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É possível deixar de pecar?

http://www.youtube.com/watch?v=MNgB_Pl5plc

Pr. Marcos Granconato, Igreja Batista Redenção.

Site da Igreja: http://igrejaredencao.org.br/ ou


http://www.sermonaudio.com/source_detail.asp?sourceid=igrejaredencao

Não, o crente não consegue viver uma vida absolutamente sem pecado neste
mundo porque dois dos três aspectos do pecado – pecado como prática e
como natureza – são impossíveis aniquilá-los enquanto estivermos nesse
corpo corruptível. Mas o pecado como culpa, que gera a condenação, é
possível aniquilá-lo nessa existência. Ou seja, o crente é liberto plenamente
(absolutamente) da culpa do pecado que foi imposta a toda humanidade por
causa da queda de Adão. Todo ser humano tem uma culpa que é imputada,
mas não é adquirida com práticas; por isso ninguém nasce inocente. Toda a
humanidade está debaixo da culpa e da condenação do pecado.

Os 3 aspectos do pecado:

1) Jurídico: que é o aspecto da culpa, que decorre a condenação. Quando


alguém crê em Cristo, esta pessoa é justificada e a culpa e a condenação são
removidos (Rm 5.1). O crente está totalmente livre da culpa do pecado e por
isso ele não é condenado, e por isso ele pode dizer que está salvo (pois é um
justo);

2) Vivencial/Prático: O pecado não é somente culpa, é também ações (prática);


e das ações pecaminosas o crente não está livre (e isso é atestado não só pela
própria Escritura como também pela vasta experiência cristã de dois mil anos).
[O primeiro a afirmar que o homem poderia viver sem pecado foi Pelágio, um
monge britânico. Pelágio cria que era possível viver sem pecado, mas dizia que
não tinha visto ainda; nem mesmo ele próprio estava sem pecado]. A Bíblia diz
que os atos de pecados ainda estão com os crentes, mas, obviamente, existe
uma redução dessas práticas por causa da habitação do Espírito que está
trabalhando no crente fazendo com que ele amadureça fazendo com que ele
se torne mais santo aos poucos. O poder que livra totalmente o crente da
prática do pecado só irá acontecer na glorificação, ou seja, na glória.

3) Natureza: um conceito predominantemente paulino do pecado; vê o pecado


como natureza (natureza pecaminosa), que é aquela luta de “o bem que quero
esse não faço”, ou seja, “encontro em mim uma lei que me empurra numa
direção para onde não quero ir e muitas vezes eu tropeço; eu não consigo, às
vezes, dominar as minhas paixões; às vezes, consigo dominar a minha mão,
mas não consigo dominar o desejo de movê-la e o desejo de mover a minha
mão, muitas das vezes é pecado também: eu consigo segurar a mão, mas não
consigo segurar o desejo de mover a mão” (Rm 7). Paulo diz que temos que
mortificar/enfraquecer isso (pecado enquanto natureza), mas não há como eu
me livrar do pecado como natureza agora, porque eu não fui ainda plenamente
santificado. Do mesmo modo do pecado como prática, o pecado como
natureza também não é removido nessa terra; esse aspecto do pecado não diz
respeito à nossa vontade, porque as práticas envolvem nossas decisões,
vontades.

Enfim, nessa vida não há como o crente se livrar do pecado como ato e
do pecado como natureza (o que vai acontecer é uma redução, mas vai
estar lá no ser do crente, pois a luta é contínua, não tem como ele
relaxar); nessa vida o crente se livra do pecado como culpa/condenação.

Gl 5.24: “E os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e


concupiscências”. Crucificar é uma figura de linguagem, e que não significa
anulação completa, mas enfraquecimento, mortificação; ou seja, os que são de
Cristo o reinado/império da carne já não tem mais a sua força.

I Jo 1:8: “Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos,
e não há verdade em nós”. O apóstolo João afirma que nós crentes pecamos
sim, mas a solução para o pecado não é a visão proto-gnóstica, que é se tornar
perfeito; também não é se enganar dizendo “não, eu não pequei, eu não fiz
nada”; mas a solução é se arrepender. Ou seja, a solução pra se livrar do
pecado é a confissão de pecados, mas não a busca de uma perfeição
ilusória e nem o amadurecimento espiritual. No séc. I existia um gnosticismo
em formação, um proto-gnosticismo; e só no séc. II é que o gnosticismo
amadurece, toma corpo.

Existiam grupos gnósticos que associavam a perfeição e a impossibilidade de


pecar ainda estando o homem preso à matéria; eles acreditavam que a matéria
é má, diferentemente de nós calvinistas (A corporeidade humana – a matéria
– não é essencialmente má, pois tudo o que Deus criou é bom). Em
algumas de suas vertentes, os gnósticos diziam a respeito dos pneumáticos; ,
que são homens que, ainda que preso à matéria, eles eram capazes de viver
sem pecar, e diziam: “nós podemos fazer qualquer coisa e nada nos corrompe
porque nós já atingimos a perfeição”. Os gnósticos apresentavam-se como
pessoas perfeitas e diziam que não podiam pecar. Então, perfeccionismo é, a
rigor, inicialmente, uma concepção gnóstica. Os gnósticos foram os primeiros
perfeccionistas que já existiram, depois vieram os liberais, e, mais tarde, os
pentecostais em algumas vertentes.

I Co 10:12,13: “Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe não caia. Não veio
sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que não vos deixará
tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para
que a possais suportar”. É um versículo que mostra que nós não podemos
lançar sobre os ombros de Deus os nosso fracassos.

Há tentações de origem externa, como em I Cor 10; são aquelas que nos
sobrevêm, que os cercam e que nos convidam e chamam-nos (mas o Senhor
não permitirá que elas te levem e te obriguem a pecar). E há tentações de
origem interna, como diz Tiago; elas estão lá, dentro da gente, dentro do nosso
coração (como diz Jesus em Mt 15.19), e muitas vezes não conseguimos nos
livrar delas; elas continuamente nos convidam em certas direções, e o crente,
muitas vezes, em sua jornada, se surpeende tropeçando, caindo. É por isso
que precisamos de um Advogado. Se nós cheguássemos ao ponto em que
essas tentações nunca tivessem efeito nenhum sobre nós, e pudéssemos, com
todo vigor, vencer essas tentações que são geradas dentro de nós (como diz
Tiago), então, não precisaríamos de um Advogado junto ao Pai. Veja Rm 7.23:
“Mas vejo nos meus membros outra lei, que batalha contra a lei do meu
entendimento [mente], e me prende debaixo da lei do pecado que está nos
meus membros”.

Fp 1:6: “Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa
obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo”; 1 João 3:2: “Amados, agora
somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas
sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque
assim como é o veremos”. Esses dois textos mostram que existe um trabalho
de aperfeiçoamento que só vai terminar quando Jesus nos chamar, quando
estivermos no estado eterno; é claro que esse aperfeiçoamento não é somente
a questão do pecado, mas o livramento da morte, da realidade presente, etc.

Fp 3:11-14: “Para ver se de alguma maneira posso chegar à ressurreição


dentre os mortos. Não que já a tenha alcançado, ou que seja perfeito; mas
prossigo para alcançar aquilo para o que fui também preso por Cristo Jesus.
Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e
é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que
estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação
de Deus em Cristo Jesus”. Paulo escreveu essa carta no ano 62/63, um
pouquinho antes de sua morte, talvez 3 a 4 anos antes; ele diz que não atingiu
nem a ressurreição, e nem obteve a perfeição, mas continuaria prosseguindo
para o alvo e iria obter a perfeição quando receber o prêmio da soberana
vocação de Deus; ou seja, um prêmio será dado para todos os esforços e
dedicação que um crente fez para Deus aqui na terra.

Ef 4.13: “Até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do


Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo”. O
alvo do crente sempre tem de ser Cristo. É como o atleta que tem uma meta; a
meta do cristão é chegar a ser Cristo, uma meta elevadíssima, algo que não
conseguiremos aqui na terra, mas o nosso técnico (Jesus) não nos dá essa
licença de nós desistirmos, porque a fé salvadora é uma fé que trabalha; a fé
imposta por Jesus é uma fé produtiva, ela impõe na pessoa um desejo de
agradar a Deus e de ser semelhante à Ele; ela tem um alvo que é Cristo, e
ainda que ela saiba que nunca chegará lá, mas o crente não vai parar de
buscar até receber o prêmio da soberana vocação, como diz Paulo no texto
acima. O alvo é a maturidade perfeita em Cristo, mas esse alvo serve como
estímulo e esse alvo é buscado por quem tem a fé verdadeira, porque a fé
verdadeira incute na pessoa esse amor, desejo e anseio por ser igual a Jesus.
Esse alvo não será atingido aqui, mas somente na eternidade.

Se fosse possível alcançar um estado de perfeição absoluta aqui na terra,


então, algumas formas de viver ensinadas na Bíblia para o cristão serão
anuladas, por exemplo:

a) todo aquele que tem a esperança de um dia encontrar com Jesus e ser
semelhante a Ele, então purifica-se a si mesmo porque Ele é puro. Ora, se
fosse possível ser perfeito aqui na terra, então não precisaria mais purificar-se,
ou seja, ele poderia dizer “eu tenho a esperança, mas não tenho do que me
purificar”: “E qualquer que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo,
como também ele é puro” – I João 3:3.

b) Uma pessoa absolutamente perfeita não tem pecados a confessar: “Se


confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os
pecados, e nos purificar de toda a injustiça” – I João 1:9.

c) Uma pessoa absolutamente perfeita não precisa de um Advogado junto ao


Pai: “Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e, se
alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo” – I
João 2:1.

d) Uma pessoa absolutamente perfeita não precisa de um pastor, evangelista,


etc.: “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros
para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o
aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do
corpo de Cristo” – Ef 4:11,12.

Essa concepção teológica de que é possível alcançar o estado perfeito


absoluto aqui na terra lança uma série de textos bíblicos que compõem o dia a
dia do cristão. Então, não é uma realidade que dá pra se viver. Essa figura do
crente que não peca, i. e., do crente que chegou à perfeição absoluta é um
ideal (e isso não tem problema), mas é um ideal mítico/fabuloso. Ou seja, nós
falamos dele, mas ele não existe.

Se Cristo pagou o preço pelos nossos pecados por que ainda sofremos
consequências? Cristo nos livrou das consequências jurídicas do pecado (o
pecado gera culpa e esta a condenação – inferno eterno), mas não de todas as
consequências, i. e., Ele não nos livrou das consequências naturais dos nossos
atos pecaminosos.

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