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História das religiões

HISTÓRIA DAS RELIGIÕES

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SUMÁRIO

BREVE HISTÓRICO DAS RELIGIÕES ............................................................................... 4

CONCEITO E CARACTERÍSTICAS..................................................................................... 7

RELIGIÃO, INTOLERÂNCIA E CONFLITOS ...................................................................... 9

A RELIGIÃO NA PRÉ-HISTÓRIA ....................................................................................... 16

ÁFRICA ................................................................................................................................... 19

AS RELIGIÕES DOS AFRICANOS .................................................................................... 19

A RELIGIÃO DOS EGIPCIOS ............................................................................................. 21

AMÉRICA ................................................................................................................................ 22

AS RELIGIÕES DOS INDÍGENAS BRASILEIROS ......................................................... 22

A RELIGIÃO DOS ASTECAS .............................................................................................. 25

A RELIGIÃO DO INCAS ....................................................................................................... 26

OCEANIA ................................................................................................................................ 26

A RELIGIÃO DOS POVOS OCEÂNICOS ......................................................................... 26

A RELIGIÃO DOS AUSTRALIANOS .................................................................................. 27

ÁSIA ......................................................................................................................................... 28

AS RELIGIÕES DOS SIBERIANOS ................................................................................... 28

AS RELIGIÕES DA ANTIGA MESOPOTÂMIA ................................................................ 28

A RELIGIÃO DOS CANANEUS........................................................................................... 29

A RELIGIÃO DA ANTIGA CHINA ....................................................................................... 30

TAOÍSMO................................................................................................................................ 30

CONFUCIONISMO................................................................................................................ 31

RELIGIÃO DO JAPÃO/XINTOISMO .................................................................................. 31

A RELIGIÃO DA ANTIGA INDIA ......................................................................................... 32

HINDUISMO ........................................................................................................................... 32

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A RELIGIÃO DOS PERSAS/ZOROATRISMO ................................................................. 33

EUROPA ................................................................................................................................. 34

AS RELIGIÕES DOS INDO-EUROPEUS ......................................................................... 34

A RELIGIÃO DOS GREGOS ANTIGOS ............................................................................ 35

A RELIGIÃO DOS GERMANOS ......................................................................................... 36

A RELIGIÃO DOS CELTAS ................................................................................................. 37

A RELIGIÃO DOS ROMANOS ............................................................................................ 38

AS RELIGIÕES HOJE .......................................................................................................... 39

REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 41

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Breve histórico das Religiões

Desde tempos remotos na História, dos inícios da presença humana na Terra,


os seres humanos têm buscado respostas para o grande enigma da sua própria
existência e da criação do Universo como um todo bem como do sentido da vida
terrena e após a morte.
São vários e diferenciados os caminhos nessa busca, que a Humanidade vem
construindo através dos séculos: a ciência, a filosofia, a religião, as artes. As
sociedades e, no seu âmbito, os grupos sociais e as pessoas, têm diferentes
concepções sobre a vida e o mundo. Em cada um desses percursos - ciência, filosofia,
religião -, há muitas diferenças de respostas.
Assim, no terreno da procura religiosa, a Humanidade já construiu e continua
construindo diferentes e múltiplas respostas à problemática da criação e da existência.
Daí se originam as concepções sobre Deus (es), enquanto figura(s) ou fonte(s) da
criação. As religiões, portanto, fazem parte da cultura humana, presentes em todos os
povos, em todas as épocas históricas. Nesse sentido, todas têm algo em comum: a
busca de uma relação com o mundo metafísico.
Assim, para as mais antigas sociedades – mesopotâmica, europeia-céltica,
asiáticas, negro-africanas, e culturas indígenas das Américas – ágrafas, de tradição
oral, quando, ainda, os seres humanos não dispunham de conhecimentos e
tecnologias sofisticadas, como atualmente, para explorar e dominar a Natureza –, esta
significava uma força muito poderosa e superior. Os elementos naturais eram
divinizados, a exemplo do vento, da água, do fogo, dos animais. Assim, as divindades
eram simbolizadas em totens e fetiches, como vegetais, ossos, animais vivos ou
mortos. Isto também acontece em certas religiões até hoje, como as indígenas (de
várias partes, como a América e a Oceania) e as africanas, e em outras retomadas
em tempos mais recentes (Wicca/Bruxaria, Xamanismo, Druidismo), em que os seres
humanos guardam uma relação muito forte com a Natureza e, de certo modo, mais
respeito para com ela do que as sociedades modernas. Tais religiões eram panteístas
(do grego pan= tudo; e theosi= deus): segundo essas crenças, os deuses estão
presentes em tudo, na Natureza e no Universo, em suma, no mundo. Não há um Deus

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criador, todo o Mundo é manifestação divina. Deus é o mundo e busca-se a harmonia


com a Natureza, o equilíbrio ecossistêmico.
Com o tempo, surgiram as religiões politeístas, durante a Antiguidade (na
África: Egito; na Europa: Grécia, Roma, Escandinávia, Ibéria, Ilhas Britânicas e
regiões eslavas; no Japão, com o Xintoísmo; na Índia, com o Hinduísmo; na América
pré-colombiana: Azteca, Maia etc.). As religiões politeístas baseiam-se na crença em
muitas divindades relacionadas à criação e regência do mundo, cada uma com seu
significado e protegendo um certo campo da atividade humana, áreas, objetos,
instituições, elementos naturais, relações humanas. Um dos exemplos mais
conhecidos é a mitologia grega. As suas divindades eram representadas por figuras
(esculturas e pinturas) zoo ou antropomórficas, com elementos retirados da Natureza,
a exemplo de deuse (a)s sob a forma de animais e vinculados a plantas. Tais religiões
eram mais elaboradas e chegavam a dispor de registros literários.
Com o tempo, como na mitologia grega, as divindades começaram a ser
personificadas quase como seres humanos, perdendo a sua transcendência. Ainda
na Antuguidade, no Oriente Médio, por volta do último milênio a.C, constituíram-se
duas religiões que atravessaram os séculos e são professadas até os dias atuais: o
judaísmo e o cristianismo. Neste momento, em certas sociedades, passou -se do
politeísmo para o monoteísmo, isto é, religiões que acreditam em um único Ser
Supremo como criador do mundo e do ser humano. Séculos depois, foi formada uma
outra religião monoteísta bastante visível na atualidade: o islamismo. Além dessas,
também são monoteístas o bramanismo, o zoroastrismo, o sikhismo. Cada uma delas
produziu Livros Sagrados, que são orientadores da crença e das condutas dos fiéis.
O seu Deus não tem representação visual. Cada uma delas foi se expandindo pelo
mundo, arregimentando adeptos, criando seus templos e seus corpos religiosos.
O quadro abaixo aponta as principais religiões do mundo, algumas de suas
características e em alguns casos, o número de adeptos:

REGIÃO DE ORIGEM RELIGIÃO Nº DE ADEPTOS


judaísmo 15 a 18 milhões
Oriente Médio
cristianismo 2,1 bilhões

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islamismo 1,3 bilhões


fé bahá'í; 7 milhões
Hinduísmo 900 milhões
confucionismo 6, 5 milhões
budismo 376 milhões
jainismo 4,2 milhões
Ásia
sikhismo 25 milhões
xintoísmo
Religião tradicional
400 milhões
chinesa
Cristãos
430 milhões
independentes
Europa Oriental Igreja Ortodoxa: 220 milhões
religiões dos povos
África Negra 100 milhões
negro-africanos.
religiões das
América sociedades
indígenas]
Religiões dos
povos das ilhas do
Oceania
Pacífico, da
Austrália e da Nova
Zelândia
Europa e América do Igrejas
375 milhões
Norte Protestantes

Europa Espiritismo 15 milhões

Várias partes Novas religiões 108 milhões


Entre 780 milhões a 1,1
Ateus/Agnósti-os/
bilhões
Fontehttp://www.google.com.br

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OBS: algumas religiões não estão mais limitadas a sua região de origem; outras
já não têm mais tanta significação na região onde se originaram.

Conceito e Características

A palavra Religião vem do latim re-ligare, significando voltar a ligar, ligar


novamente, ou simplesmente religar, religar os seres humanos com Deus. Em outras
palavras, compreende um conjunto de crenças, mitologias doutrinas ou formas de
pensamento relacionadas com a esfera do sobrenatural, divino, sagrado e
transcendental, além de rituais e códigos morais.
Outros significados para a palavra: Para o célebre orador romano Cícero, o
termo derivava do latim relegere, reler, reativo à releitura das escrituras.
Santo Agostinho, no século IV, afirmou que o termo derivava de religere,
reeleger, ou seja, significava a religação do ser humano novamente a Deus, do qual
havia se separado. Mais tarde, ele retoma a interpretação de Lactâncio, de religio
como religar.
No século V, o pensador Macróbio atrbuiu ao termo religio, que seria derivado
de relinquere, o significado daquilo deixado pelos antepassados.
Em outras sociedades, os termos são diferentes: por exemplo, no hinduísmo,
usava-se o termo rita para designar a ordem cósmica do mundo, com a qual os seres
deveriam se harmonizar. Depois, o termo foi substituído por dharma, que, no budismo,
significa uma lei divina e eterna.
Relacionados ao termo Religião, existem outros, derivados do discurso
religioso grego, romano, judeu e cristão:

• Sacro, sagrado: aquilo que mantém uma ligação/relação com o(s)


deus(es) ;
• Profano: aquilo que não mantém nenhuma ligação com o(s) deus(es).
• Místico: tudo que se refira a um plano sobrenatural.

Apesar da sua diversidade, em quase todas as religiões, como fenômenos


individuais e sociais, se encontram as seguintes características:

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a) Um sistema de princípios ou crenças no sobrenatural, compreendendo


as concepções sobre o Universo, a Terra, o Homem, o Criador, a vida após a morte;
b) Divindade(s) ou ser(es) superior(es) com influência ou poder sobre o
destino humano: deuses, anjos, demônios, elementais, semideuses, etc. Em certas
religiões, não há essa ideia de divindade(s), que é substituída por valores morais e
códigos de conduta;
c) Rituais (do latim ritualis) ou cerimônias, procedimentos ou atos que os
seres humanos praticam, de religação ou contato com a(s) divindade(s). Os rituais
podem ser individuais ou coletivos. Uma outra palavra para designar o ofício religioso
é litu rgia (do grego λει τ ο υργί α, "serviço" ou "trabalh o pú blico"), a celebração, poden do
incluir um ritual (como a missa católica) ou uma atividade religiosa diária (como as
salats muçulmanas). A celebração litúrgica rememora a relação dos fiéis com a(s)
divindade(s).
Em certas religiões, são usadas vestimentas, instrumentos, objetos (cálice,
crucifixo, livros sagrados, velas, imagens, etc) que são dotados de simbolismo, ou
seja, de significado religioso. Abaixo, o quadro apresenta símbolos de algumas
religiões:

O mantra sagrado
SÍMBOLOS
"OM" ou "AUM" Hindu.
A Roda do DHARMA budista, ou "Roda
Representa o "Som"
da Vida".
primordial.

O Tei-Gi do Taoísmo.
Simbolizando a
A estrela de Davi. Um dos símbolos do
interdependência dos
Judaísmo e do Estado de Israel.
princípios universais Yin
e Yang.

A cruz do
A Lua e Estrela Muçulmana, oriunda de
Cristianismo.
um dos mais antigos Estados a adotar o
Encruzilhada entre o
Islã.
material e o espiritual.

Igrejas de base judaico-cristã, como a católica e as protestantes, adotam um livro


como símbolo, em ref erência à Bíblia.

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d) igrejas, templos, terreiros, mesquitas etc, que são lugares a que os fiéis
comparecem para realizar os seus atos de celebração religiosa;
e) um corpo de pessoas que cuidam das funções religiosas. Em certas
religiões, de acordo com suas concepções, há pessoas consideradas intermediárias
entre os fiéis e a(s) divindade(s) (padres, pastores, rabinos, pais-de-santo etc). Em
outras religiões, com concepções distintas, não se considera necessário tais
intermediários.
Apesar de suas diferenças, há algo comum a todas as religiões: elas se
baseiam na fé, palavra que vem do grego pí-stis, ideia de confiança, fidúcia, firme
persuasão, uma convicção em uma verdade, mesmo sem nehuma evidência física.
Por outro lado, há pessoas que não têm religião, têm dúvidas sobre a
religiosidade ou praticam uma religiosidade baseada em outros princípios e não na fé.
Para ficar mais claro, seguem alguns conceitos:

Ateísmo: negação da existência de Ser(es) Supremo(s) e, portanto, da


veracidade de qualquer religião teísta. Um ateu, porém, pode acreditar em outros
princípios para a explicação da vida e do Universo, como aqueles científicos ou
filosóficos, por exemplo;

Agnosticismo: dúvida, questionamento sobre a existência de deus e sobre a


veracidade de qualquer religião teísta, considerando a falta de provas favoráveis ou
contrárias.

Deísmo: crença num deus cujo conhecimento é feito pela razão e não pela fé
e revelação.

Religião, intolerância e conflitos

Ao longo da História da Humanidade, infelizmente, a convivência dos seres


humanos, dos grupos sociais, das várias sociedades, com seres humanos, grupos

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sociais, sociedades diferentes, ou seja, a convivência com o Outro, nem sempre foi
pacífica.
A intolerância se expressa diante de várias diversidades: de gênero, de etnia,
de geração, de orientação sexual, de padrão físico-estético, e, também, de religião.
A intolerância religiosa pode causar espanto, mas muitos e muitos conflitos e
guerras violentas foram e ainda são travados em nome de uma determinada crença
religiosa ou de outra.
Este é um problema extremamente complexo porque tais confrontos,
costumeiramente, não carregam motivações exclusivamente religiosas, mas a estas
se somam razões de ordem econômica, social, política, cultual, variáveis a cada
experiência histórica. Os exemplos de conflitos religiosos são numerosíssimos: entre
judeus e cristãos, entre cristãos e islâmicos, as milhares de mortes produzidas pela
Inquisição (da Igreja Católicas) contra os considerados hereges, as guerras entre
católicos e protestantes em decorrência da Reforma e da Contra- Reforma, nos
séculos XVI-XVII; a imposição do cristianismo ou do catolicismo sobre os indígenas
da América e os negros importados da África como escravos. Hoje, alguns desses
grandes conflitos ainda perduram, como aquele entre islâmicos e cristãos ou entre
católicos e protestantes, na Irlanda do Norte. Mas a intolerância religiosa também se
expressa em pequenos conflitos cotidianos, quando se desqualifica pessoas por não
pensarem religiosamente do mesmo modo de quem as desqualifica; ou quando se
destrói templos e símbolos de religiões que se consideram adversárias; ainda, quando
alguém arroga para a sua crença o estatuto de religião e qualifica a crença alheia
como seita.
Diante da intolerância religiosa, o filósofo francês Voltaire, dizia no século XVIII:
“É verdade que esses horrores absurdos não mancham todos os dias a face da terra;
mas foram frequentes, e com eles facilmente se faria um volume bem mais grosso do
que os Evangelhos que os reprovam”. (VOLTAIRE, 1993: 127)
Se as várias concepções de divindade (s) estão vinculadas a algo grandioso,
como a criação do Universo e da vida; se, através da religião, as pessoas realizam
uma busca espiritual e uma harmonia interior, como podem elas, em nome de
Deus(es), discriminar outras pessoas, ofendê-las, agredi-las, e até matá-las? Porque
tais pessoas não pensam igual? Por que não têm as mesmas concepções religiosas?

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Em nome de quem elas praticam essa violência?


Com que autoridade elas procedem dessa maneira?
Acaso Deus (es)deu (deram) poderes a certas pessoas como únicas donas da
verdade?
Se, nas mais diversas concepções religiosas, a(s) divindade(s) é (são)
representada(s) por sua magnanimidade, como o Bem, a justiça, o perdão, como, em
seu nome, praticar o Mal, a injustiça, a intolerância?
Por que a minha religião seria melhor do que a sua?
Por que a sua religião seria melhor do que a minha?
A intolerância de qualquer natureza, para com o Outro, diferente de nós, gera
a discriminação, o preconceito, o conflito, a violência, até a guerra. Divergências
religiosas resolvidas desse modo são anti-religiosas.
A tolerância, nesse caso, religiosa, é a garantia de cada um realizar a sua
escolha religiosa. Ou não escolher. É a garantia do direito à diferença. É a
possibilidade de um mundo menos conflituoso.
Historicamente, há muitas religiões que guardam muitas aproximações entre
si. O desconhecimento, a ignorância mesmo, a respeito dessas afinidades, é uma das
fontes da intolerância. A outra é a arrogância de alguém se considerar dono da
verdade divina.
Por isso, há movimentos de pelo diálogo entre diferentes religiões, no sentido
de construção da tolerância religiosa. Essa perspectiva se denomina ecumenismo.

O direito à diversidade religiosa no Brasil e uma Educação para a


tolerância

O Brasil já teve uma única religião oficial – o Catolicismo –, com a Constituição


de 1824, que perdurou até a proclamação da República. Até então, só eram permitidos
templos católicos. O clero católico fazia parte do funcionalismo do Estado. É claro que
eram praticadas outras religiões, mas os seus professantes sofriam discriminação e
só podiam realizar seus atos religiosos em particular, no espaço privado, e não em
lugares públicos. Com a República, o Brasil se tornou um Estado Laico, isto é, deixou
de ter uma religião oficial e se separou da Igreja.

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A atual Constituição Brasileira, de 1988, aborda a questão religiosa nos


seguintes termos:

“TÍTULO I
Dos Princípios Fundamentais
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de
Direito e tem como fundamentos:
................
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
..................
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações
internacionais pelos seguintes princípios:
...............
II - prevalência dos direitos humanos;
..............
VI - defesa da paz;
VII - solução pacífica dos conflitos;
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;

TÍTULO II
Dos Direitos e Garantias Fundamentais

CAPÍTULO I
DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
...................

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II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em


virtude de lei;
..................
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
..................
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o
livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais
de culto e a suas liturgias;

TÍTULO VIII
Da Ordem Social

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será


promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho.
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
.................
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a
arte e o saber;
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de
instituições públicas e privadas de ensino;
................
Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material
e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à
identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade
brasileira, nos quais se incluem:
I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver;
Por sua vez, a Constituição de 1988 também dispõe especificamente sobre o
Ensino Religioso:

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“Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de


maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores cul turais e
artísticos, nacionais e regionais.
§ 1º - O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos
horários normais das escolas públicas de ensino fundamental.” (BRASIL. Constituição
Federal. 1988). Posteriormente, a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 - de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em seu Artigo 33, estipulou:
“Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos
horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, sendo oferecido, sem
ônus para os cofres públicos, de acordo com as preferências manifestadas pelos
alunos ou por seus responsáveis, em caráter:
I - confessional, de acordo com a opção religiosa do aluno ou do seu
responsável, ministrado por professores ou orientadores religiosos preparados e
credenciados pelas respectivas igrejas ou entidades religiosas; ou
II - interconfessional, resultante de acordo entre as diversas entidades.”
(BRASIL, CF, 1988).

Portanto, da leitura dos dispositivos constitucionais-legais, fica claro que a


Carta Magna do país e outros documentos legais asseguram a liberdade de culto e
estabelecem que nenhuma pessoa pode ser discriminada por motivo de qualquer
natureza, aí incluído o de religião. Preserva-se, assim, o direito subjetivo de
consciência, tanto para professar quanto para não professar nenhum credo religioso.
Complementarmente, a lei assegura o respeito e tolerância à diversidade cultural -
religiosa do país, sendo vedadas, nas escolas, quaisquer formas de proselitismo.
A execução destes princípios de tolerância e respeito à diversidade não é fácil,
ainda mais em uma sociedade como a nossa, em que intolerâncias e desrespeitos às
diversidades culturais são frequentes. A questão religiosa é uma das mais delicadas
no que se refere a tais diversidades.
Se queremos construir um mundo de tolerância, é preciso levar em
consideração, na Escola, algumas atitudes, tais como:

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a) compreender as religiões como fenômenos presentes em diversas


culturas, ao longo da História, portanto, cada religião guarda as suas tradições,
vinculadas, por sua vez, às identidades dos grupos sociais e das pessoas;
b) conhecer as religiões, as diversas expressões de religiosidade, de um
modo contextualizado, cotejando informação e realidade, de modo a que o(a)
educando(a) e, inclusive, o(a) educador(a) conheça(m) as próprias crenças e as
situem em relação a outras, com base no princípio do valor histórico-cultural de cada
uma, promovendo o sentido da tolerância e do convívio respeitoso com o diferente;
c) compreender o Ensino religioso como uma área de conhecimento
interdisciplinar, tanto na execução curricular quanto na avaliação;
d) adotar a perspectiva da diversidade religiosa de modo articulado com
outras dimensões de Cidadania e, desse modo, na Escola, articulando vários
componentes curriculares> História, Geografia, Língua Portuguesa,
Literatura etc;
e) promover o entendimento do conhecimento como aprendizado da
dignidade humana, própria e do Outro;
f) promover a construção de uma convivência fraterna, mediante diálogo
ecumênico e inter-religioso, em que o respeito às diferenças tem por base um
compromisso moral e ético.
Sintetizando tais posturas, o ensino religioso, sem nenhum propósito
doutrinante de uma determinada visão religiosa, de maneira respeitosa e reverente
para com o domínio de cada culto e de cada doutrina, deve incentivar e desencadear
no aluno um processo de conhecimento e vivência de sua própria religião, mas
também um interesse por outras formas de religiosidade (INCONTRI e BIGHETO, .
http://www.espiritualidades.com.br/Artigos_D_L/incontri_Do ra_Ens_relig.htm.)

Assumir essa perspectiva implica em um processo de reeducação do(a)


próprio(a) educador(a):

♦ contra os seus próprios preconceitos na matéria, de que todos nós somos


portadores antes de um estudo e reflexão mais profundos;

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♦ contra a cegueira para com o Outro (o diferente), substituindo-a pelo que a


compreensão humana e o conhecimento podem trazer de lucidez em todas as
religiões: se há algo nas outras religiões que nos produz estranhamento, h á
concepções belas e, inclusive, aquelas que se aproximam das nossas;
♦ para o despojamento de querer julgar os outros segundo os princípios da
própria religião, e, dessa maneira, “decidir” os que serão salvos e os que serão
condenados, se colocando como juiz supremo da conduta humana;
♦ para conhecer a diversidade religiosa presente na sala de aula, mediante o
estudo e a reflexão;
♦ para uma consciência e uma prática éticas, no sentido do diálogo e da
convivência com a diversidade religiosa, de forma ecumênica.

A RELIGIÃO NA PRÉ-HISTÓRIA

É preciso, antes de tratarmos sobre o tema, saber sobre o período descrito.


Pré-história designa tudo o que se passou desde o aparecimento do primeiro ser com
postura ereta, até o tempo em que surgi a escrita. O termo foi cunhado com o pré -
conceito de que, se não houvesse escrita, não haveria história para contar. No
entanto, há muito tempo já não se pensa mais desse modo. O desenvolvimento da
arqueologia, paleontologia, antropologia, e várias outras logias, possibilitaram o
estudo e compreensão da vida do homem pré-histórico, mesmo que embrenhada em
nevoeiros e barrancos. As dificuldades são muito grandes, mas, devemos lembrar
que, mesmo os textos escritos, são passiveis de enganos, pois, a versão de quem
escreve, não é verdade absoluta.
Para melhor compreensão desse longo tempo histórico, dividiu -se ele em
período Paleolítico e Neolítico. O primeiro se inicia com o surgimento dos hominídeos
por volta de 4 a 2 milhões de anos até, 10.000 a.c, data em que o gelo das
extremidades do globo derreteu, mudando o clima do planeta. O segundo, se conta
dessa mudança climática até a produção da escrita, por volta de 4.000 a.c.
Outro ponto a esclarecer é que a cronologia adotada, ou seja, a utilizada pelos
acadêmicos, é baseada nos primeiros eventos ocorridos no globo. Por exemplo,
quando dizemos que a pré-história acaba com a utilização da escrita,

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automaticamente, declaramos que alguns indígenas brasileiros até pouco tempo


viviam na pré-história. Mas, isso não denota inferioridade em relação a nossos
indígenas. É importante compreender, que cada grupo humano em seu território
geográfico, se desenvolveu do seu modo, de acordo com suas necessidades. Um
grupo não é superior ao outro por possuir mais tecnologia. A condição climática,
geográfica, hidrográfica, entre outros, do território habitado, é que conduz as
atividades humanas. A terra do Brasil oferecia ao índio, uma rica diversidade natural,
dando-o privilégio de uma vida farta, sem maiores complicações.
O indicio mais antigo de prática relacionada à religião do homem e mulher
préhistórico, é o sepultamento. Que esta intimamente ligada, as fontes mais antigas e
numerosas da pré-história, que são as ossadas. A prática da inumação revela uma
preocupação com a vida após a morte. Isso é mais ressaltado ainda, nos detalhes de
preparação e adereços encontrados em inúmeras sepulturas. Por exempl o, o ocre
vermelho salpicado em cadáveres, é universalmente encontrado, podendo ser
substituto ritual do sangue, símbolo da vida. A posição que o corpo é encontrado,
também é coberta de significado. Ele é virado para o leste, marcando a intenção de
tornar o destino da alma solidário com o curso do Sol, portanto a esperança de um
renascimento. E também é posto em forma fetal, tendo a terra, no caso a cova, o
simbolismo do útero.
Oferendas de alimentos e diversos objetos de adorno como colares, são
encontrados depositados em túmulos. Encontraram também, cuidadosamente
dispostas em torno e sobre os cadáveres, conchas de moluscos. Essas conchas
possuem a forma de vagina, parecendo estar associadas a algum tipo primitivo de
adoração da deidade feminina.
As formas mais numerosas, evidentes e explicitas de culto religioso feito pelo
homem e mulher do Paleolítico até o momento é datado por volta de 35.000 ac. Foram
elas, as grutas/santuários com suas pinturas e as inúmeras estatuetas femininas.
Como as pinturas se encontram muito longe da entrada da gruta, sendo muito delas
inabitáveis, com dificuldades de acesso, os pesquisadores concluíram que elas são
uma espécie de santuário. As pinturas revelam ainda mais o caráter sagrado e
ritualístico do lugar. Duas temáticas decifradas e discutidas por pesquisadores são a
de danças rituais e seções xamânicas. As estatuetas femininas representam o “culto

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da fertilidade” praticado por esses humanos. Esculpidas em pedra, osso ou marfim,


possuem nádegas, seios e barrigas volumosas, além de terem a vulva sempre à
mostra. Representam a “Grande Mãe” a “Deusa”. André Leroi-Gourhan constata que
a arte desse período expressa alguma forma incipiente de religião, na qual figuras e
símbolos femininos ocupam posição central. Esse pensamento vai ser corroborado
quando das descobertas referentes ao período Neolítico.
As geleiras recuaram, o clima do planeta esquentou, e su a paisagem mudou.
Fauna e flora modificadas aconteceu a maior revolução da história do homem.
Ocorreu a domesticação das plantas, ou seja, a invenção da agricultura, a
domesticação de animais e o sedentarismo. Mas, a criatividade religiosa no neolítico
foi despertada menos pelo fenômeno empírico da agricultura, do que pelo mistério do
nascimento, da morte e do renascimento identificado no ritmo da vegetação. As crises
que põem a colheita em perigo (inundações, secas etc.) serão traduzidas, para serem
compreendidas, aceitas e dominadas, em dramas mitológicos. A mulher teve um papel
decisivo para a domesticação das plantas, ela que conhecia o “mistério” da criação.
Fértil e fecunda como a terra, foi responsável pela abundancia das colheitas.
Em todos os sítios arqueológicos do neolítico encontramos a religião centrada
no culto à Deusa. Por exemplo, em Catal Huyuk,

A principal divindade é a deusa, apresentada sob três aspectos: mulher jovem,


mãe dando à luz um filho (ou um touro), e velha (acompanhadas as vezes de uma ave
de rapina). A divindade masculina aparece sob a forma de uma rapaz adolescente –
o filho ou o amante da deusa – e de um adulto barbudo, ocasionalmente montado
sobre um animal sagrado, o touro. (ELIADE, 2010, p.55).

A longa viagem...
Os grupos humanos empreitaram longas viagens em busca de sobreviverem
as intempéries da jornada da vida, que naquele tempo eram muito mais cheias de
mistérios a desbravar. O frio da Era do gelo, somados a escassez de alimento e o
perigo constante da morte, tornava a vida recheada de desafios a vencer. É assim que
aos poucos nossos antepassados vão criando a cultura.

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Melhor dizendo, eles vão criando as culturas, pois, em suas grandes


caminhadas, cada grupo vai se instalando em um território, ou dá continuidade ao
trajeto, em busca de um abrigo melhor. Quando um grupo se sedentariza em
determinada região, ele começa a criar raízes com esse lugar. Cria uma interação tão
grande, que até sua aparência física começa a se adaptar a terra. Por exemplo, seus
olhos e peles se tornam claros, se o sol for fraco, e seu corpo não precisar mais
produzir melanina para se proteger. O grupo que aos poucos desenvolveu sua
linguagem para se comunicar, começa a ensinar as crianças como eles compreendem
a vida. E essa compreensão vai variar, de grupo para grupo, ou seja, de povo para
povo. Uma aldeia na África, no deserto do Saara, não vai entender o mundo do mesmo
jeito que os esquimós, no gelo da Sibéria. São paisagens muito diferentes, portanto,
seus mitos, seus deuses, suas leis, suas noções de certo e errado, serão também
muito diferentes. Ou seja, suas culturas/religiões serão muito diferentes. E nenhuma
é melhor ou pior do que a outra, elas são apenas diferentes.
É desse modo, que desejamos, que vocês leitores compreendam as religiões.
Cada qual produto do seu meio, com suas diversas verdades, que atendem seus
diversos fieis. O modo que julgamos melhor apresentá-las, foi dividi-las por seus
respectivos continentes de origem. Assim, escapamos incorrer em classificações
inadequadas.

ÁFRICA

AS RELIGIÕES DOS AFRICANOS

A África é o continente onde se originou o homo sapiens. Portanto, a história


da humanidade se inicia lá. Ao contrário do que se pensa, na África antes da chegada
dos europeus, não só havia povos organizados em tribos. Houve além do Egito,
diversos reinos e impérios bastante desenvolvidos, em vários aspectos, tais como,
tecnológicos, econômicos, educacionais, culturais, e religiosos. Foram alguns deles,
no Sudão ocidental, os reinos de Mali e Gao; no Sudão central, os estados Hausa e
Kanem-Bornu; no golfo de Guiné, os reinos Yoruba e Benin; na África central, o reino

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do Congo; na costa oriental da África, várias cidades-estado; e mais tarde, n o


Zimbábue, o reino Monomotapa, que haveria de acolher a população do Grande
Zimbábue. Esses reinos tinham suas próprias religiões. Assim, quando o comércio de
escravos foi travado entre portugueses no Brasil, e chefes africanos, diversas religiões
africanas foram introduzidas em terras brasileiras, e ganharam ao decorrer dos
séculos, a identidade afro brasileira.
Na ÁFRICA OCIDENTAL se encontra a
religião africana que predominou no Brasil, a
religião dos iorubas. É uma religião iniciática, e
possui no centro cosmológico: Onila, Grande
Deusa Mãe do ile, que é o “mundo” elementar
no estado caótico, antes de organizar-se. O ile
opõe-se, por um lado, ao orum, que é o céu
enquanto princípio organizado, e, por outro, ao
aiyê, o mundo habitado, proveniente da
intervenção do orum no ile. Enquanto todos
conhecem os aspectos assumidos pelos
habitantes do orum, os orixás, e o deus otiosus
Olorum, que não é cultuado, a presença do ile
na vida dos iorubas é carregada do inquietante
mistério da ambivalência feminina.
Na morte, as componentes do ser humano retornam para os orixás que as
redistribuem através dos recém-nascidos. Há, porém, componentes imortais, pois os
espíritos podem voltar para a terra e tomar posse de um dançarino Egungum.
A ÁFRICA ORIENTAL comporta 100 milhões de habitantes pertencentes aos
quatro grandes grupos linguísticos de toda a África. Mas a maioria das pessoas fala
línguas bantos. As características comuns das religiões dos povos bantos são o
caráter de deus otiosus do criador, as divindades ativas são os heróis e os ancestrais,
consultados em seus santuários por médiuns em estado de transe. Os espíritos dos
mortos também podem possuir os médiuns e recebem oferendas periódicas.
Todos os povos da África Oriental conhecem a iniciação pubertária e a maioria
dos povos bantos pratica a circuncisão e a clitoridectomia ou a labiectomia.

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Na ÁFRICA CENTRAL, vivem cerca de dez milhões de bantos, e os pigmeus


da floresta tropical formam três grupos principais. Um deles são os mbutis, eles
acreditam que deus é o habitat, a mata. Não possuem sacerdote e não praticam
adivinhação e tem ritos de passagem para os rapazes e moças.
Na ÁFRICA DO SUL, também emigraram vários grupos bantos. Na mitologia
karanga, a realeza sagrada realizava o equilíbrio dos contrários: o calor e a umidade,
simbolizados pelas princesas de vagina úmida e pelas princesas de vagina seca. As
primeiras deviam copular com a grande serpente aquática, às vezes chamada de
serpente Arco-Íris, que é um ser sobrenatural presente entre muitos povos da África
Ocidental e Meridional. As princesas de vagina seca eram as vestais que alimentavam
o fogo ritual. Em tempos de seca, sacrificava-se uma princesa de vagina úmida para
obter-se chuva.
Hoje, o continente africano abriga numerosos povos que falam mais de 800
línguas (das quais 730 estão classificadas). E as fronteiras religiosas não
acompanham o contorno das fronteiras linguísticas. Pois, hoje em dia basicamente
“três religiões” dominam a África moderna. As religiões autóctones, o cristianismo e o
islamismo.

A RELIGIÃO DOS EGIPCIOS

Os egípcios são um povo bastante explorado na


mídia. Sua cultura é alvo de uma grande
comercialização. No entanto, poucos se interessam em
saber sobre o que eles pensavam e sentiam sobre a vida,
além dos produtos materiais que criaram.
Todos os segmentos sociais praticavam a religião
egípcia, no entanto, cada cidade prestava atenção maior
aos seus “próprios” deuses. Geralmente, cada templo das grandes cidades, sedes do
poder, criava sua própria cosmogonia com o deus local no ápice da hierarquia. Então,
aqui, também encontramos mais de um mito sobre a criação. Um dos mais
importantes e antigos conta que, no princípio era Nu, o oceano celestial com sua
característica de imobilidade e totalmente estático. Do seu interior surgiu Atum, que

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criou Shu (ar) Tefnut (umidade), esse casal produz Geb (terra) e Nut (céu). Por sua
vez, os últimos dão origem a Osíris e Ísis e a Set e Néftis. Segue este mito o de Osíris,
na qual o mesmo reinava de modo justo, com sua irmã-esposa sobre o Egito. Seu
irmão Set enciumado o matou, mas Ísis logo fez uma múmia do seu marido, e com
seus poderes mágicos, devolveu a vida a Osíris. Com o qual teve um filho, Hórus.
Este se tornou rei do Egito, e os faraós o sucederam. Osíris tornou-se rei dos mortos,
todos que morrem passam pelo seu tribunal.
Esse povo era obcecado pela vida eterna e pela perpetuação da alma. As
tumbas são mais importantes que as casas mais suntuosas e é impensável
economizar em detrimento dos sacerdotes funerários. É perceptível isso nas tão
conhecidas pirâmides que eram os túmulos dos faraós. Quanto mais rico fosse o
egípcio mais complexo seria o funeral.
Os sacerdotes e sacerdotisas realizavam diariamente cultos nos diversos
templos espalhados pelo Egito. Preparavam as oferendas, em boa parte alimentos,
como também flores e incenso, e entoavam cânticos. Encantamentos são
encontrados para diversas finalidades, como amor e saúde, mas, também utilizavam
nos ritos funerários.

AMÉRICA

AS RELIGIÕES DOS INDÍGENAS BRASILEIROS

A História dos povos indígenas brasileiros ainda é pouco estudada e debatida.


No consenso popular, apenas se imagina os índios deitados em redes, caçando e
morando em ocas. Poucos conhecem a rica Arte indígena, que em grande parte tem
motivos religiosos. Poucos sabem que apenas em um Parque do Piauí, existem 737
sítios arqueológicos identificados. Onde são encontradas urnas funerárias e pinturas
de rituais de caça. Ainda, inscrições rupestres como as da Pedra Lavrada no Ingá na
Paraíba, contem representações de diversos astros. Indicando a riqueza cultural e
religiosa dos indígenas brasileiros.
No tempo do descobrimento estima-se que existiam mais de mil povos,
reduzidos hoje a cerca de 200 povos diferentes, com 170 línguas. Desse modo,

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salientamos que não encontramos uma religião indígena, e sim várias religiões
indígenas.
Nessas religiões indígenas, uma figura destacada e de traços comuns é o pajé.
Ele pode chegar a ser um emblema da tribo. O Pajé voa aos céus, desce as
profundezas subterrâneas, transforma-se em animais, se expressa em línguas
incompreensíveis, vê almas de mortos, causam e curam doenças e males, entre
outros.
Delineado esse traço comum das religiões indígenas, agora devemos
compreender que religião e vida social, nesses povos não têm distinção, pois para os
índios são os mitos que contêm a verdadeira história do mundo. Os mitos não são
fantasia ou ficção, e sim a explicação do universo: a origem do cosmos, da
humanidade, da sexualidade, dos astros, da caça, da agricultura, das mulheres, da
arte e da música, de tudo que é possível conceber. Cerimônias, festas, rezas, cantos,
proibições, regras de comportamento – tudo aquilo que faz parte do que costumamos
chamar de religião – têm como chão um corpo mítico, inerente ao cotidiano, sem nítida
distinção entre o sagrado e o profano, familiar para todos, embora os pajés detenham
um conhecimento mais profundo e a prerrogativa das viagens místicas. (MINDLIN,
2009, p.203).
Em termos de criação, entre diversos mitos indígenas os criadores do universo
costumam ser um par de companheiros ou irmãos, identificados frequentemente com
a lua e o sol. Como também têm uma Criadora de Tudo. Ainda, se Tupã era, para
muitos grupos, a suprema divindade, outros adoravam um estranho taumaturgo de
singulares poderes, conhecido de norte a sul, conforme a região, pelos nomes de
Sumé, Tumé ou Zumé e que geralmente, era descrito
como um homem de pele clara e longas barbas, que a
exemplo dos deuses mexicanos Kukulkan e
Quetzalcoatl e, ainda, do deus peruano Viracocha, partiu
um dia, prometendo que voltaria para restaurar o
primado da razão e da não violência.
O caminho para o mundo dos mortos geralmente
é descrito como tortuoso e cheio de monstros. E n o

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mundo dos vivos, estes convivem com seres fantasmagóricos, que podem ser
enganados.
As religiões dos indígenas são ricas em Ritos de Passagens. Infelizmente hoje
em dia, o trabalho proselitista de missionários evangélicos e católicos, tem destruído
suas religiões, e em muitas tribos seus ritos estão sendo esquecidos, quando não
sincretizados. Por isso precisa-se o quanto antes de mais e mais pesquisas sobre
essas tão belas e importantes religiões, que fazem parte de nossa história.

A RELIGIÃO DOS MAIAS

A civilização Maia não foi um estado centralizado, mais um aglomerado de


cidades-estados, das quais algumas ganharam mais notoriedade, como por exemplo,
Chichén Itzá. Um dos principais elementos da religião maia eram o sacrifício humano
e animal. Acreditava-se que o sangue era primordial para o funcionamento do
universo. Inclusive os reis realizam o auto-sacrifício, na qual era retirado sangue de
várias partes de seu corpo. Os maias possuíram uma escrita hieroglífica, u m
calendário complexo, e grandes pirâmides. Tinham uma concepção de tempo cíclico
e deram bastante importância aos augúrios e às profecias.
Os dois deuses maias principais eram um par cósmico, do qual todas as outras
divindades descenderam. O mais importante deus masculino era Itzamná,
representado na arte como um homem velho e descrito como a divindade da escrita
e do aprendizado. Sua consorte era Ix Chel, no período maia clássico, ela foi
associada a lua, representada como uma mulher velha tendo cobras no lugar dos
cabelos e adepta da feitiçaria. Já no final da época pós-clássica ela foi associada a
medicina, e responsável pela gravidez e pelos partos. Além desses, existem diversas
outras divindades maias.

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A RELIGIÃO DOS ASTECAS

Os astecas eram um povo dominado, até que guiados pelo guerreiro cósmico
Huitzilopochtli à procura da Terra Prometida, alojam-se por volta de 1325 d.C, no lago
Texcoco no vale do México, onde fundaram a cidade de Tenochtitlán, e formaram u m
grandioso império.
Assim como os maias, os astecas
também tinham uma cosmologia e calendário
bastante elaborados. E acreditavam que os
sacrifícios humanos eram necessários para que
o Sol mantivesse seu curso e a Quinta Idade do
Sol perdurasse. De acordo com seus cálculos, a
quinta era, terminará em 2027.
No princípio do cosmos havia Ometeotl. De modo mesoamericano ele tinha u m
aspecto feminino e masculino. Dele nasceram os deuses principais, Huitzilopochtli,
Quetzalcoatl e Tezcatlipoca. A Deusa principal é Coatlicue, chamada pelos frades
cristãos de “mãe dos deuses, coração da terra”, segundo um dos mitos de origem dos
astecas ela é mãe de Huitzilopochtl.

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A RELIGIÃO DO INCAS

O império inca foi a última civilização pré-colombiana, destruída em seu apogeu


pelos conquistadores espanhóis, em 1532. A fundação do império dos incas, se dá
por volta de 1200 d.c. No entanto, sua expansão espetacular só se dá a partir do oitavo
imperador, no início do século XV.
Adaptando fés antigas e inventando algumas novas, os incas criaram uma
religião apropriada para o império. Estabeleceu -se que a terra era viva e fundida com
a espiritualidade, animada pelos ancestrais. A fusão da geografia física e sagrada é
evidente em Machu Pichu. No centro da cidade, o pilar entalhado em pedra conhecido
como Intihuatana ou “Lugar do Sol” pode ter tido fins astronômicos, ou com o culto à
montanha, pois está localizado em ponto onde os picos sagrados estão alinhados com
os pontos cardeais.
Possuíam um panteão de deuses. A divindade suprema era Viracocha. Inti, o
deus Sol, era a principal divindade e o ancestral divino da realeza inca. Sua esposa
irmã era a deusa lua Mama Kilya. Esse incesto justifica o casamento entre irmãos
praticado pelo imperador. Sacrifícios de animais e vegetais eram comuns nos ritos
religiosos. Entretanto, em ocasiões especiais eram feitos o capac hucha, ou seja,
sacrifícios de crianças. E algumas acllas, ou “Virgens do Sol” - que eram as mais belas
jovens incas que serviam no culto de Inti e cuidavam das múmias reais bem como da
família real atual – eram sacrificadas no fogo.

OCEANIA

A RELIGIÃO DOS POVOS OCEÂNICOS

As ilhas do Oceano Pacífico foram tradicionalmente agrupadas em três áreas:


Micronésia, Melanésia e Polinésia. O mais famoso pesquisador das religiões dessa
área foi o inglês etnólogo funcionalista Bronislaw Malinowski. Este concentrou mais
seu trabalho na Ilha de Trobiand. Uma das mais famosas ilhas, é a ilha de Páscoa,
com suas monumentais estátuas de pedra, e sua escrita chamada Rongorongo.

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História das religiões

Dois conceitos muito conhecidos das religiões oceânicas são o de mana e tabu.
Mana é uma espécie de propriedade conferida pelos deuses a pessoas, lugares e
coisas. Na sociedade está associado à posição social e a realizações espetaculares.
Tabu está estreitamente vinculado a mana e significa influência divina, sobretudo em
seus efeitos negativos, que tornam certos lugares, certas pessoas e certos objetos
inabordáveis ou perigosos.
A unidade religiosa oceânica é apenas aproximativa, mas a ideia de que a
maioria dos deuses são ancestrais que habitam outro mundo e visitam
frequentemente os vivos é muito difundida na região. O deus celeste criador é
inacessível, mas suas façanhas são contadas pelos mitos. A multidão de deuses tem
influência decisiva sobre os assuntos humanos. Sua vontade pode ser conhecida pela
adivinhação, que exige conh ecimentos especiais, ou pela possessão de espíritos. A
morte é seguida de cerimônias especiais longuíssimas.

A RELIGIÃO DOS AUSTRALIANOS

Vivem hoje ainda, na Austrália, seus habitantes primitivos, os chamados


aborígenes (do latim, ab origine: “desde o início”). Hoje eles são cerca de 230 mil, a
maioria nas cidades, mas muitos também em reservas.
O aborígine aprende a história sagrada de seu mundo durante iniciações e
cultos secretos iniciáticos. Existem tribos que acreditam em um Grande Pai - chamado
também de Eterna Juventude. Ele tem pés de ema, e possui mulher e filho – de acordo
com certas tribos, possui várias mulheres e vários filhos. E tanto ele como todos os
outros primitivos habitantes do céu ficam indiferentes com relação ao que acontece
na terra. No entanto, os poderes e forças que formaram a terra, vieram do chão, foram
os grandes espíritos dos ancestrais primitivos, sob a forma de homens ou animais.
Sol, lua e estrelas também foram criados por eles e, de matéria pré-formada, também
os homens, as tribos, os clãs, e ainda os animais. Até que ficando cansados,
retornaram à terra. Alguns afundaram nas águas, outros foram levados para o céu.
Sobre a morte, está é vista como o resultado de malefícios. O ritual fúnebre
comporta a punição do assassino presuntivo.

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História das religiões

ÁSIA

AS RELIGIÕES DOS SIBERIANOS

O uso do termo siberiano é genérico,


pois congrega povos que vivem na vasta
região da Ásia Central e da Sibéria, entre os
montes Urais e o Estreito de Behring. São
grupos da etnia amarela sendo os mais
conhecidos os mongóis e esquimós. Como
são diversos grupos, que inclusive sofreram influências de outros povos residentes n o
Sul, tais quais, chineses, hindus e persas, nossa abordagem da religião dos
siberianos, será tão generalizante, quanto convém.
Encontramos a crença na existência de um ser supremo, nem sempre
cultuado, e de espíritos intermediários, assim como, em deuses celestes, em um
“senhor das matas”, nas forças da natureza, na deusa da terra, ou na deusa do mar.
Não existem sacerdotes, nem templos, a experiência religiosa é mística. Dessa
forma, ganha um destaque entre eles a figura do xamã. Aquele que domina a técnica
do êxtase, e com carisma atende sua comunidade curando e aconselhando. Possuem
mitologia, e alguns ritos mais comuns são: os ritos de caça, sacrifícios de animais,
culto do fogo, e ritos agrários.
O principal intuito de vida é viver o mais longamente possível, evitando doenças
e incômodos fatais.

AS RELIGIÕES DA ANTIGA MESOPOTÂMIA

A palavra “Mesopotâmia” é de origem grega, significa “entre rios”. Pois é


localizada onde hoje é o Iraque, portanto cortada pelos importantes rios Tigre e
Eufrates. Três regiões compunham a Mesopotâmia. Ao norte, a Assíria, ao centro a
Acádia, e ao sul a Suméria.
Fazia parte do cotidiano dos sumérios 3.600 deuses, devidamente registrados
por eles. Esse povo desenvolveu os primeiros documentos escritos, foi uma civilização

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literária, com um complexo sistema de governo, e hierarquia religiosa, administrativa


e social. O mito da criação diz que, a Deusa Nammu – mar primordial- gera o primeiro
casal An (o céu) e Ki (a terra), dessa união nasce En -li (deus da atmosfera), que
separa seus pais. Seus textos também evocam o mito da perfeição e bem-
aventurança dos “primeiros tempos” e o mito do dilúvio. A mais popular das divindades
era Inanna. Aparecendo em diversos mitos, ela era o planeta Vênus e seus domínios
a fertilidade, o amor e a guerra. Outro deus importante além de An e En -li, é Tamuz
deus da fertilidade.
A adivinhação era bastante recorrente, inclusive antes de campanhas
militares. Era feita pelo exame de víscera de animais, observações astronômicas, ou
por interpretações de sonhos. A doença era relacionada a pecados ou à possessão
demoníaca. Era curada por encantadores, que ao mesmo tempo eram médicos que
também prescreviam remédios.
O rei era o reflexo de Deus, mas não o próprio. No entanto, na festa de Ano
Novo, era realizado o rito do matrimonio sagrado, onde o rei desposava a Deusa
Inanna, para garantir a prosperidade do país no ano seguinte. O foco da religião
Suméria era o templo, arquitetura monumental, residência dos deuses. Em sua
consagração, todos se tornavam iguais perante a divindade e a lei. A adoração publica
era realizada fora do templo, no grande pátio.
Após a supremacia dos acadianos sobre as cidades sumérias, houve uma
simbiose sumério-acadiana. Inanna se tornou Isthar, e Marduk deus da cidade da
babilônia se torna supremo. Mais tarde, o deus Epônimo da Assíria suplanta Marduk.

A RELIGIÃO DOS CANANEUS

Escavações realizadas em 1929, trouxeram de volta à luz a antiga cidade de


Ugarit, representante da civilização Cananéia no fim da Idade do Bronze (1365-1175
a.C). O culto cananeu concentrava-se em dois casais divinos: El e Asherat, soberanos
do outro mundo e Baal e Anat, soberanos deste mundo. O primeiro casal foi o
primordial, El, que significa “deus” era o chefe do panteão, o “poderoso”, “pai dos
deuses e homens”. Até que foi se tornando um deus otiosus. Pois, um deus mais
“especializado” Baal promoveu-se a categoria suprema. Baal significa “Senhor”, ele é

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História das religiões

fonte e principio de fertilidade, mas também guerreiro, tal como sua irmã e esposa
Anat é, ao mesmo tempo, deusa do amor e da guerra. Um dos mitos de combate pelo
trono entre Baal e Yamm, um monstro marinho, lembra evidentemente, a derrota do
monstro marinho Tiamat, vencido pelo deus mesopotâmico Marduk, segundo a quarta
tábua da Gênese babilônica, Enuma Elish, assim como a vitória de Javé sobre o mar
em certos Salmos e em Jó 26, 12-13.

A RELIGIÃO DA ANTIGA CHINA

A cultura chinesa original foi marcada pelo xamanismo, em cujo centro se


encontrava a veneração dos ancestrais e os ritos. A arte divinatória era feita pelo uso
de ossos de tartarugas ou omoplatas de gado. Esses ossos eras expostos ao fogo e
aquecidos, até surgirem fraturas e riscos, que então eram interpretados. A leitura dos
oráculos, assim como da astrologia era feita pelo rei (wang), soberano político e chefe
militar, muitas vezes atuava também como supremo xamã e sacerdote. No entanto,
não reivindicava uma natureza divina, era um mediador. Normalmente o ritual era
realizado na corte, muitas vezes associado a sacrifícios de animais. Envolvia também
música, dança, transe e muito vinho.
A mitologia chinesa foi preservada de
uma forma fragmentária. Os mitos mais antigos,
envolvendo a criação, por exemplo, foram
encontrados depois da criação do
confucionismo. Shandi ( 上帝) é considerado a

divindade suprema, ser distante e


transcendente. E Nu Kua (女媧) é a deusa que
criou a humanidade, seu companheiro — irmão
e marido — era Fu Xi (伏羲). Estes dois seres às
vezes são adorados como os primeiros antepassados dos seres humanos. Eles são
muitas vezes representados como criaturas metade-serpente, metade-humana.

TAOÍSMO

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História das religiões

Por volta de 600-500 a.C, Lao-Tzu, escreveu um livrinho chamado Tao Tê


Ching, ou Livro da Lei do Universo e Sua Virtude. Tao significa caminho, mas também
o Ser supremo ao qual o caminho conduz. O Tao é uma força mística, impessoal e
imanente que dá a vida e a harmonia. É um caminho de observação da natureza, de
seus ritmos e fluxos. O taoísmo implica passividade, simplicidade, intervenção mínima
na natureza, e a busca pela longevidade, através de estudo, da ação correta, da dieta
e exercícios.
Posteriormente esse caminho foi fundido com antigos rituais folclóricos e
crenças chinesas, chegando a ser em 444 da era cristã religião oficial. O taoísmo tem
seus próprios deuses, templos, sacerdotes e monges. Rituais complexos, como
procissões, oferendas, e cerimônias de honra dos vivos e dos mortos.

CONFUCIONISMO

Confúcio ou Kung-fu-Tzu (551 a.C. – 479 a.C) foi uma espécie de filósofo e
educador, que ensinou um código social de comportamento rígido e completo,
baseado nos costumes, que buscava manter a harmonia na sociedade. A virtude era
dever de todos, e em especial dos governantes. Ele ensinou a “regra de prata” do “não
faça aos outros o que você não quer que façam a você”. Confúcio não especulou
sobre a metafísica, mas considerou o ritual importante, sendo um meio de codificar
valores.

RELIGIÃO DO JAPÃO/XINTOISMO

O xintoísmo é a religião autóctone do Japão, um sistema de crenças muito


antigo, sem fundador, ou livro sagrado. É o caminho do kami (deuses). O kami é a
natureza, o sol, a lua, os animais, as plantas etc. E pode ser também, um ser humano
iluminado que se tornou imortal. Existe a lenda que diz que a linhagem imperial do
Japão originou-se de Amaterasu, a deusa do sol. Existem diversos santuários,
onde as pessoas buscam pelas bênçãos dos kami, e realizam os festivais de Ano-
Novo, primavera/plantio e outono/colheita do arroz

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História das religiões

A RELIGIÃO DA ANTIGA INDIA

Por volta de 2.500 a.C, uma civilização se estendeu muito além do vale do Indo.
Era uma civilização urbana razoavelmente adiantada, ao mesmo tempo mercantil e
“teocrática”. Foram escavadas duas cidades, provavelmente as capitais do “império”
da civilização harapiana. Sua tecnologia é considerada como igual à do Egito e
Mesopotâmia, mas carece de imaginação. O que indica que os Harapa não se
concentravam nas coisas desse mundo.
Eles faziam culto a uma deusa-mãe, e a um grande deus, esse parece ser um
protótipo de Xiva - uma figura itifálica sentada numa postura “iogue” e rodeada de
animais ferozes. Dedicavam sacrifícios também a diferentes espíritos de árvores. Nas
escavações também encontraram o “Grande Bath” que lembra as “piscinas” dos
templos hindus de nossos dias. Por volta de 1700 a.C, essa civilização entrou em
decadência e deram lugar as investidas dos povos indo-europeus.

HINDUISMO

Os povos indo-europeus fizeram um amalgama da sua cultura com a dos


autóctones, assim gerando a civilização védica. Está é assim denominada porque foi
nesta época que os Vedas – conjunto de textos religiosos - foram compilados. A
religião védica é precursora do hinduísmo moderno.
O hinduísmo é tão multifacetado, que seria mais cabível falarmos de
hinduísmos. A diversidade de práticas é reflexo da variedade de tradições étnicas, que
enriquecem a religião. Mas, além do elemento territorial e familiar que congrega está
religião, a aceitação das escrituras védicas é imprescindível para denominar-se
hinduísta. No entanto, como boa parte da população indiana é analfabeta, o que mais
importa são os inúmeros ritos religiosos. Essa constatação também é evidente, na
persistência popular pelas figuras divinas vivas e concretas, quando as especulações
nos escritos filosóficos dos Upanixades (escritos por volta de 600 a.C, marca o fim
dos Vedas) mostravam que o homem precisava romper a superfície visível das coisas
e olhar para dentro de si mesmo. Os Upanixades também introduzem a noção de
Atmã, alma, e Brahman, a força que permeia todo universo, uma divindade impessoal.

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História das religiões

Alguns princípios que unem os hinduístas são, a pertença ao sistema de castas, a


adoração a vaca, e a crença no carma e na reencarnação. As principais divindades
adoradas são o deus Vishnu e seu avatar Krishna, e o deus Shiva. Além de inúmeras
deusas, ganhando destaque a deusa Kali.

Por volta de 550 a.C, seguindo a linha filosófica dos Upanixades, surgem dois
reformadores radicais na Índia. Sidartha Gautama, que cria o BUDISMO e Mahavira,
que cria o JAINISMO. Bem posteriormente, em 1499, na região da Índia, hoje
denominada Paquistão, um Guru chamado Nanak, cria o SIQUISMO. Que é uma
tentativa de conciliar o hinduísmo e o islamismo.

A RELIGIÃO DOS PERSAS/ZOROATRISMO

Indianos e iranianos tiveram um povo ancestral comum os proto-indo-iranianos,


que por sua vez, é um ramo da família indo-europeia. Quando se separaram
desenvolveram línguas diferentes, no entanto, conservaram alguns pontos em
comuns, como o domínio da sociedade por uma aristocracia guerreira e pelos
sacerdotes, e algumas práticas religiosas. Algumas delas foram o sacrifício de
animais, e o uso da bebida alucinógena chamada haoma, além da divisão dos seres
divinos em ahuras (senhores) e devas (deuses).
Zoroastro viveu entre 1500 e 1000 a.C, no entanto, as fontes do zoroastrismo
foram redigidas apenas a partir do século IV d.C, apesar de ter sido religião oficial do
Império Persa (VI-IV a.C), e dos reinos subsequentes até século VII d.C. Segundo a

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História das religiões

tradição, ele era sacerdote e aos 30 anos teve uma visão. Suas ideias entraram em
conflito com a religião tradicional. Sua doutrina oferecia iniciação e salvação para
todos, independente de classe social, contanto que levassem um vida justa e honrada.
Combinou monoteísmo e dualismo numa síntese original. Ahura Mazda, o Senhor
Supremo, tem dois filhos gêmeos, Spenta Mainyu (espírito benfazejo) e Angra
Mainyu (espírito negador) que devem escolher entre a ordem da verdade (asha) e a
mentira (drug). O homem tem o livre arbítrio para escolher seu caminho. Existem sete
intermediários para o espírito benfazejo, que são os Amesha Spentas (imortais
benfazejos) tais como “Bom pensamento”, “Verdade perfeita” etc. Existem também os
devas (aqui considerados demônios) que escolhem o drug. Segundo sua escolha o
homem irá para o paraíso, inferno, ou Misvan Gatu (lugar dos misturados). Três dias
depois da morte do corpo, o espírito passa por um tribunal, em seguida para um dos
três lugares mencionados. No entanto, ainda haverá o julgamento final, e enfim a
ressurreição e imortalidade dos corpos dos bons.
Os cultos são realizados sempre na presença de um fogo sagrado (símbolo de
pureza), mantido nos Templos do Fogo. Algumas características dos rituais são a
purificação da mente e do corpo e a luta contra Angra Mainyu. E a obrigação de cinco
orações diárias individuais, iniciada com a limpeza do rosto, mão e pés.

EUROPA

AS RELIGIÕES DOS INDO-EUROPEUS

As tribos indo-europeias, seminômades de guerreiros patriarcais, vindos da


região ao norte do mar Negro, entre os Cárpatos e o Cáucaso, denominados de cultura
dos Kurgans. Dispersaram-se para Europa e Ásia de tal modo, que por volta do
primeiro milênio a.C, a indo-europeização da Índia, da península itálica, da península
balcânica e das regiões cárpato-danubianas, da Europa central, setentrional e
ocidental – desde o Vístula até o mar Báltico e o Atlântico -, estava ou concluída, ou
consideravelmente adiantada.
Os principais traços das sociedades indo-europeias foram o nomadismo
pastoril, a estrutura patriarcal de família, e o gosto pela organização militar. Tanto é

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que as “três funções” dessa sociedade eram a sacerdotal, guerreira, e produtiva. O


(deu s do) Céu é acima de tu do o pai: cf. o in dian o Dyau spitar, o grego Zε ύçπ α τηφ, o
ilírio Daipatures, o latim Jupiter, o cita Zeus-papaios, o traço-frigio Zeus-pappos. A
hierofania celeste também é percebida na designação de deuses pelo nome de trovão:
germânico Thôrr, celta Taranos, báltico Perkûnas, protoeslavo Perun etc. O fogo,
provocado pelo relâmpago, era considerado de origem celeste, e tinha seu culto. O
deus solar teve culto desde a proto-história, e a mãe terra foi tomada de empréstimo
dos povos aos quais eles incorporavam. É bom lembrarmos que nenhuma tradição
religiosa se prolonga indefinidamente sem modificações, produzidas seja por novas
criações espirituais, seja por empréstimo, simbiose ou eliminação.

A RELIGIÃO DOS GREGOS ANTIGOS

Religião Minoica: Ilha de Creta 2700 -1400 a.C


A civilização cretense caracterizou -se pelos vastos complexos de palácios, por
sua arte que celebrava a natureza e por suas duas formas de escrita. Os estudos
apontam para uma civilização pacífica, e matrifocal. A maioria dos documentos
iconográficos tinha um sentido religioso, e o culto estava centralizado nos mistérios
da vida, da morte e renascimento, comportando ritos de iniciação. Assim, a principal
divindade era uma Grande Deusa, às vezes acompanhada de seu frágil parceiro
masculino, um deus adolescen te. Temos aqui uma hierogamia, típico das religiões
agrárias e de mistérios. O culto era celebrado nos cumes das montanhas, nas capelas
dos palácios ou no recinto dos lares. Também era realizado o culto aos mortos. Por
todas as partes as deusas acham-se no centro da atividade religiosa.
Ocorre primeiro a invasão dos povos micênicos (1400-1200 a.C). Estes
deixaram escritos em grego arcaico, que revelaram panteões locais com divindades
cultuadas posteriormente como, Zeus, Hera, Poseidon, Ártemis, Dionisio. O período
seguinte (1200-800 a.C) marca o fim da civilização micênica e a chegada dos povos
do norte e leste. Cuja principal fonte de informação são as obras de Homero, Ilíada e
Odisseia.
Finalmente, temos a religião da Grécia arcaica/clássica/helenística/românica
(800 a.C380 d.C).

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A autonomia das cidades-estados gregas se refletiu em sua religião. Em cada


cidade, ou mesmo nos altares domésticos, encontrava-se uma religiosidade grega.
Os gregos praticavam um culto politeísta antropomórfico, em que os deuses poderiam
se envolver em aventuras fantásticas, tendo, também, a participação de heróis
(Hércules, Teseu, Perseu, Édipo). Não havia dogmas, os deuses possuíam tanto
virtudes quanto defeitos, o que os assemelhava aos mortais no aspecto de
personalidade. Para relatar os feitos dos deuses e dos heróis, os gregos criaram uma
rica Mitologia.
A Teogonia de Hesíodo apresenta o nascimento das forças naturais e dos
deuses a partir do Caos primordial, da Terra (Gaia), do Tártaro e de Eros (amor), dos
antigos Titãs seguidos pela geração de Cronos (tempo), que castra o pai Uranos (céu),
e pela de Zeus, que vence o pai Cronos, e o exila em algum lugar da terra.
Acreditavam que dos rituais dependessem a sorte dos humanos. Tudo girava
em torno do altar de sacrifícios. Existiam altares sem edifício, mas nunca o contrário.
A palavra sacrifício significa festa religiosa. Uma das principais festas era os jogos
olímpicos, que teve inicio em 776 a.C, ou seja, no inicio do período arcaico. A origem
do teatro também foi de cunho religioso, com representações da saga de Dionísio,
deus do vinho. Além dos grandes santuários como os de Delfos, Olímpia e Epidauro,
havia os oráculos que também recebiam grandes multidões, pois lá se acreditava
receber mensagens diretamente dos deuses.

A RELIGIÃO DOS GERMANOS

Entende-se por germânicos, grupos de populações localizadas entre a


Escandinávia Meridional, a Jutlândia, a costa meridional do Báltico e a Europa Central,
entre o Reno, os Alpes e a Vístula.
Possuíam uma espécie de “especialistas do sagrado” que influenciavam a
ordem social, e a quem competia a prática da adivinhação. Havia um culto comum ás
diversas tribos, dedicado à deusa Nerthus. Os templos eram espaços e áreas
sagradas, como o bosque sagrado, sede da deusa Nerthus. Escritos que falam do
transporte dessa deusa em um carro guardado no bosque, indica a existência de
imagens, no entanto, estatuas são raríssimas. Praticavam sacrifício animal e humano.

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O panteão germânico é repartido entre dois grupos divinos: os Ases e os


Vanes.
Os principais entre os Ases são, Odin/Wodan, Thor e Thyr. Entre os Vanes
destacam-se Njordhr/Nerthus, Freyr e Freya. Os dois grupos guerreiam, e quando da
reconciliação definitiva, as principais divindades Vanes, instalam-se entre os Ases.
Existem também as Valquírias, senhoras guerreiras do cortejo dos deuses, e toda
uma multidão de espíritos ocultos e furtivos, os Elfos, os Silfos, e os Pigmeus.
A mitologia germânica é cíclica, existe uma cosmogonia que é seguida de uma
escatologia. Do gelo e do fogo nascem dois seres: o gigante Ymir e a vaca Audumla,
que amamenta o primeiro e cria um homem, Buri, que desposa a filha de um gigante,
que tem três filhos: Odin, Vili, e Vé. Esta trindade mata o gigante Ymir e, de seu corpo,
eles criam nove mundos. No fim do mundo, Ragnarok, a terra afundará no oceano.
Será o fim de um ciclo e o começo de outro: a grande árvore Yggdrasill abrir-se-á e
de dentro dela surgirão um homem, Lif e uma mulher, Lifthrasir, que repovoarão a
Terra.

A RELIGIÃO DOS CELTAS

Grande parte da população da Europa ocidental, antes da conquista romana,


pertencia às etnias celtas. No entanto, o lugar que preservou por mais tempo a cultura
Celta, foi a Irlanda.
O panteão Celta possui as deusas da fertilidade, ou mãe dos deuses, as
matronae, com grande difusão de culto, sendo chamada de Danu, na Irlanda e Dôn
na região das Gálias, por exemplo. Tem o deus Cernunnos, identificado como “o
senhor das coisas selvagens”. Existem os deuses Teutates, Esus e Taranis,
interpretados na ordem como, “o homem da tribo”, optimus, e deus do trovão. Um
importante deus que atravessa todo universo celta é Lug, “senhor de todas as artes”.
Os celtas possuíram quatro principais celebrações. Estas dividiam o ano em
metade escuro e metade clara. O ano se iniciava em Samhain, quando começava a
metade escura, na virada de 31 de outubro. Seguia-se Imbolc, em 1º de fevereiro, era
uma festa de purificações. Para introduzir a metade clara do ano, celebrava-se

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Beltane (fogo de Belenus- deus do sol), em 1º de maio. Seguia-se Lugnasad, em 1º


de agosto, celebração da colheita.
Existia uma elite sacerdotal intelectual, depositários do saber tradicional, os
druidas. A formação dos druidas demorava muito tempo e era mnemônica de
longuíssimas sequências de versos, transmitido oralmente. Eles atuaram n a
astrologia, cosmologia, teologia, adivinhação, aplicação da justiça, na música (os
bardos) e etc. Um dos ensinamentos dos druidas considerava a transmigração das
almas de um corpo a outro depois da morte, e a passagem por um tempo na Terra da
Juventude.

A RELIGIÃO DOS ROMANOS

Antes de se tornar o grande império romano, Roma era apenas uma, entre as
diversas cidades da península itálica. Indo-europeus de origem, os romanos eram
circundados por diversas etnias como os sabinos e etruscos. Logo tiveram enorme
influência da religião etrusca, que por sua vez, entre os séculos VIII e VII, se
helenizaram. Roma tomou de empréstimo características de diversas religiões,
inclusive fez isso também, por meio da evocativo, que consiste no pronunciamento
feito na cidade inimiga, para convidar os deuses a abandoná-la e dirigir-se a Roma,
onde receberia honra maiores. No entanto, a religião romana só podia ser praticada
por um cidadão romano, e tinha suas próprias características.
Para os romanos qualquer anomalia, implicava um retorno ao caos, ou seja,
uma crise nas relações entre os deuses e os homens. Dessa forma, eles davam
importância apreciável às técnicas divinatórias, e desenvolveram entidades regentes
de vários aspectos da vida, e ritos para apaziguá-los. Existia o culto público,
subordinado ao estado, e o culto privado ou doméstico, destinado aos antepassados.
A princípio os deuses romanos iniciavam com o deus-padroeiro dos “começos”
Jano, seguido da tríade Júpiter, Marte, e Quirino, e no fim, Vesta, protetora da cidade.
A influência etrusca mudou a tríade para Júpiter, Juno e Minerva. No século V, Roma
assimila divindades gregas, como Hermes-Mercúrio, Apolo-Febo, Afrodite-Vênus,
Ártemis-Diana. E em 205-204 a.C, introduz a primeira divindade asiática Cíbele, a
Grande Mãe de Pessinonte. Em 186 a.C, o culto de Dionísio, em Roma denominado

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bacanalias, é descoberto e perseguido pelo estado, pois, representa um perigo a


ordem, visto que ele escapa ao controle do estado.

AS RELIGIÕES HOJE

No decorrer dos anos do desenvolvimento das religiões, elas foram sendo


influenciadas por religiões dos diversos povos em que entravam em contato. Assim
como, começaram a migrar para fora de seu país de origem, chegando até continentes
diferentes e distantes. Com o desenvolvimento dos transportes e posteriormente dos
meios de comunicação, o sincretismo e práticas de religiões estrangeiras se tornaram
mais intenso e comum.
Hoje no século XXI, a dinâmica do sincretismo e da importação e exportação
de religiões ainda é muito forte. É mediante isso, que conseguimos agrupar no nosso
Kit, 30 religiões distintas na região metropolitana do Recife. No entanto, deixamos
claro, que esse número é muito inferior a quantidade de religiões existentes no lugar
mencionado. E que a escolha das denominações religiosas, não presume
superioridade sobre as não escaladas. Mas, apenas uma tentativa de seleção de
designações religiosas, dispares em seu conteúdo, e com disponibilidade para
atender o Fórum Inter-religioso.

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História das religiões

REFERÊNCIAS

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pedra aos mistérios de Elêusis. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2010.
. História das crenças e das ideias religiosas, Tomo II, de Gautama Buda ao
triunfo do cristianismo. volume I, das religiões da China antiga à síntese hinduísta. Rio
de Janeiro: Zahar Editores, 1979.
ELIADE, Mircea; COULIANO, Ioan P. Dicionário das religiões. 2 ed. São Paulo:
Martins Fontes, 2009.
EISLER, Riane. O Cálice e a espada: nosso passado, nosso futuro. São Paulo: Palas
Athena, 2007.
FUNARI, Pedro Paulo (org). As religiões que o mundo esqueceu: como egípcios,
gregos, celtas, astecas, e outros povos cultuavam seus deuses. São Paulo: Contexto,
2009.
GAARDER, Jostein; HELLERN, Victor; NOTAKER, Henry. O livro das religiões. São
Paulo: Companhia das letras, 2005.
KUNG, Hans. Religiões do mundo: em busca dos pontos comuns. Campinas, SP:
Verus Editora, 2004.
LEROI-GOURHAN, André. As religiões da pré-história. Lisboa: Edições 70, 2007.
O´DONNELL, Kevin. Conhecendo as religiões do mundo. São Paulo: Edições Rosari,
2007.
SAUNDERS, Nicholas J. Américas Antigas: as grandes civilizações. São Paulo:
Madras, 2005.
SCARPI, Paolo. Politeísmos: as religiões do mundo antigo. São Paulo: Hedra, 2004.
VALETT, Odon. Uma outra história das religiões. São Paulo: Globo, 2002.
ZILLES, Urbano. Religião: crenças e crendices. 3 ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002.
BRASIL.CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais:
Apresentação dos Temas Transversais – Ética. Brasília:
MEC/SEF,1997b.
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. PARECER CP N.º05/97. ASSUNTO:

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História das religiões

Interpretação do artigo 33 da Lei 9394/96.


CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. PARECER CP 12/97. Esclarece dúvidas
sobre a Lei nº 9.394/96 (Em complemento ao Parecer CEB nº 05/97).
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. PARECER CP 97/99. Formação de
Professores para o Ensino Religioso nas Escolas Públicas de Ensino Fundamental.
LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO Nº 9394/96, com a nova redação
dada pela Lei nº 9.475, de 22 de julho/97.
MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais – Ensino Religioso. Forum Nacional
Permanente do Ensino Religioso. 1996.
Resolução 02/98 - Câmara de Educação Básica/CNE. Diretrizes Curriculares
Nacionais para o Ensino Fundamental.
CAMILO, Janaína. Ensino Religioso na Escola Pública – Uma Mudança de
Paradigma. Revista de Estudos da Religião - REVER. Nº 2. Ano 4.
http://www.pucsp.br/rever/rv2_2004/t_camilo.htm
CLÉMENT, Cathérine. A Viagem de Theo: romance das religiões. São Paulo:
Companhia das Letras, 13ª reimpressão, 2001.
ELIADE, Mircea. História das crenças e das ideias religiosas. Tomo II, vol.
1. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.

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Ciência da religião

SUMÁRIO

CIÊNCIA ...................................................................................................................................... 2
DEFINIÇÕES E CONCEITOS DE RELIGIÃO ....................................................................... 3
O QUE É RELIGIÃO?................................................................................................................ 4
FILOSOFIA.................................................................................................................................. 6
UM BREVE PANORÂMICO HISTÓRICO .............................................................................. 8
UMA NOVA METAFÍSICA! ....................................................................................................... 9
RELIGIÃO E CIÊNCIA............................................................................................................ 10
O PRIMEIRO PERÍODO ........................................................................................................ 11
O SEGUNDO PERÍODO........................................................................................................ 12
O TERCEIRO PERÍODO ....................................................................................................... 12
O QUARTO PERÍODO........................................................................................................... 13
O QUINTO PERÍODO ............................................................................................................ 14
AS RELAÇÕES ENTRE AS DISCIPLINAS ........................................................................ 16
A CIÊNCIA CRISTÃ................................................................................................................ 18
O SAGRADO, O MITO E O PROFANO .............................................................................. 19
RITOS DE PASSAGEM ......................................................................................................... 21
A RELIGIÃO É UM FENÔMENO HUMANO....................................................................... 22
DIVISÃO DAS RELIGIÕES ................................................................................................... 23
MONOTEÍSMO ........................................................................................................................ 26
POLITEÍSMO ........................................................................................................................... 26
PANTEÍSMO ............................................................................................................................ 27
ANIMISMO E CRENÇA NOS ESPÍRITOS ......................................................................... 27
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 33

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Ciência da religião

CIÊNCIA

Em tempos de globalização, neoliberalismo, mundialização, modernidade e


pós-modernidade, as rotinas da vida cotidiana constituem um desafio para a religião.
Este novo momento histórico desafia as formas religiosas diversificadas.
A religião, como um dos elementos centrais do campo simbólico da sociedade,
não escapa a essa dinâmica cultural em que a sociedade está envolvida, na qual o
heterogêneo e o diverso contrapõem-se ao monolítico e ao homogêneo; o concreto,
específico e particular ao abstrato, geral e universal (CHIAVENATO, 2002).
Nessa nova sociedade, a religião também muda, ela se desterritorialização,
depende das forças mercantis da oferta e da procura; ela passa a ser orientada a
adaptar-se a situações inusitadas e a novas demandas. Reage às suas concorrentes
lançando mão da propaganda e dos meios eletrônicos de Comunicação, simplificando
sua linguagem em função de um limitado número de “produtos” religiosos.
Uma das coisas mais surpreendentes nessa nova dinâmica da religião é a
facilidade que qualquer um tem de mudar de uma para outra sem problemas de
consciência e de constrangimento. Estamos na era da religião do mercado sem
fronteiras; ela se espalha e se fragmenta, não se sabe mais de onde veio; refaz-se a
cada demanda; avança nos espaços e lança-se no mercado. A religião explode, se
pluraliza, e por isso se sujeita à lei da concorrência; como mercadoria, é vendida a um
conjunto de “clientes” que não se sentem mais obrigados a consumi-la (FONTES,
2007).
Somos um país onde novas religiões e filosofias de vida despontam,
transformando o Brasil num país mais tolerante e cada vez mais desenraizado em
matéria religiosa e em termos culturais. Nunca as religiões foram tão livres para se
instituírem, para concorrerem entre si e se multiplicarem. Vive-se uma livre
concorrência entre os mais diversos tipos de organização religiosa (igrejas, seitas,
cultos, centros, terreiros, ordens, denominações, comunidades, casas, redes,
movimentos), as quais dialogam criticamente com a religião católica, ainda
hegemônica no país.

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Ciência da religião

O pluralismo religioso possibilita que o mercado concorrencial seja abastecido


com uma variedade de ofertas religiosas (terapia corporal, mental e afetiva; cultos de
reposição de energia; crença no poder dos cristais e de tantas outras formas de
espiritualidades ou de manipulação de forças e energias), onde o melhor produto é
aquele que cada adepto elege e consome como tal (FONTES, 2007).
A pluralização é o rótulo de um tipo de sociedade que possibilitou os limites do
desejo de escolha e de liberdade de preferências. No Brasil, aproximadamente um
quarto da população adulta já teve a experiência do sentido da conversão e da adesão
a uma outra religião, diferente daquela que herdou de seus pais.
A religião passa a interessar somente no sentido de seu alcance individual; aos
poucos ela vai se reterritorializando na esfera do indivíduo e deste para a dinâmica
das relações de consumo, vendo-se obrigada, agora, a ser regulada pelas regras do
mercado.
A sociedade passa a recorrer à religião apenas festivamente, tendo em vista o
aparecimento de formas religiosas que se apresentam como espetáculo. Aquela
religião que era fonte de transcendência perdeu seu sentido; um outro tipo de religião
que está preocupada com causas localizadas, reparos específicos, portanto, adquire
expressão e relevância nos tempos atuais (FONTES, 2007).

Definições e conceitos de religião

Os romanos foram os primeiros a usar palavra religião. Chamavam Religião o


dever de fidelidade ao Estado. O cidadão romano devia comportar-se religiosamente
com lealdade ao Estado e às autoridades. Como no império romano, o Estado era
religioso, a relação entre Estado e Religião aconteceu - naturalmente. Cícero (106-46
a.C.) dizia que religião vem de relé gere, voltar a ler, recordar.
Segundo alguns teólogos, Cícero quis dizer que os homens diligentes
“voltavam a ler” o que se referia ao culto dos deuses.
Três séculos depois o escritor cristão Lactâncio (240-320) desenvolveu a ideia
de religião como a identificação sentimental entre o homem e Deus, já pensando no
deus cristão, criador do mundo e de tudo que nele havia. Religio, como os romanos

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Ciência da religião

entenderam originariamente ou na interpretação de Lactâncio, passou a exprimir tanto


a lealdade ao Estado – pelo acatamento das leis, códigos morais etc., - como a
identidade sentimental, a crença em um só deus; nesse caso, cristão.
Com mais frequência afirma-se que a palavra religião vem do latim religare, que
significa amarrar. Os cristãos geralmente preferem essa explicação. Lactâncio usou
religare para afirmar que o homem voltava a atar seus vínculos com Deus. Mas é
interessante observar que mesmo no contexto religioso, religare pode ter outro
significado: Religare religionibus bona alicujus, pode ser traduzido como "Consagrar
a alguma divindade os bens de outros" - o que é muito característico na luta entre o
cristianismo e o paganismo a partir dos séculos III e IV. No entanto Santo Agostinho
(354-430) preferia como origem da palavra religião o reeligere, reeleger - os homens,
depois da mensagem de Jesus Cristo, reelegeram o deus cristão.
A palavra religio-religião sofreu variações de significado à medida que o Estado
e a Igreja cresciam e enfrentavam os acontecimentos históricos (CHIAVENATO,
2002).

O QUE É RELIGIÃO?

Assim como a explicação para a origem da palavra religião muda de acordo


com certos interesses, o conceito de religião também se modifica pelos tempos. A
religião não pode ser entendida da mesma forma quando se trata das sociedades
tribais, dos gregos, dos romanos, etc. A pergunta o que é religião? Tem de ser
respondida levando-se em conta as características e as categorias religiosas de cada
época. Esta pergunta não permite resposta-genérica. Porque a religião não é a
mesma em diferentes épocas e sociedades.
Para os primeiros cristãos romanos, por exemplo, a religião era a da vida real;
O ópio que os livrava espiritualmente das coisas deste mundo.
O cristianismo primitivo não continha em si nenhum componente filosófico, mas
uma alienação específica, conformando o homem a sofrer resignadamente neste
mundo, sem vontade política de modificá-Io.

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Ciência da religião

Na Idade Média a religião adquiriu um conteúdo filosófico e teológico muito


forte. Nesse período de quase mil anos, a religião ocupou o espaço político: a vida se
fez em torno ou em relação aos conceitos religiosos.

Os reis eram consagrados pela Igreja; os papas ditavam a moral e os costumes


- quase sempre com exemplos nada dignificantes. A teologia
Condicionava a ciência, permitindo-lhe o progresso ou sufocando-a em dogma
se proibições absurdas.
O cristianismo do Império Romano e o da Idade Média pouco tinham em
comum. Se as características religiosas diferem em cada época, são diferentes
também as suas formas de relação com o poder político e econômico. Se recuarmos
à Palestina do tempo de Jesus, veremos que a religião, representava as tendências
políticas de cada classe; sem que isso implicasse participação ativa dentro do
organismo do Estado.

Nessas sociedades e nessas épocas, a religião é diferente em cada


circunstância e em cada momento – e para cada classe. É preciso observar as
diferenças para não incidir no erro de urna resposta genérica. Também é preciso
cuidado para não tornar a crítica da religião um simples reducionismo. Destacar as
condições socioeconômicas nas quais as religiões se desenvolveram - e o
cristianismo em particular - não significa explicar o fenômeno religioso apenas pela
estrutura econômica. A religião não é só um meio que os grupos de poder usam para
preservar seus políticos ou econômicos (CHIAVENATO, 2002).

Porém, a pergunta o que é religião? apesar de complexa, pode ser


respondida objetivamente em uma frase. Se cada momento exige uma

Interpretação e um entendimento específico, objetivamente pode-se chegar a uma velha


e tradicional resposta básica, que tem causado horror e satisfação há maisde cem anos:
“religião é ópio do povo”. Ao contrário do que parece a afirmação de Marx não reduz a
religião a nada: abre um leque espantoso de análise radical, em que a raiz é o próprio
homem. Mas existem características radicalmente diversas de ser esse ópio do povo.

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Ciência da religião

Tomando como base o monoteísmo ocidental, podemos dizer que religião é o


conjunto de doutrinas e práticas institucionalizadas, cujo objeto e objetivo é fazer a
ponte de ligação entre o sagrado e o profano, o caminho de reaproximação entre
criatura e criador, o Homem e Deus. Não por acaso, os sumos sacerdotes da maioria
das igrejas, também são denominados Sumos Pontífices, os Supremos Construtores
da Ponte Sagrada.

Religião e Filosofia

A religião e a filosofia constituem dois importantes âmbitos do raciocínio


humano. Enquanto na religião o pensamento se desenvolve a partir da interpretação
de mitos, o raciocínio filosófico se ocupa com o estudo do próprio ato de pensar
(“Filosofia” = amor a sabedoria). Ambas, no entanto, têm em comum a busca pela
verdade. Para enfrentarmos a problemática do confronto entre essas duas fontes é
preciso observar, a partir do estudo da história, como a todo o tempo encontramos
estudos de grandes pensadores sobre filosofia e religião.

Em “O Discurso do Método”, Descartes faz reflexões críticas sobre Deus, a


relação entre fé e razão, e entre teologia e filosofia. “Os estudos devem ter por fim dar
ao espírito uma direção que lhe permita proferir juízos sólidos e verdadeiros sobre
tudo o que se apresenta”. Mas, enquanto Descartes separa a fé da razão, outros
pensadores entendem que a fé e a razão, na verdade, formam uma unidade, pois o
espírito humano não se constitui exclusivamente de lógica e razão.

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Pascal dizia que Deus é sensível ao coração, não à razão. Assim, entendia
Pascal que seria possível reconhecer Deus não pelo intelecto, e sim pelo coração. O
ateísmo que encontramos em Nietzsche e Sartre, por exemplo, nega a existência de
Deus. Para Sartre, filósofo existencialista francês, Deus não tinha existência real. Em
O ser e o Nada Sartre diz: “toda realidade humana é uma paixão... o homem se perde
enquanto homem para fazer nascer Deus... o homem é uma paixão inútil”. “O homem
nada mais é do que aquilo que faz de si mesmo: é esse o primeiro princípio do
existencialismo. É também a isso que chamamos de subjetividade... o homem será
apenas o que ele projetou ser.… o homem é totalmente responsável por sua
existência... o homem só existe à medida que se realiza; não é nada além do conjunto
de seus atos, nada mais que sua vida... ainda que Deus existisse, nada mudaria; eis
nosso ponto de vista. ” (SALDANHA, 2009).

Para Nietzsche, o cristianismo gerou conformismo e mediocridade.


Apresenta uma nova ética para libertar o homem de sua alienação religiosa.
Nietzsche proclamou “Deus está morto”, propondo que fica a cargo do homem criar
suas próprias regras, ao invés de obedecer àquelas da igreja católica. O
conhecimento humano atual, no entanto, ainda não tem uma resposta definitiva
quanto à existência ou não de Deus.

O estudo sobre a influência atual do pensamento religioso sobre a nossa


sociedade deve ter como objeto seu lado benéfico e positivo, bem como seus perigos.
A transgressão dos valores fundamentais da religião é hoje um sério problema social.
O estudo da filosofia deve ser encarado não como uma esfera autônoma de
conhecimento, mas sim como instrumento para o estudo das demais áreas de atuação
do conhecimento. Assim, a difusão da filosofia por todas as classes sociais, seria um
meio de se proteger os valores verdadeiros da religião de falsos pastores, na medida
em que o estudo da filosofia auxilia na construção de uma visão crítica e interpretativa
(SALDANHA, 2009).
Filosofia, o pensar racional do mundo, nasceu do afastamento das academias
gregas da crença nos deuses mitológicos. A busca de entender o mundo pela razão
sem o recurso do misterioso e a possibilidade de designar o inexplicável à vontade

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dos deuses marcou o início de um diálogo, que por vezes transformou -se em guerra
acirrada, entre a fé e a razão! Desde a antiguidade o pêndulo do pensamento
filosófico, ora destaca a religiosidade (teísmo) ora o secularismo (ateísmo), em cada
era ele reflete a caminhada do homem na busca pelo conhecimento de si mesmo e
do mundo em que vive, e incluído nessa caminhada é a busca do homem para um
Deus, qualquer que seja seu nome.

Um breve panorâmico histórico

A pesar da crítica dos deuses, o conceito de um Deus (um ser supremo e


transcendental) está presente na filosofia antiga, notavelmente no pensamento
aristotélico. Na obra Metafísica, o filósofo desenvolve o pensamento acerca do
primeiro motor, para ele “o motor imóvel, quer dizer, Deus, ou o ato puro que é a causa
de toda mudança e de todo devir no mundo, mas sem estar ele próprio sujeito à
mudança” (Metafísica III, 8) (LALANDE, 1999).
O pensamento da Idade Média é marcado pelo surgimento dos “monoteísmos
e encontro com a filosofia grega” (LALANDE, 1999). A Europa ocidental, onde o
cristianismo dominou desde os dias do império romano, foi o palco do diálogo entre a
teologia e a filosofia marcado pelo neoplatonismo, a filosofia sendo considerada pelos
Padres da Igreja como a serva da teologia. Esse encontro resultou numa verdadeira
fusão entre a filosofia e a teologia cristã, sacramentada nas obras das Escolásticas,
principalmente São Tomadas de Aquino, o Ser Supremo de Aristóteles tomou a
roupagem do Deus do cristianismo.

A modernidade foi marcada pela secularização e um novo distanciamento entre


pensamento filosófico e a teologia. A razão e a fé mais uma vez ocuparam espaços
distintos e o Deus da filosofia não é mais o Deus divino, objeto de adoração de culto
do cristianismo, judaísmo ou islamismo, “é a causa como causa sui. [...] A este Deus
não pode o homem nem rezar nem sacrificar. ” (HEIDEGGER, 1999, p.199).

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Uma nova metafísica!

Hegel faz uma afirmação sobre a relação entre a Filosofia e a Religião capaz
de fazer os filósofos modernos virarem em seus túmulos, ele chega a declarar que a
filosofia e a teologia são a mesma coisa, ele considera a filosofia como “teologia
racional” – “Deus é o princípio de todas as coisas e o fim de todas as coisas; (tudo)
inicia em Deus e retorna para Deus. Deus é um e o único objeto da filosofia [...] Assim,
filosofia e teologia”. O desenvolvimento do conceito da aproximação da filosofia e
teologia é encontrado no pensamento do Heidegger. De acordo com Heidegger
(1999), a filosofia e a religião em comum com as artes, buscam por caminhos
diferentes “as causas últimas”, ou seja, tem a mesma finalidade.
A filosofia, como a arte e a religião, é afazer humano-além humano de primeira
e última importância. [...] a filosofia situa-se necessariamente no esplendor da beleza
e no liminar do sagrado (HEIDEGGER, 1999).
Na primeira etapa de sua vida profissional, principalmente no livro “Ser e
Tempo” Heidegger aparenta ateísmo, no segundo período o conceito é outro.
(SANTOS, 2004).
Se a leitura de Ser e Tempo possibilitava uma interpretação de Heidegger como
um ateu, ou como indiferente à questão de Deus, neste segundo período as suas
obras possibilitam outra interpretação. Nesses textos, parece ser possível afirmar que
Heidegger não nega a existência de Deus, nem tampouco lhe é indiferente
(HEIDEGGER, 1999, p.2).

Heidegger de fato entende que o pensamento filosófico desde Platão nada mais é de
que uma onto-teo-logia a busca pelo Deus, o fundamento de todas as coisas, seja
esse Deus o primeiro motor imóvel de Aristóteles, a causa sui do Kant ou até os
humanistas em cujo pensamento o ser humano toma o lugar de Deus. O pensamento
heideggiano afasta da filosofia o Deus cristão que dominava a filosofia na Idade
Medieval e moral cristã que permeavam o pensamento filosófico da modernidade,
mesmo nas obras de filósofos que negavam e propõe um retorno à busca pelo “ser”
(SANTOS, 2004).

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Religião e Ciência

Não que Religião e Ciência tenham que ser inimigas naturais, mas todas as
Vezes que ambas tratam das mesmas coisas, os conflitos são inevitáveis. O
Criacionismo é um dos melhores exemplos (VALÉRIO, 2001).
Os Criacionistas alegam que a Teoria da Evolução é um embuste, uma fraude
com o objetivo de anular a Bíblia como fonte Única de Verdade Suprema. Dizem que
há uma conspiração secular que predomina no meio científico, com raízes
provavelmente no Iluminismo e Positivismo, se não uma manobra ardilosa do próprio
Satanás.
Muitos denunciam que a Evolução ao abalar a autoridade do Livro Sagrado,
abre caminho para uma sociedade sem “Deus”, que segundo eles só pode conduzir à
autodestruição e infelicidade, pois só a crença numa criatura onipotente, vigilante e
vingativa poderia manter uma sociedade em ordem (VALÉRIO, 2001).
Afirmam que a verdadeira Ciência é a que afirma a glória de Jeová e confirma
os ensinamentos da Bíblia. Alguns até acusam o Evolucionismo de Pseudo Ciência,
e de que não passa de uma Torre de Babel de falácias e mentiras com objetivo de
disseminar uma filosofia ou religião humanista e ateia.
Em síntese, acusam a Ciência de tudo o que eles próprios são também
apropriadamente acusados por alguns de seus adversários: Pseudo Cientistas sem
compromisso com a verdade e sim com crenças de uma religião ultrapassada e
danosa a toda a história da civilização (Uma crítica comum entre alguns Anti-
Criacionistas) (VALÉRIO, 2001).
Entretanto não cabe aqui esticar mais essa difusão de opiniões pessoais a
respeito. Cada um pode acusar ao outro das mesmas coisas. Afinal o que é pior?

Acreditar ou não em Deus? Estado vinculado ou não a Religião? Democracia ou


Teocracia? Formação filosófica e humanista ou doutrinação religiosa?
E segundo os próprios Criacionistas acusam, o que contribuiria melhor para o
progresso da Ciência e da Sociedade? Uma postura Evolucionista e Naturalista ou
uma Criacionista e Religiosa?

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Os questionamentos acima levam a acirradas e intermináveis discussões, mas


merecem ser lançadas para reflexão daqueles que irão mediar conhecimentos, pois a
vida não é uma via de mão única, não é exata, concreta, enfim, cada sujeito tem direito
a elaborar seus próprios pensamentos, mas deixaremos de lado por enquanto
aspectos morais e éticos da sociedade, e concentraremos no que se refere ao
verdadeiro conhecimento científico.
Os Criacionistas chegam a declarar que enquanto a Evolução não for
descartada e a Criação admitida, toda a Ciência estará envolta em erros e estagnação.
Vamos comparar então períodos históricos com relação ao desenvolvimento científico
e a disseminação das religiões
(VALÉRIO, 2001).

O PRIMEIRO PERÍODO

Vai desde o surgimento do homo sapiens até o surgimento da Filosofia Grega


e das Filosofias Orientais, que passaram a substituir os mitos pela razão ou intuição
investigativa.
Esse período se estende desde cerca de 200 mil anos atrás até cerca de 600
a.C. Sendo então o maior de todos os períodos. Embora muitos Criacionistas
acreditem na precisão bíblica de que o Ser Humano tem menos de 6000 anos na
Terra, o que por incrível que pareça, não afeta o raciocínio uma vez que tal período
continua sendo o maior.
Esse foi o período onde ocorreu a maior intensidade de crenças religiosas,
Panteístas ou Politeístas. Nunca se tomou conhecimento de que tenha havido
algumgrupamento humano que não tivesse sua religião. Esse foi também o período
de desenvolvimento científico mais lento da história, principalmente em relação ao
tempo que durou. Não acredito que alguém discorde disto sem apelar para lendas do
tipo Atlântida ou Lemúria (VALÉRIO, 2001).

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O SEGUNDO PERÍODO

Vai desde o surgimento da filosofia até seu obscurecimento, tendo durado


pouco menos de Mil anos. Nesse período os Filósofos gregos fizeram progressos
notáveis na compreensão do mundo. Mapearam os movimentos celestes, deduziram
o átomo, alguns já propunham o Heliocentrismo e conclui-se que a Terra não era
plana. Foram criados avançados recursos matemáticos, linguísticos e lógicos. Foi
desenvolvida a Metafísica, a Ética, a Política, a Astronomia. Muitos de seus avanços
são sentidos até a atualidade.
No oriente os Hindus calcularam movimentos astronômicos com incrível
precisão, inclusive o movimento terrestre de Precessão, que dura 26 mil anos, através
de uma elaboração mística filosófica, deram uma idade para o Universo não muito
distante da idade atualmente dada pela Ciência e criaram a mais avançada
matemática, que até ela chegou na forma do sistema decimal. A China não ficou atrás
em termos de desenvolvimento econômico, filosófico e artístico.

Nesse período, principalmente no ocidente, houve uma considerável retração


do pensamento religioso, e as primeiras “Faculdades” foram criadas, a Academia de
Platão, o Liceu de Aristóteles, e a Biblioteca de Alexandria, onde já se dizia, “A Ciência
nos Liberta do Terror dos Deuses”.
O TERCEIRO PERÍODO

Vai da ascensão da Igreja de Roma no ocidente, abrangendo toda a Idade


Média, cerca de Mil anos, ou seja, equivalente ao período anterior, porém

incrivelmente mais lenta em termos de progresso do conhecimento. Na verdade,


ocorreu o contrário, o Heliocentrismo que já fora proposto em Alexandria foi
esquecido, técnicas médicas que remontam a Hipócrates, o Pai da Medicina, foram
substituídas novamente por exorcismos e feitiçarias.
A Idade das Sombras de fato justifica esse apelido, pois embora tenha sim,
havido progresso, ele com certeza foi mais lento. Mas apenas no Ocidente.
Enquanto com base na Bíblia a Igreja reprimia qualquer forma de Filosofia não
Cristã, e travava o progresso com seus Dogmas, no oriente médio que a partir da
metade da Idade Média seria dominado pelos Muçulmanos, a Ciência se manteve em
pleno ritmo (VALÉRIO, 2001).

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incrivelmente mais lenta em termos de progresso do conhecimento. Na verdade,


ocorreu o contrário, o Heliocentrismo que já fora proposto em Alexandria foi
esquecido, técnicas médicas que remontam a Hipócrates, o Pai da Medicina, foram
substituídas novamente por exorcismos e feitiçarias.
A Idade das Sombras de fato justifica esse apelido, pois embora tenha sim,
havido progresso, ele com certeza foi mais lento. Mas apenas no Ocidente.
Enquanto com base na Bíblia a Igreja reprimia qualquer forma de Filosofia não
Cristã, e travava o progresso com seus Dogmas, no oriente médio que a partir da
metade da Idade Média seria dominado pelos Muçulmanos, a Ciência se manteve em
pleno ritmo (VALÉRIO, 2001).
O resultado foi um enorme atraso da Europa em relação ao Oriente, que
descobria a Pólvora, inventava a Bússola, usava especiarias para conservar
alimentos, criava telescópios e aperfeiçoava a navegação. Foi o domínio do
Cristianismo na Europa, uma autêntica Teocracia.

O QUARTO PERÍODO

Começa a partir do renascimento, que resgatou na Europa o conhecimento


antigo grego e se prontificou a tirar o atraso em relação ao oriente. A imprensa
aniquilou o controle de informações por parte da Igreja e surgiu o Iluminismo. Os
filósofos romperam com a Teologia católica e o Heliocentrismo foi trazido de volta
(VALÉRIO, 2001).
Passou a haver uma reação em relação à Igreja a ao Cristianismo tradicional e
assim a Ciência avançou novamente acabando por superar o oriente. Por que isso
aconteceu?
Provavelmente por que enquanto o Ocidente rompeu de forma bem mais
radical com a religião, o Oriente ainda se manteve preso a ela, apesar do Islamismo
e Hinduísmo serem bem menos problemáticos com relação a Ciência.

Em menos de 400 anos, o ocidente progrediu muito mais do que nos 1000 anos
de Idade Média, em parte resgatando o conhecimento antigo do SEGUNDO
PERÍODO.

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O QUINTO PERÍODO

Entretanto no quarto período os cientistas em sua maioria ainda eram crentes,


tendo suas limitações religiosa, somente a partir do final do século XIX no Ocidente
rompeu-se definitivamente com o poder do Cristianismo, os Estados passaram a não
mais orientar suas constituições através de códigos religiosos e a Ciência ficou
definitivamente livre, apesar de ainda enfrentar repressões (VALÉRIO, 2001).
Nesse âmbito a Teoria da Evolução teve um efeito devastador, ela consolidou
a Biologia como uma Ciência Plena e estabeleceu sua comunicação com a
Geologia e a Física.
Agora não se aceita mais religião, crença e nem mesmo Metafísica no cerne
de desenvolvimento científico, foi a vitória do Ceticismo e pôr fim a Ciência Disparou
resultando no mundo que temos hoje em dia.

Esquematizando:

Períodos OCIDENTE ORIENTE

(datas RELIGIÃO CIÊNCIA RELIGIÃO CIÊNCIA

aproximadas)

PRIMEIRO Religiões primitivas, O mínimo Religiões primitivas, O mínimo

PERÍODO influência máxima desenvolvimento influência máxima da desenvolvimento


da Religião Religião

“200mil”aC -
600 aC

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SEGUNDO Surgimento da Maior Surgimento da Maior


PERÍODO Filosof ia desenvolvimento Filosof ia Hindu, desenvolvimento
Grega, menor Budista, Taoísta e
600 aC - 400 d.C. inf luência da Conf uciana. Menor
Religião interf erência
religiosa no
pensamento

TERCEIRO Apogeu do Baixo Surgimento do Desenvolvimento


PERÍODO Cristianismo, desenvolvimento Islamismo, baixa estável assim como
estado Teocrático, interf erência religiosa no período anterior
400 dC - Altíssima no pensamento
1500 dC inf luência da
religião

QUARTO Renascimento e Mais alto Baixa interf erência Desenvolvimento


PERÍODO enf raquecimento desenvolvimento, o Sem grandes estável assim como
da Religião Ocidente ultrapassa o alterações, boa parte no período anterior
1500 dC - Oriente do oriente começa a
1900 dC ser dominado pelo
ocidente

QUINTO Baixíssima Máximo Baixa inf luência da Alto, mas menor


PERÍODO inf luência da desenvolvimento Religião no que no Ocidente.
Religião no pensamento, embora
1900 dC - Agora pensamento maior que no
Ocidente

Creio que esteja evidente a relação inversa entre Religião e Ciência, pelo
menos entre as religiões tradicionais. Os períodos de maior influência religiosa são os
de menor desenvolvimento científico.
De fato, pode haver convivência harmônica entre religião e ciência, mas com
toda a certeza o Cristianismo foi a que mais travou o desenvolvimento científico,
diferente do Budismo e do Hinduísmo, e mais ainda que o Islamismo.
Espiritismo Kardecista, Taoísmo, Neo Panteísmo e diversos outros tipos de
religiões novas ou antigas renovadas praticamente não entram em choque com a
Ciência. É quase unicamente o Fundamentalismo Cristão que briga contra a

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Evolução, e em bem menor grau o Judaico e o Islâmico. Religiões intimamente


relacionadas.
Mesmo hoje em dia essa relação continua direta, os países menos
desenvolvidos do mundo são os mais influenciados por Religiões, alguns são
inclusive Teocráticos (VALÉRIO, 2001).

As relações entre as disciplinas

As religiões têm necessidade de explicar o universo. Em quase todas, o


primeiro relato é o da criação/do mundo. Algumas dizem que o mundo tem milhões de
anos, outras acham que só uns poucos milhares. Na Índia certas religiões afirmam
que o mundo nunca foi criado, sempre existiu e não tem princípio nem fim. “Não há
princípio nem fim para a semente e para a morte”. Quando, no fim de um ciclo, o
universo se dissolve, passa à fase da potencialidade ou estado-semente, aguardando
a nova criação. A fase da criação ou expressão é chamada “dia de Brama” é a fase
de dissolução ou potencialidade chama-se noite de Brama: Cada- dia e noite de
Brama são um período de 4.320 milhões de anos humanos exatos - diz um texto
indiano (CHIAVENATO, 2002).
Para os judeus o mundo não é tão velho assim: foi criado no dia 7 de outubro
de 3.761 a.C. Esta data foi estabelecida no século VI por um rabino estudando a
idade dos patriarcas judeus. Os cristãos também consideram que o mundo foi criado
mais ou menos nessa época. Lutero achava que a criação aconteceu em 3.960 a.C.
Os Judeus e cristãos concordam que o mundo foi criado do nada, aceitando a tradição
bíblica de II Macabeus; que também o gênero humano surgiu da mesma forma. Isso
quer dizer, o mundo e o homem foram criados do nada. O que é esse mundo criado
do nada, em 7 de outubro de 3.761, ou como quer Lutero, tem 3.960 aC?
A concepção judaica do mundo - o que vale dizer, a visão bíblica aceita pelos
cristãos é semelhante à de algumas religiões orientais. Há uma abóbada celeste, que
tem em baixo o céu contendo um oceano celeste. Quando Deus abre as janelas do
céu, cai chuva do lindo oceano celeste e molha a Terra que está abaixo, A Terra flutua
sobre o oceano terrestre como se fosse um barco. No interior da Terra está o inferno,
quente, que engole os pecadores quando o solo se abre. Essa é a explicação
que está em Números, 16,30-35 (CHAVENATO, 2002).

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Na maioria das religiões as explicações para a criação do mundo são parecidas. Há


um consenso de que o mundo surgiu do nada e depois Deus ou os deuses fizeram o
homem. Para a criação do homem existem basicamente quatro mitos:
1- os homens brotaram da terra, como as plantas;
2- o homem foi modelado com argila pelos deuses e em seguida recebeu o
sopro da vida;
3- uma deusa teria feito os homens;
4- o homem foi formado com o sangue de dois deuses, imolados para essa
finalidade (CHIAVENATO, 2002).

A criação do homem com o barro - versão adotada pelos judeus e cristãos - é


de origem sumeriana. A partir dela mitos análogos surgiram no Egito antigo e na
Grécia. A tradição bíblica deve ser uma extensão desse mito que sempre repete a
ideia básica: o homem formou-se a partir de uma matéria prima (barro, osso,
madeira) e foi animado pelo sopro do criador, tendo a sua forma na maioria dos casos.
O mito implica a ideia de que o homem foi feito à imagem e semelhança do seu criador,
mas só o corpo lhe pertence, porque é matéria: a alma (à "sopro da vida" para os
judeus, ruah em hebraico) é do criador-Deus (CHAVENATO, 2002).

Basicamente a partir destes mitos as religiões explicaram o mundo.

O processo de explicar o mundo politizou-se dentro das religiões à medida que


elas monopolizaram o saber e impuseram dogmas. Donas de um saber doado por
Deus ou deuses, as religiões afirmaram-se incontestáveis e subordinaram às suas
ideias as demais atividades culturais. A ciência foi deformada, amordaçada e durante
séculos forneceu mais vítimas – queimadas pelo fogo da Inquisição, relegadas ao
ostracismo, destemidas etc. do que conceitos científicos (CHIAVENATO, 2002).

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A CIÊNCIA CRISTÃ

A maioria dos grandes pensadores e cientistas até o século XIX e pode-se


incluir artistas, literatos etc., foram considerados potenciais agressores da moral e da
civilização, ameaçando os conceitos (con)sagrados. No entanto, não atacavam a
sociedade nem representavam perigo.
As academias de ciências não diferiam da Igreja quanto à intolerância.
No século XVII não se podia contestar o que a medicina oficial ensinava. A Faculdade
de Paris determinou que ninguém poderia afastar-se dos ensinamentos dos médicos
gregos Hipócrates (460-377 a.C.) e Galeno (130-200) sob pena de excomunhão. Era,
proibido equiparar a cirurgia à medicina, ou receitar novos medicamentos, como
o quinino, a ipecacuanha, o antimônio e alguns outros. O quinino foi desprezado pela
Faculdade de Paris porque Galeno não o conhecia.
Séculos afora várias descobertas medicinais foram negadas pelas academias
ligadas à Igreja, por não estarem de acordo com os velhos mestres. O médico inglês
William Harvey (1578-1657) confirmou e teorizou o processo da circulação
sanguínea, que foi desautorizada. O erre de Galeno, de que existia um orifício entre
os ventrículos, só foi corrigido em 1453 pelo anatomista pioneiro da dissecação de
cadáveres, Andreas Vesalius (1514-1564).
Enquanto isso, era comum usar como medicamentos sangue e excrementos
ou excreções de morcego, gordura de enguia, carne de cobra, piolhos, saliva, fezes,
urina, ossos do crânio de criminosos enforcados, etc. Embora a persistência da Igreja
em condenar novos medicamentos e rejeitar as descobertas da medicina, Paracelso
(1493-1541) - que tinha muitas superstições - queimou simbolicamente os livros de
Galeno de Avicena (980-1037), por considerá-los ultrapassados, mas foi atacado
pelos médicos contemporâneos.

Até mesmo sábios como Linneu (I707 -1778) sofriam de certa miopia
religiosa. Linneu achava que as espécies eram fixas e não poderiam ser diferentes
hoje do que foram antes do dilúvio. Por isso, ao classificar as plantas, ele acreditou
ter descoberto o plano de Deus para a criação. Só muito mais tarde - quando teve de
revisar parte da sua obra - percebeu o erro e mudou de ideia
(CHIAVENA 2002).

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Até mesmo sábios como Linneu (I707 -1778) sofriam de certa miopia
religiosa. Linneu achava que as espécies eram fixas e não poderiam ser diferentes
hoje do que foram antes do dilúvio. Por isso, ao classificar as plantas, ele acreditou
ter descoberto o plano de Deus para a criação. Só muito mais tarde - quando teve de
revisar parte da sua obra - percebeu o erro e mudou de ideia
(CHIAVENATO,
2002).
As relações entre a medicina e a religião sempre foram tensas. Não há muita
diferença entre o reverendo Edward Masseys do século XVIII, e os Testemunhas de
Jeová atuais. O reverendo Massey, em 1772, fez campanha contra a vacina
antivariólica. Em um sermão que ele mandou imprimir – A prática, perigosa e
pecaminosa da vacina - afirmava que a doença de Jó era a varíola, e que tinha sido
transmitida pelo demônio. Segundo o reverendo Massey, as doenças são enviadas
pela Providência, Divina para castigar e testar os homens, é a tentativa de impedi- Ias
é uma operação diabólica.
Em 1798 sacerdotes protestantes criaram uma Sociedade contra a, Vacinação,
em Boston. Eles denunciaram a vacina contra a varíola como um “desafio aos
céus, até à vontade de Deus”, Afirmaram que á lei de Deus proíbe sua pratica. Hoje
são conhecidos os casos em que as Testemunhas de Jeová impedem a transfusão
de sangue, mesmo quando a vida de crianças está em jogo (CHIAVENATO,
2002).

O SAGRADO, O MITO E O PROFANO

O termo sagrado tem a ver com santo, pois originariamente representam a


mesma palavra, a raiz indo-europeia sag.
Para entendermos melhor a noção do sagrado faz-se necessário entendêlo
como uma relação: O sagrado é essencialmente uma relação entre o sujeito (o ser
humano) e um termo (Deus), relação que se visualiza ou se mostra em um âmbito (a

natureza, a história, as pessoas) ou em objetos, gestos, palavras etc. Sem essa


relação nada é sagrado (CROATTO, 2004).

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O sagrado é sempre parte do profano, porém o homem o reveste de


sacralidade na sua relação com o Divino.
Sagrado se tornou uma palavra-chave para os pesquisadores da religião no
século XX: descreve a natureza da religião e o que ela tem de especial. Esse termo
ganhou realce numa obra sobre psicologia da religião, A ideia do sagrado, de Rudolf
Otto, publicada em 1917. O sagrado é das ganz Andere, o “inteiramente outro”, ou
seja, aquilo que é totalmente diferente de tudo o mais e que, portanto, não pode ser
descrito em termos comuns. Otto fala de uma dimensão especial da existência, a que
chama de misterium tremendum a fascinosum (em latim, “mistério tremendo e
fascinante”). É uma força que por um lado engendra um sentimento de grande
espanto, quase de temor, mas por outro lado tem um poder de atração ao qual é difícil
resistir.
Todo ser humano é um “animal simbólico”, por isso constrói símbolos
continuamente. O símbolo é a linguagem originária e fundante de toda experiência
religiosa (CROATTO, 2004).
Etimologicamente vem do grego sum-ballo ou sym-ballo, que significa a união
de duas coisas. No símbolo dois elementos se fazem presentes e se inter-
relacionam, existem dois sentidos: um primeiro que seria o próprio sentido, a própria
identidade e um segundo que seria ver as coisas com uma visão diferente, ou seja, a
partir da experiência fenomênica de cada ser humano. Mais uma vez citando Croatto
(2004): “o símbolo é, então, um elemento desse mundo fenomênico (desde uma coisa
até uma pessoa ou um acontecimento) que foi „transignificado‟, enquanto significa
algo além de seu próprio sentido primário”.
O símbolo vem a ser a representação de uma ausência.

Com relação à palavra mito (muthos ou mythos), sua etimologia é incerta, na


sua origem está talvez o indo-europeu mendh-/mudh-, que quer dizer lembrar,
pensamento, solicitação.

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Sendo assim, Croatto (2004, P. 209) afirma que “o mito é o relato de um


acontecimento originário, no qual os Deuses agem e cuja finalidade é dar sentido a
uma realidade significativa”. O mito recita, é um discurso.

Um mito é uma história que geralmente acompanha um rito.


O rito com frequência reitera um ato em que o mito se baseia.

Assim, o mito religioso tem um significado mais profundo do que a lenda e os


contos folclóricos. O mito procura explicar alguma coisa. É uma resposta metafórica
para as questões fundamentais: de onde viemos e para onde vamos? Por que
estamos vivos e por que morremos? Como foi que a humanidade e o mundo
passaram a existir? Quais são as forças que controlam o desenvolvimento do
mundo?
Muitas vezes os mitos elucidam algo que aconteceu no princípio dos tempos,
quando o mundo ainda era jovem. Por exemplo, a maioria das religiões tem seus mitos
de criação, que explicam como o mundo surgiu. O objetivo principal deles não é
revelar fatos históricos. A essência do mito é oferecer às pessoas uma explicação
geral da existência.
Os conceitos religiosos, que também encontram sua expressão em mitos,
podem ser divididos, de modo geral, em três tipos: conceitos sobre um deus ou vários
deuses, conceitos sobre o mundo e conceitos sobre o homem.
Já o rito é ação, converte em cena o que o mito fala. Vem da palavra latina ritus,
que se aproxima da palavra sânscrito-védica rta, que quer dizer a força da ordem
cósmica. Isso nos leva a concluir que o rito não é uma ação puramente humana, é
de alguma forma uma ação divina: “o rito é uma ação que sintoniza com a ação dos
Deuses: é necessário lembrar que no mito é relato um acontecimento, em que os
atores essenciais são os Deuses. Então, no rito, os seres humanos fazem o que no
mito fazem os Deuses” (CROATTO, 2004, p.333).

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RITOS DE PASSAGEM

Os ritos de passagem se associam às grandes mudanças na condição do


indivíduo. As principais transições marcadas por esses ritos são o nascimento, a
entrada na idade adulta, o casamento e a morte.
Tais ritos costumam simbolizar uma iniciação. O nascimento é a iniciação na
vida, enquanto a morte é a iniciação numa nova condição no reino dos mortos, ou na
vida eterna.
De uma forma ou de outra, todas as sociedades têm ritos de passagem, mesmo
aquelas em que a religião não desempenha nenhum papel na vida pública. Em geral,
é grande a importância deles nas culturas ágrafas, nas religiões primais. Nestas, os
ritos de passagem estão claramente ligados às noções de tabu. Tabu é uma palavra
polinésia adotada pelos historiadores da religião para indicar uma severa
proibição, restrição ou exclusão, e se aplica a algo que é considerado perigoso
ou impuro (CHIAVENATO, 2002).

A religião é um fenômeno humano

O homem não nasceu religioso. Os primeiros homens deviam ignorar o


sobrenatural: ocupavam-se basicamente com a alimentação e os seus cérebros não
estavam desenvolvidos. Antes da crença primitiva gerada pelo medo dos fenômenos
naturais ou pelos sonhos, o homem era ateu. Não se encontraram monumentos
funerários da primeira etapa do paleolítico (cerca de 2,5 milhões de anos atrás)
sugerindo qualquer crença religiosa. A religião surgiu quando as relações sociais
tornaram-se mais complexas, capazes de produzir uma superestrutura aprimorada. A
religião começou a nascer em decorrência da necessidade de trabalhar. O trabalho
obrigou o homem a evoluir biológica e culturalmente.
A religião não nasceu da divagação sobre a existência, mas porque para
trabalhar, o homem tinha, de pensar. Como seu conhecimento era mínimo e sua
experiência de pensar precária, ele percebeu erradamente sua relação com a
natureza. Então passou a divinizar as coisas, concedendo-lhes poderes e virtudes.
A descoberta de cadáveres em tumbas com objetos arrumados como se os
mortos fossem usá-los, demonstra que desde o Homem de Neanderthal (125 a 4,0

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mil anos a.C.) se acreditava na vida depois da morte. As descobertas arqueológicas


comprovam a existência de muitas crenças há milhares de anos. O culto da
fecundidade, por exemplo, devia existir há mais de 40 mil anos, como indicam
imagens pintadas ou esculpidas.
No mesolítico (de 0 a 5 mil anos a.C.) existiu um canibalismo cultual, como se
deduz do estudo dos crânios daquela época, abertos para a extração do cérebro e
pintados ritualmente.
Pelo menos em um período de seis mil anos pode-se estudar as religiões com
relativa segurança. Observando-se esse longo período percebe-se que não surgem
religiões novas. As novas religiões evoluem das antigas.
Uma religião sai de outra, muda a forma, aperfeiçoa-se, mas substancialmente
não se cria uma religião. A grande divisão aconteceu há muito tempo, entre religiões
tribais, nacionais e universais. A religião nasceu antes de Deus. Depois que o homem
teve a experiência do sagrado, quando codificou um comportamento religioso para
enfrentar os acontecimentos diferentes do cotidiano, então começou a elaborar a
imagem de Deus. No início desse processo tudo o que o homem não entendia era
Deus. Ao compreender a natureza, evoluindo cultural e intelectualmente, o seu
conceito de Deus modificou-se: Com o tempo o Deus terrível e punidor, que despeja
raios e provoca catástrofes transformou-se em protetor e pai (CHIAVENATO, 2002).

DIVISÃO DAS RELIGIÕES

Há várias formas de religião, e são muitos os modos que vários estudiosos


utilizam para classificá-las. Porém há características comuns às religiões que
aparecem com maior ou menor destaque em praticamente todas as divisões.
Uma divisão é de acordo com o tipo de sociedade, ou três categorias que
coincidem, de certa forma, com três tipos distintos de sociedade.
São as religiões primais ou primitivas, as religiões nacionais e as religiões
mundiais.

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1º. Religiões Primais - São aquelas que os estudiosos costumavam chamar


de “religiões primitivas” e que se encontram, ou se encontravam, em culturas ágrafas,
entre os povos tribais da África, Ásia, América do Norte e do Sul e Polinésia. A marca
mais característica dessas religiões é a crença numa miríade de forças, deuses e
espíritos que controlam a vida cotidiana. O culto aos antepassados e os ritos de
passagem desempenham um papel importante. A comunidade religiosa não se
separa da vida social, e o sacerdócio normalmente é sinônimo de liderança política
da tribo.
2º. Religiões Nacionais - Estas incluem grande número de religiões históricas
que não são mais praticadas: germânica, grega, egípcia e assírio-babilônica. Hoje
podemos encontrar vestígios delas, por exemplo, no xintoísmo japonês. É típico das
religiões nacionais adotar o politeísmo, uma série de deuses organizados num
sistema de hierarquia e funções especializadas. Elas têm também um sacerdócio
permanente, encarregado dos deveres rituais em templos construídos para esse
fim. Há sempre uma mitologia bem desenvolvida, o culto sacrificial é básico, e os
deuses é que escolhem o líder da nação (monarquia sacra).

3º. Religiões Mundiais - As religiões mundiais pretendem ter uma validade


mundial, ou, em outras palavras, uma validade para todas as pessoas. São para todos.
São conhecidas também como religiões universais. A principal característica das
religiões universais surgidas no Oriente Médio é o monoteísmo: elas têm um só
Deus. Dá-se grande peso à relação do indivíduo com Deus e à sua salvação. O papel
do sacrifício é bem menos proeminente nelas do que nas religiões nacionais, ao
passo que o da oração e da meditação é mais importante. As religiões universais
foram criadas por profetas fundadores cujos nomes são conhecidos: Moisés, Buda,
Lao-Tse, Jesus, Maomé. Por último, devemos ressaltar que os limites entre esses três
tipos de religião são fluidos. As religiões nacionais muitas vezes constituem evoluções
que acompanharam o desenvolvimento geral da sociedade (ao passar de uma
sociedade tribal para um Estado nacional). Assim também, certas religiões mundiais
emergiram de religiões nacionais, como um protesto contra determinados aspectos
de seu culto e de suas concepções religiosas. Religiões orientais e ocidentais Já

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houve muitas tentativas de classificar as religiões mundiais em orientais e


ocidentais. Consideram-se ocidentais o judaísmo, o islã e o cristianismo, enquanto
as principais religiões orientais são o hinduísmo, o budismo e o taoismo.
Outra característica para classificar as religiões seria cronológica, pois as
formas religiosas predominantes evoluem através dos tempos nos sucessivos
estágios culturais de qualquer sociedade.
Ainda outro modo é classificá-las de acordo com sua solidez de princípios e
sua profundidade filosófica, o que irá separá-las em religiões com e sem Livros
Sagrados.
Como um estudioso do assunto, Valério (2004) prefere uma classificação que
leva em conta essas duas características, e divide as religiões nos seguintes 4
grandes grupos distintos: Monoteístas, Panteistas, Politeístas, Ateístas.
Nessa divisão há uma ordem cronológica. As Religiões PANTEÍSTAS são as
mais antigas, dominando em sociedades menores e mais “primitivas”. Tanto nos
primórdios da civilização mesopotâmica, europeia e asiática, quanto nas culturas das
Américas, África e Oceania.
As Religiões POLITEÍSTAS por vezes se confundem com as Panteístas, mas
surgem num estágio posterior do desenvolvimento de uma cultura. Quanto mais a
sociedade se torna complexa, mais o Panteísmo vai se tornando Politeísmo.
Já as MONOTEÍSTAS são mais recentes, e atualmente as mais disseminadas,
o Monoteísmo quantitativamente ainda domina mais de metade da humanidade.
E embora possa parecer estranho, existem religiões ATEÍSTAS, que negam a
existência de um ser supremo central, embora possam admitir a existência de
entidades espirituais diversas. Essas religiões geralmente surgem como uma reação
a um sistema religioso Monoteísta ou pelo menos Politeísta, e em muitos aspectos se
confunde com o Panteísmo embora possua características exclusivas.
Essa divisão também traça uma hierarquia de rebuscamento filosófico nas
religiões. As Panteístas por serem as mais antigas, não têm Livros Sagrados ou
qualquer estabelecimento mais sólido do que a tradição oral, embora na atualidade o
renascimento panteísta esteja mudando isso. Já as politeístas muitas vezes
possuem registros de suas lendas e mitos em versão escrita, mas nenhuma possui

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uma revelação propriamente dita. Isto é um privilégio do Monoteísmo. Todas as


grandes religiões monoteístas possuem sua Revelação Divina em forma de Livro
Sagrado. As Ateístas também possuem seus livros guias, mas por não acreditarem
num Deus pessoal, não tem o peso dogmático de uma revelação divina, sendo vistas
em geral como tratados filosóficos (INSD, 2010).

Monoteísmo

A crença que prevalece na maioria das grandes religiões ocidentais é o


monoteísmo, isto é, a convicção de que existe um só deus. Há exemplos em muitas
religiões de que o monoteísmo nasceu como reação à adoração de vários deuses
(politeísmo). O islã tem suas raízes numa renovação ou reforma da antiga religião dos
nômades árabes, a qual possuía numerosos deuses tribais.

Politeísmo

Em religiões que possuem diversos deuses, é comum estes terem funções


distintas, bem como esferas definidas de responsabilidades. A criação de animais e a
pesca, o comércio e os diferentes ofícios, o amor e a guerra, podem ter seus próprios
deuses. O mundo dos deuses com frequência é organizado da mesma maneira que
o dos homens, numa família ou num Estado.
Alguns pesquisadores acreditam que as divindades indo-europeias (isto é,
indianas, gregas, romanas e germânicas) se estruturam em três classes baseadas na
sociedade da época:

* o monarca (que muitas vezes era também sacerdote);

* a aristocracia (os guerreiros)

* os artesãos, agricultores e comerciantes.

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Era comum as pessoas venerarem o deus que ocupava o mesmo lugar que
elas na escala social.
Geralmente o deus supremo é o deus do céu. Isso não implica que ele habite
o céu, mas que se revele no firmamento e nos fenômenos associados à abóbada
celeste.
Em muitas religiões o deus do céu faz par com uma divindade feminina. A
imagem do casal Céu e Mãe Terra é de fácil compreensão para uma sociedade
agrária. A terra é fértil e dá o alimento ao homem, mas só depois de receber sol e
chuva do céu.

Além dos “deuses-reis”, familiares para nós porque se encontram na mitologia


clássica e na germânica, há uma grande quantidade de deuses menores e espíritos
em volta de nós que são patronos de determinadas doenças ou de certas profissões.

Panteísmo

O panteísmo é uma crença que difere tanto do monoteísmo como do


politeísmo. Aqui a principal convicção é que Deus, ou a força divina, está presente no
mundo e permeia tudo o que nele existe. O divino também pode ser
experimentado como algo impessoal, como a alma do mundo, ou um sistema do
mundo. O panteísmo costuma ser associado ao misticismo, no qual o objetivo do
mortal é alcançar a união com o divino.

Animismo e crença nos espíritos

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Em muitas culturas prevalece a crença de que a natureza é povoada de


espíritos. Isso se chama animismo, da palavra latina animus, que significa “alma”,
“espírito”. Em certa época os historiadores da religião pensavam que o animismo
havia sido a base de toda a religião e que mais tarde ele se transformou, via
politeísmo, em monoteísmo. Mas essa é apenas uma teoria. O que é certo é que o
animismo impera em várias sociedades.
Em nossa própria cultura a noção de espírito está presente em muitas
criaturas relacionadas com as forças naturais: espíritos das águas, duendes,
fantasmas e sereias.
Os espíritos dos mortos também continuam a desempenhar um importante
papel na África, na América Latina, na China e no Japão.
Normalmente as características dos deuses são mais individualizantes e
definidas com mais clareza que as dos espíritos. E as divindades em geral têm nome.
Mas em inúmeros casos é difícil distinguir de imediato entre deuses,
antepassados e espíritos. Todos são expressões da força sobrenatural que banha a
existência. A ideia de uma força ou um poder que regula todos os relacionamentos na
vida humana e na natureza predomina, sobretudo, nas religiões primais. Os
historiadores da religião costumam usar o vocábulo „polinésio mana‟ para descrever
essa força, que precisa ser controlada ou aplacada.

Abaixo temos alguns quadros comparativos das religiões faladas acima.

ÉPOCAS DE SURGIMENTO E PREDOMÍNIO.

PANTEÍSMO: As mais antigas, remontando a pré-história onde tinham predominância


absoluta, e também presentes em muitos dos povos silvícolas das Américas, África e
Oceania.
POLITEÍSMO: Surgem num estágio posterior de desenvolvimento social, tendo sido
predominantes na Idade Antiga em todo o velho mundo, e mesmo nas civilizações
mais avançadas das Américas pré-colombianas.

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MONOTEÍSMO: Mais recentes, surgindo a partir do último milênio aC e predominando


da Idade Média até a atualidade.
ATEÍSMO: Surgem a partir do século V aC, tendo vingado somente no
Oriente e no Ocidente ressurgindo somente após a renascença numa forma mais
filosófica que religiosa.
Neo PANTEÍSMO: Embora possuam representantes em todos os períodos históricos,
popularizam-se ou surgem a partir do século XVIII.
BASE LITERÁRIA
PANTEÍSMO: Próprias de culturas ágrafas, não possuem em geral qualquer forma de
base escrita, sendo transmitidas por tradição oral.
POLITEÍSMO: Nas sociedades letradas possuem frequentemente registros literários
sobre seus mitos, e mesmo nas ágrafas possuem tradições icônicas mais elaboradas.
MONOTEÍSMO: Possuem Livros Sagrados definidos e que padronizam as formas de
crença, servindo como referência obrigatória e trazendo códigos de leis. São tidos
como detentores de verdades absolutas.
ATEÍSMO: Possuem textos básicos de conteúdo predominantemente filosófico, não
possuindo, entretanto força dogmática arbitrária ainda que sendo também revelados
por sábios ou seres iluminados.
Neo PANTEÍSMO: Seus textos são em geral filosóficos, embora possuam mais força
doutrinária, não incorrendo porém em dogmas arbitrários.
MITOLOGIA
PANTEÍSMO: Deus é o próprio mundo, tudo está interligado num equilíbrio
ecossistêmico e místico. Crê-se em espíritos e geralmente em reencarnação, é
comum também o culto aos antepassados. Procura-se manter a harmonia com a
natureza, e o mundo comummente é tido como eterno.
POLITEÍSMO: Diversos deuses criaram, regem e destroem o mundo. Se relacionam
de forma tensa com os seres humanos, não raro hostil. As lendas dos deuses se
assemelham a dramas humanos, havendo contos dos mais diversos tipos.
ATEÍSMO: O Universo é uma emanação de um princípio primordial "vazio", um Não-
Ser. Crê-se na possibilidade de evolução espiritual através de um trabalho íntimo, crê-

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se em diversos seres conscientes dos mais variados níveis, e geralmente em


reencarnação.
Neo PANTEÍSMO: Acredita-se em geral no Monismo, uma substância única que
permeia todo o Universo num Ser único.
São em geral reencarnacionistas e evolutivas. A desatribuição de qualidades do Ser
supremo por vezes as confunde com o Ateísmo.
SÍMBOLOS
PANTEÍSMO: Utilizam no máximo totens e alguns outros fetiches, é comum o uso de
vegetais, ossos, ou animais vivos ou mortos.
POLITEÍSMO: Surgem os ídolos zoo ou antropomórficos na forma de pinturas e
esculturas em larga escala. A simbologia icônica se torna complexa em alguns casos
resultando em formas de escrita ideográfica.
MONOTEÍSMO: O Deus supremo geralmente não possui representação visual, mas
os secundários sim. Utilizam símbolos mais abstratos e de significados complexos.
O Não-Ser supremo não pode ser representado, mas há muitas retratações dos seres
iluminados. Há vários símbolos representativos da natureza e metafísica do Universo.
Neo Diversos símbolos e mitos de diversas outras religiões são resgatados e
reinterpretados, também não há representação específica do Ser Supremo, mas pode
haver de outros seres elevados.
RITUAIS
PANTEÍSMO: Geralmente ligados a natureza e ocorrendo em contato com esta. É
comum o uso de infusões de ervas, danças, oráculos e cerimônias a ar livre.
POLITEÍSMO: Passam a surgir os templos, embora em geral não abandone
totalmente os rituais ao ar livre. Em muitos casos ocorrem os sacrifícios humanos,
oráculos e as feitiçarias de controle ambiental.
MONOTEÍSMO: Geralmente restritas aos templos, as hierarquias ritualistas são mais
rígidas, não há oráculos pessoais, mas sim profecias generalizadas com base no livro
sagrado. Não há rituais de controle ambiental.

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ATEÍSMO: Embora ainda comuns nos templos são também frequentes fora destes.
Desenvolvem-se técnicas de concentração, meditação e purificação mais específicas,
baseadas antes de tudo no controle dos impulsos e emoções.
NeoPANTEÍSMO:
Em geral baseados no uso de "energias" da natureza. Não mais têm influência nos
processos civis, sendo restritos a curas, proteção contra ameaças físicas e
extrafísicas.
EXEMPLOS

PANTEÍSMO: Religiões silvícolas, xamanismo, religiões célticas, druidismo,


amazônicas, indígenas norte americanas, africanas e etc.
POLITEÍSMO: Religião Grega, Egípcia, Xintoísmo, Mitologia Nórdica, Religião
Azteca, Maia etc.
MONOTEÍSMO: Bhramanismo, Zoroastrismo, Judaísmo, Cristianismo, Islamismo,
Sikhismo.
ATEÍSMO: Orientais: Taoísmo, Confucionismo, Budismo, Jainismo.
Ocidentais: Filosofias NeoPlantônicas, Ateísmo Filosófico (Não Religioso)
Neo Espiritismo Kardecista*, Racionalismo Cristão, Neo- PANTEÍSMO: Gnosticismo,
Teosofia, Wicca, "Esotéricas", etc.

O quadro abaixo nos apresenta de modo simplificado a visão da história,


conceito de Deus, noção de humanidade e salvação, a ética e o culto nas religiões
consideradas ocidental e oriental.

OCIDENTAL ORIENTAL

Visão da história Visão linear da história, isto é, aVisão cíclica da história, isto é, a
história tem um começo e um f im; o história se repete num ciclo eterno e
mundo f oi criado num certo ponto e o mundo dura
um dia irá terminar. de eternidade em eternidade.

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Conceito de deus Deus é o criador; Ele é todo O divino está presente em tudo. Ele
poderoso e é único. O monoteísmo é se manif esta em
tipicamente ocidental. muitas divindades (politeísmo), ou
como uma f orça impessoal que
permeia tudo e a todos (panteísmo).

Noção de humanidade Há um abismo entre Deus e o serO homem pode alcançar a união
humano, entre o criador e a criatura. com o divino mediante a iluminação
O grande pecado é o homem desejar súbita e o conhecimento.
se transformar em Deus em vez de
se sujeitar à vontade de Deus.

Salvação Deus redime o ser humano do A salvação é se libertar do


pecado, julga e dá a punição. Existe eterno ciclo da
a noção de vida após a morte, no céu reencarnação da alma e do curso
ou no inf erno. da ação. A graça vem
por meio de atos de sacrif ício ou do
conhecimento místico.

Ética O fiel é um instrumento da ação Os ideais são a passividade e a f uga


divina e deve obedecer à vontadedo mundo.
de Deus, abandonando o pecado
e a passividade diante do mal.

Culto Orar, pregar, louvar. Meditação, sacrif ício.

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