Você está na página 1de 31

2. Os vencedores e a cruz............................................

A carne e a cruz
Pedro e a Cruz
Um Jacó tratado por Deus
Para quê crucificar a carne?
Novidade de vida
As coroas dos vencedores
A segunda promessa
O vencedor não sofrerá o dano da segunda morte
A salvação em Hebreus
A graça e o governo de Deus
A segunda morte

OS VENCEDORES E A CRUZ

A carne e a cruz

Uma vez salvo, o cristão vencedor deve levar a cruz e negar-se a


si mesmo. É um mandamento do Senhor para os que
voluntariamente o querem seguir. O ensino da cruz não é
popular. O crente carnal evita este ensino bíblico; entretanto, as
Escrituras dizem que todos nós os que temos crido já fomos
crucificados com Cristo; mas nosso velho homem deve
experimentar essa crucificação na realidade prática, levar e
encarar a cruz em nossa alma, ou seja, viver essa experiência de
morte e ressurreição enquanto estamos nesta terra; do contrário
vivemos uma vida vencida. Quando isto ocorre, com frequência
somos dominados pelo pecado e por nossa própria vida natural,
e como consequência não fazemos a vontade de Deus, e essa
vida derrotada nos enreda em pecados e em obras que voltarão
a nós quando regressar o Senhor, e teremos que dar conta dele.
Se não aceitamos levar a cruz agora, é necessário que sejamos
tratados no futuro. Um derrotado é vencido pela carne, pelo
mundo e por Satanás. Tomar a cruz é obedecer a Deus e estar
disposto a passar por todas as situações que Deus haja previsto
que passemos. No mundo, a alma tem seus deleites e seus
próprios interesses, mas a cruz e o negar a si mesmo rompe com
esses vínculos, e a pessoa se submete à vontade de Deus. Só o
caminho da cruz nos leva a sermos verdadeiros vencedores; mas
muito poucos se animam a abrir a porta que conduz a esse
caminho. A vitória de Cristo é nossa vitória, e devemos mantê-la
e proclamá-la. Não significa que devemos ser crucificados de
novo, pois já fomos crucificados com Cristo. O sangue do Senhor
se derramou para expiar o que temos feito; para nosso perdão
pelos pecados cometidos e justificar-nos diante de Deus; mas
não basta que sejamos perdoados, pois há um problema em nós:
herdamos de Adão dentro de nós uma força que nos escraviza; a
força do pecado; e por isso é que necessitamos da cruz, para
tratar com o que somos; então a cruz, aplicada pelo Espírito, nos
libera do poder do pecado, para que não tenhamos que ser
julgados pelo que fazemos.

O sangue de Cristo nos reconcilia com Deus, mas segue dentro


de nós um conflito do qual só nos pode livrar a cruz. A vitória do
vencedor não é uma mera transformação em sua carne, senão a
vida ressuscitada de Cristo dentro dele. Aceitar a cruz é uma
vitória. Um vencedor é o crente que tem ido mais além de
aceitar a cruz só objetivamente; o verdadeiro vencedor é aquele
que aceita a cruz subjetivamente; é aquele cuja cruz tem
matado seu egocentrismo, pois a tem aceitado subjetivamente;
e é necessário que a cruz seja aplicada à nossa carne pelo
Espírito Santo. Diz o apóstolo Paulo em Gálatas 2:19 b-20:

" Estou crucificado com Cristo;20 logo, já não sou eu quem vive,
mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na
carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo
se entregou por mim”

Este é um nível muito avançado e importante no desenvolver


espiritual de um crente que tem negado a si mesmo e leva sua
cruz a cada dia. Devido a que na alma está a vontade do
homem, é a alma a que tem que decidir se obedece ao espírito, e
desse modo lograr sua união com o Senhor por Seu Espírito que
mora no espírito do homem; em nosso homem interior.

Lemos em João 3:6: "O que é nascido da carne é carne; e o que


é nascido do Espírito é espírito".

Quando o homem é regenerado no momento de crer no Senhor


Jesus, ele vem de ser meramente carne, e já em sua qualidade
de crente regenerado segue sendo carnal enquanto não houver
experimentado uma renovação em sua alma. Como se efetua
essa renovação? A renovação não consiste em modificar a carne.
Há muitas instituições, métodos, recursos humanos, terapias e
filosofias terrenas que pretendem modificar o comportamento do
homem. Deus o que quer fazer de nós não é uma mera
modificação de nosso comportamento, senão uma nova criatura,
uma criatura à imagem de Cristo; mas a nova criatura não se
consegue por modificação, pois a carne de um regenerado segue
sendo a mesma corrupta que antes. Na regeneração, Deus nos
dá Sua vida não criada, eterna, em nosso espírito, mas nossa
carne segue igual. O Eu do homem segue intacto.

Mas a Bíblia nos diz uma grande verdade em Romanos 6:6:


" sabendo isto: que foi crucificado com ele o nosso velho homem,
para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o
pecado como escravos".

Se apesar disso teu velho ego segue igual, o Senhor nos exorta a
que levemos a cruz e neguemos o ego. Diz Lucas 9:23:

" Dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se


negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me ".

O Que significa tomar a cruz? Diz Roland Q. Leavell: "Levar a


cruz quer dizer mais que sobre levar uma enfermidade com
inteireza ou sofrer uma desgraça com fortaleza. Uma cruz é algo
que alguém pode evitar se assim o deseja, e é algo que alguém
aceita voluntariamente por causa de Jesus e a glória de Deus.
Significa obediência a Cristo, mas inclui muito mais. Levar a cruz
não era um assunto superficial para os doze. Alguns deles
chegaram a experimentar a morte por meio da crucificação.
Todos eles sofreram violência por serem cristãos, violência que
poderiam haver evitado se houvessem entrado em
compromissos". (Roland Q. Leavell. "Mateus: o Rei e o Reino".
Casa Batista de Publicações. 1988. pág. 95).

Indubitavelmente a carne deve ser tratada pela cruz. A moda de


hoje é o contrário; que o crente evite o sofrimento e que se
aprofunde nos prazeres de uma vida fácil e mundana. Negar a si
mesmo é renunciar às demandas, gozos e privilégios de nosso
antigo ego e a nossa vida anímica; é negar-se mesmo como
princípio de vida natural; não é necessariamente negar coisas,
ainda que envolva negar aos prazeres mundanos. Gozar de
muitas coisas é contrário à de levar a cruz. Tenha-se em conta
que os deleites terrenos acendem a concupiscência de nossa
carne. O Senhor sabe bem que o que nos espera com Ele no
reino é incomparável com tudo aquilo que nos atrai nesta vida
terrena. O Senhor Jesus, o Verbo de Deus, tinha tudo em Sua
glória com o Pai, e se despojou de tudo isso para poder abrir-nos
o caminho para que nós também o desfrutemos, desfrutemos o
verdadeiro gozo eterno; o Senhor não se importou no ter aqui
nem uma pedra onde recostar Sua cabeça; nesse aspecto estava
em pior condição que as aves do céu e que as raposas do campo.
Esta vida é tão curta como um suspiro, mas suas atrações nos
enervam de tal maneira que temos em pouco as promessas de
um Deus verdadeiro e confiável. Depois de fazer um relato da
luta entre os desejos da carne e a vida no Espírito, diz Gálatas
5:24:

"E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas


paixões e concupiscências".

A crucificação da carne se traduz no quebrantamento do homem


exterior, da morte do grão de trigo, e isso é necessário para a
liberação e manifestação de nossa vida espiritual. A vida do
Espírito deve ser liberada. Diz João 12:24:

"Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caindo na


terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, produz muito
fruto".

Esse grão de trigo é o Senhor Jesus Cristo. Antes de sua morte


tinha Sua vida prisioneira em Seu corpo; não podia menos que
estar em um só lugar de cada vez; mas com Sua morte e
ressurreição, a vida do Filho unigênito foi liberada e produziu
muitos grãos à imagem do primeiro, e veio a ser o primogênito
entre muitos filhos de Deus. Assim como o grão de trigo, para
dar fruto, deve cair na terra e morrer, cada crente, para ser
vencedor e produzir muito fruto, deve morrer o seu “eu”; sua
vida natural (a dura casca exterior) deve apodrecer e
desaparecer, a fim de que libere a vida do espírito e seja
manifestado Cristo através dele.

Cristo na cruz tratou uma só vez com o pecado para que o


pecado não reine mais em nós, mas o Espírito Santo trata dia
após dia com o eu por meio da cruz; entretanto, segue no crente
uma luta entre a carne e a vida espiritual. Os crentes que na
prática não vivem para Deus senão para si mesmos, são
considerados cristãos anormais (1 Coríntios 3:1-3); em troca os
cristãos espirituais, simplesmente são cristãos normais; já tem
experimentado uma renovação que vem de dentro para fora. A
renovação é experimentada na alma; é um processo mais ou
menos prolongado; depende da dureza da natureza da alma do
crente. Há plantas que não crescem devido a que lhes faz falta a
luz solar, ou umidade, ou nutrientes, ou tem parasitas; ou não
dão muito fruto porque não as podam e limpam; isto contando
com que haja sido semeada em boa terra.

A maturidade leva seu tempo. Por via de regra, um cristão


recém-nascido não pode evitar ser carnal, como um bebê não
pode evitar ser bebê, mas o pior é que a maioria dos crentes
permanecem carnais, imaturos, crianças por toda a vida; eles
tem medo da cruz, recusam negarem a si mesmos, não querem
pagar o preço; carecem de uma disposição para o sofrimento;
muito pelo contrário, se encaminham pela amizade com o
mundo. Assim como uma pessoa natural tem dado o passo para
que por meio da cruz de Cristo se tenha regenerado e tenha sido
crucificada a sua carne, assim mesmo deve dar o passo para que
mediante o Espírito Santo tome sua própria cruz, e passe de
carnal a espiritual, de derrotado a vencedor. Um crente carnal
dificilmente pode guiar a outro a Cristo, ou fazer algo que
realmente agrade a Deus. O carnal pode estar trabalhando na
igreja; mas esse trabalho pode resultar sendo obras mortas. As
obras mortas não tem nenhum mérito diante de Deus, por muito
boas que pareçam aos olhos dos homens. Indubitavelmente se
queimarão quando o Senhor vier, e o pior é que nos impedirão
de entrar no reino se não nos arrependermos a tempo.

O cristão carnal pode assimilar os ensinamentos, mas na mente.

" Porque os que se inclinam para a carne cogitam das coisas da


carne; mas os que se inclinam para o Espírito, das coisas do
Espírito. 6 Porque o pendor da carne dá para a morte, mas o do
Espírito, para a vida e paz.7 Por isso, o pendor da carne é
inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem
mesmo pode estar." (Ro.8:5-7).

Os cristãos de Corinto tinham muito conhecimento e sabedoria,


mas na mente. A "insensatez da cruz" é usada por Deus em
troca da busca de conhecimento. A Deus não se pode conhecer
por abundância de conhecimento e sabedoria humana, senão por
fé através da cruz. Os conhecimentos sem a cruz só chegam à
mente.

Pedro e a cruz
Consideremos o contexto de Mateus 16:13-28. Depois de haver
perguntado sobre a opinião dos homens acerca de Sua pessoa, o
Senhor se interessou em conhecer o que pensavam seus próprios
discípulos acerca de quem era Ele. Diz nos versículos 16-18:

" Respondendo Simão Pedro, disse: Tu és o Cristo, o Filho do


Deus vivo.17 Então, Jesus lhe afirmou: Bem-aventurado és,
Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to
revelaram, mas meu Pai, que está nos céus.18 Também eu te
digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha
igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela ".

Simão, que significa uma palha dócil ao vento, dominado por seu
voluntarioso caráter, quando veio ao Cristo, O Senhor trocou seu
nome, porque começou a transformá-lo, e em vez de Simão lhe
chamou Pedro, uma pedra (Jo 1:42), neste caso uma pedra viva
para a construção da casa de Deus (1 Pedro 2:5). Se não somos
transformados em pedras, não podemos ser edificados
apropriadamente, e não podemos ser edificados só nem em
grupos independentes; nossa edificação é na comunhão de todos
os santos. A transformação tem suas etapas, e em cada etapa
encontramos lições para aprender.

Aqui vemos também que sem a revelação divina não se pode


conhecer ao Senhor Jesus; e como só o Pai conhece o Filho, só
se pode conhecer o Filho pela revelação do Pai. A Pedro foi
revelada, pelo Pai, a identidade do Filho; logo o Filho revela a da
Igreja, e lhe diz que a partir desse momento Pedro faz parte da
Igreja, é uma pedra viva para a edificação da casa de Deus,
devido à confissão que havia feito a respeito do Filho. De
maneira que Pedro já era um crente e membro da Igreja, na
economia de Deus. Apesar do anterior, era Pedro já um crente
maduro e vencedor? Vejamos.
De acordo com o seguinte contexto, Pedro estava longe de ser
um cristão maduro, sem ter em conta que depois ofereceu ao
Senhor defendê-lo com sua espada, de não o abandonar, mas já
vemos que o Evangelho nos diz que o deixou só e o negou.
Dizem os versos 21-23:

" 21 Desde esse tempo, começou Jesus Cristo a mostrar a seus


discípulos que lhe era necessário seguir para Jerusalém e sofrer
muitas coisas dos anciãos, dos principais sacerdotes e dos
escribas, ser morto e ressuscitado no terceiro dia.22 E Pedro,
chamando-o à parte, começou a reprová-lo, dizendo: Tem
compaixão de ti, Senhor; isso de modo algum te acontecerá.23
Mas Jesus, voltando-se, disse a Pedro: Arreda, Satanás! Tu és
para mim pedra de tropeço, porque não cogitas das coisas de
Deus, e sim das dos homens ".

Aqui vemos o crente Pedro sem entender para nada a cruz de


Cristo e menos sua própria cruz. A Igreja não pode ser edificada
sem crucificação e ressurreição, e um crente carnal dificilmente
pode estar disposto a tomar a cruz. Tenhamos por claro que o
homem natural e Satanás caminham e cavalgam juntos, e que o
crente vencido não se diferencia muito; e quando não temos a
mente de Cristo, não podemos cumprir o propósito de Deus,
senão que somos pedra de tropeço para o Senhor. A raiz destas
considerações se pode entender as palavras do Senhor nos
versículos 24 e 25:

" 24 Então, disse Jesus a seus discípulos: Se alguém quer vir


após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me.25
Porquanto, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e quem
perder a vida por minha causa achá-la-á".

Esse negar a si mesmo, é negar a velha natureza herdada de


Adão. De maneira, pois, que há duas classes de crentes: os que
negam a si mesmos e tomam sua cruz, e os que não o fazem.
Pedro tinha que perder a vida de sua alma, e tomar a cruz;
Pedro estimava mais sua vida natural que os propósitos de Deus;
Pedro não podia entender, todavia o plano de Deus, e a mente
de Deus; era necessário que Pedro negasse a si mesmo e
tomasse sua cruz. Só se submete a Cristo um crente vencedor.
Se a Igreja não se submete a Cristo, os demais seres não se
submeterão, e só a cruz faz com que o nosso eu vá minguando e
Cristo vai crescendo em nós, no mais íntimo de nosso ser.
Contemplamos a mulher samaritana de João 4; ela cria em Deus,
sabia da promessa de um Messias, e o esperava, mas sua vida
estava fundida em espessas trevas do pecado; buscava a solidão
e a obscuridade, e não se atrevia a deixar-se ver a cara, pois a
luz a incomodava; sua consciência não a deixava tranqüila; sua
conduta a fazia caminhar por veredas torcidas; a carne a
escravizava. Mas um dia o Senhor foi a buscá-la, e a esperou que
viesse buscar água no poço de Jacó. Ao ter o encontro com
Cristo, Ele lhe deu de beber da água viva; foi algo penetrante
que deu uma grande virada na vida desta mulher, e já não teve
mais sede, e deixando o cântaro, correu a dar testemunho.
Também nós, quando chegarmos a ser vencedores, é quando
não nos importará mais o cântaro; o deixaremos de um lado do
poço, e correremos a proclamar que Jesus Cristo é o Senhor. Mas
para isso é necessário que de nosso interior corram rios de água
viva. Temos dito que nós, os crentes, já fomos crucificados com
o Senhor, mas agora o Senhor nos diz que devemos levar a cruz.
Se nosso velho homem já morreu na cruz, agora devemos negá-
lo. Para que fazer viver a um defunto que estorva a obra do
Senhor? Já o Senhor ressuscitado vive dentro de nós, e nós Nele.

De havermos negado a nós mesmos e de havermos levado a cruz


ou não, depende nossa situação quando o Senhor regressar e
tivermos que comparecer ante Seu tribunal. Os versículos 26-27
dizem:

" Pois que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e


perder a sua alma? Ou que dará o homem em troca da sua
alma?27 Porque o Filho do Homem há de vir na glória de seu
Pai, com os seus anjos, e, então, retribuirá a cada um conforme
as suas obras ".

A vida da alma é a vida natural, a vida do ego. A vida psíquica


deve ser tratada pela cruz, do contrário seguiremos como Pedro
em sua situação de Mateus 16 e outros textos. Na hora mais
amarga do Senhor, Pedro e todos os amigos íntimos do Senhor o
abandonaram; e não só eles; nós fazemos o mesmo hoje em dia.
Não queremos acompanhar o Senhor nesta hora crucial.

Um Jacó tratado por Deus

Em Jacó temos o exemplo de um crente astuto, não obstante


haver sido escolhido para a primogenitura desde antes de
nascer; quando todavia não havia feito nem bem nem mal.
Especificamente e por vontade de Deus foi escolhido, apesar de
que ia ser uma pessoa de caráter forte, enganadora, calculista e
egoísta. O Senhor não nos escolhe por sermos bons ou maus,
pois todos somos maus. O Senhor deu um destino prévio a Jacó,
mas para que Jacó pudesse chegar a ser um servo do Senhor,
um homem útil nas mãos de Deus, um verdadeiro vencedor, um
homem obediente à vontade de Deus, esse “eu” perverso de Jacó
devia morrer, devia passar pela cruz, até que chegasse a negar-
se a si mesmo. Diz Romanos 9:10-16:
" 10 E não ela somente, mas também Rebeca, ao conceber de
um só, Isaque, nosso pai.11 E ainda não eram os gêmeos
nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal (para que o
propósito de Deus, quanto à eleição, prevalecesse, não por
obras, mas por aquele que chama),12 já fora dito a ela: O
mais velho será servo do mais moço. 13 Como está escrito:
Amei Jacó, porém me aborreci de Esaú. 14 Que diremos, pois?
Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum!15 Pois ele
diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter
misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter
compaixão.16 Assim, pois, não depende de quem quer ou de
quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia ".

A Escritura nos diz que antes que Jacó nascesse já havia sido
eleito por Deus para, em Sua misericórdia, dar-lhe a
primogenitura. Jacó jamais recebeu isto porque merecia; ao
contrário, seu próprio nome Jacó, significa Deus proteja, mas
também o suplantador, o que toma pelo calcanhar, ou seja, o
que trama uma armadilha. A vida de Jacó esteve saturada de
engano e de armadilhas; que muitas vezes vieram contra ele.
Apesar de que Deus se revelava e o protegia, Jacó era o tipo de
crente voluntarioso e carnal, que devia ser tratado por Deus a
fim de que pudesse ser útil nas mãos do Senhor, para cumprir o
propósito de Deus. Deus tem um propósito eterno, e quer
realizá-lo com a igreja, mas com os obedientes, com crentes
esforçados em quem possa confiar, que não amem a si mesmos,
com lutadores, com vencedores.

Jacó quis tomar vantagem no plano de Deus, e depois de haver


enganado a seu pai e a seu irmão, se viu na necessidade de
fugir. Em Betel Deus se revelou, em sua fuga; e inclusive aí Jacó
disse a Deus: Se me prosperares, te darei o dízimo de tudo. Isso
encerra algo de negócio. Quis ter vantagem sobre Labão, de
quem também foi enganado desde o começo, quando pediu a
Raquel para casar-se. Mas tarde houve uma luta entre Jacó e
Deus, mas Jacó persistiu diante de Deus até conseguir que Deus
o abençoasse, e saiu vencedor, pois a Palavra diz no verso 28:
"Então, disse: Já não te chamarás Jacó, e sim Israel, pois como
príncipe lutaste com Deus e com os homens e prevaleceste".

(Leia Gênesis 32:22-32). Em Peniel, Jacó viu o rosto de Deus e


foi livrada sua alma. O andar de Jacó mudou depois dessa
experiência. De homem anímico passou a ser espiritual; foi
desgarrado o tendão da coxa, e ao ser desgarrado seu próprio
andar, pode caminhar com Deus, para cumprir propósitos
eternos. Quando chegou a ser um vencedor, Deus lhe mudou o
nome. Já não se chamaria mais Jacó, o suplantador, senão
Israel, o que luta com Deus.

Morreu sua amada Raquel; logo foi enganado por seus próprios
filhos; desapareceu José, seu filho favorito; logo também teve
uma amarga experiência com Benjamim; tudo isso para quê? Era
necessário que o Jacó natural fosse tratado pelo Senhor; e esse
trato do Senhor ia transcorrendo em forma dolorosa. Uma coisa
é confiar nas destrezas do Jacó carnal, e outra é confiar
exclusivamente no Senhor.
Indiscutivelmente é necessário que sejamos iluminados, que
possamos ver o caminho pelo que caminhamos, e que estejamos
confessando nossa dependência do Senhor e de Seu Santo
Espírito.

Para que crucificar a carne?

Muitos crentes são cheios do Espírito Santo quando creem, e vão


experimentando um crescimento normal de sua vida espiritual;
vão caminhando com Deus e preocupando-se pelas coisas de
Deus. Mas desafortunadamente a maioria dos cristãos não se
ocupam muito do que interessa ao Senhor, senão de seus
próprios interesses egoístas e carnais (Gálatas 5:19); por isso o
Senhor quer que a carne seja crucificada subjetivamente. Na
realidade histórica a carne já foi crucificada no Gólgota; o velho
homem tem passado por esse processo; de maneira que a
criança carnal em Cristo deve ser totalmente liberada desse
domínio, para que cresça e possa andar segundo o espírito. Há
quem persista nas obras da carne (inimizade, divisões,
sectarismos, vícios, paixões e desejos), Deus diz que essa carne
foi crucificada; mas há crentes de almas cuja natureza é muito
forte, e tem um caráter muito difícil, nos quais o processo é lento
e doloroso.

A respeito diz o irmão Watchman Nee:


" A obra da cruz consiste em suprimir (anular); não nos traz
coisas, mas as tira. Em nós há muitos resíduos; há muitas coisas
que não são de Deus e não lhe rendem nenhuma glória. Deus
quer eliminar todas estas coisas por meio da cruz para que assim
cheguemos a ser ouro puro. Há coisas que não provém de Deus;
nos temos convertido em uma liga. Por isso Deus tem que
utilizar tanto poder para mostrar-nos estas coisas que há em nós
que provem do ‘eu’, todas aquelas coisas que não lhe
proporcionam nenhuma glória. Cremos que se Deus nos fala,
descobriremos que tem que ser eliminadas muito mais coisas
que as que nos tem de ser acrescentadas. Especialmente aqueles
cristãos cuja alma é de natureza forte, deveriam pensar nisto:
que a obra de Deus neles por meio do Espírito Santo, consiste
em eliminar coisas deles para reduzi-los". (Watchman Nee. "A
Igreja Gloriosa". CLIE. 1987. pág. 163).

A carne não pode dar fruto que glorifique a Deus. O cristão


deve limpar-se de seus pecados apropriadamente. Diz João
15:2:

"Todo ramo que, estando em mim, não der fruto, ele o corta; e
tudo o que dá fruto limpa, para que produza mais fruto ainda".

Devemos ter clareza de que não se exige que crucifiquemos de


novo nossa carne, pois já foi crucificada na cruz de Cristo. A
crucificação da carne tem que ser experimentada, e que essa
morte na cruz tenha seu efeito em nós. Essa prática se dá em
colaboração com o Espírito Santo. Diz a Palavra de Deus em
Colossenses 3:5:

"Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena: prostituição,


impureza, paixão lasciva, desejo maligno e a avareza, que é
idolatria".

Esse, pois, enlaça o versículo com os anteriores, em que diz que


já temos morrido e ressuscitado com Cristo. São duas realidades
que vão unidas: Já fomos crucificados com Cristo, e Fazer morrer
o terreno em nós. Se crermos que temos sido mortos em Cristo,
podemos fazer morrer o terreno em nós. Isto se logra porque o
Espírito Santo aplica a morte da cruz a tudo o que tem que
morrer. Diz Romanos 8:13:

"Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte;


mas, se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo,
certamente, vivereis".

Entretanto, devemos estar sempre vigilantes, pois a carne, não


fica inutilizada pela crucificação conjunta em Cristo, ela contudo
não fica suprimida; ela segue existindo e, em quanto tiver
oportunidade, se põe em ação.
A mensagem da cruz não está sendo pregada, pois, com
contadas exceções, está se pregando uma caricatura do
evangelho. Nós dizemos ver, mas em nossas faculdades naturais
não podemos ver; pelo contrário, essas faculdades naturais nos
impedem de ver a realidade.

Se Deus nos ilumina um pouco, então constatamos nossa


cegueira. Afirmar que vemos, como no caso da igreja do período
de Laodicéia, é um orgulho farisaico. Quanto mais nos gloriamos
e envaidecemos dizendo que vemos, mais cegos somos; e
quando já vemos manifestada em verdade nossa cegueira, então
é quando vamos começar a ver. Paulo só pode ver as coisas de
Deus quando ficou cego fisicamente. É necessário restaurar a
mensagem da cruz, e vivê-la. Quando não se vive a mensagem
da cruz, vivemos para nós mesmos, não para o Senhor. A cruz é
para por nela todos os dias, o que somos e o que temos, o velho,
o inútil.
Dizem os apologistas da prosperidade no cristão, que o Senhor
quer ver-nos envoltos em uma vida regalada e aprazível, sem
problemas, sem fome, sem preocupações, sem perseguições,
tudo bem; mas Mateus 10:34-39 diz o contrário:
" 34 Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz,
mas espada.35 Pois vim causar divisão entre o homem e seu
pai; entre a filha e sua mãe e entre a nora e sua sogra.36
Assim, os inimigos do homem serão os da sua própria casa.37
Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno
de mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim não
é digno de mim;38 e quem não toma a sua cruz e vem após
mim não é digno de mim.39 Quem acha a sua vida perdê-la-á;
quem, todavia, perde a vida por minha causa achá-la-á".

O Senhor não traz paz a uma terra em que Satanás ainda é seu
príncipe; por isso os vencedores estão em guerra contra
Satanás, e este os ataca usando inclusive aos mesmos familiares
de sua própria casa.

O Senhor tem que ser amado acima de todas as coisas. Essa


espada que se menciona no versículo 34, é a vida cheia de
tribulações e dores do sofrido e verdadeiro vencedor, o que
caminha todo ferido pelo caminho estreito traçado por Cristo. O
versículo 35 explica o 34. De acordo ao verso 38, se trata de
uma cruz; e tu estás em liberdade para levá-la ou não. A cruz é
opcional, mas absolutamente necessária para o que quer
caminhar com Cristo. O fato de seguir ao Senhor e obedecer-lhe
a te cria dificuldades, e tu podes voluntariamente escolher sofrê-
las ou não. Como a de Cristo, toda cruz dos filhos de Deus é
determinada e decidida pelo Pai, e nós escolhemos levá-la ou
não. Disso depende nossa participação no reino. Diz 1 Pedro
4:1,2:

"Ora, tendo Cristo sofrido na carne, armai-vos também vós do


mesmo pensamento; pois aquele que sofreu na carne deixou o
pecado,2 para que, no tempo que vos resta na carne, já não
vivais de acordo com as paixões dos homens, mas segundo a
vontade de Deus".

Não é que Deus quer que vivamos sofrendo, mas se devemos


amarmos com uma disposição ao padecimento, devido a que
estamos imersos em uma batalha espiritual que também tem
suas repercussões e manifestações em nossa vida natural.
Crente que recusa o sofrimento, não pode ser edificado. Deus
pode salvar nossa mente, de tal maneira que haja em nós a
disposição a sofrer como também Cristo padeceu. É natural que
nossa tendência seja a de fugir de todo sofrimento e a toda hora
pedir ao Senhor que, por favor, nos livre de todas as dificuldades
e amarguras, pois não suportamos as provas. Mas esta não foi a
atitude do Senhor em Getsêmani. Desde que nasceu, o Senhor
Jesus teve a disposição para sofrer. Ele sabia que havia nascido
para isso enquanto permaneceria no corpo mortal. Por tanto,
desde o dia em que nascemos no Espírito, e somos filhos de
Deus, deve ser nossa tarefa entregar-nos para o sofrimento.
Essa é a verdadeira posição de um vencedor. Se escapares como
um covarde do sofrimento, estás desarmado e te vem a derrota.
Irmão, enfrenta o sofrimento. Quando a Palavra de Deus nos diz
que não sejamos carnais, luxuriosos, covardes, infiéis, ou o que
seja que dependa da nossa velha vida natural, é porque Ele nos
pode salvar de qualquer dessas demandas e pensamentos dos
desejos carnais.

A Palavra de Deus diz que são bem-aventurados os que padecem


perseguição por causa da justiça, os que estão dispostos a sofrer
pela verdade, pela justiça, pela causa do Senhor e de Seu
evangelho da salvação; suas feridas e cicatrizes são as chaves de
entrada no reino dos céus. O sofrimento do crente é mais
meritório que o dos anjos quando eles participam em lutas
contra o inimigo. Por que é mais meritório? Porque os anjos
conhecem a glória do Senhor e o que o céu representa; ao passo
que o crente é estorvado por sua própria carne, por Satanás e
por um mundo atraente, e apenas vê as coisas como por um
espelho; apenas vislumbra algo do que lhe espera, movido pela
fé e a esperança, baseado nas promessas do Senhor, na
revelação das Escrituras e no pouco conhecimento que agora tem
de Deus e das coisas que Ele nos tem preparado. Sofrer pelo
Senhor é uma honra que não é dado a todos os crentes.

Novidade de vida

Diz Romanos 6:4:


"Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para
que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do
Pai, assim também andemos nós em novidade de vida".

O contexto do capítulo 6 de Romanos nos fala do batismo em sua


dupla conotação de ser introduzidos dentro do Corpo de Cristo
pelo Espírito e o de ser identificados com Cristo mediante o
batismo nas águas. Em quê nos identificamos com Cristo? Somos
submersos em Cristo para que sejamos parte Dele, depois de
haver sido tomados de nossa antiga posição no mundo de
pecado e de trevas; agora somos um com Ele em Sua morte e
ressurreição. De Adão, de onde havíamos nascido, somos
trasladados pelo batismo a nossa nova posição em Cristo; e ao
ser batizados em Sua morte, essa morte nos separa do mundo,
nos liberta de toda a força de nossa velha natureza com sua vida
natural implícita, de nosso ego, de nossa carne, do poder
satânico das trevas; ou seja, tem cortado esse cordão umbilical
que nos unia a nossa velha história e seus enredos, pois agora
participamos com o Senhor de Sua ressurreição. É nossa
primeira ressurreição, a do espírito, que se traduz em novidade
de vida.

Os versículos 4 e 6 nos falam de que nosso velho homem foi


crucificado com Cristo, de maneira que participamos também de
Sua sepultura pelo batismo, e logo experimentamos uma
ressurreição, que é uma novidade de vida; passamos a ser parte
do novo homem, que é Cristo; historicamente chegamos a ser
novas pessoas, porque esta primeira ressurreição do crente
agora também é subjetiva, nosso espírito passou da morte à
vida. Mas logo vem um processo de ressurreição em nossa alma,
em nossa vida atual; até alcançar viver uma vida de
ressurreição, uma morte do velho homem herdado de Adão, até
que a sua vez nossa alma passe da morte à vida. Nesse processo
vamos experimentando como espécie de uma transformação
progressiva pelo Espírito, de tal maneira que cada dia nos vamos
conformando mais à imagem do Filho de Deus. É uma verdadeira
metamorfose.
Nossa primeira ressurreição é um ato histórico, e nossa segunda
ressurreição é um processo atual no qual não podemos ficar
estancados, pois se trata de desenvolver nossa novidade de
vida; buscar que essa novidade de vida reine em nós e se
expresse. Não só no batismo nos identificamos com Cristo, senão
que o batismo é só o começo dessa identificação. À medida que
crescemos em nosso processo atual de novidade de vida, mais
nos identificamos com o Senhor Jesus e nossa ressurreição dará
testemunho de quem somos, e o Senhor se expressará através
de nós. Diz o verso 5:

"Porque, se fomos unidos com ele na semelhança da sua morte,


certamente, o seremos também na semelhança da sua
ressurreição".

O Senhor Jesus, como o grão de trigo, teve que morrer para


poder dar fruto; e nós, como o grão de trigo, estamos mortos
com Ele, e como estamos unidos com Ele organicamente, se
produz um crescimento. Vemos na agricultura que o broto que
foi enxertado em uma árvore, participa da vida, da seiva e das
características da árvore. Nós agora pelo batismo somos
plantados juntamente com o Senhor; somos enxertados Nele, de
maneira que participamos de tudo o que Ele tem experimentado:
Sua morte, Sua sepultura, Sua ressurreição. Em Romanos 11:24
diz que fomos cortados da oliveira brava (Adão) e enxertados na
boa oliveira, na oliveira cultivada (Cristo). O batismo é uma
semelhança na qual participamos de tudo o que Cristo é e tem
experimentado, mas tendo em conta que toda essa experiência é
um processo atual. Recorde-se que tudo o de Deus, incluída Sua
salvação, Sua vida em nós, Suas promessas, tudo se recebe pela
fé, e se lhe da autonomia.

Pois bem, na medida em que o Espírito Santo me revela o valor


que tem para Deus o sangue vertido por Cristo em meu
benefício, Sua morte substituta e Sua ressurreição, poderei eu
ter consciência da importância de levar minha cruz e viver a
ressurreição em novidade de vida. Ao nascer de Adão,
recebemos tudo o que é de Adão; ao nascer em Cristo,
recebemos e participamos de tudo o que é de Cristo; não
obstante, devemos ter em conta que em Adão nascemos sendo
pecadores, o que se chama o "velho homem", e que o sangue de
Cristo me lava de todos os meus pecados, mas se faz necessária
a cruz para que esse velho homem seja crucificado.

As coroas dos vencedores

Apocalipse 2:10b diz:

"Sê fiel até a morte, e darte-ei a coroa da vida".

O Senhor diz ao vencedor: Sê fiel ainda que tenhas de morrer.


Ser crente não é o mesmo que ser fiel. Há crentes nos quais
Deus pode confiar e outros em que não. A vontade de Deus é
que todo crente seja fiel; que Ele possa contar com todos nós.
Note que aqui o Senhor não fala de dar vida eterna, que é um
presente, mas sim a coroa da vida, a qual se logra, não como um
presente recebido pela fé, e sim adquirida por nossa fidelidade. O
Senhor havia dito aos vencedores da igreja em Esmirna:
"Não temas as coisas que tens de sofrer. Eis que o diabo está
para lançar em prisão alguns dentre vós, para serdes postos à
prova, e tereis tribulação de dez dias. Sê fiel até à morte, e dar-
te-ei a coroa da vida".

Tiago 1:12 também menciona a coroa da vida para todos aqueles


que suportam as provas por meio da vida divina.

Não podemos confundir a vida eterna com a coroa da vida. A


vida eterna a recebemos de Deus de sua vontade, sem que seja
mediadora as obras de nossa parte, pois a vida de Deus em
nosso espírito a temos recebido por graça. Quem poderá
comprar a vida de Deus? Ele corrige o que houver de mal em
seus filhos para purificar-nos, aperfeiçoar-nos e santificar-nos,
mas não tira o que tem dado.

"porque os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis."(Ro.


11:29).

Em troca, para receber a coroa da vida devemos ser fiéis até a


morte; ou seja, em caso de sofrer perseguições, estar dispostos
a ser sacrificados por causa do Senhor, se for necessário. Então
a coroa denota um prêmio. É como uma ressurreição
sobressalente. Note que em Hebreus 11:35 fala de uma melhor
ressurreição para os mártires: "Mulheres receberam, pela
ressurreição, os seus mortos. Alguns foram torturados, não
aceitando seu resgate, para obterem superior ressurreição".

Lemos 1 Coríntios 9:25-27:

"25 Todo atleta em tudo se domina; aqueles, para alcançar uma


coroa corruptível; nós, porém, a incorruptível.26 Assim corro
também eu, não sem meta; assim luto, não como desferindo
golpes no ar.27 Mas esmurro o meu corpo e o reduzo à
escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu
mesmo a ser desqualificado".

Note que ainda temos lutas com nós mesmos.


Aqui fala de uma coroa incorruptível para aqueles que obtém
domínio sobre o velho homem e fazem morrer os hábitos do
corpo; se pode pregar as recompensas no reino, e alguém, ainda
que seja salvo por graça mediante a fé em Jesus Cristo, se não
está em alerta, pode ter a possibilidade de ser desqualificado, de
ser indigno de receber o prêmio no reino. Esta coroa tem a
conotação de que o vencedor é honrado publicamente por um
serviço distinguido.
Em 1 Tessalonicenses 2:19 diz:

"Pois quem é a nossa esperança, ou alegria, ou coroa em que


exultamos, na presença de nosso Senhor Jesus em sua vinda?
Não sois vós?"

Paulo aqui fala de coroa com a conotação de que é para os


ganhadores de almas para o Senhor.
Diz 2 Timóteo 4:8:

"Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor,


reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas
também a todos quantos amam a sua vinda".

Aqui a Palavra de Deus fala de uma coroa de justiça; ou seja,


que provém da justiça do Senhor, mas através das obras do
crente, a todos os que amam a vinda do Senhor; isto também à
parte de sua salvação.
Também em 1 Pedro 5:4 a Palavra de Deus diz:
"Ora, logo que o Supremo Pastor se manifestar, recebereis a
imarcescível coroa da glória".
Deus promete uma coroa de glória para os anciãos (bispos)
fiéis, os que tem boa disposição para apascentar o rebanho de
Deus.

Segunda promessa

O Espírito Santo quer que a Igreja não se esqueça que o Senhor


Jesus foi crucificado por nós uma só vez, mas que ressuscitou
glorioso; que não tenhamos nenhum temor do que
eventualmente tenhamos que padecer por causa do Senhor e de
Seu testemunho, pois Ele é o poderoso Deus que tem o controle
de tudo o que ocorre no universo. É necessário vencer a
perseguição.

"Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo


presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada
em nós" (Ro. 8:18).

Nosso Deus santo e poderoso quer que nossa fidelidade a Ele


seja aperfeiçoada até a morte. O mais importante para um filho
de Deus deve ser a fidelidade ao Senhor em todas as
circunstâncias; vencer todas as dificuldades pelo poder de Seu
Santo Espírito. Tudo o que nos acontece é para nosso bem; Ele
sabe tudo e ninguém pode arrebatar-nos de Suas mãos. Nós
mesmos somos os que nos afastamos Dele. Temos que ser
vencedores sobre a perseguição (Apocalipse 2:9-10), e a
perseguição inclui o sofrimento, a tribulação, os cárceres, a
pobreza, as provas e as calúnias dos religiosos. Para ser
vencedores tem que se amar ao Senhor e dar-lhe o primeiro
lugar em todas as coisas, inclusive pô-lo por cima de nossa
comodidade, de nossos bens, de nossa fama, de nossos amores,
de nossa família, e até de nossa própria vida. Quando damos ao
Senhor a preeminência em tudo, frequentemente isso nos
acarreta problemas e fricções em nossos próprios lugares.
Sobrevêm perseguições por parte de nossos parentes e amigos,
vêm calúnias e dedos acusadores por parte das sinagogas de
Satanás; às vezes o Senhor nos guia a que devamos trabalhar e
ter comunhão com irmãos muito dominantes e intolerantes. Tudo
isso nos vai aperfeiçoando e nos vai convertendo em vencedores.
Alguns pensam que em nossa igreja local tudo é manifestação de
amor, compreensão e harmonia, mas na prática o Senhor utiliza
todas essas fricções e até enfrentamentos com os irmãos, para
tratar conosco, para descobrir nossos espíritos.

O vencedor não sofrerá dano da segunda morte

"Ao que vencer, não sofrerá o dano da segunda morte" (Ap.


2:11).
O Senhor aqui fala a todos os crentes, e particularmente aos de
Esmirna. O que eles têm que vencer neste caso? Satanás, o
máximo que pode nos causar, se o Senhor permitir, é fazer uso
da morte contra nós, e ele pode usar os poderes do Estado e das
instituições religiosas de toda índole, mesmo as eclesiásticas de
tipo cristão. Vemos em toda a história que há muitas instituições
e organizações que pretendem ter o hereditário direito de ser a
legítima Igreja ou povo do Senhor, e delas os vencedores
recebem perseguição e tribulação, ou pelo menos o menosprezo,
difamação mediante libelos, programas de rádios e outros meios.
Isso é a realidade da história da Igreja em todos os tempos, mas
o Senhor já havia advertido. A vitória aqui se trata da fidelidade
ao Senhor até a morte. Satanás sabe que está derrotado, e Jesus
Cristo já conquistou a vitória, o Filho de Deus, mediante o
derramamento de seu precioso sangue na cruz; vertido até a
morte, mas com o resultado de uma poderosa ressurreição e
gloriosa ascensão ao Pai nos céus, enviando logo Seu Santo
Espírito e dando vida à Igreja, que é Seu Corpo, a qual faz
efetiva a sentença contra Satanás agora, e em especial aos
vencedores. Irmão, se és infiel terminas em derrota. Se fugires
do sofrimento, foges de todo compromisso que, inclusive, te
pode levar até o martírio, estás em derrota. Se amas mais a tua
própria vida e não estás disposto a oferecê-la pelo Senhor,
sofrerás o dano da segunda morte. Mas Façamos uma curta
analise destes conceitos.

Para entender isto é fundamental que saibamos que há duas


categorias de crentes, os vencedores e os derrotados. Quando a
Escritura fala de vencedores, é porque há cristãos derrotados. Os
vencedores são os cristãos que, no marco da Palavra de Deus,
são crentes espirituais normais, e os derrotados são os crentes
carnais. Um cristão carnal é um crente anormal. Os crentes de
ambas as categorias são salvos pela eternidade, alguns serão
salvos assim como pelo fogo, ou seja, sendo castigados. Assim
como não é o mesmo a vida eterna que a coroa da vida,
tampouco se deve confundir a morte eterna ou segunda morte,
com o dano da segunda morte. Sofrer dano da segunda morte se
relaciona com o castigo temporário no reino milenar.

Lemos em 1 Coríntios 3:15:


" se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse
mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo".

Quando a Palavra de Deus diz que os vencedores não sofrerão


dano da segunda morte, significa que os derrotados sim a
sofrerão. Sofrer um castigo temporal na Geena, ou algum lugar
parecido, é sofrer dano da segunda morte. Não sofrerão a
segunda morte, mas se lhes causará danos, dor. Que não sofrerá
a segunda morte nos diz João 10:27-28, assim:
"27 As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e
elas me seguem.28 Eu lhes dou a vida eterna; jamais
perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão.". "39 E a
vontade de quem me enviou é esta: que nenhum eu perca de
todos os que me deu; pelo contrário, eu o ressuscitarei no último
dia." (João. 6:39). "Dos que me deste não perdi nenhum" (João.
18:9b).

Note que diz que não perecerão jamais; não diz que o que se
extraviar pelo pecado, se perde eternamente. O crente que peca,
será julgado por seu pecado e castigado, mas não perde sua
salvação. A salvação eterna não guarda nenhuma relação com
nossas obras ou comportamento (Efésios 2:8-9).

Ressurreição significa passar da morte para a vida. Como


veremos no capítulo sete, o crente deve passar por um processo
de ressurreição. O normal é que todo crente experimente três
ressurreições. Toda pessoa humana nasce morta em pecado;
quando crê, é regenerado, experimenta o novo nascimento. Isto
é a primeira ressurreição pessoal de que já falamos. O espírito
passa da morte à vida quando cremos; mas vem logo uma
segunda ressurreição: a alma vai experimentando sua
ressurreição na medida em que nos ocupamos menos da carne e
mais do espírito. Na prática esta é uma ressurreição progressiva
na vida do crente, na medida em que caminha com Cristo. A
terceira é a ressurreição gloriosa, à última trombeta, quando vier
o Senhor, que é a primeira das duas grandes ressurreições
coletivas. É quando será ressuscitado o corpo. Também em
Apocalipse 20:6 diz:
"Bem aventurado e santo o que tem parte na primeira
ressurreição; a segunda morte não tem autoridade sobre eles,
senão que serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com
ele os mil anos". A diferença baseia-se em que a segunda morte
é condenação eterna, e sofrer dano da segunda morte, é só uma
disciplina temporária, durante a dispensação do milênio.
Se alguém não é purificado em sua alma nesse tempo, o será na
era vindoura, durante o tempo do reino milenar, para que na
eternidade possamos estar com o Senhor, e sermos santos como
Ele é Santo. Há coisas no crente carnal que estão de baixo da
maldição em Adão, que devem ser tiradas, agora ou quando o
Senhor vier e julgar à Igreja.

Note que Paulo havia sido salvo eternamente quando ainda era
um perseguidor da Igreja, após a visão que teve de Jesus Cristo;
e ele sabia isso. Mas foi chamado a um trabalho, não para ser
salvo, senão para fazer a obra de Deus e poder entrar no reino.
Ao analisar o capítulo 9 de 1 Coríntios, vemos que Paulo se
refere a seu trabalho em relação com o reino, e no versículo 17
fala de que terá recompensa; no 18 fala de galardão; no 24 falas
de prêmio; no 25 fala de receber uma coroa incorruptível. A
manifestação do reino dos céus será para os cristãos a
manifestação de uma recompensa. Não obstante, nos versículos
26 e 27 diz:
"26 Assim corro também eu, não sem meta; assim luto, não
como desferindo golpes no ar.27 Mas esmurro o meu corpo e o
reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não
venha eu mesmo a ser desqualificado".

Isto de ser eliminado ou reprovado, tem a conotação de ser


desqualificado, recusado ante o tribunal de Cristo, não digno de
receber o prêmio, ainda que houvesse sido salvo eternamente
por graça mediante a fé em Cristo.

Já temos dito que uma coisa é a vida eterna e outra é a coroa da


vida. A vida eterna se recebe como um presente de Deus e a
coroa da vida depende de nossas obras. A coroa da vida somente
a recebe quem for fiel até a morte, o vencedor. Assim também
encontramos o oposto à vida eterna, ou seja, A morte eterna, a
segunda morte, o que a sua vez é diferente ao dano da segunda
morte. Então, quando, em que tempo, se recebe a coroa da
vida? Quando o Senhor vier, quando nos reunirmos com Ele nas
nuvens e começar Seu tribunal para julgar à Igreja e se dê início
à idade do reino dos céus, o milênio, e isso se traduz em que o
vencedor há de reinar com Cristo no reino de Deus.
Simultaneamente, o derrotado, o crente que não é fiel até a
morte, ainda que não perca a sua salvação, entretanto, não
recebe a coroa da vida, senão que durante o milênio a tem
perdida e é submetido a sofrer o dano da segunda morte, que
pode ser uma espécie de "corretivo" nas trevas exteriores.

" 25 Porquanto, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e


quem perder a vida por minha causa achá-la-á. " (Mt. 16:25). O
homem natural, morto espiritualmente, pela graça de Deus, e
mediante a fé no Senhor Jesus, recebe a vida eterna.
Posteriormente, quando voltar o Senhor, recebe a coroa da vida,
sempre e quando for vitorioso, fiel até o ponto de estar disposto
a dar sua vida pelo Senhor.

A salvação em Hebreus

A carta aos Hebreus constitui uma das primeiras amostras de


defesa (apologética) da fé cristã e sua superioridade frente ao
judaísmo; e é por isso que ao largo de seu contexto contrapõe a
aparência e a sombra do provisório e terreno da lei mosaica,
frente à verdade celestial e eterna de Cristo e a Igreja. Esta
carta tem que ser analisada em seu verdadeiro contexto.
Leiamos Hebreus 5:11-14:

"11 A esse respeito temos muitas coisas que dizer e difíceis de


explicar, porquanto vos tendes tornado tardios em ouvir.12
Pois, com efeito, quando devíeis ser mestres, atendendo ao
tempo decorrido, tendes, novamente, necessidade de alguém
que vos ensine, de novo, quais são os princípios elementares dos
oráculos de Deus; assim, vos tornastes como necessitados de
leite e não de alimento sólido.13 Ora, todo aquele que se
alimenta de leite é inexperiente na palavra da justiça, porque é
criança.14 Mas o alimento sólido é para os adultos, para aqueles
que, pela prática, têm as suas faculdades exercitadas para
discernir não somente o bem, mas também o mal".

Estes últimos quatro versículos do capítulo cinco de Hebreus


falam de crentes imaturos, crianças espirituais, aos quais não se
pode alimentar senão com leite, com os rudimentos da doutrina
da salvação e não com alimento sólido, porque são crianças. Há
crentes que passam toda a vida, digamos, no primário, quando
deveriam ser já mestres de outros, e não avançam, não saem
dessas primeiras etapas dos seis rudimentos da graça que estão
enumerados nos dois primeiros versículos do capítulo 6, que são
o fundamento da vida cristã, a saber: (1) o arrependimento de
obras mortas, (2) a fé em Deus, (3) a doutrina de batismos
(ablução, lavagem), (4) a imposição de mãos, (5) a ressurreição,
e (6) o juízo eterno. Não podemos ficar nessa etapa da graça;
devemos crescer na palavra de justiça, no conhecimento e a vida
do Senhor; devemos colaborar com o Senhor na edificação da
casa de Deus; devemos trabalhar com o Senhor na preparação
do reino dos céus. O Senhor é o que trabalha em nós em nosso
crescimento espiritual, em nossa maturidade, mas não faz se nós
não cooperamos com Ele. Note que o capítulo 6 conecta com um
"por isso". Leiamos o contexto de Hebreus 6:1-8:

" Por isso, pondo de parte os princípios elementares da


doutrina de Cristo, deixemo-nos levar para o que é perfeito,
não lançando, de novo, a base do arrependimento de obras
mortas e da fé em Deus, 2 o ensino de batismos e da
imposição de mãos, da ressurreição dos mortos e do juízo
eterno.3 Isso faremos, se Deus permitir. 4 É impossível, pois,
que aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom
celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo,5 e
provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo
vindouro,6 e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los
para arrependimento, visto que, de novo, estão crucificando
para si mesmos o Filho de Deus e expondo-o à ignomínia.7
Porque a terra que absorve a chuva que freqüentemente cai
sobre ela e produz erva útil para aqueles por quem é também
cultivada recebe bênção da parte de Deus;8 mas, se produz
espinhos e abrolhos, é rejeitada e perto está da maldição; e o
seu fim é ser queimada ".

Aqui confirmamos que o autor fala a cristãos em processo de


maturidade, que devem estar deixando os rudimentos e que
devem avançar e adentrar-se nas coisas profundas da vida no
Espírito; isto encerra o participar com o Senhor em suas
realizações, e alimentar-nos Dele para um normal crescimento.
Vemos, pois, que aí o tema não é a salvação; do que trata aí é
de progredir na maturidade espiritual e não o retrocesso.

Se alguém que uma vez tenha sido iluminado e gozado do dom


celestial (Cristo), participante do Espírito Santo e dos poderes do
mundo vindouro (poderes do reino milenar, que são os dons e
poderes do Espírito Santo), se recair e voltar atrás, não tem
necessidade de voltar a por o fundamento, crendo outra vez no
Senhor Jesus, nem de arrepender-se de novo de obras mortas,
pois não pode ser outra vez renovado para arrependimento; já
tudo isso se fez uma vez e para sempre.

Quando cremos em Cristo, Deus nos perdoou, nos justificou, nos


deu vida eterna, nos deu sua paz, nos deu segurança de nossa
salvação. Então, o que acontece com essa pessoa? Pois
sensivelmente que, em vez de dar fruto ao ser alimentada e
cultivada por Deus, deu espinhos e abrolhos; então essa pessoa
é reprovada, eliminada do reino, pois os espinhos e abrolhos que
produziu devem ser queimados. Essa pessoa não perece para
sempre, mas sofrerá o dano da segunda morte. Alguém pode
alegar contradição usando o texto de Hebreus 10:26-29, que diz:

" 26 Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de


termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta
sacrifício pelos pecados;27 pelo contrário, certa expectação
horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os
adversários. 28 Sem misericórdia morre pelo depoimento de
duas ou três testemunhas quem tiver rejeitado a lei de Moisés.29
De quanto mais severo castigo julgais vós será considerado
digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o
sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito
da graça? ".

Aqui mostra o caminho de um apóstata judeu. Levemos em


conta todo o contexto da carta aos Hebreus que, como seu nome
indica, é dirigida aos cristãos que antigamente professavam a
religião judaica, com seus sacrifícios de animais, tudo isso figura
e sombra da verdade em Cristo; eles vinham assistindo a suas
reuniões nas sinagogas. Onde se reuniam depois que se
convertiam? Nas reuniões da igreja, pelas
casas com os irmãos. A carta aos Hebreus foi escrita
precisamente por causa dos judeus que haviam se convertido ao
cristianismo, os quais muitas vezes não tinham estabilidade;
estavam cheios de temores pela continua intimidação, ameaças e
acusação a que eram submetidos pelos líderes das sinagogas, e
inclusive pelos parentes e achegados; de maneira que alguns
temiam que os vissem nas reuniões da igreja, e muitos estavam
ao ponto de regressar ao judaísmo.

Ao analisar cuidadosamente toda a carta aos Hebreus, e em


particular os capítulos 9 e 10, vemos que o Senhor Jesus com
Seu sacrifício na cruz aboliu os sacrifícios do antigo pacto, e nos
abriu um caminho novo e vivo para entrar no Lugar Santíssimo,
que agora não se trata do templo de Jerusalém, figura do
verdadeiro, senão o Lugar Santíssimo dos céus, onde está o
Senhor sentado; porque Seu único sacrifício é válido para
sempre, em contraste com os sacerdotes, que estão de pé dia
após dia, oferecendo sacrifícios continuamente, que nunca
podem tirar os pecados. Quando o versículo 25 diz que "não
deixando de congregar-se, como alguns tem por costume",
significa que o irmão hebreu que chegasse a deixar de
congregar-se nas reuniões cristãs, equivalia voltar
voluntariamente às reuniões do judaísmo, ao antigo pacto, à
sinagoga; e isso é o que significa "pecar voluntariamente" do
versículo 26, desprezando assim a verdade do novo pacto e
voltando aos sacrifícios de touros e cordeiros machos que, na
economia de Deus, já não podem tirar os pecados.

Vemos, pois, que o contexto fala da verdade, que é todo o


revelado na carta; fala do novo pacto, em comparação com o
antigo, que era a sombra; fala do sangue do Senhor, em
comparação com o sangue dos animais; de maneira que se um
irmão hebreu voltasse ao judaísmo, já não restaria mais
sacrifício por seus pecados, pois os antigos sacrifícios já ficaram
sem valor; guardar certos dias e preceitos ficou sem valor;
preferir certos alimentos ficou sem valor; reunir-se na sinagoga
ficou sem valor; preferir certos edifícios chamados templos e
certos lugares específicos, ficou sem valor. O válido está em
Cristo, dentro da Igreja redimida, o Corpo de Cristo.

Levemos em conta que todos os sacrifícios do antigo pacto foram


substituídos pelo único sacrifício de Cristo; de modo que o
sacrifício pelos pecados cessou para sempre; já não há mais
sacrifício. Alguém que voltasse ao judaísmo, já não teria mais
sacrifício por seus pecados, e o que lhe esperaria seria um
terrível castigo dispensacional. No caso de que sua conversão
tenha sido autêntica, essa pessoa não perde a salvação,
porquanto segue fazendo parte da Igreja, conforme o versículo
30. O que um judeu, depois de haver crido em Jesus, voltasse ao
judaísmo e voltasse a confiar nos sacrifícios dos animais,
significava pisotear ao Filho de Deus, e haveria tido como comum
o sangue de Cristo. Consideramos que se alguém, sendo crente,
se volte a sua antiga religião e a seus ídolos, terá algum forte
castigo dispensacional.
A graça e o governo de Deus

Para compreender melhor todo o relacionado com a salvação e o


reino, é necessário saber que Deus tem estabelecido no universo
dois sistemas que são, o sistema da graça e o sistema do
governo de Deus. Por exemplo, a criação do homem é um ato do
governo de Deus, e a vida do homem sobre esta terra, suas
ações, suas responsabilidades, suas inter-relações, suas próprias
formas de governo e constituições, requerem que se submeta ao
governo de Deus, que obedeça esses princípios e dê conta ante
Deus de seus atos, agora ou diante do trono judicial divino.

Satanás caiu porque se rebelou contra o governo de Deus; logo


caiu o homem e pecou deliberadamente, rebelando-se também
contra o governo de Deus. Então, e por essa causa, foi
adicionado o sistema da graça, para redimir e restaurar aos
homens insubordinados e rebeldes, pois de outra maneira jamais
poderiam submeter-se ao sistema de governo de Deus. Ninguém
que não tenha sido redimido o tem logrado por seus méritos.
Onde se encontram os redimidos e restaurados? Na Igreja, de
maneira que o sistema da graça se relaciona com a Igreja, com a
salvação, onde se espera que os filhos de Deus em Cristo se
submetam ao governo de Deus.

O governo de Deus atua desde a criação dos anjos; e quando


Lúcifer se rebelou contra esse governo, foi expulso do céu. O
governo de Deus atuou no jardim do Éden ao pôr o homem a
cargo do mesmo, revestido de toda a autoridade para ele, mas
expulsou dali quando caiu; porém atuou Sua graça ao prometer-
lhe um Salvador. O governo de Deus atuou muitas vezes durante
a peregrinação do povo hebreu pelo deserto; e muitos caíram
debaixo do justo juízo de Deus e pereceram no deserto, e não
entraram na terra prometida. O governo de Deus se pôs de
manifesto quando Davi pecou e representou mal o governo de
Deus, fazendo blasfemar os inimigos de Deus. Por Sua graça, o
Senhor perdoou a Davi de seu pecado. Mas a disciplina lhe
seguiu pelo resto de sua vida, primeiro com a morte do filho,
fruto de seu pecado com Bate-Seba, a mulher de Urias, e logo
lhe sobreveio que a espada (arma com a qual Davi havia feito o
mal, a morte de Urias) jamais se apartou da casa de Davi (2
Samuel 12:7-14). A Bíblia está cheia de exemplos.
Conforme o sistema da graça, o Senhor Jesus esteve nesta terra
para salvar aos homens, mas conforme a Palavra de Deus, Ele
também padeceu na cruz para estabelecer a autoridade de Deus
e o reino dos céus sobre a terra. É essa mesma autoridade que
recebeu Adão, mas que ele a entregou ao maligno quando pecou.
Essa autoridade é restaurada ao homem em Cristo, o último
Adão. "pregai que está próximo o reino dos céus" (Mateus 10:7).
Os homens no mundo não conhecem o governo de Deus; isso só
se conhece na Igreja, entre os vencedores. Há muitos irmãos
que ignoram isto.

O que acontece quando um crente não se submete ao governo


de Deus? Todo crente tem sido perdoado de seus pecados
passados pela graça. Mas a graça não tem posto de lado o
governo, e os filhos são os primeiros a dar o exemplo. Se tu,
sendo crente, tu que representas ao Senhor, pecas ou vives
levianamente, não se submetendo ao governo de Deus, fazes
que blasfemem os inimigos de Deus, estás buscando que te
aconteça como aconteceu a Davi. Se confessas teu pecado, Ele é
fiel e justo para perdoar-te, mas o perdão da graça que tens
recebido de Deus, não muda Seu perdão de governo, não o
afeta, e de acordo com a gravidade de teu pecado, pode ser que
sejas tratado disciplinarmente. Moisés pecou, representou mal ao
Senhor em Meribá, quando golpeou a rocha; Deus o perdoou, ele
é salvo; apareceu na transfiguração do Senhor, mas não entrou
na terra prometida, por causa do perdão do governo.

Isto é sério, irmãos, de maneira que se um filho de Deus não


alcança o ser julgado e castigado pelo Senhor enquanto está aqui
na terra, seu pecado lhe alcançará diante do tribunal de Cristo
em Sua vinda, na ressurreição da Igreja, e ali terá a disciplina do
caso. É necessário que nos examinemos a nós mesmos à luz e
convicção do Espírito.

"31 Porque, se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos


julgados.32 Mas, quando julgados, somos disciplinados pelo
Senhor, para não sermos condenados com o mundo" (1 Co.
11:31-32).

Quanto mais se entender e se viver o sermão do monte, quanto


mais humilde e pobre no espírito for o crente, mais podemos
compenetrar com o governo de Deus e mais nos sujeitarmos a
ele. O mundo não conhece isto, nem pode conhecê-lo; queira o
Senhor que o conheça e o viva a Igreja. Nossa salvação é pela
graça de Deus em Cristo, mas nossa conduta como crentes deve
estar sujeita ao governo de Deus.
A Segunda Morte

Além da coroa da vida, aos vencedores se lhes promete não


sofrer o dano da segunda morte. Em Apocalipse 2:10b diz:
"Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida".

Note que aqui o Senhor não fala de dar vida, senão a coroa da
vida, a qual se conquista, não como um presente recebido pela
fé, e sim adquirido por nossa fidelidade. Além da coroa da vida,
aos vencedores é prometido o não sofrer o dano da segunda
morte. Todos os homens, tanto crentes como ímpios, temos de
experimentar a primeira morte, que é a morte física, a separação
da alma do corpo. Diz em Hebreus 9:27:
" E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só
vez, vindo, depois disto, o juízo".

Também Cristo sofreu a primeira morte, para que todos os que


Nele creem não sofra a segunda morte nem o juízo dos ímpios
no grande trono branco, depois de finalizado o reino milenar.
Então, o que é a segunda morte? A segunda morte é a separação
da pessoa de todo contato com Deus e o resto da criação, e
lançado em um lago de fogo para perdição eterna. A Palavra de
Deus diz em Apocalipse 20:14,15:
" 14 Então, a morte e o inferno foram lançados para dentro do
lago de fogo. Esta é a segunda morte, o lago de fogo.15 E, se
alguém não foi achado inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado
para dentro do lago de fogo".

Quando ocorrerá isto? Depois do reino milenar, quando os


mortos ímpios forem ressuscitados, depois que forem julgados
no juízo do grande trono branco; uma vez terminada a sentença,
serão laçados no lago de fogo, a Geena, e ali sofrerão tormento
eterno no corpo, alma e espírito. Essa é a segunda morte, para
todos aqueles cujos nomes não se acharem escritos no livro da
vida do Cordeiro.

A Palavra de Deus nos diz que nenhum cristão sofrerá a segunda


morte, ainda que, como temos dito; os cristãos derrotados, os
que se unem ao mundo e amam ao mundo e as coisas do
mundo, entretanto, podem eventualmente sofrer dano
temporário da segunda morte durante o reino milenar, nesse
mesmo lugar onde estarão os incrédulos do mundo. Como temos
anotado, tem muitas partes na Bíblia que declaram que os
crentes não sofrerão a segunda morte. Então estimamos que
houvesse uma marcada diferença entre o que é a segunda
morte, que implica a condenação eterna, e sofrer dano da
segunda morte, que só é temporário. Por favor, leia o contexto
sobre o servo infiel em Lucas 12:41-48. Ali fala de açoites aos
servos, e de castigo temporário no mesmo lugar onde estarão os
infiéis. O Senhor jamais tem por servos aos que não lhe
pertencem. No capítulo quatro estaremos dando detalhes das
diferentes classes de disciplinas durante a idade do reino.

Não se trata de algum lugar chamado "purgatório", pois a Bíblia


não ensina essa doutrina nem esse lugar. Quando os religiosos
inventaram a doutrina do purgatório se referiam à salvação
eterna e não ao reino. O castigo temporário a que se refere a
Escritura, se refere ao reino e não à vida eterna. Mas voltando ao
tema, temos que também os que não resolvem a tempo seus
problemas com os demais irmãos da igreja, podem ter suas
dificuldades diante do tribunal de Cristo. Tratase de problemas
na Igreja, de problemas entre os irmãos, sectarismos,
dissensões, pleitos, ódios, zelos religiosos e demais obras da
carne. Com a atual situação da Igreja, é fácil arrumar esses
problemas com o simples fato de se mudar alguém da comunhão
com os irmãos e ir reunir em outra congregação denominacional,
e fazer-se membro onde ainda não tenha tido esses problemas;
mas, já estão resolvidas essas coisas diante do Senhor? O
Senhor diz aos crentes: " 21 Ouvistes que foi dito aos antigos:
Não matarás; e: Quem matar estará sujeito a julgamento.22
Eu, porém, vos digo que todo aquele que sem motivo se irar
contra seu irmão estará sujeito a julgamento; e quem proferir
um insulto a seu irmão estará sujeito a julgamento do tribunal; e
quem lhe chamar: Tolo, estará sujeito ao inferno de
fogo.23 Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te
lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti,24 deixa
perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu
irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta.25 Entra em acordo
sem demora com o teu adversário, enquanto estás com ele a
caminho, para que o adversário não te entregue ao juiz, o juiz,
ao oficial de justiça, e sejas recolhido à prisão.26 Em verdade te
digo que não sairás dali, enquanto não pagares o último
centavo " (Mateus 5:21-26). No contexto anterior, para o
Senhor não há irmãos fora da Igreja. Qual é o lugar desse
castigo temporário? Ali diz que é o inferno de fogo, e logo o
repete no verso 30. Onde diz que é temporário? No contexto dos
versículos 25 e 26.
Somos salvos pela graça, não por cumprimento da velha
dispensação, mas para entrar no reino devemos cumprir a lei do
reino, a que complementa a antiga. A justiça dos legítimos
cristãos deve ser superior à dos meros religiosos professos, que
são os modernos escribas e fariseus.

Algumas pessoas estarão tentadas a tomar estes ensinamentos


confundindo-os como se tratasse da apologia da doutrina
romana do purgatório. Nós aqui não estamos ensinando nada
que se relacione com um lugar chamado purgatório, porque
levamos em conta que o ensinamento sobre a existência do
purgatório é trazida pelo catolicismo romano das profundezas
satânicas babilônicas, e não da Bíblia. O catolicismo romano
historicamente desvirtuou a salvação gratuita de Deus em Cristo
e difundiu a espécie de que as pessoas (inclusive os ímpios)
deviam pagar (comprar indulgências, missas, responsos e
votos) para que pudessem sair do purgatório e ter salvação
eterna. Por esse enganoso meio, os hierarcas desse sistema
religioso seguem obtendo abundantes ganâncias. Isso todo
mundo sabe. Mas as Escrituras falam de que todo crente em
Cristo foi predestinado desde antes da fundação do mundo para
ser salvo pela graça, sem obras, gratuitamente, somente pela fé
na obra redentora de Cristo na Cruz. É um presente de Deus,
imerecido. Mas quando Cristo vier, depois da ressurreição, todo
crente comparecerá ante o tribunal de Cristo para que sejam
julgadas suas obras, já em sua qualidade de crente e filho de
Deus, sejam boas ou sejam más. Todo pai de família faz que no
lar se respeitem certas normas de vida, moral e de disciplina;
quanto mais o Senhor. E quanto essas normas são infringidas, o
pai de família toma medidas. Se os filhos fazem o bem, costuma
haver presentes e motivações, mas quando fazem o mal,
costuma haver dolorosas disciplinas. Isso diz a Bíblia, por
exemplo, em Hebreus 12:3-11:
"3 Considerai, pois, atentamente, aquele que suportou tamanha
oposição dos pecadores contra si mesmo, para que não vos
fatigueis, desmaiando em vossa alma.4 Ora, na vossa luta
contra o pecado, ainda não tendes resistido até ao sangue 5 e
estais esquecidos da exortação que, como a filhos, discorre
convosco: Filho meu, não menosprezes a correção que vem do
Senhor, nem desmaies quando por ele és reprovado;6 porque o
Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem
recebe.7 É para disciplina que perseverais (Deus vos trata como
filhos); pois que filho há que o pai não corrige?8 Mas, se estais
sem correção, de que todos se têm tornado participantes, logo,
sois bastardos e não filhos.9 Além disso, tínhamos os nossos
pais segundo a carne, que nos corrigiam, e os respeitávamos;
não havemos de estar em muito maior submissão ao Pai
espiritual e, então, viveremos?10 Pois eles nos corrigiam por
pouco tempo, segundo melhor lhes parecia; Deus, porém, nos
disciplina para aproveitamento, a fim de sermos participantes da
sua santidade.11 Toda disciplina, com efeito, no momento não
parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois,
entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela
exercitados, fruto de justiça ".

Você também pode gostar