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Grécia Antiga: A

idealização estética do
corpo.
Nas pólis gregas, o corpo era
reverenciado como um elemento
estético de glorificação e de
graciosidade. O corpo nu trazia
consigo um sentido de saúde, sendo
valorizado pelos gregos e pelo Estado que junto a isso,
também valorizavam o condicionamento físico e a
fertilidade.

A moralidade perante ao corpo, seus costumes, e o sexo


não eram impostos autoritariamente e vistos como
tradições e valores imprescindíveis a serem seguidos.
Porém, disso só valia aos cidadãos das pólis, ou seja,
apenas homens e que não fossem escravos, nem
estrangeiros e, tampouco, mulheres. Para elas, apenas
cabia servir, com obediência e fidelidade, aos domínios dos
homens de suas famílias. O corpo nu a ser reverenciado era
produzido e pensado no masculino. Os prazeres da carne
pertenciam apenas aos homens, nas quais possuíam menos
restrições morais ao sexo, tendo em vista como uma
prática natural a bigamia e a homossexualidade.

Essa visão de paixão pelo corpo não se tratava de


narcisismo, e sim, de uma maneira de pensar e viver o
corpo. Foucault designou essa prática greco-romana como
‘’cultura de si’’, na qual os filósofos daquela época,
movidos pelo princípio do conhece-te a ti mesmo,
enfatizavam a necessidade dos indivíduos de se
preocuparem consigo mesmo, pois seria essa a estratégia
para se alcançar uma vida plena. Essa prática íntegra,
empregada no século I e II, voltada para o cuidado de si
mesmo, resultou em um individualismo social, onde as
pessoas passaram a valorizar os próprios interesses e se
tornarem cada vez menos dependentes de terceiros e cada
vez mais restritos a eles mesmos.

Cristianismo: O pecado
e a privação do desejo.
Com o estabelecimento da Igreja Católica, o
corpo passa a ter um novo sentido, tornando-
se apenas carne, material e, principalmente, a
prisão da alma. O corpo se tornou a fonte do
pecado e o cristianismo passa constantemente
a reprimi-lo. O Papa Gregório I qualificou o corpo de
‘’abominável vestimenta da alma’’.
A partir disso, ocorre a separação do corpo e da alma, onde
o homem precisaria priorizar a alma e fortalece-la, lutando
contra os desejos da carne para que pudesse escapar das
punições do inferno e alcançar a salvação no paraíso. O
homem e a mulher, casados ou não, passaram a ocultar
seus corpos e limitar suas intimidades. Porém, o corpo de
Cristo passa a ter um grande valor espiritual e a dor,
representada pelo sofrimento do filho de Deus, surge
como um novo conceito para reprimir os desejos e os
prazeres.

No fim da Idade Média (nos sécs. XV a meados de XVII) as


mulheres passaram por um processo lento de
transformação em bruxas, na qual essa passagem gerou um
genocídio que foi representado por julgamentos, torturas
e execuções públicas de milhares de vítimas. A ideia
principal da bruxaria era de que o demônio perseguiria
homens com o intuito de tomar suas almas e amaldiçoa-
los. Essa perseguição se apresentava através da tentação do
corpo e a sexualidade das mulheres, pois, por serem
consideradas impuras, eram acusadas de ‘’agentes do
demônio’’.

Idade Moderna: Um
corpo mais racional e
crítico.
No Renascimento, as concepções do
corpo sofreram grandes mudanças, o
que fez com que a sociedade
começasse a ter uma maior
preocupação com a liberdade humana
e as ações da humanidade passassem a ser pautadas pelo
método científico. Esse apreço pela razão científica
ocorreu devido aos grandes avanços tecnológicos e
científicos na idade moderna
O corpo passou a ser investigado e analisado como um
corpo anatômico e biomecânico, aparecendo em grandes
obras artísticas de pintores como Leonardo Da Vinci e
Michelangelo, que traziam em suas obras o estudo do
corpo rico em detalhes fisionômicos e anatômicos.

Além disso, durantes essa era, fortemente influenciada


pelas concepções da antiguidade clássica, o dualismo da
concepção corporal de Rene Descartes, o corpo-alma,
passou a predominar nesse período. As ideias iluministas,
no século XVIII, acabaram por fortalecer a desvalorização
do corpo, dissociando-o da alma e negando a vivência
sensorial e corporal, atribuindo o corpo a um plano
inferior.

Com a forma de produção do sistema capitalista, o homem


passou a ser visto com um ser passível de exploração,
mostrando-se tanto como oprimido, como manipulável. O
homem passou a ser visto como uma máquina de acumulo
de capital, tendo seus movimentos corporais dominados
por uma nova forma de poder: o poder disciplinar.
Foucault expõe em seu livro ‘’Microfísica do Poder’’ a
maneira como o poder se instalou nas instituições sociais:

As mudanças económicas do século XVIII


tornaram necessário fazer circular os efeitos
do poder, por canais cada vez mais sutis,
chegando até os próprios indivíduos, seus
corpos, seus gestos, cada um de seus
desempenhos cotidianos. Que o poder,
mesmo tendo uma multiplicidade de
homens a gerir, seja tão eficaz quanto se ele
exercesse sobre um só. (FOUCAULT, 1970,
p.121).
O culto atual: Um
corpo produto.
De acordo com Agostinho Ribeiro: “O
corpo pós-moderno passou do mundo dos
objetos para a esfera do sujeito, assumido e
cultivado como um ‘eu-carne’, credor de
reconhecimento e de glorificação, e mesmo
objeto-sujeito de culto.” (Ribeiro, 2003, p.7).

Nos dias atuais, a sociedade passou a investir em seus


corpos, tornando-se uma condição que possui uma
importância a nível de aumentar a estimulação social e
passar a ser um produto das grandes mídias e um mercado
a ser explorado. As empresas vendem um padrão estético
de beleza, muitas vezes inalcançáveis, como um modelo a
ser associado à ideia de saúde e confiança.

Enquanto na Idade Moderna o capitalismo de produção se


beneficiava do corpo como uma força de trabalho
manipulável e dominado, hoje, o capitalismo passa a tratar
o corpo como um objeto de consumo que pode ser
produzido, consumido e sujeito a mudanças, se
modificando conforme determinada cultura passe a
hipervalorizar determinada norma estética.

Se anteriormente o corpo foi dividido em corpo-alma,


separando a matéria física da matéria espiritual,
atualmente, o corpo se fragmenta por completo, tendo
cada divisão um sentido próprio. Uma prova disso é como
o mercado se apropria dessa divisão e enxergar em cada
parte uma maneira de transforma-la em um alvo de
consumo e de tratamento, exemplo disso são as cirurgias
plásticas (preenchimentos, reconstruções, implantes,
correções, entre outros)

Hoje, vive-se a revolução do corpo, valores relativos à


beleza, saúde, higiene, lazer, alimentação, exercício físico,
que modifica um conjunto de comportamentos na
sociedade, imprimindo um novo estilo de vida a cada ano
que passa, estando mais aberto à diversidade, porém mais
ensoberbecido e hedonista no que se remete à experiência
do corpo.

Apesar disso, quando se trata de nossas escolhas, há uma


incoerência pairando na sociedade, uma vez que, embora
não haja nenhuma obrigação das pessoas se vestirem de
acordo com a classe social da qual fazem parte, como
ocorria em outras épocas, a indústria da moda consegue
com sua alta influência interferir e ditar o que uma
comunidade deve, ou não, vestir.

Cada sociedade, cada cultura age sobre o corpo


determinando-o, constrói as particularidades do
seu corpo, enfatizando determinados atributos em
detrimento de outros, cria os seus próprios
padrões. Surgem, então, os padrões de beleza, de
sensualidade, de saúde, de postura, que dão
referências aos indivíduos para se construírem
como homens e como mulheres. (BARBOSA;
MATOS; COSTA, 2011, p. 24).
Referências

Foucault, M. (2002). Microfísica do poder (17ª Edição). Rio de Janeiro:


Ed. Graal. (Edição original de 1979)

Ribeiro, A. (2003). O corpo que somos: aparência, sensualidade,


comunicação. Lisboa: Editorial Notícias.

Barbosa, M. R., Matos, P. M. & Costa, M. E. (2011). “Um olhar sobre o


corpo: o corpo ontem e hoje”

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