos nossos dias. Vemo-nos incapazes de,
(Daolio, 1995, p. 105) ou mal preparados para, entendermos o que constituía a
nossa sensação de realidade, aquilo que éramos e o que
A história do corpo humano é a história da ci- somos. Surgem então outras questões. Quem somos nós,
vilização. Cada sociedade, cada cultura age sobre o humanos? O que é ser um corpo? O que é ter um corpo?
corpo determinando-o, constrói as particularidades O que é hoje a nossa corporeidade? Que possibilidades
do seu corpo, enfatizando determinados atributos em nos são abertas e que experiências nos são possíveis?
detrimento de outros, cria os seus próprios padrões. Assim, para se conhecer os sentidos construídos
Surgem, então, os padrões de beleza, de sensualidade, para o corpo humano no presente, será necessário
de saúde, de postura, que dão referências aos indivíduos fazer uma caminhada, ainda que breve, pela História
para se construírem como homens e como mulheres. Ao e observar as diferentes formas de tratar o corpo, a
longo do tempo, esses modelos produziram a história sexualidade, os géneros.
corporal, funcionando como mecanismos codificadores Modifica-se o ambiente, os afectos, e é a pensar
de sentido e produtores da história corporal (Rosário, num corpo dinâmico, construído pela cultura e pela
2006), percebendo-se que as mudanças que foram sociedade que tentaremos falar do corpo e da sua
acontecendo na noção de corpo foram oriundas das história, entendendo que o mais importante não será
mudanças no discurso. a delimitação de datas e épocas, mas a descrição dos
Assiste-se actualmente a uma espécie de reinven- traços que se destacaram em determinados períodos,
ção da cultura onde o cyberespaço e a realidade virtual visando compreender melhor o corpo de hoje. É im-
põem em questão a própria existência do real e do seu portante salientar que os períodos considerados não se
sentido. Podemos viver afectivamente essa perda, mas constituem de forma independente uns dos outros, mas
ter em atenção que o virtual não se opõe ao real, ha- vão-se encadeando uns nos outros ao longo do tempo.

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Começamos por uma breve passagem pela ex- serem capazes de absorver calor e manter o equilíbrio
periência da polis grega, seguindo pelo cristianismo e térmico, dispensando o uso da protecção das roupas;
suas contrariedades, pela Idade Média e pelos tempos aos corpos femininos, impunha-se o uso de roupas em
modernos e do corpo em crise, terminando com as novas casa, considerando-se que estas seriam suficientes e
noções de corpo e cybercorpo, levantando e discutindo para a saída à rua os seus corpos deviam ser cobertos
alguns dos traços mais marcantes do corpo na pós- (Tucherman, 2004)1.
modernidade, sempre com a ideia de que falamos de Vemos hoje as figuras humanas expostas no Par-
uma história ainda em aberto e em constante devir. ténon, nuas, simbolismo de juventude, da perfeição.
Cada cidadão era livre de atingir o corpo perfeito, ide-
1.1. A idealização do corpo: a Grécia antiga alizado e, depois, expô-lo. Os corpos eram trabalhados
A imagem do corpo grego, ainda hoje atraente e construídos, como objectos de admiração que come-
e considerada uma referência, é bastante revelador da çavam a ser “esculpidos” e modelados nos ginásios,
existência e dos ideais estéticos veiculados na altura. Na fundamentais nas polis gregas, e que acabavam por
verdade, este corpo era radicalmente idealizado, treina- ser mostrados, muitas vezes, nos Jogos Olímpicos. A
do, produzido em função do seu aprimoramento, o que saúde, a expressão e exibição de um corpo nu estavam
nos indica que ele era, contrariamente a uma natureza, associadas, os Gregos apreciavam a beleza de um corpo
qualquer que ela fosse, um artifício a ser criado numa saudável e bem proporcionado. O grego desconhecia
civilização que alguns helenistas chamam de “civili- o pudor físico, o corpo era uma prova da criatividade
zação da vergonha” por oposição à judaico-cristã que dos deuses, era para ser exibido, adestrado, treinado,
será uma “civilização da culpa” (Dodds, 1988, citado perfumado e referenciado, pronto a arrancar olhares de
por Tucherman, 2004). Assim, a imagem idealizada cor- admiração e inveja dos demais mortais.
responderia ao conceito de cidadão, que deveria tentar Mas não se tratava apenas de narcisismo, de pai-
realizá-la, modelando e produzindo o seu corpo a partir xão desmedida por si mesmo. Os corpos não existiam
de exercícios e meditações. O corpo era visto como apenas para mostrar-se, eles eram também instrumentos
elemento de glorificação e de interesse do Estado. de combate. Tudo na natureza era luta, era obstáculo a
O corpo nu é objecto de admiração, a expressão ser transposto, era espaço ou terra a conquistar. A vida,
e a exibição de um corpo nu representava a sua saúde diziam os deuses, não era uma graça, mas sim um dom a
e os Gregos apreciavam a beleza de um corpo saudável ser mantido. As corridas, os saltos, os halteres, os discos,
e bem proporcionado. O corpo era valorizado pela sua os dardos, os carros, eram as provas que as divindades
saúde, capacidade atlética e fertilidade. Para os gregos, exigiam deles para que se mostrassem dignos de terem
cada idade tinha a sua própria beleza e o estético, o sido premiados. Os deuses pagãos, afinal, não passavam
físico e o intelecto faziam parte de uma busca para a de seres humanos melhorados, eram a excelência do que
perfeição, sendo que o corpo belo era tão importante era possível alcançar.
quanto uma mente brilhante. Saliente-se que, através desta forma idealizada de
A moral quanto ao corpo e ao sexo não era rigi- pensar e viver o corpo, se definem também formas de
damente organizada e autoritária, apenas estabelecia estar na sociedade e princípios filosóficos e sociais que
algumas normas de conduta para evitar os excessos, assentam na visão como sentido primordial, no olhar, no
que significavam a falta de controlo do indivíduo so- espelho, como fundamentais para o funcionamento de
bre si mesmo, prescrevendo o “bom uso” dos prazeres uma sociedade (Cunha, 2004). É interessante verificar
(bebida, comida, sexo) (Rosário, 2006). Estes, porém, como esta forma de ler a realidade ainda hoje se man-
eram considerados apenas para os cidadãos, isto é, para tém, esta primazia do olhar. Segundo Foucault (1994),
os homens livres, estando excluídos tanto os escravos nos séculos I e II, os filósofos enfatizavam a necessidade
como as mulheres. A estas cabia cumprir funções como dos indivíduos terem cuidado consigo mesmos, pois
obediência e fidelidade aos seus pais e maridos e a re- seria dessa forma que alcançariam uma vida plena. Eles
produção. Os prazeres eram do domínio masculino, não cuidavam tanto do corpo como da alma, recomendando
do feminino. De facto, a civilização grega não incluía a leitura, as meditações e regimes rigorosos de activi-
as mulheres na sua concepção de corpo perfeito, que dade física e dietas.
era pensado e produzido no masculino. As normas para Ressalva, ainda, que esse cuidar de si provocou
os homens eram mais soltas, permitindo a bigamia e no mundo helenístico e romano um individualismo,
a homossexualidade como práticas naturais (Rosário, no sentido em que as pessoas valorizavam as regras de
2006). As leis da cidade aplicavam, inclusive, normas condutas pessoais e voltavam-se para os próprios inte-
diferentes aos corpos masculinos e femininos, sendo resses, tornando-se menos dependentes uns dos outros
que aos primeiros corresponderia o andarem nus nos e mais subordinadas a si mesmas. Instaura-se então o
ginásios e o andar na cidade com vestes soltas por que Foucault chama de cultura de si.

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Sabemos que os Gregos se expunham, e celebra- Evidencia-se a separação do corpo e da alma,


vam os seus corpos à luz do dia, enquanto que os romanos prevalecendo a força da segunda sobre o primeiro2. O
já não o faziam. O poder de Roma, e mais concretamente cristianismo resume a atitude de recusa; cabia ao homem
do Imperador, deveria ser evidenciado e exibido através descobrir-se como mais do que o seu corpo, descobrir-se
dos grandiosos monumentos construídos, para que todos como alma que deve lutar contra os desejos para escapar
olhassem, acreditassem e obedecessem, o que se prendia da morte e conquistar a eternidade e a salvação (Vaz,
com o mal-estar com o corpo (Tucherman, 2004). 2006). O bem-estar da alma deveria prevalecer acima
Roma acolheu as formas artísticas gregas, mas dos desejos e prazeres da carne. O corpo, prisão da
tornou-as mais pesadas, embora sólidas, com uma alma, era pois um vexame, devia ser escondido. Então,
robustez que lhes dava duração, apesar da banalização durante os mil e quinhentos anos seguintes – do decreto
em que caíram (König, 1969). As representações artís- de Teodósio suprimindo em 393 com os jogos olímpicos
ticas adquiriram maior dramaticidade, evidenciando até à sua restauração pelo Barão de Coubertin em 1896
um contraste entre o nu e o vestido, a vida e a morte, a – o Ocidente, vexado de si mesmo, carregado de culpas
força e a debilidade física. A força física, demonstrada por ser feito de carne e de sexo, assaltado por pudores,
pelos gladiadores, estava agora associada ao seu destino, encobriu os seus membros e os seus músculos.
à morte, à escuridão. Assim, enquanto que os Gregos Assistimos também à renúncia da alimentação,
celebravam a exposição, a força, os romanos, por seu por largos períodos de tempo, com um quadro seme-
lado não se expunham à luz. Todavia, no momento em lhante àquilo a que hoje denominamos de anorexia
que o domínio político do Império Romano se impôs, a nervosa. Contudo, esta recusa da comida prendia-se,
construção do pensamento filosófico, e por conseguinte, essencialmente, com a vontade de abandonar o material
as acepções corporais instituídas por ele, foram altera- e alcançar o espiritual (Carmo, 1997).
das (Pelegrini, 2006). De facto, embora tenha sido atri- Não será errado afirmar que nestas culturas, assim
buído ao culto do corpo um valor pagão, a arte romana como em muitas religiões orientais, por oposição à nossa
manteve-se orientada pela expressão do ideal de beleza tradição ocidental, produz-se uma cultura para o corpo
grego. Nos períodos posteriores, as representações do (Tucherman, 2004). Tal como nos mostram os trabalhos
corpo adquiriram outras dimensões, subjugando-o a de Michel Foucault, a experiência religiosa de uma época
temas que potencializavam as questões místicas e reli- e a sua história social reenviam a um centro uma espécie
giosas (Gombrich, 1999 in Pelegrini, 2006). de código subtil, que restringe certas formas de expe-
rienciar, estimula outras e transforma, em sentido amplo,
1.2. Um corpo em silêncio, proibido: o cristianismo o contexto social, modificando não apenas a tensão ou
Com o cristianismo assiste-se a uma nova percep- diferença entre espaço público e o privado, mas também
ção de corpo. O corpo passa da expressão da beleza para a relação com a natureza e desta com a cultura.
fonte de pecado, passa a ser “proibido”. O cristianismo e
1.3. O desprezo e mortificação do corpo/ o corpo
a teologia por muito tempo foram reticentes na interpre-
tação, crítica e transformação das imagens veiculadas do paradoxal: a Idade Média
corpo. Uma das razões será porque o cristianismo possui Na Idade Média o corpo serviu, mais uma vez,
uma história própria e de difícil relação com o corpo. como instrumento de consolidação das relações sociais.
Durante muito tempo foi central a espiritualização e o A característica essencialmente agrária da sociedade
controle de tudo o que é material. Foi um morador do feudal justificava o poder da presença corporal sobre a
deserto, Santo Agostinho, o bispo de Hipona, a Tunísia vida quotidiana; características físicas como a altura, a
de hoje, quem lançou o mais pesado manto da vergonha cor da pele e peso corporal, associadas ao vínculo que
sobre a nudez do paganismo. o indivíduo mantinha com a terra, eram determinantes
Perante o deus cristão, o deus que estava em toda na distribuição das funções sociais.
a parte, os homens e as mulheres deviam ocultar o cor- O homem medieval era extremamente contido,
po. Nem entre os casais, na intimidade, ele deveria ser a presença da instituição religiosa restringia qualquer
inteiramente desvelado. O pecado rondava tudo. manifestação mais criativa. O cristianismo dominou
O cristianismo reprime constantemente o corpo durante a Idade Média, influenciando, portanto, as no-
(o “corpo é a abominável vestimenta da alma” diz o ções e vivências de corpo da época. A união da Igreja
papa Gregório Magno). Por outro lado, é glorificado, e Monarquia trouxe maior rigidez dos valores morais
nomeadamente através do corpo sofredor de Cristo. A e uma nova percepção de corpo. A preocupação com o
dor física teria um valor espiritual. A lição divulgada corpo era proibida, começando-se a delinear claramente
era a morte de Cristo, o lidar bem com a dor do corpo, a concepção de separação de corpo e alma, prevalecendo
que seria mais importante do que saber lidar com os a força da segunda sobre o primeiro (Rosário, 2006). O
prazeres (Tucherman, 2004). corpo, ao estar relacionado com o terreno, o material,

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seria a prisão da alma. Torna-se culpado, perverso, material. Por outro lado, numa versão mais popular, da
necessitado de ser dominado e purificado através da poesia trovadoresca e do amor cortês, o valor da mu-
punição. Para o cristianismo, o corpo sempre teve uma lher é ampliado, havia um corpo a exaltar, objecto de
característica de fé; é o corpo crucificado, glorificado e experiências que o libertam (Cunha, 2004; Tucherman,
que é comungado por todos os cristãos. Como sabemos, 2004). O amor provençal opunha-se a todas as morais e
as técnicas coercitivas sobre o corpo, como os castigos basicamente `moral cristã, criando um sistema de valores
e execuções públicas, as condenações pelo Tribunal independente, que libertava o corpo para uma experiên-
do Santo Ofício (a Inquisição – oficializada pelo papa cia de intensidade e artifício. Como nos diz Tucherman
Gregório IX), o auto-flagelo marcam a Idade Média. A (2004, p. 67) “em diferentes épocas e em diferentes
Inquisição, inicialmente com o intuito de salvar a alma sociedades, o amor foi inventado e reinventado, assim
aos hereges, passou a empregar, mais tarde, a tortura e como o corpo que o suporta e o experimenta.”
a fogueira como forma de punição, com autorização do Finalmente, e no que se refere ao corpo, de me-
Papa Inocêncio IV, em 1254. Estes eram acontecimentos ados da Idade Média até ao final do séc. XVIII, não
e cerimónias públicas, cujo objectivo era o de expor à parece haver uma modificação profunda do seu signi-
população a sentença recebida pelo réu, era um verda- ficado, o que não indica que não tenha sido submetida
deiro acto festivo assistido não só pela população, mas a diferentes vivências e movimentos.
pelas autoridades religiosas. Uma boa visualização deste O Cristianismo, por possuir uma história difícil
período da nossa história pode ser vista no filme e/ou e paradoxal na sua relação com o corpo, foi, por muito
livro O Nome da Rosa de Umberto Eco (Realizado por tempo, reticente na interpretação, crítica e transforma-
Jean-Jacques Annaud, 1986). Um outro exemplo de per- ção destas imagens duplamente globalizadas do corpo,
cepção do corpo no final da Idade Média (dos sécs. XIV independentemente e para além do discurso do pecado
a meados de XVIII) está nos ‘processos de bruxaria’3, e do controle do corpo, este é um tema essencial da
foram mortas e reprimidas milhares de mulheres. A ideia teologia e da espiritualidade cristã.
central da bruxaria era a de que o demónio procurava
fazer mal aos homens para se apropriar das suas almas. 1.4. O novo corpo: a Era Moderna
E isto era feito essencialmente através do corpo e esse No Renascimento, as acções humanas passaram a
domínio seria efectuado através da sexualidade. Pela ser guiadas pelo método científico, começa a haver uma
sexualidade o demónio apropriava-se primeiro do corpo maior preocupação com a liberdade do ser humano e a
e depois da alma do homem. Como as mulheres estão concepção de corpo é consequência disso. O avanço
ligadas essencialmente à sexualidade, e “porque nasce- científico e técnico produziram, nos indivíduos do perí-
ram de uma costela de Adão”, nenhuma mulher poderia odo moderno, um apreço sobre o uso da razão científica
ser correcta, elas tornavam-se ‘agentes do demónio’ como única forma de conhecimento (Pelegrini, 2006). O
(feiticeiras). De facto, os processos inquisicionais so- corpo, agora sob um olhar “científico”, serviu de objecto
bre acusações de bruxaria enfocavam, principalmente, de estudos e experiências. Passa-se do teocentrismo ao
os corpos das bruxas: elas eram despidas, os cabelos antropocentrismo. O conhecimento científico, a matemá-
e pêlos eram rapados e todo o corpo era examinado à tica, enfim, o ideal renascentista: O corpo investigado,
procura de um sinal que as pudesse comprometer. descrito e analisado, o corpo anatómico e biomecânico
É também na Idade Média que aparece a nova (Gaya, 2005). A redescoberta do corpo, nessa época,
figura literária do cavaleiro andante, do amor cortês, aparece principalmente nas obras de arte, como as pin-
reflectindo, deste modo, uma visão muito diferente do turas de Da Vinci e Michelangelo, valorizando-se, deste
corpo e das suas relações. Embora a medicina e a erótica modo, o trabalho artesão, juntamente com o pensamento
cortês concordassem com a definição de dualismo sobre científico e o estudo do corpo (Rosário, 2006).
o qual se construía toda a representação do mundo, A disciplina e controle corporais eram preceitos
discordam, no entanto, quanto ao seu tratamento (Tu- básicos. Todas as actividades físicas eram prescritas
cherman, 2004). Assim, não se duvidava que a pessoa por um sistema de regras rígidas, visando a saúde cor-
fosse formada por um corpo e por uma alma, portanto poral. Agora, com o declínio final dos sacerdotes que
partilhada entre a carne e o espírito. condenavam a vida na terra, vemos a sua redenção. Um
Encontramos, assim, uma visão dupla do corpo neopaganismo ressurge e a carne intensa, activa, ainda
na Idade Média, que se prende essencialmente na forma carregando cicatrizes do estigma, volta a ser soberana,
como encara o corpo feminino. De facto, embora ambas quer mostrar-se. A obtenção do corpo sadio dominava
as noções de corpo estejam ligadas ao mundo material, o indivíduo: a prática física domava a vontade, contri-
a versão feudal, ligada aos princípios cristãos, considera buindo para tornar o praticante subserviente ao Estado
isso bastante negativo, daí a persistência das mulheres (Pelegrini, 2006). O dualismo corpo-alma norteava
em viver uma vida religiosa e em transcender o corpo a concepção corporal do período, demonstrando a

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influência das concepções da antiguidade clássica. de gestos e hábitos que se estendeu a outras esferas
Na realidade, o filósofo Descartes parece ter instalado sociais, entre elas a educação do corpo, que passou
definitivamente a divisão corpo-mente; o homem era a identificar-se não só com as técnicas, mas também
constituído por duas substâncias: uma pensante, a alma, com os interesses da produção (Hobsbawm, 1996 in
a razão e outra material, o corpo, como algo comple- Pelegrini, 2006). Assim, o ser humano é colocado ao
tamente distinto da alma. Mesmo se já se pensasse o serviço da economia e da produção, gerando um corpo
ser humano como constituído por um corpo físico e produtor que, portanto, precisa de ter saúde para melhor
uma outra parte subjectiva, a partir de Descartes essa produzir e precisa de adaptar-se aos padrões de beleza
divisão foi realmente instituída e o físico passou a estar para melhor consumir (Rosário, 2006).
ao serviço da razão. A evolução da sociedade industrial propiciou um
De facto, no século XVIII, também os ideais elevado desenvolvimento técnico-científico. As novas
iluministas acabaram por acentuar a depreciação do possibilidades tecnológicas propiciaram à elite burguesa
corpo, dissociando-o da alma, retomando a dicotomia moderna, um crescimento de técnicas e práticas sobre o
corpo-alma, arquitectada na antiguidade clássica. O corpo. O aumento da expectativa de vida, os novos meios
pensamento iluminista negou a vivência sensorial e de transporte e comunicação expandiram as formas de
corporal, atribuindo ao corpo um plano inferior. Para- interacção e realização de actividades corporais. De facto,
lelamente, as necessidades de manipulação e domínio o fácil acesso à informação trouxe infinitas possibilidades
do corpo concorreram para a delimitação do Homem ao conhecimento. Com efeito, nos séculos XVIII e IX,
como ser moldável e passível de exploração. O corpo o saber passa a ocupar um papel de destaque, havendo
passa a servir a razão. a preocupação com a formação de indivíduos activos e
Com o crescimento e aperfeiçoamento da pro- livres, com ênfase na liberdade do corpo, contrariando
dução agrícola e dos meios de transporte da sociedade as práticas mecanicistas (Paim & Strey, 2004).
feudal, assim como o acréscimo da produtividade No entanto, a padronização dos conceitos de
agrícola aliado à expansão comercial, promovem-se beleza, ancorada pela necessidade de consumo criada
algumas das condições necessárias para o desenvolvi- pelas novas tecnologias e homogeneizada pela lógica
mento da indústria moderna. Estas modificações, aliadas da produção, foi responsável por uma diminuição sig-
a mudanças sociais, desembocaram no surgimento do nificativa na quantidade e na qualidade das vivências
sistema capitalista. corporais do homem contemporâneo. De facto, com a
A forma de produção do sistema capitalista, a comunicação de massas, a reprodução do corpo não se
partir do século XVII, causou uma mudança drástica reduz agora ao âmbito da pintura ou do desenho, mas
nas relações com os trabalhadores. Com o início da re- pode atingir um vasto número de indivíduos. O corpo
volução industrial a divisão técnica do trabalho acabou pode ser reproduzido em série através da fotografia, do
por reduzir o trabalho a uma simples acção fisiológica, cinema, da televisão.
desprovida de criatividade (o trabalho em série). Como refere Tucherman,
Nesta lógica de produção capitalista o corpo Chegando ao século XIX, temos uma sociedade
mostrou-se tanto oprimido, como manipulável. Era anónima, uma vasta população de gente que não se
percebido como uma “máquina” de acumulo de capi- conhece. O trabalho, o lazer, o convívio com a família
tal. Deste modo, os movimentos corporais passaram são actividades separadas, vividas em compartimentos
a ser regidos por uma nova forma de poder: o poder a ela destinados. O homem procura proteger-se do olhar
disciplinar. Esta nova forma de poder instalou-se nas dos outros… (2004, p. 69)
principais instituições sociais, como nos refere Foucault Parece surgir uma nova forma de solidão, o sen-
na sua obra “Microfísica do Poder” (1979/2002), com o timento do próprio corpo, um novo isolamento que não
objectivo de submeter o corpo, de exercer um controle é protegido pelo espaço privado, mas posto à prova no
sobre ele, actuando de forma coerciva sobre o espaço, meio da multidão, um corpo que deve administrar a
o tempo e a articulação dos movimentos corporais. ausência de contactos. Esta vivência passiva e defensiva
Assim, o movimento mecânico – reacções nervosas é notória na forma como as pessoas caminham, no modo
e fluxo sanguíneo – deu origem a uma compreensão como se movem e evitam o contacto físico, criando
secular do corpo, contestando a antiga noção de que a guetos individuais.
fonte de energia era a alma.
Com a expansão do capitalismo, no século XIX,
1.5. A crise do corpo: os nossos dias
propaga-se a forma de produção industrial. A padroniza-
ção dos gestos e movimentos instaurou-se nas manifes- Como refere Agostinho Ribeiro, “O corpo pós-
tações corporais. As novas tecnologias de produção em moderno passou do mundo dos objectos para a esfera
massa desencadearam um processo de homogeneização do sujeito, assumido e cultivado como um ‘eu-carne’,

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credor de reconhecimento e de glorificação, e mesmo assiste-se a um capitalismo da super produção, onde


objecto-sujeito de culto.” (Ribeiro, 2003, p.7). De facto, o problema é consumir o que se produz em excesso
cada vez mais pessoas investem no seu corpo, com o comparativamente às necessidades – o corpo entra no
intuito de obter dele mais prazer sensual e de lhe au- mercado como capacidade de consumir e ser consumido
mentar o poder de estimulação social, assistindo-se a (Vaz, 2006). Segundo o sociólogo Bryan Turner (1992),
um mercado crescente de produtos, serviços. Os media enquanto que no início do capitalismo havia uma relação
veiculam maioritariamente corpos que se encaixam num entre a disciplina, o ascetismo, o corpo e a produção, no
padrão estético inacessível para grande parte das pesso- capitalismo tardio (séc. XX) existe uma ênfase comple-
as, mediados pelos interesses da indústria de consumo. tamente diferente e corrosiva no hedonismo, no desejo
Modelos corporais são evidenciados como indicativo e no divertimento. O corpo é construído, decorado e
de beleza, num jogo de sedução e imagens. Veicula-se expressa-se individualmente, é um projecto pessoal,
a representação da beleza estética associada a determi- flexível e adaptável aos desejos do indivíduo.
nados ideais de saúde, magreza e atitude. Deste modo, Estas novas noções de corpo estão também rela-
a publicidade apodera-se da subjectividade de cada cionadas com as alterações sociais provocadas pelos
indivíduo, incitando-o a recriar-se, segundo o modo ou estudos feministas das décadas de 60 e 70, sobre as
estilo de vida que ela propaga (Pelegrini, 2006). Esta diferenças entre homens e mulheres serem baseadas
lógica mercantil actua com mecanismos semelhantes em factores históricos e culturais e não, como até então,
nas nossas carências mais profundas, como o medo da em factores exclusivamente biológicos e sexuais. Com
morte ou da velhice, que poderão ser, aparentemente, efeito, são as propostas sociobiológicas que se impõem
combatidos ou amenizados com produtos e técnicas na definição de corpo no século XX. Com a busca da
estéticas. O que se vende é a possibilidade de se per- produção, homens e mulheres tentam adaptar-se como
manecer vivo e belo. indivíduos ao grupo social, nem que para isso desistam,
A necessidade humana, nos nossos dias, de se inúmeras vezes da sua liberdade de acção e expressivi-
encaixar neste padrão estético, parece desencadear uma dade (Paim & Strey, 2004).
imagem em crise, demonstrando-se através de uma série Como refere a historiadora Nísia do Rosário
de sintomas como o aumento das próteses, a criação do (2006), o ser humano tem-se constituído numa duplici-
cyborg (o ciber-corpo), a clonagem, as intervenções da dade que só se consegue perceber em posições distintas:
engenharia genética, a biologia molecular ou as novas corpo e alma, razão e emoção, feminino e masculino,
técnicas cirúrgicas ou ainda o uso de substâncias quí- construindo o sentido dos seus corpos numa lógica de
micas. Assim, as indústrias da beleza e da saúde têm no produção, economia, mercado, consumo, que têm regido
corpo o seu maior consumidor. Vejam-se o crescente a sociedade ocidental (desde a diferenciação sexual no
número de ginásios, salões de beleza, spas, clínicas século XVIII). Daí instituir-se um corpo sexual e produ-
médicas, estilistas, etc. É claro que esta crise do corpo tivo (masculino), reprodução do modelo capitalista, do
será consequente da crise dos fundamentos da nossa cul- valor mercantil, limitando em demasia o espaço sedutor
tura, associando-se também à crise do próprio sujeito. (feminino) (Rosário, 2006). Em todo este processo, todos
É interessante notar como os discursos que normalizam os mecanismos instituídos pelo poder que reprimem o
o corpo, sejam eles científico, tecnológico, publicitário, corpo, parecem, por seu lado, reforçar a importância da
médico, estético, vão tomando conta da vida simbóli- sexualidade (começando pela repressão imposta na Idade
ca/ subjectiva do indivíduo, invadindo as dimensões Média). De facto, este estímulo ao consumo material,
expressivas e simbólicas da corporeidade, fornecendo provocará necessariamente uma atenção redobrada ao
imagens e informações que reconfiguram o próprio corpo, ao prazer e, consequentemente, à estimulação
âmbito da vivência corporal (Novaes, 2006). Com da sexualidade. O próprio discurso psicanalítico vem
efeito, os cuidados físicos revelam-se, invariavelmente, reforçar esta ligação do corpo à sexualidade, o sexual
como uma forma de estar preparado para enfrentar os passa a ser, em grande parte, a representação do corpo
julgamentos e expectativas sociais. Disciplinamos o todo. Ainda no campo da sexualidade, o corpo é ou deve
corpo para que consigamos reconhecimento social e tornar-se um objecto de desejo para os outros, é reduzido
aprovação, estando o prazer associado ao esforço, o a um mero corpo a ser consumido na fantasia de alguém
sucesso à determinação e a intensidade do esforço será (Mo Sung, 2003). Um exemplo de como a fetichização
proporcional à angústia provocada pelo olhar do outro ou a coisificação das relações pessoais e sociais não
(Novaes, 2006). Nada é gratuito, tudo é obtido num se restringe ao campo da produção e consumo de bens
sistema de regulação de trocas. económicos, mas também se estende a outras dimensões
De facto, enquanto que no capitalismo de produção da vida, é o notório consumo ávido de revistas ou de
o corpo entrava no mercado como força de trabalho, programas de televisão que “vendem” ou utilizam o
como força a ser domada e preservada, já actualmente, corpo para vender objectos de desejo. Nesta sociedade

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Barbosa, M. R., Matos, P. M. & Costa, M. E. “Um olhar sobre o corpo: o corpo ontem e hoje”

de consumo o corpo é, por um lado objecto de ideali- momento que se pretende analisar. Por este facto, referi-
zação, mas por outro potencial alvo de estigmatização, remos alguns traços que marcam o corpo pós-moderno,
caso não corresponda aos padrões expressos na própria não os considerando, no entanto, definitivos, acabados,
publicidade (Turner, 1992). prontos. Com efeito, o corpo que se começa a delinear
Por outro lado, a natureza do individualismo e pode ser apenas uma releitura sobre o corpo de outrora,
da identidade, relacionada com as alterações sociais, mas pode ser também uma nova construção do presente
está também relacionada com o avanço científico. Na (Rosário, 2006).
dimensão produtiva da era moderna, o corpo passa a Se anteriormente o corpo foi dividido em dois –
depender da nossa acção tecnologicamente avançada. O matéria física e a parte abstracta representada pela alma
corpo em forma apresenta-se como um sucesso pessoal, – na pós-modernidade o corpo é a própria fragmentação,
ao qual homens e mulheres podem aspirar. De facto, as parte-se em pedaços, divide-se e adquire sentido pró-
tecnologias pesquisam e propõem aos indivíduos que prio (Rosário, 2006). O físico agora decompõe-se em
há formas para se regrar a forma do corpo, reduzir a músculos, glúteos, coxas, seios, boca, olhos, cabelos,
distância entre o que quer o pensamento e o que quer o órgãos genitais, etc. A publicidade ou os avanços da
corpo – moderadores de apetite, alimentação saudável, medicina, parecem transformar cada um destes pedaços
sem colesterol ou calorias4, drogas para controlar a im- num potencial alvo de consumo e de tratamento (ex.
potência sexual, a insónia, a angústia, a depressão. Além reconstrução do nariz, implantação de cabelo, preen-
disso, as novas tecnologias médicas como a fertilização chimento de rugas, cirurgia correctiva das mamas e já
in vitro, a indústria de transplante de órgãos, o desenvol- decorre uma fragmentação maior – a descodificação do
vimento da cibernética, trouxeram novos problemas no código genético do corpo humano).
respeitante à relação entre o corpo e a alma, a consciência As transformações que marcam a passagem da
e a identidade. A este respeito Turner (1994) refere que modernidade para a pós-modernidade trazem a ten-
se criou, no séc. XX, uma “sociedade somática”, “uma dência da separação entre o saber e o poder, que na
sociedade na qual os nossos maiores problemas políti- modernidade estavam interligados (Foucault, 1994). O
cos e morais são expressos através da conduta do corpo objectivo agora é a autonomia nos mais variados cam-
humano” (p. 6). Todavia, todo este cuidado com o corpo pos e diferentes graus – estético, social, político (Ro-
e todas as técnicas que se desenvolvem no interesse da sário, 2006). Desta forma, os indivíduos deixam de ser
sua preservação, não fazem mais do que demonstrar a regidos por padrões a serem seguidos, assumindo cada
crise do corpo, a crise da Modernidade. um as suas escolhas e identidades. Contudo, esta espécie
Por outro lado, as novas técnicas de comunicação de autonomia corporal funcionará apenas como uma
afectam a experiência do corpo ao promover a mediação tendência, já que, na prática, apesar da variabilidade dos
generalizada. Hoje é tanta a mediação tecnológica das adereços e estilos, estes não parecem estar desvincula-
relações dos homens com o mundo, dos homens entre dos de uma cadeia de produção e da identificação com
si e de cada um consigo mesmo, que, como refere Paulo um determinado grupo de referência. Como ilustração
Vaz (2006), tornou-se concebível pensar que nunca desta multiplicidade de estilos, vemos, por exemplo, o
houve experiência imediata; existem apenas diferentes aumento dos corpos tatuados, dos cabelos pintados das
experiências da presença segundo as diferentes media- mais diversas cores, os piercings ou o vestuário, que vai
ções tecnológicas viáveis em cada momento histórico. desde a moda mais clássica, à moda hippie dos anos 70,
De facto, toda a experiência do corpo parece estar a ser punk, funk, rapper, surfista, entre outros.
posta em questão; a definição de espaço e de tempo, a Uma outra característica desta época é assistirmos
distinção entre o real e o imaginário. Todas estas fron- a um corpo construído numa espécie de simulação, uma
teiras estão a ser questionadas pelas novas tecnologias, aparência sem realidade. De facto, a roupa, os adereços,
especialmente a Internet e a realidade virtual. Como a maquilhagem, associados a técnicas como a cirurgia
refere Ieda Tucherman (2004, p. 94): plástica, a lipoaspiração, os tratamentos de beleza,
Este corpo está a desaparecer, por motivos que se rela- mesmo fazendo parte de um processo de produção,
cionam com a crise do sujeito moderno, perplexo diante voltam-se para o imaginário, ajudam homens e mulheres
das simulações e dos duplos que põem em questão a a mascararem o próprio corpo, escondendo detalhes e
sua principal noção de realidade, tradicionalmente ressaltando outros (Rosário, 2006)5. O conceito de be-
associada à presença tangível e ao suporte material. leza assenta, deste modo, na criação e na inovação.
Assim, parece ter havido uma radical mudança de
Ciber-corpo: que futuro? O corpo pós-moderno referência, passando de uma identidade firme, estável,
A dificuldade de tecer considerações sobre os centrada, totalizável e constante proposta do homem
sentidos construídos para o corpo pós-moderno tem moderno, para uma nova relação connosco mesmos,
a ver justamente com o facto de se estar a vivenciar o com o mundo e com os outros, que se manifesta numa

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identidade frágil, instável, descentrada, mutante, pro- móvel, as escadas mecânicas, as passadeiras rolantes,
cessual e inconstante à qual corresponde um corpo etc – a nossa existência está a perder progressivamente
fragmentado (Tucherman, 2004). Poder-se-á dizer que o a sua “ancoragem corporal” (Ribeiro, 2003).
corpo pós-moderno não se desvincula da modernidade, Mas, se por um lado, a possibilidade das próteses
mas é capaz de recriar, de inovar e fazer rupturas. e das nanotecnologias aumentam a sobrevivência, isto
Na realidade, como referem Cristina Paim e tem também implicações no nosso estatuto de sermos
Marlene Strey (2004) o corpo ocidental encontra-se singulares e únicos. Por exemplo, nesta simbiose
em plena metamorfose. Não se trata mais de aceitá-lo homem-máquina certos comportamentos passam a
como ele é, mas sim de corrigi-lo e reconstruí-lo. Actu- ser explicados pela simples presença de determinada
almente, o indivíduo procura no seu corpo uma verdade quantidade de substâncias químicas. A violência, por
sobre si mesmo, que a sociedade não lhe consegue exemplo, será uma questão de excesso de serotonina
proporcionar. O contexto social e histórico instável e e os comportamentos já se tornaram passíveis de uma
em constante mudança, associado ao enfraquecimento descrição em termos de reacções bioquímicas em de-
dos principais meios de construção da identidade, como terminadas localizações cerebrais. Como refere Teresa
a família, a religião, a política, o trabalho, parece levar Levy (2004), a partir daqui está criado o ambiente
os indivíduos a apropriarem-se cada vez mais do corpo para a aceitação de descrições e justificações, em ter-
como meio de expressão do eu. Como vimos, a cultura mos biológicos, das desigualdades hierárquicas das
centrada na valorização da imagem do corpo, encontra sociedades modernas. As explicações assentam, deste
na publicidade a disseminação da sua imagem, norma- modo, na química do cérebro e nos genes de cada um.
lizando um determinado modelo de corpo, além de um O carácter aparentemente científico destes pressupostos
conjunto de práticas necessárias à sua manutenção. O tem também a função política de afastar ou desviar a
corpo torna-se um objecto virtual, mas agora saturado atenção das análises sociais, conduzindo à substituição
de estereótipos, ele aparece como um quadro inacaba- de soluções sociais por soluções de engenharia genética
do e transforma-se em imagem do corpo, torna-se um (Beck, 1992 citado por Levy, 2004).
objecto de autoplastia (Goldenberg & Ramos, 2002, Por outro lado, é importante realçar que o me-
citados por Paim & Strey, 2004). canicismo da genética moderna é significativamente
Por outro lado, à medida que mergulhamos num diferente do mecanicismo desenvolvido pelos físicos
mundo cada vez mais virtual, assistimos também à no século XVII e XVIII. A nova concepção da célula
crescente aproximação homem-máquina/tecnologia. baseia-se num materialismo cibernético descrito em
O computador, por exemplo, não é aqui um mero ins- termos de transferência de informação, energia, retro-
trumento que ajuda no estudo e na análise dos corpos, acção, síntese de moléculas, replicação e reprodução
nem uma simples tecnologia que nos permite uma vi- (Levy, 2004)8. Esta convergência da cibernética e da
sualização mais própria do objecto de estudo. É, ainda, biologia molecular foi crucial para a nova imagem de
um produtor de biomateriais, processos e experiências corpo, num mundo onde a interacção homem e máquina
humanas impossíveis anteriormente, trabalha nos cor- é cada vez mais intensa, como referimos.
pos, construindo-os à sua imagem (Levy, 2004). Surgem Como temos vindo a referir, experiência do cor-
então conquistas importantes como os marca-passos, po é sempre modificada pela experiência da cultura, é
aparelhos de respiração e monitorização artificiais, um conceito construído, mas actualmente é como se o
aparelhos que ajudam os portadores de deficiências a homem deixasse de ser um ser da cultura. De facto, o
locomoverem-se ou a falar (Tucherman, 2004). Neste surgimento da ideia de ciberespaço e infoesfera, tornam
contexto surgem também os cyborgs6 (cyber body ou o mundo como a informação a ser tratada por sistemas,
corpo-máquina), também chamado de biotécnico por a experiência passa a prescindir de tempo e espaço
Kerckove (1997), organismos híbridos, cujas funções (podemos ver, cheirar e tocar à distância).
fisiológicas são realizadas com a ajuda de máquinas, Assim, se por um lado ganhamos com novas
relacionada com a nova imagem da era tecnológica7. possibilidades, é importante estarmos atentos também
Assiste-se a um corpo completamente manejável pela às consequências destas novas formas de tecnologia
tecnociência, desenhado para superar todos os defeitos e de pensamento, essencialmente em termos éticos e
do corpo biológico. O desenvolvimento tecnológico, por políticos. São as máquinas que pensam ou somos nós
seu lado e como refere o sociólogo Le Brenton (1999), que as operamos? Quem é mais eficiente? É bem ver-
faz com que nunca como hoje nas sociedades ocidentais dade que, ao longo da história, nas filosofias dualistas
os homens utilizaram tão pouco o seu corpo, a sua mo- e mecanicistas, o corpo humano já foi relegado para
bilidade, a sua resistência. De facto utilizamos cada vez segundo plano. É a prisão da alma em Platão, um relógio
menos os nossos recursos musculares, com o uso e abuso em Descartes, uma tábua rasa em Lock. No entanto, em
de “próteses técnicas” cada vez mais eficazes – o auto- nenhuma época, como na actual, filósofos, cientistas

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Barbosa, M. R., Matos, P. M. & Costa, M. E. “Um olhar sobre o corpo: o corpo ontem e hoje”

e artistas anunciam com tanta convicção a obsolência estrutura social de forma a dar-lhe um sentido particular,
do corpo humano. É o pós-humanismo, corrente do que, certamente, irá variar de acordo com os mais dife-
pensamento que não relega apenas o corpo humano rentes sistemas sociais. As pessoas aprendem a avaliar os
a um segundo plano, mas anuncia a sua necessária seus corpos através da interacção com o ambiente, com
substituição por máquinas inteligentes (Gaya, 2005). os outros. Assim, a sua imagem corporal é desenvolvida
De facto, a pergunta não é apenas que corpo quero ter, e reavaliada continuamente durante a vida inteira. Isto
como forma, mas que funções quero poder exercer, o ilustra a forma como Lyon e Barbalet definem incorpo-
que desloca a questão de um projecto estético (que não ração: “Eu sou o meu corpo” (1994, p. 56).
é abandonado) para um projecto pragmático-funcional Como vimos, hoje vive-se a revolução do corpo,
(Tucherman, 2004). valores relativos à beleza, saúde, higiene, lazer, alimen-
Finalmente, salientamos que os desenvolvimentos tação, exercício físico, têm reorientado um conjunto de
biotecnológicos a que temos vindo a assistir, vão sendo comportamentos na sociedade, imprimindo um novo
acompanhados por processos culturais de redefinição estilo de vida, mais aberto à diversidade por um lado,
da vida e do corpo, processos esses que explicam, em mas mais narcísico e hedonista no que diz respeito à
parte, a ambivalência produzida em relação à própria experiência do corpo. Percebe-se então que vivemos
tecnologização da vida. Veja-se, por exemplo, os deba- uma época de contradições, no que diz respeito às nossas
tes à volta da clonagem ou dos alimentos geneticamente escolhas, uma vez que hoje não há uma obrigação das
modificados, reflexos da controvérsia que acompanha pessoas se vestirem de acordo com a classe social de
a produção de ‘tipos não-naturais’, do futuro e da re- que fazem parte, como ocorria noutras épocas, porém,
gulação desse futuro (Levy, 2004). Enfim, como refere a moda dita as regras, dita as tendências e aquilo que
Adroaldo Gaya (2005, p. 335): devemos escolher.
será que a partir do século XXI filosofar sobre o corpo É através do nosso corpo que expressamos o
humano significará radicalizar os dualismos de Platão, efeito e significados que as relações tiveram ou têm
Descartes e dos neo-idealistas pós-humanistas como em nós. A nossa existência corporal está imbuída num
Newel, Simon ou Moravec? Ou ainda há esperanças de contexto, relacional e cultural, sendo este o canal pelo
filosofar na trilha de Espinosa, Merleau-Ponty, Heideg- qual as nossas relações são construídas e vivenciadas.
ger ou, contemporâneos como Morin, Maturana e Varela, Na verdade, quer queiramos, quer não, assistimos a um
José Gil, Damásio, Deryfuss, Dennet, Le Doux, Gard- processo de exaustão do corpo na sociedade ocidental
ner? Deveremos anunciar a morte do corpo humano? Ou
contemporânea, processo que envolve um mito supos-
haverá espaço para recuperar a sua dignidade?
tamente libertador, mas que, na realidade, penetra e
transforma a nossa experiência pessoal ao introduzir
Conclusão na nossa subjectividade o peso alheio dos imperativos
sociais (Bernard, 1985). Nesta reflexão, propusemo-nos
O conceito de corpo remete à questão da natureza demonstrar e explicar precisamente que a nossa experi-
e da cultura e abre, assim, um leque diferenciado de ência corporal, que cremos muitas vezes ser individual
posicionamentos teóricos, filosóficos e antropológicos. e uma força invencível, está invadida e modelada, desde
O corpo não se revela apenas enquanto componente o início, pela sociedade em que vive e pelas relações
de elementos orgânicos, mas também enquanto facto que experiencia. Queremos, desta forma, desmitificar
social, psicológico, cultural, religioso. Está dentro da a ideia de um corpo frequentemente entendido como
vida quotidiana, nas relações, é um meio de comunica- uma realidade cerrada e íntima e sublinhar, por seu
ção, pois através de signos ligados à linguagem, gestos, lado, a sua condição aberta e dinâmica em função da
roupas, instituições às quais pertencemos permite a sua mediação social.
nossa comunicação com o outro (Braunstein & Pépin,
1999). Na sua subjectividade, está sempre a produzir Notas
sentidos que representam a sua cultura, desejos, afectos,
emoções, enfim, o seu mundo simbólico. * Estudo financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecno-
De facto, como qualquer outra realidade do mundo, logia, Portugal.
o corpo é socialmente construído. Como vimos, não há 1
Como refere Ieda Tucherman (2004), na Grécia antiga,
sociedade que não modifique, de alguma forma, o corpo, a nudez tinha um outro e curioso valor: o imaginário do
cada uma produzindo determinado tipo de corpo, que interior do corpo humano na época de Péricles, marcado
servirá como insígnia da identidade grupal (Paim & Strey, pelo calor corporal que antecederia o próprio nascimento,
determinando que fetos bem aquecidos, desde o início da
2004). Falar sobre o corpo implica, à priori, pensarmos o
gravidez, deveriam tornar-se machos e que fetos carentes
corpo enquanto signo, como um ente que reproduz uma de aquecimento seriam fêmeas. Acreditava-se que macho

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e fêmea eram dois pólos de um continuum corporal, sendo Referências


a diferença entre ambos uma diferença de grau e não de
natureza, sendo o grau referente ao calor corporal; o corpo
Bernard, M. (1985). El cuerpo. Barcelona: Paidós. (Edição
teria um único sexo de modo que fetos masculinos, preca-
original francesa publicada em 1976).
riamente aquecidos, tornar-se-iam homens afeminados e
Braunstein, F. & Pépin, J.F. (1999). O lugar do corpo na cultura
fetos femininos, muito aquecidos, tornar-se-iam mulheres
ocidental. Lisboa: Piaget Editora.
masculinizadas. (Tucherman, 2004). O próprio Aristóteles,
Carmo, I. (1997). Magros, gordinhos e assim-assim: perturba-
mais tarde, distingue o sangue menstrual, frio, do esperma,
ções alimentares dos jovens. Porto: Edinter.
sangue quente, superior, porque gera vida.
Cunha, M.J. (2004). A imagem corporal. Uma abordagem
2
Esta divisão é agora mais acentuada, embora tivesse sido já sociológica à importância do corpo e da magreza para as
determinada por Sócrates, Platão e Aristóteles no século V-IV adolescentes. Azeitão: Autonomia 27.
a.C., aquando da sua proposta de divisão entre dois mundos: o Daolio, J. (1995). Da cultura do corpo. Campinas, SP: Papi-
material e o ideal, o corpo e a alma, o desejo e o pensamento. rus.
Até então o indivíduo era pensado de forma una e integrada Foucault, M. (1994). História da sexualidade II. O cuidado de
(Ramminger, 2000 citado por Paim & Strey, 2004). si. Lisboa: Relógio D’água.
3
Em 1486, com as bênçãos do Papa Inocêncio VIII, Heirich Foucault, M. (2002). Microfísica do poder (17ª Edição). Rio de
Kramer e James Sprenger escreveram aquele que seria o livro Janeiro: Ed. Graal. (Edição original de 1979).
de referência dos inquisidores e torturadores dos séculos se- Gaya, A. (2005). Será o corpo humano obsoleto? Sociologias,
guintes. O Malleus Maleficarum – O Martelo das Feiticeiras, 13, 324-337.
ensinava como reconhecer uma bruxa e, principalmente, Mo Sung, J. (2003). Corpo, cristianismo e capitalismo. [versão
técnicas de tortura que deviam ser aplicadas para obter online]. Acesso em 16 de janeiro, 2006, em www.servicio-
confissões. O livro consolidava definitivamente o desprezo skoinonia.org/
pela figura da mulher. Kerckove, D. (1997). A pele da cultura. Lisboa: Relógio
4
A este propósito, às doenças da sociedade moderna, como a d’Àgua.
anorexia e a bulimia, junta-se agora outra mais recente – a König, R. (1969). Sociologie de la mode. Paris: Petite Biblio-
ortorexia ou obsessão por uma alimentação saudável. Em tèque Payot.
Portugal a sua prevalência ainda é desconhecida (Notícias Le Breton, D. (1999). L’ adieu au corps. Paris: Métaillié.
Magazine, 26 Fev 2006) Levy, T. (2004). O corpo à superfície. Revista de comunicação e
5
Como refere a mesma autora, Michael Jackson é um simulacro linguagem: corpo, técnica e subjectividade, 83, 104-135.
de si mesmo, mas é também a resignificação do ser original e Lyon, M. L. & Barbalet, J. M. (1994). Society´s body: emotion
a consequente confirmação do sentido estético ocidental (pele and the “somatization” of the social theory. In T. J. Csordas
clara, linhas do rosto afiladas, cabelo liso, olhos amendoados). (Ed), Embodiment and experience. The existential ground of
Inúmeras cirurgias plásticas fizeram com que o original ficasse culture and self (pp. 48-66). Cambridge: University Press.
perdido, foi-se reconstruindo (Rosário, 2006). Novaes, J. V. (2006). Ser mulher, ser feia, ser excluída. [versão
6
Cyborg (cybernetic organism) é o “organismo humano hi- online]. Acesso em 11 de fevereiro, 2006 em http://www.
bridado com a máquina, com vista a um aumento de eficácia psicologia.com.pt/artigos/textos/A0237.pdf
num domínio particular” (Le Breton, 1999, p. 14-15). Paim, M. C. C. & Strey, M. N. (2004). Corpos em metamorphose:
7
No mundo da tecnociência, surge, entre outras expressões um breve olhar sobre os corpos na história, e novas confi-
corporais, a body-art, vendo no artista de vanguarda radicado gurações de corpos na actualidade. [versão online]. Revista
na Austrália, Stelarc o exemplo máximo do corpo híbrido; Digital Buenos Aires, 79. Acesso em 26 de janeiro, 2006, em
o corpo suspenso do solo através de ganchos metálicos http://www.efdeportes.com/efd133/cultura-de-tempo-livre-
atravessados na sua pele ou, ainda, o implante de uma do-trabalhador.htm
terceira mão robótica que, activada por impulsos eléctricos Pelegrini, T. (2006). Imagens do corpo: reflexões sobre as acep-
provenientes da sua musculatura abdominal, após 3 meses de ções corporais construídas pelas sociedades ocidentais. [ver-
treino, permitiu a utilização das suas 3 mãos para assinar o são online]. Revista Urutágua, 08. Acesso em 12 de janeiro,
próprio nome (Gaya, 2005). O artista pretende, deste modo, 2006, em www.urutagua.uem.br/008/08edu_pelegrini.htm
declarar a insuficiência da anatomia humana e a necessária Ribeiro, A. (2003). O corpo que somos: aparência, sensualidade,
implementação de próteses artificiais. Um outro exemplo comunicação. Lisboa: Editorial Notícias.
que tem estado nos holofotes da imprensa tem sido o inglês Rodrigues, J. N. (2001). O século da vida artificial. [versão
Kevin Warwick, dirigente do Departamento de Cibernética online]. Acesso em 12 de janeiro, 2006, em http://www.
da Universidade de Reading e já cognominado do “cientista janelanaweb.com/digitais/vida_artificial.html
ciborg”, por causa de um implante que aplicou em si próprio Rosário, N. M. (2006). Mundo contemporâneo: corpo em meta-
em Agosto de 1998 (Rodrigues, 2001). morphose. [versão online]. Acesso em 12 de janeiro, 2006, em
http://www.comunica.unisinos.br/semiotica/nisia_semiotica/
8
Um outro passo já demonstrado em 1996 é a criação de “redes
conteudos/corpo.htm
pessoais”, as chamadas “PAN” (em inglês, personal area
Tucherman, I. (2004). Breve história do corpo e de seus mons-
networks), que permitem gerar uma rede de comunicações
tros. Lisboa: Veja.
usando uma tecnologia sem fios de baixa frequência que
Turner, B. (1992). Recent developments in the theory of the body.
passa sinais directamente através do corpo humano no raio
In M. Featherstone, M. Hepworth, & B. Turner (Eds.), The
de um metro. Thomas Zimmerman do Centro de Investigação
Body. Social process and cultural theory (pp. 1-35). London:
de Almaden, da IBM, em San José, no Silicon Valley, é o
Sage Publications.
“pai” do PAN, tendo trocado cartões de visita digitalmente
Turner, B. (1994). Preface. In P. Falk (Ed.), The Consuming Body
através do simples contacto entre dedos (Rodrigues, 2001).
(pp. vii - xvii). London: Sage Publications.

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Barbosa, M. R., Matos, P. M. & Costa, M. E. “Um olhar sobre o corpo: o corpo ontem e hoje”

Vaz, P. (2006). Corpo e risco. [versão online]. Acesso em 12 Paula Mena Matos é Professora Auxiliar na Faculdade de
de janeiro, em http://www.angelfire.com/mb/oencantador/ Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do
paulovaz/INDEX.html Porto, Portugal.

Maria Emília Costa é Professora Catedrática na Faculdade


Recebido em: 21/10/2009 de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade
Aceite em: 13/12/2009 do Porto, Portugal.

Maria Raquel Barbosa é Professora Auxiliar na Faculdade Como citar:


de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade Barbosa, M. R., Matos, P. M., & Costa, M. E. (2011). Um
do Porto – Portugal. Endereço: Faculdade de Psicologia e de olhar sobre o corpo: o corpo ontem e hoje. Psicologia &
Ciências da Educação da Universidade do Porto. Rua do Dr. Sociedade, 23(1), 24-34.
Manuel Pereira da Silva. Porto, Portugal. CEP 4200-392.
Email: raquel@fpce.up.pt

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