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Breve histórico das Religiões

Desde tempos remotos na História, dos inícios da presença humana na


Terra, os seres humanos têm buscado respostas para o grande enigma da sua
própria existência e da criação do Universo como um todo bem como do
sentido da vida terrena e após a morte.
São vários e diferenciados os caminhos nessa busca, que a
Humanidade vem construindo através dos séculos: a ciência, a filosofia, a
religião, as artes. As sociedades e, no seu âmbito, os grupos sociais e as
pessoas, têm diferentes concepções sobre a vida e o mundo. Em cada um
desses percursos - ciência, filosofia, religião -, há muitas diferenças de
respostas.
Assim, no terreno da procura religiosa, a Humanidade já construiu e
continua construindo diferentes e múltiplas respostas à problemática da criação
e da existência. Daí se originam as concepções sobre Deus (es), enquanto
figura(s) ou fonte(s) da criação. As religiões, portanto, fazem parte da cultura
humana, presentes em todos os povos, em todas as épocas históricas. Nesse
sentido, todas têm algo em comum: a busca de uma relação com o mundo
metafísico.
Assim, para as mais antigas sociedades – mesopotâmica, europeia-
céltica, asiáticas, negro-africanas, e culturas indígenas das Américas – ágrafas,
de tradição oral, quando, ainda, os seres humanos não dispunham de
conhecimentos e tecnologias sofisticadas, como atualmente, para explorar e
dominar a Natureza –, esta significava uma força muito poderosa e superior.
Os elementos naturais eram divinizados, a exemplo do vento, da água, do fogo,
dos animais. Assim, as divindades eram simbolizadas em totens e fetiches,
como vegetais, ossos, animais vivos ou mortos. Isto também acontece em
certas religiões até hoje, como as indígenas (de várias partes, como a América
e a Oceania) e as africanas, e em outras retomadas em tempos mais recentes
(Wicca/Bruxaria, Xamanismo, Druidismo), em que os seres humanos guardam
uma relação muito forte com a Natureza e, de certo modo, mais respeito para
com ela do que as sociedades modernas. Tais religiões eram panteístas (do
grego pan= tudo; e theosi= deus): segundo essas crenças, os deuses estão
presentes em tudo, na Natureza e no Universo, em suma, no mundo. Não há
um Deus criador, todo o Mundo é manifestação divina. Deus é o mundo e
busca-se a harmonia com a Natureza, o equilíbrio ecossistêmico.
Com o tempo, surgiram as religiões politeístas, durante a Antiguidade
(na África: Egito; na Europa: Grécia, Roma, Escandinávia, Ibéria, Ilhas
Britânicas e regiões eslavas; no Japão, com o Xintoísmo; na Índia, com o
Hinduísmo; na América pré-colombiana: Azteca, Maia etc.). As religiões
politeístas baseiam-se na crença em muitas divindades relacionadas à criação
e regência do mundo, cada uma com seu significado e protegendo um certo
campo da atividade humana, áreas, objetos, instituições, elementos naturais,
relações humanas. Um dos exemplos mais conhecidos é a mitologia grega. As
suas divindades eram representadas por figuras (esculturas e pinturas) zoo ou
antropomórficas, com elementos retirados da Natureza, a exemplo de deuse
(a)s sob a forma de animais e vinculados a plantas. Tais religiões eram mais
elaboradas e chegavam a dispor de registros literários.
Com o tempo, como na mitologia grega, as divindades começaram a ser
personificadas quase como seres humanos, perdendo a sua transcendência.
Ainda na Antuguidade, no Oriente Médio, por volta do último milênio a.C,
constituíram-se duas religiões que atravessaram os séculos e são professadas
até os dias atuais: o judaísmo e o cristianismo. Neste momento, em certas
sociedades, passou-se do politeísmo para o monoteísmo, isto é, religiões que
acreditam em um único Ser Supremo como criador do mundo e do ser humano.
Séculos depois, foi formada uma outra religião monoteísta bastante visível na
atualidade: o islamismo. Além dessas, também são monoteístas o
bramanismo, o zoroastrismo, o sikhismo. Cada uma delas produziu Livros
Sagrados, que são orientadores da crença e das condutas dos fiéis. O seu
Deus não tem representação visual. Cada uma delas foi se expandindo pelo
mundo, arregimentando adeptos, criando seus templos e seus corpos
religiosos.
O quadro abaixo aponta as principais religiões do mundo, algumas de
suas características e em alguns casos, o número de adeptos:

REGIÃO DE ORIGEM RELIGIÃO Nº DE ADEPTOS


judaísmo 15 a 18 milhões
cristianismo 2,1 bilhões
Oriente Médio
islamismo 1,3 bilhões
fé bahá'í; 7 milhões
Hinduísmo 900 milhões
confucionismo 6, 5 milhões
budismo 376 milhões
jainismo 4,2 milhões
Ásia
sikhismo 25 milhões
xintoísmo
Religião tradicional
400 milhões
chinesa
Cristãos
430 milhões
independentes
Europa Oriental Igreja Ortodoxa: 220 milhões
religiões dos povos
África Negra 100 milhões
negro-africanos.
religiões das
América sociedades
indígenas]
Religiões dos
povos das ilhas do
Oceania
Pacífico, da
Austrália e da Nova
Zelândia

Europa e América do Igrejas 375 milhões


Norte Protestantes

Europa Espiritismo 15 milhões

Várias partes Novas religiões 108 milhões


Entre 780 milhões a 1,1
Ateus/Agnósti-os/
bilhões
Fontehttp://www.google.com.br

OBS: algumas religiões não estão mais limitadas a sua região de


origem; outras já não têm mais tanta significação na região onde se originaram.

Conceito e Características

A palavra Religião vem do latim re-ligare, significando voltar a ligar, ligar


novamente, ou simplesmente religar, religar os seres humanos com Deus. Em
outras palavras, compreende um conjunto de crenças, mitologias doutrinas ou
formas de pensamento relacionadas com a esfera do sobrenatural, divino,
sagrado e transcendental, além de rituais e códigos morais.
Outros significados para a palavra: Para o célebre orador romano
Cícero, o termo derivava do latim relegere, reler, reativo à releitura das
escrituras.
Santo Agostinho, no século IV, afirmou que o termo derivava de
religere, reeleger, ou seja, significava a religação do ser humano novamente a
Deus, do qual havia se separado. Mais tarde, ele retoma a interpretação de
Lactâncio, de religio como religar.
No século V, o pensador Macróbio atrbuiu ao termo religio, que seria
derivado de relinquere, o significado daquilo deixado pelos antepassados.
Em outras sociedades, os termos são diferentes: por exemplo, no
hinduísmo, usava-se o termo rita para designar a ordem cósmica do mundo,
com a qual os seres deveriam se harmonizar. Depois, o termo foi substituído
por dharma, que, no budismo, significa uma lei divina e eterna.
Relacionados ao termo Religião, existem outros, derivados do discurso
religioso grego, romano, judeu e cristão:
• Sacro, sagrado: aquilo que mantém uma ligação/relação com o(s)
deus(es) ;
• Profano: aquilo que não mantém nenhuma ligação com o(s)
deus(es).
• Místico: tudo que se refira a um plano sobrenatural.

Apesar da sua diversidade, em quase todas as religiões, como


fenômenos individuais e sociais, se encontram as seguintes características:
a) Um sistema de princípios ou crenças no sobrenatural,
compreendendo as concepções sobre o Universo, a Terra, o Homem, o
Criador, a vida após a morte;
b) Divindade(s) ou ser(es) superior(es) com influência ou poder
sobre o destino humano: deuses, anjos, demônios, elementais, semideuses,
etc. Em certas religiões, não há essa ideia de divindade(s), que é substituída
por valores morais e códigos de conduta;
c) Rituais (do latim ritualis) ou cerimônias, procedimentos ou atos
que os seres humanos praticam, de religação ou contato com a(s) divindade(s).
Os rituais podem ser individuais ou coletivos. Uma outra palavra para designar
o ofício religioso é liturgia (do grego λειτουργία, "serviço" ou "trabalho público"),
a celebração, podendo incluir um ritual (como a missa católica) ou uma
atividade religiosa diária (como as salats muçulmanas). A celebração litúrgica
rememora a relação dos fiéis com a(s) divindade(s).
Em certas religiões, são usadas vestimentas, instrumentos, objetos
(cálice, crucifixo, livros sagrados, velas, imagens, etc) que são dotados de
simbolismo, ou seja, de significado religioso. Abaixo, o quadro apresenta
símbolos de algumas religiões:
O mantra sagrado
SÍMBOLOS
"OM" ou "AUM" Hindu.
A Roda do DHARMA budista, ou "Roda
Representa o "Som"
da Vida".
primordial.

O Tei-Gi do Taoísmo.
Simbolizando a
A estrela de Davi. Um dos símbolos do
interdependência dos
Judaísmo e do Estado de Israel.
princípios universais Yin
e Yang.

A cruz do
A Lua e Estrela Muçulmana, oriunda de
Cristianismo.
um dos mais antigos Estados a adotar o
Encruzilhada entre o
Islã.
material e o espiritual.
Igrejas de base judaico-cristã, como a católica e as protestantes, adotam um livro
como símbolo, em referência à Bíblia.

d) igrejas, templos, terreiros, mesquitas etc, que são lugares a que


os fiéis comparecem para realizar os seus atos de celebração religiosa;
e) um corpo de pessoas que cuidam das funções religiosas. Em
certas religiões, de acordo com suas concepções, há pessoas consideradas
intermediárias entre os fiéis e a(s) divindade(s) (padres, pastores, rabinos, pais-
de-santo etc). Em outras religiões, com concepções distintas, não se considera
necessário tais intermediários.
Apesar de suas diferenças, há algo comum a todas as religiões: elas se
baseiam na fé, palavra que vem do grego pí-stis, ideia de confiança, fidúcia,
firme persuasão, uma convicção em uma verdade, mesmo sem nehuma
evidência física.
Por outro lado, há pessoas que não têm religião, têm dúvidas sobre a
religiosidade ou praticam uma religiosidade baseada em outros princípios e não
na fé. Para ficar mais claro, seguem alguns conceitos:

Ateísmo: negação da existência de Ser(es) Supremo(s) e, portanto, da


veracidade de qualquer religião teísta. Um ateu, porém, pode acreditar em
outros princípios para a explicação da vida e do Universo, como aqueles
científicos ou filosóficos, por exemplo;

Agnosticismo: dúvida, questionamento sobre a existência de deus e


sobre a veracidade de qualquer religião teísta, considerando a falta de provas
favoráveis ou contrárias.

Deísmo: crença num deus cujo conhecimento é feito pela razão e não
pela fé e revelação.

Religião, intolerância e conflitos

Ao longo da História da Humanidade, infelizmente, a convivência dos


seres humanos, dos grupos sociais, das várias sociedades, com seres
humanos, grupos sociais, sociedades diferentes, ou seja, a convivência com o
Outro, nem sempre foi pacífica.
A intolerância se expressa diante de várias diversidades: de gênero, de
etnia, de geração, de orientação sexual, de padrão físico-estético, e, também,
de religião.
A intolerância religiosa pode causar espanto, mas muitos e muitos
conflitos e guerras violentas foram e ainda são travados em nome de uma
determinada crença religiosa ou de outra.
Este é um problema extremamente complexo porque tais confrontos,
costumeiramente, não carregam motivações exclusivamente religiosas, mas a
estas se somam razões de ordem econômica, social, política, cultual, variáveis
a cada experiência histórica. Os exemplos de conflitos religiosos são
numerosíssimos: entre judeus e cristãos, entre cristãos e islâmicos, as
milhares de mortes produzidas pela Inquisição (da Igreja Católicas) contra os
considerados hereges, as guerras entre católicos e protestantes em
decorrência da Reforma e da Contra- Reforma, nos séculos XVI-XVII; a
imposição do cristianismo ou do catolicismo sobre os indígenas da América e
os negros importados da África como escravos. Hoje, alguns desses grandes
conflitos ainda perduram, como aquele entre islâmicos e cristãos ou entre
católicos e protestantes, na Irlanda do Norte. Mas a intolerância religiosa
também se expressa em pequenos conflitos cotidianos, quando se desqualifica
pessoas por não pensarem religiosamente do mesmo modo de quem as
desqualifica; ou quando se destrói templos e símbolos de religiões que se
consideram adversárias; ainda, quando alguém arroga para a sua crença o
estatuto de religião e qualifica a crença alheia como seita.
Diante da intolerância religiosa, o filósofo francês Voltaire, dizia no
século XVIII: “É verdade que esses horrores absurdos não mancham todos os
dias a face da terra; mas foram frequentes, e com eles facilmente se faria um
volume bem mais grosso do que os Evangelhos que os reprovam”.
(VOLTAIRE, 1993: 127)
Se as várias concepções de divindade (s) estão vinculadas a algo
grandioso, como a criação do Universo e da vida; se, através da religião, as
pessoas realizam uma busca espiritual e uma harmonia interior, como podem
elas, em nome de Deus(es), discriminar outras pessoas, ofendê-las, agredi-las,
e até matá-las? Porque tais pessoas não pensam igual? Por que não têm as
mesmas concepções religiosas?
Em nome de quem elas praticam essa violência?
Com que autoridade elas procedem dessa maneira?
Acaso Deus (es)deu (deram) poderes a certas pessoas como únicas
donas da verdade?
Se, nas mais diversas concepções religiosas, a(s) divindade(s) é (são)
representada(s) por sua magnanimidade, como o Bem, a justiça, o perdão,
como, em seu nome, praticar o Mal, a injustiça, a intolerância?
Por que a minha religião seria melhor do que a sua?
Por que a sua religião seria melhor do que a minha?
A intolerância de qualquer natureza, para com o Outro, diferente de nós,
gera a discriminação, o preconceito, o conflito, a violência, até a guerra.
Divergências religiosas resolvidas desse modo são anti-religiosas.
A tolerância, nesse caso, religiosa, é a garantia de cada um realizar a
sua escolha religiosa. Ou não escolher. É a garantia do direito à diferença. É a
possibilidade de um mundo menos conflituoso.
Historicamente, há muitas religiões que guardam muitas aproximações
entre si. O desconhecimento, a ignorância mesmo, a respeito dessas
afinidades, é uma das fontes da intolerância. A outra é a arrogância de alguém
se considerar dono da verdade divina.
Por isso, há movimentos de pelo diálogo entre diferentes religiões, no
sentido de construção da tolerância religiosa. Essa perspectiva se denomina
ecumenismo.

O direito à diversidade religiosa no Brasil e uma Educação para a


tolerância

O Brasil já teve uma única religião oficial – o Catolicismo –, com a


Constituição de 1824, que perdurou até a proclamação da República. Até
então, só eram permitidos templos católicos. O clero católico fazia parte do
funcionalismo do Estado. É claro que eram praticadas outras religiões, mas os
seus professantes sofriam discriminação e só podiam realizar seus atos
religiosos em particular, no espaço privado, e não em lugares públicos. Com a
República, o Brasil se tornou um Estado Laico, isto é, deixou de ter uma
religião oficial e se separou da Igreja.
A atual Constituição Brasileira, de 1988, aborda a questão religiosa nos
seguintes termos:

“TÍTULO I
Dos Princípios Fundamentais
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel
dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos:
................
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
..................
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações
internacionais pelos seguintes princípios:
...............
II - prevalência dos direitos humanos;
..............
VI - defesa da paz;
VII - solução pacífica dos conflitos;
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;

TÍTULO II
Dos Direitos e Garantias Fundamentais

CAPÍTULO I
DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
...................
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão
em virtude de lei;
..................
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o
anonimato;
..................
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo
assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a
proteção aos locais de culto e a suas liturgias;

TÍTULO VIII
Da Ordem Social

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família,


será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao
pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho.
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
.................
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o
pensamento, a arte e o saber;
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e
coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
................
Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza
material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de
referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores
da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver;
Por sua vez, a Constituição de 1988 também dispõe especificamente
sobre o Ensino Religioso:
“Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental,
de maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores
culturais e artísticos, nacionais e regionais.
§ 1º - O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina
dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental.” (BRASIL.
Constituição Federal. 1988). Posteriormente, a Lei nº 9.394, de 20 de
dezembro de 1996 - de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em seu
Artigo 33, estipulou:
“Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, constitui disciplina
dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, sendo
oferecido, sem ônus para os cofres públicos, de acordo com as preferências
manifestadas pelos alunos ou por seus responsáveis, em caráter:
I - confessional, de acordo com a opção religiosa do aluno ou do
seu responsável, ministrado por professores ou orientadores religiosos
preparados e credenciados pelas respectivas igrejas ou entidades religiosas;
ou
II - interconfessional, resultante de acordo entre as diversas
entidades.” (BRASIL, CF, 1988).

Portanto, da leitura dos dispositivos constitucionais-legais, fica claro que


a Carta Magna do país e outros documentos legais asseguram a liberdade de
culto e estabelecem que nenhuma pessoa pode ser discriminada por motivo
de qualquer natureza, aí incluído o de religião. Preserva-se, assim, o direito
subjetivo de consciência, tanto para professar quanto para não professar
nenhum credo religioso. Complementarmente, a lei assegura o respeito e
tolerância à diversidade cultural-religiosa do país, sendo vedadas, nas escolas,
quaisquer formas de proselitismo.
A execução destes princípios de tolerância e respeito à diversidade não
é fácil, ainda mais em uma sociedade como a nossa, em que intolerâncias e
desrespeitos às diversidades culturais são frequentes. A questão religiosa é
uma das mais delicadas no que se refere a tais diversidades.
Se queremos construir um mundo de tolerância, é preciso levar em
consideração, na Escola, algumas atitudes, tais como:
a) compreender as religiões como fenômenos presentes em
diversas culturas, ao longo da História, portanto, cada religião guarda as suas
tradições, vinculadas, por sua vez, às identidades dos grupos sociais e das
pessoas;
b) conhecer as religiões, as diversas expressões de religiosidade, de
um modo contextualizado, cotejando informação e realidade, de modo a que
o(a) educando(a) e, inclusive, o(a) educador(a) conheça(m) as próprias
crenças e as situem em relação a outras, com base no princípio do valor
histórico-cultural de cada uma, promovendo o sentido da tolerância e do
convívio respeitoso com o diferente;
c) compreender o Ensino religioso como uma área de conhecimento
interdisciplinar, tanto na execução curricular quanto na avaliação;
d) adotar a perspectiva da diversidade religiosa de modo articulado
com outras dimensões de Cidadania e, desse modo, na Escola, articulando
vários componentes curriculares> História, Geografia, Língua Portuguesa,
Literatura etc;
e) promover o entendimento do conhecimento como aprendizado da
dignidade humana, própria e do Outro;
f) promover a construção de uma convivência fraterna, mediante
diálogo ecumênico e inter-religioso, em que o respeito às diferenças tem por
base um compromisso moral e ético.
Sintetizando tais posturas, o ensino religioso, sem nenhum propósito
doutrinante de uma determinada visão religiosa, de maneira respeitosa e
reverente para com o domínio de cada culto e de cada doutrina, deve incentivar
e desencadear no aluno um processo de conhecimento e vivência de sua
própria religião, mas também um interesse por outras formas de religiosidade
(INCONTRI e BIGHETO, .
http://www.espiritualidades.com.br/Artigos_D_L/incontri_Do ra_Ens_relig.htm.)

Assumir essa perspectiva implica em um processo de reeducação do(a)


próprio(a) educador(a):

♦ contra os seus próprios preconceitos na matéria, de que todos nós


somos portadores antes de um estudo e reflexão mais profundos;
♦ contra a cegueira para com o Outro (o diferente), substituindo-a pelo
que a compreensão humana e o conhecimento podem trazer de lucidez em
todas as religiões: se há algo nas outras religiões que nos produz
estranhamento, há concepções belas e, inclusive, aquelas que se aproximam
das nossas;
♦ para o despojamento de querer julgar os outros segundo os princípios
da própria religião, e, dessa maneira, “decidir” os que serão salvos e os que
serão condenados, se colocando como juiz supremo da conduta humana;
♦ para conhecer a diversidade religiosa presente na sala de aula,
mediante o estudo e a reflexão;
♦ para uma consciência e uma prática éticas, no sentido do diálogo e da
convivência com a diversidade religiosa, de forma ecumênica.

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