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RELIGIÃO,

CIÊNCIA E
FILOSOFIA

PROFESSOR (A): COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA


INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
RELIGIÃO, CIÊNCIA E FILOSOFIA

SUMÁRIO

1. RELIGIÃO – CIÊNCIA - FILOSOFIA .............................................................. 03

1.1. Definições e Conceitos de religião ............................................................... 04


1.2. Religião e Filosofia ........................................................................................ 07
1.3. Religião e Ciência ......................................................................................... 10
1.4. As relações entre as disciplinas ................................................................... 16

2. O SAGRADO, O MITO E O PROFANO ......................................................... 20


2.1. A religião é um fenômeno humano............................................................... 22

3. DIVISÃO DAS RELIGIÕES ............................................................................. 24


3.1. Monoteísmo ................................................................................................... 26

3.2. Politeísmo ...................................................................................................... 26

3.3. Panteísmo ..................................................................................................... 27

3.4. Animismo ....................................................................................................... 28

4. REFERÊNCIAS CONSULTADAS E UTILIZADAS ........................................ 33

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1 RELIGIÃO – CIÊNCIA – FILOSOFIA

Em tempos de globalização, neoliberalismo, mundialização,


modernidade e pós-modernidade, as rotinas da vida cotidiana constituem um
desafio para a religião. Este novo momento histórico desafia as formas
religiosas diversificadas.

A religião, como um dos elementos centrais do campo simbólico da


sociedade, não escapa a essa dinâmica cultural em que a sociedade está
envolvida, na qual o heterogêneo e o diverso contrapõem-se ao monolítico e ao
homogêneo; o concreto, específico e particular ao abstrato, geral e universal
(CHIAVENATO, 2002).

Nessa nova sociedade, a religião também muda, ela se desterritorializa,


depende das forças mercantis da oferta e da procura; ela passa a ser orientada
a adaptar-se a situações inusitadas e a novas demandas. Reage às suas
concorrentes lançando mão da propaganda e dos meios eletrônicos de
comunicação, simplificando sua linguagem em função de um limitado número
de “produtos” religiosos.

Uma das coisas mais surpreendentes nessa nova dinâmica da religião é


a facilidade que qualquer um tem de mudar de uma para outra sem problemas
de consciência e de constrangimento. Estamos na era da religião do mercado
sem fronteiras; ela se espalha e se fragmenta, não se sabe mais de onde veio;
refaz-se a cada demanda; avança nos espaços e lança-se no mercado. A
religião explode, se pluraliza, e por isso se sujeita à lei da concorrência; como
mercadoria, é vendida a um conjunto de “clientes” que não se sentem mais
obrigados a consumi-la (FONTES, 2007).

Somos um país onde novas religiões e filosofias de vida despontam,


transformando o Brasil num país mais tolerante e cada vez mais desenraizado
em matéria religiosa e em termos culturais. Nunca as religiões foram tão livres
para se instituírem, para concorrerem entre si e se multiplicarem. Vive-se uma
livre concorrência entre os mais diversos tipos de organização religiosa
(igrejas, seitas, cultos, centros, terreiros, ordens, denominações, comunidades,
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casas, redes, movimentos), as quais dialogam criticamente com a religião


católica, ainda hegemônica no país.

O pluralismo religioso possibilita que o mercado concorrencial seja


abastecido com uma variedade de ofertas religiosas (terapia corporal, mental e
afetiva; cultos de reposição de energia; crença no poder dos cristais e de tantas
outras formas de espiritualidades ou de manipulação de forças e energias),
onde o melhor produto é aquele que cada adepto elege e consome como tal
(FONTES, 2007).

A pluralização é o rótulo de um tipo de sociedade que possibilitou os


limites do desejo de escolha e de liberdade de preferências. No Brasil,
aproximadamente um quarto da população adulta já teve a experiência do
sentido da conversão e da adesão a outra religião, diferente daquela que
herdou de seus pais.

A religião passa a interessar somente no sentido de seu alcance


individual; aos poucos ela vai se reterritorializando na esfera do indivíduo e
deste para a dinâmica das relações de consumo, vendo-se obrigada, agora, a
ser regulada pelas regras do mercado.

A sociedade passa a recorrer à religião apenas festivamente, tendo em


vista o aparecimento de formas religiosas que se apresentam como espetáculo.
Aquela religião que era fonte de transcendência perdeu seu sentido; um outro
tipo de religião que está preocupada com causas localizadas, reparos
específicos, portanto, adquire expressão e relevância nos tempos atuais
(FONTES, 2007).

1.1 Definições e conceitos de religião

Os romanos foram os primeiros a usar palavra religião. Chamavam


Religio o dever de fidelidade ao Estado. O cidadão romano devia comportar-se
religiosamente com lealdade ao Estado e às autoridades. Como no império
romano, o Estado era religioso, a relação entre Estado e Religião aconteceu-
naturalmente. Cícero (106-46 a.C.) dizia que religião vem de relégere, voltar a

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ler, recordar. Segundo alguns teólogos, Cícero quis dizer que os homens
diligentes “voltavam a ler” o que se referia ao culto dos deuses.

Três séculos depois o escritor cristão Lactâncio (240-320) desenvolveu a


ideia de religião como a identificação sentimental entre o homem e Deus, já
pensando no deus cristão, criador do mundo e de tudo que nele havia. Religio,
como os romanos entenderam originariamente ou na interpretação de
Lactâncio, passou a exprimir tanto a lealdade ao Estado – pelo acatamento das
leis, códigos morais etc., - como a identidade sentimental, a crença em um só
deus; nesse caso, cristão.

Com mais frequência afirma-se que a palavra religião vem do latim


religare, que significa amarrar. Os cristãos geralmente preferem essa
explicação. Lactâncio usou religare para afirmar que o homem voltava a atar
seus vínculos com Deus. Mas é interessante observar que mesmo no contexto
religioso, religare pode ter outro significado: Religare religionibus bona alicujus,
pode ser traduzido como "Consagrar a alguma divindade os bens de outros" - o
que é muito característico na luta entre o cristianismo e o paganismo a partir
dos séculos III e IV. No entanto Santo Agostinho (354-430) preferia como
origem da palavra religião o reeligere, reeleger - os homens, depois da
mensagem de Jesus Cristo, reelegeram o deus cristão.

A palavra religio-religião sofreu variações de significado à medida que o


Estado e a Igreja cresciam e enfrentavam os acontecimentos históricos
(CHIAVENATO, 2002).

O QUE É RELIGIÃO?

Assim como a explicação para a origem da palavra religião muda de


acordo com certos interesses, o conceito de religião também se modifica pelos
tempos. A religião não pode ser entendida da mesma forma quando se trata
das sociedades tribais, dos gregos, dos romanos, etc. A pergunta o que é
religião? tem de ser respondida levando-se em conta as características e as
categorias religiosas de cada época. Esta pergunta não permite resposta-
genérica. Porque a religião não é a mesma em diferentes épocas e sociedades.

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Para os primeiros cristãos romanos, por exemplo, a religião era a da vida


real; o ópio que os livrava espiritualmente das coisas deste mundo.

O cristianismo primitivo não continha em si nenhum componente


filosófico, mas uma alienação específica, conformando o homem a sofrer
resignadamente neste mundo, sem vontade política de modificá-Io.

Na Idade Média a religião adquiriu um conteúdo filosófico e teológico


muito forte. Nesse período de quase mil anos, a religião ocupou o espaço
político: a vida se fez em torno ou em relação aos conceitos religiosos.

Os reis eram consagrados pela Igreja; os papas ditavam a moral e os


costumes - quase sempre com exemplos nada dignificantes. A teologia
condicionava a ciência, permitindo-lhe o progresso ou sufocando-a em dogma
se proibições absurdas.

O cristianismo do Império Romano e o da Idade Média pouco tinham em


comum. Se as características religiosas diferem em cada época, são diferentes
também as suas formas de relação com o poder político e econômico. Se
recuarmos à Palestina do tempo de Jesus, veremos que a religião,
representava as tendências políticas de cada classe; sem que isso implicasse
participação ativa dentro do organismo do Estado.

Nessas sociedades e nessas épocas, a religião é diferente em cada


circunstância e em cada momento – e para cada classe. É preciso observar as
diferenças para não incidir no erro de urna resposta genérica. Também é
preciso cuidado para não tornar a crítica da religião um simples reducionismo.
Destacar as condições socioeconômicas nas quais as religiões se
desenvolveram - e o cristianismo em particular - não significa explicar o
fenômeno religioso apenas pela estrutura econômica. A religião não é só um
meio que os grupos de poder usam para preservar seus políticos ou
econômicos (CHIAVENATO, 2002).

Porém, a pergunta o que é religião?, Apesar de complexa, pode ser


respondida objetivamente em uma frase. Se cada momento exige uma
interpretação e um entendimento específico, objetivamente pode-se chegar a
uma velha e tradicional resposta básica, que tem causado horror e satisfação
há mais de cem anos: “religião é ópio do povo”. Ao contrário do que parece a
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afirmação de Marx não reduz a religião a nada: abre um leque espantoso de


análise radical, em que a raiz é o próprio homem. Mas existem características
radicalmente diversas de ser esse ópio do povo.

Tomando como base o monoteísmo ocidental, podemos dizer que


religião é o conjunto de doutrinas e práticas institucionalizadas, cujo objeto e
objetivo é fazer a ponte de ligação entre o sagrado e o profano, o caminho de
reaproximação entre criatura e criador, o Homem e Deus. Não por acaso, os
sumos sacerdotes da maioria das igrejas, também são denominados Sumos
Pontífices, os Supremos Construtores da Ponte Sagrada.

1.2 Religião e Filosofia

A religião e a filosofia constituem dois importantes âmbitos do raciocínio


humano. Enquanto na religião o pensamento se desenvolve a partir da
interpretação de mitos, o raciocínio filosófico se ocupa com o estudo do próprio
ato de pensar (“Filo-sofia” = amor a sabedoria). Ambas, no entanto, tem em
comum a busca pela verdade. Para enfrentarmos a problemática do confronto
entre essas duas fontes é preciso observar, a partir do estudo da história, como
a todo o tempo encontramos estudos de grandes pensadores sobre filosofia e
religião.

Em “O Discurso do Método”, Descartes faz reflexões críticas sobre


Deus, a relação entre fé e razão, e entre teologia e filosofia. “Os estudos
devem ter por fim dar ao espírito uma direção que lhe permita proferir juízos
sólidos e verdadeiros sobre tudo o que se apresenta”. Mas, enquanto
Descartes separa a fé da razão, outros pensadores entendem que a fé e a
razão, na verdade, formam uma unidade, pois o espírito humano não se
constitui exclusivamente de lógica e razão.

Pascal dizia que Deus é sensível ao coração, não à razão. Assim,


entendia Pascal que seria possível reconhecer Deus não pelo intelecto, e sim
pelo coração. O ateísmo que encontramos em Nietzsche e Sartre, por exemplo,
nega a existência de Deus. Para Sartre, filósofo existencialista francês, Deus

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não tinha existência real. Em O ser e o Nada Sartre diz: “toda realidade
humana é uma paixão... o homem se perde enquanto homem para fazer
nascer Deus... o homem é uma paixão inútil”. “O homem nada mais é do que
aquilo que faz de si mesmo: é esse o primeiro princípio do existencialismo. É
também a isso que chamamos de subjetividade... o homem será apenas o que
ele projetou ser... o homem é totalmente responsável por sua existência... o
homem só existe à medida que se realiza; não é nada além do conjunto de
seus atos, nada mais que sua vida... ainda que Deus existisse, nada mudaria;
eis nosso ponto de vista.” (SALDANHA, 2009).

Para Nietzsche, o cristianismo gerou conformismo e mediocridade.


Apresenta uma nova ética para libertar o homem de sua alienação religiosa.
Nietzsche proclamou “Deus está morto”, propondo que fica a cargo do homem
criar suas próprias regras, ao invés de obedecer àquelas da igreja católica. O
conhecimento humano atual, no entanto, ainda não tem uma resposta definitiva
quanto à existência ou não de Deus.

O estudo sobre a influência atual do pensamento religioso sobre a nossa


sociedade deve ter como objeto seu lado benéfico e positivo, bem como seus
perigos. A transgressão dos valores fundamentais da religião é hoje um sério
problema social. O estudo da filosofia deve ser encarado não como uma esfera
autônoma de conhecimento, mas sim como instrumento para o estudo das
demais áreas de atuação do conhecimento. Assim, a difusão da filosofia por
todas as classes sociais, seria um meio de se proteger os valores verdadeiros
da religião de falsos pastores, na medida em que o estudo da filosofia auxilia
na construção de uma visão crítica e interpretativa (SALDANHA, 2009).

Filosofia, o pensar racional do mundo, nasceu do afastamento das


academias gregas da crença nos deuses mitológicos. A busca de entender o
mundo pela razão sem o recurso do misterioso e a possibilidade de designar o
inexplicável à vontade dos deuses marcou o início de um diálogo, que por
vezes transformou-se em guerra acirrada, entre a fé e a razão! Desde a
antiguidade o pêndulo do pensamento filosófico, ora destaca a religiosidade
(teísmo) ora o secularismo (ateísmo), em cada era ele reflete a caminhada do
homem na busca pelo conhecimento de si mesmo e do mundo em que vive, e

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incluído nessa caminhada é a busca do homem para um Deus, qualquer que


seja seu nome.

Um breve panorâmico histórico

A pesar da crítica dos deuses, o conceito de um Deus (um ser supremo


e transcendental) está presente na filosofia antiga, notavelmente no
pensamento aristotélico. Na obra Metafísica, o filósofo desenvolve o
pensamento a cerca do primeiro motor, para ele “o motor imóvel, quer dizer,
Deus, ou o ato puro que é a causa de toda mudança e de todo devir no mundo,
mas sem estar ele próprio sujeito à mudança” (Metafísica III, 8) (LALANDE,
1999).

O pensamento da Idade Média é marcado pelo surgimento dos


“monoteísmos e encontro com a filosofia grega” (LALANDE, 1999). A Europa
ocidental, onde o cristianismo dominou desde os dias do império romano, foi o
palco do diálogo entre a teologia e a filosofia marcado pelo neo-platonismo, a
filosofia sendo considerada pelos Padres da Igreja como a serva da teologia.
Esse encontro resultou numa verdadeira fusão entre a filosofia e a teologia
cristã, sacramentada nas obras das Escolásticas, principalmente São Tomas
de Aquino, o Ser Supremo de Aristóteles tomou a roupagem do Deus do
cristianismo.

A modernidade foi marcada pela secularização e um novo


distanciamento entre pensamento filosófico e a teologia. A razão e a fé mais
uma vez ocuparam espaços distintos e o Deus da filosofia não é mais o Deus
divino, objeto de adoração de culto do cristianismo, judaísmo ou islamismo, “é
a causa como causa sui. [...] A este Deus não pode o homem nem rezar nem
sacrificar.” (HEIDEGGER, 1999, p.199).

Uma nova metafísica!

Hegel faz uma afirmação sobre a relação entre a Filosofia e a Religião


capaz de fazer os filósofos modernos virarem em seus túmulos, ele chega a
declarar que a filosofia e a teologia são a mesma coisa, ele considera a filosofia
como “teologia racional” – “Deus é o princípio de todas as coisas e o fim de

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todas as coisas; (tudo) inicia em Deus e retorna para Deus. Deus é um e o


único objeto da filosofia [...] Assim, filosofia é teologia”. O desenvolvimento do
conceito da aproximação da filosofia e teologia é encontrado no pensamento
do Heidegger. De acordo com Heidegger (1999), a filosofia e a religião em
comum com as artes, buscam por caminhos diferentes “as causas últimas” ou
seja, tem a mesma finalidade.

A filosofia, como a arte e a religião, é afazer humano-além humano de


primeira e última importância. [...] a filosofia situa-se necessariamente no
esplendor da beleza e no liminar do sagrado (HEIDEGGER, 1999).

Na primeira etapa de sua vida profissional, principalmente no livro “Ser e


Tempo” Heidegger aparenta ateísmo, no segundo período o conceito é outro.
(SANTOS, 2004).

Se a leitura de Ser e Tempo possibilitava uma interpretação de


Heidegger como um ateu, ou como indiferente à questão de Deus, neste
segundo período as suas obras possibilitam outra interpretação. Nesses textos,
parece ser possível afirmar que Heidegger não nega a existência de Deus, nem
tampouco lhe é indiferente (HEIDEGGER, 1999, p.2).

Heidegger de fato entende que o pensamento filosófico desde Platão


nada mais é de que uma onto-teo-logia a busca pelo Deus, o fundamento de
todas as coisas, seja esse Deus o primeiro motor imóvel de Aristóteles, a causa
sui do Kant ou até os humanistas em cujo pensamento o ser humano toma o
lugar de Deus. O pensamento heideggiano afasta da filosofia o Deus cristão
que dominava a filosofia na Idade Medieval e moral cristã que permeavam o
pensamento filosófico da modernidade, mesmo nas obras de filósofos que
negavam e propõe um retorno à busca pelo “ser” (SANTOS, 2004).

1.3 Religião e Ciência

Não que Religião e Ciência tenham que ser inimigas naturais, mas todas
as vezes que ambas tratam das mesmas coisas, os conflitos são inevitáveis. O
Criacionismo é um dos melhores exemplos (VALÉRIO, 2001).

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Os Criacionistas alegam que a Teoria da Evolução é um embuste, uma


fraude com o objetivo de anular a Bíblia como fonte Única de Verdade
Suprema. Dizem que há uma conspiração secular que predomina no meio
científico, com raízes provavelmente no Iluminismo e Positivismo, se não uma
manobra ardilosa do próprio Satanás.

Muitos denunciam que a Evolução ao abalar a autoridade do Livro


Sagrado, abre caminho para uma sociedade sem “Deus”, que segundo eles só
pode conduzir à auto destruição e infelicidade, pois só a crença numa criatura
onipotente, vigilante e vingativa poderia manter uma sociedade em ordem
(VALÉRIO, 2001).

Afirmam que a verdadeira Ciência é a que afirma a glória de Jeová e


confirma os ensinamentos da Bíblia. Alguns até acusam o Evolucionismo de
Pseudo Ciência, e de que não passa de uma Torre de Babel de falácias e
mentiras com objetivo de disseminar uma filosofia ou religião humanista e
ateia.

Em síntese, acusam a Ciência de tudo o que eles próprios são também


apropriadamente acusados por alguns de seus adversários: Pseudo Cientistas
sem compromisso com a verdade e sim com crenças de uma religião
ultrapassada e danosa a toda a história da civilização (Uma crítica comum
entre alguns Anti-Criacionistas) (VALÉRIO, 2001).

Entretanto não cabe aqui esticar mais essa difusão de opiniões pessoais
a respeito. Cada um pode acusar ao outro das mesmas coisas. Afinal o que é
pior? Acreditar ou não em Deus? Estado vinculado ou não a Religião?
Democracia ou Teocracia? Formação filosófica e humanista ou doutrinação
religiosa?

E segundo os próprios Criacionistas acusam, o que contribuiria melhor


para o progresso da Ciência e da Sociedade? Uma postura Evolucionista e
Naturalista ou uma Criacionista e Religiosa?

Os questionamentos acima levam a acirradas e intermináveis


discussões, mas merecem ser lançadas para reflexão daqueles que irão
mediar conhecimentos, pois a vida não é uma via de mão única, não é exata,
concreta, enfim, cada sujeito tem direito a elaborar seus próprios pensamentos,
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mas deixaremos de lado por enquanto aspectos morais e éticos da sociedade,


e concentraremos no que se refere ao verdadeiro conhecimento científico.

Os Criacionistas chegam a declarar que enquanto a Evolução não for


descartada e a Criação admitida, toda a Ciência estará envolta em erros e
estagnação. Vamos comparar então períodos históricos com relação ao
desenvolvimento científico e a disseminação das religiões (VALÉRIO, 2001).

O PRIMEIRO PERÍODO

Vai desde o surgimento do homo sapiens até o surgimento da Filosofia


Grega e das Filosofias Orientais, que passaram a substituir os mitos pela razão
ou intuição investigativa.

Esse período se estende desde cerca de 200 mil anos atrás até cerca de
600 a.C. sendo então o maior de todos os períodos. Embora muitos
Criacionistas acreditem na precisão bíblica de que o Ser Humano tem menos
de 6000 anos na Terra, o que por incrível que pareça, não afeta o raciocínio
uma vez que tal período continua sendo o maior.

Esse foi o período onde ocorreu a maior intensidade de crenças


religiosas, Panteístas ou Politeístas. Nunca se tomou conhecimento de que
tenha havido algum grupamento humano que não tivesse sua religião. Esse foi
também o período de desenvolvimento científico mais lento da história,
principalmente em relação ao tempo que durou. Não acredito que alguém
discorde disto sem apelar para lendas do tipo Atlântida ou Lemúria (VALÉRIO,
2001).

O SEGUNDO PERÍODO

Vai desde o surgimento da filosofia até seu obscurecimento, tendo


durado pouco menos de Mil anos. Nesse período os Filósofos gregos fizeram
progressos notáveis na compreensão do mundo. Mapearam os movimentos
celestes, deduziram o átomo, alguns já propunham o Heliocentrismo e conclui-
se que a Terra não era plana. Foram criados avançados recursos matemáticos,
linguísticos e lógicos. Foi desenvolvida a Metafísica, a Ética, a Política, a
Astronomia. Muitos de seus avanços são sentidos até a atualidade.

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No oriente os Hindus calcularam movimentos astronômicos com incrível


precisão, inclusive o movimento terrestre de Precessão, que dura 26 mil anos,
através de uma elaboração mística filosófica, deram uma idade para o Universo
não muito distante da idade atualmente dada pela Ciência e criaram a mais
avançada matemática, que até nós chegou na forma do sistema decimal. A
China não ficou atrás em termos de desenvolvimento econômico, filosófico e
artístico.

Nesse período, principalmente no ocidente, houve uma considerável


retração do pensamento religioso, e as primeiras “Faculdades” foram criadas, a
Academia de Platão, o Liceu de Aristóteles, e a Biblioteca de Alexandria, onde
já se dizia, “A Ciência nos Liberta do Terror dos Deuses”.

O TERCEIRO PERÍODO

Vai da ascensão da Igreja de Roma no ocidente, abrangendo toda a


Idade Média, cerca de Mil anos, ou seja, equivalente ao período anterior,
porém incrivelmente mais lenta em termos de progresso do conhecimento. Na
verdade ocorreu o contrário, o Heliocentrismo que já fora proposto em
Alexandria foi esquecido, técnicas médicas que remontam a Hipócrates, o Pai
da Medicina, foram substituídas novamente por exorcismos e feitiçarias.

A Idade das Sombras de fato justifica esse apelido, pois embora tenha
sim, havido progresso, ele com certeza foi mais lento. Mas apenas no
Ocidente.

Enquanto com base na Bíblia a Igreja reprimia qualquer forma de


Filosofia não Cristã, e travava o progresso com seus Dogmas, no oriente médio
que a partir da metade da Idade Média seria dominado pelos Muçulmanos, a
Ciência se manteve em pleno ritmo (VALÉRIO, 2001).

O resultado foi um enorme atraso da Europa em relação ao Oriente, que


descobria a Pólvora, inventava a Bússola, usava especiarias para conservar
alimentos, criava telescópios e aperfeiçoava a navegação.

Foi o domínio do Cristianismo na Europa, uma autêntica Teocracia.

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O QUARTO PERÍODO

Começa a partir do renascimento, que resgatou na Europa o


conhecimento antigo grego e se prontificou a tirar o atraso em relação ao
oriente. A imprensa aniquilou o controle de informações por parte da Igreja e
surgiu o Iluminismo. Os filósofos romperam com a Teologia católica e o
Heliocentrismo foi trazido de volta (VALÉRIO, 2001).

Passou a haver uma reação em relação à Igreja a ao Cristianismo


tradicional e assim a Ciência avançou novamente acabando por superar o
oriente. Por que isso aconteceu?

Provavelmente por que enquanto o Ocidente rompeu de forma bem mais


radical com a religião, o Oriente ainda se manteve preso a ela, apesar do
Islamismo e Hinduísmo serem bem menos problemáticos com relação a
Ciência.

Em menos de 400 anos, o ocidente progrediu muito mais do que nos


1000 anos de Idade Média, em parte resgatando o conhecimento antigo do
SEGUNDO PERÍODO.

O QUINTO PERÍODO

Entretanto no quarto período os cientistas em sua maioria ainda eram


crentes, tendo suas limitações religiosa, somente a partir do final do século XIX
no Ocidente rompeu-se definitivamente com o poder do Cristianismo, os
Estados passaram a não mais orientar suas constituições através de códigos
religiosos e a Ciência ficou definitivamente livre, apesar de ainda enfrentar
repressões (VALÉRIO, 2001).

Nesse âmbito a Teoria da Evolução teve um efeito devastador, ela


consolidou a Biologia como uma Ciência Plena e estabeleceu sua comunicação
com a Geologia e a Física.

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Agora não se aceita mais religião, crença e nem mesmo Metafísica no


cerne de desenvolvimento científico, foi a vitória do Ceticismo e por fim a
Ciência Disparou resultando no mundo que temos hoje em dia.

Esquematizando:

Períodos OCIDENTE ORIENTE


(datas RELIGIÃO CIÊNCIA RELIGIÃO CIÊNCIA
aproximadas)

PRIMEIRO Religiões O mínimo Religiões O mínimo


PERÍODO primitivas, desenvolvimento primitivas, desenvolvimento
influência influência
“200mil”aC -
600 aC máxima da máxima da
Religião Religião

SEGUNDO Surgimento da Maior Surgimento Maior


PERÍODO Filosofia Grega, desenvolvimento da Filosofia desenvolvimento
menor influência Hindu,
600 aC - 400
da Religião Budista,
dC
Taoísta e
Confuciana.
Menor
interferência
religiosa no
pensamento

TERCEIRO Apogeu do Baixo Surgimento Desenvolvimento


PERÍODO Cristianismo, desenvolvimento do estável assim
estado Islamismo, como no período
400 dC - 1500
Teocrático, baixa anterior
dC
Altíssima interferência
influência da religiosa no
religião pensamento

QUARTO Renascimento e Mais Alto Baixa Desenvolvimento


PERÍODO enfraquecimento desenvolvimento, interferência estável assim
da Religião o Ocidente Sem como no período
1500 dC -
ultrapassa o grandes anterior
1900 dC
Oriente alterações,
boa parte do
oriente
começa a

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ser
dominado
pelo
ocidente

QUINTO Baixíssima Máximo Baixa Alto, mas menor


PERÍODO influência da desenvolvimento influência da que no Ocidente.
1900 dC - Religião no Religião no
pensamento pensamento,
Agora
embora
maior que
no Ocidente

Creio que esteja evidente a relação inversa entre Religião e Ciência,


pelo menos entre as religiões tradicionais. Os períodos de maior influência
religiosa são os de menor desenvolvimento científico.

De fato pode haver convivência harmônica entre religião e ciência, mas


com toda a certeza o Cristianismo foi a que mais travou o desenvolvimento
científico, diferente do Budismo e do Hinduísmo, e mais ainda que o Islamismo.

Espiritismo Kardecista, Taoísmo, Neo Panteísmo e diversos outros tipos


de religiões novas ou antigas renovadas praticamente não entram em choque
com a Ciência. É quase unicamente o Fundamentalismo Cristão que briga
contra a Evolução, e em bem menor grau o Judaico e o Islâmico. Religiões
intimamente relacionadas.

Mesmo hoje em dia essa relação continua direta, os países menos


desenvolvidos do mundo são os mais influenciados por Religiões, alguns são
inclusive Teocráticos (VALÉRIO, 2001).

1.4 As relações entre as disciplinas

As religiões têm necessidade de explicar o universo. Em quase todas, o


primeiro relato é o da criação/do mundo. Algumas dizem que o mundo tem
milhões de anos, outras acham que só uns poucos milhares. Na Índia certas
religiões afirmam que o mundo nunca foi criado, sempre existiu e não tem

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princípio nem fim. “Não há princípio nem fim para a semente e para a morte”.
Quando, no fim de um ciclo, o universo se dissolve, passa à fase da
potencialidade ou estado-semente, aguardando a nova criação. A fase da
criação ou expressão é chamada “dia de Brama” é a fase de dissolução ou
potencialidade chama-se noite de Brama: Cada-dia e noite de Brama são um
período de 4.320 milhões de anos humanos exatos - diz um texto indiano
(CHIAVENATO, 2002).

Para os judeus o mundo não é tão velho assim: foi criado no dia 7 de
outubro de 3.761 a.C. Esta data foi estabelecida no século VI por um rabino
estudando a idade dos patriarcas judeus. Os cristãos também consideram que
o mundo foi criado mais ou menos nessa época. Lutero achava que a criação
aconteceu em 3.960 a.C. Os Judeus e cristãos concordam que o mundo foi
criado do nada, aceitando a tradição bíblica de II Macabeus; que também o
gênero humano surgiu da mesma forma. Isso quer dizer, o mundo e o homem
foram criados do nada. O que é esse mundo criado do nada, em 7 de outubro
de 3.761, ou como quer Lutero, tem 3.960 aC?

A concepção judaica do mundo - o que vale dizer, a visão bíblica aceita


pelos cristãos é semelhante à de algumas religiões orientais. Há uma abóbada
celeste, que tem em baixo o céu contendo um oceano celeste. Quando Deus
abre as janelas do céu, cai chuva do lindo oceano celeste e molha a Terra que
está abaixo, A Terra flutua sobre o oceano terrestre como se fosse um barco.
No interior da Terra está o inferno, quente, que engole os pecadores quando o
solo se abre. Essa é a explicação que está em Números, 16,30-35
(CHAVENATO, 2002).

Na maioria das religiões as explicações para a criação do mundo são


parecidas. Há um consenso de que o mundo surgiu do nada e depois Deus ou
os deuses fizeram o homem. Para a criação do homem existem basicamente
quatro mitos: 1- os homens brotaram da terra, como as plantas; 2- o homem foi
modelado com argila pelos deuses e em seguida recebeu o sopro da vida; 3-
uma deusa teria feito os homens; 4- o homem foi formado com o sangue de
dois deuses, imolados para essa finalidade (CHIAVENATO, 2002).

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A criação do homem com o barro - versão adotada pelos judeus e


cristãos - é de origem sumeriana. A partir dela mitos análogos surgiram no
Egito antigo e na Grécia. A tradição bíblica deve ser uma extensão desse mito
que sempre repete a ideia básica: o homem formou-se a partir de uma matéria
prima (barro, osso, madeira) e foi animado pelo sopro do criador, tendo a sua
forma na maioria dos casos. O mito implica a ideia de que o homem foi feito à
imagem e semelhança do seu criador, mas só o corpo lhe pertence, porque é
matéria: a alma (à "sopro da vida" para os judeus, ruah em hebraico) é do
criador-Deus (CHAVENATO, 2002).

Basicamente a partir destes mitos as religiões explicaram o mundo.

O processo de explicar o mundo politizou-se dentro das religiões à


medida que elas monopolizaram o saber e impuseram dogmas. Donas de um
saber doado por Deus ou deuses, as religiões afirmaram-se incontestáveis e
subordinaram às suas ideias as demais atividades culturais. A ciência foi
deformada, amordaçada e durante séculos forneceu mais vítimas – queimadas
pelo fogo da Inquisição, relegadas ao ostracismo, destemidas etc. do que
conceitos científicos (CHIAVENATO, 2002).

A CIÊNCIA CRISTÃ

A maioria dos grandes pensadores e cientistas até o século XIX e pode-


se incluir artistas, literatos etc., foram considerados potenciais agressores da
moral e da civilização, ameaçando os conceitos (con)sagrados. No entanto,
não atacavam a sociedade nem representavam perigo.

As academias de ciências não diferiam da Igreja quanto à intolerância.

No século XVII não se podia contestar o que a medicina oficial ensinava.


A Faculdade de Paris determinou que ninguém poderia afastar-se dos
ensinamentos dos médicos gregos Hipócrates (460-377 a.C.) e Galeno (130-
200) sob pena de excomunhão. Era, proibido equiparar a cirurgia à medicina,
ou receitar novos medicamentos, como o quinino, a ipecacuanha, o antimônio e
alguns outros. O quinino foi desprezado pela Faculdade de Paris porque
Galeno não o conhecia.

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Séculos afora várias descobertas medicinais foram negadas pelas


academias ligadas à Igreja, por não estarem de acordo com os velhos mestres.
O médico inglês William Harvey (1578-1657) confirmou e teorizou o processo
da circulação sanguínea, que foi desautorizada. O erre de Galeno, de que
existia um orifício entre os ventrículos, só foi corrigido em 1453 pelo anatomista
pioneiro da dissecação de cadáveres, Andreas Vesalius (1514-1564).

Enquanto isso, era comum usar como medicamentos sangue e


excrementos ou excreções de morcego, gordura de enguia, carne de cobra,
piolhos, saliva, fezes, urina, ossos do crânio de criminosos enforcados, etc.
Embora a persistência da Igreja em condenar novos medicamentos e rejeitar
as descobertas da medicina, Paracelso (1493-1541) - que tinha muitas
superstições - queimou simbolicamente os livros de Galeno de Avicena (980-
1037), por considerá-Ios ultrapassados, mas foi atacado pelos médicos
contemporâneos.

Até mesmo sábios como Linneu (I707 -1778) sofriam de certa miopia
religiosa. Linneu achava que as espécies eram fixas e não poderiam ser
diferentes hoje do que foram antes do dilúvio. Por isso, ao classificar as
plantas, ele acreditou ter descoberto o plano de Deus para a criação. Só muito
mais tarde - quando teve de revisar parte da sua obra - percebeu o erro e
mudou de ideia (CHIAVENATO, 2002).

As relações entre a medicina e a religião sempre foram tensas. Não há


muita diferença entre o reverendo Edward Masseys do século XVIII, e os
Testemunhas de Jeová atuais. O reverendo Massey, em 1772, fez campanha
contra a vacina antivariólica. Em um sermão que ele mandou imprimir – A
prática, perigosa e pecaminosa da vacina - afirmava que a doença de Jó era a
varíola, e que tinha sido transmitida pelo demônio. Segundo o reverendo
Massey, as doenças são enviadas pela Providência, Divina para castigar e
testar os homens, é a tentativa de impedi-Ias é uma operação diabólica.

Em 1798 sacerdotes protestantes criaram uma Sociedade contra a,


Vacinação, em Boston. Eles denunciaram a vacina contra a varíola como um
“desafio aos céus, até à vontade de Deus”, Afirmaram que á lei de Deus proíbe
sua pratica. Hoje são conhecidos os casos em que as Testemunhas de Jeová

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impedem a transfusão de sangue, mesmo quando a vida de crianças está em


jogo (CHIAVENATO, 2002).

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2. O SAGRADO, O MITO E O PROFANO

O termo sagrado tem a ver com santo, pois originariamente representam


a mesma palavra, a raiz indo-européia sag.

Para entendermos melhor a noção do sagrado faz-se necessário


entendê-lo como uma relação: O sagrado é essencialmente uma relação entre
o sujeito (o ser humano) e um termo (Deus), relação que se visualiza ou se
mostra em um âmbito (a natureza, a história, as pessoas) ou em objetos,
gestos, palavras etc. Sem essa relação nada é sagrado (CROATTO, 2004).

O sagrado é sempre parte do profano, porém o homem o reveste de


sacralidade na sua relação com o Divino.

Sagrado se tornou uma palavra-chave para os pesquisadores da religião


no século XX: descreve a natureza da religião e o que ela tem de especial.
Esse termo ganhou realce numa obra sobre psicologia da religião, A ideia do
sagrado, de Rudolf Otto, publicada em 1917. O sagrado é das ganz Andere, o
“inteiramente outro”, ou seja, aquilo que é totalmente diferente de tudo o mais e
que, portanto, não pode ser descrito em termos comuns. Otto fala de uma
dimensão especial da existência, a que chama de misterium tremendum a
fascinosum (em latim, “mistério tremendo e fascinante”). É uma força que por
um lado engendra um sentimento de grande espanto, quase de temor, mas por
outro lado tem um poder de atração ao qual é difícil resistir.

Todo ser humano é um “animal simbólico”, por isso constrói símbolos


continuamente. O símbolo é a linguagem originária e fundante de toda
experiência religiosa (CROATTO, 2004).

Etimologicamente vem do grego sum-ballo ou sym-ballo, que significa a


união de duas coisas. No símbolo dois elementos se fazem presentes e se
inter-relacionam, existem dois sentidos: um primeiro que seria o próprio
sentido, a própria identidade e um segundo que seria ver as coisas com uma
visão diferente, ou seja, a partir da experiência fenomênica de cada ser
humano. Mais uma vez citando Croatto (2004): “o símbolo é, então, um
elemento desse mundo fenomênico (desde uma coisa até uma pessoa ou um

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acontecimento) que foi ‘transignificado’, enquanto significa algo além de seu


próprio sentido primário”.

O símbolo vem a ser a representação de uma ausência.

Com relação à palavra mito (muthos ou mythos), sua etimologia é


incerta, na sua origem está talvez o indo-europeu mendh-/mudh-, que quer
dizer lembrar, pensamento, solicitação.

Sendo assim, Croatto (2004, P. 209) afirma que “o mito é o relato de um


acontecimento originário, no qual os Deuses agem e cuja finalidade é dar
sentido a uma realidade significativa”. O mito recita, é um discurso.

Um mito é uma história que geralmente acompanha um rito.

O rito com frequência reitera um ato em que o mito se baseia.

Assim, o mito religioso tem um significado mais profundo do que a lenda


e os contos folclóricos. O mito procura explicar alguma coisa. É uma resposta
metafórica para as questões fundamentais: de onde viemos e para onde
vamos? Por que estamos vivos e por que morremos? Como foi que a
humanidade e o mundo passaram a existir? Quais são as forças que controlam
o desenvolvimento do mundo?

Muitas vezes os mitos elucidam algo que aconteceu no princípio dos


tempos, quando o mundo ainda era jovem. Por exemplo, a maioria das
religiões tem seus mitos de criação, que explicam como o mundo surgiu. O
objetivo principal deles não é revelar fatos históricos. A essência do mito é
oferecer às pessoas uma explicação geral da existência.

Os conceitos religiosos, que também encontram sua expressão em


mitos, podem ser divididos, de modo geral, em três tipos: conceitos sobre um
deus ou vários deuses, conceitos sobre o mundo e conceitos sobre o homem.

Já o rito é ação, converte em cena o que o mito fala. Vem da palavra


latina ritus, que se aproxima da palavra sânscrito-védica rta, que quer dizer a
força da ordem cósmica. Isso nos leva a concluir que o rito não é uma ação
puramente humana, é de alguma forma uma ação divina: “o rito é uma ação
que sintoniza com a ação dos Deuses: é necessário lembrar que no mito é
relato um acontecimento, em que os atores essenciais são os Deuses. Então,
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no rito, os seres humanos fazem o que no mito fazem os Deuses” (CROATTO,


2004, p.333).

RITOS DE PASSAGEM

Os ritos de passagem se associam às grandes mudanças na condição


do indivíduo. As principais transições marcadas por esses ritos são o
nascimento, a entrada na idade adulta, o casamento e a morte.

Tais ritos costumam simbolizar uma iniciação. O nascimento é a


iniciação na vida, enquanto a morte é a iniciação numa nova condição no reino
dos mortos, ou na vida eterna.

De uma forma ou de outra, todas as sociedades têm ritos de pas sagem,


mesmo aquelas em que a religião não desempenha nenhum papel na vida
pública. Em geral, é grande a importância deles nas culturas ágrafas, nas
religiões primais. Nestas, os ritos de passagem estão claramente ligados às
noções de tabu. Tabu é uma palavra polinésia adotada pelos historiadores da
religião para indicar uma severa proibição, restrição ou exclusão, e se aplica a
algo que é considerado perigoso ou impuro (CHIAVENATO, 2002).

2.1 A religião é um fenômeno humano


O homem não nasceu religioso. Os primeiros homens deviam ignorar o
sobrenatural: ocupavam-se basicamente com a alimentação e os seus
cérebros não estavam desenvolvidos. Antes da crença primitiva gerada pelo
medo dos fenômenos naturais ou pelos sonhos, o homem era ateu. Não se
encontraram monumentos funerários da primeira etapa do paleolítico (c erca de
2,5 milhões de anos atrás) sugerindo qualquer crença religiosa. A religião
surgiu quando as relações sociais tornaram-se mais complexas, capazes de
produzir uma superestrutura aprimorada.

A religião começou a nascer em decorrência da necessidade de


trabalhar. O trabalho obrigou o homem a evoluir biológica e culturalmente.

A religião não nasceu da divagação sobre a existência, mas porque para


trabalhar, o homem tinha, de pensar. Como seu conhecimento era mínimo e
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sua experiência de pensar precária, ele percebeu erradamente sua relação


com a natureza. Então passou a divinizar as coisas, concedendo-lhes poderes
e virtudes.

A descoberta de cadáveres em tumbas com objetos arrumados como se


os mortos fossem usá-los, demonstra que desde o Homem de Neanderthal
(125 a 4,0 mil anos a.C.) se acreditava na vida depois da morte. As
descobertas arqueológicas comprovam a existência de muitas crenças há
milhares de anos. O culto da fecundidade, por exemplo, devia existir há mais
de 40 mil anos, como indicam imagens pintadas ou esculpidas.

No mesolítico (de 0 a 5 mil anos a.C.) existiu um canibalismo cultual,


como se deduz do estudo dos crânios daquela época, abertos para a extração
do cérebro e pintados ritualmente.

Pelo menos em um período de seis mil anos pode-se estudar as


religiões com relativa segurança. Observando-se esse longo período percebe-
se que não surgem religiões novas. As novas religiões evoluem das antigas.

Uma religião sai de outra, muda a forma, aperfeiçoa-se, mas


substancialmente não se cria uma religião. A grande divisão aconteceu há
muito tempo, entre religiões tribais, nacionais e universais. A religião nasceu
antes de Deus. Depois que o homem teve a experiência do sagrado, quando
codificou um comportamento religioso para enfrentar os acontecimentos
diferentes do cotidiano, então começou a elaborar a imagem de Deus. No início
desse processo tudo o que o homem não entendia era Deus. Ao compreender
a natureza, evoluindo cultural e intelectualmente, o seu conceito de Deus
modificou-se: Com o tempo o Deus terrível e punidor, que despeja raios e
provoca catástrofes transformou-se em protetor e pai (CHIAVENATO, 2002).

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3. DIVISÃO DAS RELIGIÕES

Há várias formas de religião, e são muitos os modos que vários


estudiosos utilizam para classificá-las. Porém há características comuns às
religiões que aparecem com maior ou menor destaque em praticamente todas
as divisões.

Uma divisão é de acordo com o tipo de sociedade, ou três categorias


que coincidem, de certa forma, com três tipos distintos de sociedade.

São as religiões primais ou primitivas, as religiões nacionais e as


religiões mundiais.

1º. Religiões Primais - São aquelas que os estudiosos costumavam chamar


de “religiões primitivas” e que se encontram, ou se encontravam, em
culturas ágrafas, entre os povos tribais da África, Ásia, América do Norte
e do Sul e Polinésia. A marca mais característica dessas religiões é a
crença numa miríade de forças, deuses e espíritos que controlam a vida
cotidiana. O culto aos antepassados e os ritos de passagem
desempenham um papel importante. A comunidade religiosa não se
separa da vida social, e o sacerdócio normalmente é sinônimo de
liderança política da tribo.

2º. Religiões Nacionais - Estas incluem grande número de religiões


históricas que não são mais praticadas: germânica, grega, egípcia e
assírio-babilônica. Hoje podemos encontrar vestígios delas, por
exemplo, no xintoísmo japonês. É típico das religiões nacionais adotar o
politeísmo, uma série de deuses organizados num sistema de hierarquia
e funções especializadas. Elas têm também um sacerdócio permanente,
encarregado dos deveres rituais em templos construídos para esse fim.
Há sempre uma mitologia bem desenvolvida, o culto sacrificial é básico,
e os deuses é que escolhem o líder da nação (monarquia sacra).

3º. Religiões Mundiais - As religiões mundiais pretendem ter uma validade


mundial, ou, em outras palavras, uma validade para todas as pessoas.
São para todos. São conhecidas também como religiões universais. A
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principal característica das religiões universais surgidas no Oriente


Médio é o monoteísmo: elas têm um só Deus. Dá-se grande peso à
relação do indivíduo com Deus e à sua salvação. O papel do sacrifício é
bem menos proeminente nelas do que nas religiões nacionais, ao passo
que o da oração e da meditação é mais importante. As religiões
universais foram criadas por profetas fundadores cujos nomes são
conhecidos: Moisés, Buda, Lao-Tse, Jesus, Maomé. Por último,
devemos ressaltar que os limites entre esses três tipos de religião são
fluidos. As religiões nacionais muitas vezes constituem evoluções que
acompanharam o desenvolvimento geral da sociedade (ao passar de
uma sociedade tribal para um Estado nacional). Assim também, certas
religiões mundiais emergiram de religiões nacionais, como um protesto
contra determinados aspectos de seu culto e de suas concepções
religiosas. Religiões orientais e ocidentais Já houve muitas tentativas de
classificar as religiões mundiais em orientais e ocidentais. Consideram-
se ocidentais o judaísmo, o islã e o cristianismo, enquanto as principais
religiões orientais são o hinduísmo, o budismo e o taoísmo.

Outra característica para classificar as religiões seria cronológica, pois


as formas religiosas predominantes evoluem através dos tempos nos
sucessivos estágios culturais de qualquer sociedade.

Ainda outro modo é classificá-las de acordo com sua solidez de


princípios e sua profundidade filosófica, o que irá separá-las em religiões com e
sem Livros Sagrados.

Como um estudioso do assunto, Valério (2004) prefere uma


classificação que leva em conta essas duas características, e divide as
religiões nos seguintes 4 grandes grupos distintos: Monoteístas, Panteístas,
Politeístas, Ateístas.

Nessa divisão há uma ordem cronológica. As Religiões PANTEÍSTAS


são as mais antigas, dominando em sociedades menores e mais “primitivas”.
Tanto nos primórdios da civilização mesopotâmica, europeia e asiática, quanto
nas culturas das Américas, África e Oceania.
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As Religiões POLITEÍSTAS por vezes se confundem com as Panteístas,


mas surgem num estágio posterior do desenvolvimento de uma cultura. Quanto
mais a sociedade se torna complexa, mais o Panteísmo vai se tornando
Politeísmo.

Já as MONOTEÍSTAS são mais recentes, e atualmente as mais


disseminadas, o Monoteísmo quantitativamente ainda domina mais de metade
da humanidade.

E embora possa parecer estranho, existem religiões ATEÍSTAS, que


negam a existência de um ser supremo central, embora possam admitir a
existência de entidades espirituais diversas. Essas religiões geralmente surgem
como uma reação a um sistema religioso Monoteísta ou pelo menos Politeísta,
e em muitos aspectos se confunde com o Panteísmo embora possua
características exclusivas.

Essa divisão também traça uma hierarquia de rebuscamento filosófico


nas religiões. As Panteístas por serem as mais antigas, não têm Livros
Sagrados ou qualquer estabelecimento mais sólido do que a tradição oral,
embora na atualidade o renascimento panteísta esteja mudando isso. Já as
politeístas muitas vezes possuem registros de suas lendas e mitos em versão
escrita, mas nenhuma possui uma revelação propriamente dita. Isto é um
privilégio do Monoteísmo. Todas as grandes religiões monoteístas possuem
sua Revelação Divina em forma de Livro Sagrado. As Ateístas também
possuem seus livros guias, mas por não acreditarem num Deus pessoal, não
tem o peso dogmático de uma revelação divina, sendo vistas em geral como
tratados filosóficos (INSD, 2010).

3.1 Monoteísmo

A crença que prevalece na maioria das grandes religiões ocidentais é o


monoteísmo, isto é, a convicção de que existe um só deus. Há exemplos em
muitas religiões de que o monoteísmo nasceu como reação à adoração de
vários deuses (politeísmo). O islã tem suas raízes numa renovação ou reforma
da antiga religião dos nômades árabes, a qual possuía numerosos deuses
tribais.
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3.2 Politeísmo

Em religiões que possuem diversos deuses, é comum estes terem


funções distintas, bem como esferas definidas de responsabilidades. A criação
de animais e a pesca, o comércio e os diferentes ofícios, o amor e a guerra,
podem ter seus próprios deuses. O mundo dos deuses com frequência é
organizado da mesma maneira que o dos homens, numa família ou num
Estado.

Alguns pesquisadores acreditam que as divindades indo-europeias (isto


é, indianas, gregas, romanas e germânicas) se estruturam em três class es
baseadas na sociedade da época:

* o monarca (que muitas vezes era também sacerdote);

* a aristocracia (os guerreiros), e,

* os artesãos, agricultores e comerciantes.

Era comum as pessoas venerarem o deus que ocupava o mesmo lugar


que elas na escala social.

Geralmente o deus supremo é o deus do céu. Isso não implica que ele
habite o céu, mas que se revele no firmamento e nos fenômenos associados à
abóbada celeste.

Em muitas religiões o deus do céu faz par com uma divindade feminina.
A imagem do casal Céu e Mãe Terra é de fácil compreensão para uma
sociedade agrária. A terra é fértil e dá o alimento ao homem, mas só depois de
receber sol e chuva do céu.

Além dos “deuses-reis”, familiares para nós porque se encontram na


mitologia clássica e na germânica, há uma grande quantidade de deuses
menores e espíritos em volta de nós que são patronos de determinadas
doenças ou de certas profissões.

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3.3 Panteísmo

O panteísmo é uma crença que difere tanto do monoteísmo como do


politeísmo. Aqui a principal convicção é que Deus, ou a força divina, está
presente no mundo e permeia tudo o que nele existe. O divino também pode
ser experimentado como algo impessoal, como a alma do mundo, ou um
sistema do mundo. O panteísmo costuma ser associado ao misticismo, no qual
o objetivo do mortal é alcançar a união com o divino.

3.4 Animismo e crença nos espíritos

Em muitas culturas prevalece a crença de que a natureza é povoada de


espíritos. Isso se chama animismo, da palavra latina animus, que significa
“alma”, “espírito”. Em certa época os historiadores da religião pensavam que o
animismo havia sido a base de toda a religião e que mais tarde ele se
transformou, via politeísmo, em monoteísmo. Mas essa é apenas uma teoria. O
que é certo é que o animismo impera em várias sociedades.

Em nossa própria cultura a noção de espírito está presente em muitas


criaturas relacionadas com as forças naturais: espíritos das águas, duendes,
fantasmas e sereias.

Os espíritos dos mortos também continuam a desempenhar um


importante papel na África, na América Latina, na China e no Japão.

Normalmente as características dos deuses são mais individualizantes e


definidas com mais clareza que as dos espíritos. E as divindades em geral têm
nome. Mas em inúmeros casos é difícil distinguir de imediato entre deuses,
antepassados e espíritos. Todos são expressões da força sobrenatural que
banha a existência. A ideia de uma força ou um poder que regula todos os
relacionamentos na vida humana e na natureza predomina, sobretudo, nas
religiões primais. Os historiadores da religião costumam usar o vocábulo
‘polinésio mana’ para descrever essa força, que precisa ser controlada ou
aplacada.

Abaixo temos alguns quadros comparativos das religiões f aladas acima.

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ÉPOCAS DE SURGIMENTO E PREDOMÍNIO.


PANTEÍSMO: As mais antigas, remontando a pré-história onde tinham
predominância absoluta, e também presentes em muitos
dos povos silvícolas das Américas, África e Oceania.
POLITEÍSMO: Surgem num estágio posterior de desenvolvimento social,
tendo sido predominantes na Idade Antiga em todo o velho
mundo, e mesmo nas civilizações mais avançadas das
Américas pré-colombianas.
MONOTEÍSMO: Mais recentes, surgindo a partir do último milênio aC e
predominando da Idade Média até a atualidade.
ATEÍSMO: Surgem a partir do século V aC, tendo vingado somente no
Oriente e no Ocidente ressurgindo somente após a
renascença numa forma mais filosófica que religiosa.
Neo Embora possuam representantes em todos os períodos
PANTEÍSMO: históricos, popularizam-se ou surgem a partir do século
XVIII.

BASE LITERÁRIA
PANTEÍSMO: Próprias de culturas ágrafas, não possuem em geral
qualquer forma de base escrita, sendo transmitidas por
tradição oral.
POLITEÍSMO: Nas sociedades letradas possuem frequentemente
registros literários sobre seus mitos, e mesmo nas ágrafas
possuem tradições icônicas mais elaboradas.
MONOTEÍSMO: Possuem Livros Sagrados definidos e que padronizam as
formas de crença, servindo como referência obrigatória e
trazendo códigos de leis. São tidos como detentores de
verdades absolutas.
ATEÍSMO: Possuem textos básicos de conteúdo predominantemente
filosófico, não possuindo, entretanto força dogmática
arbitrária ainda que sendo também revelados por sábios
ou seres iluminados.
Neo Seus textos são em geral filosóficos, embora possuam
PANTEÍSMO: mais força doutrinária, não incorrendo porém em dogmas
arbitrários.

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MITOLOGIA
PANTEÍSMO: Deus é o próprio mundo, tudo está interligado num
equilíbrio ecossistêmico e místico. Crê-se em espíritos e
geralmente em reencarnação, é comum também o culto
aos antepassados. Procura-se manter a harmonia com a
natureza, e o mundo comumente é tido como eterno.
POLITEÍSMO: Diversos deuses criaram, regem e destroem o mundo. Se
relacionam de forma tensa com os seres humanos, não
raro hostil. As lendas dos deuses se assemelham a
dramas humanos, havendo contos dos mais diversos tipos.
MONOTEÍSMO: Um Ser transcendente criou o mundo e o ser humano, há
uma relação paternal entre criador e criaturas. Na maioria
dos casos um semideus se rebela contra o criador
trazendo males sobre todos os seres. Messias são
enviados para conduzir os povos, profetiza-se um evento
renovador violento no final dos tempos, onde a ordem será
restaurada pela divindade.
ATEÍSMO: O Universo é uma emanação de um princípio primordial
"vazio", um Não-Ser. Crê-se na possibilidade de evolução
espiritual através de um trabalho íntimo, crê-se em
diversos seres conscientes dos mais variados níveis, e
geralmente em reencarnação.
Neo Acredita-se em geral no Monismo, um substância única
PANTEÍSMO: que permeia todo o Universo num Ser único. São em geral
reencarnacionistas e evolutivas. A distribuição de
qualidades do Ser supremo por vezes as confunde com o
Ateísmo.

SÍMBOLOS
PANTEÍSMO: Utilizam no máximo totens e alguns outros fetiches, é
comum o uso de vegetais, ossos, ou animais vivos ou
mortos.
POLITEÍSMO: Surgem os ídolos zoo ou antropomórficos na forma de
pinturas e esculturas em larga escala. A simbologia icônica
se torna complexa em alguns casos resultando em formas
de escrita ideográfica.
MONOTEÍSMO: O Deus supremo geralmente não possui representação
visual, mas os secundários sim. Utilizam símbolos mais
abstratos e de significados complexos.

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ATEÍSMO: O Não-Ser supremo não pode ser representado, mas há


muitas retratações dos seres iluminados. Há vários
símbolos representativos da natureza e metafísica do
Universo.
Neo Diversos símbolos e mitos de diversas outras religiões são
PANTEÍSMO: resgatados e reinterpretados, também não há
representação específica do Ser Supremo, mas pode
haver de outros seres elevados.

RITUAIS
PANTEÍSMO: Geralmente ligados a natureza e ocorrendo em contato
com esta. É comum o uso de infusões de ervas, danças,
oráculos e cerimônias ao ar livre.
POLITEÍSMO: Passam a surgir os templos, embora em geral não
abandonem totalmente os rituais ao ar livre. Em muitos
casos ocorrem os sacrifícios humanos, oráculos e as
feitiçarias de controle ambiental.
MONOTEÍSMO: Geralmente restritas aos templos, as hierarquias ritualistas
são mais rígidas, não há oráculos pessoais, mas sim
profecias generalizadas com base no livro sagrado. Não há
rituais de controle ambiental.
ATEÍSMO: Embora ainda comuns nos templos são também
frequentes fora destes. Desenvolvem-se técnicas de
concentração, meditação e purificação mais específicas,
baseadas antes de tudo no controle dos impulsos e
emoções.
Neo Em geral baseados no uso de "energias" da natureza. Não
PANTEÍSMO: mais têm influência nos processos civis, sendo restritos a
curas, proteção contra ameaças físicas e extrafísicas.

EXEMPLOS
PANTEÍSMO: Religiões silvícolas, xamanismo, religiões célticas,
druidismo, amazônicas, indígenas norte americanas,
africanas e etc.
POLITEÍSMO: Religião Grega, Egípcia, Xintoísmo, Mitologia Nórdica,
Religião Azteca, Maia etc.

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MONOTEÍSMO: Bhramanismo, Zoroastrismo, Judaísmo, Cristianismo,


Islamismo, Sikhismo.
ATEÍSMO: Orientais: Taoísmo, Confucionismo, Budismo, Jainismo.
Ocidentais: Filosofias NeoPlantônicas, Ateísmo Filosófico
(Não Religioso)
Neo Espiritismo Kardecista*, Racionalismo Cristão, Neo-
PANTEÍSMO: Gnosticismo, Teosofia, Wicca, "Esotéricas", etc.

*Apesar do Kardecismo não se considerar Panteísta e sim antes Monoteísta.

O quadro abaixo nos apresenta de modo simplificado a visão da história,


conceito de Deus, noção de humanidade e salvação, a ética e o culto nas
religiões consideradas ocidental e oriental.

OCIDENTAL ORIENTAL

Visão linear da história, isto Visão cíclica da história, isto


é, a história tem um começo é, a história se repete num
Visão da história e um fim; o mundo foi criado ciclo eterno e o mundo dura
num certo ponto e um dia de eternidade em eterni-
irá terminar. dade.

Deus é o criador; Ele é todo O divino está presente em


poderoso e é único. O tudo. Ele se manifesta em
monoteísmo é tipicamente muitas divindades (politeís-
Conceito de deus ocidental. mo), ou como uma força im-
pessoal que permeia tudo e
a todos (panteísmo).

Há um abismo entre Deus e O homem pode alcançar a


o ser humano, entre o cria- união com o divino median-
dor e a criatura. O grande te a iluminação súbita e o
Noção de
pecado é o homem desejar conhecimento.
humanidade se transformar em Deus em
vez de se sujeitar à vontade
de Deus.

Deus redime o ser humano A salvação é se libertar do


Salvação do pecado, julga e dá a pu- eterno ciclo da reencarna-
nição. Existe a noção de vi- ção da alma e do curso da

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da após a morte, no céu ou ação. A graça vem por meio


no inferno. de atos de sacrifício ou do
conhecimento místico.

O fiel é um instrumento da Os ideais são a passividade


ação divina e deve e a fuga do mundo.
obedecer à vontade de
Ética
Deus, abandonando o
pecado e a passividade
diante do mal.

Culto Orar, pregar, louvar. Meditação, sacrifício.

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4. REFERÊNCIAS CONSULTADAS E UTILIZADAS

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(Mestrado em Educação). Programa de Pós-Graduação em Educação da
Universidade Estadual de Maringá, - UEM. Maringá, 2003.

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Preto (SP): Funpec, 2002.

CORRÊA, B. R. P. G.; GIL FILHO, S. F. Formação docente para o Ensino


Religioso: desafios e perspectivas na refundação 96 Ciências da religião –
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CROATTO, José Severino. As Linguagens da Experiência Religiosa: uma


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FÓRUM NACIONAL PERMANENTE DO ENSINO RELIGIOSO. Diretrizes


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Secularização e a Dessecularização. São Paulo: Paulinas, 1995.

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