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Reino & Sacerdote

Trabalhando para que a Igreja cresça e que o Reino avance!!! Ap 1.5,6

Modalidade e Sodalidade
Publicado em 06/09/2011

No Brasil e em grande parte do mundo cristão, quase não se questiona a estrutura da igreja local,
representada principalmente pelas congregações denominacionais. Para nós, igreja é sinônimo de
instituição. Isso faz com que as estruturas missionárias não ligadas a uma denominação específica ou
interdenominacionais sejam vistas como paraeclesiásticas –próximas da igreja, mas não parte dela. Daí
conclui-se: se as congregações fossem “mais missionárias”, não precisaríamos das agências de
missões.

No entanto, estudiosos que dedicaram-se à análise das formas como a igreja se apresenta ao longo de
sua história identificaram duas estruturas diferentes e complementares; ambas compondo igualmente o
corpo de Cristo. No Novo Testamento, vemos as igrejas locais, congregacionais –a modalidade– e os
grupos missionários, especialmente o de Paulo –a sodalidade.

De acordo com o antropólogo e missiólogo Dr. Ralph D. Winter, as modalidades são “comunidades
estruturadas nas quais não há distinção de sexo ou idade”, ou seja, fazem parte dela igualmente “velho e
jovem, homem e mulher”; “é um organismo biologicamente perpetuável”. Entre as funções da
modalidade estão: congregar, cuidar, nutrir os crentes locais e atuar no contexto social à sua volta. Por
sua vez, as sodalidades são estruturas organizadas em torno de alvos específicos e de um senso
comum de missão e visão. Exigem de seus membros uma segunda decisão, baseada em um chamado
e vocação, e também o compromisso com um estilo de vida alternativo visando o alcance dos alvos,
vivência da missão e implementação da visão. Entretanto, o nível de compromisso com o relacionamento
com Deus e com incluir o próximo nesse relacionamento deve ser o mesmo em ambas as estruturas.

Dentro destas características, temos as modalidades sendo representadas ao longo da história pelas
sinagogas cristãs dos primeiros séculos do Cristianismo, pelas paróquias e dioceses da igreja romana e,
mais recentemente, pelas congregações denominacionais evangélicas. As sodalidades, por sua vez, são
representadas pelos grupos missionários como o de Paulo, pelas ordens religiosas católicas, e pelas
juntas e agências missionárias da Era Moderna.

Uma importante característica da sodalidade é sua autonomia. Observando a relação do grupo


missionário de Paulo com a igreja de Antioquia, a qual o liberou para o trabalho que o Espírito Santo lhe
havia enviado a fazer [Atos 13:1-4], podemos observar que Paulo era autônomo em relação a ela na
tomada de suas decisões, mas totalmente submisso ao Espírito [Atos 16:6-10]. No entanto, não houve
um rompimento de Paulo com esta igreja; pelo contrário, apesar de não ser governado por ela, Paulo
reportou-se, prestou contas de seu ministério à igreja em Antioquia e a via como um lugar para onde
podia retornar de suas viagens [Atos 14:26-28].

Há de se diferenciar aqui autonomia de independência. A sodalidade de Paulo era autônoma em relação


à igreja que o liberou, ou seja, possuía capacidade de administrar-se livremente de acordo com as
necessidades da missão a ser cumprida, mas não era independente no sentido de ausência de
relações. Na verdade, este relacionamento entre modalidade e sodalidade é “tão fundamental” que dele
provém grande parte dos escritos do Novo Testamento –as cartas enviadas de membros das
sodalidades às igrejas locais. Vemos também que os membros da sodalidade são comumente
provenientes da modalidade.

Enfim, há uma relação de interdependência entre as estruturas e ambas são legítimas na composição do
corpo de Cristo. Funções diferentes, mas igual importância. Quando entendermos e vivermos isto,
seremos realmente eficientes no cumprimento da grande comissão, pois assim refletiremos a união que
Jesus mencionou como a característica pela qual o mundo reconheceria que Deus o enviou [João
17:21]. Duas estruturas, mas um só corpo.

Identificação, conceito e justiça

O zelo dos reformadores protestantes em retomar o Cristianismo em sua essência e criar uma identidade
cristã fora do Catolicismo atropelou tradições cristãs que remetem historicamente à herança abraâmica.
Com a privatização da Igreja no século 18, o Cristianismo moderno se distanciou ainda mais dessas
heranças. O cristão se tornou um indivíduo afastado do meio, inerte em atividades elevadas ao estatuto
de sagradas.

No final dos anos 1960, os frades dominicanos, envolvidos na luta contra a ditadura militar no Brasil,
foram expressão da mudança de rumos da organização popular na sociedade brasileira. O Brasil vivia
dois conflitos: a economia em mãos estrangeiras e o Estado em poder de autocratas militares. Partindo
de uma nova maneira de ler a Bíblia e da preocupação com o que significaria ser cristão naquela
conjuntura, abandonando a antiga dualidade entre fé e vida, a ordem dos dominicanos se tornou o
embrião dos movimentos populares.
Durante o golpe militar, esses movimentos foram vistos como laboratórios de idéias comunistas e seus
participantes perseguidos pelo regime autoritário; no entanto, a população encontrou entre eles a sua
voz. “Quando dou pão aos pobres, chamam-me de santo, quando pergunto pelas causas da pobreza,
me chamam de comunista”, diz Dom Helder Câmara.

Se com a supressão dos direitos constitucionais, perseguição política, prisão e tortura aos opositores,
censura aos meios de comunicação, as pessoas imergiram em um universo despolitizado, a ordem dos
frades fazia o caminho inverso. Mobilizaram-se para promover novos espaços públicos, amparar presos
políticos e convergir grupos que, por ideologia, se posicionavam em resistência às injustiças contra o
povo.

A desigualdade social, que ao longo da história é denunciada por diversos grupos, é costumeiramente
fruto de mudanças nas ênfases econômicas e no modo de produção. Em Israel, por volta do século 8
a.C., a economia da nação, a exemplo do modo fenício, investiu no incremento do comércio em
detrimento da agricultura; o que resultou, como afirma Toynbee, em “uma alteração quase revolucionária
na distribuição da riqueza, com desvantagem para a maioria pobre da população.”

Nesse período reinava sobre Israel Jeroboão II. Seu reinado foi marcado por um período de expansão
territorial e prosperidade. Mesmo com o cisma ocorrido anteriormente, na morte de Salomão –que dividiu
a nação em dois reinos– Israel vivenciou no século 8 a.C. um período de estabilidade política e
prosperidade econômica com a tomada da Síria pela Assíria, o que possibilitou a expansão territorial por
meio da retomada das terras ocupadas pelo reino sírio. Todavia, o bem-estar econômico e político
ocultava uma decomposição social. O contraste entre ricos e pobres denunciava injustiças e
degradação moral.

Esses fatos são evidenciados nos escritos do profeta Amós, presentes na composição bíblica. Amós,
contemporâneo de Jeroboão II, relata a sociedade da qual faz parte. A fluência e a construção de seu
texto revela um homem em contato direto com as questões do seu tempo em matéria de sociedade,
política e economia.

A palavra profeta chega a nós através do vocábulo hebraico nabi, ou “aquele que proclama”; um
conceito diferente do utilizado hoje, que relaciona a palavra à predição. Dessa forma, o trabalho de Amós
era o de anunciar a Israel o castigo que viria como conseqüência de suas práticas de injustiça. Fazendo-
se uma voz contra injustiça, Amós denunciava as práticas sociais que iam contra o conceito de justiça
presente na religião e na cultura hebraica.

A essência da ação de Amós se concentra na sua compreensão da idéia de Deus. Para ele, todo
entendimento de Deus estava baseado no pressuposto de justiça. A moralidade e a justiça eram centrais
em Deus. Dessa forma, ele apresenta em seu discurso a implantação da justiça como única via de
remissão, colocando o homem como agente direto de transformação e responsável pelo destino da
sociedade. Amós posiciona o homem como um agente social.

O caráter social da atuação dos profetas em Israel está relacionado à influência que eles representavam
no campo das idéias. Sua maior responsabilidade não estava em estruturar um plano de reforma social
propriamente dito, ou uma mobilização social em termos revolucionários, mas em produzir conceitos a
serem lançados sobre a sociedade, que modificariam tanto o pensamento como a prática social. O
filósofo José Luís Sicre, em sua obra Profetismo em Israel, aponta o caráter social da atuação dos
profetas: “Um dos aspectos mais célebres e importantes da mensagem profética é constituído pela sua
denúncia dos problemas sociais e pelo seu esforço em prol de uma sociedade mais justa.”

Na modernidade, com o apogeu do iluminismo, as sociedades ocidentais se empenharam em dissociar


a religião das questões sociais humanas; retomando o conceito grego que diferenciava os espectros
humanos entre mythos e logos, em que o mythos englobaria exclusivamente as questões intemporais,
religiosas e de transcendência.

Desde então, a religião tem sido compreendida como responsável apenas pela espiritualidade do
homem, não comunicando em nada com os enfrentamentos da sociedade em geral. Parecendo abusiva
e fora de jurisdição qualquer crítica social ou atuação relevante, as sodalidades hoje enfrentam o dilema
de responder a questões sociais em um mundo que não as compreende.

Na prática, as sodalidades religiosas buscam responder a três necessidades: identificação, conceito e


justiça social. Sociologicamente, representam a capacidade humana de construir grupos com um
propósito específico. Em Roma, por volta do século 7 a.C., o termo sodalitas englobava dois
agrupamentos sociais: um político, outro religioso. As sodalidades políticas reuniam bens e habilidades
de pessoas abastadas para se promover, enquanto as religiosas convergiam recursos e talentos para se
ocupar das questões que envolviam a complexidade humana, seja em aspectos de moral,
transcendência ou vivência.

Com a decadência do Império Romano, o conceito de sodalidade política se esvaneceu, permanecendo


exclusivamente o de caráter religioso. Hoje, as associações que ousam se afastar do conceito iluminista
sobre a prática religiosa para convergir habilidade, conhecimento e know-how estão fadadas a serem
desacreditadas em sua finalidade. Na pós-modernidade esta prática parece ser legítima apenas às
instituições do mercado.

Modalidade Sodalidade

Comunidades estruturadas Estruturas organizadas

Sem distinção de idade e sexo Limitada por idade, sexo ou estado civil.

Organismo biologicamente perpetuável Exige uma segunda decisão baseada em um


chamado e vocação

Congregar, cuidar, nutrir crentes locais Conceito, identificação e Voz contra a injustiça

Atuar no contexto social a sua volta Alvos comuns, Senso comum de missão e visão

Prepara e capacita para o serviço e Compromisso com um estilo de vida alternativo


testemunho dos crentes locais visando o alcance dos alvos, vivência da missão e
implementação da visão

Sinagogas cristãs do I Século, paróquias e Grupos missionários como o de Paulo, Ordens


dioceses da igreja romana e denominações Religiosas católicas e juntas e agências
evangélicas. missionárias da era moderna.

Mantêm laços e apóia Autonomia nas decisões, mas presta contas

Relação de Interdependência entre as estruturas e as duas são legítimas na composição do


Corpo de Cristo

Nível de compromisso no relacionamento com Deus e no incluir o próximo neste


relacionamento deve ser o mesmo em ambas

Fonte: Jocum DF

No amor de Jesus,

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